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Saúde Coletiva ISSN: 1806-3365 [email protected] Editorial Bolina Brasil Sampaio Nery, Inez; Sousa Pires Moura, Fernanda Maria de Jesus; Delgado Crizóstomo, Cilene; Vilar Teixeira Nunes, Benevina Maria Avaliação das ações de Planejamento Familiar em Teresina-PI Saúde Coletiva, vol. 4, núm. 19, 2008, pp. 7-12 Editorial Bolina São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84201903 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Saúde Coletiva

ISSN: 1806-3365

[email protected]

Editorial Bolina

Brasil

Sampaio Nery, Inez; Sousa Pires Moura, Fernanda Maria de Jesus; Delgado Crizóstomo, Cilene; Vilar

Teixeira Nunes, Benevina Maria

Avaliação das ações de Planejamento Familiar em Teresina-PI

Saúde Coletiva, vol. 4, núm. 19, 2008, pp. 7-12

Editorial Bolina

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84201903

Como citar este artigo

Número completo

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Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Saúde Coletiva 2008;04(19): 7-12 7

Avaliação das ações de Planejamento Familiar em Teresina-PI

inez Sampaio nery Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta e Coordenadora do Mestrado em Enfermagem da UFPI. [email protected]

Fernanda Maria de Jesus Sousa Pires Moura Mestre em Enfermagem. Enfermeira do Hospital Universitário da UFPI. Docente da NOVAFAPI.

Cilene delgado Crizóstomo Mestranda em Enfermagem pela UFPI. Especialista em Enfermagem Obstétrica. Docente da NOVAFAPI. Enfermeira da Maternidade Dona Evangelina Rosa MDER.

Benevina Maria Vilar teixeira nunes Doutora em Enfermagem. Docente da UFPI. Coordenadora do Curso de Enfermagem da NOVAFAPI.

Recebido: 13/08/2007 Aprovado: 12/12/2007

Pesquisa com abordagem qualitativa, cujo instrumento utilizado foi um questionário com questões semi-estruturadas. O objetivo foi avaliar as ações de Planejamento Familiar (PF) em 42 instituições de saúde da rede pública municipal e estadual de Teresina-PI. Os resultados revelaram que gestores não realizavam avaliação sistemática do Planejamento Familiar na instituição. Os sujeitos infor-mantes consideram a estrutura física inadequada, carência de profi ssionais quali-quantitativamente, grande demanda de clientes e pouca oferta dos métodos contraceptivos, insufi ciente participação masculina. Sugeriram aumento de profi ssionais e capacitação para o atendimento à clientela, disponibilidade de métodos contraceptivos, estímulo a maior participação masculina, realização de palestras educativas em unidades de saúde, escolas e comunidades e melhoria na estrutura física, dentre outros. Conclui-se que a avaliação periódica do PF nos serviços de saúde contribuirá para a redução da gravidez indesejada, aborto provocado, mortalidade materna e, conseqüente, melhoria da assistência à saúde da mulher.Descritores: Planejamento familiar, Avaliação, Enfermagem.

That is a qualitative research. It was used a semi-structure questionnaire. The aim was to evaluate the actions of Familiar Planning (FP) in forty two health institutions of the municipal and state public net of Teresina-PI. The results showed that managers haven’t carried out a systematic evaluation of Familiar Planning in the institution. The informing citizens consider inadequate the physical structure; lack of professionals qualitative and quantitatively; demand of customers and little offer of the contraceptive methods, insuffi cient male participation. They have suggested increase in number of professionals and qualifi cation for the attendance to the clients, availability of contraceptive methods, stimulation of the male participation, accomplishment of educative lectures in units of health, schools and com-munities and improvement in the physical structure among others. One concludes that the periodic evaluation of the FP in the health services will contribute to the reduction of the undesirable pregnancy, the induced abortion, the mother mortality and the consequence improvement of the assistance to the health of the woman. Descriptors: Familiar planning, Evaluation, Nursing.

Se trata de una investigación con carácter cualitativo, que utilizó como instrumento, un cuestionario con preguntas semi-es-tructuradas. El objetivo es evaluar las acciones de Planeamiento Familiar (PF) en cuarenta y dos instituciones de salud de la red pública municipal y estadual de Teresina-Piauí, Brasil. Los resultados mostraron que los directores no hacen evaluación siste-mática de las actividades de planeamiento familiar en las instituciones. Los informantes consideran inadecuada, la estructura física, carencia cualitativa y cuantitativamente de profesionales, gran demanda de clientes y reducida oferta de los métodos anticonceptivos; además de participación masculina escasa. Los informantes sugieren: aumento de profesionales y califi cación para la atención a la clientela, mayor disponibilidad de métodos anticonceptivos, mayor participación masculina, realización de conferencias educativas en unidades de salud en las escuelas y en las comunidades y la mejora en la estructura física, entre otras. Se concluye que la evaluación periódica del PF en los servicios médicos contribuirá para la reducción del embarazo inde-seado, del aborto inducido, de la mortalidad maternal y mejoría consecuente de la asistencia a la salud de la mujer. Descriptores: Planeamiento familiar, Evaluación, Enfermería.

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introdução

O planejamento familiar é um programa preconizado pelo Ministério da Saúde, e tem como finalidade precípua a

ação de prevenção na atenção primária à saúde. É necessário capacitar as enfermeiras para orientar e desenvolver ativida-des de planejamento familiar junto à clientela, uma vez que as mesmas fazem parte da equipe multiprofissional, sendo bastante atuante na área de saúde pública. Assim, a enferma-gem estará prestando uma assistência de melhor qualidade às mulheres e ou casais, para que consigam ter o controle da sua reprodução, se assim desejarem.

O planejamento familiar (PF) é considerado um elemen-to essencial da prevenção na atenção primária à saúde, não podendo dispensar a atuação da enfermeira na assistência à clientela. Como membro da equipe de saúde, a enfermeira atua nas ações do planejamento familiar, por ser uma das pro-fissionais de maior contato com famílias, em áreas urbanas e rurais, e por receber muitas solicitações em relação ao plane-jamento familiar1.

O PF possibilita despertar nos casais a conscientização e a responsabilidade ao decidirem sobre o número de filhos, seu espaçamento, além do tratamento adequado de casais infér-teis. As ações de planejamento familiar são de saúde preven-tiva, que ajudam a minimizar os problemas de saúde pública, tais como: gravidez indesejada e aborto provocado, conse-qüentemente, a morbimortalidade materna e neonatal2.

O planejamento familiar é um direito humano básico, de-clarado e reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1968, que o define como sendo: um modo de pensar e viver adotado voluntariamente por indivíduos e ca-sais, baseando-se em conhecimentos, atitudes e decisões to-madas com o sentido de responsabilidade, a fim de promover a saúde e bem-estar da família, e contribuir eficazmente ao desenvolvimento social do país3.

Sabe-se que, o ser humano antes de ser objeto de intervenção e prática clínica, é um sujeito com dimensão sócio-econômica, cultural e política; sem esta perspectiva, torna-se difícil prevenir e promover a saúde do indivíduo, família e comunidade4.

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Contudo, apesar de todos os avanços tecnológicos que culminaram com a dis-ponibilidade de variada oferta de contra-ceptivos, o planejamento familiar ainda não atingiu os reais objetivos a que se propôs, inclusive determinados na lei nº. 9.263, que regulamenta o parágrafo VII, do artigo 226 sobre planejamento familiar que data de 12/01/19961.

A avaliação dos serviços de saúde tem constituído um importante diagnóstico so-bre a qualidade da prestação desses servi-ços à comunidade, principalmente no âm-bito público, já que o processo avaliativo propõe mudanças importantes para me-lhoria da qualidade dos serviços prestados à clientela; além de resgatar a credibilida-de das instituições públicas, quando rea-lizada com a participação da população que busca resolução e bom atendimento das suas expectativas e ou necessidades afetadas.

A avaliação do trabalho em saúde, por ser parte integran-te do processo de planejamento/gestão e direcionadora de mudanças, busca a efi cácia e resolutividade dos serviços de saúde prestados com fi nalidade de melhorar a qualidade e au-mentar o acesso da clientela a esses serviços5.

Neste sentido, o processo de construção das políticas pú-blicas de atenção à saúde da mulher vem ocorrendo ao longo dos anos, de forma lenta e através de várias lutas. Assim é que, em 1975, a Organização das Nações Unidas - ONU estabele-ceu o Ano Internacional da Mulher, após pressões dos movi-mentos feministas, e também foi implantado e implementado o Programa Nacional Materno-infantil, em que a mulher era vista apenas como reprodutora, pois as ações eram voltadas para o ciclo gravídico-puerperal.

No Brasil, na década de 80, foi implantado o Programa de Assistência Integral a Saúde da Mulher (PAISM). Em 1984, este programa foi difundido através do Sistema Nacional de Saúde. A partir daí foi possível que os serviços públicos de saúde atendessem a mulher, na saúde reprodutiva através do programa de planejamento familiar. Para tanto, a falta de uma política pública de saúde que garanta recursos para a con-tinuidade do programa mantém a questão do planejamento familiar em segundo plano6.

Cabe lembrar que, a Constituição Federal aprovada pelo Congresso em 1988, manifestou-se sobre o assunto, incluin-do em seu parágrafo VII, Artigo 226, a responsabilidade do Estado no que se refere ao planejamento familiar6. Diante do exposto, o estudo teve por objetivo avaliar os programas de planejamento familiar nas instituições de saúde da rede públi-ca municipal e estadual de Teresina-PI.

MEtodoLoGiAEsta é uma pesquisa com abordagem quantitativa e descritiva, re-alizada nos serviços públicos municipal e estadual de Teresina-PI, vinculado ou não ao Programa Saúde da Família, em 42 Insti-tuições de saúde pública de Teresina-PI, como unidades mistas, centros e postos de saúde da rede municipal e estadual. O estudo buscou avaliar o serviço de planejamento familiar.

A pesquisa qualitativa preocupa-se com a realidade que não pode ser quan-tificada, ou seja, trabalha com o univer-so dos “significados”, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos, fenômenos que não po-dem ser reduzidos à operacionalização de variáveis7. Além disso, a pesquisa qualitativa oferece ao pesquisador a pos-sibilidade de captar a maneira no qual os indivíduos pensam e reagem frente às questões focalizadas8.

As informações foram fornecidas por 41 enfermeiras e apenas uma auxiliar de enfermagem. Portanto, os sujeitos foram 42 entrevistadas que trabalhavam nas re-feridas instituições de saúde. Foi utilizado como instrumento um formulário semi-estruturado com três questões abertas, após prévio consentimento dos sujeitos

que participaram da pesquisa, com garantia de sigilo. A técnica empregada na produção dos dados foi a entre-

vista. Foram entregues aos sujeitos, correspondência com autorização prévia da Fundação Municipal de Saúde de Teresina-PI, onde se solicitava aos informantes a assinatura de um termo de consentimento esclarecido, com base na resolução nº. 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde, deixando os informantes livres na sua participação ou não, assim como cientes do anonimato.

Este instrumento foi previamente validado através de sua aplicação em duas unidades de saúde, e realizado as modi-ficações necessárias. Para utilização dos formulários, con-tou-se com a colaboração dos acadêmicos que cursavam a disciplina Planejamento Familiar do Curso de Enfermagem-bacharelado da UFPI, após treinamento prévio e durante o mês de julho de 2005.

Vale ressaltar que, o formulário aplicado pelos discentes, foi constituído de itens referentes à avaliação do programa e opinião dos profi ssionais sobre o Planejamento Familiar, se este era feito periodicamente, ou não, e quais os resultados obtidos da avaliação. No que se refere a opinião dos profi ssio-nais de saúde, indagava-se quanto ao atendimento à clientela, o que fazer para melhorar este atendimento e qual a participa-ção do público feminino e masculino no PF.

As entrevistas foram transcritas e analisadas conforme a Análise de Conteúdo de Bardin9, que prioriza a análise temáti-ca. Os dados gravados foram transcritos com posterior leitura e releitura de todo material, emergindo daí as categorias.

rESuLtAdoSApós a transcrição dos dados, emergiram quatro catego-rias básicas: a avaliação do atendimento prestado ao casal/cliente em PF; a melhoria da assistência à clientela; a par-ticipação de mulheres e homens no PF como processo de mudança; e as sugestões e ou expectativas dos profissionais de saúde.

Avaliação do atendimento prestado ao casal/cliente em PFPara avaliação da assistência prestada ao casal/cliente em

“A AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE TEM CONSTITUÍDO

UM IMPORTANTE DIAGNÓSTICO SOBRE A QUALIDADE

DA PRESTAÇÃO DESSES SERVIÇOS À COMUNIDADE,

PRINCIPALMENTE NO ÂMBITO PÚBLICO, JÁ QUE O PROCESSO

AVALIATIVO PROPÕE MUDANÇAS IMPORTANTES PARA MELHORIA DA QUALIDADE DOS SERVIÇOS

PRESTADOS À CLIENTELA”

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PF, obtiveram-se as respostas que foram consolidadas e es-tão dispostas no quadro 1.

Vale ressaltar que, das 42 Unidades de Saúde, apenas duas não tinham o PF implantado. Das 40 unidades que tinham o PF, apenas 12 referiram que este é de boa qualidade, levando a satisfação da clientela. Paralelo a isso, encontrava-se baixa oferta de métodos contraceptivos (11) e de profi ssionais quali-fi cados (11), principalmente a carência de enfermeira, já que a sua ausência, prejudica a assistência e supervisão do ser-viço. A estrutura física inadequada para acolher (oito) e a defi ciência de recursos didáticos (quatro) também são citados.

Com base no apresentado nesta cate-goria, a meta principal ao se avaliar re-gularmente os serviços de saúde é propor mudanças, que seriam consideradas com credibilidade e seriedade por profi ssio-nais de saúde e gestores, a fi m de se pro-porcionar à clientela serviços pautados na qualidade e respeito humano3.

Os direitos reprodutivos estão basea-dos em garantir às mulheres e aos homens o direito previsto na Constituição Brasileira, de decidir livre e responsavelmente pelo número de fi lhos, intervalo entre eles e de dispor de in-formações e dos meios necessários1.

Melhoria da assistência à clientelaNesta categoria emerge a visão dos profi ssionais de saúde, quanto a aspectos para melhoria de assistência no PF nos ser-viços de saúde.

Dentre os pontos ressaltados para melhoria da assistência à clientela dispostos no quadro 2, como prioritários, destacam-

se a organização de grupos/ofi cinas, as campanhas educativas no serviço, a escola e a comunidade (21), assim como, a con-tratação de mais profi ssionais treinados, com enfoque a enfer-meira para fazer consulta e orientação em saúde (18). Além da disponibilidade de métodos contraceptivos (oito), estrutura física defi ciente (sete), recursos audio-visuais e material didá-tico (cinco).

A maioria desses pontos também foi apontada na categoria anterior, o que reforça a importância de um serviço bem or-

ganizado e estruturado nas suas condições físicas, materiais e humanas, para adequa-do funcionamento dos serviços, com es-pecial atenção ao PF, principalmente no que diz respeito a pouca disponibilidade de métodos contraceptivos mencionados como um dos destaques nos dois quadros citados; o que inviabiliza por completo a continuidade do programa.

Os profi ssionais ainda ressaltaram como proposta, a busca ativa de deman-das desassistidas (quatro). Também mere-

ceu destaque, a maior integração entre equipe, profi ssional e clientela (três) e as orientações individuais (um), o que é fundamental para a qualidade de qualquer serviço e progra-ma, tendo em vista que, não resolve ter todos os recursos hu-manos e materiais necessários em um serviço, se não houver um trabalho em equipe, na qual todos sejam valorizados e respeitados em suas colocações, sempre visando a melhoria da assistência oferecida à população, que também deve parti-cipar desse processo.

Neste sentido, cabe aos educadores e profi ssionais de saú-de, desenvolver mecanismos comportamentais, como: ofi ci-

“O ESTUDO TEVE POR OBJETIVO AVALIAR OS PROGRAMAS DE

PLANEJAMENTO FAMILIAR NAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL E ESTADUAL DE TERESINA-PI”

Quadro 1. Respostas sobre avaliação do PF pelos informantes dos serviços de saúde. Teresina-PI. Julho, 2005.

Avaliação do atendimento nº

Atendimento é de boa qualidade e existe satisfação da clientela.

Há oferta de poucos métodos, não tendo opções e nem contraceptivos para quem está amamentando.

Falta de profissionais disponíveis e treinados para atender a várias atividades do centro de saúde, de assistência e de supervisão.

Estrutura física inadequada para acolher.

Deficiência de recursos didáticos.

Existe grande demanda de clientes.

É facilitado o ingresso do casal no programa e a disposição do método apropriado para o casal.

Maior liberação da laqueadura tubária.

1211110804020101

Quadro 2. Melhoria da assistência à clientela na visão dos profissionais de saúde. Teresina-PI. Julho, 2005.

Avaliação do atendimento nº

Organização de grupos/oficinas, campanhas educativas no serviço, escola e comunidade.

Contratação de mais profissionais treinados, disponibilizar enfermeiras para fazer consulta e orientação em saúde.

Maior disponibilidade de métodos contraceptivos.

Melhor estrutura física para realização de palestras.

Aumento de recursos audiovisuais e materiais didáticos.

Busca ativa da clientela através do agente comunitário de saúde.

Maior integração entre equipe, profissional e cliente.

Oferece orientações educativas individuais.

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nas de sensibilização para DST/AIDS, aconselhamento e treinamentos direcio-nados a equipe multiprofi ssional e à po-pulação6.

O diálogo deve fazer parte do dia-a-dia dos profi ssionais que prestam serviços de saúde, o que possibilita um trabalho em equipe, além de propiciar mudanças necessárias à melhoria da assistência, em um trabalho interdisciplinar mais huma-no entre seus integrantes e a clientela10.

Participação de mulheres e homens no PF como processo de mudançaAo indagar os profissionais de saúde acerca do que eles faziam para mulheres/homens partici-parem do processo de mudança em relação ao PF, obtive-ram-se as seguintes respostas: o casal raramente procura o serviço, geralmente a mulher (cinco); as mulheres procuram para evitar gravidez, aceitação da mulher é maior do que a do homem (cinco); deveria o casal assistir a palestra (três); levando a reuniões mensais mais próximas do homem (três); a procura é feita por mulheres (um); a maioria dos casais vem porque tem alguma DST (um).

A participação masculina no PF, ainda, é muito limitada. Sabe-se que, as mulheres apesar de terem conquistado espa-ços importantes no âmbito público, com inserção cada vez mais atuante no mercado de trabalho, na esfera privada e fa-miliar, são poucos os avanços, visto que a responsabilidade no PF continua mais a cargo da mulher.

Na cultura brasileira, a responsabilidade pela contracep-ção é muito mais da mulher do que do homem, e historica-mente, a mulher manteve-se ligada à função de reprodução biológica e às funções no interior da família5.

Ao longo dos tempos, o ser feminino ocupou o espaço privado, e tem desempenhado funções, como: cuidar, lim-par, educar e maternar. Atualmente, esses conceitos e pre-conceitos já são veementes questionados, e as mulheres têm optado por outros caminhos dissociados da procriação, já que este foi culturalmente imposto como destino sob a sua responsabilidade, sem a participação masculina11.

Sugestões e/ou expectativas dos profissionais de saúde relativos ao PFDentre as sugestões e expectativas das informantes relativas ao PF nos serviços de saúde, destacaram-se: realizar orien-tações sobre a importância dos métodos do planejamento familiar nas escolas e comunidades (dois); melhorar a ava-liação do PF na instituição (dois); melhorar assistência do planejamento familiar através do Programa Saúde da Família (uma); haver acompanhamento por médico (a) e enfermeiro (a) (um); realizar um trabalho que requer dedicação e perse-verança do profissional (um); incluir o profissional médico em assistir ao PF no Programa de Saúde da Família (um); melhorar o programa PF através da prevenção e orientação correta sobre sexo/sexualidade para minimizar abortos (um); e conscientizar o cliente/casal quanto as DST e métodos contraceptivos (uma).

As sugestões e/ou expectativas apresentadas pelos pro-fissionais de saúde mostraram que, os serviços precisam ser

mais bem estruturados, a fim de atender com eficácia, eficiência e responsabilida-de a uma população carente de informa-ções preciosas, quanto a conduzir a sua sexualidade, com responsabilidade e se-gurança, principalmente de adolescentes e jovens que freqüentam as escolas.

A avaliação do PF nas instituições é um mecanismo fundamental para o levan-tamento periódico das dificuldades en-contradas no serviço e a sua conseqüente resolução, a fim de que, a demanda possa beneficiar-se de forma eficaz com o PF, não se decepcionando quanto as suas ex-pectativas.

Diante disso, constatou-se que, apesar das orientações individuais, palestras educativas e outras formas de comu-nicação desenvolvidas junto à clientela interessada, ainda há deficiência de profissionais qualificados para assumir o PF, em especial às enfermeiras, e a atuação dessas profissio-nais deveria se estender mais efetivamente à comunidade e escolas, já que há carência de informações relativas aos mé-todos contraceptivos, como também a prevenção das DSTs, o que poderá contribuir na redução da gravidez indesejada, do aborto provocado, da morbimortatalidade materna e ne-onatal, dentre outras.

Além disso, ainda há uma irregularidade na disponibili-zação dos métodos contraceptivos nas instituições de aten-ção primária a saúde (APS), o que prejudica o atendimento, a continuidade e a credibilidade da (o) usuária (o) pelo ser-viço de planejamento familiar (PF). Isto prejudica também o profissional, que se sente impotente diante da descontinui-

“AS AVALIAÇÕES PERIÓDICAS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE SÃO

MEDIDAS QUE DEVEM SER IMPLEMENTADAS,

A FIM DE CONTRIBUÍREM PARA A ELEVAÇÃO DOS NÍVEIS DE SAÚDE DO INDIVÍDUO, DA FAMÍLIA E DA COMUNIDADE”

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Referências

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dade de recursos do setor público.As sugestões e expectativas estão expressas também por

autores que discutem a temática. Os profissionais de saú-de devem estar preparados a dialogar abertamente sobre sexualidade com os adolescentes, transmitindo informações claras a respeito da importância e de como usar os métodos contraceptivos1. Por sua vez, a avaliação cotidiana do trabalho contribui para a melhoria do serviço prestado, quando o mesmo ocor-re com qualidade e de forma eficiente e compromissada5.

De acordo com a Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar no Brasil, os métodos contraceptivos usados sem orientação adequada contribuem para o aumento de casos de gravidez indesejada e, con-seqüentemente, com abortos provocados, visto que o Brasil é um dos países que apresenta os maiores índices de aborto12.

Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), 21% das mortes relacionadas com a gravidez, parto e pós-parto, têm como causa as complicações do aborto realizado de forma insegura, em países da América Latina13.

ConCLuSãoAs avaliações periódicas dos serviços de saúde são medidas que devem ser implementadas, a fim de contribuírem para a elevação dos níveis de saúde do indivíduo, da família e da comunidade.

A análise crítica dos erros e propostas de mudanças base-adas na opinião daqueles que vivenciam o processo, devem ser vistas de forma contributiva e necessária. Os desafios devem ser enfrentados e a busca para o aperfeiçoamento dos serviços de saúde, através do processo avaliativo, de-vem ser priorizadas, incentivados e cobrados pelos gestores, profissionais de saúde e clientela. A finalidade desse pro-cesso é manter a satisfação da clientela atendida, no sentido de contar com programas eficazes e resolutivos, além de contribuir também para a realização profissional de quem

presta serviços com qualidade e compromisso.Neste estudo, destacaram-se as categorias: avaliação do

atendimento prestado ao casal/cliente em PF; melhoria da assistência à clientela, participação das mulheres e homens no PF como proces-so de mudança e sugestões e ou expecta-tivas dos profissionais de saúde relativos ao PF. Percebe-se que o PF foi consi-derado de boa qualidade, satisfazendo a clientela, porém com baixa oferta de métodos contraceptivos, o que é priori-tário para a continuidade desta ativida-de. Acresce-se a isto, a falta de pessoal qualificado e de recursos materiais, as-sim como estrutura física adequada para o bom desenvolvimento do PF, a fim de realizar oficinas e palestras educativas pertinentes.

Outro ponto destacado foi a inexpres-siva participação dos homens no plane-

jamento familiar. A aceitação e o correto uso dos métodos contraceptivos oferecidos pelo serviço, depende muito do homem, tendo em vista que, a mulher ainda se coloca em uma posição subalterna, satisfazendo os desejos masculi-nos, mesmo que isso implique em sérias conseqüências para a sua saúde reprodutiva e sexual.

Quanto às sugestões e ou expectativas dos pesquisados, evidenciou-se a necessidade da implantação das ações do PF em ir até a comunidade e escolas, levando infor-mações sobre os métodos contraceptivos a grupos de ris-co, que normalmente não procuram os serviços, como os adolescentes.

Coube destaque também à inexistência de avaliação pe-riódica nos serviços de saúde ao PF, o que demonstra que os profissionais de saúde estão atentos e interessados em proporcionar qualidade no serviço.

Vale ressaltar que, a eficácia e resolutividade do PF con-tribuirão para a diminuição da mortalidade materna, já que podem evitar a utilização do aborto como método contra-ceptivo, tendo em vista que, o aborto ainda é uma das princi-pais causas da morbimortalidade materna. ■

“OUTRO PONTO DESTACADO FOI A INEXPRESSIVA

PARTICIPAÇÃO DOS HOMENS NO PLANEJAMENTO

FAMILIAR. A ACEITAÇÃO E O CORRETO USO DOS MÉTODOS

CONTRACEPTIVOS OFERECIDOS PELO SERVIÇO, DEPENDE MUITO

DO HOMEM”