direito penal iii crimes contra a inviolabilidade dos segredos
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DIREITO PENAL IIIProfessor Dr. Urbano Félix Pugliese
Crimes contra a pessoa: Capítulo VI -
Crimes contra a liberdade individual
Divisão do capítulo VI: SEÇÃO I
Os crimes contra a liberdade pessoal; SEÇÃO II
Dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio; SEÇÃO III
Dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência; e
SEÇÃO IVDos crimes contra a inviolabilidade dos segredos.
Seção IV:
Delitos encontrados nos crimes contra a inviolabilidade dos segredos:
1) Art. 153 – Divulgação de segredos; e2) Art. 154 – Violação de segredo profissional; e3) Art. 154-A – e 154-B – Invasão de dispositivo
informático.
Divulgação de segredo:Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º Somente se procede mediante representação. § 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 2o Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada.
Bem jurídico tutelado: Tutela-se a privacidade, intimidade, segredo,
honra e imagem das pessoas (divulgação causa vulneração na honra (objetiva ou subjetiva) das pessoas);
Art. 5, X: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”;
Sujeito ativo = Próprio (detentor da informação sigilosa); e
Sujeito passivo = Próprio (titular da informação sigilosa).
Tipo objetivo:
PúblicoPrivado
ÍntimoSegredo
Público: Todos têm o direito de saber da informação – todos podem saber da informação por que não fere quaisquer direitos;
Privado: Nem todos têm direito e nem podem saber da informação;
Íntimo: Poucos têm direito ou podem saber da informação; e
Segredo: Ninguém tem direito ou pode saber da informação.
Tipo objetivo:
Art. 232 do CPP: “ Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares. Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente autenticada, se dará o mesmo valor do original”;
Divulgar: Difundir, espalhar, tornar público; Elemento normativo do tipo: “Sem justa
causa”; e Há outras violações de segredos: Art. 13 (Lei
n. 7.170/83), art. 195 (Lei n. 9.279/96).
Tipo objetivo:
Elemento subjetivo do tipo penal: Dolo genérico (caso tenha um especial fim de agir
será um outro delito); Não há forma culposa;
Consumação e tentativa: O delito se consuma: Quando o segredo é divulgado
para um número indeterminado de pessoas (crime formal);
Quando uma única pessoa sabe não caracteriza o delito; e
A tentativa é possível.
Ação penal:Regra: Ação penal pública condicionada à
representação: § 1º Somente se procede mediante representação;
Exceção: Ação penal pública incondicionada: § 2o Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada.
Penas: Caput: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Modalidade equiparada:§ 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa; Tutela-se as informações sigilosas ou reservadas de especial interesse da administração pública; Sujeito ativo: Qualquer pessoa; e Sujeito passivo: Estado (particular de maneira indireta).
Modalidade equiparada: Norma penal em branco: “assim definidas em lei”; Art. 20/CPP. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes;
Art. 207/CPP. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho; e
Art. 202/LEP. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei.
Lei de acesso à informação (Lei n. 12.527/11):Art. 4o Para os efeitos desta Lei, considera-se: I - informação: dados, processados ou não, que podem ser utilizados para produção e transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato; II - documento: unidade de registro de informações, qualquer que seja o suporte ou formato; III - informação sigilosa: aquela submetida temporariamente à restrição de acesso público em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado; IV - informação pessoal: aquela relacionada à pessoa natural identificada ou identificável;
Lei de acesso à informação (Lei n. 12.527/11):
Art. 4o Para os efeitos desta Lei, considera-se: V - tratamento da informação: conjunto de ações referentes à produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transporte, transmissão, distribuição, arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação, destinação ou controle da informação; VI - disponibilidade: qualidade da informação que pode ser conhecida e utilizada por indivíduos, equipamentos ou sistemas autorizados; VII - autenticidade: qualidade da informação que tenha sido produzida, expedida, recebida ou modificada por determinado indivíduo, equipamento ou sistema; VIII - integridade: qualidade da informação não modificada, inclusive quanto à origem, trânsito e destino; IX - primariedade: qualidade da informação coletada na fonte, com o máximo de detalhamento possível, sem modificações.
Divulgar: Difundir, espalhar, tornar público; Elemento normativo do tipo: “Sem justa
causa”;
Consumação e tentativa: O delito se consuma: Quando há a simples
atividade do verbo típico (crime de mera conduta); Não carece haver dano;
A tentativa é possível; e
Elemento subjetivo: Dolo genérico; não há forma culposa.
Tipo objetivo:
Ação penal:Regra: Ação penal pública condicionada à
representação: § 1º Somente se procede mediante representação;
Exceção: Ação penal pública incondicionada: § 2o Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada;
Penas: Forma qualificada: § 1o-A. Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Violação de segredo profissional:
Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.
Bem jurídico tutelado: Tutela-se a liberdade da mantença dos segredos; Sujeito ativo = Próprio (detentor da informação
sigilosa por causa da função, ministério, ofício ou profissão);
Precisa de nexo entre a atividade exercida e o segredo (confidente necessário);
Pode haver o delito mesmo que não seja confidente necessário; ex. faxineira, motorista;
Sujeito passivo = Próprio (titular da informação sigilosa); e
Há outros tipos de segredo: arts. 325 e 353 do CP.
O segredo há de ser relacionado à:1) Função: Qualquer trabalho, mesmo sem nome
ou ganho;2) Ministério: Relação religiosa/filantrópica
(padre, pastor) 3) Ofício: Qualquer trabalho manual/mecânico
(mecânico, vendedor de picolé); 4) Profissão: Trabalho intelectual (advogado,
médico); e Elemento normativo do tipo: sem justa causa
(Motivo justificado).
Tipo objetivo:
Revelar: Divulgar, tornar público; Segredo: Esfera de informação que ninguém tem o direito de
saber e ninguém pode saber; e A atividade precisa ser privada, caso seja pública será o art. 325
do CP: “Violação de sigilo funcional Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave. § 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública; II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. § 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.”
Tipo objetivo:
Elemento subjetivo do tipo penal: Dolo genérico; Não há forma culposa;
Consumação e tentativa: O delito se consuma: Quando o segredo é
divulgado para um terceiro (crime formal); Quando uma única pessoa sabe não caracteriza
o delito; e A tentativa é possível.
Ação penal:Ação penal pública condicionada à
representação: Parágrafo único - Somente se procede mediante representação; e
Penas: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Invasão de dispositivo informático:Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa; Famosa Lei Carolina Dickmann (Lei n. 12.737/12) introduziu o tipo no CP.
Invasão de dispositivo informático:§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput. § 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. § 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
Invasão de dispositivo informático:§ 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos. § 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra: I - Presidente da República, governadores e prefeitos; II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
Bem jurídico tutelado: Tutela-se a privacidade, intimidade, segredo, honra
e imagem das pessoas (divulgação causa vulneração na honra (objetiva ou subjetiva) das pessoas);
Art. 5, X: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”;
Sujeito ativo = Qualquer pessoa; e Sujeito passivo = Próprio (titular dos dados ou
informações não públicas (intimidades das pessoas)).
Invadir: Entrar sem permissão; Não basta entrar no dispositivo informático
(qualquer aparelho que receba e envie informações; ex. notebook, celular, laptop, PC);
Alheio: Precisa pertencer a terceiros; e Elemento normativo do tipo: “mediante
violação indevida de mecanismo de segurança” (senhas, programas de computador de bloqueio, de criptografia, antivírus).
Tipo objetivo:
Elemento subjetivo do tipo penal: Dolo com especial fim de agir: “com o fim de obter,
adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”;
Não há forma culposa;
Consumação e tentativa: O delito se consuma: Quando há a invasão (crime
formal); e A tentativa é possível.
Penas: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)
ano, e multa; e
Ação penal:Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos; Regra: Ação penal pública condicionada à representação; e Exceção por conta das pessoas: Ação penal pública incondicionada.
Forma equiparada:
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput; Faz parte dos atos preparatórios em referência ao caput; e Comércio de programas invasores dos dispositivos informáticos.
Causa de aumento de pena:§ 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta
prejuízo econômico. O prejuízo não pode ser moral;§ 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for
praticado contra: I - Presidente da República, governadores e prefeitos; II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal; e
Pessoas importantes.
Forma qualificada:§ 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave; e Art. 4º (Lei n. 12.527/11): “III - informação sigilosa: aquela submetida temporariamente à restrição de acesso público em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado;”
Invasão de dispositivo informático:§ 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos; Divulgar: Tornar público, revelar; Comercialização: Mercancia do produto obtido; Transmissão: Mandar para outra pessoa por qualquer meio; e Basta um terceiro (não precisa ser para um número indeterminado de pessoas)