direito civil - prof. critiano chaves
TRANSCRIPT
DIREITO CIVIL
Professor: Cristiano Chaves de Farias
Aula 01 – 28/01/2009
ESTRUTURA DO DIREITO CIVIL
A história do direito civil, apesar de muitos fazerem
referencia ao direito romano, o correto seria dizer que a
história moderna do direito civil não se prende ao direito
romano. Neste, havia uma feição residual, porque o corpus
iuris civilis era tudo o que não fosse penal, ou seja,
abrangia toda matéria não penal. Assim, o direito civil não
tinha uma estrutura definida. Era o tudo e o nada ao mesmo
tempo.
A estrutura do direito civil, tal como conhecemos, só veio
a ser organizada em 1804, que foi a edição do primeiro
grande Código Civil da era moderna, que foi o Código
Napoleônico, code de France. Sua importância se deu porque
ele foi elaborado no momento da ascensão da Revolução
Francesa.
O Código Frances levou para o âmbito jurídico os ideais da
revolução francesa, a saber: igualdade, liberdade e
fraternidade. Assim, o que se queria era combater o
absolutismo estatal, ou seja, o particular era livre, a
propriedade privada etc. Logo, a presença do Estado foi
combatida, expurgada do direito civil. A relação aqui seria
entre pessoas livres e iguais e a presença do Estado
afetaria a liberdade e a igualdade das partes. Aqui, houve
a clivagem do direito entre público e privado.
Apos o Código Civil Frances, o Código Civil Alemão foi o
segundo grande código da era moderna. Uma reflexão devr ser
feita, no entanto. Todo código reclama valores, princípios
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 1
norteadores. Existem diferenças entre compilação,
consolidação e codificação, que se referem a agrupamento de
normas.
A compilação é um agrupamento de normas já existentes em
ordem cronológica.
A consolidação também é um agrupamento de normas já
existentes, mas não é um agrupamento em ordem cronológica,
sendo um agrupamento da matéria feito de forma sistemática.
A codificação se contrapõe das outras figuras porque nela
há um agrupamento de normas que serão elaboradas para
disciplinar uma matéria. É extremamente valorativa, porque
todas as normas que serão elaboradas devem ser submetidas a
valores.
Para Miguel Reale, o direito seria fato, valor e norma. É a
teoria tridimensional do direito.
Ao se elaborar um código, há a edição de várias normas
sobre uma determinada matéria, submetidas a valores comuns,
ou seja, submetidas a princípios norteadores.
O referencial histórico dos códigos francês e alemão era o
individualismo e o patrimonialismo, porque era necessário
naquele momento tutelar o patrimônio e o indivíduo.
Para proteger o patrimônio da pessoa individualmente
considerada, era necessário expulsar o Estado do conflito
entre particulares. O pacta sunt servada revela com clareza
essa situação.
No Brasil, a primeira norma que regulou o direito civil foi
a CF de 1824. Em seu art. 179, havia a previsão de
elaboração, em um ano, de um Código Civil e outro criminal.
Em 1832 foi editado o criminal. Em 1.855, houve a
contratação de Teixeira de Freitas para preparar um projeto
de Código Civil, que tinha cerca de cinco mil artigos, o
qual solidificou as relações privadas, civis, comerciais.
Lá falava de dissolução do casamento, do nascituro etc. Não
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 2
foi aprovado porque era muito avançado. Hoje, o projeto de
Teixeira de Freitas é o Código Civil da Argentina, que é um
dos melhores códigos existentes.
Até abril de 1899, não houve a edição do Código Civil. foi
contratado um cearense, Clóvis Beviláqua, que preparou o
projeto de um código civil e em outubro de 1899 o
apresentou.
Rui Barbosa, que era senador, impugnou todos os artigos e
em 1.916 o projeto foi aprovado e entrou em vigor em 1.917.
Assim, o Código ficou em debate no Congresso por 16 anos.
Os valores que norteavam o Código Civil eram os daquela
época, logo os principais valores norteadores foram o
patrimonialismo e o individualismo.
Silvio Rodrigues dá o exemplo da tutela, colocação de um
menor órfão em uma família substituta, onde 24 artigos
tratavam do tema e 23 se referiam ao patrimônio do menor e
apenas um artigo falava do tutor.
Havia, pois, uma preocupação em combater o absolutismo
estatal, tendo o CC/16 acompanhado os Códigos Frances e
Alemão.
O CC nasceu para regulamentar todas as relações privadas.
Trazia consigo a intenção de regulamentar todas, sem
exceção, essas relações. Quando estrou em vigor, começaram
a surgir conflitos de interesses privados não regulados
expressamente no CC/16.
Nesse momento, décadas de 30 e 40, as cartas
constitucionais não regulavam matéria de direito privado,
mormente porque nessa época passou a surgir a divisão entre
direito público e privado. Exemplo disso foi o apelido que
se deu à CF, que é Carta Política, porque tinha o papel de
regular a estrutura política e administrativa do Estado.
O CC era chamado, nessa época, de Constituição de Direito
Privado. Havia aqui uma grande subversão.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 3
Outro exemplo, foi simplesmente o fato de que uma Lei
Ordinária, no caso o CC/16, ter sobrevivido a seis
Constituições, sem que nenhuma tornasse a matéria do CC com
elas incompatível. Essa era a prova de que havia um sistema
de direito privado fora da Constituição, sem sequer se
preocupar com ela.
O CC/16 era a grande norma, que irradiava os microsistemas
jurídicos, que eram o Código de Águas, Estatuto da Mulher
Casada, Lei de Registros Públicos etc.
Sempre que surgia uma nova relação jurídica que não tinha
previsão no ordenamento, erigia um microsistema para
preservar s ideais do CC/16, ou seja, o individualismo e o
patrimonialismo.
A estrutura do Direito Civil foi sempre
infraconstitucional, voltada ao patrimônio da pessoa
individualmente considerada.
Direito Civil é o ramo do direito que regulamenta a relação
entres os particulares, que começa antes do nascimento e
perdura até depois da morte.
O direito civil se divide em parte geral e especial.
Aquela, regulamenta os elementos componentes de uma relação
jurídica, que é composta por três elementos:
- sujeito: pessoa;
- objeto: bens;
- vínculo: fatos jurídicos
A parte geral do direito civil tem aplicação universal.
Ainda não se adentra ao campo da relação privada, pois aqui
se observam os elementos estruturais de uma relação
jurídica, seja ela qual for. O CC espanhol já vai direto
para a parte especial. Isso para deixar claro que a parte
geral não é direito civil, mas relação jurídica como um
todo.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 4
Na parte especial, observam-se os três diferentes campos
nos quais se projetam a atividade privada, a saber:
- trânsito jurídico: circulação de riquezas. É estudado
pelo direito obrigacional, onde encontramos a teoria geral
das obrigações, a teoria geral dos contratos e a
responsabilidade civil.
- titularidades: são disciplinadas pelos direitos reais.
- afeto: direito das famílias.
No CC/16, as relações obrigacionais eram enxergadas pela
ótica do pacta sunt servanda. No campo dos direitos reais,
a propriedade seria perpétua, ilimitada, absoluta. E a
família era fundada apenas no casamento, sendo este
indissolúvel.
O direito civil pode ser visto metaforicamente como um
grande condomínio, tendo três edificações: o bloco A, seria
das relações obrigacionais; o bloco B seria o dos direitos
reais e o C das relações afetivas. Contrato, propriedade e
família são os campos sobre os quais se projetam as
relações privadas.
Esse quadro permanece até 1.988, quando do advento da CF.
Ela abandonou o caráter neutro e indiferente das que lhe
antecederam, chamou para si a responsabilidade de
regulamentar não só o direito público, mas também o
privado.
Na estrutura de Kelsen, a partir de 1988, o direito civil
passou a ter o fundamento de validade na norma
constitucional.
A CF trabalhou no direito civil em dois campos: os direito
e garantias fundamentais passaram a ser aplicados no âmbito
das relações privadas (arts. 1.º, 3.º, 5,º e 7.º da CF) e a
CF regulamentou o conteúdo do contrato, da propriedade e da
família.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 5
O que houve com o direito civil foi uma atividade
migratória. Em 1988 o direito civil deixou de ser o CC/16 e
passou a ser Constituição. Houve uma transumância.
Quando se observar o conteúdo de validade dos direitos
obrigacionais, reais e afetos, deve-se atentar para a
Constituição.
Quando se estuda o garantismo, deve-se levar em conta
também o direito civil.
Há a tabua axiológica constitucional, que opera os seus
efeitos no direito civil. Essa tabua é a dignidade da
pessoa humana; solidariedade social e erradicação da
pobreza; liberdade e igualdade (arts. 1.º, 3.º, 5,º e 7.º
da CF).
O conteúdo dos referencias foram definidos pela própria CF
ou seja, ela definiu contrato, propriedade e família.
Assim, hoje, o direito civil deve ser compreendido à luz da
CF, seja pelo garantismo seja pelo conteúdo dos vértices do
direito civil.
A esse movimento de migração do direito civil do CC/16 para
a CF, dá-se o nome de constitucionalização do direito civil
ou Direito Civil Constitucional.
Constitucionalização do direito civil é sinônimo de
publicização? Não, porque constitucionalização é o
movimento de aproximação do direito civil para a CF. Esta
passa a definir o conteúdo da norma do direito civil.
Já a publicização tem o condão de o Estado interferir na
relação privada para minorar o desnível exagerado entre as
partes litigantes.
Por exemplo, pessoa com deficiência, idoso, criança e
adolescente. Se submetidas à igualdade material, exigem
tratamento diferenciado.
Aplicando a igualdade no campo dos contratos, determinadas
figuras contratuais trazem consigo um desnível evidente.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 6
Ex: relação de consumo. Assim, toda vez que se tem relações
privadas desiguais, o Estado adentra nessa relação para
diminuir o desnível e tentar estabelecer mínimos de
garantia. Orlando Gomes chamava a publicização de dirigismo
contratual.
Exemplo de constitucionalização: função social da
propriedade.
Exemplo de publicização: reajuste dos índices nos contratos
de aluguel; valor da tarifa nos contratos de telefonia,
onde o máximo da tarifa é fixado pelo governo.
Desde 1988, a grande clivagem do direito em público e
privado é meramente acadêmica, porque ambos decorrem de
fundamento constitucional.
O direito civil está em crise?
Se a expressão crise for mudança de paradigmas, sim, pois
está mudando referenciais, que são hoje determinados pela
CF. A pergunta quer que se disserte acerca da mudança de
foco antes referida, do CC/16 até o advento da CF/88.
É absolutamente certo que se aplique a CF no direito civil?
Essa matéria foi apreciada pelo STF (RE 201.819/RJ, rel.
Gilmar Mendes).
“Sociedade Civil. União Brasileira de Compositores. Exclusão de sócio.
Alegado descumprimento de resoluções da sociedade e propositura de
ações que acarretaram prejuízos morais e financeiros à entidade.
Direito constitucional de ampla defesa desrespeito. Antes de concluir
pela punição, a comissão especial tinha de dar oportunidade ao sócio
de se defender e realizar possíveis provas em seu favor. Infringência
ao art. 5º, inc. LV da Constituição Federal. Punição anulada. Pedido
de reintegração procedente. Recurso desprovido.”
A Turma, concluindo julgamento, negou provimento a recurso
extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro que mantivera decisão que reintegrara
associado excluído do quadro da sociedade civil União Brasileira de
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 7
Compositores - UBC, sob o entendimento de que fora violado o seu
direito de defesa, em virtude de o mesmo não ter tido a oportunidade
de refutar o ato que resultara na sua punição — v. Informativos 351,
370 e 385. Entendeu-se ser, na espécie, hipótese de aplicação direta
dos direitos fundamentais às relações privadas. Ressaltou-se que, em
razão de a UBC integrar a estrutura do ECAD - Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição, entidade de relevante papel no âmbito do
sistema brasileiro de proteção aos direitos autorais, seria
incontroverso que, no caso, ao restringir as possibilidades de defesa
do recorrido, a recorrente assumira posição privilegiada para
determinar, preponderantemente, a extensão do gozo e da fruição dos
direitos autorais de seu associado. Concluiu-se que as penalidades
impostas pela recorrente ao recorrido extrapolaram a liberdade do
direito de associação e, em especial, o de defesa, sendo imperiosa a
observância, em face das peculiaridades do caso, das garantias
constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla
defesa. Vencidos a Min. Ellen Gracie, relatora, e o Min. Carlos
Velloso, que davam provimento ao recurso, por entender que a retirada
de um sócio de entidade privada é solucionada a partir das regras do
estatuto social e da legislação civil em vigor, sendo incabível a
invocação do princípio constitucional da ampla defesa.
RE 201819/RJ, rel. Min. Ellen Gracie, rel p/ acórdão Min. Gilmar
Mendes, 11.10.2005. (RE-201819)
Nesse acórdão, o STF garantiu a aplicação dos direitos
fundamentais no âmbito das relações particulares. Nenhum
estatuto de associação pode violar o devido processo legal.
Depois desse acórdão, o artigo 57 do NCC foi modificado.
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa,
assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de
recurso, nos termos previstos no estatuto. (Redação dada pela Lei nº
11.127, de 2005)
Parágrafo único.(Revogado pela Lei nº 11.127, de 2005)
Tal nada mais é senão a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.
Hoje, já se discute outro fenômeno que não a
constitucionalização, mas a influência dos tratados e
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 8
convenções internacionais sobre as relações do direito
privado. Após o advento da EC 45, os tratados e convenções
passaram, também, a nortear as relações privadas que,
primeiro, devem passar por um controle de
constitucionalidade e depois por um controle de
convencionalidade. São dois controles exercidos sobre as
relações de direito privado.
Simbolicamente, tal poderia ser representado pela pirâmide
Kelseniana, onde na base estariam as leis ordinárias; no
topo, a CF; as convenções e tratados internacionais no meio
da pirâmide. Essa decisão do STF se deu porque as
convenções e tratados têm natureza supra-legal. RE
466.343/SP, de dezembro de 2008, que teve como relator o
Min. Cezar Peluzzo. Foi o caso da alienação fiduciária. O
art. 652 do CPC estampava o caso de prisão civil do
depositário infiel, que não mais é possível. Isso porque o
Pacto de San Jose da Costa Rica, no art. 7.º, estabeleceu
explicitamente que só cabe prisão civil do devedor de
alimentos e não do depositário infiel.
O NCC/2002 foi editado justamente pelo fato de ter a CF
tornado o CC/16 obsoleto, tendo atingido o seu âmago.
O CC/16 era patrimonialista e individualista. O NCC é
fundado em três novos referenciais:
a) socialidade: o NCC está mais preocupado com o homo
socialis do que com o homo individualis. Exs: função social
do contrato, art. 421 e art. 1.228, § 1.º, que fala da
função social da propriedade.
As normas de direito civil devem ter uma compreensão social
da pessoa humana.
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato.
Art. 1.228 (...)
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 9
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados,
de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna,
as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer
comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar
outrem.
b) eticidade: é a aproximação do direito com a ética. As
normas devem cumprir um mínimo ético, ou seja, deve haver
respeito entre os contratantes. Ex: art. 422, que trata da
boa-fé objetiva. Esse dispositivo mostra a influência da
eticidade no direito civil.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão
do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-
fé.
c) operabilidade: as normas devem ser fáceis,
descomplicadas. Ex: art. 189, que disciplina a prescrição.
O direito civil sempre será direito privado em concreto,
não tendo mudado. O que mudou não foi a estrutura, mas sim
o conteúdo, ou seja, o conteúdo da norma do direito civil.
Foi modificado de um conteúdo individualista e
patrimonialista para um conteúdo ético, operacional e
social. Assim, o seu grande fundamento é a pessoa, que vale
por conta de sua personalidade. Logo, a grande referência
do NCC é a proteção da personalidade, pelo âmbito da
garantia dos direitos fundamentais e da ética,
operabilidade e sociabilidade.
Uma última premissa diz respeito ao fato de existir a
possibilidade de conflitos entre diferentes normas de
direito civil. assim mecanismos de solução de conflitos
normativos devem ser estabelecidos, tornando-se ainda mais
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 10
relevante quando se toma por base que no direito civil há
várias categorias de normas.
Canotilho afirmou que NJ=NPNR. Significa que a norma
jurídica é igual a norma princípio mais a norma regra.
A norma jurídica pode se apresentar tanto como norma regra
como com norma princípio. A norma jurídica traz consigo
regras e princípios.
Regras são normas de conteúdo fechado, logo a sua solução é
apriorística.
Já a norma-princípio possui conteúdo aberto, logo a solução
depende do caso concreto, não sendo apriorística.
Toda norma jurídica é composta por regras e princípios.
Assim, todo princípio possui força normativa. Diante de uma
norma qualquer, sempre haverá regras e princípios.
A possibilidade de colisão de normas ocorre porque pode
haver a colisão de norma-regra com norma-regra, norma-regra
com norma-princípio e norma-princípio com norma-princípio.
Cada um desses conflitos reclama um mecanismo próprio de
solução.
a) norma-regra x norma-regra?
Será dirimido através dos métodos clássicos de
hermenêutica, a saber: lei superior afasta inferior; lei
especial afasta a geral e lei posterior afasta a anterior.
Isso ocorre salvo quando houver o diálogo das fontes.
OBS: dialogo das fontes: é a expressão com a qual se
designa a necessidade de compreensão da norma jurídica
através de diferentes fontes. Devem ser observadas todas as
possíveis soluções para o caso.
Havendo na norma geral alguma disposição que mais vantajosa
do que a especial, aplica-se a norma geral. Ex: se no NCC
tiver norma mais vantajosa, deve esta prevalecer sobre o
CDC.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 11
Por diálogo das fontes, é possível se buscar uma norma
geral para aplicar sobre uma norma especial quando for mais
favorável. Se no CDC houver uma disposição que não seja
mais vantajosa que a do NCC, aplica-se este, por meio do
diálogo das fontes.
Ex: arts. 26 e 27 do CDC, que estabelecem o prazo de 90 e
30 dias para reparação do serviço. Mas o art. 445 do NCC,
estabelece prazo, para bens móveis, de 30 dias e 01 ano
para bens imóveis. Assim, a norma do NCC é mais favorável
para o consumidor, logo deve ser aplicada.
Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou
abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de
um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na
posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil
constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos
não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de
produtos duráveis.
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega
efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.
§ 2° Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o
fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa
correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
II - (Vetado).
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no
momento em que ficar evidenciado o defeito.
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos
causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste
Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do
dano e de sua autoria.
b) norma-regra e norma-princípio:
Sempre deve haver a prevalência da norma-princípio. O
conteúdo da norma-princípio é valorativo, com conteúdo
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 12
aberto. Assim, a norma-princípio afasta a norma-regra. Esta
terá que se amoldar àquela. Os valores não tem conteúdo
hermético.
Muito mais grave que violar a regra é violar o princípio,
pois quando este é violado, as regras assim já o foram.
O afastamento da norma-regra é episódico, porque não se
pode dizer que nesse tipo de conflito a norma-regra será
aniquilada, porque assim o será no caso específico. Logo,
em momento posterior a norma-regra poderá não mais colidir
com a norma-princípio, pois esta é plástica.
Quando a norma-regra colide com a norma-princípio e é
afastada, esse afastamento é esporádico, naquele caso
concreto determinado.
Ex: art. 422 do NCC:
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão
do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-
fé.
A boa-fé objetiva, como princípio do direito obrigacional,
é norma-princípio, pois tem conteúdo aberto.
Já o art. 448, por sua vez, que trata da evicção, que é a
perda da coisa adquirida por decisão judicial ou
administrativa, possui conteúdo fechado, sendo norma-regra.
Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir
ou excluir a responsabilidade pela evicção.
Aqui, há uma nítida colisão entre norma-regra e norma-
princípio, entre os arts. 422 e 448. Como ser ético e probo
e, ao mesmo tempo, excluir a evicção. Assim, o juiz pode
garantir a indenização pela evicção mesmo que o contrato a
tenha excluído.
Imagine que se vende um imóvel com o adquirente sabendo
expressamente acerca dos riscos da evicção. Nesse caso,
assume-se o risco da evicção, pois a parte sabia dos seus
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 13
riscos e a boa-fé objetiva foi respeitada. Logo, nesse
caso, a norma-regra é aplicável.
c) norma-princípio x norma-princípio:
Esse conflito específico precisa ser iluminado pela
altitude hierárquica do princípio. Em se tratando de um
princípio de sede constitucional, é certo que prevalecerá.
Porém, se houver uma colisão entre duas normas-princípios
de mesma hierarquia, os métodos clássicos não servirão para
resolver esses conflitos principiológicos.
Assim, foi construída uma técnica especial, diferenciada,
que é a ponderação de interesses.
Alguns autores têm chamado a técnica de ponderação de
interesses de proporcionalidade, mas nem toda
proporcionalidade é ponderação de interesses.
A proporcionalidade é usada como um principio
interpretativo ou como técnica de solução de conflitos.
Quando é utilizada como interpretação é chamada de
razoabilidade. Mas se é usada como técnica de solução de
conflitos é chamada de ponderação de interesses.
Ponderação de interesses é o nome que se dá à
proporcionalidade quando utilizada como resolução de
conflitos. Toda ponderação é proporcionalidade, mas nem
toda proporcionalidade é ponderação, podendo ser também,
razoabilidade.
Houve um caso concreto em que uma convenção de condomínio
estabeleceu que seria proibida a entrada de todo e qualquer
animal. Os condôminos interpuseram uma ação e o STJ
entendeu, com base em juízo de proporcionalidade, que deve-
se compreender a cláusula da convenção como sendo proibida
a entrada de animais perigosos, ou seja, que atrapalhem a
segurança, o sossego e a saúde. Assim, o STJ utilizou a
proporcionalidade como razoabilidade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 14
Exemplos de Proporcionalidade como técnica de solução de
conflitos: súmula 301 do STJ:
Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame
de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.
Entre o direito do pai à proteção da privacidade e o
direito do filho de ter um pai, o STJ optou pela proteção
do menor, que tem o direito de ter um pai.
Colocam-se os valores conflitantes para se definir qual
deles merece melhor proteção. Mas sempre será uma proteção
casuística, episódica.
No direito penal, a prova ilícita pode ser admitida para
libertar o réu, pois sacrifica-se a privacidade em favor da
liberdade, que é um bem maior.
Nem sempre a jurisprudência vem fazendo bom uso da
ponderação de interesses. Há inúmeros casos de equivocidade
no uso dessa ponderação.
Ex: prova ilícita: o STF e STJ negam, por ponderação, prova
ilícita em direito civil. Afirmam que a privacidade é um
valor constitucional maior do que qualquer outro que pode
ser encontrado no direito civil.
Isso está errado. Nelson Nery, Marinoni, Ada Pelegrini e
outros posicionam esse conflito afirmando que a ponderação,
nesse caso, não pode ser resolvida da forma simplória
apontada pelo STF e STJ. Tal porque, não raro, no direito
civil, há conflitos entre privacidade versus paternidade,
integridade física etc. Nesses casos, seria possível
admitir prova ilícita no direito civil.
Exemplos hipotéticos: destituição do poder familiar,
investigação de paternidade. Maria Berenice Dias admitiu
prova ilícita em ação de alimentos, para garantir o direito
do menor de ter alimentos.
Ver RMS 5.352/GO
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 15
PERSONALIDADE
O direito civil tem como desiderato a proteção da
personalidade. No CC/16 personalidade era a aptidão para
titularizar relações, ser sujeito de direito. Essa
personalidade era medida através da capacidade, que seria a
medida jurídica da personalidade.
A capacidade se bifurcava em capacidade de direito ou de
gozo e capacidade de fato ou de exercício.
Capacidade de direito era a possibilidade de ser sujeito.
Assim, capacidade de direito é igual à personalidade.
A capacidade de fato seria a capacidade de praticar os atos
pessoalmente.
Só quem pode ser sujeito de direito é quem tem
personalidade.
No entanto, o condomínio edilício pode contratar, ser
parte, consumidor, contribuinte etc. Ora, pode ser sujeito
de direitos mesmo não dispondo de personalidade.
Pontes de Miranda foi quem atentou para essa questão.
Afirmou que ter personalidade não pode significar ser
sujeito de direito. Isso porque os entes despersonalizados
poderiam ser sujeitos de direito sem ter personalidade.
O NCC esclareceu que personalidade jurídica significa ter
uma proteção diferenciada. Essa proteção consiste nos
direitos da personalidade.
Agora, a capacidade jurídica é vista por outro enfoque. O
NCC, corrigindo o CC/16, afirma que capacidade é a aptidão
para ser sujeito de direito. Só quem tem capacidade pode
ser sujeito de direito. Quem o é pode ter capacidade de
direito ou de gozo.
Os sujeitos de direito, eventualmente ou não, terão
capacidade de fato.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 16
Uma criança tem capacidade de direito, porque pode ser
sujeito de direito, mas não tem capacidade de fato.
Personalidade e capacidade caminham em campos autônomos.
A teoria das incapacidades incide na capacidade de fato.
Todos que têm personalidade têm capacidade, mas nem todos
que possuem capacidade têm personalidade, porque os entes
despersonalizados, malgrado tenham capacidade, não dispõem
de personalidade.
Ex: condomínio edilício pode sofrer dano moral? Não. Isso
porque não tem personalidade, logo não tem direitos da
personalidade. Mas o condomínio edilício pode ser parte do
processo, consumidor, ou seja, é sujeito de direito.
O art. 1.º do NCC muito bem explicita essa questão.
Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Mas nem sempre quem tem capacidade tem personalidade.
A categoria mais importante do Direito Civil é a da
personalidade, porque quem tem personalidade tem
capacidade, mas o oposto não é verdadeiro.
Assim, a personalidade também engloba as relações
existenciais, que estão protegidas pelos direitos da
personalidade.
Toda pessoa tem capacidade de direito? Sim.
Toda pessoa tem capacidade de fato? Não, apenas aquelas que
a lei reconhece.
O NCC dedicou uma proteção avançada e prioritária da
personalidade. Assim, pode-se dizer que o Direito Civil
quer proteger a personalidade e isso pode acarretar o
arrefecimento da autonomia privada, para prestigiar a
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 17
personalidade. A proteção da personalidade é o fundamento
do Direito Civil moderno, devendo sempre ser protegida.
Com isso, percebe-se que no NCC a proteção do patrimônio
está vocacionada à proteção da pessoa. Protege-se o
patrimônio para, em última análise, proteger a pessoa.
Logo, o patrimônio é protegido para que haja a proteção da
pessoa.
Conflitos normativos de proteção da personalidade no âmbito
obrigacional, real e familiar:
Âmbito obrigacional: inadimplemento, que é o descumprimento
das obrigações pactuadas em um contrato. O inadimplemento
faz surtir os efeitos do contrato. Sabendo que o NCC prevê
o inadimplemento, imagine um contrato de alienação
fiduciária e que o devedor já pagou 21 das 24 prestações e
o devedor ficou desempregado. O contratante exigiu a
resolução com culpa pelo inadimplemento. O STJ entendeu
com inspiração no direito norte-americano, a aplicação do
adimplemento substancial ou inadimplemento mínimo
(substancial performmance). O STJ afirma que quando o
adimplemento for substancial, não podem decorrer os efeitos
contratuais rescisórios. A ação a ser movida deve ser a de
perdas e danos e não de busca e apreensão com base na
alienação fiduciária.
Ex: violação positiva de contrato.
Essa expressão oriunda do direito germânico. Significa que
o contratante cumpre todas as obrigações contratuais, mas
viola a personalidade do outro. O STJ admite a violação
positiva e que tem os mesmos efeitos do adimplemento
substancial. Exemplo foi o do carro Lada, onde as peças de
reposição pararam de ser vendidas. Nesse caso, a Lada
descumpriu o contrato, porque entregou o carro, mas parou
de vender as peças.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 18
Âmbito dos direitos reais:
Ex: função social da propriedade. A proteção da
personalidade é tamanha que não se dá apenas quando se fala
em propriedade imóvel. A função social vincula toda e
qualquer propriedade, como a intelectual, por exemplo.
A jurisprudência admite restrições ao direito de
propriedade para se preservar a personalidade de outrem.
Caso do médico que pôde operar em hospital ao qual não era
credenciado. Prevaleceu o direito da personalidade (saúde)
sobre o direito de propriedade. RESP 27.039/SP.
Âmbito do direito de família:
Ex: súmula 364 do STJ, que trata da proteção do bem de
família das pessoas sozinhas, que estão sendo chamadas pelo
STJ de single. Estes teriam a proteção da Lei 8.009/90?
Houve o conflito entre a proteção da pessoa e o conceito de
família. O STJ entendeu por proteger a pessoa, ou seja, é
extensível a proteção do bem de família às pessoas
sozinhas.
Súmula 364: “O conceito de impenhorabilidade de bem de
família abrange também o imóvel pertencente a pessoas
solteiras, separadas ou viúvas”.
Aula 02 03/02/2009
DIREITOS DA PERSONALIDADE:
(Re)Personalização do direito civil:
No direito alemão e no francês, como mencionado
anteriormente, houve uma personalização do direito civil,
que foi a proteção do patrimônio.
Hoje o direito civil se preocupa com a personalização para
a proteção da pessoa humana e não mais do patrimônio.
Trata-se, aqui, da valorização da pessoa humana.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 19
Conceito:
Historicamente, as relações jurídicas de direito privado se
dividiram em dois diferentes campos, a saber:
- relações patrimoniais: se subdividiram da seguinte forma:
a) obrigacionais:
b) reais:
- relações existenciais: estão dentro do âmbito da
personalidade jurídica.
Os direitos da personalidade são relações jurídicas
existenciais de proteção da personalidade. São direitos,
garantias básicas fundamentais, elementares, necessárias ao
exercício da personalidade. Para que alguém possa ter a
plenitude da personalidade precisa ter uma proteção
elementar básica, que são os direitos da personalidade.
Assim, toda pessoa tem personalidade e toda personalidade
vem acobertada dos direitos da personalidade.
Há uma relação implicacional, com os direitos da
personalidade constituindo as garantias básicas para que se
desenvolva a personalidade.
O âmago dos direitos da personalidade é não-patrimonial,
mas a sua violação pode repercutir patrimonialmente, por
meio da reparação de danos morais.
A natureza jurídica é tão-somente a posição topológica de
um instituto, ou seja, é o seu enquadramento.
Os direitos da personalidade são direitos subjetivos,
trazendo consigo uma pretensão.
Direito subjetivo é aquele que confere ao seu titular a
possibilidade de exigir de alguém certo comportamento. Esse
alguém pode, eventualmente, não se comportar do jeito que
se deseja, nascendo para o titular uma pretensão, que é
aquela de exigir o cumprimento, sob pena de reparação.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 20
É um direito subjetivo oponível erga omnes. Ex: honra,
imagem, privacidade etc.
Toda vez que se fala em direito subjetivo pensa-se em
crédito e em propriedade como exemplos principais. São
direitos subjetivos patrimoniais. Já os direitos da
personalidade são não-patrimoniais e sim existenciais.
Se se está diante de um direito subjetivo existencial,
muito embora seja subjetivo, a sua tutela jurídica não é
patrimonial, mas sim existencial.
Logo, se alguém viola o seu direito da personalidade, a
tutela jurídica é, primeiramente, existencial, ou seja, em
primeiro lugar se protege esse direito. Os efeitos
patrimoniais são indiretos, e só incidem quando não se pode
retornar ao status quo ante.
Os direitos da personalidade formam uma categoria jurídica
especial, porque são direitos subjetivos, mas existenciais
e não patrimoniais. Logo, a proteção jurídica que deles
deflui, é uma proteção existencial, podendo repercutir
efeitos patrimoniais.
Ex: caso da atriz Carolina Dieckman com o Programa Pânico.
Ela foi à Justiça e pediu uma proteção. No CC/16 a única
coisa que podia requerer eram perdas e danos. Mas no NCC
podia e requereu proteção, com o juiz determinando que o
programa não mais veiculasse o seu nome.
Cláusula geral de proteção:
O rol dos direitos da personalidade é meramente
exemplificativo. Os direitos da personalidade se constituem
em todas as garantias necessárias para o exercício da
personalidade. É certo, então, que como os direitos da
personalidade estão protegidos nessa perspectiva, o rol
mencionado na legislação é meramente exemplificativo. Ex:
nome, imagem, privacidade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 21
O direito brasileiro usa uma cláusula geral da proteção da
personalidade. Isso porque, como são os direitos
exemplificativos, pode haver novos que não são ainda
tipificados. Todos os direitos da personalidade previstos
em Lei ou não nascem da cláusula geral.
Vide enunciado 274 da Jornada de Direito Civil, que
confirma o caráter meramente exemplificativo dos direitos
da personalidade.
Enunciado 274 – Art. 11. Os direitos da personalidade, regulados de
maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula
geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da
Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de
colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se
aplicar a técnica da ponderação.
A cláusula geral de proteção é pois, a dignidade da pessoa
humana. Art. 1.º, inciso II da CF. Segue, aqui, o modelo
alemão. Portugal e Itália usam a mesma cláusula, mas no
Código Civil e não na CF.
Todo e qualquer direito da personalidade, tipificado ou
não, nasce da dignidade da pessoa humana.
Dignidade da pessoa humana é um conceito plástico, pois não
se pode saber o que é vida digna. Enquanto até 1988, apenas
se garantia o direito à vida, o constituinte de 1988,
afirmou que as pessoas têm direito a uma vida digna. Esse
conceito é plástico porque sempre irá se modelar em cada
caso concreto. Dignidade não se conceitua, mas se pode
dizer o seu conteúdo.
Celso Antonio Bandeira de Melo, em “Conteúdo Jurídico do
Princípio da Igualdade” afirma que tem certos conceitos que
são imprecisos por natureza, não se podendo dizer
cientificamente o que são, mas podemos se estabelecer o seu
conteúdo.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 22
O conteúdo de um princípio é o seu núcleo duro, no sentido
de mínimo necessário. Não se sabe o que é certo princípio,
mas se sabe qual o seu núcleo, pois este é inflexível.
O conteúdo do princípio da dignidade é composto por três
diferentes valores, segundo José Afonso da Silva:
a) integridade física e psíquica:
Ex: Lei 11.346/06, que consagrou o direito à alimentação
adequada. Significa dignidade. Antes se dizia que as
pessoas tinham direito à alimentação, hoje já têm direito à
alimentação adequada. Não se deve dar merenda ao aluno, mas
uma merenda adequada, de qualidade.
b) liberdade e igualdade:
Ex: RESP 820.475/RJ, Rel. Pádua Ribeiro. O STJ reconheceu
como entidade familiar a união homoafetiva, dizendo que é
possível ação declaratória de existência de entidade
familiar homoafetiva. Se cada pessoa tem direito à vida
digna, tem direito de livre escolha quanto à sua
sexualidade.
PROCESSO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO HOMOAFETIVA. PRINCÍPIO DA
IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. OFENSA NÃO CARACTERIZADA AO ARTIGO 132, DO
CPC. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. ARTIGOS 1º DA LEI 9.278/96 E
1.723 E 1.724 DO CÓDIGO CIVIL. ALEGAÇÃO DE LACUNA LEGISLATIVA.
POSSIBILIDADE DE EMPREGO DA ANALOGIA COMO MÉTODO INTEGRATIVO.
1. Não há ofensa ao princípio da identidade física do juiz, se a
magistrada que presidiu a colheita antecipada das provas estava em
gozo de férias, quando da prolação da sentença, máxime porque
diferentes os pedidos contidos nas ações principal e cautelar.
2. O entendimento assente nesta Corte, quanto a possibilidade jurídica
do pedido, corresponde a inexistência de vedação explícita no
ordenamento jurídico para o ajuizamento da demanda proposta.
3. A despeito da controvérsia em relação à matéria de fundo, o fato é
que, para a hipótese em apreço, onde se pretende a declaração de união
homoafetiva, não existe vedação legal para o prosseguimento do feito.
4. Os dispositivos legais limitam-se a estabelecer a possibilidade de
união estável entre homem e mulher, dês que preencham as condições
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 23
impostas pela lei, quais sejam, convivência pública, duradoura e
contínua, sem, contudo, proibir a união entre dois homens ou duas
mulheres. Poderia o legislador, caso desejasse, utilizar expressão
restritiva, de modo a impedir que a união entre pessoas de idêntico
sexo ficasse definitivamente excluída da abrangência legal. Contudo,
assim não procedeu.
5. É possível, portanto, que o magistrado de primeiro grau entenda
existir lacuna legislativa, uma vez que a matéria, conquanto derive de
situação fática conhecida de todos, ainda não foi expressamente
regulada.
6. Ao julgador é vedado eximir-se de prestar jurisdição sob o
argumento de ausência de previsão legal. Admite-se, se for o caso, a
integração mediante o uso da analogia, a fim de alcançar casos não
expressamente contemplados, mas cuja essência coincida com outros
tratados pelo legislador.
7. Recurso especial conhecido e provido.
c) mínimo existencial:
Os civilistas chamam de Teoria do Patrimônio Mínimo.
Significa que ter vida digna é ter um mínimo de proteção
patrimonial. Significa que o Estado deve proteger o
patrimônio que foi livremente adquirido. A partir da livre
iniciativa, todo patrimônio que foi adquirido livremente
terá um mínimo de proteção.
Ex: bem de família, que é o melhor exemplo de mínimo
existencial. Ainda, temos como exemplo o art. 548, que fala
da nulidade da doação universal.
Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou
renda suficiente para a subsistência do doador.
Outro exemplo é a Lei 11.382/2006, que regulamentou o art.
649 do CPC, que fala dos bens impenhoráveis.
As pessoas passaram a ter tamanha proteção aos bens móveis
que os devedores começaram a adquirir, por exemplo, TVs de
R$ 40.000,00.
Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
(...)
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 24
II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a
residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem
as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;
(Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
O conceito de bem impenhorável passa pelo conceito de
padrão médio de vida digna.
Esse conceito de padrão médio de vida digna não se aplica
aos bens imóveis. Isso porque o Presidente vetou a
modificação do texto no que dizia respeito aos imóveis. Tal
é uma incoerência do sistema.
Na fundamentalidade do conceito de Dignidade da Pessoa
Humana, com um valor jurídico máximo e com garantia de
direito fundamental, encontra-se uma eficácia positiva e
outra negativa.
A dignidade serve a um só tempo a dois reis. Isso porque
traz consigo duas diferentes projeções.
A primeira é a eficácia positiva. Vincula todo o tecido
infraconstitucional. Logo, no momento em que uma norma
infraconstitucional colide com a dignidade, prevalece a
dignidade, pelos simples motivo de que a dignidade como o
mais importante valor fundamental da República, irradia
efeitos e vincula todo o tecido infraconstitucional.
Ex: Lei de Alimentação Adequada. É cabível uma ACP para que
o Poder Público forneça alimentação adequada aos alunos.
Seja no âmbito das relações públicas ou privadas, a
dignidade vincula o tecido infraconstitucional.
Já a eficácia negativa é o fato de o Poder Público se
abster de tomar certas condutas que violam a dignidade.
Implica em uma mitigação, flexibilização da supremacia do
interesse público sobre o privado, pois não se permite ao
Estado uma atuação que viole a dignidade de alguém.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 25
A dignidade não é absoluta, podendo variar por ponderação.
O interesse da Administração Pública não pode sobrepujar a
dignidade humana, mas, eventualmente, a supremacia pode
prevalecer quando estiver em confronto com a dignidade de
outrem ou da própria coletividade. É o que reza o enunciado
274 da Jornada de Direito Civil.
Enunciado 274 – Art. 11. Os direitos da personalidade, regulados de
maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula
geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da
Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de
colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se
aplicar a técnica da ponderação.
Liberdades públicas:
Deve-se confrontar os direitos da personalidade com as
liberdades públicas.
É preciso ver que os direitos da personalidade, que são as
garantias fundamentais básicas, são percebidos pela ótica
privada, pois correspondem às garantias reconhecidas às
pessoas, de sua própria personalidade. Vistos por esse
ângulo privado, de outro lado, o reconhecimento dessas
garantias a cada pessoa pode impor ao Poder Público, certas
obrigações, quer positivas quer negativas.
De nada adiantaria reconhecer uma garantia básica , se não
pudesse ser oponível ao Poder Público.
As liberdades públicas consistem nas obrigações positivas e
negativas impostas ao Estado para que se respeitem os
direitos da personalidade. Essas obrigações, positivas ou
negativas, são chamadas de liberdades públicas.
As liberdades públicas nascem dos direitos da
personalidade, exatamente para fazer com que essas
garantias elementares, básicas, que são reconhecidas aos
titulares dos direitos da personalidade, sejam garantidas
pelo Estado.
Ex: direito da personalidade consubstanciado no direito de
ir e vir (locomoção). A esse direito corresponde uma
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 26
liberdade pública, que é o habeas corpus, pois é uma
obrigação imposta ao Estado, como consequência natural de
que o direito à locomoção é um direito da personalidade.
Essas liberdades acompanham o caráter não taxativo dos
direitos da personalidade. A doutrina vem exemplificando o
direito à saúde, como integridade física. Como é direito da
personalidade, traz consigo liberdades públicas, como o
fornecimento de medicamentos pelo Estado.
Momento aquisitivo:
A partir de que momento os direitos da personalidade são
adquiridos?
Tal discussão passa pela leitura do impreciso art. 2.º do
NCC:
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida;
mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
A primeira parte do artigo diz que a personalidade civil
começa com o nascimento com vida. Assim, em tese, com a
presença de ar nos pulmões teria a pessoa personalidade.
Mas a segunda parte afirma que a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro. A nidação é o momento
da concepção.
Três teorias foram construídas para justificar o art. 2.º
do NCC:
1) Teoria natalista:
Os direitos da personalidade somente são reconhecidos
quando do nascimento com vida. Silvio Rodrigues, Arnoldo
Wald e outros fixam os seus esforços na primeira parte do
artigo.
Para a concepção natalista o nascituro não tem direitos da
personalidade. Afirmam que os direitos patrimoniais durante
o período em que é nascituro podem ser reconhecidos
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 27
retroativamente, mas só se a criança nasce com vida.
2) Teoria concepcionista:
Parte de um prisma inverso. Defendem essa corrente
Francisco Amaral, Teixeira de Freitas e outros.
Quando a segunda parte do art. 2.º diz que os direitos do
nascituro já estão reconhecidos, estão reconhecidos os
direitos da personalidade, os quais estão presentes desde a
concepção.
O que começa do nascimento com vida são as relações
jurídicas patrimoniais.
Assim, desde a nidação já existem direitos da
personalidade.
Os direitos patrimoniais do nascituro ficam condicionados a
uma condição suspensiva, que é exatamente o fato de nascer
a criança com vida. Ex: doação e herança.
3) Teoria Condicionalista:
Defendida por Washington de Barros Monteiro e a maioria da
doutrina.
Faz uma interpretação literal do NCC. Diz que a
personalidade começa no nascimento com vida. Se começa com
o nascimento com vida, todos os direitos patrimoniais do
nascituro são condicionados (ao nascimento com vida).
Assim, a personalidade é condicional.
Dizem que os direitos da personalidade já são reconhecidos
desde a concepção.
Portanto, a segunda e terceira teorias dizem a mesma coisa,
sob o ponto de vista da eficácia, mas por perspectivas
diferentes. A diferença entre essas teorias é apenas de
qualificação jurídica, ou seja, se já exerce direitos da
personalidade, a tem; se estão condicionados, a
personalidade também o será.
Para o direito brasileiro, prevalece a teoria
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 28
condicionalista, ou seja, os direitos da personalidade
estão condicionados.
Assim, o momento aquisitivo dos direitos da personalidade é
a concepção.
O nascituro tem direito, pois, a reclamar proteção à
personalidade. Ex: honra, imagem etc.
Vide RESP 399.028/SP, Rel. Min. Sálvio Teixeira, onde o STJ
reconheceu os direitos da personalidade ao nascituro.
Nascituro tem direitos da personalidade, logo direito a uma
alimentação digna (Lei 11.804/2008 – Alimentos Gravídicos).
Essa Lei fala expressamente de alimentos ao nascituro.
Aqui, não se precisa provar a paternidade. Se não forem
contestados, tornam-se alimentos definitivos. A prova são
os indícios, ou seja periculum in mora e fumus boni iuris.
Natimorto é aquele que não nasceu com vida. Passou pelo
processo gestacional, mas não conseguiu nascer com vida.
Tem proteção aos direitos da personalidade. É o que reza o
enunciado n.º 01 da Jornada de Direito Civil. Ex: nome,
imagem e sepultura.
Aplicação dos direitos da personalidade ao embrião:
Fala-se, aqui, não do embrião intra-uterino, que na verdade
é o nascituro. Para a medicina, nascituro seria de seis
meses em diante. Mas, para o direito, o nascituro se forma
a partir da concepção.
As técnicas de reprodução assistida são técnicas de
reprogenética. Nelas, os embriões congelados são chamados
tecnicamente de criogenizados.
A melhor solução, para o Professor, é que o art. 5.º da Lei
11.105/2005 (Lei de Biosegurança), reconheceu a
possibilidade de pesquisas com células tronco, ou seja o
embrião deve ser guardado pelo prazo de três anos. Se o
casal não tiver interesse deve encaminhar para pesquisas
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 29
com células tronco. O médico não pode usar o embrião
somente para fins de pesquisa.
Na ADIN 3.510, que teve relatoria de Carlos Ayres Brito, o
STF julgou constitucional o art. 5.º da Lei de
Biosegurança. Isso porque tal artigo respeita a dignidade.
Assim, os direitos da personalidade não se aplicam ao
embrião criogenizado.
É o que reza o enunciado n.º 02 da Jornada de Direito
Civil:
2 – Art. 2º: sem prejuízo dos direitos da personalidade nele
assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para
questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um
estatuto próprio.
Não se pode emprestar as mesmas garantias a um embrião em
desenvolvimento, dentro do útero da mulher, a um embrião
congelado, que não em desenvolvimento.
A partir da concepção, já existem direito da personalidade,
com o nascituro tendo uma personalidade forma, muito embora
os direitos patrimoniais estejam condicionados.
Fontes:
Falar de fontes dos direitos da personalidade é falar da
sua origem. Fonte, tanto em sentido comum, como em sentido
jurídico, significa origem, nascedouro, ou seja, donde
emanam os direitos da personalidade.
Há duas teorias para justificar a fonte dos direitos da
personalidade:
1) Teoria Jusnaturalista:
Os direitos da personalidade são inatos, ou seja, aquilo
que é inerente à personalidade. É uma relação
implicacional.
Há uma fortíssima carga religiosa nessa corrente, mormente
do cristianismo.
É a corrente majoritária do direito brasileiro. É a posição
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 30
de Maria Helena Diniz.
Compreender os direitos da personalidade como inatos, é
dizer que são reconhecidos por uma ordem jurídica que
antecede o próprio ordenamento.
Não é à toa que o exemplo utilizado pelos autores que
defendem essa corrente, é o do julgamento de Nuremberg, que
julgou os oficiais nazistas, condenando-os, mesmo tendo
eles afirmado que estavam cumprindo a Lei Alemã. O Tribunal
condenou-os sob a alegação que feriram uma Lei pré-
existente.
2) Teoria Positivista:
Foi inicialmente defendida por Pontes de Miranda e,
posteriormente, por Gustavo Tepedino. É uma corrente
minoritária.
Defende que os direitos da personalidade não são inatos.
Muito pelo contrário, os direitos da personalidade decorrem
de uma construção natural. Não são inatos, não nascem com
uma ordem jurídica antecedente ao direito, mas são fruto de
um processo cultural de evolução da sociedade.
Ex: como dizer que os direitos da personalidade são inatos
e universais se, para tanto, deveriam estar presentes em
todos os ordenamentos do mundo? Então, como justificar que
alguns países permitem a pena de morte? Inclusive, a CF
prevê a pena de morte em caso de guerra. Assim, como dizer
que os direitos da personalidade são naturais, inatos? Não
há possibilidade. A verdade é que os direitos da
personalidade são fruto da evolução cultural, sendo o
próprio direito uma evolução.
Dentro dos direitos da personalidade, há o direito autoral.
Ele é inato? De forma alguma, decorreu da evolução humana.
Repita-se que é uma teoria minoritária.
Características:
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 31
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária.
O exercício das limitações voluntárias só podem assim sê-lo
nos casos previstos em Lei.
Ao dizer que os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis está-se dizendo que são
indisponíveis.
Segundo o art. 11 do NCC, os direitos da personalidade são
indisponíveis de forma relativa e não absoluta.
Assim, os direitos da personalidade são relativamente
indisponíveis, ou seja, são irrenunciáveis e
intransmissíveis, mas admitem limitação voluntária, desde
que essa limitação não seja geral nem permanente.
Admitindo restrição voluntária, por força de Lei ou da
vontade das partes, é possível restringir o exercício de
dos direitos da personalidade.
Vide enunciados 04 e 139 da Jornada de Direito Civil.
4 – Art.11: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer
limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral.
139 – Art. 11: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações,
ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser
exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé
objetiva e aos bons costumes.
Estabelecem limites para o ato de restrição. Quando o
titular restringe esse direito, essa restrição está
delimitada por três condições:
- o ato de restrição voluntária não pode ser permanente.
Ex: Ronaldinho, que teria um contrato vitalício com a Nike.
Ora, a qualquer tempo pode denunciar o contrato, pois o
prazo máximo de cessão de imagem é de cinco anos.
Ex: Palito Gina. A imagem da moça na caixa do palito tem
mais de 35 anos. A modelo da imagem pode interpor uma ação
para que a empresa pare de vincular a sua imagem.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 32
- o ato de restrição voluntária não pode ser geral.
Ex: Big Brother. As pessoas que ali estão relativizam a sua
imagem. Como a cessão da imagem é específica e não
genérica, os artistas flexibilizaram a sua imagem. Isso não
significa que abriram mão de todos os direitos da
personalidade, logo se tiverem a honra violada, terão
direito a uma indenização.
- o ato de restrição voluntária não pode violar a dignidade
do titular.
Ex: arremesso de anão. Demonstra com clareza ímpar a
impossibilidade de violação da dignidade do titular.
Ex: Programa “No Limite”, onde os participantes tinham que
comer olhos de cabra com mostarda. Em São Paulo foi
ajuizada uma ação contra a Globo sob a alegativa de que
feria a dignidade do titular dos direitos da personalidade.
A Globo disse que todos abriram mão aos direitos da
personalidade. A Justiça afirmou que a aceitação dos
participantes não tinha valor, porque violava a dignidade
dos participantes.
Ex: Programa “Teste de Fidelidade”. A resposta da Redetv
foi a mesma, mas a justiça disse que o programa violava a
dignidade de quem participava e de quem assistia ao
programa.
OBS: Se os direitos da personalidade são intransmissíveis,
é possível se falar em transmissão à reparação do dano
decorrente à violação a um direito da personalidade?
O art. 943 do NCC afirma que os direitos da personalidade
são intransmissíveis, mas admite-se a possibilidade de
transmissão à reparação do dano.
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la
transmitem-se com a herança.
O direito da personalidade em si não se transmite; mas a
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 33
reparação é transmissível, seja o direito de reclamar ou o
dever de reparar o dano sofrido.
RESP 324.886, Rel Min. José Delgado, onde o STJ afirmou
que, apesar dos direitos da personalidade serem
intransmissíveis, o direito de indenizar e o de exigir a
reparação, se transmitem aos herdeiros.
Em Porto Alegre uma família ajuizou uma ação contra um
jornal que publicou que o filho tinha morrido por AIDS em
decorrência de ser homossexual. Na realidade, o filho era
hemofílico e não homossexual. Logo, há a possibilidade de a
família requerer o dano moral depois da morte do filho. Se
a vítima ajuizou a ação antes de morrer, aplica-se o art.
41 do CPC, logo há sucessão processual. O caso aqui foi de
transmissibilidade dos direitos da personalidade. O que se
transmitiu foi o direito de se exigir a reparação, não
tendo havido transmissão do direito da personalidade.
OBS: Caráter irrenunciável dos direitos da personalidade.
Não se podendo renunciar aos direitos da personalidade,
alguém pode renunciar à caracterização de uma União
Estável?
Trata-se aqui do contrato de namoro. É um contrato
celebrado por quem quer dizer que está namorando. Ocorre
quando as pessoas querem deixar claro que não há uma união
estável, mas um namoro.
A celebração do contrato de namoro implica renúncia ao
direito da união estável?
O contrato de namoro é existente, válido, mas ineficaz,
pois não tem o condão de elidir a união estável.
Outras características dos direitos da personalidade, que
não foram expressas no NCC:
- oponíveis erga omnes:
Se assim o são, são absolutos. Admitem relativização, mas o
sentido aqui é de serem oponíveis erga omnes.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 34
- extra-patrimoniais: mas a sua violação induz à reparação
pecuniária.
- vitalícios: portanto, são intransmissíveis. Todavia, o
direito de exigir a reparação transmite-se.
- impenhoráveis.
- inatos.
- imprescritíveis:
A respeito da imprescritibilidade, vale ressaltar que não
há prazo para se exigir a proteção de um direito da
personalidade. Porém, existe prazo prescricional da
pretensão decorrente da violação de um direito da
personalidade. O prazo prescricional aqui é de três anos.
Exceção:
Interpretação do art. 14 da Lei 9.140/95. Para o STJ existe
uma prestação pecuniária que não prescreve, que é a
reparação pecuniária decorrente do crime de tortura. Ora,
se a tortura é imprescritível, assim o será a sua reparação
pelos danos causados à vitima. RESP 816.209/RJ, Rel. Min.
Luiz Fux.
Proteção jurídica:
Essa matéria reclama, primeiramente, lembrança de outro
momento histórico. No CC/16, o sistema de tutela de
direitos era lesão-sanção. Na prática a toda lesão
correspondia uma sanção. Esta seria perdas e danos. Basta
se perceber que esse sistema era exclusivamente
reparatório, ou seja, para o CC/16 toda proteção jurídica
se dava pela ótica patrimonial. Havia uma relevância do
valor patrimônio, logo toda reparação de danos era
pecuniária.
Estudos de direito comparado revelaram que essa técnica era
insuficiente para os direitos da personalidade. Isso porque
a tutela desses direitos não podia ser satisfeita com a
técnica da lesão-sanção, já que não respeitava a
fundamentalidade dos direitos da personalidade, ou seja não
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 35
respeitava a dignidade da pessoa humana.
Com isso, o NCC, abraçando o disposto no CDC e CPC, rompeu
com a técnica lesão-sanção, adotando uma nova técnica, que
passou a ser binária, se desdobrando em dois âmbitos (art.
12 do NCC).
Técnica preventiva sem prejuízo da técnica reparatória.
Os direitos da personalidade merecem uma proteção
preventiva sem prejuízo de uma eventual reparação
pecuniária. A tutela dos direitos da personalidade foi
enriquecida. Antes, a proteção era exclusivamente
patrimonial; agora, essa proteção passa a ser eminentemente
preventiva, sem prejuízo de eventual reparação pecuniária.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou
qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Deve cessar a lesão e se ela já ocorreu deve-se evitar que
se alastre.
Essa proteção preventiva ocorre por meio da tutela
específica (preventiva). Art. 461 do CPC no plano
individual e 84 do CDC no âmbito coletivo.
A proteção reparatória pode ocorrer por meio da indenização
por danos morais. Previsão no art. 5.º, incisos V, X e XII
da CF.
Nada impede que os pedidos sejam cumulados, ou seja que se
requeira, ao mesmo tempo, ambas as tutelas, preventiva e
reparatória.
É preciso se fazer menção ao fato de que o direito
brasileiro permite a autotutela dos direitos da
personalidade, por meio da legítima defesa e do exercício
regular de direito. Ambos confirmam a autotutela dos
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 36
direitos da personalidade.
A nova perspectiva preventiva sem prejuízo da reparatória
dos direitos da personalidade implicam no fenômeno que foi
apelidado de Despatrimonialização da Reparação Civil por
Lesão à Personalidade.
Significa que hoje a proteção jurídica da personalidade vai
muito mais pela ótica do “ser” do que do “ter”. Tal pode
ser confirmado com a leitura do art. 12 do NCC.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei.
Como materializar a tutela específica?
A tutela preventiva se dá por meio de tutela específica dos
direitos da personalidade. Decorre do art. 461 do CPC.
Tutela específica é, pois, a tutela jurisdicional cabível
para a solução de cada um dos conflitos de interesses
especificamente. Quer-se a tutela adequada para um problema
específico, aquele do caso concreto. É uma tutela dirigida
a um caso específico.
Ex: Carolina Dieckman e Programa Pânico. O Juiz concedeu a
tutela específica, ou seja, pare de veicular a imagem, sob
pena de multa. Como não adiantou, o juiz afirmou que não
poderiam chegar a 200m da atriz.
Dentro da tutela específica, encontram-se várias formas de
tutela: inibitória, sub-rogatória, remoção do ilícito etc.
Nesse sentido, deve-se lembrar o enunciado 140 da Jornada
de Direito Civil, que confirme expressamente a
possibilidade de uma infinidade de possibilidades de
prestação jurisdicional a titulo de tutela específica.
140 – Art. 12: A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se
às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no
art. 461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com
resultado extensivo.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 37
Ainda, pode o juiz de ofício prestar a tutela. CPC, art.
461, § 5.º:
§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado
prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento,
determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por
tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas,
desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário
com requisição de força policial.
O CPC permite a possibilidade de toda e qualquer tutela
preventiva de ofício. Ex: substituição de tutela inibitória
por tutela de remoção do ilícito.
A tutela preventiva de direitos da personalidade,
inclusive, pode decorrer de ofício.
Ex: art. 22 da lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Diz
que ao conceder um provimento em favor da mulher vitima de
violência doméstica, o juiz pode determinar o afastamento
do suposto agressor do lar. A novidade é que o inciso III,
c/c art. 12 do NCC, permitem a possibilidade de Mandado de
Distanciamento (não se aproxime da mulher por tantos
metros). Houve aqui um enriquecimento da ação de separação
de corpus, onde, na inicial, já pode constar o pedido de
distanciamento.
O limite da decisão judicial à tutela específica é o
respeito às garantias fundamentais.
O juiz pode dar uma tutela específica mandado prender a
parte, ou seja, é possível prisão em caso de tutela
específica?
Há duas correntes:
1.ª corrente: Didier e Marinoni afirmam que o juiz podem
prender. Fazem uma interpretação entendendo que a CF proíbe
prisão por dívida civil, mas no caso da tutela específica
existe o descumprimento de uma decisão judicial, logo seria
possível a prisão. Não estaria abrangido pelo dispositivo
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 38
constitucional da prisão civil.
2.ª corrente: é a posição majoritária: a titulo de tutela
específica, não podem os direitos fundamentais ser
violados. Quando o constituinte instituiu a possibilidade
de prisão civil, assim o fez para toda hipótese em que haja
o descumprimento de uma obrigação.
Logo, é plenamente possível o uso de qualquer possibilidade
pelo juiz a titulo de tutela específica, à exceção daquelas
que afrontam os direitos fundamentais.
Ora, como se explicaria que essa conduta seria tratada pelo
direito penal como crime de menor potencial ofensivo? Se o
direito penal, que é repressor, solta, como o direito civil
poderia prender? Haveria uma incongruência no sistema. Para
que a prisão civil fosse possível, deveria haver uma
mudança no direito penal.
Para o STJ, os direitos da personalidade ligados à saúde,
educação e à honra são os maiores exemplos de proteção ao
direitos da personalidade.
Aula 03 04/03/2009
A Proteção Jurídica dos direitos da personalidade é
primeiramente preventiva e, posteriormente, reparatória.
Mas pode ser somente uma delas ou ambas simultaneamente.
A tutela específica se apresenta sob variadas formas:
inibitória, sub-rogatória, tutela de eliminação do ilícito
etc. Há, pois, uma multiplicidade de medidas destinadas à
proteção dos direitos da personalidade.
Há uma discussão sobre a possibilidade ou não acerca da
prisão civil nos casos de tutela de remoção do ilícito.
Prevalece na jurisprudência que não é possível a decretação
da prisão civil para fins de remoção do ilícito.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 39
Tutela Reparatória dos Direitos da Personalidade:
Indenização por Dano Moral:
A tutela reparatória dos direitos da personalidade ocorre
por meio de indenização por danos morais. Esta está
correlacionada à violação dos direitos da personalidade.
Essa correlação é tamanha que a indenização por dano moral
não é outra coisa senão a violação aos direitos da
personalidade. Ambos esses assuntos estão imbricados.
Assim, a violação aos direitos da personalidade dá ensejo à
reparação por dano moral.
O simples dissabor, ou seja, o simples sentimento negativo,
por si só, não causa dano moral. Mas o sentimento negativo
pode ser uma consequencia do dano moral, jamais a sua
causa.
A prova do dano moral é in re ipsa (ínsita na própria
coisa). Assim, a prova do dano moral não está nos seus
efeitos, mas na sua causa.
Pode-se dizer, pois, que estando a prova na sua causa e não
nos seus efeitos, é a violação da personalidade. Os seus
efeitos podem implicar na fixação do quantum majorado. Mas
tal não pode caracterizar a comprovação do dano.
O dano moral, repita-se, tem natureza reparatória da
violação dos direitos da personalidade. Nessa linha de
perspectiva, o dano moral não é só a violação da
personalidade, mas sim da própria dignidade da pessoa
humana, que é o sustentáculo dos direitos da personalidade.
A tutela reparatória não pode ocorrer de ofício, dependendo
de expressa provocação do interessado. Quanto a esse tema,
é preciso lembrar que vem-se discutindo quanto à
legitimidade do MP para requerer a reparação de danos na
hipótese da ação civil ex delicto.
O art. 68 do CPP deve ser compreendido em consonância com o
art. 127 da CF.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 40
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre
(art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença condenatória (art. 63)
ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo
Ministério Público.
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.
Ora, se o MP só atua nos interesses previstos no art. 127,
o interesse perseguido em uma ação civil ex delicto é
meramente patrimonial. Não é, pois, social, e individual
indisponível. Logo, o interesse aqui não pode ser do MP.
Pode ser da Defensoria, quando se tratarem de pessoas que
necessitem de assistência judiciária gratuita.
No entanto, o STF entendeu, por meio do RE 135.328/SP, a
tese da inconstitucionalidade progressiva. Entendeu o STF
que nas Comarcas em que há Defensoria instalada e em
funcionamento, o MP não tem legitimidade para a ação civil
ex delicto. Mas onde não há Defensoria instalada ou em
funcionamento, o MP remanesce como parte legítima para
propor a ação civil ex delicto. Essa tese quer conciliar o
espírito da CF com a estrutura jurídica brasileira, já que
em muitos lugares sequer há Defensoria instalada.
Tutela Preventiva Tutela Reparatória
Tem natureza específica. É uma
medida específica para um resultado
específico.
É genérica, porque se da por perdas
e danos.
Pode ser concedida ex officio ou a
pedido do interessado ou MP
Somente pode ser concedida a pedido
do interessado.
O juiz possui amplos poderes,
podendo ampliar, reduzir etc.
Há a aplicação do princípio da
congruência, onde o juiz só pode
conceder o que foi requerido pela
parte.
Pode ser concedida a qualquer tempo. Será concedida ao final do processo.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 41
A proteção jurídica dos direitos da personalidade se
desdobra, pois, em proteção preventiva (tutela preventiva)
e proteção reparatória (tutela reparatória).
A indenização por danos morais nada mais é senão a violação
a bens jurídicos personalíssimos. Violação à honra, imagem,
integridade física etc.
O STJ entendeu que a indenização por dano moral
corresponde, a um só tempo, ao gênero e à espécie. Ex: Dano
à imagem, dano à honra, dano estético etc.
Mas tal trouxe um grande inconveniente, que foi a discussão
se o dano estético e o dano moral podem ser cumuláveis. Na
medida em que o dano estético é uma categoria de dano
moral, não poderia ser cumulado, pois haveria um bis in
idem. Mas esse posicionamento foi corrigido pelo STJ, que
entendeu que ambos esses danos são cumuláveis, pois cabe
indenização por dano moral a cada bem jurídico violado.
Assim, a súmula 37 do STJ pode ter a sua interpretação
ampliada.
Súmula: 37São cumuláveis as indenizações por dano material e dano
moral oriundos do mesmo fato (ou indenizações por dano moral e dano
moral).
Para que haja a cumulação basta que se esteja falando de
bens jurídicos distintos. Ex: dano à honra e dano à imagem.
Mas melhor seria, tal qual no direito lusitano, que o dano
moral fosse a espécie. Assim, o dano moral seria apenas uma
das espécies do dano extrapatrimonial.
Para que se admita a reparação do dano moral, é necessário
a violação à honra, ou seja, a violação a outro bem
jurídico sem que a honra seja violada pode dar ensejo à
reparação por dano moral? Sim.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 42
O STJ discutiu o caso de uma senhora de idade, que pediu
para a companhia telefônica colocar o seu nome no catálogo.
A companhia colocou nas páginas amarelas, no setor de
massagistas. A companhia disse que a senhora não tinha
sofrido inconveniências. O STJ entendeu que apenas a
colocação geraria dano moral. Mas se tivesse havido
inconveniências com as pessoas atrás de massagistas, tal
fato apenas agravaria o dano.
Também, o STJ entendeu que o dano moral não tem caráter
punitivo. Vem afastando do direito brasileiro o punitive
damage. Isso quer dizer que o caráter punitivo do dano
moral não existe no Brasil, ou seja, o seu caráter é
meramente reparatório. Tal difere do direito norte-
americano, onde se admite o punitive damage.
Porém, o STJ entende que mesmo não tendo caráter punitivo,
quando da fixação do dano, o juiz deve fazê-lo levando em
conta o ensinamento ao ofensor, para que este não venha a
reincidir no cometimento do dano.
Se todos os fatos ensejados pelo dano moral devem ser
levados em conta, a sua fixação é fática ou jurídica?
Fática, porque o juiz deve considerar todos os fatos que
circundam a demanda. Tratando-se de matéria fática, não
caberia RESP para discussão do quantum indenizatório. É o
que reza a súmula 07 do STJ:
Súmula: 7A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso
especial.
Todavia, esse entendimento gerou uma situação incômoda,
devido a grande divergência entre os valores da
indenização.
Assim, o STJ mudou a sua posição, por meio do RESP 816.577,
onde entendeu que cabe RESP para a discussão do quantum
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 43
indenizatório. Por óbvio, esse entendimento mitiga o
conteúdo da súmula 07 do próprio STJ.
Dano moral contratual:
Fala-se do inadimplemento de um contrato. Assim, o
descumprimento de um contrato, por si só, pode gerar dano
moral? Não, porque o inadimplemento contratual traz efeitos
de natureza eminentemente patrimonial, ensejando danos
patrimoniais.
Logo, o art. 408 do NCC permite que as partes liquidem os
danos por meio da cláusula penal.
Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde
que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em
mora.
Mas o STJ, por meio de leading case (RESP 202.564, Rel.
Sálvio Teixeira), reconheceu a existência do dano moral
contratual, quando o descumprimento de um contrato termina
por violar também a personalidade do contratante. O dano
moral não decorre do descumprimento do contrato, mas sim da
violação dos direitos da personalidade de um dos
contratantes.
Logo, a natureza do dano moral contratual é
extracontratual.
Dano moral coletivo:
Tratar-se-á aqui da tutela jurídica coletiva dos direitos
da personalidade.
Os arts. 1.º da LACP e art. 6.º, VI do CDC tratam do tema:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação
popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais
causados:
I - ao meio ambiente;
II - ao consumidor;
III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
V - por infração da ordem econômica e da economia popular;
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 44
VI - à ordem urbanística.
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular
pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de
natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
É a tutela jurídica coletiva dos direitos da personalidade.
Se for atingida a personalidade da coletividade,
perfeitamente admissível a salvaguarda dos danos morais
coletivos. Essa salvaguarda será realizada pelos órgãos que
têm legitimidade para a tutela jurisdicional coletiva e que
podem requerer essa indenização.
Esse dinheiro será revertido para o fluid recovery, que
está previsto no art. 13 da LACP, que tem por finalidade a
recomposição dos bens jurídicos lesados.
Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano
causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por
Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério
Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados
à reconstituição dos bens lesados.
Parágrafo único. Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro
ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com
correção monetária.
Exs: dano causado ao meio-ambiente do trabalho; exposição
da saúde da coletividade.
Alguns autores sustentam que nos casos de improbidade
administrativa também há dano moral coletivo.
Nem sempre o que se formula dentro de uma ACP é um pedido
de dano moral coletivo. Assim, dentro de uma ACP pode ser
pleiteado um dano moral individual.
A ACP atente à proteção de três diferentes valores:
difusos, coletivos e individuais homogêneos. Dentro de uma
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 45
ACP, pode haver diferente pedidos. Desse modo, quando se
tratar de interesses difusos e coletivos o interesse sempre
será social. Mas quando se tratar de interesses individuais
homogêneos, o interesse é individual, o que dá ensejo ao
dano moral individual.
Logo, nos direitos individuais homogêneos, cada um liquida
e executa o seu próprio dano.
Dano moral coletivo: o dinheiro vai para o fundo de que
trata o art. 13 da LACP.
Dano moral individual: há a liquidação e execução
individuais.
Tem o MP legitimidade para requerer também, os danos morais
individuais? Sim, mas o dano tem que ser indisponível.
O COREN/RJ ajuizou uma ACP para defender os danos morais
coletivos da imagem das enfermeiras. Havia um outdoor onde
um motel dava a opção de o cliente escolher a fantasia de
enfermeira do funk, bem como dizia o seguinte dizer:
“liberte a enfermeira que existe em você”. É o típico caso
de proteção aos direitos coletivos da personalidade.
Proteção dos direitos da personalidade da pessoa morta:
O morto possui direitos da personalidade?
A discussão envolve o parágrafo único do art. 12 do NCC:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto (ou ausente), terá
legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge (ou
companheiro) sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou
colateral até o quarto grau. (a medida prevista é justamente a
proteção dos direitos da personalidade)
Diz o artigo que a proteção jurídica aos direitos da
personalidade de alguém que já morreu é dos vivos e não do
morto. Quando a pessoa morre, não tem mais personalidade,
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 46
logo não tem mais proteção aos direitos da personalidade.
Os direitos tutelados aqui são dos vivos, que são chamados
nesse caso de lesados indiretos.
O que diz o artigo é que ao violar diretamente a
personalidade de alguém que já morreu, indiretamente, se
atinge as pessoas relacionadas no parágrafo único do artigo
12 do NCC.
Assim, não existem direitos da personalidade do morto. Mas
existe tutela jurídica dos direitos da personalidade do
morto, que são concedidas aos lesados indiretos, que são o
cônjuge, o ascendente, descendente e colaterais até o
quarto grau.
Ex: pessoa que morre de AIDS e jornal diz que aquela pessoa
era homossexual. Na verdade, essa pessoa era hemofílica. Os
pais ajuizaram uma ação de reparação de danos. Assim o
fizeram na qualidade não de substitutos processuais, mas
sim como legitimados autonomamente. A legitimidade aqui é
ordinária daqueles que figuram no parágrafo único do art.
12. Requer-se em nome próprio interesse seu. Por isso que
os lesados indiretos dispõem de legitimidade autônoma.
Todos nós carregamos o direito de proteger a personalidade
dos parentes mortos.
Não há aqui a aplicação da ordem de vocação hereditária.
Isso porque todos os lesados indiretos são co-legitimados.
Nessa medida, não há que se discutir se a legitimidade de
um exclui a do outro, pois todos estão legitimados
reciprocamente.
O STJ já pacificou essa questão por meio dos RESPs 86.109 e
521.697.
O primeiro caso foi o uso da imagem de Lampião e Maria
Bonita indevidamente. O STJ reconheceu a legitimidade
autônoma da filha de Lampião e Maria Bonita.s
No segundo caso, o STJ tratou do caso de Garrincha, tendo
em vista que o jornalista Rui Castro escreveu uma biografia
não autorizada do jogador, tendo publicado o livro. A
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 47
família requereu que o livro fosse tirado de circulação e
depois requereu uma reparação. O jornalista disse que o
jogador tinha um órgão genital avantajado. Houve violação à
intimidade do jogador, mesmo que morto, a qual foi
externada nos parentes. A ação foi promovida por quatro dos
filhos de Garrincha, os quais eram co-legitimados
autônomos.
No âmbito do processo penal, os lesados indiretos tem
legitimidade para requerer a revisão criminal.
OBS: o parágrafo único do art. 20 traz uma exceção:
Quando o lesado indireto estiver reclamando violação da
imagem do morto há uma restrição.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da
justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização
da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes
legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
descendentes.
Houve a exclusão dos parentes colaterais do rol dos lesados
indiretos quando se tratar de violação da imagem do morto.
Se o tratamento for genérico, os co-legitimados são os do
art. 12. Mas se se tratar da imagem da morto, ficam
excluídos os parentes colaterais.
O enunciado 05 da Jornada de Direito Civil trata do tema:
5 – Arts. 12 e 20: 1) as disposições do art. 12 têm caráter geral e
aplicam-se, inclusive, às situações previstas no art. 20,
excepcionados os casos expressos de legitimidade para requerer as
medidas nele estabelecidas; 2) as disposições do art. 20 do novo
Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção dos bens
personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos
expressos de legitimação que se conformem com a tipificação
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 48
preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as
regras instituídas no art. 12.
O crime de vilipêndio ao cadáver previsto no CP trata da
proteção da personalidade do morto.
Outro ponto interessante diz respeito ao fato de que a
legitimação dos parentes só ocorre quando a violação aos
direitos da personalidade ocorreu depois do óbito.
Assim, não há lesados indiretos quando a violação ocorre
antes do óbito, tendo em vista que nesse caso a
legitimidade era da vítima. Se esta interpôs a ação, há
sucessão processual, nos casos do art. 41 do CPC. Se não
promoveu a ação, deve ser aplicado o art. 943 do NCC:
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la
transmitem-se com a herança.
Esse artigo fala da transmissão do direito de exigir a
reparação. Fala-se aqui de direito eminentemente
patrimonial. Dentro do prazo prescricional, portanto, os
herdeiros podem requerer um dano do morto. No caso do art.
12, o dano é dos próprios lesados indiretos.
Direitos da personalidade da pessoa jurídica:
Vem-se entendendo no direito brasileiro que a pessoa
jurídica dispõe de direitos da personalidade, por conta do
seu atributo de elasticidade. Isso porque os direitos da
personalidade trazem esse atributo consigo. Tal faz com que
esses direitos da personalidade possam ser estendidos para
alcançar as pessoas jurídicas.
Essa extensão ocorre porque na medida em que as pessoas
jurídicas dispõem de personalidade, naturalmente terão a
proteção dos direitos da personalidade.
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos
direitos da personalidade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 49
A expressão “no que couber” reconhece em caráter definitivo
que os direitos da personalidade são elastecidos para
atender as pessoas jurídicas. Significa a expressão naquilo
que a falta de estrutura biopsicológica permita exercer.
Ex: a pessoa jurídica dispõe do direito ao nome ou à honra
objetiva, porque não decorrem da estrutura biopisicológica.
Na mesma toada, não dispõe dos direitos relacionados à
integridade física.
Nesse diapasão, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral. O
RESP 433.954 reconheceu dano moral à pessoa jurídica por
protesto indevido de duplicata.
Para o STJ, esse dano moral pode ser causado pela violação
aos direitos da personalidade, no que couber.
Essa matéria, inclusive, já está sumulada:
Súmula: 227A pessoa jurídica pode sofrer dano moral (no que couber).
De uns tempos para cá, a doutrina, liderada pelo Prof.
Gustavo Tepedino, passaram a sustentar o não-cabimento dos
direitos da personalidade às pessoas jurídicas. Sustentam
que o dano moral é a violação à dignidade, logo não há
dignidade da pessoa jurídica. Assim, entenderam que não se
poderia falar em dano moral às pessoas jurídicas porque a
dignidade é atributo exclusivo das pessoas humanas.
Todavia, sustentam que todo e qualquer dano dirigido a uma
pessoa jurídica repercute sempre sobre o seu lucro. Logo, o
dano seria sempre patrimonial.
Nos casos das pessoas jurídicas sem finalidade lucrativa,
Tepedino responde quem nem assim haveria dano moral. Isso
porque, nesse caso, já que não se pode falar em dano
patrimonial, fala-se em dano institucional.
Esses autores nutrem uma total antipatia pela tese do dano
moral à pessoa jurídica, já que para eles só sofrem dano
moral as pessoas humanas.
Conseguiram, inclusive, aprovar o enunciado 286 da Jornada
de Direito Civil:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 50
286 – Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e
essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as
pessoas jurídicas titulares de tais direitos.
Essa posição de Tepedino é minoritária.
Conflito entre direitos da personalidade e direito da
comunicação social:
O direito de comunicação social, normalmente é tangenciado
com outro nome, ou seja com uma de suas vertentes.
A primeira vertente é a liberdade de imprensa. Mas também
diz respeito à liberdade de expressão. Essas são as duas
faces do direito de comunicação social.
Não se pode ignorar que tanto a liberdade de imprensa
quanto a liberdade de expressão podem colidir frontalmente
com os direitos da personalidade, surgindo aí um conflito
que deve ser dirimido.
Em havendo esse conflito, como todos os valores com colisão
são de ordem constitucional, não se pode formular uma
decisão apriorística. A solução ocorrerá em cada caso
concreto, por meio da técnica de ponderação de interesses.
Exemplo magnânimo é dado por Luiz Roberto Barroso. Afirma
que há alguns anos o jornal O Globo publicou duas notícias
sobre casos extraconjugais. Determinado Ministro de Estado
teria uma amante e esta teria um cargo de confiança no
Ministério. Em outro caderno da mesma edição, afirma o
jornal que uma Presidente de uma associação de bairro teria
uma amante. Há aqui, a liberdade de imprensa versus
direitos da personalidade.
Assim, entre a liberdade de noticiar o fato do Ministro ter
uma amante e a liberdade de imprensa, prevalece a
liberdade, por conta de a amante ter um cargo no
Ministério.
Já no caso da Presidente de associação do bairro, deve
prevalecer a proteção aos direitos da personalidade. Isso
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 51
não quer dizer que se está repristinando a censura, mas
está havendo um sopesamento da liberdade de imprensa sobre
os direitos da personalidade.
Há aqui a fiel técnica da ponderação de interesses.
Quando o conflito se resolver em favor dos direitos da
personalidade em detrimento da liberdade de imprensa, a
súmula 221 do STJ estabelece uma responsabilidade solidária
entre o veículo de comunicação e o jornalista.
Súmula: 221São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano,
decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito
quanto o proprietário do veículo de divulgação.
Súmula 281 A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação
prevista na Lei de Imprensa.
A súmula 281, por sua vez, afasta o tabelamento/tarifamento
que está previsto na Lei de Imprensa. Esta estabelece que
toda vez que haja um dano moral causado pela imprensa, a
indenização teria que ser arbitrada nos parâmetros
previstos em Lei. Mas a CF diz que toda indenização tem que
ser proporcional à extensão do dano. logo, esse dispositivo
da Lei de Imprensa deve ser afastado nesse caso.
No que concerne especificamente à liberdade de expressão,
quando esta colidir com os direitos da personalidade, pode-
se falar de uma figura jurídica nova, que é o hate speach,
que nada mais é senão a liberdade de expressão de forma
ilimitada. É o direito que cada um tem de falar o que quer.
É uma liberdade de expressão ilimitada.
Discute-se de o alcance da liberdade de expressão também
abarcaria o hate speach.
No Brasil, o HC 82.424-2/RS, Rel. Min. Mauricio Correia, do
STF, tratou do tema. O STF permitiu que se processe uma
ação penal por crime de racismo praticado no RS por um neo-
nazista que escreveu um livro de repugnância aos judeus. O
STF entendeu que não há a aplicação do hate speach, logo
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 52
poderia ser processada a ação penal. Assim, não se admite o
hate speach no direito brasileiro.
Direitos da personalidade e as celebridades:
Celebridades são as pessoas públicas, as pessoas notórias.
Essas pessoas públicas são aquelas cuja profissão ou ofício
expõem a sua personalidade ao público. Assim, essa pessoa
continua dispondo dos direitos da personalidade?
Sim, todavia, por ponderação de interesses, há uma
mitigação na proteção dos direitos da personalidade das
celebridades. Essa mitigação decorre dos simples fato de
que a sua personalidade (imagem, privacidade, intimidade) é
pública. Essa mitigação ocorre naquilo que disser respeito
à sua profissão ou ofício. Assim, a flexibilização não
atinge o desvio de finalidade. Havendo esse desvio de
finalidade, a pessoa pública tem proteção aos direitos da
personalidade.
Ex: foto de jogador de futebol em jornal não há necessidade
de autorização, mas a exploração comercial dessa imagem
necessita de autorização desse jogador.
Junto à flexibilização dos direitos da personalidade das
pessoas públicas, há também uma flexibilização das pessoas
que acompanham essas pessoas públicas.
Do mesmo modo que se sustenta a flexibilização da
personalidade das pessoas públicas, desde que não haja
desvio de finalidade, se uma celebridade acopla a sua
personalidade a dado produto ou serviço, passaria a
responder civilmente? Ex: Sandália da Xuxa.
Sim, com base no parágrafo único do art. 7.º do CDC:
Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros
decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil
seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos
expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 53
que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e
eqüidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de
consumo.
Ressalte-se que não há precedente jurisprudencial nesse
sentido no Brasil. Mas na Franca há precedentes nesse
sentido.
Classificação dos direitos da personalidade:
É uma classificação tripartite, trinaria. Isso porque diz
respeito aos três diferentes âmbitos da própria
personalidade humana, que é composta de corpo, alma e
intelecto.
Direitos da personalidade no âmbito fisco: é a tutela
jurídica do corpo humano.
Direitos da personalidade no âmbito psíquico: direitos da
personalidade dos valores imateriais.
Direitos da personalidade no âmbito intelectual: direitos
da personalidade da criação, da inteligência humana.
Os direitos da personalidade se espraiam pelos diferentes
campos da personalidade humana.
Em qual dos âmbitos acima pode-se enquadrar o direito à
vida? Está em todos. Essa classificação dos direitos da
personalidade traz consigo uma cláusula geral de proteção
da personalidade. Ela é quem sustenta todos os direitos da
personalidade. No direito brasileiro e no alemão, essa
cláusula geral está na CF (art. 1.º, III – dignidade da
pessoa humana). Já na Itália, essa cláusula está no CC.
Podem ser tiradas aqui duas conclusões: todos devem ter
direito a uma vida digna; o rol dos direitos da
personalidade é meramente exemplificativo. Isso porque os
direitos que não são expressos podem ser reconhecidos em
decorrência da cláusula geral. Ex: daqui a alguns anos o
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 54
acesso à internet pode ser requisito para se ter uma vida
digna.
Classificação dos direitos da personalidade no âmbito
intelectual:
No âmbito intelectual, tem-se os direitos da personalidade
que decorrem da inteligência humana, ou seja, do poder de
criação do homem.
Os exemplos mais interessantes são as liberdades de
expressão, sexual, religiosa etc.
Mas o mais cotidiano dos direitos da personalidade no
âmbito intelectual é o direito autoral, que é regulado pela
Lei 9.610/98. Essa Lei estabelece a tutela jurídica dos
direitos autorias.
No Brasil, o direito autoral é híbrido, sui generis. Isso
porque o direito autoral tem uma proteção binária, já que a
um só tempo é direito da personalidade e direito real.
É direito da personalidade no que concerne ao invento, à
criação.
É direito real no que concerne à exploração, ao exercício.
Sintetizando, o direito autoral traz consigo aspectos
personalíssimos e aspectos patrimoniais. É a dupla face do
direito autoral.
Os arts. 7.º e 14 da Lei dos Direitos Autorais estabelecem
uma ampla definição do conceito de autor. Autor é todo
aquele que produz uma criação em espécie.
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito,
expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível
ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:
I - os textos de obras literárias, artísticas ou científicas;
II - as conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma
natureza;
III - as obras dramáticas e dramático-musicais;
IV - as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se
fixe por escrito ou por outra qualquer forma;
V - as composições musicais, tenham ou não letra;
VI - as obras audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 55
cinematográficas;
VII - as obras fotográficas e as produzidas por qualquer processo
análogo ao da fotografia;
VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e
arte cinética;
IX - as ilustrações, cartas geográficas e outras obras da mesma
natureza;
X - os projetos, esboços e obras plásticas concernentes à geografia,
engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência;
XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras
originais, apresentadas como criação intelectual nova;
XII - os programas de computador;
XIII - as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias,
dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção,
organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação
intelectual.
§ 1º Os programas de computador são objeto de legislação específica,
observadas as disposições desta Lei que lhes sejam aplicáveis.
§ 2º A proteção concedida no inciso XIII não abarca os dados ou
materiais em si mesmos e se entende sem prejuízo de quaisquer direitos
autorais que subsistam a respeito dos dados ou materiais contidos nas
obras.
§ 3º No domínio das ciências, a proteção recairá sobre a forma
literária ou artística, não abrangendo o seu conteúdo científico ou
técnico, sem prejuízo dos direitos que protegem os demais campos da
propriedade imaterial.
Art. 14. É titular de direitos de autor quem adapta, traduz, arranja
ou orquestra obra caída no domínio público, não podendo opor-se a
outra adaptação, arranjo, orquestração ou tradução, salvo se for cópia
da sua.
O direito autoral sempre é um bem móvel e incorpóreo.
Assim, o direito autoral é insuscetível de posse. Ainda,
não admite o direito autoral usucapião.
Súmula 228 do STJ: É inadmissível o interdito proibitório para a
proteção do direito autoral.
Características patrimoniais do direito autoral:
a) não se comunica no casamento e na união estável,
independente do regime de bens, salvo disposição em
contrário.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 56
b) o direito autoral admite transmissão dos efeitos
patrimoniais. Se a transmissão for inter vivos tem prazo de
cinco anos, renováveis, e é sempre onerosa. Quando se dá
causa mortis, a transmissão se dá pelo prazo de setenta
anos, contados de primeiro de janeiro do ano subsequente à
morte do autor. Findo esse prazo, a obra cai no domínio
público, onde qualquer pessoa pode explorá-la
patrimonialmente. Mantém-se, todavia, os efeitos
personalíssimos, ou seja, o conteúdo da obra não pode ser
mudado.
c) possibilidade de exploração do direito autoral por meio
de pagamento pela reprodução. O autor tem o direito de ser
pago pela reprodução de seu direito autoral.
Nesse caso a Lei estabelece o critério da reprodução
pública. Pouco interessa se a reprodução foi com finalidade
lucrativa ou não. Se a reprodução é pública, haverá
incidência do direito autoral; se a reprodução foi privada,
não haverá.
Ex: o município de Campina Grande foi autuado para pagar os
direitos autoria das bandas que tocam no São João.
Do mesmo modo, há incidência do direito autoral na
retransmissão radiofônica. Assim, hotel, motel,
consultórios, devem pagar os direitos autorais sobre a
retransmissão.
Súmula 63 do STJ: São devidos direitos autorais pela retransmissão
radiofônica de músicas em estabelecimentos comerciais.
Aspectos personalíssimos do direito autoral:
a) direito à paternidade, autoria: dá-se aqui o combate ao
plágio. Lembre-se que não existe plágio de idéia.
b) direito ao ineditismo: o autor pode colocar a obra em
circulação somente quando queira.
c) direito ao arrependimento:
d) direito à integridade da obra: o autor tem o direito de
manter a obra como ele criou. O STJ está julgando uma série
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 57
de questões envolvendo projetos arquitetônicos. Se os
condôminos resolvem mudar a fachada da obra sem perguntar
ao arquiteto, estão mudando o projeto e o arquiteto tem
direito à indenização. RESP 37.374/MG. O STJ reconheceu o
direito à integridade da obra, ou seja, se alguém mexer
nela o autor terá direito à indenização.
e) direito de acesso ao exemplar raro ou único.
f) direito de modificação da obra.
Quando se trate de obra de autoria desconhecida, ela cai em
domínio público depois de setenta anos, que o prazo para
que o autor a reivindique.
Aula 04 17/03/2009
Direitos da personalidade no âmbito psíquico:
Falar-se-á fundamentalmente de quatro direitos: honra,
imagem, privacidade e nome, os quais foram tipificados pelo
ordenamento jurídico pátrio. Por óbvio, essa classificação
não é exauriente, porque existem outros direitos da
personalidade no âmbito psíquico, só que esses quatro foram
os que mereceram referencia do legislador.
Direito à honra:
Deve-se partir da premissa que é o direito à
respeitabilidade, à honorabilidade. Honra é o conceito que
cada pessoa tem de si mesma e que goza perante a sua
comunidade.
É por isso que se percebe que o direito à honra se bifurca
em dois aspectos:
a) honra objetiva: é o que os outros pensam de você. É o
seu conceito social.
b) honra subjetiva: é o que cada um pensa de si mesmo.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 58
O direito à honra é um só e, sendo assim, a violação de
quaisquer deles dá ensejo a uma só indenização, decorrente
da violação à honra como bem jurídico uno, de compreensão
individual.
O direito à honra corresponde a um conceito social que cada
um dispõe dentro de dada sociedade.
A pessoa jurídica somente dispõe da honra objetiva.
No Estado Democrático de Direito não se pode falar em
direitos absolutos, não existindo situações jurídicas
inflexíveis. Logo, eventualmente, pode o direito à honra
ser mitigado, quando houver outro valor que lhe sobrepuje.
Apenas para exemplificar, podemos citar a possibilidade de
mitigação do direito à honra em que se justifique a
liberdade de imprensa ou de expressão.
Assim, no que concerne ao direito à honra, permite-se a
exceptio veritatis (exceção da verdade). O direito à honra,
admitindo a exceção da verdade, admite que a veracidade do
fato que se discute possa ser provado.
A súmula 37 do STJ permite a cumulabilidade entre dano
moral e dano material, se o fato, a um só tempo, reverbera
em danos patrimoniais e dano à honra.
Súmula: 37São cumuláveis as indenizações por dano material e dano
moral oriundos do mesmo fato.
Direito à imagem:
É o direito à identificação pessoal.
A imagem é importante desde os primórdios. Inclusive, a
bíblia já dizia que o homem foi feito à imagem do criador.
A imagem é o bem jurídico que serve para identificar
alguém.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 59
Existem diferentes maneiras de se identificar uma pessoa,
inclusive sem as características fisionômicas, ou seja,
pelo timbre sonoro e por características psíquicas.
O direito à imagem é complexo, porque a um só tempo engloba
a imagem retrato, a imagem atributo e a imagem voz.
a) imagem retrato: é a identificação de alguém por conta de
suas características fisionômicas. É o pôster da pessoa.
Essa divisão pode ser vista por meio do fato de os
chargistas explorarem muito as características fisionômicas
da pessoa. Ex: dentes do Ronaldo Traveco.
b) imagem atributo: é a identificação de alguém por conta
de um caractere emocional. Pode ser reconhecida tanto às
pessoas jurídicas quanto às pessoas físicas. É a
característica emocional ou o caráter identificador no caso
das pessoas jurídicas. Ex: a pessoa mais avara ou a empresa
melhor em dado ramo.
c) imagem voz: é a identificação de alguém por conta de seu
timbre sonoro. Ex: Lombardi, do Sílvio Santos.
A violação eventual de mais de uma dimensão do direito à
imagem dá ensejo a uma única indenização, pois estamos a
tratar de um bem jurídico único.
No ordenamento jurídico pátrio, a imagem foi submetida a um
duplo tratamento normativo: CF, art. 5.º, incisos V, X e
XXVIII. Esses três incisos fazem menção à imagem retrato,
atributo e voz.
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além
da indenização por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 60
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à
reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que
criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às
respectivas representações sindicais e associativas;
A CF conferiu tratamento jurídico autônomo e independente
ao direito à imagem. Logo, violar esse direito já dá ensejo
direto a uma indenização.
Imagem e honra, pois, são bens jurídicos diversos. Se
alguém usa sem autorização a sua imagem, ainda que seja
para se falar bem, já se está violando a imagem.
Além do artigo 5.º da CF, o direito à imagem também foi
tratado no NCC, no artigo 20:
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da
justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a
transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização
da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes
legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
descendentes.
Esperava-se desse artigo que ele garantisse o mesmo que a
CF. Mas ao contrário disso, cuida do direito à imagem no
sentido de que a proteção jurídica do direito à imagem não
é absoluta. Até aí sem problemas.
Mas o que assusta é o fato de que, além de reconhecer que
não é esse direito absoluto, afirma que a proteção jurídica
da imagem depende da violação da honra. Ou seja, a imagem
só merece tutela jurídica quando a lesão à imagem também
violar à honra ou tiver desvio de finalidade.
Para o NCC, a imagem somente pode ser protegida quando a
sua violação recair também sobre a honra ou contiver desvio
da sua finalidade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 61
Se alguém usa a imagem de alguém sem violar sua honra e sem
utilizar a imagem para fins comerciais, pelo NCC, não há
direito à reparação.
Por óbvio, a disposição do art. 20 do NCC precisa ser
compreendida de acordo com a CF. Assim, mesmo na hipótese
de a utilização da imagem não ter violado à honra ou ter
sido utilizada para fins comerciais, cabe direito à
reparação, pois a CF trata o direito a imagem como
autônomo.
No NCC, a proteção da imagem está atrelada à honra ou a
fins comerciais, mas tal deve ser interpretado em
consonância com a CF.
Função social da imagem:
A doutrina vem entendendo que o direito à imagem não é
absoluto. Logo, é possível mitigar o direito à imagem para
proteção de outro bem jurídico que lhe sobrepuje.
A imagem pode ser mitigada em duas hipóteses:
- consentimento do titular:
- manutenção da ordem pública ou administração da justiça.
O Programa Linha Direta sempre mostrava a imagem de
fugitivos, sem, contudo, lhes pedir autorização. Mas nesse
caso a imagem foi relativizada em razão da administração da
justiça e da manutenção da ordem pública. E isso é
justamente a função social da imagem, pois possível a sua
flexibilização.
A função social da imagem somente será possível nas duas
hipóteses previstas no NCC transcritas acima? Claro que há
outros bens jurídicos que podem fazer com que seja
flexibilizado o direito à imagem. Assim, a flexibilização
da imagem pode ser relativizada por consentimento do
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 62
titular; pela função social da imagem, quando outro bem
jurídico for mais importante.
Vide enunciado 279 da 4.ª Jornada de Direito Civil:
279 – Art.20. A proteção à imagem deve ser ponderada com outros
interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do
direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em
caso de colisão, levar-se-á em conta a notoriedade do retratado e dos
fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as
características de sua utilização (comercial, informativa,
biográfica), privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação
de informações.
O consentimento do titular no que concerne à flexibilização
da imagem pode ser expresso ou tácito. Inclusive, a grande
maioria dos consentimentos para o uso de imagem são
tácitos.
Ex: pessoa que dá entrevista e é fotografada ou filmada.
A jurisprudência vem relativizando a imagem para pessoas
que estão em locais públicos e quando se trata de um fato
jornalístico.
Mas o limite à flexibilização vai até o ponto que a imagem
é mostrada apenas a título de informação. A imagem deve ser
genérica e não específica, ou seja, quando a imagem
compunha o ambiente. Ex: se jornal tira a foto de apenas um
casal se beijando viola a imagem. Mas se tira a foto de uma
multidão e a foto do casal está no meio, não há violação.
RESP 85.905, Rel. Ari Pargendler.
Ainda, o direito à imagem pode ser flexibilizado quando se
tratarem de personalidades, desde que não haja o desvio da
finalidade do direito à imagem. Não se admite a exploração
econômica da imagem.
Ex: álbum de figurinhas. Deve haver autorização dos
jogadores que constam no álbum.
Ex: fato jornalístico, onde a imagem pode ser utilizada
para fins jornalísticos. A Globonews conseguiu captar a
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 63
imagem de um familiar de uma das vítimas da plataforma P36
e, além de veicular a imagem nos programas (até aí nada
demais), fez propaganda no sentido de demonstrar o
compromisso com a notícia, exibindo aquela imagem. Nesse
caso, violou o direito à imagem do familiar da vítima. Vide
RESP 74.473, Min. Sálvio Teixeira, que tratou do caso de
Garrincha.
O direito à imagem é reconhecido como direito de arena, nos
termos do art. 7.º da Lei dos Direitos Autorais:
A cessão da imagem tem prazo máximo de cessão de cinco
anos, podendo o contrato, por óbvio, estipular prazo menor.
O parágrafo único do art. 20 do NCC restringiu o alcance
dos lesados indiretos quando se tratar de direito à imagem:
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes
legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
descendentes.
Aqui difere do art. 12, que traz os parentes colaterais até
o quarto grau.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou
qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Houve, pois, uma diminuição quanto à legitimidade dos
lesados indiretos no trato do direito à imagem.
Vida privada:
Vem da ideia de privatus, que diz respeito a tudo que
pertence às informações de uma pessoa que estão excluídas
de terceiros ou da coletividade. São as informações que
pertencem ao titular e a mais ninguém, podendo ou não
comungar com terceiros, caso queira.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 64
A privacidade, a um só tempo, abrange o segredo e a
intimidade.
a) segredo ou sigilo: são as informações do titular, mas
que, eventualmente, podem ser reveladas em nome do
interesse público.
Devem ser mencionados o sigilo bancário, fiscal, telefônico
e médico.
No caso do segredo médico, as informações pertencem ao
paciente e a mais ninguém, mas, eventualmente, em nome do
interesse público, pode o médico divulgar a terceiros.
b) intimidade: diferente do segredo, são as informações do
titular e de mais ninguém. Não há interesse público na
informação.
Ex: opção sexual e religiosa, defeitos físicos etc.
Essa matéria pode bem ser entendida à luz da teoria dos
círculos concêntricos:
A privacidade estaria na extremidade do círculo; no meio, o
segredo e no início do círculo a intimidade.
Assim, a privacidade é o gênero, do qual decorrem as duas
espécies, intimidade e segredo.
O direito à privacidade também pode ser flexibilizado. Isso
ocorre no caso das pessoas notórias e do consentimento
tácito.
Isso não quer dizer que pessoa pública não tenha
privacidade. Tem, mas sofre uma flexibilização.
No episódio da biografia não autorizada de Roberto Carlos,
ocorreu de ele pedir uma tutela preventiva para não serem
divulgados certos fatos relativos à sua privacidade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 65
Ressalte-se que a proteção da vida privada é autônoma, ou
seja, não há a necessidade de que a honra também seja
violada.
No que tange ao direito à imagem, diferentemente do que
ocorre no direito à honra, não se admite a exceptio
veritatis. Isso porque permitir a exceção da verdade seria
violar a privacidade novamente.
A doutrina brasileira está entendendo que o envio
indiscriminado de spans viola a privacidade.
Ainda, o TST julgou recentemente a colisão entre
privacidade e propriedade no que concerne ao email
corporativo. Entendeu o Tribunal que o empregador pode
fiscalizar o email corporativo do empregado. Ag. Inst. Rec.
Revista n.º 1542/2005
Assim, entre privacidade e propriedade, o TST entendeu pela
propriedade, já que o email pertence ao empregador.
Nome civil:
O direito ao nome é uma espécie de etiqueta colocada em
cada um de nós quando do nascimento para individualizar
alguém. É a forma que se diferencia uma pessoa da outra.
Falar do direito ao nome com seu caráter personalíssimo é
dizer que o nome é um direito da personalidade.
Nessa medida, é direito da personalidade. Ressalte-se que a
própria pessoa que o escolheu. No nosso sistema a escolha
do nome é tácita. Isso porque ordenamento nos autoriza a
modificar o nome no primeiro ano após a maioridade civil,
sem qualquer justificativa.
Assim, o nome é direito da personalidade e não propriedade.
O nome civil é formado pelos seguintes componentes:
a) prenome: identifica a pessoa.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 66
Pode ser simples ou duplo.
Só existe um caso de prenome duplo obrigado por lei. É no
caso dos gêmeos quando o prenome simples é igual.
b) sobrenome ou nome patronímico: identifica a origem
familiar, ancestral.
c) agnome: é a partícula diferenciadora do nome. Diferencia
pessoas da mesma família que tenham o mesmo nome.
Não são elemento componentes do nome
a) títulos:
b) pseudônimo: art. 19 do NCC:
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção
que se dá ao nome.
Se o pseudônimo integrasse o nome não precisava ter a mesma
proteção.
Pseudônimo é sinônimo de heterônomo. Não se devem confundir
com hipocorístico.
O pseudônimo é utilizado para as atividades profissionais,
mantendo o nome no ponto de vista pessoal.
O hipocorístico é um vocábulo familiar carinhoso, o
apelido, no qual a pessoa passa a ser conhecida pessoal e
profissionalmente. Ex: Lula.
Enquanto o pseudônimo não é elemento componente do nome,
mas tem a mesma proteção, o hipocorístico pode ser
acrescentado ou até mesmo substituir o nome, desde que não
prejudique o sobrenome.
Registro do nome:
O nome pode ser modificado até o primeiro ano após a
maioridade civil. O nome atribuído quando do nascimento é
resolúvel, podendo durar até a maioridade.
Mas o art. 13 da CF diz que todo registro público deve ser
em língua portuguesa. Isso inclui também o nome, não
abrangendo o sobrenome.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 67
Além de recusar o registro de nomes em língua estrangeiras,
o oficial do cartório pode se recusar a registrar nomes
exóticos ou ridículos.
Se o oficial do cartório se recusa a registrar o nome,
deve-se observar os arts. 198 e seguintes da Lei de
Registros Públicos.
Ocorre o procedimento de dúvida. Toda vez que o oficial do
cartório verifica que irá se recusar a fazer o registro,
ele próprio suscita a dúvida ao juiz da Vara dos Registros
Públicos. O juiz manda ouvir o interessado, o MP e depois
profere a sentença.
Esse procedimento de dúvida é de natureza administrativa no
sentido de que o oficial provoque a dúvida ao juiz.
Se o oficial não provoca a dúvida, a jurisprudência admite
a chamada dúvida inversa, que é aquela procedida pelo
próprio interessado. Mesmo tendo a natureza inversa, o
procedimento continua sendo administrativo.
Da decisão do juiz cabe apelação.
A súmula 99 do STJ legitima o MP a recorrer como custos
legis mesmo que o interssado não recorra.
Súmula: 99O MINISTERIO PUBLICO TEM LEGITIMIDADE PARA RECORRER NO
PROCESSO EM QUE OFICIOU COMO FISCAL DA LEI, AINDA QUE NÃO HAJA RECURSO
DA PARTE.
O oficial não tem interesse recursal, pois seu interesse
era apenas o de ceifar a dúvida.
Art. 198 - Havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indicá-la-á
por escrito. Não se conformando o apresentante com a exigência do
oficial, ou não a podendo satisfazer, será o título, a seu
requerimento e com a declaração de dúvida, remetido ao juízo
competente para dirimí-la, obedecendo-se ao seguinte: (Renumerado do
art 198 a 201 "caput" com nova redação pela Lei nº 6.216, de 1975).
I - no Protocolo, anotará o oficial, à margem da prenotação, a
ocorrência da dúvida;
Il - após certificar, no título, a prenotação e a suscitação da
dúvida, rubricará o oficial todas as suas folhas;
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 68
III - em seguida, o oficial dará ciência dos termos da dúvida ao
apresentante, fornecendo-lhe cópia da suscitação e notificando-o para
impugná-la, perante o juízo competente, no prazo de 15 (quinze) dias;
IV - certificado o cumprimento do disposto no item anterior,
remeterse-ão ao juízo competente, mediante carga, as razões da dúvida,
acompanhadas do título.
Modificação do nome:
Arts. 56 a 58 da Lei de Registros Públicos.
a) A primeira etapa da mudança do nome é se fazer no
primeiro ano após a maioridade civil.
O prazo é decadencial e conta-se a partir da data que a
parte atinge a maioridade civil.
Aqui, trata-se de hipótese imotivada de mudança.
b) a qualquer tempo é possível modificar o nome nos casos
previstos em lei. Exs: adoção; programa de proteção à
testemunha (Lei 8.907/89); estrangeiro que adquire
cidadania brasileira (previsão no Estatuto do Estrangeiro);
nomes ridículos ou que exponham o titular ao ridículo.
c) a terceira e última hipótese de mudança de nome é o caso
de hipótese fundamentada de proteção da personalidade.
É feito por via judicial, também.
Aplica-se aqui a razoabilidade, podendo o juiz considerar
motivos não previstos em lei para a modificação do nome.
Exemplos do STJ: RESP 66.643, Rel. Min. Sálvio de
Figueiredo Teixeira, onde o STJ reconheceu a possibilidade
de acréscimo de sobrenome de padastro.
Ainda, em outra hipótese, o STJ permitiu a retirada do
sobrenome do pai que foi ausente durante a vida do filho.
Vigora, pois, no Pais, o princípio da inalterabilidade
relativa do nome.
Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade
civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o
nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 69
alteração que será publicada pela imprensa. (Renumerado do art. 57,
pela Lei nº 6.216, de 1975).
Art. 57 - Qualquer alteração posterior de nome, somente por exceção e
motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida
por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o
mandato e publicando-se a alteração pela imprensa. (Renumerado do art.
58 com nova redação pela Lei nº 6.216, de 1975).
§ 1º Poderá, também, ser averbado, nos mesmos termos, o nome
abreviado, usado como firma comercial registrada ou em qualquer
atividade profissional.
§ 2º A mulher solteira, desquitada ou viúva, que viva com homem
solteiro, desquitado ou viúvo, excepcionalmente e havendo motivo
ponderável, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de
nascimento, seja averbado o patronímico de seu companheiro, sem
prejuízo dos apelidos próprios, de família, desde que haja impedimento
legal para o casamento, decorrente do estado civil de qualquer das
partes ou de ambas. (Incluído pela Lei nº 6.216, de 1975).
§ 3º O juiz competente somente processará o pedido, se tiver expressa
concordância do companheiro, e se da vida em comum houverem decorrido,
no mínimo, 5 (cinco) anos ou existirem filhos da união. (Incluído pela
Lei nº 6.216, de 1975).
§ 4º O pedido de averbação só terá curso, quando desquitado o
companheiro, se a ex-esposa houver sido condenada ou tiver renunciado
ao uso dos apelidos do marido, ainda que dele receba pensão
alimentícia. (Incluído pela Lei nº 6.216, de 1975).
§ 5º O aditamento regulado nesta Lei será cancelado a requerimento de
uma das partes, ouvida a outra. (Incluído pela Lei nº 6.216, de 1975).
§ 6º Tanto o aditamento quanto o cancelamento da averbação previstos
neste artigo serão processados em segredo de justiça. (Incluído pela
Lei nº 6.216, de 1975).
§ 7o Quando a alteração de nome for concedida em razão de fundada
coação ou ameaça decorrente de colaboração com a apuração de crime, o
juiz competente determinará que haja a averbação no registro de origem
de menção da existência de sentença concessiva da alteração, sem a
averbação do nome alterado, que somente poderá ser procedida mediante
determinação posterior, que levará em consideração a cessação da
coação ou ameaça que deu causa à alteração. (Incluído pela Lei nº
9.807, de 1999)
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua
substituição por apelidos públicos notórios. (Redação dada pela Lei nº
9.708, de 1998)
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 70
Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em
razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a
apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente,
ouvido o Ministério Público.(Redação dada pela Lei nº 9.807, de 1999)
As mais comuns hipóteses de mudança de nome são no
casamento e na sua dissolução.
O art. 1.565 do NCC trata do tema:
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a
condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da
família.
§ 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o
sobrenome do outro.
No caso de dissolução do casamento, deve-se aplicar a regra
do art. 1.578, que estabeleceu uma nova regra, ou seja, a
pessoa que incorporou o nome só o perde se quiser.
Existe uma exceção em que a pessoa perde o nome contra a
sua vontade. É preciso que estejam presentes quatro
requisitos, os quais são cumulativos.:
a) culpa grave:
b) pedido expresso da parte: o juiz não pode tirar o nome
de ninguém de ofício.
c) na prejudicar a identificação da prole.
d) não causar prejuízo à identificação do próprio cônjuge.
Logo, a perda do nome não está fundada na culpa. Esta, por
si só, não implica na perda do nome. Por mais grave que
seja a culpa, se a perda do nome viola a identificação da
pessoa, mantém-se o nome.
RESP 358.598/PR, Rel. Min. Barros Monteiro. Nesse RESP, o
STJ julgou o caso do dono da empresa Prosdócimo. A esposa
era conhecida como Prosdócimo no meio profissional, mas
passou chifre no marido. Mesmo assim, o STJ entendeu que
pelo fato de ser conhecida no meio profissional como
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 71
Prosdócimo, não poderia perder o nome, por maios grave que
fosse a sua culpa.
Ressalte-se que a ação de divorcio é inidônea para se
discutir perda do nome, porque nela não se discute a culpa,
sendo esta discutida apenas na ação de separação.
Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial
perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente
requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar:
I - evidente prejuízo para a sua identificação;
II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos
havidos da união dissolvida;
III - dano grave reconhecido na decisão judicial.
§ 1o O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar,
a qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome do outro.
§ 2o Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de
casado.
O Enunciado 278 da 4.ª Jornada de Direito Civil reconheceu
a possibilidade de violação ao nome de forma indireta:
278 – Art.18. A publicidade que venha a divulgar, sem autorização,
qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu
nome, mas sendo capaz de identificá-la, constitui violação a direito
da personalidade.
Integridade física:
Éa proteção ao corpo humano. O direito brasileiro protege a
integridade física, sendo a violação reparável por meio do
dano estético, que pode ser cumulado com o dano moral, já
que dizem respeito a danos distintos.
A jurisprudência do STJ vem reconhecendo que a proteção do
dano estético independe de sequelas permanentes. Mesmo
quando as sequelas são transitórias, o dano deve ser
reparado. RESP 575.576.
Proteção à integridade física no NCC:
Art. 13: Proteção do corpo vivo:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 72
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do
próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade
física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins
de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Ninguém pode dispor do corpo vivo de modo a diminuir
permanentemente a integridade física, salvo por exigência
médica.
No caso do piercing e tatuagens estão permitidos pelo art.
13 do NCC, pois não implicam em diminuição permanente da
integridade física.
Os wannabe são aquelas pessoas que têm repulsa a
determinada parte do corpo. Por conta disso querem amputar
o órgão. Tal não é permitido, porque não há exigência
médica para que seja retirado o órgão.
A proteção do corpo vivo também significa proteção das
partes eventualmente separáveis. A Reclamação 2.040 julgou
o caso da atriz Glória Trevi. O STF entendeu que poderia a
sua placenta ser utilizada para fins de DNA.
Outro caso diz respeito às casas noturnas que implantam
chips no corpo da pessoa. Seria possível se o chip fosse
extraído com a mesma facilidade com que foi inserido.
O parágrafo único do art. 13 diz que a regra não é
aplicável para os casos dos transplantes. Isso porque essa
questão está regida pela Lei 9.434/97.
Art. 14: proteção do corpo morto:
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a
disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois
da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a
qualquer tempo.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 73
Art. 15: autonomia do paciente ou livre consentimento
informado:
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de
vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Ninguém pode ser obrigado a ser submetido a cirurgia em que
haja risco da sua vida.
Regime Jurídico dos transplantes:
Quem regula os transplantes é a Lei 9.434/97, que foi
alterada pela Lei 10.211/01. Estabelece dois diferentes
critérios para os transplantes:
a) transplantes em vida: as regras são as seguintes:
- gratuidade:
- somente podem envolver órgãos dúplices ou regeneráveis
(fígado, rim, medula, por exemplo).
- somente se admite transplantes em vida de pessoas que
sejam da mesma família. Caso contrário, exige-se
autorização judicial.
O Decreto 2.268/97 determina a intervenção do MP da Comarca
do donatário para que o médico realize esse transplante em
pessoas vivas. Isso para fiscalizar a regularidade do ato,
ou seja, se é gratuito, se os órgãos são dúplices ou
regeneráveis e se são as pessoas da mesma família.
No que diz respeito à sêmen, sangue, cabelo, leite materno,
a lei flexibilizou esses casos, bastando a gratuidade.
b) transplantes post mortem:
- gratuidade:
- não limitam os órgãos, o objeto da doação, podendo ser
transplantados todos os órgãos aproveitáveis.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 74
- o beneficiário é sempre a pessoa que estiver com mais
urgência na fila de espera, que não é organizada por
critério cronológico, mas sim de urgência.
O testamento vital, que é aquele pelo qual a pessoa dispõe
de seu corpo, é nulo no Pais.
Vale lembrar que só se pode fazer transplante por morte de
pessoas identificadas. A pessoa que morreu sem
identificação, dela não se podem extrair órgãos para
transplante. Mas nada obsta que o corpo do indigente possa
ser encaminhado à faculdade de medicina pra fins de
pesquisa.
O art. 4.º da Lei 9.434/97 foi modificado. Dizia que todos
éramos doadores presumidos. Hoje, a regra é a de que a
doação de órgãos depende do consentimento da família.
Tanto que o Enunciado 277 da 4.ª Jornada de Direito Civil
propõe a seguinte interpretação: o art. 4.º da lei 9.434
deve ser interpretado de acordo com o art. 14 do NCC, ou
seja, o consentimento dos familiares só será exigido se o
próprio morto não tiver manifestado a vontade quando em
vida.
277 – Art.14. O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da
disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou
altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação
expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos
familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou
restrita à hipótese de silêncio do potencial doador.
A expressão “doação de órgãos” é imprópria, porque doação é
transferência de patrimônio, nos termos do NCC. Na verdade,
trata-se de dação.
Transexual:
Não se deve confundir transexual como homossexual,
bissexual ou inter-sexual. Este último é o que sofre de
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 75
ambiguidade sexual, também sendo chamado de hermafrodita. A
medicina diz que isso só se resolve com o tempo, não sendo
doença e não tendo tratamento cirúrgico.
Para o direito, só interessa para fins de registro, ou
seja, se foi registrado com um sexo e posteriormente
prevaleceu outro.
Transexualismo é patologia, tendo CID. É o que nasce com
uma dicotomia físio-psíquica, tendo a cabeça de um sexo e o
corpo de outro.
Ex: Roberta Close.
A relação sexual mantida pelo transexual não é homossexual.
Para ele, a relação é heterossexual.
O Conselho Federal de Medicina editou a Resolução
1652/2002, que reconhece o transexualismo como patologia,
dando indicação terapêutica, com intervenção cirúrgica
(cirurgia de transgenitalização). Essa cirurgia independe
de autorização do juiz. Surge daí a discussão se o art. 13
permite ou proíbe essa cirurgia.
É permitida a cirurgia porque há uma exigência médica para
que seja feita.
Se essa cirurgia for realizada, o STJ entende que
(Homologação de sentença estrangeira 1058 da Itália) é
possível a mudança dos registros do ex-transexual. O STJ
ainda entendeu que não pode haver identificação da mudança
do sexo.
Se a pessoa não sabia, será o caso de anulação do casamento
por erro.
Barriga de aluguel:
Chama-se gestação em útero alheio.
Essa matéria está disciplina na Resolução 1.352/92 do CFM.
Permitiu-se a gestação em útero alheio no Brasil,
independentemente de autorização do juiz. Mas há alguns
requisitos:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 76
a) capacidade das partes:
b) impossibilidade gestacional da mãe biológica:
c) a mãe biológica e a mãe hospedeira sejam da mesma
família. Se não forem da mesma família há a necessidade de
autorização judicial. Nesse caso, não há intervenção do MP,
que só ocorrer no caso dos transplantes em vida.
- gratuidade:
Na verdade, deveria ser chamada de “barriga de comodato, já
que deve ser gratuita.
Presentes os requisitos, ao nascer criança, entrega-a para
a mãe biológica.
Testemunha de Jeová:
O art. 15 do NCC, em tese, permitiria que o testemunha de
Jeová poderia se recusar.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de
vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Na jurisprudência, que é a posição majoritária, diz que
entre a liberdade de opinião e o direito à vida, deve este
prevalecer. Por isso, o testemunha de Jeová pode ser
compelido a receber a transfusão de sangue.
Mas há uma posição minoritária (Gustavo Tepedino, Celso
Ribeiro Bastos e Manoel Gonçalves Ferreira Filho),
entendendo que não pode ser obrigado a receber a transfusão
de sangue. Isso porque a CF garante o direito a uma vida
digna e dentro do conceito de dignidade há a possibilidade
de opção religiosa. Assim, obrigar uma testemunha de Jeová
a receber sangue feriria a sua dignidade. Nessa tese, não
estariam alcançadas a situação de emergência e o caso dos
incapazes.
Aula 05 18/03/2009
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 77
LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL
Decreto-Lei 4.657/42. Foi editado para substituir a Lei de
Introdução ao CC anterior.
Quando se editou o CC francês foi implantado na Franca uma
nova ideia sobre legislação, ou seja, queria se saber se o
ordenamento francês poderia receber uma lei nova como era o
código civil francês daquela época.
Assim, para evitar esse impacto, foi editada uma Lei de
Introdução para acomodar o CC francês naquela época.
Na experiência jurídica brasileira, a ideia de Lei de
Introdução é totalmente distinta.a LICC cumpre uma função
multidisciplinar, não tendo qualquer ponto de interseção
com o CC. Sai diplomas completamente autônomos e
independentes.
Assim, a LICC é um diploma legal de sobredireito,
multidisciplinar. A LICC nada mais é senão um diploma legal
explicando como devem ser elaboradas e aplicadas às leis.
Não se destina apenas às leis civis, tendo aplicação
universal em todos os campos do direito.
Já existe projeto no CN alterando a LICC, passando esta a
se chamar Código de Elaboração das Normas.
Em direito penal e em direito tributário só se admite
analogia em bona partem, o que denota uma certa
flexibilização da LICC.
Estrutura da LICC:
Arts. 1.º e 2.º: vigência da norma legal:
Art. 3.º: obrigatoriedade da norma:
Art. 4.º: integração da norma:
Art. 5.º: interpretação da norma:
Art. 6.º: conflito normativo no tempo:
Art. 7.º e seguintes: conflito normativo no espaço:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 78
A estrutura da LICC é simplificada e não mantém nenhum
dialogo com o CC. Arruda Alvim afirma que é um Código de
Normas sobre as normas.
Vigência da norma:
Não se confunde com a sua existência. A norma existe
formalmente desde a sua promulgação. Mas o fato de ela
existir não significa, ainda, que tenha vigência, eficácia,
força coercitiva.
Após a promulgação a norma passa por um percurso. Depois de
promulgada ela é publicada e depois tem vigência.
A vigência corresponde ao momento em que a norma ganha
coercibilidade.
Entre o momento da promulgação e publicação e vigência
haverá um lapso temporal, que é chamado de vacatio legis. É
o nome que se empresta a esse período de tempo entre a data
da promulgação e publicação e a efetiva vigência da norma
legal.
No Brasil, a sistematização dessa matéria foi confiada a
dois diplomas legais: art. 1.º da LICC e art. 8.º da LC
95/98.
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o
país 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada.
Vide art. 62, §§ 3º, 4º, 6º e 7º, Constituição Federal.
Vide arts. 101 a 104, Código Tributário Nacional.
§ 1º Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira,
quando admitida, se inicia 3 (três) meses depois de oficialmente
publicada.
§ 2º A vigência das leis, que os governos estaduais elaborem por
autorização do Governo Federal, depende da aprovação deste e começará
no prazo que a legislação estadual fixar.
Norma regida pela Constituição Federal/37, sem aplicação desde a
Constituição Federal/46.
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de
seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 79
anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
O período de 45 dias se refere à vigência das normas no
território nacional. No caso de território estrangeiro que
admita a legislação brasileira, o prazo é de três meses.
O art. 8.º da LC 95/98 traz outra regra para a matéria. Diz
que toda norma legal deve ter vacatio legis.
Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a
contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento,
reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para
as leis de pequena repercussão.
§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que
estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da
publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia
subseqüente à sua consumação integral.
§ 1º Acrescido pela Lei Complementar nº 107, de 26.04.2001, DOU de
27.06.2001, em vigor desde sua publicação.
§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a
cláusula "esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias
de sua publicação oficial".
§ 2º Acrescido pela Lei Complementar nº 107, de 26.04.2001, DOU de
27.06.2001, em vigor desde sua publicação.
Esse existe justamente para o fato de que há a necessidade
de divulgação das leis, ou seja, para que todos dela tomem
conhecimento.
Disse ainda o dispositivo que a contagem da vacatio legis
deve ser feita em número de dias.
Ex: o art. 2.047 do NCC disse que o período de vacatio era
de um ano, quando o art. 8.º da LC 95/98 diz que tal deve
levar em conta o número de dias e não em anos.
Ex: A Lei 11.280/06 permitiu ao juiz conhecer de ofício a
prescrição e estabeleceu a vacatio de 90 dias.
Se houver violação à questão da vacatio, não existe sanção
prevista na LC 95/98.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 80
O período de contagem da vacatio não deve ser a mesma que
se utilizada para a contagem de prazos processuais ou
materiais.
Quem regula essa matéria é o art. 132 do NCC, que trata da
contagem aos prazos de direito material.
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário,
computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do
vencimento.
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado
o prazo até o seguinte dia útil.
§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de
início, ou no imediato, se faltar exata correspondência.
§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.
No caso da vacatio não se deve usar essa regra. O art. 8.º
da LC 95/98 estabeleceu um critério autônomo de contagem de
prazo.
No prazo da vacatio, deve ser incluído o primeiro dia,
incluído o último dia, entrando em vigor somente no dia
subsequente ao da consumação integral do prazo. Em outras
palavras, do ponto de vista prática, a regra não mudou.
A LC 95/98 não estampou nenhuma regra para os prazo em mês
ou em ano. Logo, deve-se valer subsidiariamente do art. 132
do NCC, que continua sendo aplicado para os casos de
vacatio que tiverem prazo em mês ou em ano.
Concluindo, a regra do art. 8.º da LC 95/98 só trata dos
prazos de vacatio em dias, não se referindo aos prazos em
mês ou em ano. Por isso que o NCC teve o prazo contado de
data a data.
Expressamente, o art. 8.º informa que a forma “esta lei
entra em vigor na data de sua publicação” somente se aplica
aos casos de leis de pequena repercussão.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 81
A nossa estrutura legislativa não vem obedecendo a LC
95/98, já que prevê a entrada em vigor na data da
publicação de leis de grande repercussão.
E o art. 1.º da LICC, teria sido revogado pela
superveniência do art. 8.º da LC 95/98? Não. Isso porque o
art. 1.º apenas e tão somente tem agora caráter residual.
Somente é utilizado quando a lei, inadvertidamente, não
estabeleceu o prazo e quando não trouxe a fórmula “entra em
vigor na data de sua publicação”.
No direito brasileiro hoje adota-se o princípio da vigência
simultânea. Quando a lei entra em vigor, essa vigência se
dá em todo o território nacional.
Mas nem sempre foi assim. Antigamente, houve disposição que
a lei entrava em vigor primeiro nas cidades litorâneas e
depois no interior do País.
Essas regras não são aplicadas aos atos administrativos
normativos (portarias, decretos, resoluções etc.), os quis
entram em vigor, sempre, na data de sua publicação. O art.
5.º do Decreto 572 de 1.890 trata do tema:
Se uma lei está em período de vacatio e é necessário se
corrigirem algumas inexatidões e o legislador quer
modificar a lei durante a vacatio? Assim, é possível
retificação e alteração de uma lei durante a vacatio.
No que concerne à correção de erros e inexatidões, basta a
republicação da Lei. Não há a necessidade de que outra lei
seja editada. Se a lei já estiver em vigência, essas
correções só poderão ser feitas por meio de nova lei.
Nesse caso, quando a lei é republicada, o prazo de vacatio
volta a correr do início? Recomeça o prazo apenas para a
parte que foi modificada. A parte que não foi modificada,
segue com o seu prazo normal de vacatio.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 82
No caso de modificação da lei no período de vacatio, tal
não é possível por mero ato administrativo. A lei ainda não
está vigente, mas já existe. Nesse caso, só poderá ser
alterada por nova lei. Diferente da correção de erros e
inexatidões, que se dá por mera republicação, a modificação
ou revogação da lei em período de vacatio só pode ocorrer
por meio de nova lei.
Uma vez entrando em vigor, cumprida a vacatio, a lei
submete-se ao princípio da continuidade. A lei permanecerá
vigendo até que outra lei, expressa ou tacitamente, a
revogue.
Assim, o ordenamento pátrio não apoiou o desuetudo.
Significava a revogação de uma lei pelos costumes. No
Brasil, chama-se de “lei que não pegou”.
A revogação só ocorre por lei nova que, expressa ou
tacitamente revogue a anterior.
No ordenamento jurídico pátrio revogação é o gênero do qual
decorrem duas espécies:
- ab rogação: revogação total:
- derrogação: revogação parcial:
Tanto a revogação total como a parcial, podem ser expressa
ou tácita. Esta ocorre quando lei nova trata de mesma
matéria de lei anterior.
O art. 9.º da LC 95/98 disse que no sistema jurídico pátrio
a revogação deve ser, preferencialmente, expressa. Proibiu
a prática “revogam-se todas as disposições em contrário”.
Ora, mesmo que o legislador não tivesse dito, é óbvio que
ao erigir uma lei nova tratando de matéria já tratada
anteriormente, as disposições antigas ficam automaticamente
revogadas.
Deve ser preferencialmente expressa a revogação, o que não
impede que possa ainda ser tácita.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 83
O art. 2.º da LICC traz uma regra acerca do princípio da
continuidade.
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até
que outra a modifique ou revogue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o
declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par
das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3º Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura
por ter a lei revogadora perdido a vigência.
O § 2.º do art. 2.º da LICC diz que lei nova que trata da
mesma matéria com disposições ao lado (a par) das já
existentes, não revoga a lei anterior. Aqui não há um
conflito dessas leis, logo não há revogação da lei
anterior.
O direito brasileiro não tolera o instituto da
repristinação. Significa que se a Lei A foi revogada pela
Lei B e em seguida a Lei B foi revogada pela Lei C, a Lei A
não volta a ter vigência.
A revogação da lei revogadora não restabelece os efeitos da
lei revogada.
O direito brasileiro admite, no entanto, efeitos
repristinatórios, quando houver disposição expressa.
No exemplo acima, a Lei C, por expressa disposição, pode
voltar a validar a Lei A.
O professor entende que nesse caso não houve foi
repristinação, porque o que está em vigência é a Lei C. No
máximo, houve o acolhimento dos efeitos da Lei A pela Lei
C.
Há outro caso em que se permitem os efeitos
repristinatórios. Tal ocorre no caso de controle de
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 84
constitucionalidade das normas. A Lei 9.798/99 permite
esses efeitos repristinatórios, quando a lei revogadora é
reputada inconstitucional. Isso só ocorre nos casos de
controle de constitucionalidade concentrado.
O STF, em nome da segurança das relações jurídicas, reserva
a si o direito de permitir ou não efeitos repristinatórios.
Inclusive, a lei que trata da matéria permite que essas
suspensão dos efeitos da lei podem ser requeridos,
inclusive, por medida cautelar.
Obrigatoriedade da lei:
Art. 3.º da LICC:
Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a
conhece.
A regra da obrigatoriedade faz com que, uma vez publicada,
a lei tenha presunção de conhecimento. Acolhe o ordenamento
a regra da proibição do erro de direito. Ninguém pode
alegar o desconhecimento da lei para escusar-se de sua
vigência.
A presunção de conhecimento da lei, por óbvio, não pode ser
absoluta. Logo, é relativa. É o que chamamos de princípio
da proibição do erro de direito.
Em dadas hipóteses, admite-se a alegação do erro de
direito, ou seja, do desconhecimento da lei.
Tal ocorre com mais frequência no âmbito do direito penal.
Ex: art. 8.º da LCP; art. 65, II do CP, que diz que a pena
pode ser atenuada quando havia erro de direito; erro de
proibição.
No direito civil, também, há hipóteses excepcionais onde
devem ser admitidas as alegações de erro de direito.
Ex: art. 139, III do NCC:
Art. 139. O erro é substancial quando:
(...)
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 85
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for
o motivo único ou principal do negócio jurídico.
No erro, o agente se engana sozinho. Supõe algo que não
existe, por isso celebra o negócio.
Se a vontade foi viciada por desconhecimento da lei, o
negócio torna-se anulável.
Ex: casamento putativo: art. 1.561:
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por
ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos,
produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
Fulano casa com a irmã sem saber do parentesco. Casamento
putativo é, portanto, o nulo ou anulável celebrado de boa-
fé. Se fulano sabia do parentesco, mas desconhecia a
proibição de casar com a irmã, se estiver de boa-fé, ainda
sim aplica-se o artigo. Isso porque nesse caso a boa-fé
aplica-se tanto aos casos do erro de fato com do erro de
direito.
Integração da norma:
Art. 4.º da LICC:
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com
a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Traz a regra da proibição do non liquet. O juiz não pode se
eximir do dever de julgar alegando o desconhecimento ou a
lacuna da lei.
Não pode alegar o desconhecimento em razão do que dispõe o
art. 337 do CPC:
Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual,
estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se
assim o determinar o juiz.
Narra mihi factum dabo tibi jus e jura novit cura.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 86
“Narra-me os fatos que te darei o direito” e o “juiz
conhece a lei”.
O juiz jamais pode determinar a parte que faça prova da
lei. Isso não se aplica aos casos do direito estadual,
municipal, estrangeiro ou consuetudinário.
O juiz pode determinar que a parte prove a existência e a
vigência.
Alexandre Câmara afirma que a lei municipal e a estadual
que o juiz pode mandar fazer prova deve ser aquela que não
seja a da jurisdição do juiz.
Na forma do protocolo de Las Leñas, que é o instrumento de
cooperação judiciária dos países do MERCOSUL, estabelece
que entre os países do MERCOSUL haverá presunção do
conhecimento das leis. Também afirma que o juiz não pode
mais mandar traduzir documento público ou privado dos
países do MERCOSUL.
Assim, se o documento vem da Argentina ou do Uruguai, não
pode mandar traduzir, mas se vem da Espanha pode. Ainda que
haja um contrassenso, tal existe.
O juiz também não pode se eximir de julgar alegando lacuna
na lei.
Integrar significa colmatar. Assim, a integração da norma é
a sua colmatação, o preenchimento de suas lacunas.
Significa permitir que o juiz tenha instrumentos para
julgar casos que não foram contemplados em lei.
O art. 4.º ao apresentar as regras de integração estabelece
o seguinte caminho:
O rol do art. 4.º nos apresenta os mecanismos integrativos
da norma:
- analogia:
Significa a colmatação de uma lacuna por meio da
comparação.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 87
O direito pátrio reconhece dois tipos de analogia:
a) analogia legis: é a comparação de uma situação não
prevista em norma com uma situação prevista em norma
específica.
b) analogia iuris: a comparação é feita com o sistema
jurídico com um todo.
O art. 499 do NCC fala da compra e venda:
Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens
excluídos da comunhão.
Esse artigo é perfeitamente aplicável à união estável, na
sua constância, desde que se trate de bens que não
previstos na comunhão. Esse é um típico caso de analogia
legis.
Outro exemplo diz respeito à união de baitolas. Não existe
previsão legal. Mas havendo conflitos entre dois
kanalenses, o juiz deve julgar. Como não tem nenhum
dispositivo legal tratando da matéria, deve julgar
comparando com os princípios gerais de direito, ou seja,
faz uma analogia iuris.
Não se permite o uso da analogia em direito penal e
tributário, salvo em bona partem.
Qual a diferença entre analogia e interpretação extensiva?
Analogia é forma de integração. Só se fala em analogia na
ausência da norma. Já a interpretação extensiva ocorre
quando o sentido da norma extensiva é elastecido.
O § 2.º do art. 157 do NCC fala da lesão, como vício de
vontade.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido
suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a
redução do proveito.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 88
No Brasil, existe outra lesão na Lei de Economia Popular,
chamada de Lei de Usura. No art. 4.º dessa lei há a chamada
usura real ou lesão usurária. Caracterizada esta última, se
a parte que se beneficia, se predispuser a cumprir o
contrato sem a vantagem, o negócio também se convalida.
Nesse caso, houve uma interpretação extensiva.
O art. 156 do NCC fala em estado de perigo.
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da
necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do
declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.
O NCC não menciona que se a parte que se beneficia quiser
cumprir as obrigações sem o benefício, tal pode ser feito.
Mas pode, em razão de uma analogia com o art. 157.
Vide enunciado 148 da Jornada de Direito Civil:
148 – Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. 156) aplica-se,
por analogia, o disposto no § 2º do art. 157.
Esse caso é de analogia legis.
-costumes:
São definidos como os usos reiterados de uma comunidade. O
direito brasileiro reconhece três categorias de costumes:
a) secundum legem:
É a utilização do costume quando a lei expressamente
determina o seu uso. É o próprio sistema que quer resolver
o problema de acordo com os costumes do lugar.
Exs: contrato estimatório, que é sinônimo de contrato
consignatório (revista, livros etc.), onde se o contrato
não disser qual a margem de lucro, aplicam-se os costumes
do lugar; art. 445, § 2.º do NCC, que fala dos prazos para
as ações edilícias, que são aquelas ações para reclamar os
vícios redibitórios, como os reprodutores estéreis. O prazo
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 89
dessa ação, nos casos dos animais, é o estabelecido em lei
especial. Essa lei não existe, logo o NCC diz que o prazo
será aquele dos usos e costumes do lugar.
Os costumes secundum legem, pois, são meras aplicações da
lei.
b) prater legem:
São os costumes não previstos em lei. São métodos
integrativos. Quando o juiz usar os costumes para integrar
a lei, estará usando os costumes praeter legem.
c) contra legem:
É o costume contrário à lei. Gera abuso do direito, sob o
ponto de vista civil.
Em qualquer um dos casos acima, toda vez que a parte
invocar a seu favor o uso dos costumes, deverá fazer prova
deles, ou seja, o juiz não está obrigado a conhecer os
costumes do lugar. É o que reza o art. 337 do CPC acima
transcrito.
- princípios gerais de direito.
Reclamam uma interpretação anterior dos princípios.
Canotilho dizia que norma jurídica era igual à norma
jurídica mais a norma regra, ou seja, todo princípio tem
força normativa. Está-se, pois, atribuindo aos princípios
papel distinto de outrora. Antigamente, eram meras
recomendações.
Por isso, chega-se à conclusão que no sistema jurídico há
diferentes categorias de princípios:
- princípios fundamentais:
São aqueles que possuem força normativa, ou seja, são
aqueles que vinculam. Sempre decorrerão, pois, da norma
jurídica, de forma implícita ou explícita.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 90
Esses princípios variam de um ordenamento para o outro.
Ex: proteção do trabalhador, que nem todos os países
adotam.
- princípios informativos:
Não têm força normativa. São meras regras de desempate. Não
estão previstos na norma jurídica, decorrendo de ato
judicial. Significa que o juiz é quem se vale deles.
É o que o art. 4.º da LICC chama de princípios gerais de
direito. São os princípios que o juiz se utiliza quando não
consegue dirimir o conflito. São conselhos, idéias,
recomendações. São regras universais de desempate. São os
chamados sentimentos de justiça.
São três os princípios gerais do direito, que vêm do
direito romano:
a) não lesar a ninguém:
b) dar a cada um o que é seu:
c) viver honestamente:
O auto grau de subjetivismo desses conceitos varia nos
ordenamentos. Logo, o juiz só pode se valer deles na
ausência de norma e na impossibilidade de resolver os
conflitos pela analogia e pelos costumes.
Esse rol é taxativo e preferencial. Isso porque o juiz só
pode integrar a lei por meio desse rol, nessa ordem.
Primeiro o juiz se vale da analogia; não sendo possível
integrar, se vale dos costumes; por fim, se vale dos
princípios gerais do direito.
No art. 4.º, onde há escrito lei, na verdade deve-se
entender norma jurídica, que é igual à norma regra mais
norma princípio, de acordo com Canotilho.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 91
Ressalte-se que os princípios informativos têm natureza não
normativa. No texto primitivo, a LICC queria insinuar que
os princípios tinham aplicação secundária. Mas é preciso
deixar claro que esses princípios são os gerais
informativos, não se confundindo com os princípios
fundamentais, porque estes têm natureza normativa.
Ora, se existe norma princípio, não há que se falar em
omissão, porque esta só existe se não houver norma regra ou
norma princípio.
Ao contrário do que pregam alguns autores, que dizem que o
art. 4.º está revogado porque nenhum princípio pode ter
papel secundário, esse artigo diz que os princípios que
serão usados secundariamente não são os mesmos princípios
normativos, mas sim os princípios informadores.
O direito brasileiro admite, em alguns casos, a equidade
como forma integrativa. Significa a ciência do justo, do
bom, do ponderado.
Equidade nasceu da conhecida obra de Aristóteles a ética de
Nicômano. Este era filho dele e deveria aprender a justiça
equitativa, do equilíbrio. O sentimento de justiça varia,
podendo não coincidir entre várias pessoas, logo deve ser
usado de forma ponderada.
Por isso, o ordenamento permite o uso da equidade de dadas
situações, que estão divididas em dois campos:
a) equidade legal:
Ocorre quando a lei determina o seu uso.
O parágrafo único do art. 944 do NCC fala em equidade.
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da
culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.
Se a culpa foi leve, malgrado o dano tenha sido extenso, o
juiz pode reduzir equitativamente o valor da indenização.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 92
Também se aplica o art. 413, que trata da cláusula penal:
Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se
a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante
da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a
natureza e a finalidade do negócio.
b) equidade judicial:
Ocorre quando a lei autoriza o juiz a decidir de acordo com
a sua equidade.
No CPC, o art. 127 e na CLT, art. 8.º permitem ao juiz o
uso da equidade:
Art. 127. O juiz só decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei.
Ex: fixação dos honorários quando a causa não tiver valor
econômico.
Ainda, os procedimentos de jurisdição voluntária podem ser
dirimidos por equidade. Art. 1.109 do CPC.
Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não
é, porém, obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo
adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou
oportuna.
Interpretação da lei:
Integrar é preencher a lacuna; interpretar significa buscar
o sentido e o alcance da lei. O art. 5.º da LICC diz que
toda interpretação deve ser teleológica ou sociológica.
Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que
ela se dirige e às exigências do bem comum.
A finalidade social vincula a interpretação da norma.
O STJ vem aplicando o art. 5.º da LICC (RESP 41.110/SP).
Há uma norma legal que proíbe prova eminentemente
testemunhal para que se comprove labor rural. Mas se o
rurícula não tem como fazer outra prova, admite-se a prova
testemunhal, em razão dos fins sociais a que se destina.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 93
Não se deve esquecer que ao promover a interpretação da
norma o juiz pode chegar a três resultados:
Ampliativo, restritivo ou Declarativo
As normas que estabelecem direitos e garantias fundamentais
a interpretação deve ser ampliativa.
Já as normas que tratam de direito administrativo, por fora
do princípio da legalidade, submetem-se a uma interpretação
declarativa.
A interpretação restritiva é utilizada nas normas que
estabeleçam privilégio, sanção, renúncia, fiança e aval.
Súmula: 214O fiador na locação não responde por obrigações resultantes
de aditamento ao qual não anuiu.
Essa súmula diz que toda fiança será interpretada
restritivamente. Se houve um aditamento ao qual o fiador
não anuiu, ele não se vincula às obrigações ali constantes.
Aplicação da lei no tempo:
Art. 6.º da LICC:
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
É a mesma redação do art. 5.º, XXXVI da CF. A aplicação da
lei no tempo se submete ao princípio da irretroatividade.
Toda lei nova se aplica aos fatos pendentes e futuros, mas
não aos fatos pretéritos.
Esse artigo traz uma hipótese excepcional de
retroatividade, ou seja, que a lei nova venha a alcançar os
fatos passados.
A retroatividade da lei nova está subordinada a dois
requisitos:
a) expressa disposição nesse sentido.
b) a retroatividade não deve violar o ato jurídico
perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 94
Ato jurídico perfeito é aquele que já exauriu todos os seus
efeitos.
Daniel Sarmento, constitucionalista, vem propagando a tese
da relativização da proteção do ato jurídico perfeito para
o casos dos direitos fundamentais. Propõe a retroatividade
da nova lei se esta estiver em conformidade com os direitos
e garantias fundamentais.
Relações jurídicas continuativas são os atos jurídicos que
ainda não exauriram os seus efeitos. Ex: casamento,
contrato, condomínio edilício.
Toda relação continuativa não é ato jurídico perfeito,
porque continua a produzir os seus efeitos.
Toda vez que se estiver perante uma relação jurídica
continuativa, a existência e a validade estarão submetidas
à lei do tempo da celebração, mas a eficácia fica submetida
à lei nova.
Ex: o NCC estabeleceu que a multa por atraso da taxa
condominial não pode exceder a 2%. A lei antiga falava em
20%. O condomínio que foi instituído na vigência do CC/16,
deve se adaptar ao NCC? Sim, a multa deve ser de 2%, mesmo
que os condomínios tenham sido formados antes do NCC. É a
eficácia da lei nova.
Ex: regime de bens do casamento. É possível mudar o regime
de bens na forma do art. 2.039 do NCC, já que a eficácia do
regime está na lei nova e não na antiga.
A coisa julgada vem sendo relativizada. O STJ vem aplicando
essa matéria no que concerne às ações filiatórias (RESP
226.436/PR).
Ainda, deve ser lembrada a tese da relativização da coisa
julgada inconstitucional.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 95
Direito adquirido é aquele que se incorporou ao patrimônio
do titular. Tem conotação meramente econômica.
O STF entendeu por bem estabelecer que o direito adquirido
encontra limite na norma constitucional, sendo que ninguém
pode alegar direito adquirido frente à norma
constitucional, já que inaugura um novo sistema.
Disso decorre que não há direito adquirido frente à norma
constitucional, seja ela originária ou não. Com isso, o STF
está legitimando a afronta à direito adquirido por Emenda
Constitucional.
Não se deve confundir retroatividade da norma com ultra-
atividade da norma. Esta é a aplicação de uma norma
jurídica já revogada, mesmo depois de sua revogação, para
casos que foram construídos durante a sua vigência. Isso
muito ocorre no direito penal, em face da aplicação da lei
mais favorável.
No direito civil há o exemplo de seisine no âmbito do
direito das sucessões, ou seja, a lei que vigora é a do
momento do óbito. Ex: quem morreu em dezembro de 2002,
mesmo que tenha sido o inventário aberto em 2006, será
submetido às normas do CC/16.
Súmula 112 do STF:
Súmula 112O imposto de transmissão "causa mortis" é devido pela
alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão.
Aplicação da lei no espaço:
O art. 7.º da LICC consagra a regra de aplicação da lei no
espaço, acolhendo o princípio da territorialidade moderada
ou mitigada.
Art. 7º A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as
regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e
os direitos de família.
§ 1º Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei
brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 96
celebração.
§ 2º O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante
autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.
§ 3º Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de
invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
§ 4º O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país
em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, à do
primeiro domicílio conjugal.
§ 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode,
mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de
entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do
regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de
terceiros e dada esta adoção ao competente registro.
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges
forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 3 (três)
anos da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação
judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito
imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das
sentenças estrangeiras no país. O Supremo Tribunal Federal, na forma
de seu Regimento Interno, poderá reexaminar, a requerimento do
interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de
sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem
a produzir todos os efeitos legais.
§ 7º Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família
estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor
ou curador aos incapazes sob sua guarda.
§ 8º Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada
no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre.
No território brasileiro, aplica-se a lei brasileira. Não é
absolta, porque em certos casos há a possibilidade de
aplicação da lei estrangeira.
A regra de conexão é aquela que permite que o ordenamento
brasileiro se conecte ao estrangeiro para trazer a norma e
aplicá-la.
É o chamado Estatuto Pessoal, que é a regra de conexão.
Significa a aplicação da norma do domicílio do interessado.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 97
Casos em que se usa o Estatuto Pessoal (hipóteses de
aplicação da lei estrangeira):
a) nome:
b) personalidade:
c) capacidade:
d) direito de família:
e) capacidade para suceder:
f) bens móveis que a pessoa traz consigo:
g) penhor:
Nesses sete casos, aplica-se a lei estrangeiro, ou seja, o
Estatuto Pessoal.
Ex: se um francês, domiciliado em Paris e casado na Franca,
quer casar com uma brasileira, não pode fazê-lo. Isso
porque o estado civil é o que ele tem na França.
Mesmo se for o caso de um muçulmano, que já casou em seu
país, não poderá fazê-lo novamente no Brasil. Isso por
conta da filtragem interna, ou seja, da filtragem
constitucional. Para preservar a soberania nacional, exige-
se uma filtragem para que se aplique o Estatuto Pessoal.
Ao lado das sete hipóteses acima listadas, existem três
exceções, que são as hipóteses autônomas de aplicação da
lei estrangeira. Isso porque a LICC estabelece uma regra
específica de conexão.
a) lei sucessória mais favorável ao cônjuge ou descendente
brasileiro:
Se o estrangeiro morreu e deixou bens e herdeiros no
Brasil, aplica-se a lei que lhe for mais favorável. O art.
89 diz que o inventário é de competência exclusiva da lei
brasileira. Mas o juiz, nesse inventário, não
necessariamente usará a lei brasileira.
b) bens imóveis:
Aplica-se sempre a lei do lugar onde estiver situado.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 98
Ex: contrato celebrado no Brasil, mas que teve garantia
hipotecária de imóvel situado em outro país. A execução
ocorrerá de acordo com a lei estrangeira.
c) lei do domicílio do contratante:
É a lei que rege os conflitos obrigacionais. É evidente que
só se utiliza quando se tratar de um contrato
internacional.
Quando for um contrato interno, aplica-se o art. 435 do
NCC:
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi
proposto.
Quando se tratar de um contrato internacional, aplica-se o
art. 9.º, § 2.º da LICC:
Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do
país em que se constituírem.
§ 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo
de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades
da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
Vide Decreto-Lei nº 857/69 (Moeda para pagamento de obrigações
exeqüíveis no Brasil).
§ 2º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no
lugar em que residir o proponente.
Assim como se permite a aplicação da lei estrangeira,
também se permite o cumprimento de decisão judicial
estrangeira.
Decisão judicial estrangeira, laudo arbitral estrangeiro e
carta rogatória, para que sejam aqui cumpridos necessitam
do exequatur do STJ. Três requisitos são necessários:
a) prova do transito em julgado da decisão: súmula 420 do
STF:
Súmula 420 Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova
do trânsito em julgado.
b) filtragem constitucional:
c) requisitos formais do CPC:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 99
Arts. 483 e 484 do CPC:
Art. 483. A sentença proferida por tribunal estrangeiro não terá
eficácia no Brasil senão depois de homologada pelo Supremo Tribunal
Federal.
Parágrafo único. A homologação obedecerá ao que dispuser o Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal.
Art. 484. A execução far-se-á por carta de sentença extraída dos
autos da homologação e obedecerá às regras estabelecidas para a
execução da sentença nacional da mesma natureza.
Essa decisão pode ser monocrática do Presidente do STJ.
Quem executa essa sentença, laudo arbitral será feita pelo
juiz federal de primeira instância.
Essa homologação de sentença estrangeira é necessária
inclusive para decisões declaratórias. STF, petição avulsa
11/MG. O STF reconheceu a revogação tácita do parágrafo
único do art. 15 da LICC:
Parágrafo único. Não dependem de homologação as sentenças meramente
declaratórias do estado das pessoas.
Como o CPC exige a homologação para toda sentença
estrangeira, o parágrafo único do art. 15 está revogado
tacitamente.
Aula 06 25/03/2009
PERSPECTIVA DA FAMÍLIA:
O conceito de família evoluiu sintomaticamente nos últimos
anos e faz com que tenhamos uma mudança no seu referencial.
Até pouco tempo a família era vista sob o olhar do
casamento, ou seja, sob um núcleo de formação biológica.
Mas com o passar dos anos, afastou-se a família de uma
concepção naturalísitica, invadindo o terreno cultural.
Família é, pois, o lugar onde o ser humano nasce inserido e
desenvolve as suas potencialidades.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 100
Assim, a família tem muito mais um conceito instrumental,
do que um conceito finalístico. A família não é uma
finalidade em si mesma, mas o meio de desenvolvimento da
pessoa humana.
Essa nova divisão da família passa por certos paradigmas.
“A travessia da família, do clássico ao contemporâneo”, já
foi tema de concurso.
Referenciais da família no CC/16:
- a família era matrimonializada, ou seja, só existia
família pelo casamento, sendo esta casamentária. No CC/16,
os filhos nascidos de pessoas não casadas eram ilegítimos.
- patriarcal: o chefe era o homem, o pai.
- hierarquizada: pai, mãe e filhos. Estes deviam obediência
aos pais.
- necessariamente heteroparental: só existia família entre
pessoas de sexo diferentes. Era formada pelo par
heterossexual.
A perspectiva de família do CC/16 era estritamente
biológica. Toda família representava uma instituição
jurídico-social, formada pelo casamento.
Essa perspectiva de família se modelava à própria dinâmica
do CC/16, que tinha preocupação extremamente
patrimonialista.
Ex: o casamento era indissolúvel, tanto por questões
religiosas como por questões patrimoniais, já que dissolver
o casamento seria dividir patrimônio.
Referenciais da família no NCC:
Os arts. 226 e 227 da CF/88 tratou pela primeira vez uma
constituição expressamente da família.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 101
De acordo com os valores da CF/88, a perspectiva de família
do CC/16 não mais existitria, pois com a CF houve uma
mudança nos paradigmas da família:
- plural:
Existem várias formas de família, como a monoparental, a
união estável etc.
- igualitária:
Fala-se da igualdade substancial, ou seja, tratar
desigualmente os desiguais. Aqui, já encontramos razão para
o tratamento diferenciado do idoso e da mulher.
- democrática:
Deixou de existir o chefe da família.
- hetero ou homoparental:
Para que se chegue à conclusão de dizer que uma família
pode ser homoparental, não quer dizer que seja uma família
cujo casal é homossexual.
- biológica ou sócio-afetiva:
nessa perspectiva contemporânea, a família deixa de ser uma
instituição, um fim em si mesmo, e passa a ser um meio para
o desenvolvimento da pessoa humana.
Não foram as pessoas que nasceram para ter uma família, mas
a família que nasceu para proteger as pessoas.
Essa visão instrumental da família nos permite perceber que
hoje o direito de família é o meio para a promoção e
proteção da personalidade humana.
Acabou o tempo em que a pessoa precisava casar para ter
família, se adequando o direito de família às pessoas, para
protegê-las. É o que reza o art. 226 da CF:
Diante dessa perspectiva instrumental da família, esta está
permeada por alguns valores, a saber:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 102
- afeto
- ética:
- dignidade:
- solidariedade:
Precisamos, pois, rever uma série dos nossos institutos,
como o fato de que as pessoas, mesmo querendo, não poderem
se separar, o que ocorre no primeiro ano do casamento se
não houver culpa, ou seja, se nenhum dos dois cônjuges
tiver conduta desonrosa ou infringir algum dos deveres do
casamento. Mas isso fere a CF. A tendência é que haja só
divórcio e sem prazo estabelecido.
Princípios constitucionais da família:
a) pluralidade das entidades familiares:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado.
Ao dizer que a família tem proteção do Estado, a CF
reconhece a multiplicidade das unidades familiares, ou
seja, o casamento não é a única forma de constituição de
uma família.
Não há aqui uma captis diminutio do casamento. O que a CF
diz é que, ao lado do casamento, existem outras formas de
se constituir uma família.
Qualquer que seja o modelo de família, merece uma especial
proteção do Estado.
Acabou entre nós a qualificação das família. Assim, não
mais é amparada pela CF a adjetivação das unidades
familiares. No CC/16 existiam as famílias legítimas,
ilegítimas e quase legítimas.
Grande discussão diz respeito ao caráter taxativo ou não
desse artigo 226 da CF/88:
§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 103
Nesses dois §§ a CF cuida da família matrimonializada.
O § 3.º, por seu turno, fala da família convivencial.
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento.
O § 4.º fala da família monoparental, que é a comunidade de
ascendentes e descentes.
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada
por qualquer dos pais e seus descendentes.
Ex: mãe solteira ou pai viúvo com seus filhos.
Esse rol da CF é taxativo ou meramente exemplificativo?
Para que seja respondida, deve-se fazer a seguinte
reflexão: há outras famílias que merecem proteção jurídica
ou apenas essas três? Se se disser que sim, o rol é
exemplificativo. Se se disser que não, está-se a afirmr que
nem todo núcleo familiar merece proteção.
O STJ firmou entendimento no caso de duas irmãs que moravam
juntas e nunca constituíram família. Tinham uma dívida com
o banco e este queria penhorar a casa. Alegaram que ela era
bem de família.
O STJ disse que o rol da CF era meramente exemplificativo e
que se tratava de família.
Na medida em que o STJ afirma que o rol é meramente
exemplificativo, está admitindo, como entidade familiar,
toda entidade de pessoas formadas por afeto, ética,
dignidade e solidariedade.
Mas não se deve confundir o fato de dois amigos morarem
juntos, pois o afeto nesse caso é diferente.
Logo, estão protegidas as famílias anaparentais, que são
aquelas constituídas por irmãos.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 104
O STJ entende ainda, no caso de famílias anaparentais, que
a fixação de alimentos é subsidiária. É dizer que só se
pode cobrar alimentos do irmão quando não se tem
ascendentes ou descendentes.
Se o rol é exemplificativo, merecem proteção as famílias
homoafetivas, as famílias concubinárias e as famílias
reconstituídas (família mosaico)?
- família homoafetiva:
A maioria dos autores, na linha de Maria Berecnice Dias,
usa a expressão União Homoafetiva. Mas há outros nomes:
parceria civil entre pessoas do mesmo sexo; uniao
homoerótica.
A união homoafetiva é uma entidade familiar? União
homoafetiva produz efeitos jurídicos?
Ninguém controverte quanto ao fato de que produzem efeitos
jurídicos. A dúvida consiste no fato de que em qual campo
do direito civil essas uniões produzem efeito, se no
direito de família ou no direito obrigacional. A dúvida
está na qualificação jurídica.
Se se entender que é entidade familiar, a produção dos
direitos é no campo do direito de família.
Mas se é sociedade de fato, os efeitos são produzidos no
campo do direito obrigacional.
Inclusive, a competência pode mudar de acordo com o
entendimento que se adote.
Posição doutrinária:
a) uma primeira corrente, minoritária, capitaneada por
Maria Helena Diniz e Carlos Roberto Gonçlves, entendem que
são sociedade de fato. Fazem uma interpretação rígida do
artigo 226, § 3.º da CF. Dizem que tanto o casamento quanto
a união estável devem ser entre pessoas de sexo diferente.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 105
Logo, a união de baitolas não pode ser tida como entidade
familiar.
Produzem, pois, efeitos jurídicos no campo obrigacional,
sendo meras sociedades de fato.
Para eles, as uniões homoafetivas geram partilha de bens,
mas com base na proibição do enriquecimento sem causa,
arts. 584 e 585 do NCC.
A competência, pois, para julgar esses conflitos é da vara
cível.
b) a posição majoritária da doutrina, capitaneada por Maria
Berenice Dias, Luiz Edson Fachin, Pedro Lenza, Luiz Roberto
Barroso, é no sentido de que as uniões de baitolas são
entidades familiares.
A CF afirmou que o casamento é a união formal e solene
entre pessoas de sexo diferente. Mas a união de baitolas
não é casamento, mas meramente uma entidade familiar, como
a família anaparental, monoparental etc.
Assim, qual seria o argumento para defender a exclusão da
união dos baitolas como entidades familiares? Não há
(infelizmente!!)
Com isso, a competência seria das varas de família.
Acréscimo de nome, alimentos, herança, habitação, adoção
pelo casal etc., seriam exemplo de direitos que se
aplicariam à união de baitolas.
Mas de uma união de baitolas decorre a partilha de bens?
Sim, em qualquer das posições. O que muda é o fundamento.
Para a corrente majoritária, a partilha dos bens decorre da
colaboração recíproca. Basta provar a existência da
entidade para que decorra a partilha do patrimônio comum.
Para primeira corrente, no entanto, um viado deve provar
que concorreu para a constituição do patrimônio.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 106
A CF protege todas as unidades familiares e o garantismo
(tábua axiológica da CF), sustentam a tese da corrente
majoritária.
Posição da jurisprudência:
Já há uma questão sobre a união de baitolas no STF, o qual
ainda não se pronunciou sobre o tema. Uma lei do RJ foi
aprovada e excluiu como beneficiários da previdência
estadual os companheiros de servidores baitolas. É a ADPF
132/RJ que ainda tramita no STF que trata do tema. Gilmar
Mendes e Celso de Melo, em outros julgados, já se
manifestaram acerca do tema, entendendo que é entidade
familiar.
O TSE, em Recurso Especial Eleitoral 24.564/PA, cujo
relator foi Gilmar Mendes, reconheceu a união de baitolas
como entidade familiar para fins de inelegibilidade
eleitoral.
Ano passado, o STJ, no RESP 820.475/RJ, Rel. Min. Pádua
Ribeiro, julgado em 02 de setembro de 2008, reconheceu a
possibilidade jurídica do pedido de declaração de entidade
familiar homoafetiva.
- família concubinária:
Ocorre nos casos de famílias paralelas. A primeira é
família, a segunda sociedade de fato, segundo o NCC.
A união concubinária seria entidade familiar?
O art. 1.727 do NCC, a pretexto de disciplinar a matéria,
diz que as uniões concubinárias não são entidades
familiares.
Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a mulher,
impedidos de casar, constituem concubinato.
O NCC optou por enquadrá-las como meras sociedades de fato.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 107
Mas o próprio NCC traz uma exceção, que é o caso em que há
separação de fato.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre
o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do
art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a
pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.
§ 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização
da união estável.
O concubinato pressupõe concomitância de convivências e não
uma concomitância de status.
Consequências do concubinato no NCC:
a) mera sociedade de fato: no máximo, enseja partilha de
bens. Precisa provar colaboração.
b) não cabe alimentos, porque não é entidade familiar:
Mas o STJ disse que caberia indenização por serviços
domésticos e sexuais prestados. O juiz fixa a indenização
em prestações periódicas. Aqui, na verdade, há alimentos
que são julgados pela vara cível.
A súmula 382 do STF diz que não há a necessidade de moradia
conjunta para caracterizar o concubinato.
c) art. 550 do NCC, ou seja, anulabilidade da doação feita
à concubina:
Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser
anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até
dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.
Esse prazo não pode ser controlado pelo venire contra
factum proprium. Se o cônjuge traído toma conhecimento da
doação e se mantém calado mesmo consciente? Se ele queria
anular a doação, por que não o fez? O professor entende que
é possível.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 108
d) art. 793 do NCC, ou seja, proibição de seguro de vida à
concubina, salvo se já separado de fato:
Art. 793. É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se
ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou já se
encontrava separado de fato.
e) art. 1.801, III, ou seja, a instituição da concubina
como herdeira ou legatária:
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua,
estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
Esse dispositivo deve ser interpretado juntamente com o
art. 1.723, § 1.º.
Maria Berenice Dias defende a possibilidade de
reconhecimento de entidade familiar entre concubinos quando
um deles estiver de boa-fé. É o que se chama de união
estável putativa. É o caso de boa-fé subjetiva, ou seja, a
mulher pensa que o homem é solteiro quando, na verdade é
casado. Há uma união estável putativa, nos mesmos moldes do
casamento putativo.
Mas os autores estão indo mais longe e afirmando que aqui
pode se tratar também da boa-fé objetiva.
Outros autores só admitem essa hipótese em caso de
conhecimento do cônjuge acerca da concubina.
Boa-fé objetiva é a de comportamento; a subjetiva é a de
conhecimento.
- família reconstituída, recomposta, mosaica ou ensamblada:
É a composição de uma nova família com participantes de
outras famílias anteriores.
É considerada como entidade familiar. A dúvida consiste nos
efeitos jurídicos que decorrem dessa recomposição familiar.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 109
Na letra do NCC, as famílias reconstituídas geram apenas
impedimento matrimonial em decorrência de parentesco por
afinidade.
Mas a doutrina propõe novos efeitos, a saber: obrigação
alimentícia, ou seja, alimentos do padastro; direito
sucessório.
Doutrina quer elastecer essa relação para que sejam
atingidos os irmãos por afinidade, ou seja, para que não
possam casar.
Se se disser que os pais se conheceram primeiro, tudo bem.
Mas se foram os filhos que se conhecerem primeiro, os pais
estariam impedidos de casar.
O STJ já julgou dois recursos onde decidiu os efeitos
jurídicos em favor das famílias reconstituídas. RESP
220.059/SP, Rel. Ruy Rosado de Aguiar. O STJ reconheceu a
possibilidade de acréscimo de sobrenome nas famílias
recompostas, ou seja, acréscimo do sobrenome do padastro.
Esse acréscimo não gera alimentos ou herança.
O CN aprovou PL de Clodovil Hernandes no sentido dessa
possibilidade de acréscimo de sobrenome do padastro. Falta
a sanção presidencial.
Esse acréscimo é feito por meio de jurisdição voluntária,
devendo ser citados todos os interessados, inclusive o pai.
O outro efeito jurídico reconhecido pelo STJ foi a
possibilidade de retomada de imóvel alugado para fins de
compreensão e de afirmação das famílias reconstituídas.
RESP 36.365/MG, Rel. Min. Edson Vidigal.
O direito administrativo tem uma hipótese de efeito
jurídico para a família reconstituída. Art. 217 da Lei
8.112/90, ou seja, as pensões podem alcançar os enteados.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 110
b) igualdade entre homem e mulher:
Foi bastante repetido pela CF/88 em diversos dispositivos.
O constituinte quis deixar bem claro que não há diferença
justificável para um desigualdade a priori entre homem e
mulher. É o caso de igualdade substancial entre e homem e
mulher.
Celso Antonio bandeira de Mello, no livro Conteúdo Jurídico
do Princípio da Igualdade, afirma que a CF/88 acolheu a
igualdade substancial. Por ela, é possível um tratamento
diferenciado entre homem e mulher sempre que houver um
discrímen.
A diferença fática entre homem e mulher pode repercutir
judicialmente, quando houver discrímen. Deve haver
justificativa para que homem e mulher recebam tratamento
diferenciado.
A lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) se mostra
justificável por conta do histórico de violência doméstica.
Rogério Sanches afirma que a lei Maria da Penha deve ser
aplicada a qualquer pessoa que for vítima de violência
doméstica, porque a justificativa é o discrimen.
No âmbito do direito de família, somente se justifica
tratamento diferenciado quando houver discrimen.
Dois dispositivos, pois, devem ser interpretados:
Art. 1.736 do NCC, que fala da colocação do menor órfão em
família substituta:
Art. 1.736. Podem escusar-se da tutela:
I - mulheres casadas;
II - maiores de sessenta anos;
III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
IV - os impossibilitados por enfermidade;
V - aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a
tutela;
VI - aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
VII - militares em serviço.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 111
Ao dizer que as mulheres casadas podem recusar a tutela,
surge a dúvida se é ou não constitucional. Vem-se
entendendo que se a mulher casada pode, o homem casado
também pode se escusar da tutela. Não há discrimen, já que
não há elemento justificador para permitir a escusa da
mulher e não do homem.
Art. 100, I do CPC:
Art. 100. É competente o foro:
I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a
conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento; (Redação
dada pela Lei nº 6.515, de 1977)
Esse dispositivo é constitucional?
Nesse caso, não há discrimen. É o que defendem Câmara e
Teodoro Junior. O desfazimento de um casamento é tão
dramático para a mulher quanto para o homem.
Mas há quem defenda que há discrimen quando há filhos
menores, por exemplo. Para o professor, o foro privilegiado
deve ocorrer na forma do ECA (art. 148), ou seja, de quem
tiver a guarda dos menores, sejam crianças ou adolescentes.
Nesse caso, haveria um critério de competência absoluta,
porém territorial.
Mas a posição majoritária é a do STJ (Nelson Nery), que
entende que há discrimen. Logo, a regra do art. 100, I é
constitucional. O STJ entende que a mulher está em posição
fragilizada na relação.
c) igualdade entre os filhos:
A CF proíbe designações discriminatórias, tendo todo e
qualquer filho tratamento igualitário.
De regra, a maioria da doutrina sustenta que a igualdade
entre os filhos implicaria em reflexos de ordem
patrimonial, ou seja, nenhum filho pode ter tratamento
diferenciado a nível sucessório.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 112
O filho biológico e o adotivo têm idênticos direitos
sucessórios.
A preocupação da doutrina em repetir os efeitos jurídicos
patrimoniais quanto aos filhos, deixa a descoberto duas
importantes questões, a saber: alimentos, ou seja, o
princípio da igualdade implica no pagamento do mesmo valor
a título de pensão alimentícia?
Art. 1.698 do NCC diz que um dos princípios da pensão
alimentícia é a proporcionalidade. Assim, pode haver
valores diferentes de pensão para filhos da mesma idade,
tendo em vista que as suas necessidades podem ser
diferenciadas.
A igualdade entre os filhos também precisa ser vista sob a
ótica existencial.
Dizer que os filhos são iguais existencialmente, é dizer
que pouco interessa a sua origem. Significa que todo filho
está protegido, independentemente de sua origem.
Se todo e qualquer filho tem proteção independente de sua
origem, seja biológico, adotivo ou afetivo, sempre disporá
de proteção jurídica. Com isso, se apresenta diferentes
critérios determinativos das filiação, ou seja, critério,
biológico, adotivo e afetivo.
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de
consangüinidade ou outra origem.
A existência de multiplicidade de critérios revela o que
chamados de desbiologização da filiação, ou seja, a
filiação não se submete apenas a um critério biológico.
Conclui-se, pois, que não existe hierarquia entre os
critérios de filiação. Assim ,a filiação biológica não é
melhor nem pior que a afetiva.
Na doutrina e na jurisprudência, vem-se entendendo que
nesses casos não cabem soluções apriorísticas, prevalecendo
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 113
o critério biológico ou afetivo, sendo possível a decisão
apenas no caso concreto.
Ex: adoção à brasileira, que é o caso de registrar como seu
um filho que sabe não ser. Depois de 15 anos de
convivência, por exemplo, prevalece o critério afetivo.
Um dos exemplos de filiação afetiva está no livro Direito
ao Pai, de Fernanda Otoni de Barros. Relata um caso
ocorrido no interior de Minas, envolvendo um agricultor e
sua esposa. Ele vai trabalhar na lavoura e ela na casa da
fazenda. Quando nasceu o sexto filho do casal, o filho do
fazendeiro anuncia o casamento. A mulher do lavrador diz
que o sexto filho do casal não é filho do marido, mas do
filho do fazendeiro. O DNA confirmou que o filho era do
filho do cantor e que o agricultor era estéril. Assim,
todos os seis filhos eram filhos do filho do dono da
fazenda.
O lavrador, na contestação à investigação de paternidade,
disse que era o pai, porque ele quem criava os filhos. É um
exemplo clássico de filiação afetiva.
Nem sempre, pois, genitor e pai estão na mesma pessoa.
Quando esses meninos crescerem, podem precisar de algo que
o lavrador não tenha condição. A eventual condição
econômica favorável não é fator para o reconhecimento
filiatório. O pai será decidido pelo melhor interesse da
criança, o qual não é pecuniário.
Paternidade alimentar:
É a possibilidade da cobrança de alimentos do genitor
quando o pai não tiver condições de provê-los.
Só existe paternidade alimentar quando a filiação se deu
pelo critério afetivo.
É uma paternidade excepcional, porque só se pode cobrar do
genitor quando o pai e os parentes do pai não podem prestar
alimentos ao filho.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 114
Tem, pois, caráter excepcional e residual.
Se o pai não tem herança, não pode ser cobrada herança do
genitor. O mesmo fundamento que serve para acolher a tese
da paternidade alimentar, serve para repulsar a tese da
paternidade sucessório.
Paternidade alimentar serve para garantir a dignidade e a
sucessória para garantir patrimônio.
O mérito dessa tese é permitir que o critério determinante
da filiação seja escolhido independentemente do impacto
financeiro.
Mesmo dispondo de um pai, o filho tem o direito de saber a
sua origem genética?
Se se quer investigar a paternidade, exerce-se direito de
família. Mas se quer discutir quem é o genitor, está-se
exercendo o direito da personalidade.
O STJ, no RESP 833.712/RS, Rel. Min. Fátima Nancy Andrigui,
reconheceu a tese da investigação de ancestralidade ou de
origem genética. Não se confunde com a investigação de
parentesco. Nesse caso, o pai é quem criou. Mas o filho
quer saber a sua origem genética, quem é o genitor.
A ação de investigação de origem genética é imprescritível,
porque meramente declaratória; é da competência da vara de
família. Mas tem fundamento distinto. Quer-se ver
reconhecido o direito da personalidade.
O efeito dessa investigação de origem genética é exatamente
nenhuma. Não implica alimentos, herança ou parentesco,
porque tais decorrem de uma relação de família. O interesse
de agir pode consistir no fato de se saber quem é o genitor
ou para casos de tratamento de saúde, transplantes de
órgãos, por exemplo.
O único efeito jurídico é impedimento matrimonial.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 115
d) princípio da facilitação da dissolução da família:
Casar e não permanecer casado passa a ser o verso e o
reverso do princípio constitucional da liberdade projetado
no campo afetivo.
A liberdade de casar há de corresponder o seu espelho
invertido, que é a liberdade de não permanecer casado.
Há uma PEC para encerrar a separação e o divórcio, passando
a existir somente este e sem prazo.
A Lei 11.441/2007 permitiu a separação e o divórcio
consensual em cartório. Retrata bem esse princípio da
facilitação do casamento.
Falta de comprovação da causa de pedir nas ações
dissolutórias:
Imagine uma ação declaratória onde um dos cônjuges requer a
declaração de traição. Se durante a instrução não se
consegue provar a traição, o processo seria julgado
improcedente por falta de provas. Mas o casal continuaria
casado. O STJ vem entendendo com base no princípio da
dissolução do casamento, sempre que o autor não conseguir
provar a causa de pedir nas dissolutórias o juiz deve
julgar procedente a ação com base na insuportabilidade da
vida conjugal.
Nesse caso, no processo civil clássico, estaríamos diante
de uma nulidade porque seria a sentença extra petita. Mas o
STJ diz que não há nulidade porque baseada a sentença em
princípio constitucional.
Outro exemplo desse princípio é a mitigação da discussão
sobre a culpa nas ações separatórias. Vem-se entendem que
em nome do princípio da facilitação da dissolução do
casamento, não se deve discutir a culpa.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 116
Alguns autores falam em inconstitucionalidade sobre a
discussão da culpa, porque estar-se-ia invadindo a
privacidade dos cônjuges.
Maria Berenice Dias afirma que não seria inconstitucional,
mas sim inútil.
Mesmo com a repulsa da doutrina no que concerne à culpa, o
NCC ainda permite a discussão sobre ela.
e) responsabilidade familiar e planejamento:
Esse princípio se desdobra em dois âmbitos:
- planejamento familiar:
Vem previsto na lei 9.263/96. Fala da possibilidade de
esterilização humana como forma de planejamento familiar,
tanto nos casos dos homens como das mulheres.
O critério é o seguinte:
precisa ser maior de vinte e cinco anos, ou com dois
ou mais filhos. É um critério alternativo.
Intervalo mínimo de tempo de sessenta dias entre a
manifestação de vontade e o procedimento cirúrgico.
Esse prazo existe porque a cirurgia é irreversível,
logo deve ser bem pensada pela parte.
- responsabilidade familiar:
É a responsabilidade dos pais em relação aos filhos e das
demais pessoas da família.
Segundo o art. 227 da CF, essa responsabilidade é material
e moral.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 117
Parto anônimo:
É a possibilidade da mãe, que não quer o filho e não
realiza o aborto e, ao invés de deixar o menino na rua, o
deixa em hospital público.
Já existe Projeto de Lei garantindo o anonimato e prevendo
que a criança será encaminhada à adoção.
Já há quem veja nesse instituto uma violação ao princípio
da responsabilidade familiar, dizendo que a mãe está
deixando de ter responsabilidade para com o filho.
Abandono afetivo:
É o caso do pai ou da mãe que abandona o filho.
Existe responsabilidade civil no âmbito do direito de
família? Sim. O STJ vem entendendo que há essa
possibilidade quando houver ato ilícito. Ex: lesões
corporais, injúria grave, adultério público etc.
Mas o abandono afetivo seria um ato ilícito. Se sim, gera
responsabilidade civil. Se não, não gera responsabilidade
civil.
Há dias correntes que tratam do tema:
- a primeira entende que o abandono afetivo gera
indenização. Entendem que o abandono afetivo caracteriza
ilícito por omissão. O art. 227 da Cf/88 diz que os pais
devem aos filhos assistência moral e material. O NCC diz
que o ato ilícito pode ser por ação ou omissão. Ora, se o
pai não deu a atenção devida, houve omissão e o ato seria
ilícito.
Para quem sustenta o cabimento da indenização afetiva, esta
teria natureza puramente punitiva e não compensatória.
- a segunda corrente (Gustavo Tepedino), endente que não há
a possibilidade de indenização por abandono afetivo. Dizem
que o afeto não pode ser exigido juridicamente. Afeto se dá
a quem quer. Sustentam, ainda, que permitir a indenização
afetiva seria patrimonializar uma relação puramente
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 118
existencial. Concluem que não cabe indenização afetiva
porque o bem não pode ser juridicamente exigível.
O professor concorda com a segunda corrente. Se o pai não
deu afeto ao filho, não deu porque não tinha o coração para
dar. Se se disser que cabe a indenização, deve-se defender
a indenização por falta da qualidade afetiva. Ainda,
caberia indenização pelo excesso de afeto, que é tão
pernicioso quanto a falta. Haveria uma multiplicidade de
indenizações e criar-se-ia um standard quanto ao afeto.
O STJ, no RESP 757.411/MG, Rel. Min. Fernando Gonçalves,
entendeu que prevalece a segunda corrente, ou seja, se
perfilhou pela não indenização do dano moral afetivo.
Houve uma reviravolta na jurisprudência e há entendimentos
no sentido de que a ruptura de noivado, por si só, não gera
direito à indenização.
Mas cabe dano material e moral no que concerne ao fato de
que a noiva ficou esperando no altar.
Aula 07 15/04/2009
ALIMENTOS
Conceito:
A obrigação de prestar alimentos tem natureza ampla e a
concepção jurídica de prestar alimentos é lata, não se
restringindo à obrigação de alimentação.
Alimentos é tudo aquilo que é necessário para se manter um
padrão de vida digno, como saúde, moradia, educação, lazer
etc.
O conceito jurídico de alimentos, como amplo que é, não se
pode restringir o conceito de alimentos simplesmente à
ideia de alimentação.
A ideia de prestar alimentos é fundada no conceito de
solidariedade familiar.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 119
Não se deve confundir solidariedade com caridade. Esta traz
consigo uma ideia de liberalidade, sendo unilateral, sendo
feita sem ver a quem. Com base nessa ideia de caridade,
temos a boa ação, o dízimo etc.
Enquanto que a caridade é via de mão única, a solidariedade
é uma via de mão dupla. Ora, o que hoje presta alimentos,
amanhã poderá vir a recebê-lo.
A norma regra que fixa os alimentos é o art. 1.694 do NCC,
sendo decorrente de uma norma princípio. Esta é justamente
a solidariedade social, prevista no art. 3.º da CF.
Cumpre observar, com isso, que o TJRS negou alimentos a um
pai que, historicamente, sempre se negou a prestar
alimentos a seus filhos.
Sob esse prisma, os alimentos tem visão constitucional,
seja em sua gênese, seja com base na solidariedade.
Espécies de alimentos:
1) Quanto à natureza:
O NCC utiliza dois diferentes critérios, que são a regra
geral e a exceção:
a) regra geral: os alimentos serão para a manutenção da
pessoa. Devem ser fixados de acordo com as necessidades do
credor.
O Código Civil do Chile chama esses alimentos de côngruos,
ou seja, aqueles que são calculados de acordo com a
necessidade.
O professor chama esses alimentos de “necessarium
personae”. Deve-sem, pois, ser levadas em conta
circunstancias sociais, como lazer, cultura, educação etc.
b) exceção: são alimentos para subsistência ou alimentos
necessários para a vida.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 120
O Professor chama de “necessarium vitae”. É o caso típico
da cesta básica, ou seja, somente aquilo que a pessoa
precisa para viver.
Serão fixados em percentual reduzido, não se levando em
consideração as necessidades da pessoa.
Como são exceção no sistema, só serão fixados pelo juiz nos
casos previstos em lei, que são os casos dos arts. 1.704,
parágrafo único e art. 1.694, § 2.º:
Art. 1.694 (...)
§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando
a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.
Art. 1.704. (...)
Parágrafo único. Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de
alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los, nem
aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los,
fixando o juiz o valor indispensável à sobrevivência.
Esses alimentos incidem quando decorrem de culpa de quem os
pleiteia. Ex: cônjuge que foi reconhecido como culpado na
separação judicial.
O reconhecimento da culpa na separação judicial não
implica, como na lei do divórcio, na perda do direito de
alimentos. Implica na modificação da natureza dos alimentos
a serem prestados. Deixam de ser os alimentos para a
manutenção da pessoa e passam a ser alimentos meramente
para a subsistência.
Outro exemplo é o caso de alimentos prestados para o filho
indigno.
2) Quanto à causa:
a) legais ou legítimos:
Quando decorrem de uma relação de direito de família, como
casamento, união estável, parentesco etc.
b) convencionais ou voluntários:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 121
Quando decorrerem de um ato de vontade do devedor. Podem
decorrer de atos inter vivos ou causa mortis.
Pode haver alimentos em forma de legado, como o caso dos
alimentos deixados por ocasião do testamento.
Os alimentos voluntários estão submetidos à regra do
direito obrigacional.
c) ressarcitórios ou reparatórios:
Decorrem da obrigação de indenizar dano. São aqueles que
decorrem de sentença em ação de indenização.
Ex: indenização por morte de parente. Sempre que o juiz
fixar uma indenização em prestações periódicas, ocorrerão
os chamados alimentos reparatórios.
O art. 475-Q do CPC autoriza que o juiz mande que o réu
constitua capital para assegurar o pagamento.
Art. 475-Q. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de
alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor
constituição de capital, cuja renda assegure o pagamento do valor
mensal da pensão. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
A ideia é fazer com que essa obrigação diferida no tempo
não corra riscos. Os alimentos reparatórios, fixados em
obrigações periódicas, exigem uma garantia, sendo esta
facilitada nos termos do art. 475-Q do CPC.
§ 1o Este capital, representado por imóveis, títulos da dívida pública
ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e
impenhorável enquanto durar a obrigação do devedor. (Incluído pela Lei
nº 11.232, de 2005)
§ 2o O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão
do beneficiário da prestação em folha de pagamento de entidade de
direito público ou de empresa de direito privado de notória capacidade
econômica, ou, a requerimento do devedor, por fiança bancária ou
garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz.
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 3o Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte
requerer, conforme as circunstâncias, redução ou aumento da prestação.
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 122
§ 4o Os alimentos podem ser fixados tomando por base o salário-mínimo.
(Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
§ 5o Cessada a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar
o capital, cessar o desconto em folha ou cancelar as garantias
prestadas. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
Os alimentos civis não admitem prisão civil como mecanismos
de coerção para a sua prestação. Apenas os alimentos do
direito de família admitem a prisão civil.
Assim, no caso dos alimentos convencionais e reparatórios,
não cabe a prisão civil.
3) Quanto ao momento de sua exigibilidade:
Esse critério foi criado pela jurisprudência do STJ.
a) pretéritos:
São assim considerados quando se tratarem dos alimentos que
estão vencidos há mais de três meses e que não foram
cobrados.
b) presentes:
São os alimentos relativos ao período dos três últimos
meses.
c) futuros:
São os alimentos que vão se vencer dentro de uma ação de
execução de alimentos. São os alimentos vincendos dentro do
processo.
O STJ criou esse critério para justificar a edição da
súmula 309:
Súmula 309 ENUNCIADO ALTERADO (DECISÃO DE 27/04/2005, DJ. 04/05/2005):
O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que
compreende as três prestações anteriores à citação e as que vencerem
no curso do processo.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 123
A prisão civil não pode ser utilizada como mecanismo de
coerção no caso dos alimentos pretéritos, mas apenas no
caso dos alimentos presentes e futuros.
Os alimentos pretéritos ensejam a execução patrimonial. Os
alimentos futuros ou presentes pode tanto ser feito pela
execução patrimonial ou execução com pedido de prisão
civil.
Assim, se a dívida é de um ano, para não ensejar a prisão,
dele o devedor efetuar o pagamento dos alimentos dos
últimos três meses e os subsequentes.
O dever do credor de mitigar as próprias perdas do credor é
o fundamento da súmula 309 do STJ. Ora, se o credor não
executou logo a dívida, mostra-se abusiva a prisão.
4) Quanto à finalidade:
É um critério meramente processual.
a) provisórios:
Ocorrem quando forem fixados liminarmente com natureza
antecipatória. Não se trata aqui da antecipação da tutela
genérica do art. 273. Os requisitos são próprios, sendo
necessário, pois, a observância do art. 4.º da Lei de
Alimentos, ou seja, prova pré-constituída da obrigação, ou
seja, do casamento, da união estável ou do parentesco.
Esses alimentos, quando houver a prova pré-constituída,
devem ser fixados de ofício pelo juiz.
Art. 4º Ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos
provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor
expressamente declarar que deles não necessita.
Assim, só se podem falar em alimentos provisórios na ação
de alimentos ou em outra que haja pedido cumulado.
b) provisionais:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 124
São aqueles topologicamente cautelares. Estão previstos no
art. 852 do CPC. Não tem natureza cautelar, mas foram
previstos dentro das medidas cautelares do CPC.
Art. 852. É lícito pedir alimentos provisionais:
I - nas ações de desquite e de anulação de casamento, desde que
estejam separados os cônjuges;
II - nas ações de alimentos, desde o despacho da petição inicial;
III - nos demais casos expressos em lei.
Parágrafo único. No caso previsto no no I deste artigo, a prestação
alimentícia devida ao requerente abrange, além do que necessitar para
sustento, habitação e vestuário, as despesas para custear a demanda.
Possuem nítida natureza satisfativa. Alexandre Câmara
afirma que tanto os alimento provisórios como os
provisionais possuem natureza satisfativa, porque, uma vez
prestados, são irreversíveis, não se aplicando ao caso o
art. 806 do CPC, ou seja, a exigência de propositura da
ação principal no prazo de trinta dias não se aplica aos
alimentos provisionais.
Os seus requisitos são o comuns às cautelares, ou seja,
fumus boni iuris e periculum in mora.
Se se tem uma criança que está registrada em nome do pai,
deve-se interpor uma ação de alimentos com pedido de
alimentos provisórios. Mas se a criança não tiver sido
registrada pelo pai, deve-se propor uma investigatória de
paternidade cumulada com alimentos. Nesse último caso, cabe
uma cautelar preparatória de alimentos provisionais
enquanto perdurar a ação principal, onde aí, esses
alimentos provisionais serão tornados em definitivo.
Outro exemplo é o da companheira. Se ela tem prova da união
estável, deve promover ação de alimentos com pedido de
alimentos provisórios. Mas se ela não tiver prova pré-
constituída, deve interpor uma cautelar preparatória
requerendo alimentos provisionais.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 125
Em suma, os alimentos provisionais se prestam quando a
parte não tiver prova pré-constituída.
Ressalte-se que seja os alimentos provisórios ou
provisionais, os alimentos sempre ensejam execução
definitiva. Não existe execução provisória de alimentos, em
face de seu caráter irreversível, sempre sendo permitido o
uso da prisão civil.
A jurisprudência do STJ harmonizou o prazo máxima da prisão
civil com prazo máximo de sessenta dias.
c) definitivos:
São aqueles fixados por sentença proferida em ação de
alimentos ou em alguma outra ação que contenha pedido de
alimentos, como investigação de paternidade, por exemplo.
Os alimentos definitivos são aqueles que estão gravados
pela cláusula rebus sic stantibus. Isso porque os alimentos
definitivos são os fixados para se manter enquanto a
situação fática que os ensejou perdurar. Se houver alguma
modificação na necessidade de quem recebe ou na
possibilidade de quem os presta, é possível modificar os
alimentos definitivos.
A coisa julgada na ação de alimentos era meramente formal,
na visão dos doutrinadores mais antigos, como Youssef Sahid
Cahali.
Mas hoje predomina o entendimento que a coisa julgada é
material, ou seja, transita em julgado, mas com a cláusula
rebus sic stantibus.
Os alimentos definitivos podem decorrer de uma conversão de
alimentos provisórios ou provisionais.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 126
OBS: sejam os alimentos provisórios, provisionais ou
definitivos, o art. 13, § 2.º da Lei de Alimentos, reza que
serão devidos desde a data da citação.
Art. 13. O disposto nesta Lei aplica-se igualmente, no que couber, às
ordinárias de desquite, nulidade e anulação de casamento, à revisão de
sentenças proferidas em pedidos de alimentos e respectivas execuções.
§ 1º Os alimentos provisórios fixados na inicial poderão ser revistos
a qualquer tempo, se houver modificação na situação financeira das
partes, mas o pedido será sempre processado em apartado.
Vide peças processuais civis.
§ 2º Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da
citação.
OBS: deve ser feita a seguinte problematização: mulher
jovem que abandonou os estudos para casar e, se se formou,
não está no mercado de trabalho para cuidar do lar. Faz jus
à pensão alimentícia. Mas esses alimentos só serão mantidos
no caso de a mulher não arrumar outro emprego e não mais
contrair qualquer união com outrem. Isso era o que ocorria
anteriormente.
A jurisprudência recrudesceu, obviamente, ou seja, para
impedir que uma ex-mulher jovem ou um filho com idade
laboral pudessem receber alimentos eternamente.
Assim, a doutrina e jurisprudência criaram uma nova
modalidade de alimentos, que são os alimentos transitórios.
São alimentos fixados por tempo determinado.
O Professor os conceituou como alimentos resolúveis, porque
se resolvem em determinado momento, ou seja, alimentos com
dada certa. O juiz pode fixar termo ou condição.
A mais importante situação gerada pelos alimentos
transitórios é que dispensam a propositura de uma ação
exoneratória, ou seja, advindo o prazo, cessa a obrigação.
Se advindo o termo, sobrevier nova necessidade de alimentos
transitórios, o credor deve fazer novo pedido.
Características dos alimentos:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 127
1) Personalíssimos:
É o mesmo que dizer que os alimentos são intuitu personae.
São fixados de acordo com as peculiares situações de quem
presta e de quem recebe. Justamente por isso são
personalíssimos.
Assim, a morte de qualquer das partes implica no fim da
obrigação.
2) Intransmissibilidade:
Não deveriam admitir transmissão. Assim, o NCC criou uma
regra totalmente incoerente, prevista no art. 1.700:
Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos
herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694.
O NCC previu, estranhamente, a transmissão da obrigação
alimentícia. Ora, se a sua natureza é personalíssima, não
deveria admitir transmissão.
O que se poderia transmitir não era a obrigação de prestar
alimentos, mas sim a dívida vencida e não paga, por ser
crédito exigível do espólio.
Há aqui o sério problema de harmonizar a regra do art.
1.700 com o princípio da igualdade sucessória dos filhos.
Ex: homem que tenha quatro filhos dentro do casamento e um
fora. Este recebe alimentos e os outros quatro não recebem.
O filho de fora do casamento ficará proporcionalmente com
mais do que os outros, pois além de herdeiro seria credor
do espólio. Por isso, a regra do art. 1.700 deve ser
harmonizada com a igualdade sucessória.
Logo, há quatro limites no que concerne à transmissão dos
alimentos, a saber:
- o credor não pode ser beneficiário do espólio, ou seja, o
alimentando não pode ser herdeiro ou legatário. Se for
beneficiário do espólio, a obrigação não se transmite.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 128
- a dívida só será transferida no limite das forças da
herança.
- a obrigação alimentícia transmitida somente será devida
até o trânsito em julgado da sentença de partilha. Isso
porque com a partilha extingue-se o espólio.
- só se pode falar em transmissão da obrigação alimentícia
quando o espólio produzir frutos.
Com todos esses limites, quem seria o credor dessa
obrigação? O filho não pode ser, porque herdeiro.
O único exemplo é o caso do ex-cônjuge. Não é herdeiro no
limite das forças da herança.
Ressalte-se que esses quatro limites são pacíficos na
doutrina.
3) Irrenunciáveis:
Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o
direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de
cessão, compensação ou penhora.
Essa redação corresponde à súmula 37 do STF:
Súmula 379 No acordo de desquite não se admite renúncia aos alimentos,
que poderão ser pleiteados ulteriormente, verificados os pressupostos
legais.
O credor pode, no máximo, abrir mão da cobrança, mas nunca
renunciar aos alimentos.
Mas o STJ admite a possibilidade de renúncia. O leading
case foi o RESP 701.902/SP. O STJ entendeu que a renúncia
de alimentos entre cônjuges e companheiros é válida e
eficaz. Assim, para o STJ, os alimentos somente são
irrenunciáveis entre parentes.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 129
O fundamento do posicionamento do STJ pode ser encontrado
no venire contra factum proprium, ou seja, proibição de
comportamento contraditório.
Se o cônjuge criou no outro a expectativa de que não mais
iria cobrar alimentos e o fez, tal seria amplamente
contraditório.
Ressalte-se, no entanto, acerca do teor da súmula 336 do
STJ:
Súmula 336 A mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial
temdireito à pensão previdenciária por morte do ex-marido, comprovada
anecessidade econômica superveniente.
Essa súmula diz que a pessoa que renunciou à pensão
alimentícia pode receber pensão previdenciária. Assim, não
se fala de pensão alimentícia, o que nos leva a concluir
que o STJ não mudou o seu entendimento no que concerne à
possibilidade de renúncia de alimentos entre cônjuges e
companheiros. Os fundamentos aqui são completamente
distintos, ou seja, a natureza da pensão previdenciária não
se confunde com a natureza da pensão alimentícia.
4) Imprescritíveis:
deve-se ressaltar que o que não prescreve é a possibilidade
de se cobrar alimentos. O art. 206, § 2.º do NCC previu a
prescrição da pretensão executória.
Assim, no prazo de dois anos prescreve a possibilidade de
se executar os alimentos que já foram fixados.
§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a
partir da data em que se vencerem.
Ressalte-se que esse praza não corre contra o absolutamente
incapaz. Só corre quando se tornarem relativamente
incapazes.
5) Impenhoráveis e incompensáveis:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 130
Não se penhoram nem se compensam os alimentos, mas essa
regra não é absoluta.
Podem sê-lo quando se tratar de uma outra obrigação de
mesma natureza.
6) Irrepetíveis:
O que se recebeu a título de alimentos não se repete, não
se devolve.
A única hipótese em que a jurisprudência admite a repetição
dos alimentos ocorre no caso de má-fé do credor. Ex: ex-
mulher que recebe alimentos, casa novamente e não comunica.
Podem ser repetidos porque decorrem de ato ilícito.
Os alimentos constituem obrigação solidária?
Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não
estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados
a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a
prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos
recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser
chamadas a integrar a lide.
A solidariedade não se presume, decorre, pois, de expressa
previsão legal. Pela simples leitura do art. 1.698,
conclui-se que a obrigação alimentícia não é solidária.
Porém, é importante lembrar que os alimentos são
subsidiários e proporcionais.
São subsidiários porque somente será possível cobrar do
devedor seguinte depois de se exaurir a cobrança do devedor
anterior.
É o caso da obrigação alimentícia avoenga, dos avós. Só é
possível, pois, cobrar alimentos dos avós quando se provar
que os pais não podem prestar os alimentos.
É proporcional porque havendo mais de um devedor, cada um
deles responde proporcionalmente à sua capacidade
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 131
contributiva. Também é o casado dos avós, onde cada um
responde proporcionalmente à sua capacidade contributiva.
O art. 1.698, in fine, criou a possibilidade de cada um dos
parentes poder integrar a lide. Processualmente falando, o
que significa essa possibilidade, ou seja, trata-se de qual
instituto?
A doutrina diverge. Mas com certeza não se trata de caso de
chamamento ao processo previsto no art. 77 do CPC, pois só
ocorre nos casos de obrigações solidárias.
A primeira corrente (Carlos Roberto Gonçalves e Didier)
entende que se trata de uma hipótese de litisconsórcio
passivo facultativo. Como toda e qualquer hipótese de
litisconsórcio, dependeria da vontade do autor da ação, ou
seja, do credor dos alimentos.
A segunda corrente (Maria Berenice Dias e Cássio
Scarpinella Bueno) sustenta que se trata de uma nova
modalidade de intervenção de terceiros, prevista
especialmente no NCC. A convocação dos demais co-obrigados
poderia ser feita, assim, tanto pelo autor como pelo réu.
Ora, se se pensar que é litisconsórcio, o réu não poderá
chamar os outros co-obrigados a integrar o processo.
Hoje, existe uma única hipótese de obrigação alimentícia
solidária. É o caso do art. 12 do Estatuto do Idoso. Quando
os alimentos forem fixados em favor de pessoa idosa, têm
natureza solidária.
Esse artigo é criticável porque estabelece solidariedade no
âmbitos dos alimentos e porque a CF protege,
prioritariamente, não só o idoso, mas a criança e do
adolescente. Ora, se os alimentos são solidários em favor
do idoso, assim, deveria sê-lo em relação à criança e ao
adolescente.
Sujeitos da obrigação alimentícia:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 132
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns
aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando
a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.
Os sujeitos da obrigação alimentícia são os cônjuges,
companheiros e parentes. Podem advir de casamento, união
estável ou parentesco.
Deve-se analisar as peculiaridades de cada uma delas.
1) Alimentos em favor de cônjuge ou companheiro:
Esses alimentos só serão devidos depois da ruptura da
relação. Enquanto a relação se mantém, o que os
companheiros devem entre si é a assistência recíproca, ou
seja, divisão das despesas na manutenção do lar, respeito
mútuo etc.
Os alimentos entre cônjuges e companheiros podem ser
fixados meramente para a sobrevivência quando decorre de
culpa de quem os pleiteia.
Constituir nova família é sempre causa para exoneração dos
alimentos?
Depende de quem constituir uma nova família. Se foi o
credor, ou seja, o alimentando, sempre devem os alimentos
ser exonerados. Mas se quem constituir a nova família for o
devedor, não extingue. Pode, a depender do caso, ensejar
uma redução no valor dos alimentos.
E se o credor de alimentos não casar de novo, mas estiver
apenas namorando? Perde o direito ou sofre diminuição?
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 133
O STJ firmou o entendimento no sentido de que não se exige
do credor de alimentos uma atitude celibatária. Não está
banido das relações afetivas.
2) Alimentos entre parentes:
Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos
descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos
irmãos, assim germanos como unilaterais.
A primeira regra a que deve-se atentar é que a dívida
alimentícia não é ilimitada. O art. 1.697 estabeleceu que
entre parentes os alimentos serão devidos entre ascendentes
e descendentes ilimitadamente e entre colaterais apenas no
segundo grau.
Assim, entre os colaterais, só se pode cobrar alimentos do
irmão. Tio, sobrinho e primo, que são colaterais de
terceiro e quarto grau, estão excluídos da responsabilidade
de prestar alimentos.
O NCC preceitua que os colaterais de terceiro e quarto grau
e os parentes por afinidade não prestam alimentos entre si.
Com base na solidariedade familiar, pode-se fazer uma
critica nesse caso.
Maria Berenice Dias afirma que, com base no princípio da
solidariedade, os parentes por afinidade podem prestar
alimentos. O professor discorda, tendo em vista que eles
não têm direito à herança.
Não se deve esquecer que quando se tratar de obrigação
alimentícia entre ascendentes e descendentes podem ter dois
diferentes fundamentos:
- poder familiar:
Ocorre quando o credor tem até 18 anos.
- regras de parentesco:
Quando o credor tiver mais de 18 anos.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 134
Quando os alimentos estiverem fundados no poder familiar
haverá a presunção de necessidade. Portanto, o alimentando
não precisa provar a sua necessidade, sendo esta presumida
pelo NCC. É o caso típico do filho que pede alimentos ao
pai.
Mas se tiver mais de 18 anos deve o alimentando provar a
sua necessidade.
A maioridade civil não implica, pois, em extinção
automática dos alimentos. Deixa de estar fundados no poder
familiar e passam a se fundar no parentesco.
Nesse sentido, deve-se atentar para a súmula 358 do STJ:
Súmula 358O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a
maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório,
ainda que nos próprios autos.
O credor deve ter a oportunidade de provar que tem a
necessidade de que se o devedor deve prestar os alimentos.
A regra de alimentos no caso de parentesco, também se
refere ao caso de os ascendentes requererem dos
descendentes. Nesse caso, incide solidariedade se o
ascendente for idoso.
A Lei 11.804/2008 confirmou a possibilidade dos alimentos
gravídicos, também chamados de alimentos para o nascituro.
Devem estar presentes os requisitos para as cautelares, ou
seja, fumus boni iuris e periculum in mora.
Se esses alimentos não forem impugnados pelo devedor quando
do nascimento do filho, serão automaticamente convertidos
em definitivos.
Essa lei indicou que o prazo para defesa do réu é somente
de cinco dias.
Inclusive, pode haver dois réus na ação de alimentos
gravídicos.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 135
Os alimentos entre parentes também podem alcançar os casos
de guarda e tutela.
O descumprimento da ação alimentícia entre parentes não
implica na perda do direito de visitas. O direito não é do
pai, mas sim do filho, que tem o direito de ser visitado.
O STJ admitiu a possibilidade jurídica de pedido de
alimentos decorrentes da união de baitolas. RESP 820.475.
caracterizada a união dos kanalenses como entidade
familiar, é natural que dela decorram alimentos pelo
simples motivo de que decorrem todos os efeitos de uma
relação de se prestar alimentos.
Fixação da pensão e teoria do disreguard:
A Lei de Alimentos fixou como parâmetro para que o juiz
estipulasse a pensão alimentícia um binômio, o qual foi
transformado em trinômio pelo NCC.
Binômio: necessidade de quem recebe versus capacidade
contributiva de quem presta. Seriam os dois elementos a
serem utilizados pelo juiz na fixação dos alimentos. Mas
deve-se agregar a eles mais um.
Trinômio: exige-se também a proporcionalidade, agregada a
necessidade de quem recebe e possibilidade de quem paga.
Essa proporcionalidade é chamada de razoabilidade pelos
constitucionalistas.
Ex: homem tem dois filhos da mesma idade, fruto de relações
diversas. Ambos terão direitos a alimentos, o que não
significa dizer que o valor da prestação será a mesma. Isso
porque é necessário que haja um juízo de proporcionalidade
diferenciado.
Deve-se ressaltar que os alimentos podem ser fixados em
pecúnia (pensão alimentícia) ou in natura.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 136
Para a fixação da pensão, o juiz deve se valer de um juízo
de equidade. Com isso, se combate o jargão de que a pensão
alimentícia deve ser de 20% para cada filho.
O valor do pensionamento, pois, depende do caso concreto,
porque o juiz se vale de equidade.
Mas esse juízo de equidade é difícil de ser feito quando o
devedor é autônomo ou empresário.
Assim, quando o devedor é assalariado, normalmente os
alimentos serão fixados em percentual dos vencimentos.
Mas quando o devedor é autônomo ou empresário, ou seja,
quando houver dificuldade no cálculo da capacidade
contributiva do alimentante, o ordenamento permite o uso de
duas teorias: desconsideração da personalidade jurídica e
teoria da aparência.
No caso da desconsideração, tem-se a chamada
desconsideração inversa, ou seja, desconsidera-se o devedor
e passa-se a dívida para a empresa. Mas devem estar
presentes os requisitos do art. 50 do NCC, ou seja, desvio
de finalidade ou confusão patrimonial.
No caso da teoria da aparência, tal ocorre quando a pessoa
prova que ganha pouco, mas tem uma vida social altíssima.
Ex: pelo balanço patrimonial da empresa em que o
proprietário percebe dois salários mínimos a título de pro
labore. Mas se todo o seu patrimônio e as contas são da
empresa.
Ambas essas teorias permitem que a pensão seja fixada em
valor mais próximo da realidade.
Aspectos processuais dos alimentos:
Ação de alimentos:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 137
O procedimentos é o contemplado na Lei de Alimentos. Trata-
se do procedimento mais célere, abreviado, do ordenamento
brasileiro.
1) Procedimento da ação de alimentos:
a) petição inicial:
Na ação de alimentos, a inicial pode ser formulada pelo
interessado, assistido pelo seu advogado, defensor público
ou pelo MP (art. 201, III do ECA).
A Lei de Alimentos também permite que o pedido de alimentos
seja feito em cartório, reduzido a termo. Mas tal não vai
de encontro com o Estatuto da OAB? A doutrina e a
jurisprudência entendem que esses dois institutos são
harmônicos. Isso porque, ao despachar a inicial, o juiz, ou
encaminha à defensoria, ou nomeia um advogado dativo para
acompanhar a ação.
b) fixação dos alimentos provisórios e despacho inicial:
Somente não fixará os provisórios se o autor disser que
deles não precisa.
Ao fixar os alimentos provisórios, o juiz manda citar o
devedor.
c) citação:
A regra geral do CPC diz que a citação deve ser feita por
via postal. Mas o art. 222 do CPC diz que quando a ação
versar sobre direito indisponível, a citação deve ser feita
por oficial de justiça.
A Lei de Alimentos, no entanto, diz que a citação deve ser,
regra gera, via postal.
A relevância da citação se dá justamente porque fixa a data
inicial da prestação dos alimentos.
d) audiência única de conciliação, instrução e julgamento:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 138
a jurisprudência diz que o juiz somente deve desmembrar a
audiência se realmente necessário. Ex: carta precatória,
perícia etc.
Assim, as testemunhas devem ser levadas pelas próprias
partes.
Se o autor não comparecer, o art. 7.º da Lei de Alimentos
afirma que o juiz deve mandar arquivar os autos.
Mas se o réu for aquele que não comparecer, ser-lhe-ão
imputados os efeitos da revelia. Mas esta não implica
confissão ficta, porque o direito nesse caso é indisponível
(art. 320, II do CPC). Assim, o autor continua obrigado a
provar os fatos alegados.s
Se o réu comparecer sem advogado, pode conciliar. Mas se
não houver conciliação, o juiz é obrigado a decretar a
revelia, afinal de contas o réu não é dotado de ius
postulandi.
Na própria audiência, concluída a instrução, as alegações
finais, o parecer do MP e a sentença, devem ser proferidas
em audiência.
O juiz fixa o valor dos alimentos como bem entender, não
ficando adstrito ao valor requerido pelo autor. Assim, não
existe nulidade da sentença se ela for ultra petita. Se
assim não fosse, o réu promoveria uma ação de oferta de
alimentos com valor extramamente baixo.
e) recurso:
O recurso a ser interposto contra a sentença que fixou
alimentos, o recurso será recebido com efeito meramente
devolutivo, para que os alimentos sejam executados
definitivamente, já que os alimentos são irrepetíveis.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 139
Mas se a sentença julgou improcedente o pedido, o recurso
será recebido no duplo efeito.
Aplica-se esse procedimento acima mencionado (letras “a”a
“e”) às ações de revisão e oferta de alimentos. Mas não se
aplica à ação de exoneração de alimentos, que segue o
procedimento comum ordinário.
Na ação de exoneração não tem cabimento de medida liminar,
mas pode ter tutela antecipada genérica, prevista no art.
273 do CPC. O STJ ainda afirma que para a concessão dessa
tutela antecipada, o juiz deve ouvir obrigatoriamente o
rei. É o que reza a súmula 358 do STJ antes transcrita.
Vem-se admitindo nas ações revisionais de alimentos
reconvenção. Isso porque a revisional tanto pode ocorrer
para majorar como para minorar o valor dos alimentos.
Também é admitida a reconvenção na ação de exoneração de
alimentos.
Execução de alimentos:
Admite quatro diferentes possibilidade:
Para as dívidas vincendas
a) desconto em folha de pagamento:
b) desconto em outras rendas:
Para as dívidas vencidas:
c) excussão patrimonial:
É a penhora.
d) prisão civil:
A escolha do procedimento compete ao credor. É ele quem
decide se interporá com a execução patrimonial ou pessoal.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 140
Ressalte-se que a prisão civil somente pode ser efetuada
nos casos das dívidas presentes e futuras.
O prazo máximo da prisão é de sessenta dias.
Ainda deve-se ressaltar que não se admite duas vezes a
prisão pelo mesmo período de dívida. Isso porque essa
prisão é coercitiva e não punitiva. Em havendo o pagamento
da dívida, o réu será imediatamente solto.
O preso por força de alimentos não tem direito à prisão
especial, mesmo que as leis penais disponham de forma
diversa.
Aula 08 23/04/2009
DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO
No direito brasileiro, acatou-se o princípio da
dissolubilidade do casamento. Este nada mais é senão a
liberdade de autodeterminação. Essa liberdade traz um
espelho invertido, que é a liberdade de não permanecer
casado.
O direito brasileiro possui o sistema dualista de
dissolução do casamento. O sistema é binário, projetando
duas diferentes possibilidades de dissolução do casamento:
- causas terminativas:
Atingem meramente a sociedade conjugal. Pode-se fazer a
comparação com o seguinte brocardo: “termina e não acaba”.
Termina a sociedade, mas permanece o vínculo.
Fulmina o casamento sob o ponto de vista do regime de bens
e dos deveres recíprocos. Não haverá dever de fidelidade,
comunhão de bens. Ataca o estado civil.
Havendo causa meramente terminativa, não é possível
contrair novas núpcias, pois o vínculo se mantém. Mas é
possível haver união estável. É o que reza o art. 1.723 do
NCC:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 141
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre
o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do
art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a
pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.
§ 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização
da união estável.
- causas dissolutivas:
Atingem a sociedade conjugal e o vínculo matrimonial.
OBS: existe uma exceção no que concerne ao fim dos deveres
recíprocos quando a causa é terminativa. O dever recíproco
do casamento que se mantém é o de assistência recíproca.
Na separação, os alimentos são regra, enquanto que no
divórcio são uma exceção.
O art. 1.566 do NCC trata do tema.
Causas terminativas:
a) separação:
É causa puramente terminativa.
b) morte:
É terminativa e dissolutiva.
c) divorcio:
É terminativa e dissolutiva.
d) nulidade ou anulabilidade:
a anulação e a nulidade do casamento atingem a validade do
ato, logo não são causas dissolutivas, as quais atacam os
efeitos, no plano da eficácia. É uma causa desconstitutiva.
A pessoa volta a ter o estado anterior.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 142
Causas dissolutivas:
a) morte:
b) divórcio:
As causas dissolutivas atacam o ato daquele momento em que
for declarada para frente.
O NCC mantém uma tradição canônica, donde se origina a
distinção entre separação e divórcio.
Já há uma PEC que altera o art. 226, § 6.º da CF, pondo fim
ao sistema dualista do casamento. Acaba a diferença entre
sistema terminativo e dissolutivo no que concerne ao
casamento. Haverá tão somente divórcio e sem prazo.
Acerca do sistema dualista, algumas observações são
importantes:
- a morte presumida também serve como causa dissolutiva do
casamento? O art. 1.571, § 1.º trata do tema. Agora, a
morte presumida, através de declaração de ausência, também
dissolve o casamento.
Art. 1.571 (...)
§ 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou
pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código
quanto ao ausente.
Se o ausente reaparecer, receberá os bens no estado em que
deixou. O eventual retorno do ausente é irrelevante para
fins matrimoniais. Se a mulher quiser ficar de novo com o
ausente, a saída é casar de novo.
O procedimento de ausência é trifásico. Curadoria dos bens
do ausente; sucessão provisória e sucessão definitiva. Em
que delas o casamento do ausente se dissolve? Com base no
art. 6.º do NCC, os efeitos da ausência decorrem a partir
do momento em que o juiz declara aberta a sucessão
definitiva.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 143
Para que o juiz declare aberta a sucessão definitiva, há
uma demanda de tempo. Tecnicamente, o professor entende que
os efeitos decorre no momento em que o juiz declare aberta
a sucessão provisória. Mas em concursos, deve-se marcar a
assertiva de acordo com a letra da lei, ao menos em
primeiro fase.
Qual o estado civil do cônjuge do ausente? Será de viúvo
presumido. Se o ausente voltar, qual será o estado civil de
seu cônjuge? Viúvo de pessoa viva. E qual o estado civil o
ausente que retornou? Não há resposta.
Possibilidade ou não de cumulação de pedidos entre as
diferentes hipóteses dissolutivas:
É possível haver essa cumulação, desde que se trate de
cumulação sucessiva.
Se a pessoa já é divorciada ou separada, obstaria um pedido
de anulação de nulidade? Não faltaria interesse de agir
porque o casamento já acabou? Há interesse de agir, porque
aqui se ataca o plano da eficácia.
Aspectos comuns do divórcio e da separação:
a) natureza personalíssima:
Se a natureza é personalíssima, só o cônjuge pode promover
a medida.
Deve-se lembrar que não se aplicam, por conseguinte, nas
ações de separação e divórcio, o disposto no art. 41 do CPC
que trata da sucessão processual. Ora, se a ação é
personalíssima, a morte de uma das partes implica em
extinção do processo sem resolução de mérito por falta de
interesse de agir.
A morte já dissolve o casamento, então qual seria o
interesse de agir do cônjuge sobrevivente?
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 144
Não cabe intervenção de terceiros.
OBS: Mas há uma exceção acerca da natureza personalíssima.
O art. 3.º, § 1.º da Lei do Divórcio, que está parcialmente
revogada, preceitua que se por ventura um dos cônjuges for
incapaz, a ação de separação e divórcio, será representado
pelo curador, ascendente ou irmão, nessa ordem.
Essa possibilidade, no caso de incapacidade de um dos
cônjuges, caracterizaria hipótese de representação ou
substituição processual? O curador age em nome alheio,
representando direito alheio, logo é caso de representação
processual.
Em se tratando de representação processual, o representante
poderia celebrar divórcio ou separação consensual? Não,
pois se o fizesse estaria transigindo.
Ainda, quando se trata de representação processual, não
cabe reconvenção, pois tem natureza de ação e o
representante estaria dispondo de direito do representado,
o que é vedado por nosso ordenamento.
b) dispensabilidade de prévia partilha de bens:
Embora a lei do divórcio diga que o divórcio deva dirimir a
partilha dos bens, o NCC, seguindo a orientação da súmula
197 do STJ, tratou da matéria no art. 1.581.
Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha
de bens.
O juiz pode, por sentença, decretar a separação ou o
divórcio e não tratar da partilha dos bens.
Essa regra vale tanto para os divórcios e separações
consensuais ou litigiosos.
Além de manter os bens em condomínio, os cônjuges podem
promover uma ação de partilha posterior, na forma do art.
1.321 do NCC.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 145
Se o juiz decretou o divórcio sem a partilha dos bens,
casando de novo, os cônjuges estarão submetidos ao regime
de separação obrigatória.
Art. 1.523. Não devem casar:
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto
não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter
sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugal;
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a
partilha dos bens do casal;
c) necessidade de intervenção do MP:
art. 82, II do CPC:
Art. 82. Compete ao Ministério Público intervir:
II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder,
tutela, curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e
disposições de última vontade;
Em regra, o MP intervirá em todas as ações de separação e
divórcio. Mas deve-se atentar para a lei 11.441/07, que
disciplinou a separação e o divórcio consensual no
cartório. Essa lei dispensou a intervenção do MP quando a
separação ou o divórcio ocorrerem em cartório.
Em interpretação sistêmica, vem-se entendendo que o MP não
mais intervirá em ações de separação e divórcio em que não
mais haja interesse de incapaz.
Intervindo como fiscal da lei, o MP tem liberdade de
manifestação e pode recorrer, mesmo que as partes não o
façam. É o que reza a súmula 99 do STJ:
Súmula: 99O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no
processo em que oficiou como fiscal da lei, ainda que não haja recurso
da parte.
d) revelia:
Existe revelia nas ações de separação e divórcio? O art.
320, II do CPC se aplica a todas as ações de família:
Art. 320. A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 146
antecedente:
II - se o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
Há revelia, mas não os seus efeitos. Logo, não há confissão
ficta, ou seja, o autor continua obrigado a provar todos os
fatos alegados.
O único efeito da revelia que ocorre é a desnecessidade de
intimação do acusado para os atos processuais subsequentes.
e) Competência:
Art. 100. É competente o foro:
I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a
conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento; (Redação
dada pela Lei nº 6.515, de 1977)
O STJ entende que o inciso I do art. 100 do CPC foi
recepcionado pela CF. RESP 193.104/RS. Essa opinião do STJ
diverge da opinião de Alexandre Câmara.
O professor entende que o foro privilegiado só poderia
haver em caso de incapazes.
Mas vale ressaltar, na conformidade da súmula 33 do STJ, a
competência é relativa, não podendo o juiz conhecê-la de
ofício.
f) Guarda compartilhada:
Art. 1.583. No caso de dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal
pela separação judicial por mútuo consentimento ou pelo divórcio
direto consensual, observar-se-á o que os cônjuges acordarem sobre a
guarda dos filhos.
A lei expressamente diz que o juiz deve optar pela guarda
compartilhada, seja a ação consensual ou litigiosa. Mas
alguns autores criticam duramente a possibilidade de guarda
compartilhada em casos de ações litigiosas.
Não se deve confundir guarda compartilhada com guarda
alternada. Quando se tratar de guarda alternada, a criança
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 147
fica um período com o pai e outro com a mãe. Há quem diga
que não é recomendada para as crianças.
A lei permite apenas a guarda compartilhada ou conjunta.
Aqui, os dois pais são guardiões ao mesmo tempo, mas a
criança mora com o pai ou com a mãe. Haverá pensão, mas em
percentual mais arrefecido. Isso porque a maioria das
despesas serão compartilhadas.
Mesmo que a guarda seja unilateral, se houver conflito
entre o pai guardião e o pai visitante, cabe o juiz
decidir.
Havendo conflito e quando o juiz não tem elemento
suficientes para fixar a guarda, pode fixar uma guarda
provisória, de acordo com as disposições do ECA. Dentro da
ação de guarda é que irá ser decidida a guarda definitiva.
g) Desconsideração da personalidade jurídica:
Há a chamada desconsideração inversa. É aquela em que se
desconsidera a pessoa do sócio, atribuindo-se a
responsabilidade à empresa. Para que essa desconsideração
seja possível deve haver desvio de finalidade ou confusão
patrimonial.
O juiz não pode fazer a desconsideração ex officio, ou
seja, somente pode fazê-lo a requerimento da parte ou do
MP.
Ainda, a jurisprudência vem permitindo a aplicação da
teoria da aparência nas ações de separação e divórcio.
h) Frutos de bem comum:
O STJ, no RESP 246.613/SP, entendeu acerca da possibilidade
de indenização por fruto colhido individualmente. O juiz
fixa o aluguel, divide-se ao meio e a outra parte vai para
o cônjuge que não utilizou do bem.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 148
Deve-se requerer que o juiz fixe o valor dos alimentos in
natura, sob forma de moradia. Se o juiz assim o fizer,
cessa o direito à indenização pelos frutos, porque a pessoa
está morando a título de alimentos. É uma forma de tentar
minorar os prejuízos do cônjuge que permaneceu no imóvel.
Essa matéria é aplicada inclusive aos imóveis adquiridos
com o uso do FGTS. Assim, todas as parcelas pagas durante a
constância do casamento devem ser divididas.
h) nome dos cônjuges:
A regra geral é que o cônjuge que mudou de nome possa
mantê-lo.
A perda do sobrenome é excepcional. Perde-se o direito do
uso do nome quando ficar provada a culpa e a inexistência
de prejuízo para o cônjuge e sua prole. Assim, mesmo se
houver culpa, em havendo prejuízo, não perde o cônjuge o
direito ao nome.
Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial
perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente
requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar:
I - evidente prejuízo para a sua identificação;
II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos
havidos da união dissolvida;
III - dano grave reconhecido na decisão judicial.
§ 1o O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar,
a qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome do outro.
§ 2o Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de
casado.
A razão dessa nova regra do NCC é que o nome é direito da
personalidade.
i) possibilidade de responsabilidade civil na separação e
no divórcio:
Pode haver, por exemplo, cumulação com ação de dano moral,
em havendo ato ilícito. Isso ocorre porque o juízo de
família é o competente para julgar a ação.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 149
Ex: dano moral em decorrência de doença venérea, violência
familiar etc.
O STJ entende descabida a indenização por dano moral
afetivo. O que o STJ aceita é a indenização decorrente de
ato ilícito.
Separação de fato:
Nada mais é senão a cessação da conjugalidade, ou seja, a
cessação da vida em comum.
A separação de fato pode produzir efeitos jurídicos. São os
seguintes:
- contagem de prazo para o divórcio direto, que são dois
anos:
Art. 226, § 6.º da CF:
- possibilidade de caracterização de união estável:
Art. 1.723, § 1.º.
§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do
art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a
pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.
É possível que pessoa ainda casada esteja em união estável?
Sim, desde que esteja separada de fato.
- cessação do regime de bens:
Se houve separação de fato, o STJ entende que cessa a
comunhão de bens. O art. 1.642, V, parte final, no entanto,
estabelece que a comunhão de bens se mantém por cinco anos
depois da separação de fato.
Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto
a mulher podem livremente:
V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou
transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os
bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal
estiver separado de fato por mais de cinco anos;
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 150
Ora, se a separação de fato não cessasse a comunhão de
bens, a esposa teria direito à metade dos bens e a
companheira à outra metade.
- perda do direito sucessório:
É a perda do direito à herança. Nesse ponto, é conveniente
saber que essa é a posição da jurisprudência. O art. 1.830
do NCC, no entanto, traz a matéria de forma distinta:
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge
sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados
judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo
prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem
culpa do sobrevivente.
A doutrina chama essa hipótese de culpa mortuária.
Separação de corpos:
É medida cautelar, prevista no art. 888 do CPC:
Art. 888. O juiz poderá ordenar ou autorizar, na pendência da ação
principal ou antes de sua propositura:
I - obras de conservação em coisa litigiosa ou judicialmente
apreendida;
II - a entrega de bens de uso pessoal do cônjuge e dos filhos;
III - a posse provisória dos filhos, nos casos de separação judicial
ou anulação de casamento;
IV - o afastamento do menor autorizado a contrair casamento contra a
vontade dos pais;
V - o depósito de menores ou incapazes castigados imoderadamente por
seus pais, tutores ou curadores, ou por eles induzidos à prática de
atos contrários à lei ou à moral;
Vl - o afastamento temporário de um dos cônjuges da morada do casal;
Vll - a guarda e a educação dos filhos, regulado o direito de visita;
Vlll - a interdição ou a demolição de prédio para resguardar a saúde,
a segurança ou outro interesse público.
Com o advento da Lei Maria da Penha, doutrina e
jurisprudência se harmonizaram no sentido de que bastam
indícios para que possa haver a separação de corpos. Rolph
Madaleno afirma que o indício é o próprio pedido.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 151
Não obsta a separação de corpos se o cônjuge já saiu de
casa, mas nessa hipótese para impedir que ele retorne.
A separação de corpos não se submete ao art. 806 do CPC, ou
seja, não há necessidade de que se interponha a ação
principal no prazo de trinta dias após a efetivação da
medida.
O fundamento da separação de corpos é a proteção da
personalidade. Assim, com base nos arts. 12 do NCC e 22 da
Lei Maria da Penha, o juiz pode, de ofício ou a
requerimento, junto com a separação de corpos, cumular
mandado de distanciamento, que nada mais é senão restrição
ao direito de locomoção.
O STJ entendeu que o mandado de distanciamento não precisa
especificar os lugares, devendo constar apenas a distância.
Divórcio:
É um instituto jurídico pelo qual se dissolve o casamento.
Enquanto a separação apenas põe fim à sociedade, o divórcio
põe fim à sociedade e ao vínculo conjugal.
A CF/88 acolheu a facilitação do divórcio, assim é possível
tantos quantos forem os divórcios que as pessoas queiram.
Anteriormente, só podia haver um divórcio.
Ao acolher o princípio da facilitação do divórcio, a CF
reconheceu duas modalidades de divórcio:
a) divórcio direto:
O requisito único do divórcio é o lapso temporal. No caso
do divórcio direto, o prazo é de dois anos de separação de
fato.
b) divórcio indireto ou por conversão:
Até 1988, só havia divórcio por conversão, ou seja, todo
divórcio deveria ser precedido por separação judicial.
O requisito único do divórcio é o lapso temporal. O prazo
aqui é de um ano da separação judicial ou em cartório.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 152
A consequencia processual do prazo para o divórcio é o
descabimento da discussão de culpa. Significa que a ação de
divórcio, sob o ponto de vista processual, o seu objeto
cognitivo é estreito. Dentro da ação de divórcio só se
discute um único requisito, que é o lapso temporal. Se as
partes querem discutir a culpa, deve-se interpor uma ação
de separação judicial.
Carlos Roberto Gonçalves afirma que com base no princípio
da celeridade processual, seria possível se discutir a
culpa no divórcio se o casal está separado de fato há mais
de dois anos. Tal não coaduna com o posicionamento do STJ.
A discussão da culpa é estranha ao objeto cognitivo da ação
de divórcio.
Na medida em que a CF submete o divórcio a requisito
unicamente objetivo, lapso temporal, não foi recepcionado
pela CF o inciso II do parágrafo único do art. 36 da Lei do
Divórcio. Dizia que na ação de divórcio por conversão a
contestação do réu só poderia versar sobre dois assuntos:
falta de lapso temporal e descumprimento das obrigações
pactuadas na separação.
Assim, pela CF, na contestação de qualquer ação de
divórcio, só se pode discutir o lapso temporal.
Também convém lembrar que a ação de divórcio direto está
submetida a dois anos de separação de fatos, os quais devem
ser ininterruptos, contínuos. Assim, a retomada da vida
conjugal interrompe a contagem do prazo.
Silvio Rodrigues, contudo, afirma que encontros esporádicos
em motéis da cidade não significa a retomada da
conjugalidade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 153
o NCC permite que a contagem do prazo no divórcio direto se
dê não só através da mera separação de fato, mas mesmo com
os cônjuges vivendo no mesmo teto, desde que provada a
cessação da coabitação.
No caso do divórcio por conversão, prazo não precisa ser
contínuo. Isso porque o prazo é de um ano da decisão
judicial. Logo, é irrelevante para o divórcio por conversão
se o casal retomou a vida conjugal. O prazo aqui é
computado a partir da sentença de conversão.
O NCC, acolhendo a orientação da doutrina, permite que a
contagem do prazo no divórcio direto se inicie desde a data
da separação de corpus, desde que a ação de separação
judicial tenha transitado em julgado.
Ex: a separação de corpus se deu em 01/08/1996; a separação
judicial foi interposta no dia 01/12/1995; a sentença
transitou em julgado em 01/03/1996. O divórcio por
conversão poderá ser requerido um ano depois da separação
de corpus. Mas só se pode falar com conversão depois do
trânsito em julgado da separação.
Maria Berenice Dias tem entendimento mais abrangente.
Afirma que é possível converter a própria separação de
corpus em divórcio, sem que houvesse a necessidade do
trânsito em julgado da separação judicial.
É irrelevante, pois, promover a separação judicial. Ora, se
já há a ação de separação de corpus, espera-se um ano e se
interpõe a ação de divórcio por conversão. Os autores mais
clássicos afirmam que se estaria convertendo medida
cautelar em divórcio, o que não seria possível.
Divórcio direto superveniente na pendência de separação:
Quando a ação de separação tem discussão acerca da culpa,
por exemplo, quase sempre demora mais de dois anos. Com
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 154
isso, teria sido mais interessante em se interpor uma ação
de divórcio direto, com dois anos de separação de fato.
É provável que os cônjuges já estejam em vias de contrair
novas núpcias. Assim, enquanto perdura a ação de separação,
já é possível ao interessado promover o divórcio direto.
A prova da separação de fato é simples, ou seja, é o tempo
da ação. Não há litispendência da ação nova de divórcio com
a antiga de separação, porque o pedido e a causa de pedir
são distintos.
A sentença na ação de divórcio superveniente não esvazia o
objeto de conhecimento da ação de separação, já que há a
necessidade de se discutir as questões ali aventadas, como
partilha, guarda de filhos etc.
A doutrina e a jurisprudência muito simpatizam com a ação
de divórcio direto superveniente na pendência de ação de
separação.
Seja o divórcio direto ou por conversão, ambos podem ser
litigiosos ou consensuais, pelo simples motivo de que um e
outro podem decorrer de acordo de vontade entre as parte ou
litígio.
A competência para o divórcio por conversão não é por
prevenção, já que pedido e causa de pedir são distintos.
Separação judicial:
Nada mais é senão a ruptura do casamento, pondo fim tão
somente à sociedade conjugal, ou seja, se ataca o regime de
bens e os direitos e deveres recíprocos.
A separação é um instituto fadado ao insucesso. Apesar de
rompida a sociedade conjugal, o casal continua unido pelo
vínculo matrimonial. É, pois, um instituto obsoleto e em
desuso. É um instrumento fim e não meio.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 155
A separação permite o restabelecimento da vida conjugal por
mera petição ao juiz. No caso do divórcio, tal só pode
ocorrer perante novas núpcias.
Se o casamento foi feito por meio de cerimônia religiosa,
não há necessidade de se casar de novo, bastando requerer
ao juiz as novas núpcias.
Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos
requisitos exigidos para o casamento civil.
§ 1o O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido
dentro de noventa dias de sua realização, mediante comunicação do
celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer
interessado, desde que haja sido homologada previamente a habilitação
regulada neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de
nova habilitação.
§ 2o O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas
neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for
registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia
habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do
art. 1.532.
§ 3o Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele,
qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil.
As causas de separação são taxativas, sendo elas:
a) separação consensual (art. 1.574):
Pode ser:
- em juízo:
O CPC afirma que é procedimento de jurisdição voluntária.
Art. 1.121:
Art. 1.121. A petição, instruída com a certidão de casamento e o
contrato antenupcial se houver, conterá:
I - a descrição dos bens do casal e a respectiva partilha;
II - o acordo relativo à guarda dos filhos menores e ao regime de
visitas; (Redação dada pela Lei nº 11.112, de 2005)
III - o valor da contribuição para criar e educar os filhos;
IV - a pensão alimentícia do marido à mulher, se esta não possuir bens
suficientes para se manter.
§ 1o Se os cônjuges não acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á
esta, depois de homologada a separação consensual, na forma
estabelecida neste Livro, Título I, Capítulo IX. (Renumerado do
parágrafo único, pela Lei nº 11.112, de 2005)
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 156
§ 2o Entende-se por regime de visitas a forma pela qual os cônjuges
ajustarão a permanência dos filhos em companhia daquele que não ficar
com sua guarda, compreendendo encontros periódicos regularmente
estabelecidos, repartição das férias escolares e dias festivos.
(Incluído pela Lei nº 11.112, de 2005)
- em cartório:
É procedimento administrativo:
Art. 1.124-A:
Art. 1.124-A. A separação consensual e o divórcio consensual, não
havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os
requisitos legais quanto aos prazos, poderão ser realizados por
escritura pública, da qual constarão as disposições relativas à
descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e,
ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de
solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento.
(Incluído pela Lei nº 11.441, de 2007).
§ 1o A escritura não depende de homologação judicial e constitui
título hábil para o registro civil e o registro de imóveis. (Incluído
pela Lei nº 11.441, de 2007).
§ 2o O tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes
estiverem assistidos por advogado comum ou advogados de cada um deles,
cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial. (Incluído
pela Lei nº 11.441, de 2007).
§ 3o A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que
se declararem pobres sob as penas da lei. (Incluído pela Lei nº
11.441, de 2007).
b) separação litigiosa(art. 1.572):
Será sempre em juízo (procedimento comum ordinário),
podendo ser:
- separação remédio:
Art. 1.572, § 2.º:
§ 2o O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o outro
estiver acometido de doença mental grave, manifestada após o
casamento, que torne impossível a continuação da vida em comum, desde
que, após uma duração de dois anos, a enfermidade tenha sido
reconhecida de cura improvável.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 157
É aquela que depende de um ano de doença mental de cura
improvável ou impossível.
Washington de Barros Monteiro afirma que tal se trata de
uma causa descaridoza, não sendo possível.
Essa separação traz um acréscimo desconfortável ao autor. O
cônjuge são que requereu a separação remédio, perde o
direito aos bens particulares do cônjuge doente. Essa pena
só se aplica no caso de comunhão universal, porque o
cônjuge só tem direito aos bens particulares quando o
regime é esse.
Art. 1.572 (...)
§ 3o No caso do parágrafo 2o, reverterão ao cônjuge enfermo, que não
houver pedido a separação judicial, os remanescentes dos bens que
levou para o casamento, e se o regime dos bens adotado o permitir, a
meação dos adquiridos na constância da sociedade conjugal.
- separação falência:
É a ruptura da vida conjugal há pelo menos um ano. Apenas
se discute o esvaziamento da vida em comum, ou seja, a
erosão do amor. Não se pode discutir culpa.
Orlando Gomes afirmava que era a perturbação objetiva do
casamento.
Art. 1.572, § 1.º:
§ 1o A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges
provar ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade
de sua reconstituição.
- separação sanção:
Art. 1.572, caput:
Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação
judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe grave violação
dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum.
O fundamento da separação sanção é a culpa. Ex: conduta
desonrosa, descumprimento dos deveres do casamento etc.
O art. 1.573 menciona as possíveis causas de culpa.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 158
Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a
ocorrência de algum dos seguintes motivos:
I - adultério;
II - tentativa de morte;
III - sevícia ou injúria grave;
IV - abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo;
V - condenação por crime infamante;
VI - conduta desonrosa.
Parágrafo único. O juiz poderá considerar outros fatos que tornem
evidente a impossibilidade da vida em comum.
Assim, pelo parágrafo único, o rol de culpa é meramente
exemplificativo, podendo o juiz considerar qualquer fato
que tenha dado ensejo à cessação da vida conjugal.
O STJ, no RESP 466.329 (leading case), firmou entendimento
que a não comprovação da causa de pedir (culpa) não gera a
extinção do processo. O juiz concede a separação com base
na insuportabilidade da vida conjugal.
No NCC, só existem dois efeitos jurídicos para a separação
culposa:
- excepcional perda do direito de uso do sobrenome.
Mas tal somente ocorre se além da culpa não importar
prejuízo ao cônjuge culpado ou à sua prole.
- mudança da natureza da obrigação alimentícia:
deixam de ser os alimentos civis e passam a ser os
alimentos meramente para a subsistência. Assim, o
reconhecimento de culpa não implica necessariamente na
perda dos alimentos, mas pode resultar na mudança de sua
natureza.
Se o autor promoveu ação de separação culposa e não
formulou pedido de perda do sobrenome nem mudança na
natureza dos alimentos, falta-lhe interesse de agir.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 159
No Brasil, autores renomados como Maria Berenice Dias,
Fachin, Tepedino e outros, reputam que a discussão de
culpa, se não inconstitucional no caso concreto por violar
a privacidade da parte, casuisticamente, seria inútil. Isso
porque são tão rarefeitas as consequências que não se
justifica tamanha agressão à pessoa humana, já que existem
outros mecanismos de dissolução do casamento.
Assim, doutrina e jurisprudência vêm se harmonizando no
sentido de que há paulatina superação da importância da
culpa na dissolução do casamento.
Separação consensual:
Seja em juízo ou em cartório, o requisito material é o de
um ano de casamento.
Aspectos processuais da separação em juízo:
A separação em juízo reclama o atendimento dos requisitos
do art. 1.121 do CPC:
Art. 1.121. A petição, instruída com a certidão de casamento e o
contrato antenupcial se houver, conterá:
I - a descrição dos bens do casal e a respectiva partilha;
II - o acordo relativo à guarda dos filhos menores e ao regime de
visitas; (Redação dada pela Lei nº 11.112, de 2005)
III - o valor da contribuição para criar e educar os filhos;
IV - a pensão alimentícia do marido à mulher, se esta não possuir bens
suficientes para se manter.
O art. 1.122 exige uma audiência obrigatória de tentativa
de reconciliação, sob pena de nulidade processual.
A súmula 305 do STF afirma que o acordo de separação
consensual ratificado em audiência torna-se irretratável.
Súmula 305Acordo de desquite ratificado por ambos os cônjuges não é
retratável unilateralmente.
O art. 34, § 2.º da Lei do Divórcio permite ao juiz
indeferir a separação consensual. Deve-se marcar como
verdadeira em prova objetiva.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 160
Maria Berenice Dias reputa inconstitucional por conta de
que atenta à liberdade de autodeterminação das partes.
Aspectos processuais da separação em cartório:
O uso da via cartorária é facultativo, ou seja, ninguém é
obrigado a se separar em cartório. Com isso, as partes
escolhem se querem a separação em juízo ou em cartório.
Requisitos:
- inexistência de interesse de incapaz.
O professor entende que se já houver decisão judicial
resguardando alimentos e guarda, nada impede a separação
pela via cartorária.
- assistência obrigatória por advogado ou por defensor
público:
Em se tratando de pessoa declaradamente pobre, o
procedimento em cartório será gratuito.
- partilha dos bens:
A súmula 197 do STJ relativiza esse requisito.
- uso do sobrenome:
O cônjuge diz se quer ou não manter o sobrenome.
- pensão alimentícia entre os cônjuges:
É desnecessária a intervenção do MP e a homologação
judicial, porque a própria escritura pública lavrada pelas
partes e pelos advogados é título executivo extrajudicial.
Ressalte-se que as partes podem estar representadas por
procurador, com poderes específicos.s
Ainda, a escritura pública pode ser lavrada em qualquer
cartório do Brasil, porque na separação administrativa não
se aplicam as regras de competência processual.
O requisito material é o mesmo, ou seja, o casal deve estar
casado há mais de um ano.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 161
No caso do divórcio direto, o prazo de dois anos de
separação de fato é provado por meio de declaração de
testemunhas. O TJBA afirma que basta a declaração dos
próprios cônjuges. Se estiverem mentindo, respondem civil e
criminalmente.
Aula 09 20/05/2009
DIREITO DAS SUCESSÕES
INVENTÁRIO E PARTILHA
A morte e seus efeitos:
O direito brasileiro, fundado na Lei 9.434/97, opta por uma
concepção de morte a partir da morte cerebral ou
encefálica. Isto significa que o direito brasileiro tem
como referencia jurídica a morte encefálica. Mas além
desta, temos também outras hipóteses, como a morte com ou
sem ausência.
No entanto, a morte considerada pelo nosso direito civil,
como regra, se dá com a declaração pelo médico da morte
encefálica. Com essa declaração temos a transmissão
automática de posse e propriedade do patrimônio do
falecido, com o direito da saisine.
A partir do momento que se declara a morte – droit de
saisine – art. 1.734 do NCC ocorre a transmissão automática
de posse e propriedade. Aberta a sucessão transmite-se
automaticamente a posse e a propriedade.
A saisine consagra-se por si só trazendo consigo o direito
de se transmitir a posse e a propriedade – não é preciso a
ocorrência de nenhum outro fato. Operada a morte, declarada
a morte pelo médico, a incidência da saisine faz com que se
tenha uma mutação subjetiva automática da titularidade das
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 162
relações do falecido. Isso significa que todas as relações
patrimoniais do falecido serão automaticamente transferidas
para seus herdeiros.
E, assim, a saisine implica também na formação de um
condomínio e composse forçados. Todos os herdeiros passam a
ser co-proprietários e co-possuidores do todo.
O inventário e a partilha constituem procedimento judicial
ou administrativo tendentes a delimitar o patrimônio
transmitido e providenciar a sua divisão entre os
interessados. Não possuem, pois, natureza constitutiva no
que concerne à propriedade. Fixa-se, posteriormente, o
quinhão hereditário de cada um.
Transmissão automática significa transmissão por força de
lei. E isso quer dizer que todos os herdeiros serão co-
proprietário e co-possuidor do todo, independentemente da
cota parte de cada um. A herança se forma automaticamente
pela saisine.
A vontade do falecido após a morte só prevalece para fins
de sucessão testamentária, porque já houve a transmissão
automática.
No caso dos lesados indiretos, aplica-se o disposto no
parágrafo único do art. 12 do NCC:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou
qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Mister ressaltar que o dispositivo acima citado não se
confunde com o art. 943 do NCC.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 163
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la
transmitem-se com a herança.
Se o homem vivo sofreu um atentado à sua honra e não
promove a ação, morrendo antes que se operasse a
prescrição, os herdeiros podem promover a ação. Aplica-se
aqui o disposto no art. 943. A indenização será pleiteada
pelo espólio.
Mas se a violação à honra se deu depois do óbito, cada um
dos interessados irá requerer a indenização em nome
próprio, aplicando-se o parágrafo único do art. 12. Isso
ocorre justamente porque nesse caso os herdeiros são os
lesados indiretos.
Ainda, essas duas figuras não devem ser confundidas com o
art. 43 do CPC, que trata das hipóteses de sucessão
processual, ou seja, trata do caso em que a ação já foi
promovida, vindo o autor a falecer no curso da ação.
Transmite-se aqui a pretensão reparatória.
Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a
substituição pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o
disposto no art. 265.
HERANÇA, ESPÓLIO E INVENTÁRIO:
Herança:
É o conjunto ou o complexo de relações jurídicas
patrimoniais transmitidas automaticamente. E esse conjunto
de relações patrimoniais transmitidas engloba o passivo e o
ativo, ou seja, os créditos e os débitos.
Para o direito brasileiro a herança é um bem imóvel,
indivisível e universal, mesmo que composta somente de bens
móveis, divisíveis e singulares. A saisine forma um todo
universal e indivisível, que só será dissolvido pela
partilha.
Assim, toda herança forma um condomínio e uma composse.
Enquanto não proferida a sentença de partilha, mantém-se
esse condomínio.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 164
O art. 80 do NCC qualifica a herança:
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.
Assim, a cessão de herança deve ser feita por escritura
pública, já que é bem imóvel.
Herança é um conceito de direito material formado
automaticamente por força de lei. Mas precisa de uma
representação, que é feita justamente pelo espólio.
Espólio:
É a representação da herança, em juízo e fora dele. Espólio
é a herança vista sob o ângulo processual. E se a herança é
formada automaticamente sem a propositura de inventário, o
espólio assim também o é.
O espólio representa o patrimônio da pessoa morta
processualmente.
Assim a cobrança de caráter patrimonial ao de cujus deve
ser feita ao espólio.
No entanto, se a cobrança não tiver caráter patrimonial, o
espólio será parte ilegítima na ação. E nesse caso quem
figurará no pólo passivo da ação serão os próprios
herdeiros (ex: ação de investigação de paternidade post
mortem; ação de adoção post mortem – será possível desde
que o adotante tenha proferido a manifestação de vontade em
adotar antes da morte – previsão expressa do ECA). Essas
ações possuem natureza personalíssima e não patrimonial.
Por isso não podem ser dirigidas ao espólio (que apenas
representa o patrimônio do de cujus).
Mister que se ressalte que o espólio é ente
despersonalizado, tendo, no entanto, capacidade, podendo
ser parte, portanto.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 165
As relações patrimoniais do falecido são concentradas na
herança (que em juízo viram espólio, passam a ser
representadas pelo espólio). E ambas não têm nada a ver com
inventário. Assim, inexoravelmente, sempre haverá espólio
mesmo que não haja inventário.
O art. 12 do CPC diz que quem representa o espólio em juízo
é o inventariante.
Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
V - o espólio, pelo inventariante; (Representação)
E é justamente nesse dispositivo que a dúvida aparece. Isso
porque existe espólio independentemente do inventariante. E
se ainda não há inventariante, quem representa o espólio é
o administrador provisório (que é aquele que está na posse
dos bens). E se tiver mais de uma pessoa na posse dos bens
todas elas serão consideradas administradores provisórios.
Mas já dissemos que se a relação processual não é
patrimonial o espólio é parte ilegítima.
Art. 985. Até que o inventariante preste o compromisso (art. 990,
parágrafo único), continuará o espólio na posse do administrador
provisório.
No entanto, existe uma hipótese em que o inventariante não
representará o espólio mesmo em relações patrimoniais (art.
12, § 1º do CPC) – é o inventariante dativo (hipótese em
que não foi possível nomear nenhum herdeiro legatário como
inventariante ou, então, porque havia alto grau de
litigiosidade).
Esse inventariante dativo não é nem herdeiro e nem
legatário, ele não possui nenhum interesse direto na
solução do conflito. Assim, o dispositivo diz que quando se
tratar de inventariante dativo todos os sucessores serão
autores ou réus, ou seja, o inventariante dativo não
representará processualmente o espólio. Todos os herdeiros
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 166
serão citados obrigatoriamente para a relação processual,
isso para que seus interesses possam ser preservados.
OBS: é importante lembrar que isso se dá apenas nas
relações patrimoniais, porque se a relação é personalíssima
o espólio é representado apenas e somente pelos herdeiros.
Art. 12 (...)
§ 1o Quando o inventariante for dativo, todos os herdeiros e sucessores
do falecido serão autores ou réus nas ações em que o espólio for
parte.
Ainda, isso ocorre também no caso em que o inventariante
for judicial, nas comarcas em que haja.
Inventario:
Vem da expressão latina invenire, que significa achar,
encontrar.
É o procedimento judicial ou administrativo tendente a
delimitar o alcance(extensão) do patrimônio transmitido,
separar a meação, pagar as dívidas, recolher os tributos e
partilhar o resultado entre os interessados.
O inventário é, pois, multifuncional, trazendo consigo
várias funções.
É um procedimento bifásico e escalonado. É bifásico porque
a partilha do resultado só será alcançado na última fase do
processo. A primeira fase é a inventariança e a segunda a
partilha.
Trata-se de um processo civil necessário, por meio do qual
se instala um procedimento de jurisdição contenciosa com a
intenção de promover a partilha dos bens transmitidos e
separar a meação. Trata-se de um PROCESSO NECESSÁRIO porque
senão os bens ficariam indivisíveis por causa da saisine,
que é “cega”.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 167
OBS: A expressão PROCESSO CIVIL NECESSÁRIO em regra é o
inventário. No entanto, Frederico Marques a utiliza também
para os procedimentos de jurisdição voluntária.
OBS: Herança é a fração ideal do todo. Legado é o bem certo
e determinado que só existe na sucessão testamentária.
Determina o art. 989 do CPC:
Art. 989. O juiz determinará, de ofício, que se inicie o inventário,
se nenhuma das pessoas mencionadas nos artigos antecedentes o requerer
no prazo legal.
Procedimento do inventário:
Pode ser judicial ou administrativo (em cartório). Quando é
judicial será procedimento de jurisdição contenciosa.
Se o inventário é judicial pode assumir três diferentes
formas:
Quando for judicial o inventário pode ser:
a) inventário propriamente dito:
b) arrolamento comum:
c) arrolamento sumário:
Inventário administrativo:
Foi criado pela Lei 11.441/2007, que modificou o art. 983
do CPC, permitiu a realização do inventário em cartório.
Criou a possibilidade de se realizar o inventário em
cartório.
Requisitos para que o inventário se dê em cartório:
Plena capacidade dos interessados
Inexistência de testamento ou codicilo (todo e
qualquer testamento exige homologação judicial).
Assistência por advogado (ou defensor público). E esse
advogado pode requerer a gratuidade do procedimento –
para que isso ocorra a lei diz que basta que se
declare a pobreza. O benefício da gratuidade do
inventário em cartório só incide nas taxas cartorárias
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 168
e não sobre a cobrança dos tributos. O pagamento do
imposto de transmissão é obrigatório – não há
gratuidade para a incidência fiscal.
Não haja conflito de interesses. É preciso que a parte
tenha feito um acordo sobre a partilha dos bens.
Recolhimento fiscal comprovado. A isenção de custas
não isenta o recolhimento tributário, porque este só
pode ser dispensado por lei.
A escritura pública lavrada pelo tabelião funciona como
título executivo extrajudicial, razão pela qual o seu uso é
facultativo.
Esse inventário extrajudicial pode ser feito em qualquer
cartório do Brasil – não existe competência cartorária,
podendo essa escritura ser lavrada em qualquer cartório. Só
que o tributo precisa ser recolhido no local em que for
feito o inventário, no mesmo Estado em que este se
realizar, porque o imposto é de competência estadual.
Se o falecido tinha dívidas ou se ocorreu cessão de
direitos não impede a ocorrência do inventario
extrajudicial.
Não é preciso intervenção do MP.
Ainda, ressalte-se que as partes podem estar representadas
por procurador, com fins específicos, sem que isso dispense
a presença do advogado.
É passível de ação anulatória no prazo comum de 4 anos
(art. 178 do CC).
Arrolamento sumário:
Está previsto no art. 1.031 do CPC:
É possível quando, independentemente do valor do espólio,
todos os herdeiros forem maiores e capazes e inexistir
conflito de interesse entre eles.
Art. 1.031. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 169
termos do art. 2.015 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 -
Código Civil, será homologada de plano pelo juiz, mediante a prova da
quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas,
com observância dos arts. 1.032 a 1.035 desta Lei. (Redação dada pela
Lei nº 11.441, de 2007).
§ 1o O disposto neste artigo aplica-se, também, ao pedido de
adjudicação, quando houver herdeiro único. (Parágrafo único Renumerado
pela Lei nº 9.280, de 30.5.1996)
§ 2o Transitada em julgado a sentença de homologação de partilha ou
adjudicação, o respectivo formal, bem como os alvarás referentes aos
bens por ele abrangidos, só serão expedidos e entregues às partes após
a comprovação, verificada pela Fazenda Pública, do pagamento de todos
os tributos. (Incluído pela Lei nº 9.280, de 30.5.1996)
Aqui, o MP só intervirá na hipótese de existir testamento,
uma vez que todos os herdeiros são maiores e capazes.
O arrolamento sumário nada mais é senão partilha amigável
do art. 2.015 do NCC. Isso porque na própria inicial as
partes fazem a proposta de partilha com a prova do
recolhimento dos tributos. A atividade do juiz é, pois,
meramente homologatória, não cabendo ação rescisória.
Caberá, se for o caso, ação anulatória, a ser interposta no
prazo de um ano.
Art. 1.030. É rescindível a partilha julgada por sentença:
I - nos casos mencionados no artigo antecedente;
II - se feita com preterição de formalidades legais;
III - se preteriu herdeiro ou incluiu quem não o seja.
Arrolamento comum:
É cabível quando o patrimônio transmitido não for superior
a 2.000 OTNs, o que equivale hoje a 40 ou 50 mil reais.
O arrolamento comum ocorre ainda que haja interesses de
incapazes.
Tanto o arrolamento sumário quando o comum, não passam de
simplificação procedimental de um inventário.
Alvará judicial:
Art. 1.037 do CPC; Lei 6.858/80; Dec. 85.845/81.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 170
É procedimento de jurisdição voluntária tendente a permitir
o levantamento de pequenas parcelas do patrimônio do
falecido. Substitui, pois, o inventário, desde que
obedecidos os seus requisitos.
Art. 1.037. Independerá de inventário ou arrolamento o pagamento dos
valores previstos na Lei no 6.858, de 24 de novembro de 1980. (Redação
dada pela Lei nº 7.019, de 31.8.1982)
Na forma do art. 1.109 do CPC o juiz não está adstrito à
legalidade estrita, podendo julgar os procedimentos de
jurisdição voluntaria por eqüidade.
Para a liberação do alvará (para se liberar o dinheiro por
meio do alvará) deve-se obedecer a dois requisitos:
Limite de 500 OTN’s (Obrigação do Tesouro Nacional) –
não mais existe entre nós. E convertendo-se para
salário mínimo deve ser algo em torno de 15 a 20 mil
reais. Esse valor é de aproximadamente R$ 10.000,00.
Inexistência de bens a partilhar. O falecido deixa
apenas dinheiro.
Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não
é, porém, obrigado a observar critério de legalidade estrita,
podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente
ou oportuna.
Pelo que é possível notar, se a pessoa deixa um pequeno bem
a partilhar, de pequeno valor, mesmo assim não será
possível a utilização do alvará. Isso ocorre ainda que esse
bem seja inferior a 500 OTNs. É isso que prevalece na
jurisprudência e é o que está na letra fria da lei.
Para o professor seria possível sim. Deveria relativizar
esse entendimento, porque o que a lei prega é a
desburocratização e, dessa forma, possibilitar esse tipo de
relativização – podendo o patrimônio ser transferido por
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 171
via do alvará. Essa interpretação do professor é feita com
base no art. 5.º da LICC.
O Dec. 85.845/81 diz que se o valor liberado pelo alvará
for em favor de um incapaz, esse valor ficará depositado em
juízo até que o incapaz complete a sua maioridade civil.
Para o levantamento dos valores por alvará, tal independe
do pagamento de tributos.
Atenção : não confundir alvará judicial com alvará
incidental.
Alvará incidental é aquele alvará concedido dentro do
inventário, incidentalmente no inventário; nada mais é que
a antecipação de tutela. Ele se faz necessário sempre que
houver despesas a serem arcadas no decorrer do inventário.
Quando o alvará incidental beneficiar um dos interessados
durante o inventário o valor será abatido da sua cota
futura, será abatido da própria herança. E isso por ser o
alvará incidental a própria antecipação de tutela, que
neste caso seria antecipação de herança (se beneficiar um
interessado apenas e não o espólio).
Procedimento do inventário propriamente dito:
Prazo:
Art. 983, CPC – prazo para requerer o inventário:
Art. 983. O processo de inventário e partilha deve ser aberto dentro
de 60 (sessenta) dias a contar da abertura da sucessão, ultimando-se
nos 12 (doze) meses subseqüentes, podendo o juiz prorrogar tais
prazos, de ofício ou a requerimento de parte. (Redação dada pela Lei
nº 11.441, de 2007).
O prazo é 60 dias contados da abertura da sucessão, devendo
se concluir nos 12 meses subseqüentes.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 172
Não se trata prazo peremptório. É prazo impróprio ou de
preclusão, não gera prescrição nem decadência.
A perda desse prazo traz uma consequência de ordem
material, que é a multa de natureza tributária, que depende
de lei estadual (o tributo é de natureza estadual). A
súmula 542 do STF reconhece a constitucionalidade do
sistema de multas fiscais.
SÚMULA n. 542 – (DJU de 10.12.1969)
Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-membro, como
sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do inventário.
A consequência de ordem processual é que o inventário
poderá ser aberto de ofício pelo juiz. É o que reza o art.
989 do CPC:
Art. 989. O juiz determinará, de ofício, que se inicie o inventário,
se nenhuma das pessoas mencionadas nos artigos antecedentes o requerer
no prazo legal.
Petição inicial:
Basta indicar o óbito e o valor da causa, além de comprovar
a morte. Ademais, os requisitos são os mesmos do art. 282
do CPC.
A abertura da sucessão ocorre com o óbito, enquanto que a
do inventário ocorre quando o juiz é comunicado, pela
inicial. Caso não haja a comunicação no prazo, isso ocorre
quando o juiz determina a abertura ex officio.
Com certeza, isso demonstra uma exceção ao princípio da
inércia da jurisdição. Por conta disso é que o inventário é
chamado por alguns autores de processo necessário.
No inventário, o valor da causa não inclui a meação. Isso
porque esta não foi transmitida. O valor da causa é o do
patrimônio transmitido, diminuída a meação e as dívidas
conhecidas.
Se assim não fosse, os interessados pagariam as custas
processuais sobre valores que não foram transmitidos.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 173
Competência:
Analisar a competência para processar e julgar o inventário
é algo muito importante.
O art. 89, II do CPC reconhece a competência exclusiva da
justiça brasileira para processar a partilha de bens
situados no Brasil. E isso significa que a eventual decisão
judicial estrangeira (mesmo que os bens pertençam a um
estrangeiro) não pode ser homologada e executada no Brasil.
Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de
qualquer outra: (Compete exclusivamente a autoridade judiciária
brasileira)
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil,
ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do
território nacional. (partilha de bens móveis e imóveis)
Além disso, tem-se o art. 10, §1º da LICC que consagra da
lei sucessória mais favorável.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será
regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais
favorável a lei pessoal do de cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047,
de 18.5.1995)
Significa que deve ser aplicada a lei sucessória mais
favorável aos bens situados no Brasil. Ex: português casado
com brasileira e que tenha bens situados no Brasil, e a lei
portuguesa seja mais favorável, esta devera ser aplicada
aqui.
Ressalte-se que as leis mexicana e portuguesa são mais
favoráveis que a lei brasileira.
O art. 1.785 do CC dispõe sobre os bens aqui situados e que
pertençam a um brasileiro, devendo prevalecer o último
domicílio do falecido.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 174
Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do
falecido.
Assim, o inventário deve ser requerido no último domicílio
do falecido. E na hipótese dele ter mais de um domicílio,
resolve-se pela prevenção.
Essa é uma regra de competência territorial relativa em que
deve ser aplicada a súmula 33 do STJ:
Súmula: 33
A INCOMPETENCIA RELATIVA NÃO PODE SER DECLARADA DE OFICIO.
No entanto, as partes podem prorrogar essa competência; o
que significa que se as partes quiserem podem promover o
inventario em outro local.
Fixada a competência do inventário (requerido o inventario)
instala-se o juízo universal do inventário. Nesse juízo
deverão ser julgadas todas as questões (de direito e de
fato) para as quais ele tem competência – art. 984, CPC.
Art. 984. O juiz decidirá todas as questões de direito e também as
questões de fato, quando este se achar provado por documento, só
remetendo para os meios ordinários as que demandarem alta indagação ou
dependerem de outras provas.
Só que dentro do inventário (dentro dos autos do
inventário) não se admite questões de alta indagação – são
de alta indagação as questões que demandam prova e contra-
prova (ex: investigação de paternidade; indignidade do
herdeiro; reconhecimento de filho etc). É uma complexidade
fática e não jurídica. Essas questões seguem para as vias
ordinárias e ficarão em apenso ao processo de inventário se
o juízo do inventário for o competente.
Da decisão judicial que reconhece uma questão como sendo de
alta indagação cabe agravo.
Do ponto de vista interno, o inventário será processado na
vara de sucessões, exceto quando se tratar de herança
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 175
jacente e vacante, onde a competência se desloca para a
Vara da Fazenda Pública.
As regras de competência não são aplicáveis aos casos de
inventário administrativo. Logo, a escritura pública de
inventário pode ser feita em qualquer cartório do País.
Legitimidade:
Arts. 987 e 988 do CPC:
Art. 987. A quem estiver na posse e administração do espólio incumbe,
no prazo estabelecido no art. 983, requerer o inventário e a partilha.
Parágrafo único. O requerimento será instruído com a certidão de óbito
do autor da herança.
Art. 988. Tem, contudo, legitimidade concorrente:
I - o cônjuge supérstite (ou o companheiro);
II - o herdeiro;
III - o legatário;
IV - o testamenteiro;
V - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VI - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança;
VII - o síndico da falência do herdeiro, do legatário, do autor da
herança ou do cônjuge supérstite;
VIII - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes;
IX - a Fazenda Pública, quando tiver interesse.
A legitimidade para requerer a abertura do inventário é uma
legitimidade concorrente – todos os interessados podem
requerê-la. Assim, não necessariamente quem requer a
abertura do inventário é o inventariante.
Testamenteiro é a pessoa indicada pelo testador para
administrar o testamento, e como se vê também é legitimado.
O requerimento de abertura do inventário é uma petição
simplificada.
O valor da meação do cônjuge ou companheiro sobrevivente
não integra o valor da causa. A meação não é transmitida,
ela já pertence ao cônjuge sobrevivente. Assim, em razão da
inexistência da transmissão da meação, ela não será
incluída no valor da causa.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 176
Relembre-se que se não for requerida a abertura do
inventário no prazo de 60 dias, o juiz pode fazê-lo de
ofício.
Dispõe o art. 989 do CPC:
Art. 989. O juiz determinará, de ofício, que se inicie o inventário,
se nenhuma das pessoas mencionadas nos artigos antecedentes o requerer
no prazo legal.
Assim, se nenhum dos legitimados requererem a abertura no
prazo legal (art. 983), o juiz deverá fazê-lo de ofício.
Após a petição inicial com o requerimento da abertura,
haverá o despacho do juiz indicando o inventariante (que
não necessariamente será o legitimado para requerer a
abertura do inventário).
O inventariante será uma das pessoas do art. 990 do CPC.
A doutrina diz que se trata de um rol preferencial. No
entanto, é perfeitamente possível que o juiz indique
qualquer dessas pessoas (em qualquer ordem) justificando
fundamentadamente o porquê da escolha. Essa é a posição do
STJ, o qual o fez emprestado da doutrina de Maria Helena
Diniz.
Art. 990. O juiz nomeará inventariante:
I - o cônjuge (OU COMPANHEIRO RESP 520/CE) sobrevivente casado sob o
regime de comunhão, desde que estivesse convivendo com o outro ao
tempo da morte deste;
OBS: se estiver casado sob o regime separatório ou se
estiver separado de fato não será inventariante. O separado
de fato não há duvida de não se poder o mesmo ser
inventariante. Só que o fato de se estar casado sob o
regime de separação tal proibição não faz sentido, porque o
cônjuge sobrevivente é herdeiro e assim tem interesse no
inventário, podendo, então, ser inventariante.
II - o herdeiro que se achar na posse e administração do espólio, se
não houver cônjuge supérstite ou este não puder ser nomeado;
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 177
III - qualquer herdeiro, nenhum estando na posse e administração do
espólio;
IV - o testamenteiro, se lhe foi confiada a administração do espólio
ou toda a herança estiver distribuída em legados;
V - o inventariante judicial, se houver;
OBS: o inventariante judicial é um funcionário da
administração pública.
VI - pessoa estranha idônea, onde não houver inventariante judicial.
Parágrafo único. O inventariante, intimado da nomeação, prestará,
dentro de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente desempenhar
o cargo.
O inventariante não é nenhum herdeiro especial. Ele não
passa a ter nenhum privilégio por se tornar inventariante e
se responsabilizar pelo inventário. A função de
inventariante não é remunerada.
Testamenteiro: este sim irá receber alguma remuneração se
não for herdeiro nem legatário. E se essa remuneração não
for fixada pelo testamenteiro será fixada pelo juiz no
valor de 1 a 5% da herança (chamada de prêmio ou vintena).
O inventariante dativo não recebe nada segundo a letra da
lei. No entanto isso não é justo, porque deveria ser
remunerado assim como se remunera o testamenteiro.
Atribuições do inventariante:
O inventariante assume dois tipos de atribuições: as do
art. 991 ele pode cumprir independentemente de autorização
judicial (atribuições comuns) e as do art. 992 ele apenas
pode cumpri-las se expressamente autorizado pelo juiz
(atribuições especiais).
Art. 991. Incumbe ao inventariante:
I - representar o espólio (PARA QUESTÕES DE ORDEM PATRIMONIAL APENAS)
ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, observando-se, quanto ao
dativo, o disposto no art. 12, § 1o;
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 178
II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência
como se seus fossem;
III - prestar as primeiras e últimas declarações pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais;
IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os
documentos relativos ao espólio; (EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS QUE ESTEJAM
COM ELE)
V - juntar aos autos certidão do testamento, se houver;
VI - trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente,
renunciante ou excluído; (COLACIONAR BENS)
VII - prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o
juiz lhe determinar;
VIII - requerer a declaração de insolvência (art. 748). (QUANDO O
ESPÓLIO FOR INSOLVENTE)
Todas essas oito atribuições podem ser feitas de ofício
pelo inventariante.
Art. 992. Incumbe ainda ao inventariante, ouvidos os interessados e
com autorização do juiz:
I - alienar bens de qualquer espécie; (BENS MÓVEIS OU IMÓVEIS)
II - transigir em juízo ou fora dele; (TRANSAÇÃO)
III - pagar dívidas do espólio; (PAGAMENTO DE DÍVIDAS)
IV - fazer as despesas necessárias com a conservação e o melhoramento
dos bens do espólio.
O inventariante só pode praticar uma dessas condutas acima
se autorizado pelo juiz e ouvidos os interessados, SOB PENA
DE NULIDADE. É a posição do STJ. Ainda, dependendo do ato,
o inventariante que praticar uma das condutas cima sem
autorização judicial, não se exime de suas
responsabilidades civis e penais.
Normalmente ocorre, entretanto, desídia por parte do
inventariante.
Assim, é importante saber a diferença entre remoção e
destituição do inventariante. Ambas são decisões judiciais
que afastam o inventariante. Só que a remoção é punição
(toda remoção tem caráter punitivo) e destituição é a
incompatibilidade com o cargo.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 179
A remoção e a destituição são medidas judiciais submetidas
ao devido processo legal, frise-se.
A remoção ocorre quando o inventariante comete alguma
falta, deixa de aplicar as atribuições que lhe são impostas
por lei. E como tudo que tem natureza punitiva, a remoção
do inventariante deve ser precedida de contraditório,
através da formação de um processo em apenso (art. 995). O
juiz deve ouvir o inventariante no prazo de 5 dias,
determinar a realização das provas que entender necessárias
e depois decidir o caso. E dessa decisão cabe agravo.
A remoção não prejudica eventual responsabilidade civil ou
penal. Só que a remoção não faz com que ele perca o direito
que possui de adquirir bens, ele não perde o direito sobre
os bens, não deixa a qualidade de herdeiro (se o for, é
claro).
Isso porque a perda do direito sobre os bens é conseqüência
dos sonegados e não da remoção do inventariante.
A remoção pode ser requerida por qualquer interessado, pelo
MP ou ainda pode ser aplicada de ofício pelo juiz.
Art. 995. O inventariante será removido:
I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras e as últimas
declarações;
II - se não der ao inventário andamento regular, suscitando dúvidas
infundadas ou praticando atos meramente protelatórios;
III - se, por culpa sua, se deteriorarem, forem dilapidados ou
sofrerem dano bens do espólio;
IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, deixar de
cobrar dívidas ativas ou não promover as medidas necessárias para
evitar o perecimento de direitos;
V - se não prestar contas ou as que prestar não forem julgadas boas;
VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio.
Art. 996. Requerida a remoção com fundamento em qualquer dos números
do artigo antecedente, será intimado o inventariante para, no prazo de
5 (cinco) dias, defender-se e produzir provas.
Parágrafo único. O incidente da remoção correrá em apenso aos autos
do inventário.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 180
Art. 997. Decorrido o prazo com a defesa do inventariante ou sem ela,
o juiz decidirá. Se remover o inventariante, nomeará outro, observada
a ordem estabelecida no art. 990.
Apenas na hipótese de sonegados, é que o inventariante que
pratica alguma dessas condutas possa ser privado da
herança.
Já a destituição é a incompatibilidade com o exercício do
cargo (ex: se o inventariante foi preso, se ele se tornou
incapaz, se ele se mudou para outro lugar). E como a
destituição não tem caráter punitivo, não exige o
procedimento em apartado, podendo ocorrer dentro do próprio
procedimento de inventário. E o próprio juiz, de oficio,
pode determinar a destituição.
Ambos os inventariantes, o removido e o destituído, devem
devolver todos os bens do espólio que estejam em sua posse
– art. 998, CPC
Art. 998. O inventariante removido entregará imediatamente ao
substituto os bens do espólio; deixando de fazê-lo, será compelido
mediante mandado de busca e apreensão, ou de emissão na posse,
conforme se tratar de bem móvel ou imóvel.
OBS: contra a decisão que remove ou destitui cabe o recurso
de agravo, assim como a decisão que o nomeia.
O incapaz não pode ser inventariante justamente porque as
conseqüências não poderiam ser aplicadas a ele, ou seja, o
incapaz não pode assumir as responsabilidades do
inventariante. Essa é a posição do STJ, no RESP 658.831/RS,
Rel. Min. Nancy Andrighi.
Quando se tratar de inventários conjuntos o inventariante
deve ser o mesmo para ambos. O inventário conjunto ocorre
quando um dos interessados vem a falecer após aberto o
primeiro inventário (ex: a esposa morre, abre-se o
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 181
inventário e logo depois o marido morre e outro inventário
é aberto). O inventariante deve ser comum para que o
procedimento seja mais célere.
Maria Berenice Dias defende a possibilidade do viado como
inventariante. Isso, por óbvio, na relação entre dois
kanalenses.
Pessoa jurídica não pode ser inventariante, malgrado possa
ser herdeira ou legatária.
Procedimento sintetizado do inventário:
1. Petição inicial – basta indicar o óbito e o valor da
causa, além de comprovar a morte.
2. Despacho para a nomeação do inventariante
3. Primeiras declarações – o inventariante vai prestar as
primeiras declarações no prazo de 20 dias (art. 993, CPC).
As primeiras declarações constituem o momento em que o
inventariante apresenta uma espécie de balanço patrimonial,
uma espécie de quadro geral sucessório (informações sobre o
patrimônio ativo e passivo – atribui valores ao patrimônio,
e relaciona os interessados).
4. Citações – art. 999, CPC
Art. 999. Feitas as primeiras declarações, o juiz mandará citar, para
os termos do inventário e partilha, o cônjuge, os herdeiros, os
legatários, a Fazenda Pública, o Ministério Público, se houver
herdeiro incapaz ou ausente, e o testamenteiro, se o finado deixou
testamento.(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
OBS: O MP NÃO SERÁ CITADO, MAS SIM INTIMADO! Além disso, o
MP será intimado apenas se houver interesse de incapaz ou
declarações de última vontade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 182
§ 1o Citar-se-ão, conforme o disposto nos arts. 224 a 230, somente as
pessoas domiciliadas na comarca por onde corre o inventário ou que aí
foram encontradas; e por edital, com o prazo de 20 (vinte) a 60
(sessenta) dias, todas as demais, residentes, assim no Brasil como no
estrangeiro.(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
Vicente Greco Filho sustenta a inconstitucionalidade desse
§ 1º, pois, pelo devido processo legal, o interessado que
não more na comarca também deve ser citado. Além disso, é
imprescindível que a citação seja feita pessoalmente e que
seja por edital apenas se não localizado o interessado.
Alexandre Freitas Câmara, no entanto, entende que esse
dispositivo está harmônico com a razoável duração ao
processo.
§ 2o Das primeiras declarações extrair-se-ão tantas cópias quantas
forem as partes.(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
§ 3o O oficial de justiça, ao proceder à citação, entregará um exemplar
a cada parte. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
§ 4o Incumbe ao escrivão remeter cópias à Fazenda Pública, ao
Ministério Público, ao testamenteiro, se houver, e ao advogado, se a
parte já estiver representada nos autos. (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
5. Impugnações: prazo de 10 dias – art. 1.000 do CPC.
Essas impugnações têm verdadeiro caráter de contestação,
podendo ser apresentadas matérias de mérito.
Da decisão que acolher ou rejeitar a impugnação cabe
agravo.
Art. 1.000. Concluídas as citações, abrir-se-á vista às partes, em
cartório e pelo prazo comum de 10 (dez) dias, para dizerem sobre as
primeiras declarações. Cabe à parte:
I - argüir erros e omissões;
II - reclamar contra a nomeação do inventariante;
III - contestar a qualidade de quem foi incluído no título de
herdeiro.
Parágrafo único. Julgando procedente a impugnação referida no n.º I,
o juiz mandará retificar as primeiras declarações. Se acolher o
pedido, de que trata o n.º II, nomeará outro inventariante, observada
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 183
a preferência legal. Verificando que a disputa sobre a qualidade de
herdeiro, a que alude o n.º III, constitui matéria de alta indagação,
remeterá a parte para os meios ordinários e sobrestará, até o
julgamento da ação, na entrega do quinhão que na partilha couber ao
herdeiro admitido.
Havendo impugnação, o juiz determinará a produção de provas
para, então, passar ao julgamento. O juiz poderá suspender
o procedimento de inventário pelo prazo máximo de trinta
dias, para que seja promovida a ação nas vias ordinárias.
6. Fase das avaliações:
Essa fase de avaliações pode ser dispensada quando todos os
herdeiros são maiores e capazes e não há conflito na
divisão dos bens, ou seja, se os valores apresentados nas
primeiras avaliações não forem impugnados pelos
interessados.
Também é dispensada a avaliação se a Fazenda impugnou e
nenhum dos herdeiros se contrapôs a essa impugnação.
Haverá a fase de avaliações, obrigatoriamente, se houver
interesse de incapaz ou conflito entre os interessados –
nesses dois casos a avaliação será judicial.
A avaliação obedecerá as regras dos arts. 681 a 683 do CPC
(mesmas regras do processo de execução e não de acordo com
as normas relativas à prova pericial).
Apresentado o laudo avaliatório as partes poderão impugná-
lo no prazo de 10 dias.
Ainda, será dispensada a avaliação quando os herdeiros
instituírem um condomínio sobre todo o espólio, com a
anuência da Fazenda Pública.
7. Recolhimento de impostos e pagamento dos credores:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 184
O credor aqui escolhe se ele quer cobrar dentro do
inventário ou pelas vias ordinárias.
Para o professor o melhor seria o credor optar pelas vias
ordinárias, porque no inventário já há muitas
possibilidades de impugnações, além de ser mais rápido
através de uma outra ação ordinária, com possibilidade de
uma medida cautelar inominada.
Se nenhum dos herdeiros impugnar, o juiz manda pagar as
dívidas. Mas se houver impugnação o juiz deve remeter para
as vias ordinárias (é o que diz o art. 1.018 do CPC).
Art. 1.018. Não havendo concordância de todas as partes sobre o pedido
de pagamento feito pelo credor, será ele remetido para os meios
ordinários.
Só tem um credor que não pode cobrar o crédito dentro do
inventario: a Fazenda Pública. Esta só pode cobrar sua
dívida através da execução fiscal.
O imposto aqui referido e que deve ser recolhido é de
competência estadual.
Regras relativas à tributação e pagamento dos credores
– súmulas importantes:
SÚMULA n. 112 – (SJP de 13.12.1963)
O imposto de transmissão causa mortis é devido pela alíquota vigente
ao tempo da abertura da sucessão.
(dessa forma, modificações supervenientes na alíquota são
irrelevantes).
SÚMULA n. 331 – (SJP de 13.12.1963)
É legítima a incidência do imposto de transmissão causa mortis no
inventário por morte presumida.
SÚMULA n. 590 – (DJU de 3.1.1977)
Calcula-se o imposto de transmissão causa mortis sobre o saldo credor
da promessa de compra e venda de imóvel, no momento da abertura da
sucessão do promitente-vendedor.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 185
Súmula 115 do STF:
SÚMULA n. 115 – (SJP de 13.12.1963)
Sobre os honorários do advogado contratado pelo inventariante, com a
homologação do Juiz, não incide o imposto de transmissão causa mortis.
Súm. 114 do STF:
SÚMULA n. 114 – (SJP de 13.12.1963)
O imposto de transmissão causa mortis não é exigível antes da
homologação do cálculo.
8. Últimas declarações:
É momento em que o inventariante diz se esqueceu ou não
alguma coisa. É aqui que se encerra o prazo para a colação
de bens pelo inventariante.
Colacionar é apresentar no juízo a relação de bens doados
em antecipação de herança, para igualar as legítimas.
OBS: O STJ vem entendendo que toda doação de pai para filho
só será possível se o pai indicar expressamente que o bem
está saindo da cota parte que seria do filho.
Para os demais herdeiros o prazo final para a colação dos
bens é o prazo da impugnação.
E se os herdeiros não colacionarem nas últimas declarações
e nem na impugnação, fica caracterizado o que se chama de
sonegados – que são os bens ocultos. E cabe ao sonegado
promover a ação de sonegação pretendendo a condenação do
sonegador. A ação de sonegação pode ser promovida no prazo
de 10 anos pelos interessados, Fazenda Pública ou pelo
Ministério Público. A sanção da ação de sonegação é a perda
do direito sobre aquele bem objeto da sonegação. Se o bem
não mais existe o interessado deve colacionar o seu valor,
que será o vigente na data da abertura da sucessão.
Outro ponto que deve ser mencionado diz respeito aos bens
que devem ser conferidos na partilha. Pelo art. 1.014,
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 186
parágrafo único do CPC, serão calculados pelo valor que
tiverem ao tempo da abertura da sucessão.
Art. 1.014. No prazo estabelecido no art. 1.000, o herdeiro obrigado
à colação conferirá por termo nos autos os bens que recebeu ou, se já
os não possuir, trar-lhes-á o valor.
Parágrafo único. Os bens que devem ser conferidos na partilha, assim
como as acessões e benfeitorias que o donatário fez, calcular-se-ão
pelo valor que tiverem ao tempo da abertura da sucessão.
De outra banda, o § 1.º do art. 2.004 do NCC diz que o
valor será calculado com base no tempo da liberalidade, no
caso a doação.
Art. 2.004. O valor de colação dos bens doados será aquele, certo ou
estimativo, que lhes atribuir o ato de liberalidade.
§ 1o Se do ato de doação não constar valor certo, nem houver estimação
feita naquela época, os bens serão conferidos na partilha pelo que
então se calcular valessem ao tempo da liberalidade.
§ 2o Só o valor dos bens doados entrará em colação; não assim o das
benfeitorias acrescidas, as quais pertencerão ao herdeiro donatário,
correndo também à conta deste os rendimentos ou lucros, assim como os
danos e perdas que eles sofrerem.
O enunciado 119 das Jornadas de Direito Civil afirma que
não há conflito entre esses dispositivos.
- a colação será feita com base no valor que os bens
possuíam na época da doação, caso o bem doado não mais
pertença do patrimônio.
- a colação será feita com base no valor da época da
abertura da sucessão, caso o bem doado ainda integre o
patrimônio.
Com isso, houve uma harmonização entre os dispositivos,
para evitar o enriquecimento sem causa.
119 – Art. 2.004: para evitar o enriquecimento sem causa, a colação
será efetuada com base no valor da época da doação, nos termos do
caput do art. 2.004, exclusivamente na hipótese em que o bem doado não
mais pertença ao patrimônio do donatário. Se, ao contrário, o bem
ainda integrar seu patrimônio, a colação se fará com base no valor do
bem na época da abertura da sucessão, nos termos do art. 1.014 do CPC,
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 187
de modo a preservar a quantia que efetivamente integrará a legítima
quando esta se constituiu, ou seja, na data do óbito (resultado da
interpretação sistemática do art. 2.004 e seus parágrafos, juntamente
com os arts. 1.832 e 884 do Código Civil).
9. Partilha:
A partilha pode ser de duas espécies: amigável ou judicial.
A partilha será amigável quando todos forem maiores,
capazes e não houver conflito entre eles. Ela pode ser pos
mortem ou inter vivos – art. 2.018 do CC (é exceção à regra
de proibição de contratação que tenha por objeto herança de
pessoa viva). A decisão judicial aqui será meramente
homologatória.
A partilha será judicial se houver interesse de incapaz ou
conflito entre os interessados. Se a partilha for judicial
não será cabível a ação rescisória, mas sim a anulatória.
Sobrepartilha e emenda da partilha :
Emenda da partilha: para corrigir erros materiais ou
inexatidões, não possuindo prazo.
Sobrepartilha: procedimento para realizar uma nova
partilha, para incluir um bem que não foi incluído na
partilha (ex: bem sonegado). Os mesmos interessados na
partilha são os interessados na sobrepartilha.
Inventário negativo:
Expressão criada pela jurisprudência e pela doutrina (não
está na lei) para designar o fenômeno de um inventário que
serve tão somente para declarar a inexistência de bens. Uma
pessoa morreu sem bens a partilhar; que a pessoa não deixou
nada. A pessoa morreu e não operou a saisine, não houve
transmissão de patrimônio.
E qual seria a finalidade dessa ação já que a pessoa não
deixou nada a ser partilhado?
O que poderia justificar seria o fato do herdeiro
necessitar de uma declaração de que não houve bens deixados
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 188
pelo morto, por exemplo. Mas na verdade não teria uma
finalidade concreta. Assim, a finalidade do inventário
negativo estaria no art. 1.523 do CC (causas suspensivas
matrimoniais) – não houve a partilha dos bens porque não
tinha bens a serem partilhados, e aí seria possível casar
de novo, mas apenas no regime da separação total de bens. É
aí que se encontra pelo visto a importância do inventário
negativo, que com a declaração de que não havia bens a
partilhar não haverá a incidência da causa suspensiva para
a realização do novo casamento.
No entanto, necessário observar o § único do art. 1.523 do
CC – que acabaria totalmente com a importância deste
inventário negativo, uma vez que a prova da inexistência do
prejuízo pode ser feita dentro da habilitação para o
casamento e, assim, não haveria interesse de agir na
propositura do inventário negativo. A habilitação para o
casamento é um procedimento administrativo e, por isso,
muito mais simples.
Eis o que diz o CC:
Art. 1.523. Não devem casar:
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto
não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter
sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugal;
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a
partilha dos bens do casal;
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos,
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto
não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as
respectivas contas.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não
lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I,
III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo,
respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa
tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar
nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do
prazo.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 189
Dessa forma, percebe-se que o inventário negativo não se
faz mais necessário – só que essa é a posição minoritária
(posição que o professor defende).
O que prevalece é que o inventário negativo se faz
necessário quando a parte quer comprovar que não houve bens
a partilhar. E reforça tal entendimento o que dispõe o art.
28 da Resolução do CNJ reconhecendo a utilidade do
inventário negativo.
Apesar de ser o que predomina, o professor continua a não
visualizar a utilidade prática desse inventário.
Aula 10 27/05/2009
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
É a sucessão baseada na vontade do auto da herança,
diferentemente da sucessão legítima, a qual se opera por
força de lei.
Apesar de volumosa, a sucessão testamentária é de raríssima
incidência, uma vez que no Brasil não há cultura
testamentária. Assim, unindo razões de ordem econômica,
social, religiosa e jurídica temos a sucessão testamentária
como rara no Brasil. Além disso, a sucessão legítima foi
muito bem organizada no ordenamento jurídico brasileiro, o
que, indubitavelmente deixa a sucessão testamentária em
segundo plano.
Sucessão testamentária é, pois, aquela que se baseia no
testamento. Para o CC/16 o testamento era o negócio
jurídico pelo qual se dispunha de patrimônio para depois da
morte.
Não é tarefa do legislador dar conceitos. O encargo de
conceituar é da doutrina e jurisprudência.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 190
Orlando Gomes e Caio Mário criticavam o CC/16 por ter feito
um conceito incompleto. O testamento não é apenas o negócio
jurídico pelo qual se dispõe de patrimônio para depois da
morte. Também é possível, pelo testamento, fazer
declarações de outras vontades.
É o que se preceitua o art. 1.857 do NCC:
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da
totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
No conceito de testamento temos fundamentalmente a idéia de
negócio jurídico pelo qual se transmite patrimônio para
depois da morte, podendo conter outras disposições de
vontade.. O objeto do testamento não pode ser restrito à
idéia de transmissão de patrimônio para depois da morte.
Temos outras declarações de vontade tais como:
reconhecimento de filho, deserdação, nomeação de tutor.
Podemos, assim, ter diversas disposições de vontade
contidas no testamento.
As demais declarações de vontade de conteúdo não material
são compreendidas de forma autônoma e independente. Ou
seja, sendo compreendidas, assim, a eventual invalidade,
caducidade ou revogação das disposições patrimoniais não
afetará as demais declarações de vontade. Se eventualmente
um testamento também reconhece uma filiação, mesmo que
anulado o testamento a causa de reconhecimento de filho se
manterá.
Teremos assim a autonomia das disposições testamentárias em
relação às disposições de ordem patrimonial (deixa ou
cláusula patrimonial).
O objeto do testamento é largo, amplo espectro objetivo
(conteúdo patrimonial + disposição de vontade).
É o que preceitua o art. 1.910:
Art. 1.910. A ineficácia de uma disposição testamentária importa a das
outras que, sem aquela, não teriam sido determinadas pelo testador.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 191
Natureza negocial do testamento: é um negócio jurídico.
Dizer que é negócio jurídico é dizer que está fundado na
vontade. O mais importante elemento do testamento é o
elemento volitivo, a vontade.
O testamento deve ao máximo, naquilo que for possível,
merecer uma interpretação respeitando a vontade do
testador. Prestigia-se a vontade do testador.
Características do testamento:
a) personalíssimo, intuitu personae: só quem pode celebrá-
lo é o titular do patrimônio.
São nulas as clausulas de testamento conjuntivo (viola o
caráter personalíssimo do testamento). É o que reza o art.
1.863 do NCC:
Art. 1.863. É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo,
recíproco ou correspectivo.
O testamento conjuntivo pode ser recíproco, simultâneo ou
correspectivo.
- simultâneo: duas pessoas que fazem o testamento em
conjunto.
- recíproco: é aquele com concessões mútuas, onde duas
pessoas condenem o patrimônio mutuamente.
- correspectivo: é o testamento em retribuição a outro
anterior.
b) unilateral: o testamento se aperfeiçoa com uma única
manifestação de vontade. Mesmo quando se trata de
testamento com encargo, mesmo assim continua unilateral.
c) solene: o testamento deve obrigatoriamente cumprir as
formalidades previstas em lei. mas há uma exceção, que é o
caso do testamento militar nucumpativo, que é aquele que
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 192
foi formalizado durante a guerra, por alguém ferido. É o
único testamento verbal em nosso ordenamento jurídico.
Como negócio tão solene, curiosamente, pode ser feito pelo
menor entre 16 e 18 anos. Assim, a capacidade testamentária
é atingida aos 16 anos.
d) gratuito: somente gera vontade patrimonial para o
beneficiário (chamado de sucessor) do testamento que pode
ser herdeiro ou legatário.
Legado: bem certo e determinado deixado para pessoa certa e
determinada.
Herança: quinhão (cota) deixado, percentual, quota parte do
todo.
Quem tem herdeiros necessários somente pode dispor de
metade do patrimônio. Respeita-se a legítima. Ou seja,
dispor no limite da legítima (50% do patrimônio líquido na
data da abertura da sucessão)
São herdeiro necessários (art. 1845)
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes
e o cônjuge.
Numa interpretação constitucional deve ser acrescido o
companheiro como herdeiro necessário.
A legítima deve ser calculada na abertura da sucessão e
limita todos os atos gratuitos da sucessão.
Obs.: A doação (ato gratuito em vida) também deve respeitar
a legítima.
Toda e qualquer pessoa que tenha herdeiro necessário
somente pode dispor gratuitamente de metade de seu
patrimônio calculado no momento da abertura da sucessão.
É preciso que a pessoa mantenha o patrimônio no limite da
legítima até a data de abertura da sucessão, sob pena de
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 193
revogação e restituição da propriedade doado. É caso típico
de propriedade resolúvel superveniente.
Excedendo a legítima rompesse o excesso e restitui-se o bem
doado para resguardar a legítima. Somem todos os atos
gratuitos.
O 3º que recebeu a doação vai ter até o momento da morte do
doador para torcer pela sovibilidade do doador até a morte,
sob o risco da propriedade se tornar resolúvel, ser rompida
e voltar o patrimônio para a família.
e) revogável: em face de sua natureza negocial pode ser
revogável a qualquer tempo, por ato de vontade do titular.
São nulas de pleno direito as cláusulas derrogativas ou
derrogatória. São as cláusulas que tiram do testador o
direito de revogar o testamento. Cláusula “este testamento
é irrevogável”.
f) mortis causae: somente produz efeitos depois da morte do
titular. Razão pela qual é um negocio mortis causae com
projeção de efeitos após a morte de seu titular.
Proibição do pacto sucessório:
Art. 426 do CC
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Vedação ao pacta corvina. Não se permite nenhum tipo de
negócio jurídico que tenha por objeto a herança de pessoa
viva. Não é tolerado pelo ordenamento jurídico este tipo de
contrato.
A proteção do pacta corvina vem ao encontro a
característica mortis causa do testamento.
Uma única exceção à vedação ao pacto sucessório está no
art. 2018 do CC.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 194
Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre
vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos
herdeiros necessários.
O art. 2018 permite a partilha em vida, quando todos os
herdeiros forem maiores e capazes e não houver conflito
sobre a partilha dos bens.
A partilha em vida exige homologação judicial depois da
abertura da sucessão.
Hoje é possível realizar a escritura pública da partilha em
vida depois de aberta a sucessão.
Indignidade e deserdação
São formas de sanção.
Obs: Quando o herdeiro é declarado indigno ou deserdado
alguém recebe em seu lugar como se morto fosse.
Todavia se há renúncia a herança. Não há como o sucessor do
renunciante de receber a herança. Enquanto seu pai estiver
vivo não tem direito a herança nenhuma, assim, o sucessor
do renunciante, enquanto este estiver vivo nada pode
reclamar.
O herdeiro do renunciante somente pode reclamar se todos do
mesmo grau renunciam. Neste caso serão chamados por direito
próprio e não por representação.
Pressupostos da sucessão testamentária:
a) atendimento das formalidades legais (as solenidades têm
que ser cumpridas).
A violação de solenidade implica em nulidade do testamento.
b) observância dos limites impostos pela legítima:
A legítima é a metade do patrimônio líquido do titular que
tenha herdeiros necessários. Indubitavelmente, o
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 195
companheiro se insere no rol dos herdeiros necessários. Mas
tal só deve ser elencado em provas subjetivas, pois na
letra fria do NCC são herdeiros necessários apenas o
ascendente, descendente e cônjuge.
Se a legítima não for respeitada, haverá a redução do
excesso, ou seja, o testamento tem validade e eficácia, mas
dentro dos limites impostos pela legítima.
Qual o momento em que se calcula a legítima?
Art. 1.014. No prazo estabelecido no art. 1.000, o herdeiro obrigado
à colação conferirá por termo nos autos os bens que recebeu ou, se já
os não possuir, trar-lhes-á o valor.
Parágrafo único. Os bens que devem ser conferidos na partilha, assim
como as acessões e benfeitorias que o donatário fez, calcular-se-ão
pelo valor que tiverem ao tempo da abertura da sucessão.
Pelo art. 1.014 do CPC, a legítima é calculada pelo valor
que os bens tiverem ao tempo da abertura da sucessão.
Mas o art. 2.004 do NCC adotou outro critério para o
momento do cálculo da legítima:
Art. 2.004. O valor de colação dos bens doados será aquele, certo ou
estimativo, que lhes atribuir o ato de liberalidade.
§ 1o Se do ato de doação não constar valor certo, nem houver estimação
feita naquela época, os bens serão conferidos na partilha pelo que
então se calcular valessem ao tempo da liberalidade.
§ 2o Só o valor dos bens doados entrará em colação; não assim o das
benfeitorias acrescidas, as quais pertencerão ao herdeiro donatário,
correndo também à conta deste os rendimentos ou lucros, assim como os
danos e perdas que eles sofrerem.
Assim, pelo NCC, a legítima é calculada pelo valor dos bens
ao tempo da liberalidade. Haveria, em primeiro momento, uma
contradição entre o NCC e o CPC.
Mas não há qualquer conflito entre esses dispositivos.
Muito pelo contrário, são harmônicos. É o que reza o
Enunciado 119 da Jornada de Direito Civil:
119 – Art. 2.004: para evitar o enriquecimento sem causa, a colação
será efetuada com base no valor da época da doação, nos termos do
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 196
caput do art. 2.004, exclusivamente na hipótese em que o bem doado não
mais pertença ao patrimônio
do donatário. Se, ao contrário, o bem ainda integrar seu patrimônio, a
colação se fará com base no valor do bem na época da abertura da
sucessão, nos termos do art. 1.014 do CPC, de modo a preservar a
quantia que efetivamente integrará a legítima quando esta se
constituiu, ou seja, na data do óbito (resultado da interpretação
sistemática do art. 2.004 e seus parágrafos, juntamente com os arts.
1.832 e 884 do Código Civil).
OBS: a legítima é calculada sobre todas as liberalidades,
como testamento e doação, por exemplo.
c) pessoa capaz de dispor ou capacidade testamentária ativa
(capacidade testamentária facti):
O testador deve ter capacidade de testar. Não se confunde
com a capacidade jurídica geral , que é atingida aos 18
anos, devendo ser averiguada no momento da elaboração do
testamento.
Além de o testador dever ter mais de 16 anos, deve estar na
plenitude de suas faculdades mentais.
Ainda, a incapacidade superveniente não invalida o
testamento:
Art. 1.861. A incapacidade superveniente do testador não invalida o
testamento, nem o testamento do incapaz se valida com a superveniência
da capacidade.
Tem capacidade testamentária ativa: as pessoas maiores de
16 anos (independente de assistência), além daqueles que
estão no pleno gozo das faculdades mentais. Exceção à
teoria da incapacidade. O testamento do menor pode ser
feito na forma pública (escritura pública) ou particular
(testamento particular)
d) capacidade de receber (capacidade testamentária
passiva):
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 197
É averiguada e analisada no momento da abertura da
sucessão, no momento da morte.
Podem receber por testamento: art. 1798 até o 1801.
Regra geral, podem receber por testamento todas as pessoas
nascidas ou concebidas no momento da abertura da sucessão.
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já
concebidas no momento da abertura da sucessão.
Nascido é quem nasceu com vida
Concebido = nascituro. Tem que ser concebido no momento da
morte.
Concluindo, quem pode receber por testamento não deve ter
obrigatoriamente a capacidade jurídica, inclusive pessoa
jurídica pode ser beneficiária de testamento.
Só não podem ser beneficiárias de testamento aqueles
impedidos por lei.
A capacidade passiva é calculada na data da abertura da
sucessão, sendo irrelevantes as modificações posteriores.
Também possuem capacidade testamentária passiva:
1- Os filhos não concebidos de pessoas indicadas pelo
testador desde que vivas ao se abrir a sucessão. É a prole
eventual.
O prazo da prole eventual é de 02 anos para esta ser
concebida (art. 1800, §4º),contados da abertura da
sucessão.
Nesse prazo é possível também a adoção, em face da
igualdade trazida pela Constituição aos filhos. Único
problema é se o testador limitar apenas a prole biológica
ou limitar apenas ao João da Silva ou apenas ao seu próprio
embrião congelado, sob pena de caducar essa cláusula.
O testamento pode ser deixado para o filho que alguém terá,
mas os pais devem estar vivos na data da abertura da
sucessão. É o que reza o art. 1.799,I.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 198
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a
suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo
testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; (Concepção por
adoção ou normal) (Chamada de prole eventual)
II - as pessoas jurídicas; (Já existentes ou ainda a existir, se o
testador as colocar na forma de Fundação)
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo
testador sob a forma de fundação.
2- Pessoa jurídica a ser constituída com o patrimônio
transmitido: é a fundação.
3- Pessoas jurídicas já existentes.
Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da
herança serão confiados, após a liquidação ou partilha, a curador
nomeado pelo juiz.
§ 1o Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à
pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro, e,
sucessivamente, às pessoas indicadas no art. 1.775.
§ 2o Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado,
regem-se pelas disposições concernentes à curatela dos incapazes, no
que couber.
§ 3o Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a
sucessão, com os frutos e rendimentos relativos à deixa, a partir da
morte do testador.
§ 4o Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for
concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em
contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos.
Enquanto a prole eventual não for concebida os bens da
herança serão destacados e lhes serão nomeados curador.
Não possuem capacidade testamentária:
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos; (Descendentes podem)
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 199
Quem escreveu o testamento não pode recebê-lo. Isso ocorre
normalmente no caso de analfabetos ou cegos.
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua
(culpa do gato véi), estiver separado de fato do cônjuge há mais de
cinco anos; (Proteção a Monogamia e ao Testamento).
O Professor discorda dessa proibição, por ser irrazoável.
Proíbe-se ao concubino receber por testamentos. É o caso
concubinato puro. A pessoa casada não pode deixar
testamento para o(a) amante. Pode dispor para um estranho
por testamento, mas não pode dispor para o(a) amante.
Assim, é nula a deixa em favor do amante.
Prova aberta Esse dispositivo esqueceu que o próprio
NCC, no art. 1.723, §1º estabeleceu que a simples separação
de fato independente de prazo e culpa já é capaz de formar
a união estável. A relação duradoura com os requisitos de
lei já satisfaz às condições para haver união estável,
mesmo sem prazo e independente de culpa.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre
o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do
art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a
pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.
Prova objetiva Somente é possível deixar testamento para
a concubina se separado há mais de 05 anos e não houver
culpa (redação pura da lei).
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão,
perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
A autoridade pública perante quem se fez o testamento está
proibida de receber por testamento.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 200
São nulas as disposições testamentárias em favor das
pessoas que não possuem capacidade.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de
pessoas não legitimadas a suceder (trata-se do laranja, testa de
ferro. Não se pode fazer o testamento para o gato véi, mas a deixa é
para o irmão do gato), ainda quando simuladas sob a forma de contrato
oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os
descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a
suceder.
A nulidade de uma disposição não acaba com o testamento,
apenas se isola a invalidade e faz a redução do testamento.
O art. 1803 traz uma disposição inútil. O testador pode
deixar para o filho dele no limite da legítima.
Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o
for do testador.
Espécies de testamento e suas formalidades:
São dois campos de espécies testamentária.
1) Comuns ou ordinários: é aquele que foi celebrado em
condições e circunstâncias normais. Sem qualquer
circunstancia de comprometimento de vontade.
Os testamentos públicos podem ser:
a) Público: é um testamento celebrado de viva voz, na
presença de uma autoridade notarial. É o testamento
celebrado de forma aberta. O testador dita de viva voz
perante a autoridade com função notarial (cônsules fora do
Brasil ou tabeliães no Brasil). A pessoa não pode ser
surda-muda.
É a única modalidade permitida ao cego e ao analfabeto.
Nesse caso, é celebrado na presença de 02 testemunhas.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 201
Atendendo à regra do art. 13 da Constituição, deve ser
redigido em língua portuguesa (vernáculo).
Seu conteúdo é aberto, qualquer pessoa tem acesso ao
conteúdo deste testamento, podendo extrair uma certidão.
O interessado comparece ao cartório e na presença de 02
testemunhas dita sua vontade, depois lê e depois todos
assinam. Se for analfabeto ou cego, mais uma pessoa deve
estar presente, além das 02 testemunhas, para que possa
assinar a rogo.
É nulo o testamento público quando celebrado por perguntas
e respostas feitas pela autoridade, pois nesse caso haverá
uma violação da natureza personalíssima do ato.
Característica eloqüente: o fato de ser aberto, de conteúdo
público.
b) Cerrado: tem como grande característica o segredo, razão
pela qual é chamado de testamento sigiloso. O conteúdo do
testamento cerrado fica resguardado, fechado a um momento
posterior. Somente tem noção e conhecimento do conteúdo o
próprio testador.
O surdo-mudo que souber ler pode fazer o testamento
cerrado.
O próprio testador elabora e apenas entrega à autoridade
pública para guardá-lo. As 02 testemunhas apenas
testemunharão a entrega do testamento (testemunhas
presenciais ou instrumentárias), pois o conteúdo é fechado.
A autoridade irá lacrar, cozer o testamento cerrado e
somente quem irá abri-lo é o juiz da Vara de Sucessões
depois da morte do testador.
A grande marca deste testamento é o sigilo, ou seja, apenas
quem sabe o seu conteúdo é o próprio testador.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 202
Pode inclusive ser feito em língua estrangeira. Nesse caso,
depois da morte terá que passar pelo testador juramentado,
salvo se for feito em uma das línguas do MERCOSUL, tendo em
vista que documento feito em língua oriunda do MERCOSUL não
necessita de tradutor juramentado.
O dilaceramento (abertura antes do tempo) do testamento
cerrado gera sua caducidade, pois há o esvaziamento de seu
conteúdo, ou seja, há a perda do segredo.
OBS: Se o dilaceramento (abertura indevida) ocorreu depois
do óbito, mas antes da decisão judicial, nesse caso para o
Professor ocorre mera irregularidade, não há caducidade.
Assim, como o testador já morreu não tem como elaborar
outro testamento, a caducidade seria desrespeitar a vontade
do testador.
OBS: O NCC resguardou uma possibilidade na qual uma pessoa,
além do testador, terá acesso ao conteúdo do testamento
cerrado. Hipótese do testador saber ler, mas não pode ou
não sabe escrever (tem as mãos ou braços quebrados). Nesse
caso, alguém redige por ele, a rogo dele, a testemunha
presencia a entrega e o Tabelião pergunta se este é o
testamento seu, mesmo que feito a rogo, a partir do momento
da confirmação este testamento é válido.
Art. 1.872. Não pode dispor de seus bens em testamento cerrado quem
não saiba ou não possa ler.
É a única hipótese em que outra pessoa que não o testador
tem acesso ao conteúdo do testamento cerrado.
c) Particular: tem forma livre e exige uma testemunha a
mais. São 03 testemunhas. Pode ser redigido de forma livre
(manual ou digital). O que se redigiu será lido na presença
de 03 testemunhas.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 203
Como é elaborado pelo próprio titular, de próprio punho ou
mecanicamente, é chamado de hológrafo.
A sua grande característica, portanto, é a informalidade.
Pode ser feito em língua estrangeira desde que feito na
presença de três testemunhas que entendam o idioma.
Tendo em vista a sua insegurança, exige o NCC a homologação
judicial depois da morte do testador, para que seja válido
o testamento particular. É preciso, ainda, que as
testemunhas estejam vivas para que haja posteriormente a
homologação judicial.
Exceção: o NCC permitiu a parte elaborar o testamento
particular e indicar no corpo do testamento as razões pelas
quais ninguém pôde presenciá-lo, ou seja, por que razão não
houve testemunhas. Ex: o testador está isolado (no alto de
uma montanha ou em um retiro espiritual ou até mesmo porque
todas as pessoas que o acompanham são incapazes). Nesse
caso, também haverá homologação judicial e o juiz
verificará a veracidade das alegações.
Art. 1.879. Em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o
testamento particular de próprio punho e assinado pelo testador, sem
testemunhas, poderá ser confirmado, a critério do juiz.
2) Especiais: são os testamentos celebrados em situações
excepcionais.
a) Marítimo/Aeronáutico: é feito a bordo de embarcações ou
aeronaves que estejam em viagem. A situação tem que ser
excepcional.
b) Militar: em tempo de Guerra. Militares ou outros
profissionais em disposição das forças armadas (médico,
juízes etc)
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 204
Ambos podem ser feitos na forma pública ou cerrada e
sempre na presença de 02 testemunhas. O Comandante é
chamado para ditar no livro de bordo ou no livro de
ocorrência. O comandante registra e confere validade a ele.
Todo testamento especial reclama homologação judicial
(depois da morte do testador) em face da situação de
excepcionalidade.
Os testamentos especiais trazem consigo uma regra de
caducidade, ou seja, se o testador não morrer durante a
viagem ou durante a Guerra, dispõe do prazo de 90 dias para
ratificar o testamento redigido em uma situação especial.
Não ratificado em 90 dias há a caducidade do testamento
especial.
Exemplo: Pessoa faz o testamento no navio, desembarca do
navio em coma e depois de 01 ano morreu, o testamento não
caducou, pois neste caso a pessoa não tinha capacidade de
ratificar os atos testamentais.
Obs.: O testamento particular pode fazer apenas na presença
de 03 testemunhas e depois leva ao juiz para homologação
judicial, não tem forma especial. É o único que exige três
testemunhas, pois todos os outros exigem apenas duas
testemunhas.
Obs. II: Dispositivo do NCC que não tem correspondente. É o
testamento nuncupativo. Só é admitido para a espécie
militar.
Somente para a pessoa que está na Guerra e ferida de morte.
É o testamento oral, sem formalidade. O militar ferido
chama 02 testemunhas e de viva voz diz o que quer. Depende
sempre de homologação judicial após a morte.
Obs.: Casamento nuncupativo: no leito de morte duas pessoas
resolvem casar.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 205
Obs.: O único testamento que não pode ser feito a rogo é o
testamento particular.
Codicilo:
Pequenas disposições de vontade. O direito brasileiro é um
dos poucos ordenamentos que permitem o codicilo.
O testador pode por meio do codicilo dispor de pequenos
legados, pequenas disposições de vontade. Disposições para
seu funeral ou de pequenos legados de bens de uso pessoal
(jóias e relógios).
Essas disposições de vontade de pequenos legados são feitas
por codicilo que tem forma livre e pode ser elaborado da
forma que bem entender. Independe também do testamento por
ter objeto distinto do testamento.
O testamento é negócio jurídico para dispor de patrimônio
depois da morte.
O codicilo é um ato apenas e tão-somente de disposição para
o funeral ou pequenas declarações de vontade.
É possível um testamento revogar codicilo e vice-versa?
Resposta: com certeza, por terem objetos distintos eles
podem co-exisitir e como também podem se revogar. Num
codicilo posterior a pessoa pode revogar parcialmente um
testamento. Do mesmo modo no testamento posterior a pessoa
pode revogar o codicilo.
O testamento pode revogar o testamento no todo ou em parte,
já o codicilo posterior apenas revogará o testamento em
parte.
Exige-se capacidade ativa para a realização do codicilo, de
mo do que somente pode elaborar o codicilo quem poderia
elaborar o testamento.
O objeto do codicilo são sempre disposições econômicas de
pequeno valor. Estas disposições de pequeno valor variam de
uma pessoa para outra até mesmo pela capacidade
contributiva ou econômica.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 206
Assim, a jurisprudência resolveu o tema da seguinte forma:
o limite para disposição a título de codicilo é fixado pela
jurisprudência em no máximo 10% do valor do patrimônio
líquido. Pois, mais que 10% afeta e modifica o caráter de
pequena disposição. Maior o patrimônio menor o limite do
codicilo a ser analisado no caso concreto pelo juiz.
Havendo disposição de ultima vontade (testamento ou
codicilo) é necessária a presença do MP no inventário.
O MP somente intervém no inventario em 02 casos (art. 999
do CPC).
1- Presença de incapaz
2- Disposição de última vontade
Cláusulas testamentárias ou disposições testamentárias:
São as disposições contidas no testamento de conteúdo
patrimonial. Não merecem a qualificação de cláusulas
testamentárias as disposições de conteúdo não patrimonial,
estas serão cláusulas autônomas no testamento
(reconhecimento de filho e nomeação de tutor).
As disposições testamentárias podem se apresentar:
1- De forma simples: tem eficácia imediata. Ocorre o
óbito e automaticamente produz efeitos.
2- Submetidas a elementos acidentais
a- Sob condição: enquanto não implementada a condição o
titular não adquirirá nenhum direito, no caso claro de
condição suspensiva. E não pode exercer o direito.
Exemplo: deixa-se um benefício se a pessoa passar no
concurso. Enquanto não cumprir a condição não receberá. Se
morrer o testador e a pessoa não tiver passado no concurso
transmitirá para a massa hereditária, herdeiros legítimos.
Os herdeiros recebem para depois transmitir ao beneficiário
quando completada a condição.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 207
O beneficiário sob condição pode se valer de medidas
cautelares para a proteção de seu beneficio, herança ou
legado contra o herdeiro que o está tutelando até o
implemento da condição.
O CC permite além do uso das cautelares a CAUÇÃO MUCIANA.
CAUÇÃO MUCIANDA: É A GARANTIA REAL OU FIDEJUSSÓRIA PRESTADA
PELO INTERESSADO SOB CONDICAO PARA QUE POSSA RECEBER O
BENEFÍCIO. É uma caução idônea para receber desde logo o
beneficio.
b- Sob encargo ou modo. Enquanto não cumprido o encargo
já há a aquisição.
Já recebe a herança ou o legado, caso não cumpra o encargo
gerará a execução do encargo, seja por multa, seja até
mesmo por revogação em face da infidelidade ao encargo.
Cláusulas testamentárias não se submetem a termo jamais,
pois segundo Zeno Veloso termo é evento futuro e certo,
admitir está clausula seria o mesmo que criar uma hipótese
de propriedade resolúvel não prevista em lei. Para que não
se viole o caráter perpetuo da propriedade é que não se
permite a criação de disposição testamentária a termo. A
disposição testamentária pode ser modal ou condicional.
Elementos acidentais – revisão.
São 03
1- Condição: evento futuro e incerto e impede a
aquisição de direitos e seu exercício. Não se adquiri e
não se exerce os direitos. Em face da incerteza impede a
aquisição.
2- Termo: evento futuro e certo, mas pode ser incerto.
Pode ser determinável ou indeterminável. Exemplo: Morte
que é termo incerto. Para o professor o termo é evento
futuro e inevitável (que pode ser certo ou incerto). O
termo não impede a aquisição, apenas impede o exercício.
Obs.: A morte dentro de determinado prazo é condição.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 208
Exemplo: Morrer em 03 meses para receber tal coisa.
3- Encargo: conta-prestação imposta em contratos
gratuitos. Não impede a aquisição e nem o exercício.
A única hipótese em que o encargo impede a aquisição e o
exercício é quando vier sob a forma de condição. Exemplo:
Deixo o testamento para Aline se ela prestar serviços no
hospital por 06 meses.
As cláusulas testamentárias não podem ser conjuntivas ou
derrogativas, em ambos os casos será cláusula nula.
O testador não pode transferir para 3º o direito de
indicar o beneficiário, pois o testamento é personalíssimo.
Possibilidade de nomeação de herdeiro ou legatário por
motivo determinável ou determinado, por causa certa. Nomeio
o bombeiro José que salvou meu filho, se comprovar que não
foi ele quem salvou a cláusula perece.
Vincula a causa do benefício.
É possível nomear pessoa indeterminada, porém
determinável Isso ocorre quando o testador nomeia a prole
eventual.
O CC permite a indicação de cláusulas restritivas
(clausulas de incomunicabilidade, impenhorabilidade e
inalienabilidade) presentes no testamento.
Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato
de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade.
Parágrafo único. No caso de desapropriação de bens clausulados, ou de
sua alienação, por conveniência econômica do donatário ou do herdeiro,
mediante autorização judicial, o produto da venda converter-se-á em
outros bens, sobre os quais incidirão as restrições apostas aos
primeiros.
Este artigo esvazia o conteúdo da súmula 49 do STF que
perdeu seu objeto.
A cláusula de inalienabilidade faz presumir as demais, traz
consigo a impenhorabilidade e a incomunicabilidade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 209
Basta a inserção da inalienabilidade que as demais se
presumem nela. A recíproca não é verdadeira.
Estas 03 cláusulas restritivas não são absolutas.
O NCC confirmou algo já a muito conhecido pela
jurisprudência, qual seja, o caráter relativo das clausulas
restritivas, assim, por decisão judicial é possível
levantar ou sub-rogar cláusula restritiva. O procedimento é
de jurisdição voluntária, com a oitiva do MP, com
competência do juiz da vara de registros públicos.
Exemplo: Recebi um bem por herança, mas com uma cláusula
restritiva de inalienabilidade (não se comunica com o
cônjuge e não posso vender), para que o bem não pereça pede
ao juiz para vender e transfere a cláusula para o novo bem
adquirido, sub-roga.
Exemplo 2: o proprietário passa por necessidade é possível
que o juiz levante a clausula e permita e venda do bem.
As cláusulas restritivas possuem duração de uma geração
somente. Ou seja, a pessoa que recebe com necessariamente
transmite sem.
Exemplo: João recebeu um bem por herança com clausula
restritiva, transmitirá para seus herdeiros sem a cláusula.
Dura no máximo pelo período de vida do herdeiro
beneficiário. É vitalícia, mas não é perpétua.
Se João recebeu com esta cláusula a 2ª gravação do mesmo
bem com cláusula restritiva é nula, isso para evitar que o
bem permaneça por longo período como bem fora do comercio,
para evitar a não circulação do bem.
Possibilidade ou não de gravação na legítima?
É possível de forma aberta e livre nos 50% disponíveis. E
na legítima que é a cota indisponível para os herdeiros
necessários?
O art. 5º, XXX, reconhece como garantia individual o
direito à herança. É possível gravar a legítima?
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 210
XXX - é garantido o direito de herança;
Gravar a legítima significa que o herdeiro recebe a
herança, mas não pode dispor, irá gozar, fruir, mas não irá
dispor. Na prática será transformar o beneficiário de
herdeiro para usufrutuário. Transmuda-se a natureza da
sucessão para herdeiros.
Orlando Gomes sustentava a impossibilidade de gravação da
legítima por ser incompatível com a natureza garantista do
direito de herança. Gravar é modificar a natureza da
herança, pois a transmuda para usufruto (o professor adere
a este pensamento, pois caso contrario feriria a
Constituição, art. 5º, XXX).
O art. 1848 do CC permite a gravação da legítima com os
seguintes requisitos.
1- Se houver justa causa
2- Se estiver declarada no testamento
3- Comprovada posteriormente no julgamento
A regra geral é inadmissibilidade de gravar a legítima.
Excepcionalmente o CC permite a gravação da legítima
Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não
pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade,
impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.
§ 1o Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da
legítima em outros de espécie diversa.
§ 2o Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser
alienados os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens,
que ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros.
A finalidade de gravação da legítima é apenas para o filho
prodigo, mas para proteger o prodigo o melhor é interditá-
lo.
Na comunhão parcial bem recebido por herança não se
comunica.
Assim, para Silvio Rodrigues na prática é raro a gravação
da legítima.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 211
No CC é possível excepcionalmente a gravação da legítima
desde que cumpridos os requisitos do art. 1848.
Redução das cláusulas testamentárias:
É a possibilidade, no caso de excesso no testamento.
Embora o CC estabeleça que um dos pressupostos do
testamento é o respeito da legítima e esta somente será
calculada quando da abertura da sucessão, quando da morte.
Esta variação do tempo implica também em oscilações
patrimoniais. É possível que o testador, por maior o zelo
que seja, termina por ocorrer variações patrimoniais, por
meio das quais o testador pode ter ultrapassado os limites
da legítima, assim, temos regras para a redução das
clausulas testamentária. Que é a adequação do testamento
aos limites da legítima. Significa na prática o respeito a
normas que são de ordem pública. Esta redução, assim, pode
se dar, inclusive, de ofício pelo juiz ou a requerimento
das partes.
São 02 regras para a redução de cláusula, estabelecidas no
NCC:
1- Havendo no testamento somente herança ou somente
legado a redução será proporcional. Reduz proporcionalmente
ao quinhão de cada um.
Exemplo: pessoa morre e deixa no testamento uma casa e um
carro. A casa vale 40% e o automóvel vale 20%, reduz
proporcionalmente pois extrapolou a legítima. Reduz os 40%
mais que os 20% pois a redução é proporcional.
2- Havendo herança e legado a redução dará primeiro na
herança e depois no legado se preciso for. Esta regra é
justificada pelo fato que o testamento é negócio jurídico,
fundado na vontade, devendo ao máximo ser preservada a
vontade.
Exemplo: Se a pessoa deixou 20% de seu patrimônio livre
para José e uma casa para Pedro (bem certo e determinado
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 212
legado), que vale 40%. Diminui da herança. José somente
receberá 10%.
Aqui estamos falando da parte disponível. Os herdeiros
necessários tem a seu favor a legítima assegurada. Estas
regras reduzem as disposições do testamento.
Direito de Acrescer:
Nada mais é do que discutir a possibilidade ou não de um
beneficiário de testamento acrescer, somar ao seu o
benefício de um outro, que não quer ou não pode receber o
beneficio.
Existem clausulas testamentárias que beneficiam 02 ou mais
pessoas. E uma destas pessoas não quer (renúncia) ou não
pode (indignidade, deserdação ou pré-morte). Ora, nesta
situação, sem substituto testamentário, a cláusula volta
para a massa ou é acrescida pelos outros beneficiários.
Segundo o CC somente teremos o direito de acrescer
presentes os seguintes requisitos:
1- Cláusula testamentária beneficiando 02 ou mais
pessoas;
2- Que uma delas não queira ou não possa receber.
3- Inexistência de substituto testamentário.
4- A clausula testamentária deve ser conjuntiva, ou seja,
tenha tratado dos beneficiários conjuntivamente e não de
forma disjuntiva.
Exemplo: deixo a casa para Zé e João. Zé não pode receber
não tem substituto, neste caso vai acrescer João, pois a
clausula é conjuntiva. Caso diverso é deixar 50% da casa
para Zé e 50% para João, neste caso a clausula é
disjuntiva, tratou deles separadamente e não se dá
acréscimo.
Testamenteiro:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 213
É a pessoa nomeada pelo testador para fazer cumprir o
testamento. É a pessoa da confiança do testador para fazer
cumprir a sua declaração de vontade. Pode já ter sido
nomeado pelo testador, inclusive com a legitimidade para
ser inventariante, quanto para requerer a abertura do
inventário (art. 988).
Art. 988. Tem, contudo, legitimidade concorrente:
I - o cônjuge supérstite;
II - o herdeiro;
III - o legatário;
IV - o testamenteiro;
V - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VI - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança;
VII - o síndico da falência do herdeiro, do legatário, do autor da
herança ou do cônjuge supérstite;
VIII - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes;
IX - a Fazenda Pública, quando tiver interesse.
O testamentário vem indicado no próprio testamento, mas o
CC também permite que seja dativo, ou seja, indicado pelo
juiz.
O testamenteiro assume inúmeras obrigações no sentido de
fazer cumprir o testamento. Dentre os inúmeros encargos que
lhe são impostos responderá o testamenteiro civil e
criminalmente pelo descumprimento das funções e obrigações
que lhe foram determinadas.
Se o testamenteiro não for beneficiado pela sucessão, não
for herdeiro e nem legatário, fará jus a uma remuneração.
Se não foi fixada pelo testamento será fixada pelo juiz e
chama-se PRÊMIO OU VINTENA.
Vintena ou prêmio: remuneração ficada pelo juiz pelo
trabalho do testamenteiro.
O juiz deve se utilizar da mesma regra dos honorários de
advogado para a fixação do premio ou vintena. Qualidade do
trabalho, grau de dificuldade e etc.
Substituição testamentária:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 214
Possibilidade do testador indicar substitutos para os
beneficiários, isso, se dá na situação do beneficiário não
poder ou não querer receber a herança. O testador, assim,
já lhe indica o substituto. São 04 as formas de
substituição.
1- Simples ou vulgar: é a substituição em ordem
sucessiva. É ilimitada. Depende da vontade do testador. Há
ordem preferencial. O substituto somente será convocado
quando o 1º beneficiário não puder ou não quiser receber.
(é sucessiva e ilimitada)
2- Substituição Recíproca: quando um beneficiário
substitui ao outro reciprocamente. Exemplo: Pedro, José e
João são beneficiários, se um não quiser, os demais recebem
tudo de forma recíproca.
3- Substituição fideicomissária: se opera pelo
fideicomissio (substituição testamentária quando o
benefício veio expresso sob condição). Deixo o bem se
fulano passar no concurso é o exemplo. Enquanto não
implementada a condição o beneficiário não poderá reclamar
o benefício. Mas, se o testador morrer transmite para a
massa hereditária, os legítimos tomarão conta do bem até
que implemente a condição, salvo se o testador já nomear um
substituto.
4-
Fideicomitente: testador
Fiduciário: substituto, convocado na abertura da sucessão
para receber o benéfico, quando do implemento da condição.
Fideicomissário: aquele que será beneficiado depois do
implemento da condição.
No fideicomisso o substituto recebe primeiro para depois
devolver ao substituído. O que o substituto recebe é
propriedade resolúvel e depois será transmitida. Se ele
morrer os herdeiros recebem como substitutos.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 215
O fiduciário tem uma chance de ficar com a propriedade
perpetua se o fideicomissário morrer sem cumprir a
condição. Neste caso o fiduciário se torna proprietário
perpetuo.
O CC não permite o fideicomisso de 2º, ou seja, não pode
ter dois fiduciários.
Art. 1952 do CC: somente se permite o fideicomisso em favor
da prole eventual. Assim, a única condição que permite o
fideicomisso é no caso de prole eventual.
Fideicomisso parece mas não se confunde com o usufruto.
A diferença é que no fideicomisso temos o exercício
sucessivo de direitos. 1º temos o direito do fideicomitente
(testador que exerce os direitos), depois do fiduciário e
por fim o fideicomissário.
No usufruto o exercício de direitos é simultâneo, são 02
pessoas exercendo simultaneamente o usufrutuário (goza e
frui) e o nu proprietário (dono)
Apesar da inércia do CC, doutrina e jurisprudência admitem
fideicomisso entre pessoas vivas no caso de doação. É uma
doação com clausula condicional. Gravada de fideicomisso. O
Fideicomisso Entre vivos decorre da autonomia da vontade e
não tem previsão legal, não tendo como restrição a condição
de ser apenas prole eventual. Sendo mais amplo que o
testamentário.
Extinção do testamento:
Se extingue da mesma forma que os demais negócios
jurídicos.
1- Revogação: no todo ou em parte. Expressa ou tácita
(faz o testamento no dia 1 e no dia 10 vende os bens). O
testador se arrepende e volta atrás.
A revogação pode ser por qualquer modo, ou seja, o
testamento público pode ser revogado por testamento
privado.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 216
2- Invalidade: nulidade ou anulabilidade. Casos de
invalidade do negócio jurídico (art. 166, 167 e 171 do CC).
3- Caducidade: quando a lei determina a perda do objeto.
Exemplo: beneficiário morre antes do testador, sem
substituto e sem acréscimo.
Exemplo 2: testamento especial quando a pessoa não ratifica
e não morre.
4- Art. 1795 – rompimento do testamento. Sobrevém ao
testamento herdeiro necessário depois de celebrado o
testamento. O testamento está rompido para respeitar a
legítima do herdeiro que apareceu.
Alguns autores chamam isso de revogação presumida.
Para o CC este rompimento somente ocorrerá naquilo que o
testamento exceder a legítima. Se não excedeu a legítima
não rompe o testamento (art. 1975)
Art. 1.975. Não se rompe o testamento, se o testador dispuser da sua
metade, não contemplando os herdeiros necessários de cuja existência
saiba, ou quando os exclua dessa parte.
Aula 11 03/06/2009
CONDOMÍNIO
Regras gerais:
A propriedade é a concentração nas mãos do titular de
diferentes poderes, que são o uso, o gozo (fruição),
disposição e reivindicação. Umas das características da
propriedade é a exclusividade, na medida em que concentra
todos esses poderes nas mãos do titular. É o que reza o
art. 1,228 do NCC:
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da
coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente
a possua ou detenha.
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados,
de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna,
as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 217
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer
comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar
outrem.
§ 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de
desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse
social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.
§ 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel
reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de
boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e
estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e
serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico
relevante.
§ 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa
indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença
como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
Falar que a propriedade é exclusiva pode, em princípio, se
falar na exclusão do condomínio. Mas este não afeta o
caráter exclusivo da propriedade. Não há duas ou mais
pessoas exercendo direitos diferentes sobre a coisa.
O condomínio é, pois, o exercício simultâneo, concomitante
do mesmo direito de propriedade por duas ou mais pessoas.
No condomínio há uma pluralidade de sujeitos com unicidade
de objeto, ou seja, duas ou mais pessoas exercendo o mesmo
direito de propriedade sobre a mesma coisa.
Ex: marido e mulher, herdeiros antes da partilha etc.
No condomínio há uma situação qualitativamente igual, mas
quantitativamente diferente, porque cada um dos sujeitos
pode ter um quinhão diferenciado. É a chamada quota-parte
ou fração ideal.
Se o condomínio é o estado do exercício do mesmo direito de
propriedade por duas ou mais pessoas sobre a mesma coisa,
sob o ponto de vista dos sujeitos (subjetivo), todo
condomínio é uma comunhão.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 218
Já objetivamente, o condomínio é uma indivisão. Se cada um
exercesse o seu direito apenas sobre a sua quota, haveria
uma divisão. No condomínio, cada condômino exerce seu
direito sobre o todo.
O NCC quer evitar a todo custo o condomínio. Isso porque é
uma inescondível fonte de conflitos. A expressão “pombo da
discórdia bem sintetiza o que é o condomínio.
Há dois diferentes modelos de condomínios:
Tradicional, comum ou ordinário - previsão no CC (artigos
1.314 a 1.330):
Edilício (unidades autônomas) – previsão no CC (1.331 a
1.358 e lei 4591/64, a qual foi derrogada):
1) Condomínio Tradicional:
É também chamado de condomínio comum ou ordinário, sendo a
co-propriedade exercida sobre a mesma coisa, ou seja,
exercício simultâneo do mesmo direito de propriedade por
duas ou mais pessoas.
Ex: casamento, união estável, herança etc.
O exercício do condomínio independente da quantidade,
apesar de serem distintas, ou seja, cada condômino tem uma
fração ideal diferenciada.
Direitos dos condôminos ou comunheiros:
a) direito de uso e fruição sobre todo o bem:
Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação,
sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão,
reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva
parte ideal, ou gravá-la.
Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da
coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o
consenso dos outros.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 219
O exercício e direitos do condomínio se dá de forma comum,
independentemente da quota-parte de cada um deles. Cada
condômino exerce seu direito sobre o todo, sendo a
destinação do bem definida pela decisão da maioria das
quotas.
Cabe usucapião de um bem condominial?
Sim, desde que presentes os requisitos legais. Mas um
comunheiro pode usucapir um bem do condomínio, ficando com
a integralidade da coisa? Em linha de princípio, não, uma
vez que o exercício dos direitos de um não exclui o dos
demais. No entanto, o STJ existe uma hipótese em que se
admite usucapião de bem condominial. Isso ocorre quando o
condômino estabelece posse com exclusividade, alijando os
demais, seria possível haver usucapião da coisa
condominial. Mas é uma hipótese excepcional.
Na prática é uma situação muito difícil, pois o condomínio
terá que alijar os demais e também deve provar que exerce
sozinho os direitos sobre a coisa, mesmo que contrariamente
à vontade dos demais.
b) Defesa do bem condominial:
Cada condômino pode reivindicar de terceiro e defender a
sua posse. Pode exercer, assim, ação possessória e
reivindicatória, podendo-se valer da legítima defesa da
posse, que é o desforço incontinenti. Pode defender posse e
a propriedade no todo ou em parte, independente de sua
quota-parte.
Sob o ponto de vista objetivo, o condomínio é uma indivisão
e todos podem defender o todo. É possível que um condômino
se valha dessas ações contra terceiros, mas é possível uma
possessória ou reivindicatória contra outro condômino?
A ação possessória é plenamente possível, ou seja, um
condômino poderá se valer dela contra terceiro ou até mesmo
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 220
contra outro condômino. Um exemplo reside no fato de um
condômino tentar estabelecer posse com exclusividade para
si (esbulho, turbação etc.).
Já a ação reivindicatória somente pode ser utilizada contra
terceiros. Jamais um condômino pode ser valer de uma ação
reivindicatória contra outro condomínio, em razão da
indivisibilidade da coisa, já que o outro condomínio é co-
proprietário do bem.
c) alienação da quota:
Cada condomínio pode alienar ou onerar a sua quota-parte,
bem como dá-la em garantia.
Cada condômino pode alienar a sua quota-parte, mas com
consentimento dos demais. Quando um dos condôminos se
recusa imotivadamente a consentir para a alienação ou
oneração da coisa, pode caracterizar abuso do direito.
O NCC estabelece que se o condômino quer e pretende alienar
(vender, doar) ou onerar (dar em garantia) bem comum (coisa
como um todo) dependerá do consentimento de todos. Todos
precisam aquiescer na alienação ou oneração do bem comum.
Art. 1.420. Só aquele que pode alienar poderá empenhar, hipotecar ou
dar em anticrese; só os bens que se podem alienar poderão ser dados em
penhor, anticrese ou hipoteca.
A coisa comum a dois ou mais proprietários não pode ser dada em
garantia real, na sua totalidade, sem o consentimento de todos; mas
cada um pode individualmente dar em garantia real a parte que tiver.
Se um não der, sem justificativa, podemos ter um abuso de
direito, ato ilícito, assim o juiz pode suprir e deferir a
alienação ou oneração se um condômino objeta a venda ou
oneração sem justificativa.
No que diz respeito à oneração ou alienação da fração
ideal, da quota-parte, não precisa do consentimento dos
demais, cada condômino pode alienar ou onerar a sua quota
sem consentimento dos demais. Não se impõe o consentimento,
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 221
basta a vontade de alienar ou onerar, mas o CC traz uma
regra especial, a regra da preferência.
Para que cada condômino possa dispor da sua quota não
precisa de consentimento dos demais, mas é preciso que se
respeite o direito de preferência ou preempção.
Assim, a alienação deve obedecer o direito de preferência
dos demais condôminos.
O condômino, ao vender ou onerar o bem, deve oferecer a sua
quota aos demais condôminos, antes de vendê-la.
Somente se exige a garantia de preferência na alienação
onerosa (venda). Na alienação gratuita não se exige o
direito de preferência (doação). A doação é liberalidade.
Mister ressaltar que não há direito de preferência no
condomínio edilício.
A preferência é exclusiva apenas do condomínio tradicional
ou comum.
O NCC não afirmou como se efetiva a preferência, ou seja,
há uma omissão legislativa a respeito dessa matéria. É um
caso típico de uso da analogia (art. 4º da LICC).
Deve-se fazer, pois, uma analogia com os artigos 27 e 28 da
lei 8.245/91 (Lei de Locações). Assim, a preferência será
realizada por meio de notificação, seja judicial ou
extrajudicial, com prazo mínimo de 30 dias.
Art. 27. No caso de venda, promessa de venda, cessão ou promessa de
cessão de direitos ou dação em pagamento, o locatário tem preferência
para adquirir o imóvel locado, em igualdade de condições com
terceiros, devendo o locador dar-lhe conhecimento do negócio mediante
notificação judicial, extrajudicial ou outro meio de ciência
inequívoca.
Parágrafo único. A comunicação deverá conter todas as condições do
negócio e, em especial, o preço, a forma de pagamento, a existência de
ônus reais, bem como o local e horário em que pode ser examinada a
documentação pertinente.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 222
Art. 28. O direito de preferência do locatário caducará se não
manifestada, de maneira inequívoca, sua aceitação integral à proposta,
no prazo de trinta dias.
Se mais de um condômino quiser exercer o direito de
preferência, todos terão o direito proporcionalmente na
medida de seu quinhão.
O prazo para exercício do direito de preferência é no
mínimo de 30 dias.
Se o condômino vender e não respeitar a preferência qual a
conseqüência?
Nesse caso, são aplicadas as regras contidas no art. 504 do
NCC, ou seja, o negócio jurídico de alienação onerosa
praticada pelo condômino, violada a preempção, implica em
ineficácia relativa do ato quanto ao condômino prejudicado.
Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua
parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O
condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá,
depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o
requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência.
Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver
benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão
maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte vendida os
comproprietários, que a quiserem, depositando previamente o preço.
O condômino preterido pode requerer a adjudicação
compulsória no prazo decadencial de 180 dias do
conhecimento do fato. O STJ admite a tese da actio nata, ou
seja, os prazos de prescrição e de decadência só começam a
correr da data do conhecimento do fato.
Esse prazo de 180 dias é, pois, contado da ciência do fato.
É o prazo para promover a ação de adjudicação compulsória.
Na ação adjudicatória haverá um litisconsórcio passivo,
necessário e unitário entre adquirente e alienante. O
condômino preterido deverá depositar o valor do bem, tanto
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 223
por tanto, ou seja, o depósito do valor do bem, acrescido
das despesas, como as de registro, por exemplo.
Ressalte-se que se o terceiro requerente estiver de boa-fé
fará jus às perdas de danos.
Se mais de um condômino quiser exercer a preferência sobre
o bem, aplicam-se as disposições contidas no parágrafo
único do art. 1.504, ou seja, o direito de preferência será
proporcionalmente exercido.
OBS: bens sob a administração de terceiro não podem ser
vendidos sem autorização judicial, sob pena de nulidade:
Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em
hasta pública:
I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os
bens confiados à sua guarda ou administração;
II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da
pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração
direta ou indireta;
III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e
outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos
sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde
servirem, ou a que se estender a sua autoridade;
IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam
encarregados.
Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de
crédito.
d) direito de voto nas deliberações condominiais:
O NCC condicionou o direito de voto com o adimplemento das
taxas condominiais.
Deveres dos condôminos:
a) respeitar a finalidade:
Significa respeitar a destinação da coisa. Mas nada impede
a prática de atos conservatórios, que são aqueles par
acautelar, proteger a coisa.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 224
b) não pode dar posse ou uso da coisa a terceiros sem o
consentimento dos demais:
c) divisão das despesas comuns:
Pelo art. 265 do NCC, a solidariedade não se presume.
Haveria, pois, solidariedade no que concerne ao rateio das
despesas? Não, a responsabilidade é na proporção da quota-
parte de cada condômino. É a regra do art. 1.315 do NCC:
Rateio das despesas do condomínio comum
O exercício sobre o direito da coisa e o direito de
defendê-la é comum.
Na forma do art. 1315
Art. 1.315. O condômino é obrigado, na proporção de sua parte, a
concorrer para as despesas de conservação ou divisão da coisa, e a
suportar os ônus a que estiver sujeita.
Parágrafo único. Presumem-se iguais as partes ideais dos condôminos.
O rateio de despesas se dá proporcionalmente.
Parte-se da presunção que todos tem a mesma quota. O NCC
presume a igualdade, presunção relativa, por ser essa
presunção relativa de igualdade de quotas, o interessado
pode comprovar que seu quinhão é menor e assim pode
colaborar com menos.
O condômino que não queira participar do rateio das
despesas pode renunciar ao seu quinhão (art. 1316). A parte
do renunciante será acrescida aos demais.
Art. 1.316. Pode o condômino eximir-se do pagamento das despesas e
dívidas, renunciando à parte ideal.
Ex: uma herança que tenha mais dívidas do que créditos. É
possível a renúncia ao quinhão para escapar ao rateio das
despesas. Nesse caso o condômino que queira pode assumir as
despesas e adquirir o quinhão.
Quando os demais condôminos acrescem à quota do
renunciante, também o fazem com relação às despesas.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 225
§ 1o Se os demais condôminos assumem as despesas e as dívidas, a
renúncia lhes aproveita, adquirindo a parte ideal de quem renunciou,
na proporção dos pagamentos que fizerem.
§ 2o Se não há condômino que faça os pagamentos, a coisa comum será
dividida.
Se nenhum dos demais condôminos quer assumir o quinhão,
este será repartido por todos e as despesas serão rateadas
proporcionalmente.
Art. 1.317. Quando a dívida houver sido contraída por todos os
condôminos, sem se discriminar a parte de cada um na obrigação, nem se
estipular solidariedade, entende-se que cada qual se obrigou
proporcionalmente ao seu quinhão na coisa comum.
d) responsabilidade pelos frutos:
Cada condômino tem o direito de retirar os frutos da coisa,
isoladamente, independente de sua quota. Mas os frutos
pertencem a todos. Por isso, o NCC estabelece a
responsabilidade do condômino pelos frutos retirados
isoladamente.
Aquele condômino que sozinho receber os frutos terá que
compartilhar com os demais (art. 1319), respondendo ou
indenizando os demais co-proprietários.
Art. 1.319. Cada condômino responde aos outros pelos frutos que
percebeu da coisa e pelo dano que lhe causou.
Ex: Companheiro ou esposa quando acaba a relação.
Normalmente um sai de casa e o outro fica, se o imóvel é
comum, será condominial, logo o que ficou deve pagar
aluguéis ao outro, ou melhor, deve pagar a metade do valor
do que seria o aluguel devido. O juiz mandará calcular o
valor do aluguel e dividirá a metade, que será devida pela
mulher ao homem pelo tempo que ela viveu na posse de bem
comum.
Se o casal possui filhos, o juiz pode fixar alimentos in
natura, na forma de bens da vida. Parcela dos alimentos
serão dados em moradia, como parte do pagamento de pensão.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 226
Nesse caso, há divisão dos frutos da coisa comum, o que
exclui a divisão dos frutos pela moradia em imóvel comum
aos cônjuges.
O STJ (RESP 622.472/RJ) vem entendendo que rompida a
sociedade conjugal ou convivencial, se um dos cônjuges se
mantém prolongadamente na posse de bem comum, os frutos
devem ser divididos.
Administração do condomínio:
A administração do condomínio compete a um síndico, eleito
pela maioria. O critério de maioria é econômico, ou seja, a
maioria das frações ideais. Havendo empate, a decisão é do
juiz.
Ressalte-se que a minoria tem o poder de impugnar a
deliberação.
O síndico tem o dever de prestar contas aos condôminos.
Ainda, há a possibilidade do mandato tácito. Nesse caso, há
a aplicação da teoria da aparência. Assim, o mandato tácito
é admissível no nosso sistema, já que o síndico exerce o
mandato sem a oposição dos demais.
Mas o que ocorre quando um condomínio possui um síndico
tácito e um eleito? Nesse caso, ainda se aplica a teoria da
aparência, que protege terceiros de boa-fé em face do
mandatário tácito, que realmente é quem exerce a
administração do condomínio.
O administrador não tem poderes de definir a destinação da
coisa, que será sempre resultante da deliberação da
maioria.
Espécies de condomínio tradicional:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 227
a) voluntário: formado pela vontade das partes. A co-
propriedade é formada por vontade. Ex: Regime de bens do
casamento e da união estável.
b) Legal: é aquele que se forma por força de lei. A lei
estabelece a uma determinada situação a obrigatoriedade de
condomínio.
b.1) forçado: se dá imperativamente. Exs: quando de tratar
de muro, cerca, vala, pastos (compasto).
Quando é forçado pela lei a presunção do condomínio será
relativa, admitindo pela parte interessada a prova em
contrário.
O art. 1.279 trata do direito de construir, que é caso de
condomínio forçado.
Art. 1.279. Ainda que por decisão judicial devam ser toleradas as
interferências, poderá o vizinho exigir a sua redução, ou eliminação,
quando estas se tornarem possíveis.
Outro exemplo é o das árvores limítrofes. Se a arvore está
sobre a linha divisória tem-se o condomínio forçado. Mas
nesse caso, os frutos não são comuns. Os frutos pertenceram
ao proprietário do terreno onde caírem.
No caso de haver condomínio, as despesas serão comuns. Ex:
as despesas de muro comum são dos dois. É o direito de
extremar, previsto no art. 1.328 do NCC:
Art. 1.328. O proprietário que tiver direito a estremar um imóvel com
paredes, cercas, muros, valas ou valados, tê-lo-á igualmente a
adquirir meação na parede, muro, valado ou cerca do vizinho,
embolsando-lhe metade do que atualmente valer a obra e o terreno por
ela ocupado (art. 1.297).
Havendo conflito em relação às despesas, nas hipóteses de
condomínio legal forçado, o arbitramento será feito por
perito, sendo o valor fixado por decisão judicial. Evitam-
se, assim, as construções suntuosas.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 228
b.2) fortuito: se formado por sucessão hereditária será
fortuito ou aleatório. Forma-se aleatoriamente.
A presunção legal de condomínio é sempre relativa.
Aquele que assumiu as despesas sozinho da divisão pode
cobrar do outro a meação. As despesas comuns devem ser
divididas.
Extinção do condomínio comum:
A temporariedade é característica natural do condomínio. É
o que reza o art. 1.320:
Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da
coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas
despesas da divisão.
§ 1o Podem os condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por
prazo não maior de cinco anos, suscetível de prorrogação ulterior.
§ 2o Não poderá exceder de cinco anos a indivisão estabelecida pelo
doador ou pelo testador.
§ 3o A requerimento de qualquer interessado e se graves razões o
aconselharem, pode o juiz determinar a divisão da coisa comum antes do
prazo.
Assim, a todo e qualquer tempo, é lícitos aos condôminos
exigir a divisão da coisa comum, exceto nas hipóteses de
condomínio legal.
As partes podem, querendo, estabelecer um período de
indivisão, como previsto no § 1.º do art. 1.320, pelo prazo
de cinco anos, suscetível de prorrogação ulterior.
Cada condômino colaborará com as despesas da divisão
proporcionalmente com sua quota. Isso se dá pela ação de
divisão (art. 980 do CPC), procedimento especial e
imprescritível.
Art. 1320, §1º os condôminos podem manter a coisa
indivisível pelo prazo de 05 anos se quiserem. Quando se
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 229
tratar de condomínio formado voluntariamente a coisa pode
se manter indivisível pelo prazo máximo de 05 anos,
permitida uma prorrogação por igual período. Assim, a coisa
pode se manter indivisível pelo prazo máximo de 10 anos.
Quando o condomínio se formar pode doação ou testamento não
pode haver a prorrogação, sendo o prazo máximo de indivisão
de 05 anos (§2º)
Art. 1320, §3º a requerimento de qualquer interessado
pode o juiz se graves razões aconselharem determinar a
divisão comum dentro do prazo de indivisão ajustado entre
as partes.
Determinada a divisão, cada um recebe o seu quinhão e
colabora com a divisão.
As regras para a divisão da coisa comum são as regras
sucessórias, ou seja, as regras da partilha da herança.
Art. 1.321. Aplicam-se à divisão do condomínio, no que couber, as
regras de partilha de herança (arts. 2.013 a 2.022).
Se a coisa for indivisível o juiz, ao invés de fazer a
divisão, realizará uma alienação judicial. Coloca o bem a
venda para apurar a melhor oferta.
Nesse caso, os condôminos preferem aos terceiros. O
condômino prefere ao estranho na venda marcada pelo juiz do
bem indivisível.
Quem tem preferência é o condômino que realizou o maior
número de benfeitorias, isso em homenagem e respeito à
função social da propriedade. Assim, no caso da oferta pelo
bem ser a mesma entre dois condôminos (mesmo valor), a
adquirirá o que tiver feito o maior volume de benfeitorias
no imóvel, ou seja, o maior número de benfeitorias receberá
o bem e não aquele que tiver o maior quinhão.
Em caso de empate, se nenhum dos condôminos tiver feito
benfeitorias, será aplicado o critério do maior quinhão.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 230
Caso nenhum dos condôminos queira exercer o direito de
preferência, haverá licitação para terceiros, sempre pelo
maior preço.
Art. 1.322. Quando a coisa for indivisível, e os consortes não
quiserem adjudicá-la a um só, indenizando os outros, será vendida e
repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em condições iguais de
oferta, o condômino ao estranho, e entre os condôminos aquele que
tiver na coisa benfeitorias mais valiosas, e, não as havendo, o de
quinhão maior.
Parágrafo único. Se nenhum dos condôminos tem benfeitorias na coisa
comum e participam todos do condomínio em partes iguais, realizar-se-á
licitação entre estranhos e, antes de adjudicada a coisa àquele que
ofereceu maior lanço, proceder-se-á à licitação entre os condôminos, a
fim de que a coisa seja adjudicada a quem afinal oferecer melhor
lanço, preferindo, em condições iguais, o condômino ao estranho.
OBS: O condomínio legal não pode se extinguir pela vontade
das partes, por ter sido formado por força de lei.
O STJ afirma que se é possível a divisão, o condômino não
pode requerer alienação.
Condomínio edilício:
Também é chamado de condomínio por unidades autônomas,
condomínio horizontal (compreendido por cada unidade
horizontalmente consideradas).
Diferentemente do condomínio comum é uma simbiose orgânica
de propriedade comum e propriedade individual, ou seja, é
um mix entre propriedade comum e propriedade coletiva,
entrelaçadas em uma mesma área.
Todo condomínio edilício necessariamente é formado por
unidades autônomas e partes comuns. Essa divisão é
insuscetível de divisão ou sucessão.
Extinguir as partes comuns implica a extinção do próprio
condomínio. Não se admite a separação das partes autônomas
e partes comuns.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 231
O STJ vem nutrindo expressa simpatia no que concerne à
formação do condomínio edilício, independente da finalidade
e da forma de Constituição.
Aplicam-se, pois, às regras do condomínio edilício para
vilas de casas, complexos empresarias, entre outros, isso
por serem formados de partes autônomas e partes comuns.
Isso garante por exemplo a repartição das despesas comuns.
Já se fala na doutrina no condomínio de fato, aquele que se
forma não porque há um imóvel com partes autônomas e partes
comuns, mas por interesse comum de proprietários autônomos.
Exemplo: ruas fechadas. As despesas devem ser repartidas,
pois os interesses são comuns.
Importante frisar que não se admite usucapião de área
comum. Há previsão expressa no art. 3.º da Lei 4.591/64.
Mas o STJ vem admitindo a supressio nos condomínios
edilícios, ou seja, pode suprimir do condomínio a
possibilidade de reivindicar a área. Vide RESP 356.821/RJ
e 214.680/SP, bem como enunciado 247 da Jornada de Direito
Civil:
247 – Art. 1.331: No condomínio edilício é possível a utilização
exclusiva de área “comum” que, pelas próprias características da
edificação, não se preste ao “uso comum” dos demais condôminos.
Ex: condômino que pediu para fechar área comum e a
assembleia consentiu. Posteriormente, o condomínio requereu
a área novamente, mas tal não foi possível, tendo em vista
que o STJ reconhece a supressio.
Elementos constitutivos ou componentes do condomínio:
a) unidade autônoma;
b) partes comuns.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 232
Dúvidas sobre a garagem, cobertura ou terraço, garagem e
horário de funcionamento. São ou não área comum?
Terraço ou cobertura são partes comuns, salvo disposição em
contrario no ato de criação do condomínio. Isso ocorre
quando a cobertura pertence ao apartamento do último andar.
Mas a regra geral é que seja espaço comum e as despesas
serão rateadas.
Se o condomínio foi criado por incorporação imobiliária, o
próprio ato de constituição pode dizer que a cobertura
pertence a uma unidade autônoma.
Se não houver disposição, a cobertura ou terraço é comum a
todos os condôminos.
Se a cobertura for área comum, poderá ser vendida apenas
por decisão unânime dos condôminos. Se a recusa for
abusiva, não fundamentada, há ato ilícito, abuso do direito
do art. 187 do NNCC, cabendo suprimento judicial.
Se o terraço ou cobertura pertence a uma unidade autônoma,
a sua despesa será do proprietário. Assim, o valor da taxa
de contribuição para a cobertura será diferenciado.
Dentro de um mesmo condomínio, pois, é possível unidades
autônomas com áreas diferenciadas (ex: apartamentos com
dois ou três quartos).
Garagem:
É área comum ou é unidade autônoma?
O regime jurídico da garagem no Brasil é híbrido. Há, pois,
três diferentes regimes jurídicos para as garagens.
a) a garagem é área comum:
Quem define o uso é a convenção. Nessa hipótese,
tecnicamente não se fala em garagem, mas em estacionamento.
As vagas são áreas comuns e a convenção define o regime.
Assim, a garagem não pode ser vendida por ser área comum.
b) a garagem é acessória da unidade autônoma:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 233
O acessório segue o principal. É o regime mais comum.
Compra-se a unidade acompanhada de número de vagas de
garagem. Não pode ser vendida isoladamente. Segue o bem
principal sempre.
c) a garagem é uma unidade autônoma própria:
Tratada autonomamente, isso ocorre na hipótese da garagem
ter sido adquirida de forma autônoma, quando comprada por
fora, logo pode ser alienada autonomamente ao apartamento.
A garagem é, pois, considerada em si mesma.
Como saber o regime jurídico da garagem?
Depende do ato de criação, de constituição do condomínio
para se saber qual o regime jurídico de garagem.
Se a garagem é área comum, a Convenção pode a qualquer
tempo mudar a utilização da garagem. De ano em ano ou a
cada dois anos.
OBS: Se foi criado no condômino a expectativa justa, licita
de que poderia continuar indefinidamente usando a garagem,
isso pode caracterizar a supressio.
Salvo no regime de garagem como área comum, admite-se o
aluguel de garagem, art. 1.338 do NCC, salvo se a Convenção
tiver dispositivo em contrário.
Em se tratando de aluguel de garagem os condôminos terão
preferência a terceiros.
Art. 1.338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou
não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as
respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as
conseqüências de direito.
No caso de edifício-garagem esta é uma unidade autônoma,
não se aplicando as disposições quanto ao condomínio
edilício.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 234
É possível limitar o uso de bens da área comum? Uso de
piscina pode ser limitado?
É possível sim limitar o uso de áreas comuns. Esses limites
são a conferência do interesse comum ao uso das áreas
comuns, pois respeitam o interesse coletivo.
De acordo com o art. 3º da lei 4591/64 é inadmissível o
usucapião de área comum de condomínio edilício. Sendo
proibido por lei.
Nessa medida é inadmissível de condomínio edilício, mas é
possível o usucapião de condomínio comum. Segundo a
jurisprudência é possível usucapião de área comum em
condomínio comum/tradicional por um dos condôminos quando
estabelecer posse com exclusividade, somente para si,
afastando os demais. Somente neste caso é possível o
usucapião. É preciso que os demais condôminos tenham se
afastado da posse.
No condomínio edilício nunca terá usucapião de área comum.
O STJ vem admitindo a supressio, apesar de insuscetível de
usucapião de áreas comuns (REsp 356.821 e REsp 214.680)
Entendimento do STJ se o condomínio gerou uma expectativa
no condômino que poderia usar aquela área, usucapião é
pedido juridicamente impossível, mas é possível por outro
lado a supressio.
Exemplo: No Rio permitiu-se ao condômino do subsolo o uso
de uma área comum, usou por mais de 20 anos e assumiu as
despesas. 20 anos depois o condomínio pediu a área de
volta, o STJ entendeu que houve supressio (abuso do
direito, conduta ilícita daquele que criou em outrem a
expectativa de que esta pessoa exercerá em lugar do titular
um determinado direito). No caso que sofrerá a supressio
será o condomínio.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 235
Nas áreas comuns do condomínio edilício não cabe usucapião,
mas cabe supressio.
Natureza jurídica do condomínio edilício:
Escapa à regra da gravitação (dono do solo é dono da
construção – o acessório segue o principal) . É sempre uma
construção. Logo, o condomínio não tem natureza acessória
em relação ao solo.
Eventual crédito (hipoteca, alienação fiduciária) com
garantia real sobre o terreno não implica na aquisição do
condomínio.
Se um terceiro tiver algum direito real sobre o solo não
adquirirá o condomínio, não há regra da gravitação.
Eventual direito real de terceiro sobre o solo é convertido
em perdas e danos.
Pode-se, inclusive, interpretar de forma ampliativa a
súmula 308 do STJ:
Súmula 308 A hipoteca firmada entre a construtora e o agente
financeiro,anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e
venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.
Exemplo: Construtora que faz hipoteca para construir, dá o
terreno em garantia, mas não paga o banco. O banco na
execução da hipoteca não pode ser oponível ao condomínio,
apenas será responsável a construtora (Súmula 308 do STJ)
É um exemplo clássico de relativização do direito de
hipoteca e hipótese maravilhosa de função social da
propriedade e do contrato.
O condomínio não tem personalidade jurídica, mas possui
CNPJ.
A personalidade jurídica diz respeito aos direitos da
personalidade, ou seja, direitos existenciais. Já a
capacidade jurídica diz respeito aos direitos patrimoniais.
O condomínio edilício não tem personalidade jurídica no
direito brasileiro. Não é pessoa jurídica e tampouco pessoa
natural, sendo ente despersonalizado.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 236
Não tem direitos da personalidade, logo não pode sofrer
dano moral.
Nada impede que o condomínio tenha capacidade jurídica, ou
seja, pode titularizar relações jurídicas, pode ser
contratante, empregador, consumidor. Mas, não tem
personalidade.
É sujeito e tem capacidade, podendo inclusive ser parte
processual (art. 12, IX do CPC).
OBS: Pode inclusive realizar ação de cobrança no JECC.
O condomínio não tem personalidade jurídica, mas tem CNPJ
(cadastro nacional de pessoa jurídica), pois é
contribuinte. É só no Brasil que se dá CNPJ para quem não é
pessoa jurídica.
Enunciado 246 da Jornada de Direito Civil – Art. 1.331:
Fica alterado o Enunciado n. 90, com supressão da parte
final: “nas relações jurídicas inerentes às atividades de
seu peculiar interesse”. Prevalece o texto: “Deve ser
reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício”.
No novo procedimento de execução, na nova execução é
possível que a adjudicação se dê na frente da arrematação.
Se o condomínio quer adjudicar, se adjuquei sou dono agora,
vou registrar em nome de quem? O condomínio não tem
personalidade, como fazer o registro?
Tem capacidade pode contratar, mas não tem personalidade.
Assim, o juiz dará uma autorização especial para registrar
em nome do condomínio.
Se o oficial se recusar a lavrar o registro cabe suscitação
de dúvida na forma dos artigos 198 e 203 da LRP.
Se o oficial não fizer o registro e não suscitar a dúvida
caberá a dúvida inversa pelo interessado. É um procedimento
administrativo (duvida e dúvida inversa), com oitiva do MP
e com recurso de apelação (mesmo sendo um procedimento
administrativo).
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 237
Situação do “Time Sharing”:
É o contrato de tempo compartilhado, numa tradução jurídica
vem se entendendo que é multipropriedade imobiliária. O que
significa?
Na verdade nada mais é do que um contrato de condomínio no
tempo e não no espaço. É um condomínio temporal e não
espacial.
No espaço é visto a partir de uma unidade, utilização da
propriedade por partes autônomas e partes comuns e
pertencentes ao particular.
No time sharing temos unidade autônoma e partes comuns
pertencentes a diversos titulares no tempo, cada unidade
será utilizada por duas ou mais pessoas no tempo, cada um
exercendo a propriedade por tantos dias no ano. Isso é para
garantir o direito ao bem de lazer.
Idéia para facilitar o acesso ao lazer.
Ex: uso de casa de praia. Compro a casa de praia por 30
dias no ano. Todos serão co-proprietários do todo, posso
alugar. Serei proprietário tantos dias no ano, há um
condomínio, aplica-se o regramento do condomínio edilício à
multipropriedade imobiliária. Haverá sindico e despesas
comuns a serem rateadas.
No time sharing há diversos interesses a serem conciliados.
É preciso manter as unidades autônomas, assim, há sempre
uma administradora do time sharing.
Para o STJ, é relação de consumo o relacionamento entre a
administradora e os condôminos. É relação de consumo pois
há prestação de serviços.
A relação entre condômino e condomínio não é relação de
consumo (jamais). É uma relação civil, privada, genérica.
No caso do time sharing há perfeitamente escritura pública,
onde deve constar que o proprietário terá direito aquela
fração ideal durante determinado período. Para Gustavo
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 238
Tepedino há uma revolução do direito de propriedade nesse
caso.
Não se deve confundir o time sharing dcondominial com o
time sharing turístico ou hoteleiro, bem como com o
empresarial:
No Brasil, já há referencias a outros dois modelos de time
sahring:
a) de consumo ou turístico ou hoteleiro:
Pessoa está sentado em restaurante e promotora de um hotel
pergunta se não quer ganhar fim de semana grátis em hotel.
Mas, para tanto, deve preencher alguns formulários. Para
ganhar a diária a pessoa basta assistir a uma palestra para
ganhar a diária.
A pessoa compra um pacote de dez dias em determinado hotel
da rede hoteleira. Se a parte comprar e não for nos dias
específicos, haverá a caducidade.
Normalmente, esses pacotes possuem restrição quanto ao
tempo, ou seja, o pacote é vendido apenas na baixa estação.
Se a pessoa não quiser comprar o pacote, o hotel é obrigado
a dar a diária prometida.
O STJ tem afirmado que a venda desses pacotes é abusiva e
portanto nula de pleno direito, uma vez que exauriu as
forças do consumidor.
IMPORTANTE: O time sharing hoteleiro é 100% regido pelo
CDC, diversamente é o time sharing do condomínio edilício.
b) empresarial.
É oferecido a alguém parte de um investimento de um hotel,
por exemplo. Em troca, é oferecido um percentual nos lucros
do hotel. Como se denota, é um investimento de risco. A
parte é proprietária apenas da quota do risco de
investimento. A relação não é de consumo nem civil, mas sim
empresarial.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 239
Elementos constitutivos do condomínio edilício:
O ato de criação também é chamado de ato de instituição.
O segundo ato é a convenção de condomínio e o terceiro é o
regimento interno.
O ato de criação e a convenção são obrigatórios. Já o
regimento interno é facultativo.
Ato de instituição:
A previsão legal é a do art. 1.332 do NCC:
Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou
testamento, registrado no Cartório de Registro de Imóveis, devendo
constar daquele ato, além do disposto em lei especial:
I - a discriminação e individualização das unidades de propriedade
exclusiva, estremadas uma das outras e das partes comuns;
II - a determinação da fração ideal atribuída a cada unidade,
relativamente ao terreno e partes comuns;
III - o fim a que as unidades se destinam.
Pode ser inter vivos ou causa mortis. Se o ato é inter
vivos, tem que ser por escritura pública. Se for causa
mortis pode ser por testamento público ou particular.
O condomínio edilício pode ser criado por testamento ou por
doação, mas a forma mais comum é pela incorporação
imobiliária. Ocorre quando alguém que exerce atividade
empresarial compra um terreno e resolve fazer ali um
empreendimento comercial condominial.
Mister ressaltar que o ato de instituição é anterior ao
condomínio.
O ato de criação precisa trazer três requisitos:
a) indicação da áreas comuns e das unidades autônomas:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 240
é preciso descrevê-las, individualizá-las e pormenorizá-
las.
b) indicação da fração ideal (quota-parte) de cada unidade
autônoma:
É possível que cada unidade tenha uma quota diferenciada,
tamanhos diversos.
c) finalidade condominial.
Todas essas matérias são obrigatórias, sendo nula qualquer
cláusula do ato de instituição que as exclua. Qualquer
delas somente pode ser modificada por unanimidade.
Ex: venda da cobertura quando esta é área comum.
Assim, a alienação de área comum de um condomínio edilício
só poder se feita por unanimidade. Ressalte-se que não se
admite a recusa injustificada.
Não é possível a alteração da fachada sem decisão unânime.
Mas rede de proteção (obras de segurança em geral) pode ser
colocada sem que o condomínio possa a ela se obstar. Seria,
pois, abuso de direito.
Convenção de condomínio:
É a verdadeira constituição interna do condomínio. É o
diploma normativo das condutas.
A natureza da convenção, para alguns, é negocial. Mas se
dado condômino vende a sua unidade, o adquirente está
submetido à convenção do condomínio? Sim. Isso porque não
tem natureza negocial, mas sim estatutária.
Exige-se maioria de 2/3 para aprovação da convenção.
Estabelece todos os direitos e deveres recíprocos
existentes. Estabelece as regras dos condomínios.
A convenção é aprovada por 2/3 das frações ideais. Aprovada
por 2/3 das frações ideais ela terá natureza estatutária.
Em face da natureza estatutária, natureza não negocial da
convenção de condomínio, por ser estatuto vincula o
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 241
terceiro. O contrato apenas vincula as partes. O terceiro
pode ser o adquirente que terá que respeitar a convenção
que tem natureza estatutária.
Pela natureza estatutária não se justifica a restrição
imposta pelo parágrafo único do art. 1.333.
Art. 1.333. A convenção que constitui o condomínio edilício deve ser
subscrita pelos titulares de, no mínimo, dois terços das frações
ideais e torna-se, desde logo, obrigatória para os titulares de
direito sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse ou
detenção.
Parágrafo único. Para ser oponível contra terceiros, a convenção do
condomínio deverá ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis.
Precisa ser registrada para ser oponível a terceiros. Isso
em face da natureza de estatuto. Nesse sentido, vide súmula
260 do STJ. É válida e eficaz independente de registro
quanto aos condôminos.
Súmula: 260 A convenção de condomínio aprovada, ainda que sem
registro, é eficaz para regular as relações entre os condôminos.
O NCC somente confere direito de voto ao condômino que
estiver em dia com a taxa condominial.
A convenção de condomínio terá como matérias obrigatórias:
Art. 1.334. Além das cláusulas referidas no art. 1.332 e das que os
interessados houverem por bem estipular, a convenção determinará:
I - a quota proporcional e o modo de pagamento das contribuições dos
condôminos para atender às despesas ordinárias e extraordinárias do
condomínio;
II - sua forma de administração;
III - a competência das assembléias, forma de sua convocação e quorum
exigido para as deliberações;
IV - as sanções a que estão sujeitos os condôminos, ou possuidores;
V - o regimento interno.
A falta de qualquer dessas matérias pode ser posteriormente
suprida pelas assembleias, por isso que não gera nulidade,
sendo caso de mera irregularidade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 242
a) taxa condominial e a forma de pagamento;
b) modo de administração do condomínio;
c) competência nas assembléias:
Tem que estabelecer a competência das assembléias
ordinárias e extraordinárias.
d) Sanções aplicáveis aos condôminos que descumprirem os
deveres legais e estatutários.
Se não tiver sanções, ninguém será punido por nada?
Mesmo que a convenção seja silente, na forma do § 2.º do
art. 1336 e art.1337.
§ 2o O condômino, que não cumprir qualquer dos deveres estabelecidos
nos incisos II a IV, pagará a multa prevista no ato constitutivo ou na
convenção, não podendo ela ser superior a cinco vezes o valor de suas
contribuições mensais, independentemente das perdas e danos que se
apurarem; não havendo disposição expressa, caberá à assembléia geral,
aprovada por dois terços no mínimo dos condôminos restantes, deliberar
sobre a cobrança da multa.
Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente
com os seus deveres perante o condomínio poderá, por deliberação de
três quartos dos condôminos restantes, ser constrangido a pagar multa
correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para
as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a
reiteração, independentemente das perdas e danos que se apurem.
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado
comportamento anti-social, gerar incompatibilidade de convivência com
os demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar
multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para
as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembléia.
O NCC previu que é possível aplicar ao condômino que
descumpriu os deveres uma multa não superior a cinco vezes
o valor da taxa.
A multa do condômino que descumpre reiteradamente as
obrigações do condomínio, pode receber multa de até cinco
vezes o valor da taxa.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 243
Já para o condômino anti-social, a multa pode ser de dez
vezes o valor da taxa, desde que aprovada por ¾ dos
condôminos.
Para aplicar multa tem que ser garantido o devido processo
legal (STJ – RESP 201.819).
Caso o condômino reitera incontáveis vezes as disposições
do condomínio, há abuso de direito, podendo-se requerer
judicialmente a sua exclusão.
e) Necessidade ou não de regimento interno.
Regimento Interno:
É o manual de instruções do condomínio.
Pode ser modificado por maioria simples. Apenas dispõe
sobre o uso do condomínio.
É facultativo a existência deste.
Temas polêmicos concernentes aos atos constitutivos do
condomínio:
Entrada de animais no condomínio:
Animal no condomínio se submete ao princípio da
razoabilidade, segundo STJ. Os atos constitutivos do
condomínio devem ser razoáveis. Não podem proibir todo e
qualquer animal. A referência é o art. 1277 do CC
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito
de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego
e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade
vizinha.
São segurança, sossego e saúde os referenciais, que são os
bens jurídicos tutelados pelo direito de vizinhança.
Cultos religiosos:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 244
É direito à liberdade de crença e está garantido pela
Constituição. Aqui também se aplica o princípio da
razoabilidade. A convenção pode proibir desde que incomodem
segurança, o sossego e a saúde.
Roubo e furto em área comum:
Condomínio não gera a incidência do CDC, logo não se aplica
a súmula 130 do STJ.
Súmula 130 A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de
dano ou furto de veiculo ocorridos em seu estacionamento.
A regra geral é que cada um assume o seu prejuízo, pois não
há relação de consumo. O STJ tem relativizado esta regra em
duas hipóteses:
a) houver expressa disposição na Convenção do condomínio;
b) se houver taxa específica para empresa de segurança.
Nessa situação, o condomínio responde, pois terá direito de
regresso contra a empresa.
Na lei, há uma hipótese de responsabilidade, ou seja,
quando o roubo ou furto decorrer de ato de empregado do
condomínio. Nesse caso, o ato foi realizado por preposto do
condomínio, sendo que este responderá na qualidade de
tomador do serviço (art. 932, III, CC).
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão
dele;
Alteração de fachada:
Se alteração da fachada é para benfeitoria útil
(necessidade da reforma), para mera conservação é possível
por aprovação de maioria simples.
Se a obra é para embelezamento (voluptuária), quer mudar de
textura para azulejo, a mudança tem que ser aprovada por
maioria de 2/3.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 245
Se é para modificação na fachada, na estrutura da fachada
deverá haver unanimidade. Exemplo: Se quer fechar a
varanda.
Art. 1.341. A realização de obras no condomínio depende:
I - se voluptuárias, de voto de dois terços dos condôminos;
II - se úteis, de voto da maioria dos condôminos.
§ 1o As obras ou reparações necessárias podem ser realizadas,
independentemente de autorização, pelo síndico, ou, em caso de omissão
ou impedimento deste, por qualquer condômino.
§ 2o Se as obras ou reparos necessários forem urgentes e importarem em
despesas excessivas, determinada sua realização, o síndico ou o
condômino que tomou a iniciativa delas dará ciência à assembléia, que
deverá ser convocada imediatamente.
§ 3o Não sendo urgentes, as obras ou reparos necessários, que
importarem em despesas excessivas, somente poderão ser efetuadas após
autorização da assembléia, especialmente convocada pelo síndico, ou,
em caso de omissão ou impedimento deste, por qualquer dos condôminos.
§ 4o O condômino que realizar obras ou reparos necessários será
reembolsado das despesas que efetuar, não tendo direito à restituição
das que fizer com obras ou reparos de outra natureza, embora de
interesse comum.
A lei de direitos autorais ainda garante o direito do
arquiteto que é o autor do projeto. Assim, a modificação de
fachada sem autorização do arquiteto pode gerar direito a
indenização.
Não é alteração de fachada o uso de banners ou propaganda
na fachada do condomínio, é possível desde que haja
autorização da Convenção. Para modificar tem que 2/3 da
fração ideal.
No prédio comercial há uma presunção de possibilidade de
publicidade, salvo disposição em contrário, mas a Convenção
pode pedir.
Taxa condominial:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 246
É obrigação propter rem. Adere à coisa e significa que pode
ser cobrada do adquirente. O adquirente paga pelas dívidas
existentes da taxa de condomínio, com direito de regresso.
A taxa de condomínio pode ser cobrada daquele que estiver
no imóvel.
É possível penhorar bem e família para pagamento da taxa de
condomínio (STJ). Há interesse coletivo que supera o
interesse individual.
O STJ impede cobrança abusiva (colocar o nome do devedor no
elevador) ou suspensão de serviços (suspensão do gás, do
uso do elevador) do inadimplente. A cobrança abusiva gera
dano moral.
Limite de multa e juros:
O NCC disse que é a multa é limitada em 2% e os juros em
1%, ambos ao mês. A multa é uma cláusula penal.
Juros de 1% ao mês e multa de 2% ao mês. Se antes a multa
era de 20% aplica-se a nova regra?
Prevaleceu no STJ a incidência do art. 2.035. Assim, no
RESP 722.904, o STJ entendeu que a nova taxa legal se
aplica inclusive aos condomínios já existentes. Todos os
condomínios são regidos pelo NCC, mesmo os existentes
anteriormente.
A mula de 2% vale inclusive para as dívidas já vencidas,
segundo o STJ.
É nula e abusiva a multa embutida, com falso desconto
progressivo, sob pena de se violar por via obliqua o limite
de 2%.
A taxa presumidamente é dividida de forma igual, mas é
possível cobrar mais de maior fração-ideal.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 247
Nos condomínios mistos (loja + apartamentos), o condômino
da loja não pode participar do rateio de partes comuns que
não utilizará. Exemplo: manutenção da piscina.
Pelo NCC, todo condomínio edilício tem que ter seguro
obrigatório.
Mesmo estando inadimplente, o condômino não pode ser
privado de usar as áreas comuns, salvo quanto aos bens
supérfluos. Ex: condômino que não paga taxa de condomínio
não pode usar piscina e quadra de tênis do condomínio.
Domínio x propriedade:
O CC/16 não fazia distinção entre propriedade e domínio.
Logo, a doutrina e a jurisprudência assim entendiam.
No entanto, o direito de propriedade previsto no art. 1.228
encontra um detalhe importante, diz expressamente que o
direito de propriedade é a simultaneidade na mesma pessoa
os poderes de uso, gozo, dispor e reaver. Há concomitância
do exercício destes 4 poderes. Se a mesma pessoa possui
estes 4 poderes a pessoa tem proporcionalidade. Mas, o CC
ainda exige o título registral no caso de bem imóvel.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar
e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem
quer que injustamente a possua ou detenha.(esse ‘ou
detenha’ é novidade do NCC – o mero detentor, pela redação
deste artigo, pode ser réu em uma ação reivindicatória. E
se ele pode ser réu – não será caso de nomeação à autoria –
se ele tem legitimidade passiva não é o caso de nomeação à
autoria... E agora? De um modo geral as pessoas estão
dizendo para desconsiderarmos/ ignorarmos a mudança –
porque não tem sentido um vaqueiro poder defender uma
fazenda que não lhe pertence). Na prova – fale sobre a nova
redação do art. 1228 do NCC e a sobrevivência da nomeação à
autoria nesse caso.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 248
A propriedade é a concomitância dos poderes somados só
título.
O Domínio é a concomitância dos 4 poderes sem o título.
Quem já usucapiu, mas a ação ainda não transitou em
julgado, esta pessoa já tem domínio, mas não tem
propriedade. A sentença de L é meramente declaratória, pois
declara que o agente é dono.
A proteção da propriedade se faz com a ação reivindicatória
e tem como requisito o título.
Se quero defender o domínio não posso usar da ação
reivindicatória. Tenho que usar da ação publiciana, ação
para defesa daquele que tem os poderes, tem domínio, mas
não tem o título, não tem propriedade.
O STJ vem entendendo que no caso de promessa de compra e
venda, não tenho propriedade ainda, apenas posse, mas já
pode se valer de ação reivindicatória, por ser futuro
proprietário, promitente comprador.
Aula 12 10/06/2009
DIREITOS REAIS NA COISA ALHEIA
Introdução:
É necessário relembrar o conceito de propriedade, o qual
está no art. 1.228 do NCC:
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da
coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente
a possua ou detenha.
É, pois, a soma de diferentes poderes nas mãos da mesma
pessoas, a saber: uso, gozo (sinônimo de fruição),
disposição e reivindicação.
Todos esses poderes nas mãos da mesma pessoa se constituem
no direito de propriedade. Mas esse direito de propriedade
presume a existência de um título, tendo em vista que toda
propriedade se materializada por um título.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 249
Logo, o proprietário é aquele que tem todos os poderes
acima elencados, mais o título.
Aquele que tiver todos os poderes, mas não tiver o título
não terá a propriedade, mas sim o domínio. Logo, o domínio
difere da propriedade, aquele sendo caracterizado pela
inexistência do título.
A partir do art. 1.228 do NCC pode-se concluir:
- se o título tem apenas um dos direitos, uso ou gozo, tem
apenas posse;
- se os quatro poderes sem o título tem o domínio;
- se tem os quatro poderes e o título tem a propriedade.
Na medida em que a propriedade está fundada no título, ela
pode ser exercida perante terceiros. Já o domínio só pode
ser exercido sobre a coisa.
A mesma pessoa pode ter domínio e propriedade, os quais
podem ser desmembráveis ou não.
No caso da enfiteuse, por exemplo, o proprietário entrega o
título a um terceiro e este tem todos os poderes, mas não o
título. O proprietário passa a ser o senhoria, pois. Logo,
o terceiro tem apenas o domínio e não o título. O enfiteuta
tem o domínio útil da coisa.
Apenas para se provar a importância dessa distinção, se se
quer defender a posse, a parte vale-se de ação possessória.
Mas se se quer defender a propriedade, vale-se da ação
reintegratória. E se tem apenas o domínio, o terceiro se
vale da ação publiciana.
Uma das características da propriedade é que é exclusiva.
Mas além do caráter exclusivo tem como outra a
elasticidade. É justamente aqui que surgem os direitos
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 250
reais na coisa alheia, os quais nascem a partir da
possibilidade de desdobramento da propriedade.
A eventual criação de um direito real na coisa alheia não
afeta o caráter exclusivista da propriedade. Isso porque
onde incide o direito do proprietário, outro não pode
incidir.
O que se desdobra nos direitos reais na coisa alheia são os
poderes que compõem o domínio.
A constituição de direitos reais na coisa alheia não reduz
a dimensão da propriedade, porém atinge severamente o
domínio. Por meio de um direito real na coisa alheia
esvazia-se o domínio sem macular a propriedade.
Os direitos reais na coisa alheia são o desdobramento,
elastecimento dos poderes do domínio, mantido o direito de
propriedade.
Na criação, constituição de um direito real na coisa
alheia, a propriedade do titular não é atingida, mas o
domínio é duramente afetado. O direito de propriedade
continua absolto, perpétuo, oponível erga omnes etc.
A constituição de direitos reais na coisa alheia atende ao
caráter elástico dos poderes do domínio. Se esses poderes
não forem elásticos, não seria possível haver direitos
reais na coisa alheia.
Função social nos direitos reais na coisa alheia:
Os direitos reais (propriedade) não são exercidos sobre
coisas, mas sim sobre pessoas. Quem é exercido sobre a
coisa é o domínio. Chega-se, pois, à conclusão de que todo
direito real deve cumprir uma função social. Quando a CF
menciona a função social da propriedade, implicitamente, o
faz acerca dos direitos reais na coisa alheia.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 251
Na nova conformação constitucional do direito civil, este
deve respeitar a tábua axiológica constitucional. Os
institutos de direito civil devem respeitar a dignidade, a
cidadania, a solidariedade e a igualdade. A propriedade tem
que cumprir uma função social. Os direitos reais na coisa
alheia (decorrem do fracionamento dos poderes do domínio)
também precisam respeitar a função social.
A propriedade como um todo precisa respeitar a função
social, logo é intuitivo que o direitos reais na coisa
alheia também respeitem a função social.
A função social dos direitos reais na coisa alheia é a
conseqüência lógica da função social da propriedade.
A hipoteca, penhor, uso, usufruto, enfiteuse, todos os
direitos reais precisam respeitar a função social.
Entre prestigiar o ser e o ter, a função da propriedade
sempre prestigia o ser.
Exemplo: Súmula 308 do STJ
Súmula: 308 A hipoteca (direito real de garantia sobre bem imóvel –
direito real na coisa alheia) firmada entre a construtora e o agente
financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e
venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.
Se a construtora deu um terreno em garantia, o terreno em
que se construiu o condomínio edilício, essa garantia é
inoponível para os adquirentes dos apartamentos. Temos a
ineficácia da hipoteca em relação a terceiros.
A função social nos traz sempre a idéia do direito como uma
função. Bobbio em 1970 escreveu “Da estrutura à função”.
Enquanto os professores ensinavam para seus alunos a
estrutura do Direito, o que é o Direito, na verdade deveria
ser ensinado “para que serve?” o Direito, a função do
Direito. A função social é isso, para que servem os
direitos reais na coisa alheia, para garantir o
planejamento axiológico constitucional, fazendo com que os
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 252
direito fundamentais tenham privilegio, supremacia e
efetividade.
Os direitos reais na coisa alheia são fruto do
fracionamento do domínio, logo todo direito real na coisa
alheia será sempre limitado. Não traz consigo um direito
real completo. O único direito real completo é a
propriedade. Os demais direitos reais sempre serão um
fracionamento dos poderes existentes na propriedade, um
fracionamento do domínio.
Classificação e finalidade dos direitos reais na coisa
alheia:
Nascendo do desdobramento dos poderes do domínio, os
direitos reais na coisa alheia podem ser constituídos com
três diferentes finalidades. O que leva, pois, alguém a
receber parcela dos poderes do domínio da propriedade
alheia?
a) permitir que o terceiro tenha consigo os poderes de
utilização da coisa. É o direito real de gozo ou fruição,
ou seja, permitir que o terceiro retire as utilidades da
coisa: uso, gozo etc.
No Brasil são 06 os direitos de gozo e fruição (o terceiro
pode receber parcela dos poderes para ter a coisa consigo):
- enfiteuse: apenas para as que existiam antes do NCC
- superfície:
- servidão predial:
- usufruto:
- uso:
- habitação:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 253
Para retirar as utilidades da coisa pode ser instituído um
direito real na coisa alheia para garantir uma relação
jurídica preexistente.
b) Direitos reais de garantia:
O terceiro recebe parcela do poder de domínio (não para
retirar o uso e fruição), mas apenas para assegurar uma
relação jurídica já existente, ou seja, apenas para
assegurar o cumprimento de uma obrigação.
São 04 os direitos reais de garantia:
- hipoteca:
- penhor:
- anticrese:
- alienação fiduciária em garantia:
c) direito real na coisa alheia à aquisição:
O que o terceiro quer é. Através do domínio, assumir a
propriedade, ou seja, através do domínio o terceiro quer
ser proprietário.
No Brasil, direito real na coisa alheia à aquisição só
existe um, que é a promessa irretratável de compra e venda.
Para que terceiro possa ser dono, possa adquirir a coisa há
um Direito real, que é a promessa de compra e venda, por
meio da qual transfere-se parcela do poder de domínio para
que o agente possa ser dono. Permite ao terceiro adquirir a
propriedade
O art. 1.225 do NCC traz todo o rol dos direitos reais na
coisa alheia:
Art. 1.225. São direitos reais:
I - a propriedade;
II - a superfície; (direitos reais na coisa alheia de gozo)
III - as servidões; (direitos reais na coisa alheia de gozo)
IV - o usufruto; (direitos reais na coisa alheia de gozo)
V - o uso; (direitos reais na coisa alheia de gozo)
VI - a habitação; (direitos reais na coisa alheia de gozo)
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 254
VII - o direito do promitente comprador do imóvel; (direito real na
coisa alheia à aquisição)
VIII - o penhor; (direito real de garantia)
IX - a hipoteca; (direito real de garantia)
X - a anticrese. (direito real de garantia)
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela
Lei nº 11.481, de 2007)
XII - a concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº
11.481, de 2007)
Deve-se respeitar aqui o princípio da tipicidade, por meio
do qual todo direito real é taxativo e tem que estar
presente em lei.
A propriedade é o direito real completo, tem os quatro
poderes do domínio concentrados nas mãos de uma mesma
pessoa.
As rendas constituídas pela enfiteuse foram extintas, mas a
enfiteuse permanece, desde que tenha sido instituída na
vigência do NCC.
Os incisos XI e XII são dois novos direitos reais trazidos
pela lei 11.481/07. São dirigidos, fundamentalmente para o
poder público, para que possa viabilizar programas
habitacionais, regularizar questões fundiárias etc.
Hoje, portanto, há quatorze direitos reais. Um sobre a
coisa própria (propriedade) e treze sobre a coisa alheia.
São seis de gozo e fruição, quatro de garantia e um de
aquisição.
Diferentemente dos direitos obrigacionais, como dito
anteriormente, os direitos reais devem ser criados por lei.
logo, o rol do art. 1.225 do NCC é numerus clausus.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 255
Direito real na coisa alheia à aquisição (promessa
irretratável de compra e venda):
Ou compromisso de compra e venda é o mais novo, mais
recente de todos os direitos reais brasileiros. É a
verdadeira prova que o direito é ciência humana aplicada.
Foi um direito que surgiu por uma imposição social. O CC de
16 negava a natureza de direito real a esta promessa de
compra e venda.
No CC/16 esta promessa era retratável e revogável, muito
provavelmente é o mais comum de todos os contratos
imobiliários brasileiros.
Compra e venda, na forma do art. 481 do NCC, é um contrato
que se exaure imediatamente. É o contrato pelo qual alguém
transfere a outrem a propriedade de algo mediante
pagamento.
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se
obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe
certo preço em dinheiro.
Desse conceito nota-se que o pagamento deve ser imediato,
integral.
Transportando esse conceito para o campo imobiliário, é
muito raro que esse direito seja pago à vista. Se não pagou
à vista, não pode celebrar compra e venda, mas apenas
promessa de compra e venda. Esta é um contrato preliminar,
por meio do qual as partes assumem uma obrigação de fazer,
que é a de celebrar um outro contrato.
O promitente vendedor promete transferir a propriedade caso
o promitente comprador lhe pague integralmente o preço.
A violação da promessa de compra e venda se resolvia em
perdas e danos. Mas o objeto da promessa de compra e venda
pode ter se valorizado, seja por conta da valorização do
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 256
bairro, da realização de obras públicas etc. Caso isso
ocorra, o promitente vendedor poderia voltar atrás na
promessa, desde que pagasse em dobro o valor.
A solução apresentada pelo art. 1.088 do CC/16 acima
transcrita, passou a ser inócua com o passar dos tempos,
pois o que o promitente comprador deseja é a transferência
da propriedade.
Exemplo: uma promessa de compra e venda cujas obras
publicas valorizaram determinada área. O promitente
vendedor então visando seu lucro retratava da promessa e
pagava a multa (no caso o valor pago em dobro). Isso
causava uma instabilidade na venda de imóveis, em face da
possibilidade de arrependimento.
Assim, as pessoas tinham pavor de celebrar promessas de
compra e venda. Isso deu ensejo a uma série de loteamentos
inescrupulosos.
Assim, por conta de uma necessidade social de maior
segurança editou-se o DL 58/37 que estabeleceu um direito
real à promessa de compra e venda, em que a cláusula de
retratação deveria ser expressa nos contratos.
Se não constasse expressamente do contrato presumir-se-ia
não escrita essa cláusula. Aqui se criou um direito real à
aquisição do bem com a quitação da obrigação, mesmo contra
a vontade do vendedor.
Se o promitente vendedor se recusar à transferência da
propriedade do bem, caberá ao promitente comprador o
direito de adjudicá-lo compulsoriamente.
A promessa de compra e venda, portanto, produz efeitos de
direito real. Haverá, pois, uma mutação da natureza da
promessa de compra e venda, porque, originariamente
obrigacional, se torna real.
A lei 6.766/79 (Lei de parcelamento dos solos urbanos)
revogou o DL 58/37. O art. 25 da lei 6.766 estabeleceu a
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 257
nulidade das cláusulas de retrato para os imóveis loteados
sejam eles urbanos ou rurais.
Art. 25 - São irretratáveis os compromissos de compra e venda, cessões
e promessas de cessão, os que atribuam direito a adjudicação
compulsória e, estando registrados, confiram direito real oponível a
terceiros.
Essa lei permanece em vigor, assim, hoje é nula a cláusula
de contrato de promessa de compra e venda de imóvel
loteado, seja urbano ou rural o imóvel.
O NCC consolidou a evolução da matéria na redação do art.
1.417, ou seja, confirmou a eficácia real da promessa de
compra e venda.
Do Direito do Promitente Comprador
Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou
arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente
comprador direito real à aquisição do imóvel.
A eficácia da promessa de compra e venda, pois, passou a
ter natureza real caso o promitente vendedor não transfira
a propriedade do bem após pago o seu valor integral.
A existência de uma cláusula de arrependimento (cláusula de
retrato) retira a eficácia real da promessa e esta será
tratada puramente como uma relação obrigacional.
Lembre-se que é nula a cláusula de arrependimento na compra
de imóvel loteado, rural ou urbano, e em contrato de
consumo. A boa-fé objetiva, portanto, afasta a cláusula de
retratação em imóvel loteado e em contrato de consumo. É o
que reza o art. 25 da Lei 6.766/79:
Art. 25. São irretratáveis os compromissos de compra e venda, cessões
e promessas de cessão, os que atribuam direito a adjudicação
compulsória e, estando registrados, confiram direito real oponível a
terceiros.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 258
Ressalte-se que a cláusula de retrato, mesmo nesses dois
casos acima transcritos, deve ser expressa, bem como não
pode violar a boa-fé objetiva.
A promessa de compra e venda constitui direito real à
aquisição quando não contiver cláusula de retrato, pois se
contiver essa cláusula desfigurará o direito real na medida
em que permite o arrependimento e obsta à adjudicação
compulsória, pois o vendedor pode a qualquer tempo voltar
atrás, desde que a obrigação não tenha ainda sido quitada.
SÚMULA n. 166 – (SJP de 13.12.1963) É inadmissível o arrependimento no
compromisso de compra e venda sujeito ao regime do Dec.-lei n. 58, de
10.12.1937.
Havendo cláusula de arrependimento desconfigura-se o
direito real, pois retira-se do promitente comprador os o
direito à adjudicação compulsória, em face da possibilidade
de arrependimento e devolução dos valores pagos.
Qual o prazo do vendedor para exercer a retratação?
O NCC não prevê qualquer prazo. Como não existe decadência
por presunção, ou seja, os prazos de decadência devem ser
expressos, logo ele pode se arrepender a qualquer tempo
durante toda a relação contratual. Não há prazo para o
arrependimento. Mas esse prazo tem como limite a quitação
do imóvel.
Quitado o imóvel e não transferido, cabe ação de outorga de
escritura, que é o modo de execução específica.
Todavia, pode ocorrer SUPRESSIO (comportamento do vendedor
criando uma expectativa desleal). A supressio é o abuso de
direito, logo ato ilícito. Se o vendedor por meio de seu
comportamento criou no comprador a expectativa que não iria
se retratar, mesmo podendo fazê-lo, haverá supressio
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 259
(expectativa desleal criada pela parte). Se vier a fazê-lo
teremos o ilícito civil. É caso típico, também, de venire
contra factum proprium, ou seja, esse direito de retratação
não pode ser exercido abusivamente,
Processualmente, como o promitente comprador exerce a
aquisição forçada do bem?
Não se aplica no caso da promessa irretratável da compra e
venda a tutela específica. Isso porque esta é genérica e no
caso em tela a regra própria. O promitente comprador pode
se valer de duas diferentes possibilidades, desde que
comprove a quitação do bem. a saber:
- art. 15 do Decreto-Lei 58/37: ação de adjudicação
compulsória. Possui procedimento especial, portanto.
- ação de outorga de escritura pública, prevista no art.
466-B do CPC:
Art. 466-B. Se aquele que se comprometeu a concluir um contrato não
cumprir a obrigação, a outra parte, sendo isso possível e não excluído
pelo título, poderá obter uma sentença que produza o mesmo efeito do
contrato a ser firmado. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005)
A diferença entre ambas é apenas de procedimento, tendo em
vista que desembocam, por caminhos diferentes, na aquisição
forçada.
Efeitos jurídicos decorrentes da promessa irretratável da
promessa de compra e venda enquanto direito real:
São dois os efeitos jurídicos:
a) conferir posse ao promitente adquirente.
Há aqui um desdobramento clássico da posse, já que o
adquirente passará a ter posse direta. Recebendo posse, o
promitente comprador passa a ser tratado como possuidor de
boa-fé, fazendo jus às benfeitorias, frutos etc.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 260
Essa posse durante a vigência do contrato não gera
usucapião, pois se dá na fluência de um contrato. Isso
porque nessa posse não há animus domini.
Para que a promessa gere usucapião, é preciso que haja
ruptura do contrato. Assim, o prazo da prescrição
aquisitiva só começará a fluir quando da ruptura do
contrato. Ex: o promitente comprador deixa de pagar e não é
retirado do imóvel pelo promitente vendedor.
b) conferir ao comprador o direito à aquisição compulsória
assim que provar que já quitou o compromisso.
Essa aquisição se dará de umas das formas supra descrita
(procedimento especial ou procedimento comum).
Não há necessidade de uso de tutela especifica, já que
existe uma tutela própria e adequada que é a execução
forçada. Assim, não se aplica aqui as astreintes.
IMPORTANTE: A ação para execução forçada tem sempre
natureza executiva lato sensu, dispensado o uso de
astreintes.
Necessidade de registro da promessa de compra e venda:
Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou
arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente
comprador direito real à aquisição do imóvel.
Promessa de compra e venda como direito real na coisa
alheia reclama registro. Se o promitente comprador não
registrou a promessa, há o famoso contrato de gaveta. Mesmo
que a promessa não tenha sido registrada, o promitente
comprador tem direito à adjudicação compulsória.
É o que reza a súmula 239 do STJ:
Súmula: 239 O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao
registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 261
Mas só tem direito ao procedimento especial se a promessa
foi registrada. Caso não tenha havido o registro, a ação de
adjudicação compulsória será a do CPC. Assim, o registro
serve apenas para garantir o direito ao procedimento
especial, pelo rito sumário, conforme art. 15 do Decreto-
Lei acima mencionado.
Se a promessa ainda não foi registrada, o imóvel continua
em nome do promitente vendedor sem qualquer gravame. Se for
requerida a penha do bem, o juiz pode determinar a penhora
do bem, desde que não esteja registrada a promessa de
compra e venda.
Mesmo determinada a penhora, o promitente comprador pode se
valer dos embargos de terceiro. É o que reza a súmula 84 do
STJ:
Súmula: 84E ADMISSIVEL A OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE TERCEIRO FUNDADOS EM
ALEGAÇÃO DE POSSE ADVINDA DO COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMOVEL,
AINDA QUE DESPROVIDO DO REGISTRO.
Se a promessa não for registrada e o promitente vendedor
vender novamente o imóvel, o terceiro adquirente, desde que
de boa-fé, tem direito sobre o bem.
Logo, a grande força do registro da promessa está em
obstar, eventualmente, uma revenda do bem.
Mora do promitente comprador:
Mora do vendedor: seria a não celebração de escritura
publica, aqui cabe a execução forçada por ação executiva
lato sensu.
Mora do comprador: deixar de efetuar o pagamento. O DL
58/37 estabelece que a mora do promitente comprador depende
de interpelação, por meio de notificação judicial ou
extrajudicial.
O promitente comprador não tem contra si qualquer sanção
salvo quando notificado.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 262
O prazo mínimo para notificação é de 30 dias se o imóvel
for loteado. Prazo para purgar a mora (emendá-la e executar
o pagamento).
O prazo mínimo para notificação é de 15 dias se o imóvel
não for loteado.
Não cabe reivindicatória, possessória ou rescisão do
contrato enquanto não constituir o devedor em mora. Isso se
chama aplicação dos direitos fundamentais, ou melhor,
Devido processo legal.
Mesmo que a promessa não tenha sido registrada haverá a
necessidade de prévia interpelação para constituir o
devedor em mora.
Súmula: 76 A FALTA DE REGISTRO DO COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE
IMOVEL NÃO DISPENSA A PREVIA INTERPELAÇÃO PARA CONSTITUIR EM MORA O
DEVEDOR.
É a chamada mora ex persona (incide sobre a pessoa), ou
seja, mora que obriga a prévia a notificação. A promessa de
compra e venda é obrigatória a mora com notificação.
Mora ex re (incide sobre a coisa): constituída previamente
independente de notificação, basta a falta de pagamento.
Em síntese:
Enquanto não houver inadimplemento, é vedado ao promitente
vendedor procurar medidas de recuperação do bem. Se o
comprador para de pagar, deve ser aplicada a súmula 76 do
STJ:
Súmula: 76A FALTA DE REGISTRO DO COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE
IMOVEL NÃO DISPENSA A PREVIA INTERPELAÇÃO PARA CONSTITUIR EM MORA O
DEVEDOR.
É a chamada mora ex persona, que é aquela que depende de
notificação.
A interpelação é obrigatória mesmo que a promessa não tenha
sido registrada.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 263
A partir do momento em que o promitente comprador foi
constituído em mora, surge para o promitente vendedor
diferentes possibilidades
- ação possessória;
- ação reivindicatória ou publiciana.
- ação de rescisão de contrato:
Se o promitente vendedor requer a rescisão do contrato, o
comprador deve devolver o bem e o vendedor deve devolver o
dinheiro. Mas antes de devolver o dinheiro, deve abater
juros e correção, além da multa. Veja-se o art. 389 do NCC:
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e
danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
Ainda, cabe taxa de ocupação, a qual será arbitrada pelo
juiz, uma vez que o comprador inadimplente estava morando
no imóvel.
Assim, toda e qualquer cláusula de decaimento (perdimento),
que é aquela que prevê a perda dos valores pagos na
hipótese de rescisão, é nula de pleno direito, porque
abusiva.
Situações controvertidas quanto à promessa irretratável de
compra e venda:
Necessidade de outorga do cônjuge do vendedor:
O NCC exige no art. 1.647 a outorga do cônjuge do
promitente vendedor:
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges
pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação
absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
O cônjuge do comprador é irrelevante e não precisa
aquiescer.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 264
A exigência da outorga decorre do fato de que a sua
ausência gera anulabilidade do ato. Mas tal não ocorre no
caso de regime de separação e de união estável.
Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando
necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o
outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de
terminada a sociedade conjugal.
Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por
instrumento público, ou particular, autenticado.
É anulável no prazo de dois anos, este prazo contado da
data do término do casamento. A promessa pode ter sido
celebrada numa data e o término do casamento pode se dar 10
ou 20 anos depois, vai causar uma instabilidade muito
grande.
Para o professor pode ocorrer aqui supressio a depender do
comportamento do cônjuge do promitente vendedor. O cônjuge
de algum modo pode criar a expectativa de que não vai
anular. O STJ vem aceitando este entendimento.
Possibilidade de supressio a depender da omissão e
confiança despertada pelo não agir do cônjuge que não
aquiesceu.
Possibilidade de contagem de prazo de usucapião:
Regra geral não se conta o prazo de usucapião em face da
existência de contrato. Todavia, se extinto o contrato é
possível contar o prazo de usucapião e inclusive utilizar a
promessa como justo título para fins de usucapião
ordinário, o qual possui prazo usucaptivo menor.
A legitimidade do comprador para ajuizar ação
reivindicatória:
Esse entendimento está consolidado no STJ (RESP 5941).
Legitimidade do promitente comprador que pode exercer
direto a ação reivindicatória, pois tem direito a aquisição
do imóvel. Não precisa ajuizar ação publiciana.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 265
Impossibilidade de uso de ação possessória, reivindicatória
ou ação de rescisão contratual pelo promitente vendedor
antes de constituir o promitente comprador em mora pela
interpelação:
Sem interpelação e constituição em mora não será possível o
uso destas ações (REsp 166.459).
É admissível, portanto, o manejo de ação reivindicatória ou
possessória pelo promitente comprador.
Natureza jurídica da promessa de compra e venda no NCC:
É um contrato sui generis, natureza jurídica híbrida. A um
só tempo é contrato preliminar e direito real à aquisição.
Art. 462 do CC traz o contrato preliminar.
Do Contrato Preliminar
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter
todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.
“exceto quanto à forma”: o contrato preliminar não tem
natureza acessória e não se submete a regra da gravitação
(não segue o principal).
O contrato preliminar não é acessório, sendo obrigação de
fazer consistente em celebrar outro contrato. É um negócio
jurídico pelo qual duas partes se comprometem a celebrar
outro negócio jurídico.
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto
no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de
arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a
celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro
competente.
O contrato de preliminar é autônomo, principal e pelo qual
as partes assumem um fazer de celebrar outro contrato
(promessa de compra e venda é exemplo).
O contrato preliminar promete fazer um contrato futuro, no
caso um contrato de compra e venda. O contrato preliminar
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 266
deve ter todos os requisitos exceto quanto a forma, assim,
a promessa de compra e venda não precisa ser por escritura
publica e também não precisa ser registrada.
A promessa consoante o art. 462 não precisa respeitar a
solenidade da compra e venda (não precisa de registro e não
precisa ser por escritura publica).
Mas, o art. 1417 é um artigo confuso. Fala que a promessa
pode ser por escritura publica ou particular, mas deve ser
registrada no cartório de imóveis. Ao afirmar a necessidade
de registro, este artigo se põe em rota de colisão com o
art. 462 (artigo que diz que a promessa não precisa ter os
requisitos formais do contrato prometido).
Precisa ou não de registrar o contrato de compra e venda?
Resposta: Não se faz necessário o registro no cartório de
imóveis. Neste sentido é a súmula 239 do STJ.
(contrato – adjudicação) Súmula: 239 O direito à
adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do
compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.
Mesmo que a promessa não seja registrada o promitente
comprador faz jus à adjudicação compulsória. Além disso,
tem direito também de interpor embargos de terceiros.
Mesmo sem registro pode embargar a discussão judicial sobre
o bem.
O promitente vendedor tem credores, estes podem penhorar o
imóvel objeto de compra e venda, afinal não houve registro
e o imóvel permanece livre e desembaraçado. Penhorado fere
o direito do promitente comprador que poderá manejar
embargos de 3º para se defender.
Só pode se valer o promitente comprador dos embargos de
3º se estiver efetivamente exercendo a posse.
Possibilidade de fraude de execução – o promitente
comprador pode embargar a penhora, mas para isso tem que
estar de boa-fé e assim a dívida deve ter sido constituída
depois da celebração de promessa. Se a divida foi
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 267
constituída antes e já havia ação contra o promitente
vendedor, o comprador não poderia estar de boa-fé.
Exemplo: Moro em BH e quero vender um imóvel localizado em
Aracaju. O comprador antes de celebrar a promessa para
estar de boa-fé deve ter cautelas e tirar certidões
negativas na JE, JF e JT. O promitente comprador tira
certidões em BH e Aracaju, se sentindo seguro e celebra a
promessa. Mas o vendedor responde por ação de cobrança em
Roraima, neste caso o promitente comprador está de boa-fé.
Esta aquisição não foi fraudulenta.
Agora se a dívida e a ação era de BH, neste caso o
comprador que não tira as certidões estará de má-fé e o
imóvel poderá ser penhorado.
A promessa de compra e venda não reclama o registro para
que o promitente adquirente tenha direito a adjudicação
compulsória e embargos de terceiro, caso esteja de boa-fé.
Cláusula de Decaimento é sinônimo de cláusula de perdimento
Estabelece a perda de todas as parcelas pagas quando houver
a constituição em mora do comprador.
É uma cláusula abusiva, nula de pleno direito.
O promitente comprador tem assim direito de receber de
volta aquilo que pagou.
Problema: todo promitente comprador quer ficar em mora,
pois receberia o seu dinheiro de volta e moraria no imóvel.
Mas, esta não é a regra. Da restituição impõe-se a dedução
de alguns valores, entre eles a cláusula penal (multa), que
não pode ser abusiva. O art. 413 do CC garante ao juiz a
redução equitativa da multa.
Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se
a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante
da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a
natureza e a finalidade do negócio.
Pode inclusive de oficio reduzir a multa.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 268
Também deve ser deduzida das parcelas a serem restituídas
um valor referente a taxa de ocupação, que será trazida
pelo contrato ou arbitrada pelo juiz (tipo de aluguel).
Também serão deduzidos juros e correção monetária.
Direitos reais de Garantia:
Teoria geral:
A primeira ideia é se lembrar da lei poetelia papiria,
primeira lei a trazer regras de responsabilidade
patrimonial, ou seja, foi a primeira a romper com a Lei do
Talião. Até esta lei o devedor respondia pelo cumprimento e
suas obrigações com sua personalidade. É uma
responsabilidade pessoal do devedor.
Como o passar do tempo a responsabilidade se tornou
patrimonial e surgiram garantias patrimoniais.
O credor passou a exigir maiores garantias, como a
garantias reais ou direito real de garantia para garantir o
cumprimento de uma obrigação, oferecendo um bem como
garantia da dívida.
Assim, o direito real de garantia é o direito de que dispõe
o credor de ter vinculado à dívida um bem pertencente ao
devedor.
Comportam garantias reais e fidejussórias (garantias
prestadas por terceiro. Exemplo: fiança e aval).
Ao lado dessas garantias, temos as garantias reais que são
asseguradas por um bem, por um direito real.
Quando a garantia tiver como objeto um direito real será
tratada como uma garantia real. A garantia real é a
afetação de um bem, de um direito real ao cumprimento de
uma obrigação.
Afeta-se, vincula-se a propriedade de um bem, um direito
real ao cumprimento de uma obrigação. Assim, esse direito
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 269
real de garantia é a vinculação de um poder do credor a um
bem pertencente ao devedor.
Todos os direitos reais de garantia, dessa forma, têm
natureza acessória e só existem para assegurar o
cumprimento de uma obrigação.
Só existe, portanto, direito real de garantia quando
existir uma relação jurídica obrigacional preexistente.
Ademais, essa relação jurídica preexistente tem que
reclamar uma garantia não fidejussória, se notabilizando
por um bem pertencente ao devedor.
Cumprida a obrigação, extingue-se a garantia, já que a sua
natureza é acessória e é um mecanismo assecuratório para o
cumprimento de uma obrigação.
O Direito real de garantia é diverso do direito real de
gozo com privilégios creditícios.
A finalidade almejada pelo direito de fruição é permitir
que o terceiro retire a utilidade da coisa, tenha o uso e o
gozo da coisa, tenha contato físico e retire as utilidades.
No direito real na coisa alheia de garantia, há a
finalidade de apenas e tão-somente assegurar o cumprimento
de uma obrigação. O credor que é o titular somente pode
garantir a obrigação, não pode retirar nenhum fruto da
coisa, não tem contato físico e não tem utilidade.
O direito real de garantia não se confunde com o privilégio
creditício, pois o credor fiscal, de alimentos e
trabalhista exerce seu privilégio sobre todo o patrimônio.
Todo o patrimônio garante a dívida.
O direito real de garantia é exercido sobre um bem
destacado, um bem especificamente oferecido em garantia.
Requisitos do direito real de garantia:
1- Subjetivos (art. 1420):
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 270
- capacidade do devedor;
- outorga do cônjuge, exceto no regime de separação;
- titularidade do bem.
Somente quem pode alienar pode dar em garantia. Exige a
capacidade para alienar. É preciso ser proprietário e, além
disso, deve ter capacidade para alienar para poder dar em
garantia.
Art. 1.420. Só aquele que pode alienar poderá empenhar, hipotecar ou
dar em anticrese; só os bens que se podem alienar poderão ser dados em
penhor, anticrese ou hipoteca.
O falido não pode alienar e com certeza não pode dar um bem
em garantia. A Garantia prestada pelo falido é nula.
Quem está em recuperação judicial de empresa pode dar em
garantia com autorização judicial.
O incapaz somente pode dar em garantia quando estiver
devidamente representado ou assistido e desde que tenha
autorização especial do juiz, ouvido o MP.
O representante ou assistente do incapaz não pode assisti-
lo ou representá-lo para dar em garantia sem autorização do
juiz.
Se a pessoa for casada, a garantia reclama o consentimento
do cônjuge, sob pena de anulabilidade.
Garantia prestada pelo condômino: cuidado para não
confundir o condomínio comum com o edilício. Se for
edilício, a unidade, apartamento pode ser dado em garantia
sem qualquer interferência dos demais condôminos, não há
aquiescência dos demais condôminos. A dúvida diz respeito
ao condomínio comum, em relação ao condomínio tradicional a
garantia deve se dar por todos os condôminos, quando o bem
dado em garantia for o próprio bem condominial como um
todo. Todos têm que consentir. Se um deles se recusar
injustificadamente, caberá suprimento judicial deste
consentimento.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 271
A quota-parte (fração ideal) de cada condômino pode ser
dada em garantia independentemente do consentimento dos
demais. A fração ideal pode ser dada em garantia
independente do consentimento dos demais e independente do
direito de preferência (este somente para alienação
onerosa). Logo, é possível ao condômino dar a sua quota em
garantia.
É possível ao ascendente dar um bem em garantia a um
descendente independente do consentimento dos demais, mas
para alienar para o descendente não depende do
consentimento dos demais? Sim, isso é verdade. Mas para
prestar uma garantia real em favor do descendente não
precisa do consentimento dos demais, pois não precisa do
consentimento dos demais descendentes para assumir uma
obrigação.
Lembrando que os direitos reais de garantia têm natureza
acessória e servem para garantir uma obrigação que foi
assumida. Assim, pode o ascendente prestar uma garantia
real a um dos descendentes sem qualquer consentimento dos
demais.
Execução: frustradas as prestações o bem será executado,
mesmo no caso acima, sem qualquer consentimento dos demais
descendentes .
2- Objetivos (art. 1420, 2ª parte). Só os bens que podem
ser alienados podem ser dados em garantia.
Art. 1.420. Só aquele que pode alienar poderá empenhar, hipotecar ou
dar em anticrese; só os bens que se podem alienar poderão ser dados em
penhor, anticrese ou hipoteca.
Os bens gravados com cláusulas restritivas
(impenhorabilidade, inalienabilidade) e os bens públicos
não podem ser dados em garantia.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 272
O Decreto-Lei 8.618/46 impede que se dê em garantia imóveis
financiados.
Somente podem ser dados em garantia os bens que podem ser
alienados. O §1º do art. 1.420 permite, no entanto, que se
dê em garantia a propriedade que ainda não pertence ao
particular, ao devedor.
§ 1o A propriedade superveniente torna eficaz, desde o registro, as
garantias reais estabelecidas por quem não era dono.
Caso isso aconteça, essa garantia será existente, válida,
porem não eficaz. Tornar-se-á eficaz com a aquisição
superveniente. Assim, a aquisição superveniente é condição
eficacial da garantia. Enquanto ela não se concretizar, a
garantia é ineficaz.
É possível dar bem de família em garantia?
Se o titular do bem de família der em garantia o próprio
imóvel, não pode alegar a sua impenhorabilidade, sob pena
de venire contra factum próprio. É o que reza o inciso V do
art. 3.º da Lei 8.009/90:
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de
execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra
natureza, salvo se movido:
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia
real pelo casal ou pela entidade familiar;
Resposta: passa pela distinção entre o bem de família legal
e convencional (depende de ato do particular que
constituirá o bem imóvel em bem de família, no limite de
1/3 do patrimônio liquido do devedor).
O bem de família convencional é retirado do comércio,
assim, o bem de família convencional está fora do comércio
e torna o bem inalienável, logo não pode ser dado em
garantia. Não pode ser alienado, então não pode ser dado em
garantia.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 273
Já o bem de família legal pode ser dado em garantia,
implicando a renúncia.
3- Formais: são dois os requisitos formais.
a- Publicidade: ocorre com o Registro, quando se tratar
de bem imóvel ou com a tradição, quando se tratar de bem
móvel.
b- Especialização do direito real d garantia: vem
indicada no art. 1.424. Nada mais é senão a especificação
da dívida, do vencimento e dos juros.
Art. 1.424. Os contratos de penhor, anticrese ou hipoteca declararão,
sob pena de não terem eficácia:
I - o valor do crédito, sua estimação, ou valor máximo;
II - o prazo fixado para pagamento;
III - a taxa dos juros, se houver;
IV - o bem dado em garantia com as suas especificações.
É a individualização do bem, descrevendo-o, indicação da
dívida, o vencimento e a taxa de juros, isso é a
especialização da garantia (penhor, hipoteca).
Nada mais é do que descrever pormenorizadamente a dívida,
juros, vencimento e o imóvel dado em garantia.
Se não forem atendidos a ambos os requisitos formais, a
garantia não se aperfeiçoa, mas a dívida continua,
permanece a relação obrigacional. Afinal a garantia é
acessória ao principal que é a relação obrigacional.
Descaracterizada a garantia real, dívida, pois, deixa de
ser real e passa a ser comum, quirografária.
OBS: Direito real de garantia não admite pacto comissório
(cláusula comissória). O pacto comissório é a clausula que
permite que o credor fique com o bem dado em garantia na
hipótese de descumprimento da obrigação. O credor se mantém
com o bem na hipótese de violação da obrigação. Isso não é
possível, pois o direito real de garantia não se confunde
com o direito real de gozo. Havendo descumprimento, o
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 274
credor pode executar o bem, excuti-lo do devedor. É nula a
cláusula comissória em direito real de garantia (Decreto-
Lei 70/66 – permitia que os imóveis financiados fossem
executados extrajudicialmente pela CEF).
O DL 70/66 não foi recepcionado pela CF/88 ante vedação à
cláusula comissória.
Art. 1.428. É nula a cláusula que autoriza o credor pignoratício,
anticrético ou hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a
dívida não for paga no vencimento.
Parágrafo único. Após o vencimento, poderá o devedor dar a coisa em
pagamento da dívida.
A proibição da cláusula comissória não impede, contudo,
que, já verificado o inadimplemento, o bem seja dado em
pagamento pelo devedor ao credor.
Ocorre a dação em pagamento, portanto, sempre que o devedor
oferece ao credor coisa diversa e ele a aceita.
Assim, é possível a dação em pagamento, malgrado a
proibição da cláusula compromissória.
Efeitos da Garantia real:
Decorrem alguns efeitos da garantia:
- direito de preferência: o direito de garantia gera a
preferência do credor.
O art. 83 da lei 11.101 (Nova Lei de Falências) inverteu a
ordem de preferência dos créditos concursais.
Nova ordem: 1º crédito trabalhista; 2º vem o crédito com
garantia real; 3º crédito tributário.
Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte
ordem:
I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150
(cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de
acidentes de trabalho;
II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo
de constituição, excetuadas as multas tributárias;
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 275
IV – créditos com privilégio especial, a saber:
a) os previstos no art. 964 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo
disposição contrária desta Lei;
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre
a coisa dada em garantia;
V – créditos com privilégio geral, a saber:
a) os previstos no art. 965 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo
disposição contrária desta Lei;
VI – créditos quirografários, a saber:
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos
bens vinculados ao seu pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que
excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das
leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;
VIII – créditos subordinados, a saber:
a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo
empregatício.
- direito de seqüela:
É o direito de perseguir a coisa. O bem alienado pode ser
vendido, mas quem o adquire assim o faz com a garantia,
porque o direito de sequela segue a coisa.
- direito de execução:
Pode o bem ser levado à execução.
O credor real só o tem na hipótese de inadimplemento. Todos
os demais direitos são automáticos com relação ao credor.
- Indivisibilidade da garantia:
Prestada a garantia, é indivisível. Constituída a garanti
para uma dívida de 200 sobre o imóvel que vale 300, por
exemplo, pode o devedor se liberar parcialmente? Não,
porque somente o adimplemento total da dívida implica a
extinção da garantia.
- direito de sub-rogação do crédito:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 276
Se o bem dado em garantia perecer, o valor que se sub-rogar
em seu lugar, será do credor.
Ex: penhor de veículo furtado. O credor se sub-roga no
crédito. É por isso que todo penhor de veículo exige
seguro.
OBS: Todas as características que se aplicam aos direitos
reais de garantia se aplicam à hipoteca, ao penhor e a
anticrese. Não se aplicam a alienação fiduciária.
A ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA TEM REGRAMENTO PRÓPRIO COM
REQUISITOS E CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS.
A alienação fiduciária em garantia admite a cláusula
comissória com ação de busca e apreensão para retomada do
bem.
A alienação fiduciária não se submete às regras gerais dos
direitos reais de garantia do NCC.
Anticrese:
É completamente limitada. É um direito real de garantia
sobre bem frugífero, ou seja, aquele que produz frutos.
O credor anticrético tem direito de retirar os frutos como
parte do pagamento da dívida.
A anticrese nada mais é, na prática, senão uma imputação do
pagamento aplicada. Ocorre quando uma pessoa tem duas ou
mais dívida e diz o que será quitado primeiro. Com os
frutos percebidos, o credor anticrético irá abater primeiro
os juros e depois o principal.
Para que o credor possa retirar os frutos, é natural que
tenha que se imitir na posse do bem.
Admite-se a ação da prestação de contas, para que se prove
o valor dos frutos produzidos.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 277
A anticrese não pode ser perpétua. Assim, o prazo máximo da
anticrese é de 15 anos. Depois desse prazo, extingue-se a
garantia. Se o valor dos frutos não foi suficiente, o
credor perde a garantia real, mas continuará sendo credor
quirografário.
Art. 1.423. O credor anticrético tem direito a reter em seu poder o
bem, enquanto a dívida não for paga; extingue-se esse direito
decorridos quinze anos da data de sua constituição.
LEMBRE-SE: A ação de prestação de constas é de procedimento
dúplice, assim, esta mesma ação já serve para a cobrança de
eventual valor cabível, remanescente.
Como a anticrese implica na tradição para a percepção de
frutos, esse instituto não é incompatível com a hipoteca.
Assim, a eventual constituição de anticrese não obsta a
instituição de hipoteca posterior. É possível a instituição
de hipoteca sobre bem anticrético, pois a finalidade de
cada um destes institutos é diversa. Na hipoteca se quer
tornar o bem garantia de dívida, o próprio bem e na
anticrese se que entregar durante determinado prazo a posse
do bem, para que haja o recebimento de frutos e abata do
valor dos juros e depois do principal. Podem coexistir
simultaneamente credor hipotecário e credor anticrético
sobre o mesmo bem, cada um exercendo seus direitos
respectivos.
OBS: A anticrese dá ao credor o direito de excutir a coisa
dada em garantia e dá o direito de preferência no pagamento
em face de outros credores. Lembrando que é impossível o
pacto expromissório.
A doutrina francesa chamava a anticrese do primo pobre dos
direitos reais de garantia.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 278
A anticrese dá ao credor o direito de excutir a coisa dada
em garantia, bem com a preferência no pagamento em relação
aos outros credores!
Essa afirmação é falsa. A hipoteca é quem dá ao credor o
direito de excutir o bem e não a hipoteca.
Aula 13 17/06/2009
HIPOTECA:
A Hipoteca é direito real de garantia sobre bem imóvel. É o
direito de garantia que incide sobre um imóvel assegurando
o cumprimento de uma obrigação.
Duas características são marcantes:
a) o objeto será ordinariamente um bem imóvel.
b) dispensa a tradição, ou seja, o devedor permanece na
posse do bem.
Significa dizer que, diferentemente do penhor, em que a sua
marcante característica é a tradição, na hipoteca ocorre o
inverso, ou seja, incide ordinariamente sobre bens imóveis.
A hipoteca se constitui pelo registro. Logo, exige contrato
solene, por escritura pública, devidamente registrado no
cartório de imóveis. Caso não seja feito o registro, a
hipoteca é inoponível a terceiros. Tal é feito para que a
hipoteca possa ter oponibilidade erga omnes.
Ainda, a hipoteca é indivisível, ou seja, o bem só estará
livre e desembaraçado depois de quitada a obrigação.
Da hipoteca decorrem dois efeitos:
- é nula a clausula contratual que eventualmente impedir a
alienação do bem hipotecado.
Art. 1.475. É nula a cláusula que proíbe ao proprietário alienar
imóvel hipotecado.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 279
Parágrafo único. Pode convencionar-se que vencerá o crédito
hipotecário, se o imóvel for alienado.
O proprietário permanece na posse do bem, dando-lhe a
destinação que bem entender.
- a constituição da hipoteca não obsta o real e completo
aproveitamento do bem.
Art. 1.488. Se o imóvel, dado em garantia hipotecária, vier a ser
loteado, ou se nele se constituir condomínio edilício, poderá o ônus
ser dividido, gravando cada lote ou unidade autônoma, se o requererem
ao juiz o credor, o devedor ou os donos, obedecida a proporção entre o
valor de cada um deles e o crédito.
§ 1o O credor só poderá se opor ao pedido de desmembramento do ônus,
provando que o mesmo importa em diminuição de sua garantia.
§ 2o Salvo convenção em contrário, todas as despesas judiciais ou
extrajudiciais necessárias ao desmembramento do ônus correm por conta
de quem o requerer.
§ 3o O desmembramento do ônus não exonera o devedor originário da
responsabilidade a que se refere o art. 1.430, salvo anuência do credo
Durante a hipoteca, pode ser o imóvel loteado, instituído
em condomínio etc. Tudo em decorrência da plena disposição
do bem hipotecário.
Objeto da hipoteca:
A hipoteca pode incidir, genericamente, sobre qualquer bem
imóvel, no todo ou sofre partes fracionadas do imóvel. O
NCC afirma que ainda que a hipoteca pode incidir sobre
qualquer direito real sobre bem imóvel.
Art. 1.473. Podem ser objeto de hipoteca:
I - os imóveis e os acessórios dos imóveis conjuntamente com eles;
II - o domínio direto;
III - o domínio útil;
IV - as estradas de ferro;
V - os recursos naturais a que se refere o art. 1.230,
independentemente do solo onde se acham;
VI - os navios;
VII - as aeronaves.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 280
VIII - o direito de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela
Lei nº 11.481, de 2007)
IX - o direito real de uso; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
X - a propriedade superficiária. (Incluído pela Lei nº 11.481, de
2007)
§ 1o A hipoteca dos navios e das aeronaves reger-se-á pelo disposto em
lei especial. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 11.481, de
2007)
§ 2o Os direitos de garantia instituídos nas hipóteses dos incisos IX
e X do caput deste artigo ficam limitados à duração da concessão ou
direito de superfície, caso tenham sido transferidos por período
determinado. (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
Art. 1.474. A hipoteca abrange todas as acessões, melhoramentos ou
construções do imóvel. Subsistem os ônus reais constituídos e
registrados, anteriormente à hipoteca, sobre o mesmo imóvel.
O art. 1.474 trata da regra de que o acessório segue o
principal.
Os incisos VI e VII do art. 1.473 são exceções. Malgrado se
tratem de bens móveis, o seu alto valor torna o bem
interessante para fins de hipoteca. Em momento algum, o NCC
insinua que navios e aeronaves são bens imóveis.
Não podem ser objeto de hipoteca os bens gravados com
cláusulas restritivas (inalienabilidade, impenhorabilidade
e incomunicabilidade) e o direito hereditário (art. 80 do
NCC, que estabeleceu que a herança é bem imóvel), malgrado
terem natureza imobiliária.
Hipoteca sobre bens de incapazes e sobre bem de família:
No que concerne aos bens pertencentes aos incapazes, o art.
1.691 afirma que só podem ser gravados de ônus real somente
com autorização judicial, ouvido o MP.
Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os
imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que
ultrapassem os limites da simples administração, salvo por necessidade
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 281
ou evidente interesse da prole, mediante prévia autorização do juiz.
Parágrafo único. Podem pleitear a declaração de nulidade dos atos
previstos neste artigo:
I - os filhos;
II - os herdeiros;
III - o representante legal.
Já no que tange ao bem de família, a resposta nos conduz à
lembrança acerca da dualidade dos regimes dos bens de
família no Brasil. Assim, há o bem de família legal,
previsto na lei 8.009/90 e o bem de família convencional
(voluntário), o qual está previsto nos arts. 1.711 a 1.722
do NCC.
O bem de família legal gera impenhorabilidade. O bem de
família convencional gera impenhorabilidade e
inalienabilidade.
Assim, somente o bem de família legal pode ser objeto de
hipoteca. E somente quando a dívida assumida reverter em
favor do núcleo familiar.
A hipoteca admite diferentes graus, ou seja, admite a
constituição de sub-hipotecas, sem número determinado. Não
há, ainda, a necessidade de aquiescência do credor
hipotecário originário. O problema aqui não é o
proprietário dar o bem em garantia, mas sim saber quem irá
comprar um bem gravado de hipoteca. Isso porque cada credor
hipotecário irá exercer o seu direito subsidiariamente.
Excutido o bem para o pagamento da hipoteca de algum grau,
toda e qualquer dívida garantida vence antecipada. Isso
porque excutido o bem, perece a garantia.
Se, por ventura, o credor hipotecário de grau posterior
executar a coisa primeira, devem ser citados os credores
hipotecários de ordem anterior, para que estes possam
exercer o seu direito.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 282
Espécies de hipoteca:
a) convencional:
É aquela que decorre de contrato, negócio jurídico. É
voluntária.
b) judicial:
É a decorrente de decisão judicial, de sentença. É muito
comum quando o juiz condena o réu a uma prestação de trato
sucessivo (periódicas). O art. 475-Q do CPC determina que o
réu preste uma garantia para assegurar o cumprimento da
obrigação.
c) legal:
O legislador entendeu imprescindível constituir garantia
real sobre bens imóveis de determinadas pessoas. Tal qual o
penhor legal, a hipoteca legal exige a homologação
judicial.
Art. 1.489. A lei confere hipoteca:
I - às pessoas de direito público interno (art. 41) sobre os imóveis
pertencentes aos encarregados da cobrança, guarda ou administração dos
respectivos fundos e rendas;
II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras
núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior;
III - ao ofendido, ou aos seus herdeiros, sobre os imóveis do
delinquente, para satisfação do dano causado pelo delito e pagamento
das despesas judiciais;
IV - ao co-herdeiro, para garantia do seu quinhão ou torna da
partilha, sobre o imóvel adjudicado ao herdeiro reponente;
V - ao credor sobre o imóvel arrematado, para garantia do pagamento do
restante do preço da arrematação.
O art. 1.205 do CPC trata do procedimento de homologação da
hipoteca legal, sendo procedimento de jurisdição
voluntária.
Art. 1.205. O pedido para especialização de hipoteca legal declarará
a estimativa da responsabilidade e será instruído com a prova do
domínio dos bens, livres de ônus, dados em garantia.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 283
No Brasil, existe um tipo de hipoteca especial. Trata-se da
hipoteca cedular. Está prevista no Decreto-Lei 70/66. É em
favor de instituição financeira para garantir um crédito
imobiliário (para aquisição de casa própria). O seu credor
é uma instituição financeira e o objeto é sempre o
financiamento de imóvel. Essa hipoteca incide sobre o
próprio bem que está sendo adquirido.
Á uma hipoteca nominativa e endossável, para que o credor
possa fazer circular essa hipoteca. A ideia aqui é dar
mobilidade à hipoteca.
Ainda, a hipoteca, tal qual a anticrese tem prazo máximo, o
qual é chamado de prazo de perempção e é de 20 anos.
Esse prazo somente se aplica à hipoteca convencional.
Ultrapassado esse prazo de 20 anos, a obrigação permanece,
o que cessa é a garantia. O credor, após esse prazo, passa
a ser tratado como credor quirografário e não mais como
credor especial.
PENHOR:
Diferentemente da hipoteca, é direito real de garantia
sobre bem móvel. Incidindo sobre bens móveis, exige a
tradição. Isso porque o bem empenhado fica na posse do
credor pignoratício. É o que reza o art. 1.431 do NCC:
Art. 1.431. Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse
que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o
devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de
alienação.
Parágrafo único. No penhor rural, industrial, mercantil e de veículos,
as coisas empenhadas continuam em poder do devedor, que as deve
guardar e conservar.
Assim, o penhor é direito real que se constitui a partir de
um contrato real.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 284
Direitos reais são os previstos em lei, os quais são um
direito real na coisa própria e vários direitos reais na
coisa alheia (compra e venda, anticrese, alienação
fiduciária, enfiteuse, usufruto, ou seja, os previstos no
art. 1.225 do NCC). Já o contrato real é aquele que exige a
tradição para o seu aperfeiçoamento. Já no contrato
consensual basta a manifestação de vontade das partes.
Exemplos de contratos reais: comodato, depósito e penhor.
Assim, o penhor é um contrato real que gera um direito
real. Mas nem todo contrato real implica em direito real,
nem todo direito real implica em contrato real.
O comodato, por exemplo, é contrato real que gera direito
obrigacional.
O penhor por recair sobre qualquer bem móvel? Não, porque
aeronaves e navios somente podem ser objeto de hipoteca,
por conta de seu alto valor econômico.
O penhor tem natureza acessória. Extinta a garantia, não
necessariamente a obrigação foi quitada. Se, por acaso, o
penhor se extinguiu mas a obrigação não foi cumprida, o que
ocorre? O credor permanece com direito ao crédito, mas
perde a garantia, se tornando um credor quirografário.
Roubo ou furto do bem empenhado:
É o caso do perecimento da coisa sem culpa do credor. Nesse
caso, extingue-se a garantia. Note que a dívida permanece.
O que se extingue é o acessório e não o principal.
Mas dentre as obrigações impostas ao credor pignoratício é
o dever de custódia, de zelo dos bens. Por meio do RESP
730.925, o STJ entendeu que o valor do bem empenhado deve
ser pago ao devedor, embora permaneça a obrigação.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 285
Se a coisa foi entregue, o credor tem o dever de guarda.
Mas além desse dever, tem aquele de defender o bem, a coisa
empenhada, já que este pode ser objeto de esbulho,
turbação, ameaça. Logo, possui posse direta, assim sendo
legitimado para as ações possessórias.
Ainda, tem o dever de informação. Mas este não está no NCC,
mas sim é pautado na boa-fé objetiva. Se algum ataque foi
feito ao bem, além de defendê-lo, o credor pignoratício
deve informar essa situação. Isso ocorre, repita-se, por
conta dos deveres anexos da boa-fé objetiva.
Se por ventura alguém tenta esbulhar o bem e o credor
pignoratício promove a defesa, cumprindo com a sua
obrigação legal, mesmo que o faça, caso não comunique ao
proprietário do bem, violando a boa-fé objetiva, há
violação positiva de contrato. Esta ocorre sempre que uma
das partes dentro de uma relação obrigacional, uma parte
cumpre com os deveres legais e contratuais, mas viola
direitos anexos (informação, segurança, probidade etc.).
O conceito de inadimplemento contratual sempre foi visto
pelo âmbito da violação negativa. Hoje, esse conceito está
mudando, passando a ser visto, também, sob o prisma da
violação positiva. Esse instituto foi criado no direito
germânico e aceito hoje pelo STJ.
Ocorreu no famoso caso da empresa de automóveis Lada, em
que a empresa parou de vender os carros e as peças de
reposição. As obrigações contratuais foram cumpridas, mas
foram violados os deveres anexos. Foi o primeiro julgado
nesse sentido da Corte.
A transferência do bem para o credor, permite que sejam
retirados os frutos? Será estabelecida uma linha divisória
sobre os direitos reais de garantia e os direitos reais de
gozo ou fruição.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 286
Nos direitos de garantia, não é permitido ao credor a
retirada de frutos. O NCC afirma que se o bem produzir
frutos o credor pignoratício os recebe. O valor deve, no
entanto, ser abatido da dívida. Há, pois, uma imputação do
pagamento. É o que reza o art. 1.435, III:
Art. 1.435. O credor pignoratício é obrigado:
I - à custódia da coisa, como depositário, e a ressarcir ao dono a
perda ou deterioração de que for culpado, podendo ser compensada na
dívida, até a concorrente quantia, a importância da responsabilidade;
II - à defesa da posse da coisa empenhada e a dar ciência, ao dono
dela, das circunstâncias que tornarem necessário o exercício de ação
possessória;
III - a imputar o valor dos frutos, de que se apropriar (art. 1.433,
inciso V) nas despesas de guarda e conservação, nos juros e no capital
da obrigação garantida, sucessivamente;
IV - a restituí-la, com os respectivos frutos e acessões, uma vez paga
a dívida;
V - a entregar o que sobeje do preço, quando a dívida for paga, no
caso do inciso IV do art. 1.433.
O abatimento primeiro ocorre nos juros e depois no
principal.
Características do penhor:
a) necessidade de contrato escrito:
Não necessariamente por escritura pública.
b) exige a tradição, ou seja, a efetiva entrega da coisa;
c) registro no cartório de títulos e documentos:
caso não haja o registro, o contrato só é válido e eficaz
entre as partes, não sendo oponível a terceiros. Logo, o
registro é condição eficacial em relação a terceiros.
d) admissibilidade de sub-penhor, salvo disposição em
contrário:
e) o credor pignoratício tem direito de retenção, até que
ocorra o pagamento das despesas:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 287
Não se deve confundir direito de retenção com direito de
excussão. Neste, inadimplida a obrigação, o credor
pignoratício leva o bem a execução.
O direito de retenção ocorre quando não houve o reembolso
das despesas.
Para se falar em direito de retenção, subtende-se que a
obrigação foi paga. Se esta não foi paga, por óbvio, será
exercido o direito de excussão. Isso só ocorre porque o NCC
proíbe a cláusula comissória.
f) direito de exigir reforço ou substituição quando o bem
perecer ou deteriorar:
Se o devedor se recusar, há o vencimento antecipado da
dívida.
Espécies de penhor:
a) convencional:
Está descrito no art. 1.431 do NCC. Extrai-se dele que o
penhor convencional é uma relação constituída por negócio
jurídico, o qual decorre da vontade das partes, fundado na
tradição.
Art. 1.431. Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse
que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o
devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de
alienação.
Parágrafo único. No penhor rural, industrial, mercantil e de veículos,
as coisas empenhadas continuam em poder do devedor, que as deve
guardar e conservar.
b) especial:
Escapam, fogem da regra geral. É, pois, aquele que, saindo
da regra geral, ganha uma particularidade. Penhores
especiais, pois, são aqueles que dispensam a tradição.
O NCC faz menção a quatro espécies de penhores especiais:
b.1) penhor rural:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 288
Pode ser agrícola ou pecuário. Penhor rural é aquele cujo
objeto são bens móveis, animados ou inanimados, ou mesmo as
cessões naturais (plantações, por exemplo), pertencentes à
agricultura ou pecuária.
O objeto pode ser a safra, o gado, maquinários agrícolas
etc.
Somente se constitui por instrumento público ou particular,
devidamente registrado no cartório de imóveis. O penhor é
sobre bens móveis, mas o registro é feito no cartório de
imóveis:
Art. 1.438. Constitui-se o penhor rural mediante instrumento público
ou particular, registrado no Cartório de Registro de Imóveis da
circunscrição em que estiverem situadas as coisas empenhadas.
Parágrafo único. Prometendo pagar em dinheiro a dívida, que garante
com penhor rural, o devedor poderá emitir, em favor do credor, cédula
rural pignoratícia, na forma determinada em lei especial.
O penhor rural dispensa a tradição. Isso porque se o
agricultor entregar o bem não paga a dívida. Ora, como pode
entregar o maquinário e pagar a obrigação, uma vez que
entregue a coisa, como irá a produção continuar. Por isso,
dispensa-se a tradição.
Mas ao credor pignoratício rural, em contrapartida, foram
conferidos dois direitos:
- direito de inspeção dos bens empenhados, o que é chamado
pelo NCC de direito de vistoria, para garantir que os bens
não estão deteriorando ou perecendo, caso em que ocorrerá
vencimento antecipado da dívida.
O direito de inspeção deve ser exercido dentro dos limites
éticos, por óbvio, sob pena de abuso do direito com
responsabilidade objetivo. Vide enunciado 37 da Jornada de
Direto Civil:
37 – Art. 187: a responsabilidade civil decorrente do abuso do direito
independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-
finalístico.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 289
- direito de exigir a anuência para a alienação dos bens
empenhados.
O devedor somente pode alienar os bens com a anuência do
credor pignoratício.
O devedor pignoratício rural, apesar de permanecer na posse
dos bens, não é tratado como depositário
Se a cria ou safra for insuficiente para o pagamento da
dívida, presume-se que a cria ou safra seguinte continua
empenhada.
O prazo do penhor rural é de 03 anos no caso do penhor
agrícola e de 04 anos se for pecuário. O prazo pode ser
menor, não podendo ser maior, já que é regra de ordem
pública.
Findo esse prazo, o que cessa é a garantia e não a
obrigação.
b.2) penhor industrial ou mercantil:
Aqui o penhor, apesar do nome, é de natureza civil, mas
originado de uma relação mercantil. Esse penhor também deve
ser registrado no cartório de imóveis.
É aquele que tem por objeto bens pertencentes à indústria
ou ao comércio. Ex: estoque do comerciante dado em
garantia, maquinários industriais.
Fica dispensada a tradição, por óbvio, nos termos do art.
1.448:
Art. 1.448. Constitui-se o penhor industrial, ou o mercantil,
mediante instrumento público ou particular, registrado no Cartório de
Registro de Imóveis da circunscrição onde estiverem situadas as coisas
empenhadas.
Parágrafo único. Prometendo pagar em dinheiro a dívida, que
garante com penhor industrial ou mercantil, o devedor poderá emitir,
em favor do credor, cédula do respectivo crédito, na forma e para os
fins que a lei especial determinar.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 290
Esse penhor será representado por cédula, justamente para
facilitar a sua circulação.
O credor pignoratício, tal qual o penhor rural, também tem
o direito de inspeção ou de vistoria.
b.3) penhor de veículos:
Visa facilitar o acesso a veículo automotor, de qualquer
tipo (ônibus, trator, moto, carro etc.).
Por óbvio, não pode ser exigida a tradição, sob pena de
perda de utilidade prática do instituto.
O penhor de veículos só pode ser instituído no órgão de
trânsito, sob pena de ineficácia em relação a terceiros. O
STJ vem entendendo (RESP 200.663/SP), que a falta de
registro não torna o contrato nulo ou anulável, apenas
ineficaz em relação a terceiros.
O prazo máximo é de 02 anos, prazo em que cessará a
garantia. Pode ser menor, no entanto. Mas o NCC permite a
prorrogação por igual período.
O penhor de veículos exige uma condição especial, que é o
seguro do automóvel. Ademais, a comprovação do seguro é
condição para o registro.
Art. 1.463. Não se fará o penhor de veículos sem que estejam
previamente segurados contra furto, avaria, perecimento e danos
causados a terceiros.
Ora, se o bem perecer sem culpa do devedor, o credor
pignoratício se sub-roga no direito do devedor.
Se o devedor pignoratício vender o bem, ocorre apenas o
vencimento antecipado da dívida. Nesse caso, o NCC abriu
uma exceção, uma vez que penhor não caracteriza depósito
nos outros casos.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 291
Assim, o parágrafo único do art. 1.431, afirma que nesse
caso há depósito, mas sem que possa haver a prisão do
depositário, justamente pela decisão do STF já conhecida.
Art. 1.431. Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse
que, em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o
devedor, ou alguém por ele, de uma coisa móvel, suscetível de
alienação.
Parágrafo único. No penhor rural, industrial, mercantil e de veículos,
as coisas empenhadas continuam em poder do devedor, que as deve
guardar e conservar.
b.4) penhor de diretos:
Na prática, é uma caução de título de crédito.
Ocorre quando o credor de um título de crédito o faz
circular, ou seja, quando o credor de um título concede o
próprio crédito em garantia.
Na prática, pois, representa um verdadeiro mandato.
O credor pignoratício no penhor de direitos é o “credor do
credor”. Deverá notificar o devedor do título de crédito de
que teve constituído um crédito em seu favor, para evitar a
máxima de que “quem paga mal paga duas vezes”. Caso não
faça a notificação, não poderá haver a aplicação desse
brocardo.
Aplica-se aqui a consignação em pagamento, justamente para
impedi-lo de repetir o pagamento. Art. 335, IV do NCC:
Art. 335. A consignação tem lugar:
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto
do pagamento;
Se o penhor é de título de crédito, deverá ser registrado
no cartório de títulos e documentos.
A grande característica desse penhor é a circulação. De
qualquer sorte, exige a tradição, que se dá pela entrega do
título ou outro qualquer documento comprobatório.
c) penhor legal:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 292
É aquele que decorre de lei. o sistema jurídico entende que
dados credores precisam de uma garantia especial. Isso
justamente por conta da especificidade da relação
obrigacional em que se encontram.
Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente de
convenção:
I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as
bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou
fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou estabelecimentos,
pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito;
II - o dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que o
rendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis
ou rendas.
- penhor legal do hoteleiro sobre os bens móveis de seus
hóspedes:
- locador que tem penhor legal sobre os móveis do
inquilino:
Outros dois diplomas criaram mais duas hipóteses de penhor
legal
- Lei 6.533/78: artistas teatrais e auxiliares cênicos têm
sobre o material da peça de teatro. Se o dono da peça não
pagar os artistas, levam as peças com eles.
- Decreto-Lei 4.191/42:
Penhor legal do locador industrial sobre máquinas e objetos
da indústria.
Não há dúvida que o penhor legal é uma excepcional hipótese
de autotuela. Ele se consubstancia em dois momentos:
- apreensão do bem:
Ocorre quando o credor pignoratício legal apreende o bem.
- necessidade de homologação judicial:
o CPC, no art. 874, afirma que, efetivada a apreensão,
deve, ato contínuo, o credor oferecer a homologação
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 293
judicial. O CPC não estabeleceu prazo, fala em prazo
contínuo. Logo, o prazo dependerá do caso concreto.
Embora a homologação do penhor legal esteja no Livro da
Cautelares, é, na verdade, uma TUSA.
Art. 874. Tomado o penhor legal nos casos previstos em lei, requererá
o credor, ato contínuo, a homologação. Na petição inicial, instruída
com a conta pormenorizada das despesas, a tabela dos preços e a
relação dos objetos retidos, pedirá a citação do devedor para, em 24
(vinte e quatro) horas, pagar ou alegar defesa.
Parágrafo único. Estando suficientemente provado o pedido nos
termos deste artigo, o juiz poderá homologar de plano o penhor legal.
Ressalte-se que o art. 42 do CDC impede cobrança vexatória.
Verifica-se, pois, que o penhor legal resta quase que
inviabilizado. Mesmo assim, não pode o hotel adentrar no
quarto do hóspede, pois este é um prolongamento de seu
domicílio.
O penhor legal é um contraponto à responsabilidade do
hoteleiro, que tem responsabilidade objetiva nos termos do
CDC.
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA:
É o mais antigo de todos os direito reais de garantia.
Foi constituído na Roma antiga e recebeu o nome de “pignos”
para bens móveis e “fiducia” para alienação fiduciária em
garantia.
Alienação fiduciária em garantia é o negócio jurídico
tendente a circular riquezas, facilitar o consumo. Traz uma
garantia para o credor, pois é garantia sobre móvel ou
imóvel. Essa garantia corresponde à transferência da
propriedade do bem.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 294
Alienação fiduciária em garantia é o negócio jurídico por
meio do qual o devedor transfere para o credor a
propriedade do bem.
Na hipoteca, o que se transfere são os poderes sobre o
domínio; na alienação fiduciária em garantia o que se
transfere é a garantia. Mas essa propriedade é resolúvel.
Adimplida a obrigação, automaticamente haverá a extinção da
propriedade.
Nem toda propriedade fiduciária (propriedade resolúvel
constituída em confiança) é constituída por alienação
fiduciária. Esta é negócio jurídico pelo qual se constitui
garantia ao credor pela propriedade do bem. Claro que a
alienação fiduciária traz propriedade fiduciária. Mas
existem outras hipóteses de propriedade fiduciária que não
são instituídos por meio do contrato de alienação
fiduciária. Ex: fideicomisso (substituição testamentária).
no fideicomisso, a propriedade é fiduciária e resolúvel. É
uma substituição testamentária inversa, porque o substituto
vem antes do substituído.
a alienação fiduciária em garantia é a mais ampla de todas
as garantias, justamente porque o que se transfere é a
própria propriedade, embora resolúvel.
O NCC permitiu a constituição de alienação fiduciária em
garantia em favor de pessoa física e pessoa jurídica.
Ainda, já se admite em favor de entes despersonalizados,
como o consórcio, por exemplo.
Nos direitos reais de garantia é vedada a cláusula
comissória. Por isso, o credor jamais pode ficar com a
coisa para si, devendo sempre executá-la. O NCC quis
aplicar essa regra à alienação fiduciária em garantia:
Art. 1.365. É nula a cláusula que autoriza o proprietário fiduciário a
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 295
ficar com a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no
vencimento.
Parágrafo único. O devedor pode, com a anuência do credor, dar seu
direito eventual à coisa em pagamento da dívida, após o vencimento
desta.
Mas essa regra é lógica no penhor, na anticrese e na
hipoteca, porque o bem pertence ao devedor.
Na alienação fiduciária, no entanto, o bem pertence ao
próprio credor. Por isso, o art. 67 da lei 10.931/04
revogou tacitamente o dispositivo do NCC acima transcrito.
Logo, o credor pode ficar com a coisa para si, já que ela
lhe pertence.
O devedor fiduciário pode pagar grande parte das parcelas
e, nesse caso, não aplica-se o art. 389 do NCC:
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e
danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.
Isso ocorre nos casos em que há adimplemento substancial do
débito. É a tese do substancial performance ou
inadimplemento mínimo ou adimplemento substancial.
É o que reza o enunciado 361 das Jornadas de Direito Civil.
O leading case foi o RESP 469.577/SC.
361 – Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento substancial decorre dos
princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função
social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a
aplicação do art. 475.
Objeto da alienação fiduciária:
Podem ser bens móveis ou imóveis. No caso dos móveis, devem
ser bens infungíveis. Isso porque o devedor fiduciário pode
ser obrigado a restituí-lo.
Mas havia uma dúvida se era possível dar em garantia um bem
que já pertencia anteriormente ao devedor. Ex: compra uma
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 296
coisa e dá outra que já possui em garantia. A súmula 28 do
STJ trata da matéria:
Súmula: 28O CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIARIA EM GARANTIA PODE TER POR
OBJETO BEM QUE JA INTEGRAVA O PATRIMONIO DO DEVEDOR.
A alienação fiduciária precisa de registro. Se imóveis, no
registro de imóveis.
Caso não seja feito o registro, não pode haver
oponibilidade a terceiros. É o que reza a súmula 92 do STJ
e 489 do STF:
Súmula: 92A TERCEIRO DE BOA-FE NÃO E OPONIVEL A ALIENAÇÃO FIDUCIARIA
NÃO ANOTADA NO CERTIFICADO DE REGISTRO DO VEICULO AUTOMOTOR.
Súmula 489 A compra e venda de automóvel não prevalece contra
terceiros, de boa-fé, se o contrato não foi transcrito no registro de
títulos e documentos.
A alienação fiduciária foi reconhecida como patrimônio de
afetação. A lei 10.931/04 no definiu. Patrimônio de
afetação é um bem afetado, uma vez que se torna
indisponível no patrimônio do titular. Ex: incorporações
imobiliárias.
Os eventuais credores do credor ou devedor fiduciário não
podem executar o bem fiduciário que é patrimônio de
afetação.
A propriedade fiduciária aqui é impenhorável. Mas pode-se
penhorar o capital.
No contrato de alienação fiduciária é possível a cessão da
posição contratual.
A cessão da posição contratual de um credor não depende da
anuência do devedor, mas a recíproca não é verdadeira.
Assim, o credor pode ceder a sua posição independente do
devedor. Mas para que este ceda a sua posição contratual, é
necessário haver a anuência do credor.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 297
Na mesma linha de raciocínio, tem-se a exceção do art. 304.
Fala-se do pagamento por terceiro.
Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la,
usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do
devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o
fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.
Assim, se o pagamento é feito por terceiro não interessado
(que não será atingido na obrigação) não gera sub-rogação,
mas mero reembolso,
Mas essa regra não se aplica na alienação fiduciária. Aqui,
o pagamento feito por terceiro, interessado ou não, implica
sempre sub-rogação. A relevância disso é sempre facilitar o
cumprimento da obrigação. O terceiro se sub-roga na
propriedade fiduciária.
Aspectos processuais da alienação fiduciária em garantia:
Descumprida a obrigação o devedor fiduciário terá obrigação
de pagar.
Surge, pois, a busca e apreensão ou reintegração de posse.
Para que o credor fiduciário exerça a busca e apreensão ou
reintegração de posse, exige-se a constituição em mora do
devedor. Tal ocorre por meio de notificação, nos termos da
súmula 72 do STJ:
Súmula: 72 A COMPROVAÇÃO DA MORA E IMPRESCINDIVEL A BUSCA E
APREENSÃO DO BEM ALIENADO FIDUCIARIAMENTE.
É a mora ex personna.
A súmula 245 do STJ afirma que não é necessário a colocação
do débito na notificação. O professor entende que essa
súmula está em rota de colisão com a boa-fé objetiva.
Súmula: 245A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas
garantidas por alienação fiduciária dispensa a indicação do valor do
débito.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 298
Uma vez notificado, o devedor tem direito de purgar a mora
no prazo de cinco dias ou contestar no prazo de 15 dias.
Antigamente, a súmula 284 do STJ dizia que só poderia haver
a purgação da mora caso houvesse sido pago pelo menos 40%
do valor da dívida. Mas essa súmula foi superada pelo art.
56 da lei 10.931/04, que permite a purgação da mora,
independente do valor pago.
Sem prejuízo das parcelas decorrentes do inadimplemento, as
quais estai previstas no art. 389 do NCC, pode ser aplicado
o art. 413, que permite a redução equitativa o valor da
obrigação principal.
O credor fiduciário pode abrir mão da cobrança de busca e
apreensão (execução especial da lei) e realizar uma
execução simples nos moldes do CPC.
Não localizado o bem na ação de busca e apreensão, essa
ação deverá ser convertida em depósito. É uma previsão
contida no Decreto-Lei 911/69. É uma garantia
imprescindível para o cumprimento do contrato.
O STF entendeu no RE 466.343 (Cezar Peluso) que é
inconstitucional a prisão civil do depositário infiel na
alienação fiduciária em garantia, em face da disposição do
art. 7º, III, do Pacto de San Jose da Costa Rica.
A única possibilidade de prisão civil, hoje, no ordenamento
seria a prisão por falta de pagamento de pensão
alimentícia, no caso do devedor de alimentos.
Com isso cessa a possibilidade de conversão de busca e
apreensão em deposito e o devedor não pode mais ser preso
pela dívida.
O Pacto de San Jose da Costa Rica, acolhido em perspectiva
constitucional conforme a EC 45, é norma supralegal.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 299
Características da alienação fiduciária em garantia:
1- Implica no desdobramento de posse: o devedor fica com
a posse direta e o credor com a posse indireta. Junto
com a propriedade será transferida para o credor a
posse indireta;
2- Constituto possessório: aquisição de posse por
contrato. Aposse recebida pelo credor, nunca a ele foi
dado contato físico com a coisa.
3- Propriedade fiduciária resolúvel. Tem tempo certo, é
ad tempus, acabará com o cumprimento da obrigação, sem
pagamento fica com a propriedade
4- A propriedade fiduciária é um dos exemplos de
patrimônio de afetação: ou melhor, patrimônio
separado.
Patrimônio de afetação: é um patrimônio separado, o bem
apesar de constar de patrimônio do titular não é suscetível
de penhora por divida do agente. O bem consta do patrimônio
do titular, mas não pode ser penhorado. Exemplo: Bens
objetos de construção na incorporação imobiliária
(construção de prédios) e propriedade fiduciária. O bem não
pode ser penhorado, ou seja, mesmo que o banco entre em
falência o carro que eu alienei não pode garantir as
dívidas do banco.
O patrimônio de afetação não é suscetível de penhora (art.
19 da LF)
O patrimônio de afetação foi criado pela lei 10.931/04,
art. 53.
Aula 14 05/07/2009
Direitos reais na coisa alheia de gozo e fruição:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 300
Decorrem do fracionamento dos poderes do domínio. O art.
1.228 do NCC trata do tema, ou seja, fracionamento é do
uso, gozo, livre disposição ou reivindicação. Pode se dar:
- aquisição:
- garantia:
- gozou ou fruição:
esses direitos apresentam, por óbvio, uma relação de
dominação, porque o terceiro terá a coisa consigo. O
exercício desses direitos pelo terceiro, deve obedecer o
interesse social, atendendo ao princípio da solidariedade.
ENFITEUSE:
O NCC proibiu a instituição de novas enfiteuses, mas as
antigas continuam existentes.
A enfiteuse cumpriu, na história do direito, importante
papel. A enfiteuse é um direito real por meio do qual se
busca garantir a utilização da terra. Era usada para
prender o vassalo em terras inóspitas. Foi usada com forma
de permitir a utilização de terras interioranas.
É um direito real na coisa alheia por meio do qual confere-
se a terceiro todos os poderes do domínio, a saber: uso,
gozo, disposição e reivindicação. Isso ocorre mediante o
pagamento de uma contraprestação anual, certa e invariável.
O nome que se dá é foro ou pensão. Somente poderá ser
reajustado em terras públicas, porque regidas por lei
especial. Assim, o reajusta da pensão ou foro só ocorre nos
casos de terras públicas.
O terceiro, que é chamado de enfiteuta ou foreiro recebe o
domínio útil do bem.
O proprietário permanece apenas com o título. É chamado de
senhorio, mas não tem qualquer dos poderes do domínio.
A enfiteuse é um entrave a função social da propriedade. É
inconveniente para todos.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 301
Objeto da enfiteuse:
- terra incultivas;
- terrenos para edificação.
Bens que não cumprem a função social. Ao invés do titular
perder a propriedade, ele se mantém proprietário. Há uma
indagação doutrinaria justificável, na medida em que há
duvidosa utilidade para a enfiteuse. O senhorio não tem
domínio útil de nada.
Em contraprestação o senhorio tem direito a receber uma
prestação pecuniária (foro, prazo ou quenium) anula. Uma
pensão anual a ser paga pelo enfiteuta.
É um valor certo e invariável o foro ou prazo. Assim, acaba
por se diluir no tempo.
O foreiro paga uma pensão anual certa e invariável.
Somente se admite o reajuste do foro quando se tratar de
enfiteuse de terra pública, isso por estar em legislação
específica.
Os terrenos de marinha (área próxima do mar) e as terras
públicas tem enfiteuse especial no DL 9760/46, não são
regidas pelo CC/16.
Esse DL 9760/46 expressamente disciplina as enfiteuses de
terras públicas e permitem o reajuste.
A enfiteuse é perpetua. A morte do enfiteuta implica na
transmissão do bem, seja a morte do foreiro. Se morrer e
não deixar herdeiro nenhum a Fazenda receberá.
O art. 692, III do CC/16 estabelece que se o foreiro morrer
sem deixar herdeiros, extingue-se a enfiteuse e o bem volta
ao senhorio. Assim, impede que a Fazenda adquira o bem.
Se a enfiteuse transfere para o foreiro todos os poderes do
domínio, transfere inclusive a liberdade de livre
disposição. O enfiteuta pode livremente dispor do bem
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 302
objeto da enfiteuse. Pode dispor, mas não disporá da
propriedade, apenas disporá da enfiteuse. Não é
proprietário, logo não poderá dispor da propriedade. Quem
adquirir vai adquirir a qualidade de enfiteuta e não de
proprietário. Poderá dispor, mas terá que dar preferência
ao “senhorio”, o senhorio tem direito de comprar o domínio
real. Caso não seja realizado o direito de preferência terá
o senhorio o direito ao laudêmio.
Laudêmio é o valor de 2,5% referente a venda da enfiteuse
do bem, este valor é o mínimo legal que pode ser majorado
por expressa disposição.
Art. 2038 do CC proíbe a enfiteuse e a subenfiteuse.
Art. 2.038. Fica proibida a constituição de enfiteuses e
subenfiteuses, subordinando-se as existentes, até sua extinção, às
disposições do Código Civil anterior, Lei n o 3.071, de 1 o de janeiro de
1916, e leis posteriores.
§ 1o Nos aforamentos a que se refere este artigo é defeso:
I - cobrar laudêmio ou prestação análoga nas transmissões de bem
aforado, sobre o valor das construções ou plantações;
II - constituir subenfiteuse.
§ 2o A enfiteuse dos terrenos de marinha e acrescidos regula-se por lei
especial.
Nas transferências das enfiteuses depois do NCC está
proibida a cobrança do laudêmio. Assim, se o senhorio não
exercer a preferência não mais receberá o laudêmio.
O NCC quer extinguir a todo custo a enfiteuse.
Havendo mais de um enfiteuta será caso de representação por
um síndico, o “cabecel”. É eleito pelos próprios
enfiteutas.
Como a enfiteuse transmite a totalidade dos poderes do
domínio, o enfiteuta pode gravar o bem, dar o bem em
garantia, haja vista a hipoteca que pode recair sobre
domínio útil, a enfiteuse é domínio útil.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 303
Extingue-se: senhorio realizar a preferência, a renuncia do
enfiteuta, a usucapião, comisso (extinção da enfiteuse
decorrente da falta do pagamento do foro ou pensão por 03
anos consecutivos).
A súmula 122 do STF permite ao enfiteuta purgar a mora
enquanto não houver sentença decretando o comisso.
SÚMULA n. 122 – (SJP de 13.12.1963) O enfiteuta pode purgar
a mora enquanto não decretado o comisso por sentença.
A enfiteuse é direito real na coisa alheia de gozo, sendo
plenamente possível a aquisição da enfiteuse por usucapião.
Quando um terceiro tem a posse do bem e se comporta como
enfiteuta, vai usucapir a enfiteuse e não a propriedade.
Aqui dependerá também do animo de enfiteuta deste 3º.
O que está proibido pelo art. 100 do CC é o usucapião da
propriedade de terra pública, mas o que se proíbe usucapir
é a propriedade de bem publico, nada impede o usucapião da
enfiteuse de terra pública. Não serei proprietário neste
caso, mas apenas um novo enfiteuta. Quero o título de
enfiteuta.
A propriedade continua sendo publica e não se viola a
Constituição.
O terceiro pode dispor, gravar, alienar fazer tudo que
quiser, para alienar a enfiteuse terá que respeitar o
direito de preferência ao “senhorio”.
O enfiteuta pode constituir glebas ou co-enfiteuses (é a
chamada enfiteuse condominial).
Direitos do enfiteuta:
- dispor do bem, inclusive podendo, inclusive, gravar o
bem, por meio de hipoteca e anticrese.
- constituir outros direitos sobre o bem, sejam reais ou
obrigacionais.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 304
- titularizar ações reais ou possessórias.
- tem direito de preferência: é aquele que se dá na
hipótese do senhorio querer dispor do título.
- direito ao resgate: é o direito de adquirir a
titularidade plena do bem. O prazo é de dez anos.
Deveres do enfiteuta:
- pagar o foro:
- pagar os tributos sobre o bem:
- dever de conservar o bem:
- dever de respeitar o direito de preferência: caso o
senhorio não exerça a preferência o enfiteuta estará
obrigado a pagar o laudêmio.
OBS: é possível usucapião de terra pública por enfiteuse.
SERVIDÃO PREDIAL:
Para falar de servidão predial temos que resgatar o
conceito de servidão.
Servidão: é servir, dá idéia de prestação de serviço, de
utilidade.
Na Constituição garantista, como a de 1988, fundada em
ideias humanistas e protetivas é inconstitucional toda e
qualquer servidão de natureza pessoal.
O ordenamento jurídico não permite a servidão pessoal, pois
esta seria verdadeiro regime escravocrata.
O ordenamento permite a servidão predial, ou seja, é o
direito real na coisa alheia por meio do qual um prédio
adquire uma vantagem, uma utilidade a ser concedida por
outro prédio, uma vantagem a ser exercida sobre os direitos
reais de outro prédio. Passagem, vista, água, pasto, entre
outros.
O art. 1.378 do NCC trata do tema:
Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade para o prédio dominante,
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 305
e grava o prédio serviente, que pertence a diverso dono, e constitui-
se mediante declaração expressa dos proprietários, ou por testamento,
e subseqüente registro no Cartório de Registro de Imóveis.
A servidão é sempre entre imóveis. Um imóvel adquire uma
vantagem em relação a outro. Sendo inalienáveis e
intransmissíveis. A servidão é em favor do prédio,
acompanha o prédio. Não é do proprietário.
Não é o titular do prédio que recebe a servidão, mas o
próprio imóvel em si, o imóvel se valoriza por ter a
servidão em seu favor.
Características das servidões
1- É entre prédios distintos: pertencentes a
proprietários diferentes. É obrigação propter rem
(adere a coisa, esta presa a coisa, se vender o imóvel
a servidão vai junto)
2- Pertencentes a proprietários distintos.
Se os 2 prédios pertencem ao mesmo titular não é servidão,
mas mera serventia. Sendo puramente relação obrigacional e
não real. Por ter o mesmo titular poderá a qualquer tempo
cessar a utilidade.
Se o mesmo proprietário adquire os dois imóveis que há
servidão sobre um deles, acaba apor extinguir a servidão,
pois esta pressupõe sempre proprietários distintos.
3- Gera uma vantagem para a coisa e não para o titular.
Uma utilidade para o prédio.
4- A servidão não se presume, por implicar numa restrição
do direito de propriedade. Pode Sr constituída por
vontade das parte, por lei ou decisão judicial, mas
sempre de forma expressa.
5- A servidão é perpétua e inalienável.
É uma vantagem constituída em favor de imóvel implicando
uma restrição de outro imóvel.
A servidão pode ser adquirida por usucapião. O possuidor
adquire, se mantém o bem com animus de prédio dominante.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 306
Exemplo: Em Salvador é muito comum as casas que tem o mar
de frente, esse proprietário demorou a construir, os demais
proprietários de lotes recuados par anão precisar andar
muito abrem uma passagem direto no lote da frente, vai
passando por ali por 15 anos. Depois de 15 anos o
proprietário resolve construir e fecha a passagem. O
proprietário do fundo pode alegar usucapião da passagem, a
uma usucapião do direito de passagem, da servidão, desde
que presentes os requisitos do usucapião + animo de
servidão.
Classificação da servidão
1- Servidão contínua e descontínua
a- Contínua: são aquelas exercitadas independente da
participação do homem, não depende da conduta
humana
b- Não contínua: depende da atuação humana para seu
exercício.
A servidão de `, quando o prédio se compromete a não
construir a certa altura para não prejudicar a vista de
outro prédio é contínua, mesmo caso para servidão de água.
Ser descontínua a de trânsito.
2- Servidão aparente e não aparente
a- Aparente: são visíveis por sinais exteriores.
Exemplo: Servidão de pastagem
b- Não aparente: não é visível. Exemplo: aqueduto
subterrâneo.
Somente as servidões aparentes podem ser usucapidas, pois
somente estas são suscetíveis de posse. E a posse é um dos
requisitos da usucapião.
Súmula 415 do STF é neste sentido.
SÚMULA n. 415 – (DJU de 8.7.1964) Servidão de trânsito não titulada
(não registrada), mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das
obras realizadas, considera-se aparente, conferindo direito à proteção
possessória.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 307
Assim, servidão de trânsito pode ser usucapida quando for
aparente.
Mecanismos processuais específicos para as servidões
prediais
1- Ação confessória: utilizada para o reconhecimento da
servidão. Para dizer que a servidão existe.
2- Ação negatória: utilizada para falar que a servidão
não existe.
Tudo isso sem prejuízo da ação de usucapião e das ações
possessórias.
Teve posse (servidão aparente e contínua) poderá utilizar o
imóvel de ação possessória. Nem toda servidão implica em
posse.
O não uso da servidão por 10 anos consecutivos implica na
extinção da servidão.
No caso da enfiteuse o que fera a extinção é o comisso,
falta de pagamento.
Na servidão não há caráter oneroso, assim, o que a extingue
é o seu não uso pode 10 anos consecutivos.
Não se deve confundir servidão com direito de vizinhança,
pois neste a regra é a da responsabilidade objetiva, bem
com há reciprocidade, o que não ocorre com a servidão.
Usufruto, uso e habitação:
São 03 direitos reais em um só.
A sistemática é a mesma para os 3 direitos. Confere ao 3º
somente a utilidade da coisa.
O 3º irá receber a parte boa, tão-somente as utilidades
geradas pela coisa.
O 3º, não proprietário, terá o direito de fruir, ter a
coisa consigo e retirar as suas vantagens.
Na forma do art. 1690 pode influir sobre bens móveis,
imóveis e até mesmo sobre o patrimônio inteiro. Não
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 308
interessa se o bem é móvel ou imóvel. Aqui sempre reitrará
os frutos.
Aqui temos apenas e tão-somente o direito de receber os
frutos.
Enfiteuse e servidão sempre recaem sobre bens imóveis.
O usufrutuário receberá todos os frutos dos bens, este
reclama a tradição, somente há se o bem for efetivamente
entregue, há aperfeiçoamento da tradição com a entrega do
bem.
Somente podem ser objeto do usufruto os bens infungívies,
pois retira-se as utilidades da coisa e restitui ao final o
bem, sem alteração de sua substância.
Usufruto impróprio ou quase-usufruto: é aquele que
excepcionalmente recai sobre bens fungíveis. O dever de
restituir, de devolver o bem ficará nublada, embaraçado,
desta forma, se assemelha e se submete as regras do
contrato de mútuo. Tem que devolver a mesma qualidade,
quantidade e espécie e não o mesmo bem.
Por meio do contrato de usufruto é permitido às partes
estabelecer restrições ao uso da coisa.
As partes podem impor limites ao exercício dos direitos.
Exemplo: Usufrutuário pode ficar com bem, retirar o fruto,
mas não pode alugar. Obs.: as restrições devem ser
expressas.
Na ausência ou no silencia das partes presume-se a
inexistência das restrições e a utilidade de todos os
frutos da coisa.
O usufruto é temporário, pois o titular sofre restrição nos
poderes do domínio, pois perde o uso e a fruição.
Todo usufruto é temporário, o prazo máximo do usufruto é a
vida do usufrutuário. É no máximo vitalício. Não passa para
os descendente, não é perpétuo.
A enfiteuse e a servidão são perpétuas.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 309
Será em regra vitalício salvo se outro prazo não for
estabelecido. Em favor de pessoa jurídica o prazo máximo do
usufruto será de 30 anos.
Admite-se o usufruto simultâneo, em favor de 02 ou mais
pessoas ao mesmo tempo, mas não se admite o usufruto
sucessivo.
Exemplo: em favor de 2 irmãs simultaneamente
Não se admite o usufruto de 2º grau sob pena de violar a
plenitude do domínio, desmembra o usufruto e é ilegal. A
cláusula que institui o usufruto sucessivo é nula.
O usufruto de 2º grau (sucessivo) é vedado até pq não se
confunde na pratica com o fideicomisso (substituição
testamentária, na hipótese em que se beneficia alguém por
condição, enquanto não implementada receberá a herança o
substituto. Não se admite fideicomisso acima de 2º grau).
No usufruto o exercício de direitos é simultâneo
(proprietário que terá a propriedade nua e usufrutuário);
já no fideicomisso o exercício de direito é sucessivo
(proprietário, substituto e substituído quando implementada
a condição).
O usufruto de 2º grau seria um verdadeiro fideicomisso.
O usufruto é personalíssimo, assim, a morte do
usufrutuário implica em extinção da restrição.
O Usufruto admite a renúncia.
O usufruto pode se constituir por vontade das partes,
por decisão judicial ou por lei.
O legislador permitiu o usufruto para 02 finalidades
diversas:
1- Em favor de uma pessoa
2- Em favor da entidade familiar (abrangidos os
empregados domésticos)
Se criado O USUFRUTO em favor do núcleo familiar, família
em sentido amplo e com uma finalidade especifica (exemplo:
retirada da safra agrícola) recebe o nome de USO.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 310
O usuário recebe o bem para retirar uma utilidade
específica.
Se a finalidade for moradia então o usufruto será
denominado de HABITAÇÃO.
Há uma lei que cria o direito de HABITAÇÃO em favor do
cônjuge sobrevivente (art. 1831 do CC).
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja
o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da
participação que lhe caiba na herança, o direito real de
habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da
família, desde que seja o único daquela natureza a
inventariar.
Em favor do companheiro é o art. 7º da lei 9278/96. Direito
de habitação em favor do companheiro.
O direito de habitação diz sempre respeito a um imóvel
único de natureza residencial.
Em favor do cônjuge este direito de habitação é vitalício,
somente perde com a morte.
No caso de cônjuge jovem, a viúva vira uma “periguete” pode
perder a habitação?
Não perde o direito de habitação.
Em favor do companheiro é vitalício, desde que não
constitua uma nova família.
Direito de Superfície
Nada mais é que o direito de usar a superfícies para
construir ou plantar. Uso do solo.
A finalidade é dar cumprimento a função social pelo
proprietário que não quer ou não pode cumprir a função
social naquele momento.
Concederá então a 3º o direito de superfície, para que 3º
construa ou plante.
O 3º, chamado de “superficiário” pode receber a coisa a
título oneroso ou gratuito (art. 1370 – presumidamente
gratuito), por tempo determinado ou não.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 311
Exige registro, pois é sobre bens imóveis. Sempre ser exige
registro quando se tratar de bens imóveis.
O superficiários e o proprietário exercem seus direitos
enquanto durar o contrato. Se os 02 morrerem há transmissão
do direito de superfície, até que o contrato se resolva.
Ambos tem direito de preferência. Tanto na venda pelo
propritario quanto na venda da superfície, isso para
extinguir e para que a plenitude de poderes se encontre nas
mão da mesma pessoa.
O CC estabeleceu que os direitos de superfície da pessoa
jurídica publica estará regido supletivamente pelo NCC. A
legislação especifica ainda não existe.
O Estatuto da Cidade já tem determinação sobre direito de
superfície em áreas urbanas.
Aula 15 08/07/2009
CONTRATOS EM ESPÉCIE
COMPRA E VENDA:
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se
obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe
certo preço em dinheiro.
É o mais importante e comum entre os contratos em espécie.
O contrato de compra e venda tem natureza puramente
obrigacional, por meio da qual um dos contratantes se
obriga a transferir um bem mediante o pagamento de dado
valor.
Ambos os contratantes assumem obrigações, logo não é um
contrato aquisitivo de propriedade.
Aquisição de propriedade ocorre pelo registro, no caso de
bens imóveis e pela tradição, no caso de bens móveis. Isso
é o que dispõe os arts. 1.267 e 1.245 do NCC.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 312
Essa opção do direito brasileiro em trabalhar com a compra
e venda apenas no ramo do direito obrigacional,
diferentemente do direito francês, ocorreu pela regra res
perit domino (“da coisa perece para o dono”).
O nosso sistema exige um ato complementar, logo garante os
riscos do comprador.
OBS: o contrato de alienação fiduciária em garantia, por si
só, implica em transferência da propriedade resolúvel.
Logo, o contrato de compra e venda, por si só, não implica
em aquisição de propriedade, mas o contrato de alienação
sim, ainda que se trate de propriedade resolúvel.
OBS: O contrato de leasing (arrendamento mercantil), na
prática, não passa de uma compra e venda de uso.
Uma das partes assume a obrigação de transferir o domínio
no fim do contrato e o uso da coisa é transferido desde
logo. Não há transferência de domínio, mas uma preferência
de aquisição do domínio quando do término do contrato.
Um contrato de leasing com VRG embutido nas parcelas se
torna uma compra e venda a prazo. Por isso, a aquisição da
propriedade ocorre com a tradição. Por conta disso, foi
editada a súmula 293 do STJ:
Súmula 293 A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não
descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.
Tecnicamente, essa súmula é um absurdo, justamente porque
quando há VRG diluído nas parcelas, nada mais há senão uma
compra e venda a prazo.
Características da compra e venda:
1- Bilateral ou consensual: implica na assunção de
obrigações recíprocas;
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 313
2- Onerosas: assunção de obrigações patrimoniais
recíprocas;
3- Comutativa: as vantagens são previamente conhecidas;
4- Não formal ou não solene.
Existem exceções, onde a compra e venda assume uma feição
não comutativa, mas sim aleatória. Isso ocorre no caso da
compra e venda a contento e na venda de coisa incerta.
Remete-se o produto e a pessoa faz a opção por ficar ou não
com o produto. Isso é exceção à regra geral. A compra e
venda em regra é sempre comutativa.
Em determinados casos podemos necessariamente ter a compra
e venda por escritura pública, exemplo na compra e venda de
bens imóveis. Nesse caso, a compra e venda será solene,
enquanto que a regra geral é que o contrato seja não
solene. Tem que ser por escritura publica a venda de
imóveis sob pena de nulidade.
OBS: art. 401 do CPC:
Art. 401. A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos
contratos cujo valor não exceda o décuplo do maior salário mínimo
vigente no país, ao tempo em que foram celebrados. (limitação de
prova – prova testemunhal exclusiva somente até 10 vezes o
valor do salário mínimo)
Contratos que superem 10 vezes o salário mínimo devem ser
provados por prova documental.
O art. 401 do CPC não fala de forma, mas apenas de prova.
Assim, o art. 401 do CPC não transforma a compra e venda
com valor acima de 10 salários mínimos em contrato formal.
A jurisprudência vem arrefecendo a dureza do ar.t 401, ou
seja, não pode ser ele interpretado de forma literal. Logo,
há casos em que a prova testemunhal pode ser utilizada com
exclusividade nos casos de contrato de compra e venda com
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 314
valor acima de 10 salários mínimos. Ex: contrato de
empreitada, contrato com marceneiro.
Elementos essenciais:
1- Consentimento:
Deve ser livre, desembaraçado sob pena de nulidade, na
forma do art. 171 do NCC:
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o
negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo,
lesão ou fraude contra credores.
Ainda, deve o consentimento ser manifestado por pessoa
capaz. A capacidade é bastante para o consentimento, em
linha de princípio. Mas em certos casos o ordenamento
exige, além da capacidade, um requisito específico para a
prática de um ato específico, que é a legitimação.
Ex: compra e venda de bens pertencentes a incapaz ou
nascituro. o representante do incapaz ou do nascituro só
pode vender o bem com autorização judicial, ouvido o MP.
Logo, a autorização judicial tem natureza de legitimação.
2- Preço:
Se não houver preço, o contrato é de troca ou permuta.
3- Objeto.
Assim, a forma não é elemento essencial da compra e venda.
Para a formação do contrato de compra e venda, vale apenas
a vontade das partes, salvo expressa previsão legal.
Havendo expressa previsão legal a forma tem que ser
respeitada sob pena de nulidade.
Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer
sem instrumento público, este é da substância do ato.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 315
Exemplo: compra e venda de bens imóveis em que se deve
respeitar a forma da lei, escritura pública.
O consentimento deve ser livre, espontâneo, nada mais sendo
que a livre manifestação de vontade das partes. Vendedor de
um lado e comprador do outro, uma querendo comprar e o
outro querendo vender. Exige para a manifestação livre do
consentimento a capacidade, sob pena de invalidade.
A compra e venda será nula ou anulável se houver vicio
sobre esta manifestação de vontade. Exemplo: erro, dolo,
coação, estado de perigo, fraude.
Se a parte for incapaz ou houver vicio na manifestação de
vontade, o consentimento será viciado e pode gerar a
anulabilidade.
Em se tratando de um incapaz, se vendedor ou comprador for
incapaz, necessariamente teremos o suprimento judicial de
consentimento. Na hipótese de venda de imóvel de incapaz
exige-se o suprimento da vontade do incapaz por via
judicial. Exemplo: venda de bem imóvel pertencente a
incapaz.
Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus
real os imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles,
obrigações que ultrapassem os limites da simples
administração, salvo por necessidade ou evidente interesse
da prole, mediante prévia autorização do juiz.
Parágrafo único. Podem pleitear a declaração de nulidade
dos atos previstos neste artigo:
A manifestação de vontade do representante ou assistente é
insuficiente para a venda de imóveis do incapaz.
No patrimônio dos incapazes o imóvel tem preferência e deve
ser preservado. Exige-se autorização do juiz, ouvido o MP
para que se aperfeiçoe a venda de imóveis pertencentes a
incapazes.
Existem situações especiais, circunstancias excepcionais de
compra e venda.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 316
A manifestação de vontade, o consentimento é diferenciado
em algumas situações especiais. Nesta situações o
consentimento é diferenciado e não se apresenta da forma
comum
1- Compra e venda de ascendente para descendente:
Há uma diferença entre compra e venda de ascendente para
descendente e doação. A doação implica em antecipação da
herança, antecipação da legítima, salvo se o ascendente
expressamente indicar que o bem está saindo de sua quota
disponível. Exatamente por isso que o descendente
beneficiado precisa colacionar o bem, trazendo de volta.
Na compra e venda é diferente, pois há uma recomposição
patrimonial, o ascendente não desfalca o seu patrimônio e
dispõe do bem que faz parte de seu patrimônio mediante
contraprestação. Assim, terá um tratamento jurídico diverso
da doação.
Quando um pai vende para um filho estará vendendo a preço
vil e acobertando uma doação, uma verdadeira simulação.
Isso porque transfere-se por doação, nominado de compra e
venda. Por outro lado, o pai pode vender ao filho a preço
regular e comum, sem qualquer irregularidade. Assim, o CC,
no art. 496, diz que a compra e venda é anulável se houver
algum tipo de irregularidade, tal como a fraude.
Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os
outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem
consentido.
Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do
cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória.
Produz determinados efeitos até que o titular desperte e
peça a consideração desta irregularidade.
É anulável, salvo se houver o consentimento dos demais
interessados. Os outros interessados são o cônjuge do
vendedor e os demais descendentes.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 317
Havendo anuência do cônjuge e demais ascendentes,
consentimento a compra e venda, neste caso, será válida.
Qual o prazo para promover a ação anulatória de compra e
venda entre ascendente e descendente?
Sob a égide do CC/16 tínhamos a sumula 494 do STF que
estabelecia o prazo de 20 anos, prazo vintenário.
Com o NCC, a matéria sai da súmula 494 que é esvaziada pelo
art. 179 do CC. O art. 179 estabelece que o prazo é
decadencial, pois a ação é desconstitutiva, de 02 anos, a
contar da celebração do negócio ou do registro, no caso de
bem imóvel, que presume a publicidade.
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem
estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos,
a contar da data da conclusão do ato.
2- Compra e venda entre cônjuges e entre companheiros.
Cônjuges podem ser concomitantemente comprador e vendedor?
A depender do regime de bens, essa situação pode ser
esdrúxula, exemplo no regime universal, em que estarei
comprando aquilo que é meu.
Assim, o art. 499 permite a compra e venda entre cônjuges,
desde que tenha como objeto bens excluídos da comunhão.
Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens
excluídos da comunhão.
Se o regime é a separação convencional de bens podem
livremente vender e comprarem o que quiseres. Mas, se o
regime é da comunhão universal não pode haver compra e
venda, pois todos os bens são comuns e compõe a comunhão.
3- Compra e venda por pessoas casadas.
Uma pessoa casada pode vender livremente seus bens?
Se os bens forem moveis poderá vender livremente, não há
óbice ou exigência. Todavia, se o bem é imóvel, neste caso
tem exigência. Exige-se consoante o art. 1647 o
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 318
consentimento do cônjuge. Chamada de outorga uxória
(esposa) ou marital (marido).
Se exige a outorga pra oneração (dar em garantia), fiança e
aval, para tudo isso exige o consentimento do cônjuge.
Esta vênia conjugal pode ser suprida pelo juiz, caso o
cônjuge injustificadamente se recusar a dar a outorga.
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges
pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação
absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos
quando casarem ou estabelecerem economia separada.
O consentimento é necessário mesmo para bens excluídos da
comunhão. Mesmo que o bem não integre a comunhão será
necessário o consentimento para a venda.
Exemplo: homem casado, quer vender um terreno que possuía
antes de casar, é casado sob o regime de comunhão parcial e
mesmo assim exige o consentimento do cônjuge, pois mesmo
que não entre na comunhão os frutos originados por esse bem
são comum. Assim, exige-se o consentimento mesmo para a
venda de bens que não fazem parte da comunhão. A ÚNICA
EXCECAO É A SEPARACAO CONVENCIONAL, POIS A LEI DISPENSA. Na
separação obrigatória tem que haver consentimento.
OBS: quanto à pessoa casada em participação final nos
aquestos, o pacto nupcial pode dispensar o consentimento.
Não se exige consentimento para quem vive em união estável,
a exigência de consentimento é exclusiva do casamento.
Redação expressa do art. 1647.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 319
O art. 1649 estabelece a anulabilidade como conseqüência. O
negocio não é nulo, mas anulável.
Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando
necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o
outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de
terminada a sociedade conjugal.
Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por
instrumento público, ou particular, autenticado.
O cônjuge não ouvido pode ratificar o ato, assim, o ato é
anulável.
Essa ação anulatória deve ser promovida no prazo
decadencial de 02 anos, contados do término do casamento,
do término da sociedade conjugal.
Exemplo: imagine que uma pessoa casada vendeu o imóvel sem
o consentimento do cônjuge, esta venda é anulável, o
casamento se mantém e o divorcio somente vem daqui a 10
anos, o cônjuge que não consentiu terá mais 02 anos para
ajuizar ação anulatória, isso cria uma instabilidade
negocial, pois pode anular a venda depois de 12 anos.
4- Compra e venda de bem condominial:
A co-propriedade é possível vender um bem condominial?
Sim, é possível desde que haja consentimento de todos os
condôminos.
Se um deles for chato e não quiser consentir? Admite-se
consentimento judicial quando há recusa imotivada de um dos
condôminos.
Esta regra não se aplica para a venda da fração ideal, da
quota parte, nesta situação não se exige o consentimento de
todos, basta que se respeite o direito de preferência dos
demais.
Este direito de preferência pode ser exercido por mais de
um condômino que exercerá proporcionalmente ao seu quinhão.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 320
OBS: Não se exige a preferência para doação, a doação é
liberalidade, ou seja, dá para quem quiser.
Na lei de falência há uma regra de venda de bens pelo
falido, dentro do termo legal da falência implica em
ineficácia absoluta e antes do termo legal de falência gera
a ineficácia relativa. Lembrando que o termo legal é
instituído pela sentença que decreta a quebra.
O CC estabelece a nulidade da venda dos bens que estão
sujeitos ao dever de guarda. Exemplo: Tutor não pode vender
o bem do tutelado, sob pena de nulidade.
Análise do preço:
Estimativa econômica ou estimativa pecuniária. Toda compra
e venda tem que ter preço. Sem preço o contrato será de
troca ou permuta.
Se não há preço será caso de troca ou permuta com o objeto
sendo a troca de bens.
Não desnatura a compra e venda se por ventura o vendedor
depois do inadimplemento aceita receber a coisa diversa.
Neste caso teremos a dação em pagamento.
O preço tem que ser em moeda nacional (lei 9.069/95).
Apenas 02 casos se permite o contrato em moeda estrangeira:
bens adquiridos no exterior e oriundos de importação. É o
que dispõe o DL 857/69.
O preço segue, pois, a regra do nominalismo, de acordo com
o art. 315 do NCC.
Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em
moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos
subseqüentes.
O preço do contrato pode ser arbitrado por terceiros, como
no caso de um perito (corretor de imóveis).
É possível fixar o preço por taxa de mercado, bolsa de
valores ou indicies econômicos, somente não é possível que
o preço seja arbitrado pelo puro arbítrio de uma das
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 321
partes. O arbítrio exclusivo de uma das partes implica em
nulidade (art. 489). Exemplo é o preço cartelizado, que é
prática que implica em violação à Lei Antitruste.
Art. 489. Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao
arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço.
Se o preço for injusto existem mecanismos para corrigir o
injusto, a chamada onerosidade excessiva. Se a onerosidade
é no momento da formação do contrato (o contrato é
anulável) a conseqüência é diversa da conseqüência da
onerosidade no decorrer do contrato (contrato pode ser
revisado ou resolvido).
Nos contratos de compra e venda caracterizadores de relação
de consumo, sempre deve haver o dever de informação.
O preço precisa ser sério, idôneo. Significa que se o preço
não é sério e idôneo, não se forma o contrato de compra e
venda, sob pena de enriquecimento sem causa. Ex: Fnac que
vendeu laptops a R$ 10,00. Essa compra e venda não foi
válida, tendo sido, pois, anulada.
Se o preço for sério, mas não justo, há onerosidade
excessiva. Caracterizada, precisa-se saber em que momento
se deu. Se foi caracterizada no momento do contrato (atinge
a validade – lesão ou estado de perigo, sendo a compra e
venda anulável –), ou posteriormente à formação do contrato
(atinge a eficácia, podendo haver a revisão ou resolução do
contrato – art. 478).
Objeto:
O objeto pode ser bem móvel ou imóvel, corpóreo ou
incorpóreo (cessão onerosa, no caso de bem incorpóreo),
atual ou futuro, e até mesmo o que não é seu.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 322
Venda a non domino: venda de quem não é dono, vende o que
não é seu. O contrato existe, é válido, mas a eficácia fica
submetida a aquisição superveniente (art. 1.268, §1º)
Art. 1.268. Feita por quem não seja proprietário, a tradição não
aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em
leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias
tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante
se afigurar dono.
§ 1o Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a
propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento em
que ocorreu a tradição.
§ 2o Não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título
um negócio jurídico nulo.
O NCC permite também a venda de coisa alternativa ou
incerta.
O NCC permite até a venda de bem litigioso (art. 42 do
CPC), sendo apenas impedido a alegação de evicção (art.
457, CC) na venda de coisa litigiosa.
IMPORTANTE: Não pode servir como objeto de compra e venda a
herança de pessoa viva (art. 426, CC) – proibição do pacta
corvina, pacto sucessório; bens personalíssimos e bens
gravados com cláusula restritiva (bens fora do comércio).
Estes bens não podem ser vendidos (bens fora do comércio
(art. 1911).
Assim, só não se permite a venda de bens personalíssimos,
bens forma do comércio e a compra e venda que tenha por
objeto a herança de pessoa viva.
Efeitos da compra e venda e cláusulas especiais
São 04 efeitos:
1- Garantia por evicção;
2- Garantia por vícios redibitórios;
3- Garantia contra o perecimento da coisa: regra do res
perit domino (a coisa perece para o dono). A eventual
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 323
perda ou deterioração do objeto sempre implica em
perda do objeto para o dono. Até a tradição, os riscos
da coisa correm por conta do vendedor. Isso porque a
aquisição da propriedade somente ocorre com a
tradição.
4- Repartição das despesas: toda compra e venda traz
despesas, seja com o registro, seja com a tradição
etc. Art. 490 traz a regra dos efeitos relacionados
com as despesas do contrato de compra e venda.
Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de
escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da
tradição.
Ressalte-se, no que concerne às despesas, que as partes
podem estipular de forma diversa.
Cláusulas especiais ou acessórias ou adjetas que estarão
presentes no contrato de compra e venda:
1- Retrovenda: art. 505. Vender de volta. É o direito de
recompra. É uma cláusula contratual acessória pela
qual o vendedor reserva para si o direito de recomprar
a coisa querendo no prazo máximo é de 03 anos. Para
tanto deverá pagar um preço acrescido das despesas.
Neste caso recomprará a coisa.
Se o comprador não quiser vender? Vai vender
obrigatoriamente, pois tem oponibilidade erga omnes. É uma
cláusula que tem que ser expressa pois vincula terceiros.
É um exemplo fabuloso de propriedade resolúvel. Durante o
prazo da retrovenda o que o comprador tem é propriedade
resolúvel. Assim, o vendedor querendo pode a qualquer
tempo, no prazo, recomprar a coisa.
Se o comprador num contrato com cláusula de retrovenda
poderá vender, mas quem comprar, comprará propriedade
resolúvel.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 324
2- Preferência ou preempção: vem do artigo 513 do CC. A
preferência é diferente da retrovenda, nesta o
vendedor guarda para si o direito de querendo
recomprar a coisa no prazo de 03 anos, vale a vontade
do vendedor. Na preferência diversamente obriga-se o
comprador a dar a preferência, a dar a primazia a quem
lhe vendeu. Se o comprador resolver vender fica
obrigado a dar preferência para quem lhe vendeu, vale
a vontade do comprador, caso queira vender. O prazo
para exercer o direito de preferência não pode exceder
a 180 dias para coisa móvel e 02 anos para coisa
imóvel.
Art. 513. A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação
de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em
pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra,
tanto por tanto.
Parágrafo único. O prazo para exercer o direito de preferência não
poderá exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois
anos, se imóvel.
Vendido sem respeitar a preferência teremos como
conseqüência a ineficácia, ou seja, não produz efeitos esta
venda em relação aquele que foi preterido, o vendedor terá
direito a adjudicação compulsória.
3- Reserva de domínio (art. 521): é uma condição
suspensiva. É a cláusula que submete os efeitos do
negócio ao pagamento integral do preço. O vendedor
reserva para si a propriedade do bem enquanto não for
pago integralmente o preço. O vendedor transfere a
posse, mas não a propriedade
Art. 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a
propriedade, até que o preço esteja integralmente pago.
É possível na compra e venda de coisa móvel. Todavia, é
pacifica a cláusula de reserva de domínio para bens
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 325
imóveis. Não é outra coisa se não a alienação fiduciária em
garantia.
4- Venda a contento ou venda sujeita a prova: é
extremamente comum. É a venda com condição suspensiva,
há uma condição suspensiva nela. A condição suspensiva
é a satisfação do comprador, o agrado do comprador. O
comprador irá conferir a qualidade da coisa
Art. 510. Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a
condição suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas
pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina.
Alimentos e bebidas são exemplos comuns de vendas a
contento ou sujeitas a prova. Aqui, há compra e venda
aleatória, pois as vantagens são incertas.
Não se confundir com vendas por amostras (art. 484).
Art. 484. Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou
modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as
qualidades que a elas correspondem.
Parágrafo único. Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se
houver contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a
coisa no contrato.
Situações diferenciadas da compra e venda:
- venda por amostras:
Art. 484. Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou
modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as
qualidades que a elas correspondem.
Parágrafo único. Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se
houver contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a
coisa no contrato.
Traz dois efeitos: o vendedor se responsabiliza pela
qualidade do produto; havendo contradição entre amostra e
produto, há de prevalecer a amostra.
A venda por amostras é comum no Brasil (Herbalife, Avon e
Natura). Ocorre, por exemplo, quando se compra por
catálogo.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 326
Na venda por amostras, o vendedor se responsabiliza pela
qualidade do produto, tenha a qualidade apresentada na
amostra.
Havendo discrepância entre a coisa adquirida e a amostra
prevalece a amostra. A coisa adquirida tem que ter a
qualidade da amostra ou do protótipo.
5- Venda com pacto de melhor comprador: com prazo máximo
de 01 ano, na qual o vendedor pode vender a coisa a 3º
no prazo de 01 ano se receber melhor proposta. O
vendedor estabelece o direito de vender o bem a
terceiro, mesmo já vendido o bem.
Gera um desequilíbrio pois o comprador pode ser
surpreendido com o desfazimento do contrato. Aqui temos
uma propriedade resolúvel.
6- Pacto comissório ou cláusula comissória: cláusula
contratual que permite ao vendedor desfazer o negocio
quando não houver o pagamento do preço. Inadimplido
permite-se ao vendedor desfazer o negocio. É licito ao
vendedor, no caso de inadimplemento, desfazer o
contrato se houver cláusula expressa neste sentido.
OBS: Quanto a compra e venda ad corpus e ad mensuram.
Ad corpus: é a compra e venda pelo corpo, ou seja, é a
compra e venda por ele mesmo
Ad mensuram: compra e venda por medida.
Exemplo: Se eu compro a fazenda São Paulo, compro o imóvel
por ele mesmo, ad corpus.
Será ad mensuram quando a compra e venda tiver uma
especificação, tal como 250m².
A desconformidade entre a medida anunciada e a medida
entregue pode gerar um vício redibitório. Ex: pessoa compra
apartamento de 100m, mas o bem só tem 90m. Dá ensejo às
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 327
ações redibitórias (restituição do bem), estimatória
(abatimento do preço) e ação ex empto.
Ação ex empto:
É a ação promovida para complementar a área e somente será
possível na compra e venda ad mensuram. Aqui se adquire a
metragem especifica e permite-se o manejo da ação ex empto
para a complementação da área adquirida.
É irrelevante a diferença encontrada inferior a 1/20 avos.
Art. 500, §1º do CC.
Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida
de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não
corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador
terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso
possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento
proporcional ao preço.
§ 1o Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente
enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo
da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar
que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio.
Nesse caso, não cabem as ações edilícias, mas sim perdas e
danos. O STJ entende que as cláusulas que prevejam renúncia
do direito à indenização quando a diferença encontrada for
menor do que 5%. Vide RESP 436.853/DF.
Comodato:
Empréstimo é gênero. Com duas espécies:
1- Empréstimo de uso: para pessoa usar. Usa e devolve e
recebe o nome de comodato.
2- Empréstimo de consumo: para pessoa consumir. A pessoa
consume e não devolverá. Devolverá apenas a mesma
qualidade e quantidade. Recebendo o nome de mútuo.
Se o empréstimo é de uso efetivamente a coisa tem que ser
restituída, no caso de mútuo devolve-se apenas a mesma
qualidade e quantidade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 328
O comodato é empréstimo de coisa infungível e não
consumível. Empréstimo para uso da coisa e posterior
restituição. Pressupõe a entrega da coisa. E o bem tem que
ser infungível para poder ser restituído.
Para aperfeiçoar o comodato exige-se capacidade da Prates,
mas não se exige a propriedade do bem, o comodante (quem
empresta) não precisa ser dono, basta que tenha o uso e a
fruição da coisa para emprestá-la.
O usufrutuário, o enfiteuta, o superficiário podem dar em
comodato.
Empréstimo de coisa infungível e não consumível para uso =
comodato.
Classificação do comodato
É um contrato:
1- Real: exige a tradição, a efetiva entrega da coisa.
2- Unilateral: obrigações para apenas uma das partes,
3- Gratuito.
4- Não solene, basta a entrega da coisa para que se
aperfeiçoe.
Exceção está no tutor e curador e administradores de bens
de 3º, exigindo o CC uma solenidade especifica, qual seja,
a autorização judicial para dar bem do 3º em comodato.
Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os
administradores de bens alheios não poderão dar em
comodato, sem autorização especial, os bens confiados à sua
guarda.
O art. 471 do CP estabelece a impossibilidade de utilização
de prova testemunhal. A prova exclusivamente testemunhal
não pode ser usada para valores acima de 10 salários
mínimos.
Elementos essenciais do comodato:
1- Gratuidade: todo contrato de comodato é gratuito;
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 329
A onerosidade desqualifica o comodato caracterizando a
locação.
Exemplo: comodato de apartamento impondo ao comodatário as
taxas de condomínio e impostos, isso não desqualifica o
comodato, pois não implica em contraprestação, mas apenas
em valores para manutenção da coisa. Neste caso o comodato
chama-se de comodato modal, pois é um comodato com encargo.
2- Infungibilidade: sempre para bens infungíveis, bem que
pode ser devolvido. A mesma coisa deve ser devolvida.
Além de infungível o bem deve ser também não consumível.
O bem pode ser infungibilizado pela vontade das partes.
Exceção: comodato de bens para ornamentação (enfeite,
flores normalmente), sendo possível sobre bens fungíveis.
3- Tradição: é a efetiva entrega da coisa. Sem a tradição
não se aperfeiçoa o contrato. Quando se der a tradição
transfere-se a coisa ao comodatário, aqui se
aperfeiçoa o contrato de comodato. Somente com a
tradição é que haverá o comodato.
Todo comodato demanda um prazo determinado, sob pena de se
tornar uma doação.
No CC o prazo do comodato é determinado ou determinável. As
partes não precisam estipular expressamente, mas devendo
ser determinável ou determinado. Em nenhum caso o comodato
será perpetuo, sob pena de ser doação.
O prazo do comodato é o prazo convencionado pelas partes.
Não havendo prazo especifico presume-se que o comodato terá
o prazo necessário para utilização efetiva da coisa.
Exemplo: Implementos agrícolas, material agrícola em
comodato, sem prazo presume-se que o material foi
emprestado par ao tempo necessário para a colheita (Silvio
Rodrigues). Tempo necessário para o uso e fruição da coisa.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 330
Art. 581. Se o comodato não tiver prazo convencional, presumir-se-lhe-
á o necessário para o uso concedido; não podendo o comodante, salvo
necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz, suspender o
uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional,
ou o que se determine pelo uso outorgado.
O comodante pode reclamar a coisa antes do prazo se houver
necessidade imprevista e urgente reconhecida pelo juiz.
Este tempo é o tempo que se presume necessário.
Deveres do comodatário:
Obrigações impostas:
1- Conservar a coisa como se fosse sua; não pode alugar
nem estabelecer um subcomodato.
A lei impõe ao comodatário inclusive a obrigação de
conservar e salvar a coisa do comodante, numa situação de
catástrofe e calamidade, mesmo antes de salvar os seus
próprios bens.
As despesas necessárias para o uso correm por conta do
comodante.
No comodato não são indenizáveis as benfeitorias úteis,
pois servem para facilitar o uso do próprio comodatário.
2- Usar a coisa de forma adequada. Responde pelo uso
inadequado.
3- Obrigação de restituir. Obrigação de devolver a coisa
no fim do contrato.
O dever de restituir é tão importante que depois do término
responderá pelo esbulho possessório. Caracterizado o
esbulho cabe a possessória de reintegração de posse. Para
caracterizar o esbulho exige-se a comprovação da mora.
Para comprovar a mora, se o comodato é por tempo
determinado a mora é automática. Mas, se for por tempo
indeterminado, tempo necessário para o uso, é preciso que
se constitua o comodatário em mora por interpelação.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 331
A responsabilidade civil recai sob o comodatário que
responde pela perda ou deterioração da coisa.
Havendo 02 ou mais comodatários, em mora, respondem
solidariamente pelas perdas e danos impostas ao comodante.
Obrigações do comodante:
Comodante é quem tem o uso e o gozo da coisa.
1- Aguardar a data da restituição. Não embaraçar ou uso
da coisa. Obrigação de não fazer. Não reclame a coisa
antecipadamente. Não embaraçar a posse do
comandatário.
2- Receber a coisa de volta quando restituída. Será do
comodante, se ele estiver em mora e não receber a
coisa na data de recebimento.. neste caso o
comodatário estará isento da responsabilidade.
3- STJ - Resp 249.925 – é obrigação do comodante o
reembolso das despesas extraordinárias, necessárias e
urgentes. Há toda evidencia de que as despesas
extraordinárias e urgentes devem correr por conta do
comodante.
O contrato de comodato, em regra, não é personalíssimo.
Assim, de forma geral, a morte de uma das partes não
implica em extinção. Salvo, expressa disposição neste
sentido.
O comodato não é intuitu personae e na é celebrado em razão
das partes. A morte implica em transmissão do uso da coisa.
Mútuo:
É o verso e o reverso do comodato.
É o contrato de empréstimo de bens para consumo.
Diferente do comodato, é o contrato pelo qual se transfere
o domínio da coisa para alguém consumi-la.
Não há no mútuo o dever de restituir.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 332
Teremos a incidência sobre bens fungíveis e consumíveis. O
que o mutuário deverá devolver é a mesma espécie,
quantidade e qualidade.
Se o que ele for devolver, se terá que devolver coisa
diversa será troca ou permute. Caso for devolver dinheiro é
contrato de compra e venda.
O mutuante tem que ser proprietário, pois transferirá o
domínio e a propriedade.
Regra do res perit domino: se a coisa perecer quem perderá
é o mutuário, pois houve a transferência do domínio. Assim,
os riscos naturalmente correm por conta do mutuário.
Classificação
O contrato de mútuo
1- Real
2- Unilateral
3- Não solene: salvo se for oneroso, caso em que exigirá
a forma escrita.
4- Gratuito: em regra. Salvo disposição expressa em
contrário ou empréstimo em dinheiro, pois nessa causa
presumem-se embutidos os juros, sendo o chamado mútuo
feneratício, que é presumidamente oneroso por conta da
capitulação dos juros.
O que determina a onerosidade do mútuo será a vontade
expressa das partes ou a finalidade econômica. Todo mútuo
oneroso exige a tradição e receberá o nome de feneratício.
Prazo do múto: o mútuo é sempre temporário, sob pena de ser
doação. Sempre tem prazo determinado. O prazo do contrato
de mútuo (art. 592) é estipulado pelas partes.
Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo
será:
I - até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas,
assim para o consumo, como para semeadura;
II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro;
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 333
III - do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer
outra coisa fungível.
No mútuo é diferente do comodato, assim, sem prazo expresso
presume-se que será até a próxima colheita; de 30 dias se
for de dinheiro e da expressa declaração do mutuante para
qualquer outro bem fungível (10 minutos, 24h). No caso de
abuso haverá ato ilícito, abuso de direito.
Se o mútuo é oneroso presume-se embutidos os juros.
Findo o prazo há o devolver de restituir na mesma qualidade
e espécies. Não se pode obrigar o mutuante a receber a
coisa fracionada. Tem o direito de exigir a entrega da
coisa integralmente.
O mutuante pode exigir uma garantia dada pelo mutuário se
houver notória mudança de sua situação econômica (art. 590)
Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do
vencimento o mutuário sofrer notória mudança em sua situação
econômica.
Isso para que possa estar assegurado, exige uma garantia no
caso de notória modificação na situação econômica do
mutuante antes do vencimento.
Quando se tratar de mútuo em dinheiro, tem que ser em moeda
nacional, em reais. Salvo obrigação adquirida no exterior
ou contrato de exportação. Vale também o princípio do
nominalismo (art. 317)
O mútuo terá sempre como objeto bens fungíveis e consumeis,
esta podem ser determinados pelas partes. As partes podem
fazer com que determinado bem infungível se torne fungível
ou consumível, é a fungibilidade ou consumibilidade
intelectual.
Aula 16 09/07/2009
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 334
Contrato de doação
1) Conceito
Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por
liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de
outra.
É liberalidade. A doação é um contrato pelo qual se
transfere patrimônio por liberalidade, com a aquiescência
do donatário → porque ninguém é obrigado a receber
patrimônio.
Toda transferência do outros bens jurídicos não se encaixa
no conceito de doação. Bens que não tem conteúdo
patrimonial → não é doação, ex doação de órgãos.
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do
próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade
física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para
fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Lei 9474. Não é doação. Não implica transferência de
patrimônio mas de outros bens jurídicos. Nesse caso, se
chama dação.
Características do transplante de órgãos
Se fosse doação, submetido as regras do CC de doação. Mas
não está submetido.
1) transplante entre pessoas vivas
a) somente é possível quando forem órgãos dúplices ou
regeneráveis. Ex: medula, fígado, rim.
b) Gratuidade: deve ser gratuito.
c) Possibilidade de escolha do beneficiário, de quem vai
receber o transplante, desde que seja pessoa
integrante da família.
Se não for pessoa da família, somente com autorização
judicial.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 335
d) necessidade de intervenção do MP, segundo lei de
transplantes.
O medico só pode fazer o transplante fazendo comunicação ao
MP da comarca do doador. Para que o MP possa, através de
procedimento administrativo, confirmar que preenche os
requisitos. MP deve intervir administrativamente nos
transplantes entre pessoas vivas.
2) órgão de pessoa morta
a) doação de todos os órgãos aproveitáveis.
b) Gratuidade
c) Impossibilidade de escolha do beneficiário.
Fila única, por estado. Prevista na lei. Essa fila deve ser
obedecida. Quem deve receber é o primeiro na fila. Fila não
é mais por critério cronológico, mas sim o critério
emergencial.
E se fizer testamento deixando órgão para filho? Não pode.
Direito brasileiro não admite testamento vital. É nulo
testamento que dispõe dessa forma. Ninguém pode dispor de
seu corpo por testamento. Como também não pode dispor sobre
a eutanásia (quero que desligue os aparelhos se estiver em
coma).
2) Classificação do contrato de doação
a) é contrato benéfico. Artigo 114 → por isso, submete-se
a interpretação restritiva.
b) Unilateral
Exceção: doação com encargo ou onerosa. Depende do
consentimento do outro e será bilateral.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 336
c) Gratuita. Gera vantagem patrimonial para uma parte
apenas.
Exceção: da doação onerosa. Não será gratuita, mas onerosa.
d) contrato solene: precisa ser celebrado por escrito.
Precisa ser celebrado por escrito. Mas tem um caso
específico em que não é solene, mas real → chamada doação
manual. Doação manual é aquela para bens móveis de pequeno
valor.
Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento
particular. → por isso, deve ser solene.
Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens
móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição. →
contrato real (é aquele que exige tradição, para seu
aperfeiçoamento se exige a entrega da coisa).
Pequeno valor: expressão ampla. Orientação do STJ (REsp
155. 240/RJ) de que a doação de pequeno valor depende do
patrimônio de quem está doando. É possível oscilar o
conceito de pequeno valor.
Não se aplica na doação, por se contrato benéfico, a
evicção e vício redibitório.
Mas há dois casos em que responde:
a) nas doações remuneratórias
b) nas doações para casamento com pessoa determinada.
Resquício da concepção casamentária de família.
3) Promessa de doação
Tem eficácia a promessa de doação? Promessa de doação se
assemelha a promessa de compra e venda → ordenamento
confere validade e eficácia para a promessa. Na compra e
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 337
venda, se não transfere, tem direito a adjudicação
compulsória.
No CC 16 prevaleceu que não cabia promessa de doação porque
doação somente se aperfeiçoava com a liberalidade
praticada. Sem a liberalidade não havia doação. Em razão do
artigo 462 do CC, trata do contrato preliminar, admite-se
no CC02 a promessa de doação.
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter
todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. → fala em
contrato, qualquer que seja ele.
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do
disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula
de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a
celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.
→ pode celebrar contrato de promessa de doação e o
promitente donatário pode exigir que seja firmado o
contrato.
Ex promessa de doação → na separação ou divorcio, um dos
cônjuges se compromete a doar bens ao outro. Quando não
cumpre, pode exigir judicialmente.
4) Elementos do contrato de doação
a) Sujeito: só se admite doação por quem tem capacidade.
Capacidade é elemento fundamental do contrato de doação.
Incapaz não pode doar nem mesmo representado ou assistido.
Os pais, no exercício do poder familiar, não podem doar
bens pertencentes aos filhos menores, salvo com autorização
judicial. Tutor e curador não podem dispor de bens do menor
a título gratuito, nem com autorização judicial.
Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os
imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que
ultrapassem os limites da simples administração, salvo por necessidade
ou evidente interesse da prole, mediante prévia autorização do juiz.
Art. 1.749. Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob
pena de nulidade:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 338
II - dispor dos bens do menor a título gratuito;
O pródigo não pode doar também → tratado no CC como
incapaz.
Lei 11.101/05 → modifica regra. Doação feita pelo falido
depois da falência → duas regras distintas → ineficácia
absoluta das doações feitas dentro do termo legal da
falência e ineficácia relativa das anteriores a esse
período.
Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o
contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do
devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores:
IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da
decretação da falência;
Art. 131. Nenhum dos atos referidos nos incisos I a III e VI do art.
129 desta Lei que tenham sido previstos e realizados na forma definida
no plano de recuperação judicial será declarado ineficaz ou revogado.
Ineficácia absoluta: independe do elemento subjetivo.
Importa apenas prejuízo dos credores.
Doação por pessoa casada: cônjuges podem realizar
doação, desde que tenha consentimento do outro →
outorga marital ou uxória → é a vênia conjugal.
Exceto pessoas casadas no regime de separação.
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges
pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação
absoluta:
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação.
Se doar sem consentimento essa doação é anulável, no prazo
de 2 anos, contados do termino da união conjugal. Negocio
anulável diferido no tempo.
Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando
necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o
outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de
terminada a sociedade conjugal.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 339
Se regime de participação final nos aqüestos, CC estabelece
que o pacto antenupcial poderá dispensar a outorga. No
regime de separação a lei dispensa a outorga.
Possibilidade de suprimento judicial do consentimento:
não cabe suprimento de consentimento para fins de
doação.
Juiz não pode suprimir vontade de quem está doando.
Doação para nascituro.
CC permite, desde que seja aceita pelo representante.
Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu
representante legal.
Sujeitos que não podem ser beneficiados por doação.
a) tutor e curador que não pode receber doação do
tutelado ou curatelado.
b) Proibição de doação em favor da concubina. Sentido
impuro.
Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser
anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até
dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.
Doação é anulável, no prazo de 2 anos. Para prof, se feito
no limite da legitima, está apenas dispondo do que é seu.
Art. 793. É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se
ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou já se
encontrava separado de fato. → concubina também não pode ser
beneficiaria de seguro de vida.
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua,
estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; →
concubino não pode ser beneficiário de testamento.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 340
Mas é valido deixa ao filho da concubina quando também
filho do testador, artigo 1.803.
b) Objeto: todo e qualquer bem de conteúdo patrimonial,
singular ou universal, móvel ou imóvel, corpóreo ou
incorpóreo.
É possível doação de bens incorpóreos, direito autoral, por
exemplo. Quando se tratar de negócio jurídico que tenha por
objeto bens incorpóreos recebe nome de cessão. Cessão
presumidamente é onerosa → por isso, gratuidade deve ser
expressa.
Pode ter por objeto universalidade.
É possível se fazer doação em prestações, subvenções
periódicas → recebe nome de alimentos voluntários ou
convencionais. Tem natureza jurídica alimentar.
Art. 545. A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado
extingue-se morrendo o doador (quando não estiver prazo determinado),
salvo se este outra coisa dispuser, mas não poderá ultrapassar a vida
do donatário.
Não pode ultrapassar vida do donatário. Depois da morte do
doador, quem responde é o espolio, quando expressamente se
dispuser que vale até o limite da vida do donatário.
Mesmo tendo natureza alimentícia, não se admite prisão
civil → esta somente se admite para direito de família. Sua
execução é exclusivamente patrimonial → admite-se penhora
de bens.
Não se pode doar bens futuros.
É possível venda a non domino (artigo 1.248) → deve haver
aquisição superveniente do bem.
Diferente da compra e venda, a doação a non domino não é
admitido → não pode doar o que não lhe pertence.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 341
Não se admite o pacto sucessório, pacta corvina.
Não se admite doação de herança de pessoa viva.
Porque quando alguém renuncia a herança, seus
herdeiros nada podem reclamar, mas quando indigno ou
deserdado, seus herdeiros podem receber?
porque não existe herança de pessoa viva → se pai vivo, não
pode reclamar herança a que este renuncie. O CC diz
expressamente que não indignidade e não deserdação, pessoa
é tratada como se morta fosse → pode reclamar herança que
lhe caberia. Se não fosse tratado como morto, nada
receberia porque não existe herança de pessoa viva.
Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do
herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura
da sucessão.
MPBA: é possível fazer doação com fideicomisso → faz doação
para alguém sob condição e nomeia substituto. Ex doa
determinado bem para X se passar no concurso. Mas que
transferir logo patrimônio e nomeia substituto → possível
fideicomisso entre vivos. Decorre da autonomia da vontade →
não previsto no CC. Ampla disposição nos contratos
atípicos.
c) Consentimento: doação exige aceitação para que se
aperfeiçoe.
Se não quer não pode ser compelido a receber.
Pode ser feita por procurador, desde que com poderes
específicos.
Aceitação pode ser:
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 342
1) expressa
2) tácita: aceitação comportamental. Ex se vende bens
moveis que recebeu.
3) Presumida: artigo 539.
Quando há prazo estipulado. Se permanece silente, presume-
se a aceitação.
Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se
aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo,
não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a
doação não for sujeita a encargo.
4) ficta: aceitação da doação feita para incapaz.
Se donatário é incapaz, presume-se sua aceitação. Dispensa-
se sua aceitação.
Art. 543. Se o donatário for absolutamente incapaz, dispensa-se a
aceitação, desde que se trate de doação pura.
Se contrato de doação somente se aperfeiçoa pela
aceitação, até que ela sobrevenha é possível sua
revogação, arrependimento.
Possível retratação até o momento da aceitação.
Se donatário morrer ou for declarada ausente antes da
aceitação não terá adquirido propriedade sobre os bens.
Doação para casamento com pessoa determinada
Não precisa de aceitação. Sua aceitação é a própria
celebração do casamento. Aceitação implícita nas núpcias.
d) Forma: sempre por escrito.
Doação somente admite forma distinta quando for doação
manual.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 343
5) Situações especiais de doação
a) doação de ascendente para descendente.
Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a
outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança.
É antecipação de herança, de legítima. Salvo se
expressamente o doador disse que o bem estava saindo de sua
cota disponível. Liberação da legitima deve ser expressa
porque no silencio das partes, presume-se que saiu da
legítima.
Toda doação de ascendente para descendente exige colação →
levar bem de volta ao inventario. Se não colacionado,
caracteriza sonegados e o herdeiro perde o direito sobre
aquele bem. Prazo limite para colação são as últimas
declarações → se não colaciona, cabe ação de sonegados.
b) doação conjuntiva: doação que beneficia duas ou mais
pessoas.
Presume-se distribuída em cotas iguais, salvo disposição em
contrário. Haverá direito de acrescer se um dos donatários
morrer.
Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de
uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual.
c) doação contemplativa: doação em contemplação ao
merecimento do donatário.
Negócio jurídico causal. Na forma do artigo 141, quando
negocio é causal e a causa é falsa, o negócio jurídico é
inválido. Nesse caso, mesmo que a pessoa não tenha o
merecimento exposto, a doação não perde validade.
O artigo 540 tem natureza de recompensa. Mas na recompensa
é o que se chama de ato-fato → tem efeitos jurídicos
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 344
independente da vontade, tem direito e se não quer deve
renunciar. No caso da doação, se exige aceitação.
Art. 540. A doação feita em contemplação do merecimento do donatário
não perde o caráter de liberalidade, como não o perde a doação
remuneratória, ou a gravada, no excedente ao valor dos serviços
remunerados ou ao encargo imposto.
Se contemplação de casamento, dispensa aceitação e permite
alegação de evicção e vícios redibitórios. Nesse caso, tem
eficácia contida → somente produz efeitos após a celebração
das núpcias.
d) doação remuneratória: doação feita em retribuição a
serviços prestados.
É pagamento. É caso de serviços sem exigibilidade. Também
admite alegação de vícios redibitórios e evicção.
e) doação onerosa: doação com encargo.
Também chamada de modal. Dá-se sempre que o doador grava
doação com cláusula em seu favor, impõe ao donatário
contraprestação em seu favor, de terceiro ou da
coletividade.
Se encargo não foi expresso sob forma de condição ele é
apenas forma de contraprestação → exige-se cumprimento do
encargo. Se não cumpre, cabe execução do encargo. Pode
executar o encargo o doador, se morto, pelos seus
herdeiros, terceiro beneficiário e o MP, quando encargo for
em favor da coletividade.
Se não se obtiver êxito na execução do encargo, cabe
revogação da doação.
f) doação com cláusula de reversão.
Art. 547. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu
patrimônio, se sobreviver ao donatário.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 345
Parágrafo único. Não prevalece cláusula de reversão em favor de
terceiro.
Deve ser expressa ou seria venire contra factum proprium.
Patrimônio volta ao doador, se donatário morrer primeiro
que este.
g) doação em favor de entidade futura
Art. 554. A doação a entidade futura caducará se, em
dois anos, esta não estiver constituída regularmente.
Entidade deve ser constituída em 2 anos, sob pena de
caducar a doação.
h) é nula doação universal e inoficiosa.
Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva
de parte, ou renda suficiente para a subsistência do
doador. → doação universal. Teoria do patrimônio mínimo →
ninguém pode doar patrimônio que comprometa sua própria
subsistência.
Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que
exceder à de que o doador, no momento da liberalidade,
poderia dispor em testamento. → doação inoficiosa. Exceda a
legítima. Nulidade apenas da parte que excede a legítima.
A revogação da doação por ingratidão é ou não taxativo
e porque?
Revogação da doação x anulação da doação: revogar é se
arrepender, voltar atrás.
A doação pode ser revogada em duas hipóteses:
a) doação onerosa com descumprimento do encargo.
b) Ingratidão. Quando donatário é ingrato.
Nos dois casos por decisão judicial, ação revocatória.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 346
Não admitem revogação as doações remuneratórias, as doações
com encargo já cumprido, as doações feitas para casamento,
as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural.
Obrigação natural: dívida de jogo, dívida prescrita →
cumprimento de obrigação natural tem natureza de pagamento.
A obrigação natural não tem exigibilidade. Pagamento não é
doação e por isso não pode ser revogada.
Art. 564. Não se revogam por ingratidão:
I - as doações puramente remuneratórias;
II - as oneradas com encargo já cumprido;
III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação
natural; → na verdade é em cumprimento de obrigação moral.
É obrigação moral → está no âmbito da consciência. Ex pai
pede para fazer doação para enfermeira.
IV - as feitas para determinado casamento.
Ação revocatória por ingratidão do donatário é ação
personalíssima. Somente pode ser promovida pelo próprio
doador, no prazo de 1 ano. Os herdeiros nesse caso não
podem iniciar ação, mas podem prosseguir → sucessão
processual.
Efeitos da ação revocatória são ex nunc → não retroativos
porque revogação é caso típico de propriedade resolúvel →
porque se faz doação para alguém. O donatário pode vender o
bem e a pessoa que comprou adquiriu propriedade perpétua.
Bem já está com terceiro → cabe ao donatário devolver o
valor correspondente. Caso de propriedade resolúvel
superveniente → interesses de terceiros de boa-fé são
preservados e donatário vai ressarcir valor correspondente.
Ingratidão
Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:
I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou
cometeu crime de homicídio doloso contra ele;
II - se cometeu contra ele ofensa física;
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 347
III - se o injuriou gravemente ou o caluniou;
IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os
alimentos de que este necessitava. → abandono material.
Rol é exemplificativo porque admite-se a alegação de
ingratidão em inúmeras hipóteses. É possível alegação de
outras hipóteses. Enunciado 33 da jornada de direito civil.
Art. 561. No caso de homicídio doloso do doador, a ação
caberá aos seus herdeiros (embora personalíssima), exceto
se aquele houver perdoado.
1ª parte do artigo é aplicável.
Locação:
Combina regras do CC e da lei 8.245/91.
Art. 565. Na locação de coisas, uma das partes se obriga
a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo
de coisa não fungível, mediante certa retribuição.
Contrato de locação é um contrato de cessão temporária de
bem mediante remuneração. Se contrato é de cessão sem
contraprestação é comodato (empréstimo gratuito por prazo
determinado).
É contrato bilateral, oneroso e comutativo (vantagens
previamente conhecidas), de regra consensual, de regra não
se exige forma (pode ser consensual ou até mesmo verbal).
Há um tipo específico de locação que deve ser por
escrito: locação de imóveis urbanos.
Elementos constitutivos do contrato de locação
1) Objeto: móvel ou imóvel.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 348
Tem de ser infungível porque se for fungível não há como se
exigir restituição do bem. Em face do dever de restituir
que se impõe ao locatário, o bem deve ser infungível.
Apenas um caso de locação de bem infungível: é a locação
para ornamentação. Quando se tratar de bens destinados para
ornamentação é possível.
Quando se tratar de imóveis urbanos, locação se rege pela
lei 8.245/91.
Art. 1º A locação de imóvel urbano regula - se pelo
disposto nesta lei:
Parágrafo único. Continuam regulados pelo Código
Civil e pelas leis especiais:
a) as locações:
1. de imóveis de propriedade da União, dos Estados
e dos Municípios, de suas autarquias e fundações públicas;
2. de vagas autônomas de garagem ou de espaços para
estacionamento de veículos;
3. de espaços destinados à publicidade;
4. em apart- hotéis, hotéis - residência ou
equiparados, assim considerados aqueles que prestam
serviços regulares a seus usuários e como tais sejam
autorizados a funcionar;
b) o arrendamento mercantil, em qualquer de suas
modalidades.
Continuam regidas pelo CC as locações de bens públicos,
garagem, espaços destinados a publicidade, apart-hotel,
hotel, residência, etc e arrendamento mercantil (lei do
leasing). Esses bens não estão submetidos a lei de locação.
2) Preço: preço definido pelas partes, bem como seu
percentual de reajuste e prazo de pagamento →
autonomia da vontade.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 349
Salvo intervenção governamental → não raro governo intervém
na política de preços do mercado. Quando governo fixa
parâmetros para reajuste, a autonomia da vontade fica
mitigada. Nesse caso terá coindição geral de contrato.
Não se confunde contrato de adesão (um dos
contratantes prepara cláusulas em bloco e outra
parte adere) com condição geral de contrato (limites
impostos pelo poder público à contratação. Ex
índices de reajuste de aluguel, partes não podem
passar daquele limite).
3) Consentimento
A locação pode ser por aquele que tem poderes de
administração, não necessariamente pelo proprietário.
Prazo de locação:
A locação não pode ser perpétua. Toda locação tem prazo.
Se contrato de locação tiver prazo superior a 10 anos,
exige-se vênia conjugal.
Art. 3º O contrato de locação pode ser ajustado por
qualquer prazo, dependendo de vênia conjugal, se igual ou
superior a dez anos.
Parágrafo único. Ausente a vênia conjugal, o
cônjuge não estará obrigado a observar o prazo excedente.
Havendo prazo estipulado para locação, locador não
pode reaver imóvel antes do prazo, nem o locatário
pode devolver antes.
Se locador exigir antes, será devido perdas e danos. Se
locatário de volve antes do prazo, incorrerá na multa.
Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente
pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 350
parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente
excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do
negócio. → redução eqüitativa da cláusula penal.
Possibilidade de redução proporcional.
Obrigação foi cumprida em parte e deve ser reduzida
proporcionalmente. Incide no contrato de locação, sempre
que locatário quer restituir e locador exige a multa.
Em locação de imóvel urbano, quando prazo for inferior a 30
meses, só se admite a restituição por denúncia cheia ou
denúncia motivada → casos previsto em lei.
Nos contratos com prazo superior a 30 meses ou nos
contratos por prazo indeterminado, admite-se a denúncia
vazia, imotivada. Denúncia vazia é resilição unilateral e
deve ser exercida com antecedência mínima de 30 dias.
Art. 6º O locatário poderá denunciar a locação por prazo
indeterminado mediante aviso por escrito ao locador, com
antecedência mínima de trinta dias.
Parágrafo único. Na ausência do aviso, o locador
poderá exigir quantia correspondente a um mês de aluguel e
encargos, vigentes quando da resilição.
Alienação da coisa locada
A coisa locada pode ser vendida → locação não retira do
locador a disponibilidade do bem.
Se o bem foi vendido a terceiro de boa-fé, que não
sabia que a coisa estava locada, comprador não se
vincula a locação
Não está obrigado a respeitar a locação. Locatário terá
prejuízo e deverá cobrá-lo do locador. Para se precaver,
locatário deve registrar o contrato no cartório de imóveis.
Efeito que decorre do registro é permitir ao locatário
exercer o direito de preferência e opor locação a
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 351
terceiros, inclusive o terceiro adquirente. Se registra,
adquirente deve esperar o fim do contrato de locação.
E se locador vende sem respeito ao direito de
preferência
Locatário tem direito de adjudicação compulsória → deve
depositar valor da venda, tanto por tanto. Litisconsórcio
necessário entre locador alienante e adquirente →
litisconsórcio passivo unitário.
Se não registra não pode por direito de preferência a
terceiros → deve resolver com o locador por meio de perdas
e danos.
Para que adquirente não seja réu de ação futura, deve
exigir do alienante que prove que deu preferência → artigo
27. por notificação judicial ou extrajudicial, com prazo
mínimo de 30 dias para que querendo possa exercer
preferência.
Art. 27. No caso de venda, promessa de venda,
cessão ou promessa de cessão de direitos ou dação em
pagamento, o locatário tem preferência para adquirir o
imóvel locado, em igualdade de condições com terceiros,
devendo o locador dar - lhe conhecimento do negócio
mediante notificação judicial, extrajudicial ou outro meio
de ciência inequívoca.
Parágrafo único. A comunicação deverá conter todas
as condições do negócio e, em especial, o preço, a forma de
pagamento, a existência de ônus reais, bem como o local e
horário em que pode ser examinada a documentação
pertinente.
Se preterida preferência → registrado, adjudicação
compulsória; se não registrado, perdas e danos.
Benfeitoria
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 352
Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário,
as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário,
ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis,
desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o
exercício do direito de retenção.
No contrato de locação, as benfeitorias só são indenizáveis
com prévia autorização do locador. Se não tem autorização
não geram nem indenização nem retenção.
Essa regra não atinge benfeitorias necessárias que são
sempre indenizáveis, salvo renúncia.
Súmula: 335
Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à
indenização das benfeitorias e ao direito de retenção. →
para prof, viola boa-fé objetiva.
Transmissão do contrato de locação
Art. 10. Morrendo o locador, a locação transmite - se aos
herdeiros.
No caso do locatário: Morte, ausência ou, se em favor de
marido e mulher, separam-se. Havendo morte do locatário,
implica em subrogação do contrato pelos herdeiros, se
contrato é residencial. Se contrato comercial → é sucessão
empresarial, sucessão do negócio.
Em caso de separação, divorcio ou dissolução de união
estável, o cônjuge ou companheiro que continuar no imóvel
tem direito de dar continuidade ao contrato. Dissolução do
núcleo familiar não implica em extinção do contrato de
locação.
Art. 12. Em casos de separação de fato, separação judicial,
divórcio ou dissolução da sociedade concubinária, a locação
prosseguirá automaticamente com o cônjuge ou companheiro
que permanecer no imóvel.
Parágrafo único. Nas hipóteses previstas neste
artigo, a sub - rogação será comunicada por escrito ao
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 353
locador, o qual terá o direito de exigir, no prazo de
trinta dias, a substituição do fiador ou o oferecimento de
qualquer das garantias previstas nesta lei.
A sublocação, empréstimo ou cessão devem ser previamente
autorizadas pelo locador.
Art. 13. A cessão da locação, a sublocação e o empréstimo
do imóvel, total ou parcialmente, dependem do consentimento
prévio e escrito do locador.
1º Não se presume o consentimento pela simples
demora do locador em manifestar formalmente a sua oposição.
2º Desde que notificado por escrito pelo locatário,
de ocorrência de uma das hipóteses deste artigo, o locador
terá o prazo de trinta dias para manifestar formalmente a
sua oposição.
Deterioração ou perecimento da coisa
Deterioração ou perecimento sem culpa, extingue-se
obrigação, o contrato de locação. Porém haverá redução
proporcional do valor. Nesse caso, locação está extinta,
mas se pagamento já foi feito, deve-se abater valor
percebido. Se pagamento não foi feito, será pago
proporcionalmente ao que foi utilizado.
Se com culpa, além do valor do aluguel, serão devidas as
perdas e danos.
Há presunção de culpa por perda ou deterioração da coisa →
se bem se perde ou deteriora, presumivelmente o locatário é
culpado. É caso de presunção relativa e admite prova em
contrário. Locatário pode provar que não teve culpa. Ele é
que deve fazer a prova. De ordinário presume-se sua culpa.
Garantias
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 354
Contrato de locação pode exigir garantia: caução, fiança ou
seguro.
Só se permite exigência de uma garantia. Exigência de mais
de uma delas implica em nulidade da cláusula e contravenção
penal.
(locação e fiador) Súmula: 214 O fiador na locação não
responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual
não anuiu.
Fiança merece interpretação sempre restritiva.
Havendo falta de pagamento, inadimplemento do
contrato, admite-se propositura de ação de despejo
cumulado com cobrança de alugueis.
Promovida ação de despejo, admite-se purgação da mora
(emenda-la), pagando obrigação, desde que este beneficio
não tenha sido utilizado nos 12 meses antecedentes, por 2
vezes.
Contrato de prestação de serviços
Art. 593. A prestação de serviço, que não estiver
sujeita às leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se-á
pelas disposições deste Capítulo.
Contrato pelo qual alguém se obriga a determinada atividade
humana. Quando não for caso de relação de trabalho nem de
relação de consumo. Prestação de serviços regida pelo CC
tem natureza residual.
Se for relação de trabalho ou relação de consumo, fica
afastada incidência do CC.
Diferença está na subordinação jurídica → se há dependência
jurídica, contrato é de emprego. Se não há, é prestação de
serviços.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 355
Se prestação de serviços tem finalidade específica é
empreitada. Finalidade é a consecução de determinada obra.
Classificação do contrato de prestação de serviços
Bilateral, onerosa, comutativa (vantagens conhecidas
previamente), causal (tem causa específica), consensual
(basta declaração de vontade).
Se celebrado por escrito, pode ser assinado a rogo, com
presença de duas testemunhas.
Art. 595. No contrato de prestação de serviço, quando
qualquer das partes não souber ler, nem escrever, o
instrumento poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas
testemunhas.
Característica mais marcante é seu caráter personalíssimo →
o prestador de serviços que deve desempenhar suas
atividades. Todavia, as partes podem permitir a
substituição do prestador de serviços.
Art. 605. Nem aquele a quem os serviços são prestados,
poderá transferir a outrem o direito aos serviços
ajustados, nem o prestador de serviços, sem aprazimento da
outra parte, dar substituto que os preste.
Não é terceirização. É mera substituição do serviço por
terceiro.
Objeto da prestação de serviços estão inseridas
todas atividades necessárias a consecução do objetivo.
Objeto é complexo → todo e qualquer serviço está ali
inserido. Serviços compatíveis → os não compatíveis não
serão inseridos.
Art. 601. Não sendo o prestador de serviço contratado
para certo e determinado trabalho, entender-se-á que se
obrigou a todo e qualquer serviço compatível com as suas
forças e condições.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 356
Ex advogado: interpor recurso, petição, mas não está
inserido ir a BSB sustentar perante STF.
Remuneração
Prestação de serviços é presumidamente onerosa, pode ser
gratuito, se expresso.
CC chama de salário mas não é correto. Salário será o
estabelecido no contrato; se não estabelecido, cabe ao juiz
estabelecer.
Presume-se que pagamento é diferido, posterior a prestação
de serviços. Mas pode fixar no contrato outra forma.
Há possibilidade de compensação do salário.
Art. 606. Se o serviço for prestado por quem não possua
título de habilitação, ou não satisfaça requisitos outros
estabelecidos em lei, não poderá quem os prestou cobrar a
retribuição normalmente correspondente ao trabalho
executado. Mas se deste resultar benefício para a outra
parte, o juiz atribuirá a quem o prestou uma compensação
razoável, desde que tenha agido com boa-fé.
Se contrata engenheiro, ele fez o projeto mas descobre que
não é engenheiro, não tem direito a remuneração. Mas
resultar beneficio para outra parte, merece compensação sob
pena de enriquecimento sem causa.
Parágrafo único. Não se aplica a segunda parte deste
artigo, quando a proibição da prestação de serviço resultar
de lei de ordem pública.
Se é proibição, é de ordem pública. Mas mesmo com vedação,
para prof, se gerou vantagem, deve haver compensação, sob
pena de enriquecimento sem causa.
Prazo máximo de 4 anos, admitida renovação.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 357
Se não houver prazo expresso, o prazo da prestação de
serviços será prazo necessário para obtenção da prestação.
Ex serviços agrícolas → até a colheita. Presume-se pelo
objeto do contrato ou pelos costumes do lugar.
Se não tiver prazo determinado, partes podem resilir
unilateralmente o contrato. Nesse caso, deverá observar o
prazo do aviso prévio.
Art. 599. Não havendo prazo estipulado, nem se podendo
inferir da natureza do contrato, ou do costume do lugar,
qualquer das partes, a seu arbítrio, mediante prévio aviso
(boa-fé objetiva), pode resolver o contrato.
Parágrafo único. Dar-se-á o aviso:
I - com antecedência de oito dias, se o salário se
houver fixado por tempo de um mês, ou mais;
II - com antecipação de quatro dias, se o salário se
tiver ajustado por semana, ou quinzena;
III - de véspera, quando se tenha contratado por menos
de sete dias.
Art. 600. Não se conta no prazo do contrato o tempo em
que o prestador de serviço, por culpa sua, deixou de
servir.
Contrato alguém para prestar serviço por 30 dias. Se não
presta por culpa sua por 5 dias → deve cumprir mais 5. A
contrario sensu, o tempo em que se deixou de servir sem
culpa é contado → ex se fica doente.
Competência para processar e julgar conflitos →
EC 45.
Na justiça do trabalho. Justiça é do trabalho e não do
emprego. Não será se forem duas pessoas jurídicas. Mas sim
se for pessoa física como empregado X pessoa jurídica ou
física como tomador.
Aliciamento do prestador de serviço
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 358
Art. 608. Aquele (BRAHMA) que aliciar pessoas (ZECA
PAGODINHO) obrigadas em contrato escrito a prestar serviço
a outrem (NOVA SCHIN) pagará a este a importância que ao
prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de
caber durante dois anos.
Cabe indenização pelo terceiro lesante. Caso do Zeca
pagodinho. O terceiro responde pelos prejuízos causados →
esse prejuízo tem natureza de lucros cessantes. Figura do
terceiro ofensor. Fundamento na função social do contrato.
Quando prestação de serviços tiver natureza de
empreitada, deve-se esclarecer se esta é de lavor
ou mista.
Empreitada de lavor: empreiteiro apenas executa obra.
Empreitada mista: além de prestar serviços, o empreiteiro
entre com material.
Importância na responsabilidade civil → se mista, responde
não só pelo serviço, mas pelo material. Se de lavor,
responde apenas pelo serviço.
Vai para Justiça do trabalho, exceto quando firmada entre
pessoas jurídicas.
Enquanto empreiteiro não receber o pagamento, tem direito
de retenção sobre a obra.
Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou
outras construções consideráveis, o empreiteiro de
materiais e execução responderá, durante o prazo
irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do
trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo.
Responsabilidade do empreiteiro ou construtor: toda obra
tem garantia de 5 anos por segurança e solidez. É prazo de
garantia, não para promover ação. Prazo é de ordem pública
e por isso irredutível.
Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste
artigo o dono da obra que não propuser a ação contra o
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 359
empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao
aparecimento do vício ou defeito.
Se se descobre defeito de segurança e solidez aparecidos em
5 anos, tem 180 dias para propor ação. STJ vem entendendo
que ação pode ser promovida pelo dono da obra ou por
terceiro prejudicado → ex pessoa que passa e cai pedaço do
prédio nela.
Intensivo II - Direito Civil – Prof. Cristiano Chaves de Farias 360