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 Diagnóstico da Cobertura e Uso do Solo e das Áreas de Preservação Permanente Município de Colíder – MT Paula Bernasconi Ricardo Abad Laurent Micol Julho de 2008 

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Diagnóstico da Cobertura e Uso do Solo e

das Áreas de Preservação Permanente

Município de Colíder – MT 

Paula Bernasconi

Ricardo Abad Laurent Micol 

Julho de 2008 

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Introdução

O município de Colíder está localizado na região norte do estado de Mato Grosso, no Território

conhecido como Portal da Amazônia (Figura 1). Esse município, assim como outros da região, teve

colonização recente, iniciada na década de 1970, dependente de atividades baseadas na extração

madeireira, agricultura, garimpo e mais recentemente da pecuária. Essas atividades produtivas trouxeram

um alto crescimento econômico em um curto espaço de tempo, porém provocaram também o

desmatamento de grandes áreas de cobertura florestal original, muitas vezes em proporção maior que a

permitida por lei, por exemplo, nas Áreas de Preservação Permanentes - APPs.

Recentemente a necessidade de um planejamento para a conservação dos recursos naturais do

município e para a recuperação de áreas degradadas veio à tona, principalmente por ser também um dos

requisitos exigidos pela Secretaria do Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA) para a efetivação

da descentralização da gestão ambiental. Um dos pontos de maior interesse para o município nessa

descentralização é a possibilidade de ter autonomia para realizar o licenciamento ambiental de

atividades poluidoras de pequeno impacto local e de pequeno e médio porte. 

Neste contexto, para um melhor resultado das ações e planejamentos que forem realizados pelo

município é necessário primeiramente conhecer a realidade atual de uso do solo nos municípios e a sua

situação ambiental, principalmente em relação à conservação de áreas de preservação permanentes –

APPs.

Para contribuir nesse processo, o Instituto Centro de Vida elaborou esse diagnóstico que tem como

objetivo fornecer informações mais detalhadas sobre a cobertura e uso do solo atual e a degradação das

APPs de Colíder, assim como alternativas e custos estimados de recuperação. Busca-se também identificar

áreas críticas no município que sejam prioritárias para implantação de projetos de recuperação de áreas

degradadas.

Figura 1 – Localização do município de Colíder

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Metodologia e resultados

Nesse estudo utilizamos imagens de satélite obtidas por sensoriamento remoto e técnicas de

geoprocessamento para produzir informações sobre a cobertura vegetal, nascentes, sub-bacias, cursos

d’água, áreas de preservação permanente e microbacias hidrográficas.

As imagens utilizadas foram as do sensor LANDSAT 5 de Maio de 2008, com resolução de 30 metros

e SRTM pancromática 90m, ambas em formato GeoTiff e georreferenciadas. A imagem SRTM é um produto

da NASA com dados de elevação da superfície terrestre provindas de um radar acoplado ao ônibus espacial

em missão realizada no ano 2000. Esta imagem originalmente possui uma resolução espacial de 90m. Após

uma re-amostragem estatística, obtivemos uma imagem com resolução espacial de 30m. As áreas das

feições foram calculadas através de geoprocessamento nas coordenadas projetadas UTM Zona 21 Sul no

sistema de Referência Geográfica SAD69.

As imagens utilizadas, assim como as análises geradas, têm qualidade adequada para serem usadaspara estudos em nível municipal, ou regional. Para análises com maior detalhamento, o ideal é que sejam

feitas novas análises, com imagens especializadas com maior definição.

O ambiente SIG utilizado foi o ESRI ArcGIS 9.2. Para gerar as sub-bacias hidrográficas foi utilizado o

aplicativo de geoprocessamento BASINS 4.0, disponível no sítio de internet da EPA- Environmental

Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos). Para o limite do município de

Colíder foi utilizada a base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

Para cada uma das análises feitas foi gerado um mapa ilustrativo com o resultado, resultando num

total de cinco mapas. Esses mapas foram agrupados e apresentados no final do documento, assim como

um resumo dos principais resultados, para facilitar a consulta.

Classificação da cobertura e uso do solo atual

A partir das imagens de satélite geramos uma classificação não-supervisionada para identificar a

cobertura e uso do solo atual. Nessa classificação foi possível identificar seis tipos de classes, que foram

quantificadas para o total do município e para cada sub-bacia (Figura 2Figura 2). Uma área de

aproximadamente 600 hectares estava coberta com nuvens no momento da passagem do satélite, eimpediu de identificar a cobertura do solo, mas isso representou apenas 0,2% da área total do município.

Detalhe da Ima em Landsat de Maio de 2008 

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Hidrografia, Sub-bacias hidrográficas e Áreas de Preservação Permanente

A rede hidrográfica do município foi mapeada utilizando imagens de satélite em uma escala de 1:

50.000. Nesse mapeamento foram identificados 3,5 mil quilômetros de rios e 1.711 nascentes (Página 11).

Uma importante unidade básica de planejamento são as bacias hidrográficas que representam a área de

influência dos cursos d’água. O município de Colíder está localizado na grande bacia hidrográfica

Amazônica, na sub-bacia do Rio Teles Pires. Para identificar sub-bacias com uma menor área mais

hidrográficas utilizamos o aplicativo BASINS 4.0 que calculou as sub-bacias utilizando um modelo digital do

terreno, que é derivado da imagem SRTM.

Figura 3 – Detalhe de área com mapeamento da hidrografia, nascentes e Áreas de Preservação Permanente

Esse trabalho resultou na identificação de 114 sub-bacias hidrográficas no município de Colíder que

têm, em média, 2,6 mil hectares cada uma. Verificamos, então, para cada uma das sub-bacias identificadas,

a situação de cobertura florestal através do resultado da classificação da cobertura e uso do solo. Para isso

dividimos as sub-bacias em quatro classes de acordo com a taxa de cobertura florestal. O resultado mostra

que a maioria das sub-bacias (89%) tem 75% ou menos de cobertura florestal (Tabela 2). Como o município

se encontra em área do bioma Amazônia, a porcentagem de área sem floresta está bem acima dos níveis

permitidos pela legislação (20% segundo o Código Florestal).

Tabela 2 - Taxa de cobertura florestal e área de floresta das sub-bacias de Colíder  

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Para identificar as Áreas de Preservação Permanente – APPs, delimitamos nas margens da rede

hidrográfica uma faixa que corresponde à mata ciliar (Figura 3). Elas foram geradas em três etapas com a

largura de acordo com a legislação estadual, que é mais restritiva que a federal. Primeiro geramos as APPs

de 50 metros para cursos d’água com largura inferior a 50 metros. Depois geramos as APPs para cursos

d’água com largura superior a 50 metros, e depois as APPs de 100 metros para todas as nascentes.Finalmente unificamos as três feições em uma só, possibilitando a quantificação total de APP no município,

e por sub-bacia. O cálculo total dessa área resultou em 36.313 hectares de APP no município.  

Degradação e Custos para Recuperação de Áreas de Preservação Permanente

Para identificar a situação atual das APPs do município cruzamos as informações do mapeamento

das APPs e a classificação da cobertura e uso do solo, resultando numa análise de cobertura e uso do solo

das APPs (Figura 4). As represas e rios com largura inferior a 50 metros não foram delimitados, por isso

nesses casos a classificação acusou a presença de água em APP. Isso ocorreu em 2.230 hectares no

município, que foram desconsiderados da quantidade total de APP, assim como a APP em área coberta por

nuvens (50 hectares) resultando em um total de 34.033 hectares de APP identificadas.

Figura 4 – Detalhe de área com diferentes coberturas na área de preservação permanente – APP e nascentes.

Desses 34 mil hectares que o município possui de APP, 14 mil estão preservados na forma de

floresta (40%). Os 20 mil hectares restantes (60%) apresentam cobertura ou uso do solo incompatíveis com

as funções que a APP deve desempenhar, devem, então, ser recuperados. Nessa situação estão 10 mil

hectares de área degradada com árvores (30%), 3 mil hectares de área degradada sem árvores (11%), 4 mil

hectares de pastagem ou agricultura (12%) e 2 mil hectares de solo exposto (6%) (Tabela 3).

Tabela 3 – Porcentagem e área total de cada uso do solo nas APPs do município

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A partir desse resultado fizemos um cruzamento com os dados das sub-bacias que resultou numa

análise da situação de preservação de APP para cada sub-bacia do município. Após a quantificação da área

de APP a recuperar para cada sub-bacia elas foram divididas em 4 classes de acordo com a área de APP a

recuperar. Das 114 sub-bacias de Colíder, 52 apresentam área de APP a recuperar menor que 100 hectares,

36 apresentam área de APP a recuperar entre 10 e 300 hectares, 20 apresentam área de APP a recuperarentre 300 e 500 hectares e 6 apresentam área de APP a recuperar entre 500 e 1.200 hectares (Tabela 4).

Tabela 4 – Área de APP a recuperar em cada bacia, divididas por classes de áreas a recuperar

Como visto, o Município de Colíder tem cerca de 20 mil hectares de APP para recuperar. Porém, de

acordo com a cobertura e uso do solo atual na APP, as ações que devem ser tomadas para recomposição

florestal e posterior regularização ambiental variam, assim como os respectivos custos. Quanto mais

degradada a área, maior será o custo para sua recuperação. Com base nisso aplicamos para cada tipo de

uso de solo encontrados nas APPs degradadas um custo estimado para recuperação, baseado em

experiências já realizadas e em estudos publicados.

As áreas de preservação permanente que estão com solo exposto são as áreas mais difíceis de

serem recuperadas, pois necessitam uma maior intervenção então o custo estimado de recuperação por

hectare é em torno de R$5 mil reais, incluindo custos de plantio de mudas, mão de obra, manutenção e

cercamento. Para as APPs que estão em área de agricultura ou pastagem, propusemos a utilização da

técnica de implantação de sistemas agroflorestais, incluindo o plantio de sementes e mudas, além do

cercamento, que teria um custo estimado de R$ 2 mil reais por hectare. Nas APPs que estão em áreas com

vegetação degradada sem a presença de árvores, além do cercamento é necessário complementar arecomposição com plantio de mudas de espécies nativas, que teriam um custo total estimado de R$1 mil

reais por hectare, incluindo todos os custos de plantio. Para áreas com vegetação degradada com árvores,

consideramos que a recuperação pode ser conduzida apenas pelo seu cercamento para impedir a

continuidade dos processos degradativos, como a presença de gado, e esse cercamento teria custo

estimado de R$ 500 reais por hectare (Tabela 5).

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Tabela 5 – Custos estimados para recuperação de área degradada de acordo com a cobertura atual

Aplicando esses custos de recuperação para cada uso do solo nas APPs degradadas calculamos o

custo estimado de recuperação de todas as APPs degradadas do município, que resultou em cerca de R$ 28

milhões. Para obter um resultado do custo de recuperação para cada sub-bacia, aplicamos esse cálculo

para cada uma delas e dividimos em quatro classes, de acordo com seu custo de recuperação. Das 114

bacias do município, 54 tem custo de recuperação de até R$150 mil Reais, 32 tem custo entre R$150 mil e

R$400 mil, 21 tem custo entre R$400 e R$700 mil e 7 tem custo entre R$700 mil e R$1,3 milhões ( Tabela 6).

Tabela 6 – Custos estimados para recuperação de APP em cada bacia, divididas por classes de custos 

Comentários finais

Com apenas 29% de cobertura florestal no município, e 60% de degradação das Áreas de

Preservação Permanente o município apresenta uma situação ambiental que está longe dos padrões da

legislação e também está longe do necessário para a conservação dos recursos naturais, como a água.

Portanto é necessária uma intervenção municipal para que o município recupere suas áreas degradadas, se

adéqüe à legislação e conserve seus recursos naturais para garantir sua disponibilidade.

Os resultados dessas análises visam subsidiar o planejamento estratégico e a elaboração de

projetos para definir como se dará essa intervenção, por exemplo, elencando ações específicas para áreas

prioritárias, ou um zoneamento municipal. Através da análise dos mapas é possível verificar que a região

central do município, localizada ao norte da área urbana do município, é a região que apresenta maior

degradação, pois é onde estão localizadas bacias com menor porcentagem de floresta e maior área de APP

a recuperar. Sugerimos, portanto essa área como prioritária para intervenção através de ações que

envolvem a recuperação de áreas degradadas, recuperação de áreas de reserva legal, melhoria daprodutividade nas áreas já abertas, entre outros.

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