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DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Professor: Luciano Benetti Timm E-mail: [email protected] 1. Introdução ao Direito Internacional Privado doutrina internacional -> normas de DIP: mandatórias ou facultativas? -> BR -> normas de DIP compõem o direito interno -> imperativas e aplicáveis de ofício -> caso contrário: instabilidade e incerteza (RTJ, 101:1149) como o magistrado deve aplicar direito estrangeiro? a) iniciativa do magistrado, o qual pode pedir colaboração das partes; b) iniciativa das partes; c) iniciativa mista. BR -> CPC, art. 337 e LICC, art. 14 -> o próprio juiz nacional deve aplicar o direito estrangeiro -> se supõe ser do conhecimento de todos -> não estando descartada que as partes venham a faze-lo -> colaboração das partes (RESP 254544/MG) de que forma? o texto, a vigência, o sentido e o alcance na norma -> cabe ao juiz aplicar o direito estrangeiro em sua totalidade: legislação e a doutrina do direito estrangeiro (livros e periódicos -> pareceres de institutos especializados (como o Max-Planck) e juristas renomados -> consulta a órgãos diplomáticos -> Convenção acerca da prova e informação do direito estrangeiro -> caso concreto NOÇÕES BÁSICAS DO DIREITO PROCESSUAL INTERNACIONAL normas de DIP –> indicam o direito material aplicável a um fato com conexão internacional –> depende de um juiz competente para aplicar esta regra no âmbito internacional -> direito processual internacional -> DIP em sentido amplo regra básica DPI -> lex fori (lei do lugar em que se desenvolve o processo) -> noção de jurisdição e competência: limites da soberania do estado sobre certo território, pessoas, objetos e eventos -> DI Púb DI Público -> limites ao poder jurisdicional de cada estado soberano -> legitimidade do poder jurisdicional vs. domínio reservado ou doméstico -> art. 2(7) da Carta da ONU a impedir a ONU -> doutrina: diversas formas de jurisdição: a) territorial; b) nacional; c) protetiva; d) universal; e) dos efeitos sentidos; f) acordada. É bem possível que haja conflitos de jurisdição. normas de DPI -> leis e convenções - eventualmente uniformizado Conferência de Haia de DIP, ONU, Uncitral, Convenção UE, Bruxelas/1968, Resolução do Conselho da UE, nº 44/2001, Código de Bustamente, Conferência Especializada Interamericana de DIP (Convenção sobre Arbitragem Internacional/1975, a Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias/1975, a Convenção Interamericana sobre Prova e Informação acerca do Direito Estrangeiro/1979, a Convenção Interamericana sobre Eficácia Extraterritorial das Sentenças e Laudos Arbitrais Estrangeiros/1979), Protocolo de cooperação judiciária Las Leñas/1992), tratados e acordos bilaterais de cooperação judiciária com Espanha, Itália e França. - > EUA case law act of state doctrine, imunidades de estados, organismos internacionais “forum shopping” -> significa as partes elegerem uma jurisdição para solucionar a lide, em situações que mais de uma poderia conhecer e julgar a matéria “forum non conveniens” - > significa que uma jurisdição mais conveniente com a lide é que deve conhecer do processo (acesso a prova, exeqüibilidade da sentença, custos do processo, etc). Glaucia Poliana de Azevedo 1

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Page 1: DIP Privado

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Professor: Luciano Benetti Timm

E-mail: [email protected]

1. Introdução ao Direito Internacional Privado doutrina internacional -> normas de DIP: mandatórias ou facultativas? -> BR -> normas de DIP compõem o direito interno -> imperativas e aplicáveis de ofício -> caso contrário: instabilidade e incerteza (RTJ, 101:1149)

como o magistrado deve aplicar direito estrangeiro? a) iniciativa do magistrado, o qual pode pedir colaboração das partes; b) iniciativa das partes; c) iniciativa mista.

BR -> CPC, art. 337 e LICC, art. 14 -> o próprio juiz nacional deve aplicar o direito estrangeiro -> se supõe ser do conhecimento de todos -> não estando descartada que as partes venham a faze-lo -> colaboração das partes (RESP 254544/MG)

de que forma? o texto, a vigência, o sentido e o alcance na norma ->cabe ao juiz aplicar o direito estrangeiro em sua totalidade: legislação e a doutrina do direito estrangeiro (livros e periódicos -> pareceres de institutos especializados (como o Max-Planck) e juristas renomados -> consulta a órgãos diplomáticos -> Convenção acerca da prova e informação do direito estrangeiro -> caso concreto

NOÇÕES BÁSICAS DO DIREITO PROCESSUAL INTERNACIONAL

normas de DIP –> indicam o direito material aplicável a um fato com conexão internacional –> depende de um juiz competente para aplicar esta regra no âmbito internacional -> direito processual internacional -> DIP em sentido amplo

regra básica DPI -> lex fori (lei do lugar em que se desenvolve o processo) -> noção de jurisdição e competência: limites da soberania do estado sobre certo território, pessoas, objetos e eventos -> DI Púb

DI Público -> limites ao poder jurisdicional de cada estado soberano -> legitimidade do poder jurisdicional vs. domínio reservado ou doméstico -> art. 2(7) da Carta da ONU a impedir a ONU -> doutrina: diversas formas de jurisdição: a) territorial; b) nacional; c) protetiva; d) universal; e) dos efeitos sentidos; f) acordada. É bem possível que haja conflitos de jurisdição.

normas de DPI -> leis e convenções - eventualmente uniformizado Conferência de Haia de DIP, ONU, Uncitral , Convenção UE, Bruxelas/1968, Resolução do Conselho da UE, nº 44/2001, Código de Bustamente, Conferência Especializada Interamericana de DIP (Convenção sobre Arbitragem Internacional/1975, a Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias/1975, a Convenção Interamericana sobre Prova e Informação acerca do Direito Estrangeiro/1979, a Convenção Interamericana sobre Eficácia Extraterritorial das Sentenças e Laudos Arbitrais Estrangeiros/1979), Protocolo de cooperação judiciária Las Leñas/1992), tratados e acordos bilaterais de cooperação judiciária com Espanha, Itália e França. -> EUA case law

act of state doctrine, imunidades de estados, organismos internacionais

“forum shopping” -> significa as partes elegerem uma jurisdição para solucionar a lide, em situações que mais de uma poderia conhecer e julgar a matéria

“forum non conveniens” - > significa que uma jurisdição mais conveniente com a lide é que deve conhecer do processo (acesso a prova, exeqüibilidade da sentença, custos do processo, etc).

2. Objeto do DIPExiste muita controvérsia na doutrina estrangeira acerca do objeto do DIP. Preferimos a doutrina francesa a respeito

do objeto do DIP, que admite quatro matérias distintas: a) a nacionalidade; b) a condição jurídica do estrangeiro; c) o conflito de leis e d) o conflito de jurisdições.

3. Denominação do DIPO DIP não é privado, nem internacional; é interno e público.Sendo a principal fonte de DIP a legislação interna de cada sistema, não cabe falar em direito internacional, uma vez

que a autoria de suas regras são internas e não internacionais. Assim, há uma ampla diversidade nas soluções nacionais para os conflitos de leis, e consequentemente é difícil

conceber a denominação "internacional" que sugere uniformidade. Além disto, esta denominação sugere relação jurídica entre os estados, quando, na verdade, o DIP trata de interesses de pessoas privadas, físicas ou jurídicas, e quando tratar do Estado,

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será meramente como membro da sociedade comercial internacional. O DIP estuda os conflitos interespaciais e interpessoais, jamais internacionais.

Quanto à denominação "privado", surgem críticas no sentido que seja o DIP público, isto porque suas normas são instrumentais. É um sobredireito - jus supra jura - a decidir sobre qual dos direitos deva ser aplicado, sem se afastar do D. Int. Pb., e, ainda, tratando da competência das competências, seguramente ser um D. Pb.

Aula: O Direito Internacional Privado é mesmo direito privado? Não, porque é um direito parte processual. Diz ao juiz como julgar um caso internacional. É um direito imperativo.

Significa que as partes não podem afastar um dispositivo da LICC. É público e não privado.

O Direito Internacional Privado é mesmo direito internacional? Não é, porque as fontes do direito são todas domésticas.

Ex.: conflitos de jurisdição – CPC Conflitos de leis – LICC Conflitos de nacionalidade – Constituição Federal Conflitos de estrangeiros – Estatuto do estrangeiro

Então, na se trata de um direito verdadeiramente internacional.O Direito Internacional Privado é um direito vinculante para as partes. O nome se mantém porque a relação jurídica em questão é o direito internacional. É um direito doméstico que trata de

uma relação internacional privada. E consequentemente os sujeitos de direito no Direito Internacional Privado

DIP privado: é um sujeito de direito privado PF ou PJ privada.PJ Privada: - associações- sociedades- partidos políticos- fundações- entidades religiosas

Diferença entre associações e sociedades:Associação não tem fim econômico.Sociedade tem fim econômico.

Diferença entre associações e fundação:Associação: é um conjunto de pessoas (PF ou PJ) destinadas a um fim não econômico.Fundação: é um patrimônio destinado a um fim não econômico.

4. Definição de DIPÉ um ramo do D. Pb. que orienta o intérprete a aplicar as normas jurídicas que efetivamente vão resolver as questões

de direito emanadas de um fato jusprivatista internacional. Não regula a relação privada em si, mas do intérprete com a lei, sendo composto de normas imperativas.

O DIP por excelência, é constituído de regras de sobredireito colisionais que visam solucionar conflitos entre normas atemporais, interespaciais, internacionais. Contudo, as demais normas colisionais atemporais, tanto as interespaciais internas como as interpessoais também devem ser consideradas como integrantes da ciência dos conflitos, objeto principal do DIP.

Aula: É um ramo do direito público de caráter imperativo de órgão público e que visa solucionar um conflito de leis no espaço, bem como um conflito jurisdicional. No Brasil inclui ainda o tratamento da nacionalidade e do estrangeiro.

5. Conflitos de Jurisdição

Itália – Madri – fabricante de torneiraRelação Jurídica

Brasil – NH – representante comercial

Relação Jurídica: contrato de representação comercialNão existem tratados sobre comercial internacional para serem aplicados nesses casos. Não existe tratado internacional sobre jurisdição, porque a jurisdição está associada à soberania dos paises.Surgem dois problemas acerca dessa relação jurídica:- qual é a legislação que regerá esse contrato comercial?- qual corte será competente para dirimir conflitos resultantes desse contrato? Conflito de jurisdição.

Os conflitos de jurisdição, sob a ótica brasileira, são resolvidos com base nos artigos 88 e 89 do CPC. Dispõe acerca da competência do juiz brasileira para julgar determinada questão.

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Art. 88 e 89, CPC

6. Conflitos de LeisNo exemplo acima, existe também conflitos de leis no espaço (brasileira x italiana).LICC – Lei de Introdução ao Código Civil - através da LICC que se saberá qual o direito aplicável a uma relação jurídica internacional e por quem será aplicado.

A relação jurídica internacional é tida como uma relação com elemento de estraneidade (estrangeiros). È uma relação que tem elementos que a conectam a mais de um ordenamento jurídico. Esse elemento também pode ser chamado de elemento jusprivatista (direito privado).

A LICC resolve o conflito optando por um dos ordenamentos jurídicos. Ou seja, qual ordenamento será aplicado e por quem.

7. Processo Civil Internacional (DIP ou PCI)

7.1. Fonte do DPIa) CIDIP’s/ OEA

Aplica-se somente aos países membros da OEA.CIDIP’s: Conferência Internacional de Direito Internacional Privado

b) Protocolo Las Leñas – 1992Sobre Mercosul – trata do reconhecimento de sentenças no âmbito do Mercosul e também de cooperação

judicial no âmbito do Mercosul.O protocolo de Las Leñas foi criado com base na Convenção de Bruxelas. Objetivo da Convenção de Bruxelas: tornar desnecessária a homologação de decisões dadas por países

Membros da União Européia dentro da União Européia. Ex.: Uma sentença proferida na Inglaterra não precisaria ser homologada na Alemanha para ser executada na Alemanha.

STF quanto ao protocolo Las Leñas: seria inconstitucional se a sentença não fosse homologada, conforme prevê a Constituição Federal. Não tem como não passar por procedimento homologatório.

c) Acordos Bilaterais – www.mj.gov.br Ministério da JustiçaSão acordos de cooperação judiciária firmados com outros paises.O Brasil tem acordos de cooperação processual com outros países que são seus parceiros comerciais para fim

de facilitação de cartas rogatórias e de homologação de decisões brasileiras em outros paises.O Brasil possui acordo bilateral com Portugal, Itália, França. Espanha, Suíça, Chile, China, etc.

d) CPC – base

7.2. Competência Internacional da Justiça BrasileiraQuais os litígios que a Justiça Brasileira pode conhecer?

competência internacional -> pressuposto de aplicação do DIP -> primeiro o juiz deve analisar se pode conhecer a questão

a) Competência Direta e Indireta: Direta: é a competência da Justiça Brasileira para processar e julgar uma determinada causa. Indireta: é a competência que a Justiça Brasileira tem de avaliar a competência de um tribunal

estrangeiro que julgou uma determinada causa. Será utilizada na prática quando se buscar a homologação de uma decisão estrangeira no Brasil. Será verificado se a decisão não viola a competência brasileira.Qualquer processo de homologação envolve a avaliação da competência estrangeira. Não será analisado o mérito. Verificará se a sentença não viola nenhuma regra brasileira; se violar não será homologada.

normas de competência internacional -> diretas: dispõem sobre a competência dos tribunais domésticos para apreciar determinada questão com conexão internacional (ex. CPC); -> indiretas: competência de tribunais estrangeiros para apreciar a matéria internacional em processo de homologação (ex. RISTF).

geral -> domicílio do réu; especiais -> são as que excepcionam a regra.

b) Competência Concorrente e Exclusiva:A competência direta da Justiça Brasileira está prevista no CPC e pode ser direta exclusiva ou direta concorrente.

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Direta Exclusiva: quando o processo só pode ser processado e julgado perante uma corte brasileira. A lei exclui a competência de qualquer tribunal estrangeiro.

Art. 89, CPC: Compete a autoridade judicial brasileira, com exclusão de qualquer outra:I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;II – proceder a inventário e partilha de bens , situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.

Direta Concorrente: é a competência que a Justiça Brasileira tem de processar e julgar determinada causa. Porém, essa competência não exclui a competência estrangeira, ou seja, que a ação seja ajuizada, processada e julgada por uma corte estrangeira.

Art. 88, CPC: é competente a autoridade judiciária brasileira quando:I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;II – no Brasil, tiver de ser cumprida a obrigação;III – a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.Parágrafo único: Para o fim do disposto no n° I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agencia, filial ou sucursal.

GEDCompetência concorrente e competência exclusiva

O artigo 88 trata da competência concorrente e o artigo 89 trata da competência exclusiva.O artigo 651 da CLT é outro exemplo de regra de competência exclusiva da Justiça nacional.

domicílio do réu -> artigos 70 e seguintes do NCC e artigo 12 do CPC. Domicílio residencial e profissional. Pessoa física e jurídica (matriz e filial; multinacionais). A questão das marcas notórias (caso Panasonic e Microsoft).

competência exclusiva -> ações pessoais e reais imóveis no BR -> sucessão causa mortis de bens aqui localizados

competência internacional da justiça brasileira para decretar a separação ou divórcio de cônjuges situados um no Brasil e outro no exterior (independentemente de sua nacionalidade) - TJRS, AC 70001547918, Rel. Des. José Giorgis.

c) Submissão voluntária expressa: Constituição Federal e Art. 111, CPC.Resp. 251.438-RJ, 4ª Turma, Min. Barros Monteiro. (PROVA) - STJ

Sobre o recurso especial 251.438:Fatos: A Petrobrás fez licitação para construção de um navio. Da empresa que ganhou, a Petrobras exigiu

seguro para garantir que a obra seria entregue. No contrato existia uma cláusula de eleição de foro para a Corte de Nova Iorque. O STJ diz que mesmo com eleição de foro a Justiça Brasileira fica a disposição da parte por se tratar de jurisdição concorrente. A obra da Petrobras seria cumprida no Brasil. Art. 88, II

->submissão expressa: cláusula de eleição de foro em contrato internacional;

d) Submissão voluntária tácita: quando o réu se defende no exterior quanto ao mérito, aceitando a jurisdição estrangeira tacitamente. A lei não admite eleição de foro em casos de direito do consumidor, direito do trabalho e nos casos exclusivos da competência brasileira (Art.89,CPC).

- > submissão voluntária à jurisdição estrangeira; tácita: quando o réu aqui domiciliado comparecer perante a justiça estrangeira e produzir defesa, sem alegar exceção do foro.

cláusula de eleição de foro -> escrita e aludir explicitamente o negócio jurídico por ela abrangido -> não se pode ferir a ordem pública, nem afastar foro inderrogável (competência exclusiva da justiça nacional, art. 89 do CPC, CDC, p. ex) -> a jurisprudência do STJ não admite a exclusividade da cláusula de eleição de foro, admitindo processar e julgar determinada matéria quando acionado, ainda que a cláusula remeta a foro estrangeiro (STJ, Resp 251.438-RJ, 4ª Turma, Rel. Barros Monteiro). Contudo, caso citado em foro estrangeiro eleito contratualmente, dele não poderá se furtar a pessoa domiciliada no país, sob pena de revelia (STF, Sentença estrangeira 4.415). Entretanto, se não houver cláusula de eleição de foro, pode o domiciliado no Brasil rejeitar a sua sujeição à jurisdição estrangeira mediante argüição de exceção (o que pode ser feito quando for aqui citado por rogatória, não precisando constituir advogado estrangeiro para faze-lo lá; STF, Carta Rogatória 4.983). perpetuatio fori

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7.3. Litispendência internacional – CPC –Art.90

Não existe litispendência no âmbito internacional.As duas ações poderão tramitar juntas nos dois países. Uma das duas ações só poderá ser interrompida quando a

sentença transitada em julgado num país for homologada no outro país.

Art. 90, CPC: A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas.

O DPI nacional (art. 90, CPC) não reconhece a litispendência entre ações idênticas que tramitem em países diversos (partes, causa de pedir e pedido – CPC, art. 301, § 4º). Mas a sentença estrangeira pode ser homologada no STF e terá o mesmo efeito de coisa julgada (STF, Sentença estrangeira 4.509 e 5116). O mesmo não ocorre na Alemanha, Itália, Suíça em que se reconhece a litispendência internacional.

Pontos favoráveis ao reconhecimento da litispendência internacional: a) evitar julgados contraditórios; b) economia processual; c) eventual reciprocidade.

Pontos desfavoráveis: perda de soberania doméstica.

7.4. Caução

Art.835, CPC: O autor, nacional ou estrangeiro, que residir fora do Brasil ou dele se ausentar na pendência da demanda, prestará, nas ações que intentar, caução suficiente às custas e honorários de advogado da parte contrária, se não tiver no Brasil bens imóveis que lhes assegurem o pagamento.

7.5. Documentos estrangeirosDocumentos estrangeiros são aqueles produzidos em outro país. Ex.: contratos, notas promissórias, etc.Para que esses documentos possam ser usados no Brasil será necessária tradução juramentada. Os tradutores

juramentos estão registrado na Junta Comercial.

Art.157, CPC: Só poderá ser junto aos autos documentos redigido em língua estrangeira, quando acompanhado de versão em vernáculo, firmada por tradutor juramentado.

GED.Para que documentos produzidos no exterior possam gerar efeitos jurídicos no Brasil, deve-se atentar para as exigências da nossa legislação.

O documento produzido no exterior e acompanhado da respectiva tradução por tradutor juramentado (profissão regulamentada pelo Dec. 13.609/43) pode ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos a fim de que produza efeitos contra terceiros (LRP, art. 129, §6º e 148; NCC, art. 224 e arts. 219 e 151, I do CPC). Exigir-se-á, ainda, a legalização consular do documento (consularização) e e o reconhecimento da firma aposta ao documento – STF, RTJ 175:523).

O documento redigido em língua estrangeira somente pode ser anexado aos autos de um processo judicial se acompanhado da tradução em vernáculo firmado por tradutor juramentado (CPC, art. 157).

8. Cooperação Judiciária - Caso de Homologação de sentença estrangeira (H.S.E).

Internacionalização da economia, a criação de mercados comuns, a pobreza de alguns países, a circulação de pessoas -> aumento dos litígios internacionais -> necessidade de cooperação processual internacional -> Justiça ->

Dois aspectos:I) reconhecimento e execução de sentenças estrangeiras; II) cumprimento de rogatórias (requisição da prática de atos processuais a serem praticados por autoridade judiciária estrangeira para atos citatórios/intimatórios e atos probatórios).

Na homologação de sentença se a parte não se defender será nomeado um curador especial para acompanhar o processo de homologação.

8.1. Contexto globalização – aumento de litígios internacionaisComo houve uma internacionalização da economia, contexto globalizado, houve também aumento dos litígios

de caráter internacional, porque a medida em que há maior relação internacional, há maior possibilidades de litígios internacionais.

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8.2. Questões gerais

Muitas convenções multi e bi laterais foram assinados pelo Brasil (ver site do MJ): Convenção Interamericana sobre eficácia extraterritorial das sentenças e laudos arbitrais estrangeiros, acordos de cooperação com Itália, Espanha, França e diversos países latino-americanos, Protocolo de Las Leñas de 1992 no âmbito do Mercosul).

direito doméstico vs normas convencionais -> prevalece o mais liberal

recebimento na ordem doméstica nacional de um julgado estrangeiro -> homologação -> processo judicial no STF

8.3. Não existem obrigações H.S.E., mas existe prática (relatório internacional).

Não é possível a execução de sentença estrangeira em outro país sem que haja homologação neste país anteriormente.

A sentença estrangeira não terá validade nenhuma antes de passar pelo processo de homologação no país, no qual se fará a execução.

Não há obrigação imposta para que os países façam homologação de sentenças estrangeiras. Porém existe uma prática de fazer a homologação, reconhecendo decisões de outros Tribunais pela política da reciprocidade (“é dando que se recebe”).

Nenhum estado soberano estar obrigado a reconhecer decisões de tribunais estrangeiros -> existe uma prática de faze-lo -> requisitos de direito interno e convencional -> não apreciar a questão de fundo, mas verificar da preservação e manutenção da ordem pública interna.

Efeitos da sentença estrangeira -> os efeitos que lhe concede o ordenamento jurídico de origem -> não podem ultrapassar aqueles reconhecidos para decisões análogas pelos tribunais nacionais

8.4. Não analisar méritos – juízo delibação

Não se costuma revisar o mérito da decisão estrangeira. Se houvesse revisão do mérito seria uma espécie de 4ª, 5° grau de jurisdição. Se o juiz brasileiro revisasse o mérito da decisão do juiz estrangeiro abriria precedente para que se revisassem as decisões de juizes brasileiros no exterior. Portanto, a prática é que apenas se faça apenas o juízo delibação, ou seja, analisar somente se os direitos formais, verificando se há alguma afronta a ordem pública. O juízo de delibação é também chamado de devido processo legal.

8.5. Homologação versus execução

A homologação é requisito básico da execução.Não poderá haver execução sem antes haver o processo de internalização da decisão estrangeira (homologação

ou reconhecimento da decisão estrangeira). Homologação é efetuada pelo STJ Execução é feita perante a Justiça Federal do domicílio do réu.

Execução de sentença vs. reconhecimento -> esta é pressuposto daquela, mas nem toda sentença é executável. Esta execução seguirá o direito doméstico (No Brasil, CF, art. 109, X; CPC, art. 484; RISTF, art. 224 – ou seja, carta de sentença extraída dos autos da homologatória).

8.6. Quadro Normativo

Tem-se hoje, fontes do direito doméstico e fontes do direito internacional que foram internalizadas. Para a homologação têm-se as seguintes determinações:

Em função da EC45 a competência que era do STF passou para o STJ. Objetivo: desafogar o STF.

a)Art. 483 e 484 CPCArt. 483, CPC: A sentença proferida por tribunal estrangeiro não terá eficácia no Brasil senão depois de

homologada pelo STF. (agora STJ).Parágrafo único: a homologação obedecerá ao que dispuser o Regimento interno do STF.

Art. 484, CPC: a execução far-se-á por carta de sentença extraída dos autos de homologação e obedecerá as regras estabelecidas para a execução da sentença nacional da mesma natureza.

b)Art. 105 e 109, X da Constituição Federal

c)LICC

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d)Resolução 09, STJ/2005 – novidades RISTF Novidade: admite tutela de urgência na homologação. Como o tramite para a homologação de sentença é muito

moroso, muitas vezes o direito já havia perecido. Assim, se admitiu a tutela de urgência para proteger o direito da sentença estrangeira.

e)Protocolos bilaterais Ex.: Espanha, Portugal, França, Itália, etc. O Brasil se predispõe a homologar as decisões desses países, desde que não haja violação de ordem pública. PROVA: O Brasil pode homologar uma sentença de um país, com o qual o Brasil não tenha protocolo bilateral?

Pode homologar desde que não violada ordem pública.

f) CIDIP’s/OEA II

8.7. Julgados STFa)O que é Sentença estrangeira para fins de homologação no STF? Sentença estrangeira é qualquer decisão emanada por um Tribunal integrante do poder judiciário de outro país ou

mesmo da decisão de um tribunal administrativo se no Brasil a competência para julgar essa questão é do poder judiciário brasileiro.

Qualquer decisão do tribunal estrangeiro de justiça é homologável.

b)LiminaresO STF não concedia liminares em homologação porque não se trata de sentença e sim de decisão interlocutória.

Não é homologável porque a liminar é revogável.

c)Títulos executivos extrajudiciaisUma nota promissória em inglês feita no Canadá precisa ser homologada no STJ? Não precisa ser homologado. É

necessária apenas tradução juramentada do documento feito em língua estrangeira. A execução de títulos executivos extrajudiciais é de competência da Justiça Comum.

8.8. Questões Processuaisa)Competência: originária do STJ.É uma competência direta do STJ. Não é uma competência recursal. A ação é distribuída no STJ.b)Natureza: jurisdicional e constitutiva (SEC. 4.469 e 5.093)SEC: diminutivo de homologação de sentença estrangeira.c)Rito: especial (previsto em resolução do STJ)d)Legitimidade: qualquer interessado (SEC. 3742)Qualquer interessado (partes no processo estrangeiro ou terceiro interessado)

e)Caução: dispensa (SEC. 5.378-1) – Art. 835, CPC.f) Sucumbência: Cabimento (SEC. 4.738-2)g)Extensão do pedido: pode ser pedido de homologação total ou parcial (SEC. 2.396)h)Cognição: limitada (SEC. 5.040, Resol. 09, STJ).Contenciosidade limitada – juízo de delibação -> requisitos formais da legislação e ausência de prejuízo à ordem

pública

8.9. ProcedimentoPetição inicial do interessado nos termos do 282 do CPC -> prazo para resposta (curador se houver revelia) -> réplica -> parecer MPF -> decisão monocrática ou plenária

Petição com documentos: sentença estrangeira original ou autenticada com tradução juramentada, com prova de trânsito em julgado (no Brasil através de certidão do cartório).

8.10. Requisitosa)Citação regular: no processo que tramitou no exterior através de carta rogatória.b)Competência: se for competência exclusiva da jurisdição brasileira não será homologada.c)TJI – trânsito em julgado internacional.d)Formalidades: citação original ou cópia autenticada , será preciso consularizar a decisão, ou seja, autenticar o

documento no consulado do pais. e)O.P. – ordem pública:

A ordem pública pode ser:

* processual: quando viola alguma regra procedimental, ou seja, o devido processo legal.

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-> processual (devido processo legal, especialmente o direito à citação apenas por rogatória e não por via postal, affidavit, edital, repartição consular ou diplomática, cartórios; e a competência da justiça estrangeira, fundamentalmente a não violação do art. 89 do CPC) - SE 2.582, SE 5.418, SE 3.989, SE 4.013

* material: quando viola normas da Constituição Federal, da CLT, por ex.

- > material (normas fundamentais) – SE 3.886

Ordem Pública -> proteção da ordem jurídica nacional -> cláusula geral -> conceito jurídico indeterminado -> conceito fluido e vago -> mistura de direito, política e moral -> casuístico -> tempo e espaço.

9. Arbitragem

Laudos arbitrais estrangeiros -> Lei de Arbitragem, 9.307/96, arts. 34 a 40, que recebeu grande influência da Convenção Interamericana sobre arbitragem comercial internacional/1975 e a Convenção de Nova Iorque/1958 sobre o reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras.

9.1. Conceito: Arbitragem seria uma espécie de exercício de jurisdição, i.e., uma forma de heterocomposição de conflito de

interesses caracterizada por dois elementos: a) imparcialidade;

b) imperatividade ou força vinculante.

A arbitragem é forma privada de solução de controvérsias. Um terceiro (de país diverso das partes que compõem a lide) desinteressado julga a lide.

O arbitro julga e dá um laudo arbitral e não uma sentença. O laudo arbitral é tido como um título executivo judicial, idêntico a uma sentença. O laudo arbitral precisa ter os mesmos requisitos da sentença: relatório, decisão e fundamentação.

O principio maior na arbitragem é a autonomia da vontade.Só será arbitro aquele eleito pelas partes. As partes podem eleger em contrato, mais de um árbitro. O normal figura de

1 a 3 árbitros. São chamados de árbitros ad hoc quando são determinados os nomes dos árbitros no contrato.Com isso, percebe-se que a arbitragem não se confunde com os chamados métodos alternativos de solução de disputas

(as ADR). A arbitragem é um instituto híbrido, que envolve questões atinentes ao direito material (requisitos da convenção de arbitragem, limites à autonomia privada e à liberdade individual) e também questões de direito processual (procedimento, requisitos, etc).

A arbitragem não se confunde com mediação. O arbitro julga enquanto o mediador tenta obter um acordo entre as partes, podendo opinar, porém sem efeito vinculante.

Geralmente são árbitros: desembargadores aposentados, advogados com muita experiência, juizes aposentados, professores, etc. com mais de 40 anos.

Geralmente, uma das partes escolhe um arbitro, e a outra parte escolhe outro arbitro. Esses dois, juntamente, escolhem um terceiro arbitro.

A vantagem da arbitragem é que o arbitro aplica a equidade enquanto o juiz aplica a lei. O laudo arbitral não precisa passar pelo processo de homologação no STJ conforme é exigido da sentença.

9.2. Legislação no Brasil:

Desde à época colonial reconhece-se, legislativamente, a arbitragem (Ordenações Filipinas, Livro III, Título 16). Na época imperial, a própria Constituição de 1824, em seu artigo 160, permitia-se que litígios de natureza civil fossem solvidos por meio de árbitros nomeados pelas partes. Dispositivo repetido nas Constituições seguintes até a de 1946, que acabou por aludir à impossibilidade de afastamento da via judiciária, o qual foi repetido nas Constituições seguintes. Por sua vez, o Código Comercial tinha dispositivos sobre aplicação da arbitragem em questões comerciais, cujo teor foi alterado pelo Decreto 3900 de 1967, que relativizou a força do compromisso arbitral (mera promessa). O compromisso arbitral foi regulado Código Civil de 1916 e alterado pelo Novo Código Civil (art. 852). O juízo e procedimento arbitrais foram regulados pelo Código Processual de 1939 e repetido sem grandes modificações pelo CPC/1973. Foi a Lei 9.307/96, a LA, que trouxe significativas alterações ao direito material e processual da arbitragem, buscando dar novo impulso ao recurso da arbitragem. O STF, no julgamento da SEC, votou pela constitucionalidade de diversos dispositivos da LA, reforçando ainda mais o compromisso do Judiciário com este instituto. Nesta esteira inclusive, outros acórdãos foram exarados em reconhecimento à convenção arbitral. Ainda, o Brasil ratificou a Convenção de Nova Iorque de 1958 sobre arbitragem (Dec. 4.311, de 23/07/2002).

9.3. Classificaçãoa) arbitragem nacional (laudos proferidos no Brasil) eb) internacional (laudos proferidos no exterior. A arbitragem pode ser a) institucional ou arbitrada (como a CCI, a

AAA) ou b) meramente ad hoc

9.4. Pontos favoráveis da arbitragema) celeridade – normal durar de 6 meses a 1 ano e 6 meses. – Justiça comum pode ser de 3 a 10 anos.b) sigilo – é privada.

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c) especialidade do árbitro, que não precisa sequer ser bacharel; d) menor formalismo – não precisa rogatória, oficial de justiça, citação, etc.e) custo – é mais caro que a Justiça comum.

9.5. Questões de direito materialPrevalência da autonomia privada Contratos por adesão requerem cuidados especiais (autorização expressa, negrito, visada).

9.6. Convenção de arbitragemÉ o gênero do qual a cláusula e o compromisso arbitral são espécies. Só tem cabimento para pessoas capazes e só

poderá versar sobre direitos disponíveis.a)cláusula arbitral: conceito, requisitos e classificação.

- vazia: será vazia se não contiver os elementos para instituição da arbitragem;- cheia: será cheia se contiver os elementos para instituição da arbitragem, indicando quais regras devem ser seguidas, seja por: a) descrevê-las; b) confiar ao árbitro fazê-la ou ainda c) submeter-se às regras de uma instituição.

b)compromisso arbitral : conceito e requisitos

9.7. Redação mínima da cláusula“todas as disputas acerca de direitos disponíveis emergentes ou em conexão com o presente instrumento contratual

devem ser decidas em caráter definitivo de acordo com as regras de arbitragem da ICC por um ou mais árbitros indicados em conformidade com referidas regras” (modelo da ICC). A ICC recomenda ainda que seja previsto o direito material aplicável, o número de árbitros, o lugar da arbitragem e a sua linguagem.

9.8. Procedimento perante o Tribunal de Arbitragem da CCIPor ser o mais antigo órgão arbitral o tomaremos por exemplo. Como se trata de uma instituição arbitral, o

TA/CCI não julga, mas apenas administra, fiscaliza e chancela o procedimento e a decisão final, sendo esta atribuição exclusiva do árbitro. A CCI como qualquer instituição, tem um Regulamento, que disciplina o procedimento arbitral, sendo, o seu, datado de 1988. O TA/CCI é composto por representantes de 50 países (comitês), além de um presidente, vice-presidentes, um secretariado geral (consultor jurídico, conselheiros advogados e staff administrativo). O pressuposto é a convenção arbitral remetendo à CCI (vide acima).

a)O Autor (claimant) fará sua reclamação contra parte(s) mediante pedido escrito dirigido ao Secretariado Geral da CCI acompanhada dos documentos pertinentes e em tantas cópias quanto necessárias (filing a request for arbitration). É análogo a uma petição inicial – art. 282, CPC: qualificação das partes, razões jurídicas, descrição detalhada do que se pretende e do objeto da lide, indicação do árbitro, língua, etc. O Autor deve pagar custas adiantadas de U$ 2.500,00.

b)A Secretaria comunica, por qualquer meio registrado, o réu (defandant) do ingresso do pedido, concedendo-lhe 30 dias para resposta escrita nos mesmos moldes de uma contestação (art. 300, CPC) – answer-, além do que é específico ao procedimento arbitral (indicação do árbitro, língua, etc). Pode haver reconvenção (counter-claim), ocasião em que o autor disporá dos mesmos 30 dias para resposta.

c)Dando seguimento, a Corte faz o “saneamento” do processo, indicando o(s) árbitro(s), quando cabível, ou pelo menos a verificação daquele indicado pelas partes, sendo praxe ser ouvido o comitê da localidade das partes. Quando a Corte escolher o árbitro, ele não será de nenhuma das nacionalidades das partes envolvidas. Poderão as partes ainda impugnar o(s) árbitro(s) eleito(s) em 30 dias, com recurso ao próprio Tribunal. Ainda, se o Réu impugnar a cláusula e o procedimento arbitral, é competência da própria Corte Arbitral dirimir esta questão preliminar. Caberá ainda à Secretaria estimar as custas do procedimento arbitral a ser adiantada em 50% e divida entre as partes, aí incluindo taxas administrativas, despesas e honorários dos árbitros de acordo com tabela da CCI, tudo em função do valor da causa.

d)Passada a fase preliminar, a Secretaria envia os autos ao árbitro ou painel arbitral (3), que fará um relatório denominado “termo de referência” ou “ato de missão” (terms of reference), que funciona como as regras do jogo, pois nele árbitro(s) e parte estabelecem os contornos da lide: relatório, pontos controvertidos, local da arbitragem, lei aplicável, etc. Assinado o documento por todos, dá-se ciência à Corte. Se uma das partes se negar, a Corte decide acerca da regularidade do termo e da continuidade do procedimento.

e)Complementação dos 50% das custas estimadas.f) Instrução, com oitiva de testemunhas pelo(s) árbitro e realização de perícia(s) necessária(s) ao deslinde do

feito. Isso deve ser feito rápido, mas com prazo razoável e adequado ao estabelecimento dos fatos da causa.g)Elaboração de minuta de laudo, a ser enviada à Corte para apreciação e sugestões formais e de mérito.

9.9. Legislação

Lei 9.307/96 e CNY, 1958.

10. Cooperação Judicial - Cartas Rogatórias10.1. Introdução: Nenhum estado pode praticar atos processuais nem executivos no território de outro estado, sob pena

de violação da soberania alheia. Daí a necessidade de cooperação quando houver necessidade de providências e

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diligências no âmbito de um processo fora do território do tribunal de origem. Esta cooperação judiciária afeta inúmeros ramos do direito: o direito civil, empresarial, penal, fiscal, bancário.

Esta cooperação em processos internacionais é de ordem voluntária e podem ser assumidas no direito interno e no direito convencional

10.2. Âmbito de aplicaçãoProcessos internacionais.Necessita-se ato processual em outra jurisdição.

10.3. Ramos de aplicação: penal e cível

10.4. Fundamento: reciprocidade

10.5. O que pode ser objeto de cooperação?Atos de comunicação e diligência de processos em curso (citações, intimações, vistorias, avaliações, exames de livros, perícias, inquirições).Qualquer ato processual no curso do processo.

10.6. O que não pode ser objeto de cooperação?Atos executórios, pois estes dependem de sentença homologada de acordo com requisitos legais (seqüestros, arrestos, buscas e apreensões, quebra de sigilo bancário) -> crítica -> deve ser revisto, especialmente no âmbito penal.Art.7° da Resolução 09, STJ: cabem rogatórias de atos decisórios e de atos não decisórios.- PROVACitação não é ato decisório, liminar não é ato decisório....

10.7. Como se dá a cooperação? Através de uma carta de juiz para outro, com tradução juramentada.Meio de cooperação judiciária inter-estatal -> cartas rogatórias, lettres rogatoires, rogatory letter or letter of requestA autoridade judiciária rogante deve respeitar as formalidades de seu direito interno para o envio da carta e a

autoridade judiciária rogada respeitará as normas de seu direito interno para cumprimento da requisição da autoridade estrangeira, salvo se solicitado procedimento especial que não fira a ordem pública nacional

10.8. Fundamento Legal - CIDIP / OEA- Las Leñas – não se aplica a intimação sem passar pelo STJ como prevê o tratado, seria inconstitucional uma vez que a CF obriga que passe pelo STJ.- Protocolos Bilaterais- CPC- Constituição Federal- Resolução 09, STJ

Direito convencional – Convenção de Haia sobre o DPC/1954 (não ratificada), Convenção do Panamá de Direito Processual Internacional/1975 sobre procurações, Convenção Interamericana/1975 sobre cartas rogatórias e obtenção de provas no exterior (todas ratificadas internamente), Protocolo Las Leñas/1992, Acordos Bilaterais com Uruguai, Argentina, França, Espanha e Itália (ver www.mj.gov.br).

10.9. Modalidades

Direito interno -> a) cartas rogatórias ativas – expedidas por autoridades judiciárias nacionais destinadas ao estrangeiro; b) passivas – expedidas por autoridades judiciárias estrangeiras destinadas aos tribunais domésticos -> passa por exame de admissibilidade preliminar (concessão do exequatur (cumpra-se, execute-se).

a) Carta Rogatória Ativa

CPC, 202, 203, 338 + 210 (recepção da Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias (CICR), acordos bilaterais citados); análise dos requisitos, não devendo ser esquecida a tradução juramentada da carta; o procedimento se dá através do Ministério da Justiça.

O processo corre no Brasil, mas o ato processual deve ser executado em outro país.Não precisa passar pelo STJ, porque um juiz brasileiro não fará nenhum ato contra a ordem pública brasileira. Só passa pelo STJ quando for carta rogatória passiva.

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Procedimento da rogatória ativa

Elaboração pelo MM. Juízo doméstico da carta rogatória (carta rogatória + Petição Inicial + docs. + tradução juramentada na língua do tribunal ao qual será dirigido).

Ministério da Justiça -> Ministério das Relações Exteriores - Brasil

Ministério das Relações Exteriores – estrangeiro

Judiciário estrangeiro

b) Carta Rogatória PassivaCF, 102, I, h + 109, X; CPC 211 e 212; RISTF, 225 a 229; LICC, 12, § 2º. Aplicam-se também as normas convencionais, mas o direito interno é mais liberal. Fundamental neste ponto a casuística do STJ.A carta rogatória passiva sempre deverá passar pelo STJ.

O processo corre no estrangeiro, mas o ato processual deve ser executado no Brasil.

Procedimento da rogatória passiva

Ministério das Relações Exteriores – estrangeiro

Se tiver protocolo com o país Senão tiver protocolo com o paísVai direto para o MJ

Min. das relações exteriores do Brasil

Ministério da Justiça – Brasil(verifica se há algum protocolo bilateral ou multilateral com o país, mesmo que não haja

poderá ser executada, desde que não viole a ordem pública **).

STJ Verifica se viola a ordem pública

O presidente do STJ manda intimar a parte interessada

Intimação da parte interessada (a qual será citada)- via correioSe não for encontrado faz-se através do diário oficial.

Impugnação em 5 dias (somente quanto a formalidades e afronta a Ordem Pública)

Se não houver defesa Havendo defesa Não será nomeado curador porque não há réu e sim, simples citando.

Vistas ao Ministério Público Federal (verifica se há alguma violação a ordem pública)

“Exequatur” (significa cumpra-se, execute-se)

O presidente do STJ decide se a JF cumpre ou não a rogatória.

Justiça Federal Cumpre o exequatur (decisão do STJ)

(se o citando for de NH será responsável a JF de NH)

STJ

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Ministério da Justiça** exemplo de violação da ordem pública: um brasileiro é preso no exterior por uso de drogas. Nesse país, a

pena cominada a esse crime é a pena de morte. Como no Brasil não existe pena de morte, viola a ordem pública brasileira.

A violação da ordem pública geralmente trata de violação do devido processo legal.Matéria de defesa -> cognição limitada ao ato a ser praticado (CR 4.052); não se discute o mérito, apenas:

ordem pública (a competência exclusiva da justiça brasileira afasta a exequatur, já a competência concorrente não, mesmo que o interessado a rejeite) – CR 3.950, CR 3.481, CR 5.884, CR 3.143, CR 8.346 e autenticidade (p. ex. consularização e tradução; entretanto, quando enviadas pelos meios diplomáticos, não se exige chancela consular).

Requisitos da rogatória passiva:a) não ferir ordem pública; b) autenticidade; c) proibição a atos executórios coercitivos (art. 3º da CICR). Entretanto, a concessão da exequatur não implica reconhecimento da competência estrangeira (art. 9º da CICR, Lei nº 221 de 1894 e casuística do STF, CR 2.963, leading case e CR 7.311).

08.05.2007Prova 2: 19.06.2007Prova Substituição: 26.06.200722.05.2007 – Trabalho - Estatuto do Estrangeiro29.05.2007 – Trabalho - Direito Internacional de Família

11. Conflito de Leis e JurisdiçãoDIP – a LICC opera como sobredireito – porque indica o sistema jurídico que será aplicado à relação jurídica.Liga a relação jurídica a legislação de algum país (conexão).

DIREITO INTERTEMPORAL E DIP

Acima das normas jurídicas materiais destinadas à solução dos conflitos de interesse (direito material), sobrepõe-se as regras sobre o campo de aplicação destas normas, que são chamadas de sobredireito, as quais determinam qual a norma competente na hipótese de serem potencialmente aplicáveis duas normas diferentes para mesma situação jurídica.

Tal opção entre duas normas pode ocorrer em relação ao fator tempo ou ao fator espaço. Na primeira, temos a dúvida entre aplicar a lei antiga ou a lei nova (conflitos intertemporais), e, na segunda, entre a lei do foro ou a lei estranha (conflitos interespaciais)

A primeira é regida pelo Direito Transitório ou intertemporal, e, o segundo, pelo DIP.Todavia, situações há, em que ocorre superposição de conflito espacial sobre temporal: conflito temporal das

normas de DIP e conflito espacial de normas temporais (conflito espacial na lei estrangeira aplicável).A primeira se dá em consequência de alteração na legislação interna relativa a conflitos de leis interespaciais ou

interpessoais.Esses conflitos são solucionados pelo Direito Intertemporal Internacional, ou seja, o direito que rege os conflitos

temporais das regras do DIP, o qual segue orientação idêntica ao Direito Intertemporal comum: o efeito no tempo da modificação de uma regra de DIP é determinado pelo sistema ao qual referida regra pertence (no caso do Brasil, LICC, ART. 6º).

I.D.I.: “O efeito no tempo da modificação de uma regra de direito internacional privado é determinado pelo sistema ao qual referida regra pertence”.

O outro fenômeno ocorre quando a regra de DIP do foro indica a aplicação de determinado direito estrangeiro e nesse vamos encontrar uma alteração temporal no direito interno, i.e., uma lei antiga modificada por lei mais recente. A solução é de que deve ser respeita a regra de Direito Intertemporal do sistema jurídico declarado competente: o efeito temporal de uma mudança no direito aplicável determinado por este direito.

I.D.I.: “O efeito temporal de uma mudança no direito aplicável é determinada por este direito”.

EXEMPLO PRÁTICO: houve um litígio no Brasil envolvendo alemães que lá se casaram; a LICC determina aplicação neste caso da lei dos nacionais, ou seja, a lei alemã. Ao tempo do casamento, o regime legal era o da separação de bens. Ocorre que esta determinação foi alterada posteriormente, passando a ser o regime legal, o da comunhão dos aquestos (inclusive com aplicação pretérita). O que fez o TJ/RJ? Aplicou integralmente a lei alemã, vale dizer, aplicou a lei nova ao litígio, por determinação expressa do direito alemão.

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Conflito Temporal x Conflito no espaço

Questão de Prova: Nem toda a LICC contém normas de DIP (direito no espaço). Tem normas que tratam de direito intertemporal. Ex.1: lei posterior revoga lei anterior; lei especial não revoga lei geral e lei geral não revoga lei especial, etc.

Ex.2:

Qual lei o juiz deverá aplicar? Código Civil/1996 ou Código Civil/2002? Seria o Código Civil/96, porque o novo código não poderia retroagir para ser aplicado a fato anterior. Porém, a

partir de 2003, pode ter eficácia imediata por tratar-se de principio do Código Civil (existem posicionamentos de que seria inconstitucional).

Questão de Prova:Combinaçõesa) Alteração temporal / normas DIP

Nesse caso a LICC aplicável será a de 1942 (celebração do contrato), pois a lei posterior não poderá retroagir. A lei a ser aplicada é a do momento de celebração do contrato.

b) Alteração direito estrangeiro

A LICC permanece e o direito estrangeiro é alterado.

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2000

2002 2004

2005

Assinado contrato de prestação de serviços. (sem cláusula arbitral)

Novo CC LITÍGIO

2005

2008

2010Assinado contrato de

representação comercialNH e Nova Iorque.

(sem cláusula arbitral)Celebrado em SP e

execução em Miami. LITÍGIOEntra em vigor uma

nova LICC

Competência: local de execução do contrato

Aplicação da lei estrangeiraExecução: Miami

Competência: local de celebração do contrato

Lei aplicávelLICC/ 1942

Aplicação da lei brasileiraCelebração: SP

2005

2006 2008

2010

Celebrado contrato em Milão (sem cláusula

arbitral)

LICCDireito

estrangeiroCód. Italiano

LITÍGIONovo Cód.

Italiano

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Nesse caso, qual código Italiano será aplicado?Será resolvido através da normas de direito internacional italiano.É a única possibilidade, na qual o juiz brasileiro deverá consultar as normas de direito intertemporal do direito

italiano. Consultará a norma conflitual estrangeira para saber se será utilizado o código antigo ou o novo. Para evitar o REENVIO o juiz brasileiro só deve aplicar o direito material do outro país. Quando a LICC manda

aplicar o direito estrangeiro, o juiz deverá aplicar diretamente o direito material do país estrangeiro. Jamais deverá consultar as normas de direito conflitual do outro país. Exceção: quando houver modificação da lei estrangeira.

12. Métodos para resolver conflitos

DIP e Direito Uniforme

Não se tem um verdadeiro direito internacional. Cada país tem o suas próprias normas de direito internacional (soberania).

O que seria desejável no âmbito do direito internacional?Que houvesse verdadeiramente um direito uniformizado, que aproximasse as disposições de todos os países. Desta forma, não haveriam conflitos de leis; haveria maior previsibilidade. A uniformização dar-se-ia por meio de convenções internacionais.Alguns pontos já foram uniformizados: Ex: Convenção de Varsóvia/1930 – sobre acidentes aéreos.

Existem dois métodos de resolução de conflitos:- harmonizador: sem conflitos- conflitual: com conflitos

Em Direito Internacional, existem dois métodos para resolver conflitos entre normas de diferentes estados soberanos: ou se estabelece uma harmonização das disposições de direito interno, de modo a que pouco importará qual regra será aplicada, já que todas serão idênticas (método harmonizador); ou se estabelece um sobredireito para dirimir o conflito (método conflitual), que é o DIP propriamente dito. A rigor, se todos os direitos fossem homogêneos, não haveria sentido para o DIP, que existe justamente por conta da diversidade e contradição das normas.

12.1. Método Harmonizador

a) Direito Uniforme: fenômeno normalmente espontâneo de coincidência do direito primário (direito material interno) de dois ou mais países por razões naturais, casuais, históricas. Veja-se por exemplo a similitude entre alguns códigos civis, leis anti-truste, etc. Os americanos chamam isso de “legal transplant”. Na prática, o direito pode se desviar da literalidade da lei, por atuação da jurisprudência.

b) Direito Uniformizado: fenômeno dirigido por dois ou mais estados, normalmente via tratados internacionais ou convenções, para uniformizar o direito interno de cada país; é exigência do Tratado de Roma (Eu) e do Mercosul; acontece muito no direito econômico internacional, para viabilizar as transações econômicas – TRIPS, GATT, GATS, compra e venda, transporte, etc. Normalmente prevalece nas convenções o modelo norte-americano ou o alemão/francês.

c) Direito Comparado: estudo de sistemas ou institutos jurídicos de diferentes países para buscar compreensão, pelo contraste, ou mesmo alteração legislativa, do direito interno. É o grande instrumento da uniformização jurídica, já que ela normalmente adota um determinado modelo legal.

12.2. DIPDireito interno de cada Estado (Lei de Introdução ao BGB, CCF, LICCB, etc.) – pode ser harmonizado; algumas

convenções como a de Viena sobre compra e venda internacional já contêm algumas regras harmonizadoras de DIP.

DIP e Direito ComparadoDIP: 2 ordenamentos, saber qual dos direitos será aplicadoDireito comparado: faz-se a comparação entre dois ordenamentos jurídicos (brasileiro + 1 estrangeiro) com objetivo de compreender e aplicar o direito brasileiro. É uma comparação doméstica e não internacional.Ex.: juiz brasileiro julga ação, cuja lei surgiu do direito americano. O juiz brasileiro poderá pesquisar no direito americano para entender e melhor aplicar o direito brasileiro.

13. Normas de DIP

13.1. Quanto à natureza

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Quanto à natureza, a norma de DIP é geralmente conflitual, indireta, não é solucionadora da questão jurídica em si, mas indicadora do direito interno aplicável. Entretanto, também existem normas substanciais diretas. Existem ainda, normas qualificadoras que se restringem a definir determinados institutos para efeito do DIP.

Normas indiretas objetivam indicar em situações conectadas com dois ou mais sistemas jurídicos qual dentre eles deva ser aplicado, fazendo esta escolha através de pontos de contato, das regras de conexão. Estas normas não solucionam a questão jurídica propriamente dita. O aplicador seguir  as normas de DIP como se fora uma seta indicativa do direito aplicável e neste procurar  as normas jurídicas que regulam o caso sub judice (LICC, art. 7º). O Juiz executa duas operações consecutivas para a solução da controvérsia. Primeiro, determina o sistema jurídico aplicável conforme o DIP do seu país; depois, aplica as regras jurídicas daquele sistema ao caso concreto.

As normas indiretas são compostas de duas partes: objeto de conexão e elemento de conexão. O primeiro descreve a matéria (questão) com conexão internacional à qual se refere uma norma indireta – capacidade, forma dos atos, atos ilícitos, etc. O segundo indica o sistema jurídico aplicável ao fato (lex loci delicti commissi, lex loci actus, lex rei sitae). O elemento de conexão pode ser alternativo (mais de um). Poderão eles ser objetivos (definidos em lei) ou subjetivos (fixados pela vontade das partes).

Normas diretas de DIP, dão solução excepcionalmente a questio juris, destacando-se as regras sobre nacionalidade e condição jurídica do estrangeiro (além do art. 7º, §5º, LICC). Não há  qualquer conteúdo conflitual. No plano convencional, vale-se do método uniformizador, que se opera através de convenções que aprovam leis uniformes, as quais contém regras diretas em assuntos de estrita aplicação na atividade internacional (Varsóvia/1929, Viena/1980).

As normas qualificadoras são conceituais, portanto, necessárias à boa aplicação das normas conflituais, das quais são acessórias (regra sobre domicílio, p. ex. LICC, art. 7º, §7º). Elas determinam como uma norma indireta deve ser aplicada (referem-se à ordem pública, elementos de conexão, etc).

13.2. Quanto à estruturaQuanto a sua estrutura podem ser unilateriais ou bilaterais.Quanto à estrutura, pode  a norma ser unilateral, que‚ egoísta, imperfeita, só cuida dos cidadãos de determinado

estado, do qual emana a norma (“as leis concernentes ao estado da pessoa regem os franceses, mesmo residentes em país estrangeiro”); “quando se aplica a minha lei?”. Elas declaram quando uma ordem jurídica é aplicável. (ex. LICC, art. 10, §1º).

E, por fim, bilateral, universal, ocupa-se de todo o mundo. Isto porque a existência de norma jurídica estrangeira é um fato no mundo jurídico, não havendo qualquer invasão de competência e soberania, não havendo qualquer empecilho em aplicar a lei de outro Estado, não se vislumbra qualquer interferência (“o estado da pessoa é regido pelo Estado ao qual ela pertença”); “qual lei se aplica”. Indicam como aplicáveis ou o direito doméstico, ou o direito estrangeiro – é a regra do BR (ex. LICC, art. 10, caput).

Os efeitos de ambas são praticamente os mesmos, pois as regras unilaterais estão sujeitas à bilateralização. Há  contudo, normas unilaterais de caráter protetivo que não se prestam a bilateralização.

Invariavelmente unilaterais são as regras sobre a condição jurídica dos estrangeiros e as normas processuais

Em aula: Indiretas: objeto e elemento de conexão

O DIP é norma de sobredireito.O Dip é composto por normas conflituais, ou seja, indiretas. Apenas indicam o sistema jurídico (direito material que será utilizado). Não dispõe sobre direitos e obrigações das partes. Ex.: Art.7°. LICC

Diretas: solucionam conflitos, qualificadorasExcepcionalmente o DIP brasileiro tem normas que atribuem direitos e obrigações às partes, ou seja, normas diretas. Não no campo de conflitos de leis, mas no Estatuto do Estrangeiro (normas diretas; resolvem conflitos de interesses).Ex.: normas de nacionalidade – estipulam direitos e obrigações do nacional

Normas qualificadoras: são normas excepcionais. São normas conceituais, ou seja, trazem conceitos para a boa aplicação das normas conflituais. Ex.: Art. 7, §8° da LICC define domicílio.

BilateraisMais adotada, mais moderna, mais democráticasResponde a pergunta: Qual o sistema jurídico que devo aplicar a determinado caso?Técnica utilizada na LICC brasileira.O próprio texto admite a possibilidade de aplicar o ordenamento estrangeiro.

UnilateriasMenos democráticas, mais egoístas.São normas que se preocupam somente com a aplicação do direito nacional e não com o melhor direito a ser aplicado no caso concreto.Responde apenas a pergunta: Em quais casos eu aplico o meu direito?Não exclui a aplicação do direito estrangeiro, mas não orienta o juiz como resolver o conflito.

14. Fontes de DIP

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Existem as fontes internas e externas de DIP.É nítida a preponderância das fontes internas no DIP: lei, doutrina e jurisprudência.

a) LeiA norma de DIP, corporificada em dispositivo legal teve início discreto nas codificações do séc. XIX, com destaque

ao Código de Napoleônico. A evolução da codificação do DIP no séc. XIX se completa com o BGB, 1896, que foi precedido por uma lei de introdução, o EGBGB.

O Brasil seguiu o exemplo germânico, tendo uma LICC.Atualmente, foram criadas novas leis, em maior número de regras, mais detalhadas e específicas.

b) DoutrinaEm nenhum campo do direito a Doutrina tem tanta desenvoltura como no DIP, em razão da parcimônia do legislador,

desempenhando um duplo papel: intérprete da jurisprudência, formulando princípios e servindo de seu guia e orientador.

c) JurisprudênciaDiante do laconismo do legislador da maioria dos países europeus e da lentidão com que as fontes internacionais

criam regras de solução, o papel do tribunal se desenvolveu sobremaneira. Mas, no Brasil, ‚ ainda muito reduzida a atividade internacional, daí a escassez em sede jurisprudencial, raras são as questões que surgem diante de nossos tribunais.

d) Fontes internacionais: tratados e convenções, jurisprudência internacional e princípios gerais.Os tratados e convenções se consubstanciam em diplomas internacionais de 3 categorias: convenções contendo regras

unificadoras de solução de conflito de leis (DIP uniformizado, p.ex., Tratado de Montevidéu, CBUST); convenções que aprovam lei uniforme para atividades de car ter internacional (Transporte marítimo e aéreo); convenções que contém lei uniforme visando unificar a legislação interna (p.ex. LUG).

Não obstante, poderão surgir conflitos entre fontes, i.e, coque entre fonte interna com a fonte internacional. A lei interna indica uma solução para determinado conflito e um tratado ratificado pelo país indica outra. Considerando-se que este conflito pode se dar entre uma lei anterior e um tratado posterior e vice-versa. Para solução do problema surge o debate entre dualistas e monistas.

A teoria dos dualistas defende que não há na realidade conflito entre o sistema interno com o internacional, porque são distintos, regem relações diversas, donde não haver sobreposição de sistemas, mas mero tangenciamento.

Os monistas não admitem dois sistemas jurídicos paralelos, um independente do outro. As relações de direito interno e internacional convergem, superpõe-se, pois a ordem jurídica é una. Ora defendendo que prevalece a ordem interna é internacional, ora preferindo a ordem internacional, ou, finalmente, dependendo da ordem cronológica de ambas. No BR, o tratado ingressa, depois de ratificado e publicado, na ordem interna como norma infra-constitucional (revogando leis anteriores em sentido contrário). São fases de um tratado até sua incorporação: negociação (relações internacionais do Estado), assinatura, ratificação, promulgação, registro e publicação.

Fontes de DIPa) Nacional

- Principal fonte: a Lei- Doutrina – mais importante que a jurisprudência uma vez que existe pouca jurisprudência na área de DIP.- Jurisprudência – previsão 102 e 105, Constituição Federal.- Princípios gerais- Analogia - na ausência de lei recorre a analogia

b) Internacional- Depois de internalizadas passam a ser domésticas- Tratados- Convenções: Varsóvia, Las Leñas, etc.- Fonte básica: legislação – LICC, CPC, Constituição Federal, Estatuto do Estrangeiro- Princípios Gerais de direito internacional.

e) O problema da “lex mercatoria”Muitos autores têm defendido a existência de um direito autônomo e verdadeiramente internacional, produzido no

âmbito do comércio internacional. Trata-se de usos e costumes forjados na prática das relações econômicas de circulação internacional de bens e serviços que acabam sendo consolidados por entidades não estatais como a ICC (p. ex. incoterms). Este direito seria consagrado em procedimentos arbitrais internacionais. Na doutrina nacional, não se admite este direito verdadeiramente autônomo, devendo ele estar submetido à ordem pública nacional.

QUESTIONÁRIO:

1. Apontar se a norma é direta, indireta ou qualificadora, indicando tb/ a estrutura.

Art. 7º LICC: “A lei do país em que for domiciliada a pessoa (elemento de conexão) determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família (objeto de conexão).

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Art. 7º, §4º, LICC: “O regime de bens, legal ou convencional (objeto de conexão) obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio (elemento de conexão).

Art. 8º, §1º: elemento conexão; objeto conexão.

15. Preceitos Básicos de DIP15.1. Ordem Pública

a)Conceito: O DIP indica o sistema jurídico que regulará o conflito de interesses. O DIP pode remeter ao direito estrangeiro,

que, entretanto, não será aplicado se ofender a ordem pública nacional (LICC, art. 17). A reserva de ordem pública é uma cláusula de exceção que se propõe a corrigir a aplicação do direito estrangeiro,

quando este leva, no caso concreto, a um resultado incompatível com os princípios fundamentais da ordem jurídica interna” (RECHSTEINER).

“Denega-se, no Brasil, efeito ao direito estrangeiro que choca concepções básicas do foro, que estabelece normas absolutamente incompatíveis com os princípios essenciais da ordem jurídica do foro, fundados nos conceitos de justiça, de moral, de religião, de economia e mesmo de política que ali orientam a respectiva legislação. É uma noção fluida, relativíssima, que se amolda a cada sistema jurídico, em cada época, e fica entrega à jurisprudência em cada caso” (VALADÃO).

Por esta razão, a ordem pública é normalmente estipulada e protegida por lei, como é o caso da ordem constitucional (organização fundamental do Estado), da família, da concorrência, do direito do consumidor, do crime, etc. A idéia é que quanto mais a questão se aproximar do direito doméstico, maior a necessidade de compatibilidade com o seu conteúdo

b)NaturezaA ordem pública é uma “cláusula geral”, ou seja, uma norma legal dotada de “conceitos jurídicos indeterminados”,

ou seja, cujo texto é caracterizado pelo elevado grau de vagueza semântica, para que o julgador possa, em cada caso, ponderar as circunstâncias e criar uma norma jurídica específica. É um elemento de interconexão do direito com outros subsistemas sociais (política, economia, etc).

c)Casuística STFO STF tem uma longa casuística sobre a ordem pública, como avaliaremos quando estudarmos a homologação de

sentença estrangeira.Ex.: Dívidas de jogo contraídas no estrangeiro não podem ser cobradas no Brasil, uma vez que aqui não se reconhecem as dívidas de jogo. É contra a ordem pública brasileira.

O que acontece quando o direito estrangeiro recomendado pela norma de DIP não for aplicável? Aplica-se o direito nacional.

Costuma-se ainda falar em reservas gerais e reservas especiais. Gerais são as que excluem definitivamente a aplicação do direito estrangeiro e especiais quando a reserva disser respeito a apenas uma matéria ou um ponto desta (LICC, art. 7º, §6º).

d)Modalidades A doutrina internacionalista costuma distinguir ordem pública interna e internacional, alegando que apenas esta

última lhe interessa. Esta discussão parece de pouca relevância prática, pois a ordem pública de DIP é definida, como não poderia deixar de ser, a partir do direito interno. De relevância prática seria se considerar para seus efeitos, princípios jurídicos derivados do direito internacional, consubstanciados em tratados e costumes internacionais.

- nacional: deriva da Constituição Federal- internacional: deriva da ordem jurídica internacional – convenções, tratados

15.2. Fraude à Leia)Conceito: A fraude à lei consiste em uma simulação no âmbito do direito internacional para produção de efeitos jurídicos indesejados pela ordem doméstica, como acontecia, muitas vezes, quando brasileiros se divorciavam no exterior diante da proibição nacional (antes de 1977); alguns exemplificam ainda com paraísos fiscais; simulação do local da proposta em um país que admite a escolha do direito aplicável a uma relação contratual; seqüestro de crianças.

b) Requisitos

São três os pressupostos:

Evitar a aplicação de normas substantivas de direito interno e excepcionalmente externo; Manobra legal extraordinária para obter o resultado desejado; Transferindo atividades e praticando atos no exterior, onde a legislação seria mais branda.

15.3. ReenvioA remissão do DIP ao direito estrangeiro pode ser de duas formas: a) ou se aplica a totalidade do direito alienígena,

sejam as regras substanciais, sejam as conflituais; b) ou se aplicam apenas as regras de direito material estrangeiras. Na primeira hipótese, poderiam acontecer algumas situações paradoxais (reenvio), ou seja, o DIP nacional indica como

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aplicável o direito estrangeiro e o DIP estrangeiro indica como aplicável o direito do país originário (claro que se o DIP estrangeiro entender que o seu direito substancial seria o aplicável não haveria problema).

No Brasil, o reenvio não acontecerá, pois é princípio assente que o envio para o direito estrangeiro limita-se às regras de direito material, excluídas, portanto, as regras de DIP alienígenas, salvo hipóteses de conflitos de leis no tempo no exterior.

Ex.1: Contrato de representação celebrado na Itália entre representante brasileiro e fábrica italiana, com execução no Brasil. A LICC brasileira diz que a legislação competente é a do local da celebração do contrato e a LICC italiana diz que é a legislação competente é a do local da execução do contrato.

Representante – NH Fábrica – Itália

O Brasil remete o direito (e não o processo) à Itália e a Itália reenvia ao Brasil. Na Itália existe o reenvio. No Brasil não reenvio, portanto se voltar o Brasil ignora a LICC e não reenvia o direito.

Ex.2: Contrato de representação celebrado na Itália entre representante brasileiro e fábrica italiana, com execução na França. A LICC brasileira diz que a legislação competente é a do local da celebração do contrato e a LICC italiana diz que é a legislação competente é a do local da execução do contrato.

15.4. Alteração de Estatuto Ou Conflito MóvelOcorre em hipóteses em que se altera o direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com conexão

internacional. Mais especificamente, significa que se alteram os fatos pelos quais são definidos os elementos de conexão no caso concreto, havendo, por conta disso, alteração de estatuto (regime jurídico aplicável) – ex. alteração de domicílio, naturalização. Neste caso, o DIP não muda, mas o direito substancial aplicável, sim.

A doutrina distingue entre estatuto de entrada e conflito móvel de saída. O primeiro é o direito substantivo interno, quando, anteriormente, seria aplicável o direito material estrangeiro. Isso aconteceu porque mudaram os fatos. Alteram-se as relações com o direito interno, dada uma maior proximidade dos fatos com ele. A alteração de saída não é muito tratada pelo direito doméstico pois envolve a perda de uma regulação do direito doméstico pela ocorrência de fatos inversos aos antes elencados.

Duas maneiras de mudar o Estatuto Pessoal:- mudar a LICC- mudar o domicílio

15.5. Direitos AdquiridosA doutrina dos direitos adquiridos se aplica também no âmbito das relações internacionais privadas com a diferença

de que há que atentar aqui, para a ordem pública.

15.6. Adaptação/ TransposiçãoPode acontecer que a remissão ao direito estrangeiro cause iniqüidades e tenha o juiz que adaptar a norma indireta

para que seja aplicável um direito material de maneira justa. De outro lado, pode acontecer que se tenha que aplicar a lei nacional a um instituto não reconhecido do direito pátrio. Neste caso, o julgador deve fazer uma transposição para a ordem interna, buscando manter, na medida do possível e nos limites da ordem pública, hígido o espírito do instituto alienígena (p. ex. “trust”, que pode virar um fedeicomisso, um negócio fiduciário de gestão, etc).

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LICC Brasileira diz que a legislação

aplicável é a do local de celebração do contrato (Itália).

LICC Italiana diz que a legislação

aplicável é a do local de execução do

contrato (Brasil).

RepresentanteBrasil

CelebraçãoFábrica - Itália

ExecuçãoFrança

LICC Brasileira diz que a legislação aplicável é a do

local de celebração do contrato (Itália).

LICC Italiana diz que a legislação aplicável é a do

local de execução do contrato (França).

A legislação Francesa será a

aplicável.

Remete ao direito italiano Reenvio do direito

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16. Regras de Conexão16.1. Estatuto Pessoal – Regra do domicílio

O estatuto pessoal da pessoa física determina o direito aplicável as suas relações pessoais de direito privado com conexão internacional (art. 7º, LICC). O que pertence ao campo das relações pessoais é matéria para o DIP de cada país (no nosso caso envolve o nome, os direitos de personalidade, a capacidade civil, a personalidade jurídica e o direito de família. O elemento de conexão do Brasil e da maioria dos países hoje é o domicílio, mas alguns países continuam afeitos à regra da nacionalidade. Para definição do domícilio, o intérprete deve recorrer aos parágrafos 7º e 8º e aos artigos 70 e seguintes do NCC. Domicílio é a residência com ânimo; pode haver mais de um domicílio (domicílio pessoal vs. profissional).

a) Estatuto Pessoal – domicílio – art.7°Art. 7°, LICC – questões relacionadas a regras sobre o inicio e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

Ex.1 Sujeito nasceu no México, trabalha numa multinacional Francesa localizada no Irã. Lá tem seu domicilio profissional. De férias no Brasil, se apaixonou, comprou um terreno no Brasil para passar férias e não para morar. Tem 18 anos de idade. A maioridade no México é 21 anos. Para conflitos quanto a capacidade o direito utilizado é o do domicílio. Utilizar-se-á, portanto, o direito iraniano.

Ex.2: Argentino que vem trabalhar e morar no Brasil. Fez cirurgia de troca de sexo e em função disso precisa trocar de nome. Será utilizado o direito brasileiro, uma vez que seu domicilio é no Brasil.

b) Estatuto Pessoa Jurídica – incorporação – art. 11Deve-se saber onde a empresa foi constituída.

Art.11 da LICC: As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem a lei do Estado em que se constituírem.

OFF Shore- não é ilícito – empresas constituídas em paraísos fiscais

c) Obrigações Arts. 427, 428, 429 CPCContrato = oferta e aceitaçãoProposta = declaração de vontadesAceitação = OK

Contratos entre presentes – celebração – art.9°, caputArt. 9°: para aplicar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.

Contratos entre ausentes – proponente – art.9°,§2°Art.9°,§2°: A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente.

Opções para determinar a lei que será aplicada.a. Colocar data, assinatura e local de qual se quer o direito.b. Fazer cláusula de eleição de lei – sistema jurídicoc. Fazer cláusula de eleição de foro – quem vai julgard. Clausula de arbitragem – melhor opção.

16.2. Lei do ImóvelNo direito imobiliário, aplica-se a lei do local onde o imóvel em litígio está situado (aquisição, perda, posse, etc) – art.

8º da LICC.

Art. 8°, LICC: Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. §1°: Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens móveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.§2°: O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada.

Responsabilidade Civil – local do fatoNão está disciplinada na LICC. Definido pela doutrina.

16.3. Local do Cometimento do DelitoA lei aplicável seria a lei do local onde o ato ilícito foi cometido. Atualmente, a doutrina internacional vem aceitando

que o local da prática do ilícito seja onde seus efeitos sejam sentidos e não estritamente o local da prática do fato.

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17. Nacionalidade17.1. Nacionalidade e DIP

Sabe-se que é controvertida a inclusão da matéria de nacionalidade no âmbito do objeto de estudo do DIP. Pontes de Miranda, por exemplo, entende que a nacionalidade é direito substantivo e público (são normas diretas). Entretanto, DOLINGER admite a inclusão da nacionalidade no objeto do DIP: 1), primeiro, por uma questão de tradição jurídica; 2) segundo, por conveniência/afinidade, entendendo que a nacionalidade afeta a aplicação das normas de DIP e afeta a ligação do sistema jurídico nacional com estrangeiros e com sistemas jurídicos de outros países; 3) terceiro, porque a matéria não é costumeiramente tratada no direito constitucional.

Nacionalidade é um assunto de política legislativa/constitucional interna, de sorte que existirão tantos direitos de nacionalidade quanto forem os estados soberanos, cada qual definindo o seu critério de atribuição de nacionalidade – o que pode conduz a dupla nacionalidade inclusive.

17.2. Sociologicamente, é um assunto da ordem do dia, pelo fluxo migratório, globalização, empobrecimento dos países subdesenvolvidos.

17.3. ConceitoÉ o vínculo jurídico que liga o indivíduo ao Estado (CF, 12); existe a dimensão vertical, que a ligação do indivíduo

com o Estado; e a dimensão horizontal, i.e., comunitária (sociológica). Não se confunde com a cidadania, que são os reflexos políticos da nacionalidade (CF, 14) – direitos políticos de votar e ser votado.

17.4. Importância prática: atribuição do status de nacional; aspectos protetivos em comparação com o estrangeiro.

17.5. Aquisição da nacionalidade. É de dois tipos: originária (nascimento) e derivada (naturalização).

a) Aquisição originária

Dois critérios:

ius soli (nacionalidade é adquirida pelo nascimento em solo de determinado país – escolha de países de grande contingente imigratório, como o Brasil); nascer no país já basta

ius sanguinis (nacionalidade dos pais; preferência de países emigratórios como a Itália). Muitas vezes há combinação dos dois critérios no sistema legal de um país. não basta apenas nascer no país

Sobre o direito positivo brasileiro, ver CF, 12, I, que trata dos brasileiros natos (a) regra geral do ius soli, salvo filhos de diplomatas, cônsules, pessoas – qualquer um dos pais - a serviço de seu país; (b) exceção de ius sanguinis – filhos nascido no estrangeiro de pai ou mãe a serviço do Brasil no exterior; (c) outra exceção de ius sanguinis – filhos de pais brasileiros, nascidos no exterior, que não estavam a serviço do país, quando estes fixarem residência no país e optarem pela nacionalidade brasileira. Trata-se, portanto, de um regime eclético, pois mistura ambos os critérios do DIP para atribuir nacionalidade. Havia originalmente um dispositivo que foi suprimido da CF que tratava de brasileiros registrados no exterior em repartição brasileira, pois fazia distinção entre pessoas registradas no exterior, mas que nunca vieram ao país (nacionais), e pessoas que aqui residiam (estrangeira). A Lei 818/49 teria ainda uma quarta hipótese de nacionalidade que seria a aquisição de nacionalidade brasileira por pessoa que nasceu no país, sendo filho de um brasileiro (a) e de um oficial a serviço do governo estrangeiro, desde que tenha optado para tanto. A doutrina entende inconstitucional este “aumento” das hipóteses constitucionais.

b) Aquisição derivada

Em princípio, existe liberdade de escolha de alteração da nacionalidade, mas não se pode dizer que haja direito subjetivo a tanto, pois a naturalização é ato unilateral e discricionário de um determinado país (no exercício de sua soberania), que pode, portanto, conceder ou não nacionalidade a estrangeiro (salvo raras hipóteses de vinculatividade constitucional como o artigo12, II, b, da CF) – artigo 121 da Lei 6.815/80. É verdade que a Declaração Universal dos Direitos do Homem do ONU dispõe que a “ninguém será negado o direito de trocar de nacionalidade”, mas esta regra não é admitida na política interna dos países. As Convenções americanas são mais realistas (fazem depender a troca da nacionalidade de uma aceitação pelo país novo).

A naturalização é regulada pela CF, art. 12, II e pela Lei 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro). A regra é a naturalização comum da letra “b” do inciso II (ato unilateral e discricionário); a exceção é o ato vinculado da letra “a” do mesmo inciso. Tudo se passa perante o Conselho Nacional de Imigração (Lei 6.964/1981).

O naturalizado tem os mesmos direitos do brasileiro nato, salvo as hipóteses constitucionalmente previstas (CF, art. 12, §2º e §3º).

17.6. Perda da nacionalidadeRegulada pelo art. 12, § 4º, CF. São os casos da perda-punição (inciso I) e perda-mudança (inciso II). A perda-mudança supõe uma opção voluntária expressa na obtenção da nacionalidade estrangeira e renúncia da

nacional. Portanto, uma aquisição imposta por lei estrangeira não resulta perda da nacionalidade brasileira. Afinal, o que poderia fazer o nacional se o país estrangeiro como a Itália, por exemplo, conceder-lhe cidadania italiana. Por se tratar de uma norma restritiva o §4º, ele deve ser interpretado restritivamente e não ampliativamente. Dessa forma, somente o processo de naturalização (em que há renúncia) configura perda da nacionalidade brasileira.

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A perda-punição é uma pena pelo exercício de atividades nocivas ao interesse nacional. Ex.: estrangeiro que tenta matar o presidente.

A Constituição nada refere, mas naturalmente a fraude, falsidade documental na obtenção da naturalização acarreta obviamente perda de nacionalidade, já que “a ninguém é dado se beneficiar de sua própria torpeza” (artigo 112, §§ 2º e 3º da Lei 6.815)

17.7. Dupla NacionalidadeA pessoa adquire duas nacionalidades originariamente por critérios distintos, de diferentes legislações.

17.8. Nacionalidade da mulher casada Antigamente, a mulher que casava com o estrangeiro adquiria, ipso facto (sem qualquer opção), sua nacionalidade.

Atualmente, face à igualdade entre marido e mulher pela CF brasileira, não se admite mais no país esta regra, prevalecendo a regra da Convenção da ONU sobre a Nacionalidade da Mulher Casada em 1957.

18. Trabalho Estatuto do Estrangeiro: Quais os requisitos legais para entrada e saída do estrangeiro, dando ênfase à hipótese de extradição?

A principio deve-se buscar uma definição para o termo estrangeiro. Estrangeiro é todo aquele que não tem nacionalidade do Estado em cujo território se encontra, bastando, então, para adquirir ou perder a condição de estrangeiro, o deslocamento da jurisdição do Estado a que pertence.

O legislador brasileiro entende que o recebimento do estrangeiro no Brasil é um direito e não um dever da Nação.

A Constituição Federal de 1988 dispõe no art.5°, inciso XV, que “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”, repetindo no art. 23, inciso XV, a competência da União para legislar sobre “emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiro”.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos do Homem, dispõe em seu art. 13, alínea 2, que “Toda pessoa tem o direito de sair de qualquer país, inclusive de seu próprio, e de regressar a seu país”.

Em matéria de visto de entrada para estrangeiro o governo brasileiro segue política de reciprocidade, dispondo o Decreto 82.307 de 1978 que “as autorizações de vistos de entrada de estrangeiros no Brasil e as isenções e dispensas de visto para todas as categorias, somente poderão ser concedidas se houver reciprocidade de tratamento para brasileiros”.

A filosofia da atual legislação brasileira sobre a entrada e permanência de estrangeiro no Brasil inspira-se no atendimento à segurança nacional, à organização institucional e nos interesses políticos, sócio-econômicos e culturais do Brasil, inclusive na defesa do trabalhador nacional.

A Lei 6.815/80, a qual dispõe sobre a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, em seu artigo 10, faculta a dispensa de visto de turista ao nacional de país que dispense idêntico tratamento ao brasileiro, reciprocidade esta a ser estabelecida mediante acordo internacional.

Visto de Entrada

O art. 4° da Lei 6.815/80 dispõe que “Ao estrangeiro que pretenda entrar no território nacional poderá ser concedido visto: I – de trânsito; II – de turista; III – temporário; IV – permanente; V – de cortesia; VI – oficial; e VII – diplomático.

Não se concederá visto ao estrangeiro, segundo art. 7° da Lei 6.815: I – menor de 18 (dezoito) anos, desacompanhado do responsável legal ou sem a sua autorização expressa; II - considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais; III - anteriormente expulso do País, salvo se a expulsão tiver sido revogada; IV - condenado ou processado em outro país por crime doloso, passível de extradição segundo a lei brasileira; ou V - que não satisfaça às condições de saúde estabelecidas pelo Ministério da Saúde.

O visto de trânsito poderá ser concedido ao estrangeiro que, para atingir o país de destino, tenha de entrar em território nacional, sendo válido por uma estada de até dias improrrogáveis e uma só entrada.

O visto de turista poderá ser concedido a estrangeiro que venha ao Brasil sem finalidade imigratória, nem intuito de exercício de atividade remunerada. O prazo de validade do visto de turista será de até cinco anos, proporcionando múltiplas entradas no país, com estadas não excedentes a noventa dias, prorrogáveis por igual período, totalizando o máximo de cento e oitenta dias por ano.

O visto temporário poderá se concedido ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil em viagem cultural, viagem de negócios, na condição de artista, estudante, professor, cientista, dentre outras hipóteses elencadas no art. 13 das Lei 6.815/80.

O visto permanente poderá ser concedido ao estrangeiro que pretenda se fixar definitivamente no Brasil. A concessão do visto permanente poderá ficar condicionada, por prazo não-superior a cinco anos, ao exercício de atividade certa e à fixação em região determinada do território nacional.

Saída Compulsória do Estrangeiro

Não se exigirá visto de saída do estrangeiro que pretender sair do território nacional.

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Em matéria de remoção forçada da pessoa física do território de um país cabe distinguir os diversos institutos existentes, quais sejam:

a) Expulsão : é o processo pelo qual um país expele de seu território estrangeiro residente, em razão de crime ali praticado ou de comportamento nocivo aos interesses nacionais, ficando-lhe vedado o retorno ao país donde foi expulso.

b) Deportação : é o processo de devolução de estrangeiro que aqui chega ou permanece irregularmente, para o país de sua nacionalidade ou de sua procedência. Enquanto que na expulsão, a remoção se dá por prática ocorrida após a chegada e a fixação do estrangeiro no território do país, a deportação se origina exclusivamente de sua entrada ou estada irregular no país.

c) Repatriamento : corresponde à deportação. Deverá ser repatriado o estrangeiro que, dentro do prazo de seis meses, contados da data de seu desembarque, apresentar sintomas ou manifestações de doenças especificadas no art. 4° do Decreto 697/62.

d) Banimento : se aplica a cidadãos expelidos de sua pátria.

e) Desterro : é o confinamento dentro do território nacional.

f) Extradição : é o processo pelo qual um Estado atende ao pedido de outro Estado, remetendo-lhe pessoa processada no país solicitante por crime punido na legislação de ambos os países, não se extraditando, via de regra, nacional do país solicitado. Este instituto é estudado no direito penal internacional e no direito processual internacional.

A extradição poderá ser concedida quando o governo requerente se fundamentar em tratado, ou quando prometer ao Brasil a reciprocidade.

Não se concederá extradição, segundo art. 77 da Lei 6.815/80, quando: se tratar de brasileiro; o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente; o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando; a lei brasileira impuser ao crime a pena de prisão igual ou inferior a 1 (um) ano; o extraditando estiver a responder a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido; estiver extinta a punibilidade pela prescrição segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente; o fato constituir crime político; e o extraditando houver de responder, no Estado requerente, perante Tribunal ou Juízo de exceção.

Condições para concessão da extradição ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis

penais desse Estado; e existir sentença final de privação de liberdade, ou estar a prisão do extraditando autorizada por Juiz,

Tribunal ou autoridade competente do Estado requerente, salvo o disposto no artigo 82 da Lei 6.815/80.

Nenhuma extradição será concedida sem prévio pronunciamento do Plenário do Supremo Tribunal Federal sobre sua legalidade e procedência, não cabendo recurso da decisão.

Efetivada a prisão do extraditando, o pedido será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal. A prisão perdurará até o julgamento final do Supremo Tribunal Federal, não sendo admitidas a liberdade vigiada, a prisão domiciliar, nem a prisão albergue.

Se o Estado requerente não retirar o extraditando do território nacional no prazo de 60 dias, será ele posto em liberdade, sem prejuízo de responder a processo de expulsão, se o motivo da extradição o recomendar.

Negada a extradição, não se admitirá novo pedido baseado no mesmo fato.Quando o extraditando estiver sendo processado, ou tiver sido condenado, no Brasil, por crime punível com

pena privativa de liberdade, a extradição será executada somente depois da conclusão do processo ou do cumprimento da pena, ressalvado, entretanto, o disposto no artigo 67.

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