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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO DIREITO À SAÚDE MATERNO-INFANTIL NOS PAÍSES DO MERCOSUL: UM LONGO CAMINHO A TRILHAR MARYSÉA BRESOLIN MARTINS PINHEIRO ITAJAÍ, MAIO/2006.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DIREITO À SAÚDE MATERNO-INFANTIL NOS PAÍSES DO

MERCOSUL: UM LONGO CAMINHO A TRILHAR

MARYSÉA BRESOLIN MARTINS PINHEIRO

ITAJAÍ, MAIO/2006.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DIREITO À SAÚDE MATERNO-INFANTIL NOS PAÍSES DO

MERCOSUL: UM LONGO CAMINHO A TRILHAR

MARYSÉA BRESOLIN MARTINS PINHEIRO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Professora Doutora Maria da Graça dos Santos Dias

ITAJAÍ, MAIO/2006

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AGRADECIMENTO

À Professora Maria da Graça dos Santos Dias,

orientadora deste trabalho, pelo carinho,

confiança e incentivo durante minha trajetória

acadêmica.

À todos que contribuíram para minha formação

acadêmica e profissional.

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DEDICATÓRIA

À minha mãe, Marisa, ao meu esposo Fabiano e à

minha filha Carolina, pelo amor, apoio

incondicional e presença constante em todos os

momentos.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 15 de maio de 2006.

Maryséa Bresolin Martins Pinheiro Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda: Maryséa Bresolin Martins

Pinheiro, sob o título Direito à Saúde Materno-Infantil no Mercosul: um Longo

Caminho a Trilhar, foi submetida em 02 de junho de 2006, à banca examinadora

composta pelos seguintes professores: Profª. Dra. Maria da Graça dos Santos

Dias, Profª Msc. Maria Fernanda Gugelmin Girardi e Profª Msc. Márcia Sarubbi, e

aprovada com a nota 10,0 (Dez).

Itajaí , 02 de junho de 2006.

PROFESSORA Drª MARIA DA GRAÇA DOS SANTOS DIAS Orientadora e Presidente da Banca

PROFESSOR Msc. ANTÔNIO AUGUSTO LAPA Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

CEPAL Comissão Econômica da América Latina e Caribe

CESNI Centro de Saúde e Nutrição Infantil

CLAP Centro Latino-Americano de Perinatologia

DGPPES Direção Geral de Promoção, Prevenção e Educação Sanitária

DGSF Direção Geral de Saúde Familiar

IAMC Assistência Médica Coletiva

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONU Organização das Nações Unidas

OPS Organização Panamericana de Saúde

PAI Programa Ampliado de Inmunizaciones

PAN Programa Alimentário Nacional

PIB Produto Interno Bruto

PNDS Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição

PROMIN Programa Materno-Infantil y Nutrición

SIS Sistema Integrado de Saúde no Mercosul

SUS Sistema Único de Saúde

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

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ROL DE CATEGORIAS

ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE

“É entendida como um conjunto de atividades que requerem, para serem

aplicadas como tais, a inclusão das premissas de educação sanitária, previsão de

alimentos, nutrição adequada, tratamento de água, saneamento básico, cuidados

materno-infantis, imunizações, prevenção e controle das enfermidades

endêmicas, tratamento básico e abastecimento de medicamentos”1

DEMOCRACIA

“É a sociedade dos cidadãos, e que os súditos tornam-se cidadãos quando lhe

são reconhecidos alguns direitos fundamentais”2

DIREITO

Conjunto de normas que regulam a vida em sociedade. “Parâmetro ordenador

que neutraliza as dissimetrias de posições e desequilíbrios de poder”3

DIREITO À SAÚDE

Direito de acesso aos serviços básicos de saúde, incluindo a assistência, a

prevenção e a participação social no controle do sistema de saúde.

1 MINISTERIO DE SALUD Y ACCION SOCIAL. Resolución 497/1997. Buenos Aires,1997. 2 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus,1992, p.01. 3 TELLES,V.S. Direitos Sociais e Direitos dos Trabalhadores: por uma ética da cidadania. São Paulo:Educ, 1997, p.14.

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DIREITO À SAÚDE MATERNO-INFANTIL

É o direito à garantia de um nascimento seguro e à sobrevivência de mães e

recém-nascidos.

DIREITOS FUNDAMENTAIS

São direitos inerentes à pessoa humana, declarados constitucionalmente.

MERCOSUL

Processo de integração entre os países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai,

que tem por objetivos: abertura de fronteiras, livre circulação dos trabalhadores,

coordenação legislativa para homogeneização do Direito, etc.

PLANEJAMENTO

Construção de estratégias, modos de realizar, pensar estrategicamente em uma

direção.4

POLÍTICAS DE SAÚDE

Ações realizadas pelo poder público, com a finalidade de responder às demandas

da área da saúde.

SAÚDE

Resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio

ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra

e acesso aos serviços de saúde. Conjunto de recursos humanos, materiais e

econômicos que a sociedade destina principalmente à atenção de suas doenças e

4 GALLO, Edmundo. Brasília: Organização Panamericana de Saúde,2004.

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ix

em menor escala à prevenção das mesmas.5

SISTEMA DE SAÚDE

“Resultado da história da respectiva nação, aí compreendida a primazia de

ideologias coletivistas ou individualistas portadas pelos atores fundamentais

organizados, o nível de desenvolvimento sócio-econômico, a capacidade dos

governos de implementar as políticas formuladas, entre outros fatores6.

5 OPS. Las Condiciones de Salud en las Américas. Washington: OPS,1994. 6 LABRA E BUSS. Sistemas de Saúde- continuidades e mudanças. Rio de Janeiro: Hucitec, 1995, p.13.

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x

SUMÁRIO

RESUMO...........................................................................................................................................xi

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................1

CAPÍTULO 1..................................................................................................................................... 8

OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO À

SAÚDE...............................................................................................................................................8

1.1. SOBRE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS................................................................................8

1.2. DO DIREITO À SAÚDE...........................................................................................................14

1.3. SAÚDE E ATENDIMENTO MATERNO-INFANTIL.................................................................19

CAPÍTULO 2 ...................................................................................................................................25

SISTEMAS DE SAÚDE NO MERCOSUL.......................................................................................25

2.1. O SISTEMA DE SAÚDE NA ARGENTINA..............................................................................25

2.2 O SISTEMA DE SAÚDE NO BRASIL......................................................................................32

2.3 O SISTEMA DE SAÚDE NO PARAGUAI................................................................................38

2.4 O SISTEMA DE SAÚDE NO URUGUAI..................................................................................42

CAPÍTULO 3...................................................................................................................................47

PROGRAMAS MATERNO-INFANTIS............................................................................................47

3.1. OS PROGRAMAS MATERNO-INFANTIS E A CONCEPÇÃO DO DIREITO À

SAÚDE.............................................................................................................................................47

3.1.1. ARGENTINA.........................................................................................................................47

3.1.2. BRASIL.................................................................................................................................53

3.1.3. PARAGUAI...........................................................................................................................63

3.1.4. URUGUAI..............................................................................................................................66

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................................74

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS.........................................................................................78

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RESUMO

O Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado "Direito à Saúde Materno-Infantil no Mercosul: um Longo Caminho a Trilhar", visa conhecer os programas materno-infantis e investigar como expressam o direito à saúde nos países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Dentre os objetivos da pesquisa pode-se citar: conhecer a legislação (Constituição, Leis, Decretos e Planos de Governo) e Programas de Atenção Materno-Infantil existentes nos países integrantes do Mercosul; evidenciar a relação dos direito à saúde enquanto discurso e como é traduzida a passagem para a prática concreta; realizar análise dos programas implantados no que diz respeito à saúde no Mercosul. A metodologia de pesquisa constituiu-se de: revisão bilbliográfica sobre a temática; realização de pesquisa documental, a partir de legislações e programas materno-infantis dos países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e análise a respeito dos programas de atenção materno-infantil, enfocando a saúde enquanto direito. Evidenciou-se através da pesquisa, os principais programas de saúde materno-infantil na Argentina, tais como: "Atencíón à Salud de la Madre y el Niño, "Programa Materno-Infantil" e "Programa Materno-Infantil y Nutrición". No Brasil, destacam-se: "Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno", "Programa de Combate à Desnutrição Materno-Infantil". No Paraguai: "Programa de Atención del Embarazo, Parto e Puerpério" e "Programa del Crecimiento y Desarrollo del Recién Nacido y Menor de Dos Años" e, no Uruguai: "Programa Mujer e Genero", "Programa Nacional de Nutrición" e o "Programa Nacional Niñez". Concluiu-se que os principais programas materno-infantis desenvolvidos vêm obtendo alguns resultados como por exemplo: prevenção de doenças, elaboração de algumas políticas de atenção materno-infantil, redução das taxas de mortalidade infantil e desnutrição. Contudo, pode-se observar que as alterações atuais decorrentes do enxugamento do Estado têm indicado a diminuição de investimentos públicos na área. O debate sobre a área da saúde no Mercosul tem um longo caminho a trilhar no sentido de que os passos concretos de proteção social e garantia de direitos, principalmente do direito à saúde são ainda insuficientes para responder às demandas.

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INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado

"Direito à Saúde Materno-Infantil no Mercosul: um Longo Caminho a Trilhar" visa

conhecer os programas materno-infantis e investigar como expressam o direito à

saúde nos países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, signatários do Tratado

de Assunção.

A razão da escolha deste tema deve-se em primeiro lugar, à

grande ênfase dada aos Direitos Humanos e Direitos Fundamentais, tais como: o

direito à vida e o direito à saúde nos últimos anos, no que se refere ao âmbito de

abrangência desta pesquisa.

Em relação ao setor saúde, cabe citar duas das mais

importantes peculiaridades que marcam a importância desta integração, a saber:

"1. O setor saúde é reconhecido indutor desenvolvimentista, tendo impacto sobre

o potencial de desenvolvimento econômico e social da população

desproporcionalmente favorável quando comparável com os demais setores; 2. A

inegável necessidade do planejamento regional de ações que tratem de vigilância

de saúde, sanitária e epidemiológica, de superação de tragédias ambientais que

não "reconhecem" fronteiras, além disto, da atenção de média e alta

complexidade que demandam escala para a oferta de serviços".1

Busco investigar neste contexto, qual a importância dada ao

asseguramento do direito à saúde no Mercosul, enfocando os programas

materno-infantis dos países que o compõem.

Constata-se desde já, a importância deste trabalho no

âmbito das políticas públicas, especialmente referentes à saúde. Procurar-se-á

1 GALLO, Edmundo. Brasília: Organização Panamericana de Saúde, 2004, p. 16.

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2

através da análise dos programas materno-infantis que vêm sendo

implementados nestes países, desvelar-se a concepção de direito à saúde que se

expressa enquanto discurso e valor nos documentos legais (legislações), bem

como sua eficácia enquanto política pública.

Nesta perspectiva, faz-se necessário enfocar alguns

aspectos referentes ao processo de integração do Mercosul, tendo em vista que

neste âmbito é que a análise investigativa sobre os programas materno-infantis foi

realizada.

O Tratado de Assunção, de 26 de março de 1991, oficializou

a decisão de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai de ampliar as dimensões de

seus mercados nacionais, buscando ampliar o desenvolvimento econômico com

justiça social, entrando em vigor em novembro do mesmo ano, com o objetivo de

criar um mercado comum entre os quatro países. A implantação deste mercado

visa criar uma zona de livre comércio, onde os seus produtos possam circular

livremente em qualquer Estado.

Por ocasião da X Reunião do Conselho do Mercado Comum

(São Luís, 25 de junho de 1996), foi assinada a "Declaração Presidencial sobre

Compromisso Democrático no MERCOSUL", além do Protocolo de Adesão da

Bolívia e do Chile a tal Declaração, instrumento que traduz a plena vigência das

instituições democráticas, condição indispensável para a existência e o

desenvolvimento do MERCOSUL.

Em uma fase mais avançada, seria implantado o mercado

comum, onde além de produtos, os serviços, bens e também as pessoas

tivessem "acesso livre" entre os quatro países: Argentina, Brasil, Paraguai e

Uruguai.2

2 MARCHI, J. O Mercosul e a Integração dos Serviços de Saúde. Florianópolis, 1998, p.12.

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3

Rodriguez3 , destaca os seguintes objetivos do Mercosul:

livre circulação de bens, serviços e insumos para a produção, entre os países,

através da eliminação dos direitos aduaneiros e das restrições não tarifárias;

coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais nos campos de comércio

exterior, da agricultura, etc.; coordenação legislativa para a homogeneização do

Direito, visando fortalecer o processo de integração, dentre outros.

O Tratado de Assunção, em seu artigo 13º, prevê que o

Grupo de Mercado Comum constitua subgrupos de trabalho. Estes subgrupos são

em número de onze (11) e abordam as seguintes temáticas: o subgrupo n.º 1

trata das Comunicações; o subgrupo n.º 2 estuda assuntos de minérios; o

subgrupo n.º 3 é encarregado dos regulamentos técnicos; o subgrupo n.º 4

analisa assuntos financeiros; o subgrupo n.º 5 trata do transporte terrestre e Infra

Estrutura; o subgrupo n.º 6 trata de assuntos referentes ao meio ambiente; o

subgrupo n.º 7 trata de assuntos que dizem respeito à Política Industrial e

Tecnologia; o subgrupo n.º 8 analisa a Política Agrícola dos estados membros e

sua integração regional; o subgrupo n.º 9 trata da política Energética; o subgrupo

n.º 10 coordena as relações trabalhistas, Emprego e Seguridade Social e,

finalmente o subgrupo n.º 11 analisa questões referentes à Saúde.

Até o fim de 1996, poucas questões referentes à Saúde

foram tratadas no âmbito do Mercosul. Somente no ano de 1997 é que o tema

saúde evidenciou-se nas discussões. No entanto, até o presente momento houve

poucos avanços no que diz respeito a pontos comuns relativos a direitos e

políticas de cunho regional.

Tendo em vista que um processo de integração, tal como o

Mercosul, que tem por objetivos, dentre todos os já citados anteriormente: a

abertura de fronteiras, a livre circulação de trabalhadores, etc., torna-se

fundamental a existência de tratados que assegurem a estes trabalhadores

direitos sociais fundamentais, tais como: saúde, seguridade, higiene no trabalho,

3 RODRIGUEZ, R. Mercosul, um processo de integração. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1995, p. 11.

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4

jornada limitada de trabalho, emprego, dentre outros. Esta prioridade se

expressou claramente, quando as Centrais de Trabalhadores dos países que

compõem o Mercosul, afirmaram aos seus respectivos presidentes:

"Ao priorizar-se aos aspectos comerciais e tomar-se como eixo condutor o aumento da competitividade, tende a crescer o desemprego, a marginalidade de significativos segmentos sociais e a deteriorar-se ainda mais os salários e as condições de trabalho".4

Neste contexto, vale destacar um trecho do discurso do

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva5, proferido em 16 de outubro

de 2003, no Congresso da Nação Argentina:

"O Mercosul deve constituir-se em um espaço de articulação de políticas industriais, agrícolas, de ciência e tecnologia, que assuma também uma dimensão social, e que garanta a livre circulação de pessoas (..). Devemos perseguir a articulação de nossos sistemas produtivos. Da mesma forma que queremos, em nossos países, um desenvolvimento regional equilibrado, defendemos um MERCOSUL harmônico. Queremos um Mercosul solidário. Por isto, estamos criando mecanismos para impedir desequilíbrios conjunturais em nosso comércio regional, evitando perdas desnecessárias e tentações protecionistas entre nós ".

Enquanto parte da Seguridade Social, a Saúde no Mercosul

vem sendo discutida em relação aos trabalhadores, ou seja, aqueles que estão

inseridos no mercado formal de trabalho.

Conforme documentos referentes à Seguridade Social no

Mercosul6, as discussões a respeito dos direitos sociais apontam "como

imprescindível e prioritário, assegurar níveis mínimos de proteção". Nesta

4 BRUNI, J. La Seguridad Social em el Mercosul. OIT/OISS, 1997, p. 04. 5 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Disponível em: <http://www.saude.gov.br >. Acesso em 15/11/2004. 6 SIMIONATTO, I. Política de Seguridade Social no Brasil – Saúde. Belo Horizonte, 1997, p. 54.

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5

perspectiva, é que estão sendo realizadas as discussões acerca da proteção dos

trabalhadores, no âmbito do Mercosul.

Mesmo considerando essa realidade, buscou-se conhecer a

especificidade dos programas materno-infantis dos países que compõem o

Mercosul no sentido de oferecer elementos que, futuramente, possam

desencadear novos estudos.

Os objetivos desta pesquisa foram os seguintes:

- Conhecer direito à saúde no discurso jurídico através

da legislação (Constituições, Leis, Decretos e Planos de Governo) e

Programas de Atenção à Saúde Materno-Infantil existentes nos países

integrantes do Mercosul;

- Analisar a garantia do direito à saúde, pela definição

das políticas públicas de saúde dos quatro Estados;

- Realizar análise dos programas implementados nos

países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, no que diz respeito à assistência

materno-infantil;

- Avaliar a eficácia dos Programas de Atendimento

Materno-Infantis.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

� No âmbito do Mercosul, existem tratados que

asseguram direitos sociais fundamentais, entre eles, o direito à saúde.

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6

� As legislações dos países: Argentina, Brasil, Paraguai e

Uruguai contemplam os direitos sociais, especialmente o direito à saúde

materno-infantil.

� Os programas materno-infantis implementados nos

países do Mercosul revelam uma concepção de direito à saúde não

condizente com o que está posto nos documentos legais (legislações) de cada

país, havendo um atendimento seletivo da população.

Para uma melhor compreensão do tema referente a este

trabalho, realizou-se a leitura de livros, artigos de revistas, consulta em Internet,

entre outros, enfocando os seguintes assuntos: direitos humanos, saúde, direito à

saúde, políticas sociais, programas de atenção materno-infantil, situação geral da

saúde nos países que compõem o Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e

Uruguai, etc.

Neste sentido, a metodologia de pesquisa constituiu-se de:

1º Momento: Revisão bibliográfica sobre as questões supra-

citadas;

2º Momento: Realização do mapeamento do material

produzido sobre aspectos relacionados a esta pesquisa, tais como: artigos e

informações relativas à situação da saúde nos países que integram o Mercosul,

bem como os principais programas materno-infantis desenvolvidos pelos

mesmos;

3º Momento: Realização de pesquisa documental, a partir de

legislações e programas materno-infantis dos países: Argentina, Brasil, Paraguai

e Uruguai;

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7

4º Momento: Realização de estudo e análise dos

documentos, a partir dos objetivos propostos nesta pesquisa;

5º Momento: Realização de análise a respeito dos

programas de atenção materno-infantil, enfocando a concepção do direito à

saúde.

Este trabalho está disposto da seguinte forma:

No primeiro capítulo, abordam-se questões referentes à

concepção de direitos humanos, direito, saúde e direito à saúde e, logo a seguir,

aspectos referentes à saúde e atendimento materno-infantil no Mercosul.

No segundo capítulo, apresenta-se o Sistema de Saúde nos

países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, seus princípios, população alvo,

organização e gestão de serviços, segundo suas legislações, bem como a forma

em que vigoram, na atual conjuntura.

No terceiro capítulo, aborda-se a situação da saúde

materno-infantil especificamente nestes países e, após, os principais programas

desenvolvidos na área materno-infantil, explicitando sua concepção de direito à

saúde.

Finalmente, apresentam-se as conclusões acerca do

trabalho realizado, apontando algumas reflexões sobre a temática Mercosul e

Saúde e, em seguida, as referências bibliográficas.

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CAPÍTULO 1

OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO À SAÚDE

1.1. SOBRE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Ao abordar a concepção do direito à saúde faz-se

necessário, primeiramente, resgatar a questão dos direitos, levando em conta sua

historicidade.

No início da era moderna, através da difusão das doutrinas

jusnaturalistas e mais tarde da Declaração dos Direitos do Homem, incluídas nas

Constituições dos Estados Liberais, afirmou-se o Estado de Direito.

Nas origens do Estado de Direito,

"a principal preocupação de todos os cidadãos era que o governo fosse um governo de leis e não de homens. A aristocracia de nascimento, o sistema eleitoral censitário fazia suceder a aristocracia do dinheiro. O povo era eliminado da vida política" .7

Os direitos somente passaram para a esfera internacional,

isto é, envolvendo pela primeira vez todos os povos, após a 2ª Guerra Mundial.

No decorrer dos anos, pôde-se constatar que a busca pela

garantia dos direitos sempre evidenciou conflitos entre as classes no poder e as

classes populares, gerando impasses e restringindo a garantia dos mesmos.

7 L’ABBATE, S. O Direito à Saúde: da reivindicação à realização. São Paulo: 1990, p. 03.

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9

O processo de democratização do sistema internacional

impõe que haja a ampliação do reconhecimento e da proteção dos direitos do

homem, acima de cada Estado.8

Kant definia o Direito Natural como direito que todo o

homem tinha de obedecer apenas à lei de que ele mesmo é legislador .9

Já para Locke, a doutrina dos direitos naturais pressupunha

uma concepção individualista da sociedade e portanto, do Estado. Para ele, o

individualismo era a base da democracia, expresso na máxima: "uma cabeça, um

voto."10

Bobbio11 (1992), afirma que no Estado despótico, os

indivíduos singulares só tinham deveres e não direitos. No Estado absoluto, os

indivíduos possuíam, em relação aos soberanos, direitos privados. No Estado de

Direito, os indivíduos tem, em face do Estado, não só direitos privados, mas

também direitos políticos.

Denomina-se Estado de Direito, os estados onde funciona

regularmente o sistema de garantias dos direitos do homem.

"Os direitos do homem nascem como direitos naturais,

desenvolvem-se como direitos positivos particulares, para finalmente encontrarem sua

plena realização como direitos positivos universais".12

8 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 01. 9 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 52. 10 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 61. 11 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 12 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 20.

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10

O desenvolvimento dos direitos do homem passou por três

fases:

1º) Afirmaram-se primeiramente os direitos de liberdade, ou

seja, todos os direitos que tendem a limitar o poder do Estado e a reservar para o

indivíduo ou grupos particulares, uma esfera de liberdade em relação ao Estado;

2º)Direitos Políticos, que concebendo a liberdade de uma

forma ampla, tiveram como conseqüência uma participação cada vez maior dos

cidadãos na gestão do Estado;

3º) Direitos sociais: afirmaram novos valores: de bem estar e

igualdade.

Neste contexto, cabe salientar que os direitos humanos não

são produtos da natureza e sim, resultado de uma construção histórica, e é por

este motivo, que não podem ser considerados imutáveis. Eles são

necessariamente suscetíveis de transformações.

"Os direitos humanos não são estáticos, não ficaram estabilizados na Declaração Universal proclamada em 1948. Continuaram e continuam sendo elaborados e construídos no processo dialético da história".13

Neste contexto, cabe salientar que a história dos direitos do

homem vem se modificando com o tempo e de acordo com as condições

históricas, ou seja, de acordo com os interesses das classes no poder, das

necessidades das classes populares, dos meios disponíveis para a concretização

dos mesmos, entre outros. Pode-se dizer, em outras palavras, que os direitos vêm

ao longo da história sendo conquistados pelos homens através das lutas em

busca da própria emancipação e transformação da realidade presente.

13 HERKENHOFF, J.B. Direitos Humanos: uma idéia, muitas vozes. Aparecida, São Paulo: Santuário, 1998, p. 74.

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11

Os direitos do homem,

"por mais fundamentais que sejam são direitos históricos, ou seja, nascidos em circunstâncias caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades, contra velhos poderes e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas"14

A positivação dos direitos do homem, por exemplo, teve seu

marco com a Declaração dos Direitos do Homem, no ano de 1948, que

contemplava o caráter universalista, tendo em vista que os destinatários eram

todos os homens, de qualquer nação. Possuía também um caráter positivo, tendo

em vista que estava protegida até mesmo contra o Estado.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem é o

instrumento jurídico mais conhecido em termos de Direitos Humanos no mundo.

Segundo a Declaração Universal dos Direitos do Homem,

"cabe a cada indivíduo todos os direitos e todas as liberdades enunciadas na

presente declaração, sem nenhuma distinção por razões de cor, sexo, língua,

religião, opinião pública ou de outro tipo, por origem nacional ou social, riqueza,

nascimento ou outra consideração".15

Na realidade, o que ocorre é que:

"Os direitos humanos são percebidos de maneira diferente no discurso dos dominantes e no discurso dos dominados. As enunciações sofrem no seu entendimento, a influência dos destinatários, em razão das variáveis como: classe social, cultura, nacionalidade ou lugar social em sentido amplo".16

14 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 05. 15 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 70. 16 HERKENHOFF, J.B. Direitos Humanos: uma idéia, muitas vozes. Aparecida, São Paulo: Santuário, 1998, p. 19.

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12

Neste contexto, Herkenhoff (1998) afirma que: "na prática,

seria impossível vigorar uma igualdade real perante a lei numa sociedade

desigual economicamente e, mais ainda, numa sociedade na qual as

desigualdades econômicas sejam brutais".

Constata-se assim, que há uma estreita ligação entre os

direitos do homem e a transformação da sociedade.

Os direitos humanos vem conquistando muito espaço,

continuam sendo firmados nas constituições dos Estados Soberanos e hoje são

reconhecidos e proclamados no âmbito da comunidade internacional, como

veremos a seguir.

O Pacto sobre os direitos econômicos, sociais e culturais e o

Pacto sobre os direitos civis e políticos, ambos adotados pela Assembléia Geral

das Nações Unidas, em 16/12/66, começam assim: "Todos os povos tem direito à

autodeterminação" e prossegue "em virtude desse direito, estes decidem

livremente sobre seu estatuto político e prosseguem livremente seu

desenvolvimento econômico, social e cultural. O art. 3º de ambos os pactos

referem-se que os Estados (...) devem promover a realização do direito à

autodeterminação dos povos", enfatizando a necessidade de não apenas

fundamentar, mas proteger direitos.

"Todo sistema normativo, todo o regime político constitucional em seu funcionamento real deve inspirar-se no princípio geral de efetividade e defesa de um complexo de direitos humanos fundamentais, iniciando pela Constituição e tratados internacionais, lembrando sempre que aquele princípio que estiver posto nas normas escritas, deve também funcionar na dinâmica do direito como realidade social, como conduta humana, como dimensão sociológica".17

17 HERKENHOFF, D. CAMPOS, G. J.B. Princípios de Derechos Humanos y Garantías. Buenos Aires:EDIAR, 1991, p. 25.

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13

Analisando a questão dos Direitos Humanos na América

Latina, pode-se afirmar que somente a partir dos anos 1960/70, é que começa a

ser discutida e relacionada a questão das desigualdades sociais como

conseqüência e impasses à consolidação da democracia e garantia dos direitos.18

Conforme expressa Bobbio19:

"Direitos do homem, democracia e paz são três momentos necessários do mesmo movimento histórico: sem direitos do homem reconhecidos e protegidos, não há democracia; sem democracia não existem condições mínimas para a solução pacífica de conflitos".

Nesta citação está implícito o princípio da democracia, que

segundo o autor, "é a sociedade dos cidadãos, e que os súditos tornam-se

cidadãos quando lhe são reconhecidos alguns direitos fundamentais".20

Todas as declarações recentes dos direitos do homem

compreendem, além dos direitos individuais tradicionais, que consistem em

liberdades, também os chamados direitos sociais que consistem em poderes",

exercidos pela sociedade que demanda a tutela do Estado. 21

São muito freqüentes as discussões acerca da democracia e

cidadania, a partir de uma visão de cima para baixo, levando em conta que

somente as elites privilegiadas pudessem ter acesso à democratização. Na

realidade, são inúmeros os exemplos de democracia construídos de baixo para

18 SANDOVAL, S. Políticas de Emprego, Políticas de População e Direitos Sociais. São Paulo: EDUC, 1997. 19 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 01. 20BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 01. 21 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

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14

cima, isto é, envolvendo os vários setores da sociedade civil, estimulando

mobilizações através dos movimentos sociais, etc.

Neste sentido, torna-se evidente que "a estabilidade

democrática depende, pois, da capacidade de mobilização dos grupos para

alargar a abrangência dos seus direitos políticos (...)”.22

A democracia pode ser entendida como a capacidade de

exercício dos direitos, sejam eles civis, políticos, sociais ou difusos. Desta forma,

pode-se afirmar que os direitos constituem uma relação entre indivíduos, grupos e

classes e, entre esses e o poder constituído, ou seja, o Estado.

Para Telles23:

"Os direitos inscrevem-se no terreno das relações sociais e são (ou deveriam ser) parâmetros ordenadores desta relação para neutralizar as dissimetrias de posições e desequilíbrios de poder."

Para que se possa garantir os direitos, é fundamental que

haja um Estado social democrático de direito, com capacidade interventiva nos

campos político, social, econômico, e que se responsabilize pela implementação

de políticas que dêem conta de atender às reais demandas da população.

1.2. DO DIREITO À SAÚDE

Em se tratando de direitos, será enfocado o direito à saúde,

tendo em vista que constitui-se no principal objeto de análise deste trabalho.

22 SANDOVAL, S. Políticas de Emprego, Políticas de População e Direitos Sociais. São Paulo: EDUC, 1997, p. 239. 23 TELLES, V.S. Direitos Sociais e Direitos dos Trabalhadores: por uma ética da cidadania. São Paulo: Educ, 1997, p. 14.

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15

Todas as pessoas têm o direito a um padrão de vida

adequado à saúde e bem estar próprios e de sua família, particularmente

alimentação, moradia, vestimenta e de assistência médica (...) e direito à

segurança em caso de doença, invalidez, velhice outra falta de meios de

sobrevivência em circunstâncias fora de seu controle24.

Conforme aponta Zucchi25 :

"O direito à saúde é um direito à assistência e não um direito absoluto à saúde perfeita. A expressão direito à saúde tem sido empregada referindo-se a situações extremamente diferentes, em decorrência da própria imprecisão do conceito de saúde".

O direito à saúde inclui além da necessidade dos

serviços básicos de assistência e prevenção, a participação social no controle do

sistema de saúde.26

A participação da sociedade civil, incluindo os agentes

comunitários, dentre outros, vem contribuindo de forma bastante significativa em

relação à concepção da cultura do "favor", para uma visão mais abrangente de

promoção da saúde e garantia dos direitos.

Geralmente, costuma-se identificar o setor saúde como: "um

conjunto de recursos humanos, materiais e econômicos que a sociedade destina

principalmente à atenção de suas doenças e em menor escala à prevenção das

mesmas".27

Em muitos países da América Latina, o setor saúde é

identificado como sistema para a atenção dos doentes, existindo ainda uma

24 L’ABBATE, S. O Direito à Saúde: da reivindicação à realização. São Paulo: 1990. 25 ZUCCHI, P. O Direito à Saúde nas Constiuições do Brasil. São Paulo: USP,1997, p.26. 26 SIMIONATTO, I . NOGUEIRA, V.M.R. Direito à Saúde e a Ampliação Política do Espaço Público. Florianópolis: UFSC, 1996. 27 OPS. Las Condiciones de La Salud em las Américas. Washington:OPS, 1994, p. 15.

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16

concepção altamente assistencialista, que o trata de "forma desagregada e ignora

a natureza complexa e multifacetada do conhecimento e das capacidades nele

enraizadas".28

O termo saúde não possui uma definição estática, ou seja,

vem refletindo as mudanças que ocorrem na sociedade. Isto torna-se evidente

quando o conceito de saúde passa a ser entendido como:

"resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso aos serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, às quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida".29

"Saúde não significa apenas conseguir assistência médica

para as pessoas, as legislações são claras quanto ao direito à saúde conseguido

mediante a garantia de políticas sociais e econômicas que reduzam o risco de

doenças".30

Nesta perspectiva de abordagem da questão da garantia

dos direitos é que pode-se citar, no âmbito do processo de integração dos países:

Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, alguns dos direitos sociais a serem

assegurados através da Carta dos Direitos Fundamentais do Mercosul (1993),

coletada via Internet, tais como:

-Direito que todas as pessoas têm, de que o processo de

integração resulte na melhoria de suas condições de vida (art. 1º);

28 OPS. Las Condiciones de La Salud em las Américas. Washington:OPS, 1994, p. 37. 29 CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE. Brasília: Ministério da Saúde, 1987, p. 382. 30 O'DWYER, G. LEITE, M. A. Saúde, Direito Primordial de Cidadania. Paraná, CEBES, 1997, p. 91.

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17

-Direito de todas as pessoas, sem qualquer distinção, à plena

satisfação das necessidades básicas da existência a ser garantida pelos Estados

Partes (art. 8º);

-Direito à alimentação sadia e adequada, de modo que seja

assegurada ao máximo sua capacidade física, emocional e intelectual ( art. 11º);

-Direito à saúde, explicitando que : "Toda a pessoa tem

direito à saúde física e mental, os Estados Partes garantem este direito

assumindo sua competência indelegável na condução e planejamento de

um sistema de promoção e atenção à saúde para toda a população,

desenvolvendo ainda programas especiais de atenção à saúde dos setores

de mais alto risco por seus níveis de pobreza e marginalidade social"(art.

14º);

-Direito à constituição de uma família, devendo os Estados

partes garantir a proteção adequada e assistência principalmente no que se refere

à mãe e à criança (art. 17º)

-Direitos da infância, onde toda e qualquer criança tenha o

direito à proteção da sociedade e Estado, de modo a garantir condições materiais

e humanas indispensáveis ao seu crescimento harmônico e integral e o

cumprimento integral dos direitos da infância estabelecidos pela Convenção sobre

os Direitos da Criança (art. 18º), dentre tantos outros.

Analisando a questão dos direitos na América Latina, mais

especificamente nas Constituições dos países do Mercosul, objeto da pesquisa

em questão, observar-se-á como estas expressam o direito à saúde na teoria,

através das principais legislações e documento oficiais.

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18

A Constituição Argentina de 1819 foi tida como

individualista, passou por reformas, dando uma abertura à democracia

participativa e aos direitos humanos.

A primeira Constituição deste país, estabelecia disposições

do direito à vida, à liberdade, seguridade, propriedade, liberdade de expressão,

dentre outros.

A Constituição que vige atualmente, mas com modificações

é a de 1994, de caráter republicano e federal, aborda o direito de integração e

hierarquiza constitucionalmente os tratados referentes a direitos humanos. É clara

quando estabelece que o Estado deve outorgar os benefícios da seguridade

social, garantindo proteção integral da família, a compensação econômica e

familiar e o acesso a uma vida digna (art. 14). Dispõe também sobre a garantia

aos consumidores e usuários de bens e serviços o direito à proteção de sua

saúde, seguridade e interesses econômicos (art.42). É importante destacar que

não há uma especificação direta sobre o direito à saúde, havendo um maior

detalhamento na legislação complementar.

Nas Constituições do Brasil e Paraguai, a concepção do

direito à saúde é universal e também salientam a importância do papel do Estado

enquanto responsável pela garantia do direito à saúde.

A Constituição Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo

196, define a saúde como : "um direito de todos e um dever do Estado", garantido

mediante políticas sociais e econômicas, o acesso universal e igualitário para

todas as ações e serviços de saúde, visando a promoção, proteção e recuperação

da saúde.

A Constituição do Paraguai de 1967, reformulada em 1992,

em seu artigo 68, afirma que o Estado tem o dever de promover a saúde como

direito fundamental da pessoa e interesse da comunidade.

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19

A Constituição do Uruguai (1994), em seu artigo 85, revela

uma concepção restritiva pois dispõe que os habitantes devem ser assistidos em

caso de enfermidades, mas que o Estado proporcionará gratuitamente os meios

de prevenção e assistência somente aos carentes de recursos suficientes.

A luta pelo pleno exercício dos direitos, incluindo o direito à

saúde, implica em uma luta por uma melhor qualidade de vida e deve, portanto,

envolver todos os setores da sociedade, voltados para a diminuição de

desigualdades sociais e para uma luta em favor da democracia e da cidadania.

Para que se possa garantir os direitos de cidadania é

essencial que haja uma passagem do discurso, ou seja, do estatuto formal à

prática concreta e, neste caso, é indispensável o papel do Estado, enquanto

gerenciador de políticas direcionadas à garantia destes direitos.

1.3. SAÚDE E ATENDIMENTO MATERNO-INFANTIL

Considera-se fundamental que a saúde deva estar integrada

em todos os níveis e em todas as áreas do Mercosul, obedecendo alguns

princípios: vontade política, democracia plena, associação voluntária entre os

países, concordância com o modelo de desenvolvimento econômico/social;

existência de um Estado de Direito e respeito aos direitos humanos.31

Analisando a questão da saúde e o atendimento materno-

infantil dos países do Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, pode-se

desde já afirmar que as legislações dos diferentes países revelam uma atenção

especial quando se trata da saúde materno-infantil.

Na área da saúde, "deve-se destacar que, a despeito de

importantes avanços nas áreas de regulação sanitária, políticas de medicamentos

31 HOLANDA, Enir Guerra Macedo apud GALLO, Edmundo. Organização Panamericana de Saúde, 2004.

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20

e outras, há um nítido espaço ainda não aproveitado para o aprofundamento das

áreas de cooperação e da integração de políticas para o complexo de saúde

como um todo".32

Ao refletir sobre saúde materno-infantil, é necessário levar

em conta não apenas o atendimento médico-curativo em relação às patologias

apresentadas por gestantes/recém-nascidos ou puérperas, mas também medidas

preventivas que assegurem o pleno desenvolvimento físico, mental e emocional

dos mesmos.

São inúmeras as vezes em que as precárias condições de

saúde, aliadas à falta de informação, de acesso ao pré-natal, parto e pós-parto de

qualidade, entre tantos outros, transformam totalmente o momento tão especial

na vida dos pais e família, em muito sofrimento.33

Enquanto presenciam-se mortes infantis devido a problemas

respiratórios, prematuridade, baixo peso ao nascer, infecções relacionadas ao

parto e asfixia, as mães apresentam várias complicações devido à anemia

crônica, pressão alta, hemorragias, hipertensão, infecções provenientes de

doenças sexualmente transmissíveis, hepatite, falta de higiene durante o parto e

também gravidez indesejada, que geram aumentos significativos de morbi-

mortalidade, abandono, maltrato e negligência em relação ao recém-nascido.

Nesta lista de complicações, a maioria delas poderiam ser evitadas com simples

práticas de promoção e educação em saúde.

Sabe-se que todas estas patologias estão intimamente

vinculadas às condições de saúde, nutrição, nível de escolaridade e de vida da

mulher e da família, bem como o acesso ao atendimento durante gestação, parto

e puerpério.

32 GALLO, Edmundo. Brasília: Organização Panamericana de Saúde, 2004, p. 18. 33 NASCIMENTO, A. O papel das instâncias do SUS na organização da assistência perinatal. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999, p. 02.

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21

Por este motivo, é essencial a promoção de intervenções em

vários setores, dirigidas a mulheres e crianças, com vistas à melhoria das

condições de vida e saúde das mesmas. Isto refere-se ao direito à saúde

materno-infantil, isto é, o direito à garantia de um nascimento seguro e à

sobrevivência de mães e recém-nascidos.

Quando se trata da temática da saúde materno-infantil,

torna-se imprescindível enfocar os serviços de saúde em relação ao acesso e

qualidade do atendimento prestado.

Neste sentido, um aspecto importante é a adoção de novas

tecnologias que têm permitido grandes avanços na área materno-infantil e

garantido a preservação de muitas vidas.

No entanto, também é necessário lembrar de aspectos que

dificultam ainda mais a prestação de serviços de qualidade, como por exemplo: a

escassez de recursos, superlotação, deficiência nos cuidados básicos com o

recém-nascido, além da falta de treinamento dos recursos humanos dos serviços

de saúde.

Analisando o perfil de saúde da população da América

Latina, segundo informes da CEPAL/ONU34, constata-se que estão sendo

alterados gradativamente os perfis da população e os problemas de saúde:

"Durante os anos 90, observou-se uma maior conscientização em relação a interdependência dos fatores que contribuem para o bem-estar humano, assim como a capacidade de enfocar a integração para melhorar a situação da saúde da população".

Diante desta situação, os governos da América Latina têm

reconhecido que as fronteiras da área da saúde devem ser ampliadas, de forma a

34Comisión Económica de América Latina y el Caribe - CEPAL/Fondo de Las Naciones Unidas - ONU. La brecha de la equidad, América Latina, el Caribe y la Cumbre Social. Santiago do Chile: Naciones Unidas, 1997, p.45.

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22

atacar a pobreza, a desigualdade e as enormes disparidades da área da saúde e

assistência sanitária.

Muitos países da América Latina vêm adotando, desde

1990, mecanismos direcionados para o cumprimento da Convenção dos Direitos

das Crianças, realizada em 20 de novembro de 1989. Essa Convenção

representou a importância de se conceber aspectos essenciais como o direito e

as políticas sociais, que expressam a imagem das crianças e a forma em que se

visualizam e se respeitam os seus direitos e deveres.

"A Convenção constitui um avanço muito significativo e um esforço amplo que tende a situar os direitos humanos como fundamentos básicos de toda ordem social e eixo de referência essencial no âmbito das decisões relacionadas ao público ".35

Neste sentido, pode-se afirmar que Estado e sociedade civil

desempenham um papel fundamental quando se trata de garantir os direitos

humanos das crianças. Na medida em que estes tomam decisões adequadas em

matéria de educação, saúde, emprego, etc., estes direitos certamente serão

fortalecidos.

A Convenção sobre os Direitos das Crianças constitui um

instrumento do Estado e sociedade civil para fortalecer os valores referentes à

cidadania, democracia e principalmente à equidade, ou seja, a universalidade dos

direitos referentes à infância.

-Dentre os principais efeitos da Convenção sobre os Direitos

das Crianças, destacam-se os seguintes:

-Avanços referentes à saúde e educação de crianças nos

países da América Latina;

35Comissión Económica de América Latina y el Caribe. Panorama Social de América Latina, 1997. Santiago do Chile, 1998, 1ªed, p. 21.

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23

-Criação e formulação de novos programas nacionais em

favor da infância como um dos eixos das políticas sociais nos países: Argentina,

Chile, Paraguai, Peru, etc.).

Neste contexto, torna-se fundamental destacar a importância

dos programas materno-infantis, enquanto instrumentos que visam uma mudança

qualitativa nos padrões de saúde apresentados em cada país.

A este respeito, constata-se que o papel do planejamento e

programação em saúde tem sido fundamental, pois procura "construir

equivalentes próprios do setor saúde, tentando dar objetividade ao seu operar

instrumental, diante de um universo de problemas muito distintos colocados pelo

mundo da economia".36

Os programas materno-infantis são implementados para

atender às reais demandas da população, realizando um trabalho de assistência,

especialmente com gestantes, mães e crianças, visando o seu bem estar e,

consequentemente, objetivando a melhoria da qualidade de vida da população.

O planejamento e a implementação dos programas que

possuem este objetivo "implica necessariamente em fazer opções explícitas de

enfrentamento de alguns interesses e se aliançar com outros, significa construir

estratégias e modos de realizar, pensar estrategicamente em uma direção".37

Sendo assim, seria impossível pensar nos processos de

integração regional que não tem em suas bases o desenvolvimento do setor

saúde.

36 GALLO, Edmundo (org.). Razão e Planejamento: reflexões sobre política, estratégia e liberdade. São Paulo- Rio de Janeiro, Hucitec/Abrasco,1995, p. 13. 37 GALLO, Edmundo. Sistema Integrado de Saúde do Mercosul: SIS -MERCOSUL. Uma agenda para integração. Brasília: Organização Panamericana de Saúde, 2004, p. 131.

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24

As soluções para os problemas de saúde representam

mecanismos essenciais para a erradicação de pobreza, e como tais são

extremamente importantes para quaisquer dialógos cujo tema sejam as Américas.

Para Gallo38: "a integração é um processo e nunca um

Estado de Direito, para que ela aconteça é necessário que o Mercosul seja uma

política de Estado e priorizada como tal".

Neste sentido, os desafios para a integração do Mercosul,

como o de construção de um Mercado Comum com justiça social, com diminuição

das iniquidades, deverá levar em conta, dentro de um marco de referência de

saúde, os seis princípios básicos da nossa Constituição Federal e da nossa Lei

Orgânica - Lei 8080-90: a equidade, a universalização da atenção; a participação,

a eficiência, a integração e a descentralização.

E neste ponto de vista, "a integração refere-se ao

relacionamento concreto das medidas de saúde, tais como: a promoção,

prevenção, recuperação e reabilitação, em todos os níveis e com continuidade - e

a promoção da saúde, mediante o processo de desenvolvimento".39

Analisar a questão do direito à saúde expresso através dos

programas de atenção materno-infantil, implica em realizar um resgate dos

sistemas de saúde dos países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que

integram a presente pesquisa.

38 GALLO, Edmundo. Sistema Integrado de Saúde do Mercosul: SIS- MERCOSUL. Uma agenda para integração. Brasília: OPS, 2004, p. 131. 39 HOLANDA, Enir Guerra Macedo apud GALLO, Edmundo. Organização Panamericana de Saúde, 2004.

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25

CAPÍTULO 2

SISTEMAS DE SAÚDE NO MERCOSUL

2.1. O SISTEMA DE SAÚDE NA ARGENTINA

Primeiramente, faz-se necessário enfocar o que se entende

por Sistema de Saúde. Segundo Labra e Buss40, o Sistema de Saúde pode ser

considerado:

"resultado da história da respectiva nação, aí compreendida a primazia de ideologias coletivistas ou individualistas portadas pelos atores fundamentais organizados, o nível de desenvolvimento sócio-econômico, a capacidade dos governos de implementar as políticas formuladas, entre outros fatores".

A organização dos sistemas de saúde generalizou-se após a

Segunda Grande Guerra. Isto fazia parte do envolvimento dos Estados Nacionais

na proteção de seus povos.

Aspectos fundamentais relacionados à saúde, tais como:

universalidade, equidade, privatização do setor, representação de interesses de

atores sociais, entre outros, são indispensáveis quando se verifica a configuração

dos sistemas de saúde dos diversos países a serem apresentados logo a seguir.

A década de 80 pode ser identificada como um período de

grandes transformações no mundo todo. A crise do capitalismo que já começava

a aparecer no final dos anos 60, provocou uma mudança não só na economia,

mas também nas relações entre Estado e Sociedade.

40 LABRA E BUSS, Sistemas de saúde - continuidades e mudanças. Rio de Janeiro: Hucitec: Fiocruz, 1995, p. 13.

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26

Essa nova realidade fez com que todos os países

realizassem várias reformas através das orientações dos organismos

internacionais, dentre elas, a redução do papel e do tamanho do Estado.

Na Argentina, tais mudanças vêm ocorrendo nos aspectos

social, político e econômico. Os bens públicos como a saúde, a educação e a

previdência social, em que o Estado sempre desempenhou um papel de

protagonista, tanto em sua relação como supervisão direta, têm se deteriorado,

perdendo eficiência operativa, eficácia e equidade distributiva. O financiamento do

setor público está sendo afetado desde 1982, com as mudanças acima apontadas

em consonância com a política internacional.41

Segundo o Censo Nacional de População42, realizado ao

final do ano de 2001,a população da Argentina era de aproximadamente

37.944.014 habitantes, com uma taxa anual média de crescimento de 10,1%. A

proporção da população acima de 65 anos era de 9,9 %, enquanto a de menores

de 15 anos era de aproximadamente 28,3%. No período 2000-2005, a taxa global

de fecundidade foi de 2,44%.

Estatísticas da Comissão Econômica para América Latina y

el Caribe43, demonstram que as taxas médias anuais de desemprego urbano vêm

aumentando significativamente, atingindo em 1996, a taxa de 17,2%, reflexo da

situação sócio-política econômica vivenciada pelo país desde então.

Nos últimos meses de 2001 e na primeira metade de 2002, a

situação era de uma aguda crise política, institucional e social, considerada sem

precedentes na história do país, acumulando uma dívida externa estimada em

41 Organização Panamericana de Saúde. Disponível em: <http://www.ops.org.br>. Acesso em 30/10/2005. 42 Organização Panamericana de Saúde. Disponível em: <http://www.ops.org.br>. Acesso em 30/10/2005. 43 Comissión Económica de América Latina y el Caribe. Panorama Social de América Latina, 1997. Santiago do Chile, 1998, 1ªed.

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2004, de 181milhões de dólares. Como resultado deste processo, foi registrado

um aumento considerável no que se refere à pobreza. Esta situação tem reflexos

diretos na saúde da população.

A reestruturação do sistema de saúde na Argentina, possui

algumas estratégias básicas como: a descentralização e desregulamentação.

Estas estratégias funcionam como base política e econômica para as principais

reformas sanitárias em marcha: a reforma do sistema de Obras Sociais e a

redefinição do funcionamento dos serviços públicos de atenção médica.

Com a crise econômica, o sistema de saúde mostrou mais

acentuadamente suas deficiências no que se refere aos serviços oferecidos. A

atuação dos três subsistemas, público, privado e obras sociais, contribuiu para

aumentar a disparidade.

Em 1988, formularam-se as Leis de Obras Sociais e do

Seguro Nacional de Saúde. Na administração estabelecida desde 1989

impulsionou-se a privatização e a flexibilização da oferta de obras sociais. O

decreto 578/93 definiu diversos mecanismos para promover a desregulamentação

do sistema de saúde.

Em meados de 1995, o decreto 492/95 eliminou das Obras

Sociais a forma de gestão mista (tinham uma administração dividida entre

sindicato patronal e Estado), transformando-se em sindicais. Isso gerou uma

disputa entre os sindicatos de saúde, os quais buscaram realizar alianças com o

setor privado para administrar os serviços.44

Este decreto criou também um Plano Médico Obrigatório,

que se refere à cobertura mínima tendente a desaparecer. Em 1997, outra

mudança ocorre no sistema de saúde, quando se abre a possibilidade dos

44 VUOLO E BARBEITO. La nueva oscuridad de la política social. Buenos Aires: CIEPP, 1998.

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trabalhadores escolherem a obra social que desejam, devendo permanecer no

mínimo 01 ano na nova entidade.

O subsetor privado está composto, portanto, por dois

grupos: os profissionais que prestam serviços independentes a pacientes

particulares filiados a obras sociais ou a sistemas privados de medicina, e por

estabelecimentos assistenciais (de diversos tamanhos, níveis de complexidade e

resolutividade e poder econômico), contratados pelas obras sociais.45

O subsetor de Obras Sociais caracteriza-se por uma

precária infraestrutura, por contratar quase todos os serviços com prestadores

privados (clínicas, sanatórios, farmácias, médicos, etc.) e também por comportar-

se como um organismo de financiamento.

O sistema de saúde público da Argentina está baseado no

decreto 1269, de julho de 1992, que define a descentralização administrativa do

setor. Este decreto cria da figura dos "Hospitales Públicos de Autogestión" e

estabelece os mecanismos de promoção nesta área. Os requisitos para ter

acesso aos serviços destes hospitais dependem da situação sócio-econômica da

população, devendo-se determinar quem é "indigente" para ser atendido neste

tipo de serviço.46

Esse pressuposto está expresso no decreto 1269/1992, que

coloca: " a promoção e proteção de saúde com o menor custo econômico e social,

dirigidos a populações marginalizadas, de pobreza estrutural e de risco."

Em 1997, é promulgada a Resolução 497, pelo Ministerio de

Salud y Accion Social, que estabelece novas diretrizes para o sistema de saúde

na Argentina. O novo modelo está baseado na Atenção Primária de Saúde. A

45 Organización Panamericana de La Salud. Las Condiciones de La Salud en Las Américas. Washington, D.C: OPS, 1994. 46 VUOLO E BARBEITO. La nueva oscuridad de la política social. Buenos Aires: CIEPP, 1998.

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proposta denomina-se "Planificación Estrategica Basica en Atención Primária de

Salud" e vem articulada com a proposta denominada de Hospital Público de

Autogestión, conforme citada anteriormente.

A Atenção Primária de Saúde é:

"entendida como um conjunto de atividades que requerem, para serem aplicadas como tais, a inclusão das premissas de educação sanitária, previsão de alimentos, nutrição adequada, tratamento de água, saneamento básico, cuidados materno-infantis, imunizações, prevenção e controle das enfermidades endêmicas, tratamento básico e abastecimento de medicamentos"47

São em número de quatro (04), as perspectivas

fundamentais que definem a Atenção Primária de Saúde:

- Um conjunto de atividades;

- Um nível de assistência;

- Uma estratégia;

- Uma política ou filosofia de saúde.

A partir desta Resolução, o pressuposto "Salud para Todos",

também presente no decreto 1269/92, é tomado como estratégia para os

programas de Atenção Primária de Saúde. Mesmo compreendendo que a saúde

não pode ser tratada sem levar-se em conta outros fatores: "ambientais, sociais,

econômicos", ainda aparece como uma política para os pobres, pois "saúde dos

pobres depende de uma combinação de fatores, de tal modo que seria ilusão

esperar mudanças sanitárias que reduzam o risco de tais obstáculos."

47 MINISTERIO DE SALUD Y ACCION SOCIAL.Resolucion 497/1997. Buenos Aires, 1997.

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Em um outro parágrafo da Resolução, indica-se no entanto,

uma visão mais ampla no que se refere ao direito à atenção primária de saúde:

"A política de atenção primária implica no desenvolvimento de um sistema sanitário que assuma o direito a saúde como marco dos direitos fundamentais das pessoas e que garantam sua defesa prioritária e responda em todo momento a critérios de justiça e igualdade no acesso e desfrute deste direito por todos os cidadãos com independência de qualquer outro fator"48

Dentre os planos e políticas de saúde executadas na

Argentina, pode-se citar o Plano Federal de Saúde 2004-2007 que apresenta

como eixos fundamentais: afiançamento do Ministério de Saúde; garantia

através da descentralização, de cobertura básica universal;

desenvolvimento de programas de promoção e prevenção;

proteção e financiamento dos programas estabelecidos e

participação da sociedade civil no modelo de saúde do país.

Ainda no que se refere ao sistema de saúde da Argentina, é

importante indicar que o mesmo compreende um projeto de cooperação

intersetorial com mecanismos de coordenação em escala nacional, estadual e

municipal. Implica ainda, na participação da comunidade, através dos sistemas

locais de saúde e tecnologia apropriada, sendo a base de todos os programas de

saúde e de infraestrutura sanitária.

Neste sentido, os programas a serem implementados deverão

estar embasados na Política de Atenção Primária de Saúde, desenvolvendo além

de atividades assistenciais, ações de promoção e proteção à saúde, devendo

estender-se a todo o sistema de planejamento e ações sanitárias.

Neste sentido, pode-se observar que o novo sistema de

saúde público da Argentina está centrado na educação sanitária. É importante

considerar que a Atenção Primária de Saúde é fundamental para os países com

48 MINISTERIO DE SALUD Y ACCION SOCIAL. Resolucion 497/1997, Buenos Aires, 1997, p. 02.

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relevantes índices de pobreza, tais como: Argentina e os demais que compõem o

Mercosul.

No entanto, trata-se de um nível de atenção assistencial,

financiado pelo sistema público, com custos de menor expressividade. Não ficam

garantidas assim, as formas de acesso da população aos serviços de saúde de

maior custo. Desta forma, tem-se um sistema de saúde não igualitário e que

remete cada vez mais a uma idéia de política compensatória e de "cidadania

regulada".

Não havendo ainda dados avaliativos sobre o

desenvolvimento desta proposta, apresenta-se avaliações anteriores, da

Organização Panamericana de Saúde, 1994, sobre a política de saúde na

Argentina, a qual indica que o subsistema público oferecia serviços deficientes à

população que não estava sendo atendida pelas Obras Sociais e nem pelo setor

privado, estimada em aproximadamente 25% da população total. O subsistema

de Obras Sociais, que cobria aproximadamente 65% da população, acentuou sua

tradicional desigualdade. O subsistema privado, que cobria diretamente cerca de

10 % da população, era contratado por obras sociais, possuindo um terço de

camas hospitalares.

O Banco Mundial vem participando ativamente na reforma

do setor saúde argentino através do financiamento de consultoria privada e do

"Programa de Reconversão", ou seja, a transformação das Obras Sociais em

instâncias de iniciativa privada.

Na Argentina, o gasto em saúde do setor público se realiza

mediante uma rede de estabelecimentos, sobre as quais não há informações

atualizadas. Um exemplo: no ano de 1986, o gasto com a saúde foi de

aproximadamente 8.95% do PIB. Vuolo e Barbeito (1998), indicam que a partir de

1990, já ocorreu uma redução de 19% dos investimentos até então destinados à

saúde.

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Em 2003, 54% do gasto em saúde era público e 46 %

privado. Do gasto público, 55% era financiado a partir da seguridade social e 45%

diretamente dos impostos. Para 2002, o gasto total em saúde do país foi estimado

em US$ 23,6 mil milhões, o que correspondeu a uma renda per capita de

aproximadamente US$745.49

Esta breve exposição a respeito do sistema de saúde da

Argentina, permitirá compreender melhor e mais detalhadamente o conceito de

direito à saúde e sua passagem para a prática concreta, através dos programas

de saúde materno-infantis realizados neste país, como veremos no próximo

capítulo.

2.2. O SISTEMA DE SAÚDE NO BRASIL

Com uma área territorial de 8.5 milhões de km2 e uma

população de 169 milhões de habitantes no ano de 2000, o Brasil apresenta uma

densidade populacional média de 19,8 habitantes/km2. O sistema de governo é

presidencialista e constitucional. A organização político-administrativa

compreende 26 estados. É regido pelo Poder Legislativo, Executivo e Judiciário. A

Constituição Federal de 1988 consolidou a restauração do regime democrático

no país, após décadas de governo militar.

No Brasil, desde os anos 80, "a situação política e

econômica se caracterizava por uma profunda recessão e desorganização das

estruturas de produção e isto reflete no campo social, onde são evidentes as altas

taxas de desemprego, a questão dos baixos salários, a falta de implementação de

políticas sociais, entre outras".50

49 VUOLO E BARBEITO. La nueva oscuridad de la política social. Buenos Aires: CIEPP, 1998. 50 Organización Panamericana de La Salud. Las Condiciones de La Salud en Las Américas. Washington, D.C: OPS, 1994, p.96.

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Conforme aponta Pires51:

"Nos anos 80, já se verifica um esgotamento do dinamismo da economia industrial brasileira, a inflação é alta e, praticamente, não existe crescimento econômico. No entanto, ao contrário do que ocorreu nos países capitalistas desenvolvidos, amplia-se a organização sindical, e, os trabalhadores em plena crise e pressionados pela inflação, avançaram na conquista de seus direitos, criando centrais sindicais, aumentaram os níveis de sindicalização, ampliando os espaços de negociação e conquistando maior reconhecimento social. O Estado é incapaz de orientar o crescimento econômico e, no final da década, a crise política, econômica e institucional é ainda maior. "

Essa situação se agrava nos anos 90, principalmente em

relação à questão do desemprego. Os índices de desemprego vêm crescendo

assustadoramente, chegando a ser mais elevados do que a inflação. Segundo o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os índices de dezembro de

1997 eram de 4.84% já em março de 1998, atingia os 8.18%. Ainda assim, não

chega à metade dos 18.1% medidos na região metropolitana de São Paulo.52

A questão do desemprego tem gerado graves

consequências em relação à qualidade de vida de uma parcela significativa da

população, que está vivendo em condições subumanas de sobrevivência, sem

acesso à saúde, habitação, educação, lazer, alimentação, dentre outros, que

embora assegurados como direitos pela Constituição, não estão sendo

reconhecidos e exercidos pela população brasileira.

Entre os anos 70 e 80, o acirramento das desigualdades

provocadas pela crise anteriormente mencionada movimenta vários setores da

sociedade civil na luta pelo fim da ditadura militar, pela abertura democrática e

atendimento das reivindicações das massas trabalhadoras.

51 PIRES, D. Reestruturação produtiva e trabalho em Saúde no Brasil. São Paulo: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social - CUT: Annablume, 1998. 52 O Colapso do Trabalho. Folha de São Paulo, São Paulo, maio de 1988.

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No que se refere à saúde, diversos setores da população,

principalmente movimentos sociais, desempenharam um papel muito importante

no sentido de demonstrar a insatisfação com a situação do setor e reinvindicar um

modelo de atenção de qualidade nesta área, sob a égide do Estado e mediante a

implementação de políticas sociais e econômicas.

Neste sentido, evidenciou-se um importante processo de

reformulação do setor saúde articulado em torno da Reforma Sanitária Brasileira

que sustentou uma concepção de saúde ampliada, relacionada às condições

gerais da vida, como: moradia, saneamento, alimentação, condições de trabalho,

educação e lazer.

A trajetória do processo de Reforma Sanitária culminou com

ações e transformações necessárias na política de saúde: criação de um Sistema

Único de Saúde, descentralização deste sistema, hierarquização das unidades de

atenção à saúde, participação e controle da população na reorganização dos

serviços, dentre outros. 53

Segundo Mendes54:

"A Reforma Sanitária constitui-se num processo modernizador e democratizante da transformação nos âmbitos político-jurídico, político institucional e político operativo, para dar conta da saúde dos cidadãos, entendida como direito universal e suportada por um Sistema Único de Saúde, constituído sob a regulamentação do Estado, que objetiva a eficácia e a equidade e que se construa permanentemente através do incremento da sua base social, da ampliação da consciência sanitária dos cidadãos, da implementação de outro paradigma assistencial, do desenvolvimento de uma nova ética profissional e da criação de mecanismos de gestão e controle popular sobre o sistema".

53 GERSCHMAN, Silvia. A democracia inconclusa: um estudo da Reforma Sanitária Brasileira. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1995. 54 MENDES, E.V. Distrito Sanitário: o processo de mudança das práticas do sistema único de saúde. São Paulo: Hucitec, 1993, p. 42.

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Neste panorama, foi promulgada a Constituição Federal de

1988, que instituiu o Sistema Único de Saúde - SUS, conforme as diretrizes de

descentralização, direção única em cada nível de governo, atenção integral e

participação comunitária, citadas anteriormente. A partir deste momento, a saúde

foi definida como direito de todos e dever do Estado.

"O conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, de administração direta e indireta e das funções mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde -SUS" (Lei 8080, art. 4º).

A respeito do SUS, a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080 de

19/09/90), dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação

da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá

outras providências.

Em seu artigo 5º, dispõe a respeito dos objetivos do SUS:

I- A identificação e divulgação dos fatores condicionantes

e determinantes da saúde;

II- A formulação de políticas de saúde que visem a

redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de

condições que assegurem o acesso universal e igualitário às ações e aos

serviços para sua promoção, proteção e recuperação;

III- A assistência de pessoas por intermédio de ações de

promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada

das ações assitenciais e das atividades preventivas.

Esta Lei contém também as diretrizes do SUS (art. 7º), das

quais pode-se destacar:

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I- Universalidade;

II- Integralidade de assistência;

III- Participação da comunidade;

IV- Descentralização político-administrativa, com direção

única em cada esfera do governo.

A Lei 8080/90 contempla ainda em seu capítulo III, no que

se refere à organização, direção e gestão, que os municípios também poderão

desenvolver ações e serviços de saúde que lhe correspondam (art. 9º). E o art.

13º do mesmo capítulo, refere-se à articulação de políticas e programas, bem

como sua abrangência em algumas das mais importantes atividades:

I- Alimentação e Nutrição;

II- Saneamento e Meio Ambiente;

III- Vigilância Sanitária e farmacoepidemiologia;

IV-Recursos Humanos;

V-Ciência e Tecnologia; e

VI- Saúde do Trabalhador.

As mudanças que ocorreram após a Constituição de 1988,

em se tratando da saúde foi, segundo Simionatto55: "resultado da força

55 SIMIONATTO, I. Políticas Públicas e Reforma do Estado: a saúde em questão. In: Informativo do PET/Serviço Social-UFSC. Florianópolis, 1997, p.03.

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organizativa do movimento sanitário e de sua defesa na construção de um projeto

de caráter universal/publicista".

São inúmeros os avanços obtidos através da Constituição

Federal de 1988 e que representam transformações significativas na área da

saúde, como por exemplo: concepção ampla de saúde explícita como um direito

de cidadania; construção de um novo modelo de atenção à saúde,

descentralização de ações, democratização do poder local, evidenciando neste

caso, a importância da constituição de conselhos, dentre outros.

Os Conselhos foram criados a partir da Lei 8142/90, com o

sentido de possibilitar a participação da sociedade civil no processo de

deliberação sobre a política de saúde, em nível municipal, estadual e nacional.

Em relação aos gastos referentes à saúde no Brasil, pode-

se identificar o seguinte: em 1995, houve um gasto de R$ 19.962 bilhões de reais,

em 1996, R$ 18.583 bilhões de reais, em 1997, 21.489 bilhões de reais e em

1998, R$ 19.101 bilhões. Pode-se observar que houve uma redução de gastos

entre 1995-1996 de 6.9%; uma elevação em 1997, de 15.6% em relação ao ano

anterior e uma redução em 1998, de 11% . 56

De âmbito nacional, a assistência médica previdenciária era

a principal forma de prestação de atenção à saúde, caracterizando-se pelo

atendimento clínico individual, com privilégio da atenção hospitalar e

especializada, estando ausente qualquer medida de saúde pública de promoção

da saúde ou prevenção de doenças, que por sua vez eram executadas em

serviços de saúde pública organizados em estrutura governamental diversa e com

aporte financeiro extremamente reduzido. Os serviços de saúde pública, de

responsabilidade do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais de Saúde,

cuidavam basicamente das doenças infecciosas de caráter endêmico e

56 NETO. O desastre da nação: um balanço do governo FHC. Rio de Janeiro:Vozes, 1999, p.38.

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epidêmico, com alguma ênfase na educação em saúde. A assistência médica

nestes serviços era completamente subordinada ao enfoque coletivo, sendo

oferecida com o objetivo de controlar a incidência/prevalência das doenças

infecciosas, em detrimento da demanda espontânea por assistência médica

individual.

Desde a segunda metade da década de 70, o país passa a

sofrer as conseqüências do modelo econômico e do endividamento junto às

instituições financeiras internacionais. O modelo previdenciário vivencia uma

agudização de sua crise financeira. Muitas foram as explicações para este

momento de crise. Destacam-se aqui as que foram mais relevantes para a

compreensão do processo de descentralização:

- o privilegiamento do setor privado e especializado na

prestação de assistência médica, oneroso e de baixo impacto no incremento da

qualidade de saúde da população;

- a dificuldade de controle das contas e dos gastos já que os

hospitais relacionavam-se diretamente com a instância federal num país com

dimensões continentais;

- o paralelismo de ações da Previdência Social e dos órgãos

vinculados da saúde.

2.3. O SISTEMA DE SAÚDE NO PARAGUAI

Após um longo período de regimes autoritários no Paraguai,

vislumbra-se a dificuldade de manter-se um Estado de direito, a atenção aos

aspectos econômico e social. O modelo econômico do Paraguai é baseado na

exportação de insumos agrícolas e produtos estrangeiros. No ano de 2000,

estimava-se uma população total de 5.496.450 habitantes, com uma taxa de

crescimento demográfico anual de 2,6%.

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Constatou-se que, nos últimos anos, o país apresentou uma

grave crise política, social e econômica, expressa não somente pelos baixos

salários e preços agrícolas, mas também pela diminuição de gastos sociais, em

educação, saúde e reforma agrária, o que contribuiu para a deterioração da

qualidade de vida de grande parte da população. 57

Em março de 1999, o assassinato do vice-presidente do

Paraguai, Luís Maria Argaña, levou o então presidente, Raul Cubas, renunciar ao

cargo, agravando ainda mais a situação do país que ainda busca construir um

sistema democrático.

Neste país, os problemas sociais são decorrentes da

insuficiência dos serviços de saúde, da educação e habitação e a principal

prioridade focaliza-se na questão da pobreza, desintegração sócio-cultural,

desemprego e subemprego.

Em 1996, foi sancionada a lei 1.032 que cria o Sistema

Nacional de Saúde e que contempla os princípios de equidade, qualidade,

eficiência e participação social. A coordenação do setor é responsabilidade do

Conselho Nacional de Saúde, constituído por instituições do setor privado

presidido pelo Ministro de Saúde, com a responsabilidade legal de coordenar e

controlar os planos, programas e atividades das instituições públicas e privadas.

O Paraguai iniciou o processo de reforma do setor saúde

através da implementação da "Lei do Sistema Nacional de Saúde", criado em

dezembro de 1996, que visa equidade, promoção da saúde, bem-estar social,

articulação entre as instituições, dentre outros.

De acordo com documentos do Ministério de Saúde do

Paraguai (1998-2003), a nova Política Sanitária Nacional, assume a

57 Organización Panamericana de La Salud. Las Condiciones de La Salud en Las Américas. Washington, D.C: OPS, 1994.

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responsabilidade de orientar o Sistema Nacional de Saúde, com uma sólida

capacidade normativa de planejamento e controle que lhe permita identificar

prioridades, regular a gestão pública e privada de saúde, prover os recursos

humanos capacitados e tecnologia apropriada para os diferentes níveis de

atenção, garantir o acesso universal aos serviços de saúde, com qualidade e

equidade, formalizar a participação intersetorial, nacional, regional e local e apoiar

as políticas governamentais na luta contra a pobreza e iniquidade.

O direito à proteção da saúde e o Sistema Nacional de

Saúde estão reconhecidos na Constituição de 1992, que estabelece os princípios

de coordenação, cooperação e complementariedade entre os setores público e

privado.

"Art. 69: Do Sistema Nacional de Saúde

Promover-se-á um sistema nacional de saúde que execute ações sanitárias integradas, com políticas que possibilitem a coordenação e a complementação de programas e recursos do setor público e privado".

A Lei 1032/96, em seu art. 5º, indica que "o sistema terá

como pilar o conceito de atenção integral de saúde, harmonizando as funções de

proteção de saúde, prevenção e tratamento das enfermidades".

Esta lei demonstra claramente o papel do Estado enquanto

responsável pela igualdade de deveres e direitos dos cidadãos, a quem o sistema

de saúde deverá estabelecer uma cobertura total da saúde, possibilitando o pleno

acesso aos serviços e recursos do mesmo (art.6º).

Quanto aos objetivos dos sistema de saúde, tal lei explicita,

no art. 2º:

"Distribuir de maneira eqüitativa e justa os recursos nacionais no setor saúde, articulando instituições que tem a finalidade

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específica de participar das atividades de promoção e recuperação de enfermidades no âmbito do território da república".

A finalidade do sistema está exposta no art. 3º que diz que:

"O sistema tem como finalidade prestar serviços a todas as pessoas, de forma eqüitativa, oportuna e eficiente, sem discriminação de nenhuma classe, mediante ações de promoção, recuperação e reabilitação integral do enfermo."

O mesmo operará mediante ofertas de serviços de saúde,

de acordo com as normas de direito público e privado vigentes (art. 4º).

Mesmo considerando que a lei expressa uma idéia de direito

universal, percebe-se uma concepção de saúde centrada na doença e, portanto, o

enfoque das ações ainda recai no plano curativo.

O Decreto 19.996/98, do Paraguai, estabelece como

princípios do sistema de saúde: equidade, solidariedade, atenção integral,

participação social, eficácia e eficiência, democratização, descentralização,

complementação do público e privado e conscientização. Apresenta ainda como

instâncias do sistema: Conselho Nacional de Saúde, Conselhos Regionais e

Conselhos Locais.

Ao Ministério de Saúde Pública e Bem-Estar Social

corresponde atender a toda a população que não está coberta por outras

instituições no setor, principalmente aos grupos mais vulneráveis e com poucos

recursos econômicos.

Neste país, a Direção Geral de Promoção, Prevenção e

Educação Sanitária (DGPPES) tem a responsabilidade por assuntos

comunitários, destacando-se o Movimento dos Municípios Saudáveis. A Direção

Geral de Saúde Familiar (DGSF) tem a responsabilidade pela saúde materno-

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infantil, a saúde das crianças e adolescentes, a saúde oral, a saúde mental, a

alimentação e a nutrição.

A coordenação do setor saúde neste país é de

responsabilidade do Conselho Nacional de Saúde, presidido pelo Ministro da

Saúde, com a responsabilidade legal de coordenar e controlar os planos,

programas e atividades das instituições públicas e privadas.

Segundo documentos da Organização Panamericana de

Saúde referentes ao ano de 1994: o setor privado caracterizou-se por um grande

crescimento nos últimos dez anos, cobrindo 3.3% da população. Outro dado

relevante obtido pela mesma fonte é de que no ano de 1992, 47% da população

do Paraguai não estava recebendo atenção médica básica.

A nova política nacional de saúde elaborada para o período

de 2003-2006, busca ampliar a cobertura à população através de serviços

públicos visando atingir um percentual de 60% com ênfase nos segmentos rural e

marginal urbanos.

Analisando alguns dados referentes ao gasto nacional em

saúde no Paraguai, constatou-se que no ano de 1996 o gasto em saúde foi de

1.475.678 guaranis, o que equivale a US$ 737.800,00 e representa 7.4% do PIB.

O gasto anual per capita foi de 290.031 guaranis, equivalentes a US$ 145.58

2.4. O SISTEMA DE SAÚDE NO URUGUAI

No Uruguai, a economia, assim como nos outros países, tem

determinado a adoção de políticas que privilegiam o crescimento econômico, mas

apontam muitas desigualdades entre os setores público e privado. Neste

58 OPS/OMS. Documento Preliminar: Analisis del Sector Salud del Paraguay. Assunción, Paraguay, 1998, p. 22.

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43

contexto, o setor privado é o dinamizador por excelência, sendo que esta

tendência também se reflete no setor saúde.

A organização do sistema de saúde aparece na Lei

15.181/81, que explicita em seu art. 1º que "o Estado estabelecerá uma cobertura

de atenção médica para todos os habitantes da República com essencial

componente da seguridade social, através de organismos públicos e privados."

A assistência médica poderá ser privada, tanto particular

como coletiva e pública. A assistência médica prestada de forma pública, é aquela

que se realiza mediante pessoas jurídicas públicas, enquanto que as instituições

privadas de assistência médica coletiva operam através de: associações

assistenciais ou cooperativas de profissionais que proporcionem assistência

médica aos seus filiados e sócios; serviços de assistência criados por empresas

privadas ou de economia mista para prestar, sem fins lucrativos, atenção médica

para pessoas que ali trabalham e eventualmente aos familiares da mesma.

O Ministério de Saúde Pública é o principal organismo

normativo nesta área e oferece serviços assistenciais à população que não possui

recursos, através de uma ampla rede de estabelecimentos de saúde distribuídos

em todo o país.

As instituições de Assistência Médica Coletiva (IAMC),

fazem parte do subsetor privado. Sendo assim, os associados ou filiados a estas

instituições têm assegurado seu direito à assistência médica básica, completa e

igualitária, mediante o pagamento de cotas mensais que correspondam ao custo

de cada serviço.

Segundo estatísticas e censos de 1991, o Ministério atendia

28.8% do total da população do país, enquanto as instituições de Assistência

Médica Coletiva (IAMC) atendiam 54%, o que mostra a importância do setor

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44

privado coletivizado na atenção médica do Uruguai. A população total sem

cobertura (sem vinculação formal a um serviço de saúde) atingia 6.8%.59

Em relação aos recursos humanos:

"não há uma política definida sobre recursos humanos. O excesso de médicos e políticas de privatização tem levado a aparição de modalidades diferentes de trabalho médico e surgimento da figura do médico como empresário".60

No Uruguai, o Estado assumiu funções de controle em

matéria de saúde, se preocupou em organizar os serviços de atenção médica

somente aos indigentes e, deste modo, deixou de resolver esta questão de vital

importância para a maioria da população.

Conforme indica a Constituição (1997):

"Art. 44: O Estado legislará em todas as questões relacionadas com a saúde e higiene públicas, procurando o desenvolvimento físico, moral e social de todos os habitantes do país. Todos os habitantes tem o dever de cuidar de sua saúde, assim como ser assistido em caso de enfermidade. O Estado proporcionará gratuitamente os meios de prevenção e assistência tão somente aos carentes de recursos suficientes"

Segundo estimativas anuais de pessoas atendidas pelo

Fundo Nacional de Recursos no período de 1990-1991 foi de 7.770 pessoas, já

no período referente a 1995-1996, o número de pessoas atendidas aumentou

significativamente, passando para 13.510 pessoas.61

59 Organización Panamericana de La Salud. Las Condiciones de La Salud en Las Américas. Washington, D.C: OPS, 1994. 60 Organización Panamericana de La Salud. Las Condiciones de La Salud en Las Américas. Washington, D.C: OPS, 1994, p. 121. 61 Comissión Económica de América Latina y el Caribe. Panorama Social de América Latina, 1997. Santiago do Chile, 1998, 1ªed.

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45

As políticas de saúde se orientam em função dos problemas

de saúde e dá-se prioridade aos programas de atenção ao adulto e controle das

enfermidades crônicas não-transmissíveis.

Analisando a questão do sistema de saúde na América

Latina, pode-se constatar que todos os países possuem particularidades em

relação a área total, população, gastos relacionados com a saúde, o acesso da

população aos serviços, etc.

Nos dados a seguir62, pode-se observar que a região da

América Latina possui enormes disparidades em relação ao acesso aos serviços

de saúde. Vejamos: em toda a região da América Latina, no ano de 1990, 60% ou

mais da população tinha acesso aos serviços de saúde. No entanto, existem

algumas exceções, já que vários países possuem deficiências neste setor, como

por exemplo: somente 34% da população da Bolívia possuía acesso a estes

serviços, 44% no Peru, 46% e Honduras.

Em relação às principais dificuldades a serem enfrentadas

nos Sistemas de Saúde na América Latina, pode-se citar: falta de incentivo às

campanhas sanitárias e reforço à atenção primária, dificuldade de implementação

da descentralização e sistemas locais de saúde, diminuição dos investimentos na

área pública com ações focalizadas principalmente em grupos vulneráveis, etc.

Esta política rompe com os princípios de integralidade e universalidade ainda

presentes nas normas legais, como é o caso do Brasil e do Paraguai.

Segundo Lagares63, especialista da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), o direito à Seguridade Social está consagrado

como direito fundamental de todos os cidadãos nas Constituições dos países que

62 Comissión Económica de América Latina y el Caribe. Panorama Social de América Latina, 1997. Santiago do Chile, 1998, 1ªed. 63 LAGARES, A..M. Los processos de Reforma Privatizadora en la región. OIT, 1997.

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compõem o Mercosul, o que daria o direito de cada indivíduo fazer valer o seu

cumprimento:

"Nos encontramos com um direito reconhecido formalmente mas "vazio" de conteúdo. Estamos diante de um direito subjetivo de caráter social, sem interesses sociais. Situação curiosa onde o Estado deveria prestar os meios aptos para plena satisfação deste direito e transformações econômicas e sociais necessárias, no entanto como tal se estruturam os sistemas capitalistas analisados, os direitos sociais não são mais que meras funções sociais."

No próximo capítulo serão apresentados os programas

materno-infantis no Mercosul, sua concepção de direito à saúde, assim como sua

relação com a questão da saúde materno-infantil específica de cada país.

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47

CAPÍTULO 3

PROGRAMAS MATERNO- INFANTIS

3.1. OS PROGRAMAS MATERNO-INFANTIS E A CONCEPÇÃO DE DIREITO À

SAÚDE

Considerando-se que a questão dos programas materno-

infantis dizem respeito à garantia do direito à saúde, buscou-se resgatar a

questão da saúde quanto à prática, discurso e valor, através do planejamento,

implementação e ações desenvolvidas pelos programas supra citados.

Dentro da questão da garantia dos direitos, especificamente

do direito à saúde materno-infantil, os programas que estão sendo desenvolvidos

com o objetivo de atendimento às demandas tornam-se fundamentais, pois visam

principalmente ações efetivas em relação à melhoria da questão da saúde em sua

totalidade.

Em relação à saúde materno-infantil dos países que

compõem o Mercosul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, pode-se afirmar que

há uma evidente prioridade estabelecida em discursos governamentais,

legislações, documentos oficiais, etc., em relação a esta área.

3.1.1 – ARGENTINA

Segundo a Direción de Estadística e Información de Salud64,

a população total da Argentina está estimada em 37.869.723 habitantes. A taxa

total de nascidos vivos é de 697.952 e a esperança de vida ao nascer é de 71,93.

64DIRECION DE ESTADÍSTICA E INFORMACIONES DE SALUD. Disponível em: <http://www.deis.gov.br.ar/indicadores/mercosul>. 2003. Acesso em 31/05/2005.

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Analisando alguns indicadores selecionados de saúde,

pode-se afirmar que a taxa de mortalidade infantil neste país, considerando o

período de 1990-1995 foi de 24.3 para cada 1.000 nascidos vivos e no ano de

2003 foi de 16.5 para cada 1.000 nascidos vivos. Ao analisar a mortalidade por

grupos de idade, pode-se constatar que, em menores de 01 ano, as principais

causas de morte são: infecções no período perinatal, enfermidades respiratórias

e infecções intestinais.65

Durante os anos 80, ocorreu uma diminuição da taxa de

fecundidade, havendo aumento populacional de pessoas com idades avançadas.

Reduziu-se a mortalidade infantil e aumentou a mortalidade em pessoas com

maior idade, fenômeno idêntico verificou-se no Uruguai.

Neste contexto, convém destacar o problema alimentar na

Argentina. O mesmo se refere, principalmente, à dificuldade de acesso aos

alimentos e sua manifestação mais imediata consiste no consumo insuficiente e

inadequado por parte da população do país.

“ O Centro de Saúde e Nutrição Infantil (CESNI), em uma mostra de crianças de 06-12 meses de Buenos Aires em 1987, constatou que 25% teria retardo no crescimento. Outro estudo realizado na Província de Missões, constatou que há cerca de 25-40% de desnutridos crônicos nestas áreas". 66

A crise alimentar vivenciada pelo país, desvela

fundamentalmente outros fatores, dentre os quais: desemprego, baixos salários,

etc... e isto reflete de maneira direta na sociedade, através da desnutrição,

incapacitação para o ingresso no mercado de trabalho, elevados índices de

pobreza, entre tantos outros.

65DIRECION DE ESTADÍSTICA E INFORMACIONES DE SALUD. Disponível em: <http://www.deis.gov.br.ar/indicadores/mercosul>. 2003. Acesso em 31/05/2005. 66 GRASSI, Estela. Políticas Sociales: crisis e ajuste estructural. Buenos Aires: Espacio, 1994, p. 177.

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49

Na Argentina, segundo o diário argentino: Clarín, o número

de crianças vivendo na pobreza, atinge 45% dos 10.5 milhões de argentinos

menores de 14 anos. O subsecretário do Desenvolvimento Social da Argentina,

afirmou que 52% dos menores de 14 anos viviam em situação precária em 1989,

quando o presidente argentino, Carlos Menem assumiu o poder.67

Toda esta crise que vem afetando o país nos aspectos:

social, político e econômico aponta para a necessidade de respostas às

crescentes demandas da população, através da implementação de programas

sociais, definição de políticas e alocação de recursos, conforme os indicativos da

Reunión Cumbre em Favor de la Infância, ocorrida em setembro de 1990, em

Nova Iorque.

Neste contexto, salienta-se a importância de uma ampla

mobilização social, de modo que estes objetivos sejam atingidos, mediante a

participação dos diferentes atores sociais (empresas, sindicatos, associações

comunitárias, instituições, meios de comunicação, entre outros).

Na Argentina, os programas sociais que o Estado vem

desenvolvendo para responder às situações de pobreza e vulnerabilidade social

se destinam principalmente a organizações comunitárias, províncias e municípios.

Sendo que estes são construídos sob os princípios de eqüidade, eficácia e

participação, relação entre Estado e Sociedade Civil, para que possa haver uma

maior participação e transparência.

A Direção Nacional de Saúde Materno-Infantil se encontra

no âmbito da Secretaria de Programas Sanitários, e é o órgão de formulação e

aplicação das políticas materno-infantis.

Entre os principais programas de atenção materno-infantil na

Argentina se destacam o de “Atención à Salud de la Madre y el Niño”, “Programa

67 Pobreza afeta criança argentina. Folha de São Paulo, São Paulo, 09/07/1999.

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Materno-Infantil”, “Programa Ampliado de Inmunizaiones (PAI)” e “Programa

Materno-Infantil Y Nutrición (PROMIN)”.

Em relação ao Programa: “Atención à Salud de La Madre y

el Niño”, foi formulado o Compromisso Nacional en favor de la Salud de la Madre

y el Niño, que estabeleceu metas e estratégias nacionais e para o qual a ação das

províncias é o elemento essencial. Este compromisso estabelece metas a serem

atingidas, sendo estas referentes à saúde materno-infantil, desnutrição, saúde

materna, etc.

Pode-se citar dentre as inúmeras metas, as seguintes:

- Reduzir a taxa de mortalidade infantil à 20% em todo o

país;

- Desenvolver uma série de programas cujo público alvo

sejam gestantes e puérperas e que visem uma significativa melhoria da saúde

materna no país;

- Garantir que 60% das crianças sejam amamentadas, ao

menos até o 4º mês de vida.

Com o financiamento externo (organismos internacionais,

principalmente o Banco Mundial), está sendo executado um programa de saúde

materno-infantil e nutricional orientado para o desenvolvimento e melhoramento

de uma rede de serviços e programas de atenção integral em nível primário.

Os programas materno-infantis que distribuíam leite e outros

alimentos eram muito comuns em toda a região da Argentina. Os critérios de

distribuição representavam a tendência de associar sua entrega à participação

dos próprios beneficiários, nos casos dos organismos não-governamentais e

setores da Igreja.

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Outro é o “Programa Materno-Infantil”, dedicado à mãe,

gestante e ao bebê no que diz respeito à atenção obstétrica, pediátrica e

assistência alimentar. Seu principal objetivo é a redução da morbimortalidade

materna e infantil. Este programa é operado em todo o país e é vinculado ao

Ministério da Saúde e Ação Social. Baixa cobertura, insuficiência, atraso na

aprovação e transferência de fundos, são alguns dos inconvenientes que

dificultaram sua implementação.

No entanto, evidenciou um dado relevante no que diz

respeito à melhoria da qualidade da saúde materno-infantil, durante o primeiro

semestre de 2005, a taxa de mortalidade infantil decresceu em aproximadamente

13% comparada ao do ano anterior.68

O “Programa Ampliado de Inmunizaciones (PAI)”, sob a

responsabilidade do Ministério da Saúde e Ação Social é executado pelos

Ministérios de Saúde Provinciais. Tem por objetivo manter a cobertura nacional de

imunização superior a 90% de vacinas que integram o programa. A população

beneficiária constitui-se de crianças e gestantes de todo o país.

Nos programas supra-citados, a concepção de direito à

saúde é universal, onde aparece a responsabilidade por parte do governo em

cumprir todas as metas estabelecidas, garantindo à todos (gestantes, puérperas e

crianças) o acesso aos serviços de saúde, aos programas relacionados à

alimentação de gestantes e puérperas, amamentação de crianças, redução da

mortalidade materno-infantil, ao combate à desnutrição, entre outros.

No entanto, os impasses para a implementação e eficácia

destes programas são inúmeros, principalmente no que se refere à alocação de

recursos para a área, contrariando o que afirmam os governantes sobre a

prioridade na execução dos mesmos.

68 Organização Panamericana de Saúde. Disponível em: <http://www.ops.org.br>. Acesso em 30/10/2005.

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O “Programa Materno-Infantil Y Nutrición (PROMIN)” é

executado em nível nacional, através da Unidade Coordenadora do Programa

(UCP); em nível estadual: através da Unidade Executora Provincial (UEP) e em

nível municipal, pela Unidade Executora Municipal (UEM). Este programa tem por

objetivos: reduzir os índices de morbidade e mortalidade materno-infantil;

promover o desenvolvimento psico-social das crianças menores de 06 anos de

idade. A população alvo são as mulheres em idade fértil e crianças menores de

06 anos em áreas carentes.

No programa acima explicitado, é evidente a concepção de

direito à saúde seletiva, restritiva, ou seja, que privilegia faixas etárias reduzidas

(menores de 06 anos) e populações carentes.

O “Programa Alimentário Nacional (PAN)” foi a experiência

de maior alcance no país, implementado no período de 1984-1989. A sua

finalidade era a complementação alimentar às famílias necessitadas e incluía um

conjunto de ações como: educação para a saúde, tratamento de desnutridos,

saneamento, etc. Sua cobertura abrangeu cerca de 19% da população total.69

Outro programa desenvolvido neste país é o "Programa de

Seguridad Alimentaria", que atende a população menos favorecida através da

entrega de alimentos e orientações nutricionais.

Constata-se através do Ministério da Saúde da Argentina, de

2005, os investimentos com os programas de atenção materno-infantis foram

prioridade do governo.

Neste país, o Plano Federal de Saúde prevê o

desenvolvimento de ações de prevenção e atenção, tendo como prioridade a

execução das políticas sociais destinadas a melhorar a qualidade da saúde

materno-infantil e, neste sentido, o papel dos programas com esta finalidade 69 GRASSI, Estela. Políticas Sociales: crisis e ajuste estructural. Buenos Aires: Espacio, 1994.

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53

torna-se fundamental. As metas propostas no Plano Federal de Saúde visam

cumprir os objetivos de Desenvolvimento do Milênio definidos para o ano de 2015.

Pode-se constatar que os programas materno-infantis

desenvolvidos na Argentina apresentam como objetivo principal, a melhoria da

qualidade da saúde materno-infantil em sua totalidade, no entanto, no

detalhamento de alguns programas, evidencia-se outros diagnósticos, através da

seleção dos segmentos marginalizados, de pobreza estrutural e de risco.

3.1.2- BRASIL

A população total do Brasil em 1997, era de

aproximadamente 163.404 mil habitantes, em 2003 a taxa estava estimada em

178.985.306 habitantes, sendo a taxa de esperança de vida ao nascer de

aproximadamente 69,27.70

Analisando alguns indicadores referentes à saúde materno-

infantil no Brasil, observou-se que a taxa de mortalidade materna vêm diminuindo

em algumas áreas, em outras, no entanto, como por exemplo: “os bolsões de

pobreza”, o nível permanece elevado.

“Em se tratando da saúde da mulher, segundo estimativas da Coordenação Nacional de Saúde Materno-Infantil, 90% das gestantes que recebiam até 01 salário mínimo, eram mal atendidas em relação ao atendimento pré-natal e aproximadamente 80% das gestantes pobres da zona rural do Nordeste não tiveram acesso ao pré-natal”.71

A taxa de mortalidade materna é um indicador que mostra a

gravidade dos problemas vivenciados pelas mulheres quando constatam uma

70 DIRECION DE ESTADÍSTICA E INFORMACIONES DE SALUD. Disponível em: <http://www.deis.gov.ar/indicadores/mercosul>, 2003. Acesso em 31/05/2005. 71 Organização Panamericana de La Salud, 1994, p.91.

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gravidez indesejada e que revela a dificuldade de controlarem a determinação

biológica de suas vidas. Apesar da taxa de mortalidade materna estar diminuindo

ao longo dos anos em algumas regiões, as diferenças entre as mesmas são

alarmantes. Enquanto nas demais regiões brasileiras constatam-se cerca de 250

óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos, nas regiões do Norte e Nordeste a

mortalidade materna é de mais 80, se comparado com a região Sul.72

" O aspecto nutricional da mulher é muito importante, pois

está diretamente ligado com as taxas de mortalidade materna, um problema

quase endêmico, especialmente no Norte e Nordeste”.73

Sem dúvida, a taxa de mortalidade materna é reflexo das

condições de vida e saúde das mulheres. Deste modo, a implantação de ações

concernentes à política de saúde desenvolvidas de forma articulada entre governo

e sociedade civil poderão contribuir de maneira bastante significativa para a

preservação de vidas.

Implantado em 1995, o Plano Nacional de Redução da

Mortalidade Materna objetiva a ampliação do conhecimento da magnitude e das

condições determinantes da mortalidade materna no Brasil, bem como a definição

de estratégias e controle, considerando as necessidades e condições de cada

região, Estado ou Município.

A questão do aleitamento materno é fundamental quando se

trata da questão materno-infantil. Sabe-se que nas últimas décadas diminuiu-se

o número de mães que amamentam seus filhos, gerando, com isso uma

conseqüência bastante grave em relação à taxa de mortalidade infantil.

72 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003. Disponível em: <http://www.saude.gov.br>. Acesso em 31/05/2005. 73 YUNES, J. Assistência Perinatal é prioridade do governo. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999, p. 04.

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55

Conforme dados do Ministério da Saúde74, no atual contexto

de crise econômica, marcada pela recessão, estagnação do crescimento

econômico e desemprego, tendo como corolário o aumento da concentração da

riqueza e a perda de capacidade aquisitiva da renda familiar face às

necessidades crescentes e as restrições impostas às políticas públicas nas áreas

sociais, pode-se esperar um agravamento das condições de saúde materno-

infantil, sempre tão vulneráveis às condições de vida dos grupos familiares.

No Brasil, a taxa de mortalidade infantil ainda é considerada

relativamente alta, apesar de estar diminuindo ao longo dos anos.

No período de 1990-1995 a taxa de mortalidade era de 47

para cada 1.000 nascidos vivos e no ano de 2000 foi de aproximadamente 42.1.

As taxas de fecundidade também tendem a diminuir, levando-se em conta que no

Brasil, no período de 90-95, a taxa foi de 2.4 e no ano 2000 esta proporção foi de

aproximadamente 2.2. Conforme dados do Ministério da Saúde, houve uma

queda de 8,7% da mortalidade infantil (de crianças com até 1 ano de idade) e de

7,3% da mortalidade neonatal. No ano de 2004, registrou-se uma taxa de

mortalidade infantil de 23,1 por mil nascidos vivos.75

O que se observa, através destas taxas, é que existem

muitos contrastes significativos, que variam de região para região. As taxas

relativas à população rural são, sem dúvida, maiores que as urbanas, chegando a

ser até duas vezes maior.

Enquanto nos países desenvolvidos, onde a primeira causa

de mortalidade no período perinatal é a malformação congênita, no Brasil, a

maioria dos óbitos perinatais é determinada pelas condições de saúde da

gestante, as circunstâncias do parto e do nascimento.

74 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003. Disponível em: <http://www.saude.gov.br>. Acesso em 31/05/2005. 75 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003. Disponível em: <http://www.saude.gov.br>. Acesso em 31/05/2005.

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56

Um dos dados mais preocupantes no Brasil é a alta

incidência da gravidez na adolescência, o que requer a realização de ações

educativas e preventivas, dirigidas à preparação dos jovens na escolha do

momento mais indicado para maternidade, a fim de que a gravidez não se

converta em problema para as jovens e seus companheiros.

São inúmeros casos em que a gravidez precoce implica em

prematuridade e baixo peso ao nascer. Nos países desenvolvidos as taxas de

baixo peso ao nascer estão em torno de 5% a 6%, enquanto que no Brasil,

segundo a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNDS) em 2003, a taxa de

baixo peso ao nascer foi de 9.2% e ultrapassou 10% na zona rural. Isto reflete

conseqüentemente nas taxas de mortalidade materna e infantil no país.76

O ainda elevado número de mortes de crianças e mães

brasileiras representa um enorme desafio tanto para os serviços de saúde como

para a própria sociedade.

A este respeito foi criada a Portaria n.º 3018, de 19 de junho

de 1998, através da qual o Ministro da Saúde considera fundamental a

importância do atendimento perinatal, visando a redução do índice de morbidade

materna e neonatal e disciplinando a organização desta assistência para

assegurar uma melhor qualidade no atendimento materno-infantil. A partir disto,

estabelece uma série de critérios a serem obedecidos por Hospitais, tanto da rede

privada, como estatal, para que haja uma mudança qualitativa nos padrões de

atendimento, especificamente nesta área. Recomenda, por exemplo:

-Manter comitês de Estudo da Mortalidade Materna e

Neonatal;

-Apresentar índices de cesariana menor ou igual a 40%,

dentre tantos outros.

76 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Disponível em <http://www.saude.gov.br>. Acesso em 25/02/2005.

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57

Um outro dado preocupante em nosso país é o elevado

número de partos cesarianas. Este procedimento é capaz de evitar óbitos

materno ou fetal, no entanto, representa um risco muito grande quando sem

necessidade substitui o parto normal. O Ministério da Saúde, em relação a esta

questão, está desenvolvendo um projeto a respeito da Epidemiologia da Cesárea

nas Américas, em parceria com o Centro Latino-Americano de Perinatologia da

Organização Panamericana de Saúde, com vistas à diminuição deste

procedimento cirúrgico.

Quanto aos programas de atenção à saúde materno-infantil

no Brasil, destacam-se: “Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento

Materno”, “Programa de Combate à Desnutrição Materno-Infantil”, este vinculado

ao Programa Fome Zero, “Programa de Redução da Mortalidade na Infância”,

dentre outros.

No Brasil existem programas que são implementados pelo

governo e outros por Organizações Não-Governamentais (ONG’s) e tratam de

inúmeros temas que influenciam a saúde de mães e bebês, tais como:

aleitamento materno, planejamento familiar, adoção, pré-natal, etc.,...

“As crescentes organizações da sociedade civil e os movimento populares foram assumindo a participação em campanhas de conscientização e controle voluntário da saúde pública, multiplicando ações de caráter preventivo com o apoio das comunidades.”77

O final da década de 70 foi caracterizado por uma redução

drástica nas taxas de aleitamento materno. A partir daí constatou-se a

necessidade urgente de um programa visando a retomada do aleitamento

materno. Nesse sentido foi lançado em março de 1981 o Programa Nacional de

Aleitamento Materno, que visava atingir todas as camadas da população.

77 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Projeto Centro de Referência em Aleitamento Materno, 1997, p. 16.

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58

Em meados dos anos 80, o Instituto Nacional de

Alimentação e Nutrição – INAM, através do Programa Nacional de Incentivo ao

Aleitamento Materno, tem fomentado e participado do esforço mundial para a

retomada do Aleitamento Materno.

A partir dos anos 80 é que se intensificaram as

preocupações com a melhoria da qualidade dos serviços de saúde, a sua

extensão e a ampliação da cobertura e a integração interinstitucional, com

prioridade ao desenvolvimento da rede básica de serviços. Redefiniu-se a

assistência materno-infantil no sentido de dar prioridade a um elenco de medidas

preventivas e médico-assistenciais individuais, a serem desenvolvidas pela rede

básica através de programas integrados, que passariam a ter como alvo especial

mulheres e crianças (0-5 anos) de baixa renda. Intensificaram-se os programas

de assistência integral à saúde da mulher e da criança no Sistema de Saúde, com

o apoio da UNICEF, Hospital/Município/Estado Amigo da Criança, Maternidade

Segura, entre outros.

Estes desempenharam um papel fundamental a fim de

tornarem o aleitamento materno uma prática universal, contribuindo

significativamente para a saúde de mulheres e bebês de todo o país.

Para o enfrentamento das necessidades da população, o

Governo Federal vem desenvolvendo o Programa Fome Zero, para contribuir no

combate à fome e à pobreza no Brasil. Neste programa articulam-se três

conjuntos de políticas, tendo como foco a segurança alimentar. São elas: políticas

estruturais, políticas específicas e políticas locais. Estas políticas são voltadas

para atender diretamente às famílias carentes, no que se refere ao acesso à

alimentação. Podem ser desenvolvidas pelos governos dos estados, dos

municípios e pela sociedade civil organizada através de:

-Doação de Cestas Básicas Emergenciais;

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-Combate à Desnutrição Materno-Infantil;

-Restaurantes Populares e Cozinhas Comunitárias;

-Ampliação da Merenda Escolar;

-Programa de distribuição de leite.

“O Fome Zero é um conjunto de políticas públicas criado para combater a fome e suas causas estruturais, que geram a exclusão social. Em outras palavras, o Fome Zero foi criado para garantir a segurança alimentar de todos os brasileiros e brasileiras. Segurança alimentar é mais do que acabar com a fome hoje. Ter segurança alimentar significa garantir que todas as famílias tenham condições de se alimentar dignamente com regularidade, quantidade e qualidade necessárias à manutenção de sua saúde física e mental”78

Outro programa desenvolvido neste sentido é o Programa

de Combate à Desnutrição Materno-Infantil, voltado principalmente à atenção

básica à saúde das mães e recém-nascidos.

Atuar de forma a garantir as condições necessárias para

uma sociedade de bem-estar, promover as reformas indispensáveis para o

funcionamento dos serviços sociais básicos a médio prazo, realizar um conjunto

estratégico de programas na área social, são alguns dos pilares da política social

do governo de Luis Inácio Lula da Silva. As ações devem ser dirigidas às

situações de fome e calamidade pública e os programas sociais dirigidos as áreas

mais distantes do país e os segmentos sociais mais necessitados.79

Em relação a assistência pré-natal, observou-se um

significativo resultado confirmado pela Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde

78 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003. Disponível em <http://www.saude.gov.br>. Acesso em 31/05/2005. 79 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003. Disponível em <http://www.saude.gov.br>. Acesso em 31/05/2005.

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60

– PNDS, onde foi demonstrado um crescimento de 16% no atendimento à

gestante na última década, neste mesmo ano, atingiu 86% de cobertura, no

entanto apenas 51% tiveram acesso ao cartão de gestante.80 Este acréscimo no

atendimento às gestantes, deve-se ao fato da implantação das ações do

Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher na rede de serviços

públicos, à maior oferta de informações e ao acesso universal aos serviços de

saúde oferecidos pelo SUS.

Em se tratando da assistência ao parto, constatou-se que os

procedimentos ligados à gestação e ao parto representam a maior parte dos

gastos com internação no SUS. Nos últimos cinco anos, 91.5% dos partos

ocorreram em unidade hospitalar e 78.2% das mulheres de zona rural deram à

luz em hospitais, mostrando um incremento de 13.4%, quando comparado aos

dados de 1986.81

Com referência à assistência ao pós-parto, o Ministério

buscou estender aos municípios brasileiros a implantação dos Programas Saúde

da Família e de Agentes Comunitários de Saúde, permitindo o acompanhamento

das puérperas na sua comunidade ou domicílio.

Como resultado da estratégia global de descentralização, os

programas de saúde tem adquirido maior vitalidade e importância em países

como o Brasil, em que a municipalização passa a assumir papel central na gestão

das políticas públicas.

Em 1990, o Brasil participou da Reunião da Cúpula Mundial

em Favor da Infância , sendo signatário, com mais de 158 países, da declaração

Mundial sobre Sobrevivência, Proteção e Desenvolvimento da Criança,

assumindo 26 metas em favor deste grupo etário, a serem atingidas até o ano

80 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003. Disponível em: <http://www.saude.gov.br>. Acesso em 31/05/2005. 81 MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003. Disponível em: <http://www.saude.gov.br>. Acesso em 31/05/2005.

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61

2000. Decorridos mais de 06 anos deste compromisso governamental, constata-

se muitas mudanças a partir de grandes temas como: sobrevivência infantil,

nutrição, saneamento ambiental, saúde da criança e da mulher. Dentre os

avanços, destaca-se: declínio na mortalidade infantil, aumento da cobertura ao

pré-natal, etc. Onde os progressos foram menores, estabeleceu-se prioridades

de ação para fazer face ao aumento da gravidez na adolescência, disparidades

entre as situações de saúde e nutrição das zonas urbanas e rurais, etc.

Segundo documento do Conselho Nacional de Saúde, a

prioridade dos problemas de saúde materno-infantil decorre de três aspectos:

-O comprometimento do futuro representado pelo

subdesenvolvimento físico, mental e social de mulheres e crianças que poderiam

ter suas enfermidades, incapacidades e mortes evitadas por políticas públicas

adequadas;

-A vulnerabilidade da maioria desses problemas a medidas e

propostas de intervenção simples disponíveis e com eficácia comprovada;

-A relação custo-efetividade e custo-benefício altamente

favorável dessas intervenções visto que são relativamente baratas e de alto

impacto social;

A partir destes aspectos, o Conselho Nacional de Saúde

coloca algumas estratégias para ação:

-Promoção da saúde dando ênfase aos aspectos de

informação e educação das mães a partir da participação comunitária e dos

programas voltados para a redução de fatores como a morbidade e mortalidade

infantil;

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62

-Prevenção de doenças evitáveis através de vacinas e

saneamento básico;

-Garantia de acesso à assistência de qualidade no

planejamento familiar, pré-natal, parto, recém-nascido e puérpera.

Por determinação do Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID), a União criou uma rede de Proteção Social para garantir

que 21 programas da área social, que essa instituição considera prioritários, não

sofram cortes em seu orçamento por conta do ajuste fiscal. Em compensação o

BID estabelece metas técnicas e financeiras na forma dos programas para torná-

los mais eficientes. Os programas protegidos destinam-se a crianças carentes,

idosos, famílias, desempregados, estudantes, dentre outros.

Analisando os programas protegidos pelo BID após o ajuste

fiscal, ocorrido entre 1998-1999, consta-se que apenas dois dos 21 projetos não

sofreram cortes. Os cortes realizados nos 19 programas chegam a R$900

milhões. Ao todo o governo federal cortou R$ 8.7 bilhões do seu orçamento.82

No Brasil, também observa-se que o direito universal à

saúde expresso na Constituição e Lei Orgânica da Saúde não vem sendo

efetivado na prática. Observa-se, ao contrário, que as macropolíticas econômicas

incidem diretamente no corte dos investimentos em políticas sociais e dentre elas,

a saúde, conforme dados apresentados acima. Os programas materno-infantis

são cada vez mais seletivos e focalizados aos segmentos considerados pobres.

82 O Colapso do Trabalho. Folha de São Paulo, São Paulo, maio de 1999.

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63

3.1.3- PARAGUAI

Os dados do Ministério de Salud Pública y Bienestar Social

do Paraguai83 indicam que a população total do país está estimada em 5.498.450

habitantes.

A taxa de mortalidade neonatal no país, em 1990 foi de 14.5

para 1.000 nascidos vivos e em 1991 diminuiu e foi para 12.6, tendo como causas

principais: as lesões ocasionadas pelo parto, infecções em recém-nascidos,

prematuridade, pneumonia, etc. No ano de 2003, houve um aumento significativo

e foi estimado em 19.4 a taxa de mortalidade a cada 1.000 nascidos vivos. A

mortalidade materna vêm se mantendo relativamente alta desde 1988, sendo que

a esta data ocorriam aproximadamente 270 casos de morte em cada 100.000

nascidos vivos, tendo como causas principais: hemorragia pré-parto,

complicações advindas do aborto, entre outras. Em comparação com o ano de

2003 houve uma expressiva diminuição baixando para 114.4 a cada 100.000

nascidos vivos.84

No Paraguai a prioridade à atenção materno-infantil se

expressa através da política nacional, que prevê a execução de planos,

programas e projetos de promoção, prevenção e proteção, através de uma rede

de serviços sociais, comunitários e de apoio à família, mulher, infância/juventude

e adultos em nível nacional, regional e local.

A Constituição do Paraguai (1992), dedica o art.55,

especificamente às questões relativas a maternidade e paternidade.

83 DIRECION DE ESTADÍSTICA E INFORMACIONES DE SALUD. Disponível em: <http://www.deis.gov.ar/indicadores/mercosul>. Acesso em 24/04/2005. 84 ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Las Condiciones de La Salud en las Americas.Washigton:D.C, 2004.

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64

Art. 55 – Da Maternidade e Paternidade

"A Maternidade e Paternidade serão protegidas pelo Estado, o qual criará instituições necessárias para os ditos fins.“

A Igreja Católica, por meio da Pastoral Social, também,

realiza um papel de fundamental importância no que diz respeito à saúde

materno-infantil, visto que estimula a participação na saúde e impulsiona um

programa integral de caráter preventivo-emocional visando o desenvolvimento

infantil.

O Governo tem feito múltiplos acordos com organismos

internacionais com o objetivo de melhorar os serviços de saúde, com destaque à

atenção materno-infantil, nutrição, HIV, entre outros. Tem participado o Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID), a UNICEF, Organização

Panamericana de Saúde e o governo dos EUA.

No Paraguai, os programas e projetos de desenvolvimento

social são orientados principalmente à redução da pobreza. Neste sentido,

buscam integrar ações de repartições públicas encarregadas pela área da saúde,

educação, habitação, etc. a serem coordenadas a nível regional.

O Ministério da Saúde desse país, tem definido em nível

nacional os programas que respondam às necessidades de saúde da população,

sendo portanto, fundamental que estes dêem aos níveis regional e local todo o

apoio técnico, científico e operativo de modo a garantir uma atenção de boa

qualidade e cobertura.

Estes programa tem como alvo principal:

-A saúde da mulher, onde são realizadas ações como:

informar sobre o controle pré-natal, identificar gravidez precoce; informar e educar

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a respeito da prevenção e diagnóstico precoce do câncer cérvico-uterino, de

mama, dentre outros.

- A saúde infantil, cujas ações implicam: atender recém-

nascidos normais e patológicos de risco; controlar crianças nascidas em domicílio;

tratar casos de desnutrição; incentivar o aleitamento materno, dentre outros.

Consideram-se programas especiais de caráter nacional

prioritários de atenção à saúde reprodutiva e saúde infantil:

-“Programa Atención Del Embarazo, Parto e Puerpério”;

-“Programa del Crecimiento y Desarrollo del Recién Nacido y

Menor de Dos Años”;

-“Programa del Provisión de Anticonceptivos;

-“Programa del Provisión de Sales de Rehidratación Oral;

Além destes programas, as relações de trabalho com a

comunidade organizada também são de responsabilidade das pessoas do

Hospital de uma determinada região. Estes programas são realizados de acordo

com o programa de trabalho do hospital, e deverão ser aprovados pela Direção

Regional e Conselho Regional de Saúde, conforme normas e procedimentos

oficialmente autorizados.

Estes programas focalizam-se em regiões e municípios mais

carentes e destinam-se a grupos voluntários, incluindo indígenas, mulheres,

jovens, conforme indica o art. 61 da Constituição, que trata principalmente do

Planejamento Familiar e Saúde Materno-Infantil.

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“O Estado reconhece o direito das pessoas a decidir livre e espontaneamente o numero de filhos que desejam, assim como de receber atendimento em todos os serviços adecuados especializados. Serão estabelecidos planos especiais de saúde reprodutiva e saúde materno-infantil para a população carente."

Mesmo considerando que a própria Constituição

compreende a saúde como direito universal, no seu detalhamento observa-se

restrições e formas de seletividade conforme ocorre com os programas materno-

infantis, a fim de privilegiar as populações empobrecidas.

3.1.4- URUGUAI

No ano de 2000, a população do Uruguai estava estimada

em 3.163.763 habitantes. Destes, constatou-se que em Montevidéo, os índices de

pobreza (abaixo da linha de pobreza, que corresponde aos que ganham até meio

salário mínimo) chegaram a 12% e no interior a 15.7%.85

Neste país constata-se uma diminuição nas taxas de

mortalidade infantil, que passaram de 19.9 a 16.5 para cada 1000 nascidos vivos.

Já em relação às taxas de fecundidade, estas tendem a estabilizar-se e estar em

aproximadamente 2.3 para cada 1000 nascimentos.86

Como principais causas dos índices de mortalidade

apresentados, pode-se citar: enfermidades infecciosas (destacando as infecções

e desnutrição), anomalias congênitas, lesões durante o nascimento, entre outras.

Considerando que nos últimos anos está ocorrendo uma

significativa diminuição da mortalidade materna e infantil, observou-se várias

ações que os serviços de saúde têm implementado com o objetivo de planejar e

85 MINISTERIO DE SALUD PUBLICA. Revista Médica Medicina Total. Uruguai, 1998. 85 DIRECION DE ESTADÍSTICA E INFORMACIONES DE SALUD. Disponível em: <http:// www.deis.gov.ar/indicadores/mercosul>, 2003. Acesso em: 15/12/2005.

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assistir as gestantes durante todo o período de gestação, incluindo parto e

puerpério.

Através da legislação deste país, pode-se analisar a

evolução da cobertura do Sistema de Seguridade Social e seus benefícios no que

diz respeito à assistência materno-infantil.

No ano de 1958, foi estabelecido o Salário Maternidade,

onde qualquer mulher trabalhadora grávida poderia se ausentar do seu trabalho

seis semanas antes do parto e seis semanas depois, permanecendo com seu

salário integral. Este salário maternidade era assegurado pelo Fundo à

Maternidade e a Direção Central de Assuntos Familiares.

A Direção de Assuntos Familiares depende da Seguridade

Social, que presta cobertura a trabalhadoras ou cônjuges grávidos e seus filhos

até 05 anos de idade, com serviços prestados em Montevidéo, contratados pelo

Ministério ou pelas instituições de Assistência Médico Coletiva no interior do país.

Com o passar dos anos, foram sendo estabelecidos outros

serviços e prestações, como por exemplo, os serviços materno-infantis, que

ofereciam prestações médicas e bolsas de estudos aos contribuintes.

Em relação aos subsídios, fornecidos por ocasião da

maternidade, a cobertura abrangia todas as empregadas da atividade privada e

as desempregadas amparadas pelo Seguro Desemprego. A mesma condição era

válida em relação à assistência ao parto.

Em caso de risco da Maternidade, no período de licença, a

gestante também receberia assistência durante toda a gestação, parto e

puerpério. A respeito dos recursos, cabe colocar que são provenientes do Banco

de Previsão Social e contribuições advindas do Estado.

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No Uruguai, o Ministra de Saúde Pública: Drª Maria Júlia

Muñoz salienta a importância da melhoria da saúde materno-infantil através dos

programas a serem desenvolvidos neste sentido e coloca como desafio e

prioridade número 01 do próprio governo a sua execução.

Dentre os programas materno-infantis desenvolvidos no

Uruguai, destacam-se os seguintes: “Programa Materno-Infantil”, “Programa Mujer

e Genero", "Programa Nacional de Nutrición" e "Programa Nacional Niñez".

Um programa que merece destaque no Uruguai é o

Programa Materno-Infantil, voltado principalmente para o controle da gravidez. O

desenvolvimento deste programa é importante no seguinte sentido: visa prevenir

patologias, melhorando a qualidade da saúde materno-infantil no país. Neste

programa, segundo dados de 1990-1994, o número total de gestantes atendidas

foi de 504, sendo que 99.2% das mesmas, que corresponde a 500, foram

atendidas no mínimo por uma vez.87

A necessidade do controle pré-natal se justifica pois está

intimamente relacionado com o baixo peso ao nascer e a prematuridade. Através

da realização do pré-natal torna-se possível identificar fatores de risco tanto para

a gestante como para o recém-nascido. Quanto mais prematuro for o parto, maior

a probabilidade de baixo peso ao nascer, pois a presença de patologias no

recém-nascido relaciona-se também com a prematuridade do parto: quanto mais

prematuro é o parto, maior a porcentagem de recém-nascidos com alguma

patologia.88

Com a finalidade de melhorar o controle da gravidez, o

programa materno-infantil tem por objetivos:

87 ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Las Condiciones de La Salud en las Americas.Washigton:D.C, 2004. 88 ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Las Condiciones de La Salud en las Americas.Washigton:D.C, 2004.

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-Promover a participação da população à instituição na

implementação do programa;

-Melhorar a informação institucional;

-Ampliar o acesso das gestantes para a realização dos

respectivos controles;

-Realizar planejamento familiar para evitar gravidez

precoce;

-Aumentar o número de controle para cada gestante;

-Melhorar a qualidade dos serviços médicos para as

gestantes;

-Incentivar nas gestantes hábitos saudáveis para o

desenvolvimento normal da gravidez, parto, puerpério e para com o recém-

nascido;

A partir destes objetivos, os impactos previstos são os

seguintes:

-Melhorar a participação institucional no sistema de

informação perinatal;

-Diminuir a morbidade materna;

-Diminuir a incidência de baixo peso ao nascer;

-Diminuir partos prematuros;

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-Diminuir a morbi-mortalidade perinatal e infantil;

-Diminuir custos assistenciais por internação.

Outro programa desenvolvido no Uruguai é o "Programa

Mujer e Genero”, cujo objetivo é melhorar a qualidade de vida da mulher mediante

o acesso a um adequado nível de conhecimentos sobre saúde sexual

reprodutiva. O público alvo deste programa são mulheres em idade fértil (15-49

anos), com necessidades básicas não satisfeitas.

Podemos destacar dentre os objetivos: informar mulheres a

respeito do planejamento familiar, satisfazer também os familiares em relação as

necessidades econômicas, culturais e sociais, etc...

Neste programa, vários profissionais fazem parte de uma

equipe interdisciplinar, onde assessoram e orientam a população nas diferentes

comunidades, centros de saúde, hospitais, etc. Este programa atende

aproximadamente 6.000 famílias ao ano.

Para incentivar um número cada vez maior de gestantes, os

profissionais utilizam a estratégia de entregar leite ao povo.

A Ministra de Saúde Pública do Uruguai89, a respeito dos

programas materno-infantis, afirmou:

“Um desafio na área de programas sanitários, no qual estamos trabalhando intensamente é o Programa Materno-Infantil, definido pelo próprio governo como o programa n.º 1 do ministério. Em relação à taxa de mortalidade infantil, observou-se uma diminuição de 20 em cada 1.000 nascidos vivos sobre a base que partimos em 1994. No ano de 1998, o índice diminuiu e atingiu 14 a cada 1.000 nascidos vivos, estes seis pontos significam um enorme avanço para o país: significa que 300 crianças vivem a

89 ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Las Condiciones de La Salud en las Americas. Washington: D.C, 2004.

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cada ano no Uruguai, graças à todas as políticas que estamos implantando.”

Analisando os programas desenvolvidos no Uruguai, pode-

se constatar a importância da realização de ações assistenciais, como:

fornecimento de leite, alimentos, etc , bem como ações de promoção, proteção e

educação em saúde.

Os programas que estão sendo implementados, atingem

determinadas parcelas da população, como por exemplo: pobres, carentes,

determinadas faixas etárias (0-6 anos), dentre outros. O que está de acordo com

a seletividade posta na Constituição que afirma:

Art.85:“O Estado legislará em todas as questões relacionadas com a saúde e saneamento básico, voltado ao bem-estar físico, moral e social de todos os habitantes do país. Todos os habitantes tem o dever de cuidar de sua saúde, assim como o de ser assistido em caso de enfermidade. O Estado proporcionará gratuitamente os meios de prevenção e de assistência tão somente aos indigentes e carentes de recursos suficientes”

A avaliação do programa é realizada pela equipe

interdisciplinar integrante após cada ano, desde sua implantação.

Existem, à nível latino-americano, vários programas

materno-infantis desenvolvidos por Organizações Internacionais, tais como:

Organização Panamericana de Saúde (OPS) e Organização Mundial da Saúde

que visam a melhoria da saúde Materno-Infantil nos países: Argentina, Brasil,

Paraguai e Uruguai.

O “Programa Nacional de Nutrición”, que é parte integrante

da Organização Panamericana de Saúde e abrange a região das Américas, tem o

objetivo de reduzir as altas taxas de desnutrição na região, através da cooperação

técnica entre os países para o delineamento, a execução e a evolução das

intervenções a serem realizadas, de modo a melhorar a alimentação e nutrição da

região.

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Existe também o “Programa Mujer, Salud y Desarrollo”, que

busca promover ações orientadas ao apoio e fortalecimento da influência das

mulheres na formação de sociedades democráticas e saudáveis. Este programa

está sendo apoiado pelos governos da Suécia, Noruega, Espanha, pelo Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BIRD), pelo Centro Internacional de

Investigações para o Desenvolvimento (IRDC), do Canadá e o Fundo de

População das Nações Unidas (FNUAP).

Apesar dos importantes avanços no que diz respeito à

saúde materno-infantil das últimas décadas, cabe a colocação de que o número

de crianças desnutridas ainda é alto. Atualmente, sobrevivem 3.8 milhões de

crianças desnutridas e são milhares que morrem anualmente por este motivo,

cerca de 114.000 crianças.90

Segundo a OPS e ONU91: uma boa nutrição é mais do que

uma questão de alimentos, é uma questão de direitos. O direito a uma nutrição

adequada está plenamente apoiada por tratados de direitos humanos e acordos

internacionais, dentre os quais estão: a Convención sobre los Derechos Del Niño

y la Convención sobre la Eliminación de todas lãs formas de discriminación contra

la mujer. La Convención sobre los Derechos Del Niño, expressa em seu art.24,

inciso c:

"Os Estados Partes adotaram as medidas apropriadas para combater as enfermidades e desnutrição como marco da atenção primária de saúde, mediante a aplicação de tecnologia disponível e destinação de alimentos nutritivos e água potável salubre, tendo em vista os perigos e o risco de contaminação no meio ambiente".

Para a UNICEF, na América Latina e Caribe, a desnutrição é

uma questão de opção política mais do que de recursos. Isto se expressa no

discurso da Drª Marta Perez, diretora regional da UNICEF:

90 OPS/OMS. Documento Preliminar: análisis del sector salud del Paraguay. Assunción, Paraguai, fev.1998. 91 OPS/OMS. Documento Preliminar: análisis del sector salud del Paraguay. Assunción, Paraguai, fev.1998, p.37.

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"A falta de avanços a respeito do combate à pobreza e à desigualdade, e o desenvolvimento incipiente de uma cultura de direitos, implica que as importantes vitórias sejam muito frágeis e vulneráveis a qualquer mudança conjuntural. O direito à alimentação deve ser a base normativa, que implique em uma política econômica que garanta a alocação de recursos necessários para seu exercício pleno. Um estado não estaria trabalhando pelo bem-estar infantil quando as políticas econômicas não são condizentes com a garantia dos direitos das crianças."92

Neste contexto, serão apresentadas a seguir, nas

considerações finais, algumas reflexões acerca do estudo realizado.

92 OPS/OMS. Documento Preliminar: análisis del sector salud del Paraguay. Assunción, Paraguai, fev.1998, p.45.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando a situação da América Latina de uma forma

geral, constata-se que a crise e suas conseqüências ( desemprego, subemprego,

redução do poder aquisitivo da população, etc.), tem feito com que o estado de

saúde e nutrição se agrave cada vez mais nas próximas gerações. Os resultados

aparecerão de médio a longo prazo tanto nos indicadores gerais (mortalidade

geral e infantil, esperança de vida, entre outros) como no que se refere às

conseqüências da desnutrição e alimentação desequilibrada sobre a evolução

psico-biológica-social dos indivíduos.

A respeito da saúde materno-infantil na América Latina e

Caribe, o Diretor da OPS93, afirma que o risco de que uma mulher morra de

complicações relacionadas com a gravidez é 1 em 130, enquanto que na América

do Norte é 1 em 3.700. A maioria das mortes maternas podem ser evitadas se as

mulheres tiverem maior liberdade para determinar sua própria saúde e suas

condições de vida no contexto da família e comunidade e se a sociedade lhe

proporcionar meios para assegurar que a gravidez e o parto tenham a menor

possibilidade de risco.

Neste sentido, segundo Sela94: “Reduzir as desigualdades

nas políticas sociais e econômicas, proteger e promover os direitos da mulher,

suas condições e autonomia são fundamentais para reduzir a morte materna”.

É preciso investir na saúde da mulher para que se possa

prevenir mortes maternas e garantir bases legais e políticas para assegurar

atenção durante a gravidez, parto e pós-parto, devem ser solucionados através do

sistema político, legal e de saúde.

93 OPS/OMS. Documento Preliminar: análisis del sector salud del Paraguay. Assunción, Paraguai, fev.1998 94 SELA. Enfoques sobre el Desarrolo em el América Latina y el Caribe. 5ª ed, 1990, p.10.

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As “Sugerencias de Contenido para La Elaboracion de

Proyetos de Leyes em Proteccion Materno Infantil”, aprovado na IV Reunião, São

Paulo, maio de 1995, afirma em seu artigo 1°:

"A família, a sociedade e o Estado deverão garantir à criança e à mãe os direitos referentes à vida e à saúde mediante políticas e ações integrais que favoreçam o nascimento e desenvolvimento harmonioso nos aspectos biológicos e psicoafetivos."

Nesta discussão sobre os programas materno-infantis, cabe

a colocação de que existe um grande número de pronunciamentos

governamentais, acordos, decretos e leis que garantem o pleno exercício do

direito à saúde materno-infantil, tais como: a Declaração de Compromisso entre o

Parlamento Latino-Americano e a Organização Panamericana de Saúde;

Sugestões de Conteúdo para a Elaboração de Projetos de Leis sobre a Proteção

Materno-Infantil (Aprovada na VI Reunião , SP, maio de 1995); Plano de Governo

da República Federativa do Brasil; Plano de Desenvolvimento do Centro Latino-

Americano de Perinatologia - CLAP), de 1998-2001, dentre outros.

Mesmo considerando a amplitude da legislação, nem

sempre na prática ocorre o mesmo, pois as restrições tanto financeiras, no que se

refere à redução de investimentos, como seletivas, no sentido de atender a

somente determinadas parcelas da população, acabam por reduzir os chamados

direitos universais em direitos restritos, ou “ cidadania regulada”.

A execução das políticas que são propostas com o objetivo

principal de reduzir a pobreza devem ou deveriam ser inseparáveis de um modelo

de desenvolvimento que fosse “inclusivo e que considerasse las necessidades y

demandas de todos los sectores de la sociedad.”95

95 FOGEL, Ramon. Pobreza y Políticas Sociales en el Paraguay. Asunción, Cromos, 1996, p.100.

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Numa análise comparativa, pode-se perceber que os países

que compõem o Mercosul possuem uma política de saúde que contempla a área

materno-infantil.

Os principais pontos em comum dizem respeito a população

alvo, que inclui os segmentos considerados pobres, faixa etária, o aspecto

nutricional, dentre outros. As análises que vem sendo desenvolvidas nesta área

apontam, no entanto, a diminuição de investimentos financeiros e a focalização

crescente nos grupos denominados pobres. No próprio documento: Carta dos

Direitos Fundamentais do Mercosul, 1993, este pressuposto é enfatizado pois

afirma que:

“Toda a pessoa tem direito à saúde física e mental, os Estados Partes garantem este direito assumindo sua competência indelegável na condução e planejamento de um sistema de promoção e atenção à saúde para toda a população, desenvolvendo ainda programas especiais de atenção à saúde dos setores de mais alto risco por seus níveis de pobreza e marginalidade social” (art.14).

Neste sentido, as conclusões obtidas até o presente

momento são:

- A maioria dos programas materno-infantis vêm sendo

desenvolvidos com financiamento e orientações técnicas do Banco Mundial e

do Banco Interamericano de Desenvolvimento, cuja orientação é de privilegiar

os grupos mais pobres da população, privatizando os serviços àqueles que

podem pagar;

- Os programas desenvolvidos em todos os países

privilegiam aspectos nutricionais em faixas etárias reduzidas, observando-se

poucas ações em outras perspectivas, como por exemplo: o atendimento pré-

escolar e escolarização;

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- Desenvolvimento de políticas de saúde cada vez mais

restritivas, ferindo o princípio da universalidade, da igualdade e da justiça

social.

Neste contexto, verifica-se que os programas materno-

infantis desenvolvidos vêm obtendo alguns resultados como por exemplo:

prevenção de doenças, elaboração de algumas políticas de atenção materno-

infantil, redução das taxas de mortalidade infantil e desnutrição. Contudo, pode-se

observar que as alterações atuais decorrentes do enxugamento do Estado têm

indicado a diminuição de investimentos públicos nesta área.

O debate sobre a saúde no Mercosul ainda tem um longo

caminho pela frente. Embora tenham sido constituídos subgrupos que tratam de

questões relativas à saúde, direitos, etc., cabe a consideração de que, os passos

concretos de proteção social, garantia de direitos, principalmente do direito à

saúde são ainda insuficientes.

Neste sentido, pode-se afirmar que no âmbito do processo

de integração, Mercosul, a dimensão social não vem sendo devidamente

considerada:

“Esta lógica precisa ser invertida (...), no sentido de formular bases de uma alternativa de desenvolvimento sustentável, justo e democrático, que considere todos os aspectos relacionados com a cidadania, com o combate à pobreza, o respeito ao meio ambiente, a promoção da educação, saúde, previdência social e o respeito aos direitos humanos, etnias e gênero (....)”.96

Isto representa um grande desafio para o Mercosul, ou seja,

a construção de um mercado comum com justiça social, pautado no

reconhecimento dos direitos humanos e a sua efetiva aplicação na realidade

presente.

96 JAKOBSEN, K. Democracia e Acordos de Integração. CUT:1999, p.10.

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