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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ-CEAP DA INVIOLABILIDADE DO SIGILO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS: REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE ORDEM JUDICIAL NO ÂMBITO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL Macapá - AP 2008

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ-CEAP

DA INVIOLABILIDADE DO SIGILO DAS COMUNICAÇÕES

TELEFÔNICAS: REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE ORDEM

JUDICIAL NO ÂMBITO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

Macapá - AP

2008

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ANTONIO DA COSTA SOUSA

DA INVIOLABILIDADE DO SIGILO DAS COMUNICAÇÕES

TELEFÔNICAS: REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE ORDEM

JUDICIAL NO ÂMBITO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

Monografia apresentada ao Curso de Direito do Centro de Ensino superior do Amapá como parte dos requisitos para a obtenção de grau de Bacharel em Direito. Orientadora: Professora Veronice Alves da Silva Ribeiro

Macapá - Ap

2008

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ANTONIO DA COSTA SOUSA

DA INVIOLABILIDADE DO SIGILO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS:

REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE ORDEM JUDICIAL NO ÂMBITO DO

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Trabalho de Conclusão de Curso para a obtenção de grau de Bacharel em Direito do

Centro de Ensino Superior do Amapá.

Orientadora: Professora: Veronice Alves da Silva Ribeiro

BANCA EXAMINADORA

___________________________________

Orientadora:

____________________________________

1º membro

____________________________________

2º membro

Aprovado em: ___/___/______

Conceito: ____________

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me permitir tranqüilidade e paciência para a realização deste

curso e que sempre me escorou na benignidade durante todo os anos de minha

vida.

A minha mãe, pelo seu esforço para criar 05 filhos, todos pessoas de bem.

A minha irmã, por tudo que fizera por mim, durante minha existência.

Ao corpo docente do Centro de Ensino Superior da Amapá - CEAP que,

entre outras coisas, contribui em minha formação ao longo de todos estes anos de

convívio.

À Cidade de Macapá, pela estada.

A minha orientadora Professora Veronice, pela atenção, comprometimento,

conhecimento compartilhado e por acreditar em mim.

Aos companheiros, Macedo, Menezes e Messias, que muito contribuíram

para minha formação.

Aos meus amigos-irmãos, Udson Frete e Bruno Eduardo, pelo apoio e

incentivo nas horas difíceis.

A todos que contribuíram de forma direta ou indireta no meu

desenvolvimento pessoal e profissional.

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“Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou Mas tenho muito tempo: temos todo o tempo do mundo. Todos os dias antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia: Sempre em frente, não temos tempo a perder.

(...)

Temos nosso próprio tempo”. Renato Russo

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RESUMO

O presente trabalho procura mostrar os requisitos necessários para que seja

concedida judicialmente a autorização de uma interceptação telefônica, bem como,

as inovações das legislações no âmbito do Direito Processual Penal e a

regulamentação do inciso XII, do Art. 5º da Constituição Federal. As interceptações

telefônicas, uma vez legalmente disciplinadas e efetuadas com obediência aos

requisitos impostos no ordenamento jurídico, são aceitas como provas lícitas, sendo

admissível seu resultado como fonte de prova no processo, não havendo essa

autorização, a prova será ilícita. O surgimento de novas leis no âmbito do Direito

Processual Penal, trouxe inovações nos procedimentos seguidos até a sentença, na

reforma do júri e também, quanto a regulamentação das provas. Com a entrada em

vigor da Lei nº. 9.296, de 24 de julho de 1996, houve a regulamentação do inciso XII

do Art. 5º da Constituição Federal de 1988, propiciando a concessão de ordem

judicial para realização de interceptações telefônicas. Por outro lado, utilizando-se de

reflexões de doutrinadores e de jurisprudências, verifica-se que é possível chegar a

uma solução satisfatória quanto às divergências em inúmeros casos concretos, onde

se discute ser ou não auto-aplicável à norma constitucional, em relação às

interceptações telefônicas.

Palavras-Chave: Requisitos necessários; autorização; Interceptação telefônica;

Direito Processual Penal; Regulamentação; Inovação; Divergências; Constituição

Federal.

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ABSTRACT

The present work search to show the necessary requirements so that it is

granted the authorization of a phone interception judicially, as well as, the

innovations of the legislations in the extent of the Penal Procedural Right and

the regulation of the interruption XII, of Art. 5th of the Federal Constitution. The

phone interceptions, once legally disciplined and made with obedience to the

requirements imposed in the juridical ordenamento, they are accepted as

lawful proofs, being acceptable his/her result as proof source in the process,

not having that authorization, the proof will be illicit. The appearance of new

laws in the extent of the Penal Procedural Right, brought innovations in the

following procedures until the sentence, in the jury's reform and also, as the

regulation of the proofs. With the entrance in energy of the Law no.. 9.296, of

July 24, 1996, there was the regulation of the interruption XII of Art. 5th of the

Federal Constitution of 1988, propitiating the concession of judicial order for

accomplishment of phone interceptions. On the other hand, being used of

doutrinadores reflections and of jurisprudences, it is verified that is possible to

arrive to a satisfactory solution as for the divergences in countless concrete

cases, where it is discussed to be or no solemnity-applicable to the

constitutional norm, in relation to the phone interceptions.

Word-key: Necessary requirements; authorization; Phone interception; Penal

Procedural right; Regulation; Innovation; Divergences; Federal constitution.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 10

1 DO PROCESSO PENAL...................................................................................... 12

1.1 Conceito............................................................................................................. 12

1.2 Conteúdo do Processo Penal........................................................................... 13

1.3 Princípios Norteadores do Processo Penal...................................................... 14

1.3.1 Imparcialidade do Juiz................................................................................... 14

1.3.2 Igualdade Processual.................................................................................... 15

1.3.3 Contraditório.................................................................................................. 15

1.3.4 Ampla Defesa................................................................................................ 16

1.3.5 Da Ação ou Demanda................................................................................... 17

1.3.6 Da Verdade Real........................................................................................... 17

1.3.7 Da Indisponibilidade...................................................................................... 18

1.3.8 Do Devido Processo legal (art. 5º, LIV, CF).................................................. 18

1.3.9 Da Inadmissibilidade das Provas Ilícitas (art. 5 º, LVI, CF)........................... 20

1.3.10 Da Presunção de Inocência (art. 5 º, LVII, CF)........................................... 20

1.3.11 Da publicidade............................................................................................. 21

1.3.12 Do Juiz Natural............................................................................................ 21

1.3.13 Do Promotor Natural.................................................................................... 22

1.4 Breves Comentários Sobre as Inovações no Processo Penal......................... 22

1.4.1 Lei nº. 11.719, de 20 de junho de 2008......................................................... 22

1.4.2 Lei nº. 11.689, de 9 de junho de 2008........................................................... 24

1.4.3 Lei nº. 11.690, de 9 de junho de 2008........................................................... 26

2 DA AÇÃO PENAL............................................................................................... 29

2.1 Conceito............................................................................................................ 29

2.2 Tipos de Ação Penal......................................................................................... 29

2.2.1 Ação Penal Pública........................................................................................ 29

2.2.2 Ação Penal Privada....................................................................................... 30

2.3 Procedimentos de acordo com a lei nº 11.719, de 20 de junho

de 2008................................................................................................................... 31

2.3.1 Procedimento Comum Ordinário................................................................... 32

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2.3.2 Procedimento Comum Sumário..................................................................... 32

2.3.3 Procedimento Comum Sumaríssimo............................................................. 33

2.3.4 Procedimento Especial.................................................................................. 33

3 DA PROVA.......................................................................................................... 34

3.1 Conceito............................................................................................................ 34

3.2 Objeto de Prova................................................................................................ 34

3.3 Classificação das Provas.................................................................................. 35

3.4 Meios de Prova................................................................................................. 36

3.5 Prova Proibida.................................................................................................. 36

3.5.1 Prova Ilegítima............................................................................................... 37

3.5.2 Prova Ilícita.................................................................................................... 37

4 DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA COMO MEIO DE PROVA..................... 38

4.1 Conceito............................................................................................................ 38

4.2 Natureza Jurídica.............................................................................................. 39

4.3 Comentários à Lei nº. 9.296 de 24 de julho de 1996........................................ 39

4.4 Tipos de captação telefônica............................................................................ 41

4.4.1 Interceptação telefônica................................................................................. 41

4.4.2 Escuta telefônica........................................................................................... 41

4.4.3 Gravação clandestina.................................................................................... 41

5 DOS REQUISITOS PARA A AUTORIZAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO

TELEFÔNICA......................................................................................................... 43

5.1 Dos Requisitos.................................................................................................. 43

5.2 Resolução nº. 59, de 9 de setembro de 2008, do Conselho Nacional de

Justiça..................................................................................................................... 46

5.3 Da legitimidade para requerer a interceptação................................................. 47

5.4 Do recurso cabível contra a decisão judicial que não concede a interceptação

telefônica................................................................................................................ 49

5.5 Posição doutrinária e jurisprudencial quanto à inviolabilidade do sigilo das

comunicações telefônicas....................................................................................... 50

5.5.1 Posicionamento de Antônio Magalhães Gomes Filho................................... 50

5.5.2 Posicionamento de Vicente Greco Filho........................................................ 51

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5.5.3 Posicionamento do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e

outros Tribunais...................................................................................................... 52

5.5.4 Posicionamento de Damásio E. de Jesus..................................................... 52

5.5.5 Da proteção da privacidade e da intimidade................................................. 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 58

ANEXOS................................................................................................................. 60

ANEXO A: Lei nº. 9.296 de 24 de julho de 1996.................................................. 61

ANEXO B: Lei nº. 11.719 de 20 de junho de 2008............................................... 62

ANEXO C: Lei nº. 11.689 de 9 de junho de 2008................................................. 63

ANEXO D: Lei nº. 11.690 de 9 de junho de 2008................................................. 64

ANEXO E: Resolução nº. 59 de 9 de setembro de 2008, do Conselho Nacional

de Justiça.............................................................................................................. 65

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INTRODUÇÃO

Considerando a grande celeuma existente entre os entendimentos

doutrinários e jurisprudencial acerca da interpretação da Lei nº. 9.296/96

(interceptação telefônica), principalmente no que se refere ao tipo penal descrito em

seu Art.10, cuja finalidade é proibir a violação do sigilo das comunicações

telefônicas, por parte de investigadores particulares não autorizados judicialmente.

Cabe a esta Lei, disciplina uma lacuna no direito pátrio relativamente à

regulamentação das interceptações das ligações telefônicas (Art. 5º, XII da

Constituição Federal de 1988).

O inciso XII do Art. 5º da Constituição Federal assegura a inviolabilidade do

sigilo das informações em trânsito, sejam elas correspondências ou comunicações

telefônicas, telegráficas ou de dados. Abre exceção a regra nos casos que tiverem

por fim investigação criminal ou instrução processual penal, quando, através de

ordem judicial poderá ser quebrado o sigilo das comunicações telefônicas.

Neste sentido, o presente trabalho, procura mostrar que o seu elemento

propulsor são os requisitos necessários para que através da concessão judicial,

possa interceptar as ligações telefônicas, a fim de não violar sem autorização o sigilo

das comunicações telefônicas e também à privacidade das pessoas.

Necessário, também, se faz diferenciar interceptação, escuta e gravação

telefônica, pois, ocorre interceptação telefônica em sentido stricto quando a violação

ao sigilo da comunicação é realizada por terceiro, sem o conhecimento de qualquer

dos comunicadores; ao passo que só ocorrerá escuta telefônica se a violação for

efetuada por terceiro, mas com o conhecimento de um dos comunicadores; e por

sua vez, a gravação telefônica ocorrerá quando for realizada por um dos

interlocutores, sem o conhecimento do outro. Assim sendo, nos dois primeiros tipos

de violação há três protagonistas; enquanto no último existem apenas dois (CAPEZ,

2003).

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Vale ressaltar que essas distinções não são dispensáveis, tendo em vista

que o tratamento jurídico muda conforme o tipo de violação. Portanto, a distinção é

importantíssima, porque o Art. 10 da Lei nº. 9.296/96 tipifica como sendo crime a

interceptação telefônica sem autorização judicial.

Dessa forma, surge o termo "interceptação telefônica" como parte integrante

de um tipo penal, devendo, portanto, o seu conceito ser fixado para se dar correto

aplicação ao crime referido, de modo que a correta compreensão daquela expressão

necessariamente implicará em uma desigualdade jurídica no tratamento do tipo

penal.

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1 DO PROCESSO PENAL

1.1 Conceito

Para compreender o conceito, faz-se necessário entender que o Processo

Penal é ramo da Teoria Geral do Processo, pelo qual atua a jurisdição em matéria

penal. Deste modo, seguindo a linha de pensamento de Cintra, Grinover e

Dinamarco, deve-se num primeiro momento, definir o conceito de processo, o qual

foi delineado por estes autores como sendo o conjunto de normas e princípios que

regem o exercício conjugado da jurisdição pelo Estado – Juiz, da ação pelo

demandante e da defesa pelo demandado (TEORIA GERAL DO PROCESSO, 9.

Edição., Malheiros Editores, p. 41).

Diante do exposto, e buscando a definição de processo penal dentro da

ciência do Direito Processual, pode-se afirmar que o Direito Processual Penal é o

conjunto de princípios e normas que disciplinam a composição das lides penais, por

meio da aplicação do direito penal objetivo (CAPEZ, 2007).

Desta feita, para José Frederico Marques, Processo Penal “é o conjunto de

princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem

como as atividades persecutórias da polícia judiciária, e a estruturação dos órgãos

da função jurisdicionais e respectivos auxiliares” (ELEMENTOS DE DIREITO

PROCESSUAL PENAL, 2. Edição., FORENSE, V. 1, P. 20).

Desse modo, deve-se fixar o entendimento de que no âmbito geral, o estudo

do processo é mais amplo do que o do próprio Direito Processual. Então, se observa

que a análise dos problemas concretos de cada Direito Processual é direcionada, ou

seja, é tarefa própria de cada disciplina que lhe diz respeito.

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1.2 Conteúdo do Processo Penal

O Processo visa propiciar de modo adequado à solução do conflito de

interesse entre o Estado – Administração e o infrator, alcançando assim, o seu

objetivo, que é a tutela da liberdade jurídica, especialmente a física, do ser humano,

membro da comunidade e a garantia da sociedade de prevenção e repressão de

atos penalmente relevantes, cometidos por pessoa física, em detrimento de sua

estrutura, que de acordo com a necessidade, o processo penal para atingir o efeito

jurídico da punição do autor de infração penal, ocorre mediante a prática de ato, tido

pela legislação penal material em vigor, como típico, antijurídico e culpável. Dessa

forma, no processo, para que ocorra sua finalidade, é necessário observar que em

sua composição existem os procedimentos e a relação jurídica processual.

Entende-se, portanto, que o procedimento é a maneira como os atos

aparecem e se desenvolvem para revelar o processo. Nele, contém uma seqüência

ordenada de atos interdependentes, até chegar à sentença.

Porém, de acordo com a pena máxima fixada à infração penal infração penal

pode haver diferentes procedimentos, mas, onde existe uma seqüência de atos

próprios de cada procedimento (ordinário, sumário, sumaríssimo e especial).

No tocante a relação jurídica processual, é importante ressaltar, que é um

elemento subjetivo que constitui o processo, se forma entre os sujeitos do processo;

juiz e parte, onde estes titularizam muitas posições jurídicas, tendo obrigações,

faculdades, ônus e sujeições processuais e que pode mudar de posição,

dependendo da ocorrência dos atos e fatos procedimentais.

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1.3 Princípios Norteadores do Processo Penal

Os princípios são fontes primárias das normas, são na verdade, a própria

essência do Direito, por isso, qualquer estudo correto de uma disciplina jurídica deve

iniciar-se por eles.

Neste trabalho, não será analisado os princípios referentes à organização

dos sistemas processuais, mas tão somente, aqueles tidos como bases estruturais

do Direito Processual Penal.

1.3.1 Imparcialidade do Juiz

Na relação processual, o juiz situa-se entre as partes e acima delas, isto

significa que ele não vai ao processo em nome próprio, nem em conflito de

interesses com as partes, torna-se dessa forma essencialmente julgador.

Neste ponto, cabe uma interessante observação prevista na Convenção

Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica:

Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

A nossa Constituição visando assegurar essa imparcialidade, estipula

garantias, prescreve vedações e proíbe juizes e tribunais de exceção.

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1.3.2 Igualdade Processual

Este princípio é na verdade, um desdobramento do que já está consagrado

na Constituição Federal, Art. 5º, Caput, em que todas as pessoas são iguais perante

a lei. No processo penal este princípio sofre atenuação pelo principio favor rei, pois

em caso de dúvida há favorecimento ao acusado.

Dessa forma, significa que as partes em juízo deverão ter as mesmas

oportunidades de fazer valer suas razões, sendo tratadas igualitariamente, na

medida de suas igualdades, e desigualmente na proporção de suas desigualdades.

1.3.3 Contraditório

Princípio em que as partes têm o direito não apenas de produzir suas provas

e de sustentar suas razões, mas também de vê-las seriamente apreciadas, têm,

ainda, o direito de serem cientificadas sobre qualquer decisão jurisdicional.

Este princípio é na verdade um desdobramento do que já está consagrado

na Constituição Federal, Art. 5º, caput, em que todas as pessoas são iguais perante

a lei.

O contraditório, não só garante o direito à informação de qualquer fato ou

alegação contrária ao interesse das partes e o direito à reação (contrariedade a

ambos), como também que a oportunidade da resposta possa se realizar na mesma

intensidade e extensão. Diante disso, Nucci (2005) afirma que:

A toda alegação fática ou apresentação de prova, feita no processo por uma das partes, tem a outra, adversária, o direito de se manifestar, havendo um perfeito equilíbrio na relação estabelecida pela pretensão punitiva do Estado em confronto com o direito à liberdade e à manutenção do estado de inocência do acusado.

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Em regra, aplica-se a alegações fáticas e a apresentação de provas,

excepcionalmente, quando a alegação de direito disser respeito, por exemplo, a

causa de extinção da punibilidade, poderá ser aplicado esse princípio.

Também afirma e garante este princípio a própria Constituição Federal, in

verbis:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LV. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Fica assim subtendido, que este princípio perpassa pelo direito garantido as

pessoas em exercer sua cidadania, claro que para isso o Estado precisa garanti-los

sob o âmbito da Lei.

1.3.4 Ampla Defesa

Neste princípio, está à ampliação do dever do Estado em proporcionar a

todo acusado a mais completa defesa.

A ampla defesa constitui princípio constitucional que deve ser observado

estritamente, pois dele o réu possui todos os meios necessários para requere os

seus direitos.

A ampla defesa gera inúmeros direitos exclusivos do réu, como é o caso de ajuizamento de revisão criminal – o que é vedado à acusação - bem como a oportunidade de ser verificada a eficiência da defesa pelo magistrado, que pode desconstituir o advogado escolhido pelo réu, fazendo-o eleger outro ou nomeando-lhe um dativo (NUCCI, 2005).

Dentro deste contexto, entende-se que a ampla defesa pode ser realizada

através defesa técnica, da autodefesa, da defesa efetiva e, por qualquer meio de

prova que se possa demonstrar para fins de provar a inocência do réu.

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1.3.5 Da Ação ou Demanda

Os órgãos jurisdicionais são por sua própria índole inertes, ficando a critério

da parte provocar ou não a função jurisdicional. Portanto, o juiz não pode tomar

nenhuma providência que supere ou que seja estranha aos limites do pedido.

O entendimento é que na ação, no do processo penal acusatório, no qual as

funções de acusar, defender e julgar, estão distribuídas entre pessoas distintas.

Entretanto, ressalto a importância, que a adoção deste princípio pela Constituição,

importou em não recepção do procedimento judicialiforme previsto nos Arts. 26 e

531 do Código de Processo Penal, os quais prevêem a possibilidade da ação penal

ser iniciada por ato de ofício do juiz ou por mera portaria da autoridade policial.

1.3.6 Da Verdade Real

É o principio que busca no processo a verdade, pelo menos teoricamente. A

reprodução dos fatos deve ser como realmente aconteceu. O processo é o

instrumento de apreciação da verdade.

Um dos mais relevantes princípios do Processo Penal, o princípio da

verdade real, também conhecido como princípio da verdade material ou da verdade

substancial, determina que o fato investigado no processo deve corresponder ao que

está fora dele, em toda sua plenitude, sem quaisquer artifícios, sem presunções,

sem ficções.

Na esfera processual penal, na qual, em regra, predomina a

indisponibilidade de interesses, não é suficiente o que tem a simples aparência de

verdadeiro, razão pela qual se deve procurar introduzir no processo o retrato que

mais se aproxime da realidade.

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Portanto, conforme o referido princípio, o julgamento proferido no processo

penal dever refletir, tanto quanto possível, a realidade dos fatos analisados e, para

tanto, a pesquisa do que efetivamente aconteceu deve ser plena e ampla, a fim de

que a realidade possa se transmitir com absoluta fidelidade aos autos.

1.3.7 Da Indisponibilidade

Este princípio está presente na ação penal pública, pois ao tratar de crime

de ação penal pública ninguém pode dispensar o processo.

Desta forma, o Ministério Público é que promove a ação penal pública e uma

vez ajuizada, torna-se indisponível e ninguém, nem o Ministério Público pode desistir

da ação penal pública.

Neste princípio, ocorre que não será feito à vontade da parte, porque esse

tipo de ação é indisponível.

1.3.8 Do Devido Processo Legal (Art. 5º, LIV, Constituição Federal)

Este princípio, só foi surgir expressamente no Brasil, na Constituição Federal

de 1988, apesar de estar implícito nas Constituições anteriores. Ele está assim

disposto no Art. 5º, inciso LIV da nossa Carta Magna:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LIV Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

E ainda na Convenção de São José da Costa Rica, o devido processo legal

é assegurado no Art. 8º, in verbis:

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Art. 8o – Garantias judiciais 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e

dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

Assim sendo, o devido processo legal garante inúmeros postulados como os

princípios do contraditório, da ampla defesa e da motivação, integrando-se

totalmente os incisos LIV e LV, ambos do Art. 5º da Carta Magna de 1988.

Neste princípio há a maior possibilidade e o mais amplo controle dos atos

jurídico-estatais, nos quais se incluem os atos administrativos, gerando uma ampla

eficácia do princípio do Estado Democrático de Direito, no qual o povo não só se

sujeita a imposição de decisões como participa ativamente delas.

Para a manutenção do Estado Democrático de Direito e efetivação do

princípio da igualdade, o Estado deve atuar sempre em prol do público, através de

um processo justo e com segurança nos tramites legais do processo, proibindo

decisões voluntaristas e arbitrárias.

Oportuna a transcrição das palavras de Lucon (1999):

A cláusula genérica do devido processo legal tutela os direitos e as garantias típicas ou atípicas que emergem da ordem jurídica, desde que fundadas nas colunas democráticas eleitas pela nação e com o fim último de oferecer oportunidades efetivas e equilibradas no processo. Aliás, essa salutar atipicidade vem também corroborada pelo art. 5o, § 2o, da Constituição Federal, que estabelece que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.

E continua:

Por não estar sujeito a conceituações apriorísticas, o devido processo legal revela-se na sua aplicação casuística, de acordo com o método de “inclusão” e “exclusão” característico do case system norte-americano, cuja projeção já se vê na experiência jurisprudencial pátria. Significa verificar in concreto se determinado ato normativo ou decisão administrativa ou judicial está em consonância com o devido processo legal.

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Desta forma, o devido processo legal resguarda as partes de atos arbitrários

das autoridades jurisdicionais e executivas.

1.3.9 Da Inadmissibilidade das Provas Ilícitas (Art. 5º. LVI, Constituição

Federal)

No processo não se admite as provas produzidas ilicitamente, tudo o que for

obtido de forma criminosa, ilícita, não serve de prova no processo penal. Ex.: um

grampo telefônico, interceptação de cartas não são admissíveis.

Embora, alguns doutrinadores manifestam-se pela prova mesmo ilícita, mas

sendo verdadeira deve ser admitida, essa é uma posição da minoria. Porém, o que

prevalece mesmo é o que está na Constituição Federal.

1.3.10 Da Presunção de Inocência (Art. 5º. LVII, Constituição Federal)

A Constituição Federal, no Art. 5º, inciso LVII, ao estabelecer “que ninguém

será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal

condenatória”, assenta a presunção de inocência entre os princípios basilares do

Estado de Direito, como garantia processual penal.

Desse modo, uma vez cristalizado, o principio em comento, pela Carta

Magna, o ordenamento jurídico infraconstitucional está obrigado a adequar suas

regras com vistas a encontrar um equilíbrio saudável entre o interesse punitivo

estatal e o direito de liberdade, dando-lhe efetividade.

Desta feita, o acusado de ato ilícito tem o direito de ser tratado com

dignidade enquanto não se solidificam as acusações, já que, com o trânsito em

julgado, se pode chegar a uma conclusão de que ele é inocente.

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Portanto, com segurança, pode-se afirmar que, por um lado, o processo

penal existe para punir delinqüentes, por outro, para evitar que sejam punidos

inocentes. Na verdade, ao longo de todo o processo penal e antes dele, qualquer

desrespeito a uma destas regras consiste em um ataque dirigido contra a própria

presunção de inocência.

Enfim, este princípio consagra que ninguém será considerado culpado até o

trânsito em julgado de sentença penal condenatória, ou seja, enquanto não existir

uma sentença definitiva que o condene, o réu, ou acusado é considerado inocente.

1.3.11 Da publicidade

Princípio pelo qual preconiza que os atos processuais no processo criminal

são públicos, salvo algumas exceções (Art. 792, CPP), sendo que a lei só poderá

restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o

interesse social o exigirem (Art. 5º, LX, Constituição Federal), outra exceção é nos

casos em que o decoro ou o interesse social aconselhem que os atos processuais

não sejam divulgados (Art. 155, I e II CPC).

No que se refere à imprensa, o réu pode exigir que não tire fotos, por

exemplo, mas a imprensa pode assistir o processo.

1.3.12 Do Juiz Natural

Previsto no Art. 5º, LIII, da Constituição Federal, que dispõe que ninguém

será sentenciado senão pelo juiz competente. Isto significa que, todos têm a garantia

constitucional de serem submetidos a julgamento somente por órgão do poder

judiciário, com todas as garantias previstas na Constituição Federal.

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1.3.13 Do Promotor Natural

Este princípio também defluiu da regra do Art. 5º, LIII, da Constituição

Federal, que significa que ninguém será processado senão pelo Ministério Público,

dotado de amplas garantias pessoais e institucionais, de absoluta independência,

convicção e com atribuições previamente fixadas e conhecidas.

1.4 Breves Comentários Sobre as Inovações no Processo Penal

Durante muito tempo, esperou-se por reformas em algumas áreas do Direito,

no Processo Penal, não poderia ser diferente. Portanto, eis que surgem agora as

inovações neste ramo do direito pátrio, trazendo novos procedimentos a serem

seguidos até a sentença.

1.4.1 Lei nº. 11.719, de 20 de junho de 2008

Inicialmente, ressalto a entrada em vigor da referida lei, que alterou os

dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo

Penal, relativos à suspensão do processo, emendatio libelli, mutatio libelli e aos

procedimentos. Com isso, os artigos 63, 257, 265, 362, 363, 366, 383, 384, 387, 394

a 405, 531 a 538 do Decreto-Lei nº. 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de

Processo Penal, passam a vigorar com outra redação, acrescentando-se ainda, o

artigo 396-A.

Na inovação da Lei, observa-se a mudança no parágrafo 2º do Art. 399 do

CPP, onde diz que o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. Isso

significa que a partir da entrada em vigor da lei nº. 11719/2008, aplica-se agora ao

processo penal o princípio da identidade física do juiz, que antes não era aplicado ao

processo penal, salvo no que dizia respeito ao de júri popular.

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Com a modificação do Art. 399, § 1º, do CPP pela Lei nº. 11719/2008,

retomou-se a requisição do réu para o comparecimento a interrogatório, o § 1º diz

que o acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o

poder público providenciar sua apresentação. Após a Lei nº. 11719/2008, o

interrogatório passou a ser tratado como verdadeiro meio de defesa, eis que foi

deslocado para o final da instrução processual. Por oportuno, vale transcrever a

nova redação do Art. 400 do Código de Processo Penal (dada pela Lei nº.

11719/2008), que disciplina a concentração das audiências no rito ordinário, in

verbis:

Art. 400 Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no Art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.

O réu estando preso o Interrogatório deverá ser feito pelo juiz competente

(de origem), sem a expedição de Carta Precatória, sob pena de afronta à nova

sistemática introduzida pela Lei nº. 11719/2008. Esse entendimento reconhece no

interrogatório o exercício do direito constitucional à ampla defesa e contraditória,

verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Nos casos que envolvem réu solto, entende-se que a citação e a intimação

para que compareça à audiência podem ser feitas por meio de Carta Precatória.

Entretanto, a oitiva do acusado solto, no juízo deprecado, depende de sua anuência,

eis que, a rigor, o interrogatório deve ser realizado seguindo o princípio da

identidade física do juiz. Vale aduzir que a doutrina entende que o comparecimento

físico do réu ao interrogatório é dispensável quando o mesmo está solto, sendo

suficiente sua intimação para que possa produzir auto defesa e participar do

processo.

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Diante disso, entende-se que se o réu estiver solto, poderá requerer sua

oitiva por meio de Carta Precatória, e se não quiser assim, será facultado o seu

comparecimento ao juízo de origem para prestar depoimento. Para tanto, é

indispensável à comunicação do réu, acerca da data designada para o

interrogatório.

1.4.2 Lei nº. 11.689, de 9 de junho de 2008

Em um segundo momento podem ser observadas as alterações ocorridas

nos dispositivos do Tribunal do Júri, com a entrada em vigor da nova lei, que alterou

o procedimento dos processos de competência do Tribunal do Júri. Nessa linha,

alteraram-se os Arts 406 e seguintes do Código de Processo Penal, que, antes da

Lei nº. 11.689/08, tratavam da decisão de pronúncia, impronúncia e absolvição

sumária, matérias essas que, com o advento da nova legislação, são analisadas em

novos dispositivos.

De acordo com as novas regras, essa etapa será substituída por uma fase

preliminar contraditória, na qual o juiz, depois do recebimento da peça acusatória,

ouvirá as testemunhas, interrogará o acusado, determinará diligências, em seguida,

decidirá sobre a admissibilidade (ou não) da peça acusatória, no prazo de 90 dias.

Neste sentido, há um grande avanço, em atendimento ao princípio

constitucional da razoável duração do processo, pois se ocorrer o descumprimento

injustificável desse prazo, caracteriza constrangimento ilegal.

A nova redação confere ao Art. 406 do Código de Processo Penal, que o

juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará a citação do acusado para

responder a acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias, e no Art. 412 Código

de Processo Penal, traz o prazo máximo para a conclusão do procedimento será de

90 dias para o término desta fase.

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Observa-se também que o novo Art. 413 Código de Processo Penal, prevê

que o juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da

materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de

participação.

A nova Legislação, de forma expressa no Código de Processo Penal, proíbe

que o magistrado, ao pronunciar, realize qualquer valoração sobre os fatos ou sobre

o réu, in verbis:

Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação. § 1º fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena.

É importante destacar que com a entrada da Lei nº. 11.689/08, observa-se,

que são normas essencialmente procedimentais, o que evidencia a possibilidade de

sua aplicabilidade imediata, a todos os processos em andamento, ainda que

anteriores à Lei.

Sendo assim, pode-se afirmar que, com a Lei nº. 11.689/08, o ordenamento

jurídico pátrio, adotou outros procedimentos cabíveis no processo. Desta feita,

seguem abaixo as principais mudanças ocorridas com a entrada da nova Lei:

1. Formação do Júri: idade mínima para participar como jurado cai de 21 para 18

anos;

2. Substituição da iudicium accusatione por uma fase contraditória preliminar, a ser

encerrada em 90 dias;

3. Vedação expressa da eloqüência acusatória na decisão de pronúncia;

4. Ampliação das hipóteses de absolvição sumária;

5. Recurso cabível contra as decisões de impronúncia e absolvição sumária, que não

mais será o recurso em sentido estrito, mas sim, a apelação;

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6. Intimação da decisão de pronúncia: em se tratando de réu solto, passa a ser

admitida a intimação por edital, com o normal prosseguimento do feito, o que colocou

fim à chamada crise de instância;

7. Desaforamento para a Comarca vizinha: quando julgamento não realizado nos 6

meses seguintes ao trânsito em julgado da decisão de pronúncia;

8. Extinção do libelo acusatório;

9. Impossibilidade de dupla recusa de jurados;

10. Adoção da cross examination;

11. Limitação na leitura de peças em Plenário;

12. Extinção do Protesto por Novo Júri.

1.4.3 Lei nº. 11.690, de 9 de junho de 2008

No cerne dessa discussão cabe destacar a Lei nº. 11.690, de 9 de junho de

2008 que traz importantes modificações às regulamentações das provas, dos

exames periciais, das perguntas ao ofendido, da inquirição das testemunhas e das

causas de absolvição do réu.

A primeira norma do Código de Processo Penal a ser alterada é o Art. 155,

que ao prever que o juiz forme sua convicção pela livre apreciação da prova

produzida em contraditório judicial e vedar que sua decisão seja fundamentada

exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, acaba

positivando o entendimento doutrinário de que a investigação preliminar é peça

meramente informativa e com finalidade de instruir uma futura ação penal, portanto,

sem valor probatório.

No Art. 157 do Código de Processo Penal traz uma vedação já prevista no

inciso LVI, Art. 5º, Constituição Federal, ou seja, a inadmissibilidade das provas

ilícitas no processo, sendo de fundamental importância à regulamentação do Art.

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157, pois dessa forma, coibi práticas infracionais do próprio Estado e assegura os

direitos e garantias individuais de todos, acabando por fixar parâmetros legais, dos

quais não mais se poderá alegar nulidade.

Agora no que consta do parágrafo 1º do Art. 157 Código de Processo Penal,

observa-se, que este, trata da inadmissibilidade das provas ilícitas por derivação, in

verbis:

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. § 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.

Assim sendo, consagra um posicionamento já consolidada no Supremo

Tribunal Federal sob os frutos envenenados, ou seja, se a árvore está envenenada

seus frutos também estarão o que significa dizer que as provas derivadas da ilícita

também serão ilícitas, pois o acessório segue o principal.

Faz-se imperioso, portanto, dizer que a reforma processual penal

consubstanciada, dentre outros, objetiva imprimirem celeridade e simplicidade ao

desfecho do processo e assegurar a prestação jurisdicional em condições

adequadas.

Segue abaixo, o que mais se percebe de inovações previstas na lei nº.

11.690/2008.

1. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por

perito oficial, portador de diploma superior (nova redação do Art. 159

Código de Processo Penal).

2. Na falta do perito oficial, o exame será realizado por duas pessoas

idôneas também portadoras de diploma de curso superior.

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3. O material probatório que serviu de base à perícia será

disponibilizado às partes, no ambiente do órgão oficial, sempre sob a

guarda e presença do perito (§ 6º, Art. 159 Código de Processo Penal).

4. Possibilidade do ofendido ser comunicado dos atos processuais

relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de

data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a

mantenham ou modifiquem ( Art. 201, § 2º e seguintes).

5. O juiz tem possibilidade de determinar o segredo de justiça em

relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos

autos a respeito do ofendido, a fim de evitar sua exposição aos meios

de comunicação, bem como adotar medidas para preservar direitos

fundamentais, como intimidade, vida privada, honra e imagem (§ 6º do

Art. 201 Código de Processo Penal).

6. Garantia da incomunicabilidade das testemunhas (§ único do Art.

210 Código de Processo Penal).

7. Inquirição direta das testemunhas pelos advogados, sendo que se

causar prejuízo o juiz poderá indeferir as perguntas incabíveis e

impertinentes (Art. 212 caput, Código de Processo Penal).

8. Relação dos motivos para o juiz absolver o réu (Art. 386 Código de

Processo Penal).

Finalmente, outra inovação trazida pela Lei nº. 11.690/2008 foi à utilização

de métodos modernos incluído durante a realização do depoimento, da testemunha

ou do ofendido, a inquirição por videoconferência, nos casos em que a presença do

réu causar humilhação, temor, ou sério constrangimento que possa prejudicar a

verdade do depoimento. Portanto, somente nesse caso, onde há essa

impossibilidade, é que será determinada a retirada do réu.

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2 DA AÇÃO PENAL

2.1 Conceito

Ação Penal é o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal

objetivo a um caso concreto. É também o direito público subjetivo do Estado-

Administração, único titular do poder-dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a

aplicação do direito penal objetivo, com a conseqüente satisfação da pretensão

punitiva (CAPEZ, 2007).

A ação penal é o meio pelo qual você exige do Estado, o que você não pode

fazer, ou seja, o Estado vai apreciar o fato através da ação para o Juiz julgar

procedente ou improcedente essa ação.

2.2 Tipos de Ação Penal

De um modo geral, as ações no processo penal são divididas

subjetivamente de dois tipos: ação penal pública e ação penal de iniciativa privada.

2.2.1 Ação Penal Pública

O Ministério Público é quem promove esta ação. É o que diz o Art. 100

caput, do Código Penal: “A ação é pública, salvo quando a lei, expressamente, a

declara privativa do ofendido”. Portanto, se entende que a ação penal pública é a

regra geral e privada é a exceção.

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Dentro desse contexto, a ação penal pública se subdivide em incondicionada

e condicionada, sendo que na primeira, o MP promoverá a ação independente da

vontade ou interferência de quem quer que seja.

Para identificar se uma ação é incondicionada, basta observar se abaixo do

artigo do código penal não mostra a forma como proceder. Se isso ocorrer, é

porque é um crime de ação pública incondicionada. Na ação penal pública

condicionada, há um exercício de subordinação a uma condição, essa condição

pode ser tanto do ofendido ou seu representante legal ou ainda mediante requisição

do Ministro da Justiça.

Nesse caso de ação pública condicionada, a autoridade só pode proceder se

haver alguma manifestação do ofendido ou do seu representante legal. A lei diz

expressamente quando for do ofendido ou mediante requisição do Ministro da

Justiça. O Art. 147, Código Penal é exemplo de ação pública condicionada à

representação legal.

2.2.2 Ação Penal Privada

Existem crimes que atingem diretamente e profundamente a intimidade do

ofendido de tal maneira que o Estado lhe confere o próprio direito de ação,

mantendo para si o direito de punir, a fim de evitar que a intimidade do ofendido no

decorrer do processo tenha maior intensidade nos debates judiciais. São, portanto,

nesses casos, de ação penal privada.

Para identificação no Código de Processo Penal se a ação é privada, deve-

se observar que quando tiver abaixo do artigo que só se procede mediante queixa é

porque se trata de ação penal privada. Esta só se processa mediante autorização

expressa da vítima. O estupro é um crime que pode ser de ação privada se ocorrer

apenas a violência do ato.

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Na ação penal de iniciativa privada, há também uma subdivisão, em ação

penal privada propriamente dita que é aquela que pode ser proposta pelo ofendido

se for maior de 18 anos e capaz, pode ser proposta também pelo seu representante

legal, se o ofendido for menor de 18 anos ou no caso se o ofendido estiver morto ou

declarado ausente, pelo seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

A outra ação, chamada de ação privada personalíssima, é exclusiva do

ofendido, não sendo possível seu representante tomar parte, inexiste a sucessão por

morte ou ausência. Se o ofendido for incapaz, quer seja pela menoridade ou

enfermidade mental, a queixa não poderá ser exercida, haja vista a capacidade

processual do ofendido, restando apenas aguardar a cessação de sua incapacidade.

Existe no nosso direito apenas um caso deste tipo de ação, é o crime de

induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento, previsto no Art. 236,

parágrafo único, do Código Penal.

Existe ainda, a ação penal privada subsidiária da pública que ocorre nos

crimes de ação pública, condicionada ou incondicionada, quando o Ministério

Público deixá-lo de fazer no prazo legal. É, portanto, uma exceção prevista na

Constituição Federal (Art. 5º LIX e 129 I). Esta ação só existe no caso da inércia do

membro do parquet, não podendo jamais ser arquivada.

2.3 Procedimentos de acordo com a Lei nº. 11.719, de 20 de junho de 2008

A Lei nº. 11.719, de 20 de junho de 2008, trouxe importantes modificações

nos procedimentos a serem adotados no âmbito do processo penal.

A atual redação do Art. 394 do Código de Processo Penal divide o

procedimento em comum e especial. O procedimento comum será aplicado a todos

os processos, nos termos do parágrafo 2º do Art. 394 Código de Processo Penal e o

especial àqueles que forem de forma contrária ao próprio Código ou legislação

especial.

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Conforme o novo Art. 394, § 1º, I, II e III do Código de Processo Penal,

alterado pela Lei nº. 11.719/2008, os procedimentos que deverão ser seguidos

dependerá da pena máxima fixada à infração penal. Desta forma, o procedimento

comum, será ordinário, sumário e sumaríssimo.

2.3.1 Procedimento Comum Ordinário

Neste procedimento, previsto no Código de Processo Penal, dos Arts. 394 a

405 será quando tiver por objeto, crime em que a sanção máxima cominada for igual

ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade.

O prazo para o oferecimento da denúncia, se o réu estiver preso, é de 5 dias

e se tiver solto é de 15 dias.

A audiência de instrução e julgamento deverá ser realizada no prazo máximo

de 60 dias.

As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as

provas que considerar irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

Na instrução poderão ser inquiridas até 8 testemunhas arroladas pela

acusação e 8 pela defesa.

O prazo para a resposta do réu é de 10 dias.

2.3.2 Procedimento Comum Sumário

No procedimento sumário, previsto a partir dos Arts. 395 a 397 e 531 a 538,

tudo do Código de Processo Penal, é quando tiver por objeto crime cuja sanção

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máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade.

Este procedimento segue praticamente as mesmas regras do ordinário,

sendo que há pequenas diferenças entre eles, como por exemplo, na fase de

instrução o prazo para a audiência de instrução e julgamento é de 30 dias, cada

parte poderá arrolar 5 testemunhas. O restante segue o mesmo previsto no rito

ordinário, inclusive quanto ao deferimento de provas e oitiva dos peritos e a oferta de

alegações finais orais.

2.3.3 Procedimento Comum Sumaríssimo

Este procedimento é aplicável para aquelas infrações penais de menor

potencial ofensivo, são aquelas que a pena máxima tenha até 2 anos (LEI nº

9.099/95), cumulada ou não com multa.

2.3.4 Procedimento Especial

O legislador alterou as disposições quanto aos procedimentos, dividindo-os

em comum ou especial, sendo que o comum ainda comporta subdivisões de acordo

com o objeto (crime e sua sanção máxima, ou infração): ordinário, sumário e

sumaríssimo. Portanto, todo procedimento especial, deverá observar regras

específicas previstas nos Arts. 395 a 397 do Código de Processo Penal, nas quais

estes mesmos dispositivos também são comuns aos procedimentos sumários e

sumaríssimos.

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3 DA PROVA

3.1 Conceito

É importante saber que é um instituto importantíssimo na ciência processual,

pois através desta ergue-se toda a dialética processual.

Portanto, Prova é todo elemento trazido ao processo, pelo juiz ou pelas

partes, destinado a comprovar a realidade de um fato, a existência de algo ou a

veracidade de uma afirmação.

3.2 Objeto de Prova

Antes de falar das circunstâncias, vale ressaltar que a finalidade da prova é

fornecer subsídios para a formação da convicção do julgador e que os objetos de

prova são fatos principais e secundários capazes de influenciar a responsabilidade

criminal do réu, a aplicação da pena e a medida de segurança.

Ocorre, entretanto, que há fatos, que não podem ser objetos de prova. São

eles:

• o direito não pode ser objeto de prova, pois o juiz o conhece; salvo se

for direito consuetudinário, estrangeiro, estadual ou municipal;

• os fatos axiomáticos, isto é, aqueles fatos evidentes. O fato

axiomático é diferente do fato notório, que é aquele de conhecimento

geral, que faz parte da história e refere-se a fatos políticos, sociais ou

fenômenos da natureza;

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• os fatos irrelevantes, aqueles incapazes de influenciar a

responsabilidade criminal do réu, no caso concreto.

3.3 Classificação das Provas

Quanto à classificação das provas, existem inúmeras classificações, porém,

neste trabalho estão relacionadas algumas delas, consideradas mais importantes:

• Prova Direta: refere-se diretamente ao tema probandu. Ex.:

testemunha presencial, exame de corpo de delito.

• Prova Indireta: refere-se indiretamente ao tema probandu. Ex.: álibi

apresentado pelo acusado.

• Prova Pessoal: a prova emana de uma pessoa. Ex.: interrogatório,

testemunha.

• Prova Documental: a prova é produzida por escrito. Ex.: laudo

pericial.

• Prova Material: refere-se a objetos. Ex.: instrumentos do crime, arma

do crime.

• Prova Plena: é a prova que conduz a um juízo de certeza.

• Prova Não Plena: é a prova que conduz a um juízo de probabilidade.

Para a decisão de pronúncia, se aceita a prova não plena, mas para a

condenação é necessária a prova plena.

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3.4 Meios de Prova

Os meios de prova são os métodos por meio dos qual a prova pode ser

levada ao processo. Podem ser:

• Nominados: são os documentos, acareações, reconhecimento de

pessoas e objetos, interceptação telefônica, interrogatório. São todos

os meios de provas previstos na legislação;

• Inominados: são aqueles meios de prova que não estão previstos

expressamente na legislação. Ex.: juntar fita de vídeo, com um

programa de TV em que o acusado aparece, para mostrar aos jurados.

3.5 Prova Proibida

Considera-se necessário um estudo sobre a prova proibida, pois dentro

deste contexto, analisando-se o dispositivo constitucional, verifica-se a produção

desta, por meios ilícitos e pela espécie ilegítima.

O Art. 5º, LVI, da Constituição Federal dispõem que: “são inadmissíveis, no

processo, as provas obtidas por meios ilícitos”.

Segundo ensinamento de Uadi Lammêgo Bulos (CAPEZ, 2007 apud,

Constituição Federal Anotada, 2001), entende que:

Provas obtidas por meios ilícitos são as contrárias aos requisitos de validade exigidos pelo ordenamento jurídico. Esses requisitos possuem a natureza formal e a material. A ilicitude formal ocorrerá quando a prova, no seu momento introdutório, for produzida à luz de um procedimento ilegítimo, mesmo se for lícita a sua origem. Já a ilicitude material delineia-se através da emissão de um ato antagônico ao direito e pelo qual se consegue um dado probatório, como nas hipóteses de invasão, violação do sigilo epistolar, constrangimento físico, psíquico ou moral a fim de obter confissão ou depoimento de testemunha etc.

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Diante disso, provas ilícitas são entendidas como toda aquela evidência que

não pode ser admitida nem valorada no processo, portanto, são produzidas por

meios ilícitos, em contrariedade a uma norma legal específica.

3.5.1 Prova Ilegítima

A prova ilegítima acontece quando a norma afrontada tiver natureza

processual. Por exemplo, se um documento for juntado na fase das alegações finais,

tal prova não será aceita, por considerar-se ilegítima, pois o Art. 400 § 2º, do Código

de Processo Penal proíbe a juntada de qualquer documento nesse momento do

processo.

3.5.2 Prova Ilícita

O instituto da prova ilícita ocorre em virtude de ter sido produzida com

afronta às normas de direito material. Estas provas não serão admitidas no processo

penal.

Assim, por exemplo, a captação de uma conversa por meio do crime de

interceptação telefônica, podendo também ocorrer na situação em que a prova não

seja obtida por meio de realização de infração penal, mas que acabe ferindo um

principio constitucional, é o caso da gravação de conversa telefônica que exponha o

interlocutor a vexame insuportável, ferindo sua imagem, privacidade e vida privada

(ART. 5º, X, CONSTITUIÇÃO FEDERAL).

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4 DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÕNICA COMO MEIO DE PROVA

4.1 Conceito

A denominação "interceptação telefônica" integra um tipo penal, a fim de

facilitar a correta aplicação da norma abstrata ao caso concreto, para que não ocorra

dificuldade na sua aplicação e interpretação, tanto pelo Judiciário como pela

doutrina.

Entende-se como sendo Interceptação telefônica, uma forma de captação de

conversa telefônica feita por terceira pessoa de comunicação entre dois (ou mais)

interlocutores sem o conhecimento de qualquer deles.

Acontece que há com bastante freqüência a confusão entre a interceptação

telefônica e a escuta telefônica que é a mesma captação feita por terceiro da

comunicação entre dois (ou mais) interlocutores, porém com o conhecimento de um

deles (ou alguns deles). Importante ressaltar que os Tribunais, quando citam em

seus acórdãos a palavra escuta, refere-se na realidade à interceptação.

A “violação das comunicações telefônicas” corresponde à interceptação da

comunicação propriamente dita captação da conversa alheia, eis que ocorre no

momento real e imediato, por intermédio de gravações ou escutas.

A esse respeito Gomes (1997, p. 95) afirma que:

Do ponto de vista jurídico (mais precisamente na Lei nº. 9.296/96) a palavra interceptação não corresponde exatamente ao sentido idiomático. Interceptar uma comunicação telefônica não quer dizer interrompê-la, impedi-la, detê-la ou cortá-la. Na Lei a expressão tem outro sentido, qual seja o de captar a comunicação telefônica, tomar conhecimento ter contato com o conteúdo dessa comunicação.

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4.2 Natureza Jurídica

No entendimento de Paulo Rangel com a existência de indícios razoáveis de

autoria ou participação em infração penal, deixa clara a presença do fumus boni iuris

como primeiro pressuposto da medida cumulada com a inexistência de outros meios

de provas disponíveis para a obtenção das informações necessárias, representando,

dessa forma, o periculum in mora, sendo neste último caso, a evidência da

necessidade e a urgência da medida. Afirma ainda, que “... Sem dúvida que a

natureza jurídica da medida de interceptação telefônica é cautelar” (RANGEL,

disponível em: http://www.jusnavigandi.com.br), acesso em 10 de dezembro de

2008.

Importante saber a natureza jurídica da medida para que possa trabalhar

com as questões que irão surgir envolvendo direito intertemporal, isto é, as provas

colhidas, por decisão judicial, antes da entrada em vigor da norma e as que, já na

vigência da norma, também por determinação judicial, foram colhidas para apurar

fatos ocorridos antes de sua vigência.

4.3 Comentários à Lei nº. 9.296, de 24 de julho de 1996

Esta Lei, isto é, a 9.296 entrou em vigor em 24 de julho de 1996, publicada

no Diário Oficial da União, de 25 de julho de 1996, que trata da Regulamentação do

Inciso XII, parte final, do Art. 5º da Constituição Federal.

No regime jurídico das interceptações antes da Lei nº 9.296/96, ocorria, por

exemplo, que na existência da interceptação telefônica clandestina por parte dos

chamados investigadores particulares, que utilizam em seus serviços da

interceptação telefônica, havia a ausência de um dispositivo legal que tipificasse tal

conduta, pois somente a divulgação para seus clientes, era considerada crime em

face do disposto no Art. 151, §1º do Código Penal.

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Com o advento da nova Constituição Federal da República que,

diferentemente da anterior, permite a violação do sigilo das comunicações e,

viabiliza a possibilidade de se regulamentar esse tipo de conduta, a qual vinha

ocorrendo, sem a garantia de qualquer dispositivo legal. Em seu Título II, Capítulo I -

Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, a Constituição estabelece o seguinte,

in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XII É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.

Depois de oito anos da promulgação da Constituição de 1988, surgiu para

oferecer a sociedade um dispositivo que tratasse da referida matéria, pois o Egrégio

Tribunal Guardião da Constituição, não admitia qualquer tipo de interceptação

telefônica antes da promulgação da lei específica exigida pela Carta Magna, mesmo

que fosse autorizada judicialmente. O STF – Supremo Tribunal Federal decidia

fundamentado no Art. 5º, LVI do Diploma Maior, que considera ilícita a prova colhida

que contraria dispositivo legal e por causa do princípio tempus regit actum, isto é, o

ato deve ser regido pela lei do seu tempo.

Diante de tantas decisões do STF sempre fiéis a Constituição, fez com que o

legislador priorizasse o assunto, e, no dia 25 de julho de 1996, entrou em vigor a Lei

nº. 9.296, vindo a regulamentar o Art. 5º, XII, parte final, da Constituição da

República. A referida Lei dispõe sobre o procedimento a ser adotado quando da

interceptação de comunicações telefônicas para fins de investigação criminal e

instrução em processo penal.

Este diploma legal para quem realizar interceptação sem autorização

judicial, in verbis:

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou de telemática, ou quebrar segredo de justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. Pena: reclusão de dois a quatro anos e multa.

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4.4 Tipos de Captação Telefônica

4.4.1 Interceptação Telefônica

É conhecida com "grampeamento" onde existem três protagonistas; dois

interlocutores e um terceiro que capta a conversação sem o conhecimento daqueles.

4.4.2 Escuta Telefônica

Nesta, ocorre da mesma forma que a interceptação, porém, com o

consentimento de apenas um dos interlocutores.

4.4.3 Gravação Clandestina

Neste tipo de captação existem apenas os interlocutores, sendo feita à

gravação por um deles sem o conhecimento da outra parte.

Observa-se que dentre esses tipos de captação, apenas os dois primeiros

violam o sigilo das comunicações telefônicas, porque ambos exigem a interferência

de um terceiro que não detém a titularidade da conversação. Diferente da gravação

que não contém o aspecto violador das comunicações, porém interfere na

intimidade, em casos de divulgação.

Enfim, se define então, que no caso da interceptação telefônica estrita

senso, esta é realizada por terceiro, sem o conhecimento de qualquer dos

comunicadores; ao passo que a escuta telefônica é efetuada por terceiro, mas com o

conhecimento de um dos comunicadores; e a gravação telefônica é aquela realizada

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por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro. Assim, nos dois primeiros

tipos de violação há três protagonistas; enquanto no último existem apenas dois.

Ocorre que esses tipos de captação não são bem definidos pelos nossos

aplicadores do direito, os quais têm confundido interceptação, gravação e escuta.

Tal confusão só não tem maiores conseqüências por que essas modalidades de

captação têm recebido o mesmo tratamento jurídico. Sendo assim, vale ressaltar

nesse contexto o pensamento de Gomes (1997, p. 97):

Comenta que a relevância de se fixar conceitos, para além de ensejar a correta aplicação da lei, com a desejada segurança jurídica, reside também no fato de o Art. 10 ter contemplado a interceptação ilícita como crime. O alcance da interceptação que prevalece no seu Art. 1º tem implicação com o Art. 10, portanto. E esse artigo criminalizou (de modo distinto do que já havia entre nós) a provecta conduta de grampear comunicações telefônicas alheias. Todo tipo penal cria o âmbito do proibido e, ao mesmo tempo, o âmbito do permitido. Restringe a liberdade e cria a liberdade. Urge em consequência, descobrir o verdadeiro sentido da neocriminalização. E tudo isso tem muito a ver com o conceito de interceptação telefônica.

Esse contexto evidencia a necessidade de não só se normatizar Leis, mas

torná-las eficientes, principalmente quanto ao seu cumprimento. Nesse caso,

percebe-se um certo paradoxo, entre o que prescreve a Lei e o que de fato se

realiza. Considerando-se o limite entre o que deve ser realmente ser considerado

legal e o que nessa perspectiva se constitui crime.

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5 DOS REQUISITOS PARA A AUTORIZAÇÃO DA INTERCEPTAÇÃO

TELEFÔNICA

5.1 Dos Requisitos

Quanto aos requisitos necessários para o a autorização judicial da

interceptação telefônica, pode-se ser apontado na própria Constituição Federal,

onde menciona dois deles, quais sejam: a interceptação só será admitida para fins

de investigação criminal ou instrução processual penal, deixando, portanto, para o

legislador ordinário, a possibilidade de complementar o texto com outros que

considerarem necessários.

A nossa Constituição da República Federativa do Brasil assegurou com

direito fundamental a inviolabilidade do sigilo de comunicação como regra e,

excepcionalmente, a interceptação para fins de investigação criminal e instrução

processual pena, in verbis:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

Sendo assim, fica bastante evidente que o legislador constituinte

estabeleceu como a regra o sigilo e como exceção a interceptação, porém, somente

no campo penal.

A Lei de Interceptação Telefônica acrescenta outros pressupostos que

condicionam a interceptação telefônica, restringindo-a bastante o seu campo de

incidência, conforme estabelecido em seu Art. 2º, incisos I a III, in verbis:

Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:

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I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.

Verificando estes incisos, nota-se que a Lei deixa explicita a exigência de:

indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal; a interceptação

como único meio disponível, demonstrando, assim, o seu caráter excepcional, só

sendo permitida quando outros meios de prova mostrarem-se idôneos para o

esclarecimento do fato; e que o fato a ser investigado deve ser punido com reclusão.

No que concerne a essa questão faz-se a seguinte consideração: A

exigência de indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal, é

requisito que, na prática, dificulta a utilização da medida como ato inaugural à

investigação criminal, pois, se existem razoáveis indícios de conduta ilícita, já há a

possibilidade de formação de inquérito e, portanto, de investigação criminal. Tal

requisito demonstra a natureza acautelatória da medida, uma vez que consagra a

necessidade do "fumus boni iuris" (RANGEL, 1997).

Em relação à respectiva questão Gomes (1997, p. 178 -179) recomenda

que:

Cabe observar, desde logo, que a lei não se contentou com a mera possibilidade de autoria ou participação, é dizer, com a mera suspeita. Não basta a autoria seja possível; urge que seja provável. Tanto é assim que a Lei requer indícios razoáveis da autoria ou participação. E para que tais indícios apareçam, normalmente já existe ou investigação criminal em curso ou processo em andamento. Não é preciso o inquérito policial, basta a existência de noticias fundadas sobre o delito. Às vezes nenhum ato de investigação já foi praticado e, mesmo assim, já conta a autoridade policial com indícios razoáveis ( a notícia acaba de chegar com indícios suficientes). Nesse caso, a interceptação pode ser o primeiro ato da investigação (formal). Mas isso depende de indícios prévios e suficientes, pois o juiz não deve atender a meras suspeitas ou conjecturas, senão fundamentar sua decisão em bases objetivas seguras.

Neste sentido, se entende que a interceptação pode ser o ato inaugural da

investigação criminal, posto que, a urgência e a busca da prova, muitas vezes, não

podem esperar a abertura de inquérito policial para a realização da interceptação.

Sendo desta forma, somente com notícias fundadas e razoáveis será cabível a

eficácia da medida.

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O pedido para a interceptação telefônica deve ser formulado em sede de

investigação criminal e em instrução processual pena. Para a obtenção da

autorização judicial para a quebra da inviolabilidade do sigilo das comunicações

telefônicas, existem requisitos que são aplicáveis e analisados pelo juiz, no

momento de deferir a interceptação.

Estes requisitos são analisados da seguinte forma: verifica-se se há indícios

razoáveis de autoria ou participação da infração penal; se não puder produzir prova

por nenhum outro meio disponível, se o crime for apenado com pena de reclusão,

que tenha por finalidade instruir investigação policial ou processo criminal e tem que

a ordem tem que ser dada pelo juiz competente para o julgamento da ação principal.

Depois disso, o juiz autorizará ou não a interceptação telefônica.

Importante lembrar que esta medida é a cautelar, portanto, de medida de

caráter excepcional, pois o legislador estabeleceu um prazo para que a medida

tenha duração de 15 dias renovável por igual tempo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova, reza o Art. 5º da lei nº. 9.296, de 1996.

Em razão disso, considera-se que a interceptação pode ser o ato inaugural

da investigação criminal, posto que, a urgência e a busca da prova, muitas vezes,

não podem esperar a abertura de inquérito policial para a realização da

interceptação. Portanto, neste caso, somente com notícias fundadas e razoáveis

será cabível a eficácia da medida.

E por fim, a lei menciona a própria autorização judicial como sendo um

elemento final para a concessão da interceptação telefônica, pois esta autorização é

a ratificação e o aval que complementa a legalidade da medida, tendo em vista que

sem ela as condições anteriores, não ganhariam licitude e ficariam despidas do

manto legal.

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5.2 Resolução nº. 59, de 9 de setembro de 2008, do Conselho Nacional de

Justiça

O plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou no dia 9 de

setembro de 2008, a Resolução nº 59, que regulamenta o procedimento destinado

às autorizações judiciais para escutas telefônicas, conforme prescritos se

estabeleceu: (Disponível em: www.jusbrasil.com.br/noticias/107193/). Acesso 10 de

outubro de 2008.

Os juízes de todo o país deverão informar mensalmente às corregedorias

estaduais a quantidade de escutas autorizadas.

Esta regulamentação prevê ainda a redução dos intermediários e a

identificação das pessoas que tiveram acesso às escutas autorizadas, com a

finalidade de preservar o sigilo das informações obtidas e evitar vazamentos e as

informações serão sistematizadas pelo Conselho e possibilitarão dados estatísticos

sobre o assunto.

Segundo o presidente do Conselho Nacional de Justiça e do Supremo

Tribunal Federal, Ministro Gilmar Mendes, disse que "não se trata de suprimir um

instituto importante no combate à criminalidade, mas ter moldes necessários de

controle".

O Ministro Gilmar Mendes, afirma que a resolução não afeta a

independência dos juízes. Assim entende também o Corregedor Nacional de Justiça,

Ministro Gilson Dipp, que assegura que "o regulamento não limitará as ações dos

juízes".

A maioria dos conselheiros destacou que o texto não fere a autonomia dos

magistrados de autorizar ou negar a escuta telefônica legal, porém, há de se

ressaltar que a única divergência foi do conselheiro Felipe Locke Cavalcanti. Ele

entende que a resolução não resolve o problema das escutas ilegais e que caberia

ao congresso a regulamentação de forma mais ampla e profunda.

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O tempo da intervenção deve ser estipulado pelo juiz na mesma decisão que

autoriza a escuta e também deve constar na decisão, à vedação expressa da

"interceptação de outros números não discriminados na decisão”.

Cabe, portanto, traçar em linhas gerais que esta resolução visa ao

aperfeiçoamento do procedimento de interceptação de comunicações telefônicas e

de sistemas de informática e telemática nos órgãos jurisdicionais do Poder

Judiciário, a que se refere à Lei nº. 9.296, de 24 de julho de 1996, atendendo a

necessidade de aperfeiçoar e uniformizar o sistema de medidas cautelares sigilosas,

para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, tornando-o

seguro e confiável, para que dessa maneira assegure a eficácia objetiva da

autorização, que deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação.

5.3 Da legitimidade para requerer a interceptação

A Lei de Interceptação Telefônica atribui legitimidade para requerer a medida

cautelar de interceptação telefônica a autoridade policial e ao Ministério Público,

podendo o Juiz concedê-la de ofício. Entretanto, a capacidade de representação da

autoridade policial só prevalece durante a investigação criminal, enquanto que o

Ministério Público não sofre limitação com relação ao momento da requisição, pois

pode requerer tanto no inquérito como no processo.

Destaca-se nesse contexto ainda que a lei não conferiu à vítima, na ação

penal pública, a possibilidade de requerer diretamente a medida de interceptação:

porém, nada impede que formule tal sugestão à autoridade policial ou ao

representante do Ministério Público, para que requeiram a medida cautelar. Na ação

penal privada a vítima, por analogia, pode requerer a interceptação (GOMES, 1997)

A esse respeito à hipótese se encaixa perfeitamente no Art. 271 do Código

de Processo Penal ressalta-se que: ”propor meios de prova”. Então, vejamos se

podem propor meios de provas porque não propor a interceptação telefônica que é

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um meio de prova reconhecido pela própria Lei (RANGEL, Disponível em:

http://www.jusnavigandi.com.br). Acesso 10 de outubro, 2008.

Existe ainda, outra possibilidade de requerer, que é através do querelante

requerer a medida, pois a Lei não o impediu. As hipóteses de requisição dessa

medida na ação penal privada são mínimas, porque tal atividade só é compatível

com os crimes apenados com reclusão, os quais, geralmente se constituem com a

ação penal pública, de titularidade do Ministério Público.

Assim sendo, o querelante poderá requerer tal medida basicamente nos

crimes contra os costumes que são apenados com reclusão, desde que presentes

os demais requisitos exigidos pela lei, pois desta feita, seria um contra senso

admitirmos a interceptação em um crime de estupro quando a ação penal fosse

pública e não admitirmos quando a ação penal fosse de iniciativa privada. Nesse

caso entende-se:

É inconstitucional a interceptação telefônica "de ofício", porque vulnera o modelo acusatório de processo, processo de partes, instituído pela Constituição de 1988, quando considera os ofícios da acusação e da defesa como funções essenciais da jurisdição, atribuindo esta aos juizes, que têm competência para processar e julgar, mas não para investigar, principalmente no âmbito extraprocessual (RANGEL, Disponível em:

http://www.jusnavigandi.com.br). Acesso 10 de outubro, 2008.

Não se pode deixar de destacar que na fase inquisitiva preparatória, não

pode haver ingerência judicial, a não ser em razão de medidas cautelares e controle

de legalidade, sendo que o destinatário das investigações criminais, em caso de

ação penal pública, conforme a norma constitucional insculpida no Art. 129, I, da Lei

Maior, é sempre o Ministério Público (LIMA, 2008).

Entende-se, portanto, que a Lei autoriza o Juiz conceder de ofício a medida

apenas durante a relação processual, ou seja, a cautelar incidental; ficando,

impedido de agir na fase cautelar preparatória, sendo esta privativa do Ministério

Público ou da autoridade policial.

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5.4 Do Recurso cabível contra a decisão judicial que não concede a

interceptação telefônica

Mediante representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério

Público, o Juiz, analisando os pressupostos da medida, poderá ou não conceder a

autorização para a interceptação.

A medida judicial cabível é o mandado de segurança, para qualquer que seja

a decisão, haja vista a necessidade de defender o direito líquido e certo.

A impetração do mandado de segurança é recomendável não só por que a

hipótese se amolda aos seus requisitos, mas também, para se evitar o inconveniente

da ausência de contra razões recursais, caso o intérprete entenda que a medida

judicial cabível seja o recurso de apelação com fulcro no Art. 593, II do Código de

Processo Penal, pois neste caso, seria um contra senso chamar o investigado ou

acusado para contra arrazoar um recurso de uma decisão que foi prolatada inaudita

altera pars, porque se houver concessão da segurança o segredo de justiça continua

mantido em relação ao investigado ou acusado.

Percebe-se então que, tratando-se de decisão judicial, na fase do inquérito

policial, não cabe recurso, nem ação autônoma de impugnação por parte da

autoridade policial, pois, não há previsão em nenhuma parte da legislação

processual de recurso de Delegado de Polícia contra ato de Juiz (salvo como parte

propriamente dita em uma relação jurídica processual) porém, o Ministério público

possui legitimidade para impugnar a decisão que concede ou não a interceptação

telefônica, seja na fase do inquérito policial, seja no curso da instrução processual

penal.

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5.5 Posição doutrinária e jurisprudencial quanto à inviolabilidade do sigilo das

comunicações telefônicas

Em relação à inviolabilidade do sigilo das comunicações telefônicas,

analisando de um modo mais restrito, a quebra do sigilo é tão somente uma

exceção, feita pelo próprio legislador originário de forma bastante eficaz e oportuna,

prevendo o uso indevido do avanço tecnológico, principalmente na área das

comunicações telefônicas.

Existem divergências doutrinárias, onde a questão não é pacífica, havendo

divisão na doutrina e na jurisprudência, no que diz respeito ao uso das provas

obtidas pela captação telefônica, que é o gênero cujas espécies já foram

oportunamente exploradas anteriormente.

5.5.1 Posicionamento de Antônio Magalhães Gomes Filho

O posicionamento deste doutrinador, no caso Gomes está voltado à questão

da proteção constitucional do sigilo das comunicações ensina que:

Tradicionalmente, até porque essa era a única forma de comunicação entre as pessoas que estavam em lugares diversos, o objeto da proteção estava limitado à correspondência epistolar, mais recentemente, com os avanços da tecnologia, problemas correlatos e delicados surgiram igualmente em relação às formas modernas de comunicação, e especialmente as telegráficas, de dados informatizados e telefônicos (Disponível em www.mp.rn.gov.br/bibliotecapgj/artigos/artigo17.pdf). Acesso 15 de outubro, 2008.

Exatamente em função desta evolução e para manter uma postura que já se

propagava em Constituições anteriores, a Constituição de 1988 estabeleceu no Art.

5º, inciso XII, da Constituição Federal que:

É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, dedados e das comunicações telefônicas, salvo no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e nas formas que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal (Disponível em:

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www.mp.rn.gov.br/bibliotecapgj/artigos/artigo17.pdf). Acesso em 10 outubro de 2008.

Este é um posicionamento em que a tutela o sigilo da correspondência e das

comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas representa

dispositivo indispensável para a consecução de um Estado de Direito, com respeito

às prerrogativas do indivíduo.

5.5.2 Posicionamento de Greco Filho

Este ilustre jurista afirma que somente a interceptação realizada por

terceiros, sem o consentimento de um dos interlocutores, é que caracteriza o crime

previsto no:

Art. 10 da Lei nº. 9.296/96, se realizada fora dos casos legais. Assim, a gravação feita por um dos interlocutores com o desconhecimento do outro, não é considerada interceptação, nem esta disciplinada pela lei sobredita e, também, inexiste tipo penal que a incrimine. Afirma ainda, que o sigilo existe em face de terceiros e não dos interlocutores, que podem divulgar a conversa desde que haja justa causa, podendo, neste caso, tal gravação servir como prova, em processo, tanto para a acusação quanto para a defesa (INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI Nº. 9.296, 1996)

No entendimento desse mestre, a escuta telefônica é irregulamentável

porque está fora do âmbito do Art. 5º, XII, da Constituição Federal e sua licitude,

bem como a da prova dela decorrente, pois dependerá do confronto do direito à

intimidade com a justa causa para a gravação ou interceptação, como o estado de

necessidade e a defesa de direito.

Porém, em um segundo momento, Greco Filho, diz que:

A gravação unilateral feita por um dos interlocutores com o desconhecimento do outro, chamada por alguns de gravação clandestina ou ambiental, não é interceptação nem está disciplinada pela lei de interceptação telefônica e, também, inexiste tipo penal que a incrimine, porque, do mesmo modo que no sigilo de correspondência, os titulares - o remetente e o destinatário - são ambos, o sigilo existe em face dos terceiros e não entre eles, os quais estão liberados se houver justa causa para a divulgação (INTERCEPÇÃO TELEFÔNICA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI Nº. 9.296, 1996).

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Concorda-se com o referido mestre, em relação à escuta telefônica

irregulamentável, porque, como cita o autor, a escuta não está regulamentada e

sendo assim a prova colhida desta forma não encontra amparo no dispositivo

infraconstitucional, sendo, portanto, violação do sigilo das comunicações, haja vista

que um dos titulares da conversação sabe da escuta telefônica e poderá induzir o

outro interlocutor a revelar assuntos de forma preparada.

5.5.3 Posicionamento do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de

Justiça e outros Tribunais

Neste contexto os Tribunais têm seguido essa posição de Vicente Greco

Filho, entendendo que:

O Art. 5º, XII, da Constituição somente disciplina a interceptação estrito senso, estando a escuta e a gravação telefônica no âmbito da proteção conferida pelo Art. 5º, X, da Constituição, concluindo, portanto, o Supremo Tribunal Federal a exegese do bom senso, da boa técnica interpretativa e do interesse público.

.

5.5.4 Posicionamento de Damásio Evangelista de Jesus

Outro posicionamento a ser considerado no âmbito dessa discussão é do

doutrinador Damásio E. de Jesus que preconizou o seguinte:

A interceptação telefônica pressupõe, necessariamente, três protagonistas: dois interlocutores e o interceptador, que capta a conversação sem o consentimento daqueles. Na escuta telefônica há, também, dois interlocutores e um interceptador, só que um daqueles (dos interlocutores) tem conhecimento da interceptação. Na gravação clandestina ou ilícita há só dois comunicadores, sendo que um deles grava conversação. A Lei nº. 9.296, de 24 de julho de 1996, é aplicável à primeira forma. Não, as duas ultimas. A idéia é de que num processo de comunicação, são titulares da mensagem tanto o emissor (remetente), quanto o receptor (destinatário), de modo que o sigilo só existe em relação a terceiros e não entre eles, os quais estão liberados, existindo justa causa, para gravar e mesmo divulgar o conteúdo da mensagem (DAMÁSIO, 1997).

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Este posicionamento do referido Mestre é mais coerente com a questão

principalmente do sigilo, que existe somente em relação a terceiros, ou seja, aqueles

que não são titulares da mensagem. Deste modo só não ocorre violação do sigilo

nos casos de gravação, pois esta já é do conhecimento dos interlocutores, não

ensejando nenhum segredo para eles o assunto da conversação.

Desta forma, analisando todas essas distinções doutrinárias e

jurisprudenciais, conclui-se que a Lei nº. 9.296/96 disciplina apenas a interceptação

telefônica estrito senso, ou seja, aquela realizada sem o total desconhecimento dos

interlocutores; sendo que a escuta e a gravação telefônica encontram-se

disciplinadas pelo Art. 5º, X, da Constituição Federal.

5.6 Da proteção da privacidade e da intimidade

Deve-se esclarecer que a proteção de determinadas informações privadas

de pessoa física ou jurídica não significa qualquer espécie de impunidade penal. O

sistema jurídico e a máquina judiciária possuem meios e formas para a devida, justa

e necessária responsabilização. A insegurança ao direito a intimidade ou da

privacidade acarreta intranqüilidade social e fere princípios e valores constitucionais

essenciais na relação indivíduo e Poder Público, especialmente no que se refere à

cláusula da sociabilidade entre a intervenção estatal e os interesses fundamentais

individuais.

Dessa forma, toma-se como base essa premissa não se pode deixar de

considerar os ensinamentos de Paulo José da Costa Júnior cujo postulado parte do

seguinte pressuposto:

Deve-se notar que a esfera privada do homem não é homogênea, dividindo-se em esferas progressivamente menores à medida que se torna mais restrita a intimidade, na proporção em que dela participem um número cada vez menor de pessoas (Disponível em: www.jus2. uol.com.br/). Acesso 5 de novembro, 2008.

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Assim, verifica-se que de acordo com essa seqüência, temos: esfera da vida

privada estrito senso; esfera da intimidade e a esfera do segredo.

No campo da esfera privada estrito senso, encontra - se os fatos que o

indivíduo não quer que sejam de domínio público e cujo conhecimento é restrito a

determinado grupo de pessoas, no qual se deposita alguma confiança.

Neste mesmo sentido, se for fora dessa esfera, ocorrem os acontecimentos

públicos, sobre os quais a pessoa não faz segredo algum, permitindo que eles sejam

de conhecimento da coletividade em geral, o que os exclui da tutela da intimidade.

Todavia, na esfera da intimidade, estão os episódios cujo conhecimento só é

permitido àquelas pessoas em que o indivíduo deposita certa confiança e com as

quais mantém certa intimidade. Portanto, são excluídos dessa esfera não só a

coletividade em geral, mas também determinadas pessoas, que convivem com o

titular do direito à intimidade num âmbito mais amplo.

Por outro lado, na esfera do segredo, localizam-se os fatos mais íntimos da

vida da pessoa e sobre os quais ela quer manter maior segredo, de modo que deles

somente compartilham uns poucos amigos, mais próximos, em quem se deposita

muita confiança. Nessa esfera ficam excluídas até mesmo pessoas da intimidade do

titular do direito à intimidade, por isso é que nessa esfera, se faz necessária maior

proteção legal contra a indiscrição.

Neste plano, pode-se notar que estão fora do âmbito da intimidade em

qualquer de suas esferas e, por conseguinte, da respectiva proteção legal os

acontecimentos públicos, transcorridos em lugares públicos.

Desse modo, essa proteção constitucional só se coloca quando a conversa

ocorre em local não público, ou seja, não necessariamente privado ou que tenha

conotação privada. Isso independe de excludente de antijuridicidade, podendo ser

aceita, como prova, a gravação de diálogo transcorrido em local público, porque

neste caso não está em pauta à proibição do Art. 5º, XII, da Constituição Federal.

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Tudo isso, ocorre devido o desenvolvimento tecnológico, que propiciou o

surgimento de câmaras fotográficas com teleobjetivas, microcâmaras, gravadores

minúsculos, aparelhos de interceptação telefônica e uma infinidade de engenhos

colocados à disposição de todos.

Para proteger a intimidade, a legislação teve de evoluir, para englobar novas

formas de proteção à intimidade, procurando assim assegurar efetivamente o direito

à inviolabilidade da intimidade, refletindo na prova penal obtida com violação desses

direitos assegurados nos incisos X e XII do Art. 5º da Constituição Federal e a sua

validade em confronto com a norma do Art. 5º, LVI, da Constituição Federal.

Decorre então, depois disso que as formas da captação, quais sejam, a

interceptação, a escuta e a gravação atinge o direito à intimidade, mas a violação

delas resultante certamente não se dá por igual, não ocorrendo no mesmo

momento. Nesse sentido, vale elucidar que:

Direito à intimidade afirma que são tutelados dois interesses, que se somam: o interesse de que a intimidade não venha a sofrer agressões e o de que não venha a ser divulgada. O direito, porém, é o mesmo. (...) No âmbito do direito à intimidade, portanto, podem ser vislumbrados estes dois aspectos: a invasão e a divulgação não autorizada da intimidade legitimamente conquistada (JUNIOR, PAULO JOSÉ DA COSTA. Disponível em: www jus2. uol.com. br/). Acesso 5 de novembro, 2008.

Nesse sentido, entende-se que esse direito é protegido em dois momentos.

No primeiro momento, a proteção consiste numa reação à interferência ilícita na

intimidade, procurando evitar que ela seja devassada (através de "grampos

telefônicos", p.ex.), dirigindo-se a terceiros e no segundo momento, a reação vira-se

contra a divulgação indevida da intimidade alcançada legitimamente, dirigindo-se

agora, ao destinatário do fato íntimo.

Desta feita, na captação por terceiro, sem o conhecimento dos

interlocutores, a interceptação choca-se com o primeiro momento do direito à

intimidade. Por outro lado, a escuta (captação que se dá com a autorização de um

dos interlocutores) e a gravação (captação por um dos interlocutores) atingem o

direito à intimidade no momento subseqüente.

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CONSIDERAÇOES FINAIS

O presente trabalho teve a intenção de analisar a interceptação telefônica,

que se encontra, hoje, normatizada constitucionalmente pelo inciso XII do Art. 5º da

Constituição Federal de 1988 e, infraconstitucionalmente, pela Lei nº. 9.296, de 24

de julho de 1996, que regulamenta o sobredito dispositivo constitucional.

Desta forma, somente com a entrada em vigor da Lei nº. 9.296, de 24 de

julho de 1996, houve a regulamentação do inciso XII do Art. 5º da Constituição

Federal de 1988, propiciando a concessão de ordem judicial para realização de

interceptações telefônicas.

Contudo, mesmo assim, com a chegada da referida Lei, não foi suficiente

para suprir as lacunas e coibir os abusos causados contra a privacidade e a

intimidade das pessoas.

Deve-se reconhecer que a questão principal refere-se à denominação

mencionada na referida Lei, que escreve no seu bojo apenas uma das formas de

captação que é a interceptação, não abrangendo de modo genérico todas as formas

de violação ao sigilo das comunicações, ocasionando assim uma lacuna na

regulamentação constitucional.

Nesse contexto, isso tem causado dúvidas na hora da aplicação desse

mandamento legal, pois os nossos Tribunais estão divididos entre a interceptação

estrito senso (estando a escuta e a gravação telefônica no âmbito da proteção do

Art. 5º, X, da Constituição Federal) e lato sensu (interceptação compreende também

a escuta e a gravação telefônica, conforme disciplina o Art. 5º, XII, da Constituição

Federal).

Entende-se que a mais coerente é a posição de que a Lei nº. 9.296/96

disciplina tão-somente a interceptação telefônica estrito senso, ao passo que a

escuta e a gravação telefônica encontram-se acobertadas pelo Art. 5º, X, da

Constituição Federal.

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O tipo penal estabelecido na Lei nº. 9.296/96 tem como objeto, apenas a

interceptação estrito sensu, enquanto que as duas outras espécies de violação do

sigilo das comunicações telefônicas, quais são, a escuta e a gravação telefônica,

não foram abrangidas expressamente na descrição legal. Desse modo, o cabimento

ou não dessas formas de captação no processo, ficaram ao entendimento da

Doutrina e da Jurisprudência, as quais geralmente integram o tipo, invocando o

inciso X, Art. 5º, da Constituição Federal de 1988, que trata da proteção à

intimidade.

Pode-se dizer que a Lei nº. 9.296/96 é indispensável, vindo preencher um

vazio legislativo extremamente danoso e regulamentar uma exceção constitucional,

visando não só proteger a sociedade na elucidação dos crimes e seus respectivos

autores, mas também garantir os direitos constitucionais assegurados, punindo os

interceptadores ilegais, que agem de forma clandestina, e ainda reprovando

qualquer tipo de prova obtida de forma ilícita.

Finalmente, ressalta-se que no aspecto da interceptação, surgem diversas

divergências acerca da sua interpretação. Porém, entende-se que caberá à doutrina

dar-lhe a melhor solução e à jurisprudência a melhor aplicação, para que haja uma

satisfatória resolução dos conflitos entre as exigências da segurança e os direitos da

defesa, sem deixar de lado um ponto de equilíbrio que harmonize a luta contra a

criminalidade e a efetiva aplicabilidade de um processo penal.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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________________. Interceptação telefônica, cit., p. 97.

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A verdade no processo penal brasileiro. Clara Dias Soares. Disponível em: jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11160 - 56k.

Artigos jurídicos. Disponível em: http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=866

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ANEXOS

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ANEXO A: Lei nº. 9.296 de 24 de julho de 1996

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ANEXO B: Lei nº. 11.719 de 20 de junho de 2008

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ANEXO C: Lei nº. 11.689 de 9 de junho de 2008

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ANEXO D: Lei nº. 11.690 de 9 de junho de 2008

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ANEXO E: Resolução nº. 59 de 9 de setembro de 2008, do Conselho Nacional

de Justiça