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DIREITOS HUMANOS & EDUCAÇÃO PATRIMONIAL HISTÓRICO CULTURAL Magali Luzio Ferreira 1 Maria Augusta de Castilho 2 RESUMO: O presente artigo tem como objeto de estudo os Direitos Humanos, tendo em vista sua importância na Educação Patrimonial Histórico Cultural. O objetivo do estudo é mapear as leis brasileiras que amparam e subsidiam as ações escolares voltadas ao conhecer, saber e valorizar o legado da história e consequentemente as manifestações culturais brasileiras, contextualizando-as com os programas e projetos contemplados no território nacional. Infere-se que a relevância deste trabalho é o de salvaguardar o sentimento de pertença dos cidadãos em prol dos direitos humanos. Daí a necessidade de não se privar da temática ao currículo na educação básica. Para a realização da pesquisa, o método é o dedutivo com uma abrangência sistêmica, por meio de uma investigação criteriosa em arquivos públicos e bibliotecas, assinalando as obras que fornecerão subsídios ao trabalho em tela. Como resultados, apontam-se ações educativas para o conhecimento e construção de ações curriculares voltado a aferir uma postura de ensino que privilegie os Direitos Humanos por meio da preservação da identidade, história e identificação cidadã. Palavras-chave: direitos humanos. Educação. História Cultural. Território . 1 INTRODUÇÃO A Educação Patrimonial, embora seja reconhecida como de grande relevância para a preservação da cultura material e imaterial das sociedades, ainda não é suficientemente divulgada nos meios acadêmicos, principalmente com vínculo aos Direitos Humanos. O objetivo do estudo é mapear as leis brasileiras que amparam e subsidiam as 1 Historiadora e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB. 2 Historiadora. Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Local e do Curso de História, ambos da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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DIREITOS HUMANOS & EDUCAÇÃO PATRIMONIAL HISTÓRICO

CULTURAL

Magali Luzio Ferreira1

Maria Augusta de Castilho2

RESUMO:

O presente artigo tem como objeto de estudo os Direitos Humanos, tendo em vista sua

importância na Educação Patrimonial Histórico Cultural. O objetivo do estudo é mapear as

leis brasileiras que amparam e subsidiam as ações escolares voltadas ao conhecer, saber e

valorizar o legado da história e consequentemente as manifestações culturais brasileiras,

contextualizando-as com os programas e projetos contemplados no território nacional.

Infere-se que a relevância deste trabalho é o de salvaguardar o sentimento de pertença dos

cidadãos em prol dos direitos humanos. Daí a necessidade de não se privar da temática ao

currículo na educação básica. Para a realização da pesquisa, o método é o dedutivo com

uma abrangência sistêmica, por meio de uma investigação criteriosa em arquivos públicos

e bibliotecas, assinalando as obras que fornecerão subsídios ao trabalho em tela. Como

resultados, apontam-se ações educativas para o conhecimento e construção de ações

curriculares voltado a aferir uma postura de ensino que privilegie os Direitos Humanos por

meio da preservação da identidade, história e identificação cidadã.

Palavras-chave: direitos humanos. Educação. História Cultural. Território

.

1 INTRODUÇÃO

A Educação Patrimonial, embora seja reconhecida como de grande relevância

para a preservação da cultura material e imaterial das sociedades, ainda não é

suficientemente divulgada nos meios acadêmicos, principalmente com vínculo aos Direitos

Humanos. O objetivo do estudo é mapear as leis brasileiras que amparam e subsidiam as

1 Historiadora e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Local da Universidade

Católica Dom Bosco - UCDB. 2 Historiadora. Docente do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Local e do Curso de História,

ambos da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB

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ações escolares voltadas para o saber, o conhecimento e a valorização do legado da história

e consequentemente as manifestações culturais brasileiras, contextualizando-as com os

programas e projetos contemplados no território nacional.

Com intuito de sustentabilizar a reflexão, a abordagem inicial deste contextualiza

com alguns elementos históricos a necessidade de leis, regras e acordos que durante o

transcorrer do homem como agente histórico e social foram necessários para subsistência e

consequentemente sobrevivência humana e o exercício da cidadania.

Nesse contexto registram-se os marcos para uma minuciosa reflexão, que começa

por contextualizar o Cilindro de Ciro, como um dos primeiros registros de forma de

Direitos Humanos, seguindo-se depois aos princípios da Revolução Francesa (1789) e

finalmente em 1948 após a segunda guerra mundial a ONU efetiva a Declaração Universal

dos Direitos Humanos.

O patrimônio histórico cultural está posto como esteio de uma forma de garantir

os direitos universais do ser humano, objetivando a salvaguarda da identidade cidadã por

meio do conhecimento de leis, projeto e programas propostos pelo Estado.

2 DIREITOS HUMANOS & CIDADANIA

As leis nascem para firmar os direitos, a ordem e igualdade entre os homens. Nelas

são pautados os direitos que proporcionam ao cidadão o viver pleno. Por anos a história da

humanidade veio configurar-se e entrelaçar-se com os direitos humanos postos para o bem

comum do mundo.

A ideia de um direito universal, válido para todo ser humano, vem sendo

construída por intermédio da história dos povos. O primeiro registro de

uma declaração dos direitos humanos, segundo pesquisadores, é o

Cilindro de Ciro, escrito por Ciro, o Grande, rei da Pérsia, por volta de

539 a.C. O texto menciona, entre outros feitos do rei, a restauração de

santuários religiosos e a repatriação de povos deportados. (BUSIN,

2013, p. 7)

Documentos comprovam a necessidade de normas, regras e argumentações de amparo

ao homem, como fez por exemplo, o rei Ciro rei da Pérsia (atual parte do Irã e Iraque), que

escreveu o cilindro de Ciro a.C. protegendo-o e restaurando santuários e templos; objeto deste

estudo com ênfase nos Direitos Humanos

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Figura 1- O cilindro de Ciro

Fonte: Disponível em: http://www.penapensante.com.br/2015/08/o-cilindro-de-ciro.html.

Acesso: 08 de ago. 2017.

Reconhecido como a primeira carta dos direitos humanos no mundo, registrado em

argila em escrita cuneiforme (em forma de cunha), foi descoberto em 1879 e em 1971,

traduzido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para os idiomas árabe, chinês,

inglês, francês, russo e espanhol. (CARVALHAES, 2015).

Sem exaurir outros marcos históricos que fundamentaram a luta por direitos para a

cidadania plena, ressalta-se no percurso da história da humanidade a Revolução Francesa

de 1789, que foi a inspiração não só para outros processos revolucionários contra a

submissão ao absolutismo e a Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela

Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948.

Uma das maiores representação da liberdade utilizada na Revolução Francesa foi o

quadro simbólico que guiou o povo para a queda da Bastilha

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Figura 2 - A Liberdade Guiando o Povo – Museu do Louvre – Obra em tela de Eugène Delacroix

(1830)

Fonte: Disponível em: http://estoriasdahistoria12.blogspot.com.br/2013/02/a-liberdade-guiando-o

povo-analise-da.html. Acesso: 08 de ago. 2017.

Delacroix representa uma cena de batalha através da qual não só exalta a

bravura dos combatentes revolucionários, mas também caracteriza,

através de detalhes significativos, a origem de cada personagem,

percebido através das vestimentas, prestando homenagem a uma multidão

de anônimos. Na figura feminina em destaque, representando a

Liberdade, há vestígios dos modelos gregos, mas também há traços que

revelam sua condição de mulher do povo, como os seios sujos de pólvora.

Sua mão direita erguida leva a bandeira tricolor transformada em símbolo

da Revolução Francesa (1789). Na mão esquerda segura um fuzil com

baioneta, o que significa estar preparada para a batalha corpo a corpo. A

cabeça é coberta por um gorro frígio, adotado durante a Revolução

Francesa, que converteu-se em um dos símbolos da República. (LITZ,

2009, p. 24).

No que se concerne à busca por liberdade de diretos a obra de Delacroix representa

um grande passo para a democracia. Continua a reafirmar que, vontade humana por

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reconhecimento estatal de participação e respeito é ávida no processo de vivência social. O

autor acima citado em suas palavras nos remete à liberdade, igualdade e fraternidade que

estão presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela Organização

das Nações Unidas (ONU) em 1948. Esta declaração sinaliza em seu artigo 1º - Todos os

seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e

consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Nos diretos humanos estão implícitas as questões que permeiam a cidadania.

Assim, a busca por tais direitos se faz preservando sua identidade. Aspectos visíveis

quando estes dados de identificação cidadã, estão presentes principalmente em seu espaço

de origem ou no local ao qual este desenvolveu uma história que o identificou. No caso

brasileiro estão presentes inúmeras leis de defesa ao patrimônio histórico cultural, para a

salvaguarda dos bens de natureza material e imaterial e consequentemente a história de seu

povo.

3 PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL BRASILEIRO E SUAS LEIS DE

PRESERVAÇÃO

Antes de se adentrar nas contextualizações das leis que fizeram e fazem a

salvaguarda do bem mais preciso do brasileiro que é a sua identidade explícita nas

propriedades culturais, não só de pedra e cal (de origem material), mais também de hábitos

culturais. O saber-fazer, o ser e o sentir (de origem imaterial) se fazem necessários

descortinar e discutir alguns conceitos que emanam as leis que devem ser observadas por

todos.

Ao averiguar a terminologia da palavra patrimônio depara-se com algo bem

próximo ligado ao fator da existência do brasileiro. Ela vem do latim pater que significa

pai. No aporte de Funari (2006) a origem do patrimônio vem da palavra latina,

patrimonium, que se referia, entre os antigos romanos, a tudo o que pertencia ao pai, pater

ou pater famílias, pai de família.

Patrimônio histórico. A expressão designa um bem destinado ao usufruto

de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído

pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se

congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas-artes

e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-

faire dos seres humanos. Em nossa sociedade errante, constantemente

transformada pela mobilidade e ubiquidade de seu presente, “patrimônio

Histórico” tornou-se uma das palavras-chaves da tribo midiática. Ela

remete a uma instituição e a uma mentalidade. (CHOAY, 2011, p.11).

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Fato presente que ao se analisar um local ou fazer seu traçado histórico através dos tempos,

constata-se o crescimento populacional, com suas diversas correntes imigratórias, bem como, as

mudanças de hábitos e o próprio uso de um determinado patrimônio, mais especificamente o

material, que pode mudar suas inúmeras funções no transcorrer da história.

O patrimônio histórico nos dias atuais também está presente como processo de divulgação

cultural nos espaços midiáticos. Fato que comprova a mobilidade do conceito e que não perde a

essência do trato das instituições e das mentalidades. Choay (2011) pontua ainda, que o quadro

patrimonial histórico para uma comunidade pode atingir dimensões planetárias.

Portanto, o que distingue a noção de património cultural da de cultura é a

forma como a primeira se manifesta na representação da cultura através

da transformação do valor dos elementos culturais. Da cultura não

podemos patrimonializar nem conservar tudo, daí que o património

cultural seja só uma representação simbólica da cultura, e por isso

resultado dos processos de selecção e de negociação dos significados. De

aí que o património cultural implique uma selecção de elementos e

significados. (PEREIRO, 2006, p.24)

A marca cultural do local está ancorada nas formas de viver de seus primeiros moradores.

Porém, esta vai se moldando com o passar dos tempos, novos hábitos vão sendo incorporados. Os

símbolos culturais presentes neste local tornam-se sinais de identificação deste espaço. Desse

modo, ressalta-se a importância de a população saber não só o valor da sua história, bem como,

manifestar seu sentimento de pertencimento local. Assinala-se, portanto, a seleção de elementos

que formam o patrimônio cultural local fica em evidências nos processos de seleção e de

negociações de significados.

O campo do patrimônio pressupõe atribuição de significado a

determinados bens. Envolve concepções que mudam com o tempo, com

os valores da sociedade. Relaciona-se com os conceitos de identidade,

modernidade e nacionalidade e sua construção apresenta momentos em

comum com as trajetórias dos conceitos de história, arqueologia, arte e

arquitetura. (PEIXOTO, 2017, p. 1)

Efetivamente o patrimônio histórico cultural envolve representações de um povo que

apesar de, mudar de paradigma através dos tempos por fazer parte da história, cujo processo

histórico sofre modificações, por caminhar atrelado com o fazer humano, desejando preservar esse

legado que são representações de identidades presentes nas diversas manifestações artísticas e que

sua construção requer estudos, pesquisas e divulgação e em especial para seus atores, como forma

de oferecer um dos exercícios para sua plena cidadania.

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4 MAPEAR AS LEIS, AÇÕES E PROJETOS BRASILEIROS DE AMPARO A

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL & DIREITOS HUMANOS

Mapear as leis brasileiras, programas e projetos de amparo a Educação ao

Patrimônio Histórico Cultural é promover uma reflexão cidadã. Desse modo, levar ao leitor

a conhecer o caminho percorrido para o reconhecimento de um Brasil com uma história

que está sendo cuidada em prol das lutas que deve ser pautada nos Diretos Humanos.

Destaca-se que o patrimônio cultural de uma nação ou comunidade abrange um

conjunto de bens materiais e imateriais que fazem parte e constituem a identidade de um

grupo. Portanto, a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 216, reza:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e

imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de

referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos

formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços

destinados às manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,

artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL,

1988, p. 124)

Sob essa ótica, percebe-se a importância da Educação Patrimonial, uma vez que a

preservação do patrimônio cultural envolve muito mais do que o tombamento de

monumentos ou a guarda de documentos ou de arquivos. Antes, abrange a preservação da

memória coletiva e a valorização da história de um povo ou comunidade, história esta que

não se refere somente aos vestígios do passado distante, “[...] mas também a

contemporaneidade, os processos, a produção. ” (SANTOS, 2001, p.44).

Percebe-se que a preservação da memória coletiva envolve fatores tanto para o

desenvolvimento de uma sociedade quanto para a afirmação dos grupos, dominados ou

dominantes, que lutam ora pelo poder, ora pela sobrevivência.

Como principal instrumento social na luta pela equidade, a educação escolar tem

um compromisso social com a preservação da memória e da história. O respeito e a

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valorização da diversidade cultural é uma das premissas da legislação educacional, para

tanto, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação assevera:

Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma

base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e

estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas

características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e

da clientela. [...]

§ 4o O ensino da História do Brasil levará em conta as

contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo

brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia.

(BRASIL, 1996)

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB nº 9394/96, deve-

se assegurar aos alunos da educação básica o direito a aprenderem sobre as características

regionais e locais do espaço em que habitam, em permanentes interações com diferentes

culturas e etnias, presentes no patrimônio histórico cultural imaterial e material do local.

Da mesma forma, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), enfatizam que a

escola tem a possibilidade de apresentar a diversidade etnocultural que compõem o

patrimônio sociocultural brasileiro e oferecer o trabalho com questões patrimoniais via

tema transversal - Pluralidade Cultural (BRASIL, 1997).

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, no caderno

Educação Patrimonial - Histórico, conceitos e processos (BRASIL, 2014) relata que desde

a sua criação, em 1937, na época com a identificação de “Serviço do Patrimônio Histórico

e Artístico Nacional – SPHAN” manifestou em documentos e projetos a realização de

ações educativas com discussões que se encontram na base das atuais políticas públicas de

Estado na área.

O material menciona que, logo de início da criação do órgão, já existia a

preocupação com a instalação de museus de caráter pedagógico. Em 1970, com a criação

do Centro Nacional de Referência Cultural - CNRC, suas diretrizes teóricas e conceituais

favoreciam uma interlocução mais abrangente com os processos educacionais de

preservação patrimonial. Com o centro surge o Projeto Interação, voltado mais

especificamente para ações de Educação Patrimonial.

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Em 2009, o Decreto nº 6. 844 vinculou a Coordenação de Educação Patrimonial –

CEDUC ao Departamento de Articulação e Fomento – DAF, com o objetivo de coordenar,

integrar, avaliar e programar e projetos de Educação Patrimonial.

Atualmente o Instituto de Patrimônio Histórico Artístico Nacional – IPHAN

promove a educação patrimonial em suas ações institucionais com o objetivo de oferecer a

sociedade políticas para salvaguardar o patrimônio cultural e para isso deve firmar

parcerias, como por exemplo, com o projeto pedagógico, de escolas “Casas do Patrimônio”

que oferece capacitação que visa oportunizar a construção do conhecimento e a

participação social para valorização do patrimônio cultural.

O IPHAN, além disso, apoia o Programa Mais Educação, do governo federal, que

tem como objetivo subsidiar escolas com baixo rendimento escolar apontado pelo Índice

de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), com ampliação das jornadas diárias e

reorganização dos currículos com atividades em tempo integral.

O Programa Mais Educação, criado pela Portaria Interministerial nº

17/2007 e regulamentado pelo Decreto 7.083/10, constitui-se como

estratégia do Ministério da Educação para indução da construção da

agenda de educação integral nas redes estaduais e municipais de ensino

que amplia a jornada escolar nas escolas públicas, para no mínimo 7

horas diárias, por meio de atividades optativas nos macrocampos:

acompanhamento pedagógico; educação ambiental; esporte e lazer;

direitos humanos em educação; cultura e artes; cultura digital; promoção

da saúde; comunicação e uso de mídias; investigação no campo das

ciências da natureza e educação econômica. (FLORÊNCIO, 2014a).

Dentre as atividades promovidas e recomendadas pelo programa estão as ações

voltadas em direitos humanos em educação, cultura e arte. Temas estes que vem a

comtemplar as aspirações desta pesquisa, uma vez que, infere-se que a relevância deste

trabalho é o de salvaguardar o sentimento de pertença dos cidadãos em prol dos direitos

humanos.

O IPHAN firmou, também, parceria com o Programa Nacional de Extensão

Universitária (PROEXT), que tem como objetivo estimular a participação e o

envolvimento de outros agentes capazes de se associar à política de reconhecimento,

promoção e proteção ao patrimônio cultural brasileiro.

O Programa de Extensão Universitária (ProExt) tem o objetivo de apoiar

as instituições públicas de ensino superior no desenvolvimento de

programas ou projetos de extensão que contribuam para a implementação

de políticas públicas. Criado em 2003, o ProExt abrange a extensão

universitária com ênfase na inclusão social. (FLORÊNCIO, 2014ab).

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O papel educacional em cumprir com o estabelecido pela constituição e

consequentemente com os Direitos Humanos no que se refere à preservação, com o

Patrimônio Histórico brasileiro, está bem evidente no processo de construção cultura e de

identidade brasileira, com objetivos e necessidades em parcerias com as leis, projetos e

programas educacionais em todos os níveis escolares.

A Educação Patrimonial deve-se aferir no processo do ensino escolar, para tanto se

faz necessário que os docentes sejam capacitados para desenvolvê-los. A seguir foram

nominados alguns exemplos do Brasil com a inserção docente no projeto de Educação

Patrimonial. O primeiro retrata o Projeto de Educaçã Patrimonial para docentes no

município de São Borja – RS (Figura 3).

Figura 3 - Projeto Educação Patrimonial

Fonte: Disponível em: http://porteiras.r.unipampa.edu.br/portais/proextprojetos/2014/12/03/projeto-

de-educacao-patrimonial-para-os-docentes-da-rede-publica-de-sao-borja-rs/. Acesso: 08 de ago. 2017.

O município de São Borja-RS está localizado na fronteira oeste do estado

do Rio Grande do Sul e faz divisa com a municipalidade de Santo Tomé-

Argentina. Devido à importância histórica, política e cultural que teve no

passado, São Borja é reconhecida nacionalmente no Brasil, como

“Primeiro dos Sete Povos das Missões”, “berço do trabalhismo” e

principalmente por “Terra dos presidentes”, o que contribuiu para o

“título de cidade histórica”. Esta relevante trajetória histórica construiu

símbolos culturais e narrativas sociais que estão representados através das

paisagens culturais. Estas paisagens culturais abarcam as idéias de

significado, pertencimento, valor, bem como a singularidade de um lugar.

Em vista disso, está sendo realizado um Projeto de Extensão vinculado à

UNIPAMPA, que visa contribuir com o processo de valorização e

aprendizagem sobre a história, cultura, patrimônio, identidades, e espaços

sociais desta cidade histórica. Esta iniciativa intitulada Projeto Proext-

Mec “Curso de Educação Patrimonial para os docentes da rede pública”

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objetiva realizar oficinas e mini-cursos sobre diversas temáticas da

realidade sociocultural local, assim como elaborar um livro didático e

cartilha com técnicas para o ensino do patrimônio Histórico-Cultural

fronteiriço. Como instrumento metodológico de pesquisa, estão

levantadas e analisadas diversas paisagens que representam o cotidiano

sociocultural da fronteira. (UNIPAMA, 2013)

Outro exemplo a ser destacado refere-se as atividades desenvolvidas no Laboratório

de História – Curso de História da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB, localizado

no município de Campo Grande – MS. (Figura 4).

Figura 4 - Projeto Educação Patrimonial

A extensão no Laboratório de História - LABHIS é desenvolvida para

atender, a demanda de escolas públicas bimestralmente no que diz

respeito à educação patrimonial. Tal atividade é feita pelos alunos do

curso de história juntamente com os bolsistas de extensão, visando assim

à formação completa dos acadêmicos envolvidos no projeto. A extensão

no LABHIS também se propõe orientar os trabalhos de pesquisa e de

ensino dos alunos do curso de História, Direito e Arquitetura e

Urbanismo, para a complementação do ensino-aprendizagem em sala de

aula. Nesse contexto, ressalta-se que o LABHIS, enquanto Laboratório de

memória objetiva arquivar e preservar a documentação sob sua

responsabilidade; possibilitar o acesso e orientar o uso dos documentos;

implementar e assessorar atividades de pesquisa e de extensão no âmbito

da sua atuação; divulgar o acervo sob sua responsabilidade e os saberes

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decorrentes da sua atuação; promover ações em associação com

instituições congêneres da cidade e região, tendo em vista fortalecer

atitudes de respeito e responsabilidade pela memória social, expressos

nas ações da comunidade. As atividades de extensão são desenvolvidas,

por meio de oficinas, cursos, participação de eventos, orientações de

pesquisas e visitas em escolas públicas para trabalhar o patrimônio

cultural em Campo Grande-MS. (UCDB.BR/HIS, Disponível em: http://site.ucdb.br.> Acesso: 08 de ago. 2017).

O trabalho para o respeito, valorização e preservação ao Patrimônio Histórico Cultural

pode ser realizado em todas as instituições. Porém, como terreno fértil e prolífero para a

disseminação de boas intenções culturais, sociais, saudáveeis que também podem desenvolver a

sustentabilidade, é o ambiente escolar uma seara em condições de absorver ideias, compromissos

tratados em congressos e que compactuam com os escritos firmados nos Direitos Humanos.

Ressalta-se como muita propriedade o filme a Lista Schindeler revelando que em

cada edificação, existe uma história com sentimentos e identidade e que merece ser

estudada, pesquisada e conhecida. Em respeito, acima de tudo ao ser humano e

consequentemente a humanidade, as redes midiáticas mostram muitas vezes um passado

guardado na memória que estabelece uma conexão com a realidade daqueles que

vivenciaram um fato real, como mostra a figura 5.

Figura 5 - Fotografia do Filme: A Lista de Schindeler (1993), que retrata a 2ª Guerra Mundial

Fonte: Disponível em: https://cinemaedebate.com/2011/03/27/a-lista-de-schindler. Acesso: 08 de ago. 2017.

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Em pedra e cal cabem inúmeras histórias e acima de tudo os anseios de um mundo

que está sendo delineado por todos os agentes da “modernidade”. Sendo que, para que este

“afer”, não destrua os Diretos Humanos de 1948, os educadores devem continua a

trabalhar no âmbito educacional por meio da Educação Patrimonial.

5 Considerações Finais

A Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela Organização das

Nações Unidas (ONU) em 1948, surgiu depois da barbárie da segunda grande guerra

mundial. O contexto desta deixou não só derramamento de sangue, mas inúmeras

identidades foram destruídas em nome do poder dominador. Por buscas imperialistas

perde-se ter significados de vidas que deixaram rastros de angústias e desespero.

Com esta declaração e com os envolvimentos históricos desde então, pode-se cada

vez mais abrir horizontes para as participações políticas, sendo que, a história em seu bojo

existencial, sempre deixa marcada e deixará a luta dos humanos contra o poder tirânico que

deve ser substituído pelo respeito, valor e soluções feitas por diálogos para assegurar que

lutar por dignidade é possível, mesmos depois de vários horrores históricos.

6 REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1988.

______. Decreto nº 6.844, de 7 de maio de 2009. Aprova a Estrutura Regimental e o

Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas do Instituto

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, e dá outras providências. Diário

Oficial da União, Brasília, 2009.

______. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Sônia Rampim Florêncio

et. al. Departamento de Articulação e Fomento. (Ed.). Educação Patrimonial: Histórico,

conceitos e processos. Rio de Janeiro: IPHAN, 2014a. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/par/195-secretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/16689-

saiba-mais-programa-mais-educacao. Acesso em: 08 de ago. 2017..

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______. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Sônia Rampim Florêncio

et. al. Educação Patrimonial Programa mais Educação. Rio de Janeiro: IPHAN, 2014b.

______. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de dezembro de 1996, Seção I, p.

27833- 27841.

______. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais – pluralidade

cultural. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1988.

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