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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIFICULDADES ESCOLARES RELACIONADAS À LEITURA E ESCRITA Por: Roberta de Medeiros Varella Orientadora: Mary Swe Niterói 2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

DIFICULDADES ESCOLARES RELACIONADAS À

LEITURA E ESCRITA

Por: Roberta de Medeiros Varella

Orientadora: Mary Swe

Niterói

2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

DIFICULDADES ESCOLARES RELACIONADAS À

LEITURA E ESCRITA

Monografia apresentada ao Projeto Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes Como

parte dos requisitos para a obtenção do

grau de Especialista em Psicopedagogia.

Niterói

2005

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AGRADECIMENTOS

À professora Mary Swe pela

orientação e aos colegas de classe

pelo exemplo de ânimo e

perseverança.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho acadêmico à

minha mãe Eliana que me faz trilhar

o caminho da sabedoria e da

dignidade.

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RESUMO

O aprendizado vivo e duradouro como o desencadeado

pelo cotidiano, pelos colegas e amigos, pelas diversões

diárias, pelas publicações de caráter popular, pelos

diversos meios de comunicação de massa, enfim, pelo

contexto geral que é inserido o aluno, propicia

conhecimento mais amplo do que a matéria de leitura e

escrita na escola.

Este contexto está constantemente aberto a inúmeras

leituras cujas são diferenciadas daquelas impostas em sala

de aula.

Crianças e jovens de classe média para baixo, mesmo

privilegiados em chegar e permanecer na escola, se deparam

com um grande sentimento de abandono e rejeição, sobretudo

pelo sistema político-econômico.

Fundamental, é que, conhecendo limites, desigualdades

e desafios que a realidade apresenta, os educadores,

permanentemente, repensem sua prática.

Desde os nossos primeiros contatos com o mundo,

percebemos o calor e o aconchego de um berço diferentemente

das mesmas sensações provocadas pelos braços carinhosos que

nos enlaçam. O som estridente ou um grito nos assustam, mas

a canção de ninar embala nosso sono, tranqüiliza. E o

cheiro do peito e a pulsação de que nos amamenta ou abraça

podem ser convites à satisfação. Começamos assim a

compreender, a dar sentido ao que e a quem nos cerca. Estes

também são os primeiros passo para aprender a ler e

escrever.

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Trata-se pois de um aprendizado mais natural do que se

costuma pensar, mas tão complexo e exigente como a própria

vida.

Certamente aprendemos a ler a partir do nosso contexto

pessoal e valorizando-o podemos ir além dele, através de

experiências e vivências com os outros e com o mundo.

Não há nada mais “medonho” que a carência de convívio

humano, pois os canais sensoriais da aprendizagem

encontram-se inseridas em uma comunicação emocional, que se

pode sentir.

A leitura e a escrita, instrumento de comunicação, que

são transformados com freqüência em instrumento de poder

pelos dominadores, são também a liberação dos dominados.

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METODOLOGIA

Considerando que a metodologia é uma disciplina

acadêmica construída a partir do princípio aceito de que

não há produção de conhecimento científico, ou seja, da

ciência, a não ser através da pesquisa, estruturei o

trabalho para o desenvolvimento da presente monografia, da

seguinte forma:

o Levantamento de problemas;

o Coleta de dados através de artigos e livros

especializados;

o mensuração;

o formação do tema e das hipóteses;

o levantamento de variáveis;

o reavaliação dos dados;

o produção de projeto inicial.

Inicialmente foi feita leitura preliminar para

identificar, com mais conhecimento o tema, objeto da

pesquisa, visando a formação da idéia sobre o conteúdo

geral a ser estudado.

Através do contato com a bibliografia escolhida,

investiguei na revisão de literatura, visões de autores que

são referenciais teóricos no campo educacional.

Este trabalho acadêmico se destina a educadores e

pesquisadores.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO 1 14

APRENDIZAGEM E PSICOPEDAGOGIA: ASPECTOS 14

LINGÜÍSTICOS

CAPÍTULO 2 27

DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA 27

NO CONTEXTO SOCIAL INFANTIL

2.1 LUDICIDADE COMO ESTÍMULO AO APREN- 40

DIZADO

CAPÍTULO 3 42

A INFORMÁTICA NA LINGUAGEM DO ENSINO 42

CONCLUSÃO 53

BIBLIOGRAFIA 55

ÍNDICE 58

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INTRODUÇÃO

Até os anos sessenta, o ensino era privilégio da

elite. Mas a escola abriu as portas para todos os

brasileiros a partir da década de setenta. O preço pago por

esse crescimento foi a queda da qualidade do ensino.

Entendemos a Psicopedagogia como uma área interessada

em investigar a relação do ser humano com o conhecimento.

Em um sentido concreto, a prática do Psicopedagogo

pretende atingir, ou ir além a do Pedagogo. É de

considerável importância as relações existentes entre o

diagnóstico psicopedagógico e a atividade de intervir,

pois, para o planejamento de uma intervenção, é necessária

uma avaliação de boa qualidade.

A experiência da intervenção psicopedagógica é

bastante recente em nosso país. As primeiras equipes de

acessoramento psicopedagógico foram criadas nos anos

setenta.

Ao passo de termos resultados de pesquisas na área

educacional relevantes para o trabalho em sala de aula,

alunos e professores enfrentam sentimento de culpa com

situações de reprovação, desencadeando cada vez mais a

evasão escolar.

A nossa sociedade atual, com a tecnologia presente,

boa parte do alunado experimenta novas habilidades

intelectuais. Mas será que as preocupações e a atenção para

esta geração, que está sob a influência dos computadores,

não está voltada com mais ênfase para a aprendizagem da

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matemática, diminuindo a ênfase dada às habilidades da

leitura e da escrita?

Não desmerecendo a potencial ferramenta de ensino, que

é o computador, ainda, temos como ponto de partida, saber

ler e escrever.

Norteando numa análise do fracasso-sucesso escolar,

deveríamos seriamente testar se tais fatos são

deliberadamente produzidos pelo sistema de ensino.

A Psicopedagogia demonstra que qualquer mente normal

seria capaz de aprender tudo que se ensina na escola

básica. No entanto, temos uma “indústria cultural”, ou

seja, uma cultura excludente, cultura que rotula

fracassados, que trabalha com preconceitos de raça, gênero

e classe, e que exclui, porque reprovar faz parte da

prática de ensinar-aprender-avaliar. Não se trata de ver de

quem é a culpa, mas de conhecer a fundo esta nossa cultura,

que não é apenas do sistema escolar, mas de uma sociedade

desigual formada ao longo deste século.

A consciência do direito à educação básica universal

avançou, porém a escola não está ainda estruturada para

garantir esse direito, ela continua seletiva.

Portanto, como uma das respostas para a problemática

das dificuldades na aprendizagem, surge a Psicopedgogia que

evolui de acordo com a natureza do seu objeto e dos seus

objetivos.

Como o próprio nome diz , a Psicopedagogia, é um campo

de conhecimento que, implica uma integração entre

Psicologia e a Pedagogia tendo como objeto de estudo o

processo de aprendizagem, visto como estrutural,

construtivo e interativo, integrando nele os aspectos

cognitivos, afetivos e sociais do ser humano e tem como

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objetivo, remediar ou refazer esse processo em todos estes

aspectos, facilitando com a remoção dos obstáculos que

impedem que ele se faça.

A aprendizagem requer avaliações, porém para a mesma

ser bem conduzida, é preciso deixar as reais possibilidades

da criança “aflorarem” na avaliação sem sobrecarrega-la

emocionalmente com expectativas e exigências, gerando

efeitos contrários das possibilidades.

Quando a criança está em processo de alfabetização, há

uma necessidade de um olhar panorâmico, ou seja, “ver” o

ambiente da alfabetização. Casos são encontrados

comumente, de paralisação no processo de domínio da língua

escrita, em função do conflito instalado entre aprender-

crescer e a perda das vantagens de analfabeto, de

“pequenininho”, dependente, ter o papai e a mamãe lendo as

histórias e tudo mais. O prazer da independência entra em

choque com o desejo da dependência. O domínio da língua

escrita dá a criança uma autonomia ao mesmo tempo prazerosa

e assustadora.

Com as pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberoski,

com a psicogênese da língua escrita mudou-se a concepção de

alfabetização, o que acarretou de imediato o

reposicionamento das chamadas patologias nesta etapa da

aprendizagem.

Os distúrbios como troca, omissão, inversão de letras,

segundo Ferreiro perdem totalmente o sentido quando

encarados como “ensaios da escrita” , acompanhando as

hipóteses formuladas pela criança em relação ao que ela

pensa que é a escrita ao mesmo tempo em que começa a fazer

a leitura de seus próprios textos.

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Muitas vezes, a exigência feita por alguns

professores, para que a criança inicie sua alfabetização a

escrita seguindo regras e prazos estipulados, pode ser

desastrosa, gerando grandes dificuldades, tendo

conseqüências no desenvolvimento posterior no processo de

domínio da língua escrita.

Portanto, o ritmo de construção da leitura e escrita

da criança é uma das habilidades a ser respeitada, do

contrário, poderá gerar tanta ansiedade, que as

dificuldades formadas paralisarão o processo.

Importante também é considerar três vetores “únicos”

no processo da aprendizagem, a criança, a escola e a

família, estes em interação constante. Para a formação

humana, dentro de uma sociedade atual onde não está mais

enquadrada no padrão “constituir família” e sim temos “rede

de relações”, onde os filhos não são todos do mesmo sangue

por separações de casais e reunião dos mesmos com um(a)

outro(a), tornando uma formação bastante desestruturada.

Para a formação humana é de extrema importância o

princípio do qual não se pode ensinar corretamente,

enquanto não se aprende. Segundo a visão construtivista, na

produção do conhecimento, qualquer professor partirá do que

o aluno já sabe, do conhecimento já incorporado para que

novas informações surgidas na sala de aula possam ser

construídas, permitindo a verdadeira operacionalização da

realidade. Em inúmeros autores que se embasam no pensamento

piagetiano, já aparece a valorização do “ponto de partida”

na interação do sujeito como meio para a construção do novo

conhecimento que seria o “ponto de chegada” desejado pelo

professor.

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A não valorização do saber infantil pode ser o ponto

de partida para a construção de dificuldades de

aprendizagem.

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CAPÍTULO 1

Aprendizagem e Psicopedagogia:

Aspectos lingüísticos

A linguagem é o instrumento da ação e do pensamento,

mas, além disso, a mesma adquire esta função

regulamentadora quando é utilizada como instrumento para

executar diferentes formas e comportamento, na interação

social.

A intenção de formular verbalmente a própria

representação com a finalidade de comunica-la aos demais

obriga a reconsiderar e a reanalisar o que se pretende

transmitir.

Abordando de forma conceitual, os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) nos mostram caminhos sobre a

tão fabulosa “ponte” entre o homem e o saber: a linguagem.

“Língua é um sistema de signos específico,

histórico e social, que possibilita ao

homem significar o mundo e a sociedade.

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Assim, aprende-la é aprender não somente as

palavras e saber combiná-las em expressões

complexas, mas aprender pragmaticamente os

seus significados e, com eles, os modos

pelos quais as pessoas entendem e

interpretam a realidade e a sí mesmas”.

(PCNs de Língua Portuguesa)

O homem, ou, o ser humano é totalmente chamado à

interação, nós interagimos e fazemos isto por um meio que é

a linguagem. No entanto, a linguagem nos leva aonde nós

queiramos ir ou partir.

O que nos move até “tocarmos” na linguagem

propriamente dita, seja ela falada ou escrita? Com certeza

uma das razões é pelo fato de termos uma missão a ser

cumprida neste mundo, penso, cada um de nós, porém

necessitamos alcançar uma forma para isto acontecer,

portanto o que nos move até a linguagem é a necessidade de

dialogarmos. Assim como discutir idéias, criar soluções

para situações problema, fazermos questionamentos, etc...

Partindo da lógica que a sala de aula é um espaço

privilegiado para o processo da linguagem e para

transmissão da cultura, o contexto da cultura do aluno deve

ocupar lugar primordial no planejamento do professor.

Deixar fazer-se real a construção de um diálogo com o

universo simbólico-cultural, formando uma rede de

interações imersas no ambiente constituído pelos fenômenos

da linguagem nas relações professor-aluno, professor-

cultura e aluno-cultura.

As sociedades humanas em totalidade ou grupos de

animais organizam-se entre sí graças à comunicação, ou

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seja, ao conjunto de atuações através dos quais os

indivíduos “travam” contato e transmitem-se informações.

São variados os atos de comunicação: o choro da criança, o

miado do gato, os movimentos e alguns animais quando estão

no cio. Até as computadores processam informação mediante

“comunicações” interiores. Em distintas situações e com

diferentes interlocutores existe algo ou alguém emitindo um

código uma mensagem para certamente um receptor ou

receptores.

O socioconstrutivista, Lev Vygotsky, muito atento à

natureza social do homem, dá valor especial para a prática

da convivência: “À ausência do outro, o homem não se

constrói homem”. (Vygotsky,Lev,1979,p.55). Este Psicólogo

Russo, distingue dois tipos de instrumentos de mediação com

a realidade: as ferramentas e a linguagem. As ferramentas

são instrumentos que atuam materialmente modificando o

meio. As mesmas são oferecidas pela cultura. No entanto

além de proporcionar ferramentas a cultura oferece sistemas

de signos ou símbolos que fazem a mediação com nossas

ações.O sistema de signos usado com mais freqüência é a

linguagem falada e atua sobre a pessoa que o utiliza como

mediador, ou seja, é atuante sobre a interação dessa pessoa

com seu meio.

A importância dos signos reside e sua capacidade de

modificar o sujeito, porém, para apreendê-los é necessário

um complexo processo de interiorização.

Cada sujeito deve construí-los individualmente ou

melhor, reconstruí-los em seu interior com a entrada, com a

ajuda da interação de outras pessoas,pois como nos diz

Vygotsky: “todas as funções superiores originam-se como

relações entre seres humanos”. (Vygotsky,Lev ,1979,p.94).

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O processo de aprendizagem deve ser um processo

natural e tranqüilo para pais e alunos, e uma forma de

experimentar isto é ter perspectivas preventivas, detectar

as dificuldades de aprendizagem precocemente evitando-se

que elas se intensifiquem.

A ansiedade dos pais vem sendo crescente na busca de

respostas para entenderem as dificuldades de aquisição e

desenvolvimento da linguagem verbal, oral e escrita.

A leitura e a escrita são habilidades complexas e

imprescindíveis para a aquisição das demais habilidades

escolares.

Particularmente, no primeiro ciclo da educação formal,

no ensino fundamental, as preocupações dos pais se voltam

para os primeiros indícios de deficiências lingüísticas. Os

transtornos de leitura, as diversas dislexias (fonológica e

ortográfica) e de escrita (disgrafias e disortografia) são

as principais queixas dos pais.

Quem de nós não se recorda, quando jovens, no ensino

médio, das dificuldades na última etapa da educação básica,

na hora de ler um livro ou escrever um texto para concurso

ou vestibular? Quais informações e conhecimentos estavam

armazenados em nossa memória? Deveriam ser informações e

conhecimentos favorecido no ensino fundamental,ou seja,

favorecidos para uma memória em longo prazo ou por longo

período de vida.

A escola, é muitas vezes insistente,não que estas não

sejam importantes, em questões genéricas como “quem é o

personagem principal?”, “qual é o gênero desta obra?”.

A criança da atualidade não tem outra forma de saber

quem foi Machado de Assis se não através da sala de aula e

primeiro lugar.

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A maneira de conhecer uma obra literária, merece não

só uma leitura limitada com questões de “ficha de leitura”,

mas fazer com que os alunos compreendam, formem idéias,

construam “universovisões” e ainda atribuir sentido a

informações retidas na vida pessoal e acadêmica.

Segundo Grossi, E.: “Aprender não é memorizar fatos e

nem repeti-los. É desenvolver novas maneiras de pensar a

realidade.”

A psicologia Behaviorista, que é elementar, propõe que

a aprendizagem se dá pelo acumulo de respostas simples

condicionadas a um determinado estímulo é contrariada pela

idéia estruturalista da psicologia Gestaltista. Nesta a

aprendizagem se dá por ensaio e erro através de

experimentações significativas em direção a novos

“insights”, a criança desenvolve seus próprios caminhos

perceptíveis.

O que define a construção do conhecimento para Piaget

é fazer a “ponte” entre a assimilação e a acomodação,

através de etapas.

Nos primeiros anos de vida, a criança utiliza uma

linguagem não-verbal, o brincar. Ao brincar a criança

exterioriza no corpo o pensamento. Portanto, brincar, é uma

necessidade primordial da criança, pois desenvolve

dimensões elementares em todo ser humano.

O processo de ensino-aprendizagem se dá em um aparelho

biológico. Não há como saber o que realmente o outro pensa,

ou seja, não “lemos” a mente de ninguém, por isso o

professor nunca sabe o que o aluno verdadeiramente

aprendeu. Há uma clausura biológica e é nela que as

dificuldades de aprendizagem se encontram.

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Em uma biologia integral do ser humano, se forma um

acoplamento estrutural com as dimensões: emocional

(afetiva), sensorial e motora (organização), física, social

e cognitiva.

O empreendimento principal da teoria piagetiana é

transpor, ao espaço das interações inteligentes do homem

com seu meio, princípios utilizados pela biologia.

Para Piaget, a inteligência se dá através de operações

em continuidade com o desenvolvimento, sendo este concebido

como uma evolução guiada às necessidades internas do

equilíbrio.

A superação do egocentrismo é que caracteriza as

origens da inteligência. Após o período o qual se

constituem esquemas de ação, a partir de movimentos

instintivos, como sugar, olhar, segurar, o bebê atribui

permanência aos objetos, consegue conceber seu próprio

corpo como um objeto entre os outros, iniciando assim um

processo de descentração ou superação do egocentrismo.

As fases subseqüentes do desenvolvimento são norteadas

neste mesmo princípio da descentração, pois são estas,

fases de longo prazo ou longo processo de interiorização

das ações, de transposição de esquemas motores cujos se

transformam em operações e objetos concretos, até

culminarem no pensamento lógico-matemático.

O indivíduo supera o egocentrismo no estagio final de

equilibração das estruturas cognitivas.

Segundo Piaget, este desenvolvimento que se inicia no

egocentrismo e culmina no pensamento científico, é a

inteligência humana em sua natureza envolta em um processo

regulado por leis que a expressam.

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Esta visão tem a conseqüência de reduzir a influência

dos fatores sociais, que o ocupa uma considerável redução

na teoria piagetiana; eles não são a maior atenção dos

numerosos trabalhos experimentais do teórico.

Na fase simbólica e intuitiva, que corresponde à

aquisição da linguagem, Piaget reconhece que as relações

sociais se enriquecem e transformam o pensamento do

indivíduo. Entretanto, sua preocupação é de salientar que

os signos transmitidos pela linguagem são menos necessários

às crianças do que o simbolismo individual que elas

desenvolvem segundo suas disposições internas. A capacidade

de simbolizar é importante principalmente porque

possibilita a interiorização dos esquemas de ação. De todas

as noções transmitidas pela linguagem, a criança aproveita

apenas as limitadas ao seu nível mental, regulado pelo

ritmo próprio ao processo endógeno. Como neste nível a

criança permanece ainda essencialmente egocêntrica, ou

seja, continua assimilando o real à atividade própria, não

é capaz de coordenar seus próprios pontos de vista, quanto

relações entre parte e todo, indivíduos e classe, pode

então ocorrer a deforma das influências intelectuais

ambientes ou, por outro lado, o inverso, a acomodação, a

criança não faz críticas a opiniões alheias, se constrange

pelos exemplos que apreende dos demais.

O que afirma, Piaget, é que a criança apenas “oscila”

entre estas duas tendências de modo que é superficial a

influência do social nesta fase do desenvolvimento em que a

criança adquire a linguagem:

“Em suma, nos níveis pré-operatórios

que se estendem desde o aparecimento da

linguagem, aos 7-8 anos aproximadamente, as

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estruturas próprias do pensamento nascente

excluem a formação das relações sociais de

cooperação que por si acarretam a

constituição de uma lógica:oscilando entre

o egocentrismo deformante e a aceitação

passiva dessas constrições intelectuais, a

criança ainda não é, portanto, objeto de

uma socialização da inteligência que possa

modificar-lhe profundamente o mecanismo.”

(Piaget,1983,p.163)

A teoria psicogenética de Piaget influenciou a

educação escolar, bem como, freqüentemente é utilizada como

referência na fundamentação de pesquisas e propostas

pedagógicas.

César Coll, historiando sinteticamente as relações

entre a psicologia genética e a educação, afirma que a

leitura de Piaget, passou a ser orientada predominantemente

pelo interesse pedagógico por volta da década de sessenta.

Disseminava-se a idéia de que do aperfeiçoamento dos

sistemas de ensino dependiam o desenvolvimento social e o

avanço científico e tecnológico no embate político e

ideológico entre os países dos blocos ocidental e oriental.

Durante a década de sessenta, tanto nos Estados Unidos

quanto na Europa, substanciais incentivos econômicos

públicos e privados incrementavam os meios destinados à

pesquisa educacional.

Foi neste clima ideológico que os educadores

observaram a psicologia genética de Piaget, os inúmeros

projetos que visaram a aplicação dessa teoria à pedagogia

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foram, portanto, orientados pela crença de que a psicologia

poderia solucionar os problemas da educação.

Psicólogos e orientação materialista dialética

questionaram o modelo de pensamento de Piaget em vários de

seus aspectos essenciais. O Francês Henri Wallon refuta a

tese de que uma progressiva combinação de esquemas motores

explica a constituição do pensamento representativo.

Segundo Wallon, Piaget só consegue derivar o

surgimento da consciência a partir de esquemas motores

elementares porque estes são interpretados a partir de um

sistema lógico que, apesar de ser apresentado como

resultado final já está pressuposto no início e que, é

apenas o sistema lógico de uma escola ou de uma época.

A influência dos fatores sociais no desenvolvimento do

indivíduo, para Wallon não é nem exterior nem tardia como

para Piaget. Ele considera que a prolongada imperícia da

criança para agir no meio, o longo período em que ela

depende estritamente do adulto, para sobreviver, faz com

que desde o início e principalmente no início, suas

relações com o meio humano condicionem suas relações com o

meio físico. Ora, o palco das experiências infantis

analisadas por Piaget é exatamente o meio físico, onde a

criança atua entregue a si mesma, até que a lei da

descentração permita que ela diferencie nitidamente seu

ponto de vista do dos demais. Wallon critica a noção de

egocentrismo como chave dos comportamentos infantis assim

como a função diretora da descentração no desenvolvimento

intelectual da criança.

Em Wallon, a dialética entre a afetividade e a

racionalidade descreve a própria história do

desenvolvimento do psiquismo. A sociabilidade radical que

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para ele é característica da criança pequena é de natureza

predominantemente emotiva. Como fator primordial da vida

social, a afetividade se impõe também como fator da vida

intelectual. As emoções, inicialmente dominantes, são

subordinadas pela racionalidade, mas permanecem ainda como

fundamento de trocas interindividuais. Piaget, por sua vez

reconhece que a ação, origem do pensamento, tem sempre uma

motivação afetiva, que ele delimita como seu aspecto

enérgico. Reconhecida como motor inicial, a afetividade

permanece, entretanto, fora do edifício explicativo que

visa o que o autor denomina o aspecto estrutural da

atividade cognitiva. Tal distinção analítica implica que a

relação entre a racionalidade e a afetividade seja

concebida como uma espécie de associação entre dois

processos paralelos que seguem a mesma direção, assim como

também ocorre na análise piagetiana da relação entre a

sociabilidade e a equilibração endógena.

Também na obra do soviético, Vygotsky encontramos a

crítica ao conceito piagetiano de egocentrismo. A abordagem

desse autor tem para nós um interesse especial na medida em

que sua crítica se projeta a partir de uma outra visão do

papel da linguagem na constituição do pensamento. Vygotsky

desenvolve seus estudos sobre as funções psíquicas

superiores orientado pela hipótese de que elas são

processos mediados. A característica distintiva da cognição

do homem reside na sua capacidade de se utilizar de

instrumentos mediadores através dos quais pode controlar

sua atividade; esses instrumentos mediadores são os

símbolos por ele fornecidos, como mediador de suas relações

com o ambiente físico. Com o crescimento, a criança passa a

ser capaz de criar seus próprios símbolos e de realizar

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internamente os processos através dos quais dirige sua

atividade. É a partir dessa perspectiva que Vygotsky

critica a explicação dada por Piaget à fala egocêntrica da

criança, em que, inicialmente, esse teórico pretendeu

assentar seu conceito de egocentrismo. Piaget não encontra

na fala egocêntrica nenhuma utilidade para a atividade

prática da criança, vê nela apenas uma passagem do

pensamento em que o indivíduo tende a encerrar-se por si

mesmo para posteriores formas socializadas de linguagem e

pensamento; Já Vygotsky a interpreta como uma passagem da

fala comunicativa para a fala interior, ou seja, como parte

do processo de interiorização de um instrumento de controle

da atividade. Mas, além de contrapor-se a hipóteses de

Piaget sobre a linguagem da criança, Vygotsky formula

elementos que questionam o lugar conferido à linguagem na

obra de Piaget como um todo.

Piaget interpreta a aquisição da linguagem como um

caso particular do desenvolvimento da função semiótica, por

volta dos dois anos de idade na criança. Insiste no fato de

que a criança num nível pré-conceitual predominantemente

“deforma” o significado das palavras de acordo com suas

necessidades, ou repete as palavras alheias mecanicamente,

sem demonstrar uma compreensão efetiva de seu significado

convencional. Vygotsky,´por sua vez, mesmo reconhecendo a

existência de uma inteligência prática pré-lingüística,

considera decisivo o momento em que sua linha evolutiva se

encontra com a da linguagem, dando origem ao pensamento

verbal; e, para ele, a importância desse momento reside no

fato de que, a partir de então, o desenvolvimento

intelectual da criança passa a ser determinado pelos

instrumentos lingüísticos e mais radicalmente pela sua

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experiência sociocultural. A linguagem é interpretada como

o principal sistema de sinais mediadores, através do qual o

indivíduo orienta sua atividade tanto prática como mental,

e através do qual abre a possibilidade de que atinja as

formas mais requintadas do pensamento lógico-conceitual.

Igualmente Piaget, Vygtsky reconhece que as palavras não

têm para a criança o mesmo significado que lhe atribuem os

adultos, entretanto, ele está longe de deduzir desse fato

qualquer diminuição da importância da comunicação com os

mais velhos no desenvolvimento intelectual da criança. Em

seus estudos experimentais sobre a gênese dos conceitos,

Vygotsky observa que a palavra, com seu significado

convencional, orienta o desenvolvimento das associações

sincréticas, características do pensamento infantil, no

sentido da formação de verdadeiros conceitos

classificatórios. Ele postula que a comunicação com os

adultos desempenha um importante papel no desenvolvimento

do pensamento conceitual na criança, além de demonstrar

como está implícita nas formas infantis de pensamento a

possibilidade do diálogo e do entendimento com os mais

velhos.

As abordagens, tanto de Wallon como de Vygotsky,

defendem que a construção da racionalidade na criança é

resultado de seu esforço em assimilar as técnicas que uma

sociedade concreta pode lhe oferecer, técnicas implicadas

nos objetos manufaturados que a rodeiam, técnicas de

linguagem, de pensamento e de ação.

A linguagem é tão real como as árvores, o televisor,

as casas. Pode o ser humano possuir todas as riquezas

materiais, mas, enquanto o uso da linguagem for pobre, a

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visão e vivência da realidade do mesmo permanecerá

incompleta, pensamento e sentimentos sem vida na sociedade.

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CAPÍTULO 2

Desenvolvimento da leitura e da escrita no

contexto social infantil

As emoções mais intensas e pessoais exigem os sons da

voz, uma maneira de respirar, o grito revela a explosão

vocal do ser até mesmos antes da palavra. Na realidade,

qualquer um pode pela voz, dizer mais do que diz através do

próprio discurso. Pela voz e não pela escrita em geral,

diferenciamos sexo, idades e estados de ânimo. A voz

envolve o corpo, por isso se fala de “engolir as palavras”,

etc.

Uma mensagem oral não se reduz unicamente ao seu

significado lingüístico, e a introdução da escrita implica

uma mutação profunda, não só cultural e econômica, mas

também mental.

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No primeiro ano de vida, a criança utiliza a fala pré—

lingüística principalmente para se comunicar com os adultos

e com outras crianças através do choro, “bablucio”.

A linguagem oral participa de todos os processos

cognitivos (pensamento, memória e atenção).

A construção da linguagem oral, implica, portanto, na

verbalização de sentidos estabelecidos entre pessoas que

buscam comunicar-se. A criança aprende a verbalizar por

meio da apropriação da fala do outro.

Muitos fenômenos relacionados com o discurso e a fala,

como os sons expressivos, alteração de volume e ritmo nas

situações de comunicação, são utilizados pelas crianças

mesmo antes que saibam falar.

Nas inúmeras interações com a linguagem oral, a

criança faz tentativas de descobrir as regularidades que a

constitui, usando todos os recursos de que dispõem:

histórias que conhecem, vocabulário familiar, figuras.

Assim, acabam criando formas verbais, expressões e

palavras na tentativa de apropriar-se na linguagem.

Desse modo, elas têm a oportunidade de produzir

textos, mesmo antes de saber grafa-los, utilizam o

professor como escriba.

O ensino e a aprendizagem da língua oral deve partir

da sua concretude, dos seus usos e formas específicas e

levar em conta a realizações orais do sujeito.

O fato de dar importância ao código oral relaciona-se

diretamente com a visão sincrônica da língua,

característica tão apropriada nas atuais tendências

lingüísticas. Se o que importa é que o indivíduo fale,

porque “falando faz linguagem”, é necessário que o ensino

se interesse pela linguagem que a criança possui na

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comunicação quotidiana, com todas as suas imperfeições, mas

que é a base da qual deve partir. Digamos que é o

lingüisticamente dado e que permite o desenvolvimento

posterior, a condição que possibilita ir do simples ao

complexo, do fácil ao difícil, do conhecido ao

desconhecido, do concreto ao abstrato, do particular ao

geral.

A língua é um sistema com vida própria e em permanente

mudança. Por isso, no ensino-aprendizagem, a língua de

“hoje” precisa de consideração significativa, pois, permite

ao professor elevar-se a partir da realidade lingüística

imediata, próxima e real, que a criança utiliza, como

usuária da língua, que é, até o grau no qual ela percebe

que a língua pode converter-se numa obra de arte.

O ensino e a aprendizagem da língua realizam-se

através de um verdadeiro e frutífero diálogo. Por isso

Vygotski afirma que o sentimento e o pensamento movem a

criação humana. Assim, através da escuta de contos, de

lendas, de declamação de poemas, etc..., enfim da linguagem

emotiva e estética se pode compreender melhor a vida.

Dentro da comunicação verbal, a oral ou a oralidade

merece uma atenção especial nas instituições educacionais,

não só porque sua freqüência de uso em relação à escrita

assim o aconselha, mas porque a tradicional falta de

sistematização dos processos do ensino e da aprendizagem

neste campo exige um esforço inovador quanto ao rigor

metodológico para a confecção de materiais didáticos

específicos.

Tradicionalmente, na escola aprende-se a ler e a

escrever, sem mencionar o falar. Esta é uma visão que

sempre tivemos pois sempre foi tido como certo que o

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domínio da fala era adquirido espontaneamente sem a

necessidade de planificação. Esta concepção deve ser

corrigida, pois as habilidades verbais exigidas pelo uso

correto do código oral devem ser desenvolvidas e

aperfeiçoadas mediante um trabalho contínuo, rigoroso e

sistemático.

Portanto, um dos pontos de partida para o profissional

que ensina, é produzir alunos, no sentido mais amplo do

termo, considerar que toda percepção é seletiva – através

do olho, ouvido, tato, etc.-; só “apanhamos” aspectos

selecionados de acordo com o que “somos”, ou seja, que se

percebe aquilo que é “reconhecido”. Por isso a análise de

erros permite elaborar, adaptar ou complementar as

atividades.

Partir das produções reais dos alunos, considerar o

erro como parte do processo de aprendizagem, pôr em jogo a

capacidade de autocorreção de todo falante, levar em conta,

não só a forma dos enunciados, mas a situação e o contexto,

conseguir que o professor/a seja guia e não juiz que

sanciona e dar oportunidades de dizer distintas coisas de

diversas maneiras, são possibilidades de um trabalho

adaptado com as freqüentes dificuldades da criança em seu

processo de aprendizagem.

Dado que o código oral e o escrito apresentam

características diferentes ambos podem ser trabalhados em

sua especificidade. Os empréstimos que o oral faz do

escrito são permanentes e vice-versa. Neste sentido, é

relevante, que as possibilidades que proporciona o fato de

tratar de similar um discurso que só se realiza através do

código escrito, por meio de habilidades orais.

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As diferenças entre a língua oral e a escrita se

referem resumidamente aos aspectos desde quadro.

Quadro 1 Diferenças entre a língua oral e escrita

Oral Escrita Está constituída pelos sons (nível fonético)

Está constituída por grafias (nível grafêmico)

Realiza-se na presença dos interlocutores (salvo no caso da utilização de tecnologias especiais: telefones, rádio, gravações magnetofônicas ou de vídeo, etc.), o que implica imediatismo.

Não é realizada na presença do leitor e, portanto, não existe o estímulo-resposta imediato nem a readaptação espontânea.

As coisas ocorrem supostamente graças à situação. Elementos dêiticos, como aqui, agora, isto...

Deve incluir o contexto da situação.

Utiliza elementos verbais (supra-segmentais) próprios (pausas, entonações, ritmo, intensidade, duração...) e gestuais, corporais, etc.

Utiliza elementos verbais, iconográficos e gráficos: pontuação, margens, sublinhados, ilustrações, tipos de letras...

Costumam ocorrer múltiplas repetições, interjeições, exclamações, onomatopéias.

Costumam evitar-se repetições e o uso abusivo de interjeições, exclamações ou onomatopéias.

Às vezes, rompe-se a sintaxe (anacolutos, desvios, omissões...) e usam-se, com certa liberdade, diferentes registros.

Cuida do léxico, a sintaxe parece ser mais explícita e coerente e costuma manter-se o mesmo registro lingüístico ao longo de todo o discurso.

O uso da oralidade é universal e sua aprendizagem é “espontânea”.

O uso da escrita não é universal e é aprendido “na escola”.

A fala tem caráter temporal. A escrita tem caráter espacial.

Quem fala tem pouco tempo para estruturar o discurso,

Ao escrever, pode-se cuidar mais da estruturação do

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por isso este pode ser menos preciso ou rigoroso do ponto de vista lingüístico.

discurso e até mesmo consultar dúvidas, corrigir, ampliar, acrescentar esquemas, etc.

Esta diferença demonstra que o domínio de um dos

códigos não garante o do outro (ainda que as habilidades

orais reforcem as da escrita e vice-versa) e que, portanto,

não deverão ser planejadas as mesmas atividades para ambas

aprendizagens nem se optará pelas mesmas técnicas para o

seu ensino. Alguns aspectos que ilustram a complexidade

da comunicação oral são, por exemplo: a não-visibilidade

do discurso, o limite de retenção da informação pela

memória imediata, a impossibilidade de retrocesso, a

velocidade da emissão, as variáveis dialetais, a

dificuldade do conteúdo... e, por exemplo, no caso das

gravações, a qualidade técnica do som.

Por desconhecimento ou por desinteresse, muitos

professores não ensinam a falar nem a escutar. Acreditam

que, ao proporem ou permitirem alguns debates ou exposições

em sala de aula e corrigirem certos erros articulatórios,

morfológicos, sintáticos ou semânticos, já cumpriram os

objetivos da comunicação oral. Outros tornam-se obsessivos

pelas correções lingüísticas, esquecendo que a competência

comunicativa implica muito mais do que conhecer e dominar a

norma, já que através da linguagem transmite-se não só o

que sabemos, mas o que somos, pois se torna evidente a

pessoa inteira. Oralmente, compartilhamos interesses,

gostos, sentimentos e conhecimentos.

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Ao desejar-se otimizar o ensino e a aprendizagem da

língua materna é necessário trabalhar adequadamente a

oralidade, evidentemente sem privilegia-la, mas tampouco

sem deixar de dar-lhe atenção, pois o oral e o escrito são

aspectos complementares da comunicação.

Admite-se, hoje, que a aprendizagem dos escolares

depende de suas experiências, da manipulação e observação

dos diferentes elementos do meio. Não obstante, diferentes

estudantes encontrarão distintas dificuldades e de desigual

complexidade perante o mesmo problema. Por isso, o respeito

aos seus ritmos de aprendizagem é fundamental e, portanto,

a exigência didática de proporcionar situações concretas e

variadas que sirvam como base a partir da qual seja

construída a aprendizagem.

Estas teorias deslocaram, em certa medida, a

preocupação pedagógica para a linguagem. Hoje, porém sem

negar os postulados anteriores, torna-se a reconhecer a

importância central que tem a experiência no

desenvolvimento da capacidade comunicativa e na prática

lingüística em si mesma, pois isso tem implicações que se

estendem e abrangem todo o currículo. Também, é preciso

aceitar, além do que foi anteriormente exposto, a concepção

de que nem toda aprendizagem pode basear-se na experiência

direta, como a dos conteúdos de História (outras épocas),

ou de Geografia (outros lugares), etc. Estes conteúdos

exigem mais imaginar e “projetar-se em” do que “enfrentar-

se com” (para isso, terá que apoiar-se em livros, lâminas,

filmes, etc.). Neste sentido, é de fundamental importância

a “experiência” proporcionada pela literatura. Quando

nossos alunos lêem ou escutam um texto, esperamos que as

frases os “coloquem de frente” aos fatos “reais”, que leiam

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ou ouçam as palavras como observariam a realidade. Tanto em

uns como em outros casos, as pessoas baseiam-se em suas

experiências anteriores, mas devem, ao mesmo tempo,

projetar-se mais além delas, “ser outros em outros mundos,

com outras pessoas”, e esta imaginação só pode ser

elaborada mediante a linguagem.

No transcurso da Educação Infantil, por exemplo, é

imprescindível um adequado tratamento da linguagem oral,

para o qual é necessário um clima de carinho e confiança

que facilite a comunicação. O trabalho escolar de

compreensão e expressão oral tem a vantagem de poder ser

tratado e sistematizado muito antes que a criança saiba ler

e escrever.

As crianças devem expressar-se com interesse de

maneira cada vez mais correta diante do conjunto da classe,

nos grupos de trabalho, nas atividades em que participam as

mães, nas recitações de poesias, jogos verbais,

adivinhações ou dramatizações. Neste sentido, o brincar tem

relevante importância. Brinquedos como telefones,

fantoches, baralhos de imagens, permitem que a criança se

adestre na aptidão comunicativa oral. Da mesma forma como

descrever detalhadamente objetos ou ilustrações de livros

que estejam sendo vistos naquele momento ou dos quais se

recordem, a resposta a perguntas de crescente complexidade,

a invenção de histórias, a simulação de ligações

telefônicas para amigos ou desconhecidos, a realização de

campos semânticos ajudados com desenhos ou fotografias (dos

brinquedos, dos animais, da roupa de vestir, dos

frutos...). E desta forma aprender também a identificar e

classificar coisas, seres, ações, situações próximas a sua

experiência. O importante é que as crianças se comuniquem e

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se relacionem positivamente com outras crianças e com os

adultos.

Dando um pouco de ênfase ao brincar, ou, à brincadeira

e sua importância para a aprendizagem em um ambiente

escolar, o objetivo de dar oportunidades de uma maior

harmonia à criança, para conhecer-se, divertir-se, criando,

brincado e “comunicando-se com seus corpos”, está

relacionada com o próprio processo educacional de cada

indivíduo, tanto em aspectos culturais quanto sociais e

também psicológicos.

No Artigo 29 da lei nº9.394/96 de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional,(LDB), define-se:

“A Educação Infantil, Primeira etapa da

Educação Básica, Tem como finalidade o

desenvolvimento integral da criança até

seis anos de idade, em seu aspecto físico,

psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da

comunidade”.

LDB - ( 9394 / 96)

É no ato de brincar que é proporcionada à criança a

chamada ludicidade que certamente a conduz à experiências

que sempre resultam em descobertas “primordiais” para ela.

Segundo Eugênio Tadeu Pereira, mestre em educação: “É

muito difícil encontrar uma criança que não brinca. Se isso

acontece dizemos que qualquer coisa está acontecendo com

ela e ficamos logo preocupados”.

Esta afirmação do autor, é um “sinal de alerta”, ao

educador e a todos que estão direta ou indiretamente

próximos à qualquer situação de aprendizagem e ainda nos

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direciona para um questionamento sobretudo de como estão

sendo propostas as brincadeiras na escola. Se existe a

preocupação com a forma que elas são apresentadas e se

atingem os gostos dos alunos.

Na perspectiva psicogenética de Piaget, são destacadas

suas fases dos dois aos quatro anos de idade, em uma visão

da brincadeira simbólica que são o realismo e o animismo. A

primeira é a confusão entre o mundo exterior e o pensamento

infantil com tendência em projetar sobre os objetos os

resultados das crianças que pensam. Pelo contrário o

animismo é a tendência para se considerar as coisas como

vivas, principalmente quando se movem, (vento, automóveis,

máquinas), em oposição ao que está inerte (montanha, mesa,

pedra).

A brincadeira simbólica após os quatro anos, adquire

características progressivamente sociais e introduz

lentamente a brincadeira de regras, onde o combinado deve

ser respeitado.

Quanto mais estruturada mentalmente a criança estiver,

haverá, portanto, uma lógica, cada vez mais evidente.

O valor simbólico da brincadeira, por ser muito

próximo do sonho, por se encontrar como em uma fronteira

entre a realidade e a fantasia, dá reais condições,

adequações para a criança de reproduzir situações de afeto

e emoção. Há também a possibilidade de viver os medos e

tensões do outro, invertendo papéis e, portanto, de

compreender melhor as relações vividas.

Diferentes estudos, por exemplo, com filhos de pais

surdos-mudos, demonstram que não é suficiente que as

crianças estejam em ambientes lingüisticamente ricos (seja

por meio de programas de rádio, televisão, etc.), senão que

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é essencial que a criança fale, que tenha interlocutores. O

requisito de usar a linguagem para adquirir competência

verbal é básico. A linguagem deve ser manipulada,

explorada, deve-se brincar com ela, valoriza-la, notar que

se necessita dela, que permite brincar, viver.

Por isso, é preciso introduzir a maior gama possível

de situações que impliquem diferentes modalidades de

compreensão e expressão. Neste sentido, um aspecto

relevante é o desenvolvimento do pensamento discursivo e a

possibilidade de verbalizar a ação ou os seus projetos. Se

faz necessário considerar que a forma com que se fala coma

criança, a forma com que se estimula para que se comunique

com os demais, influi em suas atitudes e habilidades

verbais e cognitivas em geral. Da mesma forma que os pais

devem estruturar as aprendizagens comunicativas familiares.

As condutas verbais que permitem meninos e meninas

adquirir os padrões lingüísticos pertinentes, são

responsabilidades do adulto, pois em muitos casos, o que

ocorre não é tanto que os alunos desfavorecidos desconheçam

a linguagem, mas que não possuem experiência de como usa-

la, por não haver o costume de ter oportunidade de serem

ouvidas.

Considerando as diferenças que as crianças costumam

ter quando ao uso da língua, o tratamento didático deve

basear-se em estratégias individualizadas, pois,

provavelmente, todas as crianças requerem intervenções

específicas (articulação, ampliação de vocabulário,

estímulos para se expressarem,...).

Com relação à criança pequena, é preciso conhecer:

1. quando começou a falar

2. dificuldades iniciais

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3. relação entre usos verbais egocêntricos ou

socializados

4. interesse diante da interação verbal com outras

crianças ou adultos

5. particularidades

(fonéticas,morfológicas,sintáticas e semânticas)

6. particularidades comunicativas não verbais- uso

de (interrogações, negações, exclamações)

7. nível de (correção, propriedade, coerência,

elegância)

8. nível de complexidade do discurso/criatividade

(na forma, no conteúdo)

9. em relação ao meio familiar e social

nível dos pais (educativo em geral, lingüístico em

particular)

características da relação comunicativa dos:

pais entre si

pais com filhos

irmãos entre si

10. convivência habitual com (livros, cinema,

televisão, computador, etc.)

Para as crianças destas idades são recomendáveis, além

do que já foi mencionado, atividades que facilitem a

conversação em que sejam praticadas tanto a expressão

quanto a escuta atenta.

As crianças aprendem a falar porque outros falam com

elas e para elas. Desde os seus primeiros dias, fala-se com

elas como se pudessem entender algo. Com algumas semanas, o

bebê começa a reagir à voz, atendendo, sorrindo, escutando

e tentando ver o rosto que a articula diante dele. Logo, a

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voz humana chega a ser significado, na medida em que se

torna familiar e é associada ao afeto, ao cuidado, à

comida, ao asseio, etc. Entre os cinco e os seis meses,

produz-se uma interação comunicativa, mais ou menos

deliberada, quando grita ou chora e espera a resposta. Ao

redor dos nove meses, reconhece o significado inibitório do

“não” e dos doze aos quinze meses pode chegar a lidar com

um amplo repertório de quase vinte palavras.

A velocidade com a qual as crianças desenvolvem a

linguagem é diferente, e isso pode responder a diversas

causas, mas, em geral, é preciso considerar que o bebê não

aprende rapidamente a falar se ninguém interage verbalmente

com ele. Neste sentido o que a criança aprende a fazer com

a linguagem em seu lar, facilitará suas experiências

escolares.

Desta forma as crianças adquirem a linguagem oral

ouvindo e conversando com os adultos, de forma que cabe à

escola aperfeiçoar estas habilidades, utilizando-as,

refletindo sobre elas, ainda que a linguagem verbal não

seja o único sistema de comunicação.

Tal como estabeleceu Piaget em relação às fases de

desenvolvimento intelectual das crianças, as primeiras

caracterizam-se pela aprendizagem por intermédio de

operações concretas, o que implica a captação através dos

sentidos e a manipulação dos objetos; estas experiências

concretas, ordenadas e hierarquizadas através do

intercâmbio sócias com outras pessoas, como também

assinalou Vygotsky. Passado certo tempo, as palavras

implicam até mesmo noções generalizadas e abstraídas de

múltiplas experiências, servindo para a comunicação, ainda

quando os fatos sejam do passado ou projetem-se em direção

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ao futuro. Vygotsky assinala que muitos conceitos não podem

desenvolver-se unicamente a partir das experiências diretas

e que a linguagem é o meio pelo qual se pode ajudar às

crianças a compreender relações abstratas, não facilmente

reconhecíveis.

O desenvolvimento da compreensão da linguagem acontece

em sucessivas etapas. A partir dos cinco anos até seis,

acriança entende alguns termos abstratos, descreve o que

vê, conta o que ocorre com ela, utilizando comparações ou

relacionando coisas. Dos seis aos treze anos, a criança

compreende muitos conceitos abstratos e interpreta o código

escrito. Compreende manifestações poéticas e assume certas

posturas críticas.

Uma escuta compreensiva das dificuldades das crianças

tem diversas respostas,principalmente intermediada com o

brincar, uma das formas de concretizar a oralidade.

2.1 Ludicidade como estímulo ao aprendizado

A evolução da brincadeira simbólica segundo Piaget:

l.Emergências das manifestações simbólicas, através da

brincadeira simbólica ou jogo dramático, dentro de um

contexto predominantemente funcional e cíclico sensório-

motor, (período sensório-motor-1,5 a 2 anos);

O corpo funciona ainda como marco físico do eu. A

brincadeira simbólica se organiza `volta do corpo,

principalmente na região entre pernas, próxima `região

genital;

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2. Aparecimento de pequenos “plateux” lúdicos

simbólicos que algumas vezes conseguem se reunir num maior

(2 a 3 anos);

.A criança não tem mais necessidade de um marco físico

para se organizar (não organiza mais a brincadeira à sua

volta);

.As lembranças vem de mais longe e cada vez maiores, e

se manifestam mais sob forma de representação lúdica;

.As verbalizações se fazem principalmente em relação

ao eixo presente ou ao passado próximo e mantêm-se presas

ao real. O imaginativo ainda ao adquirir voz própria, a

boneca ainda não fala o que quer ou do que tem medo.

3.Formação de grandes cenas dramáticas (3 a 5 anos);

.Os personagens são cada vez mais uma recriação do

sujeito do que uma reprodução, (maior diferenciação

significante-significado);

.A verbalização se transporta cada vez mais à situação

imaginativa. A criança fala, com voz, timbre, entonação e

ritmo próprios;

.A memória combina de forma ordenada diversos momentos

do passado;

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CAPÍTULO 3

A informática na linguagem do ensino

A sociedade da informação, como sociedade aberta e

global, exige competências de acesso, avaliação e gestão da

informação oferecida.

As escolas são lugares onde as novas competências

devem ser adquiridas ou reconhecidas e desenvolvidas. Sendo

a literacia informática uma das novas competências, de

imediato se coloca uma questão: a das diferenças ao acesso

à informação e da necessidade de providenciar igualdade de

oportunidades sob pena de desenvolvermos mais um fator de

exclusão social: a info-exclusão.

Resolvido o problema do acesso, permanece o

desenvolvimento da capacidade de discernir entre a

informação válida e inválida, correta ou incorreta,

pertinente ou supérflua. Acrescente-se a competência para

organizar o pensamento e a ação em função da informação,

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recebida ou procurada, e teremos, em princípio, uma pessoa

preparada para viver na sociedade da informação.

Segundo a visão de Vilson Sérgio, temos:

“Nesse sentido, a tecnologia educacional não

se refere ao computador em si, mas ao

computador e a sua utilização enquanto

forma de facilitar o aprendizado. Ela

envolve não apenas os instrumentos de

ensino, mas as decisões tomadas pelos

educadores na construção de condução dos

processos de ensino-aprendizagem ao

utilizar tais instrumentos”.

(Vilson Sérgio,2005)

O desenvolvimento destas competências e dos contextos

formativos que permitirão desenvolve-las exigem novas

atitudes dos alunos, dos professores e das escolas como

organizações vocacionadas para educar.

Vivemos hoje numa sociedade complexa, repleta de

sinais contraditórios, inundada por canais e torrentes de

informação. O cidadão comum dificilmente consegue lidar com

a avalanche de novas informações que o inundam e que se

entrecruzam com novas idéias e problemas, novas

oportunidades, desafios e ameaças.

Chamaram-lhe a era da informação. E também da

comunicação. No tempo em que vivemos o mídia adquiriu um

poder esmagador e a sua influência é multifacetada, podendo

ser usada para o bem e para o mal. As mensagens que nele

passam apresentam uma miríade de valores, uns positivos,

outros negativos, de difícil discernimento para aqueles

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que, por razões várias, não desenvolveram grande espírito

crítico, competência que inclui o hábito de se questionar

perante o que lhe é oferecido.

O mundo marcado com tanta riqueza informativa, precisa

urgentemente do poder classificador do pensamento. Edgar

Morin afirma que só o pensamento pode organizar o

conhecimento. Em vez de uma cabeça bem cheia, afirma o

autor, numa clara alusão a Montaigne, reclama uma cabeça

bem feita (Morin,2000).

Nesta era da informação e da comunicação, o professor

não é o único transmissor do saber. O seu papel impõe-lhe

exigências acrescidas.

Uma possível contribuição do referencial psicanalítico

lacaniano para a reflexão da relação do sujeito com o

saber:

“O saber é uma elaboração pessoal do

sujeito. O conhecimento (é) apenas seu

contexto inicial instituído a partir da

informação. O conhecimento possibilita um

tratamento do tipo “eu sei que” “eu não sei

que”. O saber é da ordem de algo a ser

estabelecido e tecido pelo sujeito...”

(Mrech, 1999,p.83-84).

A escola é um forte sistema aberto, pensante, sobre a

comunidade em que se insere. Temos de reconhecer que o

exercício livre e responsável da cidadania exige das

pessoas a capacidade de pensar e a sabedoria para decidir

com base numa informação e em conhecimentos sólidos. O

cidadão é hoje cada vez mais considerado como pessoa

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responsável. O seu direito a ter um papel ativo na

sociedade é cada vez mais desejado. Trata-se de uma grande

conquista social, nas situações em que esse direito já foi

conquistado, o que, infelizmente, não acontece de uma forma

universal. Esta dimensão sócio-política tem de ser tida em

conta. Nem políticos nem educadores podem ignora-la, sob

pena de se estarem a construir castelos na areia. A

construção do poder pelo cidadão, não se resume meramente à

obtenção de mais poder e mais direitos, mas traduz-se na

capacidade real para exercer esse poder na construção de

uma cidadania participativa.

Um dos fatores para que exista esta construção no

mundo em que vivemos tem a ver com a facilidade em aceder à

informação. Esta deve ser fidedigna, relevante e fácil de

encontrar a informação necessária, para decidir sobre a sua

relevância e para avaliar da sua fidedignidade. Sem o saber

que lhe permite aceder à informação e ter um pensamento

independente e crítico, ele pode ser manipulado e info-

excluído.

Qual de nós não sente que hoje cada vez é maior o

número das coisas que não sabe e que gostaria ou

necessitaria de saber? Muitos de nós, facilmente

responderia: não há problema, vejo na internet. E vamos à

internet para ver os horários dos trens, os preços dos

hotéis, os descontos praticados nos restaurantes os

espetáculos que estão em cena, as notícias do dia, as

publicações sobre um determinado tema, informação sobre um

assunto que desconhecemos mas sobre o qual queremos saber e

tantas outras coisas que fazem parte do nosso quotidiano.

Mas, em todo o mundo, qual será a percentagem das

pessoas que têm esta possibilidade? Poderá e deverá então

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perguntar-se se a sociedade de informação globalizante é a

sociedade do conhecimento generalizado. E a resposta real é

efetivamente Não. Com graves conseqüências para o indivíduo

e para a sociedade. Os políticos, os educadores e os

cidadãos em geral não podem desprezar as conseqüências da

ignorância e o seu poder destruidor e corrosivo da

coerência e estabilidade social. E todos se devem dar as

mãos na luta pelo poder do conhecimento.

O conhecimento técnico é hoje volátil, pelo que

adquire grande valor o conhecimento fundante de todo o

outro conhecimento. À literacia da leitura e da escrita e à

numeracia ou conhecimento dos números, é preciso hoje

acrescentar a litaracia informática.

A mesma transformação social requere uma rápida e

flexível mobilização dos conhecimentos e a sua utilização

competente, só é possível para quem tenha tido uma formação

nesse sentido.

Para a Psicanalista Leny Magalhães, a sociedade

contemporânea expõe sua visão dos efeitos da informática na

sociedade contemporânea:

“A informática é um dos nomes da imagem-

rainha da sociedade atual. Ela se apresenta

como a forma mais completa e elaborada do

sujeito na sociedade pós-moderna. Ela

encobre a falta, ela encobre as falhas do

sujeito, do significante. A informática se

propõe como um modelo idéias da comunicação

humana”.

(Leny Magalhães, 1999,p.29)

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Neste relevante relato a autora nos fala à luz das

contribuições da teoria lacaniana, da relação “ser humano-

sociedade da informação”, ou seja, a impossibilidade que

encontramos nos dias atuais da comunicação “humana”, a

informática se apresenta como a comunicação por excelência

entre os seres humanos.

Ou ainda, do esquecimento da origem de toda e qualquer

tecnologia,

“Todos se esquecem de onde partiu a

informática, de onde partiram as

máquinas...Ambas foram criadas tomando como

forma o próprio homem”.

(Leny Magalhães, 1999,p.125)

Professores precisam rapidamente mudando pois os

alunos mudam rapidamente. Claro que a informática não está

fazendo a “extinção” do professor, porém com o avanço da

educação à distância e das aulas on-line, algumas sas de

aula (principalmente de nível superior)tendem a

desaparecer. O professor deverá sim, se adaptar, como

sempre se adaptou desde o início dos tempos.

A geração que ocupa as carteiras nas salas de aulas

hoje não sabem quem foram Zico e Sócrates. Porque não

enquadrar este aluno em um contexto, pois para se ter toda

a informação disponível o professor ainda é meio, “ponte”

para os dados significativos, lembrando que parte destes

dados, hoje se coleta sem a necessidade de um professor.

Em suma, a criança é um ser que pensa e a sua relação

com o fazer ou saber fazer remete-se a uma escola que

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caminhe ao seu lado, sem esboçar perfis que com o tempo

irão torna-se fatos de perda de autonomia, de conhecimento.

Informática na educação é um novo domínio da ciência

que em seu próprio conceito traz embutida a idéia de

pluralidade, de inter-relação e de intercâmbio crítico

entre saberes e idéias desenvolvidas por diferentes

pensadores. Por diferentes pensadores. Por ser uma

concepção que ainda está em fase de desenvolver seus

argumentos, quanto mais nos valermos de teorias

fundamentadas em visões de homem e de mundo coerentes,

melhor será para observarmos e analisarmos diferentes

fatos, eventos e fenômenos, com o objetivo de estabelecer

relações entre eles.

Assim, a partir de um contexto ou situação-problema,

podemos ter múltiplos campos de observação, pois há uma

rede de conexões entre hipóteses e inferências que ampliam

as possibilidades de interpretação. Uma situação-problema

passa a ser compreendida através de explicações pluralistas

embasadas em teorias que se inter-relacionam e se

entrelaçam com seu próprio contexto.

Muitos dos desafios enfrentados atualmente têm a ver

com a fragmentação do conhecimento, que resulta tanto de

nossa especialidade quanto, e principalmente, do processo

educacional do qual participamos. Ambos estão diretamente

relacionados às limitações causadas por uma visão

mecanicista, que é fruto do paradigma dominante e segue o

modelo da racionalidade científica, característico da

ciência moderna.

Por outro lado, nos deparamos com grande número de

estudiosos que considera limitada a visão de mundo desse

paradigma dominante. Defendem a opinião de que é preciso

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mudar radicalmente tais filosofias e assumir uma abordagem

que permita tanto compreender a transformação cultural

contemporânea como participar dela. O resultado é o esboço

de um movimento convergente que perpassa todas as ciências

e se configura como interdisciplinar.

As teorias científicas jamais poderão oferecer uma

descrição completa e definitiva da realidade. Serão sempre

aproximações da verdadeira natureza das coisas.

A ênfase aqui proposta não é para teorias divergentes

sobre um mesmo fato, mas sim para as que têm o mesmo objeto

de estudo, partilham de um único paradigma ou de um

conjunto de pressupostos fortemente relacionados e propõem

soluções que se interconectam, cujo enfoque varia de acordo

com a especialidade de seus pesquisadores. Nesse sentido,

diferentes cientistas abraçam uma determinada teoria, mas

cada um a aplica segundo sua própria interpretação. Nossos

conceitos são aproximações válidas apenas para certo

conjunto de fenômenos ou fatos, que não são completa e

definitivamente explicados por nenhuma teoria. Assim, um

determinado fato ou fenômeno pode ser explicado por um

conjunto de teorias mutuamente consistentes e entrelaçadas,

a ponto de formar uma espécie de rede, na qual sempre é

possível conectar novos nós. Dificilmente se pode afirmar

que um modelo ou teoria é mais fundamental que outro.

Há diferentes paradigmas de formação de professores,

cada um coerente com a concepção do papel atribuído ao

professor no processo educacional.

Na postura do professor há um modelo de ensino e de

escola e uma teoria do conhecimento que representam uma

perspectiva de homem e de sociedade. O conceito de

paradigma de formação aqui entendido envolve uma concepção

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de continuidade, de processo. Não busca um produto

completamente pronto, mas um movimento que se concretize

através da reflexão na ação e da reflexão sobre a ação.

Os programas de formação, tanto inicial como

continuada, geralmente são estruturados de forma

independente da prática desenvolvida nas instituições

escolares e caracterizam-se por uma visão centralista,

burocrática e certificativa.

Embora ainda hoje muitos programas de preparação de

professores sejam planejados a priori da prática

pedagógica, não é mais possível pensar a formação inicial

como um conjunto de disciplinas que compõem uma grade

curricular de cursos programados por especialistas, para

serem oferecidos aos futuros professores – como é o caso da

maioria dos cursos regulares de ensino médio, magistério,

graduação ou pós-graduação.

Caso idêntico ocorre com os programas de atualização

pedagógica e mesmo com os cursos de aperfeiçoamento, ou

outros, oferecidos aos professores em exercício – que dizem

ser de formação continuada, mas desconsideram o lócus de

desenvolvimento da prática pedagógica.

A mesma forma aditiva pela qual tem sido pensada a

introdução de computadores na educação também vem se

aplicando ao processo de preparação de professores.

Freqüentemente, tal preparação realiza-se através de cursos

ou treinamentos de pequena duração, para exploração de

determinados softwares. Resta ao professor desenvolver

atividades com essa nova ferramenta junto aos alunos, mesmo

sem ter a oportunidade de analisar as dificuldades e as

potencialidades de seu uso na prática pedagógica e, muito

menos, de realizar reflexões e depurações dessa nova

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prática. Os alunos, por crescerem em uma sociedade permeada

de recursos tecnológicos, são hábeis manipuladores da

tecnologia e a dominam com maior rapidez e desenvoltura que

seus professores. Mesmo os alunos pertencentes a camadas

menos favorecidas têm contato com recursos tecnológicos na

rua, na televisão, etc., e sua percepção sobre tais

recursos é diferente da percepção de uma pessoa que cresceu

numa época em que o convívio com a tecnologia era muito

restrito.

Os professores treinados apenas para o uso de certos

recursos computacionais são rapidamente ultrapassados por

seus alunos, que têm condições de explorar o computador de

forma mais criativa, e isso provoca diversas indagações

quanto ao papel do professor e da educação. O educador

preparado para usar o computador como uma máquina que

transmite informações ao aluno através do software pergunta

qual será o seu papel e o futuro de sua profissão, em uma

sociedade em que afloram outros espaços de conhecimentos de

aprendizagem, fora do lócus escolar.

Mesmo o professor preparado para utilizar o computador

para a construção do conhecimento é obrigado a questionar-

se constantemente, pois com freqüência se vê diante de um

equipamento cujos recursos não consegue dominar em sua

totalidade. Além disso, precisa compreender e investigar

os temas ou questões que surgem no contexto e que se

transformam em desafios para sua prática – uma vez que nem

sempre são de seu pleno domínio, tanto no que diz respeito

ao conteúdo quanto à estrutura.

Aprender no contexto digital, inserido em uma cultura

de rede na qual os sujeitos estão comprometidos com sua

própria formação e a de seus parceiros, parece ser um dos

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desafios lançados à educação e de certa forma uma nova

linguagem na atividade do sujeito.

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CONCLUSÃO

Escrever sobre este século, já que estamos nele,

poderá suscitar tantas outras interpretações ou ainda

“soar” como um tom atrativo e provocador. Portanto, é

oportuno lembrar que, no mundo contemporâneo, nos

defrontamos com uma grande diversidade de meios e recursos

para a manipulação de opiniões individuais ou de grupos.

Também vemos originarem-se padrões de crenças e

comportamentos, acelerados pela globalização.

Em face disso, no âmbito educacional, embora os

sistemas escolares tendam a privilegiar o acesso ao

conhecimento, é fundamental que a educação seja assumida

como um todo e que nenhuma das potencialidades de cada

indivíduo seja negligenciada. Até mesmo pela principal

característica do ser humano ser a pluralidade e não a

uniformidade.

As Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

estabelecidas na lei nº9.394/96(LDB), refletem uma

concepção democrática da educação escolar.

Um ponto relevante, que transpassa na reflexão do

ensino é a importância da análise psicopedagógica

criteriosa de cada situação concreta de ensino-aprendizagem

na realidade da escola, mesmo que o nosso sistema escolar

esteja em constante dependência, ainda por muitos anos, de

auxílios e serviços educacionais escolares especializados

para atender a alunos que apresentem dificuldades ou

necessidades comuns ou especiais.

Por fim, reiterando na convicção de que a sede de

perguntar , questionar, querer saber o porquê e buscar

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caminhos, é uma qualidade que não se pode deixar esmorecer,

pois o esmorecimento de tais qualidades seria deixar

reforçar uma educação compensatória.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO 1 14

APRENDIZAGEM E PSICOPEDAGOGIA: ASPECTOS 14

LINGÜÍSTICOS

CAPÍTULO 2 27

DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA 27

NO CONTEXTO SOCIAL INFANTIL

2.1 LUDICIDADE COMO ESTÍMULO AO APREN- 40

DIZADO

CAPÍTULO 3 42

A INFORMÁTICA NA LINGUAGEM DO ENSINO 42

CONCLUSÃO 53

BIBLIOGRAFIA 55

ÍNDICE 58

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “lato Sensu”

Título da monografia: Dificuldades escolares relacionadas à

leitura e escrita.

Avaliado por:__________________________________________

_____________,_____de_____________de_____

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