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Volume 1 Os Atributos Fundamentais do Evangelho Graça

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Os atributos fundamentais do Evangelho, também conhecidos como as virtudes “teologais”, são mui importantes, pois são considerados as maiores das virtudes cristãs. São vistos como “fundamentais” porque os apóstolos sempre os destacaram e os correlacionaram no Evangelho dando-os suma importância na salvação

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Volume 1 Os Atributos Fundamentais do Evangelho

Graça

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Volume 1

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EVANGELHO – Os Atributos Fundamentais do

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Série: DIDAQUÊ - A Doutrina dos Santos Apóstolos: Vol 1 3

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"Sem o Evangelho, tudo é inútil e vão. Sem o Evangelho, não somos cristãos. Sem o Evangelho, todas as riquezas são pobreza; toda a sabedoria é tolice diante de Deus; a força é fraqueza, e toda a justiça do homem está sob a condenação de Deus. Mas, por meio do conhecimento do Evangelho, somos feitos filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, conterrâneos dos santos, cidadãos do reino dos céus, herdeiros de Deus com Jesus Cristo; por meio de quem os pecadores são justificados e os desolados, consolados; os duvidosos obtêm certeza, e os escravos são libertos. O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê." - João Calvino1

1 As Institutas da Religião Cristã.

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EVANGELHO – Os Atributos Fundamentais do

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Série: DIDAQUÊ - A Doutrina dos Santos Apóstolos: Vol 1 5

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Para Tamiris L. A. Cruz e Adam Levi A. Cruz:

“... osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2:23)

Para Valdemir S. Cruz e Cristina B. de O. Cruz: ¨Honra a teu pai e a tua mãe” (Ef 6.2).

Para Gilberto S. dos Santos (in memorian) e Edson S. Silva: “Imitai a Fé que tiveram” (Hb 13.7)

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Volume 1

Jônatas Welber Oliveira Cruz

2015

Discípulos em Ilhéus

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Série: DIDAQUÊ - A Doutrina dos Santos Apóstolos: Vol 1 7

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Os Atributos Fundamentais do

EVANGELHO

Jônatas Welber O. Cruz

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Série: DIDAQUÊ - A Doutrina dos Santos Apóstolos: Vol 1 9

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Sumário

Apresentação..................................................................................11

Uma palavra aos leitores...................................................................15

Introdução ao tema.......................................................................13

1. A importância dos atributos fundamentais do Evangelho.......19

2. A Fé: a virtude salvífica.............................................................23

3. A Esperança: a virtude mais poderosa......................................33

4. O Amor: a virtude suprema......................................................41

Perguntas para estudo...................................................................59

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Apresentação

Ensina-me a fazer a tua vontade, pois és o meu Deus. O teu Espírito é bom; guie-me por

terra plana. SALMOS 143:10

Maravilhosamente, há alguns anos tenho tido uma série de experiências com o Espírito Santo por meio de sua Santa Palavra. Costumo pensar que essas experiências acabaram por marcar a minha segunda conversão, após uma década de caminhada com Cristo. Pois foi principalmente a partir do ano de 2012 que a Bíblia se tornou um livro aberto e revelador como nunca antes fora. Eu me sentia como os antigos Reformadores do século XVI que a liam como se fosse a primeira vez e confessavam seu credo com grande poder e fé, ou como os grandes colonizadores ao avistarem um novo continente repleto de riquezas e mistério! Aleluia! Que tempo delicioso! Louvo a Deus por me conceder tamanha Graça!

Desde então, o meu amor pela Palavra e as descobertas foram se multiplicando ao ponto de dar origem a essa série que fala de forma resumida todos os principais pilares da doutrina Cristã, denominada: “Didaquê – A doutrina dos Santos Apóstolos”. Estes comentários não são tratados teológicos exaustivos, mas passaram a serem instrumentos de maior aprofundamento e confissão.

Deixo claro que eu não sou um Presbítero e não tenho obra frutífera a me gloriar - talvez, nem devesse escrever este trabalho. Entretanto, como eu poderia deixar de escrevê-lo? Confesso que ouvi uma voz em meu coração como se o Espírito Santo me inspirasse a isso, como se sua direção fosse que eu registrasse através desses manuscritos a sua revelação divina. Então que Deus seja glorificado em tudo e que todos saibam como Ele pode ser gracioso por usar um servo como eu.

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Uma palavra aos leitores Caro irmão, eu gostaria de pedir que você tenha uma mente

aberta ao decorrer de tudo o que essa série de livretos vai ensinar, que deixe de lado o preconceito e o orgulho. Pois essa verdade ecoa através da história: necessitamos continuamente sim de aprofundamento teológico, pois quando nos aprofundamos na doutrina ortodoxa, aquela mesma que já entendíamos superficialmente, somos então repletos de revelação, de alegria e de fé para obedecer a Deus. É claro que não há doutrinas “novas” a aprender, mas digo que elas são profundas como todas as coisas de Deus. A Palavra do Senhor é viva e eficaz, ela vivifica e dá fé aos que a ouvem! Por causa disso, nós precisamos conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor e à sua vontade para que sejamos aperfeiçoados pelo Espírito Santo que opera pela fé.

Todavia a necessidade do conhecimento deve ser gerada sempre pelo amor que temos por Cristo. Há um engano comum nos evangélicos em pensar que não devem se aprofundar na teologia, porque necessariamente serão soberbos. Deixe-me explicar-lhe uma coisa: é verdade que o conhecimento sem o perfeito amor nos ensoberbece, mas é também verdade que o temor a Deus nos deixa a verdadeira sabedoria, uma sabedoria que nos faz conhecer a sua intimidade e seus segredos (Sl 25:14). Veja que Paulo afirmou que o conhecimento (1 Co 8:1), assim como os dons (1 Co 4:6,7) ou até as nossas boas obras (Fl 2:3), se não tiver amor ensoberbecem, MAS MESMO ASSIM, ele não ensinou que não deveríamos conhecer, buscar os dons ou realizarmos as obras, mas que fizéssemos tudo através do amor!

Por isso acredito que o amor deve guiar, sim, sempre a nossa sede pelo conhecimento, mas também ser o árbitro dos nossos

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corações (Cl 3:15). Sabendo isto, não podemos permitir que o conhecimento nos ensoberbeça e nem que a falta de amor nos afaste do conhecimento de Deus, pois quanto mais O conhecemos apropriadamente, mais humildes nos tornamos, e não o contrário. O soberbo também diz: “- Para que saber?” e encontra desculpas para o seu desleixo. A questão toda aqui não é a soberba (ou a humildade), mas a nossa falta de interesse pela Palavra de Deus e necessariamente pelas suas coisas, tornando-nos preguiçosos. Eu disse NÃO a isso! Faça o mesmo também!

Eu não me considero um adulto na fé, mas prossigo para aquilo que fui conquistado por Cristo (Fl 3:12-17). Charles Spurgeon também alertava: “Quando morre o amor, a doutrina ortodoxa torna-

se um cadáver, um formalismo sem poder. A adesão à verdade vira fanatismo azedo

quando a doçura e a luz do amor a Jesus se vão... Perder o amor é perder tudo”2. Então que essa seja a verdadeira motivação de crescermos na teologia, que o amor que temos pelo Senhor faça de sua Palavra o nosso deleite e tesouro (Sl 119:97,111). Amém!

2 Servos de Deus, Franklin Ferreira, Pg 350

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Introdução ao tema

O primeiro tema que iremos trabalhar nesta série é sobre a Graça provedora de Deus, pois seguindo o conceito de quem Deus é (Teologia), essa doutrina certamente é a mais importante de todas.

Na verdade a Graça é tão vital e transcendente que portanto não deveria ser vista como mais “uma” doutrina entre tantas outras ou como mais um tema de ênfase na Igreja. Ela não só é “a” doutrina do novo testamento como é também de todas as Escrituras Sagradas. Por isso que Martinho Lutero dizia: “A Igreja cai ou se sustenta

nessa doutrina”, e João Calvino disse uma vez: "Esse é o principal ponto de

apoio sobre qual se articula a Religião”, pois é evidente que a “Graça” é a mãe de todas as outras, ela é a grande doutrina cardial de todo o Protestantismo e das Escrituras.

E, oh quão lindo mistério! Tão cheio de detalhes e de glória, que fará com que os eleitos do Pai se dediquem ao seu deslumbre por toda a eternidade (Ef 1:4-6). Nele estão contidos todas as riquezas, a sabedoria, a força, a justiça, o conhecimento, as promessas, o consolo, a certeza, a liberdade e o poder de Deus!

E para eu ser sincero, o mistério da Graça é tão majestoso e cheio de poder que eu gostaria de falar agora tudo o que sinto e o que a Bíblia diz a respeito dele. Mas o problema é que aí não teria graça alguma e você, caro leitor, acabaria não entendendo muita coisa. Por isso, vamos por partes. Ok?

Portanto eu fiz o seguinte: dividi o tema “Graça” em 4 livretos. No volume 1, abordamos os conceitos definidores relacionados a fé. No volume 2, falamos propriamente sobre a doutrina da salvação (soteriologia) reafirmada pelos reformadores durante a Reforma Protestante no século XVI. No volume 3, estudamos sobre a soberania de Deus na salvação e os meios de Graça, chegando finalmente ao quarto volume em que fazemos um catecismo

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composto por perguntas e respostas fundamentais acerca do tema. Mas, como eu disse, vamos por partes.

Oh Senhor Deus da misericórdia e da verdade, Incline muitos corações a lerem esses livretos, e que todos os que

lerem sejam abençoados. Que muitos sejam chamados pelo chamado eficaz do Espírito Santo. Que os olhos deles sejam iluminados pela verdadeira luz, que sejam sensibilizados a se converterem a sua lei e que sejam vivificados pela Palavra da Vida. Que muitas almas registrem a data de suas conversões pela leitura dessas palavras, e aqueles que já são convertidos sejam fortalecidos. Que o seu Espírito encoraje através desses escritos muitos outros para a sua maravilhosa obra e que defendam e preguem a sua Palavra aos pecadores, preparando o reino d’Aquele que virá sobre as nações muito em breve! Amém!

Caro leitor, este é o primeiro volume desse trabalho: Os

Atributos Fundamentais do EVANGELHO. Espero que essa breve introdução seja uma joia rara para a sua caminhada e alimente a sua espiritualidade. Que ela te provoque ainda mais o desejo de conhecer a verdadeira doutrina de Cristo e o seu coração. Agora

vamos aos estudos! (Ler 2 Tm 3:15-17).

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1 – A importância dos atributos

fundamentais do Evangelho

Os atributos fundamentais do Evangelho, também conhecidos como as virtudes “teologais”, são mui importantes, pois são considerados as maiores das virtudes cristãs. São vistos como “fundamentais” porque os apóstolos sempre os destacaram e os correlacionaram no Evangelho dando-os suma importância na salvação (Ler Cl 1:4,5; 1 Co 13:13, 1 Ts 1:3; 5:8; Gl 5:6, Ef 6:23, Hb 11:1; 1 Pe 1:3,21).

Quem nunca ouviu sobre a fé, a esperança e o amor? Eles são a essência do caráter cristão e o centro da responsabilidade humana na salvação3. Então você pode estar pensando: Mas por que então começarmos essa série com este assunto, se poderíamos falar de coisas não tão básicas assim?

Nesses dias a Igreja tem vivido um tempo de confusões doutrinárias e apostasia. O grande número de interpretações bíblicas

3 As virtudes teologais "têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus (por isso são teologais). São infundidas no homem com a Graça santificante, tornam-nos capazes de viver em relação com a Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes humanas. Elas são o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano". Fonte: Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC), n. 384.

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tendenciosas geradas principalmente pelo liberalismo teológico4 que surgiu no século XVIII, além do grande partidarismo provocado principalmente pelo Pentecostalismo5 e NeoPentecostalismo6, principalmente no século passado, faz com que muitos fiquem à deriva da ênfase do momento, não possuindo assim uma fé consistente, e acima de tudo, ortodoxa (conservadora, genuinamente bíblica). Na prática, a Bíblia deixou de ser norma normanda (norma determinante), e passou para muitos, a ser norma normata (norma determinada), o que significa dizer que as revelações pessoais tem tido maior autoridade do que a própria Palavra de Deus.

Por outro lado, nesse mesmo ambiente de “aparente riqueza espiritual”, muitos tem desistido facilmente da fé, e os que ainda perseveram, encontram dificuldade para se manter na Graça. Essa dificuldade se dá em parte pelo falso entendimento de que o Espírito Santo é apenas um poder para realização de milagres externos, enquanto se continua a ênfase de buscar a salvação pelas obras. Os evangélicos, em geral, não são movidos pela fé na Palavra de Deus, mas sim pelo açoite da Lei misturando isso à busca por bênçãos, que em grande medida, são exteriores, como riquezas, curas e prosperidade.

Tristemente, vocábulos importantes da fé Cristã, como pecado, arrependimento, juízo, justiça, cruz, e até mesmo Cristo e ressurreição vão desaparecendo do discurso de parte dos cristãos e 4 O liberalismo teológico surgiu devido à influência do racionalismo de Descartes e Spinoza, nos séculos 17 e 18, que redundou no iluminismo. O liberalismo opunha-se ao racionalismo extremado do iluminismo. 5 Movimento que surgiu no movimento Azuza em 1906 que teve grande importância na renovação do Protestantismo. Ele veio resgatar vários elementos que haviam sido esquecidos pela tradição evangélica. Entre eles, o senso de mistério, o deslumbramento diante do Ser Divino, o rico simbolismo espiritual que apela à mente e aos sentidos. Mas ele também gerou alguns problemas como a ênfase excessiva na experiência, profecias ou revelações, relativizando a importância da Bíblia; interpretação bíblica literalista ou alegórica, conforme a necessidade, sem atentar para as boas regras da hermenêutica; a Bíblia passou a ser considerada acima de tudo como um livro de promessas de Deus para os crentes. 6 Terceira onda do movimento Pentecostal que teve inicio nos anos 70. Alguns pontos de destaque em sua doutrina são: A Teologia da prosperidade, a confissão positiva, a crença de maldições hereditárias e possessão dos crentes.

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isso acaba nos influenciado de algum modo. Muitos, de fato, têm abandonado o Evangelho, correndo atrás de outro tipo de anúncio (Gl 1:6-9), mera perversão ou caricatura, não têm buscado a boa nova de salvação pela qual, através da morte e ressurreição de Cristo, pecadores podem ser justificados pela fé somente7. É um tempo de miscigenação doutrinária, onde os altos evangélicos em vez de se fundamentarem exclusivamente nas Escrituras, o fazem em experiências místicas e sincréticas.

Mas qual a solução para a Igreja Brasileira? Como podemos nos guardar dessa onda que tem levado tantos grupos para longe da Palavra de Deus? Como podemos ser uma Igreja sadia? Como ajudar os discípulos a se manter no Evangelho e em vitória plena contra o mundo?

Acredito de toda minha alma que existe um remédio para isso tudo. Acredito piamente que se voltarmos às Escrituras, fazendo delas nossa única e exclusiva regra de fé e redescobrirmos as antigas doutrinas ensinadas pela Igreja Primitiva e pelos Reformadores, como os Atributos Fundamentais, poderemos experimentar uma mudança radical na vida e na história da Igreja.

O Famoso pregador Charles Haddon Spurgeon afirmou o seu anseio por um avivamento das antigas doutrinas da seguinte maneira:

Queremos um avivamento das antigas doutrinas. Não conhecemos uma doutrina bíblica que, no presente, não tenha sido cuidadosamente prejudicada por aqueles que deveriam defendê-la. Há muitas doutrinas preciosas às nossas almas que têm sido negadas por aqueles cujo ofício é proclamá-las. Para mim é evidente que necessitamos de um avivamento da antiga pregação do Evangelho, tal como a de Whitefield e de Wesley. As Escrituras têm de se tornar o infalível alicerce de todo o ensino da Igreja; a

7 Reforma Agora, Franklim Ferreira, Pg 9-10.

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queda, a redenção e a regeneração dos homens precisam ser apresentadas em termos inconfundíveis.8

Essa obra, portanto, é um apelo à restauração da verdade ortodoxa, à unidade da fé e ao entendimento de Corpo - que “cada membro dê sua justa cooperação”. Ela também representa o verdadeiro desejo Cristão em “conservar o modelo das sãs palavras” guardando “o bom deposito” pelo Espírito Santo (2 Tm 1:13-14).

Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum,

tive por necessidade escrever-vos, exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos

santos. JUDAS 3

O seu objetivo também é edificar os discípulos e ajudar na formação de bons mestres9 fornecendo um material didático com um estudo dogmático, apologético, prático, sistemático e de caráter inspirativo. Além disso, ela convida os leitores á uma forte experiência com o Espírito Santo e à sua Palavra, ajudando assim na formação de uma fé consistente e pessoal10. Assim posto, vamos ao tema!

8 Extraído do prefácio do Livro Reforma Agora, Pag. 15 de Renato Vargens. 9 Dt 17:19-20 e Rm 12:7 10 Atos 17:11

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2- A Fé: a virtude salvífica

Fé é uma crença

Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. Ora, Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas

viverá por elas. Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu?

(isto é, a trazer do alto a Cristo) Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo)

Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos,

A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.

Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.

Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. ROMANOS 10:4-11

CERTA VEZ, EU ESTAVA PREGANDO o Evangelho para uma jovem e mostrando a ela a importância do “batismo de quem crê”, quando a mesma replicou dizendo que não era “bem assim”. O fato era que ela havia sido ensinada desde pequena que isso não era necessário – para ela, o batismo era apenas um rito cerimonial. Ela me afirmou dogmaticamente que essa era a sua “fé” e portanto não aceitaria o que eu lhe pregava.

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Ela repetia: “- essa é a minha fé!”. Por causa disso achei válido começarmos perguntando nesse capítulo: será que essa “fé” que ela confessava ter era realmente fé? O que será que a Bíblia nos diz a respeito da verdadeira fé salvífica? Pense um pouco a respeito antes de seguir lendo.

DEFINIÇÃO

A Bíblia diz que ter fé é ter a certeza das coisas que se esperam e a convicção das coisas que não se veem (Hb 11:1). É acreditar que Deus existe e que está pronto para abençoar aqueles que o buscam. Nesse primeiro conceito, fé é uma crença, uma aceitação à verdade de Deus, é acreditar em Jesus e em suas palavras.

A fé também faz distinção entre os verdadeiros filhos de Deus e os que simplesmente respeitam a Jesus. Fé não é simplesmente um conjunto de crenças religiosas (como aquela jovem imaginava ser), ou um pensamento otimista que a bolsa de valores irá subir. Por vezes, pessoas falam de fé como se isso fosse a contraposição do raciocínio claro ou do pensamento racional – fé como um estado de certeza face a evidência contraditória. Mas nada disso é a fé bíblica!

Veja: onde há dúvidas, não há fé, pois a fé é “o firme

fundamento”. Jesus também disse: “Bem-aventurado os que não viram,

mas creram” (Jo 20:29) – e neste ponto preciso acrescentar de imediato: preguem sobre Ele! Pois é através da fé em Cristo que temos a garantia de salvação11! Jesus é a principal pedra angular onde a Igreja é sustentada e edificada (Ef 2:20-22). Não há outro fundamento ou outra verdade que devamos nos firmar a não ser n’Ele (1 Co 3:11; 1 Pe 2:4-8). Precisamos conhecê-lo e crer em seu nome, pois só assim somos perdoados e executamos as obras de Deus (Jo 6:28-29).

11 Jo 3:36, 5:24, 12:46, 20:31, At 10:43

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Porque quero que saibais quão grande combate tenho por vós, e pelos que estão em

Laodicéia, e por quantos não viram o meu rosto em carne;

Para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em amor, e enriquecidos da

plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus e Pai, e de Cristo,

Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.

COLOSSENSES 2:1-3

A nossa fé nunca deve se edificar sobre a sabedoria humana, em filosofias ou até mesmo em boas tradições. Alguns permanecem na Igreja por causa da fé dos seus pais, outros porque acham ser “o melhor”, outros porque gostam do convívio dos irmãos. Mas estar em Cristo é estar firmado na verdade de Cristo, é estar arraigado e edificado n’Ele. É viver como Paulo que dizia: “...porque eu sei em quem eu tenho crido”(2 Tm 1:12).

Jesus é o centro do Evangelho, nem mesmo as suas exigências podem usurpar o seu lugar. Ele é o poder de Deus que salva aquele que crê (1 Co 2:1-5). Por isso é necessário crer de todo o coração, sem vacilar, ser Jesus o Cristo, o Deus encarnado, a propiciação dos pecados, a ressurreição e a vida e o único que tem a palavra final no que diz respeito ao que devemos fazer.

Por essa causa Paulo dizia que não adianta fazermos o bem sem a fé, pois tudo o que não provém da fé é pecado (Rm 14:23). Nós devemos a cada dia crescer na fé, conhecendo a Deus e permanecendo na sua palavra: pois esse é o verdadeiro caminho da vida eterna (Jo 17:3).

Além disso, a fé nos dá vitória sobre as enfermidades (Mc 9:23), nos defende contra o diabo (Ef 6:16), nos ajuda na oração (Tg 1:6) e nos aproxima de Deus (Hb 11:6).

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Falando um pouco sobre Deus

Já que estamos falando sobre crer, você saberia me responder: Quem é Deus?

Deus é aquele que não pode ser questionado naquilo que é ou que faz. Ele é a deidade12 infinitamente superior às criaturas que criou, em poder, em autoridade, em sabedoria e em moral. O seu lugar sempre será o principal do universo, pois Ele é Deus para sempre – assim Ele sempre foi e decidiu ser, e esse plano nunca mudará.

Entretanto, sendo o que é, não carece de humildade13, Ele ouve os homens e os atende em suas opiniões e desejos. Ao contrário do que muitos pensam, Deus não está preocupado com posição, mas em ser aquilo que Ele é por essência: “DEUS”. Ele está no mais alto sublime trono, mas também está com o mais pobre e humilde; Ele é o criador que se tornou criação, que se esvaziou sem hesitar de todo seu poder e glória para ser sacrifício perpétuo de pecadores; Ele mesmo, o Santo, andou com prostitutas e publicanos, os mais miseráveis dos miseráveis!

Deus é uma pessoa, mas também são três - demonstrando assim a sua pluralidade; Ele é um ser divino e inacessível, mas também é conhecido como um homem, um mediador - demonstrando assim a sua compaixão14; Sua posição é única, mas também é compartilhada com outros - demonstrando assim a sua benevolência; Ele é juiz, mas também é advogado; é o reto da santidade, mas também é aquele 12 Deidade é a fonte de tudo que é divino. Extraído do Dicionário Informal, Disponível em: http://www.dicionarioinformal.com.br/deidade/ 13 Ser humilde não significa necessariamente deixar de se considerar superior ou melhor (em algum aspecto) que outra pessoa, mas mesmo sendo, não se apegar ao direito que isso lhe dá. A humildade está ligada à postura do coração (Mt 11:29) em se esvaziar, em assumir a forma de servo, humilhar-se a si mesmo, descer à posição de menor ou pior, não se apegando a direitos como hierarquia ou reconhecimento (Fl 2:3-8). A humildade é o oposto do orgulho e do amor a si próprio. O humilde busca o interesse do próximo e da paz (Hb 12:14-15). 14 Jesus permanece em forma de homem nos céus, a fim de que sejamos identificados com Ele na sua morte e ressureição. Deste modo, Ele vive em nós e nós n’Ele, compartilhando do mesmo Espírito e Natureza (humana-Divina).

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que se compadece dos pecadores e intercede por eles - demonstrando assim a sua misericórdia. Vê? Jesus é tudo no universo. Ele nos faz ser deuses, filhos do Pai Onipotente15. Ele é o que é: a expressão máxima da perfeição.

Fé: a mãe da esperança

Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará. SALMOS 37:5

Vamos agora dar mais um passo adiante: Ter fé em Deus também significa confiar n’Ele (Sl 125:1; Is 26:3; Pv 29:25), é saber que o redentor vive e que nunca desamparará o justo. Confiar em Deus é uma das maiores provas que temos fé, pois não reagimos pelo que vemos, mas pelo que cremos. Em meio às tempestades da vida não nos desanimamos, pois o espírito da fé nos diz que Ele sempre está conosco e mesmo quando somos atingidos, sabemos que foi para o bem e não para o mal (Rm 8: 28). Nisto a fé se transforma em esperança, a âncora de nossas almas (Ler Rm 5:2-5 e 2 Co 5:7). [Este assunto nos aprofundaremos mais].

fé: um dom de Deus

Também não posso deixar de dizer que a fé também é um presente de Deus. Eu nasci em um lar cristão, mas só aos 13 anos me converti ao Senhor Jesus. Sabe por quê? Apesar de ter o conhecimento intelectual ou teórico sobre Ele, eu ainda não tinha fé. É isso o que acontece com os incrédulos – eles creem, mas não o suficiente (ou sobrenaturalmente) para nascerem de novo.

15 Sl 82:6; Jo 10:34; Rm 8:17; Ef 2:6. Para a Bíblia, ser “filho de Deus” significa, no mínimo, ser um ser superior às criaturas (homens ou anjos). Os filhos de Deus nascem de Deus, e por isso são semelhantes a Ele em natureza, e por isso, também em autoridade e glória (mas nunca em adoração).

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O fato é que o inimigo cegou o nosso entendimento acerca das verdades espirituais16. Além disso, a nossa condição pecaminosa e carnal só atrapalha todo o processo. Mas graças a Deus por sua misericórdia e Graça que fez com que experimentássemos de uma experiência com o Espírito Santo. Foi Ele quem nos convenceu do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado, porque não críamos no filho unigênito do Pai. Aleluia!

O maior Apologista do segundo século, Pai da Igreja, Ireneu de Lyon17, afirmou: “Pois o Senhor nos ensinou que ninguém tem a capacidade de

conhecer a Deus, a menos que seja ensinado por Deus; isto é, que Deus não pode ser

conhecido sem Deus”18.

Portanto, nesse aspecto, a fé é algo totalmente sobrenatural e independe de nossos esforços. É Cristo que nos transporta do império das trevas e foi Ele que nos chamou por sua santa vocação. Deus se revela a quem quer. Por isso, não depende apenas de nós, mas de Deus se revelar (Lc 10:22).

Mas não se deixe enganar: também o homem é responsável em crer. Deus não nos isenta desse processo e nos outorga a responsabilidade de buscar a fé que é um dom (Ler Mt 13:11-17). Sendo assim, devemos sempre: Ouvir a Palavra de Deus (Rm 10:17), aceitá-la em nossos corações (At 8:37) e acima de tudo, buscar ao Senhor (Is 55:6; Jr 29:13; Pv 8:17).

fé: a mãe das obras

16 Nós não cremos que a salvação depende apenas da vontade soberana de Deus em salvar o homem. A Palavra em 2 Ts 2:11-12 afirma que: “... Deus enviou o espírito do engano, para que creiam na mentira e para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na iniquidade”. Em contraste com os salvos, Paulo diz: “Por que Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade” (Vs 13). O que está claro na doutrina é que a salvação não depende apenas da operação divina, mas primeiramente em o ímpio aceitar a palavra da fé. Portanto, Deus se revela ao que crê, mas o que não crê é enganado. 17 Ireneu de Lyon foi discípulo de Policarpo, que por sua vez foi discípulo do Apóstolo João. 18 Irenaeus, Against Heresis, IV. 6.4.

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Agora quero que preste muita atenção: Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa hoje, fé também significa comprometer-se com o Evangelho19. Ela não deve ser abstrata ou teórica, a fé é prática, um modo de viver, um estilo de vida estabelecido nas palavras de Jesus. Por isso, dizer-se Cristão é declarar ao mundo o seu compromisso com a mensagem de Cristo e não simplesmente acreditar em alguns fatos bíblicos (1 Jo 5:4-5; 1 Tm 1:5). Poucos sabem, mas diferentemente de nossos dias, na antiguidade o conceito de fé estava relacionado inevitavelmente á obediência (Hb 11:7-39). Hoje, em meio à ignorância e à confusão religiosa, questiona-se: “Precisamos obedecer ou não? Mas se precisamos, onde fica o fato de sermos salvos pela fé?”. Isso, claro, se dá por conta do fraco conceito que damos a fé em nossa cultura.

Talvez você também já tenha se feito essa pergunta, mas não faz mal – esse engano vai acabar em instantes. Para a maioria ocidental, “fé” significa apenas acreditar ou aceitar quem Cristo é (no grego, ascentia)22, mas já para os gregos antigos ou os povos orientais, embora também tivessem esse conceito, já “fé” (no grego, fidúcia) relacionava o fato de crer com a reverência da alma, ou seja, significava uma aceitação não apenas de crenças, mas de atitudes interiores que refletiam nas obras20.

Veja por exemplo no texto a seguir como os Cristãos primitivos viam a fé:

E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos

apóstolos. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. ATOS 2:42-44

19 Em Grego, a palavra “fé” também significa fidelidade. 20 A fé também é a mãe do amor (Gl 5:6)

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Percebeu que o fato de crer estava ligado ao fato de seguir? Portanto, tirando em miúdos, podemos dizer que ter fé em Cristo, sem obedecê-lo é incoerente, contraditório. Se alguém tem fé e não tem obras, a sua fé é morta, vazia e incapaz de santificar e muito menos, salvar (1 Jo 2:6; Rm 6:7-18). Para o novo testamento, ter fé em Cristo era o sinônimo de “seguir” as palavras de Cristo (ser um bom discípulo). Assim, como disse Paulo, o justo descobre a justiça de Deus de “fé em fé”, ou seja, através da retidão (ler Rm 1:16-17). Por essa causa ter fé é um ato possível somente quando carregamos a nossa cruz e aceitamos o governo de Deus (Mc 8:34-35; Lc 14:33).

E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem; HEBREUS 5:9

Fé X Lei

Eis aqui outra coisa que precisamos prestar muito atenção e que falaremos com frequência nos livretos: O problema da Lei de Moisés era que ela nos enganava e nos trazia a falsa sensação de que tudo estava bem21. Pensávamos mais ou menos assim: “não mato, não como animais impuros e faço os meus sacrifícios continuamente, por isso sou aprovado por Deus”. Mas a mesma Lei dizia que se violássemos qualquer mandamento, mesmo que pequeno, seríamos condenados por toda a Lei22. Assim, todos estávamos condenados, confirmando a Palavra que diz: “não há um justo sequer”. Embora confiássemos em nossos altos como garantia de salvação (a justiça própria), o fato é que ninguém é justificado pelas obras da lei, pois “todos pecaram”.

Vemos então que o problema da Lei não é era a “Lei” em si mesma, mas sim o seu uso ilegítimo – daquele a que obedecia sem 21 Muitos judeus se consideravam irrepreensíveis na lei, mas Deus sempre exigiu mais do que a Lei (Lv 11:45; 1 Pe 1:16). 22 A lei de Moisés exigia irrepreensibilidade, mas a Graça caráter.

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fé23. A Lei era rigorosa, principalmente por seu grande número de mandamentos24 e por isso os homens acabaram se acomodando na justiça que “provinha” dela, como se fosse essa a garantia de serem aprovados por Deus - mas Deus nos chama para obtermos a justiça que provém da fé em Cristo!

Essa revelação, por um lado, traz gozo aos nossos corações, pois sabemos que somos salvos pela Graça (por misericórdia), mas por outro lado nos tira do comodismo e nos leva a buscar o louvor, não dos homens, mas de Deus, através de Jesus (Rm 2:29).

Leitor, o que eu quero chamar atenção aqui neste último ponto é que se queremos ser achados n’Ele, devemos nos conformar com sua morte (Fl 3:3-14), e isso com certeza é uma exigência superior a Lei. Por isso, para um verdadeiro discípulo, a sua posição atual nunca é o bastante28, mas ele se sente escravo da justiça. Não somos justificados pelo que fazemos, mas porque estamos na fé25, sendo aprovados por Cristo no coração26 (Rm 3:21-24). Entende?

Pela fé, os antigos alcançaram bom testemunho (Hb 11:2). Irmão, veja que a Lei não é anulada pela fé, antes é confirmada (Rm 3:31). Hoje é por meio da vida de Cristo que alcançamos vitória contra a carne27. Somos aprovados na fé, não nos esquecendo de olhar firmemente para o autor e consumador de tudo (Hb 12:2).

REFLEXÃO: Você tem vivido na fé ou na Lei?

23 Os Judeus negavam crer em Jesus, não aceitando a justiça que provém da fé (Rm 10:3). 25 A Salvação é resultado do instrumento de confiança e não de merecimento autêntico. Deus mede nossa fé através das obras, mas as obras não nos fazem dignos de salvação, é por Graça. 26 Vivendo em santificação. 27 A antiga aliança não oferecia regeneração, assim a lei instigava o pecado.

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3 - A Esperança: a virtude mais

poderosa

Temos Esperança nas promessas de Deus.

Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos.

Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra, e do trabalho do amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis.

Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança;

Para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas. HEBREUS 6:9-12

AGORA IMAGINE-SE POR UM MINUTO como um seguidor da Lei que mesmo sendo zeloso e até paranoico, um dia descobrisse que tudo o que fazia não era o bastante para garantir o seu lugar nos céus. Será que você ainda teria esperança? Bom, acredito que se você fosse um religioso tipo “meia-boca”, quem sabe pudesse até conseguir alguma coisa; mas se você realmente fosse uma pessoa que cresse em tudo aquilo que você estava vivendo, certamente que não.

Veja então como precisamos de esperança para prosseguir perseverando. Sem esperança não temos propósitos e nem razão de

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EVANGELHO – Os Atributos Fundamentais do

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continuar. Mas a nossa esperança precisa de fundamento, de um excelente fundamento, para que se estabeleça. Não é verdade?

DEFINIÇÃO

Por esse motivo, a esperança cristã é fundamentada na fé em Cristo. O autor de Hebreus chegou a afirmar que a esperança que temos n’Ele é a ancora de nossas almas, segura e firme – ela penetra além do véu, isso é, nos céus. Jesus é a nossa única firme esperança de salvação. Aleluia!

E isso significa que é na esperança que somos salvos (Rm 8:24-25), pois aquele que tem fé sabe que as promessas de Deus são imutáveis, assim como os seus juramentos. Foi dessa forma que Abraão foi justificado, Ele teve esperança mesmo quando não via solução para o seu problema. Ele levava em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, sua esposa (de noventa anos). Mesmo assim ele creu na promessa de Deus que lhe fora dito: “Assim será a sua descendência: como os grãos de areia do mar”. Ele não duvidou da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu dando glória a Deus.

Abraão estava plenamente convicto de que o Senhor era poderoso para cumprir o que prometera, mesmo que fosse preciso ressuscitar Isaque após sacrificá-lo em Moriá e, por causa disso, a sua fé foi imputada para justiça. Assim, pela paciência Abraão alcançou a promessa.

Entende isso? Assim como ele, seremos salvos pelo instrumento de confiança. Esperamos em Deus, em suas promessas de redenção dadas àqueles que creem em seu filho, nosso Senhor. Deste modo, aquele que crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé é atribuída como justiça (Rm 4:5).

Este é o primeiro conceito de esperança: temos fé em Jesus como o nosso justificador. Acreditamos sem vacilar ser Ele a

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propiciação de nossos pecados, o único autor da nossa salvação. Assim, Ele é a nossa justiça e paz com Deus. Recebemos a justiça que vem de Deus, aprovada e perfeita, e não a dos homens, inalcançável e corruptível.

Temos Esperança no futuro

É pelo fato do cristão confiar em Cristo que ele também tem esperança na glória porvir28. Nós também estamos firmes nessa esperança quando pela fé temos convicção e acesso à Graça. Por isso nos gloriamos nas tribulações, pois só nos fazem mais experientes e nos garantem ainda mais peso de glória (2 Co 4:17).

Deixa eu lhe contar uma coisa: essa gloriosa esperança de fato foi e é o que nos diferencia das demais religiões. O paganismo por sua vez não dá ao homem nenhuma garantia de esperança ou segurança. Para termos uma ideia, os romanos antigos criam nos “deuses lares” ou “domésticos”. Essas “divindades” eram os protetores ou os guardiões das famílias. Por isso, cada família tinha os seus deuses em particular e, segundo a crença, permaneciam no fogo dos altares que eram construídos dentro dos lares, denominados “lareiras”. Já esses altares eram cercados de cuidados extremos, pois acreditava-se que o “deus lar” pudesse deixa-los por qualquer motivo. Por isso os romanos colocavam flores e joias nas lareiras e construíam muros ao redor das casas para que o seu “deus lar” não fugisse ao ver alguém mais rico ou famoso que passasse à vista.

Tenho escrito a todas as Igrejas e a todas elas faço saber que com alegria morro por Deus, contanto que vós não me impeçais. Suplico-vos: não demonstreis por mim uma benevolência intempestiva. Deixai-me ser alimento das feras,

28 É a esperança que nos faz permanecer na fé.

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porque, através delas, pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus: que seja eu triturado pelos dentes das feras para tornar-

me puro pão de Cristo!- Inácio de Antioquia29

O romano não convertido não tinha certeza e paz. Por isso ao verem os cristãos morrendo e serem torturados nas arenas, louvando a Deus, serenos e tomados de paz, os pagãos testemunhavam nos mártires a verdadeira esperança – Esse com certeza foi um dos principais motivos que fez a Igreja crescer durante os primeiros séculos: havia um povo tomado de coragem e, acima de tudo, de paixão e certeza no seu Deus, chamado Jesus. Aleluia!

Verdadeiramente, o gozo presente nos cristãos não está nas riquezas ou naquilo que o mundo pode oferecer, o gozo do cristão está em acreditar que em Cristo há ressurreição e vida, assim como todas as delícias e prazeres para a alma humana.

Portanto quando nós permanecemos na fé em união com Cristo e a sua Palavra, temos então essa convicção de salvação futura e eterna. O Espírito Santo que em nós habita é a garantia de glorificação, pois Ele, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos, vivificará também o nosso corpo30 (Rm 8:11).

Então esse é o segundo conceito de Esperança: “logo, muito mais

agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por Ele salvos da ira”

(Rm 5:9). Esperamos que Deus conceda salvação àqueles que o obedecem (Hb 5:9), ou que se esforçam para isso. Deus terá misericórdia daqueles que o amam e que são sinceros em servi-lo (Tg 4:8-10).

Aleluia! Temos esperança no futuro. Não somos os mais miseráveis de todos os homens que creem em Jesus apenas para essa vida. Ele é a nossa ressurreição e a vida eterna. Nessa esperança aguardamos o Senhor sobre as nuvens dos céus se manifestar com 29 Trecho da Carta de Inácio para a Igreja de Roma antes de ser morto no coliseu (Século II). 30 Isto é, se mortificarmos as obras da carne e nos deixarmos ser guiados por Ele.

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grande poder e glória. Aguardamos novos céus e nova terra, onde não haverá fome, nem tristeza e dor, onde veremos face a face o nosso maior amor: O Cristo bendito. Você crê? Amém, então você espera.

A Graça nos basta!

Agora pare um pouco e ouça meu conselho: nunca confie em suas obras ou em seu caráter como garantia de justiça. Nunca se considere um bom cristão ou se ache digno de alguma boa ação de Deus. Faça o seguinte: contemple todos os dias em seu espelho a sua podridão, o homem caído em sua insignificância e exalte a Cristo por sua perfeição e Graça! Lembre-se todos os dias de sua indignidade por qualquer benção e repreenda Satanás com todo o pensamento que te fará pensar que o Cordeiro que foi morto não deve ser engrandecido. Guarde a fé e a gratidão sem embaraços!

Tenha sempre em sua mente a lembrança que a nossa salvação é um dom de Deus, não é um direito, uma obrigação ou um pagamento devido pelo nosso bom desempenho, “Porque pela Graça sois salvos mediante a fé. E isto não vem de vós, é dom de Deus” -Ef 2:8. Pois simplesmente somos salvos através do instrumento de confiança. A salvação não é algo que alcançamos pelo agir, antes é algo que recebemos pelo crer. Não há capacitação no homem em si salvar, não temos mérito algum, todo mérito é de Cristo!

Como disse J. Ligon Duncam III31, a nossa salvação, portanto, é o produto do favor de Deus, não de nossa habilidade ou obras. De fato, não somos salvos por nossas boas obras, mas somos salvos a fim de realiza-las.

Somos salvos pelo poder de Deus para que ninguém se glorie. Deus nem tão pouco nos salvou como quem tinha convicção, 31 Pilares da Graça, 2010, Pg 13 a 22.

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baseando-se em sua onisciência, que pela salvação seríamos em algum momento justos, como se nos desse a Graça de alguma forma merecida. Não, não há expectativa em Deus na natureza caída do homem. Repito: somos salvos pela Graça, e isso não pode vir de nós, é um dom de Deus!

Entretanto não posso deixar de falar novamente que também fomos salvos através da fé para obediência, “criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” – Ef 2:10. Assim, aquele que está na Graça, vive uma vida de boas obras. Mas nunca se esqueça de que a Graça já é o bastante, ou a única condição de sermos salvos, ok?

Temos Esperança na vida de Cristo

Vamos prosseguir. O terceiro conceito de esperança que percebo nas Escrituras é esse: a vida de Cristo em nós é a garantia de vitória e salvação (Cl 1:27), pois é por meio do poder do Espirito Santo que somos libertos do poder do pecado e somos transformados em servos de Deus – n’Ele temos o fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna. A Bíblia diz que pela morte de Jesus fomos justificados e reconciliados, mas é através de sua vida que somos salvos. Percebe a diferença? E isso é tremendo: pois Deus nos deu todos os recursos através de seu filho. A justificação, a santificação e a salvação estão n’Ele! – é evidente que tudo isso se dá pela fé e pelo poder do Espírito Santo. Por isso que é tão importante mantermos um compromisso de amor e contemplação (Gl 2:19-20; 2 Co 3:18). Todavia devemos ser sóbrios e aprender que para que Cristo viva em nós, é necessário morrermos com Ele (Rm 6:11). Como disse John Stott: “Se Cristo raramente faz oferecimentos sem exigências, ele

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também raramente faz exigências sem oferecimentos. Ele oferece sua força para

capacitar-nos a satisfazer às exigências” 32.

A VIDA DE JESUS NÃO É MISTICA

Aí acabamos por ter que abordar outro ponto: a vida de Cristo não é mística, mas real. Falo isso, porque sei que alguns cristãos cruzam os braços e simplesmente esperam que Deus aja por eles. Outros se condenam, pois até obedecem, mas não têm certeza se a força que os levou a obediência foi sobrenatural ou não. Irmão, preste bem atenção naquilo que eu vou dizer aqui: o mandamento é que deixemos ser guiados pelo Espírito Santo e não pela carne (Rm 8:14). Logo, o Espírito é um guia e não um dominador. Ora, se eu posso escolher fazer o mal, também posso fazer o bem. Paulo nos ensinou que podemos mortificar as obras da carne pelo Espírito - então é evidente que o “mortificar” é uma ação do crente, mas que também está relacionada á unção libertadora que há na vida de Cristo. Entende? Pense comigo: se o pecar me traz morte, o obedecer também me traria? De forma nenhuma33! Pois se nós somos feitos pelo Espírito servos de Deus, só temos a que nos gloriar. A condenação será para aqueles que se inclinam para os desejos carnais e para os que estão na carne, isso é, para os que não nasceram de novo ou para os que nasceram, mas escolheram se aperfeiçoar na Lei (Rm 8:8). Irmão, por isso não somos devedores à carne como se fôssemos seus escravos. Porque se vivermos segundo a carne, morreremos, mas se, pelo Espírito, mortificarmos os feitos do corpo, viveremos (Rm 8:1-17). Ora, já não somos escravos do pecado – e isso já não é

32 STOTT, JOHN R.W. O que Cristo pensa da Igreja. Campinas (SP): United Press, 1998. 33 A Bíblia nos ensina a lutar com todos os esforços contra o pecado e a perseverar nas provações (Tg 1:2-18). Como que na vitória haveria transgressão, se fazemos por fé e não por um motivo banal?

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Graça? A vida de Cristo não é mística, mas sim real! Precisamos entender que o Evangelho não foi escrito para monges, ele não é enigmático, ele é claro e prático! Foi a vida de Jesus em nós que nos tirou o peso do pecado, que nos trouxe a paz, o gozo desde quando nos convertemos – e isso já não é Graça? Se hoje então podemos, por fé somente, responder à santa vocação de Deus, por que isso também não seria? Para o pecado foi que morremos (Rm 6:2). Ora, ele não tem domínio sobre nós, pois oferecemos os nossos membros a Deus, como ressurretos dentre os mortos, como instrumentos de justiça (Rm 8:12-14). E se oferecemos nossos membros para obediência, logo alcançamos justiça e santificação (Rm 6:19). Amado, que tenhamos um coração puro e uma boa consciência. Quando devidamente guardamos os mandamentos de Deus, quando O colocamos como “o motorista” de nossas vidas, é natural que Ele nos dirija. Você não é um servo sincero? Então tenha certeza que Ele vive através de você! Também não podemos nos esquecer de sua consolação – o Espírito Santo nos ajuda em nossas fraquezas. Quando decidimos glorifica-lo, obedecendo-o, Ele nos capacita e nos fortalece. Aleluia!

E disse-me: A minha Graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de

Cristo. 2 CORÍNTIOS 12:9

REFLEXÃO: Qual é a relação entre a esperança e as obras?

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4 - O Amor: a virtude suprema

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o

amor34. 1 CORÍNTIOS 13:13

O amor é o caminho da felicidade

Também, irmãos, vos fazemos conhecer a Graça de Deus dada às igrejas da macedônia;

Como em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua

profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade. 2 CORÍNTIOS

8:1-2

QUANDO EU ME CONVERTI aos 13 anos, me apresentaram um Evangelho franco e simples que oferecia felicidade e realização. Não que me prometeram riquezas, bens ou títulos ou imunidade nas aflições, mas uma coisa me deram certeza: “Jesus é o pão da vida e aquele que d’Ele come, jamais tem fome”. Então quando ouvi essa mensagem35, a pregação de Cristo, descobri o caminho da felicidade. Hoje eu posso afirmar que sou um homem

34 Isto é, o amor ágape (altruísta), é o atributo mais valoroso de Deus, pois ele determina a sua bondade, misericórdia e paciência com os pecadores. 35 Através da minha mãe em 26 de Abril de 2001.

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realizado em Jesus. Desde aquele bendito dia eu não tenho mais o sonho de ser feliz, pois eu já sou feliz. Aleluia!

O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a

tenham com abundância. JOÃO 10:10

Mas infelizmente nestes anos todos que tenho servido ao Senhor também tenho visto irmãos que embora sejam realmente convertidos, demonstrarem não desfrutar dessa mesma alegria e satisfação. Parece que o tempo os fez esquecer a simplicidade da vida com Cristo. Alguns, posso afirmar, caíram da Graça e hoje vivem sob a maldição da Lei. Pessoas que são severas ou rigorosas com tudo e por causa disso nunca ou quase nunca dão um sorriso. Elas estão sempre de mau humor, parecem se vigiar o tempo todo ou julgar os outros.

Há aqueles que nem sequer se alegram nas histórias decentes ou nas piadas, são pessoas de difícil relacionamento, pois não sabem suportar as fraquezas dos mais fracos. Há alguns até que estranhamente só vivem enjaulados em casa e quando saem, só vão para o trabalho ou para os cultos. Não praticam mais esporte ou lazer, demonstrando, ao meu ver, ao mundo que o Evangelho os tirou a alegria, a motivação de viver. Pois se isso que é felicidade, então me apresentaram um outro Jesus!

Existem Cristãos também com o péssimo hábito de fazer severas críticas com os defeitos dos outros. E na maioria das vezes, eles acabam coando um mosquito e engolindo camelos. São pessoas, assim como as já citadas, que perderam o entendimento do que seja verdadeiramente o amor, a misericórdia e a compaixão; elas vivem como condenadas ao tormento eterno, cheios de má consciência ou se considerando juízes dos mais fracos.

Para esses nada está bom: nem a comida, nem os filhos, nem os empregados e nem a Igreja. Já há aqueles, que preferem não criticar,

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mas são especialistas em especular situações. Suspeitam horrores dos irmãos, e o pior: guardam tudo para si mesmos e nada conferem (são mestres da malícia).

Leitor, no momento você deve estar se lembrando de alguém que deve viver dessa maneira, ou talvez até você mesmo esteja se vendo nessa situação. Eu não sei. Eu não sei se você se enquadra nessa triste realidade ou não, mas se for o seu caso, calma, pois temos uma solução para o seu problema!

A SOLUÇÃO PARA AS DOENÇAS DA ALMA

Um dos mais destacados antropólogos do mundo disse certa vez: “Compreendemos, pela primeira vez na história da nossa espécie, que a mais

importante de todas as necessidades psicológicas humanas, básicas, é a necessidade do amor. Ele (o amor) está no centro de todas as necessidades humanas, assim como o nosso sol está no centro de nosso sistema solar com os planetas orbitando em volta dele”.

O que talvez você precise entender é que a falta de amor adoece a alma e tira a felicidade e que nós fomos feitos para amar e nada poderá mudar esse propósito. O amor é paciente e bondoso; Ele não inveja, não se vangloria e nem se ensoberbece. Por isso não se porta inconvenientemente. Não se irrita, e nem suspeita o mal. Ele nos faz sofrer pelo próximo, acreditar e até suportá-lo (1 Co 13:4-7).

O remédio para as doenças que temos dentro de nossas almas é o exercício do amor. Pois, afinal, o que pode nos trazer mais alegria do que servir e amar o próximo? Consegue imaginar? Ora, se estamos alegres e satisfeitos em Deus, não é inevitável que façamos o bem ou que levemos a alegria àqueles que ainda não tem? Ou você não sabe que a nossa alegria é ainda mais plena quando compartilhando de nosso amor fazemos os outros felizes?

Oh, se tivéssemos amor! Haveria uma paz em nossos corações que não conseguiríamos medir. Onde estariam as disputas, as iras ou as desconfianças? O nosso orgulho não mais reinaria e sim o

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Espirito Santo operaria o bem e nos edificaria. A glória do nosso Deus se manifestaria na terra como é nos céus!

Amando ao Senhor

Nós fomos feitos para amar – já vimos isso, ok? Então me

responda agora a pergunta: por que será que Ele nos ensinou através de sua Palavra a amá-lo com toda a nossa alma, força e entendimento? Não sabe a resposta? Então deixa eu lhe responder isso: simplesmente porque não só nós precisamos disso, nos fazendo felizes, mas porque Ele nos fez assim porque Ele é assim!

Eu vou tentar ser mais claro: foi por amor que Jesus se entregou na cruz. Deus não foi morto por causa de sua má consciência que dizia a Ele que éramos vítimas do pecado e não os culpados. Deus sabia que cairíamos, mas mesmo assim nos criou tendo em mente nos amar. Portanto devemos amar ao Senhor porque Ele nos amou primeiro.

Mas também devemos amar ao Senhor por um outro motivo que também está relacionado ao seu próprio amor. Veja:

Nós caímos, mas qual foi o nosso maior pecado? Ao contrário do que muitos pensam, o principal problema do homem não foram e não são os seus muitos pecados! Quem dera fosse assim. Quem sabe então Deus pudesse enviar um de seus anjos maiorais, como Miguel, para nos substituir na cruz. Ele ressuscitaria e todos os anos se ofereceria novamente, ano após ano36.

Mas o verdadeiro problema da humanidade ou “o” seu pecado é a sua relação com a Lei e ela muitas vezes se torna pior do que o próprio pecado original (a rebelião). Como assim? Pois quando obedecemos a Deus sem ser de coração, voluntariamente, e fazemos por obrigação as coisas, nos julgamos justos e dignos de alguma 36 É óbvio que essa é uma especulação boba. Anjos não podem morrer nos lugar dos homens e nem teriam justiça própria suficiente para isso.

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honra. E o que acontece? Não nos conformamos ao seu coração, pois Ele não faz nada por obrigação, mas tudo por amor37. E se não nos conformamos a Ele, então não podemos agradá-lo.

Irmão, precisamos compreender que não devemos a Deus apenas a nossa obediência, mas sim os nossos sentimentos e admiração. O grande problema que encontramos até mesmo na rebelião é que não fazemos mais caso do que Ele pensa ao nosso respeito. Vê?

Aqui está um ponto fundamental em toda doutrina do Evangelho: nós não somos salvos pelo que fazemos, mas pelo que cremos. A fé então é algo interno, que orienta não apenas as ações do crente, mas principalmente os seus sentimentos e motivações. Por isso o amor é o ápice da fé, é aquilo que realmente nos une a Cristo e nos imputa a sua Justiça.

Você precisa realmente entender essas coisas! A fé não é apenas uma crença, uma sujeição ou uma esperança. A fé é entregar-se totalmente de coração ao Senhor. É nos importarmos com o que Ele pensa, é nos satisfazer em sua vontade, é amar a sua Lei e nela ter prazer.

Pare e pense um pouco: todos sabem que nenhum relacionamento pode se fundamentar ou se estabelecer apenas em regras. Para que toda relação funcione é preciso sim de regras e respeito, mas também, e principalmente, afeto e voluntariedade. Quem tem filhos ou cônjuge ou amigos sabe que para termos laços verdadeiros, o que conta mais são as motivações atrás das ações e não simplesmente se elas são certas ou erradas. Quando fazemos o bem, não fazemos porque alguém nos impôs tal regra, fazemos porque o amamos. É assim que deveria ser o nosso compromisso com Cristo! 37 Deus é gracioso. A santidade do Senhor o exige que tenha uma lei e que seja justo. Mas o propósito de Deus na criação não está estabelecido em sua justiça mas em seu amor. Isso significa que o único motivo de nos fazer conhecer a sua lei e nos orientar a segui-la é porque Ele nos ama – e até mesmo na punição do pecador, o amor será o motivo final.

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Os rebeldes em sua loucura chegam a dizer a besteira: “Por que

devo obediência a um deus egocêntrico e orgulhoso?”, mas para nós que descobrimos o mistério de Deus, isso é Cristo, a sujeição é o ato mais sublime de todos! Aleluia!

Os principais motivos que a Bíblia nos dá

para que possamos servir e amar a Deus SÃO:

I. Fomos criados por Ele e para Ele (Rm 11:36). A criação não pode questionar o seu criador porque a criou deste modo ou de outro. Somos feitura d’Ele, criados para que andemos em boas obras, feitos para amar e servir, assim como Ele (Ef 2:10);

II. Deus é Deus e não pode ser questionado sobre o que pensa e o que é. Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?(Rm 11:34). Os filhos se sujeitam aos pais, pois são naturalmente dependentes deles. Assim são os homens com o seu supremo criador e na verdade infinitamente mais dependentes do que isso. Os homens precisam deixar de fazer questionamentos vãos e que não mudarão em nada os fatos e aceitar a ordem natural do universo (nós precisamos do Senhor);

III. Amamos a Deus pelo seu caráter. O seu amor nos constrange, pois Ele morreu em nosso lugar (2 Co 5:14). Ele é fiel, bondoso, justo, misericordioso, compassivo, longânimo, glorioso, poderoso e infinitamente mais do que podemos imaginar. São tantos motivos para amá-lo: amamos pelos seus feitos, por nossa existência, pelo seu amor... Aleluia!

IV. Sem amor nada seremos (1 Co 13:2,3). A depravação total é gerada da falta de reconhecimento. Podemos até ser pessoas morais ou bons religiosos, mas se Deus não tiver os nossos corações, se não nos movermos em amor, o

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sacrifício e a verdadeira santidade são utopia38. Toda depravação ou queda espiritual inicia-se quando deixamos de amar ao Senhor e colocamos outras coisas em seu lugar, inclusive coisas boas. Sem falar que continuamos vazios e tristes.

Veja que os motivos que a Bíblia nos dá para amarmos ao

Senhor são os mais nobres e lindos. Haveria alguém tão santo, tão amável, justo, misericordioso, fiel e poderoso? Haveria alguém que mereça ocupar os nossos corações, senão este Cristo soberano, criador e amigo de pecadores? Pois se há um objetivo em seu rigor, este certamente é nos levar a compreender o seu amor e nos fazer completos. Ele é a nossa suficiência!

Amando o próximo com o amor de Deus

Veja com isso que o amor deve sempre guiar os nossos atos e propósitos, pois deste modo cumprimos toda a Lei (Rm 13:8). É verdade também que o amor é incondicional (1 Jo 4:10), sacrificial (1 Jo 4:14) e só pode ser experimentado por aqueles que têm fé (1 Jo 4:16) e nasceram de novo (1 Jo 4:7). Ele também é resultado da manifestação divina, do fruto do exemplo de Cristo (1 Jo 4:19), que a si mesmo se entregou, e do Pai que o ama (Jo 15:9). Aleluia! O amor é perfeito!

Mas isso também quer dizer que você não é realmente um cristão se não ama outras pessoas. Se não socorre os pobres, se não visita os enfermos, as viúvas e os presos. Você não é Cristão se não tiver a marca registrada da Igreja em seus primórdios: a Piedade (At 9:36;10:4). Veja o que Tertuliano, um dos maiores líderes da Igreja, escreveu em 197 D.C.:

38 A santidade conduz ao amor e o amor à caridade (2 Pe 1:7)

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Embora tenhamos nosso gazofilácio39, ele não é composto de dinheiro de compra, como se a religião tivesse seu preço. Mensalmente, se o fiel assim o quiser, ele deposita sua pequena doação; mas apenas se ele se alegrar em fazê-lo, e se puder fazê-lo: não há coação; é um ato voluntário. Essas dádivas... não são gastas em festividades, em bebedeiras, em restaurantes, mas para sustentar e para enterrar nossos pobres, para suprir os desejos de meninos e meninas destituídos dos meios e dos pais, e para ajudar os idosos agora confinados a suas casas; também para os que sofreram naufrágio; se houver dos nossos nas minas, ou banidos nas ilhas ou trancafiados nas prisões, por nenhum outro motivo senão pela fidelidade demonstrada à causa da Igreja de Deus, ele se tornam os lactentes de sua própria confissão. Mas são principalmente os atos de amor, nobres, que levam muitos a nos rotular. Vejam só, eles dizem, o quanto eles se amam mutuamente... quanto eles estão dispostos até a morrer uns pelos

outros.40

Então irmão, que amemos uns aos outros com esse amor41. E

que amemos a Deus com todo o ser e que as nossas forças e anos sobre essa terra sejam como cartas vivas42 de um romance profundo com Ele! Que a comunhão com Ele e uns com os outros seja o alicerce de nossa devoção e fé salvadora. Amém!

39 Local em que eram recolhidos e conservados as ofertas. 40 Eu sou mesmo um Cristão? Mike McKinley , Pag 125, Editora Fiel. 41 O amor não nos afasta dos mais fracos pretextando santidade ou humildade fingida. Na verdade, a santidade não nos tira a responsabilidade que a Graça nos impõe. Nós vemos os outros como iguais, reconhecendo também nossas fraquezas e imperfeições. Vivemos então em família, humilhando-nos a fim de alcançar o bem maior que é a edificação do Corpo em amor (Ef 4:15-16). 42 2 Co 3:2-3

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CONTRAPONTOS: O VERDADEIRO E O FALSO AMOR

Leitor, espero sinceramente que essa meditação esteja provocando na sua vida uma reviravolta, uma reforma total na forma como você tem servido ao Senhor! Mas confesso que não irei permitir que você termine o livreto sem que entenda claramente o que Deus deseja quando nos ordena amar. Pois afinal, o que é o amor?

DEUS É AMOR

Primeiro, para começar, é importante relembrá-lo que Deus nos criou para amá-lo, honrá-lo, servi-lo e sermos seus semelhantes. Ele, o Senhor, é amor, acima de tudo; na verdade a sua própria essência (substância) é o amor. Assim, como Deus também é a vida e tudo que existe possui a sua essência, o seu suspiro, da mesma forma também é com o amor: sem Deus não há amor e não há amor sem Ele (1 Jo 4:7,16). Ok? Mas já vimos isso, não é?

Certo... Deus é amor. Porém eu vou mais adiante agora em dizer que existe também um “amor” maligno. Permita-me dizer agora que há um falso amor, um amor pregado por este século, que nos faz compreender tudo e nos impõe o pensamento que Deus deve ser paciente e até mesmo compreensivo com o pecado. É um amor que não pensa em sacrifícios, não como o amor de Jesus que se entregou em favor dos seus, mas o amor humanista que tudo aceita e que só faz algo por si mesmo; que deixa de obedecer a Deus para servir suas próprias concupiscências, que ao invés de se sacrificar, prefere sacrificar os que “ama”.

O AMOR DO MUNDO É NA VERDADE UMA FARSA

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Você já discerniu isso? Há um falso amor que a Igreja anuncia e prega, mas não um amor com obras ou caridade, com serviços e perdão, mas um amor que ensina que devemos fugir de todo o tipo de preconceito e rejeição. Leva-nos a entender que não devemos ter nada contra o pecador, mas simplesmente contra aquilo que ele faz (com suas práticas). E isso acaba sendo incoerente com a justiça de Deus de julgar os homens segundo os seus atos, porque para Deus, os homens pecam porque são pecadores, eles são aquilo que fazem! O homem se tornou inútil por causa de seu pecado! Ponto final!

Veja irmão que o amor moderno é falso. Ele não nos faz amar a nós mesmos como amamos o próximo ou abaixo de Deus. Por isso, quando me aproximo de um pecador não digo a ele que não tenho nada contra ele. Digo: “- Tenho tudo contra ti e contra o que você faz. Você é mau

e aquilo que você faz de mau é apenas uma das consequências de sua maldade, mas você é

terrível!”43 A Igreja precisa aprender a dizer a verdade em amor, a amar as pessoas como Jesus amou dizendo a verdade44. Temos que amar mais a Jesus do que a nós mesmos, dizendo NÃO aos nossos próprios deleites ou vontades e SIM a Deus e vivendo o seu Reino. O fato de ter algo contra alguém não significa que não o amamos. Entende?

Assim que, sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé. 2 CORÍNTIOS 5:11

O VERDEIRO AMOR

Mas o verdadeiro amor, o amor cristão, não compreende o pecado. O verdadeiro amor faz com que fujamos e destruamos a transgressão que existe em nossas vidas. Lembre-se de que o amor do

43 O objetivo dessa expressão é apenas mostrar que não devemos ser incoerentes com o juízo de Deus, mas caso seja necessário, devemos sempre falar a verdade em amor. 44 Só existe amor quando há justiça e verdade

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Pai não apenas o fez esquecer-se de nossas culpas (como que nos desse anistia), mas o fez enviar seu único filho para aniquilar o nosso pecado fazendo-o sofrer numa cruz.

Eu lhe pergunto: quanto você tem amado realmente com esse amor? E o que tem feito: tem compreendido o pecado ou se sacrificado para destruí-lo? Pois isso é o amor cristão: o zelo que nos faz fugir da justiça vindoura de Deus, que se apropria do temor ao Senhor.

A confissão busca perdão de Deus, não anistia. Perdão pressupõe culpa; anistia, palavra derivada do mesmo vocábulo grego amnésia, “esquece” a ofensa alegada, sem imputar culpa. A confissão admite o erro e busca perdão; a anistia nega o erro e reivindica inocência. (LUCADO, Na Jornada com Cristo, pag.55)

AGORA, AS CONTRADIÇÕES

Contrastando, o amor que Satanás prega é o amor que nos afasta do temor e do tremor, da santa justiça, da lei moral de Deus e do amor genuíno, ou seja, é a chamada Libertinagem. Por exemplo, costumamos ouvir no mundo que quando uma pessoa se divorcia, o mais importante é ser feliz, é o amor, certo? Perceba então que para o falso amor não há problemas nisso, mas eu pergunto: onde estaria então o amor pela pessoa rejeitada, aquela com quem um dia ela fez a aliança perpetua de amar? E a seus filhos? E a Jesus? Não disse o Senhor: “Eu odeio o divorcio” (Ml 2:16)? Isso ocorre também quando os pais são impedidos de corrigirem seus filhos porque deveriam “amá-los”. Mas a Palavra também não diz: “O Senhor corrige aqueles que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho” (Hb 12:6) e “O que não faz uso da vara odeia a seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga” (Pv 13:24)?

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Veja que na verdade o amor que ouvimos e vemos nesses dias é o amor a si próprio (egocêntrico) e a Igreja também se confundiu nesses princípios e pensa que é a mesma coisa (o mesmo amor), e é por isso que ela se adequou tão facilmente a esta mensagem.

Porque já sabeis a Graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis.

2 CORÍNTIOS 8:9

Paulo já dizia a Timóteo que se guardasse dos homens dos últimos dias, pois seriam mais amantes de si mesmos do que de Deus. Jesus também disse que o amor de muitos se esfriaria. E hoje é isso o que vemos, o amor de muitos por Deus e pelo próximo se esfriando, restando este falso sentimento claramente anticristão e herege.

Como disse anteriormente, o amor de Jesus é sacrificial (altruísta), nos leva a obedecer e ensinar os outros a obediência, diferentemente do amor que tudo aceita e considera que os rebeldes são apenas homens fracos e que talvez um dia possam mudar. É como se Deus estivesse nos céus apenas pacientemente aguardando essas coisas, a nossa boa vontade e disposição, sorrindo com se fosse o Papai Noel no dia de natal ou o coelhinho no dia da Pascoa!

É escandalizador: esse “amor” moderno e mundano chega ao ponto de acreditar que Deus perdoe todas as coisas e que está aqui apenas para nos compreender independentemente da gravidade do nosso pecado ou da vida como temos vivido. Mas o amor de Deus é bem diferente disso, ele é RESPONSÁVEL. Deus entregou seu filho por amor, mas igualmente por justiça. Na verdade, o nosso pecado ofende tanto a Ele e exige tanto a sua justiça que por Ele nos amar foi necessário matá-lo! E se é assim, eu pergunto a esses libertinos: por que então a sua Graça seria derramada sobre pessoas

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que decidem profanar o seu sangue ou ultrajar o Espírito da Graça? Respondam-me antes que seja tarde!

Eu vejo nas Escrituras que Jesus serviu a todos, lavou os seus pés, curou os enfermos e multiplicou pães. Ele fez o bem a todos porque Ele é bom e ama as pessoas, mas quando se tratava de purificação, perdão e de salvação, Jesus nunca foi compreensivo com nenhum tipo de maldade. Para Ele, todos os homens necessitavam de arrependimento, confessá-lo como SENHOR (KYRIOS). Todos precisavam se converter a Ele, entregar-se e por meio da fé (a fé verdadeira de um cristão que renuncia tudo e que produz boas obras), eles seriam perdoados, encontrariam a salvação.

Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte. 2 CORÍNTIOS 7:10

Pois Ele é verdadeiramente o Senhor! Jesus nunca pediu nada a ninguém, mas ordenava todas as coisas. Você por acaso lembra em alguma passagem bíblica Jesus pedindo alguma coisa a alguém? Tente lembrar. Ele disse a Zaqueu, um homem que provavelmente não o conhecia e que estava pendurado em uma arvore: “Desce daí,

pois hoje ficarei na sua casa!”.

O seu amor não compreende a rebelião, não é compatível com a iniquidade, mas em levar o homem ao arrependimento, à renúncia, à entrega absoluta da vida ao seu governo eterno. Paulo disse aos Atenienses: “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância,

anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam” (At 17:30). Este é o Evangelho do Reino, este é o amor de Deus para conosco: que não aceita o pecado, mas que nos conduz ao arrependimento, à vida de boas obras (Ler Rm 2:4).

O ESCÂNDALO DO EVANGELHO

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Nas suas cartas, Paulo disse que havia “o escândalo da Graça”. Também nos Evangelhos vemos esse escândalo presente na vida dos judeus já que o Senhor foi capaz de perdoar pecadores que, para aquela cultura, eram incapazes de serem perdoados. O fato era que naquele tempo a moral (ou o legalismo) era tão extremo que não se acreditava em um amor tão forte como o de Cristo. Jesus amou ao ponto de perdoar prostitutas quando elas se arrependeram verdadeiramente e o serviram com uma vida piedosa! Ele também foi capaz de perdoar os publicanos que roubavam o povo, de salvar os fariseus que eram hipócritas, até mesmo de amar um ladrão condenado à Cruz, quando estes sinceramente reconheceram os seus pecados.

Mas hoje, prega-se um amor tão meloso e fofinho que o Evangelho continua a ser um escândalo. Mas diferentemente do tempo de Jesus e dos Apóstolos, em nossos dias o Evangelho do Reino é visto como radical e sem amor. Os homens não veem que o Evangelho nos leva a considerar o amor do Senhor, mas também a sua justiça, a moral, a santidade, a obediência e tudo o que Ele fez por nós ao ponto de se entregar e de renunciar a tudo o que tinha. Muitos não entendem que Ele morreu para que o seu amor nos constrangesse; que Ele morreu para aqueles “que vivem, não vivam mais

para si mesmos, mas vivam para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5:14-15).

Leitor, o Cristão verdadeiro, você, tem que ter uma vida piedosa, de santificação, nunca de fraqueza ou de auto- compreensão. E em momentos de dificuldade entregar-se ao Rei e busca-lo em oração e jejum, pois n’Ele encontrará Graça e poder para superá-los. Afinal, precisamos aprender a nos conformar à cruz de Cristo para ver se de algum modo alcançaremos a ressurreição (Fp 3:10-11)45. Amém? 45 Deus exige de cada crente santidade, pois Ele é santo (1 Pe 1:16). O seu amor, portanto, nos conduz ao arrependimento.

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Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. JOÃO 15:10

O COLAPSO DE VALORES

Perceba também que em nossa sociedade nunca se falou tanto em amor e em direitos humanos, todavia nunca houve tanta desigualdade e destruição. E essa perda de valores tem feito com que os homens se tornem intolerantes e violentos; os criminosos não são punidos e os dignos de honra não são honrados. Isso porque estamos distantes do conhecimento de Deus e de seus atributos. E o problema também está presente na Igreja: há pastores que temem pregar com firmeza e repreender seus ouvintes com toda a autoridade e preferem falar mensagens que não confrontem as pessoas (Tt 2:15;3:8).

É lamentável o estado como temos visto o mundo e os evangélicos. Mas Cristo ainda nos convida para sofrermos o resto de suas aflições, que carreguemos em nosso corpo as suas marcas. Este é o Evangelho do Reino de Deus pregado por Ele e por sua Igreja primitiva, um Evangelho que promete a vida através da morte, a alegria por meio do sofrimento, a benção pela perda, pois se desejamos ser participantes de sua Graça maravilhosa precisamos primeiramente participar de seu esvaziamento e abnegação.

Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo. LUCAS 14:26,27

Espero realmente que você tenha entendido essas coisas e que

aprenda a amar com o amor divino. Jesus por amor na cruz nos abriu um caminho que nunca podíamos abrir, pelo seu sofrimento

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hoje podemos ter vida. Pela sua Graça Ele faz um glorioso convite para todo o homem: que sigam os seus passos e que paguem o preço de serem santos. Maranata, ora vem Senhor!

Portanto para finalizarmos o livreto, vejamos agora as definições de amor Ágape e Philos. Isso também pode nos ajudar bastante.

DEFINIÇÃO DO AMOR ÁGAPE E PHILOS

Veja: o amor mundano é emoção, Philos, sentimentalismo

apenas sem ação, mas o amor verdadeiro, Ágape, é uma ação, uma atitude de benevolência por outro. Isso significa que Deus ama com amor Ágape os pecadores mesmo muitas vezes não tendo um coração cheio desse sentimento, Philos.

Para muitos, isso acaba soando estranho, mas para a Bíblia não há estranheza alguma aqui. Pare e pense: é possível amar aqueles que nos odeiam e nos perseguem? É possível amar o próximo mesmo não o conhecendo? A resposta é: claro que sim! Pois o amor é um atributo que compõe uma pessoa bondosa; é fazer o bem, servir, orar e perdoar, mesmo que não tenhamos nenhum tipo de afeto no coração - embora saibamos que devemos fazer tudo também com afeto. É assim que Deus ama os pecadores, enviando a chuva e o sol, independentemente deles serem bons ou maus (Mt 5:43-48;Sl 5:5).

Já o amor que é conceituado como apenas sentimento ou forte reconhecimento (Philos), Deus tem apenas por alguns, por assim dizer. Ele ama àqueles que o amam (Pv 8:17), que guardam a sua Palavra e o servem de coração e não de aparência (Jo 14:21). E esses são justificados por fé.

Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus. JOÃO 16:27

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Mas também de certa forma, Deus ama todos do mundo inteiro (Jo 3:16; 1 Jo 2:2; Rm 5:8). Esse amor não é condicional – é baseado apenas no fato de que Deus é um Deus de amor (1 Jo 4:8,16). E o amor de Deus por toda a humanidade resulta no fato de que Deus demonstra a sua misericórdia por não punir as pessoas por seus pecados imediatamente (Rm 3:23; 6:23). 46

CONCLUSÕES

Caro leitor, vimos então nesse capítulo que a fé que opera através do amor não diz “não importa o que eu faço”, mas pelo contrário, estabelece em nossas vidas um total e real comprometimento à causa de Cristo. Mas também, ao mesmo tempo, nos coloca em uma posição de humildade, gerada do reconhecimento da incapacidade humana em si salvar e da dependência absoluta ao favor imerecido de Deus. De nos agarrarmos em suas promessas estabelecidas em seu próprio amor para conosco.

Bom, mas isso já é um outro assunto, para um outro volume da série: Didaquê- A doutrina dos Santos Apóstolos. Então que Deus te abençoe!

REFLEXÃO: Como tem sido o seu relacionamento com Deus? Você

é feliz? Pratique o verdadeiro amor Cristão.

46 Disponível em <http://www.gotquestions.org/Portugues/Deus-ama-todos.html#ixzz2z4tI53pk>. O amor de Deus é paciente e longânimo. Isso significa que Deus sempre espera no futuro e não age com justiça imediatamente no presente. Deus nunca desiste de nós e continua tendo esperança que nos arrependamos.

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PERGUNTAS PARA ESTUDO

1. Qual a importância da fé, da esperança e do amor no processo de conversão e salvação? Por que eles são conhecidos como os atributos fundamentais do Evangelho?

2. Explique com suas palavras como a fé está relacionada à esperança e ao amor.

3. Comente a frase: “A fé é a mãe das obras” (Pag. 28).

4. Explique o fato do autor afirmar que a vida de Cristo não é mística,

mas real (Pag. 39).

5. “O amor é o caminho da felicidade”. Comente isso relacionando o coração do Senhor em seu proposito de criar o homem.

6. Com base no que você entendeu, responda: qual é a relação entre os

atributos fundamentais e a Lei? A Lei foi abolida ou deve ser cumprida? Se a resposta é a última opção, então qual é a forma correta de cumpri-la?

7. Depois de ter feito esse estudo, qual é a sua opinião: a Igreja de hoje (universal) tem ensinado adequadamente o Evangelho? Se sua resposta é não, qual o ensino então que tem sido por ela mais enfatizado? Aproveite para destacar, ao seu ver, os principais equívocos que a Igreja moderna tem cometido.

8. Também escreva o que mais lhe chamou a atenção neste tema.

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Jônatas Welber O. Cruz

Olá! Nesse livreto eu quis muito que você entendesse as verdades essências contidas nas virtudes teologais. Isso porque todas aquelas verdades te ajudarão muito a entender a grandeza do mistério da Graça. Aqui falamos sobre a fé, a esperança e o amor. Também refletimos sobre o conceito de Deus (teologia), o senhorio de Cristo, os sentimentos que devem mover as nossas obras, a eficácia do poder de Cristo e descobrimos as sutis diferenças entre o verdadeiro e o falso amor. Portanto, considere esse primeiro volume uma introdução ao tema “Graça”. Nos próximos livretos falaremos dela de uma forma muito mais profunda fazendo um passeio pela história da Igreja. Por isso, continue conosco!

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Neste primeiro volume da série eu quero encorajá-lo a mergulhar no centro da mensagem cristã estudando alguns dos seus principais pilares. Falaremos um pouco de algo que nos põe em contato direto com Deus. Algo que converge toda a nossa maneira de viver e crer, que aperfeiçoa a nossa natureza, estabelecendo em nossas vidas um dinamismo que nos torna capazes de realizar a nossa vocação de comunhão pessoal com Ele. Algo tão importante, que nos dá acesso à Graça e, portanto, nos conduz a salvação. Elas são as virtudes teologais, aquelas virtudes que sobrenaturalmente herdamos da própria essência divina, que nos possibilitam participar livremente da própria vida de Deus.