diários modernos estão online

1

Click here to load reader

Upload: camila-bastos

Post on 21-Jul-2016

217 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Diários modernos estão online

“Vou escrever atémorrer, mesmo. Me faztão bem que eu atétenho vontade deinfluenciar crianças”,afirma

Sabrina Abreu,31, ESCRITORA E JORNALISTA.

“As vezes eu olhopara uma coisa,penso em uma foto evou lá e posto. Seaconteceu algumacoisa legal no meudia, se estou comalguém que eu gostomuito, eu queroescrever e publicar.”

Rafael AraujoESTUDANTE

“A rede social é umacoisa nova, as pessoasainda estão aprendendoa lidar com ela. Existemvários públicos que aindanão sabem o que é (arede social). Na maioria,o público mais velho nãotem esse hábito.”

Joana ZillerPROF. COMUNICAÇÃODIGITAL DA UFMG

7Herbber acompanhaSabrina Abreu, 31,

desde que a escritora e jor-nalista tinha apenas 8anos. Ela nomeou o diárioem homenagem ao perso-nagem Herbie (um fuscaque apareceu em vários fil-mes do estúdios Disney).“Quando eu descobri o jei-to certo de escrever eu nãoqueria mais trocar, já era onome dele”, conta.

Com o tempo, Sabrina eHerbber cresceram. Hoje,por exemplo, ela não cha-ma mais o companheiro pe-lo nome. “No começo, eudescrevia os meus dias eeles eram muito parecidos”,diz. Hoje ela escreve sobreassuntos mais profundos.São pensamentos, filosofiaspróprias sobre a vida e atécitações de livros e textos.

Sabrina começou a escre-

ver seus diários por influên-cia do pai e hoje incentivaas crianças que encontra afazerem o mesmo.

“O mais legal para mim éque hoje e tenho meu retra-to ao longo da vida. É um pe-daço da sua eternidade, quenunca mais vai ser igual. Ali,está o que você pensou da-quela situação naquele mes-mo dia”, afirma. Ela tam-bém reconhece que os diá-

rios foram importantes pa-ra melhorar a sua escrita, oque é fundamental parasuas duas profissões.

Quando viaja, Sabrinaleva cadernos menores pa-ra escrever diários de pas-seio, que ajudaram na pro-dução de dois de seus li-vros – “Meu Israel” (2009)e “Estados Unidos: Via-gens” (2011). Ao longo demais de duas décadas, jásão cerca de 40 cadernosque ela não mostra paraninguém. Ela consideraque, nos diários de papel,pode expor o que chamade “íntimo verdadeiro”, de-talhe que não poderia serfeito em redes sociais. “Odiário de caderno me deuum senso de íntimo e pri-vado. Eu não conto minhavida pessoal na internet”.(CB)

Memória

Livro aberto

Novidade

Conectado. Rafael Araújo diz que não consegue sair das redes sociais e, inclusive, mantém atualizações em seu perfil pelo celular, independentemente do local onde está

À moda antiga

Redes sociais. Informações se tornam públicas, ficam disponíveis e têm a chance de serem compartilhadas

DiáriosmodernosestãoonlineEspecialistaalertaqueregistroinformalpodeteralcancealémdoesperado

¬ CAMILA BASTOS

ESPECIAL PARA O TEMPO

¬Antes destinada a cader-nos escondidos em fundosfalsos no armário, a funçãodo diário confidente passaa ser assumida hoje pela in-ternet e, principalmente,pelas redes sociais. Descre-ver como foi o dia (sem es-quecer de postar foto das re-feições), reclamar do trânsi-to e das condições climáti-cas (faça chuva ou faça sol)ou, simplesmente, desaba-far sobre questões filosófi-cas da vida virou hábito pa-ra muitos usuários de redessociais online, como Face-book, Twitter e Instagram.

Rafael Araújo, 30, estu-dante de nutrição, nãoconsegue sair de perto docelular com acesso à inter-net. “Eu entro de cinco emcinco minutos. Se estouna faculdade, ele (o celu-lar) está ali, em cima damesa, para que a qualquermomento eu possa postaralguma coisa, até mesmosobre a aula”, diz o usuá-rio de Twitter e Facebook.

O jovem trabalha co-mo vendedor em um shop-ping na região Centro-Sulde Belo Horizonte, e nãopode ficar com o celulardurante o período de tra-balho. “Mas, quando a lo-ja fica tranquila, corro noestoque pra dar uma olha-da no que está acontecen-do”, conta ele. Ficar semacesso à internet? “É mui-to sofrido”, admite.

Joana Ziller, professo-ra de comunicação digitalda Universidade Federalde Minas Gerais (UFMG),explica que o hábito e a ne-cessidade de narrar o diavem de muito antes da in-ternet. “Sempre houve ne-cessidade de falar do nos-

so dia para os nossos ami-gos. Quando um relaciona-mento estava ruim, você ou-via as pessoas reclamandoque os parceiros não per-guntavam mais sobre comohavia sido o dia delas”.

MODERNIDADE. Joana diz que,na era digital, tudo fica re-

gistrado formalmente háum alcance muito maior.

Muitos usuários nãotêm a noção de quão publi-ca é a informação postada.Exemplos são os recente ca-so conhecidos como “troteracista da UFMG” e “ataquede um jovem neonazista aum morador de rua”. Emambas situações, as fotosdas “agressões” foram pos-tadas em perfis pessoais, etiveram milhares de com-partilhamentos. Na primei-ra situação, os universitá-rios ainda correm o risco deserem expulsos da universi-dade. No caso envolvendoum morador de rua, um jo-vem foi preso e respondecriminalmente.

A professora defende queé preciso manter online asmesmas atitudes que mante-mos fora do computador. “Épreciso tomar cuidado como que está no seu perfil”.

PAULA HUVEN

Escritoramantémsuas40anotaçõesdepapelhá23anos

Tradicional. Sabrina Abreu tem 40 diários guardados, obras que a ajudaram a escrever dois livros

MARIELA GUIMARÃES

O TEMPO Belo Horizonte 27DOMINGO, 21 DE ABRIL DE 2013 27INTERESSA|