direito a morte digna eutanasia e morte assistida

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DIREITO À MORTE DIGNA: EUTANÁSIA E MORTE ASSISTIDA 1 Marcio Sampaio Mesquita Martins 2 Sumario: 1 – Introdução; 2 – Conceitos; 3 - O comportamento dos povos antigos; 4 - Posições mais recentes sobre a eutanásia; 5 - Eugenia e preconceito racial no regime Nazista; 6 – Doutrina e jurisprudência nacional e estrangeira; 7 – A opinião da Igreja Católica; 8 – Ética médica, direito à informação, vício de consentimento e dor alienante; 9 – Conclusão. Referencias. Resumo: Técnicas de por termo à vida de pessoas gravemente enfermas e padecendo de sofrimento e dores insuportáveis, a eutanásia e a morte assistida sempre causaram profundos questionamentos de cunho ético e filosófico. Várias correntes defendem a legitimidade ou a repugnância destas práticas, enveredando muitas vezes nos campos da religião. A morte digna é afastada pela legislação da maioria dos países, entretanto existem algumas importantes exceções. Inevitável realidade social, a matéria demanda uma regulamentação apropriada, capaz de evitar abusos e acompanhar as particularidades decorrentes do avanço da medicina. Palavras-chave: Ética. Direitos humanos. Eutanásia. Morte Assistida. Realidade social. Legislação e interpretação. 1. INTRODUÇÃO O termo eutanásia, de origem grega, significa "boa morte", “morte apropriada” ou "morte piedosa". O termo foi proposto por Francis Bacon em 1623 como sendo “um tratamento adequado às doenças incuráveis”. Entende-se como eutanásia a conduta em que alguém, deliberadamente e movido por fortes razões de ordem moral, causa a morte de 1 Trabalho elaborado e apresentado pelo autor em 2008, como requisito parcial para a aprovação na disciplina Teoria dos Direitos Fundamentais, do Curso de Mestrado em Direito da Universidade Federal do Ceará. 2 Mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará, Procurador Federal, pesquisador e autor de livros e artigos sobre temas de Direito Administrativo e de Direitos Fundamentais.

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eutanásia e morte assistida

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  • DIREITO MORTE DIGNA: EUTANSIA E MORTE ASSISTIDA 1

    Marcio Sampaio Mesquita Martins 2

    Sumario: 1 Introduo; 2 Conceitos; 3 - O comportamento dos povos antigos; 4 - Posies mais recentes sobre a eutansia; 5 - Eugenia e preconceito racial no regime Nazista; 6 Doutrina e jurisprudncia nacional e estrangeira; 7 A opinio da Igreja Catlica; 8 tica mdica, direito informao, vcio de consentimento e dor alienante; 9 Concluso. Referencias. Resumo: Tcnicas de por termo vida de pessoas gravemente enfermas e padecendo de sofrimento e dores insuportveis, a eutansia e a morte assistida sempre causaram profundos questionamentos de cunho tico e filosfico. Vrias correntes defendem a legitimidade ou a repugnncia destas prticas, enveredando muitas vezes nos campos da religio. A morte digna afastada pela legislao da maioria dos pases, entretanto existem algumas importantes excees. Inevitvel realidade social, a matria demanda uma regulamentao apropriada, capaz de evitar abusos e acompanhar as particularidades decorrentes do avano da medicina. Palavras-chave: tica. Direitos humanos. Eutansia. Morte Assistida. Realidade social. Legislao e interpretao.

    1. INTRODUO

    O termo eutansia, de origem grega, significa "boa morte", morte

    apropriada ou "morte piedosa". O termo foi proposto por Francis Bacon em

    1623 como sendo um tratamento adequado s doenas incurveis.

    Entende-se como eutansia a conduta em que algum,

    deliberadamente e movido por fortes razes de ordem moral, causa a morte de

    1 Trabalho elaborado e apresentado pelo autor em 2008, como requisito parcial para a aprovao na disciplina Teoria dos Direitos Fundamentais, do Curso de Mestrado em Direito da Universidade Federal do Cear. 2 Mestre em Direito pela Universidade Federal do Cear, Procurador Federal, pesquisador e autor de livros e artigos sobre temas de Direito Administrativo e de Direitos Fundamentais.

  • 2

    outrem, vitima de uma doena incurvel em avanado estado e que est

    parecendo de grande sofrimento e dores. A eutansia seria justificada como

    uma forma de libertao do sofrimento acarretado por um longo perodo de

    doena.

    J a morte assistida, tambm conhecida como suicdio assistido,

    consiste na promoo de meios para que o paciente terminal, por conta

    prpria, ponha fim a sua vida. No se trata de eutansia, pois a deciso e a

    execuo do ato partem do prprio paciente. Os terceiros, normalmente

    familiares e pessoas prximas, apenas colocam ao seu alcance os meios

    necessrios para que o paciente se suicide de forma digna e indolor.

    Para a morte assistida, portanto, pressupe-se que o consentimento

    e o ato executrio partam do prprio paciente, enquanto que a eutansia,

    dependendo do estado em que se encontre o paciente (ex. inconsciente h

    bastante tempo), poder ser realizada por meio do consentimento de terceiros,

    a exemplo dos familiares.

    O ato de promover a morte antes do que seria de esperar, por

    motivo de compaixo e diante de um sofrimento penoso e insuportvel, sempre

    foi motivo de reflexo por parte da sociedade. Esta discusso torna-se cada

    vez mais presente na medida em que aprofundado o estudo dos direitos

    fundamentais sob a perspectiva constitucional.

    Ademais, sempre surgem novos tratamentos e recursos que

    permitem prolongar em muito a expectativa de vida do enfermo, o que pode

    levar a um demorado e penoso processo de morrer.

    A medicina, na medida em que avana na possibilidade de salvar

    mais vidas, cria, tambm, inevitavelmente, dilemas ticos complexos que

    permitem maiores dificuldades para um conceito ajustado do fim da existncia

    humana.

    Por fim, a eutansia proibida na maioria dos pases, bem como

    condenada por diversas religies, a exemplo do Catolicismo, sendo, portanto,

    um assunto capaz de gerar profundas discusses ticas e morais.

  • 3

    2. CONCEITOS

    O estudo da morte digna deve partir da definio de certos termos

    caractersticos, alguns dos quais, inclusive, so confundidos por certos autores.

    O termo eutansia, como j mencionado acima, foi proposto por

    Francis Bacon em 1623 na sua obra Historia vitae et mortis. A origem

    etmolgica vem do grego eu (bem, bom, belo) e thanatos (morte), sendo

    traduzida como a boa morte. A idia de eutansia remota antiguidade, de

    onde se encontram os primeiros registros da sua prtica.

    A eutansia ativa consiste no ato deliberado de provocar a morte

    sem sofrimento do paciente, com fins misericordiosos. Normalmente executada

    por parente prximo da vtima e, em alguns casos, pelo mdico que a

    acompanha.

    A eutansia passiva (ou ortotansia, para alguns) consiste na

    suspenso do tratamento ou dos procedimentos que esto prolongando a vida

    de um doente terminal, com o objetivo de lhe abreviar a morte, sem sofrimento.

    Na maioria dos casos mantm-se as medidas ordinrias, dentre as quais as

    que visam reduzir a dor, e suspendem-se as medidas extraordinrias ou as que

    esto dando suporte vida.

    A eutansia de duplo efeito ocorre quando a morte acelerada

    como conseqncia indireta das aes mdicas que so executadas visando o

    alvio do sofrimento de um paciente terminal, a exemplo da utilizao de altas

    doses de remdios com o intuito de aliviar a dor, sabendo-se que o tratamento

    tambm traz como conseqncia a abreviao da vida do paciente.

    A morte ou suicdio assistido consiste na facilitao ao suicdio do

    paciente, onde o agente, normalmente parente prximo, pem ao alcance do

    enfermo terminal alguma droga fatal ou outro meio congnere.

    Tcnica congnere, a eugenia consiste na eliminao de pessoas

    portadoras de deficincias, doenas graves ou idosos em fase terminal. Muito

  • 4

    comum em sociedades primitivas, notadamente entre s nmades. Tambm

    conhecida como medida de higiene ou profilaxia social.

    De se observar que a terminologia envolvida neste estudo sofreu

    variaes ao longo do tempo e de acordo com cada autor. O prprio termo

    eutansia j foi definido no sculo XIX como morte em estado de graa pelos

    telogos Larrag e Claret3. Existe, alis, uma profuso de termos correlatos que

    acabam por dificultar o estudo da boa morte. Termos como distansia,

    ortotansia, mistansia, por outro lado, no sero estudados

    aprofundadamente neste trabalho, por gerarem uma dificuldade conceitual

    desnecessria.

    Inmeras classificaes foram propostas na literatura. Dentre as

    quais destacamos a seguinte:

    Eutansia voluntria (executada conforme a vontade do paciente),

    eutansia involuntria (executada contra a vontade do paciente) e eutansia

    no voluntria (executada independentemente da manifestao de vontade do

    paciente). Esta classificao foi proposta por Neukamp em 1937 e visava

    estabelecer, em ultimo caso, a responsabilidade do agente.4

    Outras classificaes menos importantes foram propostas pelo

    brasileiro Ruy Santos, em 1928, por Ricardo Royo-Villanova, em 1928 e por

    Jimnez de Asa, em 1942.

    3. O COMPORTAMENTO DOS POVOS ANTIGOS

    A eutansia e a eugenia eram praticadas por diversos povos

    primitivos, dentre os quais os Celtas, Fueginos (indigenas sul-americanos),

    dentre outros.

    3 Pronturios de Teologia Moral, publicado em 1866, in GOLDIM, Jos Roberto. Biotica e tica na Cincia. Disponvel em: http://www.bioetica.ufrgs.br. Acesso em 03 jun. 2008 4 NEUKAMP, F. Zum Problem der Euthanasie. Der Gerichtssaal. 1937; 109:403, in GOLDIM,

    Jos Roberto. Ob. Cit.

  • 5

    Povos nmades e alguns ndios brasileiros matavam velhos, doentes

    e feridos para que os mesmos no ficassem abandonados sorte e s feras,

    nem tampouco fossem trucidados pelos inimigos.

    Na ndia os velhos e doentes eram levados para as margens do rio

    Ganges, onde tinham as sua boca e narinas tampadas com uma lama sagrada

    e depois eram lanados no rio para se afogar.

    Na Birmnia doentes incurveis eram enterrados vivos. Eslavos e

    Escandinavos apressavam a morte de seus pais enfermos.

    Em Esparta, cidade-estado eminentemente militarista, as crianas

    nascidas com deficincias fsicas que as tornassem inadequadas para o

    combate eram jogadas do alto do monte Taijeto (conforme relatado por

    Plutarco em Vidas Paralelas).

    Plato, Scrates e Epicuro defendiam a idia de que o sofrimento

    resultante de uma doena dolorosa justificava o suicdio. Plato encorajava

    velhos, enfermos incurveis e os deficientes mentais a se matarem para ajudar

    a sociedade a progredir economicamente.

    A eutanisa e o suicdio assistido eram muito praticados na Grcia e

    Roma antigas. Na cidade de Marselha, por exemplo, existia um depsito

    pblico de cicuta a disposio de todos que pretendessem se suicidar5.

    Em Atenas, o Senado tinha o poder absoluto de decidir sobre a

    eliminao de velhos e incurveis, dando o conium maculatum bebida

    venenosa, em cerimnias especiais.6

    Aristteles, Pitgoras e Hipcrates, entretanto, condenavam o

    suicdio. Hipcrates, particularmente, era avesso eutansia. Ele deixou

    registrado em seu juramento: A ningum darei, para agradar, remdio mortal,

    nem conselho que o induza perdio

    A eutansia e o suicdio aparecem at mesmo na Bblia: O Rei Saul,

    ferido em batalha, lanou-se sobre a sua prpria espada com a inteno de se

    5 Cf. GOLDIM, Jos Roberto. Ob. Cit. 6 FRANA, Genival Veloso de. Direito Mdico. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 491.

  • 6

    matar, mas no conseguiu. Depois solicitou a um amalecita que lhe tirasse a

    vida.7

    No Novo Testamento consta que no calvrio os soldados romanos

    deram a Jesus uma esponja embebida de vinagre, que fora por ele recusada.

    Segundo Ccero e Dioscorides, antes de ser zombaria e crueldade, este ato foi

    piedoso e visava amenizar o sofrimento de Cristo, pois a bebida oferecida seria

    o vinho da morte, uma mistura de vinagre e fel que produzia um sono profundo

    e prolongado, durante o qual o crucificado no sentia nem os mais cruentos

    castigos, e por fim, caa em letargo passando morte insensivelmente.8

    Assim, admitida na Antiguidade, a eutansia s foi realmente

    condenada a partir do judasmo e cristianismo, em cujos princpios a vida tinha

    o carter sagrado. No entanto, foi a partir do sentimento que cerca o direito

    moderno que a eutansia passou a ser criminalizada.

    4. POSIES MAIS RECENTES SOBRE A EUTANSIA

    A discusso sobre o tema evoluiu ao longo da histria da

    humanidade, com a participao, dentre outros, de Lutero, Thomas Morus

    (Utopia), David Hume (On suicide), Karl Marx (Medical Euthanasia) e

    Schopenhauer.

    Hegel, na sua filosofia, entoava: tenho a vida e o corpo porque so

    meus, tudo depende da minha vontade. Assim, o homem pode matar-se e

    mutilar-se a seu entendimento.9

    Nelson Hungria, por outro lado, defendia que a mais elementar

    prudncia aconselha que nenhum homem, a pretexto de piedade, ante o

    padecimento alheio, se atribua a faculdade ou o direito de matar.10

    7 NOGUEIRA, Paulo Lcio. Em defesa da Vida: Aborto Eutansia Pena de Morte Suicdio Violncia/Linchamento. So Paulo: Saraiva, 1995, p. 42. 8 FRANA, Genival Veloso de. Ob. Cit. p. 491. 9 BIZZATO, Jos Ildefonso. Eutansia e responsabilidade mdica. 2 ed. So Paulo: Led Editora, 2000, p. 16. 10 BIZZATO, Jos Ildefonso. Ob. Cit. p. 18.

  • 7

    Binet Sangl props na Frana a criao de um tribunal composto

    por um mdico, um psiclogo e um jurista exclusivamente para julgar pedidos

    de eutansia.

    Francis Galton, primo de Charles Darwin, escreveu em 1865 a obra

    Hereditary Talent and Genius, onde defendeu a tese de que a inteligncia

    predominantemente herdada e no fruto da ao ambiental. Utilitarista, ele

    propunha a seleo artificial para melhorar a espcie humana. Afirmava que:

    As foras cegas da seleo natural, como agente propulsor do progresso, devem ser substitudas por uma seleo consciente e os homens devem usar todos os conhecimentos adquiridos pelo estudo e o processo da evoluo nos tempos passados, a fim de promover o progresso fsico e moral no futuro.11

    No incio do sculo XX a eutansia e a eugenia foram muito

    discutidas no panorama mundial.

    Autores se destacaram, dentre os quais o argentino Jos Ingenieros,

    que publicou em 1900 a obra La simulacin en la lucha por la vida e o

    Professor Jimnez de Asa, penalista espanhol considerado como um dos

    mais importantes autores que estudou do tema e que inaugurou os debates

    atuais sobre a Eutansia. Em 1925 proferiu inmeras palestras e publicou

    vrias obras, dentre as quais Libertad de amar y derecho a morir: ensayos de

    un criminalista sobre eugenesia y eutansia,12 que serviram de inspirao para

    a legislao penal uruguaia de 1934, uma das pioneiras a descriminalizar a

    eutansia (homicdio piedoso).

    Interessante observar que a discusso acerca da eutansia foi

    acompanhada pela sociedade. Em 1908, foi fundada a Eugenics Society em

    Londres, primeira organizao a defender estas idias de forma organizada e

    ostensiva. Um dos lideres era Leonard Darwin, filho de Charles Darwin. No

    Brasil, foi fundada em 1918 a Sociedade Paulista de Eugenia, a primeira no

    pas. Jos Roberto Goldin relata que inmeras teses foram desenvolvidas

    neste assunto entre 1914 e 1935 nas Faculdades de Medicina da Bahia, Rio de

    11 GOLDIM, Jos Roberto. Ob. Cit. 12 As principais obras de Jimnez de Asa so: Libertad de amar y derecho a morir: ensayos de un criminalista sobre eugenesia y eutansia. Buenos Aires: Losada, 1942 e Endocrinologia y Derecho penal - Eutansia y homicdio por compasin. Montevideo: Imprenta Nacional, 1927.

  • 8

    Janeiro e So Paulo, o que demonstra a grande profuso das idias eugncias

    na poca.

    Em 1968, por outro lado, a Associao Mundial de Medicina adotou

    uma resoluo contrria a eutansia, considerando a mesma como sendo um

    procedimento eticamente inadequado.

    5. EUGENIA E PRECONCEITO RACIAL NO REGIME NAZISTA

    As idias eugnicas da Alemanha nazista foram teorizadas, dentre

    outros, pelos pensadores Gnther e Rosenberg, os quais se inspiraram nas

    idias de Conde de Gobineau, que escreveu a obra "Ensaio sobre a

    desigualdade das raas humanas" em 1854. Gobineau, que, proferiu palestras

    at mesmo no Brasil, pregou a idia da pureza e superioridade da raa ariana

    antes mesmo do advento das idias Darwinistas.

    Foram editadas em 1935 as Leis de Nuremberg, que proibiam o

    casamento e o contato sexual de alemes com judeus e o casamento de

    pessoas com transtornos mentais, doenas contagiosas ou hereditrias. Para

    casar era preciso obter um certificado de sade. Em 1933 j haviam sido

    publicadas leis que propunham a esterilizao de pessoas com problemas

    hereditrios e a castrao dos delinquentes sexuais. Alemes portadores de

    defeitos fsicos ou mentais eram sacrificados para purificar a raa ariana.

    Em outubro de 1939, finalmente, foi implantado um programa

    denominado "Aktion T 4" que pretendia a eliminao de recm-nascidos e

    crianas pequenas, at 3 anos, que tinham uma "vida que no merecia ser

    vivida". Era a materializao da proposta terica da higienizao social. O

    programa se expandiu e passou a incluir velhos, doentes graves, deficientes

    mentais, etc.

    Com o tempo, foram acrescidos os critrios tnicos, de modo que os

    que no possuam cidadania ou ascendncia alem eram discriminados,

  • 9

    especialmente judeus, negros e ciganos, ocasio em que foram mortas mais de

    100.000 pessoas.13

    Tal programa no pode ser visto como eutansia, posto que fugiu

    completamente da idia de morte misericordiosa. Trata-se de prtica eugnica

    com fortssimos traos de discriminao racial, que foi criticada, inclusive, por

    Jimnez de Asa.

    6. DOUTRINA E JURISPRUDNCIA NACIONAL E ESTRANGEIRA.

    Um dos primeiros pases a descriminalizar a eutansia foi o Uruguai,

    em 1934, onde foi introduzida no Cdigo Penal a figura do homicdio piedoso.

    Tal inovao legislativa foi elaborada sob influencia dos ensinamentos de

    Jimnez de Asa que, a partir de 1925, proferiu diversas palestras que geraram

    extrema repercusso naquele pas e da Espanha.

    Posteriormente, em 1993, ainda sobre influencia de Asa,

    inaugurou-se na Holanda uma jurisprudncia que tolerava a eutansia. Em

    2002, finalmente, foi legalizada e regulada a prtica da eutansia, a qual s

    pode ser realizada mediante um criterioso procedimento. Tal legislao

    permite, inclusive, que menores possam requerer a eutansia (com o

    consentimento dos responsveis).

    Vrios pedidos de eutansia foram julgados em outros pases,

    dentre os quais na Inglaterra, onde alguns pedidos foram deferidos.

    Em maio de 1997 a Corte Constitucional da Colmbia estabeleceu

    que "ningum pode ser responsabilizado criminalmente por tirar a vida de um

    paciente terminal que tenha dado seu claro consentimento". Esta posio

    estabeleceu um grande debate nacional entre as correntes favorveis e

    contrrias. Vale destacar que a Colmbia foi o primeiro pas sul-americano, a

    exceo do Uruguai, a constituir um movimento de direito morte, que se

    iniciou em 1979.

    13 GOLDIM, Jos Roberto. Ob. Cit.

  • 10

    Em alguns territrios do Norte da Austrlia esteve em vigor de 1996

    a 1997 a Lei dos Direitos dos Pacientes Terminais, que autorizava a eutansia.

    A lei foi revogada apensar das pesquisas de opinio acusar que os australianos

    eram, na sua maioria, favorveis eutansia.14

    Ouve uma tentativa frustrada de se inserir a eutansia no estado de

    Oregon, nos Estados Unidos, entretanto a legislao foi suspensa pela

    Suprema Corte.

    Ronald Dworkin fala sobre uma interessante prtica adotada nos

    Estados Unidos:

    Hoje, todos os estados americanos reconhecem alguma forma de diretriz antecipada: ou os testamentos de vida (documentos nos quais se estipula que certos procedimentos mdicos no devem ser utilizados para manter o signatrio vivo em circunstncias especficas) ou as procuraes para a tomada de decises em questes mdicas (documentos que indicam outras pessoas para tomar decises de vida e de morte em nome do signatrio quando este j no tiver condies de tom-las).15

    No Brasil a eutansia tipificada como homicdio privilegiado pelo

    Cdigo Penal:

    Art. 121. Matar algum: Pena - recluso, de seis a vinte anos. Caso de diminuio de pena: 1 Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domnio de violenta emoo, logo em seguida a injusta provocao da vtima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um tero.

    A prpria exposio de motivos do Cdigo Penal elenca, dentre os

    exemplos de homicdio privilegiado, a prtica de eutansia, como ressalta

    Paulo Jos da Costa Junior.16

    A morte assistida, por sua vez, considerada crime de Induzimento,

    instigao ou auxlio a suicdio:

    Art. 122 - Induzir ou instigar algum a suicidar-se ou prestar-lhe auxlio para que o faa:

    Pena - recluso, de dois a seis anos, se o suicdio se consuma; ou recluso, de um a trs anos, se da tentativa de suicdio resulta leso corporal de natureza grave.

    14 GOLDIM, Jos Roberto. Ob. Cit. 15 DWORKIN, Ronald. Domnio da vida: aborto, eutansia e liberdades individuais. Trad. Jefferson Luiz Camargo. So Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 252. 16 NOGUEIRA, Paulo Lcio. Ob. Cit., p. 59.

  • 11

    O Cdigo de tica Mdica, por fim, estabelece o seguinte:

    Art. 6. O mdico deve guardar absoluto respeito pela vida humana, atuando sempre em benefcio do paciente. Jamais utilizar seus conhecimentos para gerar sofrimento fsico ou moral, para o extermnio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade ... vedado ao mdico: (...) Art. 66. Utilizar, em qualquer caso, meios destinados a abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu responsvel legal.

    Percebe-se, assim, que a legislao brasileira no admite a

    eutansia, legislao esta que pode ser considerada retrgrada, tendo em vista

    a legislao de outros pases.

    Dentre os crticos da legislao brasileira, podemos citar Walter

    Ceneviva, que considera intolervel comparar a eutansia ativa com a passiva.

    Segundo ele se distingue com bastante clareza a situao daqueles cuja

    morte adiada mediante recursos cientficos que prolongam a vida sem

    nenhuma utilidade, sem qualquer benefcio para o paciente.

    Continua ele:

    As atuais mquinas das unidades de terapia intensiva, que mantm a vida de modo artificial, criaram uma diversa realidade cientfica, que nada tem a ver com a eutansia defendida por Scrates e Plato, criticada por judeus e cristos. O direito precisa adaptar-se a essa realidade. Precisa encontrar-se com ela, para perceber que os velhos argumentos sobre a eutansia esto superados, porque estranhos s novas situaes. Acham-se desajustados das UTIs com seus tcnicos, computadores e cateteres enfiados por todas as artrias dos pacientes. A lei, enquanto direito escrito, est atrasada. Vem a reboque da cincia. Haver um momento em que a legislao ter de atribuir a algum (ao cnjuge, ao filho mais velho, ao irmo) o direito e a autoridade de mandar desligar as mquinas. 17

    Grande parte dos doutrinadores, com viso puramente formalista do

    Direito Penal, defendem a tipificao da eutansia e do suicdio assistido. Mas

    esse enfoque puramente formal merece ser revisado.

    Autores como Luis Flvio Gomes defendem que o legislador deveria

    dar mais ateno ao assunto. Considera ele a eutansia e a morte assistida

    condutas no criminosas, pois no existe o resultado desvalioso ou arbitrrio.

    Pelo contrrio, o agente atua imbudo em sentimento da mais absoluta

    17 CENEVIVA, Walter. O direito de desligar as maquinas. Folha de S. Paulo, 21 abr. 1985. in NOGUEIRA, Paulo Lcio. Ob. Cit., p. 63.

  • 12

    nobreza, em prol da dignidade humana. No se trata, portanto, de morte

    arbitrria.18

    Segundo ele, a eutansia deveria ser autorizada apenas mediante

    as seguintes condies: o paciente deve estar padecendo de um sofrimento

    irremedivel e insuportvel e estar informado do seu estado terminal, sem

    expectativas de tratamento til; dever expressar inequivocamente o

    consentimento; dever haver a aprovao de uma junta mdica; em caso de

    inconscincia dever haver consentimento da famlia; etc. 19

    Prossegue o autor, sustentando a atipicidade da eutansia:

    A essa concluso se chega quando se tem presente a verdadeira e atual extenso do conceito de tipo penal (dado pela teoria constitucionalista do delito, que subscrevemos com base na doutrina de Roxin, Frisch e Zaffaroni), que abrange (a) a dimenso formal-objetiva (conduta, resultado naturalstico, nexo de causalidade e adequao tpica formal letra da lei); (b) a dimenso material-normativa (desvalor da conduta + desvalor do resultado jurdico + imputao objetiva desse resultado) e (c) a dimenso subjetiva (nos crimes dolosos). 20

    A morte digna elimina a dimenso material-normativa do tipo

    (tipicidade material), pois a morte, neste caso, no desarrazoada ou

    reprovvel. No existe, como dito, resultado jurdico negativo. O bem jurdico

    vida ponderado em face de outros valores constitucionais igualmente

    bsicos, tais como a dignidade da pessoa humana (art. 1, III, da Constituio),

    a liberdade e a autodeterminao (art. 5).

    certo que o prprio artigo 5 da Constituio assegura a

    inviolabilidade da vida, mas no existem direitos absolutos. A prpria

    Conveno Americana de Direitos Humanos (Pacto de San Jos da Costa

    Rica) diz que: ningum pode ser privado da vida "arbitrariamente" (art. 4). O

    que se quer dizer que a morte deve ser punida se for arbitrria, abusiva,

    desarrazoada. Quando h interesse relevante em jogo, que torna razovel a

    leso ao bem jurdico vida, no h que se falar em resultado jurdico negativo.

    Ao contrrio, trata-se de resultado aceitvel.

    18 GOMES, Luiz Flvio. Eutansia, morte assistida e ortotansia: dono da vida, o ser humano tambm dono da sua prpria morte? Disponvel em: http://www.lfg.com.br. Acesso em 15 jan. 2007. 19 GOMES, Luiz Flvio. Ob. Cit. 20 Id., ibid.

  • 13

    Assim, a princpio, o direito a morte digna constitucionalmente

    admissvel, podendo a eutansia ser permitida no Brasil por meio de legislao

    ordinria.

    Luis Flvio Gomes finaliza:

    Havendo justo motivo ou razes fundadas, no h como deixar de afastar a tipicidade material do fato (por se tratar de resultado jurdico no desvalioso). Essa concluso nos parece vlida seja para a ortotansia, seja para a eutansia, seja para a morte assistida, seja, enfim, para o aborto anenceflico. Em todas essas situaes, desde que presentes algumas srias, razoveis e comprovadas condies, no se d uma morte arbitrria ou abusiva ou homicida (isto , criminosa). 21

    Para finalizar, importante mencionar que est tramitando no

    congresso o projeto de lei 126/96, elaborado em 1995, para regulamentar a

    eutansia. O projeto prev a possibilidade de se praticar a eutansia mediante

    autorizao do paciente e aprovao de uma junta composta por cinco

    mdicos. Parentes tambm podero requerer a eutansia, porm sempre pela

    via judicial. O Projeto ainda merece aperfeioamento e pecou por no

    aproveitar a experincia dos pases que j regularam a eutansia.

    7. A OPINIO DA IGREJA CATLICA

    A Igreja Catlica, em 1956, posicionou-se de forma contrria a

    eutansia por ser contra a "Lei de Deus".

    O Papa Pio XII, numa alocuo aos mdicos, em 1957, aceitou,

    contudo, a possibilidade de que a vida possa ser encurtada como efeito

    colateral (e no intencional) da utilizao de drogas para diminuir o sofrimento

    de pacientes com dores insuportveis. Desta forma, utilizando o princpio do

    duplo efeito, a inteno diminuir a dor, porm o efeito colateral do

    tratamento pode ser a acelerao da morte do paciente.

    Joo Paulo II, em 1980, publicou a Declarao sobre Eutansia,22

    onde admite o tratamento de duplo efeito e a suspenso ou reduo de

    21 GOMES, Luiz Flvio. Ob. Cit. 22 VATICANO. Congregao para a Doutrina da F. Declarao sobre Eutansia. Cidade do Vaticano: Vaticano, 1980. Disponvel em http://www.cin.org/vatcong/euthanas.html. Acesso em 13 jun. 2008.

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    esforos extraordinrios para prolongar a vida de pacientes terminais,

    notadamente quando o tratamento passa a ser considerado intil (terapia ftil).

    Ressalte-se, ainda, que a Igreja Catlica j fixou o entendimento que

    a determinao do momento da morte um ato estritamente mdico, sendo

    atribuio da cincia da Medicina definir a partir de que ponto um paciente

    terminal ainda tem vida, tal como entendemos condizente com a do ser

    humano.

    Assim, a suspenso do tratamento de indivduo com morte

    enceflica no condenado pela Igreja, pois a medicina considera a

    interrupo irreversvel da atividade cerebral como marco para a definio da

    morte. Assim, o desligamento dos equipamentos no chega sequer a ser

    considerado eutansia, pois o paciente j est morto.

    Registre-se que no Brasil, a Resoluo do Conselho Federal de

    Medicina n 1.480/97 estabelece um procedimento clnico uniforme e seguro

    para se constatar a morte enceflica.

    8. TICA MDICA, DIREITO INFORMAO, VCIO DE CONSENTIMENTO

    E DOR ALIENANTE

    Genival Veloso de Frana tem posicionamento contrrio eutansia

    praticada por mdico. Segundo ele:

    O mdico no pode nem deve, de forma alguma e em nenhuma circunstncia, contribuir ativamente para a morte do paciente, pois isso se contrape ao seu compromisso profissional e sua formao moral.

    Afirma ele, ainda, que entre a ao e a omisso do profissional

    existe apenas um vcuo filosfico, mas a inteno do resultado a mesma. 23

    Por outro lado, indaga at que ponto o mdico teria o direito (ou o

    dever) de manter os meios de sustentao da vida de paciente com morte

    enceflica, cujas funes cerebrais so irrecuperveis.24

    23 FRANA, Genival Veloso de. Ob. Cit., p. 499. 24 Id. Ibid., p. 500.

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    E mesmo se o direito de decidir recasse sobre os familiares, podem

    existir, no raras vezes, interesses materiais em jogo, normalmente

    relacionados com direitos sucessrios, que podem acabar refletindo em

    decises contrrias aos reais interesses do paciente.

    O mesmo autor aponta para a real possibilidade do doente, em

    estado gravssimo e padecendo de fortes dores, conseguir se autodeterminar

    racionalmente e autorizar a sua prpria morte. Neste caso, pode-se falar em

    autntico vicio de consentimento.

    A dor crnica certamente um fator alienante, pois reduz as

    possibilidades de escolha do paciente zero, conforme ensina Dworkin.

    Entretanto, Genival Veloso de Frana lembra que existem diversos tratamentos

    que podem reduzir as dores, alguns que acarretam, inclusive seqelas

    irreversveis. Em pacientes terminais, as seqelas ou a dependncia qumica

    no so muito relevantes, sendo, portanto, uma conseqncia aceitvel. Alm

    das drogas analgsicas existe at mesmo o recurso a intervenes cirrgicas

    para seccionar nervos responsveis pelas sensaes dolorosas. Todos estes

    tratamentos podem certamente ser preferveis morte do paciente.

    Entretanto, a dor ainda um campo muito pouco conhecido da

    Medicina, sendo certo que solues tericas simplistas nem sempre se aplicam

    a todos as situaes. Em casos em que nenhum esforo teraputico surte

    efeito, a eutansia desponta sempre como uma sada radical e definitiva.

    Certamente que a eutansia no deve ser banalizada. Trata-se de

    uma providencia extrema, que s deve ser cogitada depois de esgotadas todas

    as possibilidades teraputicas acessveis e seja insuportvel a situao de

    convalescncia do paciente.

    Ademais, o paciente terminal, se ainda em condies razoveis de

    raciocnio, deve ter o direito de ser informado com detalhes da situao de sua

    doena, das opes de tratamento, das expectativas de melhora, etc. A viso

    paternalista comumente associada medicina deve ser afastada nesse

    momento, pois o paciente s poder decidir efetivamente sobre o seu destino

    se tiver pleno conhecimento dos fatos.

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    Contar toda a verdade ao paciente, por outro lado, pode ser uma

    providencia funesta na viso da psicologia. Deve-se, no caso, procurar conciliar

    o direito de informao com os benefcios obtidos pela motivao psicolgica

    do enfermo.

    O tema difcil de ser esgotado. A abordagem, portanto, deve partir

    de diversos prismas, em uma ambincia multidisciplinar. A morte digna merece

    ser estudada no apenas sob o enfoque jurdico, mas tambm sociolgico,

    psicolgico, etc.

    9. CONCLUSES

    A eutansia e a morte assistida so tcnicas de por fim a vida de

    pacientes em estado terminal e que padecem de dores crnicas e

    insuportveis.

    Estas modalidades de morte digna no so novidades, eram muito

    praticadas por povos pr-histricos e na antiguidade. Na verdade, remontam ao

    incio da civilizao, decorrentes, talvez, do sentimento mtuo de compaixo e

    solidariedade humana.

    Atualmente, muito se discute sobre a eutansia, sendo certo que a

    legislao da maioria dos pases civilizados condena tal prtica, apesar da

    mesma ser uma realidade social.

    No Brasil a eutansia proibida, sendo taxada inclusive como crime.

    Em outros pases, notadamente na Holanda, a prtica j regulada pela lei,

    sendo utilizada em vrios casos, para minimizar o sofrimento de pacientes

    muito doentes.

    Devido aos avanos da medicina, comearam a surgir

    questionamentos que antes inexistiam, a exemplo do dever moral do mdico

    manter vivo indefinidamente um paciente que se encontra em estado

    vegetativo, sem a menor condio de recuperao.

    Ademais, a legislao penal que trata da eutansia no Brasil

    criticada por estudiosos, sendo taxada como retrgada e descompassada com

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    a realidade social. A descriminalizao da eutansia e a sua regulamentao

    parecem ser importantes passos a serem seguidos pelo legislador ptrio.

    REFERNCIAS:

    BAIGES, Victor Mndez. Sobre Morir eutansias, derechos, razones. Madrid: Editorial Trotta, 2002, p. 51-68.

    BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei do Senado n 125, de 1996. (autoriza a prtica da morte sem dor nos casos em que especifica e d outras providncias.)

    BIZZATO, Jos Ildefonso. Eutansia e responsabilidade mdica. 2 ed. So Paulo: Led Editora, 2000

    DWORKIN, Ronald. Domnio da vida: aborto, eutansia e liberdades individuais. Trad. Jefferson Luiz Camargo. So Paulo: Martins Fontes, 2003

    FRANA, Genival Veloso de. Direito Mdico. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007

    GOLDIM, Jos Roberto. Biotica e tica na Cincia. Disponvel em: http://www.bioetica.ufrgs.br. Acesso em 03 jun. 2008

    GOMES, Luiz Flvio. Eutansia, morte assistida e ortotansia: dono da vida, o ser humano tambm dono da sua prpria morte? Disponvel em: http://www.lfg.com.br. Acesso em 15 jan. 2007

    NOGUEIRA, Paulo Lcio. Em defesa da Vida: Aborto Eutansia Pena de Morte Suicdio Violncia/Linchamento. So Paulo: Saraiva, 1995.

    VATICANO. Congregao para a Doutrina da F. Declarao sobre Eutansia. Cidade do Vaticano: Vaticano, 1980. Disponvel em http://www.cin.org/vatcong/euthanas.html. Acesso em 13 jun. 2008.