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Direito Penal Sinopse Esquematizada Por Letícia Reis Mozer [email protected] Notas preliminares Legislação penal = a) Código Penal (parte geral e especial) b) Leis penais especiais (ex. Lei 11343/06 Lei de drogas) Finalidade do Direito Penal = Proteger os bens jurídicos mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade. Direito Penal Objetivo = Conjunto de normas editadas pelo Estado, definindo crimes e contravenções, isto é, impondo ou proibindo determinadas condutas sob ameaça de sanção ou medida de segurança. Direito Penal Subjetivo = É a possibilidade que o Estado tem de criar e fazer cumprir suas normas, executando as decisões condenatórias proferidas pelo Poder Judiciário. É O IUS PUNIENDI (direito de punir). Fontes do Direito Penal Conceito = Lugar de procedência, de onde se origina alguma coisa. Espécies: 1) Fontes de produção (material) = O Estado é a única fonte do Direito Penal. (art. 22, I, da CF) 2) Fontes de conhecimento (formal), que divide-se em: a) Imediatas = a Lei. b) Mediatas = Costumes e princípios gerais. Norma Penal Classificação das normas penais: 1) Normas penais incriminadoras = É reservada a estas normas a função de definir as infrações penais, proibindo ou impondo condutas, sob a ameaça de pena;

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Direito Penal – Sinopse Esquematizada

Por Letícia Reis Mozer

[email protected]

Notas preliminares

Legislação penal = a) Código Penal (parte geral e especial)

b) Leis penais especiais (ex. Lei 11343/06 – Lei de drogas)

Finalidade do Direito Penal = Proteger os bens jurídicos mais importantes e

necessários para a própria sobrevivência da sociedade.

Direito Penal Objetivo = Conjunto de normas editadas pelo Estado, definindo crimes e

contravenções, isto é, impondo ou proibindo determinadas condutas sob ameaça de

sanção ou medida de segurança.

Direito Penal Subjetivo = É a possibilidade que o Estado tem de criar e fazer cumprir

suas normas, executando as decisões condenatórias proferidas pelo Poder Judiciário. É

O IUS PUNIENDI (direito de punir).

Fontes do Direito Penal

Conceito = Lugar de procedência, de onde se origina alguma coisa.

Espécies:

1) Fontes de produção (material) = O Estado é a única fonte do Direito Penal. (art.

22, I, da CF)

2) Fontes de conhecimento (formal), que divide-se em:

a) Imediatas = a Lei.

b) Mediatas = Costumes e princípios gerais.

Norma Penal

Classificação das normas penais:

1) Normas penais incriminadoras = É reservada a estas normas a função de

definir as infrações penais, proibindo ou impondo condutas, sob a ameaça de

pena;

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#) Preceitos da norma penal incriminadora: a) preceito primário = é o encarregado

de fazer a descrição detalhada e perfeita da conduta que se procura proibir ou

impor;

b) preceito secundário = cabe a

tarefa de individualizar a pena, cominando-a em abstrato;

EX.: Art. 155. Subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel. (preceito

primário)

Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (preceito secundário)

2) Normas penais não incriminadoras = Possuem as seguintes finalidades:

tornar lícitas determinadas condutas; afastar a culpabilidade do agente,

erigindo causas de isenção de pena; esclarecer determinados conceitos;

fornecer princípios gerais para a aplicação da lei penal.

SUBDIVIDEM-SE EM:

a) Permissivas - podendo ser = #) permissivas justificantes = quanto tem por

finalidade afastar a ilititude da conduta do agente. Ex.: arts. 23, 24 e 25 do CP.

#) permissivas exculpantes = quando se

destinam a eliminar a culpabilidade, isentando o

agente de pena. Ex.: arts. 26, caput, e 28 § 1º, do

CP.

b) Explicativas = são aquelas que visam esclarecer ou explicitar conceitos. Ex.: art.

327, CP (define funcionário público).

c) Complementares = são as que fornecem princípios gerais para a aplicação da

lei penal. Ex.: art. 59 do CP.

3) Normas penais em branco (primariamente remetidas) = São aquelas em que

há necessidade de complementação para que se possa compreender o

âmbito de aplicação de seu preceito primário. A doutrina divide as normas

penais em branco em DOIS grupos:

a) Homogêneas = quando o seu complemento é oriundo da mesma fonte

legislativa que editou a norma que necessita desse complemento. Ainda há a

subdivisão das normas penais em branco homogêneas em: HOMOVITELINA, é

aquela cuja norma complementar é do mesmo ramo que a principal, ou seja, lei

penal será complementada por outra lei penal. Ex.: art. 328 do CP que é

complementado pelo art. 5º, § 1º do CP.

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HETEROVITELINA, tem suas respectivas normas complementares oriundas de

outro ramo do direito. Ex.: art. 178 do CP, que é complementado pelas normas

(comerciais) deste título de crédito.

b) Heterogêneas = quando o seu complemento é oriundo de fonte diversa

daquela que a editou. Ex.: art. 28 da Lei 11343/06, que é complementada por

um portaria da ANVISA.

4) Normas penais incompletas ou imperfeitas (secundariamente remetidas) =

São aquelas que, para saber a sanção imposta pela transgressão de seu

preceito primário, o legislador nos remete a outro texto de lei. Ex.: art. 1º da

Lei 2889/56, que define e pune o crime de genocídio.

5) Concurso (ou conflito) aparente de normas penais = quando para

determinado fato, aparentemente, existem duas ou mais normas que

poderão sobre ele incidir. O conflito, porque aparente, deverá ser resolvido

com a análise dos seguintes princípios:

a) Princípio da especialidade = a norma especial afasta a aplicação da norma geral.

Lex specialis derrogat generali. Ex.: homicídio versus infantocídio.

b) Princípio da subsidiariedade = a norma dita subsidiária é considerada, na

expressão de HUNGRIA, como um “soldado de reserva”, isto é, na ausência ou

impossibilidade de aplicação da norma principal mais grave, aplica-se a norma

subsidiária menos grave. Lex primaria derrogat legi subsidiariae. Pode ser:

EXPRESSA = quando a própria lei faz a sua ressalva. Ex.: art. 132, CP.

TÁCITA = quando o artigo, embora não se referindo

expressamente em seu caráter subsidiário, somente terá

aplicação nas hipóteses de não ocorrência de um delito

mais grave , que , neste caso, afastará a aplicação da

norma subsidiária.Ex.: art. 311 do CTB, que se não

observado pode causar o que descreve o art. 302 do

mesmo diploma legal.

c) Princípio da consunção = pode-se falar em tal princípio em dois casos:

#) quando um crime é meio necessário ou normal

fase de preparação ou de execução de outro

crime;

#) nos casos de antefato e pós-fato impuníveis;

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d) Princípio da alternatividade = terá aplicação quando estivermos diante de

crimes tidos como de ação múltipla (crimes plurinucleares). Ex.: art. 33 da Lei

11343/06.

Interpretação e Integração da Lei Penal

Interpretar = É tentar buscar o efetivo alcance da norma.

1) Espécies de interpretação:

a) Objetiva = busca-se descobrir a suposta vontade da lei.

b) Subjetiva = busca-se alcançar a vontade do legislador.

2) Classificação:

Quanto ao sujeito: a) autêntica é a interpretação realizada pelo próprio

texto legal, podendo ser considerada contextual ou posterior. #)

CONTEXTUAL é a interpretação realizada no mesmo momento em que é

editado o diploma legal que se procura interpretar, e #) POSTERIOR é a

interpretação realizada pela lei, depois da edição de um diploma legal

anterior.

b) doutrinária é aquela realizada pelos estudiosos

do direito, os quais, comentando sobre a lei que se

pretende interpretar, emitem opiniões pessoais.

c) jurisprudencial é a realizada pelos aplicadores

do direito , ou seja, pelos juízes de primeiro grau e

magistrados que compõe os tribunais, podendo

ainda incluir neste conceito as súmulas que

podem ou não ter poder vinculante.

Quanto aos meios: a) literal (gramatical) é aquela em que o exegeta de

preocupa simplesmente, em saber o real e efetivo significado das

palavras.

b) teleológica é quando o intérprete busca

alcançar a finalidade da lei, aquilo ao qual ela se

destina regular.

c) sistêmica (sistemática) o exegeta analisa o

dispositivo legal no sistema no qual ele está

contido, e não de forma isolada

d) histórica, o intérprete volta ao passado, ao

tempo em que foi editado o diploma que se quer

interpretar, buscando os fundamentos de sua

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criação, o momento pelo qual a sociedade passava

e etc.

Quanto aos resultados: a) declaratória, onde o intérprete não amplia

nem restringe seu alcance, apenas declara a vontade da lei.

b) restritiva é aquela em que o intérprete

diminui, restringe o alcance da lei, uma vez que

esta, à primeira vista, disse mais do que

efetivamente pretendia dizer (lex plus dixit quam

voluit), buscando, dessa forma, apreender o seu

verdadeiro sentido.

c) extensiva ocorre quando, para que se possa

conhecer a exata amplitude da lei, o intérprete

necessita alargar seu alcance, haja vista ter aquela

dito menos do que efetivamente pretendia (lex

minus dixit quam voluit).

Interpretação Analógica

Quer dizer que uma fórmula casuística, que servirá de norte ao

exegeta, segue-se uma fórmula genérica.

Analogia

CONCEITO = Define-se analogia como uma forma de autointegração da norma,

consistente em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição legal

relativa a um caso semelhante, atendendo-se, assim, ao brocardo ubi eadem

ratio, ubi eadem legis dispositivo.

a) Analogia in bonam partem = para beneficiar o réu = PERMITIDO.

b) Analogia in malam partem = para prejudicar o réu = PROIBIDO.

Princípio da Intervenção Mínima

O Direito Penal só deve se preocupar-se com a proteção dos bens mais

importantes e necessários à vida em sociedade.

Direito Penal = ultima ratio, devendo interferir o menos possível na vida em

sociedade.

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Princípio da Lesividade

Intervenção mínima + lesividade = duas faces de uma mesma moeda;

Nos esclarecerá, limitando ainda

mais o poder do legislador, quais as

condutas que poderão ser

incriminadas pela lei penal.

Somente permite a interferência do Direito Penal

quando estivermos diante de ataques a bens

jurídico importantes.

4 PRINCIPAIS FUNÇÕES DO P. DA LESIVIDADE

a) Proibir a incriminação de uma atitude interna = cogitationis poenam

nemo patitur, ou seja, ninguém pode ser punido por aquilo que

pensa, ou mesmo por seus sentimentos pessoais.

b) Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do

próprio autos = o Direito Penal também não poderá punir aquelas

condutas que não sejam lesivas a bens de terceiros, pois não

excedem o âmbito do próprio autor. Ex.: autolesão ou tentativa de

suicídio.

c) Proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais

= impedir que o agente seja punido por aquilo que ele é, e não pelo

que ele fez.

d) Proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetam

qualquer bem jurídico = busca-se afastar da incidência de aplicação

da lei penal aquelas condutas que, embora desviadas, não afetam

qualquer bem jurídico de terceiros. Ex.: não se pode punir ninguém

por não gostar de tomar banho regularmente.

Princípio da Adequação Social

Segundo LUIZ REGIS PRADO = “a teoria da

adequação social, concebida por Hans Welzel,

significa que apesar de uma conduta se subsumir

ao modelo legal não será considerada típica se for

socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se

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estiver de acordo com a ordem social da vida

historicamente condicionada.”

EXEMPLO.: o trânsito nas grandes cidades, o transporte aéreo e a existência de

usinas atômicas.

Princípio da Fragmentariedade

Caráter fragmentário do Direito Penal = significa, em síntese, que, uma vez

escolhidos aqueles bens fundamentais, comprovada a lesividade e a

inadequação das condutas que os ofendem, esses bens passarão a fazer parte

de uma pequena parcela que é protegida pelo Direito Penal, originando-se,

assim, a sua natureza fragmentária.

FRAGMENTARIEDADE = INTERVENÇÃO MÍNIMA+LESIVIDADE+ADEQUAÇÃO SOCIAL

CONSEQUÊNCIA

Princípio da Insignificância

Também conhecido como bagataela. Para compreender tal princípio, é preciso fazer uma análise sobre a

tipicidade penal conglobante, que possui dois aspectos fundamentais:

a) Se a conduta do agente é antinormativa = não imposta/autorizada pelo

estado. EX.: caminhão de combustível que transita pela rodovia.

b) Se o fato é materialmente típico = efetiva e relevante lesão ao bem

protegido. EX.: se uma pessoa, atrasada para seu trabalho, ao retirar o

carro da garagem, não obseva se há algum pedestre transitando ali em

frente, e assim, engata a ré e pisa no acelerador, vindo a perceber que

havia uma pessoa em frente a sua garagem e imediatamente pisa no

freio e tal ação causa no pedestre um arranhão de 2 cm. No caso em

tela, a lesão causada ao referido pedestre não é o tipo de lesão que o

legislador objetivou punir, devido a sua insignificância, ante ao real

objeto do direito penal.

Assim, temos: se não há tipicidade material, não há tipicidade

conglobante; por conseguinte, se não há tipicidade penal, não haverá

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fato típico; e, como consequência lógica, se não há fato típico, não

haverá crime.

OBS.: aos crimes praticados mediante violência ou grave ameaça à

pessoa, não há que se falar em princípio da insignificância. ( HC

100.528/SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5º T., julgado em

10/06/2008, DJe 04/08/2008).

Princípio da individualização da pena

Art. 5º, XLVI, da CF/88

Ocorre em 3 momentos:

a) Fase da valoração = feita pelo legislador;

b) Fase da aplicação = compete ao julgador, ou seja, ao aplicador da lei;

c) Fase da execução = Juízo da execução (art. 5º da Lei nº 7.210/84 – Lei de

Execução Penal).

OBS.: o princípio da individualização da pena e o art. 2º, § 1º da Lei nº

8.072/90 (Lei dos crimes hediondos); edição da Lei nº 11.646/2007 que

modificou o supramencionado diploma legal, permitindo a progressão de

regime; STF Súmula Vinculante nº 26.

Princípio da proporcionalidade

Segundo Alberto Silva Franco: “ O princípio da proporcionalidade exige

que se faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre o

bem que é lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de

que pode alguém ser privado (gravidade da pena) (...).

Princípio da responsabilidade pessoal

Art. 5º, XLV, da CF/88

Espécies de pena = (art. 32 do CP)

- privativas de liberdade;

- restritivas de direito;

- de multa;

A pena é impessoal, ou seja, não poderá, jamais, ultrapassar a pessoa do

condenado, tal como determina a norma constitucional.

Princípio da limitação das penas

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Art. 5º, XLVII, da CF/88

Não haverá:

I - pena de morte (salvo em caso de guerra declarada – art. 84, XIX, da

CF/88);

II - de caráter perpétuo, eis que incompatível com a ressocialização;

III – de trabalhos forçados, ou seja, aqueles que humilham o condenado

pelas condições como é executado. A lei de execuções penais menciona o

trabalho do preso, que traz benefícios ao mesmo, sendo que para cada três

dias trabalhados, haverá um dia de sua pena, remido (perdoado);

IV – de banimento, uma vez que contraria o disposto do art. XV, 1 e 2, da

Declaração Universal dos Direitos do Homem, na qual o Brasil é signatário;

V – penas cruéis, eis que contraria o princípio basilar de nosso

ordenamento jurídico, qual seja, a dignidade da pessoa humana,

considerando ainda a redação do art. 5º, XLIX, da CF/88, ao assegurar ao

preso o respeito à sua integridade física e moral.

Princípio da culpabilidade

Conceito = só pode ser punido penalmente o autor do injusto penal que

podia comportar-se de maneira diversa;

Outras análises:

a) Culpabilidade como elemento integrante do conceito de crime;

b) Culpabilidade como princípio medidor de pena; (art. 59 do CP)

c) Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal

objetiva, ou seja, o da responsabilidade penal sem culpa;

Princípio da legalidade

Conceito = o cidadão só responderá por aquilo que estiver expresso em

lei (sentido estrito).

Estado de direito x Princípio da legalidade = são dois conceitos

intimamente relacionados, vez que em um verdadeiro Estado de direito,

este cria leis, mas também se subordina a elas.

Legislação = art. 5º, XXXIX, da CF/88 e art. 1º do CP.

Formulação latina = nullum crimen nulla poena sine lege.

Funções:

a) Proibir a retroatividade da Lei penal;

b) Proibir a criação de crimes e penas pelos costumes;

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c) Proibir o emprego da analogia para criar crimes, fundamentar ou

agravar penas;

d) Proibir incriminações vagas e indeterminadas;

Legalidade: FORMAL = obediência aos trâmites procedimentais;

está para a vigência;

MATERIAL = obediência ao conteúdo constitucional; está

para a validade;

Princípio da extra-atividade da lei penal

Conceito = é a capacidade que tem a lei penal de se movimentar no

tempo, regulando todos os fatos ocorridos durante a sua vigência

(validade), mesmo depois de ter sido revogada, ou de retroagir no

tempo, a fim de regular situações ocorridas anteriormente á sua

vigência, desde que benéfica (in mellius);

Espécies:

a) Ultra-atividade = quando a lei, mesmo depois de revogada, continua a

regular os fatos ocorridos durante a sua vigência;

b) Retroatividade = é a possibilidade conferida á lei penal de retroagir no

tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada

em vigor;

EXEMPLO.: uma pessoa na condução de um veículo automotor, atropela

outra pessoa, vindo esta à óbito. Os fatos ocorreram no dia 01/07/97,

sendo que no dia 23 do referido mês, entraria em vigor o CTB, que prevê

pena mais grave do que a descrita no CP (art. 121), cominando a pena de 2

a 4 anos para quem cometer tal delito. No caso em tela, aplicar-se a lei mais

benéfica, ou seja, haverá a ultra-atividade do Código Penal.

Tempo do crime:

a) Teoria da atividade – adotada pelo nosso CP – art. 4º do CP “considera-

se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro

seja o momento do resultado”.

b) Teoria do resultado = determina que o tempo do crime será o da

ocorrência do resultado.

c) Teoria da ubiquidade = concede igual relevo aos dois momentos

apontados pelas teorias anteriores, sendo o tempo do crime, para esta

teoria, tanto o momenta da ação ou omissão quanto o momento em

que se produziu o resultado.

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Novatio legis in mellius (Lex mitior) – Lei editada após a conduta do agente,

sendo esta mais benéfica. EX.: diminuição da pena de determinado crime. – art.

127 da Lei de Execuções Penais.

Novatio legis in pejus (Lex gravior) – Lei editada posteriormente á conduta do

agente, sendo que esta impões penas mais severas que a anterior. EX.: lei que

aumentou a pena de determinado crime. – art. 302 do CTB.

Aplicação da novatio legis in pejus nos crimes permentes e continuados:

Permanentes = quando sua execução se prolonga, se perpetua no

tempo;

Continuados – art. 71 do CP;

STF - Súmula 711 = a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado

ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior á cessação da

continuidade ou permanência.

Abolitio criminis:

Conceito = é a descriminalização, ou seja, quando uma nova lei deixa de

considerar certa infração penal como crime, pois passou a entender que

o direito penal não mais se faz necessário à proteção de determinado

bem.

Efeitos = faz cessar todos os efeitos penais da sentença condenatória,

permanecendo, contudo, seus efeitos civis. (art. 107, III, do CP)

Abolitio criminis temporalis:

Conceito = é a situação na qual a aplicação de determinado tipo penal

encontra temporariamente suspenso. EX.: art. 30 da lei nº 10.826/2003

(estatuto do desarmamento), que descriminalizou, durante certo

período, a posse de armas de fogo de uso permitido não registradas,

fixando prazo para o devido registro.

Lei excepcional ou temporária – art. 3º do CP.

Lei temporária = quando a lei traz em seu texto o dia do início, bem

como o do término de sua vigência.

Lei excepcional = é aquela editada em virtude de situações excepcionais

(anormais), cuja vigência é limitada pela própria duração da aludida

situação que levou á edição do diploma.

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Territorialidade – art. 5º do CP.

Território nacional = espaço físico (geográfico) + espaço jurídico

(equiparação).

Princípios:

a) Princípio da territorialidade = Lei pena só tem aplicação no território do

Estado que a editou, pouco importando a nacionalidade do sujeito ativo

ou passivo;

b) Princípio da territorialidade absoluta = só lei nacional é aplicável a fatos

cometidos em seu território;

c) Princípio da territorialidade temperada – ADOTADA PELO CP- a lei se

aplica aos fatos praticados em seu território, mas, excepcionalmente,

permite-se a aplicação de lei estrangeira. Quando assim estabelecer

algum tratado de convenção internacional;

Lugar do crime:

Adota-se a teoria da ubiquidade (mista);

Extraterritorialidade:

Espécies de territorialidade:

a) Incondicionada = é a possibilidade de aplicação da lei penal a fatos

ocorridos no estrangeiro sem que, para tanto, seja necessário o

concurso de qualquer condição – art. 7º, I, do CP.

b) Condicionada = é a aplicação de lei brasileira às hipóteses do inciso II do

art. 7º, se presentes os requisitos do § 2º do art. 7º do CP.

Princípios – classificação clássica

a) P. da nacionalidade ativa = aplica-se a lei do país da nacionalidade do

agente. (art. 7º, II, b, do CP)

b) P. da nacionalidade passiva = aplica-se a lei do país da nacionalidade do

agente quando ofender um concidadão (nacionalidade do agente).

c) P. da defesa real = aplica-se a lei do país da nacionalidade do bem

jurídico lesado e também chamado de princípio da proteção. (art. 7º, I,

a,b,c, § 3º, do CP)

d) P. da justiça universal = agente fica sujeito a lei do país em que for

encontrado. (art. 7º, I, d, II, a, do CP)

e) P. da representação = a lei penal nacional aplica-se aos crimes

praticados em aeronaves e embarcações privadas, quando no

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estrangeiro, desde que não julgados no lugar do crime. (art. 7º, II, c, do

CP)

Pena cumprida no estrangeiro = condenação do estrangeiro de

determinado crime em que se encaixa no art. 7º, terá

consequentemente aplicação do art. 8º do CP;

Eficácia da sentença estrangeira

Sentença judicial = é um ato de soberania do Estado, que em regra, fica

adstrito aos limites do território.

- para ser eficaz, executa-se.

- a sentença estrangeira precisa ser homologada ( art. 475-N, VI, do CPC) –

STJ.

Contagem de prazo

- quando se tratar de prazo processual, por exemplo, prazo concedido

ao MP para o oferecimento da denúncia, aplica-se o art. 798, § 1º, do

CPP;

- quando se referir diretamente aos direitos inerentes aos cidadãos, no

que diz respeito á sua liberdade, aplicar-se-á a regra disposta do art. 10

do CP;

Frações não computáveis da pena:

a) Frações de dia (privativa de liberdade/restritiva de direito) =

ninguém pode ser condenado a pena de 1 mês e 6 horas.

b) Frações de cruzeiros (multa) = leia-se real, ou seja, não se conterá

os centavos.

Legislação especial = consagra a aplicação subsidiária das normas

gerais de direito penal à legislação especial, desde que esta não trate

do tema de forma diferente. Ex.: a tentativa nas contravenções penais

– art. 14, II, do CP prevê, mas o art. 4º da LCP veda.

Teoria geral do delito

1) Infração penal – sistema dualista:

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a) Crime/delito;

b) Contravenção penal;

- Principais diferenças crime x contravenções = o grau, puramente

axiológico (valor), não ontológico (natureza comum). Os fatos mais graves

devem ser como crimes e os mais graves considerados como contravenção.

2) Crime:

a) Conceito formal = leva em consideração o crime visto na sua forma, na

sua aparência. Crime portanto, é toda ação legalmente punível (é todo

conduta que viola um norma penal incriminadora).

b) Conceito material = leva em consideração o crime visto na sua essência,

na sua substância. Crime é toda ação ou omissão dirigida

finalisticamente á produção de um determinado resultado, provocando

uma lesão a um bem jurídico individual ou interesse coletivo.

c) Conceito analítico = para Zaffaroni, “delito é uma conduta humana

individualizada mediante um dispositivo legal (tipo) que revela sua

proibição (típica), que por não estar permitida por nenhum preceito

jurídico (causa de justificação) é contrária ao ordenamento jurídico

(antijurídico) e que, por ser exigível do autor que atuasse de outra

maneira ou circunstância, lhe é reprovável (culpável).

3) Teoria tripartida = adota-se como partes integrantes do crime o FATO

TÍPICO + ANTIJURÍDICO + CULPABILIDADE.

4) Elementos da infração penal:

a) Tipicidade = é o enquadramento da conduta concretizada pelo agente

na norma penal (ação típica/fato típico).

b) Antijuridicidade = ato contrário ao ordenamento jurídico (ilicitude).

c) Culpabilidade = responsabilidade pessoal por um fato antijurídico, ou

seja, juízo de reprovação sobre determinada conduta contrária à norma

penal.

Análise do fato típico:

CONDUTA

1) Conceito = é toda ação ou omissão humana, consciente ou voluntária,

dolosa ou culposa, voltada a uma finalidade, típica ou não, mas que produz

ou tenta produzir um resultado previsto na lei penal como crime.

2) Teorias:

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a) Teoria causalista = é a ação humana voluntária causadora de modificação

do mundo exterior; dolo e culpa estão na culpabilidade; para esta teoria os

tipos penais normais só devem ter elementos objetivos.

b) Teoria da ação social = comportamento humano voluntario, psiquicamente

dirigido a um fim social relevante; dolo e culpa permanecem no fato típico,

mas voltam a ser analisados na culpabilidade;

c) Teoria finalista – adotada pelo CP – comportamento humano voluntário

psiquicamente dirigido a fim; dolo e culpa estão no fato típico; reconhece

elementos objetivos normativos e subjetivos do tipo.

3) Espécies de conduta:

a) Dolosa = dolo é a vontade inconsciente de realizar (ou aceitar realizar) a

conduta prevista no tipo penal incriminador. O agente atua com dolo,

quando quer diretamente o resultado ou assume o risco de produzi-lo (dolo

eventual).

b) Culposa = culpa consciente numa conduta voluntária que realiza um fato

típico não querido pelo agente, mas que for por ele previsto (culpa

consciente) ou lhe era previsível (culpa inocente) e podia ser evitado se o

agente atuasse com o devido cuidado.

*) Modalidades da culpa:

- imprudência = afoiteza;

- negligência = a falta de preocupação;

- imperícia = falta de aptidão técnica para o exercício de arte, ofício ou

profissão.

OBS.: a regra para o Código Penal é de que todo crime seja doloso, somente

sendo punida a conduta culposa quando houver previsão legal – art. 18,

parágrafo único, do CP.

c) Comissiva (positiva) = o agente direciona a sua conduta ou uma finalidade

ilícita. EX.: art. 155 do CP.

d) Omissiva (negativa) = é a abstenção de atividade juridicamente exigida.

Constitui uma atitude psicológica e física de não-atendimento da ação

esperada, que devia e podia ser praticada. O conceito é, portanto,

puramente normativo. Os crimes comissivos podem ser:

- PRÓPRIOS (puros e simples) = o agente tem o chamado dever genérico de

proteção;

- IMPRÓPRIOS (comissivos por omissão ou omissivos qualificados) = aquele em

que as pessoas elencadas no § 2º do art. 3º do CP tem o dever específico de

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evitar o resultado, pois o agente encontra-se na posição de garantidor, sendo

que neste caso, a omissão será tratada como ação, respondendo o agente por

crime comissivo.

4) Ausência de conduta:

a) Caso fortuito/força maior;

b) Coação física irresistível;

c) Movimento reflexo;

d) Estado de inocência;

5) Fases da conduta:

a) Fase interna = 1) pensar, refletir o que deseja alcançar. 2) refletir nos

meios utilizados e se a conduta poderá causar outros efeitos.

b) Fase externa = o agente exterioriza tudo aquilo que havia arquitetado

mentalmente.

OBS.: não se pune a cogitação/preparação – salvo art. 288 do CP.

Resultado

1) Conceito = modificação do mundo exterior, provocado pela conduta.

2) Espécies:

a) Naturalístico = da conduta resulta alteração física no mundo exterior. EX.:

morte; diminuição patrimonial, etc.

b) Normativo (jurídico) = da conduta resulta lesão ou perigo de lesão ao bem

jurídico tutelado.

3) Classificação:

a) Crime material = é aquele que só ocorre com a produção do resultado

naturalístico, como o homicídio, que só se consuma com a morte; se este

não ocorrer por circunstâncias alheias à vontade do agente, ocorrerá a

tentativa.

b) Crime formal = aquele em que o resultado naturalístico é até possível, mas

irrelevante, uma vez que a consumação se opera antes e independente de

sua produção. EX.: art. 158 do CP, consuma-se somente com a violência ou

grave ameaça, somente.

c) Crime de mera conduta = é aquele que não admite, em hipótese alguma,

resultado naturalístico. EX.: art. 135 do CP.

Continua...