01 - segredos

Upload: evih

Post on 09-Jul-2015

307 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Segredos Robin Jones Gunn

ContedoCAPTULO UM................................................................................................................................ 7 CAPTULO DOIS............................................................................................................................ 15 CAPTULO TRS............................................................................................................................ 23 CAPTULO QUATRO ..................................................................................................................... 30 CAPITULO CINCO ......................................................................................................................... 37 CAPTULO SEIS ............................................................................................................................. 46 CAPTULO SETE ............................................................................................................................ 54 CAPTULO OITO ........................................................................................................................... 61 CAPTULO NOVE .......................................................................................................................... 67 CAPTULO DEZ ............................................................................................................................. 75 CAPTULO ONZE .......................................................................................................................... 85 CAPTULO DOZE........................................................................................................................... 91 CAPTULO TREZE.......................................................................................................................... 97 CAPTULO CATORZE .................................................................................................................. 103 CAPTULO QUINZE ..................................................................................................................... 110 CAPTULO DEZESSEIS ................................................................................................................. 116 CAPTULO DEZESSETE ................................................................................................................ 121 CAPTULO DEZOITO ................................................................................................................... 128 CAPTULO DEZENOVE ................................................................................................................ 134 CAPTULO VINTE ........................................................................................................................ 140 CAPTULO VINTE E UM .............................................................................................................. 147 CAPTULO VINTE E DOIS ............................................................................................................ 153 CAPTULO VINTE E TRS ............................................................................................................ 160 Receitas Secretas................................................................................................................... 168

FBTCB 2

Segredos Robin Jones Gunn

Para Marlee Alex uma mulher gentil uma artista das palavras minha querida e estimada amiga E para os meus amigos de Butterfly Court. Eu amo vocs!

FBTCB 3

Segredos Robin Jones Gunn

FBTCB 4

Segredos Robin Jones Gunn

FBTCB 5

Segredos Robin Jones Gunn

Porventura no esquadrinhar Deus isso? Pois ele sabe os segredos do corao.SALMOS 44:21

FBTCB 6

Segredos Robin Jones Gunn

CAPTULO UMJessica Morgan agarrou o volante do seu carro e lendo a placa em voz alta: - Glenbrooke, cinco quilmetros. A brisa de vero chicoteou pela sua janela aberta e danou o cabelo loiro-mel que lhe caa na altura dos ombros. - isto, Jessica murmurou enquanto a estrada de Oregon a levava beira da sua nova vida. Por meses ela planejou este passo de independncia. Ento ontem, na vspera do seu vigsimo-quinto aniversrio, ela botou o p na estrada, com o banco traseiro de seu carro usado cheio de caixas e o seu corao cheio de sonhos. Ela dirigiu durante dez horas ontem at parar em um hotel em Redding, Califrnia. Depois de comprar comida chinesa; ela sentou de pernas cruzadas na cama, e comeu isto enquanto assistia o fim de um velho filme em preto e branco. Jessica acabou dormindo, sonhando com novos comeos. Levantou s 6:30, pronta para dirigir outras nove horas no dia do seu aniversrio. Eu estou quase l, ela pensou. Eu realmente estou fazendo isto! Olhe pra todas essas rvores! lindo! Eu vou amar isto aqui. A estrada rural seguia por um arvoredo de salgueiros tremulantes. Enquanto passava por elas, as rvores pareciam acenar para a ela, dando boas-vindas ao seu canto do mundo. O sol de fim de tarde atirou fachos de luz por entre as rvores, atingindo o lado do seu carro em intervalos rpidos e criando faixas. Iluminava. Escurecia. Luz. Sombra. Enquanto Jessica se afastava do grupo de rvores, a estrada se curvou direita. Ela virou o carro para fazer bem a curva. Um feixe de luz atingiu-a de repente, cegando-a momentaneamente. Desviando direita para evitar um caminho, ela sentiu que o pneu dianteiro pegou o pedregulho no lado da estrada. Antes que pudesse perceber o que estava acontecendo, ela perdeu o controle do carro. Em um instante, Jessica sentiu o carro derrapar no pedregulho e tombar para um lado. O cinto de segurana a deteve num instante, enquanto Jessica gritava, segurando o volante. O carro desceu o dique e caiu numa vala seis metros abaixo da estrada. O mundo parecia ter parado. Jessica tentou gritar, mas no saa som de seus lbios. Atordoada, ela se deitou de lado, imvel. Ela piscou depressa, numa tentativa de se desfazer de um devaneio bizarro do qual ela podia sair. Seu cabelo caiu sobre metade do rosto. Ela sentiu um lquido quente e mido descendo sobre seu rosto e o gosto cido invadiu sua boca. Estou sangrando! Mirando seu cabelo bagunado, ela tentou focar sua viso. Quando a vista clareasse, ela poderia observar a vista do para-brisas, agora estilhaado, e o volante, entortado para baixo, pressionando sua perna esquerda no lugar. FBTCB 7

Segredos Robin Jones GunnDe repente, sua respirao voltou ao normal, e com ela veio a dor. Cada parte do seu corpo doa, e um anel de pontos brancos girava freneticamente diante dos seus olhos, tanto quando ela os abria ou quando os fechava. Jessica tinha medo de se mexer. Medo de descobrir que alguma parte do seu corpo no respondia. Isso no aconteceu! No pode ter acontecido. Foi rpido demais. Acorde, J! Em meio a todo o algodo que parecia encher sua cabea, ela ouviu o chiado de um walkietalkie e uma voz masculina ao longe, dizendo: - Eu localizei o carro. Estou procurando agora por sobreviventes. Cmbio. Estou aqui! Aqui embaixo! Socorro! Jessica gritava em pensamento. O nico som que saiu de sua boca foi um rspido Arrghhh!. S ento ela percebeu que sua lngua estava sangrando e seu lbio superior estava inchando. - Oi, voc a, a voz masculina disse calmamente. O homem se apoiou na abertura da janela do motorista, abaixo de Jessica, do seu lado esquerdo. Voc est me ouvindo? - Sim, ela balbuciou. Sua lngua estava inchando e sua mandbula tremia. Ela comeou a sentir frio e tremia incontrolavelmente. - No se mova, a voz profunda disse. - Eu j chamei ajuda. Ns vamos te tirar daqui. Isso vai levar alguns minutos, ento no se mexa, ok? Jessica no podia ver seu rosto, mas a voz daquele homem a acalmou. Ela ouviu uma raspagem de metal sobre ela, e uma mo grande, firme tocou seu pescoo e sentiu seu pulso. - Voc estava usando o cinto de segurana. Boa garota, ele disse. O walkie-talkie chiou novamente, desta vez logo acima dela. - Sim, Mary, o homem disse. Temos uma mulher aqui, de uns vinte anos, eu acho. Condio estvel. Vou esperar pela ambulncia para remov-la. Cmbio. Jessica sentiu a mo dele novamente. Desta vez, sobre sua bochecha, tirando seu cabelo do rosto. - Como est se sentindo? Eu sou Kyle. Qual o seu nome? - Ifica, ela disse. Sua lngua agora latejava. Com o canto dos olhos, ela viu de relance um cabelo escuro e um rosto bronzeado. - Eu vi quando o carro comeou a capotar. Deve ter sido horrvel pra voc. Jessica respondeu com um aceno da cabea. Percebeu, ento, que podia mover o pescoo sem sentir dor. Ela virou a cabea devagar e olhou o rosto do seu salvador. Jessica sorriu com surpresa e prazer quando viu aqueles olhos verdes, o nariz fino, o cabelo escuro ondulado. Juntamente com seu sorriso veio uma forte palpitao em seu lbio superior e uma sensao de sangue escorrendo pelo seu queixo. FBTCB 8

Segredos Robin Jones Gunn- Ento voc pode se mexer, hein? Kyle disse. Vamos tentar o brao esquerdo? Legal! Muito bem! Como esto suas pernas? Jessica tentou dizer que a perna direita estava bem, mas a esquerda estava imobilizada. Suas palavras, no entanto, saram desarticuladas. Ela no tinha certeza do que pronunciara. Seu maxilar estava tremendo muito agora. Ela se sentia desamparada. - Calma... Kyle disse. - Assim que os caras chegarem com a ambulncia ns vamos colocar tudo no lugar. Vou colocar alguma presso em seus lbios agora. Tente manter a respirao devagar e constante assim. Kyle se apoiou nela. Seu rosto estava a quinze centmetros do dela. Ele comeou a inspirar pelo nariz e expirar pela boca. O cheiro de canela do chiclete preenchia sua respirao, confortando-a estranhamente. Jessica ouviu o barulho distante de uma sirene. Em minutos, ela estava no meio de uma agitao. Alguns homens estabilizavam o carro, enquanto outros cortavam a porta para alcan-la mais facilmente. Logo, um conjunto de mos firmes desfez seu cinto de segurana, afastou o volante e a colocou sobre uma longa tbua. Eles prenderam a testa dela na tbua, assim ela no podia mexer a cabea. Um dos homens a embrulhou com uma manta. Eles levantaram a maca e com passos firmes subiram o barranco, levando-a at a ambulncia. Jessica sentia como se suas plpebras pesassem quilos. Ela apertou os olhos. Sua cabea cheia de perguntas. Por qu? Por que eu? Por que logo agora, no meu novo comeo? Com um solavanco, os homens arrumaram os ps da maca e a deslizaram para dentro da ambulncia. Um deles alcanou seu brao por baixo da manta. Deslizando o polegar sobre sua mo esquerda, ele a pediu que a fechasse bem a mo. Outro paramdico falava, calmamente, a poucos centmetros de sua cabea: - Pode abrir os olhos pra mim? Muito bem. Pode me dizer onde di mais? - Minha perna, Jessica disse. - a esquerda. Jessica reconheceu a voz forte de Kyle. A mo dele a alcanou, pressionando seu lbio outra vez. A sirene comeou a tocar, e a ambulncia partiu pra estrada, rumo ao Hospital de Glenbrooke. Assim que a maca sacudiu na ambulncia, o paramdico que segurava a mo esquerda de Jessica disse: - Mantenha sua mo fechada. Voc vai sentir um belisco. Com uma agulha borboleta, ele picou a veia saltada em sua mo.

FBTCB 9

Segredos Robin Jones Gunn- Ai!, ela disse debilmente. Ela sentiu um pano macio sobre seus lbios e queixo. Abriu os olhos. Kyle sorriu pra ela. Com uma mo ele pressionava seu lbio, enquanto passava a outra sobre o sangue seco sobre sua bochecha e queixo. - Pode abrir a boca um pouquinho? Preciso colocar isso em sua lngua, disse ele, enquanto colocava um chumao de algodo entre sua lngua e sua bochecha. Parece que o sangue aqui est estancando. Agora, se seu lbio cooperar, logo voc estar em boa forma. Vamos chegar ao hospital em poucos minutos. Voc est bem? Ela tentou acenar, mas a fita na cabea a impediu. Ela forou um sorriso inchado sob a presso da mo dele. Jessica se sentiu ridcula, tentando flertar naquele estado. Ali estava o homem mais bonito e gentil que ela j viu, e ela era um desastre inevitvel. Ele deve ser casado e ter seis filhos. Esses caras so treinados para ser legais com vtimas de acidentes. O impacto da situao a pegou em cheio. Ela era uma vtima. Nada disso era pra ter acontecido. Ela pensara em chegar a Glenbrooke calmamente, e comear sua vida tranquilamente. Sim, tipo secretamente. Agora como ela responderia as perguntas intrometidas que eles certamente fariam a ela no hospital? Ao menos ela tinha o Sr. McGregor, seu velho professor de ingls do Ensino Mdio. Ele era a nica alma que ela conhecia em Glenbrooke, e quando ele respondeu sua carta dois meses atrs, prometeu a ela um emprego como professora no Colgio de Glenbrooke, e se ofereceu para procurar um lugar onde ficar. - Aqui estamos ns, disse Kyle, assim que a ambulncia parou no estacionamento do hospital. Jessica fechou os olhos novamente. A maca foi removida para fora da ambulncia, para a sala de emergncias, numa rea cortinada com o soro pendurado. Um mdico apareceu logo. A dor surgiu novamente por todo o seu corpo. Ela tremia sob as luzes enquanto o mdico e o paramdico discutiam sobre suas condies na linguagem abreviada deles. Ela sabia que Kyle ainda estava l por causa da presso em seu lbio. - Algum me arranja um par de compressas mornas? Alguns momentos depois, Jessica sentiu a compressa sobre ela. Aquilo pareceu a coisa mais maravilhosa do mundo. Forando seus olhos a abrir, ela viu outro rosto sobre ela. Era uma enfermeira de cabelo ruivo, culos de armao azul e batom alaranjado cintilante. - Eu tenho algumas perguntas a fazer, querida, disse ela, arrumando os papis na prancheta enquanto lia uma lista. Qual o nome do seu plano de sade? Voc tem o seu carto a? - Eu... eu no tenho, Jessica balbuciou. Seus lbios pareciam ter o dobro do tamanho normal.

FBTCB 10

Segredos Robin Jones Gunn- No tem seu carto? Sabe o nome do seu plano de sade? - No. - Voc no tem um plano? - No. - Sei... Bem... Voc casada? - No. - Preciso do nome de algum parente, querida. Jessica hesitou antes de dizer: - No tenho. - No tem parentes?, a mulher parecia irritada. No tem plano de sade nem parente algum? Jessica no respondeu. - Talvez devamos comear com questes mais simples. Qual seu nome completo? - Jessica..., ela parou. Dar o seu sobrenome poderia arruinar tudo. Rapidamente, forou-se a abrir os olhos, procurando algo para dizer. Ela viu, com a cabea ainda presa tbua, uma caixa de suprimentos cirrgicos na prateleira no canto da sala. As letras em negrito diziam Laboratrios Fenton. - ... Fenton, disse ela, com os lbios inchados. - Jessica Fenton, a mulher repetiu preenchendo o formulrio. E seu endereo? - Eu no sei. - Sabe o nmero do seu telefone ou de algum que poderamos telefonar?, sua voz parecia paternalista. Jessica parou. - No. - Meu bem, antes de comear o tratamento precisamos da sua cooperao. O hospital precisa do depsito de cem dlares ainda hoje. Voc pode pagar ou precisa de financiamento? - Eu pago. Ela se sentia confusa, e as perguntas da mulher de batom laranja no estavam ajudando. Ela se forou a dizer: - Minha bolsa... FBTCB 11

Segredos Robin Jones Gunn- Deve estar no local do acidente, Kyle disse. Olha, Betty, no pode fazer isso depois? Ela obviamente passou por muita coisa hoje. Assim que ela recuperar a bolsa, te dar toda a informao de que voc precisa. No v que ela no est bem para responder s suas perguntas agora? - a poltica do hospital, Kyle. Voc sabe disso! Kyle tirou o algodo da boca de Jessica e afastou-se da cama, levando Betty consigo. Ela podia ouvir ele cochichar de algum canto sobre o que ele achava da poltica do hospital. O doutor voltou ao lado de Jessica, comeando a examin-la removendo o algodo ensangentado e verificando lngua e lbios. - Parece estar tudo bem a dentro. O lbio superior vai precisar de alguns pontos. Jessica fechou os olhos assim que a equipe mdica comeou seu trabalho. Primeiro, uma injeo para anestesiar o lbio. Depois os oito ou seriam dez? pontos precisos. Ela podia sentir os pontos apertados conforme a agulha puxava seus lbios, mas aquela era a nica parte do seu corpo que no doa, graas anestesia local. Outro doutor continuava o exame enquanto os pontos eram dados. - Isso di?, ele perguntava, enquanto pressionava seu maxilar, checava suas orelhas, e testava seu corpo rgido, puxando e cutucando cada pontinho. Tudo doa. Tudo exceto seus lbios anestesiados, que pareciam ter dez vezes o tamanho normal, inutilizados. Quando o doutor chegou sua perna esquerda, ordenou um exame com raios-X assim que terminassem com os pontos. Enquanto eles a levavam, ela ouviu a voz de Kyle. Esforou-se ao mximo para v-lo novamente em meio a tantos mdicos, mas ele tinha ido embora. Nas horas seguintes, Jessica passou por uma srie de exames, raios-X e puxes. Tinham injetado algum tipo de analgsico ou sedativo pela agulha-borboleta presa veia em sua mo, e comeava a fazer efeito. Ela se sentia sonolenta, e tudo ao seu redor parecia embaralhado. Em algum momento, ela abriu os olhos e viu um grande relgio na parede apontando 6:35. A prxima vez em que ela abriu os olhos tentando focar algo ao seu redor, a sala estava escura. Ela percebeu que estava deitada em uma cama de hospital, embora no tenha percebido quando a colocaram l. Tudo parecia embaralhado e fora de foco. Ela adormeceu novamente at uma enfermeira chegar para chec-la algum tempo depois. Ela tentou se esticar enquanto a enfermeira conferia seu pulso. Percebeu que podia enxergar e pensar mais claramente. Voltou tambm a sentir dores, pois o efeito dos remdios estava passando. - Como se sente? - T doendo... Jessica respondeu. Seus lbios e lngua ainda estavam inchados e doloridos. - O doutor vir em alguns minutos.

FBTCB 12

Segredos Robin Jones GunnEle apareceu na deixa, vestindo um jaleco branco, culos de armaes grossas e um estetoscpio pendurado no pescoo. - Sou o Dr. Laughlin. Tenho boas notcias para voc, Srta Fenton. Srta Fenton? Ah, sim! Deve ser eu. - Nenhum osso quebrado. Vrios hematomas, alguns inchaos. Sua perna vai doer por alguns dias, mas deve melhorar em uma semana. Relaxe e tente descansar o mximo que puder nos prximos dias. Precisa voltar aqui em uma semana para tirar os pontos. Ele checou o pronturio e antes de devolver ao fim da cama, disse: - Eu te deixaria ir agora, mas o Sr. Buchanan nos pediu para segur-la aqui esta noite. - Sr. Buchanan?, Jessica perguntou. - Sim. Kyle. Lembra-se de Kyle Buchanan? Ele um dos nossos bombeiros. Foi o primeiro a chegar cena do seu acidente. - Como eu poderia esquecer aquele rosto, aquela voz?, foi o que ela quis dizer. Mas tudo o que disse foi: - Sim, Kyle. Kyle Buchanan. Eu me lembro dele. O mdico chegou mais perto; agora ele parecia um pai preocupado. - Eu vi sua ficha. Voc no listou nenhum plano de sade. Voc tem plano de sade? Algum parente para contatar? - No, eu... - Algum conhecido em Glenbrooke? - Sim, Hugh McGregor., as palavras vieram emboladas. Ele o diretor do Colgio. Ele me contratou. Eu sou professora., ela achou os ps e ms muito difceis de pronunciar. O mdico ajeitou os culos e sentou-se na beira da cama de Jessica. - Imagino que voc ainda no saiba sobre o Sr. Hugh. Jessica imaginou o pior. - Ele deu entrada aqui dois dias atrs, com derrame. O quadro estvel, mas ele sofreu paralisia parcial. No pode falar, at o momento. - Ele est aqui agora?, perguntou ela tentando sentar e instantaneamente sentido a cabea girar Posso v-lo? - Est no segundo andar. Sugiro que espere at amanh, Srta Fenton. O melhor a fazer descansar. A Srta ter muito a fazer amanh quando sair daqui. A enfermeira chegar logo com algo para lhe ajudar a dormir. Boa noite. Dr. Laughlin dirigiu-se porta, mas parou e virou-se. Com um sorriso simptico, disse:

FBTCB 13

Segredos Robin Jones Gunn- A propsito, bem-vinda a Glenbrooke. Acho que minha filha ser sua aluna. Dawn. Dawn Laughlin. Ela est entrando no colegial esse ano. Ouvi dizer que ela a garota mais popular do colgio. Jessica forou-se a sorrir e tentou acenar com a cabea. A forma como ele disse aquilo tudo soou como se estivesse se desculpando, o que a fez pensar o que um mdico cuja filha a garota mais popular da escola teria pra se desculpar. - Durma bem, disse Dr. Laughlin, saindo para o corredor iluminado, fechando a porta em seguida. Com os remdios j sem efeito, o impacto das dores e hematomas a pegou na solido do seu quarto. Mas o mais doloroso foi perceber que estava sozinha em uma cama de hospital, numa cidade desconhecida, e seu nico amigo estava deitado em uma cama no andar de baixo, em estado pior que o dela. Amanh pela manh ela teria alta, mas e a? Pra onde iria? O Sr. McGregor deve ter encontrado uma casa para ela, mas se no podia falar, como ela saberia pra onde ir? E se ela encontrasse a casa, como chegaria l? Sobrou alguma coisa do carro? E todos os seus pertences cuidadosamente empacotadas na traseira do carro? Outro medo a assombrou, encobrindo todos os outros. E se descobrissem sua verdadeira identidade? Tudo estaria arruinado. Todo o seu plano cuidadoso. Todo o esforo para cobrir qualquer pista que a levasse para aquela cidadezinha no Vale Willamette no Oregon. Tudo destrudo em um piscar de olhos. Enquanto as lgrimas caam, ela se lembrou de que hoje era seu aniversrio. Virando sua cabea para o travesseiro do hospital, Jessica chorou copiosamente frente a seus medos e dores. Nunca em toda sua vida ela se sentiu to completa e dolorosamente sozinha.

FBTCB 14

Segredos Robin Jones Gunn

CAPTULO DOIS- Srta Fenton? disse a enfermeira enquanto tocava o brao de Jessica. Preciso tirar sua temperatura agora. Jessica virou-se tentando focar sua viso na mulher no canto da cama. Ento, tudo voltou sua mente. O acidente, o hospital, os pontos em sua boca, e Kyle. Engraado eu pensar nele agora Jessica se ajeitou para que a enfermeira pudesse fazer sua tarefa. - Que horas so? Jessica perguntou. - Quase oito horas. Voc poder ir depois que o doutor vier aqui. Vai querer o caf-da-manh? - Eu acho que sim. Jessica pensou em suas roupas ensangentadas e se perguntou onde elas estariam. Ela no se lembrava de ter colocado aquela roupa de hospital. A enfermeira terminou de verificar a presso sangunea de Jessica e marcou os resultados na ficha. Depois ela saiu da sala, retornando pouco tempo depois com uma bandeja de caf-damanh. Cereais, suco de laranja e torradas. Jessica pensou em dar algumas mordidas, mas achou que seria pior. Ela no tinha certeza de como seria, mas sabia que seria pior. Assim que o mdico de planto examinou Jessica, a enfermeira abriu um armrio no canto do quarto e puxou as roupas sujas de Jessica. - Queria ter outra coisa pra vestir. Por falar nisso, tem algum chuveiro por aqui? Seus primeiros passos foram oscilantes, ela ainda estava meio tonta, mas ela tinha medicao suficiente no corpo para aliviar a dor enquanto ela tomava um banho rpido. Ela saiu do banheiro vestida com seus jeans e camiseta sujos. Ela desejou ter outra coisa para usar se ela estivesse com a bolsa, teria ao menos uma escova para pentear os cabelos. Quando ela entrou no quarto, ouviu uma voz grave dizer-lhe Bom dia. Kyle estava sentado na cadeira no canto, perto da janela. Sobre a cama, estava sua bolsa e uma camiseta GG com os dizeres em vermelho: 11 Festival da Panqueca dos Bombeiros de Glenbrooke - Ns temos umas camisetas dessas que sobraram l no Corpo de Bombeiros. Imaginei que voc gostaria de uma roupa limpa. Kyle sorriu para Jessica. Ela achou que ele parecia tmido. Diferente da expresso dele no meio da emergncia do dia anterior. - Obrigada. Que... Que bom que voc fez isso por mim. Essa blusa est um lixo. - Como se sente? FBTCB 15

Segredos Robin Jones Gunn- Melhor. Um pouco tonta. Voc foi timo em trazer minha bolsa e tudo mais..., Jessica pegou a bolsa e a camiseta, pensando em como ela estava ridcula toda ensanguentada, com pontos na boca e com seu longo cabelo caindo no cho. Volto logo. Quando entrou no banheiro, ela percebeu que suas mos tremiam. Ela no sabia se era por causa do choque do acidente, ou os remdios, ou a surpreendente apario de Kyle. Por que ele voltaria se no estivesse interessado nela? Jessica penteou rapidamente os cabelos e pegou seu estojo de maquiagem. Olhando para o espelho, segurando o rmel, ela percebeu que no havia motivo para se maquiar. Seus lbios, ainda inchados, pareciam algo de um filme de terror, desfigurados, com pontos por toda a parte de cima. Seus olhos tinham teias de aranha vermelhas saindo do centro verde e olheiras enormes. Sua pele, normalmente cor de pssego, tinha um tom verde-acinzentado sob a luz fluorescente do banheiro. De muitas maneiras, ela parecia uma mulher diferente do que aparentava h algumas semanas. De outro, ela era a mesma. - Deixa pra l, sussurrou fechando o tubo de rmel. No era costume dela sair em pblico sem nenhuma maquiagem. Tambm no era de seu feitio sair por a com uma camiseta de anncio de um Festival de Panquecas. Mas ela estava no Oregon agora. Ela no era a mesma pessoa. Tudo seria diferente. Jessica abriu a porta do banheiro e tentou fazer sua cara mais digna e apresentvel. - Obrigada de novo por trazer minha bolsa. E muito, muito obrigada por tudo o que voc fez por mim ontem. Eu realmente admiro isso. Kyle sorriu, mostrando-se tmido outra vez. - No espalha. S voltei porque pensei que voc poderia querer uma carona pra algum lugar. Jessica sentou na cama, sentindo-se exausta por tudo o que acontecera no dia anterior. Resolveu que contaria a Kyle a histria sobre o Sr. McGregor, seu trabalho no colgio e sobre ela no saber onde era sua nova casa. Ela se sentiu frgil, mas, por cuidado, guardou suas palavras. - Gostaria de ver o Sr. Mc Gregor no andar de cima. Se ele no puder falar... Bem... Eu acho... Olha, se ele no puder conversar, no fao ideia do que fazer depois. Kyle levantou e sentou-se perto de Jessica. Ele falou no mesmo tom calmo e gentil que falara quando a encontrou no dia anterior: - Eu ouvi voc mencionar o nome dele na sala de emergncia, ento eu procurei por ele esta manh. Hugo est estvel, mas sua situao no muito boa. A esposa dele faleceu h alguns anos, n... Ento eu tomei a liberdade de ligar para a vizinha dele, Ida Dane. Ento... Acabei descobrindo que a casa que ele arrumou pra voc alugar dela. - Voc conhece o Sr. McGregor?, Jessica perguntou. FBTCB 16

Segredos Robin Jones Gunn- Cidade pequena..., Kyle respondeu. Enfiou sua mo no bolso e tirou dele uma chave Eu tenho uma chave. Espero que voc no se importe. Jessica no sabia se ela se importava ou no. Alis, a chave e o nome do proprietrio da casa eram a soluo de um de seus mistrios. O outro mistrio, Kyle, parecia mais complexo. Ela queria dizer: Por que voc est sendo legal comigo? Ainda mais agora que eu estou parecendo um jaburu. O cabelo de Jessica era loiro claro, como o de sua me. Por muitos anos ela o manteve bem comprido, pra baixo da metade das costas. No caminho de vinda, h dois dias, ela parou no primeiro salo que encontrou e mandou cortar o cabelo na altura dos ombros. Seus olhos eram verde-musgo, ela gostava deles, mas no achava neles nada de especial. Seus dentes eram certos, graas a trs anos usando aparelho. Seu corpo era, em sua opinio, um tipo comum. Nem magra, nem gorda. O que Kyle tinha visto nela? Certamente ele no a tinha visto em sua melhor forma. Ser que Glenbrooke estava sofrendo de falta de mulher aguda? Ou Kyle era algum tipo de assassino em srie? - Ento..., Jessica disse, com cuidado Voc sabe onde fica essa casa? - Rua Marigold. No fica longe do colgio. Acho que d umas quatro quadras de distncia. Quer que eu te leve l? - Olha, voc est sendo muito legal, Kyle. De verdade. Mas voc no precisa ficar fazendo isso por mim. Kyle baixou os olhos, fitando o cho do hospital, enquanto parecia procurar uma linha em seu carto. Jessica percebeu como era ondulado o cabelo escuro dele. Ele levantou os olhos. Seus olhos verdes cruzaram com os dela. - Eu s pensei que poderia ajudar. Voc nova aqui, e o acidente e tudo mais. Se voc no se sente bem com essa ateno, tudo bem. O que eu puder fazer por voc, ser um prazer. s avisar, ok? Ele colocou a chave da casa em cima da cama e caminhou em direo porta. - Espere, Jessica disse. Kyle parou e virou, esperando o que Jessica tinha a dizer. - Est tudo acontecendo rpido demais. que de onde eu venho as pessoas no so legais assim como voc. Eu vou precisar da sua ajuda. Provavelmente mais do que eu estou pensando. Um largo sorriso se formou no firme maxilar de Kyle. - Muito bem. Vamos pagar a conta do hospital primeiro, depois vamos para a oficina do Al. - Al? FBTCB 17

Segredos Robin Jones Gunn- pra onde levaram seu carro. A gente pode pegar umas caixas e ver se por algum milagre o Al pode juntar os pedaos daquele Humpty Dumpty1. Jessica pegou sua bolsa e dirigiu-se porta. Suas pernas obedeciam firmemente. - Estou melhor do que voc pensava, hein? Kyle acenou para uma cadeira de rodas no canto do quarto. Depois posicionou-se atrs dela, indicando que Jessica deveria sentar-se nela. - Tudo bem, eu consigo andar. - Acho que mais uma daquelas polticas do hospital. Ningum sai daqui pelas suas prprias pernas. - Isso ridculo! Eu posso andar, e muito bem! Kyle no se moveu. A expresso de seu rosto inacreditvel acompanhava o inacreditvel olhar que se dirigia a ela. Ele estava decidido que no sairiam do hospital sem que Jessica estivesse sentada naquela cadeira, com ele na direo. Jessica no gostou da ideia, mas no tinha escolha. Jessica sentou-se, colocando a bolsa no colo, decidida a no olhar para ningum enquanto Kyle empurrava a cadeira. Ele se inclinou para conversar em voz baixa enquanto se dirigiam porta da frente: - Voc perguntou sobre o seu carro. Acho melhor a gente ver o que o Al vai dizer, mas na hora que eles levaram pra l, estava horrvel. - Voc estava l quando eles levaram meu carro? Novamente Jessica se sentiu desconfortvel com o fato de esse homem estar to envolvido nos detalhes de sua vida. Ela aprendeu com a experincia que tudo tinha um preo, especialmente a caridade. - Passei l quando sa do hospital na noite passada. Eu tinha que voltar ao local do acidente pra pegar minha caminhonete e sabia que Al me daria uma carona at l. Alm do mais, voc tinha dito a Betty que precisava da sua bolsa, a eu pensei que poderia traz-la. - Obrigada, de novo. Ser que podemos dar uma paradinha pra ver o Sr. McGregor? - Voc quem sabe. Como eu disse, ele no est muito bem. Provavelmente no v te reconhecer, ou sequer saber que voc estar no quarto. Se quiser, ser um prazer ir com voc. - Acho que vou fazer como voc sugeriu: primeiro acerto a conta do hospital com a Betty, depois vou ver meu carro. Talvez eu volte ainda esta tarde para v-lo, depois de comear a mudana.1

Humpty Dumpty o personagem de uma histria do folclore americano: Certo dia Humpty Dumpty sobre um muro se sentou. Mas deu azar e tibumba! um belo tombo levou. Nem todos os cavaleiros do rei, com os seus cavalos, puderam novamente colocar Humpty Dumpty de volta em seu lugar.

FBTCB 18

Segredos Robin Jones GunnEla no voltou tarde. Al disse que seu carro deu perca total. - Pegue o dinheiro do seguro e no olhe para trs, disse ele, consolando-a. Jessica acenou e saiu com Kyle, mortificada com a notcia. No havia nada a fazer, o carro no tinha seguro. Ela tinha planejado adquirir o seguro com seu primeiro pagamento. No parecia necessrio preocupar-se com insegurana na hora que ela comprou o carro. A mulher que o vendeu estava disposta a pegar o dinheiro e liberar o carro na hora, o que era o mais importante no momento. Ela sabia que teria que obter uma placa do Oregon para seu automvel e pensou em adquirir o seguro quando fosse obter a placa. Agora ela percebeu como foi burra. Pior ainda, agora que ela parou para pensar nisso, achou que provavelmente isso era ilegal. Talvez essa aventura toda fosse uma ideia idiota. Jessica sempre acreditou que ela podia terminar qualquer coisa que comeasse. Se voc pode sonhar, voc pode fazer foi a frase-tema dela desde que ela a viu num pster de uma colega de faculdade com quem dividiu o quarto no primeiro ano. Agora ela tinha srias dvidas quanto a essa filosofia de vida. Expectativas podem se tornar dolorosamente perigosas quando o destino atingido por foras invisveis e injustas. Kyle encheu a traseira de sua caminhonete branca com as caixas esmagadas de Jessica e as levou at a Rua Marigold, 226. Jessica se manteve em silncio durante todo o caminho, imaginando se sua vinda foi a coisa certa a fazer. Talvez no fosse aquele seu destino, seu sonho, do jeito que ela pensou que seria. Tudo mudou quando ela viu a casa. A pequena casa amarela com chamin de tijolinhos vermelhos a deixou sem flego. - Essa a minha casa?, ela perguntou a Kyle enquanto ele estacionava o carro, perto de uma frondosa rvore2. - Sim. A vizinhana tima. A maioria dessas casas tem entre setenta e cem anos. Eu costumava... Kyle fez uma pausa. Conheo um pessoal que mora na rua de trs. uma vizinhana excelente, acrescentou ele, rapidamente. Jessica desceu da cabine da caminhonete de Kyle, parando em frente charmosa casa, admirando as rosas cor-de-rosa crescendo sobre uma trelia sobre a porta da frente, o caminho de pedras e as venezianas brancas. Agora sim ela encontrou o que procurava em Glenbrooke. Uma casa de contos de fadas, de verdade. Girando a chave na fechadura da porta da frente, Jessica a abriu com Kyle logo atrs dela. Talvez aquela fosse uma segunda chance para seu sonho se realizar. A luz do sol matinal entrou com eles pela porta da frente. Centenas de minsculos gros de poeira subiam na hibernao da casa vazia, danando para Jessica no polido cho de madeira.

2

Olmo, Ulmus Procera http://elmtree.org/images/american-elm-tree.jpg

FBTCB 19

Segredos Robin Jones Gunn- Que lindo!, disse Jessica. No acredito que o Sr. McGregor conseguiu uma casa to boa! Aqui deve ser a cozinha. L estava a cozinha. Pequena, mas suficiente. Completa at com geladeira. Uma porta nos fundos da cozinha, esquerda, dava para o quintal, que tinha uma rea de madeira com alguns mveis de varanda e os restos mortais de um jardim perto da cerca dos fundos. Ela reparou que os vizinhos mantinham seus quintais arrumados e bem cuidados, e tambm tinham um jardim. Dentro da casa, do lado direito da cozinha, duas portas davam para uma espaosa rea retangular, que parecia ser uma sala conjugada, com sala de jantar, sala de estar e escritrio. Um sof verde escuro, uma mesinha de caf de madeira e uma pequena televiso em uma estante preenchiam a parte da sala de estar na frente da casa. As paredes eram brancas, com espelhos largos de madeira nas portas e janelas. Havia uma persiana branca aberta na janela da frente, com cortinas de lacinho dos lados. A mesma coisa na janela da sala de jantar. Jessica amou tudo. Era branco, ventilado e espaoso. A mesa da sala de jantar era dessas que se encontra em bazares de garagem. Alm de til, a toalha de mesa e o vaso de flores davam a elegncia. O tesouro da sala era uma escrivaninha de mogno no canto mais distante, que vinha com uma cadeira com assento bordado em flores. A sala parecia uma foto de revista, principalmente o jeito como a luz do sol entrava pela janela da frente, fazendo brilhar o vitral da escrivaninha. Uma toalha, algumas flores frescas, talvez alguns de seus antigos livros de poesia dentro do armrio da escrivaninha com portas de vitral, e esta seria a sala que Jessica sempre sonhou. - maravilhoso, ela disse, curtindo a descoberta de cada canto da casa, enquanto Kyle a seguia silencioso. - O banheiro e o quarto devem ser l em cima, Kyle disse. Por que voc no v isso enquanto eu trago suas coisas pra dentro? Ela gostou da idia de ver o andar de cima, apreciando devagar os catorze degraus da escada, por causa de sua perna machucada. O quarto estava esquerda, logo acima da entrada da frente. Uma cmoda velha de madeira com um espelho oval ficava perto da porta do closet, e do lado oposto estava uma antiga cama branca de ferro trabalhado coberta por uma colcha de retalhos, e um ba nos ps da cama. Havia um pequeno criado-mudo tambm de madeira ao lado da cama. Sobre o criado-mudo, um excntrico abajur com base de metal e cpula de vitral. Duas janelas com vista pra rua tinham os mesmos enfeites das janelas de baixo, os mesmos espelhos de madeira, as mesmas persianas e as mesmas cortinas de lacinho. Jessica seguiu em frente e abriu as persianas para que entrasse um pouco de ar fresco naquele quarto cheirando a poeira. Ela viu Kyle dirigindo-se caminhonete, pegando duas caixas de uma vez e levando-as frente da casa.

FBTCB 20

Segredos Robin Jones GunnPor que ele est fazendo isso? Ningum legal com os outros de graa. Ser que eu posso confiar nele? Ser que j no falei pra ele coisas demais? E se ele olhasse na minha bolsa a minha carteira de motorista? Se ele soubesse que meu sobrenome Morgan, e no Fenton? - Quer que eu leve essas malas a em cima?, gritou Kyle da entrada. - Claro. Tem uma caixa escrito closet que pra vir aqui em cima tambm, se voc no se importa, Jessica disse enquanto Kyle subia as escadas, levando as pesadas malas ao seu novo quarto. Ele parou e deu um olhar de aprovao ao cmodo. Ela teve vontade de dizer No uma gracinha?, mas hesitou. No estava certa se deveria conversar sobre seu quarto com um homem que ela mal conhecia. - Pode coloc-las ali, disse ela, do modo frio como se fala com um carregador de hotel. Ele obedeceu sem dizer uma palavra e desceu as escadas para pegar o resto. Quando ele entrou no quarto novamente, carregando a caixa e o porta-vestido, a ala do porta-vestido chamou sua ateno. Ele colocou a caixa no cho e travou uma briga contra ala. Foi quando Jessica avistou a etiqueta da bagagem a poucos centmetros da mo de Kyle. Ainda tinha seu endereo antigo e Jessica Grace Morgan escrito no topo em letras douradas. Jessica prendeu a respirao enquanto Kyle tirava a ala e colocava o porta-vestido em cima da cama. - Quer ajuda pra desempacotar? Ele no reparou... ou ser que sim? - Ah, no... Obrigada... Ta tudo bem. Eu dou conta. Kyle passou os dedos por seu espesso cabelo e se aventurou a outra questo: - T com fome? Quer um hambrguer ou qualquer coisa assim? - No, eu estou bem. Obrigada. Agora ele parecia tmido de novo. - Quer uma carona pra algum lugar? Quer passar no hospital pra ver o Hugo? - Na verdade, disse ela cautelosamente - eu estou bem cansada. Acho que vou desencaixotar algumas coisas e depois dormir um pouco. Kyle parou na porta do quarto. Ele parecia preencher todo o espao do vo da porta. - Bem, ento eu j vou. Se precisar de qualquer coisa..., ele parou at que ela levantou a cabea e os olhos se encontraram qualquer coisa mesmo, me chama. Voc me encontra no corpo de bombeiros. Se eu no estiver l, certamente um dos rapazes poder te dizer onde estou.

FBTCB 21

Segredos Robin Jones GunnJessica acenou que sim e desviou o olhar. Ele estava muito lindo. No s a aparncia, tudo nele parecia muito atraente. Cada vez que seus olhos encontravam os dela ela tinha que se segurar para no ficar corada. - Obrigada, de novo, Jessica disse. Parece que s isso que eu tenho dito a voc ultimamente. Obrigada, obrigada, obrigada..., ela olhou para sua camiseta. Ah, eu vou devolver sua camiseta. - Precisa no. Pode ficar com ela. Na verdade, esse ano ser o 15 Festival da Panqueca. Se voc guardar essa camisa por mais alguns anos, pode ser que valha alguma coisa. Tipo uma relquia. Jessica forou-se a olhar pra cima e sorrir. Ento sentiu uma dor rasgante em seu lbio superior, que a lembrou de tomar os remdios. - Ento ta, no vou te incomodar mais, disse Kyle passando o indicador e o polegar pelo maxilar. Ele levantou o indicador e tocou seus lbios fechados. Qualquer coisa, j sabe, n? Fique a vontade pra me ligar. - T certo. Obrigada. - No precisa descer, eu encontro a sada. Espero que voc fique bem logo. - Eu vou. Tchauzinho. E obrigada, de novo. Jessica permaneceu onde estava, ouvindo a porta da frente se fechar. Logo em seguida, ela correu para a janela para ver Kyle andando at sua caminhonete e ir embora. Deitou na cama com cuidado e deixou escapar um suspiro. Eu to sonhando. isso. Um sonho comprido e bizarro. Kyle no pode ser real. Homens como ele simplesmente no existem, ento eu s posso estar sonhando. Eu vou fechar os olhos, ento quando eu os abrir, nada disso ter acontecido e eu estarei de volta California. Mas aquilo era definitivamente um pesadelo. Sem chance de ela ter ficado na Califrnia. E sem chance que ela iria voltar. Ela alcanou a mala do outro lado da cama e tirou as roupas de dentro. Ela estava em Oregon agora. Era quele lugar que ela pertencia. Ela arrancou a etiqueta com seu nome e rasgou o carto em pedacinhos. Deveria ser muito mais cuidadosa. Muito mais cuidadosa.

FBTCB 22

Segredos Robin Jones Gunn

CAPTULO TRSAnoiteceu, e Jessica dormiu o dia todo, aninhada em sua cama, abraando a colcha de retalhos na altura do queixo. Quando finalmente acordou, estava quase escuro. Cambaleou at o banheiro, sorrindo ao ver o charme de antigamente da banheira3 e da pia. A janela se abria no meio. A neve branquinha poderia abrir essa janela numa tarde de vero, e todos os passarinhos azuis voariam at l para sentar-se sobre o peitoral e cantar para ela. Jessica ficou em dvida se deveria tomar mais remdio ou procurar alguma coisa pra comer. O remdio, obviamente, a deixou sonolenta, o que era bom, mas o estmago j estava reclamando que aquelas mordidinhas no caf da manh j tinham ido faz tempo... Desceu os degraus devagar. Sentia sua perna tremendo, insegura. Ela foi at a cozinha ver se encontraria alguma comida. Se no, ela no saberia o que fazer. Ela no tinha nenhum meio de transporte, nem tinha como saber pra que lado ficava o restaurante mais perto. Isso se a perna dela a deixasse caminhar. Ela se sentia uma pioneira pattica. A geladeira estava vazia. Um armrio guardava quatro pratos, tigelas, xcaras, vasilhas, panelas e assadeiras para cookies que compunham aquela cozinha pronta-pra-usar. Um telefone, meio rolo de papel-toalha, uma cafeteira e um liquidificador eram do conjunto de eletrodomsticos. S faltava a comida. Havia um armrio que ela no tinha olhado ainda, acima da geladeira. Ao abrir, Jessica viu alguma coisa no cantinho. Arrastou uma cadeira da sala de jantar e subiu, para ver o que havia no armrio. Para seu deleite, ela encontrou dois pacotes de miojo e quatro saquinhos de ch. Ela nunca tinha comido miojo na vida, nunca nem pensou nisso. Mas melhor que nada. Em vinte minutos, ela j tinha preparado e comido meio pacote de miojo, tomado o remdio, encontrou o pijama, os vestiu e caiu na cama de novo. Ela no fazia idia do horrio, mas fez uma nota mental para se lembrar de, no dia seguinte, desempacotar o relgio. Aqueles foram seus ltimos pensamentos, at, aproximadamente, meio-dia do dia seguinte. Ela acordou com uma dor de cabea terrvel. Ela dormiu bem, um sono pesado e profundo. Mas seu pescoo e sua cabea doam como se ela tivesse tentado dormir em uma longa viagem de avio, como na que ela fez para a Inglaterra. Melhor eu desempacotar primeiro os objetos do banheiro. Quem sabe eu acho uma aspirina. Jessica andou devagar at o banheiro. Engraado. Minha boca est doendo ainda mais, mas minha perna melhorou. Ou ser que a dor no pescoo me impede de sentir o resto do corpo? A campainha tocou antes que ela pudesse encontrar as aspirinas. Ela pensou se poderia deixar tocar. Ela ainda estava de pijama. Tocou de novo, duas vezes, dessa vez. E se fosse Kyle? Jessica mexeu nas malas para encontrar um robe e desceu a escada.

3

Banheira: http://www.bathtubsfactorydirect.com/catalog/HY982%20Claw%20Foot%20Bath%20Tub%20Thumb%20Nail.JPG

FBTCB 23

Segredos Robin Jones Gunn- J vou..., ela gritou no quarto toque da campainha. Ela destrancou a porta e a abriu, esperando por Kyle. Uma senhora estava parada na entrada. As armaes prateadas de seu culos se harmonizava com o tom prateado de seus cabelos. Na gola de seu suter estava um amor-perfeito roxo. Em suas mos, um vaso cheio das mesmas flores para Jessica. - Bem-vinda! Meu nome Ida. Ida Dane. Eu vi que Kyle te ajudou com a mudana. T tudo certo a? A mulher lembrava a Jessica uma verso mais velha de Harriet Nelson4. - Sim, obrigada. Por favor, entre, disse Jessica. Devo pedir desculpas pela minha aparncia. - Oh, pobrezinha! No se preocupe com isso. Kyle me contou sobre o acidente. Mas que jeito horrvel de comear uma vida em Glenbrooke. Espero que esteja se sentindo melhor. Aqui, pra voc. Ela entregou a Jessica o vaso cheio de amores-perfeitos. - Obrigada, so lindas! E, sim, me sinto melhor, exceto por um torcicolo... As duas mulheres se dirigiram sala e sentaram-se no sof. Jessica colocou o vaso na mesinha de centro. - Sabe, disse Ida - acho que melhor colocar uma toalha de papel embaixo do vaso. Fique a, eu j volto. Jessica gostou da Sra. Dane na mesma hora. Ela se sentia sem jeito em convidar algum para entrar numa casa que no era exatamente sua, onde os convidados sabiam mais sobre seus mveis do que ela. Ela desejou que Ida no pensasse que ela no cuidaria dos mveis por causa disso. - Aqui est, disse Ida, dobrando o papel duas vezes para servir de aparador Isso vai funcionar. Queria que voc soubesse que as taxas de gua e lixo esto inclusas no valor do aluguel, e que eu j coloquei a conta do telefone no seu nome. - Que timo! A casa uma graa, tenho certeza que vou amar morar aqui. Dado por completo o lado comercial da conversa, Ida j mudou de assunto: - Ento, voc disse que est com torcicolo. Sabe, meu filho acabou de se formar em quiropraxia5. Ele o melhor! A mulher dele um anjo. Ela pode te dar uma massagem, voc vai ver como esse n no seu pescoo vai sair! Por que eu no ligo pra marcar uma horinha com eles?

4

Personagem de uma srie de TV antiga http://www.bathtubsfactorydirect.com/catalog/HY982%20Claw%20Foot%20Bath%20Tub%20Thumb%20Nail.JPG5

Uma mistura de mdico, fisioterapeuta e massagista; especializado em coluna. Curso superior de 4,5 a 5 anos. Poucas faculdades oferecem o curso.

FBTCB 24

Segredos Robin Jones Gunn- Ah, tudo bem. S que eu ainda no estou vestida. Jessica no tinha certeza se ela queria uma consulta com um quiroprtico. Seria uma experincia nova pra ela, e bem cara. Quando ela pagou a conta do hospital ontem, gastou todas as suas economias. Agora ela s tinha vinte dlares e uns trocados. Ela certamente no tinha pensado em sua situao financeira antes de se mandar. Ela no tinha de onde arranjar dinheiro at o seu primeiro pagamento, o que provavelmente seria daqui duas ou trs semanas. Caiu a ficha sobre sua situao financeira, ela estava mesmo quebrada. Como ela compraria comida se pagasse o quiroprtico? - Sra. Dane, temo no poder... Ida pediu silncio para falar suavemente ao telefone: - Becky, querida, tenho uma nova paciente pra voc, queria saber se posso lev-la a daqui a pouco. Ela minha inquilina aqui na velha casa da Rua Marigold. Seu nome Jessica Morgan. MORGAN! Jessica gelou. Sr. McGregor tinha dado a ela o seu verdadeiro nome, e agora algum chamado Becky do consultrio de quiropraxia sabia tambm. - Vinte minutos? Perfeito. At logo, querida, Ida desligou e fez sinal de positivo pra Jessica Vista-se, querida, ns j vamos. - Isso muito gentil, mas eu no posso, quer dizer, eu no... Jessica no sabia exatamente o que dizer. Ela nunca tinha ficado sem dinheiro antes. Antigamente, era s ir at o seu banco ATM para refazer seu estoque de dinheiro. A situao estava difcil, e ela nem sabia como dizer isso. Especialmente pra dona da casa, que poderia desistir de alugar o imvel para ela se soubesse a verdade. - V agora! Sem desculpas. Quer ajuda para subir as escadas? Jessica desistiu. - No. Volto em uns minutinhos. Alm do mais, ela poderia enrolar. Era s esquecer a bolsa em casa e dizer pra ele que estava sem dinheiro. A ela pediria pra ele pendurar a conta. Vestir-se demorou mais do que o esperado. Vestida em jeans, ao colocar sua camisa Eddie Bauer azul favorita, sentiu seu torcicolo piorar. Agora sua cabea estava mesmo latejando. Quem sabe, se o quiroprtico realmente resolvesse, ela poderia viver na misria por uns dias. Calou suas sandlias huarache e gastou mais alguns minutos escovando o cabelo. Novamente, maquiar-se pareceu no fazer sentido algum. Ela apareceu no topo das escadas com um sorriso tmido, sentindo-se mais confiante. - Coitadinha..., disse Dona Ida, que j a esperava na porta da frente, - Acabei de lembrar que voc deve estar sem nada pra comer em casa. Deve estar morrendo de fome! Por que no

FBTCB 25

Segredos Robin Jones Gunnparamos pra almoar logo mais? por minha conta. Voc aproveita e me conta mais sobre voc Hugo me falou to pouco... Jessica deixou que aquela doce senhora, que parecia ser daquelas velhas fofoqueiras, a levasse at o consultrio do quiroprtico, onde Jessica tirou um monte de Raios-X, seguidos por uma consulta. Dr. Dane mostrou a ela onde o acidente atingiu sua coluna, deixando-a desalinhada, e recomendou uma srie de ajustes e massagens, comeando com trs sesses semanais. Na privacidade do consultrio, Jessica tentou encontrar as melhores palavras para recusar sua recomendao. - Vou ser bem direta, Dr. Dane. Eu no tenho seguro, e, por enquanto, temo no poder pagar as despesas que terei pela frente. Talvez eu possa comear o tratamento depois que as aulas comearem, assim que receber meu primeiro pagamento. Dr. Dane pensou longamente antes de fechar a pasta que estava na mesa. - Voc definitivamente precisa desse tratamento agora. Este desvio vai persistir e piorar se no for tratado logo. Por que no deixamos as consultas desse ms como meu presente de boasvindas a Glenbrooke? Mais uma vez, Jessica se viu desprevenida diante de tamanha gentileza de um cidado de Glenbrooke. - Se voc tem certeza de que est tudo bem... Parece que tem muita coisa a fazer. Voc nem me conhece... - Acidentes podem causar problemas na coluna que duram toda a vida. Como profissional, me sinto melhor em te atender o quanto antes. Vamos colocar voc na mesa de massagens e a Becky vai te fazer a primeira massagem. - Muito obrigado, Dr. Dane. muita gentileza sua. Enquanto Jessica deitava de bruos, com seu estmago roncando, naquela confortvel mesa acolchoada, Becky trabalhou em suas costas com um massageador quase silencioso. Jessica sentiu a tenso passando por seus msculos. Pensou em Dr. Dane, e imaginou se esse jeito generoso era um estilo de vida das pessoas dessa to pequena e amigvel cidade. Talvez todas as suas suspeitas sobre Kyle no tivessem fundamento. Talvez ele estivesse fazendo o que qualquer bombeiro de Glenbrooke faria por algum que tivesse resgatado. O pensamento era um conforto, mas, ao mesmo tempo, era um desapontamento. Ela estava quase se convencendo de que ele estava a fim dela. Depois da massagem e dos ajustes, Jessica podia sentir a melhora. A Sra. Dane as guiou para um restaurante chamado A Trepadeira, e o nome era levado a srio na decorao. As plantas preenchiam as paredes por dentro e por fora do restaurante, e de cada planta, caam flores em cascatas. - As margaridas no so maravilhosas?, Ida perguntou, enquanto se dirigiam a uma mesa de canto, perto de chamativas margaridinhas amarelas. Este meu cantinho favorito. FBTCB 26

Segredos Robin Jones GunnJessica logo pensou que Ida amava flores. Seu jardim devia ser cheio de uma variedade delas. O assunto flores foi um campo seguro durante toda a conversa, enquanto Jessica dava conta de seu sanduche, tentando no atingir seu ainda machucado lbio. Ela mal acreditava em como se sentia melhor, no s pela comida, mas tambm pela massagem e pelos ajustes. - Voc ficou apenas ouvindo, disse Ida, enquanto chegavam porta da frente da casa de Jessica. Eu queria saber mais sobre voc, e acabei falando de mim o tempo todo. Acho que devemos marcar outro almoo. Quando comeam a trabalhar? - Segunda-feira, eu espero. - Faltam apenas dois dias! Chegou em cima da hora. - Haver reunio de professores durante a prxima semana. As aulas comearo na outra tera-feira, logo depois do Dia do Trabalho6. - Ah, sim, claro. Quero visitar Hugo amanh s dez da manh. No quer ir comigo? Eu sei que ele ainda no est reconhecendo ningum, mas deve melhorar logo. Quanto mais caras e vozes conhecidas ele tiver por perto, mais rpido isso acontecer. o que eu acho. - Com certeza. Seria timo irmos juntas. Na manh seguinte, s 10:15, Jessica estava sentada em uma cadeira ao lado da cama do Sr. McGregor, e cuidadosamente segurou sua mo, fazendo-lhe um afago. Sua careca estava maior desde a ltima vez que ela o viu, h seis, sete anos atrs. E o pouco cabelo que tinha estava todo grisalho. Seu rosto parecia envergonhado. - Bem, estou aqui, Sr. McGregor. Jessica Mor..., ela interrompeu para se corrigir Fenton., Ento ela se lembrou de que a Sra. Dane estava no quarto e sabia que ela se chamava Jessica Morgan. Sou eu, Jessica, disse ela, rapidamente Cheguei h alguns dias. A casa que o senhor encontrou pra mim maravilhosa. Gostei mesmo., Jessica olhou para Sra. Dane, que lhe deu um aceno e um sorriso de aprovao. - Eu a levei para ver Dale, a senhora se intrometeu no monlogo - Jessica no disse que teve um acidente quando estava chegando na cidade. Jessica se encolheu. O A ltima coisa que ela pensava que o Sr. McGregor precisava saber era sobre seu acidente. Aquele pobre homem j tinha problemas demais. - Eu estou bem, Jessica disse. No foi to ruim. Eu passei minha primeira noite em Glenbrooke nesse hospital. No engraado? Ns dois no mesmo prdio, s que eu estava no andar abaixo. Por um instante, pareceu que as plpebras de Sr. McGregor se moveram. As duas mulheres chegaram mais perto, esperando que ele abrisse os olhos e conversasse com elas, como se nada tivesse acontecido. o que aconteceria se ele estivesse apenas tirando uma soneca.

6

Nos EUA, o Dia do Trabalho na primeira segunda-feira de setembro.

FBTCB 27

Segredos Robin Jones Gunn- Ento, quando vai pra casa, Hugo?, Ida perguntou. Mandei Wendel cortar a grama em sua casa ontem. J estava parecendo uma selva. No queremos que seu jardim tire o prestgio das casas da vizinhana, n? Acho que devemos manter o lugar. Voc no quer que fiquem cuidando de sua vida por muito tempo. Voc precisa voltar logo pra casa pra cuidar das suas coisas. Jessica no tinha certeza se o discurso de Ida estava ajudando alguma coisa, mas parecia que os olhos do Sr. McGregor se moviam por baixo das plpebras, que no tinha acontecido antes. Ida parou de falar, e o nico som era o bip dos monitores, indicando eletronicamente que o Sr. McGregor estava vivo, ainda que dormente. - Bom, acho que melhor irmos embora., disse Ida, depois de tagarelar por quase quarenta minutos. Volto para te ver segunda-feira, se ainda estiver aqui, claro. Ah, bom voc tentar sair daqui ainda hoje, Hugo. Sabe como voc prometeu ir igreja conosco um dia desses... Ento, amanh o primeiro dia do novo pastor. Ele da Califrnia, mas acho que vamos gostar dele de qualquer jeito. Acho bom voc estar l. Jessica acarinhou novamente a mo do Sr. McGregor, Ida deu-lhe um beijo no rosto, e as duas mulheres se foram. No carro, indo pra casa, Ida estendeu o convite dominical a Jessica. De acordo com Ida, sua igreja era a melhor da cidade. - Obrigada, mas acho melhor eu descansar e recuperar minhas foras, Jessica respondeu, esperando que ser inquilina de Ida no signifique aceitar a todos os seus convites. A igreja no fazia parte da vida de Jessica desde os seus oito anos. Ela no tinha a menor inteno de comear a ir agora. A me de Jessica era a influncia espiritual da famlia, e, quando ela morreu, quando Jessica estava na segunda srie, ela e toda sua famlia no conseguiram manter um relacionamento com o Deus que deixou uma mulher como Carol Morgan morrer. Jessica viu que, se vivesse moralmente bem, Deus no a incomodaria, e ela no tinha motivos para incomod-lo tambm. Alm do mais, Ele j tinha as guerras, a fome e o aquecimento global pra se preocupar. Ele no precisava ser incomodado com seus caprichos mesquinhos. Ida parecia pensar que Jessica tinha ido mercearia, pois disse algo sobre cozinhar pra si mesma, agora que estava tudo resolvido e estava tudo certo na cozinha. Jessica respondeu: - , est tudo bem. A verdade era que h dois dias Jessica estava economizando os dois pacotes de miojo que tinha. Na noite anterior, ela encontrou uma barra de Snickers7 na bolsa, e guardou um pedao na geladeira pra mais tarde. Ele parecia triste e mole, sozinho na prateleira da geladeira. - Eu entendo sua vontade de se estabelecer, Jessica. Assim que estiver tudo certo, espero que v igreja comigo. A Sra. Dane falava claramente, sem ser agressiva. Ela deixou Jessica na porta de casa, avisando que poderia ligar pra ela se precisasse de alguma coisa.

FBTCB 28

Segredos Robin Jones GunnO tempo estava bom, e Jessica no estava cansada da ida ao hospital, ento passou um bom tempo trabalhando no jardim depois que Ida foi embora. Uma espreguiadeira velha com uma almofada suja a esperava na varanda. Jessica deitou e fechou os olhos, entregando sua face ao sol de agosto. No era nenhuma Malibu, mas era to relaxante e calmante quanto. Conforme seu corpo relaxava, sua mente se tornava mais tensa. Ela reviu sua situao pela quadragsima vez. Eu tenho vinte dlares, meio pacote de miojo e cinco pedaos de uma barra de chocolate. Eu no vou receber nada em uma semana, talvez at duas. No tenho ningum de quem emprestar dinheiro, e, de qualquer forma, no teria coragem de pedir emprestado. Kyle disse que me ajudaria, mas eu no ouvi nem falar dele desde que me deixou aqui quinta-feira. No tenho carro. No tenho dinheiro pra comprar um carro. Por que eu no trouxe mais dinheiro? Onde que eu estava com a cabea? No estava nem pensando. Como eu vou sair dessa? Pelo menos no tenho nenhuma conta pra pagar at outubro. E o telefone? E a conta de luz? Como eu vou lidar com isso? Eu nunca fiquei no vermelho antes! No posso voltar agora. Tenho que fazer esse trabalho. Jessica se sentia exausta depois de tantos problemas. Ela queria dormir, mas seus pensamentos no deixavam. Tentou liberar um pouco dessa tenso. O quintal parecia pronto para ser capinado. A jardinagem a chamava, mesmo com sua perna machucada. Ao menos o trabalho braal distrairia sua mente. Jessica se abaixou com cuidado e comeou a arrancar as plantas mortas. Tirou algumas folhas e achou uma abobrinha que parecia comestvel, apesar de um pouco seca. Tinha outra, um pouco menor, j apodrecida embaixo, mas a grande parecia boa. Parecia ter encontrado um tesouro. Comida! Ela levou a abobrinha para a cozinha e a lavou na pia. Pelo menos ia durar bastante. Ela no sabia bem como preparar uma abobrinha. Cozinha nunca foi uma prioridade. Talvez ficasse gostosa cozida no vapor. Depois de passar um tempo procurando algum tempero no armrio, ela encontrou um frasco quase vazio de canela, uma caixa cheia de bicarbonato de sdio, e um potinho de tempero alho e sal. Levar a abobrinha ao vapor temperada ao alho e sal era um prodgio culinrio. Carregando orgulhosamente sua tigela, vaporizando nutrientes em sua sala de jantar, Jessica sentou-se mesa, ansiosa pela refeio. Ela quase sentiu que devia orar, mas no sabia bem o que dizer. A primeira mordida fez sua boca salivar e derreteu em sua lngua quase curada. Estava gostoso. Muito gostoso. Ela saboreou cada garfada. Acho que vou me sair bem. Se eu levar um dia de cada vez. No preciso da ajuda de ningum. Posso dar conta disso sozinha. Jessica se afastou da mesa, se jogou no sof na sala de estar, tentando reforar os pensamentos positivos que acabara de ter. Sem avisar, uma lgrima escorreu por sua face. Ningum estava l para ver. Ningum podia imaginar quo terrvel ela era.

FBTCB 29

Segredos Robin Jones Gunn

CAPTULO QUATRO- Muito bem, senhores. Encontrem logo seus assentos, precisamos comear a reunio. Uma mulher de cabelos escuros vestindo um blazer vermelho e uma saia preta apertada bateu com fora sua mo no pequeno plpito frente da espaosa sala de reunies. Jessica encontrou um lugar no fundo da sala. Ela ainda se sentia constrangida com os embaraosos pontos no seu lbio superior. Na verdade, a manh toda foi um sucesso. Ela conseguiu tomar banho, se vestir, arrumar o cabelo decentemente e fazer uma boa maquiagem, e ainda andar as quatro quadras at o colgio sem se sentir cansada. A melhor parte foi o que ela encontrou logo na entrada. Um farto caf da manh, com uma cesta de muffins7, caf fresco e uma bandeja cheia de frutas da estao. Uma voz dentro de si a aconselhou a pegar uns cinco muffins e mais umas mas e enfiar tudo na bolsa. No dia anterior, tudo o que ela comeu foi o ltimo pedao da barra de Snickers e uma tigelinha de abobrinha no vapor. Mesmo assim, Jessica se controlou e pegou apenas um muffin de blueberry e algumas bandas de laranja. Ela no falou com ningum enquanto despejava um saquinho de acar e uma colher de creme no seu caf. Agora, sentada na cadeira de metal, ela provou o caf enquanto lanava o olhar sobre a sala, observando os outros professores. Muitos deles eram velhos camaradas; se organizaram em pequenos grupos de conversa, como se estivessem em uma festa. Depois se sentaram juntos. Jessica sentia como se fosse seu primeiro dia de aula e ela era a aluna nova. - Bom dia, senhores a mulher disse sorrindo um prazer conhec-los. Eu sou a Sra. Charlotte Mendelson, e sou a nova diretora. Como devem saber, o Sr.McGregor est hospitalizado, e eu fui chamada para preencher a vaga. J venho de trs anos de experincia frente do Colgio Logan, em Salm. A Sra. Mendelson continuou a lista suas qualificaes e prometeu que o ano escolar que se iniciava seria o melhor ano que Glenbrooke jamais vira. Jessica calculou que ela deveria ter seus trinta anos, com um sotaque do nordeste do pas8. Ela pronunciava as palavras bem articuladas, e frequentemente se valia de gestos que mostravam suas longas unhas vermelhas. Ela parecia totalmente deslocada nessa cidadezinha. - Perguntas? Sra. Mendelson terminou seu discurso, depois de mais de uma hora falando sobre alguns pontos que anotara. - Muito bem. Encontraro seu ensalamento atrs da porta9. Sei que ser um ano maravilhoso para todos ns.

7

Uns bolinhos deliciosos. Esse o de blueberry (uma frutinha que parece uva, mas d em arbusto): http://www.gardennc.com/images/Blueberry%20Muffin.jpg 8 Boston, Nova York, Nova Jersey. L nos EUA o nordeste correspondente ao sudeste brasileiro. 9 Nos EUA os professores do aula em sua prpria sala. Os alunos que mudam de uma sala pra outra no intervalo das aulas.

FBTCB 30

Segredos Robin Jones GunnDe repente, Jessica sentiu como se mos geladas cercassem eu pescoo. Como estaria seu nome na lista? Se o Sr. McGregor deu seu verdadeiro nome Sra. Dane, deve t-la cadastrado na escola como Jessica Morgan tambm. - Ah, mais uma coisa! A Sra. Mendelson falou mais alto, sobressaindo ao barulho das cadeiras arrastando e ao reincio da conversa. Preciso falar com a nova professora de ingls ela correu os olhos sobre suas anotaes Jessica... Jessica apressou-se para a frente. - Sim? Eu sou Jessica. A Sra. Mendelson a olhou de cima a baixo antes de responder. Seus olhos demoraram mais nos lbios de Jessica. - Eu sei que est aqui por recomendao pessoal de Hugo. Jessica acenou afirmativamente. - Posso perguntar o que aconteceu com seu rosto? - Eu sofri um acidente de carro h alguns dias. - Espero que esteja bem - isso no soou simptico, mas Jessica imaginou que era o melhor que poderia sair de algum como a Sra. Mendelson. - Sim, estou. - Espero que tire esses pontos antes do incio das aulas. - Tenho consulta quarta-feira Jessica sentiu uma mistura de raiva e vergonha. Charlotte Mendelson examinou o lbio de Jessica ainda mais de perto antes de dizer: - Te disseram que isso vai deixar uma cicatriz? Jessica j havia pensado sobre essa hiptese terrvel uma centena de vezes nos ltimos dias. Em todas as vezes ela decidiu varrer o medo pra debaixo do tapete. Como essa pessoa podia levantar seu tapete e expor seu medo desse jeito? - A senhora me chamou por algum motivo especfico? Charlotte se comportou como se ela que tivesse mudado de assunto. - Parece que no temos sua ficha no arquivo. Nossa secretria tem apenas um post-it amarelo escrito JESSICA INGLS CHEGA QUARTA OU QUINTA. - , sou eu. - Pode passar na secretaria para providenciar suas informaes antes de ir para sua sala? era mais uma ordem do que uma pergunta.

FBTCB 31

Segredos Robin Jones GunnSra. Mendelson saiu em seu salto vermelho de encontro a um homem que Jessica presumiu ser o professor de treinador do time de futebol, pelos shorts azuis e sua camiseta-apertadacomo-sou-musculoso. Jessica encontrou a secretaria e tentou acalmar a raiva. Sra. Mendelson era algum com quem ela deveria aprender a lidar, e a melhor forma era se esquivar de qualquer possibilidade de conflito que surgisse. Jessica desejou ter se vestido melhor. Ao invs de um traje social, ela preferiu um jeans, uma camiseta marfim e um colete em tom cru com quatro botes em metal antigo na frente. Ela imaginou que passaria o dia limpando estantes e fazendo murais, no sendo forada a travar uma batalha contra sua nova chefe. Se ela soubesse, teria, definitivamente, vestido seu tailleur Liz Clairbone azul. Sim, definitivamente uma considerao a se fazer para os prximos primeiros dias em colgio. Ou talvez para a primeira reunio de professores. Quando Jessica abriu a porta da secretaria, notou uma silueta familiar atrs do balco, falando com a secretria da escola. - Pode me informar em que sala est a Srta. Fenton? perguntou a voz grave de Kyle Buchanan. - Srta Fenton? Acho que no temos ningum com esse nome respondeu a pequena mulher. - Na verdade, sou eu disse Jessica. Um sorriso surgiu na face de Kyle assim que ele a viu. - Voc parece bem melhor! Voc est bem, Jessica? A secretria encarou Kyle atrs do balco. - Ah! ela disse Ento voc a Jessica. Ns ainda no temos seu ltimo nome. Fenton, n? Fe-n... a secretria parou, com o lpis sobre o caderno, esperando. - T-o-n Jessica terminou para ela. - Muito bem. Preciso que voc responda a algumas perguntas antes de ir. - No quero atrapalhar disse Kyle. Ele abaixou o tom de voz e chegou mais perto de Jessica. Seus olhos verdes correram sobre sua face antes de encontrar os dela. Estive de planto no corpo de bombeiros ultimamente, mas estou de folga pelos prximos dias, ento pensei se voc no precisaria de qualquer coisa. No tem uma consulta quarta-feira? Quer carona? Jessica estava quase dizendo seu tudo bem, no precisa se preocupar de sempre, quando Charlotte bruscamente abriu a porta. - Bem, ol! Ela paralisou no momento em que viu Kyle. Acho que ainda no nos conhecemos. Sou a diretora, Charlotte Mendelson. Ela estendeu a mo, esperando que Kyle a beijasse. Kyle educadamente cumprimentou-a com um aperto de mos. - Kyle Buchanan. FBTCB 32

Segredos Robin Jones Gunn- Por algum lance de sorte, voc algum professor novo que eu ainda no conheci? - Ele bombeiro disse a secretria todos na cidade conhecem Kyle. Charlotte continuou sorrindo e disse: - Ora, um bombeiro! Poderia vir dar uma palestra sobre preveno de incndios pra mim. Estou certa de que um timo palestrante. Podemos nos dirigir minha sala para acertar uma data? Jessica sentiu sua raiva se incendiar novamente. - Na verdade, eu tenho que ir. Kyle disse educadamente Qualquer um da equipe poder ministrar esta palestra de bom grado. Pode ligar para o corpo de bombeiros quando encontrar uma data em sua agenda. - Certo. Farei isto. Charlotte sorriu para Kyle como se pudesse hipnotiz-lo. Ele voltou sua ateno a Jessica. - Quarta-feira? perguntou. Te ligo pra combinar a que horas passo pra te pegar. Jessica concordou. - Com licena, senhoras. Kyle se despediu com um aceno antes de partir. - De onde vocs se conhecem? Charlotte perguntou a Jessica. Jessica pensou em no responder e simplesmente sair andando, mas teria que voltar de qualquer forma para responder ao questionrio da secretaria. Alm do mais, gostando ou no, aquela mulher era sua chefe. Ela j esteve em situaes piores. Podia lidar com Charlotte sozinha. - Nos encontramos em uma curva. - Ahn? perguntou Charlotte. Jessica deu dois passos para trs, voltando-se para a secretria. - Precisa que eu preencha alguma ficha? A mulher magra atrs da mesa encarou Jessica e disse: - Ah, sim. So s alguns formulrios. No temos nenhuma informao sua em nossos arquivos, sabe. s vezes demora semanas para conseguir alguma coisa nos locais de origem. Isso certamente vai ajudar, se voc no se importa. - Claro. Quer isso hoje ou posso trazer amanh? - Pode ser amanh disse a secretria.

FBTCB 33

Segredos Robin Jones Gunn- Precisamos pra hoje Charlotte interrompeu a conversa enquanto esses papis no estejam preenchidos, voc no est empregada no meu colgio. Entendido, Sra... Charlotte virou-se para a secretria como se Jessica fosse invisvel Qual o sobrenome dela? A secretria olhou para seu caderno: - Ahn.. Fenton. Jessica Fenton. - Entendido, Sra. Fenton? Jessica no deixaria essa mulher levar a melhor hoje, amanh ou qualquer dia. Charlotte Mendelson no a controlaria. Sem uma palavra, Jessica virou-se secretria e disse: - Preencho a caneta, a lpis, ou tanto faz? - Caneta, claro disse Charlotte de dentro de sua sala. Propositadamente deixara a porta aberta. - Acho que de caneta respondeu a secretria, estendendo a Jessica dois pequenos formulrios E este o manual da escola. Pode ficar com ele. Acho que pego os formulrios assim que voc terminar de preencher. Jessica sentou em uma cadeira de madeira no canto da sala de espera, o mais longe possvel da porta de Charlotte. Preencheu seu nome, endereo e telefone, que ela copiou de um carto que colocou em sua bolsa no dia anterior. No havia muita coisa em sua carteira alm disso. Ela tinha queimado seus cartes de crdito, cartes de banco, de plano de sade e a carteira de motorista. Tudo o que restava era o carto que ela fez na noite anterior com sua nova identidade e a sua ltima foto com sua me, de 1977. Da diretoria, Jessica podia ouvir Charlotte ao telefone. Tocou duas vezes, antes de uma voz masculina atender: - Corpo de Bombeiros de Glenbrooke. Bobbie falando. - Kyle Buchanan, por favor. respondeu Charlotte. - Kyle est de folga pelos prximos trs dias. s com ele? - .. Acho que vou tentar na casa dele. Voc tem o nmero dele por a? Eu no consigo encontrar... Jessica tentou no pensar no joguinho da sala ao lado. Prestou ateno aos formulrios, preenchendo na frente e atrs, e os entregou secretria. - At mais. Jessica saiu o mais rpido que pde para a segurana da sala 14 sua sala. Ela entrou rapidamente, fechando a porta atrs de si, deixando escapar um suspiro.

FBTCB 34

Segredos Robin Jones GunnAbriu os olhos e observou a sala. Espaosa o bastante, velha o bastante, e at limpa o bastante. A sala 14 a lembrava de uma das velhas salas do seu tempo de colegial. Os prdios que compunham a estrutura do Colgio Glenbrooke deviam ter trinta, quem sabe quarenta anos. A sala cheirava a p de giz e tinha recebido vrias alteraes ultimamente, como a nova iluminao, e quadros brancos que substituam os velhos quadros de giz, como em qualquer escola moderna. Jessica encarou a mesa na frente da sala. Reverentemente aproximou-se e correu as mos sobre a superfcie de madeira, sentindo o relevo. Sorriu, contente consigo mesma. Enquanto a mesa era velha, com sua madeira slida, ostentando um intrigante mapa deixado pelos anos anteriores, a cadeira era novinha em folha, com braos de vinil negro e assento cinza. Tinha ajustes de altura, para frente e para trs. Jessica testou a sua cadeira high-tech, indo para baixo em uma velocidade assustadora. Melhor no mostrar o mecanismo ao engraadinho da classe. Mas eles sempre sabem, n? Ela ouviu uma leve batida porta, e ento esta se abriu. Jessica imediatamente se levantou, como se tivesse sido pega fazendo alguma idiotice e Charlotte estivesse vindo chamar sua ateno. - Ol, uma voz doce chamou Voc Jessica? Meu nome Teri. Uma mulher hispnica de altura mediana com longos cachos castanhos entrou na sala. Ela vestia uma blusa branca sem mangas e uma bermuda cortada. Em contraste com sua pele bronzeada e seus olhos escuros, seus dentes brilhavam como prolas. Jessica cumprimentou Teri j no meio da sala,estendendo sua mo. - Sou sua vizinha disse Teri ensino espanhol naquela sala ali ela apontou para o fundo da sala Ouvi dizer que voc vai dar aulas de ingls e de educao para sade. J dei aulas de sade. Este ano acho que resolveram dividir a matria, ento todo mundo tem uma turma. No muito ruim. Na verdade, quase uma folguinha. H quanto tempo est aqui? J se instalou? Teri se encaixava no perfil amigvel do povo de Glenbrooke. Mais de perto, Jessica percebeu que Teri no usava um pingo de maquiagem, mas sua pele era maravilhosa. Jessica pensou que elas tinham a mesma idade, mas como uma pessoa de vinte e quatro anos de idade pode ter a pele de um recm-nascido? Jessica disse a Teri que j havia desencaixotado no fim de semana, mas que demorava um pouco pra organizar tudo por causa do acidente de carro. - Acidente de carro? disse Teri Que terrvel! Com os paramdicos e tudo mais? Voc ficou com medo? - Parece que um bombeiro viu o acidente, a parou e pediu ajuda pelo rdio. Acho que se ele no tivesse visto, eu ficaria l naquela vara por horas. - Quem te achou? Bobbie, Rod, Kyle ou Jim? - Kyle. Conhece?

FBTCB 35

Segredos Robin Jones Gunn- Claro. Todo mundo conhece o Kyle. Ele o melhor. Srio. O Kyle um cara incrvel. O tpico cavaleiro de armadura reluzente, sabe? Jessica acenou, no muito certa se Kyle era o cavaleiro de todas as mulheres de Glenbrooke ou o cavaleiro de armadura reluzente particular de Teri, ou simplesmente um cara legal. - De todo jeito, estou bem instalada l em casa, e tenho consulta de novo depois de amanh pra tirar esses pontos Jessica fez um gesto teatral apontando ao seu lbio superior. Teri olhou de perto. - Ah, quase no percebi disse Teri Ento, vamos arrumar nossas salas logo ou paramos para almoar rapidinho? Antes que Jessica pudesse responder, Teri disse: - Voto pelo almoo, e por minha conta. Ento, o que acha? - Vamos l disse Jessica. Ela pegou sua bolsa e as duas seguiram ao Golf de Teri. Jessica sentiu que completara com sucesso o teste de ingresso pelo qual passam todas as crianas em seu primeiro dia de escola fez uma nova amiga.

FBTCB 36

Segredos Robin Jones Gunn

CAPITULO CINCO- Seu lbio se recuperou muito bem disse o Sr. Laughlin, enquanto a examinava sob uma luz forte Mesmo assim, temo que no fique completamente restaurado. O que voc quer dizer com isso? Onde tem um espelho? Deixa eu ver! - s uma leve cicatriz prosseguiu Dr.Laughlin, coando o nariz e ajeitando os culos Quase no d pra ver. Temo que, exceto por cirurgia plstica, no haja muito a fazer. Creio que no vai afetar muito sua vida. Tente no pensar nisso. Jessica sentiu que iria chorar. Como poderia no pensar nisso quando um mdico diz que ela tem uma cicatriz permanente? Como ele pode falar assim? sobre o rosto dela que esto falando. Antes mesmo de se olhar no espelho, Jessica decidiu que faria uma cirurgia plstica assim que conseguisse algum dinheiro. Ela tinha dispensado o plano de sade da escola porque no sabia como conseguir atestados mdicos antigos falsos com o nome Fenton. Tinha que economizar de qualquer jeito. Ento seria isso, depois de economizar pra comprar um carro. E para o seguro do carro. Mas primeiro ela tinha que conseguir uma carteira de motorista no Oregon. Como ela conseguiria uma carteira sem registros antigos? Essa nova vida estava ficando complicada. - isso disse Dr. Laughlin, tirando a lmpada de cima da cara de Jessica e lavando as mos na pia de ao inox Eu ainda quero que voc economize essa sua perna esquerda. Tente sentar e deix-la levantada, em cima de uma cadeira, sempre que possvel. E nada de exerccios aerbicos, andar de bicicleta, corrida, caminhada nas prximas trs semanas. Certo? Jessica acenou afirmativamente. Ela mal podia esperar pra olhar no espelho em cima da pia sua cicatriz, assim que o mdico sasse da sala. Ela sabia que Kyle a estava esperando do lado de fora, e ela queria ver a marca antes dele. Dr. Laughlin abriu a porta, gesticulando para que ela sasse antes dele. Ela desejou que ele a deixasse ali sozinha por alguns minutos. - Pronto? Kyle perguntou, levantando-se do sof marrom da sala de espera, olhando rapidamente o lbio superior de Jessica. O que ele estaria pensando? Ser que era muito ruim? No dava pra saber pela expresso dele. - Acho que vou ao banheiro, se no se importa de esperar um minutinho disse Jessica. - Imagina. Te espero aqui Kyle pegou a revista Time que estava lendo e sentou-se,ajeitandose no sof. Jessica entrou no banheiro, esperando que ningum estivesse l. Ela parou na frente da pia e observou seu reflexo no espelho. A cicatriz podia ser vista com facilidade. A forma esbranquiada em forma de meia lua ficava metade no lbio superior e metade no rosto. Aproximadamente a uma polegada do canto da boca. Jessica tentou pensar positivamente. No to ruim.

FBTCB 37

Segredos Robin Jones GunnMas seu lado pessimista tinha pensamentos galopantes: Ah, sim! terrvel! permanente! No, temporrio. Vou fazer a cirurgia plstica assim que puder Claro, daqui uns cinquenta anos, quando voc tiver economizado dinheiro suficiente. At l, vai andar pelas ruas com essa cara deformada. Todo mundo vai olhar. Onde quer que voc v, vo reparar no seu lbio. Jessica tentou dispersar a guerra interior. Tirou um batom da bolsa e comeou a trabalhar nisso. Uma ltima olhada no espelho a dizia que o batom tinha sido um timo investimento. Cobria pelo menos metade da lua, isso, por enquanto, bastava. Kyle parecia no ter notado a diferena quando ela chegou na sala. Ao menos ele no olhou pra ela do jeito que olhou quando ela saiu do consultrio. Ele andou ao seu lado at o carro, conversando sobre um artigo que acabara de ler sobre buracos negros no espao sideral. Jessica achou bom eles focarem a conversa no espao sideral. Kyle a tinha pegado no consultrio do quiroprtico antes da consulta com Dr. Laughlin. Agora faziam uma parada numa lanchonete antes de voltar ao colgio. A situao ficou embaraosa a partir da. Kyle fez o seu pedido, ento virou-se para ela: - O que vai querer? O orgulho de Jessica falava bem alto. - Pode deixar que pago meu lanche. Ela s tinha vinte dlares que estava guardando h quase uma semana. No era o suficiente para seu sustento, mas ela no podia aceitar a oferta de Kyle. Ele pagou o pedido dele e Jessica ficou no balco, at decidir por um hambrguer tamanho Junior e uma Coca pequena. A atendente perguntou se ela queria tomate ou cebola no hambrguer. Jessica exitou, pensando se seria um gasto extra. - No, obrigada disse ela, tirando o dinheiro da carteira e entregando uma nota de dez dlares como se tivesse muito mais de onde essa viera. Eles sentaram em uma das mesas em frente lanchonete. Jessica com seu hambrguer junior e Kyle com seu hambrguer triplo, batatas-fritas tamanho grande e Oreo Shiver. Ela j havia sado com vrios caras, cada um pagando o seu, e se saiu muito bem todas as vezes, mas no se lembrava de ter sado com um cara pra almoar em uma lanchonete. E certamente no se lembrava de ter sentido antes esse pnico ao pensar em dinheiro. Durante os cinco primeiros minutos do almoo, Jessica contou quatro pessoas que vieram cumprimentar Kyle pelo nome. Ele apresentou Jessica a eles, e mais uma vez ela sentiu o jeito acolhedor de Glenbrooke. claro que Kyle a apresentou como Jessica Fenton. primeira vista, usar um sobrenome falso no parecia uma coisa errada, mas uma necessidade, e ela no se sentia mal se protegendo dessa forma. Mas agora ela se sentia incomodada toda vez que ouvia este sobrenome. Teri a havia convidado para jantar em sua FBTCB 38

Segredos Robin Jones Gunncasa na sexta-feira. Como ela poderia se tornar amiga ntima de Teri sem revelar sua verdadeira identidade? E se houvesse possibilidade de ter um relacionamento com Kyle? Como ela poderia se permitir a aproximar-se dele? Jessica Fenton no deveria se aproximar de ningum. Ela poderia ser amigvel, claro, mas nunca ntima do jeito que Jessica Morgan era. Enquanto ela dava outra mordida em seu hambrguer, surgiu um doloroso pensamento. Jessica Morgan foi ntima de algum? Ela sabia que, com exceo de sua me, a resposta era no. Os Morgan no tm amigos, seu pai uma vez disse. Os Morgan tm contatos. - Acho que devemos voltar ao colgio observou Kyle, catando as ltimas batatinhas. Ele amassou o saquinho e jogou na lata de lixo atrs dele, junto com o copo de refrigerante vazio. Teri disse que voc tem reunies marcadas o dia todo amanh e sexta. - Sim. Estou ficando exausta. - Na sua ltima escola era essa loucura toda na primeira semana?, Kyle perguntou. - Pra falar a verdade, essa minha primeira escola. a primeira vez que eu dou aulas em qualquer lugar. Sem contar o estgio, claro. - Tenho certeza que voc vai se dar bem, disse Kyle. Dois adolescentes subiram em uma velha caminhonete azul. Eles buzinaram, chamando Kyle pelo nome, e acenaram. - Voc parece ser bem popular por aqui, disse Jessica. - Cidade pequena disse Kyle Vai ser a mesma coisa com voc depois de alguns dias de aula. Espera pra ver. Temos timos garotos na cidade. - Faz tempo que voc mora aqui? Jessica perguntou quando eles j estavam na caminhonete de Kyle, indo pro colgio. - Uns seis anos. Gosto daqui. Cresci em Portland. Essa cidadezinha mais a minha cara. Ta gostando de Glenbrooke? - To sim. As pessoas so legais e amigveis. como eu pensei que seria. - Voc veio de uma cidadezinha da California? - Como voc sabe que eu sou da California?, perguntou Jessica, armando seus escudos. - As placas do carro. Por falar nisso, Al no levou a conta do carro pra voc, n? Eu disse a ele pra no fazer isso. - Por qu? - Sabe... que... Jessica esperou que ele dissesse porque eu sei que voc no tem dinheiro. Ela odiaria ser alvo da caridade alheia. FBTCB 39

Segredos Robin Jones Gunn- Porque eu disse a ele que voc nova na cidade, e eu... novamente Kyle parecia escolher as palavras com cuidado eu disse a ele que ficaria devendo um favor. assim que as coisas funcionam por aqui. A troca de favores frequente em Glenbrooke. Jessica tentava decidir se falaria algo em sua defesa ou simplesmente deixaria pra l. At onde a bondade de Kyle era parte do estilo de vida da cidade? Ser que ele estava interessado nela mais do que como uma nova vizinha? Kyle entrou na vaga do estacionamento da escola e desligou o carro. - Eu vou com voc. Tenho que ver umas coisas no prdio administrativo. Eles andaram em silncio enquanto Jessica imaginava a Sra. Mendelson sendo as coisas no prdio administrativo que Kyle tinha que ver. Charlotte devia ser cinco, talvez seis anos mais velha que Kyle. Por que ela estava correndo atrs dele? Jessica deu uma olhada de lado pra Kyle, e a resposta era bvia. O cara era maravilhoso. Sem falar na gentileza, sensibilidade, compreenso, bondade. Qualquer mulher seria louca se no tentasse atrair sua ateno exclusiva. Jessica sentiu um pouco de remorso por ter decidido se manter afastada. - Ei, ol! disse Charlotte, aparecendo de repente assim que eles entraram no prdio. Jessica ficou pensando se a diretoria tinha vista para o estacionamento e se ela os tinha visto chegando escola. Ignorando Jessica, Charlotte aproximou-se de Kyle. - Parece que recebeu meus recados. Vamos entrando na minha sala. Temos muito pra falar. Kyle permaneceu onde estava, mesmo com Charlotte o puxando pelo brao. - Te vejo mais tarde disse Jessica muito obrigada pela carona. Ento lembrando-se do que Kyle disse sobre Al e o sistema de troca de favores, Jessica adicionou, s pra alfinetar Charlotte: - Tenho que fazer uma coisa legal pra voc um dia desses. Ela saiu do prdio a passos lentos para ouvir a conversa entre Kyle e Charlotte. - Tchau, Jessica disse Kyle. Ento mudou o tom de voz para falar com Charlotte Posso fazer a checagem da segurana no prdio amanh. Preciso dos formulrios do corpo de bombeiros, no estou com eles hoje. Sobre a palestra, pra mim o melhor no fim do ms. - Maravilhoso disse Charlotte E quando podemos marcar um jantar para eu te agradecer? - No por enquanto, disse Kyle. Jessica no conseguia mais ouvir de dentro de sua sala, mas ela ouviu o bastante para ter esperana de que Kyle estava passando tempo com ela porque ele queria. Esperana de que haveria espao para desenvolver esse relacionamento. Mas de que jeito? E o que ela ia fazer se isso acontecesse? O telefone da sala tocou. Jessica deu um sobressalto antes de correr pra atender.

FBTCB 40

Segredos Robin Jones Gunn- Oi, vizinha, a Teri. Ouvi voc chegando. Posso passar a? - Claro, pode vir. Teri chegou um minuto depois. Ela tinha prendido seu cabelo cacheado com uma piranha e vestia uma regata vermelha e uma cala branca um pouco justa. Jessica percebeu como Teri tinha o quadril largo em proporo ao resto do corpo. Ela tinha disfarado bem nos ltimos dias, mas essa cala branca no disfarava nada. - Como foi a consulta? - Fiquei com uma cicatriz permanente Jessica tentou fazer com que parecesse uma piada. - Srio? Teri chegou mais perto olhando para o lbio de Jessica. Ela olhou como se precisasse olhar muito bem para ver a marca. Jessica sabia que a marca podia ser vista facilmente, mas ela apreciou a tentativa de Teri. - , tem uma cicatriz, disse Teri Um pouco de babosa e essa marca vai sumir. Minha v plantava no quintal dela em Escondido. onde eu cresci. Tenho uma dzia de plantas no meu quintal. Te trago uma amanh. J passou babosa? s quebrar uma folha e colocar o gel na regio. Em pouco tempo voc v o resultado. A nica coisa que Jessica sabia sobre babosa que eles colocavam nas embalagens de xampu e condicionador quando os fabricantes queriam fazer parecer um produto natural. - Funciona de verdade. Eu uso no meu rosto, tambm. meio pegajoso e tem cheiro de mato, mas acostuma. Minha av comeou a passar o gel de babosa no meu rosto quando eu estava entrando na adolescncia. Voc ia gostar dela. uma figura. To at ouvindo ela dizendo: Teresa Angelina Raquel Moreno, j passou la babosa hoy? Teri disse alto, com voz de v, em perfeito sotaque espanhol. Jessica imaginou se essa babosa era mesmo o segredo da pele de Teri. Teri olhou a sala de Jessica: - T ficando legal. Chegaram todos os seus livros? - Nem sei. Como eu descubro? - Pergunta pra Charlotte, eu acho. - Ento acho melhor esperar. - T feio, hein? Ela j convenceu Kyle a dar a tal palestra? - Sim. Eu ouvi eles conversando depois que Kyle me trouxe. Ela estava esperando na entrada, pronta pra dar o bote assim que passssemos pela porta. nojento. Ela est irritando todos os professores ou s comigo?

FBTCB 41

Segredos Robin Jones GunnAntes que Teri pudesse responder, o telefone tocou. Como Teri estava mais perto, ela atendeu. - T brincando! Srio? Que maravilha! Claro. Ns j vamos! ela desligou e virou-se para Jessica, seus olhos castanhos brilhando. Adivinha! - Sei l. Charlotte se demitiu. - Melhor. O Sr. McGregor acordou e quer te ver. - Ta brincando! - Claro que no. Vou pegar as chaves do carro e ns j vamos. a resposta das nossas oraes. Obrigada, Senhor! Jessica sabia, em seu interior, que era a resposta de uma orao. Mas ela se surpreendeu ao ouvir Teri dizer isso, especialmente por ter adicionado a parte do Obrigada, Senhor!. As duas mulheres foram correndo at o segundo andar do hospital ver o Sr. McGregor. Ida as cumprimentou porta. Ela usava um cordo de sementes cor de rosa que caa sobre o lado direito de sua blusa amarela. - Que bom! Voc recebeu meu recado, Jessica. Agora, uma de cada vez, meninas, e falem devagar e bem claramente. Jessica entrou primeiro. Ela se sentou na cadeira perto da cama e sorriu para os olhos observadores do homem que ela considerara ser o mais sbio do mundo. - Oi. Sou eu, Jessica. - Jessica? Como voc est? Eu soube que voc chegou cidade bem anunciada. O Sr. McGregor no parecia estar sentindo alguma dor, mas seu semblante era cado. Expresso inexistente. Quase parecia que havia algum ventriloquista puxando cordas invisveis para mover os olhos e lbios de Hugo, pondo palavras em sua boca na hora certa. - Foi um tanto excitante. Eu estou bem. - Que bom... Gostou da casa? - Ah, sim!, Jessica anunciou exatamente como eu queria. muito charmosa. E confortvel. Obrigada, Sr. McGregor. - Voc est em segurana? - Quer dizer em minha casa? Sim, me sinto segura. - Voc est segura aqui? disse Sr. McGregor com cuidado. - Acho que sim.

FBTCB 42

Segredos Robin Jones GunnJessica no quis dizer nada sobre como Ida soube seu sobrenome, mesmo estando curiosa pra saber o que mais ele havia contado. - O colgio est bem? - Todos sentem sua falta e aguardam sua volta. A nova diretora ... bem, vamos dizer que ela no parece disposta a fazer amigos este ano. - Seu arquivo... Hugo comeou, mas Ida entrou com Teri. - Tudo bem, disse Ida Seu tempo acabou, querida. Agora a vez de Teri. - Seu arquivo... Hugo comeou de novo, mas parou, aparentemente percebendo a interrupo, e que agora Teri estava sentada ao seu lado. Jessica esperou do lado de fora enquanto Teri ficou com Sr. McGregor por alguns minutos. O que tem o meu arquivo? O que voc ia me dizer? Mesmo com os avisos de Ida, Jessica entrou logo depois que Teri saiu e disse: - Voc falou sobre meu arquivo. Tem alguma coisa que eu preciso saber? Hugo respirou fundo e disse: - Eu no lembro. Jessica no tinha certeza se ele estava cansado e realmente no se lembrava ou se ele s poderia falar a ss, j que agora Teri e Ida estavam ao lado dela. - Bem, no se preocupe com nada disse Jessica, tentando soar confidente. Fique tranquilo. Volto a te visitar assim que puder. E se de repente voc se lembrar o que queria dizer sobre o arquivo, pode me falar da prxima vez, ta bom? Assim que as trs se reuniram no corredor, Ida comeou a falar entusiasticamente. - No maravilhoso? O doutor ainda no prometeu recuperao total, mas ele