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A DIPLOMACIA COMO MEIO DE SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONFLITOS INTERNACIONAIS Curitiba 2011

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A DIPLOMACIA COMO MEIO DE SOLUÇÃO PACÍFICA DE

CONFLITOS INTERNACIONAIS

Curitiba

2011

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Bruno Fernando Santos Kasper

A DIPLOMACIA COMO MEIO DE SOLUÇÃO PACÍFICA DE

CONFLITOS INTERNACIONAIS

Monografia apresentada ao Curso de Direito da

Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade

Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Wagner Rocha D‟Angelis

Curitiba

2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

Bruno Fernando Santos Kasper

A DIPLOMACIA COMO MEIO DE SOLUÇÃO PACÍFICA DE

CONFLITOS INTERNACIONAIS

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do grau de Bacharel em Direito no Curso de

Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, de março de 2011.

____________________________________

Eduardo Oliveira Leite

Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Dr. Wagner Rocha D‟Angelis

Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. Dr

Prof. Dr.

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................................... 5

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 6

2. NOÇÕES DE CONFLITOS INTERNACIONAIS .................................................................... 10

2.1. CONFLITOS HISTÓRICOS .................................................................................................. 13

2.2. PRINCIPAIS CONFLITOS ATUAIS ..................................................................................... 14

2.3. A POSIÇÃO BRASILEIRA EM FACE DOS CONFLITOS INTERNACIONAIS ............. 17

3. MEIOS PARA SOLUCIONAR OS CONFLITOS INTERNACIONAIS ................................. 19

4. OS MEIOS E ÓRGÃOS POLÍTICOS – SISTEMA DA ONU ................................................ 23

5. OS MEIOS JURÍDICOS ............................................................................................................ 24

6. OS MEIOS DIPLOMÁTICOS .................................................................................................... 28

6.1. NEGOCIAÇÕES DIPLOMÁTICAS ...................................................................................... 28

6.2. BONS OFÍCIOS ...................................................................................................................... 30

6.3. MEDIAÇÃO ............................................................................................................................. 32

6.4. FACT-FINDING OU INQUÉRITO ........................................................................................ 34

6.5. CONCILIAÇÃO INTERNACIONAL ...................................................................................... 35

6.6. ARBITRAGEM ........................................................................................................................ 36

7. OUTROS MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE LITÍGIO ........................................................ 38

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................42

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RESUMO

Em vista aos inúmeros incidentes conflituosos que ocorrem na sociedade internacional se torna necessário um estudo mais aprofundando sobre as ferramentas mais eficazes para se solucionar os conflitos internacionais. São várias as formas de se solucionar um conflito internacional, porém se prioriza neste estudo as formas pacíficas de se solucionar conflitos.

Assim os meios mais conhecidos de solução de controvérsias são os meios e os órgãos políticos, os jurídicos, a arbitragem e a diplomacia dentre outros, e esta análise se limita ao estudo mais aprofundado sobre os meios diplomáticos, que se subdividem em bons ofícios, mediação, negociações diretas, fact-finding, arbitragem e conciliação internacional.

Mas se percebe que ainda não se tem uma ferramenta eficaz para se solucionar os conflitos internacionais, pela carência de auto-executoriedade das decisões proferidas pelos órgãos competentes.

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho procura analisar a via diplomática como solução pacífica

de conflitos internacionais, pois, como se sabe bem, vários países renunciaram à

guerra, porém os conflitos internacionais acentuaram-se nestes últimos tempos.

Aliás, o estudo desta matéria configura-se agora ainda mais essencial tendo em

vista a popularização do WikiLeaks, sitio de notícias pela internet, que anda

divulgando mensagens de cunho restrito das embaixadas com seus respectivos

Estados, documentos que antes eram só de leitura restrita dos emissores e

receptores, conseqüentemente tornando o ambiente internacional mais frágil e

delicado, ocasionado um alerta vermelho a toda comunidade.

O que se pretende aqui é visualizar a eficiência das ferramentas que

permitam solucionar os conflitos internacionais pacificamente, em especial a via

diplomática, e que possam impedir uma futura possível guerra mundial.

Os pactos, convenções, tratados e acordos internacionais que trazem em

seu bojo os meios pacíficos de solucionar os conflitos internacionais são os

seguintes:

A Carta da Organização das Nações Unidas, cujo art. 2º, alínea 3,

estabelece que “todos os membros deverão resolver suas controvérsias

internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a

segurança e a justiça internacionais”, e a Carta da OEA, Organização dos Estados

Americanos, que em seu art. 2º, letra C, se dispõe a “prevenir as possíveis causas

de dificuldade e assegurar a solução pacífica das controvérsias que surjam entre

seus membros”.

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Existem também regras decorrentes da 1ª Conferência de Haia, de 1899

(art. 1º), bem como da 2ª Conferência de Haia, de 1907. Além disso, vale ressaltar a

Conferência Pan-americana de Montevidéu, de 1933 (art. 10), o tratado de renúncia

à guerra (Pacto Briand-Kellogg), concluído em Paris em 1928 (art. 2ª), e do Tratado

Americano de Soluções Pacíficas (Pacto de Bogotá, 1948, art. 1º).

E ainda resta mencionar a Convenção Européia para a Solução pacífica dos

Litígios Internacionais (1957), e o Ato Geral para a Solução Pacífica dos Litígios

Internacionais, adotado pela SDN (Sociedade das Nações), em 1928, e revisto pela

ONU em 1949.

Estes mecanismos são os mais importantes a serem destacados, porém é

necessário estudar sua eficiência e aplicabilidade. Além do mais, as doutrinas que

tratam do tema, conquanto concordes, apresentam conteúdo bastante escasso,

retratando talvez a acanhada importância que se atribui à matéria.

Assim, o que se pretende aqui é um estudo mais aprofundado, com a

ampliação dos conteúdos e mostrando uma comparação diante das ferramentas que

se tem no Estado Nacional e em outros países.

Alguns fatos conflituosos que vêem desequilibrando de forma constante a

ordem mundial são: como exemplo, os impasses que está ocorrendo entre a Coréia

do Sul e sua vizinha do norte, em conseqüência de possível ataque deste país a um

navio sul coreano, que invadiu seu território marítimo, e que resultou até mesmo em

ameaça norte-coreana de ataque por bombas nucleares aos Estados Unidos e

Coréia do Sul.

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Além deste, há muitos outros casos de grande repercussão no cenário

internacional, como o grupo de guerrilheiros conhecidos como as FARCs, que há

anos tentam derrubar o governo atual na Colômbia. E, mais que isso, segundo

notícias da mídia internacional, havendo denúncias do presidente colombiano contra

Hugo Chaves, Presidente da Venezuela, por dar abrigo a membros das FARCs em

território venezuelano, ocasionando até mesmo o rompimento das relações

internacionais entre esses países.

Outra problemática na ordem mundial é a crise econômica na Grécia,

provocando desentendimentos naquela comunidade de integração (UE), pois a

Alemanha não está de acordo em arcar com os prejuízos do Estado grego. Como se

sabe bem, aquela comunidade de integração possui características supranacionais,

ou seja, o Estado que adere a este bloco cede parte da sua soberania para estar

submisso ao mesmo, em conseqüência países aderentes compartilham os

benefícios e obviamente os prejuízos.

Também não se deve esquecer o eterno conflito entre a Palestina e Israel

em nome do direito ao território nacional, numa região onde o grande problema

reside em saber quem possui o direito à terra, ou seja, quem ali chegou primeiro, ou

como fica a divisão territorial no caso de ambos terem o mesmo direito? Sem

mencionar a inquietação na fronteira entre o Uruguai e a Argentina, por conta da

instalação de fábricas de celulose na região, gerando reclamações argentinas

quanto à poluição ambiental e fluvial que o empreendimento poderá provocar no

local.

Por outro lado, ninguém desconhece a invasão permanente das tropas

militares norte-americanas em solo Iraquiano, que já dura muitos anos, apesar das

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inócuas promessas vazias do “Tio Sam” de retirarem as tropas militares, caso que

parece insolúvel com o passar do tempo.

E uns dos últimos incidentes que se tem notícia na mídia diz respeito ao

enriquecimento de urânio pelo Irã, com a sociedade internacional exigindo que o

minério seja enriquecido em outro pais e reenviado aos iranianos, para poder

controlá-los e assim garantir o uso pacífico do material. Obviamente que o Irã não

concorda com a medida e justifica alegando que os Estados Unidos, dentre outros

países, possuem bombas nucleares estocadas.

Por fim, e em face de tudo que foi exposto, se faz necessário uma análise

mais detalhada sobre o tema, para que não se repita o erro da Liga das Nações, na

primeira metade do século XX, que não conseguiu conter a 2ª Grande Guerra, bem

como as dificuldades enfrentadas pela própria ONU, que teve que se reciclar para se

manter viva do início da década de 1990 aos dias atuais. Contudo esse organismo

permanece na comunidade internacional sem causar grande impacto, nem ao

menos consegue inibir atos de países mais ousados.

Portanto, o estudo da diplomacia é de suma importância para compreender-

se o alcance dessa prática ou desempenho profissional na solução desses conflitos,

pois este órgão é que está mais próximo dos acontecimentos interestatais e pode

acompanhar os movimentos dos lideres mundiais e articular a convergência

harmoniosa de interesses, antes que estes criem mais impasses no cenário

internacional.

Lembrando que as doutrinas que tratam do tema estão em consonância,

porém o conteúdo não é vasto, pelo contrário, é escasso. Não merecendo a

importância devida.

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Diante de todo o exposto surge a seguinte questão: Qual é a eficácia da via

diplomática como solução pacífica de conflitos internacionais e até que ponto este

instituto é viável?

2. NOÇÕES DE CONFLITOS INTERNACIONAIS

Para o Professor Guido Soares1, conflito internacional trata-se de qualquer

controvérsia, originária de conflitos de interesses, de qualquer natureza, entre dois

ou mais Estados. Nos litígios entre Estados os interesses políticos se mesclam de tal

maneira aos interesses jurídicos que, na verdade, cabe perguntar até que ponto

existiria qualquer distinção entre ambos, num campo, como o Direito Internacional,

onde os atores principais são os Estados, cujas vontades são tão determinantes

para a criação das normas jurídicas que se torna quase impossível traçar uma linha

divisória.

Por conseqüência, não há sentido em se estabelecer distinção entre litígios

de natureza política, jurídica e econômica. Aliás, faz-se necessário esclarecer que se

entende por “internacional” tudo aquilo que ultrapasse fronteiras de um Estado, seja

ele de pertinência exclusiva da ação diplomática dos Estados, seja da alçada dos

particulares. Assim, o seu relacionamento com outros particulares postados fora da

jurisdição do próprio Estado, ou relacionamentos com Estados estrangeiros, devem

ser regidos pelo Direito Internacional.

Todavia, os litígios internacionais podem ser classificados em: a) entre

Estados, nas suas relações bilaterais ou multilaterais. B) entre pessoas físicas ou

1 SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas, 2002.

p.163-164.

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jurídicas, submetidas a sistemas jurídicos nacionais distintos, e que, na maioria das

vezes se resolve pela regra do Direito Internacional Privado. C) entre pessoas físicas

ou jurídicas de direito interno dos Estados, de um lado, e de outro Estado, ou seja,

seus órgãos, entidades a quem o Estado faculta o exercício de prerrogativas do

poder público, ou as pessoas que agem, de fato ou de direito, em nome do Estado.

O conflito internacional se encontra também definido nas palavras da CPJI

(Corte Permanente de Justiça Internacional), em 1924, na decisão do caso

Mavrommatis, entendido como “um desacordo sobre uma questão de direito ou de

fato, uma contradição, uma oposição de teses jurídicas ou de interesses entre dois

Estados”2.

Para Fathali M. Moghaddam3, os conflitos podem surgir através

desentendimentos e fatores culturais, econômicos, políticos, tecnológicos e

psicológicos, ou seja, não surgem do nada e muito menos do dia para a noite, mas

são levados de geração a geração. Assim como foi o caso dos Católicos e

Protestantes no norte da Irlanda.

Além do mais, como bem coloca Moghaddam4, em todas as culturas existem

meios de solucionar os conflitos de modo formal que envolve sistemas legais e

autorizados. Porém, nem todos os conflitos são passíveis de solução somente por

2 Permanent Court of Internacional Justice. Decisão do caso Mavrommatis. 1924. Disponí- vel

em:http://www.icj_cij.org/pcij/serie_A/A_02/06_Mavromm atis_en_Palestin e_ Arret.pdf?

PHPSESSID=68bba422dfb3cd5719e631ec9eb54d34. Acesso em: 08 jan. 2011.

3 MOGHADDAM, Fathali M. HARRÉ, Rom. Lee, Naomi. Global conflict resolution through

positioning analysis. New York: Springer Science and business Media. 2008. p. 04-05.

4 MOGHADDAM, Fathali M. HARRÉ, Rom. Lee, Naomi. Global conflict resolution through

positioning analysis. New York: Springer Science and business Media. 2008. p.06-10.

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esta via formal, como por exemplo, o conflito do Oriente Médio que parece não ter

fim.

Sob uma grande influência de Freud, os autores Pyszcynski, Solomon e

Greenberg, desenvolveram uma teoria conhecida como Terror Management Theory,

em outras palavras, a Teoria da Administração do Terror, que leva em consideração

dois princípios. O primeiro, que toda a criatura viva está motivada a preservar sua

própria vida. Segundo, humanos reconhecem que irão morrer. Assim, esta teoria

propõem que a combinação de auto preservação, motiva e alerta para o iminente

potencial criador de mortes e de terror. Os humanos lutam com este terror potencial

por uma construção cultural com visões mundiais que servem como um papel

protetor.

Os conflitos tendem a aflorar quando se é confrontado por membros de um

grupo externo que ameaçam sua visão de mundo, e aumenta-se potencialmente a

sensação de terror dentro dos seres. Assim, se alguém acredita que o mundo foi

criado em sete dias e outro acredita que este mesmo mundo foi criado

instantaneamente, estes dois seres não podem estar ambos corretos. O

reconhecimento que ambos estariam errados leva ao sentimento de terror, que é

visto como irracional, já que não estão avisados do “porque” se experimenta o terror.

Os conflitos também podem se originar do interesse convergente da mesma

fonte de recursos, como por exemplo, o petróleo. E por fim, os conflitos podem surgir

da identidade que cada pessoa carregará ao nascer em determinada região, como

também o meio social em que este pessoa viverá. Exemplo disso são as pessoas

que nascem na America do Sul, conhecidas no resto do mundo como “Latinas”, ou

os Ingleses torcedores do time de futebol Manchester United, conhecidos como

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Hooligans, e este fator social pode ocasionar efeitos positivos ou negativos

dependendo sempre do meio em que esta pessoa esteja vivendo.

2.1. CONFLITOS HISTÓRICOS

Os conflitos internacionais mais significantes e marcantes da história

mundial, segundo o autor Joseph S. Nye Jr5, foram a guerra do Peloponeso, as

guerras gregas (Atenas e Esparta), a guerra do Paraguai, o conflito chinês com o

Tibete, a primeira e a segunda grande guerra mundial, a guerra-fria, a guerra do

golfo, os conflitos no oriente médio (árabes e judeus), a guerra do Vietnam, os

impasses do povo japonês com a Coréia do Norte, o conflito em Kosovo e no

Afeganistão.

Joseph expõe em seu livro que os desenvolvimentos dos conflitos podem

ser explicados por meio do indivíduo, do Estado e do sistema internacional, os quais

chama de imagens. Porém, como o autor mesmo coloca, as explicações apenas

pelo nível do indivíduo são raramente satisfatórias, pois a própria natureza da

política internacional implica Estados em vez de indivíduos. Colocar muita ênfase

sobre as intenções dos indivíduos pode trazer uma realidade turbada, míope, para

as conseqüências dos atos não intencionais de cada indivíduo analisado, e que são

provocadas pelos sistemas mais abrangentes no interior dos quais os indivíduos

operam. Claro que os indivíduos são importantes, como Saddam Hussein, que foi

um fator determinante para a Guerra do Golfo. Do mesmo modo se tem Hitler para a

Segunda Guerra Mundial e o Kaiser Guilherme II para a Primeira Grande Guerra.

5 JR. Joseph S. Nye. Compreender os conflitos Internacionais. Uma introdução à Teoria e à

História. Lisboa: Gradiva, 2002. p.12-14.

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As explicações pelo Estado ou sociedade e o sistema internacional devem

ser estudados pelas suas interações. Mas mais importante que isso é uma analise

ao nível do sistema, uma explicação de fora para dentro, explicando as situações

pelo o que está acontecendo no interior dos Estados. Por isso a interação dos

sistemas é importante, pois se necessita de informações acerca de ambos os níveis

de análise. Contudo, é necessário utilizar um método simples e prático, como o de

começar pela abordagem mais simples, porque se uma explicação simples se

adéqua, ela se torna preferível. Isto é conhecido como regra de parcimônia.

2.2. PRINCIPAIS CONFLITOS ATUAIS

Hoje em dia, um dos conflitos internacionais que tomam conta dos noticiários

e periódicos ao redor do mundo é o impasse do Irã, motivado por seu líder

Mahmoud Ahmadinejad, que alega desejar enriquecer urânio em seu país para fins

pacíficos, porém coloca todo o globo em alerta, pois este material pode ser utilizado

para produzir bombas atômicas. Como sinal de precaução os Estados Unidos e

demais membros da sociedade internacional impuseram que este material seja

enriquecido fora do Irã, para que o mesmo não tenha total controle do urânio e

comece produzir bombas nucleares6. E assim o impasse se agrava cada vez mais,

pois o líder do país, obviamente, não concorda com isto. Até o momento a situação

se encontra tranqüila, pois o Irã aceitou a enriquecer urânio na Turquia, respeitando

6 Jornal The New York Times: News Iran‟s Nuclear Program. Disponível em:

Http://www.nytimes.com/info/iran-nuclear-program/. Acesso em 11 de jan. de 2011.

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a opinião da sociedade internacional e da ONU7, com a ajuda brasileira nas

negociações8.

Ainda sobre o Irã, não há como esquecer o caso da Sakineh Mohammadi,

mulher que virou manchete mundial, por cometer adultério e ser condenada à morte

de forma brutal, porém o mundo se mobilizou para que esta pessoa não seja punida

desta forma, contrariando, uma vez mais, o governante do país, Mahmoud

Ahmadinejad. E a última polêmica que este governante está causando, vem a ser a

proibição de circulação dos livros do escritor brasileiro Paulo Coelho, no Irã, pelo

fato desse escritor ter-se envolvido na manifestação contra a reeleição do citado

líder iraniano.

Tudo isto gera mais atrito nas relações internacionais, uma vez que o próprio

Brasil já chegou a apoiar este país, em que pese a rodada de sanções da ONU, pois

o governo brasileiro chegou a se manifestar contra as sanções ao Irã, mas acabou

cedendo diante das pressões da comunidade internacional.

O Brasil, ainda, se encontra em situação delicada com a Itália, pois o

cidadão italiano Cesare Battisti, acusado de cometer quatro homicídios em seu país

e se refugiar no Brasil, acabou recebendo aqui o status de refugiado, enquanto a

Justiça italiana por sua vez quer sua extradição por força de processo no qual ele já

foi condenado. Todavia, o governo brasileiro rompeu com o acordo bilateral que

havia com o Estado italiano e o ex-presidente Luiz Lula Inácio da Silva não

concedeu a extradição. Segundo especialistas, o Brasil poderá ser condenado na

7Jornal o Estadão: Reportagem Irã irá continuar a enriquecer urânio. Disponível em: http://w

ww.estadao.com. br/noticias/internacional,ira-continuara-a-enriquecer-uranio-a-20-mesmo-com-

acordo-diz-go verno,552823,0.htm. Acesso em 11 de jan. de 2011.

8Jornal Francês, Le Monde: Accord entre L‟Iran, Le Brésil e La Turquie sur Le nucléaire. Dis- ponível

em: http://www.lemonde.fr/asie-pacifique/article/2010/05/17/accord-sur-le-combustibl e-nucleaire-

iranien_1352601_3216.html. Acesso em 11 de jan. de 2011.

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Corte de Justiça de Haia (Holanda) pelo descumprimento do acordo bilateral. Aponta

o advogado, professor e ex-juiz da Corte de Haia (1997 a 2006), Francisco Rezek,

que os países não são efetivamente obrigados a cumprir as decisões do mais alto

tribunal da ONU, mas, na prática, os Estados as cumprem voluntariamente.

Em uma reportagem concedida ao Correio do Estado, Francisco Rezek

também comenta o seguinte: “É tão absurda a idéia de descumprimento de uma

decisão da Corte de Haia que nem cogito a possibilidade. Nunca um país deixou de

cumprir tais decisões9‟‟.

Maristela Basso, professora de direito internacional da USP, concorda que

as condenações da Corte de Haia, embora se limitem a um "aspecto moral", têm um

peso internacional muito grande10. Isto porque o Brasil deseja uma cadeira

permanente no Conselho de Segurança da ONU, cujo acesso seria dificultado se

porventura sobreviesse uma punição pela Corte de Justiça de Haia.

Do outro lado do mundo, no continente asiático, as Coréias se estranham há

um bom tempo, porém agora o impasse se agrava, pois a Coréia do Norte ameaça

ataque por bombas nucleares contra o desdobramento militar em massa que passou

a ocorrer no mar do Japão, conhecido como Mar do Leste, pelos aliados Coréia do

Sul e Estados Unidos. O motivo dessa movimentação era dar um aviso aos norte-

coreanos, em resposta ao afundamento em março de 2010 do navio de guerra sul-

coreano "Cheonan", em incidente que causou 46 mortes, que teria sido causa do

vizinho do norte. 9 Jornal eletrônico Correio do estado. Corte pode condenar Brasil por caso Battisti. Disponível em:

http://www.correiodoestado.com.br/noticias/corte-pode-condenar-brasil-por-caso-battisti_93938/.

Acessado em 11 de jan. de 2011.

10 Jornal eletrônico Correio do estado. Corte pode condenar Brasil por caso Battisti. Disponível em:

http://www.correiodoestado.com.br/noticias/corte-pode-condenar-brasil-por-caso-battisti_93938/.

Acessado em 11 de jan. de 2011.

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Por fim, o último evento a ser considerado é sobre o conflito milenar que

ocorre entre a Palestina e Israel, recentemente aguçado com um comentário do

primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, ao ser entrevistado em

Jerusalém, ao responsabilizar os palestinos por retardar os acordos de paz entre

estes dois Estados, questão que parece retardar qualquer possibilidade de paz.

Na verdade, existem mais confrontos e desentendimentos que estão

ocorrendo ao redor do planeta, porém não convém se estender mais neste ponto,

pois o foco deste trabalho científico, não são os conflitos em si, mas sim as formas

para solucioná-los.

2.3. A POSIÇÃO BRASILEIRA EM FACE DOS CONFLITOS

INTERNACIONAIS

O ex–ministro das relações exteriores Celso Amorim e o ex–presidente Lula

mantinham uma política externa direcionada e empenhada a resolver os litígios fora

do continente sul americano, como se percebe bem quando o Brasil foi acionado a

se posicionar no impasse que ocorreu entre a Colômbia e a Venezuela em relação

ao grupo guerrilheiro das FARC. Aparentemente, o Brasil se manteve neutro e não

reconheceu os guerrilheiros das FARC, dispensando-se assim de tomar qualquer

posição oficial. Porém, o site de notícias Wikileaks revelou ao contrário, ou seja, que

o Brasil tinha conhecimento destas tropas guerrilheiras11. O Brasil também manteve

esta mesma postura quando foi acionado para se manifestar sobre o caso da

Construtora Odebrecht, já que esta construtora não conseguia receber os créditos

11

Revista Exame. Brasil sabia da presença das Farc na Venezuela. Disponível: http://exame.

abril.com.br /economia/brasil/noticias/brasil-sabia-da-presenca-das-farc-na-venezuela-segun do-

wikileaks. Acessado em 13 de jan. de 2011.

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que o governo do Equador lhe devia. Assim, é de fácil percepção que a política

externa brasileira procura não tomar partido em situações que contrariem os

vizinhos fronteiriços, não se envolvendo de maneira alguma em questões alheias.

Por outro lado, o Estado brasileiro se compromete e muito, com os países de outros

continentes. Como exemplo, se pode citar o conflito do Irã com a comunidade

internacional, como já citado acima, pois o Brasil se ofereceu inclusive para mediar à

situação, talvez para obter prestígio no cenário mundial. Discutível também tem sido

a postura brasileira no conflito Israel e Palestina, sem comentar as tropas que o país

enviou para mediar os conflitos no Haiti.

Contudo, conforme entrevista do Jornal Gazeta do Povo com a nova

presidente do Brasil, Dilma Roussef, e o novo ministro das relações exteriores,

Antonio Patriota, o rumo da política exterior irá mudar, será mais discreta no

começo do novo mandato, mas tendem a se atrever mais com o passar do tempo.

Assim assevera o diplomata Paulo Roberto Almeida “Como Dilma não conta com o

prestígio internacional de Lula, pode haver um recuo em iniciativas mais ousadas

de política externa. O presidente tem crédito internacional e um „bônus de

confiança‟ que permite lançar lances ousados. É difícil isso ser reproduzido por

outra pessoa, já que para ser aceito como mediador é preciso ter empatia com os

envolvidos, e isso se constrói ao longo do tempo12”.

Por fim os trabalhos diplomáticos devem continuar em expansão, segundo

a mesma entrevista: “Patriota deve manter, por exemplo, a política de expansão

das representações diplomáticas no mundo. Foram 64 novas unidades abertas

12

Jornal Gazeta do Povo. Diplomacia deverá ser mais discreta. Disponível em:

http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1082062. Acessado em 13 de jan.

de 2011.

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19

desde o início do governo Lula, em 2003, quase a metade do que havia até então:

150 postos13”.

3. MEIOS PARA SOLUCIONAR OS CONFLITOS

INTERNACIONAIS

O professor Hee Moon Jo14, considera importantíssimo o sistema

internacional da solução das disputas entre os Estados, pois para ele este sistema é

que mantém o funcionamento do sistema internacional legal, testa o funcionamento

das normas internacionais e obriga os Estados a se comportar dentro do próprio

contexto do direito internacional.

O autor He Moon Jo15, divide os meios de se solucionar os conflitos

internacionais em legais e não legais, pois considera que os meios legais só foram

desenvolvidos em 1922, após a primeira guerra mundial, através da CPIJ, Corte

Permanente de Justiça Internacional. Em suas palavras, “durante a vigência por

quase 400 anos do Direito Internacional, a sociedade internacional tem-se mantido,

na maior parte do tempo, sob a influência da soberania absoluta, do estatismo e do

voluntarismo, que não permitiam sequer a possibilidade de criação de um

mecanismo de solução superior ao Estado e contra a vontade do Estado16”.

A proibição do uso da força é um princípio fundamental que norteia e apóia a

solução pacífica dos litígios entre os Estados, sendo de cumprimento obrigatório por

13

Jornal Gazeta do Povo. Diplomacia deverá ser mais discreta. Disponível em:

http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1082062. Acessado em 13 de jan.

de 2011.

14 JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. São Paulo: LTr, 2000, p. 499.

15 JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. São Paulo: LTr, 2000, p. 499.

16 JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. São Paulo: LTr, 2000, p. 500.

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20

estes países. Este princípio repercutiu em vários outros princípios colaterais. A carta

da ONU traz este princípio fundamental em seu bojo, destacando-se:

Art. 1, §1:

“Manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas

coletivas eficazes para prevenir e a afastar ameaças à paz e reprimir os

atos de agressão, ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios

pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito

internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações

internacionais que possam levar a uma perturbação da paz”. (Grifo nosso)

Art. 2, §3:

“Os membros da Organização deverão resolver as suas controvérsias

internacionais por meios pacíficos, de modo que a paz e a segurança

internacionais, bem como a justiça, não sejam ameaçadas”.

Art. 33, §1:

“I – as partes, em uma controvérsia que possa vir a constituir uma ameaça

à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a

uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem,

solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais ou a qualquer

outro meio pacífico à sua escolha”.

Vale lembrar que este princípio fundamental tem sido reafirmado em várias

resoluções e declarações da Assembléia Geral da ONU, dentre elas a Resolução n.

2627 (XXV) de 24.10.1970, a Resolução n 2734 (XXV) de 16.12.1970, e a

Resolução n. 4019 de 8.11.1985, respectivamente, daí decorrendo:

I. a Declaração dos Princípios da Lei Internacional afetando relações amigáveis e

Cooperações entre os Estados em concordância com a Carta Permanente das

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21

Nações Unidas (Resolução 2625), na seção intitulada “O Princípios que os Estados

devem estabelecer suas disputas internacionais pelos meios pacíficos de tal maneira

que a paz, a segurança e a justiça internacional não estejam em perigo;

II. a Declaração de Manila no estabelecimento da paz em disputas internacionais

(resolução 37/10).

III. a Declaração na prevenção e remoção das disputas e situações que podem

ameaçar a paz internacional, a segurança internacional e o papel das Nações

Unidas neste campo (resolução 43/51).

IV. a Declaração no Inquérito (Fact-finding) pelas Nações Unidas no campo da

manutenção da paz e segurança internacional (resolução 46/59).

Para o professor Hee Moon Jo, “o princípio da solução pacífica dos litígios

internacionais está conectado a outros princípios do Direito Internacional. A conexão

entre os princípios da solução pacífica dos litígios internacionais e os outros

princípios do Direito Internacional está sublinhada na Declaração de Relações

amistosas e na declaração de Manila17”, que logo abaixo se resume.

a) Princípio de não-uso de força nas relações internacionais:

- The 1945 Pact of the League of Arab States (art. 5.)

- The 1948 American Treaty on Pacific Settlement (Pacto de Bogotá, art. 1).

- The 1947 Inter-American Treaty of Reciprocal Assistance (arts. 1 and 2)

17

JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. São Paulo: LTr, 2000, p. 502.

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22

- The Declaration on Principles Guinding Relations between Participating

States (last Paragragh) – contained in the final Act of the Conference on Security and

Cooperation Europe.

b) Princípio de não-intervenção nos assuntos internos ou externos dos

Estados:

- The 1948 American Treaty on Pacific Settlement (Pacto f Bogotá, art. V)

c) Princípio da Boa-fé nas relações internacionais:

- The Declaration on Principles Guiding Relations between Participating States

(o terceiro parágrafo da seção V) – contida no Ato final da Conferência sobre

Segurança e Cooperação na Europa.

d) Princípio de justiça e direito internacional.

Com fundamento neste princípio que norteia a solução pacífica dos conflitos

internacionais, os Estados Partes possuem direito de escolher livremente os meios

de solução de eventuais litígios. O artigo 33 da Carta das Nações Unidas confirma o

princípio de livre escolha dos meios de solução, o que é reiterado em vários

documentos internacionais: na Declaração de Manila, no tratado Americano sobre

Solução Pacífica (Pacto f Bogotá art. III), e na declaração sobre princípios que guiam

as Relações entre os Estados participantes (o terceiro parágrafo da seção V) –

contida no ato final da conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa.

Contudo, os modos pacíficos de se solucionar os litígios internacionais

podem ser classificados em diplomáticos, jurídicos e políticos. Os meios

diplomáticos são divididos em negociações diplomáticas, serviços amistosos,

mediação e arbitragem. Os jurídicos são: comissão de inquérito, conciliação,

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23

arbitragem e solução judiciária. Os políticos são as soluções dadas pelas

organizações internacionais.

4. OS MEIOS E ÓRGÃOS POLÍTICOS – SISTEMA DA ONU

Os meios políticos são os instrumentos que as organizações internacionais

podem se utilizar para solucionar os conflitos internacionais, podendo ser estes

meios pacíficos ou coercitivos, que visam eliminar a ameaça à paz ou apenas para

recuperá-la, e as vias que as organizações se utilizam para isto pode ser a da

solução política ou a da solução judiciária. Os meios de solucionar os conflitos

internacionais (o político, a legal e o diplomático), são interligados.

O Conselho de Segurança (CS) e a Assembléia Geral (AG), sendo órgãos

da ONU, podem intervir nos conflitos entre Estados, objetivando uma solução

pacífica. Neste sentido prescreve o capítulo VI da Carta da ONU, sobre solução

pacífica de controvérsias, que os dois órgãos podem intervir em qualquer

controvérsia que possa ameaçar a paz e a segurança internacional, com o objetivo

de se buscar uma solução pacífica, e principalmente, independentemente da

vontade das partes.

Porém, esta via só poderá ser utilizada em presença de conflitos

internacionais de certa gravidade, pois a ONU não pode intervir em assuntos

nacionais conforme art. 2 de sua Carta, e que constituam ao menos uma ameaça ao

clima de paz e que possuam caráter geral.

A Carta da ONU faculta o acesso de litigantes e de terceiros, a qualquer dos

seus dois órgãos políticos na tentativa de dar solução a conflitos internacionais

graves. Ambos os órgãos, CS e AG, possuem competência para investigar e discutir

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24

situações conflituosas, bem como para expedir recomendações a respeito, porém só

o Conselho tem o poder de agir preventivamente ou corretivamente, em caso de

ameaça à paz, valendo-se até mesmo de força militar que os membros das Nações

Unidas mantêm à sua disposição.

A Carta da ONU, no capítulo VIII, contém três artigos onde dispõe sobre o

sistema das cooperações regionais, como exemplo, a Liga dos Estados Árabes

(1945) e a Organização dos Estados Americanos (1951). É uma tentativa de

complementar o sistema da ONU através dos sistemas de cooperações regionais, o

qual possui laços fortes, históricos e geográficos. O art. 52 reforça essa intenção da

ONU, em que dispõe que os assuntos relativos à manutenção da paz e da

segurança internacionais podem ser solucionados pelos sistemas regionais que são

compatíveis com os propósitos e princípios das Nações Unidas. Assim, o respectivo

artigo exige que os países-membros de tais sistemas regionais procurem solucionar

pacificamente as controvérsias locais por meio desses sistemas regionais, antes de

procurar a ONU.

Porém, os artigos 34 e 35 da Carta rompem com a sequência teórica desse

sistema, pois permitem o acesso direto àqueles dois órgãos da ONU; portanto, resta

à própria organização se posicionar e decidir sobre este acesso direto.

5. OS MEIOS JURÍDICOS

Hildebrando Accioly leciona o seguinte:

“As cortes internacionais e os tribunais são entidades judiciárias

permanentes, compostas por juízes independentes, cuja função é o

julgamento de conflitos internacionais tendo como base o direito

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25

internacional, de conformidade com um processo preestabelecido e cujas

sentenças são obrigatórias para as partes18

”.

Ora, um tribunal de caráter permanente já fora suscitado por ocasião da

Segunda Conferência da Paz de Haia (1907), porém só viria a ocorrer mais tarde.

Para Hee Moon Jo19, o sistema judiciário da sociedade internacional ainda

tem que melhorar muito, pois a Corte Mundial ou Corte Internacional de Justiça, não

é corte suprema, por falta de hierarquia judiciária internacional. A razão disso

decorre da própria criação da Corte, retratando a vontade e necessidade dos

Estados. Neste contexto, existem várias cortes internacionais e regionais. Por outro

lado, os meios mais desenvolvidos são a adjudicação e a arbitragem.

As jurisdições internacionais são: CPJI/PCIJ - Corte Permanente de Justiça

Internacional (1922), CIJ/ICJ - Corte Internacional de Justiça (1946), Tribunal

Internacional para o Direito do Mar, Tribunal Internacional para a Antiga Iugoslávia

(ad hoc,1993), Tribunal Internacional para Ruanda (ad hoc, 1994), Tribunal Criminal

Internacional (permanente, em vigor desde 2002), Tribunal Administrativo da ONU

(só para funcionários da ONU).

Na jurisdição regional têm-se: a Corte da Justiça da União Européia (1957),

a Corte Européia de Direitos Humanos (1950), a Corte Interamericana de Direitos

Humanos (1969), a Corte de Justiça do Grupo Andino (1976), e a Corte da América

Central de Justiça (1995).

18

Accioly, Hildebrando. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, p. 813.

19 JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. São Paulo: LTr, 2000, p. 513-514.

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26

No campo da arbitragem destacam-se: ICSID - The International Center For

Settlement of Investment Disputes (1965), o Tribunal Arbitral do Mercado Comum da

América Central, a Corte Permanente de Revisão Arbitral do Mercosul, e, The Iran-

United States Claims Tribunal.

Apenas para constar, já que este não é o objeto deste estudo, segue aqui

uma simples explicação dos instrumentos da via política como forma de solução

pacífica, a arbitragem e a jurisdicional. Assim sendo, a primeira compreende a

jurisdição ad hoc, em que as partes que possuem o direito de escolher o árbitro, a

descrição da matéria conflituosa, a delimitação do direito aplicável. O foro arbitral

não possui permanência, ou seja, uma vez proferia a sentença, afasta-se o árbitro

do encargo judicante que lhe haviam confiado os Estados em conflito. Se as partes

não honrarem o cumprimento da sentença, configurar-se-á um ato

internacionalmente ilícito.

O Professor Rezek faz o seguinte comentário:

“A Corte Permanente de Arbitragem é uma lista permanente de pessoas

qualificadas para funcionar como árbitros, quando escolhidas pelos Estados

litigantes. Há na lista, hoje, pouco mais que duzentos nomes, e sua

indicação a uma secretaria atuante na cidade de Haia é obra dos governos

que patrocinam a entidade, cada um deles podendo indicar no máximo

quatro pessoas” 20

.

20

REZEK, J. Francisco. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 342

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Os Estados em conflito devem respeitar o compromisso arbitral, significando

dizer que se estes entes optam pela via arbitral devem segui-la, dispondo de suas

liberdades de escolha do meio pacífico de se solucionar o conflito.

A sentença proferida em sede arbitral é definitiva e dela não cabe recurso,

embora se permita um pedido das partes para que o árbitro sane qualquer tipo de

omissão ou dúvida, parecido com um embargos de declaração para o nosso

processo civil brasileiro.

Enfim, a sentença arbitral carece de executoriedade, ou seja, seu

cumprimento depende da boa-fé e da honradez das partes.

A sentença judiciária não difere muito da arbitral, a não ser pela falta de

autoridade congênita que os juízes e tribunais de qualquer país exercem sobre

pessoas e instituições encontráveis em seu território. A Corte da Haia é um exemplo

de corte judiciária, conhecida também como Corte Internacional de Justiça,

composta por quinze juízes.

A competência desta Corte diz respeito á aplicação do direito internacional

público, através de tratados, costumes, princípios gerais, e outras normas

pertinentes, julgando conflitos entre Estados soberanos, porém necessita da

aceitação das partes a serem julgadas, para poder analisar o conflito.

Contudo, há Cortes regionais e especializadas, como aquela decorrente da

Convenção de Montengo Bay de 1982, que é o Tribunal Internacional do Mar, porém

não se focará este ponto, por não ser o objeto deste estudo.

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28

6. OS MEIOS DIPLOMÁTICOS

Este, sim, sendo objeto direto do presente trabalho, merece mais atenção e

aprofundamento.

Rezek trás em sua obra que o desacordo resolvido sem terceiros

interventores a qualquer título, é conhecido como negociação direta. Para ele, o

entendimento direto pode se dar em caráter avulso ou no quadro da comunicação

diplomática existente entre dois Estados, e tanto pode desenvolver-se oralmente

quanto por meio de troca de notas entre chancelaria e embaixada.

Os meios diplomáticos são divididos, para a maioria da doutrina, em

negociações diplomáticas, bons ofícios, mediação e inquérito ou fact-finding.

6.1. NEGOCIAÇÕES DIPLOMÁTICAS

Comunga-se aqui com as lições de Guido Soares:

“A negociação é o meio mais típico e tradicional, sempre presente em

quaisquer outros procedimentos para solução pacífica de controvérsias

entre os Estados, na maioria das vezes realizada por diplomatas, conhecida

também como negociações diplomáticas, canais diplomáticos, consultas,

trocas de opiniões, pedido de informações, ou quaisquer outras expressões

similares inscritas nos tratados e nas convenções internacionais21

”.

Para Hee Moon Jo, as negociações diplomáticas são um meio para se

chegar a um acordo através de diálogo ou discussão, podendo ser por conferência

internacional ou negociações diretas. Este meio nem sempre é o melhor método

21

SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas, 2002, p. 166.

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para se solucionar disputas internacionais, pois nada pode garantir que um Estado

atenda aos conselhos dos seus assessores.

Para Rezek22, o sistema de consultas, ou negociações diplomáticas, é um

entendimento direto programado. Não há intervenção substancial ou sequer

instrumental de terceiros. As partes consultam-se mutuamente sobre seus

desacordos, e não o fazem de improviso, mas porque previamente o haviam

combinado. Assim, no sistema de consultas se tem uma previsão de encontros

periódicos onde os Estados trarão à mesa suas reclamações, acumuladas durante o

período, e buscarão solucionar suas dependências, à base desse diálogo direto e

programado.

Se chegar a uma solução por meio de uma Conferência Internacional se não

tem a garantia de nula existência de qualquer mecanismo imparcial que possa

resolver questões conflituosas no campo dos fatos, pois é muito difícil a participação

de terceiros nos processos de negociação, nem um elemento que limite a

formulação de pretensões exageradas por parte de um Estado em disputa, ainda

mais quando há a presença de um ator internacional com uma posição negociadora

mais forte, como é o caso dos EUA, que possui uma econômica forte e proeminente

sobre os outros países da comunidade internacional, mesmo com a crise econômica

com que vem passando, ainda tem o mando do jogo e ditando assim, as regras.

Os professores Hildebrando Accioly e Celso Albuquerque Mello dividem as

negociações diplomáticas em: desistência, aquiescência e transação. A primeira se

tem quando há renúncia de um dos governos ao direito que pretendia. Aquiescência

22

REZEK, J. Francisco. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 333.

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é o reconhecimento por um dos estados das pretensões do outro. E por último, a

transação, quando se tem concessões recíprocas.

Rezek remonta em sua obra que:

“O sistema consultivo é de consagrado uso no quadro pan-americano,

embora também experimentado alhures. França, Grã-Bretanha, Estados

Unidos e Japão concluíram em Washington, em 1921, um tratado em que

programaram consultas periódicas para solução de suas desavenças e

harmonização de pontos de vista no domínio da política colonial das quatro

potências no Pacífico. Antes mesmo da fundação da OEA, no velho

contexto das conferências interamericanas que remontam a 1890, as

reuniões de consulta têm permitido aos países do continente, pela voz de

seus ministros das relações exteriores, que se entendam sobre conflitos

existentes e lhes encontrem solução. Na Carta da OEA, vigente desde

1951, as reuniões de consulta dos chanceleres integram a estrutura

orgânica da entidade” 23

.

Assim fica demonstrado o uso por esta ferramenta pelos países no sistema

internacional.

6.2. BONS OFÍCIOS

Os bons ofícios, conhecidos também como as démarches, são os atos pelos

quais uma terceira potência procura aplainar diferenças e abrir caminho às

negociações das partes interessadas ou de reatar as negociações que foram

rompidas. É de entendimento direto entre os contendores, entretanto facilitado pela

ação amistosa de um terceiro, conhecido como prestador de bons ofícios, sendo ele

23

REZEK, J. Francisco. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 333

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um sujeito de direito internacional, podendo ser um Estado ou uma organização

internacional.

Há a forma instrumental, onde o terceiro não propõe solução alguma para o

conflito, apenas aproxima as partes, ou proporciona-lhes um campo neutro de

negociação, por haver-se convencido de que a desconfiança ou o ressentimento

ainda reina entre os conflitantes o que impede o diálogo espontâneo entre estes

entes. Importante ressaltar que os bons ofícios apenas visam a propor uma base de

negociações, e não uma base de acordo, pois isto é competência da mediação, que

procura uma fórmula de entendimento.

Os bons ofícios foram regulamentados no Tratado Interamericano sobre

Bons Ofícios e Mediação concluído na Conferência Pan-americana de Buenos Aires

(1936). Esta convenção previa e criava uma lista de cidadãos eminentes pelas suas

virtudes e competências jurídicas. Cada Estado ficaria encarregado de indicar dois

cidadãos, e no caso de conflito internacional os Estados litigantes poderiam escolher

um cidadão que fizesse parte da lista. A lista seria depositada na União Pan-

americana (antecessora da OEA).

Outras convenções internacionais previam também os bons ofícios como

modo de solução dos litígios internacionais: a Convenção para a Solução Pacífica

dos Litígios Internacionais de Haia, de1899, a Convenção para a Solução Pacífica

dos Conflitos Internacionais, também de Haia, mas de1907, e o Tratado Americano

de Solução Pacifica de Bogotá, de 1948 (art. 9 e 10).

Exemplos de casos que usaram bons ofícios foram o do governo português,

1864, para o restabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a Grã-

Bretanha, rotas em conseqüência da questão CHRISTIE; os do mesmo governo, em

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1895, para a solução da questão da ilha da Trindade, entre o Brasil e a Grã-

Bretanha; os do Presidente Theodore Roosevelt, dos Estados Unidos da América,

em 1905, para a conclusão da guerra entre o Japão e a Rússia; os do Brasil, em

1909, para a reconciliação do Chile com os Estados Unidos, a propósito da

reclamação da firma Alsop & Cia.; bem como o de 1934, entre o Peru e a Colômbia,

no caso de Letícia. Não se esquecendo do governo Carter, nos EUA, pela

aproximação entre o Egito e Israel, que teve por desfecho, em 1979, a celebração

do acordo de Camp David. Por fim, a ação do governo francês quando, em 1968,

aproximou os Estados Unidos e o Vietnã, oferecendo-lhes como campo neutro a

cidade de Paris, onde negociaram até a conclusão, em 1973, dos acordos que

conduziram ao fim da guerra.

Um exemplo de bons ofícios que foram recusados é o caso dos presidentes

do México, da Colômbia e da Venezuela que resolveram oferecer seus bons ofícios

conjuntos aos governos de Cuba e dos Estados Unidos para facilitar-lhes o diálogo.

Porém foram recusados por Fidel Castro e George Bush que agradeceram, mas

dispensaram tais serviços.

6.3. MEDIAÇÃO

Como exposto acima, a mediação é muito parecida com bons ofícios, o que

os difere é que a mediação constitui uma espécie de participação direta nas

negociações entre os litigantes, ao contrário dos bons ofícios que apenas cede um

meio neutro para os litigantes poderem abrir negociação. Então se pode dizer que a

mediação é o ato pelo qual, seja a pedido das partes em litígio ou por iniciativa

própria, um Estado aceita livremente de se fazer intermediário oficial de uma

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negociação com a finalidade de resolver pacificamente um litígio, que surgiu entre

dois ou mais Estados.

A mediação é ato essencialmente amistoso, pode ser oferecida ou ser

solicitada, e o seu oferecimento ou sua recusa não deve ser considerado ato

inamistoso. Ela ainda pode ser facultativa ou obrigatória, via de regra sendo

facultativa, porém algumas convenções internacionais, como o Ato Geral de Berlim

(art. 12), proibiam a guerra antes do recurso à mediação e consagraram a

obrigatoriedade da mediação.

Cabe lembrar que o mediador não obriga as partes, ainda mais que este

precisa contar com a confiança de ambos os Estados em conflito; logo, não existe

mediação à revelia de uma das partes. Ela pode ser oferecida por terceiros e

também ser solicitada pelos contendores, sem que isso represente intromissão

indevida.

Dentre os casos mais famosos de mediação se pode citar o da Inglaterra,

entre o Brasil e o Portugal, para o reconhecimento da independência política

brasileira, consagrado no Tratado de Paz e Amizade celebrado no Rio de Janeiro

em 29 de agosto de 1825; o da Inglaterra, entre o Brasil e a Argentina, durante a

guerra da Cisplatina, e cujo resultado foi a Convenção Preliminar de Paz, pela qual

se reconheceu a independência do Uruguai; ainda há o do Papa Leão XIII, em 1885,

em conflito entre a Alemanha e a Espanha, sobre as ilhas Carolinas; e de seis

países americanos (Brasil, Argentina, Chile, Estados Unidos da América, Peru e

Uruguai), entre a Bolívia e o Paraguai, de 1935 a 1938, para o término da guerra do

Chaco e conseqüente celebração da paz.

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6.4. FACT-FINDING OU INQUÉRITO

Os inquéritos são conhecidos também como investigação ou board of

inquiry, sendo elementos intercambiáveis na solução das disputas internacionais.

Para o Professor Guido Soares24, os inquéritos são formas típicas do século XX, em

particular no interior das organizações intergovernamentais, em virtude das quais

são constituídas pessoas ou comissões, com a finalidade de esclarecer fatos e,

eventualmente, sugerir condutas ou soluções. Implicando o dever de o Estado

litigante ter de suportar a presença de pessoas ou comissões internacionais em seus

territórios, bem como o dever de lhes fornecer dados ou fatos que facilite e seja útil

para a investigação.

Os Estados conflitantes podem acordar na designação de uma entidade

imparcial encarregada de levar a cabo um inquérito, com o objetivo de produzir uma

pesquisa imparcial sobre os fatos que se discute, abrindo caminho para uma futura

negociação produtiva. Ora, considerando-se que muitas disputas internacionais

centram-se exclusivamente em questões conflituosas sobre fatos, e uma vez que o

inquérito dever ser imparcial, ele se torna um excelente meio de reduzir a tensão na

matéria em desacordo entre as partes, sempre lembrando que as partes não são

obrigadas a aceitar os resultados obtidos pelo o inquérito. Em suma, como o objetivo

do inquérito é estabelecer antecipadamente a materialidade dos fatos, tal ferramenta

só será utilizada quando uma situação de fato ensejar um esclarecimento.

Em 1904, no incidente naval do Dogger Bank, que envolveu a Rússia e a

Grã-Bretanha, usaram o inquérito para esclarecer os fatos, ou seja, se realmente a

24

SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas, 2002, p.

167.

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35

Rússia abateu um navio de pescadores britânico ou não, e nesse caso o inquérito

confirmou o ato e a responsabilidade russa, e mais do que depressa a Rússia

indenizou o tesouro britânico.

6.5. CONCILIAÇÃO INTERNACIONAL

A conciliação é uma combinação do inquérito com a mediação, pois os

Estados Partes solicitam uma comissão internacional de conciliação, já prevista em

tratado específico, e esta é designada por ambas as partes para investigar os fatos

em disputa, neste ponto funcionando como um inquérito, e sugerindo termos para a

sua resolução, aqui funcionando como uma mediação.

Neste particular, Hee Moon Jo expõe que a conciliação:

“funciona como um tribunal internacional, e as partes argumentam perante

esse tribunal (de conciliação) como se estivessem numa corte internacional.

A comissão de conciliação dá a sua recomendação, deixando as partes

decidirem se devem aceitá-la ou não já que não são obrigadas a aceitar. Na

maioria dos casos as partes aceitam” 25

.

Já o professor Francisco Rezek coloca que a conciliação é caracterizada

pelo fato de não haver um só conciliador, mas uma comissão de conciliação,

integrada por representantes dos Estados em conflito e elementos neutros, em

número total ímpar. Para este autor, é grande a incidência de opções pela fórmula

em que cada litigante indica dois conciliadores de sua confiança, sendo um deles de

sua nacionalidade, e esses quatro personagens apontam em comum acordo o

quinto conciliador, a quem será confiada a presidência da comissão.

25

JO, Hee Moon. Introdução ao Direito Internacional. São Paulo: LTr, 2000, p. 506.

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36

Francisco Rezek ainda acrescenta que:

“a presença de elementos parciais dá maior elasticidade ao sistema e

permite a cada litigante um acompanhamento permanente dos trabalhos.

Tomam-se decisões por maioria, desde aquelas pertinentes ao

procedimento até a decisão final e essencial, qual seja o relatório em que a

comissão propõe um deslinde para o conflito”26

.

Este relatório não tem força obrigatória para as partes, e só será observado

quando ambas o considerem conveniente.

Por fim, Guido Soares27 trás em sua obra alguns textos internacionais que

prevêem o uso deste mecanismo, como na Convenção de Viena sobre Direito dos

Tratados, em seu Anexo Único, ambos de 1969, contemplando a conciliação como

forma alternativa, no caso de fracasso da solução pela arbitragem; também a

convenção de Montego Bay, de 1982, sobre o Direito do Mar, contém extensos

anexos sobre a conciliação, em sua roupagem moderna.

6.6. ARBITRAGEM

Este meio de se solucionar os conflitos internacionais de forma pacífica é

bem colocada pelo professor Guido Soares, cujos comentários se transcreve, em

suas palavras:

“A arbitragem pode ser definida como o procedimento de solução de litígios

entre Estados, pelos quais os litigantes elegem um arbitro ou um tribunal

composto de várias pessoas, em geral escolhidas por sua especialidade na

matéria envolvida e portadores de grandes qualidades de neutralidade e

26

REZEK, J. Francisco. Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 335

27SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas, 2002, p.

168.

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imparcialidade, para dirimir um conflito mais ou menos delimitado pelos

litigantes, segundo procedimentos igualmente estabelecidos diretamente

por eles, ou fixados pelo árbitro, por delegação dos Estados, instituidores

da arbitragem. Trata-se de um exercício da função jurisdicional atribuída

expressamente por atos solenes entre Estados, a pessoas físicas,

investidas numa função de julgadores internacionais” 28

.

Por outro lado, o elemento volitivo é muito importante para a arbitragem, seja

pela existência de uma vontade de arbitrar litígios futuros, como pelas cláusulas

compromissórias existentes em tratados bi ou multilaterais ou presentes por meio de

um pacto internacional denominado “compromisso”, ou seja, pela formalização do

litígio, mediante a nomeação de um árbitro único ou de um tribunal arbitral e a

indicação do objeto do litígio e das leis aplicáveis a sua solução. A vontade implícita

de cumprirem, de boa-fé, a decisão do árbitro ou do tribunal arbitral também é

relevante.

É necessário enfatizar que na arbitragem seu caráter pode ser ad hoc. Trata-

se de uma investidura com poderes determinados, feita pelos litigantes, a um

julgador ou a um colegiado, com a função de dirimir litígios, portanto com a atuação

passageira, ou seja, quando cumprida sua função este desaparece do mundo

jurídico.

Há casos que são exceção, como os de órgãos arbitrais permanentes, como

a “corte permanente de arbitragem” (CPA), com sede em haia, ou o “Tribunal Arbitral

Permanente de Revisão” do Mercosul, com sede em Assunção.

28

IDEM, p. 171.

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38

7. OUTROS MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE LITÍGIO

Existem muitos outros meios de se prevenir ou solucionar litígios, porém dos

mais relevantes que valem a pena destacar, de forma breve e sucinta, são os

sistemas de controvérsias no Mercosul.

Assim, o professor Wagner D‟Angelis 29 aclara em sua obra sobre os três

documentos referenciais que privilegiam meios de cunho diplomáticos nesse bloco

econômico, como o Tratado de Assunção, que contém fórmulas amistosas de

negociações diretas e gestões do Grupo do Mercado Comum e Conselho do

Mercado Comum. O segundo é a o Protocolo de Brasília, de 17/12/91, que dispõe

sobre os procedimentos de solução de controvérsias para o período de transição do

Mercosul (1991-94), compreendendo a negociação direta, a intervenção do Grupo

do Mercado Comum com ingredientes de conciliação e mediação, e, a arbitragem. O

terceiro e último é o protocolo de Ouro Preto, de 17/12/94, que prorroga a vigência

do Protocolo de Brasília, tão somente estendendo algumas competências e

acrescendo uma nova instância limitada ao padrão anterior, até a conclusão da

convergência da tarifa externa comum (art. 44), que estava prevista para 2006.

O sistema idealizado para solucionar as controvérsias que surjam entre os

Estados-membros do Mercosul se assenta no Protocolo de Brasília, onde se prevê,

primeiramente, negociações diretas, em caso de aplicação, interpretação ou

incumprimento do Tratado de Assunção e acordos complementares. O resultado das

negociações será informado ao Grupo Mercado Comum, no prazo de 15 dias. Se

não houver acordo, cabe a intervenção do GMC, mediante provação da parte

interessada, que ouvirá ambos os litigantes e, se necessário, contará com a

29

D‟ANGELIS, Wagner Rocha. Mercosul: da intergovernabilidade à supranacionalidade? Curitiba:

Juruá, 2001, p. 79.

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assessoria de um Grupo de Peritos, que serão escolhidos pelo GMC por meio de

uma lista de 24 nomes registrados na Secretaria Administrativa do Mercosul. O

GMC, baseado na decisão dos experts, formulará recomendações aos Estados-

membros, no prazo máximo de trinta dias a contar do recebimento da queixa nessa

instância (art.4º a 6º).

Se a recomendação do GMC não solucionar o conflito ou não for acatada,

qualquer das partes poderá recorrer à arbitragem. O procedimento arbitral tramita

perante um Tribunal ad hoc composto de três árbitros, que devem ser juristas de

renomada competência. Este tribunal tem sede em Assunção, Paraguai, e pode

eleger suas próprias regras de procedimento, devendo deliberar com base nas

disposições do Tratado de Assunção e nos acordos celebrados no âmbito do

mesmo.

Atualmente, após o Protocolo de Olivos sobre esta matéria, aprovado em

2002 e vigorando desde 2004, implantou-se o Tribunal Arbitral Permanente de

Revisão do Mercosul, também com sede em Assunção (Paraguai), que pode se

constituir por três árbitros – se forem dois os litigantes -, ou por cinco árbitros -

quando houver mais de dois litigantes. O básico do sistema, porém, repete o

disposto no Protocolo de Brasília.

De resto, segue-se a mera formalidade, porém o que é de suma importância

ressaltar são os problemas relativos à manutenção deste sistema, que é bem

colocado pelo jurista Wagner D´Angelis:

“O mecanismo avençado, que continua provisório, elegeu o Estado como o

principal sujeito das controvérsias, gerando hiatos ou impondo limitações

em vários aspectos. Além disso, insistiu-se na permanência de

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procedimentos precários e meramente diplomáticos, o que pode

comprometer o futuro do modelo, se o mercado comum ainda for a meta

dos governos e condutores do processo”30

.

E Wagner D´Angelis acrescenta, de forma lapidar:

“Uma das lacunas reside na impossibilidade de particulares de diferentes

países-membros demandarem entre si no âmbito desse sistema, pois suas

disputas deverão sujeitar-se a legislação interna, aos elementos de

conexão possíveis e às normas de Direito Internacional Público, pela via

judicial de seu país. Idêntico caminho restará ao particular afetado que, ao

utilizar-se do artigo 21 do Protocolo de Outro Preto ou do artigo 26 do

Protocolo de Brasília, tiver seu pedido desconsiderado pela Seção Nacional

da Comissão de Comércio ou do Grupo Mercado Comum. Situações tais

que mereciam nossa plena concordância, se não estivéssemos tratando de

um processo de integração – já que tais modos se encaixam na lógica da

ordem jurídica interna”31

.

Contudo, a complexidade do sistema quase enseja um cerceamento de

defesa aos particulares com relação às Decisões do Conselho, às Resoluções do

Grupo e às Diretrizes da Comissão, no caso de violação do Tratado de Assunção.

Existem, também, outros mecanismos de se solucionar conflitos, como o

sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio, que,

conforme Orlando Celso da Silva Neto e é muito parecido com o processo civil, em

30

D‟Angelis, Wagner Rocha. Mercosul. Da Intergovernabilidade à Supranacionalidade? Curitiba: Juruá, 2001, p. 145. 31

D‟Angelis, Wagner Rocha. Mercosul. Da Intergovernabilidade à Supranacionalidade? Curitiba:

Juruá, 2001, p. 145.

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que o rito ordinário é a regra geral, cedendo espaço a procedimentos especiais

quando exista previsão específica. 32

Uma das principais inovações do novo sistema da OMC em relação ao

substituído sistema do GATT diz respeito à regra do consenso. No sistema GATT

vigorava a regra do consenso sobre a oportunidade e conveniência de que houvesse

sequência no procedimento. Apenas um veto ou discordância era o suficiente para

bloquear o procedimento.

O sistema da OMC adotou a regra do consenso negativo (reverse

consensus). Por essa regra o procedimento segue automaticamente todas as suas

fases, a menos que exista um consenso para bloqueá-lo.

A continuidade está presente no mecanismo de consultas prévias

obrigatórias, bem como na utilização dos bons ofícios, conciliação e mediação, já

existentes no mecanismo de solução de controvérsias do GATT.

Também se torna conveniente ressaltar as soluções de controvérsias do

North American Free Trade Area (NAFTA). A respeito, Welber Barral esclarece que

o NAFTA criou um sistema de solução de controvérsias com mecanismo complexo,

e em certo sentido bastante original. Este sistema compreende um mecanismo

genérico de solução de controvérsias e alguns mecanismos específicos, criados por

normas complementares do Acordo. 33

32

Silva Neto, Orlando Celso da. Solução e Prevenção de Litígios Internacionais. NECIN – Projetos

Capes. São Paulo. 1998, p. 210.

33 Barral, Welber. Solução e prevenção de litígios internacionais, vol. 1. NECIN – Projeto Capes. São

Paulo, 1998, p. 244.

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Desta maneira, o NAFTA criou: a) um mecanismo genérico de solução de

controvérsias; b) um mecanismo de solução de controvérsias em matéria de

antidumping e direitos compensatórios; c) um mecanismo de solução de

controvérsias em matéria de investimento; d) um mecanismo de solução de

controvérsias em matéria ambiental; e) um processo de solução de disputas em

matérias trabalhistas.

Assinale-se que o NAFTA não criou instâncias jurisdicionais competentes

para litígios envolvendo somente partes privadas em matéria comercial

internacional.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de tudo que foi exposto, antes se deve considerar que pela grande

dificuldade de mensuração em saber quantas vezes se foi utilizado a via diplomática

e seu sucesso diante da resolução de um conflito em âmbito internacional e asssim

como as demais ferramentas que podem solucionar um conflito na comunidade

internacional, apenas faço uma dedução e simples análise partir do estudo

realizado.

Que a via diplomática como meio pacífico de se solucionar as controvérsias

internacionais ainda não se encontra suficientemente eficaz assim como tantos

outros meios não conseguem se tornar útil, pois como se pode percebe nos meios

jurídicos, que não possuem caráter coercitivo em suas decisões, ou seja, não obriga

o país infrator a respeitar as suas decisões, pois este país possuiria a faculdade de

escolher se será julgado por tal órgão ou não.

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43

Talvez as ferramentas de bons-ofícios e o fact-finding, possuam uma

eficabilidade maior dos que as demais, mas isso não quer dizer que funcionam com

plena eficiência, pois dependem muito da vontade das partes litigantes em querer

firmar o compromisso pacificador, o que cai por terra todo o sistema, e mais, essas

ferramentas não procuram solucionar os conflitos em sí, como os bons-ofícios que

apenas cede um lugar neutro para a se solucionar o litígio e o fact-finding, que faz a

apuração dos culpados.

Assim o que se percebe é que há carência de um sistema preventivo, que

procure evitar a guerra entre os Estados antes destes entrarem em um conflito,

mesmo a ONU tendo previsão do peace-building, keeping, e as demais ferramentas

que possui para evitar, construir e manter a paz, não é suficiente para prevenir o

conflito entre Estados, vide que quando a ONU profere suas decisões só consegue o

cumprimento leal de sua decisão quando esta vem acompanhada de alguma sanção

ao país infrator.

Pois bem, a via diplomática é o aparato que deveria ser reformado para agir

como um órgão preventivo e repreensivo de impasses internacionais, por ser um

órgão que está mais próximo dos conflitos internacionais, é este que se encontra

literalmente “no olho do furacão” e de fato possui mais condições e informações

privilegiada, e assim tomar alguma atitude à frente aos demais sistemas

internacionais.

O que acontece hoje é que cada órgão diplomático está obviamente

preocupado com o bom andamento de suas relações com os outros países, faltando

à preocupação com o todo, a comunidade internacional. O que deveria ser visto

como união de todo o globo, uma extensão da nacionalidade de cada cidadão em

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seu país. O que eu quero dizer é que deveriam olhar um mundo unificado, sem

separações territoriais, pois é este o início para se obter a paz plena. Quando se tem

muitas divisões, muitas raças, etnias, religiões diversificadas, culturas em fim, se tem

o começo das controvérsias, pois é aí que mora a justificativa para os conflitos, em

que muitos se norteiam para justificar que tal país está explorando economicamente

outros, ou que tal país está desrespeitando a religião de outros, ou seja, a quebra da

unificação e a divisão do todo geram conflitos, pois o homem ainda não aprendeu a

entender e conviver com o diferente. O homem não entendeu que no final de contas

somos todos serem humanos, apesar de falarmos línguas diferentes, usarmos

roupas diferentes, comermos coisas diferentes, cultuarmos deuses diferentes,

gostarmos de coisas diferentes, fazermos tudo diferente...

Apesar de tudo, acredito que a globalização está fazendo seu papel, mesmo

que alguns não percebam, ou outros fingem propositalmente em não perceber, este

fenômeno está retirando a identidade de vários países, onde japoneses pintam os

cabelos de loiro e fazem cirurgias para suavizar os traços que marcam seus olhos e

assim se pareçam mais com o outro lado do mundo. Crianças brasileiras valorizando

artistas norte-americanos e desprezados os seus nacionais. Tudo isto criará, no final

das contas, uma nação una e sem identidade especifica, pois cada um se

encarregará de no tempo decorrido esquecer suas raízes e assim ficarem mais

parecido com os demais. Veja que não quero dizer que isto é bom ou ruim, apenas

acredito que atingirá um ponto em que os conflitos internacionais serão por outros

motivos dos quais se enfrentam agora, pois por questões culturais não se verá mais,

o que prevalecerá é a discussão de ordem econômica ou suas controvérsias

possivelmente.

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