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www.cers.com.br OAB 1ª FASE XIX EXAME DE ORDEM Direito Processual Civil - Aula 01 Sabrina Dourado 1 AULA 01- OAB 1ª FASE XIX EXAME SABRINA DOURADO www.sabrinadourado.com.br Fan Page: https://www.facebook.com/profsabrinado urado Instagram: @sabrinadourado Twitter: @binadourado EXECUÇÃO 1) Noções gerais A execução, em suas diversas modalidades, objetiva satisfazer a obrigação definida em título executivo. Este título executivo, por sua vez, pode ter sido formado tanto em Juízo, por meio de uma sentença ou decisão interlocutória, ou fora dele, em razão da eficácia executiva de que são dotados alguns títulos de crédito ou contratos, como o de locação, por exemplo. A execução inicia-se e desenvolve-se sempre em benefício do credor da obrigação, por meio de atos de coerção, com a possibilidade de se impor multa ao devedor pelo não cumprimento da obrigação no prazo, ou ainda com a apropriação e eventual disposição dos bens do devedor, entre outras medidas. Porém, não são todas as obrigações que necessitam de um processo executivo autônomo para serem satisfeitas. Isto porque, a partir da modificação do CPC promovida pela Lei 8.953/94, o cumprimento das obrigações de fazer ou não fazer e de entregar coisa, definidas em títulos executivos judiciais (sentenças ou decisões interlocutórias, ainda que liminares), dá-se por meio do procedimento previsto nos artigos 461 e 461-A do CPC. Ou seja, depois de prolatada a decisão que fixou a obrigação, desnecessária será a formação de nova relação processual porque a efetivação da obrigação ocorrerá no mesmo processo e de forma diversa da execução tradicional, pois poderá ser iniciada até mesmo de ofício pelo juiz. Esse tipo de provimento judicial, seguindo a classificação quinária proposta por Pontes de Miranda, tem eficácia executiva, pois confere autorização para que a decisão seja executada nos mesmos autos, sem a instauração de procedimento autônomo. Diverge, portanto, das sentenças condenatórias, que declaram a existência da obrigação, condenando o devedor ao seu cumprimento, e devem submeter-se ao procedimento executivo para serem satisfeitas, caso não cumpridas voluntariamente pelo devedor, e também das sentenças mandamentais, que emitem uma ordem de cumprimento à parte, sob pena de imposição de alguma medida coercitiva como multa ou prisão civil, e até mesmo de configuração de crime de desobediência. De acordo com a classificação referida, as sentenças podem ainda ser declaratórias ou constitutivas. Não se tratando, portanto, de obrigações de fazer ou não fazer e entregar coisa previstas em título judicial, a execução das demais obrigações previstas em títulos executivos pode se dar tanto em processo executivo específico, como em fase do processo de conhecimento. O sistema executivo originalmente previsto no Código de Processo Civil estabelecia um procedimento único de execução para os títulos executivos extrajudiciais e para as sentenças. Em ambos era necessário o ajuizamento de ação autônoma, o que causava uma demora excessiva, em flagrante prejuízo ao exequente. Foi a alteração promovida no CPC pela Lei 11.232/05 que trouxe a separação dos procedimentos ao estabelecer que as obrigações de pagar quantia definidas em título executivo judicial agora não mais são executadas em relação processual executiva autônoma, mas sim por meio de atos executivos a serem realizados em fase do mesmo processo,

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OAB 1ª FASE – XIX EXAME DE ORDEM Direito Processual Civil - Aula 01

Sabrina Dourado

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AULA 01- OAB 1ª FASE XIX EXAME SABRINA DOURADO

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Twitter: @binadourado EXECUÇÃO 1) Noções gerais

A execução, em suas diversas

modalidades, objetiva satisfazer a obrigação definida em título executivo. Este título executivo, por sua vez, pode ter sido formado tanto em Juízo, por meio de uma sentença ou decisão interlocutória, ou fora dele, em razão da eficácia executiva de que são dotados alguns títulos de crédito ou contratos, como o de locação, por exemplo.

A execução inicia-se e

desenvolve-se sempre em benefício do credor da obrigação, por meio de atos de coerção, com a possibilidade de se impor multa ao devedor pelo não cumprimento da obrigação no prazo, ou ainda com a apropriação e eventual disposição dos bens do devedor, entre outras medidas.

Porém, não são todas as

obrigações que necessitam de um processo executivo autônomo para serem satisfeitas.

Isto porque, a partir da

modificação do CPC promovida pela Lei 8.953/94, o cumprimento das obrigações de fazer ou não fazer e de entregar coisa, definidas em títulos executivos judiciais (sentenças ou decisões interlocutórias, ainda que liminares), dá-se por meio do procedimento previsto nos artigos 461 e 461-A do CPC. Ou seja, depois de prolatada a decisão que fixou a obrigação, desnecessária será a formação de nova relação processual porque a efetivação da obrigação ocorrerá no mesmo processo e de forma diversa da execução tradicional, pois

poderá ser iniciada até mesmo de ofício pelo juiz.

Esse tipo de provimento judicial,

seguindo a classificação quinária proposta por Pontes de Miranda, tem eficácia executiva, pois confere autorização para que a decisão seja executada nos mesmos autos, sem a instauração de procedimento autônomo.

Diverge, portanto, das sentenças

condenatórias, que declaram a existência da obrigação, condenando o devedor ao seu cumprimento, e devem submeter-se ao procedimento executivo para serem satisfeitas, caso não cumpridas voluntariamente pelo devedor, e também das sentenças mandamentais, que emitem uma ordem de cumprimento à parte, sob pena de imposição de alguma medida coercitiva como multa ou prisão civil, e até mesmo de configuração de crime de desobediência. De acordo com a classificação referida, as sentenças podem ainda ser declaratórias ou constitutivas.

Não se tratando, portanto, de

obrigações de fazer ou não fazer e entregar coisa previstas em título judicial, a execução das demais obrigações previstas em títulos executivos pode se dar tanto em processo executivo específico, como em fase do processo de conhecimento.

O sistema executivo

originalmente previsto no Código de Processo Civil estabelecia um procedimento único de execução para os títulos executivos extrajudiciais e para as sentenças. Em ambos era necessário o ajuizamento de ação autônoma, o que causava uma demora excessiva, em flagrante prejuízo ao exequente.

Foi a alteração promovida no CPC pela Lei 11.232/05 que trouxe a separação dos procedimentos ao estabelecer que as obrigações de pagar quantia definidas em título executivo judicial agora não mais são executadas em relação processual executiva autônoma, mas sim por meio de atos executivos a serem realizados em fase do mesmo processo,

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denominada de fase de “cumprimento da sentença”.

Diante desta modificação,

passou-se também a denominar de “sincrético” este processo que unificou o processo de conhecimento e o de execução, permitindo que a efetivação forçada do julgado seja feita como fase do mesmo processo.

Porém, os títulos executivos que

não foram formados em juízo, denominados de extrajudiciais (ainda que estipulem obrigação de fazer e não fazer ou entregar coisa), assim como alguns títulos judiciais (como a sentença penal condenatória, a sentença arbitral, a sentença estrangeira – art. 475-N do CPC – e a sentença condenatória proferida contra a Fazenda Pública – art. 730 e 731 do CPC), continuam a ser executadas por meio de processo executivo autônomo.

Por fim, convém observar que a partir da Lei nº. 11.232/2005, o devedor não mais pode promover a denominada execução invertida, com o objetivo de citar o credor para vir receber seu crédito. Assim, o devedor que desejar cumprir a obrigação prevista em título executivo extrajudicial deverá ajuizar a competente ação de consignação em pagamento. 2) Princípios da ação executiva

Além dos princípios gerais do

direito processual, notadamente aqueles de previsão constitucional como o do devido processo legal, do contraditório e ampla defesa, entre outros, o procedimento executivo, por sua especificidade em relação aos demais procedimentos, ostenta princípios próprios, a saber: princípio da patrimonialidade, princípio da efetividade ou utilidade, princípio da disponibilidade e princípio da menor onerosidade. 2.1) Princípio da patrimonialidade:

De acordo com o art. 591 do CPC, o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos

os seus bens, presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.

Portanto, o devedor não poderá, salvo na hipótese de inadimplemento voluntário e inescusável de prestação alimentícia, como se verá adiante, sofrer qualquer restrição à sua liberdade em razão de descumprimento de suas obrigações, pois para a satisfação delas será atingido apenas o seu patrimônio.

A responsabilidade patrimonial

pelo cumprimento das obrigações será originária, quando for o patrimônio do próprio devedor que responderá pela dívida.

Será, porém, secundária,

quando o patrimônio de terceiros for atingido para satisfazer a obrigação do devedor. No entanto, por se tratar de medida excepcional, somente será atingido o patrimônio de terceiros nas hipóteses taxativamente previstas no art. 592 do CPC. Neste caso, mesmo não sendo devedores e não fazendo parte da relação executiva, os terceiros ali relacionados poderão ter seus bens atingidos.

Como ressalva o art. 591 do

CPC, a hipótese de responsabilidade patrimonial secundária configura exceção ao princípio da patrimonialidade, a qual, como todas as restrições de direitos, deve estar expressamente previstas em lei e ser interpretada restritivamente.

Como exceção ao princípio da

patrimonialidade, temos a possibilidade de haver prisão civil por dívida nas hipóteses previstas no art. 5º, inciso LXVII, da Constituição Federal, relativas ao responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. Porém, é necessário observar que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), integrada em nosso ordenamento pelo Dec. nº 678, de 06 de novembro de 1992, e que, segundo o parágrafo 3º do art. 5º da CF, tem natureza equivalente a emenda constitucional, apenas permite a prisão civil por dívida do devedor de obrigação alimentícia. A

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respeito, o STF editou a súmula vinculante nº 25, pacificando a questão:

“É ilícita a prisão civil de

depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”.

Há ainda algumas categorias de

bens que não podem ser objeto de expropriação em execução. Com efeito, o art. 649 do CPC e a Lei 8.009/90 relacionam diversos bens considerados impenhoráveis.

Do mesmo modo, os bens

públicos são também considerados impenhoráveis, devendo a execução contra a Fazenda Pública seguir o regime de precatórios, a ser estudado oportunamente.

Não havendo bens do devedor

ou de terceiros responsáveis para responder pela obrigação, deverá a execução ser suspensa, nos termos do art. 791, inciso III, do CPC. 2.2) Princípio da efetividade e utilidade da execução

Conforme já dito, a execução inicia-se e desenvolve-se sempre em benefício do credor da obrigação definida em título executivo. Desse modo, no curso da execução, deverão ser penhorados tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal atualizado, juros, custas e honorários advocatícios (CPC, art. 659).

Porém, com o intuito de não

tornar inútil o procedimento e apenas trazer prejuízo ao devedor, ressalva o § 2º do art. 659 que não se levará a efeito a penhora, quando for evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução.

A fim de se trazer efetividade ao

procedimento executivo, autoriza-se que o credor também execute provisoriamente os títulos executivos judiciais ainda não transitados em julgado, bem como a solicite a aplicação de multa diária na hipótese de

não cumprimento da obrigação de fazer e não fazer e entregar coisa previstas em título executivo extrajudicial, dentre outras medidas. 2.3) Princípio da disponibilidade

Considerando que a execução é instaurada a pedido e em benefício do credor, inevitável que dela possa dispor, quando for de seu interesse. Poderá também dispor apenas de algumas medidas executivas, como a penhora de determinado bem, por exemplo, sem que tal ato acarrete a extinção do feito. Tal permissão, ademais, consta expressamente do art. 569 do CPC, que prevê: o credor tem a faculdade de desistir de toda a execução ou de apenas algumas medidas executivas. 2.4) Princípio da menor onerosidade

Tal princípio está inserto no art. 620 do CPC e determina que se houver vários meios de o credor promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor, mas desde que a execução não se torne mais gravosa para o credor. 3) Legitimidade ad causam para a

execução

3.1) Legitimidade ativa

É apenas o credor que detém legitimidade ordinária para promover a execução (CPC, art. 566, inciso I). Tal condição, ademais, deve constar expressamente do título executivo que se pretende executar. E se o credor for menor, deverá estar representado ou assistido.

O Ministério Público, se não figurar como credor no título executivo (hipótese em que terá legitimidade ordinária), poderá, quando autorizado por lei, promover a execução, postulando direito alheio em nome próprio (CPC, art. 566, inciso II). Neste caso, sua legitimidade será extraordinária. Como exemplo, temos a possibilidade de o Ministério Público executar a sentença condenatória proferida em ação coletiva movida por outro

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legitimado, quando este não a promover no tempo devido.

Quando a condição de credor for transferida a outra pessoa, em razão de “causa mortis” ou negócio “inter vivos”, poderá este terceiro, na condição de legitimado derivado, sucessivo ou superveniente, promover ou prosseguir com a execução. Também não podemos confundir a legitimação derivada com a legitimação extraordinária, uma vez que na legitimação derivada não será postulado direito alheio em nome próprio, mas sim direito da própria pessoa que, embora não figure como credor no título executivo, teve para si transferidos os direitos do credor primitivo.

O art. 567 do CPC prevê os seguintes legitimados derivados para a promoção ou prosseguimento da execução:

I - o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que por morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título executivo;

Nessa hipótese, cumpre observar apenas que a legitimidade do espólio surge com a abertura do processo de inventário ou arrolamento e finda-se com a partilha, devendo sempre ser representado pelo inventariante.

II - o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe foi transferido por ato entre vivos;

O ato negocial de cessão de crédito deverá ser escrito (CC, art. 288), sendo as consequências e responsabilidades do cedente e cessionário reguladas pela lei civil.

III - o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional.

Dá-se sub-rogação quando um terceiro paga a dívida e assume a posição do primitivo credor, podendo cobrá-la mediante execução. As hipóteses de sub-rogação estão previstas nos artigos 346 e 347 do Código Civil. 3.2) Legitimidade passiva

Em regra, terá legitimidade para figurar no pólo passivo da ação de execução o devedor, assim reconhecido como tal no título executivo (CPC, art. 568, inciso I). Sua legitimidade, portanto, será ordinária.

Porém, quando a condição de devedor for transferida, em razão de “causa mortis” ou negócio “inter vivos”, para um terceiro, este, na condição de legitimado derivado, sucessivo ou superveniente, poderá ser também executado. Os incisos II e III do art. 568 do CPC dispõem, a respeito, que o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor, assim como o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo, são legitimados passivos à execução.

Também poderá ser demandado em execução o fiador que assumiu em Juízo o compromisso de garantir o cumprimento da obrigação, ainda que não tenha feito parte do título executivo (CPC, art. 568, inciso IV). Nesta hipótese, a responsabilidade será extraordinária, pois responderá em nome próprio por débito alheio.

Com relação à fiança convencional, o fiador somente poderá ser demandado diretamente se sua obrigação estiver prevista em título executivo extrajudicial; se a garantia estiver prevista em qualquer outro documento que não se revista da qualidade de título executivo, sua responsabilidade deverá ser primeiramente apurada em processo de conhecimento. Convém observar que este entendimento não afronta o disposto na Súmula 268 do STJ, que prevê que “o fiador que não integrou a relação processual de despejo não responde pela execução do julgado”, porque neste caso executa-se a sentença, proferida em relação processual da qual não fez parte o fiador, motivo pelo qual os efeitos da sentença não o alcançam.

O responsável tributário, assim definido em legislação própria, também é considerado legitimado passivo extraordinário para a ação executiva, nos termos do art. 568, inciso V, pois responderá por débito alheio, como nos casos do inventariante, relativamente aos débitos do espólio (CTN, art. 134, IV). 3.3) Litisconsórcio

É plenamente admissível na execução a formação de litisconsórcio, seja ativo, passivo ou misto, assim como

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originário ou superveniente. E embora seja normalmente facultativa a formação de litisconsórcio na execução, não há qualquer impedimento na formação de litisconsórcio necessário, se o tipo da obrigação o exigir.

3.4) Intervenção de terceiros na execução

Considerando que a oposição, a nomeação à autoria, a denunciação da lide e o chamamento ao processo são hipóteses de intervenção de terceiro utilizáveis na formação do título executivo judicial, não têm cabimento na execução.

Com relação à assistência, sua admissibilidade é polêmica na doutrina pois não haverá sentença a beneficiar juridicamente o terceiro. Porém, diante da redação do art. 834 do Código Civil, há quem admita o ingresso do fiador como assistente do credor (CC, art. 834:“Quando o credor, sem justa causa, demorar a execução iniciada contra o devedor, poderá o fiador promover-lhe o andamento”). 4) Pressupostos processuais do

processo executivo

Além dos pressupostos processuais comuns a todos os procedimentos (classificados como pressupostos de existência: a) existência de demanda; b) investidura do órgão jurisdicional; c) citação válida; ou de pressupostos de validade positivos: a) petição inicial apta; b) competência do juízo; c) imparcialidade do juiz; d) capacidade de ser parte ou capacidade civil; e) capacidade de estar em juízo (ou capacidade processual ou “legitimatio ad processum”); f) capacidade postulatória; ou ainda chamados de pressupostos de validade negativos, que devem estar ausentes da relação processual: a) litispendência; b) coisa julgada; c) perempção), no processo executivo temos pressupostos específicos, relativos à obrigação que pode ser objeto de execução.

De acordo com o art. 580 do CPC, somente pode ser instaurado procedimento executivo quando visar satisfazer obrigação certa, líquida, exigível e consubstanciada em título executivo.

Certa é a obrigação que apresenta claramente definidos quem são seus sujeitos (credor e devedor), a natureza da prestação (que pode ser de pagar quantia, de fazer ou não fazer, ou de entregar coisa), bem como o objeto desta prestação.

Líquida é a obrigação que tem determinado e mensurado o objeto da prestação (“quantum debeatur”), por meio da indicação da quantidade ou valor, por exemplo. Ademais, também será líquida a obrigação cujo objeto possa ser apurável por meio de cálculos aritméticos (como o saldo devedor de aluguel não pago, que é acrescido de multa e juros predefinidos no contrato). Ilíquida, por outro lado, é a obrigação que depende da prova de fatos para sua mensuração. Neste sentido a súmula 233 do STJ: “o contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente, não é título executivo”.

O título executivo, por sua vez, será exigível, com o inadimplemento da obrigação ou com a constituição em mora do devedor, quando esta for imprescindível (mora “ex persona”). O art. 581 do CPC ainda autoriza o credor a iniciar a execução quando a prestação oferecida não corresponder ao direito ou à obrigação, ou seja, quando houver cumprimento imperfeito. Porém, não será permitida a execução do cumprimento de uma obrigação recíproca se a parte que a requerer não tiver cumprido sua contraprestação (neste sentido o art. 582 do CPC: “em todos os casos em que é defeso a um contraente, antes de cumprida a sua obrigação, exigir o implemento da do outro, não se procederá à execução, se o devedor se propõe a satisfazer a prestação, com meios considerados idôneos pelo juiz, mediante a execução da contraprestação pelo credor, e este, sem justo motivo, recusar a oferta”).

Necessário também que referidos pressupostos sejam identificáveis no título executivo, motivo pelo qual exige-se a apresentação do instrumento respectivo para que se inicie a execução.

Por fim, não estando preenchidos os pressupostos para a

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execução, acima estudados, a execução deve ser declarada nula, nos termos do art. 618 do CPC, que dispõe: “Art. 618 - É nula a execução: I - se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível; II - se o devedor não for regularmente citado; III - se instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrido o termo, nos casos do artigo 572”. 5) Título executivo

Título executivo não se confunde com título de crédito. Título executivo é o documento que autoriza que se promova a ação executiva ou que se inicie a fase do cumprimento de sentença, tendo, portanto, natureza processual. Título de crédito, por seu turno, são os documentos representativos de uma obrigação de direito material e conceituados por Cesare Vivante como o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado. Nem todos os títulos executivos, porém, são títulos de crédito, da mesma forma que nem todos os títulos de créditos podem ser considerados títulos executivos.

Os títulos executivos, por sua origem, são classificados como títulos judiciais ou extrajudiciais.

5.1) Títulos Executivos Judiciais

Os títulos executivos judiciais emanam de pronunciamento judicial que impõe uma obrigação ao devedor que, não sendo cumprida, enseja execução.

O art. 475-N do CPC relaciona os títulos executivos judiciais:

Inciso I - a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;

Todas as sentenças que tenham eficácia condenatória podem ser objeto de execução, independentemente da natureza da obrigação (obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia). Não podemos olvidar que as sentenças declaratórias e constitutivas também podem ser objeto de execução, na parte relativa à condenação ao pagamento das verbas de sucumbência.

Quanto às obrigações de pagar quantia definidas em título executivo judicial, sua execução ocorre no bojo do próprio processo de conhecimento numa fase chamada de “cumprimento de sentença”. Tratando-se de obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa, a execução se dará conforme o procedimento previsto nos artigos 461 e 461-A do CPC, por meio da concessão da tutela específica ou mediante providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

II - a sentença penal condenatória transitada em julgado;

A sentença penal, ainda que não faça expressa menção à condenação do acusado à reparação dos danos causados à vítima, é considerada título executivo em benefício desta. No entanto, normalmente será necessário que se faça prévia liquidação para apuração do montante devido (“quantum debeatur”), por meio do processo de liquidação, antes de se iniciar o processo executivo. Incabível, porém, será a rediscussão da culpa do acusado (“an debeatur”).

Ademais, a sentença penal condenatória será liquidada e executada não no bojo do procedimento criminal em que proferida, mas perante o juízo cível competente (CPC, art. 575, inciso IV).

Convém também observar que as instâncias cível e criminal são independentes, embora se intercomuniquem. Ou seja, reconhecida a responsabilidade do acusado, incabível a rediscussão do assunto na esfera cível, motivo pelo qual se já houver ação cível de ressarcimento dos danos em andamento, passar-se-á diretamente à fase de liquidação. Porém, se a ação de reparação de danos já tiver sido julgada improcedente e sobrevier sentença condenatória na esfera criminal, caberá à vítima apenas ajuizar ação rescisória da sentença cível, diante da coisa julgada formada. Tal posicionamento, porém, não é pacífico na doutrina, havendo também aqueles que reputam prevalecer a sentença criminal, já que o CPC a considera título executivo judicial independentemente da apreciação da questão no juízo cível.

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III - a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo;

Havendo acordo entre as partes durante a tramitação de um processo (ainda que tenha a natureza de conciliação, transação, reconhecimento jurídico do pedido ou renúncia ao direito postulado e mesmo que verse sobre matéria diversa daquela que se discute nos autos), e sendo o pacto homologado, a sentença respectiva será considerada título executivo judicial e poderá ser executada nos mesmos autos em que proferida, se houver descumprimento por qualquer das partes.

IV - a sentença arbitral; A sentença arbitral, quando

condenatória, é considerada título executivo judicial, ainda que não homologada por juiz, nos termos do art. 18 e 31 da Lei 9.307/96.

Sua execução, porém, somente poderá ser feita pelo Poder Judiciário, no juízo competente (CPC, art. 575, inciso IV).

V - o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente;

Os acordos extrajudiciais de qualquer natureza podem também ser levados à juízo para homologação, se nenhum vício de forma ou validade o macular, valendo a sentença como título executivo judicial. Tal autorização repete aquela prevista no art. 57 da Lei 9.099/95.

VI - a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;

A necessidade de homologação da sentença estrangeira, assim como a competência do Superior Tribunal de Justiça para tal apreciação, está prevista na Constituição Federal, art. 105, inciso I, alínea “i”, da mesma forma que a competência da Justiça Federal para sua execução, depois de homologada (CF, art. 109, inciso X).

Com relação aos títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro, de acordo com o § 2º do art. 585 do CPC não é exigível qualquer homologação para que tenham eficácia executiva, bastando que satisfaçam aos requisitos de formação exigidos pela lei do

lugar de sua celebração e indicar o Brasil como o lugar de cumprimento da obrigação.

VII - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal.

Tendo em vista que o formal de partilha somente tem força executiva em relação às pessoas nele mencionadas, se algum bem adjudicado estiver na posse de terceiro, será necessária ação de conhecimento para propiciar a transferência da posse.

5.2) Títulos Executivos Extrajudiciais

De acordo com o art. 585 do CPC, são títulos executivos extrajudiciais:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;

Os títulos de crédito referidos são considerados títulos executivos extrajudiciais e, desde que satisfeitos os requisitos específicos de prazo e forma previstos na legislação própria, poderão embasar ação executiva. Relativamente ao cheque e a nota promissória, regulados respectivamente pela Lei 7.357/85 e pela Lei Uniforme – Dec. nº 57.663/66, não há necessidade de prévio protesto para serem executados, a menos que se pretenda cobrá-los de endossadores ou avalistas. Quanto à duplicata, regulada pela Lei 5.474/68, necessita da aceitação do sacado para que tenha força executiva. Do contrário, deverá estar protestada e acompanhada do comprovante de entrega da mercadoria ou da prestação do serviço, desde que não tenha havido recusa. Também a letra de câmbio deve ser aceita pelo sacado para que, contra ele, seja movida a ação executiva; não havendo aceite, a cobrança contra o sacador e endossadores dependerá de prévio protesto, nos termos previstos na Lei Uniforme.

II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;

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Tratando-se de escritura pública, bastará a assinatura do devedor, assumindo o dever de cumprir a prestação (seja de pagar quantia, entregar coisa fungível ou infungível, ou de fazer e não fazer), para que seja considerado título executivo. Tratando-se de documento particular, exige-se também a assinatura de duas testemunhas. Quando a transação extrajudicial for referendada pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados das partes, desnecessária será a assinatura de testemunhas.

III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida;

Com relação a este dispositivo, necessário ponderar que os contratos de seguro de vida com cobertura de acidentes pessoais que resulte incapacidade não podem ser executados porque necessária será a análise do grau de incapacidade do segurado para aferição do montante da indenização, motivo pelo qual não são considerados líquidos. Somente os seguros de vida que visam à cobrança da indenização por morte podem ser executados.

IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

A obrigação do enfiteuta de pagar o foro anual, assim como o laudêmio que deve ser recolhido toda vez que o domínio útil do imóvel objeto da enfiteuse for transferido, também constituem-se créditos que podem ser exigidos por meio de ação executiva.

V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

Desde que seja escrito, o contrato de locação pode ser executado, ainda que não tenha sido também subscrito por duas testemunhas. E considerando a expressão “documentalmente comprovado”, empregada no inciso, admite-se também a execução de crédito decorrente de locação reconhecido documentalmente, ainda que a contratação tenha sido verbal. Quanto aos acessórios, é lícita a cobrança, por meio de ação executiva, das taxas de luz, água e despesas de condomínio. Não poderão ser

cobradas, porém, as despesas relativas à reforma do imóvel feita quando da desocupação, posto que tal quantia não se mostra líquida.

VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial;

As verbas fixadas incidentalmente nos feitos em que os auxiliares da justiça prestam serviço são consideradas título executivo extrajudicial e passíveis de execução em processo autônomo. Ainda que fixados pelo juiz, não são considerados pela lei como créditos decorrente de título executivo judicial, embora haja na doutrina, a exemplo de Cândido Rangel Dinamarco, quem defenda terem natureza de título executivo judicial porque fixadas no bojo do processo.

VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;

O crédito referido neste inciso será cobrado em execução fiscal, regulada pela Lei 6.830/80.

VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.

Como exemplos de títulos executivos previstos em legislação especial, temos o contrato de alienação fiduciária em garantia e o contrato escrito de honorários advocatícios (Lei 8.906/94, art. 24). 6) Competência

A competência para o processamento da ação executiva deve ser estudada separadamente para os títulos executivos judiciais e extrajudiciais, podendo ora ser absoluta, ora relativa. 6.1) Competência para execução de título judicial

O art. 475-P e o art. 575, ambos do CPC, em seus incisos I e II, determinam que o cumprimento da sentença deve ocorrer no tribunal ou juízo que processou a causa, tratando-se, no primeiro caso, de competência originária do tribunal, e no

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segundo, de causa iniciada no primeiro grau de jurisdição. Funcional, portanto, deve ser considerado este critério de fixação de competência.

Porém, tratando-se de sentença penal condenatória, sentença arbitral ou sentença estrangeira, a competência será relativa, e deverá observar o critério territorial previsto para o processo de conhecimento (CPC, art. 475-P e art. 575, inciso IV), observando-se que a execução da sentença estrangeira tramitará perante a Justiça Federal (CF, art. 109, inciso X). Isto porque não há processo civil de conhecimento prévio nestes casos, a gerar a prevenção do juízo. Também é certo que, nestas hipóteses, necessária será a formação de processo autônomo de liquidação, se o caso, e de execução.

Relevante exceção está prevista no parágrafo único do art. 457-P, que admite a opção do credor pelo processamento da execução no juízo onde se encontram os bens sujeitos à expropriação ou no juízo do atual domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem. Como se vê, a lei facultou apenas ao credor, nos casos por ela especificados, a possibilidade de ajuizar a execução em foro diverso do juízo onde se processou a ação de conhecimento em primeiro grau. Nessa hipótese, reconhecendo-se competente, o juízo da execução solicitará a remessa dos autos da ação de conhecimento ao juízo de origem. 6.2) Execução de título extrajudicial

A competência para o ajuizamento da ação de execução de título extrajudicial é relativa e observa os mesmos critérios utilizados para a fixação da competência no processo de conhecimento, dentre os quais estabelecemos a seguinte ordem: primeiramente o foro de eleição indicado pelas partes contratualmente (CPC, art. 111); em segundo lugar o foro do local indicado como de pagamento (CPC, art. 100, inciso IV, alínea “d”); e por último o foro de domicílio do réu (CPC, art. 94). 6.3) Execução fiscal

A execução fiscal, de acordo com o art. 578 do CPC, será proposta no

foro do domicílio do devedor ou, se não o tiver, no foro de sua residência ou no local onde for encontrado, ressalvando o parágrafo único que, havendo mais de um devedor, a Fazenda Pública poderá escolher o foro do domicílio de qualquer deles. Também poderá a ação ser proposta no foro do lugar em que se praticou o ato ou ocorreu o fato que deu origem à dívida, embora nele não mais resida o devedor, ou, ainda, no foro da situação dos bens, quando a dívida deles se originar. 7) Responsabilidade patrimonial

Nos termos do art. 591 do CPC, é o patrimônio do devedor que responderá pelo cumprimento de suas obrigações, não se olvidando que há certos bens que não podem ser penhorados, a exemplo daqueles relacionados no art. 649 do CPC. Neste caso, classifica-se a responsabilidade patrimonial do devedor de originária.

Será, porém, secundária a responsabilidade patrimonial quando o patrimônio de terceiros vem a ser atingido para satisfazer a obrigação do devedor. As hipóteses de responsabilidade patrimonial secundária estão relacionadas no art. 592 do CPC. Vejamos:

Inciso I: ficam sujeitos à execução os bens do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória (inciso I do art. 592).

Nesse caso, o devedor aliena bem cuja propriedade se discute em processo de conhecimento. Ficando vencido nesta demanda, o bem alienado a terceiro poderá ser objeto da execução a ser promovida posteriormente, mesmo que já esteja na posse do terceiro adquirente. A respeito da segunda hipótese (de execução fundada em obrigação reipersecutória), e também a título de exemplo, ficará sujeito à execução e passível de apreensão o bem alienado a terceiro no curso de processo que visa rescindir o contrato primitivo de compra e venda que transferiu a propriedade do bem ao vendedor que está sendo executado; isto porque, sendo acolhida a pretensão daquele que vendeu primitivamente o bem, ineficaz será a segunda venda feita a terceiro, posto que

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realizada no curso do processo que objetivava a rescisão do contrato originário. Não podemos deixar de observar que referidas hipóteses se equiparam àquelas de fraude à execução, previstas no inciso V, deste mesmo artigo.

II - do sócio, nos termos da lei; Dependendo do tipo de

sociedade formada, os sócios podem ser solidariamente responsáveis pelas dívidas da pessoa jurídica, como nos casos de sociedades de fato, sociedade em nome coletivo, entre outras. Também poderá haver a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade, a fim de se estender aos sócios a responsabilidade pelo pagamento das dívidas sociais, ainda que tenham sua responsabilidade limitada contratualmente. Esta última hipótese ocorre nos casos em que houver abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, nos termos do art. 50 do Código Civil.

III - do devedor, quando em poder de terceiros;

Nos termos do art. 591 do CPC, o devedor responderá com a totalidade de seus bens pelas dívidas que contrair, ainda que estejam na posse de terceiros. Desnecessária a ressalva feita neste artigo pois, mesmo na posse de terceiro, o bem continua sendo do devedor.

IV - do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem pela dívida;

Ficam sujeitos à execução não somente os bens particulares do devedor e os comuns que não ultrapassem sua meação, mas também os próprios do cônjuge e os que superarem a meação do devedor, desde que a dívida executada tenha beneficiado a família. E por ser presumível que a dívida contraída pelo cônjuge verte-se em benefício da família ou do casal, cabe ao cônjuge do devedor provar que não se beneficiou.

Havendo penhora de bens cujo montante ultrapasse a meação do devedor, caberá ao cônjuge opor embargos de terceiro visando à desconstituição da constrição. Caso admita, ainda que implicitamente, que a dívida beneficiou a

ambos, e tenha interesse em discuti-la, também poderá opor embargos do devedor.

Por fim, sendo feita a penhora sobre bem indivisível, a meação do cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem, nos termos do art. 655-B do CPC.

V - alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução.

Também ficam sujeitos à penhora os bens que foram vendidos pelo devedor em fraude à execução, frustrando, portanto, o pagamento da dívida, ainda que estes bens estejam na posse de terceiros.

Considera-se em fraude à execução a alienação ou oneração de bens que ocorrerem nas hipóteses do art. 593 do CPC, ou seja: quando sobre os bens pender ação fundada em direito real (inciso I); quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência (inciso II); e nos demais casos previstos em lei (inciso III).

Embora o instituto seja denominado “fraude à execução”, não se exige que a alienação ou oneração ocorra na pendência de ação de execução, bastando que esteja pendente ação de conhecimento e que o devedor já tenha sito citado nesta ação, conforme entendimento majoritário no STJ.

Havendo alienação fraudulenta do bem que é objeto de ação fundada em direito real, e no curso desta ação, não se dá o ingresso do terceiro adquirente nos autos, tendo o feito prosseguimento contra o alienante, sendo certo ainda que a sentença a ser proferida também entre as partes originárias estenderá seus efeitos ao adquirente, nos termos do art. 42 do CPC.

Na hipótese de alienação que reduza o devedor à insolvência, o reconhecimento da fraude à execução não permite a alteração da titularidade das partes, mas apenas a penhora do bem alienado fraudulentamente. Convém frisar que não se declara a nulidade da venda do bem, mas apenas a ineficácia, perante o credor, desta negociação fraudulenta.

Não se deve confundir também a fraude à execução com a fraude contra credores (prevista nos artigos 158 e

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seguintes do Código Civil), a qual deve ser reconhecida em ação própria (chamada ação pauliana), a ser movida pelo credor tanto contra o devedor alienante como contra o terceiro adquirente, e que exige a comprovação não só do fato de a alienação ter reduzido o devedor à insolvência (“eventus damni”), quando da ciência do adquirente desta intenção do devedor de prejudicar o credor (“consilium fraudis”).

E embora o art. 593 do CPC não exija a comprovação do “consilium fraudis” para o reconhecimento da fraude à execução, mas apenas o “eventus damni”, o STJ, por meio de sua súmula nº 375, firmou o entendimento de que é imprescindível a ciência do adquirente, ainda que presumida, do ajuizamento de ação fundada em direito real ou capaz de reduzir o devedor à insolvência. Isto porque, de acordo com a súmula 375 do STJ: “O reconhecimento da fraude de execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente”.

Relativamente ao conhecimento da ação por parte de terceiros, o art. 615-A trouxe importante inovação ao permitir que o exequente, no ato da distribuição, obtenha certidão do ajuizamento da execução para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens, que fará presumir em fraude à execução a alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação, nos termos de seu parágrafo terceiro. 8) Espécies de execução

A execução é classificada como definitiva ou provisória, conforme veremos separadamente.

9.1) Definitiva

Definitiva é a execução cujo título executivo não corre risco de se tornar inexigível por força de reforma de decisão anterior que autorizou o início da execução.

Portanto, a execução dos títulos executivos extrajudiciais será definitiva (CPC, art. 587, 1ª parte), assim como a execução das sentenças já transitadas em julgado (CPC, art. 475-I, § 1º, primeira parte).

9.2) Provisória No entanto, provisória será a

execução de título executivo judicial ainda não transitado em julgado, ou seja, cuja sentença foi impugnada por recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo (CPC, art. 475-I, § 1º, segunda parte).

Também será provisória a execução de título executivo extrajudicial quando interposta apelação contra a sentença de improcedência dos embargos que foram recebidos com efeito suspensivo (CPC, art. 587, 2ª parte). Neste caso, a execução do título executivo extrajudicial iniciou-se de forma definitiva; porém, com a oposição de embargos, recebidos com efeito suspensivo (CPC, art. 739-A, § 1º), a execução teve sobrestado seu andamento, que somente voltará a tramitar quando os embargos forem julgados improcedentes; sendo, porém, a sentença de improcedência dos embargos atacada por recurso de apelação (que sempre será recebida no efeito devolutivo, nos termos do art. 520, V, do CPC), a execução poderá novamente prosseguir, mas de forma provisória e não definitiva, como originalmente iniciou-se. Cumpre ainda observar que a redação deste art. 587, alterada pela Lei nº 11.382/2006, revogou parcialmente a súmula 317 do STJ que definia como definitiva a execução de título extrajudicial, ainda que pendente apelação contra sentença que julgasse improcedentes os embargos.

Igualmente provisória será a execução das decisões interlocutórias, como a de antecipação de tutela, visto que poderão ser cassadas quando do julgamento definitivo.

E diante da possibilidade de reforma da decisão que autoriza a execução provisória, esta somente se iniciará por requerimento do credor, e correrá por sua conta e risco, visto que deverá ressarcir o executado dos danos que este sofrer, se a sentença for reformada (CPC, art. 475-O, inciso I). Mesmo que seja provisória a execução, não se encontra vedado o levantamento de depósito em dinheiro ou a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, mas a prática de tais atos dependem de prestação de caução

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suficiente e idônea nos próprios autos, arbitrada de plano pelo juiz (CPC, art. 475-O, inciso II), que somente poderá ser dispensada nas hipóteses do parágrafo segundo do mesmo artigo: I - quando, nos casos de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, até o limite de sessenta vezes o valor do salário-mínimo, o exeqüente demonstrar situação de necessidade; II - nos casos de execução provisória em que penda agravo de instrumento junto ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça (artigo 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação.

A execução definitiva, por fim, tramitará nos autos principais (seja no mesmo processo em que formado o título, ou em processo autônomo de execução), enquanto a provisória em autos apartados, por meio da chamada carta de sentença (CPC, art. 475-O, § 3º), já que os autos principais serão remetidos à instância superior para julgamento do recurso pendente. Exceção se faz à execução provisória de título extrajudicial, que não necessita de carta de sentença, posto que os embargos julgados improcedentes e que foram impugnados por recurso, correm em autos apartados (CPC, art. 736, parágrafo único).

10) Cumulação de execuções

De acordo com o art. 573 do CPC: “É lícito ao credor, sendo o mesmo o devedor, cumular várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, desde que para todas elas seja competente o juiz e idêntica a forma do processo”. Portanto, para que haja cumulação de execuções, o credor e o devedor devem ser os mesmos, o juízo competente para o processamento de todas, assim como idêntico o procedimento executivo. Desse modo, é possível o mesmo credor executar, contra o mesmo devedor, dois títulos executivos extrajudiciais que contenham previsão de pagar quantia. Se um dos títulos, porém, contiver obrigação de entregar coisa, por exemplo, incabível será a cumulação.

Também não se admite cumulação de execuções quando se tratar

de título executivo judicial, diante da competência funcional que apresentam. 11) Espécies de execução

É a natureza da obrigação prevista no título executivo que determina a espécie de execução a ser utilizada, dentre as diversas que são previstas e reguladas pelo CPC. Se a obrigação não cumprida for de dar coisa certa ou incerta, o procedimento a ser adotado será aquele da execução para entrega de coisa (CPC, arts. 621/631); se a obrigação, por sua vez, for de fazer ou não fazer, empregado será o procedimento da execução das obrigações de fazer e não fazer (CPC, arts. 632/645). Por fim, tratando-se de obrigação de pagar quantia, diversas são as espécies de execução existentes, vejamos: execução por quantia certa contra devedor solvente (CPC, arts. 646/724), execução por quantia certa contra devedor insolvente (CPC, arts. 748/786-A), execução contra a Fazenda Pública (CPC, arts. 730/731), execução de prestação alimentícia (CPC, arts. 732/735) e execução fiscal (regulada pela Lei 6.830/80). 12) Atos atentatórios à dignidade da justiça

O art. 600 do CPC prevê diversas hipóteses de atos que são considerados atentatórios à dignidade da justiça que podem ser praticados pelos executados durante a execução, motivo pelo qual devemos observá-los. Referido artigo prevê as seguintes hipóteses de atos do executado que são considerados atentatórios à dignidade da justiça: I - frauda a execução; II - se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; III - resiste injustificadamente às ordens judiciais; IV - intimado, não indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais são e onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores.

E, de acordo com o art. 601 do CPC, “Nos casos previstos no artigo anterior, o devedor incidirá em multa fixada pelo juiz, em montante não superior a vinte por cento do valor atualizado do débito em execução, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material, multa essa que reverterá em

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proveito do credor, exigível na própria execução”.

Ressalva, porém, o parágrafo único do art. 601, que o juiz poderá relevar a pena se o devedor se comprometer a não mais praticar qualquer dos atos definidos no art. 600 e der fiador idôneo, que responda ao credor pela dívida principal, juros, despesas e honorários advocatícios. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

1) Introdução

Somente a obrigação líquida pode ser objeto de ação executiva. Líquida é a obrigação que tem determinado e mensurado o objeto da prestação, ou seja, quando já se encontra definido o “quantum debeatur” (valor da dívida), nas obrigações de pagar quantia, ou o fato a ser prestado, nas obrigações de fazer, ou ainda o objeto a ser entregue, nas obrigações de entregar coisa.

É necessário ressaltar que o procedimento de liquidação destina-se exclusivamente aos títulos executivos judiciais, motivo pelo qual conclui-se que a iliquidez dos títulos executivos extrajudiciais impede, por completo, sua execução, pois deixará de ser considerado título executivo.

Na liquidação também é vedado rediscutir a lide ou modificar a sentença que a julgou (CPC, art. 475-G).

Com relação aos títulos executivos judiciais (como a sentença cível, por exemplo), devem, em regra, ser líquidos, já que somente admite-se a prolação de sentença ilíquida quando for genérico o pedido formulado na petição inicial. Por sua vez, “Quando o autor tiver formulado pedido certo, é vedado ao juiz proferir sentença ilíquida” (CPC, art. 459, parágrafo único).

O pedido genérico, ademais, somente pode ser formulado nas hipóteses previstas no art. 286 do CPC, que são: “I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens demandados; II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do fato ilícito; III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu”.

O § 3º do art. 475-A do CPC também proíbe a prolação de sentença ilíquida nas hipóteses previstas no art. 275, inciso II, alíneas “d” e “e” do CPC. Vejamos estas hipóteses: “d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre; e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução”. E ainda que não haja parâmetros ou provas acerca do valor dos danos a serem indenizados nestes dois últimos casos citados, o art. 475-A do CPC determina que o juiz deverá fixá-lo a seu prudente critério, mas nunca deixar a apuração para a fase de liquidação.

A jurisprudência também tem se orientado no sentido de que a necessidade de se calcular juros e correção monetária não torna ilíquido o crédito, uma vez que a obrigação cujo montante possa se apurar por meio de cálculos aritméticos é considerada líquida.

Porém, havendo necessidade de se produzir provas para mensurar o saldo devedor, ilíquido é considerado tal crédito, como é o caso do contrato de abertura de crédito, que não pode ser executado porque depende da comprovação do saldo negativo existente no momento, o qual não é apurável por simples cálculo aritmético (neste sentido a súmula 233 do STJ: “O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente, não é título executivo”).

Com relação ao procedimento da liquidação, temos que antes da Lei 11.232/2005 que alterou o CPC, a liquidação se fazia por meio de um processo autônomo de conhecimento, a ser encerrado por sentença que também poderia ser impugnada por meio de recurso de apelação.

Atualmente, a liquidação é considerada, pelo art. 475-A do CPC, como uma fase do processo original, a ser instaurada depois da prolação da sentença da fase de conhecimento, com vistas a complementá-la, declarando o “quantum debeatur” ou o objeto a ser entregue. A liquidação, ademais, será encerrada por decisão contra a qual caberá agravo de instrumento, e não mais apelação.

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Porém, a despeito de a liquidação não mais ter a natureza jurídica de processo autônomo, e sim de fase ou incidente processual, há diversos doutrinadores, como Cândido Rangel Dinamarco e Luiz Rodrigues Wambier, que classificam como sentença a decisão que encerra a fase liquidatória, embora desafiada por agravo de instrumento. Isto porque a decisão da liquidação resolveria nova questão de mérito controvertida, relativa ao valor da dívida ou a definição do objeto a ser entregue, e não mera questão incidente.

2) Fase de liquidação

Tratando-se de fase do mesmo processo, a liquidação, em regra, deve ser requerida no mesmo juízo em que proferida a sentença ilíquida. Porém, com relação à sentença penal condenatória, sentença arbitral e sentença estrangeira, a competência será relativa, e deverá observar o critério territorial previsto para o processo de conhecimento, uma vez que não há processo cível de conhecimento prévio. A liquidação individual da sentença coletiva, pela vítima ou seu sucessor, também não ocorrerá no mesmo juízo do processo coletivo, mas deverá ser distribuída livremente e conforme as regras de competência próprias.

Eventualmente poderá a liquidação ser processada em autos apartados do processo de conhecimento, quando requerida na pendência da tramitação de recurso interposto conta a sentença, e tramitará no juízo de origem e não perante o Tribunal (CPC, art. 475-A, § 2º), caso em que será denominada de liquidação provisória. Admite-se também que se inicie a fase de liquidação ainda que a sentença ilíquida tenha sido objeto de recurso recebido no efeito suspensivo. Porém, a execução provisória somente é admitida quando a sentença tiver sido impugnada por recurso recebido no efeito devolutivo.

Sendo a sentença apenas parcialmente ilíquida, o credor poderá simultaneamente promover a execução da parte líquida, em autos apartados, e dar início à fase de liquidação, nos mesmos

autos (CPC, art. 475-I, § 2º).

3) Espécies de liquidação Atualmente, temos duas

espécies de liquidação previstas no CPC: por arbitramento e por artigos.

Não mais temos a chamada liquidação por cálculo de contador. Com efeito, se a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo aritmético, não haverá liquidação, e o credor desde já poderá requerer o cumprimento da sentença, instruindo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo (CPC, art. 475-B). E, se algum dado faltar ao credor para elaboração do cálculo, poderá requerer ao juiz que o requisite do devedor ou terceiro, os quais terão prazo de até trinta dias para cumprir a diligência. Se, injustificadamente, o devedor não apresentar os dados requisitados, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo credor; se for o terceiro quem descumpriu a ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força policial, tudo sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência (CPC, arts. 475-B, parágrafos 1º e 2º, e art. 362).

O contador apenas será chamado para auxiliar o juízo se a memória de cálculo apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da decisão exequenda, ou nos casos de assistência judiciária, a fim de auxiliar o hipossuficiente na condução do processo. O credor, porém, poderá discordar dos cálculos apresentados pelo contador, ocasião em que a execução prosseguirá pelo valor que o credor indicar, mas a penhora, no entanto, ficará restrita ao valor apurado pelo contador (CPC, art. 475-B, parágrafos 3º e 4º).

Há quem classifique a liquidação individual da sentença coletiva genérica, prevista no CDC, como sendo outra espécie de liquidação. Porém, ainda que movida por pessoa diversa daquela que ajuizou a ação coletiva – uma vez que a liquidação individual será requerida pela vítima – a liquidação se processará por uma das modalidades acima indicadas (por

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arbitramento ou por artigos, normalmente por esta última).

3.1) Liquidação por arbitramento (arts. 475-C/475-D)

A liquidação por arbitramento será necessária quando, para apuração do “quantum debeatur”, for exigida a produção de prova pericial.

Será feita a liquidação por arbitramento nas seguintes hipóteses: a) quando houver determinação neste sentido na sentença; b) quando as partes assim convencionarem; c) ou quando a questão discutida exigir a produção deste tipo de prova, em face da natureza do objeto da liquidação (CPC, art. 475-C).

3.2) Por artigos (arts. 475-E/475-F)

O procedimento da liquidação por artigos deverá ser adotado quando houver necessidade de alegar e provar fato novo (CPC, art. 475-E).

Fato novo é aquele ocorrido posteriormente à sentença e fundamental para a apuração do valor e extensão da obrigação. Também é considerado fato novo aquele que, embora ocorrido antes da sentença, não foi objeto de alegação e de prova no processo e que se mostra fundamental para a determinação do “quantum” devido.

A título de exemplo, é considerado fato novo a prova do montante dos danos materiais e o grau de incapacidade da vítima de acidente de trânsito que ainda se encontrava hospitalizada quando do início do processo de conhecimento visando a indenização dos danos sofridos. Sendo acolhido o pedido indenizatório, o montante dos danos materiais sofridos durante o processo, ou mesmo posteriores à sentença, desde que relativos ao mesmo acidente (remédios e despesas com internação, por exemplo), poderão ser apurados em liquidação e cobrados nos mesmos autos.

4) Procedimento

A fase de liquidação por arbitramento inicia-se com o requerimento da parte, por simples petição, que não

necessita ter os requisitos de uma petição inicial. Em seguida, será a parte contrária intimada, na pessoa de seu advogado (CPC, art. 475-B, § 1º). Tendo o processo de conhecimento tramitado à revelia do condenado, desnecessária será a intimação.

Não tendo havido prévio processo cível de conhecimento (nos casos de sentença penal condenatória, por exemplo), a liquidação será iniciada por petição inicial e o réu será citado para responder, sob pena de revelia (CPC, art. 475-N, parágrafo único).

O rito procedimental a ser adotado será o mesmo que foi observado no processo de conhecimento (ordinário ou sumário – art. 475-F do CPC). Tratando-se de processo de liquidação autônomo, o rito dependerá do valor atribuído à causa.

Em relação à liquidação por arbitramento, a prova pericial a ser produzida observará as mesmas regras previstas para o processo de conhecimento, previstas nos artigos 420 e seguintes do CPC. Deverá o juiz, portanto, nomear o perito e fixar prazo para a entrega do laudo; depois de apresentado o laudo, as partes poderão manifestar-se no prazo de dez dias e, se necessário, poderá também ser designada audiência, antes da decisão.

Quanto à liquidação por artigos, deverá a parte alegar e provar os fatos novos relacionados diretamente ao “quantum debeatur” e, para tanto, poderá produzir qualquer tipo de prova (documental, testemunhal, inclusive a pericial). Relativamente aos efeitos da revelia neste tipo de liquidação, a presunção de veracidade incidirá sobre os fatos novos que foram alegados no requerimento inicial.

Ao final da liquidação, é possível que a parte interessada não tenha conseguido provar os fatos novos alegados ou mesmo que, após exaustiva produção probatória, tenha se concluído não haver qualquer saldo devedor. Neste último caso, não há dúvida de ter ocorrido a chamada “liquidação zero”, e de que será julgada improcedente a liquidação. Porém, divide-se a doutrina quanto à primeira hipótese,

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havendo quem entenda que a liquidação deve ser extinta, sem julgamento do mérito, com a declaração de que os fatos não foram provados, autorizando, inclusive, a repropositura da liquidação; e, outros que adotam a orientação, a que nos filiamos, de que a falta de provas enseja a improcedência da liquidação e impede a repropositura da liquidação. Esta última orientação visa garantir maior segurança jurídica ao sistema e impedir que o réu seja excessivamente onerado com a desídia do autor da liquidação.

Por fim, a decisão que julga a liquidação poderá ser impugnada por agravo de instrumento (CPC, art. 475-H), sendo certo ainda que não há qualquer previsão na lei acerca da possibilidade de condenar o sucumbente no pagamento de honorários advocatícios. No entanto, embora não seja uniforme a jurisprudência, a tendência é que seja reconhecida como devida a condenação em honorários advocatícios na fase de liquidação, utilizando-se dos parâmetros previstos no § 4º do art. 20 do CPC.

EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE FUNDADA EM TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL

1) Introdução

O procedimento destinado à execução por quantia certa contra devedor solvente, fundada em títulos executivos extrajudiciais, está prevista nos artigos 646 a 724 do CPC e tem aplicação subsidiária a todas as demais espécies de execução, naquilo que não tiverem de específico, motivo pelo qual será analisado em primeiro lugar.

Referido procedimento, ademais, é destinado à execução dos títulos executivos extrajudiciais, em que se forma processo autônomo de execução, diversamente da execução dos títulos judiciais, cuja execução se processa em fase do mesmo processo em que formado o título, denominada de fase de cumprimento de sentença.

Ambas as espécies, porém, são destinadas à satisfação das obrigações de entregar dinheiro.

Inicialmente também é importante conceituar “devedor solvente”, que é considerado aquele devedor cujo patrimônio tem valor superior ao de suas dívidas, enquanto o insolvente é aquele devedor cujo valor de suas dívidas supera o valor de seu patrimônio.

2) Fase postulatória. Requisitos.

Considerando que a execução de título extrajudicial tramitará autonomamente, deverá ter início por meio de petição inicial, a qual deverá observar os requisitos do art. 282 do CPC, já que o art. 598 do CPC determina que as disposições do processo de conhecimento aplicam-se subsidiariamente à execução.

Desses requisitos genéricos, conveniente apenas relembrar o que já foi estudado quanto à causa de pedir, que relativamente à execução, deve fazer menção ao inadimplemento da obrigação prevista no título executivo. O pedido, porém, não deve ser condenatório, mas apenas de citação do devedor para cumprimento da obrigação e eventual deferimento das medidas expropriatórias dos bens do devedor, visando a satisfação da dívida. Quanto às provas, desnecessário qualquer requerimento de produção delas, visto que não haverá, na execução, qualquer apuração acerca da existência ou exigibilidade do crédito, ou mesmo prolação de sentença que solucionará a lide. Eventual discussão sobre a exigibilidade do título poderá, no entanto, ser feita em embargos a serem opostos pelo devedor, no momento oportuno.

Além disso, necessário o cumprimento dos requisitos do art. 614 do CPC, ou seja, deverá o exequente instruir a inicial com o título executivo extrajudicial, o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, assim como com a prova de que se verificou a condição, ou ocorreu o termo, se o caso.

O título executivo, portanto, é documento indispensável à propositura da ação, devendo ser apresentado juntamente com a petição inicial, sob pena de

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indeferimento. Tratando-se de título de crédito, sua apresentação ainda serve para impedir sua circulação. Desse modo, apenas excepcionalmente é que será dispensada sua apresentação, como nos casos em que o título executivo encontra-se juntado em autos de outro processo judicial, por exemplo, ocasião em que se admite o início da execução apenas com a apresentação de cópia autenticada do título.

É ainda facultado ao credor que indique na petição inicial bens do devedor à penhora (CPC, art. 652, § 2º).

Na falta de comprovação de qualquer dos requisitos referidos, o juiz determinará a emenda da petição inicial, no prazo de dez dias (CPC, art. 616), sob pena de indeferimento. O indeferimento da inicial poderá ser ainda motivado pela ausência de qualquer dos pressupostos do art. 580 do CPC, relativos à certeza, liquidez e exigibilidade do título executivo, que devem estar comprovados na petição inicial. Estando satisfeitos os pressupostos processuais, tanto genéricos quanto específicos, assim como as condições da ação, o juiz determinará a citação do devedor.

3) Honorários advocatícios

No mesmo despacho inicial que determinar a citação, o juiz fixará os honorários advocatícios a serem pagos pelo devedor, de acordo com os parâmetros do art. 20, § 4º do CPC (CPC, art. 652-A).

Havendo pagamento integral da dívida no prazo de 03 (três) dias concedido ao executado para a satisfação da obrigação, e sem que tenham sido opostos embargos, a verba honorária será reduzida pela metade.

Porém, havendo oposição de embargos, novos honorários deverão ser fixados na sentença que os decidir.

4) Averbação do ajuizamento da execução em registros públicos

Nos termos do art. 615-A do CPC, o exequente poderá, logo no ato da distribuição da execução, antes mesmo, portanto, de qualquer apreciação da petição inicial pelo magistrado, obter certidão

comprobatória do ajuizamento da execução para averbação em registros públicos.

Esta certidão conterá a identificação das partes e o valor da causa e poderá ser averbada, por exemplo, na matrícula dos imóveis de propriedade do devedor, assim como no cadastro de propriedade de veículo. Feita a averbação, a existência da ação executiva será conhecida por todos aqueles que efetuarem pesquisa junto a tais registros públicos, o que normalmente ocorre quando da venda de bens, motivo pelo qual a própria lei considera em fraude à execução a alienação ou oneração de bens depois de feita a averbação (CPC, art. 615-A, § 3º).

O exequente deverá comunicar as averbações feitas no prazo de 10 (dez) dias de sua concretização (CPC, art. 615-A, § 1º).

Se durante a tramitação da execução forem penhorados bens suficientes para garantir o pagamento da dívida, será determinado o cancelamento das averbações dos bens que não foram penhorados, a fim de não prejudicar o devedor (CPC, art. 615-A, § 2º).

Considerando que referida averbação não depende de autorização judicial, é possível que o exequente promova averbações indevidas. Assim, caso isso ocorra, poderá ser condenado a indenizar o executado pelos danos que tenha sofrido, em quantia não superior a 20% sobre o valor da causa, ou a ser liquidada por arbitramento, em autos apartados. A título de exemplo, será considerada indevida a averbação feita em diversos bens cuja soma supere injustificadamente o valor da dívida ou ainda aquela feita em relação a bem de valor muito superior ao da dívida, em detrimento de outros de valor mais baixo, uma vez que, pelo princípio da menor onerosidade, a execução deve se fazer pelo modo menos gravoso para o devedor.

5) Citação

Em regra, a citação do executado será feita por oficial de justiça, consoante se extrai da redação do art. 652, § 2º do CPC, que faz referência apenas a esta modalidade de citação.

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A citação por correio é vedada, nos termos do art. 222, alínea “d”, do CPC. Apenas na execução fiscal é que se admite a citação pelo correio, conforme autoriza o art. 8º, inciso I, da Lei 6.830/80.

A citação por edital é admitida pelo art. 654 do CPC, com a observação de que somente será feita quando houver prévio arresto de bens, uma vez que deverá ser requerida pelo exequente no prazo de 10 (dez) dias da intimação desta medida cautelar. Nesta modalidade de citação, o prazo de três dias para pagamento voluntário da dívida, previsto no art. 652 do CPC, terá início somente depois de findo o prazo do edital, ocasião em que, não havendo pagamento, o arresto será convertido em penhora, prosseguindo-se o feito com a alienação dos bens.

Quanto à citação por hora certa, realizada quando o oficial de justiça, embora não tenha encontrado o devedor, tiver suspeita de que ele se oculta para não ser citado (CPC, art. 227), tem sido admitida pela jurisprudência, conforme entendimento consolidado na súmula 196 do STJ.

No mais, nos termos do art. 652 do CPC, o devedor será citado para pagar a dívida no prazo de 03 (três) dias, que é contado da data da juntada aos autos da primeira via do mandado de citação. Somente depois de transcorrido referido prazo é que o oficial de justiça retornará à residência do devedor, com a segunda via do mandado, para realizar a penhora de bens, avaliá-los, e intimar o executado da penhora (CPC, art. 652, § 1º).

Sendo feito o pagamento da dívida no prazo de 03 (três) dias, os honorários advocatícios fixados quando do despacho inicial serão reduzidos pela metade (CPC, art. 652-A, parágrafo único).

Poderá também o devedor opor embargos, no prazo de 15 (quinze) dias contados da juntada aos autos do mandado de citação, se quiser discutir a dívida.

No entanto, no prazo para oposição dos embargos, o devedor poderá, ao invés de apresentá-los, reconhecer o crédito, ocasião em que ser-lhe-á facultado efetuar o depósito de 30% do valor da dívida (incluindo custas e honorários advocatícios) e solicitar que o pagamento do restante seja

feito em até 06 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês (CPC, art. 745-A). Deferido o pagamento parcelado, suspensos estarão os atos executivos e autorizado estará o exequente a efetuar o levantamento da quantia depositada; sendo indeferido o pedido, a execução prosseguirá, mantido o depósito.

Caso o devedor não efetue o pagamento de qualquer das prestações a que se obrigou, as demais parcelas vencerão antecipadamente e o remanescente será acrescido de multa de 10%, hipótese em que, o feito também terá prosseguimento, sendo vedada a oposição de embargos.

6) Arresto executivo ou “pré-penhora”

Não sendo o executado encontrado para ser citado, mas tendo o oficial de justiça localizado bens seus que bastem para garantir a execução, deverá arrestá-los. Tal modalidade de arresto é conhecida como “pré-penhora”. E embora seja considerada uma medida cautelar, não se exige que estejam presentes os requisitos da tutela cautelar, relativos ao “fumus boni iuris” e o “periculum in mora”, bastando que o devedor não seja encontrado para citação, mas apenas seus bens.

Feito o arresto, o oficial de justiça continuará procurando o devedor, nos 10 (dez) dias seguintes, e por 03 (três) dias distintos; não o encontrando, certificará o ocorrido e devolverá o mandado. Em seguida, será o exequente intimado do arresto, ocasião em que deverá requerer a citação por edital do executado, conforme já estudamos.

7) Penhora

A penhora é o ato executivo destinado à apreensão de bens do devedor, vinculando-os à execução. Com a penhora, o credor também passa a ter preferência em relação a outros credores, da mesma categoria, que futuramente penhorem o mesmo bem (CPC, art. 612).

Será feita a penhora, em regra, pelo oficial de justiça. Citado o devedor citado e não tendo ele efetuado o

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pagamento da dívida no prazo de 03 (três) dias a que se refere o art. 652 do CPC ou mesmo requerido o pagamento parcelado da dívida, nos termos do art. 745-A do CPC, o oficial de justiça, munido da segunda via do mandado, realizará a penhora de bens, passará a avaliá-los e ainda intimará o executado da penhora (CPC, art. 652, § 1º).

Primeiramente se procederá à penhora dos bens indicados pelo exequente na petição inicial (CPC, art. 652, § 2º). Não tendo o exequente indicado bens do devedor à penhora, o próprio oficial de justiça efetuará a penhora dos bens que encontrar ou aqueles que forem indicados pelo devedor, e que sejam suficientes para a garantia da dívida atualizada, incluindo os juros, as custas e os honorários advocatícios (CPC, art. 659).

Estando os bens do devedor em comarca diversa daquela em que se processa a execução, expedir-se-á carta precatória solicitando sua penhora, avaliação e alienação (CPC, art. 658).

No entanto, tratando-se de bem imóvel, dispensável será a expedição de carta precatória, uma vez que a penhora desta espécie de bens realiza-se mediante auto ou termo de penhora, nos termos do art. 659, §§ 4º e 5º, do CPC, pelo qual o executado também será constituído depositário do bem. Realizada a penhora, e dela intimado o executado, pessoalmente ou na pessoa de seu advogado, caberá ao exequente apenas providenciar a averbação respectiva no cartório de registro de imóveis, para gerar presunção absoluta de conhecimento do ato por terceiros. Frise-se, por oportuno, que a averbação não constitui formalidade essencial à penhora e não é obrigatória, apenas servindo para ilidir a fraude à execução.

Penhorando-se bem indivisível, a meação do cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem, nos termos do art. 655-B do CPC.

Mediante requerimento do credor ou mesmo de ofício, pelo juiz, poderá o executado ser intimado para indicar bens à penhora, se as diligências empreendidas neste sentido forem infrutíferas. O desatendimento desta determinação judicial pelo executado, com a indicação da

localização e valores dos bens sujeitos à penhora, no prazo de 05 (cinco) dias, será considerado ato atentatório à dignidade da justiça e ensejará a aplicação de multa em montante de até 20 % do valor atualizado do débito em execução, sem prejuízo de outras sanções de natureza processual ou material, multa essa que reverterá em proveito do credor, exigível na própria execução (CPC, art. 600, inciso IV e art. 601). Ressalva, porém, o parágrafo único do art. 601, que o juiz poderá relevar a pena se o devedor se comprometer a não mais praticar qualquer dos atos definidos no art. 600 e der fiador idôneo, que responda ao credor pela dívida principal, juros, despesas e honorários advocatícios.

Com relação aos bens penhoráveis, deverá o exequente, no momento em que indicar algum bem do devedor, assim como ao oficial de justiça, quando for efetuar a penhora, observar, preferencialmente, a ordem prevista no art. 655 do CPC, a seguir relacionada: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; II - veículos de via terrestre; III - bens móveis em geral; IV - bens imóveis; V - navios e aeronaves; VI - ações e quotas de sociedades empresárias; VII - percentual do faturamento de empresa devedora; VIII - pedras e metais preciosos; IX - títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em mercado; X - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; e XI - outros direitos.

Importante observar que o dinheiro é colocado em primeiro lugar na ordem de preferência da penhora, seguido de veículos e de bens móveis e, somente depois, de bens imóveis. E para propiciar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o CPC expressamente autorizou fosse feita por meio eletrônico, mediante requisição do juiz à autoridade supervisora do sistema bancário (CPC, art. 655-A).

Referida modalidade, denominada de “penhora online”, é celebrada por meio do sistema BACENJUD elaborado e administrado pelo Banco Central, o qual repassa eletronicamente aos bancos as ordens judiciais de penhora feitas

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eletronicamente por juízes, mediante utilização de senha pessoal e certificação digital que garantem a identificação do solicitante e a segurança da operação. Encontrado dinheiro do devedor em depósito ou aplicação, a quantia solicitada é reservada e transferida para conta judicial indicada pelo juiz solicitante. O sistema BACENJUD tem sido constantemente aprimorado a fim de que não sejam bloqueados numerários de várias contas do mesmo devedor, possibilitando até mesmo que as empresas já indiquem a conta que deseja ser atingida em primeiro lugar pela ordem judicial.

A penhora “online”, segundo reiteradamente tem decidido os Tribunais, não ofende o princípio da menor onerosidade por atender à ordem de preferência do art. 655 do CPC e até mesmo por trazer economia ao devedor e ao processo, já que reduz significativamente a produção de atos expropriatórios custosos como a publicação de edital, honorários de perito avaliador. Diante dessas facilidades, muitos juízes optam por tentar primeiramente se fazer a penhora “online” antes de autorizar a penhora por oficial de justiça. Por fim, sendo feita penhora “online” de quantia considerada impenhorável, nos termos do inciso IV do art. 649 do CPC, caberá ao executado alegar e comprovar esta condição.

Admite-se também a penhora de direito do devedor objeto de processo judicial ainda em tramitação, motivo pelo qual se diz tratar-se de penhora de expectativa de direito litigioso. O art. 674 prevê que, nestas hipóteses, averbar-se-á no rosto dos autos a penhora, a fim de se efetivar nos bens que posteriormente forem adjudicados ou vierem a caber ao devedor.

Igualmente passível de penhora é parte do faturamento de empresas devedoras, conforme autoriza o art. 655-A, § 3º, do CPC. Determinada a penhora, será nomeado depositário com a atribuição de submeter à apreciação judicial a forma de apuração e constrição da parte do faturamento. Além da penhora de parte do faturamento, o próprio estabelecimento do devedor pode ser penhorado, nos termos dos artigos 677 e 678 do CPC.

Embora não esteja regulamentada pelo CPC, diversos julgados têm admitido a penhora na “boca do caixa”, do numerário suficiente para o pagamento da dívida. Não se trata, na hipótese, de penhora sobre o faturamento da empresa, mas de penhora sobre dinheiro, que é excepcionalmente apreendido no caixa da empresa devedora.

O CPC, em seu art. 679, regula a forma como devem ser feitas as penhoras sobre navios ou aeronaves, admitindo que, mesmo depois de penhoradas, continuem a navegar ou operar, desde que o devedor faça previamente o seguro usual contra riscos.

Os títulos de crédito em que o executado figura como credor também podem ser objeto de penhora, que se formalizará pela apreensão do próprio documento, ainda que em posse de terceiro. Se o terceiro confessar a dívida, será considerado depositário da importância, mesmo que não seja apreendido o título, somente podendo se exonerar da obrigação se depositar em juízo o valor da dívida (CPC, art. 672).

Com relação à forma de cumprimento da ordem de penhora, nos termos do art. 172 do CPC, o mandado de penhora deverá ser cumprido em dias úteis, das 06 às 20 horas, podendo, em casos excepcionais e mediante autorização expressa do juiz, ser também cumprido em domingos e feriados ou em horário noturno, mas desde que o devedor consinta com o ingresso do oficial de justiça na residência, a fim de se respeitar o contido no art. 5º, inciso XI da Constituição Federal (CPC, art. 172, § 2º).

Para o devido cumprimento da ordem, que estiver sendo obstada pelo devedor, poderá o oficial de justiça solicitar ao juiz ordem de arrombamento. O mandado de arrombamento será cumprido por dois oficiais de justiça e assinado por duas testemunhas que devem presenciar o ato, sendo admissível também a requisição de força policial, se necessário (CPC, arts. 660, 661 e 662).

8) Bens impenhoráveis

Segundo o princípio da

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patrimonialidade, são os bens do devedor que garantem a satisfação do crédito do exequente. Porém, não é todo e qualquer bem que pode ser expropriado. A lei põe a salvo os bens do devedor considerados essenciais para uma vida digna, denominados de impenhoráveis.

A impenhorabilidade pode ser absoluta ou relativa. Bens absolutamente impenhoráveis são aqueles que não podem ser penhorados em nenhuma hipótese. Bens relativamente impenhoráveis, por outro lado, são aqueles que, na falta de outros bens, perdem essa natureza, tornando-se passíveis de penhora em processo de execução.

O rol dos bens absolutamente impenhoráveis encontra-se no art. 649 do CPC. Segundo o art. 649, são absolutamente impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário não sujeitos à execução.

II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida. Este inciso não abrange todos os bens que guarnecem a residência do executado, mas apenas aqueles indispensáveis para assegurar uma vida digna, considerando-se o médio padrão de vida geral. São, por exemplo, impenhoráveis, a cama, o fogão, a geladeira, entre outros bens. Há divergência quanto à possibilidade de penhora do aparelho de DVD, computador e ar condicionado, dentre outros, porque o conceito de “médio padrão de vida” não pode ser generalizado, mas sim interpretado considerando as características locais. Ademais, com o argumento de que a impenhorabilidade não pode ser fundamento para que o executado deixe de cumprir com suas obrigações, em detrimento de seus credores, inúmeros julgados de nossos Tribunais, notadamente aqueles dos Colégios Recursais do sistema dos Juizados Especiais, têm considerado impenhoráveis somente os bens que garantam uma vida familiar minimamente condigna, considerados essenciais à habitabilidade.

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor.

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no parágrafo terceiro deste artigo. A proteção contida nesse inciso tem como escopo garantir a renda do devedor ou o auferimento de qualquer quantia destinada ao sustento do devedor e de sua família.

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão. A impenhorabilidade dos bens necessários ao exercício da profissão visa evitar que o devedor seja privado dos meios necessários para obter seu sustento e de sua família.

VI - o seguro de vida. VII - os materiais necessários

para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas.

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família. Essa hipótese de impenhorabilidade visa estimular a permanência do homem no campo e a produção agrícola nas pequenas propriedades trabalhadas pela entidade familiar. A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XXVI, prevê norma com a mesma finalidade, ao dispor que “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”.

IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social. Este inciso buscou assegurar que os recursos públicos destinados a instituições privadas que exerçam serviço de educação, saúde ou assistência social, não sejam utilizados em finalidade diversa.

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X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança.

XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político. A impenhorabilidade prevista nesse artigo, embora seja considerada absoluta, comporta exceções, a exemplo dos bens que guarnecem a residência do executado, bem como seu vestuário e objetos de uso pessoal, se tais bens forem de elevado valor.

O próprio art. 649 do CPC, em seus parágrafos 1º e 2º, ressalva que a impenhorabilidade acima descrita não prevalece sempre, pois não é oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do próprio bem (§ 1º) e, relativamente à hipótese do inciso IV, não se aplica no caso de penhora para pagamento de prestação alimentícia (§ 2º).

Deve-se ressaltar, ademais, que o rol contido no art. 649 não é exaustivo. A Lei 8.009/90 aumentou o elenco de bens impenhoráveis estabelecendo a impenhorabilidade do bem de família, nos seguintes termos: “O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei” (art. 1º).

O art. 3º da mesma Lei 8.009/90, porém, exclui a impenhorabilidade do bem de família nas ações propostas: I) em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias; II) pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; III) pelo credor de pensão alimentícia; IV) para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; V) para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI) por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de

sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens; e, VII) por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

Os bens públicos também são considerados impenhoráveis, devendo a execução seguir o regime de precatórios.

Por sua vez, a impenhorabilidade pode ser considerada relativa (ou subsidiária). De acordo com o art. 650 do CPC, os frutos e rendimentos dos bens absolutamente impenhoráveis podem ser penhorados, à falta de outros bens, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia.

Assim, podem ser penhorados, por exemplo, os rendimentos da pequena propriedade rural, não obstante seja esta impenhorável (CPC, art. 649, VIII, e CF, art. 5º, XXVI), desde que, nos termos da ressalva constante da parte final do referido art. 650 do CPC, não se destinem ao pagamento de prestação de natureza alimentar.

Finalmente, na hipótese de haver mais de uma penhora sobre o mesmo bem, terá preferência o credor que tiver alguma garantia de direito material; no caso de nenhum credor a possuir, seguir-se-á a ordem cronológica das penhoras, a despeito da dúbia redação do art. 711 do CPC que autoriza equivocadamente concluir que receberá primeiro o credor que promoveu a execução em que será realizada a expropriação.

9) Auto de penhora, avaliação e depósito

O auto de penhora é considerado ato complexo, pois engloba tanto a apreensão dos bens, sua avaliação, descrição, nomeação de depositário, como a intimação do devedor.

De acordo com o art. 652, § 1º, do CPC, a avaliação será feita pelo próprio oficial de justiça, a menos que seja necessário conhecimento especializado para se apurar o valor do bem, oportunidade em que será nomeado avaliador pelo juiz, cujo laudo a ser entregue integrará o auto de penhora (CPC, art. 680 e 681)

Dispensada, porém, será a avaliação se o executado não impugnar o valor do bem indicado na petição inicial pelo

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exequente, assim como na hipótese de o exequente concordar com o bem indicado pelo executado, em substituição de outro anteriormente penhorado (CPC, art. 668, parágrafo único, V), ou ainda se se tratar de títulos ou mercadorias que tenham cotação em bolsa, comprovada por certidão ou publicação oficial (CPC, art. 684).

Com relação ao depósito dos bens penhorados, observa-se que somente poderão ficar em poder do executado se houver expressa anuência do exequente, ou nos casos de difícil remoção (CPC, art. 666, § 1º). O § 3º do art. 666, assim como a Súmula 619 do STF prevêem que a prisão do depositário judicial infiel pode ser decretada no próprio processo em que se constitui o encargo, independentemente da propositura da ação de depósito. Porém, de acordo com a recente súmula vinculante nº 25 do STF: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. No mesmo sentido a súmula 419 do STJ: “Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel”.

10) Intimação da penhora

A intimação do devedor constitui formalidade essencial do ato de penhora, tanto para lhe dar conhecimento do ato como para lhe proporcionar oportunidade para que a impugne ou solicite a substituição do bem penhorado, nos termos do art. 668 do CPC.

Atualmente, a intimação do devedor não mais constitui o marco inicial para a contagem do prazo para oposição de embargos, uma vez que, consoante regra do art. 738 do CPC, o prazo para embargar é contado a partir da juntada aos autos do mandado de citação cumprido.

Importante regra é a trazida pelo art. 652, parágrafo quarto, do CPC, que autoriza seja feita a intimação do executado na pessoa de seu advogado, de modo que o devedor somente será intimado pessoalmente se não possuir defensor constituído nos autos. Ressalte-se que esta intimação poderá ser feita por carta, uma vez que o art. 222, alínea “d”, do CPC, proíbe apenas que a citação do executado seja feita por carta e que, se o executado não for localizado para ser intimado, o § 5º

do mesmo artigo admite que o juiz dispense sua intimação.

Tratando-se de penhora de bem imóvel, também o cônjuge do executado será intimado (CPC, art. 655, § 2º).

Além do executado, o credor pignoratício, hipotecário, anticrético, ou o usufrutuário, deverão ser igualmente intimados quando a penhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou usufruto, a fim de que possam exercer a preferência na adjudicação destes bens (CPC, art. 615, inciso II e 685-A, § 2º). Não sendo feita a intimação, ineficaz será a alienação do bem em relação ao senhorio direto, ou ao credor pignoratício, hipotecário, anticrético, ou usufrutuário, que não houver sido intimado (CPC, art. 619).

11) Substituição do bem penhorado

O bem penhorado poderá ser substituído por requerimento formulado por qualquer das partes, nas hipóteses previstas no art. 656, ou seja: I - se não obedecer à ordem legal; II - se não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para o pagamento; III - se, havendo bens no foro da execução, outros houverem sido penhorados; IV - se, havendo bens livres, a penhora houver recaído sobre bens já penhorados ou objeto de gravame; V - se incidir sobre bens de baixa liquidez; VI - se fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou VII - se o devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações a que se referem os incisos I a IV do parágrafo único do artigo 668 desta Lei.

Ainda que o executado não fundamente o requerimento de substituição do bem penhorado em nenhuma das hipóteses relacionadas acima, terá o prazo de 10 (dez) dias, contados da intimação da penhora, para requerer tal substituição, desde que comprove cabalmente que ela será menos onerosa a ele e não trará prejuízo algum ao exequente (CPC. Art. 668). Neste caso, além de indicar o bem, deverá especificá-lo com detalhes, indicar onde se encontra e ainda atribuir-lhe valor. Tratando-se de bem imóvel o oferecido em substituição, a anuência expressa do cônjuge do devedor também é necessária (CPC, art. 656, § 3º).

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12) Modalidades de expropriação

Chama-se de expropriação a fase da execução em que se praticam atos destinados à transferência da propriedade ou da posse do bem penhorado ao credor ou visando à conversão em dinheiro do bem penhorado, sempre buscando a satisfação do credor.

O CPC, no art. 647, elenca as seguintes modalidades de expropriação: adjudicação; alienação por iniciativa particular, alienação em hasta pública e usufruto do bem móvel ou imóvel. Em respeito ao principio da economia processual e também objetivando uma mais rápida satisfação do credor, o CPC, depois da reforma trazida pela Lei 11.382/06, passou a prever uma ordem de preferências entre as modalidades de expropriação. Primeiramente faculta-se que o devedor ou as pessoas legitimadas postulem a adjudicação do bem; não sendo requerida a adjudicação, faculta-se que o credor providencie a alienação particular do bem penhorado; somente depois de frustadas as tentativas anteriores é que se passa à alienação por hasta pública, que já foi a forma principal de alienação, a despeito de muito mais dispendiosa.

12.1) Adjudicação

A adjudicação é uma forma indireta de satisfação do crédito consistente na transferência do bem penhorado para o patrimônio do exequente.

Como já dito, a adjudicação pode ser requerida antes mesmo da tentativa de alienação por iniciativa particular ou alienação em hasta pública. E não obstante já tenha se iniciado qualquer das modalidades de expropriação por alienação, a adjudicação é admitida até a assinatura do termo de alienação respectivo.

Se o exequente tiver interesse em transferir a propriedade do bem penhorado para si, deverá formular seu requerimento de adjudicação e oferecer preço que não pode ser inferior ao da avaliação (CPC, art. 685-A).

Tratando-se, porém, de execução fiscal, a Lei 6.830/80, em seu art. 24, admite que a Fazenda Pública adjudique

bens penhorados por valor inferior ao da avaliação.

Além do exequente, o credor com garantia real, os credores que tenham penhorado o mesmo bem, assim como o cônjuge, os descendentes ou ascendentes do executado também podem postular a adjudicação dos bens penhorados (CPC, art. 685-A, § 2º). E havendo concorrência entre os legitimados à adjudicação, far-se-á uma licitação entre os interessados; sendo idêntica a oferta, terá preferência o cônjuge, depois os descendentes e, por último, os ascendentes.

Preferência na adjudicação também terão os demais sócios da sociedade cuja quota parte do sócio executado tiver sido penhorada (CPC, art. 685-A, § 4º).

Se o pedido for formulado pelo exequente e o valor de seu crédito for inferior ao valor dos bens que serão adjudicados, o credor terá que depositar a diferença, que será entregue ao executado. Sendo, porém, superior o valor de seu crédito, a execução prosseguirá para a cobrança da diferença (CPC, art. 685-A, § 1º). Se o pedido de adjudicação for formulado por qualquer outro legitimado, o valor respectivo deverá ser depositado em Juízo.

Lavrado e assinado o respectivo auto pelo juiz, adjudicante, escrivão e executado, se estiver presente, considera-se perfeita e acabada a adjudicação, oportunidade em que poderá o adjudicante postular a expedição de carta de adjudicação para registro no cartório de imóveis ou mandado de entrega, se o bem adjudicado for móvel.

12.2) Alienação por iniciativa particular

A alienação por iniciativa particular é modalidade nova de expropriação, criada pela reforma feita pela Lei 11.382/06. Nesta modalidade, faculta-se que o credor providencie a venda do bem penhorado sem as formalidades da alienação em hasta pública.

Somente se autoriza a alienação por iniciativa particular se não houver interessados na adjudicação.

Deferida a alienação por

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iniciativa particular, o exequente poderá alienar os bens pessoalmente ou também por intermédio de corretor credenciado perante a autoridade judiciária, a critério do exequente.

Depois de fixado o preço mínimo, que não poderá ser inferior ao da avaliação, o juiz também fixará prazo para que se faça a alienação, assim como a forma de publicidade que poderá ser feita e a forma de pagamento e garantia que serão aceitas.

Se o próprio exequente fizer a venda, não terá direito a comissão de corretagem, mas apenas ao ressarcimento das despesas que teve com publicidade, se tal modalidade de divulgação tiver sido aprovada previamente pelo juiz. Tendo, porém, a venda sido feita por corretor credenciado no Juízo, este profissional fará jus à comissão pela venda.

Sendo frutífera a venda, será formalizado o respectivo termo, a ser assinado pelo juiz, exequente, adquirente e executado, se estiver presente. Em seguida, será expedida carta de alienação em benefício do adquirente, em se tratando de bem imóvel, ou mandado de entrega, se móvel.

12.3) Alienação em hasta pública

Não havendo interessados na adjudicação dos bens penhorados ou mesmo tendo o exequente requerido que a alienação se fizesse por iniciativa particular, adotar-se-á a modalidade de alienação em hasta pública, com a publicação do edital previsto no art. 686 do CPC.

Tratando-se de imóvel, a hasta pública é denominada “praça”; se, entretanto, o bem a ser vendido for móvel, a hasta é denominada “leilão”.

Inicialmente, será determinada a expedição de edital de praça ou leilão, de acordo com a natureza do bem a ser vendido, que deverá conter a descrição detalhada do bem penhorado, seu valor de avaliação, o lugar onde se encontra, informação se sobre o bem há algum ônus, bem como o dia e hora designados pelo juiz para realização tanto da primeira quanto da segunda hasta pública, se necessário, a qual se realizará entre dez e vinte dias

depois da primeira hasta. O edital também deverá

esclarecer que na primeira hasta pública somente serão aceitos lanços superiores ao valor da avaliação e que somente na segunda hasta pública admitir-se-á lanços de qualquer valor, desde que não seja vil (a jurisprudência tem considerado vil a arrematação por valor inferior a 50% da avaliação). A venda, porém, será feita àquele que oferecer o maior lance.

Visando dar ampla publicidade ao ato, necessária ainda a publicação de edital com antecedência mínima de cinco dias, tanto no local de costume do prédio do Fórum, como em jornal de ampla circulação local, na seção reservada à publicidade dos negócios imobiliário, ou, ao invés da publicação em jornal, que evidentemente não é gratuita, apenas no Diário Oficial, se o exequente for beneficiário da justiça gratuita.

O art. 687, § 2º, do CPC permite que o juiz modifique a forma de publicação do edital, alterando sua periodicidade ou determinando seja feita em rádio ou internet, por exemplo, a fim de dar maior publicidade ao ato.

Dispensada, porém, será a publicação do edital se o valor dos bens penhorados não exceder 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo vigente na data da avaliação. No entanto, se a publicação do edital for dispensada, não se admitirá que a venda seja feita por preço inferior ao da avaliação (CPC, art. 686, § 3º).

Publicado ou não o edital em jornal, o executado sempre deverá ser intimado da data e horário da hasta pública. Esta intimação, porém, poderá ser feita na pessoa de seu advogado, se o tiver, ou por meio de mandado, carta registrada, edital ou outro meio idôneo.

Além do executado, também deverão ser cientificados da realização da hasta pública, com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência, o senhorio direto, o credor com garantia real ou com penhora anteriormente averbada e que não seja de parte na execução.

Quando da realização do leilão, qualquer pessoa que estiver na livre administração de seus bens pode fazer lanços, inclusive o credor, o devedor e seus

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parentes. O art. 690-A do CPC apenas proíbe de fazer lanços: os tutores, curadores, testamenteiros, administradores, síndicos ou liquidantes, quanto aos bens confiados a sua guarda e responsabilidade (inciso I); os mandatários, quanto aos bens de cuja administração ou alienação estejam encarregados (inciso II); e o juiz, membro do Ministério Público e da Defensoria Pública, escrivão e demais servidores e auxiliares da Justiça (inciso III).

Havendo requerimento do exequente, a hasta pública poderá ser realizada por meio da rede mundial de computadores, com uso de páginas virtuais criadas pelos Tribunais ou por entidades públicas ou privadas em convênio com eles firmado (CPC, art. 689-A).

Da mesma forma como ocorre na adjudicação, se o exequente vier a arrematar os bens por valor inferior ao da dívida, não precisará depositar o valor da compra; se o valor da arrematação, porém, exceder o seu crédito, deverá depositar a diferença dentro de 03 (três) dias, sob pena de se tornar sem efeito a arrematação, além de ser-lhe carreadas as custas da realização da nova hasta pública.

Se qualquer outra pessoa vier a arrematar o bem, o pagamento do preço deverá ser feito imediatamente ou no prazo de 15 (quinze) dias, desde que seja apresentada caução (CPC, art. 690). Tratando-se de bem imóvel, poderá o arrematante requerer seja autorizado a pagar o preço em parcelas, dando no mínimo 30% (trinta por cento) à vista; nesta hipótese, porém, o preço da venda não poderá ser inferior ao da avaliação e o pagamento das parcelas ficará garantido por hipoteca a ser registrada sobre o próprio imóvel. Havendo mais de uma proposta para aquisição do bem imóvel de forma parcelada, o juiz decidirá por ocasião da praça, em favor daquele licitante que apresentar o melhor lance ou proposta mais conveniente.

Finda a hasta pública e sendo ela positiva, será lavrado o auto de imediato, consignando-se as condições da alienação, ocasião em que será considerada perfeita, acabada e irretratável, ainda que posteriormente venham a ser julgados

procedentes os embargos do executado que tramitaram sem que ficasse suspensa a execução (CPC, art. 694). No entanto, a carta de arrematação, se se tratar de bem imóvel, ou a ordem de entrega, se bem móvel, somente serão expedidos depois de efetuado o depósito do preço ou prestadas as garantias pelo arrematante.

Como dito, os embargos opostos pelo executado, que não foram recebidos com efeito suspensivo (CPC, art. 739-A), não impedem a venda do bem penhorado. Se posteriormente os embargos forem julgados procedentes, determinando-se a extinção da execução por exemplo, apenas o valor da venda do bem é que deverá ser devolvido ao devedor pelo exequente (CPC, art. 694, § 2º).

Será, por fim, considerada ineficaz a arrematação nas hipóteses previstas no art. 694, § 1º, do CPC, a seguir relacionadas: I - por vício de nulidade; II - se não for pago o preço ou se não for prestada a caução; III - quando o arrematante provar, nos 5 (cinco) dias seguintes, a existência de ônus real ou de gravame (artigo 686, inciso V) não mencionado no edital; IV - a requerimento do arrematante, na hipótese de embargos à arrematação (artigo 746, parágrafos 1º e 2º); V - quando realizada por preço vil (artigo 692); VI - nos casos previstos neste Código (artigo 698).

12.4) Usufruto de bem móvel ou imóvel

A última forma de expropriação prevista pelo CPC é o usufruto de bem móvel ou imóvel. Nesta modalidade, diferentemente das demais já estudadas, não se dá a transferência da propriedade do bem penhorado para o exequente ou terceiros. Apenas será concedido ao exequente o usufruto do bem (imóvel ou móvel, podendo ser até mesmo empresa), pelo prazo necessário para que o explore, percebendo os frutos e rendimentos, até que a dívida cobrada seja integralmente paga.

O usufruto terá eficácia a partir da publicação da decisão que a concede (CPC, art. 719).

12.5) Alienação antecipada

Sem considerá-la como uma modalidade específica de expropriação, o

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CPC também admite que se faça a alienação antecipada dos bens penhorados quando estiverem sujeitos à deterioração ou depreciação, ou quando houver manifesta vantagem (CPC, art. 670). Não especifica, porém, o CPC, o procedimento que deve ser adotado para se fazer esta alienação antecipada, cabendo ao juiz, portanto, analisando o caso prático, eleger a forma mais adequada, sempre ouvindo previamente as partes.

EMBARGOS À EXECUÇÃO

1) Noções gerais

Os embargos constituem o meio de defesa do devedor na execução. São considerados ação de conhecimento autônoma em relação à ação de execução. Embora seja uma ação autônoma, tem nítido caráter incidente, pois somente podem ser opostos no bojo de uma ação de execução e ainda são dependentes desta, pois serão também extintos, caso haja a extinção da execução.

Nos embargos, poderá o devedor impugnar tanto a validade e exigibilidade do título, como os valores cobrados, assim como o próprio processo de execução.

Tratando-se de processo de conhecimento, a possibilidade de produção probatória é ampla nos embargos, sendo ainda decidido por sentença de mérito a ser impugnada por recurso de apelação.

Os embargos à execução poderão ser opostos em todas as modalidades de execução de título extrajudicial, como a destinada à cobrança de quantia certa, para entrega de coisa e também nas execuções de obrigações de fazer e não fazer. Com relação à execução contra a Fazenda Pública, poderão ser opostos pela Fazenda ainda que se trate de execução de título executivo judicial, como estudaremos em capítulo próprio.

Na execução dos títulos executivos judiciais contra particulares, porém, não são cabíveis embargos à execução, mas sim impugnação ao cumprimento da sentença, que exige prévia segurança do juízo para sua oposição, diversamente dos embargos à execução.

Além dos embargos à execução, o devedor poderá opor embargos à expropriação e os chamados embargos de retenção por benfeitoria. Os primeiros serão opostos somente depois de realizada a penhora e a alienação de bens, e são destinados à impugnar os atos praticados posteriormente à penhora. Os embargos de retenção por benfeitoria, por sua vez, são os embargos à execução que, na ação de execução para entrega de coisa, alega-se direito de retenção pela realização de benfeitorias no bem.

2) Procedimento

De acordo com o art. 736 do CPC, com a alteração promovida pela Lei 11.382/06, desnecessária é a penhora, depósito ou caução para a oposição de embargos à execução.

Tendo natureza de ação, deverão os embargos iniciar-se por petição inicial, contendo os requisitos dos artigos 282 e 283 do CPC.

Legitimado para a oposição dos embargos será o executado. Portanto, a pessoa que figurar como devedora no título mas não foi incluída no pólo passivo da execução, não poderá, em regra, opor embargos à execução. Exceção se faz ao cônjuge do devedor que, sendo beneficiado com a dívida, queira discutir não só a penhora que atingiu sua meação, mas também a própria validade da dívida.

O juízo competente para o processamento dos embargos será o mesmo juízo da execução. Sua competência é funcional. No entanto, os embargos que versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora, avaliação ou alienação realizada por meio de carta precatória, serão, excepcionalmente, julgados pelo juízo deprecado, ainda que tenham sido oferecidos no juízo deprecante (CPC, art. 747).

Os embargos serão distribuídos por dependência ao juízo da execução, autuados em apartado, e deverão ser instruídos com cópias das peças processuais relevantes (CPC, art. 736, parágrafo único). Quando o devedor alegar excesso de execução, serão também considerados requisitos da petição inicial a

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memória de cálculo e a indicação do valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dos embargos ou de não conhecimento desse fundamento (CPC, art. 739-A, § 5º).

O prazo para oposição dos embargos é de 15 (quinze) dias, contados da juntada aos autos do mandado de citação (CPC, art. 738), tendo natureza decadencial.

Havendo mais de um executado, o prazo para embargar será contado de forma individual a partir da juntada do respectivo mandado de citação, não se aplicando o disposto no art. 191 do CPC, que prevê a contagem em dobro dos prazos quando os litisconsortes tiverem procuradores diferentes.

Tendo a citação sido feita por carta precatória, será imediatamente comunicada pelo juízo deprecado ao juízo deprecante, e o prazo para a oposição dos embargos fluirá a partir da juntada aos autos desta comunicação.

A petição inicial dos embargos, da mesma forma que qualquer outra petição inicial, também poderá ser indeferida, quando inepta. Porém, os embargos ainda poderão ser liminarmente rejeitados se forem intempestivos ou manifestamente protelatórios (CPC, art. 739). Contra esta sentença de rejeição dos embargos, é cabível a interposição de recurso de apelação, sendo facultado ao juiz, nas quarenta e oito horas seguintes à interposição, reformar sua decisão, nos termos do art. 296 do CPC; sendo mantida a decisão, os autos serão imediatamente encaminhados ao tribunal competente.

Deferida a inicial, será determinada a intimação do exequente, na pessoa de seu advogado, para apresentar impugnação aos embargos, no prazo de 15 (quinze) dias (CPC, art. 740). Não apresentada impugnação, o exequente/embargado será considerado revel, mas contra ele não serão aplicados os efeitos da revelia, com a presunção de veracidade dos fatos alegados na petição inicial, porque o título executivo que embasa a execução é dotado de presunção de certeza, liquidez e exigibilidade, cabendo, portanto, ao devedor/embargante afastar tal presunção.

Se necessário, será designada audiência de instrução ou determinada a produção de prova pericial. Em seguida, os embargos à execução serão julgados por sentença, contra a qual pode ser interposto recurso de apelação.

Na sentença que julgar os embargos, se o juiz os considerar manifestamente protelatórios, poderá aplicar multa ao embargante, em valor não superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da execução, que reverterá em benefício do exequente.

3) Efeito suspensivo

A mera oposição de embargos não faz suspender a execução. Somente por meio de decisão judicial é que se atribui efeito suspensivo aos embargos. Ademais, o art. 739-A do CPC ainda relaciona diversos requisitos que devem ser satisfeitos pelo devedor para que se conceda o efeito suspensivo.

Primeiramente, exige-se que o efeito suspensivo seja requerido pelo embargante, não sendo admissível a concessão de ofício pelo juiz. Necessário também que a execução esteja garantida por penhora, depósito ou caução.

O embargante, ademais, ao postular a concessão do efeito suspensivo, deverá apresentar fundamentação relevante e justificar sua necessidade em razão da possibilidade de o prosseguimento da execução causar grave dano de difícil ou incerta reparação.

O efeito suspensivo concedido quando do recebimento dos embargos poderá ser revogado a qualquer tempo se não mais estiverem presentes as circunstâncias que motivaram sua concessão.

É possível atribuir efeito suspensivo apenas em relação à parte da execução, hipótese em que esta prosseguirá quanto à parte restante.

Subjetivamente também poderá haver limitação aos embargos, pois se o fundamento que motivar a suspensão da execução disser respeito exclusivamente a um dos embargantes, a execução não ficará suspensa em relação aos demais que não apresentaram embargos.

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O fato de ter sido concedido efeito suspensivo aos embargos não impede o prosseguimento da execução quando for necessária nova penhora, para reforço ou substituição daquela existente, ou apenas para avaliar os bens.

O recurso interposto contra a sentença que julgar procedentes os embargos, porém, não permite o prosseguimento da execução, uma vez que a apelação interposta contra sentença que julga procedentes os embargos é dotada de efeito suspensivo, nos termos do art. 520, inciso V, do CPC em interpretação a contrario sensu.

No entanto, julgados improcedentes os embargos recebidos com efeito suspensivo, a execução poderá prosseguir. Não sendo impugnada por recurso de apelação, prosseguirá de forma definitiva. Havendo interposição de apelação, a execução será provisória, nos termos do art. 587, segunda parte, do CPC, ainda que tenha se iniciado como definitiva. Quanto aos embargos que não foram recebidos com efeito suspensivo, a execução prosseguirá sempre de forma definitiva, ainda que os embargos tenham sido julgados improcedentes e a sentença impugnada por recurso de apelação.

4) Objeto dos embargos

A cognição dos embargos à execução de título extrajudicial é ampla, pois é permitido que se alegue tanto as matérias especificadas no art. 745 do CPC, como aquelas que poderia o devedor alegar como defesa em processo de conhecimento. É também exauriente, sendo admissível, portanto, a produção de qualquer meio de prova para comprovação das alegações formuladas.

A impugnação ao cumprimento de sentença e os embargos à execução de título judicial contra a Fazenda Pública, no entanto, não admitem a discussão de matéria relativa ao processo prévio de conhecimento.

De acordo com o art. 745, poderá o devedor alegar nos embargos à execução de título extrajudicial: I - nulidade da execução, por não ser executivo o título apresentado; II - penhora incorreta ou

avaliação errônea; III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de título para entrega de coisa certa (artigo 621); V - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento.

Com relação às matérias previstas nos incisos I e II, não se exige que sejam alegadas exclusivamente nos embargos, mas também por simples petição, pois podem ser apreciadas até mesmo de ofício pelo juiz.

Com relação ao excesso de execução, prevê o art. 743 que ocorrerá nas seguintes ocasiões: I - quando o credor pleiteia quantia superior à do título; II - quando recai sobre coisa diversa daquela declarada no título; III - quando se processa de modo diferente do que foi determinado na sentença; IV - quando o credor, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da do devedor (artigo 582); V - se o credor não provar que a condição se realizou.

5) Embargos à expropriação

O executado pode opor embargos à expropriação a fim de alegar nulidades da execução ou qualquer causa extintiva da obrigação, mas desde que sejam supervenientes à penhora, uma vez que os fatos ocorridos antes desta devem ser alegados nos embargos à execução.

O objetivo principal dos embargos à expropriação não é, portanto, desconstituir o título executivo, mas apenas o ato de expropriação.

No pólo passivo destes embargos figurarão tanto o exequente como o terceiro que arrematar, comprar ou adjudicar o bem penhorado.

O prazo para oposição dos embargos à expropriação é de 05 (cinco) dias, contados da adjudicação, alienação ou arrematação (CPC, art. 746).

Faculta-se ao terceiro, depois de oferecidos os embargos à arrematação, a desistência da aquisição, caso não pretenda figurar como embargado, liberando-se imediatamente eventual depósito que tenha feito.

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Caso sejam os embargos à expropriação declarados manifestamente protelatórios, o juiz aplicará multa ao embargante, não superior a 20% (vinte por cento) do valor da execução, em favor de quem desistiu da aquisição.

6) Exceção de pré-executividade

No sistema executivo anterior à reforma feita pelas Leis 11.232/05 e 11.382/06, o meio de defesa do executado, tanto na execução fundada em título judicial quanto naquela que tivesse como base um título executivo extrajudicial, era realizada exclusivamente por meio dos embargos do devedor, os quais somente poderiam ser opostos após a realização da penhora.

Tal exigência, por evidente, muitas vezes mostrava-se injusta ao devedor, por contrariar o princípio da ampla defesa.

Facultava-se, portanto, que as matérias de ordem pública a cujo respeito o juiz pudesse se pronunciar de ofício, fossem alegadas pelo executado independentemente da garantia do juízo ou oferecimento de embargos, por meio de simples petição chamada de exceção ou objeção de pré-executividade.

A respeito das questões passíveis de serem levadas ao conhecimento do juiz por meio da objeção de pré-executividade, seriam aquelas relativas aos pressupostos processuais, condições da ação e, ainda, aquelas preliminares que podem ser alegadas em contestação, previstas no art. 301 do CPC. Admitia-se também a alegação de objeções de direito material relativas à decadência e prescrição.

Porém, depois da alteração promovida pela Lei 11.382/2006 no art. 736 do CPC, que não mais exige a garantia do juízo para oposição de embargos, a exceção de pré-executividade deixou de ter relevância, pois uma vez citado o executado, abre-se-lhe o prazo para embargar, independentemente de penhora. Assim, caso haja alguma questão a que o juiz deveria se pronunciar e não o fez, o devedor poderá trazê-la ao conhecimento deste por meio de embargos.

Na fase de cumprimento de

sentença, porém, continua sendo exigida a garantia do juízo para oposição da impugnação, motivo pelo qual a exceção de pré-executividade ainda continua sendo aceita naquele procedimento.

A decisão que julga a exceção de pré-executividade tem, em regra, natureza interlocutória, sendo desafiada por recurso de agravo de instrumento. Porém, se determinar a extinção do feito, terá natureza de sentença e será impugnada por recurso de apelação.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

1) Noções gerais

De acordo com as alterações promovidas no CPC pela Lei 11.232/05, as obrigações de pagar quantia consubstanciadas em título executivo judicial não são executadas em processo autônomo de execução, mas sim em fase do mesmo processo, denominada de fase de cumprimento de sentença.

As demais espécies de obrigações previstas em títulos executivos judiciais, como a de fazer, não fazer e entregar coisa, ao menos necessitam de fase de cumprimento de sentença, pois se efetivam por meio da concessão de tutela específica ou por determinação de providências que asseguram o resultado prático equivalente ao do adimplemento, conforme regra prevista nos artigos 461 e 461-A do CPC.

Exceção devemos fazer às execuções de títulos judiciais de obrigação de pagar quantia tendo a Fazenda Pública como devedora, pois, estas continuam sendo regidas pelos artigos 730 e 731 do CPC, que exigem a expedição de precatório, assim como a execução de prestação alimentícia que autoriza a prisão do alimentante devedor, nos termos do art. 733 do CPC.

Por fim, ainda que diversos sejam os procedimentos para a execução dos títulos executivos judiciais e extrajudiciais, aplicam-se àqueles, no que couber, as regras que disciplinam a execução destes (CPC, art. 475-R).

Quanto aos requisitos para se dar início à fase de cumprimento de

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sentença, por exemplo, necessária a observância do disposto no art. 580 do CPC, ou seja, o título executivo judicial, para ser executado, deve ser certo, líquido e exigível. Não sendo líquido, deverá ser previamente apurado o “quantum debeatur” por meio da fase de liquidação. A exigibilidade, por sua vez, é apurada pela falta de pagamento da dívida no prazo de 15 (quinze) dias a que se refere o art. 475-J, “caput”, do CPC, a permitir seja o condenado considerado inadimplente.

2) Competência

No que se refere à competência para processamento desta modalidade de execução, o art. 475-P do CPC, em seus incisos I e II, prevê que o cumprimento da sentença deve ocorrer no tribunal ou juízo que processou a causa, tratando-se, no primeiro caso, de competência originária do tribunal, e no segundo, de causa iniciada no primeiro grau de jurisdição. Funcional, portanto, deve ser considerado este critério de fixação de competência.

Quando a execução for de título executivo judicial que não se formou em processo civil de conhecimento regulado pelo CPC (como as sentenças penais condenatórias, sentenças arbitrais ou sentenças estrangeiras), a competência será relativa, e deverá observar o critério territorial previsto para o processo de conhecimento, observando-se apenas que a execução da sentença estrangeira tramitará perante a Justiça Federal (CF, art. 109, inciso X).

Inovação, porém, é a trazida pelo parágrafo único do art. 457-P, que admite a opção do credor pelo processamento do cumprimento de sentença no juízo onde se encontram os bens sujeitos à expropriação ou no juízo do atual domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem. Tal faculdade de solicitar a alteração da competência original foi atribuída apenas ao credor, que deverá fazê-la ao juízo que entender competente para a execução. Nessa hipótese, reconhecendo-se competente, o juízo da execução solicitará a remessa dos

autos da ação de conhecimento ao juízo de origem. 3) Prazo para pagamento

Com relação ao prazo de 15 (quinze) dias previsto no art. 475-J do CPC para pagamento da dívida reconhecida em sentença, que seja certa ou já esteja apurada em liquidação, a jurisprudência do STJ consolidou-se no sentido de que deva ser contado a partir do trânsito em julgado da sentença condenatória (se for líquida) ou da decisão que julgar a fase de liquidação. Desnecessária, portanto, segundo o entendimento do STJ, a intimação do devedor ou de seu advogado para que se inicie a contagem do prazo para pagamento da dívida.

O art. 475-J do CPC, por sua vez, prevê que no caso de não ser feito o pagamento no referido prazo de 15 (quinze) dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de 10% (dez por cento), que reverterá em benefício do credor.

A fase de cumprimento de sentença, na realidade, inicia-se somente com o requerimento do credor, depois de findo o prazo para pagamento espontâneo da condenação, sem que o devedor tenha quitado o débito.

Havendo pagamento parcial da dívida, a multa de 10% (dez por cento) deve incidir apenas sobre o saldo devedor remanescente (CPC, art. 475-J, § 4º).

A multa também incidirá se o devedor efetuar o depósito da quantia devida, mas não a título de pagamento, e sim para garantia do juízo e oposição de impugnação. Isto porque o art. 475-J nitidamente privilegia o pagamento voluntário da dívida; não ocorrendo tal pagamento, de rigor a incidência da multa, ainda que tenha havido depósito para garantia do Juízo.

Incabível, porém, será a incidência da multa nas execuções provisórias de sentenças impugnadas por recurso recebido apenas no efeito devolutivo, pois ainda não terá ocorrido o trânsito em julgado da decisão condenatória a propiciar o início do prazo para pagamento voluntário do montante da condenação.

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4) Procedimento

A fase de cumprimento de sentença se iniciará mediante requerimento do credor, que será feito somente depois de findo o prazo de 15 (quinze) dias para pagamento voluntário do montante da condenação certa ou fixada em liquidação. O requerimento deverá estar acompanhado do demonstrativo atualizado do débito, já acrescido da multa de 10% prevista no art. 475-J do CPC.

Em seguida, será expedido mandado de penhora e avaliação e não mandado de intimação para pagamento da dívida, vez que já transcorrido o prazo para pagamento.

Poderá o credor, em seu requerimento, desde já indicar bens do devedor a serem penhorados.

Não sendo, porém, requerido o cumprimento da sentença no prazo de seis meses, contados do término do prazo de pagamento voluntário da dívida pelo devedor, o juiz determinará o arquivamento provisório dos autos, até que se consuma a prescrição intercorrente. Porém, o feito poderá ser desarquivado a pedido do credor, desde que não tenha ocorrido a referida prescrição (CPC, art. 475-J, § 5º).

Tendo o oficial de justiça encontrado bens do devedor para serem penhorados, deverá proceder a avaliação deles. Não podendo o oficial de justiça efetuar a avaliação, por depender de conhecimentos especializados, o juiz nomeará avaliador e fixar breve prazo para a entrega do laudo.

Em seguida, o executado será intimado da realização da penhora, na pessoa de seu advogado, ou mesmo pessoalmente ou na pessoa de seu representante legal, por mandado ou ainda pelo correio.

De fundamental importância na execução tem esta intimação da penhora, porque é a partir da juntada aos autos do mandado ou AR de intimação do devedor, ou da data da publicação ao seu advogado, que se inicia a contagem do prazo de 15 (quinze) dias para oferecimento de impugnação. A impugnação, como veremos, assemelha-se aos embargos à execução de

título executivo extrajudicial. Não tendo sido apresentada

impugnação ou sendo ela rejeitada, seguirá a execução com os demais atos expropriatórios (adjudicação, alienação por iniciativa particular, alienação em hasta pública, usufruto do bem penhorado), nos moldes como previsto para a execução de título extrajudicial, em função da previsão contida no art. 475-R do CPC.

Relevante questão que deve ser considerada é a referente ao cabimento ou não de fixação de honorários advocatícios na fase do cumprimento de sentença. A despeito da falta de previsão específica, o STJ firmou entendimento no sentido de que é devida a fixação de honorários advocatícios nesta fase. Segundo este entendimento, se é obrigatório o arbitramento de honorários na execução autônoma de título extrajudicial, nos termos do art. 20, § 4º, I, do CPC, e se o cumprimento da sentença faz-se por execução (CPC, art. 475, I), devida é a fixação da verba honorária também nesta fase de cumprimento de sentença. Ademais, não teria sentido fixar multa sancionatória de 10% (dez por cento) em caso de descumprimento da condenação, nos termos do art. 475-J do CPC, se por outro lado afastada estaria a condenação no pagamento de honorários no percentual de 10% a 20%, também sobre o valor da condenação.

IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

1) Noções gerais e procedimento

A impugnação constitui o meio de defesa do devedor na fase do cumprimento da sentença condenatória que prevê obrigação de pagar quantia.

Não se admite a oposição de impugnação na fase de satisfação das sentenças que definem obrigação de entregar coisa ou de fazer ou não fazer, pois estas são cumpridas por meio do procedimento previsto nos artigos 461 e 461-A do CPC.

Quanto à natureza jurídica da impugnação, o CPC a considera como mero incidente da fase de cumprimento da

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sentença e não como ação autônoma de conhecimento, como são considerados os embargos. Porém, é inegável a natureza de ação da impugnação fundada na hipótese prevista no incido VI do art. 475-L (“qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença”), por visar à declaração de extinção da própria obrigação.

A impugnação poderá ser oferecida pelo devedor no prazo preclusivo de 15 (quinze) dias, contados da juntada aos autos da intimação do auto de penhora e avaliação (CPC, art. 475-J, § 1º). Portanto, a realização da penhora é pressuposto necessário para a oposição da impugnação, diversamente do que ocorre com os embargos à execução da obrigação prevista em título executivo extrajudicial.

Não tendo natureza de ação, à impugnação é aplicável o disposto no art. 191 do CPC, contando-se em dobro o prazo de oposição quando os devedores litisconsortes tiverem procurados diferentes, devendo o prazo ainda ser contado a partir da juntada aos autos da última intimação realizada, nos termos do art. 241, inciso III, do CPC.

A impugnação poderá ser apresentada por meio de simples petição, sem os requisitos dos artigos 282 e 283.

O juízo competente para o processamento da impugnação será o da execução; sua competência é funcional. Diversamente do que ocorre nos embargos à execução, não há previsão de competência do juízo deprecado para julgamento da impugnação nos casos em que a penhora seja efetuada em outra comarca e verse apenas sobre defeito na penhora ou avaliação errônea; porém, nada impede a aplicação do disposto no art. 747 do CPC de forma subsidiária.

A impugnação não será distribuída, e sim juntada e decidida nos mesmos autos quando for concedido efeito suspensivo. Será, porém, autuada e processada em apartado quando tramitar sem a concessão de efeito suspensivo (CPC, art. 475-M, § 2º).

2) Efeito suspensivo Da mesma forma que os

embargos, a mera oposição da impugnação não faz suspender a execução. O efeito suspensivo depende de decisão judicial.

Ademais, a concessão do efeito suspensivo precisa ser expressamente requerida pelo impugnante, não sendo admissível sua concessão de ofício pelo juiz. A penhora, depósito ou caução, não é considerado apenas requisito para a concessão do efeito suspensivo, mas também pressuposto da oposição da própria impugnação.

Além do requerimento, o impugnante deverá apresentar fundamentação relevante e justificar a concessão, demonstrando a possibilidade de o prosseguimento da execução causar-lhe grave dano de difícil ou incerta reparação (CPC, art. 475-M).

Porém, sendo oferecida e prestada caução idônea, que se destinará a reparar os possíveis danos que o executado venha a sofrer com o prosseguimento da execução, faculta-se ao exequente requerer ao juiz o prosseguimento da execução, mesmo tendo sido concedido o efeito suspensivo.

Ainda que não haja previsão expressa, deverá o credor ser intimado para responder à impugnação, no mesmo prazo de 15 (quinze) dias que o devedor dispõe para apresentá-la, em respeito ao princípio do contraditório.

Considerando que a impugnação terá, em regra, a natureza de mero incidente, será julgada por decisão interlocutória, impugnável por meio de agravo de instrumento. Porém, quando o julgamento importar extinção da execução, a apelação será o recurso cabível contra a decisão, que terá evidente natureza de sentença (CPC, art. 475-M, § 3º)

3) Objeto da impugnação

Não se admite na impugnação a discussão de matéria relativa ao processo de conhecimento. Portanto, a cognição na impugnação é parcial, restrita às hipóteses limitadas constantes do art. 475-L do CPC, embora exauriente, motivo pelo qual nela se admite a produção de qualquer meio de

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prova para comprovação das alegações formuladas.

Ademais, conforme prevê o art. 474 do CPC, transitada em julgado a sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e defesas que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à rejeição do pedido.

Com efeito, de acordo com o art. 475-L do CPC, a impugnação somente poderá versar sobre: I - falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; II - inexigibilidade do título; III - penhora incorreta ou avaliação errônea; IV - ilegitimidade das partes; V - excesso de execução; VI - qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença.

Com relação à hipótese prevista no inciso II, dispõe o § 1º do mesmo artigo que, “considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal”. Porém, discute-se sobre a constitucionalidade deste parágrafo por afrontar a coisa julgada, havendo quem defenda sua aplicação apenas na hipótese de o julgamento do STF ter precedido ao trânsito em julgado da decisão exequenda e a impugnação ter sido oposta no prazo da ação rescisória, que é de dois anos a contar do trânsito em julgado da sentença.

No que se refere ao excesso de execução, quando o devedor a alegar também deverá declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de ver rejeitada liminarmente sua impugnação (CPC, art. 475-L, § 2º). As hipóteses de excesso de execução estão previstas no art. 743 do CPC: I - quando o credor pleiteia quantia superior à do título; II - quando recai sobre coisa diversa daquela declarada no título; III - quando se processa de modo diferente do que foi determinado na sentença; IV - quando o credor, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da do devedor (artigo 582); V

- se o credor não provar que a condição se realizou.

4) Exceção de pré-executividade

Considerando que a exigência de garantia do juízo pode trazer sérios prejuízos ao devedor, tem-se admitido a oposição de exceção ou objeção de pré-executividade, na qual poderão ser alegadas, independentemente da realização de penhora, depósito ou oferecimento de caução, matérias cognoscíveis de ofício pelo julgador, como pressupostos processuais, condições da ação, prescrição, decadência, competência do juízo, legitimidade de parte, nulidade processual, e ainda aquelas que não exijam dilação probatória.

A decisão que julga a exceção de pré-executividade tem, em regra, natureza interlocutória, sendo desafiada por recurso de agravo de instrumento. Porém, se determinar a extinção do feito, terá natureza de sentença e será impugnada por recurso de apelação.

5) Ação autônoma como forma de desconstituir o título executivo ou declarar a nulidade do processo de execução

O executado também poderá valer-se de ações autônomas para reagir contra a execução, como a ação rescisória, caso encontre-se presente alguma das hipóteses autorizadoras elencadas no art. 485 do CPC ou, a ação declaratória de nulidade de ato judicial (querella nullitatis). Tais ações, conquanto não tenham a finalidade específica e imediata de atacar a execução, a atingem de forma indireta, já que visam desconstituir a coisa julgada que a embasa.

EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA

1) Requisitos e procedimento

O procedimento previsto nos artigos 621 a 631 do CPC é destinado exclusivamente à execução das obrigações de entregar coisa previstas em título executivo extrajudicial.

Isto porque a obrigação de entregar coisa prevista em título executivo

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judicial, como já analisamos, será efetivada no próprio processo, por meio da concessão de tutela específica ou por determinação de providências que asseguram o resultado prático equivalente ao do adimplemento, conforme regra prevista no art. 461-A do CPC. Nesta hipótese, o juiz deverá fixar prazo para cumprimento da obrigação, que, não sendo observado pelo devedor, ensejará a expedição de mandado de busca e apreensão, se bem móvel, ou de imissão na posse, se bem imóvel. Visando à satisfação da obrigação, poderá o juiz ainda impor multa por tempo de atraso no cumprimento. Somente na impossibilidade de cumprimento é que a obrigação será convertida em perdas e danos, a serem apurados incidentalmente.

A execução para entrega de coisa fundada em título extrajudicial, por sua vez, apresenta dois tipos de procedimento, um destinado à entrega de coisa certa, outro destinado a entrega de coisa incerta.

Independentemente da natureza do objeto da prestação a ser exigida, o credor deverá apresentar petição inicial para iniciar a execução, observando os requisitos do art. 282 do CPC e instruindo-a com o título executivo extrajudicial, por ser considerado documento indispensável à propositura da ação.

Passemos, agora, a analisar individualmente as diferenças existentes entre a execução para entrega de coisa certa e a execução para entrega de coisa incerta.

2) Execução para entrega de coisa certa

Estando em ordem a petição inicial, o devedor será citado para entregar a coisa certa constante do título executivo extrajudicial no prazo de 10 (dez) dias, contados da juntada aos autos do mandado de citação cumprido.

O art. 621 do CPC também faculta o devedor a apresentar embargos, no mesmo prazo de 10 (dez) dias, desde que esteja seguro o juízo, fazendo referência ao art. 737, II, do CPC. No entanto, depois da alteração promovida na Lei 11.382/06, que revogou o art. 737 e alterou o art. 738, fixando o prazo de quinze dias para a oposição dos embargos, contados da

juntada aos autos do mandado de citação, conclui-se que os embargos na execução para entrega de coisa certa também poderão ser opostos no prazo geral de 15 (quinze) dias previsto no art. 738 do CPC.

O juiz ainda poderá, ao despachar a petição inicial, fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação (CPC, art. 621, parágrafo único). Esta multa constitui apenas meio para coagir o devedor a cumprir sua obrigação de entregar a coisa a que se obrigou, não substituindo a obrigação original.

Sendo entregue a coisa exigida, o feito poderá ser extinto ou prosseguir para a cobrança dos frutos da coisa e/ou prejuízos que a coisa porventura tenha sofrido. Esta indenização será apurada em liquidação incidente a ser formada e poderá ser exigida nos mesmos autos.

No que se refere à exigência feita no art. 622 do CPC, de que a oposição de embargos dependerá do depósito prévio da coisa, a atual redação do art. 736 do CPC não mais exige qualquer condição para a apresentação dos embargos, motivo pelo qual considera-se implicitamente revogada a primeira norma. O depósito deve ser considerado apenas como uma das condições para a concessão de efeito suspensivo aos embargos (CPC, art. 739-A, § 1º). Porém, válida deve ser considera a restrição constante do art. 623 do CPC, que impede o levantamento da coisa depositada antes do julgamento dos embargos.

Caso o devedor não entregue ou deposite a coisa, expedir-se-á em favor do exequente mandado de imissão na posse ou de busca e apreensão, conforme se tratar de imóvel ou de móvel (CPC, art. 625). A coisa poderá ser apreendida ainda que estiver na posse de terceiro, que a tenha adquirido no curso do processo.

Não sendo encontrada a coisa, ou tendo ela sido totalmente deteriorada, o credor terá direito de receber o seu equivalente em dinheiro, além de perdas e danos, os quais serão apurados em liquidação incidental a ser formada, bem como exigidos no mesmo feito.

Com relação ao direito de retenção pela realização de benfeitorias no bem, poderá ser alegado pelo executado

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nos embargos a serem opostos no prazo de quinze dias contados da juntada aos autos do mandado de citação. Estes embargos costumam ser chamados de “embargos de retenção”.

Nos embargos, é facultado ao exequente requerer a compensação do valor das benfeitorias feitas pelo executado com o valor dos frutos ou danos devidos por ele, cumprindo ao juiz, para a apuração dos respectivos valores, nomear perito, fixando-lhe breve prazo para entrega do laudo. Se necessário, o juiz determinará seja feita liquidação prévia das benfeitorias para apurar seu valor. Dependendo do valor das benfeitorias ou do valor dos frutos ou danos causados pelo executado, poderá haver saldo tanto em favor do exequente como em favor do executado. Neste último caso, ao exequente só é permitido levantar a coisa entregue mediante o depósito da diferença relativa às benfeitorias que é obrigado a pagar; porém, se prestar caução ou depositar o valor devido pelas benfeitorias, será imitido desde logo na posse, não sendo necessário aguardar o trânsito em julgado dos embargos (CPC, art. 745, §2º). Ficando, por outro lado, com saldo em seu favor, poderá o exequente cobrá-lo nos mesmos autos.

Com relação às obrigações de entregar coisa definidas em título executivo judicial, considerando que não se formará processo ou fase de execução, já que a satisfação da obrigação observará o procedimento do art. 461-A do CPC, o direito de retenção deverá ser alegado e provado no próprio processo de conhecimento, pois não haverá possibilidade de se opor embargos posteriormente.

3) Execução para entrega de coisa incerta

A coisa incerta é aquela determinada apenas pelo gênero e quantidade. Havendo indefinição quanto à qualidade da coisa, necessário que se proceda à prévia individualização antes de se praticar qualquer ato executivo.

A forma desta individualização está regulada nos artigos 629 e 630 do CPC.

A primeira coisa que devemos observar é se a escolha do bem caberá ao devedor ou ao credor. Se couber ao credor, a escolha deverá constar da própria petição inicial da execução, de modo a possibilitar a citação do executado para entregar o bem já devidamente individualizado.

Cabendo, porém, a individualização ao devedor, este deverá ser citado para entregar o bem que escolher.

Qualquer das partes ainda poderá impugnar a escolha feita pela parte contrária no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, devendo o juiz decidir em seguida e, se necessário, nomear perito para auxiliá-lo (CPC, art. 630).

Feita a escolha por qualquer das partes, a execução passará a seguir o rito da execução para entrega de coisa certa.

EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER

1) Procedimento das execuções das obrigações de fazer, fungíveis e não fungíveis

Somente os títulos executivos extrajudiciais podem embasar uma ação de execução autônoma de obrigação de fazer ou não fazer. Os títulos executivos judiciais que prevêem esta obrigação, por sua vez, devem ser cumpridos da forma como previsto no art. 461 do CPC.

Na execução dos títulos executivos extrajudicias que estabelecem obrigação de fazer, o devedor será citado para satisfazer a obrigação no prazo fixado pelo juiz ao despachar a inicial, se outro não estiver determinado no título executivo.

Neste despacho inicial, poderá o juiz fixar multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação (CPC, art. 645), como meio de coerção, multa esta que, se tornar-se excessiva, poderá ser reduzida pelo juiz. Embora o art. 645, parágrafo único, do CPC, não contenha esta previsão, a multa poderá também ser majorada, se mostrar-se insuficiente, aplicando-se analogicamente o disposto no art. 461, § 6º, do CPC.

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Não sendo adimplida a obrigação de fazer pelo devedor no prazo fixado, terá o credor, em se tratando de prestação fungível, duas escolhas: poderá pleitear seja a obrigação cumprida por terceiro, à custa do devedor (se fungível for a prestação), ou poderá requerer a conversão da obrigação em indenização pelas perdas e danos causados com o inadimplemento, a qual deverá ser apurada em liquidação incidente à própria execução (CPC, art. 633). Tratando-se, porém, de prestação não fungível, ou seja, aquela que o devedor deva fazê-la pessoalmente, no caso de seu descumprimento só resta ao credor requerer sua conversão em indenização por perdas e danos.

Sendo prestado o fato pelo executado, o exequente será ouvido no prazo de 10 (dez) dias; não apresentada qualquer impugnação, o juiz declarará cumprida a obrigação e extinguirá a execução. Não tendo sido a obrigação cumprida integralmente, o credor terá as mesmas opções já referidas acima, quais sejam, requerer seja complementada por terceiro, às custas do executado, ou optar pela conversão em perdas e danos.

2) Procedimento das execuções das obrigações de não fazer

Se o devedor tiver praticado o ato a que estava obrigado a não praticar, será citado para desfazê-lo em prazo a ser fixado quando do despacho inicial da execução. Admissível a fixação de multa por dia de atraso no descumprimento desta obrigação positiva de desfazer, determinada judicialmente.

Não sendo atendida a determinação para desfazer, o credor, da mesma forma como ocorre na execução das obrigações de fazer, poderá optar por pleitear que o desfazimento seja feito por terceiro, às custas do devedor, ou pleitear a conversão em perdas e danos, por meio de liquidação incidente. Idênticas opções são facultadas ao credor nas hipóteses em que o desfazimento do ato não se tenha dado por completo, ou seja, se o devedor apenas desfez parte do ato que estava obrigado a não praticar.

Sendo impossível o

desfazimento do ato, não restará outra alternativa ao credor senão a conversão em perdas e danos.