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DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA Curso preparatório para o concurso: Polícia Rodoviária Federal Professor : Gustavo de Lima Pereira Contato: [email protected] AULA 3 SISTEMAS DE PROTEÇÃO REGIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

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DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA

Curso preparatório para o concurso:

Polícia Rodoviária Federal

Professor : Gustavo de Lima Pereira

Contato: [email protected]

AULA 3 – SISTEMAS DE PROTEÇÃO REGIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

PROTEÇÃO REGIONAL DOS DIREITOS HUMANOS:

SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS:

- Sistema Europeu – 1950 - Sistema Interamericano – 1969 - Sistema Africano – 1981

SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS:

PRINCIPAIS DOCUMENTOS:

1. CARTA DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS – 1948 (CRIA A ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS)

2. DECLARAÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS E DEVERES DO HOMEM – 1948

3. CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS – 1969 (PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA)

4. PROTOCOLO DE SAN SALVADOR - 1988

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS

AMERICANOS OBS: Organização Internacional regional mais antiga do mundo

-Objetivos: alcançar nos Estados membros “uma ordem de paz e justiça, para promover sua solidariedade, intensificar sua colaboração e defender sua soberania, sua integridade territorial e sua independência” (Art. 1º COEA)

- Principais pilares: Democracia, Direitos Humanos, Segurança e Desenvolvimento

-Sede: Washington

- Membros: atualmente conta com 35 Estados membros OBS: o governo de Cuba esteve suspenso da OEA de 1962 até 2009

-Secretário-geral: Luis Almagro (atual)

OBS: o mandato do secretário-geral da OEA é de 5 anos, podendo ser reeleito uma vez – Art. 108 COEA)

DECLARAÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS E DEVERES DO HOMEM

- Aprovada na 9ª Conferência Internacional Americana, em Bogotá

- Antecede a DUDH

- Contém 38 artigos

- Estabelece direitos (do Art. 1º ao 27º) e deveres (do Art. 28º ao 38º)

PRINCIPAIS DEVERES DO HOMEM NA DADDH:

- conviver com os demais indivíduos

- auxiliar, alimentar, educar e amparar os filhos menores de idade e, aos filhos, de honrar, auxiliar, alimentar e amparar seus pais sempre que precisarem

- Adquirir, pelo menos, educação primária

- Votar nas eleições de seu país

- Trabalhar, obedecer a Lei e pagar impostos

- Prestar serviços civis e militares exigidos por seu país para a sua defesa e conservação

- Cooperar com o Estado na assistência e previdência sociais

- Ao estrangeiro, abster-se de tomar parte nas atividades políticas privativas dos nacionais

CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

(Pacto de San José da Costa Rica)

• Tratado que instrumentaliza o Sistema Interamericano (contendo direitos de 1ª dimensão)

• Elaborado em 1968, entrando em vigor em 1978, após a 11ª ratificação (Art. 74º)

OBS: os direitos de 2ª dimensão foram implementados ao Sistema pelo PROTOCOLO DE SAN SALVADOR (1988)

CONTEÚDO PRINCIPAL: • DEVERES DO ESTADO • adotar disposições do direito interno (Art. 2°)

DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS • direito à vida (Art. 4º) - Proibição do reestabelecimento da pena de morte aos países que a tenham abolido (proibição do retrocesso)

OBS: PROTOCOLO À CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS REFERENTE À ABOLIÇÃO DA PENA DE MORTE – 1990

(Brasil ratificou em 1996)

- Proibição da pena de morte aos menores de 18 e maiores de 70 anos, às gestantes e em casos de crime político ou conexo

-O direito à vida é protegido desde a concepção OBS: resolução n.º 23/81 da Comissão Interamericana de Direitos Humanos – (Caso 2141 - Christian White e Gary Potter x Estados Unidos de América)

RESOLUÇÃO 23/81

“Cuando se enfrenta la cuestión del aborto, hay dos aspectos por destacar en la formulación del derecho a la vida en la Convención. En primer término la frase "En general". En las sesiones de preparación del texto en San José se reconoció que esta frase dejaba abierta la posibilidad de que los Estados Partes en una futura Convención incluyeran en su legislación nacional "los casos más diversos de aborto". Segundo, la última expresión enfoca las privaciones arbitrarias de la vida. Al evaluar si la ejecución de un aborto viola la norma del artículo 4, hay que considerar las circunstancias en que se practicó. ¿Fue un acto "arbitrario"? Un aborto practicado sin causa substancial con base a la ley podría ser incompatible con el artículo 4.”

• direito à integridade pessoal (Art. 5°) - Proibição da submissão de torturas e penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes

• proibição da escravidão e da servidão (Art. 6º) - a vedação se estende ao tráfico de escravos e de mulheres

- Proibição de trabalhos forçados ou obrigatórios (nos países que se prescrevem, para certos delitos, pena privativa da liberdade acompanhada de trabalhos forçados, este não deve afetar a dignidade nem a capacidade física e intelectual do recluso)

• direito à liberdade pessoal (Art. 7°)

- “Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais” – (Audiência de custódia)

- Prisão por dívida admitida somente em casos de inadimplemento de pensão alimentar

OBS: Constituição Federal, Art. 5º, LXVII e Súmula Vinculante nº 25 (depositário infiel)

• garantias judiciais (Art. 8°) - Direito à duração razoável do processo - Direito à presunção de inocência enquanto não se comprove legalmente culpa

- Direito do acusado de ser assistido gratuitamente por tradutor ou intérprete, se não compreender ou não falar o idioma do juízo ou tribunal

- Direito ao duplo grau de jurisdição (Apelação 470/2013 – embargos infringentes/ mensalão)

• direito à liberdade de expressão (Art. 13°) - Para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o crime de desacato (Art. 331 CP) fere o direito de liberdade de expressão. Para a 2ª Turma do STF, é constitucional

• direito à propriedade privada (Art. 21º) - “Toda pessoa tem direito ao uso e gozo de seus bens A Lei pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social”

• direito de circulação e de residência (Art. 22°) - Consagra o direito de migrar como um direito humano (Assim como o Art. XIII DUDH)

- É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros ou sua retirada compulsória quando esta ameaça sua vida ou liberdade

- Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual for nacional, nem ser privado do direito de nele entrar

• DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS

(Ampliados pelo protocolo de San Salvador – 1988) • Desenvolvimento progressivo (Art. 26°)

SUSPENSÃO DE GARANTIAS, INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO • suspensão de garantias (Art. 27º) - Os Estados membros podem suspender, por tempo limitado, as obrigações contraídas no PSJCR em casos de guerra, perigo público ou ameaças à sua independência ou segurança, desde que sejam compatíveis com o Direito Internacional e não possibilitem qualquer tipo de discriminação, devendo comunicar os demais membros por intermédio do Secretário-geral da OEA

• normas de interpretação (art. 29°) - Nenhum dispositivo presente no Pacto pode ser interpretado no sentido de:

1. Suprimir e limitar o gozo e exercício dos direitos

previstos na Convenção 2. Excluir outros direitos e garantias inerentes ao

ser humano 3. Excluir e limitar a produção de efeitos da

DADDH

• DEVERES DAS PESSOAS • CORRELAÇÃO ENTRE DIREITOS E DEVERES (Art. 32°) -Todos têm deveres com a família, a comunidade e a humanidade

-O direito de cada pessoa é limitado pelo direito dos demais

ÓRGÃOS COMPETENTES PARA GARANTIA DOS MEIOS DE PROTEÇÃO:

• COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS

HUMANOS

• CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

COMISSÃO INTERAMERICANA DE

DIREITOS HUMANOS OBS: considerada o principal órgão da OEA ORIGEM: -V Reunião de Consulta dos Ministros de Relações Exteriores – Santiago/Chile - 1959 SEDE: - Washington (EUA)

COMPOSIÇÃO: - 7 membros (pessoas com autoridade moral e notório conhecimento em DH, indicadas pelos governos dos Estados membros e eleitas pela Assembleia geral, para um mandato de 4 anos, podendo ser reeleitas uma vez)

- Não poderá compor a CIDH mais de um nacional de um mesmo país (Art. 37º)

PRINCIPAIS FUNÇÕES: (Art. 41º) - Estimular a consciência dos DH no continente americano

- Formular recomendações aos governos dos Estados membros

- Solicitar informações dos Estados sobre as medidas adotadas em âmbito interno em matéria de DH

- Atender as consultas e prestar assessoramento em matéria de DH aos Estados que solicitarem perante a Assembleia geral

- Apresentar relatórios anuais de suas atividades para a Assembleia geral

COMPETÊNCIA: (Art. 44º) - Receber denúncias ou queixas sobre violações de Direitos Humanos efetuadas por algum Estado membro

LEGITIMADOS PARA PETICIONAR PERANTE A CIDH: - Entidades não-governamentais legalmente reconhecidas por algum Estado membro

- Qualquer pessoa ou grupo de pessoas (pessoalmente, através de advogado privado ou defensor interamericano)

defensor interamericano: (Art. 37º do regulamento da corte interamericana de DH) -Desde 2009, nos casos em que a situação econômica da vítima não lhe permita pagar advogado para atuar perante o Sistema Interamericano, a Associação Interamericana de Defensorias Públicas – AIDEF (integrada por Defensorias Públicas e associações de defensores públicos dos Estados membros), indicará 3 defensores públicos (2 titulares e 1 suplente) pertencentes aos quadros da entidade, para representarem a vítima

Requisitos para a petição perante a CIDH: (Art. 46º) 1. Esgotamento das vias de jurisdição interna OBS: esse requisito não se aplica nos casos: - Onde não exista previsão legal na jurisdição interna de mecanismos de proteção do direito violado

- Onde tenha sido negado ou prejudicado o acesso à jurisdição interna

- de demora injustificada da atuação da jurisdição interna

Requisitos para a petição perante a CIDH: (Art. 46º) 2. Apresentação da petição dentro do prazo de 6 meses, contados a partir da notificação ao prejudicado da decisão definitiva

3. Ausência de litispendência internacional 4. Qualificação da vítima (nacionalidade, profissão, domicílio e assinatura)

AO RECEBER A PETIÇÃO, A CIDH PODERÁ: - Declarar inadmissível a petição por ausência de requisitos - Reconhecer a admissibilidade da petição e solicitar informações ao Estado denunciado

- Declarar improcedente a petição, com base em informações ou provas supervenientes

- Promover uma investigação para comprovação dos fatos alegados

- Auxiliar as partes na composição de uma solução amistosa

- Redigir relatório formulando proposições e recomendações ao Estado denunciado

- Submeter o caso para julgamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos

CORTE INTERAMERICANA DE

DIREITOS HUMANOS SEDE: - San José (Costa Rica) COMPOSIÇÃO: - 7 juízes (de nacionalidades diferentes, eleitos pela Assembleia geral, para um mandato de 6 anos, admitindo-se a reeleição uma vez)

OBS: é garantida aos juízes da Corte todas as imunidades diplomáticas

COMPETÊNCIA DA CORTE:

-Oferecer pareceres consultivos solicitados pelos Estados membros da OEA a respeito da interpretação do PSJCR ou sobre a compatibilidade do direito interno em relação ao direito interamericano

- Julgar os casos submetidos pela CIDH

OBSERVAÇÕES: -As decisões da Corte são definitivas e inapeláveis -As partes poderão, até 90 dias após a notificação da decisão, solicitar à Corte a solução de eventuais divergências sobre o sentido ou alcance da sentença

-O quórum para deliberação da Corte é de 5 juízes (Art. 56º) -As decisões da Corte são de caráter moral e pecuniário, objetivando a reparação e a promoção dos direitos das vítimas que foram violados

O BRASIL E O PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA

-O país aderiu ao Tratado em 1992, reconhecendo a jurisdição da Corte Interamericana em 1998

- Fez reserva aos artigos 43 e 48, “d” da Convenção, permitindo a visita “in loco” da CIDH somente com a anuência expressa do Estado

-Na hierarquia das normas do ordenamento jurídico brasileiro, o Pacto é considerado como “supralegal”

CONDENAÇÕES DO BRASIL PELA CORTE INTERAMERICANA DE DH:

- CASO DAMIÃO XIMENES LOPES – 2006

- CASO ESCHER E OUTROS – 2009

- CASO SÉTIMO GARIBALDI – 2009

- CASO JÚLIA GOMES LUND E OUTROS– 2010

- CASO FAZENDA BRASIL VERDE – 2015

- CASO COSME ROSA GENOVEVA E OUTROS – 2017

- CASO VLADIMIR HERZOG - 2018

SISTEMA EUROPEU DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS:

PRINCIPAL DOCUMENTO:

CONVENÇÃO EUROPÉIA DE DIREITOS HUMANOS – 1950

(em vigor em 1953, após a 10ª ratificação)

A CONVENÇÃO EUROPEIA INSTITUI 3 ÓRGÃOS DISTINTOS:

1. COMISSÃO EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS

2. CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS

3. COMITÊ DE MINISTROS DO CONSELHO DA EUROPA

COMISSÃO EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS

FUNÇÕES:

- Apresentar regularmente relatórios ao Parlamento Europeu e um relatório anual sobre as atividades da União Europeia

- Atuar como guardiã dos Tratados e braço executivo da União Europeia

OBS: até 1998 (protocolo 11), a CEDH também era responsável pelo juízo de admissibilidade das petições ou comunicações antes do caso ser remetido à Corte Europeia de DH (como ocorre ainda no Sistema Interamericano)

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS

SEDE: - Estrasburgo (França) COMPOSIÇÃO: - 47 juízes (mesmo número de Estados membros), eleitos pela Assembleia consultiva europeia, para um mandato de 9 anos, admitindo-se a reeleição uma vez)

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS

FUNÇÕES: - Realizar juízo de admissibilidade e de mérito das petições a ela submetidas

- Emitir pareceres consultivos quando solicitados pelo Comitê de Ministros da União Europeia sobre a interpretação da Convenção Europeia e de seus Protocolos adicionais

COMITÊ DE MINISTROS DO CONSELHO DA EUROPA

FUNÇÕES: - Atuar como “órgão diplomático” para supervisionar o cumprimento das decisões da Corte Europeia de DH

OBS: até 1998 (protocolo 11), o Comitê também exercia a função de realizar juízo de admissibilidade das petições apresentadas perante a Comissão Europeia antes do caso ser remetido ao julgamento da Corte

PRINCIPAIS PROTOCOLOS ADICIONAIS DA CONVENÇÃO EUROPEIA DE DH:

-Protocolo 11 (1998): retira a necessidade de juízo de admissibilidade das petições pela Comissão Europeia e pelo Comitê de Ministros, possibilitando que os indivíduos ingressem com as demandas diretamente perante a Corte Europeia

-Protocolo 13 (2003): abole, por completo, a pena de morte, mesmo em situações e exceção

SISTEMA AFRICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS:

PRINCIPAL DOCUMENTO:

CARTA AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS – 1981

(em vigor em 1986 e hoje conta com a adesão de todos os 56 estados africanos)

OBS: Contém direitos de 1ª e 2ª Dimensão já em seu texto original

ÓRGÃOS DO SISTEMA AFRICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS:

1. COMISSÃO AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS

(11 MEMBROS)

2. CORTE AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS

(11 juízes – mandato de 6 anos)

- Em vigor em 2004, após a 15ª ratificação

LIGA DOS ESTADOS ÁRABES - 1945

- Criada com o propósito reforçar as relações entre os Estados-membros, coordenar suas políticas com o intuito de alcançar cooperação entre eles e de salvaguardar sua independência e soberania; e uma atenção generalizada para assuntos e interesses dos países árabes

- Atualmente conta com 22 Estados membros