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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS E ANÁLISE DE BACIAS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DATAÇÃO POR RADIOCARBONO-AMS DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO JUSTINO, CANINDÉ DE SÃO FRANCISCO, SERGIPE ALQUIZIA DORCAS DANTAS DE SANTANA São Cristóvão-SE – Agosto 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS E ANÁLISE DE BACIAS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

DATAÇÃO POR RADIOCARBONO-AMS DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO JUSTINO, CANINDÉ DE SÃO FRANCISCO, SERGIPE

ALQUIZIA DORCAS DANTAS DE SANTANA

São Cristóvão-SE – Agosto 2013

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DATAÇÃO POR RADIOCARBONO-AMS DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO JUSTINO, CANINDÉ DE SÃO FRANCISCO, SERGIPE

ALQUIZIA DORCAS DANTAS DE SANTANA

Orientadora: Dra. Maria de Lourdes da Silva Rosa

Coorientador: Dr. Albérico Nogueira de Queiroz

São Cristóvão-SE – Agosto 2013

Dissertação submetida à Comissão Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Geociências e Análise de Bacias da Universidade Federal de Sergipe, como requisito para obtenção do título de Mestre em Geociências

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

S232d

Santana, Alquizia Dorcas Dantas de Datação por radiocarbono-AMS do Sítio Arqueológico Justino,

Canindé de São Francisco, Sergipe / Alquizia Dorcas Dantas de Santana; orientadora Maria de Lourdes da Silva Rosa. – São Cristóvão, 2013.

80f.

Dissertação (Mestrado em Geociências) - Universidade Federal de Sergipe, 2013.

1. Datação arqueológica. 2. Datação por radiocarbono. 3. Sítio

Arqueológico Justino. I. Rosa, Maria de Lourdes da Silva, orient. II. Título.

CDU 902.65

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iii 

   

Aos meus Pais Antônio Valença (in memorian) e

Maria Lúcia, vocês foram os primeiros professores na

Universidade da Vida.

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iv 

   

AGRADECIMENTOS

A cada passo que damos em busca de um conhecimento é uma experiência

enriquecedora e de plena superação.

É com muita satisfação que hoje olho para o passado e vejo que não completei

esta jornada sozinha.

Preliminarmente, agradeço a Deus pelo dom da vida.

À Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação Tecnológica do Estado de

Sergipe (FAPITEC) e ao PRONEX-GEOLOGIA [CNPq] por ter acreditado nesse

projeto e concedido bolsa de mestrado e auxílio à pesquisa, sem dúvida esse apoio

financeiro foi primordial para o desenvolvimento desse trabalho.

Ao Museu de Arqueologia de Xingó (MAX) pelo fornecimento das amostras e

material fotográficos.

À minha orientadora Dra. Maria de Lourdes da Silva Rosa a quem devo

gratidão por ter sido a primeira pessoa que acreditou neste trabalho. Agradeço pela

coragem de enfrentar novos desafios, mesmo sabendo as dificuldades que iríamos

ter pelas diferenças acadêmicas. Obrigada pelas correções e compreensão.

Ao meu Coorientador Dr. Albérico Nogueira de Queiroz e à professora Olívia

Alexandre, pelas orientações.

Ao coordenador do PGAB Herbet Conceição pela assistência prestada nos

momentos necessários.

Aos professores do PGAB, pela contribuição na minha formação ao longo do

mestrado, professor Antônio Pacheco e às professoras Aracy Senra, Edilma de

Jesus e Ana Claudia Andrade, obrigada pelas sugestões e críticas que foram

essenciais para que eu pudesse nortear minhas ideias.

À professora Márcia Barbosa pelas sugestões ao logo da dissertação.

À minha amiga de curso ou simplesmente minha orientadora nos aspectos

geológicos ao longo das disciplinas Talita Fernanda Gentil. Durante o decorrer do

curso, sempre tentou entender minhas dificuldades. Como o próprio nome já diz sua

Gentileza foi essencial, pois não mediu esforços para me ensinar. Companheira

tanto profissionalmente como pessoalmente, agradeço pela amizade e dedicação

durante esses dois anos de convivência, a quem sempre serei grata e sentirei

saudades.

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Ao meu colega de turma Felippe Melo pelo companheirismo e a troca de

informações.

A todos meus colegas do PGAB que sempre entenderam a minha diferença de

formação acadêmica e nas disciplinas de maior dificuldade sempre estiveram

solidários a ensinar.

Aos alunos do curso de arqueologia que ajudaram na exumação do material, 

em especial a Jaciara Andrade e Elaine Alves por me acompanharem e colaborarem

nas idas ao Laboratório do Museu de Arqueologia de Xingó, auxiliando na separação

das amostras.

À Naedja Pontes, Filipa Maria Cabrita, Flávia Leal e Daniela Dantas pela

amizade e momentos de descontração.

À Fabiana Vieira pelo presente lindo meu afilhado Luiz Henrique.

Meu maior agradecimento é dirigido a meus pais Antônio Valença (in

memorian) e Maria Lúcia, por terem sido o contínuo apoio durante esses anos

ensinando-me, principalmente, a importância da construção e coerência de meus

próprios valores.

Aos meus irmãos Aizaque Daniel e Abraão e minhas irmãs Aura Danielle, Aléa

Dayane e Aldízia Joana por compartilharem os momentos difíceis e felizes de toda

minha vida. Sou o resultado da confiança e da força de cada um de vocês.

A todos que contribuíram à realização deste trabalho o meu

MUITÍSSIMO OBRIGADA!

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vi 

   

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”.

Clarice Lispecto

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viii 

   

ABSTRACT This study aimed to obtain the chronologies of the occupation of Justin Cemeteries

Archeological Site, located in Canindé San Francisco, State of Sergipe. The ages

were obtained by dating isotope 14C using the technique of Accelerator Mass

Spectrometry (AMS), Beta Analytic Laboratory (USA). Were initially selected for

analysis samples of human teeth and bones, respectively, but these materials

showed no collagen volume allowing the dating. Thus, selected samples of charcoal

four layers of stratigraphic site, which fires occurred in old structures. The results

show four distinct cycles of human occupation in the region Xingó, namely 2510 ± 30

BP, 4390 ± 30 BP, 7530 ± 30 and 12220 ± 50 AP AP. These new radiocarbon dating

conducted for Site Justin Caninde show that culture is much older than hitherto had

knowledge, kicking the arrival of these populations to the Quaternary period and

Pleistocene epoch.

Keywords: Archaeological Site Justino, 14C, AMS

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vii 

   

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo obter as cronologias das ocupação dos Cemitérios

do Sítio Arqueológico Justino, localizado no município de Canindé de São Francisco,

Estado de Sergipe. As idades foram obtidas por datação isótopos de 14C pela

técnica de Espectrometria de Massa por Acelerador (AMS), laboratório Beta Analytic

(USA). Incialmente foram selecionados para a análises amostras de dentes e ossos

humanos, respectivamente, porém estes materiais não apresentaram volume de

colágeno que permitisse a datação. Desta forma, selecionou-se amostras de carvão

vegetal em quatro camadas estratigráficas do sítio, que ocorriam em estruturas de

fogueiras antigas. Os resultados obtidos evidenciam quatro ciclos distintos da

ocupação humana na região de Xingó, a saber: 2.510 ± 30 AP, 4.390 ± 30 AP, 7.530

± 30 AP e 12.220 ± 50 AP. Estas novas datações radiocarbônicas realizadas para o

Sítio Justino mostram que a cultura Canindé é bem mais antiga do que até então se

tinha conhecimento, retrocedendo a chegada dessas populações para o período

Quaternário época Pleistoceno.

Palavras-chave: Sítio Arqueológico Justino, 14C, AMS

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ix 

   

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1- Localização e via de acesso à área de pesquisa-------------------------------

5

Figura 2- Os Cemitérios definidos por Vergne (2004) e a classificação em fases com as ocupações por Fagundes (2007)-----------------------------------------

10

Figura 3- Diagrama do processo de produção, distribuição e decaimento do radiocarbono-----------------------------------------------------------------------------

16

Figura 4- Amostra de carvão vegetal do Cemitério D da camada 48------------------

26

Figura 5- Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B), e amostras de dentes humanos canino/molar da sepultura 25 (C/D)--------

29

Figura 6- Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B), e amostras de dentes humanos molar/incisivo da sepultura 140 (C/D)-----

30

Figura 7- Croqui da posição do esqueleto (A), e amostras de dentes humanos molar/incisivo da sepultura 114 (B/C)---------------------------------------------

31

Figura 8- Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B), e amostras de dentes humanos molar/molar da sepultura 107 (C/D)-------

32

Figura 9- Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B), e amostras de dentes humanos incisivo/molar da sepultura 162 (C/D)-----

33

Figura 10- Amostras de dentes humanos que foram examinadas a presença de colágeno: molar da sepultura 25 do cemitério Justino A (A), incisivo da sepultura 140 do cemitério Justino B (B), molar da sepultura 107-2 do Justino C (C), molar da sepultura 162 do Justino D (D)----------------------

34

Figura 11- Amostras ósseas humanas do Justino A avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 24--------------------------------------

35

Figura 12- Amostras ósseas humanas do Justino A avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 36--------------------------------------

36

Figura 13- Amostras ósseas humanas do Justino B avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 69--------------------------------------

37

Figura 14- Amostras ósseas humanas do Justino C avaliadas a presença de colágeno: mandíbula da sepultura 83---------------------------------------------

38

Figura 15- Amostras ósseas humanas do Justino C avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 149-------------------------------------

39

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Figura 16- Amostras ósseas humanas do Justino D avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 161-------------------------------------

40

Figura 17- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino A datada (A/B/C/D)-- 41

Figura 18- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino B datada (A/B/C/D)--

42

Figura 19- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino C datada (A/B/C/D)--

42

Figura 20- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino D datada (A/B/C/D)-- 43

Figura 21- Etapas da análise das amostras no laboratório Beta Analytic--------------

43

Figura 22- Análise do pH dos sedimentos------------------------------------------------------ 46

Figura 23- Curva de calibração da amostra (Beta-347586) mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ-------------------------------------------------------------

52

Figura 24- Curva de calibração da amostra (Beta-347589) mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ-------------------------------------------------------------

53

Figura 25- Curva de calibração da amostra (Beta-347593) mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ-------------------------------------------------------------

54

Figura 26- Curva de calibração da amostra (Beta- 347596) mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ----------------------------------------------

55

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xi 

   

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1- Datações anteriores obtidas para o Sítio Justino---------------------------

9

Tabela 2- Correlação entre as fases classificadas por Fagundes (2007) e os cemitérios e datações radiocarbônicas obtidas por Vergne (2004) ---

12

Tabela 3- Amostras de dentes humanos enviadas na tentativa de realizar datação AMS ------------------------------------------------------------------------

27

Tabela 4- Amostras de ossos humanos e de carvões vegetais enviadas na tentativa de realizar datação AMS ---------------------------------------------

27

Tabela 5- Valores da análise do pH dos sedimentos-----------------------------------

47

Tabela 6- Comparação das datações radiocarbônicas obtidas por Vergne (2004) com as alcançadas nesta pesquisa ----------------------------------

57

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xii 

   

ÍNDICE DE FOTOS

Foto 1- Vista geral da escavação do Sítio Justino (A) e evidenciação de sepultamento (Cemitério C) (B)---------------------------------------------------

7

Foto 2- Vista geral do Sítio Justino---------------------------------------------------------

7

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO--------------------------------------------------------------------------------- 1

CAPÍTULO I- SÍTIO JUSTINO-----------------------------------------------------------

4

I.1- Localização e Acesso----------------------------------------------------------------- 4

I.2- Descrição do Sítio----------------------------------------------------------------------

4

CAPÍTULO II- DATAÇÃO RADIOCARBÔNICA------------------------------------ 14

II.1- Datação Absoluta---------------------------------------------------------------------- 14

II.2- Princípios da Datação por Carbono 14 (14C)----------------------------------- 15

II.3- Limitações do Método do Radiocarbono---------------------------------------- 19

II.4- Espectrometria de Massa por Aceleradores – AMS--------------------------

21

CAPÍTULO III- MATERIAIS E MÉTODOS-------------------------------------------- 23

III.1- Introdução------------------------------------------------------------------------------- 23

III.2- Levantamento do Referencial------------------------------------------------------ 23

III.3- Seleção e Preparação de Amostras--------------------------------------------- 24

III.4- Descrição das Amostras------------------------------------------------------------ 28

III.4.1- Amostras de Dentes Humano----------------------------------------------- 28

III.4.2- Amostras Ósseas Humanas------------------------------------------------- 35

III.4.3- Amostras de Carvões Vegetais -------------------------------------------- 41

III.5- Metodologia do Beta Analytic------------------------------------------------------ 43

III.5.1- Pré-tratamento------------------------------------------------------------------- 44

III.5.2- Preparação da Análise--------------------------------------------------------- 45

III.5.3- Análise----------------------------------------------------------------------------- 45

III.5.4- Resultados ----------------------------------------------------------------------- 45

III.6- Análise do pH dos Sedimentos---------------------------------------------------- 46

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xiv 

   

CAPÍTULO IV- RESULTADOS E DISCUSSÕES------------------------------------

48

IV.1- Amostras de Dentes e Ósseas Humanas--------------------------------------- 48

IV.2- Amostras de Cravões Vegetais----------------------------------------------------

51

CAPÍTULO V- CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES--------------------------- 59

REFERÊNCIAS-------------------------------------------------------------------------------

61

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INTRODUÇÃO

Ao longo da história humana, o homem buscou lugares para viver, manipular e

gerenciar, observando determinadas características ambientais, como: relevo, clima,

hidrografia e vegetação, para satisfazer suas necessidades de subsistência

(PROUS, 1992). Esta relação homem/ambiente não foi diferente no Baixo São

Francisco, no município de Canindé de São Francisco/Sergipe.

Partindo do pressuposto de que o homem busca estratégias de subsistência e

está relacionado com a paisagem em que se insere, pode-se considerar que a

arqueologia não é estanque, ela depende da relação de outras ciências para ampliar

seu campo de estudo. Nas últimas décadas, a Arqueologia tem dado um grande

impulso em estudos multidisciplinares, ao relacionar-se a outros ramos do

conhecimento.

Na arqueologia, estabelecer o tempo e a sequência de eventos é fundamental.

Todas as perguntas sobre o passado requer um conhecimento preciso da

cronologia, a fim de respondê-las de forma satisfatória. A relação entre as ciências

exatas e arqueologia em termos de cronologias é, portanto, mutuamente benéfica, e

absolutamente essencial para responder as indagações sobre o passado.

Desta forma, a pesquisa teve a finalidade de aplicar informações de diferentes

ciências com o propósito de ampliar as interpretações culturais do sítio pré-histórico

Justino. O objetivo deste trabalho foi obter as cronologias de ocupação dos

Cemitérios do Sítio Arqueológico Justino, utilizando isótopos de 14C como ferramenta

de análise por meio da técnica de Espectrometria de Massa por Acelerador (AMS),

bem como interpretar os dados obtidos, buscando enriquecer o conhecimento

arqueológico do período em questão.

Deste modo, este trabalho, contribui com a inserção de novos dados

cronológicos das quatro ocupações do Sítio Justino localizado na área de Xingó, no

município de Canindé de São Francisco, Estado de Sergipe.

A importância de tal estudo dá-se numa perspectiva que busca ampliar o

conhecimento acerca das permanências de vida das comunidades humanas pré-

históricas em relação ao terraço de origem fluvial com idade quaternária, o qual foi

encontrado o cemitério Justino.

1

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O Sítio Justino foi escolhido como objeto de estudo com intuito de reavaliar a

cronologia do sítio através de amostras mais diretas. Por se tratar do maior cemitério

pré-histórico da região Nordeste do Brasil, no qual foi encontrado uma grande

quantidade de sepultamento, e por que não se obter uma datação direta para esse

sítio? O objetivo da pesquisa era obter uma cronologia direta através de partes dos

indivíduos. No primeiro momento da pesquisa foram escolhidas amostras de dentes

humanos por serem os elementos do esqueleto humano que melhor possui

resistência a produtos químicos e a destruição física.

A utilização de estudos mais diretos possibilitaria a obtenção de resultados

mais concretos acerca da cronologia desses povos que habitaram a região do Baixo

São Francisco. Uma vez que a datação direta de parte dos esqueletos representaria

a idade real de uma espécie que teria passado pelo local, e não apenas a de uma

amostra contemporânea associada.

Com a impossibilidade de realizar datação nas amostras de dentes através do

material colágeno, tentou mais uma vez uma datação direta através de amostras

ósseas humanas e da mesma forma não se obteve êxito. Por fim realizaram-se

datações por associação, nas amostras de carvões vegetais.

Para tanto, a justificativa deste trabalho foi traçar um perfil das cronologias

obtidas através da técnica AMS. Esta possibilita a contagem direta dos átomos de

uma amostra, aplicando um Espectrômetro de Massa por Acelerador. A contagem

não é das partículas, mas sim dos átomos existes de cada um dos isótopos de

carbono.

A técnica convencional utiliza a contagem de decaimento, isto é, a medição da

concentração isotópica é feita através da contagem dos eventos de decaimento num

espectrômetro de cintilação, comparando depois o resultado da contagem do 14C

com o de um padrão testado analiticamente em condições experimentais, ou seja,

utiliza a atividade da amostra para calcular sua idade. Ambas empregam o método

do radiocarbono, o qual se baseia na desintegração do 14C presente em uma

amostra de origem orgânica para obter a cronologia.

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Assim como, neste trabalho se confirma o porquê de muitas datações de sítios

arqueológicos serem por meio de amostras indiretas, ou seja, que não representam

a idade real de um espécime humana para determinar uma ocupação. Fato que se

admite pela impossibilidade de fazer datações diretas de partes dos indivíduos

através do colágeno, mesmo tratando-se de amostras em sua integridade física,

caso dos dentes, mas que se mostrou em relação ao material a ser datado o

colágeno como más preservadas, fato que será relatado no decorre do trabalho as

possíveis causas da não conservação do colágeno em dentes e ossos de origem

arqueológica.

Este trabalho permite ainda obter um quadro de datações das quatro

ocupações em um único laboratório Beta Analytic, cujas amostras sofreram os

mesmos procedimentos laboratoriais.

A dificuldade enfrentada na pesquisa foi identificar amostras de dentes e

ósseas em bom estado de conservação cujo material a ser datado estivesse

presente e com menor risco de contaminação por elementos químicos. O problema

apontado neste trabalho mostra o porquê de muitos sítios arqueológicos obterem

datações indiretas.

As cronologias já obtidas nos trabalhos anteriores mostram a importância da

região de Xingó para geração de um conhecimento sobre a história das populações

pretéritas e sobre o comportamento das sociedades ao longo do tempo na região.

O texto está dividido em cinco capítulos principais: o primeiro apresenta as

características relevantes sobre o Sítio Justino, o segundo traz uma breve revisão a

respeito da datação radiocarbônica, o terceiro relata os materiais e métodos

utilizados na pesquisa, o quarto fornece os resultados alcançados e discussões das

análises e por último as conclusões obtidas e as recomendações.

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CAPÍTULO I - SÍTIO JUSTINO

I.I- Localização e Acesso

O Sítio Justino está localizado no município de Canindé de São Francisco, no

extremo noroeste do Estado de Sergipe, na zona fisiográfica conhecida como Sertão

do São Francisco, estando limitado a norte com o Estado de Alagoas, a oeste e sul

com o Estado da Bahia. O acesso a partir da capital Aracaju é feito através das

rodovias BR-235, BR-101 e SE-206, num percurso aproximado de 213 km via N. S.

das Dores ou através das rodovias BR- 235/SE-106/SE-206 via Itabaiana (Fig.1).

O Sítio Justino foi encontrado em 1990, na fazenda conhecida como “Cabeça

do Nego” na margem direita do Rio São Francisco, na confluência do Riacho

Curituba com o Rio São Francisco, que por sua vez é inserido no Cânion do Rio São

Francisco. Hoje este sítio encontra-se submerso e posicionado nas coordenadas

UTM 8.938.881 S /627.561W (VERGNE, 2004).

I.2- Descrição do Sítio

Trata-se de um sítio a céu aberto situado em um terraço fluvial ocupado,

principalmente como cemitério, mas também como habitação, fato atestado pela

presença de estruturas de fogueiras, restos alimentares, conchas, manchas escuras,

objetos líticos e fragmentos cerâmicos. A arqueóloga Cleonice Vergne, responsável

pela escavação, trabalhou com a hipótese de que cada período de ocupação estava

intercalado pela presença de enterramentos que poderiam ter sido produzidos por

distintos grupos ou, ao contrário, revelar uma continuidade na área (VERGNE,

2002).

Este Sítio foi localizado durante a construção da hidroelétrica de Xingó pela

Companhia Hidro Elétrica do São Francisco-Chesf, cujo lago inundaria não apenas

os sítios já detectados, como outros que certamente existiriam na região. Desta

forma, o salvamento tornou-se obrigatório.

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Figura 1- Localização e via de acesso à área de pesquisa. 

Adaptado da Secretária de Recursos Hídrico de Sergipe (Base Cartográfica)

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O Sítio foi uma das maiores riquezas evidenciadas pelos arqueólogos que

trabalharam na área, considerado o maior cemitério pré-histórico do nordeste do

Brasil, o terraço em que estava inserido o Justino abrangia uma altura de cerca de

6,80 m. Sua área total era de aproximadamente 1.500 m2, com altitude média de 37

metros em relação ao nível do mar, onde foram escavados cerca de 1265 m2

(VERGNE, 2004).

Escavado durante quatro anos, de 1991 a 1994, este sítio ganhou notoriedade

por apresentar uma grande quantidade de sepultamentos humanos (Fotos. 1 e 2).

Foi e continua sendo o objeto de estudo de diversos trabalhos acadêmicos com

objetivos diferentes. Dentre os diversos trabalhos realizados pode-se destacar as

análises paleoambientais, sobretudo de Ab’Saber (1997, 2002) e Dominguez &

Brichta (1997); acerca da ritualidade por Vergne (1997, 2002, 2004, 2005a, 2005b);

da bioantropologia por Carvalho (2006, 2007); da análise da cultura material

cerâmica por Luna (2001); da zooarqueologia por Queiroz & Chaix (1999) do estudo

do material lítico por Fagundes (2007), Jerônimo & Cisneiros (1997), Mello et al.

(2007), Silva et al. (2001); os estudos arqueométricos realizados nos vestígios

cerâmicos por Dantas (2005) e Santos & Munita (2007).

O cemitério indígena do Justino é o assentamento com maior intervenção

arqueológica da região de Xingó, já que o terraço em que estava localizado foi

completamente escavado em relação ao espaço e profundidade, atingindo o

embasamento rochoso. Tal procedimento efetivou-se, sobretudo, após evidência de

uma série de esqueletos humanos completos geralmente associados a um rico

enxoval funerário (VERGNE, 2004).

No salvamento do Sítio Justino recuperou-se cerca de 55.000 peças

arqueológicas, dentre os vestígios destacam-se 167 sepulturas de 177 indivíduos,

ou seja, em algumas sepulturas tinham mais de um indivíduo (CARVALHO, 2006).

Conforme Dominguez & Brichta (1997), a formação geológica do terraço estava

associada à descida de sedimentos dos altiplanos da região semi-árida de Sergipe,

através do afluente intermitente denominado riacho Curituba, formando deposições

sedimentares de características deltaicas, como ocorrência de camadas aluvionares

que apresentavam espessuras variáveis, constituída por areia fina ou grossa, seixos,

siltes e argilas.

6

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Fotos- Acervo do Museu de Arqueologia de Xingó - MAX.

Foto- Acervo do Museu de Arqueologia de Xingó - MAX.

Foto 2- Vista geral do Sítio Justino.

Foto 1- Vista geral da escavação do Sítio Justino (A) e evidenciação de sepultamento (Cemitério C) (B)

A B

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O sítio ocupava um terraço elevado, que foi área de deposição durante o

período Quaternário recente, sobre a planície Pré-Cambriana à margem de um

grande rio perene. A este fenômeno de deposição deve-se citar o papel das cheias

do São Francisco o que contribuíram também na formação desse terraço.

Entretanto, cabe ressaltar que o Sítio Justino deve ter ocupado uma área muito

maior, pois as continuas enchentes do rio destruíam parte do cemitério já em tempos

pretéritos. Fato que se constatou durante o período de escavação, quando o Sítio

sofreu várias inundações (VERGNE, 2004).

Foram evidenciadas sessenta e quatro decapagens o que transformou o

Justino em um sítio de estratificação complexa. Dentro das 64 decapagens, Vergne

(2004) distinguiu quatro cemitérios tendo como base os sepultamentos evidenciados

e a distribuição dos remanescentes culturais, classificados como cemitérios A, B, C e

D. Pôde-se estabelecer que inicialmente a região foi ocupada por grupos de

caçadores-coletores. Sem sombra de dúvida está primeira ocupação não

denominava a tecnologia de cerâmica. Mais tarde o local foi ocupado por

agricultores incipientes que se estabeleceram ao longo do terraço fluvial.

As datações radiocarbônicas realizadas por Vergne (2004) foram todas

obtidas através de amostras de carvão vegetal em três laboratórios diferentes: na

França no laboratório do Centro de Datação por Radiocarbono da Universidade

Claude Bernard Lyon; no laboratório Beta Analytic, nos Estados Unidos; e no

laboratório de datações da Universidade Federal da Bahia. Outras datações foram

feitas para o sítio através da técnica de termoluminescência (TL) em amostras de

cerâmica. Santos (2002) optou pelas amostras de cerâmicas, que no momento da

coleta de campo, estivessem próximas de esqueleto ou fogueira. Ainda segundo o

autor as análises por TL mostraram datações em um intervalo aceitável diante das

datações efetuadas por 14C nas ocupações estudadas (Tab. 1).

As datações obtidas a partir de carvões de fogueiras foram utilizadas para

demarcar as quatro ocupações, porém, em relação aos enterramentos, funcionam

como datações relativas. Para o Sítio não há datações dos enterramentos que

representem a idade real de uma espécie que teria passado pelo local.

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Tabela 1- Datações anteriores obtidas para o Sítio Justino.

* Vergne (2004) ** Santos (2002).

Através dos vários estudos realizados por Vergne (2002, 2004, 2005a, 2007)

sobre a ritualidade do sítio e dos estudos paleoambientais realizados por Dominguez

& Brichta (1997), todos aliados à observação e análise dos demais remanescentes

culturais deste assentamento (distribuição espaço - temporal dos vestígios –

cerâmicos; estruturas de combustão; restos faunísticos; manchas no solo entre

outros, densidade e diversidade destes remanescentes; organização tecnológica;

associações e concentrações; uso do espaço e outros), Fagundes (2007) em seu

estudo do diagnóstico da organização tecnológica lítica e análise sedimentológica

estabeleceu cinco fases (Fig. 2), distinguindo as ocupações e as reocupações para

cada sítio, a saber:

Fase 01- para esta ocupação não existem datações absolutas obtidas por Vergne

(2004). Essa fase refere-se aos grupos de caçadores coletores que ocuparam o

terraço entre as decapagens 64 e 43 (um intervalo de 2,10 m), ocorrendo duas

ocupações distintas, a primeira entre as decapagens 59 a 51 (um intervalo de 0,80 m)

e outra entre a 50 e 43 (um intervalo de 0,70 m). Neste período, o terraço foi pouco

povoado, uma vez que a baixa frequência e densidade de remanescentes culturais,

indústrias líticas (artefatos, instrumentos ou resíduos do processo de lascamento,

manutenção e reparo dos mesmos); manchas no solo, restos alimentares etc. As

ocupações devem ter ocorrido de forma irregular ao longo do tempo, com baixa

permanência do grupo ou grupos no terraço.

Sítio Profundidade Material datado

Método Cronologia (Laboratório)

Just. D 410 cm Carvão 14

C 8950 ± 70 AP (Beta 86745)*

Just. C 310 cm Carvão 14

C 5570 ± 70 AP (Beta 86744)*

Just. C 210 cm Carvão 14

C 4790 ± 80 AP (Beta 86741)*

Just. B 140 cm Carvão 14

C 3270 ± 135 AP (Lyon 5752)* Just. B 110 cm Carvão

14C 2650 ± 160 AP (Bahia 1805)*

Just. A 90 cm Carvão 14

C 2530 ± 170 AP (Bahia 1804)*

Just. A 70 cm Carvão 14

C 1780 ± 60 AP (Lyon 5751)*

Just. A 40 cm Carvão 14

C 1280 ± 45 AP (Lyon 5750)*

Just. B 110 cm Cerâmica TL doce adicional

2190 ± 270 AP (LPCM)**

Just. B 110 cm Cerâmica TL fototransferência

1910 ± 110 AP (LPCM)**

Just. A 90 cm Cerâmica TL pré-doce

1970 ± 300 AP (LPCM)**

Just. A 90 cm Cerâmica TL doce adicional

1630 ± 150 AP (LPCM)**

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Figura 2- Os Cemitérios definidos por Vergne (2004) e a classificação em fases com as ocupações por Fagundes (2007). *Ocupações.

Fase 03‐ 03* 

Fase 04‐ 01*

 

 

Cemitério A

Cemitério B

Cemitério C

Cemitério D

Fase 02‐ 01*

Fase 01‐  !" ∗!" ∗

Fase 05‐  !" ∗

!" ∗

10

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Fase 02- também está relacionada às ocupações de caçadores-coletores situada nas

decapagens 42 até a 35 (um intervalo de 0,70 m), com datação 14

C em torno de

8.950 ± 70 AP (Vergne, 2004). E em comparação à fase 01 esta fase revela um

período de fixação mais longo. Não há mudanças sensíveis na organização

tecnológica. As fases 01 e 02 são tratadas como Cemitério D (Tab.2).

Fase 03- equivalente ao Cemitério C situado nas decapagens 34 a 13 (um intervalo

de 2,10m), com datações 14

C entre 5.570 ± 70 AP e 4.790 ± 80 AP (Vergne, 2004). O

autor dividiu esta fase em três ocupações distintas: a primeira entre as decapagens

34 e 29 (um intervalo de 0,50 m), a segunda entre a 28 e 22 (um intervalo de 0,60 m)

e a terceira entre a 21 e 16 (um intervalo de 0,50 m). Nessa fase são claras as

evidencias de ocupação e reocupação do sítio, que passa por processos contínuos

de abandono somados às curtas permanências dos grupos na área, fator verificável

pela baixa densidade e diversidade de remanescentes culturais, evidenciando o uso

do local enquanto acampamento temporário (entre as decapagens 34 e 24, um

intervalo de 1,00 m aproximadamente). A partir da decapagem 21 (entre 2,15 e 2,20

m de profundidade) há indícios de uma maior permanência no terraço, com incidência

da explosão dos vestígios cerâmicos na decapagem 19 (entre 1,90 e 2,00 m de

profundidade) em diante. A cerâmica surge no registro arqueológico a partir da

decapagem 32 (01 fragmento de bojo evidenciado a 3,29m de profundidade),

entretanto só se torna representativa entre as decapagens 21 e 19 (um intervalo entre

2,20 m e 2,00 m de profundidade), com significativo aumento de elementos a partir da

decapagem 17 (137 fragmentos evidenciados em torno de 1,80 m de profundidade).

Fase 04- representa o Cemitério B situado entre as decapagens 14 e 09 (um

intervalo de 0,50 m), trata-se do período “áureo” de ocupação do Justino onde se

observa maior quantidade e diversidade de remanescentes culturais. Todo o arranjo

das estruturas, distribuição espacial, concentrações e associações demonstram quo

grupo tenha mudado sua morfologia social. Na organização tecnológica lítica não há

mudanças extremas, exceto que o quartzo passa a ser mais utilizado para a

confecção de instrumentos expeditos (ou de ocasião). O período possui datação 14

C

entre 3.270 ± 135 AP e 2.530 ± 60 AP (Vergne, 2004).

11

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Tabela 2- Correlação entre as fases classificadas por Fagundes (2007) e os cemitérios e datações radiocarbônicas obtidas por Vergne (2004).

FASE NUMERO DE OCUPAÇÃO

DECAPAGEM PROFUNDIDADE DATAÇÃO

Ce

m

D Fase 01

01 59-51 Intervalo de 0,80m entre 6,00 e 5,20m Sem datação 02 50-43 Intervalo de 0,70m entre 5,20 e 4,40m Sem datação

Fase 02 01 42-35 Intervalo de 0,70m entre 4,40 e 3,60m 8950±70AP(decapagem 40)

Ce

m

C

Fase 03 01 34-29 Intervalo de 0,50m entre 3,60m e 3,00m 5570±70AP(decapagem 30) 02 28-22 Intervalo de 0,60m entre 3,00 e 2,30m Sem datação 03 21-16 Intervalo de 0,50m entre 2,30 e 1,70m 4790±80AP(decapagem 20)

Ce

m

B

Fase 04

01

15-09

Intervalo de 0,60m entre 1,70 e 1,00m

3270±135AP(decapagem 13) 2650±150AP(decapagem 10) 2530±60AP(decapagem 08)

Ce

m

A

Fase 05

01 08-04 Intervalo de 0,40m entre 1,00 e 0,50m 1780±60AP(decapagem 06) 02 03-01 Intervalo de 0,20m entre 0,50 e 0,20m 1280±45AP(decapagem 03)

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Fase 05- equivalente ao Cemitério A encontra-se entre as decapagens 08 e 01 (um

intervalo de 0,70 m), com datação 14C entre 1.780 ± 60 AP e 1.280 ± 45 AP. (Vergne,

2004). É o período que apresentou maior diferença na organização tecnológica

quando comparados aos demais, com a presença de artefatos líticos mais expeditos

e vestígios cerâmicos pouco requintados no tocante à decoração plástica.

Em síntese, uma das características mais interessantes deste sítio diz

respeito à diversidade e quantidade de cultura material, tanto associada aos

sepultamentos (enquanto ‘bens funerários’), quanto associada às estruturas com

contextos domésticos (FAGUNDES, 2007).

A cerâmica, por exemplo, conta com 14.743 fragmentos distribuídos a partir

da decapagem 32 (3,39 m de profundidade), datada de 5.570 ± 70 AP (datação para

a decapagem 30. Cabe destacar que, entretanto, Fagundes (2007) menciona que a

tecnologia cerâmica deve ter ocorrido a partir das decapagens 21/20, em torno de

4.790 ± 80 AP).

Em relação ao material lítico, este ocorreu em todas as decapagens, sendo

que o polimento da pedra já é evidenciado na decapagem 40 de 8.950 anos AP.

Referentes às estruturas de combustão foram evidenciadas trinta fogueiras, todas

com carvão e outros remanescentes associados (cerâmica, lítico, restos faunísticos

etc.), sendo que algumas relacionadas aos sepultamentos. Destas estruturas, um

total de oito forneceu as datações absolutas realizadas no trabalho de Vergne

(2004).

Além das fogueiras estruturadas, foram evidenciadas 355 manchas escuras,

muitas das quais com pequenos fragmentos de carvão associados (além de restos

faunísticos e cultura material), indicando que eram antigas estruturas de combustão,

e outras que por prováveis ações naturais, permaneceram exclusivamente as

marchas no solo. Ainda foram localizadas e demarcadas 11 manchas de tonalidade

clara, 22 manchas vermelhas e 10 cinza (FAGUNDES, 2007).

13

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CAPÍTULO II - DATAÇÃO RADIOCARBÔNICA

II.1- Datação Absoluta

Na atualidade, um dos maiores enigmas encontrado pelos arqueólogos é

entender o processo de ocupação de populações pré-históricas. Na arqueologia o

enquadramento temporal dos fatos estudados é essencial tal como sucede na

própria história e em todas as ciências de caráter histórico, como é o caso da

geologia e da paleontologia. A arqueologia utiliza métodos de datação relativa e

absoluta para determinar a cronologia de um objeto ou evento.

Durante muito tempo as datações se baseavam apenas em observações.

Desta forma, não era possível estabelecer datações precisas, uma vez que os

métodos conhecidos se fundamentavam em interpretações relativas (FERNÁNDEZ

MARTÍNEZ, 2000).

A necessidade de métodos mais exatos de datação foi sempre patente, pois

se tornava necessário encontrar marcos temporais mais bem definidos para poder

desenvolver a datação relativa que se desenvolvia por comparações (GARRET &

GRISHAM, 1995).

Os métodos de datação absoluta permitem uma melhor definição cronológica

dos achados e comparações universais. Dentre os métodos de datação absoluta

utilizados em pesquisas arqueológicas destacam-se métodos de datação baseados

em quantidade de isótopos radioativos e seus derivados (Ar/Ar, K/Ar, Séries do U, 14C); e em métodos baseados em danos de radiação cumulativos causados no

material geológico (Traços de Fissão, TL/OSR, ESR).

Nos estudos do Quaternário recente, o método de datação radioisotópico do 14C é o mais utilizado. Este método é válido em qualquer lugar do mundo e serve

para datar madeira, ossos, conchas, sedimentos entre outros. É ideal para datar os

eventos ligados à história do homem desde o paleolítico até a época histórica,

tendo-se revelado um instrumento primordial para arqueologia (SCHEEL-YBERT,

1999).

14

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II.2- Princípios da Datação por Carbono 14 (14C)

Utilizou-se como base para obter as informações sobre os princípios da

datação por carbono 14, os trabalhos de: Bicho (2011); Macario (2003); Taylor

(2001); Fernández Martínez (2000); Bradley (1985) apud Scheel - Ybert (1999);

Soares (1996) e Renfrew & Bahn (1993).

A datação por radiocarbono foi desenvolvida no início dos anos 1950 por J.

W. Libby. Surgindo como consequência de métodos experimentais pioneiros

iniciados 15 anos antes por F.N. Kurie na Universidade de Yale (EUA) ao descobrir a

formação do 14C a partir 14N7.

O método fundamenta nas propriedades físico-químicas do carbono, um dos

elementos químicos constituintes de todos os organismos. Apresenta-se na natureza

em forma de três isótopos, 12C, 13C e 14 C, sendo os dois primeiros isótopos estaveis

e o último radioativo, também conhecido como radiocarbono.

A formação natural de radiocarbono é um efeito secundário da radiação

cósmica atuando na alta atmosfera. O radiocarbono é formado pela ação de baixa

energia térmica no nitrogênio. Quando formado o 14C rapidamente sofre um

processo de oxidação, originando o 14CO2 radioativo, o qual se dispersa pela

atmosfera terrestre por via dos ventos estratosféricos, chegando finalmente a toda

superfície do globo.

Cerca de 85% do 14CO2 é absorvido pelos oceanos, enquanto que 1% é

incorporado na bioesfera terrestre, principalmente através do processo de

fotossíntese. Os animais e plantas que dependem diretamente ou indiretamente de

plantas fotossintéticas estão em equilíbrio com a atmosfera no que concerne à

quantidade de 14C. Isto é, devido ao processo metabólico todos os organismos vivos

têm a mesma quantidade relativa de 14C em relação à 12C que existe na atmosfera

(Fig. 3). O 14C sendo radioativo e instavel está em constante desintegração. Devido

ao seu processo de formação contínuo, existe um equilíbrio entre a sua taxa de

formação e a sua taxa de desintegração, também conhecida como declínio ou

decaimento.

15

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Figura 3- Diagrama do processo de produção, distribuição e decaimento do radiocarbono.

14

N

14

N

14

C 14

C

14

N

14

C

16

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17

O processo de substituição que acontece na atmosfera ocorre também nos

organismos vivos. Deste modo, quando um determinado ser vivo morre, cessa a

absorção de 14C e começa o decaimento. A datação por 14C é baseada no fato de

que o 14C é radioativo e se desintegra produzindo nitrogênio-14. Os seres vivos

recebem o 14C por meio do alimento e água, mantendo um nível constante de 14C no

corpo. Quando morrem, o 14C que se desintegra não é mais substituído, assim o

nível de 14C diminui. Portanto, quanto maior o período depois da morte, menos 14C

permanece no corpo.

A diminuição de radiocarbono faz-se através do decaimento beta (β), com um

determinado ritmo, a chamada meia-vida. A meia vida do 14C é de 5.730 anos. Isto

significa que um organismo que morreu há 5.730 anos tem atualmente a metade do

seu conteúdo original em 14C. Ele terá 50% deste conteúdo daqui a 5.730 anos, e

assim por diante. Desta forma, a idade radiocarbônica de uma amostra antiga pode

ser obtida comparando-se a radioatividade especifica 14C/12C desta amostra com a

radioatividade especifica de um padrão de referência.

Devido às atividades antrópicas não se ter mantido constante nos últimos

séculos, principalmente devido à queima de combustíveis a partir da Revolução

Industrial e à atividade nuclear do último século, em consequência destas e outras

atividades humanas tornou-se necessário determinar o padrão referente ao presente

com base no ácido oxálico. O padrão utilizado é de 1950 e o resultado é

apresentado em anos “Antes do Presente” (AP) ou “Before Present” (BP), ou seja,

antes do ano de 1950. Assim, a concentração do 14C em uma amostra pode ser

medida com precisão e comparada com a quantidade de 12C não radioativo.

A datação radioativa baseia-se na diferença da concentração isotópica de

uma amostra ao longo do tempo, ou seja, na variação da razão entre isótopos

radioativos e estáveis de um elemento. A concentração inicial C0 refere-se ao

momento em que o sistema fica isolado e cessam as trocas de matéria com o meio

ambiente. A concentração após um tempo t depende apenas do decaimento

radioativo (Equação 1) onde a constante de decaimento λ é característica de cada

radioisótopo e se relaciona com a sua vida média ! e meia vida t1/2 (Equação 2).

Conhecida a concentração isotópica atual, a idade da amostra pode ser então

determinada (Equação 3).

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18

! ! = !!!!!" Equação 1

! =!

!=

!!!

!!! Equação 2

! = −!1! !(!)

!! Equação 3

Desta forma, a datação radioativa pode ser determinada medindo a

concentração isotópica de uma amostra ou sua atividade. A atividade especifica A

de uma amostra é o número de decaimento por unidade de tempo por unidade de

massa (Equação 4) onde A0 é a atividade inicial. Assim sendo, a idade da amostra

pode ser determinada a partir de sua atividade (Equação 5).

! ! = −!"

!"= !! 

 !!!" Equação 4

! = −!1!!(!)

!! Equação 5

Para medir diretamente a concentração isotópica em uma amostra de

carbono é necessário separar os átomos de 12C, 13C e 14C e contá-los. Diferindo

apenas por suas massas, os isótopos podem ser separados utilizando-se a técnica

de Espectrometria de Massa.

Ao definir os princípios da datação pelo radiocarbono Libby estimou a vida

media em 5568 anos. Contudo, seu valor tem sido medido com o melhoramento dos

sistemas de medição resultando em um paradoxo. Cálculos mostraram que a meia-

vida é na verdade de 5730 anos. Para evitar confusões, os laboratórios continuaram

usando a “vida-média de Libby”.

A correção pode ser impetrada multiplicando-se o resultado fornecido pelo

laboratório por 1,03.

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19

II.3- Limitações do Método do Radiocarbono

De acordo com Santos (2002), é preciso levar em conta alguns problemas

quando empregamos este método de datação, como por exemplo: neste método é

necessário admitir que a concentração de 14C é constante no tempo e no espaço e

que o teor de 14C é o mesmo para qualquer ser vivo. Porém, de acordo com os

estudos baseados na dendrocronologia, não é possível admitir a constância da

concentração de 14C na atmosfera e nos seres vivos; não há precisão da

percentagem de 14C que foi absorvida, outrora, pelo organismo é a mesma que hoje

para as espécies conhecidas nos dias atuais; a amostra pode ter sido contaminada

com raízes ou ácido húmico.

Desta forma, quando se fala do conteúdo de 14C em uma amostra e o

expressam em anos, relata-se que é uma idade radiocarbônica, que pode estar mais

ou menos próxima da idade real, dependendo da situação, do peso de cada uma

das variáveis.

Na década de 90 foram desenvolvidas curvas de calibração aceitas

universalmente que se estenderam até cerca de 25.000 AP no calendário do

radiocarbono, correspondendo a uma idade no calendário solar de cerca de 28.000

Cal AP (Calibrados - Antes do Presente). O trabalho começou com a publicação dos

trabalhos de Bard et al. (1993a e 1993b) e de Edwards et al. (1993), os quais

recorreram à datação de corais através de métodos de séries de urânio. Atualmente,

a calibração prolonga-se até o limite máximo prático do método do radiocarbono, isto

é, até cerca dos 50 mil anos. A nova curva de calibração foi aceita mundialmente no

20º Congresso Internacional de Radiocarbono, que decorreu em 2009 no Havaí e

tem a designação de IntCal 09 (REIMER, et al.; 2009).

De acordo com Farias (2002), estudos baseados na dendrocronologia

permitem, hoje, que sejam estabelecidas as curvas de variação do 14C no passado e

que seja realizada uma calibração das datações radiocarbônicas para a obtenção de

datações de calendário até 11 mil anos AP.

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20

Outros problemas que são questionados na datação de amostras

arqueológicas é a contaminação, pois para datação pelo isótopo 14C, se faz

necessário supor que as amostras não foram contaminadas por este isótopo após

sua deposição, caso esta ocorra, a fim de minimizar este problema utiliza-se um pré-

tratamento químico, para que a atividade original do 14C no material datado possa

ser estimada e o resultado ser considerado fidedigno (BIRD et al., 2004).

No pré-tratamento deve-se ter o cuidado de conduzir as amostras em seus

devidos processos de eliminação de contaminantes utilizando o método aplicado

para cada tipo de material, além do cuidado que se deve ter ao inserir a amostra na

AMS, pois no equipamento estas podem sofrer também a contaminação,

principalmente quando introduzidas no processo de grafitização procedimento pelo

qual as amostras são convertidas em forma de grafite sólido (MACARIO, 2003).

Mais um enigma que está entre as principais causas de erro são: a coleta das

amostras que deve ser feita com algum cuidado para eliminar a possibilidade de

contaminação, a qual se pode dar em dois momentos diferentes: antes e durante a

coleta da amostra. No primeiro caso, há que contar com problemas resultantes dos

processos de formação geológica e do sítio, tais como a presença de água que

permita a dissolução de minerais ou a formação de concreções minerais que possa

alterar a composição isotópica da amostra, quer por aumento, quer por subtração

dos vários isótopos (BICHO, 2011).

Durante a coleta, a contaminação da amostra pode dar-se através de inclusão

de fragmentos mais recentes que estejam junto ao local onde a mesma foi obtida.

Pode ocasionar ainda a adição de carbono recente proveniente de óleo da epiderme

do coletor ou de tintas e papel das etiquetas (BICHO, 2011). O contado do

pesquisador também pode inserir objetos como restos de cigarro, cabelo, unhas

entre outros (RENFREW & BAHN, 1993).

Segundo Bicho (2011), o problema principal com as datações radiocarbônicas

advém do conhecimento, ou falta deste, do contexto de deposição da amostra. Por

isso, deve ser prestado um cuidado especial ao contexto geológico e à sua relação

com a localização da amostra no momento da sua coleta.

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21

II.4- Espectrometria de Massa por Aceleradores – AMS

Existem duas técnicas básicas que permitem aos cientistas datar amostras

arqueológicas utilizando o método radiocarbono: Uma técnica convencional de

datação por radiocarbono baseada na medição da proporção de partículas beta

irradiadas numa amostra. E outra, através do uso de um Acelerador de

Espectrometria de Massa que faz a contagem do número de atomos de 14C presente

em uma amostra (LINICK et al. 1989). Neste estudo será apresentada a técnica de

Espectrometria de Massa por Acelerador - AMS.

A técnica AMS (Accelerator Mass Spectrometry) foi desenvolvida no final da

década de 70, constituindo em uma terceira revolução na datação pelo

radiocarbono, a primeira foi à descoberta do método e a segunda foi à calibração

dos resultados (TAYLOR, 1997 apud BICHO, 2011).

Na datação convencional a técnica utilizada é a da contagem de decaimento,

isto é, a medição da concentração isotópica é feita através da contagem dos eventos

de decaimento num espectrômetro de cintilação, comparando depois o resultado da

contagem do 14C com o de um padrão testado analiticamente em condições

experimentais. Este processo faz-se com a contagem de partículas β, ou seja,

elétrons carregados negativamente e emitidos pelo núcleo do átomo de 14C quando

se dá à desintegração.

Na nova técnica, a AMS, ocorre em um modo diferente, a contagem não é a

das partículas, mas sim dos átomos existentes de cada um dos isótopos de carbono.

É possível efetuar esta contagem, uma vez que cada um dos isótopos tem uma

massa diferente. Os átomos de carbono são ionizados, isto é, transformado em íons,

o que lhes permite serem acelerados em vácuo, onde são influenciados por um

campo eletromagnético. Com este processo, e devido às características diferentes

na massa de cada isótopo, estes são separados através do grau de deflexão quando

da sua passagem pelo campo magnético (BICHO, 2011). Depois deste momento é

necessário fazer-se a contagem dos átomos de cada um dos isótopos para se

conhecer a sua concentração relativa.

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22

A AMS mostra vantagens em relação ao processo convencional: a contagem

direta dos isótopos presente na amostra; redução no tamanho da amostra; a química

de descontaminação é mais rigorosa, diminuição no tempo de contagem; aumento

do limite temporal do método (FERNÁNDEZ MARTÍNEZ, 2000). O tamanho reduzido

da amostra torna possível a datação de preciosas peças arqueológicas, uma vez

que em alguns casos não é necessário à destruição total de uma amostra.

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23

CAPÍTULO III - MATERIAIS E MÉTODOS

III.1- Introdução

Esta pesquisa consistiu no levantamento do referencial teórico, atividades

práticas de preparação de amostras para datação, realização de análises,

interpretação dos dados obtidos e confecção da dissertação. O material estudado

foram amostras bioarqueológicas das sepulturas depositadas em casulo de gesso

dos remanescentes humanos do sítio arqueológico Justino que se encontravam no

acervo do Museu de Arqueologia de Xingó (MAX) e no Laboratório de Arqueologia

do Campus de Laranjeiras e de amostras de carvão vegetal que se encontravam no

Museu de Arqueologia de Xingó-MAX. Para tanto, o trabalho foi dividido em três

etapas distintas, estabelecidas do seguinte modo: levantamento de dados

referenciais, seleção e preparação de amostras, e a interpretação e contextualização

dos resultados.

III.2- Levantamento do Referencial

O levantamento dos dados referenciais consistiu na realização de pesquisa

dos documentos, relatórios, fichas, bibliografias publicadas, fotos e croquis do sítio

em questão, localizados no acervo do MAX. Os documentos nortearam a pesquisa

na identificação dos procedimentos utilizados durante as escavações, na

identificação espacial das amostras e na contextualização do Sítio. Dentre os

principais autores que conduziram a análise podem-se destacar Vergne (2004-

2006), Carvalho (2006) e Fagundes (2007). O primeiro autor com trabalhos voltados,

no diagnóstico da ritualidade funerária do sítio, o segundo autor obteve informações

sobre os indivíduos através de análise bioantropológica, já o terceiro autor

apresentou as análises sedimentológicas e líticas.

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24

A obtenção de informação sobre datação aplicada à arqueologia foi realizada

em portais de periódicos da capes, Google Acadêmico® na biblioteca do Museu de

Arqueologia de Xingó, através de consultas a artigos publicados, relatórios técnicos,

dissertações e teses relacionados à pesquisa, proporcionando assim, uma maior

intimidade com a área de estudo. Dentre os trabalhos que merecem destaque nesta

pesquisa sobressai à tese de Macario (2003), na qual a autora faz um estudo sobre

a implantação de um laboratório de AMS no Brasil realizando estudo de caso com

aplicação da técnica em amostras arqueológicas e geológicas. Hoje o laboratório

encontra-se em funcionamento na Universidade Federal Fluminense, em Niterói, Rio

de Janeiro, desenvolvendo análise em ossos e dentes.

III.3- Seleção e Preparação de Amostras

As peças arqueológicas utilizadas neste trabalho foram dentes humanos,

ossos humanos e carvões vegetais. Estas amostras foram coletadas durante a

escavação realizada pelo Projeto de Salvamento Arqueológico de Xingó. A

intervenção arqueológica foi realizada entre os anos de 1991 a 1994, pela

arqueóloga Maria Cleonice de Souza Vergne. Este material foi disponibilizado para

este estudo pelo MAX.

No primeiro momento da pesquisa optou-se por amostras dentárias. Nessa

fase da pesquisa realizou-se a exumação de sepulturas para obtenção do material.

No momento da exumação para coleta das amostras dentárias, várias sepulturas

estavam sendo exumadas para outros estudos, tratando-se assim de um trabalho

coletivo, o que possibilitou de forma mais rápida a exumação de várias sepulturas e

a coleta das amostras.

O processo de exumação das sepulturas realizado nesta pesquisa consistiu

na decapagem utilizando-se pinceis suaves, espátulas e escovas apropriadas que

não deixam marcas nos ossos, não causam quebras ou de forma que não

comprometam a sua integridade, já que se trata de material pré-histórico bastante

frágil. Para exumação é necessário à utilização dos materiais, como luvas sem

amido, jaleco, máscara para manipulação do material, máquina fotográfica e escala.

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25

Participaram da exumação alunos do curso de graduação e pós-graduação de

Arqueologia os quais realizaram as etapas fotográficas para identificação do tipo de

sepultura (primária ou secundária) e da posição do esqueleto dentro das sepulturas

(decúbito lateral direito ou esquerdo, decúbito ventral e dorsal) e realizaram

desenhos dos esqueletos. Em seguida, foram removidos, catalogados e

acondicionados em sacos plásticos e/ou frascos.

Na etapa de seleção das amostras dentárias, após a exumação se utilizou

como base as que se encontravam em melhores condições, ou seja, os dentes com

todas as raízes e do tipo incisivo, molar e canino. Mais de um dente da mesma

sepultura foram adquiridos, já que para análise é necessário de 1 a 2 dentes de

acordo com os procedimentos do Laboratório Beta Analytic. O critério de escolha

utilizado foi à distribuição dos sepultamentos na área de estudo na ordem

estratigráfica e quantidade necessária de amostra dentária para a realização de

análises radiocarbônicas.

Após a seleção das amostras dentárias no Laboratório de Geoquímica e

Sedimentologia do Núcleo de Geologia da UFS, realizou-se a pesagem das

amostras, sendo que estas variaram de 278 a 2568 mg. Em seguida, foram

fotografadas, a fim de se ter o registro, uma vez que as mostras passaram pelo

método destrutivo. As amostras foram manuseadas apenas uma de cada vez e

receberam uma etiqueta com um número de identificação e da sepultura, evitando

assim confusão no envio das amostras e no recebimento dos resultados. As

amostras foram diretamente acondicionadas em sacos plásticos com fechos; estes

não contaminam as amostras e protegem durante o transporte e até mesmo durante

o armazenamento prolongado.

No cemitério B foram escolhidas mais de uma sepultura (Tab. 3), já que a

amostra 140 mostrou-se em um estado não bem preservado, que foi colocada como

prioridade porque estavam sendo realizados outros estudos que poderiam ser

complementados com os resultados obtidos neste trabalho.

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26

Na seleção das amostras ósseas buscou-se selecionar os ossos que estavam

parcialmente preservados e que possuísse menor ou nenhuma evidência de

consolidantes, uma vez que foi adotado o método da adição de cola do tipo paraloid

o que inviabiliza estudos do tipo datação e DNA. Para tanto, o mesmo contribui na

preservação da estrutura física do osso permitindo outros estudos dentre os quais

análise morfocraniana. As amostras que se encontravam em melhor estado de

preservação foram ossos do crânio.

Optou-se também por selecionar amostras de carvão vegetal (Tab. 4), caso

as ósseas não obtivesse material datável. Estas estavam acondicionadas no MAX e

catalogadas (Fig. 4) de acordo com a posição estratigráfica em que foram

encontradas durante as escavações. As amostras enviadas para o Laboratório Beta

Analytic foram fotografadas e manuseadas uma de cada vez, identificadas e

acondicionadas em sacos plásticos com fechos e os carvões em potes plásticos.

Figura 4- Amostra de carvão vegetal do Cemitério D da camada 48.

Fotos: Alquizia Dorcas.

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27

Tabela 3- Amostras de dentes humanos enviadas na tentativa de realizar datação AMS.

Tabela 4- Amostras de ossos humanos e de carvões vegetais enviadas na tentativa de realizar datação AMS.

Sítio Sepultura Camada Amostra Peso da Amostra

Just D 162 48

Dente 10 (molar/criança)

632 mg

Dente 09 (incisivo/criança)

492 mg

Just C 107 19

Dente 08 (molar/adulto)

2568 mg

Dente 07 (molar/adulto)

1866 mg

Just B

114 13

Dente 06 (incisivo/adulto)

1240 mg

Dente 05 (molar/adulto)

1613 mg

140

09

Dente 04 (incisivo/criança)

278 mg

Dente 03 (molar/criança)

571 mg

Just A 25 07

Dente 02 (molar/adulto)

1689 mg

Dente 01 (canino/adulto)

1167 mg

Sítio Amostra Sepultura Camada

Just. A

Ossos do crânio 24 06 Ossos do crânio 36 05

Carvão

----------- 07

Just. B

Ossos do crânio 69 10

Carvão

----------- 09

Just. C

Mandíbula 83 10

Ossos do crânio 149 20

Carvão

----------- 27

Just. D

Ossos do crânio 161 49

Carvão ------------- 48

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III.4- Descrição das Amostras

A detalhada coleta de dados topográficos, realizada quando da escavação do

Sítio Justino, permitiu resgatar com precisão o posicionamento espacial de todas as

estruturas que continham ossos humanos (sepultamentos, cremações,

concentrações de ossos) e também todos os dados necessários para montar os

perfis dos pisos de ocupação intercalados aos das estruturas funerárias.

III.4.1- Amostras de Dentes

Sítio Justino A (Sepultura 25)

As amostras de dentes selecionadas desta sepultura localizada na camada 07

foram um canino e um molar em sua integridade física aparentando ótimo estado de

conservação. A sepultura apresentou um grande número de dentes preservados

com raízes. Os dentes são provenientes de um indivíduo encontrado na posição

decúbito ventral com o crânio na posição leste e face sul e membros superiores e

inferiores flexionados (Vergne, 2004). Segundo Carvalho (2006) trata-se de um

sepultamento primário indivídual. Ainda segundo a autora os ossos apresentam-se

um estado de conservação regular, cujo indivíduo não possui sexo e estatura

definida e idade biológica entre 30 a 39 anos. Estes dados foram obtidos através do

fechamento das suturas cranianas e observações gerais sobre o esqueleto. Os

movimentos de certos ossos (crânio, as quatro ultimas cervicais, clavícula e

escápula direita) sugere movimento pós-déposicional após a decomposição dos

ossos, causado por inundação periódica e sedimentação do rio São Francisco na

área arqueológica (Figs. 5 e 10).

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Sítio Justino B (Sepultura 140)

Foram selecionados dois dentes sendo um molar e um incisivo. Apesar

destes apresentarem todas as raízes, estão bastante frágeis e quebradiços, pois se

tratam de dentes decíduos. Os dentes são menores, mais frágeis e com raízes

pequenas justamente porque serão substituídos. De acordo com Vergne (2004) esta

sepultura estava localizada na camada 09, trata-se de um sepultamento secundário

com indivíduo arrumado com a face voltada para cima. O crânio está orientado para

o sudeste e face nordeste. Com uma peça cerâmica recobrindo o esqueleto como

todo. Corresponde a um indivíduo com sexo indeterminado e com idade biológica de

05 anos (Figs. 6 e 10).

Figura 5- Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B) (escala: 20 cm), e amostras de dentes humanos canino/molar da sepultura 25 (C/D).

Fotos- A/B acervo do Museu de Arqueologia de Xingó-MAX. Fotos- C/D Alquizia Dorcas.

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Figura 6- Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B) (escala: 20 cm), e amostras de dentes humanos molar / incisivo da sepultura 140 (C/D).

Fotos- A/B acervo do Museu de Arqueologia de Xingó-MAX. Fotos- C/D Alquizia Dorcas.

Sítio Justino B (Sepultura 114)

A sepultura 114 está localizada na camada 13. Nesta, foram coletadas as

seguintes amostras dentárias um dente molar e um incisivo em ótimo estado de

conservação. Segundo Vergne (2004) essa sepultura corresponde a um

sepultamento primário em decúbito lateral direito com orientação do crânio para o

sudeste e a face nordeste, com os membros inferiores flexionados. De acordo com

Carvalho (2006) trata-se de um indivíduo do sexo feminino diagnose obtida a partir

da análise feita através do crânio, mandíbula e ílio. Apresenta idade entre 18 a 29

anos, resultado obtido através da análise das suturas, e sua estatura não foi

especificada. Alguns ossos sofreram a pressão da terra, e as cavidades também

apresentou perfurações provocadas por bioerosão e a presença de fungos. Bem

como, observou-se a fragilidade dos ossos com esfoliação, clareamento, fraturas

longitudinal e oblíqua (Figs. 7 e 10).

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Sítio Justino C (Sepultura 107)

Para a sepultura 107 localizada na camada 19 coletaram-se dois dentes

molares em ótimo estado de conservação. Segundo Vergne (2004) trata-se de um

sepultamento secundário de um indivíduo com orientação do crânio nordeste e face

sudeste. De acordo com Carvalho (2006) os ossos estão em uma conservação

regular. Trata-se de um indivíduo do sexo masculino com idade entre 50 a 59 anos e

com estatura de 164 cm. Os ossos apresentaram alterações pós-morte, muito

frágeis com esfoliação e branqueamento causado por descalcificação, fraturas

transversais, fissuras longitudinais e oblíquas. Alguns ossos têm sofrido pressão da

terra e as cavidades também apresentam perfurações causadas por bioerosão,

mineralização, assim como pontos negros (presença de ferro? ou manganês?) nos

ossos (Figs. 8 e 10).

Figura 7- Croqui da posição do esqueleto (A) (escala: 20 cm), e amostras de dentes humanos molar/incisivo da sepultura 114 (B/C).

Fotos- A acervo do Museu de Arqueologia de Xingó-MAX. Fotos- B/C Alquizia Dorcas.

B A 

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Figura 8- Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B) (escala: 20 cm), e amostras de dentes humanos molar/molar da sepultura 107 (C/D).

Fotos- A/B acervo do Museu de Arqueologia de Xingó-MAX. Fotos- C/D Alquizia Dorcas. Sítio Justino D (Sepultura 162)

Para a sepultura 162 localizada na camada 48 foram coletados dois dentes

um incisivo e um molar. Trata-se de uma dentição decidual com dentes pequenos e

frágeis. Para tanto, este cemitério é o que possui menor quantidade de sepulturas e

apresentam-se mais frágeis.

Segundo Vergne (2004) o indivíduo apresenta uma orientação do crânio para

nordeste e fase noroeste.

De acordo com Carvalho (2006) trata-se de um sepultamento primário, em

decúbito ventral, de um indivíduo do sexo e estatura não determinados com faixa

etária entre 6 e 9 anos diagonose feita através do desenvolvimento ósseo e erupção

dos dentes permanentes. Alguns ossos sofreram a pressão da terra e também

apresentam cavidades e buracos provocados por bioerosão, observa-se o

aparecimento de mineralização e o recente ataque de fungos. (Figs. 9 e 10).

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Figura 9- Esqueleto no casulo (A), croqui da posição do esqueleto (B) (escala: 20 cm), e amostras de dentes humanos incisivo/molar da sepultura 162 (C/D).

Fotos- A/B acervo do Museu de Arqueologia de Xingó-MAX. Fotos- C/D Alquizia Dorcas.

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Figura 10- Amostras de dentes humanos que foram examinadas a presença de colágeno: molar da sepultura 25 do cemitério Justino A (A), incisivo da sepultura 140 do cemitério Justino B (B), molar da sepultura 107-2 do Justino C (C), molar da sepultura 162 do Justino D (D).

Fotos: Beta Analytic

25

107-2

140

162

A

B

C

D

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III.4.2- Amostras Ósseas

Sítio Justino A (Sepultura 24)

Coletaram-se ossos do crânio (Fig. 11), estes apresentaram melhor estado de

conservação em relação ao restante do esqueleto. Trata-se de um sepultamento

secundário individual, localizado na camada 07. Segundo Vergne (2004) o indivíduo

estava com orientação do crânio sudeste e face sudoeste.

De acordo com Carvalho (2006) o indivíduo desta sepultura apresentou

ausência de alguns ossos. A posição dos ossos era confusa, e estavam

desconectados e mal conservados. Observam-se alterações pós-morte nos ossos a

exemplo de esfoliação, fraturas transversais, longitudinais, oblíquas e rachaduras.

Alguns ossos sofreram a pressão da terra. Apresentam também cavidades e

buracos provocados por bioerosão, incrustação e raízes. Trata-se de um indivíduo

do sexo masculino com uma faixa etária de 50 a 59 anos e uma estatura de 160 cm.

Figura 11- Amostras ósseas humanas do Justino A avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 24.

Foto: Alquizia Dorcas

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Sítio Justino A (Sepultura 36)

Foram coletados ossos do crânio (Fig. 12) estes apresentaram melhor estado

de conservação com boa espesura. De acordo com Vergne (2004) o indivíduo

apresenta uma orientação do crânio para o norte e face oeste.

Segundo Carvalho (2006) trata-se de um sepultamento primário localizado na

camada 06, o indivíduo encontra-se em posição ventral. Os membros superiores e

inferiores estavam flexionados. O esqueleto estava em conexão anatômica e mal

conservado. Observam-se alterações pós-morte nos ossos, tais como presença de

fraturas transversal e longitudinal, oblíqua, esfoliação e rachaduras. Alguns ossos

sofreram a pressão da terra e também apresentam cavidades e perfurações

causadas por bioerosão, bem como pela ação de raízes e o recente ataque de

fungos. Trata-se de um indivíduo do sexo masculino, com idade biologica

indeterminada (adulto) e estatura de 160 cm.

Figura 12- Amostras ósseas humanas do Justino A avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 36.

Foto: Alquizia Dorcas

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Sítio Justino B (Sepultura 69)

A amostra coletada para análise foi ossos do crânio (Fig. 13), igualmente

foram os ossos que apresentaram melhor estado de conservação. De acordo

com Vergne (2004) o indivíduo apresenta uma orientação do crânio para o norte

e face oeste.

Segundo Carvalho (2006) trata-se de um sepultamento secundário

indivídual, localizado na camada 10. O esqueleto encontra-se mal conservado,

com fragmentação. Também se observam alterações pós-morte ossos com

esfoliação, fraturas transversais, longitudinais, oblíquas e rachaduras. Alguns

ossos sofreram a pressão da terra e também apresentam cavidades e buracos

provocados por bioerosão e a ação provocada pelas raízes. Indivíduo do sexo

feminino, com faixa etária de 40 a 49 anos e estatura indeterminada.

Figura 13- Amostras ósseas humanas do Justino B avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 69.

Foto: Alquizia Dorcas

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Sítio Justino C (Sepultura 83)

A amostra coletada desta sepultura foi uma mandíbula (Fig. 14) com a

presença de dentes em bom estado de conservação. De acordo com Vergne

(2004) o indivíduo apresenta uma orientação do crânio para o oeste e face sul.

Segundo Carvalho (2006) trata-se de um sepultamento secundário

individual, localizado na camada 17, com alterações pós-morte nos ossos

apresentando esfoliação e branqueamento causado por descalcificação, fraturas

transversas, longitudinal, oblíqua e rachaduras. Alguns ossos sofreram a

pressão da terra e também apresentam cavidades e buracos provocados por

bioerosão e aparecimento de mineralização, pontos negros (ferro? Manganês?).

As extremidades dos ossos longos foram intencionalmente polidas (membros

superiores e inferiores) e as clavículas foram cortadas. Trata-se de indivíduo do

sexo masculino com faixa etária de 18 a 29 anos e estatura indeterminada.

Figura 14- Amostras ósseas humanas do Justino C avaliadas a presença de colágeno: mandíbula da sepultura 83

Foto: Alquizia Dorcas

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Sítio Justino C (Sepultura 149)

Nesta sepultura mais uma vez coletaram-se ossos do crânio (Fig.15) por

apresentarem melhor estado de conservação. De acordo com Vergne (2004) o

indivíduo apresentava uma orientação do crânio para o oeste e face norte.

Segundo Carvalho (2006) trata-se de um sepultamento primário individual,

localizado na camada 20. Os ossos estavam fragmentados e em forma dispersa e

desorganizada. Observaram-se alterações pós-morte nos ossos a exemplo da

presença de esfoliação, clareamento causado por descalcificação, fraturas

transversas, longitudinal, oblíqua e rachaduras. Alguns ossos sofreram a pressão da

terra e também apresentam cavidades e buracos provocados por bioerosão,

presença de raízes recentes e fungos. Trata-se de indivíduo do sexo feminino, com

faixa etária de 18 a 29 e estatura ideterminada.

Figura 15- Amostras ósseas humanas do Justino C avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 149.

Foto: Alquizia Dorcas

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Sítio Justino D (Sepultura 161)

As amostras coletadas para análise desta sepultura também foram ossos

do crânio (Fig.16). De acordo com Vergne (2004) o indivíduo apresentava

orientação do crânio para o oeste e face sul.

Segundo Carvalho (2006) trata-se de um sepultamento primário individual,

na posição decúbito lateral direito com os membros inferiores flexionados.

Sepultura localizada na camada 49. Observam-se alterações pós-morte nos

ossos a exemplo de esfoliação, clareamento, fraturas transversais, longitudinais,

oblíquas e rachaduras. Alguns ossos sofreram a pressão da terra e também

apresentam cavidades e buracos provocados por bioerosão, aparecimento de

mineralização e recente ataque de fungos. Trata-se de um indivíduo de sexo

feminino com idade biológica e estratura não identificadas (adulto).

Figura 16- Amostras ósseas humanas do Justino D avaliadas a presença de colágeno: ossos do crânio da sepultura 161.

Foto: Alquizia Dorcas

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III.4.3- Amostras de Carvões Vegetais

Os carvões vegetais coletados para a análise estavam já catalogados no

acervo do Museu de Arqueologia de Xingó. As amostras de carvões coletadas

durante as escavações foram recuperados de estruturas de fogueiras e/ ou manchas

escuras que indicavam antigas estruturas de combustão com a presença de

pequenos fragmentos de carvões vegetais. Os carvões retirados do acervo para

estudo também respeitou o critério de escolha uma amostras para cada cemitério

(Figs. 17/18/19/20).

As amostras escolhidas foram as que representaram maior tamanho. No

acervo observou-se que havia presença de amostras muito pequenas e uma grande

quantidade de fuligem principalmente nas camadas mais profundas, ou seja, do

cemitério D.

Figura 17- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino A datada (A/B/C/D).

Fotos: (A) Alquizia Dorcas/ (B/C/D) Beta Analytic

A B

C D

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42

Figura 18- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino B datada (A/B/C/D).

Fotos: (A) Alquizia Dorcas/ (B/C/D) Beta Analytic

Figura 19- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino C datada (A/B/C/D).

Fotos: (A) Alquizia Dorcas/ (B/C/D) Beta Analytic

A B

C D

A

D C

B

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43

Figura 20- A amostra de carvão vegetal do cemitério Justino D datada (A/B/C/D).

Fotos: (A) Alquizia Dorcas/ (B/C/D) Beta Analytic III.5- Metodologia do Beta Analytic

Para obtenção da datação radiocarbônica através da técnica AMS, o

laboratório Beta Analytic realiza quatro etapas distintas: o pré-tratamento, o preparo

para análise, a análise e a aquisição dos resultados (Fig. 21).

Figura 21- Etapas da análise das amostras no laboratório Beta Analytic.

A

D C

B

Medida no

Acelerador

Preparação

das Amostras

Tratamentos

de dados

Cálculo da idade

convencional

Calibração das idades

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44

III.5.1- Pré – tratamento

O pré-tratamento das amostras tem como objetivo remover contaminantes

que possam alterar os resultados das datações. Os contaminantes podem vir de

outros materiais que, em algum momento do processo de preparação (coleta,

manuseio, estocagem etc.) tenham aderido à amostra, ou podem ser parte da

própria amostra, uma fração cuja composição propicie a troca de carbono com o

meio ambiente ou que, por algum motivo, não representa a idade que se deseja

medir.

Os procedimentos devem ser distintos para cada tipo de material a ser

datado, sejam amostras orgânicas ou inorgânicas. Em cada caso é preciso isolar a

parte da amostra que contém o carbono original e cuja datação seja considerada

confiável.

As amostras dentárias e ósseas deste estudo passaram por um pré-

tratamento que consiste primeiramente na avaliação da quantidade do colágeno

preservado realizando um processo de desmineralização da amostra em ácido

frio/diluído, eliminando toda apatita e carbonato. Nesse estágio, o laboratório faz

uma boa observação visual da qualidade do colágeno. Se a qualidade do colágeno

for adequada, é dado procedimento ao pré-tratamento.

Desta forma, se o colágeno estiver em boas condições seguem os

processos.

O primeiro passo é o banho ácido seguido pelo banho com hidróxido de sódio

(NaOH) para remover ácidos húmicos e contaminantes orgânicos exógenos. Esta

etapa costuma ser altamente destrutiva do colágeno, mas fornece uma amostra

limpa para a análise radiocarbônica. Após um banho ácido final, o colágeno é seco

e, em seguida, submetido à análise da razão 13C/12C. Se o resultado for razoável, a

análise por 14C é realizada, sendo satisfatório o resultado segue a análise AMS.

O pré-tratamento realizado nas amostras de carvão vegetal foi o

Ácido/alcalino/ácido. Que consiste primeiramente em esmagar a amostra e dispersa-

la em água deionizada. Depois as amostras é lavada com ácido HCI quente para

eliminar carbonatos, seguido por lavagem alcalina (NaOH) para remover ácidos

orgânicos secundários. A lavagem alcalina é seguida por um enxugamento final de

ácido para neutralizar a solução antes da secagem.

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45

III.5.2- Preparação da Análise

Após o pré-tratamento, as amostras são preparadas para análise no

espectrômetro de massa. A datação por carbono AMS começa com a redução do

carbono da amostra a grafite (100% C). Isto é feito através da conversão das

amostras em dióxido de carbono através da combustão, e em seguida, a monóxido

de carbono na presença de zinco. Através de uma reação catalítica com o ferro, o

monóxido de carbono é ainda mais reduzido em grafite. É feita a queima das

amostras para convertê-las em grafite, no entanto, também introduz outros

elementos na amostra, como nitrogênio 14.

Quando as amostras são finalmente convertidas em poucos miligramas de

grafite, elas são pressionadas contra um disco de metal juntamente com materiais

de referência. Estes discos de metal são, então, montados em uma roda-alvo para

que possam ser analisados em sequência e levados ao espectro.

III.5.3- Análise

Na análise de massa, um campo magnético é aplicado a essas partículas

carregadas em movimento, que faz com que as partículas se desviem do caminho

que estão viajando. Se as partículas carregadas têm a mesma velocidade, mas

massas diferentes, como no caso dos isótopos de carbono, as partículas mais

pesadas são desviadas menos. Detectores em diferentes ângulos de deflexão então

contam as partículas.

III.5.4- Resultados

No final de uma sequencia de análise por AMS, os dados recolhidos não são

somente o número de átomos de carbono 14 da amostra, mas também a quantidade

de 12C e 13C. A partir destes dados, índices de concentração dos isótopos podem ser

conhecidos para permitir a avaliação do nível de fracionamento.

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46

Após a correção do fracionamento isotópico é feito a calibração das amostras.

A calibração é aplicada para converterem os resultados AP há anos civil. Os

parâmetros utilizados para as correções são obtidos através de análises precisas de

centenas de amostras colhidas de anéis de idades conhecidas de carvalho, sequóia

e abeto até cerca de 10.000 AP. Já as amostras mais antigas, de até 20.000 AP,

bem como para todas as amostras marinhas, tem sido inferidas a partir de outras

provas.

As datações são calibradas em um novo banco de dados INTCAL09 mais

preciso em relação ao INTCAL03 utilizado até 2009. O programa de calibração do

Beta Analytic leva em conta os erros de cada medição de anéis de árvores na curva

de calibração e, em seguida, emprega um procedimento matemático aos dados

conhecido como "spline fit", de acordo com Talma & Vogel (1993).

III.6- Análise do pH dos Sedimentos

Os sedimentos coletados de três sepulturas das quais foram retiradas as

amostras de dentes foram analisados quanto ao valor de pH (Fig. 22). A análise foi

realizada no laboratório de Remediação do Solo do Departamento de Engenharia

Agronomia da UFS. Os procedimentos utilizados constituíram em colocar 10 ml de

sedimento em copo plástico de 50 mL numerados de acordo com o número da

amostra. Adicionou-se 25 mL de água deionizada, agitando com bastão de vidro,

tendo o cuidado de lavá-lo ao passar de uma amostra para outra para não

contaminá-la.

Figura 22- Análise do pH dos sedimentos.

Fotos: Alquizia Dorcas

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47

Depois de terminada a adição da água e respectiva agitação deixaram-se as

amostras em repouso por uma hora. Aferiu-se o potenciômetro ao pH= 7,0 e pH=

4,0. Agitaram-se as amostras usando bastão de vidro e mergulhou o eletrodo em

cada suspensão homogeneizada e procedeu a leitura. Ao passar de uma amostra

para outra foi preciso lavar o eletrodo com água deionizada e enxugá-lo

cuidadosamente (Tab. 5).

Tabela 5- Valores da análise do pH dos sedimentos .

Amostra Valor do pH

Amostra I 7,03

Amostra II 7,66

Amostra III 8,33

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48

CAPÍTULO IV - RESULTADOS E DISCUSSÕES

IV.1- Amostras de Dentes e Ósseas Humanas

As amostras de dentes humanos enviadas para análise isotópica não

conseguiram produzir qualquer colágeno separável, não podendo ser datadas.

Mesmo, as amostras dentárias em sua estrutura física completa e algumas fixas

ainda na mandíbula e/ou maxila não apresentou material datável. Não obtendo êxito

nas amostras de dentes, tentou-se mais uma vez alcançar uma datação direta dos

indivíduos através de peças ósseas.

A conservação do material ósseo analisado foi média a ruim. Os ossos

estavam quebradiços e os longos estavam incompletos, com uma ou ambas as

epífises deterioradas. Além disso, as diáfises estavam raramente íntegras, o que

ocasionou o acúmulo de sedimentos em muitos ossos, principalmente os longos e

densos que são adequados para análise AMS. Os mesmos têm uma maior massa

de colágeno por grama de osso em relação às outras partes do corpo, além de

muitos estarem contaminados com a presença de consolidantes como a cola

paraloid. Muitos crânios estavam com estrutura fina e preenchidos com sedimentos.

Pelo estado dos ossos, verificou-se que eles estavam em processo avançado de

intemperização, sendo escolhidos os que estavam mais preservados.

Após o pré-tratamento do material ósseo verificou que as amostras também

não possuíam mais colágeno. Existem diversos fatores que podem ter ocasionado a

ausência de colágeno nas amostras enviadas para análise. A deterioração da

estrutura física e da composição química dos dentes e ossos arqueológicos começa

mediante a morte do indivíduo.

Para esclarecer os processos diagenéticos que atuaram na acumulação e

preservação dos vestígios em um sítio arqueológico, os arqueólogos recorrem a

tafonomia. Termo proposto por Efremov em 1940 é literalmente “as leis que levam à

morte” (MARTINS-NETO & GALLEGO, 2006).

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49

A tafonomia é uma ciência com aplicações na área de ciências naturais e

humanas. Sua definição quase sempre se relaciona com as problemáticas de

pesquisa de cada pesquisador. Na arqueologia, ela é utilizada em contextos

funerários e zooarqueológicos, e também para produção de dados fundamentais

para interpretação dos processos de ocupação dos sítios arqueológicos.

Existe uma diversidade de processos diagenéticos que podem atuar nos

vestígios arqueológicos. Dentre eles podem-se destacar alguns processos que

podem ter ocasionado a falta de colágeno nas amostras, dentre os apontados pelo

Laboratório Beta Analytic, a ausência pode ser indicativo de características

ambientais que não permitiram a conservação do colágeno, mas não estão limitados

a isso: o branqueamento pelo sol, a lixiviação pela água, o aquecimento parcial, as

atividades microbianas, ou substituído por outros componentes minerais, tipicamente

por SiO2 ou CaCO3 ou degradação natural devido à idade extrema, típico de ossos

que excede 20.000 anos. Estes mostram o conteúdo de colágeno esgotado, a

menos se preservados em condições ideais de sepultamento.

No entanto, os ossos e dentes aqui estudados não se tratam de amostras

que exceda 20.000 mil anos, assim como as mesmas encontravam-se enterradas,

descartando desta forma o fator branqueamento pelo sol. Desta forma, a ausência

do colágeno tem forte indício de ter sido ocasionado pela lixiviação, uma vez que o

terraço que se encontrava o Justino sofria inundações, conforme comprovado

durante as escavações.

Ainda pode-se considerar as atividades microbianas como agentes

destruidores, já que os ossos apresentaram um estado de conservação bastante

avançado com deterioração de parte deles ocasionada pelo intemperismo, o que

abre as portas para que as mesmas ajam mais rápido na decomposição. No entanto,

os dentes por estarem em sua integridade física é menos provável este fator ter

ocorrido, mas não descarta a sua possibilidade. O ambiente que contribui na

preservação do colágeno ósseo são sítios alagados que mostram pouco ataque de

micróbios (BOCHERENS et al. 1997)

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50

As influências do dano químico ou de micróbios ao colágeno são relevantes

quando a deterioração química abre as portas para os microorganismos, expondo a

proteína à degradação da matéria orgânica. E esta também é influenciada pela

temperatura e outros fatores edáficos, como a viabilidade de água e oxigênio

controlados por dois processos chave: despolimerização do colágeno e a dissolução

de fragmentos polipeptídicos (COLLINS et al., 1995; 2002).

Nielsen-Marsh et al. (2000) advogam que o colágeno não pode ser atacado

por enzimas de microorganismos (bactérias e fungos) até a matriz inorgânica ter

sido removida permitindo-lhes o acesso.

Trueman & Martill (2002) continuam enfatizando que o agente inicial da

degradação do osso é o ataque de micróbios, desmineralizando-o e produzindo um

dos principais tipos de destruição histológica, túneis. A “proteção mútua” alusiva à

etapa inicial existe entre os cristais de apatita e a matriz de colágeno.

A bioerosão é uma inibição química dos micróbios. No caso dos fósseis

ósseos bioerodidos, uma mudança nas condições químicas pode ter ocorrido

durante a etapa primitiva da história de enterro do osso. Parece que se um osso está

a caminho da sobrevivência como um registro fóssil, então a degradação inicial dos

micróbios ao colágeno pode ser evitada. As condições para entravar a etapa inicial

de metabolismo do colágeno não são conhecidas, mas como os ossos são

encontrados em quase todos os ambientes de deposição, a bioerosão não parece

ser controlada por um simples e único fator (TRUEMAN & MARTILL, 2002).

Ainda, dentro dos fatores colocados pode-se dar uma atenção na questão da

substituição por outros componentes minerais, uma vez que a análise do pH do

sedimento resultou em um valor que se enquadra em solo alcalino.

A principal causa para a alcalinidade do solo é a presença de carbonato de

sódio em percentagem elevada. Outros minerais que podem ser detectados em

quantidades elevadas de solo alcalino são cálcio, magnésio e outros.

Geralmente, áreas que recebem baixas quantidades de precipitação anuais

tendem a ter solo alcalino. Isto é porque os sais minerais que contribuem para a

alcalinidade tendem a se reter no solo, na ausência de água. É o caso da região de

Xingó, cujo clima semiárido, já era presente nesta região a partir do final do

Pleistoceno (AB’ SABER, 1997).

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51

A região de Xingó foi e continua sendo um local de baixa precipitação de

chuvas. As populações pretéritas que ali residiu estavam expostas a um ambiente

bastante seco até mesmo em relação ao clima atual. Desta forma, por se tratar de

um lugar seco, cujo solo é de característica alcalino, pode-se considerar que a falta

de colágeno nas amostras está relacionada à substituição mineral.

Segundo Leite et al. (2012), amostras de sedimentos analisadas do sítio

Justino retiradas das sepulturas dos cemitérios B, C e D apresentaram composição

dominantemente quartzosa. Além disso, são constituídos por outros tipos de

minerais, dentre os quais se destacam feldspato e mica, e grãos líticos,

principalmente granitoides. Além destes, observou-se grãos de rochas metamórficas

(xistos, filito e ardósia) e também rochas carbonáticas. Os argilominerais presentes

são ilita e caulinita. Estes foram dados preliminares da mineralogia do substrato

sedimentar do sítio Justino. Baseado nesses dados pode-se considerar a

substituição por minerais, uma vez que a composição é predominantemente

constituída por quartzo, mineral rico em sílica.

IV.2- Amostras de Carvões Vegetais

Os resultados obtidos pela cronologia das amostras de carvão foram: 2.510 ±

30 para o Cemitério A, 4.390 ± 30 para o Cemitério B, 7.530 ± 30 para o Cemitério C

e 12.220 ± 50 para o Cemitério D. Evidenciando quatro ciclos distintos da ocupação

humana na região de Xingó.

Estres resultados alcançados analisando as amostras de carvão vegetal são

confiáveis, uma vez que este material mostrara-se bom para os procedimentos da

contagem isotópica. Ademais, todas as amostras foram pré-tratadas e não

apresentaram problemas.

Levando em consideração a classificação realizada por Fagundes (2007), o

qual observou os cemitérios identificados por Vergne (2004) em fase e/ ou fases e

dentro destas fases consegui diferenciar as ocupações e reocupações dos sítios,

baseando na sua classificação juntamente com a de Vergne (2004) foram discutidos

os resultados.

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52

Comparando-se as datações realizadas por Vergne (2004) com as obtidas

neste trabalho observa-se uma diferença entre estes valores. No Cemitério A, o

resultado obtido para amostra Beta 347586 pertencente à decapagem 07 da

primeira fase obteve uma idade radiocarbônica de 2.510 ± 30 AP. (Fig. 23). A

distinção entre a datação já obtida foi de 730 anos para mais. Este cemitério foi

dividido em duas fases por Fagundes (2007): a primeira datada em 1.780 ± 60 AP

(decapagem 06) e a segunda em 1.280 ± 45 AP (decapagem 03).

Isso implica que a ocupação das populações que habitaram o Baixo São

Francisco para o Cemitério A retrocede em quase um milênio.

Figura 23- Curva de calibração da amostra Beta-347586 mostrando a cronologia convencional com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ.

Ida

de

Ra

dio

ca

rbô

nic

a (

AP

)

2510 ± 30 AP Cemitério A (Beta-347586)

Cal AP

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53

Para o Cemitério B, a idade radiocarbônica obtida foi realizada na amostra

Beta-347589 pertencente à decapagem 09, consistindo em uma datação de 4.390 ±

30 AP. (Fig. 24). Para essa fase Fagundes (2007) identificou apenas uma ocupação.

Três datações foram evidenciadas anteriormente para essa fase, a saber, 3.270 ±

135 (decapagem 13), 2.650 ± 150 AP (decapagem 10) e 2.530 ± 60 AP (decapagem

08). A diferença cronologia variou em 1.120 anos para mais. A datação

radiocarbônica alcançada para este cemitério retrocedeu a ocupação em mais de

um milênio

Figura 24- Curva de calibração da amostra Beta-347589 mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ.  

 

Cal AP

Ida

de

Ra

dio

ca

rbô

nic

a (

AP

)

Cemitério B (Beta-347589) 4390 ± 30 AP

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54

O Cemitério C está dividido em três ocupações: a primeira com uma datação

de 5.570 ± 70 AP (decapagem 30), a segunda sem datação e a terceira com uma

cronologia de 4.790 ± 80 AP (decapagem 20).

A datação aqui obtida foi na amostra Beta 347593 pertencente à decapagem

27 da segunda ocupação. A amostra apresentou uma cronologia de 7.530 ± 30 AP

(Fig. 25). Igualmente ao cemitério B a datação radiocarbônica alcançada para este

cemitério recuou a ocupação em mais de um milênio. A diferença cronológica entre

a datação de Vergne (2004) e a obtida nesta pesquisa foi de 1.960 anos para mais.

Figura 25- Curva de calibração da amostra (Beta-347593) mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ.  

 

Cal AP

Ida

de

Ra

dio

ca

rbô

nic

a (

AP

)

Cemitério C (Beta-347593) 7530 ± 30 AP

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55

O resultado alcançado para o Cemitério D na amostra Beta - 347596

pertencente à decapagem 48 obteve uma cronologia de 12.220 ± 50 AP. (Fig. 26).

Este cemitério foi dividido por Fagundes (2007) em duas fases. A fase datada por

Vergne (2004) foi posterior, ou seja, mais recente. A diferença cronológica foi de

3.270 anos para mais, uma vez que a datação obtida por Vergne (2004) para este

cemitério foi de 8.950 ± 70 AP referente a segunda fase.

Figura 26- Curva de calibração da amostra Beta- 347596 mostrando a cronologia com sua incerteza estatística, a curva de calibração obtida pelo conjunto de dados empíricos e o respectivo intervalo de calibração obtida para o intervalo 2σ.

Cal AP

Cemitério D (Beta- 347596)

Ida

de

Ra

dio

ca

rbô

nic

a (

AP

)

12220 ± 50 AP

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56

Desta Forma, houve uma diferença/variação de quase dois milênios de anos

para Fase 3 ou Cemitério C, sendo que a cronologia alcançada neste trabalho foi

para segunda ocupação que resultou em uma cronologia maior que a obtida

anteriormente para primeira ocupação. No entanto, a maior diferença/variação

cronológica foi observada no Cemitério D (Tab. 6). Para tanto, Fagundes (2007), em

sua tese, relata que a ocupação do Cemitério D poderia ser recuada em alguns

milênios na primeira fase de ocupação.

Lembrando que a datação de 8.950 anos AP desrespeita a decapagem 40,

porém há remanescentes culturais, inclusive estrutura de combustão até a

decapagem 56. Além das fogueiras estruturadas foram evidenciadas 355 manchas

escuras, muitas das quais com pequenos fragmentos de carvão associados (além

de restos faunísticos e cultura material, indicando que eram antigas estruturas de

combustão). Na decapagem 48 foram evidenciadas quatro pequenas manchas com

dimensões inferiores a 0,20 m2, três escuras e uma avermelhada, com materiais

líticos (instrumentos) associados. Perante as dimensões pode-se inferir que seriam

pequenas estruturas de combustão para fins bem específicos (FAGUNDES, 2007).

Na decapagem 48 foram evidenciados dois sepultamentos (sepulturas 160 e

162) (CARVALHO, 2007).

As publicações de Vergne (2004) não esclarecem qual técnica foi utilizada,

mencionam apenas o método que foi o radiocarbono. Deve-se levar em

consideração que a técnica utilizada pela autora foi a convencional baseada na

atividade de radiação emitida pela amostra e não considera a contagem direta dos

isótopos, esta técnica não apresenta condições que permitam obter uma precisão

em amostras menores que 20 g, motivo pelo qual se pode considerar a carência de

datação para Fase 1.

A decapagem 40 é a única datada para as ocupações de caçadores

coletores, entretanto os remanescentes culturais indicam que as ocupações

humanas ocorreram até a decapagem 56. Para esse cemitério observa-se um recuo

da ocupação em alguns milênios.

Para tanto, com os avanços da tecnologia, as amostras com cerca de 5 mg de

carvão vegetal são essenciais para obter uma boa datação utilizando a técnica AMS.

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Tabela 6- Comparação das datações radiocarbônicas obtidas por Vergne (2004) com as alcançadas nesta pesquisa.

Fase Número de

ocupação

Decapagem Cronologia Vergne, 2004

(Laboratório)

Cronologia-AMS-Idade

Convencional (Laboratório)

Datação Calibrada (AMS)

(2 sigma)

Ce

m

D

Fase 01 01 59-51 Sem datação

02 50-43 Sem datação 12220 ± 50 AP (Beta 347596) (decapagem 48)

Cal AC 12210 para 12020 Cal AP 14160 para 13970

Fase 02 01 42-35 8950 ± 70 AP (Beta 86745) (decapagem 40)

Ce

m

C

Fase 03

01

34-29 5570 ± 70 AP (Beta 86744)

(decapagem 30)

02 28-22 Sem datação 7530 ± 30 AP (Beta 347593)

(decapagem 27)

Cal AC 6440 para 6380

Cal AP 8390 para 8330 03 21-16 4790 ± 80 AP (Beta 86741)

(decapagem 20)

Ce

m

B

Fase 04

01

15-09

3270 ± 135 AP (Lyon 5752)

(decapagem 13)

4390 ± 30 AP (Beta 347589)

(decapagem 09)

Cal AC 3090 para 2910

Cal AP 5040 para 4860

2650 ± 150 AP (Bahia 1804)

(decapagem 10)

2530 ± 60 AP (Bahia 1804)

(decapagem 08)

Ce

m

A

Fase 05

01

08-04

1780 ± 60 AP (Lyon 5751)

(decapagem 06)

2510 ± 30 AP (Beta 347586)

(decapagem 07)

Cal AC 790 para 700 Cal AP 2740 para 2650 e

Cal AC 700 para 540

Cal AP 2650 para 2490 e Cal AC 530 para 520

Cal AP 2480 para 2470

02 03-01 1280 ± 45AP(Lyon 5750) (decapagem 03)

57

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58

Os resultados alcançados nesta pesquisa para as datações radiocarbônicas

nos cemitérios do Sítio Justino foram todos obtidos em um único laboratório (Beta

Analytic), no qual, as amostras passaram pelo mesmo tratamento

ácido/alcalino/ácido.

A justificativa para diferença de quase dois mil anos para o Cemitério C

desrespeita a utilização de um novo banco de dados para calibração da cronologia o

INTCAL 09, utilizado a partir do ano de 2009 e de uma nova técnica AMS. A técnica

utilizada neste trabalho mostra uma melhor eficiência no diagnóstico das datações,

pois a detecção em acelerador de partículas é bastante alta no fracionamento dos

isótopos, visto que é possível chegar a sigmas extremamente baixos, simplesmente

medindo uma quantidade maior de padrões de referência e/ou contando a amostra

desconhecida por períodos maiores de tempo. Apesar da possibilidade disso gerar

um sigma numérico muito pequeno, o valor é estritamente limitado aos “erros

determinantes” associados à contagem do padrão moderno de 14C.

As análises realizadas pelo laboratório Beta Analytic não relataram desvios

padrão menores de 30 anos AP para mais ou para menos, uma vez que, no caso

das medições individuais, isto pode levar a uma interpretação incorreta dos

resultados. Os desvios padrão menores de 30 anos AP (para mais ou para menos)

só são relatados quando o laboratório executa o fracionamento de uma amostra

única, duas ou três vezes em porções que tenham sido pré-tratadas, grafitizadas e

contadas pela técnica AMS, independentemente uma da outra.

Isto garante que, tanto quanto possível, quaisquer erros de amostragem,

laboratoriais ou de contagem sejam levados em conta nos resultados e no sigma

informado. Uma vez que duas ou três medições tenham sido feitas, o laboratório faz

um cálculo de erro e de idade média ponderada e informa estes valores.

Deve-se considerar ainda que os sigmas relatados em datações de

radiocarbono não podem levar os “erros indeterminados” em conta, tais como a

homogeneidade da amostra, química e, em menor medida, a estabilidade do

detector. Apesar das máquinas de AMS serem confiáveis, não é possível fazer

medições simultâneas do padrão moderno de 14C, de amostras. Por esse motivo,

pequenas variações (para mais ou para menos) na eficiência da análise por AMS

afetam a exatidão dos resultados, que às vezes ficam fora dos menores valores

possíveis de sigma incluídos no relatório.

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CAPÍTULO V - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

As novas datações radiocarbônicas realizadas para o Sítio Justino mostram

que a cultura Canindé é bem mais antiga do que até então se tinha conhecimento.

Foi possível identificar quatro ocupações para o Sítio Justino. Os resultados

obtidos mostraram uma ocupação mais antiga para região de Xingó, retrocedendo a

chegada dessas populações para o período Quaternário época Pleistoceno com

uma datação radiocarbônica de 12.220 ± 50 AP.

A cronologia de 12220 ± 50 AP leva a vários questionamentos, sobre o ciclo

de ocupações, tanto para o povoamento do Nordeste como para a ocupação da

América. Dentre outros questionamentos que o recuo da cronologia de Xingó

provoca seria em respeito à coexistência do homem com a Megafauna, já que no

estado existem fortes indícios dessa relação.

A realização de várias datações para um sítio consiste em validar ou mesmo

descartar as hipóteses propostas. É importante deixar claro que uma única datação

não é considerada definitiva ou irrevogável, sob pena de incorrer-se em erro

involuntário. Antes, deve-se ter cautela com um único método de datação e as

consequências de cada resultado obtido.

Portanto, os presentes resultados nos faz considerar a alteração cronológica

tradicionalmente aceita para a cultura Canindé em pelo menos três mil anos a mais.

Os resultados confirmam a forte dependência da população na fixação de um local

propício para sobrevivência com um rio perene o São Francisco.

No entanto, as datações AMS obtidas aqui neste trabalho contribuem para

uma reavaliação a cerca das permanências de vida dessas populações que

habitaram a região do Baixo São Francisco.

A contribuição deste trabalho busca o sentido de reafirmar os cuidados que os

arqueólogos devem ter ao se depararem com a impossibilidade de uma amostra

apresentar condições de datação.

As consequências ambientais na conservação, os resultados obtidos, as

técnicas utilizadas, e um único resultado como válido para a determinação das

ocupações pré-históricas são variáveis que devem ser consideradas e algumas

vezes necessitam de reavaliação para uma melhor leitura cronológica em uma

determinada região.

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Recomenda-se para futuros trabalhos que sejam realizadas análises dos

ossos e dentes, em lâminas petrográficas, verificando se tais amostras sofreram o

processo de substituição mineral, para se discutir novamente a alteração provocada

pela falta de colágeno, bem como, a realização de datações diretas dos indivíduos

através da apatita em amostras dentárias.

Com o avanço dos métodos pode-se obter uma datação confiável, utilizando

a apatita como material datável, além do pré-tratamento das amostras descartando

os contaminantes serem mais rigorosos. Este método está sendo bem difundido

entre os pesquisadores, uma vez que dificilmente podem-se encontrar amostras

arqueológicas que ainda contenham colágeno em sua constituição. Sugere-se ainda

a realização de uma nova datação para primeira ocupação do cemitério C através da

técnica de AMS.

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