despedidas - antônio nobre - iba mendes

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  • 7/23/2019 Despedidas - Antnio Nobre - Iba Mendes

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    Antnio Nobre

    Despedidas

    Adaptao ortogrfica e reviso grfica

    Iba MendesIba MendesIba MendesIba Mendes

    Publicado originalmente em 1902.

    Antnio Pereira Nobre(1867 1900)

    Projeto Livro Livre

    Livro 579

    Poeteiro Editor Digital

    So Paulo - 2015www.poeteiro.com

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    PROJETO LIVRO LIVREPROJETO LIVRO LIVREPROJETO LIVRO LIVREPROJETO LIVRO LIVRE

    Oh! Bendito o que semeiaLivros... livros mo cheia...

    E manda o povo pensar!O livro caindo n'alma

    germe que fa a palma chuva que fa o mar.

    Castro Alves

    O Projeto Livro Livre uma iniciativa que prope o compartilhamento, deforma livre e gratuita, de oras liter!rias j! em dom"nio p#lico ou que tenhama sua divulga$%o devidamente autori&ada, especialmente o livro em seu formato

    'igital(

    )o *rasil, segundo a Lei n+ (-./, no seu artigo 0., os direitos patrimoniais doautor perduram por setenta anos contados de .1 de janeiro do ano susequenteao de seu falecimento( O mesmo se oserva em Portugal( 2egundo o C3digo dos'ireitos de Autor e dos 'ireitos Cone4os, em seu cap"tulo 56 e artigo 7.+, odireito de autor caduca, na falta de disposi$%o especial, 8/ anos ap3s a mortedo criador intelectual, mesmo que a ora s3 tenha sido pulicada ou divulgadapostumamente(

    O nosso Projeto, que tem por #nico e e4clusivo ojetivo colaorar em prol dadivulga$%o do om conhecimento na 5nternet, usca assim n%o violar nenhumdireito autoral( 9odavia, caso seja encontrado algum livro que, por algumara&%o, esteja ferindo os direitos do autor, pedimos a gentile&a que nos informe,a fim de que seja devidamente suprimido de nosso acervo(

    :speramos um dia, quem sae, que as leis que regem os direitos do autor sejamrepensadas e reformuladas, tornando a prote$%o da propriedade intelectualuma ferramenta para promover o conhecimento, em ve& de um tem"vel iniidor

    ao livre acesso aos ens culturais( Assim esperamos;

    At l!, daremos nossa pequena contriui$%o para o desenvolvimento daeduca$%o e da cultura, mediante o compartilhamento livre e gratuito de orasem dom"nio p#lico, como esta, do escritor portugu"espedidas(

    ? isso;#$a %endes

    i$a&i$amendes.com.poeteiro.com

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    NDICE

    Prefcio........................................................................................................

    Sonetos.........................................................................................................

    Outras Poesias..............................................................................................Eu chegara de Frana

    Ladainha da Sua

    Confisso de uma rapariga feia

    Afirmaes religiosas

    Ares da Andaluzia

    Contas de rezar

    A CeifeiraSensaes de Baltimore

    Ao ar

    Dispersos.....................................................................................................! "ese#ado

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    DESPEDIDAS

    PREFCIO DE JOS PEREIRA DE SAMPAIO (BRUNO)

    A fraterna piedade de Augusto Nobre e a saudade amiga de Justino deMontalvo honraram-me com o pedido comovente de algumas linhas queacompanhassem este volume pstumo. Tendo organizado a nota que precedeos fragmentos ao diante publicados do poema O Desejado hesitei

    grandemente em aquiescer ! solicita"o que refiro. Temi que malignasmalevol#ncias acaso increpassem como de impertinente intrometimento essaslinhas sinceras e inocentes. $ elas seriam de fato com severidade conden!veisdesde que as ditassem pedantescas pretens%es de recomenda"o !s delicadasleituras. & nome do poeta no ' somente conhecido( est! decisivamenteconsagrado. )m prosador incorreto e seco no conseguiria seno tornar-serid*culo quando to improcedente est*mulo fosse a impulsion!-lo.

    Assim meditava e quase me resolvia por uma polida escusa que me magoariaali!s( por'm mais se radicou em meu +nimo o motivo antag,nico que meconvidara a ceder ! cativante sedu"o do pedido feito pelo irmo e pelocompanheiro.

    embrava-me e lembrei-me de que fora eu quem sem sequer de vista oconhecer apontou ao pblico culto o original prometedor talento daquelemo"o ignorado ento.

    /oncorrendo num efeito de benefic#ncia aparecera no 0orto um volumezinhode versos colaborado principalmente por acad#micos sob o t*tulo gen'rico e

    designativo de Um bouquet de sonetos.$u lera as composi"%es contidas nasimp!tica cole"o e prestei preferente cuidado 1quelas que a novos semnotoriedade ainda pertenciam. $ntre essas primacialmente sobressa*a osoneto de Ant,nio Nobre nome que eu havia notado 2! por subscrever emrevistas liter!rias de colegiais infantilidades onde perpassava uma r'stia dofulgor divino. 3undara por esse tempo um di!rio de propaganda pol*ticaADiscusso( na se"o liter!ria da folha estampei um artigo longo acerca doopsculo que me atra*ra o reparo( 4omes eal replicou-me com motivo dealgumas afirmativas minhas concernentemente ! forma e ! ess#ncia do g#neroart*stico. $ no modesto estudo com que momentaneamente quebreiconfugindo a monotonia acre das acerbas recrimina"%es partid!rias indiquei o

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    nome do 2ovem poeta como o de algu'm que tinha personalidade e viria a sermuito.

    5eio na verdade a ser muito6 to fino candidamente malicioso doce ing#nuoera seu temperamento( to sincera sua tristeza( to moderno seu gosto( tonacionalista seu sentir na p!tria e na fam*lia( to sugestiva sua imagina"oardorosa e melanclica7

    &ra 2! quando na 2ubilosa plenitude da consci#ncia est'tica o escritorpreparava em 0aris o original definitivo do seu volume S como quer que aomesmo 0aris c'tico e arisco na banalidade de uma afetuosidade de superf*cieme atirasse uma onda centrifuga do atroz redemoinho ele mostrou-me que noesquecera as palavras do 2ornalista portuense as quais s um m'rito possu*amo de se haverem coadunado com o lealismo de uma emo"o espont+nea. Na

    escura rua de Tr'vise me procurou abandonando por horas a sua preferidamargem-esquerda de que lhe era to penoso afastar-se Ant,nio Nobre umatarde em que eu sofria cruelmente. $sta visita sensibilizou me( como meencantou a conversa"o do poeta pelo tom subtil da melindrosa reserva naconsola"o a um tempo caridosa e primorosa de uma alma em carne vivacomo a minha por ento andava.

    8 no 0orto novamente me reencontrei conversando com Ant,nio Nobre( devolta do e9*lio eu de regresso da iluso de est+ncias salvadoras ele. Ambosvia2!ramos( ambos conhec#ramos a glacial indiferen"a do homem( o poeta e opol*tico encontr!vamo-nos na identidade de uma amarga desesperan"atranquila. 8eparamo-nos depois de uma hora melhorados para um instante.

    No o tornei a ver( sabia que ia cada vez mais a pior neste rude 0orto fatalf*sica e moralmente !s naturezas suscetivelmente quintessenciadas como adele. 8bito entrou em minha casa Justino de Montalvo para que eu estivesse! noite na igre2a a a2udar a conduzir o nosso amigo no seu cai9o para a suatarima. $is o desfecho de tudo.

    Nunca me afligiu a minha aridez verbal como agora em que me daria umorgulho inef!vel o poder falar do talento deste querido morto com palavrasencantadas que embebessem a leitura numa idealidade sonhada.

    0ouso a pena !spera( demasiado dilacerou o papel( o dever da gratido est!cumprido( mas quedaria ainda faina para a cr*tica perspicaz e e9pressiva. /omoindispens!vel tocante elemento informativo tenho aqui a fazer uma refer#nciaao t*tulo do volume Despedidas. $ste t*tulo foi escolhido pelo poeta. /riminosaimpiedade seria que de outrem emanasse.

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    $m uma das crises de pungente des+nimo que frequentemente o assaltavam noltimo per*odo da implac!vel enfermidade a que sucumbiu pediu ele que seviesse a morrer antes de poder publicar o seu livro lhe dessem o t*tulode Despedidas significando este a sua retirada da vida liter!ria( mas mais tarde

    deu a perceber claramente que assim o escolhera por serem as suas ltimaspoesias visto que tinha perdido a esperan"a de cura da doen"a que o torturava.Ainda s quinze dias antes da data fatal do seu trespasso quis ele ir para aaldeia com ten"%es de passar a limpo todas as suas poesias e de escreverdefinitivamente O Desejado que como se frisa na nota que lhe precede ho2e osfragmentos o poeta tinha todo in mente mas muito incompleto nos seuscadernos de apontamentos.

    :estas linhas que acima ficam se depreende que 2amais lograram os versos quesaem agora a lume o ser corrigidos por seu autor. 8e imperfei"%es aqui ou ali

    acaso os maculem acate-se o leg*timo escrpulo que no se atreveu a su2eitar ote9to a alheia reviso minuciosa. $le foi recebido como uma heran"a decora"o( com inquieto sobressalto 2ulgou-se sacr*lego que ela no fosse assazrespeitada.

    Todavia esta advert#ncia era indispens!vel para obviar a quaisquer reparosque o livro atual pudesse oferecer a uma leitura ou hostil ou sequer fria. No ' aessa esp'cie de cr*tica a qual no compreende porque no sente que o editorconfia a obra pstuma do poeta a quem amou e cu2a inolvidanda memria o

    penetra de uma ine9aur*vel saudade. A verdadeira cr*tica a cr*tica s f!-la-! oleitor melhormente dotado com apurar que o livro atual fragment!rioconsoante ' confirma a glria de Ant,nio Nobre cu2a figura liter!ria destacar!como uma das mais acentuadas dentre as mais acentuadas da nova gera"oportuguesa.

    Jose Pereira de Sampaio (Bruno)

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    SONETOS

    I LGICA

    Ai daqueles que um dia depuseram3irmes cren"as num bem que lhes voou7Ai dos que neste mundo ainda esperam7Tero a sorte de quem 2! esperou...

    Ai dos pobrinhos dos que 2! tiveram&iro e pap'is que o vento lhes levou7Ai dos que tem que ainda no perderam

    ;ue amanh sero pobres como eu sou.

    Ai dos que ho2e amam e no so amados;ue algum dia o sero mas sem poder7Ai dos que sofrem7 ai dos desgra"ados

    ;ue breve no tero mais p

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    Assim irei dormir com as crian"as;uase como elas quase sem pecados...$ acabaro enfim os meus cuidados.

    /la0adel" outubro" #$%&.

    III - SUPERIORA DUM CONVENTO DE PARIS

    No me esque"o de si minha Me fora&nde fora. Ao contr!rio lembro !s vezes$ssa viagem nossa @de h! alguns meses8obre as !guas do mar7 8e fosse agora...

    &h o encanto da viagem sedutora7;ue bem me disse ento dos 0ortugueses7;ue faria ho2e7 foram-se os revezes7& que l! vai pela Bfrica 8enhora7

    :epois ao separarmo-nos no Te2o:isse-me @com que voz e com que modos7C:eus o fa"a feliz ao seu dese2o7D

    Mas no fez minha Me7 Talvez no c'u...0orque afinal os homens quase todosT#m sido e so muito mais maus do que eu...

    St. Joan Am1Plat!" #$%2.

    IV

    Nossos amores foram desgra"ados:esgra"ada pai9o7 tristes amores78e :eus me d! assim tamanhas doresE porque grandes so os meus pecados.

    ;uando viro os dias dese2ados?;uando vir! Maio para eu ver flores?Nunca mais7 ainda bem santos horrores7;ue os pobres dias meus esto contados.

    0asso os dias metido no meu moinho

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    $ mi que mi saudades e tristezasMoleiro que no mundo est! sozinho.

    &s lavradores destas redondezas

    ;uei9am-se at' de que a farinha ! dataTanta ' que Cest! de rastos de barata...D

    St. Joan Am1Plat!" #$%2.

    V

    0lacidamente bate-me no peitoMeu cora"o que tanto tem batido7$ para mim inda este mundo ' estreito0

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    0or te ouvir assim sobre o meu leito0or essa voz bai9inho6 C=! de sarar...D

    0or tantas b#n"os que eu sinto n

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    Minhas cartas inteis de doutor$u rasgaria ' certo com prazer8e eu pudesse um dia vir a ser

    :essas ondas um simples pescador.

    'man azul nas !guas sossegadas;uantas vidas tu levas confiadas70areces ver meu mal e escarnec#-lo7

    8 do meu cora"o ao alto-marNingu'm se quis ainda su2eitar.;uanto 's feliz7 assim pudesse eu s#-lo7

    4ileneu0e" juno" #$%2.

    I - A JUSTINO DE MONTALVO

    $m 8t. Maurice @aqui perto h! um convento:e 3ranciscanos. 3ui-me l! h! dias.;uando eu entrei tocava a Ave-Marias.Gam cear. 3ora mugia o vento.

    )m p!lido /risto ao fundo da sala$spalha em redor seu alvo claro($ quando se reflete a /ruz pelo cho&s frades ing#nuos no ousam pis!-la.

    CMeu irmo...D disseram ao verem-me ! porta.5ontade 8enhor tive eu de chorar7To s me sentia pela noite morta...

    $ quando na volta ! luz das estrelasMeu doido passado me vim a evocar0ensei no perdo duma alma daquelas.

    Be8" juno" #$%2.

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    8enhora7 a todas as novenas ides$ porque vs l! ides vou tamb'm.

    E um descans sem par !s minhas lidesAos meus males e em suma faz-me bem.

    $ssas gra"as que tendes @vs sorrides?8 nas flores as ve2o em mais ningu'm.8e o vosso corpo ' magro como as vides&s cachos d

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    isboa" #$%9.

    II - MONOLOGO DE OUTUBROA '5U +',O AU-US6O

    &utono meu &utono ah7 no te v!s embora7Bs minhas eu comparo as tuas estranhezas.Ah7 nos teus dias no h! Julhos nem aurora$ s crepsculos... /repsculos so tristezas7

    $ tu que 2! passaste o &utono s comigoNo pensas ao cair de tantas agoniasNas minhas que tu sabes meu melhor amigo?/ai folhas cai7 tombai melancolias7

    Gdes morrer folhas7 mas morrer que importa?! vai mais uma... mal nasceu e 2! vai morta.evais saudades? /oitadinha sois to nova7

    Tendes razo? Nem sei a falar a verdade.Tombar quisera eu s p

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    8e tive algumas eu na mocidadeNo foram elas mais que uma iluso.$ um dia eu ri da minha ingenuidade7

    isboa" janeiro" #$%$.

    IV

    & mar que embala !s noites o teu sonoE o mesmo flor7 que ! noite embala o meu.Mas em vo canta a minha ama do &utono0ois pouco dorme quem muito sofreu.

    Mas tu feliz qual rainha sobre o trono:ormes e sonhas... no que bem sei eu7& teu cabelo solto ao abandonoAs mos erguidas de falar ao c'u...

    3eliz7 feliz de ti doce /onstan"a7Heza por mim na tua voz quim'rica)ma Ave-Maria de $speran"a7

    0or minha sade e glria @:eus m

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    Ningu'm de mim d teve nem piedadeNingu'm n

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    I

    & cora"o dos homens com a idadeA pouco e pouco vai arrefecendo...

    ;uo diversos me vo aparecendo:o que eram ao abrir da mocidade7

    & sorriso no tem 2! lealdade!grimas so dif*ceis... no as tendo.0alavras no vos faltam estou vendoMostrar o que sentis s por vaidade.

    J! no me ilude a 4lria que sonhei.0erdi a f' em tudo quanto amei.

    Mas s agora eu sei o que ' viver7

    No fazes bem assim em rir de mim7Tenho tido na vida horrores sem fimMas s agora eu sei o que ' sofrer7

    la da 'adeira" de!embro" #$%$.

    II

    & 8enhor cu2a ei ' sempre 2usta:eu-me uma infortunada mocidadeTalvez para eu saber @o que ' verdade;uanto ' bom ser feliz mas quanto custa7

    3eliz de quem no mundo sem piedade$ncontrou alma que lhe entenda a sua

    ;ue o mesmo ' que ter na mo a uaTo longe nessa triste $ternidade7

    &s meus dias passavam tristemente;uando encontrei o teu olhar ridente63oi a b#n"o de luz da Me de :eus7

    5ais dei9ar-me de novo s na vida7Ao cabo de viagem to compridaTalvez sintas mais perto os olhos meus7

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    Glha da Madeira 2aneiro de KLL.

    III - ADEUS A CONSTANA

    5ai o teu 0ai andar ao sol de vero$ mais ! chuva e ao vento( e s depois0oder! ter a colheita desse po;ue semeou cantando ao p' dos bois.

    3eliz que eu fui em te encontrar na vidaMinha doce /onstan"a dese2ada7Antes de ver-te a ti no via nadaNem para mim a lua era nascida.

    Tu vais partir em breve com teu 0ai0or esse mar que to piedoso est!.No sede amargas ondas mas chorai7

    5ais ver campos em flor que te conhecem...$ se a colheita se fizesse 2!Talvez na volta as ondas te trou9essem7

    la da 'adeira" #$%%.

    IV - ANTES DE PARTIR

    5!rios 0oetas vieram ! Madeira@0ela fama que tem a ares do Mar6)ns p

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    5ou com as ondas voltarei com elasMas como elas p

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    OUTRAS POESIAS

    A FRANCISCO CE#IMBRA

    $u chegara de 3ran"a uns quatro dias antes$ via-me to s num deserto sem fim! dei9ara a alegria amores estudantes5ia a vida aqui negra adiante de mim.

    ;ue havia de fazer? $u no tinha um dese2oNada no mundo me podia estimular7Ai quantas vezes ao passar 2unto do Te2o

    0erdoa-me 8enhor7 pensei em me afogar7

    0erdoa-me 8enhor7 tu deves perdoar0ois para que me deste assim um cora"o7Tudo quanto via me dava que cismar:e tudo tinha d de tudo compai9o.

    > meus amigos de /oimbra7 que saudades$u sentia ao pensar nos tempos d

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    @> 8u*"a cheia de gra"a7

    $ eu assim fiz. Adormeci feliz sereno$ no outro dia eu 2! estava melhor.

    0assados tr#s passei de p!lido a moreno0assado um m#s Cno ' nadaD disse o doutor.@&h7 quanto eu era ento feliz sereno7

    $ a boa Grm toda contente e dedicada;ue sempre estava ! escuta em biquinhos de p'I5# tantos sustos7 e afinal no era nada7$ se ele disse Cno ' nadaD ' que no '7@> boa Grm de voz to delicada7

    3alou verdade o bom doutor. $rgueu-se em breveA minha doida mocidade arrependida.Fenditos se2ais vs Alpes cheios de neve7Fenditos se2ais vs que me salvaste a vida7@$ o meu cora"o que doce paz vos deve7

    Fendita se2as tu 8u*"a meiga e boa74loriosa entre os mais povos s# Fendita7Fendita se2as tu de /ristiania a isboa7

    Fendita se2as tu entre as na"%es Fendita7@Fendita se2as minha 8u*"a boa7

    ausana" #$%2.

    CONFISSO DUMA RAPARIGA FEIA(/O'P56A)

    =! raparigas neste mundo=! raparigas que so feiasMas nenhuma tanto como eu.:e mim tenho no2o profundo/imes do 8ol das luas cheias;ue vo to lindas pelo c'u7

    Nos arraiais nas romariasAdelaides Joanas MariasTodas tem par mas menos eu.Todas bailam rindo e cantando

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    $ quando enfim 2! farto de sofrer$u um dia me for adormecer0ara onde h! paz maior que num convento6/obri-me de vestes folhas d formosa Andaluzia7Terra de Nossa 8enhora7> formosa Andaluzia&nde o luar parece dia&nde ' dia a toda a hora7

    Ai eu tenho sete musas;uais delas prefiro eu?Ai eu tenho sete musasTr#s delas so andaluzas0orque as outras so do c'u.

    M!laga terra de encantosTerra das vinhas doiradas7M!laga terra de encantos7Ggre2as cheias de 8antos$ 5irgens cheias de espadas7

    5ossa boca tem dese2os;ue a boca das mais no tem...

    5ossa boca tem dese2os$ 2! morria por bei2osNo ventre da vossa me7

    > meninas de 8evilha8ou doente vinde amparar-me> meninas de 8evilha:ei9ai-me a vossa mantilha;ue eu no quero constipar-me7

    > menina ol! a mais alta

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    0orque foge e me olha assim?> menina ol! a mais alta8e a beleza no lhe faltaNo 2ulgue que ' mais que a mim.

    Ai esta 5ida ' to curta7Ai o Amor dura um instanteAi esta 5ida ' to curta7:ormir um dia entre murtaNos bra"os duma outra amante7...

    &lhos de /!diz to pretos@$ o mar ao p' to azul7&lhos de /!diz to pretos

    :e luto por $squeletos;ue o mar traz com vento sul.

    J! sorvi na minha bocaFei2os de toda a Na"o7J! sorvi na minha bocaTanto mel cabe"a louca7Mas assim como estes no7

    Menina das pandeiretas7;ue contente que ho2e estais7Menina das pandeiretas7To s'ria de capas pretasAo lado de vossos 0ais.

    5em beber a mocidade/om a tua tran"a solta.5em beber a mocidadeNo torna a vir esta idade$ o Amor como ela no volta.

    > seios como pombinhos> seios por quem bateis?> seios como pombinhosTo alegres nos seus ninhosNo sei eu mas vs sabeis...

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    CONTAS DE RE#AR

    A 'aria dos Pra!eres'isericrdia dos mares

    ;ue escre0i para tu leres";ue eu =i! para tu re!ares

    'A+A DOS P+A5+5S C A6O S5' 5S

    Maria '7 5ioleta da =umildade&nda do mar das ndias7 sempre triste70orque andar! to triste nessa idade8e o :eus em que ela cr# para ela e9iste?

    Maria '7 5ioleta da =umildade7&nda do mar das ndias7 to modesta$ to grande que ela '7 ;ue dor funestaA faz andar to triste nessa idade?

    $ eu digo ao v#-la entrar meiga e modestaNa Ggre2a quando a2oelha e se persigna6C0arece incr*vel fa"a parte desta=umanidade mentirosa e indigna7D

    ;uanto ela ' 8anta7 quanto ela ' boa7At' tem d e compai9o por mim...Mal diria eu que a tr!gica isboaTinha em seus muros uma 8anta assim7

    $la nasceu para assistir !s guerras$la nasceu p

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    $la nasceu p

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    &s seus bra"os so d'beis7 mas e9altam$ sustentam em mim toda a $speran"a7&s seus bra"os 8enhor7 so os que faltam

    A certa 5#nus que se admira em 3ran"a7

    & seu sorriso ' o sol quando aparece5#-la sorrir ' ver o sol cantar(Mas o seu habitual ai no se esquece7E o sol !s tardes quando cai no mar...

    A sua boca ' uma rom vermelhaMostrando em risos os seus gros de opala.3avo de bei2os que d! mel ! abelha

    A sua boca ' uma flor com fala7

    isboa" #$%$.

    A CEIFEIRA(/O'P56A)

    ............................................

    0orque ' que te odeiam os homens se os levasA um mundo melhor?> velha hospedeira da aldeia do nadaTenho as malas prontas vou breve partir.0repara-me um quarto na tua pousada;ue tenha a 2anela para o sul voltada$ fontes ! roda para eu dormir...

    SENSA$ES DE BALTIMORE(/O'P56A)

    /idade triste entre as tristes&h Faltimore7Mal eu diria que na terra e9istes/idade dos 0oetas e dos Tristes/om teus sinos clamando CNever-more.D

    &s comboios rel+mpagos voando0ela cidade de Faltimore

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    evam uns sinos que de quando em quando3erem os ares o cora"o magoando$ os sinos clamam CNever-more never-moreD............................................

    Baltimore" #$%9.

    AO MAR(SO56O A6-O)

    > meu amigo Mar meu companheiro:e inf+ncia7 dos meus tempos de col'gio;uando p

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    DISPERSOS

    I

    I8ofro por ti nesta aus#nciaTanto que no sei dizer.IMeu Ant,nio7 Tem paci#ncia78ofrer por mim ' sofrer?

    II

    Ah quem me dera abra"ar-te/ontra o peito assim assim...evar-me a morte e levar-teToda abra"adinha a mim7

    III

    Ai ela ' to pequenina

    ;ue quando ao meu colo vai:iz o povo6 uma menina;ue vai ao colo do 0ai7

    IV

    Es to fraca to fraquinha;ue ao passar uma andorinha

    /om um simples encontro0odia deitar-te ao cho.

    Mas tamb'm te levantava8em grande custo6 bastavaFei2ar-te @nem isso at'ogo te punhas em p'7

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    V

    $spreitei ! tua porta;uis ver-te a dormir sorrindo...

    Mas ai7 s vendo-te morta8aberei como 's dormindo7

    VI

    I:!-me um bei2inho que eu pe"o?IGsso sim7I3urto-lh

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    & cora"o apodreceApodrece como o mais

    Mas a dor ai7 reverdece$ssa no morre 2amais.

    I

    Es morena moreninhaMorena de andar ao sol7No dia em que fores minha/omo h!s de ser moreninhaNa brancura do len"ol7

    II

    8o as meninas da Glha da MadeiraTernas graciosas p!lidas ideais(3ica-se doido vendo-se a primeira:oido se fica se se v#em as mais(;ual ' a mais bela da Glha da Madeira.8e so todas iguais?

    III

    =! um lindo lugar em Tr!s-os-Montes/om uma casa s a casa dela.& mais ' o p,r-do-sol bou"as e fontes

    ;ue comp%em a sua parentela.

    $ncanto de possuir uns tais parentes73idalga e9cepcional que ' a 0urinha7;ue ela nas veias tem sangue dos poentes$ os cravos brancos chamam-lhe6 0riminha7

    &h que ascend#ncia7 que fam*lia estranha7&nde h! fidalgos com uns tais avs?

    8ois os seus 0ais pinheiros da montanha$ assim ela ' altinha como vs7

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    IV

    Amo-te toda porque 's linda linda linda7Teus olhos tua voz teu sorriso eu sei l!7

    Mas o que eu amo mais o que amo mais aindaE a alminha de :eus que dentro de ti est!.

    V

    )ma alma chega ao p' do seio da 0urinha7$ bate devagar docemente6 Ctruz7 truz7DI;uem '? @responde l! de dentro uma vozinhaI@Ant,nio... e logo veio ! porta com a luz.

    VI

    Mam te chamo porque me trazes ao peito3ilha te chamo pelo mimo que te douGrm te chamo porque te tenho respeitoNoivinha te chamo porque teu noivo sou7

    VII

    Na se9ta-feira !s dez horas olha p

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    I

    Teus olhos so dois c'us. $ neles leio& que nos outros l#em os pastores6

    $strela da manh dos meus amores78ete estrelo que vais do c'u em meio7

    Ai que saudade7 & amor das $strangeiras7;ue chegam sabe :eus donde e com que fito$ um dia l! se vo andorinhas ligeiras$ nunca pousam andorinhas sem $gito7

    I

    No vosso leito ! cabeceira ponde isto0onde este livro ao p' do vosso cora"o6Adormecei rezando a CGmita"o de /ristoD$ CNun BlvaresD que ' de /risto a imita"o.

    O DESEJADO

    & poema cu2os fragmentos so agora publicados no seria uma composi"o decar!ter peculiarmente 'pico mas sim melhormente l*rico. Autorizaria estacon2ectura o tom sub2etivo do talento do poeta e ela ' confirmada pelo que elechegou a realizar da sua concep"o. Assim quanto de narrativamente histricohouvesse de ser ob2eto da sua obra viria coado atrav's da imagina"o do autor.$le propunha-se evocar no uma figura de cr,nica mas um tipo de lenda e o

    seu alvo era fazer sentir ao leitor o encanto idealista e romanesco dosebastianismo considerado como elemento de est*mulo para a f' nanacionalidade e como incentivo e consola"o nas esperan"as e nas decep"%esda p!tria.

    0elo que ficou depreende-se que o autor desenhara a largo tra"o o programa dasua obra( mas em suas diversas sec"%es no trabalhou com assiduidade igual.)ma leitura atenta dos fragmentos pareceu permitir coorden!-los numa ordemclara de sucesso marcando-se com adequado sinal tipogr!fico as interrup"%es

    que a* aparecem. Nesta melindrosa faina foi de inestim!vel valia a coopera"oprestada pela benemer#ncia de pessoa distint*ssima a e9.masnr. :. /onstan"a

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    da 4ama que tivera ense2o de ouvir do poeta os diversos episdios compostosbem como a e9plana"o gen'rica de sua fantasia e de seu intento.

    & livro abriria como abre por uma dedicatria geralE isboa das naus" ceia deFlria"a qual seria seguida de uma invoca"o em oferecimentoEs Senoras deisboa que ' uma esp'cie de introdu"o ! histria de Anrique. $sta diz o autort#-la ouvido ao mar e vem cont!-la a elas pedindo uma l!grima para ossofrimentos do seu heri. A este apresenta-o o poeta como penando das maisamargas desilus%es e possu*do da triste convic"o de que nada na vida opoderia abalar ainda ou comover sequer depois de ter devaneado tanto sonhoe de haver visto tantas quimeras suas ca*das por terra e murchas logo aodespertar.

    Anrique enganara-se por'm( a sua alma generosa e confiante ainda haveria de

    vibrar muito e mui doridamente( e nos seus primeiros versos que no ficaramdefinitivamente conclu*dos Ant,nio Nobre fazia a confid#ncia !s 8enhoras deisboa do arrebatamento passional de Anrique escarnecido pelo prosaicopositivismo que zomba do seu af da glria como se ela fosse dote que seoferecesse. A fei"o simbolista do poema de Ant,nio Nobre demonstra-seneste lance concepcional pela representa"o da ua imagem do quanto ' v eirrealiz!vel a aspira"o a um alvo intang*vel sonho inef!vel desfeito em fumo.

    $m Anrique se personifica a abstra"o( e abandonando seu solar portugu#s osonhador abala-se na busca do ideal para terras de $spanha finalmente de3ran"a onde vamos encontr!-lo em 0aris e9austo e desvairado pelainsatisfa"o de um dese2o alto e incoerc*vel. A 0aris erroneamente seencaminhara 2! no fito de encontrar da ci#ncia transcendental o rem'dio ocultoa males irremedi!veis( e so pungentes as alus%es e refer#ncias que a todo oinstante aparecem ! histria prpria do poeta em sua idea"o e em seu cruelsofrimento.

    $m 0aris recebe Anrique a hospitalidade de um convento onde ' acolhido peloscarinhos paternos de um velho e santo monge que embora Anrique no lhe

    tenha aberto a altiva alma tenta perscrutar-lhe a ferida para lhe aplicarsalut*fero b!lsamo.

    $m uma dessas melanclicas tardes que parece haverem e9ercido sobre o poetauma misteriosa influ#ncia e que ele toca com um encanto vago e penetrante oseu heri Anrique que divaga na fase m*stica e e9altada em que se encontrapelas ruas sem propsito e9ato e ! merc# de mil flutuantes pensamentosentra ao acaso no templo de um convento de freiras 2ustamente na ocasioem que elas iam come"ar a entoar a sua novena da tarde. Bs primeiras notasdaquele c+ntico suave Anrique queda-se e9t!tico no arroubo que o trespassa eembebe como um eco de saudade irrefletida e apai9onada. E que em uma das

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    frescas vozes que ali alevantavam hinos de amor divino Anrique 2ulgaraencontrar a reminisc#ncia de uma outra voz pur*ssima doce e harmoniosa quedei9ara l! para longe para al'm das serras em 0ortugal quando no fora maisque a muito natural semelhan"a de duas vozes meigas de rapariga.

    No fr#mito da iluso 2ubilosa e magoadora uma e9citada alucina"o o fazdelirar em lamentos onde a incoer#ncia da palavra ' o transunto de umaaniquiladora tristeza. /omo natural rea"o logo em sua alma e de seus l!biosrebenta uma e9ploso de for"a e de entusiasmo saudando o seu amor compalavras fren'ticas e desvairadas em como que parece lan"ar um repto e vibrarum desafio. 0restes acode o desalento final e aps consola"%es inteis do bomfrade nas palavras de Anrique p%e o poeta toda a resignada amargura da suaalma.

    J! ento de todo a quimera parisiense se dilu*ra. J! de todo Anrique se voltaranovamente e de vez para o seu 0ortugal. :e regresso ao reino afoita-o oencontrar-se com a sua bem-amada( singrando vem Te2o acima a barca que oreconduz. )m ardor imenso o impulsiona e move( Anrique sada com f'rvidoentusiasmo o passado herico de isboa( mas a atroz realidade do presentesurge perante o *mpeto 'pico como uma s!tira tr!gica. Ao passado volve olhoscobi"osos da esperan"a no futuro( e a compensa"o prof'tica que se lhedesenha '-lhe figurada na vinda fantasiosa do Desejado do quim'rico :.8ebastio do lend!rio CHei-MeninoD que foi o s*mbolo de todo o anelo e de

    toda a f' que foi a encarna"o ideal de todos os sonhos de imp'rio de todas asaspira"%es messi+nicas do povo portugu#s.

    0or'm Anrique no demora muito neste pensamento e9terior( logo o preocupaa sua torsionante crise moral( por completo o toma a ideia de que ' chegadoenfim ! terra onde h! tantos anos o espera sua noiva. $nto sada-a tamb'ma ela com palavras que patenteiam a ansiedade que sente de repousar afinal desuas infrutuosas fadigas contemplativas.

    Mas do velho solar s restam ru*nas( pelo filho prodigo que volta s aguarda a

    velha ama Tereza. Acorre contudo o povo numa dura e indiscreta curiosidade(e do cora"o de Anrique soltam-se involuntariamente lamentos acres pelatrai"o daquela que ele amara. A* ele conta a si mesmo alheado a histria dasua aflitiva agonia interior onde mais doem na recorda"o as ingenuidades e osc+ndidos embustes da quadra florente e ilusionante.

    $ste ' o episdio capital da crise sub2etiva que perpassa na trama l*rica dopoema de Ant,nio Nobre. :epois desta desconsoladora estada em 0ortugalAnrique resolve-se a voltar a 3ran"a na saudade agora corrosiva do sossegotumular dos claustros. Ali o esperam os resignados conselhos( ali ele se votar! a

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    uma confisso sincera e plena embora pretenda a apar#ncia de uma dignidadesoberba e orgulhosa sob a m!scara de uma indiferen"a g'lida.

    Gnfelizmente para as boas letras o poeta no p,de levar a cabo o seu amplopropsito( mas para o cabal entendimento da ordenada sequ#ncia da suafantasia cremos que estas linhas daro alguma luz. Assim suspendemo-nosansiosos de que desprendendo-se de nossa companhia o leitor de per siaprecie e encare"a com leg*timos gabos as composi"%es que seguem algumasdas quais sem favor se podem qualificar de maravilhosamente belas.

    LISBOA DAS NAUS CHEIA DE GLORIA

    I

    isboa ! beira-mar cheia de vistas> isboa das meigas 0rociss%es7> isboa de Grms e de fadistas7> isboa dos l*ricos preg%es...isboa com o Te2o das /onquistasMais os ossos prov!veis de /am%es7> isboa de m!rmore isboa7;uem nunca te viu no viu coisa boa...

    II

    Es tu a mesma de que fala a =istria?$u quero ver-te aonde ' que est!s aonde?No sei quem 's perdi-te de memria:ize-me aonde ' que o teu perfil se esconde?> isboa das Naus cheia de glria

    > isboa das /r,nicas responde7$ carregadas vinham almadias/om noz pimenta e mais especiarias...

    III

    Ai canta canta ao luar minha guitarraA isboa dos 0oetas /avaleiros7

    4aleras doidas por soltar a amarra/idade de morenos marinheiros

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    /om navios entrando e saindo a barra:e proa para pa*ses estrangeiros7)ns p

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    VII

    3ormosa /intra onde alto as !guias pairam/intra das solid%es7 bei2o da Terra7

    /intra dos noivos que ao luar desvairam;ue vo fazer o seu ninho na serra(/intra do Mar7 /intra de ord FOronMeu nobre camarada de Gnglaterra7/intra dos Moiros com os seus adarves$ ao longe em frente o Heino dos Algarves7

    VIII

    Hom+ntica isboa de 4arret7> 4arret adorado das mulheres=ei de ir dei9ar-te em breve o meu bilheteB tua linda casa dos Pra!eres.Mas qual seria a melhor hora !s sete4arret para tu me receberes?& teu porteiro disse-me a sorrir;ue tu passas os dias a dormir...

    I

    0ois tenho pena amigo tenho pena(evanta-te da* meu dorminhoco7;ue falta fazes ! isboa amena7Anda ver 0ortugal7 parece louco...;ue p!tria grande7 como est! pequena7$ tu dormindo sempre a* no CchocoD.

    Ah7 como tu dorme tamb'm a Arte...0ois vou-me aos toiros que o comboio parte7

    > isboa vermelha das toiradas7Nadam no Ar amores e alegrias.5ede os /apinhas os gentis $spadas

    /avaleiros fazendo cortesias...;ue gra"a ing#nua7 farpas enfeitadas7

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    & 0ovo ao 8ol cheirando !s maresias75ede a alegria que lhe vai nas almas75ede a branca Hainha dando palmas7

    I

    > suaves mulheres do meu dese2o/om mos to brancas feitas p

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    S SENHORAS DE LISBOA

    Ainda bem 8enhor7 que deste a noite ao mundo.4osto do sol oh certamente7 mas segundo& meu humor. B noite h! esquecimento h! paz:e dia apenas tenho um ou outro rapaz0ara a palestra. Ah sim7 e o mar tamb'm !s vezes.Mas agora @ha aqui uns tr#s ou quatro meses3a"o da noite dia. As grandes descobertas;ue eu descobri7 $stou de 2anelas abertas;uando os outros esto de 2anelas fechadas...> fontes a correr como l*nguas de espadas> fontes a furar quais mineiros a fr!gua> fontes a rezar como freirinhas d

    /om ladainhas na voz de 2oelhos nas encostas$ s vos falta estar como elas de mos postas7&uvi l! rezam6 sob o c'u todo estreladoC0adre-Nosso7 que est!s no c'u santificado...DNoites e dias sem parar um s momento8 vs me ouvis e eu s a vs e mais o vento.;ue dor ' a vossa7 qual ser!? no sei no sei/horai fontes chorai7 3ontes correi correi7Bguas s de perdo suspiros e piedades

    > fontes de Fel'm7 > fontes de saudades7/ontai para eu cismar uma bonita histria;ualquer a que vos vier mais depressa ! memria./ontai que eu sou ainda uma crian"a gostoTanto de histrias7 pelas luas brancas de agosto7> rios a contar histrias como as criadas=istrias de ladr%es mais histrias de fadasA do P' do Telhado e da triste viva;ue s sa*a ! rua pelas noites de chuva7$ essa @que faz chorar de 0edro Malas Artes7&s tristes ventos a assoprar das quatro partes68o os ventos do sul6 @cegos pedindo esmolas8ofrem tanto com ele7 mais o vento das Holas(Mais o que vem do oeste que abre e fecha as portas$ geme nos pinheirais pelas noites mortas$rguendo as folhas secas ca*das pela terra.Mais o vento do norte o vento da Gnglaterra;ue azula o c'u e o rio e deu ao mar a gloria:e levar as Naus do 4ama ! ndia da vitria.

    $ o mar 8enhor7 o mar ai7 como chora !s uas70elos seus golfos e canais @as suas ruas

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    8onetos de ais que s compreende quem ama6$ de noivos a quem deu o len"ol e a cama.As descobertas dos meus 0ais dos 0ortugueses6@0ois quando est! p

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    0ois olha escrevo-te e venho:ar-te not*cias do teuApai9onado. 8ou eu.Anrique pastor de ovelhas.

    Tenho-as brancas e vermelhas0retas de todo o tamanho.Tivesse-te eu no rebanho0or'm como tu aindaNo vi nenhuma mais linda.$u pensei que tu amavas& teu pastor mas brincavas.Mas amo-te eu muito embora.No sou amado 8enhora?INo o 's nem nunca o h!s de serI

    0ois se2a o que :eus quiser75ou pelas serras mais altasMas ve2o que tu me faltas$ logo fico a pensar;ue bom e triste ' amar7)m amor sem esperan"aE um bem que no se alcan"a.Nasci debai9o dum signo;ue em nada me ' benigno(

    J! no pode ser desfeito& que est! feito est! feito.Ai de mim7 no sou amado7Ai de mim triste e coitado73umo saindo dos casais;ue aspira"%es vs levais7As minhas no vo to alto6............................8o bem simples e modestas6Fons dias e boas sestas7/om mui pouco me sustento6& amor ' meu alimento.& meu po de cada dia!grimas minha !gua fria;uem me dera andar contigoNo mar cheio de perigo7Gr ! Bfrica numa NauNa San +a=aelde pau/omo os nossos 0ortugueses7

    $ andar por l! sete meses8ete anos ou mesmo mais

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    8em medo dos temporais7&utros h! pior de passar...J! tantos tive no marJ! tantos tive na terra

    ;ue 2! nenhum me faz guerra.Ns dois ss e porque no?8em maior tripula"o.$u seria o comandante:aquela nau almirante7&h que formosa serias;ueimada das maresias75estida de marinheiroAi sobe7 sobe7 ga2eiroAquele topo real

    :iz adeus a 0ortugal;ue l! nos vamos Adeus7$ partir*amos com :eus7&h que viagem venturosa70ela Azia religiosaMais pelas terras do sul/om mar e c'u sempre azul75er no c'u planetas novos5er pela terra outros povos

    &utras leis novos costumes/apelas cheias de lumesB /alifrnia do &iro$ l! achar um tesouro.5er @que isso nunca se perde& c'lebre Craio verdeD:o sol-p,r no mar da America7&h7 a viagem quim'rica7:e gatas como as gatinhas...........................Tu subirias aos mastros@To altos que vo aos astros8em receios das procelas7$ dobrarias as velasA bu2arrona a latina./om tuas mos de menina7&h7 vem da* comigo7 eu parto7;uando estivesses de quartoA mo no leme segura

    A nau iria ! ventura> suspiro das aragens7

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    > fant!sticas miragens7No tenhas medo. MorrerNo custa nada ' viver./usta menos que se pensa.

    & principal ' ter cren"a.Morre o corpo a alma abre aza$ vai6 ' mudar de casa...Mas nem sempre h! mares grossos$ que houvesse7 &s padres nossos3azem muito em tua boca.5oz doce acalma voz rouca7Tu no temes temporalEs filha de 0ortugal78e morr#ssemos que importa7

    ;ue bela serias morta7Minha 8enhora da $sp

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    No dou conta do recado.Minha Me ralha que ralhaAi 8enhor7 Jesus me valha.$ adeus que me vou embora

    0ois boas noites 8enhora7Ah7 eu estou aqui to bem...$ l! torna a minha MeIAnrique Anrique onde est!s?I&nde te somes rapaz7Tem razo ' 2! to tarde7Na lareira o lume arde$ fuma acesa a candeia6Minha Me que faz a ceia7=! que tempo ela passou

    /om a lenha que encontrou7:esprezada nos caminhos...Ns somos mui pobrezinhos7$ eu aqui ! lua ! farta.0ronto. Acabo aqui a carta.Adeus7 so horas de eu me ir/ear rezar... e dormir.Nossa-8enhora me a2ude7A minha Me no se ilude

    /om toda esta demora$la bem sabe 8enhora7$ l! torna a Me6 Anrique;ueres que eu me mortifique?Anda cear no tens fome?Jesus7 Jesus7 8anto Nome7$u bem sei e bem no entendo.& que so Mes7 $m me vendo;uando todo me concentro;ue trago pai9o c! dentro.Gsto 2! h! muitos meses.Mas nada diz. 8 !s vezes;uando no como e me deitoAssim... a tossir do peitoTamb'm no quer ela comer$ aventura-se a dizer6CAmoresIfilho pai9%es8 trazem consumi"%esD$ assim ' assim Mezinha7

    0ois adeus 8enhora minha7..........................

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    5ai alta a ua branca serena silenciosa:a luz dos Foulevards fugindo desdenhosa.E a hora em que 0aris come"a a louca vidaNa tr!gica cidade ao sol adormecida.& 0aris de Faudelaire7 0aris da minha pena;ue em tempos 2! molhei nas !guas do teu 8ena;ue mist'rios eu leio 0aris no teu folgar7;ue mist'rios eu ve2o passando os Foulevards7> vede a palidez da luz daquele g!s5ede a cor mortu!ria que aos rostos ele traz7&lhai p

    8enhoras Anrique ouvira a voz duma das freiras$ quando no adro branco as notas derradeiras0erderam-se voando 2ulgou num som doridoHeconhecer a voz do seu amor perdido7

    8o sonhos de poeta( mas sonhos como l*riosTo brancos como eles... vermelhos nos mart*rios7

    .............................................

    5inde da* 8enhoras comigo quereis ouvir?Gng#nuo ' o seu cantar... talvez vos fa"a rir7

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    C5i-te h! pouco rezando nas novenasAi to linda to p!lida meu :eus7;uais so as tuas dores as tuas penas

    0or quem levantas tuas mos aos c'us7

    C/antai freiras Feneditinas/antai cantai/antai novenas cantai matinas/antai cantai.

    CNo Foul sinos de toda a 3ran"a/antai cantai o meu malTo alto essa voz no cansa;ue ela os oi"a em 0ortugal7

    C/antai o canto 4regoriano0ara eu chorar7.../antai freiras durante um ano0ara eu... chorar7...D

    ...................................

    Morrera 2! o 8ol( os altos castanheiros

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    /horavam ! voz do vento quais lgubres troveiros&s choupos retorciam os troncos 2! despidos0arecendo erguer ao c'u seus bra"os ressequidosAo darem as CTrindadesD no claustro de mansinho

    3ugiu um bando d

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    Tu 's grande 's forte 4uilherme7Tu 's um mundo eu sou um verme...5amos a ver7

    5enha uma imensa tempestade/aiam raios sobre a cidade5enham trov%es7;ue eu irei s para as 2anelas8em 8anta F!rbara sem velas8em ora"%es7

    8oldados de Alsacia e orena7@A bela 3ran"a assim m morte minha amiga de outrora;ue fazes a* h! mais duma hora7;ueres-me? Ah sim?/ortei as rela"%es contigo> vai-te7 2! no sou teu amigoNem tu de mim7

    > uiz de /am%es e da $speran"a7Ao p' de ti sou uma crian"aMas ouve c!.5amos cantar ao desafioB sua 2anela sobre o rio5er qual mais d!...

    > troveiros de toda a parte:. 0edro7 :. :iniz7 :. :uarte7& que sois vs?

    Minha lira ' do seu cabelo$ os meus versos quereis sab#-lo?

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    8o a sua voz7

    > vento cantante do Norte7Minha lira agreste ' mais forte

    :o que a tua75inde todos troveiros do ar$m desafio comigo a cantar0or essa rua7

    ....................................

    5em entrando a barra a galera CMariaD;ue vem de to longe e to linda que vem7Toca em terra o sino p

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    $ntre as cidades mais lindas isboa7D

    > minha isboa7 com oiros to constantes0elas serras e c'us e pelo rio7 /om seus

    Jer,nimos dos 0oetas e Mareantes7isboa branca de Joo de :eus7

    I

    > isboa7 num s'culo bem perto;uando a Bfrica e as Azias se mostrarem/ivilizadas sem um s deserto$ as esquadras do mundo inteiro entraremNaquele Te2o sobre o mundo aberto0ara dos grandes ventos descansarem> isboa @no so glorias quim'ricas5oltada sobre as Azias e as Am'ricas7

    II

    0orque ' que :eus aqui te p,s ! entrada8eno para destinos imperiais?:o mar da ndia a vira"o salgadaHespir!-la tu antes dos mais.A ver 's tu primeira a alvorada$ a ltima o sol nos fins ocidentais.isboa7 quando eras pequenina=ouve uma fada que te leu a sina?

    III

    & que 2! foste tu noutras idades4rande e famosa acima das Na"%esTu de novo o ser!s porque as cidadesT#m v!rias mortes e ressurrei"%es&utras inf+ncias novas mocidadesNovas conquistas outros gale%es...> coragens cleras tormentos

    Trov%es ndias rel+mpagos e ventos7

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    IV

    5elha isboa minha me-madrinha7Tu voltar!s a ser o que 2! foste

    $ no no cuides que ' iluso minha0ois nenhuma 2! tenho a que me encoste7No sei qu# dentro em mim m

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    $ os outros no deserto dessa fr!gua0ela noite o acompanham( e assimHezam todos por s'culos sem fim.

    VIII

    $u confio em ti reza d

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    I

    Talvez s eu irmos7 mas ' que a mim:eve o 8enhor as flores com que s

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    $ at' l! 0ortugueses7 trabalhai.;ue $l-Hei-Menino no tarda a surgir;ue ele h! de vir h! de vir h! de vir7

    ! vem l! vem minha AmadaHainha de 0ortugal.5em com a capa estrelada:ebai9o dum palio realTodo de seda vermelha/om saias de oiro e coral.5# o povo que a2oelha$ faz o Cpelo sinal7D

    ;ue linda '7 que formosa7

    ;ue gra"a ela tem a andar70agens vestidos de rosa5o ! frente a encaminharTirando as pedras da ruaNo v! ela trope"arTo leve parece a uaTo leve que vai no ar7

    5inde ver vinde !s 2anelas

    Meninas de 0ortugal7:ei9ai o bordado as telas:ei9ai a agulha e dedal.No temais a feia inve2a5inde v#-la cada qual.$ que em honra dela se2a$sta noite o arraial.

    8ua beleza ' tamanha;ue pertence a 0ortugal./omo obra de arte estranhaE um poema ' uma catedral.Aos us*adas semelhanteAos Jer,nimos igual&nde os poetas e o mareante:ormem o sono final7

    Nem Mafra com seu conventoTem maior a altivez

    .......................................No se esquece visto uma vez7

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    8eu corpo ' uma obra de gra"a$ de que suave palidez7A minha amada ' a Alcoba"a&nde 2az a linda Ggnez7

    E fidalga de nascen"aMais do que os Heis do que vs.J! poetas na Henascen"a/antaram seus bisavs.Mas mais fidalga ' ela ainda0or sua alma @sem Avs.Ah7 l! vem ela to linda$ vem rezando por ns7

    A minha Amada ' fidalga;ue tem no mar seus bras%es.Tem na boca aromas de algaFrisas da ndia e outras regi%es& que prova donde ve2oJ! no tempo de /am%es$ra sobrinha do Te2o$ prima dos 4ale%es7

    E toda de casos belosA tua nobreza finaToda torres e castelos/om legendas de menina.$9cedes Heis e 0rofetas...........................................Menos os 8antos e 0oetas;ue t#m costela divina7

    I;uatorze luas 2! foram passadas:esde que eu a perdi e ao seu amor(Meu cora"o tem ainda as 2anelas fechadasAinda vestem de luto os meus criados 8enhor.

    & 0&5&;uimeras tombadas7 ;uimeras tombadas7IA sorte deu-me 2! cabelos pretosAi no preciso de os enlutar.

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    IDMas olhe as brancas... meu senhorD& branco ' luto podes Ama descansar7

    & /&5$GH&

    & branco ' luto6 so brancos os esqueletos7I> ilus%es que em ti pus to amigas7&h7 a esperan"a que em minha alma ' morta7Antes eu te visse cobertinha de be9igas&u em farrapos a pedir de porta em porta...

    T&:&8Antes a visses morta7Antes a visses morta7I:ei-te o meu cora"o a ti bela entre todas

    /ora"o que a ningu'm ainda se dobrara/hego do mar venho assistir !s tuas bodasAh7 no mar salgado porque no ficara.

    )M 0A8T&HToca a noivado em 8anta /lara:obra a defuntos tr#s l'guas em roda7I3ugiu-me a minha amada e com ela a fortunaMeu ar por terra7 sem ningu'm na multido.

    3iquei na vida s como o /onde de unaMais sua espada. Ai do meu pobre cora"o7

    @'eu coraIo cala1te ou =ala bai8o massaOs mais a nossa dor. Sim cala1te H melorA procisso das :ores em mim sinto que passa$ passa... e passa... e cada vez ser! pior.

    T$H$PANo que o fim duma desgra"aE o come"o d

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    Minhas camisas ho2e so de estopa3oram de seda... ;ue ve2o eu7

    &8 5GPGN=&8

    3oste ! pandega por essa $uropaA* tens o pago que o 8enhor te deu7& mundo deu-me cabelos pretosAi no preciso de os enlutar7...................................................$ mais em breve porque vou cegar...

    )M /$4&A Anrique ceguinho diro&lhe no v! trope"ar...

    IAmar a ela e dela ser amadoGr em breve pedir a sua mo7$ de repente tudo escangalhado7Ai que desgra"a7 como os outros so7

    T$H$PA$ que menino to estimado7$ tudo nele ' perfei"o7IDAnrique meu amor filho de 0orto-/ale7D

    Me dizia ela... Ai do meu cora"o7Amor 2! me no tem no h! 2! 0ortugal...$ que ve2o 8enhor7 de ru*nas pelo cho7

    &8 M$N:G4&8Tantos vadios sem nada na mo8empre ! espera de :. 8ebastio.I> :. 8ebastio a ti comparo$l-Hei de 0ortugal a minha sorte8e te encontrasse na vida serias meu amparo8er-m

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    0or essa barra saem cheios de pecadosFandidos com seus crimes e mais os degredadosTraidores ! 0!tria e ao Hei infelizes e ladr%es.0or l! saiu tamb'm numa noite /am%es.

    No barco em que segui viagem nessa !guaevava aos ombros um ba cheio de M!goa$ mais um saco de :or que por l! me ficou.:e volta trago tr#s que aquele no chegou.&s =omens conheci nessa 2ornada pelo mundo.No lhes quero mal seu erro ' to profundo7....................................................................................................

    Todos partiram todos fugiram.

    &s ladr%es assaltaram-me ! estrada;uiseram-me matar. No conseguiram.

    Ningu'm me resta no me resta nada73ui enganado nos meus leais amores.J! tive de salvar a minha vida ! espada.

    No meu 2ardim semeei lilases0assado tempo vi nascer urtigas(

    /ada dia que nova dor me trazes?

    avrei canduras e colhi intrigasNasceram dios onde pus perd%es.No digas mais meu cora"o7 no digas

    0rocriei gigantes vi nascer an%es0lantei nesta alma vinhas da piedade$ vindimei 8enhor7 Gngratid%es7

    Nunca se deve ter tanta bondade;uando ' e9cessiva e tanto d inspira$ uma falta at' de dignidade.

    &ra eu assim cercado de mentiraonge de tudo e todos e enganado@;uando se foi to crian"a o que admira7

    5i-me sem :eus s triste e em tal estado

    ;ue se o contasse chorar*eis... No7No falta em que empregar pranto salgado.

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    ;ue infortnio meu :eus7 que decep"o7Minha cren"a catlica perdi-aJ! no sei persignar-me com a mo.

    :urante meses sempre dia a diaAinda fui por h!bito ! Ggre2a6No sabia rezar a Ave-Maria7

    /hegava ainda at' CFendita se2as...D$ ao ver a 5irgem d

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    I5enho de longe aqui por vossa fama.5osso nome chegou ao meu pa*s.I& teu pa*s 8enhor7 como se chama?

    No6 d!-me a mo ela melhor m

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    5ais em meio da tua mocidade.Tens vindo em tua nau desde crian"a0or um sombrio mar da antiguidade.

    Agora aqui o temporal descansa$ v#6 segundo a altura do quadrante:obras o /abo da Foa-$speran"a7

    /oragem7 meu sombrio navegante70aci#ncia7 mais um pouco e aportar!sB ndia7 mais tua esquadra de almirante7

    Ali te aguardam Fens te espera a 0az

    A boa 4lria e mais do que isso at')m grande amorIe ali te coroar!s7D

    & 5elho disse. $ logo pus-me em p'.Mui feliz no querendo ouvir o resto;ue eu sei o vazio que este mundo '.

    Adeus7 disse eu 1quele s!bio honesto3ormoso e de olhos grandes como c'us7

    Adeus7 e parti logo altivo e presto.

    /a*a o sol no oceano. &rei a :eus.)ma nau me esperava... $rguemos ferro$ abalamo-nos de 3ran"a. Adeus7 Adeus7

    ;ue pecado 8enhor7 ou grande erroNo mundo cometi que me d!s tantosTrabalhos como na Bfrica em desterro?

    No posso ser bem sabes como os 8antos.Mas quantos homens neste mundo avistoTo felizes @e maus7 quantos e quantos7

    $ se no fui eu que pequei /risto70ecariam os meus antepassados?;uem foram eles? 5em contar-me isto7

    Heligiosos mar*timos soldados?

    $ 2ustas so as leis com que me aterras8endo eles os nicos culpados?

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    Na Ar!bia na 3en*cia ou outras terras/ausaram vai em s'culos pai9%es3omes e sedes ou atearam guerras?

    /omeu a terra os ossos desses le%esAs suas cinzas foram-se nos ventos$ eu sofro aps quinhentas gera"%es?

    ;ue in2usta cousa7 que desleais tormentos7;ue faz rezar ! noite de mos postas:e que serve cumprir teus mandamentos?7

    ;uem sabe se no foram meus avs

    8enhor7 ;ue tanto e tanto te ofenderamMas meus arqui-primeiros bisavs?

    ;uando os vulc%es da terra arrefeceram$ lentamente aos poucos e as primeiras$flora"oes da vida apareceram(

    Talvez que um tigre eu fosse que nas carreiras$ uivando ! lua e destru*sse as matas

    ;ue levaste a criar noites inteiras7

    Talvez no dia em que bai9asteB terra para ver a tua obra5estido d

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    $ cobi"ou o pei9e que l! vinha$ t

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    Tudo na 5ida engana at' a 4lria.0ara dei9ar de o crer fora precisoavar no etes minha fiel memria.

    Assim pensava eu meio indeciso;uando na estrada 2unto a mim passava)m velhinho a rezar ao 0ara*so.

    Num ca2ado de lodo se apoiava.$ detinha-se !s vezes um momento$rguia ao c'u o olhar e suspirava.

    As barbas brancas flutuando ao vento(

    :evia ter um s'culo de idade$ talvez vinte ou mais de sofrimento7

    0arou ao ver-me e olhou-me com bondade6:epois na sua voz meiga de brisa6I)ma esmola 8enhor por caridade7

    )ma lembran"a dentro em mim se enra*za.I:ou-te bom velho7 tudo que quiseres

    8e em troca me d!s vestes e camisa.

    & velhinho sorriu como as mulheres.A quinzena me deu e eu dei-lhe a minha;ue na botoeira tinha malmequeres...

    Ningu'm a essa hora pela estrada vinha.Tudo despiu me deu6 fiquei perfeito.$ eu dei-lhe em troca tudo quanto tinha.

    Mas no estava ainda satisfeitoAs suas barbas brancas eu queria/omprar-lh

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    INo lh

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    ..........................................................

    ..........................................................

    T$H$PA

    ID$ depois menino sabemos 2! o resto...0ara que mortifica assim o cora"o?D

    IAi minha Tereza7 tu tens talvez razo6$sse amor primeiro foi-me to funesto7

    & os meus dias idos em contempla"o7& os meus loucos sonhos que da* eu trou9e73alava eu !s flores como se ela fosse6

    CMariaD eu lhes chamava cego de pai9o.

    =ei de gravar-te em bronze e tornar-te imortal7$u hei de lan"ar o teu nome aos quatro ventos7$u o humilde 8nr. Manoel dos 8ofrimentos$u por gra"a de :eus poeta de 0ortugal.

    I;uem ' Tereza que bate ! porta;uem vem a esta hora quebrar meu sono?INingu'm ' meu 8enhor a noite ' morta8o folhas a cair que ' 2! outono...

    C;uando eu era mo"a e meninaA-i--!i7

    )m velho um dia leu-me a sina.=! que tempos que isso l! vai7

    A-i--!i7D

    @& vento continua uivando.

    I;uem ' Tereza que oi"o clamores5ai ver ! porta vai num instante7I8ossegue durma so os lavradores;ue passam para a feira d

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    &l'7

    @& vento uiva sempre.I;uem ' Tereza? quem ' Tereza?

    ;uem ' Tereza que bate ! porta?I&lhe a 3ortuna no ' com certeza0or isso... durma durma que lhe importa?@& vento uiva uiva.INo ouves Tereza tr#s pancadinhas?5ai ver6 ' a :. 3elicidade.IMas as senhoras no saem sozinhasNuma aldeia nem mesmo na cidade...:urma menino a dormirNo sofre tanta pai9o

    &s sonhos que lhe ho de virAfasto-os eu com a mo.

    :urma menino a dormirNo ouve o seu cora"o$ p

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    0artiu. :e novo abandonou o seu solar.:a sua aldeia os pobres pedem-lhe que fique$ Tereza bem faz tamb'm pelo guardar.

    0or uma tarde de chuvinha mida e ventoAnrique foi bater ! porta dum convento.Fateu ! porta um 3rade veio-lhe falar.C;ue dese2ais GrmoD? e respondeu6 C$ntrarD.

    3rades7 meus 3rades7 ai abri-me a porta7Abri-me a porta que eu pretendo entrar.$u trago a alma toda ferida morta8 vs 3radinhos m

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    Teu cora"o est! morto bem morto.Nada no mundo o poder! salvar.Ah7 mo"o que tu 's que desconforto7Tens razo oh se tens7 para chorar7

    Tens razo Anrique( mas no entanto;uem sofreu como tu sem descansarAnrique ou d! num c*nico ou num santo6No 's c*nico no sabes chorar.

    &uve-me Anrique6 nesses c'us e9iste)m homem 0ai da Terra e mais do Mar;ue fez o Mundo @por sinal to triste$ os olhos no p

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    BIOGRAFIA

    Antnio Nobre nasceu no Porto, em 1867. Feitos o estudos bsicos, segue para

    Coimbra a fim de estudar Direito. Desgostoso com o ambiente estudanti,

    refugia!se em sua "#orre de Anto$. Permanecendo o desaento, %ai procurar emParis paiati%os para sua sensibiidade ferida e condi&'es para e%ar a%ante o

    curso interrompido. (ntra em contacto com o )imboismo franc*s, o +ue ser

    decisi%o para sua carreira potica. As composi&'es escritas nesse tempo, re-ne!

    as no %oume S 18/0, pubicado ainda em Paris. Formado, e 2 sofrendo os

    primeiros ac3a+ues da tubercuose, %ota 4 Ptria, em busca de sa-de e de

    recuperar os mitos da inf5ncia. (m %o. uda!se para a adeira e, de , para a

    )u&a e No%a or+ue9 badadamente. :egressa por fim 4 terra nata e faece em

    1/;;. Dei