dez anos de resgate informativo da secretaria de estado de...

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1 Boletim Eletrônico da Secretaria de Obras do Rio de Janeiro - Janeiro/2009 Canteiro de Obras Informativo da Secretaria de Estado de Obras - Ano 2 - Número 22 - Janeiro de 2009 Mais que um resgate da história da Polícia Civil, o Programa Delegacia Legal, que com- pleta dez anos em 2009, mudou os parâmetros da Polícia no Rio de Janeiro e no Brasil, com o investimento na qualificação profissional e no uso da tecnologia em prol da solução dos casos. Unidades como a do Catete, inau- gurada em 1908 e primeiro prédio do Brasil a ser construído como a finalidade de tornar-se uma delegacia, estão sendo recuperadas como um a forma de preservar a memória da Polí- cia Civil. Dez anos de resgate da dignidade policial

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1Boletim Eletrônico da Secretaria de Obras do Rio de Janeiro - Janeiro/2009

Canteirode Obras

Informativo da Secretaria de Estado de Obras - Ano 2 - Número 22 - Janeiro de 2009

Mais que um resgate da história da PolíciaCivil, o Programa Delegacia Legal, que com-pleta dez anos em 2009, mudou os parâmetrosda Polícia no Rio de Janeiro e no Brasil, como investimento na qualificação profissionale no uso da tecnologia em prol da soluçãodos casos. Unidades como a do Catete, inau-gurada em 1908 e primeiro prédio do Brasil aser construído como a finalidade de tornar-seuma delegacia, estão sendo recuperadas comoum a forma de preservar a memória da Polí-cia Civil.

Dez anos de resgateda dignidade policial

Boletim Eletrônico da Secretaria de Obras do Rio de Janeiro - Janeiro/2009 2

Fala,secretário!

O ano de 2009 chegou com algu-mas mudanças significativas na vida dosfluminenses, como a preparação de ter-reno para a construção denovas unidades habitacionais no Com-plexo do Alemão e a expectativa de inau-guração, agora no início do ano, do Co-

légio Estadual Luiz Carlos da Vila, em Manguinhos, numajusta homenagem a um dos grandes nomes da culturapopular fluminense e, porque não dizer, brasileira.

Entretanto, para nossa tristeza, situações de dor,como as enchentes nas regiões Norte e NoroesteFluminense ainda persistem. Coordenei, com os secretá-rios Marilene Ramos, do Ambiente; Benedita da Silva, deAssistência Social e Direitos Humanos; e Sérgio Cortes,da Saúde e Defesa Civil, uma visita às regiões mais afeta-das, a fim de oferecer ao governador Sérgio Cabral umrelatório fiel dos problemas enfrentados por aqueles mo-radores.Em pouco tempo pudemos observar a construçãode diques ilegais, que acabam represando a água dos riosda região e provocando as inundações. Além disso, en-contramos situações de assoreamento dos rios, princi-palmente em virtude do acúmulo de lixo em seu leito emargens. Não podemos esquecer que o material que ati-ramos nos rios certamente voltará para nos cobrar osjuros e a correção monetária de nosso descaso.

A secretária do Ambiente começou, imediatamen-te, um trabalho de desobstrução dos canais, permitindoassim que moradores de cidades como Santo Antoniode Pádua, Cardoso Moreira e Campos pudessem voltaràs suas casas e retomar as suas vidas. Uma vida marcada,até hoje, pelas enchentes, que, a cada ano, insistem emdestruir casas e todos os bens de milhares de famílias.

Da mesma forma, tivemos problemas sérios paraacessar a região, já que as estradas foram duramente afe-tadas. A Fundação Departamento de Estradas de Roda-gem (DER/RJ) está trabalhando em regime emergencial,tentando refazer a malha viária, que garante oescoamento da produção local e a chegada de medica-mentos, comida e, principalmente, água para essa legiãode refugiados. Através de uma parceria com o governofederal, a Marinha foi de extrema importância para che-gar às famílias mais isoladas.

Confesso que ainda hoje me dói pensar que milha-res de famílias passaram Natal e Ano Novo em ambien-tes coletivos, tendo de compartilhar um copo de água,um prato de comida, um cobertor. Outros guardavamna memória os momentos de terror vividos, com o avan-ço das águas que levavam plantações, criações e os pou-cos móveis que foram comprados com anos de suor.

Não posso afirmar que essa situação não voltará aaacontecer no próximo ano, na próxima chuva. Faremosa nossa parte, trabalhando com afinco para que possa-mos afastar essas tragédias, em definitivo, das famíliasfluminenses. Entretanto, para que isso torne-se realidade,é preciso que cada um faça a sua parte. Nós, governo,estamos buscando os meios necessários para acabar comessas tragédias anunciadas. Entretanto, se a comunidadenão participar e fizer a sua parte, estaremoscavando buraco na água.

Prêmio Melhores Práticas, concedido, no Dubai, por órgão da ONU

Beltrame, César, Cabral e Fichtner: melhor delegacia do Brasil

Capacitaçãopermanente ecertificação

O sinal de que os tempos mudaram foram os inúme-ros prêmios recebidos pelo Programa Delegacia Legal aolongo de sua existência. Inclusive o que escolheu a 23 DP(Méier) a Melhor Delegacia do Brasil, em 2007, cujacertificação foi recebida pelo governador Sérgio Cabral, ossecretários de Segurança, José Mariano Beltrame, e da CasaCivil, Régis Fichtner, e o coordenador do Programa, CésarCampos. Esse foi mais um de uma série de certificaçõesa que o governo estadual está se acostumando.

Segundo Campos, essa equipe que recebeu o prêmiode Melhor Delegacia foi a mesma que preparou-se para ga-rantir à Delegacia Legal a certificação de qualidade ISO 9000.Na ocasião eles descobriram que tratava-se da primeira de-legacia a buscar esse tipo de qualificação, recebendo o certi-ficado e o reconhecimento da importância que vinha sen-do dada ao setor de segurança no Rio de Janeiro.

- Quando começamos a buscar a certificação ISO, des-cobrimos que era a primeira delegacia do mundo a buscaresse tipo de qualificação. Ficamos orgulhosos de verificaros parâmetros necessários e mostrar que tinhamos cumpri-do todos, ganhando assim o certificado. Esse foi um gran-de orgulho para todos nós que queríamos mostrar a novaface da polícia fluminense - frisou Campos.

Ele reitera que a preocupação em manter umacapacitação permanente de todos os profissionais é o prin-cipal elemento para os certificados. Campos lembra tam-bém do Prêmio Dubai de Melhores Práticas, coordenadopelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Hu-manos (UN-HABITAT), que envolveu 609 projetos em 88países; e o Prêmio e-Learning Brasil 2004, como referêncianacional na área de capacitação continuada dos profissio-nais. O Delegacia Legal foi apontado ainda como excelenteprática no Relatório sobre a Tortura no Brasil, produzidopelo Relator Especial sobre a Tortura na Comissão dos Di-reitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU)e por uma série da Altus Global Alliance.

3Boletim Eletrônico da Secretaria de Obras do Rio de Janeiro - Janeiro/2009

Diferenças sensíveis

Nas antigas delegacias, sem estrutura, policiais atendiam o público

Hoje, nas DPs, o primeiro atendimento é feito por assistentes sociais

Empréstimo garante conclusão

Para a maioria da população, a principal diferença como novo programa foi a eliminação de carceragens em dele-gacias. Essa era uma procupação antiga do governo, já quea concentração de presos, muitos de alta periculosidade, emáreas residenciais, ampliava a necessidade de investir cadavez mais pesado na segurança dos fluminenses, que viviamtemerosos das freqüentes rebeliões de presos.

Entretanto, frisou César Campos, um dos principaispontos do Programa Delegacia Legal é a interconectividadeentre as unidades policiais e o sistema de informações, quepermite o acesso imediato a todos os arquivos de processosjá existentes no banco de dados. Antes, admitiu, as informa-ções eram detidas apenas pelo policial que acompanhava ocaso, perdendo-se depois. Hoje todos os casos estão à dispo-sição de todos os policiais, como forma de garantir que otrabalho policial seja uma constante fonte de recursos para asolução de crimes em todos os municípios fluminenses.

- Antes os processos ficavam restritos apenas a umaunidade policial e, caso o policial se afastasse por algummotivo, todas as informações sobre aquele caso morriamcom ele. Hoje, ao contrário, é uma fonte permanente deconsulta aos detetives, que podem cruzar informações emodos de operação semelhantes, chegando mais rápido àsolução dos crimes - afirmou Campos.

Outra preocupação foi deixar os policiais voltadosespecificamente para o trabalho investigativo, contratan-do assistentes sociais, psicólogos e estudantes de comu-nicação social para fazer o primeiro atendimento ao pú-blico. A reforma das unidades também serviu parahumanizar o processo de interação entre Polícia e socie-dade. Os novos balcões para atendimento, por exemplo,e uma estrutura que permita mais privacidade àqueles quebuscam o auxílio policial são ganhos consideráveis da so-ciedade com o programa.

O Programa DelegaciaLegal, que completa dez anosesse ano, recebeu um presen-te de aniversário antecipado,com a liberação do emprés-timo de R$ 157 milhões con-seguido pelo governo esta-dual junto ao Banco Nacio-nal de DesenvolvimentoEconômico e Social(BNDES). Essa é a primeiravez na história do banco querecursos são destinados paraa construção de unidades desegurança.

Segundo o vice-gover-nador e secretário de Obras,Luiz Fernando Pezão, essesrecursos são necessários paraa conclusão do programa,que hoje possui 108 unida-des inauguradas. Para a con-clusão faltam apenas 38 uni-dades distritais, sendo que al-gumas terão de serconstruídas, outras aguar-dam apenas a conclusão dasobras e poucas ainda possu-em carceragem.

- São poucas as unida-des que faltam para o encer-ramento do programa. Es-ses recursos são fundamen-tais para que cheguemos aonosso objetivo, que é trans-ferir os presos que aguardamjulgamento para as casas decustódia e acabar definitiva-mente com as carceragens -

frisou Pezão, que encami-nhou o documento pedindoos recursos.

O coordenador do Pro-grama Delegacia Legal, CésarCampos, comentou que du-rante esses dez anos o siste-ma de segurança cresceu. Em1999 eram 121 delegacias, aopasso que no ano passadoeram 169, além da construçãodas casas de custódia, do Ins-tituto Médico Legal (IML), e

de todas as unidades de Polí-cia Técnica.

O governo vem traba-lhando em conjunto com oTribunal de Justiça do Rio deJaneiro e com alguns muni-cípios, como Casimiro deAbreu, Macaé, Quissamã eRio das Ostras, para a cons-trução de casas de custóriae serão instalados JuizadosEspeciais Criminais regio-nais, abrangendo quatro ou

cinco delegacias legais, paraatender melhor as vítimas decrimes de menor poderofensivo.

O projeto arquitetônicoe o sistema operacional doprograma foram desenvolvi-dos pela Fundação Coorde-nação de Projetos, Pesquisase Estudos Tecnológicos(CoppeTec), da UFRJ, den-tro do que há de mais mo-derno em tecnologia.

O Programa Delegacia Legal é a primeira reforma das delegacias desde 1902 e investe em tecnologia e capacitação

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Canteiro de Obras - Informativo da Secretaria de Estado de Obras.Edição - Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado de Obras - Rua México, 125/ 9° andar Centro - Rio de Janeiro - RJ CEP: 20.031-145 - Tels.: 2299-3089 / 2299-3050 (telfax)E-mail: [email protected] a página da Secretaria: http://www.obras.rj.gov.brVeja a coleção completa dos boletins no endereço http://www.obras.rj.gov.br/boletim.asp

Preocupação em preservarArquivo Delegacia Legal

A unidade do Catete foi a primeira no Brasil a ser construída com a finalidade de abrigar uma delegacia

os prédios históricosUma das principais

preocupações do ProgramaDelegacia Legal é o de garan-tir maior conforto para a po-pulação e os policiais, mas ou-tro fator determinante doprograma é o de construirunidades mais seguras e pre-servar aquelas que fazem par-te da história da Polícia Civil.A Delegacia do Catete, porexemplo, foi projetada peloarquiteto Heitor de Melo einaugurada em 1908, comoo primeiro prédio público doBrasil a ser construído paraabrigar uma delegacia.

Outros projetos estãosendo desenvolvidos em par-cerias com municípios e ini-ciativa privada, a fim de ga-rantir que os prédios históri-cos sejam preservados e sepossa afiançar à população orespeito à sua memória. Tam-bém estão sendo projetadasunidades que valorizem ocontato com a população etransformem a unidade emponto de confiança dosmoradores.

- Acho que o mais im-portante na história da De-legacia Legal é o fato de elaser a primeira modificaçãoem um século de polícia. Ainformatização criou umarede de informações entretodas as unidades e aumen-tou o grau de exigência doprofissional que está lotadonaquela delegacia - ressaltouo coordenador do ProgramaDelegacia Legal, CésarCampos.

Hoje as prisõesefetuadas em uma cidadecomo Cordeiro, por exemplo,estão disponíveis em todo osistema policial e pode ser degrande utilidade para equipesque estejam em outra regiãodo estado. A tecnologia, fri-sou Campos, vem sendo usa-da para agilizar a solução deprocessos, liberando os poli-ciais para o trabalhoinvestigativo.

- Agora, quando busca-mos novos policiais, asespecificações do edital sãodiferentes, com ênfase paraaqueles que possuem conheci-mento de Informática, algo queera impensável há alguns anos.Esse é o futuro da Polícia -concluiu Campos.

Histórias engraçadas com o novo modelo de delegacia

César Campos: 10 anos de trabalho

Em dez anos de programa, o coordenador, CésarCampos, já viu muitas situações inusitadas ligadas à Dele-gacia Legal. A mais divertida, afirma, foi a dos turistas di-namarqueses que entraram na 5ª DP, na Rua Gomes Freire,no Centro do Rio, para trocar dólares. Como viram umambiente claro e limpo e portas de vidro, pensaram tratar-se de uma casa de câmbio.

Outro caso que Campos lembra é a das pessoas queentravam nas delegacias apenas para ir ao banheiro, já que,trabalhadores das ruas não tinham onde fazer suas necessi-dades. Isso, na sua visão, marcou o fim da imagem da políciacomo órgão de repressão para a grande maioria da popula-ção. Aos poucos eles sentiram-se como em suas casas.

- Isso é muito interessante. A modificação da estrutura fez com que as pessoasmudassem a forma de ver a polícia e passasse a encará-la como um órgão públicoencarregado de fazer a investigação dos crimes - frisou Campos.

A questão da porta de vidro também serviu para diminuir as distâncias entre apolícia e a comunidade, já que não havia cantos escuros e sombras dentro das novasunidades. A princípio, os policiais acreditavam que a porta era desconfiança do trabalhoque faziam, enquanto a população via naquela ação uma forma de demonstrar a transpa-rência da ação policial.

- No fundo o que queríamos era aumentar a confiança entre cidadão e policial, oque aconteceu. Mas cada um fez uma leitura diferente da porta - concluiu o coordenador.