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Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos 1 Direito Constitucional I Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Nota: estes apontamentos não dispensam a consulta dos manuais indicados pela Regência, nomeadamente: MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomos I-VII, Coimbra Editora MORAIS, Carlos Blanco de, Curso de Direito Constitucional, Tomo I, Coimbra Editora, 2012 MORAIS, Carlos Blanco de, Curso de Direito Constitucional, Tomo II, Almedina, 2018 A existência da sociedade humana exigiu, desde sempre, a necessidade de existirem meios de resolução de conflitos, de forma a salvaguardar os interesses e alcançar objetivos gerais. A natureza humana não é meramente altruísta, no entanto, da competitividade e da natureza conflitual do Homem pode resultar progresso. O conflito é uma realidade natural, até benéfica, já que incentiva à evolução, mas é necessário controlá-lo. O Direito surgiu para garantir esse controlo, como um conjunto de regras que ordenam e disciplinam a conduta humana em sociedade e cuja obrigatoriedade se encontra garantida por sanções, isto é, pela aplicação de penas e castigo para os infratores. Reger a sociedade humana pelas normas do direito obriga a que se deposite alguma autoridade em entidades, nomeadamente no que toca a criar ou alterar regras, fazê-las aplicar e cumprir. É desta forma que se fala em poder, que é de origens várias: Poder político – Autoridade exercida sobre a sociedade tendo em vista o progresso e a defesa dos interesses gerais. Cabe aos protagonistas do poder político assegurar a continuidade da sociedade, através das instituições. Numa sociedade democrática é o poder político que deve dominar, subordinando todos os outros, mas nem sempre isso acontece. Nas sociedades teocráticas, como é o caso do Irão, prevalece o poder religioso. Nas monarquias absolutistas, como é o caso da Arábia Saudita, prevalece o poder de uma só família reinante. Nos regimes ditatoriais de índole militar, como aconteceu em Espanha na ditadura franquista, o poder militar subordinava o poder político.

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  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    Direito Constitucional I

    Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais

    Nota: estes apontamentos não dispensam a consulta dos manuais indicados

    pela Regência, nomeadamente:

    • MIRANDA, Jorge, Manual de Direito Constitucional, Tomos I-VII,

    Coimbra Editora

    • MORAIS, Carlos Blanco de, Curso de Direito Constitucional, Tomo

    I, Coimbra Editora, 2012

    • MORAIS, Carlos Blanco de, Curso de Direito Constitucional, Tomo

    II, Almedina, 2018

    A existência da sociedade humana exigiu, desde sempre, a necessidade de

    existirem meios de resolução de conflitos, de forma a salvaguardar os interesses

    e alcançar objetivos gerais. A natureza humana não é meramente altruísta, no

    entanto, da competitividade e da natureza conflitual do Homem pode resultar

    progresso. O conflito é uma realidade natural, até benéfica, já que incentiva à

    evolução, mas é necessário controlá-lo. O Direito surgiu para garantir esse

    controlo, como um conjunto de regras que ordenam e disciplinam a conduta

    humana em sociedade e cuja obrigatoriedade se encontra garantida por sanções,

    isto é, pela aplicação de penas e castigo para os infratores.

    Reger a sociedade humana pelas normas do direito obriga a que se deposite

    alguma autoridade em entidades, nomeadamente no que toca a criar ou alterar

    regras, fazê-las aplicar e cumprir. É desta forma que se fala em poder, que é de

    origens várias:

    Poder político – Autoridade exercida sobre a sociedade tendo em vista o

    progresso e a defesa dos interesses gerais. Cabe aos protagonistas do poder

    político assegurar a continuidade da sociedade, através das instituições.

    Numa sociedade democrática é o poder político que deve dominar,

    subordinando todos os outros, mas nem sempre isso acontece. Nas sociedades

    teocráticas, como é o caso do Irão, prevalece o poder religioso. Nas monarquias

    absolutistas, como é o caso da Arábia Saudita, prevalece o poder de uma só

    família reinante. Nos regimes ditatoriais de índole militar, como aconteceu em

    Espanha na ditadura franquista, o poder militar subordinava o poder político.

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    Hoje, em pleno século XXI, fala-se na subordinação do poder político pelos

    grandes agentes económicos, pelo poder económico. Cabe ao Estado colocá-lo

    no seu lugar.

    Para impedir que seja capturado, o Estado deve disciplinar a Igreja, impondo

    nomeadamente a separação entre as instituições; regular a iniciativa privada; ditar

    critérios disciplinadores da liberdade de imprensa, regulando o mundo digital

    que tem vindo a assumir proporções gigantescas; limitar o poder familiar, através

    da adoção de regras de igualdade entre sexos e reconhecimento de situações

    familiares atípicas.

    O Estado apresenta-se como o ente territorial mais eficiente e perfeito no

    exercício de poderes de autoridade sobre a comunidade. Não é tão próximo das

    pessoas como o poder regional, mas dispõe dos recursos necessários para reger

    um território que abranja múltiplos municípios e regiões. Apesar de se envolver

    supranacionalmente, o Estado deve sempre preservar os interesses do seu povo

    prioritariamente.

    O Estado soberano contemporâneo e os seus elementos

    Estado

    -d

    om

    ínio

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    Estado Oriental - dimensão imperial; poder arbitrário sobre populações muitodiversas e limities fronteriços mal delimitados. A sociedade é organizada em classessociais; influência do poder religioso. O monarca representa quer o poder políticoquer o religioso.

    Cidade-Estado Grega - coletividas estaduais de pequena dimensão com fronteirasdifusas. Étnica e socialmente homogéneas, priveligiam os cidadãos que, entre si, sãotratatados como iguais, sobre outras minorias (mulheres, escravos, estrangeiros). Opoder político era representado de forma diferente consoante a pólis: democracia,oligarquia, tiranaia, autocracia miliar.

    Estado Romano - dimensão imperial; unidade do poder político, com alguma simbiosocom o poder religioso e o político; sociedade hierárquica com soberania do poderpatrício; consagração do estatuto de cidadão; diferenciação entre o direito público eprivado.

    Estado Medieval - relações de vassalagem que enfraqueciam o poder políticosoberano (monarca); sociedade extremamente estratificada em ordens; organizaçãojurídica caótica. Na fase absolutista: associação da soberania à pessoa (soberano não éo Reino mas o Rei), centralização plena, subordinação da nobreza (cortes) e do poderreligioso.

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    A noção de Estado Moderno resulta da Paz de Vestefália, de 1648, a qual assinou

    o termo da Guerra dos Trinta Anos. Nas clausulas do Tratado ficou claro que a

    soberania não ficaria apenas nas mãos do monarca, mas sim às fronteiras que

    integram os territórios a ele sujeitos; a Nação é soberana e irredutível; só o Estado

    (não a Igreja) detém poder político;

    As revoluções francesas e americanas serviram para consolidar a ideia de Nação

    como algo que ultrapassa o monarca e se estende aos súbditos, que passam a

    ser cidadãos.

    Estado contemporâneo: coletividade territorial integrada por um povo, que a

    ela se encontra ligado pelo vínculo da nacionalidade e por um poder político

    soberano.

    O ordenamento jurídico pode ser considerado um quarto elemento do Estado,

    já que o Direito limita o poder político. O exercício da autoridade política integra-

    se num ordenamento.

    Os Elementos do Estado

    O Povo

    Conjunto de pessoas ligadas a uma determinada coletividade estadual pelo

    vínculo jurídico da nacionalidade. Desta forma, o conceito de povo incluí

    efetivamente os emigrantes. Sem povo, como conjunto de pessoas sujeitas a

    deveres e titulares de direitos, não existe Estado.

    População: Conjunto de pessoas que residem num Estado, nomeadamente

    estrangeiros e apátridas.

    Nação: Conceito sociológico e cultural que abrange as pessoas unidas por

    tradições, necessidades e objetivos comuns. Por seu lado, o povo é um conceito

    jurídico que pode coincidir com a nação, ou englobar várias. Enquanto Portugal

    é um Estado-Nação, a Suiça é multinacional. Por outro lado, há nações compostas

    por diversos Estados, nomeadamente a curda ou a judaica.

    Regime da Nacionalidade

    Artº 4º - “São cidadãos portugueses todos aqueles que como tal sejam

    considerados por lei ou por convenção internacional”

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    A revisão de 2006 reforçou o princípio de “jus solis” em detrimento do “jus

    sanguinis”, de forma a acomodar os filhos de imigrantes estrangeiros e os

    próprios imigrantes em território nacional. No entanto, isto permitiu que muitos

    residentes sem qualquer vínculo pessoal ou cultural à sociedade portuguesa

    ganhassem o título de cidadãos.

    A nacionalidade pode ser de:

    i) Aquisição originária, que se sente desde o nascimento do titular, por

    via do “jus sanguinis” (filhos de pai ou mãe portugueses, nascidos em

    Portugal); por via “Jus sanguinis” e da vontade (filho de pai ou mãe

    portuguesa nascidos no estrangeiro, se declararem que querem ser

    portugueses); “jus solis” (filho de pai e mãe estrangeiros, desde que um

    deles tenha nascido em Portugal e tenha cá residência ao tempo do

    nascimento).

    ii) Aquisição derivada, que produz efeitos em momentos posteriores ao

    nascimento: adoção, naturalização e atribuição graciosa pelo Estado

    A perda da nacionalidade está limitada aos que, sendo nacionais de outro

    Estado, não queiram ser portugueses (artigo 8º)

    Cidadania Europeia

    Artigo 9º do Tratado de Lisboa: “É cidadão da união qualquer pessoa que tenha

    a nacionalidade de um Estado-Membro. A cidadania da União acresce à cidadania

    nacional, não a substituindo”. Direito à livre circulação, de eleger e ser eleito

    para o parlamento europeu, proteção diplomática fornecida por qualquer Estado

    Membro e direito de petição a diversas instâncias da União Europeia.

    Estatuto de estrangeiro e apátridas em território português

    Artigo 15º, número 1: “Os estrangeiros ou apátridas que residam em

    Portugal gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão

    português”. A exceção entre estes direitos, presente na cláusula 2, são os

    direitos políticos, exercício de funções públicas não-técnicas e outros

    direitos e deveres exclusivamente reservados a portugueses.

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    O poder político soberano

    O poder político, alude no contexto do Estado, ao conjunto de prerrogativas de

    autoridade cometidas a determinados órgãos da coletividade estatal, para que

    ordenem a vida coletiva e garantam os interesses gerais da coletividade. Há

    algumas coletividades políticas que detém poder político, já que este não é

    completamente centralizado, no entanto, este poder é legitimado pelo Estado,

    através da Constituição, encontrando-se dentro dos limites do direito estadual.

    Mesmo as organizações supranacionais e confederações, perante as quais o

    Estado sacrifica parte da sua supremacia, podem ser reformadas ou extintas pelos

    estados membros. Daqui resulta que o poder político do Estado diferencia-se das

    restantes formas de poder por possuir um atributo próprio, que é a soberania.

    terr

    itó

    rio

    terrestre - composto pelo solo e pelo subsolo, sem limite de profundida e demarcado à superfície pelas linhas de fronteira. A soberania do Estado é aqui plena.

    aéreo - formado pelo espaço suprajacente. Existem opiniões diversas no que toca ao limite superior deste espaço. Há quem defenda que o limite é o espaço atmosférico, outros defendem que corresponde à altitude

    máxima alcançada pelas aeronaves.

    marítimo - a sua

    delimitação está pela

    convenção de Montego Bay

    de 1982.

    - águas territoriais: 12 milhas, sobre as quais o Estado exerce soberania.

    - zona contígua: 24 milhas; o Estado é soberano no domínio da fiscalização e prevenção;

    - ZEE: 200 milhas para além do mar territorial; o Estado exerce direito de exploração e conservação dos recursos naturais para fins económicos.

    - Plataforma Continental: leito e subsolo das águas subaquáticas e qie se estende, para além do Mar Territorial, até às 200 milhas e a uma profundidade de 200 metros

    Soberania é a faculdade do Estado de se poder

    livremente organizar no plano jurídico, de poder

    tomar decisões obrigatórias para os cidadãos e

    para outros entes públicos e privados, e por ter

    capacidade de representar internacionalmente os

    interesses externos da coletividade, num quadro

    de igualdade com outros Estados

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    O estado, regra geral, nasce a partir de um movimento de autodeterminação do

    seu povo, no sentido de criação de uma coletividade territorial independente –

    essa determinação está presente no poder constituinte: o povo ou a sua

    representação podem aprovar uma Constituição, lei de hierarquia superior.

    A soberania dos Estados pode ser maior ou menor. Explicando, quando as

    internacionais explodem, como foi o caso da crise dos EUA em 2008, tornam

    evidente a fragilidade de muitos Estados – quanto maior for a fragilidade

    económica e financeira destes e a sua dependência de apoio financeiro externo,

    menor é a dimensão real e prática da sua soberania. Estados como Portugal foram

    obrigados a acatar ordens de agentes externos aquando do resgate financeiro,

    sendo privados da sua real autonomia. Por outro lado, alguns Estados mantêm-

    na independentemente das condições externas (EUA, Rússia, China, etc), por

    terem um maior poder de negociação externa. A soberania permite distinguir

    aqueles que são plenamente soberanos, como os mencionados anteriormente,

    dos Estados com soberania limitada (como o estados-membros da EU), dos

    Estados semi-soberanos ou de soberania diminuída, como é o caso da Bósnia ou

    do Kosovo, dos Estados falhados como a Somália, e dos estados não soberanos

    (estados federados autónomos que integram uma federação).

    O poder soberano na ordem constitucional portuguesa

    A soberania portuguesa é, segundo o artº 3º da Constituição Portuguesa,

    “una e indivisível”, ou seja, respeita o princípio da unidade nacional e não pode

    ser dividida por outras coletividades soberanas (sendo impossível conceder

    poderes soberanos às regiões autónomas, por exemplo).

    A soberania reside no povo que a exerce através de atos referendários (artº

    115) e do exercício de competências cometidas aos órgãos que, direta ou

    indiretamente, o representam. Estes órgãos de soberania compreendem o

    Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais.

    A soberania é garantida na alínea a) do artº 288 da CRP, que proíbe

    revisões da Constituição que não respeitem a independência e a unidade do

    Estado (exceção da UE).

    Formas Territoriais de Estado

    O poder territorial

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    O poder político compreende uma relação hierárquica de supremacia entre o

    centro do poder soberano e os territórios periféricos. É distribuído

    horizontalmente entre o centro e a periferia, pelo que as coletividades periféricas

    passam a exercer, dentro dos limites impostos pela CRP, atribuições de

    autoridade política. O tema território/poder político envolve debate entre fluxos

    de centralização e descentralização.

    Descentralização e Autonomia

    A descentralização territorial envolve um policentrismo de autoridades públicas

    com personalidade jurídica e dotadas de autonomia no exercício de funções

    jurídico-públicas, as quais dividem ou partilham com o poder político soberano.

    Não é o mesmo que desconcentração territorial, que consiste numa técnica

    utilizada pelo poder central para descongestionar os seus serviços e responder

    mais rapidamente às exigências locais ou regionais, atribuindo poderes de

    autoridade a órgãos que lhe estão hierarquicamente subordinados e estão

    instalados nos territórios periféricos para agirem em nome do Estado. No caso

    de Portugal, existem as Comissões de Coordenação Regional, que dependem do

    governo.

    O modelo centralista está desatualizado por razões:

    -Técnicas – mau desempenho funcional, porque um poder político

    plenamente centralizado não é capaz de dar resposta a todo o tipo de demandas;

    -Políticas – a população assume uma relação de proximidade com as

    comunidades territoriais onde residem, reclamando a possibilidade estas se

    autorregularem em matérias quotidianas e elegendo, para o efeito,

    representantes autárquicos.

    Em suma, a descentralização envolve duas espécies de coletividades territoriais

    com personalidade jurídica: Estado e as Coletividades Territoriais menores que o

    integram.

    No entanto, a descentralização é feita de formas diversas, consoante a

    necessidade de cada estado. Algumas têm um grau maior do que outras, por

    motivos de:

    - ordem espacial: grandes extensões territoriais e descontinuidade

    geográfica dentro do território estadual;

    - ordem histórica: costumes e tradição de território com um passado de

    identidade vincada (escócia, por exemplo);

    - ordem étnico-cultural: especificidades linguísticas, religiosas e étnicas, de

    certas comunidades territoriais;

    - ordem económica: territórios pobres e esquecidos pelo poder central ou

    territórios ricos e fortes contribuintes líquidos para o orçamento do Estado mas

    com pouco peso político no poder central;

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    Tipos de descentralização:

    - Descentralização administrativa: envolve a atribuição de autonomia

    administrativa (competência para aprovar normas regulamentares para a

    concretização de leis, aprovação de atos administrativos para a execução de

    normas, celebração de contratos administrativos e produção de bens e serviços)

    (baixo nível de descentralização).

    - Descentralização político-administrativa: competência para aprovar leis e

    atos políticos (nível médio de descentralização).

    - Descentralização constitucional: certas macro parcelas territoriais

    (estados autónomos) gozam, não só de todo o tipo de autonomia mencionado

    acima como também constitucional (faculdade de aprovarem e reverem a

    respetiva constituição, no respeito da constituição do estado-soberano que

    integram) e de autonomia jurisdicional (elevado patamar de descentralização).

    Formas de Estado

    Modelo inerente ao tipo de relações estabelecidas entre o poder político estadual

    e o território.

    Duas formas de Estado: O Estado Unitário e o Estado Federal.

    O maior critério de distinção entre ambas as formas de estado radica na unicidade

    ou pluralidade do poder constituinte e da Constituição.

    Estado Unitário: é regido por uma só Constituição e apesar de poder atribuir mais

    autonomia a coletividades territoriais que o integrem, há só um Estado. A

    Constituição, estando numa posição de supremacia perante as restantes leis, rege

    o poder político e as coletividades territoriais, que podem gozar de

    descentralização administrativa ou político-administrativa.

    Estado Federal: ideia de que uma dada coletividade territorial soberana é um

    Estado Composto, isto é, um estado que se desdobra em vários (estados

    federados). Cada estado tem uma constituição e um poder constituinte próprio –

    no entanto estas devem vincular-se à Constituição Federal, que lhes é

    hierarquicamente superior, sob pena de invalidade. Estas coletividades territoriais

    beneficiam de uma descentralização constitucional e uma autonomia mais

    avançada.

    Estado Unitário

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    Simples Regional

    Admite apenas formas de descentralização

    administrativa do tipo municipal

    Federalismo:

    • Originário ou Centrípto: nascem do acordo entre estados previamente

    independentes que renunciam à sua soberania para constituir uma federação.

    • Derivado ou Centrífugo: Estados Unitários que iniciaram um processo de

    transferência de poderes constitucionais, políticos e administrativos para

    regiões ou províncias, de forma a transformá-las e, estados federados.

    Outorga de poderes a partir do centro, para a coletividade.

    Região político-administrativa vs Estado Federado

    O Estado federado possui representantes próprios numa câmara parlamentar,

    compreende tribunais próprios, não possui comissários de estado no seu

    ordenamento e pode celebrar convenções regionais. A Região Autónoma não

    usufrui de nenhuma destas prerrogativas e, enquanto pode ter iniciativa no que

    toca à aprovação ou alteração do estatuto de autonomia, a palavra final é sempre

    a do Parlamento soberano do Estado.

    A República Portuguesa como um Estado Unitário Regional Periférico

    Nos termos da norma do artigo 6º da CRP “O Estado é unitário”

    Nº2 do mesmo artigo: os Açores e a Madeira são reconhecidos como regiões

    autónomas, dotadas de estatuto político administrativos e de órgãos de governo

    próprios

    Implica, a par da descentralização municipal, a

    criação de regiões, às quais são atribuídas

    poderes públicos de autoridade

    Estado unitário com

    regionalização administrativa

    (atribuição às autoridades das

    regiões, eleitas

    democraticamente,

    competências administrativas,

    financeiras e patrimoniais).

    Estado Unitário com

    regionalização político-

    administrativa (supõe que

    sejam cometidos às

    autoridades das regiões

    competências políticas,

    legislativas, administrativas,

    financeiras e patrimoniais.

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    Pode-se qualificar, por isso, o Estado Português como um Estado Unitário, com

    um regionalização político-administrativa parcial ou periférica, a qual se

    circunscreve duas pequenas regiões arquipelágicas: a da Madeira e dos Açores.

    O restante território encontra-se sujeito a um regime de autonomia puramente

    administrativa atribuída a autarquias locais (freguesias, municípios, zonas

    metropolitanas) – Artigo 235º da CRP.

    O Estado Unitário Português envolve, por conseguinte, uma municipalização

    administrativa no território continental e uma regionalização político-

    administrativa circunscrita aos arquipélagos da Madeira e dos Açores.

    As autarquias locais dispõem de autonomia administrativa, bem como património

    e finanças próprias, sendo ainda titulares de autonomia referendária de âmbito

    local. Tudo isto de modo a que consigam prosseguir os interesses próprios das

    populações locais. No entanto as autarquias encontram-se sujeitas a uma tutela

    administrativa de legalidade do Estado e as suas competências são definidas pela

    lei ordinária.

    O Estado e a legitimidade do poder político

    Legitimidade e Legitimação do poder:

    O Estado apresenta-se efetivamente como a única entidade pública dotada de

    capacidade para garantir, com elevado grau de efetividade, a obediência às suas

    normas, através de medidas coercivas. É o Estado o ente que detém, com maior

    perfeição, o monopólio do uso da força para fazer cumprir, junto das pessoas

    individuais e coletivas, as regras que dele promanam.

    O vínculo de obediência conduz à ideia de domínio. Segundo Max Weber,

    domínio implica a suscetibilidade de os membros de um grupo obedecerem a

    comandos, gerais ou específicos, manifestando um mínimo de vontade de acatar

    o poder de autoridade de onde brotam esses comandos.

    Embora todos os Estados constituam um tipo de domínio territorial, o Estado do

    século XXI apresenta-se como um modelo regido pelo primado da Constituição,

    pela separação de poderes, pelo princípio submissão da Administração pública à

    lei e pela salvaguarda dos direitos dos cidadãos através de tribunais

    independentes – Estado de Direito.

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    O conceito de Estado de Direito brota da ideia de que o Estado deve,

    necessariamente, ser dirigido por uma vontade racional, traduzida numa relação

    de domínio, caracterizada pela prossecução do bem comum, por leis justas

    acatadas por governantes e governados, excluindo assim o arbítrio e a violência

    injustificada no exercício de poder. Deve, por isso, haver um mínimo de vontade

    dos indivíduos em submeter-se aos comandos de uma autoridade, ou estamos

    parentes regimes autoritários em que o poder está meramente associado à força

    física.

    A justificação da relação de domínio que as autoridades exercem sobre as

    pessoas aponta para o conceito de legitimidade política. Legitimidade convoca

    a crença coletiva dos membros de uma comunidade na ideia de que aqueles que

    exercem autoridade “têm direito a fazê-lo”.

    Noção de legitimidade: conjunto de vínculos, valores e princípios de ordem

    cultural, política e jurídica que justificam junto dos governados o tipo de

    autoridade titulada e exercida pelos governantes.

    Legitimidade democrática (consentimento dos governados) e autocrática (sem

    este consentimento).

    Legitimidade

    Tradicional – fundamena a aceitação do poder político na sacralização

    de pactos e regras presentes desde tempos imemoriais, sendo a auoridade

    suprema concebida como depositário e guardião desses costumes. Ex:

    monarquias absolutas, teocracias.

    Carismática – providencialismo que rodeia as características de

    determinados líderes políticos, que por razões de ordem emocional ou afetiva,

    levam a comunidade a atribuir-lhes o título de heróis ou chefes excecionais, com

    capacidade de mobilizar uma grande franja da sociedade, para um desígnio

    coletivo - Caudilhismo revolucionário.

    Legal-Racional – supõe a obediência de governantes e governados à

    legalidade, em sentido amplo. Os cidadãos aceitam a autoridade de quem, nos

    termos da Constituição e da lei, dela é titular, em função das normas

    estabelecidas que determinam como e a quem obedecer. No fundo, o

    fundamento é o Direito.

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    No Estado de Direito, o fundamento do acatamento do poder é imputado pela

    vontade do próprio povo. O povo emergiu gradualmente como magnitude

    política, através: plebiscito; representação existencial; representação popular em

    assembleia. A ideia de que o povo exerce o domínio político estadual, mediante

    um mandato representativo, confiado a um grupo de pessoas que impõem os

    seus comandos a outro grupo, de acordo com regras jurídicas às quais uns e

    outros se submetem, constitui o fundamento de legitimidade do estado (material)

    de direito.

    Constituição: fundamenta o poder dos governantes e disciplina juridicamente a

    sua organização bem como as suas relações com os governados.

    O regime político e o sistema político são realidades distintas: O regime político

    é mais abrangente, funda-se na legitimação de um modelo de poder político

    territorial que regula a relação entre as autoridades soberanas e o povo,

    desdobrando-se em diferentes modalidades de organização institucional desse

    mesmo poder, ou seja, em diferentes sistemas políticos.

    Capítulo II. Os Regimes Políticos

    Legitimidade democrática:

    O fundamento da

    autoridade dos

    governantes resulta do

    consentimento expresso

    por uma vontade geral,

    livre, periódica e explícita

    dos governados.

    Legitimidade

    Revolucionária:

    Fundamento da

    titularidade do poder

    exercido por quem

    rompeu com uma

    ordem instituída e

    dispõe da força fáctica

    para fundar outra

    (reestruturação do

    Estado através de um

    programa ideológico de

    ação e da criação de

    uma nova ordem legal).

    Legitimidade legal-

    burocrática:

    Obediência simples às

    autoridades instituídas

    pelo sistema legal

    vigente, as quais atuam

    sob um aparelho

    administrativo, intrusivo

    e repressivo, e um

    ideário simples.

    Funciona em conjunto

    com outros tipos de

    legitimidade,

    nomeadamente a

    democrática.

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

    13

    Conceito: regime político define-se como o modelo doutrinal ou ideológico onde

    repousam os fundamentos da legitimidade do poder soberano de um Estado,

    bem como da definição do tipo de enlace jurídico-político que é estabelecido

    entre o povo e os órgãos que exercem o mesmo poder.

    A ideologia consiste na simplificação de uma doutrina política através de ideias-

    força que são transformadas numa crença política. As ideologias possuem uma

    dinâmica e um impacto mais ou menos intenso no modo de legitimação e

    organização do poder, na medida em que os seus paradigmas de organização

    política e social justificam distintas ordens jurídicas e políticas de domínio

    estadual, ou seja, diferentes regimes políticos.

    Classificação tripartida das formas de poder, segundo Aristóteles:

    Monarquia – governo de 1 só que se devia orientar para o bem comum, porque

    doutra forma tornar-se-ia uma tirania. (monarquia dualista e monista)

    Aristocracia – a autoridade pertence a um escol formado pelos melhores, que

    atuariam em interesse da sociedade, caso contrário tornar-se-ia uma oligarquia.

    Politeia/democracia: a autoridade pertence a toda a comunidade que age

    pensando no interesse comum, caso contrário torna-se numa demagogia (a

    autoridade é apropriada por um grupo político ou social). (república

    constitucional)

    Destes tipos “puros” poderia resultar uma pluralidade vasta de combinações.

    A democracia representativa trata-se de um sistema, integrado por um método

    (representação democrática), um processo (tradução dos resultados eleitorais em

    mandatos) e um critério de decisão (critério maioritário), que se destina a

    assegurar em permanência que as instituições políticas de um Estado exprimam

    uma vontade coletiva e unitária. Na democracia representativa, o titular do poder

    eleito declara de imediato, depois das eleições, a sua independência jurídica e

    política relativamente a quem o elege, estabelecendo-se um diafragma de

    separação entre corpo eleitoral e corpo eleito.

    Justificações que suportam o mandato representativo:

    • Os eleitores não teriam aptidão para se pronunciarem sobre todas as

    questões sobre as quais decidem os seus representantes

    Isto leva à necessidade de optar por candidaturas alternativas

    protagonizadas por uma elite política organizada e preparada para governar.

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

    14

    Isto torna, em parte, a democracia representativa num fenómeno elitista e

    competitivo.

    Os índices de qualidade dos regimes democráticos

    A erosão da democracia representativa

    O debate sobre a democracia representativa tem ganhado relevância nas últimas

    décadas, perante a ideia de que é deficitária e carece, ela própria, de ser

    democratizada, permitindo aos cidadãos que participem mais na vida política,

    durante o período entre eleições. Se do povo imana o domínio que legitima a

    democracia, o consentimento não deve ser reduzido à escolha eleitoral dos

    representantes, mas sim: o exercício do poder de um Estado fundado sob a égide

    da soberania popular; responsabilidade dos governantes perante governados;

    proteção de minorias; a possibilidade dos governados se fazerem ouvir entre

    eleições, de forma a que a sua vontade seja correspondida.

    A democracia é criticada já que a tomada de decisões à luz do critério maioritário

    prejudica, por vezes, a diversidade. Por outro lado, acusam-se as democracias da

    atualidade de se deixarem capturar pelo poder económico e financeiro.

    A apatia derivada da insatisfação da cidadania com os seus representantes geraria

    atos eleitorais cada vez menos participativos, e os partidos políticos tornar-se-

    iam meras máquinas publicitárias organizadas, financiadas de modo opaco,

    destinadas a, com base em ideias simplificadas e manifestações de propaganda,

    façam eleger a qualquer custo os seus candidatos.

    Principais críticas:

    • Reducionismo eleitoral: O modelo democrático seria insuficiente para

    exprimir todos os ângulos de vontade popular no governo, já que entre

    eleições, o povo não teria capacidade de influir na tomada de decisões dos

    seus representantes, em questões que abranjam direitos e preferências

    específicas (rosseau: o povo britânico é escravo entre eleições).

    • Clausura no processo de decisão: existe na democracia uma “cidade

    proibida” dirigida por uma elite política e económica que manipula o

    circuito de decisão sobre grandes problemas nacionais, fechado à

    discussão em espaço público (aumento da corrupção).

    • Captura do poder político pelo poder económico – os grandes agentes

    económicos ganham um peso maior do que o dos cidadãos votantes,

    passando a dominar grandes grupos de comunicação social, alimentando

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

    15

    a privatização em condições pouco benéficas para o Estado. Tudo isto fica

    ao alcance destes agentes devido aos fortes laços de dependência que são

    criados com o poder político, através, por exemplo, do financiamento de

    campanhas eleitorais (trade off).

    • Deslocação da soberania popular do Estado para estruturas económicas e

    financeiras transnacionais, (nomeadamente a U.E) e organizações

    internacionais (FMI, OMC) - poderosas organizações que com a

    globalização têm vindo a condicionar a liberdade de decisão política dos

    Estados, impondo-lhes opções políticas, económicas e sociais.

    • Sobre-representação nos media de minorias poderosas: os eleitos tomam

    decisões sob pressão de influentes minorias enquistadas nos media e

    universidades que lideram o espaço público (note-se a influência da

    extrema-esquerda em questões como a eutanásia, racismo, casamento

    homossexual, entre outros). Isto faz com que, por vezes, as decisões

    tomadas a nível de questões sociais, abranjam a opinião e a vontade da

    minoria, e não da maioria do eleitorado.

    • Engessamento da representação: há processos eleitorais por todo o

    mundo que condicionam a liberdade eleitoral, nomeadamente através de

    cláusulas-barreira muito elevadas.

    Cordões sanitários dos partidos mainstream contra partidos

    ideologicamente estigmatizados

    Ou então através da comunicação social, que demoniza partidos anti-

    sistema, ou até mesmo a manipulação dos circuitos eleitorais, em favor de

    uns partidos.

    • Partidocracia e representação: tem-se observado uma dependência e

    vinculação dos representantes, escolhidos por eleição, aos regimes

    partidários ou à liderança governativa. Estes partidos, por norma, estão

    mais preocupados com recolher a maioria dos votos possível,

    embrenhando-se numa máquina sofisticada de programas vagos e pouco

    marcados ideologicamente.

    • Afastamento das elites e eleitores do processo representativo: a

    degradação crescente da imagem pública dos dirigentes devido a casos

    de corrupção e o aparelhismo partidário têm conduzido ao declínio da

    militância, à falta de confiança dos cidadãos e à abstenção.

    • Domínio das internacionais partidárias e redução das escolhas eleitorais

    nacionais – a federação dos partidos nacionais em cartéis supranacionais

    de partidos europeus gerou um processo gerontocrático, a partir de

    cúpulas de grandes famílias.

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

    16

    • Substituição do “povo” pelo “indivíduo” e pela “sociedade civil” –

    emergência da noção de “cidadania do mundo” e de sociedade civil como

    um somatório de comunidades e grupos de interesses.

    • Representação formal: a representação substantiva sofreu uma explícita

    erosão devido à incapacidade dos partidos comunicarem com o eleitorado

    e pela facilidade com que se têm afastado do programa eleitoral.

    Democracia participativa: faculdade dos governados poderem, no período

    entre eleições, serem escutados pelos governantes em momentos de decisão.

    Anos 80: influência alemã: conselhos de concertação social – órgãos onde estão

    representadas entidades corporativas (empresários e sindicatos) que num

    determinado conselho discutem a legislação – chegar a um acordo de forma a

    diminuir a contestação.

    Manifestações da d.r: os atos administrativos que são desfavoreceis a alguém

    esse alguém deve ser previamente ouvido para que se possa manifestar.

    Democracia deliberativa: as opções de poder deviam ser legitimadas por um

    debate público alargado.

    Dimensão institucional: não acrescenta nada à democracia participativa.

    Não institucional: democracia digital: poder das pessoas, através das redes sociais

    (poderá ser considerado um poder informal com um elevado grau de influência).

    Podem parar golpes de estado ou deslegitimar governantes.

    Democracia semidirecta: instituto do referendo.

    A Alemanha permite referendo de forma muito restrita, já a Suíça tem-no como

    base da sua democracia.

    Em Portugal não há referendos constitucionais nem económicos. Pode-se

    referendar a regionalização, o aborto, casamento (modos de vida),

    autonomização, etc – os referendos não podem acontecer regularmente.

    O referendo mostra muitas vezes o divórcio entre o povo e os seus governantes.

    Opinião pessoal do professor- a favor do referendo, promove o debate e a

    participação cívica.

    Nenhuma destas modalidades de democracia consegue substituir a

    representativa.

    Ideia de pós-democracia: regime político que mantém as qualidades típicas da

    democracia evoluiria para novas formas de poder onde o papel do povo seria

    relativizado pela entrada em cena de outros agentes, nomeadamente os

    económicos. Governatização da política (governo >parlamento). Erosão do

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

    17

    princípio da igualdade: na sociedade civil teriam muito mais peso os órgãos

    económicos do que os comuns, de defesa do homem e do ambiente.

    Dependência de políticos de analistas e consultores. Atenuação da fronteira entre

    o público e o privado devido ao crescente quadro de privatização. Reforço dos

    partidos antissistema.

    Criação da firma global (com a globalização) – a globalização seria dominada por

    grandes órgãos empresarias internacionais que limitam a vida política de cada

    país (neoliberalismo).

    Degradação da democracia representativa. A liberdade de escolha dos cidadãos

    na decisão seria radicalmente diminuída.

    A ideia de pósdemocracia não é necessariamente justificável quando

    comparamos a política nos dias de hoje com as do século XX (inclusão das

    mulheres, por ex)

    O maior problema da democracia é efetivamente a captura por parte do poder

    económico.

    As democracias limitadas: regimes democráticos “iliberais”,

    “autoritários” e “deficitários”

    Existem regimes democráticos representativos que incorporam nos seus atributos

    fundamentais, restrições suficientemente significativas para que lhes seja

    reconhecida alguma atipicidade ou hibridismo.

    Democracias iliberais

    Estados de direito dotados de sistemas políticos e eleitorais que potenciam

    executivos estáveis e fortes, a redução da essência da representação parlamentar

    às principais forças partidárias e uma prática constitucional e política que

    proporciona apenas garantias parciais do exercício de diversos poderes políticos.

    Os defensores da democracia iliberal entendem que a democracia

    contemporânea, ligada à modernidade, estabeleceu uma conexão “contra natura”

    com o liberalismo, que tende a prejudicá-la. Para estes, a democracia influenciada

    pela ideologia liberal deixa de imanar de ser um poder soberano do povo assente

    no critério maioritário, para se transformar numa democracia dos direitos do

    Homem, na qual a soberania se transfere para o indivíduo, para os tribunais e

    para um conjunto de “veto players” onde abundam minorias instaladas, interesses

    económicos e sociais poderosos e os media.

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

    18

    A democracia iliberal apresenta-se, deste modo, como uma resposta à crescente

    hipertrofia demagógica dos direitos individuais, sustentada num discurso

    moralista de justiça que acaba por deixar que os indivíduos prossigam os seus

    objetivos, em vez de salvaguardar o bem comum. Os fundamentos da democracia

    iliberal sustentam-se na ideia de que quem é eleito pela maioria deve prosseguir

    os interesses nacionais, mesmo que tal implique, por vezes, ir contra as vontades

    das minorias (redução do poder dos veto players). Para além disto verifica-se uma

    separação de poderes mais estrita que evite que instituições não eleitas, como o

    poder judicial, interfiram na política, como agentes a pretexto da defesa dos

    direitos fundamentais.

    Democracias autoritárias

    Constituem um híbrido entre um regime democrático-representativo de índole

    competitiva e um regime autoritário semi-competitivo. Apesar dos governantes

    serem designados pelos governados em eleições minimamente pluralistas,

    existem condicionamentos à liberdade, à igualdade e à equivalência de opções

    entre forças políticas concorrentes, assim como uma excessiva concentração de

    poderes no executivo e compressões nos direitos políticos dos cidadãos.

    Tipos de democracia autoritária:

    • Tutelada – regime basicamente representativo onde existem domínios

    reservados a entidades não eleitas democraticamente e que detém um poder

    auto-regulador e/ou um direito de veto. Trata-se de um tipo de regime

    comum nos Estados em transição para a democracia (Portugal entre 1976 e

    1982, quando o Conselho da Revolução exercia um poder de autogestão em

    matéria miitar e operava enquanto órgão político de controlo da

    constitucionalidade).

    • Democracia de domínio: existência de forças fácticas com grande poder

    que condicionariam a autonomia dos governantes eleitos por um sufrágio

    eleitoral competitivo (situação do Kosovo, estado criado pela NATO e sujeito

    à sua proteção e influência).

    • Democracia delegante: não há uma correta separação dos poderes; há sim

    uma enorme delegação de competências ao Executivo, que atua sob

    controlos débeis – concentração efetiva de poderes no Presidente em

    detrimento do Congresso.

    • Democracia excludente: sufrágio não universal e não inclusivo (caso do

    regime sul africano do Apartheid, que só abrangia brancos, mestiços e

    indianos).

    • Democracia neo-cesarista: caso da Rússia. Estas democracias estão

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    relacionadas com a crença num líder forte. Aumento do poder do executivo,

    securitização da estrutura do Estado, repetidas restrições a direitos políticos.

    O exercício de direitos de reunião e manifestação da oposição é condicionada. O

    perfil czarista da democracia autoritária russa leva a que o sistema político se

    converta num semipresidencialismo de pendor presidencial híper-reforçado,

    quando o próprio Putin exerce a presidência da República, ou num

    semipresidencialismo primo-ministerial reforçado, quando o mesmo líder é

    designado Primeiro-Ministro por parte de um Presidente da sua confiança (isto

    ocorre quando Putin excede o número de mandatos sucessivos na presidência

    admitidos pela Constituição russa).

    O que existe na Federação Russa é, nada mais nada menos, do que um regime

    legitimado democraticamente embora com uma forte componente autoritária no

    acesso e no exercício do poder que, contudo, se diferencia de totalitarismos de

    Partido Único (china e cuba) ou de autoritarismos semi-competitivos (Irão, Brasil,

    atual Venezuela).

    O sistema político Russo envolve uma expressiva concentração de poderes no

    Executivo, mas o Parlamente tem competências político legislativas relevantes,

    podendo demitir o Governo. As eleições incidem sobre um espetro

    multipartidário, com as principais correntes políticas representadas na Duma,

    pese que com um uso superlativo de cláusulas de barreira que elimina a

    representação de pequenos partidos com alguma expressão eleitoral.

    As liberdades sofreram restrições mas não foram banidas, continua a existir

    imprensa oposicionista, apesar de ser vigiada; candidatos oposicionistas à

    presidência podem candidatar-se, pese o elevado número de candidaturas

    exigido; existe liberdade de formação partidária, apesar da diferença no

    tratamento entre candidatos na comunicação social.

    Apontamentos sobre as dificuldades de medição da qualidade e

    desempenho dos regimes democráticos

    Existe uma nova tendência da politologia contemporânea para avaliar, medir e

    classificar o desempenho qualitativo dos regimes democráticos através da

    elaboração de rankings. É de ter em atenção a “Freedom House”, o “Economist

    Inteligence Unit” e a “Polity IV Project” – em relatórios anuais, atribui-se a cada

    Estado uma pontuação quanto ao grau de realização efetiva de cada um dos

    critérios e indiciadores constitutivos da democracia, seguindo-se a respetiva

    soma e classificação final, do que resulta o posicionamento do mesmo Estado

    num ranking.

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

    20

    A problemática das classificações e da heterogeneidade metódica que

    comportam, levanta um conjunto de dúvidas quanto ao respetivo rigor e efetiva

    utilidade.

    Considera-se que os critérios do “economist inteligence unit” são os mais

    completos e eficazes para um ponto de partida de uma classificação mais rigorosa.

    Alguns dos seus critérios são:

    i) Processo eleitoral e pluralismo: é importante detetar restrições na

    apresentação de candidaturas, irregularidades, manipulações dos

    sistemas eleitorais, que prejudiquem o sufrágio universal e igualitário;

    transparência no financiamento dos partidos e liberdade na sua

    constituição; alternância do poder

    ii) Funcionamento do governo, nele compreendido a separação de

    poderes e freios e contrapesos: é fundamental saber se os

    representantes eleitos decidem sobre a política do Estado; se está

    garantida a independência do poder judicial; se há poderes não eleitos

    com veto na governação

    iii) Participação política: se há um esforço para que haja participação

    cidadã e se existem formas de democracia semidirecta e participativa.

    iv) Cultura política democrática: consenso sobre a virtude da democracia

    e promoção da ideologia na sociedade

    v) Direitos civis e políticos: liberdade de imprensa, de discussão, sindical

    e associativa; igualdade perante a lei, ausência da discriminação.

    Da análise dos diversos patamares de desenvolvimento das democracias

    competitivas, retiram-se três estádios essenciais:

    - Democracias avançadas: sistemas com um longo enraizamento no

    funcionamento das suas instituições democráticas, com mecanismos naturais de

    composição de conflitos, poder limitado e responsável, pluralismo, cultura

    democrática e liberdade política sem entraves;

    - Democracias consolidadas: Estados que experimentaram transições de regimes

    autocráticos para a democracia ou evoluções de democracia autoritárias para um

    quadro competitivo que apresentam certo tipo de insuficiências no processo

    eleitoral (prevenção de corrupção, controlo de poder, independência dos media,

    etc)

    - Democracias em transição: Estados que não completaram o seu transito de

    regimes totalitários ou autoritários para uma democracia competitiva embora já

    possuam, com imperfeições e insuficiências, os pressupostos fundamentais dos

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    sistemas democráticos, com relevo para o processo eleitoral pluralista e garantia

    mínima de direitos civis e políticos básicos.

    Influência terrorista: as democracias avançadas têm-se confrontado,

    especialmente desde 2015, com uma crescente ameaça terrorista dentro das

    fronteiras europeias e norte-americanas, que conduziram à restrição de direitos

    civis e políticos e até à sua suspensão em França, após declaração do Estado de

    emergência como sequência de repetidos ataques em Paris e Nice.

    Tudo aponta para uma continuação da atual ameaça e das medidas constritivas

    de direitos, bem como a adoção de medidas securitárias reforçadas. Denota-se

    um crescimento eleitoral dos partidos anti-imigração, por exemplo. Face a estas

    medidas, é questionável a manutenção destes regimes enquanto democracias

    avançadas.

    Secção III – Regimes Autocráticos

    Caracterização da Autocracia

    Ordem de domínio fundada num ideário oficial que fundamenta o exercício

    concentrado e não efetivamente controlado do poder político por parte de um

    grupo que domina as instituições estaduais e que restringe ou veda o acesso dos

    governados ao mesmo poder, mediante uma expressiva compreensão ou

    supressão dos seus direitos políticos. Esta ausência de separação dos poderes

    priva o regime de freios e contrapesos genuínos entre instituições. A supressão

    dos direitos políticos aos governados constitui um meio indispensável da

    conservação do monopólio do poder por um grupo restrito e organizado, que

    exclui ou reduz o papel de qualquer alternativa política. Por último, o Estado é

    embebido num ideário que intenta justificar o fundamento da concentração da

    autoridade na esfera do grupo de domínio.

    Tipologia elementar

    Os estados autocráticos podem diferenciar-se em dois modelos sub-típicos: o

    Estado Totalitário e o Estado Autoritário.

    Estado Totalitário

    O estado totalitário envolve uma cosmovisão ideológica integral do homem, da

    sociedade e da política. Um partido único detém a autoridade pública e exerce-a

    de forma exclusiva, utilizando para a conservar, o monopólio da comunicação

    social e da educação, acompanhados por um aparelho repressivo de caráter

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

    22

    judicial, político e paramilitar. O Estado Totalitário apodera-se plenamente do

    poder de intervir na esfera pessoal dos cidadãos.

    Exemplos: Alemanha de Hitler ou a URSS comunista.

    Características do totalitarismo:

    • Existência de uma ideologia oficial do Partido e do Estado (utópica) –

    propõe construir uma sociedade ideal, reduzindo para o efeito o

    pluralismo da sociedade civil e a autonomia individual;

    • Criação de um partido único com caráter dirigente, organizado, com

    formação política de massas, hierarquizado e disciplinado;

    • Liderança do Partido e do Estado por um ditador ou por um diretório que

    concentra o núcleo das funções estaduais;

    • Meios de comunicação operam como veículos de propaganda;

    • Aparelho repressivo policial dirigido contra todo o tipo de oposição;

    • Nominalização dos direitos civis, esvaziamento dos direitos políticos

    perante o arbítrio de decisões concretas.

    • Direção concentrada de toda a economia, mediante uma planificação

    centralizada

    O Estado Autoritário

    Um estado autoritário caracteriza-se pela existência de um ideário público que

    justifica uma concentração do poder num órgão supremo que, sem intentar

    moldar a esfera privada dos cidadãos e a vida em sociedade ou derrogar a

    legalidade, enseja dirigir e dominar os aspetos fundamentais da vida política do

    Estado, limitando significativamente a escolha dos governantes pelos governados.

    Características dos Estados Autoritários:

    • Existência de um ideário estatal, integrado por valores de abertura e

    consistência variável, que estrutura alguns elementos da vida em

    sociedade mas que respeita diversas expressões do pluralismo social, que

    é tolerado, embora com limites.

    • Existência de um órgão de poder supremo, em regra o Chefe de Estado ou

    de Governo, sustentado por estruturas formais ou informais de poder,

    exercendo controlo decisivo sobre as demais instituições e um poder de

    mobilização social sem grande intensidade permanente;

    • Existência de um aparelho policial repressivo dirigido a inimigos objetivos

    do regime e a opositores cuja conduta possa enfraquecer seriamente este

    último- não se inibem formas toleradas de oposição política e há alguma

    margem para liberdade de expressão;

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

    23

    • Compromisso, mais ou menos variável, do Estado de legalidade com

    formas nominais ou limitadas de legitimidade democrática,

    nomeadamente através de plebiscitos e de eleições semi-competitivas;

    • Respeito pelos direitos de propriedade e iniciativa privada; grau variável

    de medidas de planeamento e de intervenção do Estado na economia e

    nas relações laborais.

    São variantes do estado autoritário: sultanismo, regimes militares,

    cesarismos revolucionários, gerontocracias institucionais, teocracias com

    pluralismo limitado, corporativismos autoritários.

    Sultanismos:

    Regime personalizado numa chefia tradicional ou carismática oriunda de uma

    família ou de um clã, a qual exerce poderes de autoridade sem os limites

    próprios de um Estado de Direito. O sultanismo prescinde muitas vezes de um

    ideário de legitimidade.

    O modelo típico reconduz-se às monarquias absolutas do Golfo Pérsico.

    Regimes Militares:

    Afiguram-se muitas vezes como ditaduras transitórias provocadas por uma

    crise institucional grave em que as forças armadas detém excecionalmente o

    poder político, autoinvestindo-se num mandato temporariamente limitado. O

    nacionalismo constitui o ideário comum à grande maioria dos regimes

    militares. Existe por norma um chefe carismático na liderança, oriundo das

    forças armadas. Podem também governar de forma mais colegial, através de

    um diretório ou junta miliar, como aconteceu em Portugal em 1975; ou

    simplesmente tutelar o poder civil, através de um chefe de estado não militar.

    Existem ainda formas híbridas de autocracia protagonizadas pelo poder

    militar que operam através da institucionalização de um regime dominado

    indiretamente pelas forças armadas, mas que incorpora um pluralismo

    político limitado em eleições semi-competitivas, onde um dos partidos

    representa interesses militares. Nestes casos a tutela castrensa não é

    transitória, é sim definitiva.

    Cesarismos socialistas-revolucionários:

    Substrato ideológico marcado, erigido em torno de um chefe ou caudilho que

    lidera o Estado, em aliança expressa ou tácita com um setor militar e uma

    vanguarda político-social procurando instituir um regime autocrático de

    vocação permanente, com ou sem componente eleitoral.

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

    24

    Estamos perante autocracias semi-militarizadas, servidas de partido único e

    com um forte aparelho repressivo.

    Movimentos socialistas revolucionários de base militar que assumiram o

    poder político, em regra através de atos de força e pouco depois de um

    movimento de descolonização predominaram na edificação deste tipo de

    regimes. Muitas vezes são oriundas de movimentos de guerrilha e

    movimentos independentistas que se converteram a partidos.

    Teocracias:

    Regime político fundado numa ideologia extraída de uma confissão religiosa.

    O poder político é tutelado por lideranças religiosas.

    Existem regimes teocráticos autoritários que excluem eleições competitivas e

    em que o poder político se concentra numa liderança religiosa messiânica

    assente num partido único – caso do regime talibã que governou o

    Afeganistão entre 1996 a 2001.

    Paralelamente, existem formas de teocracia que conjugam elementos de

    pluralismo limitado, como é o caso da República Islâmica do Irão – fazem

    assentar a legitimidade do poder na religião e integra constitucionalmente

    órgãos supremos de autoridade religiosa que não são eleitos por sufrágio

    popular, como é o caso do Guia Supremo, com faculdades de chefia militar,

    entre outras. Estes regimes admitem, dentro dos que adotam a filosofia

    pública estadual, partidos políticos e candidaturas alternativas independentes

    oriundas de partidos ilegalizados, mas existentes e tolerados. O Executivo e o

    Legislativo são equilibrados entre si, mas condicionados pela ação supervisora

    da liderança religiosa.

    Autoritarismos corporativos:

    Filosofias nacionalistas de índole católica, agregando um partido político

    único e concentrando os poderes do Executivo e de parte do legislativo num

    chefe. Estado essencialmente intervencionista e vocacionado para a exigência

    de uma cooperação entre classes.

    Estado novo: coportativismo contra-revolucionário e civilista que aliou uma

    elite universitária e económica com a Igreja católica, chefiado pelo conselho

    de ministros.

    Ditadura franquista: caudilhismo militarista, corporativo e católico, centrado

    no poder quase absoluto do Chefe de Estado, o General Francisco Franco,

    articulado com as forças armadas.

    Gerontocracias institucionais:

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    Primado do poder executivo encimado por um líder forte, subordinado aos

    interesses de um grupo político, económico e militar fechado, por um robusto

    aparelho securitário e por uma pesada burocracia administrativa, responsável

    pela continuidade institucional e funcional do “status quo”. Reflete um tipo de

    poder oligárquico dirigidos por um grupo político de domínio fechado e

    composto por lideranças estáveis e envelhecidas.

    Processos de transição para a democracia

    Em sentido amplo, uma transição política consiste no processo de transformação

    operada num dado regime estadual, de modo a que o mesmo transite para um

    tipo de regime diverso. Em tese, a transição pode significar quer a transição de

    uma ditadura para uma democracia como de uma democracia para uma

    autocracia.

    A transição de regime político tem pontos de coincidência (e também de

    disjunção) com a transição constitucional, já que significa a substituição de uma

    forma de poder por outra, sustentada por um tipo de legitimidade distinto.

    Contudo, existem transições constitucionais em que a substituição de uma

    Constituição por outra não envolve uma mudança de regime, mantendo-se o

    mesmo fundamento de legitimidade de poder.

    A transição de regime político m sentido estrito ou “originário” traduz-se na

    transição para uma nova ordem política. São fenómenos não revolucionários de

    índole interna, em que a rotura material de um antigo para um novo regime se

    faz através da reforma da constituição ou através da criação de uma nova Lei

    Fundamental.

    Existem ainda modalidades secundárias ou derivadas de transição, quando

    acontecem por via de um ato de força militar ou revolucionária, que

    desencadeiam o processo de passagem para outro regime político.

    A transição política para a democracia depreende que o regime autoritário

    representa algo de anómalo, que restringe o Estado de Direito.

    Os regimes totalitários são propensos a transições pacíficas, atenta a força do

    elemento ideológico. Normalmente, nestes casos, as transições são ditadas pela

    influência externa, como foi o caso do Japão e da Alemanha terminada a II Guerra

    Mundial.

    Causas imediatas e percursos

    As transições políticas em sentido estrito que se pautam pacificamente,

    geralmente ocorrem numa fase de:

    • Envelhecimento ou morte do ditador

    • Esmaecimento da ideologia e perda da mobilização popular

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    • A título eventual, a derrota eleitoral do poder em plebiscitos ou eleições

    semi-competitivas

    • Esmaecimento do controlo sobre os media, universidades, corporações,

    etc

    • Irrupção de reivindicações políticas de mudança, oriundas de uma

    sociedade civil autónoma

    Em alguns casos são os próprios regimes autocráticos que preparam a transição

    para um regime mais democrático.

    Os sistemas políticos em regime democrático

    Os regimes políticos, como modelos de legitimidade do poder estatal e do tipo

    de relacionamento político entre governantes e governados, desdobram-se

    numa pluralidade de sistemas políticos, os quais respeitam ao modo concreto

    como, num dado regime, os órgãos soberanos que exercem o poder político se

    posicionam e articulam entre si. O regime é, pois, uma categoria mais ampla que

    pode ser servido por diferentes diversos tipos de sistemas políticos. O universo

    civilizacional ocidental de matriz judaico-cristão onde Portugal se integra estriba-

    se, no que toca à organização do poder político, no paradigma jurídico e cultural

    do Estado de direito democrático, concebido nas suas raízes pelo movimento

    constitucionalista iniciado no século XVIII. Paradigma este que predica que a

    fonte de autoridade dos governantes derive da vontade livre dos governados

    submetidos às suas decisões e em que a autoridade soberana deve ter-se por

    limitada, tanto por um sistema de freios e contrapesos entre poderes separados,

    como pela garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana assegurada por

    tribunais independentes.

    O sistema político como estrutura do poder:

    O facto de um regime político estadual assumir uma natureza democrática

    transmite-nos muito pouco sobre o modo concreto como os órgãos que exercem

    o poder soberano se encontram estruturados, se posicionam nas suas revelações

    recíprocas e funcionam como um todo, na expressão de vontade coletiva. Apenas

    depreendemos que os titulares dos mesmos órgãos são eleitos pela vontade

    popular e que os poderes são separados. Todavia, isso nada nos diz sobre:

    i. Qual a instituição soberana (chefe de estado, governo ou parlamento)

    ii. Se as instituições soberanas dispõem do poder de interferir politicamente

    na subsistência dos mandatos dos titulares das restantes instituições

    (provocando a sua dissolução, demissão ou destituição)

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    iii. Em que medida o sistema eleitoral de designação dos titulares dos órgãos

    parlamentares tem impacto na estabilidade do poder executivo, assegura

    uma representação minimamente fiável do eleitorado e permite um

    modelo satisfatório de governabilidade

    O sistema político pode, assim, ser definido como o modelo de estruturação e de

    relacionamento dos órgãos de soberania no exercício do poder político.

    O sistema político começa por ser um modelo ou um paradigma de governação,

    concebido na base de uma metodologia através da qual se agrupam tributos

    comuns e permanentes entre diversas formas de organização do poder, o que

    permite a inclusão em categorias.

    Sistemas parlamentaristas:

    O traço comum a todos os sistemas parlamentaristas consiste no facto de

    repousar exclusivamente na vontade funcional de um Parlamento

    democraticamente eleito, a fonte da investidura ou legitimação, de

    responsabilidade política e da subsistência em funções do Governo, bem como

    pelo facto de o Chefe de estado não exercer poderes independentes da direção

    e controlo político, com caráter relevante, sobre as demais instituições.

    O sistema parlamentar, como um todo, assenta nos seguintes atributos:

    • Coexistência, num cenário de separação de poderes de: Chefe de Estado,

    Parlamento e Governo;

    • Poder assente na confiança política entre Parlamento e Governo, pautada

    por controlos recíprocos, mas com dependência do segundo perante o

    primeiro, no sentido em que o Governo emana do Parlamento, é por este

    confirmado em funções com base num voto de investidura. O Governo

    responde a título exclusivo perante o Parlamento, e só se mantém em

    funções quanto não receber a sua reprovação política;

    • Existência de uma diarquia institucional e simbólica no poder Executivo,

    formado pelo Governo e pelo Chefe de Estado – ambos encabeçam o

    poder executivo, mas a posição do Chefe de Estado é quase que

    meramente simbólica.

    • Menor peso político do Chefe de Estado na triangulação institucional

    descrita, na qualidade de Monarca ou de Presidente da República – exerce

    funções honoríficas de representação, bem como faculdades certificatórias

    (promulgação obrigatória de leis) e poderes limitadamente arbitrais ou

    reguladores.

    A multiplicação de sistemas com arquitetura política, especialmente após a

    queda da URSS, justifica que se deixe de falar em parlamentarismos “atípicos”

    para que se passe a crismá-los como parlamentarismos com arbitragem

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    presidencial, na medida em que se pontifica um Chefe de Estado

    democraticamente eleito com poderes politicamente pouco relevantes mas onde

    podem emergir algumas responsabilidades arbitrais ou reguladoras.

    O Parlamento obtém a sua legitimação direta da vontade popular expressa

    eleitoralmente. Tal circunstância confere-lhe o status de fonte primária de poder

    que lhe permite não só designar outros órgãos soberanos, como também tornar

    o Governo politicamente responsável apenas perante ele.

    O sistema de partidos representados no Parlamento influencia radicalmente a

    configuração deste sistema político, mediante a sua dispersão.

    Existem sistemas parlamentares em que um Governo, apoiado por uma

    bancada parlamentar maioritária que controla ou domestica, se afirma como

    instituição liderante. Tal ocorre quando a composição parlamentar é dominada

    por dois partidos que alternam no poder e logram, quando vencem eleições, uma

    maioria absoluta de mandatos no Parlamento, ou sistemas multipartidários, com

    um partido hegemónico que domina a composição parlamentar.

    Já um Parlamento fragmentado numa pluralidade de partidos rígidos e

    independentes dificulta a existência de governos maioritários homogéneos,

    tornando os Executivos totalmente dependentes de alianças, arranjos e acordos

    obtidos no parlamento. Neste caso é a instituição Parlamentar que lidera.

    Regista-se deste modo uma diferença muito expressiva entre os chamados

    sistemas parlamentares racionalizados, rom relevo para o sistema de gabinete

    britânico onde o Governo é suportado por uma maioria parlamentar absoluta e

    é a instituição faticamente liderada, e os sistemas parlamentares de assembleia,

    onde fluidas combinações e compromissos parlamentares sustentam governos

    frágeis e absolutamente dependentes do apoio ou da tolerância de um

    Parlamento liderante.

    Sistemas Presidencialistas

    Um sistema presidencialista consiste na legitimação popular do Presidente da

    República por via de uma eleição por sufrágio universal, na chefia direta do

    Governo ou Administração pelo mesmo Chefe de Estado e na independência

    política e funcional estabelecida entre este último e o Parlamento, sem prejuízo

    da existência de controlos recíprocos.

    É um regime onde a separação de poderes teorizada por Montesquieu está

    mais presente, atentando nomeadamente para o sistema americano, onde o

    presidente exerce funções executivas e o Congresso exerce funções legislativas.

    Por outro lado, no sistema parlamentar brasileiro, há uma supremacia

    política do Presidente sobre o Parlamento, já que pode articular alianças

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    parlamentares para obter uma maioria de apoio no Congresso (pode tecer

    maiorias parlamentares variáveis) e emitir medidas provisórias.

    No presidencialismo o Presidente detém a chefia direta do Governo e

    estabelece uma relação político-institucional com o Parlamento – o Presidente

    não pode ser demitido pelo Parlamento por razões de confiança política, mas o

    presidente também não pode dissolver a instituição parlamentar.

    O presidente é eleito por sufrágio universal.

    Sistemas semipresidencialistas

    O semipresidencialismo nasceu oficialmente na Constituição Francesa

    após a IV República, estando conectada também à Constituição da Alemanha de

    Weimar, no pós I Guerra Mundial (1919). Envolve a existência de um sistema

    híbrido ou misto em que o Governo encabeçado por um Primeiro Ministro é

    duplamente responsável, no plano institucional ou político, perante o Parlamento

    e perante um Presidente eleito por sufrágio universal que dispões da faculdade

    de exercer poderes com alguma relevância a nível de controlo interinstitucional,

    destacando-se a liberdade para dissolver um parlamento.

    Este sistema tanto pode compreender subtipos de maior pendor

    presidencial, como França, e de forte pendor parlamentar, como Áustria, ou de

    geometria variável, que vacila entre pendor parlamentar e governantes, como

    acontece no caso português.

    O sistema diretorial como figura residual

    Sistema diretorial trata-se de uma categoria isolada e atípica que consiste

    numa democracia consociativa de fonte parlamentar, alicerçada numa relação

    estreita entre o Parlamento e um Diretório executivo, em que os membros deste

    último são elegidos pelo primeiro, de modo a que nele estejam representadas as

    principais forças partidárias, sendo o Chefe de Estado um cargo meramente

    simbólico e rotativo entre os membros do Diretório.

    Exemplo: Suiça

    Crítica: alguma oligarquização, já que os resultados eleitorais pouco contam para

    a composição do Direito.

    O que caracteriza o sistema político são os tipos de vínculos de

    dependência entre os órgãos de soberania que exercem a função pública. Estes

    vínculos encontram-se previstos nas Constituições, que são o estatuto jurídico de

    organização e funcionamento do poder do Estado. São a base de caracterização

    do sistema.

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    Certo é que as normas constitucionais carecem de interpretação e nem

    sempre o seu significado literal coincide com a sua relação objetiva de significado.

    É necessária uma compreensão juridicamente adequada destas normas

    constitucionais, que nem sempre está ao alcance do cidadão comum.

    Existe uma divergência entre constitucionalistas e politólogos sobre o

    cerne da definição dos sistemas. Os politólogos, ao contrário dos

    constitucionalistas, creem que a prática é mais relevante do que a norma,

    incorrendo no erro de considerar que, quando o Presidente de um sistema

    semipresidencial é menos ativo, o sistema se parlamentariza.

    Ora, os sistemas não mudam por força de impulsos e relações de força

    episódicas num dado momento ou ciclo político, mas sim por via de significativas

    alterações constitucionais.

    Sem embargo, a Constituição pode mudar por via formar ou por mutações

    informais, geradas por práticas contra-legem, costumes e práticas consolidados

    sem oposição e pela jurisprudência internacional e constitucional: o costume faz

    caducar normas.

    Ou seja, a Constituição é a base, mas das suas normas não se logra,

    frequentemente, extrair o modo como o sistema opera na realidade.

    Exemplo:

    As constituições francesa e portuguesa preveem um sistema semipresidencialista.

    Em Portugal, o costume fez caducar as normas que atribuíam ao Presidente

    competências de demissão de governos, sendo que esta faculdade é

    percecionada como uma última solução, em caso de extrema necessidade. Por

    outro lado, em França está-se perante um mecanismo comum de direção

    presidencial, que o Chefe de Estado usa para criar uma maioria parlamentar

    favorável ou para reforçar a maioria existente. Sempre que é eleito ou reeleito e

    se defronta com uma maioria parlamentar adversa, o Presidente dissolve.

    É incontornável a existência de práticas reiteradas, uniformes e consolidadas

    temporalmente nas relações institucionais, que geram uma espécie de “soft law”

    constitucional – convenções: costumes não retificados pelos tribunais superiores,

    que não são invocados pelos tribunais (soft law), mas que são importantes pois

    são usados permanentemente pelo poder político – estatuto da oposição,

    governo sombra da oposição, etc. Isto é, embora a derrogação de uma convenção

    não seja sancionada juridicamente com invalidade, o eleitorado e a opinião

    publica podem reagir negativamente.

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    A relação incontornável entre sistema eleitoral, sistema de partidos e

    sistema político de governo

    Sistemas eleitorais

    A escolha entre este ou aquele sistema eleitoral envolve diferentes

    conceções de democracia: ou se opta por um modelo de pendor maioritário e

    decisional que privilegia um vencedor entre os grandes partidos, facilitando

    maiorias parlamentares politicamente homogéneas e aptas a formar governo, ou

    se escolhe um modelo de pluralismo dispersivo e igualitário, preferindo-se a

    representação equitativa de todas as forças com um mínimo de expressão

    eleitoral, ou se opta ainda por uma vertente híbrida entre estes modelos.

    No Estado democrático de direito, o sistema eleitoral condiciona o formato

    de sistema de partidos e contribui para a própria consolidação da democracia.

    O sufrágio eleitoral pode ser:

    • Direito ou individual, englobando um colégio eleitoral geral e homogéneo

    que congraça os cidadãos eleitores, podendo o mesmo coincidir com um

    círculo nacional único ou decompor-se em colégios territoriais,

    correspondentes aos círculos eleitorais ordenados geograficamente.

    • Indireto, englobando uma sucessão ordenada de colégios em que os

    eleitores de um colégio eleitoral vão designar os eleitores de outro colégio

    de grau superior, sendo, eventualmente, estes que elegerão o titular ou os

    titulares de poder (caso norte-americano)

    Noção de sistema eleitoral: conjunto de normas, procedimentos e técnicas que

    estruturam de forma coerente o modo como a preferência dos eleitores, expressa

    em votos, se transforma na designação de mandatários (fundamentalmente o

    Presidente da República e os membros do parlamento) que irão desempenhar

    funções públicas como titulares do poder político.

    Sistema maioritário a uma volta.

    Eleição presidencial

    Sistema a duas voltas (se nenhum candidato

    obtiver maioria absoluta no primeiro turno,

    realiza-se segunda volta com os dois

    candidatos mais votados).

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    Já a forma de escrutínio numa eleição parlamentar produz efeitos mais

    expressivos na dinâmica e na própria definição do sistema, pois:

    - Uma maioria partidária politicamente homogénea de oposição ao chefe de

    estado, nos sistemas presidencialistas, pode diminuir ou travar o poder do

    Presidente na tomada de certas decisões, enquanto o oposto pode facilitá-las.

    - Uma maioria parlamentar de apoio ou de oposição ao governo nos sistemas

    parlamentaristas e semipresidencialistas pode, respetivamente, estimular ou

    frenar, a liderança institucional e a durabilidade desse Governo, já que a

    subsistência e estabilidade política governamental depende da confiança

    parlamentar.

    Modo como logram transformar os votos em mandatos e influir na representação

    parlamentar dos partidos que se submetem a atos eleitorais:

    • Sistema maioritário: o Estado divide-se em círculos ou circunscrições

    eleitorais de pequena dimensão e o partido vencedor ganha a totalidade

    dos mandatos em disputa – convida à concentração utilitária dos sufrágios

    em grandes formações ou alianças partidárias “voto útil”. São sistemas

    com uma elevada força centrípeta (winner takes all) .

    • Sistemas proporcionais: o Estado divide-se num único círculo plurinominal

    ou em círculos regionais plurinominais, os partidos apresentam uma lista

    de candidatos nas circunscrições em disputa e o número de mandatos

    atribuídos a cada partido, por círculo, tem uma correspondência mais ou

    menos acentuada, em relação ao número de votos nele obtidos,

    favorecendo-se, regra geral, uma distribuição equitativa de lugares entre

    grandes, médias e pequenas formações partidárias.

    • Sistemas mistos: o eleitor dispõe de dois votos, um para eleger um

    mandatário num círculo uninominal e outro para eleger mandatários

    constantes de listas partidárias em círculos plurinominais, procurando

    favorecer-se, por regre, os maiores partidos sem prejudicar a

    representação das minorias, com uma expressão eleitoral minimamente

    relevante.

    Sistemas maioritários a uma volta:

    Lei de Duverger:

    Os sistemas maioritários a uma volta gerariam, simultaneamente, um quadro

    partidário bipolar ou dualista e um bipartidarismo perfeito. Este fenómeno ocorre

    no Reino Unido (Partido Conservador e Partido Trabalhista) e nos EUA (Partido

    Republicano e Partido Democrata). Isto porque o sistema favorece, claramente,

  • Regência do Senhor Professor Doutor Carlos Blanco de Morais Ano 1, TB 2017/2018 Inês Bastos

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    dois partidos dominantes que se alternam no poder e que concentram 85% ou

    mais da representação parlamentar.

    Esta lógica fomenta governos maioritários estáveis, exceto se estivermos perante

    um sistema partidário não estruturado (com o crescimento exponencial de certos

    partidos) e exceto se a representação dos regimes autonomistas for significativa

    - se o circulo eleitoral for significativo estes partidos podem acabar por ter uma

    forte representação no parlamento (ex: 30 partidos representados na união

    indiana, torna difícil fazer maiorias).

    Sistemas maioritários a duas voltas:

    Os sistemas maioritários a duas voltas geram bipolarismo, isto é, um quadro

    partidário bipolar (com uma aliança de partidos à esquerda e outro à direita,

    sendo u