dinamicaˆ da variabilidade do sistema sub-corrente norte...
TRANSCRIPT
R Paulo Roberto da Silva Barros
Dinamica da Variabilidade do SistemaSub-corrente Norte do Brasil em Escalas
Sub-inerciais
Dissertacao apresentada ao Instituto Oceanografico
da Universidade de Sao Paulo, como parte dos
requisitos para obtencao do tıtulo de Mestre em
Ciencias, area de Oceanografia Fısica.
Orientador:
Prof. Dr. Ilson Carlos Almeida da Silveira
Sao Paulo2008
UNIVERSIDADE DE SAO PAULOINSTITUTO OCEANOGRAFICO
Dinamica da Variabilidade do Sistema Sub-correnteNorte do Brasil em Escalas Sub-inerciais
Paulo Roberto da Silva Barros
Dissertacao apresentada ao Instituto Oceanografico da Universidade de Sao Paulo,
como parte dos requisitos para obtencao do tıtulo de Mestre em Ciencias, area de
Oceanografia Fısica.
Julgada em / /
Prof. Dr. Conceito
Prof. Dr. Conceito
Prof. Dr. Conceito
“A mais profunda emocao e inspirada pelo senso
de misterio.”
Albert Einstein
Sumario
Agradecimentos iii
Resumo v
Abstract vii
Lista de Figuras xiii
Lista de Tabelas xiv
1 Introducao 1
1.1 Padroes de Circulacao do Atlantico Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 O Sistema Sub-corrente Norte do Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Deriva de Ekman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Variabilidade do Sistema SNB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.5 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2 Conjunto de Dados 13
2.1 Dados Utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Tratamento e Processamento das Series Temporais . . . . . . . . . . . . . 15
2.3 Tratamento dos Dados Hidrograficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3 Analise Estatıstica 28
3.1 Preambulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.2 O Escoamento Medio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.3 Funcoes Ortogonais Empıricas (EOF ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.3.1 Descricao do Metodo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
i
3.3.2 Os Modos Normais Estatısticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4 Analise Espectral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4 Analise Dinamica 43
4.1 Preambulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2 Estrutura Dinamica do Sistema SNB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2.1 Modos Dinamicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.2.2 Estrutura Dinamica do Jato Basico . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.2.3 Interpolacao Dinamica dos Dados Correntograficos . . . . . . . . 54
4.2.4 Estrutura Dinamica dos Modos Estatısticos . . . . . . . . . . . . . 57
4.3 Modelo Unidimensional de Instabilidade Baroclınica . . . . . . . . . . . 60
4.3.1 Formulacao do Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.3.2 Analise de Instabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.3.3 Condicoes Necessarias para Instabilidade . . . . . . . . . . . . . . 65
4.3.4 Os Campos de Entrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.3.5 Avaliacao das Condicoes Necessarias para Instabilidade . . . . . 68
4.3.6 Resultados da Analise de Instabilidade . . . . . . . . . . . . . . . 69
5 Consideracoes Finais 74
5.1 Sumario e Conclusoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
5.2 Sugestoes para Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Referencias Bibliograficas 81
ii
Agradecimentos
Primeiramente e meu maior agradecimento e para a minha famılia. Aos meus pais,
pela constante compreencao e incentivo, e com este documento ofereco como o re-
sultado e tambem uma justificativa desses anos difıceis onde estive muito ausente e
distante de voces. Agradeco a minha irmazinha Batatinha, que hoje nao e mais tao pe-
quenininha e tem aprontado bastante. Obrigado por me ouvirem, mesmo sem falar, na
minha silenciosa e confusa maneira de me expressar. Obrigado a minha esposa Joelma
e ao nosso pequenino Francisco que e luz dos nossos olhos e meu maior incentivo.
Amo voces!
Um obrigado ao meu atual orientador Ilson, pela oportunidade, pelo apoio, ideias
e ensinamentos passados, contribuindo para realizacao deste trabalho. Agradeco pela
paciencia por ter me aturado falando umas cem vezes por dia: “estou preocupado!” e
no fim das contas eu que acabei o deixando preocupado. Agradeco tambem ao Prof.
Paulo Polito pela grande ajuda na dissertacao, com as analises das series temporais e
importantes sugestoes oferecidas. Um Obrigado a Professora Adriene com a ajuda na
metodologia de analise das mares baroclınicas.
Um especial obrigado ao professor e amigo Luiz Carlos que sempre me incentivou,
apoiou e abriu portas na minha pequena, porem jovem carreira na oceanografia. Pelas
palavras de trabalho e licoes de vida aprendidas em longas conversas na UERJ.
A todos os amigos e colegas de faculdade e do mestrado que sempre me incentiva-
ram e deram grande forca durante processo. Poderia listar um monte de gente, mas
em especial devo agradecer a alguns. Primeiramente aos meus companheiros Diogo,
Rafael (sempre me salvando do sufoco nesta etapa final) e Joao, que com muito bom
humor demos os primeiros passos juntos na carreira profissional. Obrigado ao Fabrıcio
e Sandro pelos otimos momentos durante o primeiro ano do mestrado.
iii
Um grande obrigado ao pessoal do laboratorio pela grande ajuda nas dificuldades
encontradas nos trabalhos Rafael (Hey Joe), Filipe, Andre, Leandro (Brocolis), Leandro
Calado, Cayo, Ju, Thiago (Paquito) e Sueli pelas revisoes e ajuda no trabalho. Um
divertido obrigado ao Fabricio e Sandro que contribuıram com o alto astral durante o
primeiro ano do mestrado.
Aos meus grandes amigos, Hildebrando e Tadeu, pelas fugidas necessarias para
o surf, longas conversas jogadas fora, apoio nas horas difıceis, e faceis tambem. Ao
grande amigo Guto que tambem esteve sempre presente nos nesses ultimos anos. Obri-
gado Cris por todo o apoio durante os primeiros anos em Sao Paulo.
A Fundacao de Amparo a Pesquisa do Estado de Sao Paulo - FAPESP pelo apoio
financeiro creditado a esta pesquisa.
iv
Resumo
O Atlantico Tropical e a regiao de origem de feicoes como a Corrente do Brasil
(CB), Sub-Corrente Norte do Brasil (SNB) e a Corrente Norte do Brasil (CNB). Quando
o ramo sul da Corrente Sul Equatorial (CSE) atinge a costa brasileira, em torno de
15 S, origina a CB e SNB. Enquanto a estrutura vertical, transporte instantaneos e
variabilidade de transporte ja foram descritos na literatura, provavelmente, inexistem
informacoes sobre dinamica desta variabilidade do sistema de correntes na regiao. Esta
dissertacao visou a investigacao da dinamica da variabilidade de meso-escala do sis-
tema SNB. Almejou-se estimar se a estrutura dinamica associada ao jato basico da SNB
e ou nao semelhante aquelas de outras correntes de contorno oeste (CCO) do Oceano
Atlantico. Adicionalmente, buscou-se verificar se as ondas de meso-escala associadas
ao meandramento da SNB apresentam (ou nao) potencial de crescimento capaz de per-
turbar e descaracterizar o padrao do escoamento medio. Para tal, utilizou-se o conjunto
de dados da Universidade de Kiel (Alemanha), oriundo do Fundeio K2 instalado loca-
lizado em 1022,8’ S e 03540,8’ W, no perıodo entre fevereiro de 2002 a maio de 2003.
Tambem empregou-se dados da radial hidrografica com perfilagens por CTD e LADCP
de marco a abril de 2000. Atraves de analise de modos normais, observou-se que
a SNB apresenta estrutura dinamica distinta das outras CCOs do Oceano Atlantico.
Pelo menos os quatro primeiros modos dinamicos sao necessarios para reproduzir
corretamente a variacao vertical de velocidade da SNB. A caracterizacao da estrutura
das ondas de meso-escala foi feita a partir da analise de funcoes ortogonais empıricas
(EOF) na componente ao longo do jato medio verticalmente. Apenas um modo EOF
e estatisticamente significante ao nıvel de 95% e, este, explica 74% da variancia total
das series correntograficas. A estrutura vertical do modo e demarcada por um de-
caimento monotonico da velocidade com a profundidade. Nao ha intensificacao em
v
nıvel picno ou subpicnoclınico, como no escoamento medio da SNB. A investigacao
do conteudo espectral da serie de amplitude do modo EOF nao revelou perıodos sig-
nificativos de oscilacao, representando, assim, um espectro vermelho, tıpico de series
envolvendo fluidos geofısicos. Entretanto, notou-se uma regiao de destaque no es-
pectro, com perıodos entre 40 e 90 dias. Atribuiu-se estas oscilacoes dominantemente
a ondas de vorticidade de meso-escala. Para investigar se estas ondas sao instaveis,
aplicou-se um modelo linear quase-geostrofico de instabilidade baroclınica. Os resul-
tados de sua aplicacao revelaram que as ondas sao essencialmente baroclinicamente
estaveis. No entanto, e evidente na serie temporal a ocorrencia de um unico evento,
em abril de 2002, que inverteu robustamente o escoamento de direcao. Tal evento nao
pode ser explicado pelos resultados do modelo simples aqui utilizado. Especulou-
se que este fenomeno possa estar associado a instabilidade barotropica em forma de
pulso, tais quais ocorrentes na Corrente das Agulhas. A natureza de nossos dados e
extensao temporal das series impediram maior investigacao deste fenomeno.
vi
Abstract
The Tropical Atlantic is the origin site of many important oceanic features like Bra-
zil Current (BC), the North Brazil Undercurrent (NBUC) and the North Brazil Current
(NBC). As the South Equatorial Current (SEC) reaches the Brazilian coast, near 15 S,
it originates the BC and NBUC. The vertical structure and instantaneous transports of
these currents have been reported in the literature, but there is no information about
dynamics of the variability of the current system in the region. This thesis therefore
aimed to investigate the dynamics of the mesoscale variability of the NBUC system. It
was also aimed to estimate whether the dynamical structure of the NBUC basic jet is
similar to the other western boundary currents (WBCs) of the Atlantic Ocean. Additi-
onally, it was sought the verification if the vorticity waves associated with the NBUC
meandering were capable of growing and dominating the flow pattern. In order to
approach those issues, a data set obtained by the Kiel University was used, in particu-
lar, the so-called deep-sea mooring K2 deployed at 1022.8’ S and 03540.8’W between
February 2002 and May 2003. A hydrographic transect composed of top-bottom CTD
and LADCP profiling from March-April 2000 was also used in this work. Using nor-
mal mode analysis, it was observed that the NBUC presented a dynamical structure
distinct from other WBCs of the Atlantic Ocean. At least the barotropic and the first th-
ree baroclinic modes are necessary to correctly reproduce the velocity vertical variation
typical of the NBUC. The characterization of the mesoscale vorticity waves was done
by using the empirical orthogonal function (EOF) analysis of the along-stream compo-
nent of the NBUC basic jet. Only one EOF mode was statically significant at the 95%
level and this mode explained about 74% of the total variance of the series. The EOF
mode vertical structure is marked by a monotonic decay in speed with depth. There
is no pycno or subpycnocline intensification as there is in the NBUC basic jet. The in-
vii
vestigation of the spectral content of the EOF mode amplitude time series revealed no
significant peaks. It is a red spectrum, typical of geophysical data. However, there is
a notable region of energy in the spectrum within the 40-90 days. This period band
was linked to the mesoscale vorticity waves. To investigate whether these waves are
unstable, a linear quasi-geostrophic baroclinic instability model was employed. The
model results suggested that the mesoscale waves are essentially baroclinically stable.
A single but rather robust event can be detected in the current time series suggesting
otherwise. This event occurred in April 2002 and was able to invert the NBUC velocity
direction. We therefore speculated that such event could be associated to a form of
barotropic instability in form of pulses, as observed in the Agulhas Current. The data
set available did not allowed further investigation of such kind of phenomenon.
viii
Lista de Figuras
1.1 Padroes de circulacao geostrofica de larga-escala para o Atlantico Sul. A figura
mostra o padrao da circulacao na camada compreendida entre 0-100 m (Modi-
ficado de Stramma & England [1999]). A localizacao da area de estudo e demar-
cada na caixa de borda azul. Enconram-se destacadas as seguintes correntes:
Contra-corrente Norte Equatorial (CCNE), Corrente Sul Equatorial com os ra-
mos norte(CSEn), equatorial (CSEe), central (CSEc) e sul (CSEs), Subcorrente
Equatorial (SE), Corrente Norte do Brasil (CNB), Contra-corrente Sul Equato-
rial(CCSE), Subcorrente Sul Equatorial (SSE), Corrente do Brasil (CB) Corrente
do Atlantico Sul (CAS) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Padroes de circulacao geostrofica de larga-escala para o Atlantico Sul. A fi-
gura mostra o padrao da circulacao na camada compreendida entre 100-500 m
(Modificado de Stramma & England [1999]). A localizacao da area de estudo e
demarcada na caixa de borda azul. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Padroes de circulacao geostrofica de larga-escala para o Atlantico Sul. A fi-
gura mostra o padrao da circulacao na camada compreendida entre 500-1200
m (Modificado de Stramma & England [1999]). A localizacao da area de estudo
e demarcada na caixa de borda azul. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.4 Padroes de circulacao geostrofica de larga-escala para o Atlantico Sul. A figura
mostra o padrao da circulacao na camada compreendida entre 1200-2500 m e
a circulacao de fundo, em torno de 3000 m (linha mais fina) (Modificado de
Stramma & England [1999]). A localizacao da area de estudo e demarcada na
caixa de borda azul. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.5 Secoes de distribuicao de velocidade observadas com LADCP em Novembro
de 1992 nas latitudes de 5 30´ S e 10 S [Stramma et al., 1995]. Valores em cm s−1. 6
ix
1.6 Secao media de cinco amostragens, entre 2000 e 2004, da distribuicao veloci-
dade along-stream, medidas com LADCP na latidudes de 11 S [Schott et al.,
2005]. As porcoes de velocidade para norte estao sombreadas. . . . . . . . . . 7
1.7 Media anual da corrente de Ekman de superfıcie (cm s−1) [Arnaut, 1987]. . . . 8
1.8 O painel superior apresenta a media anual das correntes inferidas por derivas
de navio em superfıcie (cm s−1). O painel inferior apresenta a media anual de
correntes geostroficas (cm s−1) [Arnaut, 1987]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.9 O painel a esquerda mostra a componente geostrofica, o painel central mostra
a deriva de Ekman de superfıcie e o painel a direita mostra a soma do fluxo
geostofico com a deriva de Ekman (“fluxo total”) [Silveira et al., 1994] . . . . . . 9
1.10 Mapa ilustrando a variacao das correntes de superfıcie para Fevereiro, Agosto
e Novembro. A linha em preto representa a posicao climatologica da ZCIT, tal
como a banda onde se encontram a Corrente Norte Equatorial (CNE), a Cor-
rente Sul Equatorial (CSE), a Contra-Corrente Norte Equatorial (CCNE), a Cor-
rente Norte do Brasil (CNB), a Corrente do Brasil (CB) e a Corrente da Guinea
(CG) Stramma & Schott [1999] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.11 Modos EOF de variabilidade de transporte , do sistema de correntes na latitude
de 11 o S [Schott et al., 2005]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.1 Secoes dos Cruzeiros dos N.Oc. Meteor e o N.Oc. Sonne e os fundeios na secao
em 11oS [Schott et al., 2005]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2 Disposicao geografica da linha de fundeios “K” da Universidade de Kiel (pai-
nel da esquerda) e estrutura do fundeio K2 utilizado neste trabalho. . . . . . . 15
2.3 Series brutas correntograficas do fundeio K2 com spikes removidos. . . . . . . 16
2.4 Series correntograficas da componente zonal e a correntes de mare, resultado
da analise harmonica, nos nıveis de 130 m, 310 m, 496 m, 906 m, 1405 e 1888 m. 18
2.5 Series correntograficas da componente meridional e a correntes de mare, resul-
tado da analise harmonica, nos nıveis de 130 m, 310 m, 496 m, 906 m, 1405 e
1888 m. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
x
2.6 Perfil batimetrico da radial onde os fundeios foram instalados. Adicionado a
este, encontra-se plotado o potencial de geracao de mare (α), obtido a partir do
modelo linear de geracao de mare interna. Considerou-se, nesta figura, a mare
M2 como a mais importantes para os calculos do modelo. . . . . . . . . . . . . 21
2.7 Funcoes de ganho para filtros ideais. Passa-Baixa, Passa-Alta e Passa-Banda
[Emery & Thomson, 1997]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.8 Serie temporal sintetica para exemplificacao e teste do filtro utilizado. Estao
representados os harmonicos correspondentes ao ruıdo branco e aos perıodos
de 6, 10, 20, 120 horas e o sinal modulado, respectivamente. . . . . . . . . . . . 23
2.9 No primeiro painel encontra-se a serie temporal sintetica, no segundo painel
o resultado do filtro (120 horas) e no terceiro painel o resıduo e a soma dos
harmonicos correspondentes aos perıodo de 6, 10, 20 horas. . . . . . . . . . . . 24
2.10 Series correntograficas da componente zonal removida a mare (azul) e series
filtradas (vermelho), nos nıveis de 130 m, 310 m, 496 m, 906 m, 1405 e 1888 m. . 25
2.11 Series correntograficas da componente meridional removida a mare (azul) e
series filtradas (vermelho), nos nıveis de 130 m, 310 m, 496 m, 906 m, 1405 e
1888 m. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.12 Secoes de temperatura e salinidade em 11 S do cruzeiro de marco-abril de 2000
ao longo da linha de fundeios “K”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.1 Fluxo medio calculado para todas os nıveis de profundidade medidos. O qua-
dro menor apresenta o fluxo medio das profundidades com direcao no qua-
drante norte (oito primeiros nıveis) e direcao no quadrante sul (dois ultimos
nıveis). Os vetores em amarelo representam o fluxo medio. . . . . . . . . . . . 30
3.2 Representacao da rotacao do fluxo medio em relacao ao eixo cartesiano orien-
tado na direcao norte-sul. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.3 Painel da esquerda: Perfil medio para a componente along-stream (v) do Fun-
deio K2. Painel da direita: Perfil medio para a componente cross-stream (u) do
Fundeio K2. Os seguimentos de reta apenas conectam os valores de v em cada
nıvel de observacao para facilitar a visualizacao do padrao vertical. . . . . . . 31
xi
3.4 Primeiro e segundo modos EOF para as series correntograficas do fundeio K2.
Os seguimentos de reta apenas conectam os valores dos autovetores em cada
nıvel de observacao para facilitar a visualizacao do padrao vertical. . . . . . . 36
3.5 Terceiro e quarto modos EOF para as series correntograficas do fundeio K2. Os
seguimentos de reta apenas conectam os valores dos autovetores em cada nıvel
de observacao para facilitar a visualizacao do padrao vertical. . . . . . . . . . 36
3.6 Serie de amplitude dos primeiros quatro modos EOF do fundeio K2. . . . . . . 37
3.7 Primeiros quatro modos EOF medios para as simulacoes de Monte Carlo. . . . 38
3.8 Comparacao entre o o resultado da analise EOF, do percentual da variancia
explicada por cada modo, pela serie real e pela simulacao de Monte Carlo. . . . 39
3.9 Espectro da serie de amplitude do Primeiro Modo EOF. A banda em azul re-
presenta o intervalo de confianca de 95 %. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.10 Espectro de energia integrado. Resultado obtido para a serie de amplitude do
primeiro modo EOF. A legenda indica as bandas subinerciais de grande escala
(> 100 dias) e de meso-escala (5-100 dias). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.1 Perfis da frequencia de estratificacao media N2 e dN(z)dz . . . . . . . . . . . . . . 45
4.2 Os primeiros seis modos dinamicos. O primeiro barotropico (ordem 0) e os
cinco baroclınicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.3 Painel da Esquerda: Secao de velocidade along stream [cm/s], coletada com
LADCP, na radial do fundeio. O ponto em verde representa o fundeio K2.
Painel da Direita: Comparacao do perfil de LADCP na localidade do fundeio
e do perfil medio das series correntograficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.4 Secoes da componente de velocidade along-stream reconstruıdas a partir da
recomposicao modal em comparacao ao campo obtido pelo LADCP. . . . . . . 53
4.5 Comparacao entre o perfil medio da componente de velocidade along stream e o
perfil medido com LADCP. Os pontos em vermelho representam a extrapolacao
realizada utilizando os perfil do LADCP. Os segmentos de reta conectando
os valores medios de v tem apenas o proposito de facilitar a visualizacao do
padrao vertical e nao se constitue de uma interpolacao. . . . . . . . . . . . . . 55
4.6 Interpolacao dinamica com a utilizacao de ate seis modos. . . . . . . . . . . . 56
4.7 Projecao dos modos dinamicos no primeiro modo EOF. . . . . . . . . . . . . . 59
xii
4.8 Painel da Esquerda: Secao de velocidade along stream [m/s], coletada com
LADCP, na radial do fundeio. O ponto em verde representa a localidade do
Fundeio K2. Painel da Direita: ∂2v∂x2 calculada para a secao de velocidade do
LADCP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.9 Comparacao entre ∂2v∂x2 (curva azul) e ∂
∂zf20N2
∂v∂z (curva vermelha). A curva ama-
rela representa a soma destas duas quantidades, ou seja, ∂q∂x . . . . . . . . . . . 68
4.10 O painel da superior esquerdo apresenta o perfil medio de N2, o painel supe-
rior esquerdo apresenta o gradiente zonal de vorticidade potencial, o painel
inferior esquerdo apresenta o perfil de velocidade interpolado dinamicamente
com quatro modos e o painel inferior direito apresenta gradiente vertical de
velocidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
4.11 Taxas de crescimento das ondas instaveis previstas pelo modelo. . . . . . . . . 71
4.12 Series brutas correntograficas do fundeio K2. A regiao em destaque evidencia
o perıodo onde ocorreu o evento em abril de 2002. Ressaltamos que os vetores
estao orientados nas direcoes along-stream e cross-stream. . . . . . . . . . . . . . 72
4.13 Series temporais da anomalia de velocidade. A regiao em destaque evidencia
o perıodo onde ocorreu o evento em abril de 2002. Ressaltamos que os vetores
estao orientados nas direcoes along-stream e cross-stream. . . . . . . . . . . . . . 72
xiii
Lista de Tabelas
2.1 Informacoes referentes aos fundeios realizados pelo Cruzeiro M47/1 do
Navio Meteor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2 Teoria linear de geracao de mare interna [Pereira et al., 2002]. . . . . . . . 20
4.1 O raio de deformacao barotropico e os quatro primeiros raios de deformacao
baroclınicos, expressos em km, para a latitude de 10,5 S. . . . . . . . . . 49
4.2 Raiz do erro medio quadratico normalizado (REMQ −N ) para a secao
de velocidade along-stream do LADCP e a reconstituicao desta a partir
dos modos dinamicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.3 Raiz do erro medio quadratico normalizado (REMQN ) para o perfil
medio da componente along-stream e dos perfis interpolados dinamica-
mente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.4 Raiz do erro medio quadratico normalizado (REMQN ) para o perfil de
amplitude do primeiro modo EOF e a projecao dos modos dinamicos. . 60
xiv
Capıtulo 1
Introducao
1.1 Padroes de Circulacao do Atlantico Sul
A circulacao oceanica de superfıcie em larga escala, no hemisferio sul, e dominada
pelos grandes giros oceanicos. Estes respondem a acao da tensao de cisalhamento que
os ventos exercem na superfıcie do oceano, e sao modificados pela circulacao termoha-
lina. Associadas aos giros subtropicais estao as correntes de contorno oeste (CCOs),
que sao caracterizadas por serem fluxos intensos, estreitos e bem definidos fluindo ao
largo das margens continentais [Silveira et al., 2000b].
A descricao e delimitacao das estruturas de grande escala no Oceano Atlantico Sul
podem ser realizadas com base na configuracao de quatro “camadas” propostas por
Stramma & England [1999]: 0-100 m, 100-500 m, 500-1200 m e 1200-2500 m.
Entre 0-100 m o giro subtropical do Atlantico Sul e limitado ao sul pela Corrente
do Atlantico Sul (CAS), fluindo para leste, e ao norte pela Corrente Sul Equatorial
(CSE), fluindo para oeste. Esta ultima da origem a Corrente do Brasil (CB), fechando
o giro subtropical, e a Corrente Norte do Brasil (CNB). Porem, devido a complexidade
da estrutura da Corrente Sul Equatorial (CSE), que se apresenta em varios ramos, a
localizacao exata da origem da Corrente Norte do Brasil (CNB) nao e bem definida
[Silveira et al., 1994]. A CNB se constitui na CCO que fecha o chamado giro equatorial,
de sentido horario. Assim, se a CB e de latitudes subtropicais, a CNB e a CCO de baixas
latitudes [Silveira et al., 1999]. Os padroes de circulacao do oceano Atlantico Sul, nessa
faixa de profundidade, encontram-se apresentados na Figura 1.1.
1
CAPITULO 1. INTRODUCAO 2
A camada compreendida entre 100 e 500 m apresenta a borda norte do giro subtro-
pical deslocada para sul, e menor extensao meridional, de cerca de 20 S de latitude
(Figura 1.2). De forma analoga, a camada compreendida entre 500 e 1200 m tambem
possui um deslocamento ainda mais para sul da borda norte do giro subtropical e uma
extensao meridional que nao ultrapassa 15 de latitude (Figura 1.3). Ou seja, a partir
do estudo de Stramma & England [1999], pode-se estabelecer que existe uma expressiva
baroclinicidade na estrutura dos giros subtropical e equatorial. Enquanto o primeiro
diminui em extensao meridional com o aumento da profundidade, o segundo se ex-
pande. O padrao oeste do giro equatorial se revela bastante complexo, onde entre 20
S e 5 S, a CCO se comporta como uma subcorrente: a Subcorrente Norte do Brasil
(SNB).
O limite da influencia do vento na circulacao e cerca de 1200 m, segundo Schmid
et al. [2000]. Abaixo deste, o padrao e amplamente dominado pela circulacao termoha-
lina, mais especificamente, pelo ramo central da celula de circulacao meridional do
Oceano Atlantico [Schmid et al., 1995].
Portanto, a camada entre 1200-2500 m, apresenta um padrao de circulacao diferente
das camadas acima, com a presenca da Corrente de Contorno Profunda (CCP), que se
estende desde o Mar de Labrador ate os limites austrais do Atlantico Sul (Figura 1.4).
Abaixo desta, em torno de 3000 metros, encontra-se a corrente de fundo fluindo mais
lentamente para norte.
1.2 O Sistema Sub-corrente Norte do Brasil
A secao anterior descreveu os padroes de grande escala do Oceano Atlantico Sul.
Nesta secao, o foco e a estrutura vertical e transporte das CCOs entre 5 S e 11 S.
Na literatura, existem divergencias acerca da bifurcacao da CSE e consequente-
mente, da origem da CB e CNB. Molinari [1983], atraves do acompanhamento de deri-
vadores de superfıcie, aponta a origem da CNB em torno de 8 S. Correntes inferidas
por deriva de navios sugerem a classica origem da CB nos entornos de 5 S [Richardson
& Walsh, 1986; Rennell, 1932]. Interpretacoes de Silveira et al. [1994] indicam que um
ramo da CSE atinge a costa brasileira em torno de 5 S, com transporte em torno de 15
CAPITULO 1. INTRODUCAO 3
Figura 1.1: Padroes de circulacao geostrofica de larga-escala para o Atlantico Sul. A figuramostra o padrao da circulacao na camada compreendida entre 0-100 m (Modificado de Stramma& England [1999]). A localizacao da area de estudo e demarcada na caixa de borda azul.Enconram-se destacadas as seguintes correntes: Contra-corrente Norte Equatorial (CCNE),Corrente Sul Equatorial com os ramos norte(CSEn), equatorial (CSEe), central (CSEc) e sul(CSEs), Subcorrente Equatorial (SE), Corrente Norte do Brasil (CNB), Contra-corrente Sul Equa-torial(CCSE), Subcorrente Sul Equatorial (SSE), Corrente do Brasil (CB) Corrente do AtlanticoSul (CAS)
Figura 1.2: Padroes de circulacao geostrofica de larga-escala para o Atlantico Sul. A fi-gura mostra o padrao da circulacao na camada compreendida entre 100-500 m (Modificadode Stramma & England [1999]). A localizacao da area de estudo e demarcada na caixa de bordaazul.
CAPITULO 1. INTRODUCAO 4
Figura 1.3: Padroes de circulacao geostrofica de larga-escala para o Atlantico Sul. A figuramostra o padrao da circulacao na camada compreendida entre 500-1200 m (Modificado deStramma & England [1999]). A localizacao da area de estudo e demarcada na caixa de bordaazul.
Figura 1.4: Padroes de circulacao geostrofica de larga-escala para o Atlantico Sul. A figuramostra o padrao da circulacao na camada compreendida entre 1200-2500 m e a circulacao defundo, em torno de 3000 m (linha mais fina) (Modificado de Stramma & England [1999]). Alocalizacao da area de estudo e demarcada na caixa de borda azul.
CAPITULO 1. INTRODUCAO 5
Sv, se direcionando para Norte. Entretanto, esses autores identificaram um escoamento
intenso, de nucleo em torno de 100-150 m, bordejando o talude continental a partir de
10 30´ S.
Segundo Stramma & Schott [1999], a Corrente Sul Equatorial e dividida em quatro
ramos: o ramo Sul (CSEs), Central (CSEc), Equatorial (CSEe), e Norte (CSEn). Stramma
& England [1999] descreveram o CSEs como fluxo largo e lento, em torno de 10 S e 25
S em 30 W. Apenas a CSEs se divide entre a CB e SNB, quando atinge a camada limite
oeste do Oceano Atlantico Sul. Entretanto, o CSEc atinge a costa brasileira em torno
de 5 S e seu transporte, adicionado a SNB, posiciona o nucleo da corrente resultante
em superfıcie. Essa e a estrutura comumente referida como CNB, que flui para o norte
acompanhado os contornos da costa nordeste e norte brasileira [Stramma et al., 1990;
Silveira et al., 1994], sendo a maior fonte de aguas quentes transferidas do hemisferio
sul para o hemisferio norte [Stramma & England, 1999].
Stramma et al. [1995] utilizando dados de ADCP, denominaram a CCO com nucleo
em subsuperfıcie de Sub-Corrente Norte do Brasil (SNB). Com base nos dados de
ADCP montado no casco do navio, em 10 S, estimou-se o nucleo da SNB em torno
de 200 metros com magnitudes maximas de 50 cm s−1. Em 10 S, os transportes de
volume calculados para dados hidrograficos e dados de “Lowered” ADCP (LADCP),
em Novembro de 1992, foram de 22,2 Sv (1 Sv = 106 m3 s−1) e 23,5 Sv, respectivamente.
As medicoes realizadas em 5 30´ S indicam o fluxo mais intenso com magnitudes
maximas em torno de 80 cm s−1, com o nucleo localizado em 150 m. A Figura 1.5 mos-
tra as secoes realizadas por Stramma et al. [1995] nas latitudes de 5 30´ S e 10 S obtidas
com medicoes de LADCP.
Schott et al. [2005] aprofundam o conhecimento sobre a SNB. Estes autores tambem
apresentam secoes de LADCP, adicionalmente a interpretacao de dados de fundeios
oceanograficos e secoes hidrograficas. Estes autores evidenciam o transporte associado
a SNB, de cerca de 25,7 Sv em 11 o S, confirmando que, nesta latitude, a SNB ja esta
formada e bem desenvolvida (Figura 1.6).
A estrutura de velocidades do sistema SNB esta associada a estrutura vertical de
temperatura e salinidade e, em ultima analise, as massas de agua. A camada de 0-100
m do Atlantico Tropical e ocupada por Agua Tropical (AT), quente e salina, com seu
CAPITULO 1. INTRODUCAO 6
Figura 1.5: Secoes de distribuicao de velocidade observadas com LADCP em Novembro de1992 nas latitudes de 5 30´ S e 10 S [Stramma et al., 1995]. Valores em cm s−1.
maximo de salinidade em subsuperfıcie. Abaixo desta, entre 100-500 m, encontramos
a Agua Central do Atlantico Sul (ACAS), formada na Convergencia Subtropical do
Atlantico Sul por processos de mistura e turbulencia vertical, que ultrapassa o equa-
dor tranportada pela CNB. Entre 500-1200 m, a SNB transporta a Agua Intermediaria
Antartica (AIA), demarcada pelo mınimo de salinidade nos diagramas T-S do Atlantico
Sul [Lippert & Briscoe, 1995]. A CCP transporta dominantemente Agua Profunda do
Atantico Norte, entre 1200-2500 m [Stramma & England, 1999].
O nucleo da CCP se situa em cerca de 2000-2500 m, podendo atingir velocidades
superiores a 0,2 m s−1. A Figura 1.6 apresenta a distribuicao seccional de um vortice
da CCP, de ocorrencia comum na regiao entre 5 30´ S e 11 S [Schott et al., 2005].
1.3 Deriva de Ekman
A influencia direta dos ventos na regiao do Atlantico Tropical e de grande im-
portancia para a circulacao de superfıcie, principalmente nos 50-100 m de profun-
didade, de tal forma que a deriva de Ekman precisa ser considerada na analise de
medicoes de velocidade realizadas no oceano.
CAPITULO 1. INTRODUCAO 7
Figura 1.6: Secao media de cinco amostragens, entre 2000 e 2004, da distribuicao velocidadealong-stream, medidas com LADCP na latidudes de 11 S [Schott et al., 2005]. As porcoes develocidade para norte estao sombreadas.
Padroes de deriva de Ekman podem ser obtidos a partir de conjuntos de dados
de vento e conversao em tensao de cisalhamento. Arnaut [1987] obteve tais padroes
(Figura 1.7) e comparou-os com correntes de superfıcie inferidas por derivas de navio.
A autora constatou que a assinatura das grandes correntes equatoriais sao fortemente
mascaradas pelas correntes de Ekman (Figura 1.8).
Em termos de feicoes de meso-escala, proximas ao contorno oeste, Silveira et al.
[1994] adicionaram a deriva de Ekman de superfıcie ao fluxo geostrofico obtido para
a Campanha Nordeste III da Marinha do Brasil (maio-julho de 1986), a fim de obter o
“fluxo total” (Figura 1.9). Suas interpretacoes indicam que, mesmo em escala sinotica,
a deriva de Ekman pode mascarar o padrao do fluxo geostrofico de superfıcie, corro-
borando com os estudos de Arnaut [1987], o que explicaria a origem da CNB ao norte
de 7 S.
CAPITULO 1. INTRODUCAO 8
Figura 1.7: Media anual da corrente de Ekman de superfıcie (cm s−1) [Arnaut, 1987].
Figura 1.8: O painel superior apresenta a media anual das correntes inferidas por derivasde navio em superfıcie (cm s−1). O painel inferior apresenta a media anual de correntes ge-ostroficas (cm s−1) [Arnaut, 1987].
1.4 Variabilidade do Sistema SNB
Diversos estudos tem abordado a variabilidade das correntes equatoriais em su-
perfıcie, relacionando-as com a variabilidade nos regimes de ventos.
Richardson & Walsh [1986], utilizando dados de deriva de navios, estudaram a vari-
abilidade das correntes do Atlantico Tropical. Em seus estudos, os autores mostraram
que a maior parte da variancia dos dados na regiao ao longo do contorno oeste possui
um perıodo anual.
CAPITULO 1. INTRODUCAO 9
Figura 1.9: O painel a esquerda mostra a componente geostrofica, o painel central mostra aderiva de Ekman de superfıcie e o painel a direita mostra a soma do fluxo geostofico com aderiva de Ekman (“fluxo total”) [Silveira et al., 1994]
Segundo Stramma & Schott [1999], o ciclo sazonal dos ventos e o sinal dominante
na variabilidade das interacoes entre o oceano e a atmosfera no Atlantico Tropical.
Os ciclos das correntes de deriva respondem diretamente as variacoes sazonais dos
campos de vento e a migracao da Zona de Convergencia Intertropical (ZCIT). Porem,
as caracterısticas da evolucao sazonal da localizacao da ZCIT, e as interacoes entre
oceano e atmosfera desse sistema, nao sao detalhadamente conhecidas. A inferencia
da variabilidade do sistema de correntes equatoriais atraves do uso de derivas de navio
tem sido amplamente empregada em oceanografia.
Com a ZCIT se movendo para norte da primavera ate o verao (boreais), as CNE e a
CSE se deslocam para Norte conforme a Figura 1.10. No verao boreal, os ventos de SE
ultrapassam o equador e a Corrente Norte do Brasil (CNB) retroflete gerando a Contra
Corrente Norte Equatorial (CCNE).
A variabilidade da estrutura dinamica da regiao foi abordada nos estudos de Polito
& Sato [2003], atraves da analise de dados de altimetria do TOPEX/Poseidon. Nesses
estudos, os autores descreveram a incidencia e propagacao de ondas de Rossby, com
perıodo em torno de 50 dias, entre 1 S e 10 S. A velocidade de grupo das ondas
descritas pelo autor e igual a zero, ou seja, as ondas sao estacionarias.
Enquanto a estrutura vertical e transporte instantaneos foram descritos na litera-
tura [Molinari, 1983; Silveira et al., 1994; Stramma et al., 1995; Stramma & Schott, 1999;
Stramma et al., 2003], o recente trabalho de Schott et al. [2005] abordou a variabilidade e
CAPITULO 1. INTRODUCAO 10
Figura 1.10: Mapa ilustrando a variacao das correntes de superfıcie para Fevereiro, Agosto eNovembro. A linha em preto representa a posicao climatologica da ZCIT, tal como a bandaonde se encontram a Corrente Norte Equatorial (CNE), a Corrente Sul Equatorial (CSE), aContra-Corrente Norte Equatorial (CCNE), a Corrente Norte do Brasil (CNB), a Corrente doBrasil (CB) e a Corrente da Guinea (CG) Stramma & Schott [1999]
os padroes de circulacao associados ao sistema SNB, a partir de dados de hidrograficos,
LADCP e fundeios correntograficos. Os autores apresentam padroes de variabilidade
do transporte das secoes correntograficas (Figura 1.11), calculados a partir de funcoes
ortogonais empıricas (EOF). Seus resultados mostraram que o primeiro modo EOF res-
ponde, claramente, pela variabilidade da SNB. Entretanto, os outros modos respondem
pela variabilidade da CCP e possivelmente estariam associados aos vortices apresen-
tados na Figura 1.6. O mesmo artigo ressalta esta atividade vortical associada a CCP,
onde foram encontrados perıodos de variabilidade em torno de 60 e 70 dias.
Apesar de contribuicoes ineditas acerca da variabilidade de meso-escala da SNB
apresentadas por Schott et al. [2005], faltam informacoes acerca da estrutura dinamica
desta corrente. Em outras palavras, o trabalho de Schott et al. [2005] apresenta uma
gama de analises envolvendo a variabilidade do transporte do sistema SNB. Entre-
tanto, existe uma lacuna a ser preenchida do ponto de vista da causa dinamica dos
processos associados a variabilidade do sistema SNB, passıvel de ser explorada pelo
mesmo conjunto de dados.
Estabelecemos assim, com base nas lacunas levantadas pela revisao bibliografica,
duas hipoteses a serem testadas. A primeira diz respeito a SNB apresentar (ou nao)
CAPITULO 1. INTRODUCAO 11
Figura 1.11: Modos EOF de variabilidade de transporte , do sistema de correntes na latitudede 11 o S [Schott et al., 2005].
composicao da estrutura dinamica similar as outras CCOs do Oceano Atlantico. A
segunda hipotese e que a variabilidade esta (ou nao) associada a ondas de vorticidade
de meso-escala com potencial para instabilidade. Ou seja, testar a hipotese de se as
ondas de vorticidade sao capazes de perturbar significativamente o escoamento da
SNB a ponto de inverter sua direcao junto ao talude via mecanismos dinamicos, tais
quais aqueles relacionados a instabilidade geofısica.
1.5 Objetivos
O trabalho proposto tem como objetivo avaliar a dinamica da variabilidade tem-
poral de meso-escala do Sistema Sub-corrente Norte do Brasil, atraves da analise de
series de correntes do fundeio localizado em 1022,8´ S e 3540,8´ W, em uma lamina
de agua de 2320 m, no perıodo entre fevereiro de 2002 e maio de 2003.
CAPITULO 1. INTRODUCAO 12
Os objetivos especıficos sao:
I. Estimar os padroes verticais dominantes de variabilidade do sistema SNB atraves
da aplicacao do metodos das EOFs;
II. Identificar a existencia de perıodos dominantes em escala sub-inercial do sistema
SNB atraves de analise espectral das series de amplitudes dos modos EOF estas-
ticamente significantes;
III. Determinar a estrutura dinamica do escoamento medio e dos modos EOF atraves
da projecao dos modos dinamicos ortonormais;
IV. Verificar se o sistema SNB e potencialmente baroclinicamente instavel atraves da
aplicacao do modelo unidimensional de instabilidade.
Capıtulo 2
Conjunto de Dados
2.1 Dados Utilizados
Os dados utilizados sao de origem da Universidade de Kiel (Alemanha), sob respon-
sabilidade do Dr. Friedrich Schott e Dr. Jurgen Fischer e disponibilizados no Banco
Nacional de Dados Oceanograficos da Marinha do Brasil (BNDO). Dados estes, do
Projeto CLIVAR (Climate Variability and Predictability), oriundos dos cruzeiros reali-
zados pelo N.Oc. Meteor e o N.Oc. Sonne entre 1990 e 2004. Nestes cruzeiros, foram
coletados dados hidrograficos de velocidade observada por ADCP montado no casco
do navio, LADCP e perfilador Pegasus. Foi tambem realizada uma radial de fundeios
equipada com ADCP e correntometros. A Figura 2.1 apresenta as secoes realizadas du-
rante os Cruzeiros dos N.Oc. Meteor e o N.Oc. Sonne e a posicao da linha de fundeios,
cuja latitude media e 11 S.
Os dados hidrograficos que utilizamos foram amostrados por CTDs dos modelos
Neil Brown NB3 ou Seabird SBE 9, com acuracia de 0,002 C - 0,003 C para tempera-
tura e 0,0020-0,0025 para salinidade. Neste trabalho em particular, so utilizamos dados
da secao em 11 S, realizada entre os dias 16 de marco de 2000 e 16 de abril de 2000,
por ser a unica tornada disponıvel a nos pelo BNDO.
Os dados de correntometria sao provenientes de cinco fundeios (K1-K5) instalados
em marco de 2000, no Cruzeiro do N.Oc. Meteor M47/1, em torno de 10 S e 11 S,
proximo a regiao da quebra da plataforma continental brasileira. Em novembro de
2000, foi realizada a manutencao dos fundeios K2 e K4 (Cruzeiro Sonne 151). Toda a
radial do fundeio foi recuperada e trocada em fevereiro de 2002 e mantida ate maio de
2003, quando houve novamente a manutencao (Cruzeiro S170). A retirada seguinte foi
13
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 14
Figura 2.1: Secoes dos Cruzeiros dos N.Oc. Meteor e o N.Oc. Sonne e os fundeios na secaoem 11oS [Schott et al., 2005].
realizada em agosto de 2004, no Cruzeiro M62/2.
Os fundeios foram equipados com Perfiladores Acusticos de Corrente (ADCP) proxi-
mos a superfıcie (na configuracao “upward looking”), e correntometros Sontek (Argo-
naut) e Falmounth Scientific Instruments (FSI) instalados nas camadas mais profundas.
Na Tabela 2.1 encontram-se as posicoes dos fundeios realizados pelo Cruzeiro M47/1,
do Navio Meteor. Na radial do fundeio foi realizada tambem uma radial hidrografica.
Tabela 2.1: Informacoes referentes aos fundeios realizados pelo Cruzeiro M47/1 doNavio Meteor.
Fundeio Latitude (S) Longitude (W) Profundidade (m)K1 1022,8’ 03551,8’ 550K2 1022,8’ 03540,8’ 2320K3 1036,7’ 03523,4’ 3520K4 1056,5’ 03459,5’ 4110K5 1128,2’ 03412,9’ 4600
Utilizamos neste trabalho o fundeio K2, localizado em 1022,8’ S e 03540,8’ W (em
vermelho na Figura 2.2). Este fundeio foi escolhido para realizacao das analises em
funcao de estar localizado na posicao do nucleo da SNB. As camadas medidas com
ADCP foram nas profundidades de aproximadamente 130 m, 150 m, 197 m, 240 m, 310
m e 353 m, e os correntometros foram instalados nas profundidades de 496 m, 906 m,
1405 m e 1888 m em uma lamina de agua de 2320 m. Vale ressaltar que os valores das
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 15
profundidades medidas sao medias devido a variacoes de profundidades da linha de
fundeio.
Durante o desenvolvimento do trabalho, foi utilizada uma radial de L-ADCP, unica
disponibilizada no BNDO.
−450
0−4
500−4000
−400
0
−350
0
−300
0
−2500−2000
−1000
40oW 38oW 36oW 34oW
14oS
12oS
10oS
8oS
40oW 38oW 36oW 34oW 14oS
12oS
10oS
8oS
0 50 100 150−4500
−4000
−3500
−3000
−2500
−2000
−1500
−1000
−500
0
Distancia [m]
Prof
undi
dade
[m]
Figura 2.2: Disposicao geografica da linha de fundeios “K” da Universidade de Kiel (painelda esquerda) e estrutura do fundeio K2 utilizado neste trabalho.
2.2 Tratamento e Processamento das Series Temporais
Para dar inıcio ao processamento dos dados de corrente e necessario que se faca um tra-
tamento basico, no qual filtros sao aplicados para eliminar ruıdos existentes nas series
brutas. Alem da eliminacao dos ruıdos, e necessaria uma filtragem para eliminacao de
sinais com frequencias especıficas de fenomenos de escalas diferentes das de interesse
(ou seja, as sub-inerciais) deste trabalho. Nesta etapa, a avaliacao desses fenomenos e
elucidativa, ainda que sejam relacionadas a variabilidade subinercial.
A aplicacao das tecnicas de analise das series temporais foi efetuada em todas as
series e nıveis utilizados no presente trabalho e sao descritas a seguir.
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 16
Remocao de Valores Espurios
Os spikes sao valores com magnitude das componentes das velocidades amostra-
das considerados fora dos padroes da regiao ou dados espurios, sendo, portanto, con-
siderados como ruıdos no conjunto de dados. E necessaria a identificacao e remocao
dos mesmos. Desta maneira, a primeira etapa foi a identificacao dos valores de veloci-
dade com magnitude superiores a 2 m s−1 e remocao destes valores das componentes
de velocidade. Posteriormente, comparamos cada dado na serie com a media, sub-
traindo ou somando 4 vezes o desvio padrao da serie. Se o dado foi menor ou maior,
respectivamente, esse e considerado spike e removido. Apos a remocao foi realizada
uma interpolacao linear para preencher os buracos nas series.
Identificamos poucos valores fora dos padroes da regiao, todos associados a pro-
blemas devido a eletronica do equipamento, com magnitude de 10 m s−1. Foram re-
movidos em torno de 0,15 % nas camadas medidas com ADCP e 0,45 % nas medidas
com correntometros, em ambas as componentes.
A Figura 2.3 apresenta as series brutas correntograficas do fundeio K2 com spikes
removidos.
01−Jan−2002 01−Apr−2002 01−Jul−2002 01−Oct−2002 01−Jan−2003 01−Apr−2003 01−Jul−2003
1 m.s−1
130m
150m
197m
240m
310m
353m
496m
906m
1405m
1888m
Figura 2.3: Series brutas correntograficas do fundeio K2 com spikes removidos.
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 17
Remocao do Sinal de Mare Barotropica
Desejamos agora dar inıcio a etapa de processamento e filtragem dos dados. Entre-
tanto, podemos acrescentar ao trabalho informacoes acerca dos fenomenos de menor
escala amostrados nas series que acontecem na regiao, como por exemplo a mare ba-
rotropica.
O fenomeno de mare e definido como a oscilacao periodica do nıvel de agua na
superfıcie do mar, sob influencia de forcas astronomicas. Essas oscilacoes ocasionam
movimentos horizontais de massa lıquida (correntes de mare) correspondentes a cada
ciclo de preamar e baixamar [Franco, 1966].
Foi realizada uma analise harmonica de mares nas series temporais das compo-
nentes zonal e meridional para cada nıvel de profundidade. Dessa forma, desejamos
identificar as principais constituintes de mare e suas respectivas amplitudes para, fi-
nalmente, realizar a remocao do sinal das correntes de mare. Para isso, utilizamos o
pacote T TIDE desenvolvido por Mike Foreman em 1977, e reescrito em codigo MatLab
por Pawlowicz et al. [2002].
Obtivemos assim as correntes de mare, as principais constituintes de mare e as
amplitudes associadas. Os resultados mostraram que as correntes de mare encontradas
sao de magnitude muito pequenas quando comparadas as das series totais. Os valores
de velocidade das componentes zonal e meridional encontrados se situaram em cerca
de 0,060 m.s−1 em magnitude. Nas series temporais correntograficas dos nıveis mais
profundos, abaixo de 496 m, as correntes de mare apresentam os menores valores de
magnitude relativamente aos nıveis mais proximos da superfıcie. As Figuras 2.4 e 2.5
exibem as series correntograficas das componentes zonal e meridional e as series das
correntes de mare, nos nıveis de 130 m, 310 m, 496 m, 906 m, 1405 e 1888 m.
Estimativa de Mare Baroclınica
A analise harmonica realizada para a estimativa das correntes de mare barotropica
e o ponto de partida para a avaliacao do potencial de geracao de mares internas.
A interacao das mares na plataforma continental e no talude dissipam energia
cinetica podendo dar origem a geracao de mares internas e ondas. Segundo Pereira et al.
[2002], as mares internas sao feicoes comuns em plataformas continentais e talude, in-
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 18
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal − Profundidade: 130 m
serie s/ maremare
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal − Profundidade: 310 m
serie s/ maremare
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal − Profundidade: 496 m
serie s/ maremare
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal − Profundidade: 906 m
serie s/ maremare
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal − Profundidade: 1405 m
serie s/ maremare
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal − Profundidade: 1888 m
serie s/ maremare
Figura 2.4: Series correntograficas da componente zonal e a correntes de mare, resultado daanalise harmonica, nos nıveis de 130 m, 310 m, 496 m, 906 m, 1405 e 1888 m.
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 19
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional − Profundidade: 130 m
serie s/ maremare
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional − Profundidade: 310 m
serie s/ maremare
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional − Profundidade: 496 m
serie s/ maremare
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional − Profundidade: 906 m
serie s/ maremare
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional − Profundidade: 1405 m
serie s/ maremare
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional − Profundidade: 1888 m
serie s/ maremare
Figura 2.5: Series correntograficas da componente meridional e a correntes de mare, resultadoda analise harmonica, nos nıveis de 130 m, 310 m, 496 m, 906 m, 1405 e 1888 m.
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 20
fluenciando a estrutura de massa e a circulacao em geral. Em nosso caso, o interesse em
conhecer a potencialidade deste fenomeno e entender a capacidade de “contaminacao”
pelo sinal das mares internas nao so nas series temporais, mas tambem nas medicoes
quasi-sinoticas de velocidade, temperatura e salinidade.
Subordinadamente, avaliamos neste trabalho a geracao e propagacao de mares in-
ternas associadas a estrutura de densidade local. Para a estimativa da mare baroclınica
utilizamos a teoria linear de geracao de mare interna usada por Pereira et al. [2002] e
desenvolvida por Baines [1973] e Craig [1987]. De acordo com esta teoria, o potencial de
geracao α pode ser calculado atraves da comparacao entre o parametro caracterıstico
da onda interna (c) e o gradiente do talude (s), dado por s = dhdx
:
α =s
c,
onde c e definido por:
c2 =w2 − f 2
N2 − w2,
e w e a frequencia da mare mais representativa da regiao, N2 e a frequencia de empuxo
junto ao fundo e f e o parametro de Coriolis.
A relacao entre α e o processo de geracao de mare interna encontra-se sintetizado
na Tabela 2.2.
Tabela 2.2: Teoria linear de geracao de mare interna [Pereira et al., 2002].
α Inclinacao do Talude Potencial de Geracao Propagacao< 1 Subcrıtico Pouco On- and Offshore= 1 Crıtico Otimo Ao Longo do Talude> 1 Supercrıtico Existente Descendo o Talude e Offshore
Como dito anteriormente, para o calculo e aplicacao do modelo linear de geracao
de mares internas, e necessario o calculo da frequencia de Brunt-Vaisalla ou frequencia
de empuxo (N2), obtida a partir dos dados de hidrografia na regiao do fundeio.
O calculo de N2 e muito ruidoso, pois as variacoes de densidade sao muito pe-
quenas, tanto na camada de mistura quanto em aguas profundas. A metodologia do
alisamento da frequencia de estratificacao sera descrita nos capıtulos seguintes.
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 21
Para o calculo de α precisamos da frequencia de empuxo junto ao fundo. Desta
forma, calculamos N2 para cada estacao e obtivemos o respectivo valor junto ao fundo.
O gradiente do talude foi calculado entre cada estacao hidrografica do cruzeiro de abril
de 2000.
Conforme a metodologia empregada por Pereira et al. [2002], a analise dos resulta-
dos do modelo linear de geracao de mares internas indicou pouco potencial de geracao
na regiao (Figura 2.6).
0 50 100 150 200
−4500
−4000
−3500
−3000
−2500
−2000
−1500
−1000
−500
0
Distancia [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
−1
−0.5
0
0.5
1
1.5
Pot
enci
al d
e G
erac
ao
Figura 2.6: Perfil batimetrico da radial onde os fundeios foram instalados. Adicionado a este,encontra-se plotado o potencial de geracao de mare (α), obtido a partir do modelo linear degeracao de mare interna. Considerou-se, nesta figura, a mare M2 como a mais importantespara os calculos do modelo.
Filtragem de 63 horas
Os resultados da analise harmonica para obtencao das correntes de mare barotropica
possibilitaram a remocao deste sinal nas series correntograficas, mas tambem tiveram
o intuito de avaliar sua importancia na circulacao local. Entretanto, alguns resıduos de
correntes de mare ainda poderiam estar presentes nas series, assim como sinais de alta
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 22
frequencia associados e que nao sao de interesse ao presente trabalho. A avaliacao do
potencial de geracao de mares internas na regiao do fundeio indicou baixo potencial
de geracao de mares internas na regiao e, embora esta analise nao indique a ocorrencia,
havendo a presenca do sinal de mares internas nas series correntograficas, estas foram
filtradas no decorrer desta etapa.
A aplicacao de filtros digitais e um passo muito importante na analise de series
temporais. Os filtros podem ser utilizados para o alisamento de series, mudancas de
fase dos sinais e remocao de determinadas flutuacoes em frequencias especıficas.
Os filtros ideais sao os filtros que possuem perda zero nas frequencias desejadas
(passa-banda) e nenhuma amplitude nas frequencias nao desejadas (para-banda). Os
filtros digitais podem ser classificados em passa-baixa, passa-alta ou passa-banda con-
forme a Figura 2.7. Entretanto os filtros ideais nao sao possıveis de serem realizados,
havendo uma zona de transicao entre os limites das bandas.
0
1
Filtro Passa Baixa
f0
1
Filtro Passa Alta
f0
1
Filtro Passa Banda
f
Pass band Pass band
Pass band
Stop band Stop band Stop band Stop band
fc fc fc1 fc2fn fn fn
Figura 2.7: Funcoes de ganho para filtros ideais. Passa-Baixa, Passa-Alta e Passa-Banda[Emery & Thomson, 1997].
Nesta etapa do trabalho temos como o objetivo remover oscilacoes de alta fre-
quencia das serie utilizando filtros do tipo passa-baixa como por exemplo o filtro de
media movel, o filtro Lanczos e o filtro Butterworth, todos utilizados amplamente em
oceanografia [Emery & Thomson, 1997].
A escolha do perıodo de corte do filtro foi escolhida em funcao do calculo do
perıodo inercial. A frequencia subinercial e definida por
| ω |<| f0 |,
onde | f0 |= 2, 78× 10−5s−1 na regiao do Fundeio K2. O perıodo inercial e, portanto,
T =2π
| f0 |= 62, 7h.
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 23
Desta forma, optamos por utilizar o filtro Butterworth com perıodo de corte de 63
horas.
A tıtulo de ilustracao e teste do filtro, elaboramos uma serie temporal sintetica com
perıodo de um ano com a composicao de frequencias correspondentes aos perıodos de
6, 10, 20 e 120 horas e um sinal de ruıdo branco. A Figura 2.8 apresenta, nos primeiros
5 paineis, os sinais das frequencias individuais, e no ultimo painel o sinal modulado.
A Figura 2.9 apresenta a serie sintetica (primeiro painel), resultado do filtro (segundo
painel) e o resıduo e a soma dos harmonicos correspondentes aos perıodo de 6, 10, 20
horas (terceiro painel). Percebemos que o filtro utilizado preservou o harmonico de
120 horas, sendo este o unico de interesse no presente estudo.
0 100 200 300 400 500 600 700 8000
0.5
1
0 100 200 300 400 500 600 700 800−1
0
1
0 100 200 300 400 500 600 700 800−1
0
1
0 100 200 300 400 500 600 700 800−1
0
1
0 100 200 300 400 500 600 700 800−1
0
1
0 100 200 300 400 500 600 700 800−5
0
5
Tempo [horas]
Figura 2.8: Serie temporal sintetica para exemplificacao e teste do filtro utilizado. Estaorepresentados os harmonicos correspondentes ao ruıdo branco e aos perıodos de 6, 10, 20, 120horas e o sinal modulado, respectivamente.
Feitos os devidos testes, realizamos a filtragem digital dos dados nas series de cor-
rente. As Figuras 2.10 e 2.11 apresentam as series temporais ja com o sinal de mare
removido e a serie apos a filtragem digital.
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 24
100 200 300 400 500 600 700 800−5
0
5
100 200 300 400 500 600 700 800−5
0
5
100 200 300 400 500 600 700 800−5
0
5
Tempo [horas]
Figura 2.9: No primeiro painel encontra-se a serie temporal sintetica, no segundo painel oresultado do filtro (120 horas) e no terceiro painel o resıduo e a soma dos harmonicos corres-pondentes aos perıodo de 6, 10, 20 horas.
2.3 Tratamento dos Dados Hidrograficos
O tratamento basico dos dados hidrograficos dispoe de tres etapas e tem como ob-
jetivo obter perfis de temperatura e salinidade sem picos (remocao de spikes), perfis
regularmente espacados (media em caixa) e que tenham gradientes suaves na vertical
(janela movel). Os spikes sao valores espurios ocasionados geralmente em funcao de
falhas de comunicacao entre os sensores do CTD e a unidade de controle. A media
em caixa consiste na promediacao dos dados em caixas com intervalos regulares de
profundidade. Nesse processo, gradientes de alta frequencia sao filtrados e atenuados.
A ultima etapa, o alisamento por janela movel, consiste em efetivamente suavizar os
dados, atenuando gradientes que nao sejam referentes aos movimentos de interesse,
visando a obtencao de perfis mais contınuos. Aqui, utilizamos um filtro de convolucao
com uma janela do tipo Hanning. O tamanho da janela foi escolhido de forma que os
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 25
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal [m s−1] − Profundidade: 130 m
May020
0.2
0.4
0.6
0.8Zoom
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal [m s−1] − Profundidade: 310 m
May020
0.2
0.4
0.6
Zoom
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal [m s−1] − Profundidade: 496 m
May020
0.2
0.4
Zoom
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal [m s−1] − Profundidade: 906 m
May020
0.1
0.2
0.3
Zoom
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal [m s−1] − Profundidade: 1405 m
May020
0.05
0.1
0.15
Zoom
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Zonal [m s−1] − Profundidade: 1888 m
May02
−0.1
0
0.1
0.2Zoom
Figura 2.10: Series correntograficas da componente zonal removida a mare (azul) e seriesfiltradas (vermelho), nos nıveis de 130 m, 310 m, 496 m, 906 m, 1405 e 1888 m.
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 26
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional [m s−1] − Profundidade: 130 m
May020
0.2
0.4
0.6
0.8
Zoom
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional [m s−1] − Profundidade: 310 m
May020
0.2
0.4
0.6
0.8
Zoom
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional [m s−1] − Profundidade: 496 m
May020
0.2
0.4
Zoom
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional [m s−1] − Profundidade: 906 m
May020
0.1
0.2
0.3
Zoom
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional [m s−1] − Profundidade: 1405 m
May020
0.05
0.1
0.15
0.2Zoom
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03−0.5
0
0.5
1Velocidade Meridional [m s−1] − Profundidade: 1888 m
May02
−0.05
0
0.05
0.1
Zoom
Figura 2.11: Series correntograficas da componente meridional removida a mare (azul) eseries filtradas (vermelho), nos nıveis de 130 m, 310 m, 496 m, 906 m, 1405 e 1888 m.
CAPITULO 2. CONJUNTO DE DADOS 27
gradientes verticais relevantes sejam preservados. Aplicamos uma janela com 21 pon-
tos. A Figura 2.12 apresenta as secoes de temperatura e salinidade. Detalhes sobre os
procedimentos de tratamento sao descritos por Mattos [2006].
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180−4000
−3000
−2000
−1000
0
Distancia [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
Temperatura [ ° C]
5
10
15
20
25
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180−4000
−3000
−2000
−1000
0
Distancia [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
Salinidade
33
34
35
36
37
38
Figura 2.12: Secoes de temperatura e salinidade em 11 S do cruzeiro de marco-abril de 2000ao longo da linha de fundeios “K”.
Capıtulo 3
Analise Estatıstica
3.1 Preambulo
A metodologia empregada no trabalho contempla, inicialmente, uma avaliacao e
aplicacao de tecnicas de analises de series temporais, seguido de uma filtragem dos
dados de forma a eliminar os fenomenos que fogem do interesse do estudo de meso-
escala, ou seja, utilizamos um filtro digital passa-baixa. Neste capıtulo, desejamos ava-
liar a variabilidade do sistema de correntes empregando o metodo de funcoes orto-
gonais empıricas (EOF) nas series filtradas. A avaliacao do resultado da analise EOF
sera seguida da analise espectral das series de amplitude dos principais modos, a fim
de identificar as escalas temporais dos fenomenos dominantes. O metodo das EOFs,
como sera detalhado ao longo do capıtulo, permite converter as series de nıveis corren-
tograficos em padroes verticais que variam temporalmente. Ressaltamos que um dos
objetivos desta dissertacao e justamente avaliar a estrutura dinamica da regiao ditada
pela estratificacao. No entanto, lida apenas com variabilidade e urge que conhecamos
o removamos o escoamento medio para poder aplica-la.
3.2 O Escoamento Medio
De posse dos dados devidamente filtrados, optamos agora, como ponto de partida,
avaliar o escoamento medio associado ao fundeio K2.
Considerando u a velocidade zonal (leste-oeste) e v a velocidade meridional (norte-
sul), o fluxo medio para cada componente e obtido simplesmente atraves do calculo
da media aritmetica de cada serie temporal.
28
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 29
Assim, e possıvel escrever as series em cada nıvel z de observacao como:
u(x0, y0, z, t) = u(x0, y0, z) + u′(x0, y0, z, t) (3.1)
v(x0, y0, z, t) = v(x0, y0, z) + v′(x0, y0, z, t), (3.2)
onde u e v representam o fluxo medio, e u′ e v′ as perturbacoes relativamente a esse
estado. O fundeio K2 esta situado nas coordenadas (x0, y0). A Figura 3.1 apresenta
o fluxo medio em todos nıveis de profundidade medidos. Os oito primeiros nıveis
correntograficos apresentaram o fluxo medio ocupando o quadrante norte. De forma
analoga, o calculo foi efetuado nos dois nıveis mais profundos, porem estes apresen-
tam o fluxo medio ocupando o quadrante sul.
Atraves do calculo do fluxo medio, identificamos uma direcao media de orientacao
dos dados seguindo as isobatas (aproximadamente NE-SW, ≈ 39o). Sendo assim, re-
solvemos trabalhar utilizando coordenadas naturais, rotacionando o eixo na direcao
do fluxo medio obtido na analise descrita acima, conforme mostra a Figura 3.2. Com
a nova notacao as componentes u e v passam a designar componente normal (cross-
stream) e paralela (along-stream) relativamente a corrente media temporal e vertical-
mente.
A estrutura vertical do fluxo medio da componente along-stream encontra-se no
painel esquerdo da Figura 3.3. Devido a orientacao do fluxo medio ser preferencial-
mente no sentido nordeste-sudoeste, o perfil obtido para a serie rotacionada e bastante
similar ao da serie orientada no sentido norte-sul. O fluxo medio na superficie e para
nordeste, podendo ser interpretado como sendo uma contribuicao da CNB, com valo-
res em torno de 0,58 m s−1. Por volta de 250 m de profundidade encontra-se a maxima
contribuicao da velocidade para nordeste (≈ 0,70 m s−1) associada ao nucleo da SNB.
O nıvel de inversao esta localizado, aproximadamente, em 1350 m e nos entornos de
1888 m encontramos uma pequena contribuicao para sudoeste, associada a Corrente
de Contorno Profunda (CCP), com valor maximo, neste fundeio, de aproximadamente
0,09 m s−1. No entando, e evidente que o escoamento basico along-stream do fundeio
K2 e, de fato, associado basicamente a SNB.
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 30
−500
−100
0
−200
0−3
000
30’ 36oW 30’ 35oW
11oS
40’
20’
10oS
30’ 36oW 30’ 35oW 11oS
40’
20’
10oS
0,5 m s−1
−500
−100
0
−200
0
−300
0
36oW 45’ 30’
24’
12’
10oS
36oW 45’ 30’
24’
12’
10oS
Figura 3.1: Fluxo medio calculado para todas os nıveis de profundidade medidos. O qua-dro menor apresenta o fluxo medio das profundidades com direcao no quadrante norte (oitoprimeiros nıveis) e direcao no quadrante sul (dois ultimos nıveis). Os vetores em amarelo re-presentam o fluxo medio.
y
x
y’
x’
α
α
θ
V
υ
u
Figura 3.2: Representacao da rotacao do fluxo medio em relacao ao eixo cartesiano orientadona direcao norte-sul.
O resultado do calculo do fluxo medio da componente cross-stream encontra-se no
painel direito da Figura 3.3. Devido a rotacao do eixo de coordenadas, como dese-
jado, o fluxo medio da componente cross-stream se diferencia consideravelmente do
fluxo medio obtido para a componente zonal, e as magnitudes encontradas sao muito
pequenas se comparadas aos da componente along-stream.
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 31
−1 −0.5 0 0.5 1
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
Velocidade [m/s]
Pro
fund
idad
e [m
]
−1 −0.5 0 0.5 1
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
Velocidade [m/s]
Pro
fund
idad
e [m
]
Figura 3.3: Painel da esquerda: Perfil medio para a componente along-stream (v) do FundeioK2. Painel da direita: Perfil medio para a componente cross-stream (u) do Fundeio K2. Osseguimentos de reta apenas conectam os valores de v em cada nıvel de observacao para facilitara visualizacao do padrao vertical.
3.3 Funcoes Ortogonais Empıricas (EOF )
3.3.1 Descricao do Metodo
No estudo da variabilidade do oceano e necessario lidar com uma grande quanti-
dade de dados no espaco, organizados em series temporais. E de grande interesse a
utilizacao de ferramentas para analise dos dados que permitam de forma otimizada
que a dinamica dos processos seja bem visualizada.
Uma importante ferramenta para compreensao da variabilidade dos fenomenos
oceanograficos atraves das series temporais e a tecnica da analise de funcoes ortogo-
nais empıricas (EOF).
Trabalhos como Denbo & Allen [1984], Owens [1985] e Lippert & Briscoe [1990] mos-
tram a aplicacao de funcoes ortogonais empıricas em fundeios visando estudos de va-
riabilidade vertical, alem da comparacao de diferentes formas de sua utilizacao.
A grande vantagem da analise EOF e o fato do resultado produzir uma descricao
reduzida da variabilidade espacial e temporal de series de dados em termos de funcoes
ortogonais ou modos normais estatısticos.
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 32
E importante ressaltar que usualmente a maior parte da variabilidade calculada
pode ser associada a mecanismos dinamicos. Porem, sendo uma analise estatıstica,
o resultado pode nao ter sentido fısico, e uma associacao direta, fısica ou matematica,
com a estatıstica da analise EOF pode ou nao ser verdadeira. O objetivo da EOF e calcu-
lar os modos de variabilidade atraves de solucoes empıricas baseadas estritamente no
conjunto de dados. Portanto, as fases de consistencia dos dados devem ser realizadas
com cautela.
O estudo de EOFs utilizando grandezas vetoriais pode ser realizado de duas ma-
neiras. A primeira e atraves da EOF vetorial, segundo Owens [1985] e Lippert & Briscoe
[1990], combinando as componentes das velocidades, u e v na representacao complexa:
V = u+ iv,
onde V representa a forma complexa da composicao das componentes de velocidade.
De forma que a componente u representa a parte real e a componente v representa a
parte imaginaria (i =√−1).
A outra maneira e a utilizacao da EOF escalar, considerando as componentes u
e v independentes (ortogonais) e nao correlacionaveis. Como rotacionamos os da-
dos, transferimos a maior parte da variabilidade das series para uma das componen-
tes, a componente along-stream. Assim, utilizamos apenas a esta componente para
a analise na forma escalar. De acordo com Lippert & Briscoe [1990], esse e o procedi-
mento mais usual e que apresenta menos restricoes quando as componentes nao sao
correlacionaveis. A seguir sera apresentado um resumo da teoria das EOF, adaptado
de Owens [1985] e Lippert & Briscoe [1990].
No caso do fundeio K2, retornamos as Equacoes 3.1 e 3.2, onde claramente as
variaveis independentes sao as profundidades dos instrumentos z e o tempo de amos-
tragem t. Os dados entao foram separados em matrizes as quais gostarıamos de repre-
sentar como uma combinacao linear de funcoes dos intervalos entre as medicoes t, e da
profundidade z. Assim, representamos a matriz Θzt, onde z e o ındice que representa
os nıveis medidos pelo ADCP e as profundidades dos correntografos, e t, o instante de
tempo. Dessa maneira,
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 33
zn = 1, 2, . . . N,
tm = 1, 2, . . .M,
onde N e o numero total de nıveis de profundidade medidos e M e a extensao da
serie temporal, ou seja, o numero de medicoes realizadas. Como dito anteriormente, e
necessario que se remova a media no tempo para que se permita interpretar a matriz
de covariancia e compreender os resultados. O objetivo e representar a matriz Θzt em
termos de uma expansao em modos normais de tal forma que,
Θzt =∑n
Antεnz, (3.3)
onde n e o ındice do modo estatıstico, equivalente ao numero de nıveis medidos. Ant
e a funcao amplitude e εnz e o autovetor, ou o modo normal, o qual satisfaz a condicao
de ortonormalidade
∑z
εnzεmz = δnm, (3.4)
onde δnm e o delta de Kronecker dado por
δnm =
1, m = n
0, m 6= n.
O objetivo da expansao e converter o conjunto de dados, formado por series tem-
porais individuais de cada nıvel de medicao, em uma serie de padroes verticais que
variam no tempo.
Na tecnica EOF, o conjunto de auto-vetores e escolhido em termos de um conjunto
de auto-funcoes empıricas que melhor se ajustam aos dados em termos de mınimos
quadrados. Para satisfazer tal condicao, constroi-se a matriz de covariancia cruzada
no “lag” zero (sem defasagem),
Czw =1
NM
M∑t=1
(Θzt −Θz)(Θwt −Θw), (3.5)
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 34
onde Θz(Θw) e a media temporal da z-esima (w-esima) serie. Os elementos da diagonal
sao,
Czz =1
NM
M∑t=1
(Θzt −Θz)2. (3.6)
O elemento Czz representa a variancia da matriz Θ no nıvel z dividido por N :
Czz =1
Nσ2
Θzt (3.7)
Em algebra linear, a soma dos elementos diagonais da matriz C e definida como o traco
de C, ou seja,
TrC =N∑z=1
Czz =1
MN
N∑z=1
M∑t=1
(Θzt −Θz)2. (3.8)
TrC passa a representar a variancia total dos dados.
Como qualquer matriz quadrada, C possui um conjunto de autovalores λn e um
conjunto de autovetores εnz, os quais sao definidos pela expressao
Cεn = εnλn, (3.9)
que representa a diagonalizacao da matriz [Strang, 1988].
O autovalor λn e obtido da seguinte maneira:
(C − λnI)εn = 0, (3.10)
onde I e a matriz identidade. O numero λn e o autovalor da matriz C se e somente se:
det(C − λnI) = 0. (3.11)
Cada solucao de λn possui um autovetor εn correspondente.
Combinando o resultado da definicao de autovetor, com a definicao de traco da
matriz C, obtem-se que a soma de todos os auto-valores e igual ao traco da matriz C,
expressa como
TrC =∑n
λn, (3.12)
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 35
ou seja, a variancia total da serie. Assim, podemos pensar em cada autovalor como
sendo representativo de uma certa porcao da variancia,
%σi2 =
λiTrC
× 100. (3.13)
A funcao amplitude da estrutura vertical do n-esimo modo e dada por,
Ant =N∑z=1
Θztεnz. (3.14)
Normalmente, em series oceanograficas, a maior parte da variancia dos dados e
explicada pelos poucos primeiros modos estatısticos. Vale ressaltar, como dito anteri-
ormente, a importancia da cautela na interpretacao dinamica dos resultados obtidos,
pois trata-se de uma metodologia de analise estatıstica.
3.3.2 Os Modos Normais Estatısticos
A Figura 3.4 apresenta os dois primeiros modos EOF. O primeiro modo explica a maior
parcela da variancia total das series e responde por 74,10 % desta. A estrutura vertical
do modo e demarcada por um decaimento monotonico da velocidade com a profundi-
dade. Nao ha intensificacao em nıvel picno ou subpicnoclınico, como no escoamento
medio da SNB (Figura 3.3). O segundo modo responde por apenas apenas 10,19 % da
variancia total dos dados. O terceiro e o quarto modo representam 6,41 % e 3,82 % da
variancia respectivamente (Figura 3.5).
A Figura 3.6 apresenta as series de amplitude do primeiro, segundo e terceiro
modo, respectivamente.
Os resultados dos modos EOF revelam que existe uma grande diferenca entre a
variancia explicada pelo primeiro modo (74,10 %) e os demais. E natural pergun-
tarmos: quantos sao os modos estatisticamente significantes ao nıvel de 95 %? Para
responder essa pergunta, utilizamos o metodo de Preisendorfer [1988].
Este metodo, na forma que aqui foi aplicado, consiste em realizar 1000 simulacoes
de Monte Carlo utilizando matrizes de valores aleatorios de dimensao M × N . O
calculo das EOFs e efetuado, e a cada uma das matrizes a media e desvio-padrao
das variancias explicadas (os autovalores), e das funcoes de estrutura vertical (auto-
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 36
−1 −0.5 0 0.5 1
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200P
rofu
ndid
ade
[m]
Autofuncao Nao−dimensional
Modo 1 [74.1%]
−1 −0.5 0 0.5 1
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
Pro
fund
idad
e [m
]
Autofuncao Nao−dimensional
Modo 2 [10.19%]
Figura 3.4: Primeiro e segundo modos EOF para as series correntograficas do fundeio K2. Osseguimentos de reta apenas conectam os valores dos autovetores em cada nıvel de observacaopara facilitar a visualizacao do padrao vertical.
−1 −0.5 0 0.5 1
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
Pro
fund
idad
e [m
]
Autofuncao Nao−dimensional
Modo 3 [6.41%]
−1 −0.5 0 0.5 1
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
Pro
fund
idad
e [m
]
Autofuncao Nao−dimensional
Modo 4 [3.82%]
Figura 3.5: Terceiro e quarto modos EOF para as series correntograficas do fundeio K2. Osseguimentos de reta apenas conectam os valores dos autovetores em cada nıvel de observacaopara facilitar a visualizacao do padrao vertical.
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 37
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03
−0.5
0
0.5
1
1.5
[m s
−1 ]
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03
−0.50
0.51
1.5
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03
−0.50
0.51
1.5
Apr02 Jul02 Oct02 Jan03 Apr03
−0.50
0.51
1.5
Figura 3.6: Serie de amplitude dos primeiros quatro modos EOF do fundeio K2.
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 38
vetores), sao calculados. As barras de erro sao construıdas considerando dois desvio-
padrao dos autovalores.
Esta metodologia e empregada em diversas areas e diferentes formas, de acordo
com Sambridge & Mosegaard [2002]. Outros exemplos sao encontrados nos trabalhos de
Sato & Rossby [2000], Polito & Liu [2003] e Silveira et al. [2008].
A Figura 3.7 apresenta os primeiros quatro modos EOF medios das simulacoes de
Monte Carlo e as respectivas variancias explicadas. A Figura 3.8 compara as variancias
explicadas dos modos EOF das series do fundeio K2 com os das simulacoes de Monte
Carlo. A barra de erro de 0,5 % foi omitida da Figura 3.8.
A inspecao da Figura 3.8 permite que estabelecamos o primeiro modo do fundeio
K2 apenas como estatisticamente significante ao nıvel de 95 %. A variancia explicada
de 74,10 % e muito superior ao limite superior do primeiro modo medio de Monte
Carlo adicionado ao desvio padrao (12,30 % ± 0,5 %). Ja o segundo modo EOF do
fundeio K2 explica apenas 10,19 % e se situa abaixo do limite inferior do segundo modo
medio de Monte Carlo (11,68 % ± 0,5 %). Logo, este modo nao pode ser diferenciado
de um padrao aleatorio e deve ser desconsiderado. O mesmo ocorre para os terceiro e
quarto modos EOF do fundeio K2.
−0.2 −0.1 0 0.1 0.2
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
Modo 1 [12.3%]
Prof
undi
dade
[m]
Autofuncao Nao−dimensional−0.2 −0.1 0 0.1 0.2
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
Modo 2 [11.68%]
Autofuncao Nao−dimensional
Prof
undi
dade
[m]
−0.2 −0.1 0 0.1 0.2
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
Modo 3 [11.08%]
Autofuncao Nao−dimensional
Prof
undi
dade
[m]
−0.2 −0.1 0 0.1 0.2
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
Modo 4 [10.57%]
Prof
undi
dade
[m]
Autofuncao Nao−dimensional
Figura 3.7: Primeiros quatro modos EOF medios para as simulacoes de Monte Carlo.
Em sıntese, utilizando a analise EOF do fundeio K2, o padrao vertical de variabi-
lidade e descrito apenas pelo primeiro modo e este apresenta uma estrutura vertical
distinta do escoamento basico.
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 39
1 2 3 4 5 6 7 8 9 100
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Modos EOF
Perc
entu
al d
a Va
rianc
ia E
xplic
ada
Monte−CarloDados Reais
Figura 3.8: Comparacao entre o o resultado da analise EOF, do percentual da variancia expli-cada por cada modo, pela serie real e pela simulacao de Monte Carlo.
3.4 Analise Espectral
Foi realizada a analise espectral da serie de amplitude do primeiro modo EOF (A1),
com a finalidade de verificar as escalas de tempo de variacao presentes na serie.
A aplicacao da analise espectral e realizada de forma que se obtenha informacoes
sobre as frequencias de oscilacao dos mecanismos forcantes no oceano. A analise es-
pectral e utilizada para particionar a variancia de uma serie temporal em funcao da
frequencia [Emery & Thomson, 1997]. Ou seja, procuramos avaliar a contribuicao de
cada frequencia na variancia total da serie. Os picos de energia, se ocorrerem, in-
dicarao bandas espectrais correspondentes as frequencias dominantes, suportando a
investigacao sobre a variabilidade do sistema em estudo.
A metodologia empregada para realizacao da analise espectral consiste na aplicacao
da Transformada de Fourier, representada pela soma linear de senos e cossenos e e am-
plamente apresentada em livros texto como por exemplo, Baath [1974].
ξ(t) = ξ +∑p
[Apcos(ωpt) +Bpsin(ωpt)] (3.15)
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 40
onde ξ representa o valor medio da serie, Ap e Bp sao as amplitudes (coeficientes
de Fourier) e ωp suas respectivas frequencias, inteiras e multiplas da frequencia funda-
mental, ω1 = 2πf1 = 2πT
, onde T e o tamanho da serie.
E importante ressaltar que a analise espectral possui algumas limitacoes principal-
mente devido ao fato de que o conjunto de dados apresenta apenas fracoes dos proces-
sos que acontecem na natureza, ou seja, tem-se apenas uma parcela amostrada de uma
serie infinita [Emery & Thomson, 1997]. Abaixo apresentamos as principais limitacoes:
• O comprimento da serie determina a menor frequencia para qual a variancia
pode ser estimada, conhecida como a frequencia fundamental (F = 1N.dt
);
• O intervalo de amostragem (dt) e utilizado no calculo da frequencia de Nyquist
(Fn = 12dt
) e representa a maior frequencia que pode ser detectada na serie;
• A distincao de frequencias proximas e altamente dependente do comprimento
da serie e nao apenas da relacao sinal-ruıdo;
• Vazamento em torno do sinal dominante, tambem conhecido como leakage, su-
primindo sinais secundarios;
• Inadequada para series nao ergodicas.
Entretanto, tecnicas sao aplicadas para obtencao de melhores resultados, como a
utilizacao de janelas e de filtros. No presente trabalho, a serie temporal possui 5487
pontos, com um intervalo (dt) de 2 horas. A frequencia fundamental calculada tem
perıodo equivalente a 457 dias e a frequencia de Nyquist de 4 horas.
A Figura 3.9 apresenta o espectro da serie de amplitude do primeiro modo EOF.
Nao foram demarcados perıodos significativos de oscilacao, representando um espec-
tro vermelho. Entretanto, podemos observar que existe uma regiao do espectro, entre
40 e 90 dias, que se destaca diante no espectro de uma forma geral.
Esta regiao do espectro pode estar associada a ondas de vorticidade relacionadas
ao meandramento da SNB. Estas, sao ondas tıpicas de meso-escala, que de acordo com
a estrutura vertical do modo EOF, decaem em amplitude com a profundidade (Figura
3.4). Schott et al. [2005] nao abordaram este fenomeno pois trabalharam com padroes
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 41
integrados de transporte, utilizando dados da serie temporal de toda a linha de fun-
deio “K”. Ja nossa analise foi conduzida apenas utilizando o fundeio K2. Uma mera
inspecao no padrao vertical medio (Figura 3.3) nos permite constatar que o fundeio K2
retrata dominantemente a variabilidade da SNB. Em outras palavras, os desvios de v′
sao calculados para a regiao proxima do nucleo do jato basico da SNB.
Outra possibilidade adicional para explicar a banda de energia entre 40 e 90 dias
e a chegada de ondas de Rossby planetarias baroclınicas curtas ao contorno oeste. A
existencia de ondas de Rossby destes perıodos foi descrita por Polito & Sato [2003] na
regiao oceanica ao norte da area de estudo, em cerca de 7S. Apesar da serie ser curta
(457 dias), e notorio que existe tambem energia na banda de grande escala, provavel-
mente associada ao ciclo sazonal e anual, bem como de ondas de Rossby planetarias
baroclınicas mais longas.
200 100 60 40 20 10 510
−3
10−2
10−1
100
101
102
Den
sid
ade
Esp
ectr
o d
e P
ote
nci
a
Periodo [dias]
Figura 3.9: Espectro da serie de amplitude do Primeiro Modo EOF. A banda em azul repre-senta o intervalo de confianca de 95 %.
Dado o tamanho da serie que dispomos, dedicaremo-nos no capıtulo seguinte a
tentar melhor explorar a dinamica das ondas de vorticidade de meso-escala ligadas
ao meandramento da SNB. Desconsideraremos as ondas planetarias curtas devido a
CAPITULO 3. ANALISE ESTATISTICA 42
dificuldade da analise destas pelo processos de reflexao e dissipacao na camada limite
oeste. Entretanto, e ilustrativo adaptar a proposta de Lima [1997] e calcular o espectro
de potencia integrado nas bandas de meso-escala (5 - 100 dias) e bandas de grande
escala (> 100 dias). O resultado e exibido na Figura 3.10, onde observamos que ha,
aparentemente, mais energia na banda de meso-escala. Afirmacao esta que resguarda
as limitacoes em resolver a banda de grande escala devido ao tamanho da serie do
fundeio K2.
100 5 10
−4
10−3
10−2
10−1
100
101
Po
ten
cia
Inte
gra
da
Periodo [dias]
Modo 1
l m
Figura 3.10: Espectro de energia integrado. Resultado obtido para a serie de amplitude doprimeiro modo EOF. A legenda indica as bandas subinerciais de grande escala (> 100 dias) ede meso-escala (5-100 dias).
Capıtulo 4
Analise Dinamica
4.1 Preambulo
No capıtulo anterior, descrevemos o perfil medio along-stream v do Fundeio K2,
associado a proximidade da regiao do nucleo da SNB, e portanto, dentro de seu regime.
Tambem calculamos EOFs, descrevemos o padrao vertical das pertubacoes v′, e, pela
analise espectral, encontramos uma banda de 40 - 90 dias relevante e que relacionamos
a ondas de meso-escala superpostas a estrutura da SNB.
Neste capıtulo, usaremos analise dinamica na tentativa de avancar no conheci-
mento tanto da SNB como de suas perturbacoes. Para tanto, combinaremos os da-
dos de correntografia do Fundeio K2 e os resultados dele oriundos apresentados no
Capıtulo 3 com o de observacoes quase-sinoticas por CTD e LADCP do cruzeiro de
marco a abril de 2000.
Com a analise dinamica a ser realizada neste capıtulo, pretendemos responder algu-
mas perguntas tais como: Qual e a estrutura modal da SNB? Qual e a composicao mo-
dal das ondas de vorticidade a ela associada? Sao estas ondas geofisicamente instaveis?
4.2 Estrutura Dinamica do Sistema SNB
Nesta secao apresentaremos uma interpretacao da estrutura vertical de correntes a par-
tir da estrutura dinamica estimada dos perfis hidrograficos. O ponto de partida advem
da frequencia de estratificacao N2 que representa a estabilidade estatica da coluna de
agua. Desta forma, a analise dos perfis de N2 tem o proposito de avaliar a instabi-
lidade gravitacional, assim como inferir a estrutura dinamica via decomposicao em
43
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 44
modos normais e calculo dos raios de deformacao.
4.2.1 Modos Dinamicos
Comecaremos aqui a construir uma abordagem quase-geostrofica para a investigacao
da estrutura dinamica do Sistema Sub-corrente Norte do Brasil. Buscaremos decompor
os perfis de velocidades em modos dinamicos, compostos pelos modos barotropico e
os modos baroclınicos, seguindo formalismo apresentado por Silveira et al. [2000a].
Estrutura Vertical da Estratificacao
A partir dos perfis medios de anomalia de densidade potencial (σθ), calculados a
partir dos dados de temperatura e salinidade da radial realizada de marco a abril
de 2000, obtivemos o perfil da frequencia de estratificacao (N2) atraves da seguinte
definicao:
N2 = − g
ρ0
∂σθ∂z
,
onde σθ e a densidade potencial convencional e ρ0 e a densidade de referencia, em
torno de 1025 kg m−3.
O calculo de N2 e muito ruidoso, pois as variacoes de densidade sao muito pe-
quenas, tanto na camada de mistura quanto em aguas profundas, e para os calculos
dinamicos que faremos a seguir, necessitamos de perfis suaves. A primeira e segunda
derivadas de σθ devem ser contınuas ao longo da vertical.
Para o alisamento do perfil de N2, realizamos um ajuste polinomial considerando
logN2. Desta maneira, reduzimos o grau do polinomio ajustado e garantimos a conti-
nuidade deN2 e sua primeira derivada. A Figura 4.1 exibe o resultado para a frequencia
de estratificacao media (N2) e o calculo de dN(z)dz
, das estacoes hidrograficas da radial
representada na Figura 2.2.
Fundamentacao Teorica
Sera considerada a aproximacao quase-geostrofica, que pode ser entendida como o
conjunto de tres aproximacoes:
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 45
0 1 2 3 4
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0N2(z)
[10−4 rad2 s−2]
Pro
fund
idad
e [m
]
−5 0 5
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
[10−4 rad (m s)−1]
Pro
fund
idad
e [m
]
d N(z)/dz
Figura 4.1: Perfis da frequencia de estratificacao media N2 e dN(z)dz .
• A aproximacao geostrofica:
Assume-se que o campo de velocidades esta essencialmente em balanco geostrofico.
Ou seja, o numero de Rossby (Ro) e um parametro pequeno, Ro = |ζ/f0| << 1,
onde ζ = − ∂v∂x
+ ∂u∂y
e a componente vertical da vorticidade relativa e f0 = 2Ω sin θ0
e o parametro de Coriolis medio para regiao. O valor do o numero de Rossby cal-
culado para a regiao e da ordem O(10−1).
• A aproximacao das espessuras:
Assume que a razao entre flutuacoes das isopicnais relativamente as suas pro-
fundidades de equilıbrio hidrostatico e a razao entre as variacoes topograficas
relativamente a profundidade media do oceano sao pequenas. Ou seja, estas
variacoes devem ser da ordem do numero de Rossby.
• A aproximacao do plano β:
A variacao da vorticidade planetaria deve ser pequena se comparada a vorti-
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 46
cidade planetaria media. Se f ≈ f0 + βy, onde y e a distancia meridional e
β = 2Ω cos θ0/R, onde R e o raio medio da Terra. Para que a aproximacao seja
valida, β = βy/f0 << 1. O valor de β calculado para a regiao e da ordemO(10−1).
Como a linha de fundeio em analise e praticamente zonal e o gradiente de vortici-
dade potencial associado a SNB e normal ao gradiente de vorticidade planetaria,
consideraremos a aproximacao do plano f no decorrer deste capıtulo.
No calculo e interpretacao matematica dos modos dinamicos podemos considerar
que os perfis verticais de velocidade podem ser expandidos em series de Fourier. Nesta
expansao, as bases ortonormais da serie sao autovetores do problema dinamico resul-
tante da separacao de variavies da equacao de vorticidade potencial quase-geostrofica.
Estes autovetores sao justamente os modos dinamicos, enquanto os autovalores as-
sociados sao definidos como sendo o inverso do quadrado dos raios de deformacao
baroclınicos [Flierl, 1978].
A equacao de conservacao de vorticidade potencial quase-geostrofica no plano f
que e dada por,
d
dtq = 0, (4.1)
onde
d
dt=
∂
∂t− 1
ρ0f0
∂p
∂y
∂
∂x+
1
ρ0f0
∂p
∂x
∂
∂y(4.2)
representa a derivada material, e q e a vorticidade potencial quase-geostrofica. No
plano f , a quantidade q se relaciona com a pressao geostrofica p por
q =∇2p
ρ0f0
+∂
∂z
f 20
N2(z)
∂
∂z
(p
ρ0f0
). (4.3)
Os modos verticais sao entao obtidos pela forma linearizada da Equacao 4.1, assu-
mindo separacao de variaveis do tipo
p(x, y, z) =∑i
Pi(x, y)Fi(z), (4.4)
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 47
onde Fi representa o i-esimo modo vertical e Pi sua respectiva amplitude em uma dada
localidade.
Substituindo a Equacao 4.4 em 4.1, isolamos a dependencia vertical em um dos
membros da equacao de vorticidade potencial para obter:
1
Fi(z)
∂
∂z
f 20
N2(z)
∂Fi(z)
∂z= λi, (4.5)
onde λi sao os autovalores, que formam um conjunto infinito, mas discreto, de cons-
tantes. As condicoes de contorno requerem tampa rıgida na superfıcie z = −H e fundo
plano z = 0, onde H representa a profundidade media.
Desta maneira, o problema de autovalor e,
∂
∂z
f 20
N2(z)
∂Fi(z)
∂z+
1
Rd2i
Fi(z) = 0 (4.6)
∂Fi(z)
∂z= 0 em z = 0,−H. (4.7)
O autovalor definido como λi = 1Rd2i
representa o inverso do quadrado do i-esimo
raio interno de deformacao. O oceano apresenta um numero infinito de modos dinamicos,
mas a estrutura dos principais fenomenos encontra-se concentrada nos primeiros mo-
dos. Desta forma, truncamos nossa analise no quinto modo dinamico por ser suficiente
para os propositos deste trabalho.
Vale lembrar que os modos verticais da pressao sao tambem os modos verticais da
velocidade geostrofica, pois as velocidades geostroficas se relacionam com a pressao
atraves de
[u, v] =1
ρ0f0
[− ∂
∂y,∂
∂x]p. (4.8)
Assim, podemos representar as velocidades em termos de modos normais, da se-
guinte maneira:
[u(x, y, z), v(x, y, z)] =∑i
[Ui(x, y), Vi(x, y)]Fi(z), (4.9)
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 48
onde
[Ui, Vi] =1
ρ0f0
[− ∂
∂y,∂
∂x]Pi. (4.10)
As amplitudes modais Ui e Vi sao obtidas atraves da projecao dos perfis de u e v no
i-esimo modo normal, por
[Ui, Vi] =1
H
∫ 0
−H[u, v]Fidz. (4.11)
A partir das equacoes 4.9 e 4.11, com as estruturas verticais dos modos dinamicos
podemos separar o perfil em quantos modos forem possıveis, e convenientes, com as
suas respectivas amplitudes.
Resultados dos Modos Dinamicos
Como vimos anteriormente, os autovalores sao relacionados aos raios de deformacao
internos (Rdi). Sendo assim, cada raio de deformacao interno possui um modo vertical
associado. Como o problema de autovalor utiliza a aproximacao de tampa rıgida na
superfıcie e no fundo, o primeiro autovalor e sempre igual a zero, e consequentemente
o valor do raio de deformacao barotropico (Rd0) e ∞, face as aproximacoes adotadas.
Logo, calculamos analiticamente, Rd0 da seguinte maneira:
Rd0 =
√gH
|f0|. (4.12)
A Tabela 4.1 apresenta os valores dos raios de deformacao internos para os qua-
tro modos baroclınicos e para o barotropico. A Figura 4.2 apresenta os seis modos
dinamicos de estrutura vertical, isto e, o primeiro (modo 0) barotropico e os cinco pri-
meiros modos baroclınicos. Ressaltamos que os resultados dos modos baroclınicos
(modos 1-5) advem da solucao numerica das Equacoes 4.5 a 4.7 utilizando N2 da Fi-
gura 4.1 e o modo barotropico (modo 0) e calculado analiticamente.
4.2.2 Estrutura Dinamica do Jato Basico
Calculados os modos dinamicos, e natural que perguntemos: Qual e a estrutura
dinamica da SNB? Quais sao os modos dominantes? Tal pergunta ainda nao foi res-
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 49
Tabela 4.1: O raio de deformacao barotropico e os quatro primeiros raios dedeformacao baroclınicos, expressos em km, para a latitude de 10,5 S.
Raio Valor (km)
Rd0 7821
Rd1 105
Rd2 61
Rd3 37
Rd4 30
pondida para a SNB. Silveira et al. [2000b] e Urbano & Silveira [2003] fizeram-na para
CNB e CCNE ao norte do equador, respetivamente. Philander [1990] ressalta que o se-
−5 −4 −3 −2 −1 0 1 2 3 4 5 6
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Amplitudes dos Modos
Pro
fund
idad
e [m
]
ZeroPrimeiroSegundoTerceiroQuartoQuinto
Figura 4.2: Os primeiros seis modos dinamicos. O primeiro barotropico (ordem 0) e os cincobaroclınicos.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 50
gundo modo baroclınico ganha importancia na composicao estrutural das correntes na
regiao equatorial enquanto o modo barotropico perde importancia nos tropicos.
A SNB e uma CCO equatorial com uma estrutura que parece guardar semelhancas,
tanto com correntes de latitudes subtropicais visto que sua extensao vertical excede
1200 m, quanto correntes equatoriais como a Subcorrente Equatorial. Afinal, seu nucleo
de velocidades esta em torno ou ligeiramente abaixo de 200 m.
Para avaliar a composicao modal da SNB e calcular as amplitudes ditadas pela
Equacao 4.11, urge que, em uma primeira avaliacao, disponhamos de valores de ve-
locidade perfilados ao longo de toda a coluna de agua. E desejavel que este padrao
de velocidades observadas seja resultado da media de perfilagens e represente uma
configuracao proxima ao jato basico.
O conjunto de dados disponıvel continha apenas uma unica radial perfilada com
LADCP, amostrada em marco-abril de 2000. Fortuitamente, o escoamento amostrado
e muito semelhante ao estado basico da SNB, como ilustrado na Figura 4.3.
0 10 20 30 40 50 60
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Distancia [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
−0.3
−0.2
−0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
−0.5 0 0.5 1
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Figura 4.3: Painel da Esquerda: Secao de velocidade along stream [cm/s], coletada comLADCP, na radial do fundeio. O ponto em verde representa o fundeio K2. Painel da Di-reita: Comparacao do perfil de LADCP na localidade do fundeio e do perfil medio das seriescorrentograficas.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 51
Desta forma, optamos por destacar a SNB e avaliar a estrutura dinamica do jato
basico da corrente a partir do campo de velocidades do LADCP. Para tal, realizamos
a recomposicao modal dos perfis de velocidade utilizando ate seis modos dinamicos,
ou seja, o modo barotropico e os cinco primeiros modos baroclınicos. Os resultados da
recomposicao dos perfis de velocidade, em comparacao ao campo obtido pelo LADCP
sao apresentados na Figura 4.4.
Para quantificar a comparacao entre a secao de velocidade do LADCP e as secoes
reconstruıdas, calculamos a raiz do erro medio quadratico normalizado (REMQN ),
seguindo o formalismo apresentado por Urbano & Silveira [2003], onde
REMQN =
√< a2 − b2 >
< a2 >, (4.13)
onde a representa os valores de velocidade medidas pelo L-ADCP e b representa os
valores de velocidade reconstituıdos pelos modos dinamicos. Entretanto, os valores
de REMQN sao mais intuitivos expressos em termos percentuais, de acordo com a
relacao:
REMQN% = (1−REMQN)× 100, (4.14)
O resultado da projecao modal na secao de LADCP da SNB revela que a estrutura
dinamica da SNB e bastante complexa e que sao minimamente necessarios quatro mo-
dos dinamicos (o modo barotropico e tres modos baroclınicos) para que a estrutura de
velocidades, com nucleo em subsuperfıcie, seja reproduzida. E evidente, pela inspecao
da Tabela 4.2 e da Figura 4.4 que o primeiro modo baroclınico e dominante. Ao com-
pararmos os resultados obtidos aqui, com aqueles de Silveira et al. [2000b], observamos
que o modo barotropico e mais relevante na estrutura da SNB do que na CNB em 5-7
N. Estes resultados tambem se comportam fortemente como aqueles obtidos para a CB
em 22,5 S por Silveira et al. [2008]. No caso da CB, a estrutura vertical media e muito
bem representada pelo primeiro modo baroclınico.
O segundo modo baroclınico parece nao ter importancia na dinamica da SNB e
compete, aparentemente, com o terceiro modo. Fica evidente que a estrutura dinamica
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 52
da SNB e a mais complexa dentre as CCOs do Atlantico Tropical e Sul. Podemos esten-
der tal afirmacao a Corrente do Golfo (CG), que de acordo com a literatura e dominada
pelo primeiro modo baroclınico, mas com importante componente barotropica [Flierl,
1978].
Dois pontos a serem ressaltados sao: (1) com a informacao de que quatro modos
dinamicos sao necessarios para a reconstituicao modal da SNB, podemos obter um
perfil contınuo a partir dos dados do Fundeio K2; (2) os modos dinamicos servem
como um poderoso filtro o que pode ser atestado pela comparacao entre o primeiro e
o ultimo paineis da Figura 4.4.
Tabela 4.2: Raiz do erro medio quadratico normalizado (REMQ − N ) para a secaode velocidade along-stream do LADCP e a reconstituicao desta a partir dos modosdinamicos.
Modos Utilizados REMQN REMQN%
0 0,8427 15,73
0-1 0,4579 54,21
0-2 0,4435 55,65
0-3 0,2671 73,29
0-4 0,2128 78,72
0-5 0,1988 80,12
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 53
0 20 40 60
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Distancia [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
LADCP
−0.2 0 0.2 0.4
0 20 40 60
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Distancia [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
2 Modos
−0.2 0 0.2 0.4
0 20 40 60
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Distancia [km]P
rofu
ndid
ade
[m]
3 Modos
−0.2 0 0.2 0.4
0 20 40 60
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Distancia [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
4 Modos
−0.2 0 0.2 0.4
0 20 40 60
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Distancia [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
5 Modos
−0.2 0 0.2 0.4
0 20 40 60
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Distancia [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
6 Modos
−0.2 0 0.2 0.4
Figura 4.4: Secoes da componente de velocidade along-stream reconstruıdas a partir darecomposicao modal em comparacao ao campo obtido pelo LADCP.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 54
4.2.3 Interpolacao Dinamica dos Dados Correntograficos
Nosso intento nesta secao e a obter perfis contınuos na vertical a partir dos dados do
Fundeio K2 e da informacao da secao anterior sobre a estrutura dinamica representada
por quatro modos. Sendo assim, uma interpolacao entre os nıveis correntograficos se
faz necessaria. Uma proposta para obtencao destes perfis e a utilizacao da interpolacao
dinamica, onde Silveira et al. [2008] utilizam modos dinamicos quasi-geostroficos para
tal tarefa. Para a realizacao desta, sao necessarios tres procedimentos preliminares:
• Estimar valores de velocidade na superfıcie e no fundo, para o perfil medio da
componente de velocidade along-stream;
• Calcular e alisar a frequencia de estratificacao N2(z);
• Obter os modos dinamicos de estrutura vertical.
Para estimativa dos valores de velocidade na superfıcie e no fundo, para o perfil
medio da componente along-stream, utilizamos os dados de LADCP (Figura 4.3). A Fi-
gura 4.5 apresenta os perfis medios dos correntometros e do LADCP, respectivamente.
O calculo de N2(z) e dos modos dinamicos ja foram realizados anteriormente (Figuras
4.1 e 4.2).
De posse dos modos de estrutura vertical Fi(z) precisamos estimar as amplitu-
des Vi. Estas amplitudes permitem a recomposicao do perfil de velocidades de forma
contınua.
Para a estimativa das amplitudes, usamos a seguinte expressao para projecao mo-
dal dada por:
Vi =
∫ zs
zfFi(z)v(x0, y0, z)dz∫ zs
zfF 2i (z)dz
, (4.15)
sob a aproximacao da regra de integracao numerica do ponto medio. Na Equacao 4.15,
zf e zs correspondem as profundidades dos nıveis correntograficos mais profundo e
mais raso, respectivamente, neste caso, os dados de superfıcie e fundo estimados pelo
LADCP.
Como qualquer metodo de interpolacao, este tambem possui vantagens e limitacoes.
Entre as limitacoes podemos destacar principalmente duas. A primeira e a validade da
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 55
−0.5 0 0.5 1
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Velocidade [m/s]
Pro
fund
idad
e [m
]
Figura 4.5: Comparacao entre o perfil medio da componente de velocidade along stream eo perfil medido com LADCP. Os pontos em vermelho representam a extrapolacao realizadautilizando os perfil do LADCP. Os segmentos de reta conectando os valores medios de v temapenas o proposito de facilitar a visualizacao do padrao vertical e nao se constitue de umainterpolacao.
aproximacao modal, que depende da aproximacao quase-geostrofica. A segunda esta
relacionada ao numero de modos considerados, que e dependente da informacao do
conteudo modal da corrente.
A grande vantagem e que este metodo contem a fısica do sistema em questao, em
outras palavras, os modos sao determinados a partir de equacoes dinamicas e repre-
sentam funcoes-base com significado fısico e nao simplesmente estatıstico.
A Figura 4.6 apresenta o resultado da interpolacao dinamica para o perfil medio
de velocidade along-stream do Fundeio K2. A Tabela 4.3 apresenta a REMQN para o
perfil medio da componente along-stream e a reconstituicao deste a partir dos modos
dinamicos. Verificamos que o modo barotropico adicionado ao primeiro modo ba-
roclınico, respondem por 51% do perfil medio. A partir da inclusao do terceiro modo
na projecao, a REMQN% cai para 0,06 e os modos projetados passam a responder por
mais do que 93% do perfil medio.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 56
−0.5 0 0.5 1
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Pro
fund
idad
e [m
]
Velocidade [m/s]
CorrentometrosModo 02 Modos3 Modos4 Modos5 Modos6 Modos
Figura 4.6: Interpolacao dinamica com a utilizacao de ate seis modos.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 57
Tabela 4.3: Raiz do erro medio quadratico normalizado (REMQN ) para o perfil medioda componente along-stream e dos perfis interpolados dinamicamente.
Modos Utilizados REMQN REMQN%
0 0,8121 18,79
0-1 0,4890 51,10
0-2 0,2262 77,38
0-3 0,0684 93,16
0-4 0,0682 93,18
0-5 0,0610 93,90
E ilustrativo comparar os resultados dos REMQN% das Tabelas 4.2 e 4.3. Os va-
lores obtidos para a recomposicao modal dos dados do Fundeio K2 sao mais altos
que aqueles dos dados de LADCP, fruto provavelmente da menor complexidade (uma
dimensao vs. duas dimensoes espaciais) do perfil de correntes. Entretanto, a percenta-
gem de contribuicao dos modos nao se altera. Isto e refletido nos calculos para cinco e
seis modos dinamicos, onde o ganho devido a inclusao de mais modos e desprezıvel.
4.2.4 Estrutura Dinamica dos Modos Estatısticos
Nas secoes anteriores estimamos e discutimos a estrutura modal associada ao jato
basico (medio temporalmente) da SNB. Nas secoes 3.3 e 3.4 investigamos os modos
estatısicos EOF e calculamos a estrutura vertical associada as ondas subinerciais super-
postas a SNB. A pergunta que se estabelece agora e: qual e a composicao modal das
ondas de vorticidade associadas a SNB? A Figura 3.10 indica que sao ondas de meso-
escala e de grande escala, e que a estrutura dinamica destas ondas pode ser descrita
em termos dos modos dinamicos da Figura 4.2. Antes de prosseguirmos em nossa ten-
tativa de responder a pergunta sobre a estrutura dinamica das ondas de vorticidade,
vale que ressaltemos a diferenca entre o calculo dos modos dinamicos e os modos es-
tatısticos.
Os primeiros sao resultados da ortogonalizacao das equacoes da hidrodinamicas,
ou seja, sao modos de estrutura vertical da dinamica do sistema, considerando a aproxi-
macao de ondas longas ou a quase-geostrofica. Os outros sao resultados da ortogona-
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 58
lizacao da matriz de covariancia dos dados de velocidade observados, ou seja, sao
modos de estrutura vertical estatısticos. E comum, na literatura, a associacao dos mo-
dos dinamicos com os modos estatısticos, conduzida de forma principalmente qualita-
tiva. Na tentativa de avaliar a estrutura dinamica dos modos estatısticos, realizamos a
projecao dos modos dinamicos sobre os estatısticos (Figura 4.7) e apresentaremos uma
associacao quantitativa desta projecao via interpolacao dinamica (Tabela 4.4).
A estrutura dinamica do primeiro modo estatıstico e mais simples que a do jato
basico, visto que, a soma dos dois primeiros modos dinamicos responde por 67 % do
perfil estatıstico. E evidente a dominancia dos tres primeiros modos (barotropico e
os primeiros dois baroclınicos), que somados explicam mais de 90 % da estrutura do
modo EOF (Figura 4.7).
Os resultados aqui obtidos para a SNB se contrapoe aqueles obtidos para a CB por
Silveira et al. [2008], com mesma metodologia e natureza dos dados. No caso da SNB, o
escoamento medio tem estrutura modal mais complexa que o perfil das ondas de vor-
ticidade. No caso da CB, segundo Silveira et al. [2008], o jato e descrito essencialmente
pelo primeiro modo baroclınico enquanto o das ondas de vorticidade e mais complexo,
com participacao relevante do modo barotropico e de modos baroclınicos de mais alta
ordem.
A interpretacao conjunta dos resultados desta secao com aqueles das secoes 3.3 e
3.4 permitem-nos afirmar que as pertubacoes v′ superpostas a SNB estao associadas
a ondas de vorticidade baroclınicas. Estas ondas sao de meso-escala e de grande es-
cala. Dentre as ondas de meso-escala, como ja descrito no Capıtulo 3, encontramos
ondas associadas ao meandramento da SNB e, portanto, devem sua origem ao gradi-
ente de vorticidade potencial medio associado a propria corrente. A energia na banda
de grande escala pode ser relacionada a chegada de ondas planetarias baroclınicas cur-
tas na camada limite oeste, conforme os estudos de Polito & Sato [2003]. Entretanto, o
comportamento e processo de reflexao destas ondas e complexo e relativamente pouco
conhecido dentro desta regiao do oceano.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 59
−0.5 0 0.5 1
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
Pro
fund
idad
e [m
]
Velocidade [m/s]
CorrentometrosModo 02 Modos3 Modos4 Modos5 Modos6 Modos
Figura 4.7: Projecao dos modos dinamicos no primeiro modo EOF.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 60
Tabela 4.4: Raiz do erro medio quadratico normalizado (REMQN ) para o perfil deamplitude do primeiro modo EOF e a projecao dos modos dinamicos.
Modos Utilizados REMQN REMQN%
0 0,7137 28,63
0-1 0,3234 67,66
0-2 0,0787 92,13
0-3 0,0768 92,32
0-4 0,0364 96,36
0-5 0,0285 97,15
4.3 Modelo Unidimensional de Instabilidade Baroclınica
A analise estatıstica e dinamica conduzida ate aqui revelou que podem existir ondas
de vorticidade superpostas a SNB. A pergunta que buscamos responder neste capıtulo
e: sao estas ondas geofısicamente instaveis? Seriam estas capazes de se quebrar em
vortices tais como observados na subjacente CCP (vide Figuras 1.6 e 2.1)
A analise de instabilidade mais simples e aquela onde se aplica a teoria linear e
se avalia o escoamento basico sendo baroclinicamente ou barotropicamente instavel.
Dada a natureza do cojunto de dados que dispomos, e possıvel avaliar quantitativa-
mente a instabilidade baroclınica e qualitativamente, o fenomeno de instabilidade ba-
rotropica. No primeiro caso, trata-se de um fenomeno ligado ao cisalhamento vertical
das correntes, enquanto o segundo caso, ao cisalhamento horizontal.
Visamos inicialmente avaliar se o Sistema SNB e potencialmente baroclinicamente
instavel a partir do quanto de energia potencial e transferida para o fluxo medio, para
ser convertida em energia cinetica. Para realizar esta avaliacao utilizamos a formulacao
de um modelo unidimensional a partir das as equacoes de conservacao da vorticidade
potencial onde as ondas crescem em amplitude num canal de profundidade variavel.
4.3.1 Formulacao do Modelo
O modelo a ser utilizado e unidimensional e estratificado, onde as perturbacoes
sao assumidas estar aproximadamente em balanco geostrofico e hidrostatico. Este
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 61
problema unidimensional elimina o processo de instabilidade por cisalhamento ho-
rizontal, entretanto, permite que isolemos efetivamente o mecanismo de instabilidade
baroclınica (cisalhamento vertical), na qual as flutuacoes drenam energia do campo
medio de energia potencial do escoamento. A metodologia, formulada originalmente
no trabalho de Johns [1988], e baseada no artigo de Silveira et al. [2008].
O modelo parte da equacao de conservacao da vorticidade potencial (Equacao 4.1),
considerando a aproximacao do plano f . Assumindo um escoamento horizontalmente
nao-divergente, definimos como ψ, a funcao de corrente geostrofica
~V = ui+ vj = k ×∇ψ, (4.16)
que se relaciona com a pressao geostrofica por
ψ =p
ρ0f0
. (4.17)
Reescrevemos entao, a Equacao 4.1 da seguinte maneira
dq
dt=∂q
∂t+ J(ψ, q) = 0, (4.18)
onde J(ψ, q) = [∂ψ∂x
∂q∂y− ∂ψ
∂y∂q∂x
] e representa o operador jacobiano.
Expandindo os campos pelo metodo das perturbacoes, definimos as quantidades
medias e perturbadas para as seguintes variaveis:
q = q(x, z) + q′(x, y, z, t), (4.19)
ψ = ψ(x, z) + ψ′(x, y, z, t), (4.20)
u = u′(x, y, z, t), (4.21)
v = v(x, z) + v′(x, y, z, t), (4.22)
onde q, ψ, e v representam os valores medios associados a SNB e q′, ψ′, u′ e v′ sao
os desvios associados as ondas de vorticidade. Assumimos tambem que os campos
medios sao parametricos em y, ou seja, nao sao dependentes da translacao meridional.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 62
Substituindo as Equacoes acima em 4.18, obtemos:
dq
dt=∂q′
∂t+ u′(
∂q
∂x+∂q′
∂x) + v(
∂q
∂y+∂q′
∂y) + v′(
∂q
∂y+∂q′
∂y) = 0. (4.23)
Linearizando a Equacao 4.23 e admitindo que q seja uma funcao paramertica de y,
obtemos
(∂
∂t+ v
∂
∂y)q′ + u′
∂q
∂x= 0, (4.24)
onde q e q′ de acordo com Pedlosky [1987] e Cushman-Roisin [1994], sao dados por
q =∂
∂z
f 20
N2
∂ψ
∂z+∂2ψ
∂x2(4.25)
q′ =∂
∂z
f 20
N2
∂ψ′
∂z+∇2ψ′. (4.26)
O primeiro termo das Equacoes 4.25 e 4.26 representa a contribuicao, a vorticidade
do estiramento ou achatamento de uma parcela de fluido, referente ao cisalhamento
vertical das velocidades. O segundo termo, em ambas as relacoes, representa a vortici-
dade relativa, que e a vorticidade devido ao cisalhamento horizontal das velocidades.
As condicoes de contorno exigem que se tenha velocidade vertical nula nos limites
superior e inferior do oceano, isto e w = 0 em z = 0, H . Para superfıcie (z = −H), a
equacao de contorno linearizada e dada por:
(∂
∂t+ v
∂
∂y)∂ψ′
∂z=∂v
∂z
∂ψ′
∂ypara z = H. (4.27)
No fundo, assumimos uma pequena variacao topografica de orientacao zonal h =
h(x), dhdt
= w = 0.
Linearizando a condicao de contorno de fundo, da mesma forma como a da su-
perfıcie, chegamos a:
(∂
∂t+ v
∂
∂y)∂ψ′
∂z=∂v
∂z(1 +
∂h∗
∂x)∂ψ′
∂ypara z = 0. (4.28)
onde ∂h∗
∂x=
N2 ∂h∂x
f20
∂v∂z
e a razao entre a inclinacao do assoalho oceanico e a inclinacao das
linhas de mesma densidade (isopicnais) junto ao fundo.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 63
Devemos tambem impor a condicao de contorno lateral a fim de fechar o pro-
blema de instabilidade. Estas condicoes de contorno sao impostas, de maneira que
as perturbacoes estejam confinadas em uma regiao definida como um canal de largura
2L. Esta configuracao sugere um jato meridional limitado lateralmente em x = ±L.
As condicoes de contorno laterais implicam que nao ha escomento normal aos limites
laterais do canal. Desta forma,
∂ψ′
∂y= 0 em x = ±L, (4.29)
onde L e a largura do canal.
Para a resolucao do sistema de equacoes formados por 4.26, 4.27 e 4.28 escolhemos
as solucoes ondulatorias, que sejam periodicas em y e confinadas na regiao x = ±L da
forma
ψ′(x, y, z, t) = Ψ(z)cos(πx
2L)e−il(y−ct), (4.30)
tal que Ψ(z) e c sao respectivamente, a amplitude e velocidade de fase da perturbacao
(complexos) e l (real) e o numero de onda meridional. Substituindo 4.30 em 4.24
(∂
∂t+ v
∂
∂y)
[−Ψ(
π
2L)2 − l2Ψ +
∂
∂z
f 20
N2
∂Ψ
∂z
]+ ilΨ
∂q
∂x= 0, (4.31)
[(π
2L)2(c− v) + l2(c− v) + (c− v)
∂
∂z
f 20
N2
∂
∂z
]Ψ−Ψ
∂q
∂x= 0. (4.32)
dividindo a Equacao 4.32 por (c− v) temos,
∂
∂z(f 2
0
N2
∂Ψ
∂z)−
[l2 +
π2
4L2+
1
(v − c)
∂q
∂x
]Ψ = 0. (4.33)
Substituindo a Equacao 4.30 nas condicoes de contorno (Equacoes 4.27 e 4.28),
(v − c)∂Ψ
∂z= Ψ
∂v
∂zem z = H; (4.34)
(v − c)∂Ψ
∂z= (1− ∂h∗
∂x)Ψ∂v
∂zem z = 0. (4.35)
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 64
A resolucao do sistema de equacoes formado por 4.33, 4.34 e 4.35, utilizando os per-
fis medios de v, N e q, e efetuada numericamente como um problema de autovalores,
obtendo assim as amplitudes e velocidades de fase das ondas.
4.3.2 Analise de Instabilidade
A equacao para analise das condicoes para a ocorrencia de instabilidade baroclınica,
pode ser obtida pela multiplicacao da Equacao 4.33 pelo complexo conjugado da funcao
de corrente Ψ∗, sendo:
(∂
∂z
f 20
N2
∂Ψ
∂z
)Ψ∗ −
[l2 +
π2
4L2+
1
(v − c)
∂q
∂x
]Ψ2 = 0. (4.36)
Integrando a Equacao 4.36 da superfıcie ao fundo e retendo apenas os termos com-
plexos obtemos,
∫ H
0
(∂
∂z
f 20
N2
∂Ψ
∂z)Ψ∗dz︸ ︷︷ ︸
a
−∫ H
0
1
(v − c)
∂q
∂xΨ2dz︸ ︷︷ ︸
b
= 0, (4.37)
integrando por partes o primeiro termo (a):
∫ H
0
(∂
∂z
f 20
N2
∂Ψ
∂z
)Ψ∗dz =
f 20
N2
∂Ψ
∂zΨ∗|H0 −
∫ H
0
f 20
N2
∂Ψ
∂z
∂Ψ∗
∂zdz. (4.38)
Podemos perceber que o segundo termo, a direita da igualdade, e real e portanto
iremos descarta-lo. Assim o primeiro termo sera avaliado nos seus extremos utilizando-
se as condicoes de contorno (Equacoes 4.34 e 4.35). Assim,
f 20
N2
∂Ψ
∂zΨ∗|H0 =
f 20
N2
∂v∂z
ΨΨ∗
v − c− f 2
0
N2
∂v∂z
(1− h∗x)
v − cΨΨ∗, (4.39)
a expressao obtida para os extremos pode entao ser reescrita na forma
( v︸︷︷︸real
+ c︸︷︷︸cr+ici
)f 2
0
N2
[∂v∂z
Ψ2
|v − c|2−
∂v∂z
(1− h∗x)Ψ2
|v − c|2
](4.40)
o segundo membro (b), pode ser escrito como,
(v + c)
∫ H
0
∂q∂x
|v − c|2Ψ2dz. (4.41)
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 65
Considerando, entao, somente a parte imaginaria das integracoes dos termos (a) e
(b) obtemos
ci
[f 2
([∂v∂z
Ψ2
N2|v − c|2
]H
−
[∂v∂z
(1− h∗x) Ψ2
N2|v − c|2
]0
)−∫ H
0
∂q∂x
|v − c|2Ψ2dz
]= 0. (4.42)
4.3.3 Condicoes Necessarias para Instabilidade
De acordo com a Equacao 4.42, dois casos sao possıveis: ou ci e zero ou a soma dos
termos entre colchetes e igual a zero. Se ci for zero, o escoamento medio e estavel. Se
ci for diferente de zero, entao a a soma dos termos entre colchetes tem que se anular.
Para que isto ocorra, existem tres possibilidades basicas:
• ∂q∂x
trocar de sinal entre a superfıcie e o fundo; ou
• Se em alguma profundidade, ∂q∂x
tiver o mesmo sinal que ∂v∂z
na superfıcie; ou
• Se em alguma profundidade, ∂q∂x
tiver sinal oposto a quantidade (1− ∂h∗
∂x)∂v∂z
junto
ao fundo.
Um jato baroclınico instavel pode gerar ondas de perıodos e velocidades de fase dis-
tintos. E possıvel diagnosticar diferentes tipos de instabilidade baroclınica analisando-
se o perıodo e a velocidade de fase das ondas instaveis.
Uma caracterıstica importante para a analise de instabilidade e o nıvel de acopla-
mento. De acordo com Pedlosky [1987], o nıvel de acoplamento e definido como o nıvel
no qual v = cr. Ou seja, e o nıvel onde as ondas instaveis se acoplam ao fluxo medio
para drenar energia potencial.
A partir da avaliacao do nıvel de acoplamento sao diferenciados dois tipos de ins-
tabilidade. Uma, conhecida como instabilidade de borda (Eady [1949]; Green [1960]), e
caracterizada por ondas instaveis que tenham nıvel de acoplamento das velocidades
de fase proximo aos da velocidade nos limites superior ou inferior do perfil de velo-
cidade, isto e v = cr nos contornos. Se o nıvel de acoplamento estiver em uma regiao
proxima a um dos contornos, as ondas instaveis serao aprisionadas.
A outra e chamada de instabilidade interna (Charney & Stern [1962];Charney [1947]),
onde o nıvel de acoplamento se da com valores das velocidades de fase das ondas
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 66
instaveis proximos aos valores de velocidades do interior do campo, isto e v = cr
no interior do jato, consequentemente, longe dos contornos, na coluna de agua. E
caracterıstico deste tipo de instabilidade gerar ondas que tenham velocidades de fase
com valores nas vizinhancas da interface da inversao de sinal no campo de ∂q∂x
.
Vale ressaltar, que os dois tipos de instabilidade nao sao independentes, tao pouco
excludentes, ou seja, podem ocorrer em conjunto ou separadamente.
4.3.4 Os Campos de Entrada
O objetivo, conforme mencionado anteriormente, e de isolar o efeito da instabili-
dade de cisalhamento vertical, onde as flutuacoes drenam energia do campo medio de
energia potencial. Para isto devemos considerar os campos N2, v ( para obter ∂v∂z
) e ∂q∂x
.
O perfil medio de N2 foi calculado na Secao 4.2 (Figura 4.1), que por sua vez foi
utilizado para o calculo dos modos dinamicos de estrutura vertical quasi-geostroficos.
Estes foram a base para a obtencao do perfil medio da componente along stream, inter-
polado dinamicamente, utilizado aqui para entrada no modelo como v.
Johns [1988] para a CG e Silveira et al. [2008] para a CB observaram atraves da analise
de escala da Equacao 4.25, que o termo do gradiente de vorticidade relativa e muito
pequeno se comparado ao termo de estiramento. A Equacao 4.43 apresenta ∂q∂x
, onde o
primeiro termo representa o termo da vorticidade de estiramento e o segundo termo a
vorticidade relativa, desprezado nos trabalhos desses autores. Assim, a expressao para∂q∂x
e obtida a partir da derivacao em x da Equacao 4.25:
∂q
∂x=
∂
∂z
f 20
N2
∂v
∂z+∂2v
∂x2. (4.43)
Para o calculo de ∂q∂x
optamos por avaliar os termos de vorticidade relativa e de esti-
ramento para a regiao de estudo do trabalho. Calculamos entao, ∂2v∂x2 , a partir da secao
de velocidade do LADCP, considerada uma boa aproximacao de uma configuracao
basica, decrita na Secao 4.2.2. O resultado do calculo de ∂2v∂x2 e exibido na Figura 4.8.
Selecionamos entao, o perfil na localidade do fundeio e comparamos a quantidade∂∂z
f20
N2∂v∂z
com o perfil obtido para ∂2v∂x2 . Observamos que as duas quantidades apresentam
a mesma ordem de grandeza (Figura 4.9), o que representa uma diferenca importante
relativamente aos trabalhos de Johns [1988] e Silveira et al. [2008].
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 67
0 10 20 30 40
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Distancia [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
LADCP
−0.2 0 0.2 0.4 0.6
0 10 20 30 40
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
Distancia da Costa [km]
Pro
fund
idad
e [m
]
∂2 v / ∂ x2
x 10−9
−0.2 −0.1 0 0.1
Figura 4.8: Painel da Esquerda: Secao de velocidade along stream [m/s], coletada comLADCP, na radial do fundeio. O ponto em verde representa a localidade do Fundeio K2. Painelda Direita: ∂
2v∂x2 calculada para a secao de velocidade do LADCP.
Vale ressaltar que a inclusao do termo de vorticidade relativa nao implica que este-
jamos resolvendo um problema de instabilidade mista, visto que estamos incluindo o
termo do gradiente de vorticidade relativa basica em termos medios horizontalmente,
com o intento de melhor compor a forma de ∂q∂x
.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 68
−0.5 −0.4 −0.3 −0.2 −0.1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0
[109(m s)−1]
Pro
fund
idad
e [m
]
IIIIII
Figura 4.9: Comparacao entre ∂2v∂x2 (curva azul) e ∂
∂zf20N2
∂v∂z (curva vermelha). A curva amarela
representa a soma destas duas quantidades, ou seja, ∂q∂x .
4.3.5 Avaliacao das Condicoes Necessarias para Instabilidade
Vamos agora aplicar os criterios de avaliacao das condicoes necessarias para insta-
bilidade, para avaliar se o sistema SNB e instavel. A Figura 4.10 apresenta os resultados
dos perfis deN2 (painel superior esquerdo), de ∂q∂x
(painel superior direito), de v (painel
inferior esquerdo) e de ∂v∂z
(painel inferior direito).
Analisando o perfil de ∂q∂x
(Figura 4.10 no painel superior direito) podemos observar
que o valor desta propriedade troca de sinal por volta de 65 m de profundidade. Os
valores proximos ao fundo sao positivos e bastante pequenos em modulo. O perfil
apresenta um maximo negativo em cerca de 350 m. Podemos afirmar entao, que o
primeiro criterio e satisfeito, pois o gradiente zonal de q troca de sinal na coluna de
agua.
O segundo criterio tambem e satisfeito pois o valor de ∂q∂x
possui o mesmo sinal,
abaixo dos 65 m, que o gradiente vertical de velocidade (∂v∂z
) na superfıcie.
A terceira condicao depende da avaliacao do sinal de (1 − ∂h∗
∂z)∂v∂z
junto ao fundo.
Como o valor de ∂v∂z' 0 no fundo, este termo e praticamente zero, independente da
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 69
presenca ou nao da topografia. Assim o terceiro criterio de instabilidade e sempre
satisfeito.
Podemos assim afirmar que o todas as condicoes necessarias para instabilidade
baroclınica de cisalhamento vertical sao satisfeitas.
4.3.6 Resultados da Analise de Instabilidade
Conforme citado anteriormente, assumimos uma solucao ondulatoria (Equacao 4.30)
em y e obtemos o conjunto de equacoes 4.33, 4.34 e 4.35. De posse dos perfis medios
de v, N2 e q, essas equacoes sao resolvidas numericamente como um problema de au-
tovalores. Deste calculo obtemos as propriedades de estabilidade das ondas instaveis,
sao estas, velocidade de fase, comprimento de onda e taxa de crescimento. Adotando
como largura do canal 2L = 200 km, aplicamos o modelo unidimensional.
O resultado da analise de instabilidade encontra-se apresentado na Figura 4.11. Ob-
servamos que o modelo preve ondas fracamente, baroclinicamente instaveis. E im-
portante ressaltar, que as condicoes necessarias nao sao suficientes sob a otica quasi-
geostrofica, em um modelo unidimensional e a SNB e aparentemente estavel a julgar
pelos resultados obtidos.
Certamente, os resultados do modelo unidimensional sugerem um comportamento
da SNB similar ao de outras CCOs em termos de crescimento de meandros e instabili-
dade. A Corrente da Florida e, mais ao norte da costa leste americana, a CG, tendem
a apresentar meandros de pouca intensidade. Tais correntes transportam aproxima-
damente 30 Sv, tal qual a SNB. A unica execao aparente de ocorrencia de tal insta-
bilidade, enquanto flui ao largo da margem continental norte americana e nos entor-
nos da elevacao de Charleston, onde a CG desenvolve trens de onda baroclinicamente
instaveis [Xue & Mellor, 1993]. E notorio o processo de instabilizacao da CG somente
apos a separacao da margem, ao largo do Cabo Hatteras.
O mesmo pode ser dito da CNB, formada a partir da SNB e que atravessa o equador
carreando mais de 35 Sv. Esta corrente so se instabiliza e emite vortices anticiclonicos
no processo de separacao da costa em cerca de 6-7 N [Johns et al., 1990; Silveira et al.,
2008].
Em contra posicao, a CB e uma CCO fraca e transporta apenas 5-10 Sv entre 20 e
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 70
0 1 2 3 4
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0Frequencia de Empuxo [N2]
[104 rad2 s−2]
Pro
fund
idad
e [m
]
−0.5 0 0.5
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0∂ q / ∂ x
[109 (m s)−1]
Pro
fund
idad
e [m
]
−0.5 0 0.5 1
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0v
[m/s]
Pro
fund
idad
e [m
]
−6 −4 −2 0 2
−2200
−2000
−1800
−1600
−1400
−1200
−1000
−800
−600
−400
−200
0∂ v/ ∂ z
[103/s]
Figura 4.10: O painel da superior esquerdo apresenta o perfil medio de N2, o painel superioresquerdo apresenta o gradiente zonal de vorticidade potencial, o painel inferior esquerdo apre-senta o perfil de velocidade interpolado dinamicamente com quatro modos e o painel inferiordireito apresenta gradiente vertical de velocidade.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 71
0 100 200 300 400 500 6000
0.002
0.004
0.006
0.008
0.01
Tax
as d
e C
resc
imen
to [d
ias−
1 ]
Comprimento de Onda [km]
Figura 4.11: Taxas de crescimento das ondas instaveis previstas pelo modelo.
30 S. Nesta faixa de latitude, a corrente se instabiliza com frequencia, forma amplos
meandros ciclonicos que ocasionalmente se desprendem da corrente. A CB, enquanto
flui ao largo da margem continental brasileira, parece ser baroclinicamente instavel
[Silveira et al., 2004, 2008].
No entanto, devemos voltar a pergunta inspecionando a serie de tempo de velo-
cidades do fundeio K2 e procurar por eventos extremos, apesar da curta extensao da
serie temporal.
Analisando as series de correntometria (Figura 4.12), verificamos a ocorrencia de
um evento, em abril de 2002, possivelmente associado a um processo de instabilidade.
Ao visualizar a serie temporal de anomalia (Figura 4.13) podemos observar os intensos
valores de magnitude associados ao unico evento encontrado na serie. Selecionamos
entao, o perıodo da ocorrencia do evento e obtemos o perfil da anomalia da compo-
nente de velocidade along-stream.
De uma forma geral, os valores associados a v′ sao cerca de 1/3 da magnitude do
jato medio da SNB na regiao de seu nucleo. A unica excecao e o perıodo demarcado nas
Figuras 4.12 e 4.13 onde a velocidade da SNB chega a ser revertida em toda a coluna
de agua.
Este evento pode representar a evidencia de um fenomeno de instabilidade nao
capturado pela estrutura simples do modelo unidimensional baroclınico. Ou seja, a
ocorrencia de um fenomeno de instabilidade num escoamento que tende a ser domi-
nantemente estavel.
Existe paralelo na literatura sobre as CCOs com o que aparentemente observamos
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 72
01−Jan−2002 01−Apr−2002 01−Jul−2002 01−Oct−2002 01−Jan−2003 01−Apr−2003 01−Jul−2003
1 m.s−1
130 m
150 m
197 m
240 m
310 m
353 m
496 m
906 m
1405 m
1888 m
Figura 4.12: Series brutas correntograficas do fundeio K2. A regiao em destaque evidencia operıodo onde ocorreu o evento em abril de 2002. Ressaltamos que os vetores estao orientadosnas direcoes along-stream e cross-stream.
01−Jan−2002 01−Apr−2002 01−Jul−2002 01−Oct−2002 01−Jan−2003 01−Apr−2003 01−Jul−2003
1 m.s−1
130 m
150 m
197 m
353 m
310 m
240 m
496 m
1888 m
1405 m
906 m
Figura 4.13: Series temporais da anomalia de velocidade. A regiao em destaque evidencia operıodo onde ocorreu o evento em abril de 2002. Ressaltamos que os vetores estao orientadosnas direcoes along-stream e cross-stream.
CAPITULO 4. ANALISE DINAMICA 73
na serie do fundeio K2. Van Der Vaart & De Ruijter [2001] descrevem a Corrente das
Agulhas enquanto flui ao largo da borda oeste do continente africano como uma cor-
rente essencialmente com caracterısticas de escoamento estacionario. Meandros gran-
des e isolados pertubam este padrao comportado da Corrente das Agulhas cerca de
cinco vezes por ano e se propagam em direcao ao polo. Tais meandros sao denomi-
nados “Pulsos de Natal” e, segundo os autores, ocorrem devido a instabilidade ba-
rotropica no flanco costeiro da corrente. A Corrente das Agulhas transporta cerca de
cerca de 70 Sv. Assim, especulamos que o fenomeno detectado apenas uma unica vez
na serie de 457 dias do Fundeio K2 seja uma instabilidade barotropica em forma de
pulso.
Capıtulo 5
Consideracoes Finais
5.1 Sumario e Conclusoes
Esta dissertacao visa a investigacao da dinamica da variabilidade de meso-escala
do sistema Sub-corrente Norte do Brasil (SNB). Duas hipoteses nortearam o desenvol-
vimento do corrente trabalho. A primeira diz respeito a estrutura dinamica associada
ao jato basico da SNB ser semelhante (ou nao) aquelas de outras CCOs do Oceano
Atlantico, tais quais a CB e a CG. A segunda hipotese e que as ondas de meso-escala
associadas ao meandramento da SNB apresentam (ou nao) potencial de crescimento
capaz de perturbar e descaracterizar o padrao do escoamento medio.
Este estudo foi conduzido atraves de um elenco de analises estatısticas e dinamicas
com os dados de um fundeio correntografico e dados hidrograficos obtidos pela Uni-
versidade de Kiel (Alemanha) na latitude de 10,5 S [Schott et al., 2005]. Em particular,
selecionamos o fundeio K2 por este ter estado situado sob a isobata de 2320 m, bas-
tante proximo da regiao do nucleo da SNB. Ressaltamos que o presente trabalho difere
em escopo de Schott et al. [2005], que apresentou uma gama de analises envolvendo a
variabilidade do transporte do sistema SNB e estendendo seus estudo ao domınio da
CCP. Nao houve inferencias acerca da dinamica da SNB neste estudo.
O primeiro passo no intento de testar as duas hipoteses foi obviamente o de avaliar
o tratamento basico do conjunto de dados, tanto das series temporais de velocidade
oriundas do fundeio correntografico K2 (fevereiro de 2002-maio de 2003) quanto dos
dados de natureza quase-sinotica associados a uma unica radial hidrografica com per-
filagens superfıcie-fundo por CTD e LADCP (marco-abril de 2000). Tais dados foram
obtidos do Banco Nacional de Dados Oceanograficos da Marinha da Brasil.
74
CAPITULO 5. CONSIDERACOES FINAIS 75
A avaliacao e pre-tratamento consistiram em procedimentos basicos, que incluiram
a remocao de dados espurios. Embora o intento do trabalho seja o de investigar a
dinamica da SNB em escala sub-inercial, julgamos importante conhecer a relevancia
das correntes de mare barotropica na regiao, bem como o potencial de geracao e exis-
tencia das mares baroclınicas. As ondas baroclınicas podem contaminar seriamente a
qualidade e interpretacao dos dados quase-sinoticos. Os resultados da aplicacao da
analise harmonica mostraram que os valores da magnitude das correntes de mare sao
inferiores a 10% da serie total. A aplicacao do modelo linear de geracao de mare in-
terna, segundo Pereira et al. [2002], indicou pouco potencial de geracao na regiao. A
etapa subsequente foi a de aplicacao de um filtro digital Butterworth de 63h, aproxi-
mado perıodo inercial local, para retencao apenas dos sinais associados a variabilidade
sub-inercial.
O segundo passo rumo ao teste das hipoteses foi o de construir o jato basico da
SNB e descrever os padroes verticais dominantes, e variacoes temporais a estes associ-
ados, relacionados as perturbacoes sobre este jato basico. Ou seja, aplicamos analises
estatısticas a series temporais do fundeio K2. Para o jato basico, medias aritmeticas
simples das series em 10 nıveis correntograficos foram obtidas. Para as perturbacoes,
a analise na forma de funcoes ortogonais empıricas (EOF) foi realizada.
A plotagem dos vetores do jato medio sobre o mapa da regiao e unidirecionalidade
destes com a profundidade fizeram-nos optar por trabalhar com componentes paralela
(along-stream) e normal (cross-stream). Rotacionamos, entao, os valores de corrente em
aproximadamente 39o relativamente ao norte verdadeiro. O perfil do jato along-stream,
apresenta seu maximo em sub-superfıcie (≈ 250 m) com velocidades de cerca 0,70 m
s−1, associado ao nucleo da SNB, fluindo para nordeste. A inversao do fluxo ocorre em
torno de 1350 m, onde registramos o que se trata provavelmente de uma parcela fraca
da CCP fluindo para sudoeste.
Utilizando as series correntograficas rotacionadas, calculamos os modos EOF de
forma escalar para as perturbacoes na direcao along-stream, seguindo a metodologia
que Silveira et al. [2008] usaram para estudo semelhante aplicado a CB. Pelo criterio
de Preisendorfer [1988], apenas um modo e estatisticamente significante ao nıvel de
95% e, este, explica 74 % da variancia total das series correntograficas. A estrutura
CAPITULO 5. CONSIDERACOES FINAIS 76
vertical do modo e demarcada por um decaimento monotonico da velocidade com
a profundidade. Nao ha intensificacao em nıvel picno ou subpicnoclınico, como no
escoamento medio da SNB. Em sıntese, utilizando a analise EOF do fundeio K2, o
padrao vertical de variabilidade e descrito apenas por um unico modo e este apresenta
uma estrutura vertical distinta e mais simples que a do escoamento basico da SNB.
A investigacao do conteudo espectral da serie de amplitude do modo EOF nao reve-
lou perıodos significativos de oscilacao, representando, assim, um espectro vermelho,
tıpico de series envolvendo fluidos geofısicos. Estes resultados sao semelhantes aos
encontrados por Lippert & Briscoe [1990] para a CG e Lima [1997] e Silveira et al. [2008]
para a CB ao largo do sudeste brasileiro.
Entretanto, notamos uma regiao com perıodos entre 40 e 90 dias que se destaca no
espectro de uma forma geral. Atribuımos estas oscilacoes a ondas de vorticidade. Uma
classe destas ondas e aquela que esta relacionada ao meandramento da SNB e, que de
acordo com o o perfil do modo EOF, decaem em amplitude com a profundidade. Tais
ondas seriam tipicamente de meso-escala e teriam sua existencia possıvel devido ao
gradiente de vorticidade potencial associado aos cisalhamentos medios vertical e hori-
zontal da SNB. A outra classe seria a de ondas de vorticidade planetarias baroclınicas
curtas, que geradas no interior da bacia do Atlantico, atingiriam o contorno oeste na
regiao de estudo. Enquanto nao encontramos na literatura informacoes sobre as ondas
de vorticidade de meso-escala ligadas ao meandramento da SNB, Polito & Sato [2003]
estudaram as ondas planetarias na regiao oceanica adjacente e um pouco ao norte de
nossa area de estudo. Estes autores encontraram ondas de perıodo de 66±23 dias e
comprimento de onda de O(1000) km. Tais ondas, estariam no limite entre o que e de-
finido como meso e grande escalas. Apesar da serie ser curta (457 dias), e notorio que
existe energia na banda de grande escala, provavelmente associada ao ciclo sazonal e
anual, bem como ondas de Rossby planetarias baroclınicas de perıodo mais longo.
Os resultados das analises estatısticas forneceram os subsıdios iniciais para o teste
das duas hipoteses, e consequente atendimento aos objetivos propostos para a disserta-
cao. O perfil along-stream da SNB, conjugado com os dados hidrograficos e de LADCP,
permitem a avaliacao da estrutura dinamica desta sub-corrente tanto em termos do
seu conteudo modal quanto da estrutura de vorticidade potencial. A analise de EOF
CAPITULO 5. CONSIDERACOES FINAIS 77
produziu como resultados o padrao vertical dominante, cujo conteudo modal tambem
precisa ser avaliado, e perıodos dominantes que demarcam os fenomenos ligados a
variabilidade de meso-escala da SNB.
O terceiro e ultimo passo para o teste das hipoteses deste trabalho e um conjunto
de analises dinamicas baseadas no modelo quase-geostrofico. Os requisitos para que
esta teoria fosse utilizada foram satisfeitos com parametros tais quais os numeros de
Rossby advectivo e de estiramento serem de O(10−1).
Calculamos os modos dinamicos a partir de um perfil vertical da frequencia de em-
puxo obtida atraves dos dados hidrograficos, procuramos avaliar a estrutura dinamica
da SNB e os modos dinamicos dominantes em sua estrutura. Seguimos a metodologia
utilizada por Silveira et al. [2000b] e Urbano & Silveira [2003] para a CNB e a CCNE ao
norte do equador, respetivamente.
Para avaliar a composicao modal da SNB e calcular suas respectivas amplitudes,
novamente utilizamos os dados da radial de LADCP, amostrada em marco-abril de
2000, que fortuitamente, possui o escoamento muito semelhante ao estado basico da
SNB. Desta maneira, realizamos a recomposicao modal dos perfis de velocidade uti-
lizando ate seis modos dinamicos (o modo barotropico e os cinco primeiros modos
baroclınicos) e os comparamos com a secao de velocidade do LADCP via raiz do erro
medio quadratico normalizado (REMQN ). O resultado da projecao modal na secao
de LADCP da SNB revelou que a estrutura dinamica da SNB e bastante complexa e
que sao minimamente necessarios quatro modos dinamicos para que a estrutura de
velocidades, com nucleo em subsuperfıcie, seja reproduzida.
Chegamos, assim, a resposta do teste da primeira hipotese deste trabalho. A SNB
apresenta estrutura dinamica distinta das outras CCOs do Oceano Atlantico. A CG,
por exemplo, e amplamente dominada pelos dois primeiros modos (barotropico e pri-
meiro baroclınico) [Johns, 1988]. A CNB e dominada pelos dois primeiros modos ba-
roclınicos [Silveira et al., 2000a]. A CB, pelo menos enquanto flui ao largo do sudeste
brasileiro, e essencialmente constituıda pelo primeiro modo baroclınico [Silveira et al.,
2008]. Resta discutirmos a avaliacao da estrutura dinamica devido a vorticidade po-
tencial.
Buscamos tambem, avaliar a estrutura dinamica dos modos estatısticos, com o ob-
CAPITULO 5. CONSIDERACOES FINAIS 78
jetivo de verificar a composicao modal das ondas de vorticidade associadas a SNB.
Desta maneira, realizamos a projecao dos modos dinamicos sobre os estatısticos. Veri-
ficamos que, a estrutura dinamica do primeiro modo estatıstico e mais simples que a
do jato basico, visto que, a soma dos dois primeiros modos dinamicos responde por 67
% do perfil estatıstico. E evidente a dominancia dos tres primeiros modos (barotropico
e os primeiros dois baroclınicos), que somados explicam mais de 90 % da estrutura
do modo EOF. Novamente este resultado para se contrapoe ao de outras CCOs do
Oceano Atlantico. Por exemplo, o perfil vertical das ondas de vorticidade ligadas ao
meandramento da CB apresentam estrutura dinamica mais complexa que a do jato
medio [Silveira et al., 2008]. No caso da SNB, o oposto parece ser verdadeiro.
A interpretacao conjunta dos resultados desta projecao com aqueles das analises
EOF e espectral, nos permitiu afirmar que as pertubacoes v′ superpostas a SNB estao
associadas a ondas de vorticidade baroclınicas. Estas ondas sao de meso-escala e de
grande escala. Dentre as ondas de meso-escala, encontramos ondas associadas ao me-
andramento da SNB e, portanto, devem sua origem ao gradiente de vorticidade poten-
cial medio associado a propria corrente. Desconsideramos em nossa analise dinamica
as ondas baroclınicas curtas planetarias pela dificuldade interpretativa de seu sinal de-
vido aos processos de reflexao e dissipacao dentro da camada limite oeste.
As analises estatıstica e dinamica revelaram que existem ondas de vorticidade su-
perpostas a SNB. Esta questao conduz ao teste da segunda hipotese de trabalho desta
dissertacao acerca das ondas de vorticidade serem geofisicamente instaveis. Em outras
palavras, o teste da hipotese e avaliar se Sistema SNB e potencialmente instavel e se as
ondas possuem taxa de crescimento robustas o suficiente para dominar o escoamento
total. A analise de instabilidade mais simples e aquela onde se aplica a teoria linear
e se avalia se o escoamento basico e baroclinicamente ou barotropicamente instavel.
Para realizar esta avaliacao utilizamos a formulacao de um modelo unidimensional no
plano f de Silveira et al. [2008], a partir das as equacoes de conservacao da vorticidade
potencial, onde as ondas crescem em amplitude num canal de profundidade variavel.
Dada a natureza do conjunto de dados que dispomos, e possıvel avaliar quantitati-
vamente a instabilidade baroclınica e qualitativamente, o fenomeno de instabilidade
barotropica. No primeiro caso, trata-se de um fenomeno ligado ao cisalhamento verti-
CAPITULO 5. CONSIDERACOES FINAIS 79
cal das correntes, enquanto o segundo caso, ao cisalhamento horizontal.
Com a informacao de que quatro modos dinamicos sao necessarios para a reconsti-
tuicao modal da SNB, interpolamos dinamicamente, via modos dinamicos quasi-geos-
troficos, o perfil medio dos dados do Fundeio K2. Com isso, obtivemos perfis contınuos
de velocidade along-stream e juntamente com o perfil vertical da frequencia de estratifi-
cacao, construimos o gradiente cross-stream de vorticidade potencial para a entrada no
modelo de instabilidade.
Antes disso, completamos o teste da primeira hipotese ao avaliar a estrutura do gra-
diente de vorticidade potencial da SNB. Em particular, a particao de contribuicao entre
os gradientes de vorticidade de estiramento e de vorticidade relativa. Observamos
que as duas quantidades apresentam a mesma ordem de grandeza, o que representa
uma diferenca importante relativamente aos trabalhos de Johns [1988] para a CG e Sil-
veira et al. [2008] para a CB. Nestes dois casos, o gradiente de vorticidade estiramento
domina amplamente a dinamica destas correntes.
Os resultados da modelo de instabilidade previram ondas fracamente, baroclini-
camente instaveis. E importante ressaltar, que as condicoes necessarias nao sao su-
ficientes sob a otica quasi-geostrofica, em um modelo desta natureza e a SNB e apa-
rentemente baroclinicamente estavel a julgar pelos resultados obtidos. Este carater,
aparentemente estavel, sugere um corportamento da SNB similar ao de outras CCOs,
enquanto fluindo ao largo das margens continentais, em termos de crescimento de me-
andros e instabilidade. A excecao aqui e a CB [Silveira et al., 2008].
Os diagramas vetoriais (ou stickplots) exibem vetores de velocidade que aparente-
mente confirmam os resultados obtidos apesar do curto tamanho da serie (457 dias).
A SNB e um escoamento relativamente pouco perturbado e os meandros sao, geral-
mente, de pequena amplitude. Exemplificamos citando que a energia cinetica pertur-
bada media da serie e apenas 19% da energia media do jato medio.
Em contra-ponto, observamos a ocorrencia de um unico evento, em abril de 2002,
possivelmente esta associado a um fenomeno de instabilidade e que motivou, na rea-
lidade, o estabelecimento da segunda hipotese de trabalho. Tal evento nao consegue
ser explicado pelos resultados do modelo simples aqui utilizado. Os valores de v′ sao
cerca de 1/3 da magnitude do jato medio da SNB na regiao de seu nucleo, com excecao
CAPITULO 5. CONSIDERACOES FINAIS 80
do perıodo do evento citado, onde a velocidade da SNB chega a ser revertida em toda
a coluna de agua. Em termos de energia cinetica, para o perıodo do evento, a ener-
gia das pertubacoes e da mesma ordem de grandeza da do jato medio. Especulamos
que este unico fenomeno detectado nas series do Fundeio K2 esteja associado a uma
instabilidade barotropica em forma de pulso, fazendo um paralelo ao trabalho de Van
Der Vaart & De Ruijter [2001] para a Corrente das Agulhas. A natureza e extensao de
nossos dados impedem a investigacao deste fenomeno.
Assim, o teste da segunda hipotese e respondido em termos de que o sistema SNB
e baroclinamente estavel e, se ocorrerem instabilidades, elas advem de sıtio ao norte
da area de estudo e tem caracterısticas muito especıficas, como as dos Pulsos de Natal
na Corrente das Agulhas.
5.2 Sugestoes para Trabalhos Futuros
Dentro dos estudos a serem conduzidos, visando dar continuidade ao presente tra-
balho, sugerimos:
• Avancar no pesquisa teorica dos processos de instabilidade geofısica do Sistema
SNB, a partir da utilizacao de modelos seccionais, que permitam avaliar tanto a
instabilidade baroclınica, quanto o efeito da instabilidade barotropica.
• Realizar estudos numericos visando a compreensao da geracao e propagacao de
pulsos da SNB, bem como possıveis interacoes com a CCP. Investigacoes so-
bre a dinamica do Sistema SNB e simulacoes numericas de condicoes em que
a SNB flui ou nao paralelamente a costa, ao norte da area de estudo, sao ne-
cessarias. Estas podem ajudar a esclarecer o papel dos processos de interacao
onda-escoamento basico, os quais podem vir a contribuir para uma melhor com-
preensao do re-estabelecimento da estrutura da SNB.
• Ampliar o conjunto de dados com series correntograficas mais longas e contınuas,
tal como melhor resolucao vertical das medicoes.
Referencias Bibliograficas
Arnaut, S., 1987: Tropical Atlantic geostrophic currents and ship drifts. Journal of Ge-
ophysical Research-Oceans, 92(C5), 5076 – 5088.
Baath, M., 1974: Spectral Analysis in Geophysics. Elsevier, Amsterdam, 1 edicao, 563 pp.
Baines, P. G., 1973: Generation of internal tides by flat-bump topography. Deep-Sea
Research, 20(2), 179 – 205.
Charney, J. G., 1947: The dynamics of long waves in a baroclinic westerly current.
Journal of the Atmospheric Sciences, 4, 135–162.
Charney, J. G. & M. Stern, 1962: On the stability of internal baroclinic jets in a rotating
atmosphere. Journal of the Atmospheric Sciences, 19, 159–172.
Craig, P. D., 1987: Solutions for the internal tide generation over coastal topography.
Journal of Marine Research, 45, 83–105.
Cushman-Roisin, B., 1994: Introduction to geophysical fluid dynamics. Prentice Hall, En-
glewood, Cliffs, New jersey, 320 pp.
Denbo, D. W. & J. S. Allen, 1984: Rotary empirical orthogonal function analysis of
current near Oregon Coast. Journal of Physical Oceanography, 14(1), 35 – 46.
Eady, E. J., 1949: Long waves and cyclone waves. Tellus, 1, 33–52.
Emery, W. J. & R. E. Thomson, 1997: Data Analysis Methods in Physical Oceanography.
Pergamon, New York, 1 edicao, 634 pp.
Flierl, G. R., 1978: Models of vertical structure and the calibration of two-layer model.
Dynamics of Atmospheres and Oceans, 2, 341–381.
81
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 82
Franco, A. d. S., 1966: Tides. Fundamentals, prediction ans analysis. International Hydro-
graphic Bureau, Monaco, 369 pp.
Green, J. S. A., 1960: A problem in baroclinic stability. The Quarterly Journal of the Royal
Meteorological Society, 86, 237–251.
Johns, W., T. Lee, F. Schott, R. Zantopp, & R. Evans, 1990: The North Brazil Current
reflection: seasonal structure and eddy variability. Journal of Geophysical Research,
95(C12), 22.103–22.120.
Johns, W. E., 1988: One-dimensional baroclinically unstable waves on the Gulf Stream
potencial vorticity gradient near Hatteras. Dynamics of Atmospheres and Oceans, 11,
323–350.
Lima, J. A. M., 1997: Oceanic Circulation on the Brazil Current shelf break and slope at
22o S. Tese de Doutorado, University of New South Wales, 144 pp.
Lippert, A. & M. G. Briscoe, 1990: Observations and eof analysis of low-frequency
variability in the western part of the Gulf-Stream recirculation. Journal of Physical
Oceanography, 20(5), 646 – 656.
Lippert, A. & M. G. Briscoe, 1995: Antartic Intermediate Water circulation in the Tro-
pical and Subtropical South Atlantic. Journal of Geophysical Research-Oceans, 100(7),
13.441–13453.646.
Mattos, R. A., 2006: Feicoes de Meso e Grande Escalas da Corrente do Brasil as Largo
do Sudeste Brasileiro. Tese de Mestrado, Instituto Oceanografico, Universidade de
Sao Paulo, 126pp.
Molinari, R. L., 1983: Observations of near-surface currents and temperature in the
central and western tropical Atlantic-Ocean. Journal of Geophysical Research-Oceans
and Atmospheres, 88(NC7), 4433 – 4438.
Owens, W. B., 1985: A statistical description of the vertical and horizontal structure
of eddy variability on the edge of the Gulf Stream recirculation. Journal of Physical
Oceanography, 15(2), 195 – 205.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 83
Pawlowicz, R., B. Beardsley, & S. Lentz, 2002: Classical tidal harmonic analysis inclu-
ding error estimates in MATLAB using T-TIDE. Computers & Geosciences, 28(8), 929
– 937.
Pedlosky, J., 1987: Geophysical Fluid Dynamics. Springer-Verlag, New York, 2 edicao,
710 pp.
Pereira, A. F., A. Beckmann, & H. H. Hellmer, 2002: Tidal mixing in the southern Wed-
dell Sea: Results from a three-dimensional model. Journal of Physical Oceanography,
32(7), 2151 – 2170.
Philander, S., 1990: El Nino La Nina, and the southern oscillation. International Geophy-
sics Series, pag. 288p.
Polito, P. & W. Liu, 2003: Global Characterization of Rossby Waves at Several Spectral
Bands. Journal of Geophysical Research, 108(3018).
Polito, P. S. & O. T. Sato, 2003: Patterns of sea surface height and heat storage associated
to intraseasonal Rossby waves in the tropics. Journal of Geophysical Research-Oceans,
108(C12).
Preisendorfer, R. W., 1988: Principal component analysis in Meteorology and Oceanography.
Elsevier, Amsterdam, 1 edicao, 126 pp.
Rennell, J., 1932: An investigation of the currents of the Atlantic Ocean, and one those which
prevail between the Indian Ocean and the Atlantic. J. G. & F. Rivington, London, 2 edicao,
299 pp.
Richardson, P. L. & D. Walsh, 1986: Mapping climatological seasonal variations os sur-
face currents in the tropical Atlantic using ship drifts. Journal of Geophysical Research-
Oceans, 91(C9), 537 – 550.
Sambridge, M. & K. Mosegaard, 2002: Monte Carlo Methods in Geophysical Inverse
Problems. Reviews of Geophysics, 40(3), 1009.
Sato, T. & T. Rossby, 2000: Seasonal and Low-Frequency Variability of the Meridional
Heat Flux at 36 Degrees N in the North Atlantic. Journal of Physical Oceanography,
30(3), 606–621.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 84
Schmid, C., H. Schafer, G. Podesta, & W. Zenk, 1995: The Vitoria Eddy and its relation
to the Brazil Current. Journal of Physical Oceanography, 25(11), 2532–2546.
Schmid, C., G. Siedler, & W. Zenk, 2000: Dynamics of the Intermediate Water i the
Subtropical South Atlantic. Journal of Physical Oceanography, 30, 3191–3211.
Schott, F., M. Dengler, R. Zantopp, L. Stramma, J. Fischer, & P. Brandt, 2005: The Shal-
low and Deep Western Boundary Circulation of the South Atlantic at 5o -11oS. Journal
of Physical Oceanography, 35, 2031–2053.
Silveira, I. C. A., W. Brown, & G. Flierl, 2000a: Dynamics of the North Brazil Current re-
troflection region from the Western Tropical Atlantic Experiment observations. Jour-
nal of Geophysical Research-Oceans, 105(C12), 28.559 – 28.583.
Silveira, I. C. A., L. Calado, B. M. Castro, M. Cirano, J. A. M. Lima, & A. D. S. Masca-
renhas, 2004: On the baroclinic structure of the Brazil Current-Intermediate Western
Boundary Current system at 22o − 23o S. Geophysical Research Letters, 31(14).
Silveira, I. C. A., G. R. Flierl, & W. S. Brown, 1999: Dynamics of separating western
boundary currents. Journal of Physical Oceanography, 29(2), 119 – 144.
Silveira, I. C. A., J. A. Lima, A. C. K. Schmidt, W. Ceccopieri, A. Sartori, & R. F. C.
Fontes, 2008: Is the meander growth in the Brazil Current system due to baroclinic
stability? Dynamics of Atmospheres and Oceans.
Silveira, I. C. A., L. B. Miranda, & W. S. Brown, 1994: On the origins of the North Brazil
Current. Journal of Geophysical Research-Oceans, 99(C11), 22.501 – 22.512.
Silveira, I. C. A., A. C. K. Schmidt, E. J. D. Campos, S. S. Godoy, & Y. Ikeda, 2000b: A
Corrente do Brasil ao largo da costa leste brasileira. Boletim do Instituto Oceanografico,
48(2), 171–183.
Stramma, L. & M. England, 1999: On the water masses and mean circulation of the
South Atlantic Ocean. Journal of Geophysical Research-Oceans, 104(C9), 20.863 – 20.883.
Stramma, L., J. Fischer, P. Brandt, & F. Schott, 2003: Interhemispheric Water Exchange
in the Atlantic Ocean, capıtulo Circulation, variability and near-equatorial meridio-
nal flow in the central tropical Atlantic, pp 1–22. 68. Elsevier Oceanographic Series.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 85
Stramma, L., J. Fischer, & J. Reppin, 1995: The North Brazil Undercurrent. Deep-Sea
Research Part I - Oceanographic Research Papers, 42(5), 773 – 795.
Stramma, L., Y. Ikeda, & R. G. Peterson, 1990: Geostrophic Transport in the Brazil Cur-
rent region north of 20 degrees S. Deep-Sea Research Part A - Oceanographic Research
Papers, 37(12), 1875 – 1886.
Stramma, L. & F. Schott, 1999: The mean flow field of the tropical Atlantic Ocean. Deep-
Sea Research Part II - Topical Studies in Oceanography, 46(1-2), 279 – 303.
Strang, G., 1988: Linear Algebra and its applications. Harcourt Brace Jovanovich, San
Diego, 3 edicao, 505 pp.
Urbano, D. & I. Silveira, 2003: Estrutura dinamica das contracorrentes equatoriais do
Oceano Atlantico ao longo de 44o W. Revista Brasileira de Geofısica, 1, 145–161.
Van Der Vaart, P. & W. De Ruijter, 2001: Stability of western boundary currents with an
application of pulselike behavior of the Agulhas Current. Journal of Physical Oceano-
graphy, 31, 2625–2644.
Xue, H. & G. Mellor, 1993: Instability of the Gulf-Stream Front in the South-Atlantic
Bight. Journal of Physical Oceanography, 23(11), 2326–2350.