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1 © DIREITOS RESERVADOS Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, da Anhanguera Educacional. Direitos Humanos Tema 1: O Estado Constitucional de Direito e a Segurança dos Direitos do Homem Autor: Alan Martins Como citar este material: MARTINS, Alan. Direitos Humanos: O Estado Constitucional de Direito e a Segurança dos Direitos do Homem. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2014. Olá! Seja muito bem-vindo à primeira aula da disciplina Direitos Humanos. Nesta aula, pretendemos levar você à origem dos direitos humanos fundamentais, que surgiram no bojo da reação aos desmandos do Estado Moderno experimentada nos Estados Unidos da América e, sobretudo, na França dos tempos da Revolução de 1789. Nessa viagem ao século XVIII, a expectativa é propiciar um encontro também com as origens do Estado Constitucional de Direito Contemporâneo, fruto da vontade geral e pressuposto inafastável de um sistema de proteção dos direitos humanos fundamentais. E assim, partindo do momento histórico em que floresceu a primeira geração de direitos humanos, iremos esclarecer que toda uma evolução ocorreu até que, com a consolidação da segunda geração, verificada ao longo da primeira metade do século XX, novos direitos se juntassem ao sistema. Veremos ainda que uma terceira geração surgiu com novos direitos, que também acabaram sendo reconhecidos e incorporados ao sistema. Vamos juntos nessa missão em busca do conhecimento. Bons estudos! O Estado Constitucional de Direito e a Segurança dos Direitos do Homem Estado de Direito e direitos humanos são dois temas intimamente relacionados. Não há como dissociar a garantia dos direitos humanos fundamentais da Constituição Política do Estado, até porque não há como se pensar em direitos humanos se não for no contexto de um Estado de Direito. Estudar o Estado Constitucional de Direito é o primeiro passo para a compreensão da maneira pela qual se busca impor a segurança dos direitos do homem, direcionamento que será dado aos nossos estudos, sempre com base no conteúdo da obra de Ferreira Filho (2012), autor do Livro-Texto desta disciplina.

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Direitos HumanosTema 1: O Estado Constitucional de Direito

e a Segurança dos Direitos do HomemAutor: Alan Martins

Como citar este material:

MARTINS, Alan. Direitos Humanos: O Estado Constitucional de Direito e a Segurança dos Direitos do Homem.

Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2014.

Olá! Seja muito bem-vindo à primeira aula da disciplina Direitos Humanos.

Nesta aula, pretendemos levar você à origem dos direitos humanos fundamentais, que surgiram no bojo da reação aos desmandos do Estado Moderno experimentada nos Estados Unidos da América e, sobretudo, na França dos tempos da Revolução de 1789. Nessa viagem ao século XVIII, a expectativa é propiciar um encontro também com as origens do Estado Constitucional de Direito Contemporâneo, fruto da vontade geral e pressuposto inafastável de um sistema de proteção dos direitos humanos fundamentais.

E assim, partindo do momento histórico em que floresceu a primeira geração de direitos humanos, iremos esclarecer que toda uma evolução ocorreu até que, com a consolidação da segunda geração, verificada ao longo da primeira metade do século XX, novos direitos se juntassem ao sistema. Veremos ainda que uma terceira geração surgiu com novos direitos, que também acabaram sendo reconhecidos e incorporados ao sistema.

Vamos juntos nessa missão em busca do conhecimento. Bons estudos!

O Estado Constitucional de Direito e a Segurança dos Direitos do Homem

Estado de Direito e direitos humanos são dois temas intimamente relacionados. Não há como dissociar a garantia dos direitos humanos fundamentais da Constituição Política do Estado, até porque não há como se pensar em direitos humanos se não for no contexto de um Estado de Direito.

Estudar o Estado Constitucional de Direito é o primeiro passo para a compreensão da maneira pela qual se busca impor a segurança dos direitos do homem, direcionamento que será dado aos nossos estudos, sempre com base no conteúdo da obra de Ferreira Filho (2012), autor do Livro-Texto desta disciplina.

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A reivindicação do Estado de Direito

Como antecessor do Estado de Direito Contemporâneo, pode-se apontar o Estado Moderno, caracterizado pelo Despotismo, no âmbito do qual prevalecia o arbítrio do governante, conhecido como déspota, figura que exercia o poder sem se preocupar em respeitar a lei.

Saiba Mais!

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=24134>. Acesso em: 10 maio 2014.

Sinopse: Nicolau Maquiavel, em sua obra “O Príncipe”, que foi talvez o primeiro tratado de teoria política, além de esboçar os princípios do Estado Moderno, também foi pioneiro em caracterizar a figura do déspota, apresentando-o como um governante sem ética e inescrupuloso.

O Estado Contemporâneo nasceu justamente com o objetivo de criar um governo com feições opostas ao despótico, isto é, um governo em que os detentores do poder atuassem sempre fundamentados na lei.

Essas origens remontam ao Século XIX, primeiro com a insurgência dos colonos ingleses contra o Governo Central, que era conduzido totalmente à margem da lei, e em seguida com a consequente Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, em 4 de julho de 1776.

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Saiba Mais!

Veja o texto traduzido da Declaração de Independência dos Estados Unidos.

MOURELO, Salvador (Trad.). Declaração Unânime dos Treze Estados da América. Santiago de Compostella: Agal-GZe-ditora, 2010. Disponível em <http://agal-gz.org/faq/lib/exe/fetch.php?media=gze-ditora:declaracao_da_independencia_eua.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014.

As origens do Estado Contemporâneo estão também associadas à Revolução Francesa de 1789, com a mobilização e o levante da burguesia contra o Terceiro Estado, em relação ao qual há o emblemático epsódio do “Juramento do Jogo de Pela”, em que ficou muito clara a indignação da burguesia contra o Rei déspota, assim como os anseios por um Estado de Direito.

Saiba Mais!

Sobre a Revolução Francesa, há vários filmes e documentários disponíveis no site Youtube, entre eles:

A Revolução Francesa. Documentário. History Channel. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=xpiAQRqVZtQ>. Acesso em: 24 maio 2014.

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O Direito Justo

Não resta dúvida, portanto, de que o Estado Constitucional de Direito vincula o Poder Político ao cumprimento da lei veiculada no plano do Direito Objetivo. Esse Direito, também é consenso, deve ser expressão da Justiça, isto é, refletir o que é justo.

E, justo, por sua vez, na concepção da Revolução Francesa, prevalente durante o século XVIII e identificada com o conteúdo do primeiro capítulo, vem a ser a lei declarada pelo Legislador de acordo com a natureza das coisas.

Saiba Mais!

MONTESQUIEU, Charles Louis de. O espírito das Leis. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Sinopse: Essa é a obra máxima de Charles-Louis de Secondat. O Barão de Montesquieu, além de caracterizar o Estado despótico e defender, já no primeiro capítulo do livro, que “as leis são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas”, também concebe a teoria da tripartição dos poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e harmônicos entre si.

Esse entendimento, presente no pensamento de Montesquieu, não condiz com as concepções de Rousseau e Sieyès, que serão expostas adiante.

Ademais, segundo Gonçalves (2007), as características que legitimam as leis a comandarem os homens e a constituírem expressão do justo são as seguintes: 1. Generalidade: aplicação a todos os casos iguais; 2. Impessoalidade: não faz distinção de pessoas.

O Primado da Constituição, o Poder Constituinte e a Coordenação dos Direitos Fundamentais

Documento fundamental da Revolução Francesa, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (Dèclaration des Droits de l’Homme” e du Citoyen, em francês, 1789), que teve por principal objeto a enunciação dos direitos individuais e coletivos dos homens, dispôs em seu artigo 16 que: “A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos (fundamentais) nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição”.

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A ideia é de que não se pode dissociar a garantia dos direitos humanos fundamentais da constituição política do Estado, sentido no qual, com a evolução do Estado contemporâneo, a declaração de direitos e o pacto político passaram a constituir um documento único, chamado de Constituição.

Assim, direitos humanos fundamentais e poder político coexistem sob a égide do sistema de três Poderes harmônicos e independentes entre si, formulado por Montesquieu, na seguinte medida:

Poder Legislativo: declara os direitos humanos fundamentais.

Poder Executivo: responsável por cumprir e aplicar os direitos e as leis de forma não contenciosa (não litigiosa).

Poder Judiciário: responsável por fazer cumprir e aplicar os direitos e as leis de forma contenciosa (quando há litígios).

Fala-se, com isso, na figura do Estado Constitucional de Direito, baseado no primado da Constituição e emanado do chamado Poder Constituinte.

Conforme Sieyés (2009), é no Poder Constituinte que se fundamenta a Constituição como norma hierárquica superior do sistema jurídico, ficando superado o pensamento de que as leis derivam da natureza das coisas, para se evoluir, depois das revoluções do século XVIII, à ideia pactista de Rousseau de que a lei constitui expressão da vontade geral.

Saiba Mais!

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv00014a.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014.

Sinopse: nessa obra de importância fundamental para o pensamento político contemporâneo, datada de 1762, Rousseau defende que a vida social é considerada a base de um contrato em que cada contratante condiciona sua liberdade ao bem da comunidade, procurando proceder sempre de acordo com as aspirações da maioria.

E, como expressão da vontade geral, é da lei que deve vir a coordenação dos direitos humanos fundamentais.

A Limitação de Poder e o Estado de Direito

O modelo de Estado como instituição regida pelas leis que exprimem a vontade geral, concebido

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pelo pensamento político de Montesquieu, de Rousseau e de outros pensadores iluministas, inspirou os ideiais da Revolução Francesa de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, norteando a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.

Saiba Mais!

Entre a década de 1970 e a primeira metade dos anos 2000, a Editora Abril Cultural e, depois, a Nova Cultura, lançaram oito edições de uma coleção de livros que era uma verdadeira enciclopédia do pensamento humano ocidental. Publicação singular no Brasil, cada volume da coleção “Os Pensadores” traz a biografia e reproduz algumas obras de pensadores como Sócrates, Platão, Montesquieu, Rousseau, entre outros.

Considerada o documento que inaugurou a Primeira Geração de Direitos Humanos, a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão encontra sustentação em duas pilastras fundamentais, quais sejam: 1. Separação dos Poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário. 2. Garantia dos Direitos Humanos Fundamentais.

Coerentemente, dois anos depois da Declaração de 1789, que representou o pacto social em torno dos direitos humanos fundamentais, foi promulgada a Constituição Francesa de 1791 como Carta Política do Estado e documento de garantia dos direitos humanos fundamentais.

A Constituição é o diploma legal hierarquicamente superior da ordem jurídica dos Estados Democráticos de Direito da atualidade, a exemplo da Constituição Brasileira de 1988. Prevalece como norma fundamental de limitação ao Poder Político, o que se dá por meio dos direitos fundamentais que enuncia.

Os Princípios do Estado de Direito

É na Constituição que são veiculados os princípios fundamentais do Estado de Direito, enumerados em três por Ferreira Filho (2012), quais sejam: Legalidade, Isonomia e Justicialidade.

Pelo princípio geral da legalidade, veiculado no inciso II do artigo 5º da Constituição, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Especificamente em matéria criminal, o princípio da Reserva Legal ou da Legalidade Penal encontra-se expresso na norma do artigo 5º, inciso XXXIX da Constituição, segundo a qual “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Em Direito Tributário, voga o princípio da legalidade tributária, descrito no artigo 150, inciso I da Constituição Federal, de acordo com o qual é vedado às pessoas políticas “exigir ou aumentar tributo sem que lei o estabeleça”.

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Já o princípio da isonomia, fundamentado no ideal de igualdade e intimamente ligado à abolição de privilégios, tem sua base veiculada logo no caput do artigo 5º da Constituição Federal, cujo enunciado dispõe que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.

As distinções vedadas pela Constituição são aquelas injustificáveis, que tratam de maneira diferente seres humanos em condições absolutamente análogas, especialmente aquelas que se baseiam em critérios odiosos, tais como origem, raça, sexo, cor, idade, religião etc.

Saiba Mais!

Sobre a questão da isonomia e das desigualdades odiosas, vale a pena assistir ao filme:

COLESBERRY, Robert F.; ZOLLO, Frederick; PARKER, Alan. Mississipi em Chamas. EUA, Orion Pictures, 1988. 128 min.

Sinopse: no ano de 1964, dois agentes do FBI, interpretados por Gene Hackman e Willem Dafoe, investigam a morte de três militantes dos direitos civis que viviam em uma pequena cidade do Mississipi marcada pela segregação que dividia a população em brancos e negros, bem como pelos constantes atos de violência contra os negros.

Por outro lado, a isonomia deve ser material, isto é, para que a igualdade seja real, admite-se a existência de tratamentos jurídicos diferenciados, justamente para que pessoas que não estejam na mesma situação possam ter seus direitos efetivamente igualados perante a lei. É o que acontece, por exemplo, no caso de reserva de vagas em estacionamentos para pessoas portadoras de necessidade especiais, na determinação de idade mínima para ingresso na carreira da Magistratura, entre outras situações.

Além disso, da mesma forma que ocorre em relação ao princípio da legalidade, a isonomia também é constitucionalmente tratada de modo específico quanto a determinados ramos do Direito.

Por exemplo, o artigo 150, inciso II da Constituição Federal veicula o princípio da isonomia tributária, pelo qual é proibido “instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente”. E, no campo do Direito da Família, assegura-se o tratamento isonômico entre o casamento e a união estável (BRASIL, art. 226, § 3º), bem como entre os filhos havidos dentro ou fora do casamento, e também entre os filhos naturais e os adotivos (BRASIL, art. 227, § 6º).

Finalmente, o termo Justicialidade, mais conhecido como Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, é veiculado no inciso XXXV, do artigo 5º da Constituição, nos seguintes termos: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

As Três Gerações dos Direitos Fundamentais

Quando se fala em direitos humanos e na sua origem na Declaração de Direitos de 1789, pode-se pensar que tenha ocorrido naquele momento o reconhecimento completo dos direitos fundamentais.

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Todavia, esse ponto da história remonta apenas à origem desses direitos, isto é, ao momento em que foram reconhecidas as chamadas liberdades públicas, correspondente à primeira geração de direitos fundamentais.

Desse momento em diante, fala-se em uma evolução histórica cumulativa, mediante a qual, gradativamente, novos direitos foram sendo reconhecidos como fundamentais e foram agregados aos já haviam sido anteriormente reconhecidos, a começar pela segunda geração, consubstanciada nos direitos sociais, econômicos e culturais (primeira metade do século XX) e, mais recentemente, a terceira geração, relativa aos direitos da solidariedade e que, no plano global, ainda se encontra em fase de afirmação.

Constituição: diploma hierarquicamente superior da ordem jurídica. Constitui o veículo normativo de reconhecimento e garantia dos direitos humanos fundamentais e de instituição do sistema político do Estado.

Déspota: governante típico da Idade Moderna caracterizado por exercer o poder segundo o seu arbítrio, sem que houvesse preocupação em respeitar o primado da lei.

Direito Objetivo: é o conjunto de normas jurídicas obrigatórias vigentes em um Estado em determinada época.

Direitos fundamentais: são direitos humanos de caráter universal, reconhecidos pelos Estados Constitucionais de Direito e garantidos pelos sistemas jurídicos domésticos e internacionais.

Estado Constitucional de Direito: é pessoa política de direito público soberana sobre seu povo e território, constituída sob a égide da Constituição e submetida aos comandos da lei.

Poder Constituinte: é o poder fundamentado na vontade geral e legitimado para o estabelecimento da ordem jurídico-constitucional. É do Poder Constituinte que emana a Constituição de um Estado.

Instruções:

Agora chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

Questão 1

(Enem, 2000) O texto a seguir, de John Locke, revela algumas características de uma determinada corrente de pensamento.

“Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua

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própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder?

Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a utilização do mesmo é muito incerta e está constantemente exposto à invasão de terceiros porque, sendo todos senhores tanto quanto ele, todo homem igual a ele e, na maior parte, pouco observadores da equidade e da justiça, o proveito da propriedade que possui nesse estado é muito inseguro e muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade.” (Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991)

a) A existência do governo como um poder oriundo da natureza.

b) A origem do governo como uma propriedade do rei.

c) O absolutismo monárquico como uma imposição da natureza humana.

d) A origem do governo como uma proteção à vida, aos bens e aos direitos.

e) O poder dos governantes, colocando a liberdade individual acima da propriedade

Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.

Questão 2

Editada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal, a Súmula Vinculante nº 28 estabelece que: “É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário”. Sabe-se que, nos termos do artigo 103-A da Constituição Federal, súmulas como essa possuem efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta. Consequentemente, a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial para discussão de crédito tributário constituirá violação à Súmula Vinculante nº 28 que, entre os preceitos fundamentais do Estado de Direito, encontra seu fundamento no princípio:

a) Da isonomia geral, porque vale para todos os contribuintes.

b) Da isonomia tributária, porque vale para todos os contribuintes e se refere à matéria tributária.

c) Da legalidade geral, porque o depósito prévio não tem previsão na legislação.

d) Da legalidade tributária, porque o depósito prévio não tem previsão na legislação tributária.

e) Da justicialidade, porque a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário nenhuma lesão ou ameaça a direito.

Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.

Questão 3

O princípio da isonomia, fundado no ideal de igualdade e intimamente ligado à abolição de privilégios, tem sua base veiculada logo no caput do artigo 5º da Constituição, quando é enunciado que: “Todos

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são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Entretanto, é preciso esclarecer que o trecho “sem distinção de qualquer natureza” é paradoxal. Por um lado, as distinções vedadas pela Constituição são aquelas injustificáveis, que tratam de maneira diferente seres humanos em condições absolutamente análogas. São também vedadas as que se baseiam em critérios odiosos, tais como origem, raça, sexo, cor, idade, religião etc. Mas, por outro lado, a isonomia deve ser material, isto é, para que a igualdade seja real, admite-se a existência tratamentos jurídicos diferenciados, justamente para que pessoas que não estejam na mesma situação possam ter seus direitos efetivamente igualados perante a lei. Na prática, há várias dessas situações em que distinções são permitidas por lei como fator necessário à desigualação, só podendo-se falar em ofensa ao princípio da isonomia quando o fator de desigualação é desnecessário, imoral ou desprovido de razoabilidade. Diante do texto exposto, assinale a seguir a situação hipotética em que há ofensa ao princípio da isonomia:

a) Lei municipal concede meia passagem em transporte público para estudantes e aposentados.

b) Redução do tempo de cumprimento de penas criminais para pessoas portadoras de diplomas de nível superior.

c) Reserva de vagas para idosos e para pessoas portadoras de necessidade especiais no estacionamento de órgão público.

d) Diferenças de tempo necessário como requisito para homens e mulheres se aposentarem, com a exigência de tempo menor para as mulheres.

e) Direito de presidiárias permanecerem com seus filhos durante o período de amamentação, não reconhecido às presidiárias que não estão amamentando.

Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.

Questão 4

“Naturalmente, seria muito louvável que um príncipe possuísse todas as boas qualidades acima mencionadas, mas como isso não é possível, pois as condições humanas não o permitem, é necessário que tenha a prudência necessária para evitar o escândalo provocado pelos vícios que poderiam fazê-lo perder seus domínios, evitando os outros, se for possível; se não for, poderá praticá-los com menores escrúpulos. Contudo não deverá preocupar-se com a prática escandalosa daqueles vícios sem os quais é difícil salvar o Estado; isto porque, se se refletir bem, será fácil perceber que certas qualidades que parecem virtudes levam à ruína, e outras, que parecem vícios, trazem como resultado o aumento da segurança e do bem-estar”.

O texto anterior é de um grande pensador do século XVI e constitui excerto de uma obra considerada por muitos o principal tratado de política da época. Diga o nome do autor e da obra da qual o texto foi extraído e estabeleça uma relação entre o conteúdo do texto e o regime político da época.

Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.

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Questão 5

Leia atentamente o texto a seguir.

“Comandos hierarquicamente superiores da ordem jurídica, as normas constitucionais encontram-se veiculadas na Carta Política da nação, denominada Constituição. Como veículo introdutor das normas de patamar mais elevado, a Constituição demarca o princípio do sistema jurídico. Dessa forma, toda a legislação infraconstitucional deve guardar perfeita conformidade com a Constituição...” (In: MARTINS, Alan; SCARDOELLI, Dimas Yamada. Direito Tributário. Coleção Concursos Públicos. Salvador: Editora Juspodivm, 2014).

Considerando-se as características expostas no texto, fale sobre o papel da Constituição na garantia dos direitos fundamentais e dos princípios que regem o Estado Democrático de Direito.

Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.

Vimos que a origem dos direitos humanos fundamentais remonta à reação ao despotismo do Estado Moderno, caracterizado por uma administração pública segundo o arbítrio do governante. Outrossim, tem início no século XVIII, dentro dos cenários da Independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa, a evolução dos direitos humanos fundamentais, que devem ser analisados sob o ponto de vista do Estado Constitucional de Direito Contemporâneo, que é fruto da vontade geral do povo e caracteriza-se pela submissão dos governantes aos ditames da lei e da Constituição.

Nessa origem, consolidou-se a primeira geração de direitos fundamentais, consubstanciada no reconhecimento das liberdades públicas. Posteriormente, já no século XX, vieram se juntar à primeira duas novas gerações de direitos humanos: a segunda geração, relativa aos direitos sociais, econômicos e culturais, e a terceira geração, referente aos direitos da solidariedade.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Alexandre de Moraes. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

_______. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante nº 28. É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1278>. Acesso em: 26 maio 2014.

COLESBERRY, Robert F.; ZOLLO, Frederick; PARKER, Alan. Mississipi em Chamas. EUA, Orion Pictures, 1988. 128 min.

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FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos Fundamentais. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

______. Estado de Direito e Constituição. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=24134>. Acesso em: 10 maio 2014.

MONTESQUIEU, Charles Louis de. O Espírito das Leis. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

MOURELO, Salvador (Trad.). Declaração Unânime dos Treze Estados da América. Santiago de Compostella: Agal-GZe-ditora, 2010. Disponível em: <http://agal-gz.org/faq/lib/exe/fetch.php?media=gze-ditora:declaracao_da_independencia_eua.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv00014a.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014.

SIEYÈS. O que é o Terceiro Estado? Lisboa: Temas e Debates, 2009.

VÍDEO. A Revolução Francesa. Documentário. History Channel. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=xpiAQRqVZtQ>. Acesso em: 24 maio 2014.

Questão 1

Resposta: Alternativa “d”. O pensamento de John Locke denota uma visão de governo como representante da vontade geral, diversa do que imperava na Idade Moderna, quando prevalecia o arbítrio do governante. Filia-se à corrente de pensamento iluminista, que fundamentou a Revolução Francesa e o posterior surgimento da figura do Estado Constitucional de Direito, como pressuposto fundamental à preservação dos direitos humanos.

Questão 2

Resposta: Alternativa “e”. O termo Justicialidade, mais conhecido como Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, é veiculado no inciso XXXV, do artigo 5º da Constituição, nos seguintes termos: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Portanto, a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial para discussão de crédito tributário constituirá violação ao princípio da judicialidade, que constitui o fundamento da Súmula Vinculante nº 28 do STF.

Questão 3

Resposta: Alternativa “b”. O princípio da isonomia, fundamentado no ideal de igualdade e intimamente

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ligado à abolição de privilégios, tem sua base veiculada logo no caput do artigo 5º da Constituição, cujo enunciado dispõe que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” (BRASIL, art. 150, I). As distinções vedadas pela Constituição são aquelas injustificáveis, que tratam de maneira diferente seres humanos em condições absolutamente análogas, especialmente aquelas que se baseiam em critérios odiosos, tais como origem, raça, sexo, cor, idade, religião etc. Por outro lado, a isonomia deve ser material, isto é, para que a igualdade seja real, admite-se a existência de tratamentos jurídicos diferenciados, justamente para que pessoas que não estejam na mesma situação possam ter seus direitos efetivamente igualados perante a lei. É o que acontece nas situações descritas nas alternativas “a”, “c”, “d” e “e”, mas não ocorre no que concerne à alternativa “b”, em que a redução de penas criminais em razão de grau de instrução constitui um fator de desigualação absolutamente injustificável e odioso.

Questão 4

Resposta: O texto foi extraído da obra “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel. Nele, o autor caracteriza o déspota, apresentando-o como um governante sem ética e inescrupuloso, figura expoente no Estado da Idade Moderna e de um regime político em que o arbítrio do governante prevalecia, em detrimento da vontade geral e do primado da lei.

Questão 5

Resposta: A Constituição é o diploma legal hierarquicamente superior da ordem jurídica dos Estados Democráticos de Direito da atualidade, a exemplo da Constituição Brasileira de 1988. Prevalece como norma fundamental de limitação ao Poder Político, o que se dá por meio dos direitos fundamentais que enuncia. É na Constituição que são veiculados os princípios fundamentais do Estado de Direito, enumerados em três por Ferreira Filho (2012), quais sejam: Legalidade, Isonomia e Justicialidade.