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DIREITO INTERNACIONAL I – (27.04.15) MEIOS DE SOLUÇÕES PACÍFICAS DE CONTROVÉRSIAS * Aspectos Gerais - Os Estados, cada um com sua soberania, devem procurar coexistir pacificamente. - Art 33 da Carta da ONU: neste artigo, está presente um rol “exemplificativo” de solução pacífica de controvérsias. 1. Meios Diplomáticos 1.1. Negociação Direta : Trata-se da forma mais comum de solução pacífica dos conflitos que, como o próprio nome sugere, envolve diretamente as partes interessadas, sem a participação de terceiros. Em regra, dá-se pela via diplomática, seja por entendimento verbal ou por troca de notas entre chancelaria e embaixada. As partes chegam a um acordo em razão da renúncia, por uma delas, ao direito pretendido, pelo reconhecimento das pretensões da parte contrária ou, ainda, por concessões recíprocas. Em caso de insucesso nas negociações diretas, as partes podem recorrer a outras formas de solução pacífica. - Aqui não há nenhum “terceiro interveniente”, ou seja, nenhum Estado atuando na mediação da lide. Logo, a negociação se dá direto de governo para governo (de diplomata para diplomata, por exemplo). - É a única forma em que não há a intervenção de um terceiro. - É a forma mais simples de solução de controvérsias. - A título de exemplo, é possível citar o tratado de Petrópolis, celebrado entre Brasil e Bolívia. O referido tratado permitiu que o Brasil anexasse o território do Acre. 1.2. Bons Ofícios : ao contrário das negociações diretas, a utilização dos Bons Ofícios pelas partes em conflito envolve a participação de terceiros. Esse modo consiste na tentativa amistosa de um ou vários sujeitos de direito internacional –

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MEIOS DE SOLUÇÕES PACÍFICAS DE CONTROVÉRSIAS

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Page 1: Direito Internacional I

DIREITO INTERNACIONAL I – (27.04.15)

MEIOS DE SOLUÇÕES PACÍFICAS DE CONTROVÉRSIAS

* Aspectos Gerais

- Os Estados, cada um com sua soberania, devem procurar coexistir pacificamente.

- Art 33 da Carta da ONU: neste artigo, está presente um rol “exemplificativo” de solução pacífica de controvérsias.

1. Meios Diplomáticos

1.1. Negociação Direta: Trata-se da forma mais comum de solução pacífica dos conflitos que, como o próprio nome sugere, envolve diretamente as partes interessadas, sem a participação de terceiros. Em regra, dá-se pela via diplomática, seja por entendimento verbal ou por troca de notas entre chancelaria e embaixada. As partes chegam a um acordo em razão da renúncia, por uma delas, ao direito pretendido, pelo reconhecimento das pretensões da parte contrária ou, ainda, por concessões recíprocas. Em caso de insucesso nas negociações diretas, as partes podem recorrer a outras formas de solução pacífica.

- Aqui não há nenhum “terceiro interveniente”, ou seja, nenhum Estado atuando na mediação da lide. Logo, a negociação se dá direto de governo para governo (de diplomata para diplomata, por exemplo).

- É a única forma em que não há a intervenção de um terceiro.

- É a forma mais simples de solução de controvérsias.

- A título de exemplo, é possível citar o tratado de Petrópolis, celebrado entre Brasil e Bolívia. O referido tratado permitiu que o Brasil anexasse o território do Acre.

1.2. Bons Ofícios: ao contrário das negociações diretas, a utilização dos Bons Ofícios pelas partes em conflito envolve a participação de terceiros. Esse modo consiste na tentativa amistosa de um ou vários sujeitos de direito internacional – o(s) prestador(es) de Bons Ofícios – em levar(em) os litigantes ao acordo.

1.2.1. Participação Instrumental: a característica distintiva dessa forma de solução pacífica reside no fato de que o prestador de Bons Ofícios não toma parte nas negociações. Ele é um terceiro que aproxima as partes, colocando-as em contato sem, contudo, interferir nas negociações ou propor solução à contenda. Tem, na verdade, um caráter meramente instrumental.

1.2.2. Podem realizar esse papel: os Estados, o Secretário Geral da ONU, Organizações Internacionais, etc.

- O terceiro aproxima as partes, mas não propõe solução / Nada impede que os bons ofícios venham após uma negociação frustrada / Um exemplo a ser citado foi quando o Brasil aproximou o Estado do Peru e do Equador, cedendo seu território para que os mesmos pudessem negociar um acordo / É possível que haja mais de

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dois Estados litigantes, contudo quanto mais Estados maior a dificuldade em se estabelecer um acordo.

1.3. Mediação: também se relaciona à presença de um terceiro na tentativa de resolução pacífica dos conflitos. Contudo, ao contrário do prestador de Bons Ofícios, o mediador atua ativa e diretamente nas negociações entre as partes litigantes, propondo-lhes uma solução. Na prática, todavia, nem sempre a diferença entre o prestador de Bons Ofícios e o mediador é tão evidente.

1.3.1. Espécies

a) Voluntário: o mediador pode ser voluntário para atuar nessa condição.

b) Mediante Escolha das Partes em Conflito: as partes em conflito também podem decidir por escolher um mediador.

* A Mediação, da mesma forma que os Bons Ofícios, pode ser oferecida ou solicitada, sem que o oferecimento ou a recusa configurem ato inamistoso ou intromissão indevida.

1.3.2. Proposta não Vinculativa: o papel do mediador assemelha-se ao de um árbitro ou juiz, com a significativa diferença de que sua proposta não é vinculativa para as partes em confronto.

1.4. Conciliação: É considerada uma variante da Mediação, caracterizada por maior aparato formal e por estar expressamente prevista em diversos tratados internacionais como meio de solução de controvérsias inerente a seus textos. Em regra, os anexos dos tratados estabelecem os procedimentos da Conciliação, sendo comum, também, conterem listas de personalidades suscetíveis de serem escolhidas para compor comissões de conciliação.

1.4.1. Forma Coletiva: A Conciliação ocorre de forma coletiva, o que significa dizer que não há um único conciliador, mas uma comissão de conciliação, integrada por representantes dos Estados em conflito e elementos neutros, em número total ímpar.

1.4.2. Escolha dos Conciliadores: normalmente, observa-se a indicação, por cada litigante, de dois conciliadores de sua confiança, e estes escolhem, de comum acordo, o quinto conciliador. O número, contudo, pode variar de acordo com o texto do tratado que elege a Conciliação como forma de solver as controvérsias.

1.4.3. Solução não Vinculativa: as decisões são tomadas por maioria e culminam com a proposta de solução que, assim como propostas oriundas dos demais meios políticos, não é vinculativa para as partes.

1.5. Inquérito: em direito internacional, o termo denota procedimento preliminar de instância diplomática, política ou jurisdicional como forma de estabelecer a materialidade dos fatos que se encontram na origem de um litígio. Em regra, é conduzido por comissões semelhantes às de Conciliação, integradas por investigadores neutros e outros escolhidos pelas partes.

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- Em detrimento de ser considerado um meio diplomático de solução de controvérsias; o inquérito, na verdade, está presente numa fase pré-processual e, por isso, antecede a solução da controvérsia.

- Aqui há apenas estudo de caso, de modo que não é proferida recomendação alguma.

2. Meios Políticos: como já demonstrado, as organizações internacionais consagram, em seus instrumentos e também na prática, a solução negociada dos conflitos que possam surgir em sua esfera de atuação. Na verdade, a utilização dos denominados meios políticos sempre envolve organizações, tenham elas de cunho universal, como as Nações Unidas, ou de caráter regional, como a Organização dos Estados Americanos, por exemplo. Além disso, verifica-se, em geral, que tais entidades se valem dos meios diplomáticos acima referidos para promover os entendimentos em suas estruturas.

* Aspectos Gerais

- O meio político não se subdivide, sendo um conceito único.

- Há a interferência de organismo internacional (OMC, ONU...).

- O Secretário Geral da ONU pode atuar por “meio diplomático” na solução dos conflitos, não podendo fazê-lo de forma “política”. Isto, esse tipo de atuação é uma prerrogativa exclusiva do Conselho de Segurança.

- A solução de conflitos por meio político pode se dar tanto por instituições “universais”, como por aquelas regionalizadas (OEA, Mercosul...).

- Nesse meio, não há a previsão de aplicação de sanções, mas tão somente de “recomendações”.

- A tendência é que os conflitos sejam solucionados primeiro “regionalmente”, para depois passarem à esfera mundial. Isto NÃO é uma obrigação, mas apenas uma tendência.

- Para que se dê a resolução de conflitos por meio político, é necessário que os países litigantes pertençam ao órgão intermediador (para que a ONU possa atuar, os Estados divergentes devem pertencer à mesma).

2.1. Órgãos Políticos da ONU: o Conselho de Segurança possui prerrogativa exclusiva na utilização de meios políticos para a solução de conflitos.

2.2. Esquemas Regionais Especializados: assim como a ONU, organizações de alcance regional e finalidade política como a Liga dos Estados árabes (1945) e a Organização dos Estados Americanos (1951) possuem mecanismos não jurisdicionais para a solução pacífica de litígios entre seus Estados-membros.

3. Meios Jurisdicionais

3.1. Arbitragem Internacional: trata-se de forma de solução pacífica dos conflitos na qual terceiro(s) investido(s) da função jurisdicional profere(m) decisão obrigatória para as partes litigantes.

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3.1.1. Árbitro “Ad Hoc”: existente o conflito, o árbitro (Estado, organização internacional ou indivíduo) é escolhido ad hoc pelas partes que o investem da função jurisdicional para o fim único e transitório de solver a demanda, cuja matéria será por elas delimitada.

- Os árbitros escolhidos fazem parte de uma Associação de Árbitros Internacionais, devendo ser selecionados em número mínimo de três.

3.1.2. Natureza Temporária: claro está que o foro arbitral não tem permanência, razão pela qual, proferida a sentença, desveste-se o árbitro do encargo judicante que lhe foi atribuído.

3.1.3. Consentimento das Partes: também, para a instauração do foro, é necessário o consentimento das partes envolvidas, manifestado contemporaneamente ao conflito ou em momento anterior pela via convencional, por meio de tratado geral de arbitragem ou cláusula arbitral.

3.1.4. Decisões Cogentes: proferida a sentença pelo juízo arbitral, esta deverá ser obrigatoriamente cumprida. Tal procedimento está alinhado a dois importantes princípios: o do “Pacta Sunt Servanda” e da “Boa fé entre as partes”.

-> A sentença arbitral é obrigatória, definitiva e irrecorrível, ressalvados, nesse caso, o pedido de interpretação da decisão, a alegação de nulidade (em razão de compromisso arbitral nulo, corrupção do árbitro ou poderes por ele excedidos) e o pedido de revisão (fundado em fato novo e dentro dos 10 anos em que proferida a decisão).

3.1.5. Instituição da Arbitragem Internacional

a) Tratado Geral de Arbitragem: consiste num compromisso prévio, onde dois ou mais Estados se comprometem a solucionar todos os conflitos entre si por meio da arbitragem.

b) Cláusula de Arbitragem: já a clausula de arbitragem está presente em tratados específicos, não possuindo a mesma abrangência do tratado geral.

3.2. Solução Judicial: em regra, as partes litigantes têm, como meio de solução jurisdicional de caráter universal, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) – também chamada de Corte de Haia, órgão da ONU, com competência para julgamento de questões que envolvam Estados. A esse respeito, remete-se o leitor ao capítulo referente à ONU, no qual as características referentes a esse modo de solução de controvérsias foram abordadas.

* Aspectos Gerais

- Os Estados não estão vinculados a nenhuma corte regionalizada. Logo, o fato de o Brasil pertencer ao MERCOSUL, não significa dizer que ele deve se submeter à jurisdição deste último. Assim, pode optar pelo julgamento da Corte Internacional de Justiça, por exemplo.

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3.2.1. Outros Órgãos Jurisdicionais: no entanto, a CIJ não é o único foro judiciário internacional. Há diversas Cortes Regionais e/ou Especializadas, também competentes para solucionar de forma pacífica os conflitos internacionais, ainda que de forma restrita a determinadas pessoas ou matérias. Esses tribunais são bastante heterogêneos em relação à competência, estrutura etc. Pode-se citar como exemplos:

a) O Tribunal do Direito do Mar: com caráter universal e competente para conhecer de litígios que envolvam Estados-membros ou empresas privadas quanto à interpretação ou aplicação da Convenção de Montego Bay e acordos que a ela se reportem.

b) Corte Interamericana de Direitos Humanos: mecanismo regional competente para analisar litígios que envolvam a aplicação e interpretação da Convenção Americana de Direitos Humanos e outros tratados que versem sobre proteção ao indivíduo.

c) Tribunais administrativos existentes no âmbito da Organização Internacional do Trabalho ou da própria ONU: com competência para dirimir questões atinentes às organizações e seus funcionários, entre outros.

DIREITO INTERNACIONAL I – (05.05.15)

SOLUÇÕES NÃO PACÍFICAS DE CONTROVÉRSIAS

1. Retorsão: Retorsão é a prática estatal de um ato pouco amistoso, porém lícito, para responder a igual procedimento por parte de outro Estado. Estamos no domínio da retorsão quando o Estado Y tributa, nos limites de sua competência fiscal, os produtos oriundos de X, a fim de reagir à política protecionista deste; ou quando convoca seu embaixador junto ao governo de X, deixando a missão por conta de um encarregado de negócios, à vista das restrições que esse país impôs ao número de membros de cada representação estrangeira em seu território / é o ato pelo qual o Estado que sofre uma lesão aplica a mesma medida para o seu agressor.

- Pode ser considerada a aplicação da Lei de Talião no Direito Internacional.

- Na retorsão, o ato praticado pelo outro Estado é “lícito”; contudo, nem por isso tal ação deixa de causar celeumas entre as partes.

- Na retorsão, não se utiliza a força ou a violência.

- Não se admite a violação de direitos humanos de populações civis (Ex: se a Argentina matar dez brasileiros, nem por isso o Brasil poderá fazer o mesmo com os argentinos). Logo, a represália de modo algum pode violar os direitos humanos.

2. Represália: Represália, por seu turno, é o ato ilícito com que certo Estado pretende penitenciar outro ilícito praticado por seu homólogo: assim certas ações hostis e armadas, mas também outras atitudes não exatamente agressivas — porém não menos ilegais —, como a penhora forçada dos bens invioláveis de um escritório consular / São medidas coercitivas

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tomadas por um Estado em consequência de atos ilícitos praticados em seu prejuízo por outro Estado e destinados a impor a este, por meio de um dano, o respeito do direito.

* Aspectos Gerais

- Na represália, pode-se ou não utilizar meios violentos, com a utilização da própria Força Armada.

- Na represália deve haver a proporcionalidade, de modo que os excessos são reprováveis.

- “Cláusula Matens”: por essa, cláusula entende-se que os direitos humanos devem ser respeitados, mesmo diante de conflitos armados / A chamada “cláusula de Martens” de 1899, reproduzida nos Protocolos de Genebra de 1977 e na “Convenção das Nações Unidas sobre armas clássicas” de 1980, determina que “nas situações não previstas, tanto os combatentes como os civis, ficarão sob a proteção e autoridade dos princípios do direito internacional, tal como resulta do costume estabelecido, dos princípios humanitários, e das exigências da consciência pública”.

2.1. Requisitos

2.1.1. A resposta deve ser dirigida ao Estado responsável pelo ato ilícito.2.1.2. Ser proporcional ao dano sofrido.2.1.3. Ser suficiente para responder ao ato ilícito.2.1.4. Ser aplicada após a tentativa de negociação com a outra parte (esse é um requisito defendido pela doutrina, mas muitas vezes mostra-se ineficaz e inviável).

3. Embargo: consiste no sequestro, em tempos de paz, de navios do Estado causador do dano.

- Hoje, este instituto está em completo desuso. O próprio costume já o deixou de lado.

- Não confundir esse instituto com o “embargo civil” (questões sanitárias, policiais e judiciais) (Ex: retenção de navio em virtude de crimes, de questões sanitárias, etc...).

4. Boicote: é a interrupção das relações comerciais com o Estado considerado ofensor dos nacionais ou dos interesses do outro Estado.

- É muito utilizado pela ONU. Ela convida seus membros a aderirem às sanções aplicadas a determinado Estado.

- Aqui, há uma interrupção das relações comerciais com determinado Estado.

- Não há o emprego de Forças Armadas.

5. Rompimento das Relações Diplomáticas

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DIREITO INTERNACIONAL I – (18.05.15)

SITUAÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO

* Aspectos Gerais

- Conforme a convenção de Havana, cabe a cada Estado o poder de estipular as próprias regras sobre a admissão do estrangeiro.

- No Brasil, a Lei 6.815-80 regula a situação do estrangeiro no país (Estatuto do Estrangeiro).

- Para entrar num país, além do visto é necessário passar por um controle imigratório.

- Ao adentrar num país, o estrangeiro deve se submeter às leis daquele Estado; com exceção das imunidades.

- Existem alguns direitos e deveres que são atinentes apenas aos nacionais, tais como: o direito de voto, o dever de se alistar... Afora essas exceções, o estrangeiro vive sob as mesmas condições que os nacionais.

- Ninguém é obrigado a aceitar estrangeiro em seu país.

1. Extradição

- Para haver a extradição, deve haver o cometimento de um crime.

- É o ato pelo qual um Estado entrega uma pessoa acusada de ter cometido um crime, ou em virtude de já ter sido condenada, ao Estado que é competente para julgá-lo ou puni-lo.

- O brasileiro nato jamais pode ser extraditado.

- A extradição, a expulsão e a deportação são institutos jurídicos que correspondem à saída compulsória do estrangeiro do território nacional. No entanto, são diferentes entre si, conforme se verá a seguir.

- Aqui á o envolvimento judicial de dois Estado.

- Assim, pode-se afirmar que a extradição sempre pressupõe um processo penal em curso ou finalizado com a condenação do indivíduo, além de um pedido formulado por um Estado a outro. Seu fundamento jurídico é um tratado bilateral ou, na ausência deste, a promessa de reciprocidade, cuja aceitação configura faculdade do Estado requerido.

- Nenhum país é obrigado a proceder à Extradição. Contudo, a nível internacional, deve-se buscar a obediência ao dever de solidariedade; evitando assim que alguns crimes fiquem impunes.

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* Requisitos: O que leva um país a requerer a extradição?

I. Existência de Tratado: em primeiro lugar, a existência de um tratado regulamentando isso. Importante ressaltar que, pelo tratado, o Estado se obriga a “analisar” o pedido de extradição e não a executá-la de imediato. Esse tratado pode ser tanto bilateral, como multilateral.

II. Promessa de Reciprocidade: além do tratado, a promessa de reciprocidade também é um meio eficaz de se pleitear a extradição. Por ela, um Estado solicita a extradição a outro, sob a promessa de agir da mesma forma caso lhe seja solicitado (“Se você extraditar o meu, eu também extradito o seu”) (art 76 do Estatuto do Estrangeiro).

* Situações Impeditivas (art 77, I do EE / art 5º, XLVII, LI e LII da CF).

I. Ser Brasileiro Nato ou Naturalizado: por expressa disposição constitucional o Brasil não extradita brasileiros natos (o que configuraria pena de banimento). Também não extradita brasileiros naturalizados, desde que se trate de crimes cometidos após a naturalização e não se trate de tráfico ilícito de entorpecentes.

II. Não ser Crime no Brasil ou no Estado Requerente: se o ato cometido não for ilícito no Brasil ou no Estado que solicita a extradição, a extradição não poderá ocorrer. Logo, deve haver a chamada “dupla tipicidade”.

III. Se o Brasil Puder Julgar Segundo suas Leis: logo, se o Brasil possuir competência concorrente para julgar o crime em pauta, o mesmo não concederá a extradição.

IV. Se a Lei Brasileira pena Igual ou Inferior a um ano: logo, as condutas penalmente irrelevantes não poderão dar ensejo à extradição.

V. Processo penal em Curso ou Finalizado: quando houver processo penal em curso ou finalizado no Brasil, pelo mesmo fato em questão. Aqui a vedação busca evitar o “bis in idem”, ou seja, que o indivíduo responda duas vezes pelo mesmo fato.

VI. Estiver Extinta a Punibilidade pela Prescrição: logo, caso o crime tenha sido alcançado pela prescrição, também não será possível a extradição.

VII. Crime Político: se o crime cometido tiver natureza política, também não poderá ocorrer a extradição.

* Classificação

I. Ativa: na extradição ativa, o Estado é quem requer a extradição.

II. Passiva: já na extradição passiva, o Estado “outorga” a extradição.

I. Instrutória: aqui, o indivíduo ainda será julgado pelo crime.

II. Executória: já nessa modalidade, a pena já esta imputada e requer-se a extradição apenas para o seu cumprimento.

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DIREITO INTERNACIONAL I – (25.05.15)

2. Expulsão

* Aspectos Gerais

- É o ato pelo qual o Estado retira do território nacional o estrangeiro considerado nocivo ou inconveniente aos interesses nacionais

- Quem decide pela expulsão é o próprio país onde está o sujeito, ao contrário do que ocorre com a extradição.

- A expulsão é aplicada àquelas pessoas cuja presença se torna inconveniente num Estado (Ex: espião).

- Não pode haver arbitrariedade na expulsão.

- Importante esclarecer que, para ser expulso, o estrangeiro não precisa necessariamente ser acusado de ter cometido um crime ou ter sido condenado, como ocorre na extradição. Basta que tenha agido de forma contrária aos interesses nacionais.

- Apesar de a decisão de expulsão consistir em juízo de conveniência e oportunidade, o Estado brasileiro não tem a faculdade de agir com arbitrariedade, porquanto, de acordo com a lei, notadamente o Estatuto do Estrangeiro, há limitações claras ao exercício desse poder.

- Devem estar presentes todos os elementos da expulsão, sob pena de revogação.

- O estrangeiro expulso pode ser encaminhado ao seu país de nacionalidade, que tem o dever de acolhê-lo, ou a qualquer outro Estado que consinta em recebê-lo. Deve ser dada preferência ao país de origem do mesmo.

- A expulsão consiste em “medida administrativa”, e não em “pena propriamente dita”. Desta feita, se um indivíduo for apenado por um crime e, logo em seguida, for expulso do país, isto não configurará “bis in idem” (aplicação de mais de uma pena para apenas um crime).

- Na expulsão, o país que a promove é que suporta os custos logísticos (transporte).

2.1. Hipóteses de Expulsão: segundo preceitua o art. 65 da Lei 6.815/1980, a medida pode ser determinada se o estrangeiro:

2.1.1. Atentar, de qualquer forma, contra a segurança nacional; a ordem política ou social; a tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou por procedimento nocivo à conveniência e aos interesses nacionais.

2.1.2. Praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil.

2.1.3. Tendo ingressado ilegalmente no país, não se retirar no prazo que lhe for determinado.

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2.1.4. Entregar-se à vadiagem ou à mendicância.

2.1.5. Desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro.

* Todas as hipóteses se resumem no fato de o estrangeiro “atentar contra os interesses nacionais”.

2.2. Procedimento: para que ocorra a expulsão, deve ser instaurado inquérito que tramitará no Ministério da Justiça. Contudo, a palavra final pelo deferimento ou indeferimento da medida é do Presidente da República, ainda que preenchidos os requisitos legais (art. 67 e seguintes do EE).

2.3. Revisão: em regra, não há interferência do Poder Judiciário, a não ser em casos de ofensa à lei ou ausência de fundamentação do ato. Nessas oportunidades, pode ocorrer a revisão.

2.4. Proibido Retornar: uma vez expulso, o indivíduo está proibido de retornar ao território nacional, sendo, inclusive, o ato considerado crime, segundo o disposto no art. 338 do Código Penal.

2.5. Impossibilidade de Expulsão (art 75 da Lei 6.815-80)

2.5.1. Casamento celebrado há mais de cinco anos com brasileiro.

- Essa última hipótese é meio polêmica no que tange à fixação de tempo mínimo de casamento.

- Em caso de divórcio, será plenamente possível a expulsão do estrangeiro.

- A doutrina majoritária afirma que este instituto também é aplicável à união estável, desde que respeitado o tempo mínimo fixado em lei.

2.5.2. Filho brasileiro sob sua guarda, que dele dependa economicamente.

- Princípio do Melhor Interesse do Menor e da Unidade Familiar.

- O filho adotivo também é considerado na aplicação desse dispositivo. Contudo, se a adoção foi constituída para fraudar a lei, a mesma será desconsiderada.

* As duas hipóteses acima impedem apenas a “expulsão”, não produzindo os mesmos efeitos para a extradição e para a deportação.

3. Deportação

* Aspectos Gerais

- É o ato pelo qual o Estado retira compulsoriamente de seu território um estrangeiro que ali entrou ou permanece de forma irregular.

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- A deportação configura, dentre os institutos de retirada compulsória de não nacional, a medida mais branda. Com efeito, ela é cabível nas hipóteses de entrada ou permanência irregular do estrangeiro, se este, devidamente notificado, não se retirar voluntariamente do território nacional no prazo fixado (arts. 57 e 58 do EE).

- Caso o estrangeiro adentre ao país de forma legal, e ultrapasse o tempo estabelecido, o mesmo passa a estar irregular, estando sujeito à deportação.

- O que motiva a deportação é o descumprimento, por parte do não nacional, dos requisitos necessários para o ingresso ou a permanência regular no país (como, por exemplo, continuar no Brasil depois de vencido o visto, ou trabalhar quando não autorizado etc.). Logo, é estranha à deportação a prática de crime, assim como solicitação que venha a ser deduzida por terceiro Estado, como ocorre na extradição.

-

3.1. Reingresso: é admitido o reingresso do deportado no território nacional, por expressa disposição legal (art. 64 do EE), sendo, contudo, necessário, efetuar o pagamento devidamente corrigido de eventuais despesas que o governo brasileiro tenha tido com sua deportação.

- Logo, no caso da deportação tanto, o país que deportou como o estrangeiro que foi deportado podem arcar com os custos da operação. Contudo, caso ocorra a primeira situação, se o estrangeiro pretender retornar ao país, este deverá pagar todos os custos da deportação.

3.2. Competência: trata-se de um ato administrativo do poder Executivo que não exige autorização judicial para ser cumprido. Com efeito, o Decreto 86.715/1981, que regulamenta o Estatuto do Estrangeiro, dispõe, no art. 98, caput, que “nos casos de entrada ou estada irregular, o estrangeiro, notificado pelo Departamento de Polícia Federal, deverá retirar-se do território nacional” e, ainda, no art. 99 que “ao promover a deportação o Departamento de Polícia Federal lavrará termo, encaminhando cópia ao Departamento Federal de Justiça”. Como se observa, a deportação também não envolve a cúpula do governo, podendo efetivar-se por atuação da Polícia Federal, por meio de seus agentes.

- Ao ser notificado sobre a situação irregular, o estrangeiro tem um lapso temporal de 6 a 8 dias para retirar-se voluntariamente do país. Caso não o faça, o mesmo é deportado.

3.3. Deportação x Denegação de Entrada

- No caso da deportação, o estrangeiro “entra” no território nacional; já na denegação é impedida a entrada propriamente dita.

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DIREITO INTERNACIONAL I – (26.05.15)(Faltei à aula)

4. Asilo

DIREITO INTERNACIONAL I – (01.06.15)

5. Refúgio

- É o ato pelo qual o Estado concede proteção ao indivíduo que corre risco em outro país, por motivo de guerra ou por perseguições de caráter racial, religioso ou de pertinência a um grupo social.

- No refúgio, o indivíduo pede “guarida” em face de institutos apolíticos, tais como: raça, religião, etnia...; ao contrário do que ocorre no asilo.

- Segundo a Convenção, outorga-se a condição de refugiado a todo aquele que, “temendo ser perseguido por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode, ou em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país; ou que se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em consequência de tais acontecimentos não pode ou devido ao referido temor, não quer voltar a ele”.

- O refúgio é um instituto humanitário.

- Uma vez presentes os requisitos do refúgio, o Brasil é obrigado a concedê-lo. O mesmo não ocorre com o asilo, não sendo este obrigatório.

- É possível afirmar que o refúgio é apolítico.

- O refúgio é regulado, internacionalmente, pelo “Estatuto dos Refugiados” (1951); e nacionalmente pela lei 9.474-97.

* Art 1º da Lei 9.474-97: define como refugiado todo indivíduo que:

I. Devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se a proteção de tal país.

- Alguns doutrinadores criticam a presença do termo “opiniões políticas” como fundamento para o refúgio, visto que o mesmo pode acabar sendo confundido com o Asilo. Dessa forma, ficou pacificado que se a ferramenta for aplicada de forma coletiva, tratar-se-á de refúgio; enquanto que se for concedido individualmente estará ligado ao asilo.

- É importante mencionar que o instituto do refúgio difere do instituto do asilo. Este normalmente é empregado em casos de perseguição política individualizada, enquanto aquele vem sendo aplicado a casos em que a necessidade de proteção atinge a um número significativo de pessoas, em que a perseguição tem aspecto mais generalizado, dando origem, na

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maioria dos casos, a fluxo massivo de população que atravessa a fronteira em busca de proteção.

II. Não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função de fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas.

III. Devido a grave e generalizada violação de direitos humanos é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.

* Princípios

I. Princípio da Não Devolução (Non-Refoulement): é um direito fundamental de não ser devolvido à um país que traga riscos à sua vida e dignidade. Logo, presentes os requisitos do refúgio, não há como se devolver o refugiado.

II. Princípio do “Jus Cogens”: está ligado às normas de proteção aos direitos humanos. Tal instituto está presente no artigo 33 do Estatuto dos Refugiados.

* Art 38 da Lei 9.474-97: tratam das causas de cessação do refúgio.

I. Iniciativa do Refugiado: em algumas causas deve haver a iniciativa do refugiado para cessar o refúgio, na medida em que o mesmo constate que a presença em seu país não consiste mais em risco / O refugiado tem a proteção do seu Estado agora / O refugiado não tem mais medo de retornar.

II. Cessaram as causas do Refúgio: já em outras situações, o refúgio é finalizado na medida em que cessam as causas do mesmo (Ex: refúgio pela Guerra, quando a mesma está acabada).

* Art 3º da Lei 9.474-97: trata das hipóteses em que o refúgio é negado pela “pessoa”.

- Não se beneficiarão do refugio aquelas pessoas que já se encontrarem sob a proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Logo, aqueles que já têm uma proteção em andamento no âmbito das Nações Unidas.

- Àqueles que já gozam dos benefícios atinentes aos brasileiros (Ex: estrangeiro que já fixou residência no Brasil).

- Às pessoas que cometeram crimes contra a humanidade.

* Procedimento

1. O indivíduo se dirige à Polícia Federal

-> Cáritas Arquidiocesana: o indivíduo pode, primeiramente, se dirigir à “Cáritas Arquidiocesana” ou ir direto à Polícia Federal. Logo, no primeiro caso a interpelação é “opcional”, enquanto que no segundo caso é “obrigatória”.

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2. CONARE: Manifestada a vontade de solicitar refúgio, o estrangeiro será entrevistado por um funcionário da Coordenação-Geral do Comitê Nacional para os Refugiados – CONARE. O CONARE é o Órgão Nacional que decide pelo refúgio.

3. Da decisão denegatória do CONARE, caberá recurso ao Ministro da Justiça (essa fase só existirá se for negado o refúgio pelo CONARE).

* Refugiados Ambientais

- Segundo a doutrina moderna, o refúgio pode ser concedido com fundamento em desastres ambientais ocorridos no país de origem (Ex: Tsunamis, terremotos, furacões...).

ASILO REFÚGIOAto discricionário Dever

Nem sempre regulado por tratado Regulado por tratado.Graves violações de direitos humanos Perseguição política

Perseguição Individual Perseguição em Grupo

* Súmula 524 do STF

- O asilo não impede a extradição, enquanto que o refúgio sim.

DIREITO INTERNACIONAL I – (02.06.15)

RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL

1. Conceito

- A responsabilidade internacional é um instituto que visa responsabilizar determinado Estado pela prática de um ato atentatório ao direito internacional (ilícito) perpetrado contra outro Estado, prevendo certa reparação a este último pelos prejuízos e gravames que injustamente sofreu.

- A responsabilização não é um ato exclusivamente de Estado para Estado. As Organizações podem ser alvo de responsabilização internacional e o indivíduo também pode levar um Estado a ser responsabilizado.

- A responsabilidade pode ter natureza moral ou patrimonial.

- Não confundir a responsabilidade civil com a responsabilidade penal.

- Estados e Organizações Internacionais pode demandar e serem demandados na responsabilidade internacional.

- O indivíduo jamais poderá ser demandado em responsabilidade internacional; contudo, o mesmo poderá demandar um Estado.

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2. Fundamento: a responsabilidade internacional está alicerçada em dois pilares:

2.1. Dever de cumprir as obrigações livremente pactuadas (Pacta Sunt Servanda).

2.2. Dever de não causar dano a outrem (Boa fé).

3. Teorias

3.1. Teoria Subjetivista ou “Teoria da Culpa”

- Foi desenvolvida por Hugo Grócio.

- Por essa teoria, deve ser comprovado o dolo ou a culpa. Caso isto não seja possível, não haverá que se falar em responsabilização.

- Essa teoria é adotada pelos tribunais internacionais.

3.2. Teoria Objetivista ou “Teoria do Risco”

- Aqui está presente a responsabilidade objetiva, ou seja, aquela que independe da comprovação de dolo ou culpa.

- É defendida por doutrinadores, tais como: Triepel e Francisco Rezek.

3.3. Teoria Mista

- Faz uma distinção entre os atos omissivos e comissivos. Por essa teoria, quando o ato é comissivo a responsabilização independe de culpa (objetivista); já quanto aos atos omissivos, deve haver a prova de culpa (subjetivista).

- Essa teoria é muito pouco aplicada.

4. Elementos Essenciais

4.1. Ato Ilícito: trata-se de ato omissivo ou comissivo que viola norma de direito internacional.

- Deve haver, necessariamente, a violação de uma norma; de modo que a simples contrariedade a um interesse internacional não configura ato ilícito.

- Conforme a Convenção de Viena, o Estado jamais poderá evocar o direito interno para justificar o descumprimento à uma norma internacional.

- A título de exceção é possível a responsabilização por “ato lícito” (Ex: um Estado permite a construção de uma fábrica que, posteriormente, vem a causar dano a outro Estado).

4.2. Imputabilidade: está ligada ao nexo causal.

- Para ser responsabilizado internacionalmente, o Estado deverá ter dado causa ao dano.

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- Pode ser direta ou indireta. No primeiro caso, o próprio Estado ou seus funcionários cometem o ato ilícito. Já na indireta, outro ente vem a praticar o ato ilícito (Ex: um Estado-membro vem a cometer ilícito internacional e, por isso, o Brasil acaba sendo responsabilizado).

4.3. Dano: o dano consiste no prejuízo sofrido.

- A reparação do dano se dá das seguintes formas: restituição integral, cessação do ato ilícito, não repetição do ato ilícito e a indenização em dinheiro.