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Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos
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Direito Constitucional I
Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais
Nota: estes apontamentos não dispensam a consulta dos manuais indicados
pela Regência, nomeadamente:
• MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomos I-VII,
Coimbra Editora
• MORAIS, Carlos Blanco de, Curso de Direito Constitucional, Tomo
I, Coimbra Editora, 2012
• MORAIS, Carlos Blanco de, Curso de Direito Constitucional, Tomo
II, Almedina, 2018
A existência da sociedade humana exigiu, desde sempre, a necessidade de
existirem meios de resolução de conflitos, de forma a salvaguardar os interesses
e alcançar objetivos gerais. A natureza humana não é meramente altruísta, no
entanto, da competitividade e da natureza conflitual do Homem pode resultar
progresso. O conflito é uma realidade natural, até benéfica, já que incentiva à
evolução, mas é necessário controlá-lo. O Direito surgiu para garantir esse
controlo, como um conjunto de regras que ordenam e disciplinam a conduta
humana em sociedade e cuja obrigatoriedade se encontra garantida por sanções,
isto é, pela aplicação de penas e castigo para os infratores.
Reger a sociedade humana pelas normas do direito obriga a que se deposite
alguma autoridade em entidades, nomeadamente no que toca a criar ou alterar
regras, fazê-las aplicar e cumprir. É desta forma que se fala em poder, que é de
origens várias:
Poder político – Autoridade exercida sobre a sociedade tendo em vista o
progresso e a defesa dos interesses gerais. Cabe aos protagonistas do poder
político assegurar a continuidade da sociedade, através das instituições.
Numa sociedade democrática é o poder político que deve dominar,
subordinando todos os outros, mas nem sempre isso acontece. Nas sociedades
teocráticas, como é o caso do Irão, prevalece o poder religioso. Nas monarquias
absolutistas, como é o caso da Arábia Saudita, prevalece o poder de uma só
família reinante. Nos regimes ditatoriais de índole militar, como aconteceu em
Espanha na ditadura franquista, o poder militar subordinava o poder político.
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Hoje, em pleno século XXI, fala-se na subordinação do poder político pelos
grandes agentes económicos, pelo poder económico. Cabe ao Estado colocá-lo
no seu lugar.
Para impedir que seja capturado, o Estado deve disciplinar a Igreja, impondo
nomeadamente a separação entre as instituições; regular a iniciativa privada; ditar
critérios disciplinadores da liberdade de imprensa, regulando o mundo digital
que tem vindo a assumir proporções gigantescas; limitar o poder familiar, através
da adoção de regras de igualdade entre sexos e reconhecimento de situações
familiares atípicas.
O Estado apresenta-se como o ente territorial mais eficiente e perfeito no
exercício de poderes de autoridade sobre a comunidade. Não é tão próximo das
pessoas como o poder regional, mas dispõe dos recursos necessários para reger
um território que abranja múltiplos municípios e regiões. Apesar de se envolver
supranacionalmente, o Estado deve sempre preservar os interesses do seu povo
prioritariamente.
O Estado soberano contemporâneo e os seus elementos
Estado
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om
ínio
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ber
ana
Estado Oriental - dimensão imperial; poder arbitrário sobre populações muitodiversas e limities fronteriços mal delimitados. A sociedade é organizada em classessociais; influência do poder religioso. O monarca representa quer o poder políticoquer o religioso.
Cidade-Estado Grega - coletividas estaduais de pequena dimensão com fronteirasdifusas. Étnica e socialmente homogéneas, priveligiam os cidadãos que, entre si, sãotratatados como iguais, sobre outras minorias (mulheres, escravos, estrangeiros). Opoder político era representado de forma diferente consoante a pólis: democracia,oligarquia, tiranaia, autocracia miliar.
Estado Romano - dimensão imperial; unidade do poder político, com alguma simbiosocom o poder religioso e o político; sociedade hierárquica com soberania do poderpatrício; consagração do estatuto de cidadão; diferenciação entre o direito público eprivado.
Estado Medieval - relações de vassalagem que enfraqueciam o poder políticosoberano (monarca); sociedade extremamente estratificada em ordens; organizaçãojurídica caótica. Na fase absolutista: associação da soberania à pessoa (soberano não éo Reino mas o Rei), centralização plena, subordinação da nobreza (cortes) e do poderreligioso.
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A noção de Estado Moderno resulta da Paz de Vestefália, de 1648, a qual assinou
o termo da Guerra dos Trinta Anos. Nas clausulas do Tratado ficou claro que a
soberania não ficaria apenas nas mãos do monarca, mas sim às fronteiras que
integram os territórios a ele sujeitos; a Nação é soberana e irredutível; só o Estado
(não a Igreja) detém poder político;
As revoluções francesas e americanas serviram para consolidar a ideia de Nação
como algo que ultrapassa o monarca e se estende aos súbditos, que passam a
ser cidadãos.
Estado contemporâneo: coletividade territorial integrada por um povo, que a
ela se encontra ligado pelo vínculo da nacionalidade e por um poder político
soberano.
O ordenamento jurídico pode ser considerado um quarto elemento do Estado,
já que o Direito limita o poder político. O exercício da autoridade política integra-
se num ordenamento.
Os Elementos do Estado
O Povo
Conjunto de pessoas ligadas a uma determinada coletividade estadual pelo
vínculo jurídico da nacionalidade. Desta forma, o conceito de povo incluí
efetivamente os emigrantes. Sem povo, como conjunto de pessoas sujeitas a
deveres e titulares de direitos, não existe Estado.
População: Conjunto de pessoas que residem num Estado, nomeadamente
estrangeiros e apátridas.
Nação: Conceito sociológico e cultural que abrange as pessoas unidas por
tradições, necessidades e objetivos comuns. Por seu lado, o povo é um conceito
jurídico que pode coincidir com a nação, ou englobar várias. Enquanto Portugal
é um Estado-Nação, a Suiça é multinacional. Por outro lado, há nações compostas
por diversos Estados, nomeadamente a curda ou a judaica.
Regime da Nacionalidade
Artº 4º - “São cidadãos portugueses todos aqueles que como tal sejam
considerados por lei ou por convenção internacional”
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A revisão de 2006 reforçou o princípio de “jus solis” em detrimento do “jus
sanguinis”, de forma a acomodar os filhos de imigrantes estrangeiros e os
próprios imigrantes em território nacional. No entanto, isto permitiu que muitos
residentes sem qualquer vínculo pessoal ou cultural à sociedade portuguesa
ganhassem o título de cidadãos.
A nacionalidade pode ser de:
i) Aquisição originária, que se sente desde o nascimento do titular, por
via do “jus sanguinis” (filhos de pai ou mãe portugueses, nascidos em
Portugal); por via “Jus sanguinis” e da vontade (filho de pai ou mãe
portuguesa nascidos no estrangeiro, se declararem que querem ser
portugueses); “jus solis” (filho de pai e mãe estrangeiros, desde que um
deles tenha nascido em Portugal e tenha cá residência ao tempo do
nascimento).
ii) Aquisição derivada, que produz efeitos em momentos posteriores ao
nascimento: adoção, naturalização e atribuição graciosa pelo Estado
A perda da nacionalidade está limitada aos que, sendo nacionais de outro
Estado, não queiram ser portugueses (artigo 8º)
Cidadania Europeia
Artigo 9º do Tratado de Lisboa: “É cidadão da união qualquer pessoa que tenha
a nacionalidade de um Estado-Membro. A cidadania da União acresce à cidadania
nacional, não a substituindo”. Direito à livre circulação, de eleger e ser eleito
para o parlamento europeu, proteção diplomática fornecida por qualquer Estado
Membro e direito de petição a diversas instâncias da União Europeia.
Estatuto de estrangeiro e apátridas em território português
Artigo 15º, número 1: “Os estrangeiros ou apátridas que residam em
Portugal gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão
português”. A exceção entre estes direitos, presente na cláusula 2, são os
direitos políticos, exercício de funções públicas não-técnicas e outros
direitos e deveres exclusivamente reservados a portugueses.
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O poder político soberano
O poder político, alude no contexto do Estado, ao conjunto de prerrogativas de
autoridade cometidas a determinados órgãos da coletividade estatal, para que
ordenem a vida coletiva e garantam os interesses gerais da coletividade. Há
algumas coletividades políticas que detém poder político, já que este não é
completamente centralizado, no entanto, este poder é legitimado pelo Estado,
através da Constituição, encontrando-se dentro dos limites do direito estadual.
Mesmo as organizações supranacionais e confederações, perante as quais o
Estado sacrifica parte da sua supremacia, podem ser reformadas ou extintas pelos
estados membros. Daqui resulta que o poder político do Estado diferencia-se das
restantes formas de poder por possuir um atributo próprio, que é a soberania.
terr
itó
rio
terrestre - composto pelo solo e pelo subsolo, sem limite de profundida e demarcado à superfície pelas linhas de fronteira. A soberania do Estado é aqui plena.
aéreo - formado pelo espaço suprajacente. Existem opiniões diversas no que toca ao limite superior deste espaço. Há quem defenda que o limite é o espaço atmosférico, outros defendem que corresponde à altitude
máxima alcançada pelas aeronaves.
marítimo - a sua
delimitação está pela
convenção de Montego Bay
de 1982.
- águas territoriais: 12 milhas, sobre as quais o Estado exerce soberania.
- zona contígua: 24 milhas; o Estado é soberano no domínio da fiscalização e prevenção;
- ZEE: 200 milhas para além do mar territorial; o Estado exerce direito de exploração e conservação dos recursos naturais para fins económicos.
- Plataforma Continental: leito e subsolo das águas subaquáticas e qie se estende, para além do Mar Territorial, até às 200 milhas e a uma profundidade de 200 metros
Soberania é a faculdade do Estado de se poder
livremente organizar no plano jurídico, de poder
tomar decisões obrigatórias para os cidadãos e
para outros entes públicos e privados, e por ter
capacidade de representar internacionalmente os
interesses externos da coletividade, num quadro
de igualdade com outros Estados
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O estado, regra geral, nasce a partir de um movimento de autodeterminação do
seu povo, no sentido de criação de uma coletividade territorial independente –
essa determinação está presente no poder constituinte: o povo ou a sua
representação podem aprovar uma Constituição, lei de hierarquia superior.
A soberania dos Estados pode ser maior ou menor. Explicando, quando as
internacionais explodem, como foi o caso da crise dos EUA em 2008, tornam
evidente a fragilidade de muitos Estados – quanto maior for a fragilidade
económica e financeira destes e a sua dependência de apoio financeiro externo,
menor é a dimensão real e prática da sua soberania. Estados como Portugal foram
obrigados a acatar ordens de agentes externos aquando do resgate financeiro,
sendo privados da sua real autonomia. Por outro lado, alguns Estados mantêm-
na independentemente das condições externas (EUA, Rússia, China, etc), por
terem um maior poder de negociação externa. A soberania permite distinguir
aqueles que são plenamente soberanos, como os mencionados anteriormente,
dos Estados com soberania limitada (como o estados-membros da EU), dos
Estados semi-soberanos ou de soberania diminuída, como é o caso da Bósnia ou
do Kosovo, dos Estados falhados como a Somália, e dos estados não soberanos
(estados federados autónomos que integram uma federação).
O poder soberano na ordem constitucional portuguesa
A soberania portuguesa é, segundo o artº 3º da Constituição Portuguesa,
“una e indivisível”, ou seja, respeita o princípio da unidade nacional e não pode
ser dividida por outras coletividades soberanas (sendo impossível conceder
poderes soberanos às regiões autónomas, por exemplo).
A soberania reside no povo que a exerce através de atos referendários (artº
115) e do exercício de competências cometidas aos órgãos que, direta ou
indiretamente, o representam. Estes órgãos de soberania compreendem o
Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais.
A soberania é garantida na alínea a) do artº 288 da CRP, que proíbe
revisões da Constituição que não respeitem a independência e a unidade do
Estado (exceção da UE).
Formas Territoriais de Estado
O poder territorial
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O poder político compreende uma relação hierárquica de supremacia entre o
centro do poder soberano e os territórios periféricos. É distribuído
horizontalmente entre o centro e a periferia, pelo que as coletividades periféricas
passam a exercer, dentro dos limites impostos pela CRP, atribuições de
autoridade política. O tema território/poder político envolve debate entre fluxos
de centralização e descentralização.
Descentralização e Autonomia
A descentralização territorial envolve um policentrismo de autoridades públicas
com personalidade jurídica e dotadas de autonomia no exercício de funções
jurídico-públicas, as quais dividem ou partilham com o poder político soberano.
Não é o mesmo que desconcentração territorial, que consiste numa técnica
utilizada pelo poder central para descongestionar os seus serviços e responder
mais rapidamente às exigências locais ou regionais, atribuindo poderes de
autoridade a órgãos que lhe estão hierarquicamente subordinados e estão
instalados nos territórios periféricos para agirem em nome do Estado. No caso
de Portugal, existem as Comissões de Coordenação Regional, que dependem do
governo.
O modelo centralista está desatualizado por razões:
-Técnicas – mau desempenho funcional, porque um poder político
plenamente centralizado não é capaz de dar resposta a todo o tipo de demandas;
-Políticas – a população assume uma relação de proximidade com as
comunidades territoriais onde residem, reclamando a possibilidade estas se
autorregularem em matérias quotidianas e elegendo, para o efeito,
representantes autárquicos.
Em suma, a descentralização envolve duas espécies de coletividades territoriais
com personalidade jurídica: Estado e as Coletividades Territoriais menores que o
integram.
No entanto, a descentralização é feita de formas diversas, consoante a
necessidade de cada estado. Algumas têm um grau maior do que outras, por
motivos de:
- ordem espacial: grandes extensões territoriais e descontinuidade
geográfica dentro do território estadual;
- ordem histórica: costumes e tradição de território com um passado de
identidade vincada (escócia, por exemplo);
- ordem étnico-cultural: especificidades linguísticas, religiosas e étnicas, de
certas comunidades territoriais;
- ordem económica: territórios pobres e esquecidos pelo poder central ou
territórios ricos e fortes contribuintes líquidos para o orçamento do Estado mas
com pouco peso político no poder central;
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Tipos de descentralização:
- Descentralização administrativa: envolve a atribuição de autonomia
administrativa (competência para aprovar normas regulamentares para a
concretização de leis, aprovação de atos administrativos para a execução de
normas, celebração de contratos administrativos e produção de bens e serviços)
(baixo nível de descentralização).
- Descentralização político-administrativa: competência para aprovar leis e
atos políticos (nível médio de descentralização).
- Descentralização constitucional: certas macro parcelas territoriais
(estados autónomos) gozam, não só de todo o tipo de autonomia mencionado
acima como também constitucional (faculdade de aprovarem e reverem a
respetiva constituição, no respeito da constituição do estado-soberano que
integram) e de autonomia jurisdicional (elevado patamar de descentralização).
Formas de Estado
Modelo inerente ao tipo de relações estabelecidas entre o poder político estadual
e o território.
Duas formas de Estado: O Estado Unitário e o Estado Federal.
O maior critério de distinção entre ambas as formas de estado radica na unicidade
ou pluralidade do poder constituinte e da Constituição.
Estado Unitário: é regido por uma só Constituição e apesar de poder atribuir mais
autonomia a coletividades territoriais que o integrem, há só um Estado. A
Constituição, estando numa posição de supremacia perante as restantes leis, rege
o poder político e as coletividades territoriais, que podem gozar de
descentralização administrativa ou político-administrativa.
Estado Federal: ideia de que uma dada coletividade territorial soberana é um
Estado Composto, isto é, um estado que se desdobra em vários (estados
federados). Cada estado tem uma constituição e um poder constituinte próprio –
no entanto estas devem vincular-se à Constituição Federal, que lhes é
hierarquicamente superior, sob pena de invalidade. Estas coletividades territoriais
beneficiam de uma descentralização constitucional e uma autonomia mais
avançada.
Estado Unitário
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Simples Regional
Admite apenas formas de descentralização
administrativa do tipo municipal
Federalismo:
• Originário ou Centrípto: nascem do acordo entre estados previamente
independentes que renunciam à sua soberania para constituir uma federação.
• Derivado ou Centrífugo: Estados Unitários que iniciaram um processo de
transferência de poderes constitucionais, políticos e administrativos para
regiões ou províncias, de forma a transformá-las e, estados federados.
Outorga de poderes a partir do centro, para a coletividade.
Região político-administrativa vs Estado Federado
O Estado federado possui representantes próprios numa câmara parlamentar,
compreende tribunais próprios, não possui comissários de estado no seu
ordenamento e pode celebrar convenções regionais. A Região Autónoma não
usufrui de nenhuma destas prerrogativas e, enquanto pode ter iniciativa no que
toca à aprovação ou alteração do estatuto de autonomia, a palavra final é sempre
a do Parlamento soberano do Estado.
A República Portuguesa como um Estado Unitário Regional Periférico
Nos termos da norma do artigo 6º da CRP “O Estado é unitário”
Nº2 do mesmo artigo: os Açores e a Madeira são reconhecidos como regiões
autónomas, dotadas de estatuto político administrativos e de órgãos de governo
próprios
Implica, a par da descentralização municipal, a
criação de regiões, às quais são atribuídas
poderes públicos de autoridade
Estado unitário com
regionalização administrativa
(atribuição às autoridades das
regiões, eleitas
democraticamente,
competências administrativas,
financeiras e patrimoniais).
Estado Unitário com
regionalização político-
administrativa (supõe que
sejam cometidos às
autoridades das regiões
competências políticas,
legislativas, administrativas,
financeiras e patrimoniais.
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Pode-se qualificar, por isso, o Estado Português como um Estado Unitário, com
um regionalização político-administrativa parcial ou periférica, a qual se
circunscreve duas pequenas regiões arquipelágicas: a da Madeira e dos Açores.
O restante território encontra-se sujeito a um regime de autonomia puramente
administrativa atribuída a autarquias locais (freguesias, municípios, zonas
metropolitanas) – Artigo 235º da CRP.
O Estado Unitário Português envolve, por conseguinte, uma municipalização
administrativa no território continental e uma regionalização político-
administrativa circunscrita aos arquipélagos da Madeira e dos Açores.
As autarquias locais dispõem de autonomia administrativa, bem como património
e finanças próprias, sendo ainda titulares de autonomia referendária de âmbito
local. Tudo isto de modo a que consigam prosseguir os interesses próprios das
populações locais. No entanto as autarquias encontram-se sujeitas a uma tutela
administrativa de legalidade do Estado e as suas competências são definidas pela
lei ordinária.
O Estado e a legitimidade do poder político
Legitimidade e Legitimação do poder:
O Estado apresenta-se efetivamente como a única entidade pública dotada de
capacidade para garantir, com elevado grau de efetividade, a obediência às suas
normas, através de medidas coercivas. É o Estado o ente que detém, com maior
perfeição, o monopólio do uso da força para fazer cumprir, junto das pessoas
individuais e coletivas, as regras que dele promanam.
O vínculo de obediência conduz à ideia de domínio. Segundo Max Weber,
domínio implica a suscetibilidade de os membros de um grupo obedecerem a
comandos, gerais ou específicos, manifestando um mínimo de vontade de acatar
o poder de autoridade de onde brotam esses comandos.
Embora todos os Estados constituam um tipo de domínio territorial, o Estado do
século XXI apresenta-se como um modelo regido pelo primado da Constituição,
pela separação de poderes, pelo princípio submissão da Administração pública à
lei e pela salvaguarda dos direitos dos cidadãos através de tribunais
independentes – Estado de Direito.
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O conceito de Estado de Direito brota da ideia de que o Estado deve,
necessariamente, ser dirigido por uma vontade racional, traduzida numa relação
de domínio, caracterizada pela prossecução do bem comum, por leis justas
acatadas por governantes e governados, excluindo assim o arbítrio e a violência
injustificada no exercício de poder. Deve, por isso, haver um mínimo de vontade
dos indivíduos em submeter-se aos comandos de uma autoridade, ou estamos
parentes regimes autoritários em que o poder está meramente associado à força
física.
A justificação da relação de domínio que as autoridades exercem sobre as
pessoas aponta para o conceito de legitimidade política. Legitimidade convoca
a crença coletiva dos membros de uma comunidade na ideia de que aqueles que
exercem autoridade “têm direito a fazê-lo”.
Noção de legitimidade: conjunto de vínculos, valores e princípios de ordem
cultural, política e jurídica que justificam junto dos governados o tipo de
autoridade titulada e exercida pelos governantes.
Legitimidade democrática (consentimento dos governados) e autocrática (sem
este consentimento).
Legitimidade
Tradicional – fundamena a aceitação do poder político na sacralização
de pactos e regras presentes desde tempos imemoriais, sendo a auoridade
suprema concebida como depositário e guardião desses costumes. Ex:
monarquias absolutas, teocracias.
Carismática – providencialismo que rodeia as características de
determinados líderes políticos, que por razões de ordem emocional ou afetiva,
levam a comunidade a atribuir-lhes o título de heróis ou chefes excecionais, com
capacidade de mobilizar uma grande franja da sociedade, para um desígnio
coletivo - Caudilhismo revolucionário.
Legal-Racional – supõe a obediência de governantes e governados à
legalidade, em sentido amplo. Os cidadãos aceitam a autoridade de quem, nos
termos da Constituição e da lei, dela é titular, em função das normas
estabelecidas que determinam como e a quem obedecer. No fundo, o
fundamento é o Direito.
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No Estado de Direito, o fundamento do acatamento do poder é imputado pela
vontade do próprio povo. O povo emergiu gradualmente como magnitude
política, através: plebiscito; representação existencial; representação popular em
assembleia. A ideia de que o povo exerce o domínio político estadual, mediante
um mandato representativo, confiado a um grupo de pessoas que impõem os
seus comandos a outro grupo, de acordo com regras jurídicas às quais uns e
outros se submetem, constitui o fundamento de legitimidade do estado (material)
de direito.
Constituição: fundamenta o poder dos governantes e disciplina juridicamente a
sua organização bem como as suas relações com os governados.
O regime político e o sistema político são realidades distintas: O regime político
é mais abrangente, funda-se na legitimação de um modelo de poder político
territorial que regula a relação entre as autoridades soberanas e o povo,
desdobrando-se em diferentes modalidades de organização institucional desse
mesmo poder, ou seja, em diferentes sistemas políticos.
Capítulo II. Os Regimes Políticos
Legitimidade democrática:
O fundamento da
autoridade dos
governantes resulta do
consentimento expresso
por uma vontade geral,
livre, periódica e explícita
dos governados.
Legitimidade
Revolucionária:
Fundamento da
titularidade do poder
exercido por quem
rompeu com uma
ordem instituída e
dispõe da força fáctica
para fundar outra
(reestruturação do
Estado através de um
programa ideológico de
ação e da criação de
uma nova ordem legal).
Legitimidade legal-
burocrática:
Obediência simples às
autoridades instituídas
pelo sistema legal
vigente, as quais atuam
sob um aparelho
administrativo, intrusivo
e repressivo, e um
ideário simples.
Funciona em conjunto
com outros tipos de
legitimidade,
nomeadamente a
democrática.
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Conceito: regime político define-se como o modelo doutrinal ou ideológico onde
repousam os fundamentos da legitimidade do poder soberano de um Estado,
bem como da definição do tipo de enlace jurídico-político que é estabelecido
entre o povo e os órgãos que exercem o mesmo poder.
A ideologia consiste na simplificação de uma doutrina política através de ideias-
força que são transformadas numa crença política. As ideologias possuem uma
dinâmica e um impacto mais ou menos intenso no modo de legitimação e
organização do poder, na medida em que os seus paradigmas de organização
política e social justificam distintas ordens jurídicas e políticas de domínio
estadual, ou seja, diferentes regimes políticos.
Classificação tripartida das formas de poder, segundo Aristóteles:
Monarquia – governo de 1 só que se devia orientar para o bem comum, porque
doutra forma tornar-se-ia uma tirania. (monarquia dualista e monista)
Aristocracia – a autoridade pertence a um escol formado pelos melhores, que
atuariam em interesse da sociedade, caso contrário tornar-se-ia uma oligarquia.
Politeia/democracia: a autoridade pertence a toda a comunidade que age
pensando no interesse comum, caso contrário torna-se numa demagogia (a
autoridade é apropriada por um grupo político ou social). (república
constitucional)
Destes tipos “puros” poderia resultar uma pluralidade vasta de combinações.
A democracia representativa trata-se de um sistema, integrado por um método
(representação democrática), um processo (tradução dos resultados eleitorais em
mandatos) e um critério de decisão (critério maioritário), que se destina a
assegurar em permanência que as instituições políticas de um Estado exprimam
uma vontade coletiva e unitária. Na democracia representativa, o titular do poder
eleito declara de imediato, depois das eleições, a sua independência jurídica e
política relativamente a quem o elege, estabelecendo-se um diafragma de
separação entre corpo eleitoral e corpo eleito.
Justificações que suportam o mandato representativo:
• Os eleitores não teriam aptidão para se pronunciarem sobre todas as
questões sobre as quais decidem os seus representantes
Isto leva à necessidade de optar por candidaturas alternativas
protagonizadas por uma elite política organizada e preparada para governar.
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Isto torna, em parte, a democracia representativa num fenómeno elitista e
competitivo.
Os índices de qualidade dos regimes democráticos
A erosão da democracia representativa
O debate sobre a democracia representativa tem ganhado relevância nas últimas
décadas, perante a ideia de que é deficitária e carece, ela própria, de ser
democratizada, permitindo aos cidadãos que participem mais na vida política,
durante o período entre eleições. Se do povo imana o domínio que legitima a
democracia, o consentimento não deve ser reduzido à escolha eleitoral dos
representantes, mas sim: o exercício do poder de um Estado fundado sob a égide
da soberania popular; responsabilidade dos governantes perante governados;
proteção de minorias; a possibilidade dos governados se fazerem ouvir entre
eleições, de forma a que a sua vontade seja correspondida.
A democracia é criticada já que a tomada de decisões à luz do critério maioritário
prejudica, por vezes, a diversidade. Por outro lado, acusam-se as democracias da
atualidade de se deixarem capturar pelo poder económico e financeiro.
A apatia derivada da insatisfação da cidadania com os seus representantes geraria
atos eleitorais cada vez menos participativos, e os partidos políticos tornar-se-
iam meras máquinas publicitárias organizadas, financiadas de modo opaco,
destinadas a, com base em ideias simplificadas e manifestações de propaganda,
façam eleger a qualquer custo os seus candidatos.
Principais críticas:
• Reducionismo eleitoral: O modelo democrático seria insuficiente para
exprimir todos os ângulos de vontade popular no governo, já que entre
eleições, o povo não teria capacidade de influir na tomada de decisões dos
seus representantes, em questões que abranjam direitos e preferências
específicas (rosseau: o povo britânico é escravo entre eleições).
• Clausura no processo de decisão: existe na democracia uma “cidade
proibida” dirigida por uma elite política e económica que manipula o
circuito de decisão sobre grandes problemas nacionais, fechado à
discussão em espaço público (aumento da corrupção).
• Captura do poder político pelo poder económico – os grandes agentes
económicos ganham um peso maior do que o dos cidadãos votantes,
passando a dominar grandes grupos de comunicação social, alimentando
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a privatização em condições pouco benéficas para o Estado. Tudo isto fica
ao alcance destes agentes devido aos fortes laços de dependência que são
criados com o poder político, através, por exemplo, do financiamento de
campanhas eleitorais (trade off).
• Deslocação da soberania popular do Estado para estruturas económicas e
financeiras transnacionais, (nomeadamente a U.E) e organizações
internacionais (FMI, OMC) - poderosas organizações que com a
globalização têm vindo a condicionar a liberdade de decisão política dos
Estados, impondo-lhes opções políticas, económicas e sociais.
• Sobre-representação nos media de minorias poderosas: os eleitos tomam
decisões sob pressão de influentes minorias enquistadas nos media e
universidades que lideram o espaço público (note-se a influência da
extrema-esquerda em questões como a eutanásia, racismo, casamento
homossexual, entre outros). Isto faz com que, por vezes, as decisões
tomadas a nível de questões sociais, abranjam a opinião e a vontade da
minoria, e não da maioria do eleitorado.
• Engessamento da representação: há processos eleitorais por todo o
mundo que condicionam a liberdade eleitoral, nomeadamente através de
cláusulas-barreira muito elevadas.
Cordões sanitários dos partidos mainstream contra partidos
ideologicamente estigmatizados
Ou então através da comunicação social, que demoniza partidos anti-
sistema, ou até mesmo a manipulação dos circuitos eleitorais, em favor de
uns partidos.
• Partidocracia e representação: tem-se observado uma dependência e
vinculação dos representantes, escolhidos por eleição, aos regimes
partidários ou à liderança governativa. Estes partidos, por norma, estão
mais preocupados com recolher a maioria dos votos possível,
embrenhando-se numa máquina sofisticada de programas vagos e pouco
marcados ideologicamente.
• Afastamento das elites e eleitores do processo representativo: a
degradação crescente da imagem pública dos dirigentes devido a casos
de corrupção e o aparelhismo partidário têm conduzido ao declínio da
militância, à falta de confiança dos cidadãos e à abstenção.
• Domínio das internacionais partidárias e redução das escolhas eleitorais
nacionais – a federação dos partidos nacionais em cartéis supranacionais
de partidos europeus gerou um processo gerontocrático, a partir de
cúpulas de grandes famílias.
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• Substituição do “povo” pelo “indivíduo” e pela “sociedade civil” –
emergência da noção de “cidadania do mundo” e de sociedade civil como
um somatório de comunidades e grupos de interesses.
• Representação formal: a representação substantiva sofreu uma explícita
erosão devido à incapacidade dos partidos comunicarem com o eleitorado
e pela facilidade com que se têm afastado do programa eleitoral.
Democracia participativa: faculdade dos governados poderem, no período
entre eleições, serem escutados pelos governantes em momentos de decisão.
Anos 80: influência alemã: conselhos de concertação social – órgãos onde estão
representadas entidades corporativas (empresários e sindicatos) que num
determinado conselho discutem a legislação – chegar a um acordo de forma a
diminuir a contestação.
Manifestações da d.r: os atos administrativos que são desfavoreceis a alguém
esse alguém deve ser previamente ouvido para que se possa manifestar.
Democracia deliberativa: as opções de poder deviam ser legitimadas por um
debate público alargado.
Dimensão institucional: não acrescenta nada à democracia participativa.
Não institucional: democracia digital: poder das pessoas, através das redes sociais
(poderá ser considerado um poder informal com um elevado grau de influência).
Podem parar golpes de estado ou deslegitimar governantes.
Democracia semidirecta: instituto do referendo.
A Alemanha permite referendo de forma muito restrita, já a Suíça tem-no como
base da sua democracia.
Em Portugal não há referendos constitucionais nem económicos. Pode-se
referendar a regionalização, o aborto, casamento (modos de vida),
autonomização, etc – os referendos não podem acontecer regularmente.
O referendo mostra muitas vezes o divórcio entre o povo e os seus governantes.
Opinião pessoal do professor- a favor do referendo, promove o debate e a
participação cívica.
Nenhuma destas modalidades de democracia consegue substituir a
representativa.
Ideia de pós-democracia: regime político que mantém as qualidades típicas da
democracia evoluiria para novas formas de poder onde o papel do povo seria
relativizado pela entrada em cena de outros agentes, nomeadamente os
económicos. Governatização da política (governo >parlamento). Erosão do
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princípio da igualdade: na sociedade civil teriam muito mais peso os órgãos
económicos do que os comuns, de defesa do homem e do ambiente.
Dependência de políticos de analistas e consultores. Atenuação da fronteira entre
o público e o privado devido ao crescente quadro de privatização. Reforço dos
partidos antissistema.
Criação da firma global (com a globalização) – a globalização seria dominada por
grandes órgãos empresarias internacionais que limitam a vida política de cada
país (neoliberalismo).
Degradação da democracia representativa. A liberdade de escolha dos cidadãos
na decisão seria radicalmente diminuída.
A ideia de pósdemocracia não é necessariamente justificável quando
comparamos a política nos dias de hoje com as do século XX (inclusão das
mulheres, por ex)
O maior problema da democracia é efetivamente a captura por parte do poder
económico.
As democracias limitadas: regimes democráticos “iliberais”,
“autoritários” e “deficitários”
Existem regimes democráticos representativos que incorporam nos seus atributos
fundamentais, restrições suficientemente significativas para que lhes seja
reconhecida alguma atipicidade ou hibridismo.
Democracias iliberais
Estados de direito dotados de sistemas políticos e eleitorais que potenciam
executivos estáveis e fortes, a redução da essência da representação parlamentar
às principais forças partidárias e uma prática constitucional e política que
proporciona apenas garantias parciais do exercício de diversos poderes políticos.
Os defensores da democracia iliberal entendem que a democracia
contemporânea, ligada à modernidade, estabeleceu uma conexão “contra natura”
com o liberalismo, que tende a prejudicá-la. Para estes, a democracia influenciada
pela ideologia liberal deixa de imanar de ser um poder soberano do povo assente
no critério maioritário, para se transformar numa democracia dos direitos do
Homem, na qual a soberania se transfere para o indivíduo, para os tribunais e
para um conjunto de “veto players” onde abundam minorias instaladas, interesses
económicos e sociais poderosos e os media.
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A democracia iliberal apresenta-se, deste modo, como uma resposta à crescente
hipertrofia demagógica dos direitos individuais, sustentada num discurso
moralista de justiça que acaba por deixar que os indivíduos prossigam os seus
objetivos, em vez de salvaguardar o bem comum. Os fundamentos da democracia
iliberal sustentam-se na ideia de que quem é eleito pela maioria deve prosseguir
os interesses nacionais, mesmo que tal implique, por vezes, ir contra as vontades
das minorias (redução do poder dos veto players). Para além disto verifica-se uma
separação de poderes mais estrita que evite que instituições não eleitas, como o
poder judicial, interfiram na política, como agentes a pretexto da defesa dos
direitos fundamentais.
Democracias autoritárias
Constituem um híbrido entre um regime democrático-representativo de índole
competitiva e um regime autoritário semi-competitivo. Apesar dos governantes
serem designados pelos governados em eleições minimamente pluralistas,
existem condicionamentos à liberdade, à igualdade e à equivalência de opções
entre forças políticas concorrentes, assim como uma excessiva concentração de
poderes no executivo e compressões nos direitos políticos dos cidadãos.
Tipos de democracia autoritária:
• Tutelada – regime basicamente representativo onde existem domínios
reservados a entidades não eleitas democraticamente e que detém um poder
auto-regulador e/ou um direito de veto. Trata-se de um tipo de regime
comum nos Estados em transição para a democracia (Portugal entre 1976 e
1982, quando o Conselho da Revolução exercia um poder de autogestão em
matéria miitar e operava enquanto órgão político de controlo da
constitucionalidade).
• Democracia de domínio: existência de forças fácticas com grande poder
que condicionariam a autonomia dos governantes eleitos por um sufrágio
eleitoral competitivo (situação do Kosovo, estado criado pela NATO e sujeito
à sua proteção e influência).
• Democracia delegante: não há uma correta separação dos poderes; há sim
uma enorme delegação de competências ao Executivo, que atua sob
controlos débeis – concentração efetiva de poderes no Presidente em
detrimento do Congresso.
• Democracia excludente: sufrágio não universal e não inclusivo (caso do
regime sul africano do Apartheid, que só abrangia brancos, mestiços e
indianos).
• Democracia neo-cesarista: caso da Rússia. Estas democracias estão
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relacionadas com a crença num líder forte. Aumento do poder do executivo,
securitização da estrutura do Estado, repetidas restrições a direitos políticos.
O exercício de direitos de reunião e manifestação da oposição é condicionada. O
perfil czarista da democracia autoritária russa leva a que o sistema político se
converta num semipresidencialismo de pendor presidencial híper-reforçado,
quando o próprio Putin exerce a presidência da República, ou num
semipresidencialismo primo-ministerial reforçado, quando o mesmo líder é
designado Primeiro-Ministro por parte de um Presidente da sua confiança (isto
ocorre quando Putin excede o número de mandatos sucessivos na presidência
admitidos pela Constituição russa).
O que existe na Federação Russa é, nada mais nada menos, do que um regime
legitimado democraticamente embora com uma forte componente autoritária no
acesso e no exercício do poder que, contudo, se diferencia de totalitarismos de
Partido Único (china e cuba) ou de autoritarismos semi-competitivos (Irão, Brasil,
atual Venezuela).
O sistema político Russo envolve uma expressiva concentração de poderes no
Executivo, mas o Parlamente tem competências político legislativas relevantes,
podendo demitir o Governo. As eleições incidem sobre um espetro
multipartidário, com as principais correntes políticas representadas na Duma,
pese que com um uso superlativo de cláusulas de barreira que elimina a
representação de pequenos partidos com alguma expressão eleitoral.
As liberdades sofreram restrições mas não foram banidas, continua a existir
imprensa oposicionista, apesar de ser vigiada; candidatos oposicionistas à
presidência podem candidatar-se, pese o elevado número de candidaturas
exigido; existe liberdade de formação partidária, apesar da diferença no
tratamento entre candidatos na comunicação social.
Apontamentos sobre as dificuldades de medição da qualidade e
desempenho dos regimes democráticos
Existe uma nova tendência da politologia contemporânea para avaliar, medir e
classificar o desempenho qualitativo dos regimes democráticos através da
elaboração de rankings. É de ter em atenção a “Freedom House”, o “Economist
Inteligence Unit” e a “Polity IV Project” – em relatórios anuais, atribui-se a cada
Estado uma pontuação quanto ao grau de realização efetiva de cada um dos
critérios e indiciadores constitutivos da democracia, seguindo-se a respetiva
soma e classificação final, do que resulta o posicionamento do mesmo Estado
num ranking.
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A problemática das classificações e da heterogeneidade metódica que
comportam, levanta um conjunto de dúvidas quanto ao respetivo rigor e efetiva
utilidade.
Considera-se que os critérios do “economist inteligence unit” são os mais
completos e eficazes para um ponto de partida de uma classificação mais rigorosa.
Alguns dos seus critérios são:
i) Processo eleitoral e pluralismo: é importante detetar restrições na
apresentação de candidaturas, irregularidades, manipulações dos
sistemas eleitorais, que prejudiquem o sufrágio universal e igualitário;
transparência no financiamento dos partidos e liberdade na sua
constituição; alternância do poder
ii) Funcionamento do governo, nele compreendido a separação de
poderes e freios e contrapesos: é fundamental saber se os
representantes eleitos decidem sobre a política do Estado; se está
garantida a independência do poder judicial; se há poderes não eleitos
com veto na governação
iii) Participação política: se há um esforço para que haja participação
cidadã e se existem formas de democracia semidirecta e participativa.
iv) Cultura política democrática: consenso sobre a virtude da democracia
e promoção da ideologia na sociedade
v) Direitos civis e políticos: liberdade de imprensa, de discussão, sindical
e associativa; igualdade perante a lei, ausência da discriminação.
Da análise dos diversos patamares de desenvolvimento das democracias
competitivas, retiram-se três estádios essenciais:
- Democracias avançadas: sistemas com um longo enraizamento no
funcionamento das suas instituições democráticas, com mecanismos naturais de
composição de conflitos, poder limitado e responsável, pluralismo, cultura
democrática e liberdade política sem entraves;
- Democracias consolidadas: Estados que experimentaram transições de regimes
autocráticos para a democracia ou evoluções de democracia autoritárias para um
quadro competitivo que apresentam certo tipo de insuficiências no processo
eleitoral (prevenção de corrupção, controlo de poder, independência dos media,
etc)
- Democracias em transição: Estados que não completaram o seu transito de
regimes totalitários ou autoritários para uma democracia competitiva embora já
possuam, com imperfeições e insuficiências, os pressupostos fundamentais dos
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sistemas democráticos, com relevo para o processo eleitoral pluralista e garantia
mínima de direitos civis e políticos básicos.
Influência terrorista: as democracias avançadas têm-se confrontado,
especialmente desde 2015, com uma crescente ameaça terrorista dentro das
fronteiras europeias e norte-americanas, que conduziram à restrição de direitos
civis e políticos e até à sua suspensão em França, após declaração do Estado de
emergência como sequência de repetidos ataques em Paris e Nice.
Tudo aponta para uma continuação da atual ameaça e das medidas constritivas
de direitos, bem como a adoção de medidas securitárias reforçadas. Denota-se
um crescimento eleitoral dos partidos anti-imigração, por exemplo. Face a estas
medidas, é questionável a manutenção destes regimes enquanto democracias
avançadas.
Secção III – Regimes Autocráticos
Caracterização da Autocracia
Ordem de domínio fundada num ideário oficial que fundamenta o exercício
concentrado e não efetivamente controlado do poder político por parte de um
grupo que domina as instituições estaduais e que restringe ou veda o acesso dos
governados ao mesmo poder, mediante uma expressiva compreensão ou
supressão dos seus direitos políticos. Esta ausência de separação dos poderes
priva o regime de freios e contrapesos genuínos entre instituições. A supressão
dos direitos políticos aos governados constitui um meio indispensável da
conservação do monopólio do poder por um grupo restrito e organizado, que
exclui ou reduz o papel de qualquer alternativa política. Por último, o Estado é
embebido num ideário que intenta justificar o fundamento da concentração da
autoridade na esfera do grupo de domínio.
Tipologia elementar
Os estados autocráticos podem diferenciar-se em dois modelos sub-típicos: o
Estado Totalitário e o Estado Autoritário.
Estado Totalitário
O estado totalitário envolve uma cosmovisão ideológica integral do homem, da
sociedade e da política. Um partido único detém a autoridade pública e exerce-a
de forma exclusiva, utilizando para a conservar, o monopólio da comunicação
social e da educação, acompanhados por um aparelho repressivo de caráter
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judicial, político e paramilitar. O Estado Totalitário apodera-se plenamente do
poder de intervir na esfera pessoal dos cidadãos.
Exemplos: Alemanha de Hitler ou a URSS comunista.
Características do totalitarismo:
• Existência de uma ideologia oficial do Partido e do Estado (utópica) –
propõe construir uma sociedade ideal, reduzindo para o efeito o
pluralismo da sociedade civil e a autonomia individual;
• Criação de um partido único com caráter dirigente, organizado, com
formação política de massas, hierarquizado e disciplinado;
• Liderança do Partido e do Estado por um ditador ou por um diretório que
concentra o núcleo das funções estaduais;
• Meios de comunicação operam como veículos de propaganda;
• Aparelho repressivo policial dirigido contra todo o tipo de oposição;
• Nominalização dos direitos civis, esvaziamento dos direitos políticos
perante o arbítrio de decisões concretas.
• Direção concentrada de toda a economia, mediante uma planificação
centralizada
O Estado Autoritário
Um estado autoritário caracteriza-se pela existência de um ideário público que
justifica uma concentração do poder num órgão supremo que, sem intentar
moldar a esfera privada dos cidadãos e a vida em sociedade ou derrogar a
legalidade, enseja dirigir e dominar os aspetos fundamentais da vida política do
Estado, limitando significativamente a escolha dos governantes pelos governados.
Características dos Estados Autoritários:
• Existência de um ideário estatal, integrado por valores de abertura e
consistência variável, que estrutura alguns elementos da vida em
sociedade mas que respeita diversas expressões do pluralismo social, que
é tolerado, embora com limites.
• Existência de um órgão de poder supremo, em regra o Chefe de Estado ou
de Governo, sustentado por estruturas formais ou informais de poder,
exercendo controlo decisivo sobre as demais instituições e um poder de
mobilização social sem grande intensidade permanente;
• Existência de um aparelho policial repressivo dirigido a inimigos objetivos
do regime e a opositores cuja conduta possa enfraquecer seriamente este
último- não se inibem formas toleradas de oposição política e há alguma
margem para liberdade de expressão;
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• Compromisso, mais ou menos variável, do Estado de legalidade com
formas nominais ou limitadas de legitimidade democrática,
nomeadamente através de plebiscitos e de eleições semi-competitivas;
• Respeito pelos direitos de propriedade e iniciativa privada; grau variável
de medidas de planeamento e de intervenção do Estado na economia e
nas relações laborais.
São variantes do estado autoritário: sultanismo, regimes militares,
cesarismos revolucionários, gerontocracias institucionais, teocracias com
pluralismo limitado, corporativismos autoritários.
Sultanismos:
Regime personalizado numa chefia tradicional ou carismática oriunda de uma
família ou de um clã, a qual exerce poderes de autoridade sem os limites
próprios de um Estado de Direito. O sultanismo prescinde muitas vezes de um
ideário de legitimidade.
O modelo típico reconduz-se às monarquias absolutas do Golfo Pérsico.
Regimes Militares:
Afiguram-se muitas vezes como ditaduras transitórias provocadas por uma
crise institucional grave em que as forças armadas detém excecionalmente o
poder político, autoinvestindo-se num mandato temporariamente limitado. O
nacionalismo constitui o ideário comum à grande maioria dos regimes
militares. Existe por norma um chefe carismático na liderança, oriundo das
forças armadas. Podem também governar de forma mais colegial, através de
um diretório ou junta miliar, como aconteceu em Portugal em 1975; ou
simplesmente tutelar o poder civil, através de um chefe de estado não militar.
Existem ainda formas híbridas de autocracia protagonizadas pelo poder
militar que operam através da institucionalização de um regime dominado
indiretamente pelas forças armadas, mas que incorpora um pluralismo
político limitado em eleições semi-competitivas, onde um dos partidos
representa interesses militares. Nestes casos a tutela castrensa não é
transitória, é sim definitiva.
Cesarismos socialistas-revolucionários:
Substrato ideológico marcado, erigido em torno de um chefe ou caudilho que
lidera o Estado, em aliança expressa ou tácita com um setor militar e uma
vanguarda político-social procurando instituir um regime autocrático de
vocação permanente, com ou sem componente eleitoral.
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Estamos perante autocracias semi-militarizadas, servidas de partido único e
com um forte aparelho repressivo.
Movimentos socialistas revolucionários de base militar que assumiram o
poder político, em regra através de atos de força e pouco depois de um
movimento de descolonização predominaram na edificação deste tipo de
regimes. Muitas vezes são oriundas de movimentos de guerrilha e
movimentos independentistas que se converteram a partidos.
Teocracias:
Regime político fundado numa ideologia extraída de uma confissão religiosa.
O poder político é tutelado por lideranças religiosas.
Existem regimes teocráticos autoritários que excluem eleições competitivas e
em que o poder político se concentra numa liderança religiosa messiânica
assente num partido único – caso do regime talibã que governou o
Afeganistão entre 1996 a 2001.
Paralelamente, existem formas de teocracia que conjugam elementos de
pluralismo limitado, como é o caso da República Islâmica do Irão – fazem
assentar a legitimidade do poder na religião e integra constitucionalmente
órgãos supremos de autoridade religiosa que não são eleitos por sufrágio
popular, como é o caso do Guia Supremo, com faculdades de chefia militar,
entre outras. Estes regimes admitem, dentro dos que adotam a filosofia
pública estadual, partidos políticos e candidaturas alternativas independentes
oriundas de partidos ilegalizados, mas existentes e tolerados. O Executivo e o
Legislativo são equilibrados entre si, mas condicionados pela ação supervisora
da liderança religiosa.
Autoritarismos corporativos:
Filosofias nacionalistas de índole católica, agregando um partido político
único e concentrando os poderes do Executivo e de parte do legislativo num
chefe. Estado essencialmente intervencionista e vocacionado para a exigência
de uma cooperação entre classes.
Estado novo: coportativismo contra-revolucionário e civilista que aliou uma
elite universitária e económica com a Igreja católica, chefiado pelo conselho
de ministros.
Ditadura franquista: caudilhismo militarista, corporativo e católico, centrado
no poder quase absoluto do Chefe de Estado, o General Francisco Franco,
articulado com as forças armadas.
Gerontocracias institucionais:
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Primado do poder executivo encimado por um líder forte, subordinado aos
interesses de um grupo político, económico e militar fechado, por um robusto
aparelho securitário e por uma pesada burocracia administrativa, responsável
pela continuidade institucional e funcional do “status quo”. Reflete um tipo de
poder oligárquico dirigidos por um grupo político de domínio fechado e
composto por lideranças estáveis e envelhecidas.
Processos de transição para a democracia
Em sentido amplo, uma transição política consiste no processo de transformação
operada num dado regime estadual, de modo a que o mesmo transite para um
tipo de regime diverso. Em tese, a transição pode significar quer a transição de
uma ditadura para uma democracia como de uma democracia para uma
autocracia.
A transição de regime político tem pontos de coincidência (e também de
disjunção) com a transição constitucional, já que significa a substituição de uma
forma de poder por outra, sustentada por um tipo de legitimidade distinto.
Contudo, existem transições constitucionais em que a substituição de uma
Constituição por outra não envolve uma mudança de regime, mantendo-se o
mesmo fundamento de legitimidade de poder.
A transição de regime político m sentido estrito ou “originário” traduz-se na
transição para uma nova ordem política. São fenómenos não revolucionários de
índole interna, em que a rotura material de um antigo para um novo regime se
faz através da reforma da constituição ou através da criação de uma nova Lei
Fundamental.
Existem ainda modalidades secundárias ou derivadas de transição, quando
acontecem por via de um ato de força militar ou revolucionária, que
desencadeiam o processo de passagem para outro regime político.
A transição política para a democracia depreende que o regime autoritário
representa algo de anómalo, que restringe o Estado de Direito.
Os regimes totalitários são propensos a transições pacíficas, atenta a força do
elemento ideológico. Normalmente, nestes casos, as transições são ditadas pela
influência externa, como foi o caso do Japão e da Alemanha terminada a II Guerra
Mundial.
Causas imediatas e percursos
As transições políticas em sentido estrito que se pautam pacificamente,
geralmente ocorrem numa fase de:
• Envelhecimento ou morte do ditador
• Esmaecimento da ideologia e perda da mobilização popular
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• A título eventual, a derrota eleitoral do poder em plebiscitos ou eleições
semi-competitivas
• Esmaecimento do controlo sobre os media, universidades, corporações,
etc
• Irrupção de reivindicações políticas de mudança, oriundas de uma
sociedade civil autónoma
Em alguns casos são os próprios regimes autocráticos que preparam a transição
para um regime mais democrático.
Os sistemas políticos em regime democrático
Os regimes políticos, como modelos de legitimidade do poder estatal e do tipo
de relacionamento político entre governantes e governados, desdobram-se
numa pluralidade de sistemas políticos, os quais respeitam ao modo concreto
como, num dado regime, os órgãos soberanos que exercem o poder político se
posicionam e articulam entre si. O regime é, pois, uma categoria mais ampla que
pode ser servido por diferentes diversos tipos de sistemas políticos. O universo
civilizacional ocidental de matriz judaico-cristão onde Portugal se integra estriba-
se, no que toca à organização do poder político, no paradigma jurídico e cultural
do Estado de direito democrático, concebido nas suas raízes pelo movimento
constitucionalista iniciado no século XVIII. Paradigma este que predica que a
fonte de autoridade dos governantes derive da vontade livre dos governados
submetidos às suas decisões e em que a autoridade soberana deve ter-se por
limitada, tanto por um sistema de freios e contrapesos entre poderes separados,
como pela garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana assegurada por
tribunais independentes.
O sistema político como estrutura do poder:
O facto de um regime político estadual assumir uma natureza democrática
transmite-nos muito pouco sobre o modo concreto como os órgãos que exercem
o poder soberano se encontram estruturados, se posicionam nas suas revelações
recíprocas e funcionam como um todo, na expressão de vontade coletiva. Apenas
depreendemos que os titulares dos mesmos órgãos são eleitos pela vontade
popular e que os poderes são separados. Todavia, isso nada nos diz sobre:
i. Qual a instituição soberana (chefe de estado, governo ou parlamento)
ii. Se as instituições soberanas dispõem do poder de interferir politicamente
na subsistência dos mandatos dos titulares das restantes instituições
(provocando a sua dissolução, demissão ou destituição)
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iii. Em que medida o sistema eleitoral de designação dos titulares dos órgãos
parlamentares tem impacto na estabilidade do poder executivo, assegura
uma representação minimamente fiável do eleitorado e permite um
modelo satisfatório de governabilidade
O sistema político pode, assim, ser definido como o modelo de estruturação e de
relacionamento dos órgãos de soberania no exercício do poder político.
O sistema político começa por ser um modelo ou um paradigma de governação,
concebido na base de uma metodologia através da qual se agrupam tributos
comuns e permanentes entre diversas formas de organização do poder, o que
permite a inclusão em categorias.
Sistemas parlamentaristas:
O traço comum a todos os sistemas parlamentaristas consiste no facto de
repousar exclusivamente na vontade funcional de um Parlamento
democraticamente eleito, a fonte da investidura ou legitimação, de
responsabilidade política e da subsistência em funções do Governo, bem como
pelo facto de o Chefe de estado não exercer poderes independentes da direção
e controlo político, com caráter relevante, sobre as demais instituições.
O sistema parlamentar, como um todo, assenta nos seguintes atributos:
• Coexistência, num cenário de separação de poderes de: Chefe de Estado,
Parlamento e Governo;
• Poder assente na confiança política entre Parlamento e Governo, pautada
por controlos recíprocos, mas com dependência do segundo perante o
primeiro, no sentido em que o Governo emana do Parlamento, é por este
confirmado em funções com base num voto de investidura. O Governo
responde a título exclusivo perante o Parlamento, e só se mantém em
funções quanto não receber a sua reprovação política;
• Existência de uma diarquia institucional e simbólica no poder Executivo,
formado pelo Governo e pelo Chefe de Estado – ambos encabeçam o
poder executivo, mas a posição do Chefe de Estado é quase que
meramente simbólica.
• Menor peso político do Chefe de Estado na triangulação institucional
descrita, na qualidade de Monarca ou de Presidente da República – exerce
funções honoríficas de representação, bem como faculdades certificatórias
(promulgação obrigatória de leis) e poderes limitadamente arbitrais ou
reguladores.
A multiplicação de sistemas com arquitetura política, especialmente após a
queda da URSS, justifica que se deixe de falar em parlamentarismos “atípicos”
para que se passe a crismá-los como parlamentarismos com arbitragem
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presidencial, na medida em que se pontifica um Chefe de Estado
democraticamente eleito com poderes politicamente pouco relevantes mas onde
podem emergir algumas responsabilidades arbitrais ou reguladoras.
O Parlamento obtém a sua legitimação direta da vontade popular expressa
eleitoralmente. Tal circunstância confere-lhe o status de fonte primária de poder
que lhe permite não só designar outros órgãos soberanos, como também tornar
o Governo politicamente responsável apenas perante ele.
O sistema de partidos representados no Parlamento influencia radicalmente a
configuração deste sistema político, mediante a sua dispersão.
Existem sistemas parlamentares em que um Governo, apoiado por uma
bancada parlamentar maioritária que controla ou domestica, se afirma como
instituição liderante. Tal ocorre quando a composição parlamentar é dominada
por dois partidos que alternam no poder e logram, quando vencem eleições, uma
maioria absoluta de mandatos no Parlamento, ou sistemas multipartidários, com
um partido hegemónico que domina a composição parlamentar.
Já um Parlamento fragmentado numa pluralidade de partidos rígidos e
independentes dificulta a existência de governos maioritários homogéneos,
tornando os Executivos totalmente dependentes de alianças, arranjos e acordos
obtidos no parlamento. Neste caso é a instituição Parlamentar que lidera.
Regista-se deste modo uma diferença muito expressiva entre os chamados
sistemas parlamentares racionalizados, rom relevo para o sistema de gabinete
britânico onde o Governo é suportado por uma maioria parlamentar absoluta e
é a instituição faticamente liderada, e os sistemas parlamentares de assembleia,
onde fluidas combinações e compromissos parlamentares sustentam governos
frágeis e absolutamente dependentes do apoio ou da tolerância de um
Parlamento liderante.
Sistemas Presidencialistas
Um sistema presidencialista consiste na legitimação popular do Presidente da
República por via de uma eleição por sufrágio universal, na chefia direta do
Governo ou Administração pelo mesmo Chefe de Estado e na independência
política e funcional estabelecida entre este último e o Parlamento, sem prejuízo
da existência de controlos recíprocos.
É um regime onde a separação de poderes teorizada por Montesquieu está
mais presente, atentando nomeadamente para o sistema americano, onde o
presidente exerce funções executivas e o Congresso exerce funções legislativas.
Por outro lado, no sistema parlamentar brasileiro, há uma supremacia
política do Presidente sobre o Parlamento, já que pode articular alianças
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parlamentares para obter uma maioria de apoio no Congresso (pode tecer
maiorias parlamentares variáveis) e emitir medidas provisórias.
No presidencialismo o Presidente detém a chefia direta do Governo e
estabelece uma relação político-institucional com o Parlamento – o Presidente
não pode ser demitido pelo Parlamento por razões de confiança política, mas o
presidente também não pode dissolver a instituição parlamentar.
O presidente é eleito por sufrágio universal.
Sistemas semipresidencialistas
O semipresidencialismo nasceu oficialmente na Constituição Francesa
após a IV República, estando conectada também à Constituição da Alemanha de
Weimar, no pós I Guerra Mundial (1919). Envolve a existência de um sistema
híbrido ou misto em que o Governo encabeçado por um Primeiro Ministro é
duplamente responsável, no plano institucional ou político, perante o Parlamento
e perante um Presidente eleito por sufrágio universal que dispões da faculdade
de exercer poderes com alguma relevância a nível de controlo interinstitucional,
destacando-se a liberdade para dissolver um parlamento.
Este sistema tanto pode compreender subtipos de maior pendor
presidencial, como França, e de forte pendor parlamentar, como Áustria, ou de
geometria variável, que vacila entre pendor parlamentar e governantes, como
acontece no caso português.
O sistema diretorial como figura residual
Sistema diretorial trata-se de uma categoria isolada e atípica que consiste
numa democracia consociativa de fonte parlamentar, alicerçada numa relação
estreita entre o Parlamento e um Diretório executivo, em que os membros deste
último são elegidos pelo primeiro, de modo a que nele estejam representadas as
principais forças partidárias, sendo o Chefe de Estado um cargo meramente
simbólico e rotativo entre os membros do Diretório.
Exemplo: Suiça
Crítica: alguma oligarquização, já que os resultados eleitorais pouco contam para
a composição do Direito.
O que caracteriza o sistema político são os tipos de vínculos de
dependência entre os órgãos de soberania que exercem a função pública. Estes
vínculos encontram-se previstos nas Constituições, que são o estatuto jurídico de
organização e funcionamento do poder do Estado. São a base de caracterização
do sistema.
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Certo é que as normas constitucionais carecem de interpretação e nem
sempre o seu significado literal coincide com a sua relação objetiva de significado.
É necessária uma compreensão juridicamente adequada destas normas
constitucionais, que nem sempre está ao alcance do cidadão comum.
Existe uma divergência entre constitucionalistas e politólogos sobre o
cerne da definição dos sistemas. Os politólogos, ao contrário dos
constitucionalistas, creem que a prática é mais relevante do que a norma,
incorrendo no erro de considerar que, quando o Presidente de um sistema
semipresidencial é menos ativo, o sistema se parlamentariza.
Ora, os sistemas não mudam por força de impulsos e relações de força
episódicas num dado momento ou ciclo político, mas sim por via de significativas
alterações constitucionais.
Sem embargo, a Constituição pode mudar por via formar ou por mutações
informais, geradas por práticas contra-legem, costumes e práticas consolidados
sem oposição e pela jurisprudência internacional e constitucional: o costume faz
caducar normas.
Ou seja, a Constituição é a base, mas das suas normas não se logra,
frequentemente, extrair o modo como o sistema opera na realidade.
Exemplo:
As constituições francesa e portuguesa preveem um sistema semipresidencialista.
Em Portugal, o costume fez caducar as normas que atribuíam ao Presidente
competências de demissão de governos, sendo que esta faculdade é
percecionada como uma última solução, em caso de extrema necessidade. Por
outro lado, em França está-se perante um mecanismo comum de direção
presidencial, que o Chefe de Estado usa para criar uma maioria parlamentar
favorável ou para reforçar a maioria existente. Sempre que é eleito ou reeleito e
se defronta com uma maioria parlamentar adversa, o Presidente dissolve.
É incontornável a existência de práticas reiteradas, uniformes e consolidadas
temporalmente nas relações institucionais, que geram uma espécie de “soft law”
constitucional – convenções: costumes não retificados pelos tribunais superiores,
que não são invocados pelos tribunais (soft law), mas que são importantes pois
são usados permanentemente pelo poder político – estatuto da oposição,
governo sombra da oposição, etc. Isto é, embora a derrogação de uma convenção
não seja sancionada juridicamente com invalidade, o eleitorado e a opinião
publica podem reagir negativamente.
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A relação incontornável entre sistema eleitoral, sistema de partidos e
sistema político de governo
Sistemas eleitorais
A escolha entre este ou aquele sistema eleitoral envolve diferentes
conceções de democracia: ou se opta por um modelo de pendor maioritário e
decisional que privilegia um vencedor entre os grandes partidos, facilitando
maiorias parlamentares politicamente homogéneas e aptas a formar governo, ou
se escolhe um modelo de pluralismo dispersivo e igualitário, preferindo-se a
representação equitativa de todas as forças com um mínimo de expressão
eleitoral, ou se opta ainda por uma vertente híbrida entre estes modelos.
No Estado democrático de direito, o sistema eleitoral condiciona o formato
de sistema de partidos e contribui para a própria consolidação da democracia.
O sufrágio eleitoral pode ser:
• Direito ou individual, englobando um colégio eleitoral geral e homogéneo
que congraça os cidadãos eleitores, podendo o mesmo coincidir com um
círculo nacional único ou decompor-se em colégios territoriais,
correspondentes aos círculos eleitorais ordenados geograficamente.
• Indireto, englobando uma sucessão ordenada de colégios em que os
eleitores de um colégio eleitoral vão designar os eleitores de outro colégio
de grau superior, sendo, eventualmente, estes que elegerão o titular ou os
titulares de poder (caso norte-americano)
Noção de sistema eleitoral: conjunto de normas, procedimentos e técnicas que
estruturam de forma coerente o modo como a preferência dos eleitores, expressa
em votos, se transforma na designação de mandatários (fundamentalmente o
Presidente da República e os membros do parlamento) que irão desempenhar
funções públicas como titulares do poder político.
Sistema maioritário a uma volta.
Eleição presidencial
Sistema a duas voltas (se nenhum candidato
obtiver maioria absoluta no primeiro turno,
realiza-se segunda volta com os dois
candidatos mais votados).
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Já a forma de escrutínio numa eleição parlamentar produz efeitos mais
expressivos na dinâmica e na própria definição do sistema, pois:
- Uma maioria partidária politicamente homogénea de oposição ao chefe de
estado, nos sistemas presidencialistas, pode diminuir ou travar o poder do
Presidente na tomada de certas decisões, enquanto o oposto pode facilitá-las.
- Uma maioria parlamentar de apoio ou de oposição ao governo nos sistemas
parlamentaristas e semipresidencialistas pode, respetivamente, estimular ou
frenar, a liderança institucional e a durabilidade desse Governo, já que a
subsistência e estabilidade política governamental depende da confiança
parlamentar.
Modo como logram transformar os votos em mandatos e influir na representação
parlamentar dos partidos que se submetem a atos eleitorais:
• Sistema maioritário: o Estado divide-se em círculos ou circunscrições
eleitorais de pequena dimensão e o partido vencedor ganha a totalidade
dos mandatos em disputa – convida à concentração utilitária dos sufrágios
em grandes formações ou alianças partidárias “voto útil”. São sistemas
com uma elevada força centrípeta (winner takes all) .
• Sistemas proporcionais: o Estado divide-se num único círculo plurinominal
ou em círculos regionais plurinominais, os partidos apresentam uma lista
de candidatos nas circunscrições em disputa e o número de mandatos
atribuídos a cada partido, por círculo, tem uma correspondência mais ou
menos acentuada, em relação ao número de votos nele obtidos,
favorecendo-se, regra geral, uma distribuição equitativa de lugares entre
grandes, médias e pequenas formações partidárias.
• Sistemas mistos: o eleitor dispõe de dois votos, um para eleger um
mandatário num círculo uninominal e outro para eleger mandatários
constantes de listas partidárias em círculos plurinominais, procurando
favorecer-se, por regre, os maiores partidos sem prejudicar a
representação das minorias, com uma expressão eleitoral minimamente
relevante.
Sistemas maioritários a uma volta:
Lei de Duverger:
Os sistemas maioritários a uma volta gerariam, simultaneamente, um quadro
partidário bipolar ou dualista e um bipartidarismo perfeito. Este fenómeno ocorre
no Reino Unido (Partido Conservador e Partido Trabalhista) e nos EUA (Partido
Republicano e Partido Democrata). Isto porque o sistema favorece, claramente,
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dois partidos dominantes que se alternam no poder e que concentram 85% ou
mais da representação parlamentar.
Esta lógica fomenta governos maioritários estáveis, exceto se estivermos perante
um sistema partidário não estruturado (com o crescimento exponencial de certos
partidos) e exceto se a representação dos regimes autonomistas for significativa
- se o circulo eleitoral for significativo estes partidos podem acabar por ter uma
forte representação no parlamento (ex: 30 partidos representados na união
indiana, torna difícil fazer maiorias).
Sistemas maioritários a duas voltas:
Os sistemas maioritários a duas voltas geram bipolarismo, isto é, um quadro
partidário bipolar (com uma aliança de partidos à esquerda e outro à direita,
sendo u