o direito internacional da família—tomo i (2014)

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O DIREITO INTERNACIONAL DA FAMÍLIA TOMO I Coleção de Formação Contínua junho de 2014

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  • O DIREITO INTERNACIONAL DA FAMLIA TOMO I

    Coleo de Formao Contnua

    junho de 2014

  • Num mundo cada vez mais globalizado e em que os espaos de

    circulao se alargam e facilitam e os relacionamentos pessoais

    se multiplicam e fluidificam, designadamente os plurinacionais,

    sobressai, qualquer que seja o olhar, a necessidade de promover

    segurana jurdica s pessoas que se vem envolvidas ou

    protagonizam elas prprias episdios de divergncia, disseno

    ou conflito familiar ou para-familiar em que est em causa mais

    do que um ordenamento jurdico e em que as componentes da

    diversidade e do distanciamento geogrfico parecem, partida,

    geradoras ou potenciadoras de dificuldades da interveno, em

    sede de proteco dos interesses prevalecentes, mormente o do

    superior interesse da Criana.

    Urge agilizar procedimentos, divulgar e operacionalizar as

    melhores prticas no acionamento das vrias convenes

    internacionais e regulamentos comunitrios em matrias de

    Direito da Famlia e das Crianas, para o que parece

    fundamental um esforo de conhecimento e interpretao das

    normas integrantes desses instrumentos, mas tambm de

    conhecimento da jurisprudncia, quer nacional, quer da

    produzida pelo Tribunal Europeu de Justia, quer ainda da do

    Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

    Os textos e apresentaes que seguem daro um precioso

    contributo nesse sentido.

  • Ficha Tcnica

    Direo:

    Maria Helena Fazenda (Procuradora-Geral Adjunta, Diretora-Adjunta do CEJ)

    Jurisdio da Famlia e das Crianas:

    Ana Massena (Procuradora da Repblica)

    Luclia Gago (Procuradora-Geral Adjunta)

    Maria Perquilhas (Juza de Direito)

    Paulo Guerra (Juiz Desembargador)

    Nome:

    O DIREITO INTERNACIONAL DA FAMLIA TOMO I

    Categoria:

    Formao Contnua

    Intervenientes:

    Anabela Fialho (Juza de Direito no Tribunal de Famlia e Menores de Setbal)

    Ana Massena (Procuradora da Repblica, Docente do CEJ)

    Carlos Marinho (Juiz Desembargador no Tribunal da Relao de Lisboa)

    Geraldo Rocha Ribeiro (Professor Universitrio na Faculdade de Direito da Universidade

    de Coimbra)

    Jorge Duarte Pinheiro (Professor Universitrio na Faculdade de Direito da Universidade

    de Lisboa)

    Leonor Valente Monteiro (Advogada)

    Maria Perquilhas (Juza de Direito, Docente do CEJ)

    Natrcia Fortunato (Tcnica Superior da Direo-Geral de Reinsero e Servios

    Prisionais)

    Nuno Ascenso Silva (Professor Universitrio na Faculdade de Direito da Universidade

    de Coimbra)

    Paulo Emanuel Costa (Juiz de Direito no Tribunal de Famlia e Menores do Porto)

    Reviso final:

    Docentes da Jurisdio de Famlia e das Crianas

    Joana Caldeira (Tcnica Superior do Departamento da Formao do CEJ)

  • NDICE

    PARTE I DIVRCIO E REGULAO DO EXERCCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS NO

    MBITO DO DIREITO COMUNITRIO O REGULAMENTO (CE) N. 2201/03 (BRUXELAS II BIS)

    E A CONVENO DA HAIA DE 19.10.1996 ................................................................................... 9

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro

    de 2003, relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria

    matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n.

    1347/2000] Nuno Ascenso Silva .............................................................................................. 11

    Sumrio .................................................................................................................................. 15

    Texto da interveno ............................................................................................................. 16

    Videogravao da comunicao ............................................................................................ 44

    Direito da Famlia sem fronteiras Jorge Duarte Pinheiro ......................................................... 45

    Sumrio .................................................................................................................................. 49

    Texto da interveno ............................................................................................................. 50

    Apresentao em powerpoint ................................................................................................ 59

    Videogravao da comunicao ............................................................................................ 93

    Bruxelas II BIS Regulamento Paulo Emanuel Costa ................................................................. 95

    Sumrio .................................................................................................................................. 99

    Apresentao em powerpoint .............................................................................................. 101

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 133

    PARTE II VIOLAO DO DIREITO DE VISITA, RETENO E DESLOCAO ILCITAS DE

    CRIANAS O REGULAMENTO (CE) N. 2201/03 (BRUXELAS II BIS), A CONVENO DA HAIA

    DE 19.10.1996 E A CONVENO DA HAIA DE 25.10.1980 ....................................................... 135

    Rapto Internacional: o problema internacional e instrumentos de resoluo Geraldo Rocha

    Ribeiro ....................................................................................................................................... 137

    Sumrio ................................................................................................................................ 141

    Texto da interveno ........................................................................................................... 142

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 159

    Violao do direito de visita, reteno e deslocao ilcitas de crianas o regulamento (CE) n.

    2201/03 (Bruxelas II BIS), a Conveno da Haia de 19.10.1996 e a Conveno da Haia de

    25.10.1980 Carlos Marinho .................................................................................................... 161

    Sumrio ................................................................................................................................ 165

  • Texto da interveno ........................................................................................................... 166

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 178

    Da aplicao prtica. Do Regulamento (CE) n. 2201/2003 do Conselho de 27 de novembro e

    Conveno da Haia de 25 de outubro de 1980 Leonor Valente Monteiro ............................ 179

    Sumrio ................................................................................................................................ 183

    Texto da interveno ........................................................................................................... 185

    Apresentao em powerpoint .............................................................................................. 209

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 253

    Rapto Parental Internacional: Conveno da Haia de 1980 e Regulamento (CE) n. 2201/2003

    do Conselho Ana Massena .................................................................................................... 255

    Sumrio ................................................................................................................................ 259

    Apresentao em powerpoint .............................................................................................. 261

    PARTE III A INTERVENO DA AUTORIDADE CENTRAL ........................................................ 313

    A interveno das autoridades centrais Natrcia Fortunato ................................................. 315

    Sumrio ................................................................................................................................ 319

    Apresentao em powerpoint .............................................................................................. 321

    Apresentao em powerpoint .............................................................................................. 346

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 373

    PARTE IV RESOLUO DE SITUAES PRTICAS (APLICAO PRTICA DOS

    INSTRUMENTOS) ...................................................................................................................... 375

    Resoluo de situaes prticas aplicao prtica dos instrumentos Anabela Fialho ....... 377

    Texto da interveno ........................................................................................................... 381

    Texto da interveno ........................................................................................................... 395

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 424

    Caso prtico Maria Perquilhas ............................................................................................... 425

    Texto da interveno ........................................................................................................... 427

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 434

    Rapto Parental Internacional Ana Massena ........................................................................... 435

    Texto da interveno ........................................................................................................... 437

    PARTE V LEGISLAO CONVENCIONAL, COMUNITRIA E NACIONAL ................................. 451

  • Nota:

    Foi respeitada a opo dos autores na utilizao ou no do novo Acordo Ortogrfico

    PARTE VI JURISPRUDNCIA ................................................................................................... 457

    Jurisprudncia internacional ............................................................................................. 459

    - Tribunal Europeu dos Direitos do Homem ................................................................... 459

    - Tribunal Europeu de Justia ......................................................................................... 466

    Jurisprudncia nacional ..................................................................................................... 472

    - Supremo Tribunal de Justia ........................................................................................ 472

    - Tribunais da Relao .................................................................................................... 475

    Tribunal da Relao de Coimbra ............................................................................. 475

    Tribunal da Relao de vora .................................................................................. 476

    Tribunal da Relao de Guimares ......................................................................... 477

    Tribunal da Relao de Lisboa ................................................................................. 477

    Tribunal da Relao do Porto .................................................................................. 481

    PARTE VII HIPERLIGAES ..................................................................................................... 487

    PARTE VIII BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 491

    NOTA:

    Pode clicar nos itens do ndice de modo a ser redirecionado automaticamente para o tema em questo.

    Clicando no smbolo existente no final de cada pgina, ser redirecionado para o ndice.

  • Registo das revises efetuadas ao e-book

    Identificao da verso Data de atualizao

    Verso inicial 20/06/2014

  • Parte I Divrcio e regulao do exerccio das responsabilidades parentais no mbito do Direito

    comunitrio o Regulamento (CE) n. 2201/03 (Bruxelas II BIS) e a Conveno da Haia de 19/10/1996

  • O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de

    responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    [Nuno Ascenso Silva]

    Comunicao apresentada na ao de formao Temas de Direito da Famlia e das Crianas, realizada

    pelo CEJ no dia 08 de maro de 2013.

  • Sumrio e texto da interveno

  • 15

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003, relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em

    matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    O texto que segue, da autoria de Nuno Ascenso Silva, professor universitrio na

    Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tem as seguintes ideias-fora:

    A entrada em vigor do Regulamento (CE) n. 2201/2003 do Conselho, de 27 de

    Novembro de 2003, relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de

    decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que

    revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000, constitui um momento fundamental no

    processo de comunitarizao do regime internacional-privatstico da famlia.

    Atravs deste estudo, pretende dar-se conta sumariamente das principais solues

    que foram sancionadas pelo Regulamento Bruxelas II Bis e que assumem na prtica

    judiciria uma notria importncia.

    Na verdade, conquanto as regras relativas dissoluo do vnculo matrimonial se

    tenham mantido fundamentalmente idnticas ao anteriormente estabelecido no

    Regulamento (CE) n. 1347/2000, o alargamento do mbito de aplicao das normas

    de competncia internacional e de reconhecimento e execuo relativas s

    responsabilidades parentais, que passaram a valer para todas as crianas e

    independentemente da existncia de um processo de dissoluo do casamento dos

    pais, bem como a supresso do exequatur para algumas decises estrangeiras

    (decises de regresso de crianas deslocadas ilicitamente e decises relativas ao

    direito de visita) justificam uma ateno renovada por parte dos juristas que, de

    algum modo, se ocupam do direito internacional privado da famlia e, mais

    particularmente, das crianas e jovens.

  • 16

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    Aspectos preliminares

    As crianas e o direito convencional e comunitrio o caso particular da

    internacionalizao do direito internacional privado da famlia e dos menores

    Objecto e sumrio da interveno: O Regulamento Bruxelas II bis e as responsabilidades

    parentais

    O Regulamento Bruxelas II bis Introduo

    1. Notas introdutrias. Breve caracterizao do Regulamento

    2. mbito de aplicao do Regulamento (territorial, temporal, e material)

    3. Relaes do Regulamento com outros instrumentos internacionais

    II.

    O Regulamento Bruxelas II bis O regime da competncia internacional

    4. A competncia internacional directa - Princpio geral (o artigo 8.): fundamento e

    determinao

    5. Foros especiais

    5.1. Prolongamento da competncia do Estado-Membro da anterior residncia

    habitual da criana (artigo 9.)

    5.2. Extenso da competncia: foro do divrcio ou foro de um Estado com o qual o

    menor tenha ligao particular e esta competncia seja aceite por todas as partes

    (artigo 12.)

    5.3. Competncia baseada na presena da criana (artigo 13.)

    5.4. Competncias residuais (artigo 14.)

    6. A competncia internacional no caso das deslocaes ou retenes ilcitas (o artigo

    10.)

    7. O reforo da cooperao interestadual em sede de competncia internacional

    7.1. O regime da litispendncia internacional

    7.2. Transferncia para um tribunal mais bem colocado para apreciar a aco (artigo

    15.)

    8. Medidas provisrias e cautelares

    9. Outras regras processuais (remisso)

  • 17

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    III.

    O Regulamento Bruxelas II bis Reconhecimento e execuo de decises

    10. O regime geral do reconhecimento e execuo das decises estrangeiras

    10.1. Noo de deciso: uma condio de reconhecimento ao abrigo do Regulamento

    10.2. Reconhecimento (susceptibilidade de uma sentena estrangeira produzir

    internamente os seus efeitos jurisdicionais tpicos: caso julgado e efeito executivo)

    10.3. Declarao de executoriedade

    11. Os fundamentos de oposio ao reconhecimento e execuo

    12.1. Casos de supresso do exequatur

    12.1. Supresso do exequatur: a deciso que ordene regresso da criana na

    sequncia de uma deslocao ilegal

    12.2. Supresso do exequatur: as disposies em matria de direito de visita

    O Regulamento Bruxelas II bis Apreciao conclusiva

    Consideraes preliminares

    O assunto que hoje aqui nos traz so as crianas e o direito convencional e comunitrio.

    sabido que a proteco das crianas constitui no apenas uma funo indeclinvel do

    Estado como uma inteno que foi igualmente assumida nos ltimos cem anos de um modo

    efusivo pela Comunidade Internacional, o que deu lugar no seio das mais diversas instncias

    que promovem a internacionalizao e unificao do direito elaborao de inmeros

    instrumentos internacionais e que assumem variadssimos propsitos e diversas formas

    jurdicas (recomendaes, resolues, convenes, regulamentos, etc.).

    Como bvio, no nos dedicaremos hoje a toda essa panplia internacional de

    proteco da infncia, cingindo-nos antes aos casos em que, por qualquer razo, a vida da

    famlia e dos menores atravessa as fronteiras de um s Estado, situaes em que, como

    facilmente se depreende, as crianas se encontram numa situao de particular

    vulnerabilidade.

    Sendo assim, trataremos hoje de matrias que integram o mal-amado domnio do

    direito internacional privado.

    No que me diz respeito, e dentro do tempo limitado de que disponho, ocupar-me-ei

    mais particularmente do Regulamento Bruxelas IIbis [o Regulamento (CE) 2201/2003, do

    Conselho, de 27 de Novembro, relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de

  • 18

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental], que hoje um

    instrumento jurdico incontornvel no seio da cooperao jurdica e judiciria civil, pelo menos

    naquilo que diz respeito aos conflitos de jurisdies j que a no encontramos regras

    conflitos de leis e se nos centramos no contexto da Unio Europeia espao geogrfico com

    que uma parte muito significativa das situaes da vida familiar transfronteiria que por

    alguma razo chegam aos nossos tribunais apresenta contacto.

    Referir-me-ei assim ao Regulamento Bruxelas IIbis, fazendo uma apresentao

    necessariamente sumria do seu mbito de aplicao, das regras da competncia internacional

    e do regime do reconhecimento e execuo a institudo no mbito das responsabilidades

    parentais.

    Por conseguinte, no mencionarei as solues relativas dissoluo do vnculo

    matrimonial, uma vez que esta no integra o leque dos temas de que hoje nos ocupamos.

    Alis, mesmo que assim no fosse, sempre teramos de reconhecer a parca inovao que

    o Bruxelas IIbis trouxe em matria matrimonial relativamente ao instrumento comunitrio que

    o precedeu (o Regulamento 1347/2000). Pelo contrrio, no respeitante s responsabilidades

    parentais, como assinalaremos, foram inmeras e significativas as modificaes ento

    operadas.

    O Regulamento Bruxelas II bis Introduo

    1. Notas introdutrias e breve caracterizao

    1.1. Notas introdutrias

    O Regulamento Bruxelas IIbis entrou em vigor em 1 de Agosto de 2004 e tornou-se

    aplicvel a partir de 1 de Maro de 2005, revogando-se dessa forma o Regulamento (CE) n.

    1347/2000, do Conselho, de 29 de Maio de 2000, relativo competncia, ao reconhecimento

    e execuo de decises em matria matrimonial e de regulao do poder paternal em

    relao a filhos comuns do casal, e cujo mbito de aplicao, no tocante aos menores, era

    muito restrito, j que apenas abrangia as medidas relativas aos filhos comuns do casal

    tomadas por ocasio da dissoluo do casamento.

    Ora, atravs do novo instrumento comunitrio, deu-se lugar afirmao de duas linhas

    condutoras:

  • 19

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    a) o alargamento do princpio do reconhecimento mtuo a todas as decises em

    matria de responsabilidade parental, tendo em vista garantir a igualdade de

    tratamento de todas as crianas. Ou seja, o presente regulamento visou reunir

    num nico documento as disposies relativas dissoluo do vnculo matrimonial

    e responsabilidade parental de todos os filhos, independentemente da existncia

    de um processo de dissoluo do vnculo matrimonial [logo, independentemente

    at de os progenitores serem casados] ou de serem ou no filhos comuns do casal.

    a) a consagrao de um sistema de execuo das decises relativas ao direito de

    visita que assenta fundamentalmente na atribuio de executoriedade automtica

    s sentenas dos Estados da Unio, logo, na abolio do exequatur, igualmente

    estendida s decises que exijam o regresso de crianas ilicitamente transferidas

    para o estrangeiro ou a retidas.

    Deste modo, o Regulamento Bruxelas IIbis constitui no contexto da cooperao

    judiciria em matria civil um passo muito relevante na construo de um Espao de

    Liberdade, Segurana e Justia [artigo 3. do Tratado da UE e Ttulo V (artigo 67. ss.) do TFUE].

    1.2. Breve caracterizao do Regulamento

    1.2.1. O cerne do dispositivo regulamentar, e deixando de parte por agora o captulo

    especfico relativamente cooperao das autoridades centrais (Captulo IV), encontra-se nos

    Captulos II (Competncia) e III (Reconhecimento e execuo).

    Trata-se na essncia de um texto de direito processual civil internacional de cariz duplo

    uma vez que tem como objectivo central estabelecer regras comuns relativas aos conflitos de

    jurisdies, ou seja, uniformizar as regras de competncia e de reconhecimento e execuo.

    Contrariamente ao que acontece j hoje no divrcio [o Regulamento (UE) n.

    1259/2010 do Conselho, de 20 de Dezembro de 2010, que cria uma cooperao reforada no

    domnio da lei aplicvel em matria de divrcio e separao judicial (Roma III)], no existem

    regras de conflitos europeias no respeitante s responsabilidades parentais.

    Por isso, no respeitante s responsabilidades parentais, aplicam-se as regras de conflitos

    uniformes contidas na Conveno da Haia de 19 de Outubro de 1996, relativa competncia,

    lei aplicvel, ao reconhecimento, execuo e cooperao em matria de

    responsabilidade parental e de medidas de proteco de menores (em vigor desde 1-VIII-

    2011).

    Ainda quanto a esta [ainda incabada] trilogia do direito internacional privado da

    famlia europeu, deve notar-se que:

  • 20

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    a) As regras de competncia e de reconhecimento no tm o mesmo mbito de

    aplicao: assim, podemos ter decises reconhecidas ao abrigo do Regulamento,

    mas que tenham sido proferidas com base em regras internas de competncia

    internacional (ou seja, proferidas com base nas competncias residuais

    reconhecidas no artigo 14.).

    b) Por outro lado, pode afirmar-se que a uniformizao das regras de competncia

    tem sobretudo uma funo instrumental na economia do Regulamento.

    Verdadeiramente, o objectivo principal o de facilitar a livre circulao de

    sentenas (e actos equivalentes), logo, a livre circulao de pessoas, prevenindo as

    surpresas no atravessar das fronteiras e evitando que as qualidades que

    constituem o estado das pessoas sejam ento confiscadas como se fossem

    mercadorias de contrabando (FERRER CORREIA).

    Com efeito, a assuno de competncia ao abrigo dos critrios regulamentares faz supor

    que o tribunal de origem fundou a sua competncia num ttulo legtimo, sendo assim possvel

    facilitar o reconhecimento e execuo, ou seja, desde logo, admitir o reconhecimento

    automtico das decises estrangeiras *a to convocada liberdade de circulao das

    sentenas ou o princpio do reconhecimento mtuo+;

    1.2.2. De qualquer forma, embora se trate de um instrumento eminentemente

    processual e ao servio do princpio do reconhecimento mtuo, no que toca aos menores

    (menoridade que o Regulamento no define, ao contrrio daquilo que acontece na Conveno

    da Haia de 1996), ganharam particular relevo no seio do Regulamento os direitos da criana,

    designadamente:

    o direito a manter relaes regulares com cada um dos progenitores, o que levou

    formulao de disposies especficas sobre o rapto e sobre o direito de visita.;

    o direito de audio e participao, tendo em conta a sua idade e maturidade.

    Sendo assim, trata-se de um instrumento de direito processual civil profundamente

    enervado pelo propsito de garantir os direitos das crianas internacional e comunitariamente

    garantidos.

    De resto, o princpio do interesse superior da criana aparece recorrentemente no

    Regulamento tanto nas regras de competncia (cf. os artigos 12. e 15.) como nas de

  • .21

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    reconhecimento (cf. artigo 23.) , daqui decorrendo uma vantajosa flexibilizao do regime

    dos conflitos de jurisdies no mbito das responsabilidades parentais.

    2. mbito de aplicao do Regulamento

    2.1. mbito de aplicao territorial ou espacial (artigo 2., n. 3)

    Como sabido, o Regulamento directamente aplicvel nos Estados-Membros e

    prevalece sobre o direito nacional. (artigo 72.).

    Todavia, o Regulamento tornou-se aplicvel a partir de 1 de Maro de 2005 em todos os

    Estados-Membros da Unio Europeia, com excepo da Dinamarca. Assim, esta no

    considerada Estado-membro para efeitos de aplicao das regras de competncia e

    reconhecimento estatudas no Regulamento.

    2.2. mbito de aplicao temporal (artigos 64. e 72.)

    Nos termos do artigo 64., n. 1, o Regulamento aplicvel na sua integralidade:

    a aces judiciais intentadas, a documentos exarados ou registados como actos

    autnticos e a acordos celebrados entre as partes posteriores 1 de Maro de 2005

    (data definida pelo artigo 72. para a aplicabilidade do Regulamento).

    Todavia o regime de reconhecimento e de execuo institudo no Regulamento

    aplicvel, relativamente a aces judiciais instauradas antes de 1 de Maro de 2005, a trs

    categorias de decises previstas no artigo 64., n.s 2, 3 e 4, usando-se uma tcnica tambm j

    conhecida do Regulamento Bruxelas I.

    Com efeito, o regime de reconhecimento e de execuo institudo no Regulamento

    Bruxelas IIbis vale igualmente para as:

    Decises proferidas em 1 de Maro de 2005 e posteriores a esta data, na sequncia

    de processos instaurados antes dessa data, mas aps a data de entrada em vigor do

    Regulamento Bruxelas II (1 de Maro de 2001) (n. 2 do artigo 64.);

    Decises proferidas antes de 1 de Maro de 2005, na sequncia de processos

    instaurados aps a data de entrada em vigor do Regulamento Bruxelas II, desde que

    se trate de casos abrangidos pelo mbito de aplicao do Regulamento Bruxelas II

    (n. 3 do artigo 64.);

    Decises proferidas antes de 1 de Maro de 2005, mas aps a data de entrada em vigor

    do Regulamento Bruxelas II, na sequncia de processos instaurados antes da data de entrada

    em vigor do Regulamento Bruxelas II (n. 4 do artigo 64.).

  • 22

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    2.3. mbito de aplicao material ou ratione materiae (artigo 1.)

    So abrangidos pelo Regulamento:

    os processos cveis relativos ao divrcio, separao ou anulao do casamento

    [matria matrimonial];

    todas as questes relativas responsabilidade parental (atribuio, exerccio,

    delegao, limitao ou cessao), tal como resultam definidas nos artigos 1. (n. 1,

    alnea b) e n. 2) e 2., n. 7 [responsabilidade parental]

    Com efeito, a responsabilidade parental compreendida de modo amplo: designa o

    conjunto dos direitos e obrigaes em relao pessoa ou aos bens de uma criana. Tal

    compreende no s o direito de guarda e o direito de visita, mas igualmente matrias como a

    tutela, curatela e a colocao da criana ao cuidado de uma famlia de acolhimento ou de uma

    instituio. Alis, o titular da responsabilidade parental pode ser uma pessoa singular ou

    colectiva) [cf. artigo 2., n. 7]

    Assim, o Regulamento igualmente aplicvel s medidas de proteco relacionadas com

    os bens da criana (por exemplo, se os pais esto em litgio sobre a administrao dos bens dos

    filhos). Em contrapartida, as medidas relativas aos bens da criana no relacionadas com a sua

    proteco no so abrangidas pelo Regulamento, mas pelo Regulamento (CE) n. 44/2001,

    incumbindo ao juiz avaliar, no caso concreto, se uma medida relativa aos bens da criana est

    ou no relacionada com a sua proteco). [cf. Considerando 9].

    Todavia, em qualquer dos casos, o Regulamento s aplicvel s matrias civis (artigo

    1.). Ora, o conceito de matrias civil definido em termos amplos (autonomamente) para

    efeitos do Regulamento e abrange, no tangente aos menores, todas as matrias enumeradas

    no n. 2 do artigo 1.. Deste modo, mesmo nos casos em que nos termos do direito nacional

    uma medida especfica de responsabilidade parental uma medida de direito pblico (por

    exemplo, a colocao de uma criana ao cuidado de uma famlia de acolhimento ou de uma

    instituio [artigo 1., n. 2, al. d)]), ainda assim o Regulamento ser aplicvel.

    Por fim, so excludos do mbito de aplicao do Regulamento (uma delimitao

    negativa feita no artigo 1., n. 3):

    o estabelecimento ou impugnao da filiao;

    as decises em matria de adopo, incluindo as medidas preparatrias, bem como a

    anulao e revogao da adopo;

    os nomes e apelidos da criana;

    a emancipao;

  • 23

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    os fideicomissos ("trusts") e sucesses;

    as medidas tomadas na sequncia de infraces penais cometidas por crianas;

    e os alimentos.

    3. Relaes do Regulamento com outros instrumentos internacionais: uma particular

    fora constritora (artigos. 59. a 63.)

    Em geral, este regime comunitrio derroga as convenes existentes que hajam sido

    celebradas entre dois ou mais Estados-Membros, designadamente quanto s matrias

    reguladas pelo Regulamento Bruxelas IIbis (artigo 59., n. 1, artigo 62., n.1).

    Pensamos, por exemplo, na Conveno de cooperao judiciria relativa proteco

    de menores entre o Governo da Repblica Portuguesa e o Governo da Repblica Francesa

    (1983) e na Conveno entre a Repblica Portuguesa e o Gro-Ducado do Luxemburgo

    relativa ao auxlio judicirio em matria de direito de guarda e de direito de visita (1992), j

    que ambas versam matria relativa proteco de menores.

    Alm disso, o Regulamento prevalece sobre determinadas convenes multilaterais nas

    relaes entre os Estados-Membros relativamente s matrias abrangidas pelo Regulamento

    (artigo 60.). Assim acontece, por exemplo, com a Conveno de 20 de Maio de 1980, sobre o

    reconhecimento e a execuo das decises relativas custdia de menores e sobre o

    restabelecimento da custdia de menores; a Conveno da Haia de 25 de Outubro de 1980

    sobre os aspectos civis do rapto internacional de crianas; e a Conveno da Haia de 1961

    relativa competncia das autoridades e lei aplicvel em matria de proteco de

    menores (actualmente, s se aplica em matria de competncia nas relaes com Macau e a

    Turquia).

    No que diz respeito s relaes com a Conveno da Haia, de 19 de Outubro de 1996,

    relativa competncia, lei aplicvel, ao reconhecimento, execuo e cooperao em

    matria de responsabilidade parental e de medidas de proteco das crianas (artigo 61.), o

    Regulamento ser aplicvel na sua integralidade se a criana tiver a sua residncia habitual no

    territrio de um Estado-Membro.

    Alm disso, as disposies do Regulamento sobre o reconhecimento e a execuo sero

    aplicveis quando o tribunal competente de um Estado-Membro profere uma deciso, mesmo

    se a criana em causa tiver a sua residncia habitual no territrio de um Estado no membro

    que seja parte contratante na referida Conveno (artigo 61.).

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    Ainda assim, quanto competncia e apesar do artigo 61., alguma doutrina tem

    defendido que parece resultar do artigo 52., 3 e 4 da Conveno da Haia de 1996 (clusula de

    desconexo) que o Regulamento deveria ceder perante o regime convencional nas relaes

    entre Estados-Membros e Estados terceiros partes na Conveno.

    II

    O Regulamento Bruxelas II bis O regime da competncia internacional

    Trata-se de um regime profundamente inovador e at sofisticado e que apresenta um

    significativo avano relativamente ao regime de origem interna, conquanto muitas solues do

    Regulamento tenham sido inspiradas na Conveno da Haia de 1996.

    De qualquer forma, e em termos gerais destacam-se no sistema regulamentar de

    competncia as seguintes notas:

    1) a fidelidade ao princpio geral da competncia das autoridades da residncia habitual

    da criana e a aceitao de um leque alargado de critrios de competncia internacional que

    relativizam o princpio geral tendo em vista, por exemplo, a boa administrao da justia

    (artigo 12.)

    2) a particular cautela com a preservao da competncia dos tribunais da residncia

    habitual da criana em caso de deslocao ilcita (artigo 10.)

    3) a preocupao em garantir a (re)organizao do direito de visita pelas autoridades da

    anterior residncia habitual da criana (prolongamento da competncia) (artigo 9.)

    4) o acolhimento da doutrina do forum non conveniens e a transferncia da aco para

    um tribunal melhor colocado para a apreciar (artigo 15.)

    5) a relevncia do interesse superior da criana na determinao dos casos em que os

    tribunais de um Estado podem assumir jurisdio (artigos 12. e 15.).

    6) o relevo da litispendncia internacional (artigo 19.)

    7) o relevo da autonomia das partes (artigo 12.)

    O Bruxelas IIbis regula exclusivamente a competncia internacional e supe, por isso, a

    existncia de uma situao plurilocalizada. Mas a internacionalidade da relao no ter de se

    traduzir necessariamente na ligao a um Estado-Membro: ou seja, as regras do Regulamento

    so o direito comum da competncia internacional dos Estados-Membros dentro do mbito de

    matrias por ele abrangidas.

    Todavia, a competncia territorial determina-se por aplicao do direito interno.

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    4. A competncia internacional directa Princpio geral (o artigo 8.): fundamento e

    determinao

    De acordo com o princpio geral formulado no artigo 8., e sob reserva do disposto nos

    artigos 9. (Prolongamento de competncia), 10. (Rapto) e 12. (Extenso de competncia),

    os tribunais de um Estado-Membro so competentes em matria de responsabilidade parental

    relativa a uma criana que resida habitualmente nesse Estado-Membro data em que o

    processo seja instaurado no tribunal.

    O fundamento de tal soluo encontra-se no facto de se achar que as autoridades da

    residncia habitual so as que esto em melhores condies para apreciar a questo das

    responsabilidades parentais, a situao real do menor e o alcance prtico das medidas que

    venham a ser tomadas; alis, ser a que normalmente as medidas sero efectivadas, no se

    colocando por conseguinte problemas de reconhecimento e execuo de decises

    estrangeiras.

    O conceito de residncia habitual corresponde a uma noo de facto e que deve ser

    determinada autonomamente, mas que nem sempre ser facilmente concretizvel.

    De acordo com uma formulao cara ao direito da Unio, a residncia habitual o local

    onde o interessado fixou, com vontade de lhe conferir valor estvel, o centro permanente ou

    habitual dos seus interesses (v.g., artigo 3., n. 1, alne a), e artigo 8.);

    No que respeita aos menores, tudo estar em determinar onde se situa, estavelmente,

    esse centro permanente ou habitual dos interesses e que, alis, coincidir amide com a

    residncia habitual do progenitor ou dos progenitores que detm as responsabilidades

    parentais e com quem o menor vive. (v.g., numa criana lactente esta dependncia

    particularmente notria e previsvel).

    Nos termos do Acrdo do Tribunal de Justia (Terceira Seco), 2 de Abril De 2009

    (pedido de deciso prejudicial apresentado pelo Korkein hallinto-oikeus, Finlndia): *+ O

    conceito de residncia habitual, na acepo do artigo 8., n. 1, do Regulamento n.

    2201/2003, deve ser interpretado no sentido de que essa residncia corresponde ao local que

    revelar uma determinada integrao do menor num ambiente social e familiar. Para esse

    fim, devem ser tidas em considerao, nomeadamente a durao, a regularidade, as

    condies e as razes da permanncia no territrio de um Estado-Membro e da mudana da

    famlia para esse Estado, a nacionalidade do menor, o local e as condies de escolaridade,

    os conhecimentos lingusticos, bem como os laos familiares e sociais que o menor tiver no

    referido Estado. Incumbe ao rgo jurisdicional nacional determinar a residncia habitual do

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    menor tendo em conta o conjunto das circunstncias de facto relevantes em cada caso

    concreto.

    5. Foros especiais

    5.1. Prolongamento da competncia do Estado-Membro da anterior residncia

    habitual da criana (artigo 9.): direito de visita

    O artigo 9. determina que Quando uma criana se desloca legalmente de um Estado-

    Membro para outro e passa a ter a sua residncia habitual neste ltimo, os tribunais do

    Estado-Membro da anterior residncia habitual da criana mantm a sua competncia, em

    derrogao do artigo 8., durante um perodo de trs meses aps a deslocao, para alterarem

    uma deciso, sobre o direito de visita proferida nesse Estado-Membro antes da deslocao da

    criana, desde que o titular do direito de visita, por fora dessa deciso, continue a residir

    habitualmente no Estado-Membro da anterior residncia habitual da criana.

    Permite-se assim que o titular do direito de vista, que por causa da deslocao da

    criana no pode continuar a exerc-lo nos mesmos termos, possa requerer um ajustamento

    adequado de tal direito ao tribunal que sobre ele previamente decidiu.

    Acresce ainda que a deslocao ser lcita se for permitida face lei aplicvel segundo o

    Direito internacional privado do Estado de origem ou por uma deciso proferida neste Estado.

    Por outro lado, se a deslocao tiver sido consentida no se colocar questo da sua licitude.

    5.2. Extenso da competncia nos termos do artigo 12.: uma competncia convencional

    (no basta mera comparncia sem arguir incompetncia) que concorre com o princpio geral

    do artigo 8. e que deve ser apreciada em relao a cada uma das crianas envolvidas

    5.2.1. Foro do divrcio

    De acordo com o artigo 12., n. 1, os tribunais do Estado-Membro que, por fora do artigo

    3., so competentes para decidir de um pedido de divrcio, de separao ou de anulao do

    casamento, so competentes para decidir de qualquer questo relativa responsabilidade

    parental relacionada com esse pedido quando:

    Pelo menos um dos cnjuges exera a responsabilidade parental em relao

    criana; e

    A competncia desses tribunais tenha sido aceite, expressamente ou de qualquer

    outra forma inequvoca, pelos cnjuges ou pelos titulares da responsabilidade

    parental data em que o processo instaurado em tribunal, e seja exercida no

    superior interesse da criana.

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    Acresce ainda que a competncia do foro do divrcio no supe que estejam em causa

    filhos comuns do casal.

    Por fim, note-se que a competncia de tais autoridades no tem uma durao ilimitada.

    Assim, o artigo 12., n. 2, estabelece as condies em que a competncia exercida nos termos

    anteriores cessa (v.g., quando a deciso de procedncia ou improcedncia do pedido de

    divrcio, de separao ou de anulao do casamento haja transitado em julgado).

    5.2.2. Foro de um Estado com o qual o menor tenha ligao particular e esta

    competncia seja aceite por todas as partes

    Independentemente de os tribunais de um Estado-Membro poderem assumir jurisdio

    ao abrigo do artigo 12., n. 1 (foro do divrcio), eles sero igualmente competentes em

    matria de responsabilidade parental caso se verifiquem cumulativamente duas condies:

    A criana tenha uma ligao particular com esse Estado-Membro, em especial devido

    ao facto de um dos titulares da responsabilidade parental ter a sua residncia

    habitual nesse Estado-Membro ou de a criana ser nacional desse Estado-Membro; e

    A sua competncia tenha sido aceite explicitamente ou de qualquer outra forma

    inequvoca por todas as partes no processo data em que o processo instaurado

    em tribunal e seja exercida no superior interesse da criana (artigo 12., n. 3).

    5.3. Competncia baseada na presena da criana (artigo 13.) uma competncia

    subsidiria

    So competentes os tribunais do Estado-Membro onde a criana se encontra-se:

    no puder ser determinada a residncia habitual da criana nem for possvel

    determinar a competncia com base no artigo 12. (foro do divrcio/foro mais

    conexionado),

    crianas refugiadas ou crianas internacionalmente deslocadas, na sequncia de

    perturbaes no seu pas.

    5.4. Competncias residuais (artigo 14.)

    O artigo 14. determina que se nenhum tribunal de um Estado-Membro for

    competente, por fora dos artigos 8. a 13., a competncia , em cada Estado-Membro,

    regulada pela lei desse Estado.

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    Sendo assim, parece que a competncia s se poder basear no direito interno quando

    no resultar a competncia dos tribunais de qualquer Estado-Membro ao abrigo do

    Regulamento.

    6. A competncia internacional no caso das deslocaes ou retenes ilcitas (o artigo

    10.)

    O artigo 10. estatui que em caso de deslocao ou reteno ilcitas de uma criana (cf.

    artigo 2., n. 11), os tribunais do Estado-Membro onde a criana residia habitualmente

    imediatamente antes da deslocao ou reteno ilcitas, continuam a ser competentes at a

    criana passar a ter a sua residncia habitual noutro Estado-Membro e:

    Cada pessoa, instituio ou outro organismo titular do direito de guarda dar o seu

    consentimento deslocao ou reteno; ou

    A criana ter estado a residir nesse outro Estado-Membro durante, pelo menos, um

    ano aps a data em que a pessoa, instituio ou outro organismo, titular do direito

    de guarda tenha tomado ou devesse ter tomado conhecimento do paradeiro da

    criana, se esta se encontrar integrada no seu novo ambiente e se estiver preenchida

    pelo menos uma das seguintes condies:

    i) no ter sido apresentado, no prazo de um ano aps a data em que o titular do direito

    de guarda tenha tomado ou devesse ter tomado conhecimento do paradeiro da criana,

    qualquer pedido de regresso desta s autoridades competentes do Estado-Membro para onde

    a criana foi deslocada ou se encontra retida,

    ii) o titular do direito de guarda ter desistido do pedido de regresso e no ter sido

    apresentado nenhum novo pedido dentro do prazo previsto na subalnea i),

    iii) o processo instaurado num tribunal do Estado-Membro da residncia habitual da

    criana imediatamente antes da deslocao ou reteno ilcitas ter sido arquivado nos termos

    do n. 7 do artigo 11.,

    iv) os tribunais do Estado-Membro da residncia habitual da criana imediatamente

    antes da deslocao ou reteno ilcitas terem proferido uma deciso sobre a guarda que no

    determine o regresso da criana.

    Trata-se de uma disposio intimamente relacionada com o problema do rapto e tem

    duas funes:

    Impedir que as autoridades do Estado de origem da criana deslocada ou retida

    ilicitamente percam a competncia internacional

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    Evitar que as autoridades do actual paradeiro da criana sejam consideradas

    competentes ao abrigo do artigo 8.

    7. O reforo da cooperao interestadual em sede de competncia internacional

    Vejamos agora algumas solues onde particularmente notrio o propsito de

    assegurar a cooperao em matria de competncia entre as autoridades dos diversos

    Estados-Membros.

    7.1. O regime da litispendncia internacional (artigo 19., n. 2): mesmo que as aces

    no sejam instauradas entre as mesmas partes

    De acordo com o artigo 19., n. 2, quando so instauradas em tribunais de Estados-

    Membros diferentes aces relativas responsabilidade parental em relao uma criana,

    que tenham o mesmo pedido [o fim da aco] e a mesma causa de pedir [os factos e as

    normas invocadas como fundamento da aco], o tribunal em que o processo foi instaurado

    em segundo lugar suspende oficiosamente a instncia at que seja estabelecida a competncia

    do tribunal em que o processo foi instaurado em primeiro lugar.

    Para alm disto, o artigo 19., n. 3, prescreve que, quando estiver estabelecida a

    competncia do tribunal em que o processo foi instaurado em primeiro lugar, o tribunal em

    que o processo foi instaurado em segundo lugar dever declarar-se incompetente a favor

    daquele.

    Neste caso, o processo instaurado no segundo tribunal poder ser submetida pelo

    requerente apreciao do tribunal em que a aco foi instaurada em primeiro lugar.

    Note-se ainda que o tribunal onde a litispendncia invocada dever procurar informar-

    se, directamente ou atravs da Autoridade Central, sobre o processo que supostamente foi

    iniciado em primeiro lugar.

    Por outra banda, indiferente que o primeiro tribunal tenha fundado a sua competncia

    nas regras de competncia do Regulamento ou nas competncias residuais previstas no artigo

    14..

    7.2. Transferncia para um tribunal melhor colocado para apreciar a aco (artigo

    15.): uma flexibilizao do regime da competncia tendo em vista o interesse superior da

    criana

    Excepcionalmente, os tribunais de um Estado-Membro competentes para conhecer do

    mrito, se considerarem que um tribunal de outro Estado-Membro, com o qual a criana tenha

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    uma ligao particular, se encontra melhor colocado para conhecer do processo ou de alguns

    dos seus aspectos especficos, e se tal servir o superior interesse da criana, podem

    alternativamente:

    b) Suspender a instncia em relao totalidade ou a parte do processo em questo

    e convidar as partes a apresentarem um pedido ao tribunal desse outro Estado-

    Membro, nos termos do n. 4.

    Se for este o caso, o tribunal do Estado-Membro competente para conhecer do mrito

    deve fixar um prazo para ser instaurado o processo nos tribunais do outro Estado-Membro,

    nos termos do n. 1. Se no tiver sido instaurado um processo dentro desse prazo, continua a

    ser competente o tribunal em que o processo tenha sido instaurado nos termos dos artigos 8.

    a 14.

    ou

    b) Pedir ao tribunal de outro Estado-Membro que se declare competente nos termos

    do n. 5.

    Aqui, o tribunal desse outro Estado-Membro pode, se tal servir o superior interesse da

    criana, em virtude das circunstncias especficas do caso, declarar-se competente no prazo de

    seis semanas a contar da data em que tiver sido instaurado o processo com base nas alneas a)

    ou b) do n. 1. Nesse caso, o tribunal em que o processo tenha sido instaurado em primeiro

    lugar renunciar sua competncia. No caso contrrio, o tribunal em que o processo tenha

    sido instaurado em primeiro lugar continuar a ser competente, nos termos dos artigos 8. a

    14..

    Assim, a transferncia ser possvel a pedido de uma das partes, por iniciativa do

    tribunal competente ou a pedido do tribunal de outro Estado-Membro com o qual a criana

    tenha uma ligao particular, nos termos do n. 3 (o n. 3 define casos em que h a ligao

    particular) (artigo 15., n. 2). Todavia, a transferncia s pode ser efectuada por iniciativa do

    tribunal ou a pedido do tribunal de outro Estado-Membro, se for aceite pelo menos por uma

    das partes.

    Ainda de acordo com o Regulamento (artigo 15., 6), e tendo em vista tal transmisso de

    competncia, os tribunais devero cooperar quer directamente, quer atravs das autoridades

    centrais designadas nos termos do artigo 53..

    8. Medidas provisrias e cautelares (artigo 20.)

    Em caso de urgncia, os tribunais de um qualquer Estado-Membro podero tomar

    medidas provisrias ou cautelares relativas s pessoas ou bens presentes nesse Estado-

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    Membro, e previstas na sua legislao, mesmo que, por fora do regulamento, um tribunal de

    outro Estado-Membro seja competente para conhecer do mrito.

    Todavia, as medidas tomadas por fora do n. 1 tm carcter provisrio: deixam de ter

    efeito quando o tribunal do Estado-Membro competente quanto ao mrito ao abrigo do

    presente regulamento tiver tomado as medidas que considerar adequadas. Alis, tais medidas

    no gozam do regime de reconhecimento previsto no Regulamento (tanto mais que so

    decises provisrias).

    Acresce ainda que, aps aplicao da medida provisria, o tribunal no ser obrigado a

    remeter o processo para tribunal competente, mas, directamente ou por intermdio da

    Autoridade Central, dever informar o tribunal competente do outro Estado.

    9. Outras regras processuais disposies comuns (artigos 17. e 18.)

    Artigo 17. - Verificao da competncia

    O tribunal de um Estado-Membro no qual tenha sido instaurado um processo para o

    qual no tenha competncia nos termos do presente regulamento e para o qual o tribunal de

    outro Estado-Membro seja competente, por fora do presente regulamento, declarar-se-

    oficiosamente incompetente.

    Tambm aqui o tribunal no ser obrigado a remeter o processo para tribunal

    competente. Todavia, directamente ou por intermdio da Autoridade Central, dever informar

    o tribunal competente do outro Estado.

    Artigo 18. - Verificao da admissibilidade

    1. Se um requerido, que tenha a sua residncia habitual num Estado-Membro que no

    aquele em que foi instaurado o processo, no comparecer, o tribunal competente deve

    suspender a instncia enquanto no se estabelecer que o requerido foi devidamente

    notificado do acto introdutrio da instncia, ou acto equivalente, a tempo de deduzir a sua

    defesa, ou que foram efectuadas todas as diligncias nesse sentido.

    2. aplicvel o artigo 19.o do Regulamento (CE) n. 1348/2000, em lugar do n. 1 do

    presente artigo, se o acto introdutrio da instncia, ou acto equivalente, tiver de ser

    transmitido de um Estado-Membro para outro, nos termos do referido regulamento.

    3. Se o disposto no Regulamento (CE) n. 1348/2000 no for aplicvel, ento aplicvel

    o artigo 15. da Conveno de Haia, de 15 de Novembro de 1965, relativa citao e

    notificao no estrangeiro dos actos judiciais e extrajudiciais em matria civil ou comercial, se

  • 32

    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    o acto introdutrio da instncia, ou acto equivalente, tiver de ser enviado para o estrangeiro,

    em aplicao da referida conveno.

    III

    O Regulamento Bruxelas II bis Reconhecimento e execuo de decises

    10. O regime geral do reconhecimento e execuo das decises estrangeiras

    10.1. Noo de deciso: uma condio de reconhecimento ao abrigo do Regulamento

    O Regulamento aplicvel s decises judiciais, independentemente da sua designao

    (acrdo, sentena, despacho judicial, etc.) (cf. o artigo 2., n. 4).

    Contudo, no se cinge s decises proferidas pelos tribunais, valendo igualmente para

    qualquer deciso de uma autoridade com competncia nas matrias abrangidas pelo mbito

    de aplicao do Regulamento (por exemplo, os servios sociais) (cf. artigo 2., n. 1).

    Por outro lado, tem de se tratar de uma deciso (lato sensu) proferida pelos tribunais

    dos Estados vinculados ao Regulamento, no interessando que os tribunais de origem tenham

    assumido jurisdio ao abrigo das competncias previstas no Regulamento (uma vez que no

    se controla a competncia do tribunal de origem, nos termos do artigo 24.).

    A deciso revidenda no ter de versar sobre situaes heterogneas: ou seja, e ao

    contrrio das regras sobre competncia, no ter de incidir sobre litgios trans-fronteirios.

    Todavia, ter de dizer respeito a matrias que caibam no mbito de aplicao material

    do Regulamento.

    Ao contrrio do que acontece com o regime interno de reconhecimento previsto no

    Cdigo de Processo Civil, as decises no tm de ter transitado em julgado (basta que sejam

    definitivas, isto , no provisrias), embora ao abrigo do artigo 27. se possa no Estado

    requerido suspender a instncia se a deciso tiver sido objecto de recurso ordinrio no seu

    pas de origem. De acordo com a jurisprudncia comunitria, entende-se por recurso

    ordinrio: *t+odo o recurso que faz parte do curso normal de um processo e que, enquanto

    tal, constitui um desenvolvimento processual com que qualquer uma das partes deve contar

    razoavelmente (logo, intimamente ligado fixao de um prazo).

    Por fim, tambm os actos autnticos e acordos particulares, desde que tenham fora

    executria no Estado onde foram exarados ou celebrados, podero ser reconhecidos ao abrigo

    do Regulamento (artigo 46.).

    10.2. Reconhecimento: a susceptibilidade de uma sentena estrangeira produzir

    internamente os seus efeitos jurisdicionais tpicos: caso julgado e efeito executivo)

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    Em matria de reconhecimento, o Regulamento garante o reconhecimento automtico

    de qualquer deciso sem necessidade de um procedimento intermdio e restringe os

    fundamentos de recusa de eficcia s decises estrangeiras.

    Efectivamente, o artigo 21, 1 determina que as decises proferidas num Estado-

    Membro so reconhecidas nos outros Estados-Membros, sem quaisquer formalidades

    (reconhecimento automtico).

    Mas o facto de o reconhecimento ser automtico no abrange a incontestabilidadade da

    deciso estrangeira nem necessariamente o seu carcter executrio (Ver adiante a oposio ao

    reconhecimento e /ou execuo).

    De qualquer forma, nos termos do artigo 31., n. 2., o pedido de reconhecimento s

    pode ser indeferido por um dos motivos taxativamente previstos no artigo 23. (fundamentos

    de no reconhecimento de decises em matria de responsabilidade parental).

    O Regulamento prescreve ainda a proibio da reviso quanto ao mrito (artigo 26.): o

    controlo meramente formal. Todavia, e no que respeita s responsabilidades parentais, caso

    exista alterao de circunstncias e as autoridades do Estado requerido tenham competncia,

    nada obsta a que seja proferida uma nova deciso.

    Tendo em vista facilitar a circulao das decises, o artigo 24. determina que no se

    pode proceder ao controlo da competncia do tribunal do Estado-Membro de origem, no

    podendo o critrio de ordem pblica, referido na alnea a) do artigo 23., n pode ser aplicado

    s regras de competncia enunciadas no artigo 14. (competncias residuais). Assim, e salvo

    casos extremos e mesmo aqui tal possibilidade discutvel , a competncia fundada em

    fraude s pode ser sancionada pelo tribunal de origem; por outro lado, a proibio de controlo

    existe mesmo que a deciso tenha sido proferida ao abrigo das competncias residuais do

    artigo 14. (ou seja, vale mesmo para as decises proferidas ao abrigo das regras internas de

    competncia internacional).

    No que respeita s modalidades de reconhecimento, podemos ter:

    Reconhecimento ou no reconhecimento a ttulo principal (artigo 21., n. 3)

    Reconhecimento invocado a titulo incidental, seja como excepo de caso julgado,

    seja na deciso de uma questo prvia noutro processo (artigo 21., n. 4; mas, em

    conformidade com o artigo 96., 2, CPC, no abrangido pelo caso julgado).

    Efectivamente, embora o reconhecimento seja automtico, nada obsta a que qualquer

    parte interessada possa requerer (a ttulo principal), nos termos dos procedimentos previstos

    na seco 2 do Captulo III (ou seja, o disposto para a declarao de executoriedade), o

    reconhecimento ou o no reconhecimento da deciso (artigo 21., n. 3). Assim, a tramitao

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    do pedido do reconhecimento ou no reconhecimento seguir o previsto para a declarao de

    executoriedade (artigo 21., n. 3).

    No que concerne ao reconhecimento principal, o tribunal competente ser o Tribunal

    de Comarca ou o Tribunal de Famlia e Menores, mas a competncia territorial ser definida

    pela lei do Estado requerido (artigo 21., n. 3, 2), ao contrrio do que acontece, por fora do

    artigo 29., para a declarao de executoriedade.

    Quanto ao pedido de no reconhecimento, qualquer parte interessada pode pedir o

    no reconhecimento de uma deciso judicial mesmo que no tenha sido previamente

    apresentado um pedido de reconhecimento dessa mesma deciso.

    Todavia, nesta hiptese haver lugar ao direito de contraditrio. Assim, no caso Inga

    Rinau, escreveu-se que: O artigo 31., n. 1, do Regulamento (CE) n. 2201/2003, na medida

    em que prev que nem a pessoa contra a qual pedida a execuo nem o menor podem,

    nessa fase do processo, apresentar observaes, no aplicvel a um processo de no

    reconhecimento de uma deciso judicial instaurado sem que tenha sido previamente

    apresentado um pedido de reconhecimento dessa mesma deciso. Nessa situao, a parte

    demandada, que pede o reconhecimento da deciso, pode apresentar observaes.

    Seja como for, no se pode pedir o no reconhecimento nos casos previstos pelos

    artigos 41., n. 1 (direito de visita) e 42., n. 1 (deciso que exija regresso de criana

    deslocada ou retida ilicitamente), isto , nos casos em que as decises so certificadas com

    fora executria.

    10.3. Declarao de executoriedade a atribuio de fora executiva s decises

    relativas s responsabilidades parentais depende de um processo prvio.

    Se, em princpio, no que toca matria matrimonial suficiente o reconhecimento, no

    se colocando questes de execuo (note-se, todavia, o artigo 49.), o mesmo j no acontece

    quanto s decises relativas s responsabilidades parentais. Aqui, impe-se a declarao de

    executoriedade devido ao contedo executivo das decises relativas s responsabilidades

    parentais. Ora, a declarao de executoriedade acabar por consumir a utilidade de um pedido

    de reconhecimento.

    A possibilidade de um acto ser declarado executrio ao abrigo do Bruxelas IIbis depende

    das seguintes condies (artigo 28.):

    existncia de uma deciso (tambm isto condio de reconhecimento);

    proferida dentro do mbito de aplicao ratione materiae do Regulamento (tambm

    isto condio de reconhecimento);

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    com fora executria no Estado-Membro de origem;

    tenha sido notificadas aos interessados.

    Todavia, no exigvel que a deciso haja transitado em julgado; por isso, pode haver a

    suspenso da instncia se tiver havido recurso ou ainda no tiver decorrido prazo para o

    interpor (artigo 35.). Certos autores (v.g., Lus de Lima Pinheiro) acham esta norma criticvel,

    pois a suspenso tem de ser pedida pela parte contra quem requerida a execuo,

    defendendo antes que em matria de menores deveria haver sempre essa suspenso.

    Refira-se, ainda, que a execuo propriamente dita regida pelo direito interno (artigo

    47.). Ainda assim, essencial que as autoridades nacionais apliquem normas que garantam

    uma execuo rpida e eficaz das decises proferidas ao abrigo do Regulamento de modo a

    no prejudicar os seus objectivos. Estas consideraes so sobretudo vlidas no que diz

    respeito ao direito de visita e ao regresso das crianas deslocadas ou retidas ilicitamente, casos

    em que o procedimento de exequatur foi suprimido para tornar o procedimento mais rpido.

    Qualquer parte interessada pode iniciar procedimento de exequatur, designadamente,

    o titular da responsabilidade parental, filho ou MP (este tambm uma parte interessada).

    Se for solicitado o exequatur, a pessoa pode beneficiar de assistncia judiciria se tiver

    beneficiado da mesma no Estado-Membro de origem (artigo 50.). O requerente pode

    igualmente ser assistido pelas autoridades centrais, as quais devem prestar informaes e

    assistncia aos titulares da responsabilidade parental que pretendam obter o reconhecimento

    e a execuo de uma deciso em matria de responsabilidade parental noutro Estado-Membro

    (alnea b) do artigo 55.).

    No que respeita competncia, a declarao de executoriedade ser requerida entre

    ns junto do Tribunal de Comarca ou do Tribunal de Famlia e Menores. Os tribunais

    designados pelos Estados-Membros para este efeito so indicados na Lista I das Informaes

    prestadas em cumprimento do artigo 68.).Por outro lado, a competncia territorial funda-se

    na residncia habitual da parte contra a qual a execuo requerida ou pelo lugar da

    residncia habitual da criana (artigo 29., 1 e 29, n. 2); ou, quando no for possvel encontrar

    no Estado-Membro requerido nenhum dos referidos lugares de residncia, o tribunal

    territorialmente competente determinado pelo lugar da execuo.

    O processo de declarao de executoriedade um processo no contraditrio (artigo

    31.), devendo o tribunal requerido declarar sem demora que a deciso executria nesse

    Estado-Membro. Nem a pessoa contra a qual a execuo requerida, nem a criana, tem a

    possibilidade de apresentar observaes ao tribunal.

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    Porm, ao contrrio daquilo que acontece no Bruxelas I (O Regulamento (CE) n.

    44/2001), o juiz pode indeferir o pedido por um dos motivos previstos no artigos 23. (cf.

    artigo 31., 2).

    Por outro lado, da declarao de executoriedade, ou da sua recusa, h recurso para o

    Tribunal da Relao (artigo 33.) e depois, cingido matria de direito, para o Supremo

    Tribunal de Justia (artigo 34.). Nesta fase do processo, ambas as partes podem apresentar

    observaes ao tribunal. (processo contraditrio)

    Finalmente, a atribuio de fora executiva poder ser apenas parcial (artigo 36.).

    11. Os fundamentos de oposio ao reconhecimento e execuo

    As condies de reconhecimento das decises estrangeiras so definidas de uma forma

    negativa, ou seja, enquanto fundamentos de oposio ao reconhecimento e execuo.

    De acordo com a jurisprudncia do Tribunal de Justia j plasmada relativamente

    Conveno de Bruxelas, as normas relativas aos fundamentos do no reconhecimento devem

    ser interpretadas restritivamente, uma vez que comprometem a realizao dos objectivos da

    integrao europeia.

    Os fundamentos de no reconhecimento so em geral de conhecimento oficioso (artigo

    31., n. 2). Todavia, no que toca ao 23., alnea d), este fundamento dever ser invocado pelo

    interessado.

    Nos termos do artigo 23., e no que toca s responsabilidades parentais, o tribunal pode

    recusar o reconhecimento ou a declarao de executoriedade nos seguintes casos:

    se tal for manifestamente contrrio ordem pblica do Estado-Membro requerido,

    tendo em conta o interesse da criana (cf. artigo 24);

    se, excepto em caso de urgncia, a criana no tenha tido oportunidade de ser

    ouvida, em violao das regras processuais do Estado-membro requerido;

    se a deciso tiver sido proferida revelia da parte que no tiver sido citada ou

    notificada do acto introdutrio da instncia em tempo til e de forma a poder

    deduzir a sua defesa, excepto se estiver estabelecido que essa pessoa aceitou a

    deciso de forma inequvoca;

    se a pessoa que alega que a deciso obsta ao exerccio da sua responsabilidade

    parental no tiver tido a oportunidade de ser ouvida (falta de audio de pessoa

    interessada);

    se a deciso for incompatvel com uma deciso posterior (do Estado requerido ou do

    Estado da residncia habitual da criana, quer seja um Estado-Membro ou no),

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    segundo as condies previstas nas alneas e) e f) do artigo 23., pois face natureza

    precria e modificvel das decises sobre as responsabilidades parentais, admite-se

    que uma deciso anterior tenha sido modificada pela deciso cujo reconhecimento

    se pretende.

    em caso de colocao da criana noutro Estado-Membro, se no tiver sido respeitado

    o procedimento previsto no artigo 56. (Colocao da criana noutro Estado-

    Membro).

    12. Casos de supresso do exequatur (artigo 40 ss.)

    Contudo, existem duas excepes em que o Regulamento dispensa este procedimento e

    a deciso reconhecida e goza de fora executria noutros Estados-Membros sem

    necessidade de qualquer outro procedimento. H assim uma supresso do exequatur

    mediante certificao.

    Tais excepes dizem respeito s decises relativas ao direito de visita e s que ordenem

    o regresso de uma criana deslocada ilicitamente para o estrangeiro ou/e a ilicitamente

    retida.

    A supresso do exequatur implica que o interessado possa requerer que a deciso seja

    reconhecida e executada noutro Estado-Membro sem necessidade de um procedimento

    intermdio (exequatur). Alm disso, a outra parte no pode contestar o reconhecimento da

    deciso. Por conseguinte, os fundamentos do no-reconhecimento indicados no artigo 23.

    no podem fundar uma oposio ao reconhecimento ou execuo dessas decises.

    De qualquer modo, trata-se de um regime facultativo, nada impedindo que o titular das

    responsabilidades parentais requeira o reconhecimento e execuo das decises a elas

    relativas nos termos gerais (cf. artigo 40., n- 2).

    12.1. Supresso do exequatur: a deciso que ordene regresso da criana na sequncia

    de uma deslocao ilegal (artigo 42.)

    Em termos gerais, determina-se que qualquer deciso que ordene o regresso da criana

    deslocada ou retida ilicitamente no estrangeiro (cf. o artigo 2., n. 11), proferida em

    conformidade com as disposies do Regulamento, ser automaticamente reconhecida e

    executada em todos os Estados-Membros sem que seja necessrio recorrer a outro

    procedimento (supresso do exequatur).

    Isto s acontecer, todavia, se a deciso for acompanhada de uma certido, exarada de

    acordo com os modelos de certido respeitantes ao direito de visita e ao regresso da criana

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    (respectivamente, anexo III e anexo IV). Tal certido, emitida para facilitar a execuo da

    deciso, no susceptvel de recurso, conquanto seja possvel iniciar uma aco de

    rectificao quando aquela no reflicta correctamente o contedo da deciso. Os pressupostos

    da referida certificao vm elencados no artigo 42., n. 2.

    Do regime sancionado nos artigos 10., 11., 40., 42. e 55. resulta ainda em matria

    de rapto de crianas que a Conveno da Haia de 25 Outubro de 1980 sobre os aspectos civis

    do rapto internacional de crianas (Conveno da Haia de 1980), ratificada por todos os

    Estados-Membros, continuar a ser aplicada nas relaes entre estes Estados da Unio.

    Contudo, a Conveno da Haia de 1980 completada por algumas disposies do

    Regulamento, que so aplicveis nos casos de rapto da criana entre Estados-Membros. Assim,

    as disposies do Regulamento prevalecem sobre as disposies da Conveno nas relaes

    entre Estados-Membros em matrias abrangidas pelo Regulamento.

    Efectivamente, o Regulamento pretendeu desencorajar o rapto da criana pelos

    progenitores entre Estados-Membros e, no obstante, se tal suceder, garantir um regresso

    rpido da criana ao seu Estado-Membro de origem.

    Quando uma criana deslocada ilicitamente de um Estado-Membro (o Estado-

    Membro de origem) para outro Estado-Membro (o Estado-Membro requerido), o

    Regulamento garante que o tribunal do Estado-Membro de origem mantenha a sua

    competncia para decidir sobre a questo da guarda, no obstante o rapto. Quando um

    pedido destinado a obter o regresso da criana apresentado ao Estado-Membro requerido,

    este aplica a Conveno da Haia de 1980, completada pelas disposies do Regulamento.

    Se o tribunal do Estado-Membro requerido decidir que a criana no deve regressar,

    transmitir imediatamente uma cpia da sua deciso ao tribunal competente do Estado-

    Membro de origem. Este tribunal pode examinar a questo da guarda a pedido de uma das

    partes.

    Se o tribunal decidir no sentido do regresso da criana, tal deciso directamente

    reconhecida e goza de fora executria no Estado-Membro requerido sem necessidade do

    exequatur.

    Por conseguinte, os princpios fundamentais que presidem ao regime do rapto

    internacional plasmado no Regulamento so os seguintes:

    1. A competncia internacional continua a pertencer aos tribunais do Estado-Membro

    de origem, mau grado o facto de o menor se encontrar (ilicitamente) retido no estrangeiro;

    2. Os tribunais do Estado-Membro requerido devem garantir o rpido regresso da

    criana;

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    3. Se o tribunal do Estado-Membro requerido proferir uma deciso de reteno da

    criana, deve enviar uma cpia dessa deciso ao tribunal competente do Estado-Membro de

    origem, o qual notificar as partes. Os dois tribunais devem cooperar entre si;

    4. Se o tribunal do Estado-Membro de origem decidir que a criana deve regressar, o

    exequatur no necessrio e a deciso directamente executria no Estado-Membro

    requerido;

    5. As autoridades centrais do Estado-Membro de origem e do Estado-Membro requerido

    devem cooperar e prestar assistncia aos tribunais no cumprimento da sua misso.

    Como observao geral, oportuno ainda recordar que a complexidade e a natureza das

    questes abordadas nos vrios instrumentos internacionais em matria de rapto de crianas

    requerem juzes especializados ou de elevada competncia. Embora a organizao dos

    tribunais no seja abrangida pelo mbito do Regulamento, as experincias dos Estados-

    Membros que procederam concentrao da competncia para apreciar casos abrangidos

    pela Conveno da Haia de 1980 num nmero limitado de tribunais ou juzes so positivas e

    revelam um aumento da qualidade e da eficcia.

    No caso Rinau, o Tribunal de Justia disse ainda que depois de uma deciso de reteno

    ter sido proferida e levada ao conhecimento do tribunal de origem, irrelevante, para efeitos

    da emisso da certido prevista no artigo 42. do Regulamento (CE) n. 2201/2003 do

    Conselho, de 27 de Novembro de 2003, relativo competncia, ao reconhecimento e

    execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e

    que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000, que essa deciso tenha sido suspensa,

    revogada, anulada ou, por qualquer razo, no tenha transitado em julgado ou tenha sido

    substituda por uma deciso de regresso, desde que o regresso do menor no tenha

    efectivamente tido lugar. Se no tiverem sido manifestadas dvidas relativamente

    autenticidade dessa certido e esta tiver sido emitida em conformidade com o formulrio cujo

    modelo figura no anexo IV do Regulamento, a oposio ao reconhecimento da deciso de

    regresso proibida, incumbindo to-s ao tribunal requerido declarar a executoriedade da

    deciso certificada e providenciar pelo regresso imediato do menor.

    12.2. Supresso do exequatur: as disposies em matria de direito de visita (artigo

    41.)

    Um dos principais objectivos do Regulamento o de promover o contacto da criana

    com todos os titulares das responsabilidades parentais, mormente aps a separao dos pais e

    mesmo que estes vivam em diferentes Estados-Membros.

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    Para o efeito, o Regulamento facilita o exerccio do direito de visita transfronteirio

    garantindo que uma deciso nesta matria proferida num Estado-Membro seja directamente

    reconhecida e executria noutro Estado-Membro desde que acompanhada de uma certido

    (artigos 40. e 41.).

    Acresce ainda que o direito de visita inclui, nomeadamente, o direito de levar uma

    criana, por um perodo limitado, para um lugar diferente do da sua residncia habitual (artigo

    2., n. 10). O direito de acesso abarca todas as formas de contacto entre a criana e a outra

    pessoa, incluindo, por exemplo, o contacto por telefone ou por correio electrnico. Por outro

    lado, este regime ser aplicvel independentemente de quem seja o beneficirio do direito de

    visita. Em conformidade com o direito nacional, o direito de visita poder ser atribudo ao

    progenitor com o qual a criana no reside, mas tambm a qualquer outro membro da famlia,

    nomeadamente os avs ou terceiros. Finalmente, as novas normas em matria de

    reconhecimento e execuo apenas so aplicveis s decises que concedem um direito de

    visita; ao invs, as decises que recusem um pedido de direito de visita (decises negativas)

    sero reguladas pelas disposies gerais em matria de reconhecimento.

    semelhana da hiptese anterior, o impacto deste novo regime tambm nas

    decises relativas ao direito de vista duplo: (a) deixou de ser necessrio o exequatur ; (b) no

    possvel contestar o reconhecimento da deciso (cf. artigos 41., n. 1 e 45.). Por conseguinte,

    os fundamentos do no-reconhecimento indicados no artigo 23. no se aplicam a estas

    decises. Assim, a parte que requer a execuo da deciso em matria de direito de visita

    noutro Estado-Membro ter apenas de apresentar uma cpia da deciso e a referida certido.

    Alis, no necessrio traduzir a certido, com excepo do disposto no ponto 12 do Anexo III

    relativo s disposies em matria de exerccio do direito de visita.

    Todavia, a deciso s poder ser homologada (certificada) no Estado-Membro de origem

    pelo juiz que proferiu a deciso exequenda desde que tenham sido respeitadas algumas

    garantias no decurso da tramitao do processo designadamente:

    a oportunidade de todas as partes implicadas serem ouvidas;

    a audio da criana, excepto se esta for considerada inadequada, atendendo sua

    idade ou grau de maturidade;

    no caso de uma deciso revelia, a parte revel ter sido citada ou notificada do acto

    do introdutrio da instncia, em tempo til e de forma a poder deduzir a sua defesa,

    ou, se tiver sido citada ou notificada sem observncia dessas condies, se estiver

    estabelecido que essa pessoa aceitou a deciso de forma inequvoca.

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    Note-se ainda que o juiz de origem dever emitir a certido utilizando o formulrio

    constante do Anexo III na lngua do processo.

    A certido, para alm de indicar que as garantias processuais acima mencionadas foram

    respeitadas, compreender igualmente informaes de natureza prtica destinadas a facilitar

    a execuo da deciso (por exemplo, os nomes e as moradas dos titulares da responsabilidade

    parental e da criana em causa, eventuais acordos prticos sobre o exerccio do direito de

    visita, eventuais obrigaes especficas do titular do direito de visita ou do outro progenitor e

    eventuais restries associadas ao exerccio do direito de visita). Todas as obrigaes

    mencionadas na certido respeitantes ao direito de visita sero, em princpio, directamente

    executrias nos termos das novas disposies. Se as garantias processuais no tiverem sido

    respeitadas, a deciso no poder ser directamente reconhecida e declarada executria

    noutro Estado-Membro, devendo as partes requerer, para este efeito, o procedimento de

    exequatur.

    Alm disso, embora o Regulamento no o mencione, os juzes podero considerar que

    constituir uma boa prtica incluir na sua deciso uma descrio das razes pelas quais a

    criana no teve a oportunidade de ser ouvida.

    O juiz de origem dever emitir a referida certido se, na data em que a deciso

    proferida, for previsvel que o direito de visita vir a ser provavelmente exercido num contexto

    transfronteirio (artigo 41., n. 1 e 3).

    Na verdade, se, na data em que a deciso proferida, o direito de visita diz respeito a

    uma situao transfronteiria, nomeadamente devido ao facto de um dos progenitores residir

    ou pretender mudar para outro Estado-Membro, o juiz dever emitir a certido por sua

    iniciativa (oficiosamente). Tal s poder acontecer quando a deciso se torne executria,

    mesmo que provisoriamente. Com efeito, as disposies nacionais de muitos Estados-

    Membros estabelecem que as decises em matria de responsabilidade parental so

    executrias, sem prejuzo de um eventual recurso (prevenindo-se assim que recursos

    dilatrios atrasem indevidamente a execuo de uma deciso). Contrariamente, se o direito

    nacional no permitir que se execute uma deciso enquanto estiver pendente um recurso

    contra ela, o Regulamento confere esta faculdade ao juiz de origem, no devendo ser emitida

    a mencionada certificao.

    Se, pelo contrrio, na data em que a deciso proferida, nada indica que o direito de

    visita ser exercido fora do contexto nacional, o juiz no obrigado a emitir a certido.

    Todavia, se as circunstncias do processo indicarem que existe uma possibilidade efectiva ou

    potencial de que o direito de visita apresente um carcter transfronteirio, poder ser avisado

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    O Regulamento Bruxelas IIbis [Regulamento (CE) 2201/2003, do Conselho, de 27 de Novembro de 2003,

    relativo competncia, ao reconhecimento e execuo de decises em matria matrimonial e em matria de responsabilidade parental e que revoga o Regulamento (CE) n. 1347/2000]

    emitir a certido em simultneo com a deciso. Tal poder acontecer, por exemplo, quando o

    tribunal em questo se localiza perto da fronteira de outro Estado-Membro ou quando os

    titulares da responsabilidade parental tm diferentes nacionalidades. Se o caso adquirir um

    carcter internacional apenas posteriormente, por exemplo quando um dos titulares da

    responsabilidade parental se transfere para outro Estado-Membro, qualquer das partes pode

    nesse momento requerer ao tribunal de origem que proferiu a deciso para emitir uma

    certido.

    No possvel apresentar um recurso contra a certido. Porm, se o juiz de origem

    cometeu um erro no preenchimento da certido e esta no reflecte correctamente o contedo

    da deciso, possvel requerer a sua rectificao ao tribunal de origem. Neste caso, ser

    aplicvel a lei do Estado-Membro de origem (artigo 43.).

    J antes dissemos que nas decises relativas ao direito de visita que hajam sido

    certificadas nos termos regulamentares houve a supresso da necessidade de uma prvia

    declarao de executoriedade. Acresce ainda que, por fora dos artigos 44. e 47., a certido

    garante que a deciso seja considerada noutro Estado-Membro, para efeitos de

    reconhecimento e execuo, como uma deciso proferida nesse Estado. Verdadeiramente, o

    facto de uma deciso ser directamente reconhecida e gozar de fora executria noutro Estado-

    Membro significa que dever ser tratada como uma deciso "nacional" e ser reconhecida e

    executada ao abrigo das mesmas condies aplicveis a uma deciso proferida nesse Estado-

    Membro. Por isso, se uma parte no cumprir uma deciso em matria de direito de visita, a

    outra parte poder requerer directamente s autoridades no Estado-Membro de execuo que

    a execute. Porm, o procedimento de execuo no disciplinado pelo Regulamento, mas

    pelo direito nacional.

    O artigo 48.