diagnostico da síria

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Introdução Este trabalho tem por objetivo apresentar como se encontra a questão síria, acrescido o fator do surgimento do Estado Islâmico, na perspectiva das discussões no Conselho de Segurança das Nações Unidas, aonde é recorrentemente levada. Para tanto, primeiramente se apresenta um completo resgate histórico que se inicia na decomposição do Império Otomano, passando ao controle francês de vastas regiões no Oriente Médio, até o estabelecimento da Síria como país independente. Assim, descritos os governos da família Assad (Hafez e Bashar), chegamos à atual crise. Ao longo do texto, é dado destaque a complexidade da sociedade síria, que é formada por múltiplos grupos étnicos, religiosos e de interesse; cada um com específicas conexões externas. A seguida, são apresentados os posicionamentos diplomáticos de alguns países selecionados acerca do conflito na região. Eles são o Brasil, a Rússia, os Estados Unidos, a França, o Iraque e a própria Síria. Ademais, é colocado o posicionamento do Estado Islâmico como ator independente, a despeito dele não ser reconhecido internacionalmente como um país. Por fim, há uma seção em que se relaciona o caso aqui estudado ao texto de Rubin & Zartan sobre as estratégias de negociação e relações comparativas de poder. Antecedentes da crise Diversas causas que culminaram na crise da Síria de 2011 são decorrentes não só do governo do atual presidente Bashar Al-Assad, mas também de características e processos políticos, socioeconômicos e estruturais do país, cujas origens remontam ao século passado. A Síria foi moldada politicamente pelo profundo localismo de diversos grupos que ocupam seu território. Quando fazia parte do Império Otomano, as províncias sírias possuíam uma configuração administrativa formal própria formada por um conjunto de regiões integradas localmente, cujos limites não coincidiam com as fronteiras do país. Sendo assim, cada região tinha a sua própria autonomia política gerida pela sua elite local, a qual era mais integrada com seu espaço geográfico do que com a rede mais ampla do governo. Essa característica de fragmentação da sociedade síria, cujos grupos diferem em etnia, religião, entre outros aspectos, ainda persiste, o que pode ser observado na descentralização da oposição e das forças armadas atuantes na atual crise. Além disso, as diferentes regiões da Síria, especialmente nas zonas fronteiriças, têm ligações socioeconômicas importantes com seus países vizinhos, como Iraque, Líbano e Jordânia. Estas ligações regionais entre os grupos auxiliam na compreensão da importância da Síria para a região (e também da sua importância estratégica para as grandes potências); de como a crise síria impacta a região; e da razão de grupos de várias partes do Oriente Médio irem ao país participar do conflito. A crise síria, inevitavelmente, afeta e liga a política, parentesco e economia do Líbano, Iraque, Turquia e Jordânia. Segundo o relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) “Syria Crisis Common Context Analysis”, os níveis intensos de localismo em todo o Estado sírio são uma característica-chave do contexto sírio. Politicamente, eles resistem ao desenvolvimento de uma oposição única e eficaz ao poder do governo. Militarmente, eles significam que centenas de grupos armados surgiram para lutar contra seus próprios cantos particulares contra o regime centralista. Socialmente, eles significam que a organização da sociedade civil síria é muito localizada e fragmentada em torno de pequenos espaços e identidades diversas. Isso torna mais difícil desenvolver parcerias humanitárias, mas são muitas vezes mais eficazes por causa de sua profundidade e alcance dentro de uma comunidade. (SLIM; TROMBETTA, 2014, tradução nossa). Analisando pelo viés político, o governo autoritário de Bashar Al-Assad compartilha muitos aspectos com o de seu pai, Hafez Al-Assad, quem esteve no poder de 1970 a 2000. A estrutura política deste é caracterizada principalmente pela concentração de poder altamente autoritário no círculo de governo em torno do

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Esse trabalho visa contextualizar a atual crise política da Síria

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Introduo

Este trabalho tem por objetivo apresentar como se encontra a questo sria, acrescido o fator do surgimento do Estado Islmico, na perspectiva das discusses no Conselho de Segurana das Naes Unidas, aonde recorrentemente levada. Para tanto, primeiramente se apresenta um completo resgate histrico que se inicia na decomposio do Imprio Otomano, passando ao controle francs de vastas regies no Oriente Mdio, at o estabelecimento da Sria como pas independente. Assim, descritos os governos da famlia Assad (Hafez e Bashar), chegamos atual crise. Ao longo do texto, dado destaque a complexidade da sociedade sria, que formada por mltiplos grupos tnicos, religiosos e de interesse; cada um com especficas conexes externas.

A seguida, so apresentados os posicionamentos diplomticos de alguns pases selecionados acerca do conflito na regio. Eles so o Brasil, a Rssia, os Estados Unidos, a Frana, o Iraque e a prpria Sria. Ademais, colocado o posicionamento do Estado Islmico como ator independente, a despeito dele no ser reconhecido internacionalmente como um pas. Por fim, h uma seo em que se relaciona o caso aqui estudado ao texto de Rubin & Zartan sobre as estratgias de negociao e relaes comparativas de poder.Antecedentes da crise Diversas causas que culminaram na crise da Sria de 2011 so decorrentes no s do governo do atual presidente Bashar Al-Assad, mas tambm de caractersticas e processos polticos, socioeconmicos e estruturais do pas, cujas origens remontam ao sculo passado.A Sria foi moldada politicamente pelo profundo localismo de diversos grupos que ocupam seu territrio. Quando fazia parte do Imprio Otomano, as provncias srias possuam uma configurao administrativa formal prpria formada por um conjunto de regies integradas localmente, cujos limites no coincidiam com as fronteiras do pas. Sendo assim, cada regio tinha a sua prpria autonomia poltica gerida pela sua elite local, a qual era mais integrada com seu espao geogrfico do que com a rede mais ampla do governo. Essa caracterstica de fragmentao da sociedade sria, cujos grupos diferem em etnia, religio, entre outros aspectos, ainda persiste, o que pode ser observado na descentralizao da oposio e das foras armadas atuantes na atual crise.Alm disso, as diferentes regies da Sria, especialmente nas zonas fronteirias, tm ligaes socioeconmicas importantes com seus pases vizinhos, como Iraque, Lbano e Jordnia. Estas ligaes regionais entre os grupos auxiliam na compreenso da importncia da Sria para a regio (e tambm da sua importncia estratgica para as grandes potncias); de como a crise sria impacta a regio; e da razo de grupos de vrias partes do Oriente Mdio irem ao pas participar do conflito. A crise sria, inevitavelmente, afeta e liga a poltica, parentesco e economia do Lbano, Iraque, Turquia e Jordnia.Segundo o relatrio do Escritrio das Naes Unidas para a Coordenao de Assuntos Humanitrios (OCHA) Syria Crisis Common Context Analysis,os nveis intensos de localismo em todo o Estado srio so uma caracterstica-chave do contexto srio. Politicamente, eles resistem ao desenvolvimento de uma oposio nica e eficaz ao poder do governo. Militarmente, eles significam que centenas de grupos armados surgiram para lutar contra seus prprios cantos particulares contra o regime centralista. Socialmente, eles significam que a organizao da sociedade civil sria muito localizada e fragmentada em torno de pequenos espaos e identidades diversas. Isso torna mais difcil desenvolver parcerias humanitrias, mas so muitas vezes mais eficazes por causa de sua profundidade e alcance dentro de uma comunidade. (SLIM; TROMBETTA, 2014, traduo nossa).Analisando pelo vis poltico, o governo autoritrio de Bashar Al-Assad compartilha muitos aspectos com o de seu pai, Hafez Al-Assad, quem esteve no poder de 1970 a 2000. A estrutura poltica deste caracterizada principalmente pela concentrao de poder altamente autoritrio no crculo de governo em torno do presidente. Este crculo era formado pela ocupao de pessoas ligadas famlia Assad (seja por laos familiares ou econmicos), e principalmente da etnia alauta, em cargos de alto escalo de trs das principais instituies do pas: nos rgos de controle (inteligncia), no exrcito e no aparelho do partido Baath do governo. Desta forma, Hafez al-Assad governou por seu poder sobre um pequeno grupo de funcionrios do setor de inteligncia, das foras armadas e dos burocratas do partido, que reconheciam sua autoridade e foram ligados a ele por sangue ou laos econmicos. Esta estrutura manteve-se praticamente estvel e coesa em todo o seu governo.O favorecimento de outras comunidades dentro do sistema tambm foi importante. Representantes sunitas selecionados foram usados para garantir o apoio da maioria da classe mdia das reas urbana e perifrica. Porm, a importncia deste elemento sunita dentro do regime comeou a declinar ao longo do tempo.Ao longo da dcada de poder incontestvel de Bashar Al-Assad, desde sua posse em 2000 at a crise em 2011, continuou dando continuidade ao modo de governar de seu pai, ao mesmo tempo que postulava reformas mais liberais. O presidente j no era o lder absoluto como anteriormente, mas manteve-se frente do regime, dentro de uma estrutura de poder semelhante. No incio de 2011, a Sria foi reconhecida como um pas de renda mdia com forte crescimento econmico e muitos indicadores de desenvolvimento positivos. Entre 2001 e 2010, a mdia de crescimento anual do PIB foi de 4,5 por cento. Porm, havia tambm sinais significativos de enfraquecimento das instituies do Estado e aumento das desigualdades econmicas. Dcadas de governo autoritrio, uma cultura de clientelismo e patrocnio, altos nveis de evaso fiscal e reduo dos investimentos estatais foram degradando seriamente a eficcia do governo. A economia estava puxando em duas direes: algumas pessoas estavam ficando mais ricos, enquanto muitos estavam ficando mais pobres. A tentativa de Bashar Assad na liberalizao econmica e privatizao limitadas provou ser uma medida prejudicial. Essas reformas esgotaram os meios de subsistncia agrcolas e aumentaram os preos; reduziram importantes subsdios para a agricultura, alimentos e energia. O crescimento econmico no foi suficientemente inclusivo. A falta de investimento estratgico na agricultura e uma srie de secas levou a produo rural a um constante declnio ao longo dos anos 2000. Em vez disso, o setor de servios, comunicaes e mercados imobilirios expandiu com pequenos ganhos bvios para grupos de baixa renda.O aumento dos preos e a diminuio da produtividade agrcola criaram um novo "cinturo de pobreza" em torno das grandes cidades, com agricultores falidos migrando para o interior em busca de meios de subsistncia, e as famlias de baixa renda lutando com custos crescentes. As reas do cinturo da pobreza, em grande parte dominada por sunitas, representou pessoas que enfrentam a presso populacional insustentvel em torno das grandes cidades exacerbada pela migrao de milhares de famlias das regies rurais. Na Sria, a dissidncia comeava a se espalhar no s entre as pessoas mais vulnerveis, mas tambm em grandes setores da classe mdia. A migrao no era somente do campo para a periferia da cidade, mas tambm do centro da cidade para os subrbios. Muitas famlias da burguesia sunita j no eram mais capazes de sustentar o padro de vida na cidade.Apesar da crescente insatisfao, em um primeiro momento nenhuma oposio organizada e sustentvel foi capaz de emergir na cultura poltica dos Assad e do partido Baath. Os adversrios eram em sua maioria forados ao exlio ou eram presos. A oposio tradicional dentro e fora da Sria permaneceu fraca e fragmentada, incapaz de representar as massas negligenciadas.Jovens srios, especialmente os que vivem grandes cidades, comearam a usar a internet para burlar a censura do Estado, e criaram inmeras plataformas para o debate social, cultural e principalmente apoltico. Outros jovens em reas remotas e rurais, e submetidos a regras sociais mais rgidas, adotaram o Isl poltico como uma identidade alternativa ao governo e a sua retrica secularista, bem como para o "Ocidente", o qual foi visto como hostil aos valores tradicionais da Sria e um cmplice para as injustias do sistema.No entanto, o crescente descontentamento chegou ao extremo em 2011 dando incio ao levante srio, comeando nas grandes cidades e se espalhando para o restante do territrio. A juno de todas essas causas induziram revolta, mas a retrica e a dinmica dos primeiros meses indicou claramente que os fatores socioeconmicos tinham um papel crucial - mais do que fatores polticos em levar populao a enfrentar a represso do poder de Assad. Pela primeira vez na histria contempornea da Sria, as pessoas exigiam reformas polticas e econmicas reais e concretas.A crise importante ressaltar que a revolta sria se desenvolveu de forma diferente em vrios lugares do pas, decorrente principalmente da fragmentao caracterstica da sociedade da Sria. Em um primeiro momento, os protesto defendiam a no violncia e vrias cidades adotaram abordagens distintas para tal. Eventualmente, depois da recorrente represso violenta do governo de Assad, alguns mudaram com mais disposio para a resistncia armada, enquanto outros pegaram em armas a contra gosto. Em muitas reas, as pessoas permaneceram determinados a prosseguir a no-violncia. Vrias formas de resistncia dos opositores ao governo eram descentralizadas e fragmentadas, lembrando novamente o aspecto da sociedade sria. Uma das primeiras aes foi a criao de Comits de Coordenao locais, os quais foram formados primeiramente por universitrios para coordenar um movimento no-violento de protesto que se formou localmente, no em nvel nacional. A descentralizao do movimento de protesto foi necessrio para garantir a sua sobrevivncia em face da extrema represso, alm de permitir ao movimento ser mais sensvel s demandas das comunidades locais e manter um vnculo direto com o seu ambiente imediato em troca de apoio popular constante. No entanto, a dinmica local do movimento o impediu de "conquistar" grandes espaos pblicos.Confrontado com a disseminao dos protestos, o regime de Assad seguiu uma dupla estratgia de reforma aparente juntamente com o aumento da represso. A estratgia do governo parecia ser mais a remodelao do que a reforma das leis fundamentais:Nem a nova constituio, nem as novas leis mudaram a relao essencial entre o regime e os cidados srios. A lei marcial foi substituda por uma nova lei antiterrorista. A nova lei de mdia manteve restries aos jornalistas locais e estrangeiros. A lei eleitoral confirmou a proibio da criao de partidos baseados em grupos tnicos, religiosos e tribais, excluindo assim os curdos e os Irmos Muulmanos, entre outros, da vida poltica. A constituio de 2012 confirmou que o Chefe de Estado tinha de ser do sexo masculino e muulmano, excluindo, assim, mulheres e todas as comunidades religiosas no muulmanas. O novo texto aboliu o monoplio Baath, mas confirmou que pelo menos metade dos assentos no parlamento seria ocupada por camponeses e trabalhadores, cujos candidatos seriam escolhidos por filiais regionais do partido. (SLIM; TROMBETTA, 2014, traduo nossa)Essas medidas no foram suficientes para conter a crise e cada vez mais o conflito se agravava com a represso do governo srio e o aumento do nmero de militantes contrrios ao governo de Assad.Outro grupo de opositores o Exrcito Livre da Sria (ELS), o qual, a partir de sua formao, trouxe a militarizao ao levante. Nunca houve um nico e unido ELS, mas uma srie de grupos chamados de "batalhes", que nem sempre so coordenados. Potncias regionais pr-ocidentais comearam a se organizar e a apoiar as diferentes faces da ELS com armas e dinheiro, alm de, no incio de 2012, muitos civis que vivem nas reas afetadas pela represso desistiram de no-violncia e comearam a se juntar ao grupo tambm.A militarizao da revolta, sem dvida, encorajou o governo, que sempre temeu a ao em massa de ativistas pacficos mais do que insurgentes armados. Quando foram formadas as primeiras unidades da ELS, o regime foi finalmente capaz de lutar e estereotipar seus inimigos como terroristas. Ademais, profundas divises logo surgiram dentro ELS, o que deu maior incentivo ao governo. Dentro do pas, a maioria das faces ELS agiu sem uma viso compartilhada e uma estratgia unificada.A entrada de grupos militares islmicos proporcionou a radicalizao do conflito, tornou-se uma caracterstica importante na sua expanso e complicou ainda mais o contexto humanitrio da crise. Em meados de 2012, a resistncia armada represso do regime cada vez mais abraou o extremismo islmico e milhares de combatentes islmicos estrageiros entraram na Sria para lutar contra o governo (entre eles o Estado Islmico). Mas outros milhares de militantes de vrias nacionalidades, e tambm xiitas libaneses e jihadistas iraquianos, chegaram na Sria para apoiar o governo Assad. O nmero de combatentes estrangeiros ao lado das foras leais igual, se no maior do que de estrangeiros que chegam para lutar contra o regime.Novas tentativas de consolidao de uma oposio poltica falharam consistentemente. Desde os primeiros protestos em 2011, dois principais plos da oposio sria tradicional no interior do pas e no exlio tinha sido ativamente procura de apoio e visibilidade. Vrios partidos seculares e de esquerda formaram o rgo de Coordenao Nacional (BCN, em ingls). No entanto, esta plataforma permaneceu um grupo de elite e no conseguiu ganhar qualquer apoio concreto dos manifestantes srios.O Conselho Nacional Srio (SNC, em ingls) foi criado em 2011 com um forte componente da Irmandade Muulmana. principalmente representante da oposio no exterior e, como acontece com o BCN, desenvolveu pouca legitimidade e influncia dentro da Sria. No entanto, em contextos regionais e internacionais, o SNC recebeu vrios graus de apoio poltico, diplomtico e financeiro, principalmente da Turquia, Qatar, Arbia Saudita, os EUA e a UE. O NCB tendia a ser patrocinado pelo Ir e pelos membros do BRICS (Rssia, China, ndia, Brasil e frica do Sul).Apesar da constante caracterizao dualista do conflito entre governo e grupos armados, a crise da Sria envolve ainda diferentes aes e vises a respeito dos acontecimentos. Sendo assim, a Sria tambm continua a ser um lugar onde muitos ativistas no-violentos resistem em nome da autodeterminao, liberdade, cidadania, igualdade de oportunidades e da justia social. Alm disso, h vrias diferentes perspectivas da populao em relao ao conflito: h os que so totalmente a favor do governo; os que so contrrios ao governo, mas no apoiam a revolta popular; os que apoiam os protestos no violentos; os que acreditam que a via armada o caminho; os que no querem adotar nenhuma viso poltica; entre outros. Portanto, uma viso simplista e dualista no suficiente para compreender as diversas dimenses da crise sria.A resposta internacional em relao Sria marcada pela divergncia de posicionamentos, tanto no mbito internacional como no regional. Estados a favor da no interveno nos assuntos internos da Sria e/ou favorveis ao governo (Rssia, China, Iraque, entre outros) e os Estados a favor de adoo de medidas contra o governo de Assad e uma maior participao na resoluo do conflito e/ou apoiando os rebeldes (Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Frana, Turquia, entre outros) levam a poucos avanos nas negociaes e tomada de decises. O caso de maior relevncia o Conselho de Segurana, o qual no consegue aprovar resolues mais firmes referentes ao conflito devido aos vetos de China e Rssia. Isso leva a severas crticas de ONGs e outros atores da comunidade internacional e ao questionamento do prprio Conselho de Segurana.Estado Islmico

O Estado Islmico do Iraque e da Sria ou ISIS, surgiu a partir do Estado Islmico do Iraque, grupo este que se formou aps a invaso dos EUA e do Reino Unido em 2003. O grupo composto por insurgentes sunitas, que seguem o jihad, eles afirmam sua autoridade religiosa e tem como objetivo tomar controle de regies de maioria islmica, instaurando um califado islmico. um grupo fundamentalista religioso sunita, e foram responsveis por grande nmero de morte de milhares xiitas devido a ataques bombistas, eles matam muulmanos civis que ao seu olhar so vistos como impuros, j que no possuem a mesma interpretao do isl que eles. O direcionamento dos seus ataques vai alm dos xiitas, mas tambm aos yazidis (seguidores de uma religio curda) e cristos.

As aes do grupo intensificaram-se logo aps o incio da guerra civil da Sria. Quando a revolta na Sria comeou, o ISIS aproveitou da situao de revolta sunita contra o governo xiita, concedendo apoio aos sunitas j que estes no dispunham de armas e meios para combater o Estado. No entanto esses rebeldes tambm receberam apoio de pases como Turquia, Emirados rabes, Arbia Saudita, assim como EUA e UE, no entanto, nenhum deles se certificou se estava concedendo armas aos rebeldes ou ao ISIS. Assim esses pases ajudaram a fortalecer o ISIS dentro da Sria, que obtiveram grande poder e conquistaram as cidades de Ar-Raqqa, Idlib e Aleppo. O ISIS estabeleceu o califado fundamentalista nessas regies e comearam a lutar tambm contra os rebeldes, e esses por ltimo, tiveram ento que lutar contra o ISIS e contra o governo. Com isso o poder do Estado Islmico foi crescendo, aumentando o nmero de jihadistas vindo dos mais diversos lugares do mundo.

A partir deste ocorrido na Sria, o ISIS tambm conseguiu aumentar sua influncia no Iraque, controlando Musul, e ameaando invadir Bagd. Pode-se dizer ento que mais que causas religiosas, eles tem uma busca pelo poder, e em obter posse dos poos de petrleo.

Tal busca pelo poder tambm confirmada pela forma como o ISIS se financia. Luay Al-Khateeb, fundador do Instituto de Energia do Iraque, considera o ISIS como o grupo terrorista mais rico do mundo. Se antes grande parte da renda do ISIS era originria da doao de simpatizantes, hoje o petrleo se tornou o seu negcio mais rentvel, e seria capaz de gerar aproximadamente dois milhes de dlares por dia. De acordo com as estimativas de Al-Khateeb o ISIS controla cerca de 60% dos ativos de petrleo na Sria, e possui mais sete no Iraque. Os barris de petrleo so vendidos pelo grupo para uma mfia de intermediadores que levam os barris para o Curdisto iraquiano, para a Turquia e tambm para o Iraque. O grupo tambm mantm algumas refinarias improvisadas. Desta forma, fator importante para deter os avanos do grupo seria tambm cortar esta fonte de financiamento.

Nos eventos mais recentes o ISIS tambm tem chamado ateno pela forma de agir. O grupo tem atrado muitos jovens muulamanos vivendo no Ocidente, que tem partido para a Sria e o Iraque a fim de combater junto aos jihadistas. Segundo o Daily Mirror, publicao inglesa, inclusive mulheres britnicas tem deixado o Reino Unido para se juntar ao ISIS, colaborando com o grupo na criao de casas de prostituio, na cidade sria de Raqqa, fazendo escravas sexuais as mulheres iraquianas.

Alm do financiamento pelo petrleo, os jihadistas tambm angariam seus recursos atravs de um sistema de impostos estabelecido nas reas conquistadas, e de uma srie de atividades ilegais como roubo a bancos, sequestros, bloqueio de estradas, e atividades do genro.Relatrios recentes divulgados pela ONU concluem que o grupo extremista vem cometendo crimes de guerra no Iraque. Segundo a Conveno de Genebra, ser considerado crime de guerra atos praticados contra civis. Segundo porta-voz das Naes Unidas muitos crimes de guerra e contra a humanidade vem sendo cometidos pelo Estado Islmico. Dessa forma o Conselho de Segurana reafirma a necessidade das naes tomarem medidas para derrotar o Estado Islmico, e acabar com a prtica da violncia e intolerncia, pedindo que os autores do crime respondam rapidamente justia. O Conselho de Segurana ainda solicitou comunidade internacional para que fortalea seu apoio ao governo do Iraque e suas foras de segurana na misso de conter o ISIS. Entretanto, o prprio relatrio das Naes Unidas, afirma que na tentativa de combater o Estado Islmico, as foras de segurana do governo iraquiano vem atingindo alvos civis, inclusive crianas, contabilizando as mortes destes em mais de 9,3 mil neste ano, entre ataques dos jihadistas e das foras governamentais.Posicionamento dos pasesBrasilO Brasil manteve o pacifismo consagrado na orientao de sua poltica externa no referente ao EI. A presidente brasileira Dilma Rousseff declarou que o Brasil acredita que a melhor forma para a soluo de conflitos sempre o dilogo, o acordo e a intermediao da ONU. Nesse sentido, a mandatria lamentou e criticou a postura ofensiva dos EUA, afirmando que o Estado brasileiro repudia o morticnio e agresses de todas as partes e que no acredita que estas sejam eficazes como resposta, uma vez que agresses sem sustentao podem gerar ganhos imediatos, mas posteriormente provocam turbulncias e enormes prejuzos, como comprovado pelos casos do Iraque, da Lbia e da Faixa de Gaza. Tal posicionamento foi trabalhado no discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU no dia 24 de setembro de 2014, por meio do qual Rousseff declarou que o uso da fora incapaz de eliminar as causas profundas dos conflitos e que intervenes militares no so o caminho para a paz, mas provocam o acirramento desses.A embaixadora brasileira nas Naes Unidas, Regina Dunlop, afirmou que o Brasil condena as atrocidades cometidas pelo EI e espera que os responsveis sejam levados Justia, mas que no acredita que a interveno militar seja a forma de frear o grupo. Ademais, o Estado apia a implementao de uma misso para investigar as violaes cometidas pelo EI. Por fim, o Brasil aproveita a questo para defender a demanda de reforma do Conselho de Segurana da ONU.Estados UnidosO governo dos Estados Unidos defende o direito de luta do povo srio por sua autodeterminao e lamenta a represso do governo da Sria sua populao civil nacional com o objetivo de dificultar a transio do pas para a democracia, ressaltando que o mesmo no pretende se envolver novamente em uma interveno militar direta para mais uma mudana de regime no Oriente Mdio, a fim de evitar cometer erros parecidos com os do passado na derruba do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein.Ao mesmo tempo, os Estados Unidos condenam as violaes aos direitos humanos causadas pelo regime do presidente srio, Bashar al-Assad, atravs da violncia utilizada contra a populao civil sria, resultando em milhares de mortes. Neste sentido, uma das principais preocupaes do pas sobre a utilizao de armas qumicas nos ataques do governo srio, como aconteceu, segundo acusao do servio de inteligncia americano, no ataque de 21 de agosto de 2013, responsvel por mais de mil bitos. O presidente Barack Obama justificou que a ateno questo tambm se deve ao fato de que o uso deste tipo de armamento desrespeita a mais bsica das leis internacionais e representa ameaa estabilidade do sistema internacional em futuros embates no sculo XXI.Para a resoluo do conflito com as armas qumicas, o governo estadunidense sustenta a cooperao internacional atravs de vias diplomticas, buscando especialmente o apoio da Rssia, enquanto principal meio que deve ser explorado. Ambos os pases exigem que Bashar al-Assad cumpra com rigor o acordo da Conveno sobre as Armas Qumicas, assinado pela Sria em 14 de setembro de 2013, para que seus pases-membros entreguem todo o seu arsenal de armas qumicas. Caso isto no ocorra, os Estados Unidos denotam a necessidade de aplicao de sanes severas pelo Conselho de Segurana da Organizao das Naes Unidas (ONU) em prejuzo ao presidente srio.Deste modo, os Estados Unidos ainda so uns dos principais interessados em buscar esforos diplomticos para que a comunidade internacional pressione Bashar al-Assad pelo cessar-fogo definitivo populao civil sria e pela abertura para o estabelecimento de corredores humanitrios para ajudar as vtimas da guerra. Neste ponto, se destacam os debates entre o secretrio de Estado do pas, John Kerry, e os ministros das Relaes Exteriores da Rssia e da Frana, respectivamente Sergei Lavrov e Laurent Fabius.No entanto, os Estados Unidos optaram por no cooperar com Bashar al-Assad na formao prpria de uma ampla campanha internacional para o combate aos jihadistas do Estado Islmico, que tem como finalidade de evitar a formao do Estado Islmico a qualquer custo, ainda que o envio de tropas terrestres estadunidenses regio no tenha sido aprovado pelo Congresso Nacional. Para isto, formou-se a coalizao anti-EI, liderada pelos Estados Unidos, que utiliza como estratgias principais, sem autorizao do governo srio e aval da ONU, o treinamento e financiamento de grupos rebeldes moderados a Bashar al-Assad, para que estes assumam a linha de frente do combate ao Estado Islmico, e o uso de sua fora militar e de seus aliados atravs de bombardeios areos em pontos estratgicos de ocupao dos jihadistas do Estado Islmico. Como justificativa, a porta-voz da Casa Branca, Marie Harf, disse que: O presidente tem autoridade como comandante em chefe, sob a Constituio dos EUA, para agir na proteo do nosso povo. Em qualquer ao, evidentemente, teremos base legal internacional. Ainda, o coronel Patrick Ryder, porta-voz do comando central dos Estados Unidos, salienta em seus enunciados que todas as aes de seu governo na Sria possuem total preocupao com a preservao da vida da populao civil local.IraqueO Iraque aceita a ajuda de outros pases para combater o EI, mas faz restries e defende que determinados tipos de ao devem ser promovidos somente por foras iraquianas. Assim, o primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, declarou que o Estado no aceitar nenhuma tropa em terra que no seja a iraquiana e afirmou que rejeita totalmente que naes rabes participem de ataques ao EI em seu pas. Dessa forma, os Estados rabes que participam da coalizo anti-EI liderada pelos Estados Unidos tm realizado ataques somente na Sria. Al-Abadi afirmou tambm que o poder areo ocidental preencheu muitas lacunas no combate ao grupo e que o exrcito iraquiano est sendo reestruturado para a proteo da populao, sendo que foi solicitado ajuda ao Reino Unido em matria de treinamento de tropas, coleta de dados de inteligncia e tecnologia.Ademais, o parlamento iraquiano aprovou um novo gabinete sob o comando de al-Abadi que conta com a participao das minorias sunita e curda, o que visto como uma forma de abrir caminhos para enfrentar o domnio do EI sobre reas do norte e do oeste do pas majoritariamente sunitas e para melhorar as relaes com os curdos iraquianos. Cabe acrescentar que o primeiro-ministro iraquiano considera que uma polarizao internacional e regional contribuiu para a ascenso do EI. Por fim, outros dois pontos merecem ser considerados, sendo o primeiro deles o fato que o Iraque acredita que so necessrias medidas para frear o fluxo de terroristas nas fronteiras, particularmente naquela com a Sria. J a segunda questo diz respeito s relaes com o Brasil. O embaixador iraquiano no pas sul-americano, Adel Mustafa Kamil Alkudi, afirmou que no h justificativas para a posio neutra brasileira sobre o tema do EI, uma vez que o que ocorre no uma guerra entre pases, mas uma situao de massacres perpetrados por gangues.RssiaO Ministrio das Relaes Exteriores da Rssia defende que a luta contra o EI deve ser realizada em conformidade com o direito internacional pblico e com respeito integridade territorial dos Estados. Nesse sentido, Moscou defende que ataques contra o grupo na Sria s devem ser efetuados com a permisso do governo ou com um mandato do Conselho de Segurana da ONU, pois caso contrrio seria um ato de agresso. Tal posicionamento no por si contrrio coalizo anti-EI, mas apresenta uma condicionalidade que o Estado russo julga essencial para que as operaes sejam realizadas, preservando assim os interesses da Sria, aliada da Rssia desde os tempos da Unio Sovitica. Cabe ressaltar que Moscou no pretende participar da coalizo formada e liderada pelos Estados Unidos, sendo que um representante do Ministrio das Relaes Exteriores russo declarou que esta no uma festa e o pas no espera um convite e no ir comprar um ingresso para entrar.Ademais, o ministro das Relaes Exteriores, Serguei Lavrov, usou a expresso mais vale tarde do que nunca para se referir criao da coalizo anti-EI, pois afirmou que Moscou tentou chamar a ateno reiteradamente da comunidade internacional sobre a grande presena de extremistas e terroristas entre aqueles que combatiam as autoridades oficiais da Lbia e da Sria, mas muitos governos ocidentais ignoram a questo. Lavrov relembrou tambm que os Estados Unidos e seus aliados ignoraram os chamados da Rssia para unir esforos e ajudar o governo srio a criar uma frente junto com a oposio moderada e patritica para combater os terroristas que invadem o pas rabe. Para a autoridade russa, tal situao demonstra o duplo critrio adotado por Washington no combate ao terrorismo, sendo que os Estados ocidentais s comearam a reagir com a divulgao de um vdeo que mostrava a execuo de jornalistas estadunidenses pelo EI.Quanto posio na luta contra o EI, chanceler afirmou que a Rssia ajuda h muito tempo a Sria, o Iraque e outros pases da regio e desenvolver seus potenciais no combate ao terrorismo, especialmente com o fornecimento de armamentos. Por fim, relevante ressaltar que a Rssia aprovou, no Conselho de Segurana, um documento apresentado pelos Estados Unidos que incumbe os pases a impedir que o EI receba qualquer tipo de ajuda.FranaA Frana um dos pases que tem feito uma das retricas mais duras contra o regime do presidente srio, Bashar al-Assad. O pas foi o primeiro do Ocidente a manifestar publicamente apoio oposio democrtica sria como nica representante legtima da populao civil local e a admitir que forneceu armas e apoio logstico aos rebeldes. Deste modo, o governo francs foi um dos principais responsveis por pressionar a Unio Europeia para que o bloco no prorrogasse o embargo de armas Sria, a fim de que o mesmo possa continuar fornecendo armamentos aos rebeldes de maneira lcita.Aps os Estados Unidos terem acusado o governo srio da utilizao de armas qumicas no ataque de 21 de agosto de 2013, responsvel pela morte de mais civis, o presidente francs, Franois Hollande, pretendia organizar uma coalizao de pases para uma ofensiva militar contra os depsitos de armas qumicas de Bashar al-Assad, para penalizar seu regime pelo uso deste tipo de armamento. De acordo com o Chefe de Estado francs, a acometida no teria o objetivo de derrubar o presidente srio.No entanto, a campanha de Franois Hollande no obteve xito aps a negociao do acordo de eliminao das armas qumicas da Sria. Por fim, o chanceler francs, Laurent Fabius, acabou por reconhecer que o acordo representa um avano importante e as vias diplomticas so importantes instrumentos para a resoluo do conflito. Caso este no seja cumprido pelo governo srio, a Frana tambm defende a implementao de sanes severas ao mesmo.Posteriormente, no dia 12 de novembro de 2014, o presidente francs viajou at o Iraque para manifestar ao governo local que est disposto a atender ao seu pedido de ajuda na luta contra o Estado Islmico em territrio iraquiano. Assim, iniciou-se uma srie de bombardeios com as foras francesas, em pontos estratgicos de ocupao do Estado Islmico no Iraque, que se propagam at os dias atuais, com o objetivo de proteger as populaes civis e restabelecer o Estado de direito do Iraque em todo seu territrio. Ainda, vlido colocar que os ataques da Frana na regio se intensificaram aps a proposta dos Estados Unidos, aceita por Franois Hollande, para que o governo francs ampliasse o combate ao Estado Islmico, e assim, assumisse importncia essencial na coalizo anti-EI.Sria

O governo do presidente da Sria, Bashar al-Assad, diante da ameaa de uma revoluo social para a tomada do poder por grupos rebeldes, e posteriormente uma possvel mudana de regime do pas para a democracia, alm da ameaa de seu desmembramento para o Estado Islmico, possui como preocupaes prioritrias a manuteno do seu atual Chefe de Estado e aliados no poder com a preservao da integridade territorial.

Em relao ao episdio das armas qumicas, Bashar Al-Assad afirma que as acusaes dos Estados Unidos no tm fundamento e atribuem o ocorrido aos rebeldes, pois o governo srio possua o controle da regio e no necessitaria realizar tal ao.Inicialmente, o combate aos grupos de oposio empreendido pelo governo srio assumiram maior relevncia para o mesmo do que a luta contra a ameaa do Estado Islmico. Alguns analistas de Relaes Internacionais interpretam que, apesar de no existirem evidncias sobre uma aliana formal entre o governo srio e o Estado Islmico, Bashar al-Assad deixou que os ltimos prosperassem em determinadas reas pois obteria alguns benefcios com isto. Entre as principais vantagens que a situao trouxe para o presidente da Sria, pode-se citar as batalhas entre os grupos rebeldes e o Estado Islmico, responsveis por afugentar os primeiros e demais ativistas polticos de regies estratgicas para a tomada do poder.Porm, o Estado Islmico avanou de maneira desmedida em territrio srio e passou a representar uma ameaa maior ao governo de Bashar al-Assad, exigindo que o mesmo se empenhe em um confronto mais direto. Assim, o ministro das Relaes Exteriores da Sria, Walid al-Moualem, admitiu que est disposto a cooperar em nvel internacional para o combate do Estado Islmico em territrio srio, desde que todas as aes sejam coordenadas com o governo srio. Ademais, o presidente srio manifestou que a possibilidade de uma ao unilateral dos Estados Unidos na regio est descartada e quaisquer aes contra o Estado Islmico em territrio srio sem a sua devida autorizao representam agresses ao seu governo e soberania da Sria.Sob a tica do poderAnalisando o caso da Sria, pode-se perceber as especificidades das formas de poder que se manifestam atravs das negociaes, destacando as assimetrias dos membros envolvidos e as percepes compartilhadas, tanto nas partes como no todo. Pois, power comes in so many forms, subsumed under so many definition, that it must be separated into component parts before the whole can be properly understood. (RUBIN & ZARTAN, 2002, p.6).Desse modo, o conflito na Sria surge como uma onda violenta capaz de vitimar as arenas de poder, pois ao trazer o vu da democracia e da segurana, o Ocidente busca tornar o Estado Islmico seu principal alvo e o fim do governo autoritrio de Bashar al-Assad sua misso moral na Sria.Encapuzando inimigos e viles, constantemente citados na mdia internacional, os discursos ocidentais elaboram motivos e mtodos a fim de se alcanar a paz na regio, apoiando-se no extermnio de grupos radicais e nas armas norte-americanas, principalmente aps a divulgao do vdeo sobre a execuo do jornalista estadunidense pelo EI. Sendo assim, possvel ver que, neste ponto, os Estados mais poderosos conseguem controlar os processos de negociao por meio de suas relaes e seus recursos, direcionando os resultados a seu favor, como exemplo, a criao da coalizo ant-EI liderada pelos EUA. (RUBIN & ZARTAN, 2002, p.4).O significado de poder que englobaria as discusses seria: an action by one party intending to produce movment by another (RUBIN & ZARTAN, 2002, p.8), o qual abrange as mais variados esferas de atuao e negociao, como o poder social, econmico, poltico, militar, etc. Alm disso, esta definio consiste em um meio termo entre resultados e recursos e a ideia de produzir movimento est relacionada com as percepes de poder envolvidas nas relaes, recursos e vozes das partes que se interagem.A condio de negociao entre Estado Islmico e Ocidente pode ser citada atravs de partes que se percebem desiguais em poder, sendo que a parte mais poderosa tende a agir de modo mais exploratrio e a parte de menor poder mais submissa, com excees a certas situaes especiais. Ou seja, neste caso, h atuaes e aes vindas do Estado Islmico mesmo sendo a parte menos poderosa do conflito, pois, o grupo acredita que pode ter fora ao se unir com outros Estados mais fracos ou ter algum tipo de proteo frente ao poderio ocidental, portanto, encaixar-se-ia nas situaes especiais. (RUBIN & ZARTAN, 2002, p.16). Portanto, o sentimento de vingana e a vontade de responder aos ataques da coalizo anti-IE, fazem do grupo IE um rival a ser perseguido o que dificulta qualquer processo de negociao.O poder do Estado Islmico, concentrado na busca de criao de um califado islmico, utiliza-se de armas, financiamento prprio e discursos de vis religiosos a fim de tornar-se visvel como uma ameaa ao poderio ocidental e tambm outras religies no-sunitas, pois, almejam seus resultados por aes violentas deturpando a ordem, os direitos e valores compartilhados pela comunidade internacional, como os direitos humanos, a soberania estatal, etc. Sendo que o grupo foi declarado como terrorista pelas Naes Unidas.Por fim, necessrio destacar como as distintas percepes e formas de poder interferem na relao e dilogo entre as partes envolvidas, desse modo, o EI e o Ocidente compartilham percepes de poder que so construdas pelos seus atos e discursos. Os EUA, em sua luta contra o terror, fazem-se valer de seus recursos como Estado poderoso para buscar aliados contra o EI. De outro lado, o EI pretende se afirmar como ameaa frente ao Ocidente e as religies consideradas inimigas.ConclusoPor mais que se possa dizer que toda a questo em pauta aqui tenha comeado j h alguns anos, basicamente no contexto da primavera rabe e da queda do regime de Saddam Hussein, ela ainda totalmente contempornea e no possui desfecho. Os corolrios que se seguiram, notadamente se referindo a formao do Estado Islmico, geram mais preocupao por parte dos atores internacionais interessados do que estes possuam inicialmente. Em outras palavras, seja para a Rssia, seja para os Estados Unidos, ou para a comunidade internacional, a situao se complicou, ao invs de se simplificar, na regio.Assim, neste contexto especfico, optamos por eleger pases um pouco diferentes dos principais membros do Conselho de Segurana, tanto no diagnstico escrito, quanto na simulao proposta. Escolhemos Estados que esto atuando ativamente na questo e/ou possuem opinies fortes e interesses conflitantes. Assim, Reino Unido e China, apesar de membros permanentes, no se encontram na anlise, enquanto Brasil, Iraque e Sria, sim.