direito à convivência familiar (octavio augustus cordeiro)

21
O direito à convivência familiar e a medida protetiva de acolhimento familiar Octavio Augustus Cordeiro Defensor Público Área da Infância e da Juventude de Piracicaba Contato: [email protected]

Upload: hilkias-nicolau

Post on 23-Jun-2015

198 views

Category:

Presentations & Public Speaking


1 download

DESCRIPTION

1º Seminário Municipal sobre Família Desenvolvimento Infanto Juvenil

TRANSCRIPT

Page 1: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

O direito à convivência familiar e a medida

protetiva de acolhimento familiar

Octavio Augustus Cordeiro

Defensor Público – Área da Infância e da Juventude de Piracicaba

Contato: [email protected]

Page 2: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Definição de direito à convivência

familiar e comunitária

É o direito de toda criança e adolescente de ser criado e educado no seio de

sua família ou, excepcionalmente, de família substituta, em ambiente sadio,

e de participar da vida comunitária, onde poderá envolver-se com os valores

sociais e políticos que irão reger a sua vida cidadã.

Fundamento jurídico no art. 9º da Convenção sobre os Direitos da Criança, no

art. 227 da Constituição Federal e no art. 19 do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

Crianças e adolescentes são pessoas em desenvolvimento que precisam de

valores éticos, sociais e cívicos para completarem sua formação.

Os laços familiares têm o condão de manter crianças e adolescentes

amparados emocionalmente, para que possam trilhar a formação de sua

personalidade.

Page 3: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Prevalência da família natural

O direito à convivência familiar consagra a prevalência da

família natural, reconhecida como o local mais propício para a

manutenção da criança e do adolescente.

A família natural é aquela formada pelos pais e seus

descendentes (biparental) ou qualquer deles e seus

descendentes (monoparental).

Não há qualquer diferenciação decorrente do vínculo existente

entre os pais: se casados, solteiros, viúvos, separados ou

divorciados.

Page 4: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Família extensa ou ampliada

Se não for possível a manutenção da criança e do adolescente na

família natural, deve-se buscar a manutenção na família extensa ou

ampliada.

A família extensa ou ampliada é aquela formada por parentes

próximos com os quais a criança e adolescente tenham vínculo de

afinidade e afetividade.

Conceito novo introduzido no ECA somente através da Lei 12.010, de

2009 (chamada Lei Nacional da Adoção).

Especialmente importante nas famílias mais pobres, que muitas vezes

se organizam em sistema de apoio mútuo.

Page 5: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Pluralismo das entidades familiares

A Constituição Federal confere integral proteção à

família.

Atualmente, se reconhece o princípio do pluralismo das

entidades familiares, ou seja, admite-se que as famílias

sejam formadas por diferentes estruturas e componentes,

merecendo a mesma proteção estatal.

Como exemplos, temos a família homoafetiva, decorrente

da união afetiva de pessoas do mesmo sexo, e a família

anaparental, formada a partir de um grupo sem a

presença de ascendentes.

Page 6: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Família Extensa ou Ampliada – Questões

polêmicas

Deve se dar o mesmo tratamento de família extensa (ou

seja, medida preferencial à colocação em família

substituta):

a pessoas que tenham vínculo de afinidade e afetividade com a

criança ou adolescente, mas não tenham vínculo sanguíneo?

a parentes que não tenham vínculo de afinidade e afetividade com

a criança ou adolescente?

Page 7: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Situação de Risco

Situação resultante da violação de direitos das crianças e adolescentes.

Pode ser decorrente da ação ou omissão da sociedade e do Estado; da falta, ação ou omissão dos pais ou responsáveis legais, ou da própria conduta da criança e do adolescente.

Nessas circunstâncias, devem ser aplicadas medidas protetivas, conforme a gravidade da situação.

Page 8: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Medidas Protetivas

As medidas protetivas estão previstas, de forma exemplificativa, no art. 101 do ECA:

encaminhamento da criança ou adolescente aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; (inciso I)

orientação, apoio e acompanhamento temporários (inciso II);

matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental (inciso III);

Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento à família, à criança e ao adolescente (inciso IV);

Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; (inciso V);

inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; (inciso VI)

Page 9: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Medidas Protetivas

Medidas protetivas:

acolhimento institucional; (inciso VII)

inclusão em programa de acolhimento familiar; (inciso

VIII)

colocação em família substituta; (inciso IX)

Page 10: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Medidas Protetivas

As medidas protetivas menos drásticas, previstas nos incisos I a VI do

art. 101 do ECA, podem ser adotadas diretamente pelo Conselho

Tutelar.

As medidas protetivas de acolhimento institucional, acolhimento

familiar e colocação em família substituta são de competência

exclusiva do Juiz, e dependem da instauração de processo judicial

contencioso, a ser deflagrado a pedido do Ministério Público, nos

quais se garanta aos pais ou responsável o contraditório e a ampla

defesa.

O Conselho Tutelar pode aplicar a medida protetiva de acolhimento

institucional, em situações emergenciais, devendo ser posteriormente

convalidada pelo Juiz.

Page 11: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Medidas Protetivas

Assim, estando a criança ou adolescente em grave

situação de risco sob a guarda da família natural, deve-se

avaliar a presença de membros da família extensa

interessados e aptos para exercer tal encargo.

Não havendo membros da família extensa interessados e

aptos para exercerem o encargo, deve ser aplicada a

medida protetiva de acolhimento familiar ou institucional.

Por vezes, é necessário aplicar a medida protetiva, para,

após, buscar-se membros da família extensa.

Page 12: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Definições de acolhimento familiar e

acolhimento institucional

Acolhimento familiar: medida protetiva consistente na

colocação de criança ou adolescente sob os cuidados de

uma família acolhedora, cadastrada previamente para

esta finalidade, com a supervisão de uma entidade de

atendimento responsável pela execução do programa.

Acolhimento institucional: medida protetiva consistente

na colocação de criança ou adolescente em uma entidade

de atendimento, presidida por um dirigente que será o

guardião daqueles que estão sob sua supervisão.

Page 13: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Princípios orientadores do acolhimento

familiar e institucional

Preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar.

Integração em família substituta, quando esgotados os recursos de

manutenção na família natural ou extensa.

Atendimento personalizado e em pequenos grupos.

Desenvolvimento de atividades em regime de coeducação.

Não desmembramento de grupo de irmãos.

Evitar transferências para outras entidades.

Participação na vida da comunidade local.

Preparação gradativa para o desligamento.

Participação de pessoas da comunidade no processo educativo.

Page 14: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Características do acolhimento familiar

e institucional

Excepcionalidade

São medidas protetivas drásticas, que somente devem ser aplicadas em situações extremas de risco, nas quais não seja possível a manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa.

Provisoriedade

Devem durar o menor tempo possível, até que seja definida a reintegração familiar ou a colocação em família substituta.

A situação individual deve ser reavaliada, no máximo, a cada 6 meses.

O §2º do art. 19 do ECA afirma que o acolhimento institucional não deve se prolongar por mais de 2 anos, salvo comprovada necessidade. Apesar de não haver previsão expressa, por analogia é possível interpretar que esta restrição também é aplicável ao acolhimento familiar.

Page 15: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Características do acolhimento familiar

e institucional

Competência do juiz para aplicação.

Dependem da instauração de processo judicial contencioso, que

garanta aos pais ou responsável o contraditório e a ampla defesa.

Excepcionalmente, o Conselho Tutelar pode aplicar a medida

protetiva de acolhimento institucional, devendo ser

posteriormente convalidada pelo juiz.

Não há previsão para a aplicação excepcional da medida de

acolhimento familiar pelo Conselho Tutelar. Como se trata de regra

de exceção, não cabe a interpretação analógica.

Page 16: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Características do acolhimento familiar

e institucional

Atendimento individual

Cada criança e adolescente tem a sua história e especificidades,

mesmo no caso de irmãos.

Quando ocorre a determinação de acolhimento familiar ou

institucional, a autoridade judiciária expede uma Guia de

Acolhimento, documento que possibilitará à entidade de

atendimento realizar o trabalho individualizado.

Identificação e endereço dos pais ou responsáveis;

Identificação de membros da família extensa interessados na guarda;

Motivos que ensejaram o acolhimento.

Page 17: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Características do acolhimento familiar

e institucional

Atendimento individual

Plano Individual de Atendimento: terá como objetivo a

reintegração familiar, salvo quando existir ordem escrita e

fundamentada da autoridade judiciária competente, quando

contemplará a colocação em família substituta.

Resultados da avaliação interdisciplinar

Os compromissos assumidos pelos pais ou responsável

Previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou

adolescente e os pais ou responsável com vista na reintegração

familiar, ou, caso esta seja vedada pelo juiz, as providências a serem

tomadas para colocação em família substituta.

Page 18: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Desafios do acolhimento familiar e

institucional

Provisoriedade x Preferência na manutenção da família natural ou

extensa.

Articulação da rede de serviços para possibilitar a reintegração

familiar.

Crianças e adolescentes muito tempo acolhidos.

A pobreza não pode ser fundamento para a suspensão ou

destituição do poder familiar.

Page 19: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Peculiaridades do acolhimento familiar

Medida preferencial em relação ao acolhimento institucional.

Experiência nova que está em processo de expansão. Foi prevista

expressamente somente com a Lei de Adoção, mas já existiam

experiências isoladas e previsão na Política Nacional de Assistência

Social.

Famílias acolhedoras devem ter em mente seu papel e as

características da medida protetiva.

As famílias acolhedoras exercerão as responsabilidades de guardiã das

crianças e adolescentes sob sua responsabilidade: prestação de

assistência material, moral e educacional.

Mobilização, cadastramento, seleção, capacitação, acompanhamento

e supervisão das famílias acolhedoras por uma equipe multidisciplinar.

Page 20: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Peculiaridades do acolhimento familiar

Requisitos para famílias participarem do serviço (Lei

Municipal nº 7.681/2013)

Residentes em Piracicaba

Um dos membros maior de 25 anos, devendo manter diferença

mínima de 16 anos com a criança ou adolescente.

Idoneidade moral, boas condições de saúde física e mental;

Disponibilidade para participar do processo de capacitação e das

atividades do serviço;

Não manifestar interesse por adoção;

Comum acordo de todos os membros da família.

Page 21: Direito à Convivência Familiar (Octavio Augustus Cordeiro)

Peculiaridades do acolhimento familiar

Seleção das famílias cadastradas ocorrerá através de

estudo psicossocial a ser realizado por equipe técnica do

serviço.

As famílias selecionadas receberão orientação e

acompanhamento constantes.

As famílias acolhedoras terão direito a uma bolsa auxílio

mensal para cada criança ou adolescente acolhido.