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DIREITO CONSTITUCIONAL PODER LEGISLATIVO PODER LEGISLATIVO O título IV da Constituição da República trata da Organização dos Poderes. Todo e qualquer Poder do Estado deve ser estudado sob dois ângulos, um orgânico (estrutura do poder) e um funcional (funcionamento do poder). O capítulo I, do Título IV, trata do Poder Legislativo. Pelo fato de o Estado Brasileiro ser tipicamente federal, o Poder Legislativo tem uma estrutura bicameral. Há duas casas legislativas: uma chamada CÂMARA DOS DEPUTADOS e outra chamada de SENADO FEDERAL. São4 diferenças fundamentais entre essas casas: C ÂMARA DOS D EPUTADOS A Câmara dos Deputados é órgão legislativo popular. A Câmara é a casa legislativa formada pelas pessoas que são consideradas representantes do povo. Os componentes da Câmara são eleitos pelo sistema eleitoral proporcional. Por esse sistema, o cargo público político não é atribuído pelo número de votos, mas sim pela força política do partido. 1

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

PODER LEGISLATIVO

O título IV da Constituição da República trata da

Organização dos Poderes.

Todo e qualquer Poder do Estado deve ser estudado sob

dois ângulos, um orgânico (estrutura do poder) e um funcional

(funcionamento do poder).

O capítulo I, do Título IV, trata do Poder

Legislativo.

Pelo fato de o Estado Brasileiro ser tipicamente

federal, o Poder Legislativo tem uma estrutura bicameral. Há duas

casas legislativas: uma chamada CÂMARA DOS DEPUTADOS e outra chamada de

SENADO FEDERAL.

São4 diferenças fundamentais entre essas casas:

CÂMARA DOS DEPUTADOS

A Câmara dos Deputados é órgão legislativo popular. A Câmara é a casa legislativa formada pelas pessoas que são consideradas representantes do povo.

Os componentes da Câmara são eleitos pelo sistema eleitoral proporcional. Por esse sistema, o cargo público político não é atribuído pelo número de votos, mas sim pela força política do partido.

Todo o sistema proporcional gira em torno do chamado

coeficiente eleitoral. Para eleger um deputado, é

necessário que, primeiramente, se verifique a quantidade

de votos válidos totais. Posteriormente, deve-se apurar o

número total de votos atribuído ao partido (exemplo, o PT

teve 1 milhão de votos).

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

Para saber se o deputado foi eleito, é necessário

estabelecer o coeficiente eleitoral, que é o resultado do

número total de votos válidos dividido pelo número total

de cargos a serem preenchidos.

Depois, devem ser verificados quantos votos o partido

obteve. O partido elegerá tantos candidatos quanto o

número de vezes que atingiu o coeficiente eleitoral.

Exemplo:

Número total de votos válidos = 1.000.000 de votos

Número total de cargos a serem preenchidos = 10 cargos

Coeficiente Eleitoral: 1.000.000/10

Coeficiente Eleitoral = 100.000 votos

Votos obtidos pelo partido = 215.000 votos

Candidatos eleitos = 2 candidatos mais votados do partido,

independentemente do número de votos obtido por cada um

(um dos candidatos pode ter obtido 195.000 votos e o

outro apenas 20.000, mas os dois serão eleitos)

Concluindo, a eleição se dá em duas escalas:

1.º. divide-se o total de votos válido pelo total de cargos

em disputa, sendo que o resultado dessa operação chama-se

COEFICIENTE ELEITORAL;

2.º. o partido elegerá tantos candidatos quanto o número de

vezes que atingiu o coeficiente.

Isso demonstra que o nosso sistema eleitoral é um sistema

completamente disforme, porque elege a pessoa em razão da

força do partido, contudo, durante o exercício do mandato

a pessoa eleita não é exigida a fidelidade partidária. Ou

seja, a pessoa é eleita em função do partido, mas durante

o seu mandato não há fidelidade com ele.

O mandato é de 4 (quatro) anos;

O número de deputados varia proporcionalmente entre 8 e 70, perfazendo o total de 513 deputados.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

Po r ta n to , a C â ma ra do s Dep u ta do s s i gn ifi ca o ó rgã o de rep res en ta ç ã o do po vo , o u s e ja , de re p re sen t a çã o po pu l a r , o n de o s s eu s c o mpo n en te s s ã o e le i to s pe lo s i s t ema e l e i t o ra l p ro po r c io n a l pa ra u m m a nd a to de 0 4 a n o s , a o n de o n ú me ro d e de pu ta do s va r i a en t re 0 8 e 70 , p e r f a z en do o n ú mer o t o ta l de 51 3 d epu ta d o s .

SENADO FEDERAL

Órgão Legislativo Federativo. Não é órgão de representação do povo, mas sim dos Estados e do Distrito Federal. Os seus membros não visam a representar uma classe de pessoas, mas sim o seu Estado como um todo.

Os senadores são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário, ou seja, são eleitos conforme o número de votos obtidos. É exigida, para a eleição para o Senado Federal, a maioria simples e não a maioria absoluta, como exigido para o Presidente da República e Governadores. Não há 2º turno para eleição para o Senado.

O mandato dos senadores é de 08 anos, ocorrendo a renovação parcial de 04 em 04 anos. O Senado, nesse período, é renovado alternativamente em 1/3 e em 2/3. Em uma eleição se elege, para cada Estado, 1 senador e, na eleição seguinte, se elegerá 2 senadores e assim sucessivamente.

O número de senadores não é proporcional à população do Estado. Todo Estado tem 3 senadores, perfazendo um total de 81 senadores.

CONCLUSÃO

O Poder Legislativo brasileiro, que é bicameral,

possui 2 Casas Legislativas que têm as seguintes características

fundamentais:

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

C Â M A R A D O S D E P U T A D O S S E N A D O F E D E R A L

NATUREZA Órgão de representação do povo Órgão de representação federativo

FORMA DE ELEIÇÃO Sistema eleitoral proporcional Sistema eleitoral majoritário

MANDATO 4 anos, com renovação integral 8 anos, com renovação parcial de 4 em 4 anos (1/3 e 2/3 alternativamente).

MEMBROS Proporcional, variando de 08 a 70 por estado de acordo com a população do Estado, perfazendo um total de 513 deputados

Paritária, sendo 3 senadores por cada estado, perfazendo um total de 81 senadores

ESTRUTURA INTERNA DAS CASAS LEGISLATIVAS

Cada casa do Congresso é formada, basicamente, por 4

tipos de órgãos:

Mesa - que é o órgão de direção da Casa;

Comissão – pode ser de dois tipos: permanentes ou temporárias, conforme se destinem a se perfazer no tempo ou não. As comissões

temporárias se dividem em Especiais, Externas e de Inquérito.

As comissões permanentes são também chamadas de comissões temáticas, que são as comissões de Saúde, Orçamento, Educação, etc.

As comissões temporárias são as comissões que são transitórias e se subdividem em três subespécies: Especiais, Externas e de

Inquérito.

As comissões especiais são as comissões que são criadas para

avaliar Propostas de Emendas à Constituição ou Projetos de Leis

afetos a 3 ou mais comissões permanentes. Sempre que uma PEC ou

um PL seja afeto a 3 ou mais comissões temáticas, deverá ser

criada uma comissão especial também para sua análise.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

As deverão ser analisadas pelas comissões especiais criadas

especialmente para esse fim, além da análise pelas comissões

temáticas pertinentes.

A comissão externa é toda e qualquer comissão destinada a uma missão externa. Sempre que houver uma missão externa à Casa,

haverá a constituição de uma comissão para tal fim.

A comissão de inquérito é aquela que tem por função básica o

inquérito parlamentar.

Serviço Administrativo ou Auxiliar – se destina a executar todo e qualquer serviço instrumental, que não seja vinculado à função

fim da Casa, mas sim à função meio (ex. limpeza, segurança)

Polícia Parlamentar – corpo policial próprio da Casa para

assegurar a segurança pessoal de seus membros.

Portanto, qualquer uma das casas (Senado ou Câmara) é

formada pela Mesa (que é o órgão de direção da casa), pelas Comissões (temporárias ou permanentes), os Serviços Auxiliares e a Polícia Parlamentar. Essa é a estrutura desse Poder

Questão Prática: Há um problema moderno e atual sobre a Mesa do Congresso Nacional. Uma coisa é Mesa da Câmara,

outra coisa é Mesa do Senado e outra coisa distinta é a

Mesa do Congresso Nacional, que é o órgão que dirige os

trabalhos quando as casas estão reunidas.

A questão é: A QUEM COMPETE A PRESIDÊNCIA DA MESA DO

CONGRESSO NACIONAL DURANTE A LICENÇA DE SEU TITULAR?

A mesa do Congresso Nacional é formada, sempre, a partir

do Presidente do Senado, por cargos equivalentes e

alternados.

Presidência da MCN: Presidente do Senado Federal;

1º Vice Presidente da MCN: 1º Vice Presidente da Câmara

dos Deputados;

2º Vice Presidente da MCN: 2º Vice Presidente do Senado

Federal

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

3º Vice Presidente da MCN: 3º Vice Presidente da Câmara

dos Deputados

Assim, durante a licença do presidente da Mesa do

Congresso Nacional, deve assumir o cargo o 1º Vice

Presidente da Câmara dos Deputados.

A r t . 5 7 , § 5 º , d a C R ’ 8 8 : A M e s a d o C o n g r e s s o N a c i o n a l s e r á p r e s i d i d a p e l o P r e s i d e n t e d o S e n a d o F e d e r a l , e o s d e m a i s c a r g o s s e r ã o e x e r c i d o s , a l t e r n a d a m e n t e , p e l o s o c u p a n t e s d e c a r g o s e q u i v a l e n t e s n a C â m a r a d o s D e p u t a d o s e n o S e n a d o F e d e r a l .

Questão Prática: Qual é o rol de sucessores do

Presidente da República?

O Presidente da República só tem 1 (um) sucessor, que é

o Vice-Presidente. Os presidentes da Câmara, do Senado

e do Supremo são substitutos do Presidente. Eles

compõem o rol dos substitutos, o que é transitório –

art. 79 e 80 da CR’88

A r t . 7 9 ( C R ´ 8 8 ) . S u b s t i t u i r á o P r e s i d e n t e , n o c a s o d e i m p e d i m e n t o , e s u c e d e r - l h e - á , n o d e v a g a , o V i c e -P r e s i d e n t e .

P a r á g r a f o ú n i c o . O V i c e - P r e s i d e n t e d a R e p ú b l i c a , a l é m d e o u t r a s a t r i b u i ç õ e s q u e l h e f o r e m c o n f e r i d a s p o r l e i c o m p l e m e n t a r , a u x i l i a r á o P r e s i d e n t e , s e m p r e q u e f o r p o r e l e c o n v o c a d o p a r a m i s s õ e s e s p e c i a i s .

A r t . 8 0 ( C R ´ 8 8 ) . E m c a s o d e i m p e d i m e n t o d o P r e s i d e n t e e d o V i c e - P r e s i d e n t e , o u v a c â n c i a d o s r e s p e c t i v o s c a r g o s , s e r ã o s u c e s s i v a m e n t e c h a m a d o s a o e x e r c í c i o d a P r e s i d ê n c i a o P r e s i d e n t e d a C â m a r a d o s D e p u t a d o s , o d o S e n a d o F e d e r a l e o d o S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l .

ESTRUTURA FUNCIONAL DAS CASAS LEGISLATIVAS

O Poder Legislativo, em qualquer uma das Casas, tem

três atribuições funcionais específicas: representativa, investigativa

e legislativa.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

A atribuição representativa está ligada à

incorporação de tratados, acordos e convenções internacionais e de

qualquer outro ato internacional à ordem jurídica interna.

Quando o Congresso Nacional aprova um certo tratado,

ele exerce a função representativa.

A atribuição investigatória está ligada ao inquérito parlamentar. O inquérito parlamentar é o modo de manifestação dessa

atribuição.

A atribuição legislativa é ligada ao processo

legislativo.

Atribuição Representativa

Sempre que houver uma pergunta ligada a Tratado

Internacional e a sua forma de incorporação à ordem interna é

importante citar dois artigos da CR’88, quais sejam, o art. 49, I e o

art. 84, VIII.

O procedimento de incorporação de tratados, acordos,

convenções passa pela análise desses dois dispositivos.

A r t . 4 9 , I ( C R ´ 8 8 ) . É d a c o m p e t ê n c i a e x c l u s i v a d o C o n g r e s s o N a c i o n a l :

I – r e s o l v e r d e fi n i t i v a m e n t e s o b r e t r a t a d o s , a c o r d o s o u a t o s i n t e r n a c i o n a i s q u e a c a r r e t e m e n c a r g o s o u c o m p r o m i s s o s g r a v o s o s a o p a t r i m ô n i o n a c i o n a l .

A r t 8 4 , V I I I ( C R ’ 8 8 ) . C o m p e t e p r i v a t i v a m e n t e a o P r e s i d e n t e d a R e p ú b l i c a :

V I I I – c e l e b r a r t r a t a d o s , c o n v e n ç õ e s e a t o s i n t e r n a c i o n a i s , s u j e i t o s a r e f e r e n d o d o C o n g r e s s o N a c i o n a l .

Tais dispositivos indicam que há duas fases distintas

para a incorporação.

A 1a Fase desse procedimento de incorporação é a

celebração de Tratado, pelo Presidente da República, na forma do art.

84, VIII, da CR’88, ou por pessoa designada pelo próprio Presidente.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

A 2a Fase é disciplinada pelo art. 49, I, que trata

da competência do Congresso Nacional para ratificar o tratado celebrado

pelo Presidente. O Tratado só vai se incorporar à ordem jurídica

pátria depois de ratificado pelo Congresso Nacional.

A atribuição representativa do Poder Legislativo

reside, justamente, no art. 49, I, da CR’88, que trata da ratificação

de tratados, acordos e convenções pelo Congresso Nacional.

Questão sobre o Tema

A principal questão que surge a respeito desse tema

reside na indagação sobre o conflito entre as normas dos

tratados e as normas constitucionais, especialmente no

que se refere ao conflito entre normas constitucionais e

normas internacionais pertinentes a direitos humanos.

Qual a norma que prevalece?

A r t . 5 º , L X V I I – N ã o h a v e r á p r i s ã o c i v i l p o r d í v i d a , s a l v o a d o r e s p o n s á v e l p e l o i n a d i m p l e m e n t o v o l u n t á r i o e i n e s c u s á v e l d e o b r i g a ç ã o a l i m e n t a r e a d o d e p o s i t á r i o i n fi e l .

Tal dispositivo disciplina que a prisão civil por dívida

no Brasil, em regra, não é admitida, salvo nos casos de

dívida de alimentos e depositário infiel.

Só que o Brasil, em 1992, ou seja, após a promulgação da

CR’88, ratificou o Pacto de São Jose da Costa Rica que,

no art. 7º, VII, dispõe que não há prisão civil por

dívida, ressalvada a decorrente de obrigação alimentar.

A r t . 7 º , V I I ( P a c t o S ã o J o s é d a C o s t a R i c a ) . N i n g u é m d e v e s e r d e t i d o p o r d í v i d a . E s t e p r i n c í p i o n ã o l i m i t a o s m a n d a d o s d e a u t o r i d a d e s j u d i c i á r i a c o m p e t e n t e e x p e d i d o s e m v i r t u d e d e i n a d i m p l e m e n t o d e o b r i g a ç ã o a l i m e n t a r .

Ou seja, esse Pacto só estabelece exceção quanto à

prisão civil por dívida no caso do alimentante.

A questão é: existe no Brasil a prisão civil por

depositário infiel, depois da ratificação do Pacto de

São José da Costa Rica?

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

Há divergência sobre o assunto, com duas correntes.

A primeira corrente, cujos principais autores é o Min. Francisco Rezek e o Min. Celso Lafer, entende que no

caso de conflito entre normas constitucionais e as

internacionais pertinentes a direitos humanos prevalece

sempre a norma constitucional sob o seguinte fundamento:

A incorporação de norma internacional ao ordenamento

pátrio se dá na forma do art. 49 da CR’88. Qualquer

ato praticado com base em tal dispositivo se reveste

da forma de DECRETO LEGISLATIVO, daí porque quando o

Congresso Nacional ratifica o tratado, ele o faz

através de Decreto Legislativo que terá conteúdo

idêntico ao do Tratado Ratificado. O Decreto

Legislativo tem força de lei na forma do art. 59 da

CR’88.

Assim, se o tratado ingressa na ordem pátria na forma

de Decreto Legislativo que tem força de lei, se o seu

conteúdo divergir da Constituição é evidente que esta

prevalecerá, pois é norma hierarquicamente superior ao

do Tratado. Por isso que tais autores entendem que,

em qualquer caso, mesmo que seja hipótese de direitos

humanos, prevalecerá a norma constitucional, em razão

do princípio da supremacia da Constituição.

É possível, assim, o controle de constitucionalidade

do tratado, ou seja, o controle do decreto legislativo

que o ratifica, pois ambos têm o mesmo teor.

Então, para essa corrente, é admissível a prisão por

dívida de depositário infiel.

A segunda corrente, cujos principais autores são a prof. Flavia Piovesan e o prof. Celso de Albuquerque Mello,

entende que em qualquer hipótese de conflito entre norma

constitucional e norma internacional pertinente a

direitos humanos deverá prevalecer a norma mais

favorável à pessoa humana.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

O fundamento dessa corrente é hoje tido como o epicentro

da ordem jurídica brasileira que é o PRINCÍPIO DA

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Essa corrente desloca a questão do aspecto formal, que é

a origem da norma, para o aspecto material, que é o

conteúdo da norma.

Portanto, para essa corrente, não é admissível a prisão

por dívida do depositário infiel.

Na jurisprudência, o Supremo Tribunal Federal está

pacificado no sentido da primeira corrente, ou seja, que

é cabível a prisão civil do depositário infiel mesmo

após a ratificação do Pacto São José da Costa Rica.

O Superior Tribunal de Justiça tem um único acórdão

(Revista da Emerj n. 18) que se filia à segunda

corrente, não admitindo a prisão civil.

Atribuição Investigativa

A segunda atribuição específica do Congresso Nacional

é a função investigatória, que é ligada ao inquérito parlamentar, à

investigação parlamentar, ou seja, à Comissão Parlamentar de Inquérito.

Comissão Parlamentar de Inquérito

O art. 58, §3º, da CR’88 conceitua o que seria uma

Comissão Parlamentar de Inquérito.

A r t . 5 8 ( C R ´ 8 8 ) . O C o n g r e s s o N a c i o n a l e s u a s C a s a s t e r ã o c o m i s s õ e s p e r m a n e n t e s e t e m p o r á r i a s , c o n s t i t u í d a s n a f o r m a e c o m a s a t r i b u i ç õ e s p r e v i s t a s n o r e s p e c t i v o r e g i m e n t o o u n o a t o d e q u e r e s u l t a r a s u a c r i a ç ã o .

§ 3 º A s c o m i s s õ e s p a r l a m e n t a r e s d e i n q u é r i t o , q u e t e r ã o p o d e r e s d e i n v e s t i g a ç ã o p r ó p r i o s d a s a u t o r i d a d e s j u d i c i a i s , a l é m d e o u t r o s p r e v i s t o s n o s r e g i m e n t o s i n t e r n o s d a s r e s p e c t i v a s C a s a s , s e r ã o c r i a d a s p e l a C â m a r a d o s D e p u t a d o s e p e l o S e n a d o F e d e r a l , e m c o n j u n t o o u s e p a r a d a m e n t e , m e d i a n t e r e q u e r i m e n t o d e u m t e r ç o d e s e u s m e m b r o s , p a r a a a p u r a ç ã o d e f a t o d e t e r m i n a d o e p o r

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

p r a z o c e r t o , s e n d o s u a s c o n c l u s õ e s , s e f o r o c a s o , e n c a m i n h a d a s a o M i n i s t é r i o P ú b l i c o , p a r a q u e p r o m o v a a r e s p o n s a b i l i d a d e c i v i l o u c r i m i n a l d o s i n f r a t o r e s .

Natureza Jurídica

Todo poder é estudado sob dois ângulos, o orgânico e

o funcional. Pelo ângulo orgânico, Comissão Parlamentar de Inquérito é

comissão temporária. Sob o aspecto funcional, a Comissão Parlamentar

de Inquérito exerce um tipo de investigação política administrativa.

A ss im , a n a tu rez a j u r í d i c a da Co m is sã o Pa r l a me n ta r de I nq u ér i to é a de C OMI S SÃ O TE MP OR Á RI A C OM A TR I B U IÇ Ã O DE I NV E S T I G A ÇÃ O P OL ÍT I C O A DM IN I S TR A T I V A .

OBSERVAÇÃO: Toda e qualquer investigação a cargo do poder legislativo pode representar uma dessas duas hipóteses:

investigação orçamentária financeira

investigação política administrativa

A investigação orçamentária financeira é o tipo de investigação a

cargo do Poder Legislativo com o auxílio do Tribunal de Contas.

A investigação política administrativa é o tipo de investigação

que fica a cargo da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Requisitos para a Comissão Parlamentar de Inquérito

A constituição da Comissão Parlamentar de Inquérito

depende de alguns requisitos que a CR’88 enumera no art. 58, §3º, da

CR’88:

Fato determinado (requisito substancial)

Prazo certo (requisito temporal)

Assim, a constituição da Comissão Parlamentar de

Inquérito depende de dois requisitos: o requisito substancial, ou

seja, apurar fato determinado; e o requisito temporal, ou seja, para

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

viger por prazo certo. Só se pode constituir uma Comissão Parlamentar

de Inquérito para apurar fator determinado e por prazo certo de tempo.

O Supremo Tribunal Federal, em dois acórdãos

recentes, mitigou os dois requisitos.

Pelo Supremo Tribunal Federal, a Comissão Parlamentar

de Inquérito pode apurar fato conexo, ou seja, além do fato determinado

que motivou a sua constituição, pode a Comissão Parlamentar de

Inquérito investigar fato conexo a ele.

Além disso, em certas hipóteses, o Supremo Tribunal

Federal admite a prorrogação do prazo da Comissão Parlamentar de

Inquérito, desde que dentro da mesma legislatura. Ou seja, uma

Comissão Parlamentar de Inquérito criada em julho de 2002 com prazo de

4 meses (portanto, com encerramento em novembro de 2002), pode ser

prorrogada mas somente até 31.12.2002, pois esta é a data do

encerramento da legislatura. A partir de 01.01.2003, o Congresso

Nacional será renovado, por isso não pode haver a prorrogação da

Comissão Parlamentar de Inquérito após essa data.

OBSERVAÇÃO: Legislatura é o período de 4 anos que coincide com o prazo do mandato de deputado federal.

Limites da Comissão Parlamentar de Inquérito

O art. 58, §3º, da CR’88 dispõe que as Comissões

Parlamentares de Inquérito terão poderes de investigação próprio das

autoridades judiciais.

Então o limite fundamental da Comissão Parlamentar de

Inquérito é este, qual seja, o limite de investigação que é próprio das autoridades judiciais.

A primeira conclusão a que se chega é que a Comissão

Parlamentar de Inquérito não tem poder de decisão. Ela investiga e

remete as suas conclusões ao Ministério Público para que este órgão

atue, apurando as responsabilidades. No ponto de vista processual

penal, se caracterizaria como Peça de Informação e não como inquérito

policial.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

Só que esse termo – poder de investigação próprio da

autoridade judicial – não é, tecnicamente, próprio. Isto porque, em

princípio, o poder de investigar conferido à autoridade judicial viola

o sistema acusatório, pelo qual as funções de acusar e julgar são

atribuídas a órgãos distintos, justamente para que se evite a

parcialidade do julgador.

Assim, pelo sistema acusatório, o poder de

investigação cabe à autoridade policial e, eventualmente, ao Ministério

Público (Súmula 234 do Superior Tribunal de Justiça).

Súmu la 234 do Super io r T r ibun a l de Jus t i ça : A p a r t i c i p a ç ã o d e me mb r o d o M i n i s t é r i o P ú b l i c o n a f a s e i n v e s t i g a t ó r i a c r i m i n a l n ã o a c a r r e t a o s e u i mp e d i m e n t o o u s u s p e i ç ã o p a r a o o f e r e c i m e n t o d a d e n ú n c i a .

Mas há uma exceção. A única hipótese em que o

Supremo Tribunal Federal admitiu o poder investigatório da autoridade

judicial está na Lei de Crime Organizado – art. 9034/95 – art. 3º.

Esse artigo, através de ADIN, foi declarado constitucional pelo Supremo

Tribunal Federal.

Esse poder de investigação consiste na possibilidade

de a CPI conceder caráter coercitivo aos seus atos.

Pode ser vislumbrada a hipótese de crime de

desobediência na Comissão Parlamentar de Inquérito, inclusive admitindo

prisão em flagrante delito.

Limites

A Comissão Parlamentar de Inquérito está sujeita a

três tipos de limites: competência, conteúdo, matéria. Portanto, há

três limites essenciais à Comissão Parlamentar de Inquérito:

competência, conteúdo, matéria.

Limite de Competência: A Comissão Parlamentar de Inquérito está limitada pela competência da Casa Legislativa a qual ela

pertence. A Comissão Parlamentar de Inquérito não pode

extravasar a competência da Casa a que está vinculada.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

Questão prática

CPI do Idoso da ALERJ. Essa Comissão Parlamentar de Inquérito representou um flagrante caso de

violação a esse limite, na medida em que a

legislação sobre idoso, velhice, não é de

competência estadual, mas sim federal,

conseqüentemente, a competência para a

instituição da Comissão Parlamentar de Inquérito

sobre o assunto era do Congresso Nacional e não

da ALERJ.

Limite de Conteúdo: A Comissão Parlamentar de Inquérito só pode investigar matéria cujo conteúdo seja de interesse público. Ou

seja, só é possível investigação parlamentar sobre temas sobre

os quais exista interesse público na matéria.

Questão prática

NIKE x CBF. Foi criada uma Comissão Parlamentar de Inquérito da NIKE, para investigar o contrato

celebrado entre esta empresa e a CBF. Se se diz

que há um limite de conteúdo - que é a

existência de interesse público - é evidente que

a investigação de um contrato celebrado entre

dois entes privados em que não há qualquer

interesse público envolvido não pode ser objeto

de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

Haveria necessidade que uma das partes do

contrato fosse de direito público, ou que

recebesse recursos públicos para que fosse

possível a instauração de uma Comissão

Parlamentar de Inquérito sobre contrato.

Essa Comissão Parlamentar de Inquérito foi um

exemplo de violação ao limite de conteúdo, porque

visava a investigar um contrato celebrado entre

duas entidades privadas sem envolver dinheiro ou

qualquer interesse público.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

Questão de A luno : C a b e r e s p o n s a b i l i d a d e c i v i l d o E s t a d o p o r c o n t a d a i n s t a u r a ç ã o d e C P I p a r a i n v e s t i g a r m a t é r i a e s t r i t a me n t e p r i v a d a ?

R e s p o s t a : A s h i p ó t e s e s d e r e s p o n s a b i l i d a d e c i v i l d e a g e n t e p ú b l i c o p o l í t i c o s ó s ã o c a b í v e i s n o s c a s o s d e d o l o o u c u l p a g r a v e . A i n s t a u r a ç ã o d a C o m i s s ã o P a r l a m e n t a r d e I n q u é r i t o e m u m a h i p ó t e s e d e s sa ( a u s ê n c i a d e i n t e r e ss e p ú b l i c o ) d e m o n s t r a o d e s c o n h e c i me n t o j u r í d i c o , d a í p o r q u e n ã o se v i s l u m b r a a r e s p o n s a b i l i d a d e c i v i l d o E s t a d o n e s s a h i p ó t e s e , s e g u n d o o P r o f . G u i l h e r m e .

Limite de Matéria: A Comissão Parlamentar de Inquérito está limitada pela matéria porque não pode haver investigação sobre

matérias reservas ao Poder Judiciário – Princípio da Reserva

Constitucional de Jurisdição. Algumas matérias, pela

Constituição, estão reservadas ao Poder Judiciário.

Toda e qualquer matéria reservada ao Poder Judiciário não pode

ser nunca investigada por Comissão Parlamentar de Inquérito.

Questão prática

CPI do Poder Judiciário. Um fato determinado, por prazo certo, relativo ao Poder Judiciário

pode ser objeto de Comissão Parlamentar de

Inquérito?

O Poder Judiciário, como qualquer outro poder do

Estado (Legislativo, Executivo, Ministério

Público), pode estar sujeito à Comissão

Parlamentar de Inquérito. Só que quanto ao Poder

Judiciário há uma peculiaridade. Deve ser feita

uma distinção entre ato jurisdicional e ato

judiciários.

Os atos jurisdicionais são atos típicos do Poder

Judiciário, são atos praticados no exercício da

função jurisdicional e são imunes a qualquer

investigação por Comissão Parlamentar de

Inquérito porque esta matéria é reservada ao

Poder Judiciário. Só o Poder Judiciário, em

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

instância superior, pode reexaminar atos

jurisdicionais.

Os atos judiciários não são típicos do Poder

Judiciário, são atos praticados na função

administrativa. Esses atos administrativos

praticados pelo Poder Judiciário recebem o nome

de atos judiciários e podem estar sujeitos à

investigação. Ex. Juiz Nicolau – aplicação

irregular de recursos públicos na construção do

TRT de São Paulo, por isso passível de

investigação pela Comissão Parlamentar de

Inquérito.

Meios Investigatórios

Os meios investigatórios admissíveis nos trabalhos da

Comissão Parlamentar de Inquérito são:

Inquirição de indiciado ou testemunha, inclusive com condução coercitiva;

Nota Importante

Houve uma controvérsia muito grande no caso do

ex-ministro Chico Lopes, que dizia respeito

quanto à condição dele ao depor na CPI: se na

qualidade de testemunha ou se na qualidade de

indiciado.

É possível de ser questionada em prova a

diferença entre indiciado e testemunha para

efeitos de Comissão Parlamentar de Inquérito.

O único autor que estabeleceu uma diferença clara

entre quem depunha, perante a Comissão

Parlamentar de Inquérito, na qualidade de

testemunha ou na qualidade de indiciado foi o

Prof. Luiz Flavio Gomes.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

Para tal autor, para efeitos de Comissão

Parlamentar de Inquérito, indiciado é todo aquele que já tenha sofrido medida de constrição pessoal

ou patrimonial por ordem da Comissão Parlamentar

de Inquérito (quebra de sigilos, busca e

apreensão de documentos). Por sua vez,

testemunha é todo aquele que ainda não tenha

sofrido qualquer tipo de constrição, seja

pessoal, seja patrimonial, por ordem da Comissão

Parlamentar de Inquérito.

No caso do ex-Ministro Chico Lopes, ele já não

era mais testemunha, pois havia sofrido uma busca

e apreensão de documentos em sua residência.

Outra questão importante é a seguinte: Na

Comissão Parlamentar de Inquérito existe direito

ao silêncio ou não?

A CR’88 afirma que ninguém pode produzir prova

contra si mesmo – princípio da auto-acusação.

O Supremo Tribunal Federal entende que existe

direito ao silêncio na Comissão Parlamentar de

Inquérito tanto para o indiciado quanto para a

testemunha. Para efeito de silêncio, é

despicienda a distinção entre indiciado e

testemunha, pois ambos têm direito de negar a

responder perguntas na Comissão Parlamentar de

Inquérito. Só que direito ao silêncio pressupõe

que a pergunta tenha sido feita. Não pode a

testemunha ou indiciado simplesmente se negar a

prestar qualquer declaração se não houve a

formulação de perguntas.

A prisão do ex-ministro Chico Lopes foi correta

porque ele se negou a prestar qualquer declaração

independentemente de ter sido formulada pergunta.

Nessa hipótese, houve crime de desobediência –

art. 330 do Código Penal.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

Quebra do sigilo bancário, telefônico e fiscal: a Comissão Parlamentar de Inquérito pode decretar a quebra do sigilo telefônico, fiscal ou bancário desde que motivadamente.

Se a Comissão Parlamentar de Inquérito tem o mesmo poder da

autoridade judicial, ela também fica sujeita ao mesmo dever, que

é o de motivar suas decisões.

Notas Importantes

1) Quebra do sigilo bancário e fiscal, a rigor, é ato privativo de juiz. Mas há duas exceções: (i)

comissão parlamentar de inquérito; (ii) o

Ministério Público, independentemente de ordem

judicial, pode decretar a quebra do sigilo

bancário e fiscal desde que haja fundada suspeita de trânsito de recursos públicos em contas privadas. (ex. Jader Barbalho, que teve seu

sigilo bancário quebrado, por determinação do

Ministério Público Federal, sem ordem judicial,

porque havia fundada suspeita que em suas contas

privadas circulavam recursos públicos da SUDAM).

2) Inquérito civil. Todo e qualquer inquérito civil, que é o inquérito que visa a dar suporte

probatório à ação civil pública, será a rigor

público, salvo em dois casos: (i) quando a

publicidade dada à diligência prejudique a

investigação; (ii) quanto às informações sobre as

quais o Ministério Público tenha a

responsabilidade de manter sigilo, como ocorre

com os documentos decorrentes de quebra de sigilo

fiscal e bancário.

3) Quebra do sigilo telefônico. Deve se ter

cuidado pois interceptação de conversa telefônica

é coisa diferente de quebra do sigilo telefônico,

como também ambas diferem de gravação de conversa

telefônica. São três procedimentos distintos.

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

Na hipótese de interceptação telefônica, a prova é colhida, interceptada no curso da conversa. Ou

seja, há uma interceptação do conteúdo do diálogo

gravado com ordem judicial. Os dois

interlocutores não têm ciência e o conteúdo da

conversa é gravado com ordem judicial.

Gravação de conversa telefônica, que era antes considerada prova ilícita e agora admitida, se dá

quando, sem ordem judicial e com o consentimento

de um dos interlocutores, que grava a conversa do

outro.

O Supremo Tribunal Federal sempre entendeu que

essa prova era ilícita, mas, atualmente, tem

admitido essa prova desde que ela demonstre a

prática de ato ilícito. Ou seja, embora a prova

seja tecnicamente ilícita e ela será admitida no

processo, sendo que a ilicitude não se limita a

aspectos penais, podendo a prova ser admitida se

demonstrar a prática de ilícito civil.

Já a quebra do sigilo telefônico é diferente.

Enquanto da interceptação telefônica e na

gravação telefônica há uma captação do conteúdo

da conversa, na quebra do sigilo não há captação

do conteúdo de conversa, mas sim a identificação

das chamadas telefônicas. Ou seja, o que há é a

revelação das chamadas telefônicas feitas e

recebidas.

O que a Comissão Parlamentar de Inquérito está autorizada a fazer é a QUEBRA DO SIGILO TELEFÔNICO. Ela não pode gravar ou interceptar conteúdo de conversa telefônica. Se o fizer, a prova será ilícita.

Requisição de documentos e informações

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

A Comissão Parlamentar de Inquérito pode requisitar

documentos e informações de qualquer órgão público. Requisição é

ordem, o que é diverso de requerimento que é pedido.

Nota Importante

Há alguma exceção à regra de que a Comissão

Parlamentar de Inquérito pode requisitar todo e

qualquer documento?

O Prof. Nelson Hungria, em um livro datado de

1958, estabelece apenas uma hipótese em que a

Comissão Parlamentar de Inquérito não poderá

requisitar documentos ou informações. Essa

exceção diz respeito a LIVROS MERCANTIS.

A Comissão Parlamentar de Inquérito não pode

requisitar livros mercantis porque estes se

destinam à escrituração de transações comerciais,

por isso não demonstram qualquer interesse

público envolvido. Diferente seria se fosse

livro fiscal.

Além disso, eventual requisição de livros

mercantis poderia atentar contra a livre

concorrência. Ou seja, dar publicidade a algumas

transações comerciais feitas por empresas

mercantis poderia fazer com que esta empresa

sofresse prejuízo na concorrência em relação à

outra empresa.

Por fim, o art. 17 do Código Comercial disciplina

que exibição de livros mercantis somente pode ser

dar em juízo e Comissão Parlamentar de Inquérito

embora tenha poder equivalente ao do juiz não é

juiz.

A r t . 1 7 ( C ó d i g o C o m e r c i a l ) . N e n h u m a a u t o r i d a d e , j u í z o o u t r i b u n a l , d e b a i x o d e p r e t e x t o a l g u m , p o r m a i s e s p i c i o s o q u e s e j a , p o d e p r a t i c a r o u o r d e n a r a l g u m a d i l i g ê n c i a p a r a e x a m i n a r s e o c o m e r c i a n t e a r r u m a o u n ã o d e v i d a m e n t e

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

s e u s l i v r o s d e e s c r i t u r a ç ã o m e r c a n t i l , o u n e l e s t e m c o m e t i d o a l g u m v í c i o .

A r t . 1 8 ( C ó d i g o C o m e r c i a l ) . A e x i b i ç ã o j u d i c i a l d o s l i v r o s d e e s c r i t u r a ç ã o c o m e r c i a l p o r i n t e i r o , o u d e b a l a n ç o s g e r a i s d e q u a l q u e r c a s a d e c o m é r c i o , s ó p o d e s e r o r d e n a d a a f a v o r d o s i n t e r e s s a d o s e m q u e s t õ e s d e s u c e s s ã o , c o m u n h ã o o u s o c i e d a d e , a d m i n i s t r a ç ã o o u g e s t ã o m e r c a n t i l p o r c o n t a d e o u t r e m , e e m c a s o d e q u e b r a .

Meios Inadmissíveis de Utilização pela CPI

Busca e apreensão e indisponibilidade de bens.

A Comissão Parlamentar de Inquérito não pode, sem

ordem judicial, determinar a busca e apreensão ou indisponibilidade de

bens. A Comissão Parlamentar de Inquérito não pode dispor sobre

matérias próprias do Poder Judiciário – o poder geral de cautela é

privativo do juiz.

Prisão provisória.

A Comissão Parlamentar de Inquérito não pode decretar

a prisão provisória, salvo em uma hipótese, que é a prisão em

flagrante, pois este tipo de prisão pode ser decretado por qualquer pessoa do povo, como também deve ser realizada por qualquer autoridade policial.

Restringir a assistência técnica.

A Comissão Parlamentar de Inquérito não pode

restringir a assistência técnica do indiciado ou da testemunha. Ela

não pode restringir a assistência dos advogados a essas pessoas.

Assistência do cliente é prerrogativa do advogado em juízo, se há essa

prerrogativa em juízo e a Comissão Parlamentar de Inquérito tem poder

equivalente, não há como negar essa prerrogativa ao advogado na CPI.

Qualquer ato de restrição será sempre ilegal e

sujeito a alguma ação, como o Mandado de Segurança

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D I R E I T O C O N S T I T U C I O N A LP O D E R L E G I S L A T I V O

Meios Admiss íve i s

A C o m i s s ã o P a r l a me n t a r d e I n q u é r i t o p o d e o u v i r i n d i c i a d o o u t e s t e m u n h a , i n c l u s i v e c o n d u z i - l a s s o b v a r a .

A C o m i s s ã o P a r l a me n t a r d e I n q u é r i t o p o d e d e c r e t a r a q u e b r a d e s i g i l o b a n c á r i o , fi s c a l e t e l e f ô n i c o , d e s d e q u e mo t i v a d a me n t e .

A C o m i s s ã o P a r l a me n t a r d e I n q u é r i t o p o d e r e q u i s i t a r i n f o r m a ç õ e s e d o c u me n t o s .

Meios In admiss í ve i s

A C o m i s s ã o P a r l a me n t a r d e I n q u é r i t o n ã o p o d e , s e m o r d e m j u d i c i a l , d e t e r m i n a r q u a l q u e r me d i d a c a u t e l a r , e s p e c i a l me n t e d e i n d i s p o n i b i l i d a d e d e b e n s e b u s c a e a p r e e n s ã o .

A C o m i s s ã o P a r l a me n t a r d e I n q u é r i t o n ã o p o d e d e c r e t a r q u a l q u e r p r i s ã o p r o v i s ó r i a s a l v o a p r i s ã o e m fl a g r a n t e .

A C o m i s s ã o P a r l a me n t a r d e I n q u é r i t o n ã o p o d e r e s t r i n g i r a a s s i s t ê n c i a t é c n i c a d e i n d i c i a d o s e t e s t e mu n h a s .

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