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DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM- TDAH (Transtorno de déficit de atenção/Hiperatividade): Um olhar pedagógico Dilza Maria. G de Vasconcelos 1 Ana Márcia Luna Monteiro 2 RESUMO: O TDAH (Transtorno de déficit de Atenção por Hiperatividade) gira em torno da desatenção, a agitação ou hiperatividade e a impulsividade. Trata- se de uma realidade presente nas escolas. O objetivo deste trabalho foi verificar o que as professoras sabem sobre o tema TDAH, como lidam com o problema e a partir deste entendimento lançar sugestões. Na pesquisa, os instrumentos utilizados foram entrevistas e observações . A partir da análise dos resultados, foram sugeridas algumas medidas de orientação aos docentes que convivem com a realidade de orientar crianças com TDAH em sala de aula. Palavras-chave: TDAH (Transtorno de déficit de Atenção por Hiperatividade); Dificuldade de Aprendizagem; Ensino Fundamental. INTRODUÇÃO: A partir de uma observação realizada dentro do meu trabalho (acompanhamento pedagógico) com crianças que possuem dificuldade de aprendizagem , o transtorno de déficit de atenção /hiperatividade, TDAH – veio, mais particularmente, chamar-me atenção, por se tratar de um problema desafiador e que sem dúvida, mexe com a vida escolar, social e futuramente laboral de crianças e adolescentes. Mais conhecido como TDAH 3 o transtorno, é um problema de saúde mental que possui três características básicas: a desatenção, a agitação ou hiperatividade e a impulsividade (ROHDE,1999). Quanto mais precoce for o diagnóstico, menores as chances da vida da criança ou do, adolescente ser afetada e consequentemente, sua vida adulta. Também, 1 Concluinte de Pedagogia – Centro de Educação – UFPE. [email protected] 2 Professora do Departamento de Psicologia e Orientação Educacionais – Centro de Educação – UFPE. [email protected] 3 A inicial TDAH será utilizada para Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade

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  • DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM- TDAH (Transtorno de dficit de ateno/Hiperatividade): Um olhar pedaggico

    Dilza Maria. G de Vasconcelos1

    Ana Mrcia Luna Monteiro2

    RESUMO: O TDAH (Transtorno de dficit de Ateno por Hiperatividade) gira em torno da desateno, a agitao ou hiperatividade e a impulsividade. Trata-se de uma realidade presente nas escolas. O objetivo deste trabalho foi verificar o que as professoras sabem sobre o tema TDAH, como lidam com o problema e a partir deste entendimento lanar sugestes. Na pesquisa, os instrumentos utilizados foram entrevistas e observaes . A partir da anlise dos resultados, foram sugeridas algumas medidas de orientao aos docentes que convivem com a realidade de orientar crianas com TDAH em sala de aula.

    Palavras-chave: TDAH (Transtorno de dficit de Ateno por Hiperatividade); Dificuldade de Aprendizagem; Ensino Fundamental.

    INTRODUO:

    A partir de uma observao realizada dentro do meu trabalho (acompanhamento pedaggico) com crianas que possuem dificuldade de aprendizagem , o transtorno de dficit de ateno /hiperatividade, TDAH veio, mais particularmente, chamar-me ateno, por se tratar de um problema desafiador e que sem dvida, mexe com a vida escolar, social e futuramente laboral de crianas e adolescentes. Mais conhecido como TDAH 3o transtorno, um problema de sade mental que possui trs caractersticas bsicas: a desateno, a agitao ou hiperatividade e a impulsividade (ROHDE,1999). Quanto mais precoce for o diagnstico, menores as chances da vida da criana ou do, adolescente ser afetada e consequentemente, sua vida adulta. Tambm, 1 Concluinte de Pedagogia Centro de Educao UFPE. [email protected]

    2 Professora do Departamento de Psicologia e Orientao Educacionais Centro de Educao UFPE.

    [email protected] 3 A inicial TDAH ser utilizada para Transtorno de Dficit de Ateno por Hiperatividade

  • se no diagnosticadas precocemente por profissionais da rea de sade mental (mdicos e psiclogos), estas crianas e adolescentes podero ter muitas dificuldades em vrias etapas de suas vidas. A necessidade de averiguar sobre o olhar pedaggico dispensado a crianas com TDAH- veio despertar minha curiosidade e encheu de motivao meu trabalho. Sabemos que vrios passos foram dados desde o surgimento dos primeiros conceitos sobre as DA 4, mas que no obstante, se comtemplados com cuidado, constata-se uma importante lacuna dessa problemtica no trato, principalmente pedaggico, sobretudo dentro de sala de aula. Medidas simples, que envolvam a melhoria na aprendizagem, muitas vezes por falta de conhecimento e informao, no so utilizadas.

    um caminho novo a se percorrer, principalmente pelas escolas e pelos professores, por se tratar de um tema complexo e controverso. Alguns autores discutem o assunto: Rohde (1999), Pan (1992), Sisto (2006),Correia (s.d), Fonseca (1995), Mattos (2005), Bromberg (2009), etc. Estudos recentes tm demonstrado que de 3 a 6% da populao de crianas de 7 a 14 anos apresentam TDAH (ROHDE E BENCZIK, 1999). um nmero considervel em se tratando de populao mundial. Entretanto, no mbito da pedagogia, ainda h muito a avanar. Sabemos que a sala de aula o ambiente de contato intenso e dirio com a criana e com o adolescente. neste espao que o professor encontra a possibilidade de observao nas mais diversas situaes, que so indicadores necessrios para levantar suspeitas sobre componentes comportamentais inadequados que prejudicam ou comprometem a aprendizagem e o rendimento escolar das crianas. Encaminhar coordeno tais suspeitas o primeiro e decisivo passo e de grande contribuio para que o aluno receba uma ajuda profissional. Se o diagnstico vier precocemente, melhor ainda ser. No cabe ao pedagogo tarefas como medicar ou acompanhar teraputicamente, entretanto, cabe ao professor possibilitar ao aluno a condio de seu pleno desenvolvimento. Portanto, explorar o tema sobre TDAH e suas implicaes na aprendizagem uma necessidade no meio pedaggico. O Olhar do professor auxiliar no apenas o diagnstico da criana, mas principalmente o processo ensino-aprendizagem 4 A inicial D.A ser utilizada para Dificuldades de Aprendizagem

  • com medidas simples e que podero fazer a diferena na vida escolar do aluno com TDAH.

    1.0 DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

    Primeiramente, falou-se em DA no comeo dos anos 60, para descrever vrios problemas relacionados a incapacidade de aprender e que consequentemente levava ao insucesso escolar. Surgiram, desta maneira, vrios termos para designar os problemas na aprendizagem como disturbios de aprendizagem psiconeurolgicos, dificuldades perceptivas, dificuldades de linguagem, dislexia entre outros, at chegar ao termo mais usado e aceito atualmente como Dificuldade de Aprendizagem (D.A).

    A definio atual, aceita internacionalmente sobre as DA, veio elaborada pelo National Joint Committee For Learning Desabilities (NJCLD, 1994), depois de muitas controvrsias e discusses devido a falta de consenso sobre as definies, mas que encontrou uma resistncia menor, depois de ser aprimorada algumas vezes, conforme citada por Smith et al. (1997):

    Dificuldades de Aprendizagem um termo geral que se refere a um grupo heterogneo de desordens, manifestadas por dificuldades significativas na aquisio e uso da audio, fala, leitura, escrita, raciocnio, ou habilidades matemticas. Estas desordens so intrnsecas ao indivduo, presumivelmente devem-se a disfunes do sistema nervoso central e podem ocorrer ao longo da vida. Problemas na auto-regulao corporal, percepo social podem existir com as dificuldades de aprendizagem mas no constituem por eles prprios as dificuldades de aprendizagem. Embora as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras condies desvantajosas (handicapping) (por exemplo, dificuldades sensoriais, deficincia mental, distrbios emocionais srios) ou com influencias extrnsecas (tais como diferenas culturais, instruo insuficiente ou inapropriada), elas no so o resultado dessas condies ou influncias. (NJCLD, Smith et. Al, 1997).

  • Dentro dessa perspectiva heterognea (da diversidade de conceitos sobre as D.A) que encontraremos um dos transtornos responsveis pelas dificuldades de aprendizagem: o TDAH e toda a sua complexibilidade.

    As primeiras suspeitas sobre TDAH surgiram em 1902 reveladas pelo mdico ingls George Still. Ele observou um conjunto de alteraes no comportamento das crianas que no poderiam, segundo ele, ser explicadas simplesmente por falhas ambientais, mas por um processo biolgico desconhecido. Tal suspeita voltou a ganhar fora quando um surto de encefalite epidmica acometeu adultos e crianas . As sequelas nos adultos era de um quadro parkinsoniano (doena de parkinson) e nas crianas um distrbio ou dficit na ateno com ou sem hiperatividade.

    Surge, desta forma, o nome TDAH, que vai girar em torno da desateno, hiperatividade e impulsividade. Porm, at chegar a este conceito e a definio de um quadro clnico foram vrias a denominaes utilizadas: leso cerebral mnima, disfuno cerebral mnima, sndrome da criana hiperativa, distrbio primrio da ateno e distrbio do dficit de ateno com ou sem hiperatividade.

    2.0 MAS AFINAL O QUE TDAH?

    Alguns pesquisadores, como Russel Barkley da Universidade de Massachusetts, acreditam que o TDAH caracteriza-se por um problema em determinadas reas do crebro responsveis em comandar uma espcie de freio de inibio(Rohde, p.54, 1999). A disfuno seria numa rea cerebral conhecida com o regio orbital frontal. Segundo Rohde (1999), a maioria das pesquisas demonstram que substncias encontradas no crebro chamadas de neurotransmissores que passam a informao esto deficitrios nesta rea. O diagnstico em crianas pequenas muito minuncioso, porm, h como observar algumas caractersticas presentes com mais frequncia em pessoas com TDAH: erros por descuido, desateno, desorganizao, falar compulsivamente ou ainda estar sempre mexendo os ps ou as mos. A observao desses sintomas pode comear em casa e posteriormente ser aprofundada na escola. Segundo Rohde (1999), o diagnstico de TDAH puramente clnico no qual o

  • diagnstico definitivo s pode ser dado por um profissional da rea de sade mental. Uma das etapas do diagnstico um questionrio denominado SNAP-IV e foi construdo a partir dos sintomas do manual de diagnstico e estatstica IV Edio (DSM-IV) da Associao Americana Psiquitrica. O questionrio SNAP-IV til para analisar o primeiro dos critrios A (sintomas), porm, existem outros critrios que tambm so utilizados. Importante: para que o aluno com TDAH seja diagnosticado como tal, deve apresentar sintomas em mais de um ambiente. O TDAH pode estar predominantemente em estado de desateno (seis ou mais de seis sintomas de desateno), predominantemente hiperativo impulsivo (seis ou mais sintomas de hiperatividade e impulsividade) e do tipo combinado (seis ou mais sintomas de hiperatividade e impulsividade por um perodo mnimo de seis meses).

    2.2- HEREDITARIEDADE

    Rohde (1999) afirma que esta uma rea crescente na pesquisa, porm estudos tm demonstrado que 25 % dos famliares de pessoas com TDAH tambm tm o transtorno. Haveria uma vulnerabilidade maior ou tendncia para o transtorno atravs da hereditariedade, porm, ainda h poucos estudos a respeito sobre essa vulnerabilidade. Alguns estudos sugerem que mulheres que tenham tido problemas durante a gravidez ou no parto apresentariam uma probabilidade maior em ter crianas com TDAH assim como a alimentao, afirma Rohde (1999): o excesso de acares e conservantes ou ainda deficincia de hormnios tireoidianos poderiam estar associados ao desenvolvimento do TDAH. Contudo, o modelo mais aceito hoje de uma vulnerabilidade herdada que pode manisfestar-se mais bruscamente ou no, dependendo dos fatores ambientais que envolvem a criana.

    2.3- TRATAMENTO

    A maioria dos estudos diz respeito ao transtorno em crianas, mas sabe-se porm, que no adulto o transtorno persiste em aproximadamente 50 a 85% dos casos. O tratamento multimodal, ou seja, no existe uma nica indicao, seja ela medicamentosa, psicoterpica, fonoaudiolgica ou pedaggica.O professor ou a professora, juntamente com o servio de orientao da escola,

  • levantar a suspeita junto aos pais, e estes, devero procurar ajuda de um profissional da rea de sade mental para realizar o diagnstico. Quanto mais precoce for o diagnstico, menores as chances de as comorbidades afetar a vida da criana. Comorbidades por definio uma associao mais do que coincidente entre duas doenas e que ocorrem concomitantemente com o transtorno devendo ser tratadas com a mesma importncia. As mais frequntes so: Transtorno Opositivo Desafiador, Problemas de Aprendizagem, Transtorno de Conduta, Depresso, Ansiedade, Transtorno Bipolar, Sndrome de Tourette (esse ltimo dos 50% que tm TDAH possuem esse diagnstico) ,etc. A inteno aqui no discutir sobre as comorbidades e TDAH, porm discusses mais aprofundadas a respeito das comorbidades podem ser encontradas em Rohde (1999) , Mattos (2005) ou nos sites da referncia bibliogrfica deste trabalho.

    2.4- INCLUSO

    Ao falar em alunos com dificuldades especiais se faz necessrio pensar em incluso. O aluno com TDAH assim como aqueles com deficincias necessitam de um olhar pedaggico especial. Para isso, a LDB (leis de diretrizes e bases-BRASIL, Lei 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996) assegura aos alunos com necessidades especiais o direito a currculos, mtodos, recursos educativos e de organizao, especficos para atender suas necessidades. Mas no apenas a LDB que garante a ateno que o aluno com deficincias necessitam: o estatuto da criana e do adolescente (Lei 8.069) estabelece o direito a pessoas com deficincias em receber educao, preferencialmente na rede regular de ensino. Porm, metodologias, currculos e principalmente avaliaes devem respeitar limitaes especficas, no apenas para crianas com TDAH, mas para todos os alunos que necessitem de ajuda mais elaborada. Alm da avaliao, h de se considerar a discrepncia entre a capacidade real e o resultado que apresentado na escola. Deve-se considerar a impossibilidade de as crianas com TDAH atenderem ao padro temporal que a escola pr-estabelece para o aprendizado, pois como j foi citado anteriormente, o transtorno gira em torno da desateno, agitao (ou hiperatividade) e a impulsividade (ROHDE, 1999).

  • 2.5- O TDAH DA QUESTO

    Segundo Rohde (1999), necessrio um acompanhamento pedaggico, feito pelo professor, que ajude a prevenir lacunas na aprendizagem. Porm, surgem questes como: esto as escolas preparadas para prevenir e detectar tais lacunas? Professores tm tempo hbil em sala de aula para dar uma ateno especial ao aluno com TDAH? As escolas conhecem e possuem metodologias especficas tanto na aplicao dos contedos quanto avaliativas para lanar um olhar especial sobre estes alunos? So questes a serem discutidas e que obviamente no sero todas respondidas neste pequeno trabalho, pois existem muitas lacunas no assunto e no h possibilidade em discut-las de uma s vez. Porm, ressalvo que um passo importante, na direo da compreenso pedaggica da problemtica e que dentre as questes levantadas aqui sero discutidos principalmente a concepo das professoras sobre o problema e como lidam com a situao. Alm disso, sero apontadas algumas sugestes de natureza prtica que contribuam com docentes a lidar com tema TDAH de forma tranquila, de modo a possibilitar o avano de seu aluno.

    PESQUISA: REFERENCIAIS METODOLGICOS

    A pesquisa de ordem qualitativa foi mais apropriada para este trabalho pelo fato de na anlise de dados poder enfatizar particularidades de um fenmeno que os mtodos qualitativos fazem muito bem: mergulhar em singularidades de forma mais profunda. Segundo Minayo (2002) a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das aes e relaes humanas, um lado no perceptvel e no captvel em equaes, mdias e estatsticas (p.22). Assim, a metodologia em questo me permitiu a compreenso de alguns fenmenos dentro do universo de crianas com TDAH e ao mesmo tempo revelou outros que no haviam sido previstos ou antecipados no projeto. Foi possvel confrontar, de forma mais particular universos diferentes e a partir dos resultados tentar compreender como

  • funciona a convivncia em sala de aula entre professores e crianas com TDAH. Um elemento importante neste tipo de anlise o fato de que cada entrevista tomada na sua totalidade, compondo um discurso nico e singular. Cada entrevista importante, nos diz PORTELLI (1997), por ser diferente de todas as outras, e principalmente com novos pontos de vista e realidades novas.

    Investiguei nas escolas de diferentes realidades como se d a relao entre professor e o aluno com TDAH. Os critrios de seleo das escolas foi atravs da acessibilidade sala de alunos com TDAH e sua respectivas professoras. Foi de grande valia para chegar as consideraes finais a observao no participativa assim como as entrevistas semi estruturadas : dois recursos metodolgicos que permitiram um contato muito direto com professor e aluno. Utilizei a ordem de primeiramente realizar a entrevista e posteriormente as observaes. Assim, o contexto de aula tornou-se fundamental para a posterior anlise e confrontamento de realidades, porque segundo Bogdan (1994), a fonte direta de dados o ambiente natural , constituindo o investigador o instrumento principal. Dentro de um roteiro elaborado, a entrevista foi composta de 6 perguntas bsicas e a observao foi simples, de carter descritivo na medida em que busca descrever o comportamento dos fenmenos e usada para identificar e obter informaes sobre as caractersticas de uma determinado problema ou questo (COLLIS E HUSSEY, 2005). O roteiro da observao constava da seguinte ordem: 1- rotina, 2- organizao em sala, 3- a estrutura da sala, 4- comportamento do aluno , 5- comportamento do professor e 6- ateno que dispensada a esse aluno. Os investigadores qualitativos frequentam os locais de estudo porque se preocupam com o contexto(BOGDAN, 1994, p.48). Procurei absorver todas as informaes passadas pelas professoras e registrar cada resposta em sua totalidade , pois segundo BOGDAN (1994, p.48), os dados devem ser analisados em toda sua riqueza, respeitando, tanto quanto possvel a forma como estes foram registrados.

  • PESQUISA: SUJEITOS E CONTEXTOS

    Foram realizadas observaes em trs escolas durante seis dias: uma pblica que chamaremos de PU, uma particular de educao infantil que ser chamada de escola de EI e uma ltima particular estruturada h muito tempo na educao que denominaremos de TR.

    Caracterizao da Escola PU: A escola PU fica num bairro de classe mdia e assiste uma comunidade de moradores que veio das antigas palafitas do bairro do Pina, regio metropolitana do Recife. Funciona com educao infantil e ensino fundamental I nos turnos manh e tarde; noite, atende a EJA (educao de jovens e adultos). A escola trabalha com duas professoras itinerantes: uma para o turno da manh e outra para o turno da tarde. Meu contato foi com a direo da escola e logo me passaram o nome da professora itinerante da manh que conhecedora dos alunos que tm dificuldades de aprendizagem. Por sua vez, a professora itinerante me indicou uma sala com um aluno diagnosticado em TDAH. Nesta escola, as observaes foram feitas numa nica sala em dois dias subsequntes e numa turma com 19 crianas.

    A sala disposta da seguinte maneira: mesinhas com 4 cadeiras da altura das crianas, 6 ventiladores que funcionam, armrios que ficam trancados e uma sala com boa iluminao. A professora no possui auxiliar , portanto, tem que atender a todas as necessidades das crianas dentro e fora da sala de aula como beber gua, ir ao banheiro ou conduzir a turminha biblioteca ou sala de informtica.

    Perfil da professora- A professora da sala observada da escola PU ser chamada de D. Ela tem aproximadamente 20 anos de profisso e demonstrou durante o perodo em que foi observada muita pacincia e cansao. formada em pedagogia pela UPE e tem ps-graduao em psicopedagogia.

    Perfil do aluno- O aluno, conforme mencionado, tem 4 anos de idade e o chamaremos de JE. O diagnstico de TDAH foi dado devido a suspeita diante do seu comportamento inquieto, segundo relato da professora itinerante, que logo aconselhou os pais procurar ajuda. Surgiu uma consulta com um clnico geral e a partir disto um encaminhamento para um neurologista que

  • diagnosticou JE com TDAH. A professora itinerante no soube dizer se a me continua o tratamento. O aluno, segundo a professora de sala de aula, d e sempre deu muito trabalho, desde o ano anterior. Apresenta dificuldade na fala,

    de acordo com o que pode ser observado, e por vezes no se faz entender

    muito bem pela turma. Segundo observaes, impulsivo, bate nos

    colegas e dificilmente para cinco minutos sentado.

    Caracterizao da EI: A escola de EI fica num bairro de classe mdia alta . uma escola pequena da rede particular e tem uma infraestrutura com sala de vdeo, sala para trabalho corporal, informtica e biblioteca. Em mdia, cada sala tem de 12 a 20 crianas. Observei a rotina de duas professoras em duas salas diferentes e seus alunos com TDAH maternalzinho 2 ( 2 anos e 7 meses) e Maternal (4 anos) durante 3 manhs, desde a entrada at o horrio da sada. Meu primeiro contato foi com a dona e com a diretora da escola que estabeleceu os dias para eu fazer as observaes e acompanhar a rotina das professoras.

    Todas as salas so bem iluminadas e ventiladas, com mesinhas arrumadas em crculos, adequadas ao tamanho das crianas . Existem livrinhos de histria nas salas de aula e brinquedos, alm de um amplo parque onde as crianas brincam na hora do recreio. As salas so bem limpas e cuidadas. Em cada sala de aula existe uma auxiliar que ajuda a professora em todas as tarefas como: levar ao banheiro, dar banho, servir lanche e tomar conta daqueles que so mais distrados. As crianas tm oficina de culinria e muitas vezes aprendem a fazer comidas bem simples com o auxlio da professora e orientao nutricional.

    Perfil da professora do Maternal 2: A professora que ser chamada de F tem formao no antigo magistrio porm, possui tambm graduada em Letras. Ensina tambm na 3 srie de uma escola da prefeitura. J trabalhou em 6 escolas e tem 14 anos na docncia. Segundo as observaes realizadas, fala com muita segurana aos alunos e demonstra extrema pacincia e cordialidade, porm, no exita em dizer NO. Tem facilidade em manter as crianas ocupadas e prende bastante a ateno dos pequenos. Por se tratar de

  • crianas pequenas, fala com clareza e pausadamente para que as crianas a entendam, segundo observaes.

    Perfil do aluno do Maternal 2: O aluno aqui ser chamado de JG. um aluno com TDAH e tem acompanhamento com psiclogo, neurologista e fonoaudiloga. Segundo as professoras, ele tem o diagnstico, mas no toma medicao . A ritalina 5s indicada para crianas acima dos 6 anos de idade. O aluno JG teve sua suspeita de TDAH ano passado, quando ficou mais atrasado na fala que os outros e quando perceberam que ele simplesmente no prestava ateno a nada, segundo depoimento da coordenadora. Pula, brinca como as outras crianas, porm completamente alheio aos comandos da professora e tem momentos intensos de inquietao e disperso, segundo a prpria docente. A direo passou a informao de que JG acompanhado por profissionais que o acompanham juntamente com a escola passando orientaes para a professora em como lidar de forma mais tranquila com ele. Uma das instrues que passaram, segundo relatos da professora, que mantenham a atitude de forar a socializao com o grupo .

    Perfil da Professora : A professora que aqui ser chamada de N, possui muita experincia : trabalhou em diversas escolas de renome, porm est atualmente ensinando em duas escolas nas sries Infantil e fundamental I ( 1 ano). Tem o curso de magistrio e pedagogia. Tem um bom domnio sobre a turma e uma boa auxiliar . Tem 16 anos na docncia e passou por 5 escolas. .

    Perfil do Aluno: Diagnosticado com TDAH, o aluno de apenas 4 anos, que neste trabalho chamamos de JI muito agitado. Segundo relatos da professora, o TDAH foi detectado este ano. A professora suspeitou porque ele no parava quieto e dificilmente prestava ateno ao que ela dizia em sala. As atividades eram realizadas de forma incompleta se ela no interferisse. A professora levantou a suspeita junto coordenao da escola que em seguida chamou os pais de JI. A mdica (neurologista) encaminhou algumas instrues, nos seguintes aspectos: mant-lo mais prximo, observar se as

    5 Droga bastante utilizada a base de metilfenidato que em muitos casos aliviam os sintomas do

    transtorno.

  • atividades esto sendo concludas, tentar com que ele participe com a turma, etc.

    Caracterizao da Escola TR: A escola TR est situada em um bairro no centro da cidade e por se tratar de uma escola de grande porte possui muitos alunos matriculados (cerca de 1500), alojados em salas amplas e arejadas com cerca de 20 a 24 alunos por sala, com bancas individuais. uma escola da rede particular de ensino que possui em sua estrutura quadra para a prtica de esportes, capela para o ensino religioso, biblioteca, sala de informtica e artes. O contato com a escola foi atravs da coordenao assim como a indicao da sala onde se encontrava o aluno com TDAH (que ser chamado de JL) .

    Perfil da professora: A professora desta sala (1 srie) muito experiente. Tem 19 anos na docncia e j passou por algumas escolas e disse saber o que TDAH, porm se v incapaz diante da situao de JL . A professora, graduada em pedagogia, tem atividade de coordenadora em uma outra escolinha particular, em um outro perodo.

    Perfil do aluno: um aluno diagnosticado com TDAH, tem 7 anos, e toma medicao. O diagnstico foi dado por um especialista quando tinha 6 anos. A suspeita partiu atravs de uma professora que chamou os pais e mandou investigar o excesso de agitao e a impulsividade . Os pais, segundo relato da professora, levaram ao mdico e quando retornaram escola j tinham o laudo de TDAH em mos. A suspeita veio, conforme relato da professora, devido ao fato de JI ser muito impulsivo, falar bastante e no parar quieto. Segundo a professora, ele bem esperto porm no conclui as atividades ou dificilmente completa algum raciocnio em se tratando de participao em sala de aula. . Dificilmente faz uma prova completa, segundo a professora.

  • A ANLISE : EM BUSCA DE RESULTADOS

    Optei no primeiro momento por entrevistar as professoras para s ento, fazer as observaes em sala: a fonte direta de dados o ambiente natural , constituindo o investigador o instrumento principal.(BOGDAN, 1994).

    Foram observadas quatro professoras em suas rotinas escolares, o entendimento sobre o TDAH e o modo como agem com a problemtica , possibilitando desta forma, dividirmos a anlise dos resultados em trs momentos centrais: como concebem o TDAH (entrevistas), como lidam com TDAH (observaes) e as sugestes( apontar elementos propositivos para que auxiliem os docentes no enfrentamento da problemtica).

    COMO CONCEBEM

    O QUE TDAH?

    Em um primeiro momento fiz a seguinte pergunta: O que TDAH? Das quatro professoras entrevistadas ( D, N, F e H) duas no sabiam dizer o que era, uma soube dizer superficialmente (H) e apenas uma falou com mais conhecimento sobre o assunto (N):

    ...Algo que gira em torno da ateno. (professora H)

    Apenas a professora (N) de JG soube definir com mais clareza o conceito do que TDAH:

    ...Que um transtorno de ordem cerebral, dficit de ateno, inquietude e dificuldade de ateno.(professora N).

    Para lidar com uma criana com TDAH, antes de mais nada , o professor precisa conhecer o transtorno e saber diferenci-lo de m educao, indolnciaou preguia ( MATTOS, 2005, p.95 ).

    Importante ressaltar o que afirma o autor acima citado, pois muitas vezes o TDAH vem acompanhado de comorbidades - cuja definio j foi citada antes neste trabalho- porm se faz necessrio que haja uma diferenciao entre o TDAH , comorbidades e indisciplina para que o aluno possa ser ajudado e no apenas punido.

  • Outro ponto a ser destacado que a fonte da descoberta sobre TDAH

    das duas professoras acima, H e N, mesmo que no to aprofundada, foi atravs de palestras fornecidas pela prpria escola e no pelo curso de graduao; embora todas estas professoras estejam lidando com esta realidade em sala de aula no momento atual.

    DISPONIBILIDADE DE TEMPO PARA OS ALUNOS COM TDAH

    Quando foi perguntado sobre o tempo que as professoras disponibilizavam para destinar s crianas com TDAH em sala de aula, das entrevistadas trs responderam no ter tempo hbil em aula para se dedicar a esse aluno com TDAH. A professora H da escola TR foi a nica que fez o seguinte relato:

    ...No disponibilizo de tempo para dar uma ateno especial a este aluno, mas busco este tempo porque fico aflita quando percebo a disperso desta criana. (professora H).

    Segundo Rohde (1999), necessrio um acompanhamento pedaggico feito pelo professor que ajude a prevenir lacunas na aprendizagem. Assim, a inquietude da professora acima, vem ressaltar a impossibilidade e a aflio devido ao tempo e nmero de alunos que necessitam tambm de cuidados pedaggico e ateno. Mattos (2005, p.95) tambm afirma: Ele (o professor), ter que conseguir equilibrar as necessidades dos demais alunos com a dedicao que uma criana com TDAH necessita, o que pode ser difcil em uma turma numerosa.

    Temos ento que partir do princpio de que a opo muitas vezes tem que se dar entre o que precisa ser feito (acompanhar pedagogicamente mais de perto o aluno com TDAH) e o que pode ser feito (dar uma ateno a este aluno de modo que no o prejudique em sua vida escolar). pertinente a afirmao de Rohde ao afirmar que lacunas no podem coexistir com aprendizagem. medida que o nvel de dificuldade vai aumentando, lacunas maiores vo se abrindo. Por isso, de extrema importncia o que afirma Mattos (2005) quando diz que o professor ter que equilibrar a ateno que o aluno com TDAH necessita e a ateno dispensada ao resto da turma; porm uma

  • tarefa difcil quando se trata de uma turma numerosa. Ficam questes a serem respondidas: O que deve ser feito? O que pode ser feito?

    Quando perguntamos s professoras se achavam que os alunos com TDAH deveriam ter uma ateno diferenciada, foram unnimes em responder que sim, porm tambm houve uma unanimidade ao afirmar que em sala de aula invivel essa ateno especial. A professora N, inclusive com bastante firmeza, revelou que deveriam ter atividades em sala para deixar o corpo mais livre, as crianas deveriam ficar menos presos s bancas e dentro do planejamento ter mais atividades relmpago. Para isso, seria necessrio uma reelaborao de tarefas, provas e atividades mais curtas e que prendessem mais a ateno do aluno. Intervenes escolares tambm so importantes e devem ter como foco o desempenho escolar da criana (Rohde, Barbosa, Tramontina & Polanczyk, 2000).

    AVALIAO

    Quando perguntamos sobre os critrios de avaliaes que destinavam a estas crianas apesar do transtorno com (laudo de TDAH) as respostas foram bem diversificadas.

    A professora N da Escola de Educao Infantil disse:

    ...Avalio valorizando tudo que o aluno constroi, pois sei da limitao. (professora N).

    Mas no esqueceu de salientar que a escola permite essa autonomiana hora de avaliar. (professora N).

    A professora D da escola Pblica relata:

    ... No tenho critrios de avaliaes especiais, apenas a caderneta com anotaes e no registra nada a respeito do transtorno .

    J a professora F diz o seguinte:

    Avalio com conceitos e anotaes , sempre levando em considerao o dficit de ateno que ele tem. Procuro sempre forar para que ele realize as atividades, conforme orientao da psicloga. (Professora F).

  • Porm, o que mais me chamou ateno foi a resposta da porfessora H quando diz :

    O colgio tem um padro de avaliao, por se tratar de um colgio tradicional, temos que seguir. Dou as notas, tento aproveitar tudo, mas nem sempre consigo sair do padro. (professora H).

    importante diferenciar dificuldades de se adaptar ao sistema educacionade impossibilidade de aprendizagem. Muitas crianas com TDAH so muito inteligentes e se lhe dermos uma chance podero ser bem sucedidas.(MATTOS, 2005, P.99).

    A questo da avaliao de extrema relevncia, devido a complexibilidade e implicaes que vai trazer para a vida escolar do aluno. Dependendo do modo como se aplique ou ainda do olhar do professor sobre o aluno, a avaliao poder interferir no gosto pelo estudar e, consequntemente, no interesse e comportamento dentro de sala de aula. Por isso, vlida a observao feita pelo autor acima quando fala em chances, no apenas para rever ou simplesmente melhorar as notas do aluno, mas principalmente para mostrar o que sabem e do que so capazes de realizar.

    Muitas crianas com TDAH e Transtorno de Aprendizado simplesmente no gostam da escola, no gostam de estudar porque j sabem que tm muita dificuldade e precisam se esforar muito para ter um desempenho que no vai ser l grande coisa. Me espantaria uma criana assim gostar de estudar....(MATTOS, 2005, p.103).

    COMPORTAMENTO .

    Quando perguntamos se existe(m) algum(ns) ten(s) que destacaria no comportamento do alunos, as professoras D, H e F responderam a mesma coisa,porm a professora N colocou em sua resposta um novo componente que no havia sido ainda considerado quando da elaborao do projeto , mas que foi constatado em nossas observaes em todos os alunos com TDAH: JE, JG, JI e JL..

    ...No param, so muito dispersos e pertubam a dinmica de sala de aula.(professoras D, H e F).

  • ...Eles no tm noo do espao do outro e acabam tornando-se o problema comportamental da turma, talvez pela inquietude. (professora N).

    Matos (2005) afirma que importante distinguirmos incapacidade para atender regras(o caso do TDAH) da falta de vontade em atender regras (problemas comportamentais). proporo que o professor torna-se conhecedor da problemtica e de suas implicaes, fica mais clara a afirmao do autor acima em relao a comportamentos e condutas. O fazer simplesmente porque quer diferente do fazer assim porque no consigo fazer diferente. O que foi constatado em todas as salas de aula observadas que os alunos com TDAH nos trouxeram um componente novo que no havia sido pensado anteriormente: As Condutas Tpicas.

    Segundo o Ministrio da Educao e Cultura Secretaria de Educao Especial, Condutas Tpicas so manifestaes comportamentais tpicas de portadores de sndromes e quadros psicolgicos, neurolgicos ou psiquitricos que ocasionam atrasos no desenvolvimento da pessoa e prejuzos no relacionamento social, em grau que requeira atendimento educacional especializado. (MEC-SEESP,1994, p.7-8).

    Neste caso, so alunos que apresentam comportamento invasivo, sobretudo com os colegas, e este fato ficou claro nas observaes quando pegavam o material do outro sem pedir, tomavam o assento sem prvia consulta, empurravam, batiam, falavam muito alto e no sabiam esperar. So comportamentos relativamente regulares em crianas muito pequenas, mas exarcebados em algumas crianas com TDAH. Fato que influenciar no relacionamento e aprendizagem devido as frequentes intervenes que a professora tem que realizar.

  • AS ESCOLAS: PREPARADAS PARA ALUNOS COM TDAH?

    Quando perguntamos s professoras se achavam que as escolas estariam preparadas para receber alunos com TDAH a resposta foi unnime : NO. Porm, cada uma das professoras fez uma ressalva diferente: A professora N falou:

    ... o espao fsico pequeno (no caso sala de aula) para crianas com TDAH que necessitam mais de trabalhos corporais por serem muito agitadas. (N)

    Alm disso as docentes (H,N,D e F) tambm se queixaram dos currculos. Os currculos no so voltados para atender a necessidade de crianas que tm dificuldades especiais. Tocaram no assunto planejamento e elaborao de atividades mais voltadas aos alunos com dificuldades respeitando todos os limites e diferenas . Para isso a LDB :

    Assegura aos alunos com necessidades especiais o direito a currculo, mtodos, recursos educativos e de organizao especficos para aten-der s suas necessidades. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei 9.394/96).

    Torna-se, portanto, necessrio rever os currculos, mtodos e recursos educativos de modo a atender as necessidades de todos, para isto existem leis e que devem ser cumpridas com determinao. Mattos (2005) faz um comentrio muito pertinente, em relao a adaptao dos contedos, quando diz que importante distinguir estruturao (consistncia de conduta e planejamento) de rigidez (incapacidade de modificar ou tolerar). Portanto, a flexibilizao possvel na medida em que coopera para que a educao acontea em seu sentido mais amplo respeitando e atendendo diferenas.

    COMO LIDAM:

    Durante as observaes ficou constatada a inquietude especial dessas crianas com TDAH mas tambm de suas professoras em lidar com o assunto.

  • Os alunos com TDAH so muito ativos e dificilmente ficam atentos sem se mexer ou sem perturbar o colega ao lado, na hora das exposies ou comandos das professoras. Fica claro, tambm, que so alunos mais dispersos, mais inquietos e menos disciplinados. A professora que possui auxiliar consegue dar uma aula mais tranquila, porm , aquelas que esto sozinhas em sala deve ter momentos de aula bem planejados evitando assim, a disperso da criana.

    Os comportamentos das professoras se caracterizaram de modos diversos diante do problema com TDAH, segundo observaes realizadas: a professora da escola PU (D), por exemplo, ficou com a turma fora de controle durante boa parte das duas manhs observadas devido ao comportamento de JE, que muitas vezes corria da sala e ela tinha que ir busc-lo; alm disso, como ele bastante disperso, atrapalha tambm os colegas na hora das atividades. Observei ento, pouco planejamento de aula: houve vrios momentos em que a professora no sabia o que fazer quando as atividades acabavam e o problema comportamental de JE se acentuava devido a ociosidade. Mattos (2005) afirma: s vezes o TDAH pode coexistir com problemas comportamentais, o que complica as coisas. Por isso, a atitude da professora D da escola PU condiz com sua fala de no ter tempo para dar ateno a JE, assim, ele passa boa parte do tempo brincando com uma caixa que a professora traz consigo com carrinhos e brinquedos. A professora da Escola EI, (F), bem tranquila e mantm o controle sobre a turma e muitas vezes tenta fazer com que o aluno JG faa as atividades, nem que seja sozinho com ela, depois que todos concluem a atividade proposta. O que foi observado que ela sempre faz uma tentativa para que ele participe.

    A professora da escola TR (H) se mostrou o tempo inteiro calma com a turma, mas se disse incomodada por se sentir impotente diante da questo de querer ajudar mais o seu aluno JL, com TDAH. De qualquer maneira, ela tenta sempre chamar a ateno de JL para a leitura e atividades que esto sendo realizadas naquele momento, porm, ela deixa clara a posio de que acha insuficiente a atitude da escola diante do problema. Segundo Mattos (2005), o ideal fazer com que as lies requeiram tanto mais participao/atividade da

  • criana quanto for possvel (lembre-se que elas detestam ficar muito tempo fazendo trabalho sentadas). o caso da professora da escola de Educao Infantil (N) quando prope algumas vezes atividades relmpago, como colorir uma figura pequena, contar uma estria curta ou ainda realiza as atividades de forma ldica. Na entrevista, (N) faz meno sobre atividades relmpago e trabalho corporal e na prtica o faz. Mattos (2005) muito feliz quando afirma que que as tarefas podem ser feitas mesmo que por etapas que exijam que a criana fique concentrada apenas por pequenos intervalos, mais estimulante e o aluno com TDAH vai fazer o exerccio melhor. Nas quatro salas a participao maior do aluno com TDAH era maior quando a professora recorreu a atividades mais curtas ou a atividades relmpago.

    SUGESTES

    A partir do exposto possvel perceber que h medidas propostas por autores como Rohde (1999), Mattos (2005) e observadas por mim em minha experincia no acompanhamento pedaggico que podem ser tomadas juntamente com a escola e professores que podem auxiliar o aproveitamento escolar e oportunizar essas crianas e adolescentes com TDAH a demonstrar todo seu potencial :

    1- A primeira, e to importante quanto as outras que viro que o professor leia sobre o assunto, lembre-se: o professor uma pea fundamental na vida escolar da criana e o sucesso do aluno depende tambm desta compreenso.

    2- O docente deve negociar com o seu aluno para sentar nas primeiras filas e conversar com o prprio aluno (se for um pouquinho maior) sobre uma melhor forma de tratar o contedo de modo que preste mais ateno. Se a criana for pequena mant-la perto do professor uma boa estratgia pois o auxlio pode ser necessrio para realizar determinadas tarefas.

    3- Textos muito longos em provas, muitas vezes no so lidos em sua totalidade. ( Sugerimos escola reduzir o tamanho dos textos em provas e testes porque, sendo assim, o aluno melhor aproveitar todo seu conhecimento e potencial.) Avalie mais pela qualidade e menos pela

  • quantidade de tarefas executadas. O importante que os conceitos estejam sendo aprendidos(Rohde, 1999).

    4- Dar um tempo maior para essas crianas com TDAH conclurem suas avaliaes uma boa estratgia, pois o tempo da ateno que essas crianas e adolescentes tm e dispensam a determinada atividade muito curto. Seria interessante permitir a este aluno realizar suas avaliaes e atividades por etapas. O relgio por vezes pode deixar a criana mais ansiosa do que j e aumentar a impulsividade, portanto, evitar tarefas cronometradas, muito importante.

    5- Poder tambm dividir as tarefas por etapas, pois alm de expressar tudo o que captou, ser uma opo interessante porque no obrigar aos alunos ficarem presos mesa durante muito tempo. Investir na elaborao de atividades relmpagoseria uma boa idia.

    6- O professor pode e deve valorizar tudo que o aluno com TDAH fala em sala de aula. So alunos que geralmente tem uma auto-estima baixa devido as notas e quando conseguem participar de alguma atividade em aula deve ser dado valor de forma a estimular essa participao.

    7- O professor deve deixar todas as regras bem claras ( o aluno com TDAH tem dificuldade de seguir algumas regras) conforme explicitado quando tratou-se do tema comportamento. Se o aluno for alfabetizado, o professor pode afix-las na parede da sala, quando no, ficar reforando verbalmente.

    8- O professor pode ter um pouco mais de flexibilizao com este aluno, na quantidade de vezes que pede para ir ao banheiro ou para beber gua, pois, muitas vezes, apenas um pedido de licena (socorro) para levantar, porque no consegue ficar mais preso cadeira. A compreenso um forte aliado para uma boa parceria com essas crianas.

    9- O professor pode utilizar o cuidado que a professora H quando tem com JL quando solicita a ele para auxili-la a explicar novamente o que foi dito. Esta uma maneira de ele se sentir importante e absorver melhor os contedos.

  • 10- As crianas de modo bem geral adoram desafios, transformar contedos em jogos, levar as crianas com TDAH prestarem mais ateno e participarem com mais afinco.

    11- Elogiar pode ser til, a criana se sente confortvel diante dos elogios e com certeza vai se esforar para receber mais, medida que estiver sentindo-se estimulada.

    12- O professor pode lembrar sempre de que aquilo que parece fcil para alguns: prestar ateno na aula e captar o contedo pode ser dificlimo para o outro, portanto, tratar o aluno da maneira que respeite seus limites fundamental.

    CONSIDERAES FINAIS:

    Durante o trabalho, foram analisados alguns conceitos sobre D.A e foi feita uma reviso conceitual do que TDAH. A partir da reviso sobre o tema (TDAH), foi apontado o cuidado pedaggico que se deve ter quando se trata de questes que envolvam alunos com TDAH, escola, professores e famlia. Diante de tais consideraes, retomo os questionamentos que foram levantados: esto as escolas preparadas para prevenir e detectar lacunas? Professores tm tempo hbil em sala de aula para dar uma ateno especial aos alunos com TDAH? As escolas conhecem e possuem metodologias especficas tanto na aplicao dos contedos quanto avaliativas para lanar um olhar especial sobre estes alunos? Obviamente, como foi dito, no pretendia responder a todas as questes neste trabalho uma vez que envolve uma complexibilidade muito grande: a estrutura escola professor aluno famlia- profissionais, mas que no obstante, podem ser refletidas por todos que trabalham com educao e principalmente por aqueles que se deparam com a realidade diria em ter alunos com TDAH: o professor.

    O que ficou da pesquisa a sensao do muito que falta para a compreenso das Dificuldades de Aprendizagem e TDAH. So questes ainda pouco discutidas nas escolas, mas que fazem parte da rotina e que no podem ser minimizadas com palavras e falta de atitudes. Atitudes essas que podem

  • comear na famlia, continuar caminhando na escola entrelaada com a famlia e tambm com profissionais que cuidam dos alunos com TDAH (mdicos, psiclogos, fonoaudilogos, psicopedagogos, etc), profissionais esses que podem e devem conhecer a rotina escolar de perto e entrelaar-se tambm com escola, famlia e professores. O que fica de mais importante que h muito por fazer. H que se buscar mais conhecimento sobre o TDAH, h que se procurar mais parcerias e, obviamente, h que se atingir o objetivo da educao em preparar as pessoas para ter conhecimento e conviver bem em sociedade podendo exercer assim, seu direito pleno de ser cidado. Mas para que isso acontea, se faz necessrio respeitar diferenas, respeitar leis e principalmente perceber que alunos prontos no desafio para a educao. As anlises mostraram que professores precisam discutir mais sobre o tema, escolas precisam se preparar mais para receber estes alunos, professores precisam ter mais tempo hbil para trabalhar com alunos com TDAH, metodologias e sistema de avaliaes devem ser adaptados para crianas com TDAH ou qualquer outro transtorno ou necessidade e principalmente o OLHAR do professor deve ser diariamente renovado diante deste aluno. Ser flexvel no significa ser passivo, desorganizado; ao contrrio, para ser flexvel preciso ser muito seguro enquanto profissional e respeitar a capacidade de cada um. Apesar da diversidade que o professor encontra em sala, obviamente, pode saber o que cada um de seus alunos precisa e encaminh-los para o progresso escolar.

    Finalizo enfatizando que as sugestes feitas so de carter simples, e que por isso mesmo podem ser tomadas pela escola e professores diante de seus alunos. Se feitas com cuidado no criaro estigmas maiores do que aqueles que j foram criados na cabea da criana: incapacidade, incompreenso, indisciplina, etc.

    Fica a necessidade de proliferao da temtica TDAH, porm ressaltando que todas as medidas que venham a ser tomadas em relao ao aluno com TDAH se no tiver um Olhar adequado do pedagogo sero apenas medidas isoladas e que dificilmente surtiro o efeito necessrio.

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