despesa com pessoal - art. 21 da lrf

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DO PATRIMÔNIO PÚBLICO CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DO PATRIMÔNIO PÚBLICO PARECER Nº 606/2008 Assunto: Questionamento acerca da possibilidade do Administrador Público admitir pessoal no período de vedação de que trata o parágrafo único do art. 21 da Lei de Responsabilidade Fiscal. Acerca do aumento de despesas com pessoal, preceitua o parágrafo único do art. 21 da LRF: “Art. 21. É nulo de pleno direito o ato que provoque aumento da despesa com pessoal e não atenda: I - as exigências dos arts. 16 e 17 desta Lei Complementar, e o disposto no inciso XIII do art. 37 e no § 1o do art. 169 da Constituição; II - o limite legal de comprometimento aplicado às despesas com pessoal inativo. Parágrafo único. Também é nulo de pleno direito o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal expedido nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou órgão referido no art. 20.” Rua 23 esq c/ Av. B, qd. 06, lts. 15/24, Jardim Goiás, Goiânia – GO. CEP.: 74805/100. Fone: (62) 3243 – 8056/3243 – 8057 E - mail: [email protected]

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N O T I F I C A O

MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE GOIS

PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIA

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DO PATRIMNIO PBLICO

PARECER N 606/2008

Assunto: Questionamento acerca da possibilidade do Administrador Pblico admitir pessoal no perodo de vedao de que trata o pargrafo nico do art. 21 da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Acerca do aumento de despesas com pessoal, preceitua o pargrafo nico do art. 21 da LRF:

Art. 21. nulo de pleno direito o ato que provoque aumento da despesa com pessoal e no atenda:

I - as exigncias dos arts. 16 e 17 desta Lei Complementar, e o disposto no inciso XIII do art. 37 e no 1o do art. 169 da Constituio;

II - o limite legal de comprometimento aplicado s despesas com pessoal inativo.

Pargrafo nico. Tambm nulo de pleno direito o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal expedido nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou rgo referido no art. 20.

Antes de adentrar na possibilidade de a Administrao Pblica admitir pessoal nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou rgo referido no art. 20 da LRF, faz-se necessrio, primeiramente, conhecer o significado de despesa com pessoal. Para tanto, a prpria LRF estabelece que:

Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa total com pessoal: o somatrio dos gastos do ente da Federao com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funes ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espcies remuneratrias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variveis, subsdios, proventos da aposentadoria, reformas e penses, inclusive adicionais, gratificaes, horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuies recolhidas pelo ente s entidades de previdncia.

A interpretao literal do art. 21 torna claro que a vedao no alcana atos de admisso de pessoal, mas to somente atos que resultem aumento de despesas com pessoal, sendo plenamente possvel admitir servidores sem necessariamente importar em aumento das despesas com folha de pagamento. Hipoteticamente, podemos dar como exemplos, as nomeaes de servidores para ocuparem os cargos de outros que foram exonerados no perodo vedado; a nomeao de servidores efetivos no perodo vedado em razo de reduo da quantidade de cargos em comisso; nomeao de servidores visando reduo de gastos com horas-extras quando a medida se mostre mais econmica para a Administrao ou at mesmo admisso de pessoal quando houver sua referida compensao em decorrncia do aumento da Receita Corrente Lquida, de forma que no majore o percentual de comprometimento dos gastos com pessoal.

Ressalta-se, que vrias so as formas de admisso de pessoal que no importam, necessariamente, aumento de despesa para o ente. Logo, o que precisa oportunamente ser levado em considerao, a comparao do montante dos gastos com pessoal realizados no perodo vedatrio em relao aos gastos anteriores, bem como a anlise sob o prisma do princpio da indisponibilidade do servio pblico e o da continuidade dos servios pblicos.

Nesse sentido, ensina Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2001):

A inteno do legislador com a norma do pargrafo nico foi impedir que, em fim de mandato, o governante pratique atos que aumentem o total de despesa com pessoal, comprometendo o oramento subseqente ou at mesmo superando o limite imposto pela lei, deixando para o sucessor o nus de adotar medidas cabveis para alcanar o ajuste. O dispositivo, se fosse entendido como proibio indiscriminada de qualquer ato de aumento de despesa, inclusive atos de provimento, poderia criar situaes insustentveis e impedir a consecuo de fins essenciais, impostos aos entes pblicos pela prpria Constituio. Basta pensar nos casos de emergncia, a exigir contrataes temporrias com base no art. 37, IX, da Constituio.

Frisa-se que a possibilidade de realizar atos de admisso de pessoal no perodo de vedao, fica condicionada, cumulativamente, ao atendimento das medidas de compensao e previso legal com vigncia anterior ao incio do perodo de 180 (cento e oitenta) dias de que trata o pargrafo nico do art. 21.

Ocorre que a LRF foi omissa quanto forma de comparao a ser efetuada, dando margem para diversos critrios de clculo e anlise dessas despesas no que diz respeito infringncia do pargrafo nico do art. 21. Citamos como exemplo, o Prejulgado n 1650 do TCE de Santa Catarina:

[...] 2. Quando se tratar de ano de eleies municipais, devero ser tambm obedecidos os preceitos do art. 73 da Lei n 9.504/97, que trata da legislao eleitoral, e o art. 21, pargrafo nico da Lei Complementar n 101/00, este tambm aplicvel ao final do mandato do titular de Poder, visto que a nomeao de candidatos aprovados em concurso pblico dentro dos ltimos cento e oitenta dias de final de mandato do titular de Poder ou rgo somente possvel se as despesas decorrentes destas nomeaes tiverem a proporcional compensao, relativamente ao aumento da receita corrente lquida ou a diminuio da despesa com pessoal, de forma que o percentual de comprometimento verificado no ms anterior ao incio do 180 (centsimo octogsimo) dia no seja ultrapassado at o ltimo dia do mandato. (Grifo nosso)

Coadunamos parcialmente com o entendimento da Corte de Contas catarinense por no entendermos ser o ms anterior ao incio do 180 (centsimo octogsimo) dia, o mais adequado para a base de comparao dos gastos que se realizaro no perodo vedado. Cada instituio possui suas peculiaridades e pode aquele ms no refletir fielmente a realidade dos gastos com pessoal do ente, como o caso dos Tribunais Regionais Eleitorais que em perodos de campanhas eleitorais, designam vrios de seus servidores para exercerem atividades especiais, gerando elevao dos gastos com dirias e horas-extras que conseqentemente elevaro o valor da base de comparao.

Fundamentados no 2 do art. 18 da LRF, entendemos que a base a ser utilizada para controle do percentual de comprometimento deve ser a mdia mensal resultante do somatrio das despesas com pessoal realizadas no ms anterior ao incio dos 180 (cento e oitenta) dias de vedao com os onze meses imediatamente anteriores, pois de forma mais precisa, reflete com maior fidedignidade o ciclo anual de gastos com pessoal do ente. Abaixo a transcrio do 2 do art. 18 da LRF:

2 A despesa total com pessoal ser apurada somando-se a realizada no ms em referncia com as dos onze imediatamente anteriores, adotando-se o regime de competncia.

No obstante o rgido controle dos gastos com pessoal quando da interpretao literal do dispositivo, bem como os diversos posicionamentos dos Tribunais de Contas acerca da questo, conclumos por entender que os titulares dos respectivos Poderes ou rgos referidos no art. 20 da LRF, podem admitir pessoal no perodo vedatrio de que trata o pargrafo nico do art. 21, desde que o referido ato encontre amparo legal anterior ao perodo vedado e no importe em aumento de despesas com pessoal, ressalvadas, nesse ltimo caso, situaes insustentveis que inibam a Administrao de cumprir seus objetivos essenciais.

o parecer.

Pablo Rangell Mendes Rios Pereira Soraia Alves Rodrigues

Tcnico Contbil Assessora Administrativa

CAO Patrimnio Pblico CAO Patrimnio Pblico

Rua 23 esq c/ Av. B, qd. 06, lts. 15/24, Jardim Gois, Goinia GO. CEP.: 74805/100. Fone: (62) 3243 8056/3243 8057

E - mail: [email protected]