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Universidade de Brasília UnB Departamento de Serviço Social SER Curso de Graduação em Serviço Social Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) DIREITO À EDUCAÇÃO VERSUS INTERNAÇÃO DE ADOLESCENTES: Educação Formal de Adolescentes no Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (CIAP) Aluno: Celso Henrique Soares Oliveira Matricula: 09/41590 Orientadora: Profa. Dra. Silvia Cristina Yannoulas Brasília, novembro de 2011

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Universidade de Brasília – UnB

Departamento de Serviço Social – SER

Curso de Graduação em Serviço Social

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)

DIREITO À EDUCAÇÃO VERSUS INTERNAÇÃO DE ADOLESCENTES:

Educação Formal de Adolescentes no Centro de Internação de Adolescentes de

Planaltina (CIAP)

Aluno: Celso Henrique Soares Oliveira

Matricula: 09/41590

Orientadora: Profa. Dra. Silvia Cristina Yannoulas

Brasília, novembro de 2011

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Celso Henrique Soares Oliveira

DIREITO À EDUCAÇÃO VERSUS INTERNAÇÃO DE ADOLESCENTES:

A Educação Formal no Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (CIAP)

Trabalho apresentado ao Departamento de Serviço Social – SER da

Universidade de Brasília – UnB.

Como exigência para aprovação na disciplina de TCC (Trabalho de

Conclusão de Curso).

Brasília, novembro de 2011

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BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Prof. Dra. Silvia Cristina Yannoulas (SER/UnB)

(Orientadora)

____________________________________

Prof. Janaína Lopes do Nascimento (SER/UnB)

(Membro Interno do SER/UnB)

____________________________________

Assistente Social Júlia Galiza de Oliveira (CAJE)

(Membro Externo ao SER/UnB)

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer a todos que me ajudaram e tornaram possível a realização

desta pesquisa. Agradeço aos meus amigos do tempo de colégio (Renato Matos e Fillipe

Oliveira); às minhas amizades da universidade (Thaís Puccinelli, Jacqueline Domiense,

Haynara Jocely, Líris Galhardo e Mary Baladelli) e aos amigos deste mundo que conheci por

acaso (Rebeca de Paula, André Ricarte, Gabriel Barbosa, Cairo César e Cristina Oliveira) e

a todos os demais por não me permitirem desistir e que me levantaram nos momentos de

desestímulo e nos momentos mais difíceis.

Um agradecimento especial a Kaline Monteiro por todo o apoio, presença e zelo;

outro a Diogo Costa por me ceder seu carro emprestado em uma das visitas a campo; outro

a Profa. Dra. Silvia Yannoulas pela paciência, compromisso e confiança; às minhas amadas

irmãs e sobrinhas por todo o carinho de sempre e; aos meus amados pais, que sempre se

esforçaram ao máximo para que eu pudesse concluir a minha graduação.

Agradeço também a todas as minhas demais colegas de turma e também a José

Roberto (principalmente pelas conversas sobre futebol) por todos os momentos de alegria,

de desafios e de uns bons goles de cerveja e reflexão durante a graduação.

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“Quem me dera ao menos uma vez Acreditar por um instante em tudo que existe

E acreditar que o mundo é perfeito E que todas as pessoas são felizes”

(Renato Russo)

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Lista de Abreviaturas e Siglas

CAJE1 – Centro de Atendimento Juvenil Especializado

CESAMI2 – Centro Sócio-Educativo Amigoniano

CF 88 – Constituição da República Federativa do Brasil promulgada em 1988

CIAGO3 – Centro de Internação Granja das Oliveiras

CIAP4 – Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina

DF – Distrito Federal

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

EJA – Educação de Jovens e Adultos

ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

FE – Faculdade de Educação

GDF – Governo do Distrito Federal

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

PPP – Projeto Político Pedagógico

ProIC – Programa de Iniciação Científica

RA – Região Administrativa

SECRIA – Secretaria de Estado da Criança

SEEDF – Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal

SEJUS – Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Distrito Federal

SER – Departamento de Serviço Social

SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Sócioeducativo

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TEDis – Grupo de Pesquisa Trabalho Educação e Discriminação

UnB – Universidade de Brasília

1 De acordo com a nova nomenclatura oficial, a sigla deverá ser entendida como Unidade de Atendimento Juvenil

Especializado.

2 De acordo com a nova nomenclatura oficial, a sigla deverá ser entendida como Unidade Sócio-Educativo

Amigoniana.

3 De acordo com a nova nomenclatura oficial, a sigla deverá ser entendida como Unidade de Internação Granja

das Oliveiras.

4 De acordo com a nova nomenclatura oficial, a sigla deverá ser entendida como Unidade de Internação de

Adolescentes de Planaltina.

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Resumo

Esta pesquisa é resultado de um Trabalho de Conclusão de Curso em Serviço Social

pela Universidade de Brasília. Esta pesquisa propôs-se a investigar o significado da

ausência de um Projeto Político Pedagógico (PPP) na escola do CIAP. Como o PPP é

instrumento preconizado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em

seu artigo 14 e possui fundamental importância na concretização do direito à educação, a

sua ausência numa escola dentro de um centro de internação chamou a atenção por se

tratar de um público diferenciado, o qual o PPP poderia traçar seu perfil, diretrizes e como o

ensino poderia ser prestado aos adolescentes em cumprimento de medidas sócioeducativas

de internação no CIAP. O estudo utilizou como estratégia metodológica o Estudo de Caso e

valeu-se das técnicas de Observação, Análise Documental e Entrevistas Semi-Estruturadas

com profissionais de diferentes setores do CIAP. A partir da utilização destas técnicas foram

percebidos alguns aspectos que demonstram a dificuldades de criação de um PPP e de

gestão do centro. Dentre esses aspectos estão os entraves políticos e burocráticos, a falta

de perfil dos professores com o serviço e a baixa participação dos sócioeducadores na

construção do PPP. Foi concluído que o significado da ausência do PPP na Escola do CIAP

é um reflexo da desarticulação dos poderes públicos; das comunidades sócioeducadoras e

público alvo e; entre os setores do próprio Centro e dos setores externos a ele, como as

secretarias de governo e demais instituições ligadas ao CIAP. Essas desarticulações

apontaram para a construção de um projeto político pedagógico de um centro de internação,

não só de uma escola.

Palavras-chave: Direito à educação; Medidas sócioeducativas e Projeto Político

Pedagógico.

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Sumário

Agradecimentos ................................................................................................................... 4

Lista de Abreviaturas e Siglas ............................................................................................ 6

Resumo ................................................................................................................................ 7

Sumário ................................................................................................................................ 8

Introdução ............................................................................................................................ 9

Justificativa ........................................................................................................................ 12

CAPÍTULO I – Referencial Teórico .................................................................................... 15

Direito à Educação .............................................................................................................. 15

Medidas Sócio-Educativas ................................................................................................... 16

Projeto Político Pedagógico ................................................................................................. 19

CAPÍTULO II – Metodologia ............................................................................................... 21

Estratégia metodológica ...................................................................................................... 22

CAPÍTULO III – Apresentando o Caso .............................................................................. 25

Origem e Estrutura do Centro .............................................................................................. 25

A Escola do CIAP ................................................................................................................ 27

CAPÍTULO IV – Descrição do Trabalho de Campo .......................................................... 29

CAPÍTULO V – Análise e Discussão dos Resultados ...................................................... 32

Entraves Políticos ................................................................................................................ 32

Entraves Burocráticos .......................................................................................................... 33

O perfil do professor ............................................................................................................ 34

A baixa participação dos sócioeducadores na construção do PPP ...................................... 34

Tempo insuficiente? ............................................................................................................. 35

Estrutura Física .................................................................................................................... 35

CONCLUSÕES .................................................................................................................... 37

Referências Bibliográficas ................................................................................................ 41

Anexos................................................................................................................................ 43

Anexo 1 - Carta de apresentação ao Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina

(CIAP) .................................................................................................................................. 43

Anexo 2 - Ofício da orientadora apresentando o estudante ao Centro de Internação de

Adolescentes de Planaltina (CIAP) ...................................................................................... 44

Apêndices .......................................................................................................................... 45

Apêndice 1 - Roteiro de Entrevista ....................................................................................... 45

Apêndice 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ..................................... 49

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Introdução

Esta pesquisa propôs-se a analisar o significado e as conseqüências da ausência de

um Projeto Político Pedagógico (PPP) na escola do CIAP – Centro de Internação de

Adolescentes de Planaltina – tendo em vista a importância deste instrumento na promoção

do direito à educação conforme estabelecido na legislação educacional no Brasil.

O Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (CIAP), inaugurado no dia 20

de outubro de 2008, é uma unidade com capacidade para abrigar até 80 adolescentes do

sexo masculino, na faixa etária 12 a 18 anos, em cumprimento de medida sócio-educativa.

O Centro é administrado pelo Governo do Distrito Federal (GDF) e tem como proposta

absorver parte do público que cumpria medidas sócio-educativas no CAJE – Centro de

Atendimento Juvenil Especializado – assim como outra instituição deste gênero, como o

CIAGO (Centro de Internação Granja das Oliveiras). Esta transferência de jovens do CAJE

para as demais instituições são feitas de forma gradual. (Souza, 2011)

Essa transferência está ocorrendo devido o CAJE encontrar-se em situação de

super lotação, abrigando, até 2009, mais de 300 (trezentos) jovens, sendo que a sua

capacidade é de 220 (duzentos e vinte). (Arakaki, 2009)

As medidas sócio-educativas são ações aplicadas pelas autoridades competentes

quando verificada a prática de um ato infracional pelo ou pela adolescente. De acordo com o

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as medidas sócio-educativas podem ser em

forma de Advertência, Obrigação de Reparar o Dano, Prestação de Serviços à Comunidade,

Liberdade Assistida, Semiliberdade e Internação. No caso do CIAP, os adolescentes

cumprem a medida sócio-educativa de internação, a qual estes sujeitos terão suspensos,

por no máximo três anos, seu direito de ir e vir.

Enquanto cumprem estas medidas, os adolescentes têm o direito a usufruir do

ensino formal. Este direito à Educação está explícito no art. 6° da CF 88 e no art. 53 do

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Além destes, o art. 54 do ECA obriga o Estado

a garantir o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não

tiveram acesso na idade própria, lembrando que, de acordo com Oliveira (2010), o perfil dos

adolescentes que cumprem medidas sócio-educativas de internação estão fora da idade

escolar, possuem renda familiar baixa e sofrem com conflitos familiares e violência

doméstica.

O sistema de ensino da Escola do CIAP obedece ao modelo da Educação de Jovens

e Adultos – EJA. Portanto, a EJA é uma modalidade de educação voltada àqueles que não

tiveram acesso ou não deram continuidade ao processo educacional nos níveis fundamental

e médio, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira (LDB) em seu

artigo 37.

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No processo educacional voltado para a formação da cidadania, faz-se importante a

formulação de uma orientação baseada nas especificidades de cada escola e sua relação

com a comunidade. Portanto, é de suma importância que essa escola seja vinculada à rede

formal de ensino e não sejam meramente ações educacionais desenvolvidas dentro da

unidade de internação. Neste sentido, a escola deveria considerar as características

específicas desta comunidade, produzindo assim, as alterações necessárias para atender

este público, ou seja, adolescentes em cumprimento de medida sócio-educativa de

internação.

De outro lado é preciso lembrar que o ECA, em seu artigo 57, insta o poder público a

estimular “pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação e

currículo, metodologias, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e

adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório”.

Esta diretriz do ECA faz com que o PPP se torne um instrumento de extrema

importância na formulação de uma proposta pedagógica no sentido de garantir o direito à

educação – numa perspectiva emancipadora e de transformação social – à estes

adolescentes que estão a cumprir medida sócio-educativa no CIAP.

O PPP constitui-se um projeto, a partir da idéia a qual está colocando metas e

objetivos a serem alcançados. É também político, à medida que possui um compromisso

com a formação do cidadão bem como com a sociedade. Por fim é pedagógico, pois define

as ações educativas que serão desenvolvidas com determinado público, num determinado

período e que leva em consideração as características e possibilidades específicas de uma

escola.

Veiga (2007) aponta que o PPP é capaz de planejar o processo ensino-

aprendizagem e a importância de seus pontos para a construção deste processo.

Complementariamente, em outra obra, Veiga (2003) debate sobre inovação do projeto

político-pedagógico a partir de uma ação regulatória ou técnica, e a partir de uma ação

emancipatória ou edificante.

A ação regulatória ou técnica está vinculada à idéia de uma prática burocrática e

descontextualizada, que apenas diz respeito ao mero preenchimento de formulários. Já a

ação emancipatória ou edificante diz respeito à prática questionadora e crítica, faz parte do

processo de construção desse projeto político e pedagógico (Veiga, 2003).

Com estes argumentos, possível enxergar a importância de um PPP de ação

emancipatória em qualquer ambiente escolar, que é permeado por suas respectivas

especificidades. A prática questionadora e crítica mediatizada a partir de um projeto que

contemple tais especificidades pode ser um grande avanço e uma forma de se combater

diferentes manifestações da questão social.

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Em relação aos adolescentes que cumprem medidas sócio-educativas no contexto

do CIAP, o PPP deveria ganhar ainda mais importância por se tratar de um público que em

geral está em situação de pobreza. Para Oliveira (2010), o perfil do adolescente infrator

permeia condições de baixa renda, inserção precária no mercado de trabalho por parte dos

pais, contexto de drogadição e envolvimento com o mundo do crime.

Com isso, apresento a seguinte pergunta de pesquisa: De que forma a ausência de

PPP interfere no ensino dos adolescentes em cumprimento de medidas sócio-educativas do

CIAP? E mais ainda: Qual seria o significado desta ausência?

Sendo assim, foi considerada a seguinte hipótese à pergunta formulada: Os

professores ministram suas respectivas aulas de modo intuitivo e baseados em seus

preceitos, seguindo uma diretriz curricular que não contempla as especificidades da

comunidade sócioeducativa e o contexto em que os jovens estão inseridos, tanto de

pobreza quanto de envolvimento com atos infracionais.

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Justificativa

A partir destas considerações e junto ao meu interesse na área de educação desde o

início do curso de graduação em Serviço Social, pensei em como uma escola voltada para

um público diferenciado e que necessite de uma organização sólida e bem definida para

funcionar com vistas a garantir o direito à cidadania não possui um PPP.

Qual é o sentido da ausência de um PPP numa instituição que visa educar e reinserir

na sociedade, adolescentes que cometeram atos infracionais? Há a necessidade de

articulação entre os serviços e a aproximação da sociedade, poderes públicos e os diversos

profissionais que atuam nesta área?

Atualmente, no Brasil, há uma vasta legislação que garante direitos à criança e ao

adolescente, bem como políticas sociais voltadas para a reintegração destes jovens à

sociedade. Entre os principais documentos e legislações estão o Sistema Nacional de

Atendimento Socioeducativo (SINASE); a Lei nº 8.069, de 13 De Julho de 1990 –

relativa ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei nº 9.394, de 20 de

Dezembro de 1996 – relativa à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e

também a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF 88) – dispondo de

forma mais genérica sobre os direitos da criança e do adolescente.

Vale ressaltar que a restrição da liberdade deve significar apenas a limitação do

exercício de ir e vir e não de outros direitos constitucionais, condição para sua inclusão na

perspectiva cidadã. Dentre estes direitos, a educação deveria ser garantida com as mesmas

características do ensino regular na rede pública que, em tese, possuem PPP.

Para evitar a impregnação da chamada cultura da institucionalização, resguardar a

saúde mental dos educadores e dos educandos e, ao mesmo tempo, preservar a criação e a

manutenção dos vínculos familiares e comunitários é preciso que o Estado organize políticas

públicas para assegurar os direitos infanto-juvenis. Assim, as medidas sócio-educativas

precisam estar articuladas em redes, no conjunto de serviços e programas governamentais

e não-governamentais.

Houve diversas razões que me levaram a pensar nessa problemática para abordar

no TCC. Primeiramente, uma palestra sobre PPP de Camila Rosa Souza, Assistente Social

do CIAP formada pelo SER/UnB e integrante do Grupo de Pesquisa Trabalho, Educação e

Discriminação - TEDis. No decorrer da palestra, a pesquisadora apontou a preocupante

ausência de PPP na escola do CIAP e suas consequências na garantia do direito à

educação aos adolescentes.

A segunda razão foi o interesse em dar continuidade a um trabalho realizado em

outra instituição de internação, o Centro de Atendimento Juvenil Especializado – CAJE. Este

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trabalho foi realizado no meu primeiro semestre de curso de graduação em Serviço Social e,

portanto, considerei interessante traçar um paralelo entre a minha visão crítica no início do

curso e no final, ou seja, o fechar de um ciclo de pesquisas nesta área de medidas sócio-

educativas de internação.

Também as disciplinas cursadas me fizeram conhecer um pouco da área da política

educacional e alguns trabalhos apresentados ao longo da minha graduação. A educação

formal pública ainda está muito relacionada à falta de qualidade e recursos e, como futuro

assistente social, vejo um campo muito rico para se pesquisar e compreender melhor seus

mecanismos. As disciplinas Educação e Trabalho, Política de Educação e os meus três

semestres de práticas de pesquisa deram subsídios teóricos para que eu me interessasse

ainda mais por este tema proposto.

Vejo o assistente social como um profissional importante nesta relação entre

educação e as manifestações da questão social, como os adolescentes que cumprem

medidas sócio-educativas, por estar se relacionando com os direitos e os indivíduos numa

perspectiva de transformação social.

As disciplinas Prática de Pesquisa 2, 3 e 4 – na condição de bolsista do Programa de

Iniciação Científica (ProIC) e assistente de pesquisa do projeto Construindo uma Tipologia

da Relação entre a Pobreza e a Educação Formal na Literatura Científica Recente (1999-

2009): questões de gênero, raça e classe social do grupo de pesquisa TEDis,

correspondente aos anos de 2010 e 2011 – , foram fundamentais na discussão da relação

entre pobreza e políticas de educação e de assistência, quando pesquisei e analisei obras

(envolvendo artigos, dissertações e teses) na tentativa de criar uma reflexão acerca da

temática Educação Formal e Situação de Pobreza.

Esta reflexão fundamentou teoricamente a minha discussão sobre a promoção da

Educação Formal de qualidade como direito, trazendo assim a possibilidade para aqueles

que se encontram em situação de pobreza terem acesso à educação de qualidade e, assim,

poderem se inserir na sociedade capitalista atual na tentativa de reduzir as desigualdades

sociais tão gritantes que acabam por deixar estes em situações tão desfavoráveis e

desumanas.

Em relação à disciplina Educação e Trabalho, oferecida pela Faculdade de Educação

– FE/UnB, também trouxe uma discussão importante, embora menos aprofundada, sobre a

relação capital-trabalho e educação, apontando a educação como uma forma de preparação

do individuo para o mercado de trabalho e, nesta relação, as precarizações do trabalho

aparecem nas relações sociais da sociedade capitalista por meio das expressões da

questão social.

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E, finalmente, a disciplina Política de Educação proporcionou embasamento teórico

suficiente para que confirmasse meu interesse por essa temática. Nesta disciplina foram

estudados temas de muita afinidade com o tema desta pesquisa, como o direito à educação

na CF 88 e na LDB, as discussões sobre as influências de organismos internacionais nas

diretrizes das políticas de educação do Brasil e o próprio PPP.

Com estes fundamentos, considerei essencial pensar na motivação/justificativa de se

desenvolver atividades de uma escola numa instituição de internação e não ter o

planejamento de suas ações materializado através de um PPP que contemplaria as

especificidades deste público específico. Isso quer dizer que as diretrizes desta escola não

estão seguindo uma linha formal de condução, enquanto não possuem um PPP para

direcioná-las, contemplando as especificidades do público alvo, os adolescentes que estão

cumprindo medidas sócio-educativas de internação no CIAP.

O texto dispõe de cinco capítulos, divididos da seguinte forma:

Referencial Teórico (Capítulo 1), dispondo dos conceitos de Direito à

Educação, Medidas Sócioeducativas e PPP utilizados nesta pesquisa;

Metodologia e Estratégia Metodológica (Capítulo 2), justificando esta pesquisa

qualitativa exploratória bem como sua estratégia e métodos de coleta de dados;

A apresentação do caso, com a contextualização do CIAP e da Escola do

CIAP (Capítulo 3), a partir de seus respectivos históricos e características;

Descrição do trabalho de campo (Capítulo 4), apresentando o caminho

percorrido para acesso aos dados durante a realização da pesquisa e;

Análise e discussão dos dados e as Conclusões (Capítulo 5), apresentando

temas abordados nos achados do campo e as conclusões a partir da análise dos dados.

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CAPÍTULO I – Referencial Teórico

A pesquisa foi desenvolvida à luz de três grandes conceitos: Direito à Educação,

como definido na CF 88, Medidas sócio-educativas definido no ECA e PPP (Projeto político-

pedagógico) definido na LDB e por Veiga (2007).

Direito à Educação

O direito à educação está garantido no art. 6° da CF 88, que a trata como direito

social:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (CF 88)

No art. 23, inciso V, a CF 88 dispõe sobre a competência comum da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em proporcionar o acesso à educação, bem

com o acesso à cultura e à ciência.

Estes artigos trazem aspectos mais gerais sobre o direito à educação no Brasil,

porém, é a partir do art. 205 da CF 88, que serão caracterizadas as formas de se garantir

este direito.

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

No seu art. 206, inciso VII, a CF 88 garante a gestão democrática do ensino público,

o que nos remete à instauração do PPP na escola pública, o que não está acontecendo na

escola do CIAP atualmente.

O art. 208 dispõe sobre a obrigação do Estado em garantir o acesso à educação

básica obrigatória e gratuita dos quatro aos dezessete anos de idade, assegurada inclusive

sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria, como insta

o seu inciso I.

Já o art. 214, traz as fundamentações mais inerentes a este trabalho:

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o

objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e

definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a

manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e

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16

modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes

esferas federativas.

De acordo com Cury (2002):

A declaração e a garantia de um direito tornam-se imprescindíveis no caso de

países, como o Brasil, com forte tradição elitista e que tradicionalmente reservam

apenas às camadas privilegiadas o acesso a este bem social. Por isso, declarar e

assegurar é mais do que uma proclamação solene. Declarar é retirar do

esquecimento e proclamar aos que não sabem, ou esqueceram, que eles continuam

a ser portadores de um direito importante. Disso resulta a necessária cobrança deste

direito quando ele não é respeitado (CURY, 2002, pg.259).

Desta forma, o direito à educação no Brasil não deveria ser tratado somente como

um termo jurídico, e sim como um processo político e pedagógico que necessita da

participação dos mais variados atores envolvidos com a educação, sejam eles professores,

diretores, famílias, comunidade, entre outros. Esta participação conjunta é capaz de realizar

transformações sociais na medida em que estes atores pressionam politicamente o Estado a

garantir seus direitos e, podendo assim, assegurar a inclusão social no ensino formal de

vários outros atores sociais excluídos dele.

Medidas Sócio-Educativas

A respeito das medidas sócio-educativas, o ECA, a partir das suas determinações e

categorizações dispõe como estas se configuram em seis modos de aplicações a depender

do ato infracional cometido pelo adolescente, sendo eles:

I – Advertência:

Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo

e assinada.

A advertência é aplicada em delitos de menor gravidade como pequenos furtos,

agressões leves, etc. É importante ressaltar que sua aplicação depende somente de prova

de materialidade e indícios de autoria, acompanhando a regra do art. 114, parágrafo único

do ECA.

II – Obrigação de Reparar o Dano:

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Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade

poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o

ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.

Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída

por outra adequada.

Quando a prática de ato infracional causa danos patrimoniais, o juíz pode utilizar-se

da medida sócio-educativa disposta no art. 116 do ECA. Assim, a obrigação de reparar o

dano é vista como um meio de conscientizar o jovem infrator das conseqüências do ato

ilícito praticado, atendendo mais uma vez a finalidade de ressocialização da medida.

III – Prestação de Serviços à Comunidade:

Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas

gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a

entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres,

bem como em programas comunitários ou governamentais.

A prestação de serviços à comunidade pode ser uma alternativa à internação, pois a

privação de liberdade – a depender do caso – nem sempre pode ser a melhor medida para

se recuperar o jovem infrator, e o trabalho comunitário é capaz de trazer benefícios tanto

para a sociedade como aos próprios jovens.

IV – Liberdade Assistida:

Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais

adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.

Quando fixada a medida de liberdade assistida, o juiz também determinará o

cumprimento de algumas regras para o seguimento social do jovem, tais como não

freqüentar locais impróprios, recolher-se cedo à habitação, retornar aos estudos, assumir

ocupação lícita, entre outros.

V – Regime de Semi-liberdade:

Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, ou como

forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades

externas, independentemente de autorização judicial.

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Esta medida sócio-educativa é destinada a jovens infratores que desenvolverão,

após a aplicação desta medida, atividades profissionais/profissionalizantes e educacionais

em caráter obrigatório durante o dia, recolhendo-se a uma entidade especializada respectiva

para pernoite.

VI – Internação:

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de

brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em

desenvolvimento.

A medida sócio-educativa de internação é a que merece mais destaque nesta

pesquisa, pois envolve todo o contexto do CIAP por se tratar de um centro de internação, no

qual todos os adolescentes estão cumprindo esta medida específica.

O art. 122 do Estatuto traz as possibilidades de aplicação da medida, quais sejam,

quando o ato infracional for cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou

ainda por reiteração no cometimento de infrações mais gravosas, e por descumprimento

reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

Destacam-se aqui três princípios que norteiam a aplicação da medida sócio-

educativa de internação, quais sejam, o princípio da brevidade, da excepcionalidade, e do

respeito à condição peculiar da pessoa em desenvolvimento.

O princípio da brevidade estabelece que a internação deverá ser de menor tempo

possível para a sua duração. O período máximo é de três anos, estabelecido pelo art. 121, §

3º do ECA.

O princípio da excepcionalidade fica por conta do art. 122, § lº, III, que estabelece,

somente quando imprescindível, o período máximo de três meses de internação nas

hipóteses de descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta,

assim, neste caso o mínimo fica a critério do juiz.

O princípio do respeito ao adolescente estabelecido pelo art. 125 do ECA, visa sua

condição peculiar de um ser em desenvolvimento, nele se reafirma que a integridade física e

mental dos internos é dever do Estado, cabendo a este adotar as medidas adequadas de

contenção e segurança para zelar desta integridade.

No cumprimento das medidas sócio-educativas deve ser possibilitado ao adolescente

o acesso à educação formal, lembrando que o ECA prevê que estes devem frequentar o

ensino regular durante o cumprimento destas medidas. Ainda de acordo com o ECA, caso o

adolescente esteja fora da escola, o orientador da medida sócio-educativa deve encaminhá-

lo ao ensino formal, buscando a sua inserção no contexto de ensino-aprendizagem que uma

escola regular proporcionaria.

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Na sociedade brasileira atual é evidente que este direito à educação não está sendo

garantido em sua totalidade, enquanto temos um alto índice de crianças e adolescentes que

não freqüentam a escola ou estão fora da idade escolar recomendada. Estas manifestações

da não garantia deste direito, podem se tornar fatores desencadeadores de práticas ilícitas

como consumo de álcool e outras drogas, ou envolvimento em ações criminosas (quando

cometem atos infracionais), como apontam Gallo e Williams (2008).

Projeto Político Pedagógico

Por fim, o PPP aparece como instrumento obrigatório de acordo com a LDB em seu

art. 14 que preconiza que os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática

do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades. O referido

artigo, em seu parágrafo I, complementa que a participação dos profissionais da educação

na elaboração do projeto pedagógico da escola é um princípio. O parágrafo II traz o

segundo princípio relativo ao PPP, provocando a participação das comunidades escolar e

local em conselhos escolares ou equivalentes.

O PPP constitui-se um instrumento político e pedagógico, caracterizado como uma

construção coletiva que com o trabalho e a intervenção de todos (profissionais, público alvo

e comunidade), constituirá a identidade deste ambiente escolar, com suas particularidades.

Através da prática pedagógica é possível construir um instrumento sólido e específico

baseado na organização, na administração e vivência do ambiente escolar. Importante

destacar os princípios norteadores de uma escola democrática: igualdade, gestão

democrática, qualidade, valorização do magistério, liberdade e distinção entre fins e meios

do processo educativo (Veiga, 2007). Neste sentido, (Veiga, 2007) considera:

O projeto político-pedagógico tem a ver com a organização do trabalho pedagógico

em dois níveis: como a organização da escola como um todo e como a organização

da sala de aula, incluindo a relação com o contexto social imediato, procurando

preservar a visão de totalidade. Nessa caminhada será importante ressaltar que o

projeto político-pedagógico da escola na sua globalidade. (VEIGA, 2007, p.14)

O PPP constitui-se num projeto por estar propondo finalidades, colocando metas,

objetivos a serem alcançados. O termo “político” está relacionado ao seu propósito de

formar o cidadão e contribuir com a sociedade, bem como ter contribuições dela (visto que é

um instrumento democrático) e, por fim, o termo “pedagógico”, que aponta para a definição

de ações educativas a serem desenvolvidas em determinado período, levando sempre em

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consideração as características e possibilidades de determinada escola, como aponta Veiga

(2007).

Com as considerações de Veiga, é possível apontar a importância deste documento que

dá base e direcionamento às ações dos profissionais não só da educação, mas também aos

da assistência social, da gestão, da comunidade e dos próprios adolescentes em questão. A

partir desta visão, o próprio PPP pode ser entendido como um exercício de cidadania da

sociedade e, principalmente, deste público especifico que se encontra distante da garantia

de seus direitos básicos.

A reunião destas conceituações dá base para esta pesquisa por se tratar de

questões íntimas da relação a ser estudada, entre adolescentes cumprindo medida sócio-

educativa numa escola sem PPP, que se encontra dentro de uma instituição de internação e

que tem por finalidade garantir os direitos inerentes ao público alvo.

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CAPÍTULO II – Metodologia

O estudo apresentado foi uma pesquisa qualitativa exploratória, que teve como

objetivo entender como o ensino da escola do CIAP está sendo prestado sem ter como

instrumento de orientação o seu Projeto Político Pedagógico e qual seria o significado desta

ausência.

A estratégia de pesquisa adotada foi o estudo de caso, tal como abordado por Laville

e Dionne (1999). Os autores apontam a possibilidade de se compreender os conteúdos e os

limites da pesquisa e torna possível o uso de técnicas de observação, entrevistas e análise

documental. Os autores ressaltam como vantagem deste tipo de estratégia a possibilidade

de aprofundamento ao se comparar o estudo a ser realizado com outros estudos, ou outros

casos. Esta idéia fomenta a comparação entre os estudos feitos no meu primeiro semestre

de curso com o trabalho realizado no CAJE com esta pesquisa que se materializou como

TCC.

Outro motivo para se escolher esta estratégia de pesquisa é a especificidade do

tema abordado, pois como Laville e Dionne (1999) abordam, o estudo de caso não pode ser

generalizado, pois, por exemplo, não se pode considerar uma conclusão para todos os

PPPs, pois esta é uma situação ímpar e a abordagem do tema seria muito superficial. Ou

seja, o estudo de caso sempre se refere a um caso particular, examinado a fundo, porém,

nem toda generalização deve ser eliminada.

Complementariamente, André (2008) aborda o conceito de “estudo de caso

instrumental”. Este tipo de estratégia permite ao pesquisador a elucidação de uma

determinada questão através de um caso particular, ou um fenômeno específico. Nesta

pesquisa, a estratégia abordada permitiu a elucidação e a interpretação crítica de um

fenômeno específico – a ausência de Projeto Político Pedagógico na Escola do CIAP – para

o entendimento de uma questão mais ampla que é a Educação Formal no Centro de

Internação de Adolescentes de Planaltina.

Algumas características do estudo de caso se aplicam a esta pesquisa, como

apontadas por André (2008). Uma delas é a particularidade, que significa a focalização de

uma situação, ou um fenômeno particular, específico. Sendo assim, a ausência de um

Projeto Político Pedagógico na Escola do CIAP é o fenômeno específico desta pesquisa.

Uma segunda característica é a descrição do fenômeno estudado, adotado por André (2008)

como “descrição densa” e entendida como narração completa e literal do fenômeno

estudado.

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Esta estratégia de pesquisa permitiu a utilização de diferentes métodos de coleta de

dados como entrevistas individuais, análise de documentos legais, observação de reuniões

e aplicação de questionários.

Estratégia metodológica

O ingresso no Centro de Internação de adolescentes de Planaltina (CIAP) foi feito

por intermédio de uma das Assistentes Sociais da instituição em questão e também

integrante do Grupo de Pesquisa TEDis. O contato inicial foi feito por telefone e foi marcada

uma visita de reconhecimento do campo. Nesta visita foi feita a observação de algumas

instalações do Centro como os dormitórios dos internos, quadra esportiva e, principalmente,

as salas de aula.

Mesmo não sendo exigida pela Instituição uma solicitação formal de autorização para

realizar a pesquisa no contexto institucional, apresentamos e obtivemos autorização via

Ofício da orientadora apresentando o estudante ao Centro de Internação de Adolescentes

de Planaltina (CIAP) – ver anexo 1.

A primeira visita foi realizada no dia 15 de setembro de 2011 e ficou marcada pela

participação como ouvinte na reunião da equipe da direção da escola do CIAP, na qual foi

observada as discussões referentes à implementação do Projeto Político Pedagógico (PPP)

na referida escola. Esta equipe é formada pela diretora da escola, por um professor, por uma

assistente social e por duas pedagogas.

Nesta aproximação com o campo, foram observados nas falas dos integrantes da

equipe da direção da escola do CIAP, seus ideais de como deveria ser um ensino prestado

especificamente aos adolescentes do Centro.

A visita seguinte, realizada no dia 4 de outubro de 2011, foi marcada pelas

entrevistas com uma profissional do Núcleo de Ensino e com um profissional da Gerência de

Segurança do CIAP. Nestas entrevistas foram observadas as diferentes formas de se pensar

o aspecto pedagógico da medida sócio-educativa de internação, com vistas a apontar um

contraponto entre dois profissionais de visões, à priori, divergentes. Para estas entrevistas

não foi utilizado o Roteiro de Entrevista contido no Apêndice 1 deste trabalho. A princípio, a

conversa com estes dois profissionais era para coletar dados a respeito da instituição tais

como organograma, quadro de profissionais e histórico da unidade. Por este motivo não foi

utilizado o Roteiro de Entrevista.

Porém, com a apresentação do conteúdo da pesquisa pelo pesquisador, os

profissionais falaram bastante de seus pontos de vista quanto à relação de suas funções

com o serviço prestado pela Escola do CIAP e acabaram respondendo a muitas perguntas

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do Roteiro de Entrevista. Foi dado espaço para os profissionais exporem suas idéias de

como deveria ser prestado o ensino aos adolescentes.

A entrevista com a profissional do Núcleo de Ensino foi conduzida pelo aspecto

histórico do CIAP e quanto à relação entre a escola do CIAP e os professores que lá

ministram suas aulas. O procedimento se iniciou com a apresentação da pesquisa e foi

conduzido a partir de questionamentos sobre como surgiu a Escola no CIAP; sobre o

organograma da instituição; os motivos de não se ter implementado um Projeto Político

Pedagógico na Escola; sobre a importância deste projeto para a reintegração social destes

adolescentes e; sobre como a escola está se organizando para garantir o direito à educação

aos adolescentes. Esta conversa não foi gravada, apenas foram tomadas notas sobre a fala

da profissional mediante assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE.

Após este primeiro momento foi feito um encaminhamento do pesquisador pela

profissional do Núcleo de Ensino para um profissional da Gerência de Segurança, pelo fato

deste ter maiores conhecimentos a respeito do organograma do Centro. Foi realizada a

apresentação da pesquisa e o profissional da Gerência de Segurança assinou o TCLE.

A entrevista foi realizada a partir de questionamentos a respeito do organograma da

unidade, sobre a relação Gerência de Segurança e adolescentes internos e sobre o que o

profissional enxergava de pedagógico em seu trabalho – quando afirmou que suas ações

profissionais eram também pedagógicas. Esta conversa não foi gravada, foram apenas

tomadas notas a respeito da fala do entrevistado.

Na terceira visita, realizada no dia 20 de outubro de 2011, a idéia inicial era participar,

na condição de ouvinte, da reunião dos profissionais do Núcleo de Ensino sobre as

propostas de implementação do PPP na Escola do CIAP. Portanto, como a profissional deste

núcleo que iria explanar sobre o aspecto pedagógico do PPP não pôde comparecer, a

reunião foi desmarcada.

Sendo assim, a terceira visita ao campo foi marcada, inicialmente, pela conversa

informal com dois estudantes de Letras da Universidade de Brasília (UnB) que desenvolvem

uma atividade chamada Oficina de Leitura – na qual fazem um trabalho de incentivo à leitura

por parte dos sócio-educandos e realizada no espaço físico da Escola do CIAP. Este

trabalho chamou atenção devido à aproximação que estes estudantes fizeram com os

adolescentes do Centro a partir de suas características específicas.

Em segundo lugar, foi feita uma entrevista com uma das Assistentes Sociais do

Centro, sendo guiada a partir de sua visão de como o Centro está lidando com a idéia de

implementação do PPP e quais os entraves que esta idéia vem sofrendo para que seja

desenvolvida. O Roteiro de Entrevista – Apêndice 1 – foi quase que completamente

respondido apenas com a seguinte pergunta: “Como você está enxergando este processo

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de construção do PPP?”. A conversa não foi gravada, foram feitas anotações e foi realizada

mediante TCLE.

A quarta visita foi realizada no dia 9 de novembro de 2011, sendo marcada pela

entrevista com os professores da Escola do CIAP. O contato inicial foi feito por telefone,

sendo que a informação do número de professores presentes era de sete. No momento da

visita – horário de intervalo – apenas cinco se encontravam na sala dos professores.

Foi realizada uma apresentação por parte do pesquisador aos professores

presentes, elucidando a pesquisa e apenas dois concordaram em participar. Os

entrevistados assinaram o TCLE, as entrevistas foram gravadas mediante autorização

verbal, bem como foram guiadas pelo Roteiro de Entrevista – Apêndice 1.

A fala dos professores entrevistados perpassaram as questões burocráticas, falta de

apoio do governo local (GDF), entraves políticos e falta de capacitação específica de

profissionais para o trabalho sócioeducativo.

A quinta e última visita de campo foi realizada no dia 16 de novembro de 2011, na

qual foi entrevistada uma profissional da Direção do CIAP. Esta entrevista foi realizada

mediante assinatura de TCLE e foi gravada mediante autorização por parte a entrevistada.

Nesta entrevista foram relacionados aspectos burocráticos, falta de perfil dos

sócioeducadores, falta de estudo quanto ao perfil dos egressos, a importância do PPP e

suas limitações e as limitações da escola para prestar um serviço específico ao público alvo.

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CAPÍTULO III – Apresentando o Caso

Origem e Estrutura do Centro

O CIAP foi inaugurado em 2006, pelo então Governador José Roberto Arruda voltado

a atender adolescentes que não haviam completado 18 anos de idade. Contudo, apenas em

2008 a unidade foi ativada – por conta de problemas de estrutura física. O CIAP recebeu

inicialmente adolescentes do CAJE (Centro de Atendimento Juvenil Especializado),

decorrente da situação de superlotação deste. O centro tem capacidade para 80

adolescentes, do sexo masculino e que residam, de preferência, na Região Administrativa

(RA) de Planaltina, ou então de RAs próximas, tais como Sobradinho, Itapoã, Paranoá e

algumas cidades do entorno, como Planaltina de Goiás e Formosa (Souza, 2011).

De acordo com Souza (2011) a unidade, até dezembro de 2010, estava subordinada

à Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (SEJUS) sendo que, com

a mudança de Governo, as medidas sócio-educativas são atualmente de responsabilidade

da Secretaria de Estado da Criança (SECRIA).

Além do CIAP, outros dois centros de internação foram criados para absorver parte

dos jovens internos do CAJE. Estes foram o CESAMI (Centro Sócio-educativo Amigoniano)

– para casos de medida provisória – e o CIAGO (Centro de Internação Granja das Oliveiras).

O CIAP começou suas atividades sem que houvesse as condições institucionais

necessárias para o seu funcionamento. Uma série de elementos estava em falta para que

fosse possível atender os adolescentes em conflito com a lei, tais como ferramentas,

insumos e, principalmente, profissionais habilitados (Arakaki, 2009).

Ainda de acordo com Arakaki (2009), os profissionais concursados de nível superior

e médio não passaram por nenhuma capacitação antes de assumirem seus cargos. Isto

demonstra uma fragilidade no que tange a segurança das ações profissionais da unidade.

Sendo assim, a falta de conhecimentos acerca da intervenção sócio-educativa torna o

sistema fragilizado, bem como aponta para uma desmotivação dos servidores.

Através da entrevista com um profissional da segurança, foi possível a aquisição do

organograma do CIAP como apresentado a seguir:

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O CIAP dispõe de quatro Módulos: um deles é o Espaço Conquista, no qual aqueles

adolescentes que têm bom comportamento e possuem um bom processo socioeducativo

com base em laudos técnicos são enviados e desfrutam de algumas vantagens que os

demais não têm. Dentre estas vantagens está autorização do uso de video games,

televisores, aparelhos de DVD e rádios com CD player.

Um segundo módulo é o Isolamento, no qual o adolescente é separado dos demais

de seu módulo e permanece em um dormitório individual e que serve como instrumento de

punição em caso de desacato, má conduta ou dano ao patrimônio público.

Os outros dois módulos são separados por idade: aqueles adolescentes que têm 18

anos ou mais, e aqueles que têm menos de 18 anos. Aspectos como a periculosidade ou

“rixas” não são fatores de separação de módulos, ate porque o espaço é limitado e o Centro

já conta com um ligeiro quadro de superlotação.

De acordo com um dos profissionais da Gerência de Segurança os módulos não são

divididos por periculosidade, é feita de forma a evitar conflitos entre os sócio-educandos,

mas não há uma forma certa e objetiva para se fazer essa alocação, dependendo então da

habilidade dos agentes de segurança para resolver os conflitos ou então prevenindo-os,

como por exemplo, no caso de “rixas” entre internos. Vale ressaltar que nem sempre é

possível fazer esta separação dos adolescentes devido à falta de pessoal e falta de

DIREÇÃO

VICE-DIREÇÃO

NÚCLEO DE APOIO

OPERACIONAL SECRETARIA

TÉCNICA

GERÊNCIA DE SEGURANÇA

E DISCIPLINA GERÊNCIA

SOCIOEDUCATIVA

Núcleo de

Segurança

Assistente

Núcleo de

Disciplina

Núcleo de Ensino

Núcleo de Saúde

Núcleo Psicossocial

Núcleo de Cultura, Esporte

E lazer

Núcleo de Profissionalizaçã

o

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espaços, pois o CIAP já conta com oitenta e quatro internos, sendo que sua capacidade

máxima é para oitenta, bem como sofre com a falta de efetivo.

Complementariamente, a falta de profissionais concursados e especializados para

desenvolver as atividades referentes à internação dos adolescentes internos gera, por

vezes, a necessidade de se fazer o famoso “desvio de funções”. O profissional da Gerência

de Segurança exemplificou este fato com o caso de quando é necessário levar um

adolescente a um hospital, é também necessário deslocar um agente de segurança para

acompanhá-lo, porém, de acordo com o SINASE é obrigatória a presença de um

socieducador para cada dois ou três internos. E este é um fato que diz estar longe de ser

possível com a quantidade de profissionais do quadro.

Para Arakaki (2009) a gestão de centros de internação como CIAP, CIAGO e

CESAMI visa proporcionar junto ao adolescente uma reflexão sobre seus atos ilícitos com

vistas a garantir que o retorno desses jovens ao convívio social fora do Centro aconteça de

uma forma segura tanto para a própria sociedade quanto para o adolescente. O trabalho

educativo feito por essas unidades deve proporcionar inclusão social não só no âmbito da

instituição, mas também aos adolescentes egressos da unidade.

A Escola do CIAP

No CIAP, o ensino tem caráter obrigatório, ou seja, todos os adolescentes do Centro

estão matriculados e freqüentam a escola nos turnos matutino (8h à 12h) e vespertino (14h

à 18h).

A escola do CIAP só iniciou suas atividades após mais de seis meses da sua

inauguração, sendo que suas atividades escolares são desenvolvidas por profissionais da

Secretaria do Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF). A SEEDF possui uma

parceria com a SEJUS (Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do

Distrito Federal), porém, o processo desta parceria entre as duas secretarias foi

extremamente moroso, o que influiu na sua demora para começar a funcionar (Souza,

2010).

Em relação à parceria existente entre as Secretarias de Educação e de Justiça

(SEEDF e SEJUS) ocorre o trabalho em regime de cooperação, ou seja, há um Termo de

Cooperação – n° 19/2008 – que estabelece as ações e responsabilidades das secretarias

em questão para prestar apoio à escola do CIAP. Este apoio se dá de diferentes formas,

seja pela cessão de professores e profissionais para trabalhar na escola, pela garantia de

materiais escolares aos sócio-educandos ou pela matrícula dos adolescentes no Sistema de

Ensino Público do Distrito Federal.

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Além destes elementos pontuados, a Escola do CIAP é muito dependente de duas

escolas pólo da RA Planaltina para algumas ações administrativas, como a própria matrícula

dos adolescentes e a emissão de certificados e boletins.

A escola funciona de forma a interagir até aqueles internos que tenham “rixas”

pessoais com outro interno. Desta forma, as turmas são definidas por seriações do ensino

fundamental e do ensino médio. O ensino prestado pela Escola do CIAP segue a orientação

curricular da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e obedece ao Regimento Escolar das

Instituições Educacionais da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal.

De acordo com a Coordenação do Núcleo de Ensino, a Escola do CIAP e o próprio

núcleo contam com 13 professores, 1 Chefe de Núcleo de Ensino, 1 Coordenadora Geral do

núcleo, 1 Coordenador Pedagógico do núcleo e 2 Técnicos em Assistência Social. O quadro

de profissionais conta com servidores de carreia e cedidos. A totalidade dos professores é

cedida pela SEEDF.

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CAPÍTULO IV – Descrição do Trabalho de Campo

O trabalho de campo se mostrou bastante farto quanto aos achados. A fala dos

profissionais entrevistados abordou aspectos políticos, administrativos, teóricos, materiais e

pessoais quanto ao tema desta pesquisa.

Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas com três profissionais do

Núcleo de Ensino, um profissional da Gerência de Segurança, uma profissional da Gerência

Sócioeducativa e uma profissional da Direção do CIAP. Além destas entrevistas individuais,

ocorreu a participação numa das reuniões acerca do processo de criação do PPP no CIAP.

Para além das entrevistas, foram acessados documentos como o Organograma da

Instituição (CIAP), documentos referentes ao Conselho Gestor sobre a participação política

dos sócio-educandos; regras sobre visitas familiares; normas disciplinares dos internos;

normas de revista dos sócio-educandos; regras sobre o “saidão” e transferências de sócio-

educandos. Outro documento acessado foi o Termo de Cooperação n° 19/2008, visualizado

via internet, publicado no Diário Oficial.

A primeira visita permitiu a observação de algumas questões que estão dificultando a

implementação do Projeto Político Pedagógico na escola do CIAP. Durante a participação na

reunião da equipe do Núcleo de Ensino (na condição de ouvinte), foram observadas

abordagens de estratégias de como se implementar um PPP na escola do CIAP, trazendo

algumas questões que influenciam na concretização deste projeto.

A visita seguinte foi marcada pelas conversas com uma profissional do Núcleo de

Ensino e um da Gerência de Segurança.

Na entrevista com a profissional do Núcleo de Ensino do CIAP, a profissional

explanou acerca do histórico do CIAP e também discutiu um pouco sobre o perfil do

professor, com a idéia de que as suas ações profissionais ainda estão muito baseadas com

a idéia de moral, justamente pelo fato de a Escola do CIAP não possuir ainda um PPP, ainda

em fase germinal.

A segunda entrevista do dia foi realizada com um profissional da Gerência de

Segurança, que abordou o aspecto pedagógico, na sua visão, da área da segurança do

CIAP. Para ele, o trabalho dos agentes de segurança é um trabalho pedagógico pelo fato de

estarem mais tempo com cada um dos internos.

Na terceira visita ao campo, primeiramente, houve uma conversa informal com dois

estudantes de Letras da Universidade de Brasília (UnB) que desenvolvem uma atividade

chamada Oficina de Leitura – na qual fazem um trabalho de incentivo à leitura por parte dos

sócio-educandos e realizada no espaço físico da Escola do CIAP. Posteriormente, veio a

entrevista com uma das Assistentes Sociais do Centro.

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Num primeiro momento, a conversa com os dois estudantes da atividade Oficina de

Leitura trouxe a importância em se identificar traços culturais da realidade do público alvo,

no caso, os adolescentes internos.

A segunda parte desta visita diz respeito à entrevista com uma das assistentes

sociais do CIAP. A entrevistada ressaltou a dificuldade de se implementar o PPP na Escola,

alegando a seguinte dúvida entre os profissionais do Núcleo de Ensino: o PPP será um

projeto da escola ou do Centro? Junto a essa dificuldade, apontou para o aspecto

policialesco da unidade, ainda predominante nos setores do CIAP, que permeia ainda o

pensamento de alguns professores. Relatou também que a construção do PPP sofre com

divergências políticas dos diversos setores do CIAP.

A quarta visita ficou marcada pelas entrevistas com dois professores da Escola do

CIAP. O primeiro professor entrevistado teve uma fala bastante rica quanto ao processo de

criação do PPP, apontando questões políticas internas e externas ao Centro.

Este professor deu ênfase à questão burocrática das relações entre a SEEDF e

também sobre a questão de não haver um PPP para o Centro. Ele diz ser importante pensar

um PPP para o Centro para depois se pensar num PPP para a escola. Argumentou que

entre os professores há muita divergência de idéias quanto ao PPP e também uma

dificuldade em se disponibilizarem para a criação deste projeto. Em uma de suas falas,

argumenta que “fica a cargo de dois ou três professores o pensar de uma coisa que é

coletiva”.

A segunda entrevista foi realizada com uma das professoras da Escola do CIAP. A

professora relatou que o mais importante do PPP para a Escola do CIAP é a definição do

papel da própria, pois considera que os objetivos da referida escola não estão bem

definidos, ou não são claros. Para ela, a escola ainda tem objetivos de uma escola regular,

como a simples formação acadêmica, e não a percepção da realidade dos adolescentes do

Centro.

Na quinta e última visita, a entrevistada foi uma das profissionais da Direção do CIAP.

A profissional relatou uma série de aspectos referentes à questão da dificuldade em se

construir um PPP no Centro. Para ela, muitos dos profissionais do Centro não possuem o

perfil de sócioeducador dada a falta de capacitação específica. Desta forma, fica a cargo do

profissional buscar conhecimentos e especializações que envolvam os temas que surgem

nesse contexto. Geralmente, as especializações estão sujeitas a Dissertações de mestrado

e teses de doutorado, ou seja, busca individual pela capacitação.

Apontou também para o não envolvimento efetivo da família dos sócioeducandos na

recuperação dos mesmos, afirmando que a participação destas famílias está muito

direcionada a eventos festivos. É importante se pensar a família no processo

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sócioeducativo, embora alguns fatores possam dificultar o envolvimento familiar neste

processo, como a falta de transfporte público para o Centro ou alguns fatores econômicos.

Afirmou também que faltam estudos sobre o que está acontecendo com os egressos,

se estão voltando ao mundo do crime, ou se estão se recuperando. Sendo assim, não é

possível fazer uma avaliação com base em estudos científicos sobre o trabalho

sócioeducativo prestado no CIAP.

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CAPÍTULO V – Análise e Discussão dos Resultados

Com base nos dados coletados no campo, o CIAP mostrou-se um espaço de

entraves políticos e burocráticos, baseando-se nas falas dos profissionais entrevistados de

diferentes setores do Centro em questão.

Em todas as falas dos entrevistados, questões políticas foram abordadas como um

aspecto extremamente importante nos processos de decisões de várias ações do Centro.

O período de coleta de dados se mostrou muito rico e trouxe a possibilidade para a

reflexão acerca da importância do PPP para o processo educacional no contexto de medida

sócioeducativa de internação. Os dados demonstraram que o PPP pode responder às

demandas de um público tão específico quanto os adolescentes em cumprimento de medida

sócioeducativa de internação na medida em que o corpo profissional se une em torno de um

objetivo comum. Isso não quer dizer que o PPP sozinho irá dar conta de toda a demanda

imposta pelo serviço e pelo público num centro de internação.

No decorrer da análise de dados, foram observados alguns aspectos que tangenciam

quase a totalidade dos discursos dos entrevistados. Dentre estes aspectos estão os

entraves políticos, entraves administrativos (relacionados com a burocratização

exacerbada), o perfil do professor, a baixa participação dos sócioeducadores na construção

do PPP, a questão do tempo no ensino escolar dos adolescentes e sobre a estrutura física

do Centro. Estes aspectos são discutidos a seguir.

Entraves Políticos

Todos os profissionais do Núcleo de Ensino, ou diretamente ligados a ele, relataram

haver um embate político entre os setores do CIAP. Estes profissionais abordaram que este

embate acaba bloqueando muitos projetos, ações e idéias relativas à reabilitação dos

adolescentes à sociedade. De modo geral, afirmaram haver uma prevalência de ideais

policialescos quanto ao regime de Internação pela maioria do Centro, e que a área da

segurança têm mais respaldo político que as demais áreas.

Outro aspecto político relacionado ao PPP, diz respeito à idéia (que já se direciona ao

consenso) de que este projeto não pode ser uma ação exclusiva da escola do CIAP. Sendo

assim, a idéia é de que o PPP seja um projeto do Centro, que envolva todos os setores,

embora apenas alguns destes tenham conhecimento e participam efetivamente da

construção do PPP.

Como apontado por um dos entrevistados, existe uma falta de linearidade no

pensamento sócioeducativo entre os setores do CIAP, exemplificado na falta de equilíbrio

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entre a Gerência de Segurança e a Gerência Sócioeducativa, devido aos modos diferentes

de se pensar o aspecto sócioeducativo da internação.

Estes entraves políticos acabam por limitar as ações dos profissionais da unidade

que podem promover o processo de criação do Projeto Político Pedagógico. Durante as

falas dos profissionais do campo pôde ser observada a falta de articulação entre os setores

internos (no próprio CIAP) e, principalmente, entre os setores externos, como as secretarias

de Educação, da Criança e do Adolescente e de Justiça. Esta desarticulação tem

influenciado negativamente a proposta de criação de um PPP que ainda está em discussão

se será do CIAP ou da Escola do CIAP.

As entrevistas realizadas com profissionais de diferentes setores do CIAP deram

uma visão panorâmica da realidade que os centros de internação de jovens infratores vivem

atualmente. Estes momentos de coleta de dados apresentaram um contexto político muito

variável, no que tange GDF dada às trocas rotineiras de secretários e profissionais do ramo,

o que impede a sequência de um processo de transformação social.

Este contexto político apresentou influências diretas no ensino prestado aos

adolescentes do CIAP. De acordo com a fala de alguns dos profissionais entrevistados, a

não continuidade de um processo sócioeducativo que muda de acordo com a mudança de

governo, reflete na ponta do serviço, neste caso, especificamente, a garantia do direito à

educação de adolescentes em cumprimento de medida sócioeducativa de internação.

Entraves Burocráticos

Quanto aos aspectos administrativos, o apontado por todos os profissionais

entrevistados foi a extrema burocratização. Este é um dos principais obstáculos que a

equipe encontra na tentativa de se implementar o PPP, pois dificultam a formulação de

propostas. Esta dificuldade de formulação de propostas está ligada ao fato da escola não

ser institucionalizada e também pelo fato de o PPP não poder ser uma ação exclusiva da

escola, pois envolve vários setores do CIAP, portanto, fica o questionamento em aberto: a

proposta pedagógica é da escola ou do CIAP?

A não institucionalização da Escola do CIAP tem se mostrado um grande limitador de

ações voltadas ao público alvo. Como ela não pode emitir boletins, certificados ou realizar a

matrícula dos adolescentes, ela se torna muito dependente de outras escolas da região, que

têm outra realidade completamente diferente do que se encontra num centro de internação.

Estas escolas são instituições regulares de Ensino Fundamental e Médio.

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O perfil do professor

De acordo com duas das profissionais entrevistadas, o professor, numa análise geral,

não tem o perfil de sócioeducador. Em muitos casos, eles se apresentam com suas ações

profissionais ainda muito baseadas nas suas respectivas vivências, experiências em sala de

aula no ensino regular e com a idéia de moral, justamente pelo fato de a Escola do CIAP

não possuir ainda um PPP, ainda em fase germinal.

Os próprios professores entrevistados garantem não haver um curso disponibilizado

pela SEEDF com a finalidade de especializar o professor às medidas sócioeducativas.

Desconhecem cursos que poderiam fundamentá-los para o contexto de internação e

reforçaram que os da SEEDF são de baixa qualidade. Um dos professores relatou que se o

professor quiser se especializar, ele terá de fazer uma pós graduação na área.

Ainda de acordo com alguns entrevistados, os professores ainda têm um

determinado preconceito quanto ao público alvo (principalmente quanto a sua segurança

enquanto lecionam) e isto influencia diretamente o trabalho a se desenvolver nesta escola.

Estes professores recebem uma remuneração maior por este trabalho ser considerado de

risco, portanto, eles estão mais seguros na Escola do CIAP do que em uma escola comum

pelo fato de que enquanto a aula ocorre, há sempre um agente de segurança do lado de

fora da sala, junto à porta, para garantir a segurança deste profissional e a dos

adolescentes.

A baixa participação dos sócioeducadores na construção do PPP

Outro fato observado foi que a construção do PPP ainda não conta com o apoio e

entendimento total da comunidade sócioeducadora. As reuniões ainda ocorrem apenas

entre profissionais do Núcleo de Ensino e contam com a participação efetiva de dois ou três

professores, segundo a fala de um dos entrevistados, lembrando que o quadro de

professores corresponde a treze integrantes de acordo com a coordenação do núcleo.

De acordo com os relatos, ocorre um distanciamento entre os setores do CIAP na

construção de um projeto que está preconizado na LDB, em seu artigo 14, que envolve a

comunidade local e a comunidade dos educadores, ou mais especificamente, comunidade

sócioeducadora. Este fato pôde ser observado na medida em que os servidores de

diferentes áreas não possuem, em alguns casos, um conhecimento acerca de PPP, mesmo

que superficial, inclusive alguns professores que não quiseram participar da pesquisa por

afirmar não terem propriedade para falar do tema.

Assim como os professores, os sócioeducadores, numa análise geral, também não

possuem o perfil de tal profissional. Com base nas falas dos entrevistados, ainda há muitos

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preconceitos, falta de capacitação específica e a não complementaridade dos setores do

CIAP entre si, ficando a cargo do profissional, numa ação individual, a busca por sua

capacitação. Estes fatores, aliados às divergências políticas e falta de conhecimento sobre a

realidade dos adolescentes, apontam para um problema a ser combatido nos centros de

internação: a fragilidade do sistema sócioeducativo em garantir os direitos a um público que

têm historicamente um perfil de negação destes.

Tempo insuficiente?

O tempo é outro aspecto relevante quanto ao tema. Como há uma alta rotatividade

dos internos (ingressos e egressos), o ensino prestado acaba se tornando um processo

formação acadêmica parcial. De acordo com os relatos dos professores, na maioria dos

casos, os alunos concluem um período letivo, ou avançam uma ou mais séries, mas em

poucos casos conseguem concluir um nível de ensino, seja médio ou fundamental.

Esta característica temporal acaba por iniciar um processo de ensino que pode ser

brecado a depender do período que o adolescente permanecer no Centro. Como resolver ou

melhorar esta situação? De acordo com os professores entrevistados, o PPP poderia ajudar

na solução desta questão ao traçar o perfil dos usuários deste serviço, o que ajudaria a se

pensar uma seriação que também alocasse nela as questões de tempo para se trabalhar o

ensino, ou seja, adolescentes com períodos de internação próximos nas mesmas turmas.

Estrutura Física

Aspectos de estrutura física também foram observados durante as visitas de campo.

A começar pelo acesso, o CIAP se mostrou de difícil acesso caso a pessoa que se dirigir até

lá não possuir um transporte particular. Não existem rotas de transporte público e se

encontra muito isolado até mesmo da RA Planaltina. A sinalização é precária e ainda é

preciso percorrer aproximadamente 400m de estrada de terra, o que em dias de chuva,

dificulta o acesso ao Centro.

A questão do acesso é importante de se destacar pelo fato de poder ferir até mesmo

um direito que os adolescentes têm que é o de receber visitas familiares, levando-se em

consideração o contexto de baixa renda e de precarização de trabalho e qualidade de vida

apontada por Oliveira (2010) que estes adolescentes e seus familiares se encontram, numa

visão generalizada. Este direito está expresso no Art. 124, parágrafo VII do ECA

preconizando que é direito do adolescente privado de liberdade receber visitas, ao menos,

semanalmente.

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A dificuldade de acesso, por vezes impossibilita até mesmo a presença da mídia,

como relatado por um dos profissionais entrevistados e também à presença de

pesquisadores que não tiverem condução própria.

O CIAP possui uma estrutura física de menor porte (do ponto de vista de lotação

máxima) do que o CAJE. Portanto, por ser mais novo, tem melhores vias de circulação e de

iluminação natural, como pôde ser observado nos dormitórios.

Com relação ao lazer, o CIAP apresenta apenas uma quadra de futebol society e não

uma quadra poliesportiva, o que chama a atenção para o desenvolvimento de atividades

físicas apenas relacionadas a um esporte. Entre as outras opções de lazer estão a

possibilidade de assistirem televisão em seus dormitórios, escutar música em rádio com cd

player e uso de vídeo games se estiverem no Módulo Conquista.

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CONCLUSÕES

Os achados do campo, bem como a reflexão acerca dos dados obtidos, apontam na

direção de não apenas um PPP a ser construído, mas também apontam a um processo de

construção de um Centro e de uma política de atenção ao jovem infrator que ainda são

deficientes e que ainda não atendem a todas as demandas desta população.

A partir das falas de profissionais de diferentes setores do CIAP, foi possível verificar

questões que influenciam a dificuldade de se construir e implementar um PPP na Escola do

CIAP. A divergência de visões entre os setores, apontados em todas as falas dos

entrevistados, é a principal questão na dificuldade de se construir tal projeto. Esta falta de

um objetivo comum do serviço gera posições políticas divergentes num Centro que deveria

ter um pensamento voltado para recuperação de adolescentes em conflito com a lei, com

base em suas especificidades.

Porém, a falta de treinamento, capacitação e a não identificação de alguns servidores

com o serviço, fomentam esta disparidade de pensamentos que, direta ou indiretamente,

bloqueiam o caminho de construção de um PPP.

Retomando a pergunta de pesquisa “De que forma a ausência de PPP interfere no

ensino dos adolescentes em cumprimento de medidas sócio-educativas do CIAP? E mais

ainda: Qual seria o significado desta ausência?”, pode-se dizer que sua resposta diz respeito

ao descumprimento parcial dos direitos do adolescente infrator.

Embora haja esforço por parte dos profissionais do CIAP, há também despreparo de

alguns profissionais em lidar com a questão sócieducativa. A falta de treinamento específico

apontado por Arakaki (2009) e os relatos de alguns profissionais como professores, apontam

para um contexto de desconhecimento de alguns fatores inerentes à vida e ao contexto

histórico dos adolescentes infratores no CIAP, ficando a cargo de iniciativas individualizadas

a busca de conhecimentos acerca da temática. Pode-se dizer que os concursos públicos

são extremamente funcionalistas, ou seja, não abrem espaço para a reflexão acerca da

realidade do contexto sócioeducativo e, culminando com a falta de treinamento específico,

as ações profissionais dos servidores também se tornam extremamente positivas, objetivas,

e, por vezes, sem levar em consideração aspectos subjetivos do indivíduo.

Com relação aos professores, que são profissionais cedidos pela SEEDF ao CIAP,

estes também não passam por nenhuma forma de capacitação. Estes professores saem de

um contexto escolar regular, e vão para outro completamente específico, complexo e

permeado de preconceitos que dificultam sua adequação ao serviço a ser prestado.

É partir destes fatores que a hipótese desta pesquisa pode ser confirmada. A

hipótese era que os professores ministram suas respectivas aulas de modo intuitivo e

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baseados em seus preceitos, seguindo uma diretriz curricular que não contempla as

especificidades da comunidade sócioeducativa e o contexto em que os jovens estão

inseridos, tanto de pobreza quanto de envolvimento com atos infracionais.

Na medida em que os professores não têm o preparo específico para atuar nesta

realidade, suas ações ficam sujeitas às suas experiências individuais. Como um dos

professores entrevistados relatou, muitos professores têm experiência com o ensino regular,

poucos lidam ou lidaram com este público específico em sua carreira como professor.

A capacitação pode surgir como alternativa para a melhoria do serviço prestado. Mas

não meramente uma capacitação formal e positivada, mas sim um espaço para a reflexão

sobre a realidade de um público de características relacionadas à situação de pobreza, em

sua maioria.

Um quadro que pôde ser verificado foi a falta de autonomia dos profissionais do

Núcleo de Ensino do CIAP, dada a não institucionalização da Escola do CIAP e às

condições precárias de relação oficial com as secretarias envolvidas na realização do

trabalho sócioeducativo no Centro.

Esta falta de autonomia se mostrou extremamente prejudicial à garantia do direito à

educação aos adolescentes do CIAP. Sendo assim, criou-se uma dependência externa,

como a das secretarias e das escolas pólo, que retardam, ou impedem a continuidade do

processo de criação do PPP na Escola do CIAP. Esta dependência de atores externos é

prejudicial porque estes atores não têm o conhecimento e nem a vivência específica do

cotidiano da escola do CIAP e do próprio Centro, ou seja, não conhecem em profundidade

sua dinamicidade, seu público, seu perfil de profissionais, entre tantas outras especificidades

que têm de ser levadas em consideração na construção do PPP.

Retomando a idéia do conceito de PPP abordado por Veiga (2007); no qual este é

um instrumento caracterizado como uma construção coletiva que conta com o trabalho e a

intervenção de profissionais, público alvo e comunidade; observou-se a dificuldade da

comunidade sócioeducadora em estabelecer estes elos entre estes atores para aí sim

construir este instrumento.

O PPP antes de ser um instrumento que conta com a participação coletiva de vários

atores da realidade especifica, é também o fruto desta participação, pois depende dela para

a sua criação e definição de seus parâmetros.

Mais que isso, Veiga (2007) aponta para uma das grandes possibilidades que o PPP

gera que é a criação da identidade da escola. Os aspectos mais intrínsecos destes atores

envolvidos e extremamente ativos no processo sócioeducativo devem ser considerados, no

sentido de não só considerar as especificidades dos adolescentes e seus familiares, mas de

toda a comunidade sócioeducativa.

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Neste sentido, o PPP, no caso do CIAP, deveria contemplar as especificidades não

apenas da escola, mas dos diversos setores sócioeducativos do CIAP, na medida em que

diversos profissionais estarão discutindo, estudando e criticando ações profissionais

edificantes tendo como norte, a reinserção destes adolescentes na sociedade de forma

segura tanto para esta, quanto para o adolescente egresso.

É este o grande desafio que o CIAP terá de enfrentar para que o processo de criação

de um PPP para a unidade e para a Escola do CIAP seja desenrolado. Embora não seja

tarefa fácil, é necessária a articulação entre os setores do CIAP, uma maior participação

destes setores na discussão embasada sobre o próprio PPP, maior envolvimento dos

adolescentes infratores e maior integração das famílias para que se possa chegar a um

denominador comum a respeito das metas, objetivos e diretrizes do PPP.

Para tanto, é necessário que haja investimento em pesquisas, principalmente em

nível de GDF, o qual tem um histórico de descontinuidade de ações sócioeducativas, dada

as diversas variações de corpo profissional e secretariado, como apontado por alguns

entrevistados. Ou seja, é necessária uma maior responsabilização do GDF em torno da

problemática. Esta responsabilização vai para além das pesquisas na área, mas também

deve apontar para uma forma de avaliação nos concursos públicos que possam trazer a

reflexão dos candidatos a ocuparem cargos públicos num centro de internação.

Esta pesquisa pode ser entendida como um fomentador para outras pesquisas nesta

temática, inclusive para outros centros de internação do DF. Através da entrevista com uma

das profissionais da Direção do CIAP, o problema enfrentado pelo CIAP é comum entre os

demais centros de internação do DF. A sugestão é que sejam realizados estudos acerca do

conhecimento crítico de medidas sócioeducativas no contexto de internação por parte dos

próprios sócioeducadores; estudos sobre o perfil dos adolescentes egressos do sistema

sócioeducativo, com vistas a dar maior possibilidade aos Centros se auto-avaliarem

cientificamente e; num plano mais geral, porém não menos importante, sobre a participação

e responsabilização do GDF no contexto de medidas sócioeducativas de internação.

Como Veiga (2007) aponta, o PPP constituirá a identidade do ambiente escolar, com

suas peculiaridades. Será através da prática pedagógica que se construirá um instrumento

sólido e específico baseado na organização, na administração e vivência do ambiente

escolar e, no caso do CIAP, esta vivência vai para além do ambiente escolar, mas para todo

o ambiente do centro de internação, já que todos os setores deveriam agir de forma

integrada.

Mais que isso, o PPP não pode ser confundido com um mero instrumento positivado,

como uma lei. Ele é um processo que se constrói através do cotidiano, da inter-relação entre

as comunidades sócioeducadoras, escolares, familiares e do público alvo. Não pode se

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pensar também que o PPP sozinho dá conta das demandas impostas pelo serviço. Ele é

mais um dos componentes que darão suporte ao sistema sócioeducativo que contribui

significativamente para o serviço caso seja construído com base nos princípios norteadores

de uma escola democrática: igualdade, gestão democrática, qualidade, valorização do

magistério, liberdade e distinção entre fins e meios do processo educativo, princípios estes

salientados por Veiga (2007).

A realização desta pesquisa se configurou como o fechamento de um ciclo iniciado

com meu trabalho de campo no primeiro semestre do curso de Serviço Social na Disciplina

Introdução ao Serviço Social e findado com este TCC: duas pesquisas em instituições

semelhantes, mas em períodos diferentes da graduação. O trabalho do início do ciclo fora

uma pesquisa qualitativa no CAJE, no ano de 2008, e serviu como amostra inicial do meu

desenvolvimento acadêmico. Contudo, é perceptível o amadurecimento teórico e crítico

neste momento, com o fim deste ciclo, quando apresento este TCC com um grau de

criticidade e de teorização muito maior do que o trabalho realizado no CAJE, o qual tem um

aspecto extremamente descritivo-legal.

O conhecimento, embora gere maior complexidade dos fatos, ao mesmo tempo

serve de combustível para que esta complexidade seja solvida. O trabalho realizado no

primeiro semestre de curso me fez refletir com simplismo a respeito do pensamento sobre

da realidade do processo sócioeducativo. Já com este TCC, a realidade se mostra mais

complexa e de difícil entendimento, mas ao mesmo tempo, surge a sede pelas respostas

que estão nesta realidade, mas que não a vemos sem o crescimento teórico e crítico.

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Anexos

Anexo 1 Carta de apresentação ao Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (CIAP)

Universidade de Brasília – UNB

Instituto de Humanas – IH

Departamento de Serviço Social – SER

Brasília, 01 de julho de 2011.

Apresentamos a V.Sª. o estudante Celso Henrique Soares Oliveira – Matrícula:

09/41590 do Curso de Serviço Social da Universidade de Brasília, matriculado na disciplina:

Trabalho de Conclusão de Curso, orientada pela Profa. Dra. Silvia Cristina Yannoulas.

O projeto do referido estudante está centrado na organização do trabalho

pedagógico da Escola do Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (CIAP),

objetivando estudar como a ausência de Projeto Político Pedagógico poderia interferir no

ensino dos adolescentes em cumprimento de medidas sócio-educativas.

Solicitamos que o aluno possa ter acesso a informações relativas à instituição, por

meio de realização de entrevistas. As informações obtidas são de grande importância para a

consecução da pesquisa.

Colocamo-nos a disposição para maiores esclarecimentos.

Respeitosamente,

Profa Dra. Silvia Cristina Yannoulas

Professora adjunta – Matricula: 1017080

Ao

Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (CIAP)

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Anexo 2

Ofício da orientadora apresentando o estudante ao Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (CIAP)

Universidade de Brasília – UNB

Instituto de Humanas – IH

Departamento de Serviço Social – SER

Brasília, 01 de julho de 2011.

Solicitamos a Vossa Senhoria autorização para que o estudante Celso Henrique

Soares Oliveira – Matrícula : 09/41590, do Curso de Serviço Social, da Universidade de

Brasília, realize pesquisa referente a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso, sob a

responsabilidade da Profª Dra. Silvia Cristina Yannoulas.

O projeto do referido estudante está centrado na organização do trabalho

pedagógico da Escola do Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (CIAP),

objetivando estudar como a ausência de Projeto Político Pedagógico poderia interferir no

ensino dos adolescentes em cumprimento de medidas sócio-educativas.

Solicitamos que o aluno possa ter acesso a informações relativas à instituição, por

meio de realização de entrevistas. As informações obtidas são de grande importância para a

consecução da pesquisa.

Colocamo-nos a disposição para maiores esclarecimentos.

Atenciosamente,

Profª. Dra. Silvia Cristina Yannoulas

SER/UnB

Ao

Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (CIAP)

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Apêndices

Apêndice 1

Roteiro de Entrevista

I. Cargo exercido na instituição:_______________________

Tempo na instituição: _________

II. Contato com os adolescentes:

( ) sim

( ) não

De que forma?___________________________________________________

III. De que forma a escola recebe estes adolescentes?

____________________________________________________________________

__________________________________________________________

____________________________________________________________________

__________________________________________________________

IV. Você sabe o que é o projeto político pedagógico?

( ) sim ( ) não *se „não‟, pular para a questão X.

V. Quais os motivos de não se ter implementado na instituição?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

___________________________________________

VI. Existe planos de se implementar?

( ) sim ( ) não *se „não‟, pular para a questão X.

VII. Você considera o projeto político pedagógico importante?

( ) sim ( ) não

Por quê?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

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____________________________________________________________________

_______________________________________________

VIII. Qual a principal característica que você destacaria no PPP desta

escola?______________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

________________________________________________

IX. Quais as diretrizes seriam sugeridas para o PPP?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

________________________________________________

X. De que forma a escola está se organizando para garantir o direito à educação aos

adolescentes?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

________________________________________________

XI. A escola possui um regimento próprio ou algum documento que direcione suas

ações?

( ) sim. Qual? _______________________________________

( ) não ( ) desconhece *se „não‟ ou „desconhece‟, pular para a questão XIII.

XII. O que este regimento/documento dispõe?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

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XIII. Há algum curso ou capacitação para lidar com essa população?

( ) sim ( ) não

Qual/ como é?

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XIV. Você se sente preparado (a) para lidar com estes adolescentes?

( ) sim ( ) não

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____________________________________________________________________

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XV. Como é o cotidiano com estes adolescentes?

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_______________________________________________

XVI. Qual a diferenciação entre esta escola do CIAP e outra escola qualquer da

rede pública de ensino?

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________________________________________________

XVII. De forma geral, os estudantes concluem a graduação escolar ou a evasão é

fenômeno recorrente?

( ) sim ( )não.

Poderia falar um pouco disso?

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XVIII. O que você mudaria nesta instituição escolar?

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XIX. Você acha que essas mudanças seriam viáveis?

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XX. Você considera que a escola possui apoio do GDF?

( ) sim ( ) não

Por quê?

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Apêndice 2

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Universidade de Brasília – UnB.

Instituto de Ciências Humanas – IH.

Departamento de Serviço Social – SER.

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

O(a) Sr.(a) está sendo convidado(a) para participar da pesquisa intitulada DIREITO À

EDUCAÇÃO E INTERNAÇÃO DE ADOLESCENTES: A Educação Formal no Centro de

Internação de Adolescentes de Planaltina (CIAP). A pesquisa está sob a responsabilidade

da Profª. Dra. Silvia Yannoulas, orientadora da pesquisa, e Celso Henrique Soares Oliveira,

graduando em Serviço Social pela Universidade de Brasília – UnB, que fará desta pesquisa,

o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

O estudo apresentado será uma pesquisa qualitativa exploratória, que terá como

objetivo entender a organização do trabalho pedagógico da Escola do Centro de Internação

de Adolescentes de Planaltina (CIAP), objetivando estudar como a ausência de Projeto

Político Pedagógico poderia interferir no ensino dos adolescentes em cumprimento de

medidas sócio-educativas.

O pesquisador se disponibilizará para esclarecer qualquer dúvida durante todo o

processo da entrevista, sendo que esta não oferece riscos ou danos morais e/ou materiais

aos participantes. A confidencialidade dos dados dos participantes e dos materiais coletados

durante a observação será assegurada, e estará sob responsabilidade do pesquisador.

Estou ciente de que será usado pseudônimo quando houver referência a determinada

pessoa.

Tendo o conhecimento da pesquisa descrita acima, concordo em participar

voluntariamente da mesma, podendo desistir a qualquer momento sem qualquer prejuízo.

_______________________ ____________________________

Assinatura do Entrevistado Assinatura do Pesquisador

Brasília, ___ de ______________ de 2011.