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Anais do III Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí: História e Diversidade Cultural. Textos Completos.
Realização Curso de História – ISSN 2178-1281
PREVESTI:UNIVERSO SIMBÓLICO DE REPRESENTAÇÕES DE INSERÇÃO
UNIVERSITÁRIA E DE MERCADO DE TRABALHO PARA JOVENS NEGROS E
CARENTES DA CIDADE DE ITUIUTABA-MG
Marivania Xavier Cavalcanti
Universidade Federal de São João del Rei [email protected]
Jaqueline Calixto
FACIP _UFU Campos do Pontal
Resumo: Esta pesquisa tem como tema o curso Pré-vestibular para negros e carentes o
PREVESTI da cidade de Ituiutaba-MG. Abordando os universos simbólicos de
autorrealização a partir das visões representativas dos alunos ingressantes do ano de 2012.
Com o objetivo de tentar analisar, que tipos de representações levam o aluno a querer fazer
parte do curso PREVESTI? Quais são os seus “sonhos” e “desejos” diante das expectativas
de inserção universitária e no mercado de trabalho? È possível perceber desejos de mudanças
e empreendedorismo nas falas dos alunos em relação ao PREVESTI? Ha relevância no
PREVESTI como ação de mobilidade social e combate a discriminação racial? Objetivando
ter uma visão critica e mais abrangente, utilizamos como instrumento de coleta dos dados
apresentados neste trabalho o questionário e entrevistas em busca de pistas que validam nossa
argumentação. O questionário contou com quatorze questões, sendo que seis eram de
múltiplas escolhas e oito subjetivas, as quais buscam evidenciar a visão dos alunos quanto à
carreira e perspectivas de projeto de vida para o futuro. Pelos depoimentos podemos perceber
um grande universo simbólico de representatividade social que variam desde as escolhas
profissionais, visões de bem estar e empreendimentos futuros que validam a expectativa da
inserção mediante a conjuntura de fazer parte do PREVESTI .
Palavras-chaves: PREVESTI, inserção universitária, mobilidade social,projeto de
vida,empreendedorismo
1 – INTRODUÇÃO
Os cursos Pré-vestibulares para negros e carentes vem crescendo no universo
educacional, dentro da proposta de políticas publicas de ações afirmativas. As ações
afirmativas são ações que tentam de forma diferenciada tratar desigualmente pessoas de
grupos oriundos de discriminações e estrato sociais baixo, oferecendo oportunidades já
encontradas naturalmente por outros grupos que não são discriminados. Segundo JR (2002) o
principio da igualdade é totalmente elevado quando coloca todos os membros de determinada
sociedade na condição de participar da competição pela vida, ou pela conquista do que é
vitalmente mais significativo, a partir de posições iguais.
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Pelo exposto é possível perceber que o PREVESTI, tenta dentro de uma política de
discriminação positiva1, colocar a pequena parcela assistida por ele, a um nível similar de
competição ao daqueles que sempre se beneficiaram de sua exclusão.
Varias pesquisas como a da pesquisadora Rosemberg (1998), comprovam que o negro
e pobre são os maiores prejudicados na obtenção de direitos engendrados pela sociedade e um
deles é o direito a uma educação de qualidade. Seus direitos são sempre formais e não de fato
como deveria ser. Sua educação precária coloca-os em desvantagens frente ao mercado de
trabalho e posteriormente dificulta seu processo de afirmação e elevação de sua condição
precária.
Essa desigualdade diante de um sistema escolar de qualidade duvidosa é
vista como uma depreciação dos grupos étnicos de origem africana e
como uma forma de injustiça, na medida em que deixa as crianças
negras se voltarem não necessariamente segregadas, mas simplesmente
eficaz ou menos adaptada às suas dificuldades específicas, o que implica
para essas crianças, um futuro mais difícil, com menores chances de
ascensão social e de acesso a melhores cargos. (D’ADESKY, p.181,
2001)
Notadamente essas exclusões podem ser diminuídas pelo fomento de políticas públicas
sérias que abarquem as populações desfavorecidas e discriminadas com projetos que
estimulem sua afirmação e integração na sociedade, princípios básicos da cidadania. Só que a
“vigência da cidadania ativa requer, especialmente num país como o nosso a consciência clara
sobre o papel da educação” (BENEVIDES, p.156, 1998). Consciência que começa a ser
observada pelas ações empreendidas por governos recentes do país, mas e parcelas da
sociedade que incentivam projetos educacionais como continuidade do processo educacional
como o PREVESTI.
Nessa perspectiva de mudanças, o PREVESTI procura imbuir nesses alunos, valores
que os permitam a serem incentivadores de sua própria transformação, fornecendo
ferramentas que o subsidiem na convicção de sua capacidade.
O fomento de valores é cerceado por eixos que permeia a educação empreendedora,
eixos embasados pelo alicerce principal que é o conhecimento de um fazer que perceba as
diferenças e as necessidades desses educando, permitindo os revelar frente a perspectivas de
1 Discriminação Positiva “reverse discrimination”: consiste em dar tratamento preferencial a um grupo
historicamente discriminado, de modo a inseri-lo no “mainstream”, impedindo assim que o principio da
igualdade formal, expresso em leis neutras que não levem em consideração os fatores de natureza cultural e
histórica, funcione na prática como mecanismo perpetuador da desigualdade. GOMES (2001).
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futuros através do desenvolvimento de capacidades e habilidades que o universo do mercado
de trabalho espera de um bom profissional.
Este será o ponto central desta pesquisa, tentar analisar, como percebe tais
perspectivas nos alunos Prevestianos, que tipos de representações levam o aluno a procurar o
PREVESTI? Quais são os seus “sonhos” e “desejos” diante das expectativas de inserção no
mercado de trabalho? È possível perceber desejo de mudanças e empreendedorismo nas falas
dos alunos em relação ao PREVESTI?
O curso conta com sessenta e três alunos divididos em duas turmas que recebem o nome
de personalidades ícones do Movimento Negro do Mundo inteiro: Nelson Mandela e Zumbi
dos Palmares. Estes ícones da luta antirracista personalizam o material pedagógico do (a)s
alunos (as). Dos sessenta e três alunos quarenta e nove estavam presentes e participaram da
pesquisa, quatorze não estava presente no dia, os quais justificaram ausência junto à
coordenadoria do projeto.
Objetivando ter uma visão critica e mais abrangente, utilizamos como instrumento de
coleta dos dados apresentados neste trabalho o questionário e entrevistas em busca de pistas
que validam nossa argumentação. O questionário contou com quatorze questões, sendo que
seis eram de múltiplas escolhas e oito subjetivas, as quais buscam evidenciar a visão dos
alunos quanto à carreira e perspectivas de projeto de vida para o futuro.
Questões relacionadas à pertença sócio-racial não foram feitas no instrumento visto que,
cor e condição social por serem estes critérios de seletividade para ingressaram ao curso.
Assim sendo, considero como pertencentes à raça negra ou pobre o (a)s Prevestiano (a)s
pesquisados.
Além do uso do questionário foi realizado uma análise documental do Estatuto, Lista de
presença e Leis de criação.
2 – PREVESTI – o que é?
As grandes transformações do mundo globalizado acabam por exigir um profissional
cada vez mais qualificado, capaz de atender as demandas do mercado de trabalho e ainda ser
criativo inteligente e visionário na arte de enxergar soluções imediatas e também a médio e
longo prazo. Mas para garantia de tantas qualidades, seu sucesso depende de sua formação
escolar que deve ser alicerçada por conhecimentos e capacidades que o permitam orientar-se
em meio a essas transformações modificando-as e permitindo-se ser modificado na medida
em que as mesmas provoquem sua inserção, recuperando seu significado pessoal e social.
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Perpassando também pela forma como utilizara os avanços tecnológicos que o progresso tem
proporcionado em uma velocidade constante. Diante dessas expectativas de formação para o
trabalho, busca da qualidade profissional, entendimento das novas tecnologias, e de atender a
demanda pela busca á Universidade, cresce em todo o país, os cursos Pré-vestibulares como
um espaço subliminar de formação instrumental que oferece passagem a um curso
universitário seja particular ou pública.
Observa-se, no entanto, que a invasão dos cursos Pré-vestibulares, acaba se tornando
privilégio daqueles que podem pagar, alimentando ainda mais o caráter seletivo do ensino
superior, pois a classe majoritária da população, ou seja, a classe negra e pobre ainda continua
fora do mercado de trabalho e sem chances de concorrer de forma igualitária à vaga nas
universidades e de sobreviver às incertezas e medos do presente e futuro. Com base a
combater essa exclusão e intensificar oportunidades, surgem políticas públicas definidas como
ações afirmativas com o intuito de assegurar a presença de segmentos da população ausentes
do processo universitário, garantindo a estes não só oportunidades justas, mas igualdade de
condições através do mérito da qualificação a concorrerem de igual para igual. Segundo
Gomes (2001),as ações afirmativas são políticas públicas voltadas à concretização do
principio constitucional da igualdade material e à neutralização e combate dos efeitos de
discriminação e preconceito. Tendo como meta, também o engendramento de transformações
culturais e sociais relevantes, inculcando nos atores sociais a utilidade e observância dos
princípios do pluralismo e da diversidade nas mais diversas esferas do convívio humano.
Assim, alicerçados por esse viés conceitual e pela luta do movimento negro, iniciativas
não governamentais com intenção de promover e apoiar negros e pobres na universidade
ganham espaços como os cursos PVCN – pré-vestibulares para negros e carentes. O primeiro
surgiu em 1994 com Frei David, que contou com apoio da igreja, contribuições e
organizações locais e de bairros (Telles p.109, 2003). Em Ituiutaba o curso surgiu em 1998,
onde foi nomeado PREVESTI, sob a responsabilidade da Fundação Municipal Zumbi dos
Palmares (FUMZUP), entidade ligada ao movimento negro local. É um curso que conta com a
contribuição de 40,00 (quarenta reais) para manutenção e aquisição de material didático para
manuseio do próprio aluno, sem fins lucrativos. Sua existência e sobrevivência também
contam com a colaboração de recursos de entidades locais, parceiros e prefeitura.
Mas para o movimento negro local, apesar do ganho da concretização do curso,
precisava ainda de outra medida mais intensiva que garantissem a sustentação desse avanço e
garantisse a permanência dos alunos Prevestiano no ensino superior. Assim conseguiram uma
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grande conquista, como podemos perceber no pequeno trecho retirado do estatuto do
PREVESTI: “A Prefeitura Municipal de Ituiutaba concederá, a alunos negros carente do curso
pré-vestibular PREVESTI, que mantém nesta cidade, 10(dez) bolsas de estudo, no valor de
75% (setenta e cinco por cento), com objetivo de ensejar-lhes acesso ao ensino superior”
(Ituiutaba, Decreto Lei nº 3314, de 14 de dezembro de 1998. Estabelece bolsas de estudo.
Ituiutaba, MG).
A inserção de bolsas de estudo ao curso, medida oportuna e importante, oferece aos
alunos garantias da ascensão e permanência no universo universitário e consequentemente a
interiorização da diversidade em espaços até então reservados para poucos. O PREVESTI
iniciou com uma sala, hoje conta com duas salas com cerca de 63 alunos, apresentando uma
proposta pedagógica onde disciplinas específicas que aprimoram o aprendizado e
desenvolvem o intelectual dialogam através da disciplina cidadania e inclusão social como
forma de resistência e reflexão da sua realidade na construção da historicidade do negro no
Brasil como sujeitos refletidos na e da história.
3-– RESULTADOS E DISCUSSÕES
3-1 Perfil do aluno Prevestiano
De acordo com os dados coletados é possível inferir algumas características que compõem
o perfil do (a)s Prevestiano (a)s. Com relação à participação entre homens e mulheres
ingressantes no PREVESTI percebemos que o perfil do aluno Prevestiano é em grande
maioria feminino, que se encontra numa faixa etária de 17 a 20 anos, são egressos de escola
pública estadual que concluíram o ensino médio de 1 a 5 anos. A maioria são trabalhadores
que ganham de 1 a 2 salários mínimos. Conforme demonstram os gráficos abaixo:
GRÁFICO - 1 Percentual de alunos de acordo com o sexo:
0
10
20
30
40
50
60
total-49 alunos
21 homens
28 mulheres
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GRÁFICO - 2 Distribuições de alunos por idade e sexo:
GRÁFICO - 3 Distribuição de acordo com tempo de conclusão do Ensino Médio:
GRÁFICO - 4 Percentual de alunos de acordo com o tipo de escola que concluíram o
Ensino Médio:
GRÁFICO -5 Percentual de alunos que exercem e não exercem atividades remuneradas
e médias salariais
* 31 alunos que exercem atividades remuneradas
02468
1012
21
homens
17 a 20 anos
20 a 35 anos
35 ou mais
0
2
4
6
8
10
12
14
16
28
mulheres
17 a 20 anos
20 a 35 anos
35 ou mais
0
10
20
30
Mulheres
1 a 5 anos -26
alunas
5 a 10 anos-2
alunas
10 ou mais anos
- 0 alunas
0
10
20
30
40
50
49
alunos
32 E.estadual
17-E.municipal
0-particular
0
20
40
60
80
49
alunos
31 trabalham
18 não trabalham
05
1015
2025
30
28 alunos ganhamde 1 a 2 salários
3 alunos ganham de3 a 4 salários
0 alunos ganham de5 ou mais salários
0
5
10
15
20
Homens
1 a 5 anos - 16
alunos
5 a 10 anos - 2
alunos
10 ou mais anos
- 3 alunos
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Como era de se esperar, ao analisarmos o perfil do estudante Prevestiano observamos
que estes, são alunos trabalhadores ainda jovens que ajudam no sustento do lar, o que dificulta
a continuidade de seus estudos com qualidade. Entretanto, nos preocupa essa constatação,
visto que, nessa faixa etária esses jovens deveriam estar nas universidades aprofundando seus
conhecimentos em busca da sua profissionalização acadêmica, para enfrentamento do
mercado de trabalho com qualidade. Mas, apesar das dificuldades enfrentadas por estes
alunos, percebemos neles uma busca pelos seus ideais, ante a possibilidade da conquista do
diploma universitário promovido pelo acesso ao PREVESTI.
Outro fato que nos chama a atenção é perceber que as diferenças e as desigualdades
sociais atingem em maior número o grupo de mulheres. Apesar da emancipação da mulher na
luta pelo poder e reconhecimento, notamos que os gráficos acima demonstram de uma
maneira geral que as mulheres negras estão em desvantagens em relação ao homem negro,
seja pelo acesso à educação ou pelo ganho salarial.
Essa diferença ainda são resquícios dos estereótipos fortemente vinculados ainda pela
ideologia machista que ainda se encontra de tal forma naturalizada em nossa cultura. O que
dificulta perceber o importante papel da mulher na sociedade. Verifica-se então que a mulher
negra “representa um acúmulo de lutas, indignação, avanços e um conflito constante entre a
negação e a afirmação de suas origens étnicos raciais. De certa forma a mulher em geral
“representa também suportar diferentes tipos de discriminação”(Gomes ,p.115,1995).
Por outro lado, percebemos transformações ocorrendo, vemos mulheres
desempenhando funções antes ocupadas apenas por homens, mas ainda há uma forte
desproporcionalidade na divisão de poder e de ganhos, que quase sempre desfavorece as
mulheres como demonstra o gráfico 5.
3.2 Visão representativa do PREVESTI
É relevante observar que o fazer parte do PREVESTI, evoca a esses jovens,
representações positivas de esperança, configuradas por eles como: “porta aberta para a
universidade”, ”estabilidade financeira”, ”qualidade de conhecimento”, ”oportunidades de
mudanças”, ”garantia de futuro melhor”, ”aperfeiçoamento”, ”qualificação de pessoas negras
e carentes”. È possível perceber por estas configurações a busca pela reestruturação dentro da
sociedade, pois buscam no PREVESTI ferramentas de suporte, que os fortaleçam na quebra
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de barreiras preestabelecidas pelas divisões sociais e raciais. E que deixa claro que a escola
com suas propostas pedagógicas desvinculadas da realidade a que vivem não os habilitam
para atender suas demandas e ao mesmo tempo sobressair da sua condição de
desfavorecimento. Segundo Cavalleiro (2001), a escola veicula uma cultura de que crianças e
jovens negros não serão bem-sucedidos, desenvolvendo neles uma consciência fatalista de
fracasso, pois não validam suas experiências e sua história no cotidiano escolar. O que
também foi constatado por Rosemberg (1998), que diz que existe uma escola diferente para
pobre que:
Em vez de disporem de melhores recursos, essas escolas apresentam-se
exatamente ao contrário: os alunos carentes estudam em escolas onde a
jornada é mais curta, o número de turno é maior, a rotatividade do
professor é mais frequente, as possibilidades de sucesso, enfim menores.
Não são simplesmente, como alega a classificação da Secretaria de
Educação, escolas de carentes, muito menos escolas para carentes: são
escolas carentes. (FÚLVIA ROSENBERG, p.81, 1988 apud LIA
ROSENBERG (1981)).
Essa dimensão representativa do PREVESTI, que inclui a reestruturação do ser
enquanto sujeito de valores e de ser capaz diferentemente do que acontece nas escolas,
devolve a estes alunos uma perspectiva significativa na sua escolha profissional ou formativa,
provocando visões incentivadoras de que a concretização de mudanças vem também a partir
do nosso entendimento dessa necessidade. Visão que podemos observar na resposta de uma
das alunas entrevistadas. “O que me levou a procurar (o PREVESTI), foi à vontade de
melhorar de vida. Não ser igual aos meus pais que não teve chance de estudar. Eu tenho,
porque não estudar?”(R. P.20 anos)
Ou mesmo a necessidade de fazer a diferença, onde a inovação aliada à pesquisa são
quesitos de sucesso no universo de transformações, como pondera a aluna K.X (21) anos “Já
pensei em inventar algum tipo de remédio para acabar com o efeito das drogas”.
Por outro lado, estes universos simbólicos vinculados ao PREVESTI, evidenciam o
seu diferencial de educação que empreende:
O diferencial do PVNC em relação às outras propostas educacionais,
provavelmente, é destacar, nas suas ações, a implementação de uma
representação social positiva de negros e carentes, até então inserida
numa pedagogia do fracasso nas escolas formais. O conteúdo simbólico
do PVNC, para esses sujeitos/agentes, produz novas percepções de si
mesmo, assim como os auxilia na avaliação de suas trajetórias de vida e
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no seu desempenho escolar. (NÉLIA REGINA DOS SANTOS, p-6,
TESE MESTRADO).
É evidente que este diferencial por si só não confere a estes alunos ser
empreendedores, mas já é o pontapé inicial, da provocação empreendedora existente nesses
alunos. Todos têm sonho e desejo, mas falta a ferramenta principal para legitimá-los.
Ferramenta esta, que passa por uma boa educação, pois supõe que esta qualificação
educacional já esta integrada a características significativas do que se espera de um bom
profissional no mercado de trabalho: autoconceito, autoconfiança, visão destemida do futuro,
inovação, potencial criativo, e conhecimento. Estes significados socialmente objetivados ou
subjetivados pelo mundo do trabalho na concepção do Prevestiano podem vir a ser
cristalizado por meio do PREVESTI, o que se torna fundamental para o planejamento de suas
ações e dessa forma poderão colocá-los em prática.
3.3 - Perspectiva de inserção sócio profissional do Prevestianos: a busca pela
carreira
Quanto à inserção sócio profissional é relevante observar as escolhas apresentadas
pelos alunos Prevestianos. Analisando suas respostas, percebemos que dos quarenta e nove
entrevistados, apenas seis apresentam falta de expectativas quanto ao campo profissional.
As escolhas desses alunos passam por áreas das ciências exatas, humanas e biológicas,
conforme apresenta o gráfico abaixo:
A classificação por área ficou assim distribuída:
0
5
10
15
20
área de
escolha
13 Exatas
20 Humanas
10 Biológicas
6 não sabem
0
2
4
6
8
10
Exatas
10-engenharia
2-quimica
1-agronomia
0
1
2
3
4
5
Biológicas
5-pscicologia
3-biologia
1-veterinário
1-odontologia
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As carreiras enumeradas pelos alunos como referência de projeto de afirmação
profissional e social tem concentração maior nas áreas de humanas, mas o curioso é que se
formos somar as carreiras escolhidas, notaremos que um grande percentual dos alunos
direcionou sua possível formação acadêmica às consideradas de grande ascensão no mercado
de trabalho como: Engenharia, Direito, administração, química, agronomia, biologia,
veterinária. Estas escolhas podem estar associadas a várias concepções de sucesso, as quais
podem ser: bem estar, bens materiais, dimensão global da inserção, afirmação, estabilidade,
empreendedorismo, educacional ou necessidade de serem aceitos através do exercício de
funções importantes ou empregos considerados bem remunerados. Tal qual evidencia a fala
do aluno V.P.(25 anos) ao relatar seu projeto de vida “Penso em fazer uma Faculdade de
Direito e sonho em dar o melhor para minha filha”. Cursar uma faculdade de Direito pode
significar para estes alunos, um maior conhecimento do que são seus direitos e fazer valer no
futuro. Vivem substancialmente o direito de ser cidadãos, sua vida cotidiana mostra como é a
realidade efetiva da prática social dos direitos normatizados na Constituição, “segregada”.
Entretanto as escolhas nos revelam que esses alunos já conhecem a dura realidade que
os espera caso não tenham oportunidades como a oferecida pelo PREVESTI, pois percebem
que não tem qualificação suficiente para competir no mercado de trabalho e sua condição
social e etnia são alvos de preconceito e discriminação constantes e uma boa carreira por um
lado, pode significar ruptura da estrutura social a qual vive ou afirmação no mercado de
trabalho, pois sabem que pelas condições de pertença e situação econômica, suas chances de
sucesso são bem menores do que de outros grupos sociais. Como analisa Rosemberg.
0
2
4
6
8
10
Humanas
9 direito
6 administração
1 serv.social
2 pedagogia
1 com.social
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Os nãos brancos estão expostos à discriminação no mercado de trabalho
e, de um modo geral, enfrentam uma estrutura de oportunidades sociais
que os colocam em desvantagens relativamente ao grupo branco (...).
Portanto, sabemos que as chances de vida inferiores a que pretos e
pardos estão expostos, em decorrência do racismo passado e presente,
começam no momento da concepção e acompanham as pessoas ao longo
de todo o seu ciclo de vida. (FULVIA ROSEMBERG, 1998, apud
HASENBALG, 1992, p.12).
Nesse contexto indiferente à dignidade humana, O PREVESTI, representa para esses
egressos um simbolismo de plenitude humana, o encontro do ser com o querer ser, a garantia
de conhecimento e qualificação, pois ter uma profissão é superar a pobreza e a exclusão
social.
4– CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Por intermédio das relações coletivas vivenciadas pelo Prevestiano no espaço do
PREVESTI, observa-se que estes criam um universo simbólico de intenções, criada a partir de
sua relação vivencial dos valores construído socialmente como estrutura de sucesso e poder.
Tal fato acontece porque o PREVESTI configura um espaço de significações positivas, para
grupos discriminados pelo fator social e racial.
Nessa conjectura, o fator preponderante para a sedimentação desse simbolismo se
passa pelo viés da educação oferecida pelo curso como reforço educacional, pois para uns a
inserção pode vir pela via universidade ou pela forma de estabilidade mediante aprovação em
concurso público.
Por outro aspecto, os depoimentos nos permitiram observar aspectos relevantes da
cultura empreendedora dentro do PREVESTI, dentre eles a contribuição de êxito dos alunos
oriundos dos estratos sociais e discriminatórios. Só o fato de eles estarem ali, suscitam
significativos sentidos de mudanças e transformações: desejam ser ardentemente alguma coisa
(sonho), querer algo e saber o que é necessário pra chegar lá (ferramentas), o caminho que
liga o ser ao querer ser (desejo), autorrealização (carreira profissional), conhecimento
(inovação). Pelo depoimento da aluna R. P.C (22 anos) pode-se perceber esta construção:
Meu projeto de vida é ter uma empresa no futuro. Já pensei em como
realizá-lo, 1ª estudar no PREVESTI para passar em Engenharia de
produção, 2º fazer uma Pós-graduação em segurança do trabalho, 3º
montar esta empresa.
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Compreender a importância desse desejo de reconhecimento permite entender que o
Prevestiano reclama não apenas o reconhecimento de sua dignidade, mas também do status do
seu grupo étnico ou social. “Essas duas formas de reconhecimento estão estreitamente ligadas,
pois o reconhecimento estruturado na ideia de inferioridade relativa de uma raça, cultura ou
origem étnica é, ostensivamente, um não reconhecimento ou um reconhecimento inadequado
da pessoa ou do grupo a que este pertence”. (D’Adesky, p.193, 2001).
De modo estruturado o fazer do PREVESTI ativa o sentimento de pertença e utiliza
como instrumentos de recuo das desigualdades tão visíveis em nossa sociedade, os ideais
empreendedores, aumentando a oportunidade desses alunos a obterem empregos e posições de
prestígio alterando o quadro de mobilidade social.
Há, comumente, exemplos suficientes de brilhantes vitórias sobre as
barreiras de cor para garantir as ilusões otimistas de que elas não
existem. Casos exemplares de pessoas de cor em posições de dignidade
invejável estão sempre à disposição. (CARLOS A. HASENBALG, 1979,
p.197-apud OLIVER C. Cox, Caste, Clas and Race).
O que importa, por fim, é se despojar das falsas ilusões otimistas e buscar a plena
igualdade humana.
Outro aspecto relevante a pesquisar, seria verificar quantos alunos passaram pelo
PREVESTI, do quantitativo qual seria a percentagem que conseguiu acesso universitário?
Como se apresentam hoje os ex-Prevestianos frente ao mercado de trabalho? Houve
crescimento pessoal e social? Qual seria o relato dos professores em relação aos ex-
Prevestianos.
REFERÊNCIAS
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