diÁrio de um vampiro banana

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Imagina um adolescente de 15 anos descobrir que terá que lidar com acne, voz entrecortada e a falta de habilidade com as meninas por toda a eternidade? Pois é exatamente isso que acontece com Nigel Mullet, que aos 15 anos é transformado em vampiro. Sem saber como lidar com tudo isso, Nigel começa a escrever um diário onde narra de maneira dolorosamente engraçada as suas tentativas desesperadas de ser notado por Chole Sparrow, o amor de sua vida; a dificuldade constante com seus pais vampiros e o medo de que eles possam, acidentalmente, comer um de seus amigos; a frustração por ter toda a eternidade entediante pela frente e não poder, nem ao menos, tirar um cochilinho, já que vampiros não dormem. Forçado a andar com os góticos por causa de seu estilo, e lutando constantemente contra o embaraçoso desejo de fincar suas presas no pescoço de Chloe, será que Nigel conseguirá ganhar sua garota? Descubra em Diário de um Vampiro Banana que os mortos também têm sentimentos.

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  • So Paulo 2010

    Dirio de um

    Vampiro Banana

    Porque os mortos tambm tm sentimentos

    Tim Collins

  • 9SBADO, 1oDE JANEIROEste ano farei 100 anos, ento decidi que j estava

    na hora de escrever um dirio. Talvez voc esteja lendo isto no futuro quando algum idiota j tiver enfiado uma

    estaca em meu corao ou cortado a minha cabea fora. Talvez voc seja um professor universitrio que esteja estudando a minha poesia. De qualquer maneira, bem- -vindo ao meu primeiro dirio!S porque eu disse que vou fazer 100 anos este ano,

    no me imagine como um velho ancio. Para os seus olhos, eu tenho a aparncia de 15 anos, porque essa a idade em que fui transformado em vampiro pelas pessoas que chamo de meus pais. Eles me trans-formaram junto garota que eu chamo de irm, porque eles estavam a fim de

    comear uma famlia. E por acaso eles me perguntaram como eu me sentia em rela-o a isso? claro que no!Talvez voc pense que ser um morto-vivo

    seja uma emoo atrs da outra. Bem, pense novamente. Hoje foi um tdio dos infernos e eu ainda tenho que esperar mais um dia antes de voltar s aulas. Eu no acredito que estou ansioso para voltar ao colgio. Isso deve mostrar o quo empolgante esto as coisas por aqui!

  • 10

    DOMINGO, 2 DE JANEIRO bem difcil pegar o jeito de escrever um dirio.

    Os humanos provavelmente comeam dizendo o horrio em que eles acordam, mas eu nunca durmo. Imagino que devo comear com o que aconteceu da meia-noite em diante.Ou talvez defi nir 4 horas da manh como limite. No

    vai fazer muita diferena mesmo, j que a nica coisa que eu fao a noite jogar games no computador.Se voc est se perguntando por que eu no corro

    por a durante a noite sugando o sangue dos humanos, porque minha me e meu pai tm que fazer tudo isso por mim. Quando voc se transforma em um vampiro, sua fora e sua velocidade deveriam aumentar para nveis sobre-humanos. Mas adivinha o que aconteceu comigo? Ah, correto. Absolutamente nada. Se aconteceu alguma coisa, foi o fato de eu ter fi cado ainda mais fraco e devagar

    do que antes.A parte irritante que eu ainda preciso de san-

    gue para sobreviver. Mas como caar difcil demais, eu conto com a minha me e meu pai para conseguir sangue por mim. A cada dois ou trs dias, eles via-jam para uma cidade diferente para arranjar sangue fresco, porque se eles fi zessem isso aqui em Stockfi eld

    mesmo, todo mundo perceberia que ns somos vampiros e nos colocariam em um zoolgico ou coisa parecida.

  • 11

    Eu detesto ser dependente da minha me e do meu pai, mas no me sinto culpado por obrig-los a conseguir o sangue. Afi nal, eu no pedi para ser transformado

    em vampiro. Eles que me colocaram nessa situao, e buscar as minhas refeies todos os dias absolutamente o mnimo que eles podem fazer.

    SEGUNDA, 3 DE JANEIROUma menina nova entrou no nosso colgio. Ela se cha-

    ma Chloe e a famlia dela acabou de se mudar para a cidade. Ela tem pele plida, olhos pretos e cabelo escuro em um rabo de cavalo, exibindo o seu longo pescoo. Ela sentou sozinha na aula de histria, ento eu acho que

  • 12

    ela tem medo de conhecer gente nova. Vai ser inte-ressante ver se ela vai acabar fazendo amizade com a panelinha popular, a panelinha durona, ou os gticos.Eu meio que fao parte dos gticos, mas no ando

    com eles fora da escola nem nada. Fao um pouco do tipo solitrio e misterioso, na verdade.Enfi m, fora o fato de a garota nova entrar no co-

    lgio, foi uma volta s aulas sem nenhuma grande novi-dade. Tivemos Matemtica com o prof. Wilson, ele disse que ns no estvamos nos concentrando o sufi ciente

    porque ainda estvamos muito cheios de pudim de Na-

    tal. Ele tinha feito a mesma piada no ano passado e eu tambm no tinha rido. Ningum gosta de pedir ajuda

    ao prof. Wilson porque ele se debrua bem por cima de seu ombro e o hlito dele tem cheiro de caf ranoso. Dizem que o cheiro de alho letal aos vampiros. Bem, acredite em mim, no nada comparado ao hlito de caf do professor de Matemtica.

  • 13

    Tomei sangue A positivo no jantar. Estava bem amar-go. Todos deveriam dizer abenoada seja a sagrada fora vital antes de beber, mas eu sou rebelde demais para me preocupar com a tradio.

    TERA, 4 DE JANEIROSentei ao lado da Chloe na aula de Arte e pelo

    cheiro pude sentir que ela tem sangue tipo O nega-tivo, o que raro, mas especialmente saboroso (meu pai diz que o Champagne dos sangues). Eu contei a ela sobre os gticos, os dures e os populares, e ela disse que no quer fazer parte da panelinha popular mesmo. Essa garota das minhas.Eu lhe contei sobre o boato de que o prof. Byrne

    tinha sido milionrio antes de perder todo o dinheiro e ter que virar professor de Portugus e sobre como o Darren da nossa turma veio no Dia Sem Uniforme usando a roupa de Educao Fsica porque ele to po-bre que essas so suas nicas roupas. Ela no riu e disse que sentiu pena dele, e eu concordei para me passar por atencioso e sensvel.

    4hEstou apaixonado pela Chloe! Sei disso porque tenho

    pensado nela desde as 22h30. No consigo parar de ima-

    ginar seus olhos escuros e seu lindo pescoo plido.

  • 14

    J tive quedinhas por diversas meninas antes, mas dessa vez de verdade. Mesmo se eu pudesse comer ou dormir, eu no seria capaz de comer ou dormir agora!

    QUARTA, 5 DE JANEIROSentei ao lado da

    Chloe na biblioteca du-rante o intervalo. Toda vez que eu olhava para ela, ela olhava para seu livro em vez de olhar em meus olhos. Para ser justo, eu de-veria ter fascinado ela com a minha beleza intensa e sombria, mas no houve nenhum sinal disso.Basicamente, eu fi quei com o pior negcio do mundo

    quando virei vampiro. Todos os outros vampiros na histria desenvolveram um nvel sobrenatural de beleza quando se transformaram. Mas eu no. Quando olho no espelho*, s vejo um garoto plido e cansado, de 15 anos e que vai fazer 100, me olhando de volta. to injusto que eu no tenha recebido a beleza

    vamprica. Eu acreditava que isso fi zesse parte do paco-

    te. Como que vou atrair humanos para me alimentar? Com minha personalidade radiante?

  • 15

    Enfi m, eu j me resignei ao fato de que no posso

    fi sgar a Chloe com minha atrao vamprica, ento vou

    ter que fazer isso da maneira mais difcil: por meio da seduo.

    *Sim, vampiros conseguem se ver no espelho. No acre-

    dite em tudo que voc assiste nos fi lmes de terror. Por

    que virar um vampiro impediria voc de ver o seu re- exo? Se vo inventar mentiras sobre ns, elas poderiam

    pelo menos fazer sentido.

    QUINTA, 6 DE JANEIROUm policial mostrou pra gente um vdeo sobre segu-

    rana nas estradas durante a assembleia educativa que tivemos hoje de manh. Teve muito sangue e alguns dos alunos mais novos passaram mal, mas s me deu sede. s vezes eu sinto vergonha de mim.No horrio do almoo voltei biblioteca pra sentar ao

    lado da Chloe. Queria conversar com ela, mas estava ner-voso demais. Foi to humilhante. A minha espcie enche de medo os coraes dos humanos h sculos. Por que eu tenho de fi car nervoso?

    Nem posso pedir conselho aos meus pais. Eles tm

    beleza vamprica, ento no entenderiam. Eu s queria que eles tivessem feito o favor de ter passado essa be-leza vamprica pra mim.

  • 16

    Hoje noite perguntei ao meu pai qual a melhor maneira de impressionar uma garota e ele disse que salvando-a da morte. Mas como que vou fazer isso sem fora vamprica? Comprar um capacete de bicicleta para ela? Dar a ela um pan eto antifumo? Como sempre, meu

    pai fracassou completamente na tentativa de entender como so as coisas para mim.

    SEXTA, 7 DE JANEIROHoje passei vergonha. Eu

    estava sentado atrs da Chloe na aula de Histria, e os meus caninos se alongaram.Quando voc um vampiro,

    seus caninos fi cam maiores quando

    voc est prestes a se alimentar de um humano. Como eu no cao, isso no acontece frequentemente. Mas hoje aconteceu quando eu olhei para a Chloe, o que me preocupou bastante.Eu estava fi cando entediado de ouvir o prof. Morris

    falar monotonamente sobre a Segunda Guerra Mundial, ento olhei para a Chloe. Quando prestei ateno nela, comecei a ouvir o som do sangue bombeando em suas veias e pensei no alvio que seria se eu pudesse perfurar a veia do seu pescoo e tomar um golinho refrescante. En-to eu passei a lngua pelos meus dentes e me dei conta

  • 17

    de que as minhas presas tinham dobrado de tamanho!Para deixar toda a situao ainda mais embaraosa,

    o prof. Morris me acusou de no prestar ateno alguma e me obrigou a responder a uma chamada oral sobre o que ele tinha acabado de falar. Eu conheo muito bem a Segun-da Guerra Mundial, porque lembro bem dela, mas eu no podia falar nada para que ningum visse as minhas presas, ento ele enlouqueceu comigo. ofi cial, agora at o meu prprio corpo decidiu difi -

    cultar as coisas para mim.

    SBADO, 8 DE JANEIRODepois de todo o estresse da semana passada, o que

    eu mais queria fazer hoje era deitar na cama e pensar na Chloe e em seu lindo pescoo. Mas no tive a menor chance. Meu pai invadiu meu quarto s seis da manh e anunciou que amos fazer uma caminhada.*Eu detesto os dias de caminhada familiar. Como eu

    no tenho fora e velocidade vampricas, fi co sempre

    tropeando atrs deles enquanto eles saltam para c e para l como labradores mortos-vivos.At a minha irmzinha corre na minha frente nas

    caminhadas de famlia. Ela tem fora e velocidade vam-pricas, mas boa sorte se for tentar faz-la confessar essas habilidades quando os nossos pais quiserem que ela d uma ajuda em casa.

  • 18

    A caminhada de hoje foi pelo interior selvagem ao norte de Stockfi eld e eles trs fi caram correndo super-

    rpido e me contando sobre os lagos, as colinas e as o-

    restas que eu estava perdendo. Como se eu ligasse.Ns chegamos a um rio largo e eles o atravessaram

    com um salto de centenas de metros. Meu pai se ofereceu para me levar em suas costas, mas eu falei que esperaria no carro.E no Volvo do meu pai onde estou agora, Caro Di-

    rio, pensando em minha doce, doce Chloe. J estou espe-rando h trs horas, contemplando as nuvens tempestu-osas e turbulentas voando sobre a paisagem varrida pelo vento. Ento assim que estar apaixonado!

    *Tecnicamente eles so o meu cl e no a minha fam-lia, e ns vivemos em um covil em vez de em uma casa. Mas eu no vejo sentido em usar esses termos formais.

    DOMINGO, 9 DE JANEIROCoisas irritantes sobre a minha irm Parte Um Milho:

    ela decidiu que, de agora em diante, quer beber sangue animal em vez de sangue humano. Ela diz que est fazendo isso por motivos ticos. Uma de suas amigas deve ter-lhe ensinado essa frase porque ela a usou umas 50 vezes hoje.Que motivos ticos? Alimentar-se de humanos no os

    mata, a no ser que o vampiro em questo seja to ga-

  • 19

    nancioso que drene todo o sangue at a ltima gota. Tambm no vai transfor-m-los em vampiros se voc no misturar seu sangue com o deles.A nica coisa que acon-

    tece que eles fi cam

    hipnotizados, so drenados de uns 500 ml a 1 litro de sangue, saem um pouco tontos e precisam fi car

    sem trabalhar por alguns dias. Se voc pensar um pouco sobre o assunto, vampiros so to maus quanto um caso de gripe.Enfi m, a minha irm diz que

    s quer beber sangue animal agora, ento hoje todos eles saram de carro para colher sangue de vacas e ovelhas. No preciso nem dizer que me

    recuso a fazer parte dessa farsa. A nica coisa que minha irm vai conseguir, recusando sangue decente, passar mal. Contanto que ela no venha chorar para mim quando estiver fraca de fome, no problema meu.

    OBSERVAO:Se voc na verdade for a minha irm e estiver

    lendo isso, no ligo se te deixei chateada. No nada

  • 20

    alm do que voc merece por ler as palavras secretas dos outros.

    ATUALIZAO:Decidi que toda noite vou prender um fi o de cabelo

    na ponta do meu dirio. Se o cabelo estiver quebrado, vou saber se a minha irm anda olhando aqui.

    SEGUNDA, 10 DE JANEIRO

    12h20Estou sentado em frente Chloe na biblioteca en-

    quanto escrevo isso. Ela sempre fi ca aqui no horrio do

    almoo. Isso signifi ca que ela ainda no tem nenhum ami-

    go ou que ela uma CDF. Eu espero que ela seja uma CDF, porque assim nenhum dos outros garotos vai fi car

    a fi m dela e eu vou ter mais chance. Talvez daqui a

    pouco ela olhe para c e me pergunte o que eu estou escrevendo.

    12h55O horrio do almoo j est acabando e a Chloe ainda

    no me perguntou o que eu estou escrevendo. Acho que preciso ser mais pr-ativo. Eu vou descobrir mais sobre os interesses dela. Agora ela est olhando um livro sobre animais, ento vou fi ngir que me interesso por eles, por-

  • 21

    que a verdade que eu os odeio. Se eu me aproximar, nem que seja um pouquinho, eles entram em pnico.

    2hEssa noite, meus pais fi caram tocando marchas fne-

    bres no volume mximo, o que realmente difi cultou minha

    concentrao em aprender curiosidades sobre animais. Quando eles fi nalmente foram l pra cima, deixaram to-

    das as velas acesas. Eu j devo ter falado mil vezes que isso pode causar um incndio.

  • 22

    TERA, 11 DE JANEIROAcho que estou fazendo amizade com a Chloe. Talvez

    em breve ela ceda minha atrao imortal.Hoje, na biblioteca no horrio do almoo, eu recitei to-

    das as minhas curiosidades sobre animais. Ela me pareceu bastante impressionada e ns tivemos uma boa conversa.Mais tarde ela me ofereceu um de seus doces cozidos.

    Era para ter gosto de limo, mas como qualquer coisa que no seja sangue, para mim tinha gosto de carvo molhado. Quando ela no estava olhando, cuspi o negcio horrvel no lixo. Mas eu guardei a embalagem como uma lembrana do meu amor.Quando estivermos casados eu vou contar essa histria

    para ela e ns iremos rir de tudo isso.Para tirar o gosto do doce, eu fui para o banheiro al-

    moar. Eu sei que isso pode soar bastante desagradvel, mas essa a nica maneira de me alimentar na escola. Todo dia, eu levo um frasco de sangue como lanche. Como no posso exatamente sentar no refeitrio com sangue escor-rendo pelo meu queixo, preciso me trancar em um cubculo dentro do banheiro para aproveit-lo. Eu entendo que, em termos de experincias gastronmicas, isso no deve ren-der nenhum prmio, mas o nico lugar seguro para que eu possa me alimentar. Uma vez tentei almoar agachado atrs dos lates de lixo, mas algum me viu com a boca cheia de sangue e tive que fi ngir que eu tinha cado.

  • 23

    QUARTA, 12 DE JANEIRO

    18hNo consegui encontrar a Chloe no horrio do almoo,

    ento eu fui para os degraus que fi cam no fundo do gi-

    nsio e conversei com os gticos.Os gticos se chamam Brian, John e Si, e se voc os

    chamar de gticos eles dizem que na verdade so emos. Eu acho que o Brian s entrou no grupo porque ele gordo e isso no to aparente quando usamos preto. Acho que o Si entrou porque ele ruivo e consegue tingir o cabelo de preto. difcil saber por que o John entrou j que ele nunca diz nada. Quanto a mim, eu no ando com eles por opo. que a minha pele plida e minha roupa preta meio que automaticamente me co-locam na panelinha deles.O Brian tem uma namorada que estuda em outro

    colgio. Eu achei que ele estivesse mentindo at que vi uma foto dela. Ningum fi ngiria ter uma namorada com

    uma aparncia daquela.

    4hEstou deitado na cama noite inteira pensando na

    Chloe. normal um vampiro estar to a fi m de uma

    humana? Eu gostaria de ter algum para conversar so-bre isso..

  • 24

    QUINTA, 13 DE JANEIROHoje nossa aula de Cincias foi sobre o corao, o pro-

    fessor falou sem parar sobre o bombeamento de sangue pelos trios e ventrculos. No preciso nem dizer que fi -

    quei com tanta sede que as minhas presas se alongaram e eu tive que enterrar a minha cabea no livro, cheio de vergonha.No fi nal da aula, ns recebemos folhetos coloridos com

    imagens explcitas de coraes, veias e clulas sanguneas. Levei o meu para casa e o escondi debaixo do meu colcho.

  • 25

    Sentei com a Chloe de novo no horrio do almoo, e ela me contou que aceitou ser monitora. As tarefas dela inclui-ro denunciar pessoas que correm nos corredores ou atrapa-lham as assembleias. Eu duvido que isso a torne muito popu-lar, mas eu respeito a sua maturidade e tenho toda inten-o de defend--la daqueles que mexerem com ela por causa disso. Contanto que eu no precise brigar com ningum.

    SEXTA, 14 DE JANEIROHoje a Chloe caiu e cortou o joelho no caminho para a

    biblioteca, e um pequeno fi o de delicioso sangue tipo O

    negativo escorreu por sua perna. Eu fui tomado de tal forma pela vontade de lamb-lo que tive que correr at o banheiro e engolir o contedo do meu frasco.Enquanto eu corria na direo contrria, vi o Wayne

    da minha turma socorrer a Chloe. O que ela deve pen-sar de mim por sair correndo daquele jeito? Por que eu sou amaldioado por esses desejos? Como eu posso me ex-plicar? Talvez eu deva fi ngir que tenho fobia de sangue

    em vez de sede. De qualquer maneira, ela vai pensar que eu sou esquisito.

    SBADO, 15 DE JANEIROHoje eu me ofereci para ajudar meus pais a arrumar

    a casa. Ns nos mudamos para c h apenas seis meses

    e j est com cara de um castelo gtico em runas. Eu

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    sei que eles se sentem mais confortveis rodeados por grossas cortinas de veludo, candelabros dourados e pin-turas a leo antiqussimos, mas a casa est sombria e empoeirada demais.Eu aposto que o juizado de menores no fi caria muito

    contente se eles viessem fazer uma visita.Meus pais recusaram a minha proposta, dizendo que eu

    ia acabar jogando fora alguma coisa cara por engano. Ento o que devo fazer? Esperar que eles mesmos arrumem as coisas? Digamos que muito bom que ns temos o resto da eternidade para isso!Hoje de tarde minha irm me perguntou se eu que-

    ria jogar futebol com ela no quintal dos fundos. Eu dis-se que no, igualzinho eu fi z nas ltimas mil vezes que

  • 27

    ela me perguntou. Eu no sei por que ela pensa que eu vou mudar de ideia de repente.A nica coisa que acontece que ns revezamos ba-

    tidas de pnaltis enquanto o outro fi ca no gol. tudo

    muito unilateral, graas velocidade e fora da minha irm. Eu bato cinco pnaltis, que ela defende se eles improvavelmente se aproximarem do gol, e em seguida ela bate cinco pnaltis. Mesmo se eu conseguir pegar a bola, a fora dela me joga para o fundo da rede e ela conta isso como um gol. Ns at quebramos o solrio da

    nossa ltima casa, quando a fora de um dos seus pnal-tis me arrastou por meio dele.Ento mesmo que eu tivesse algum interesse remoto

    em futebol, perder para uma garota de 10 anos no exatamente a minha concepo de diverso.

    DOMINGO, 16 DE JANEIROA burra da minha irm est irritada porque ela

    quer mudar de nome e os meus pais no deixam. Ela se chama Mavis (desde que nasceu em 1916), mas agora ela est sendo provocada na escola por ter um nome an-tiquado e quer mud-lo para algo moderno.Muito sensatos, meus pais responderam que ela pre-

    cisa esperar at a prxima vez que a gente se mudar em vez de simplesmente declarar sua turma que ela mudou o nome. Mas, talvez, eles tivessem aceitado mais

  • 28

    facilmente se as ideias dela no fossem to ridculas. A lista de nomes sugeridos em ordem de preferncia foi:

    TwistPrincessJet

    SailorMelodyOrchid

    ManhattanAngel

    Como se ela no fosse chamar ateno com aquelas escolhas!Enfi m, meus pais disseram no para ela pela primei-

    ra vez em um sculo, agora ela correu irritada para seu quarto. Eu estou me controlando para no cantarolar o nome Mavis na frente da porta dela, porque eu sou ma-duro demais para me importar. Mas talvez eu v l e o grite s algumas vezes.

    SEGUNDA, 17 DE JANEIROSentei ao lado da Chloe na biblioteca no horrio do almo-

    o para poder me desculpar por sair correndo na sexta, mas ela no disse nada sobre o assunto, ento eu deixei passar.Eu queria conversar com ela, mas toda vez que tenta-

    va, fi cava com sede e podia sentir meus caninos crescendo