dissertação de mestrado - participaÇÃo, representatividade e legitimidade no conselho municipal...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE MESTRADO EM SOCIOLOGIA Anadja Maria dos Santos Rios PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB. Campina Grande - 2007

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Page 1: Dissertação de Mestrado - PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE MESTRADO EM SOCIOLOGIA

Anadja Maria dos Santos Rios

PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO

CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB.

Campina Grande - 2007

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Anadja Maria dos Santos Rios

PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL

DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

Banca Examinadora

Prof. Dr. Márcio de Matos Caniello – Orientador

UFCG

Prof. Dr. José Justino Filho

UFCG

Profª. Dra. Benedita Edina Cabral da Silva

UFPB

Profª. Dra. Joaquina de Araújo Amorim

UEPB

Campina Grande - 2007

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“Não há saber mais ou saber menos: há

saberes diferentes. Não há seres educados e

não educados. Estamos sempre nos educando.

A mudança não é um trabalho exclusivo de

alguns homens, mas dos homens que a

escolhem”.

Paulo Freire

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos aqueles que contribuíram para que eu pudesse concluir mais

uma etapa de vida, seja me aconselhando nas horas de dúvidas, seja me incentivando quando a

perseverança parecia esmaecer, seja me ajudando a viver mais dignamente, a partir da interação

respeitosa que estão sempre me proporcionando. Pela compreensão ao sacrifício imposto à

família, conseqüência das horas de dedicação ao estudo que resultou neste trabalho, merecem

aqui particular deferência os meus amados pais, Bartolomeu e Zilma, a meus filhos Thiago e

Tallita, ao meu esposo Luciano, aos meus irmãos Carlos, Ana, Adriana, Alberto e Anadionete.

Pelo apoio acadêmico e orientação laboriosa recebidos, fazem jus a esta dedicação aqueles a

quem aprendi a respeitar como mestres: o meu orientador, Márcio Caniello, o meu co-

orientador, José Justino Filho, e as professoras Edjanece Guedes, Joaquina Amorim e

Benedita Edina. A todos os professores e colegas do curso, que, direta ou indiretamente,

estiveram ao meu lado nos momentos difíceis e de alegrias, dedico ainda este trabalho, em

reconhecimento ao apoio que me deram ao acreditarem nas minhas potencialidades, como

profissional e como ser humano.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela oportunidade de vivenciar mais esta experiência de vida.

Ao Prof. Márcio de Matos Caniello, por sua orientação na elaboração deste trabalho, ao

Prof. José Justino Filho, a quem este trabalho deve muito pelo acompanhamento seguro e amigo

na compreensão do tema aqui analisado e a Banca Examinadora.

Aos meus pais, filhos, esposo, irmãos e genro, pela ternura com que compreenderam as

minhas ausências na vida familiar.

Aos meus amigos Carlos Antônio, Edjanece Guedes, Josedilma Celismar, Jailde Rosa,

Maria José Martins, Josefa Jozélia, Solema Tormes, Marize Morais, Jaime Araújo, Lúcia

Medeiros, Socorro Borges, Helena Honorato, Jovanira Queiroz, Martinho Júnior, Josefa Ângela,

Elionai Arruda que pelo apoio dispensado a mim e aos meus colegas pesquisadores pela

solidariedade acadêmica e pela amizade constante.

A todos os professores do curso, pela competência com que ministram as disciplinas,

bem como ao Coordenador do Mestrado, Prof. Ariosvaldo Diniz, e equipe da secretaria, pela

capacidade com que dirigem os trabalhos, em especial a Nancy e demais membros do

colegiado, que sempre acolheram minhas solicitações com muita compreensão.

Aos conselheiros municipais de saúde entrevistados, pela valorosa contribuição na

pesquisa realizada, da mesma forma que à equipe da secretaria executiva do Conselho

Municipal de Saúde de João Pessoa, especialmente a Iara, pelo apoio recebido.

Ao casal Sr. Fragoso e Sra. Vera, pelo muito que me incentivaram a fazer a seleção para

o mestrado, e a todas as pessoas, com quem, neste percurso, dividi experiências, alegrias e

dificuldades.

Ciente de que o mérito deste trabalho é coletivo, deixo, a todos, os meus fervorosos

agradecimentos!

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SIGLAS

AB - Atenção Básica

ABEN – Associação Brasileira de Enfermagem

AIH – Autorização de Internação Hospitalar

AIS – Ações Integradas de Saúde

CEBES – Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

CES – Conferência Estadual de Saúde

CES – Conselho Estadual de Saúde

CF – Constituição Federal

CIB - Comissão Intergestores Bipartite

CID – Classificação Internacional de Doenças

CIMS – Comissão Interinstitucional Municipal de Saúde

CIS – Comissão Interinstitucional de Saúde

CIT – Comissão Intergestores Tripartite

CMS – Conferência Municipal de Saúde

CMS – Conselho Municipal de Saúde

CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CNS – Conferência Nacional de Saúde

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CONASEMS - Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde

CONASP - Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária

CONASS – Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde

COPASEMS – Conselho Paraibano de Secretários Municipais de Saúde

COSEMS – Conselho de Secretários Municipais de Saúde

DATASUS – Departamento de Informática do SUS

EC – Emenda Constitucional

EPS - Educação Permanente em Saúde

ESF – Equipe de Saúde da Família

FNS – Fundo Nacional de Saúde

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde

GPAB – Gestão Plena da Atenção Básica

GPABA – Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada

GPSM – Gestão Plena do Sistema Municipal

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IAPAS – Instituto de Administração da Previdência e Assistência Social

IAPs – Instituto de Aposentadorias e Pensões

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEME - Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba

INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social

MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social

MS – Ministério da Saúde

NESC – Núcleo de Saúde Coletiva

NOAS – Norma Operacional da Assistência à Saúde

NOB – Norma Operacional Básica

NOB/RH-SUS – Norma Operacional Básica de Recursos Humanos para o SUS

OMS - Organização Mundial da Saúde

OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde

PAB – Piso da Atenção Básica

PABA – Piso de Atenção Básica Ampliado

PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PDI – Plano Diretor de Investimentos

PDR – Plano Diretor de Regionalização

PEA – População Economicamente Ativa

PEC – Proposta de Emenda Constitucional

PES – Plano Estadual de Saúde

PIAS – Programa de Interiorização dos Serviços de Saúde

PMS – Plano Municipal de Saúde

PNH – Programa Nacional de Humanização

PNS – Plano Nacional de Saúde

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPI – Promoção Pactuada e Integrada

PSF – Programa da Saúde da Família

SEGEP – Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa

SES – Secretaria Estadual de Saúde

SGETES – Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde

SIA/SUS – Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS

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SIAB – Sistema de Informação da Atenção Básica

SIH-SUS – Sistema de Informações Hospitalares do SUS

SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade

SIMAC – Sistema de Informações de Alta e Média Complexidade

SINAN – Sistema de Informações sobre Agravos de Notificação

SINASC – Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos

SIOPS – Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde

SISREG – Sistema de Centrais de Regulação

SISVAN – Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional

SMS – Secretaria Municipal de Saúde

SNA – Sistema Nacional de Auditoria

SUDS – Sistema Unificado Descentralizado de Saúde

SUS – Sistema Único de Saúde

TFAE – Teto Financeiro da Assistência do Estado

TFAM – Teto Financeiro da Assistência do Município

TFD – Tratamento Fora do Domicílio

TFG – Teto Financeiro Global

TFGE – Teto Financeiro Global do Estado

TFGM – Teto Financeiro Global do Município

UBS – Unidade Básica de Saúde

UFCG – Universidade Federal de Campina Grande

UFPB – Universidade Federal da Paraíba

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Índice

1. INTRODUÇÃO 13

2. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS 18

2.1. Teoria Democrática: uma discussão conceitual 18

2.2. Modelos de democracias 19

2.2.1. Democracia Liberal 19

2.2.2. Democracia Representativa 25

2.2.3. Democracia Participativa 28

3. METODOLOGIA 34

3.1. Pesquisa de Campo 34

3.2. Tabulação dos Dados 36

3.3. Indicadores de Desempenho Institucional 36

3.3.1. Ambiente Político-Institucional 38

3.3.2. Gestão Pública de Saúde no Município 38

3.3.4. Conselheiros Municipais de Saúde 41

3.3.5. Funcionamento do Conselho 43

3.3.6. Controle Social no Conselho Municipal de Saúde 44

4. CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL 45

4.1. Contexto Sócio-Histórico 45

4.2. A Participação Cidadã nas Políticas Públicas de Saúde 56

4.2.1. Projetos de Qualificação para Conselheiros de Saúde 62

4.2.2 Institucionalização da Participação e do Controle Social 64

4.2.3. Conferências de Saúde e Plenárias de Conselhos de Saúde 69

4.2.4. Conselhos de Saúde: uma nova institucionalidade democrática 76

5. O CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA 83

5.1. Caracterização do Município 83

5.2. Ambiente Político Institucional 85

5.2.1. O Poder Local 85

5.2.2. A Cultura Cívica 87

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5.3. Gestão Pública 89

5.3.1. A Saúde no Município 89

5.3.2. Fundo Municipal de Saúde 91

5.3.3. Fontes de Financiamento e Instrumento de Gestão 93

5.3.4. Orçamento e prestação de contas 94

5.4. O Conselho Municipal de Saúde: limites e possibilidades 98

5.4.1. Organização e Infra-estrutura 104

5.4.2. Regimento Interno 109

5.4.3. Composição 111

5.4.4. Perfil Institucional 117

5.4.5. Perfil Sociológico 120

5.4.6. Participação e Representatividade 125

5.4.7. Capacitação 130

5.4.8. Atuação 130

5.4.8.1. Planejamento das atividades 134

5.4.8.2. Regularidade das reuniões 135

5.4.8.3. Dinâmica das Reuniões 138

5.4.8.4. Caráter deliberativo 140

5.4.8.5. Efetividade 143

6. COMSIDERAÇÕES FINAIS 145

BIBLIOGRAFIA 148

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RESUMO

Este trabalho é resultado de um estudo realizado sobre a participação, a

representatividade e a legitimidade no Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa – PB, tendo

sido idealizado a partir da análise da grade de indicadores identificados na pesquisa “A Eficácia

da Gestão Descentralizada do SUS e o Desempenho Institucional dos Conselhos Municipais de

Saúde da Paraíba”, financiada pelo Ministério da Saúde e pela Fundação de Apoio à Pesquisa –

FAPESQ – PB. Para a elaboração desta dissertação foi realizada uma pesquisa de campo

participativa, descritiva, com abordagem qualitativa, que teve como objeto de estudo a estrutura

do Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa e o perfil de seus conselheiros, traçado a partir

dos aspectos sócio-político-econômico-cultutais que os caracterizam. Para a compreensão da

estrutura do conselho foram analisados o seu caráter deliberativo e a sua representatividade e

legitimidade, tendo como base o nível de participação dos conselheiros. O trabalho, que

compreende um recorte temporal que vai de 2004 a 2006, reflete resultados obtidos mediante a

análise de indicadores de desempenho institucional, do ambiente político institucional e da

gestão pública da saúde no município. Para o alcance desse resultado, foi realizada a coleta de

dados por meio de entrevistas abertas estruturadas, realizadas com os conselheiros, e da leitura

de documentos dos arquivos do conselho, os quais foram analisados qualitativamente à luz da

observação participante, base da metodologia da Antropologia Social. Este estudo indica que o

Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa é um dos mais bem estruturados do Estado,

estando o seu desempenho, em quase sua totalidade, em conformidade com as orientações da

Resolução Nº. 333/2003 do Conselho Nacional de Saúde. Com atuação dinâmica, embora

algumas vezes seja conflituosa, quer por divergências existentes entre os conselheiros quer pela

defesa de interesses particulares ou pela forte intervenção da gestão atual, promove inúmeras

atividades inerentes ao exercício do controle social, cumprindo, desta forma, as atribuições que

lhe são de competência realizar. A depender da conjuntura política vivenciada, seu caráter –

fiscalizador, consultivo, propositivo e deliberativo – sofre fragilidades, tornando-se mais intenso

em determinados outros momentos, em franca consonância com o movimento natural que

caracteriza o processo de participação política dos cidadãos no controle social.

Palavras Chaves: controle social; conselhos de saúde; políticas públicas de saúde.

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ABSTRACT

This work is a result of an accomplished study about the participation, the representation and the

legitimacy in the City Council of Health in João Pessoa - PB, it has been idealized starting from

the analysis of the table of indicators identified in the research " The Effectiveness of SUS

Decentralized Administration and the Institutional Acting of Paraíba’s City Councils of Health",

financed by the Ministry of Health and by the Research Support Foundation - FAPESQ - PB. For

the elaboration of this dissertation, it was done a descriptive field research, with participation and

qualitative approach. Its object of study was the structure of the City Council of Health and its

counselors' profile, traced by the cultural-economical-political-social aspects that defines them.

In order to understand the structure of the council, it was analyzed its deliberative character and

its representation and legitimacy, based on the counselors' participation level. The work, that

means a period of time between 2004 to 2006, reflects results obtained by the analysis of

institutional acting indicators, institutional political environment and health public administration

in the city. To reach that result, the collection of data was done through structured open

interviews with the counselors, and through the reading of documents of the council files which

were qualitatively analyzed based on participant observation, base of the Social Anthropology

methodology. This study indicates that the City Council of Health in João Pessoa is one of the

best in the State in structure, and its acting has been, almost as a whole, in conformity with the

orientations of the Resolution nº 333/2003 of the National Council of Health. It has a dynamic

performance, although conflicting sometimes, due to existent divergences among the counselors,

the defense of private interests or the strong intervention of the current administration. The

council has been promoting countless inherent activities to the social control exercise,

accomplishing, in this way, its own attributions. Depending on the lived political conjuncture, its

character – of inspection, advisory, proposing and deliberative – can be weakened, becoming

more intense in certain moments, in frank consonance with the natural movement that

characterizes the process of the citizens' political participation in the social control.

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1. INTRODUÇÃO

Após anos de ênfase na privatização do sistema de saúde do Brasil, combatida na luta da

sociedade em prol do movimento pela Reforma Sanitária, que envolveu diversos segmentos

organizados, foi desencadeado o processo de construção da Constituição Federal de 1988, a

chamada “Constituição Cidadã”, documento legal em que a saúde é contemplada com um

conceito mais amplo que a define como direito de todos e dever do Estado. Em função desse

processo, ocorre o movimento de descentralização no setor, a partir do qual cada esfera de

governo passa a ser responsável direto pela saúde da população. A despeito dessa grande

mudança, a inovação mais importante do período é a abertura de espaços para a participação da

sociedade na política de saúde.

Como resultado desse movimento em busca da redemocratização do país, ocorre a

institucionalização do chamado controle social (Brasil, 2000: 24) sobre as políticas públicas,

fazendo emergir a democracia direta ou democracia participativa (Bobbio, 1986; Lyra, 2000).

Esse processo tem como base uma concepção contra-hegemônica à democracia representativa

de cunho liberal, em que a supremacia do contexto sócio-político da globalização capitalista

não produziu os efeitos desejados pelos seus defensores (Bobbio, 1986), ao contrário,

aprofundou a exclusão social e a marginalização de grande parcela da população (Santos, 2002:

457; Caniello, 2002).

O pressuposto teórico fundamental da concepção democrática contra-hegemônica é que a

participação direta dos cidadãos nas arenas deliberativas favorece o bom desempenho das

instituições públicas, a eficiência de suas políticas e ações e, conseqüentemente, a própria

melhoria de vida da população (Gohn, 2001; Putnam, 1996; apud Caniello, 2002). Porém, as

abordagens teóricas e as pesquisas empíricas revelam que uma série de condicionantes

conjunturais e históricos dificulta a efetivação da democracia participativa.

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Como exemplo da dificuldade de efetivação da democracia participativa, podemos citar a

falta de vontade política dos governos, as fragilidades observadas no processo de organização

dos segmentos sociais, a existência de práticas clientelistas nas relações políticas, a pouca

articulação observada entre os conselheiros de saúde e a sua base, o pouco conhecimento que a

sociedade tem sobre o papel de um conselho nas políticas públicas de saúde, a dificuldade na

mobilização dos cidadãos, as diferenças de opinião referentes à paridade entre os componentes

do conselho, bem como a ingerência político-partidária e do poder local nos conselhos, entre

outros fatores.

Após dezessete anos da institucionalização do controle social da saúde, a superação dessas

fragilidades ainda é um desafio para o Sistema Único de Saúde. Contudo, apesar dos problemas

existentes, é importante ressaltar que a expansão dos movimentos sociais ocorrida no início dos

anos 90, viabilizou maior abertura para a participação da sociedade civil nas instâncias de

decisão política, por intermédio dos Conselhos e Conferências de Saúde, criados em cada esfera

de governo com a aprovação da Lei Federal Nº. 8.142/90.

Os conselhos de saúde são órgãos colegiados, compostos paritariamente por quatro

segmentos da sociedade: usuários do Sistema Único de Saúde, governo (gestor), prestadores de

serviços do Sistema Único de Saúde e trabalhadores da área da saúde. Esses colegiados

assumem o papel de interlocução entre sociedade e governo e representam o espaço onde a

comunidade, por meio de seus representantes, pode opinar, avaliar, propor, fiscalizar e intervir

sobre as ações e recursos públicos da saúde.

De acordo com Correia (2000: 65), os conselhos de saúde passam a ser entendidos como

uma das formas de controle social das ações do Estado no campo da saúde. São compreendidos

como uma estratégia para se dirigir cada vez mais o fundo público de saúde na produção de

bens e serviços e consumo coletivo, sem fins lucrativos, atendendo às necessidades da

população. Eles possuem uma estrutura hierarquizada em cada esfera de governo, nacional,

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estadual e municipal. No entanto, estudos recentes têm demonstrado que é no âmbito local que

residem os principais entraves e potencialidades da chamada boa governança, sendo necessário

analisar de que forma o controle social das políticas públicas tem sido exercido/efetivado no

Brasil, para que seja possível a identificação dos limites, dificuldades, fragilidades e suas reais

potencialidades. (Caniello, 2002).

A Paraíba tem atualmente um Conselho Estadual de Saúde e 223 Conselhos Municipais

de Saúde, dos quais apenas 80 (35% do total) responderam ao ofício enviado pelo Conselho

Estadual de Saúde da Paraíba, solicitando informações acerca do funcionamento e estrutura dos

conselhos municipais, de acordo com pesquisa realizada pelo próprio Conselho Estadual de

Saúde, em 2002.

O resultado da referida pesquisa apresentou os seguintes dados: 84% dos conselhos

municipais de saúde respondentes não estavam organizados segundo os critérios de paridade

definidos na Resolução Nº. 33/92 do Conselho Nacional de Saúde, em vigor à época, o que

indicava problemas de representatividade e legitimidade, considerados como os mais graves e

recorrentes em relação ao desempenho dos conselhos gestores de políticas públicas (Gohn,

2001: 91-92).

No quesito “dificuldades encontradas”, 36% afirmaram que a maior dificuldade era a falta

de clareza do papel do conselheiro, 23% afirmaram ser a dificuldade de adquirir quorum para as

reuniões e 27% apontaram para a falta de estrutura para o funcionamento do conselho, dados

que indicaram problemas como a existência de uma fraca tradição participativa na sociedade

civil, o desconhecimento geral dos poderes e competências dos cidadãos na gestão das políticas

públicas, a dificuldade de mobilização da comunidade para discutir os seus problemas, o

descompasso entre as determinações legais e a vontade política dos governantes.

Observou-se ainda uma significativa predominância de reuniões extraordinárias sobre

reuniões ordinárias, bem como deliberações acerca de implantação e renovação de programas

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federais, o que indica que os conselhos reuniam-se, na maioria das vezes, para responder a

requisitos formais acerca da liberação de recursos e não para atuar na formulação de estratégias

e no controle da execução da política de saúde, como determina a Lei Nº. 8.142, de 28 de

dezembro de 1990.

Os resultados da pesquisa realizada pelo Conselho Estadual de Saúde - PB foram

confirmados pela pesquisa “O controle social nos conselhos municipais de saúde da Paraíba”,

(EDITAL Nº. 01/2002 FAPESQ-PB/MINISTÉRIO DA SAÚDE), iniciada em 2002 e concluída

em 2004, executada pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, sob a

coordenação do professor Marcio de Matos Caniello, e da qual participamos na condição de

pesquisadora. A pesquisa por amostragem foi desenvolvida em oito conselhos municipais de

saúde da Paraíba em municípios de pequeno, médio e grande porte.

O objetivo da pesquisa foi fazer uma análise mais acurada sobre o perfil sociológico dos

conselheiros e da sua inserção, prática e ideológica, no contexto sócio-político-organizacional

local e no próprio conselho, uma vez que são os atores protagonistas dessas novas arenas da

participação democrática no Brasil (Caniello, 2002).

Uma terceira pesquisa importante no âmbito do controle social da Paraíba, “A Eficácia da

Gestão Descentralizada do SUS e o Desempenho Institucional dos Conselhos Municipais de

Saúde da Paraíba” (EDITAL Nº. 001/2004 FAPESQ/ MINISTÉRIO DA SAÚDE /CNPq),

iniciada em 2004, encontra-se em fase de conclusão. Esta pesquisa, que deu prosseguimento à

pesquisa anterior, foi também executada pela UFCG e coordenada pelo professor Marcio de

Matos Caniello. Participamos ainda deste trabalho, mais vez na condição de pesquisadora.

A pesquisa tem como objetivo avaliar a eficácia da gestão descentralizada do Sistema

Único de Saúde e o desempenho institucional dos Conselhos Municipais de Saúde da Paraíba.

Dessa forma, foram aplicados questionários para coleta de informações, além da consulta a

documentos nos oito conselhos pesquisados na primeira etapa. Apesar de não ter sido

Page 17: Dissertação de Mestrado - PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

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concluída, o resultado parcial da pesquisa demonstra a continuidade da problemática existente

nos conselhos de saúde.

Tais resultados comprovam que após dezessete anos da publicação da lei que dispõe sobre

a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (Lei Nº. 8.142/90), o

funcionamento dos conselhos de saúde ainda deixa muito a desejar. Outro agravante para a

permanência da problemática dos conselhos ocorre em função, por exemplo, do

desconhecimento geral acerca dos poderes e competências da sociedade civil no exercício do

controle social. (Teixeira, 2000; Cf. Caniello, 2006).

Diante do exposto, considerando que o Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa é

parte integrante de um território em que, historicamente, os movimentos sociais têm forte

organização associativa, encontramos motivação para verificar as ações deste específico

conselho, partindo da hipótese de que ali exista baixo índice de desempenho institucional (Cf.

Putnam, 1996: 25). Para tanto, foi preciso ampliar o número de indicadores e estabelecer

correlações entre eles, de maneira a sofisticar a composição do índice e a formular relações de

causalidade significativas que expliquem o bom ou mau funcionamento do referido conselho.

Considerando que a presença de instituições democráticas determina processos de

aprendizagem institucional (Cf. Putnam, 1996: 59; Santos, 2002: 500; Gonh, 2001: 22) que

podem vir a potencializar melhor desempenho tanto desta instituição quanto da própria vida

política local, acreditamos que a observação, a médio e longo prazo, da prática do conselho

pode vir a fornecer indicadores seguros sobre a superação de seus principais dilemas, vez que

“os conselhos são uma das formas de constituição de sujeitos democráticos” (Gohn, 2001: 9).

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2. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

2.1. TEORIA DEMOCRÁTICA: UMA DISCUSSÃO CONCEITUAL

De acordo com Bobbio, o filósofo Otane, na antiga Grécia, caracterizava a democracia1

como um governo popular, em que há igualdade das leis ou diante da lei. Este filósofo, a partir

de dois questionamentos basilares, argumentava em favor de um sistema político de

representação que exigia delegação de poderes. O primeiro questionamento é o seguinte: como

poderia a monarquia ser perfeita se lhe é licito fazer tudo o que deseja, sem o dever de prestar

contas? A segunda proposição sobre a qual fundamenta sua defesa questiona: como pode

governar bem aquele que não recebeu instrução nem conheceu nada de bom e de conveniente e

que desequilibra os negócios públicos, intrometendo-se sem discernimento semelhante a uma

torrente caudalosa?

O princípio que o filósofo Otane realça com seus questionamentos aponta para a

necessidade de um sistema político de representação em que o governante tenha recebido, por

delegação de competências, o poder emanado do povo, apontando ainda para o fato de que este

governante deve estar preparado, com instrução apropriada, para assumir tal tarefa. Entre as

atribuições deste representante do povo está a prestação de contas que deve fazer à sociedade

que o fez governante, conduta que exige extrema consciência da coisa pública, não só do

governante, mas de todo o povo, para que haja acompanhamento e cobrança na gerência do

bem público (Bobbio, 1992: 320).

Segundo Bobbio, para Otane, a dificuldade de governar está na desigualdade de

oportunidades, pensamento que se contrapõe ao da monarquia e ao da oligarquia, que atribui o

1 A palavra democracia, cuja etimologia remete ao grego – demos (povo) e kratos (poder) –, significa “regime político que teve seu nascimento

na Grécia antiga, doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição eqüitativa do poder”. (Net Historia:

ISSN 1679-8252 “O surgimento da Democracia”. 2005).

Page 19: Dissertação de Mestrado - PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

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mau governo à incapacidade do povo. A desigualdade de oportunidades pressupõe a existência

de desigualdades sociais. Para Otane, portanto, é bastante questionável a existência de

democracia em uma sociedade que convive com desigualdades sociais. No entanto, a cidade de

Atenas foi o berço da democracia, apesar de conviver com processos de desigualdades sociais,

discriminação e escravidão. (Bobbio, 1992).

Na esfera política, há vários conceitos de democracia. A forma de compreensão do termo

democracia depende de ideologias e concepções políticas em que a relação de poder, que se

materializa por meio da defesa de interesses entre governo e sociedade civil organizada, é o fio

condutor para a ascensão, permanência ou decadência de qualquer sistema político e suas

formas de organizações. Não obstante, o poder econômico perpassa por todo e qualquer sistema

político, a exemplo da cidade de Atenas, onde a autonomia econômica contribuiu para a origem

e efetivação do regime político democrático.

O conceito de democracia, desta forma, adquire diversos significados de acordo com cada

período histórico. No entanto, as modificações que têm surgido ao longo da história fazem com

que arranjos restabeleçam o seu núcleo, que remonta à Grécia antiga.

2.2. MODELOS DE DEMOCRACIAS

2.2.1. DEMOCRACIA LIBERAL

De acordo com Locke, a democracia liberal surgiu há aproximadamente 150 anos como

conceito nas sociedades capitalistas de mercado. Nesse período, o modelo ideal de sociedade

era a burguesa, que tinha ênfase na divisão de classes sociais com subordinação das classes

inferiores às superiores.

As bases do pensamento liberal encontram-se nas formulações de Locke, que teoriza

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sobre a sociedade inglesa do século XVII, em pleno desenvolvimento da manufatura,

defendendo a construção de um Estado de autoridade legislativa, baseada na igualdade natural.

Para esse teórico, o Estado deveria garantir o exercício e a segurança da propriedade, já que o

homem, com o objetivo de garantir a sua propriedade, tem necessidade de colocar limites à sua

própria liberdade. Essa igualdade proposta por Locke se concretiza no trabalho.

O Estado, desta forma, seria a própria corporificação da autoridade legislativa que

asseguraria a continuidade da reprodução sistemática da igualdade natural entre os homens,

tendo o trabalho como base e primado. Neste contexto, a produção excedente funcionaria como

elemento da desigualdade que vai se manifestar na ganância própria da natureza humana. Assim

sendo, nenhuma sociedade política poderia existir nem subsistir sem ter em si o poder de

preservar a propriedade, isto é, de preservar a vida, a liberdade e os bens contra os danos e

ataques de outros homens (Locke, 1983: 67). Em outras palavras, Locke defende o Estado

como o estabelecimento de um contrato para garantir a manutenção da propriedade e de outros

direitos, o que implica em afirmar que a sociedade política resulta deste contrato, e a partir do

que se pode conclui ser a concepção liberal, em sua origem, discriminatória.

Para Cerrani, não é o liberalismo que traz o problema da universal igualdade do gênero

humano. Segundo este estudioso, compete ao liberalismo a proclamação do princípio geral da

igualdade de dignidades que abre as portas a todas as reivindicações universalistas dos direitos

que virão como conseqüência. É por isso que o liberalismo, sem promover esta reivindicação,

acaba por torná-la possível e posteriormente a acolhe (Cerrani, 1993: 63).

De acordo com Bobbio, ao defender o liberalismo igualitário2, Rousseau se baseava na

concepção de que os homens nascem livres e iguais, embora já naquela época a acumulação do

2

Liberalismo igualitário, vertente do sistema ideológico liberal, tem como concepção o direito natural à liberdade, tendo a igualdade como

condição humana, base do Contrato Social de Rousseau. Por defender a liberdade individual, leva em consideração a existência das diferenças.

(Pont:1999) Também considerado por alguns teóricos liberais como teoria política normativa, é entendido como “posição normativa segundo a qual uma sociedade democrática justa é aquela comprometida com a garantia de direitos básicos iguais e uma parcela eqüitativa dos recursos

sociais escassos - renda, riqueza e oportunidades educacionais e ocupacionais - a todos os seus cidadãos”. (Vita, 2002).

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capital delimitasse/limitasse a vida do homem, fato que por si só torna frágil a sua concepção de

liberalismo. Apesar da flagrante incoerência, Rousseau não hesitava em defender que a

soberania do povo, formada por indivíduos livres e iguais, não poderia ser transferida a um

único cidadão, que se constituiria monarca, nem poderia ser delegado, no contrato, ao Estado

parlamentar (Bobbio, 1992).

Para esse filósofo, há um momento, que precede a realização de um contrato entre a

sociedade política e um governo, em que o povo exerce a sua soberania de tal forma a não

poder transferi-la, delegá-la ou dividi-la com um monarca soberano. Somente legítimos

representantes do povo poderiam exercer esta soberania, mesmo assim sob a perspectiva de

terem os seus mandatos revogados a qualquer momento. Essa concepção foi considerada

utópica, tendo em vista as transformações ocorridas em decorrência da acumulação de capital.

Ainda em conformidade com o que assegura Bobbio, é na concepção de contrato social de

Rousseau que o ideal republicano e o ideal democrático se fundem. Segundo esta concepção, o

contrato social, a partir do poder de fazer as leis, seria a única forma de assegurar a soberania

popular inalienável, indivisível e infalível. A participação de todos na produção das leis renova

o ideal clássico da republica e aquilata o ideal igualitário que se contrapõem à desigualdade dos

regimes monárquicos e despóticos (Bobbio, 1992: 323).

Para Neto, em seu artigo “Democracia: velhas e novas controvérsias”, o mérito histórico

do liberalismo é o reconhecimento da igualdade individual, mesmo em se tratando de uma

igualdade apenas formal, jurídica. De acordo com suas observações, o liberalismo representou

um grande avanço na história da humanidade ao reconhecer formalmente que todos os homens

são iguais perante a lei, apesar de não ter conseguido assegurar que, na prática, esse direito

fosse efetivado. Assim sendo, apesar de reconhecer que a igualdade de direito perante as leis já

garanta algum avanço em direção ao ideal igualitário, não deixa de ressaltar que ter direito às

mesmas oportunidades, ou seja, ter direito a um mesmo ponto de partida, não assegura a

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igualdade entre os homens. Para esse autor, no liberalismo, o direito do cidadão é o direito à

igualdade de oportunidades, cujo objetivo é a eliminação do privilégio hereditário, sem levar

em consideração o direito que tem o cidadão de desenvolver diferenças ou desigualdades. Nessa

perspectiva, cabe-nos refletir sobre a igualdade defendida pelo liberalismo, já que o direito de o

cidadão ser reconhecido como desigual foi negligenciado.

No que diz respeito aos fatores que contribuem para a existência de desigualdades sociais,

percebe-se que o fator econômico é aquele que mais faz ressaltar as diferenças, pois é

determinante em todas as demais questões cotidianas da população, sobretudo em um sistema

onde impera a lógica do mercado, cujo fundamento está na concorrência e na busca da

soberania de alguns cidadãos sobre outros. Assim, tendo em vista os movimentos da sociedade

girarem em torno da lógica mercadológica, observa-se, no campo empírico, uma situação

conflituosa, em que de um lado se tem, na arena da formalidade, o princípio universal da

igualdade, enquanto, na prática, não se verifica a viabilidade de cumprimento desse princípio.

Neste contexto, aqueles que reconhecem estarem seus direitos assegurados pela lei frustram-se

em não ver o cumprimento dessa mesma lei, enquanto os que desconhecem tal direito

submetem-se ao clientelismo e favoritismo.

De acordo ainda com Neto, apesar de existirem diferenças significantes entre liberalismo

e democracia, observa-se aí uma articulação que promove as bases da democracia liberal, uma

vez que “o nexo entre liberalismo e democracia repousa no fato de que partem de um ponto

comum: o indivíduo” (Neto, 2005), afirmando ainda que, para Cerroni, o liberalismo transmite

à democracia política o fundamento da igualdade dos homens ao mesmo tempo em que

estabelece um conjunto de regras que garantem a livre competição dos indivíduos. Ou seja, “a

democracia liberal é o resultado da adequação do liberalismo às reivindicações sociais, políticas

e jurídicas dos movimentos democráticos” (Neto, 2005).

Desta forma, se a lógica do mercado dita as regras do jogo em um sistema capitalista,

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sendo essa lógica o fio condutor para o fortalecimento desse mesmo sistema, que sobrevive da

exploração, não se pode dizer que haja aí igualdade de oportunidades, mas uma livre

competição norteada por um processo de competitividade desigual.

De acordo com Bobbio, há duas compreensões teóricas sobre o termo “liberal”. Na

primeira acepção, como teoria econômica, o termo remete para aquilo que é determinante na

economia de mercado. Na segunda acepção, como teoria política, determina o Estado mínimo,

ou seja, caracteriza aquele Estado em que se governa com o mínimo de intervenção nas relações

econômicas, deixando o mercado livre e a política em situação em que deixa de ser regra para

ser exceção (Bobbio, 1986: 114).

Já para Macpherson a democracia liberal pode ser observada sob dois pontos de vista,

contraditórios entre si: de um lado a democracia liberal pode significar a liberdade do mais forte

para derrubar o mais fraco, mediante as regras do mercado, podendo também significar

igualdade de liberdade para que todos possam empregar e desenvolver suas capacidades. A

contradição observada entre os dois pontos de vista está fundamentada primordialmente na

diferença que há entre a utilização do poder do capital sobre o homem e a delegação de

responsabilidade, em que cada um passa a ser responsável pelo seu próprio desenvolvimento

(Macpherson, 1978: 09).

Na verdade, estão implícitos, nas observações desse teórico, três grandes questionamentos

basilares, que se refletem nas seguintes perguntas: 1) Como há igualdade de oportunidades se a

economia de mercado, ao exercer poder sobre os homens, incentiva a competição no mercado?

2) Se o mercado sobrevive da competitividade que provoca a desigualdade de oportunidade,

como o homem pode ser livre para desenvolver sua capacidade sem ter que superar outros? 3)

Como pode o homem ter igualdade de liberdade se são as normas do mercado que ditam as

regras do jogo?

No final do século XIX, surgem outros teóricos que fazem alusão às contradições

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denunciadas por Macpherson em sua tentativa de combinar liberdade de mercado com liberdade

de desenvolvimento individual, teoria que não obteve sucesso haja vista a democracia liberal,

desde a sua origem, conceber o homem como o ser que vive sob as regras da economia de

mercado. Para esse filósofo, a liberdade que o homem tem para concretizar sua capacidade de

desenvolvimento não precisa necessariamente se limitar aos valores liberais das sociedades

capitalistas, muito embora não defenda a possibilidade de ascensão de direitos ou diminuição

dos valores de mercado como algo já construído, uma vez que este tipo de democracia difere

das demais por basear-se na sociedade dividida em classes sociais, que valoriza a propriedade,

em um contexto em que a cada homem cabe um voto.

Desta forma, a condição sine qua non para um modelo de sistema político encontrar apoio

na sociedade é a existência de alguns padrões de comportamento dos seres humanos, dentre os

quais merece destaque a conduta política de que seja capaz. Obviamente, essa conduta não é

meramente subjetiva, uma vez que é determinada por fatores como a tecnologia disponível e as

relações econômicas que se estabelecem na sociedade. Neste processo, as instituições sociais e

econômicas assumem um importantíssimo papel, já que a elas cabem modelar as pessoas com

quem, e por quem, o sistema político vai operar (Macpherson, 1978: 10-12).

Como se pode observar, esse filósofo analisa os modelos de democracia considerando-os

como fenômenos das ciências sociais, a partir dos limites históricos, tomados como variáveis da

vontade do homem, afirmando que nas relações de poder, estabelece-se uma correlação de

forças que será a responsável pela definição dos interesses e grupos que serão privilegiados.

Esta correlação de forças é gerada entre os grupos, e no interior destes, na luta em defesa de

seus interesses particulares.

Vejamos agora o que caracteriza a democracia representativa.

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2.2.2 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA

Bobbio defende que representação é a estratégia do compromisso entre as partes, por meio

do livre debate, com a finalidade de formar o consenso de maioria, que caracteriza a

democracia representativa. Para tanto, baseia-se em dois pontos fundamentais: nos poderes dos

representantes e no conteúdo da representação. Segundo esse teórico, o pai da democracia

representativa foi Rousseau, que afirmou não poder a soberania ser representada, o que

significa alegar, em outras palavras, que à coletividade cabe apenas a crença de ser livre, já que

após o período das eleições os membros parlamentares assumem o poder, fazendo o povo

escravo de suas determinações, uma vez que as deliberações que dizem respeito à sociedade são

tomadas não diretamente por aqueles que dela fazem parte, mas, pelos representantes eleitos

para essa finalidade (Bobbio, 1986: 12-44).

Outro estudioso que se debruçou sobre o tema da representatividade foi Demo, para quem

o conceito de representatividade é um dos critérios que assegura qualidade política às

associações, referindo-se à qualidade política dos mandantes, os quais serão considerados

representativos se tiverem sido eleitos por votação geral e livre, dentro de um ambiente

democrático claro. (Demo, 1999: 117). Para esse teórico, a soberania, enquanto liberdade de

escolha, exige que o povo tenha a capacidade de eleger, de destituir, de estabelecer rodízio no

poder, de exigir a prestação de contas, de desburocratizar e de pressionar os mandantes a

servirem à comunidade. A capacidade para estas ações, no entanto, nem sempre é exercida,

porque a comunidade não está ainda consciente de seu poder, permitindo-se controlar por seus

representantes.

Bobbio destaca algumas modalidades de decisão que contribuem com a prática das ações

necessárias à efetividade da democracia representativa, apontada por Demo, mas ressalta que a

regra fundamental de um processo democrático é a prevalência da maioria, cujas decisões

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devem levar em consideração a “unanimidade”, modalidade que só é possível em um grupo

restrito, sendo exigida em decisões mais graves, situação em que cada um tem direito ao veto,

ou o “consenso”, que se caracteriza como uma regra de competição e concorrência em uma

democracia moderna, para as decisões menos importantes (Bobbio, 1986).

Bobbio defende que só na democracia se pode atingir o consenso real, defendendo ainda

que a única possibilidade de se testar a veracidade do consenso é verificar se a negação do

consenso é também compactuada pela coletividade. Em outros termos, a decisão tomada por

indivíduos, para ser aceita como uma decisão coletiva, precisa ser tomada não só com base em

regras e procedimentos previamente explicitados como também respaldada pelo o

conhecimento das alternativas e condições existentes, sendo a todos assegurado o direito de

liberdade de opinião e de expressão das próprias opiniões. O dissenso, portanto, deve ser

comum ao grupo ou à associação que reúna pessoas que pensem de formas diferentes (Demo,

1999).

No cerne da questão da representatividade está o voto, que, para Demo, é uma faca de

dois gumes, podendo ser passivo e limitado ou ser efetivo e consciente. Entendido como

controle do poder, o voto pode esconde a manipulação que o povo sofre ao escolher seus

representantes, o que ocorre quando o processo não acontece dentro de claros limites. Neste

caso, o voto é passivo e limitado porque os eleitores possuem pouco domínio sobre o processo

de seleção. Ao contrário, o voto pode reduzir a corrupção do poder, em um processo mais

efetivo, que vai ocorrer apenas quando a sociedade estiver mais organizada e consciente de sua

cidadania. Neste caso, obrigatoriamente serão observados a prestação de contas, o cultivo da

moralidade financeira, a abertura de canais de acesso, a redução de influências oligarquizantes,

a lisura administrativa, o apreço pelas negociações paritárias, em franca demonstração de que o

poder está comprometido com a cidadania.

De acordo com os pressupostos defendidos por Chauí, o voto é o mecanismo por meio do

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qual o cidadão participa da vida política, inserido na representação enquanto ordem legal.

Resumindo o pensamento de Bobbio, de Demo e de Chauí, Martins defende que a influência

dos cidadãos no sistema de representação política é assegurada pelo direito ao voto em eleições

regidas pelo princípio da maioria e pela garantia das liberdades civis de palavra, associação e

locomoção (Martins, 1994).

Ainda no que se refere a questão da representação, Bobbio ajuíza que entre o

representante e o representado surge a necessidade de se definir claramente o papel assumido

por cada um desses atores. Na definição desses papéis, este teórico destaca dois tipos de

representações: a primeira, chamada de representação orgânica, presta-se a uma organização

com interesses particulares, situação em que o representante pertence à mesma categoria dos

representados, atuando em um espaço territorial delimitado; a segunda, chamada de

representação política, ou partidária, é aquela que trata dos interesses gerais dos cidadãos, tendo

seus representantes escolhidos dentre estes.

De acordo com o autor, no primeiro caso, a escolha do representante se dá por delegação

de poderes, o que atribui ao representante o papel de porta voz de seus representados. Seu

mandato é limitado e revogável, tendo como objetivo a defesa de interesses particulares. No

segundo caso, a escolha acontece baseada na confiança, permitindo ao representante

(fiduciário) representar os interesses gerais de uma coletividade, podendo, desta forma, agir

com mais liberdade, em nome de seus representados. Neste caso específico não existe vínculo

de mandato.

Bobbio ressalta que um grupo ou classe pode se enquadrar na caracterização de uma

representação orgânica ou política, dependendo da delimitação de sua atuação e dos tipos de

interesses que são defendidos. Assim sendo, uma organização do tipo associação, por exemplo,

oscila quanto à forma, a depender do tratamento que é dado ao interesses conjunturais, ou seja,

a depender de serem estes interesses particulares ou gerais (Bobbio, 1986).

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2.2.3. DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

No século XX, diante da crise da democracia representativa, quando o sistema

representativo já não corresponde aos anseios da sociedade, fazendo com que a democracia

indireta se torne inviável, começa a surgir o conceito de democracia participativa, com

características semidireta, isto é, começa a germinar a idéia de uma forma de democracia que

não desconsidera a importância dos representantes, mas que valoriza a aproximação da

população nas decisões políticas. Alguns teóricos defendem que este tipo de democracia – a

democracia participativa – é fruto da união da democracia direta com a democracia

representativa.

Dias, em um dos seus artigos, assegura que a democracia participativa ocorre por meio da

participação popular, nos espaços constituídos para tal, atuando diretamente na gerência dos

atos estatais. Neste sentido, ele destaca o princípio da soberania e o princípio da participação

popular como fundamentais, visto que, juntos, tendem à realização dos valores da igualdade e

da liberdade (Dias, 2005).

Para Macpherson, não basta o estabelecimento desses princípios, fazendo-se necessário

também o respeito a dois requisitos basais para que aconteça a democracia participativa: é

necessário que ocorra a mudança de consciência do povo, momento quando o homem deixa de

ser essencialmente consumidor e percebe-se como executor que pode desenvolver capacidades

e habilidades com o objetivo de usufruir do fruto de suas ações; ao mesmo tempo em que é

preciso haver a diminuição da desigualdade social e econômica, uma vez que a desigualdade

exige, para manter a sociedade coesa, um sistema partidário e não participativo (Macpherson,

1978).

Neste modelo, as classes dominadas têm liberdade, por intermédio dos movimentos

sociais, das associações, dos conselhos gestores, entre outros canais de participação popular,

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para manifestar suas opiniões sobre o sistema, mesmo que estes canais sejam de natureza

político-partidária. Há, porém, algumas preocupações que precisam ser consideradas na análise

da democracia participativa. Uma dessas preocupações diz respeito à ênfase que é dada aos

confrontos que se estabelecem entre a coletividade (via representantes ou não) e as autoridades,

em correlações de forças, armadas ou não. Outra preocupação se refere à dificuldade de acesso

direto e exclusivo ao poder estatal. Ou seja, é necessário que se observe, na democracia

participativa, se os representantes do povo não estão fora do poder, apesar de terem suas

representações asseguradas por lei. Em outras palavras, é preciso perceber se a população, ao

manifestar suas insatisfações perante o governo, não estaria dificultando o diálogo entre os seus

representantes e os lideres governamentais.

Acrescente-se ainda a este fato a possibilidade de as classes populares, ao tentar reverter a

democracia burguesa a seu favor, por meio da participação, estarem contribuindo para a

dominação do capital monopolista. Isto é, ao buscarem a realização de suas reivindicações a

partir de uma perspectiva democrática burguesa, não percebem a necessidade de mudar o

sistema político-econômico, contribuindo assim para a efetivação do capital monopolista.

A despeito de toda a discussão que se realiza em torno do tema, ainda é polêmica a análise

que se faz da democracia participativa ou participação popular. Neste sentido, Martins afirma

que é difícil a prática da participação por falta de um consenso sobre o que significa participar.

Logo, torna-se complexo estabelecer uma relação entre sociedade e Estado, uma vez que, a

depender de como ela é institucionalizada, pode resultar, desta relação a cooptação, a evolução

ou a subvenção (Martins, 1994: 78). Para Dias, no entanto, há alguns instrumentos, como o

voto, o referendo e os conselhos gestores, que funcionam como norteadores de participação,

seja de caráter político, social ou jurídico, destinando-se à finalidade de submeter o

administrador/gestor/representante ao controle e à aprovação da sociedade (Dias, 2005).

Por sua vez, Pont apregoa que a democracia participativa é transversal aos modelos de

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democracia que defendem a soberania e a participação popular, que ocorre tanto por intermédio

de mecanismos institucionais como por meio de organizações da sociedade civil, ressaltando a

necessidade da participação do povo nas tomadas de decisões. De acordo com as suas

anotações, esses espaços de participação são necessários aos modelos de democracia (Pont,

2002).

Sem fugir ao tema da participação, Demo diz que o objetivo mais essencial da democracia

é a consolidação de uma cultura democrática, única forma de assegurar que a própria sociedade

cuide para que direitos e deveres sejam cumpridos, afirmando ainda que a questão da

participação está além da implantação de uma ideologia: trata-se de uma cultura, de uma

situação construída e institucionalizada como regra de vida, como valor comum, como modo de

ser (Demo, 1999).

Vemos assim nascer a idéia de cultura participativa, respaldada pelo pressuposto de que a

democracia participativa, por ser transversal aos demais modelos de democracia que defendem

a soberania e participação popular, assegura a participação popular tanto na eleição de seus

representantes, por meio do sufrágio universal, como na intervenção ou construção de políticas

públicas efetivadas através dos canais de interlocução – tais como os conselhos, as associações,

os sindicatos ou a gestão participativa – existente entre a sociedade e o governo, em flagrante

confirmação de que os modelos de democracia representativa e participativa estão interligados.

Para que seja exercida a democracia participativa é necessário que cada cidadão se

reconheça como ator, executor e construtor dos processos políticos, sociais, culturais,

econômicos, que fazem parte do cotidiano das sociedades (Macpherson, 1978). Partindo dessa

concepção, podemos supor que o desempenho, a qualidade e os resultados da democracia

representativa dependem do nível de atuação da democracia participativa, ou seja, a prática e o

nível da primeira estão relacionados à forma e ao nível de participação popular nos espaços

considerados democráticos. Neste sentido, democracia participativa expressa a capacidade de se

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aproximar a vida das instituições às exigências dos cidadãos, condição sine qua non ao

desenvolvimento local e à coesão social, representando um recurso para a vida e a identidade

das comunidades. Desse modo, a participação do individuo na busca por sua auto-realização só

ocorre quando seus atos de cidadania refletem uma participação consciente e autônoma no

processo de decisão política que afeta a comunidade (Macpherson, 1978; Pont, 2002;

Figueiredo, 2001; Pateman, 1992).

Para Figueiredo, o surgimento da cultura participativa está relacionado ao processo de

construção e desenvolvimento histórico. O desenvolvimento do conhecimento, ou seja, a

evolução do controle sobre a natureza, atingiu seu apogeu no ocidente, há três ou quatro séculos

atrás, e vem alcançando gradativa e rapidamente um processo de globalização que provoca

grandes mudanças na historia da humanidade, o que é prova do surgimento de uma nova cultura

política: a cultura política de participação (Figueiredo, 2001; Macpherson, 1978).

Cresce no mundo ocidental a idéia de que o cidadão comum é importante no campo

político, esfera em que deve participar ativamente de todo e qualquer processo. Contudo, para

dar conta da demanda de novos atores, e, conseqüentemente, do crescimento da democracia

participativa, o Estado, ao assumir um processo de desenvolvimento democrático participativo,

vai demandar outros elementos formais da democracia além daqueles já existentes: para o

Estado vai ser imprescindível o sufrágio universal, os partidos políticos e as eleições.

Para Macpherson, as instituições também estão inseridas no modelo participativo,

principalmente aquelas que são menos formais. Mas é necessário que a forma democrática de

participação adquira uma cultura política com bases reformadoras das teorias humanistas como

alternativa para a teoria democrática liberal. É preciso questionar, por exemplo, o status quo

existente. Ou seja, na democracia liberal as desigualdades sociais no campo empírico são

tratadas separadamente da igualdade formal (Macpherson, 1978; Pateman, 1980).

Sob o ponto de vista de Figueiredo, a teoria liberal é incapaz de reconhecer como

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problema questões fundamentais que dizem respeito à relação intrínseca que existe entre cultura

cívica e elementos ou fatores (sexo, raça, classe social, etc.) que fazem parte da vida dos

cidadãos na sociedade. A cultura participativa deve ser entendida, portanto, como uma

perspectiva teórica, alternativa à teoria liberal, que seja capaz de contemplar fenômenos sociais

a partir de uma visão abrangente de participação política e social. Partindo desta premissa, o

autor em tela acrescenta que esse conceito de cultura política é mais apropriado a um sistema de

democracia participativa, à qual deve ser incorporado o sentido de comunidade (Figueiredo,

2001).

Para Macpherson e Pateman, a cultura participativa deve, por conseguinte, ter como base

o aprofundamento da tradição democrática humanista, deve ter como pressuposto a certeza de

que “o desenvolvimento do individuo no sentido da sua auto-realização só e possível quando os

atos individuais de cidadania sejam atos que reflitam uma participação consciente e autônoma

no processo de decisão política que afeta a comunidade” (Macpherson, 1977; Pateman, 1980).

Neste mesmo contexto, Putnam, em “Comunidade e democracia: a experiência da Itália

moderna”, lança na arena das discussões científicas a noção de participação cívica, ao defender

que a participação expressa a busca do bem público, mediante todo o interesse que seja

puramente individual e particular. Ou seja, os interesses individuais dos cidadãos formam o

bem público (interesse coletivo), sendo a realização desses interesses buscada por meio da

participação (Putnam, 1996).

Há três fatores, ligados às variáveis de avaliação de conduta física, que marcam o conceito

de comunidade cívica: a participação cívica, a igualdade política e a solidariedade. A

participação cívica é a forma por meio da qual se busca perseverantemente o bem público, em

detrimento a todo interesse puramente individual e particular, o que caracteriza uma

comunidade cívica. Não se deve entender, no entanto, a partir desta caracterização, que os

cidadãos tenham que ser obrigatoriamente altruístas na comunidade cívica. Antes, a noção que

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perpassa a comunidade cívica é o que Tocqueville denomina de “interesse próprio corretamente

entendido”, isto é, o interesse próprio que é esclarecido e não míope que é sensível ao interesse

dos outros (Putnam, 1996).

A igualdade política, que do mesmo modo é fator preponderante na comunidade cívica,

segundo Putnam, implica na observância de direitos e deveres iguais para todos. Para esse

teórico, a comunidade mantém-se unida por relações horizontais de reciprocidade e cooperação,

e não por relações verticais de autoridade e dependência. Nela os cidadãos interagem como

iguais, e não como patronos e clientes ou governantes e requerentes. Fazem parte de uma

conduta cívica interiorizada e assumida com normalidade pela sociedade;

A solidariedade, que se manifesta também na confiança e na tolerância, caracteriza a

atuação dos cidadãos na comunidade cívica. Revestidos de espírito público, os cidadãos

costumam ser prestativos, solidários, respeitosos e confiantes uns nos outros, mesmo quando há

divergências em assuntos considerados importantes, o que não significa dizer que não haja

conflito no interior de uma comunidade cívica, mas que há mais tolerância ante as opiniões

oponentes. A confiança mútua é um importante preceito moral na comunidade cívica, o que

permite superar mais facilmente o que os economistas chamam de “oportunismo

contraproducente”, no qual os interesses comuns não prevalecem porque o indivíduo, por

desconfiança, prefere agir isolada e não coletivamente (Putnam, 1996).

Em conformidade ainda com os pressupostos teóricos de Putnam, as características da

organização social (confiança, normas e regras) contribuem para o aumento da eficiência da

sociedade, facilitando as ações coordenadas. Essas características, que ele denomina de “capital

social”, atuam positivamente sobre vários aspectos da vida da comunidade, seja no aspecto

econômico, com o estabelecimento de regras de cooperação e ajuda mútua, seja no aspecto

político, uma vez que estimula o interesse dos cidadãos para as políticas públicas, seja na

proteção dos indivíduos contra os efeitos do isolamento social ou na redução dos riscos de

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acidentes de trabalho, suicídio e homicídio.

3. METODOLOGIA

A pesquisa realizada sobre o Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa teve início

com a coleta de material empírico, efetivada a partir do levantamento de dados sobre a história,

a atuação e a composição do referido conselho. Neste percurso, foram realizadas entrevistas

com os conselheiros de saúde, assim como foi feita a leitura de vários documentos encontrados

nos arquivos do conselho, tais como a Lei de Criação, o Regimento Interno, as Resoluções

exaradas e as atas das reuniões. Além das informações obtidas a partir da leitura desses

documentos, várias outras fontes de consulta foram buscadas para completar a coleta do

material necessário aos objetivos desse trabalho. Dentre estas fontes, merecem destaque a

secretaria executiva do referido conselho, a Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa –

SMS/JP e o Conselho Estadual de Saúde da Paraíba – CES/PB.

O objetivo desse procedimento foi traçar um panorama do universo da pesquisa, a partir

de indicadores sobre o Conselho Municipal de Saúde – CMS e sua atuação enquanto um dos

instrumentos do controle social da saúde da população pessoense. Além de um levantamento

em torno das pesquisas realizadas na área do controle social, também foram coletados e

analisados documentos referentes à legislação sobre o controle social nas políticas públicas de

saúde no Brasil.

3.1 A PESQUISA DE CAMPO

A técnica utilizada para nortear a condução deste estudo foi a pesquisa de campo com

observação participante e entrevistas abertas estruturadas, base da metodologia da Antropologia

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Social, cuja eficácia investigativa e fidedignidade epistemológica têm sido atestadas por

inúmeros autores (Cf., por exemplo, DaMatta, 1979; Guimarães, 1980). Esta técnica

fundamenta-se na premissa de que a análise qualitativa de situações sociais complexas requer a

observação direta de um dado contexto social pelo pesquisador, efetuada intensivamente

durante um período de tempo, período em que o pesquisador interage face a face com os atores

sociais, observando suas ações e os inquirindo sobre elas. Seguindo este procedimento, o

pesquisador tem condições de melhor identificar a rede de relações que, submersas à primeira

vista, informam a lógica mais profunda da situação social observada e as possíveis causas dos

problemas identificados.

A observação realizada, que foi registrada em um diário de campo, teve por finalidade

identificar a prática social do Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa a partir dos

seguintes indicadores: 1) condições infra-estruturais para a realização das reuniões; 2) definição

de temas de pauta; 3) condução das discussões; 4) conteúdo das atas de reuniões; 5)

deliberações e propostas encaminhadas pelo conselho; 6) segmentos que mais intervêm e

qualidade das intervenções; 7) processos de tomada de decisões; e 8) responsabilidade pelo

encaminhamento das deliberações.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa, foi considerada a trajetória do Conselho

Municipal de Saúde de João Pessoa durante o período que compreende as gestões efetivadas em

2004, em 2005, em 2006 e parte da gestão correspondente ao ano de 2007. Em qualquer um dos

períodos analisados foram observados, no conselho, a sua dinâmica interna de funcionamento, o

seu relacionamento com o poder público e com a gestão de saúde no município, a sua

capacidade de influir na agenda pública de saúde e no controle de sua execução.

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3.2 A TABULAÇÃO DOS DADOS

A tabulação dos dados envolve a reconstrução qualitativa e quantitativa da situação social

observada, com base na delimitação de indicadores gerais sobre a inserção dos conselheiros na

configuração sócio-político-organizacional da sociedade local. Assim, o conteúdo das atas de

reuniões, as deliberações e propostas encaminhadas pelo conselho, o nível de participação

política dos conselheiros, a relação do gestor com o conselho, a relação do conselheiro com a

entidade que representa, a forma de indicação do conselheiro, a influência da participação no

conselho em outras dimensões da vida do conselheiro, a noção de controle social dos

conselheiros, o delineamento do perfil sociológico dos conselheiros e o delineamento do perfil

institucional do conselho, baseado em sua feição formal e na prática do seu funcionamento,

foram levados em consideração com o objetivo de estabelecer correlações entre eles e definir

índices de desempenho institucional que possam explicar as causas do bom ou mau

funcionamento do conselho (Caniello, 2002:7).

A proposta deste trabalho foi concentrar-se na busca de afinidades, das semelhanças,

visando construir as generalizações possíveis. As referências aos casos específicos foram feitas

à medida que estes se mostraram exemplares à compreensão do tema em questão.

3.3 INDICADORES DE DESEMPENHO INSTITUCIONAL

A tabulação dos dados envolve a reconstituição qualitativa da situação social observada

dos casos e a definição dos discursos dos atores envolvidos, a partir dos depoimentos colhidos,

o delineamento do perfil sociológico dos conselheiros, de acordo com indicadores como sexo,

idade, escolaridade, renda etc. os indicadores específicos agregados nos roteiros de entrevistas,

e o delineamento do perfil institucional dos conselhos, baseado em sua feição formal e na

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prática do seu funcionamento.

A análise dos dados foi efetuada comparativamente e o procedimento básico da

tabulação foi a delimitação de indicadores gerais sobre o perfil institucional do conselho, sobre

o perfil sociológico dos conselheiros e sobre a inserção do conselho e conselheiros na

configuração sócio-político-organizacional da sociedade local, com o objetivo de estabelecer

correlações entre eles e definir índices de desempenho institucional que possam explicar as

causas do bom ou mau funcionamento dos conselhos (Putnam, 1996: 24-27).

A partir dos dados tabulados, sobretudo daqueles referentes aos estudos de caso, foi

elaborado um quadro geral perceptível na avaliação do referido conselho de saúde. Por meio de

uma análise aprofundada, feita a partir de uma vasta bibliografia, buscamos identificar os temas

e problemas recorrentes no funcionamento dos conselhos, e as variáveis mais privilegiadas na

sua avaliação geral.

Para a realização desse trabalho, tomamos por base a grade de indicadores objeto da

pesquisa “O controle social nos conselhos municipais da Paraíba”, realizada no âmbito do

convênio FAPESQ-PB/MS/FUNASA, coordenada pelo professor Márcio de Matos Caniello,

tendo em vista haver a necessidade de definição de um quadro teórico-metodológico que fosse

adequado à avaliação do desempenho institucional de um conselho municipal de saúde. Ou

seja, estabelecemos um percurso teórico-metodológico que permitisse avaliar a capacidade de

um conselho se constituir como "mecanismo para alcançar propósitos e não apenas para

alcançar acordo", em um "modelo bem simples de governança: demandas sociais (interação

política) governo (opção de política) implementação" (Putnam, 1996: 24). O ambiente político-

institucional, a gestão pública de saúde no município, os conselheiros, o funcionamento e o

controle social foram indicadores que compuseram esta grade. É o que detalharemos, a seguir.

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3.3.1 O AMBIENTE POLÍTICO-INSTITUCIONAL

O ambiente político-instuticional no qual está inserido o conselho municipal de saúde tem

forte influência sobre o seu "desempenho institucional". Assim, dois fatores são fundamentais

nessa configuração: a forma como é exercido o poder local e o nível de cultura cívica da

população, que é aferido, principalmente, pela densidade associativa e pela disposição e

organização da ação coletiva.

No Brasil, podemos observar que a falta de mobilização da sociedade articulada à

existência de padrões tradicionais de dominação política (existência de relações de patronagem,

de oligarquias políticas, de mandonismo, de nepotismo etc.) se reflete no desempenho dos

conselhos gestores de políticas públicas, limitando a prática democrática, tendo como resultado

à reprodução de práticas políticas clientelistas e, conseqüentemente, influindo de forma

negativa em sua eficiência e eficácia. (Caniello, 2002).

Desta forma, para analisarmos o desempenho institucional do conselho em relação a sua

atuação no controle social é necessário, analisar as estruturas em que ele está implantado,

observando o comportamento do poder local, a partir da descrição da configuração política

vigente, da análise das relações políticas locais, da cultura cívica, referenciada no conceito de

Putnam, a partir da qual se pode fazer uma radiografia da sociedade civil.

3.3.2. A GESTÃO PÚBLICA DA SAÚDE NO MUNICÍPIO

Para a configuração deste indicador, foram considerados dados sobre a forma como a

saúde pública é gerida no município, bem como informações importantes ao conhecimento do

ambiente político-institucional no qual está inserido o conselho municipal de saúde, em uma

postura de afunilamento do olhar do analista para o objeto da pesquisa. Neste sentido, foram

definidos como elementos de análise, em primeiro lugar, o panorama geral do conselho,

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desenhado a partir da análise – realizada com a finalidade de verificar a existência de

transparência e publicização das ações do gestor público – dos relatórios de gestão e de outros

documentos avaliativos; e, em segundo lugar, foi tomado como elemento de análise, o Fundo

Municipal de Saúde – FMS, sua data de implantação e suas fontes de financiamento.

Após o reconhecimento do ambiente político-institucional da localidade e a forma de

gestão das políticas públicas de saúde, é preciso construir um quadro detalhado do conselho

municipal de saúde, de maneira a avaliarmos as condições internas para o pleno

desenvolvimento de seu bom desempenho institucional, sobretudo quando não existe infra-

estrutura ou recursos próprios, situação em o funcionamento do conselho passa a depender

exclusivamente da gestão, que pode utilizar estratégias ou armadilhas para impor uma conduta

autoritária ou para cooptar conselheiros, tendo em vista a pouca autonomia destes.

A construção deste indicador parte de uma série de sub-componentes que detalham e

especificam os vetores de determinação do desempenho de um conselho, podendo fornecer ao

analista um instrumento mais preciso de avaliação. Esses sub-componentes dizem respeito à

origem, à natureza, à infra-estrutura, ao orçamento, ao Regimento Interno, à composição, e ao

perfil institucional do conselho.

Na análise da origem, é preciso se verificar se o conselho foi criado por lei ou por decreto,

ou seja, se foi instituído de baixo para cima, ou vice e versa; verificando-se, ainda se sua

criação foi resultante da mobilização dos movimentos sociais, acarretando um fortalecimento da

sociedade civil a partir da criação de uma nova institucionalidade, ou se o conselho é fruto da

descentralização da política de saúde que impõe a obrigatoriedade da criação dos conselhos

para se ter acesso a recursos.

Na análise da natureza, é necessário conferir se o conselho é deliberativo, isto é, se por

meio da gestão compartilhada, o conselho tem o poder de deliberar e se o executivo acata e

implementa suas decisões; se desempenha ações de planejamento, isto é, se as discussões e

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decisões têm um caráter propositivo a curto, médio e longo prazos, não se limitando a apenas

encaminhar demandas do poder público; ou se limita-se a ser consultivo, isto é, se atua de

maneira a apenas "auxiliar" o executivo a implementar políticas definidas de fora para dentro,

para, por exemplo, o acesso a financiamentos públicos de toda ordem.

Na análise da infra-estrutura, averigua-se se o conselho dispõe de infra-estrutura básica

desvinculada do órgão gestor, para que não haja dependência, da mesma forma que é verificada

a existência de uma secretaria executiva que atue no sentido de encaminhar as decisões tomadas

pelos conselheiros, tendo clareza da estrutura de funcionamento do conselho.

Na análise do orçamento, é necessário observar se o conselho possui orçamento próprio,

condição indispensável para a sua autonomia, que não se consolida se ficar a mercê vontade

política do gestor. Da mesma forma, é importante se observar se o orçamento está sendo usado

apenas para a manutenção do conselho ou se é utilizado também para financiar a participação

dos conselheiros em cursos de capacitação, oficinas, congressos, seminários, ou qualquer outro

tipo de evento que favoreça a troca de experiências para a formulação de propostas conjuntas e

análises das interfaces nas ações.

Na análise do Regimento Interno, é preciso examinar se este documento regulamenta o

funcionamento interno do órgão, especificando a regularidade e dinâmica das reuniões, os

procedimentos relativos às deliberações, bem com os deveres e as obrigações dos conselheiros e

do gestor para o com o conselho.

Na análise da composição, verifica-se se o conselho cumpre os critérios estabelecidos em

lei para a definição das representações dos segmentos que o compõe, ou seja, é preciso

averiguar se o governo, os profissionais de saúde, os prestadores de serviço e os usuários têm

lugar garantido na sua composição, tanto na atualidade como na sua historia pregressa.

Na análise do perfil institucional, faz-se mister verificar se a composição do conselho

tem pluralidade, uma vez que é através da diversidade das organizações representativas que

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surgem espaços mais abertos de interação, que possibilita o estabelecimento de instâncias

críticas em relação às deliberações. Do mesmo modo, é preciso observar se há paridade na

composição do conselho, pois a participação de 50% de representantes de usuários e 50% de

representantes do governo, dos prestadores de serviços e dos trabalhadores da saúde constitui

uma correlação de forças na luta pela hegemonia, na qual pode ocorrer confronto de oposições

dos representantes da sociedade civil e do governo, pré-requisito para prevalecer o bom

desempenho institucional dos conselhos, favorecendo a prática democrática.

3.3.3. OS CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE SAÚDE

Depois de realizados os estudos em torno das estruturas, interna e externa, que ambientam

o conselho municipal de saúde, adquire fundamental importância a construção da imagem dos

atores que o compõe, ou seja, torna-se imprescindível a definição do perfil dos conselheiros,

uma vez que são eles, evidentemente, os protagonistas do controle social. Para a definição deste

perfil, descrevemos e avaliamos o perfil sociológico, a qualificação, a capacitação e a atuação

dos membros que compõem o conselho municipal de saúde.

Na definição do perfil sociológico, compilamos dados referentes a idade, sexo, grau de

instrução, profissão, filiação partidária, entidade que representa, entre outras informações que

pudessem ajudar a delinear o contorno que tem a representação do conselho municipal de

saúde.

Para a análise da qualificação dos conselheiros, foram identificados o nível de

qualificação técnica, que proporciona ao conselheiro o conhecimento do estado de saúde da

população, o nível de qualificação política, responsável por dotar o conselheiro de

conhecimento sobre a realidade de sua comunidade, possibilitando a ele identificar os

problemas que afligem a maioria da população, e o nível de qualificação institucional, que

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permite ao conselheiro o conhecimento de normas e procedimentos do conselho, bem como o

conhecimento do funcionamento da máquina pública, o que favorece sobremaneira uma prática

ativa e produtiva.

Para a análise da capacitação, foi investigada a existência de mecanismo e instrumentos

que possam ser utilizados para suprir as necessidades técnicas, políticas e institucionais dos

conselheiros, no sentido de lhes proporcionar melhor desempenho e maior independência em

relação ao órgão gestor. Aqui, procuramos indagar se o conselho realiza cursos de capacitação

ou se assegura o incentivo financeiro necessário à participação dos conselheiros em cursos ou

outros eventos desta natureza.

Para analisar a atuação dos conselheiros, observamos o nível de sua representatividade,

analisando se esta atuação ocorre em conjunto com a entidade da qual faz parte. Ou seja,

procuramos investigar se há respeito ao vínculo que deve existir entre o representante e os

representados, se a prática dos conselheiros reflete a transferência de responsabilidade que a

comunidade lhe delegou.

Ainda para realizar a análise da atuação dos conselheiros, mensuramos o nível de

credibilidade desta atuação observando se as proposta discutidas na comunidade e referendadas

pela entidade representada são apresentadas e defendidas no conselho. A existência ou não

desta prática irá definir a boa ou a fraca representatividade.

Além disso, para fazer o exame da atuação dos conselheiros, apreciamos também o nível

de legitimidade desta atuação, avaliando o vínculo existente entre o conselheiro e a base que lhe

delega poderes de representação. Maior ou menor legitimidade será alcançada à proporção que

o conselheiro se aproxima ou se distancia da base que representa. A apropriação e

personificação do mandato, mediante a atuação voltada para o benefício próprio, e a

profissionalização do conselheiro, situação que se verifica quando este participa de vários

conselhos ao mesmo tempo, são as principais causas da quebra de legitimidade.

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3.3.4. O FUNCIONAMENTO DOS CONSELHOS

Conhecidos e analisados a estrutura do poder local e a cultura cívica dos cidadãos, o

contexto da gestão pública da saúde, os detalhes da arena institucional que é o conselho

municipal de saúde e o perfil dos atores que protagonizam as cenas ali desenvolvidas, torna-se

necessária a análise do funcionamento efetivo dos conselhos, a partir da utilização de métodos

da observação participante, uma vez que por meio desse procedimento é possível reconstituir a

realidade da ação desenvolvida na interação entre a sociedade civil e o poder público com o

objetivo de produzir um panorama vivo do controle social exercido no âmbito do conselho.

Para a realização desta análise, é preciso apreciar o planejamento das atividades, a regularidade

e dinâmica das reuniões, e a efetividade do conselho.

Na observação do planejamento das atividades, foi analisada a existência efetiva de

planos de metas, de curto, médio e longo prazos, tendo sido também analisada a agenda de

atividades permanentes, pois o planejamento das ações é um fator organizativo que favorece a

participação e desempenho dos conselheiros.

Para a verificação da regularidade das reuniões, as atas do conselho foram analisadas

com o objetivo de se observar tanto o calendário cumprido como a diferença existente entre o

número de reuniões ordinárias e o número das reuniões extraordinárias.

Já no que diz respeito à dinâmica das reuniões, foi analisada a sistemática de

convocação, levando-se em consideração se a secretaria executiva do conselho convoca seus

membros com a antecedência prevista no Regimento Interno, tanto para realização de reuniões

ordinárias quanto para a realização das extraordinárias; e se é elaborado um cronograma de

reuniões, que deve ser distribuído antecipadamente a todos os conselheiros, como mecanismo

para se evitar a ausência de quorum nas reuniões.

Ainda neste quesito, foi observado e reconstituído o desenvolvimento dos debates,

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verificando-se se o encaminhamento das discussões é democrático, a assiduidade dos

conselheiros, e como se opera a formação de blocos, o estabelecimento de negociações, de

articulações, de consensos e conchavos, a correlação de forças e a interferência de grupos

políticos partidários. Além disso, foi observada a elaboração das atas, com o intuito de se

verificar se nelas está escrito o teor das reuniões, se elas são distribuídas aos conselheiros

previamente, se têm seu conteúdo contestado e se estão livremente disponibilizadas para

consulta.

Para a compreensão do que consideramos efetividade do conselho, observamos se a

plenária delibera sobre as demandas da população ou se o conselho se configura apenas como

um instrumento de acesso a financiamentos federais e estaduais. Analisamos ainda se o poder

executivo implementa as decisões do conselho – o que revelaria um bom índice de desempenho

institucional – e se há a divulgação das decisões ali tomadas, uma vez que a publicização, que

possibilita a compreensão das relações que o conselho mantém com a sociedade, é fator

decisivo para se avaliar se o controle social é efetivo ou não. Quando há pouco empenho ou

resistência à divulgação das decisões e dos atos do conselho, à transparência e à socialização

das informações, há grande possibilidade de o conselho ter um baixo desempenho institucional.

3.3.5. CONTROLE SOCIAL NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE

Depois de todos os dados alocados na grade de indicadores, é possível ao analista concluir

se há ou não controle social no conselho municipal de saúde. Para a elaboração desta conclusão,

no entanto, é necessário o estabelecimento de critérios que orientem a análise dos dados

tabulados. Neste caso, em particular, tomamos como norte orientador as seguintes questões

geradoras da pesquisa: 1) em que medida ocorre a participação da sociedade no exercício do

controle social? 2) há relação de representatividade e legitimidade no Conselho Municipal de

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Saúde de João Pessoa? 3) em que medida ocorre esta representatividade? 4) qual é o nível de

desempenho institucional verificado? e 5) como a atuação do conselho pode contribuir com a

gestão das políticas públicas de saúde, influindo positivamente no estado de saúde da

população?

De acordo com Caniello (2002), para estruturar a conclusão do relatório, é preciso antes

verificar se há eficiência na atuação do conselho, isto é, se ele é capaz de atuar democrática e

decisivamente na formulação de estratégias para a implementação das políticas públicas de

saúde, no monitoramento do uso dos recursos aplicados pelo gestor em sua execução, bem

como se ele influencia efetivamente a implementação das decisões tomadas em seu âmbito, da

mesma forma que é necessário averiguar se há eficácia nas deliberações dos conselhos, ou seja,

se as decisões tomadas a partir do debate democrático e implementadas em função de sua

eficiência transformam-se em políticas públicas cuja aplicação redunda em melhoria das

condições de vida e saúde da maioria da população.

4. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO BRASIL

4.1. CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO

As políticas de saúde no Brasil estão articuladas com as determinações sócio-históricas. A

partir da década de 30 o Estado passa a intervir no setor da saúde. Nessa conjuntura, a saúde

vivencia três períodos distintos: o previdencialista-assistencialista, o privatista e o universalista,

a partir da Constituição de 1988 (Bravo 1999). Também neste período a economia começa a

tomar novos rumos a partir do processo de industrialização, que provoca importantes

transformações no País, tais como a redefinição do papel do Estado e o início da implantação

das políticas sociais. No que se refere às questões sociais, destacou-se o problema da saúde, que

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necessitava de mudanças políticas. Vale ressaltar que, neste período, os trabalhadores eram

considerados sujeitos sociais importantes no cenário político nacional porque suas contribuições

sustentavam o sistema previdenciário da época.

A crise da saúde piorava à medida que aumentava a necessidade de atendimento do

grande número de trabalhadores assalariados que crescia com a expansão do capital industrial.

Um fator agravante para esta situação foi o desenvolvimento acelerado da industrialização que

não provocou melhorias na infra-estrutura urbana, tendo como resultado, precárias condições de

higiene, saúde e habitação para os trabalhadores (Bravo 1999).

Foi ainda nas décadas de 30 e 40 que surgiu uma política de saúde de caráter nacional

que se destacou pelas campanhas sanitárias, coordenadas pelos serviços estaduais de saúde e

pelo Departamento Nacional de Saúde – DNS. Até meados dos anos 60, a saúde publica se

caracterizou pelo desenvolvimento de uma política que se concentrou na criação de condições

sanitárias mínimas para as populações urbanas, mas que cometeu a negligência de deixar sem

assistência a população rural.

Em relação à política de saúde previdenciária, sua origem está nos Institutos de

Aposentadorias e Pensões – IAPs, surgidos na década de 30 com o objetivo de antecipar as

reivindicações da categoria de assalariados urbanos. Esse modelo de previdência vai até 1945.

Oliveira e Teixeira (1986) consideram esse modelo menos abrangente do que o do período

anterior, que vai de 1923 até 1930. Isto se deve ao fato de o rápido crescimento do número de

trabalhadores assegurados ter produzido um gasto muito maior do que o gasto verificado no

período anterior, o que exigiu a solução de se enfatizar uma política de contenção dos gastos.

Nesta fase, a previdência objetivava mais a acumulação de reservas financeiras do que uma

ampliação dos serviços prestados (Cf. Bravo, 1999).

Em maio de 1953, no segundo mandato do presidente Getúlio Vargas, foi criado o

Ministério da Saúde – MS. Contudo, durante a década de 50 poucos eram os recursos

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destinados à saúde, o que dificultava uma atuação eficaz do Estado no combate à grave situação

vivenciada na área da saúde coletiva. As ações de saúde nesta época se limitavam a medidas

paliativas, como as campanhas de combate às doenças, coordenadas pelo Estado. Quanto ao

atendimento médico aos trabalhadores, a responsabilidade recaía sobre os IAPs, que eram

mantidos pelos empregados e empregadores.

No período que vai de 1945 a 1964, o Estado investia, a fundo perdido, recursos

financeiros no setor privado, para a construção e o equipamento de hospitais, justificando assim

ter sido esta época considerada privatista. Ademais, foi também por volta da década de 50 que

começaram a surgir os planos de saúde privados. Apesar dos esforços da Política Nacional de

Saúde – PNS vigente, na época, não houve reversão do quadro de doenças infecciosas e

parasitárias e das elevadas taxas de morbidade e mortalidade infantil.

De acordo com Guimarães e Lima (2005), foi no governo de Juscelino Kubitschek, em

1956, que ocorreu a implantação de um programa com ações direcionadas à assistência de

crianças, tendo em vista o alto índice de mortalidade infantil verificado até então. Com o novo

programa, foram abertos postos de puericultura e de serviços de higiene infantil, para o

acompanhamento materno-infantil. Até 1964, predominou, no panorama nacional, a assistência

médica previdenciária sobre a assistência médica privada, ainda pouco expressiva. É a partir de

1964 que ocorre a expansão da terceirização dos serviços de saúde, momento quando se acirrou

a divisão entre as ações e serviços de saúde pública e as ações e serviços de assistência médica.

As primeiras eram realizadas de forma gratuita em centros de saúde e unidades ambulatoriais,

tendo direito às ações e serviços de assistência médica apenas quem pudesse pagar por elas.

Uma nova crise financeira ocorre no setor saúde com o golpe militar. Entre 1964 e 1980,

foi registrada uma significativa redução nas verbas do Ministério da Saúde – MS, o que colocou

a saúde pública em um estado de expressiva precariedade. A verba destinada à saúde em 1961

correspondia a 4,57% do total do orçamento da união, caindo, neste período, para apenas 0,94%

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do orçamento nacional. Assim, as ações do Ministério da Saúde passam a se limitar

basicamente a elaboração de projetos e programas, deixando para outros setores a

responsabilidade de execução das tarefas sanitárias.

No período da ditadura militar, a questão social foi tratada pelo Estado por meio de uma

intervenção baseada na repressão e assistência. Além disso, o Estado ampliou e modernizou a

burocracia, para promover a expansão da política assistencial objetivando aumentar o poder de

regulação sobre a sociedade para minimizar as tensões sociais, legitimar o regime e possibilitar

a acumulação de capital. Em 1966, houve um processo de exclusão dos trabalhadores da gestão

previdenciária mediante a intervenção do Estado na sociedade, criando-se, desta forma, as

condições para a unificação da previdência social. Assim, coube aos trabalhadores financiar a

previdência.

Por meio da intervenção do Estado na sociedade houve um declínio da saúde pública e

conseqüente expansão da medicina previdenciária. A partir desse período foi criado o Instituto

Nacional de Previdência Social – INPS, que absorveu os IAPs, permitindo a todo hospital

atender qualquer trabalhador que apresentasse carteira de trabalho assinada. Na década de 1970,

o governo federal resolveu subdividir o INPS, criando um instituto só para lidar com as

arrecadações da previdência, o Instituto de Administração da Previdência e Assistência Social –

IAPAS, e outro para a prestação da assistência médica, o Instituto Nacional de Assistência

Médica da Previdência Social – INAMPS, ficando ao INPS a responsabilidade de cuidar apenas

das aposentadorias e pensões. Assim, paulatinamente, outras categorias de trabalhadores

passaram a ter direito à assistência à saúde: em 1971, foram incorporados os trabalhadores

rurais, em 1972, foi a vez das empregadas domésticas, e 1973 marcou a entrada dos

trabalhadores autônomos, entre outros, no sistema. Houve, inegavelmente, neste período, um

considerável avanço em direção à universalização de determinados direitos sociais (Cf. Costa,

1996).

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Apesar do avanço observado, não deixou de haver também, nesta época, grande

investimento do recurso público no setor privado. Os hospitais e ambulatórios formavam uma

rede de serviços conveniados ou contratados pelo governo federal para atender à população

beneficiária, que, por já pagar contribuição ao INPS, não tinham cobrados os serviços a que

teve acesso. Para a população que não contribuía com o INPS restava a assistência prestada

pelos hospitais filantrópicos. Em ambos os casos, os serviços de saúde eram custeados pelo

governo federal, através da previdência social. Como a maioria da população não tinha acesso

aos serviços de saúde, a situação gerou um clima de indignação, desencadeando processos de

luta por mudanças no setor.

No período compreendido entre 1974 e 1979, o regime militar teve como objetivo o

enfrentamento da questão social, na perspectiva de canalizar as reivindicações e as pressões

populares em uma tentativa de aproximação com a sociedade civil. Apesar desta tentativa de

aproximação, a forma de enfrentamento da questão social provocou permanente tensão na

política nacional de saúde, pois se por um lado era possível notar uma razoável ampliação dos

serviços, por outro lado cresciam os problemas relacionados à disponibilidade de recursos

financeiros. O conflito envolvia conexões burocráticas entre os setores do estado e as empresas

médicas privadas, resultando na necessidade de um movimento pela reforma sanitária no País.

As ações de saúde de caráter curativo, propostas pela política de saúde, foram

comandadas pelo setor privado, o que não impedia que, em paralelo, medidas de saúde pública

fossem tomadas pelo Ministério da Saúde, proporcionando relativa melhoria no Sistema

Nacional de Saúde. Nesse processo, houve a interiorização dos serviços de saúde, a implantação

da estrutura básica de saúde pública e o aumento da cobertura assistencial viabilizada por

programas pilotos.

Em seguida, iniciou-se a fase universalista, que marcou a década de 80, caracterizada já

pelo fim do regime militar. Nesse período, entraram em cena novos atores nas discussões das

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condições de vida da população brasileira, destacando-se a participação nas questões relativas

ao setor de saúde. Houve uma grande mobilização social frente às propostas governamentais

apresentadas para o setor, o que teve como conseqüência uma articulação política estritamente

vinculada à questão da democracia (Bravo, 1999; Sousa, 2003).

No Período que corresponde às décadas de 80 e 90 houve uma redução na economia do

País e, em conseqüência, um significativo aumento do desemprego, que provocou a redução das

contribuições feitas à previdência. Para enfrentar a crise da falta de dinheiro no sistema

previdenciário, o governo federal constituiu um grupo de trabalho, o Conselho Consultivo de

Administração da Saúde Previdenciária – CONASP, para analisar e buscar soluções para

superá-la. O grupo fez um diagnóstico e propôs um plano de reorientação da assistência médica

na previdência. Na opinião do grupo, o sistema estava sendo fraudado, a partir do desvio de

recursos que era realizado com as internações fantasmas, com os procedimentos inventados,

com a quantidade enorme de consultas que não podiam ter sido realizadas. Para controlar

melhor esse gasto, o CONASP propôs a criação das Autorizações de Internação Hospitalar –

AIHs, ainda hoje utilizadas, estabeleceu parâmetros para o planejamento de ações e serviços

prestados aos beneficiários, e criou mecanismo para coibir fraudes. O grupo percebeu ainda a

necessidade de mudanças profundas no sistema de saúde, propondo nova forma de atuação para

a previdência, o que posteriormente se tornaria uma estratégia de mudança no sistema de saúde:

as Ações Integradas de Saúde – AIS.

As AIS tinham como proposta fundamental transferir uma quantidade de dinheiro do

INAMPS aos governos estaduais e municipais para a construção e financiamento de unidades

de saúde, desde que fosse assegurado o oferecimento de serviços tanto aos beneficiários da

previdência como também a todos os cidadãos. Inicia-se, neste período, o processo de

construção do direito a saúde, com a descentralização dos recursos, das ações e dos serviços de

saúde, por meio das AIS.

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Entre 1982 e 1986, as AIS passaram por grande expansão no País, tornando-se uma

potente estratégia de reforma para o sistema de saúde, alcançando 664 municípios, o que

correspondia ao atendimento gratuito de 70% da população brasileira. Em 1986, ano

considerado divisor de águas, inicia-se o processo de ruptura de um sistema de saúde

discriminatório e centralizado. Era indiscutível e visível a necessidade de superar efetivamente

a divisão entre a assistência médica e a saúde publica, para dar continuidade à expansão do

direito à saúde.

Para a unificação do INAMPS ao Ministério da Saúde, duas propostas foram

apresentadas: a primeira delas tinha como meta transferir o INAMPS, com todo se poder e

recurso, do Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS para o Ministério da Saúde.

A segunda proposta visava unificar e descentralizar o INAMPS, aumentando a responsabilidade

e autonomia das suas superintendências regionais em cada estado, reduzindo assim a

concentração do poder. Esta proposta, que saiu vitoriosa da contenda, previa também a

firmação de convênios com as secretarias estaduais de saúde, que passariam a assumir o

comando único da rede sob responsabilidade do INAMPS e da saúde pública no estado. Para a

sua vitória foi fundamental o apoio dos representantes do INAMPS e dos governadores, que

passariam a ter mais poder e recursos nas mãos de seus secretários de saúde.

A partir dessa conquista, todos os governos estaduais e 2.500 municípios assinaram

convênios para implantação dos Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde – SUDS.

Assim, o Ministério da Saúde e o INAMPS uniram-se na perspectiva de promover um amplo

fórum de debate sobre a configuração que deveria ter esse sistema para garantir a todos o direito

à saúde. Esse fórum se concretizou na VIII Conferencia Nacional de Saúde, realizada em março

de 1986, em Brasília, contando com cerca de 4.500 (quatro mil e quinhentas) pessoas, sendo

1.000 (mil) delegados. Os temas e discussões que nortearam a referida conferência envolveram

a sociedade como um todo, em defesa do Sistema Único de Saúde – SUS, com a proposição de

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uma reforma sanitária ampla (Bravo, 1999).

Os principais resultados dessa conferência foram encaminhados à Assembléia Nacional

Constituinte e incorporados ao texto da Constituição de 1988, que criou o SUS. Vale ressaltar

que essa mobilização, denominada Movimento pela Reforma Sanitária, contou com a

participação de profissionais de saúde, com o movimento feminista e religioso, bem como com

outros segmentos da sociedade, rompendo com o corporativismo e passando a defender as

questões de caráter coletivo, em busca de um novo modelo de sistema de saúde que fortalecesse

o setor público. Esse movimento teve como instrumento de apoio para difusão de suas idéias o

Centro Brasileiro de Estudos de Saúde – CEBES, que, mediante discussão de temas como

“Saúde e Democracia”, conseguiu ampliar o debate na elaboração de contrapropostas que

subsidiaram partidos políticos de oposição e movimentos sociais urbanos em suas atuações, no

âmbito do Congresso Nacional ou no seio da sociedade civil.

Entre as principais propostas do CEBES destacaram-se a concepção de saúde como

direito de todos e dever do Estado, a reestruturação do setor mediante implementações do SUS,

que promovam uma nova compreensão da saúde individual e coletiva, a descentralização do

processo decisório para as esferas estadual e municipal, o financiamento efetivo e a

democratização do poder local, através de novos mecanismos de gestão – os conselhos de

saúde. (Bravo, 1999).

Dessa forma, a saúde conquistou seu capitulo na Constituição Federal de 1988, passando a

ser um direito universal do cidadão e dever do Estado – traduzido no texto “A saúde é um

Direito de Todos e um Dever do Estado” – e assumido uma feição nova que contempla a

promoção, a proteção e a recuperação da saúde. A partir da compreensão de que o tema saúde

envolve todos os aspectos sócio-econômicos e político-culturais que perpassam a vida das

pessoas, o novo modelo busca acabar com as discriminações feitas a partir das diferenças

existentes entre o segurado e o não-segurado, entre a população rural e a população urbana. No

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novo contexto, as ações e serviços de saúde passaram a ser considerados de relevância pública,

cabendo ao poder público sua regulamentação, fiscalização e controle, o que foi assegurado

pela constituição do SUS, que integra todos os serviços públicos em uma rede hierarquizada,

regionalizada, descentralizada e de atendimento integral, com a participação da comunidade.

As mudanças efetivadas neste período não aconteceram sob a égide da unanimidade.

Ainda em 1988, mediante o processo de reforma constitucional, os debates sobre saúde na

Assembléia Constituinte culminaram na formação de dois blocos de interesses antagônicos: a

Federação Brasileira de Hospitais FBH, representando o setor privado, e a Associação de

Indústrias Farmacêuticas – AIF, eminentemente multinacional, formaram um bloco e os

defensores da reforma sanitária, representada pela Plenária Nacional pela Saúde na

Constituinte, constituíram outro.

Para que as propostas referentes ao setor saúde fossem aprovadas na Constituição

Federal de 1988, foram necessários vários acordos políticos e pressão por parte da sociedade

civil organizada. Grande parte das reivindicações do movimento sanitário foi contemplada,

prejudicando os interesses empresariais do setor hospitalar, mas sem, no entanto, provocar

alteração na situação da indústria farmacêutica (Bravo; 1999).

Nos anos 90, teve início a consolidação do movimento de descentralização do SUS, com o

processo de normatização e institucionalização efetivado a partir do estabelecimento das

Normas Operacionais Básicas – NOB, cabendo ao Ministério da Saúde, neste contexto,

explicitar as diferentes modalidades de habilitação que teriam os estados e os municípios na

gestão de recursos do SUS (Almeida, 1995; Bravo,1999).

A política implantada nos anos 90, no entanto, consegue redirecionar o papel do Estado

por meio da aliança que foi firmada entre os grupos dirigentes e o grande capital. O objetivo

desta aliança era conter os avanços do texto constitucional interferindo na reforma da

constituição. No que se refere à reforma da previdência social, esse processo resultou na

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máxima: “a seguridade virou previdência e previdência é considerada seguro” (Bravo, 1999).

Deste modo, a saúde é novamente atrelada ao mercado, mediante a constituição de parcerias

com a sociedade civil que se torna a responsável pelos custos da crise. A redução de custos

passa a se tornar uma meta a ser alcançada, o que propicia o surgimento da filantropia, com a

utilização de agentes comunitários para realizar atividades profissionais. Nesta perspectiva

convivem dois projetos em tensão: “o projeto de reforma sanitária, construído na década de 80 e

inscrito na Constituição Brasileira de 1988, e o projeto de saúde vinculado ao mercado

privatista hegemônico na segunda metade da década de 90” (Bravo, 1999).

Contudo, a política de saúde dos anos 90 representa a consolidação do arcabouço

institucional da descentralização. O primeiro passo para a institucionalização do sistema

proposto no texto constitucional de 1988 foi dado no início no governo Collor de Mello (1990-

92), com a edição do Decreto N°. 99.438, em agosto de 1990, documento que organiza e define

as atribuições do Conselho Nacional de Saúde – CNS. Em setembro do mesmo ano, é aprovada

a Lei N°. 8.080, conhecida como Lei Orgânica da Saúde – LOS, que ratifica as diretrizes

constitucionais do sistema e amplia a responsabilidade municipal na administração dos serviços

de saúde, nas atividades de negociação, na alocação de recursos e na regulação de desempenho.

A aprovação desta Lei recebeu veto parcial nos artigos referentes à participação popular e

ao financiamento do sistema, fato que criou dificuldades na implementação do sistema.

Entretanto, ainda que o Congresso tenha mantido o veto presidencial, um cenário favorável foi

criado diante das dificuldades de relacionamento entre o Executivo e o Legislativo,

possibilitando a criação de novos arranjos institucionais, como é o caso da aprovação da Lei

Complementar Nº. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre as condições e as

formas de transferências de recursos e a participação da comunidade na gestão do SUS.

Quanto à participação da comunidade, a Lei Nº. 8.142 possibilitou a criação de duas

instâncias colegiadas com o objetivo de avaliar e deliberar sobre as políticas públicas no País: o

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Conselho Nacional de Saúde – CNS e a Conferência Nacional de Saúde – CNS. Esses

organismos constituem até hoje instâncias privilegiadas de discussão da política de saúde, na

formulação de estratégias e no controle da execução do Plano Nacional de Saúde – PNS. Outros

instrumentos institucionais vieram após a LOS e a Lei Nº. 8.142, como é o caso das três

Normas de Operacionais Básicas que foram editadas pelo Executivo, por intermédio do

Ministério da Saúde, respectivamente em 1991, 1993 e 1996.

A NOB Nº. 01/91 foi a responsável pela introdução do conceito de habilitação dos

municípios e dos estados ao SUS, desde que houvesse um comprometimento com a gestão

direta dos serviços. Ela também prescreve o funcionamento dos conselhos. Passados dois anos,

ficou comprovado, para o Ministério da Saúde, a inoperância desse arranjo institucional, o que

possibilitou o surgimento da NOB Nº. 01/93, a qual é responsável pela criação da Comissão

Intergestores Tripartite – CIT (composta de representantes dos governos federal, estadual e

municipal) e da Comissão Intergestores Bipartite – CIB (com representação paritária entre

estados e municípios), as regras de transferência de recursos e os mecanismos de controle e

avaliação.

Com a edição da NOB Nº. 01/96, o Ministério da Saúde amplia a responsabilidade dos

gestores municipais e estaduais e fortalece a atenção básica e primária nas ações de saúde

coletiva. A implantação destes arranjos institucionais possibilitou a consolidação da política de

descentralização da saúde no país. Em 2000, foi criada a Norma Operacional da Assistência à

Saúde – NOAS, que passando por alterações, levou à edição da NOAS 2002. A Norma

Operacional da Assistência à Saúde dispõe sobre a organização da Assistência a Saúde. A saúde

conta ainda com várias portarias e Resoluções Ministeriais.

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4.2. A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

Teixeira (2000) define a participação cidadã como um processo complexo e contraditório

que se desenvolve entre a sociedade civil, o Estado e o mercado, em uma relação em que os

papeis se redefinem pelo fortalecimento da sociedade civil mediante a atuação organizada dos

indivíduos, grupos e associações. Já para Demo (1999), participação é a conquista de direitos, é

a conquista da cidadania por meio de um processo de ampliação dos espaços para o exercício

do controle social, frente às desigualdades sociais marcadas pela sobreposição de um grupo

minoritário sobre o grupo majoritário. Logo, a participação caracteriza-se como outra forma de

poder.

Para Teixeira, o fortalecimento da participação cidadã ocorre, por um lado, com a

assunção de deveres e responsabilidades de políticas especificas, e, por outro, com a criação e o

exercício de direitos. Esta relação pressupõe o controle social do estado e do mercado, mediante

parâmetros definidos e negociados nos espaços públicos pelos vários atores políticos e sociais.

A participação cidadã se utiliza tanto de mecanismos institucionais, disponíveis ou a serem

criados, como se articula com outros mecanismos e canais – organizações da sociedade civil –

que se legitimam pelo processo social (Teixeira, 2000).

Algumas políticas públicas vêm sendo debatidas, mesmo que de forma incipiente, desde a

década de 70, o que já configura a existência de um processo histórico. Quanto à participação

cidadã na construção, implantação e implementação de algumas dessas políticas, observamos

que é na conjuntura política atual que ocorre essa abertura, com a considerável participação da

sociedade por intermédio de suas organizações.

As propostas de mudanças no setor de saúde avançam em busca de qualidade para a

política de saúde do SUS. Todos os arranjos construídos até então contribuíram efetivamente

para grandes avanços no setor, contudo não conseguiram assegurar plenamente a qualidade do

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atendimento, da assistência, da prevenção e da promoção da saúde da população. A busca pela

qualidade do sistema tornou-se um desafio e uma meta para o governo federal, desencadeando

vários encontros entre gestores, conselheiros e profissionais da saúde e entidades organizadas

da sociedade, com o objetivo de se discutir e propor novos rumos para o setor.

Limitamo-nos, aqui, a citar algumas políticas públicas que estão sendo consideradas como

temas transversais a todas as demais políticas, de grande relevância para a melhoria da

qualidade da política de saúde e do SUS, reforçando assim a prática da democracia

participativa. Neste sentido, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde – CONASS, em

2003, solicitou ao Ministério da Saúde a revisão do processo normativo do SUS, com base nos

consensos firmados na Carta de Sergipe – fruto do I Seminário para Construção de Consensos

que reuniu os Secretários Estaduais de Saúde dos 27 estados brasileiros.

Três anos depois, atendendo à reivindicação do CONASS foi aprovado o documento

“Pacto pela Saúde – Consolidação do SUS”. Faz parte deste pacto a Portaria GM/MS Nº. 399,

de 22 de fevereiro de 2006, que dispõe sobre diretrizes operacionais que promovem grandes

mudanças no sistema. O pacto apresenta como prioridade a repolitização da discussão do SUS,

com envolvimento da sociedade e redefinição de financiamento compatível com as

necessidades de saúde assegurada na Emenda Constitucional – EC Nº. 29. As estratégias para

implantação do pacto deverão ser discutidas com os conselhos municipais e estaduais de saúde,

priorizando os espaços de participação da sociedade civil.

O pacto acima referenciado teve como base dois eixos fundamentais que resultaram na

consolidação de dois outros pactos, o Pacto pela Vida, que trata do compromisso que deve

existir, entre os gestores, com as prioridades que apresentam impacto sobre a situação de saúde

da população brasileira, visando à promoção da saúde e ao fortalecimento da atenção básica. O

outro pacto, conhecido como Pacto de Gestão, volta-se para a autonomia e o processo de

construção das normas, considerando a diversidade como constitutiva do processo de pactuação

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e definição das responsabilidades sanitárias para a constituição de espaços de co-gestão.

(Brasil-M/S – SGETES/SE/DAD, 2006).

Nesse pacto, o termo de compromisso substitui o processo de habilitação dos municípios e

dos estados a uma dada condição de gestão, conforme as NOAS de 2001 e de 2002 e as NOBS,

devendo ser resultado de um processo de pactuação entre os entes federados diretamente

envolvidos, que precisa ser aprovado no Conselho de Saúde e na Comissão Intergestores

Bipartite-CIB da respectiva esfera de governo, e também encaminhado à Comissão

Intergestores Tripartite. (Brasil-M/S – SGETES/SE/DAD, 2006).

Outra política que traz grandes mudanças para a área de saúde é a Política Nacional de

Educação Permanente em Saúde – PEPS. Seu foco é ampliar os espaços de participação popular

e a prática da gestão compartilhada na gestão do SUS. Foi instituída por meio da Portaria Nº.

198 GM/MS, de 13 de fevereiro de 2004. Trata-se de uma estratégia do SUS para a formação e

o desenvolvimento de trabalhadores para o setor. (Brasil-M/S, 2004).

Na Paraíba, a implantação dessa política teve início em 2003 e foi marcada por um

processo conflituoso que reuniu diversos atores com atuação na área, tais como as instituições

formadoras, dos setores público e privado, as entidades da sociedade organizada, os

conselheiros de saúde com atuação no controle social, os trabalhadores de hospitais e serviços

básicos de saúde, os gestores e representantes de movimentos populares de saúde, todos em

defesa de seus interesses e ideologias.

O maior de todos os conflitos se deu entre duas instituições de grande importância para o

setor: a Universidade Federal da Paraíba – UFPB, por intermédio do Núcleo de Saúde Coletiva

– NESC, com atuação na formação e especialização de profissionais de saúde e a Secretaria de

Estado da Saúde – SES, com atuação na prática na gestão da saúde no Estado. Esse conflito foi

norteado por disputas de espaços e de poder, divergências políticas partidárias e ideológicas e

de concepções quanto ao modelo de estruturação, organização e gestão do SUS.

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Foram realizadas cinco oficinas de trabalho entre 2003 e 2005: a primeira teve o propósito

de fazer uma discussão conceitual sobre a Educação Permanente em Saúde – EPS; a segunda

voltou-se para a reflexão sobre a realidade da saúde e seu processo de trabalho; a terceira

buscou a construção de um plano estadual de EPS; a quarta foi marcada pela instalação de um

colegiado; e, finalmente, a quinta visou à formação das equipes matriciais e à organização de

uma secretaria. Nesse processo, as instituições e entidades participantes deram grandes

contribuições.

No final do ano de 2005, ocorreram mudanças ministeriais significativas que provocaram

a reorganização da sua estrutura. A EPS passa a ser institucionalizada, caracterizando-se como

metodologia (ferramenta fundamental e transversal) a ser adotada em todas as demais políticas

públicas de saúde, permanecendo, porém, com sua proposta de mudança para a gestão do SUS.

Neste contexto, vale ressaltar que a EPS tem sido considerada, pela atual gestão da secretaria de

saúde de João Pessoa, a principal política de saúde, adotada para promover o movimento de

transformação das práticas do setor, mediante o comprometimento de gestores, de

trabalhadores, de instituições formadoras, dos usuários do SUS e dos movimentos sociais que

atuam na identificação de problemas e na cooperação para a resolução dos mesmos, visando à

integralidade da atenção e à reestruturação do SUS municipal.

A EPS vem crescendo frente a um dos problemas mais graves existente no SUS: a falta de

humanização nos serviços de saúde. São vários os usuários que denunciam a existência de

enormes filas, a dificuldade de acesso aos serviços, a falta de estrutura adequada ao

atendimento, a falta de profissionais e a medicação insuficiente, entre outras tantas denúncias.

Na busca da superação desse quadro, foi implantada a Política Nacional de Humanização do

SUS, o Programa Nacional de Humanização – PNH. De acordo com avaliação do núcleo

Técnico do PNH, há um baixo investimento na qualificação dos trabalhadores, especialmente

no que se refere à gestão participativa e ao trabalho em equipe, o que diminui a possibilidade de

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um processo crítico e comprometido com as práticas de saúde e com os usuários em suas

diferentes necessidades.

O Objetivo central dessa política é contribuir para maior compreensão dos atores de que

humanizar significa ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com

o acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho dos

profissionais. Esse debate é necessário para viabilizar uma saúde digna para todos, com

profissionais comprometidos com a ética da saúde e, conseqüentemente, com a qualidade do

SUS e com a defesa da vida. (Brasil-M/S, 2004).

Há atualmente uma grande discussão acerca da necessidade de mudança na grade

curricular da formação dos profissionais da saúde. Nesta discussão, busca-se, sobretudo,

adequar a formação profissional à realidade do SUS. Desse modo, a reforma curricular dos

cursos da área de saúde tem estado presente nas Conferências Nacionais de Recursos Humanos

e de Saúde, o que acabou por determinar a necessidade de se construir uma política

especialmente direcionada para este fim. Assim, a I Conferência Nacional de Recursos

Humanos, realizada em 1986, criou uma agenda de discussão sobre a formação e

desenvolvimento dos trabalhadores da saúde. A segunda, que se realizou em 1993, foi

assinalada pela construção de algumas proposituras entre as quais merecem destaque a

organização da gestão do trabalho com ingresso por concurso público, com a conseqüente

elaboração de plano de cargos, carreira e salários, e a definição de perfil e carreira do gestor

(Brasil-M/S-CNS, 2000; Brasil-M/S-SGETES, 2005).

Só após catorze anos de discussão, na XI Conferência Nacional de Saúde, realizada em

2000, foi aprovada a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos para o SUS (NOB-

RH/SUS). Três anos depois, foi criada a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na

Saúde – SGTES, cujo objetivo foi implantar a Política de Gestão do Trabalho e Educação na

Saúde, buscando a valorização do trabalho no SUS e dos trabalhadores de saúde, em

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conformidade com os seus princípios e diretrizes (Brasil-M/S-CNS, 2000; Brasil-M/S-

SGETES, 2005).

Essa política trouxe como desafio a superação de práticas de saúde consideradas

descontextualizadas dos projetos de sociedade e da compreensão das disputas entre os atores

que atuam na organização da saúde, com pouca responsabilidade compartilhada. Na formação

dos profissionais de saúde, esta política pretende provocar mudanças como a criação de um

novo modo de produzir saúde, com o compartilhamento de responsabilidades entre os serviços

de saúde, instituições de ensino e sociedade, pretendendo ainda estabelecer novas relações de

compromisso e responsabilidade entre instituições formadoras e o SUS, incluindo o estudante

no trabalho, por considerar a EPS como possibilidade de produção de conhecimento (Brasil-

M/S-CNS, 2000; Brasil-M/S-SGETES, 2005).

Em 2006, foi realizada uma conferência temática sobre a gestão do trabalho e da educação

na saúde, em cada esfera de governo, inclusive na Paraíba, denominada I CEGETS/PB. A

referida conferência discutiu dois temais fundamentais: a formação e qualificação do

trabalhador em saúde e a desprecarização da relação do trabalhador do SUS.

No campo dessas políticas, o controle social da saúde também ganha destaque, uma vez

que o plenário do Conselho Nacional de Saúde, em sua 158ª reunião ordinária, ocorrida nos

dias 14 e 15 de setembro de 2005, aprovou as Diretrizes Nacionais para a Política Nacional de

Educação Permanente para o Controle Social do SUS, com propostas de grande relevância,

cujas principais metas são: 1) envolver conselheiros para atuarem no controle social, sendo

multiplicadores de iniciativas de formação de outros sujeitos sociais; 2) possibilitar que

conselheiros e representantes da sociedade, participem no acompanhamento e avaliação das

ações e serviços de saúde; 3) incluir outros sujeitos sociais, inclusive ex-conselheiros com

experiências em educação popular e participação nos conselhos de saúde no processo de

educação permanente para o controle social, e 4) ampliar o conceito e a pratica da democracia

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(Brasil-M/S-CNS, 2006).

A partir dessa política, o processo de formação dos conselheiros de saúde pretende

considerar a aprendizagem que se processa no ritmo das diferenças sociais, culturais e religiosas

dos sujeitos sociais, bem como apreciar as necessidades sentidas, as condições e as

oportunidades dos sujeitos sociais, na absorção e reflexão sobre o conhecimento, o que requer

um tempo adequado à compreensão de um mundo de significação familiar, social e profissional

para o fortalecimento do exercício da cidadania como direito social.

Nesse processo de formação, as responsabilidades para os conselhos de saúde, nas três

instâncias de governo, tornam-se mais efetivas. Esperam-se melhorias significativas na

qualidade da atuação e desempenho dos mesmos, com ações concretas que visem formular

políticas públicas comprometidas com a qualidade de vida, e que procurem superar os limites

da atuação dos conselhos enquanto meros legitimadores de propostas complexas e de domínio

técnico, para que cada cidadão tenha o direito de conhecer e contribuir para o fortalecimento do

controle social (Brasil-M/S-CNS, 2006).

4.2.1. PROJETOS DE QUALIFICAÇÃO PARA CONSELHEIROS DE SAÚDE

No período compreendido entre 2002 e 2003, o Ministério da Saúde, por intermédio do

Conselho Nacional de Saúde, e em parceria com a Fundação Osvaldo Cruz e outras instituições,

desenvolveu um projeto de capacitação de conselheiros de saúde em todo o país. O Projeto de

Fortalecimento para o Controle Social foi coordenado, na Paraíba, pela Universidade Federal da

Paraíba, por intermédio do NESC, e pelo Conselho Estadual de Saúde – CES, com apoio da

Secretaria Estadual de Saúde – SES e do Conselho Nacional de Secretários Municipais de

Saúde – COPASEMS. Foram capacitados aproximadamente 1.100 conselheiros de saúde, nesta

ocasião em que várias demandas foram identificadas a partir do discurso dos participantes.

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Antes mesmo deste projeto nacional de capacitação, o Conselho Estadual de Saúde da

Paraíba – CES/PB, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde – SES/PB, promoveu, em

2001, um curso de capacitação para conselheiros municipais de saúde da Paraíba. A idealização

do projeto partiu da demanda dos próprios conselhos municipais de saúde. O objetivo foi

capacitar os conselhos com maior necessidade de formação, conforme demonstrava o banco de

dados do CES.

A partir de 2003, com a implantação da Política de EPS, uma equipe, formada por

representantes de instituições e entidades com interesse no tema – a Equipe Matricial do

Controle Social – deu início à construção de um projeto de qualificação para conselheiros de

saúde, a partir de uma nova proposta defendida pela Política de EPS e de um processo

inclusivo. A construção do projeto ocorreu durante o ano de 2004 e meados de 2005, com a

realização de várias oficinas e reuniões que tinham como método de trabalho a metodologia

problematizadora/participativa. Dentre vários temas, foi avaliada a situação do controle social

no País e no Estado, com trocas de experiências e discussões de idéias. Foi construído

finalmente o Projeto de Sensibilização para uma Atuação Ativa do Controle Social na Paraíba,

dividido em duas etapas, e financiado pelo Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria de

Gestão Estratégica e Participativa – SEGEP.

A primeira etapa do projeto teve como objetivo identificar as demandas e necessidades de

qualificação dos conselheiros de Saúde, a partir do próprio discurso desses atores. A meta desta

etapa foi a realização de 13 Oficinas de Sensibilização em Controle Social, sendo realizada uma

oficina em cada município sede de Núcleo Regional de Saúde, que teve como público quatro

conselheiros de saúde de cada município das respectivas regionais.

A segunda etapa deste projeto está prevista para acontecer em 2007, com o objetivo de

responder às demandas identificadas pelos conselheiros na primeira etapa, mediante a

qualificação de multiplicadores que possam contribuir com seus respectivos conselhos. A

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metodologia a ser utilizada será a mesma utilizada no primeiro momento de efetivação do

projeto em tela, que passa a ter um material didático de suporte teórico elaborado, pela própria

equipe organizadora, com base nas demandas identificadas.

Fazendo uma breve análise, podemos observar que nos três projetos realizados as

necessidades e demandas dos conselheiros ainda são as mesmas: baixo conhecimento sobre o

papel e atuação dos conselhos, interferência político partidária, falta de estrutura para o

funcionamento dos conselhos, falta de dotação orçamentária e autonomia financeira, pouco

conhecimento sobre as leis que regem o SUS, políticas públicas, instrumentos de gestão e de

prestação de contas, entre outros.

4.2.2. INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO E DO CONTROLE SOCIAL

Os conselhos e as conferências de saúde são os instrumentos institucionalizados de

participação da sociedade na gestão da política de saúde, considerados como instâncias de

decisão política do SUS. No campo da operacionalização do sistema, assumem este papel as

comissões intergestoras em cada esfera de governo. Além desses instrumentos, há políticas

públicas que nasceram de reivindicações de conselheiros e trabalhadores de saúde, usuários do

SUS e outros segmentos da sociedade. Algumas dessas políticas, já anteriormente citadas, são

consideradas exemplos de espaços democráticos na área da saúde, uma vez que foram

elaboradas com a participação dos diversos atores que atuam no cenário da saúde pública.

Com a Constituição Federal de 1988, a participação social se institucionalizou com o

artigo 196, que estabelece que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visam à redução do risco de doença e de outros agravos e ao

acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” e

com o artigo 198 desta mesma Constituição, que trata da instituição do Sistema Único de Saúde

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regionalizado e hierarquizado, tendo como principais diretrizes a descentralização, a

integralidade e a participação.

O processo de descentralização e municipalização, propostos pelo movimento de reforma

sanitária, consistiu em colocar o governo mais próximo do cidadão com vistas a tornar a

administração pública mais eficiente e mais democrática. Pressupunha um modelo de

democracia baseado na “formulação de uma utopia igualitária, a garantia da saúde como direito

individual e a construção de um poder local fortalecido pela gestão social democrática” (Fleury,

1997: 33). Essa medida vai além de uma reforma administrativa ou de uma descentralização

político-administrativa do setor saúde, pois ela está intimamente relacionada com a reforma do

modelo assistencial que compreende uma nova concepção de saúde relacionada com aspectos

culturais, político-operacionais, administrativos, etc.

O que se pretendia com a reforma sanitária além da democratização do acesso aos bens e

serviços propiciadores de saúde era também a democratização do acesso ao poder. De modo

que, nesta análise, podemos dar destaque à institucionalização das Conferências e dos

Conselhos de Saúde, por apresentarem um caráter democratizante, e à medida que podem ser

considerados espaços democráticos para a recepção e processamento de demandas do setor

saúde, o que propicia a substituição das práticas clientelistas por critérios técnicos. (Carvalho,

1997).

Os arranjos institucionais contidos na Constituição Federal de 1988 e regulamentados

pelas Leis N. 8.080 e Nº. 8.142, ambas de 1990, possibilitaram a participação dos segmentos

básicos da área de saúde e da sociedade civil organizada (governo, prestadores, trabalhadores e

usuários) na proposição, fiscalização, definição e avaliação da política de saúde nas três esferas

de governo, fato importante para a consolidação do SUS.

Quanto ao tema controle social, não é algo novo e estático, seu exercício e caráter mudam

de acordo com a conjuntura sócio-econômica e político-cultural de uma sociedade, esfera onde

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ocorre a correlação de forças entre estado e sociedade. Esse tema tem sido alvo de discussões

no interior de vários segmentos sociais. Trata-se de um processo histórico dinâmico e em

construção, cuja efetivação depende da capacidade de organização da população (participação

cidadã) e da articulação entre a sociedade civil e o estado.

Há diferentes formas de se compreender o tema. Para alguns autores, controle social

significa uma relação moderna que se efetiva entre o estado e a sociedade, que exerce controle

sobre as ações do estado. Para outros, controle social é o controle que o estado exerce sobre a

sociedade, por meio da institucionalização, buscando diminuir ou evitar conflitos. Porém, uma

das formas de se pensar em controle social consiste na capacidade que a sociedade civil tem

para interferir na gestão pública, opinando, propondo e orientando as ações do estado e os

gastos públicos na direção dos interesses de todos (Correia, 2000). Essa compreensão aponta

para uma concepção de controle social que supera a idéia de “controlar” ou de “fiscalizar” e

busca a intervenção, a colaboração e a responsabilização dos atores sociais.

De acordo com Correia, quem paga indiretamente, mediante pagamento de impostos, os

serviços públicos, é a própria população, cabendo, portanto a ela decidir, propor e opinar sobre

onde e como os recursos públicos devem ser investidos. E esse estabelecimento de relações

entre a sociedade civil e o estado configura-se como um dos requisitos fundamentais para o

exercício do controle social, que se dá, portanto, por meio de canais democráticos de

participação social (associações, sindicatos, conselhos).

De acordo com esta autora, no Brasil houve pelo menos quatro fases distintas na

observação do o controle social realizado por meio da participação social: a fase do controle do

Estado sobre a sociedade, a fase da participação comunitária, a fase da participação popular, e a

fase da participação social.

A fase caracterizada pelo controle do Estado sobre a sociedade ocorre até o início da

década de 70, quando o controle social era exercido pelo Estado, que decidia, a portas fechadas,

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quais as ações que deveriam ser desenvolvidas para a população. Para Correia, o caráter

autoritário e excludente do Estado contribuiu fortemente para a idéia de controle social

enquanto instrumento de fiscalização da sociedade perante as ações do governo, baseado no

fato de que seu processo de institucionalização é marcado pela realidade da exclusão social e

práticas clientelistas do Estado Brasileiro (Correia, 2000).

Nesta fase, as ações de saúde pública se devam por meio do denominado sanitarismo

campanhista, cabendo ao Estado o papel de intervir na saúde em nome de todos. Haviam grupos

organizados resistindo, com pouca expressão, contra o autoritarismo estatal. O voto era a forma

de participação popular, mecanismo por meio do qual eram eleitos representantes que

geralmente não ouviam a população sobre as suas necessidades e os seus anseios.

Em meados da década de 70, o Brasil passou a experimentar um novo modelo de

assistência médica, o qual teve origem nos Estados Unidos. Este modelo ficou conhecido como

Medicina Comunitária. Esse modelo pôs na mesa das discussões questões polêmicas com o uso

indiscriminado de medicamentos sem a necessária prescrição da receita médica. Não

representou nenhum acréscimo significativo à saúde pública nacional, que continuou a ter

caráter paliativo e marginal.

A participação comunitária se dava a partir da atuação de profissionais que trabalhavam

nas comunidades, executando ações sanitárias e compartilhando algumas atividades de

planejamento. Essa forma de participação estava articulada à prática no repasse de informações

sanitárias de uso ou aplicação doméstica. A sociedade continuava à margem do processo de

tomada de decisões.

A idéia de participação popular surgiu a partir dos resultados negativos do modelo

anterior, a participação comunitária. Isso porque a medicina comunitária começou a mostrar

algumas limitações das classes populares e a trazer suas reivindicações para as instituições

governamentais, ameaçando o domínio estatal.

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A participação popular significou o aprofundamento da crítica às práticas políticas de

oposição ao sistema dominante. O termo comunidade3 foi substituído por povo – parcela da

população excluída ou subalternizada ao acesso a bens e serviços. Houve uma grande

preocupação no sentido de articular e organizar as classes populares para a luta e resistência

dentro das instituições de saúde. Essas organizações ocorriam por intermédio de entidades

organizadas da sociedade como as associações de bairros, os clubes de mãe, as cooperativas, os

conselhos de saúde, etc.

A proposta reinante na época defendia a participação popular efetivada em todas as áreas

sociais. No que se refere à saúde, o objetivo seria a democratização da saúde, reivindicando

acesso universal e igualitário aos serviços e acesso ao poder. A relação entre estado e sociedade

era conflituosa e de oposição. O estado resistia à participação popular que o concebia como seu

inimigo.

Na fase seguinte, entra em cena o que ficou conhecido como participação social. Surgem

novos atores, que questionam a relação que há entre estado e sociedade, que passou a ter

interesses e projetos próprios. O Estado começa a adquirir um caráter de espaço de pactuação e

representação. O processo de participação deixa de se referir apenas aos setores excluídos,

praticados pelos atores políticos de oposição. O Estado passa a reconhecer e acolher a

diversidade de interesses e projetos no campo social.

O epicentro nesse contexto é a sociedade e a participação é compreendida como ação de

cidadania, baseada na universalização dos direitos sociais e ampliação do próprio conceito de

cidadania. A inclusão da participação nas discussões políticas com o Estado ocorre por meio do

processo de institucionalização de mecanismos de interlocução entre sociedade e estado como a

criação de comissões e conselhos, formados por vários segmentos da sociedade.

3 A categoria comunidade é definida como agrupamento social e culturalmente homogêneo, portanto com identidade própria e predisposição ao

trabalho solidário e voluntário. A categoria povo, parcela excluída ou subalternizada no acesso a bens e serviços...essa categoria, no período

áureo da participação comunitária, era a comunidade designada difusamente por um agrupamento de pessoas coabitantes de um mesmo

ambiente, independentemente dos fatores estruturais ou conjunturais que lhes dão origem (Sousa, 2003:73-75).

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A institucionalização da participação assumiu perfil apropriado à diversidade de atores

para dar conta das relações que envolviam o conjunto dos segmentos sociais e o Estado. A

sociedade passa a ser a categoria central, que substitui a noção de comunidade ou de povo. Ou

seja, a participação pode ser entendida como a disputa de um conjunto de indivíduos e grupos

com diversidade de interesses, com igual legitimidade, com o aparelho estatal. Em síntese, a

idéia de participação contém a idéia de cidadania (Sousa, 2003).

4.2.3. CONFERÊNCIAS DE SAÚDE E PLENÁRIAS DE CONSELHOS DE SAÚDE

As conferências de saúde são instâncias de deliberação sobre as políticas públicas de

saúde que acontecem a cada quatro anos nas três esferas de governo, a partir dos critérios de

paridade, representatividade e legitimidade. Constituem-se em fóruns democráticos, com

participação dos conselhos de saúde, sociedade civil organizada, profissionais e gestores da

saúde. As plenárias de conselhos de saúde possuem caráter propositivo e são realizadas

geralmente antes das conferências de saúde, reunindo conselheiros de saúde em cada esfera

governamental, com o objetivo de discutir, avaliar e propor sobre o papel, atuação e estrutura

dos conselhos de saúde. Como podemos perceber, no enfrentamento da problemática da saúde,

tanto o Estado quanto a sociedade são responsáveis pelo exercício do controle social, que pode

refletir na melhoria dos serviços de saúde prestados à população e a sua qualidade vida.

Para que possamos visualizar de forma geral as contribuições das conferências e plenárias

de conselhos de saúde, no que se refere aos avanços no controle social da saúde, faremos a

seguir uma síntese dessas contribuições a partir da realização desses fóruns no âmbito nacional,

considerando que a realização das etapas estaduais e municipais segue os mesmos critérios de

organização e temas centrais discutidos na etapa nacional.

As Conferências Nacionais de Saúde datam da década de 40 e têm papel relevante na

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definição das diretrizes da política de saúde com participação dos diferentes segmentos sociais

e da saúde. Esses espaços se tornam muito importantes porque possibilitam o exercício

participativo da democracia, mediante a prestação de serviços mantidos com recursos públicos

que envolvem a participação dos segmentos para os quais foram destinados.

Desta forma, as conferências se constituem em importante recurso democrático que

promovem a intermediação de interesses distintos, no estabelecimento de pactos e conflitos, na

prevalência do interesse público, de modo que “a potencialidade das conferências consiste na

incitação às pessoas a serem protagonistas da vida pública, não apenas a cada processo eleitoral,

mas de maneira permanente, através de suas entidades representativas, o que não poderia ser

diferente, uma vez que inserida no âmago do regime democrático que lhes confere identidade”

(Sousa, 2003: 81).

Neste sentido, é importante resgatar as contribuições das conferências já realizadas,

quando a sociedade, por meio de suas entidades organizadas e representativas, exerce o

protagonismo na construção de uma relação de intermediação entre sociedade e governo ao

longo do processo de implantação do SUS. A primeira CNS foi realizada em 1941, para tratar

de assuntos referentes à educação e à saúde, já que, nesta época, saúde e educação estavam na

mesma pasta ministerial. A segunda ocorreu em 1950 e tratou de problemas sanitários de saúde.

Já a terceira realizou-se em 1963, tendo como proposta a descentralização da saúde. Na quarta

CNS, datada de 1967, não houve representação plural. Na quinta, ocorrida em 1975, houve

sinais de universalização e saúde para a população rural. A sexta edição da CNS teve como

principal ponto de pauta a descentralização com o Programa de Interiorização dos Serviços de

Saúde – PIAS. Aconteceu em 1977. Quanto à sétima, que foi realizada em 1980, teve o debate

sobre a descentralização e direção da estadualização com implantação do SUDS como a sua

marca registrada. A oitava CNS, realizada em 1986, rompe com a prática adotada nas

conferências anteriores ao permitir a participação popular através dos sindicatos, associações,

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entidades de representação de moradores, profissionais de saúde e partidos políticos. A ênfase

na reforma sanitária do País, defendida nesta CNS, com a apresentação de um projeto que

previa mudanças para a saúde, culminou com a criação do SUS e a instituição do controle

social da saúde na Constituição Federal de 1988. A nona CNS, realizada em 1992,

proporcionou discussões na direção da descentralização, da municipalização e da participação

social. Suas deliberações foram em grande parte incorporadas ao arranjo institucional através da

NOB Nº. 93, consolidando-se na NOB Nº. 96. A décima conferência, realizada em 1996,

reafirmou que os mecanismos de participação já se encontram consolidados, propiciando,

especialmente, à população de baixa renda, a busca da garantia e preservação do acesso ao

atendimento e ao processo de consolidação do sistema único de saúde. A décima primeira,

ocorrida em 2000, enfatizou a saúde como um direito de todos e dever do Estado e aprovou o

documento NOB-RH/SUS, cujo tema central era a efetivação do SUS, no que diz respeito ao

acesso, à qualidade e humanização da atenção à saúde com controle social. A décima segunda

CNS, realizada em 2003, reafirmou o compromisso de gestores e as instâncias de controle

social na perspectiva de uma gestão de qualidade, incentivando a sociedade a refletir sobre o

SUS que temos e o SUS que queremos.

De acordo com o exposto, nota-se que as CNS nos últimos anos têm possibilitado

mudanças que vêm permitindo alterações na relação do Estado com a sociedade. Também

podemos compreender as conferências como canais que promovem a emancipação, o respeito à

diversidade e a abertura de espaço às diferenças, o qual passa a ser encarado não a partir de uma

perspectiva limitante, mas, ao contrário, em uma dimensão de favorecimento da autonomia e da

liberdade (Sousa, 2003: 71-81).

Um dos avanços verificados em direção à ampliação do controle social foi aprovado na

XII Conferência Nacional de Saúde e XII Plenária Nacional de Conselhos de Saúde: trata-se da

criação do Cadastro Nacional de Conselhos de Saúde que tem como objetivo criar um

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mecanismo permanente de comunicação e informação entre conselhos de saúde e sociedade. A

estratégia proposta para a sua efetivação é a utilização da internet. A partir de 2005, durante os

meses de abril e maio, o Conselho Nacional de Saúde, por intermédio de sua secretaria

executiva, implantou o cadastro, como projeto piloto, na região sul e na região norte. No Rio

Grande do Sul chegou a cadastrar 93,76% dos conselhos existentes e no Amazonas atingiu

100% de seus conselhos. Em 2006, a implantação do cadastro ocorreu nas demais regiões do

País, inclusive na Paraíba, seguindo o princípio da regionalização gradativa.

Além das CNS, foram também realizadas um total de catorze Plenárias Nacionais de

Conselhos de Saúde. A primeira delas aconteceu em 19 de novembro de 1996, contando com a

participação de 20 (vinte) conselhos estaduais de saúde e 47 (quarenta e sete) conselhos

municipais, além do Conselho Nacional de Saúde. Teve como destaque a análise de questões

ligadas à Medida Provisória do governo que propunha a transformação dos hospitais públicos

em organizações sociais e a constituição da Comissão Intergestora Tripartite. Neste encontro foi

aprovado o Manifesto em Defesa do SUS.

Em 1997, aconteceram três plenárias nacionais: uma em abril, outra em agosto e a última

em dezembro. Aquela realizada em abril foi a segunda plenária nacional das catorze que

enumeramos. Dela participaram representantes de 21 (vinte e um) conselhos estaduais e 32

(trinta e dois) conselhos municipais, além de outros conselhos locais ou distritais. Foi destaque

desta plenária o apoio à aprovação da Proposta de Emenda Constitucional – PEC Nº. 169, que

previa em sua forma original a destinação, ao SUS, de 30% do orçamento da seguridade social

e de 10% dos orçamentos fiscais da união, estados e municípios, destacando-se também a

elaboração de um novo manifesto em defesa do SUS.

A terceira plenária nacional, que foi realizada em agosto de 1997, contou com a

participação de cerca de 400 (quatrocentos) conselheiros estaduais e municipais de saúde de 24

(vinte e quatro) estados. Seu principal destaque foi a mobilização realizada em favor da

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aprovação da Proposta de Emenda Constitucional – PEC Nº. 169, tendo ocorrido, para isso,

várias reuniões entre parlamentares e líderes de bancadas e de partidos, o que resultou na

avaliação da situação da saúde pública em todos os estados brasileiros, além de um debate em

torno da Norma Operacional Básica – NOB-SUS e do orçamento do Ministério da Saúde

previsto para o ano de 1998.

A quarta plenária nacional aconteceu, como já afirmamos, ainda durante o ano de 1997,

no mês de dezembro, apenas quatro meses depois da última. Não há registros quanto ao

número de participantes desta plenária, mas há a confirmação de que houve representação dos

estados e municípios que discutiram a situação de saúde no Brasil. A articulação do Movimento

em Defesa do SUS ganhou impulso com a convocação do II Encontro Nacional de Conselhos

de Saúde, previsto para ocorrer em maio do ano seguinte. A mobilização em favor da aprovação

da PEC Nº. 169/93 mais uma vez ganhou destaque com a confirmação da continuidade de uma

série de ações para chamar a atenção da sociedade e, de forma especial, a atenção dos políticos.

Em março de 1998 aconteceu a quinta plenária nacional, que teve a participação de 129

(cento e vinte e nove) conselheiros de saúde, representando 19 (dezenove) estados brasileiros.

Nela foi discutida basicamente a realização do II Encontro Nacional de Conselhos de Saúde,

previsto para acontecer em junho do mesmo ano. “Efetivando o Controle Social” foi o tema

escolhido para este encontro.

Ainda durante o ano de 1998, mais precisamente em novembro, aconteceu a sexta

plenária nacional, momento em que houve grande mobilização em torno da defesa da saúde

pública. O Movimento em Defesa da Saúde Pública é resultado desta plenária, que contou com

representantes do Conselho Nacional de Saúde e de conselhos estaduais e municipais de saúde

de todo o País. Este movimento recebeu o apoio de bispos da Conferência Nacional dos Bispos

do Brasil – CNBB, bem como de entidades de empresários, de usuários, de trabalhadores, de

portadores de necessidades especiais, de associações de moradores, de pastorais e da

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comunidade científica, todos interessados em debater cortes de recursos da saúde, em torno de

R$ 1 bilhão. Em conseqüência deste movimento, foi realizada uma audiência com o senador

Ramez Tebet (PMDB-MS), relator do Projeto do Orçamento da União para 1999, para a entrega

da Carta Aberta em Defesa da Saúde, que continha a proposta de recomposição de R$ 1,4

bilhões nas verbas para a saúde.

A sétima plenária nacional realizou-se em maio de 1999 e caracterizou-se pela

expressiva participação que teve representatividade de todos os estados, superando-se as

expectativas da época. Nesta ocasião foram discutidos a conjuntura nacional, o orçamento

destinado à saúde, a capacitação de conselheiros, o controle social, as competências dos

conselhos de saúde, a função das comissões intergestoras e das secretarias de saúde. Várias

deliberações foram aprovadas com o objetivo de se fortalecer os mecanismos de controle social

no SUS, dentre elas a solicitação de apoio político para a aprovação da PEC Nº. 169/93 no

Congresso Nacional.

Ainda em dezembro do mesmo ano, teve lugar a oitava plenária nacional, cuja

programação incluiu a apresentação de painéis sobre conjuntura da saúde e do financiamento do

SUS, sobre a avaliação do controle social no SUS e sobre a capacitação de conselheiros de

saúde no contexto do controle social no país.

A nona plenária nacional foi realizada em Junho de 2000, com cerca de 450

(quatrocentos e cinqüenta) participantes que representavam vários estados e regiões brasileiras.

Os debates aconteceram durante um momento muito importante para o SUS, que se encontrava

às vésperas da votação da Emenda Aglutinativa 86-A, proposta pelo Senado Federal,

documento que era, na verdade, uma reedição da PEC Nº. 169/93, já aprovada em primeiro e

segundo turnos, na Câmara Federal, e aguardando deliberação dos senadores.

Em novembro de 2001, foi realizada a décima plenária nacional contando com 755

(setecentos e cinqüenta e cinco) delegados que representavam 26 (vinte e seis) estados. Seu

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tema versou sobre o controle social na gestão do SUS, e o foco das discussões voltou-se para a

atualização da Resolução Nº. 33/92 do CNS, para as deliberações da X Conferência Nacional

de Saúde, para a organização e funcionamento das plenárias dos conselhos de saúde, e ainda

para o financiamento da EC Nº. 29.

A décima primeira plenária nacional foi realizada em dezembro de 2002, ocasião em que

foram debatidos temas como a organização dos conselhos com vistas a garantir, nas três esferas

de governo, a efetivação definitiva do controle social no SUS. O tema abordado na seção de

abertura foi a conjuntura do controle social na saúde do Brasil. Foi ainda motivo de debate

nesta plenária a política nacional de capacitação de conselheiros de saúde, as estratégias de

implantação da NOB-RH/SUS com controle social, as experiências de mesas de negociações, o

controle social do orçamento, o financiamento do SUS e o cumprimento da EC Nº. 29.

Em novembro de 2004, aconteceu a décima segunda plenária nacional, que teve como

tema de abertura o controle social e a situação do SUS na conjuntura atual. Mesas redondas

discutiram a gestão da força de trabalho como estratégia de consolidação do SUS, o papel

estatal nas três esferas de governo para a consolidação do SUS e o papel do controle social

neste contexto. Dos painéis temáticos apresentados, merecem destaque aqueles que trataram da

regulamentação da EC Nº. 29/00, do controle social e capacitação dos segmentos, da

organização e funcionamento das plenárias nacionais, e o que apresentou o cadastro nacional de

conselhos de saúde.

A décima terceira plenária realizou-se em dezembro de 2005, tendo como tema principal a

análise do controle social do SUS no cenário nacional. Na ocasião, a secretaria executiva do

Conselho Nacional de Saúde apresentou uma retrospectiva histórica, com o intuito de ressaltar

as conquistas alcançadas a partir de deliberações tomadas nas várias plenárias nacionais.

Recentemente, em abril de 2007, houve a realização da décima quarta plenária nacional

dos conselhos de saúde, com participação efetiva de mais de mil conselheiros. Foi considerada

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uma das mais movimentadas dos últimos anos, segundo o presidente do CNS, que registrou a

presença de um elevado número de novos conselheiros. A privatização do SUS foi o tema

principal, discutido a partir de debates que ocorreram em torno do controle social no pacto pela

saúde, da terceirização de gerência e gestão do sistema, da mobilização no Congresso Nacional

pela aprovação do Projeto de Lei Parlamentar – PLP Nº. 001/2003, e da regulamentação da EC

Nº. 29/2000.

Ao longo desse período, foram construídos e fortalecidos espaços, que se definiram como

instâncias de participação democrática, onde foram consolidadas algumas das mais importantes

políticas de saúde já postas em prática no Brasil. Nestes fóruns de debate o que se pode

observar é a crescente preocupação com a defesa dos interesses da sociedade civil organizada.

A partir da discussão de propostas que visam, acima de tudo, ao fortalecimento do controle

social e à melhoria da qualidade do SUS, chega-se hoje à concretização de algumas melhorias

há dez anos atrás apenas sonhadas.

4.2.4. CONSELHOS DE SAÚDE: UMA NOVA INSTITUCIONALIDADE DEMOCRÁTICA

Os conselhos de saúde foram criados no início da década de 90 por meio da Lei Nº.

8.080/90, conhecida como Lei Orgânica da Saúde, e da Lei Nº. 8.142/90, que dispuseram

normas sobre a criação de conselhos nas esferas do governo nacional, do governo estadual e do

governo municipal. A finalidade precípua dos conselhos de saúde é atuar como órgão colegiado

integrante do sistema de saúde, assumindo funções normativas, consultivas e deliberativas. Para

tanto, discutem, elaboram, propõem e fiscalizam a política de saúde efetuada em cada nível de

governo, ou seja, são entidades que “nasceram como novos arranjos institucionais destinados a

ajustar o sentido público do Estado e induzir-lhes uma maior responsabilidade, perante o

conjunto da sociedade” (Sousa, 2003: 80).

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Assim, a concepção de conselho está pautada em uma nova compreensão do caráter e

papel do Estado, que está vinculado à participação social que tem sua base na universalização

dos direitos e na ampliação do conceito de cidadania, contribuindo com a democracia tanto na

sua relação com o Estado quanto com a sociedade (Cf. Carvalho, 1995). Com o Estado esta

relação se dá por impor maior responsabilidade pública aos governos, ao passo em possibilita,

na relação com a sociedade, a emergência de novos sujeitos políticos e a definição de uma

identidade coletiva (Cf. Sousa, 2003).

Os conselhos são formados por quatro segmentos da sociedade: governo, usuários do

SUS, prestadores de serviço do SUS, e trabalhadores da saúde. A representação destes

segmentos na composição dos conselhos respeita a seguinte distribuição percentual: 50% da

composição do conselho é formada por usuários, 25% por trabalhadores da saúde, e 25%

restantes divididos entre o governo e os prestadores de serviço.

A representação dos usuários contempla entidades organizadas como as associações de

portadores de patologias, de portadores de necessidades especiais, de aposentados e

pensionistas, contemplando ainda representantes da defesa do consumidor, dos moradores de

comunidades urbanas ou rurais, ambientalistas, entidades indígenas, entidades religiosas,

entidades patronais, comunidade científica, sindicato ou federações de trabalhadores rurais e

urbanos, movimentos sociais e populares organizados, entre outros.

É importante destacar que os representantes dos usuários devem ser eleitos, em fórum

próprio, pela entidade ou comunidade que representa. O encaminhamento deste representante à

secretaria de saúde da respectiva esfera de governo em que irá atuar deve ocorrer por meio de

documento oficial, acompanhado da ata da reunião em que foi realizada a eleição.

Os trabalhadores da saúde, independentemente do grau de escolaridade e da função que

exercem, devem ser eleitos, entre os seus pares, preferencialmente no âmbito de sindicatos ou

associações. O procedimento utilizado para fazer o encaminhamento do representante eleito ao

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respectivo conselho é o mesmo usado para a representação de usuários.

A representação do governo é indicada pela gestão executiva, recaído quase sempre sobre

o secretário de saúde de cada esfera de governo. Os prestadores de serviços podem ser públicos,

filantrópicos ou privados, desde que conveniados com o SUS e eleitos em fórum próprio,

cumprindo as mesmas formalidades que cumprem os usuários e os trabalhadores da saúde.

Para se compreender melhor o processo de construção dos conselhos, é necessário um

resgate da história que envolve a criação do Conselho Nacional de Saúde – CNS, lembrando

que esta instância, até 1990, funcionava como órgão consultivo do Ministério da Saúde. Na sua

primeira versão, o CNS foi instituído pela Lei Nº. 378, de 13 de janeiro de 1937, para subsidiar

as ações internas do Ministério da Saúde e da Educação. Com a divisão deste ministério, o CNS

recebeu nova regulamentação, sendo, desta vez, instituído por meio do Decreto Nº. 34.347, de

08 de abril de 1954, com a função de dar assistência ao novo Ministério da Saúde na

determinação das bases gerais dos programas de proteção à saúde. Em ambos os casos, seus

membros eram indicados pelo Ministro de Estado.

Nesta fase, o CNS era composto por 17 (dezessete) membros e as funções da secretaria

executiva eram exercidas por servidores do próprio Ministério da Saúde. Em 1959, o Decreto

Nº. 45.913 estabeleceu nova composição para o CNS, que passou a ter 24 (vinte e quatro)

conselheiros. Em 1960, ocorre nova mudança, desta vez referendada pelo Decreto Nº.

47.793/60, que instituiu como membros natos do CNS os ex-ministros de estado dos negócios

da saúde. O Decreto Nº. 847, de 05 de abril de 1962, definiu como finalidade do CNS a tarefa

de assistir o Ministro de Estado da Saúde, com ele cooperando no estudo de assuntos

pertinentes a sua pasta, e modificou a sua composição que passou a contar com o número de 27

(vinte e sete) conselheiros.

Na década de 70, a atuação do CNS é ampliada pelo Decreto Nº. 67.300, de 30 de

setembro de 1970, documento a partir do qual este conselho passa a ter a atribuição de

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79

examinar e emitir pareceres sobre questões ou problemas relativos à promoção, proteção e

recuperação da saúde. Neste período, ao CNS, eram submetidas também todas as matérias,

enviadas pelo Ministro de Estado, que, por força de lei, tinham que ser submetidas à sua

apreciação.

Em 1987, foi publicado o Decreto Nº. 93.933, dispondo sobre a organização e as

atribuições do CNS. Com funções normativas e de assessoramento do Ministro de Estado da

Saúde, passa a ser composto por 13 (treze) membros indicados pelo governo, inclusive os 7

(sete) representantes da sociedade civil, que deveriam ser escolhidos entre as personalidades de

notória capacidade e comprovada experiência na área da saúde.

O Decreto Nº. 99.438, de 07 de julho de 1990 – que já foi alterado pelos Decretos de Nº.

1.448/95 e de Nº. 1.974/96 – regulamentou as novas atribuições do CNS e definiu as entidades

e os órgãos que passariam a compor o novo plenário, agora com 30 (trinta) membros. Essa

legislação mais recente, que foi fruto de longa negociação do movimento social com o

Ministério da Saúde, determinou a participação, na composição do CNS, dos quatro segmentos

já citados anteriormente: usuários, trabalhadores da saúde, governo e prestadores de serviço de

saúde.

Para orientar e garantir a organização desses colegiados foi necessário ampliar o

arcabouço legislativo que regulamenta o tema com a emissão da Resolução Nº. 33/92, do

Conselho Nacional de Saúde, a qual assegura a paridade na composição dos conselhos de saúde

no âmbito estadual e municipal. Essa última regulamentação sensibilizou os conselheiros

nacionais para a necessidade de também se assegurar a paridade na composição do CNS. Desde

então, diversas comissões e grupos de trabalho foram criados para estudar novas possibilidades

de composições para o CNS.

Em 1998, foi aprovada uma recomposição que não chegou a atender plenamente aos

anseios dos membros do CNS, mas que promoveu uma significativa ampliação da participação

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80

dos trabalhadores de saúde. A proposta de compor o CNS a partir das determinações da

Resolução CNS Nº. 33/92 ficou sobrestada por esboçar divergências. Em 2003, as negociações

foram retomadas, delas resultando o Decreto Nº. 4.699, de 19 de maio de 2003, que ampliou o

mandato dos conselheiros de então para até o dia 31 de agosto, e determinou ao CNS formular

proposta de alteração de sua composição para ser homologada até o prazo final de 03 de julho

de 2004, data em que foi aprovada a nova composição, que passou a ser de 40 (quarenta)

membros, incluindo, entre estes, representantes do movimento de mulheres, do movimento

indígena e dos movimentos populares nacionais, em respeito a reivindicações de conselheiros

do próprio CNS. Além disso, o referido Decreto assegurou a paridade na composição do CNS,

ampliando definitivamente a representação dos trabalhadores de saúde nas instâncias de

deliberação.

Para suprir a necessidade prioritária e imediata de organizar e democratizar a participação

popular no CNS foi estabelecido um mandato provisório para os novos conselheiros com o

intuito de possibilitar ao plenário a elaboração de critérios eleitorais que pudessem garantir a

legitimidade e a legalidade das representações neste conselho, de acordo com o aprovado na

XII Conferência Nacional de Saúde.

Em novembro de 2003, o CNS revoga a Resolução Nº. 33/92, ao emitir a Resolução Nº.

333/2003, em consonância com propostas aprovadas nas duas últimas conferências de saúde.

Entre as mudanças ocorridas a partir desta substituição, merecem destaque: 1) o presidente do

conselho passa a ser eleito entre seus membros; 2) o conselheiro que ocupe ou passe a ocupar

cargos de confiança ou de chefia que venha a interferir na sua autonomia representativa poderá

ser substituído, a juízo da entidade que representa; 3) os poderes Legislativo e Judiciário, por

não se configurarem como poderes independentes, não podem fazer parte da composição do

CNS; 4) o conselheiro, cuja função é de relevância pública e, portanto, não remunerada, tem

garantida a sua dispensa do trabalho, sem nenhum prejuízo, para o comparecimento às reuniões,

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81

capacitações e outras ações específicas do conselho.

A estrutura e funcionamento dos conselhos de saúde devem ser garantidos pelo governo,

em qualquer dos seus níveis, pois o seu bom funcionamento depende minimamente da

existência de dotação orçamentária e de uma estrutura administrativa, com um quadro de

pessoal, específico para cada caso, que contemple uma secretaria executiva, em conformidade

com o que reza a NOB-RH. O gerenciamento do orçamento do conselho deve ser ditado pelo

seu plenário, que levará em consideração, na destinação das verbas, a necessidade de custear a

capacitação de seus conselheiros, mediante cursos ou eventos destinados a este fim, bem como

a imprescindível participação destes em plenárias e conferências estaduais e nacionais.

A cada três meses deve constar da pauta de reunião do conselho uma prestação de contas

que é realizada pelo gestor da saúde, para demonstração da aplicação dos recursos no

encaminhamento da agenda de saúde pactuada, ou seja, para a apresentação do relatório de

gestão. Sempre que necessário, o conselho deve convidar profissionais de saúde e

coordenadores de programas para apresentarem as ações que estão desenvolvendo, com a

finalidade de acompanhar os resultados destas ações. Para o desempenho de suas atribuições,

pode ainda constituir comissões internas de caráter permanente ou provisório, compostas

exclusivamente por conselheiros ou com a participação de pessoas alheias ao conselho, desde

que o assunto tratado assim o exija.

Seu calendário de reuniões deve contemplar pelo menos uma reunião ordinária por mês,

podendo ocorrer reuniões extraordinárias sempre que houver necessidade, respeitando-se o

tempo regulamentar para a convocação. Para as reuniões, que deverão ser sempre abertas ao

público, serão disponibilizados previamente atas, minutas de resolução, pareceres, ou qualquer

outro material que componha a sua pauta.

Entre as atribuições dos conselhos de saúde, além da competência para elaborar o próprio

Regimento Interno, destacam-se, pela importância, 1) a discussão, elaboração e aprovação de

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propostas de operacionalização das diretrizes aprovadas pelas conferências de saúde; 2) a

atuação na formulação e no controle da execução da política de saúde, incluindo os seus

aspectos financeiros e econômicos; 3) a proposição de estratégias para a sua aplicação de

recursos financeiros nos setores público e privado; 4) a definição de diretrizes para elaboração

dos planos de saúde5) a deliberação sobre os planos de saúde, conforme exijam as situações

epidemiológicas e a capacidade organizacional dos serviços; 6) o estabelecimento de estratégias

e procedimentos de acompanhamento da gestão do SUS, inclusive com a articulação de outros

conselhos; 7) a aprovação da proposta orçamentária anual da saúde; 8) a proposição de critérios

para a programação e execução financeira e orçamentária dos fundos de saúde com o devido

acompanhamento da movimentação e destinação dos recursos; 9) a análise, discussão e

aprovação do relatório de gestão, com as devidas prestações de contas e informações

financeiras; 10) a fiscalização e acompanhamento dos serviços de saúde.

De acordo com dados fornecidos pelo Conselho Estadual de Saúde da Paraíba, cerca de

90% dos conselhos municipais de saúde existente no estado ainda não obedecem às

determinações da Resolução Nº. 333/2003. O Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa,

após vivenciar um processo bastante conflituoso de discussões, adequou-se às normas contidas

na referida resolução.

A institucionalidade do controle social se produz no âmbito do conselho, a partir da

representação participativa que assinala a sua composição. A análise da organização e do

funcionamento de um conselho de saúde acaba por revelar que a sua atuação é caracterizada

pelo entrelaçamento de dois modelos de democracia – a democracia representativa e a

democracia participativa –, uma vez que cada membro do conselho é eleito por seus pares para

representar a entidade ou comunidade que o elegeu, por meio de processo participativo em que

os segmentos representados assumem o compromisso de defender os interesses da coletividade.

A participação da sociedade nas políticas de saúde por meio da representação se torna legítima

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à medida que a atuação de seus membros esteja articulada com as bases que os elegeram.

5. O CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA

5.1. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO

De acordo com dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE, em 2005, o Município de João Pessoa tem uma população de 660.798 (seiscentos e

sessenta mil, setecentos e noventa e oito) habitantes, sendo 45,7% desta população composta da

faixa etária que vai dos 15 aos 39 anos, dado que indica trata-se de uma população bastante

jovem que se encontra em plena fase produtiva da vida. Do total de habitantes registrado,

46,7% são do sexo masculino e 53,3% são do sexo feminino, de modo que a proporção do

número de mulheres para homens é de 0,87. Apesar de ter uma população jovem, João Pessoa é

a segunda capital do Nordeste em número de idosos. Sua taxa de crescimento média anual, no

período compreendido entre 1991 e 2000, foi de 2,14%, enquanto a taxa de urbanização

permaneceu estável, uma vez que 100% da população reside no espaço urbano

(IBGE/MS/DATASUS).

No mesmo período, foi verificado um crescimento de 8,9% no Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal – IDH-M, que saiu de 0,719, registrado em 1991, para 0,783 em 2000, o

que assegurou a João Pessoa ocupar a 9ª posição na Região Nordeste e ser considerada,

segundo a classificação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, um

município de médio desenvolvimento humano. As dimensões que mais contribuíram para esse

crescimento foram a educação com 42,7%, seguida pela longevidade, com 31,2%, e pela renda,

com 26 %. (Cf. IBGE, 2002).

O Município de João Pessoa está localizado na porção mais oriental do Continente

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Americano e do Brasil, registrando uma longitude oeste de 34º47'30" e latitude sul de 7º09'28.

Com uma área de 210,80 km² e densidade demográfica de 2.822,2 hab/km², limita-se ao norte

com o Município de Cabedelo e ao sul com o Município do Conde, limitando-se a leste com o

Oceano Atlântico e a oeste com os Municípios de Bayeux e Santa Rita. A altitude média em

relação ao nível do mar é de 37m, com altitude máxima de 74 metros nas proximidades do rio

Mumbaba, predominando em seu sítio urbano, terrenos planos com cotas da ordem de 10

metros, na área inicialmente urbanizada (Wikipédia, 2006).

O clima da cidade é do tipo mediterrâneo ou nordestino seco, com temperaturas médias

anuais de 26ºC. Verifica-se neste município apenas duas estações climáticas, marcadas por

chuvas que ocorrem no período de outono e inverno, que vai de março a agosto, e por muito sol

durante todo o resto do ano. A denominação mais usual para o clima da cidade é o de Tropical

Úmido. Sua vegetação recebe a denominação de Mata Latifoliada Perenifolia Costeira, o que

corresponde a Mata Atlântica devastada.

A População Economicamente Ativa – PEA representa 52,3% da população total. Os

setores da indústria de transformação e da construção civil empregam 3,41%, enquanto os

setores de comércio e serviços respondem por 62,8%.Os desempregados representam 22,52%

da PEA. A renda per capita média do município cresceu 35,2%, passando de R$ 247,55,

registrado em 199,1 para R$ 334,69, atingido em 2000. A pobreza (medida pela proporção de

pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50, equivalente à metade do salário

mínimo vigente em agosto de 2000) diminuiu 25,2%, passando de 36,9%, registrado em 1991,

para 27,6%, em 2000. A desigualdade cresceu, uma vez que o Índice de Gini passou de 0,62,

registrado em 1991, para 0,63, em 2000. Seu Produto Interno Bruto – PIB somava, em 2002, R$

3.094.538.000,00 que representava, em relação ao PIB estadual, uma participaçaõ de 26,6% dos

rendimentos (Cf. IBGE, 2002).

A partir das pesquisas realizadas pelo IBGE, em 1991, e pelo Instituto de

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Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba – IDEME, em 1998, é possível se constatar

que o rendimento do pessoal empregado que recebia até três salários mínimos variou de 74,90%

(IBGE) para 63,2% (IDEME), enquanto a estrutura percentual por classe de rendimentos não

sofreu alterações significativas.

5.2. AMBIENTE POLÍTICO-INSTITUCIONAL

5.2.1. O PODER LOCAL

A análise que segue se refere ao período pós-regime militar, quando o município era

considerado área de segurança nacional, tendo os seus administradores escolhidos de forma

indireta, sem o voto popular. A conquista do voto direto para as áreas de segurança nacional

contou com uma forte mobilização da sociedade, que conduziu o movimento tendo à frente

setores democráticos e setores ligados à esquerda política. Este movimento, que culminou com

o fim do regime político imposto pela ditadura militar e a instituição de uma nova constituição

federal que previa a realização de eleições livres e diretas em todos os níveis, foi bastante

expressivo em João Pessoa.

A história do município de João Pessoa revela uma considerável tradição cívica,

construída consolidada por movimentos sociais organizados e agremiações de esquerda, ambos

com desempenho de relevante papel nas conquistas políticas, tanto no nível local como no

cenário nacional. Apesar desta tradição cívica, outro tipo de tradição se impõe no município: até

as últimas eleições municipais os prefeitos eleitos em sua maioria eram representantes de

amplas coalizões tipicamente conservadoras. Fazendo um breve recorte histórico, pode-se

perceber, por exemplo, que Cícero de Lucena Filho, em 1996, iniciou sua gestão como prefeito

de João Pessoa conduzido pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB,

considerado esquerda política, mas foi reeleito, em 2002, pelo Partido da Social Democracia

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Brasileira – PSDB. Os motivos que o levaram a mudar de partido foi a divisão ocorrida na

agremiação no ano de 2000, quando a direção estadual do Partido do Movimento Democrático

Brasileiro – PMDB paraibano não conseguiu chegar a um consenso em torno de um candidato

que pudesse disputar o governo do estado em nome do partido. A disputa interna, que também

propiciou a passagem da família Cunha Lima do PMDB para o PSDB, redefiniu o quadro

partidário em todo o Estado da Paraíba.

No entanto, nas últimas eleições municipais, João Pessoa passou por grande mudança na

esfera política, uma vez que, em outubro de 2004, elegeu como Prefeito da cidade, o candidato

Ricardo Vieira Coutinho, representante de um partido político que tem origem na esquerda

democrática, o Partido Socialista Brasileiro – PSB4. O atual prefeito, que tem uma respeitável

trajetória política, iniciou sua carreira no movimento estudantil, tendo sido o fundador do

Sindicato dos Servidores da Saúde e militante ativo do Partido dos Trabalhadores – PT, na

Paraíba, foi também vereador na capital paraibana, antes de ocupar o cargo de prefeito.

O Poder Legislativo no município é exercido pela Câmara Municipal, por força da

Constituição Federal, da Constituição Estadual e da Lei Orgânica do Município. A primeira

legislatura municipal ocorreu de 1947 a 1951, quando os onze parlamentares da época se

dividiam entre os partidos União Democrática Nacional – UDN, Partido Socialista Brasileiro

PSB, Partido Social Democrata – PSD e Partido Republicano Progressista – PRP. Atualmente, a

Câmara Municipal é caracterizada por expressiva pluralidade partidária, uma vez que sua

composição contempla 21(vinte e um) vereadores distribuídos pelos partidos políticos da

seguinte forma: cinco vereadores pertencem ao Partido Socialista Brasileiro – PSB e três ao

Partido Democrático Trabalhista – PDT, tendo o Partido as Social Democracia Brasileira –

4 Partido Socialista Brasileiro – sua ideologia baseia-se no Socialismo e Liberdade. Fundado em 1945 por um grupo de intelectuais e políticos

em luta pelos ideais de transformações sociais e pela construção de uma sociedade efetivamente democrática. Anteriormente o movimento era denominado Esquerda Democrática, e após dois anos se transformou no Partido Socialista Brasileiro.

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PSDB, o Partido dos Trabalhadores – PT, o Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, e o Partido

Liberal – PL, cada um deles, uma representação de dois vereadores, e o Partido Progressista –

PP, o Partido Republicano Progressista – PRP, o Partido Republicano Brasileiro – PRB, o

Partido Popular Socialista – PPS e Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB, um

vereador, cada um deles.

O Plenário da Câmara é o órgão máximo do Poder Legislativo Municipal que tem como

competência a tomada de decisões que disponha sobre assuntos que lhe sejam próprios. Sua

função primordial é a legislativa. Sua organização contempla uma mesa diretora e quatro

comissões – Comissão de Finanças e Orçamento, Comissão de Políticas Públicas, Comissão de

Obras e Administração Pública e Comissão de Cidadania Participativa. Uma das atribuições do

Poder Legislativo Municipal é a fiscalização dos atos do Poder Executivo, inclusive aqueles da

administração indireta.

A relação entre os poderes executivo e legislativo nem sempre é amistosa. No período em

que esta pesquisa foi realizada, a maioria dos vereadores fazia oposição ao prefeito, o que

dificultou a aprovação do projeto de adequação do Conselho Municipal de Saúde à Resolução

Nº. 333/2003, do Conselho Nacional de Saúde. Essa situação desgastante levou o CMS e a

gestão a tomarem medidas enérgicas para assegurar a eleição para o mandato do biênio

2007/2008, situação conflituosa que mostra as dificuldade que podem ocorrer no exercício do

controle social da saúde quando há interferência de divergências político-partidárias.

5.2.2. CULTURA CÍVICA

A sociedade civil de João Pessoa é composta de inúmeras organizações sociais que

abrangem os mais vários setores da sociedade. Desde o período monárquico que se verifica a

existência de conflitos entre a sociedade civil organizada e o poder político instituído. Com

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participação importante no cenário político brasileiro, a sociedade civil organizada de João

Pessoa teve papel determinante, por exemplo, Revolução de 1930, entre outros momentos

políticos históricos. A participação da sociedade civil à frente dos problemas sociais surgidos

com o processo de industrialização possibilitou o surgimento de associações, sindicatos e

partidos políticos comprometidos com a luta pelos direitos sociais. De acordo com Putnam, as

tradições cívicas podem influenciar fortemente o desenvolvimento econômico e o bem estar

social, bem como o desempenho institucional (Putnam, 1996).

Os movimentos sociais organizados de João Pessoa representaram significativa

contribuição na resistência às ditaduras do Estado Novo (1937-1945) e Militar em (1964-1985),

bem como desempenharam papel importante na defesa do estado democrático e de direito e no

movimento pelo impeachement do presidente Collor, em uma demonstração clara de que esta

cidade que possui uma tradição associativa e uma cultura cívica consolidadas e refletidas no

grande número de movimentos sociais presentes no CMS5.

Fazem parte da composição do CMS a Associação dos Diabéticos de João Pessoa, o

Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase – MORHAN* a Federação

dos Trabalhadores da Agricultura – FETAG* a Associação Comunitária dos Moradores de

Mangabeira, a União Comunitária de Mangabeira, a Sociedade dos Hemofílicos*, o Movimento

Popular de Saúde de Mangabeira, o Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transportes

Rodoviários de Passageiros e Cargas do Estado*, a Associação de Portadores de Deficiência –

ASPADEF*, o Sindicato dos Odontólogos da Paraíba – SINDODONTO*, o Sindicato dos

Médicos*, o Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho/PB*, o Sindicato dos

Trabalhadores Federais em Saúde e Previdência/PB – SINDSPREV*, a Federação das

5 As entidades marcadas com asterisco são de abrangência Estadual. Algumas fazem parte do Conselho Estadual de Saúde. A Resolução 333/03,

diz que as entidades de abrangência estadual de vem ocupar vaga no conselho estadual de saúde e só quando trata-se de município sede de núcleo

é importante a presença do núcleo regional de saúde e/ou Secretaria Estadual de Saúde. Essas entidades acabam por ocupar vagas que poderiam destinar-se as demais entidades de abrangência municipal. No caso de João Pessoa, por ser sede do 1º Núcleo Regional de Saúde, contempla a

representação da SES/PB.

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Entidades Filantrópicas e de Misericórdia/PB*, a Associação Paraibana dos Hospitais*, a

Federação Paraibana de Associações Comunitárias – FEPAC*, a Fraternidade Cristã de

Doentes e Deficientes de João Pessoa, o Sindicato dos Farmacêuticos*, a Associação dos

Agentes Comunitários de Saúde – AACS, o Sindicato dos Trabalhadores em Saúde/PB –

SINDSAÚDE*, a União Pessoense das Associações Comunitárias – UPAC, a Central Única

dos Trabalhadores – CUT/PB*, a ASSENDICON/PB*, a Associação Brasileira de Odontologia

– ABO/PB, o Coletivo de Estudantes em Saúde/PB, e o Instituto dos Cegos da Paraíba.

5.3. GESTÃO PÚBLICA

5.3.1. A SAÚDE NO MUNICÍPIO

A saúde pública no município é gerenciada pela Secretaria Municipal de Saúde – SMS,

ligada diretamente ao Poder Executivo, tendo por responsabilidade a gestão plena do Sistema

Único de Saúde – SUS. Além das ações e serviços de saúde oferecidos ao município, o órgão é

responsável pela formulação e implantação de políticas, programas e projetos que visem à

promoção de uma saúde de qualidade ao usuário do SUS. Seus Distritos Sanitários têm a

função de organizar a rede de cuidado progressivo do sistema e garantir à população acesso aos

serviços básicos, como também aos especializados e à assistência hospitalar.

De acordo com o Plano Municipal de Saúde da SMS, a mortalidade infantil é um dos

indicadores mais sensíveis para se medir o coeficiente de saúde de uma população. Isso porque

a morte de crianças menores de um ano está diretamente relacionada a condições de vida

ligadas aos seguintes aspectos: pré-natal, gravidez, história materna, conduta e doenças

maternas, ruptura precoce de membrana, gemiparidade, idade materna, consangüinidade,

procedimentos perinatais, mortalidade perinatal, condições e tipo de parto, síndrome da morte

súbita, estado marital, intervalo entre partos, fatores interpartais, diferenças raciais materna e

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infantil, condições sócio-econômicas, prematuridade, baixo peso da criança ao nascer, má

formação congênita, presença do HIV na mãe, e de outras doenças infecto-contagiosas.

Segundo informações contempladas no Plano Municipal de Saúde, João Pessoa passou a

contar, em 1990, com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – SINASC, implantado

à semelhança do Sistema de Mortalidade – SIM, que tem como objetivo a coleta de dados sobre

os nascimentos informados em todo o território nacional, para o fornecimento de informações

sobre a natalidade em todos os níveis do sistema de saúde.

Outro indicador importante para medir o nível de saúde de uma população é a morte

materna. Em 2002, João Pessoa teve números preocupantes de mortalidade materna, apesar dos

investimentos feitos na atenção básica e da ampliação das equipes de saúde da família. Nos

últimos seis anos a mortalidade materna vem demonstrando tendência à redução, dado que

indica melhoria das condições de vida e saúde das mulheres residentes no Município de João

Pessoa. No ano de 2005, registraram-se apenas três óbitos maternos, todos com investigação

domiciliar, ambulatorial e hospitalar realizada pelo Setor de Vigilância Epidemiológica e

concluída antes do prazo legal, que é de trinta dias a partir da data do evento. Os óbitos

ocorreram, segundo a SMS, por causas mal definidas, o que representa um grave problema de

saúde pública, já que revela uma baixa confiabilidade das informações geradas. A causa básica

do óbito é um indicador da qualidade das estatísticas sobre morte: quanto menor essa proporção

de óbitos por causas mal definidas, melhor é a qualidade das estatísticas.

A SMS considera que o Município de João Pessoa possui uma posição privilegiada em

relação ao cenário nacional. Para o Ministério da Saúde, o percentual inferior a 10% do total de

óbitos com causa básica mal definida é considerado ideal. O índice de 1,6%, registrado em

2005, pode ser atribuído à implantação da investigação dos óbitos dessa categoria, realizada

pela Vigilância Epidemiológica Municipal, além da implementação de ações educativas

voltadas para o profissional médico que visam à sensibilização quanto à importância do

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preenchimento fidedigno do formulário da consulta médica.

De acordo ainda com dados fornecidos pela SMS, entre 2000 e 2005, as doenças

cardiovasculares foram as maiores responsáveis pelos óbitos ocorridos por causa determinante,

apresentando ainda uma tendência de aumento anual. Já os óbitos ocorridos por causas externas

assumem a segunda posição das mortes mais freqüentes.

As informações aqui prestadas dizem respeito a dados referentes à população pessoense,

embora João Pessoa seja considerada um pólo de saúde que atende a demanda dos municípios

circunvizinhos e de outras cidades de pequeno porte independentemente da sua localização no

Estado.

5.3.2. FUNDO MUNICIPAL DE SAÚDE

O Fundo Municipal de Saúde – FMS foi criado por meio da Lei Orgânica Municipal, de

02 de fevereiro de 1990, e disciplinado pela Lei Nº. 6.643, de 25 de abril de 1991, editada na

gestão do Prefeito Constitucional Carlos Alberto Pinto Mangueira e do Secretário Municipal de

Saúde Geraldez Tomaz. Mais tarde, recebeu, na gestão do Prefeito Cícero Lucena, a

denominação de FUNSAU. Tem como objetivo criar as condições financeiras e de gerência

para o desenvolvimento das ações de saúde, executadas ou coordenadas no âmbito do

município. Compreende o atendimento à saúde universalizado, integral e hierarquizado, a

vigilância sanitária e epidemiológica, com ações de interesse individual e coletivo, e a

elaboração do controle e da fiscalização das agressões ao meio ambiente, atuando também no

controle e fiscalização do ambiente de trabalho, em articulação com as entidades competentes

das esferas federal, estadual e municipal.

Cabe ao Secretário Municipal de Saúde gerenciar o FMS, sem se afastar de sua finalidade

precípua que se efetiva a partir das seguintes ações: 1) estabelecer políticas de aplicação dos

recursos em conjunto com o Conselho Municipal de Saúde; 2) acompanhar, avaliar e decidir

sobre a realização das ações previstas no Plano Municipal de Saúde; 3) submeter ao Conselho

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Municipal de Saúde o plano de aplicação a cargo do Fundo, em consonância com o Plano

Municipal de Saúde e com a Lei de Diretrizes Orçamentárias, bem como demonstrações

mensais da receita e despesas do fundo; 4) firmar convênios e contratos, inclusive de

empréstimos, quando autorizado pelo prefeito, referente a recursos que serão administrados

pelo Fundo.

Para que haja o controle social sobre a saúde pública, é de fundamental importância que

todos os membros do Conselho Municipal de Saúde conheçam a lei que dispõe sobre os

recursos da saúde, bem como os critérios utilizados para o investimento no setor. Na entrevista

que realizamos com os conselheiros municipais de saúde de João Pessoa não conseguimos

visualizar esta situação ideal. Dos 24 (vinte e quatro) conselheiros que compõem o Conselho

Municipal de Saúde de João Pessoa, conseguimos entrevistar 16 (dezesseis). Ao questionarmos

acerca do FMS, obtivemos os seguintes resultados: sete conselheiros sabem do que trata o FMS

e conhecem a lei que o criou; seis entrevistados sabem o que é o fundo, mas desconhecem o

texto legal que dispôs sobre a sua criação; um dos entrevistados sequer sabe da existência do

FMS e dois conselheiros não apresentaram clareza na explanação que fizeram.

Os depoimentos abaixo transcritos provam que é necessário ao Conselho Municipal de

Saúde de João Pessoa conhecer mais detalhadamente o documento legal que disciplina o FMS

para que seus membros possam exercer com mais propriedade as suas atribuições de controle e

fiscalização do bem público. Vejamos os depoimentos:

“Olha, eu sei que existe o Fundo Municipal de Saúde, mas não

tenho informação sobre como funciona” ( conselheira);

“Tenho conhecimento porque eles mandam pra gente”

(conselheira);

“O Fundo Municipal de Saúde é primordial para que o SUS

caminhe” (conselheiro).

Page 93: Dissertação de Mestrado - PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

93

5.3.3. FONTES DE FINANCIAMENTO E INSTRUMENTOS DE GESTÃO

A saúde pública em João Pessoa é financiada, como já foi informado anteriormente, com

os recursos do FMS, cuja receita tem origem no orçamento da Seguridade Social, em

conformidade com o que dispõe o artigo 30 da Constituição da República, nos rendimentos e os

juros provenientes de aplicações financeiras, no produto de convênios firmados com outras

entidades, nas doações, em espécie, feitas diretamente a este fundo, na arrecadação das taxas de

fiscalização sanitária e de higiene, multas e juros de mora por infrações ao código sanitário

municipal, bem como nas parcelas de produto de arrecadação de outras receitas próprias

oriundas das atividades econômicas de prestação de serviços e de outras transferências que o

município tenha direito a receber por força de lei ou de convênios no setor.

Os instrumentos de gestão devem ser elaborados a partir de um diagnóstico da realidade

do município para que possam contemplar as reais necessidades da população assistida. De

acordo com informações prestadas pela Secretaria Municipal de Saúde, o Plano Plurianual –

PPA e o Plano Municipal de Saúde – PMS, gestão 2006/2009, foram construídos a partir de

estratégias traçadas pela Educação Permanente em Saúde – EPS, em cuja base está o

entendimento de que a construção coletiva possibilita e estimula a socialização do compromisso

e das responsabilidades dos atores inseridos na área da saúde. Desta forma, participaram da

elaboração destes documentos tanto a gestão como os trabalhadores e usuários do SUS. Para

tanto, foram realizadas, nos distritos sanitários, várias oficinas com o objetivo de eleger as

prioridades e metas definidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, considerando como

subsídio os relatórios de atividades das áreas técnicas, as propostas de projetos e atividades dos

vários setores da saúde e as prioridades definidas nas plenárias do orçamento democrático.

As informações acima disponibilizadas nos conduzem à conclusão de que a elaboração do

PPA e do PMS foi resultado de um processo de construção coletiva que utilizou a integralidade

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94

e intersetorialidade para promover o gerenciamento participativo, o que pode ser considerado já

um significativo avanço em direção à horizontalidade da gestão. No entanto, as 16 (dezesseis)

entrevistas realizadas com membros do CMS, tendo como tema o Plano Municipal de Saúde,

revelaram que este documento foi apresentado a eles apenas na última hora, durante a

realização das oficinas, o que nos faz ponderar que o simples acesso ao PMS não confirma o

controle social que o CMS deveria ter exercido na elaboração ou avaliação do referido plano.

5.3.4. ORÇAMENTO E PRESTAÇÃO DE CONTAS

Ao Plano Municipal de Saúde foram destinados recursos orçamentários cujo valor atinge

a soma de R$ 218.019.170,00, montante que se divide entre recursos gerados com receita

própria e recursos oriundos do Fundo Nacional de Saúde. Nos anexos do PMS constam

inúmeros quadros que detalham a aplicação deste valor nos vários tipos de investimentos que

são feitos na saúde. Abaixo, apenas para que possamos ter uma visão geral do uso desde recurso

financeiro, resumimos a distribuição do valor supracitado pelas ações de saúde.

AÇÃO

RECURSOS ORDINÁRIOS

R$

FUNDO NACIONAL DE SAÚDE

R$

Atenção Básica 3.320.000,00 25.889.472,00

Média e Alta Complexidade 12.403.729,00 93.999.162,00

Assistência Farmacêutica 7.136.238,00 1.687.954,00

Vigilância em Saúde 516.000,00 3.990.409,00

Financiamento para a Gestão do SUS

Participação e Controle Social com a

Manutenção do CMS

Conferências Municipais de Saúde

41.562.859,00

5.000,00

-

14.343.900,00

60.000,00

10.000,00

Investimentos 6.434.874,00 6.734.576,00

Total geral 71.373,700, 00 146.645.473,00

Total global 218.019.170,00

Page 95: Dissertação de Mestrado - PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

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Como podemos observar pelo quadro orçamentário acima exposto, os maiores

investimentos na saúde pública do Município de João Pessoa são realizados com recursos

oriundos do Fundo Nacional de Saúde – FNS, cabendo à gestão municipal uma contribuição

que corresponde, em termos percentuais, a aproximadamente 50% do valor total investido pelo

FNS.

Para a prestação de contas dos recursos públicos funciona como excelente instrumento de

fiscalização, além de balancetes e quadros de receitas e despesas, o relatório de gestão. Este

documento deve conter informações e dados referentes a tudo o que foi realizado durante o ano,

devendo ser avaliado, anual ou bienalmente, pelo Conselho Municipal de Saúde em análise que

contemple a relação deste relatório de gestão com o Plano Municipal de Saúde. Para oferecer

uma visão geral da gestão da saúde no Município de João Pessoa, no período objeto desta

pesquisa, faremos a seguir uma síntese dos relatórios de gestão de 2004 e 2005.

O relatório de gestão do ano de 2004 descreve as ações realizadas no período de janeiro a

outubro de 2004, apresentando informações sobre cada recurso utilizado no setor. Consta deste

documento dados do cadastramento do Cartão Nacional do SUS, informações sobre todas as

realizações de processos licitatórios, descrição de cada contrato realizado para a prestação de

serviços, inclusive para a contratação de profissionais para o Programa de Saúde da Família –

PSF, dele constando ainda descrição dos gastos feitos com a locação de imóvel para

implantação e funcionamento das Equipes de Saúde da Família – ESF.

No referido relatório de gestão 2004 há também detalhamentos referentes à compra de

serviços, à realização de exames de alto custo, à compra de equipamentos para o setor de órtese

e prótese, à cobertura das ações de Vigilância Epidemiológica, às ações desenvolvidas na área

de saúde do idoso, na área de promoção à saúde integral do adolescente e na área de saúde do

escolar, havendo ainda informações relativas à aquisição, controle e distribuição de

medicamentos. Ações voltadas para a saúde mental, a saúde materno-infantil, o diabetes e a

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hipertensão, entre outros, como a saúde oral, a saúde da mulher, da mesma forma, estão

descritas neste documento.

O relatório de gestão do ano de 2005 apresenta as ações desempenhadas no período de

janeiro a dezembro de 2005. Nele estão contempladas todas as ações realizadas nas diversas

áreas da saúde, tais como: atenção básica, saúde da criança e do adolescente, alimentação e

nutrição, saúde da mulher, imunização, saúde da família, saúde do idoso, saúde bucal, saúde

mental, hipertensão e diabetes, hanseníase, assistência ao pré-natal, além de descrever ações

específicas do setor administrativo, como a realização de processos licitatórios, auditorias, etc.

Como um dos indicadores de análise do objeto de estudo desta pesquisa é a avaliação do

acesso e do conhecimento que têm os conselheiros acerca desses instrumentos de prestação de

contas, não nos cabe aqui detalhar o conteúdo dos citados relatórios de gestão. Cabe-nos, antes,

ressaltar a sua importância e a necessidade de sua apreciação pelo conselho de saúde, uma vez

que se trata instrumento por meio do qual a sociedade pode exercer o controle social sobre a

execução daquilo que foi pactuado no Plano Municipal de Saúde.

De acordo com informações coletadas no Conselho Estadual de Saúde da Paraíba –

CES/PB, a maioria dos gestores não faz a apresentação anual, ou bienal, do relatório de gestão

ao conselho de saúde. Esta apresentação só ocorre quando é requisito indispensável ao

recebimento de recursos oriundos do Fundo Nacional de Saúde – FNS. Ao questionarmos os

conselheiros sobre o acesso que têm ao relatório de gestão, não obtivemos resposta de 31,3%

deles. Considerando que observamos certo compromisso da gestão em encaminhar esse

instrumento para a apreciação do conselho, acreditamos que os conselheiros que se abstiveram

de responder ao nosso questionamento, podem ter assim se comportado por estarem

vivenciando a primeira experiência no controle social, ou por não terem feito a leitura do

documento a que tiveram acesso, ou ainda simplesmente por não quererem se comprometer.

O relatório de gestão, apesar de muito importante, não é o único instrumento a que tem

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acesso o controle social para cobrar a prestação de contas. De acordo com o que rezam a Lei

Nº. 8.142/90 e a Resolução CNS Nº. 333/2003, a cada três ou seis meses, a Secretaria de Saúde

deve apresentar ao conselho um quadro de receita e despesas realizadas e balancetes. Cabe ao

conselho avaliar, pedir vistas e esclarecimentos, se necessário, e deliberar sobre sua aprovação

ou não.

Ao perguntarmos aos conselheiros entrevistados se a Secretaria de Saúde tem cumprido

esta determinação, obtivemos o seguinte percentual de respostas: 62,6% dos 16 entrevistados

afirmaram que a prestação de contas é apresentada ao conselho, sendo que 31,3% deles

responderam que os prazos não são respeitados no envio desta prestação de contas; 56,3%

afirmam ter acesso aos documentos referentes à prestação de contas e 43% não responderam ao

questionamento. Este resultado nos leva a crer que a baixa freqüência de alguns conselheiros

nas reuniões ordinárias do conselho atrelada ao pouco conhecimento que têm sobre o assunto

talvez justifiquem as contradições observadas nesta investigação.

Prestação de contas é um assunto delicado e complexo que envolve questões éticas, de

poder e autonomia. Os recursos da saúde devem ser investidos nas ações de saúde, contudo

sabemos que nem sempre o gestor municipal dá autonomia ao seu gestor de saúde para gerir o

FMS, investindo recursos deste fundo em outras áreas da administração. Além disso, algumas

vezes a Lei de Responsabilidade Fiscal impõe limites contraditórios ao gestor, fazendo-o deixar

de suprir determinadas necessidades concretas da população que não estão contempladas na

norma. Se por um lado este tipo de controle e fiscalização pode impor limites negativos ao

gestor, por outro lado assegura procedimentos viciosos e ilícitos sejam praticados.

Ao entrevistarmos os 16 conselheiros sobre o nível de linguagem dos documentos que

circulam no conselho, 56,3% deles responderam que estes documentos são de difícil

compreensão, tendo em vista serem, quase sempre, escritos em linguagem muito técnica.

Mesmo quando a SMS disponibiliza técnicos para auxiliar a compreensão dos documentos, o

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que nem sempre ocorre, o teor das prestações de conta passa despercebido para a maioria dos

conselheiros.

Além desta dificuldade expressa pelos conselheiros, outras questões interferem na

compreensão dos instrumentos de controle social. O pouco conhecimento que os conselheiros

têm sobre o SUS, o baixo nível de escolaridade de alguns, a falta de tempo para uma leitura

mais aprofundada, e mesmo o comodismo ou a subserviência justificam a pouca clareza com

que esses temas têm sido debatidos nas conferências e plenárias de conselhos de saúde, apesar

de constarem como conteúdo didático de capacitações que são realizadas constantemente. Tal

realidade só confirma a necessidade de um processo de capacitação permanente, em que seja

utilizada uma metodologia que estimule a leitura, o debate, a reflexão e a troca de experiências.

O pouco conhecimento sobre o papel e a competência dos conselhos e dos instrumentos

que regem o SUS, pode provocar conflitos desnecessários na correlação de forças pela

socialização das responsabilidades, podendo ainda provocar o não cumprimento da legislação, a

partir de deliberações ou tomada de decisões equivocadas, o que compromete a qualidade das

ações e serviços a que o usuário tem direito.

5.4. O CONSELHO DE MUNICIPAL DE SAÚDE: LIMITES E POSSIBILIDADES

O Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa foi criado em 1989, por meio do Decreto

Nº. 1.770, de 10 de janeiro de 1989, que posteriormente foi modificado pelos Decretos de Nº.

1.810, de 12 de julho de 1989, e o de Nº. 2.522, de 13 de setembro de 1993. Em 1997, o CMS

passou a ser regido pela Lei Nº. 8.301, de 31 de outubro de 1997.

A pesquisa de campo que realizamos para compreender o papel que este conselho

desempenha no controle social da saúde no Município de João Pessoa foi efetivada por meio de

consulta a seus documentos, portarias, ofícios, atas e resoluções, bem como pelo exame dos

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relatórios de gestão e do Plano Municipal de Saúde. Além disso, sites na internet foram

consultados, diálogos com alguns funcionários foram mantidos e entrevistas, com aplicação de

questionários, foram realizadas com os conselheiros municipais de saúde. Visando à melhor

compreensão da sua estrutura e funcionamento, visitas in loco foram realizadas e reuniões

foram assistidas.

Como analisamos a atuação deste conselho no período que vai de 2004 a 2006,

consideramos importante ressaltar o processo que definiu a sua atual composição. Sob a égide

da Lei Nº. 8.301/97, mas sem a constituição de uma comissão eleitoral, o Presidente do

Conselho, em 20 de abril de 2004, deu início ao processo eleitoral com a publicação, em três

jornais de circulação estadual, do Edital de Convocação de Eleições do Conselho Municipal de

Saúde de João Pessoa.

O citado edital convocava os representantes dos movimentos sociais organizados

de usuários do SUS e dos trabalhadores da saúde do município a encaminharem documentos

oficiais, à Secretaria Executiva do Conselho Municipal de Saúde, acompanhados das atas,

registradas em cartório, e dos Estatutos de suas respectivas entidades, indicando titulares e

suplentes para o conselho. No que diz respeito à representação do governo e dos prestadores de

serviços de saúde, ofícios emitidos pela secretaria do CMS foram enviados às instituições as

quais compete fazer a indicação.

O segmento dos usuários e trabalhadores foi comunicado, por meio do Ofício CMS Nº.

01/2004, de 20 de janeiro de 2004, que as eleições para o preenchimento de vagas de titular e

suplente, referente à representação deste segmento, seriam realizadas nos dias 19 e 20 de maio,

às 14h, no auditório da Secretaria Municipal de Saúde. Inscreveram-se 56 candidatos, entre os

quais foram eleitos os conselheiros que, depois de um processo eleitoral que transcorreu de

forma tranqüila, experimentaram um considerável período de conflituosa convivência.

Oito anos após a publicação da Lei Nº. 8.301/97, em janeiro de 2005, o Poder Executivo

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100

encaminhou à Câmara Municipal um projeto de lei para adequar o CMS à Resolução CNS Nº.

333/2003, porém sem lograr êxito. Em junho de 2006, com a emissão da Resolução Nº.º 05, de

06 de abril de 2006, nova tentativa de adequação do conselho às normas da Resolução CNS Nº.

333/2003 foi feita, mas também sem nenhum êxito registrado.

Neste intervalo, o CMS aprovou, por meio da Resolução Nº. 10, de 24 de maio de 2006,

publicada em 03 de junho de 2006, a prorrogação, por mais três meses, dos mandatos dos

conselheiros eleitos em 2004, como forma de pressionar o Poder Legislativo a providenciar a

adequação do conselho às normas do Conselho Nacional de Saúde em vigência. Esta decisão

provocou grande preocupação no Poder Executivo, que via na situação o comprometimento do

controle social na gestão da saúde.

Neste clima de comoção e preocupação, o CMS deliberou por eleger uma comissão mista

em parceria com outras entidades da sociedade civil para elaborar uma recomendação, datada

de 22 de agosto de 2006, solicitando ao Prefeito do Município de João Pessoa encaminhar a

edição de uma medida provisória, em substituição ao projeto de lei que se encontrava na

Câmara Municipal de João Pessoa, solicitando ainda que fosse mantido, na referida medida

provisório, o texto original daquele projeto de lei.

Ainda em agosto de 2006, foi publicada, no Semanário Oficial do Município Nº. 1.023, a

solicitada medida provisória, dispondo sobre o CMS – para adequá-lo à Resolução CNS Nº.

333/2003, no que se refere à sua composição, estrutura e funcionamento – e revogando a Lei

Municipal Nº. 8.301/97. A edição da citada medida provisória reflete a situação conflituosa que

colocou, de um lado, o Poder Executivo e o CMS e, do outro lado, o Poder Legislativo.

Em cumprimento à Medida Provisória que passou a reger o CMS, teve início novo

processo eleitoral, para definir o mandato 2006/2008. Para tanto, foi constituída, por meio da

Portaria Nº. 47/2006, da Secretaria Municipal de Saúde, uma comissão para conduzir o

processo eleitoral. A comissão, cuja composição contava com um presidente, um vice-

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presidente, uma secretária, uma secretária adjunta, um relator e uma assessora de divulgação,

reuniu-se quatro vezes para elaborar o edital de convocação, os ofícios, as portarias, o

regimento interno, e tudo mais quanto fosse necessário para o êxito das eleições.

Foram abertas as inscrições, durante quatro dias, para o registro de candidaturas às vagas

dos segmentos dos usuários e trabalhadores, e solicitados, por meio de ofícios, a indicação dos

representantes do governo e dos prestadores de serviços. Após o encerramento das inscrições, a

comissão realizou análise da documentação exigida, homologando aquelas que estivessem em

conformidade com o Regimento Interno do CMS e, portanto, habilitadas para concorrer às

vagas. A comissão, durante todo o processo, esteve à disposição para prestar quaisquer

esclarecimentos que fossem solicitados.

No dia dezoito de setembro de 2006, a comissão eleitoral se reuniu para definir os

próximos encaminhamentos, momento em que o Vice-Presidente, Sr. Leonardo de Farias

Nóbrega, informou a existência de dois recursos, assinados, respectivamente, por

representações do Sindicato dos Odontologistas do Estado da Paraíba – SINDODONTO/PB e

do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Paraíba – SINDEP e por representações do

Sindicato dos Agentes de Saúde e Vigilância Ambiental – SINDASVAN.

Os recursos objetivavam a impugnação da inscrição e homologação das candidaturas da

Associação dos Servidores da Rede Municipal de Saúde de João Pessoa – ASRMS/JP e do

Sindicato dos Trabalhadores Municipais da Prefeitura de João Pessoa – SINTRAM/JP. Após a

análise dos referidos recursos, a comissão eleitoral acolheu a solicitação, indeferindo as citadas

inscrições e elaborando nova lista que foi publicada nas dependências da Secretaria Municipal

de Saúde e na página eletrônica da Prefeitura.

Três das entidades não reeleitas – SINDODONTO, SINDSAÚDE e UPAC – tiveram

grandes embates com a atual gestão de saúde. Os representantes da UFPB e do SINDSPREV

também protagonizaram conflitos, contudo, de forma bem mais moderada que os anteriormente

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citados, sendo necessário aqui se ressaltar que o SINDODONTO e o SINDSAÚDE fazem parte

do grupo político de oposição à gestão atual. Além da ação movida durante o processo de

eleição, o SINDODONTO moveu, anteriormente, uma ação contra o secretário executivo do

conselho.

A organização desse processo eleitoral contou com toda infra-estrutura necessária,

promovendo inclusive uma discussão sobre o papel do CMS e dos seus conselheiros. O objetivo

da comissão ao colocar em discussão este tema foi de chamar a atenção para o fato de que, após

a adequação do CMS à Resolução CNS Nº 333/2003, o seu papel no controle social da saúde

assumiu maior importância. Desta forma, um debate nas plenárias de cada categoria poderia

melhorar a participação das futuras representações deste órgão colegiado. Plenárias das

entidades dos usuários ocorreram no Paço Municipal, ficando no seu auditório as

representações maiores, como as organizações de moradores e as organizações do segmento dos

trabalhadores em saúde e, em outras dependências do mesmo edifício, as demais categorias.

No dia 21 de setembro de 2006, como determinava a Portaria Nº. 46/2006, a comissão

instalou a mesa de credenciamento, das 08h30min às 09h30min. Precisamente às 10h o

presidente da comissão fez a chamada dos credenciados, explicando como seria o procedimento

eleitoral. Todos os fóruns de entidades, com exceção das organizações de moradores, definiram

consensualmente suas representações. A comissão ainda tentou o consenso, para que a votação

ocorresse de imediato, mas o delegado da Associação Comunitária dos Moradores do Conjunto

Costa e Silva, contrariamente, exigiu que o regulamento fosse cumprido.

Assim, a atual composição do CMS se caracteriza pela inserção de novas entidades no

cenário do controle social da saúde. Nas duas eleições aqui descritas, foram cumpridas todas as

etapas necessárias a um processo de composição de um conselho de saúde. Contudo, é inegável

que a última delas foi mais democrática e mais consciente, uma vez que assegurou capacitação

voltada para a responsabilidade que envolve o controle social.

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103

A despeito de todo o cuidado com que vem sendo tratado o CMS, grande preocupação

ainda recai sobre ele: a medida provisória que atualmente o rege precisa ser transformada em

lei, o que depende do Poder Legislativo, que, como já pudemos observar, vinha se contrapondo

aos argumentos do Poder Executivo e do próprio CMS. De acordo com a percepção de um dos

funcionários com quem mantivemos diálogo, há, agora, grandes possibilidades de o CMS vir a

ser regulamentado em lei, pois a bancada de oposição ao governo municipal na Câmara

Municipal conta com apenas 03 vereadores.

Contextos dessa natureza demonstram claramente a existência de interferência de

interesses políticos partidários no controle social da saúde, o que é muito perigoso, por tudo o

que isso pode significar. Também são contextos dessa natureza que reforçam a importância que

tem um conselho na orientação das políticas públicas. Mesmo estando com problemas em sua

estrutura, organização ou composição, o conselho deve continuar atuando no controle social

para exigir da gestão, no exercício do seu papel, o desempenho adequado à atenção, à promoção

e à proteção da saúde pública.

Afirmar que um conselho deve continuar atuando mesmo que tenha problemas em sua

estrutura, composição ou funcionamento não significa dizer que devam ser negligenciados

cuidados com o respeito às orientações legais, com a permanente capacitação dos conselheiros,

e sobretudo com a manutenção da democracia no encaminhamento das demandas que ali se

apresentam. Cuidados dessa ordem podem evitar que interesses escusos e procedimentos ilícitos

comprometam a qualidade da saúde que é oferecida à população.

De acordo com a Lei Nº. 8.142/90, um conselho de saúde tem caráter consultivo,

deliberativo e normativo, devendo atuar permanentemente em conformidade com o que reza o

seu regimento interno, que, para ser eficiente, deve dispor sobre a operacionalização, a

organização, o funcionamento e a estrutura do conselho, em consonância com a legislação

atinente ao tema. No contexto do funcionamento, deliberações da plenária são transformadas

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em resoluções que são homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera

de governo, podendo algumas delas ser homologadas pelo gestor da saúde. Outros

instrumentos, como moções de repúdio ou de apoio, recomendações e portarias, também são

elaborados no âmbito do conselho.

Apesar da grande responsabilidade que percebemos ter o conselho, ao entrevistarmos os

conselheiros do CMS, ainda obtivemos 25% de respostas negativas quando perguntamos se eles

conheciam a regulamentação do conselho. Este percentual, aparentemente baixo, é preocupante,

se lembrarmos que ao conselho cabe permanentemente a formulação e a proposição de

estratégias no controle da execução das políticas de saúde, inclusive em seus aspectos

econômicos e financeiros.

5.4.1. ORGANIZAÇÃO E INFRA-ESTRUTURA

A Resolução CNS Nº. 333/2003, como já informamos, estabelece as diretrizes para a

criação, reformulação, estruturação e funcionamento dos conselhos de saúde. A primeira

diretriz define o conselho; a segunda diretriz estabelece que cabe ao poder executivo,

respeitando os princípios da democracia, acolher as demandas da população, consubstanciadas

nas conferências de saúde; a terceira diretriz estabelece a sua composição, ressaltando a

paridade entre os representantes de usuários e o conjunto dos demais segmentos representados,

ressaltando ainda que o presidente do conselho deve ser eleito entre seus pares, em reunião

plenária; a quarta diretriz dispõe sobre a responsabilidade do governo em garantir uma dotação

orçamentária que assegure a autonomia necessária ao funcionamento do conselho, destacando

que na distribuição das atribuições se evitará, para fortalecer o processo democrático, qualquer

procedimento que crie hierarquia de poder entre conselheiros e funcionários ou permita

decisões tecnocráticas; a quinta e última diretriz dispõe sobre as competências do conselho,

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realçando o respeito às leis federais e as indicações advindas das conferências de saúde.

O Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa, desde sua criação até o ano de 1993,

funcionava em uma pequena sala, localizada no prédio da Secretaria de Municipal de Saúde.

Neste período, a infra-estrutura do conselho era tão inadequada que as reuniões precisavam ser

realizadas em outro local, definido a depender da ocasião e disponibilidade da própria SMS.

Tarefas elementares como o controle das freqüências e a elaboração de atas eram executados

por um conselheiro que atuava como secretário ad doc, eleito para desempenhar o serviço

inerente à secretaria executiva. A partir de 1993, o conselho passou a contar com uma secretária

executiva, contatada especialmente para este fim, mas continuou funcionando precariamente,

no que diz respeito às instalações físicas. Somente no final de 2002, o conselho é transferido

para um espaço composto de quatro salas, também nas dependências da SMS, mais adequado

ao seu funcionamento. Nesta nova estrutura, o conselho passou a dispor de salas bem

equipadas, com computadores, telefone e fax. Em uma das salas está instalada a equipe de

apoio administrativo, na outra está a secretaria executiva, na terceira sala funciona o gabinete

do presidente do conselho, e, finalmente, na quarta sala, o conselho tem uma sala de reuniões.

Quando há necessidade de um espaço maior para as reuniões, utiliza-se o auditório da secretaria

de saúde ou o da câmara de vereadores. No período em que estávamos fazendo esta pesquisa,

uma quinta sala estava sendo preparada para a instalação de uma biblioteca.

A secretaria executiva é composta de um secretário executivo, contratado para dar

encaminhamento às deliberações da plenária, e uma equipe de apoio administrativo composta

por funcionários do quadro de servidores da prefeitura municipal. Nas duas ultimas gestões, o

presidente tem comparecido diariamente ao conselho para atender às demandas da população

no encaminhamento das deliberações do conselho, prática considerada muito positiva, já que o

conselho é um espaço privilegiado de mobilização e articulação contínuas da sociedade.

A secretaria executiva tem como atribuições, organizar as pautas, atas, que enviados com

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antecedência aos conselheiros, bem como elaborar os ofícios e controlar a freqüências, além de

zelar pelo arquivo da documentação do conselho, preparar calendários e agendas de atividades

construídas e aprovadas pelo plenário do conselho. Os assuntos em pauta dependem da

demanda, sejam denúncias da comunidade, interesse dos conselheiros ou da secretaria de saúde.

Nas entrevistas realizadas, 81,3% dos dezesseis conselheiros consultados disseram que

infra-estrutura do conselho é boa, mas que ainda não é a adequada para seu pleno

funcionamento, o que possivelmente possa a vir a ser solucionado, uma vez que aquelas

dependências estão passando por algumas reformas. No que diz respeito aos documentos, os

dezesseis conselheiros entrevistados afirmaram ter livre acesso a qualquer documento que

circule no conselho, o que não significa dizer que façam leitura completa dos mesmos. Em

relação às atas, afirmaram que, no momento da leitura e aprovação, alguns conselheiros apenas

lêem o item que contém assunto de seu interesse ou de sua entidade ou registro de sua

intervenção.

|Como à secretaria executiva cabe a condução diária do conselho, não é de se estranhar

que se envolva em situações conflituosas. Durante o mandato 2004/2006, alguns fatos

determinaram o surgimento de uma relação conflituosa entre membros do conselho e a gestora

de saúde que acabava de assumir a pasta: em dezembro de 2004, a gestora da SMS contratou

um secretário executivo, de sua base política, para o conselho, apesar de sua plenária ter

aprovado por unanimidade a permanência da então secretária executiva por considerá-la

competente em sua função. Não bastasse este procedimento, descobriu-se, à época, que recursos

destinados ao conselho serviam para manter funcionários em outros setores. A conseqüência

destes fatos foi a deliberação pela permanência de apenas dois funcionários do quadro da

secretaria, ficando apenas o cargo de secretaria executiva sob a indicação do conselho.

Os problemas se agravaram a partir do momento em que o secretário executivo começou

a interferir nas reuniões do conselho, opinando e questionando quanto à postura dos

Page 107: Dissertação de Mestrado - PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

107

conselheiros. Este secretário chegou a convocar duas reuniões com o objetivo de fazer

articulações para garantir a votação e aprovação de projetos de interesse da gestão, não obtendo

sucesso porque os conselheiros estavam desconfiados de que as atas estivessem sendo

manipuladas, uma vez que alguns depoimentos eram transcritos integralmente enquanto outros

não.

O conselho, para tentar solucionar o problema, criou uma comissão interna para avaliar o

comportamento e ações do secretário executivo, o que culminou com uma reunião em que foi

deliberado, por unanimidade, a saída do secretário executivo do conselho haja vista a sua

parcialidade na condução dos trabalhos. A secretária de saúde assinou todas as resoluções

deliberativas da época, exceto a que tratava da exoneração do citado secretário executivo,

respaldada por parecer da assessoria jurídica. Em meio a esse conflito, o conselho não parou de

funcionar, apesar de seu presidente não comparecer mais ao conselho, nem para despachar com

o secretário executivo nem para presidir as reuniões.

De acordo com informações prestadas por alguns conselheiros entrevistados e por

funcionários da secretaria executiva, o secretário executivo era centralizador, desorganizado e

fazia muitas articulações tendenciosas, inclusive utilizando-se de ameaças contra alguns

conselheiros. No final de 2006, o secretário executivo, ao entrar de férias, foi exonerado,

coincidentemente, após a eleição da nova composição do conselho para o biênio 2006/2008,

conforme atesta o depoimento que transcrevemos abaixo:

“Inclusive o SINDODONTO moveu uma ação no Ministério

Público e Curadoria do Consumidor, solicitando providencias

contra o secretario executivo, pela ameaça contra uma

conselheira. A Curadoria do Consumidor convocou a gestora

de saúde e o gestor municipal para uma reunião”.

(conselheira).

Durante a pesquisa, tivemos a oportunidade de atestar o comportamento, denunciado

Page 108: Dissertação de Mestrado - PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

108

pelos conselheiros, do secretário executivo, que dificultou o acesso aos dados e documentos de

que tínhamos necessidade para a elaboração do presente trabalho, alegando falta de tempo,

excesso de ocupação, mas sem delegar a outros funcionários do setor a competência para nos

atender em nossa pesquisa.

De acordo com a Resolução CNS Nº. 333/2003, os recursos destinados ao conselho para a

garantia do seu pleno funcionamento devem ser geridos pelo próprio conselho, em suas

deliberações em plenária. Com a citada resolução determina que seja o governo a assegurar o

orçamento, mas não define com precisão de que fundo específico deve sair este recurso, há

sempre um jogo, em que responsabilidades são jogadas de um lado para o outro. Segundo relato

do Sr. Martim Laurindo, ex-presidente do CMS, o conselho já tinha dotação orçamentária

quando ele assumiu a presidência, mas insipiente para as suas demandas, motivo pelo qual fez

significativas gestões para conseguir um aumento desta dotação. Na gestão atual, essa dotação

orçamentária, que sofreu um aumento considerável, conforme atesta quadro abaixo, continua

sendo garantida, sobretudo depois de passar a estar contemplada no Plano Municipal de Saúde.

PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL

Ações

Recursos ordinários

Recursos do FNS repasse fundo a fundo

Manutenção do CMS

5.000,00

60.000,00

Conferências Municipais de Saúde

10.000,00

Total

75.000,00

Orçamento do Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa – exercício 2006/2009

Conforme demonstra o quadro orçamentário, podemos observar que os maiores

investimentos são de recursos oriundos do Fundo Nacional de Saúde, os quais são repassados

fundo a fundo à secretaria de saúde. A definição desse valor tem por base uma demanda de

atividades programadas. Se considerarmos as demandas que aparecerem cotidianamente, esse

Page 109: Dissertação de Mestrado - PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

109

valor torna-se insuficiente para um período de quatro anos de atividades. Apesar de

considerarmos ainda pouco o recurso financeiro do CMS de João Pessoa, não podemos deixar

de registrar que este é um dos poucos conselhos na Paraíba que possui orçamento garantido em

um instrumento de gestão, o que lhe garante autonomia financeira para promover atividades e

assegurar a participação de seus membros em eventos de interesse do controle social e das

políticas públicas.

No exercício 2004/2005, de acordo com informações reveladas nas entrevistas realizadas

com conselheiros e funcionários do CMS, vários conflitos foram registrados no gerenciamento

deste conselho: conselheiros, de um lado, e secretário executivo e gestora de saúde, de outro,

não se entendiam no tocante à proposta de adequação do CMS à legislação vigente e ao

processo eleitoral para o novo mandato. Não houve despesas com viagens ou realização de

eventos neste período, assim como não foram elaborados os relatórios de atividades do CMS

referente a esse mandato.

5.4.2. REGIMENTO INTERNO

Da sua criação até os dias atuais, o CMS já teve quatro regimentos internos. O primeiro

Regimento Interno foi aprovado em 24 de março de 1990, o segundo, em 25 de novembro de

1993, o terceiro, em 31 de outubro de 1997 e o último, em 21 de novembro de 2006. A análise

dos desses documentos mostra que os três primeiros regimentos guardam, entre si, grande

semelhança. Dentre estas semelhanças, destacamos a previsão de participação de entidades e

instituições de abrangência estadual ocuparem vagas de entidades de abrangência municipal; a

ausência de entidades religiosas na composição do conselho; e a possibilidade de se ter longos

períodos sem eleição para a mudança de mandatos, uma vez que o documento legal se referia a

“membros efetivos” (Cf. Regimento Interno/1990, art. 2º, inciso I).

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110

Para a elaboração do último Regimento Interno, aprovado recentemente, como já

informamos, foi criada uma comissão em plenária, conforme atesta a Portaria Nº. 05, de 16 de

outubro de 2006. Depois de elaborada e discutida a minuta de regimento, em várias reuniões do

conselho, o citado documento foi aprovado, resultando na Resolução CMS/JP Nº. 22, de 14 de

dezembro de 2006, assinada e homologada pelo Presidente do CMS e pelo Prefeito Municipal.

O referido Regimento contempla detalhadamente todos os aspectos operacionais de

funcionamento e organização do conselho, inclusive com atribuições claras e definidas em

relação aos conselheiros de saúde, à mesa diretora, às comissões permanentes, aos grupos de

trabalho, e à secretaria executiva. A composição das representações respeita a paridade,

instituída pela Resolução CNS Nº. 333/2003, tem o gestor de saúde como membro nato, tendo

em vista João Pessoa sediar o 1º Núcleo Regional de Saúde, e prevê a eleição do presidente por

seus pares. Além disso, renovou as representações do segmento dos usuários, passando a

contemplar o movimento negro em saúde, as entidades ambientalistas, a comunidade científica

e o movimento estudantil.

À semelhança dos anteriores, este regimento também não prevê a representação de

entidades religiosas e continua permitindo que entidades e instituições de abrangência estadual

e federal ocupem vagas de entidades de abrangência municipal. De forma geral, podemos

observar que o referido documento está de acordo com a Lei 8.142/90 e com a Resolução CNS

Nº. 333/2003, tratando-se de um documento denso, muito bem elaborado.

Dos dezesseis conselheiros entrevistados, apenas dois ainda não dispunham de uma cópia

do Regimento Interno em vigor, o que nos faz supor que foram contextos particulares (ausência

em reunião ou algo parecido) que determinou esta situação e não uma predisposição da

secretaria executiva para negar acesso ao referido texto legal.

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111

5.4.3. COMPOSIÇÃO

No que se refere à composição, O CMS de João Pessoa histórico que o diferencia

dos demais conselhos existentes na Paraíba: ao longo da sua existência, ele foi regulado por

nada menos que nove instrumentos legais, cada qual estabelecendo modificações na

representação. A primeira composição, regulamentada pela Portaria Nº. 11/90, de 16 de janeiro

de 90, tinha como presidente o secretário municipal de saúde e 16 (dezesseis) membros

titulares, com seus respectivos suplentes, para o mandato de ano, com recondução por igual

período. Nesta composição, observamos que os trabalhadores da saúde ocupavam duas vagas na

representação do governo, que a FETAG, que deveria estar no segmento dos usuários, ocupava

uma vaga como titular representando os trabalhadores de saúde, que uma mesma entidade

ocupava duas vagas como titular no segmento dos usuários, que duas entidades que deveriam

estar inseridas no segmento dos prestadores de serviços do SUS estavam representando os

trabalhadores de saúde.

Distorções desta natureza provam que não havia muita clareza quanto à representação das

entidades e instituições nos segmentos. Também se pode observar que a participação maior era

de representantes do governo e prestadores de serviços do SUS e que os trabalhadores de saúde

estavam representados ou pelo segmento do governo, ou por prestadores de serviços e usuários,

de forma que o referido segmento não tinha, de fato, uma representação, sem falar que a

representação dos usuários era insignificante e que as secretarias de educação e de

planejamento, apesar de não estarem diretamente ligadas à saúde, estavam representadas no

conselho.

A segunda composição, regulamentada pela Portaria Nº. 576, de 22 de agosto de 1991,

tinha como presidente o secretário municipal de saúde e ampliou para 22 (vinte e dois) o

número de membros do conselho. Titulares e suplentes eram nomeados para um mandato de um

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112

ano, com recondução por igual período. Esta composição se diferencia da anterior por dividir a

representação em órgãos públicos e representantes da sociedade civil, segmento em que

estavam os trabalhadores de saúde e usuários. Na representação dos órgãos públicos, a câmara

municipal de vereadores ocupava uma vaga e a Secretaria Municipal de Saúde ocupava vagas

que deveriam ser destinadas aos trabalhadores de saúde, aos usuários e aos prestadores de

serviços do SUS. Algumas entidades ocupavam duas ou mais vagas nos segmentos dos

trabalhadores de saúde e usuários. De acordo com a legislação que trata da organização e

funcionamento dos conselhos de saúde, esta composição fere o princípio da paridade.

A terceira composição, cuja regulamentação foi assegurada pela Portaria de Nomeação,

publicada em 15 de julho de 1993, tem como presidente o secretário municipal de saúde e um

total de 35 (trinta e cinco) membros titulares para um mandato de um ano, com recondução por

igual período. Esta composição feria a Resolução CNS Nº. 33/92, em vigor naquela época, por

ultrapassar o número de 20 (vinte) conselheiros. No que diz respeito à representação,

observamos que algumas entidades continuavam a não corresponder aos segmentos que

representavam, que entidades chegavam a ocupar duas ou mais vagas. Contudo, observamos

maior clareza na definição dos segmentos e maior participação dos usuários e trabalhadores de

saúde, além da inserção de algumas associações de bairros na composição do conselho.

A quarta composição, cujo instrumento normativo foi publicado em 26 de maio de 1998,

continua tendo o secretário municipal de saúde como presidente e reduz o número de

conselheiros para 24 (vinte e quatro) para o exercício de um mandato de dois anos. Apesar de

percebermos, nesta composição, mais clareza que na definição dos segmentos, algumas

entidades continuavam a não corresponder aos segmentos que estavam representando.

A quinta composição foi definida por uma portaria de nomeação que foi publicada no dia

25 de maio de 2000. Também nesta composição, mantinha-se o secretário municipal de saúde

como presidente, o número de membros titulares foi mantido, assim como foi mantido também

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113

o mandato de dois, com direito à recondução em igual período. Houve inserção de novas

entidades. Os segmentos estão definidos, bem como suas respectivas representações. Porém,

algumas entidades continuaram não correspondendo aos segmentos que estavam representando.

A sexta composição, cujo instrumento normativo não conseguimos localizar, já não impõe

o secretário de saúde como presidente obrigatório. Desta liberdade, resultou que o presidente

eleito para aquele mandato foi um representante do segmento dos trabalhadores da saúde. O

número de componentes e o tempo do mandato permaneceram os mesmos. Havia paridade na

representação dos diversos segmentos. Sem acesso à portaria de nomeação, utilizamos atas de

reuniões do CMS para este registro.

A sétima composição, segundo a secretária executiva, não foi publicada ainda em nenhum

instrumento normativo. Tendo como presidente um representante dos usuários, continuava a

descumprir determinações legais no que se refere ao número máximo de conselheiros, pois

mantém o mesmo número de 24 (vinte quatro) membros em sua composição. Com

representantes das três esferas de governo – municipal, estadual e federal – percebemos ainda o

problema relacionado à participação de entidades e instituições de abrangência estadual

ocupando vagas de entidades de abrangência municipal.

A oitava composição, cuja portaria de nomeação ainda não foi homologada, mantém os

mesmos 24 (vinte e quatro) membros titulares, bem como o mesmo tempo de mandato. O

presidente é ainda o representante dos usuários.

A nona composição, também com 24 (vinte e quatro) membros titulares e seus respectivos

suplentes, tem a sua portaria de nomeação a ser homologada pelo gestor municipal. Nesta

composição há novas entidades a partir do processo eleitoral.

Como o período da presente pesquisa compreende o período que vai de 2004 a 2006,

consideramos importante detalhar o quadro das representações na composição do CSM neste

intervalo.

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COMPOSIÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA

MANDATO 2004 A 2006

SEGMENTO ENTIDADE REPRESENTANTE

Governo

Ministério da Saúde

Secretaria de Estado da Saúde

Secretaria Municipal de Saúde

Prestadores de Serviços do SUS

Universidade Federal da Paraíba

Federação das Entidades Filantrópicas e de Misericórdia do

Estado

Associação Paraíba dos Hospitais

Trabalhadores de Saúde

Sindicato dos Odontologistas no Estado da Paraíba –

SINDODONTO

Sindicato dos médicos da Paraíba – SIMED

Sindicato dos trabalhadores em saúde do Estado da Paraíba –

SINDSAÚDE

Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde e Previdência

do Estado da Paraíba – SINDSPREV

Associação dos Agentes Comunitários de Saúde de João Pessoa

– AACS/JP

Sindicato dos Farmacêuticos do Estado da Paraíba – SIFEP

Usuários

Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transportes

Rodoviários de Passageiros e Cargas do Estado da Paraíba

Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho do Estado da

Paraíba

Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado da

Paraíba – FETAG-PB

Movimento Popular Organizado de Saúde de Mangabeira

União Comunitária de Mangabeira – UCM

Associação Comunitária dos Moradores de Mangabeira – ACMM

Federação Paraibana de Associações Comunitárias – FEPAC

União Pessoense das Associações Comunitárias – UPAC

Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes da Paraíba – FCD-

PB

Associação Paraibana de Deficientes (ASPADEF)

Sociedade dos Hemofílicos da Paraíba (SH/PB)

Associação dos Diabéticos de João Pessoa – AD/JP

Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas Pela

Hanseníase – MORHAN

Podemos observar que a composição do CMS referente a 2004/2006 está de acordo com a

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Resolução CNS Nº. 333/2003 em termos de paridade dos segmentos. A maioria das entidades já

estava representada no conselho desde as composições anteriores.

O conselho, com esta composição, viveu uma situação bastante conflituosa com a SMS,

segundo relato dos conselheiros entrevistados, porque a secretária de saúde tinha como proposta

a mudança da lei de criação do conselho, com o objetivo de adequá-lo a Resolução CNS Nº.

333/2003. A princípio os conselheiros estavam dispostos a apoiá-la, contudo, após embate

travado entre esta e o presidente do conselho, tendo como motivo o envio do projeto de lei à

câmara sem prévia discussão na plenária, os ânimos se acirraram. Além disso, e da contenda já

narrada, que teve como protagonista o secretário executivo do conselho, outro problema,

referente à não homologação da portaria que nomeou esta composição, acabou por determinar

uma relação bastante difícil entre o CMS e a gestão da saúde no município.

A partir do depoimento que transcrevemos a seguir, é possível observar a interferência do

secretário executivo nas deliberações do conselho. Senão, vejamos:

“Outro problema é que todas as mudanças ocorridas no mandato dos

conselheiros não foram homologadas pela gestão. O secretário

executivo alega que essa não-homologação foi responsabilidade da

gestão anterior.Os conselheiros acham que é para a gestão atual

homologar” (conselheiro).

A seguir, segue a descrição da nona composição, que foi construída, como já afirmamos, a

partir de um processo eleitoral bem mais organizado e democrático que os anteriores, inclusive

com a realização de eventos especialmente direcionados para a capacitação das entidades

interessadas em participar do conselho. Surgem algumas entidades que não faziam parte das

composições anteriores deste conselho, como o Movimento Negro e a Comunidade Científica.

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116

COMPOSIÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA

MANDATO 2006 A 2008

SEGMENTO ENTIDADE REPRESENTANTE

Governo

Ministério da Saúde

Secretaria de Estado da Saúde

Secretaria Municipal de Saúde

Prestadores de Serviços do SUS

Centro de Ciências da Saúde da UFPB

Sociedade de Assistência e Amparo à Infância da Paraíba –

SAAI/PB

Associação Paraibana dos Hospitais – APH

Trabalhadores de Saúde

Associação Brasileira de Odontologia – Seção Paraíba (ABO/PB)

Sindicato dos Médicos da Paraíba – SIMED-PB

Sindicato de Agentes Comunitários de Saúde da Paraíba –

SINDACS/PB

Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Paraíba – SINDEP

Sindicato dos Farmacêuticos do Estado da Paraíba – m SIFEP-PB

Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde e Previdência

do Estado da Paraíba – SINDSPREV/PB

Usuários

Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas Pela

Hanseníase - MORHAN

Associação dos Diabéticos de João Pessoa - AD/JP

Instituto dos Cegos da Paraíba – IC/PB

Malungus – Organização Negra da Paraíba

Cunhã – Coletivo Feminista

Coletivo de Estudantes em Saúde da Paraíba – CES/PB

Associação dos Inativos e Pensionistas – ASIP

Central Única dos Trabalhadores da Paraíba – CUT/PB

DIGNITATIS – Assessoria Técnica Popular

Associação Comunitária dos Moradores de Mussumagro

Associação de Apoio à Luta Pela Moradia – ALAM

Associação Paraibana dos Amigos da Natureza – APAN

Fórum de ONG’s Aids do Estado da Paraíba, Sociedade Brasileira

de Análise Clínicas / Seção Paraíba – SBAC/PB

AFYA – Centro Holístico da Mulher

A composição do CMS para o mandato 2006/2008, como podemos constatar, está em

consonância com a Resolução CNS Nº. 333/2003 em termos de paridade dos segmentos.

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117

5.4.4. PERFIL INSTITUCIONAL

A composição do Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa cumpre, como já

demonstramos, os critérios de paridade e pluralidade previstos em lei. Entretanto, chamamos a

atenção, considerando a teoria produzida sobre o controle social nos conselhos gestores de

políticas públicas, que a paridade e a pluralidade são critérios de suma importância para o

desempenho institucional dos conselhos, mas não são suficientes para garantir o seu

funcionamento democrático. (Cf. Gohn, 2001; Teixeira, 2000).

A pluralidade, que se atinge pela diversidade de organizações representativas de usuários,

de profissionais de saúde, de prestadores de serviços privados e do governo, possibilita o

surgimento de espaços mais abertos de interação e instâncias críticas em relação às

deliberações. Quando, por qualquer que seja o motivo, o equilíbrio do pluralismo começa a

perder força, com a predominância de um segmento sobre o outro, seja usuários, profissionais

de saúde, prestadores de serviços privados ou o próprio governo, o conselho se enfraquece e

suas decisões começam a perder o poder de pressão para implantar um sistema de saúde que

atenda aos interesses da população. A prática comprovou que o exercício do pluralismo é o

responsável pela força dos conselhos de saúde (Cf. Santos 2000: 17).

A descrição que fizemos das várias composições que já teve o CMS de João Pessoa

demonstra que a paridade e a pluralidade foram conquistadas lentamente, passando de um

estágio de extrema fragilidade para a atual composição, notadamente mais democrática, que

respeita os instrumentos legais do controle social das políticas públicas voltadas para a saúde.

Para uma melhor compreensão do desempenho dos conselheiros do CMS, optamos por

investigar o cenário que envolve as entidades e as instituições que representam a sociedade

neste conselho, em uma tentativa de definição do seu perfil institucional. Procurando saber

sobre o tempo de criação das entidades envolvidas nesta pesquisa, obtivemos o seguinte

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118

resultado: sete dentre as dezesseis pesquisadas foram fundadas antes de 1980, duas tiveram suas

fundações entre 1981 e 1985; outras duas têm suas datas de fundação entre 1991 a 2000 e três

foram fundadas entre 2001 e 2006. Dessas, nove estão vivendo o primeiro mandato, quatro

delas estão no segundo, e apenas uma já se encontra no terceiro mandato, restando o número

mais elevado às entidades que vivem o seu primeiro mandato, o que se justifica pelo processo

da última eleição, que assegurou a inserção de novas entidades no conselho.

No que diz respeito à investigação que fizemos para averiguar qual a forma de

financiamento que asseguram o funcionamento destas entidades e instituições, processamos os

seguintes dados: duas recebem recurso público, seis possuem recursos próprios, sendo que uma

dessas recebe também recursos do setor privado, três das entidades representadas não recebem

nenhum tipo de recurso, o que supomos possa significar desconhecimento de causa. Os

representantes das demais entidades não souberam responder com clareza qual a origem do

recurso que as mantém.

Geralmente as entidades organizadas sobrevivem de consignações e doações, exceção

feita às universidades que dispõem de recursos oriundos do tesouro nacional. Neste contexto, as

Organizações Não-Governamentais – ONG se diferenciam das demais por poderem receber

tanto recursos do setor público quanto do privado, nacional ou internacional.

Quanto ao número de filiados, constatamos uma enorme diversidade, com a presença de

entidades muito pequenas e outras muito grandes: duas entidades possuem apenas doze filiados,

uma das entidades tem 20 (vinte) filiados, outra tem 280 (duzentos e oitenta), duas delas têm

500 (quinhentos) filiados, uma tem 700 (setecentos), outra chega ao expressivo número de

1.940 (mil, novecentos e quarenta) filiados e outra bate este recorde com 2.500 (dois mil e

quinhentos) componentes. Sete dos representantes entrevistados não souberam informar o

número de filiados que têm suas respectivas instituições. As entidades com baixo número de

filiados fazem parte do grupo de entidades fundadas recentemente, exceto o MOHAN, cujos

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119

sócios são todos portadores da hanseníase.

Quanto à atuação, procuramos investigar quais os mecanismos que estas entidades usam

para manifestar a sua participação na vida da sociedade em que estão inseridas. 56% dos

entrevistados informaram que suas entidades já recorreram ao Ministério Público e a membros

dos Poderes Executivo e Legislativo, na tentativa de resolverem suas demandas. A maioria,

expressa em 81,3%, das respostas, recorre a formas de ações não institucionais, como as

mobilizações, as greves, as passeatas, os encontros e assembléias, ações mais específicas das

entidades com origem na sociedade civil organizada.

Para a definição do perfil institucional das entidades componentes do CMS, averiguamos

ainda se estas instituições recebem algum tipo de apoio financeiro vindo de organizações

governamentais. Neste quesito, obtivemos o seguinte resultado: nove das entidades recebem

apoio do Poder Legislativo, cinco recebem este apoio do Poder Executivo Municipal e sete

recebem apoio de universidades. Nesta investigação, percebemos que as universidades se

aproximam do Poder Executivo, por meio dos seus programas e projetos de pesquisa e de

extensão, enquanto as demais entidades estão mais próximas do Poder Legislativo, talvez pela

existência de compromissos e interesses que unem legisladores e eleitores filiados às

respectivas entidades.

Quanto ao apoio oriundo de órgãos não-governamentais, fizemos a nossa investigação

selecionando algumas fontes de onde poderiam ser este apoio: central sindical, sindicatos,

federações e confederações, fóruns de entidades, ONGs e partidos políticos. Nas entrevistas

tomamos conhecimentos que três entidades recebem apoio da Central Sindical, oito recebem

apoio vindo de sindicatos, federações e confederações, nove são apoiadas por fóruns de

entidades, enquanto seis recebem apoio de ONGs e apenas duas de partidos político.

O envolvimento efetivo de entidades que compõem um conselho com os poderes

legislativo e executivo ou com partidos políticos pode comprometer enormemente a autonomia

Page 120: Dissertação de Mestrado - PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

120

deste órgão colegiado, especialmente se esse envolvimento se dá no segmento dos usuários. Os

poderes executivo e legislativo são organismos que tendem a defender os interesses do governo,

enquanto os partidos políticos defendem seus interesses partidários, os quais dificilmente

podem coincidir com interesses e necessidades da população. Tal reflexão aqui se faz

necessária porque os dados desta pesquisa denunciam fragilidades no segmento dos usuários, o

mais vulnerável a formas de cooptação e manipulação por parte de grupos fortalecidos

politicamente, seja na esfera dos partidos políticos ou na esfera dos órgãos de governo –

espaços onde o poder está concentrado.

O tempo de filiação às entidades é um outro dado que consideramos importante para

compor o perfil institucional do CMS, pois que serve para avaliar o grau de envolvimento que

há entre o representante e os representados. Ao questionarmos sobre este elemento de análise,

obtivemos dos dezesseis conselheiros entrevistados, o seguinte panorama: 56,4% atuam nas

respectivas entidades há um tempo que varia entre seis e quinze anos, e 33,3% vêm atuando por

um tempo que varia de dois a cinco anos. Do total de entrevistados, 68,8% ocupam cargos em

suas entidades de origem, o que parece ser determinante para a sua indicação ao conselho.

Geralmente as entidades que compõem o segmento dos usuários não reúnem seus sócios ou

filiados para escolha do representante, ficando a critério da diretoria indicar o seu representante.

Isso pode ocorre geralmente porque as entidades não têm muitas pessoas como disponibilidade

e perfil para assumir tal encargo ou ainda pela dificuldade que a entidade tem de reunir seus

filiados, sobretudo quando se for de abrangência estadual.

5.4.5. PERFIL SOCIOLÓGICO

De acordo com a pesquisa “O Controle Social nos Conselhos Municipais de Saúde da

Paraíba”, realizada pela UFCG/FAPESQ, o Conselho Municipal de João Pessoa apresentava a

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121

particularidade de ter a mais alta média de idade entre os conselheiros. Esta característica

marcou a composição do CMS até o biênio 2004/2006, cujo mandato contava com dez

conselheiros com mais de 50 anos de idade.

Nesta fase, a composição do CMS se caracterizava também por ter 75% de seus membros

pertencentes ao sexo masculino, por ter 59% dos conselheiros com escolaridade de nível

superior e 29% com nível médio, o que representa o melhor escore entre todos os conselhos

analisados.

Entre os dezoito conselheiros entrevistados durante a realização da pesquisa “O Controle

Social nos Conselhos Municipais de Saúde da Paraíba”, dois eram administradores de empresa,

dois eram advogados, uma era agente comunitário (única conselheira que tinha escolaridade

apenas de nível fundamental), um era agricultor, outro era cirurgião dentista, dois conselheiros

eram enfermeiros, uma era farmacêutica, quatro eram funcionários públicos, dois eram médicos

e dois eram professores. Em função das características especiais do CMS de João Pessoa,

inserido num ambiente político-institucional bastante complexo, não podemos fornecer um

quadro sintético das vinculações político-partidárias dos conselheiros, pois correríamos o risco

de, na melhor das hipóteses, produzir uma visão superficial de um elemento tão importante para

a análise.

A composição do conselho para o biênio 2006/2008 apresenta algumas diferenças de

perfil social em relação à composição anterior. Em relação à faixa etária, os resultados são mais

diversificados, considerando que 50% dos componentes se encontram na faixa etária que vai

dos 45 a aos 55 anos, 37,5% estão entre 25 e 44 anos, estando apenas 12,5% na faixa etária que

vai dos 18 aos 24 anos. Atualmente, das 24 (vinte e quatro) vagas existentes no conselho, 46%

são ocupadas por mulheres e 54% por homens, o que demonstra equilíbrio na composição do

CMS, quando o critério utilizado é o sexo. Entre os nossos entrevistados havia 50% de

representantes de cada gênero.

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122

No que diz respeito à ocupação profissional dos componentes do CSM, observamos, a

partir das entrevistas realizadas, que 50% da composição deste conselho é feita por servidores

públicos. Os demais se dividem entre aposentados, trabalhadores autônomos e trabalhadores

com vínculo empregatício, exceção feita apenas a uma conselheira que trabalha sem carteira

assinada. Na investigação realizada para definir o perfil sociológico a partir do elemento de

análise referente ao grau de escolaridade, obtivemos um resultado que julgamos bastante

positivo: 81.3% dos conselheiros entrevistados têm formação profissional universitária, dos

quais 62.5% com o nível de pós-graduação, um dos entrevistados se encontra cursando o ensino

de nível superior, um completou a formação de ensino fundamental e outro a de ensino médio.

A renda mensal dos conselheiros entrevistados apresenta uma variação muito acentuada,

indo de R$ 800,00 (oitocentos reais) a R$15.000,00 (quinze mil reais). Na investigação deste

indicador, dois dos dezesseis entrevistados não prestaram informações referentes à sua renda

mensal, três informaram possuírem renda que variam de R$ 800,00 (oitocentos reais) a R$

2.800,00 (dois mil e oitocentos reais) e os demais informaram que suas rendas variam entre R$

3.000,00 (três mil reais) e R$15.000,00 (quinze mil reais). Levando-se em consideração que a

renda per capita média do município é de R$ 334,69 (trezentos e trinta e quatro reais e sessenta

e nove centavos), podemos concluir que, pelo menos, 50% dos entrevistados possuem padrão

de vida de boa qualidade.

Na análise do indicador referente à cultura religiosa, não conseguimos obter respostas

muito precisas. De qualquer forma, 68,8% dos entrevistados afirmaram ser católicos, dois

disseram não possuir religião e um se definiu como religioso, não-católico, mas não informou a

que religião pertence. A imprecisão das respostas talvez tenha justificativa no forte apelo da

cultura brasileira às tradições religiosas, predominantemente católicas, e o receio às críticas

decorrentes desse contexto.

Com o objetivo de avaliar possível interferência do conselho nos indicadores sócio-

Page 123: Dissertação de Mestrado - PARTICIPAÇÃO, REPRESENTATIVIDADE E LEGITIMIDADE NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA - PB

123

político-culturais dos conselheiros, questionamos, durante a pesquisa, se o exercício da função

de conselheiro tinha modificado de alguma forma a vida dos entrevistados. Neste quesito,

obtivemos os seguintes resultados: 43,85 responderam que a participação no conselho alterou

sua vida escolar, enquanto 31,3% afirmaram que não houve alteração no seu desempenho

acadêmico. No que diz respeito ao desempenho profissional, 75% responderam que verificaram

uma influência positiva, 12,5% informaram que esta participação no conselho significou uma

alteração negativa na vida profissional, e apenas um entrevistado informou não ter havido

influência nenhuma, nem positiva nem negativa.

Quando a pergunta se voltava para a influência da participação no conselho na vida

familiar do conselheiro, nem todos os entrevistados se manifestaram: três responderam que a

sua participação no conselho influenciou positivamente a sua vida familiar e nove informaram

não terem observado nenhuma mudança significativa. No que diz respeito ao aspecto cultural,

nove entrevistados registraram ter havido mudanças positivas em sua vida, outros quatro

entrevistados disseram não ter ocorrido nenhuma alteração. Em relação à influência da atuação

no conselho sobre a vida social e comunitária dos conselheiros, doze entrevistados afirmaram

que a sua participação no CMS tem favorecido mudanças positivas em sua forma de pensar a

sociedade e a comunidade na qual estão inseridos, no entanto, um dos entrevistados disse não

ter ocorrido nada de diferente na sua interação social.

Para analisar o indicador referente à vida política na definição do perfil sociológico do

conselheiro de saúde do município de João Pessoa, elaboramos vários questionamentos, para

averiguar a influência do conselho sobre o conselheiro, no que diz respeito ao funcionamento

do governo local, aos direitos e deveres do cidadão, aos poderes públicos, ao papel do

parlamentar, à importância da participação na política, e no que se refere à vida social das

comunidades. Dos entrevistados, doze afirmaram que exercer a função de conselheiro lhes

proporcionou mudanças significativas na forma de entender a política e três informaram que

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não experimentaram nenhum tipo de mudança de ponto de vista; catorze disseram que sua

participação no conselho serviu para lhes despertar muito interesse no funcionamento do

governo local, um dos conselheiros disse que a partir de sua participação passou a se interessar

um pouco mais pela política local e um afirmou que esta participação não lhe causou nenhum

interesse especial. Especificamente no que diz respeito ao interesse por políticas de saúde e por

direitos e deveres do cidadão, todos os entrevistados, unanimemente, afirmaram que passaram a

se interessar muito pelo tema, o que consideramos um excelente indicador da atuação destes

conselheiros.

Quanto ao interesse pelos poderes públicos, treze entrevistados disseram que depois de

sua atuação no conselho este tema passou a lhes interessar bastante, ao passo que três

conselheiros demonstraram pouco interesse no assunto. Onze conselheiros afiançaram que

passaram a ter especial interesse sobre o papel do parlamentar, enquanto a três conselheiros este

tema não causou nenhuma curiosidade. A importância da participação na política foi um tema

que sensibilizou a quinze conselheiros dos dezesseis entrevistados, assim como o interesse pela

vida social das comunidades foi ampliado em catorze conselheiros, depois que estes passaram a

atuar no CMS.

Nesta ocasião procuramos também investigar a filiação político-partidária dos

conselheiros entrevistados e concluímos que os membros do CMS não acreditam nos partidos

políticos. Apenas um conselheiro é filiado a um partido político, mas todos demonstraram

interesse em defender seus candidatos nos períodos de eleição, alguns (nove) deles inclusive

com participação em comícios. Nenhum dos entrevistados se dispõe a fazer contribuições

financeiras a seus candidatos em época de campanha eleitoral, mas seis deles afirmaram já ter

realizado trabalho voluntário para seus candidatos.

Se a pesquisa denunciou a falta de credibilidade dos conselheiros nos partidos políticos,

por outro lado indicou a sua crença nos candidatos. Se isto é um indicador positivo do perfil

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125

sociológico da composição do CMS, uma vez que aparentemente reduz o risco de interferência

político partidária na atuação dos conselheiros e exercício do controle social da saúde, só

saberemos em uma leitura mais global, em que se entrelacem todos os elementos de análise.

Em linhas gerais, o que conseguimos perceber foi que a atuação no CMS tem

proporcionado aos conselheiros um rico processo de aprendizagem e uma troca de experiências

sem precedentes, o que resulta tanto na ampliação de seus conhecimentos como na relevância

social do exercício de sua função.

5.4.6. PARTICIPAÇÃO E REPRESENTATIVIDADE

A qualidade da participação dos conselheiros no CMS reflete sua representatividade na

sua base de apoio específica, bem como na sociedade como um todo. Nesse sentido, buscamos

avaliar como se processa participação e representatividade, a partir de questionamentos

especialmente elaborados para este fim. Investigamos a existência de reuniões prévias, no

interior da entidade representada, para a discussão de tema abordados no CMS e obtivemos a

informação de que dez dos conselheiros entrevistados costumam realizar encontros desta

natureza. Entre estes, nove afirmaram que as entidades que compõem o seu segmento

costumam apresentar propostas conjuntas, em flagrante demonstração de articulação que

fortalece a representatividade.

Sobre a defesa de interesses, onze entrevistados afirmaram que os segmentos que

compõem o CMS se aproximam em articulações, mas dois dos conselheiros asseguram que esta

relação é conflituosa. Especificamente no que diz respeito à relação que o segmento do governo

mantém com os demais segmentos representados, obtivemos o seguinte resultado: um

conselheiro considera que o seu segmento tem tendência a se comportar de forma idêntica ao

segmento do governo, seis entrevistados disseram que os interesses de seu segmento se

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aproximam um pouco dos interesses do governo e dois denunciaram que se sentem muito

distantes deste segmento.

Quando foi a vez de averiguar os interesses do segmento dos prestadores de serviços, oito

conselheiros informaram que o segmento a que pertence tende a ter interesses semelhantes aos

deste segmento, três asseguram que seus interesses diferem daqueles e um entrevistado

afiançou que há conflito de interesses entre o seu segmento e o segmento dos prestadores de

serviço. Em relação ao segmento dos trabalhadores, apenas um conselheiro informou que seu

segmento tende a ter interesses idênticos, sete afirmaram que seu segmento tem objetivos que

se aproximam dos objetivos do segmento dos trabalhadores e dois demonstraram haver

distanciamento entre os interesses de um e de outro segmento. No que se refere ao segmento

dos usuários, dois entrevistados responderam que seu segmento tem interesses idênticos ao

segmento dos usuários, seis disseram existir aproximação entre os interesses defendidos pelo

seu segmento e os defendidos pelo segmento dos usuários, destoando de um conselheiro que

afirmou haver grandes conflitos de interesses nesta relação.

É natural que um tema como a saúde pública gere discussões de toda ordem, no interior de

um conselho municipal, havendo momentos em que interesses estão em consonância e outros

em que estes interesses se mostram divergentes. O consenso, em conselho desta natureza pode

indicar duas situações distintas: superação dos conflitos, mediante elevado nível de negociação,

ou subserviência e cooptação, geralmente presentes nos níveis mais primários de negociações,

em que prevalecem os interesses do segmento de maior influência, mediante a desinformação

do tema em debate e/ou o desconhecimento do papel de um conselheiro no controle social.

O relato que abaixo transcrevemos é ilustrativo do que ocorria na gestão 2004/2006 e do

que continua a ocorrer, segundo informações prestadas pelos entrevistados.

“De acordo com algumas informações de terceiros, havia

subserviência por parte dos conselheiros que encaminhavam

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127

tudo que vinha da gestão (na época, Cícero Lucena – Prefeito

da Capital e Hervásio Bezerra – Secretário de Saúde). O

conselho não exercia papel fiscalizador e proponente. A

prestação de contas de 2003 foi aprovada no final de 2004 sem

sequer ser analisada, uma vez que chegou o relatório na hora da

reunião do colegiado, contendo apenas o parecer da Comissão

de Administração e Finanças, composta por segmento dos

usuários. Os mesmos tinham ligação com a gestão”.

(conselheira).

Outras questões foram elaboras com o intuito de verificar o nível de representatividade na

correlação de forças das entidades. Assim, procuramos identificar quais as organizações que

mais exercem pressão sobre o CMS. Quando inquiridos sobre a pressão que as entidades

exercem sobre o CMS, dois conselheiros responderam que as organizações patronais são as que

mais exercem este tipo de pressão, apenas um conselheiro respondeu que são as organizações

de trabalhadores que mais marcam presença nas deliberações do conselho, quatro dos

entrevistados consideram que as organizações não governamentais pressionam mais, oito

responderam que a pressão dos políticos é muito forte, dois conselheiros asseguraram que as

mobilizações de rua têm grande significado e apenas um entrevistado considera que os meios de

comunicação têm poder de persuasão.

Pudemos observar, nesta pesquisa, que para responder aos questionamentos sobre a

pressão que sofre o CMS nas tomadas de decisões, os conselheiros demonstraram muita

dificuldade no entendimento do seja pressão, e de qual seja a sua importância, não se

verificando, por exemplo, clareza dos entrevistados sequer para distinguir a pressão que deve

ser considerada positiva da pressão que apenas serve para tumultuar o processo de discussão e

negociação.

Outra série de questionamentos foi elaborada para investigar a existência de influência de

um membro sobre os demais membros do conselho. Ao perguntarmos aos conselheiros sobre

esta possibilidade, oito entrevistados afirmaram que alguns membros são mais persuasivos em

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128

suas explanações, enquanto outros quatro conselheiros disseram não perceber este tipo de

influência. Partindo do pressuposto de que alguns conselheiros são mais influentes,

perguntamos quais entre os membros do conselho exercem mais poder sobre os outros e

obtivemos o seguinte resultado: foram citados dois conselheiros do segmento gestor, três do

segmento dos trabalhadores e um dos prestadores. Observamos que os membros mais influentes

estão entre as representações da estrutura governamental, enquanto o segmento dos usuários,

que ocupa 50%, da composição do conselho, não foi citado, o que nos faz supor que em uma

correlação de forças este último segmento é o de mais frágil representatividade.

Após questionarmos sobre a correlação de forças, perguntamos quais os segmentos que

mais apresentam assuntos para a pauta das reuniões do conselho, obtendo como resultado um

ranking que põe em primeiro lugar o segmento do governo, com doze respostas, em 2º lugar, o

segmento dos trabalhadores e o segmento dos usuários, com cinco indicações, e em último

lugar o segmento dos prestadores de serviço, com três respostas.

Consideramos normal que seja o segmento do governo a pautar mais assuntos nas

reuniões do conselho, haja vista a enorme demanda de procedimentos e ações que são inerentes

à gestão da saúde no município. Os dois segmentos que ficaram em segundo lugar também não

nos causam estranheza, pois que aos usuários e aos trabalhadores da saúde é mais comum

demonstrarem maior compromisso com os interesses de seus representados.

Revelados os segmentos que mais pautam discussão no CMS, resta saber que temas são

mais freqüentes na plenária deste conselho. Para tanto, realizamos uma coleta de informações

que expôs que os assuntos debatidos na última gestão foram os relacionados às contendas

envolvendo secretário executivo e o autoritarismo da gestão. Além disso, foram temas muito

debatidos a assistência ao portador de deficiência, o financiamento da saúde, a medida

provisória que adequou o CMS à Resolução CNS Nº333/2003, o orçamento e a execução de

ações, a prestação de contas, o Regimento Interno, o acesso a saúde, a administração da gestão,

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129

os projetos de funcionamento do controle social, entre outros.

Outro elemento de análise utilizado para a aferição do nível de representatividade dos

conselheiros é a existência de articulação política entre os representantes e os representados.

Questionados sobre este assunto, todos os dezesseis entrevistados afirmaram que mantém

articulação com as suas entidades. No entanto, ao perguntarmos se eles têm mantido suas

entidades informadas sobre os assuntos debatidos nas reuniões do conselho, apenas seis

conselheiros asseguraram que dão este tipo de retorno às suas bases, seis outros informaram que

prestam este tipo de informação em algumas ocasiões e quatro admitiram que raramente agem

desta maneira. Este é um resultado que inegavelmente põe em evidência a complexidade que

envolve a efetividade da articulação que deve existir entre representante e representado.

Questionamos ainda se os conselheiros recebem orientações de suas respectivas entidades

para o desempenho de sua função no conselho. As respostas dadas pelos entrevistados foram

diversificadas: seis dos entrevistados afirmaram que recebem orientações de suas entidades

regularmente, dois recebem estas orientações com freqüência moderada, quatro disseram ser

raras as ocasiões em que isso ocorre e três deles nunca foram orientados pelas respectivas

entidades. Como se pode observar, apesar de a maioria dos entrevistados ter informado que

retornam às sua entidades para prestar conta de sua atuação no CMS, poucas são as entidades

que orientam seus representantes para deliberarem sobre os assuntos.

Para análise deste contexto, precisamos considerar que algumas entidades, que por terem

abrangência estadual, têm dificuldade de reunir todos os seus filiados, não desconsiderando que

existem outras formas de comunicação que possibilitam aos sócios estarem sempre informados

dos interesses de sua entidade. Portanto, não nos resta alternativa senão atribuir esta fragilidade

na representatividade dos conselheiros do CMS à pouca cultura cívica da população que

desconhece o papel de um conselho no controle social das políticas públicas de atenção,

promoção e recuperação da saúde.

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130

5.4.7. CAPACITAÇÃO

Investigamos a existência e a regularidade de capacitação no CMS tanto no mandato

2004/2006 como no mandato 2006/2008. De acordo com declarações do ex-presidente deste

conselho, na gestão 2004/2006, a capacitação era meta prioritária, tendo sido desenvolvidas, no

período, várias ações visando ao melhor desempenho dos conselheiros. Dentre estas ações

merecem destaque, o incentivo à participação em cursos de capacitação e a promoção de

seminários, palestras e outros eventos que versaram sobre temas ligados à participação cidadã.

Na atual gestão do CMS, observa-se a mesma preocupação com a realização de capacitações,

sobretudo voltadas para o conhecimento dos instrumentos legais que regulamentam as ações e

serviços do SUS. Nas entrevistas realizadas com os conselheiros, pudemos testemunhar, em

90% dos depoimentos, a confirmação das informações prestadas pelos dois presidentes

entrevistados. Percebemos, no entanto, e lamentavelmente, que a maioria dos entrevistados

sentem ainda muita dificuldade em acompanhar os temas abordados nos eventos promovidos

pelo CMS, haja vista a complexidade destes temas e o pouco aprofundamento com que são

tratados.

5.4.8. ATUAÇÃO

Consideramos de suma importância avaliar a atuação do CMS, dada a complexidade que

envolve esta dimensão de análise, por meio de um diagnóstico que ressaltasse o planejamento

das atividades, a regularidade e dinâmica das reuniões, o caráter deliberativo e a efetividade

desta conselho.

Logicamente não desconsideramos, nesta apreciação, que a atuação do conselho pode ser

comprometida por variantes alheias à vontade dos conselheiros. A grande quantidade de

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assuntos pautados em caráter de urgência para atender a cumprimentos de prazos impostos por

demandas vindas do Ministério da Saúde, sob pena da perda dos recursos já alocados, é apenas

um exemplo que compromete a atuação do CMS, que, nestas ocasiões, convoca reuniões

extraordinárias em que deliberações acontecem à revelia de uma consulta prévia às bases das

entidades ali representadas.

A opinião dos próprios conselheiros acerca da atuação do CMS varia muito: dos

dezesseis entrevistados, treze consideram que a atuação do conselho é sempre boas, três

avaliaram que esta atuação apenas em alguns momentos é de boa qualidade e um conselheiro

chegou a afirmar que poucas vezes o conselho tem boa atuação. Quanto a atuação individual,

sete dos entrevistados afirmaram se sentirem bastante motivados para atuarem no conselho,

cinco demonstraram uma motivação moderada e três conselheiros sequer responderam a este

questionamento: um dos conselheiros disse considerar a atuação no conselho muito gratificante,

cinco deles em poucas ocasiões sentiram esta gratificação e outros cinco entrevistados não

quiseram opinar sobre este tema.

Pelo observado, podemos supor que o desempenho do CMS se traduz em resultados

concretos em alguns momentos e em outros não, a depender do assunto que esteja em pauta e

da correlação de forças que ali se estabelece. Uma vitória na defesa dos interesses serve de

motivação aos conselheiros que buscam mudanças positivas na condução das ações voltadas

para a saúde pública do município. Não desprezarmos, neste exame, que fatores subjetivos,

como o estado emocional, as condição de saúde, a existência de problemas na família e no

trabalho do conselheiro, acabem por interferir negativamente na atuação do CMS.

O importante, no entanto, é ressaltar que o que torna um conselho atuante é sua

capacidade de dar respostas às demandas que surgem em suas reuniões. Nesse sentido, fizemos

alguns questionamentos para averiguar a opinião dos conselheiros acerca da contribuição do

CMS para a melhoria da assistência à saúde da população. Obtivemos, neste quesito, o seguinte

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resultado: nove dos entrevistados consideram que contribuem bastante para a consecução das

demandas enviadas ao conselho, um dos conselheiros disse contribuir muito pouco e os outros

não se pronunciaram.

Ressaltamos que para um conselho de saúde exercer de forma eficiente a sua função é de

fundamental importância que os seus conselheiros conheçam a realidade da saúde no âmbito de

abrangência deste conselho. A compreensão do conceito de saúde instituído pela Constituição

Federal de 1988 é pré-requisito indispensável ao desempenho de funções supracitado. Por isso,

investigamos, nesta pesquisa, a compreensão que os conselheiros do CMS têm sobre o tema.

Para tanto, perguntamos qual a importância do lazer sobre a saúde e em que medida a moradia

adequada, o emprego, a alimentação de qualidade, o saneamento básico, a coleta de lixo, o

ambiente saudável, a educação e a higiene interferem na saúde do cidadão. Dos dezesseis

entrevistados, quinze responderam que o lazer tem forte influência sobre o estado de saúde das

pessoas e todos, de forma unânime, afirmaram que moradia adequada, emprego, alimentação de

qualidade, saneamento básico, educação, etc. são fatores de extrema importância para a saúde.

As respostas dadas somente nos podem fazer concluir que os conselheiros do CMS têm

domínio sobre o conceito de saúde com que deve operar o SUS.

Conhecer o conceito de saúde instituído por lei, no entanto, não assegura uma boa atuação

dos conselheiros. É preciso que estes conselheiros conheçam bem os problemas de saúde de seu

município, de forma a poderem contribuir para a resolução dos mesmos. Para avaliar o este

grau de conhecimento perguntamos se eles se conhecem os problemas de saúde mais graves

existente no município. Quinze dos dezesseis entrevistados se consideram conhecedores destes

problemas e apenas um dos conselheiros admitiu desconhecer o panorama municipal da saúde.

Na ocasião, afirmaram que os problemas de saúde mais sérios que a população enfrenta em

João Pessoa são decorrentes da falta de saneamento básico, da inadequação das moradias, da

dificuldade de acesso aos serviços de saúde, e da insuficiência de medicamentos.

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Buscamos ainda nesta pesquisa investigar a opinião dos conselheiros sobre a qualidade

dos serviços de saúde existente no município. Para isso, solicitamos deles a opinião sobre os

serviços hospitalares da cidade, sobre os serviços de maternidade, sobre os serviços dos centros

de saúde, sobre os serviços das unidades básicas de saúde da família, e sobre os serviços de

farmácia básica. Obtivemos o seguinte resultado: quatro conselheiros consideram bom e doze

apenas regular o serviço prestado pelos hospitais da cidade; oito julgam bom e oito consideram

regular o serviço oferecido nas maternidades; quatro dos entrevistados consideram bom o

desempenho dos centros de saúde e sete classificam apenas como regular este desempenho;

quanto conselheiros avaliam como bom, nove como regular e três afirmam ser ruim o serviço

prestado pelas unidades básicas de saúde da família; os serviços de farmácia básica receberam

um conceito bom na opinião de seis dos entrevistados, regular no julgamento de oito

conselheiros e de ruim na apreciação de dois membros do conselho.

Ao perguntarmos sobre a quantidade dos serviços oferecidos à população, dois

conselheiros afirmaram que o município está bem servido de hospitais gerais, dois consideram

que o número destes hospitais é adequado ao tamanho da população, enquanto nove dos

entrevistados consideram que o número existente ainda é insuficiente para a demanda da

população. No que diz respeito ao número de maternidades, seis conselheiros o consideram

adequado, embora dez dentre os entrevistados considere este número insuficiente. Um

conselheiro acha que há centros de saúde em excesso no município, dois consideram adequado

o seu número e doze dizem ser ainda muito insipiente a presença destes centos de saúde no

município. Em relação à quantidade de unidades básicas de saúde da família, um entrevistado

afirmou considerar existir unidades demais, oito consideram adequada a quantidade existente e

sete dizem ser ainda insuficiente o número de unidades básicas de saúde da família, tendo em

vista a dimensão da população que precisa ser assistida.

O conhecimento sobre os indicadores de saúde do município é outro fator determinante na

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atuação do conselheiro no CMS, pois que são estes indicadores que apontam as necessidades

que devem ser supridas e as áreas que carecem de mais atenção. Desta forma, fizemos

perguntas aos entrevistados com o intuito de observar o conhecimento que têm sobre

mortalidade infantil mortalidade materna e violência, indicadores importantes na configuração

do cenário da saúde no município, obtendo o seguinte resultado: nove dos entrevistados

afirmaram conhecer o índice de mortalidade infantil no município, cinco assumiram não

conhecer este índice e dois sequer responderam ao questionamento; não coincidentemente, as

mesmas respostas se repetiram quando foi solicitado informações sobre o índice de mortalidade

materna e o índice de violência.

5.4.8.1. PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES

A cada mandato, o CMS elabora o calendário anual das reuniões, que é distribuído com

todos os conselheiros logo no início do ano. Pelo que pudemos observar, nesta investigação, as

atividades do conselho são planejadas e, em geral, realizadas de acordo com o previsto. No

entanto, denúncias da comunidade, projetos que chegam para aprovação na última hora, e

convites para a participação em eventos, entre outros, são demandas que podem constituir uma

pauta de discussão a qualquer momento. Como já ressaltamos anteriormente, isso justifica o

improviso na convocação das reuniões e, o que é mais grave, provoca o enfraquecimento do

controle social, uma vez que as deliberações são tomadas de forma prematura em conseqüência

de os conselheiros não terem tempo para avaliar, em suas bases de origem, a melhor solução

para a ordem do dia das reuniões extraordinárias, convocadas sempre em caráter especial e na

última hora.

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135

5.4.8.2. REGULARIDADE DAS REUNIÕES

Em respeito às determinações do seu Regimento Interno, o CMS se reúne ordinariamente

uma vez por mês. Os calendários analisados mostram que as reuniões ocorrem sempre na

primeira quinta-feira de cada mês, no horário de 14h às 17h30min. As extraordinárias são

convocadas quando necessário, portanto, não seguindo nenhuma regularidade. Ambos os tipos

de reunião são convocadas pelo presidente do conselho ou por maioria simples dos seus

membros. Em 2004 foram realizadas nove reuniões ordinárias e sete extraordinárias, duas deste

total deixando de ser realizada por falta de quorum regimental. Em 2005 foram realizadas oito

ordinárias, sete extraordinárias, também deixando de serem realizadas duas reuniões por falta

do quorum regimental, conforme demonstra o quadro a seguir:

CALENDÁRIO DE REUNIÕES DO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA

2004

MÊS TIPO DE REUNIÃO DATA DE REALIZAÇÃO

Fevereiro

69ª Ordinária 05 de fevereiro de 2004

78ª Extraordinária 10 de fevereiro de 2004

Março

70ª Ordinária 04 de março de 2004

Abril

71ª Ordinária 1º de abril de 2004

80ª Extraordinária 29 de abril de 2004

Maio

72ª Ordinária 05 de maio de 2004

Posse dos novos conselheiros 29 de maio de 2004

Junho

73ª Ordinária 03 de junho de 2004

81ª Extraordinária 28 de junho de 2004

Julho

74ª Ordinária 1º de julho de 2004

82ª Extraordinária 15 de julho de 2004

Agosto

75ª Ordinária 12 de agosto de 2004

83ª Extraordinária 26 de agosto de 2004

Setembro

76ª Ordinária 02 de setembro de 2004

84ª Extraordinária 17 de setembro de 2004

Outubro

77ª Ordinária 07 de outubro de 2004

Novembro

Não houve reunião por falta de quorum regimental

Dezembro

Não houve reunião por falta de quorum regimental

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136

Em decorrência da situação conflituosa que se verificava na relação dos conselheiros

com a gestão municipal de saúde e com o secretário executivo do conselho, neste ano foram

realizadas uma reunião ordinária e outra extraordinária no mês de janeiro, apesar deste período

corresponder ao recesso do CMS, conforme demonstramos no quadro abaixo.

CALENDÁRIO DE REUNIÕES DO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA

2005

MÊS TIPO DE REUNIÃO DATA DE REALIZAÇÃO

Janeiro

80ª Ordinária 06 de janeiro de 2005

87ª Extraordinária 27 de janeiro de 2005

Fevereiro

81ª Ordinária 03 de fevereiro de 2005

Março

82ª ordinária 03 de março de 2005

88ª Extraordinária 15 de março de 2005

Abril

83ª Ordinária 07 de abril de 2005

Maio

84ª Ordinária 05 de maio de 2005

Junho

85ª Ordinária 02 de junho de 2005

89ª Extraordinária 09 de junho de 2005

Julho

86ª Ordinária * 07 de julho de 2005

90ª Extraordinária 19 de julho de 2005

Agosto

87ª Ordinária * 04 de agosto de 2005

Setembro

88ª Ordinária 8 de setembro de 2005

Outubro

91ª Extraordinária 25 de outubro de 2005

Novembro

Não houve reunião

Dezembro

89ª Ordinária 1º de dezembro de 2005

92ª Extraordinária 21 de dezembro de 2005

93ª Extraordinária 29 de dezembro de 2005

* reuniões marcadas, mas não realizadas por fata de quorum regimental

Em 2006, de acordo com informações de funcionários da secretaria executiva, tendo em

vista a atitude centralizadora do secretário executivo, toda a documentação do CMS se manteve

arquivada, de forma que não foi possível preparar o relatório de atividades do conselho

referente a este ano. Depois da exoneração do supracitado secretário executivo, o presidente

eleito para este última mandato vem tentando, com os atuais funcionários, reorganizar os

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137

arquivos do conselho para, posteriormente, preparar o relatório referente ao ano 2006. Assim

sendo, os dados que mostram que foram realizadas doze reuniões naquele ano são imprecisos,

não tendo nos sido possível identificar a data de realização da 91ª reunião ordinária e da 96ª

extraordinária, conforma demonstra o quadro abaixo.

CALENDÁRIO DE REUNIÕES DO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE JOÃO PESSOA

2006

MÊS TIPO DE REUNIÃO DATA DE REALIZAÇÃO

Março 94ª extraordinária 14 de março de 2006

Abril 95ª extraordinária 06 de abril de 2006

Maio 90ª ordinária 24 de maio de 2006

Junho

Não houve reunião

Julho

97ª extraordinária 13 de julho de 2006

98ª extraordinária 17 de julho de 2006

Agosto

Não houve reunião

Setembro

Não houve reunião

Outubro

92ª ordinária 03 de outubro de 2006

99ª extraordinária 16 de outubro 2006

Novembro

100ª extraordinária 17, 21 e 23 de novembro de 2006

Dezembro

93ª ordinária 14 de dezembro de 2006

101ª extraordinária 27 de dezembro de 2006

Em agosto de 2006, de acordo com dados documentais, houve a deliberação em favor da

edição medida provisória que adequou o conselho à legislação federal vigente e a emissão de

portarias para garantir o processo eleitoral. Em setembro, ocorreu o processo de eleição do

conselho. Na 99ª reunião extraordinária de outubro foi realizada a cerimônia de posse dos

conselheiros eleitos e indicados.

Apesar de o CMS não estar desrespeitando nem o seu Regimento Interno nem a

Resolução CNS Nº. 333/2003, não podemos deixar de registrar que observamos a ocorrência de

um número muito grande de reuniões extraordinárias, chegando este número a ultrapassar o

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138

número de reuniões ordinárias, o que pode ser confirmado em breve consulta aos quadros já

aqui demonstrados.

5.4.8.3. DINÂMICA DAS REUNIÕES

Depois de analisados todos os documentos a que tivemos acesso e examinadas todas as

entrevistas realizadas, chegamos a conclusão de que o CMS conta com um bom envolvimento

de seus conselheiros nos debates. Se algumas reuniões são acaloradas e conflituosas é porque

há divergência de opinião entre os conselheiros, na defesa de interesses específicos do

segmento que representam. Ressaltamos, no entanto, que a fase de maior conflito no período

analisado diz respeito às atitudes centralizadoras da gestora de saúde e do secretário executivo,

conforme pode ser observado nos depoimentos abaixo transcritos:

“Há muitas divergências porque são tantos conselheiros, mas

sempre há consensos” (conselheiro).

“Há muita discussão, muitas vezes tem que haver um trabalho

de convencimento, de articulação, de apoio para votação”

(conselheiro).

“As discussões ocorrem de acordo com o nível dos

conselheiros, falta capacitação os termos são técnicos de difícil

assimilação para os conselheiros de representações populares”

(conselheiro).

“Na gestão anterior, havia boa relação entre o presidente do

conselho e o prefeito, as discussões eram menos acaloradas e

mais produtivas. Atualmente há conflitos com agressões

pessoais.” (conselheiro).

O CMS dispõe de outro instrumento, além das reuniões plenárias, para agilizar e viabilizar

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139

o encaminhamento de assuntos e temas pautados nas reuniões do conselho: as comissões

permanentes, que têm como objetivo, discutir assuntos de relevância, bem como fazer avaliação

preliminar de denúncias complexas antes do seu envio às reuniões plenárias, tendo em vista

tratarem-se, quase sempre, de assuntos que exigem averiguação. A mesa diretora do atual

mandato está propondo, para a nova organização do CMS a constituição das seguintes

comissões permanentes: Comissão para Acompanhamento do Plano Municipal de Saúde,

Comissão para Acompanhamento do Orçamento e Gastos da Secretaria Municipal de Saúde,

Comissão de Comunicação e Informação em Saúde, Comissão de Constituição e Justiça, e

Comissão de Ética.

Até a última visita que fizemos ao CMS, esta proposta de reorganização não tinha sido

apresentada ao plenário do conselho. No que diz respeito a viabilidade destas comissões,

obtivemos, da maioria dos conselheiros entrevistados, a informação de que as comissões

permanentes até então existentes funcionam muito bem, pois realizam visitas e elaboram

relatórios que levam à plenária do conselho para discussão. Não deixa de haver certa

dificuldade na realização dos trabalhos das comissões permanentes, principalmente quando o

desempenho da tarefa exige deslocamento. Entre os inúmeros trabalhos realizados por essas

comissões, destacamos a verificação in loco de unidades de saúde da rede hospitalar e

ambulatorial, com o objetivo de verificar possíveis irregularidades, denunciadas no CMS. A

falta de acesso dos usuários aos serviços de assistência especializada, como tratamentos

ortodônticos e próteses dentárias, as fiscalizações insuficientes e insatisfatórias da vigilância

sanitária nas unidades de saúde pública, as condições precárias da infra-estrutura física e dos

equipamentos das unidades de saúde, a falta de capacitação para os recursos humanos da saúde,

a escassez de insumos e medicamentos nas farmácias das unidades de saúde, a dificuldade na

obtenção de órtese e prótese, as irregularidades na entrega de medicamentos, e a falta de

médico veterinário no centro de controle das zoonoses são, entre outras, as denuncias mais

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140

comuns do CMS.

Queremos aqui ressaltar que observamos, na dinâmica de trabalho das comissões

permanentes do CMS, uma divisão de tarefas que favorece a eficiência do conselho, que

aprofunda a discussão dos temas sem sobrecarga de trabalho.

5.4.8.4. CARÁTER DELIBERATIVO

O CMS tem caráter consultivo, normativo e deliberativo, como já afirmamos no início

deste trabalho, mas decidimos dar destaque ao seu caráter deliberativo, tendo em vista este

trabalho ter como pano de fundo a representação participativa no controle social das políticas

públicas de saúde.

Com muita dificuldade tivemos acesso a documentos como o relatório de atividade de

2005, algumas atas e resoluções referentes aos anos de 2004 a 2006. Além desses documentos,

outras informações foram coletadas por meio das entrevistas realizadas, quando investigamos o

assunto sobre o qual mais se delibera no CMS. Em resposta ao nosso questionamento,

obtivemos de quinze dos entrevistados a afirmação de que o conselho delibera principalmente

sobre políticas públicas.

Perguntamos ainda se os conselheiros têm acesso às informações que necessitam para

respaldar as suas deliberações. Oito dos entrevistados disseram ter acesso a qualquer tipo de

informação de que precisasse, no entanto, quatro conselheiros responderam não ter este acesso,

o que nos faz supor que o acesso às informações não depende somente da disposição da

secretaria executiva ou da mesa diretora do CMS, mas também do próprio envolvimento do

conselheiro.

Outro aspecto que consideramos de inquestionável importância no controle social é o grau

de autonomia do conselho no processo de deliberação. Já vimos que a autonomia financeira é

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141

imprescindível para o bom funcionamento do conselho, mas a melhor infra-estrutura disponível

não garante a autonomia política de um órgão colegiado desta natureza. Como já informamos

anteriormente, o CMS dispõe de razoável autonomia financeira. Por isso, neste momento da

análise, voltamos a nossa atenção para a autonomia política.

A falta de clareza na definição do papel do conselho, os interesses políticos partidários, a

ausência de uma gestão compartilhada, a cooptação, a falta de articulação entre representantes e

representados, a dificuldade de acesso e compreensão da legislação e instrumentos que regem o

SUS, são, entre outros, os motivos que mais justificam o comprometimento da autonomia

política de um conselho de saúde.

Ao questionarmos sobre a autonomia do CMS, as opiniões se dividiram: a autonomia

financeira é inquestionável no julgamento de todos os entrevistados, já no que diz respeito à

autonomia política, obtivemos informações que se contrapõem, uma vez que este tipo de

autonomia está atrelada ao tema tratado, aos interesses envolvidos, ao poder de articulação dos

segmentos representados e à capacidade de persuasão dos conselheiros. Perguntamos se o

conselho elege a política municipal de saúde como prioridade e obtivemos o seguinte resultado:

dos dezesseis entrevistados, dez responderam que o conselho prioriza os encaminhamentos que

se referem à execução de políticas públicas na área da saúde, enquanto cinco conselheiros

afirmaram que não há no CMS a verificação desta priorização, ao mesmo tempo, os dez

conselheiros que afirmaram haver prioridade no tratamento dado às políticas públicas, disseram

não verem transformadas em ações concretas a maioria das políticas ali priorizadas.

Continuando, procuramos investigar a interferência do CMS na política de saúde do

município. Seis dos entrevistados disseram haver uma grande interferência do conselho sobre as

políticas públicas voltadas para a saúde, seis afirmaram que esta interferência é mediana e

quatro consideram que há pouca interferência do conselho no resultado final das políticas

executadas. Questionamos ainda se as deliberações do conselho são transmitidas para a

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142

comunidade, obtendo sete respostas afirmativas e cinco negativas. De acordo com alguns

relatos, as deliberações são homologadas, mas em face de dificuldades de negociações entre

conselho e gestão, conforme atestam os depoimentos abaixo transcritos:

“Os assuntos entram em pauta, mas não temos retorno, solução

sobre o problema ou assunto colocado em pauta. Tem

deliberações que se toma logo uma decisão, mas têm outras

que são discutidas em mais de uma reunião” (conselheiro);

“Há muita discussão. Muitas vezes tem que haver um trabalho

de convencimento, de articulação de apoio para votação de um

assunto”. (conselheiro);

“Quando as coisas estão de acordo com os interesses do

prefeito não tem problema, agora, quando é o contrário, ai a

coisa pega”. (conselheira);

“Temos discussões, assuntos que entram em pauta, mas não

temos retorno, as pautas são sobrepostas uma as outras, mas

não solucionamos as questões. – Acho que a culpa é dos

conselheiros, não acompanhamos, não cobramos do conselho,

os problemas são levados para discussão mais não são

resolvido”. (conselheiro);

“Os assuntos - quando é para discutir, resolver e votar na

plenária são resolvidos”. (conselheiro);

“A composição do conselho é frágil em termos de visão

política e quanto ao seu papel. A gestão não está sabendo se

relacionar com o controle social. Tudo eles entendem que é

contra, ou seja, a gestão vê o conselho como adversário, onde a

deliberação do conselho se for contrária à gestão não aceita”.

(conselheiro).

Apesar da crise vivenciada entre o CMS e a nova gestão de saúde do município, os

conselheiros conseguiram deliberar sobre os assuntos fundamentais para a saúde do município,

demonstrando compromisso com a política de saúde municipal, apesar da dinâmica

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143

desencadeada à época está contagiada pela correlação de forças que norteava os interesses dos

segmentos ali representados, sobretudo levando-se em consideração a conjuntura política que

estavam vivendo naquele dado momento.

5.4.8.5. EFETIVIDADE

Ao analisarmos as entrevistas realizadas, constatamos que dos dezesseis conselheiros

entrevistados, apenas 43,8% afirmaram que as deliberações do conselho são transmitidas à

comunidade e que geralmente as entidades só participam das reuniões quando se trata de

assuntos de interesses específicos. As atividades do conselho são consolidadas em relatório a

cada final de ano, mas esses relatórios não são divulgados na sociedade.

Ao pesquisarmos no site da Prefeitura Municipal de João Pessoa, verificamos que no link

da Secretaria Municipal de Saúde ainda não há um espaço para divulgação das atividades do

CMS, apesar de ter sido aprovado, por meio da Resolução Nº. 10/2005 a criação de um link

para o referido colegiado. Segundo o relato do ex-presidente do conselho, Martin Laurindo, há

no CMS, ainda em fase de estudo, uma proposta de criação de um programa de conselho

itinerante nas comunidades, bem como a criação de uma biblioteca para acesso da comunidade.

Como já informamos anteriormente há interferência da gestão de saúde municipal sobre

as deliberações do CMS, além disso, observamos também que esta ingerência era favorecida

pela subserviência de alguns conselheiros que aprovavam tudo que vinha da gestão e não

exercia o papel fiscalizador e proponente que lhe deve ser típico: representantes da Associação

dos ACS, da Associação dos diabéticos e do Sindicato dos Odontólogos, estavam entre estes.

Algumas entidades representadas mantiveram, nesta conjuntura, postura de extrema autonomia,

enquanto outras, como o SINDISPREV, a UFPB e o Ministério da Saúde, assumiam o papel de

mediador.

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144

Além do contexto já narrado, serviu para acirrar os ânimos no CMS, o fato de a secretária

de saúde começar a emitir resoluções ad referendum do conselho, entre estas a resolução que

regulamentou a reorganização inicial dos cargos e salários e a que disciplinou o Programa da

Saúde da Família – PSF, conforme atesta o depoimento abaixo:

“A secretária de saúde faz as coisas sem a aprovação do

conselho achando que não teria votos para aprovação das

matérias, porém o plenário nunca dificultou processo que vem

da gestão. A secretária de saúde e o presidente ficam armados

entre si. Houve um grupo que tentou fazer a articulação, mas

sem sucesso então seguiu adiante. Conclusão: o presidente se

calou, é omisso às questões e a secretária de saúde não vai

mais às reuniões e quem participa é a secretária adjunta

levando as discussões e assuntos ao conselho”. (conselheiro).

Essa situação conflituosa chegou ao limite de o assessor jurídico da Secretaria Municipal

de Saúde emitir documento proibindo as reuniões do conselho, o que foi denunciado ao

Ministério Público pela representação do SINODONTO, providência que permitiu ao CMS a

manutenção do seu funcionamento.

Com o processo de eleição e a posse da nova composição do CMS ocorreram algumas

mudanças na correlação de forças verificadas entre os segmentos que compõem o conselho,

permitindo a configuração de um novo quadro no cenário político do controle social no âmbito

do município. A inserção, no CMS, de novas entidades, historicamente mais atuante nos

movimentos sociais, como é o caso do Movimento Negro, entres outras, tem contribuído muito

para a mudança do perfil sociológico e institucional deste conselho, assegurando-lhe mais

representatividade e legitimidade.

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145

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Conselho Municipal de Saúde de João Pessoa é, sem dúvida, um dos conselhos mais

bem estruturados da Paraíba. Sua estrutura e funcionamento estão disciplinados em documento

legal que respeita a legislação federal pertinente, possui orçamento próprio que garante sua

autonomia financeira, conta uma boa estrutura física, tem composição paritária, tal como reza a

Resolução CNS Nº. 333/2003, e tem um Regimento Interno bem elaborado que contempla os

deveres e obrigações dos conselheiros.

Os conselheiros participam de eventos, encontros e capacitações relacionadas ao controle

social, possuindo, grosso modo, um perfil sociológico que interfere positivamente no exercício

de suas funções. A maioria atua em suas entidades de base já há algum tempo e não possui

filiação partidária, o que pode ser entendido como um bom indicador de que o controle social

ali efetivado está livre de interferências motivadas pela defesa de interesses particulares.

Concluímos, igualmente, que a maioria da população desconhece a importância do

conselho de saúde na política de saúde e do papel do controle social institucionalizado, não

sendo comum a participação de cidadãos nas reuniões do conselho, exceto quando há algum

assunto específico e de extremo interesse de alguma entidade, bem como não há divulgação das

atividades realizadas, menos ainda do calendário de reuniões ou agenda de trabalho.

Consideramos pouca a influência dos representantes do segmento dos usuários e do segmento

dos trabalhadores da saúde, apesar destes dois segmentos juntos perfazerem 75% da

composição do CMS, o que demonstra ser ainda muito insipiente a participação da sociedade

civil do município no exercício do controle social institucionalizado.

No percurso teórico e prático realizado, constatamos que a representatividade e

legitimidade em um conselho de saúde dependem da articulação que os seus conselheiros

mantêm com entidades de base que representam, tanto para delas obter orientações como para a

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146

elas prestar informações e esclarecimentos acerca dos temas tratados no conselho. Constatamos,

da mesma forma, que a maioria dos membros do CMS ainda não conseguem, pelos mais vários

motivos (espaço geopolítico, cultura cívica, etc.), assegurar esta articulação.

Apesar da dificuldade observada para a garantia da representatividade e da legitimidade,

não podemos deixar de registrar que é notório o compromisso da maioria dos conselheiros com

o desempenho de sua função no controle social das políticas públicas de saúde, e que a

articulação dos representantes com os representados é continuamente perseguida, mesmo em

face às limitações impostas pelo contexto aqui explicitado, o que nos sugere a possibilidade de

superação das dificuldades para a efetivação da representatividade e da legitimidade no CMS.

Na correlação de forças que se efetiva no CMS há momentos em que se registram

consonância de interesses entre os segmentos, registrando, da mesma forma, em outros

momentos, divergência de opiniões, o que consideramos absolutamente natural e saudável no

processo democrático. No entanto, lamentavelmente, percebemos, na atuação do CMS, ainda

uma forte tendência à hegemonia do segmento do governo sobre o segmento dos trabalhadores

da saúde e dos usuários do SUS, apesar de o seu presidente ser hoje um representante desse

segundo grupo.

Percebemos ainda, ao longo desta pesquisa, que o CMS sofre principalmente dois tipos de

pressão: a primeira se dá por intermédio dos políticos e a segunda mediante a participação das

entidades nas reuniões. O primeiro tipo de pressão revela a fragilidade existente no segmento

dos usuários, porta de abertura para as ingerências político-partidárias, enquanto o segundo tipo

nos mostra que o CMS responderia positivamente aos anseios da sociedade civil se esta tivesse

um grau maior de cultura cívica que lhe permitisse defender a representação dos seus interesses.

Mesmo considerando que a maioria dos encaminhamentos da gestão estejam relacionados

às necessidades da sociedade, é lamentável perceber que a boa condução das políticas públicas

da saúde no município ainda dependa de uma conjuntura política em que o segmento do

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147

governo é ainda força majoritária. No entanto, mesmo considerando todo este contexto, não

podemos deixar de anotar que o Conselho Municipal de João Pessoa, se comparado com outros

conselhos existentes na Paraíba, tem uma boa atuação no controle social sobre a gestão das

políticas públicas de saúde, influindo positivamente no estado de saúde da população do

município, e que as mudanças ocorridas, embora pequenas, representam significativas

conquistas da participação da sociedade civil organizada no exercício do controle social

institucionalizado.

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