dinÂmica da produÇÃo e da decomposiÇÃo da...
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Universidade Federal de Minas Gerais
Instituto de Ciências Biológicas
Departamento de Biologia Geral
Programa de Pós-graduação em:
ECOLOGIA, CONSERVAÇÃO E MANEJO DA VIDA SILVESTRE
DINÂMICA DA PRODUÇÃO E DA DECOMPOSIÇÃO DA SERAPILHEIRA EM
QUATRO SÍTIOS DO MOSAICO FLORESTAL DO PARQUE ESTADUAL DO RIO
DOCE, MINAS GERAIS.
FLAVIA PERES NUNES
ORIENTADORA: QUEILA SOUZA GARCIA
BELO HORIZONTE
2011
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“Ela está no horizonte - me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei.
Para que serve a utopia? Serve para isso: fazer caminhar.”
Eduardo Galeano
À minha família, a de nascença e a escolhida.
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SUMÁRIO
ÍNDICE 4
AGRADECIMENTOS 5
RESUMO 6
INTRODUÇÃO GERAL 9
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 12
CAPÍTULO I - PRODUÇÃO DE SERAPILHEIRA EM DIFERENTES SÍTIOS DE UM
MOSAICO DE FLORESTA TROPICAL, NO SUDESTE DO BRASIL.
18
Resumo 19
Abstract 20
Introdução 21
Material e Métodos 22
Resultados 26
Discussão 30
Referências Bibliográficas 34
CAPÍTULO II - AVALIAÇÃO DA DINÂMICA DO DOSSEL E PRODUÇÃO DA
SERAPILHEIRA EM FLORESTA TROPICAL ATLÂNTICA, BRASIL.
39
Resumo 40
Abstract 41
Introdução 42
Material e Métodos 43
Resultados 45
Discussão 51
Referências Bibliográficas 54
CAPÍTULO III - DINÂMICA DA DECOMPOSIÇÃO E LIBERAÇÃO DE NUTRIENTES
EM FLORESTA TROPICAL ATLÂNTICA, SUDESTE DO BRASIL.
60
Resumo 61
Abstract 62
Introdução 63
Material e Métodos 65
Resultados 67
Discussão 74
Referências Bibliográficas 77
CONCLUSÃO GERAL 83
5
AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre/UFMG.
A Capes, PELD/CNPq e ao TEAM/Fundação Beth Gordon, pelo financiamento do trabalho e bolsa
de estudos.
Aos professores e colegas da ECMVS e da Botânica, pelos ótimos momentos compartilhados e
pelo memorável Curso de Campo em Ouro Preto.
Aos professores e funcionários do Laboratório de Fisiologia Vegetal pelo fundamental apoio neste
trabalho.
Aos inúmeros companheiros de jornada; Jana, Sil, Pati, Dani, Lê, Paola, Ana, Lívia, Lu, Raoni, e
tantos outros que tornaram mais leves e divertidos esses anos, em especial àqueles que se tornaram
amigos e permanecerão depois dessa fase.
Aos professores José Pires de Lemos Filho, Tereza Cristina Sposito, Alessandra Rodrigues
Kosovitz, José Eugênio Cortez Figueira, pelas valiosas contribuições ao trabalho.
Ao professor Fábio Luiz Buranelo Toral, por toda a orientação nas análises estatísticas, ao Raoni,
que sem a imprescindível ajuda teria sido impossível as análises de PCA e ao José Eugênio, pela
ajuda na interpretação dos dados.
Aos estagiários e colegas que participaram da execução deste projeto ao longo do tempo: Janaína
Diniz, Marina Dutra, Camilitx, Carol, Michelle e Renato Prado. Ao Aron, que foi o mais bravo
resistente às inúmeras amostras de liteira e coletas de campo.
Ao PERD/IEF, por todo o apoio logístico fundamental e permissão para realização dessa pesquisa.
Com muito carinho ao Marquinhos e Dona Maria, pela amizade e forte abraço.
À Queila de Souza Garcia, pela orientação, mas especialmente por ter contribuído imensamente
para meu grande crescimento pessoal.
À família Bios, pelo apoio em todas as horas. Ao Paulo e Lujan pela compreensão durante minhas
ausências e à Marcela e Gi por tudo!
À Raquel, por me ensinar a ter mais equilíbrio
Finalmente, à minha família, base de tudo e apoio fundamental nas horas mais difíceis, e aos meus
pais pelo incentivo e amor de sempre.
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RESUMO
Em ecossistemas tropicais, a manutenção da reserva orgânica do solo é permitida pela alta e
rápida produção e decomposição da serapilheira, que regula o fluxo de energia, a produção
primária e o ciclo de nutrientes nos sistemas florestais. A influência das condições ambientais que
resultam na acelerada decomposição e, consequentemente, na rápida entrada dos elementos
liberados da biomassa vegetal nos solos úmidos e pobres, têm evidenciado o dinamismo ecológico
característico das Florestas Tropicais, relacionado à variação temporal e ambiental nesses sistemas.
Nesse contexto, este trabalho avaliou as respostas de sítios de um mosaico vegetacional com
diferenças na estrutura da vegetação, cobertura do dossel e índice de área foliar (IAF), às variações
sazonais, com enfoque na produção e decomposição da serapilheira, para testar a hipótese de que a
dinâmica da serapilheira é influenciada por variáveis edafo-climáticas e da estrutura da vegetação.
O estudo foi desenvolvido em quatro sítios de mata nativa (Floresta Atlântica) dentro do Parque
Estadual do Rio Doce: Preta (4252’13”W e 1967’89”S), Central (4257’22”W e 1965’22”S),
Garapa (4256’78”W e 1968’39”S) e Aníbal (4248’71”W e 1975’22”S), que compuseram as
parcelas utilizadas pelo Tropical Ecology, Assesment and Monitoring (TEAM) Initiative. Embora
sejam próximas geograficamente, as áreas se diferem em relação à estrutura da vegetação e sua
utilização possibilitou abranger a diversidade paisagística e fisionômica dos sítios que compõem o
mosaico florestal do parque. Preta é coberta por floresta primária composta por matas altas
primárias com poucas alterações antrópicas, grande diversidade de árvores acima de 30 m de altura
e presença de epífitas vasculares em toda sua extensão, com relevo plano, próxima ao rio Doce e
lagoas marginais. Central é caracterizada por mata primária com alta diversidade de espécies
arbóreas com altura média de 25 m, com menor diversidade na vertente inferior, de inclinação
mais acentuada. Garapa é recoberta por vegetação secundária cujo dossel varia entre 18-25 metros,
apresentando clareiras distribuídas de forma esparsa, com sub-bosque denso formado por cipós e
bambus, sobre encosta de declive mediano. Aníbal é a área mais íngreme, caracterizada como
floresta estacional secundária de encosta, com altura média do estrato arbóreo superior entre 15 a
20m, com predomínio de Plathymenia foliolosa, e sub-bosque denso com grande presença de
lianas, bambus e graminóides, com grande presença de clareiras em meio à vegetação. Com
exceção de Preta, todas as parcelas foram atingidas pelo fogo na última grande queimada
registrada no Parque, em 1967.
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Mensalmente, entre 08/2005 e 07/2009, coletou-se a serapilheira em 25 coletores de 0,25 m2 em
cada uma das quatro áreas, para determinação da biomassa produzida. Para a decomposição,
retirou-se 10 sacos de 20x20 cm com 10 gramas do folhedo, para se determinar a perda de massa e
taxa de decomposição. O IAF/foto foi avaliado através de fotografias hemisféricas do dossel em
outubro/2008 e março/2009, obtido em cada um dos 25 pontos onde estavam instalados os
coletores de serapilheira. Para a determinação do IAF serapilheira utilizou-se os valores da Área
Foliar Específica (AFE), cujas medidas foram obtidas utilizando-se 10% das folhas da serapilheira
acumuladas em cada um dos 25 coletores nos quatro sítios amostrais, coletadas entre março e
outubro de 2008, representando novembro/2008, e entre novembro/2008 a fevereiro/2009,
representando março/2009. De cada coletor foram retiradas amostras das folhas produzidas,
representando 10% do total. As amostras foram escaneadas, secas e pesadas em balança de
precisão para determinação da AFE, para cálculo do IAF a partir da serapilheira (IAF serapilheira),
considerando a massa seca total de folhas em cada coletor. A caracterização climática foi feita
através dos dados mensais de temperatura atmosférica, umidade relativa do ar e precipitação
obtidos da estação meteorológica do PERD, e de coletas mensais de temperatura do solo através de
termômetros digitais e da umidade obtida em ensaio laboratorial gravimétrico. Sazonalmente,
amostras da serapilheira, do folhedo em decomposição e do solo foram analisadas quanto à
composição química dos nutrientes orgânicos celulose, lignina e polifenóis e minerais N, P, K, Ca,
S, Mg, Mn, Fe, Cu e Zn. Entre agosto/2005 e julho/2007 a média anual mais alta para a
serapilheira total foi obtida em Preta (11.09 to/ha), diferindo-se significativamente das outras áreas
(p<0.05), seguida na ordem Aníbal, Central e Garapa. A influência climática na produção de
serapilheira foi verificada apenas em relação à precipitação em Central, indicando que o clima não
influencia isoladamente na determinação da produção total de serapilheira. Entre agosto/2007 e
julho/2009, a produção de serapilheira foi maior em Central, que diferiu das demais áreas, que
seguiram a ordem Preta, Aníbal e Garapa. Estes resultados indicaram a influência da cobertura por
mata primária e altura do dossel, uma vez que Central e Preta, que obtiveram os maiores valores de
produção, diferiram-se de Garapa, que apresentou menor valor de serapilheira total, com cobertura
por mata secundária e dossel mais baixo. Esta mesma estrutura da vegetação também foi observada
em Aníbal, cuja produção de serapilheira foi semelhante à Garapa, reforçando a indicação de que a
cobertura por mata primária e a altura do dossel (indicados em trabalho anterior) influenciam a
produção de serapilheira. O IAF não apresentou variação espacial entre os sítios amostrais, mas
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apresentou variação temporal, sugerindo que, embora as áreas apresentem composição de espécies
diversificada, o comportamento fenológico da vegetação é semelhante. O comportamento oposto
entre o IAF/foto e o IAF/AFE refletiu os períodos de perda e produção de folhas, indicando a
adequação da utilização destes índices para o estudo da dinâmica do dossel em ecossistemas
florestais. A decomposição do folhedo foi semelhante entre os sítios, revelando a uniformidade ao
longo do processo, para o que contribui a boa oferta de nutrientes e em especial a alta oferta de
nitrogênio, e a relação L/N e C/N nas áreas de estudo. Preta apresentou-se diferente das demais
áreas na primeira fase do estudo, com a constante de decomposição mais alta. A composição
nutricional da serapilheira produzida, do folhedo em decomposição e do solo, foi
significativamente maior em Preta, que diferiu dos demais sítios, semelhantes entre si. A análise de
PCA permitiu formar dois grupos distintos, sendo o primeiro composto por Preta e Central, com os
maiores valores nutricionais, opondo-se a Garapa e Aníbal, com os menores valores. Em nenhum
dos sítios amostrais foram observados indícios de recalcitrância, sugerido pela boa oferta de
nitrogênio na biomassa vegetal e pela baixa relação Lignina/Nitrogênio no folhedo, que pode ter
contribuído para a diminuição na velocidade de decomposição no início do experimento,
resultando em uma uniformidade ao longo do processo. As análises permitiram concluir que a
composição nutricional do substrato e do solo, em especial a oferta de nitrogênio para a biota pode
ter contribuído para a velocidade da decomposição folhedo e reutilização dos nutrientes pela
vegetação, influenciando a qualidade nutricional da serapilheira produzida, caracterizado o
processo de ciclagem de nutrientes entre os compartimentos solo-vegetação.
Estes resultados evidenciaram a inter-relação de parâmetros relativos à estrutura da vegetação, em
especial da cobertura por mata primária, altura do dossel, abundância de indivíduos e distribuição
diamétrica, em conjunto com a composição nutricional do material vegetal e do solo, na
determinação da dinâmica de produção e decomposição da serapilheira em florestas tropicais.
Palavras-chave: Ciclagem de nutrientes, Estrutura da Vegetação, Clima, Floresta Tropical,
Dinâmica do dossel.
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INTRODUÇÃO GERAL
As florestas tropicais brasileiras são representadas por um mosaico florestal composto pela
formação Amazônica e Atlântica, caracterizadas por alta diversidade de espécies. A Mata Atlântica
é considerada um hotspot por apresentar alto grau de endemismo e estar sob grande pressão
antrópica, pois em sua área original de abrangência está inserida 60% da população brasileira
(Myers et al., 2000). Atualmente é um ambiente extremamente fragmentado com remanescentes
florestais de pouca conectividade, composto por uma matriz entremeada por núcleos urbanos e
plantações de eucalipto (Lopes et al., 2002). A grande relevância da conservação desse bioma tem
levado à necessidade de se conhecer seus processos ecológicos, frente aos atuais cenários de
alterações nas características estruturais e ambientais, de forma a promover efetivas ações de
conservação (Kuebler, 2005). Apesar de sua reconhecida importância, pouco se sabe sobre como
alterações das características ambientais podem afetar os processos ecológicos, como a degradação
da matéria orgânica e a consequente liberação de nutrientes ao solo sob florestas tropicais
(Rubinstein e Vasconcelos, 2005).
O Parque Estadual do Rio Doce (PERD) é o maior remanescente de Mata Atlântica no estado
de Minas Gerais, com grande diversidade fitofisionômica, que confere à vegetação características
de um banco de espécies vegetais com potencial para uso em manejo florestal, em programas de
recuperação e conservação ambiental (Rezende, 2001). Localizada na confluência das bacias dos
rios Doce e Piracicaba, esta Unidade de Conservação faz parte da Reserva da Biosfera da Mata
Atlântica, protegida pelo Decreto-Lei 1119 (IEF, 1994). Em conseqüência da grande extensão do
PERD, assim como da ocorrência de queimadas no passado, a vegetação apresenta um mosaico
florestal com diferentes estados de conservação ambiental (Lopes et al., 2002). Considerando as
características ambientais e o nível de intervenção humana que resultou na degradação de
extensivas áreas de floresta original, o Parque assume importante papel na conservação dos
recursos naturais regionais (Metzker et al, 2011), o que justifica sua utilização como um modelo
para o desenvolvimento de estudos em florestas tropicais.
A manutenção da estrutura peculiar e alta diversidade das florestas tropicais estão
intimamente ligadas à ciclagem de nutrientes (Clark et al., 2003), com grande dependência entre os
compartimentos vegetação e solo (Wood et al., 2009). As características edafo-climáticas
específicas regulam a magnitude da variação qualitativa e quantitativa da serapilheira que entra no
10
sistema, intimamente ligada a variações sazonais do clima, o que resulta na rápida decomposição
(Clark et al., 2003). A íntima relação entre a floresta, o clima e o solo fazem deste sistema um
modelo ideal para testar a relação entre a produção de serapilheira, o ciclo de nutrientes e os
fatores abióticos (Aerts e Chapin, 2000).
A mineralogia da matriz edáfica determina as relações árvore/solo, refletindo na
concentração de nutrientes e na bioquímica dos constituintes das folhas, que influenciam a
herbivoria, a qualidade da serapilheira, os processos de decomposição e o retorno dos nutrientes,
para serem novamente utilizados na produção de biomassa vegetal (Aersts e Chapin, 2000). Estes
processos criam um ciclo de dependência entre a dinâmica da serapilheira e as características da
vegetação (Sariyildiz e Anderson, 2005), indicando que a disponibilização de nutrientes pode
alterar a dominância de espécies e a composição e a estrutura da formação florestal (Boeger,
2005). A variação na composição de espécies modula a estrutura do dossel através do
comportamento fenológico, o que pode ser avaliado através das medidas de Índice de Área Foliar
(IAF), que determina a entrada de luz no ambiente (Hoffman et al., 2005). O IAF reflete a
liberação das folhas e, consequentemente, a quantidade de luz no sistema, o que influencia a
temperatura e a umidade do solo, regulando a dinâmica da água, do carbono e o balanço energético
do solo (Zhang et al., 2005), além de afetar os microorganismos, a fauna e a decomposição do
material vegetal sobre o solo (Gandolfi et al., 2007).
A serapilheira é a reserva de nutrientes em ecossistemas de florestas tropicais, onde os
solos são muito úmidos e pobres em nutrientes, e sua decomposição possibilita que os elementos
liberados da biomassa vegetal entrem no sistema (Martius et al., 2004). A importância de se avaliar
essa transferência está na compreensão dos reservatórios e fluxos de nutrientes nos ecossistemas,
os quais se constituem na principal via de fornecimento de nutrientes, por meio da mineralização
dos restos vegetais, desempenhando importante papel na formação e manutenção da fertilidade do
solo, bem como no fornecimento de nutrientes e matéria orgânica para a flora e fauna local (Souza
e Davide, 2001). A ciclagem de nutrientes minerais via serapilheira interfere na estrutura e
funcionamento dos ecossistemas (Cunha et al., 1993), sendo que a produção varia de acordo com o
ecossistema considerado e seu estágio sucessional (Olson, 1963), enquanto a decomposição é
regulada pelas condições do solo, fatores ambientais e pela qualidade do substrato (Souza e
Davide, 2001). Em geral, observa-se um aumento da deposição da serapilheira até a idade em que
11
as árvores atingem a maturidade ou fecham as suas copas (Vital et al., 2004), sendo que após esse
ponto pode ocorrer ligeiro decréscimo ou estabilização da produção (Bray e Ghoran, 1964).
A decomposição da serapilheira é regulada pelas características edáficas do sítio, como a
granulometria, umidade e teores de nutrientes minerais, que determinam sua degradabilidade
(Werneck et al., 2001), pela natureza da comunidade decompositora, os macro e microrganismos e
pelas condições físico-químicas do ambiente, controladas pelas variáveis climáticas (Souza e
Davide, 2001). O clima exerce um papel essencial no processo, uma vez que a disponibilidade de
água afeta os níveis de perda de massa e a liberação primária de nutrientes, através de efeitos
diretos na atividade dos decompositores (Meentemeyer, 1978, Orcahrd e Cook, 1983, Berg, 1986).
O clima também é determinante para o teor de alguns compostos na serapilheira; as concentrações
de lignina e nitrogênio aumentam significativamente com o aumento da precipitação, enquanto a
concentração de fósforo diminui (Austin e Vitousek, 2000). Além disso, a precipitação pode
controlar o processo físico de lixiviação, uma vez que a chuva exerce uma aceleração na
decomposição da serapilheira superficial (Swift et al., 1979). De modo geral, o clima controla o
processo de decomposição em escala regional, uma vez que as variáveis climáticas são os mais
fortes determinantes dos níveis de perda de massa (Dyer et al., 1990, Vitousek et al., 1994). Em
escala local, a composição química da serapilheira domina o processo (Berg, 2000) através da
qualidade do material vegetal que exerce um importante papel no retorno de nutrientes ao solo,
uma vez que a velocidade da decomposição está relacionada, principalmente, à constituição
química do substrato (Aber et al., 1991, Austin e Vitousek, 2000).
A importância da serapilheira para o incremento e manutenção da fertilidade edáfica, por
meio de mudanças que induzem no solo e no sistema vegetal (Singh et al., 2002), a caracterizam
como a principal forma de retorno de nutrientes e matéria orgânica e formação de húmus nos
ecossistemas de florestas tropicais (Spain, 1984, Goma-Tchimbakala e Bernhard-Reversat, 2006).
Dessa forma, o entendimento dos ciclos biogeoquímicos e a avaliação dos estoques de nutrientes
liberados ao solo constituem uma questão central nos estudos do funcionamento dos ecossistemas
terrestres (Martius et al., 2004), uma vez que a decomposição da matéria orgânica constitui o
principal mecanismo de suprimento da demanda de nutrientes que serão utilizados pela vegetação
local (Fonte e Schowalter, 2004). A necessidade de estabelecer relações entre as variáveis bióticas
e abióticas que regulam a ciclagem de nutrientes via serapilheira, tem motivado diversos estudos
em regiões de clima temperado (Gallardo e Merino, 1993, Cutini, 1998, 2000, 2002, Berg, 2000,
12
Carnevale e Lewis, 2001, 2005, Bastrup-Birk e Bréda, 2004) e tropical, onde se destacam os
estudos de Olson (1963), Jordan e Kline (1972), Ewel (1976), Scatena et al. (1993), Szott et al.
(1994), Stocker et al. (1995). No Brasil, diversos estudos relativos ao tema foram desenvolvidos
em matas nativas (Golley, 1978, Franken, 1979, Pagano, 1989, Pinto, 1992, César, 1993, Cunha et
al., 1993, Oliveira e Lacerda, 1993, Durigan et al., 1995, Diniz e Pagano, 1997, Oliveira e Neto,
1999, Souza e Davide, 2001, Cattanio, 2004, Rezende, 2001).
O estabelecimento das relações entre a dinâmica da serapilheira com variáveis ambientais
locais, como a dinâmica estrutural da vegetação, o clima e as características edáficas, são
essenciais para se compreender os processos ecológicos dos ecossistemas, pois os níveis de
produção e decomposição do material vegetal sobre o solo que regulam a liberação de nutrientes
afetam diretamente a vegetação (Balieiro et al., 2004). Nesse contexto, este estudo buscou avaliar
as relações entre a produção e decomposição da serapilheira com a dinâmica sazonal do dossel,
variáveis climáticas e edáficas e com a composição nutricional da vegetação e do solo, em um
mosaico florestal de Mata Atlântica no estado de Minas Gerais.
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18
CAPÍTULO I
PRODUÇÃO DE SERAPILHEIRA EM DIFERENTES SÍTIOS DE UM MOSAICO
DE FLORESTA TROPICAL, SUDESTE DO BRASIL.
19
Resumo
A produção de serapilheira é essencial na restauração e manutenção da fertilidade do solo, pois é o
principal caminho para a ciclagem de matéria orgânica e nutrientes que confere maior estabilidade
ao sistema. Considerando-se a influência de fatores bióticos e abióticos no ciclo de produção de
serapilheira em florestas tropicais, é essencial estabelecer a relação entre os fatores climáticos e
biológicos do sistema florestal, capazes de influenciar o comportamento da comunidade vegetal
em resposta às condições ambientais. Nesse contexto, este estudo avaliou os padrões sazonais e
inter-anuais da produção de serapilheira em sítios de um mosaico florestal para testar a hipótese de
que o clima e a composição e estrutura da vegetação são fatores determinantes na produção de
serapilheira em Florestas Tropicais. A produção de serapilheira foi avaliada mensalmente em
quatro sítios do Parque Estadual do Rio Doce (sudeste do Brasil), denominados localmente de
Preta, Central, Garapa e Aníbal, entre agosto/2005 a julho/2007. Em cada um dos sítios, foi
demarcado um retângulo amostral de 1 ha em seu interior, para se evitar o efeito de borda, onde
foram instalados 25 coletores suspensos e 25 de chão com 0.25 m2 de área interna. Preta
apresentou média anual mais alta para a produção de serapilheira total (11.09 to/ha), diferindo-se
significativamente das outras áreas (p<0.05), que apresentaram valores semelhantes entre si. A
produção de serapilheira seguiu a ordem Preta, Aníbal, Central e Garapa, assim como o obtido para
a abundância de indivíduos nestes sítios. A produção de serapilheira foi maior em Preta e Aníbal,
onde foram obtidos os maiores valores de abundância de indivíduos, embora esta última tenha se
assemelhado aos demais sítios. A serapilheira fina predominou na produção total, com valores
semelhantes (p>0.05) obtidos na ordem Garapa e Aníbal (87%), Preta (85%) e Central (84%). Em
relação às frações, a produção de folhas também foi semelhante em Preta (75%), Central (77%),
Garapa (80%) e Aníbal (81%). Foi verificada flutuação sazonal da biomassa, com aumento da
produção no final da estação seca e início da chuvosa, embora correlação positiva tenha sido
verificada apenas em Central entre a produção de serapilheira e precipitação (p=0.02; r=0.44) e
temperatura (p=0.01; r=0.49), ambas com baixos valores. Estes resultados indicaram a influência
de diversos parâmetros ecológicos relativos à estrutura e composição da vegetação, como a
abundância de indivíduos, cobertura por mata primária e altura do dossel, agindo de forma
conjunta com as variáveis edáficas e climáticas, na determinação da produção de serapilheira.
20
Palavras-chave: Produtividade vegetal, Sucessão ecológica, Clima, Florística e Estrutura
Florestal.
Abstract
The litter production is essential in the restoration and maintenance of the soil fertility, therefore it
is the main way for the organic matter and nutrients that confers greater stability to the system.
Considering it influence of biotics and abiotics factors in the cycle of litter production in tropical
forests, it is essential to establish the relation between the climatic and biological variations of the
forest system, capable to influence the behavior of the vegetal community in reply to the
environmental conditions. In this context, this study it evaluated the sazonals and inter-annual
standards of the litter production in sites of a forest mosaic to test the hypothesis of that the climate
and the composition and structure of the vegetation influence in the litter production in tropical
forests. Litter production was evaluated monthly in four sites of Parque Estadual do Rio Doce
(Southeastern of Brazil), local called Preta, Central, Garapa and Aníbal, between August/2005 and
July/2007. In each one of the sites a rectangle of 1 ha in its interior was demarcated, to prevent the
external effects, where 25 suspended collectors and 25 soil collectors with 0.25 m2 of internal area
had been installed. Preta presented the more advanced succession state of development in relation
to the other sites and higher annual average for the total litter production (11,09 you /ha), differing
itself significantly from the other sites (p0.05). The fine litter production was more representative,
gotten in the order Garapa and Aníbal (87%), Preta (85%) and Central (84%). In relation to the
fractions, the leaf production also was similar in Preta (75%), Central (77%), Garapa (80%) and
Aníbal (81%). Seasonal fluctuation of the biomass was verified, with increase of the production in
the end of the dry station and beginning of the rainy one, even so positive correlation has been
verified only in Central enters the litter production and precipitation (p=0.02; r=0.44) and
temperature (p=0.01; r=0.49), both with low values. These results had indicated the influence of
diverse relative ecological parameters to the structure and composition of the vegetation, as the
abundance of individuals, covering for primary forest and height of the canopy, acting of joint
form with the soil and climatic variables, in the determination of the litter production
Key-words: Vegetal productivity, Ecological succession, Climate, Floristic and Vegetation
Structure.
21
Introdução
A produção de serapilheira é essencial para a restauração e manutenção da fertilidade do solo
(Ewel, 1976), pois é a principal via de ciclagem de matéria orgânica e de nutrientes capaz de
conferir maior estabilidade ao sistema (Jordan e Kline, 1972). Este processo varia de acordo com o
ecossistema considerado e seu estágio sucessional e promove o retorno de nutrientes da
comunidade vegetal para o solo e manutenção da fertilidade edáfica (Leitão Filho, 1993),
permitindo comparar comunidades através de parâmetros quantitativos de seu funcionamento
(Olson, 1963). Em ecossistemas tropicais, caracterizados pela alta produção e rápida decomposição
da serapilheira (Pragasan e Parthasarathy, 2005), a acelerada ciclagem de nutrientes promove a
manutenção da reserva orgânica da biomassa viva nos sistemas florestais (Sundarapandian e
Swamy, 1999). A influência das condições ambientais que resultam na rápida entrada dos
elementos liberados da biomassa vegetal nos solos úmidos e pobres (Martius et al., 2004) tem
evidenciado o dinamismo ecológico característico das florestas tropicais relacionado à variação
temporal e ambiental nesses sistemas (Tian et al., 1998, Clark et al., 2003, Woodd et al., 2009).
A deposição da serapilheira é influenciada pela interação de fatores bióticos e abióticos que
podem prevalecer sobre os demais, de acordo com as peculiaridades de cada sistema (Vital et al.,
2004, Brun et al., 2001). O comportamento estacional da produção de serapilheira decorre,
principalmente, do comportamento da fração foliar, visto que esta é a constituinte mais importante
da serapilheira e a que apresenta resposta mais definida às variações das condições climáticas
(Bray e Ghoran, 1964). Em florestas tropicais, a produção de serapilheira é determinada pela
abscisão foliar, estimulada pelo déficit hídrico provocado pela escassez de chuvas durante os
períodos secos, de forma que a sazonalidade pluviométrica influencia os padrões fenológicos das
espécies (Reich e Borchet, 1984).
Estudos sobre a produção de serapilheira em florestas estacionais semideciduais na região
sudeste do Brasil apontam uma nítida tendência à maior produção durante o inverno (final da
estação seca), com picos entre os meses de julho e setembro, enquanto ao longo da estação
chuvosa (verão/outono) a produção atinge seus valores mínimos (Morellato, 1992, Pagano e
Durigan, 2000, Werneck et al., 2001, Arato, 2006). Mesmo as espécies de locais onde há apenas a
diminuição da pluviosidade nos meses mais secos do ano respondem fisiologicamente à escassez
de água, explicando o comportamento das espécies deciduais (Moraes et al., 1999) e a variação na
22
produção de serapilheira ao longo do ano. A maior produção de serapilheira durante o inverno
pode estar relacionada, além da diminuição da disponibilidade de água, a respostas fisiológicas da
vegetação às condições climáticas, como a diminuição do fotoperíodo e da temperatura. A
ocorrência de dias mais curtos pode afetar a produção de etileno, um dos principais hormônios
relacionados aos processos de senescência e abscisão foliar, cuja produção varia em ritmo
circadiano (Larcher, 2000). A temperatura também pode ser um importante fator capaz de
influenciar a deposição de serapilheira ao longo do ano através de alterações nos padrões de
abscisão foliar, ocasionadas por temperaturas baixas, enquanto temperaturas mais altas podem
retardar este processo (Pinto et al., 2008, Morellato, 1992, Larcher, 2000). De acordo com o
observado em outros ecossistemas tropicais, as variações sazonais no fotoperíodo, associadas às
baixas temperaturas durante o inverno, podem ser o sinal ambiental predominante para a queda de
folhas, até mesmo sobrepondo-se a outros fatores como precipitação e umidade do solo (Martins e
Rodrigues, 1999). Como reflexo, pode-se esperar a influência de diversos fatores no ciclo de
produção de serapilheira em florestas tropicais, relacionado às características climáticas e
biológicas do sistema florestal, capazes de influenciar o comportamento da comunidade vegetal em
resposta às condições ambientais (Silva e Santos, 2008). Nesse contexto, o presente estudo avaliou
os padrões sazonais e inter-anuais da produção de serapilheira em sítios do mosaico florestal do
Parque Estadual do Rio Doce, para testar a hipótese de que o clima e as características da
vegetação são fatores determinantes na produção de serapilheira em florestas tropicais.
Material e Métodos
Área de Estudo
O trabalho foi desenvolvido no Parque Estadual do Rio Doce – PERD (19o29'24"-19
o48'18"
S e 42o28'18"-42
o38'30" W), maior remanescente da Floresta Tropical Atlântica do estado de
Minas Gerais (IEF, 1994) (Figura 1).
23
Figura 1- Mapa de Localização do Parque Estadual do Rio Doce, no Médio Vale do Rio Doce
(copiado de Metzker et al., 2011).
O Parque Estadual do Rio Doce é composto por um complexo mosaico de floresta nativa
com vários estágios sucessionais e aproximadamente 130 lagos compondo o rico sistema lacustre.
A vegetação é classificada como sasonal semi-decidual submontana (Lopes et al, 2002). O clima
da região, segundo a Classificação de Köppen, enquadra-se no tipo AW - Tropical Quente Semi-
Úmido (CETEC, 1981) com precipitação acumulada de 1.250,0 mm (84,5% do ano) na estação
chuvosa, de outubro a março, com média de temperaturas máximas de 24,7oC. A estação seca, de
maio a setembro, apresenta médias pluviométricas de 134,9 mm (9,1%), com média de
temperatura mínima de 18,8oC (Guilhuis, 1986). Para realizar uma caracterização climática
específica para o PERD durante o período de estudos, foram utilizados os dados de temperatura
máxima e mínima e de precipitação coletados pela estação meteorológica da sede do PERD.
24
Para o desenvolvimento do estudo, foram demarcados quatro sítios de mata nativa que
compõem o mosaico florestal do Parque; Preta (4252’13”W e 1967’89”S), Central (4257’22”W
e 1965’22”S), Garapa (4256’78”W e 1968’39”S) e Aníbal (4248’71”W e 1975’22”S), que
compuseram as parcelas utilizadas pelo Tropical Ecology, Assesment and Monitoring (TEAM)
Initiative. Embora sejam próximas geograficamente, as áreas se diferem em relação à estrutura da
vegetação (Metzker et al, 2011) e sua utilização possibilitou abranger a diversidade paisagística e
fisionômica dos sítios que compõem o mosaico florestal do parque, possibilitando realizar o estudo
em dois remanescentes de mata primária e dois secundários.
Para a descrição dos sítios amostrais, foram utilizados os estudos de Hirsch (2003), Silva
(2001) e Metzker et al (2011). Preta é coberta por floresta primária em toda sua extensão, com
relevo plano, próxima ao rio Doce e lagoas marginais. A vegetação é composta por matas altas
primárias com poucas alterações antrópicas, grande diversidade de árvores acima de 30 m de altura
e presença de epífitas vasculares Central é caracterizada por mata primária com alta diversidade de
espécies arbóreas com altura média de 25 m. Na vertente inferior, de inclinação mais acentuada, a
diversidade é menor, com a predominância de Astrocaryum aculeatissimum (brejaúba). Garapa é
recoberta por vegetação secundária com altura do extrato arbóreo entre 18-25 metros. Possui
encosta com declive mediano, presença de murundus e atividades de térmitas, sub-bosque denso
formado por Rhinchospora sp., cipós e bambus, com a presença de clareiras distribuídas de forma
esparsa pela área. Aníbal é a área mais íngreme, caracterizada como floresta estacional secundária
de encosta, com altura média do estrato arbóreo superior entre 15 a 20m, com predomínio de
Plathymenia foliolosa, e sub-bosque denso com grande presença de lianas, bambus e graminóides,
com grande presença de clareiras em meio à vegetação. Com exceção de Preta, todas as parcelas
foram atingidas pelo fogo na última grande queimada registrada no Parque, em 1967.
Para a caracterização dos sítios amostrais foram utilizados os dados de composição e
estrutura da vegetação obtidos por Metzker et al (2011), apresentados na Tabela 1.
25
Tabela 1- Características estruturais e de composição da vegetação e do solo nos sítios amostrais.
Característica Preta Central Garapa Aníbal
Abundância:
Árvores 613 456 415 558
Palmeiras 31 25 0 0
Lianas (CAP>10 cm) 11 12 0 3
Mata primária? Totalidade Maioria Não Não
Epífitas? Frequente Ausente Ausente Ausente
Clareiras? Baixa Baixa Esparsas Frequente
Queimadas* NR R R R
Inclinação (média) Plana (-2,6°) Alta (-19°) Média (-15,6°) Alta (-21,3°)
Solo
Tipo* MA MA A A
Saturação Al (%) 7.84 56.18 76.84 70.95
Saturação de bases (%) 46.89 9.24 5.39 7.45
Matéria orgânica (dag.Kg-1
) 4.75 5.08 3.24 2.92
Tipologia florestal Primária Primária Secundária Secundária
Altura do dossel 30 25 18-25 15-20
Distribuição diamétrica (%)
10-20 74 60 80 77
20-30 13,6 20,6 12 14
30-40 4,9 11 5,3 6,8
40-80 5.9 7.69 2.89 2.15
80-90 0,62 0,21 0,24 0
Máximo 87,6 81,9 81,3 63
*NR (não registrado), R (Registrado), MA (muito argiloso), A (Argiloso).
Metodologia
Para a realização do estudo foi utilizada uma unidade amostral de 1 ha demarcada no interior
de cada um dos sítios, para evitar a interferência do efeito de borda, onde foram implantados 25
coletores suspensos de serapilheira por área, com 0,25 m2 de área interna e fundo em tela de nylon
de 2 mm, com 23 cm de profundidade, colocados a 80 cm do chão (Kuebler, 2005). Este coletor foi
usado para coletar folhas menores que 50 cm, galhos de diâmetro inferior a 10 mm e todo o tipo de
estrutura reprodutiva. Para coletar galhos maiores que 10 cm de diâmetro e folhas grandes foram
utilizados 25 coletores de chão, feitos de esquadro de PCV de 0,25 m2 de área (Kuebler, 2005). A
coleta da serapilheira foi realizada durante o período de 24 meses, de agosto/2005 (Tempo 1) a
julho/2007 (Tempo 23).
A serapilheira armazenada nos coletores foi recolhida quinzenalmente em bolsas plásticas e
estocada em refrigerador até ser separada em folhas, galhos, flores, frutos e sementes. As amostras,
após triadas nas frações, foram acondicionadas em sacos de papel, para serem secas em estufa a
26
65ºC até peso constante, para posterior cálculo da biomassa produzida. Um maior detalhamento da
metodologia pode ser encontrado em http://www.teamnetwork.org. Para comparação dos dados,
inicialmente, os resultados da produção de serapilheira total e frações foram submetidos a testes de
normalidade e homogeneidade. Para comparação dos dados foi feita Análise de Variância, seguida
do teste de Tukey ao nível de significância de 95%, através do programa Biostat. Para se verificar
a influência do clima na sazonalidade da produção de serapilheira utilizou-se a Correlação de
Pearson do programa Biostat. Foram feitas correlações entre a precipitação do mesmo mês e de um
e dois meses anteriores e a produção total, além de correlações entre a temperatura mensal e a
produção de serapilheira.
Resultados
As variáveis climáticas registradas durante o período caracterizaram a marcante sazonalidade
do clima da região, com dois períodos distintos, verão úmido e quente, com valores máximos de
precipitação de 377 mm e temperatura máxima de 34°C, se contrapondo ao inverno frio e seco,
com mínimos de precipitação de 2 mm e temperatura mínima de 10°C (Figura 2). A precipitação
acumulada no período de estudo foi de 2.370 mm, com 1.182,19 e 1.187,36 mm de chuva no
primeiro e segundo ano, respectivamente.
jun/0
5 julag
ose
tout
novdez
jan/0
6fe
vm
ar abr
mai ju
n julag
ose
tout
novdez
jan/0
7fe
vm
ar abr
mai ju
n jul
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50Temp Min
Temp Max
Precipitação
Tempo
Pre
cip
ita
çã
o (
mm
) Te
mp
era
tura
( C)
Figura 2- Temperatura máxima e mínima e precipitação do Parque Estadual do Rio Doce, Minas
Gerais, Brasil (Dados da estação meteorológica PELD/IGAM).
27
Ao longo do período de estudo o sítio Preta apresentou média anual mais alta para a
serapilheira total (11.09 to/ha), diferindo-se significativamente das outras áreas (p<0.05) (Figura
3).
Média
Média/SD
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
To
/ha
Preta
AníbalGarapaCentral
Figura 3- Serapilheira total nos sítios amostrais entre agosto/07 e julho/09 (Médias anuais e desvio
padrão), no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil.
Em relação à produção total, a serapilheira fina predominou nos sítios amostrais, com valores
semelhantes entre as áreas (p>0.05; Tabela 2).
Tabela 2- Serapilheira total, fina e lenhosa (to/ha/ano) nos sítios amostrais no Parque Estadual do
Rio Doce, Minas Gerais, entre agosto/07 a julho/09.
Área Serapilheira Total Serapilheira Fina % Serapilheira Lenhosa %
Preta 11.09 9.43 85 1.66 15
Central 9.01 7.53 84 1.47 16
Aníbal 9.05 7.85 87 1.2 13
Garapa 9.73 8.51 87 1.22 13
28
Os resultados da produção revelaram a grande produção de serapilheira registrada nos sítios
amostrais no PERD, com valores mais altos que o obtido na maioria dos estudos feitos no Brasil e
no mundo (Tabela 3).
Tabela 3- Produção de serapilheira nos sítios amostrais no Parque Estadual do Rio Doce, Minas
Gerais, Brasil e em diferentes tipos florestais do mundo e do Brasil.
Tipo Florestal Local Biomassa
(to/ha)
Referência
FTS Brasil 9,04-11,08 Este trabalho
Floresta Tropical Ìndia 2,88-3,60 Rai e Proctor (1986)
Floresta Tropical Panamá 12,39 Wieder e Wright (1995)
Floresta Tropical Costa Rica 6,5-6,6 Wood et al. (2006)
Floresta Tropical sempre verde Índia 13,5 Pragassan e Parthasarathy (2005)
Floresta Tropical Costa Rica 3.1-6,2 Wood et al. (2009)
Floresta Tropical Índia 1,7 Garkoti e Singh (1995)
Floresta Tropical Índia 11,7 Swamy e Proctor (1994)
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FESM Brasil 8,6 Morellato (1992)
FESM Brasil 8,8 Oliveira e Lacerda (1993)
Cerrado Brasil 5,64 Cianciaruso et al. (2006)
Cerrado Brasil 2,22-2,98 Maman et al. (2007)
Amazônia Brasil 9,17 Barbosa e Fearnside (1996)
Amazônia Brasil 8,25 Luizão (1989)
Amazônia Brasil 2,4 Cuevas e Medina (1986)
FESM=Floresta Estacional Semidecídua Montana, FTS=Floresta Tropical Semidecídua
A análise comparativa das frações da serapilheira não revelou diferenças (p>0.05) na
produção entre os sítios, sendo que as folhas predominaram, de forma semelhante, em Preta (75%),
Central (77%), Garapa (80%) e Aníbal (81%; Figura 4). Do mesmo modo, a produção de flores e
frutos foi semelhante entre si em todos os sítios amostrais (p>0.05).
29
Frações da serapilheira
Folhas Ramos Flores Frutos
%
0
20
40
60
80
100
Preta
Central
Garapa
Aníbala
b
a
a a
bb
b b
c c ccc
c c c
Figura 4- Média anual das frações da serapilheira (%) nos sítios amostrais no Parque Estadual do
Rio Doce, Minas Gerais, Brasil. Letras iguais indicam ausência de diferença significativa (p>0.05).
A análise mensal da serapilheira durante o período de estudos evidenciou flutuação sazonal
da biomassa, com aumento da produção no final da estação seca e início da chuvosa (picos entre
agosto e novembro) em todas as áreas, com valor máximo de 255.19 g/m2 obtido em Preta em
outubro de 2005 (Figura 5). Excetuou-se a este padrão o último período chuvoso, quando
ocorreram picos isolados de produção de biomassa.
30
ago/0
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2)
Figura 5- Produção mensal de serapilheira total nos sítios amostrais no Parque Estadual do Rio
Doce, Minas Gerais, Brasil, entre agosto/07 a julho/09.
A influência da precipitação na produção de serapilheira do mesmo mês foi confirmada
através da correlação significativa e positiva obtida apenas em Central (p=0.02; r=0.44), sendo que
em Garapa (p=0.06; r=0.38), Aníbal (p=0.08; r=0.36) e Preta (p=0.05; r=0.48) a correspondência
não foi verificada (p>0.05). Através de testes realizados entre a precipitação de um e dois meses
anteriores com a produção de serapilheira, não foi encontrada correlação positiva (p>0.05) em
nenhuma das áreas. A influência da temperatura na produção de serapilheira foi verificada através
da correlação significativa e positiva obtida também apenas em Central (p=0.01; r=0.49), sendo
que em Garapa, Preta e Aníbal novamente não foi observada correlação significativa (p>0.05).
Discussão
O Parque Estadual do Rio Doce é composto por um mosaico florestal com diferentes
estágios de conservação e diversidade paisagística, conforme mostrado pelos dados de estrutura e
composição da vegetação dos sítios amostrais descrita por Metzker et al (2011). Os dados obtidos
31
por Metzker et al (2011) indicam que a área denominada Preta está em estágio mais avançado de
desenvolvimento da vegetação, seguida por Central, Garapa e Aníbal.
A grande diversidade paisagística é característica de toda a bacia do rio Doce, com uma
marcante diferenciação florística composta por diversas espécies de distribuição restrita, resultando
na heterogeneidade ambiental existente nesta região (França, 2008). Esta variação está relacionada
às condições abióticas, como tipo de clima, precipitação, temperatura, altitude e composição
edáfica, que determinam o padrão de distribuição das espécies e condicionam o aparecimento de
uma vegetação arbórea diversificada e heterogênica (França, 2008). Os resultados obtidos para a
composição edáfica de Preta, que revelou os maiores teores de argila, umidade, saturação e matéria
orgânica do solo, em detrimentos dos outros sítios, parecem refletir sua composição florística, uma
vez que este é o sítio com a maior diversidade de espécies (Metzker et al., 2011).
A produção de serapilheira em florestas tropicais é, de modo geral, constantemente alta ao
longo do ano (Proctor, 1987), apresentando valores mais elevados que o encontrado em outros
tipos de ecossistemas (Bray e Ghoran, 1964). No Brasil, as florestas tropicais apresentam alta
produção de biomassa, atingindo extremos de 27.9 to/ha/ano (Nepstad, 1989) e 60.6 to/ha/ano
(Sanford Junior, 1989) na Amazônia, maior que o obtido em outras regiões tropicais, cuja
produção oscila entre 2.88 to/ha (Rai e Proctor, 1986) a 11.7 to/ha em florestas sempre verdes na
Índia (Swamy e Proctor, 1994).
Os valores obtidos para a produção de biomassa neste estudo (entre 9 e 11 to/ha) se
assemelharam aos valores registrados para a Amazônia (Barbosa e Fearnside, 1996), superando a
maioria das quantificações feitas no Brasil, cujos valores oscilaram entre 2.40 to/ha (Cuevas e
Medina, 1996) e 8.25 to/ha (Luizão, 1989). Este resultado pode estar relacionado à composição
florística do PERD, onde predomina a família Fabaceae. As espécies desta família apresentam
nódulos radiculares que funcionam como um mecanismo de retenção e transferência de nitrogênio
para o ecossistema, resultando em maior produtividade primária em áreas onde há sua
predominância em florestas tropicais (França, 2008).
Preta apresentou a maior produção de serapilheira total e de folhas nos dois anos de estudo,
opondo-se aos valores semelhantes encontrados nos demais sítios, o que parece estar relacionado
aos valores de densidade de indivíduos arbóreos (Martins e Rodrigues, 1999), cobertura por
floresta primária, altura do dossel e distribuição diamétrica da vegetação encontrada nessa área. O
segundo maior valor obtido para a produção de serapilheira, obtido em Aníbal, chama a atenção
32
para a importância da abundância de indivíduos na determinação dos padrões de produção de
serapilheira, que apresentou, depois de Preta, os maiores valores para esta característica da
vegetação (ver Tabela 1).
Diversos fatores estruturais influenciam na produção de biomassa em Florestas Tropicais
(Proctor, 1987), como a densidade de indivíduos arbóreos (Pragasan e Parthasarathy, 2005) e a
distribuição diamétrica (Dias e Oliveira Filho, 1997). Estudos realizados em florestas tropicais em
Minas Gerais indicaram a ausência de correlação entre a produção de serapilheira e o número de
indivíduos para espécies nativas de floresta estacional, evidenciando a correlação positiva
significativa entre a área basal e a produção de serapilheira (Dias e Oliveira Filho, 1997). Estes
resultados indicam que a distribuição diamétrica é um dos parâmetros ecológicos mais importantes
na determinação da produção de serapilheira em ecossistemas tropicais. Os nossos resultados
corroboraram a correlação positiva entre a distribuição diamétrica e a produção de serapilheira,
uma vez que a maior produção de serapilheira foi obtida em Preta, que apresentou maior
abundância de indivíduos e distribuição diamétrica, em detrimento dos demais sítios, que
apresentaram produção de serapilheira semelhante.
Em relação às frações da serapilheira, apesar da maior produção total em Preta, os valores de
serapilheira fina e lenhosa foram semelhantes entre os sítios amostrais. As folhas foram o principal
constituinte, concordando com o padrão descrito para a composição da serapilheira em
ecossistemas tropicais (Bray e Ghoran, 1964), cuja produção de folhas variou entre 60% (Dias e
Oliveira Filho, 1997, Vital et al., 2004) e 80% (Cianciaruso et al., 2006, Dias e Oliveira Filho,
1997, Hora et al., 2008, Martins e Rodrigues, 1999. A produção de flores e frutos foi baixa, uma
vez que mesmo os maiores valores obtidos em Preta (5 e 3%, respectivamente), foram inferiores ao
encontrado em estudos similares (Rai e Proctor, 1986). Estes resultados podem estar relacionados à
composição estrutural da vegetação dos sítios estudados, que apresentaram a predominância de
indivíduos arbóreos com DAP de 30cm, que ainda estão em estágio de desenvolvimento (ver
Tabela 1). Neste tipo de ambiente, a vegetação é caracterizada por um estágio de desenvolvimento
sucessional em que o principal investimento energético da comunidade é a produção de estruturas
fotossintetizantes necessárias ao crescimento arbóreo. Dessa forma, a vegetação apresenta grande
produção de folhas, constituindo-se no principal componente da serapilheira e o maior responsável
pelo retorno de matéria orgânica e nutrientes ao solo (Cianciaruso et al., 2006, Meguro et al.,
1979).
33
Tradicionalmente a literatura cita o período de seca relacionado à maior produção de
serapilheira resultante de variações sazonais bem marcadas por períodos de estresse hídrico
(Villela e Proctor, 1999), com maior deposição durante a transição entre as estações (Terror, 2009).
Embora as Florestas Tropicais apresentem menor escassez hídrica ao longo do ano, com
distribuição mais uniforme das constantes e abundantes chuvas (Wood et al., 2006), as espécies
apresentam alterações fisiológicas em resposta às restrições hídricas durante o período mais seco
do ano (Cianciaruso et al., 2006, Meguro et al., 1979). Dessa forma, a queda de folhas pode ser
uma estratégia para reduzir a superfície transpirante, tolerando a seca, o que resulta em uma
sazonalidade na produção de folhas novas e de serapilheira, comportamento associado à estratégia
de melhor aproveitamento dos recursos ambientais (Moraes et al., 1999).
Embora a produção da biomassa tenha mostrado aumento de produção no final do período
seco e início do chuvoso, a serapilheira produzida correlacionou-se positivamente com a
precipitação e temperatura apenas no sítio Central, o que pode estar relacionada à ação mecânica
da chuva, uma vez que houve aumento na produção de serapilheira lenhosa neste sítio durante a
estação chuvosa. De acordo com Veneklaas (1991), quando a sazonalidade da produção de
serapilheira está positivamente correlacionada com a precipitação (como observado em Central),
isto ocorre muito mais em virtude do fator mecânico (impacto da chuva, do vento e dos raios), do
que em função de uma periodicidade fisiológica determinando a queda sazonal de folhas, fração
dominante da serapilheira total. Durante a estação chuvosa, observa-se a grande produção de
folhas e queda de material lenhoso intensificada pela ação das chuvas e ventos. Assim, a produção
de serapilheira sofre a influência de diversos fatores dependentes, como a ocorrência de extremos
climáticos e a diversidade florística na região, que determinam a produção de serapilheira durante
todo o ano (Selle, 2007). A melhor compreensão desta dinâmica exigiria estudos detalhados das
espécies vegetais em particular, incluindo as lianas, uma vez que o padrão de renovação foliar
parece variar muito entre elas (Dias e Oliveira-Filho, 1997).
A quantidade de serapilheira depositada pela vegetação na maioria dos ecossistemas
florestais é determinada não apenas pela disponibilidade hídrica, mas por uma complexa rede de
fatores locais, incluindo a fertilidade do solo, disponibilidade hídrica, temperatura, fotoperíodo,
além de fatores bióticos como os mecanismos genéticos ligados à abscisão foliar (Paggano e
Durigan, 2000). Os resultados obtidos neste estudo, cujos maiores valores de produção de
serapilheira foram encontrados em Preta, sugerem a influência da estrutura da vegetação, em
34
especial da cobertura por mata primária, altura do dossel e distribuição diamétrica, agindo de
forma conjunta com a topografia e tipo de solo, na determinação da produção de serapilheira.
Dessa forma, estes resultados podem contribuir para evidenciar que abordagens inter-relacionadas
em estudos ecológicos são fundamentais, oferecendo subsídios para ações de planejamento
ambiental e conservação da biodiversidade na região do estudada.
Agradecimentos
À ECMVS/UFMG, CAPES pela bolsa de estudo, CNPq/PELD (Processo 520031/98-9) pelo apoio
financeiro e ao Parque Estadual do Rio Doce/IEF pelo apoio logístico.
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39
CAPÍTULO II
AVALIAÇÃO DA DINÂMICA DO DOSSEL E PRODUÇÃO DA SERAPILHEIRA
EM FLORESTA TROPICAL ATLÂNTICA, MINAS GERAIS, BRASIL
40
Resumo
Os ecossistemas tropicais têm seus processos ecológicos regulados por condições climáticas
específicas, que promovem uma alta e rápida circulação de matéria orgânica e de nutrientes entre o
solo e a vegetação. Embora reconhecida que a variação na estrutura do dossel e síntese de
estruturas vegetais está relacionada à sazonalidade climática, não se conhece sua influência na
dinâmica da produção de serapilheira. O presente trabalho avaliou as relações entre a produção de
serapilheira e a dinâmica do dossel através da análise da produtividade e do Índice de Área Foliar
(IAF) obtido por fotografias hemisféricas e área foliar específica, em sítios de um mosaico
vegetacional de Floresta Tropical Atlântica, no Sudeste do Brasil. Entre 08/2007 e 07/2009, em
quatro sítios amostrais no Parque Estadual do Rio Doce (Preta, Central, Garapa e Aníbal), a
serapilheira foi avaliada mensalmente através de 25 coletores de 0,25 m2, instalados em cada uma
das áreas, para posterior separação nas frações, pesagem e determinação da serapilheira produzida.
O IAF foi avaliado através de fotografias hemisféricas do dossel e da área foliar específica de
amostras do folhedo, obtidos em cada um dos 25 pontos onde estavam instalados os coletores de
serapilheira, em outubro/2008 e março/2009. Para a determinação do IAF serapilheira utilizou-se
os valores da Área Foliar Específica (AFE), cujas medidas foram obtidas utilizando-se 10% das
folhas da serapilheira acumuladas em cada um dos 25 coletores nos quatro sítios amostrais,
coletadas entre março e outubro de 2008, representando novembro/2008, e entre novembro/2008 a
fevereiro/2009, representando março/2009. De cada coletor foram retiradas amostras das folhas
produzidas conforme descrito em De Paula e Lemos Filho (2001), representando 10% do total. As
amostras foram escaneadas, secas e pesadas em balança de precisão para determinação da AFE,
para cálculo do IAF a partir da serapilheira (IAF serapilheira), considerando a massa seca total de
folhas em cada coletor. A produção de serapilheira foi maior em Central, diferindo-se dos demais
sítios, seguida por Preta, Aníbal e Garapa, sendo que esta última apresentou os valores mais baixos
de produção total. Estes resultados podem estar relacionados à cobertura por mata primária e altura
do dossel, uma vez que Central e Preta, que obtiveram os maiores valores destes parâmetros,
diferiram-se de Garapa, que apresentou menor produção de serapilheira e cobertura por mata
secundária e dossel mais baixo. Estas características da vegetação foram encontradas também em
Aníbal, cuja produção de serapilheira foi semelhante à Garapa, o que reforçou a importância dos
parâmetros da vegetação, como cobertura por mata primária e altura do dossel na produção de
41
serapilheira. O IAF não apresentou variação espacial entre os sítios amostrais, mas apresentou
variação temporal, indicando que, embora as áreas apresentem composição de espécies diferente, o
comportamento fenológico da vegetação foi semelhante, o que influenciou na dinâmica de perda e
renovação de folhas, contribuindo para a entrada de luz e IAF das áreas. O aumento nos valores do
IAF obtidos a partir das fotografias hemisféricas no início da estação chuvosa, época que
representa a renovação foliar no dossel, refletiu nos baixos valores de IAF obtido através da área
foliar específica, evidenciando a adequação da utilização destes índices para o estudo da dinâmica
do dossel em ecossistemas florestais, refletindo a dinâmica de produção da serapilheira.
Palavras-chave: Área foliar específica, Índice de Área Foliar, fenologia, sazonalidade climática,
produção de folhas.
Abstract
The tropical ecosystems have its ecological processes regulated by specific climatic conditions that
promote fast circulation of organic substance and nutrients between the soil and vegetation.
Although recognized that the variation in the structure of the canopy and synthesis of vegetal
components is related to the climatic seasonality, its influence in the litter dynamics is not known.
The present work wants to evaluate the relations between the litter production and the dynamics of
the canopy through the analysis of the productivity and the IAF gotten by hemispheric photographs
and specific foliar area, in four sites of a vegetacional mosaic of Atlantic Tropical and Aníbal at
Parque Estadual do Rio Doce, litter was evaluated monthly through 25 collectors of 0.25 m2,
installed in each one of the areas, for posterior separation in the fractions and determinate of the
litter produced. The IAF was evaluated through hemispheric photographs of the canopy and the
specific foliar area of leaf samples, gotten in each one of the 25 points where the litter collectors
were installed, in November/2008 and Marche/2009. The litter production was bigger in Central,
differing itself from the others sites, followed by Preta, Aníbal and Garapa, with the lowest of total
production. These results can be related to the covering for primary forest and height of the
canopy. Central and Preta, that had gotten the biggest values of these parameters, had differed
themselves from Garapa, that presented minor production of litter and covering for secondary
forest and lower canopy. These characteristics of the vegetation had been found also in Aníbal, as
litter production was similar to the Garapa, what it strengthened the importance of the parameters
42
of the vegetation, as covering for primary forest and height of the canopy in the litter production.
The IAF did not present space variation between the sites, but it presented seasonal variation,
indicating that, even so the areas present composition of different species, the phenologic behavior
of the vegetation were similar, what influenced in the dynamics of loss and leaf renewal,
contributing for the entrance of light and IAF of the areas. The increase in the values of the IAF
gotten from hemispheric photographs at the beginning of the rainy station, time that represents the
foliar renewal in the canopy, reflected in the low values of IAF gotten through the specific foliar
area. This relationship evidencing their correct use for study the canopy dynamics in forest
ecosystems, reflecting the dynamics of litter production.
Key-words: Specific foliar area, Index of Foliar Area, Phenology, Climatic sazonality, leaf
production.
Introdução
Em regiões tropicais, a produção de serapilheira e a subsequente liberação de nutrientes
através da sua decomposição, é influenciada fortemente pelas características da vegetação como
densidade, área basal, idade estrutural e do ambiente como latitude, estações do ano e fatores
climáticos (Meentmeyer, 1982, Morellato, 1992, Songwe et al., 1988). Embora as florestas
tropicais apresentem maior estabilidade climática, observa-se que a magnitude de entrada da
serapilheira está diretamente relacionada às variações sazonais de precipitação, com o maior pico
de produção ocorrendo no final do período de seca (Lawrence, 2005).
Diversos fatores se relacionam na determinação do aporte de biomassa ao solo, em especial
as características da serapilheira e os fatores climáticos (Gonçalves et al., 2007), resultando em
uma variação na quantidade e qualidade da serapilheira ao longo do ano (Carnevale e Lewis,
2001). Os períodos com maior deficiência hídrica no solo promovem um pico de queda de folhas,
determinado pela disponibilidade de água no solo, conforme relatado para diferentes formações
florestais (César, 1993, Souto, 2006), o que reflete uma estratégia da vegetação para minimizar os
efeitos da escassez de água (Delitti, 1984).
A importância das variáveis climáticas na dinâmica da serapilheira tem sido registrada na
região tropical (Dias e Oliveira-Filho, 1997), embora a comparação destes dados seja dificultada
pelas diferenças metodológicas utilizadas (Proctor, 1988). Diversos estudos observaram a
43
influência do clima na fenologia das espécies (Martínez-Yrízar e Sarukhán, 1990, Morellato, 1992,
Thompson et al., 1992), que resulta em variações espaciais e temporais na estrutura da vegetação e
do dossel (Hoffmann et al., 2005) e, consequentemente na dinâmica da produção de serapilheira.
Alterações no dossel de um fragmento florestal influenciam o Índice de Área foliar (IAF),
modulando a penetração de luz, evapotranspiração, fluxos de CO2 e a interceptação das chuvas
(Welles e Norman, 1991). Este índice, obtido através da razão entre a área foliar total por unidade
de área de terreno ocupado, descreve as dimensões assimiladoras da comunidade vegetal
(McWilliam et al., 1993), sendo uma importante ferramenta para utilização em estudos de
produtividade vegetal. Ao longo do ano podem ser verificadas alterações sazonais no IAF, como
resultado de variações climáticas sazonais, cujos valores são inversamente proporcionais à
produção de serapilheira, especialmente da fração folhas. O IAF pode ser obtido através de
fotografias hemisféricas do dossel (Bonhomme e Chartier, 1972, Pearcy, 1989, Steege, 1993) ou
utilizando a Área Foliar Específica (AFE), que representa a área por biomassa foliar (Golley et al.,
1978, McWilliam et al., 1993), obtido através de folhas mortas recém caídas amostradas através da
serapilheira (De Paula e Lemos Filho, 2001). Entretanto, poucos são os trabalhos que relacionam
as variações da produtividade primária com a dinâmica do dossel em ecossistemas tropicais
(Macwilliam et al., 1993, Mass et al., 1995, De Paula e Lemos Filho, 2001).
Este trabalho teve o objetivo de avaliar a influência da sazonalidade no IAF e correlacionar a
dinâmica do dossel com a produção de serapilheira e sua área foliar específica em quatro sítios de
um mosaico vegetacional de Floresta Tropical Atlântica, no Sudeste do Brasil. Adicionalmente,
propôs-se também avaliar se a estimativa do IAF pode ser obtida utilizando-se a AFE, conforme
proposto por Golley et al. (1978) e McWilliam et al. (1993) adaptado por De Paula e Lemos Filho
(2001), utilizando-se o material foliar da serapilheira.
Material e Métodos
Área de Estudo
O estudo foi conduzido no Parque Estadual do Rio Doce – PERD (19o29'24" - 19
o48'18" S e
42o28'18" - 42
o38'30" W), parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (IEF, 1994). Foram
utilizados quatro áreas de mata nativa denominadas localmente como Preta, Central, Garapa e
Aníbal, que compõem os plots amostrais do Tropical Ecology, Assesment and Monitoring
44
(TEAM) Initiative (Kuebler, 2005) e representam a diversidade paisagística e fisionômica do
PERD, por se diferirem em relação ao estado de conservação e composição florística da vegetação
(Metzker et al, 2011). Preta é totalmente coberta por floresta primária alta com grande diversidade
vegetal e presença de epífitas, formando dossel superior a 30 m, sobre relevo plano e presença de
lagoas marginais do rio Doce. Central é caracterizada por mata primária com grande diversidade
de espécies arbóreas com dossel médio de 25 m na vertente superior, com menor diversidade e
dossel mais baixo na vertente inferior, provavelmente devido ao relevo íngreme nesta vertente.
Garapa é recoberta por vegetação secundária com altura do extrato arbóreo entre 18-25 metros.
Possui encosta com declive mediano, presença de murundus e atividades de térmitas, sub-bosque
denso, com presença de clareiras distribuídas de forma esparsa pela área. Aníbal é a área mais
íngreme, caracterizada como floresta estacional secundária de encosta, com altura média do estrato
arbóreo superior entre 15 a 20m e sub-bosque denso com grande presença de clareiras. Descrição
mais detalhada das áreas pode ser encontrada em Guilhuis (1986), Hirsch (2003) e Silva (2001).
Produção de Serapilheira - Para a coleta de serapilheira foram implantados em cada área 25
coletores suspensos, com área de 0,25 m2, fundo em tela de nylon de 2 mm, 23 cm de
profundidade, mantidos a 80 cm do solo (Kuebler, 2005). Entre agosto/2007 e julho/2009, a
serapilheira armazenada nos coletores foi recolhida mensalmente em bolsas plásticas, estocas em
refrigerador até serem separadas em folhas, galhos, flores, frutos e sementes, para posterior
secagem em estufa a 65ºC e determinação da biomassa seca produzida.
Índice de Área Foliar (IAF) - Para a determinação do IAF foram tomadas fotografias hemisféricas
utilizando-se uma câmera digital Nikon CoolPix 5400 acoplada a uma lente olho de peixe FCE9,
em um tripé a 1,5 m do solo (Garcia et al., 2007). Utilizaram-se como pontos de amostragem os
coletores de serapilheira em cada área, sendo tomado um total de 25 fotografias em cada área de
estudo, posteriormente analisadas através do Softwer Gap Light Analyzer 2.0 (GLA - Millbrook,
New York). As fotografias hemisféricas foram feitas em Outubro/2008 e Março/2009, início e
final da estação chuvosa, no início da manhã e ao final da tarde para evitar o excesso de luz sobre a
lente. Para a determinação do IAF serapilheira utilizou-se os valores da Área Foliar Específica
(AFE), cujas medidas foram obtidas utilizando-se 10% das folhas da serapilheira acumuladas em
cada um dos 25 coletores nos quatro sítios amostrais (Golley et al., 1978, McWilliam et al., 1993),
coletadas entre março e outubro de 2008, representando novembro/2008, e entre novembro/2008 a
fevereiro/2009, representando março/2009. De cada coletor foram retiradas amostras das folhas
45
produzidas conforme descrito em De Paula e Lemos Filho (2001), representando 10% do total. As
amostras foram escaneadas, secas e pesadas em balança de precisão para determinação da AFE,
para cálculo do IAF a partir da serapilheira (IAF serapilheira), considerando a massa seca total de
folhas em cada coletor. Para identificação das correlações entre os valores do IAF serapilheira e do
IAF das fotos, foram retirados os out-liers, identificando-se medidas muito baixas e negativas ou
discrepantes.
Dados Climáticos – O clima foi caracterizado através de dados de temperatura atmosférica,
umidade relativa do ar e precipitação pluvial, obtidos pela estação meteorológica da sede do
Parque Estadual do Rio Doce (IGAM/PELD/CNPq).
Análise Estatística – Os dados foram submetidos a testes de normalidade e homogeneidade. Para
comparar a produção da serapilheira ao longo do tempo nas áreas de estudo, foram feitas análises
fatoriais através de Anova seguida de comparação de médias através do Teste de Tukey,
utilizando-se como repetição os 25 coletores de serapilheira. Posteriormente, as mesmas análises
foram feitas acrescentando-se como co-variáveis os dados climáticos, seguidas de matrizes de
correlação de Pearson, utilizando-se o softwear SAS (Statistical Analysis System). Foram feitas
comparações dos valores médios de IAF obtidos ao longo do tempo e entre os sítios amostrais
através do teste de Tukey, e comparações entre o IAF das fotografias hemisféricas e o IAF
serapilheria utilizando-se correlações de Pearson e regressão linear, considerando nível de
significância de 95%.
Resultados
A análise das variáveis climáticas durante o estudo evidenciou duas estações distintas com as
chuvas concentradas entre outubro e abril, que representou mais de 90% dos totais anuais durante o
estudo (Figura 1). Neste período, caracterizando o verão úmido e quente, as altas temperaturas
atingiram máximos de 31°C e umidade do ar de 90%, opondo-se ao período seco, de maio a
setembro, com mínimos de temperatura de 17°C e umidade de 69%.
46
jun/0
7 julag
ose
tout
novdez
jan/0
8fe
vm
arabrm
aijun ju
lag
ose
tout
novdez
jan/0
9fe
vm
arabrm
aijun ju
l
0
100
200
300
400
20
25
30
35Temp.max.Temp. min.
Precip.P
rec
ipit
aç
ão
(m
m) T
em
pe
ratu
ra ( C
)
Figura 1- Variáveis climáticas temperatura, umidade e pluviosidade na estação meteorológica da
sede do Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil.
A produção média anual de serapilheira seguiu a ordem: Central, com 13.06 to/ha (±0.22),
Preta, com 10.76 to/ha (±0.32), Aníbal, com 9.70 to/ha (±0.32) e Garapa, com 8.12 to/ha (±0.27),
durante o período de estudo (Tabela 1).
Tabela 1- Produção média anual de serapilheira (to/ha) entre agosto/2007 e julho/2009 nos sítios
amostrais, no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil.
Área Serapilheira Total (to/ha)
Preta 10.8
Central 13.1
Garapa 8.1
Anibal 9.7
Em relação à amplitude de variação na produção de serapilheira ao longo dos dois anos
amostrais, foram observadas diferenças significativas entre Central e as demais áreas e entre Preta
e Garapa (Tukey: p<0.05). Os maiores valores de produção foram observados no final do período
47
de seca e início do chuvoso em todos os sítios amostrais, especialmente entre agosto e outubro de
2008 (Figura 2).
ago/0
7se
tou
novdez
jan/0
8fe
vm
arabrm
aijun ju
lag
ose
tout
novdez
jan/0
9m
ar arm
aijun ju
l
0
50
100
150
PretaCentralGarapaAníbal
Meses
Se
rap
ilh
eir
a (
g/m
2)
Figura 2– Produção total de serapilheira nos sítios amostrais no Parque Estadual do Rio Doce,
Minas Gerais, Brasil, entre agosto/07 e julho/09.
A fração folhas predominou na serapilheira produzida, com valores máximos de 78.5% em
Aníbal e mínimo de 58% em Preta, com diferenças significativas (p<0.05) entre Central e as
demais áreas e entre Preta e Garapa (Tukey: p<0.05), assim como observado para a produção total.
Os picos de produção de folhas ocorreram entre julho e outubro, que representaram 35.7% em
Central, 41.9% em Preta, 39.3% em Aníbal e 66.2% em Garapa, do total produzido de folhas ao
longo de todo o estudo. A distribuição da produção de serapilheira evidenciou que a maior
amplitude na produção de serapilheira total foi observada em Aníbal, cuja variação foi de 9.3g/m2
em dez/08 e 142.0 g/m2 em março/08. Foram observados picos de produção em Preta e Aníbal no
mês de fevereiro e março de 2008, no auge do período chuvoso, resultado de grande queda de
galhos e ramos.
48
Em relação à influência das variáveis climáticas, a produção de serapilheira não se
correlacionou com a temperatura e a precipitação em nenhum dos sítios amostrais, relevando
influência significativa apenas da umidade em Central (Tukey: p<0.05), cujo valor negativo
demonstrou que a maior produção de serapilheira ocorreu no período mais seco do ano (Tabela 2).
Tabela 2– Correlação entre a serapilheira total e as variáveis climáticas: precipitação, temperatura
e umidade nos sítios amostrais, no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil.
Área Precipitação Temperatura Umidade
Preta p= 0.9229
r = -0.0214
p=0.5862
r=0.1198
p=0.6520
r=-0.0994
Central p=0.7136
r=-0.0889
p=0.1964
r=0.2795
p=0.0550
r=-0.3909
Garapa p=0.4027
r=0.1832
p=0.3579
r=-0.2009
p=0.1787
r=-0.2905
Aníbal p=0.6966
r=0.00859
p=0.8632
r=-0.0380
p=0.9934
r=-0.0018
A análise dos valores do IAF obtidos através das fotografias hemisféricas e da área foliar
específica da serapilheira revelou comportamento oposto entre estes índices (Figura 3).
49
Preta Central Garapa Anibal
Índ
ice d
e Á
rea
Fo
lia
r (I
AF
)
1.90
1.95
2.00
2.05
2.10
2.15
2.20Outubro/2008
Março/2009
Preta Central Garapa Anibal
IAF
Sera
pilh
eir
a
2
4
6
8Novembro/2008
Março/2009
a
a
b
a
b
b
a
b
Figura 3 – Valores médios (Anova two-way; Tukey; p>0.05) do IAF/foto, obtidos em
Outubro/2008 e Março/2009, e IAF/serapilheira, obtidos em Novembro/2008 e Março/2009, no
Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil.
Para o IAF/foto foi observada diferença significativa entre os períodos avaliados, sendo que
em todos os sítios verificou-se um aumento nos valores de IAF em março/2009, quando o dossel se
apresentou mais fechado, e menores valores observados em outubro/2008, justamente após o pico
de produção da serapilheira (julho a outubro). A comparação do IAF/foto entre os sítios não
50
revelou diferenças significativas, indicando um comportamento fenológico semelhante entre as
áreas (Tabela 3).
Tabela 3- Comparação dos valores médios e desvio padrão para o IAF/foto nos sítios amostrais no
Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil. Letras minúsculas para comparação entre os
períodos de coleta (Tukey: p<0.05).
Área Índice de Área Foliar - IAF
Outubro/2008 Março/2009
Preta 2.09 ± 0.12 2.15 ± 0.21
Central 1.97 ± 0.24 2.17 ± 0.25
Garapa 1.97 ± 0.23 2.06 ± 0.21
Aníbal 1.97 ± 0.25 2.13 ±0.22
Média/Tempos 2.00 b 2.13 a
Para o IAF/serapilheira, verificou-se em todos os sítios que o maior IAF serapilheira
correspondeu ao período de chuva, em março/2009, quando a produção de serapilheira foi mais
baixa (Tabela 4).
Tabela 4- Valores obtidos através da comparação entre os valores de IAF entre as áreas e os
períodos de coleta nos sítios amostrais no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil.
Índice de Área Foliar - IAF
F3.382 p
Área 1.881 0.1322
Tempo 5.408 0.0012
Área x Tempo 0.687 0.7210
51
Preta apresentou os maiores valores, com menor amplitude de variação, atingindo máximo
em março (2.15) e mínimo em outubro (2.09), com média de 2.12 (± 0.03) durante o estudo. Em
oposição, a maior amplitude foi observada em Central, com 1.97 em outubro e 2.17 em março,
com valores médios de 2.06 (±0.14). Em novembro foi observada diferença significativa para o
IAF serapilheira (F=6.887; p=0.000; Anova one-way p< 0.05) com maior valor médio em Preta e
Aníbal, que se diferiram significativamente das áreas Central e Garapa.
Os menores valores de IAF/foto observados no início da estação chuvosa (outubro/2008)
coincidem com a maior produção da serapilheira observada no mês anterior (ver Figura 2). Em
contraposição, o aumento no início da estação seca (março/2009), correspondeu ao período de
baixos valores de produção de serapilheira, época em que, provavelmente, já ocorre a renovação
foliar no dossel. De forma inversa, porém adequada, os valores do IAF obtido através das folhas da
serapilheira também refletiram o comportamento de produção da serapilheira.
Discussão
A produção de serapilheira tem sido amplamente investigada em diversos ecossistemas
florestais, tanto em regiões temperadas como tropicais, sendo observado o padrão recorrente em
relação à sazonalidade da produção de serapilheira em resposta à diversidade ambiental (Terror,
2009). Em um fragmento florestal, pode haver uma grande variação na produção de serapilheira,
influenciada pela localização dos coletores, o que está relacionado à heterogeneidade em termos de
estrutura da comunidade vegetal e fisionomia da vegetação (Dias e Oliveira Filho, 1997).
Embora as taxas de produção estejam diretamente relacionadas às condições climáticas
(Mason, 1980), a influência varia em escala de tempo e espaço de acordo com o ecossistema
considerado (Lavelle et al., 1993). Estudos em florestas estacionais semideciduais na região
sudeste do Brasil apontam uma nítida tendência à maior produção de serapilheira durante o inverno
(estação seca), com picos entre os meses de julho e setembro, enquanto ao longo da estação
chuvosa, a produção atinge seus valores mínimos (Morellato, 1992, Pagano e Durigan, 2000,
Werneck et al., 2001, Arato et al., 2003, Pinto et al., 2008, Villela et al, 2002). Assim, a liberação
de nutrientes pela vegetação é um processo fortemente sazonal e suas variações ao longo do ano
são diretamente controladas pela sazonalidade da deposição de serapilheira (Pagano e Durigan,
2000).
52
Apesar da menor escassez hídrica observada em florestas tropicais ao longo do ano, como
reflexo da distribuição mais uniforme das constantes e abundantes chuvas (Wood et al., 2009),
diversas espécies apresentam aumento na produção de serapilheira em resposta à diminuição na
oferta de água durante períodos mais secos (Cianciaruso et al., 2006). Mesmo reconhecida a
importância dessas interrelações para o entendimento e comparação de comunidades por meio de
parâmetros quantitativos de seu funcionamento (Leitão Filho, 1993, Lenza e Klink, 2006), estudos
sobre a influência climática na dinâmica da serapilheira são complexos, pois devem utilizar-se de
fontes confiáveis para o fornecimento de dados climáticos (Castanho, 2005). Além disso, é
necessário considerar-se um período extenso de observações sobre a queda de matéria orgânica,
observando-se se as variações são decorrentes de aspectos cíclicos da comunidade ou se
correspondem às respostas da vegetação motivadas por fatores de ordem climática (Poggiani,
1985, Souza e Davide, 2001).
O comportamento sazonal observado para a produção de serapilheira neste estudo,
evidenciado por picos de produção no final do período de seca e início da chuvosa,
corresponderam ao padrão fenológico verificado em outros estudos em ecossistemas tropicais
(Moraes et al., 1999), demonstrando que sua dinâmica está relacionada à variação das condições
climáticas ótimas, como altas temperaturas e teores de umidade (Tian et al., 1998, Clark et al.,
2003, Wood et al., 2005). Em florestas tropicais, a maior produção de serapilheira no período seco
pode refletir uma estratégia fisiológica para reduzir a superfície transpirante no período de maior
escassez hídrica, otimizando o aproveitamento dos recursos ambientais (Moraes et al., 1999).
Diversas teorias têm sido elaboradas para tentar relacionar as possíveis causas da queda
foliar às variáveis ambientais (Cianciaruso et al., 2006). Alguns autores sugerem que a abscisão
foliar é estimulada pelo déficit hídrico provocado pela escassez de chuvas durante períodos secos
(Borchet, 1980). A sazonalidade de produção de folhas novas e serapilheira refletem estratégias de
resistência a fatores de causadores de estresse ambiental, associadas ao aproveitamento máximo
dos recursos ambientais. Assim, o comportamento estacional da produção de serapilheira decorre,
principalmente, do comportamento da fração foliar, visto que esta é a constituinte mais importante
da serapilheira e apresenta resposta mais definida às condições climáticas (Cianciaruso et al.,
2006). Apesar da influência das variáveis climáticas na dinâmica de produção de serapilheira
(Clark et al., 2003, Wood et al., 2005), sobretudo da precipitação (Borchet, 1980), a ausência de
correlação entre o clima e a produção de serapilheira em Florestas Tropicais no Brasil já foi
53
verificada anteriormente (Cianciaruso et al., 2006), assim como o verificado neste estudo. Os
efeitos da precipitação e da temperatura na produção da serapilheira (Souto, 2006, Davidson e
Janssens, 2006) resultam dos processos metabólicos referentes à fisiologia de cada espécie em
resposta aos estímulos ambientais (Brun et al., 2001, Jordan e Kline, 1972).
Os resultados obtidos neste estudo revelaram valores de IAF similares entre os sítios
amostrais, tanto obtidos por fotografias hemisféricas do dossel quanto através da área foliar
específica da serapilheira, o que contradiz a literatura, uma vez que pode ser esperada a variação na
dinâmica da cobertura do dossel e no IAF com a composição das espécies florestais (Chen e Black,
1992). Estas áreas, diferentes em relação à abundância de indivíduos (613 indivíduos arbóreos em
Preta, 456 em Central, 415 em Garapa e 558 em Aníbal), se assemelharam em relação à estrutura
da vegetação, onde predominaram indivíduos com DAP de até 20 cm (Metzker et al, 2011), o que
pode ter influenciado os resultados semelhantes de IAF. A composição estrutural dos sítios indica
uma vegetação com estágio de desenvolvimento sucessional em que o principal investimento
energético é a produção de estruturas fotossintetizantes necessárias ao crescimento arbóreo
(Werneck et al., 2001). Estas características resultaram na grande queda de folhas observada em
todos os sítios, o que contribuiu para os valores similares obtidos para o IAF entre os sítios, e da
rápida renovação de folhas no dossel. Apesar disso, a variação entre os períodos de coleta refletiu a
influência da sazonalidade climática na fenologia das espécies e cobertura do dossel (Chen e
Black, 1992), embora não tenha sido verificada a correlação significativa entre a precipitação e
temperatura e o IAF.
A variação sazonal no IAF das fotografias hemisféricas e do IAF serapilheira correspondeu
ao esperado decréscimo dos valores de IAF do dossel nos períodos de maior perda das folhas pela
vegetação (De Paula e Lemos Filho, 2002). O aumento nos valores de IAF no final do período de
chuvas, em março/2009, evidencia o período de maior renovação foliar da vegetação, resultando
em um dossel mais fechado. A dinâmica do dossel avaliada através deste estudo mostrou um
comportamento sazonal da vegetação esperado para ecossistemas tropicais evidenciado pelos
valores do Índice de Área Foliar (IAF), que é influenciado diretamente por sazonalidade climática,
com valores decrescentes com a perda das folhas pela vegetação. O baixo valor do R2 da regressão
ocorreu em decorrência, sobretudo, da rápida reposição foliar no dossel, resultando em ausência da
da relação inversa entre IAF fotos e IAF serapilheira como seria esperado. O maior valor de IAF
serapilheira observado em novembro, logo após o pico de produção de serapilheira
54
(setembro/outubro) acompanha a dinâmica observada para a produção de serapilheira quando o
dossel apresenta-se mais aberto. Este mesmo padrão foi observado por outros autores (Golley et
al., 1978, Pagano 1989, Luizão e Luizão, 1991, Oliveira e Lacerda 1993, Domingos et al., 1997,
De Paula e Lemos Filho, 2001).
Os resultados obtidos neste estudo demonstraram que os maiores valores de IAF obtidos por
fotografias ocorreram na estação chuvosa (março). Em contraposição, o IAF serapilheira foi maior
logo após o pico de produção da serapilheira, em novembro, justamente, no período de menor
valor médio do IAF do dossel. Entretanto, a ausência de relação significativa entre o IAF das
fotografias hemisféricas e o IAF serapilheira pode ser explicada pela rápida renovação foliar do
dossel com o início do período chuvoso em todos os sítios avaliados. Além disso, a variação
sazonal do IAF do dossel e da serapilheira revelou a influência na cobertura do dossel e
comportamento fenológico semelhante entre os sítios estudados.
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60
CAPÍTULO III
DINÂMICA DA DECOMPOSIÇÃO E LIBERAÇÃO DE NUTRIENTES EM
FLORESTA TROPICAL ATLÂNTICA, SUDESTE DO BRASIL
61
Resumo
A dinâmica de decomposição da serapilheira é regulada pelas características da comunidade
vegetal, estádio sucessional e composição nutricional, que determinam sua degradabilidade,
regulando a disponibilização dos nutrientes. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência da
qualidade nutricional da serapilheira e das variáveis climáticas e edáficas na velocidade de
decomposição e no retorno de nutrientes ao solo, em quatro sítios amostrais do Parque Estadual do
Rio Doce (PERD), denominados Preta, Central, Garapa e Aníbal. Foram feitas análises sazonais
quanto à composição de nutrientes orgânicos e minerais na serapilheira produzida, folhedo em
decomposição e solo, assim como da temperatura e umidade do solo. A decomposição da
serapilheira foi semelhante entre as áreas ao longo do estudo, embora Preta tenha se diferido das
demais áreas na primeira fase do processo de decomposição, resultando em uma biomassa
remanescente menor neste sítio (1.75 g, 19%), diferindo-se dos demais (Tukey; p=0.046), seguido
por Central (2.62 g, 21%), Garapa (2.83 g, 22%) e Aníbal (3.14 g, 25%), semelhantes entre si
(Tukey; p=0.642). Estes resultados refletiram nos valores da constante de decomposição (k)
semelhante entre as áreas (p>0.05), seguindo a ordem Preta (k=1.64), Central (k=1.51), Garapa
(k=1.46) e Aníbal (k=1.46). A composição nutricional da serapilheira produzida, do folhedo em
decomposição e do solo foi maior em Preta em relação aos demais sítios. A PCA permitiu agrupar
os sítios quanto a composição nutricional na serapilheira produzida, no folhedo em decomposição
e no solo em Preta e Central, superiores e diferentes de Garapa e Aníbal, indicando a relação entre
o maior retorno de nutrientes e a melhor qualidade nutricional da serapilheira. Os maiores teores de
nutrientes minerais e orgânicos foram quantificados no folhedo inicial, revelando a diminuição dos
valores com a decomposição, evidenciando a ausência de recalcitrância, influenciando a
decomposição semelhante entre as áreas. As melhores características edáficas observadas em
Preta, como maior fertilidade, maior umidade e pH menos ácido, podem ter contribuído para a
decomposição mais rápida observada na primeira fase do processo em Preta, período em que esta
área se diferiu das demais, através da otimização das atividades biológicas. Estes resultados
demonstraram a influência da qualidade nutricional do substrato e do solo na qualidade da
serapilheira produzida, enquanto que a velocidade de decomposição foi determinada
principalmente pela oferta de nitrogênio, relação L/N e C/N no substrato nas áreas de estudo.
62
Palavras-chave: Matéria orgânica, Clicagem de nutrientes, Estágio sucessional, Qualidade da
Serapilheira, Características do solo.
Abstract
The litter decomposition dynamics is regulated by the characteristics of the vegetal community,
succession stadium and nutritional composition that determine its degradability, regulating nutrient
offer. The objective of this study was to evaluate the influence of the litter nutritional quality and
the soil and climatic variables in decomposition and the return of nutrients to the soil, in four sites
of Parque Estadual do Rio Doce (PERD), called Preta, Central, Garapa and Aníbal. Seasonals
analyses of nutrient composition in litter fall, leafs and soil had been made, and temperature and
humidity of the soil. Litter decomposition was similar between sites throughout the study, even so
Preta has differed from the too much sites in the first phase of the decomposition process, resulting
in a lesser remaining biomass in this site (1.75 g, 19%), differing itself (Tukey; p=0.046), followed
for Central (2.62 g, 21%), Garapa (2,83 g, 22%) and Anibal (3.14 g, 25%), similar between itself
(Tukey; p=0.642). These results had reflected in the values of the constant of similar
decomposition (k) between the areas (p> 0.05), following the Preta (k=1.64), Central (k=1.51),
Garapa (k=1.46) and Anibal (k=1.46). The nutritional composition of the litter fall, leaf in
decomposition and the soil was bigger in Preta, in relation to the too much small farms. The PCA
allowed grouping the sites in Preta e Central, superiors of Garapa and Aníbal, indicating the
relation enters the biggest return of nutrients and the best nutritional quality of the litter. The
biggest levels of mineral and organic nutrients had been quantified in the initial litter, disclosing to
the reduction of the values with the decomposition, evidencing the recalcitrance absence. The litter
decomposition similar between the sites, indicated the influence of the L/N relation, as for litter
composition the most important is structural characteristics of the vegetation, in special the
covering for primary forest and height of the canopy. The best observed soil characteristics in
Preta, as bigger fertility, less acid greater humidity and pH, can have contributed for the observed
decomposition fastest in the first phase of the process in this site, period where this area if differed
from excessively, through the biological activities. These results had demonstrated the influence of
the nutritional quality of the substratum in the quality of the litter produced, whereas the
decomposition speed was determined mainly by relation L/N in the substratum in the study areas.
63
Key-words: Organic matter, nutrients cycling, succession level, litter quality, soil characteristics.
Introdução
A vegetação característica das florestas tropicais apresenta abundante diversidade de
espécies e alta produção de biomassa (Luizão et al, 2004), adaptadas a condições climáticas
específicas como alta pluviosidade e temperatura e solos pobres, cuja baixa fertilidade se deve à
alta lixiviação e intemperismo (Vitousek e Sanford, 1986, Whitmore, 1998). A riqueza específica,
dependente do eficiente mecanismo de conservação e reciclagem de nutrientes (Herrera et al,
1978), é influenciada pela composição química da serapilheira, que regula a disponibilização de
nutrientes para a flora e para a fauna do solo (Souza e Davide, 2001). Assim, a ciclagem de
nutrientes influencia a composição nutricional do solo e serapilheira, de forma que a velocidade na
transferência dos nutrientes através do sistema vegetação-solo-vegetação interfere na
produtividade primária da floresta e no estabelecimento de espécies vegetais (Souto, 2006).
A disponibilização de nutrientes no solo tem reflexos na constituição química da
serapilheira, influenciando a herbivoria e, consequentemente, a velocidade de decomposição e
retorno de nutrientes ao solo (Aerts e Chapin, 2000, Sariyildiz e Anderson, 2005, Kapelle et al,
1995). A concentração de nutrientes no material vegetal é também influenciada pelo estágio de
desenvolvimento sucessional da vegetação, que resulta em uma oferta de nutrientes deferenciada
para a vegetação e o solo (Reich et al, 1995, Guariguata e Ostertag, 2001, Brown e Lugo, 1990,
Peet, 1992).
As florestas secundárias acumulam grande concentração de nutrientes foliares nos
estádios iniciais da sucessão, de forma que a ciclagem nesta fase é mais rápida, enquanto nos
estádios mais tardios tende a ser mais lento, uma vez que grande parte da biomassa está alocada na
madeira (Peet, 1992). Além disso, áreas com solos mais férteis produzem serapilheira com maiores
teores de nutrientes (altos níveis de nitrogênio e baixos de lignina), enquanto sobre solos pobres a
serapilheira decompõe-se lentamente em decorrência da baixa concentração de nitrogênio (que
resulta em recalcitrância) e alto teor de polifenóis, que inibe a herbivoria (Davies et al., 1964,
Cornelissen e Thompson, 1997). Dessa forma, há indícios de que a velocidade de decomposição da
serapilheira é influenciada pela qualidade nutricional do material vegetal e do solo, além das
variáveis climáticas atmosféricas e edáficas, que regulam o retorno de nutrientes ao solo (Boerger,
64
2005). O objetivo deste estudo foi verificar a influência da concentração de nutrientes na
serapilheira e do solo na decomposição da serapilheira, para testar a hipótese de que a qualidade
nutricional da serapilheira e a fertilidade do solo influenciam no retorno de nutrientes em florestas
tropicais.
Material e Métodos
Caracterização da Área de Estudo
O estudo foi desenvolvido no Parque Estadual do Rio Doce – PERD (19o29'24" - 19
o48'18" S e
42o28'18" - 42
o38'30" W), maior remanescente de floresta tropical atlântica em Minas Gerais,
compondo a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (IEF, 1994). Foram utilizados quatro sítios de
mata nativa (Preta, Central, Garapa e Aníbal), que compõem os plots amostrais do Tropical
Ecology, Assesment and Monitoring (TEAM) Initiative (Kuebler, 2005), representando a
diversidade paisagística e fisionômica do PERD, por se diferirem em relação às características da
vegetação, como altura do dossel, abundância de espécies e distribuição diamétrica dos indivíduos
arbóreos (Metzker et al., 2011). O sítio Preta é o que apresenta melhor estado de conservação
ambiental, totalmente coberta por floresta primária alta com grande diversidade vegetal e presença
de epífitas, com dossel mais alto, superior a 30 m. Também é a área que apresenta relevo mais
plano, próxima às lagoas marginais do rio Doce. Também recoberta por mata primária, o sítio
Central detém grande diversidade de espécies arbóreas e dossel médio de 25 m na vertente
superior, distinguindo-se de Preta pelo relevo íngreme na vertente inferior, ocasionando menor
diversidade nesta face do terreno. Garapa e Aníbal são recobertos por vegetação secundária, com
altura do extrato arbóreo mais baixo, entre 18-25 metros, diferindo-se, sobretudo, pela maior
inclinação do terreno em Aníbal. Uma descrição mais detalhada das áreas pode ser encontrada em
Guilhuis (1986), Hirsch (2003) e Silva (2001).
Decomposição de Serapilheira - A decomposição da serapilheira foi avaliada através de 10 gramas
de folhas secas de amostras compostas e homogeneizadas do material coletado no período de
agosto/2005 e julho/2006 nas áreas de estudo, confinadas em “litterbags” de 20x20 cm de tela de
nylon de 2 mm (Anderson e Ingram, 1996). Mensalmente foram retirados 10 litterbags por área,
entre setembro/2007 e abril/2009, totalizando 610 dias em campo. Em laboratório as folhas
contidas nos bags foram limpas com um pincel fino para a retirada de resíduos de solo e outros
65
contaminantes, e posteriormente secas em estufa a 60°C (Anderson e Ingram, 1996). De cada
litterbag foi avaliada a perda de massa e a taxa de decomposição (K) segundo o modelo
exponencial de Olson (1963): Xt/X0=X0 e-kt
, onde Xt é a quantidade de massa inicial (X0) que resta
no tempo t (Wesemael, 1993) e a meia vida das folhas segundo T0,5 =Ln (Xtn/Xto) (Wesemael,
1993).
Nutrientes foliares – Da serapilheira produzida e do folhedo remanescente da decomposição foram
feitas análises sazonais do conteúdo de N, P, K, Ca, S e Mg, celulose, lignina e polifenóis. A
análise do N foi feita através de leitura espectrofotométrica em sistema de análise por injeção de
fluxo (FIA) após digestão sulfúrica. Os outros minerais foram analisados após digestão nitro-
perclórica e dosados através de: P total-colorimetria; K, Ca e Mg- espectrofotometria de absorção
atômica (Malavolta et al., 1989). Os constituintes orgânicos, celulose e lignina, foram analisados
através do método de fibra em digestão ácida (Van Soest & Wine, 1968) e o conteúdo de
polifenóis solúveis totais através do reagente de Folin-Denis (Anderson e Ingram, 1993). Utilizou-
se o método Ash free basis (Anderson e Ingram, 1993), descontando-se as cinzas após incineração
em mufla a 500ºC por 3 horas.
Características do solo – A temperatura da superfície do solo foi medida utilizando-se
termômetros digitais (Incoterm) e a umidade foi obtida através de ensaio laboratorial gravimétrico
(Embrapa, 1979). Sazonalmente, foram coletados 5 cm do “top-soil” para determinação da textura
e fertilidade, através da quantificação do teor de nutrientes minerais e orgânicos. O pH foi
analisado em água 1:2,5; Al, Ca e Mg em KCl 1N; K e P pelo método de Mehlich com HCl 0,05N
+ H2SO4 0,025N (Embrapa, 1979).
Análise Estatística – Testes de normalidade e homogeneidade foram feitos para definição do
método de análise estatística a ser utilizado. Para se analisar a variação do teor de nutrientes ao
longo do tempo, bem como as diferenças entre as áreas, utilizou-se Anova fatorial, seguida de
comparação das médias através do teste de Tukey. Para se avaliar a influência da composição
nutricional do material vegetal e do solo na produção e decomposição da serapilheira, foram feitas
matrizes de covariância residual através de MANOVA, utilizando-se o softwear SAS (Statistical
Analysis System), com posterior realização de matrizes de correlação de Pearson, considerando-se
um nível de significância de 95%. Para avaliar a distribuição dos nutrientes nas áreas foram
realizadas Análises de Componentes Principais (PCA), após a padronização dos dados (subtraídos
da média e divididos pelo desvio), que permite comparar dados em unidades muito distintas,
66
utilizando o pacote FactoMineR (Husson et al, 2008) do programa R (R Development Core Team,
2010).
Resultados
Os registros de temperatura e umidade do solo durante o período de estudos mostraram
semelhança entre os sítios, com valores máximos entre novembro e janeiro e mínimos entre março
e setembro (Figura 1). A temperatura mais alta foi registrada em Central (31°C, dezembro/2008), e
a mais baixa em Preta (14°C, junho/2009), com médias similares (entre 22°C em Preta e 24°C em
Central). A umidade do solo mais alta foi obtida em Preta (35%, março/2008) e a mais baixa em
Central (7%, janeiro/2008), com o maior valor médio em Preta, em torno de 26% e o menor valor
médio de 16% obtido em Garapa.
10
20
30
40
PretaCentralGarapaAníbal
Um
idad
e (
%)
ago/0
7se
tout
novdez
jan/0
8fe
vm
arabrm
aiju
njulag
ose
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novdez
jan/0
9fe
vm
arabrm
aiju
njul
15
20
25
30
35
Tem
pera
tura
(C
)
Figura 1– Temperatura e Umidade do solo nos sítios amostrais no Parque Estadual do Rio Doce,
Minas Gerais, Brasil, entre agosto/07 e julho/09.
67
A decomposição do folhedo resultou em uma biomassa remanescente menor em Preta
(1.75 g, 19%); único sítio que diferiu dos demais (Tukey; p=0.046), seguido por Central (2.62 g,
21%), Garapa (2.83 g, 22%) e Aníbal (3.14 g, 25%), semelhantes entre si (Tukey; p=0.642). Estes
resultados refletiram em valores da constante de decomposição (k) semelhante entre as áreas
(p>0.05), seguindo a ordem Preta (k=1.64), Central (k=1.51), Garapa (k=1.46) e Aníbal (k=1.46).
ago/0
7se
tout
novdez
jan/0
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n julag
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0
2
4
6
8
10PretaCentralGarapaAníbal
Massa R
em
an
escen
te (
g)
Figura 2 - Decomposição do folhedo nos sítios amostrais no Parque Estadual do Rio Doce, Minas
Gerais, Brasil, entre agosto/07 e abril/09.
A análise da decomposição do folhedo mostrou um comportamento semelhante durante
todo o período de decomposição. Central (F=0.838) e Garapa (F=0.847) apresentaram maior
adequação ao modelo, revelando maior linearidade que Preta (F=0.657) e Aníbal (F=0.639),
indicando que a dinâmica da decomposição foi uniforme ao longo de todo o processo nestes dois
sítios.
A PCA da composição nutricional da serapilheira, dos nutrientes no folhedo em
decomposição e no solo, permitiu separar os sítios em dois grupos distintos, formados por Preta e
Central, onde foram obtidos os maiores teores nutricionais significativamente diferentes de Aníbal
e Garapa, que apresentaram os teores mais baixos. A PCA evidenciou a maior riqueza de
nutrientes na serapilheira produzida em Preta, cuja distribuição dos nutrientes em todos os tempos
68
analisados foi mais distante dos eixos, enquanto Garapa e Aníbal apresentaram os nutrientes
dispostos mais próximos da origem, indicando menor riqueza de nutrientes. De modo geral, a PCA
revelou que a distribuição dos nutrientes na serapilheira produzida foi determinada pelas duas
primeiras componentes (ou dimensões – Dim), que explicaram 73.73% (Dim1: 40.99%; Dim2:
32.74%) da variação total (Figura 3).
A dominância de apenas duas dimensões na PCA indica alta correlação entre os nutrientes
da serapilheira produzida, com exceção da lignina que não se correlacionou com estes dois eixos
principais. Estes resultados foram fortemente afetados pelos nutrientes correlacionados
positivamente (P, Ca, N, S e Mg) e negativamente (polifenóis) com a Dim 1. Em relação à Dim 2,
K, Mg e polifenóis foram positivamente correlacionados e N e Lignina negativamente
correlacionados.
N
P
K
Ca
Mg
S
Lignina
Polifenóis
-2 0 2 4
-20
24
PCA1 (40,99%)
PC
A2
(3
2,7
4%
)
P1
P2
P3
P4
C1
C2
C3
C4
G1
G2
G3
G4
A1
A2
A3
A4
Figura 3- PCA da distribuição de nutrientes na serapilheira produzida e os eixos nos sítios
amostrais no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil. Siglas representam a combinação
das letras iniciais das áreas, P=Preta, C=Central, G=Garapa, A=Aníbal, com os períodos de
análise, 1=set/07, 2=jan/08, 3=abr/08, 4=set/08, 5=dez/08, 6=abr/08. Os nutrientes são
representados por suas letras iniciais.
69
Os resultados obtidos indicaram os altos valores nutricionais quantificados na serapilheira
nos sítios amostrais no Parque Estadual do Rio Doce, quando comparados a outros estudos
realizados no Brasil e no mundo (Tabela 1).
Tabela 1- Comparação da composição nutricional da serapilheira (gkg-1
) entre este estudo no
Parque Estadual do Rio Doce e trabalhos em florestas tropicais realizados no Brasil e no mundo.
Autor/Data Tipo Florestal Local P K Ca Mg S
Este estudo Floresta Atlântica Brasil 0.88 7.00 15.07 5.27 1.04
Boeger, 2005 Floresta Estacional Brasil 0.24 5.2 7.4 2.8 -
Bertalot et al., 2004 Floresta Estacional Brasil 1.82 8.50 10.50 3.22 1.12
Selle, 2007 Florestas Tropicais Brasil 1.4 6.2 22.8 4.4 -
Moraes e Domingos, 1997 Fl. Ombrófila Densa Brasil 1.00 10.8 10.3 4.7 -
Souto, 2006 Caatinga Brasil 1.3 4.6 8.1 1.4 6.6
Pande et al., 2002 Floresta Tropical Índia 0.32 0.38 1.97 0.58 -
Reich et al., 1995 Tropical Úmida Venezuela 0.7 3.9 3.6 1.2 -
Vitouzek e Sanford, 1986 Tropical Úmida Geral 10.2 0.6 6.0 6.0 2.3
1-Valores máximos de nutrientes obtidos neste estudo obtidos no sítio amostral Preta.
A análise inicial dos compostos minerais e orgânicos do folhedo sugere uma melhor
qualidade nutricional em Preta, quando comparados numericamente a Central, Garapa e Aníbal
(Tabela 2). A relação Lignina/Nitrogênio foi mais alta em Central e mais baixa em Aníbal,
enquanto a relação C/N foi bastante similar entre os sítios.
Tabela 2- Composição química inicial do folhedo nas áreas de estudo no Parque Estadual do Rio
Doce, Minas Gerais, Brasil.
Área
P
gkg-1
K
gkg-1
Ca
gkg-1
Mg
gkg-1
S
gkg-1
N
gkg-1
Lig
(%)
Cel
(%)
Polifenóis
(µg/ml)
L/N
C/N
Preta 0.73 8.38 14.99 4.92 2.12 2.03 30.81 19.86 6.31 15.18 46.26
Central 0.57 2.48 10.02 2.49 2.38 2.05 37.26 20.83 5.08 18.18 48.16
Garapa 0.55 4.1 9.47 2.5 2.21 2.25 31.61 26.65 5.66 14.05 43.47
Aníbal 0.72 4.7 10.2 3.21 1.77 2.13 24.53 25.73 3.75 11.52 45.71
70
A melhor qualidade do folhedo em Preta foi evidenciada pela PCA, separando-a das demais áreas,
enquanto as outras áreas se apresentaram agrupadas próximo à origem, sugerindo semelhança entre
si em relação aos teores mais baixos de nutrientes (Figura 4). A PCA produziu dois componentes
principais, separando as áreas em dois grupos opostos, que explicaram aproximadamente 68.52%
da variação dos dados, com alta correlação entre o comportamento dos nutrientes. A componente 1
(Dim 1: 38.10%) foi fortemente afetada pelos nutrientes Mg, Ca, S, P, polifenóis e N
(positivamente correlacionados), enquanto a componente 2 (Dim:30.42%) foi correlacionada
positivamente com K, P, N, celulose, lignina e polifenóis.
N
P
K
Ca
Mg
S
Lignina
Celulose
Polifenois
-4 -2 0 2 4
-20
24
PCA1 (38,10%)
PC
A2
(3
0,4
2%
) P1P2
P3P4
P5P6
P7
C1
C2
C3
C4
C5C6
C7
G1G2
G3
G4
G5
G6G7
A1
A2
A3 A4
A5A6A7
Figura 4- PCA da distribuição de nutrientes no folhedo em decomposição e os eixos, entre
agosto/2007 e julho/2009, nos sítios amostrais no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais,
Brasil. Siglas representam a combinação das letras iniciais das áreas, P=Preta, C=Central,
G=Garapa, A=Aníbal, com os períodos de análise, 1=set/07, 2=jan/08, 3=abr/08, 4=set/08,
5=dez/08, 6=abr/08. Os nutrientes são representados pelas letras iniciais.
Ao longo do processo de decomposição, observou-se a diminuição da concentração de
lignina, celulose e polifenóis, cuja degradação foi diferente entre os sítios. Em Preta e Central
houve a maior perda de lignina e de polifenóis, inverso ao observado para a celulose, cujas maiores
perdas ocorreram em Garapa e Aníbal (Figura 5).
71
Durante a decomposição do folhedo, de modo geral, ocorreu redução nos teores dos
compostos orgânicos e minerais em todas as áreas, não havendo variação significativa em relação à
sazonalidade (p<0.05). A influência dos compostos orgânicos na decomposição do folhedo foi
observada através de correlações significativas (p<0.05) obtidas apenas para celulose em todos os
sítios amostrais, para a lignina em Preta e Central e para os polifenóis apenas em Preta.
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
1.1
P (
g/k
g)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
K (
g/k
g)
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Ca (
g/k
g)
1
2
3
4
5
Mg
(g
/kg
)
1.6
1.8
2.0
2.2
2.4
2.6
S (
g/k
g)
T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6
15
20
25
30
Celu
lose (
%)
T0 T1 T2 T3 T4 T5 T60
2
4
6
8
10
Po
life
nó
is(
µg
/ml)
1.8
2.0
2.2
2.4
2.6
2.8
N (
g/K
g)
T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6
15
20
25
30
35
40
Lig
nin
a (
%)
TempoTempo Tempo
CentralPreta Garapa Aníbal
Figura 5- Variação sazonal dos nutrientes no folhedo em decomposição entre agosto/2007 e
julho/2009 nos sítios amostrais no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil. Os períodos
de análise são representados pela siglas T0=Tempo inicial, T1=set/07, T2=jan/08, T3=abr/08,
T4=set/08, T5=dez/08, T6=abr/08.
A análise da composição nutricional do solo nos sítios também evidenciou diferenças
(p<0.05) nos teores dos nutrientes (Mg, K, Cu, Zn e Ca e Mn) entre Preta e as demais áreas
(Central, Garapa e Aníbal), que se assemelharam (p>0.05; Figura 6). As duas primeiras
72
componentes principais explicaram 78.8% da variação dos dados, com grande predominância da
Dim 1 que explicou o comportamento da maioria dos nutrientes. Estes resultados foram fortemente
influenciados pelos nutrientes P, K, Mg, Zn, positivamente correlacionados, e por Cu e Mn,
negativamente correlacionados, com a Dim 1 (65,7% da variação), enquanto Fe foi positivamente
correlacionado com a Dim 2 (que explicou apenas 13,7% da variação). Em relação a estas três
áreas, Central foi a única que apresentou pontos mais distante dos eixos, demonstrando um teor
nutricional ligeiramente maior que as demais. Em relação às características físicas, Preta
apresentou solo mais úmido (36,19%; SD=6,20), menores valores de areia grossa (1,25%;
SD=0,42) e maiores de areia fina (79%; SD=3,52) e silte (16,7%; SD=4,18), caracterizado como
solo muito argiloso, com pH menos ácido (5,1; SD=0,59). Em contraposição Aníbal revelou menor
umidade (21,5%; SD=3,23), maiores valores de areia grossa (21,3%; SD=4,44) e menores de areia
fina (58,5%; SD=2,17) e silte (4,5%; SD=2,43), com maior acidez do solo (pH=4,07).
Cu
Mn
Fe
Mg
K
P
Al Zn
-2 0 2 4 6
-3-2
-10
12
34
PCA1 (65,68%)
PC
A2
(1
3,1
4%
)
P1
P2
P3
P4
P5
P6C1
C2
C3
C4
C5C6
G1
G2
G3
G4G5
G6A1
A2
A3
A4
A5A6
Figura 6- PCA da distribuição de nutrientes no solo e os eixos, entre agosto/2007 e julho/2009, nos
sítios amostrais no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais, Brasil. Siglas representam a
combinação das letras iniciais das áreas, P=Preta, C=Central, G=Garapa, A=Aníbal, com os
períodos de análise, 1=set/07, 2=jan/08, 3=abr/08, 4=set/08, 5=dez/08, 6=abr/08. Os nutrientes são
representados pelas letras iniciais.
73
Discussão
A decomposição da serapilheira não apresentou diferenças significativas na velocidade de
decomposição entre as áreas (p>0.05). Os valores obtidos neste estudo estão próximos aos de
outros estudos realizados em ecossistemas de floresta tropical, variando entre 1 e 1,7 (Olson, 1963,
Vital et al., 2004), e caracterizam as altas taxas esperadas para a região tropical (Pagano, 1989).
Embora ao longo do estudo a velocidade de decomposição tenha se assemelhado entre as
áreas, a primeira fase da decomposição revelou uma taxa (k) significativamente superior e menor
biomassa remanescente em Preta. Esta diferença pode estar relacionada às maiores perdas de
biomassa características do início da decomposição, determinada principalmente pelas variáveis
ambientais, que no início do processo promovem intensa degradação física e perda através da
lixiviação (Cianciaruso et al. 2006, Poggiani e Schumacher, 2000, Davidson e Janssens, 2006).
Apesar disso, de modo geral, não foi verificada correlação significativa que pudesse evidenciar a
influência das variáveis climáticas, o que pode ser conseqüência do início do experimento na
estação seca, cujas menores temperaturas e precipitação resultaram em menor velocidade de
decomposição observada no período inicial da decomposição.
Trabalhos realizados em regiões tropicais descrevem uma variação nas taxas de
decomposição em resposta às condições climáticas atmosféricas e do solo, evidenciando uma forte
dependência entre a perda de biomassa e o clima (Kirschbaum, 2000, Liski, 1999, Agren e Bosatta,
2002) (Giardina e Ryan, 2000, Meentemeyer, 1978, Orcahrd e Cook, 1983, Berg, 1986). Assim, a
ação do clima sobre a decomposição é específica de acordo com a região geográfica, o tipo de
serapilheira (Austin e Vitousek, 2000, Berg et al., 2000) e a fase da decomposição, uma vez que o
material vegetal no final do processo de decomposição pode ser mais tolerante à influência do
clima (Dyer et al., 1990, Vitousek et al., 1994, Swift et al., 1979, Aerts, 1997, Johansson et al,
1995).
A primeira fase, que determina a degradação de cerca de 30% da biomassa sobre o solo
(Souza e Davide, 2001, Swift et al., 1979), é regulada pela concentração de material recalcitrante
na serapilheira, como a lignina e a celulose, reconhecidamente os compostos que mais influenciam
no processo de decomposição (Melillo et al., 1982), além dos compostos impalatáveis como os
polifenóis (McClaugherty e Berg, 1987), que inibem a herbivoria. Entretanto, a uniformidade do
processo de decomposição nas áreas durante o período de estudos sugere ausência de
74
recalcitrância. Podem ter contribuído também para estes resultados a baixa relação Lignina/N nos
sítios amostrais, sugerindo que a disponibilidade de N pode ter minimizado a recalcitrância no
material foliar, resultando em uma constante de decomposição uniforme ao longo de todo o
processo. Os valores observados para a relação C/N neste estudo, superiores a 40, podem ter
contribuído para a decomposição mais lenta no início do processo. Valores de relação C/N
superiores a 25 são considerados altos, indicando a presença de material escleromórfico que
dificulta a degradação do material foliar no início do processo, quando ocorre a degradação dos
compostos mais lixiviáveis (Boeger et al., 2005).
A grande oferta de nitrogênio no solo nas áreas de estudo parece estar relacionada à
estrutura da vegetação, com a predominância de indivíduos em estágio de sucessão ecológica em
desenvolvimento (Metzker et al, 2011), produzindo grande quantidade de serapilheira, que é
rapidamente decomposta no solo para ser reutilizada novamente pela vegetação (França, 2008). A
predominância da família Fabaceae, que apresentou maior diversidade de espécies e abundância no
PERD, pode contribuir para uma grande retenção e transferência de nitrogênio para o ecossistema,
através dos nódulos radiculares e associação com micorrizas. Esses fatores permitem uma maior
produtividade primária dessa família em ecossistemas florestais tropicais, através da retenção de
nutrientes e aumento da velocidade da sua ciclagem (França, 2008).
Em termos gerais, a ciclagem dos nutrientes contidos na serapilheira é promovida por
mecanismos físicos, químicos e biológicos, que transformam a matéria orgânica originando formas
mais estáveis. Entre estes mecanismos incluem-se a fragmentação física, causada por animais ou
por lixiviação pela água, transformação química, incluindo oxidação e condensação, mecanismos
biológicos, envolvendo a ingestão ou digestão através da ação enzimática no processo de
metabolismo aeróbio. Assim, produtos estáveis são criados e acumulados durante o processo, de
forma que a composição química da serapilheira sofre variação durante a sua decomposição (Berg
e McClaugherty, 2008). Esta variação foi observada neste estudo, através da oscilação nos teores
nutricionais, com a diminuição dos teores de minerais e compostos orgânicos ao longo da
decomposição.
De modo geral, a concentração dos macronutrientes seguiu a ordem Ca>K>Mg>S>P e
dos micronutrientes de Mn>Fe>Zn>Cu, com valores similares ao observado na serapilheira por
Souza e Davide (2001) em plantações de eucalipto e por Souto (2006) em áreas de caatinga. Os
altos valores de nutrientes observados neste estudo evidenciaram a alta qualidade nutricional da
75
serapilheira e do solo do PERD, especialmente da área Preta, revelada pelos maiores valores de
nutrientes e menor relação Lignina/N em comparação com as demais áreas. Entretanto, quando
comparados com outros estudos em florestas tropicais, os teores de macronutrientes na serapilheira
ficaram abaixo do observado em estudos realizados na região sudeste no Brasil (Betalot et al.,
2004, Selle, 2007), embora tenham sido mais expressivos que estudos realizados na Amazônia e
em outras regiões tropicais (Pande et al., 2002, Vitousek e Sanford, 1986, Reich et al., 1995),
indicando o alto retorno de nutrientes (ver Tabela 2).
Durante o processo de decomposição do folhedo foi observada, de modo geral, uma
redução nos teores dos nutrientes, refletindo a sua utilização pelos organismos decompositores. As
diferenças nos padrões de mobilidade dos nutrientes nas diversas áreas, como observado neste
estudo, dependem das necessidades da biota decompositora, do estado nutricional do substrato, da
disponibilidade desses nutrientes no solo, entre outros fatores (Souto, 2006). Os elementos K, Ca e
Mg apresentam, de modo geral, redução em relação aos seus estoques iniciais no material em
decomposição, refletindo a sua grande utilização, junto com P e S, pela biota microbiana, refletido
em uma curva acentuadamente decrescente de suas concentrações ao longo da decomposição da
serapilheira (Andrade, 1997, Vuono, 1989). Entre os nutrientes minerais, o K apresentou o maior
decréscimo ao longo da decomposição neste estudo. Este resultado era o esperado para este
nutriente que, por não ser um elemento estrutural, é facilmente lixiviado, além de apresentar-se em
excesso na serapilheira em relação à demanda microbiana, produzindo uma curva decrescente em
suas concentrações ao longo da decomposição do material (Vuono, 1989), sendo o nutriente de
mais rápida liberação na serapilheira em todos os ecossistemas (Andrade, 1997).
Os resultados obtidos pela PCA revelaram os maiores teores de minerais obtidos, de modo
geral, na serapilheira e no folhedo de Preta e Central, revelando a melhor composição nutricional
do material vegetal nestes sítios em relação aos demais. Este resultado pode estar relacionado à
estrutura da vegetação e composição florística nestas áreas, de maior porte e diversidade em Preta
quando comparada às demais (Metzker et al, 2011), uma vez que a concentração de nutrientes
foliares pode refletir o gradiente sucessional da vegetação (Boerger, 2005).
As propriedades físicas e químicas do solo na região do Parque Estadual do rio Doce
contribuem diretamente para a heterogeneidade florística da região, constituindo-se em importante
parâmetro ambiental para o estudo da diferenciação na estrutura e diversidade de florestas na
região (França, 2008). A variação na composição química e granulométrica do solo deve-se à
76
diversidade de ambientes encontrados no PERD, uma vez que regiões aluviais recebem maior
carga de sedimentos carreados pelos cursos d’água (França, 2008). Esta afirmação pode explicar os
resultados encontrados para a composição edáfica de Preta, uma vez que esta área está em uma
área muito próxima ao rio Doce e lagoas marginais, sob solo aluvial.
As propriedades físico-químicas do solo em Preta, especialmente o maior teor de areia
fina e silte, permitiram maior retenção de umidade nesta área, o que pode ter contribuído para o
estabelecimento de um ambiente propício para a proliferação dos organismos decompositores e,
desta forma, para a decomposição do folhedo mais rápida na primeira fase do estudo nesta área.
Entretanto, embora tenha sido observada a melhor qualidade nutricional da serapilheira e do solo
em Preta, a velocidade da decomposição do folhedo não diferiu entre as áreas. Considerando-se a
maior cobertura por mata primária observada em Preta (Metzker et al, 2011) em relação aos
demais sítios amostrais, pode-se concluir que ocorre um incremento na concentração de nutrientes
na serapilheira durante o processo de sucessão ecológica, conforme sugerido por Peet (1992),
como consequência da maior eficiência na disponibilização destes compostos para o solo (Boerger,
2005). Assim, as maiores concentrações de nutrientes nos estádios sucessionais mais avançados
pode ser explicada parcialmente pelo incremento da espessura dos horizontes orgânicos e da
produção de serapilheira, o que resulta numa maior disponibilidade de nutrientes para a vegetação
(Jordan, 1985, Perry, 1994, Rode, 1995, Boerger, 2005).
Os resultados deste estudo sugerem que a composição nutricional da serapilheira parece
estar relacionada ao estádio sucessional da vegetação e às características do solo, sugerindo
influência da qualidade nutricional do substrato e do solo, sobretudo dadisponibilidade de N
determinada pela relação Lignina/N, na qualidade da serapilheira produzida e na velocidade de
decomposição.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Preta apresentou o estágio mais avançado de desenvolvimento da vegetação, seguida por Central,
Garapa e Aníbal, com exceção da abundância de indivíduos, maior em Preta e Aníbal.
A produção de serapilheira foi diferente entre os dois períodos de estudo, mas ambos revelaram a
influência das características da vegetação como cobertura por mata primária, altura do dossel,
abundância de indivíduos e distribuição diamétrica. Entre agosto/2005 e julho/2007, a maior
produção foi obtida em Preta, diferindo-se das outras áreas na ordem Aníbal, Central e Garapa,
mesma ordem obtida para a abundância de indivíduos nos sítios. Entre agosto/2007 e julho/2009,
foi em Central, diferindo-se dos demais sítios, seguida por Preta, Aníbal e Garapa. Central e Preta
obtiveram maior produção de serapilheira e também apresentaram maior cobertura por mata
primária e altura do dossel.
A influência do clima na produção de serapilheira, de modo geral, não foi verificada nos sítios
amostrais, sendo que apenas a precipitação foi positivamente correlacionada em Central, indicando
a influência da ação mecânica da chuva no aumento da produção da fração ramos.
O IAF não variou entre os sítios amostrais, mas apresentou variação temporal, indicando o
comportamento fenológico sazonal da vegetação semelhante entre as áreas.
O IAF/foto e o IAF/serapilheira revelaram comportamento oposto, refletindo adequadamente a
dinâmica de síntese e queda foliar e, consequentemente, a variação do dossel. A ausência de
correlação negativa significativa entre estes índices indicou a rápida renovação foliar e fechamento
do dossel, resultando em altos valores de produção de serapilheira durante todo o ano.
A análise nutricional revelou maiores teores de nutrientes na serapilheira, no folhedo e no solo em
Preta em relação aos demais sítios. A análise de PCA formou dois grupos distintos; Preta e Central,
com os maiores valores nutricionais, oposto a Garapa e Aníbal, com os menores valores.
A constante de decomposição (k) foi semelhante entre os sítios, em conseqüência da baixa relação
L/N no substrato que revelou a alta oferta de N e ausência de recalcitrância no folhedo.
A decomposição do folhedo uniforme em todas as fases do período parece refletir a alta relação
C/Nitrogênio, que pode ter contribuído para a diminuição na velocidade de decomposição no início
do experimento, se assemelhando às fases intermediárias e finais, em geral mais lentas.
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A composição nutricional do substrato e do solo nos sítios influenciou na reutilização dos
nutrientes pela vegetação, contribuindo para a qualidade nutricional da serapilheira produzida em
todos os sítios amostrais.
A dinâmica de produção e decomposição da serapilheira foi influenciada pela estrutura da
vegetação, em especial a cobertura por mata primária, altura do dossel, distribuição diamétrica e
abundância de indivíduos, e pela composição nutricional do material vegetal e do solo.
Os resultados obtidos neste trabalho indicaram a inter-relação entre a estrutura e composição da
vegetação e do solo e da dinâmica do dossel, influenciando na produtividade primária e ciclagem
de nutrientes.
Estes resultados podem contribuir para o maior entendimento da influência dos diversos
parâmetros ecológicos na ciclagem de matéria orgânica e nutrientes em florestas tropicais,
essenciais para a elaboração e implementação de estratégias e programas de conservação e manejo
de remanescentes de Mata Atlântica.