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Page 1: DESPOTISMO DEMOCRÁTICO, INDIVIDUALISMO E A … DEMOCRÁTICO, INDIVIDUALISMO E A TEORIA DO ‘INTERESSE BEM COMPREENDIDO’ EM TOCQUEVILLE Rafael Lamera Cabral 1 Resumo: O dilema sobre

DESPOTISMO DEMOCRÁTICO, INDIVIDUALISMO E A TEORIA D O

‘INTERESSE BEM COMPREENDIDO’ EM TOCQUEVILLE

Rafael Lamera Cabral1

Resumo: O dilema sobre igualdade e liberdade no contexto sócio-político do século XIX é um dos focos do pensamento político de Tocqueville. O autor repensa o problema francês de igualdade e liberdade em uma só palavra: democracia. E, ao atribuir primazia ao fato democrático, se diferencia dos pensadores de sua época. Ciente da importância que a igualdade e a liberdade desempenham na ordem democrática apresenta sua análise com o objetivo de compreender os fenômenos produzidos pela igualdade de condições, individualismo, apatia política, tirania da maioria, despotismo democrático, centralização administrativa e por fim, a liberdade, como um interesse bem compreendido para a realização da democracia. Palavras-chave: Democracia; igualdade; liberdade; política.

Introdução:

Este estudo é uma síntese do segundo capítulo do trabalho de conclusão de curso

“Igualdade e liberdade: a democracia em Alexis de Tocqueville” em que se estrutura os temas

igualdade e liberdade como pressupostos válidos para a concretização da democracia através

da abordagem teórica em Alexis de Tocqueville, estudioso da democracia norte-americana do

século XIX.

Esses temas, estudados sob os mais variados aspectos, dificilmente possuíram ou

possuirão a mesma significação, pois as idéias de igualdade e liberdade assumem diferentes

conotações nas relações sócio-históricas. Nesse sentido, surge uma inquietação principal:

como realizar a democracia?

Tocqueville encontra na América do Norte todas as possibilidades para a idealização

de uma democracia liberal. A primeira possibilidade decorre da situação acidental e particular

em que se encontra a sociedade americana, que favorece o sentimento democrático, pois o

espaço geográfico sem limites (a priori), nesse momento, ainda não possui países vizinhos.

Logo, não havia temor de guerras ou de conflitos diplomáticos.

A segunda possibilidade deriva das leis dos americanos. Os espíritos de igualdade e

liberdade não se mantiveram somente no novo corpo social formado, foram transplantados

para as leis. E a terceira e grande possibilidade, senão a principal, ocorre com o hábito, o

1 É bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS e mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar.

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costume e a religião dos americanos. Os valores dos imigrantes, o gosto pelo sentido da

igualdade e da liberdade lançou os pilares das origens dessa sociedade.

Diferentemente de todos os outros filósofos de seu tempo, Tocqueville se destacou ao

partir de uma análise profunda que, para ele, seria o grande futuro das nações: o fato

democrático.

Assim, o que se observa é que Tocqueville reúne os problemas franceses de igualdade

e liberdade numa só palavra: democracia. Esta tarefa não foi fácil para o autor, pois havia

influências de sua própria origem; era descendente de uma grande família nobre e o avanço da

democracia para ele, oscilava, em seus julgamentos, “[...] entre a severidade e a indulgência,

entre uma reticência do seu coração e uma adesão hesitante da sua razão” (FREY, 2000,

p.84).

Um dos objetivos pessoais de sua visita aos Estados Unidos respalda-se na

necessidade pragmática de reunir ensinamentos dos quais pudesse tirar proveitos para toda a

sociedade francesa, aliada ao conhecimento teórico. Por conseguinte, a habilidade que

Tocqueville demonstrou ao analisar a sociedade americana ficou evidenciada ao separar os

efeitos positivos e negativos produzidos pela democracia. Os dois volumes de sua obra “A

Democracia na América”, publicados em 1835 e 1840, apresentam ao grande público as

vantagens e desvantagens oferecidas pela igualdade de condições, bem como a importância da

liberdade para evitar os males naturais da igualdade.

A importância deste estudo reside no fato de que a Democracia é um dos regimes

políticos mais presentes na história da humanidade e que por sua vez possui uma capacidade

de mutação inesgotável, pois a cada época e conforme cada cultura traz à tona novas

possibilidades. A Democracia está intimamente ligada com a Igualdade e a Liberdade, esferas

estas ainda em constantes transformações, portanto, imprescindível o conhecimento da área,

estudo e o seu constante debate.

O objetivo deste trabalho é apresentar o pensamento político de Alexis de Tocqueville

acerca dos problemas produzidos pela democracia, especialmente, ao despotismo

democrático, individualismo e o contra ponto da teoria do interesse bem compreendido.

Nesta oportunidade, o escopo é atingido por meio de uma exposição sistemática do

raciocínio tocquevilliano contido na obra em que tratou a temática “A democracia na

América” em cotejo com estudos de autores brasileiros2.

2 Quirino (2001) e Jasmin (2005).

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Igualdade de Condições

É possível, nos regimes democráticos, que a igualdade e liberdade convivam em plena

harmonia? Esse foi um dos desafios desenvolvidos por Tocqueville ao analisar esses dois

elementos – igualdade e liberdade – como categorias não contraditórias de um mesmo todo: a

democracia. Embora “a idéia de uma sociedade democrática já havia surgido como a solução

formal para este desafio, os Estados Unidos apareciam para os europeus da primeira metade

do século XIX como o país onde ela se realizava” (QUIRINO, 2001, p.58). Não obstante, a

democracia traz em si problemas constantes que podem levar à destruição de pelo menos um

de seus dois elementos. A liberdade, para os americanos,

[...] não é o objeto principal e contínuo de seu desejo: o que eles amam com um amor eterno é a igualdade; eles se projetam para a liberdade por um impulso rápido e por esforços súbitos e, se fracassam, resignam-se; mas nada saberia satisfazê-los sem a igualdade, e eles preferiam perecer a perdê-la. (TOCQUEVILLE, 2005, p.63-4).

Com efeito, afirma Quirino (2001), é sempre mais fácil encontrar a liberdade lá onde

ela existe para alguns poucos, onde, portanto, não exista uma igualdade geral; do mesmo

modo, uma igualdade social e política, a mais ampla, embora desejável, pode determinar a

extinção da liberdade.

Se a conexão principal entre liberdade e igualdade se apresenta de forma tão complexa

para o desenvolvimento da democracia, talvez, seria um equívoco tentar separá-la. Se a

liberdade possa desaparecer com o desenvolvimento da igualdade, e se a tendência para o

futuro dos povos é a democracia, Tocqueville procura separá-los, pois a igualdade traz

problemas que só a liberdade poderá resolver.

Para Tocqueville (2005, p.55),

O estado social3 é, ordinariamente, o produto de um fato, às vezes das leis, quase sempre dessas duas causas reunidas. Porém, uma vez que existe, podemos considerar ele mesmo como a causa primeira da maioria das leis, costumes e idéias que regem a conduta das nações; o que ele não produz, ele modifica.

Tal é o estado social dos Estados Unidos observado por Tocqueville: “eminentemente

democrático”.

Para o autor, é na igualdade que se encontram os fundamentos e as explicações para a

existência da democracia. Mas esta democracia, deveras, não é a mesma difundida em seu

tempo, como tão-somente, uma forma de governo. “É um processo. Processo este constante e 3 Esse ‘estado social’ refere-se à situação e não como forma em que a União mantém suas relações para com a sociedade.

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interminável que a humanidade realiza em direção a igualização crescente das condições em

que vivem os homens”, conclui Quirino (2001, p.60).

Tocqueville (2005, p.7) afirma que:

À medida que [...] estudava a sociedade americana, via cada vez mais, na igualdade de condições, o fato gerador de que cada fato particular parecia decorrer e deparava incessantemente com ele como um ponto central a que todas as minhas observações confluíam.

Considerada a democracia também como uma situação, cuja igualdade de condições

constitui-se em princípio e fato gerador, é como se, para Tocqueville, os homens tivessem

partido de ou chegado a uma situação igualitária qualquer que lhes permitisse verem-se como

iguais. “É esta mesma situação de aparência, da visão de si e dos outros como iguais, que, por

sua vez, irá desenvolver o princípio básico da igualdade entre os homens” (QUIRINO, 2001,

p.62).

O que se observa é que, dentro do sistema conceitual de Tocqueville, a igualdade de

condições surge como um princípio constitutivo da ordem social democrática compreendido

como norma, e não constatação.

Jasmin (2005, p.46) comenta que “a análise tocquevilliana não está interessada em

discutir se há ou não igualdade de fato entre patrões e empregados ou entre riscos e pobres”,

por exemplo. “Importa-lhe a descoberta da maneira pela qual os homens democráticos

transformam uma condição real de desigualdade num acidente temporário, adequando-a ao

estado igualitário”.

A igualdade de condições existiria, portanto, “quando houvesse algo de igualitário em

comum que possibilitasse a visão da igualdade, desde aquela dada num determinado momento

em torno de determinados aspectos – fossem eles sociais, econômicos, políticos, culturais

etc”. (QUIRINO, 2001, p.62).

Neste sentido, Tocqueville, ao analisar a sociedade norte-americana consegue

vislumbrar realmente os fatos que possibilitam a existência, enquanto situação e princípio, a

igualdade de condições.

O estado social pode até ter sido constituído após a revolução em 1776, mas a

igualdade de condições, enquanto situação pode ser encontrada desde o início de seu

descobrimento, isto é, desde a fundação da Nova Inglaterra, cujo “princípios difundiram-se de

início pelos Estados vizinhos; em seguida ganharam pouco a pouco os mais distantes e

acabaram, se assim posso me exprimir, penetrando toda a confederação” (TOCQUEVILLE,

2005, p.40).

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Para Tocqueville (2005, p.276) o meio mais poderoso e, talvez:

[...] o único que nos teste, de interessar os homens pela sorte de sua pátria seja fazê-los participar de seu governo. Em nossos dias, o espírito de cidadania me parece inseparável do exercício dos direitos políticos; e acho que, doravante, veremos aumentar ou diminuir na Europa o número de cidadãos proporcionalmente à extensão desses direitos.

Nos Estados Unidos o homem do povo compreendeu a influência que a prosperidade

geral exerce sobre sua felicidade, idéia tão simples e, no entanto, tão pouco conhecida pelo

povo. Além do mais, ele se acostumou a ver essa prosperidade como obra sua.

“A irresistível igualização das condições sociais é uma das características

fundamentais da democracia, como resultado inescapável de um processo de longo curso que

abrange o conjunto das sociedades ocidentais”, pontua Jasmin (2005, p.40). Ademais, “o

estado social dos americanos é eminentemente democrático. Teve esse caráter desde o

nascimento das colônias e o tem mais ainda nos dias de hoje” (TOCQUEVILLE, 2005, p.55).

Tanto o é que, Tocqueville (2005, p.7), afirma que:

Entre os novos objetos que me chamaram a atenção durante minha permanência nos Estados Unidos nenhum me impressionou mais do que a igualdade das condições. Descobri sem custo a influência prodigiosa que exerce esse primeiro fato sobre o andamento da sociedade; ele proporciona ao espírito público certa direção, certo aspectos às leis; aos governantes, novas máximas e hábitos particulares aos governantes.

A paixão pela igualdade é poderosa no coração humano. O conceito tocquevilliano

caminha no sentido de que a igualdade e, não a liberdade, se prendem ao estado social. Por

conseguinte, pondera Chevallier (2001, p.260), “não poderia ser a liberdade o desejo principal

e contínuo dos homens das épocas democráticas”. Ainda mais que os bens por ela

proporcionados só aparecem com o tempo, enquanto os da igualdade se fazem sentir

imediatamente:

A liberdade política dá, de quando em quando, a um certo número de cidadãos, sublimes prazeres. – A igualdade oferece diariamente uma multidão de pequenas satisfações a cada homem. Os encantos da igualdade sentem-se a todo instante, acham-se ao alcance de todos. Os mais nobres corações não lhe são insensíveis e as mais vulgares almas nela encontram suas delícias. A paixão originada pela igualdade deve, pois, ser simultaneamente enérgica e geral.

“Uma situação de igualdade de condições pode fazer com que a igualdade se

consolide. A visão da igualdade enquanto princípio permite que ela seja não apenas garantida

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e durável, mas também possa prosseguir no seu caminhar igualitário”, esclarece Quirino

(2001, p.63)4.

Interessante ressaltar que, “a sociedade democrática é concebida como uma totalidade

social cujas partes, funcionalmente interdependentes, relacionam-se de modo dinâmico para

adequar-se ao princípio gerador que as unifica”, destaca Jasmin (2005, p.47).

Desta forma, compreende-se que o princípio unificador da sociedade democrática nos

Estados Unidos é a igualdade e, por conseguinte, esta igualdade excita o homem democrático

numa busca incessante. Afirmava Tocqueville (Apud JASMIN, 2005, p.49) que:

Quando a desigualdade é a lei comum de uma sociedade, as desigualdades mais fortes nunca atraem o olhar; quando tudo é mais ou menos nivelado, as menores o ferem. É por isso que o desejo da desigualdade torna-se cada vez mais insaciável à medida que a igualdade é maior. Entre os povos democráticos, os homens obterão facilmente uma certa igualdade; não poderiam alcançar aquela que desejam. Esta recua todos os dias diante deles, mas sem jamais furtar-se aos seus olhares, e, retirando-se, ela os atrai em sua perseguição. Acreditam, sem descanso, que vão alcançá-la, e ela escapa constantemente de suas tentativas. Vêem-na de perto o bastante para conhecer os seus encantos, não se aproximam dela o suficiente para gozá-los, e morrem antes de ter saboreado plenamente as suas doçuras.

O conceito em construção da democracia apresentado por Tocqueville em sua obra “A

democracia na América” é produzida pela experiência apresentada pela realidade democrática

americana, apresentando os seguintes elementos significativos que o pudessem caracterizar

(QUIRINO, 2001, p.72):

[...] a) o fator gerador, entendido como aquele ponto de partida, tomado como exemplar, historicamente dado pela fundação da Nova Inglaterra, pelos iguais pioneiros americanos; b) o princípio, a crença de que os homens são iguais, analisado como se fosse a ideologia geral dominante, que orienta o desenvolvimento do processo igualitário universal, perpétuo e providencial; c) a situação de igualdade de condições, apresentada, sobretudo, por meio da descrição da forma e das instituições políticas democráticas americanas, mas também, por vezes, salientando-se nesta situação o que poderia existir de igualitário no surgimento de diferentes relações entre as novas classes sociais [grifos do autor].

Não obstante, embora o processo de igualização seja considerado providencial por

Tocqueville, oportunidade em que a própria vontade divina acaba por determinar a história de

determinado povo, as principais características são: “é universal, é duradouro, escapa cada dia

4 No entanto, pontua Quirino (2001, p.65) que, o escopo da investigação de Tocqueville e a ambigüidade que ela obrigatoriamente comporta, é necessário deixar claro que a igualdade econômica no que se refere à igualdade de condições não é fator preponderante, posto que as revoluções americana e francesa puseram em evidência também as desigualdades sociais e políticas. A igualdade, na propriedade, na riqueza, a igualdade econômica em geral, não é, portanto, para Tocqueville o elemento essencial para se configurar uma situação de igualdade de condições. Apesar disso, Tocqueville não deixa de lado a igualdade econômica, e, apesar de não a colocar no cerne da questão, ela está presente em suas argumentações todo o tempo em que trabalha com a idéia de surgimento de um novo tipo de dominação nas sociedades democráticas [grifos do autor].

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ao poder humano; todos os acontecimentos, bem como todos os homens, contribuem para ele”

(TOCQUEVILLE, 2005, p.11).

Apesar de Tocqueville em sua obra “[...] analisar a democracia americana para

construir o seu modelo de democracia, escreve-a para os franceses, ante sua preocupação com

o que ocorre na França” (QUIRINO, 2001, p.70). Assim sendo, precisa advertir aos franceses

sobre os perigos da democracia, além de apontar suas vantagens; tanto é que afirma que “a

vantagem real da democracia não é favorecer a prosperidade de todos, mas apenas servir ao

bem-estar da maioria” (TOCQUEVILLE, 2005, p.272).

Para o autor, era necessário apresentar meios eficientes para tornar a revolução

democrática que avistara nos Estados Unidos e, que se apresentava em fase avançada na

França, proveitosa à humanidade e, é neste momento em que destaca o perigo em que o

desenvolvimento da igualdade pode causar à liberdade.

Para o autor:

[...] as revoluções democráticas dispõem-nos a fugir uns dos outros e perpetuam no seio da igualdade os ódios que a desigualdade fez nascer. A grande vantagem dos americanos é terem chegado à democracia sem terem precisado passar por revoluções democráticas e terem nascido iguais, em vez de terem se tornado (TOCQUEVILLE, 2000, p.124).

O isolamento, o individualismo e o afastamento dos negócios públicos são exemplos

dos perigos que uma democracia pode produzir na sociedade. Como demonstrado por

Tocqueville, os americanos foram felizes em resistir a esse mal inerente. Entretanto, a

observação do autor é de grande relevância às outras nações cuja democracia seria inevitável.

Individualismo

Decorrente do desenvolvimento desordenado da igualdade, “[...] cada homem buscava

em si mesmo suas crenças. E nestas mesmas eras democráticas, buscam todos os seus

sentimentos para si próprios” (TOCQUEVILLE, 2000, p.119).

“O fenômeno particular ao contexto da modernidade, anunciado por Tocqueville, tem

como ponto de partida na noção de que a sociedade democrática está fundada no

‘individualismo’” (JASMIN, 2005, p.54).

Tocqueville (2000, p.121) relata que:

À medida que as condições se igualam, encontramos um número maior de indivíduos que, apesar de já não serem ricos nem poderosos o bastante para exercer uma grande influência sobre a sorte de seus semelhantes, adquiriram ou conservaram luzes e bens suficientes para poderem se manter por si sós. [...] Nos tempos de igualdade, os homens não tem fé alguma uns nos outros, por causa de

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sua semelhança; esta própria semelhança, porém, dá-lhes uma confiança quase ilimitada no juízo do público, pois não lhes parece verossímil que, possuindo luzes semelhantes, não se encontre a verdade com a maioria... Por conseguinte, o público possui, entre os povos democráticos, um poder singular, cuja idéia as nações aristocráticas não podia sequer conceber. Não insinua, mas impõe as suas crenças, fazendo-as penetrar nas almas, por uma espécie de imensa pressão do espírito de todos sobre a inteligência de cada um.

Mas o individualismo vislumbrado por Tocqueville não possui a mesma conotação do

tradicional “egoísmo” existente abundantemente em tempos e lugares diversos. Para o autor, a

distinção é clara porque são verdades observáveis no dia-a-dia das sociedades democráticas.

O egoísmo nasce de um cego instinto e de um vício do coração. O vocábulo próprio é

“individualismo”, segundo Tocqueville, “responsável pelo sentido insólito que assumiu esse

termo usual da ciência política a partir de “A Democracia na América” (CHEVALLIER,

2001, p.264).

O egoísmo, nas palavras de Jasmin (2005, p.54), “manifesta uma corrupção do espírito

individual, pessoal, o que lhe confere a qualidade de sentimento depravado”, o que não ocorre

com o individualismo.

Para o autor (TOCQUEVILLE, 2000, p.119):

O individualismo é um sentimento refletido e pacífico, que dispõe cada cidadão a isolar-se da massa de seus semelhantes e a retirar-se com a sua família e seus amigos; de tal modo que, depois de haver criado uma pequena sociedade para seu uso, de bom grado abandona a si mesma a grande sociedade.

Grandes conseqüências advêm desta afirmação sobre o individualismo, cuja

interferência no desenvolvimento das relações democráticas surgirão no próprio “permanecer”

da democracia com um resultado duplo da fragmentação: privatização das relações sociais e a

progressiva indiferença cívica.

O que favorece o individualismo são as condições objetivas da existência social

democrática que, por conseguinte, são totalmente alheias à aristocracia. Logo, o

individualismo é fruto da igualdade. E nesse contexto, Tocqueville explica-o muito bem, ao

observar que enquanto a aristocracia prendia os súditos entre si por uma longa cadeia que

subia do camponês até o rei, cada um se achava protegido por alguém acima de si e protegia,

abaixo de si, alguém cujo auxílio podia reclamar. A “democracia rompe essa corrente,

‘isolando seus anéis’” (CHEVALLIER, 2001, p.262).

Com o desenvolvimento da igualdade de condições é plausível que ocorra a unificação

do corpo social; nesta oportunidade em que os indivíduos se tornam independentes entre si,

não necessitando mais dos outros componentes do mesmo corpo que, por serem iguais, pouco

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poderia contribuir, é que se estabelece a conseqüência observada por Jasmin (2005, p.55), em

que “esta extrema individualização resulta na constituição da massa de iguais”.

Logo, duas tendências correlatas ilustram a natureza deste processo (JASMIN, 2005,

p.55-6):

A instabilidade social crônica do homem democrático que o obriga a despender seu tempo na busca permanente do bem-estar material. Para a sociologia comparativa de Tocqueville, o desejo insaciável de bens materiais não é traço generalizado nas sociedades aristocráticas, porque a riqueza não se constitui num “objetivo de vida”, mas sim numa “maneira de viver”. [...] Na democracia, ao contrário, a posição de cada indivíduo depende, teoricamente, de seu próprio esforço. [...] Dada à mobilidade característica da igualização das condições, o medo da decadência e o desejo da ascensão social são sentimentos virtualmente inerradicáveis e universais ao conjunto dos indivíduos democráticos. Comparada às posições estáveis do mundo aristocrático, qualquer posição confortável nas condições igualitárias será sempre precária. A universalização da igualdade resulta na universalidade da atividade do trabalho como meio sine qua non de subsistência e de enriquecimento, condição necessária ao bem-estar material.

“Dessa forma, a democracia seria incentivadora desse isolamento pelo fato de, nela, o

indivíduo só contar consigo mesmo e acreditar que é o seu trabalho, bem como os seus

esforços e suas capacidades, que irá conceder-lhe tranqüilidade e bem-estar” (QUIRINO,

2001, p.75).

Nas palavras de Tocqueville (2000, p.7)

Quando as condições se tornam iguais, em conseqüência de uma luta prolongada entre as diferentes classes de que a velha sociedade era formada, a inveja, o ódio e o desprezo pelo vizinho, o orgulho e a confiança exagerada em si mesmo invadem, por assim dizer, o coração humano e fazem dele, por algum tempo, seu domínio. Isso, independentemente da igualdade, contribui poderosamente para dividir os homens, para fazer que desconfiem do juízo uns dos outros e busquem a luz tão-só em si mesmos. Cada qual procura então ser auto-suficiente e vangloria-se de ter sobre todas as coisas crenças próprias. Os homens passam a estar ligado apenas por interesses, não por idéias, e dir-se-ia que as opiniões humanas não constituem mais que uma espécie de poeira intelectual que se agita de todos os lados, sem poder se juntar e se fixar.

Neste sentido, Jasmin (2005, p.56-7) considera que:

[...] o individualismo, a privatização e a indiferença cívica são termos funcionalmente adequados entre si nas condições da democracia. Se no mundo aristocrático a parcela social emancipada do trabalho podia dedicar-se ao refinamento do espírito e da cultura e à direção dos negócios comuns, a sociedade burguesa tem a totalidade de seus membros imersa na produção de seu próprio sustento, o que implica a indisponibilidade geral de tempo pessoal para o desenvolvimento das luzes e para a dedicação às atividades públicas. Decorrem daí a mediocridade cultural da democracia e a progressiva alienação cívica.

Chevallier (2001, p.262) entende ainda que:

Grande mal moral, o individualismo é um mal político e social pior ainda; é “a ferrugem das sociedades”. Esvazia o cidadão de toda substância, esvaziando-o de

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civismo; estanca-lhe a fonte das virtudes públicas; torna a fazer dele um súdito, senão um escravo, oscilando sem dignidade entre a servidão e a licença.

Cria-se um círculo vicioso. O desinteresse pelo civismo afasta-o da necessidade de

participação na política no destino da sociedade em que ele próprio (o cidadão) ajudou a

organizar. Assim sendo, cada um procurará o seu interesse em vez de se unir aos semelhantes

em busca do bem coletivo, do bem comum.

Assim sendo, é plausível reconhecer que Tocqueville acertou em seu prognóstico

sobre o efeito devastador do individualismo na sociedade, cujo efeito já foram observados em

meados do século XX, tendo Norberto Bobbio (2004a, p.159), afirmado que:

A participação democrática deveria ser eficiente, direta e livre: a participação popular, mesmo nas democracias mais evoluídas, não é nem eficiente, nem direta, nem livre. Da soma desses três déficits de participação popular nasce à razão mais grave de crise, ou seja, a apatia política, o fenômeno tantas vezes observado e lamentado, da despolitização das massas nos Estados dominados pelos grandes aparelhos partidários.

No entanto, Tocqueville (2000, p.257) ressalta que “o que põe em perigo a sociedade

não é a grande corrupção de alguns, mas o relaxamento de todos”.

“Filho da igualdade, a anarquia e o despotismo são o duplo fruto do individualismo”

(CHEVALLIER, 2001, p.266). O círculo vicioso criado pelo individualismo pode levar ao

Estado anárquico qualquer sociedade, principalmente a democrática que, preocupada com o

bem-estar material, acaba por se desinteressar pelo bem coletivo de sua comunidade,

buscando tão-somente a realização de seu interesse pessoal.

O resultado desse fato lamentável, à mercê do desenvolvimento da igualização das

condições, acaba por evidenciar que “quanto mais o individualismo se alastra, mais é

percebido como natural à vida social, o que reforça sua irresistibilidade ao nível das

consciências e dos comportamentos”, comenta Jasmin (2005, p.57), e mais à frente diz que:

“o problema central do individualismo não é a corrupção do caráter individual, mas a

decadência dos costumes políticos na medida em que ‘só faz secar a fonte das virtudes

públicas’”.

Por outro lado, Tocqueville, “ao compreender que o individualismo em curto prazo

atinge as virtudes públicas, observou também que com o correr do tempo ele ataca e destroem

todas as outras e termina por se absorver no egoísmo” (QUIRINO, 2001, p.74). Na realidade,

o que Tocqueville vislumbra é que a moralidade privada torna-se vacilante, ao mesmo tempo

em que a virtude pública torna-se um empecilho para o desenvolvimento dos interesses

particulares. Por outro lado, é necessário destacar que o pensamento político de Tocqueville

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procura apresentar ao povo francês sua preocupação com o individualismo quando derivado

de um processo revolucionário.

Esta preocupação se justifica quando Tocqueville observa que os Estados Unidos

atingiram o desenvolvimento da igualdade das condições sem passar por uma grande

revolução; fato este contrário ao que se viu na França de 1789. Autores como Quirino (2001,

p.75) compreende que “está nesta origem revolucionária de sociedades democráticas a

disposição dos cidadãos de isolar-se uns dos outros”.

Tocqueville acreditava que na Europa, a França, fosse um dos países com maiores

traços democráticos e, embora se designasse como uma monarquia constitucional, com seu rei

em 1835, tinha aparência mais de uma república que a União (nos Estados Unidos), a uma

monarquia propriamente dita.

Durante uma revolução igualitária nasce um ódio implacável entre as classes, ao

mesmo tempo em que desaparece, ao final da revolução, a solidariedade no interior de cada

classe. Tanto o é que, “se a democracia leva os homens à não se aproximar dos seus

semelhantes, as revoluções democráticas os dispõe a fugir uns dos outros e a perpetuar no seio

da igualdade os ódios que a desigualdade fez nascer” (TOCQUEVILLE Apud QUIRINO,

2001, p.75).

Sofrendo os efeitos da massificação social, o indivíduo, além de perder seu completo

domínio sobre as virtudes públicas, corre um sério risco de enfrentar sozinho a sociedade e o

Estado, pois é justamente por temer que não haja nenhum tipo de solidariedade nascendo de

uma sociedade mais igualitária que Tocqueville advertirá os franceses, ao afirmar que:

Não estando mais os homens ligados uns aos outros por qualquer laço de casta, classe, corporação ou família, inclinar-se-ão a se preocupar apenas com seus interesses particulares, serão sempre levados a pensar unicamente em si, e a se retirar num individualismo estreito, onde toda virtude pública é abafada, o que facilitará enormemente, nessa sociedade igualitária e individualista, o surgimento do despotismo (TOCQUEVILLE Apud QUIRINO, 2001, p. 75-6).

Conforme os indivíduos tornam-se mais iguais, comenta Quirino (2001, p.76) “a

sociedade que daí resulta, uma sociedade de massa, passa a determinar o comportamento de

cada um, fazendo com que ele perca sua individualidade”. Assim, o cidadão da era

democrática, ao abandonar os negócios públicos pode sofrer uma dupla conseqüência: ou se

submete ao despotismo do Estado, alternativa para a servidão5, ou se submete à sociedade,

oportunidade em que poderá perder sua individualidade.

5 Há de se destacar que ‘as previsões sombrias de Tocqueville acerca do destino político da democracia têm sempre caráter condicional na medida em que a alternativa da servidão estará permanentemente oposta à da liberdade, sendo a consecução de cada uma delas dependente do comportamento dos homens em sociedade.

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Dois perigos advêm dessa situação (igualdade de condições x individualismo)

aparentemente contraditória:

O primeiro nasce desse indiferentismo individualista que permite à sociedade, mas, sobretudo ao Estado, arrebatar cada vez mais os poderes de seus cidadãos; o segundo surge desse processo em que homens, cada vez menos diferentes, acabarão por existir não mais como indivíduos cidadãos, mas como uma enorme massa ditadora de normas e de leis. [...] Essa semelhança entre os homens, que os transforma em massa, é um dos pontos centrais das críticas de Tocqueville à igualdade e marca sobremaneira seu pensamento político. O temor a essa massificação parece estar em todas as suas análises e talvez seja, dos perigos da democracia, o que mais o atormenta. Na sua postura ética e política, Tocqueville precisa manifestar e denunciar esse temor, juntamente com todas as suas conseqüências, e o faz constantemente, sempre com muita ênfase (QUIRINO, 2001, p.77-8).

É por essa sua evidente preocupação (QUIRINO, 2001), ao enxergar na democracia os

fundamentos para a existência de uma sociedade massificadora, a qual, por sua vez, poderia

permitir e incentivar o nascimento e o desenvolvimento de instituições políticas autoritárias e

governos despóticos, que Tocqueville é acusado, ora de ser inimigo da democracia, ora

simplesmente de ser o aristocrata que apenas aceita a derrota de sua classe.

Despotismo Democrático

O pensamento político de Tocqueville se assemelha ao de Maquiavel, quando da

elaboração de sua obra “O Príncipe”, no sentido de que a intenção, o espírito da obra foi o de

denunciar aos franceses contemporâneos o insidioso caminho que conduz ao despotismo

(QUIRINO, 2001).

Jasmin (2005, p.53) entende que:

[...] a democracia e o despotismo aparecem articulados por uma espécie de adequação circular: os vícios da democracia, decorrentes do processo não educado de igualização, facilitam o estabelecimento do despotismo; este, por sua vez, acentua as inclinações “naturais” da igualdade, seus vícios.

Mas o despotismo anunciado por Tocqueville não ocorre, nos mesmos termos em que

foi conhecido por sua época. “O novo despotismo criado na concepção tocquevilliana seria

mais amplo e mais brando e degradaria os homens sem tormentá-los”. Tocqueville procurava

uma nova expressão para reproduzir a idéia que lhe ocorrera, eis que “os antigos conceitos

despotismo e tirania lhe pareciam inadequados para representar o que imaginava: - A coisa é

Como se verá, entretanto, as condições de possibilidade da ação necessária à realização da liberdade parecem-lhe prejudicadas pelos costumes que dominam o estado social igualitário. [...] Significa afirmar que a servidão tende a ser, dada a prática democrática, funcionalmente mais adequada aos costumes e a ‘natureza’ da sociedade igualitária’ (JASMIN, 2005, p.60).

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nova; é necessário então buscar defini-la, pois não posso nomeá-la”, afirma Jasmin (2005,

p.65).

Na verdade, pondera Quirino (2001, p.76), “[...] tendo os cidadãos abandonado os

negócios públicos, os cuidados destes e o poder que deles decorre tendem a concentrar-se nas

mãos de alguém”. É nesse indiferentismo político por parte dos cidadãos que residem, para

Tocqueville, a possibilidade de o Estado, assumindo o vazio de poderes deixado pelos

cidadãos, tornar-se despótico.

O nascimento e o crescimento do grande Estado despótico ocorre a partir do momento em que, a democracia, determinada por um princípio igualitário (ideal) e por condições reais de igualização, possui um grande caminho a percorrer, caminho este, aliás, cheio de percalços, pois sua rota mais segura pode levar a esse Estado despótico e, portanto, à servidão dos homens (QUIRINO, 2001, p.122).

“Suas idéias, seus sentimentos, sem contar uma série de causas particulares e

acidentais, que se lhes acrescentam”, segundo Chevallier (2001, p.266), “concorre para

impelir os homens democráticos ao caminho perverso e insidioso do despotismo".

Em relação às idéias as sociedades democráticas apreciam um poder único e central,

sem a intervenção de corporações intermediárias ou corporações secundárias, fato este

comum nas sociedades aristocráticas.

A decorrência desta idéia é que a legislação também tende a se uniformizar. Todavia,

esclarece Chevallier (2001, p.267), “[...] em face desse grande poder que a todos impõe as

mesmas leis, como se torna pequeno e indefeso o indivíduo!”.

Mas qual igualdade? Será que a igualdade é apenas a formal e que, coincidentemente,

permaneça apenas no nível da aparência? Se for formal ou se manterá apenas na aparência, os

homens da grande sociedade democrática “[...] acabam por engendrar uma população que, na

sua imensa maioria, tem hábitos, conhecimentos, ideais e opiniões semelhantes. Serão,

portanto, estes costumes que dominarão toda a sociedade”, esclarece Quirino (2001, p.123).

Assim, Tocqueville destinou um capítulo inteiro, no primeiro volume de “A

Democracia na América”, para demonstrar por quê se pode dizer rigorosamente que nos

Estados Unidos é o povo que governa, oportunidade esta, em que se torna claro, que o poder

único e central apreciados pelos americanos são frutos do exercício da soberania popular

praticada pelo povo.

A seguir, Tocqueville (2005, p.197) observa que:

Na América, o povo nomeia aquele que faz a lei e aquele que a executa; ele mesmo constitui o júri que pune as infrações à lei. Não apenas as instituições são democráticas em seu princípio, mas também em todos os seus desdobramentos. Assim, o nomeia diretamente seus representantes e os escolhe em geral todos os

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anos, a fim de mantê-los mais ou menos em sua dependência. É, pois, realmente, o povo que dirige e, muito embora a forma do governo seja representativa, é evidente que as opiniões, os preconceitos, os interesses, até as paixões do povo não podem encontrar obstáculos duradouros que os impeçam de produzir-se na direção cotidiana da sociedade. Nos Estados Unidos, como em todos os países em que o povo reina, é a maioria que governa em nome do povo. Essa maioria se compõe principalmente dos cidadãos pacatos que, seja por gosto, seja por interesse, desejam sinceramente o bem do país. Em torno deles agitam-se sem cessar os partidos, que procuram atraí-los em seu seio e fazer deles um apoio.

O que ocorre, comenta Quirino (2001, p.123), “[...] é que o povo, por ser soberano,

concede aos seus escolhidos a mais imensa das legitimidades, pois, junto com o voto, ele

entrega também aos que o vão representar, toda a sua soberania”. Esta pode ser, então, uma

falsa forma de soberania popular.

Para Tocqueville6, explica ainda Quirino (2001, p.123),

[...] seus contemporâneos haviam desenvolvido uma terrível contradição, surgida de ‘duas paixões inimigas: eles sentem, ao mesmo tempo, a necessidade de serem conduzidos e a vontade de serem livres’. Estes homens são, assim, capazes de imaginar um poder único, tutelar, todo-poderoso, mas eleito pelos cidadãos, e se consolam por estarem tutelados imaginando que eles próprios escolheram seu tutor.

Sobre esta terrível contradição a contribuição de Jasmin (2005, p.66-7) é

esclarecedora:

Sobre a base social individualista, um poder imenso, absoluto e brando, cuida de todos os detalhes da vida social dos súditos que se mantêm ocupados na busca dos ‘pequenos e vulgares prazeres’. Zeloso, age como pai, mas obrigam seus ‘filhos’ à eterna menoridade. ‘Animais tímidos e diligentes’, dependentes do ‘pastor para todas as coisas’, têm sua vontade inutilizada e o uso de seu livre-arbítrio é raro. O poder não é tirânico, é tutelar; a nova opressão é regulada e pacífica e, em sua forma mais avançada, combina a centralização administrativa com a soberania do povo pela incorporação das ‘formas exteriores da liberdade’ que dão aos súditos a sensação de comandarem a si mesmos. Apesar de tutelados, elegem seus tutores.

O despotismo democrático, palavra esta encontrada por Tocqueville para explicar e

conceituar a nova faceta do despotismo, filho da democracia contemporânea:

[...] apresenta-se para resolver a luta entre as paixões inimigas do homem moderno: o desejo de independência e a necessidade de ser conduzido. Em primeiro lugar, o novo poder não aparece como opressão pessoal. Sem rosto, é um poder de ninguém, senão do próprio povo de iguais. Em segundo, as eleições mantêm alguma capacidade de intervenção real dos indivíduos nos destinos da coisa pública. Os indivíduos democráticos acreditam, por isso, que são donos de seu próprio destino (JASMIN, 2005, p.67).

Em relação aos sentimentos, esclarece Chevallier (2001, p.267) que:

6 Como bem salientado por Quirino (2001, p.126), apesar de a democracia apresentar, para Tocqueville, tantos problemas, ele não se vê como um antidemocrata, nem considera que não se possam evitar os seus declarados males. Uns pensarão que no fundo eu não amo a democracia e que sou severo para com ela, ao passo que outros pensarão que favoreço imprudentemente seu desenvolvimento, afirma o jovem Alexis. Mas o que se observa é que, em sua obra, ele expõe suas idéias, e é como um dever para com seus concidadãos que precisa apresentá-los, pois cada homem deve prestar contas à sociedade dos seus pensamentos como de suas forças físicas [grifos do autor].

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Esses homens das eras igualitárias, que tão dificilmente abandonavam seus negócios particulares para se ocupar dos comuns, experimentam a tendência de outorgar direitos cada vez maiores ao poder central, por ser este o único ‘representante visível e permanente dos interesses coletivos’.

E o que se percebe é que para o homem da era democrática, o sentimento de que ele

ainda está no comando, ou nas palavras de Tocqueville, que ele ainda é o “titular da soberania

popular”, já basta.

De acordo com Jasmin (2005, p.67) é neste momento que surge “[...] a forma mais

avançada do novo despotismo, o democrático, por responder politicamente à ambigüidade da

condição social democrática: ser livre e ao mesmo tempo, depender do poder estatal”, e assim

ilustra:

A imagem despótica do futuro democrático tem sua pedra angular na natureza servil de homens condenados à eterna menoridade política, dado o grau de deterioração dos costumes sociais individualistas que obrigam à dependência e à obediência em relação ao Estado. O princípio do despotismo democrático é a obediência consentida [...]. Um espírito marcado pela apatia política, pela heteronomia e pela extrema conformidade ao poder [...] (JASMIN, 2005, p.73-4).

Todavia, o despotismo democrático não atingiria apenas o campo político com a

relativa expropriação da soberania popular; pode atingir os indivíduos nos seus negócios

particulares, como também pode atuar no campo econômico, ao manter aliança com o

desenvolvimento industrial7 que, conforme expõe Quirino (2001, p.124), “[...] o Estado

poderá vir a ampliar o campo de ação de suas garras, transformando efetivamente cada vez

mais seu povo em escravo8”.

Em relação às séries de causas particulares e acidentais que levam os homens

democráticos ao despotismo, anunciadas por Chevallier (2001, p.268) estão, entre outras:

[...] as guerras, as revoluções e o desenvolvimento das indústrias, eis que as guerras aumentam consideravelmente as atribuições do Estado, levado quase forçosamente a centralizar a direção dos homens e das coisas, as revoluções igualitárias suprimem bruscamente todos os poderes intermediários, deixando subsistir apenas uma massa confusa, incapaz de ação coordenada.

Nesse caminho, Chevallier (2001, p.268), mais à frente, alega que: “[...] o Estado é,

pois, chamado a encarregar-se de tudo. O desenvolvimento da indústria faz surgir uma nova

7 Tocqueville deixa assim transparecer, o que é detectável em toda sua obra, uma certa angústia romântica pela perda de determinados valores da nobreza, visível, sobretudo, nos seus temores e críticas ao desenvolvimento industrial, ao progresso que pode transformar os homens em indivíduos que, apenas preocupados com o seu bem-estar material, abandonam os bens do espírito, explica Quirino (2001, p.127). 8 Na verdade, não acredita Tocqueville que Deus pudesse fazer os homens caminharem em direção à igualdade de condições para que atingissem um despotismo semelhante ao de Tibério ou Cláudio. Contudo, uma vez que caminhamos assim em direção à democracia, é preciso fazer algo para se chegar a boas soluções, pondera Quirino (2001, p.127).

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classe, patrões e operários, cujas relações mútuas e complexas o Estado acaba por ter de

regulamentar”.

Assim sendo, o Estado, ao encarregar-se de tudo acaba por concentrar política e

administrativamente todas as decisões que afetam (direta e indiretamente) o convívio dos

cidadãos, oportunizando a estes o “desenvolvimento” de seus interesses particulares em

detrimento dos negócios públicos.

Teoria do interesse bem compreendido

Qual proposta ilustra a teoria do interesse bem compreendido como meio eficaz e

combativo ao individualismo social observado na democracia americana?

Na prática, a doutrina ou teoria do interesse bem compreendido é moralmente fraca.

Tal doutrina, por sua vez, não é nova. Por outro lado, Tocqueville (2000, p.148) destaca que

“os americanos de nossos dias”, a doutrina “foi universalmente admitida, tornou-se popular:

encontramo-la no fundo de todas as ações; ela transparece em todos os discursos; encontramo-

la tanto na boca do pobre como na boca do rico”.

Embora o próprio autor reconheça que o interesse bem compreendido é uma doutrina

pouco elevada, a observa como clara e seguro, pois atinge sem grandes esforços os objetivos a

que visa.

Ao sugerir todos os dias pequenos sacrifícios a doutrina do interesse bem

compreendido dificilmente seria “capaz de fazer virtuoso um homem, mas forma uma

multidão de cidadãos regrados, temperantes, moderados, previdentes, senhores de si; e, se não

leva diretamente à virtude pela vontade, aproxima insensivelmente dela pelos hábitos”

(TOCQUEVILLE, 2000, p.149).

Assim, a força irresistível do individualismo nas sociedades democráticas era

contrabalanceada por explicações, com ajuda do interesse bem compreendido, de quase todos

os atos da vida. Isto significa que o egoísmo produzido pelo individualismo seria esclarecido

e compreendido pela população, como se cada americano soubesse sacrificar uma parte de

seus interesses particulares para salvar o resto.

Na consideração final do capítulo em que Tocqueville expressa a importância do

interesse bem compreendido como fenômeno pertinente ao equilíbrio do individualismo

impregnado no estrato social, complementa que:

Não creio que a doutrina do interesse, tal como é pregada na América, seja evidente em todas as suas partes; mas ela encerra um grande número de verdades tão

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evidentes que basta esclarecer os homens para que eles as enxerguem. Cumpre pois esclarecê-los a qualquer preço, porque a época das devoções cegas e das virtudes instintivas já vai longe de nós, e vejo chegar o tempo em que a liberdade, a paz pública e a ordem social mesma não poderão prescindir das luzes (TOCQUEVILLE, 2000, p.150).

Sendo o interesse bem compreendido a mais poderosa garantia que lhes resta contra si

próprios não resta outra alternativa senão adotá-la como necessária. Nesse processo complexo

e derivativo, Jasmin (2002, p.82-3) complementa que o pragmatismo político de Tocqueville

parece alcançar o seu paroxismo: “se os cristão que obedecem à leis morais na Terra por

esperarem recompensa nos Céus produzem por isso um mundo de paz, os indivíduos

modernos, incapazes de alcançar por gosto e convicção as virtudes sublimes, podem produzir

uma prática social ordenada na busca (moderada, bem compreendida) de seus interesses

privados”.

Sendo possível a manutenção dessa prática social ordenada por interesses privados

moderados e, em certa medida, solapados frente ao interesse cívico (público), é de se destacar

sua importância como antídoto ao efeito indesejado do individualismo. Porém, num mundo

em que “as doutrinas morais do desprendimento, do esquecimento de si, do ‘fazer o bem sem

interesse’, já não têm apelo social significativo, a viabilidade dualista estaria na identificação

racional dos interesses particulares com aqueles da cidadania” (Jasmin, 2002, p.80).

Parafraseando Jasmin (2002), seria plausível acrescentar que se o espírito humano até

então, sempre em busca do bem-estar e dos benefícios respectivos, conseguir se apropriar da

teoria do interesse bem compreendido, de fato, resta saber qual o papel desenvolvido por cada

cidadão na busca pela compreensão de seu próprio interesse individual.

Considerações finais

A palavra ‘Democracia’, no contexto liberal do século XIX, exprime e delimita um

novo sistema de valores corretamente reconhecido como o governo das liberdades

individuais, um regime político que se baseia na soberania popular, distribuição eqüitativa do

poder, dentre outros adjetivos. Contudo, mais do que isso, o regime democrático importa no

reconhecimento de sentimentos, costumes, opiniões, leis, condições de igualdade e amor pela

liberdade.

Apresentar ao grande público a face de uma “verdadeira democracia” foi um dos

desafios enfrentados por Alexis de Tocqueville e ao final alcançado e devidamente

consagrados nos dois volumes de “A Democracia na América”. Por outro lado, seria ingênuo,

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não atentar ao fato de que a democracia estudada pelo autor francês possui especificidades

históricas não alcançadas por outras civilizações ocidentais.

Afirmar que o exemplo americano de democracia, observado por Tocqueville, seja

perfeito, seria um erro crasso e superficial, posto que a complexidade daquela sociedade, além

de lidar com fatos essencialmente contraditórios, impunha, por exemplo, a uma pequena

maioria os infortúnios da desigualdade racial.

Por outro lado, é plausível reconhecer que o direcionamento da obra ao povo francês

demonstra sua extrema preocupação com seus compatriotas, vez que se o direcionamento à

democracia é certo, necessário se faz compreender, conhecer e analisar seu desenvolvimento,

inclusive, apresentando seus avanços, limites, contradições, excessos e perigos. Registra-se

que a democracia é posta como problema teórico universal.

Outro aspecto peculiar e, nesse jaez, necessário a boa compreensão do estudo é que,

no século XIX, a palavra “democracia” possuía uma nítida rejeição, tal qual a palavra

“comunismo” exerceu no Brasil no meio do século XX e, portanto, mais uma vez, destaca-se

a originalidade, pioneirismo e eficiência do trabalho tocquevilliano em apresentar visões

passíveis de validação no mundo contemporâneo.

Para Tocqueville, a partir do momento em que os cidadãos se reconhecem como

iguais, tornam-se mais independentes um dos outros, ou seja, a ação de um indivíduo não

exerce o mesmo poder tal como na era aristocrática.

Há um isolamento natural do cidadão com sua família em busca da felicidade, do bem-

estar material. O individualismo penetra na alma do cidadão, enraizando-se. Com a

igualização das condições a democracia leva os homens à não se aproximarem de seus

semelhantes, observa Tocqueville.

Logo, o individualismo presente acaba por auxiliar no afastamento dos cidadãos para a

ação coletiva dos negócios públicos. Dois aspectos se tornam relevantes com o afastamento

dos indivíduos nos negócios públicos: privatização das relações sociais e a progressiva

indiferença cívica.

Se não bastasse o problema produzido pela massificação social outro aspecto poderia

ainda tornar-se prejudicial à liberdade do cidadão: o Estado. O silogismo é claro: a partir do

momento em que os cidadãos abandonam os negócios públicos, é natural que alguém deles se

ocupe e ainda tendo a soberania popular “perdido” sua titularidade, a concentração deste

poder em outras pessoas ou instituições acaba por ocorrer.

De fato, se a tirania da maioria surge com o exercício da maioria, Tocqueville observa

um novo fenômeno: o despotismo democrático. Para o autor, esta nova categoria não se

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assemelha à idéia geral e abstrata que se tem do despotismo propriamente dito. O democrático

é mais amplo e brando, pois degrada os homens sem tormenta-los.

O Estado seria o detentor desse poder e esse despotismo somente é democrático

porque surge da vontade da maioria. A utilização desta soberania é usufruída porque a maioria

lhe outorgou. Não há violência. Não há coação. Os cidadãos a sedem por livre e espontânea

vontade.

Neste aspecto, Tocqueville aponta uma saída: a liberdade. É por acreditar que a

democracia será construída com a liberdade que o autor apresenta ao grande público seus

princípios, suas formas e demonstra, claramente, a importância da ação política dos homens

na busca e preservação da liberdade no contexto democrático.

A ação política do homem em sociedade rege-se por inúmeros fatores determinantes.

Os princípios e os limites da liberdade são avocados pela legislação. As leis representam os

sentimentos e as opiniões da grande massa. Os hábitos e os costumes dos americanos os

fazem lembrar diariamente que vivem em sociedade.

É possível contextualizar a importância dos hábitos e dos costumes como elementos

essenciais para a manutenção do sentido de democracia existente entre os americanos. No

entanto, esses costumes e hábitos, tais como anunciados por Tocqueville, compreenderam em

instituições livres que, deveras, contribui significativamente para a manutenção da liberdade

dos cidadãos.

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