Disciplina: Políticas Públicas e Desenvolvimento Rural

Prof. Dr. Antonio Nivaldo Hespanhol Prof. Dr. Carlos de Castro Neves Neto

2017

Câmpus de Presidente Prudente

Aula 2. Três Gerações de políticas públicas para a agricultura familiar

• 1°. (1994 -) A construção de um referencial agrícola e agrário. Exemplos: Pronaf, SEAF, PGPAE, ATER;

• 2° (1997 -) A construção de um referencial social e assistencial. Exemplos: Pronaf Infraestrutura e Serviços Municipais, Bolsa Família, PNHR.

• 3° (2003 -) A construção de um referencial pautado pela implementação de mercados para a segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental.

Novas relações entre o Estado e a sociedade civil

• A Constituição de 1988 incentivou a participação da sociedade civil na elaboração, implementação e fiscalização das políticas públicas;

• Novos atores emergiram e passam a ser reconhecidos;

• Agricultura familiar passa a ser reconhecida pelo o Estado na década de 1990, com o lançamento do Pronaf, em 1996 e a criação do MDA, em 1999 e da Secretaria da Agricultura Familiar, em 2001.

• As três gerações de políticas para a agricultura familiar apontadas não encerraram seu ciclo, continuam em funcionamento e seguidamente sofrem ajustes e/ou alterações em sua formulação ou escopo.

Antecedentes históricos da elaboração do Pronaf

• 1950: Estratégia nacional-desenvolvimentista do Estado brasileiro: industrialização por substituição de importação.

• “Tripé econômico”: capitais privados externos, internos e do Estado se uniram para industrializar o país.

• 1960 - Crise: dificuldade de abastecimento alimentar no Brasil, inflação, crítica ao padrão dependente e excludente da industrialização brasileira.

Duas opções de mudanças no país

Reformas de Base

(reivindicada por Caio Prado, Celso Furtado, João Goulart, Ligas Camponesas, Contag etc.)

X

Modernização tecnológica da Agricultura

(liderada por economistas – Delfim Neto e pelos governos militares)

• O setor que defendia a modernização da agricultura conseguiu se impor por mais de 20 anos no país. Foram instituídas criadas um conjunto de políticas públicas, como o crédito rural, garantia de preços mínimos, seguro agrícola, pesquisa agropecuária (Embrapa), assistência técnica, incentivos fiscais à exportação, expansão da fronteira agrícola, subsídios à aquisição de insumos químicos.

“Política agrícola ativa” • Triplamente seletiva:

• Público alvo:médios e grandes produtores rurais;

• Regiões priorizadas: Sul e Sudeste;

• Produtos “escolhidos”: destinados à exportação e matérias-primas para as agroindústrias (café, soja, cana-de-açúcar, laranja, algodão).

• A agricultura familiar, durante os governos militares, ficaram de fora da preocupação do Estado.

Mobilizações sociais

• Grito da Terra Brasil em 1994;

• Acirramento dos conflitos fundiários;

• Atuação do MST e outros movimentos sociais;

• “Massacre de Cumbiara”, Rondônia, em 1995, 10 pessoas morreram;

• “Massacre de Eldorado de Eldorado do Carajás, Pará, 17 agricultores foram mortos.

• O Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária (MAARA) elabora um documento “Proposta e recomendações de política agrícola diferenciada para o pequeno produtor rural”

• Esse documento reivindicava a criação de uma política de crédito rural subsidiado para a agricultura familiar, entre outras reivindicações.

Primeira geração de políticas para a agricultura familiar: A construção de um referencial agrícola

e agrário na elaboração de políticas públicas para a agricultura familiar .

• Criação do Pronaf e o aumento da política de assentamentos de reforma agrária surgem devido às pressões dos mobilizações sociais.

• O Pronaf apresenta um referencial setorial basicamente agrícola (seguro de produção e de preço) e agrário (política de assentamento da reforma agrária).

• Reconhecimento por parte do Estado da importância da agricultura familiar na produção de alimentos.

• Criação do Ministério de Desenvolvimento Agrário, em 1999, que passa a ser responsável pela elaboração de política públicas para a agricultura familiar.

• O Pronaf ainda é a principal política pública agrícola para a agricultura familiar (em número de beneficiários, capilaridade nacional e recursos aplicados).

• Montante crescente de recursos.

Agricultores beneficiados pelo Pronaf

• O programa tem beneficiado principalmente os agricultores em melhores condições socioeconômicas, localizados nas regiões Sul e Sudeste e que produzem para o mercado externo.

• Soja e milho respondem por mais de 50% dos recursos aplicados pelo Pronaf, desde 2001.

• “ a adoção de estratégias propositivas do sindicalismo dos trabalhadores rurais, em contraposição a uma postura crítica, de protestos e reivindicações, até então prevalecente, assim como a pressão social dos movimentos sociais, foram elementos importantes que contribuíram de forma decisiva para a emergência da primeira geração de políticas para a agricultura familiar, baseado em um referencial agrícola e agrário” (GRISA; SCHNEIDER, 2015, p. 133).

Segunda geração de políticas para a agricultura familiar: a construção de um referencial social e

assistência

• Neoliberalismo desestrutura políticas públicas importantes, como a EMBRATER, em 1990;

- A liberalização dos mercados e a diminuição da participação do Estado na economia geraram efeitos negativos na agricultura familiar.

- Entre 1997 – 1998 as políticas para a agricultura familiar focaram as ações sociais e assistenciais, visando combater a pobreza rural.

• O Programa Comunidade Solidária, de FHC, e o Programa Fome Zero ganharam destaque;

• Comunidade Solidária: propunha incentivar a atuação conjunta entre Estado e sociedade para resolver questões como a pobreza, miséria e a distribuição alimentar no país.

• 1998 – 2003: foram implementadas criadas um conjunto de ações de transferência de renda que contemplaram a agricultura familiar (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás etc.).

Pronaf

• Criação da linha Infraestrutura e Serviços Municipais do Pronaf.

• criação de grupos e linhas no Pronaf direcionadas aos agricultores mais descapitalizados;

• “Pronafinho” (1997);

• Grupo B: agricultores em situação de vulnerabilidade social.

Outras políticas públicas da segunda geração de política para agricultura familiar

• Programa Bolsa Família (2004);

• Plano Brasil Sem Miséria (2011);

• Brasil Carinhoso (2014);

• Programa Garantia Safra (2002);

• 2003: Programa Nacional de Habitação Rural;

• Criação do Programa Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais (Pronat);

• Programas Territórios da Cidadania (2008).

• “ Nas últimas décadas, as áreas rurais mais empobrecidas do Brasil conheceram melhorias inegáveis em seus indicadores convencionais de desenvolvimento (incremento de renda, por exemplo) que, talvez, não teriam sido alcançadas apenas por meio das ações agrícolas e agrárias que analisamos na primeira geração de políticas” (GRISA; SCHNEIDER, 2015, p. 137).

3° geração de políticas para a agricultura familiar: a construção de um referencial pautado na implementação de mercados para a segurança alimentar e sustentabilidade ambiental

• Movimentos sociais se mobilizaram para defender políticas de segurança alimentar e nutricional:

• “Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida”, liderada por Herbert de Souza;

• Criação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, em 1993 (CONSEA);

• Proposição da Política Nacional de Segurança Alimentar, em 1991.

Os governos Lula e a questão da segurança alimentar

• O Consea foi restabelecido;

• Criação do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA);

• Criação de um conjunto de política estruturais que visavam melhorias na renda e o aumento da oferta de alimentos básicos;

• Projeto Fome Zero: destacava o potencial dos mercados institucionais, a necessidade de se fortalecer a agricultura familiar e dinamizar a economia dos municípios.

O PAA e o PNAE como exemplos da terceira geração de política para a agricultura familiar

• PAA (2003): Articula a compra de produtos da agricultura familiar com ações de segurança alimentar para a população em vulnerabilidade social;

• Lei 11.947: determinou que no mínimo 30% dos recursos federais para a alimentação escolar sejam destinados para a aquisição de alimentos da agricultura familiar.

Compra institucional

• Possibilita aos estados, municípios e órgãos federais a aquisição de alimentos da agricultura familiar por meio de chamadas públicas, com dispensa da licitação.

• Assim, se abriu um grande mercado (hospitais, creches, restaurantes universitários, escolas, presídios etc.) para a agricultura familiar comercializar sua produção.

• “As ações do PAA e do PNAE têm contribuído para a valorização da produção local/regional, ecológica/orgânica e têm ressignificado os produtos da agricultura familiar, promovendo novos atributos de qualidade aos mesmos, associados, por exemplo, à justiça social, equidade, artesanalidade, cultura, tradição etc.” (GRISA; SCHNEIDER, 2015, p. 139).

Outras ações do Estado em prol da agricultura familiar

• Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) para os produtos da Sociobiodiversidade (PGPM Bio), em 2008.

• Subvenção Direta aos extrativistas;

• Apoio as agroindústrias;

• Programa Nacional de Produção e Uso do Biodisel (2004).

• “ Esta terceira geração de políticas públicas contou com a participação proeminente de atores vinculados ao debate da segurança alimentar e nutricional (Consea), assim como organizações agroecológicas, entidades da agricultura familiar, gestores públicos e estudiosos da agricultura familiar, segurança e abastecimento alimentar” (GRISA;SCHNEIDER, 2015, p. 140).

• MUITO OBRIGADO !!!