dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

281
ANDRÉA DE OLIVEIRA SILVA DINÂMICA COMPETITIVA E TECNOLÓGICA DA INDÚSTRIA DE MÁQUINAS-FERRAMENTA NO BRASIL São Paulo 2013

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Page 1: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

ANDRÉA DE OLIVEIRA SILVA

DINÂMICA COMPETITIVA E TECNOLÓGICA DA INDÚSTRIA DE

MÁQUINAS-FERRAMENTA NO BRASIL

São Paulo

2013

Page 2: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

ANDRÉA DE OLIVEIRA SILVA

DINÂMICA COMPETITIVA E TECNOLÓGICA DA INDÚSTRIA DE

MÁQUINAS-FERRAMENTA NO BRASIL

Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Engenharia.

São Paulo

2013

Page 3: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

ANDRÉA DE OLIVEIRA SILVA

DINÂMICA COMPETITIVA E TECNOLÓGICA DA INDÚSTRIA DE

MÁQUINAS-FERRAMENTA NO BRASIL

Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Engenharia. Área de Concentração: Engenharia de Produção Orientador: Prof. Dr. Renato de Castro Garcia

São Paulo

2013

Page 4: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador. São Paulo, de janeiro de 2013. Assinatura do autor ____________________________ Assinatura do orientador _______________________

FICHA CATALOGRÁFICA

Silva, Andréa de Oliveira

Dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máqui- nas-ferramenta no Brasil / A.O. Silva. -- São Paulo, 2012.

278 p.

Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção.

1.Máquinas-ferramenta 2.Desenvolvimento industrial – Brasil 3.Inovações tecnológicas 4.Cooperação universidade-empresa I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Produção II.t.

Silva, Andréa de Oliveira

Dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máqui- nas-ferramenta no Brasil / A.O. Silva. -- ed.rev. -- São Paulo, 2013.

281 p.

Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção.

1.Máquinas-ferramenta 2.Desenvolvimento industrial – Brasil 3.Inovações tecnológicas 4.Cooperação universidade-empresa I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Produção II.t.

Page 5: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

Silva, A. O. Dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas-

ferramenta no Brasil. Tese apresentada ao Departamento de Engenharia de

Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, para obtenção do

título de Doutor em Engenharia.

Aprovado em:

Banca examinadora:

Prof. Dr..

Instituição:

Julgamento:

Assinatura:

Prof. Dr..

Instituição:

Julgamento:

Assinatura:

Prof. Dr..

Instituição:

Julgamento:

Assinatura:

Prof. Dr..

Instituição:

Julgamento:

Assinatura:

Prof. Dr..

Instituição:

Julgamento:

Assinatura:

Page 6: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

Ofereço à minha família

Page 7: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço aos meus pais e meus irmãos pelo apoio e as palavras

de incentivo.

Agradeço aos amigos Wellington, Silvia G., Luciana M., Karine e aos amigos da pós-

graduação pelo apoio, o ombro amigo e os puxões de orelha.

Agradeço a CAPES pela bolsa concedida, que possibilitou o desenvolvimento do

trabalho.

Agradeço aos professores do departamento de engenharia de produção, pela

oportunidade de ampliar os conhecimentos. E aos funcionários da Poli, pela

assistência e colaboração.

Agradeço aos professores Davi Nakano e Roberta Castro, pela leitura atenta do

documento de qualificação, pelos comentários de grande importância para a

pesquisa e pela colaboração também na fase final da tese.

Agradeço aos professores Rogério Gomes e Rodrigo Sabbatini, por sua leitura e a

participação nessa fase importante que é a defesa de um doutorado.

Agradeço, principalmente, ao professor Renato Garcia, pela leitura cuidadosa e

questionadora e por sua colaboração para tratar um tema pouco distante de sua

linha de pesquisa.

Agradeço aos pesquisadores-líderes dos grupos de pesquisa, pelos comentários

sobre as características das máquinas e a dinâmica tecnológica do setor e por

apresentar elementos importantes para a compreensão sobre as interações

universidade-empresa.

Agradeço aos representantes das empresas de máquinas-ferramenta (B. Grob, D. R.

Promaq, Ergomat, Ferdimat, Index e Romi) por terem disponibilizado parte de seu

tempo para responder às indagações da pesquisa e apresentar a área de produção

de suas empresas. Agradeço, especialmente, aos representantes da empresa Romi,

pelas aulas que recebi durante as visitas técnicas e por sua colaboração na

entrevista.

Por fim, agradeço também aos representantes do Instituto de Pesquisa e

Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos (IPDMaq),

filiado à ABIMAQ; e à ABIMAQ, pela entrevista concedida, por terem disponibilizado

material para consulta e pelo apoio na participação de eventos do setor.

Page 8: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

RESUMO

Esta tese analisa as características e as condições do desenvolvimento industrial e tecnológico do setor de máquinas-ferramenta no Brasil. O trabalho parte do pressuposto de que há uma relação entre trajetória tecnológica, regime tecnológico e desenvolvimento econômico e considera que o arcabouço sobre Sistema Setorial de Inovação pode trazer importantes contribuições para o desenvolvimento tecnológico entre os setores industriais. A revisão teórica da tese aplicou a discussão sobre trajetória tecnológica, regime tecnológico e Sistema Setorial de Inovação ao caso do setor de máquinas-ferramenta mundial, destacando as características do desenvolvimento das tecnologias do setor na Inglaterra, EUA e Japão. A metodologia de pesquisa abrangeu uma análise sobre o setor de máquinas-ferramenta no Brasil. Esta análise considerou as características do desempenho industrial e tecnológico e as interações realizadas entre empresas de máquinas-ferramenta e grupos de pesquisa sediados no Estado de São Paulo. A partir da análise empírica e setorial, a tese constatou que o regime tecnológico do setor de máquinas-ferramenta do Brasil apresenta características distintas, relativamente ao setor de máquinas-ferramenta dos países analisados na revisão teórica. O Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta no Brasil também apresenta algumas diferenças em relação ao Sistema Setorial de máquinas-ferramenta da Alemanha, Japão, EUA e Itália. A conclusão é que a escolha das empresas por trajetórias tecnológicas no passado pode repercutir um ambiente tecnológico distinto para um mesmo setor através dos países. Considera-se que as características do ambiente tecnológico de cada setor podem apresentar alguns efeitos positivos para a sua competitividade. Entretanto, no longo prazo, a dinâmica industrial e tecnológica do setor de máquinas-ferramenta nacional pode ser afetada pela escolha entre trajetórias tecnológicas. Palavras-chave: Máquinas-ferramenta, Desenvolvimento industrial (Brasil); Inovações tecnológicas, Cooperação universidade-empresa, Sistema Setorial de Inovação.

Page 9: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

ABSTRACT

This thesis analyzes the characteristics and conditions of the industrial and technological development of the machine tools industry in Brazil. The work assumes that there is a relationship between technological trajectory, technological regime and economic development and considers the framework of the Sectoral System of Innovation can make important contributions to technological development among industries. A theoretical review of the thesis applied the discussion on technological trajectory, technological regime and Sectoral System of Innovation in the case of machine tools industry, highlighting the features of the technology development sector in England, USA and Japan. The research methodology includes an analysis of the machine tools industry in Brazil. This analysis considered the performance characteristics of industrial and technological interactions between companies of machine tools and research groups based in São Paulo. From the empirical analysis and sector, the thesis found that the technological regime of the machine tools industry in Brazil has distinct characteristics to the machine tools industry of the countries analyzed in the theoretical review. The machine tools Sectoral System of Innovation in Brazil also have some differences from the System Sector machine tools from Germany, Japan, USA and Italy. The conclusion is that the choice of enterprises by technological trajectories in the past can influence a distinct technological environment for the same sector across countries. It is considered that the characteristics of the technological environment of each sector may have some positive effects on their competitiveness. However, in the long term, the dynamic industrial and technological sector of machine tools can be affected by national choice between technological trajectories.

Key words: Machine-tools, industrial development (Brazil), technological innovations, University-industry cooperation, Sectoral System of innovation

Page 10: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1.1 – Desenvolvimento e trajetórias tecnológicas e Sistema Setorial de inovação ... 22

Gráfico 4.1 – Número de empresas do grupo de máquinas especiais e do setor de

máquinas-ferramenta no mundo, 2005-2009. ...................................................................... 83

Gráfico 4.2 – Número de trabalhadores empregados no grupo de máquinas especiais e no

setor de máquinas-ferramenta no mundo, 2005-2009. ......................................................... 84

Gráfico 4.3 – Produção mundial do setor de máquinas e do ramo de máquinas-ferramenta,

2005-2009. .......................................................................................................................... 85

Gráfico 4.4 – Produção de máquinas-ferramenta em países selecionados (1), 2008-2011. 86

Gráfico 4.5 – Produção de máquinas-ferramenta em países selecionados (2) – 2008 a 2011

............................................................................................................................................ 87

Gráfico 4.6 – Consumo mundial de máquinas-ferramenta – 2000 a 2010 ........................... 88

Gráfico 4.7 – Exportações mundiais de máquinas-ferramenta – 2000 a 2010 .................... 90

Fonte: Elaboração própria, com dados de Comtrade.. ......................................................... 90

Gráfico 4.8 – Exportações mundiais do setor de máquinas e equipamentos, por SITC –

2000 a 2010 ......................................................................................................................... 91

Gráfico 4.9 – Participação dos segmentos de máquinas no total de exportações do setor –

2000 a 2010 ......................................................................................................................... 92

Gráfico 5.1 – Total de unidades locais da indústria de bens de capital do Brasil – 2007 a

2010. ................................................................................................................................. 125

Gráfico 5.2 – Unidades locais do setor de máquinas e do segmento de máquinas-

ferramenta do Brasil – 2007 a 2010. .................................................................................. 126

Gráfico 5.3 – Comércio de máquinas e equipamentos do Brasil – 1996 a 2010. ............... 132

Page 11: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Características do Conhecimento-base ......................................................... 44

Quadro 2.2 – Trajetórias tecnológicas setoriais: determinantes, direções e características

mensuradas ......................................................................................................................... 46

Quadro 3.1 – Tecnologias e características do Sistema de Manufatura Computadorizado . 65

Quadro 3.2 – Trajetórias tecnológicas importantes para a indústria de máquinas-ferramenta

mundial ................................................................................................................................ 68

Quadro 3.3 – Características gerais das atividades inovativas para a categoria de

fornecedores especializados ................................................................................................ 69

Quadro 4.1 – Descrição das máquinas-ferramenta de usinagem ........................................ 75

Quadro 4.2 – Categoria de processos e exemplos .............................................................. 77

Quadro 4.3 – Descrição de alguns processos usinagem ..................................................... 78

Quadro 4.4 – Categoria de processos e a importância de parâmetros selecionados .......... 79

Quadro 4.5 – Requisitos dos materiais para aplicação e índices de avaliação de

desempenho ........................................................................................................................ 80

Quadro 4.6 – Descrição dos segmentos pertencentes ao setor Metalworking machinery ... 89

Quadro 4.7 – Características tradicionais e emergentes do Sistema de inovação no setor de

máquinas-ferramenta ......................................................................................................... 101

Quadro 4.8 – Spectro da inovação na indústria de máquinas-ferramenta da Alemanha, Itália,

Japão e EUA ..................................................................................................................... 115

Quadro 4.9 – Principais atores e características do desenvolvimento do setor de máquinas-

ferramenta – países selecionados ..................................................................................... 115

Quadro 5.1 – Produtos incluídos na classe Fabricação de máquinas-ferramenta ............. 124

Quadro 6.1 – Fontes informação utilizadas para a identificação, seleção e análise sobre o

setor, empresas e tecnologias do ramo de máquinas-ferramenta do Brasil ....................... 139

Quadro 6.2 – Empresas de máquinas-ferramenta selecionadas para a pesquisa empírica143

Quadro 6.3 – Variáveis utilizadas na seleção dos grupos de pesquisa ............................. 144

Quadro 6.4 – Grupos de pesquisa selecionados ............................................................... 147

Page 12: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

Quadro 6.5 – Conceitos e construtos utilizados na pesquisa empírica .............................. 148

Quadro 6.6 – Roteiro de questões e variáveis de controles aplicados nas visitas às

empresas de máquinas-ferramenta ................................................................................... 149

Quadros 6.7 – Variáveis mensuradas na análise sobre o desenvolvimento industrial das

empresas de máquinas-ferramenta selecionadas .............................................................. 149

Quadro 6.8 – Variáveis mensuradas na análise sobre o desenvolvimento econômico das

empresas de máquinas-ferramenta selecionadas .............................................................. 150

Quadros 6.9 – Variáveis mensuradas sobre o panorama dos produtos e tecnologias nas

empresas de máquinas-ferramenta ................................................................................... 150

Quadro 6.10 – Características mensuradas na análise sobre a capacidade inovativa das

empresas de máquinas-ferramenta selecionadas .............................................................. 150

Quadro 6.11 – Características mensuradas na análise sobre as interações das empresas

com o Sistema Setorial de Inovação .................................................................................. 150

Quadro 6.12 – Roteiro de questões e variáveis de controles aplicados nas visitas aos

grupos de pesquisa ........................................................................................................... 151

Quadro 6.13 – Características gerais dos grupos de pesquisa selecionados .................... 152

Quadro 6.14 – Grupos de pesquisa selecionados e interações recente registradas com o

setor produtivo ................................................................................................................... 152

Quadro 6.15 – Grupos de pesquisa selecionados e características gerais das interações 152

Quadro 7.1 – Características gerais das empresas de máquinas-ferramenta selecionadas154

Quadro 7.2 – Empresas de máquinas e linhas de produtos .............................................. 155

Quadro 7.3 – Faixas de mercado e características das tecnologias embarcadas ............. 156

Quadro 7.4 – Fator de competitividade e características das barreiras à entrada, segundo as

faixas de mercado. ............................................................................................................ 162

Quadro 7.5 – Grupos de pesquisa analisados................................................................... 176

Quadro 7.6 – Linhas de pesquisa e áreas de conhecimento predominante dos grupos de

pesquisa analisados .......................................................................................................... 177

Quadro 7.7 – Características gerais dos grupos de pesquisa analisados .......................... 178

Quadro 7.8 – Número de integrantes dos grupos de pesquisa analisados ........................ 180

Quadro 7.9 – Grupos de pesquisa e interações desenvolvidas recentemente .................. 181

Quadro 7.10 – Quantidades de interações por natureza ................................................... 185

Page 13: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

Quadro 8.1 – Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta: o caso do setor de

máquinas-ferramenta do Brasil .......................................................................................... 211

Page 14: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 – Exportações de máquinas-ferramenta que trabalham metal, por eliminação de

metal ou outro material (SIT 731), principais países, 2009 e 2010. ...................................... 93

Tabela 4.2 – Importações de máquinas-ferramenta que trabalham metal, por eliminação de

metal ou outro material (SIT 731), por países selecionados, 2009 e 2010. .......................... 93

Tabela 4.3 – Exportações de máquinas-ferramenta que trabalham metal, sem eliminação de

material (SIT 733), por países selecionados, 2009 e 2010. ................................................. 94

Tabela 4.4 – Importações de máquinas-ferramenta que trabalham metal, sem eliminação de

material (SIT 733), por países selecionados, 2009 e 2010. ................................................. 95

Tabela 4.5 – Índice de concentração das exportações de Máquinas-ferramenta ................. 96

Tabela 4.6 – Índice de concentração das importações de Máquinas-ferramenta ................. 96

Tabela 4.7 – Índice de mudança estrutural das exportações e importações de Máquinas-

ferramenta ........................................................................................................................... 97

Tabela 5.1 – Participação das unidades locais dos setores de máquinas no total da indústria

de bens de capital do Brasil – 2007 a 2010. ...................................................................... 126

Tabela 5.2 – Crescimento do número de unidades locais com produção de máquinas-

ferramenta do Brasil – 2007 a 2010 ................................................................................... 127

Tabela 5.3 – Total de Estabelecimentos com produção de máquinas-ferramenta, por

Estados região sul e sudeste – períodos selecionados ..................................................... 128

Tabela 5.4 – Número de estabelecimentos do ramo de máquinas-ferramenta localizados na

microrregião de São Paulo................................................................................................. 129

Tabela 5.5 – Número de empresas, por faixa de pessoal ocupado, no segmento de

máquinas-ferramenta do Brasil– 2007 a 2010.................................................................... 129

Tabela 5.6 – Valor da produção do segmento de máquinas-ferramenta do Brasil – 2007 a

2010 .................................................................................................................................. 130

Tabela 5.7 – Utilização de capacidade instalada da indústria de transformação (%) no Brasil

– 2007 a 2010 .................................................................................................................... 131

Tabela 5.8 – Importações de máquinas-ferramenta do Brasil, por SITC – 2008 a 2010 ... 132

Page 15: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIMAQ Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos

CNAE Classificação Nacional de Atividade Econômica

CNI Confederação Nacional das Indústrias

CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FMS Flexible Manufacturing Systems

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPDMaq Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria

de Máquinas e Equipamentos

ISIC International Standard of Industrial Classification

MIT Massachusetts Institute of Technology

NCM Nomenclatura Comum do Mercosul

SITC Standard International Trade Classification

UNCTAD United Nations Conference on Trade and Development

UNIDO United Nations Industrial Development Organization

Page 16: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

SUMÁRIO

1. Introdução ............................................................................................................ 18

Capítulo 2 - Desenvolvimento tecnológico e a indústria de bens de capital ..... 27

2.1 Tecnologias, trajetória tecnológica e mudança técnica ........................................ 27

2.2 Regime tecnológico e Sistema Setorial de Inovação ............................................ 37

Capítulo 3 - Desenvolvimento e mudança técnica na indústria de bens de

capital ....................................................................................................................... 49

3.1 A indústria de bens de capital e o desenvolvimento econômico ......................... 49

3.2 Padrões e rupturas no desenvolvimento tecnológico da indústria de bens de

capital ............................................................................................................................. 53

3.2.1 A origem e especialização do setor ..................................................................... 53

3.2.2 Automação e desenvolvimento tecnológico ......................................................... 62

3.3 Padrão setorial e regime tecnológico na indústria de bens de capital ................ 69

Capítulo 4 - O setor de máquinas-ferramenta em países selecionados ............. 73

4.1 Produtos, processos e tecnologias do setor de máquinas-ferramenta. .............. 73

4.2 Produção e comércio mundial do setor de máquinas-ferramenta ....................... 83

4.4 Considerações sobre o setor de máquinas-ferramenta em países selecionados99

Capítulo 5 - O setor de máquinas-ferramenta no Brasil .................................... 117

5.1 Panorama sobre o setor de máquinas-ferramenta no Brasil .............................. 117

5.2 A dinâmica industrial e competitiva do segmento de máquinas-ferramenta .... 123

6. Metodologia de pesquisa empírica .................................................................. 138

6.1 Fases da pesquisa e fontes de informações utilizadas ....................................... 138

6.2 Objeto de estudo da análise empírica da tese ..................................................... 141

6.2.1 A Identificação e seleção das empresas de máquinas-ferramenta .................... 141

6.2.2 A identificação e seleção dos grupos de pesquisa ............................................ 144

6.3 Construtos, questões e variáveis ......................................................................... 148

Capítulo 7 - Estudo empírico sobre o setor de máquinas-ferramenta .............. 153

7.1 Empresas de máquinas-ferramenta e as características das interações

Page 17: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

mensuradas com o setor ............................................................................................. 153

7.1.1 Características gerais das empresas de máquinas-ferramenta ......................... 153

7.1.2 Fatores de competitividade das empresas de máquinas-ferramenta ................. 159

7.1.3 Análise qualitativa sobre o desempenho industrial e comercial das empresas de

máquinas-ferramenta selecionadas ........................................................................... 163

7.1.4 Capacidade inovativa interna das empresas analisadas ................................... 166

Características da área de engenharia das empresas ............................................ 166

Processo de produção das máquinas .................................................................... 167

7.1.5 Características das interações e resultados apontados por empresas de

máquinas-ferramenta ................................................................................................. 171

7.2 Grupos de pesquisa e as características das interações mensuradas com setor

produtivo ...................................................................................................................... 176

7.2.1 Origem e desenvolvimento dos grupos de pesquisa analisados........................ 176

7.2.2 Características das interações e principais resultados apontados por grupos de

pesquisa .................................................................................................................... 182

7.3 As dificuldades nas interações entre as empresas de máquinas e os grupos de

pesquisa analisados .................................................................................................... 188

Capítulo 8 - Considerações sobre o setor de máquinas-ferramenta no Brasil 192

8.1 Desenvolvimento industrial e trajetórias tecnológicas do setor de máquinas-

ferramenta no Brasil .................................................................................................... 192

8.2 O regime tecnológico do setor de máquinas-ferramenta do Brasil .................... 201

8.3 Elementos do Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta no Brasil205

9. Conclusão .......................................................................................................... 212

Referências Bibliográficas ................................................................................... 219

Anexos ................................................................................................................... 226

Page 18: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

18

1. Introdução

Esse trabalho apresenta uma análise sobre o desenvolvimento mundial de

tecnologias no setor de máquinas-ferramentas. A tese apresenta a preocupação em

discutir os fatores que influenciaram e têm influenciado a mudança tecnológica no

setor de máquinas em diferentes países, enfatizando algumas características e

condições impostas para o desenvolvimento tecnológico do setor no Brasil.

A revisão teórica da tese está apoiada na discussão sobre os conceitos de

trajetórias tecnológicas, mudança técnica e regime tecnológico e considera que há

uma relação importante entre esses conceitos e o arcabouço de Sistema Setorial de

Inovação.

O objeto central da análise teórica e empírica da tese é a empresa e sua

interação com o ambiente no qual ela está inserida.

Considera-se que as empresas desenvolvem diferentes rotinas ou conjuntos

de conhecimentos sobre alternativas tecnológicas. Ao longo do tempo, essas

empresas podem incorporar novos conhecimentos às rotinas, criando novas

alternativas tecnológicas. As escolhas por um conjunto de tecnologias, dentro de um

padrão de solução de problemas (ou paradigma tecnológico), por sua vez, podem

ser definidas como trajetórias tecnológicas.

As empresas e setores industriais apresentam heterogeneidade de condições

para a incorporação e aprendizado de trajetórias tecnológicas.

De um lado, o ambiente ou regime tecnológico no qual as empresas estão

inseridas reúne condições de oportunidade e apropriabilidade; base de

conhecimentos e níveis de cumulatividade dos conhecimentos que são específicos a

cada setor. De outro lado, o regime tecnológico abrange diferentes estratégias

relacionadas ao processo de criação, incorporação e difusão de tecnologias.

O ambiente no qual as empresas estão inseridas pode influenciar a

identificação de trajetórias tecnológicas e a mudança técnica entre os setores

industriais. Entretanto, considera-se que a identificação e o aprendizado de

trajetórias tecnológicas dentro de um paradigma tecnológico não são influenciados

apenas por condições do ambiente tecnológico estrito.

O ambiente institucional, aqui compreendido como infraestrutura científica, o

Estado, os fornecedores e os usuários apresentam papel relevante para o

Page 19: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

19

aprendizado de tecnologias e a mudança técnica. O setor de máquinas-ferramentas

é um caso representativo da influência que o ambiente tecnológico e institucional

exerce sobre o desenvolvimento tecnológico ao nível setorial.

No século XIX, o desenvolvimento do setor de máquinas no mundo esteve

apoiado em conjunto de conhecimentos em comum e em conjunto de problemas

técnicos no processo de produção de máquinas para diferentes setores industriais.

O conjunto de conhecimentos e de problemas técnicos em comum visualizados no

setor de máquinas é apresentado na literatura como convergência tecnológica.

Ao longo do século XIX e XX, o desenvolvimento de tecnologias no setor de

máquinas contou com importante participação de diferentes atores do ambiente em

que as empresas estão inseridas.

Em países como a Inglaterra e os EUA, por exemplo, as interações realizadas

entre as empresas com produção de máquinas e os usuários de tais máquinas

exerceram influência sobre a direção e a velocidade da mudança técnica do setor.

À medida que os conhecimentos eram incorporados e ampliados no ambiente

interno das empresas de máquinas, visando o atendimento de requisitos dos

usuários, verifica-se a desintegração vertical e a formação de novos ramos

industriais de máquinas para diferentes usos.

A partir do século XX, o desenvolvimento técnico das empresas de máquinas

daqueles países também passou a contar com a infraestrutura científica, a

participação do Estado e com as interações estabelecidas com fornecedores de

insumos e de componentes eletrônicos incorporados às máquinas.

Esse conjunto de fatores orientou as estratégias de desenvolvimento

tecnológico entre as empresas e contribuiu de maneira distinta para o

desenvolvimento industrial do setor de máquinas de cada país.

Vale notar que a percepção das empresas e segmentos industriais em

relação às trajetórias tecnológicas vigentes e potenciais influenciou a direção e

velocidade da mudança técnica das máquinas.

A partir de meados do século XX, o surgimento de novas trajetórias

tecnológicas com as tecnologias de automação e as mudanças nas propriedades

físicas dos materiais utilizados na produção das máquinas repercutiram em

alterações na base de conhecimentos do setor de máquinas.

Em países como a Alemanha e Japão, a percepção das empresas de

máquinas-ferramentas em relação ao potencial comercial de tais tecnologias foi um

Page 20: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

20

fator significativo para o desenvolvimento técnico do setor de máquinas-ferramentas.

Vale notar que naqueles países, a infraestrutura científica, tecnológica e o Estado

promoveram e reforçaram as condições para a difusão e aprendizado das

tecnologias e conhecimentos identificados por empresas individuais.

O setor de máquinas-ferramentas dos EUA e Inglaterra, por sua vez, não

apresentaram as mesmas condições para o desenvolvimento de tecnologias

verificadas na Alemanha e no Japão. Em países de industrialização recente como o

Brasil, o setor de máquinas-ferramenta apresenta uma heterogeneidade de

condições produtivas, do ambiente institucional e tecnológico que influenciam a

direção da mudança técnica.

O conceito sobre trajetórias tecnológicas e regime tecnológico e o arcabouço

sobre Sistema Setorial de Inovação do setor de máquinas-ferramentas ajudam a

compreender as características e o dinamismo do desenvolvimento de tecnologias

entre os segmentos de máquinas diante de novas trajetórias tecnológicas.

Considera-se que cada ramo industrial de máquinas apresenta diferentes

condições de oportunidade e apropriabilidade e características da base de

conhecimentos. Essa característica, por sua vez, pode ser atribuída às estratégias

utilizadas para a criação, difusão e aprendizado de tecnologias.

O ambiente institucional pode reforçar ou alterar as condições do ambiente

tecnológico no qual as empresas estão inseridas. De maneira geral, as

características da demanda em cada país influenciam as escolhas iniciais entre as

trajetórias tecnológicas vigentes.

A infraestrutura científica e tecnológica de cada país pode apoiar a

identificação de novas rotas tecnológicas ou promover rupturas em relação à

trajetória tecnológica vigente. Isso porque a integração entre pesquisa científica e

empírica amplia a base de conhecimentos internos às empresas e o aprendizado de

tecnologias entre as empresas. A participação do Estado e de empresas individuais

e os vínculos estabelecidos ao longo da cadeia também contribuem para a difusão

de tais tecnologias e a internalização dos conhecimentos no sistema econômico.

A discussão sobre a relação entre regime tecnológico e Sistema Setorial de

Inovação de máquinas-ferramentas está apoiada em análise empírica do setor de

máquinas dos EUA, Alemanha, Japão e Itália. Entretanto, a tese não apresenta

propósito de analisar profundamente as características e influência de cada um dos

atores do Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramentas naqueles países.

Page 21: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

21

Após a discussão empírica sobre países selecionados, a tese aplica a

discussão sobre Sistema Setorial de inovação ao caso do setor de máquinas-

ferramenta do Brasil, considerando a relação estabelecida entre as empresas desse

setor e um grupo de instituições de pesquisa sediadas no Estado de São Paulo.

O objetivo da tese é analisar as características e as condições do

desenvolvimento industrial e tecnológico das empresas do setor de máquinas-

ferramenta do Brasil no período recente.

O trabalho considera as características, a dinâmica e os resultados das

interações entre empresas e grupos de pesquisa e eventuais dificuldades

enfrentadas por esses atores.

Para realizar a discussão empírica, a tese parte do pressuposto, presente na

literatura, de que há uma interdependência entre o paradigma tecnológico, a mudança

técnica e as trajetórias tecnológicas. E essa interdependência constitui fator importante para

compreender características do desenvolvimento industrial e tecnológico das empresas de

máquinas-ferramenta em países de industrialização recente.

Considera-se que as particularidades no regime tecnológico e da trajetória

tecnológica do setor de máquinas-ferramenta do Brasil são importantes para explicar

o seu desempenho industrial e tecnológico recente. Além disso, considera-se que a

interação entre os componentes (e atores) de um Sistema Setorial para um dado regime

tecnológico pode influenciar ou viabilizar a mudança técnica de setores e empresas. A figura

1 apresentada a seguir ilustra a ideia central tratada na discussão teórica da tese.

Page 22: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

22

Figura 1.1 – Desenvolvimento e trajetórias tecnológicas e Sistema Setorial de inovação

Paradigma tecnológico

(Modelo para a solução de problemas, selecionados a

partir de conhecimento científico e produção)

Condições para o aprendizado

Conhecimento-base

(científico)

- Melhorias incrementais (produtos e processos);

- Resolução de problemas técnicos;

- Produtividade;

Rotinas

Processo de busca e seleção dentro de um

paradigma

- Fatores econômicos; - Outros fatores (ex: demanda) – impulso

inicial; - Incerteza;

Regime tecnológico

- Conhecimento-base: Produção: caráter indivisível, pervasivo

Difusão: Caráter cumulativo; path-dependence - Condições Oportunidade; - Grau de Apropriabilidade.

Trajetória 1

Sistema Setorial de Inovação

(Atores, instituições e redes)

Trajetória 2

Trajetória n

Mudança técnica

Natureza; Direção; Velocidade.

Page 23: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

23

A discussão do caso brasileiro está organizada em três partes. Em

primeiro lugar, são discutidos as características e o desempenho industrial do

setor de máquina-ferramenta do Brasil no período recente.

Em segundo lugar, são delimitadas as principais características do

desenvolvimento industrial e tecnológico para uma amostra de empresas de

máquinas-ferramenta com unidades localizadas no Estado de São Paulo. Além

disso, é identificada e discutida a dinâmica das interações e os resultados dos

vínculos estabelecidos do ponto de vista de alguns grupos de pesquisa

selecionados e que apresentam atuação no ramo de máquinas e

equipamentos.

Em terceiro lugar, são apresentadas as principais características do

desenvolvimento industrial e do regime tecnológico para o grupo de empresas

à luz do desenvolvimento do setor de máquinas.

A partir dos resultados obtidos na análise teórica e empírica da tese, é

possível constatar que o Sistema Setorial de máquinas-ferramentas do Brasil

apresenta elementos próximos ao Sistema Setorial de máquinas tradicional.

Além disso, a pesquisa empírica e teórica possibilitou a identificação de um

ambiente tecnológico com baixa oportunidade, alta apropriabilidade, e

especialização de conhecimentos na base técnica mecânica.

As informações obtidas por meio de visitas técnicas e entrevistas

realizadas com representantes de empresas de máquinas e grupos de

pesquisa do Estado de São Paulo permitiram a identificação de um perfil de

interações visando o desenvolvimento de tecnologias. Essa característica pode

ser atribuída, em grande medida, ao próprio padrão de desenvolvimento,

incorporação e difusão de tecnologias do setor de máquinas-ferramenta do

Brasil.

A tese está organizada nove capítulos que abrange a introdução; seis

capítulos com a discussão teórica e empírica da tese; o capítulo com os

procedimentos metodológicos e o capítulo de conclusão. Ao final do arquivo, a

tese apresenta as referências bibliográficas utilizadas e consultadas e os

anexos.

O capítulo um corresponde à introdução da tese, que foi organizada em

três seções. Além desta primeira seção com a organização da tese, o primeiro

Page 24: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

24

capítulo apresenta o tema central da tese (seção 2) e as justificativas e

objetivos da pesquisa (seção 3).

O capítulo dois apresenta e discute os principais fatores abordados na

discussão conceitual sobre mudança técnica e processo de inovação.

Em primeiro lugar, o capítulo define tecnologia e mudança técnica e

analisa a natureza, direção e velocidade da mudança técnica no longo prazo.

Além disso, o capítulo estabelece uma relação entre mudança técnica,

trajetória e paradigma tecnológico.

Em segundo lugar, o capítulo discute as características gerais dos

regimes tecnológicos (condições de oportunidade, apropriabilidade,

cumulatividade e conhecimento-base).

Em terceiro lugar, o capítulo apresenta a noção sobre Sistema Setorial

de Inovação e Padrão Setorial de Criação e Difusão de conhecimentos.

O capítulo três analisa as características do desenvolvimento industrial

e tecnológico da indústria de bens de capital no mundo, enfatizando os

elementos e os atores envolvidos na mudança técnica no setor.

Primeiramente, são apresentados os determinantes da formação da

indústria e o seu papel para o desenvolvimento econômico nas economias

capitalistas no século XIX e XX.

Posteriormente, são discutidos os padrões e rupturas no

desenvolvimento de tecnologias da indústria. Nesse sentido, o capítulo

direciona a discussão para três elementos que contribuem para diferenças na

direção e velocidade da mudança técnica entre os setores de máquinas: a

origem e especialização do setor; a alteração em seu padrão de

desenvolvimento a partir da inserção da microeletrônica; e as características de

seu regime tecnológico.

O capítulo quatro apresenta o panorama do setor de máquinas-

ferramenta. Este capítulo está dividido em três seções.

A primeira seção apresenta os produtos, processos e tecnologias do

setor de máquinas.

A segunda seção apresenta e discute a estrutura industrial, a produção e

o comércio mundial do setor de máquinas-ferramenta.

Page 25: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

25

A terceira seção do capítulo quatro analisa a experiência de quatro

países selecionados (Alemanha, Itália, Japão e EUA), que têm participação

importante na produção do setor de máquinas-ferramenta.

Essa seção destaca as principais características e fatores envolvidos no

desenvolvimento do ramo de máquinas-ferramenta daqueles países,

considerando a idéia de regime tecnológico e Sistema Setorial de inovação.

O propósito deste capítulo é mostrar que as diferenças nos resultados

da produção e comércio do setor de máquinas-ferramenta mundial podem ser

explicadas por diferenças na configuração do Sistema Setorial de Inovação em

cada um daqueles países.

O capítulo cinco analisa o setor de máquinas-ferramenta do Brasil

considerando a discussão teórica da primeira parte da tese. O capitulo está

organizado em três seções

A primeira seção apresenta um breve panorama sobre o setor nas

últimas décadas do século passado, enfatizando o desenvolvimento de

tecnologias.

A segunda seção discute dados recentes sobre a estrutura industrial

considerando número e localização das unidades produtivas, perfil das

empresas, o emprego do setor, a produção nacional e a participação do setor

de máquinas-ferramenta no comércio internacional. Além disso, a seção

apresenta as características da dinâmica competitiva e tecnológica do setor de

máquinas-ferramenta do Brasil no período recente.

O capítulo seis da tese apresenta a metodologia da pesquisa empírica,

que foi organizada em seis seções.

A primeira, segunda e terceira seções deste capítulo apresentam o

objeto de estudo; os pressupostos e hipótese da tese; e os construtos e as

questões de pesquisa que foram elaborados a partir da discussão teórica e

empírica.

A quarta seção apresenta as fontes de informação utilizadas na

identificação das empresas e grupos de pesquisa e na análise empírica da

tese.

A quinta seção apresenta os critérios utilizados para identificar empresas

de máquinas-ferramenta e grupos de pesquisa com atuação no ramo de

Page 26: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

26

máquinas e equipamentos. A sexta e última seção discute brevemente as

opções e limitações da análise empírica da tese.

O capítulo sete abrange a análise empírica sobre o desenvolvimento de

empresas do setor de máquinas-ferramenta (MFs) do Brasil, considerando as

condições impostas pelo regime tecnológico do setor e como o Sistema

Setorial de máquinas-ferramenta nacional tem lidado com as transformações

nos últimos anos. O capítulo foi organizado em duas seções.

A primeira seção do capítulo apresenta e analisa os dados obtidos por

meio das entrevistas e visitas técnicas realizadas junto às empresas de

máquinas-ferramenta localizadas no Estado de São Paulo.

A segunda seção deste capítulo discute as informações obtidas através

da entrevista realizada junto aos líderes dos grupos de pesquisa de instituições

de ensino superior do Estado de São Paulo, que atuam na área de

conhecimento de engenharia mecânica e de produção e no setor de aplicação

máquinas e equipamentos.

O capítulo oito aplica a discussão sobre regime tecnológico e Sistema

Setorial de Inovação ao caso do setor de máquinas-ferramenta nacional,

considerando as informações apresentadas na revisão teórica e empírica da

tese. O capítulo nove apresenta a conclusão da tese.

O anexo da tese apresenta três partes. O anexo A apresenta oito

quadros com classificações de atividade econômica e comércio internacional e

o valor adicionado para a indústria de bens de capital.

O anexo B apresenta dois roteiros de questões que foram aplicadas,

respectivamente, com representantes das empresas de máquina-ferramenta e

com representantes dos grupos de pesquisa.

O anexo C apresenta informações secundárias sobre as empresas de

máquinas-ferramenta e os grupos de pesquisa analisados. Os dados

divulgados no anexo C são uma compilação de informações disponíveis no

sítio eletrônico das empresas e dos grupos de pesquisa, em fontes secundárias

como jornais, e no diretório Grupo de Pesquisa CNPq. As informações obtidas

através das entrevistas foram analisadas de maneira agregada no capítulo 7 e

não constam no anexo para preservar o sigilo.

Page 27: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

27

Capítulo 2 - Desenvolvimento tecnológico e a indústria de bens de capital

O segundo capítulo da tese apresenta e discute os principais fatores

abordados na literatura sobre mudança técnica e o processo de inovação.

Em primeiro lugar, o capitulo define tecnologia e mudança técnica e

analisa as características da natureza, direção e velocidade da mudança

técnica no longo prazo. Além disso, o capítulo estabelece uma relação entre

mudança técnica, trajetória e paradigma tecnológico. Em segundo lugar, o

capítulo discute os componentes do regime tecnológico: condições de

oportunidade, apropriabilidade, cumulatividade e conhecimento-base e

apresenta o arcabouço sobre Sistema Setorial de Inovação.

O objetivo deste capítulo é mostrar que há uma relação intrínseca entre

trajetória tecnológica, regime tecnológico e Sistema Setorial de Inovação. Além

disso, essa relação é importante para compreender as características do

desenvolvimento tecnológico de um mesmo setor em diferentes países.

2.1 Tecnologias, trajetória tecnológica e mudança técnica

A mudança técnica tem apresentado importante contribuição para o

desenvolvimento econômico e industrial entre os países. Em grande medida, a

análise das características da mudança técnica remete à idéia de que há uma

relação intrínseca entre ciência, tecnologia e desenvolvimento econômico.

De um lado, essa relação assume contornos distintos por conta das

características da mudança técnica entre os setores e empresas. De outro

lado, há elementos do ambiente que moldam e influenciam o modo como a

mudança técnica é realizada entre os países e os impactos sobre o cenário

econômico no longo prazo.

Apesar de apresentar algumas modificações ao longo do tempo, a

literatura que trata da relação entre mudança técnica e desenvolvimento é

relativamente antiga e apresenta uma variedade de contribuições teóricas e

empíricas.

Page 28: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

28

A discussão parte do pressuposto de que as tecnologias são os insumos

envolvidos na fabricação de um produto e a mudança técnica refere-se às

mudanças nessas atividades de transformação (Fransman, 1986). A tecnologia

também pode ser definida como conjunto ordenado de conhecimentos que

estão organizados, integrados e articulados no processo de produção (Sabato,

1979). Esse conjunto de conhecimentos, por sua vez, pode se apresentar de

duas maneiras: incorporada e desincorporada.

A tecnologia incorporada se comporta como uma matéria-prima. É

aquela contida nos bens físicos, como bens de capital; insumos para a

produção, como matérias-primas básicas e intermediárias e componentes; e

para reposição. A tecnologia não incorporada se comporta como bem de

capital. Trata-se dos conhecimentos (ou know how) contidos em documentos

(patentes, desenhos, manuais, estudos e informes técnicos), e em pessoal

técnico e de engenharia, que possibilitam que o processo possa ser replicado

quantas vezes for necessário (Dosi, 2006). As tecnologias também abrangem

um conjunto de conhecimentos práticos e teóricos, que influenciam as

atividades inovativas:

Os “conhecimentos práticos estariam ligados a problema produtivos

concretos e às relações entre produtores e usuários dos bens e serviços.

Os problemas teóricos, por sua vez, envolveriam know how, métodos,

procedimentos, experiências de sucesso e fracasso” (Dosi, 1982, p. 152).

As tecnologias podem surgir de três maneiras: como soluções de

problemas de engenharia; por meio de invenções não deliberadas; ou através

de invenções que solucionam problemas técnicos usando novos princípios

(Bueno, 2009, p. 537 apud Arthur, 2009). Nesse sentido, os conhecimentos

embutidos em tais tecnologias assumem características específicas ao longo

do tempo, como resultado de esforços voltados às soluções tecnológicas ou de

melhorias do estado-da-arte (Dosi, 2006).

Considerando essas definições sobre tecnologia, a mudança técnica

pode ser entendida como processo de transformação de tecnologias

incorporadas e desincorporadas, o que abrange os conhecimentos práticos e

teóricos, visando à produção de um volume maior de produtos e as melhorias

do processo de produção.

Page 29: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

29

A literatura aponta uma série de fatores que podem conferir

especificidades à natureza e à direção da mudança técnica no longo prazo.

Em primeiro lugar, a mudança técnica apresenta natureza diversa entre

os setores e países e pode ser classificada em duas categorias: mudança

técnica radical e incremental. A mudança técnica radical representa uma

ruptura em relação aos conhecimentos ou tecnologias que originou tal

mudança. A mudança técnica incremental, por sua vez, corresponde a

melhorias realizadas sob a mesma base de conhecimentos que a originaram.

Em segundo lugar, a mudança técnica também pode ser realizada em

direções distintas em um mesmo setor industrial em diferentes países ou em

diferentes economias. Os principais fatores que podem explicar as direções da

mudança técnica são as características do estado-da-arte da tecnologia em

uso, os níveis tecnológicos alcançados nos setores ou economias (Dosi, 2006)

e o processo de criação e difusão dos conhecimentos tecnológicos no interior

dos setores industriais e países.

O processo de criação de conhecimentos apresenta caráter cumulativo e

está pautado em experiências históricas e habilidades específicas do passado,

que são desenvolvidas de diferentes maneiras (incorporando ou excluindo

informações) ao longo dos anos. O processo de incorporação e difusão de

conhecimentos, por sua vez, está pautado, principalmente, nas habilidades

para reconhecer o potencial da tecnologia, apropriar-se dos conhecimentos,

alterar as suas características e incorporá-los à base de conhecimentos

internos.

As habilidades e conhecimentos acumulados por empresas e setores

industriais são utilizados como base para incorporar (criar) novos

conhecimentos e para identificar o potencial desses conhecimentos, o que

tende a reforçar a direção da mudança técnica ao longo dos anos.

O ambiente de seleção em que ocorre o processo de criação e difusão

de conhecimentos é um fator importante para a discussão sobre a direção da

mudança técnica.

Na literatura econômica tradicional, a mudança técnica é explicada pelo

pressuposto de que há um amplo conjunto de opções tecnológicas disponíveis

e que os agentes econômicos apresentam perfeito conhecimento sobre essas

tecnologias, incorporando as técnicas que poderão otimizar seu desempenho

Page 30: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

30

produtivo e econômico. Na literatura evolucionária, por sua vez, o ambiente de

seleção apresenta diferentes opções tecnológicas e os agentes (seja

empresas, setores ou países) apresentam informação incompleta sobre as

tecnologias disponíveis. Por esse motivo, aqueles agentes tomarão as suas

decisões pautadas pelo pressuposto da racionalidade limitada, considerando

as melhores oportunidades de produto, processo e mercado.

No cenário formado por diferentes opções tecnológicas e no qual as

informações são limitadas, as empresas e os setores apresentam padrões de

comportamento regulares (ou rotinas) para as atividades produtivas e não

produtivas (Nelson, 1988).

As rotinas podem ser definidas como conjuntos de conhecimentos sobre

alternativas tecnológicas (efetiva ou potencial), que funcionam como um padrão

de soluções ou paradigma tecnológico. As rotinas determinarão o que a

empresa faz, considerando a existência de variáveis externas e internas às

empresas (Nelson & Winter, 1982, p. 35).

Cada paradigma constitui um modelo para a busca e solução de

problemas técnicos e econômicos, que são selecionados a partir de princípios

derivados de conhecimentos científicos e da área de produção (Dosi, 1982). O

processo de busca dentro de um paradigma envolve procedimentos e

competências que são específicos a cada tecnologia ou a cada setor.

No ramo da química orgânica, por exemplo, “a busca se dá em torno dos

componentes existentes, auxiliada pelo conhecimento científico da relação

entre estruturas físicas e propriedades químicas, pela experiência prévia e pelo

acaso” (Dosi, 1988, p. 8).

Na engenharia mecânica, o processo de busca é orientado por trade-offs

em relação às características do uso da máquina (como velocidade,

flexibilidade e precisão de corte). Além disso, a busca envolve experiências

tácitas tanto no projeto e uso de equipamentos mecânicos como na interface

entre controles eletrônicos e movimentos mecânicos (Dosi, 1988, p. 8).

Ao longo do tempo, novos conhecimentos podem ser incorporados a

esse modelo, sem que isso represente ruptura do paradigma existente. As

escolhas por tecnologias dentro desse padrão de solução de problemas

(paradigmas) podem ser definidas como trajetórias tecnológicas.

Page 31: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

31

Dosi (2006) considera que as escolhas (ou seleção) de tecnologias são

realizadas em vários níveis que abrangem desde a pesquisa até os esforços

destinados à produção (seqüência ciência-tecnologia-produção).

O processo de busca e seleção da trajetória tecnológica dentro de um

paradigma tecnológico pode ser influenciado por fatores ex ante como os

interesses econômicos das organizações envolvidas em P&D e as histórias

tecnológicas dessas organizações (Dosi, 2006, p. 45). Além disso, as

características da demanda e fatores econômicos podem influenciar a escolha

das trajetórias tecnológicas dentro de um paradigma tecnológico existente ou

potencial (Dosi, 1988, p. 20).

A demanda1 pode atuar com um ‘sistema de recompensas e

penalidades’, influenciando a escolha entre um conjunto de produtos já

determinados por padrões tecnológicos (Dosi, 2006). Fatores econômicos

como os níveis e mudanças nos preços relativos das tecnologias (insumos,

máquinas); a capacidade de redução de custos da nova tecnologia; e seu

potencial para economizar mão-de-obra e acelerar o processo de acumulação

de capital também interfere na escolha entre técnicas.

Após a fase de seleção, a trajetória tecnológica apresenta um impulso

próprio entre os setores industriais e países, mas as condições econômicas

continuarão a influenciar a direção da mudança técnica.

A integração entre as atividades de investigação científica e empírica

(esforços sustentados na forma de P&D) exerce papel importante na

viabilidade de uma trajetória tecnológica.

No século XIX, a integração entre essas atividades em países como

EUA e Inglaterra, era direcionada, principalmente, para a resolução de

dificuldades tecnológicas não solucionadas, em virtude das limitações nas

competências desenvolvidas e adquiridas ao longo do tempo.

De um lado, os mecanismos de pesquisa científica ampliaram o acervo

de possibilidades tecnológicas e resultaram em processo planejado da

tecnologia e do projeto de produção (Braverman, 1974). Além disso, uma parte

considerável da atividade científica era internalizada, através de atividades de

busca e acumulação tecnológica interna às firmas (Dosi, 1988, p. 17).

1 Dosi (2006) refere-se à demanda como sinônimo de demanda de mercado.

Page 32: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

32

De outro lado, esse processo era facilitado, principalmente, pela

contribuição dos conhecimentos empíricos – que resultaram de observações,

experiências, atitudes específicas, tradição oral e escrita – e de outros

conhecimentos voltados à comercialização das tecnologias.

Observa-se que enquanto as atividades de pesquisa científica e

desenvolvimento de novas tecnologias eram acompanhados por melhorias

provenientes do aprendizado por execução; os conhecimentos (empíricos) do

ambiente da produção, por sua vez, tornaram-se o laboratório para a

identificação de novas trajetórias na ciência básica.

No século XX, as estruturas científica, tecnológica e econômica que

viabilizaram a integração entre pesquisa científica e empírica passaram a

apresentar dinâmicas internas distintas (sistemas científico, tecnológico e

econômico), e eram institucionalizados de diversas maneiras (Dosi, 2006) entre

os países e setores industriais2.

Em setores como a engenharia mecânica, por exemplo, a

institucionalização das atividades de pesquisa científica e empírica não

promoveu rupturas na forma como eram realizadas as melhorias e

desenvolvimentos tecnológicos. Naquele setor, dificilmente as atividades de

pesquisa e de desenvolvimento poderiam ser dissociadas porque é frequente a

incorporação de novos conhecimentos durante o processo de produção.

A existência de integração entre pesquisa científica e empírica contribuiu

para o acúmulo de competências específicas e a delimitação das trajetórias

tecnológicas dos setores industriais. Entretanto, nem toda tecnologia pode ser

atribuída aos esforços destinados à investigação científica, assim como nem

todos os resultados de uma investigação se transformarão em tecnologia.

Enquanto nas áreas de saúde e química, os investimentos e o tempo

gastos em P&D contribuíram mais para a ampliação do conhecimento

científico; nas áreas de engenharias, por sua vez, os esforços na área da

produção foram os principais responsáveis pela ampliação dos conhecimentos

e de competências.

A demanda e a participação do Estado assumiram papel decisivo para o

processo de mudança técnica dos países desenvolvidos, transformando esse

2 No século XX, verifica-se o inicio da institucionalização do processo de pesquisa que não estava

confinada à ciência básica (Mowery; Rosenberg, 1999).

Page 33: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

33

contexto de integração entre pesquisa científica e empírica e o

desenvolvimento tecnológico3.

Na indústria de semicondutores dos EUA, por exemplo, a pesquisa

científica e os desenvolvimentos de tecnologias no século XX foram

influenciados pela demanda do setor militar e do setor civil (Dosi, 2006).

No início de desenvolvimento do setor (década de 1950), o

conhecimento estava relativamente desincorporado do equipamento

imobilizado e incorporado às pessoas e organizações. Havia poucos esforços

de P&D, que estavam concentrados em algumas empresas de grande porte.

Entretanto, o nível de conhecimento incorporado entre cientistas e empresas e

a sua posição favorável na fronteira de desenvolvimento resultaram em

dispersão de informações sobre processo e produto.

O mercado norte-americano – em especial a demanda do setor militar –

apresentou papel significativo para a difusão e a exploração comercial das

inovações e a mudança técnica do setor. Além disso, a demanda do setor

militar foi importante para o desenvolvimento do setor de semicondutores

porque a indústria norte-americana como um todo estava estabelecendo e

reforçando sua liderança tecnológica e sua presença na fronteira tecnológica.

O Estado norte-americano também apresentou papel decisivo para o

processo de difusão de conhecimentos técnicos entre o setor militar e civil. As

políticas públicas asseguravam o mercado para produtos mais avançados,

diminuíam os riscos enfrentados por novos entrantes e criavam mecanismos

para forçar a Bell Labs a disseminar suas patentes e conhecimento tecnológico

para o ramo industrial no país.

Os mecanismos adotados para promover o setor de semicondutores dos

EUA impulsionaram a acumulação de conhecimento interno às empresas e

tornaram o processo de inovação mais rentável, refletindo em aumento do

tamanho das empresas e expansão desse número de empresas de

semicondutores (Dosi, 2006, p. 93)4.

3 A tese não apresenta análise aprofundada sobre políticas públicas de apoio e incentivo ao

desenvolvimento do setor de máquinas. 4

Essa discussão não considera a dinâmica do setor de semicondutores em relação às características do mercado de tecnologias, uma vez que o país ocupava a liderança no desenvolvimento e produção de tecnologias. Além disso, a discussão não considera como as dificuldades tecnológicas não solucionadas repercutiram em estreitamento entre o setor produtivo e de P&D; e em vínculos estabelecidos entre setor de semicondutores e setor militar.

Page 34: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

34

Ao longo das décadas, o Estado reduziu a sua participação no

desenvolvimento do setor de semicondutores dos EUA, à medida que as

tecnologias apresentavam características técnicas mais definidas. Uma das

justificativas para esse comportamento é que o processo de criação,

incorporação e difusão de conhecimentos no ramo de semicondutores se

tornava endógeno ao sistema econômico. Além disso, a melhorias eram

realizadas de maneira mais autônoma entre as empresas, resultando em

alterações na trajetória tecnológica do setor de semicondutores (Dosi, 2006).

A partir dessa breve análise sobre a indústria de semicondutores dos

EUA, é possível destacar que o desenvolvimento tecnológico é realizado por

empresas em função das características do ambiente em que elas atuam.

Considera-se que as empresas e setores industriais podem desenvolver

diferentes rotinas ou apresentar pequenos desvios em uma trajetória

tecnológica, como forma de responder à influência de variáveis externas

(mercado) e internas (firmas), ou devido à emergência de outras tecnologias

com caráter radical ou melhorias incrementais5.

Considera-se que o ambiente em que as empresas estão inseridas pode

facilitar a identificação de trajetórias tecnológicas e a incorporação e difusão de

conhecimentos entre os setores industriais.

Nas situações em que a trajetória tecnológica apresenta base de

conhecimentos codificados, por exemplo, as empresas podem apresentar

condições próprias para incorporar e internalizar esses conhecimentos à sua

área de produção.

Nas situações em que a trajetória tecnológica apresenta mais

conhecimentos tácitos, que abrange também as habilidades e competências

implícitas, as empresas podem apresentar uma barreira cognitiva para

incorporar e internalizar tais conhecimentos. Neste caso, o aprendizado da

trajetória tecnológica dificilmente será realizado de maneira independente, o

que reforça o papel do ambiente em que as empresas estão inseridas.

As empresas apresentam diferenças no processo de incorporação e

difusão daqueles conhecimentos, seja quando a unidade de análise é o mesmo

setor entre grupos de países ou quando se considera diferentes ramos de um

5 Os desvios em relação às características dos insumos, por exemplo, podem influenciar o

desenvolvimento de tecnologias em outras direções.

Page 35: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

35

país. Há três fatores que explicam essas diferenças na criação e aprendizado e

que influenciam a mudança de uma trajetória tecnológica.

Em primeiro lugar, como o conhecimento tecnológico apresenta caráter

cumulativo e indivisível (Lundvall, 1988), o aprendizado de novas tecnologias

(‘incorporada’ e desincorporada) depende da existência de habilidades e

experiências prévias, que são acumuladas no ambiente interno das firmas.

Uma vez que as habilidades são internalizadas na forma de regras e de

conhecimentos, torna-se relativamente difícil romper com o padrão existente.

Isso porque os agentes (empresas ou setores) podem encontrar dificuldades

para rever aspectos cognitivos e destruir competências internas desenvolvidas

e acumuladas a partir da trajetória recente. Nesse sentido, há uma

dependência em relação à trajetória tecnológica anterior (caráter path

dependence)6 que dificulta o abandono de rotas pré-estabelecidas (Cohen;

Levinthal, 1990; Heller, 2006).

Em segundo lugar, as condições macroeconômicas, a infraestrutura de

pesquisa, as políticas de fomento e incentivo à inovação, a qualidade da mão-

de-obra e a influência de empresas multinacionais nos mercados em que as

tecnologias serão comercializadas também podem influenciar o

desenvolvimento de tecnologias de produtos e processos.

Em terceiro lugar, destaca-se a existência de incerteza em relação aos

resultados (econômicos e extra-econômicos) do aprendizado de

conhecimentos cada trajetória.

O caráter cumulativo dos conhecimentos, as condições para o seu

acesso e a incerteza em relação aos resultados do conhecimento tecnológico

podem dificultar a escolha e mudanças das trajetórias tecnológicas.

Além disso, o desempenho das empresas em uma trajetória tecnológica

dependerá da criação de estruturas internas e mudanças organizacionais que

possibilitem a incorporação de conhecimentos e, principalmente, que eles se

tornem endógenos aos sistemas de produção das empresas. A criação dessas

estruturas internas, por sua vez, pode demandar altos níveis de investimentos

6 O conceito de path dependence pode ser explicado como “a seqüência de escolhas econômica que é

condicionada, a cada momento, pela situação criada por escolhas anteriores e que, ao mesmo tempo, tende a reforçá-las sem que esta consequência seja considerada pelos agentes que tomam decisões” (HELLER, 2006, p. 260).

Page 36: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

36

e muito tempo. Os custos necessários para incorporar conhecimentos (de

produto ou processo) e transformá-la em tecnologias comercialmente lucrativa

podem tornar os métodos para transferência de tecnologia pouco viável

financeiramente.

Os setores industriais ou empresas podem apresentar mecanismos para

lidar com essas condições e viabilizar a aquisição de conhecimentos. Nas

últimas décadas, os setores adotaram estratégias de integração com

fornecedores e usuários da cadeia, fusão com empresas líderes do setor, a

formação de joint ventures ou pesquisa conjunta com instituições de pesquisa7.

O ambiente institucional8 em que os agentes estão inseridos também

pode determinar que os avanços tecnológicos sejam realizados de maneira

mais rápida em alguns setores do que em outros (Klevorick et al, 1995). Nas

ultimas décadas, a análise das condições políticas e macroeconômicas, por

exemplo, tem ajudado a distinguir os fatores determinantes para o

desenvolvimento entre os países de industrialização recente9.

Acredita-se que, apesar da contribuição para a formulação de políticas, a

análise de fatores no nível macroeconômico não é suficiente para explicar

particularidades da mudança técnica ao nível dos setores. Além disso, em

alguns casos, o grau de alcance daquelas políticas é relativamente limitado

entre os segmentos industriais.

Parte-se do pressuposto de que a interação entre componentes de um

Sistema Setorial de Inovação para um dado regime tecnológico pode

condicionar ou viabilizar a mudança técnica de setores e empresas.

Particularmente, as interações entre empresas e instituições de pesquisa

podem contribuir para o desenvolvimento e melhorias de tecnologias nos

setores industriais.

A próxima seção discutirá as características gerais do regime

tecnológico e do Sistema Setorial de Inovação e seu papel para a mudança

técnica.

7 Considera-se que as estratégias adotadas por aquelas empresas e setores industriais visando à

aquisição de conhecimentos indicam que há percepção sobre a existência de diferentes trajetórias tecnológicas e a necessidade de atualização de conhecimentos. 8 O ambiente institucional pode abranger características econômicas, sociais e políticas que condicionam

o desenvolvimento e aprendizado de tecnologias. 9 As condições macroeconômicas e instrumentos de política não serão analisados em profundidade no

estudo empírico e teórico da tese.

Page 37: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

37

2.2 Regime tecnológico e Sistema Setorial de Inovação10

A discussão empreendida neste trabalho considera que a mudança

técnica é influenciada por características do ambiente em que os atores

(empresas ou setores industriais) estão inseridos. Além disso, o regime

tecnológico reunirá diferentes estratégias e condições relacionadas ao

processo de criação, incorporação e difusão de tecnologias ao longo do tempo.

As estratégias tecnológicas guiam a tomada de decisão sobre as

atividades inovativa e são influenciadas pelo nível e tipo de capacidades

idiossincráticas ao nível da firma (Malerba; Orsenigo, 1993, p. 50-51).

As capacidades abrangem o conjunto de competências (habilidades) e

ativos complementares do ambiente interno das firmas. As competências, por

sua vez, assumem características que são relativamente específicas ao nível

de uma empresa, podendo ser orientadas por duas dimensões: especialização

ou diversificação do conhecimento-base.

À medida que as empresas de um setor internalizam essas

competências, também estarão formando um conjunto de capacidades para as

atividades inovativas no futuro.

O regime tecnológico pode ser definido como o ambiente que reúne

diferentes condições para o desenvolvimento de tecnologias: oportunidade;

apropriabilidade; grau de cumulatividade do conhecimento tecnológico e

características do conhecimento base (Malerba, 2002). Esses elementos

podem apresentar incentivos e limitantes para o comportamento dos agentes,

assim como podem contribuir para a evolução das firmas, de tecnologias e de

indústrias (Malerba; Orsenigo, 1993).

O primeiro componente do regime tecnológico são as condições de

oportunidade, que se referem à facilidade que as empresas apresentam para

inovar com qualquer soma de dinheiro investido em pesquisa. As condições de

oportunidades podem ser caracterizadas de acordo com o seu nível (alto-

10

A análise empírica e setorial da tese aponta características das trajetórias tecnológicas e descreve como usuários, fornecedores e o ambiente institucional influenciaram na escolha entre trajetórias. Considera-se que esses atores contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento tecnológico no nível setorial e esse aspecto será ressaltado em vários trechos deste trabalho. Entretanto, a pesquisa empírica da tese optou por não analisar detalhadamente as características e a atuação de cada um desses atores e as suas interações com o setor de máquinas-ferramenta.

Page 38: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

38

baixo), suas fontes principais (indústrias, ciência, etc.), a pervasividade dos

conhecimentos.

Um aspecto importante para entender as condições de oportunidade é a

idéia de tecnologias pervasivas. Pervasividade refere-se à característica do

conhecimento que se difunde e pode ser utilizado em outras áreas.

As tecnologias são pervasivas quando os conhecimentos associados à

essas tecnologias apresentam sinergia com outras áreas de conhecimento e

podem ser aplicados a uma variedade de produtos e mercados (Malerba;

Orsenigo, 1993).

O caráter pervasivo das tecnologias pode influenciar as condições de

oportunidade da seguinte maneira: quanto mais as tecnologias assumem

caráter pervasivo, ou seja, os conhecimentos e suas aplicações (técnicas)

podem ser incorporados por outros agentes fora do setor principal de criação

daquela tecnologia, maiores serão as condições de oportunidade para o

desenvolvimento e melhorias de produtos e processos.

Considera-se que há uma relação entre as estratégias de especialização

ou diversificação dos conhecimentos tecnológicos, a característica pervasiva

das tecnologias e as condições de oportunidade.

De maneira geral, a especialização de conhecimentos numa mesma

base tem efeito sobre a ampliação de competências e o desenvolvimento de

uma trajetória tecnológica.

Na situação em que uma parte dos conhecimentos e competências

desenvolvidos são pervasivos, isto é, podem ser utilizados em outras áreas, a

especialização dos conhecimentos pode viabilizar novas condições de

oportunidades numa mesma área, em empresas ou setores industriais.

Vale notar que as tecnologias pervasivas estão associadas à elevada

cumulatividade e à dispersão dos conhecimentos para outras áreas. Uma vez

as tecnologias pervasivas são desenvolvidas, os detentores de tais tecnologias

podem apresentar alta oportunidade para a diversificação dos conhecimentos

de produtos, através de aplicações do conhecimento tecnológico principal para

uma variedade de produtos e mercados.

As tecnologias não-pervasivas, por sua vez, estão associadas ao alto

grau de cumulatividade e baixa difusão desses conhecimentos para outras

áreas. Uma vez as tecnologias pervasivas são desenvolvidas, os detentores de

Page 39: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

39

tais tecnologias podem apresentar elevada especialização da base de

conhecimentos.

A indústria de bens de capital apresenta um importante exemplo dessa

relação entre as estratégias de especialização ou diversificação de

conhecimentos, a característica pervasiva das tecnologias e as condições de

oportunidade.

A formação do setor de bens de capital11 no século XIX pode ser

atribuído à fabricação de máquinas a partir da estratégia de especialização dos

conhecimentos em uma mesma base (mecânica)12. Naquele período, os

conhecimentos e habilidades eram direcionados à resolução de problemas nas

etapas de produção das máquinas-ferramenta.

Ao longo do tempo, os conhecimentos sobre tecnologias e processos

apresentavam características em comum, o que permitia a sua incorporação

em máquinas para outros usos. A difusão e incorporação dos conhecimentos

para vários usos, por sua vez, contribuiu para a desintegração e a formação de

vários ramos industriais de máquinas (Rosenberg, 1969).

A partir da estratégia de especialização de conhecimentos e

subsequente expansão para outros ramos de máquinas, a indústria de bens de

capital apresentou melhores condições de oportunidade para desenvolvimento

de tecnologias. Ao longo do tempo, à medida que os conhecimentos em

comum eram incorporados pelas empresas, os setores industriais

apresentavam a diversificação das linhas de produtos.

Vale notar que as condições de oportunidade são limitadas por

características de cada paradigma tecnológico e o estágio de maturação da

tecnologia em cada setor (Dosi, 1988). Além disso, as oportunidades

tecnológicas podem variar de acordo com as interações que as empresas

apresentam com outros atores; e em função do desenvolvimento dos

paradigmas sob os quais ambos os setores atuam.

O surgimento de novos paradigmas pode remodelar os padrões de

oportunidades para a mudança técnica de duas maneiras: através de

11

A revisão teórica sobre a indústria de bens de capital é apresentada no capítulo 3 da tese. 12

A máquina-ferramenta pode ser definida de maneira simplificada como uma máquina projetada para o trabalhar em atividades de corte e conformação de metais e outros materiais, visando a produção de peças para diferentes usos. As informações detalhadas sobre as características dos produtos e processos das máquinas-ferramenta são apresentados no capítulo 4 da tese.

Page 40: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

40

mudanças no escopo para potenciais inovações; e facilitando a forma como

tais mudanças são realizadas no longo prazo. Neste último, os paradigmas

podem gerar novas fontes de oportunidades de insumos, produtos e

complementaridade tecnológicos, em especial, para outros ramos industriais

(Dosi, 1988).

O segundo componente de um regime tecnológico são as condições de

apropriabilidade. Essas condições podem ser definidas como possibilidades

para proteger os conhecimentos de eventuais imitadores e extrair lucros das

atividades inovativas (Malerba; Orsenigo, 1993).

A apropriabilidade pode ser definida como uma propriedade dos

conhecimentos tecnológicos, de artefatos técnicos, do mercado e do ambiente

legal que podem viabilizar as inovações (Dosi, 1988, p. 19). Além disso, os

instrumentos de apropriabilidade podem proteger as inovações da imitação dos

concorrentes, atuando como gerador de renda.

De maneira geral, os setores industriais podem apresentar os seguintes

instrumentos para apropriabilidade: patentes e marca própria; segredo

industrial; lead time (tempo decorrido entre a concepção da inovação e sua

introdução no mercado); curva de aprendizado; custo e tempo requerido; e

canais de comercialização e distribuição próprios;

As condições de apropriabilidade podem variar entre tecnologias de

produto e processo. O estudo empírico conduzido por Levin et al (1988)

destaca que os principais mecanismos para apropriar os retornos das

inovações de produto são: lead time, vantagens na curva de aprendizado e

esforços na área de marketing. Para as inovações de processo, os principais

mecanismos de apropriação são as curvas de aprendizado, segredos e lead

times (Levin et al, 88 apud Dosi, 1988, p. 19).

Outro aspecto importante é que um setor pode apresentar diferenças

inter-industriais entre os instrumentos para proteger inovações e no grau geral

de apropriabilidade (Dosi, 1988).

No caso da indústria microeletrônica, por exemplo, o padrão de

apropriabilidade de tecnologias nucleares13 (semicondutores, computadores, e

13

O termo ‘tecnologia nuclear’ utilizado por Dosi (1988) pode ser definido como a tecnologia principal ou central.

Page 41: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

41

telecomunicações) é uma função da P&D cumulativa, do tempo decorrido nas

economias de escala na produção e na P&D, e das redes de marketing e de

serviços.

Os setores em que aquelas tecnologias principais serão aplicadas

(máquinas-ferramenta ou bens duráveis de consumo), por sua vez, apresentam

outro padrão para a apropriabilidade baseado, principalmente, em

características especificas aos setores.

Outra importante condição de apropriabilidade refere-se à ‘capacidade

de internalizar ou explorar eficientemente as interfaces e sinergias entre as

tecnologias nucleares’ (Dosi, 1988, p. 20).

O terceiro componente do regime tecnológico é o grau de

cumulatividade dos conhecimentos tecnológicos. A cumulatividade significa que

as inovações que formam um conjunto de conhecimentos no presente,

constituirão uma base importante para as melhorias e inovações no longo

prazo (Malerba, 2002).

A cumulatividade pode se apresentar em diferentes níveis como

individual, organizacional ou nível da firma. Em cada nível, há uma relação

positiva entre três fatores: a existência de canais visando à troca e aprendizado

de informações; a presença de habilidades e experiência na produção e o grau

de cumulatividade dos conhecimentos e habilidades.

À medida que os canais para a incorporação de informações tendem a

ampliar as opções sobre técnicas e tecnologias, as habilidades e experiência

podem contribuir para o aprendizado, a melhoria e a difusão das técnicas e o

grau de cumulatividade dos conhecimentos.

O quarto componente do regime tecnológico refere-se às características

da base de conhecimento. Esse conhecimento pode ser definido como

conjunto de conhecimentos e competências técnicas internas às empresas.

A base de conhecimento pode ser classificada considerando o seu grau

de complexidade e a sua natureza – tácita ou codificada (Malerba, 2002).

O grau de complexidade do conhecimento remete à idéia de que há um

amplo conjunto de informações provenientes do desenvolvimento científico em

várias áreas de conhecimento e do desenvolvimento de habilidades para

aplicar aquelas informações. A natureza tácita ou codificada da base de

conhecimento, por sua vez, refere-se à existência de habilidades e

Page 42: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

42

competências que estão atrelados à base de conhecimentos técnicos e

permitem o desenvolvimento e avanços nesses conhecimentos.

O grau de complexidade e a natureza da base de conhecimentos

influenciam o processo de difusão e incorporação das informações entre os

agentes.

O aprendizado de conhecimento complexo pode demandar a existência

de mecanismos formais e informais, voltados à difusão e incorporação

daquelas informações no ambiente interno às empresas.

A existência de conhecimento tácito envolve elevado nível de

informações e habilidades que foram construídas por meio da experiência na

produção e uso de tecnologias e na resolução de problemas.

Nesse processo de produção, por sua vez, as habilidades podem

apresentar elevado nível de especificidade, o que dificulta o seu acesso por

outras pessoas e empresas.

O conhecimento codificado, por sua vez, reúne informações

consolidadas na forma de regras formais, manuais, contratos, entre outros.

Nessa situação, a difusão e o aprendizado são relativamente mais fáceis por

conta do baixo grau de especificidade das informações.

A análise dos quatro componentes do regime tecnológico (oportunidade,

apropriabilidade, cumulatividade e conhecimento-base) pode fornecer uma

descrição do ambiente em que as firmas operam e pode ajudar na delimitação

das características da mudança técnica no longo prazo.

As tecnologias mais pervasivas, por exemplo, implicam em mais

possibilidades (oportunidades) para o desenvolvimento de novos produtos.

Para viabilizar essas oportunidades, as empresas e setores também precisam

desenvolver uma base de conhecimentos na forma de competências.

As competências e os conhecimentos tecnológicos desenvolvidos ao

longo dos anos, por sua vez, podem funcionar como instrumento de proteção

de imitadores dos produtos e processos internos às empresas. Isso porque à

medida que as competências são internalizadas ao nível da firma, os demais

atores apresentarão mais dificuldades para acessar e se apropriar dos

conhecimentos.

As tecnologias menos pervasivas refletem poucas chances para o

desenvolvimento de novos produtos e processos, e maiores oportunidades

Page 43: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

43

para a especialização e melhorias incrementais. Além disso, os setores com

tecnologia menos pervasiva podem apresentar mais dificuldade para proteger

as informações de eventuais imitadores (Malerba & Orsenigo, 1993, p. 45). Isso

porque grande parte das informações acumuladas no interior das empresas ao

longo do tempo tende a se difundir para outras empresas.

O regime tecnológico apresentará características distintas em nível

setorial, porque cada setor apresentará uma combinação diferente de

condições de oportunidade, apropriabilidade, cumulatividade e conhecimento-

base.

Quando a unidade de análise é um mesmo setor em diferentes países,

também é possível identificar outras características do regime tecnológico:

enquanto a cumulatividade do setor apresentará similaridades entre os países;

as condições de oportunidade e apropriabilidade apresentarão diferenças entre

os setores industriais (Malerba & Orsenigo, 1996).

Essa perspectiva pode ser explicada a partir da discussão sobre Sistema

Setorial de Inovação (Malerba, 2002, p. 253) e sobre Padrão Setorial de

criação e difusão de tecnologias.

O Sistema Setorial de Inovação pode ser definido como a combinação

de agentes, as relações entre atores e as instituições de um setor que exercem

influência sobre a inovação através dos setores (Malerba, 2004, p. 1). Os

principais componentes de um Sistema Setorial de Inovação e produção são o

conhecimento-base e processos de aprendizado; os atores e redes; e as

instituições (Malerba, 2004).

De acordo com essa perspectiva, um setor pode ser caracterizado por

conjunto de conhecimento-base específico, tecnologias e insumos e os

processos de aprendizado.

O conhecimento-base pode ser classificado em relação ao domínio; grau

de acessibilidade; e características da cumulatividade (nível e fonte de

cumulatividade), que são apresentados no quadro 2.1.

Page 44: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

44

Domínio Grau de acessibilidade

(1)

Características da cumulatividade

Nível Fonte

Tecnológico (científico) ou de aplicações para

usuários e a demanda.

Maior ou menor.

Tecnológico, da firma ou nível local

Pode ser classificada de três maneiras:

a) aprendizado e retornos dinâmicos crescente ao nível

tecnológico; b) capacidade organizacional;

c) feedback do mercado.

Fonte: Elaboração própria, com base em Malerba (2002, p. 252). (1) Quanto maior o grau de acessibilidade, menor será a concentração industrial (Malerba, 2002, p. 251).

Quadro 2.1 – Características do Conhecimento-base

Outro aspecto importante do Sistema Setorial de Inovação é a

participação de atores, que correspondem a todas as estruturas responsáveis

pela criação, difusão e aprendizado tecnológico.

Os atores de um Sistema Setorial de Inovação interagem através de

diferentes mecanismos e estão conectados por relações de mercado e não-

mercado no interior desses sistemas. Além disso, os tipos de relações

estabelecidas entre os agentes diferem de um Sistema Setorial para outro, em

função das características do conhecimento-base, do processo de aprendizado

e das características da demanda (Malerba, 2004).

Por fim, o arcabouço do Sistema Setorial também é formado por

instituições, que incluem normas, rotinas, regras, leis e práticas estabelecidas.

Elas podem abranger diferentes níveis de agregação tais como local, setorial

ou nacional; e podem estar direcionadas a funções específicas (inserção

comercial, crédito e fomento, entre outros).

Os mecanismos utilizados por essas instituições dentro de um Sistema

Setorial de Inovação para desenvolver ou realizar melhorias podem ser

restrição ou incentivo, de regulação formal ou de apoio informal (Malerba,

2004).

Considera-se que a participação de atores e instituições do Sistema

Setorial de Inovação pode influenciar o regime tecnológico e as escolhas entre

trajetórias inovativas no longo prazo.

O arcabouço sobre Sistema Setorial de Inovação remete à existência de

um ambiente de seleção que influencia a dinâmica tecnológica de um setor.

Page 45: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

45

As condições de oportunidade, apropriabilidade, cumulatividade e as

características do conhecimento-base representam as características do

ambiente tecnológico. Além disso, os componentes do ambiente tecnológico

apresentam caráter dinâmico e co-evolucionário (Malerba; Orsenigo, 1993, p.

45), o que difere entre os setores industriais (Malerba, 2002)14.

Quando são observados os segmentos de um mesmo ramo industrial,

por exemplo, não há um padrão para as condições de oportunidade (Malerba,

1996). Uma justificativa para esse aspecto é que as oportunidades para

inovação estão condicionadas à existência de várias trajetórias tecnológicas.

Essas trajetórias, por sua vez, podem sofrer alterações ao longo do tempo,

como resultado do surgimento de outros paradigmas ou por conta do

desenvolvimento de competências específicas aqueles segmentos.

Nessa situação, o Sistema Setorial de Inovação pode apresentar

estratégias distintas entre os segmentos, como forma de responder às

condições de oportunidade.

Considera-se que os limites setoriais do sistema de inovação podem

mudar em resposta a mudanças no ambiente tecnológico (Wengel; Shapira,

2001). Cumpre questionar em que medida o Sistema Setorial de Inovação pode

se adaptar e contribuir para as particularidades do regime tecnológico com

caráter dinâmico e co-evolucionário.

A perspectiva do Padrão Setorial de Criação e Difusão de tecnologias

também pode contribuir para essa discussão sobre componentes do regime

tecnológico e o Sistema Setorial de Inovação.

A tipologia de Pavitt (1984) apresenta contribuições para a discussão

sobre a diversidade setorial e a produção de tecnologias15. A partir dos estudos

realizados em empresas da Inglaterra no século XX, a tipologia classifica os

setores em quatro categorias: dominado por fornecedor; intensivo em escala;

fornecedor especializado; e baseado em ciência. O quadro 2.2 resume as

características do padrão setorial de inovação da Tipologia de Pavitt.

14

Nos ramos da indústria química, por exemplo, os mecanismos utilizados para o acesso e aquisição de

novos conhecimentos têm contribuído para as rupturas e desenvolvimento de trajetórias tecnológicas. Como resultado, verificam-se importantes avanços na área de biotecnologia e saúde. Na indústria de máquinas, por sua vez, as escolhas entre trajetórias são relativamente menos disruptivas, principalmente, porque estão apoiadas por atividades de resolução de problemas ao nível da firma e o acúmulo de conhecimento-base na área mecânica. 15

Essa discussão será retomada e aprofundada na seção 3.3 da tese, na análise sobre o setor bens de capital.

Page 46: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

46

Características principais das categorias

Categorias da firma

Dominada pelo fornecedor

Intensiva em produção Baseada em

ciência Intensiva em

escala Fornecedores especializados

Atividades nucleares típicas

Agricultura, construção civil,

serviços privados, manufatura tradicional.

Materiais volumosos (Aço, Vidro); montagem

(bens de consumo duráveis e autos)

Maquinaria; instrumentos de

precisão.

Eletrônico/

Elétrico; Químico

Fatores determinantes

das atividades tecnológicas

Fontes de tecnologia

Extensão dos serviços de

pesquisa dos fornecedores

Engenharia de produção dos fornecedores

Projeto e desenvolvimento pelos usuários

P&D; ciência pública;

Engenharia de produção.

Tipos de usuários

Sensível ao preço Sensível ao preço Sensível ao desempenho

Misto

Mecanismos de apropriação

Não técnico (marcas,

marketing, propaganda,

aparência estética)

Segredo e know-how de processo; defasagens

técnicas; patentes; economias dinâmicas

de aprendizado.

Know-how de projeto; conhecimento dos usuários; patentes.

Know-how de P&D; patentes;

segredo e know-how de processo;

economias dinâmicas de aprendizado.

Trajetórias tecnológicas Redução de

custos

Redução de custos (no projeto do produto)

Projeto de produto Mista

Características mensuradas

Fontes de tecnologia

Fornecedores Interna; Fornecedores Interna; Clientes Interna;

Fornecedores

Inovação relativamente predominante

Processo Processo Produto Mista

Tamanho relativo das firmas inovadoras

Pequeno Grande Pequeno Grande

Intensidade e direção da diversificação tecnológica

Baixa, vertical Alta, vertical Baixa, concêntrica Baixa, vertical /

Alta, concêntrica

Fonte: Pavitt (1984).

Quadro 2.2 – Trajetórias tecnológicas setoriais: determinantes, direções e características mensuradas

O conjunto de características apresentados no quadro acima remete à

idéia de que cada categoria industrial apresenta um padrão para a produção de

inovações.

O estudo de Pavitt (1984) considera que cada setor apresenta

diferenças quanto à importância relativa das inovações de produto e de

processo; quanto às fontes de tecnologia de processo; e em relação ao

tamanho e ao padrão de diversificação tecnológica das firmas.

Page 47: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

47

A tipologia de Pavitt (1984) é importante para a compreensão sobre as

fontes principais de inovação através dos setores, mas não tem o propósito de

analisar os determinantes do processo de difusão de inovações inter e intra-

setores e as características da mudança técnica ao longo do tempo.

Considera-se que o processo de criação de conhecimentos é

determinado, principalmente, por critérios econômicos como níveis e mudança

nos preços relativos; a capacidade de redução dos custos da nova tecnologia;

e níveis e mudanças na demanda (Dosi, 1988).

A demanda influencia a busca tecnológica, por meio de estímulos,

limitação e seleção de novos paradigmas (Dosi, 1988). Por outro lado, também

pode existir forte resistência em aceitar novos estímulos do mercado, que

tendem a mudar os imperativos tecnológicos e a direção daquele processo de

busca e seleção.

No momento seguinte, em que um paradigma tecnológico foi

consolidado, a difusão de novas técnicas e conhecimentos dependerá de

características do regime tecnológico no nível setorial.

As condições de oportunidade e apropriabilidade motivam os agentes

econômicos a explorar outras tecnologias visando à geração de renda (Dosi,

1988, p. 22). No longo prazo, essas condições podem influenciar a criação de

especificidades tecnológicas ao nível das empresas e daqueles segmentos

industriais. Além disso, as condições de oportunidades e apropriabilidade

determinam que a trajetória de mudança técnica assuma uma direção em

detrimento de outras.

Os segmentos industriais podem adotar estratégias visando à

especialização ou diversificação de sua base de conhecimentos, considerando

características da demanda e as trajetórias tecnológicas recentes e potenciais.

As demandas exercem maior influência sobre estratégias de

especialização ou diversificação e a mudança tecnológica ao nível de

empresas e segmentos. Entretanto, as escolhas realizadas no passado em

relação às trajetórias tecnológicas podem contribuir para a continuidade do

padrão de especialização ou diversificação dos conhecimentos.

O desenvolvimento inicial setor de máquinas-ferramenta, por exemplo,

esteve apoiado na demanda de outros setores industriais que precisavam

resolver problemas no processo de produção.

Page 48: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

48

Considera-se que as trajetórias tecnológicas escolhidas pelas empresas

daquele setor em diferentes países refletiram em padrão de especialização ou

diversificação dos conhecimentos.

Para viabilizar o desenvolvimento técnico das máquinas ao longo das

décadas, as empresas fabricantes de máquinas contavam com elementos do

Sistema Setorial de Inovação que influenciavam a forma como os

conhecimentos eram difundidos, incorporados e internalizados no interior das

empresas. Além disso, o conjunto de oportunidades tecnológicas viáveis para

as empresas com produção de máquinas aumentava por conta da

característica pervasiva da base de conhecimentos em mecânica.

Considerando a discussão teórica realizada até o momento, parte-se do

pressuposto de que os Sistemas Setoriais podem contribuir para a criação de

conhecimentos e, principalmente, para a difusão e mudanças das tecnologias

pervasivas ou não. Esse argumento será discutido para o caso especifico do

setor de máquinas-ferramenta16. O próximo capítulo analisa as características

do desenvolvimento industrial e tecnológico do setor de máquinas, enfatizando

os elementos e os atores envolvidos na mudança técnica.

16

A tese destaca a relevância do arcabouço sobre Sistema Setorial de Inovação e sua relação com o regime tecnológico. Entretanto, a revisão teórica e empírica sobre o setor de máquinas-ferramentas discute as características das interações entre dois atores do Sistema Setorial de máquinas-ferramenta: empresas e grupos de pesquisa.

Page 49: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

49

Capítulo 3 - Desenvolvimento e mudança técnica na indústria

de bens de capital

O terceiro capítulo analisa as características do desenvolvimento

industrial e tecnológico da indústria de bens de capital, enfatizando os

elementos e os atores envolvidos na mudança técnica no setor.

Primeiramente, serão apresentados os determinantes da formação da

indústria e o seu papel para o desenvolvimento econômico nas economias

capitalistas no século XIX e XX.

Posteriormente, serão discutidos os padrões e rupturas no

desenvolvimento de tecnologias da indústria.

Nesse sentido, o capítulo direciona a discussão para três elementos que

contribuem para diferenças na direção e velocidade da mudança técnica entre

os setores de máquinas: a origem e especialização do setor; a alteração em

seu padrão de desenvolvimento a partir da inserção da microeletrônica; e as

características de seu regime tecnológico.

3.1 A indústria de bens de capital e o desenvolvimento econômico

O surgimento da indústria de bens de capital está historicamente

relacionado ao processo de industrialização verificada nos países

desenvolvidos, em especial, Inglaterra e EUA.

Em grande medida, a industrialização desses países foi influenciada

pela velocidade com que a mudança técnica foi difundida do seu ponto de

origem, na indústria de bens de capital, para outros setores da economia

(Rosenberg, 1963).

Na fase inicial do processo de industrialização, a principal função das

novas tecnologias era viabilizar as invenções em diferentes áreas da economia.

As invenções de novos produtos e processos, uma vez concebidos, só

poderiam garantir participação nas economias industriais após o surgimento de

uma máquina que pudesse resolver os problemas técnicos e mecânicos que a

invenção pudesse demandar (Marx, 1983). Nesse cenário, a criação da

Page 50: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

50

indústria de bens de capital ajudou a institucionalizar as pressões para a

adoção de novas tecnologias (Rosenberg, 1970).

A inserção dessas tecnologias ao ambiente econômico e industrial, por

sua vez, estava condicionada à existência de fatores econômicos, intrínsecos

ao desenvolvimento da indústria de máquinas. Destaca-se a capacidade para a

redução de custos das novas tecnologias incorporadas às máquinas e o

potencial para economizar mão-de-obra (Rosenberg, 1970). Por fim, as

máquinas também deveriam garantir o desenvolvimento e a eficiência na

produção, com ganhos de produtividade no processo de industrialização.

As características assumidas por esse setor desde a fase inicial de seu

desenvolvimento contribuíram para a rapidez do processo de industrialização e

o crescimento econômico no século XIX. Por outro lado, havia um conjunto de

fatores que influenciaram a direção da mudança técnica e o sucesso ou

fracasso das empresas fabricantes de máquinas entre os países.

Nas economias industrializadas dos EUA e Inglaterra, a proporção de

inovações originadas no setor de máquinas e ferramenta e a sua capacidade

para produzir máquinas de baixo custo, repercutiram na geração e acumulação

de renda nacional (Furtado, 2003).

Nesses países, a primeira fase de introdução de uma indústria de

máquinas a partir de meados do século XVIII contribuiu para transformações

tecnológicas estruturais; ajudou na absorção do excedente de mão-de-obra

decorrente da desorganização das atividades artesanais; e conservava o ritmo

de acumulação de capital (Furtado, 2003, p. 91).

Nos países de industrialização recente, a aquisição de tecnologias

determinava mudanças na produtividade, o aumento da renda e resultava em

ganhos econômicos. Mas as tecnologias contribuíam, principalmente, para a

criação de novas formas de consumo e a variabilidade da demanda nacional

(Prebisch, 1973). Nesse contexto Dosi (2006, p. 49) também ressalta:

“Nas sociedades em que os conflitos industriais e os relativos à distribuição de

renda são características estruturais, a colocação de máquinas no lugar de

mão-de-obra deve ser determinante no processo de busca de novas

tecnologias”.

O perfil agrário-exportador daqueles países e o fraco (ou nulo)

encadeamento entre ciência e tecnologia não possibilitavam o surgimento de

Page 51: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

51

um setor de máquinas nos moldes das economias capitalistas (Prebisch, 1973;

Furtado, 2003).

Além disso, a demanda por produtos finais não era atendida pela

produção nacional, mas pela importação de máquinas e tecnologias

provenientes de outros países. As importações de máquinas, por sua vez, eram

viabilizadas por saldos decorrentes da exportação de produtos não

manufaturados e isso repercutia negativamente sobre a sua estrutura produtiva

e industrial no longo prazo (Prebisch, 1973).

Esse processo resultou em duas características para os países de

industrialização recente: modificação do modo como a população ativa se

distribuía para a produção e consumo dos novos bens (Furtado, 2003); e

consolidação de uma dinâmica de desenvolvimento tecnológico distinta

daquela verificada nos países industrializados (Prebisch, 1973); Furtado, 2003).

Um fator importante é que a taxa de mudança técnica estava

completamente separada dos bens de capital (Rosenberg, 1970) naqueles

grupos de países. À medida que o desenvolvimento e as melhorias foram

institucionalizados por empresas, o padrão para desenvolver, transferir e

adaptar tecnologias seguiu direções distintas, mesmo entre países

desenvolvidos como os EUA e a Inglaterra.

Nesses países industrializados, as características do desenvolvimento

do setor de bens de capital resultaram em mudança técnica endógena ao

sistema econômico. As empresas contavam com um estímulo (interno aos

setores industriais) para melhorar as técnicas de produção e atender a

demanda por produtos locais e desenvolveram uma base de conhecimentos

acumulados ao longo do tempo.

Nos países de industrialização recente, o setor de máquinas não

apresentava as mesmas condições. Em grande medida, não havia o acúmulo

de conhecimentos tecnológicos ou a escolha por técnicas adequadas ao seu

contexto industrial. E a aquisição de máquinas via importação era o mecanismo

que poderia promover o desenvolvimento técnico no longo prazo.

Desse modo, o desenvolvimento da indústria de bens de capital ganha

conotação distinta desde as fases iniciais da industrialização, por conta das

características do contexto histórico, econômico e social entre os países.

Page 52: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

52

De um lado, o desenvolvimento dos segmentos industriais consolidou

características estruturais do desenvolvimento e acumulação de renda nacional

naqueles países (Prebisch, 1973; Furtado, 2003). De outro lado, o processo de

criação e transferência de tecnologia apresentou características distintas entre

os ramos industriais e países. Esse aspecto pode ser justificado,

principalmente, pela dependência de tecnologias transferidas dos países

desenvolvidos.

Esse conjunto de fatores pode ajudar a compreender porque a indústria

de bens de capital iniciou e ampliou suas atividades industriais em alguns

países, enquanto outros desenvolveram seu parque industrial posteriormente.

A próxima seção discutirá as principais características da indústria de

bens de capital, considerando seu padrão e as rupturas do desenvolvimento

técnico ao longo das décadas. É importante entender como esse processo de

desenvolvimento tecnológico foi viabilizado nas economias capitalistas

desenvolvidas e quais as características da mudança técnica no longo prazo.

Page 53: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

53

3.2 Padrões e rupturas no desenvolvimento tecnológico da indústria de

bens de capital

3.2.1 A origem e especialização do setor

A indústria de bens de capital surgiu paralelamente às principais

inovações em outros ramos da economia, como forma de viabilizar tais

invenções e difundi-las para outros setores e usos.

Antes da consolidação de uma indústria de máquinas, a primeira

transformação na base técnica para a produção de bens pode ser

caracterizada pelo surgimento de um setor de ferramentas, que combinava

trabalho físico com as peças utilizadas na realização desse trabalho (Hitomi,

1994, p. 121).

As atividades de produção estavam interligadas e apresentavam

exigências diferentes para os trabalhadores (Marx, 1983, p. 464). Nesse

sentido, destaca-se a atuação de muitos trabalhadores parciais que

executavam diferentes operações alternadamente (Marx, 1983).

Essas características, por sua vez, repercutiam na criação de

competências internalizadas por esses artesãos e criaram uma ‘forma de

trabalhar’ que se tornou intrínseca ao processo de produção de máquinas.

Embora as novas técnicas contribuíssem pouco para a diversificação do

conhecimento-base, essas técnicas estavam apoiadas pelo domínio sobre o

uso de grandes quantidades de material barato e contavam com maior tempo

para o seu desenvolvimento e a sua difusão (Rosenberg, 1974).

Ao mesmo tempo em que ocorria a expansão da indústria mecanizada e

a sua inserção em novos ramos industriais, havia relativa inabilidade dos

fabricantes de máquinas para produzir máquinas que poderiam desempenhar

funções de acordo com requerimentos especiais e especificações dos usuários

(Rosenberg, 1963).

Em grande medida, a mão-de-obra nos segmentos de artesanato e

manufatura não poderia acompanhar a característica ‘semi-artística’ e o

simultâneo conhecimento técnico exigido na produção do setor (Marx, 1983).

Nesse sentido, somente após a realização de algumas transformações

em outros ramos da indústria – como o sistema de transportes e comunicações

Page 54: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

54

– e a utilização de outros insumos como metal, um novo modo de produção foi

viabilizado para as empresas de máquinas (Marx, 1983).

Ao longo do tempo, a indústria de bens de capital apresentou estágios

de desenvolvimento que refletiam o tamanho do mercado para tais máquinas e

o acréscimo de habilidades técnicas e conhecimento (Rosenberg, 1963).

As empresas de máquinas estavam subordinadas às fábricas

especializadas na produção de bens finais, em especial, da indústria têxtil

(Rosenberg, 1963), o que foi significativo para o desenvolvimento de

habilidades industriais nas máquinas. As habilidades adquiridas na indústria de

origem, por sua vez, tinham aplicação direta para a solução de problemas de

produção daquelas indústrias (Rosenberg, 1963).

Havia um processo de aprendizado envolvido na produção da

maquinaria, o que conduzia a um alto grau de especialização da produção de

um número relativamente pequeno de processos produtivos similares,

destinados para algumas indústrias (Rosenberg, 1970).

As experiências dos países desenvolvidos indicam que as experiências

de aprendizado no projeto e uso de máquinas foram significativos para o

dinamismo tecnológico daqueles países (Rosenberg, 1970).

Em países como a Inglaterra e os EUA, havia um padrão para a criação

e realização de melhorias técnicas na indústria de máquinas. De maneira geral,

os problemas observados na esfera produtiva demandavam a fabricação de

uma nova máquina de acordo com certas especificações. As empresas de

máquinas adaptavam continuamente seus produtos aos requerimentos

tecnológicos e ampliavam o alcance desses produtos, em resposta às

especificações técnicas das empresas de outros setores (Rosenberg, 1963).

Esse processo de modificação das máquinas, por sua vez, estava

baseado na criação e assimilação de competências em novas tecnologias e

sua contínua adaptação ao longo do tempo (Rosenberg, 1963).

O setor trabalhava com o mesmo conjunto de conhecimentos na

manipulação do metal – refino e fusão de minérios de metal, fundição e a

transformação do metal em formas finais. Por conta desse fator, as empresas

puderam aproveitar a complementaridade no processo de fabricação e

adaptação de máquinas para diferentes naturezas e usos finais (Rosenberg,

1963).

Page 55: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

55

Outro aspecto importante é que havia um conjunto de problemas

compartilhados por vários segmentos usuários das máquinas, e que estava

associado com a introdução de melhorias técnicas (transmissão de energia,

serviços de controle, mecanismos de alimentação, redução da fricção) ou com

as propriedades do metal.

O conjunto de conhecimentos comuns relacionados ao processo e os

problemas compartilhados em uma mesma base tecnológica são elementos

característicos da convergência tecnológica (Rosenberg, 1963). Esse processo

de convergência compreendia habilidades similares, técnicas e recursos em

comum que substituíam as seqüências verticais individuais e que tendiam a ser

mais específicas nas fases iniciais de desenvolvimento da indústria de bens de

capital (Rosenberg, 1963).

A indústria de máquinas-ferramenta foi determinante para esse processo

de convergência tecnológica (Tauille, 1993) e para o aprendizado e difusão de

novas tecnologias.

O setor de máquinas-ferramenta surgiu em 1840, como resultado de

transformações no processo de fabricação das ferramentas. Dentre essas

transformações, a principal é que as tarefas realizadas com trabalho físico

passam a ser realizadas com o auxílio de máquinas, visando o aumento da

produtividade e a eficiência do trabalho (Tauille, 1993).

As máquinas-ferramenta apresentavam três componentes: uma

impulsionadora convertendo um tipo de energia para energia mecânica; um

transmissor transmitindo uma força motriz para o local de trabalho; e a unidade

de usinagem conduzindo o trabalho mecânico (Marx apud Hitomi, 1994, p.

121).

No início do desenvolvimento da indústria de bens de capital, as

máquinas-ferramenta utilizavam um conjunto de princípios em comum,

homogeneizando a base técnica que foi denominada ‘base técnica

eletromecânica’ (Tauille, 1993). Esses conhecimentos em comum eram

incorporados por outros segmentos industriais, possibilitando o surgimento de

máquinas voltadas à produção de outras máquinas.

Nesse cenário, as empresas de máquinas-ferramenta reuniam

processos que poderiam ser empregados em um conjunto de indústrias

tecnologicamente não relacionadas. As habilidades adquiridas na indústria de

Page 56: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

56

origem, por sua vez, tinham aplicação direta para os problemas de produção

em outras indústrias e eram difundidas para a produção de outros tipos de

máquinas de outros setores industriais.

A convergência de tecnologias que viabilizou o surgimento do setor de

máquinas-ferramenta apresentou importantes contribuições também para o

desenvolvimento de setores de bens de consumo duráveis (máquinas de

costura, bicicletas, etc.).

Um aspecto importante para o desenvolvimento do setor de máquinas é

que havia uma interdependência entre três elementos do sistema máquinas-

ferramenta (Rosenberg, 1969):

Elementos estruturais: tinham a função de suportar o trabalho e as

ferramentas;

Elementos de transmissão: eram responsáveis pelos movimentos

visando o molde das peças; e

Elementos de controle: ajustavam os elementos estruturais e

controlavam o funcionamento da transmissão.

No início de uma invenção, as melhorias realizadas em um dos

componentes desse sistema interdependente criavam desequilíbrios entre as

demais operações das máquinas-ferramenta. Esses desequilíbrios, por sua

vez, funcionavam como estímulos para mudanças nas outras partes do

sistema.

Desse modo, a interdependência e a sequência de melhoramentos

constituíram importante fonte de mudança técnica nas máquinas-ferramenta

(Rosenberg, 1969).

O padrão de produção das tecnologias nos EUA e Inglaterra

apresentava outra característica em comum. De maneira geral, uma firma

desenvolvia uma nova técnica ou processo em resposta a um problema em

uma particular indústria. Posteriormente, quando a técnica torna-se aplicável a

outras categorias de máquinas, essa técnica era transferida para a indústria

atual pela firma que desenvolveu a técnica (Rosenberg, 1970).

Inicialmente, as empresas trabalhavam de forma subordinada às

fábricas especializadas na produção de bens finais e que eram usuários das

Page 57: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

57

máquinas17. Mas a necessidade de resolver problemas técnicos visualizados

na introdução de um novo produto ou processo determinava a realização de

atividades exploratórias na área da produção. As soluções e melhorias obtidas

nessas atividades, por sua vez, apresentavam aplicação imediata também para

outros ramos de produtos relacionados, que utilizavam a mesma base técnica

(Rosenberg, 1963).

Nesse sentido, as empresas fabricantes de máquinas daqueles países

se tornaram especializadas mais em processos do que em produtos; e o centro

de transmissão desses conhecimentos era a firma individual (Rosenberg,

1970).

Além disso, os conhecimentos técnicos eram difundidos, principalmente,

por meio do ramo de máquinas e ferramentas, e apresentavam alta

pervasividade por conta das transformações numa mesma base de

conhecimentos.

A partir dessa breve discussão é possível ressaltar que o segmento de

máquinas-ferramenta foi o principal responsável por transformações no

processo de produção da indústria de bens de capital porque reunia os

requerimentos para a produção de uma seqüência de máquinas.

A partir do final do século XIX (entre 1880 e 1910), o crescimento da

demanda por máquinas com características específicas e direcionadas para

vários segmentos industriais implicou em modificações no desenvolvimento

técnico da indústria de bens de capital.

As melhorias em produtos e processos passaram a avançar em direções

distintas, principalmente, nos setores que apresentavam mais gargalos na área

de produção. Como consequência, as máquinas destinadas a diferentes usos

passam a ser fabricadas por segmentos industriais específicos.

O crescimento do número de empresas com elevado nível

especialização determinou a desintegração vertical da indústria de bens de

capital e a consolidação de outros ramos industriais. A desintegração vertical

pode ser definida como processo em que as sequencias individuais na

17

Os usuários das máquinas-ferramenta exercem papel importante para as melhorias das máquinas desde o início do desenvolvimento do setor de máquinas-ferramentas. A tese reconhece a relevância das relações usuário-produtor para o desenvolvimento técnico do setor de máquinas, mas optou por apresentar discussão teórica sobre a relação entre fabricantes de máquinas e instituições de pesquisa.

Page 58: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

58

produção de um produto passam ser realizadas por firmas separadas

(Rosenberg, 1963).

A convergência tecnológica e a desintegração vertical são fenômenos

paralelos que conferem dinamismo ao desenvolvimento e aprendizado de

técnicas na indústria de bens de capital no século XIX e XX.

A mudança técnica na indústria de bens de capital foi viabilizada por

transformações no contexto em que era realizado o desenvolvimento das

máquinas. E a velocidade das melhorias foi acentuada pela presença da

convergência tecnológica e especialização da produção, contribuindo

significativamente para o crescimento econômico do setor de máquinas.

É importante destacar duas consequências da desintegração vertical

verificados na indústria de bens de capital: os avanços tecnológicos eram

obtidos num ritmo mais acentuado em alguns segmentos em detrimento de

outros; e essas alterações contribuíam para desvios na trajetória tecnológica

dos segmentos.

Ao longo do tempo, a ciência passou a exercer papel mais importante na

direção das atividades inovativas (Rosenberg, 1974) em detrimento do papel

atribuído ao estoque de conhecimento interno às empresas. Além disso, essas

atividades internas eram realizadas de maneira irregular e com elevada

incerteza.

Vale notar que os mecanismos para a difusão, incorporação e a

adaptação das tecnologias, uma vez desenvolvidas, eram relativamente

distintos entre a Inglaterra e EUA (Rosenberg, 1970). Nesse sentido, os países

não responderam da mesma forma às alterações no modo de produção.

Nos EUA, a especialização da produção era um mecanismo voltado para

a acumulação de competências. Ao longo do tempo, as empresas

diversificaram os modelos de máquinas numa mesma base técnica,

contribuindo para a consolidação de outros segmentos industriais.

Na Inglaterra, a especialização se tornou o objetivo final dos fabricantes

de máquinas, não o meio para a fabricação de máquinas para vários usos. As

empresas de máquinas estavam mais preocupadas com aspectos técnicos dos

produtos – máquinas mais artesanais, sem relação direta do ponto de vista da

natureza e uso final – do que com o processo produtivo (Rosenberg, 1970)

Page 59: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

59

Em meados do século XIX, as características assumidas pela demanda

e a interação entre os fabricantes de máquinas, seus consumidores e

fornecedores (Rosenberg, 1970) determinaram um perfil de produção de

máquinas muito customizadas, o que dificultava sua aplicação para outros

segmentos industriais da Inglaterra.

Os usuários das máquinas na Inglaterra impuseram suas preferências

para os fabricantes das máquinas, através de especificações muito detalhadas,

como condição para o cumprimento dos contratos. Em muitos casos, a

variação no projeto não apresentava uma explicação funcional e era resultado

de acidentes históricos.

As iniciativas dos usuários das máquinas refletiram em um tipo de

transmissão de tecnologias em que o produtor de máquinas assumia papel

mais passivo e adaptativo do que ativo e introdutor de melhorias (Rosenberg,

1970). Esses fabricantes das máquinas da Inglaterra, por sua vez, não

apresentavam rigor na produção de tais máquinas com alto grau de

customização e não havia preocupação com a padronização dos modelos, o

que dificultava a adoção de tecnologias e a organização do processo de

produção.

Outro aspecto importante é que as empresas fabricantes de máquinas

da Inglaterra não apresentavam uma boa integração de suas operações com

aquelas desenvolvidas por seus principais fornecedores (como ocorria entre as

empresas de máquinas e os fornecedores dos EUA). Esse fator pode ser

justificado seja porque os produtores não confiavam no cumprimento de

contratos, ou por conta das dificuldades técnicas provenientes da produção de

máquinas que demandavam base de conhecimentos muito específicos.

Nesse cenário, muitas das especificações limitavam a exploração de

tecnologias e o surgimento de novas técnicas das máquinas na Inglaterra

(Rosenberg, 1970). E esse aspecto apresentou implicações negativas tanto

para a eficiência na produção de máquinas, como para a habilidade em gerar

inovações no longo prazo (Rosenberg, 1970).

Por conta desses fatores, é possível concluir que no século XIX o

ambiente institucional influenciava o processo de pesquisa e desenvolvimento

das máquinas em caminhos diferentes nos dois países.

Page 60: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

60

A partir do século XX, algumas transformações repercutiram na

intensificação do processo de industrialização dos EUA e Inglaterra, e

determinaram picos de crescimento da demanda por máquinas em vários

ramos da indústria de bens de capital.

Em primeiro lugar, a inovação na fonte de insumos usados na indústria

de bens de capital determinou mudanças em suas características estruturais,

com o re-projeto dos componentes da máquina-ferramenta – elementos

estrutural, transmissão e de controle (Rosenberg, 1963, p. 441).

A introdução das ligas de aço, em substituição ao aço carbono, como

principal insumo para produção das máquinas possibilitou a fabricação de

máquinas mais rápidas, mais pesadas e com instrumentos mais rígidos e

resistentes a altas temperaturas e pressão (Rosenberg, 1963). Além disso,

essas transformações também permitiram maior habilidade na manipulação de

ferramentas de corte e a ampliação do escopo de suas operações e utilização

em novos usos (Rosenberg, 1963).

Em segundo lugar, as mudanças na organização do trabalho com o

paradigma da produção fordista, no início do século XX, influenciaram o

desenvolvimento técnico da indústria de máquinas.

Nos EUA, as melhorias realizadas por empresas de máquinas não

estavam orientadas apenas à resolução de problemas técnicos, embora esse

aspecto ocupasse papel significativo no nível de investimentos direcionado à

inovação.

Os conhecimentos desenvolvidos e ampliados a partir do processo de

resolução de problemas técnicos resultaram em melhores condições técnicas e

habilidades para atender ao aumento da escala e o escopo demandados pelo

setor automobilístico. Além disso, a solução de problemas técnicos do setor de

máquinas dos EUA apresentou algumas transformações com o surgimento de

novas áreas de conhecimento e a inserção na base de conhecimentos da

indústria de máquinas.

Na Inglaterra, a ausência de padronização dificultou o processo de

adoção de tecnologias e a organização do processo de produção das

empresas do setor (Rosenberg, 1970). Como resultado, a indústria de

máquinas da Inglaterra não estava bem desenvolvida e em condições para

efetuar a transferência de tecnologias voltadas aos requerimentos do

Page 61: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

61

paradigma da produção em massa em virtude do alto nível de customização de

suas máquinas.

De maneira geral, a convergência tecnológica, as melhorias dos insumos

disponíveis para a produção de máquinas e as exigências de produção em

massa contribuíram para o dinamismo de segmentos da indústria de bens de

capital. Entretanto, a base técnica eletromecânica impunha alguns limites às

melhorias incrementais de algumas máquinas.

Em segmentos como o de máquinas-ferramenta, por exemplo, as

empresas utilizavam as experiências acumuladas ao longo do tempo para a

produção de máquinas em pequena escala. Além disso, as externalidades

geradas durante o processo de produção e com o uso de novas fontes de

insumos ampliavam o acervo de conhecimentos na produção de máquinas.

Como os conhecimentos (codificados, e principalmente, os

conhecimentos tácitos) gerados a partir da convergência transbordavam para

outras áreas de conhecimento, as empresas do setor de máquinas passaram a

apresentar alterações no caráter da mudança técnica.

Desse modo, a convergência tecnológica da indústria de bens de capital

tornou-se pré-condição para o aprendizado dos novos conhecimentos

provenientes de outras áreas.

Os países que desenvolveram sua estrutura industrial baseada na

convergência de conhecimentos tecnológicos, apresentavam base técnica de

conhecimentos e competências acumulados. Esse fator, por sua vez,

possibilitava o desenvolvimento de mecanismos para a criação e difusão de

informações técnicas em produtos e processos.

À medida que esses conhecimentos sobre técnicas se tornaram mais

específicos, e seu acesso tornou-se relativamente complexo entre os setores

industriais ou mesmo na presença de novas trajetórias tecnológicas, aqueles

países puderam consolidar sua estrutura industrial.

Esse conjunto de fatores representa um padrão histórico de

desenvolvimento da indústria de bens de capital e pode explicar a dinâmica de

desenvolvimento da indústria. A próxima seção analisa as características do

desenvolvimento do setor de máquinas a partir de meados do século XX, com

a inserção de formas de automação entre os setores industriais e entre os

países desenvolvidos.

Page 62: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

62

3.2.2 Automação e desenvolvimento tecnológico

Essa seção discutirá a origem e principais características do processo

de automação da produção, considerando seus efeitos para a evolução da

indústria de máquinas.

No século XX a indústria de bens de capital passou a incorporar novas

tecnologias de produto e processo, que acompanhavam as exigências por

eficiência produtiva nas principais economias capitalistas (Bastos, 1999, p.

190).

O termo automação foi cunhado em 1936, por D. S. Harder, funcionário

da empresa General Motors Corporation, para designar a “transferência de

partes de trabalho entre as máquinas num processo de produção, sem a

utilização de força humana”. Em 1955, o consultor J. Dielbold citou em seu livro

sobre automação que o “termo pode ter dois significados: a) regulação

automática por feedbacks e b) integração de certo número de máquinas”

(Hitomi, 1994, p. 122). (tradução)

A automação pode ser entendida como uma “operação automática de

bens” ou um processo que se torna mais automático porque substitui o trabalho

físico e mental pela utilização de máquinas na produção de bens (Hitomi, 1994,

p. 122).

O processo de automação não está restrito às atividades produtivas. De

maneira geral, podem-se apontar três formas de automação:

a) Fluxo de produção automático em indústrias de manufatura;

b) Controle automático de produção contínua em indústrias de

processo; e

c) Aumento na eficiência em negócios por computadores.

A automação mecânica e a automação de processo são direcionadas

para os processos de produção diretos, que convertem materiais brutos em

produtos. Esses tipos de automação são chamados automação de fábrica.

(Hitomi, 1994, p. 123)18.

18

A automação comercial e bancária, por sua vez, estão direcionadas para atividades de administração e controle da produção.

Page 63: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

63

A introdução das tecnologias de automação no setor de máquinas

refletiu em dinamismo no processo de produção e ampliou as diferenças na

direção e taxa de mudança técnica dos segmentos industriais de máquinas.

Outro aspecto é que com o avanço das técnicas de produção, as

diferentes tecnologias de automação se tornaram endógenas ao sistema

produtivo e econômico, promovendo ganhos de produtividade não apenas para

o setor gerador da inovação tecnológica. Esse caráter endógeno, por sua vez,

é um das principais justificativas para saltos na taxa de crescimento econômico

entre os países, inclusive aqueles de industrialização recente.

Vale notar que o surgimento e a difusão das formas de automação estão

condicionados às características da organização do trabalho e à disposição

para alterar a base técnica do processo produtivo, em especial nos EUA e

Japão.

As primeiras formas de automação na década de 1930 assumiram

característica rígida porque estavam associados ao modelo de produção

fordista, que reagrupava as atividades em linhas de montagem de produtos

padronizados.

Naquele período, as máquinas eram fabricadas a partir de base técnica

eletromecânica, que era direcionada, especialmente, para a indústria

automobilística. A base técnica eletromecânica possibilitava a produção de

grandes lotes de produtos (aumento da escala), a padronização de produtos e

a rapidez de processos produtivos, atributos requeridos pelo modelo fordista.

Entretanto, a base técnica eletromecânica também apresentava limitações

como existência de trade-offs entre o tamanho das séries (ou lotes) e restrições

à fabricação de variedade de produtos com uma dada tecnologia (Bastos, p.

192, 1999).

O desenvolvimento do setor máquinas-ferramenta estava fundamentado

pelos limites da base técnica eletromecânica. Em alguns casos, havia a

necessidade de utilizar máquinas com sistemas flexíveis para a produção de

produtos em pequena escala, mas a base técnica não possibilitava a realização

de ajustes com ganhos econômicos.

A partir da década de 1950, as alterações no padrão de consumo das

economias capitalistas determinaram a redução do ciclo de vida e a produção

de uma variedade de produtos. Até então, essas características somente

Page 64: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

64

seriam viáveis para as empresas de pequeno porte, que apresentavam a

produção intensiva em trabalho e a fabricação de pequenos lotes.

A máquina-ferramenta de comando numérico foi o primeiro protótipo de

máquina que se adequava aos requerimentos de produção flexível.

As empresas de máquinas-ferramenta de pequeno porte reuniam as

condições para promover alterações no processo de produção. Em grande

medida, a especialização dos conhecimentos dessas empresas possibilitou a

ampliação de competências para ajustar os conhecimentos às suas

necessidades produtivas.

O CNC foi inventado em 1952, no Massachusetts Institute of

Technology, e consistia de uma máquina dedicada à fabricação de diferentes

partes, a partir da substituição de fitas de controle numérico ou informação

(Hitomi, 1994, p. 123).

Em 1958, a empresa americana Kearney & Trecker introduziu o Sistema

de produção flexível (Flexible manufacturing systems – FMS). Esse sistema

também denominado CMS (‘computerized manufacturing systems’) consistia

em centro de torneamento, transportadores, veículos guiados automaticamente

(automated guided vehicles – AGVs), armazéns automatizados e robôs ligados

com o uso de computadores (Hitomi, 1994, p, 123).

A utilização de uma máquina mecânica (pouco elétrica) com um

dispositivo de controle (micro) eletrônico acoplado mudou as condições para a

transferência de conhecimentos, de informações e habilidades (Tauille, 1993,

p. 201).

A partir da década de 1970, a indústria de bens de capital passou por

uma nova reconfiguração mundial, com a inserção do Japão como importante

produtor de máquinas, em detrimento da queda da liderança norte-americana.

A utilização da microeletrônica aumentou a velocidade de

processamento das informações e reduziu os custos por informação

processada. Como resultado, as empresas apresentavam mais possibilidades

para o desenvolvimento de produtos (Tauille, 1993, p. 201).

Em 1979, a empresa Kearney & Trecker registrou a marca com o nome

FMS (Flexible manufacturing systems) em que o fluxo de materiais e o fluxo de

informações são integrados em tempo real (Hitomi, 1994, p. 123).

Page 65: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

65

A menor unidade de automação flexível é uma célula de produção

flexível (flexible machining cell – FMC), que consiste de um centro de usinagem

ou centro de torneamento e um robô. Essa unidade de produção é

especialmente adequada para empresas de pequeno e médio porte, do ponto

de vista do alto custo-eficiência (Hitomi, 1994, p. 123).

Outra tecnologia que apresentou papel significativo para o

desenvolvimento da indústria de máquinas é o Sistema de Manufatura

Computadorizado (CIM), cunhado em 1973 por Harrington.

O sistema computadorizado tem por objetivo assegurar a redução do

lead time, a adaptação flexível de uma grande variedade e a produção de

pequenos lotes, através do processamento computadorizado de processos

inteiros desde o pedido até o embarque (Hitomi, 1994).

O CIM pode ser compreendido como uma estratégia de adaptação ao

mercado porque integra diferentes funções e sistemas, através de uma rede de

informação usando computadores que mantém a autonomia (sincretismo) e a

sinergia entre as áreas (Hitomi, 1994). O sistema consiste, basicamente, na

integração entre três funções – produção, vendas e tecnologias – que são

executadas a partir de três sistemas (quadro 3.1): Computer-aid manufacturing

(CAM); Computer-aid design (CAD); Computer-aid planning (CAP).

Características

Tecnologias CIM

CAM (Fluxo automático de

materiais)

CAD (Fluxo automático de

informações tecnológicas)

CAP19 (Fluxo automático de

informações administrativas)

Áreas envolvidas

- Produção; - Controle de qualidade; - Controle de processos; - Controle de custos; - Vendas/distribuição

- Pesquisa e desenvolvimento; - Projeto de produto; - Projeto de processo; - Projeto de layout

- Planejamento de venda; - Planejamento da produção; - Agendamento da operação.

Objetivos principais

- Produção multi produtos em pequenos lotes; - Redução dos custos com trabalho direto.

- Rapidez do projeto e elaboração, - Eficiência no desenvolvimento de produtos. - Redução nos custos de design.

- Entrega Just-in-time.

Fonte: Hitomi, 1994, p. 124 e 126-7.

Quadro 3.1 – Tecnologias e características do Sistema de Manufatura Computadorizado

No período anterior, as formas de automação contribuíram,

principalmente, para a especialização dos segmentos fabricantes de máquinas.

19

O fluxo de informações administrativas (CAP) não é abordado no trabalho.

Page 66: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

66

A partir dos anos 70, o ritmo das mudanças em produtos tornou-se maior

do que a capacidade de resposta dos fabricantes de máquinas, justificando o

acesso a novas fontes de conhecimentos no desenvolvimento das máquinas.

A automação da base técnica repercutiu em modificações nas

características físicas dos produtos e nos conhecimentos e habilidades

acumuladas em produtos e no processo de produção.

De maneira geral, as novas tecnologias mudaram os requisitos em

termos de custo de produção, nível de escala, utilização de insumos e de

investimentos demandados para o desenvolvimento do setor de máquinas.

O desenvolvimento e crescimento da indústria microeletrônica

possibilitou a incorporação de microprocessadores à estrutura física dos

equipamentos (Coriat, 1988, 1989 apud Bastos, 1999, p. 192), contribuindo

para o processo de mudança técnica da indústria de bens de capital.

O principal objetivo das empresas era a redução do custo unitário de

capital, através da “intensificação da utilização de equipamentos” (Kaplinsky,

1984, p. 74-75 apud Bastos, 1999, p. 202).

Mas as novas tecnologias também incorporaram flexibilidade aos

equipamentos, tornando a produção em pequenos lotes economicamente

eficiente. Além disso, a integração das novas tecnologias possibilitou a gestão

da circulação de matérias-primas e insumos (Bastos, 1999).

Em grande medida, as novas técnicas contribuíam para que fossem

ampliados os limites produtivos determinados pela base técnica eletromecânica

(Bastos, 1999).

A transição da base técnica eletromecânica para a microeletrônica

trouxe implicações para as economias industriais por conta da criação de

programas que permitiam a definição de tarefas executadas nas máquinas, o

controle e a integração das funções das máquinas-ferramenta.

Com essas transformações internas ao sistema de produção, as

empresas puderam ampliar a flexibilidade do processo produtivo e a variedade

de produtos; e integrar diferentes etapas do processo de produção e

organizacional (Bastos, 1999, p. 201).

A incorporação da microeletrônica e informática às máquinas também

repercutiu em mudanças em termos de produtividade, qualidade e escopo no

processo de fabricação (Bastos, 1999, p. 197). Contudo, essas alterações

Page 67: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

67

tinham como pré-condição o acúmulo de competências e de conhecimentos

obtidos na produção de máquinas.

Como as condições para o desenvolvimento e melhoramento das

máquinas são muito distintas entre os grupos de países, a automação de

segmentos industriais assumiu características diferentes.

O Japão, por exemplo, contribuiu para um novo padrão de

desenvolvimento tecnológico no ramo de máquinas-ferramenta a partir de

meados da década de 60, ocupando a posição da indústria de máquinas dos

EUA.

As tecnologias de controle numérico apresentaram uma ruptura do

padrão de especialização, relativamente ao setor de máquinas-ferramenta dos

EUA, por conta da adoção de ‘open-loop control systems’ por empresas

japonesas (Mazzoleni, 1997, p. 406), indicando que as estratégias de

automação podem tomar diferentes caminhos entre os países.

Considerando a discussão sobre o desenvolvimento do setor de

máquinas-ferramenta entre os países, destaca-se que a mudança técnica

envolvia não apenas alterações na base de conhecimentos em mecânica como

ocorreu na indústria de bens de capital no século XIX. A base de

conhecimentos desse segmento se tornou mais dispersa e os limites das

trajetórias tecnológicas tornaram-se mais tênues.

Com a incorporação de novas tecnologias, algumas empresas de bens

de capital com produção de máquinas sob encomenda se distanciaram do

contexto de convergência tecnológica em direção a produtos cada vez mais

específicos.

Alguns fabricantes de máquinas seriadas, por sua vez, mantêm seu

dinamismo sob uma mesma base técnica (mecânica), direcionando seus

esforços para outros critérios definidores de competitividade como preço e

flexibilidade para adaptar as máquinas às necessidades do mercado.

A inserção da microeletrônica é importante para o dinamismo industrial,

mas não é o principal determinante do desenvolvimento tecnológico das

empresas.

No ramo de máquinas-ferramenta, o desenvolvimento e o desempenho

industrial das empresas são influenciados pela escolha entre tecnologias

pervasivas, provenientes de diferentes áreas de conhecimento. A partir de

Page 68: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

68

meados do século XX, a sinergia entre conhecimentos da área mecânica,

microeletrônica e física promoveu não apenas os ganhos de escala e escopo

na produção de máquinas.

Com base na discussão realizada até aqui, é possível identificar

algumas trajetórias tecnológicas relevantes para o desenvolvimento do setor de

máquinas-ferramenta (quadro 3.2).

Período Trajetórias

Início do século XIX

Base de conhecimentos em mecânica;

Elevada pervasividade de conhecimentos;

Especialização de conhecimentos;

A partir de meados do século XIX

Base de conhecimentos em mecânica;

Surgimento da microeletrônica;

Surgimento de novos materiais;

A partir do século XX

Base de conhecimentos em mecânica, microeletrônica;

Surgimento de novos materiais utilizados na produção de máquinas;

Automação da produção;

Novos modelos de organização da produção

Fonte: Elaboração própria, com base na revisão teórica da tese.

Quadro 3.2 – Trajetórias tecnológicas importantes para a indústria de máquinas-

ferramenta mundial

As trajetórias tecnológicas promoveram transformações no

desenvolvimento técnico do setor de máquinas e influenciaram as

características do regime tecnológico e do processo de criação e difusão de

tecnologias dos países com atuação no setor. Esse tema será discutido na

próxima seção.

Page 69: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

69

3.3 Padrão setorial e regime tecnológico na indústria de bens de capital

O desenvolvimento da indústria de bens de capital pode ser explicado a

partir do pressuposto de que há um padrão para o desenvolvimento de

atividades tecnológicas que é determinado setorialmente.

De acordo com a Tipologia de Pavitt (1984), a indústria de máquinas

pertence à categoria ‘fornecedor especializado’, que abrange os ramos de

engenharia mecânica e instrumentos de precisão e apresenta as

características destacadas no quadro 3.3.

Características principais da categoria Categoria de

Fornecedores especializados

Atividades nucleares típicas Maquinaria; instrumentos de precisão.

Fatores determinantes das atividades tecnológicas

Fontes de tecnologia Projeto e desenvolvimento pelos usuários

Tipos de usuários Sensível ao desempenho

Mecanismos de apropriação

Know-how de projeto; conhecimento dos usuários; patentes

Trajetórias tecnológicas Projeto de produto

Características mensuradas

Fontes de tecnologia Interna; Clientes

Inovação relativamente predominante

Produto

Tamanho relativo das firmas inovadoras

Pequeno

Intensidade e direção da diversificação tecnológica

Baixa, concêntrica

Fonte: Adaptado de Pavitt (1984).

Quadro 3.3 – Características gerais das atividades inovativas para a categoria de fornecedores especializados

A categoria de fornecedores especializados é formada por empresas de

pequeno e médio porte, que apresentam trajetórias tecnológicas baseadas em

projeto de produto. O projeto dos produtos incorpora a maior parte das

inovações desenvolvidas no ambiente interno das empresas. Além disso, os

conhecimentos embutidos nesses projetos apresentam caráter incremental.

As principais fontes de inovação dos fornecedores especializados são a

equipe de desenvolvimento e engenharia interna das empresas e os usuários

dos produtos fabricados por essas empresas.

Page 70: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

70

As áreas de engenharia das empresas de máquinas desenvolvem

importante simbiose com empresas das categorias intensivas em produção e

baseadas em ciência. A interação estabelecida com os usuários das máquinas,

que participam nas etapas de projeto e desenvolvimento de produtos, por sua

vez, contribui para a competitividade e o dinamismo industrial dos fornecedores

especializados.

Como resultado da simbiose e das interações usuário-produtor20, as

empresas com produção de máquinas acumulam competências que viabilizam

a produção de grande parte de suas próprias tecnologias de processo (Pavitt,

1984).

No século XX, esse padrão de criação de tecnologias do setor estava

apoiado por conhecimentos da área mecânica, o que resultou em dois

conjuntos de transformações:

a) melhoria na qualidade dos metais, das fontes de energia e a precisão de

corte e usinagem.

b) habilidades em projeto e técnicas em comum no corte e moldes de metais,

que eram usados na fabricação de diferentes produtos (Pavitt, 1984).

Esses aspectos possibilitaram o desenvolvimento de competências

tecnológicas voltadas à realização de tarefas mais complexas e à obtenção de

economias de escala. Ao longo do tempo, o caráter pervasivo em um número

de tecnologias determinou a desintegração vertical de firmas especializadas no

projeto e produção de máquinas para diferentes usos (Patel & Pavitt, 1984).

Por outro lado, as empresas de máquinas tendem a apresentar baixa

intensidade de estratégias visando à diversificação de produtos, e a direção

dessa diversificação tende a ser mais concêntrica (Pavitt, 1994).

A diversificação concêntrica do setor de máquinas pode ser atribuída a

presença de empresas de pequeno porte e a especialização da base de

conhecimentos internos.

Outra justificativa para essa característica é a baixa velocidade de

mudança do ciclo de vida de produtos, que resulta em menos pressões visando

à diversificação (relativamente aos setores baseados em ciência) nos

20

A tese considera as interações usuário-produtor uma das principais fontes de desenvolvimento tecnológico. Entretanto optou-se por não aprofundar a discussão teórica sobre esse fenômeno. Para informações mais detalhada sobre a contribuição das relações usuário-produtor para o processo inovativo, consultar Lundvall (1988; 1982).

Page 71: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

71

mercados em que as empresas atuam. Além disso, a baixa intensidade da

diversificação de produtos pode ser atribuída ao fato de que enquanto

empresas dos setores baseados em ciência diversificaram-se a partir dos

avanços da ciência que são acumulados ao longo do tempo, os fornecedores

especializados de máquinas dependem mais de seus consumidores para obter

e acumular informações e habilidades relacionadas ao desempenho de seus

produtos (Pavitt, 1984).

Apesar de apresentar baixa intensidade de diversificação de produtos, o

setor de máquinas apresenta elevada integração dos conhecimentos

tecnológicos (internos às empresas) com conhecimentos provenientes de áreas

da ciência como engenharia de materiais, engenharia de produção e eletrônica,

entre outras.

A literatura sobre o desenvolvimento tecnológico da indústria de

máquinas destaca que os conhecimentos incorporados às máquinas surgiram,

principalmente, da exploração e de descobertas científicas e usos em comum

em outras áreas e ramos industriais (Rosenberg, 1963; 1969). Por outro lado,

os conhecimentos da categoria fornecedores especializados também são

utilizados para o desenvolvimento e melhorias em produtos para outros ramos

industriais (Pavitt, 1984).

Um aspecto não apresentado na tipologia de Pavitt (1984) é que o

regime tecnológico entre os segmentos de máquinas fornecerá diferentes

possibilidades para criação e incorporação de conhecimentos e a mudança

técnica daqueles setores.

De maneira geral, cada segmento da indústria de máquinas apresentará

uma combinação diferente de conhecimentos internos (na forma de tecnologias

e competências), de condições de oportunidade e condições de

apropriabilidade ao longo da cadeia.

No setor de máquinas-ferramenta, por exemplo, o conhecimento interno

pode abranger tecnologias pervasivas que influenciam as oportunidades sobre

novos produtos. As tecnologias com usos em comum em várias etapas

possibilitaram o desenvolvimento de máquinas para vários ramos industriais. À

medida que as especificações daquelas máquinas eram melhoradas, as

condições de oportunidade para o desenvolvimento e difusão de novos

produtos foram ampliadas.

Page 72: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

72

No setor de máquinas para calçados, por sua vez, as tecnologias são

menos pervasivas e estão restritas ao processo de fabricação de calçados.

Desse modo, as condições de oportunidade tendem a ser relativamente

menores.

O regime tecnológico da indústria de máquinas pode apresentar

algumas alterações em virtude das condições do ambiente em que os setores

estão inseridos.

Em países como EUA, Japão e Alemanha, um dos fatores que

contribuíram para o desenvolvimento tecnológico das máquinas é que os

conhecimentos internos às empresas incorporavam competências acumuladas

e informações provenientes de outras áreas da ciência ou de um novo modelo

organizacional. Nesse cenário, os conhecimentos contribuíram para a mudança

técnica e os ganhos de produtividade ao nível da firma e dos setores de

máquinas e representam as trajetórias tecnológicas da indústria de máquinas

nas últimas décadas.

A tese parte do pressuposto de que a atuação das empresas de

máquinas e dos demais atores do setor no ambiente em que elas estão

inseridas é diferente em cada país e essas características conduzem a

diferenças no desenvolvimento tecnológico do setor. Considera-se que uma

das fontes de diferenças no desenvolvimento tecnológico do setor de máquinas

é a percepção das empresas de máquinas em relação ao potencial das

trajetórias tecnológicas.

O próximo capítulo apresenta as definições sobre os produtos incluídos

no setor de máquinas e apresenta um breve panorama sobre a dinâmica

industrial do setor de máquinas-ferramenta. Posteriormente, o capítulo retoma

a discussão sobre regime tecnológico e Sistema Setorial de Inovação de

máquinas-ferramenta considerando quatro países selecionados.

Page 73: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

73

Capítulo 4 - O setor de máquinas-ferramenta em países

selecionados

Esse capítulo apresenta um panorama sobre o desempenho do setor de

máquinas-ferramenta mundial nos últimos anos.

Na primeira seção, o capítulo apresenta brevemente as características

dos produtos, processos e tecnologias do setor de máquinas-ferramenta.

A segunda seção apresenta a análise de dados estatísticos sobre

produção e comércio internacional de máquinas-ferramenta, destacando os

resultados por categorias de produtos e países.

A terceira seção aplica a discussão sobre regime tecnológico e Sistema

Setorial de Inovação ao setor de máquinas-ferramenta. Nesse ponto, o texto

ressalta as principais características e fatores envolvidos no desenvolvimento

do ramo de máquinas-ferramenta dos países desenvolvidos líderes na

produção de máquinas.

4.1 Produtos, processos e tecnologias do setor de máquinas-ferramenta.

A formação do setor de máquinas-ferramenta e o seu desenvolvimento e

desempenho nas economias industrializadas ao longo das décadas

contribuíram de maneira significativa para o desenvolvimento de tecnologias

entre os países. Ao mesmo tempo, os ramos industriais de máquinas tornaram-

se importante receptor e transformador de conhecimentos provenientes de

outros setores e outra áreas de conhecimento científico.

A máquina-ferramenta pode ser definida de maneira simplificada como

uma máquina projetada para o trabalho com metais e outros materiais,

permitindo que um bloco de ferro fundido seja convertido em outros produtos

(Avellar, 2008, p. 1).

A International Standard of Industrial Classification21 apresenta os

segmentos da indústria de bens de capital em quatro divisões, de acordo com

21

A International Standard of Industrial Classification (ISIC) Rev. 4ª. é classificação de atividade econômica mais recente, revisada em 2008. Os dados de produção e valor adicionado do setor disponíveis no sítio eletrônico para consulta utilizaram a classificação ISIC na versão Rev. 3

Page 74: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

74

as características técnicas e processos em comum de cada ramo da indústria:

Fabricação de equipamentos elétricos; Fabricação de máquinas e

equipamentos não incluídos anteriormente; Fabricação de veículos

automotores, reboques e semi-reboques; e Fabricação de outros equipamentos

de transporte.

As quatro divisões são subdivididas em grupos. A divisão “máquinas e

equipamentos não incluídos anteriormente” (ISIC 28), por exemplo, abrange os

grupos “máquinas de uso geral” e “máquinas de uso específico”. O grupo de

máquinas de uso específico, por sua vez, abrange várias classes de produtos,

incluindo o ramo de máquinas-ferramenta ou Manufacture of metal-forming

machinery and machine (ISIC 2822)22.

É importante registrar que as classificações da indústria de bens de

capital denotam as especificidades técnicas de produto e a heterogeneidade

dos processos de produção das máquinas.

Os produtos do ramo de máquinas-ferramenta podem apresentar

características distintas em relação à finalidade principal, tamanho, design,

sistema de controle e processos produtivos envolvidos, entre outros fatores

(Avellar, 2008, p. 2). Além disso, cada linha de produtos pode apresentar

diferenças na forma de realização das tarefas (ou base produtiva).

Em relação à sua finalidade, as máquinas-ferramenta podem ser

classificadas em dois grupos: máquinas de usinagem (corte) e máquinas de dar

forma23.

A atividade de usinagem consiste no processo mecânico no qual a peça

é uma matéria-prima que será transformada através da remoção (corte) de

parte do seu material. O processo de dar forma, por sua vez, inclui,

principalmente, as operações de dobrar, prensar, talhadeira e estampagem.

A usinagem inclui as tarefas de serramento, aplainamento, torneamento,

fresamento (ou fresagem), furação, brochamento, trituração, entre outros, que

podem ser realizados com lascas ou com criação de cavaco. O quadro 4.1

apresenta as características dos principais tipos de máquinas utilizados no

processo de usinagem.

22

O anexo A apresenta o quadro com a descrição completa dos tipos de produtos incluídos na ISIC 2922. 23

Apenas as máquinas de corte são objeto de análise da tese.

Page 75: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

75

Máquinas Descrição das características das máquinas Tipos de máquinas

Fresadora

Fresadora é uma máquina de movimento continuo, destinada à usinagem de materiais. Ela remove cavacos por meio de uma ferramenta de corte chamada fresa.

Essas máquinas realizam de uma grande variedade de trabalhos tridimensionais. O corte pode ser realizado em superfícies situadas em planos paralelos, perpendiculares, ou formando ângulos diversos.

As fresadoras podem ser classificadas de acordo com a posição do eixo-árvore em relação à superfície da mesa de coordenadas.

Horizontal, vertical, universal e especial.

Mandriladora

São máquinas especiais, que podem desempenhar as operações de usinagem sem que seja preciso remover a peça da máquina.

Podem ser utilizadas para furação, fresagem, mandrilagem e torneamento em peças complicadas e difíceis de manusear.

Uma mandriladora é composta, principalmente, por árvore porta-ferramentas, carro porta-árvore,montande, coluna auxiliar, mesa de máquina e mandril (Moraes & Abreu, 2006).

Torno

É uma máquina-ferramenta utilizada na usinagem ou acabamento em peças.

A máquina utiliza placas para fixação da peça a ser trabalhada.

As placas podem ser de três castanhas, se a peça for cilíndrica, ou quatro castanhas, se o perfil da peça for retangular.

Os tornos podem ser classificados de acordo com os componentes eletrônicos (tradicional, revólver, CNC); de acordo com a geometria e tamanho da peça que será usinada (horizontal ou vertical);

Torno mecânico:

Torno CNC: máquina na qual o processo de usinagem é feita por Comandos Numéricos Computadorizados (CNC) através de coordenadas X (vertical) e Z (longitudinal). Sua grande vantagem em relação ao torno mecânico é o acabamento e o tempo de produção.

Torno revolver: torno simples com o qual é possível executar processos de usinagem com rapidez, em peças pequenas[Ex: buchas]

Torno vertical: usado para trabalhar com peças com um diâmetro elevado;

Retificadora Retificadoras são máquinas derivadas dos tornos mecânicos

Elas realizam as tarefas de retífica (alinhamento) e polimento de peças e componentes cilíndricos ou planos.

Fonte: Adaptado de Material didático (versão eletrônica), Centro de Informação Metal Mecânica (CIMM). Disponível em: http://www.cimm.com.br/portal/noticia/material_didatico/3350. Atualizado em 01/outubro/12.

Quadro 4.1 – Descrição das máquinas-ferramenta de usinagem

Considerando as características gerais do processo de produção, as

máquinas-ferramenta podem ser classificadas em dois grupos: máquinas

seriadas ou máquinas sob encomenda.

As máquinas seriadas apresentam grande variedade de produtos com

pequenas modificações dentro de uma mesma linha de máquinas. O grupo de

máquinas seriadas é formado, principalmente, por modelos utilizados na

usinagem de peças como tornos, retificadoras, fresadoras, entre outras.

O principal requisito para o processo produtivo dessas máquinas é a

escala de produção. As empresas que desenvolvem modelos de máquinas

seriadas tendem a produzir os produtos em módulos, e mantém uma parte das

máquinas pré-acabadas em estoque. Nas etapas finais de produção dessas

máquinas, as empresas realizam a incorporação de componentes (ferramentas

e eletrônicos), de acordo com a especificação do cliente.

Page 76: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

76

As máquinas fabricadas sob encomenda apresentam pequena variedade

de produtos e incorporam especificações de acordo com os pedidos dos

clientes. O grupo de máquinas sob encomenda é formado, principalmente, por

modelos de máquinas de usinagem (corte): centros de torneamento e

fresamento, células de produção, entre outros; e por máquinas utilizadas na

conformação de materiais (prensas) que incorporam tecnologias mais

sofisticadas.

O principal requisito para o processo produtivo da máquina sob

encomenda não é a escala de produção, mas a flexibilidade para incorporar as

características ou componentes de acordo com o pedido do cliente. Um fator

importante é que como os produtos finais são concebidos e projetados para

atender especificidades de um cliente, frequentemente, esses modelos de

máquinas não são incluídos na linha comercial de produtos da empresa. Além

disso, o tempo de produção dessas máquinas tende a ser relativamente maior

do que o tempo decorrido para a produção das máquinas seriadas.

O processo de produção das máquinas é viabilizado por duas categorias

de atividades internas das áreas da engenharia (de produto): o projeto

mecânico e o processo de fabricação.

O projeto mecânico é a fase em que os funcionários analisam

informações internas e externas visando à criação de uma nova máquina ou a

melhoria do produto já existente (Collins, 2006a, p. 6). Esse processo abrange

desde a concepção inicial, o desenvolvimento até o serviço de campo da

máquina.

Para desenvolver o projeto considerando as informações técnicas

internas (econômicas e não econômicas) e os requisitos da demanda, o

projetista seleciona o melhor material disponível e identifica a melhor geometria

possível para cada peça (Collins, 2006a, p. 1). Entretanto, em alguns casos o

projetista mecânico não consegue desenvolver o projeto que atenda às

especificações de material e de geometria simultaneamente.

Os critérios de desempenho, o peso e os custos dos materiais utilizados

na produção da peça podem impor algumas limitações e divergências para a

utilização dos materiais e geometria propostos pelo projetista da máquina

(Collins, 2006a, p. 6).

Page 77: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

77

O processo de fabricação estrito é a fase em que as peças disponíveis

em estoque são trabalhadas, considerando as dimensões, formas e

acabamentos especificados pelo projetista da máquina (Collins, 2006b, p. 279).

Esse processo de fabricação das máquinas abrange um conjunto de etapas em

comum como corte, conformação, processamento químico-físico ou a

combinação dessas técnicas. Cada etapa, por sua vez, reúne um conjunto de

especificidades quanto à sua forma de realização.

O quadro 4.2 descreve as categorias de processos envolvidos na

fabricação de máquinas e alguns exemplos de cada processo24.

Categoria de processo Exemplos de processos

Fluxo de material fundido Fundição em: areia, casca, molde cerâmico, molde permanente; Fundição sob pressão, por centrifugação, por cera perdida; Outros.

Fusão de partes componentes Soldagem ao arco elétrico; a gás; por resistência elétrica; por feixe de elétrons; Outros.

Deformação plástica de material sólido dúctil

Forjamento por martelamento; por prensagem; Laminação; Trefilação; Extrusão; Dobramento; Estampagem profunda; Repuxamento; Estiramento; Outros.

Remoção seletiva de material por ação de usinagem ou ação de remoção de cavaco

Torneamento; Faceamento; Furação; Fresagem; Broqueamento; Retificação; Serramento; Outros.

Sinterização de partículas de pó metálico

União por difusão; Sinterização com fase líquida; Sinterização por centelha; Processamento isostático a quente (HIP)

Fonte: Adaptado de Collins (2006b), p. 279.

Quadro 4.2 – Categoria de processos e exemplos

A remoção seletiva de material por ação de usinagem ou ação de

remoção de cavaco abrange, principalmente, os processos de torneamento;

faceamento; furação; fresagem (ou fresamento); broqueamento; retificação; e

serramento. O quadro 4.3 apresenta uma breve descrição das características

de três processos de usinagem: fresamento, retificação e torneamento.

24

O foco da análise empírica da tese são empresas de máquinas-ferramenta que trabalham com o processo de remoção seletiva de material por ação de usinagem ou ação de remoção de cavaco.

Page 78: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

78

Processos Descrição do processo

Fresamento

O fresamento consiste na combinação de movimentos simultâneos da ferramenta e da peça a ser usinada.

A ferramenta de corte possui vários gumes e executa movimento de giro, enquanto é pressionada contra a peça (que também está em movimento).

Retificação

É o processo de tornar reto ou exato, corrigir e polir a superfície de peças e componentes cilíndricos ou planos.

O processo de retificação é executado por ferramentas chamadas de rebolos, que são ferramentas fabricadas com materiais abrasivos cujos formatos podem ser cilíndricos, ovalizados, esféricos, etc.

Em geral, as ferramentas são fixadas a eixos e giram em altíssima rotação. Quando elas já vem presas em um eixo são chamadas de ponta montada.

A peça que será trabalhada é montada num suporte, numa mesa coordenada ou num eixo, e recebe o atrito do rebolo abrasivo, que vai retirando o material em quantidades muito pequenas, até chegar ao ponto ou dimensão determinado pelo projeto.

Torneamento

A operação de torneamento consiste no movimento de máquinas-ferramenta que operam fazendo girar a peça a usinar presa em um cabeçote placa de 3 ou 4 castanhas ou fixada entre os contra-pontos de centragem enquanto uma ou diversas ferramentas de corte são pressionadas em um movimento regulável de avanço de encontro à superfície da peça, removendo material de acordo com as condições técnicas adequadas.

Trata-se da combinação de dois movimentos: rotação da peça e movimento de avanço da ferramenta. Em algumas aplicações, a peça pode ser estacionária, com a ferramenta girando ao seu redor para cortá-la, mas basicamente o princípio é o mesmo.

Fonte: Adaptado de Material didático (versão eletrônica), Centro de Informação Metal Mecânica (CIMM). Disponível em: http://www.cimm.com.br/portal/noticia/material_didatico/3350. Atualizado em 01/outubro/12.

Quadro 4.3 – Descrição de alguns processos usinagem

A escolha e a utilização de um daqueles processos na produção de

máquinas-ferramenta são permeadas pela análise de fatores econômicos e não

econômicos, por análises das propriedades físicas dos materiais que compõem

as peças, e pelo tipo do acabamento final que pretende-se obter.

Os fatores econômicos como o custo de capital influenciam as decisões

de investimento no desenvolvimento de nova máquina, na modernização ou

reforma das máquinas. Os fatores não econômicos como a energia e tempo

requeridos e a resistência relativa do produto, entre outros, determinam

diferenças no desempenho técnico das máquinas. O quadro 4.4 apresenta os

parâmetros econômicos e não econômicos associados à cada categoria de

processo.

Page 79: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

79

Categoria de processo

Custos de capital para

equipamentos especiais

Custos de ferramentas

especiais

Energia requerida

Tempo requerido

Resistência relativa do

produto

Fluxo de material fundido Relativamente

elevado

Relativamente

baixo

Relativamente

baixa

Relativamente

baixo

Geralmente

mais pobre

Fusão de partes

componentes

Relativamente

baixo

Relativamente

baixo Moderada Moderado Moderada

Deformação plástica de

material sólido dúctil

Relativamente

elevado

Relativamente

elevado

Relativamente

elevada

Relativamente

baixo

Geralmente

melhor

Remoção seletiva de

material por ação de

usinagem ou ação de

remoção de cavaco

Relativamente

baixo

Relativamente

baixo Moderada

Relativamente

elevado

Segundo

melhor

Sinterização de partículas

de pó metálico Moderado

Relativamente

elevado Moderada Moderado n.d.

Fonte: Adaptado de Collins, 2006b, p. 279.

Quadro 4.4 – Categoria de processos e a importância de parâmetros selecionados

De acordo com os dados do quadro acima, verifica-se que as quatro

primeiras categorias de processo apresentam um trade-off entre os fatores

energia e tempo requeridos versus os fatores econômicos como o custo de

equipamentos especiais.

A escala de produção de máquinas seriadas e a flexibilidade na

produção de máquinas sob encomenda também são fatores importantes nas

decisões de produção das máquinas.

As características dos materiais utilizados na construção das máquinas,

como maleabilidade, resistência, condutibilidade, entre outros, também têm

implicações para a análise dos fatores econômicos e não econômicos de cada

categoria de processo de máquinas.

O quadro 4.5 apresenta algumas características consideradas na

decisão de utilizar um material (em detrimento de outros) e destaca os índices

de avaliação para cada característica.

Page 80: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

80

Características requeridas do

material adequado Índice de avaliação de

desempenho 1 Razão resistência/volume Limite de escoamento ou de resistência

2 Razão resistência/peso Limite de escoamento ou de resistência/densidade

3 Resistência ao calor Perda de resistência/grau de temperatura

4 Resistência à fluência Taxa de fluência na temperatura de operação

5 Expansão térmica Deformação/grau de variação de temperatura

6 Rigidez Módulo de elasticidade

7 Ductilidade Alongamento percentual em 2 polegadas

8 Resiliência Energia/unidade de volume no escoamento

9 Tenacidade Energia/umidade de volume na ruptura

10 Resistência ao desgaste Perda dimensional na condição de operação; também dureza

11 Resistência à corrosão Perda dimensional no meio da operação

12 Susceptibilidade a danos por radiação Mudança na resistência ou ductilidade no meio operacional

13 Manufaturabilidade Adequação para processo específico

14 Custo Custo/unidade de peso; também usinabilidade25

15 Disponibilidade Tempo e esforço para obtenção.

Fonte: Collins, 2006b, p. 114.

Quadro 4.5 – Requisitos dos materiais para aplicação e índices de avaliação de desempenho

As características dos materiais que compõem as peças a serem

trabalhadas influenciarão diretamente na realização das tarefas programadas

para cada máquina.

As máquinas precisam estar preparadas para trabalhar com as

diferenças das características físicas dos materiais e manter a produtividade,

precisão e qualidade na fabricação das peças. Para viabilizar essa situação, as

empresas de máquinas apresentam algumas alterações em parâmetros como

velocidade de corte, profundidade da entrada da ferramenta de corte na peça,

quantidade de formação de cavaco e tempo para a produção da peça final.

O desenvolvimento e as melhorias de alguns dos parâmetros do

processo de produção, por sua vez, são realizados ao longo do processo

produtivo, na forma de tentativa-erro, e estão apoiados em conhecimentos e

competências empíricos (do ambiente da produção).

A combinação de tecnologias e conhecimentos visando à execução de

tarefas de acordo com as características dos materiais, e que possibilitem

25

Usinabilidade pode ser entendida como a facilidade com que o material pode ser cortado, torneado, fresado ou furado sem acarretar prejuízo de suas propriedades mecânicas (Material didático, Centro de Informação Metal Mecânica, 2012).

Page 81: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

81

ganhos de produtividade e escala e a qualidade dos produtos, são fatores

importantes para o desempenho técnico das máquinas.

As mudanças das características dos materiais (ou o surgimento de

novos materiais) e o desenvolvimento ou melhorias dos parâmetros para lidar

com aquelas características influenciam os ganhos de produtividade e escala

das empresas e o desempenho da estrutura industrial recente do setor de

máquinas-ferramenta. Entretanto, o desenvolvimento da ciência dos materiais

não promoveu rupturas da base de conhecimentos técnico das máquinas-

ferramenta, que estão apoiados em conhecimentos da área de engenharia

mecânica.

O desenvolvimento e as melhorias técnicas das máquinas-ferramenta

estão vinculados à identificação de diferentes trajetórias tecnológicas, ao

aprendizado e à apropriação dos conhecimentos considerando as condições de

cada empresa.

O setor mantém forte interdependência entre os três elementos do

sistema de máquinas-ferramenta (estruturais, de transmissão e de controle). As

alterações realizadas em um desses elementos podem provocar desequilíbrios

na execução das tarefas da máquina-ferramenta, e implicam a necessidade de

realizar melhorias no sistema.

A inserção da tecnologia da informação no setor de máquinas contribuiu

para o funcionamento e o dinamismo do sistema de máquinas ao integrar

diferentes tarefas e possibilitar a realização dessas tarefas de maneira mais

eficiente.

Os conhecimentos técnicos utilizados no projeto e desenvolvimento das

máquinas são provenientes de diferentes áreas de conhecimento. E essa alta

pervasividade pode contribuir de maneira significativa para o desempenho e a

integração entre esses elementos do sistema de máquinas-ferramenta.

As ferramentas incorporadas às máquinas, por exemplo, possibilitam

pequenos ajustes ou alterações radicais dos parâmetros de produção e podem

ajudar na realização das tarefas em uma peça (Collins, 2006a)

Os componentes eletrônicos como comando numérico computadorizado

(CNC) compõem os elementos de controle das máquinas e têm a função de

ajustar os elementos estruturais da máquina e controlar o seu funcionamento.

Além disso, os componentes eletrônicos viabilizam a precisão e melhor

Page 82: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

82

programação e execução das tarefas desde o projeto da máquina até a etapa

final da produção (Collins, 2006a).

Nesse cenário, os fornecedores do setor de máquinas-ferramenta

influenciam duplamente no desenvolvimento das máquinas: de um lado, com

materiais usados na produção das peças; e de outro lado, com ferramentas

desenvolvidas para as máquinas e componentes eletrônicos que podem ser

acoplados às máquinas.

A utilização de comandos numéricos representa uma das trajetórias do

desenvolvimento técnico recente do setor de máquinas-ferramenta. Isso porque

a automação da base técnica das máquinas-ferramenta possibilitou a

ampliação dos limites produtivos do setor (Bastos, 1999) e mudou os requisitos

de produção em termos de escala e os critérios relativos aos custos de

produção das máquinas.

Com base na discussão realizada até aqui, é possível destacar que a

difusão e a consolidação das trajetórias entre as empresas de máquinas-

ferramenta dependem da criação e difusão de informações sobre processos e

produtos, e que esse processo se torne endógeno ao sistema econômico.

À medida que os conhecimentos técnicos são desenvolvidos ou

melhorados no ambiente interno das empresas e entre os segmentos

industriais de máquinas, é importante que as empresas se apropriem de tais

conhecimentos e criem competências e habilidades próprias em suas áreas de

atuação. A estrutura científica, tecnológica e produtiva dos países também

apresenta papel importante nesse processo, por viabilizar a sinergia entre

diferentes áreas de conhecimentos e a absorção das informações entre as

empresas.

Esses fatores são responsáveis pela heterogeneidade da estrutura

produtiva da indústria de máquinas-ferramenta e repercutiram no desempenho

econômico e industrial entre os segmentos fabricantes de máquinas-ferramenta

através dos países.

Page 83: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

83

4.2 Produção e comércio mundial do setor de máquinas-ferramenta

Nos últimos anos, o ramo de máquinas-ferramenta tem apresentado

alterações em sua estrutura produtiva e no desempenho industrial e econômico

no mercado mundial.

O número de empresas e do total de emprego entre segmentos

fabricantes de máquinas tem apresentado declínio do. O desempenho

industrial e econômico, por sua vez, tem sido influenciado pela inserção de

alguns países na produção e comércio mundial do setor. O gráfico 4.1

apresenta dados sobre o número de empresas do grupo de máquinas de uso

especial e do segmento de máquinas-ferramenta no período de 2005 a 2009.

Gráfico 4.1 – Número de empresas do grupo de máquinas especiais e do setor de máquinas-

ferramenta no mundo, 2005-2009.

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da INDSTAT4 (Industrial Statistics Database), 2012. Statistics Division, United Nations Industrial Development Organization (UNIDO)

26

Disponível em: <http://data.un.org/Data.aspx?d=UNIDO&f=tableCode%3a01> > Acesso em: 04/out/12.

O setor de máquinas especiais e o ramo de máquinas-ferramenta têm

apresentado redução do número de estabelecimentos desde o ano de 2006.

Particularmente no período 2008-2009, ambos os setores apresentaram

fechamento, respectivamente, de 23% e 42% do total de estabelecimentos com

produção de máquinas.

26

INDSTAT4-Rev.3 contém dados de series de tempo sobre cinco intens que cobre o período de 2005 a 2009. Os dados são agregados a 3 e a 4 dígitos da ISIC (Revisão 3) da indústria de manufatura, que abrange 151 categorias de produtos (UNIDO, 2012 - tradução).

Page 84: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

84

Outro fator importante é que o ramo de máquinas-ferramenta perdeu a

participação no total de empresas com produção de máquinas especiais,

passando de 19,57% em 2007 para 13, 9% em 2009.As estatísticas sobre

número de funcionários empregados pelo setor (gráfico 4.2) corroboram a

situação verificada em relação ao número de empresas daqueles ramos de

máquinas.

Gráfico 4.2 – Número de trabalhadores empregados no grupo de máquinas especiais e no

setor de máquinas-ferramenta no mundo, 2005-2009.

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados de Statistics Division, United Nations Industrial Development Organization (UNIDO). Disponível em: http://data.un.org/Data.aspx?d=UNIDO&f=tableCode%3a04. Acesso em 04/out/12.

Até o ano de 2007, o grupo de máquinas especiais e o ramo de

máquinas-ferramenta apresentaram crescimento do número de funcionários

contratados.

A partir de 2008, ambos os setores apresentaram demissão de

funcionários, mas o setor de máquinas-ferramenta foi mais atingido pelo

processo de demissão, como se verifica pela queda de 27% do volume de

emprego, relativamente à redução de 22% do setor de máquinas especiais.

A queda do número de empresas e a redução do emprego do setor de

máquinas-ferramenta estão atreladas à queda da produção mundial de

máquinas sofrida no ano de 2008. O gráfico 4.3 apresenta dados sobre a

produção mundial deste setor.

Page 85: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

85

Gráfico 4.3 – Produção mundial do setor de máquinas e do ramo de máquinas-ferramenta,

2005-2009.

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Statistics Division, United Nations Industrial Development Organization (UNIDO). Disponível em: http://data.un.org/Data.aspx?d=UNIDO&f=tableCode%3a04. Acesso em: 04/out/12.

No período entre 2005 e 2006, o setor de máquinas-ferramenta

apresentou crescimento de 13% do volume de sua produção, acompanhando o

movimento verificado pelo grupo de máquinas especiais que aumentou a

produção em 31%. Entretanto, nos três anos seguintes ambos os setores

apresentaram queda do desempenho da produção de máquinas27.

Um dos principais fatores que pode explicar esses indicadores sobre

número de empresas, dados de emprego e a produção mundial de máquinas-

ferramenta é a queda da demanda agregada por máquinas e a redução da

perspectiva de investimentos no cenário internacional nos anos de 2007 a

2009.

A partir da análise sobre o desempenho entre os principais países com

atuação no ramo de máquinas-ferramenta é possível tecer outras

considerações.

De maneira geral, a produção de máquinas-ferramenta por origem está

concentrada historicamente em um pequeno número de países desenvolvidos:

27

A United Nations Industrial Commodity Statistics Database disponibiliza dados estatísticos sobre produção por categorias de produtos e por países. Os dados estão disponíveis em termos de unidades físicas e unidade monetária, e cobrem o período de 1995 a 2008. A soma do total produzido por tipo de produto (cinco dígitos) do ramo de máquina-ferramenta em 2008 não apresentou equivalência com dados agregados do ramo de máquina-ferramenta para o mesmo ano. Por esse motivo, a tese não utilizou os dados de produção de máquinas-ferramenta por tipo de produto.

Page 86: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

86

Alemanha, Japão, Itália e EUA. Entretanto, nos últimos anos da década

passada os países do leste asiático, especialmente, China e Taiwan, e a

Coréia do Sul começaram a participar na produção mundial de máquinas.

O gráfico 4.428 apresenta dados sobre o valor da produção do ramo de

máquinas-ferramenta no cenário mundial, considerando os principais países

com participação nesse setor no período entre 2008 e 2011.

Gráfico 4.4 – Produção de máquinas-ferramenta em países selecionados (1), 2008-2011.

Fonte: Elaboração própria com base nos dados de Gardner (2012). World Machine Tool output & consumption survey, 2012 e 2010.

De maneira geral, os países com maior participação na produção de

máquinas apresentaram queda de sua produção no ano de 2009 e uma ligeira

recuperação no ano de 2011.

Apesar das dificuldades no comércio mundial em virtude da crise

econômica de 2008, a China apresentou crescimento do valor de produção de

US$ 13.960 milhões para US$ 15.000 milhões em 2009. A Alemanha e o

Japão, por sua vez, apresentaram queda expressiva do valor de produção de

máquinas-ferramenta, respectivamente de US$ 10.428 milhões (US$ 15.680

milhões em 2008) e US$ 7.095 milhões (US$ 15.566 milhões em 2008).

Outro fator importante é que em 2011 a China, Japão e Alemanha

apresentaram aumento do valor da produção de máquinas-ferramenta de

28

Abrange os países líderes na produção de máquinas-ferramenta (em US$ milhões): China, Japão, Alemanha, Itália, Coréia do Sul, Taiwan, EUA e Suécia.

Page 87: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

87

maneira mais expressiva, se comparado com o desempenho do valor da

produção da Itália, Coréia do Sul, Taiwan, EUA e Suécia.

É possível identificar uma diferença no desempenho entre os três

primeiros países e os demais países que se destacam no valor da produção

mundial do setor de máquinas-ferramenta: os três países com maior

participação também apresentaram melhores condições para recuperar seu

desempenho nos anos de 2010 e 2011. O gráfico 4.5 apresenta dados

considerando os países que ocupam as posições de 9º produtor até o 15º

produtor de máquinas-ferramenta no cenário mundial.

Gráfico 4.5 – Produção de máquinas-ferramenta em países selecionados (2) – 2008 a 2011

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados de Gardner (2012). World Machine Tool output & consumption survey,

2012 e 2010.

Os países deste grupo apresentaram média de 30% de declínio do valor

da produção de máquinas-ferramenta no ano de 2009, sendo a Espanha, a

Áustria e a França os países que mais reduziram seu desempenho no período

2008-2009.

A partir de 2010, a França, o Reino Unido, a Espanha e a Turquia

apresentaram recuperação mais expressiva do valor de produção de máquinas

(média de 30%), relativamente aos demais países deste grupo (média de 13%

de crescimento).

O consumo mundial de máquinas-ferramenta também apresenta alta

concentração entre os países. De acordo com o estudo publicado pela Gardner

Page 88: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

88

Publications, todos os países apresentaram crescimento do consumo de

máquinas-ferramenta no período 2010-2011.

Os países com maior consumo de máquinas-ferramenta em 2011 foram

China, Japão, Alemanha, EUA e Coréia. A China foi o maior consumidor

mundial de máquinas-ferramenta em 2011, com consumo de US$ 38.370

milhões em 2011, o que representa crescimento de 34,7% em relação ao

consumo de US$ 28.480 em 2010 milhões.

Apesar de apresentar a maior participação no consumo mundial de

máquinas-ferramenta, a China não apresentou maior crescimento relativo do

consumo de máquinas no período 2010-201. O gráfico 4.6 ilustra os dados do

consumo mundial de máquinas-ferramenta do Japão, Alemanha, EUA, Coréia

do Sul, Itália, Índia, Brasil e Taiwan.

Gráfico 4.6 – Consumo mundial de máquinas-ferramenta – 2000 a 2010

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados de Gardner (2012) World Machine Tool output & consumption survey, 2012 e 2010.

De acordo com gráfico 4.6, o Japão, a Alemanha e os EUA

apresentaram crescimento, respectivamente, de 55,5%; 48,7 e 53,3% no

consumo de máquinas no ano de 2011 em relação a 2010.

As estatísticas sobre comércio internacional de máquinas também

constituem importante instrumento para compreender o desempenho dos

segmentos de máquinas no cenário mundial.

Page 89: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

89

A indústria de bens de capital é uma das primeiras a responder às

flutuações da atividade econômica internacional e uma das últimas a retomar

os investimentos voltados à expansão ou modernização da capacidade

produtiva. Entretanto, alguns segmentos do setor de máquinas podem sofrer

mais o impacto das flutuações econômicas. Nesse sentido, a análise do

comércio internacional por categorias de produtos pode ajudar a

compreender a dinâmica comercial do setor entre os ramos de máquinas.

A Standard International Trade Classification classifica o setor de

máquinas-ferramenta (Metalworking machinery) em quatro divisões (quadro

4.6). As divisões classificadas com os códigos SITC 731 e 733 apresentam as

máquinas-ferramenta de maneira estrita, enquanto as divisões SITC 735 e 735

descrevem partes e equipamentos29.

SITC Descrição dos produtos

731 Máquinas-ferramenta que trabalhem por eliminação de metal ou outro material

733 Máquinas-ferramenta para trabalhar metais, carbonetos metálicos sinterizados ou ceramais, sem eliminação de material

735 Partes, não especificados, e acessórios reconhecíveis como exclusiva ou principalmente destinados às máquinas incluídas nos grupos 731 e 733.

737 Máquinas para metais (exceto máquinas-ferramenta), e suas partes, não especificadas anteriormente.

Fonte: Standard International Trade Classification, Rev.3. Disponível em: <http://unstats.un.org/unsd/cr/registry/regcst.asp?Cl=14>

Quadro 4.6 – Descrição dos segmentos pertencentes ao setor Metalworking machinery

O gráfico 4.7 apresenta os dados sobre exportações mundiais de

máquinas-ferramenta no período entre 2000 e 2010.

29

Os segmentos SITC 731 e 732 podem ser divididos em outras classes e tipos de produtos. As informações sobre essas classificações podem ser consultadas no Anexo A.

Page 90: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

90

Gráfico 4.7 – Exportações mundiais de máquinas-ferramenta – 2000 a 2010

Fonte: Elaboração própria, com dados de Comtrade..

De acordo com os dados do gráfico, é possível destacar que as

exportações mundiais de máquina-ferramenta apresentaram crescimento de

US$ 38 bilhões em 2002 para US$ 91 bilhões em 2008. Entretanto, no ano de

2009 a crise internacional repercutiu em queda das exportações para o

patamar de US$ 59,6 bilhões em máquinas-ferramenta.

O gráfico 4.9 apresenta o desempenho do valor das exportações e

importações de máquinas, por SITC a três dígitos, no período de 2000 a 2010.

Page 91: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

91

Gráfico 4.8 – Exportações mundiais do setor de máquinas e equipamentos, por SITC – 2000 a

2010

Fonte: Elaboração própria, com dados de Comtrade e SITC Rev. 4 . SITC 73: Metalworking machinery. Acesso em: 31/março/11. Atualizado em 04/outubro/12.

No ano de 2008, a crise econômica internacional repercutiu

negativamente no desempenho das exportações de todos os ramos de

máquinas-ferramenta.

O segmento de máquinas que trabalham com eliminação de metal ou

outros materiais (SITC 731) apresentou queda mais brusca de suas vendas

externas relativamente aos outros setores industriais. O gráfico 4.7 apresenta a

participação dos tipos de produtos (por SITC) no total de exportações do setor

de máquinas-ferramenta.

Page 92: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

92

Gráfico 4.9 – Participação dos segmentos de máquinas no total de exportações do setor –

2000 a 2010

Fonte: Elaboração própria, com dados de Comtrade e SITC Rev. 4 . SITC 73: Metalworking machinery. Acesso em: 31/março/11. Atualizado em 04/outubro/12.

No período de 2000 a 2010, os segmentos que apresentaram maior

participação no total de exportações do setor de máquinas-ferramenta são

aqueles que fabricam máquinas para trabalhar metal ou outros materiais com

eliminação de material (SITC 731) e sem eliminação de metal (SITC 733).

A análise mais detalhada do comércio mundial de máquinas-ferramenta

considerando os países de origem e destino das máquinas-ferramenta e as

categorias de máquinas que trabalham com eliminação de material (SITC 731)

e sem eliminação de material (SITC 733) podem ajudar a compreender a

dinâmica do comércio internacional de máquinas-ferramenta. As tabelas 4.1 e

4.2 apresentam os principais países com participação no comércio exterior no

ramo de máquinas-ferramenta que trabalha por eliminação de metal ou outro

material (SITC 731).

Page 93: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

93

Tabela 4.1 – Exportações de máquinas-ferramenta que trabalham metal, por eliminação de

metal ou outro material (SIT 731), principais países, 2009 e 2010.

Países Exportações

em 2009 (US$ milhões)

Participação no total de

exportações do setor

(%)

Países Exportações

em 2010 (US$ milhões)

Participação no total

de exportações do setor

(%)

1 Alemanha 5.317,1 24,7 Japão 6.950,3 25,8

2 Japão 3.445,5 16,0 Alemanha 5.013,2 18,6

3 Itália 1.888,7 8,8 Outros Ásia 2.319,5 8,6

4 Suíça 1.479,4 6,9 Itália 1.818,2 6,8

5 EUA 1.336,1 6,2 Suíça 1.727,1 6,4

6 Outros Ásia 1.324,2 6,2 EUA 1.652,7 6,1

7 China Hong Kong 954,2 4,4 China 1.284,2 4,8

8 Coréia 863 4,0 Coréia 1.180,9 4,4

9 Espanha 632,7 2,9 República Tcheca 500,2 1,9

10 República Tcheca 532,2 2,5 Bélgica 424,9 1,6

11 Bélgica 427,5 2,0 Reino Unido 411,0 1,5

12 Reino Unido 409 1,9 Espanha 394,4 1,5

13 Áustria 397,9 1,8 Áustria 390,7 1,5

14 França 310,7 1,4 China, Hong Kong 388,2 1,4

15 Singapura 212,8 1,0 Singapura 356,7 1,3

Subtotal 19.531,0 90,8 Subtotal 24.812,2 92,2

Total (mundo) 21.514,0 Total (mundo) 26.899,2

Fonte: Elaboração própria, com dados de United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade). Disponível em: http://comtrade.un.org/db/ce/ceSnapshot.aspx?px=S4&cc=73. Acesso em 14/out/12.

Tabela 4.2 – Importações de máquinas-ferramenta que trabalham metal, por eliminação de

metal ou outro material (SIT 731), por países selecionados, 2009 e 2010.

Países Importações

em 2009 (US$ milhões)

Participação no total de

importações do setor

(%)

Países

Importações em 2010

(US$ milhões)

Participação no total de

importações do setor

(%)

1 China 4.559,0 21,3 China 7.526,3 28,8

2 EUA 1.926,8 9,0 EUA 2.248,30 8,6

3 Alemanha 1.857,7 8,7 Alemanha 1.530,1 5,9

4 Coréia 808,4 3,8 Coréia 1.145,6 4,4

5 Itália 708,1 3,3 Índia 836,3 3,2

6 Índia 687,9 3,2 Tailândia 822,5 3,2

7 Rússia 685,8 3,2 Rússia 704,9 2,7

8 França 610,3 2,8 Itália 675,7 2,6

9 México 530,0 2,5 Outros Ásia 572,2 2,2

10 Bélgica 494,2 2,3 Brasil 566,8 2,2

11 Brasil 476,6 2,2 México 541,6 2,1

12 Tailândia 437,3 2,0 França 529 2,0

13 Suíça 433,2 2,0 Turquia 485,4 1,9

14 Vietnã 426,5 2,0 Reino Unido 448,6 1,7

15 Polônia 397,9 1,9 Canadá 436,3 1,7

Subtotal 15.039,7 70,2 Subtotal 19.069,6 73,0

Total (mundo) 21.438,5 100,0 Total (mundo) 26109,2 100,0

Fonte: Elaboração própria, com dados de United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade). Disponível em: http://comtrade.un.org/db/ce/ceSnapshot.aspx?px=S4&cc=73. Acesso em 14/out/12.

Page 94: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

94

De acordo com dados da tabela 4.1, os principais países com

participação nas exportações da categoria SITC 731 no período de 2009 e

2010 são Japão, Alemanha, Itália, Suíça, EUA e Outros países da Ásia. Esses

países foram responsáveis por certa de 70% do valor total das exportações

daquela categoria de produto. Além disso, em 2010 o grupo de Outros países

(inclui Taiwan) ocupou a posição da Itália entre os países lideres na exportação

de máquinas.

Considerando os dados da tabela 4.2 sobre importações da categoria

máquinas-ferramenta que eliminam metal ou outro material, os países com

maior participação nas importações totais dessas máquinas foram China, EUA,

Alemanha e Coréia. Nos anos de 2009 e 2010 esses quatro países

responderam por aproximadamente 45% do valor das importações de

máquinas. Em 2010, a Itália perdeu três posições para a Índia, Rússia e

Tailândia. As tabelas 4.3 e 4.4 apresentam os principais países com

participação no comércio exterior no ramo de máquinas-ferramenta para

trabalhar metais sem eliminação de materiais (SITC 733).

Tabela 4.3 – Exportações de máquinas-ferramenta que trabalham metal, sem eliminação de

material (SIT 733), por países selecionados, 2009 e 2010.

Países Exportações

em 2009 (US$ milhões)

Participação no total de

exportações do setor

(%)

Países

Exportações em 2010

(US$ milhões)

Participação no total de

exportações do setor

(%)

1 Alemanha 1.823,3 20,2 Alemanha 1.593,50 16,3

2 Itália 1.490,5 16,5 Itália 1444,4 14,7

3 Japão 913,8 10,1 Japão 1142,1 11,6

4 EUA 645,4 7,2 EUA 809,6 8,3

5 China 457,5 5,1 Outros Ásia 628,1 6,4

6 Outros Ásia 419,7 4,7 China 571,5 5,8

7 Suíça 353,3 3,9 Coréia 500,9 5,1

8 Coréia 349,5 3,9 Áustria 342,5 3,5

9 Bélgica 258,4 2,9 Suíça 336,1 3,4

10 Áustria 248,8 2,8 Espanha 247,4 2,5

11 Espanha 242,3 2,7 Turquia 241,7 2,5

12 França 229,3 2,5 Bélgica 221,9 2,3

13 Turquia 225,8 2,5 Reino Unido 215,3 2,2

14 Reino Unido 151,0 1,7 França 213,3 2,2

15 Finlândia 102,2 1,1 Holanda 108,8 1,1

Subtotal 7.910,8 87,7 Subtotal 8.617,10 87,9

Total (mundo) 9.024,7 Total mundo 9.804,4 100,0

Fonte: Elaboração própria, com dados de United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade). Disponível em: http://comtrade.un.org/db/ce/ceSnapshot.aspx?px=S4&cc=73. Acesso em 14/out/12.

Page 95: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

95

Tabela 4.4 – Importações de máquinas-ferramenta que trabalham metal, sem eliminação de

material (SIT 733), por países selecionados, 2009 e 2010.

Países Importações

em 2009 (US$ milhões)

Participação no total de

importações do setor

(%)

Países

Importações em 2010

(US$ milhões)

Participação no total de

importações do setor

(%)

1 China 1.338,0 14,0 China 1.892,1 18,9

2 EUA 565,6 5,9 EUA 561,9 5,6

3 Índia 509,9 5,3 Tailândia 433,9 4,3

4 Brasil 420,6 4,4 Rússia 414,1 4,1

5 Rússia 386,9 4,0 México 394,8 3,9

6 México 386,9 4,0 Alemanha 374,9 3,7

7 Vietnã 369,8 3,9 Brasil 374,7 3,7

8 Alemanha 361,4 3,8 Vietnã 340,0 3,4

9 Coréia 324,6 3,4 Índia 333,9 3,3

10 Tailândia 286,4 3,0 Malásia 329,1 3,3

11 França 222,1 2,3 Coréia 290,6 2,9

12 Polônia 212,1 2,2 Itália 247,6 2,5

13 Espanha 205,5 2,1 Turquia 205,5 2,0

14 Turquia 192,1 2,0 Indonésia 183,9 1,8

15 Itália 191,8 2,0 Bélgica 175,9 1,8

Subtotal 5.973,7 62,5 Subtotal 6.552,9 65,3

Total (mundo) 9.562,1 100,0 Total (mundo) 10.037,2 100,0

Fonte: Elaboração própria, com dados de United Nations Commodity Trade Statistics Database (UN Comtrade). Disponível em: http://comtrade.un.org/db/ce/ceSnapshot.aspx?px=S4&cc=73. Acesso em 14/out/12.

De acordo com dados da tabela acima, os principais países com

participação nas exportações da categoria de máquinas sem eliminação de

material (SITC 733) no período de 2009 e 2010 são Alemanha, Itália, Japão,

EUA, China e Outros países da Ásia.

No período considerado, esses seis países foram responsáveis por

cerca de 63% do valor total das exportações daquela categoria de produto.

Considerando os dados da tabela 4.4 sobre importações da categoria

máquinas sem eliminação de material, os países com maior participação nas

importações totais dessas máquinas foram China e EUA. Nos anos de 2009 e

2010 esses países responderam por aproximadamente 23% do valor das

importações de máquinas.

As alterações no desempenho e perfil das exportações e importações de

máquinas-ferramenta por países e por produtos podem refletir as mudanças

estruturais do setor de máquinas-ferramenta mundial. As tabelas 4.5 e 4.6

Page 96: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

96

apresentam o índice de concentração das exportações e importações de

máquinas-ferramenta no mercado internacional, por nível de atividade 30.

Tabela 4.5 – Índice de concentração das exportações de Máquinas-ferramenta

Descrição do SITC Índice de concentração das exportações 2000 2005 2009

Máquinas-ferramenta que trabalhem por eliminação de metal ou outro material

0,347 0,325 0,288

Máquinas-ferramenta sem eliminação de materiais

0,261 0,258 0,257

Partes não especificados, e acessórios destinados às máquinas incluídas nos grupos 731 e 733

0,301 0,253 0,231

Máquinas para metais (exceto máquinas-ferramenta), e suas partes, não especificados anteriormente.

0,251 0,227 0,252

Fonte: Elaboração própria, com dados da Unctad Handbook of Statistic, 2010, p. 204-07.

Tabela 4.6 – Índice de concentração das importações de Máquinas-ferramenta

Descrição do SITC Índice de concentração das importações 2000 2005 2009

Máquinas-ferramenta que trabalhem por eliminação de metal ou outro material

0,221 0,204 0,212

Máquinas-ferramenta sem eliminação de materiais

0,203 0,191 0,144

Partes não especificados, e acessórios destinados às máquinas incluídas nos grupos 731 e 733

0,208 0,173 0,158

Máquinas para metais (exceto máquinas-ferramenta), e suas partes, não especificados anteriormente.

0,165 0,182 0,153

Fonte: Elaboração própria, com dados da Unctad Handbook of Statistic, 2010, p. 208-11.

De maneira geral, a pauta de comércio internacional de máquinas-

ferramenta pode ser caracterizada pela forte concentração em relação aos

países importadores e exportadores de máquinas.

O setor de máquinas-ferramenta apresentou queda do índice de

concentração das exportações no período entre 2000 e 2009, principalmente,

nas atividades correspondentes ao SITC 731 e 735.

O índice de concentração das importações, por sua vez, tem

apresentado queda menos expressiva (relativamente à concentração das

exportações) nos três anos considerados.

30

Índice de concentração: Um valor do índice perto de 1 indica um mercado muito concentrado; enquanto o índice mais próximo de 0 refletem uma distribuição mais equitativa das quotas de mercado entre os exportadores ou importadores (UNIDO, 2010, p. 212 - tradução).

Page 97: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

97

A exceção pode ser atribuída ao setor de máquinas-ferramenta sem

eliminação de materiais que apresentou mudança do índice de concentração

das compras de 0,203; 0,191; e 0,144; e ao SITC 735 (0,208; 0,173; 0,158,

respectivamente).

O estudo realizado pela Unctad (2010) também destaca o índice de

mudança da estrutura das exportações e importações31 da indústria de

máquinas-ferramenta no período entre 2000 e 2009 (tabela 4.7).

Tabela 4.7 – Índice de mudança estrutural das exportações e importações de Máquinas-

ferramenta

Descrição do SITC

Índice de mudança estrutural das exportações

Índice de mudança estrutural das importações

2000 2009 2000 2009

Máquinas-ferramenta que trabalhem por eliminação de metal ou outro material

0,061 0,259 0,142 0,309

Máquinas-ferramenta sem eliminação de materiais

0,088 0,207 0,216 0,300

Partes não especificados, e acessórios destinados às máquinas incluídas nos grupos 731 e 733

0,120 0,186 0,093 0,212

Máquinas para metais (exceto máquinas-ferramenta), e suas partes, não especificados anteriormente.

0,126 0,244 0,166 0,257

Fonte: Elaboração própria, com dados da Unctad Handbook of Statistic, 2010, p. 204-07.

A partir da análise e dados desta seção é possível destacar que no início

da década de 2000, todas as categorias SITC 73 apresentavam a participação

de países exportadores e importadores já com tradição no comércio

internacional de máquinas-ferramenta.

Em especial, o menor índice para as exportações do setor de máquinas

com eliminação de material (SITC 731) em 2000 pode indicar a forte presença

de países desenvolvidos nas exportações da indústria. O menor índice para as

importações do SITC 735, por sua vez, pode indicar a presença dos países de

industrialização recente nas importações de máquinas.

Entretanto, a partir de 2007, esse perfil mudou de maneira significativa

por conta de duas transformações no mercado mundial de máquinas.

31

Índice de mudança estrutural: O índice próximo de 1 indica uma alteração significativa na composição de exportadores (importadores). Os valores próximos de 0, demonstraria um maior grau de "tradicionalidade" nos mercados durante o período em questão (UNIDO, 2010, p. 212 - tradução).

Page 98: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

98

Em primeiro lugar, destaca-se que a crise econômica internacional

repercutiu em queda da demanda de máquinas, o que refletiu no desempenho

de todos os países na produção e comércio internacional de máquinas. Em

segundo lugar, a inserção da China e Taiwan na produção mundial de

máquinas-ferramenta influenciou a dinâmica econômica e industrial do setor de

máquinas32. O aumento do índice de mudança estrutural das exportações e

das importações em 2009 pode indicar essa mudança no perfil do setor.

Os países que começaram a atuar na indústria de bens de capital

concentram suas atividades em todos os segmentos de máquinas. No ramo de

máquinas-ferramenta, os países asiáticos se tornaram grandes fabricantes de

máquinas com baixa e média complexidade tecnológica; e grandes

consumidores de máquinas com tecnologia embarcada mais sofisticada.

Nos últimos três anos, aqueles dois países asiáticos ocuparam a posição

da Itália e EUA, que apresentam participação histórica no comércio

internacional.

Apesar dessas transformações, o Japão e a Alemanha mantêm o seu

desempenho na produção e no comércio mundial de máquinas. Outro fator

importante é que aqueles países apresentaram rápida recuperação de suas

exportações relativamente aos outros países líderes no comércio mundial de

máquinas.

Em grande medida, esses resultados podem ser atribuídos às

características do ambiente em que os setores estão inseridos, à dinâmica de

desenvolvimento tecnológico e às relações entre os atores do Sistema Setorial

de Inovação de máquinas-ferramenta dos países desenvolvidos. A próxima

seção apresenta uma discussão sobre os principais países desenvolvidos com

participação no mercado mundial de máquinas-ferramenta (Alemanha, Japão,

Itália e EUA) à luz da discussão sobre Sistema Setorial de Inovação.

32

A tese não discutirá as características da dinâmica industrial e tecnológica do setor e o conceito de Sistema inovação de máquinas-ferramenta para os países asiáticos.

Page 99: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

99

4.4 Considerações sobre o setor de máquinas-ferramenta em países

selecionados

Os principais países com participação histórica no setor de máquinas-

ferramenta têm apresentado algumas características estruturais que ajudam a

compreender o desempenho e as rupturas no padrão de mudança técnica do

setor de máquinas-ferramenta.

O segmento de máquinas de países como EUA, Japão, Alemanha e

Itália apresenta importante dinamismo em termos de produção e

desenvolvimento tecnológico das máquinas. Entretanto, enquanto o

desenvolvimento do setor na Europa é relativamente mais estável; o número de

firmas de máquinas-ferramenta nos EUA é muito mais volátil (Wengel &

Shapira, 2001).

Essas características podem ser atribuídas, principalmente, a dois

conjuntos de fatores. De um lado, destaca-se a atuação de instituições e

agentes que forneceram as condições para o desenvolvimento do setor. De

outro lado, destaca-se que a demanda interna e as características do ambiente

econômico e industrial de cada país implicaram em diferentes condições para a

criação, difusão e aprendizado de tecnologias.

A influência desses fatores pode ser abordada sob a perspectiva de

Sistema Setorial de Inovação, que abrange os atores, instituições e redes de

interações voltadas à inovação.

De maneira geral, os Sistemas Setoriais de Inovação de máquinas-

ferramenta podem ser agrupados em duas categorias: tradicional e

emergentes.

Os Sistemas Setoriais tradicionais reúnem as condições típicas do

desenvolvimento industrial do setor de máquinas-ferramenta, como resultado

da formação histórica do setor através dos países. Os Sistemas Setoriais

emergentes, por sua vez, apresentam maior variedade e complexidade de

condições para o desenvolvimento inovativo das máquinas. Esse fator pode ser

atribuído às transformações verificadas entre os segmentos de máquinas a

partir de meados dos anos 90.

Desde o início do desenvolvimento do setor de máquinas-ferramenta, a

interdependência entre diferentes áreas de conhecimento assumiu papel

Page 100: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

100

significativo para o desenvolvimento de produtos e processos. Além disso, as

alterações nas fontes de insumos usados na produção ou o surgimento de uma

nova tecnologia geraram desequilíbrios técnicos e influenciaram as condições

técnicas nas etapas de projeto e melhoria das máquinas-ferramenta.

A principal base tecnológica dos Sistemas Setoriais emergentes é

intensiva em informação. Entretanto destaca-se a combinação de

conhecimentos de base mecânica, elétrica e de tecnologia da informação que

são utilizados no desenvolvimento e melhorias das máquinas-ferramenta nos

Sistemas Setoriais mais tradicionais.

Os Sistemas Setoriais têm apresentado relações de troca relativamente

mais abertas entre produtores, usuários e instituições dos Sistemas Setoriais.

De maneira geral, as empresas de máquinas-ferramenta apresentam

parcerias e alianças com clientes e instituições de pesquisa, como forma de

promover o desenvolvimento de técnicos e sua inserção em outros mercados.

Além disso, os agentes também têm desenvolvido redes e alianças mais

formalizadas voltadas para a inovação (Wengel; Shapira, 2001).

Nas últimas décadas, as empresas de máquinas têm apresentado

diferentes estratégias de especialização ou diversificação de produtos. Uma

das justificativas para esse comportamento é que a interdependência de

conhecimentos e as mudanças nas fontes de insumos podem gerar novas

condições de oportunidade ou o abandono da trajetória presente.

As características da base de conhecimento no interior das empresas e

dos segmentos de máquinas também têm apresentado algumas

transformações.

O conhecimento interno as empresas dos Sistemas Setoriais de

máquinas-ferramenta pode ser classificado pelo caráter tácito, por conta das

especificidades dos conhecimentos acumulados ao longo do tempo. Entretanto,

nos últimos anos os conhecimentos apresentaram também caráter mais

codificado, como resultado da intensificação de esforços visando o aprendizado

e a difusão de tecnologias. Vale lembrar que alguns modelos de máquinas

podem ser fabricados em módulos, o que facilita a troca de informações e a

especialização interna às empresas.

Page 101: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

101

O quadro 4.7 resume os elementos que caracterizam os Sistemas

Setoriais de Inovação do setor de máquinas-ferramenta da Itália, Alemanha,

EUA e Japão (Wengel & Shapira, 2001):

Elementos Tradicional Emergentes

Forma de ligação externa Limitada, estável Aberta, flexível

Escopo geográfico Regional -> nacional Regional -> internacional

Base tecnológica Mecânica Intensiva em informação

Desenvolvimento de produto Incremental Incremental -> sistemático

Relações de troca Produtores ligados com usuários Parcerias de produtores, usuários,

centros de pesquisa

Conhecimento-base Tácito Tácito e codificado

Treinamento Variado Variado -> interno e externo

Forma Corporate Individual, família Individual -> grupos corporativos

(limitada a multinacional)

Organização de trabalho Colaboração interna informal Cooperação externa e

formalizada

Entrantes Moderada barreira à entrada Alta barreira à entrada inovação

Demanda Cíclica Cíclica

Política Setorial nacional Regional – nacional – Européia

política de inovação genérica

Fonte: Wengel; Shapira (2001), p. 36 (tradução).

Quadro 4.7 – Características tradicionais e emergentes do Sistema de inovação no setor de máquinas-ferramenta

O ambiente do setor de máquinas-ferramenta apresenta um perfil de

desenvolvimento técnico distinto entre os segmentos através dos países. Em

países como a Alemanha, Itália, EUA e Japão as inovações são obtidas a partir

de melhorias nas características técnicas de máquinas individuais (Wengel &

Shapira, 2001).

As inovações de processo são provenientes de outras áreas de

conhecimento e outros ramos industriais, como a engenharia elétrica e de

materiais. Esse aspecto é um dos principais diferenciais da indústria de

máquinas-ferramenta daqueles países, relativamente aos países de

industrialização recente.

De maneira geral, os vínculos estabelecidos entre diferentes áreas de

conhecimento e diferentes atores (empresas, fornecedores, usuários e

institutos de pesquisa) possibilitam o aprendizado de informações e de novas

aplicações. Esses conhecimentos gerados e absorvidos, por sua vez, são

Page 102: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

102

internalizados junto às competências técnicas ao nível das empresas e do

sistema econômico nacional.

As condições para o desenvolvimento técnico e as melhorias das

máquinas são muito diferentes entre aqueles países. E esse fator moldou a

dinâmica tecnológica e seu potencial para desenvolvimento no futuro.

Um dos fatores que influenciam as condições para a mudança técnica é

o escopo geográfico dos Sistemas Setoriais de inovação de máquinas-

ferramenta.

Na Itália e Alemanha, por exemplo, as empresas estão organizadas em

aglomerações regionais típicas, que concentram empresas e instituições de

todas as etapas de produção de máquinas numa mesma localidade.

A proximidade geográfica entre fabricantes de máquinas e outras etapas

da cadeia contribuiu de maneira decisiva para o desenvolvimento industrial e

tecnológico das empresas ao longo das décadas.

Em grande medida, a localização de empresas e instituições em uma

mesma área geográfica pode facilitar as interações entre esses agentes, sejam

usuários, fornecedores e instituições. A partir das interações estabelecidas

entre empresa de diferentes etapas produtivas, verifica-se maior fluxo de

informações visando à resolução de problemas técnicos, o desenvolvimento

das atividades produtivas e a prestação de serviços.

Desse modo, nos países em que as atividades produtivas e demais

etapas estão concentradas num mesmo espaço geográfico, verificam-se

maiores condições para melhorias incrementais e o processo inovativo.

O Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta da Itália é

representativo da relevância da proximidade geográfica para o

desenvolvimento do setor de máquinas.

As empresas de máquinas-ferramenta da Itália estão organizadas em

Distritos Industriais localizados em quatro regiões do nordeste da Itália

(Lombardia, Piemonte, Emilia-Romagna e Veneto).

Os Distritos Industriais italianos podem ser caracterizados pela presença

de uma grande quantidade de empresas de pequeno porte que são altamente

especializadas em adaptar e customizar máquinas.

Além disso, o setor de máquinas-ferramenta da Itália possui poucas

grandes empresas que apresentam alto grau de diversificação da produção e

Page 103: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

103

que estão focando na fabricação de máquinas mais sofisticadas

tecnologicamente (Wengel & Shapira, 2001).

O desempenho do Sistema Setorial de Inovação de máquinas-

ferramenta da Itália foi influenciado, principalmente, pela atuação de empresas

de várias etapas e de atividades correlatas localizadas na mesma região.

As empresas italianas de máquinas-ferramenta são reconhecidas pelo

projeto e desenvolvimento de produtos destinados a demandas específicas do

mercado interno (e externo).

Grande parte dessas empresas desenvolve suas próprias atividades de

projeto, componente mecânicos e testes in house. Outro aspecto importante é

que essas empresas preferem comprar componentes eletrônicos de seus

fornecedores ao invés de desenvolver.

Os serviços pós-venda oferecidos pelas empresas italianas assumem

papel importante para a fidelização do mercado. Além disso, a interação e a

troca de informações entre as áreas de venda, engenharia e os usuários das

máquinas são importante mecanismo utilizado para o desenvolvimento e

melhorias de produtos.

A presença de instituições e associações que surgiram para atender às

necessidades específicas na produção das máquinas no interior do Sistema

Setorial de Inovação italiano. Entretanto, a contribuição institucional está

direcionada mais para o apoio financeiro e inserção no comércio internacional

do setor, e menos ao desenvolvimento de ferramentas e técnicas particulares.

Por conta desses fatores, as empresas do Distrito Industrial italiano

podem ser consideradas os principais atores responsáveis pela dinâmica

tecnológica do Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta da Itália.

A partir da década de 1990, os Distritos Industriais Italianos passaram

por importantes transformações em seu ambiente institucional.

O governo italiano estabeleceu medidas voltadas às pequenas

empresas, com o objetivo de incentivar o desenvolvimento de competências, a

flexibilidade produtiva e a customização de produtos.

Entretanto, somente as empresas de grande porte dispunham de

condições de acesso a linhas de financiamento para a aquisição e

desenvolvimento de tecnologias de automação.

Page 104: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

104

Outro aspecto que caracteriza a evolução recente do Sistema Setorial de

Inovação de máquinas-ferramenta da Itália é a redução do número de

pequenas empresas e o aumento de grandes empresas que dominam a rede

de relações no interior do Distrito. Além disso, destaca-se o aumento do

número de empresas com orientação exportadora.

Nos últimos anos, o aumento do número de empresas com orientação

exportadora tem contribuído para o desenvolvimento do Sistema Setorial de

Inovação de três maneiras:

Ampliação do leque de conhecimentos provenientes do ambiente

externo ao Distrito;

Melhoria da qualidade do conhecimento ao nível das empresas e

segmentos industriais de máquina.

Influência sobre o processo de aprendizado e difusão de tecnologias dos

Distritos Industriais.

A concorrência com fabricantes de máquinas-ferramenta de outros

países também tem modificado as características do sistema italiano e a

estrutura produtiva dos distritos industriais de máquinas-ferramenta (Wengel;

Shapira, 2001).

Nesse cenário, as vantagens decorrentes da localização geográfica se

tornam menos importantes para o desempenho do Sistema Setorial de

Inovação de máquinas-ferramenta da Itália. Além disso, há uma tendência para

desempenho baseado em outros fatores competitivos como capacidade

inovativa, flexibilidade para desenvolver melhorias e o preço dos produtos.

O Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta da Alemanha

apresenta duas características em comum com o Sistema Setorial de máquinas

da Itália.

Em primeiro lugar, o setor também é formado por empresas de pequeno

e médio porte. Entretanto, destaca-se a presença de empresas organizadas em

grandes grupos de propriedade familiar e que apresentam estruturas de

negócios mais diversificadas e forte profissionalização (Wengel & Shapira,

2001).

Em segundo lugar, as empresas de máquinas da Alemanha também

estão concentradas geograficamente em clusters industriais. As principais

regiões com produção de máquinas-ferramenta estao localizadas nos estados

Page 105: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

105

federativos de Baden-Wuttemberg, Renânia do Norte-Vestfália e Bavaria

(Buenstorf; Guenther, 2010).

A origem da indústria na Alemanha data de meados do século XIX, mas

foi somente a partir do século XX que o setor se tornou competidor dos EUA,

líder na produção mundial de máquinas (Buenstorf & Guenther, 2010).

No período entre as décadas de 50 e 70, o desenvolvimento industrial

das máquinas-ferramenta alemã foi acentuado pela demanda da indústria

manufatureira européia (Buenstorf & Guenther, 2010).

A partir dos anos 80, o governo alemão induziu o desenvolvimento de

tecnologia do setor de máquina-ferramenta.

Uma das medidas adotadas nesse período foi o apoio a pesquisa e

desenvolvimento sobre sistemas de produção flexível, com o objetivo de

promover o desenvolvimento de tecnologias de produção. Posteriormente, os

programas estavam direcionados, principalmente, para a ampliação de

competências e a difusão de tecnologias CAD/CAM/CIM na indústria (Wengel;

Shapira, 2001).

De maneira geral, dois fatores exerceram papel decisivo para o

desenvolvimento do Sistema Setor de Inovação de máquinas-ferramenta da

Alemanha.

O primeiro fator refere-se às interações usuário-produtor que

viabilizaram a incorporação e desenvolvimento de conhecimentos tecnológicos

por fabricantes de máquinas.

Além disso, os engenheiros das empresas se tornavam sócios naturais

das empresas usuárias (Wengel & Shapira, 2001), o que acelerou a velocidade

para a realização de melhorias, a resolução de problemas técnicos e a

especialização do setor.

Até a década de 1990, essas interações eram realizadas de maneira

fechada e com a participação de engenheiros e técnicos especializados na

produção de máquinas.

Wengel & Shapira (2001) afirmam que as relações usuário-produtor

apresentaram interações mais abertas e baixo grau de confiança entre

fabricantes de máquinas e seus clientes.

Page 106: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

106

O segundo fator para explicar o desenvolvimento do Sistema Setorial de

Inovação de máquinas da Alemanha refere-se às características do

conhecimento no interior das empresas.

As estratégias inovativas das empresas alemãs estão concentradas,

principalmente, na área de projeto e desenvolvimento. Além disso, as

empresas direcionaram esforços para a criação de competências e o acúmulo

de conhecimentos nos ramos de engenharia mecânica e engenharia elétrica.

O desenvolvimento e as melhorias do conhecimento ao nível da firma

foram viabilizados, principalmente, a partir dos esforços orientados para a

qualificação profissional; e a aquisição de conhecimento externo, por meio de

cooperação em P&D, inclusive com outros setores industriais. Nesse cenário, a

participação de instituições e do Estado foi fundamental para fomentar e apoiar

a mudança técnica da indústria de máquinas da Alemanha.

A partir dessas informações é possível notar que o desenvolvimento do

Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta da Itália e Alemanha

apresenta algumas características específicas decorrentes da formação

histórica do setor naqueles países.

Nesses países, a proximidade geográfica atuou como impulso inicial

para o desenvolvimento do setor. As políticas públicas e, principalmente, a

atuação empreendedora de empresas de várias etapas também contribuíram

de maneira decisiva para o desenvolvimento técnico do setor. Além disso,

outros fatores econômicos e elementos do Sistema Setorial de Inovação –

empresas de várias etapas, instituições e suas interações – exerceram papel

importante sobre a dinâmica de desenvolvimento industrial e tecnológico das

empresas de máquinas-ferramenta através dos países.

Desde a década de 1960, as condições para a inovação no setor de

máquinas-ferramenta têm mudado significativamente com o surgimento de

arranjos de inovação menos estáveis.

Ao longo das décadas, o surgimento de novas técnicas ou alterações

nas propriedades dos insumos utilizados nas máquinas impôs novos limites e

novas escolhas técnicas às empresas de máquinas-ferramenta. Neste

ambiente, os países não apresentam as mesmas condições para a realização

da mudança técnica interna e desenvolvimento industrial.

Page 107: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

107

O caráter locacional, por exemplo, não é tão significativo para o

desempenho inovativo e a mudança técnica no Sistema Setorial de Inovação

de máquinas-ferramenta em países como EUA e Japão.

O desenvolvimento das máquinas-ferramenta dos EUA e Japão foram

influenciados, principalmente, pela utilização de tecnologias da microeletrônica.

A tecnologia de controle numérico computadorizado é formada por três

componentes principais: unidade de controle, sistema de acionamento e a

máquina-ferramenta adequada (Mazzoleni, 1997, p. 409):

“o primeiro lê as informações numéricas sobre a peça de metal a ser usinada e

armazenada em uma fita, e traduz em comandos que ativam o

servomecanismo do sistema de acionamento. Esses são conectados por meio

mecânico para as partes móveis da máquina, geralmente do eixo da

ferramenta e na mesa de trabalho” (tradução)

Nos anos 1960, havia duas trajetórias para a configuração de controle

numérico nas máquinas-ferramenta: sistemas open-loop (circuito aberto) e

sistemas closed-loop (circuito fechado).

O sistema de controle closed-loop pode ser caracterizado pela presença

de feedback que possibilitam a produção flexível de máquinas com poucas

especificações e a baixos custos.

Em uma configuração closed-loop, os elementos mecânicos, elétricos ou

ópticos detectam o movimento real das peças de máquina e enviam a

informação para a unidade de controle. Esta, por sua vez, compara a posição

real das peças com o que foi gravado na fita. Detectada uma diferença, a

unidade de controle envia os sinais para o servomecanismo que controla o

movimento das peças da máquina-ferramenta (Mazzoleni, 1997, p. 409)

Na configuração open-loop não há esse feedback de informações à

unidade de controle. Desse modo, a precisão das operações de usinagem

dependerá exclusivamente da precisão do sistema de acionamento (Mazzoleni,

1997, p. 409-10), e os custos de produção são mais elevados em relação aos

sistemas closed-loop.

Os eventos que possibilitaram o desenvolvimento e a evolução das

máquinas de controle numérico foram influenciados por condições da demanda

e por divergências na forma como o projeto de produto era realizado. O

Page 108: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

108

Sistema Setorial de máquinas-ferramenta dos EUA e Japão são os casos mais

emblemáticos dessa situação.

O Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta dos EUA é

formado por elevado número de pequenas empresas, que são especializadas

na produção de máquina de acordo com especificações dos clientes; e por

empresas de grande porte, responsáveis pela produção de máquinas

destinadas principalmente à indústria automobilística.

A estrutura produtiva das empresas americanas está orientada,

principalmente, para o desenvolvimento de processos. Esse fator pode ser

atribuído às características da trajetória tecnológica do setor nas últimas

décadas.

No início do desenvolvimento da indústria de máquinas, as empresas

americanas contavam com a participação da área de engenharia e com a

interação estabelecida com usuários de outros setores industriais para o

projeto ou para melhoria das máquinas. Além disso, a demanda apresentou

forte incentivo para o desenvolvimento técnico do setor.

Nesse cenário, o Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta

dos EUA assumiu a liderança no desenvolvimento tecnológico de produtos e

processos nos ramos de máquinas.

A partir do século XX, a produção em larga escala da indústria

automobilística demandava elevado volume de máquinas de várias finalidades

e a contínua realização de melhorias nas competências incorporadas a essas

máquinas (Wengel & Shapira, 2001, p. 31).

Esse aspecto poderia influenciar a difusão dos conhecimentos de

microeletrônica para outros setores e o desempenho industrial do ramo de

máquinas-ferramenta dos EUA. Entretanto, as empresas de máquinas-

ferramenta dos EUA apresentaram cenário distinto para o processo de

incorporação de tecnologias de automação nas máquinas.

No período entre os anos 50-70, o envolvimento da demanda do setor

militar dos EUA assumiu papel decisivo para o desenvolvimento de tecnologias

de automação e a difusão de tecnologias de controle numérico

computadorizado (Mazzoleni, 1997).

Os projetos desenvolvidos pelo MIT ainda nas décadas de 1950-60, para

os melhoramentos da tecnologia de automação recebiam financiamento da

Page 109: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

109

Força Área. A demanda daquele setor moldou as escolhas visando o

desenvolvimento de sistemas de controle numérico (open-loop) com precisão

cada vez maior para atender as necessidades da Força Aérea americana.

Algumas empresas americanas apresentavam esforços para adaptar e

incorporar técnicas de comando numérico computadorizado (inicialmente para

aplicação na Força Aérea) à produção de máquinas (Mazzoleni, 1997). Mas

para grande parte das empresas de máquinas de pequeno porte, a

incorporação das novas tecnologias era incompatível com as exigências por

produção customizada de pequenos lotes. Além disso, os custos da inserção

dessas técnicas nas etapas de produção eram elevados, o que

frequentemente, inviabilizavam o negócio.

As características da estrutura industrial americana também dificultaram

a difusão inicial das tecnologias de automação (desenvolvidas naquele país)

entre os fabricantes de máquinas. O desenvolvimento das máquinas de

controle numérico também foi influenciado por dificuldades técnicas na etapa

de projeto de produto.

O primeiro protótipo do sistema open-loop data de 1957, como resultado

de uma nova aplicação da tecnologia ‘stepping motor’ inventada nos anos 30.

Entretanto, as melhorias realizadas no stepping motor desde aquela época

foram muito modestas.

No período entre os anos de 1960 e 1970, o sistema open-loop

apresentava limitações técnicas que dificultavam sua difusão na estrutura

industrial americana e a sua utilização nas máquinas-ferramenta.

Uma dessas limitações refere-se às características dos servomotores –

motores que poderiam ser operados mais precisamente por sinais digitais

enviados pelas unidades de controle ou pela transformação adequada desses

mecanismos (Mazzoleni, 1997, p. 411).

Os motores desenvolvidos no mercado americano não reuniam os pré-

requisitos necessários para operar o sistema open-loop. Por esse motivo, o

protótipo da máquina não foi mantido nas tentativas de comercializar CNC com

sistema open-loop.

A percepção dos fabricantes de máquinas sobre os problemas e as

oportunidades colocadas pela tecnologia de comando numérico foram

relevantes para a decisão de adotar (ou não) aquelas tecnologias.

Page 110: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

110

De maneira geral, as alternativas de automação desenvolvidas nos EUA

geralmente eram descartadas, seja por conta dos elevados custos de produção

ou porque não viabilizavam a precisão nas operações das máquinas. Mas

outros fatores também atuavam como incentivo ou limitação ao

desenvolvimento daquelas tecnologias.

De um lado, os fabricantes de máquinas não reuniam competências em

eletrônica e sistemas, necessários para os melhoramentos das tecnologias de

controle numérico computadorizado. De outro lado, a percepção dos usuários

apontava para as dificuldades decorrentes da complexidade e elevado custo

das máquinas de comando numérico. Esse conjunto de fatores dificultou a

difusão inicial das tecnologias nos EUA no setor de máquinas-ferramenta.

A utilização das tecnologias de controle numérico nas máquinas-

ferramenta dos EUA foi viabilizada, principalmente, após a inserção de

empresas fabricantes de controle eletrônico que desenvolveram melhorias

voltadas à adaptação daquelas tecnologias para as máquinas.

Entretanto, os fabricantes de máquinas apresentavam poucas interações

com usuários e fornecedores das unidades de controle eletrônico. Além disso,

o tempo decorrido entre a descoberta e a difusão das tecnologias no mercado

americano era relativamente elevado.

Por conta desses fatores, os EUA sediaram o desenvolvimento inicial de

técnicas de controle numérico em meados dos anos de 1960, mas não

apresentaram difusão das tecnologias de automação entre fabricantes de

máquinas. A combinação desses fatores também foi determinou a perda de

posição dos EUA no mercado mundial de máquinas-ferramenta de controle

numérico computadorizado na década de 198033.

Nesse período, o Sistema Setorial de máquinas-ferramenta do Japão

assumiu a liderança na produção mundial e na mudança técnica do setor de

máquinas-ferramenta.

O Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta do Japão pode

ser caracterizado pela forte capacidade inovativa interna e dependência em

relação às instituições públicas (Wengel & Shapira, 2001).

33

Outro aspecto que influenciava a escolha pela tecnologia de controle numérico era a necessidade de reorganização do processo de trabalho e a existência de problemas de comunicação entre o chão-de-fábrica e a área de programação (Mazzoleni, 1997, p. 414-15).

Page 111: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

111

O setor de máquinas-ferramenta do Japão é formado por elevado

número de pequenas empresas e algumas de médio porte, que estão

associadas a grandes grupos e exercem papel fundamental sobre a dinâmica

tecnológica do setor.

As empresas japonesas são reconhecidas mundialmente pelo

desenvolvimento e melhorias de tecnologias de produção com uso de

informática. Essa característica pode ser atribuída a dois fatores.

Em primeiro lugar, as empresas desenvolvem competências in house

(Wengel & Shapira, 2001), a partir da introdução de novos conceitos de

produção e inovações organizacionais que possibilitaram ganhos de

produtividade para o setor e para outras indústrias. Em segundo lugar, as

empresas de máquinas-ferramenta do Japão desenvolvem contratos fechados

com seus principais clientes e participam de vários grupos industriais e projetos

colaborativos.

Essa forma de atuação repercute, principalmente, no acúmulo de

conhecimentos sobre tecnologias e aplicações que são internalizados pelas

empresas e instituições envolvidos nos projetos colaborativos. Além disso, uma

consequência importante daqueles contratos fechados para as empresas é o

desenvolvimento de habilidades para reconhecer o potencial das trajetórias

tecnológicas.

Algumas empresas japonesas também têm direcionado esforços para o

desenvolvimento de empresas subsidiárias, que são direcionadas à produção

de softwares utilizados nas máquinas-ferramenta.

O desempenho industrial e tecnológico do setor no Japão nas últimas

décadas pode ser atribuído, principalmente, às escolhas entre trajetórias

tecnológicas dentro do paradigma de controle numérico computadorizado.

No período entre 1965 e 1975, a indústria japonesa estava mais

interessada em aplicações de controle numérico voltadas à produção flexível

do que em tecnologias destinadas a aumentar a precisão das máquinas. Por

esse motivo, o sistema closed-loop encontrou melhores condições para seu

desenvolvimento no setor de máquinas-ferramenta no Japão.

Vale notar que no período inicial de desenvolvimento técnico do setor, as

empresas japonesas concentram esforços na produção de tipos de máquinas-

Page 112: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

112

ferramenta relativamente simples e importavam máquinas mais sofisticadas de

outros países.

Havia um intenso processo de transferência de conhecimentos através

de acordos de licenciamento. Esse mecanismo, por sua vez, possibilitava a

criação de competências em manufatura e o melhoramento de seus produtos,

e estava direcionado para o atendimento da demanda local por equipamentos

especializados.

A necessidade de ampliar as aplicações das tecnologias de produção

flexíveis, desenvolvidas por empresas de pequeno e médio porte, foi

fundamental para o desenvolvimento de inovações e o rápido aumento na

escala de produção (Mazzoleni, 1997, p. 406).

Um diferencial em relação à dinâmica tecnológica do setor de máquinas

dos EUA é participação de empresas japonesas individuais, que incorporaram

conhecimentos sobre computadores confiáveis e ferramentas flexíveis

numericamente controladas (CNC).

A empresa Fujitsu-Fanuc é o caso mais representativo dos mecanismos

utilizados para a mudança técnica do setor de máquinas-ferramenta do Japão.

Em meados da década de 1960, o engenheiro Seiuemon Inaba estudou

o projeto desenvolvido pelo MIT com o objetivo de replicar o sistema open-loop

no Japão.

A empresa Fanuc acreditava que a necessidade de feedback tornava

complicado o projeto e a fabricação do sistema. Além disso, aumentava o seu

custo de produção, devido à necessidade de circuitos eletrônicos para ‘fechar o

ciclo’ (Mazzoleni, 1997, p. 410-11).

Para a empresa Fanuc, uma maneira mais eficaz para promover o

desenvolvimento do comando numérico era por meio de melhoramentos da

tecnologia stepping motor, usada para operar máquinas de controle numérico

na configuração open-loop34. Ao longo dos anos, as melhorias incrementais

naquela tecnologia stepping motor e o desenvolvimento de variantes tornaram

o sistema open-loop tecnicamente adequado para um conjunto de operações

de usinagem nas máquinas japonesas.

34

A empresa Fanuc abandou a configuração open-loop em meados dos anos 70, antes dos esforços de

venda nos EUA e outros mercados. O desempenho da empresa não pode ser atrelado exclusivamente ao projeto de produto open loop. Mas esse foi um elemento importante para explicar sua posição no mercado mundial de máquinas (Mazzoleni, 1997, p. 412).

Page 113: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

113

Desse modo, a atuação da Fujitsu foi fundamental para a construção de

competências na fabricação de máquinas em grande volume, o que reduziria o

seu preço de venda (Wengel & Shapira, 2001).

Vale notar que essas melhorias foram perseguidas por empresas dos

EUA, Japão e Europa, mas um conjunto de fatores contribuiu para o

estabelecimento da trajetória de controle numérico no mercado japonês.

Em primeiro lugar, as mudanças institucionais promovidas pelo Estado

japonês possibilitaram a incorporação de tecnologias e o desenvolvimento e

difusão de técnicas de produto e processo na indústria.

Em segundo lugar, destaca-se a percepção do produtor de máquinas

japonesas em relação ao potencial oferecido por essas tecnologias de controle

numérico. Após a fase de identificação de oportunidade, as empresas

japonesas destinaram esforços para tornar as inovações viáveis

economicamente.

Nesse sentido, a participação dos usuários e fornecedores de máquinas

também acentuou a dinâmica técnica da indústria. De maneira geral, os

usuários contribuíram para o desenvolvimento inovativo das máquinas de três

maneiras (Lee, 1996):

a) Fluxo de investimentos direcionados à resolução de problemas

decorrentes da expansão de capacidade ou aumento da

produtividade;

b) Entrada tecnológica dos usuários no processo de fabricação de

máquinas;

c) Entrada comercial dos usuários, visando os ganhos econômicos de

suas inovações.

Desse modo, aqueles atores do Sistema Setorial de Inovação de

máquinas-ferramenta do Japão conduziam a mudança técnica da indústria de

máquinas através de diferentes percepções sobre a tecnologia de controle

numérico, que eram ajustadas à escolha estratégica das firmas produtoras e ao

comportamento dos usuários.

A direção e velocidade da mudança das tecnologias de controle

numérico foram acentuadas por características específicas dos Sistemas

Setoriais de máquinas-ferramenta de cada país.

Page 114: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

114

As características específicas da demanda interna e do ambiente

econômico e industrial de cada país forneceram as condições iniciais para o

desenvolvimento das tecnologias nas máquinas-ferramenta. No longo prazo,

esses fatores repercutiram na criação de novos produtos e, principalmente, em

diferentes condições para a criação, difusão e aprendizado de tecnologias.

O processo de aprendizado cumulativo, por sua vez, influenciou as

escolhas tecnológicas dos fornecedores e usuários das máquinas em

diferentes caminhos. Além disso, as escolhas ocorriam em um tempo diferente

entre as etapas de produção, difusão e comercialização das novas técnicas

naqueles países.

A partir da década de 1990, a oscilação da demanda (Wengel & Shapira,

2001, p. 7) e a inserção de outros países com produção de máquinas refletiram

em novo reposicionamento das empresas do setor de máquinas-ferramenta.

Outro indicador que ilustra essa nova situação é a queda do número de

empresas e de funcionários no segmento de máquinas-ferramenta daqueles

países.

A pressão por mudança tecnológica e o contexto institucional da

indústria de máquinas-ferramenta com diferentes escopos e ações

determinaram a consolidação de diferentes tipos nacionais de mudanças da

indústria de máquinas através dos países (Wengel & Shapira, 2001, p. 8).

Nos últimos anos, o Sistema Setorial de Inovação tem fomentado

esforços em P&D e mudanças na dinâmica da inovação organizacional e de

processo. Essas características do processo de inovação na indústria de

máquinas-ferramenta são apresentadas no quadro 4.8.

Page 115: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

115

Foco da inovação

Técnica (harder)

Organizacional (softer)

Produto

1. Novos produtos

- Centros de usinagem, Tecnologias de corte, software.

2. Serviços de adicionar valor

- Financiamento, treinamento, etc.

Processo

3. Tecnologia de produção

- Melhoria tecnológicas no processo de produção, ferramentas e uso de informática.

4. Novos conceitos de produção

- Produção enxuta, Empresa virtual, Administração da cadeia de valor.

Fonte: Wengel & Shapira (2001), p. 2 (tradução)

Quadro 4.8 – Spectro da inovação na indústria de máquinas-ferramenta da Alemanha, Itália, Japão e EUA

Diante desse cenário, nota-se uma importante combinação de elementos

do Sistema Setorial de Inovação – empresas de várias etapas, instituições e

suas interações – no desenvolvimento e melhorias das tecnologias. O quadro

4.9 apresenta os atores e resume as características do desenvolvimento do

setor de máquinas-ferramenta, considerando a discussão realizada nos

capítulos 3 e 4 da tese.

Período

Principais países com produção de máquinas-ferramenta

Principais atores Principais características do

conhecimento tecnológico do setor

Início do século XIX

Inglaterra e EUA

Empresas com produção de máquinas;

Usuários das máquinas;

Aprendizado interno (empresas de máquinas), durante o processo de produção.

A partir de meados do século XIX

EUA e Japão

Usuários das máquinas

Participação do Estado e Institutos de pesquisa;

Interação com outros ramos (fornecedores) e outras áreas da ciência;

Aprendizado interno (empresas de máquinas), durante o processo de produção;

Conhecimento empírico e científico (institutos).

A partir do século XX

EUA, Japão, Itália e Alemanha.

Usuários das máquinas;

Participação do Estado;

Institutos de pesquisa assumem papel mais importante na fronteira tecnológica;

Empresas individuais e conglomerados (Japão);

Participação de fornecedores (eletrônicos) na difusão e incorporação de novos conhecimentos.

Conhecimento científico também assume papel importante para o desenvolvimento e atualização tecnológica do setor;

Forte integração entre diferentes áreas de conhecimento (mecânica, eletrônica, física, engenharia de produção, engenharia de materiais).

Fonte: Elaboração própria, com base em informações da revisão bibliográfica sobre Sistema Setorial de Inovação.

Quadro 4.9 – Principais atores e características do desenvolvimento do setor de máquinas-

ferramenta – países selecionados

Page 116: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

116

A presença de um Sistema Setorial de Inovação de máquinas-

ferramenta consolidado é um dos principais fatores para explicar o atual

desempenho industrial e tecnológico do Japão e Alemanha.

Os Sistemas Setoriais de Inovação de máquinas-ferramenta mudaram

seus limites em resposta às mudanças competitivas e tecnológicas. Além

disso, esses Sistemas se adaptaram ao regime tecnológico do setor e impõem

condições específicas para as atividades inovativas desenvolvidas no interior

das empresas. O próximo capítulo apresenta o panorama do setor de

máquinas-ferramenta do Brasil e discute as características de sua dinâmica

industrial e tecnológica considerando os conceitos de regime tecnológico e

Sistema de Inovação de máquinas-ferramenta.

Page 117: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

117

Capítulo 5 - O setor de máquinas-ferramenta no Brasil

Esse capítulo apresenta uma discussão sobre a competitividade e a

dinâmica tecnológica do setor de máquinas-ferramenta do Brasil.

A primeira seção apresenta um breve panorama sobre o setor nas

últimas décadas do século passado, enfatizando o desenvolvimento de

tecnologias.

A segunda seção discute dados recentes sobre a estrutura industrial

considerando número e localização das unidades produtivas, perfil das

empresas, o emprego do setor, a produção nacional e a participação do setor

de máquinas-ferramenta no comércio internacional.

A terceira seção as características da dinâmica competitiva e tecnológica

do setor de máquinas-ferramenta do Brasil no período recente

5.1 Panorama sobre o setor de máquinas-ferramenta no Brasil

A indústria de bens de capital brasileira apresenta importante papel para

o desenvolvimento econômico e tecnológico nacional.

Em primeiro lugar, a produção interna de máquinas é importante para

reduzir a restrição externa ao crescimento e melhorar a condição da Balança

de Pagamentos. Essa característica pode ser justificada pelo fato de que a

maior produção nacional de máquinas possibilita o controle da propensão

marginal a importar, mesmo nas condições em que há aumento da taxa de

investimento da economia (Alem & Pessoa, 2005, p. 77).

Em segundo lugar, a indústria pode contribuir para o desempenho

macroeconômico nacional por conta de seu papel na geração de emprego e

renda no mercado interno.

Em terceiro lugar, a indústria de máquinas também é responsável por

ganhos de produtividade e de escala na estrutura produtiva e pela difusão de

mudança técnica intra-setorial e para outros ramos industriais no nível nacional

(Alem; Pessoa, 2005, p. 77).

Page 118: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

118

As atividades dos setores de máquinas estão direcionadas para o

atendimento da demanda de outros setores, interligando a dinâmica de ramos

industriais, da agropecuária e de serviços.

Nesse sentido, os esforços voltados ao desenvolvimento e modificações

das máquinas podem contribuir para o desempenho produtivo e tecnológico

das empresas daqueles ramos industriais.

Por outro lado, os fabricantes de máquinas também são consumidores

dos bens que ele próprio produz (Avellar; Strachman, 2008, p. 239) e

dependem de interações com outros setores para o desenvolvimento e

melhorias de suas máquinas.

Apesar dos fatores positivos atribuídos à presença de uma indústria de

bens de capital nacional, o setor de máquinas e em especial o ramo de

máquinas-ferramenta do Brasil apresentam grande instabilidade no

desenvolvimento de sua estrutura industrial, produtiva e tecnológica.

Além disso, na comparação entre o desempenho do setor de máquinas-

ferramenta do Brasil e de outros países, o setor nacional também apresenta

posição relativamente mais difícil.

O setor de máquinas-ferramenta do Brasil começou a ganhar

representatividade em termos de produção e número de empresas a partir da

década de 1970, em virtude do crescimento da demanda da indústria

automobilística por máquinas. De maneira geral, as estratégias de

investimento em produção, modernização ou ampliação da capacidade

produtiva por empresas de máquinas estão condicionadas à perspectiva de

aumento da demanda no mercado nacional, seja da indústria automobilística

ou de outros ramos industriais.

Nos períodos em que a indústria de transformação como um todo

apresenta baixa perspectiva em relação à demanda, as empresas reduzem

seus investimentos na aquisição ou modernização de seu parque produtivo, o

que reflete em redução do nível de investimentos em máquinas.

Nos períodos em que a indústria apresenta alta perspectiva em relação

à demanda, por sua vez, as empresas tendem a ampliar seus investimentos na

ampliação de máquinas ou modernização de seu parque industrial.

Page 119: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

119

Em especial, as variações da demanda da indústria automobilística

repercutem no desempenho dos ramos de máquinas do Brasil, configurando

uma característica estrutural da indústria nacional de máquinas-ferramenta.

Até meados dos anos 80, a estrutura produtiva do setor de máquinas-

ferramenta era formada por três grupos de empresas:

a) empresas estrangeiras de grande porte, que fabricavam máquinas-

ferramenta com maior complexidade tecnológica;

b) empresas nacionais de médio e grande porte, que produziam máquinas

convencionais e máquina que incorporavam comando numérico de uso

universal; e

c) empresas nacionais de micro e pequeno porte, que fabricavam máquinas

com menor complexidade tecnológica (Vermulm, 1996).

As empresas nacionais e estrangeiras direcionavam seus modelos de

máquinas-ferramenta, principalmente, para o atendimento do mercado interno

e pouco para o mercado regional (América Latina) e internacional.

As empresas estrangeiras de grande porte que estabeleceram suas

unidades no mercado interno comercializavam modelos de máquinas

projetadas na unidade da matriz. Além disso, esses modelos de máquinas

incorporavam tecnologias já conhecidas no mercado externo e que

representavam novidade para o mercado brasileiro.

As empresas nacionais de máquinas, por sua vez, fabricavam e vendiam

máquinas que incorporavam tecnologias mais simples, e que eram

comercializadas no mercado interno. Considera-se que o direcionamento da

produção de máquinas, principalmente, para o mercado interno influenciou a

dinâmica produtiva e tecnológica do setor nacional naquele período.

O tamanho limitado do mercado interno de máquinas implicava em baixa

escala de produção dos modelos de máquinas. Para lidar com essa situação,

as empresas nacionais apresentavam estratégias de diversificação de suas

linhas de produtos. Entretanto, ao ampliar a sua linha de produtos, as

empresas apresentavam menores condições para gerar economia de escala

tecnológica (Vermulm, 1996, p. 42).

Outro fator que influenciou o desenvolvimento do setor de máquinas-

ferramenta até meados dos anos 80 foi a verticalização da produção, em

especial, de peças e componentes usinados. De maneira geral, como as

Page 120: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

120

empresas precisavam se dedicar também à produção de lotes pequenos de

peças e componente, essa característica restringia o desenvolvimento de

tecnologias no setor de máquinas (Vermulm, 1996, 42).

Naquele período, as políticas macroeconômicas35 de cunho protecionista

também conduziam a uma estrutura industrial com baixo incentivo ao

desenvolvimento de tecnologias nacionais e presença de elevado conteúdo

importado.

Isso porque o elevado conteúdo de máquinas importadas e que

incorporavam tecnologias obsoletas refletia na baixa produtividade da estrutura

industrial brasileira (Gomes et al, 1995, p. 57).

Um fator positivo para o desempenho do setor é que grande parte do

consumo de máquinas era suprida pela oferta do mercado interno. Entretanto,

o setor de máquinas-ferramenta apresentava baixo coeficiente de exportações

relativamente ao setor de máquinas-ferramenta de outros países (Vermulm,

1996).

A literatura setorial destaca que as condições do mercado interno e a

instabilidade no cenário econômico são alguns dos motivos que podem explicar

o desenvolvimento tardio de tecnologias e a baixa eficiência produtiva das

empresas de máquinas-ferramenta com unidades de produção instaladas no

mercado interno.

Um aspecto importante é que para obter ganhos com a produção de

máquinas baseadas em tecnologias defasadas, as empresas nacionais

precisariam orientar suas vendas também para o mercado externo e ampliar a

escala de produção (Sabbatini, 2009). Entretanto, o setor de máquinas-

ferramenta atuava no mercado interno.

No início dos anos de 1980, o setor de máquinas-ferramenta nacional

enfrentou uma queda da demanda por máquinas no mercado interno e externo,

e essa condição influenciou uma revisão das estratégias tecnológicas das

empresas. Naquele cenário, algumas empresas de máquinas-ferramenta de

médio e grande porte, que já conheciam as tecnologias de comando numérico,

investiram na incorporação daquelas tecnologias aos seus modelos de

35

O capítulo não discutirá os efeitos das condições macroeconômicas, como taxa de juros e câmbio; os efeitos das políticas de fomento e das políticas industriais sobre o desempenho do setor de máquinas-ferramenta.

Page 121: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

121

máquinas convencionais, visando à ampliação de suas vendas no mercado

nacional e internacional.

A incorporação da eletrônica às máquinas representava uma nova

trajetória tecnológica para os segmentos de máquinas e equipamentos.

Entretanto, grande parte dos ramos industriais de máquinas do Brasil não

apresentava as condições para se apropriar de conhecimentos e obter ganhos

econômicos com a nova trajetória tecnológica.

Especialmente no segmento de máquinas-ferramenta, a elevada

verticalização da produção influenciou o desenvolvimento industrial das

empresas, mas a baixa escala produtiva dificultou a difusão das tecnologias de

comando numérico neste setor.

A política macroeconômica adotada em meados dos anos 80, visando à

redução da inflação e da dívida pública, determinou o aumento da incerteza em

relação ao desempenho econômico e a queda dos investimentos na economia

(Vermulm, 1996, p 84).

A partir do final da década de 1980, a abertura da economia brasileira ao

comércio internacional repercutiu na nova dinâmica industrial e tecnológica do

setor de máquinas-ferramenta.

Algumas empresas de máquinas-ferramenta promoveram a otimização

de suas unidades produtivas considerando as exigências da demanda no

mercado interno e passaram a direcionar sua produção de máquinas também

para o mercado externo.

Além disso, grande parte dessas empresas revisou suas estratégias de

desenvolvimento industrial, considerando a necessidade de incorporar

tecnologias de automação. Nesses casos, verifica-se a realização de parceiras

entre empresas nacionais e estrangeiras como forma de promover o

aprendizado de novas tecnologias.

Entretanto, ainda persistia o diferencial entre a estrutura das empresas

de máquinas de origem nacional e estrangeira.

Os esforços das empresas nacionais visando o desenvolvimento de

tecnologias eram tímidos ou nulos. De maneira geral, as empresas nacionais

mantinham gastos médios com P&D em relação ao faturamento em torno de

1,5% (Gomes, 1995, p. 57).

Page 122: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

122

Outro fator importante é que os ramos de máquinas-ferramenta

apresentavam sérias restrições em termos de desempenho industrial e

tecnológico nacional, e em relação ao desempenho do mesmo setor em outros

países.

Após esse panorama sobre o desenvolvimento do setor de máquinas-

ferramenta nas décadas de 1970 a 1990, as próximas seções irão analisar o

desempenho do setor de máquinas-ferramenta do Brasil nos últimos anos

desta década.

Page 123: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

123

5.2 A dinâmica industrial e competitiva do segmento de máquinas-

ferramenta

A Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) realizada

periodicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)

divide a indústria de bens de capital em quatro setores industriais de acordo

com a finalidade principal das máquinas: a) Máquinas, aparelhos e materiais

elétricos; b) Máquinas e equipamentos; c) Veículos automotores, reboques e

carrocerias; e d) Outros equipamentos de transporte, exceto veículos

automotores36.

Cada um desses quatro setores é subdividido em outros segmentos

industriais. O setor de máquinas e equipamentos, por exemplo, abrange seis

classes (ou segmentos) industriais, o que inclui o ramo de máquinas-

ferramenta:

a) Motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão;

b) Fabricação de máquinas e equipamentos;

c) Máquinas e equipamentos de uso geral;

d) Tratores e máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária;

e) Máquinas-ferramenta;

f) Máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e na construção;

g) Máquinas e equipamentos de uso industrial específico;

h) Veículos automotores, reboques e carrocerias;

i) Outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores.

A classe ‘Fabricação de máquinas-ferramenta’, por sua vez, é

subdividida na subclasse 2840-2, que é o nível maior de desagregação e

corresponde às máquinas-ferramenta propriamente ditas. O quadro 5.1

apresenta a lista de produtos incluídos na subclasse 2840-2 (Fabricação de

máquinas-ferramenta).

36

O Anexo A apresenta a Classificação nacional de atividade econômica (CNAE) para a indústria de bens de capital.

Page 124: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

124

Descrição dos produtos incluídos na Classe Fabricação de máquinas-ferramenta

Acabadora de engrenagens;

Acessórios para máquinas-ferramenta (mandris, porta-ferramentas, etc);

Afiadeira de serras;

Centros de Usinagem;

Desbastadora para metais;

Desempenadeira de madeira;

Desengrossadeira para madeira;

Dobradeiras e Viradeiras para metais;

Esmerilhadeiras (ferramentas elétricas manuais);

Esmerilhadora para metais, Elétrica manual;

Fresadoras (Horizontais; Verticais; Universais);

Furadeira (De Bancada; De coluna; Múltipla; Para a indústria de madeira; Para metais n.e; Radial);

Furadeiras, lixadeiras, serras, politrizes e outras ferramentas manuais elétricas ou a ar comprimido;

Laminadores para madeira;

Lixadeiras (ferramentas elétrica manuais, para madeira, n.e.);

Mandrilhadeira (Horizontal, Vertical, Múltipla, De coordenadas);

Máquinas para aplainar, plainas-limadoras e máquinas para escatelar, inclusive de comando numérico;

Máquinas para mandrilar, inclusive de comando numérico;

Máquinas para serrar ou seccionar, inclusive de comando numérico;

Máquinas para solda elétrica ou não, com ou sem capacidade para cortar metais;

Máquina-ferramenta de comando numérico ou que integre várias fases do trabalho;

Máquinas-ferramenta não elétricas;

Máquinas-ferramenta para furar, escarear, fresar ou roscar, inclusive de comando numérico;

Máquinas-ferramenta para indústria de borracha;

Máquina-ferramenta para rebarbar, afiar, amolar, retificar, brunir, polir ou outros acabamentos, inclusive de comando numérico;

Máquinas-ferramenta para serrarias;

Máquinas-ferramenta para trabalhar quaisquer materiais por desbaste, inclusive de comando numérico;

Máquinas-ferramenta, incluídas as prensas, para forjar ou estampar, inclusive de comando numérico;

Motosserras;

Peças e acessórios para ferramentas elétricas;

Peças e acessórios para furadeiras industriais;

Peças e acessórios para prensas industriais;

Peças e acessórios para serras industriais;

Peças e acessórios para tornos industriais;

Peças para máquinas-ferramenta;

Plainas combinadas para trabalhar madeira;

Plainas para trabalhar metais;

Politrizes e moto-esmeris;

Prensas industriais para madeira ou metal;

Retificadeira (horizontal, vertical, etc.);

Rosqueadeiras;

Serra (circular, combinada, de desdobro, de folhas múltiplas, de pêndulo, radial, etc) para indústria de madeira;

Serras (de fita, de lamina, etc.) para trabalhar metais;

Serras para metais, N.E (máquinas);

Talhadeiras (Máquinas para madeira);

Tesourões para cortar metais;

Torno (Copiador; De puxar, Frontal ou de platô; Paralelo Universal; Tipicamente automático; Vertical; Revólver);

Tornos para metais, inclusive de comando numérico;

Tornos, inclusive de comando numérico;

Tupias para trabalhar madeiras.

Fonte: Classificação Nacional de Atividade Econômica. Concla, IBGE (2012c). Disponível em: http://www.cnae.ibge.gov.br/pesquisa.asp?action=anterior&intPage=2&Pesquisa=2840-

Quadro 5.1 – Produtos incluídos na classe Fabricação de máquinas-ferramenta

Os quatro setores que compõem a indústria de bens de capital

apresentam uma heterogeneidade de condições produtiva, tecnológica e

Page 125: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

125

concorrencial. E esses fatores, por sua vez, refletem em diferenças no

desempenho dos indicadores intra-indústria ao longo do tempo.

Dentre os setores que compõem a indústria de bens de capital, o setor

de máquinas e equipamentos é o que apresenta maior número de unidades

locais. O gráfico 5.1 apresenta dados sobre o número de unidades locais da

indústria de bens de capital, considerando a participação do setor de

máquinas e equipamentos no período de 2007 a 2010.

Gráfico 5.1 – Total de unidades locais da indústria de bens de capital do Brasil – 2007 a 2010.

Fonte: IBGE (2012a) - Pesquisa Industrial Anual Empresa. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=1848&z=p&o=16&i=P Unidades locais com 5 ou mais pessoas ocupadas, segundo as divisões e os grupos de atividades (CNAE 2.0)

De acordo com o gráfico 5.1, em 2010 a indústria de bens de capital

apresentava 17.436 unidades locais, sendo que 9.128 (ou 52,4%) eram

unidades com produção para o setor de máquinas e equipamentos.

Outro setor em que as unidades locais apresentam participação

importante no total da indústria é o setor de Veículos automotores, reboques e

carrocerias, com 4.403 unidades locais ou 25,3% do total de unidades locais da

indústria de bens de capital. Os dados sobre a participação do total de

unidades locais por setores da indústria de bens de capital são apresentados

na tabela 5.1.

Page 126: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

126

Tabela 5.1 – Participação das unidades locais dos setores de máquinas no total da indústria de

bens de capital do Brasil – 2007 a 2010.

Segmentos da indústria de bens de capital

Participação das unidades locais no total de unidades da indústria de bens de capital (%)

2007 2008 2009 2010

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos. 18,8 18,2 18,7 18,2

Máquinas e equipamentos 52,2 51,6 51,4 52,4

Veículos automotores, reboques e carrocerias. 24,7 25,6 25,6 25,3

Outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores. 4,3 4,5 4,3 4,2

Fonte: IBGE (2012a). Pesquisa Industrial Anual Empresa. Unidades locais com 5 ou mais pessoas ocupadas, segundo as divisões e os grupos de atividades (CNAE 2.0)

A estrutura industrial do segmento de máquinas-ferramenta do

Brasil pode ser analisada a partir de informações sobre número e localização

das unidades locais de produção; dados sobre número e perfil dos funcionários

empregados por empresas; dados de produção física e desempenho do

segmento no comércio internacional de máquinas. O gráfico 5.2 apresenta o

total de unidades locais do setor de máquinas e equipamentos e o do ramo de

máquinas-ferramenta no período de 2007 a 2010.

Gráfico 5.2 – Unidades locais do setor de máquinas e do segmento de máquinas-ferramenta

do Brasil – 2007 a 2010.

Fonte: IBGE - Pesquisa Industrial Anual Empresa (2012a). Dados sobre unidades locais com 5 ou mais pessoas ocupadas, segundo as divisões e os grupos de atividades (CNAE 2.0).

Page 127: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

127

De acordo com os dados do gráfico anterior, pode-se verificar que no

período entre 2007 e 2010 os segmentos com maior participação no total de

unidades locais (ULs) de máquinas e equipamentos foram Máquinas de uso

geral; Máquinas de uso industrial específico; e o segmento Motores e bombas.

Esses três segmentos foram responsáveis, respectivamente, por

participação média de 35,5%, 28,8% e 12,5% do total de unidades de produção

de máquinas e equipamentos no período entre os anos de 2007 a 2010.

O segmento de máquinas-ferramenta, por sua vez, foi responsável por

participação média de 11% do total de unidades locais existentes no setor de

máquinas e equipamentos no mesmo período. Além disso, esse segmento

apresentou aumento do número de unidades locais no período entre 2007-

2008 e 2008-2009; e queda do número de empresas no ano de 2010,

relativamente a 2009.

O setor de máquinas e equipamentos, por sua vez, apresentou queda do

número de unidades locais em 2008 e aumento das unidades nos períodos

seguintes, como pode ser verificado na tabela 5.2.

Tabela 5.2 – Crescimento do número de unidades locais com produção de máquinas-

ferramenta do Brasil – 2007 a 2010

Setor de máquinas e equipamentos Crescimento

2008-07 (%)

Crescimento 2009-08

(%)

Crescimento 2010-09

(%)

Motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão.

2,7 1,6 13,9

Máquinas e equipamentos de uso geral -7,1 2,5 8,8

Tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária

4,5 7,1 3,4

Máquinas-ferramenta 5,5 19,7 -8,5

Máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e na construção

0,0 0,4 -7,1

Máquinas e equipamentos de uso industrial específico

-0,2 3,2 4,4

Total do setor de Máquinas e equipamentos -1,4 4,5 5,3

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Pesquisa Industrial Anual Empresa, IBGE (2012a).

A distribuição geográfica das unidades com produção de máquinas-

ferramenta do Brasil apresenta participação predominante dos Estados da

região sudeste e sul. A tabela 5.3 apresenta o número total de

Page 128: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

128

estabelecimentos de máquinas-ferramenta por Estados, obtidos na base de

dados da RAIS/MTE.

Tabela 5.3 – Total de Estabelecimentos com produção de máquinas-ferramenta, por Estados

região sul e sudeste – períodos selecionados

Estados

Estabelecimentos em 2007

Estabelecimentos em 2009

Estabelecimentos em 2010

Unidades Participação

(%) Unidades

Participação (%)

Unidades Participação

(%)

São Paulo 478 57,2 515 53,9 555 54,2

Rio Grande do Sul 128 15,3 139 14,5 148 14,5

Santa Catarina 82 9,8 108 11,3 118 11,5

Paraná 66 7,9 84 8,8 89 8,7

Minas Gerais 56 6,7 71 7,4 70 6,8

Rio de Janeiro 15 1,8 25 2,6 25 2,4

Espírito Santo 11 1,3 14 1,5 19 1,9

Total 836 100,0 956 100,0 1024 100,0

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da RAIS/MTE (2011). Dados referentes à classe CNAE 28402: máquinas-ferramenta.

No ano de 2010, destaca-se que Estado de São Paulo apresentava 555

unidades locais de máquinas-ferramenta ou 54,2% do total de

estabelecimentos das duas regiões. Os Estados do Rio Grande do Sul e Santa

Catarina, por sua vez, apresentavam, respectivamente, 148 e 118 unidades do

segmento de máquinas-ferramenta do Brasil.

Na análise por microrregiões do Estado de São Paulo, verifica-se que a

microrregião de São Paulo é a principal localização das empresas de

máquinas-ferramenta no período entre os anos de 2007 e 2010.

De acordo com os dados da RAIS apresentados na tabela 5.4, essa

microrregião apresentava 379 estabelecimentos com produção de máquinas-

ferramenta em 2010, o que representava 68,3% do total de estabelecimentos

do segmento localizadas no Estado de São Paulo.

Page 129: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

129

Tabela 5.4 – Número de estabelecimentos do ramo de máquinas-ferramenta localizados na

microrregião de São Paulo

Microrregião de SP

Estabelecimentos em 2007

Estabelecimentos em 2009

Estabelecimentos em 2010

Unidades Participação

(%) Unidades

Participação (%)

Unidades Participaçã

o (%)

São Paulo 190 56,5 200 56,0 209 55,1

Sorocaba 48 14,3 50 14,0 50 13,2

Campinas 38 11,3 46 12,9 56 14,8

Limeira 31 9,2 32 9,0 36 9,5

Bragança Paulista 29 8,6 29 8,1 28 7,4

Total desse grupo 336 100,0 357 100,0 379 100,0

Total das microrregiões de SP

478 -

515 - 555 -

Participação das microrregiões no total de estabelecimentos de SP (%)

70,3 - 69,3 - 68,3 -

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da RAIS/MTE (2011). Dados referentes à classe CNAE 28402: máquinas-ferramenta

Outra característica importante em relação à estrutura industrial do

segmento de máquinas-ferramenta é o porte das empresas com atividades

neste segmento. A tabela 5.5 apresenta o total de empresas com produção de

máquinas-ferramenta, por faixa de pessoal ocupado, no período entre os anos

de 2007 e 2010.

Tabela 5.5 – Número de empresas, por faixa de pessoal ocupado, no segmento de máquinas-

ferramenta do Brasil– 2007 a 2010.

Faixas de pessoal ocupado

Total de funcionários

2007 2009 2010

Zero 52 60 62

De 0 a 4 299 355 380

De 5 a 9 165 196 206

De 10 a 19 139 172 189

De 20 a 49 121 120 130

De 50 a 99 35 36 34

De 100 a 249 17 11 16

De 250 a 499 2 2 3

Acima de 500 6 4 4

Total 836 956 1024

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da RAIS/MTE (2011). Variável categórica: TAMESTAB (Tamanho do estabelecimento) - empregados ativos em 31/12. Dados referentes à classe CNAE 28402: Fabricação de máquinas-ferramenta.

De acordo com os dados apresentados na tabela acima, verifica-se que

em 2010 o segmento era formado, principalmente, por empresas de micro e

Page 130: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

130

pequeno porte, que respondiam, respectivamente, por 81,7% e 16% do total de

empresas desse ramo37.

No período entre os anos de 2007 e 2010, o ramo de máquinas-

ferramenta apresentou aumento de 22,5% do total de estabelecimentos (de

836 para 1.024). Particularmente entre as empresas participantes da faixa de

10 a 19 funcionários; e de 0 até 4 funcionários, esse crescimento foi mais forte.

As empresas de pequeno e médio porte são especializadas na produção

de máquinas-ferramenta seriadas e alguns modelos de máquinas sob

encomenda, que são utilizados por vários ramos industriais como

automobilístico, metalurgia, instrumentos de precisão, peças e equipamentos

para odontologia38.

As empresas de grande porte desenvolvem atividades de fabricação de

máquinas sob encomenda, destinadas ao atendimento de demandas

específicas de indústrias como a automobilística, aviação, extração de petróleo,

entre outros.

Apesar dessa distinção entre os dois grupos de empresas, segundo o

porte e características gerais da produção, é necessário registrar que o setor

de máquinas nacional apresenta capacidade para adaptar e melhorar as linhas

de produtos já existentes de acordo com requisitos do cliente39.

A produção do setor de máquinas-ferramenta tem apresentado

desempenho instável nos últimos três anos. A tabela 5.6 apresenta os dados

sobre valor da produção de máquinas-ferramenta no período de 2007 a 2010.

Tabela 5.6 – Valor da produção do segmento de máquinas-ferramenta do Brasil – 2007 a 2010

Anos Valor da Produção

(RS mil) Crescimento

da produção (%)

2007 3.296.592 -

2008 4.215.863 27,9

2009 3.828.625 -9,2

2010 4.413.968 15,3 Fonte: Elaboração própria, com dados da IBGE (2012b). Tabela 3467. Dados para CNAE 284: Fabricação de máquinas-ferramenta

37

A tese utilizou o critério de classificação do porte das empresas (indústria) adotado pelo IBGE: Microempresas: até 19 funcionários; Pequena empresa: de 20 até 99 funcionários; Média empresa: de 100 até 499; Grande empresa: Acima de 500. Fonte: IBGE (2012). 38

Não foi possível identificar a atual participação percentual dos segmentos usuários no consumo de máquinas-ferramenta nacional. 39

Essa discussão será retomada na última seção deste capítulo.

Page 131: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

131

No período 2009-2010, o valor da produção do setor de máquinas-

ferramenta apresentou crescimento de 15,2%, contrastando com a queda do

valor da produção de 9,2% no período 2008-2009.

Um indicador que justifica o baixo desempenho do valor da produção de

máquinas-ferramenta é a baixa utilização da capacidade instalada da indústria

de transformação40 no mesmo período.

De acordo com informações da Confederação Nacional das Indústrias

(CNI) apresentadas na tabela 5.7, a indústria de transformação apresentou em

2009 o percentual médio de utilização da capacidade de aproximadamente

79%, considerado o mais baixo do período entre os anos de 2007 a 2010.

Tabela 5.7 – Utilização de capacidade instalada da indústria de transformação (%) no Brasil –

2007 a 2010

Anos/ meses

Utilização de capacidade instalada mensal (%) Média anual 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

2007 82,2 82,2 82,5 82,5 81,8 82,5 82,0 82,6 81,9 82,7 83.2 83,3 82,6 2008 83,7 83,7 82,9 83,0 82,4 82,9 83,4 82,5 83,2 82,7 81,0 79,6 79,9 2009 78,4 78,7 78,7 79,2 79,3 79,5 80,1 80,0 80,6 81,0 81,2 82,0 82,3 2010 81,0 80,8 82,2 83,0 82,8 82,7 82,8 82,4 82,2 82,4 82,7 82,5 82,1 2011 82,7 83,3 82,5 82,3 82,4 82,4 82,0 82,2 81,6 81,5 81,4 81,4 75,5

Fonte: Adaptado de CNI (2012), p. 07.

Os resultados do valor da produção do setor e a baixa utilização de

capacidade instalada no ano de 2009 podem ser atribuídos à revisão ou

adiamento dos investimentos do setor frente à queda da demanda de máquinas

no mercado interno, particularmente no ano de 2008.

O gráfico 5.3 apresenta os dados de comércio nacional de máquinas e

equipamentos no período entre os anos de 1996 e 201041

40

Nível de utilização da capacidade instalada (NUCI): indicador que mede a possibilidade de expansão da oferta de produtos industriais. É divulgado mensalmente pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) em nível nacional (CNI, 2012). 41

As informações sobre exportações do segmento de máquinas-ferramenta estavam indisponíveis no período da pesquisa. Por esse motivo, foram utilizados os dados de comércio internacional do setor de máquina e equipamentos; e dados de importação dos ramos de máquinas-ferramenta que trabalham com eliminação de material e sem eliminação de material.

Page 132: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

132

Gráfico 5.3 – Comércio de máquinas e equipamentos do Brasil – 1996 a 2010.

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados MDIC/SECEX (2012).

No período entre os anos de 2001 e 2008, o setor de máquinas e

equipamentos apresentou aumento dos valores de importação de máquinas.

Além disso, os dados de exportação de máquinas apresentaram desempenho

positivo entre os anos de 2003 e 2008.

No período entre os anos de 2000 e 2010, as importações de máquinas

e equipamentos aumentaram de US$ 3,02 milhões para US$ 9.026; enquanto

as exportações apresentaram aumento de 5.884 para 21.754. A tabela 5.8

apresenta dados sobre importações do segmento de máquinas-ferramenta do

Brasil.

Tabela 5.8 – Importações de máquinas-ferramenta do Brasil, por SITC – 2008 a 2010

Segmentos de máquinas-ferramenta

Importações em 2008

(US$ milhões)

Importações em 2009

(US$ milhões)

Crescimento 2009-2008

(%)

Importações em 2010

(US$ milhões)

Crescimento 2010-2009

(%)

Máquinas-ferramenta que trabalham com eliminação de metal ou qualquer material (SITC 731

845,0 476,6 -43,6 566,8 18,9

Máquinas-ferramenta que trabalham com metais, sem eliminação de material (SITC 733)

397,4 420,6 5,8 375,7 -10,7

Total desse grupo 1.242,4 897,2 -27,8 942,5 5,0

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da UN Comtrade (2011).

Page 133: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

133

De acordo com a tabela, os ramos de máquinas que trabalham com

eliminação de material e sem eliminação de material apresentaram queda dos

valores de importações em 2008-2009 e pequena recuperação no período

seguinte.

Além disso, verifica-se que o ramo de máquinas que executa tarefas de

eliminação de material foi mais influenciado pela queda da demanda mundial

em 2009. O ramo de máquinas que trabalha com metais sem eliminação de

material, por sua vez, apresentou queda das importações relativamente menor

e sofreu os efeitos da queda da demanda somente em 2010.

A indústria de máquinas e equipamentos abrange um conjunto de

segmentos industriais que apresentam uma diversidade de condições

produtivas, competitivas e tecnológicas inter e intra-setoriais

O primeiro fator para explicar a heterogeneidade do segmento de

máquinas e equipamentos refere-se às diferenças na escala da produção de

máquinas seriadas e sob encomenda.

Os bens de capital seriados apresentam produtos padronizados e

fabricados em grande escala, como as máquinas agrícolas e tratores, entre

outros.

Nos ramos de bens seriados, as máquinas são produzidas em maior

quantidade e apresentam poucas especificações de produto e tecnologias.

Neste contexto, as economias de escala são mais importantes para a

competitividade das empresas.

A presença de economias de escala é uma das características

estruturais das máquinas-ferramenta, que possibilita ganhos de competitividade

e a difusão de técnicas para outras indústrias. Entretanto, como o setor de

máquinas-ferramenta do Brasil apresenta elevada dependência da demanda no

mercado interno, que está sujeito a oscilações de políticas macroeconômicas e

fatores conjunturais, os segmentos de máquinas seriadas apresentam

dificuldades para manter elevada escala de produção de máquinas.

Os bens sob encomenda apresentam máquinas fabricadas com

características técnicas específicas e sob medida, em função da demanda do

consumidor (Alem & Pessoa, 2005, p. 75), como as prensas, alto-fornos,

turbinas.

Page 134: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

134

Nos ramos com fabricação sob encomenda, as máquinas são fabricadas

em pequena quantidade e apresentam elevado grau de especificidade em

relação ao projeto e às tecnologias incorporadas. Nesse sentido, a presença de

economias dinâmicas, atribuídas à experiência e aprendizado contínuo no

projeto e processo de desenvolvimento daqueles produtos, assume papel mais

importante para o desempenho das empresas (Alem & Pessoa, 2005, p. 76).

O segundo fator importante para explicar a heterogeneidade entre os

segmentos de máquinas é o perfil dos investimentos realizados empresas de

máquinas seriadas e sob encomenda.

No segmento de máquinas seriadas, os investimentos em melhorias e

incorporação de novas tecnologias tendem a ser diluídos durante a produção

de grandes lotes de produtos.

No segmento de máquinas sob encomenda, os esforços destinados à

pesquisa, design e desenvolvimento das máquinas sob encomenda estão

concentrados em pequenas quantidades de máquinas de alto valor agregado e

que são fabricadas sob especificação dos clientes. O prazo para a maturação

dos investimentos é relativamente maior porque depende do tempo de duração

do projeto e das especificações do cliente.

O maior nível de investimento demandado para a produção de máquinas

sob encomenda resulta em barreira à entrada de novas empresas nesse

segmento, relativamente às condições apresentadas para as empresas com

produção de máquinas fabricadas em série.

Outro fator importante é que o setor de máquinas apresenta condições

adversas para investimentos entre os ramos e empresas com produção de

máquinas no longo prazo.

As condições do cenário macroeconômico e eventuais mudanças na

expectativa em relação aos ganhos econômicos podem intensificar ou restringir

os investimentos entre os setores da indústria de transformação.

No cenário de queda do nível de investimentos da indústria, os

segmentos de máquinas são os primeiros a sofrer queda da demanda por

máquinas. No cenário de recuperação da atividade econômica, os segmentos

de máquinas são os últimos a recuperar o seu nível de produção porque

dependem da consolidação dos pedidos de diferentes setores usuários.

Page 135: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

135

O desempenho industrial das empresas está atrelado à sua capacidade

para atender à demanda e à competência para resolver eventuais problemas

técnicos no processo de produção de máquinas.

A transição entre a fase de realização de melhorias de produto/processo

e a fase em que aquela melhoria se torna uma inovação para toda a cadeia

dependerá da viabilidade comercial do produto final.

Contudo, os esforços destinados ao desenvolvimento e às melhorias das

máquinas apresentam relativa incerteza em relação aos resultados

econômicos. E esse fator torna as intenções de investimentos do setor mais

tímidas relativamente ao outros setores industriais.

O terceiro fator que influencia a heterogeneidade do setor de bens de

capital mecânico é a participação de empresas de grande porte e empresas

multinacionais no mercado interno de máquinas.

O segmento de máquinas-ferramenta, por exemplo, tem participação de

algumas empresas multinacionais que se estabeleceram no mercado brasileiro

a partir da década de 1960 e têm contribuído para o desenvolvimento industrial

e as melhorias nas técnicas de produção das máquinas.

Em muitos casos, esses grandes grupos também apresentam melhores

condições competitivas e de acesso a linhas de financiamento, o que dificulta o

desempenho de empresas de pequeno porte e a inserção de novas empresas

no mercado de máquinas.

Um fator primordial para compreender o desempenho do setor de

máquinas nas economias industriais é a dinâmica das tecnologias e dos

conhecimentos incorporados às máquinas. De maneira geral, as características

da estrutura competitiva e tecnológica entre esses segmentos com produção

de máquinas podem ser apontados como um possível determinante do

desempenho industrial e comercial.

As características da produção e das tecnologias desenvolvidas por

empresas de máquinas-ferramenta no longo prazo determinaram o

desenvolvimento de três faixas de mercado (Avellar, 2008, p. 2):

a. Máquinas de tecnologia tradicional: operadas de forma manual ou

semi-automática;

b. Máquinas automáticas, eletrônicas ou não;

Page 136: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

136

c. Sistemas para produção: incluem as máquinas especiais, os sistemas

flexíveis (FMS), as ilhas ou células de produção (CELL), as linhas

flexíveis de produção (FML), centro de usinagem e robôs.

De maneira geral, a faixa de mercado de máquinas tradicionais é

formada por empresas de micro e pequeno porte, de capital nacional, que são

especializadas na produção de máquinas seriadas.

As faixas de mercado de máquinas automáticas e sistemas de produção,

por sua vez, são formados por empresas de médio e grande porte que fabricam

máquinas seriadas e sob encomenda. Além disso, essas faixas apresentam

maior concentração de empresas estrangeiras e empresas nacionais com

atuação no mercado interno desde os anos de 1970.

Cada um daqueles grupos (ou faixas de mercado) apresenta diferentes

fatores de competitividade, que podem ser atribuídas ao nível de difusão das

tecnologias das máquinas no mercado interno e externo.

Na faixa de mercado de máquinas com tecnologia tradicional, as

tecnologias e conhecimentos incorporados as máquina nacionais são

amplamente conhecidos e utilizados no cenário internacional. Nesse sentido, o

principal fator de competição das empresas com atuação nesses mercados é o

preço dos produtos42.

Na faixa de mercado de máquinas que integram tecnologias mais

complexas, essas tecnologias e conhecimentos não estão amplamente

difundidos entre as empresas.

De maneira geral, essas faixas de mercado apresentam tecnologias que

são novidades para grande parte das empresas com atuação no setor. Em

outros casos, aquelas empresas concorrentes não apresentam habilidades

suficientes para incorporar e difundir tais tecnologias.

Nesse sentido, o principal fator de competitividade das empresas das

faixas de mercado de máquinas automáticas e sistemas de produção é a

diferenciação do produto.

42

Outro fator de competitividade que assume papel importante para o desempenho das empresas dessa faixa de mercado é a flexibilidade para fazer melhorias incrementais aos produtos e o atendimento pós-venda.

Page 137: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

137

Uma importante implicação dessa discussão é que os ramos de

máquinas automáticas e sistemas de produção apresentam elevada barreira à

entrada, relativamente aos ramos de máquinas tradicionais.

A descrição e análise dos fatores de competitividade para as faixas de

mercado de máquinas são importantes para compreender o desenvolvimento

do setor no Brasil, mas não são suficientes para explicar as condições

competitivas e tecnológicas dos ramos de máquinas-ferramenta do Brasil.

A discussão sobre o desenvolvimento do setor considerando o

arcabouço de Sistema Setorial de Inovação e o conceito de regime tecnológico

pode contribuir para o entendimento sobre a dinâmica da indústria de

máquinas-ferramenta do Brasil. Esse tema será retomado e aprofundado no

capítulo sete da tese, com base nas informações obtidas a partir da pesquisa

empírica. O próximo capítulo apresenta a metodologia utilizada na pesquisa

empírica da tese.

Page 138: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

138

6. Metodologia de pesquisa empírica

A tese apresenta uma análise empírica sobre o desenvolvimento e

desempenho recente de empresas de máquinas-ferramenta e de grupos de

pesquisas com base na discussão teórica sobre desenvolvimento tecnológico,

regime tecnológico e Sistema Setorial. O capítulo com os procedimentos

metodológicos da tese foi organizado em quatro seções. A primeira seção

apresenta as fases da pesquisa empírica e as fontes de informações utilizadas.

A segunda seção apresenta as os critérios utilizados para selecionar a

amostra de empresas de máquinas-ferramenta e os grupos com atividades no

ramo de máquinas. Além disso, a seção apresenta dois quadros com a amostra

final investigada na pesquisa empírica.

A terceira seção retoma os pressupostos levantados na discussão

teórica da tese. Com base nesses pressupostos, a seção apresenta e discute

as hipóteses e as questões de pesquisa da tese.

A quarta seção da metodologia apresenta os construtos, o roteiro de

questões e as variáveis consideradas nas entrevistas realizadas junto aos

representantes das empresas de máquinas-ferramenta e os grupos de

pesquisa.

6.1 Fases da pesquisa e fontes de informações utilizadas

A metodologia de pesquisa utilizada na tese foi organizada em seis

fases. As três primeiras fases da pesquisa empírica abrangem as atividades de

levantamento e seleção de informações secundárias sobre produtos, empresas

e grupos de pesquisa com atuação no setor de máquinas e equipamentos. As

três últimas fases abrangem a elaboração de questionários; a realização de

entrevistas e visitas técnicas; e a análise dos resultados obtidos via pesquisa

bibliográfica e estudos de caso.

A primeira fase do levantamento de dados consistiu no levantamento de

informações que possibilitassem identificar e caracterizar as tecnologias em

uso na produção de máquinas-ferramenta nacionais. Já a segunda fase da

Page 139: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

139

pesquisa bibliográfica consistiu na identificação e seleção de uma amostra de

empresas de máquinas-ferramenta com atuação no mercado brasileiro.

As fontes de informações usadas na pesquisa bibliográfica abrangem

revistas técnicas e setoriais e jornais de ampla circulação nacional. O quadro

6.1 apresenta as fontes de informação utilizadas na seleção da amostra de

empresas.

Fontes de informação Editorial

consultado Periodicidade

Endereço Eletrônico

Jornais e revistas de ampla circulação

Revista Exame

Melhores e Maiores Exame (Edições de 2009, 2010 e 2011).

Portal de notícias

Quinzenal http://exame.abril.com.br/negocios/melhores-e-maiores/

Jornal Valor Econômico

Revista Valor Grandes Grupos - impresso (Edições de 2009, 2010 e 2011).

Portal de notícias

Anual; Diária;

http://www.revistavalor.com.br/home.aspx?pub=19&edicao=10

Entidade de representação

Portal da ABIMAQ

Informaq (publicação mensal);

Datamaq (base de dados sobre o setor)

Publicações do Departamento de Competitividade e Estatística (DCEE)

Diária

http://www.abimaq.org.br/ http://www.abimaq.org.br/site.aspx/Abimaq-Informativo-Mensal-Infomaq http://www.datamaq.com.br/ http://www.abimaq.com.br/site.aspx/pginicial_DCEE

Câmara Setorial de Máquinas-ferramenta e Sistemas de Automação/ABIMAQ

Lista de associados à Câmara Setorial de Máquinas-ferramenta;

Notícias sobre o segmento e empresas associadas

Diária http://www.camaras.org.br/site.aspx/Home-CSMF

Portal IPDMaq/ABIMAQ Blog IPDMaq

http://www.ipdmaq.org.br/ http://www.ipdmaq.org.br/

Fonte de informação setorial

Revista Máquinas Metais (versão impressa e eletrônica);

Notícias e artigos técnicos

Mensal

Versão eletrônica a partir da edição de 11/2011: http://www.arandanet.com.br/midiaonline/máquinas_metais/index.html

Revista O Mundo da Usinagem (versão eletrônica);

Notícias e artigos técnicos Mensal http://www.omundodausinagem.com.br/

Outras fontes

SEADE Investimentos anunciados

no Estado de São Paulo – 2010

Anual http://www.seade.gov.br/produtos/piesp/consultabanco.php

Fonte: Elaboração própria.

Quadro 6.1 – Fontes informação utilizadas para a identificação, seleção e análise sobre o

setor, empresas e tecnologias do ramo de máquinas-ferramenta do Brasil

A terceira fase do levantamento de informações utilizadas na pesquisa

empírica da tese abrange a consulta e identificação de grupos de pesquisa com

atuação no ramo de máquinas e equipamentos.

Page 140: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

140

A principal fonte de consulta utilizada foi o Diretório Grupo de Pesquisa

CNPQ, que disponibiliza informações sobre os grupos de pesquisa sediados

em instituições de pesquisa e ensino (particular e pública) nacionais.

O objetivo principal dessa consulta foi recolher desde dados gerais sobre

os grupos como fundação, número de pesquisadores e líderes, as áreas de

conhecimento predominante, seus setores de atuação até informações mais

específicas como linhas de pesquisa e as interações realizadas com o setor

produtivo recentemente.

Após a identificação da amostra de empresas de máquinas-ferramenta e

dos grupos de pesquisa, a quarta fase da pesquisa consistiu na elaboração de

dois roteiros de questões que foram aplicadas junto aos representantes das

empresas e dos grupos de pesquisa.

Os dois roteiros de questões foram elaborados com base nos construtos

e questões da revisão teórica da tese.

Após a elaboração dos construtos e questões, a quinta fase da

pesquisa foi conduzida através de visitas às unidades industriais das empresas

e dos grupos e da aplicação de questionários43.

Para obter informações sobre desempenho industrial das empresas e

suas interações com atores do sistema Setorial, foi realizado contato com

funcionários das áreas de produção; engenharia de produto; P&D; e

Microeletrônica/automação de processos.

Um aspecto importante sobre essa fase da pesquisa é que os dados

obtidos nas entrevistas foram mantidos sob sigilo. Nesse sentido, a pesquisa

empírica não pretende identificar e classificar eventuais ganhadores ou

perdedores no processo de desenvolvimento das máquinas.

A sexta fase da pesquisa abrange a análise das informações obtidas

por meio das entrevistas presencias e a análise de dados obtidos através da

pesquisa bibliográfica realizada em fontes secundárias e setoriais.

43

Essa fase da pesquisa apresentou papel importante para a conclusão da tese. Em grande medida, as informações obtidas podem ajudar ou dificultar a análise sobre a mudança técnica entre as empresas de máquinas-ferramenta.

Page 141: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

141

6.2 Objeto de estudo da análise empírica da tese

A análise empírica da tese pretende captar as características gerais do

desenvolvimento tecnológico do setor de máquinas-ferramenta do Brasil

A pesquisa empírica apresenta estudo de casos sobre a atuação de

algumas empresas que fabricam máquinas-ferramenta de usinagem no Estado

de São Paulo e sobre grupos de pesquisa, também do Estado de São Paulo,

com atuação no ramo de máquinas.

A primeira subseção descreve os critérios utilizados para identificar as

empresas de máquinas-ferramenta do mercado interno que apresentam

unidades produtivas localizadas no Estado de São Paulo.

A segunda subseção deste capítulo apresenta os critérios utilizados para

identificar e selecionar os grupos de pesquisa que desenvolvem atividades

voltadas ao setor de aplicação máquinas e equipamentos, e que são sediados

em instituições de ensino e pesquisa do Estado de São Paulo.

6.2.1 A Identificação e seleção das empresas de máquinas-ferramenta

A identificação e seleção das empresas de máquinas-ferramenta da

pesquisa empírica da tese foram viabilizadas pela consulta aos jornais de

grande circulação, ao sítio eletrônico das entidades de representação do setor

e à pesquisa sobre de intenção de investimentos no Estado de São Paulo

coordenada pelo SEADE (quadro 6.1)

Os dados das fontes de informação foram comparados com o propósito

de identificar uma amostra de empresas com atuação no ramo de máquinas-

ferramenta e que participassem de, pelo menos, três fontes de pesquisa

consultadas. Entretanto, apenas duas empresas apresentaram participação

em duas fontes de informação. As duas empresas identificadas nessa etapa

foram incorporadas à amostra de empresas de máquinas-ferramenta da

pesquisa empírica.

É importante registrar que as fontes setoriais e jornais/revistas de ampla

circulação nacional apresentam informações, principalmente, sobre segmentos

industriais formados por empresas de grande porte e multinacionais.

Page 142: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

142

Os segmentos com maior participação de empresas de pequeno e

médio porte, como o ramo de máquinas-ferramenta, apresentam carência de

informações econômicas e industriais atualizadas que possibilitem

compreender o desempenho econômico individualizado ou por segmentos44.

Essa condição das estatísticas disponíveis no Brasil sobre o segmento

de máquinas-ferramenta refletiu na pesquisa empírica da tese.

Em virtude da pequena participação de empresas de máquinas-

ferramenta nas quatro fontes de pesquisa listadas acima, foram necessários a

elaboração de outros critérios que contemplassem um número maior de

empresas do setor.

A primeira variável utilizada para identificar e selecionas as empresas de

máquinas-ferramenta com unidades de produção localizadas no Brasil é o tipo

do produto fabricado. As informações sobre os produtos fabricados por aquelas

duas empresas pré-selecionadas foram utilizados como base para a

comparação e seleção de outras empresas do setor.

Posteriormente, foi realizada uma consulta ao portal Datamaq (Abimaq)

considerando as empresas associadas à Câmara Setorial de Máquinas-

ferramenta e Sistemas de Manufatura (CSMFSM) que fabricam máquinas-

ferramenta utilizadas em processos de usinagem, o que abrange torneamento,

fresamento, retificação e centros de torneamento.

A segunda variável utilizada para definir a amostra foi a localização das

unidades produtivas daquelas empresas que fabricam máquinas de usinagem.

Foram selecionadas as empresas de máquinas-ferramenta com unidades

produtivas localizadas no Estado de São Paulo.

A seleção de empresas de máquinas-ferramenta localizadas no Estado

de São Paulo pode ser justificada pelo fato de que o Estado é responsável pela

maior participação das unidades com produção de máquinas no total de

unidades do setor nacional. Além disso, a seleção do Estado de São Paulo

permite a cobertura das empresas mais importantes do setor.

Nessa opção metodológica está implícita a idéia de que as regiões com

maior concentração de unidades produtivas podem apresentar uma tendência

44

Essas características podem ser atribuídas, principalmente, a dois fatores: a) resistência das empresas de pequeno porte em compartilhar informações de mercado e produtos; b) dificuldade de medir e agregar informações conjunturais e estruturais sobre empresas com características de mercado heterogêneas.

Page 143: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

143

a desenvolver mais interações com outros atores da cadeia como

fornecedores, usuários, instituições de ensino e institutos de pesquisa.

A terceira variável utilizada para definir a amostra de empresas de

máquinas-ferramenta foi a interação realizada entre essas empresas e os

grupos de pesquisa, de acordo com dados divulgados do Diretório de Grupos

de Pesquisa CNPQ. Por fim, as empresas identificadas na pesquisa aos dados

Datamaq deveriam apresentar produtos similares ou complementares aqueles

fabricados por duas empresas já selecionadas na amostra.

O quadro 6.2 apresenta a lista completa de empresas de máquinas-

ferramenta identificadas de acordo com os requisitos citados e que aceitaram

colaborar com o estudo da tese45.

Empresas Origem da

matriz

Localização da unidade produtiva

ABIMAQ Grupos CNPQ

Valor Econômico

Exame Maiores e Melhores - BK

Seade

Produtos

utilizados em

processos de

usinagem

Associados CSMF

Interação realizada com

grupos de pesquisa

Maiores grupos

(2010 e 2009)

Maiores empresas em vendas (2010

e 2009)

Melhores empresas

(2010 e 2009)

Investimentos anunciados no setor de máquinas e

equipamentos - Estado de SP (2010)

1 B. Grob do Brasil

Alemanha São Bernardo do Campo/SP

X

2 D.R. Promaq Brasil São Bernardo do Campo/SP

X

3 Ergomat Brasil São Paulo/SP

X X

4 Ferdimat Brasil São José dos Campos/SP

X

5 Index Alemanha Sorocaba/SP X

X

6 Indústrias Romi

Brasil Santa Bárbara D'Oeste/SP

X X X X X X X

Fonte: Elaboração própria.

Quadro 6.2 – Empresas de máquinas-ferramenta selecionadas para a pesquisa empírica

Vale notar que as empresas apresentadas no quadro têm

representatividade em relação ao total de empresas do setor de máquinas-

ferramenta do Estado de São Paulo46.

45

O anexo B apresenta um quadro com as informações principais sobre as empresas de máquinas-ferramentas que não puderam participar da pesquisa empírica da tese. 46

A tese apresentou dificuldade para mensurar a representatividade em termos de faturamento e número de funcionários das empresas citadas porque não foram encontras essas informações para todas as empresas do setor.

Page 144: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

144

6.2.2 A identificação e seleção dos grupos de pesquisa

A identificação dos grupos de pesquisa analisados na pesquisa

empírica da tese foi realizada a partir da consulta a três fontes de informação:

a) Diretórios Grupos de Pesquisa CNPQ; b) Página eletrônica dos grupos de

pesquisa e da IES em que o grupo está inserido; e c) Página eletrônica do

currículo lattes dos líderes dos grupos identificados;

O único órgão do Brasil responsável pela divulgação de dados sobre a

atuação dos grupos de pesquisa nacionais é o Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os dados disponíveis do Diretório Grupo de Pesquisa CNPq

representam importante fonte de consulta sobre grupos e linhas de pesquisa de

IES públicas e privadas no cenário nacional

De maneira geral, o sítio eletrônico do Diretório apresenta informações

sobre a origem e a atuação dos grupos, destacando as linhas de pesquisa, o

número de participantes nas categorias líder, pesquisador, alunos e técnicos.

Além disso, o sítio apresenta informações sobre as interações realizadas com o

setor produtivo. Em alguns casos, as informações divulgadas no sítio do

Diretório CNPq não apresentam as atividades acadêmicas e profissionais

exercidas pelos grupos de pesquisa e os projetos de pesquisa em andamento

no período. As variáveis utilizadas para a seleção dos grupos de pesquisa no

Diretório CNPq são apresentadas no quadro 6.3:

Variáveis Segmentação

Participação do grupo em IES Pública ou privada

Áreas de atuação da IES Ensino e pesquisa

Localização do grupo/IES Estado de São Paulo

Áreas de conhecimento Engenharia mecânica e engenharia de produção

Setor (produtivo) de atuação dos grupos Máquinas-ferramenta.

Fonte: Elaboração própria, com base em informações do Diretório Grupo de Pesquisa CNPQ.

Quadro 6.3 – Variáveis utilizadas na seleção dos grupos de pesquisa

De maneira geral, os grupos de pesquisa estão localizados em

instituições de ensino e pesquisa sediados no Estado de São Paulo.

Page 145: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

145

A seleção de grupos de pesquisa sediados no Estado de SP também é

atribuída ao papel que o Estado exerce na produção total do setor de máquinas

do Brasil.

Considera-se que o fato de haver muitas empresas em SP e a presença

de importantes instituições de ensino e pesquisa no Estado podem representar

um fator positivo para as interações e aprendizado desses atores do setor de

máquinas-ferramenta.

Após a seleção dos grupos de pesquisa inseridos em instituições de

ensino (público ou privado) localizadas no Estado de São Paulo, considerou-se

dentre esses grupos, apenas aqueles que apresentam atividades acadêmicas

nas áreas de conhecimento engenharia de produção e engenharia mecânica.

Após a seleção dos grupos com atuação nessas duas áreas de

conhecimento, foram identificados apenas aqueles grupos que desenvolvem

atividades para o ramo de máquinas e ferramenta.

O desenvolvimento tecnológico do setor de máquinas e equipamentos e,

mais especificamente, o segmento de máquinas-ferramenta engloba uma

variedade de linhas de pesquisa e áreas de conhecimento que estão

interelacionadas.

Os grupos de pesquisa selecionados a partir dos critérios IES,

localização, área de conhecimento e setor de atuação apresentam estudos em

uma diversidade linhas de pesquisa.

Para viabilizar a análise empírica, foi necessária a realização de um filtro

que possibilitasse a identificação de grupos de pesquisa com atuação em

linhas de pesquisa mais relevantes para a tese.

De maneira geral, há dois campos de conhecimento sobre as máquinas-

ferramenta que estão entrelaçados: projeto mecânico e processos de

fabricação47.

Os grupos de pesquisa com atuação no Brasil apresentam grande

variedade de linhas de pesquisa que são contemplados nessas duas áreas de

estudo.

47

As características dessas duas áreas foram abordadas no capítulo sobre o setor de máquinas no mundo.

Page 146: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

146

Outro fator importante é que a metodologia utilizada na seleção final dos

grupos para a análise empírica esteve apoiada em dois conceitos discutidos na

revisão teórica da tese.

Em primeiro lugar, considera-se que o desenvolvimento técnico do setor

de máquinas e equipamentos é influenciado por alterações das características

dos materiais utilizados na produção das máquinas. As características dos

insumos alteram os parâmetros de desempenho das máquinas na execução de

tarefas.

Para lidar com essa situação, as empresas de máquinas realizam

adaptações à máquina durante o processo de produção. As adaptações, por

sua vez, podem integrar o campo de conhecimento sobre projeto e a fabricação

de outras máquinas. Entretanto, um fator que pode restringir as adaptações

aos modelos de máquinas é a competência e os conhecimentos internos

acumulados pela equipe responsável pelo processo de fabricação da máquina.

Em segundo lugar, considera-se que as características dos insumos

também influenciaram o desenvolvimento entre as categorias de uso das

máquinas-ferramenta. Em especial, as máquinas destinadas às tarefas de

usinagem apresentam alterações de seus parâmetros de desempenho

dependendo das características do tipo do material trabalhado.

Acredita-se que as máquinas utilizadas no processo de produção em

tarefas de corte e perfuração de peças (usinagem) podem representar questão

crítica para o desenvolvimento tecnológico do setor de máquinas-ferramenta do

Brasil. Por conta desses fatores, a seleção final da amostra de grupos

identificou aqueles que preencheram os critérios anteriores, e que

desenvolvem pesquisas relacionadas ao processo de produção de máquinas

de usinagem.

Para complementar esses dados, foi verificado se esses grupos

apresentaram ou apresentam interações com o setor produtivo, de acordo com

as informações disponíveis no sítio do Diretório Grupo CNPq.

É importante destacar que o não preenchimento desse requisito não

implicou em exclusão dos grupos de pesquisa. As informações foram utilizadas

para nortear as entrevistas entre os grupos e as empresas de máquinas-

ferramenta.

Page 147: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

147

O quadro 6.4 apresenta os grupos de pesquisa de IES sediados no

Estado de São Paulo, que desenvolvem pesquisa nas áreas de conhecimento

engenharia de produção e mecânica, no setor de aplicação máquinas-

ferramenta. Além disso, esses grupos desenvolvem pesquisas em áreas

correlatas ao processo de usinagem48.

Grupos Faculdade e Cidade Departamentos/

Centros

Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

Faculdade de Engenharia e Tecnologia de Bauru/UNESP (Bauru/SP)

Engenharia Mecânica

Núcleo de Desenvolvimento e Otimização de Processos e Sistemas Produtivos

Faculdade de Engenharia Arquitetura e Urbanismo /UNIMEP

(Santa Bárbara D’ Oeste/SP)

Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados

Faculdade de Engenharia Arquitetura e Urbanismo/UNIMEP

(Santa Bárbara D’ Oeste/SP)

Laboratório de Sistemas Computacionais Para Projeto e Manufatura

Processos de fabricação Faculdade de Engenharia

Mecânica/UNICAMP (Campinas/SP) Engenharia de Fabricação

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas

Faculdade de Engenharia Mecânica/UNICAMP (Campinas/SP)

Projeto Mecânico

Usinagem Com altas velocidades

Escola de Engenharia de São Carlos/USP (São Carlos/SP)

Engenharia de produção

Otimização e Processos de fabricação

Escola de Engenharia de São Carlos/USP (São Carlos/SP)

Engenharia de produção

Fonte: Elaboração própria, com base em informações do Diretório Grupo de Pesquisa CNPq(2012).

Quadro 6.4 – Grupos de pesquisa selecionados

Após a identificação e seleção dos grupos, foi realizada uma consulta às

informações sobre esses grupos na página eletrônica da instituição de ensino e

pesquisa em que eles estão sediados. Além disso, foi realizada uma consulta

ao currículo lattes dos líderes dos grupos, com o objetivo de obter informações

mais atualizadas e específicas sobre as linhas de pesquisa, atividades

acadêmicas e relações com o setor produtivo49.

48

O anexo B apresenta um quadro com as informações principais sobre os grupos de pesquisa que não puderam participar da pesquisa empírica da tese. 49

O Anexo D da tese apresenta as informações obtidas no sítio eletrônico da instituição em que os grupos estão sediados.

Page 148: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

148

6.3 Construtos, questões e variáveis50

Os construtos podem ser compreendidos como os conceitos principais

abordados na discussão teórica da tese. Na fase de organização desses

construtos, foi possível identificar algumas questões gerais e as variáveis que

explicam essas questões. O quadro 6.5 apresenta os conceitos e construtos da

revisão bibliográfica da tese.

Conceitos Variáveis Indicadores

Operacionais

Regime tecnológico do setor de MFs

Cumulatividade:

Condições de oportunidade:

Condições de apropriabilidade:

Características do conhecimento-base interno às empresas:

Trajetória tecnológica

Fontes de inovação externa ao setor de MFs:

Características dos Insumos usados;

Fornecedores de componentes eletrônicos;

Usuários das máquinas;

Fontes de inovação interna ao setor de MFs: Engenharia;

Engenharia reversa;

Tecnologias

Domínio: Científico ou de aplicações ou

ambos;

Grau de acessibilidade: Oportunidade para inovações

Fonte de informações tecnológicas: Aprendizado, capacidade

organizacional ou feedbacks.

Base técnica predominante: Produtos ou processos

Caráter pervasivo dos conhecimentos: Alto ou baixo

Áreas de conhecimento envolvidas: Produção, mecânica,

microeletrônica, materiais, física.

Características gerais do processos produtivo

Especialização ou diversificação

Nível de sinergia com outras áreas

Características específicas do processo produtivo

Principais requisitos para a produção de máquinas seriadas:

Produção: escala, escopo, flexibilidade;

Tecnologias de automação

Principais requisitos para a produção de máquinas sob encomenda

Produção: escala, escopo, flexibilidade;

Tecnologias de automação

Características do Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta

Papel das empresas da cadeia de máquinas (fabricantes, fornecedores e concorrentes):

Redes e relações no interior do sistema;

Processo de aprendizado entre os atores;

Desenvolvimento de tecnologias, melhorias em produtos e processos;

Atuação de instituições (pesquisa, ensino, apoio, fomento):

Processo de aprendizado entre os atores;

Desenvolvimento de tecnologias, melhorias em produtos e processos;

Fonte: Elaboração própria, com base na revisão teórica e setorial da tese

Quadro 6.5 – Conceitos e construtos utilizados na pesquisa empírica

50

O anexo C apresenta os questionários aplicados junto aos representantes das empresas de máquinas-ferramenta e dos grupos de pesquisa.

Page 149: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

149

As questões e variáveis da revisão teórica foram trabalhadas para o

contexto do setor de máquinas e equipamentos, visando a elaboração do

questionário que foi aplicado junto aos representantes das empresas de

máquinas-ferramenta e dos grupos de pesquisa. O quadro 6.6 apresenta o

roteiro de questões aplicadas em empresas de máquinas-ferramenta.

Temas (questões) gerais Características gerais

Produção

Principais fabricantes no segmento da empresa (Brasil e mundo);

Características dos produtos.

Características dos processo;

Informações sobre etapas da produção das empresas;

Características dos tecnologias;

Características dos serviços;

Desempenho industrial recente

Vendas no mercado interno e externo (principal produto ou cliente);

Concorrência;

Principais Clientes (setores e empresas) ;

Principais fornecedores (setores e empresas);

Características do desenvolvimento de produtos

Fatores que impulsionam o desenvolvimento e melhorias das tecnologias

Fatores importantes na parte técnica (máquinas)

Fontes de informação (produto, tecnologias e mercado) utilizadas.

Participação em feiras e outros eventos (nacional e internacional)

Interações com outros atores

Capacidade de inovação

Características da engenharia (processo de produção, projeto)

Vetores para o desenvolvimento de tecnologias no mercado interno e externo.

Formas de financiamento utilizadas nas atividades inovativas

Interações com o Sistema Setorial

Interações com instituições de ensino;

Interações com instituições de pesquisa;

Interação com clientes (empresas);

Interações com fornecedores e concorrentes;

Fonte: Elaboração própria, com base na revisão teórica e setorial da tese.

Quadro 6.6 – Roteiro de questões e variáveis de controles aplicados nas visitas às empresas de máquinas-ferramenta

Os quadros 6.7 até 6.10 apresentam as características mensuradas na

pesquisa empírica entre empresas de máquinas-ferramenta:

Características gerais do desempenho industrial

Características mensuradas

Capacidade produtiva

Total de produção (unidades)

Tipos de produtos fabricados Máquinas de usinagem ou dar forma

Faixas de mercado das máquinas-ferramenta Máquinas de tecnologias tradicionais,

automáticas ou sistemas de produção;

Fonte: Elaboração própria, com base na revisão teórica e setorial da tese.

Quadros 6.7 – Variáveis mensuradas na análise sobre o desenvolvimento industrial das empresas de máquinas-ferramenta selecionadas

Page 150: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

150

Características gerais do desempenho econômico

Características mensuradas

Vendas (unidades e R$)

Exportações Principais produtos exportados;

Principais países de destino das máquinas

Importações Principais produtos importados;

Principais países de origem das máquinas

Investimentos previstos

Investimentos realizados

Fonte: Elaboração própria, com base na revisão teórica e setorial da tese.

Quadro 6.8 – Variáveis mensuradas na análise sobre o desenvolvimento econômico das empresas de máquinas-ferramenta selecionadas

Características gerais sobre o panorama tecnológico do setor

Características mensuradas

Características das linhas de produtos desenvolvidos

Máquinas de usinagem (torneamento, fresamento, retificação, outros) ou

Máquinas de dar forma.

Características das melhorias/mudança técnica

Incremental ou radical;

Áreas de conhecimento envolvidas no processo de desenvolvimento/melhorias

Engenharia de produção e mecânica

Principais dificuldades enfrentadas Econômicas (macro), técnicas, outras.

Fonte: Elaboração própria.

Quadros 6.9 – Variáveis mensuradas sobre o panorama dos produtos e tecnologias nas empresas de máquinas-ferramenta

Foco da inovação Técnica Organizacional

Produto

Processo

Fonte: Adaptado de Wengel & Shapira

Quadro 6.10 – Características mensuradas na análise sobre a capacidade inovativa das empresas de máquinas-ferramenta selecionadas

Características gerais das interações entre as empresas e o SSI

Características mensuradas

Interações com usuários: Dinâmica, resultados e eventuais dificuldades para

as empresas;

Interações com fornecedores: Dinâmica, resultados e eventuais dificuldades para

as empresas;

Interações com concorrentes: Dinâmica, resultados e eventuais dificuldades para

as empresas;

Interações com Instituições de ensino e pesquisa e institutos (grupos de pesquisa):

Dinâmica, resultados e eventuais dificuldades para as empresas;

Interações com outros atores (apontar): Dinâmica, resultados e eventuais dificuldades para

as empresas;

Fonte: Elaboração própria, com base na revisão teórica e setorial da tese.

Quadro 6.11 – Características mensuradas na análise sobre as interações das empresas com o Sistema Setorial de Inovação

Page 151: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

151

Após a identificação de questões e a elaboração do questionário

aplicado junto aos representantes das empresas de máquinas-ferramenta, foi

elaborado um roteiro com questões que permitissem analisar a dinâmica dos

grupos de pesquisa selecionados.

O quadro 6.12 apresenta o roteiro de questões aplicadas junto aos

representantes dos grupos de pesquisa com atuação no setor de máquinas. Os

quadros 6.13 a 6.15 apresentam outras características mensuradas na análise

empírica da tese.

Temas (questões) gerais Características mensuradas Características gerais do grupo

Fatores determinantes do surgimento do grupo

Atuação do grupo no Brasil

Características mensuradas das interações com o setor produtivo

Empresas que procuraram e procuram o grupo Setores econômicos em que ocorre a atuação

Áreas de conhecimento envolvidas Engenharia de produção, mecânica ou elétrica

ou outros (especificar)

Frequência das interações Sistemática; Recorrente; Compra e cooperação

técnica; Compra e cooperação recorrentes; Fatores determinantes das interações Quem apresentou a iniciativa Natureza das relações (código CNPq) Financiamento das atividades P&D (com ou sem parceria com empresas)

Colaboração de outras instituições de ensino e pesquisa

Colaboração com fornecedores de insumos

Características das inovações a partir de interações

Radicais ou incrementais

Vetores do desenvolvimento na área em que o setor atua

Descobertas ou avanços nas áreas de conhecimento tem representado oportunidade ou ameaça para a interação? Por quê?

Resultados das interações

O grupo atingiu os objetivos esperados com a interação?

Principais resultados:

(1) Publicações acadêmicas; (2) Publicações em revistas técnicas; (3) Novos produtos; (4) Novas tecnologias; (5) Inserção de RH no mercado de trabalho.

A interação com empresas melhorou a visibilidade do grupo? Como?

(1) Formação de RH; (2) Inserção de RH; (3) Novos projetos de pesquisa.

Outras características mensuradas Características do setor no Brasil

Tecnologias do setor de máquinas no Brasil

Características do setor em outros países

Diferenças entre Brasil e outros países no setor de máquinas ou na área de engenharia

Feiras e eventos do setor Fonte: Elaboração própria.

Quadro 6.12 – Roteiro de questões e variáveis de controles aplicados nas visitas aos grupos de pesquisa

Page 152: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

152

Grupo Departamento/

Instituição - Cidade

Ano de fundação

Áreas de conhecimento em que atua

Linhas de pesquisa

Engenharia de produção; Engenharia mecânica.

Fonte: Elaboração própria. Informações obtidas a partir de consulta ao Diretório Grupo de pesquisas CNPq (2012).

Quadro 6.13 – Características gerais dos grupos de pesquisa selecionados

Grupo Interações recentes relatadas

Setores Empresas

Fonte: Elaboração própria. Informações obtidas a partir de consulta ao Diretório Grupo de pesquisas CNPq (2012).

Quadro 6.14 – Grupos de pesquisa selecionados e interações recente registradas com o setor produtivo

Tipo de interação

Código CNPq Descrição

Fonte: Elaboração própria. Informações obtidas a partir de consulta ao Diretório Grupo de pesquisas CNPq (2012).

Quadro 6.15 – Grupos de pesquisa selecionados e características gerais das interações

Page 153: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

153

Capítulo 7 - Estudo empírico sobre o setor de máquinas-

ferramenta

7.1 Empresas de máquinas-ferramenta e as características das interações

mensuradas com o setor

Essa seção apresenta as características das empresas de máquinas-

ferramenta analisadas e as interações realizadas entre essas empresas e

grupos de pesquisa nos últimos anos. A seção está dividida em cinco partes

que abrangem os seguintes temas:

a) Características gerais das empresas de máquinas-ferramenta51.

b) Fatores de competitividade das empresas de máquinas-ferramenta.

c) Desempenho industrial e comercial das empresas.

d) Capacidade inovativa das empresas de máquinas-ferramenta

considerando dois fatores: características da área de engenharia das

empresas; e características do processo de produção e melhoria das

máquinas.

e) Características das interações realizadas entre as empresas de

máquinas-ferramenta e três categorias de atores do Sistema Setorial:

fornecedores; usuários; e Instituições de ensino e pesquisa.

7.1.1 Características gerais das empresas de máquinas-ferramenta

A amostra de empresas de máquinas-ferramenta analisada na pesquisa

empírica da tese é formada por empresas de capital nacional e estrangeiro que

apresentam unidades de produção no Estado de São Paulo. O quadro 7.1

apresenta as características gerais das empresas de máquinas-ferramenta

analisadas.

51

O anexo D da tese apresenta a nota técnica sobre as empresas visitadas na pesquisa empírica.

Page 154: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

154

Empresas Nacionalidade Porte Ano de

fundação (matriz e filial BR)

Localização (unidade no Brasil)

1 B. Grob Alemanha Grande Alemanha: 1926

Brasil: 1956 São Bernardo do Campo/SP

2 D. R. Promaq

Brasil Micro 1986; São Bernardo do Campo/SP

(desde 1999)

3 Ergomat Brasil Médio 1962 São Paulo/SP

4 Ferdimat Brasil Médio 1970 São José dos Campos/SP

5 Index Alemanha Grande Alemanha: 1944.

Brasil: 1973 Sorocaba/SP

6 Romi Brasil Grande 1930 Santa Bárbara D’Oeste/SP Fonte: Elaboração própria, com base em informações disponíveis no sítio das empresas.

Quadro 7.1 – Características gerais das empresas de máquinas-ferramenta

selecionadas

A partir das informações divulgadas sobre os números de funcionários52,

as empresas multinacionais podem ser classificadas como grande porte;

enquanto as empresas de capital nacional podem ser classificadas como

pequeno e médio porte.

As empresas analisadas têm atuação consolidada no mercado nacional

na produção de uma variedade de linhas de produtos. Em alguns casos, as

empresas também oferecem serviços de reforma de máquinas usadas, o que é

bastante utilizado por empresas usuárias de pequeno e médio porte instaladas

no mercado interno53. O quadro 7.2 apresenta informações sobre os tipos

produtos fabricados e revendidos pelas empresas analisadas.

52

As informações sobre número de funcionários foram obtidas nas entrevistas e não serão divulgadas para manter o sigilo. 53

Os serviços de assistência técnica e a reforma de máquinas são utilizados por fabricantes de máquinas do mercado interno para promover a fidelização de clientes e a troca de informações sobre produtos e processos. Esse assunto será retomado na seção 7.2.5.

Page 155: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

155

Máquinas

Empresas

B. Grob D. R.

Promaq Ergomat Ferdimat Index Romi

Centros de torneamento

X X

Centros de usinagem

X X X

X

Fresadora

X X

Mandriladora

X

X

Retificadora

X

Torno horizontal

X X

Torno vertical

X X

X X

Máquinas-ferramenta especiais X X

Linhas Transfer X

Sistemas Flexíveis X

Soluções de sistemas X

Células

X

Fonte: Elaboração própria, com base nas informações disponíveis no Portal Datamaq/Abimaq e dados do sítio eletrônico das empresas.

Quadro 7.2 – Empresas de máquinas e linhas de produtos

Os produtos fabricados pela amostra de empresas apresentam

características distintas em relação às tecnologias embutidas e às

especificações dos componentes utilizados54. Essas especificidades conferem

algumas variações aos tipos de máquinas dentro de uma mesma linha55.

As máquinas-ferramenta fabricadas pelas empresas analisadas podem

ser agrupadas de acordo com as suas tecnologias em três faixas de mercado:

tecnologia tradicional, máquinas automáticas e sistemas de produção.

54

A tese apresentou preocupação em abranger empresas que fabricam diferentes linhas de máquinas e a diversidade de modelos dentro de cada linha. 55

O anexo C apresenta as informações detalhadas sobre as linhas e tipos de máquinas fabricados pela amostra de empresas de máquinas-ferramenta.

Page 156: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

156

Faixas de mercado de máquinas-ferramenta (*)

Máquinas Características principais das

tecnologias embarcadas

Máquinas de tecnologia tradicional

Tornos convencionais; Fresadoras

Podem ser operadas de forma manual ou semi-automática;

Máquinas automáticas

Tornos automáticos, universais e multifusos. Fresadora CNC; Mandrilhadoras CNC; Retificadoras;

Esse grupo abrange as máquinas eletrônicas ou não.

Sistemas para produção

Máquinas especiais; Sistemas flexíveis; Ilhas ou células de produção; Linhas flexíveis de produção; Centro de usinagem e robôs; Centros de torneamento.

Esse grupo abrange máquinas que apresentam elevado nível de automação.

Fonte: Sítio das empresas e dados obtidos na pesquisa empírica. (*) Conceito sobre ‘faixas de mercado’ das máquinas: Adaptado de Avellar (2008).

Quadro 7.3 – Faixas de mercado e características das tecnologias embarcadas

A faixa de mercado de máquinas com tecnologia tradicional é formada

por empresas nacionais de pequeno e médio porte, que se especializaram na

produção de máquinas simples e em pequenas modificações no projeto e

tecnologias utilizadas.

O grupo de máquinas com tecnologia convencional abrange tornos

convencionais e máquinas fresadoras, que apresentam baixa complexidade

tecnológica ou que incorporam conhecimentos e processos mais simples. As

máquinas podem apresentar algumas variações nas características físicas,

como diâmetro, quantidade de ferramentas acopladas, mas de maneira geral,

trabalham com o mesmo tipo de material.

Além disso, esse grupo de máquinas é formado por alguns modelos

considerados ‘standard’, que são relançados com algumas modificações de

componentes, sem mudar o projeto inicial, visando o atendimento da demanda

no mercado interno. As máquinas de usinagem, por exemplo, podem

apresentar diferenças em relação ao número de eixos, quantidade de

ferramenta que são acopladas à porta-ferramentas, e as tecnologias de

comando numérico utilizadas. Essas diferenças são atribuídas às

características da peça que a máquina foi projetada para trabalhar e da

quantidade de tarefas designadas para essa máquina.

Page 157: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

157

De maneira geral, as máquinas com tecnologia tradicional são

fabricadas no mercado interno há algumas décadas e que têm boa aceitação

entre os consumidores por apresentar preços mais acessíveis.

As faixas de mercado de máquinas automáticas e sistemas de produção,

por sua vez, são formados por empresas de médio e grande porte, nacionais e

estrangeiras, que fabricam máquinas com maior quantidade de componentes e

tecnologias com maior complexidade tecnológica.

Essas máquinas podem trabalhar com peças que exigem uma

quantidade maior de tarefas ou apresentam parâmetros menores para a

execução dessas tarefas. O modelo de torno a cames, por exemplo, é uma

máquina seriada que apresenta dispositivo mecânico para tornear peças

executando tarefas mais simples; o torno de carros múltiplos é uma máquina

fabricada sob encomenda, que pode realizar tarefas mais complexas. Outro

exemplo de máquina desse grupo é a máquina de usinagem com variações de

3 a 5 eixos.

Por conta das características das tecnologias presentes nessas

máquinas, seu preço é relativamente mais alto do que o preço praticado para

as máquinas tradicionais.

As empresas de máquinas-ferramenta visitadas fabricam produtos sob

encomenda para consumidores do mercado interno e externo. Os principais

setores usuários das máquinas-ferramenta das empresas selecionadas na

pesquisa empírica são a indústria automobilística e seus fornecedores (02

empresas); empresas prestadoras de serviços de usinagem, tornearias e

ferramentaria (06 empresas); componentes médicos e odontológicos;

telecomunicações; eletrodomésticos e aviação e gás (01 empresa).

Vale notar que o desempenho industrial dos usuários de máquinas-

ferramenta exerce papel decisivo sobre as vendas e as estratégias de

investimentos do setor de máquinas no mercado interno56.

As empresas de máquinas-ferramenta da amostra utilizam,

principalmente, capital próprio em suas estratégias produtivas, tecnológicas e

56

Essa discussão será retomada e aprofundada na seção sobre Dinâmica industrial e comercial do setor de máquinas.

Page 158: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

158

de mercado. Entre essas empresas, algumas já utilizaram recursos da FINEP57

para desenvolvimento de produto.

A principal fonte de acesso ao financiamento por parte dos clientes que

compram as máquinas fabricadas por essas empresas é o FINAME (utilizado

por quatro empresas).

As empresas de máquinas-ferramenta da amostra estão atuando no

mercado interno há aproximadamente 50 anos. Desde a sua fundação, essas

empresas resistiram às várias fases de declínio da produção nacional de

máquinas, o que pode ser atribuído às competências incorporadas e à revisão

de suas estratégias de atuação nas fases de queda e aquecimento da

demanda.

As competências acumuladas ao longo do tempo resultaram em

variedade de linhas de produtos que são utilizados, principalmente, por

empresas usuárias do mercado interno. Além disso, as empresas visitadas

apresentam flexibilidade para adaptar suas linhas de produtos às

especificidades da demanda, o que representa um diferencial em relação às

empresas de máquinas do mercado externo.

Por conta desses fatores, é possível afirmar que as empresas de

máquinas-ferramenta exercem papel importante para o desenvolvimento

industrial e tecnológico da indústria de transformação do Brasil.

As próximas seções discutem o desempenho das empresas, as

características do desenvolvimento de tecnologias e as interações realizadas

entre as empresas visitadas e outros atores.

57

A tese reconhece a importância dos instrumentos públicos de financiamento e incentivo tecnológico dos setores industriais. Entretanto, optou-se por não realizar uma análise aprofundada sobre políticas públicas de apoio e incentivo ao desenvolvimento do setor de máquinas-ferramentas do Brasil.

Page 159: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

159

7.1.2 Fatores de competitividade das empresas de máquinas-ferramenta

A competitividade das empresas de máquinas-ferramenta analisadas na

pesquisa empírica depende, principalmente, de dois fatores: preço e condições

técnicas das máquinas.

O primeiro fator de competitividade identificado para as empresas de

máquinas-ferramenta visitadas é o preço dos produtos vendidos no mercado

interno.

Esse fator está diretamente relacionado aos custos de produção das

máquinas. De maneira geral, o custo do material e da mão-de-obra utilizados

no processo de produção das máquinas e os custos impostos pelo ambiente

macroeconômico (taxa de juros, câmbio) refletem no preço de venda da

máquina-ferramenta nacional.

Os custos diretos e indiretos de produção refletem no preço das

máquinas nacionais e dificultam a atuação das empresas no mercado interno e

externo, principalmente entre as empresas de pequeno porte.

O preço da máquina é o principal fator de competitividade para as

empresas com atuação na faixa de mercado de máquinas mais tradicionais,

como alguns modelos de tornos e fresadoras.

Um dos fatores que explica a concorrência em preços é que os

conhecimentos em mecânica incorporados a esses produtos estão amplamente

difundidos entre empresas do mercado interno e externo. Os funcionários das

empresas visitadas, por exemplo, apresentam relativa facilidade para

incorporar conhecimentos e promover pequenas adaptações ao produto. A

difusão de conhecimentos no ambiente interno dessas empresas, por sua vez,

apresenta duas consequências para o seu desempenho no mercado interno e

externo.

Em primeiro lugar, a possibilidade de realizar pequenas melhorias no

produto repercute em baixa barreira à entrada de novas empresas na faixa de

mercado de máquinas-ferramenta tradicionais. Esse fato pode ser ilustrado

pelo elevado número de empresas de micro e pequeno porte com atuação no

mercado brasileiro.

Em segundo lugar, como os conhecimentos incorporados aos produtos

ou processos apresentam característica incremental e são facilmente

Page 160: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

160

transmitidos através de interações entre funcionários, a competitividade da

empresa que desenvolveu a melhoria na máquina é bastante frágil. No curto

prazo, uma melhoria realizada na mesma base de conhecimentos por

empresas concorrentes é suficiente para ‘liquidar’ a vantagem competitiva da

empresa que antes apresentava ganhos de mercado.

As máquinas de retificação apresentam uma exceção a essa condição

porque os conhecimentos em tecnologias de precisão não estão tão difundidos

no mercado interno. Mesmo nesse caso, a pesquisa empírica identificou que as

empresas de retificação com atuação no mercado interno têm apresentado

concorrência em preço.

Com base nessas informações, verifica-se que a competitividade

baseada, exclusivamente, no preço dos produtos se tornou um obstáculo para

a manutenção e o desempenho das empresas de máquinas no mercado

interno e externo.

O segundo fator de competitividade identificado para as empresas de

máquinas-ferramenta visitadas abrange as características técnicas e de

produção das máquinas.

As características técnicas abrangem aspectos como a tolerância das

máquinas na execução de tarefas e as condições para trabalhar com diferentes

materiais e apresentar maior produtividade; e a capacidade de trabalhar com

projetos simples ou adaptar projetos existentes para atender requisitos da

demanda. Além disso, pode-se destacar a qualidade do processo de produção

executado pela máquina e o tempo gasto na produção das peças para o

cliente.

As características técnicas e do processo de produção de máquinas são

fatores de competitividade importante para as empresas com atuação nas

faixas de mercado de máquinas automáticas e sistemas de produção.

De maneira geral, as transformações nas características dos materiais

utilizados em setores como aviação, petróleo e gás e a indústria

automobilística, a rapidez verificada no processo produtivo daqueles setores e

as exigências em relação à qualidade do produto final influenciaram a

adaptação e as melhorias das máquinas-ferramenta.

Nesse cenário, as características técnicas dos materiais, das

ferramentas e componentes eletrônicos incorporados às máquinas podem

Page 161: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

161

conferir às empresas desse setor um melhor desempenho na realização de

suas tarefas.

No processo de produção das peças em materiais mais resistentes,

como o aço inox, por exemplo, o trabalho da máquina é relativamente diferente

do trabalho realizado em peças de outros tipos de aços.

No primeiro caso, a máquina deve operar com velocidade menor para

usinar peças com as especificações demandadas. Isso porque o aumento da

velocidade de trabalho pode provocar o superaquecimento da máquina e a

danificação da máquina e do material trabalhado. Em materiais menos

resistentes, por sua vez, a máquina pode executar as tarefas com maior

velocidade e avanço diferente.

A flexibilidade para adaptar produtos às especificações dos

consumidores também é um fator de competitividade importante para as

empresas com atuação no ramo de máquinas-ferramenta, principalmente,

aquelas que desenvolvem sistemas de produção.

De maneira geral, essas empresas apresentam pequena equipe de

funcionários que são responsáveis por adaptações e melhorias no projeto de

produto, visando o atendimento de especificações do consumidor.

Frequentemente, essa flexibilidade para mudar os projetos de máquinas está

apoiada em habilidades e na experiência daqueles funcionários do ambiente

interno das empresas58.

A qualidade do processo de produção e a otimização do tempo gasto na

produção de peças são fatores importantes para a competitividade,

principalmente, de empresas que desenvolvem sistemas de produção e

máquinas automáticas. Nas empresas visitadas que desenvolvem sistemas de

produção, por exemplo, há uma preocupação em incorporar componentes e

ferramentas que permitam a produção com melhor qualidade e que utilizem o

menor tempo possível na execução de cada tarefa.

É importante registrar que as alterações nas características técnicas das

máquinas e a flexibilidade para adaptar projetos são preocupações mais

comuns entre as empresas com produção sob encomenda.

58

A análise sobre capacidade produtiva e inovativa das empresas visitadas é apresentada na seção 7.1.4 da tese.

Page 162: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

162

A qualidade do processo de produção e o tempo gasto a realização de

cada tarefa, por sua vez, são preocupações que estão implícitas no processo

produtivo de qualquer máquina e qualquer porte da empresa. Entretanto, esses

dois fatores são mais importantes para o desempenho industrial das empresas

que desenvolvem máquinas com tecnologias automáticas ou sistemas de

produção.

À medida que se transita para categorias de automáticas e sistemas de

produção, as competências são relativamente mais difíceis de imitar porque

demandam a atualização de conhecimentos e o aprendizado no ambiente

interno às empresas. Por esse motivo, essas faixas de mercado apresentam

mais barreiras à entrada de novas empresas.O quadro 7.4 resume os fatores

de competitividade nas três faixas de mercado de máquinas-ferramenta.

Faixas de mercado de máquinas-ferramenta

Principal fator de competitividade

Barreiras à entrada de novas

empresas Máquinas de tecnologia

tradicional Preço Baixa

Máquinas automáticas

Preço (em menor grau),características técnicas dos

produtos, flexibilidade para adaptar projeto;

Baixa ou Alta (depende do tipo do

produto)

Sistemas para produção

Qualidade, tecnologias incorporadas, flexibilidade para

adaptar projeto; Tempo de execução das tarefas.

Alta

Fonte: Elaboração própria, com base na pesquisa empírica.

Quadro 7.4 – Fator de competitividade e características das barreiras à entrada,

segundo as faixas de mercado.

A partir das informações obtidas na pesquisa empírica da tese é possível

classificar as empresas com produção de máquinas-ferramenta em dois

grupos. O primeiro grupo é formado por três empresas que apresentam

capacidade para adaptar projetos, qualidade do produto final e otimização do

tempo gasto no processo produtivo como principais fatores de competitividade.

O segundo grupo é formado por três empresas de máquinas-ferramenta que

apresentam o preço dos produtos como principal fator de competitividade no

mercado interno e externo.

Entretanto, como as empresas com produção de máquinas-ferramenta

apresentam diversificação de linhas de produtos e diferentes modelos dentro

de uma mesma linha, é possível identificar a combinação de todos esses

Page 163: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

163

fatores de competitividade em uma mesma empresa, dependendo do tipo de

produto analisado.

A atuação das empresas em faixas de mercado de máquinas-ferramenta

com diferentes fatores de competitividade apresenta algumas implicações

importantes para o desempenho industrial e tecnológico do setor de máquinas

no mercado interno. A próxima seção analisa as informações qualitativas sobre

o desempenho industrial e comercial das empresas de máquinas-ferramenta no

período recente.

7.1.3 Análise qualitativa sobre o desempenho industrial e comercial das

empresas de máquinas-ferramenta selecionadas

As empresas de máquinas-ferramenta visitadas na pesquisa empírica

vendem seus produtos, principalmente, no mercado interno, mas em alguns

casos, as empresas vendem algumas linhas de produtos também para o

mercado externo.

No período entre os anos de 2010 e 2012, essas empresas de

máquinas-ferramenta apresentaram queda do seu desempenho industrial e

econômico em termos de produção, vendas e investimentos em capacidade

instalada. Entretanto, essa condição não é visualizada para as empresas

fabricantes de máquinas para todos os setores industriais.

A pesquisa empírica identificou empresas com produção de máquinas

voltadas para a indústria automobilística que apresentaram aumento do

número de pedidos de máquinas no ano de 2011.

As empresas nessa situação apresentam a revisão das estratégias de

investimentos visando à modernização da capacidade produtiva de máquinas.

O aumento das vendas tem influenciado o aumento do nível de utilização de

sua capacidade produtiva59, o que difere do nível de utilização de capacidade

verificado para a indústria de transformação.

59

As empresas visitadas não divulgaram dados sobre utilização da capacidade produtiva recente. De acordo com os dados divulgados pela Confederação Nacional das Indústrias, a indústria de transformação nacional apresentou 75,5% de utilização de capacidade instalada no ano de 2011. As informações podem ser consultadas na tabela 5.5.

Page 164: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

164

Por outro lado, a pesquisa empírica também identificou empresas com

produção de máquinas destinadas a outros setores industriais que

apresentaram queda da demanda nos últimos dois anos.

As empresas desse grupo apresentaram queda do número de pedidos e

não apresentam planos de investimento em modernização da unidade fabril.

Além disso, essas empresas estão revendo estratégias de atuação do mercado

nacional e abandonando o desenvolvimento de algumas linhas de produtos.

A pesquisa empírica identificou dois fenômenos que podem ajudar a

explicar o desempenho industrial e comercial das empresas de máquinas-

ferramenta e têm influenciado as estratégias industriais das empresas com

atuação no ramo de máquinas-ferramenta nacional.

O primeiro fenômeno identificado na pesquisa empírica refere-se à

inserção de outros países na produção mundial de máquinas, que concorrem

diretamente com os fabricantes brasileiros desde o final da década de 1990. O

segundo fenômeno é a queda da demanda mundial de máquinas verificada

entre os anos de 2008 e 2009.

De maneira geral, as empresas nacionais e as multinacionais com filiais

instaladas no Brasil têm enfrentado aumento da concorrência no comércio

internacional de máquinas, principalmente entre os produtos que apresentam

tecnologias mais simples.

O mercado de tornos e fresadoras, por exemplo, apresentam maior

inserção de empresas estrangeiras, provenientes, principalmente de Taiwan e

da China, que apresentam produtos com preços em média até 60% menor do

que os preços praticados por empresas de máquinas do Brasil.

As vendas de máquinas-ferramenta para o mercado externo, por sua

vez, apresentaram modificações no volume e no perfil dos países

importadores. De acordo com os dados da pesquisa, destaca-se a redução da

demanda de máquinas brasileiras por alguns países desenvolvidos da União

Européia, da América Latina e os Estados Unidos. Além disso, os países

asiáticos têm apresentado participação mais significativa no volume de

exportações para o Brasil do que no volume de importações.

Diante dessa situação, algumas empresas nacionais de máquinas

ampliaram o desenvolvimento de projetos especiais de máquinas sob

encomenda. A pesquisa empírica da tese identificou duas empresas de grande

Page 165: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

165

porte e uma empresa de médio porte que estão investindo no desenvolvimento

de competências visando a produção de máquinas especiais.

O desenvolvimento dessa estratégia assumiu papel importante para o

desempenho industrial e econômico daquelas empresas porque os modelos de

máquinas especiais apresentam maior valor agregado e reúnem fatores de

competitividade que são mais difíceis de imitar. Desse modo, as empresas que

desenvolvem projetos especiais conseguem amenizar a concorrência com

produtos provenientes de outros países.

O desempenho das empresas multinacionais com filiais instaladas no

Brasil também tem sido afetado pela inserção de outras empresas no setor de

máquinas.

Nas últimas décadas, a atuação dessas empresas de máquinas esteve

fundamentada pela divisão mundial da produção dos tipos de máquinas nos

países em que as empresas apresentam unidades fabris. Naquele cenário,

enquanto a matriz produzia máquinas mais sofisticadas, a filial brasileira se

especializava na ‘nacionalização’ de máquinas simples projetadas pela matriz.

As empresas multinacionais com filiais instaladas no mercado brasileiro

tem apresentado a revisão de algumas estratégias produtivas e concorrenciais.

Há movimento por parte dessas empresas visando novo posicionamento do

Brasil na produção mundial de máquinas. De acordo com essa visão, o Brasil

se transformaria em nova plataforma de produção de linhas de máquinas-

ferramenta que incorporam especificidades exigidas no mercado interno e

podem atender à demanda dos países de industrialização recente.

De acordo com os dados obtidos na pesquisa empírica até o ano de

2008, grande parte das empresas com atuação no ramo de máquinas-

ferramenta do Brasil apresentava resultados positivos das vendas, por conta da

alta demanda de máquinas nacionais e as perspectivas de aumento dos

investimentos do setor produtivo.

No período entre os anos de 2008 a 2010, a queda da atividade

econômica mundial contribuiu para a revisão dos investimentos em capacidade

produtiva e influenciou a queda da venda de máquinas no mercado nacional e

externo.

A pesquisa empírica identificou três empresas nacionais de máquinas-

ferramenta que estão revendo sua atuação no mercado interno e optando por

Page 166: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

166

parar a produção de algumas linhas de máquinas. Duas dessas empresas se

tornaram representante de empresas de máquinas estrangeiras.

Além disso, a pesquisa identificou empresas de máquinas-ferramenta

que estão migrando para a produção de linhas de máquinas um pouco mais

sofisticadas ou estão se especializando em projetos sob demanda de clientes,

como forma de ampliar suas competências internas.

Com base nas informações apresentadas até aqui, é possível destacar

que as empresas com atuação no ramo de máquinas-ferramenta, independente

do porte e da origem de capital, têm apresentado condições adversas em seu

desempenho industrial. A próxima seção analisa as informações sobre a

capacidade inovativa do grupo de empresas de máquinas-ferramenta

selecionadas na pesquisa empírica.

7.1.4 Capacidade inovativa interna das empresas analisadas

Essa seção apresenta uma análise da capacidade inovativa das

empresas de máquinas-ferramenta considerando dois fatores: características

da área de engenharia das empresas e características do processo de

produção e melhoria das máquinas.

Características da área de engenharia das empresas

As atividades de engenharia das empresas visitadas estão organizadas,

basicamente, em duas subáreas: engenharia de sistemas eletrônicos e

engenharia de sistemas mecânicos.

De acordo com os entrevistados, os funcionários vinculados a essas

subáreas apresentam boa base de conhecimentos e competências em

engenharia, tanto de formação (graduação) como de experiência no ramo. Os

funcionários com experiência em engenharia estão trabalhando há mais tempo

nas empresas e, nem sempre apresentam a graduação na área

correspondente à sua atuação.

Em alguns casos, esses funcionários ocupam funções de projetistas ou

assumem papel importante nas etapas de melhorias do projeto das máquinas

em virtude das competências e da experiência acumulados ao longo do tempo.

Page 167: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

167

Os funcionários com graduação em engenharia, por sua vez, também

apresentam participação importante no projeto das máquinas.

Especialmente entre as empresas de máquinas-ferramenta com

produção destinada também ao mercado europeu, o conhecimento técnico e

científico obtido por meio de cursos regulares constitui fator importante para o

desenvolvimento e fabricação das máquinas e os avanços em temas

correlatos.

As empresas visitadas enfatizaram o papel desempenhado pelos

funcionários dessas áreas da engenharia nas etapas de projeto, melhoramento

e no processo de fabricação das máquinas.

Particularmente nas etapas de projeto e melhoramento das máquinas,

esses funcionários têm atuado no atendimento de especificidades de algumas

linhas de produtos.

Algumas empresas de máquinas dispõem de funcionários ou uma

equipe que trabalha em conjunto com o departamento de engenharia de

produto visando à operacionalização de mudanças específicas.

Além disso, os gerentes das áreas de engenharia mecânica e eletrônica

têm atuação importante na prospecção de novas tecnologias ou novas

aplicações difundidas através de feiras e eventos do setor.

Processo de produção das máquinas

As empresas de máquinas visitadas trabalham por projetos (sob

encomenda) e contam com a colaboração entre as subáreas de sistemas

eletrônicos e mecânicos para operacionalizar as melhorias desses projetos.

As empresas não divulgaram informações sobre tempo médio utilizado

na produção das máquinas, mas destacaram que o tempo médio necessário

para a execução de cada projeto é diferente, dependendo do tipo da máquina.

As máquinas especiais, os centros de torneamento, os sistemas

flexíveis, entre outros, apresentam prazo de produção relativamente maior do

que a produção de máquinas seriadas. Aquelas máquinas são projetadas para

executar tarefas em peças com muitas especificações em relação ao tamanho,

largura, profundidade e detalhamento dos trabalhos, o que reflete em maior

complexidade ao processo dependendo do uso final da peça.

Page 168: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

168

O setor de máquinas-ferramenta tem apresentado redução do tempo

médio decorrido desde a programação e a entrega do produto final. Em alguns

casos, as empresas de máquinas-ferramenta utilizam informações de mercado

e sua experiência na venda desses produtos visando à melhoria da

programação da produção. Nesse sentido, para se antecipar às demandas e

reduzir o tempo de entrega do produto, há uma preocupação interna à empresa

em ampliar suas competências e os conhecimentos sobre mercado.

Nos últimos cinco anos, três empresas adotaram mudanças no processo

produtivo das máquinas seja através da reorganização de algumas etapas da

produção ou da internalização de atividades correlacionadas à produção de

máquinas.

Na etapa de preparação das peças, por exemplo, o ambiente é

climatizado visando à manutenção das características físicas na execucação

de tarefas com menor tolerância.

Na etapa de medição da peça fabricada, os testes são realizados várias

vezes antes da usinagem, após a usinagem e junto com o comprador da

máquina, para garantir que a máquina adquirida executará as tarefas de acordo

com programação e as especificações do cliente.

A etapa em que os componentes eletrônicos são incorporados à

máquina e testados é uma das mais importantes no processo de produção. O

objetivo principal dessa etapa é verificar se a máquina suporta variações na

velocidade de execução das tarefas ou em outros parâmetros. Além disso, o

teste de componentes eletrônicos é importante para identificar os resultados

dessas variações para o desempenho da máquina ao final de um período de

tempo.

A etapa de teste dos componentes eletrônicos demanda mais tempo,

seja para testar o funcionamento desses componentes ou para testar as

limitações de seu funcionamento na máquina em determinadas condições.

A maior atenção dada a algumas etapas de produção de máquinas tem

possibilitado a algumas empresas melhorar a imagem e a confiabilidade das

máquinas entre os consumidores no mercado interno.

Outro fator importante é que algumas empresas dispõem de um

pequeno estoque de ferramentas, partes e peças usinadas que são utilizadas

na produção da máquina. A disponibilidade desse lote permite que a produção

Page 169: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

169

da parte mecânica da máquina seja efetuada em tempo relativamente menor,

contribuindo para a redução do tempo de entrega do produto após a entrada do

pedido na fábrica.

Em algumas empresas com produção de máquinas-ferramenta, as

atividades de chaparia e funilaria também passaram a ser realizadas dentro da

empresa, como forma de garantir a rapidez na entrega das peças que serão

trabalhadas pela empresa fabricante da máquina.

As características do material que compõe a peça utilizada no processo

de produção das máquinas é um fator que influencia diretamente os

parâmetros necessários para o bom desempenho das máquinas. De maneira

geral, o modelo da máquina é pré-concebido e fabricado considerando as

variações nas características de materiais como aço, alumínio, latão, entre

outros.

A qualidade desse modelo de máquina está atrelada à sua capacidade

de trabalhar com variedade de materiais, e com diferentes velocidades e

profundidade de corte. Além disso, fatores como condutibilidade e a

maleabilidade dos materiais influenciam no rendimento da produção e bom

acabamento da peça. A máquina tem que estar adaptada para essas

diferenças nas características físicas dos materiais.

Por outro lado, essas características também podem influenciar

negativamente nas melhorias das máquinas porque impõem limitações

técnicas ao projeto de máquinas especiais no futuro.

Para realizar as tarefas considerando essas características, as máquinas

podem utilizar tecnologias simples ou sofisticadas e quantidade distinta de

ferramentas e componentes.

A interface da máquina com componentes eletrônicos e mecânicos

viabiliza a produção das máquinas considerando as características desses

materiais.

Os parâmetros de rotação, por exemplo, viabilizam a execução das

tarefas com a velocidade necessária para o processo de produção. A potência

de corte da máquina obtida através dessa interface possibilita a execução das

tarefas com diferentes níveis de velocidade para qualquer material.

Page 170: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

170

Apesar dessa condição, uma empresa destacou a relevância do

desenvolvimento de projetos especiais, como forma de reduzir a concorrência

nas linhas de produtos mais simples, como tornos.

Page 171: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

171

7.1.5 Características das interações e resultados apontados por empresas

de máquinas-ferramenta

Essa seção apresenta uma discussão sobre as características das

interações realizadas entre as empresas fabricantes de máquinas-ferramenta e

os seguintes atores do Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta:

a) fornecedores; b) usuários; e c) Instituições de ensino e pesquisa.

As interações realizadas entre os fabricantes de máquinas-ferramenta e

empresas e instituições pertencentes ao Sistema Setorial de máquinas constitui

fator importante para explicar o desenvolvimento de tecnologias e o

desempenho do setor de máquinas nos últimos anos.

O principal instrumento de interação utilizado por empresas de

máquinas-ferramenta de médio e grande porte é a participação em feiras

nacionais e internacionais dos ramos de máquinas, matrizaria e automação.

A participação das empresas analisadas em feiras possibilita a

ampliação de contatos com fornecedores internacionais do ramo de eletrônica,

com fornecedores nacionais e estrangeiros de componentes e ferramentas; e

com fornecedores de insumos.

O principal objetivo das visitas às essas feiras é ter acesso a

informações que viabilizam a atualização sobre tendências e novos conceitos

relacionados à construção das máquinas.

Em alguns casos, os funcionários da área de engenharia visitam as

feiras realizadas no mercado interno e externo (principalmente da Alemanha)

com o objetivo de também obter informações sobre aplicações que são

novidade para o mercado interno, mas não são novas no mercado

internacional.

As empresas de máquinas de micro e pequeno porte, por sua vez,

utilizam principalmente os contatos com fornecedores e os usuários locais

estabelecidos do mercado interno.

Os fornecedores das empresas de máquinas-ferramenta são

considerados uma fonte importante de mudança técnica.

Em muitos casos, as interações estabelecidas entre os fabricantes de

máquinas e seus fornecedores são baseadas na negociação técnica e na

negociação de preços e prazos para a entrega dos componentes que serão

Page 172: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

172

incorporados às máquinas-ferramenta. Em outros casos, as interações também

envolvem o acesso a tecnologias que podem melhorar o desempenho da

máquina.

Os fornecedores de dispositivos pequenos, por exemplo, oferecem

atualização tecnológica para as empresas de máquinas e impulsionam a busca

de inovação e novas concepções para incorporar tais dispositivos. Os

fornecedores de tecnologia de comando numérico, por sua vez, oferecem

cursos sobre o desempenho de seus produtos e o desempenho das máquinas

com esses componentes.

Os representantes das empresas fabricantes de máquinas-ferramenta

analisadas na pesquisa empírica destacaram interações realizadas com duas

categorias de fornecedores: componentes eletrônicos e materiais (insumos).

Os componentes eletrônicos incorporados às máquinas do Brasil são

fornecidos, principalmente, pela empresa japonesa Fanuc, a empresa alemã

Siemens e a empresa (japonesa) Mitsubishi.

Uma das principais justificativas para essa concentração no segmento

de componentes no mercado interno é que os consumidores das máquinas

brasileiras comparam esses produtos com os similares fabricados no exterior.

A utilização de componentes da mesma marca utilizada no exterior aumenta a

chance de aceitação e a inserção dos produtos nacionais no mercado interno e

externo.

De maneira geral, os fabricantes de máquinas europeus apresentam

preferência por comandos Siemens, enquanto as empresas de máquinas da

América preferem os componentes Fanuc.

De acordo com os entrevistados, a utilização de componentes

eletrônicos fabricados por essas empresas pode ser explicada por

características econômicas e técnicas dos produtos.

Em primeiro lugar, não há diferenças significativas no preço para

incorporar componentes às máquinas, mas alguns componentes fabricados

pela Siemens apresentam preço mais acessível que os componentes Fanuc.

Em segundo lugar, embora a Siemens apresente uma equipe maior e boa

estrutura de assistência técnica nacional, a interface com componentes Fanuc

é mais fácil, relativamente aos componentes da empresa Siemens.

Page 173: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

173

O segmento de fornecedores de insumos, por sua vez, é relativamente

menos concentrado que segmento de componentes eletrônicos. As empresas

produtoras de máquinas-ferramenta apresentam interações ‘homologadas’ com

várias empresas fornecedoras de insumos, principalmente aquelas localizadas

na mesma região/Estado em que a fabricante de máquina está instalada.

A principal justificativa para a seleção de grupo de fornecedores é a

preocupação em não comprometer os prazos de entrega do produto final e não

ser surpreendido pelo aumento do custo de produção em situações adversas.

As empresas fornecedoras de insumos não são muito especializadas e,

em alguns casos, a baixa competência na realização de trabalhos com os

materiais influenciaram as empresas fabricantes de máquinas à internalizar

essas etapas. Essa é uma característica comum entre as empresas de

máquinas-ferramenta que trabalham com fundidos de peças maiores (acima de

20 kg).

As interações realizadas entre os fabricantes das máquinas e seus

usuários apresentam caráter comercial ou são organizadas para promover o

treinamento e a utilização correta das máquinas compradas. Entretanto, há um

diferencial em relação ao porte das empresas usuárias que compram as

máquinas-ferramenta do mercado interno.

Nas situações em que os clientes das máquinas são empresas de

pequeno porte, o principal fator levado em consideração na compra das

máquinas é o custo das máquinas e as condições de financiamento para a

compra da máquina. Nas situações em que os clientes das máquinas são

empresas de grande porte, o principal atributo é a tecnologia incorporada ao

produto.

Para algumas empresas de máquinas-ferramenta, o baixo nível de

conhecimentos técnicos dos funcionários das empresas usuárias de pequeno

porte repercute negativamente no desempenho do setor de máquinas-

ferramenta.

Destaca-se que, em geral, parte dos problemas das máquinas usadas

por empresas de pequeno porte são decorrentes da falta de manutenção e da

utilização da máquina em condições inadequadas. Nessa situação, as

empresas de máquinas entrevistadas consideram que a venda dos produtos

Page 174: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

174

para esses clientes pode se tornar um empreendimento oneroso no longo

prazo porque demanda maior assistência e reparos no produto.

As empresas usuárias de grande porte, por sua vez, apresentam

melhores condições técnicas internas para aprender e incorporar informações

sobre tecnologias e os componentes necessários ao processo produtivo.

As empresas de máquinas-ferramenta analisadas também destacaram a

relevância de interações e parcerias com instituições de ensino. De maneira

geral, as interações entre as empresas e a área de ensino e pesquisa são

importantes para o desenvolvimento do setor porque podem promover a

formação de novas de competências nas áreas de engenharia e em áreas

correlatas. Além disso, as interações podem influenciar na atualização e

melhoria da qualidade da mão-de-obra disponível no mercado interno.

É possível identificar dois tipos de interações entre empresas fabricantes

de máquinas e instituições de ensino: interações visando à formação básica em

áreas de engenharia em nível técnico e de graduação; e interações voltadas à

formação específica, em nível de pós-graduação.

Os representantes das empresas ressaltaram que os cursos técnicos e

de graduação disponíveis no mercado interno oferecem uma boa base para a

formação e atualização dos funcionários. Entretanto, em algumas localidades a

demanda por funcionários com formação técnica para vagas de estágio é maior

que a oferta.

Outro fator importante é que após a finalização do curso, os alunos

precisam passar por uma etapa de capacitação interna e teste de

conhecimentos específicos, o que demanda tempo e investimentos da empresa

de máquina-ferramenta.

Apesar do papel importante atribuído aos cursos de formação básica,

três empresas visitadas destacam a estratégia de oferecer a formação básica

internamente, com o objetivo de promover a formação técnica para as funções

que o funcionário irá executar na empresa. Por conta desses fatores, as

interações entre as empresas de máquinas-ferramenta e escolas técnicas

podem ser classificadas como esporádica.

A interação realizada entre as empresas e instituições de ensino em

nível de pós-graduação apresenta característica não muito distinta da interação

efetuada com instituições de formação básica.

Page 175: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

175

O principal determinante para a realização dessas interações é o acesso

a conhecimentos sobre temas correlatos e específicos para o desenvolvimento

e melhorias das máquinas. Uma característica positiva dessas interações é que

elas são mantidas por um período de tempo relativamente maior, o que

abrange desde o início do projeto até a defesa e divulgação do trabalho final.

O funcionário da empresa inicia o curso de mestrado acadêmico ou

profissionalizante com o objetivo de ter acesso a informações que ajudarão a

melhorar o desempenho das máquinas, seja a partir da resolução de problema

específico ou através da incorporação de conhecimento novo para a empresa.

A existência de grupos de pesquisa na instituição de ensino em que o

funcionário da empresa está cursando a pós-graduação pode acelerar o seu

aprendizado. Nesse sentido, algumas empresas consideram que os Institutos e

grupos de pesquisa podem colaborar para o desenvolvimento na área de

interesse da empresa.

O processo de interação estabelecido entre esses atores pode resultar

não apenas na elaboração de trabalho acadêmico, mas na realização de

eventos como workshops interno (empresa) ou externo e palestras. A principal

vantagem decorrente da realização desses eventos é que eles podem ampliar

as informações nas áreas correlatas à questão de pesquisa; podem acelerar o

processo de pesquisa conjunta e contribuir para aplicação desses

conhecimentos.

Apesar dessa contribuição para o desenvolvimento tecnológico da

máquina e da empresa, a pesquisa identificou apenas três interações entre

empresas de máquinas-ferramenta e os grupos de pesquisa e institutos de

ensino. A próxima seção apresenta uma análise sobre alguns grupos de

pesquisa com atuação no ramo de máquinas e equipamentos que aceitaram

colaborar com a pesquisa empírica.

Page 176: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

176

7.2 Grupos de pesquisa e as características das interações mensuradas

com setor produtivo

Essa seção descreve as características dos grupos de pesquisa e

analisa o perfil e os resultados das interações realizadas entre esses grupos de

pesquisa e o setor produtivo nos últimos cinco anos. A discussão desta seção

foi dividida em três subseções (temas): a) origem e desenvolvimento dos

grupos de pesquisa analisados; b) dinâmica das interações para os grupos de

pesquisa selecionados; e c) Resultados das interações para esses grupos.

7.2.1 Origem e desenvolvimento dos grupos de pesquisa analisados

A pesquisa empírica da tese analisou sete grupos de pesquisa que estão

sediados em instituições de ensino superior do Estado de São Paulo. O quadro

7.5 apresenta informações sobre as instituições e os departamentos em que os

grupos estão localizados e os líderes de cada grupo.

Faculdade e Cidade Departamentos/

Centros Grupos Líderes

Faculdade de Engenharia e Tecnologia de Bauru/UNESP

(Bauru/SP)

Engenharia Mecânica Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

Eduardo Carlos Bianchi

Paulo Roberto de Aguiar

Faculdade de Engenharia Arquitetura e Urbanismo /UNIMEP

(Santa Bárbara D’ Oeste/SP)

Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção

Núcleo de Desenvolvimento e Otimização de Processos e Sistemas Produtivos

Alexandre Tadeu Simon

Faculdade de Engenharia Arquitetura e Urbanismo/UNIMEP

(Santa Bárbara D’ Oeste/SP)

Laboratório de Sistemas Computacionais Para Projeto e Manufatura

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados

Klaus Schützer

Faculdade de Engenharia Mecânica/UNICAMP

(Campinas/SP) Engenharia de Fabricação Processos de fabricação

Anselmo Eduardo Diniz

Maria Helena Robert

Faculdade de Engenharia Mecânica/UNICAMP

(Campinas/SP) Projeto Mecânico

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas

Paulo Roberto Gardel Kurka

João Mauricio Rosário

Escola de Engenharia de São Carlos/USP

(São Carlos/SP)

Engenharia de produção Usinagem Com altas velocidades

Reginaldo Teixeira Coelho

João Fernando Gomes de Oliveira

Escola de Engenharia de São Carlos/USP

(São Carlos/SP)

Engenharia de produção Otimização e Processos de fabricação

Reginaldo Teixeira Coelho

Eraldo Jannone da Silva

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados disponíveis no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil (CNPq), 2012.

Quadro 7.5 – Grupos de pesquisa analisados

Page 177: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

177

As principais áreas de conhecimento das pesquisas desses grupos são

engenharia mecânica e engenharia de produção. As atividades de pesquisa

desenvolvidas nessas duas áreas abrangem uma diversidade de linhas de

pesquisa. O quadro 7.6 apresenta informações sobre as linhas de pesquisa e

área de conhecimento predominante.

Grupos Linhas de pesquisa Área de conhecimento

predominante

Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

Desgaste de ferramentas, materiais e de órgãos ativos;

Desgaste dos materiais;

Estudo bacteriológico nos fluidos de corte;

Fadiga dos metais;

Monitoramento do processo de retificação;

Otimização do processo de retificação;

Engenharia Mecânica

Núcleo de Desenvolvimento e Otimização de Processos e Sistemas Produtivos

Logística Industrial e Gestão da Cadeia de Suprimentos;

Processos de fabricação;

Sistemas de Apoio à Decisão;

Sistemas de automação;

Engenharia de produção

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados

Desenvolvimento Integrado do Produto;

Monitoramento do Processo de Usinagem com Altíssima Velocidade;

Usinagem com Altíssima Velocidade;

Engenharia Mecânica

Processos de fabricação

Desenvolvimento de aços e ligas metálicas;

Processo de fabricação;

Sistemas de Apoio à Decisão;

Sistemas de Automação;

Usinagem dos Metais;

Projeto Mecânico;

Engenharia Mecânica

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas. Engenharia Mecânica

Usinagem Com altas velocidades

Automação, Controle de Monitoramento.

Engenharia Mecânica e Mecânica dos Sólidos Engenharia Mecânica

Otimização e Processos de fabricação (OPF)

Automação, Controle de Monitoramento.

Automação da Usinagem Engenharia Mecânica

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados disponíveis no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil (CNPq), 2012.

Quadro 7.6 – Linhas de pesquisa e áreas de conhecimento predominante dos grupos de pesquisa analisados

Os grupos de pesquisa começaram suas atividades a partir do final dos

anos 80, com o objetivo de estudar temas das áreas de engenharias que não

Page 178: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

178

eram abordados no ambiente acadêmico nacional. O quadro 7.7 apresenta o

ano de fundação e as informações sobre a atuação recente desses grupos.

Grupos Ano de

fundação Atuação e objetivos

Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

1992 “Estuda processos abrasivos, com maior ênfase no processo de retificação. Utiliza técnicas como inteligência artificial, queima de peças, otimização da aplicação dos fluidos de corte, melhoria da produtividade e qualidade.”

Núcleo de Desenvolvimento e Otimização de Processos e Sistemas Produtivos

1996

Desenvolve técnicas de otimização de processos em ambiente fabril e aplicação de sistemas de monitoramento e controle de processos e apoio de sistemas. O objetivo é permitir a operação desses processos através de apoio à decisão no gerenciamento do processo, ou em versões automáticas com sistema especialista dentro do conceito de fábrica virtual ou conectado à WEB. Também trabalha no diagnóstico e correção de falhas ocorridas em máquinas CNC.

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados

1995

O NPMI nasceu da experiência de um profundo relacionamento com empresas e universidades visando o desenvolvimento de pesquisa tecnológica e sua apropriação pelos setores produtivos. Dentro deste enfoque o SCPM foi o primeiro laboratório a trazer a Tecnologia de Usinagem em Altíssima Velocidade (HSC) para o Brasil, através do Seminário Internacional de Alta Tecnologia, que vem sendo realizado regularmente desde 1996.

Processos de fabricação

1983 O grupo desenvolve atividades nas áreas de desenvolvimento de processos de fabricação mecânico-metalúrgico, atuando numa interface entre engenharia mecânica (processos) e metalúrgica (análise de fenômenos metalúrgicos envolvidos).

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas

1998 Desenvolve pesquisas e aplicações de processamento de sinais, análise e controle de sistemas dinâmicos voltados a máquinas, estruturas e sistemas robóticos.

Usinagem Com altas velocidades

1995 n.d.

Otimização e Processos de fabricação (OPF)

1990 Desenvolve pesquisa sobre aplicação de processos de usinagem de precisão. Os trabalhos abrangem os temas de automação industrial, máquinas inteligentes, usinagem de precisão e projetos de redução de custos.

Fonte: Elaboração com base nos dados disponíveis no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil (CNPq), 2012.

Quadro 7.7 – Características gerais dos grupos de pesquisa analisados

O principal determinante do surgimento dos grupos de pesquisa

visitados foi o interesse estritamente acadêmico de professores e

pesquisadores das instituições de ensino público e privadas.

De maneira geral, os professores fundadores daqueles grupos iniciaram

suas atividades de pesquisa em colaboração com pesquisadores e alunos do

departamento ou de outras instituições. O objetivo principal das pesquisas era

aprofundar os conhecimentos em alguns temas correlacionados ao processo

de fabricação e desempenho das máquinas.

Em alguns grupos, os professores já estudavam o tema em uma

instituição do exterior (Alemanha) e decidiram dar continuidade à pesquisa em

instituições brasileiras. Em outros grupos, os professores identificaram

Page 179: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

179

questões de pesquisa que poderiam ajudar a resolver problemas no processo

de produção de modelos de máquinas usadas no mercado nacional.

De acordo com alguns pesquisadores entrevistados, no período de

fundação desses grupos não havia um reconhecimento das empresas

brasileiras sobre o papel da pesquisa acadêmica para o desenvolvimento do

setor de máquinas. Além disso, os recursos financeiros para a pesquisa

acadêmica nacional eram limitados, o que dificultava a criação de infraestrutura

e os primeiros estudos nas áreas de interesse dos grupos.

A partir de 2000, algumas empresas começaram a se interessar por

contribuições da pesquisa acadêmica para o seu desempenho industrial.

Entretanto, o setor de máquinas não apresentava percepção sobre as

vantagens de longo prazo decorrentes das interações entre pesquisa científica

e engenharia aplicada. Por esse motivo, as interações entre os grupos de

pesquisa e a indústria eram fracas ou nulas.

Na década de 2010, algumas empresas nacionais passaram a

reconhecer a importância da formação dos recursos humanos (graduação e

pós-graduação) para o desempenho das atividades internas das empresas.

Por outro lado, grande parte das empresas de máquinas não considera

que as universidades possam colaborar com o desenvolvimento de inovações

do setor. A partir da pesquisa empírica constatou-se que há um distanciamento

entre a pesquisa científica e o desenvolvimento de produtos, principalmente,

entre empresas de máquinas de pequeno porte60.

Os grupos visitados desenvolvem projetos de pesquisa visando à

discussão de questões de sua área de conhecimento ou a resolução de

problemas levantados pelo setor produtivo. Além disso, os grupos

desenvolvem atividades de prestação de serviços como teste das máquinas e a

participação em eventos como workshops e palestras técnicas em temas

correlatos à sua área de conhecimento.

Os projetos são conduzidos e operacionalizados por pesquisadores,

alunos de pós-graduação, graduação e técnicos que participam dos grupos de

pesquisa. O quadro 7.8 apresenta o número de membros de cada grupo

estudado, segundo a sua formação.

60

Os fatores que podem justificar esse comportamento das empresas com atuação no ramo de máquinas são analisados na seção 7.3

Page 180: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

180

Grupos

Número de integrantes, por formação acadêmica

Pesquisadores Alunos de

graduação e pós-graduação

Técnicos Total (data)

Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

9 51 2 62 (15/09/12)

Núcleo de Desenvolvimento e Otimização de Processos e Sistemas Produtivos

12 8 2

22 (22/02/12)

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados

07 17 02

26 (19/09/12)

Processos de fabricação 09 23 04 36 (30/07/12)

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas

07 05 00

12 (25/11/10)

Usinagem Com altas velocidades 04 13 02 19 (23/04/12)

Otimização e Processos de fabricação (OPF)

04 12 02

18 (23/04/12)

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados disponíveis no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil, CNPQ (2012).

Quadro 7.8 – Número de integrantes dos grupos de pesquisa analisados

O principal setor de aplicação das pesquisas desenvolvidas por esses

grupos é ‘fabricação de máquina e equipamentos, inclusive máquinas-

ferramenta’.

Para desenvolver as pesquisas em temas relacionados ao processo de

fabricação, os pesquisadores e líderes de alguns grupos desenvolvem vínculos

com grupos sediados em institutos e instituições de pesquisa localizados no

Brasil e no exterior, principalmente a Alemanha. Frequentemente, as

pesquisas demandam vínculos informais também com pesquisadores da área

de engenharia elétrica e de materiais. O quadro 7.9 apresenta as empresas e

grupos que já realizaram interações com os grupos de pesquisa analisados.

Grupos Empresas que realizaram interações com

os grupos analisados Interações com outros grupos

Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

• Nikkon Ferramentas de Corte;

• Agena Resinas e Colas;

• Royall Diamond Ferramentas Diamantadas.

No período de 1999 a 2002 o Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão integrou-se formalmente a Rede Metal Mecânica, Sub-rede Usinagem, do Programa de Redes Cooperativas de Pesquisa - RECOPE, apoiado pela FINEP. De 2001 a 2007 o mesmo grupo integrou-se ao Instituto Fábrica do Milênio - IFM (versões 1 e 2), apoiado pelo CNPq.

Núcleo de Desenvolvimento e Otimização de Processos e Sistemas Produtivos

• LabMat Análises e Ensaios Materiais n.d.

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados

• Siemens PLM Software do Brasil;

• Sandvik do Brasil;

• Indústrias Romi.

O Núcleo possui parceria com a University of Tecnology Darmstadt (Alemanha), através da qual tem ocorrido um intercâmbio científico de estudantes e de professores, inclusive gerando uma dissertação de mestrado agraciada com o Prêmio Schenck na Alemanha.

É a única entidade na América Latina filiada a ProSTEP e.V., Alemanha, - associação para o desenvolvimento de processadores para as

Page 181: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

181

Normas ISO 10303 (STEP) com a qual está realizando um projeto de transferência de tecnologia visando oferecer os mesmos serviços na área de Tecnologia de Dados do Produto, além de sediar a Secretaria Técnica da ISO para o AP 214

Processos de fabricação n.d. n.d.

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas.

n.d. n.d.

Usinagem Com altas velocidades

• Index Tornos Automáticos Indústria e Comércio; • Indústrias Romi; • Tecno How Engenharia Industrial e Comércio; • Saint-Gobain Abrasivos.

n.d.

Otimização e Processos de fabricação (OPF)

• Microma Projetos e Construcões Mecânicas; • Index Tornos Automáticos Indústria e Comércio; • Aços Villares – Matriz; • Saint-Gobain Abrasivos;

• Indústria de Máquinas Zema.

n.d.

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados disponíveis no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil (CNPq), 2012.

Quadro 7.9 – Grupos de pesquisa e interações desenvolvidas recentemente

As atividades de pesquisa conduzidas por esses grupos e os gastos com

a infraestrutura física são financiadas, predominantemente, por recurso

público61. A principal fonte de financiamento das atividades de pesquisa

desenvolvidas por esses grupos são as bolsas de iniciação científica ou bolsas

de pesquisa em nível de pós-graduação (FAPESP, CNPQ). A concessão de

financiamento obtidos por meio da FINEP e FAPESP também é utilizada para

financiar as atividades dos grupos de pesquisa.

Os resultados da pesquisa empírica apontam que as empresas de

máquinas não disponibilizam seus recursos financeiros para a realização das

pesquisas62. Em alguns casos, as empresas fornecem as máquinas

necessárias para a operacionalização do projeto ao preço abaixo do praticado

no mercado.

Desde o surgimento desses grupos, os pesquisadores tem se dedicado

a pesquisas em temas relacionados aos processos de fabricação das

máquinas por conta da necessidade de compreender e melhorar características

técnicas desse processo.

61

A infraestrutura física dos grupos não foi avaliada na pesquisa empírica da tese. Quando questionados sobre as condições internas para a realização das pesquisas, os entrevistados não levantaram pontos negativos que possam influenciar os resultados de suas pesquisas. 62

De acordo com um dos entrevistados, na Alemanha há uma participação mais igualitária dos recursos financeiros de empresas e das universidades e institutos de pesquisa.

Page 182: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

182

Por outro lado, o Brasil apresenta poucos grupos de pesquisa na área de

projeto mecânico. Esse fator pode ser atribuído ao fato de que apesar dos

pesquisadores apresentarem diferentes filiações, as suas pesquisas

apresentam maior preocupação em incorporar avanços na área mecânica63.

Com base nas informações obtidas na pesquisa empírica, os avanços

em algumas áreas de conhecimento difundidos pelo setor de máquinas do

Brasil têm apresentado distanciamento em relação aos avanços nos principais

países com produção de máquinas.

A principal justificativa para essa condição é que o ritmo de

incorporação, difusão e apropriação dos conhecimentos é relativamente distinto

entre as empresas fabricantes de máquinas. Além disso, muitas empresas

nacionais não investem na absorção daqueles conhecimentos e na criação de

competências internas nas linhas de pesquisas em ascensão.

Nesse cenário, os avanços nos temas de pesquisa podem representar

oportunidades para o desempenho do setor de máquinas no mercado

internacional. Entretanto, como as empresas não estão preparadas para

absorver os conhecimentos, essas mudanças representam uma ameaça,

principalmente, para as empresas de pequeno porte.

7.2.2 Características das interações e principais resultados apontados por

grupos de pesquisa

Essa seção utiliza informações obtidas por meio das entrevistas junto

aos representes dos grupos de pesquisa para discutir a dinâmica das

interações realizadas entre esses grupos e as empresas de máquinas-

ferramenta do Estado de São Paulo. A discussão abrange os seguintes pontos:

Setores econômicos em que ocorre a interação;

As empresas que procuraram e procuram o grupo;

Áreas de conhecimento envolvidas;

Natureza das relações;

Frequência das interações;

63

Um dos entrevistados ressaltou que não há espaço para o desenvolvimento de projetos mecânico no

Brasil.

Page 183: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

183

Determinantes das interações;

Características das interações;

Formas de financiamento das atividades P&D a partir das interações;

Participação de outras instituições de ensino e pesquisa;

Principais resultados das interações para os grupos de pesquisa

analisados.

A análise sobre a atuação dos oito grupos de pesquisa do Estado de

São Paulo identificou que cinco desses grupos apresentou (ou apresenta)

alguma interação com a indústria64. Além disso, dentre esses cinco grupos que

desenvolveram interações com empresas, apenas três desenvolveram

pesquisa em parceria com empresas do ramo de máquinas.

De acordo com os representantes dos grupos de pesquisa analisados, o

setor de máquinas e equipamentos do mercado interno tem direcionado seus

esforços para o atendimento da demanda dos setores automobilístico, aviação

e petróleo e gás.

A dinâmica industrial desses setores é relativamente distinta e esse fator

reflete no desempenho dos fabricantes das máquinas utilizadas por aqueles

setores. Além disso, as perspectivas de crescimento da demanda de máquinas

utilizadas por esses setores não refletiu nas interações das empresas

fabricantes de máquinas com grupos de pesquisa considerados na pesquisa

empírica da tese.

As empresas de máquinas procuram os grupos com o objetivo de

melhorar o desempenho do processo de produção de alguns modelos como

retificadoras e tornos. Entretanto, há algumas diferenças entre os

determinantes das interações dependendo do porte da empresa com produção

de máquinas.

As empresas de máquinas-ferramenta de pequeno e médio porte

realizam interações com grupos de pesquisa visando à incorporação de

soluções simples (pequenas melhorias) aos modelos de máquinas antigos. As

empresas de máquinas de grande porte, por sua vez, buscam interações com

grupos visando o desenvolvimento e incorporação de soluções tecnológicas

mais complexas.

64

Os outros dois grupos de pesquisa não têm atuado em pesquisa acadêmica ou não tem interação

Page 184: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

184

As áreas de conhecimento envolvidas nas interações entre os grupos e

as empresas com produção de máquinas são a engenharia mecânica, elétrica,

produção e robótica. Além disso, os grupos de pesquisa visitados também

apresentam interações com grupos de pesquisa da área de engenharia de

materiais.

Em alguns casos, o desenvolvimento dos projetos de pesquisa e a

operacionalização da pesquisa são realizados conjuntamente pelo grupo da

área de mecânica e os grupos (ou pesquisadores) da área de materiais. Esse

comportamento é atribuído ao fato de que os estudos sobre processos e

tecnologias das máquinas precisam se adequar às mudanças e características

dos materiais do qual a peça é formada.

O grupo de pesquisa detentor do projeto também pode utilizar os

laboratórios da engenharia de materiais, como forma de testar os parâmetros

das máquinas-ferramenta estudados. Durante esse processo, os grupos de

pesquisa analisam as características dos materiais, das ferramentas e dos

insumos utilizados na produção dessas máquinas.

A proximidade geográfica entre os grupos de pesquisa com atuação nas

áreas de engenharia mecânica e engenharia de materiais é um aspecto

importante que age como facilitador da troca de informações entre os grupos.

As interações realizadas nos últimos cinco anos entre os grupos de

pesquisa e empresas de máquinas podem ser classificadas, segundo sua

natureza, em dois tipos: Pesquisa científica com considerações de uso

imediato dos resultados; e Fornecimento, pelo grupo, de insumos materiais

para as atividades do parceiro sem vinculação a um projeto específico de

interesse mútuo.

Além disso, as interações abrangem as seguintes atividades: pesquisa e

melhoria das características das máquinas, compra de materiais e insumos;

treinamento visando a utilização correta de componentes eletrônicos; e o teste

de peças.

Em alguns casos, os grupos também colaboraram na elaboração e

melhoria de projetos usados pelas empresas para solicitar recursos financeiros

junto aos órgãos públicos de financiamento. A pesquisa também identificou um

grupo que apresenta interação com empresas fornecedoras de componentes

Page 185: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

185

para a área dentária com o objetivo de realizar teste dos componentes

utilizados por outros setores industriais.

O quadro 7.10 descreve a natureza das interações e a quantidade das

interações a partir dos dados fornecidos pelos grupos de pesquisa.

Natureza das interações entre empresas e instituições de pesquisa (1)

Número de interações

Pesquisa científica sem considerações de uso imediato dos resultados 0

Pesquisa científica com considerações de uso imediato dos resultados 2

Atividades de engenharia não rotineira inclusive o desenvolvimento de protótipo cabeça de série ou planta-piloto para o parceiro

N.d.

Atividades de engenharia não rotineira inclusive o desenvolvimento/fabricação de equipamentos para o grupo

0

Desenvolvimento de software não rotineiro para o grupo pelo parceiro 0

Desenvolvimento de software para o parceiro pelo grupo 0

Transferência de tecnologia desenvolvida pelo grupo para o parceiro 1

Transferência de tecnologia desenvolvida pelo parceiro para o grupo N.d.

Atividades de consultoria técnica não contemplada nos demais tipos N.d.

Fornecimento, pelo parceiro, de insumos materiais para as atividades de pesquisa do grupo sem vinculação a um projeto específico de interesse mútuo.

0

Fornecimento, pelo grupo, de insumos materiais para as atividades do parceiro sem vinculação a um projeto específico de interesse mútuo.

1

Treinamento de pessoal do parceiro pelo grupo incluindo cursos e treinamento "em serviço"

N.d.

Treinamento de pessoal do grupo pelo parceiro incluindo cursos e treinamento "em serviço"

N.d.

Outros tipos predominantes de relacionamento que não se enquadrem em nenhum dos anteriores (2)

2.

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados disponíveis na pesquisa empírica. (1) Com base na classificação utilizada no Diretório Grupo de Pesquisa CNPq. (2) Inclui teste e ensaio de peças.

Quadro 7.10 – Quantidades de interações por natureza

Os grupos de pesquisa analisados apresentaram baixa frequência de

interações com empresas do setor de máquinas e equipamentos nos últimos

dois anos. O estudo de caso com os grupos de pesquisa identificou apenas

dois exemplos de projetos conjuntos realizados entre esses grupos e empresas

de máquinas-ferramenta do Estado de São Paulo nos últimos anos.

O primeiro exemplo de interação universidade-empresa refere-se à

empresa com produção de máquinas-ferramenta que estabeleceu parceria nos

Page 186: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

186

anos 90 visando o desenvolvimento de máquina com tecnologia pouco

difundida no mercado interno.

A parceria estabelecida com o grupo de pesquisa possibilitou à empresa

o acesso de conhecimentos sobre a utilização de tecnologia High Speed

Machine (HSM) para máquinas retificadoras. Para viabilizar a incorporação

dessa tecnologia, a empresa investiu na criação de competências internas e na

absorção dos conhecimentos ao seu ambiente fabril.

O segundo exemplo de interação universidade-empresa refere-se à

empresa com produção de máquinas-ferramenta que também teve acesso a

informações sobre a utilização de HSM em máquinas de usinagem no início

desta década.

De acordo com o grupo de pesquisa, a empresa não apresentava

visibilidade sobre o potencial da tecnologia HSM para o seu desempenho

tecnológico e industrial. Além disso, os resultados financeiros de curto prazo

assumiram papel mais importante relativamente à pesquisa e desenvolvimento

de tecnologias e a empresa não investiu o suficiente na criação de

competências internas para desenvolver a tecnologia.

Como a empresa postergou as iniciativas e investimentos visando o

desenvolvimento de competências internas, a interação entre essa empresa e

o grupo de pesquisa não resultou em incorporação de conhecimentos.

Em grande medida, as interações com grupos de pesquisa são utilizados

como forma de promover a atualização tecnológica de alguns modelos de

máquinas comercializadas no mercado brasileiro. Entretanto, as fontes de

atualização de produtos mais utilizadas entre os fabricantes de máquinas são

os contatos com seus fornecedores e com os usuários das máquinas.

Particularmente essa empresa com produção de máquinas-ferramenta tem

desenvolvido interações com um dos grupos de pesquisa analisados, com

fornecedores do mercado interno e com concorrentes do mercado interno e

externo.

Os grupos visitados destacaram que as interações realizadas com

empresas atingiram três resultados: formação de recursos humanos nas

instituições de ensino superior, que é o principal resultado comentado pelos

grupos de pesquisa; desenvolvimento ou acréscimo de conhecimentos na área

de atuação dos grupos; e publicações acadêmicas.

Page 187: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

187

Em primeiro lugar, as parcerias realizadas com empresas de diferentes

ramos industriais contribuíram para a formação e a experiência profissional de

alunos matriculados nos cursos de graduação e pós-graduação das Instituições

de Ensino Superior. Isso porque as atividades de pesquisa acadêmica

associadas a pesquisa empírica acentuam o aprendizado de conhecimentos

teóricos e o desenvolvimento de novas habilidades no processo de produção

de máquinas entre os alunos.

Em segundo lugar, as interações entre os grupos de pesquisa e

empresas resultaram em mudanças incrementais nas características das

máquinas e ajudaram a ampliar os conhecimentos sobre tecnologias do

processo de produção de máquinas-ferramenta. Entretanto, alguns grupos de

pesquisa visitados destacaram que a transferência de conhecimentos novos é

mais intensa dos grupos para as empresas fabricantes de máquinas do que o

inverso.

A principal justificativa apontada para esse comportamento é que

algumas empresas não aceitam compartilhar parte de suas informações sobre

produtos ou processos com os grupos de pesquisa. Mesmo nos casos em que

a empresa solicita apenas o teste de uma máquina ou tecnologia para o grupo,

as empresas apresentam receio em fornecer informações sobre o projeto das

máquinas para o grupo envolvido na parceria.

Em terceiro lugar, as interações entre os grupos de pesquisa e

empresas de diferentes setores industriais contribuem para as publicações

científicas na forma de periódicos, trabalhos de iniciação científica,

dissertações e teses, e em menor grau, para a participação dos grupos em

eventos setoriais. Para operacionalizar as atividades de pesquisa, os grupos

também contam com a atuação de pesquisadores de áreas das engenharias.

Esses pesquisadores, por sua vez, podem apresentar conhecimentos sobre

etapas como projeto mecânico ou processos de fabricação.

Nesse cenário, mesmo que a interação com as empresas não apresente

resultados esperados pelo grupo, a mobilização e troca de informações com

pesquisadores de outras áreas é um fator importante para as publicações

acadêmicas e a continuidade das pesquisas do grupo.

.

Page 188: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

188

7.3 As dificuldades nas interações entre as empresas de máquinas e os

grupos de pesquisa analisados

A pesquisa empírica identificou que as empresas de máquinas-

ferramenta do mercado interno apresentam interações com os grupos

localizados no Estado de São Paulo. Além disso, as principais áreas envolvidas

nas interações são as áreas de engenharia mecânica e engenharia de

produção.

Considerando o tamanho do parque produtivo de máquinas e a

infraestrutura de pesquisa científica no Estado de São Paulo, há poucos

exemplos de interações no mercado interno e há baixa regularidade das

iniciativas por parte das empresas.

As entrevistas e visitas realizadas junto aos grupos de pesquisa

permitiram a identificação de cinco fatores que podem explicar o perfil de

interações entre empresas e os grupos de pesquisa com atuação no ramo de

máquinas.

O primeiro fator que pode explicar a baixa regularidade de interações

entre empresas e grupos de pesquisas é que as empresas preferem utilizar os

conhecimentos que já detém no seu ambiente de fábrica para lidar com

problemas técnicos ou melhorar as características de seus produtos.

Considera-se que essa afirmação pode ser corroborada por uma

característica estrutural do desenvolvimento do setor de máquinas no Brasil.

De maneira geral, as estratégias visando à especialização dos conhecimentos

em engenharia mecânica possibilitaram às empresas nacionais de máquinas o

acúmulo de competências e de habilidades em projeto e produção de

máquinas. A partir dos resultados da pesquisa empírica é possível constatar

que há algumas especificidades nessas condições, dependendo do porte da

empresa de máquina-ferramenta.

Nas empresas de máquinas de micro e pequeno porte, que

desenvolvem produtos com tecnologias mais simples, as fontes para as

alterações incrementais nas características dos produtos ou processos são o

ambiente interno, a experiência dos funcionários e, em menor grau, as

interações estabelecidas com os usuários das máquinas.

Page 189: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

189

Nas empresas de médio e grande porte, que fabricam máquinas com

tecnologias relativamente mais complexas, as interações realizadas com

usuários e fornecedores das máquinas exercem papel relativamente mais

importante para o desenvolvimento e melhoria dos produtos. Além disso,

aquelas interações possibilitam a ampliação de conhecimentos e competências

no ambiente interno das empresas de máquinas.

Em ambos os grupos de empresas com produção de máquinas, as

competências acumuladas internamente resultaram em condições próprias

para lidar com problemas técnicos e adotar melhorias no processo de

produção. Por conta dessa característica, frequentemente, as empresas

consideram desnecessário o contato com instituições de pesquisa.

O segundo fator apontado como justificativa para o perfil de interações

entre empresas e grupos está diretamente relacionado ao primeiro fator. De

acordo com dois grupos de pesquisa analisados, há um distanciamento entre o

que é pesquisado nas instituições públicas e privadas e o que é praticado entre

as empresas de máquinas no Brasil.

O distanciamento entre a pesquisa científica e a produção pode indicar

que as questões de interesse das empresas e dos grupos de pesquisa são

diferentes ou que há dificuldade em conciliar os objetivos de ambos os grupos.

Entretanto, o distanciamento entre pesquisa científica e produção também é

atribuído ao desconhecimento, por parte das empresas, sobre a atuação dos

grupos e eventuais contribuições das parcerias para o desenvolvimento e as

melhorias das máquinas.

O terceiro fator apontado como justificativa para a baixa regularidade de

interações entre empresas e grupos pesquisa é a incompatibilidade em relação

ao tempo requerido por empresas e por grupos de pesquisa para a obtenção

de resultados da pesquisa científica.

De maneira geral, os projetos de pesquisa apresentam resultados no

médio e longo prazo. Isso porque a identificação de um problema de pesquisa

e a realização das atividades científicas correlacionadas depende de fatores

como a disponibilidade de recursos financeiros e a mobilização de

pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento.

As empresas com atuação no ramo de máquinas, por sua vez,

trabalham com expectativa de curto prazo em relação aos resultados das

Page 190: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

190

pesquisas científicas. Em muitos casos, as empresas não podem esperar tais

resultados porque isso implicaria, por exemplo, em queda das vendas ou perda

de mercado para concorrentes.

O quarto fator que influencia negativamente as iniciativas e contatos das

empresas com os grupos de pesquisa é a incerteza em relação aos resultados

da pesquisa científica. De acordo com três pesquisadores entrevistados, nem

sempre a pesquisa científica resulta em ganhos econômicos de produtos e

mercado para a empresa.

O quinto fator citado por grupos de pesquisa e empresas com produção

de máquinas refere-se às exigências burocráticas para a realização de

contratos de parceria e os custos envolvidos nas atividades de pesquisa.

De acordo com três grupos de pesquisa visitados, as exigências

burocráticas podem inviabilizar ou desestimular as iniciativas de parceria das

empresas com grupos de pesquisa, principalmente, entre as empresas de

pequeno e médio porte. Para reduzir a burocracia na realização de pesquisa

conjunta, há esforços por parte de alguns grupos visando as interações

informais com empresas de outros ramos industriais.

Além disso, o mercado interno apresenta programas públicos visando o

apoio financeiro de atividades inovativas e a redução dos custos das atividades

de pesquisa conjunta para as empresas. Entretanto, de acordo os

entrevistados (empresas e grupos de pesquisa), os órgãos e entidades

responsáveis por esses programas impõem algumas condições irreais para as

empresas de pequeno e médio porte interessadas no desenvolvimento de

produtos.

O distanciamento entre pesquisa científica e tecnológica, a

incompatibilidade de tempo, a incerteza em relação aos resultados econômicos

e os custos e burocracia da pesquisa conjunta exercem influência sobre as

iniciativas e parcerias entre empresas e grupos de pesquisa com atuação no

ramo de máquinas e equipamentos. Entretanto, dois pesquisadores

entrevistados a burocracia interna às empresas e a falta de visão para inovar.

O sexto fator que influencia as iniciativas e contatos das empresas de

máquinas-ferramenta com os grupos de pesquisa é a característica do

processo de produção praticado por empresas de máquinas-ferramenta no

mercado interno.

Page 191: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

191

De maneira geral, as empresas nacionais que fabricam máquinas-

ferramenta trabalham com escala de produção baixa, o que funciona como

desestímulo para os investimentos em máquinas. Em muitos casos, as

empresas procuram por grupos de pesquisa, principalmente, nos períodos em

que o mercado não está aquecido. Entretanto, com a expectativa de consumo

em baixa, os esforços e os gastos com parcerias são limitados.

Nos períodos em que ocorre o crescimento da demanda, grande parte

das empresas prefere investir em aumento da escala de produção e não há

tempo ou recursos para investir em pesquisas. As empresas preferem

postergar os investimentos voltados à criação de competências e absorção de

conhecimentos tecnológicos.

Outro fator importante é que alguns modelos de máquinas são

modularizadas, isto é, são desenvolvidas em plataformas. Nesse cenário não

há necessidade de interagir visando às mudanças de tecnologias porque é só

procurar as opções de componentes e respectivos preços no mercado.

De acordo com o pesquisador de um grupo de pesquisa que não

apresenta interações com o setor nacional de máquinas, as empresas

nacionais de máquinas têm condições de atuar no processo de fabricação e em

melhorias incrementais de seus produtos. Então esse fator poderia explicar o

baixo índice de interações entre as empresas e os grupos de pesquisa.

Por outro lado, a área de projeto mecânico representa o principal gargalo

para o desenvolvimento técnico do setor de máquinas do Brasil. A maior parte

das empresas nacionais se especializou em adaptar modelos de máquinas

antigos e não apresenta um departamento próprio de projeto. As empresas

estrangeiras com atuação no Brasil, por sua vez, trazem os projetos da matriz.

Para o pesquisador, é necessário criar infraestrutura e apoio para

estimular as pesquisas e o desenvolvimento da área de projeto mecânico entre

as empresas nacionais de máquinas.

O próximo capítulo discute os conceitos de regime tecnológico,

trajetórias tecnológicas e o arcabouço sobre Sistema Setorial de Inovação

considerando as informações sobre o setor de máquinas-ferramenta do Brasil e

os resultados da pesquisa empírica.

Page 192: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

192

Capítulo 8 - Considerações sobre o setor de máquinas-

ferramenta no Brasil

Esse capítulo analisa as características do desenvolvimento competitivo

e tecnológico do setor de máquinas-ferramenta, considerando as informações

da revisão teórica e a discussão empírica da tese. O capítulo abrange três

perspectivas tratadas na tese: desenvolvimento industrial; trajetórias e regime

tecnológico; e Sistema Setorial de Inovação.

A primeira seção apresenta uma discussão sobre algumas das

características estruturais do setor de máquinas-ferramenta do Brasil, que têm

norteado as decisões sobre produção e desenvolvimento tecnológico.

A segunda seção discute as características do regime tecnológico do

setor de máquinas-ferramenta do Brasil.

A terceira seção retoma a discussão sobre Sistema Setorial de

Inovação, considerando informações obtidas na pesquisa empírica com

empresas de máquinas-ferramenta e grupos de pesquisa do Estado de São

Paulo.

8.1 Desenvolvimento industrial e trajetórias tecnológicas do setor de

máquinas-ferramenta no Brasil

Desde o surgimento do setor de máquinas-ferramenta no século XIX, o

desenvolvimento e o desempenho das empresas de máquinas foram

influenciados por escolhas entre trajetórias tecnológicas, que se difundiram

de maneira distinta entre os países, como foi apresentado na revisão teórica da

tese.

De maneira geral, critérios econômicos com a possibilidade de redução

de custos da nova tecnologia e a possibilidade de economizar com a

quantidade de mão de obra utilizada no processo produtivo são fatores

importantes para a escolha de uma trajetória tecnológica a ser seguida.

Page 193: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

193

Além disso, as características da demanda e o ambiente institucional

contribuem para a difusão inicial das tecnologias e possibilitaram que os

conhecimentos fossem internalizados ao sistema econômico.

No Brasil, as características do ambiente institucional e da demanda

também constituem fatores importantes para orientar a escolha entre as

trajetórias tecnológicas da indústria. Entretanto, as trajetórias de

desenvolvimento adotadas pelo setor nacional são distintas, relativamente aos

outros países que atuam na produção de máquinas.

O ambiente institucional do Brasil apresenta um conjunto de atores,

regras e políticas macroeconômicas65 que orientam o desenvolvimento

produtivo e tecnológico do setor de máquinas-ferramenta.

A demanda nacional por máquinas, por sua vez, pode influenciar as

pesquisas, o desenvolvimento e as melhorias das máquinas, influenciando as

escolhas entre trajetórias tecnológicas distintas daquelas verificadas em outros

países com produção no setor.

A demanda por máquinas é fortemente influenciada pelas expectativas

em relação ao desempenho da economia. Nos períodos em que os setores

industriais apresentam expectativa de queda em relação ao desempenho da

economia nacional, haverá revisão de suas estratégias produtivas e queda da

demanda por máquinas. Nos períodos que os setores industriais apresentam

expectativa de crescimento em relação ao desempenho da economia, haverá

aumento dos investimentos na aquisição de máquinas.

A dependência em relação a essa condição cíclica da economia implica

que, ao direcionar a produção de máquinas para o atendimento de um único

mercado (nacional), o desempenho industrial e os resultados econômicos das

empresas estão mais sujeitos às condições daquele mercado.

Para lidar com a condição cíclica da demanda, as empresas produtoras

de máquinas-ferramenta do Brasil apresentam um padrão de desenvolvimento

produtivo que pode ser apontado como uma das causas da atual fragilidade no

desempenho industrial e econômico do setor de máquinas-ferramenta.

65

A influência dos atores do ambiente institucional sobre o desenvolvimento do setor de máquinas-ferramenta será abordado na última seção deste capítulo, considerando a discussão sobre Sistema Setorial de Inovação.

Page 194: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

194

Até meados da década de 1970, as orientações de política econômica

conduziam o setor de máquinas-ferramenta nacional a desenvolver sua

estrutura industrial voltado para o atendimento da demanda do mercado

interno.

As empresas com produção de máquinas-ferramenta fabricavam

produtos com baixa complexidade tecnológica e contavam com incentivos

fiscais e políticas de proteção ao setor nacional.

O desenvolvimento tecnológico do setor estava apoiado, principalmente,

em importações de tecnologias provenientes de outros países.

As medidas protecionistas permitiram a formação e consolidação do

setor de máquinas do Brasil. Isso porque as importações assumiam papel

decisivo para a ampliação da capacidade produtiva e a modernização do

parque produtivo de máquinas do mercado interno.

Entretanto, essas importações não incentivavam a criação e difusão de

competências próprias entre empresas e demais atores com atividades no

setor de máquinas.

Destaca-se que as importações repercutiam em baixa incorporação de

conhecimentos tecnológicos voltados às características do sistema econômico

nacional. Além disso, as importações associadas a medidas protecionistas

funcionavam como um desestímulo ao desenvolvimento de competências entre

as empresas do setor de máquinas e equipamentos.

A partir da década de 1970, a inserção de tecnologias de automação na

produção das máquinas aumentou a velocidade da mudança técnica no interior

das empresas e do setor de máquinas internacional.

No caso do setor de máquinas-ferramenta do Brasil, a primeira ruptura

no padrão de desenvolvimento de tecnologias ocorreu somente a partir de

meados dos anos de 1980.

No inicio da década de 1980, algumas empresas nacionais e

multinacionais de grande porte começaram a incorporar tecnologias de

automação, como controle numérico, a alguns modelos de máquinas.

Em grande medida, essas empresas utilizaram as competências

desenvolvidas num ambiente de mercado protegido e investiram para

ampliaram essas competência e utilizar as tecnologias de automação.

Page 195: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

195

Como resultado, destaca-se o aprendizado e a melhoria contínua das

linhas de máquinas possibilitaram novo padrão de mudança técnica, a partir de

conhecimentos da área de engenharia mecânica e de sua combinação com

conhecimentos da microeletrônica.

Por outro lado, grande parte das empresas do setor não reunia as

competências necessárias para aprender aqueles conhecimentos e incorporá-

los ao seu ambiente de produção.

Além disso, alguns fatores estruturais impossibilitaram a difusão

daquelas tecnologias para as demais empresas do setor de máquinas-

ferramenta com atuação no Brasil.

A instabilidade econômica e as políticas macroeconômicas restringiam o

nível de investimento da indústria de transformação. E as variações do nível de

investimento, por sua vez, determinavam queda da demanda por máquinas

nacionais.

Naquele cenário, o setor de máquinas não apresentava escala

suficiente para fabricar linhas de máquinas de forma a diluir os investimentos

com a aquisição das novas tecnologias.

Para lidar com essa situação, muitas empresas com produção de

máquinas e equipamentos adotaram a estratégia de diversificação dos

modelos de máquinas dentro de uma mesma linha de produtos.

A diversificação dos modelos de máquinas associada à baixa escala de

produção são características vigentes ainda hoje no setor de máquinas-

ferramenta nacional.

As empresas nacionais utilizam a diversificação de produtos como forma

de atender às especificidades nos pedidos dos clientes e, principalmente, para

garantir os ganhos econômicos e amenizar os efeitos sofridos por oscilações

da demanda do mercado interno66.

Os efeitos de uma eventual queda da demanda de alguns modelos de

produtos, por exemplo, podem ser amenizados pela venda de modelos de

máquinas similares, que apresentam diferenças em algumas especificações.

66 Outra característica vigente no setor de máquinas nacional é a elevada verticalização da

produção.

Page 196: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

196

A abertura da economia e as políticas macroeconômicas adotadas a

partir da década de 1990 ajudaram a reforçar as características estruturais do

desenvolvimento do setor de máquinas-ferramenta nacional.

Nesse período, empresas de diferentes setores realizaram a revisão de

suas estratégias industriais e de desenvolvimento tecnológico como forma de

se adequar às condições macroeconômicas e à abertura do mercado interno

ao comércio exterior.

Em especial, algumas empresas de máquinas-ferramenta de médio e

grande porte promoveram a atualização tecnológica por meio de parcerias e

contratos formais estabelecidos com empresas de máquinas provenientes de

outros países.

A partir daqueles acordos, essas empresas puderam acessar

informações sobre tecnologias de produto e processo. E esse fator permitiu a

atualização do parque produtivo brasileiro de uma maneira geral.

Esse processo foi restrito àquele grupo de empresas de grande e médio

porte. Muitas empresas de micro e pequeno porte que atuavam no setor de

máquinas-ferramenta não apresentavam condições para realizar a

racionalização de seus processos produtivos e investimentos em atualização

tecnológica.

A instabilidade da demanda do mercado interno e as alterações da

política macroeconômica dificultavam a atuação de ambos os grupos de

empresas do setor de máquinas-ferramenta no mercado interno.

As estratégias voltadas à incorporação de tecnologias no longo prazo,

frequentemente, eram substituídas por mecanismos voltados à manutenção

das receitas de vendas no curto prazo.

Na ultima década deste século, o setor de máquinas e equipamentos

nacional apresentou algumas mudanças na sua estrutura industrial e em seu

desempenho no comércio internacional de máquinas-ferramenta.

A estrutura industrial do setor apresentou queda do número de

estabelecimentos e queda do número de emprego no período entre 2005 e

2009. Esses resultados, por sua vez, podem ser atribuídos à queda da

produção nacional de máquinas e equipamentos.

Destaca-se que como o segmento de máquinas ferramenta do Brasil é

formado, principalmente, por empresas de pequeno porte, as variações da

Page 197: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

197

demanda do mercado interno no período 2007-2009 exerceram forte pressão

sobre a produção e a sobrevivência daquelas empresas estabelecidas no

mercado brasileiro.

As empresas de médio e grande porte, por sua vez, também têm

enfrentado dificuldades para ampliar a produção de máquinas-ferramenta, seja

no mercado interno, regional (América Latina) ou internacional.

A partir dos anos 90, a indústria nacional de máquinas-ferramenta

passou a enfrentar a concorrência com países do leste asiático, em especial,

China e Taiwan, que fabricam máquinas-ferramenta com diferentes níveis

tecnológicos.

A crise econômica mundial, a partir de 2008, acentuou as diferenças da

dinâmica competitiva e tecnológica do setor entre os países. Como analisado

no capítulo 5, no período entre os anos de 2007 e 2009, a queda da demanda

mundial por máquinas repercutiu no desempenho do setor de máquinas-

ferramenta de todos os países com atuação nesse setor.

A Alemanha, o Japão e a China apresentam elevada participação nas

exportações e importações de máquinas-ferramenta para trabalhar metal ou

outros materiais, com ou sem remoção de material.

Mesmo com a queda da demanda mundial de máquinas, destaca-se que

a Alemanha e o Japão mantém sua posição entre os principais fabricantes e

exportadores de máquinas-ferramenta.

No período pós-crise, o setor de máquinas daqueles países conseguiu

recuperar seu desempenho de maneira mais rápida, relativamente aos demais

países com produção de máquinas-ferramenta.

Outros países que também apresentam participação importante na

produção e comércio de máquinas, em especial, os Estados Unidos e a Itália,

perderam sua posição para os países do leste asiático.

O setor de máquinas-ferramenta do Brasil, por sua vez, é um dos

principais importadores mundiais de máquinas-ferramenta, em especial, nas

categorias de máquinas que apresentam maior complexidade tecnológica.

Os dados sobre comércio internacional de máquinas-ferramenta por

tipos de produtos e países também podem ilustrar algumas diferenças na

escolha entre trajetórias tecnológicas do setor de máquinas-ferramenta entre

os países.

Page 198: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

198

A Alemanha e o Japão apresentam importante participação no comércio

exterior de máquinas, especialmente, nos ramos de máquinas para trabalhar

metais, com ou sem formação de cavaco. As máquinas fabricadas por aqueles

países incluem desde modelos com tecnologias automáticas até sistemas de

máquinas com maior complexidade tecnológica.

Em grande medida, os resultados no comércio internacional de

máquinas podem ser atribuídos às competências desenvolvidas pelo setor de

máquinas-ferramenta daqueles países desde o século passado.

Além disso, os atores do Sistema Setorial de Inovação de máquinas-

ferramenta, em especial, o governo e os institutos de pesquisa, possibilitaram o

aprendizado, incorporação e difusão dos conhecimentos no sistema

econômico.

Os países do leste asiático, por sua vez, apresentam participação

crescente nos dados de comércio internacional de todas as categorias de

máquinas-ferramenta.

O desempenho daqueles países na produção e no comércio

internacional de máquinas-ferramenta, mesmo no período de queda da

demanda internacional, pode ser atribuído ao seu mercado consumidor.

A existência de um grande mercado consumidor nacional possibilita que

os efeitos de variações da demanda internacional sejam amenizados pela

venda de máquinas para o mercado nacional.

A escala de produção também é um fator importante para o

desempenho industrial das empresas de máquinas-ferramenta porque ajuda a

reduzir os custos associados à P&D e a difundir os conhecimentos dentro do

setor produtivo.

A existência de um amplo mercado consumidor na China, por exemplo,

possibilita a produção de máquina-ferramenta em grande escala. Como o setor

de máquinas-ferramenta da China apresenta elevada escala de produção de

máquinas, as tecnologias podem ser desenvolvidas, difundidas e internalizadas

ao cenário econômico.

Em relação ao setor de máquinas-ferramenta do Brasil, destaca-se a

pequena participação do setor nos dados de exportação mundial de máquinas,

mesmo nas categorias de produtos em que o país apresenta forte

Page 199: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

199

especialização. Nas categorias de produtos com tecnologia mais complexa, por

sua vez, o setor nacional se tornou um dos principais importadores mundiais.

O desenvolvimento técnico do setor de máquinas não é proveniente

apenas de tecnologias de automação, que são incorporadas às máquinas

através da aquisição de componentes eletrônicos. O avanço nos

conhecimentos em outras áreas que permeiam o desenvolvimento técnico das

máquinas-ferramenta, como a engenharia de materiais e engenharia de

produção, também contribui para o desenvolvimento das máquinas-ferramenta

no cenário internacional.

A maior parte das empresas com atuação no setor de máquinas-

ferramenta do Brasil não tem conseguido aproveitar e criar oportunidades

diante das trajetórias colocadas para o desenvolvimento técnico das máquinas.

E esse fator pode comprometer as condições para o atendimento da demanda,

inclusive no mercado interno.

Vale notar que há algumas empresas de máquinas-ferramenta de médio

e grande porte que não se enquadram na situação anterior. Essas empresas

de máquinas-ferramenta apresentam competências que foram acumuladas ao

longo do tempo. Essas competências, por sua vez, possibilitaram a

identificação de novas trajetórias tecnológicas importantes para o

desenvolvimento das máquinas e o desempenho industrial.

Nesse cenário, o pequeno grupo de empresas de médio e grande porte

tem apresentado esforços para ampliar o acesso aos conhecimentos das

trajetórias disponíveis para o setor de máquinas. Para viabilizar o acesso a

essas tecnologias, as empresas realizam parcerias com empresas e

instituições de pesquisa, ou compram empresas estrangeiras que detém

conhecimentos sobre tecnologias de produto e processo.

Apesar dos esforços e das competências já acumuladas ao longo do

tempo, essas empresas apresentam dificuldades para integrar esses

conhecimentos ao seu conjunto de competências e fabricar produtos

comercialmente viáveis.

Além disso, em seus esforços visando o desempenho econômico,

aquelas empresas se deparam com trade off entre a produção de máquinas

com tecnologias mais simples e a produção de máquinas com tecnologias mais

complexas.

Page 200: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

200

A produção de máquinas com tecnologias mais simples é viabilizada,

principalmente, pelo estoque de conhecimentos que essas empresas já

dominam, e que estão difundidos entre as empresas concorrentes e outros

ramos industriais de máquinas.

Como o principal fator de competitividade daquelas máquinas é o preço,

as vantagens competitivas dessas empresas são transitórias.

A produção de máquinas com tecnologia mais complexa, por sua vez,

está apoiada em interações que as empresas realizam com fornecedores e

outros atores da cadeia de máquinas.

De maneira geral, esses conhecimentos não estão amplamente

difundidos entre as empresas com produção de máquinas-ferramenta. E por

esse motivo, as interações com outros atores podem se importantes para o

desenvolvimento e melhoria das máquinas.

Como o principal fator de competitividade desses produtos é a qualidade

e desempenho na realização de tarefas, as vantagens competitivas das

empresas podem ser mais duradouras. Entretanto, a criação dessas vantagens

demanda mais esforços em termos de tempo e dinheiro investido para ao

desenvolvimento daqueles produtos.

Com base análise realizada até aqui, é possível afirmar que as

condições macroeconômicas do país exercem papel importante na fase inicial

da escolha da trajetória tecnológica do setor de máquinas-ferramenta através

dos países.

O principal elemento que respalda esse argumento é que a condição

macroeconômica influencia a demanda por máquinas. E a demanda nacional

por máquinas, por sua vez, pode dificultar ou acelerar o processo de difusão

das tecnologias e a internalização dos conhecimentos no sistema econômico.

Por outro lado, as escolhas produtivas e as características do ambiente

tecnológico em que as empresas atuam, assim como estrutura do Sistema

Setorial de Inovação podem exercer maior peso para o desenvolvimento

tecnológico de um setor do que a condição macroeconômica nacional.

A próxima subseção analisa as características do regime tecnológico do

setor de máquinas-ferramenta no Brasil.

Page 201: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

201

8.2 O regime tecnológico do setor de máquinas-ferramenta do Brasil

O conceito de regime tecnológico refere-se às características do

ambiente tecnológico colocado recentemente para o desenvolvimento do setor

de máquinas-ferramenta do Brasil.

O regime tecnológico de cada setor industrial reunirá diferentes

estratégias e condições relacionadas ao processo de criação, incorporação e

difusão de tecnologias realizadas por empresas e setores.

De maneira geral, as estratégias adotadas por empresas do setor de

máquinas-ferramenta são condicionadas pelas condições macroeconômicas do

mercado de destino das máquinas.

Como ressaltado na seção anterior, o principal mecanismo utilizado

pelas empresas de máquinas-ferramenta no Brasil para amenizar os efeitos

dessas condições macroeconômicas sobre as variações da demanda no

mercado interno é a diversificação dos modelos de máquinas atrelada à

especialização dos conhecimentos tecnológicos.

A estratégia utilizada pelo setor de máquinas-ferramenta do Brasil

refletiu nas condições de seu ambiente tecnológico e em seu dinamismo

competitivo e tecnológico recente.

O desenvolvimento tecnológico do setor de máquinas-ferramenta do

Brasil está apoiado, principalmente, em conhecimento interno da área de

engenharia mecânica. Grande parte desses conhecimentos internos das

empresas de máquinas-ferramenta pode ser classificada como tácitos, porque

são construídos a partir da experiência e das habilidades dos funcionários da

área de produção das máquinas67. Como as empresas de máquinas-

ferramenta incorporam conhecimentos e desenvolvem competências numa

mesma base, o setor de máquinas-ferramenta nacional apresenta elevada

especialização nessa área de conhecimento.

Considera-se que a elevada especialização de conhecimentos pode

apresentar efeitos positivos e negativos para o desenvolvimento tecnológico do

setor de máquinas-ferramenta do Brasil.

67

A formação e atualização dos funcionários também têm assumido papel importante, principalmente, entre as empresas de médio e grande porte.

Page 202: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

202

O efeito positivo da especialização dos conhecimentos é a elevada

cumulatividade dos conhecimentos internos às empresas e internos ao setor.

As informações acumuladas internamente são utilizadas na adaptação e

melhorias dos modelos de máquinas comercializadas no mercado interno e na

resolução de problemas técnicos que podem comprometer o desempenho da

máquina.

A elevada cumulatividade dos conhecimentos do setor de máquinas-

ferramenta possibilita o desenvolvimento de variedade de modelos de

máquinas dentro de uma mesma linha de máquinas.

A diversificação de produtos é um fator importante para o desempenho

do setor de máquinas-ferramenta do Brasil no mercado interno porque garante

participação das empresas em uma fatia maior do mercado consumidor. Além

disso, as empresas de máquinas podem atender às especificidades da

demanda por máquinas especiais.

Entretanto, o fato de as empresas de máquinas-ferramenta

apresentarem competências para adaptar os modelos de máquinas às

necessidades do usuário pode ser importante para a sua competitividade, mas

essa competitividade é transitória. Há alguns fatores que corroboram essa

afirmação.

Em primeiro lugar, os conhecimentos tecnológicos incorporados às

máquinas são provenientes da área mecânica e apresentam caráter pervasivo,

isto é, estão difundidos para outras áreas de conhecimento. Isso significa que

esses conhecimentos podem ser incorporados por empresas nacionais e

internacionais de máquinas-ferramenta.

Neste cenário, mesmo os produtos com adaptações podem ser

considerados commodities e podem ser copiados por concorrentes das

empresas nacionais de máquinas-ferramenta.

Em segundo lugar, as melhorias incrementais da máquina não garantem

grandes ganhos de mercado para as empresas de máquinas-ferramenta por

conta da variável preço do produto.

O principal fator de competitividade das máquinas-ferramenta que

incorporam melhorias e são baseadas em conhecimentos de engenharia

mecânica é o preço do produto final.

Page 203: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

203

Em muitos casos, as empresas fabricantes de máquinas não podem

cobrar o preço de mercado que cubra os custos com aquelas modificações no

projeto do produto. Isso porque os clientes podem procurar outra empresa de

máquina-ferramenta que realize as alterações do produto a um preço mais

acessível.

Essa questão se tornou decisiva para a competitividade das empresas

de máquinas-ferramenta do Brasil, principalmente após a inserção de

empresas de máquinas provenientes da China no mercado nacional.

Por conta desses fatores, pode-se ressaltar que a especialização dos

conhecimentos e a diversificação dos produtos não têm sido suficiente para

garantir a competitividade das empresas de máquinas-ferramenta do Brasil no

mercado interno e externo.

O efeito negativo da especialização do conhecimento na base mecânica

refere-se aos efeitos de trancamento (lock in) da trajetória tecnológica do setor

de máquinas-ferramenta no longo prazo.

Em grande medida, as empresas de máquinas-ferramenta de pequeno

porte não reúnem as competências e as experiências necessárias para

acompanhar outras trajetórias tecnológicas e avanços em outras áreas da

ciência. Por esse motivo, aquelas empresas podem apresentar dificuldades

para identificar o potencial dos avanços da ciência básica e do conhecimento

aplicado para o desenvolvimento de produtos.

Entre as empresas de máquinas de médio e grande porte, por sua vez,

mesmo que o potencial desses conhecimentos seja visível, algumas empresas

podem apresentar dificuldade para incorporar, internalizar e difundir esses

conhecimentos no seu parque produtivo. Nesses casos, o custo e o tempo

requeridos para a aquisição e aprendizado de uma nova tecnologia e a

incerteza em relação aos resultados dessa escolha podem limitar o

desenvolvimento e incorporação das tecnologias às máquinas. Além disso,

esse conjunto de características influencia as condições de oportunidade para

o desenvolvimento de tecnologias no longo prazo.

De maneira geral, a especialização dos conhecimentos tecnológicos

pode ser apontada como determinantes da baixa condição de oportunidade do

setor de máquinas-ferramenta nacional.

Page 204: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

204

Outro fator importante é que as empresas de máquinas-ferramenta

incorporam conhecimentos da área mecânica e conseguem gerar economias

externas que são importantes para o atendimento de nichos de mercado. Como

uma parte dos conhecimentos acumulados ao longo do tempo apresenta

caráter tácito, as informações utilizadas na melhoria dos tipos de máquinas

podem ser difundidas através da troca de experiência entre os funcionários no

interior das empresas ou entre os ramos industriais de máquinas-ferramenta.

As empresas com produção de máquinas-ferramenta que atuam na área

de usinagem, por exemplo, conhecem bem os processos de torneamento,

retificação ou fresamento, mesmo que esses três processos não sejam

desenvolvidos internamente.

A difusão de conhecimentos entre aquelas empresas, por sua vez,

implica em baixa apropriabilidade (ou poucas condições) para proteger os

conhecimentos do acesso de empresas concorrentes. Além disso, a baixa

apropriabilidade dos conhecimentos do setor determina que as economias

externas geradas a partir da alta cumulatividade também sejam responsáveis

por vantagens competitivas transitórias.

Um elemento adicional que ajuda a explicar a dinâmica tecnológica do

setor de máquinas-ferramenta do Brasil é a elevada participação de produtos

provenientes de outros países no mercado brasileiro.

Uma parte das máquinas com maior complexidade tecnológica utilizadas

no mercado nacional é adquirida através da importação. Esse comportamento

pode indicar que o setor produtivo está postergando suas estratégias visando à

criação e difusão de competências internas às empresas e internas ao sistema

econômico.

A próxima seção apresenta a análise sobre a dinâmica das interações

entre empresas fabricantes de máquinas-ferramenta e os grupos de pesquisa

com atuação no setor, considerando essas características do regime

tecnológico e a noção de Sistema Setorial de Inovação.

Page 205: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

205

8.3 Elementos do Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta

no Brasil

O Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta abrange o

conhecimento-base; os atores e redes; e as instituições que possibilitam a

criação, incorporação e difusão de conhecimentos internos às empresas e aos

ramos industriais de máquinas-ferramenta.

Considera-se que as empresas apresentam papel importante para o

atendimento da demanda nacional de máquinas e podem contribuir para a

produtividade da indústria de transformação e para a qualidade dos produtos

fabricados no mercado interno. Entretanto o desempenho industrial e

tecnológico das empresas do setor de máquinas-ferramenta está limitado pelas

características do regime tecnológico discutido na seção anterior.

As empresas de máquinas-ferramenta de médio e grande porte já

vislumbraram a limitação imposta pelo regime tecnológico para o seu

desenvolvimento industrial e técnico. Para viabilizar o aprendizado e a

incorporação de informações provenientes de outras áreas e promover a

atualização tecnológica, essas empresas de máquinas-ferramenta têm

ampliado seus esforços para construir interações e parcerias com empresas e

instituições no mercado interno e externo.

Desse modo, pode-se destacar que aquele grupo de empresas

máquinas-ferramenta apresenta uma tendência para desenvolver e fortalecer

interações entre as empresas e instituições de diferentes ramos industriais.

A partir dos resultados da análise empírica, é possível afirmar que o

setor de máquina-ferramenta nacional apresenta um padrão de interações para

o aprendizado e incorporação de conhecimentos tecnológicos.

No mercado externo, as principais fontes de atualização tecnológica das

empresas de grande porte é a participação em feiras internacionais do setor, a

realização de parcerias com empresas estrangeiras de grande porte ou a

compra de empresas de pequeno porte e capital estrangeiro que atuam no

ramo de máquinas. No mercado interno, as principais fontes de atualização

tecnológica das empresas nacionais de máquinas-ferramenta são as interações

realizadas com fornecedores de componentes eletrônicos e com os usuários

das máquinas.

Page 206: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

206

É importante registrar que essas duas formas de atualização tecnológica

são realizadas por um pequeno grupo de empresas de máquinas-ferramenta

que atua no mercado nacional há algumas décadas.

As parcerias realizadas por essas empresas contribuem para o

desenvolvimento ou melhoria dos produtos e influenciam a criação de novas

competências internas. Além disso, essas empresas apresentam maior

capacidade de inovação, relativamente às demais empresas com atuação no

setor de máquinas-ferramenta.

Os conhecimentos sobre as características dos materiais usados na

produção das máquinas ou informações da área de engenharia elétrica, por

exemplo, não são amplamente difundidos entre as empresas de máquinas-

ferramenta. Esse fator é importante para o desempenho daquelas empresas

porque eventuais modificações na trajetória de desenvolvimento daqueles

insumos – por meio de uma nova combinação de metais ou através da

eliminação de materiais, por exemplo – podem repercutir em alterações na

forma de produzir as máquinas e influenciar o desempenho dos segmentos

produtores das máquinas-ferramenta.

Como resultado dessas interações, destaca-se o fornecimento de

máquinas e tecnologias para empresas de vários portes e níveis de intensidade

tecnológica; e o desenvolvimento de competências de produto e processos que

podem se tornar endógenos ao sistema de produção das máquinas.

Essa condição reforça a necessidade de criar vínculos com grupos de

pesquisa que desenvolvem projetos relacionados ao setor de máquinas-

ferramenta e que podem contribuir para a incorporação de conhecimentos de

outras áreas da ciência.

A pesquisa empírica constatou que, há baixa regularidade de interações

entre as empresas de máquinas-ferramenta e grupos de pesquisa com

unidades localizadas no Estado de São Paulo

De acordo com as informações apresentadas no capítulo anterior, os

principais fatores levantados pelas empresas de máquinas-ferramenta para

justificar esse comportamento são o custo, a burocracia e o tempo.

Em primeiro lugar, as empresas destacam que o investimento para

desenvolver a parceria e operacionalizar as atividades estipuladas no projeto é

Page 207: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

207

elevado. Em muitos casos, as condições de financiamento disponíveis no

mercado não cobrem as condições das empresas de micro e pequeno porte.

Em segundo lugar, as empresas destacam que a burocracia e a

quantidade de documentos exigidos dificulta a operacionalização da pesquisa.

Em terceiro lugar, o tempo demandado desde a fase de elaboração do

projeto de pesquisa conjunta até a apropriação dos resultados finais é alto e as

empresas precisam arcar com os riscos e a incerteza em relação aos

resultados esperados.

A partir da análise das informações setoriais e empíricas é possível

afirmar que a baixa integração entre empresas e grupos de pesquisa pode ser

atribuída muito mais às características dos produtos e às competências

internas que as empresas de máquinas-ferramenta detêm.

Em grande medida, como a maioria das empresas de máquinas-

ferramenta produz máquinas com tecnologias relativamente simples, que não

exigem conhecimentos científicos ou tecnológicos complexos, essas empresas

não sentem necessidade de realizar parcerias com grupos de pesquisa. De

acordo com a pesquisa empírica, as empresas de máquinas destacaram que

não investem no aprendizado de novas tecnologias porque não há demanda

por máquinas com essas tecnologias.

É possível analisar esse argumento sobre o desenvolvimento de

tecnologias por empresas de máquinas-ferramenta do Brasil considerando a

tipologia de Pavitt (1984).

Ao contrário do que é evidenciado na tipologia de Pavitt (1984) sobre o

setor de fornecedores especializados, pode-se destacar que o desenvolvimento

de tecnologias do setor de máquinas do Brasil é muito mais dependente da

demanda do mercado interno e cada vez menos fornecedor de novas

tecnologias (ou conhecimentos) para outros segmentos da indústria. Ou seja, o

setor não empurra os conhecimentos para os usuários, mas é empurrado pelas

especificações e exigências da demanda.

A ‘dependência’ em relação às características da demanda do mercado

interno, por sua vez, pode repercutir negativamente no desenvolvimento de

tecnologias das empresas brasileiras, relativamente ao padrão de

desenvolvimento tecnológico verificado no cenário mundial.

Page 208: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

208

Os investimentos na aquisição de novas tecnologias por empresas de

máquinas estão condicionados à existência de uma demanda por aquelas

tecnologias. Esse argumento justificaria a reposta de algumas empresas de

máquinas-ferramenta analisadas na pesquisa empírica68.

Mas o que se verifica através dos dados de comércio internacional de

máquinas, por categoria de produtos, é que o mercado brasileiro apresenta

demanda por tecnologias mais complexas. E a demanda por essas tecnologias

é atendida por empresas estrangeiras.

A demanda do mercado interno pode apresentar papel importante para o

nível de investimentos realizados por empresas de máquinas-ferramenta do

Brasil, como foi apontado na primeira seção. Por outro lado, a característica da

demanda nacional por máquinas não pode ser considerada determinante dos

poucos esforços das empresas fabricantes de máquinas visando o aprendizado

de tecnologias.

Apesar dessas características do desenvolvimento de tecnologias no

setor máquinas-ferramenta, é importante relembrar que as empresas também

detêm competências importantes para atender às especificações do mercado

interno.

Outro elemento já discutido na literatura setorial e que pode ajudar a

compreender a dinâmica do setor de máquinas-ferramenta é a idéia de

descolamento entre as necessidades do parque produtivo brasileiro (consumo)

e a oferta de máquinas e tecnologias por empresas de máquinas do mercado

interno (Resende, 1999).

A ideia de descolamento considera que um dos principais efeitos da

abertura comercial na década de 1990 para o setor de máquinas foi o

crescimento do consumo doméstico em proporção relativamente maior ao

aumento da produção local.

De maneira geral, o descolamento da produção nacional de máquinas

pode ser atribuído às características macroeconômicas, às condições

facilitadas para a compra de máquinas do exterior e ao alto preço do produto

do mercado interno. A partir da pesquisa empírica da tese, considera-se que o

descolamento entre oferta do setor de máquinas-ferramenta do Brasil e

68 Esse padrão de resposta foi obtido em três empresas visitadas.

Page 209: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

209

necessidades tecnológicas do mercado interno pode ser abordado sob outro

ponto de vista.

Os conhecimentos tecnológicos sobre máquinas-ferramenta

desenvolvidos mundialmente apresentam elevada convergência com outras

áreas da ciência. Os avanços além da base de conhecimentos em mecânica,

por exemplo, têm incorporado informações provenientes de outras áreas. E

isso provocou o esgotamento do ‘ciclo de vida’ das tecnologias mais simples.

Para lidar com essa nova situação, é necessária a formação e

atualização de competências nessas áreas. Entretanto, salvo algumas

exceções, o mercado interno de máquinas mantém o desenvolvimento de seus

projetos com base em conhecimentos tecnológicos que são difundidos entre os

ramos industriais de máquinas através países.

Essa discussão reforça a importância dos Institutos e grupos de

pesquisa para o desenvolvimento e o desempenho do setor de máquinas-

ferramenta nacional. A análise empírica da tese identificou que, na década de

2000, apenas duas empresas estabeleceram interações com grupos de

pesquisa.

De acordo com alguns pesquisadores, a baixa frequência de interações

entre empresas e instituições de pesquisa não podem ser explicados por

fatores econômicos, como os custos dos projetos. Isso porque, em muitos

casos, as empresas podem recorrer ao financiamento de recursos no longo

prazo.

Com base na análise setorial e empírica, destaca-se que o

distanciamento entre as empresas com produção de máquinas-ferramenta e a

pesquisa científica podem ser atribuídos à especialização do conhecimento das

empresas de máquinas-ferramenta na base mecânica.

A baixa percepção das empresas de máquinas-ferramenta do mercado

interno em relação ao potencial de algumas trajetórias tecnológicas e as

estratégias industriais adotadas nas últimas décadas dificultam a apropriação e

difusão desses conhecimentos pelo setor de máquinas-ferramenta do Brasil.

Esse fenômeno é o oposto da condição verificada no desenvolvimento do setor

de máquinas-ferramenta da Alemanha, Japão e EUA.

De um lado, a demanda interna e atuação do Estado possibilitaram a

difusão inicial das mudanças técnicas entre as empresas de máquinas

Page 210: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

210

daqueles países. De outro lado, a infraestrutura científica e tecnológica, em

parceria com a indústria, possibilitou a exploração dos conhecimentos

provenientes das trajetórias selecionadas e viabilizou a incorporação daqueles

conhecimentos ao sistema econômico nacional.

Com base na discussão realizada no capítulo 4, sobre os Sistemas

Setoriais de Inovação tradicional e emergentes, destaca-se que o setor de

máquinas-ferramenta do Brasil aproxima-se mais do modelo tradicional, e

menos do modelo emergente.

A partir dos resultados da pesquisa empírica sobre empresas com

produção de máquinas-ferramenta e as interações com instituições de

pesquisa, ambos do Estado de São Paulo, é possível distinguir quatro

diferenças em relação ao Sistema Setorial tradicional.

Em primeiro lugar, as formas de ligação externa para a amostra de

empresas de máquinas e instituições de pesquisa são mais instáveis por conta

do peso que a demanda interna exerce sobre as estratégias produtivas e

tecnológicas das empresas de máquinas-ferramenta.

Em segundo lugar, o escopo geográfico do setor de máquinas-

ferramenta é nacional, o que significa que a região em que os agentes atuam

não exerce influência sobre o perfil e os resultados do Sistema Setorial de

Inovação de máquinas.

Em terceiro lugar, o conhecimento-base das empresas com produção de

máquinas-ferramenta é mais tácito, porque foi construído a partir de

experiências dos funcionários. Além disso, esses funcionários exercem papel

importante no projeto e melhorias técnicas das máquinas.

O último elemento do setor de máquinas-ferramenta é a barreira à

entrada de novas empresas. Os segmentos de máquinas-ferramenta

analisados na pesquisa empírica apresentam baixa barreira à entrada de novas

empresas porque os conhecimentos utilizados na construção e melhoria das

máquinas estão difundidos entre os ramos industriais.

O quadro 8.1 revisa as características do Sistema Setorial de Inovação

tradicional e emergente; e apresenta as características do Sistema Setorial de

Inovação de máquinas-ferramenta no Brasil.

Page 211: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

211

Elementos Sistema Setorial

tradicional Sistema Setorial

Emergentes

Sistema Setorial de Inovação de máquinas-

ferramenta no Brasil

Forma de ligação externa

Limitada, estável Aberta, flexível

Limitada e instável

(depende da perspectiva sobre crescimento da

demanda)

Escopo geográfico Regional e nacional Regional e internacional Nacional

Base tecnológica Mecânica Intensiva em informação Mecânica (pouco

eletrônica, depende da categoria de produtos);

Desenvolvimento de produto

Incremental Incremental e sistemático

Incremental

Relações de troca Produtores ligados com

usuários

Parcerias de produtores, usuários, centros de pesquisa

Usuários e fornecedores (eletrônica) exercem papel

mais importante para o desenvolvimento do setor

Conhecimento-base Tácito Tácito e codificado Muito tácito, depende de

experiências dos funcionários das empresas

Forma corporativa Individual, família Variado: interno e

externo Individual, familiar

Organização de trabalho

Colaboração interna informal

Individual: grupos corporativos (limitada a

multinacional)

Colaboração interna informal

Entrantes Moderada barreira à

entrada Cooperação externa e

formalizada

Baixa barreira à entrada (depende do tipo de produto fabricado)

Demanda Cíclica Alta barreira à entrada

inovação

Cíclica (mais estável para bens seriados, de baixo conteúdo tecnológico)

Política Setorial, nacional Cíclica Setorial

Fonte: Elaboração própria, com informações da pesquisa setorial e empírica. Quadro adaptado de Wengel & Shapira (2001).

Quadro 8.1 – Sistema Setorial de Inovação de máquinas-ferramenta: o caso do setor de máquinas-ferramenta do Brasil

Com base na análise apresentada nos capítulos de revisão teórica e de

discussão empírica, o próximo capítulo apresenta a conclusão do trabalho.

Page 212: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

212

9. Conclusão

Os conceitos de paradigma tecnológico, trajetórias e regime tecnológico

podem trazer importantes contribuições para a discussão sobre o desempenho

tecnológico entre as economias industriais recentes.

Considera-se que o desenvolvimento industrial e tecnológico dos setores

industriais é influenciado por escolhas realizadas pelas empresas entre

diferentes trajetórias tecnológicas dentro do paradigma tecnológico.

As trajetórias tecnológicas orientam o processo de produção e a

mudança técnica entre os setores. Além disso, essas trajetórias apresentam

características específicas entre os países e entre um mesmo setor industrial

através dos países.

Esses dois comportamentos são atribuído às características do ambiente

de seleção em que ocorre a criação e difusão inicial de conhecimentos; e às

características do processo de incorporação, aprendizado e difusão de

conhecimentos.

A literatura aponta que o processo de busca e seleção da trajetória

tecnológica dentro de um paradigma tecnológico é influenciado por fatores

econômicos e não econômicos.

A capacidade de redução de custos da nova tecnologia e seu potencial

para economizar mão-de-obra, assim como as características da demanda e as

variações nos preços dos insumos usados na produção, orientam as escolhas

por uma trajetória tecnológica, em detrimento de outras opções disponíveis em

um paradigma.

Após a fase de seleção da trajetória, outros fatores influenciarão a

viabilidade dessa trajetória tecnológica.

Neste ponto, a literatura destaca que a demanda de mercado, o Estado

e a integração entre as atividades de pesquisa científica e empírica exercem

papel importante para a consolidação da trajetória tecnológica escolhida.

As características da demanda e a atuação do Estado podem viabilizar e

acentuar a difusão dos conhecimentos da trajetória tecnológica escolhida. A

integração entre a pesquisa científica e empírica, por sua vez, pode ampliar o

acervo de possibilidades tecnológicas daquela trajetória.

Page 213: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

213

Um fator importante é que a atuação do Estado e as características da

demanda de mercado também podem transformar aquele processo de

integração entre a ciência e o conhecimento empírico.

Isso porque as estruturas que viabilizam aquela integração podem ser

orientadas para a resolução de problemas técnicos e para a comercialização

das tecnologias, de acordo com o que é definido pelo Estado e pela demanda

de mercado.

As empresas e setores industriais apresentam um padrão para a

incorporação e o aprendizado de cada trajetória. E esse padrão dificultará a

mudança da trajetória ao longo do tempo.

Há três fatores importantes do processo de incorporação e aprendizado

das tecnologias que podem dificultar o abandono de uma trajetória tecnológica.

Em primeiro lugar, os conhecimentos criados e aprendidos ao longo do

tempo são acumulados ao estoque de informações das empresas de diferentes

setores industriais. Nesse cenário, como há uma interdependência entre o

conhecimento anterior e o atual, as empresas podem enfrentar dificuldades

para abandonar rotas pré-estabelecidas.

Em segundo lugar, os mecanismos utilizados para acessar as

informações sobre tecnologias estão sujeitas a uma diversidade de condições

no nível macroeconômico e no ambiente da firma.

Em terceiro lugar, as empresas e instituições apresentam incerteza em

relação aos resultados de cada trajetória e, frequentemente, essa incerteza

pode desestimular as mudanças de trajetória.

Os fatores que influenciam a escolha de uma trajetória e a sua

viabilidade ao longo do tempo imprimem um regime tecnológico a cada setor

industrial em cada país.

O regime tecnológico de um setor abrange as características do

conhecimento interno às empresas, o grau e nível de cumulatividade desses

conhecimentos, as condições de oportunidade para gerar inovações e as

condições para proteger as informações de eventuais imitadores.

Desse modo, o regime ou ambiente tecnológico abrange as condições

para a criação, incorporação e difusão dos conhecimentos entre os setores

industriais.

Page 214: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

214

Os fatores que possibilitaram a escolha entre trajetórias tecnológicas e a

formação dos setores industriais tendem a se perpetuar e influenciam as

decisões e estratégias das empresas ao longo do tempo.

Uma alteração da trajetória escolhida é um processo que demanda

tempo e apresenta custos porque aquelas condições iniciais repercutem em um

tipo de ambiente tecnológico específico ao setor e ao país.

A noção sobre Sistema Setorial de Inovação pode ajudar a promover o

desenvolvimento tecnológico e eventuais alterações na trajetória tecnológica de

um setor.

Isso porque os atores e relações do Sistema Setorial podem ajudar a

compreender os elementos do processo de desenvolvimento tecnológico.

Nesse cenário, a integração das atividades de pesquisa científica e empírica,

que possibilitaram a difusão inicial dos conhecimentos, também pode ser um

mecanismo importante para viabilizar alterações na trajetória.

Paralelamente, os setores a jusante e a montante também contribuem

para a difusão e o aprendizado daqueles conhecimentos, acentuando os

efeitos das atividades de pesquisa científica e de produção.

A tese analisou a relação entre trajetória tecnológica, regime tecnológico

e Sistema Setorial de Inovação considerando o desenvolvimento inicial e o

dinamismo do setor de máquinas-ferramenta.

Nas economias industriais, a formação e consolidação do setor de

máquinas-ferramenta foram viabilizadas pelo processo de especialização dos

conhecimentos da área mecânica e pela convergência de tecnologias visando

à resolução de problemas comuns a todos os ramos usuários das máquinas.

Ao longo do tempo, esses conhecimentos acumulados avançavam em

diferentes direções e promoveram a formação de vários ramos industriais.

À medida que as empresas de diferentes ramos industriais incorporavam

e utilizavam os conhecimentos para diferentes usos, verifica-se também a

incorporação de informações provenientes de outras áreas ou a identificação

de novas aplicações.

O ambiente institucional em que os setores de máquinas estavam

inseridos apresentava particularidades que reforçavam a escolha entre as

trajetórias tecnológica e influenciava a integração entre ciência e produção em

cada segmento de máquina.

Page 215: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

215

Destaca-se que os conhecimentos empíricos da área de produção

assumiam papel mais importante na definição dessas trajetórias, relativamente

ao conhecimento científico.

Entretanto, à medida que o conhecimento empírico era difundido entre

os setores industriais, a estrutura científica contribuía para a ampliação,

incorporação e consolidação daqueles conhecimentos no sistema econômico.

Em países como a Inglaterra, os Estados Unidos e o Japão, por

exemplo, o desenvolvimento industrial do setor de máquinas-ferramenta foi

distinto porque o ambiente institucional e a demanda de mercado focavam em

trajetórias tecnológicas diferentes.

Além disso, a integração entre a pesquisa científica e as atividades de

produção em cada país reforçava as condições para o desenvolvimento

tecnológico do setor de máquinas-ferramenta.

As empresas com produção de máquinas-ferramenta de cada um

daqueles países adotavam estratégias visando à especialização ou

diversificação dos conhecimentos. E essas estratégias influenciavam o

conjunto de informações que as empresas acumulavam ao longo do tempo.

Diante desse cenário, destaca-se que o conhecimento e as

competências acumulados por empresas e instituições apresentam papel

decisivo para a identificação do potencial de novas tecnologias e a

continuidade ou ruptura no padrão de desenvolvimento da tecnologia.

O desenvolvimento industrial do setor de máquinas-ferramenta do Brasil

também foi influenciado pelo ambiente institucional e pela demanda de

máquinas no mercado interno.

O Estado assumiu papel importante para a formação do setor de

máquinas no mercado interno e deu as condições iniciais para o

desenvolvimento das empresas.

Por outro lado, as flutuações econômicas exerciam forte influência sobre

as expectativas da indústria da transformação nacional. E o setor produtivo, de

maneira geral, alterava os investimentos na aquisição de máquinas usadas na

ampliação da capacidade ou modernização fabril.

Esse fator pode ser apontado como um dos obstáculos à difusão inicial

de conhecimentos no setor de máquinas-ferramenta do Brasil. Vale ressaltar

que muitas empresas de máquinas-ferramenta do Brasil, salvo algumas

Page 216: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

216

exceções, não apresentaram o acúmulo de competências necessárias para

identificação de novas trajetórias tecnológicas e para o aprendizado e a

internalização dos conhecimentos.

Em grande medida, as empresas fabricantes de máquinas

desenvolveram sua estrutura produtiva com base na especialização dos

conhecimentos tecnológicos em engenharia mecânica.

A especialização dos conhecimentos, por sua vez, possibilitou a

diversificação dos tipos de máquinas dentro de uma mesma linha. E esse fator

é importante para o atendimento de demandas específicas dos usuários.

Além disso, a especialização dos conhecimentos tecnológicos se tornou

fator importante para o setor amenizar os efeitos das variações da demanda no

mercado interno.

As condições iniciais do desenvolvimento de tecnologias no interior das

empresas de máquinas-ferramenta imprimiram um padrão de regime

tecnológico do setor que abrange alta cumulatividade dos conhecimentos sob a

base mecânica; baixa apropriabilidade e baixa condição de oportunidade para

inovações.

A constituição e o desenvolvimento inicial do setor de máquinas no

Brasil também estavam apoiados em elos fracos entre a pesquisa científica e

empírica.

Com a mudança da política econômica e abertura do mercado nacional

a partir década de 1980, algumas empresas nacionais apresentaram a revisão

de suas estratégias produtivas e tecnológicas.

De maneira geral, as empresas começaram a investir tempo e esforços

na atualização de conhecimentos e no estreitamento de relações com

fornecedores e usuários.

Nos últimos anos deste século, destaca-se a preocupação do setor de

máquinas em manter vínculos com instituições de ensino e pesquisa e

Institutos com atividades de apoio.

Entretanto, os resultados da pesquisa empírica realizada com empresas

fabricantes de máquinas e grupos de pesquisa localizados no Estado de São

Paulo apontam que há poucos exemplos de interações estabelecidas entre

esses agentes.

Page 217: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

217

De maneira geral, as empresas analisadas destacaram que a baixa

integração entre a pesquisa científica e aplicada do setor de máquinas-

ferramenta no Brasil pode ser justificada por fatores econômicos com o custo

dos projetos e a falta de recursos financeiros por parte das empresas.

O estudo da tese não descarta essa justificativa econômica para a baixa

frequência de interações entre empresas e grupos de pesquisa. Isso porque os

fatores econômicos associados à inovação podem apresentar peso importante

para a estrutura financeira das empresas, principalmente, aquelas de pequeno

e médio porte.

Uma das contribuições é apontar que as estratégias produtivas adotadas

no passado repercutiram em um padrão de regime tecnológico do setor de

máquinas-ferramenta.

O regime tecnológico do setor de máquinas-ferramenta, por sua vez,

apresenta papel decisivo para explicar a baixa integração entre pesquisa

científica e produção; e a dinâmica competitiva e tecnológica do setor no

mercado interno.

As empresas nacionais de máquinas-ferramenta de pequeno e médio

porte apresentam elevada especialização dos conhecimentos na área

mecânica e fabricam máquinas com tecnologias mais simples ou semi-

automáticas. Por conta da especialização dos conhecimentos, as empresas

deste grupo apresentam condições para realizar melhorias nos modelos de

máquinas e não apresentam demanda tecnológica dos grupos de pesquisa.

As condições para promover melhorias incrementais em seus produtos

conferem a essas empresas vantagens competitivas instáveis.

Além disso, a elevada especialização e a pequena integração entre

essas empresas de máquinas e Institutos de pesquisa científica determinam

poucas (ou nulas) condições para o desenvolvimento de tecnologias.

As empresas de máquinas-ferramenta de grande porte, por sua vez,

apresentam especialização dos conhecimentos na área mecânica e têm

investido na atualização de conhecimentos provenientes de outras áreas e em

novas aplicações para as máquinas. Neste cenário, as empresas apresentam

competências para desenvolver máquinas com tecnologias um pouco mais

complexas, mas apresentam pouca demanda por serviços e pesquisa científica

desenvolvidos nos grupos de pesquisa.

Page 218: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

218

Nos casos em que há interações, muitas vezes, esses contatos são

direcionados mais para o teste de peças e uma parte dos conhecimentos das

empresas não são compartilhados com os grupos de pesquisa.

A vantagem competitiva dessas empresas de máquinas-ferramenta

também é frágil, mas não tão instável como no caso anterior.

Isso porque alguns produtos fabricados por essas empresas de grande

porte podem representar novidade para o mercado interno e não são

facilmente copiados por empresas nacionais de máquinas-ferramenta com

atuação no mercado interno. Por outro lado, a inserção de empresas

estrangeiras no ramo de atuação das empresas brasileiras pode interromper a

competitividade da empresa nacional de máquinas-ferramenta.

Na década de 2000, uma pequena parte das empresas nacionais de

máquinas-ferramenta de grande porte ampliou suas competências em

processos e produtos e aumentou sua participação no comércio internacional

de máquinas. Entretanto, o desempenho das empresas nacionais está

condicionado às expectativas em relação à demanda nacional ou internacional

por máquinas.

Como o desempenho industrial do setor de máquinas-ferramenta é

instável, frequentemente, as estratégias inovativas de longo prazo são

postergadas e substituídas por estratégias orientadas para a obtenção de

resultados econômicos no curto prazo.

Nesse cenário, é possível apontar que o Sistema Setorial de Inovação

de máquinas-ferramenta apresenta condições para alterar algumas

características do ambiente tecnológico do setor de máquinas-ferramenta,

particularmente entre as empresas de médio e grande porte.

Em grande medida, as pesquisas científicas realizadas no Brasil e as

informações provenientes de fornecedores de componentes podem ampliar o

leque de conhecimentos sobre o processo de produção das máquinas-

ferramenta, contribuindo para uma diversificação da base de conhecimentos

internos às empresas.

O domínio de conhecimentos menos especializados não implica

necessariamente em abandono da trajetória tecnológica do setor, mas pode

ampliar as competências para identificar novas trajetórias tecnológicas no

futuro.

Page 219: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

219

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Page 226: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

226

Anexos

Anexo A – Classificações sobre a indústria de bens de capital ....................... 227

1. Classificação de atividade econômica .................................................................................... 227

2. Classificações de comércio internacional .............................................................................. 232

3. Dados de produção e valor adicionado ................................................................................... 240

Anexo B – Lista geral de empresas e grupos de pesquisa identificados

para a pesquisa empírica...................................................................................... 241

1. Lista completa de empresas de máquinas-ferramentas ........................................................ 241

Anexo C – Questionário utilizado na pesquisa empírica ................................... 243

1. Questionários aplicado em empresas de máquinas-ferramenta .......................................... 243

2. Questionário aplicado nos grupos de pesquisa com atuação no ramo de máquinas-

ferramenta ....................................................................................................................................... 255

Anexo C – Informações sobre as empresas e os grupos de pesquisa ............ 264

1. Informações sobre as empresas de máquinas-ferramenta e as linhas de produtos

fabricados ....................................................................................................................................... 264

2. Notas técnicas sobre as empresas de máquinas-ferramenta visitadas .............................. 266

B. Grob ............................................................................................................................................ 266

D. R. Promaq ................................................................................................................................... 267

3.3 Ergomat ..................................................................................................................................... 268

Ferdimat .......................................................................................................................................... 269

Index ................................................................................................................................................ 270

Indústrias Romi .............................................................................................................................. 272

3. Informações sobre os grupos de pesquisa visitados ............................................................ 276

Page 227: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

227

ANEXO A – CLASSIFICAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA DE BENS DE CAPITAL

1. Classificação de atividade econômica

Quadro 1 – Estrutura de atividades da indústria de bens de capital a três e quatro

dígitos – ISIC 4ª.Rev.4 (2008)

Group Class Description

27: Manufacture of electrical equipment

271 Manufacture of electric motors, generators, transformers and electricity

distribution and control apparatus

272 Manufacture of batteries and accumulators

273 Manufacture of wiring and wiring devices

274 Manufacture of electric lighting equipment

275 Manufacture of domestic appliances

279 Manufacture of other electrical equipment

28: Manufacture of machinery and equipment n.e.c.

281 Manufacture of general-purpose machinery

2811 Manufacture of engines and turbines, except aircraft, vehicle and cycle

engines

2812 Manufacture of fluid power equipment

2813 Manufacture of other pumps, compressors, taps and valves

2814 Manufacture of bearings, gears, gearing and driving elements

2815 Manufacture of ovens, furnaces and furnace burners

2816 Manufacture of lifting and handling equipment

2817 Manufacture of office machinery and equipment (except computers and

peripheral equipment)

2818 Manufacture of power-driven hand tools

2819 Manufacture of other general-purpose machinery

282 Manufacture of special-purpose machinery

2821 Manufacture of agricultural and forestry machinery

2822 Manufacture of metal-forming machinery and machine tools

2823 Manufacture of machinery for metallurgy

2824 Manufacture of machinery for mining, quarrying and construction

2825 Manufacture of machinery for food, beverage and tobacco processing

2826 Manufacture of machinery for textile, apparel and leather production

2829 Manufacture of other special-purpose machinery

29: Manufacture of motor vehicles, trailers and semi-trailers

291 Manufacture of motor vehicles

Page 228: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

228

292 Manufacture of bodies (coachwork) for motor vehicles; manufacture of

trailers and semi-trailers

293 Manufacture of parts and accessories for motor vehicles

30: Manufacture of other transport equipment

301 Building of ships and boats

302 Manufacture of railway locomotives and rolling stock

303 Manufacture of air and spacecraft and related machinery

304 Manufacture of military fighting vehicles

309 Manufacture of transport equipment n.e.c.

Fonte: United Nations Statistics Division (UNSD), UNCTAD. Classificação com base nos dos dados de International Standard of Industrial Classification (ISIC) 4ª Rev (2008), p. 50. Disponível em: <http://unstats.un.org/unsd/publication/seriesM/seriesm_4rev4e.pdf.> Acesso em: 01/fev/2011.

Quadro 2 – Estrutura de atividades da indústria de bens de capital a três e quatro

dígitos – ISIC 4ª.Rev.3

Group Class Description

Division 29: Manufacture of machinery and equipment n.e.c.

291

Manufacture of general purpose machinery

2911 Manufacture of engines and turbines, except aircraft, vehicle and cycle engines

2912 Manufacture of pumps, compressors, taps and valves

2913 Manufacture of bearings, gears, gearing and driving elements

2914 Manufacture of ovens, furnaces and furnace burners

2915 Manufacture of lifting and handling equipment

2919 Manufacture of other general purpose machinery

292

Manufacture of special purpose machinery

2921 Manufacture of agricultural and forestry machinery

2922 Manufacture of machine-tools

2923 Manufacture of machinery for metallurgy

2924 Manufacture of machinery for mining, quarrying and construction

2925 Manufacture of machinery for food, beverage and tobacco processing

2926 Manufacture of machinery for textile, apparel and leather production

2927 Manufacture of weapons and ammunition

2929 Manufacture of other special purpose machinery

293

Manufacture of domestic appliances n.e.c.

2930 Manufacture of domestic appliances n.e.c.

Fonte: United Nations Statistics Division (UNSD), UNCTAD. Classificação com base nos dos dados de International Standard of Industrial Classification (ISIC) 3ª Rev (2008). Disponível em: http://unstats.un.org/unsd/cr/registry/regcs.asp?Cl=2&Lg=1&Co=29. Acesso em: 01/fev/2011.

Page 229: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

229

Quadro 3 – Descrição dos produtos incluídos na classe de máquinas-ferramenta (ISIC

2822)

Products Description

Machine-tools for working any

material by removal of material

Machine-tools for working any material by removal of

material, by laser or other light or photon beam, ultrasonic,

electro-discharge, electro-chemical, electron beam, ionic-

beam or plasma arc processes.

Lathes for removing metal Lathes including turning centres for removing metal,

horizontal, numerically controlled or otherwise.

Machine-tools for drilling, boring or

milling metal

Machine-tools (including way-type unit head machines) for

drilling, boring, milling, threading or tapping by removing

metal, other than lathes and turning centres.

Grinding and sharpening machines Grinding and sharpening machines, numerically controlled

or otherwise.

Metal finishing machines except

grinding and sharpening machines

All other metal finishing machines except grinding and

sharpening machines, such as: Honing or lapping

machines, machine-tools for planing, shaping, slotting,

broaching, gear cutting, gear grinding or gear finishing,

sawing, cutting-off and other machine-tools working by

removing metal or cermets and other metal finishing

machines except grinding and sharpening machines.

Machine tools for working metal

Machine-tools for working metal by forging, hammering or

die-stamping; machine-tools for working metal by bending,

folding, straightening, flattening, shearing, punching or

notching; other presses for working metal or metal

carbides

Fonte: Statistics Division, United Nations Industrial Development Organization (UNIDO).69

Classificação com base nos dados da Lista de produtos por classe da ISIC 4. Disponível em: <http://unstats.un.org/unsd/industry/commoditylist2.asp?s=1&Lg=1> Acesso em: 04/out/12.

69

“The INDSTAT4 database contains time series data from 1990 onwards. Data are available for country, year and ISIC at the 3- and 4-digit levels of ISIC (Revision 3), which comprises 151 manufacturing sectors and sub-sectors. All value data are originally stored in national currency at current prices. The system allows for data conversion from national currency into current US dollars using the average period exchange rates as given in the International Monetary Fund International Financial Statistics (IFS). In support of the statistical data, relevant metadata information is collected from national data suppliers and OECD, which is available to users in a highly flexible form” (Research and Statistic, UNIDO 2012).

Page 230: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

230

Quadro 4 – Estrutura de atividades da indústria de bens de capital a quatro dígitos –

CNAE

Classe Subclasse Descrição

Grupo 28: Fabricação de máquinas e equipamentos

281

Fabricação de motores, bombas, compressores e

equipamentos de transmissão

2811-9 Fabricação de motores e turbinas, exceto para aviões e

veículos rodoviários

2812-7 Fabricação de equipamentos hidráulicos e

pneumáticos,exceto válvulas

2813-5 Fabricação de válvulas, registros e dispositivos semelhantes

2814-3 Fabricação de compressores

2815-1

Fabricação de equipamentos de transmissão para fins

industriais

282 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral

2821-6 Fabricação de aparelhos e equipamentos para instalações

térmicas

2822-4 Fabricação de máquinas, equipamentos e aparelhos para

transporte e elevação de cargas e pessoas

2823-2 Fabricação de máquinas e aparelhos de refrigeração e

ventilação para uso industrial e comercial

2824-1 Fabricação de aparelhos e equipamentos de ar condicionado

2825-9 Fabricação de máquinas e equipamentos para saneamento

básico e ambiental

2819-1 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral não

especificado anteriormente

283 Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos

para a agricultura e pecuária

2831-3 Fabricação de tratores agrícolas

2832-1 Fabricação de equipamentos para irrigação agrícola

2833-0 Fabricação de máquinas e equipamentos para a agricultura e

pecuária, exceto para irrigação

284 Fabricação de máquinas-ferramenta

2840-2 Fabricação de máquinas-ferramenta

285 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso na

extração mineral e na construção

2851-8 Fabricação de máquinas e equipamentos para prospecção e

extração de petróleo

Page 231: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

231

2852-6 Fabricação de outras máquinas e equipamentos para uso na

extração mineral, exceto na extração de petróleo

2853-4 Fabricação de tratores, exceto agrícolas

2854-2 Fabricação de máquinas e equipamentos para terraplenagem,

pavimentação e construção, exceto tratores

286 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso

industrial específico

2861-5 Fabricação de máquinas para a indústria metalúrgica, exceto

máquinas-ferramenta

2862-3 Fabricação de máquinas e equipamentos para as indústrias

de alimentos, bebidas e fumo

2863-1 Fabricação de máquinas e equipamentos para a indústria

têxtil

2864-0 Fabricação de máquinas e equipamentos para a indústria do

vestuário, couro e de calçados

2865-8 Fabricação de máquinas e equipamentos para a indústria de

celulose, papel e papelão e artefatos

2866-6 Fabricação de máquinas e equipamentos para a indústria do

plástico

2869-1 Fabricação de máquinas e equipamentos para uso industrial

específico não especificado anteriormente.

Fonte: Retirado de CONCLA (2011). Descrição CNAE 2.1 – Subclasses. Disponível em: <http://www.cnae.ibge.gov.br/divisao.asp?coddivisao=28&CodSecao=C&TabelaBusca=CNAE_201@CNAE 2.1 - Subclasses@0@cnaefiscal@0>

Page 232: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

232

2. Classificações de comércio internacional

Quadro 4 – Padrão de Classificação de comércio internacional para a indústria de

máquinaria e equipamentos de transporte (dois dígitos), segundo a Standard

International Trade Classification (SITC), Rev.3

SITC Description

SITC 7: Machinery and transport equipment

71 Power-generating machinery and equipment

72 Machinery specialized for particular industries

73 Metal working machinery

74 General industrial machinery and equipment, n.e.s., and machine parts, n.e.s.

75 Office machines and automatic data-processing machines

76 Telecommunications and sound-recording and reproducing apparatus and equipment

77 Electrical machinery, apparatus and appliances, n.e.s., and electrical parts thereof

(including non-electrical counterparts, n.e.s., of electrical household-type equipment)

78 Road vehicles (including air-cushion vehicles)

79 Other transport equipment

Fonte: Unctad Handbook Statistic (2010), com base no Standard International Trade Classification (SITC), Rev.3.

Page 233: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

233

Quadro 5 – Padrão de Classificação de comércio internacional para os segmentos da

indústria de máquinaria e equipamentos de transporte (três dígitos), segundo o

Standard International Trade Classification (SITC), Rev.3

SITC

(3 dígitos) Descrição

72: Machinery specialized for particular industries

721 Agricultural machinery (excluding tractors), and parts thereof

722 Tractors (other than those of headings 744.14 and 744.15)

723 civil engineering and contractors' plant and equipment; parts thereof

724 Textile and leather machinery, and parts thereof, n.e.s.

725 Paper mill and pulp mill machinery, paper-cutting machines and other machinery for

the manufacture of paper articles; parts thereof

726 Printing and bookbinding machinery, and parts thereof

727 Food-processing machines (excluding domestic); parts thereof

728 Other machinery and equipment specialized for particular industries; parts thereof,

n.e.s.

73 : Metalworking machinery

731 Machine tools working by removing metal or other material

733 Machine tools for working metal, sintered metal carbides or cermets, without

removing material

735 Parts, n.e.s., and accessories suitable for use solely or principally with the machines

falling within groups 731 and 733 (including work or tool holders, self-opening die-

heads, dividing heads and other special attachments for machine tools); tool holders

for any type of tool for working in the hand

737 Metalwork machinery (other than machine tools), and parts thereof, n.e.s.

74: General industrial machinery and equipment, n.e.s., and machine parts, n.e.s.

741 Heating and cooling equipment, and parts thereof, n.e.s.

742 Pumps for liquids, whether or not fitted with a measuring device; liquid elevators;

parts for such pumps and liquid elevators

743 Pumps (other than pumps for liquids), air or other gas compressors and fans;

ventilating or recycling hoods incorporating a fan, whether or not fitted with filters;

centrifuges; filtering or purifying apparatus; parts thereof

744 Mechanical handling equipment, and parts thereof, n.e.s

745 Non-electrical machinery, tools and mechanical apparatus, and parts thereof, n.e.s.

746 Ball- or roller bearings

747 Taps, cocks, valves and similar appliances for pipes, boiler shells, tanks, vats or the

like, including pressure-reducing valves and thermostatically controlled valves

748 Transmission shafts (including camshafts and crankshafts) and cranks; bearing

Page 234: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

234

housings and plain shaft bearings; gears and gearing; ball screws; gearboxes and

other speed changers (including torque converters); flywheels and pulleys (including

pulley blocks); clutches and shaft couplings (including universal joints); articulated

link chain; parts thereof

749 Non-electric parts and accessories of machinery, n.e.s.

75: Office machines and automatic data-processing machines

751 Office machines

752 Automatic data-processing machines and units thereof; magnetic or optical readers,

machines for transcribing data onto data media in coded form and machines for

processing such data, n.e.s.

759 Parts and accessories (other than covers, carrying cases and the like) suitable for

use solely or principally with machines falling within groups 751 and 752

76: Telecommunications and sound-recording and reproducing apparatus and equipment

77: Electrical machinery, apparatus and appliances, n.e.s., and electrical parts thereof

(including non-electrical counterparts, n.e.s., of electrical household-type equipment)

771 Electric power machinery (other than rotating electric plant of group 716), and parts

thereof

772 Electrical apparatus for switching or protecting electrical circuits or for making

connections to or in electrical circuits (e.g., switches, relays, fuses, lightning

arresters, voltage limiters, surge suppressors, plugs and sockets, lamp-holders and

junction boxes); electrical resistors (including rheostats and potentiometers), other

than heating resistors; printed circuits; boards, panels (including numerical control

panels), consoles, desks, cabinets and other bases, equipped with two or more

apparatus for switching, protecting or for making connections to or in electrical

circuits, for electric control or the distribution of electricity (excluding switching

apparatus of subgroup 764.1)

773 Equipment for distributing electricity, n.e.s.

774 Electrodiagnostic apparatus for medical, surgical, dental or veterinary purposes, and

radiological apparatus

775 Household-type electrical and non-electrical equipment, n.e.s.

776 Thermionic, cold cathode or photo-cathode valves and tubes (e.g., vacuum or

vapour or gas-filled valves and tubes, mercury arc rectifying valves and tubes,

cathode-ray tubes, television camera tubes); diodes, transistors and similar

semiconductor devices; photosensitive semiconductor devices; light-emitting diodes;

mounted piezoelectric crystals; electronic integrated circuits and microassemblies;

parts thereof

778 Electrical machinery and apparatus, n.e.s.

78: Road vehicles (including air-cushion vehicles)

79: Other transport equipment

Fonte: Unctad Handbook Statistic (2010), com base no Standard International Trade Classification (SITC), Rev.3.

Page 235: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

235

Quadro 6 – Padrão de Classificação de comércio internacional para o capítulo 84

(quatro dígitos), segundo a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM)

Subgrupo Descrição

Capítulo 84: Reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos, e suas

partes

84.50 Máquinas de lavar roupa, mesmo com dispositivos de secagem.

84.51

Máquinas e aparelhos (exceto as máquinas da posição 84.50) para lavar, limpar,

espremer, secar, passar, prensar (incluídas as prensas fixadoras), branquear, tingir, para

apresto e acabamento, para revestir ou impregnar fios, tecidos ou obras de matérias

têxteis e máquinas para revestir tecidos-base ou outros suportes utilizados na fabricação

de revestimentos para pavimentos (pisos), tais como linóleo; máquinas para enrolar,

desenrolar, dobrar, cortar ou dentear tecidos.

84.52 Máquinas de costura, exceto as de costurar cadernos da posição 84.40; móveis, bases e

tampas, próprios para máquinas de costura; agulhas para máquinas de costura.

84.53 Máquinas e aparelhos para preparar, curtir ou trabalhar couros ou peles, ou para fabricar

ou consertar calçados e outras obras de couro ou de pele, exceto máquinas de costura.

84.54 Conversores, cadinhos ou colheres de fundição, lingoteiras e máquinas de vazar (moldar),

para metalurgia, aciaria ou fundição.

84.55 Laminadores de metais e seus cilindros.

84.56

Máquinas-ferramenta que trabalhem por eliminação de qualquer matéria, operando

por “laser” ou por outro feixe de luz ou de fótons, por ultra-som, por eletroerosão,

por processos eletroquímicos, por feixes de elétrons, por feixes iônicos ou por jato

de plasma.

84.57 Centros de usinagem, máquinas de sistema monostático (“single station”) e

máquinas de estações múltiplas, para trabalhar metais.

84.58 Tornos (incluídos os centros de torneamento) para metais.

84.59

Máquinas-ferramenta (incluídas as unidades com cabeça deslizante) para furar,

mandrilar, fresar ou roscar interior e exteriormente metais, por eliminação de

matéria, exceto os tornos (incluídos os centros de torneamento) da posição 84.58.

84.60

Máquinas-ferramenta para rebarbar, afiar, amolar, retificar, brunir, polir ou realizar outras

operações de acabamento em metais ou ceramais (“cermets”) por meio de mós, de

abrasivos ou de produtos polidores, exceto as máquinas de cortar ou acabar engrenagens

da posição 84.61.

8461

Máquinas-ferramenta para aplainar, plainas-limadoras, máquinas-ferramenta para

escatelar, brochar, cortar ou acabar engrenagens, serrar, seccionar e outras máquinas-

ferramenta que trabalhem por eliminação de metal ou de ceramais (“cermets”), não

especificadas nem compreendidas em outras posições.

8462 Máquinas-ferramenta (incluídas as prensas) para forjar ou estampar, martelos, martelos-

Page 236: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

236

pilões e martinetes, para trabalhar metais; máquinas-ferramenta (incluídas as prensas)

para enrolar, arquear, dobrar, endireitar, aplanar, cisalhar, puncionar ou chanfrar metais;

prensas para trabalhar metais ou carbonetos metálicos, não especificadas acima.

8463 Outras máquinas-ferramenta para trabalhar metais ou ceramais (“cermets”), que

trabalhem sem eliminação de matéria.

8464 Máquinas-ferramenta para trabalhar pedra, produtos cerâmicos, concreto, fibrocimento ou

matérias minerais semelhantes, ou para o trabalho a frio do vidro.

8465

Máquinas-ferramenta (incluídas as máquinas para pregar, grampear, colar ou reunir por

qualquer outro modo) para trabalhar madeira, cortiça, osso, borracha endurecida,

plásticos duros ou matérias duras semelhantes.

8466

Partes e acessórios reconhecíveis como exclusiva ou principalmente destinados às

máquinas das posições 84.56 a 84.65, incluídos as porta-peça e porta-ferramentas, as

fieiras de abertura automática, os dispositivos divisores e outros dispositivos especiais,

para máquinas-ferramenta; porta-ferramentas para ferramentas manuais de todos os

tipos.

8467 Ferramentas pneumáticas, hidráulicas ou com motor (elétrico ou não elétrico)

incorporado, de uso manual.

8468 Máquinas e aparelhos para soldar, mesmo de corte, exceto os da posição 85.15;

máquinas e aparelhos a gás, para têmpera superficial.

8469 Máquinas de escrever, exceto as impressoras da posição 84.43; máquinas de tratamento

de textos.

Fonte: Retirado de Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Comércio Exterior – Estatísticas de

comércio exterior. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1095

Quadro 7 – Padrão de Classificação de comércio internacional para o capítulo 85

(quatro dígitos), segundo a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM)

Subgrupo Descrição

Capítulo 85: Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; aparelhos de gravação ou de reprodução

de som,aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e acessórios

85.01 Motores e geradores, elétricos, exceto os grupos eletrogêneos.

85.02 Grupos eletrogêneos e conversores rotativos elétricos.

8503 Partes reconhecíveis como exclusiva ou principalmente destinadas às máquinas das posições

85.01 ou 85.02.

85.04 Transformadores elétricos, conversores elétricos estáticos (retificadores, por exemplo), bobinas de

reatância e de auto-indução.

85.05

Eletroímãs; ímãs permanentes e artefatos destinados a tornarem-se ímãs permanentes após

magnetização; placas, mandris e dispositivos semelhantes, magnéticos ou eletromagnéticos, de

fixação; acoplamentos, embreagens, variadores de velocidade e freios, eletromagnéticos; cabeças

de elevação eletromagnéticas.

85.06 Pilhas e baterias de pilhas, elétricas.

Page 237: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

237

85.07 Acumuladores elétricos e seus separadores, mesmo de forma quadrada ou retangular.

85.08 Aspiradores.

85.09 Aparelhos eletromecânicos de motor elétrico incorporado, de uso doméstico, exceto os aspiradores

da posição 85.08.

85.10 Aparelhos ou máquinas de barbear, máquinas de cortar o cabelo ou de tosquiar e aparelhos de

depilar, de motor elétrico incorporado.

85.11

Aparelhos e dispositivos elétricos de ignição ou de arranque para motores de ignição por centelha

ou por compressão (por exemplo, magnetos, dínamos-magnetos, bobinas de ignição, velas de

ignição ou de aquecimento, motores de arranque); geradores (dínamos e alternadores, por

exemplo) e conjuntores-disjuntores utilizados com estes motores.

85.12

Aparelhos elétricos de iluminação ou de sinalização (exceto os da posição 85.39), limpadores de

pára-brisas, degeladores e desembaçadores (desembaciadores) elétricos, dos tipos utilizados em

ciclos e automóveis.

85.13

Lanternas elétricas portáteis destinadas a funcionar por meio de sua própria fonte de energia (por

exemplo, de pilhas, de acumuladores, de magnetos), excluídos os aparelhos de iluminação da

posição 85.12.

85.14

Fornos elétricos industriais ou de laboratório, incluídos os que funcionam por indução ou por perdas

dielétricas; outros aparelhos industriais ou de laboratório para tratamento térmico de matérias por

indução ou por perdas dielétricas.

85.15

Máquinas e aparelhos para soldar (mesmo de corte) elétricos (incluídos os a gás aquecido

eletricamente), a “laser” ou outros feixes de luz ou de fótons, a ultra-som, a feixes de elétrons, a

impulsos magnéticos ou a jato de plasma; máquinas e aparelhos elétricos para projeção a quente

de metais ou de ceramais (“cermets”).

85.16

Aquecedores elétricos de água, incluídos os de imersão; aparelhos elétricos para aquecimento de

ambientes, do solo ou para usos semelhantes; aparelhos eletrotérmicos para arranjos do cabelo

(por exemplo, secadores de cabelo, frisadores, aquecedores de ferros de frisar) ou para secar as

mãos; ferros elétricos de passar; outros aparelhos eletrotérmicos para uso doméstico; resistências

de aquecimento, exceto as da posição 85.45.

85.17

Aparelhos telefônicos, incluídos os telefones para redes celulares e para outras redes sem fio;

outros aparelhos para transmissão ou recepção de voz, imagens ou outros dados, incluídos os

aparelhos para comunicação em redes por fio ou redes sem fio (tal como um rede local (LAN) ou

uma rede de área estendida (WAN)), exceto os aparelhos das posições 84.43, 85.25, 85.27 ou

85.28.

85.18

Microfones e seus suportes; alto-falantes, mesmo montados nos seus receptáculos; fones de

ouvido, mesmo combinados com um microfone, e conjuntos ou sortidos constituídos por um

microfone e um ou mais alto-falantes; amplificadores elétricos de audiofreqüência; aparelhos

elétricos de amplificação de som.

85.19 Aparelhos de gravação de som; aparelhos de reprodução de som; aparelhos de gravação e de

reprodução de som.

85.21 Aparelhos videofônicos de gravação ou de reprodução, mesmo incorporando um receptor de sinais

videofônicos.

85.22 Partes e acessórios reconhecíveis como sendo exclusiva ou principalmente destinados aos

aparelhos das posições 85.19 a 85.21.

Page 238: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

238

85.23

Discos, fitas, dispositivos de armazenamento não-volátil de dados à base de semicondutores,

“cartões inteligentes” (“smart cards”) e outros suportes para gravação de som ou para gravações

semelhantes, mesmo gravados, incluídos as matrizes e moldes galvânicos para fabricação de

discos, exceto os produtos do Capítulo 37.

85.25

Aparelhos transmissores (emissores) para radiodifusão ou televisão, mesmo incorporando um

aparelho receptor ou um aparelho de gravação ou de reprodução de som; câmeras de televisão,

câmeras fotográficas digitais e câmeras de vídeo.

85.26 Aparelhos de radiodetecção e de radiossondagem (radar), aparelhos de radionavegação e

aparelhos de radiotelecomando.

85.27 Aparelhos receptores para radiodifusão, mesmo combinados num mesmo invólucro, com um

aparelho de gravação ou de reprodução de som, ou com um relógio.

85.28

Monitores e projetores, que não incorporem aparelho receptor de televisão; aparelhos receptores

de televisão, mesmo que incorporem um aparelho receptor de radiodifusão ou um aparelho de

gravação ou de reprodução de som ou de imagens.

85.29 Partes reconhecíveis como exclusiva ou principalmente destinadas aos aparelhos das posições

85.25 a 85.28.

85.30

Aparelhos elétricos de sinalização (excluindo os de transmissão de mensagens), de segurança, de

controle e de comando, para vias férreas ou semelhantes, vias terrestres ou fluviais, para áreas ou

parques de estacionamento, instalações portuárias ou para aeródromos (exceto os da posição

86.08).

85.31

Aparelhos elétricos de sinalização acústica ou visual (por exemplo, campainhas, sirenes, quadros

indicadores, aparelhos de alarme para proteção contra roubo ou incêndio), exceto os das posições

85.12 ou 85.30.

85.32 Condensadores elétricos, fixos, variáveis ou ajustáveis.

85.33 Resistências elétricas (incluídos os reostatos e os potenciômetros), exceto de aquecimento.

8534 Circuitos impressos.

85.35

Aparelhos para interrupção, seccionamento, proteção, derivação, ligação ou conexão de circuitos

elétricos (por exemplo, interruptores, comutadores, corta-circuitos, pára-raios, limitadores de

tensão, eliminadores de onda, tomadas de corrente e outros conectores, caixas de junção), para

tensão superior a 1.000V.

85.36

Aparelhos para interrupção, seccionamento, proteção, derivação, ligação ou conexão de circuitos

elétricos (por exemplo, interruptores, comutadores, relés, corta-circuitos, eliminadores de onda,

plugues e tomadas de corrente, suportes para lâmpadas e outros conectores, caixas de junção),

para uma tensão não superior a 1.000V; conectores para fibras ópticas, feixes ou cabos de fibras

ópticas.

85.37

Quadros, painéis, consoles, cabinas, armários e outros suportes com dois ou mais aparelhos das

posições 85.35 ou 85.36, para comando elétrico ou distribuição de energia elétrica, incluídos os que

incorporem instrumentos ou aparelhos do Capítulo 90, bem como os aparelhos de comando

numérico, exceto os aparelhos de comutação da posição 85.17.

85.38 Partes reconhecíveis como exclusiva ou principalmente destinadas aos aparelhos das posições

85.35, 85.36 ou 85.37.

85.39

Lâmpadas e tubos elétricos de incandescência ou de descarga, incluídos os artigos denominados

"faróis e projetores, em unidades seladas" e as lâmpadas e tubos de raios ultravioleta ou

infravermelhos; lâmpadas de arco.

Page 239: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

239

85.40

Lâmpadas, tubos e válvulas, eletrônicos, de cátodo quente, cátodo frio ou fotocátodo (por exemplo,

lâmpadas, tubos e válvulas, de vácuo, de vapor ou de gás, ampolas retificadoras de vapor de

mercúrio, tubos catódicos, tubos e válvulas para câmeras de televisão), exceto os da posição

85.39.

85.41

Diodos, transistores e dispositivos semelhantes semicondutores; dispositivos fotossensíveis

semicondutores, incluídas as células fotovoltaicas, mesmo montadas em módulos ou em painéis;

diodos emissores de luz; cristais piezelétricos montados.

85.42 Circuitos integrados eletrônicos.

85.43 Máquinas e aparelhos elétricos com função própria, não especificados nem compreendidos em

outras posições do presente Capítulo.

85.44

Fios, cabos (incluídos os cabos coaxiais) e outros condutores, isolados para usos elétricos

(incluídos os envernizados ou oxidados anodicamente), mesmo com peças de conexão; cabos de

fibras ópticas, constituídos de fibras embainhadas individualmente, mesmo com condutores

elétricos ou munidos de peças de conexão.

85.45 Eletrodos de carvão, escovas de carvão, carvões para lâmpadas ou para pilhas e outros artigos de

grafita ou de carvão, com ou sem metal, para usos elétricos.

85.46 Isoladores de qualquer matéria, para usos elétricos.

85.47

Peças isolantes inteiramente de matérias isolantes, ou com simples peças metálicas de montagem

(suportes roscados, por exemplo) incorporadas na massa, para máquinas, aparelhos e instalações

elétricas, exceto os isoladores da posição 85.46; tubos isoladores e suas peças de ligação, de

metais comuns, isolados interiormente.

85.48

Desperdícios e resíduos de pilhas, de baterias de pilhas e de acumuladores, elétricos; pilhas,

baterias de pilhas e acumuladores, elétricos, inservíveis; partes elétricas de máquinas e aparelhos,

não especificadas nem compreendidas em outras posições do presente Capítulo.

Fonte: Retirado de Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Comércio Exterior – Estatísticas de

comércio exterior. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1095

Page 240: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

240

3. Dados de produção e valor adicionado

Tabela 8: Valor adicionado e indicadores de relacionados por indústria, a preços

correntes, anos selecionados

Indústria

(ISIC Revisão 3)

Valor adicionado

At factor values

(em milhões de US$)

Participação na

produção

(em %)

Por empregado

(em US$)

Participação na

indústria de

manufatura

(em %)

2000 2007 2000 2007 2000 2007 2000 2007

Máquinas de uso geral 3,294 7,568 50 42 23494 39957 2.5 2.6

Máquinas para uso

específico 2,919 9,508 47 45 20420 36032 2.2 3.3

Subtotal 6,213 17,076 97 87 43914 75989 0 0

Total indústria de

manufatura 131,364 286,654 45 42 25650 40908 100.0 100.0

Fonte: Statistical Country Briefs. UNIDO. An asterisk (*) next to the year denotes estimated figures.

Disponível em: http://www.unido.org/index.php?id=1000313.

Page 241: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

241

ANEXO B – LISTA GERAL DE EMPRESAS E GRUPOS DE PESQUISA IDENTIFICADOS

PARA A PESQUISA EMPÍRICA

1. Lista completa de empresas de máquinas-ferramentas

Empresas Origem da

matriz

Localização

da unidade

produtiva

ABIMAQ Grupos

CNPQ

Valor

Econômico

Exame Maiores e Melhores -

BK Seade

Produtos

utilizados

em

processos

de

usinagem

Associado

s CSMF

Interação

realizada com

grupos de

pesquisa

Maiores

grupos

(2010 e 2009)

Maiores

empresas em

vendas (2010

e 2009)

Melhores

empresas

(2010 e 2009)

Investimentos

anunciados

no setor de

máquinas e

equipamentos

- Estado de

SP (2010)

Empresas de máquinas-ferramentas analisadas na pesquisa empírica:

1 B. Grob do Brasil S/A

Alemanha

São

Bernardo do

Campo/SP

X

2

D.R. Promaq

indústria e

comércio Ltda

Brasil

São

Bernardo do

Campo/SP

X

3

Ergomat

indústria e

comércio

Ltda.

Brasil São

Paulo/SP X X

4

Ferdimat

indústria e

comércio de

maqs.

Operatrizes

Ltda

Brasil São José dos

Campos/SP X

5

Index tornos

automáticos

ind. E com.

Ltda

Alemanha Sorocaba/SP X

X

6 Indústrias

Romi Brasil

Santa

Bárbara

D'Oeste/SP

X X X X X X X

Empresas de máquinas-ferramentas que não puderam colaborar com a pesquisa empírica

Heller

Máquinas

operatrizes

Ind. E Com.

Ltda

Alemanha Sorocaba/SP X X

Indústria de Máquinas

Operatrizes Zema Zselics

Ltda

Brasil

São

Bernardo do

Campo/SP

X

X

Indústrias Nardini

Brasil Americana/S

P X

Page 242: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

242

Máquinas

operatrizes

Zocca Ltda.

Brasil Jaboticaba/S

P X

TM Bevo ind.

E com. De

máquinas

operatrizes

Ltda

Alemanha

São

Bernardo do

Campo/SP

X X

Fonte: Elaboração própria.

Page 243: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

243

ANEXO C – QUESTIONÁRIO UTILIZADO NA PESQUISA EMPÍRICA

1. Questionários aplicado em empresas de máquinas-ferramenta

ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

QUESTÕES APLICADAS EM EMPRESAS DE MÁQUINAS-FERRAMENTA DATA DE REALIZAÇÃO DA ENTREVISTA: HORÁRIO DA ENTREVISTA: Início: _________; Fim: _______ Identificação do entrevistado e de sua trajetória na empresa

Nome:

Área de atuação:

Cargo:

Tempo de empresa:

Formação:

I) IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICA DA EMPRESA INVESTIGADA

Dados Gerais da empresa investigada

Nome fantasia:

Ano de fundação:

Origem de capital:

Atividades principais (linha de produtos):

Dados sobre as unidades de produção:

Número e localização das unidades no Brasil

Número e localização das unidades no exterior:

Page 244: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

244

Capacidade de produção anual (volumes):

Nível atual de utilização da capacidade produtiva (%):

Número de turnos trabalhados:

II) PRODUTO E VENDAS 1. Descrição das linhas de produtos:

Linha de produtos

Principais produtos

Idade média das linhas de

produtos

Tem departamento de projeto interno

(sim/não)

Participação no faturamento

(%)

Investimentos (%)

2. Divisão das vendas entre as quatro principais linhas de produtos (mercado interno e externo):

Linha de produtos

Participação das vendas no mercado interno

(%)

Participação das vendas no mercado externo

(%) Mercados

3. A empresa terceirizou (ou terceiriza) alguma atividade/etapa da produção? Por quê?

4. Quais os principais setores de utilização das máquinas-ferramenta no mercado interno e externo?

Produtos Setores de aplicação (clientes)

Mercado interno Mercado externo

5. Quais os principais requisitos (demandas) dos setores de aplicação usuários das máquinas-ferramenta no

mercado externo e externo?

Setores de aplicação (clientes)

Demandas dos setores de aplicação em relação às MFs da empresa

Mercado interno Mercado externo

Page 245: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

245

6. Como a empresa classifica a sua relação com os setores usuários das máquinas-ferramenta?

1.Compra sistemática 2.Compra recorrente 3.Compra e cooperação

técnica sistemática 4.Compra e cooperação

técnica recorrente

Setores usuários das máquinas-ferramenta

Classificação (1-4)

Justificativa

III) CARACTERÍSTICAS DA DINÂMICA CONCORRENCIAL 7. Quais fatores relacionados aos produtos/processos são mais importantes para a competitividade da

empresa no mercado interno? (1 a 4)

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Fator de competitividade Nota (1-4)

Justificativa

Custo

Projeto de produto

Qualidade

Flexibilidade

Produtividade

Assistência técnica

Utilização para outros materiais

Outro – qual

8. Quais fatores relacionados aos produtos/processos são mais importantes para a competitividade da

empresa no mercado externo (inclusive América Latina)? (1 a 4)

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Fator de competitividade Nota (1-4)

Justificativa

Custo

Projeto de produto

Qualidade

Flexibilidade

Produtividade

Assistência técnica

Utilização para novos materiais

Outro – qual?

9. Quais os principais concorrentes da empresa no mercado interno e externo

Concorrentes da empresa de máquinas-ferramenta

Mercado interno Mercado externo

Page 246: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

246

IV) VETORES DO DESENVOLVIMENTO TÉCNICO NO RAMO DE MÁQUINAS-FERRAMENTA CARACTERÍSTICAS GERAIS 10. Em sua opinião, quais foram as inovações mais importantes (produto e processo) dos últimos anos no

setor em que a empresa atua?

11. Quais foram os impactos dessas inovações para a atuação da empresa no mercado (Brasil e mundo)?

12. Como a empresa caracteriza a natureza do desenvolvimento tecnológico interno (explique):

a) Produto - radical ou incremental ou ambos:

b) Processo - radical ou incremental ou ambos:

13. O conhecimento técnico de produtos (tarefas cotidianas) é:

Parâmetros de conhecimento técnico de produtos Resposta

Especialização Especializado ou diversificado

Domínio Base Cientifica e tecnológica

Grau de acessibilidade Aberto ou fechado

14. O conhecimento técnico de processos (tarefas cotidianas) é:

Parâmetros de conhecimento técnico de processos Resposta

Especialização Especializado ou diversificado

Domínio Cientifico e tecnológico

Grau de acessibilidade Aberto ou fechado

15. Qual o tempo médio (meses, anos) que a empresa leva para criar um novo produto? E para alterar as características (incrementais) de produtos e dos processos (atualização)?

16. Os elementos listados a seguir são importantes para o desenvolvimento e melhorias das máquinas? Há um trade-offs na decisão (escolha) de algum desses elementos?

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Fatores importantes para o desenvolvimento das máquinas

Nota (1-4)

Exemplo

Page 247: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

247

Características do uso da máquina (velocidade, flexibilidade, precisão de corte)

Experiências tácitas no projeto

Experiências tácitas no uso de equipamentos

Interface entre controles eletrônicos e mecânicos

Interface entre elementos estruturais, de controle e de transmissão

Outros

ÁREAS DE CONHECIMENTO 17. Qual a importância das áreas de conhecimento listadas a seguir para o desenvolvimento e melhorias das

máquinas (dê um exemplo de produtos em cada área)?

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Áreas de conhecimento

Notas (1-4)

Contribuições da área para o desenvolvimento (ou melhorias) das MFs da empresa (exemplos)

Produção:

Mecânica:

Eletrônica:

Mecatrônica:

Outras (quais)

18. Quais os fatores determinantes (motivador) para a empresa incorporar os conhecimentos dessas áreas à

sua linha de produtos? (1-4)

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Fatores determinantes Notas (1-4)

Exemplo (s)

Alterações nas características dos materiais (mercado)

Alterações nas características dos materiais (do usuário)

Atualização das características técnicas das máquinas

Resolução de problemas técnicos

Lucro

Desempenho no mercado interno

Inserção no mercado externo

Desempenho no mercado externo

Outros

19. A empresa tem passado por alguma reestruturação visando à incorporação de conhecimentos de outras áreas (quais)?

20. Eventuais mudanças nessas áreas de conhecimento representam uma oportunidade ou ameaça para o

desenvolvimento das máquinas-ferramenta da empresa? E do setor nacional? Por quê? (cite ao menos um exemplo)

Page 248: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

248

MATERIAIS E TECNOLOGIAS DE AUTOMAÇÃO 21. A empresa apresentou modificações no desenvolvimento das máquinas em virtude de alterações nas

características dos materiais empregados? Quais?

Linha de máquinas Máquinas Modificações determinadas por novos materiais

22. Na última década a empresa investiu no desenvolvimento de tecnologias de automação das máquinas-ferramenta? Quais os determinantes da decisão de investimento?

Determinantes: 1. Atualização/modernização; 2.Aquisição de nova tecnologia; 3. Outros (quais)

Tecnologias (especificar)

Participação no total de investimentos em tecnologias (%)

Determinante dos investimentos

23. Sobre as máquinas com tecnologias CNC:

Característica: 1.Tecnologia nova no mercado interno; 2. Tecnologia nova no mercado externo

Máquinas com CNC Características Competências internas necessárias

24. Quais foram os principais efeitos das tecnologias para o desempenho da máquina? E da empresa?

Tecnologias Efeitos para o desempenho técnico da máquina

Tecnologias Efeitos para a competitividade da empresa

PESQUISA, APRENDIZADO E DESENVOLVIMENTO DE MFS 25. Como a empresa classifica as formas de acessar informações no desenvolvimento ou melhorias nas

máquinas-ferramenta?

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Page 249: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

249

Condições Nota (1-4) Exemplo (máquina)

Aprendizado

Capacidade organizacional

Feedback

Outros fatores

26. Como ocorre a difusão dessas informações no ambiente interno à empresa?

27. Sobre o aprendizado de fontes externas:

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Fontes de aprendizado externo Nota (1-4)

Fornecedor

Usuário

Instituições de pesquisa

Instituições de apoio (teste)

Instituições de formação de RH

Outras fontes (1):

Outras fontes (2):

28. Como ocorre o aprendizado das informações provenientes do ambiente externo à empresa?

V) REGIME TECNOLÓGICO 29. As tecnologias embutidas nas máquinas podem ser classificadas como pervasivas (aplicação do

conhecimento em variedade de produtos) ou não pervasivas (alta cumulatividade e especialização)? Por quê?

Exemplo

Tecnologias Pervasivas

Não-pervasivas

30. Os conhecimentos utilizados nas empresas podem ser caracterizados por qual desses níveis de

cumulatividade?

Exemplo

Cumulatividade

Nível individual

Nível da firma

Nível organizacional

Page 250: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

250

31. A empresa considera que o setor de MFs apresenta alta ou baixa oportunidade para o desenvolvimento de MFs? Por quê?

32. Sobre os instrumentos de proteção das informações, quais os mais usados pela empresa? Eles são

eficazes? Há dificuldades (quais)?

Mecanismos de proteção das informações

Produto

Eficácia (sim/não)

Dificuldades (dificuldade alta, média ou baixa)

Defasagem temporal

Complexidade

Aprendizado

Lead time

Curva de aprendizado

Custo e tempo requerido

Canais de comercialização

Outros mecanismos

Mecanismos de proteção das informações

Processo

Eficácia (sim/não)

Dificuldades (dificuldade alta, media ou baixa)

Defasagem temporal

Complexidade

Aprendizado

Lead time

Curva de aprendizado

Custo e tempo requerido

Canais de comercialização

Outros mecanismos

33. A empresa depositou alguma patente referente à mudança tecnológica nos seus produtos ou processos?

Sim (1); Não (2).

No Brasil?

Sim (1); Não (2). Quantas e quais?

No exterior?

Sim (1); Não (2). Quantas e quais?

34. A empresa realizou algum pagamento referente às mudanças tecnológicas ou organizacionais recentes

em seus produtos ou processos? Sim (1) Não (2)

Modalidade

Page 251: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

251

Valor

35. A empresa recebeu algum pagamento referente às mudanças tecnológicas ou organizacionais recentes

em seus produtos ou processos? Sim (1) Não (2)

Modalidade

Valor

VI) SISTEMA SETORIAL DE MÁQUINAS-FERRAMENTA CARACTERÍSTICAS GERAIS 36. Há colaboração dos atores citados a seguir para o desenvolvimento de produtos e melhorias das

máquinas? (Dê exemplos)

INSTITUIÇÕES

PRODUTOS

Nome da instituição

Objetivo da interação

Fomento (FINAME, BNDES, Caixa Econômica)

Ensino e pesquisa – pública e privada

Instituto de normatização e testes

Formação de recursos humanos

Fornecedores de insumos/ Componentes

Fornecedores de componentes – mecânica, eletrônica, etc.

Consumidores/usuários

Outros

37. Há colaboração dos atores citados a seguir para o desenvolvimento e melhoria dos processos (Dê exemplo).

INSTITUIÇÕES

PROCESSOS /TECNOLOGIAS

Nome da instituição

Objetivo da interação

Page 252: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

252

Fomento (FINAME, BNDES, Caixa Econômica)

Ensino e pesquisa – pública e privada

Instituto de normatização e testes

Formação de recursos humanos

Fornecedores de insumos/ Componentes

Fornecedores de componentes – mecânica, eletrônica, etc.

Consumidores/usuários

Outros

INTERAÇÃO ENTRE EMPRESA, UNIVERSIDADE E INSTITUTOS DE PESQUISA

38. Quais as razões da interação empresa-universidade e Institutos de Pesquisa?

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Objetivos da colaboração 1 2 3 4

a.Transferência de tecnologia da universidade

b.Buscar conselhos de cunho tecnológico ou consultoria com pesquisadores e professores para a solução de problemas relacionados à produção;

c.Aumentar a habilidade da empresa para encontrar e absorver informações tecnológicas

d. Conseguir informações com engenheiros ou cientistas e tendências de P&D nas áreas científicas

e. Contratar pesquisas complementares, necessárias para as atividades inovativas da empresa, em universidades e institutos, centros ou laboratórios de pesquisa

f. Contratar pesquisas que a empresa não pode realizar.

g. Fazer, o mais cedo possível, contratos com estudantes universitários de excelência para o futuro recrutamento.

h. Utilizar recursos disponíveis nas universidades e laboratórios de pesquisa

i.Realizar testes necessários para produtos e processos da empresa

j. Receber ajuda no controle de qualidade

h. Outros objetivos

Page 253: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

253

39. Quem apresentou iniciativa para estabelecer os relacionamentos entre a empresa e o grupo? (Pode-se marcar mais de uma opção).

Alternativas

a. Empresa

b. O grupo de pesquisa

c. As iniciativas foram compartilhadas pelo grupo e pela empresa

d. Mecanismos institucionais da universidade/instituto de pesquisa para a transferência de tecnologia

e.Outro (Especifique)

40. Em geral, a colaboração com universidades e institutos de pesquisa apresentou resultados em termos de atingir os objetivos esperados? Escolha uma alternativa.

Alternativas

a. Sim, até agora a colaboração tem sido bem-sucedida; (SIM)

b. Não, a colaboração não tem sido um sucesso; (NÃO)

c. A colaboração ainda está em andamento, mas acredito que os objetivos serão atingidos no tempo previsto. (SIM)

d. A colaboração ainda não se completou, mas acredito que os objetivos não serão atingidos (NÃO)

Se a resposta na questão 39 foi “A” ou “C” , continue a responder a partir da questão 41. Se a resposta na questão 39 foi “B” ou “D”, continue a responder a partir da questão 42. 41. Por que a colaboração com Universidade e Institutos de Pesquisa NÃO atingiu os objetivos?

1.Sem importância

2. Pouco importante

3.Moderadamente importante

4.Muito importante

Razões 1 2 3 4

a.Divergência entre o conhecimento disponibilizado pela Instituição e o conhecimento necessário à empresa;

b. Diferenças em termos de ritmo;

c.Diferenças entre pontos de vista e objetivos;

d.Os pesquisadores da Instituição são muito orientados cientificamente;

e. Os pesquisadores da Instituição não são suficientemente orientados cientificamente;

f.Pouca sensibilidade da Universidade à demanda da empresa.

g. Diferenças em relação à apropriabilidade dos resultados dos projetos;

h.Falta de capacitação de pessoal da empresa para lidar com a universidade;

i.Outra (especificar)

42. Quais os principais resultados da interação entre a empresa e universidade/institutos de pesquisa?

1.Sem Importância

2. Pouco importante

3.Moderadamente importante

4.Muito importante

Page 254: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

254

Resultados da interação empresa (ou institutos) e universidade 1 2 3 4

a. Desenvolvimento conjunto (Projeto) da máquinas;

b. Melhoria técnica nas condições de uso das máquinas;

c. Teste de novas tecnologias, em experiência com a empresa;

d. Teste das tecnologias existentes em novos materiais, em experiência com a empresa

e. Consultoria por parte da empresa;

f. Consultoria por parte da instituição;

g. Outros

43. Há quanto tempo a empresa tem colaborado com universidade/institutos de pesquisa?

Alternativas

a.Há menos de um ano

b.Entre um e dois anos

c.Entre dois e cinco anos

d.Entre cinco e dez anos

e.Há mais de dez anos

44. Em geral, como são financiados os projetos em colaboração com as universidades e institutos de pesquisa?

Categorias de financiamento % média

a. Recursos próprios

b. Recursos públicos (FINAME, FUNEP, BNDES)

c. Recursos de terceiros (capital de risco, bancos privados, etc.

45. Se você assinalou a letra “b”, assinale qual o mecanismo foi utilizado nos últimos três anos.

Incentivo fiscal à P&D e inovação tecnológica

Financiamento para a participação em projetos de P&D e inovação tecnológica em parceria com universidades e institutos, centros e laboratórios de pesquisa

Financiamento para projetos de P&D e inovação tecnológica

Financiamento para compra de máquinas e equipamentos utilizados para inovar

Bolsas oferecidas por FAPs e RHAE/CNPQ para pesquisadores em empresas

Aporte de capital de risco

Outros (favor especificar)

46. Especifique a linha de pesquisa e a respectiva área de conhecimento que as universidades de pesquisa do

país necessitam avançar para apoiar as atividades inovativas de sua empresa.

Áreas de conhecimento Linhas de pesquisa (correspondente)

Page 255: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

255

2. Questionário aplicado nos grupos de pesquisa com atuação no ramo de máquinas-

ferramenta

ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

QUESTÕES APLICADAS NOS GRUPOS DE PESQUISA COM ATUAÇÃO NO SETOR DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS DATA DE REALIZAÇÃO DA ENTREVISTA: TEMPO DE DURAÇÃO: _____ horas e_____ min ( : às : ) Identificação do entrevistado e de sua trajetória no grupo

Nome:

Área de atuação:

Cargo:

Tempo de grupo:

Formação:

Dados Gerais do grupo

Nome:

Ano de fundação:

Atividades principais

1. Na opinião do GRUPO, quais fatores relacionados aos produtos/processos são mais importantes para a competitividade do setor de MFs no mercado interno? (1 a 4)

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Fator de competitividade Nota (1-4)

Justificativa

Custo

Projeto de produto

Qualidade

Flexibilidade

Produtividade

Assistência técnica

Utilização para outros materiais

Page 256: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

256

Concorrência externa

Condições econômicas mercado interno

Outro – qual

2. Na opinião do GRUPO, quais fatores relacionados aos produtos/processos são mais importantes para a competitividade do setor de MFs no mercado externo (inclusive América Latina)? (1 a 4)

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Fator de competitividade Nota (1-4)

Justificativa

Custo

Projeto de produto

Qualidade

Flexibilidade

Produtividade

Assistência técnica

Utilização para novos materiais

Concorrência externa

Condições econômicas mercado interno

Outro – qual?

3. Quais os principais concorrentes (empresas ou países) da empresa de MFs no mercado interno e externo

Concorrentes da empresa de máquinas-ferramenta

Mercado interno Mercado externo

4. Como a instituição classifica a relação com entre empresas de MFs e os setores usuários das máquinas-ferramenta?

1.Compra sistemática 2.Compra recorrente 3.Compra e cooperação

técnica sistemática 4.Compra e cooperação

técnica recorrente

Setores usuários das máquinas-ferramenta

Classificação (1-4)

Justificativa

5. Como o GRUPO classifica a relação das empresas de MFs (BR) com fornecedores de insumos e equipamentos do mercado interno

1.Compra sistemática 2.Compra recorrente 3.Compra e cooperação

técnica sistemática 4.Compra e cooperação

técnica recorrente

Descrição Classificação

(1-4) Justificativa

Fornecedor de insumo

1.

2.

Page 257: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

257

3.

4.

Fornecedor de equipamentos

1.

2.

3.

4.

Fornecedor de ferramentas

1.

2

3

4

6. Na opinião do GRUPO, quais foram as inovações mais importantes dos últimos anos no setor MFs (ou indústria bens de capital)? Quais foram seus impactos?

7. Em relação às inovações recentes do setor, as empresas brasileiras incorporaram tais inovações? Por quê?

8. Como a instituição caracteriza a natureza do desenvolvimento tecnológico interno (explique):

c) Produto - radical ou incremental ou ambos:

d) Processo - radical ou incremental ou ambos:

9. Na opinião do GRUPO, qual a importância das áreas de conhecimento listadas a seguir para o desenvolvimento e melhorias das máquinas (dê um exemplo de produtos em cada área)?

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Áreas de conhecimento

Notas (1-4)

Contribuições da área para o desenvolvimento (melhorias) das MFs da empresa

Produção:

Mecânica:

Eletrônica:

Mecatrônica:

Outras (quais)

10. Na opinião do GRUPO, quais os fatores determinantes (motivador) para as empresas brasileiras incorporarem os conhecimentos dessas áreas à sua linha de produtos? (1-4)

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Page 258: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

258

Determinantes Notas (1-4)

Exemplo (s)

Alterações nas características dos materiais (mercado)

Alterações nas características dos materiais (do usuário)

Atualização das características técnicas das máquinas

Resolução de problemas técnicos

Lucro

Desempenho no mercado interno

Inserção no mercado externo

Desempenho no mercado externo

11. Na opinião do GRUPO, como os conhecimentos dessas áreas têm influenciado o desenvolvimento das máquinas da empresa?

12. Eventuais mudanças nessas áreas de conhecimento representam uma oportunidade ou ameaça para o desenvolvimento das máquinas-ferramenta da empresa? E do setor nacional ? Por quê? (cite ao menos um exemplo)

13. Quais as condições enfrentadas pela empresa para o acesso às informações de diferentes áreas de conhecimento?

14. A instituição considera que o setor de MFs apresenta alta ou baixa oportunidade para o desenvolvimento de MFs? Por quê?

15. Sobre os instrumentos de proteção das informações, quais os mais usados pelo setor de MFs? Eles são eficazes? Há dificuldades (quais)?

Mecanismos de proteção das informações

Produto

Eficácia (sim/não)

Dificuldades (dificuldade alta, média ou baixa)

Patente

Defasagem temporal

Complexidade

Aprendizado

Lead time

Page 259: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

259

Curva de aprendizado

Custo e tempo requerido

Canais de comercialização

Outros mecanismos

Mecanismos de proteção das informações

Processo

Eficácia (sim/não)

Dificuldades (dificuldade alta, media ou baixa)

Patente

Defasagem temporal

Complexidade

Aprendizado

Lead time

Curva de aprendizado

Custo e tempo requerido

Canais de comercialização

Outros mecanismos

16. Quais as razões da interação empresa-GRUPO?

1.Sem importância 2. Pouco importante 3.Moderadamente

importante 4.Muito importante

Objetivos da colaboração 1 2 3 4

a.Transferência de tecnologia para a empresa

b.Buscar conselhos de cunho tecnológico ou consultoria;

c.Aumentar a habilidade da empresa para encontrar e absorver informações tecnológicas

d. Conseguir informações sobre engenheiros ou cientistas ou tendências de P&D nas áreas científicas

e. Contratar pesquisas complementares, necessárias para as atividades inovativas da empresa;

f. Contratar pesquisas que a empresa não pode realizar.

g. Obter certificação;

h. Promover (ou aumentar) a inserção no comércio internacional

i.Realizar testes necessários para produtos e processos da empresa

j. Receber ajuda no controle de qualidade

l. Obter informações sobre linhas de financiamento

m. Ter acesso à linhas de financiamento

Page 260: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

260

n. Outras

17. Quem apresentou iniciativa para estabelecer os relacionamentos entre a empresa e o GRUPO? (Pode-se marcar mais de uma opção).

Alternativas

a. Empresa

b. GRUPO

c. As iniciativas foram compartilhadas pelo GRUPO e a empresa

d. Mecanismos institucionais da universidade/instituto de pesquisa para a transferência de tecnologia

e.Outro (Especifique)

18. Há colaboração dos atores citados a seguir para o desenvolvimento de produtos e melhorias das máquinas? (Dê exemplos)

INSTITUIÇÕES

PRODUTOS

Nome da instituição

Objetivo da interação

Fomento (BNDES, Caixa Econômica)

Ensino e pesquisa – pública e privada

Instituto de normatização e testes

Formação de recursos humanos

Fornecedores de insumos/ Componentes

Fornecedores de componentes – mecânica, eletrônica, etc.

Consumidores/usuários

Outros

19. Há colaboração dos atores citados a seguir para o desenvolvimento e melhoria dos processos (Dê exemplo).

INSTITUIÇÕES

PROCESSOS /TECNOLOGIAS

Nome da instituição

Objetivo da interação

Fomento (BNDES, Caixa Econômica)

Page 261: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

261

Ensino e pesquisa – pública e privada

Instituto de normatização e testes

Formação de recursos humanos

Fornecedores de insumos/ Componentes

Fornecedores de componentes – mecânica, eletrônica, etc.

Consumidores/usuários

Outros

20. Qual(is) o(s) instrumento(s) público de incentivo às atividades de P&D utilizados nos últimos três anos por empresas de MFs?

21. Em geral, a colaboração com o instituto apresentou resultados em termos de atingir os objetivos esperados? Escolha uma alternativa.

Alternativas

a. Sim, até agora a colaboração tem sido bem-sucedida;

b. Não, a colaboração não tem sido um sucesso;

c. A colaboração ainda está em andamento, mas acredito que os objetivos serão atingidos no tempo previsto.

d. A colaboração ainda não se completou, mas acredito que os objetivos não serão atingidos

Se a resposta na questão 19 foi “A” ou “C” , continue a responder a partir da questão 22. Se a resposta na questão 19 foi “B” ou “D”, continue a responder a partir da questão 23. 22. Quais os principais resultados da interação entre o GRUPO e as empresas de máquinas?

1.Sem importância

2. Pouco importante

3.Moderadamente importante

4.Muito importante

Resultados do relacionamento GRUPO com empresas 1 2 3 4

Novos projetos de pesquisa

Novos produtos e artefatos

Novos processos industriais

Melhoria de produtos

Melhoria de processos

Page 262: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

262

Formação de recursos humanos

Atualização de recursos humanos

Desempenho das vendas do setor no comércio internacional

Certificações (quais)

Desempenho das vendas do setor no mercado interno

Outros

23. Por que a colaboração entre as empresas e Institutos de Pesquisa não atingiu os objetivos?

1.Sem importância

2. Pouco importante

3.Moderadamente importante

4.Muito importante

Razões 1 2 3 4

a.Divergência entre o conhecimento disponibilizado pela Instituição e o conhecimento necessário à empresa;

b. Diferenças em termos de ritmo;

c.Diferenças entre pontos de vista e objetivos;

d.Os pesquisadores da Instituição são muito orientados cientificamente;

e. Os pesquisadores da Instituição não são suficientemente orientados cientificamente;

f.Pouca sensibilidade da Universidade à demanda da empresa.

g. Diferenças em relação à apropriabilidade dos resultados dos projetos;

h.Falta de capacitação de pessoal da empresa para lidar com a universidade;

i.Outra (especificar)

24. Em geral, como são financiados os projetos em colaboração entre o GRUPO e as empresas de máquinas?

Origem do capital utilizado em projetos em colaboração % média

a. Recursos próprios (empresa)

b.Recursos públicos (FINEP, CNPq, FAPs, BNDES, etc).

c. Recursos de terceiros (capital de risco, bancos privados, etc.)

25. Se você assinalou valor maior que zero na letra “b”, assinale qual o mecanismo foi utilizado nos últimos três anos.

Mecanismos utilizados

Page 263: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

263

Incentivo fiscal à P&D e inovação tecnológica

Financiamento para a participação em projetos de P&D e inovação tecnológica em parceria com universidades e institutos, centros e laboratórios de pesquisas

Financiamento para projetos de P&D e inovação tecnológica

Financiamento para a compra de máquinas e equipamentos utilizados para inovar

Bolsas oferecidas pelas FAPs e RHAE/CNPQ para pesquisadores em empresas

Aporte de capital de risco

Outros (favor especificar)

26. Quais as principais dificuldades do relacionamento entre o GRUPO e as empresas de máquinas. Classifique de acordo com o grau de importância para a instituição.

1.Sem importância

2. Pouco importante

3.Moderadamente importante

4.Muito importante

Dificuldades do relacionamento 1 2 3 4

a.Burocracia por parte da empresa;

b. Burocracia por parte do instituto;

c.Custeio da pesquisa

d.Diferença de prioridades

e. Direitos de propriedade;

f.Distância geográfica

g. Divergência quanto ao prazo do contrato

h. Falta de conhecimento nas empresas das atividades realizadas no GRUPO

i.Falta de conhecimento das necessidades das empresas por parte do instituto;

j.Falta de pessoal qualificado para estabelecer diálogo nas empresas.

k. Outros

Page 264: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

264

ANEXO C – INFORMAÇÕES SOBRE AS EMPRESAS E OS GRUPOS DE PESQUISA

1. Informações sobre as empresas de máquinas-ferramenta e as linhas de produtos

fabricados

Quadro 8 – Empresas de máquinas-ferramenta, linhas de produtos e tipos de máquinas

Linhas de produtos Tipos de máquinas

Empresas de máquinas-ferramenta selecionadas

B. Grob D. R.

Promaq Ergomat Ferdimat Index Romi

Máquinas

Células robotizadas · Para montagem e teste de cabeçotes de motor;

X

Células robotizadas para roscar

X

Centros de usinagem

X X

Verticais CNC X

Tipo Gantry X

Pórtico X (4)

Centros de usinagem e fresadoras

X (3)

Centros de torneamento

X

Carro múltiplo X

e Retífica X (1)

e Fresamento X (1)

Vertical X (1)

Equipamentos para montagem e teste Torqueadeira CNC 4 eixos

X

Fresadora

de Cremalheira X

Ferramenteira X (4)

CNC X (4)

CNC de banco fixo X (4)

Linhas de montagem e teste de Freio a Disco;

X

Madrilhadoras Mecânica X (4)

CNC X (4) X

Máquinas-ferramenta especiais X

Máquinas de montagem X

Retificadora

Tangenciais X

Cilíndricas X

De internos X

Cilíndricas CNC X

Page 265: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

265

De Perfis X

De Polígonos X

De Mesa giratória X

Cilíndrica hidrostática X

Sistemas Transfer X

Sistemas Flexíveis X

Soluções de sistemas (Turnkey)

X

Tornos · Verticais a CNC 2 120 X X

Tornos automáticos

A cames X

De carros múltiplos CNC X

Universais CNC X X (1)

CNC de cabeçote móvel X (3)

CNC X (4) X (1) X

CNC pesado e extra pesado X

Tornos monofuso de barras X (2)

Tornos universais X (2) X

Tornos multifusos X (1)

De cabeçote móvel automático

X (2)

Componentes e ferramentas

Componentes de máquinas especiais

· Cabeçotes Múltiplos para furar e roscar

X

· Cabeçotes para Mandrilar X

· Cabeçotes para Frear X

· Cabeçotes Bult-in X

Outros componentes · Hidráulico; de Fixação; Válvulas de sequência;

X

Dispositivos de fixação hidráulica

X

Fonte: elaboração própria, com base nos dados disponíveis no sítio das empresas. (1) Produtos Index; (2) Produtos Traub; (3) Máquinas não fabricadas no Brasil. A Ergomat tornou-se represente das empresas Hardinge e Star. (4) Máquinas importadas pela Ferdimat.

Page 266: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

266

2. Notas técnicas sobre as empresas de máquinas-ferramenta visitadas

As informações apresentadas a seguir foram obtidas a partir de pesquisa realizada no

sítio eletrônico das empresas.

B. Grob

A B. Grob é uma empresa de grande porte que foi fundada em 1926 na cidade

Munique, na Alemanha. Somente em 1968, a empresa transferiu sua unidade produtiva para a

cidade de Mindelheim, na Alemanha. E em 1976 essa unidade se tornou a fábrica matriz do

grupo Grob.

A empresa tem origem e administração familiar e se encontra hoje na sua terceira

geração. Desde 1952, é dirigida pelo Dr. Burkhart Grob.

O grupo começou suas atividades com a produção de máquinas fresadoras-rosca em

1933. No período entre a década de 1930 e os anos 1970, a empresa expandiu a produção

com as linhas de máquinas laminadoras e máquinas-ferramenta especiais. Ainda nos anos 70,

a empresa produziu a primeira linha transfer.

Nos anos 80, a Grob começou a fabricar máquinas automatizadas: linha de montagem

automatizada (1982) e robô (1984).

No período entre os anos 1980 e 1990, o grupo apresentou expansão de suas

atividades de vendas, representação e serviços, com a inauguração das filiais em Buffon (EUA)

e da Grã Bretanha. Além disso, no final da década de 90 a Grob investiu na ampliação da área

fisica da unidade fabril dos EUA e da matriz.

Desde 2000, a empresa tem mantido sua estratégia de expansão das unidades de

representação e assistência com a inauguração de filiais de venda no México e de filiais na

República Popular da China (2003), em Shangai e na Coréia do Sul (2005).

A Grob opera mundialmente através de sua matriz em Mindelheim

(Alemanha) e das filiais sediadas em São Paulo (Brasil) e Bluffton/Ohio (USA) e Dalian (China).

As unidades de assistência técnica e vendas estão localizadas em Shanghai

(República Popular da China), em Seul (Coréia do Sul ), em Wellesbourne (Grã-Bretânia), em

Querétaro (México), Hyderabad (Índia), Moscou (Rússia). Além disso, a empresa tem

representações localizadas na França, Índia, Itália, Suécia, Espanha, República Tcheca,

Eslováquia e Turquia.

O grupo Grob empresa 4.000 pessoas e apresenta faturamento anual de mais de 700

milhões de Euros.

A unidade produtiva da B. Grob do Brasil foi fundada em 1956, na cidade de São

Bernardo do Campo, região do grande ABC em São Paulo.

Page 267: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

267

A fundação da filial brasileira foi influenciada pelo interesse em atender à demanda da

indústria automobilística por máquinas-ferramenta na década de 50. Entretanto, a instabilidade

no desenvolvimento da indústria automobilística nacional nas décadas seguintes resultou em

orientação produtiva e tecnológica da filial brasileira diferente da verificada na unidade matriz.

Em primeiro lugar, a B. Grob do Brasil começou a desenvolver competências visando a

produção de máquinas especiais para outros ramos industriais, como forma de reduzir a

dependência em relação a demanda da indústria automobilística nacional.

Nos últimos anos, os principais usuários das máquinas fabricadas pela filial brasileira

são as empresas da indústria automobilística, mas a B. Grob do Brasil têm atuação no

mercado interno e externo.

Em segundo lugar, a B. Grob do Brasil também apresentou dificuldades para manter o

nível de desenvolvimento de tecnologias similar ao observado na matriz. Diante dessa

condição, a filial passou a desempenhar papel distinto como ‘global player’ na produção

mundial de máquinas do grupo Grob.

A filial brasileira participa de projetos de grande porte em parceria com a matriz e a

filial dos EUA e se transformou em plataforma de produção de alguns modelos de máquinas

exportadas pela matriz.

A B. Grob do Brasil emprega 700 pessoas e produz linhas de máquinas-ferramenta que

abrange centros de usinagem; sistemas transfer; sistemas Flexíveis; soluções turnkey;

máquinas especiais e equipamentos de montagem.

Fonte: Sítio do Grupo Grob e da filial B. Grob do Brasil. Disponível em: <http://www.grobgroup.com/en/> e

<http://www.grobgroup.com/pt/>. Acesso em 11.mar.2012.

D. R. Promaq

A D. R. Promaq é uma empresa de pequeno porte de capital nacional que foi fundada

em 1986. Em 1999, a unidade produtiva da empresa foi instalada na cidade de São Bernardo

do Campo, numa área de 2.500 m2 de área disponível.

A empresa desenvolve e produz máquinas especiais, tornos verticais CNC,

equipamentos de teste, linhas de montagem e células robotizadas. Além disso, a D.R. Promaq

produz dispositivos de fixação para usinagem, equipamentos especiais para indústria e

componentes para fixação hidráulica.

As linhas de máquinas da D. R. Promaq são fabricadas sob encomenda e podem ser

classificadas em cinco grupos: Máquinas de montagem e usinagem; Dispositivos;

Componentes de Máquinas Especiais; e Componentes.

As principais linhas de máquinas de montagem são: Linhas de montagem e teste de

Freio a Disco; Equipamentos para montagem e teste: torqueadeira CNC 4 eixos e Células

Page 268: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

268

robotizadas para montagem e teste de cabeçotes de motor. Ainda nesse grupo, destaca-se a

fabricação de máquinas de usinagem: Tornos verticais a CNC 2 120; Centros de usinagem

verticais CNC; Máquinas para usinagem de modelos CNC; e Células robotizadas para roscar.

Os principais setores usuários das máquinas são a indústria automobilística.

Os componentes e dispositivos, por sua vez, são fabricados em pequenos lotes. Essas

linhas de produtos incluem cabeçotes múltiplos para furar e roscar; cabeçotes de mandrilar;

cabeçotes de fresar; e cabeçotes bult-in; componentes de fixação; válvulas de sequência; e

componentes hidráulicos; e dispositivos de fixação hidráulica que são destinados a diferentes

setores industriais.

A estrutura da empresa é dividida em quatro áreas: Vendas e Engenharia de aplicação;

Engenharia de Projeto (2D e 3D); Administração & Coordenação; Manufatura.

A empresa conta com aproximadamente 70 colaboradores diretos e representantes

comerciais em diversas cidades do Brasil.

Fonte: Sítio da empresa D. R. Promaq. Disponível em: www.drpromaq.com.br . Acesso em: 20.mai.2012.

3.3 Ergomat

A Ergomat Indústria e Comércio Ltda é uma empresa nacional de médio porte que foi

fundada em 1962. A unidade produtiva da empresa está sediada na cidade de São Paulo/SP.

A empresa produz uma ampla linha máquinas de tornear e fresar, o que abrange tornos

automáticos a cames; tornos automáticos de carros múltiplos CNC; centro de torneamento de

carros múltiplos e tornos automáticos universais CNC. Além disso, a empresa é representante

das linhas de tornos automáticos CNC de cabeçote móvel, fabricados pela empresa Star; e

revende centros de centros de usinagem e fresadoras produzidos pela empresa

Hardinge/Bridgeport.

A Ergomat disponibiliza serviços de assistência técnica; venda de peças de reposição;

serviços de reformas e modernização de máquinas. Além disso, a empresa apresenta um

centro de treinamento técnico, no qual oferece cursos para usuários das máquinas Ergomat e

fornece manuais completos das máquinas e comandos.

Boa parte dos clientes da empresa são empresas de pequeno porte dos setores

automobilístico, autopeças, tornearias automáticas, hidráulica e pneumática, componentes

médicos e odontológicos, telecomunicações, eletroeletrônicos e eletrodomésticos.

De acordo com o sítio da empresa, grande parte da produção dos tornos Ergomat é

exportada para países como o Japão, a Alemanha, os Estados Unidos e mais 30 outros

países nos cinco continentes.

Nos anos de 2007 e 2008, a Ergomat apresentou queda de seu desempenho industrial

com a redução do número de pedidos das máquinas. De acordo com notícia publicada no

Page 269: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

269

jornal O Estado de São Paulo, em 2009 a empresa ficou quatro meses sem receber pedidos,

inclusive externos. Nesse período, a empresa reduziu seu quadro de funcionários para 225

trabalhadores. Outro fator que dificultou o desempenho da empresa foi a valorização do real

(Cleide Silva, 19/02/10).

Fonte: Sítio da empresa Ergomat. Disponível em: http://www.ergomat.com.br>. Acesso em: 20.mai.2012.

Ferdimat

A Ferdimat é uma empresa de pequeno porte que foi fundada em 1970 na cidade São

José dos Campos, em São Paulo.

A empresa iniciou suas atividades com ferramentaria e usinagem. Em 1974, a empresa

fabricou duas retificadoras apenas para atender à demanda de peças de alguns clientes.

Com a experiência adquirida em 1974, e visando a fabricação de um produto próprio, a

Ferdimat começou o projeto de uma retificadora cilíndrica. Em 1976, a empresa começou a

produzir retificadoras cilíndricas em paralelo com a atividade de ferramentaria.

A partir de 1978, a Ferdimat passou a fabricar exclusivamente retificadoras.

Em 1989, a Ferdimat construiu o primeiro protótipo do modelo de retificadora

cilíndrica com CNC. Em 1996 a empresa iniciou a fabricação de retificadoras cilíndricas

angulares e universais CNC e no ano seguinte, ela lançou a linha de Centros de Usinagem

CNC

A empresa começou a exportar os modelos de retificadoras (cilíndricas, planas

tangenciais) para Europa, América do Norte e América do Sul em 1987.

No início da década de 1990, a Ferdimat investiu na aquisição de equipamentos e na

ampliação da área construída para 7.000 m2 em terreno de 15.000m

2, visando o atendimento

da demanda por máquinas no mercado interno e externo.

No ano de 2003, a Ferdimat iniciou a produção de retificadoras tangenciais planas de

grandes dimensões, convencionais e CNC. Em 2009, a empresa começou a fabricar

retificadora de perfis CNC e em 2010 e lançou a linha de centros de usinagem tipo Gantry.

Nas últimas duas décadas, a empresa Ferdimat tem enfrentado dificuldades para

concorrer com empresas provenientes de outros países no mercado interno e externo. Uma

das estratégias adotadas foi a criação, em 2006, de uma nova divisão da empresa, a Alfamat,

que é responsável pela comercialização de máquinas importadas.

A Ferdimat produz máquinas retificadoras (tangenciais, cilíndricas, retificadoras de

internos, cilíndricas CNC, retificadoras de perfis); centros de usingem tipo Gantry; máquinas

especiais (fresadora de cremalheira, retificadora de polígonos, retificadora de mesa giratória e

retificadora cilíndrica hidrostática) e máquinas construídas para escolas técnicas.

Page 270: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

270

Além desses modelos de máquinas, a empresa é importadora das seguintes linhas de

máquinas: fresadoras (ferramenteira, fresadora CNC e fresadora CNC de banco fixo); centros

de usinagem pórtico; madrilhadoras mecânicas; madrilhadoras CNC e tornos CNC.

A empresa disponibiliza serviços de pós-venda e assistência técnica para os produtos

de fabricação própria e os produtos importados.

Em 2005, a empresa realizou investimentos para ampliar a área construída em 1.000

m2 com o objetivo de se adequar à nova unidade, e remodelou os escritórios e construiu um

showroom para as máquinas. Além disso, a Ferdimat apresentou redução do número de sócios

para dois.

Fonte: Sítio da empresa Ferdimat. Disponível em: http://www.ferdimat.com.br. Acesso em

25.mai.2012.

Index

A Index é uma empresa de grande porte que foi fundada em 1914 na cidade Esslingen,

na Alemanha.

O grupo apresenta unidades produtivas na Alemanha, nos EUA, na França e no Brasil.

As unidades de venda e representação dos produtos Index estão sediados na Alemanha,

França, Suécia, EUA, Brasil e China.

Desde 1975, o grupo Index começou a produzir tornos multifusos e tornos com controle

numérico computadorizado. Em 1997, a Index incorporou a empresa Traub-Drehmaschinen, da

cidade vizinha de Reichenbach/Fils, como uma filial autônoma. Em 2002, a Index Traub

começou a produzir tornos multifuncionais capazes de integrar diversas tecnologias e

processos em uma única máquina.

No Brasil, o grupo Index iniciou suas atividades com um escritório de vendas em São

Paulo e, em 1973, inaugurou sua unidade produtiva na cidade de Sorocaba, no interior de São

Paulo. A filial está instalada em um condomínio de empresas juntamente com a filial brasileira

da empresa alemã Heller.

Até 1979, a filial brasileira produzia tornos automáticos convencionais. A partir de 1980,

a Index Brasil começou a produzir tornos CNC. Com a incorporação da marca Traub em 1997,

a filial brasileira iniciou a comercialização tornos de cabeçote móvel.

A empresa produz linhas de tornos CNC, o que abrange tornos CNC horizontais e

verticais, centros de torneamento-fresamento, centros de torneamento e retífica e tornos CNC

multifusos. As linhas de produtos da marca Traub é formada por tornos universais, torno de

cabeçote móvel automático, torno monofuso de barras, TX8i Control Series e sistema de

programação e simulação.

Page 271: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

271

De acordo com o sítio da empresa, a Index Brasil apresenta alternativas para a

usinagem completa de peças torneadas, tanto para a fabricação em série como para a

produção de peças individuais. Além disso, a empresa dispõe de serviços de assistência

técnica; treinamento Index Traub; serviços de instalação e entrega técnica; manutenção das

máquinas; reforma, revisão e retrofitting.

A Index também oferece serviço de suporte online com informações técnicas sobre

ferramentas e produtos para orientar a compra.

Os principais setores usuários das máquinas-ferramenta da Index Brasil são a

indústria automotiva e seus fornecedores; empresas de engenharia elétrica, tecnologia médica

e indústrias de ótica e precisão mecânica. Além disso, a empresa já vendeu modelos de

máquinas para as indústria eletrônica e eletrotécnica.

As máquinas produzidas pela empresa Index no mundo são desenvolvidas

inicialmente no centro tecnológico de Baden-Württemberg. As áreas de engenharia e de

pesquisa e desenvolvimento concentram 10% do total dos colaboradores da empresa e

assumem papel importante para o desenvolvimetno de tecnologias da empresa

Desde o início de suas atividades no mercado brasileiro, a empresa tem uma

estratégia de produção pautada na nacionalização de alguns modelos de máquinas alemã

considerando as caracteristicas da demanda de usuários do Brasil.

De acordo com notícia publicada no sítio da empresa, nos últimos três anos, a Index

empresa começou a atualizar seu portfólio de produtos fabricados no Brasil, com o objetivo de

transformar a filial brasileira em um centro de competência e pólo de exportação para as

demais unidades do grupo.

A área de engenharia da filial brasileira da Index está finalizando o desenvolvimento de

uma nova máquina em conjunto com a engenharia da matriz.

O projeto da máquina trabalha com novo conceito tecnologico de custos, a ser adotado

nos proximos projetos desenvolvidos pelo grupo. A produção da máquina irá complementar a

demanda global que é suprida por produtos provenientes da matriz alemã. Para o mercado

brasileiro, o novo projeto atenderá diversos mercados, mas principalmente os mercados

energético, automotivo e de construção.

O sítio da empresa não apresenta informações quantitativas sobre o desempenho das

vendas, produção, atuaçao no mercado externo/interno, pesquisa e desenvolvimento e

investimentos.

Fonte: Sítio da empresa Index matriz e filial do Brasil. Disponível em: <http://www.index-

werke.de/ita/portugiesisch/index_PTG_HTML.htm> e <www.indextornos.com.br>. Acesso em 10.

Jul.2012.

Page 272: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

272

Indústrias Romi

A Indústria Romi S.A é uma empresa brasileira de grande porte que foi fundada em

1930. A empresa iniciou suas atividades com a produção de máquinas agrícolas e apenas em

1941, começou a produção do primeiro torno mecânico, de marca IMOR e modelo TP-2.

Até o final da década de 1960, a empresa fabricava modelos de tratores e tornos

mecânicos. Além disso, ela desenvolveu um modelo de carro brasileiro denominado Romi-

Isetta.

Na década de 1970, a empresa apresentou expansão de seus negócios com o início da

produção de máquinas injetoras de plástico (1974) e das atividades de fundição (1976). Além

disso, a empresa começou a produção de tornos com comandos numéricos (1973), que foi o

primeiro torno CNC produzido no Brasil.

A partir de meados da década de 1970, a Romi investiu na expansão da área de

produção, com a construção da unidade fabril 11, que produz máquinas especiais e de grande

porte (1978); da unidade fabril 15, que fabrica máquinas injetoras de plástico (1979); e da

unidade Fabril 14, que produz componente e painéis eletroeletrônicos (1985).

Em 1985 a Romi criou a Romi Machine Tools, Ltd. nos EUA, uma subsidiária Romi S.A.

que se tornou responsável pelo suporte à rede de distribuição dos produtos Romi no mercado

norte-americano.

Nos anos 90, a empresa deu continuidade à estratégia de ampliação da área produtiva

com construção da unidade fabril 16, que produz Centros de Torneamento e Centros de

Usinagem.

Desde 2006, a empresa apresenta Sistema de Gestão da Qualidade que abrange

todos os produtos Romi. Em 2007, a Romi começou a migrar do mercado tradicional para o

Novo Mercado Bovespa.

Nos últimos quinze anos, a empresa Romi investiu em estratégias produtivas e

comerciais visando o desenvolvimento de produtos e a maior inserção no mercado interno e

externo.

No mercado interno, a Romi comprou a empresa JAC Indústria Metalúrgica Ltda,

fabricante de sopradoras de plásticos (2008); e a empresa Digmotor Equipamentos

Eletromecânicos Digitais Ltda, que produz máquinas sopradoras para pré-formas PET (2009).

No mercado externo, a Romi criou a subsidiária Romi Itália s.r.l. (2008), com sede na

Turim, Itália, para suporte às atividades da empresa na Europa. Outra estratégia importante

para o desempenho da Romi foi a compra de ativos da Sandretto Industrie s.r.l., empresa que

produz máquinas injetoras de plástico na cidade de Grugliasco e Pont Canavese, na região de

Turim (Itália).

Em 2009, a Romi assinou acordo com a empresa italiana Lazzati s.p.a., de Rescaldina

(Itália) para a fabricação da madrilhadoras no mercado brasileiro. E em junho de 2010, a Romi

Page 273: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

273

assinou acordo com a empresa italiana PFG s.p.a. para viabilizar a fabricação de Centros de

Usinagem de Coluna Móvel.

Com as aquisições e parcerias realizadas nos últimos anos, a Romi ampliou as

competências e conhecimentos em alguns modelos de produtos, o que possibilitou o

lançamento de vários modelos de máquinas.

Particularmente em 2011, a empresa lançou nove modelos de máquinas durante a

FEIMAFE 2011: Centro de Usinagem Vertical de Coluna Móvel ROMI DCM 3000; Centro de

Usinagem Vertical ROMI D 1000AP Direct Drive; Nova versão do Centro de Usinagem

Horizontal ROMI PH 630; Centros de Torneamento ROMI GL 170G, ROMI GL 350, ROMI GL

350M e o ROMI G 550M. Também foram lançados o Centur 40A e os tornos pesados Centur

60 e 60A e 60B e Tornos Universais da família ROMI T.

Ainda em 2011, a Romi começou a vender as máquinas Série EN, que realizam

atividades de torneamento de tubos de aço utilizados na extração e transporte de petróleo.

De acordo com o sítio da Romi, até 31/12/11 a empresa apresentava treze unidades

fabris instaladas numa área de mais de 150 mil m2

na cidade de Santa Bárbara, no interior de

São Paulo.

Dentre essas treze unidades, cinco são destinadas à montagem final de máquinas

industriais, duas são responsáveis por atividades de fundição, quatro unidades cuidam da

usinagem de componentes mecânicos, uma unidade produz componentes de chapas de aço e

outra unidade é responsável pela montagem de painéis e componentes eletrônicos.

Além disso, a Romi mantém a unidade produtiva localizada na cidade de Grugliasco e

Pont Canavese, na região de Turim (Itália).

As operações da Romi estão organizadas em três unidades de negócios: máquinas-

ferramenta; máquinas para plásticos; e peças de ferro fundido.

O segmento de negócios de máquinas-ferramenta abrange as máquinas e

equipamentos para trabalhar metal por arranque de cavaco. Os produtos fabricados nesse

segmento são os tornos CNC, tornos Convencionais, centros de torneamento, centros de

Usinagem e madrilhadora.

O segmento de máquinas para plástico é responsável pela produção de máquinas e

equipamentos para moldar plástico por injeção e por sopro. O segmento de peças fundidas, por

sua vez, produz peças de ferro fundido cinzento, nodular e vermicular, fornecidas brutas ou

usinadas.

Além das atividades produtivas, a Romi oferece os serviços: Romi Assistência Integral

(RAI), Diagnóstico Remoto, Apoio Técnico em Processos (ATP), Serviços de Manutenção

Customizada e Treinamento em Manutenção.

De acordo com o sítio da empresa, as principais vantagens competitivas da Romi no

mercado doméstico são: produtos com tecnologia de ponta, rede própria de distribuição no

Page 274: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

274

país, assistência técnica permanente, disponibilização de financiamento atrativo e em moeda

local aos seus clientes e curto prazo de entrega dos seus produtos.

Os principais clientes dos produtos fabricados pela Romi são: segmento automotivo

(leves e pesados), de máquinas agrícolas, de bens de capital, de bens de consumo, de

ferramentaria, de equipamentos hidráulicos, entre muitos outros.

No ano de 2010, a Romi vendeu 2.326 unidades de máquinas-ferramenta, 425

unidades de máquinas para plásticos e 11.86 toneladas de peças usinadas. Esses dados

apresentam, respectivamente, um acréscimo de 60%, 37,5% e 38,8% sobre o volume de

produtos vendidos no período anterior.

A receita operacional líquida obtida a partir das vendas desses produtos em 2010 foi

de R$ 673.529, sendo R$ 427.104 milhões (máquinas-ferramenta), R$ 179.413 milhões

(máquinas para plástico) e R$ 67.012 milhões (usinados). Na comparação com as vendas

efetuadas em 2009, houve acréscimo de 37,5%, 49,5 e 49,2% das vendas das três unidades

de negócios da Romi.

A unidade de negócios máquinas-ferramenta é a maior unidade de negócios da

Romi, sendo responsável por 63,4% da Receita operacional líquida (2010). O desempenho da

unidade de negócios para plásticos correspondeu a 26,6% da receita operacional no mesmo

período. Já a unidade de negócios Fundidos e Usinados contribui para 10,0% da receita

operacional líquida da empresa.

No ano de 2011, a Romi vendeu R$ 631.954 milhões, sendo R$ 407.107 milhões

obtidos a partir das vendas de máquinas-ferramenta, R$ 126.336 milhões para máquinas para

plástico e R$ 97.611 milhões para usinados e fundidos.

A empresa apresenta importante participação no mercado externo. As exportações

da Romi aumentaram de US$ 25,2 milhões em 2010 para US$ 45,7 milhões em 2011, o que

representa um crescimento de 81,4%.

Neste período, a Europa foi responsável por 56,8% das exportações (65,9% em 2010),

os EUA representaram 26,9% (24,2% em 2010) e o mercado da América Latina foi responsável

por 16,3% (9,4% em 2010) das vendas da Romi no mercado externo.

Os investimentos realizados pela empresa nos últimos anos apresentaram queda de

R$ 51,8 milhões em 2009 para R$ 33,3 milhões em 2010 e R$ 19,7 milhões em 2011.

Ao longo de 2011 a empresa Romi investiu, principalmente, na manutenção,

produtividade e modernização do parque industrial, e em tecnologia de informação. Em 2010,

os investimentos da empresa foram destinados basicamente para manutenção e ampliação do

parque fabril, a ampliação das unidades de montagem e em tecnologia de informação.

Os investimentos em 2009 atingiram o montante de R$ 51,8 milhões, o que representa

uma queda de 58,0% em relação ao volume de investimentos de 2008 (R$ 123,3 milhões). Em

2009, os recursos foram utilizados na conclusão dos projetos de investimentos denominados

Page 275: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

275

Paradiso (especificamente, na conclusão da ampliação da unidade de máquinas pesadas) e

Vulcano (implantação e start up da nova fundição).

No período de 2007 a 2009, as despesas com pesquisa e desenvolvimento

realizadas pela Romi totalizaram R$ 77,8 milhões. Particularmente em 2009, os investimentos

em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento contabilizaram R$ 22,7 milhões (4,8% da receita

operacional líquida consolidada). De maneira geral, os investimentos da Romi em P&D estão

direcionados para o desenvolvimento de novos produtos e melhoraria e atualização dos

produtos existentes, visando os ganhos de produtividade e a otimização na escolha de

materiais e processos industriais. No segmento de máquinas-ferramenta, por exemplo, a Romi

investe aproximadamente 4% do seu faturamento líquido anual em pesquisa e

desenvolvimento (P&D) de seus produtos e processos.

No ambiente interno, a Romi conta com equipe de pesquisa e desenvolvimento

composta por 223 profissionais (engenheiros, projetistas e técnicos altamente qualificados).

Além disso, as unidades fabris são integradas através de sistemas de CAD/CAM, o que

possibilita mais flexibilidade e melhor desempenho na produção das máquinas.

A Fundição da Romi possui setor de engenharia dotado de corpo técnico qualificado,

treinado e experiente. A empresa utiliza recursos como CAD e FMEA no projeto do ferramental

como no processo de produção. Além disso, a empresa possui setor próprio de modelação que

emprega funcionários qualificados experientes e tem competência para o desenvolvimento de

protótipos e produção de modelos em madeira, ferro fundido, alumínio, resina e isopor.

Nas últimas duas décadas, a Romi realizou parcerias com empresas estrangeiras e o

meio acadêmico nacional como forma de promover o desenvolvimento dos seus produtos e de

tecnologias.

A empresa estabeleceu parcerias com algumas empresas líderes globais em seus

ramos de atuação, tais como a Lazzati e PFG Macchine Utensili (Itália), com o objetivo de

ampliar o acesso a informações tecnológicas. Outro fator importante para o desenvolvimento

de tecnologias da Romi foi a parceria realizada com o meio acadêmico e com institutos de

tecnologia.

Fonte: Sítio da empresa Romi. Disponível em: www.romi.com.br. Acesso em: 18.mar.2012.

Page 276: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

276

3. Informações sobre os grupos de pesquisa visitados

As informações apresentadas no quadro a seguir foram obtidas a partir de pesquisa realizada no Diretório Grupo de Pesquisa CNPQ (2012)

Questões Processos de

Fabricação (DEP/FEM/UNICAMP)

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas (DEP/FEM/UNICAMP)

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados (DEP/FEAU/UNIMEP)

Núcleo de Desenvolvimento e

Otimização de Processos e Sistemas Produtivos (DEP/FEAU/UNIMEP)

Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

(Faculdade de Engenharia e Tecnologia

de Bauru/UNESP)

Otimização e Processos de Manufatura

(DEP/EESC/USP)

Usinagem com Altas Velocidades

(DEP/EESC/USP)

1 Ano de

formação 1983 1998 1995 1996 1992 1990 1995

2 Órgão Faculdade de Engenharia Mecânica

Faculdade de Engenharia Mecânica

Faculdade de Engenharia Arquitetura e Urbanismo

Faculdade de Engenharia Arquitetura e Urbanismo

Faculdade de Engenharia e Tecnologia de Bauru

Escola de Engenharia de São Carlos

Escola de Engenharia de São Carlos

3 Unidade Departamento de Engenharia de Fabricação

Departamento de Projeto Mecânico

Laboratório de Sistemas Computacionais Para Projeto e Manufatura

Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção - PPGEP

Departamento de Engenharia Mecânica

Departamento de Engenharia de Produção

Departamento de Engenharia de Produção

4 Área

predominante

Engenharias; Engenharia Mecânica

Engenharias; Engenharia Mecânica

Engenharias; Engenharia Mecânica

Engenharias; Engenharia de Produção.

Engenharias; Engenharia Mecânica.

Engenharias; Engenharia Mecânica.

Engenharias; Engenharia Mecânica.

5 Homepage http://www.fem.unicamp.br

http://fem.unicamp.br/~kurka

www.unimep.br/scpm www.unimep.br/feau/ppgep www.feb.unesp.br http://www.opf.sc.usp.br/ http:www.opf.sc.usp.br/opf

Page 277: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

277

Questões Processos de

Fabricação (DEP/FEM/UNICAMP)

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas (DEP/FEM/UNICAMP)

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados (DEP/FEAU/UNIMEP)

Núcleo de Desenvolvimento e

Otimização de Processos e Sistemas Produtivos (DEP/FEAU/UNIMEP)

Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

(Faculdade de Engenharia e Tecnologia

de Bauru/UNESP)

Otimização e Processos de Manufatura

(DEP/EESC/USP)

Usinagem com Altas Velocidades

(DEP/EESC/USP)

6 Surgimento do grupo

n.d. n.d.

O NPMI nasceu da experiência de um relacionamento com empresas e universidades visando o desenvolvimento de pesquisa tecnológica e sua apropriação pelos setores produtivos. Dentro deste enfoque o SCPM foi o primeiro laboratório a trazer a Tecnologia de Usinagem em Altíssima Velocidade (HSC) para o Brasil, através do Seminário Internacional de Alta Tecnologia, que vem sendo realizado regularmente desde 1996.

n.d. n.d. n.d. n.d.

Page 278: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

278

Questões Processos de

Fabricação (DEP/FEM/UNICAMP)

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas (DEP/FEM/UNICAMP)

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados (DEP/FEAU/UNIMEP)

Núcleo de Desenvolvimento e

Otimização de Processos e Sistemas Produtivos (DEP/FEAU/UNIMEP)

Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

(Faculdade de Engenharia e Tecnologia

de Bauru/UNESP)

Otimização e Processos de Manufatura

(DEP/EESC/USP)

Usinagem com Altas Velocidades

(DEP/EESC/USP)

7 Linhas de pesquisa

• Compósitos de matriz metálica • Conformação plástica dos metais • Materiais celulares • Metalurgia do pó • Metrologia • Refundição e conformação • soldagem dos metais • Usinagem dos metais

• Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas

• Desenvolvimento Integrado do Produto • Monitoramento do Processo de Usinagem com Altíssima Velocidade • Usinagem com Altíssima Velocidade

• Logística Industrial e Gestão da Cadeia de Suprimentos • Processos de Fabricação • Sistemas de Apoio à Decisão • Sistemas de Automação

• Desgaste de ferramentas, materiais e de órgãos ativos • Desgaste dos materiais • Estudo bacteriológico nos fluidos de corte • Fadiga dos metais • Monitoramento do processo de retificação • Otimização do processo de retificação

• Automação, Controle de Monitoramento • Automação da Usinagem • Integridade Superficial e Desenvolvimento de Novos Materiais • Micro Usinagem • Monitoramento/CAM • Processos Avançados de Produção • Processos de Fabricação • Usinagem dos metais • Usinagem dos Robôs • Usinagem em Titânio • Vibração, Retificação em Altas Velocidades.

• Automação, Controle de Monitoramento • Engenharia Mecânico-Mecânica dos Sólidos • Gestão Sustentável, Planejamento de Manufatura Medição de Desempenho • Integridade Superficial e Desenvolvimento de Novos Materiais • Medição com MF • Método prático para Otimização de Ciclo em Retificação por Mergulho CYBEROPC Communication system • Micro-Usinagem • Processos Avançados de Produção • Simulação • Usinagem - Acessórios de Usinagem • Usinagem com Altas Velocidades de Corte-HSM

Page 279: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

279

Questões Processos de

Fabricação (DEP/FEM/UNICAMP)

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas (DEP/FEM/UNICAMP)

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados (DEP/FEAU/UNIMEP)

Núcleo de Desenvolvimento e

Otimização de Processos e Sistemas Produtivos (DEP/FEAU/UNIMEP)

Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

(Faculdade de Engenharia e Tecnologia

de Bauru/UNESP)

Otimização e Processos de Manufatura

(DEP/EESC/USP)

Usinagem com Altas Velocidades

(DEP/EESC/USP)

8 Objetivos e

atuação recente

O grupo tem atuado nas áreas de desenvolvimento de processos de fabricação mecânico-metalúrgica em interface entre engenharia mecânica (processos) e metalúrgica (análise de fenômenos metalúrgicos envolvidos). Os trabalhos do grupo têm se enquadrado em duas distintas mas complementares naturezas: a) de formação de pessoal qualificado nas áreas em que atua; b) de desenvolvimento científico, através de projetos de pesquisa específicos, cujos resultados são repassados à comunidade

O Grupo desenvolve pesquisas e aplicações de processamento de sinais, análise e controle de sistemas dinâmicos voltados a máquinas, estruturas e sistemas robóticos. Os trabalhos na área de processamento de sinais incluem o desenvolvimento de sistemas de aquisição e procedimentos numéricos de análise. Trabalha-se com o desenvolvimento e aperfeiçoamento de algoritmos de identificação de sinais nos domínios da frequência do tempo. O estudo do comportamento dinâmico de máquinas e sistemas mecânicos consiste no desenvolvimento de procedimentos numéricos de modelagem estrutural e análise modal. As técnicas de análise modal associadas ao algoritmos de identificação de sinais constituem uma importante ferramenta de estudo prático da dinâmica de sistemas. No campo da robótica, elaboram-se estudos de processamento de imagens aplicado na definição de trajetória de robôs autônomos.

Desenvolve técnicas de Otimização de Processos em ambiente fabril, com aplicação de sistemas de monitoramento e controle de processos e apoio de sistemas especialistas desenvolvidos para tal fim que permitem operar como simples apoio à decisão no gerenciamento do processo, ou em versões automáticas com sistema especialista propriamente dito dentro do conceito de fábrica virtual ou conectado à WEB ou visando o diagnóstico e correção de falhas ocorridas em máquinas CNC. Propõe-se, ainda, a desenvolver metodologias para avaliação de desempenho de sistemas produtivos, baseando-se em conceitos de Tecnologia de Grupo, Manufatura Flexível e "Lean Manufacturing"; O grupo também desenvolve pesquisas básicas e avançadas em tecnologias associadas aos Processos de Produção, mais especificamente os processos de usinagem, de soldagem e aspersão térmica

Estudo de processos abrasivos, com maior ênfase ao processo de retificação, utilizando técnicas como inteligência artificial, queima de peças, otimização da aplicação dos fluidos de corte, melhoria da produtividade e qualidade, dentre outras.

pesquisa sobre aplicação de processos de usinagem de precisão, onde andam juntos trabalhos avançados sobre automação industrial, máquinas inteligentes, usinagem de precisão e projetos de redução de custos.

The Laboratory for Optimization of Manufacturing Processes (OPF) is part of the Nucleus for Advanced Manufacturing (NUMA), which deals with shop floor related subjects

Page 280: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

280

Questões Processos de

Fabricação (DEP/FEM/UNICAMP)

Dinâmica, Identificação e Controle de Estruturas (DEP/FEM/UNICAMP)

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados (DEP/FEAU/UNIMEP)

Núcleo de Desenvolvimento e

Otimização de Processos e Sistemas Produtivos (DEP/FEAU/UNIMEP)

Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão

(Faculdade de Engenharia e Tecnologia

de Bauru/UNESP)

Otimização e Processos de Manufatura

(DEP/EESC/USP)

Usinagem com Altas Velocidades

(DEP/EESC/USP)

9

Interação declarada

com o setor produtivo

(CNPq)

n.d. n.d.

• Siemens PLM Software do Brasil - SIEMENS PLM • Siemens - Lapa - SIEMENS • Sandvik do Brasil - SANDVIK • Indústrias Romi - ROMI S/A

• LabMat Análises e Ensaios Materiais - LabMat

• Nikkon Ferramentas de Corte - NIKKON • Agena Resinas e Colas - AGENA • Royall Diamond Ferramentas Diamantadas - ROYALL DIAMOND

• Microma Projetos e Construcões Mecanicas - MICROMA • Index Tornos Automaticos Indústria e Comércio - INDEX • Aços Villares - Matriz - AÇOS VILLARES • Saint-Gobain Abrasivos - SAINT-GOBAIN • Indústria de Máquinas Zema - ZEMA

• Index Tornos Automaticos Indústria e Comércio - INDEX • Indústrias Romi - ROMI S/A • Tecno How Engenharia Industrial e Comércio - TECNO HOW • Saint-Gobain Abrasivos - SAINT-GOBAIN

Page 281: dinâmica competitiva e tecnológica da indústria de máquinas

281

Questões

Processos de Fabricação

(DEP/FEM/UNICAMP)

Dinâmica, Identificação e Controle de

Estruturas (DEP/FEM/UNICAMP)

Núcleo para Projeto e Manufatura Integrados

(DEP/FEAU/UNIMEP)

Núcleo de Desenvolvimento e

Otimização de Processos e Sistemas

Produtivos (DEP/FEAU/UNIMEP)

Grupo de Pesquisa em Usinagem por

Abrasão (Faculdade de Engenharia e Tecnologia de Bauru/UNESP)

Otimização e Processos de

Manufatura (DEP/EESC/USP)

Usinagem com Altas Velocidades

(DEP/EESC/USP)

10

Interação com outros

grupos e projetos

n.d.

n.d.

O Núcleo possui parceria com a University of Tecnology Darmstadt, Alemanha, através da qual tem ocorrido um intenso intercâmbio científico de estudantes e de professores, inclusive gerando uma dissertação de mestrado agraciada com o Prêmio Schenck na Alemanha. É a única entidade na América Latina filiada a ProSTEP e.V., Alemanha, - associação para o desenvolvimento de processadores para as Normas ISO 10303 (STEP) com a qual está realizando um projeto de transferência de tecnologia visando oferecer os mesmos serviços na área de Tecnologia de Dados do Produto, além de sediar a Secretaria Técnica da ISO para o AP 214

No período de 1999 a 2002 o Grupo de Pesquisa em Usinagem por Abrasão integrou-se formalmente a Rede Metal Mecânica, Sub-rede Usinagem, do Programa de Redes Cooperativas de Pesquisa - RECOPE, apoiado pela FINEP. De 2001 a 2007 o mesmo grupo integrou-se ao Instituto Fábrica do Milênio - IFM (versões 1 e 2), apoiado pelo CNPq. A interação com cientistas de renome internacional, universidade, institutos de pesquisa de excelência e empresas, agrega ainda mais confiabilidade e agilidade nas pesquisas desenvolvidas direcionado os trabalhos de P&D a assuntos de impacto econômico e social.

n.d. n.d.

Fonte: Elaboração própria, com base nas informações disponíveis no Diretório Grupo de Pesquisas CNPq (2012).