desigualdade económica portugal apresent

Observatrio Pedaggico

Carlos Farinha Rodrigues

ISEG / Universidade Tcnica de Lisboa

Um estudo da

Fundao Francisco Manuel dos Santos

Desigualdade Econmica em Portugal

18 de Outubro de 2012 2 Desigualdade Econmica em Portugal


Objectivos:

O objectivo deste estudo o de tentar identificar as principais caractersticas da desigualdade econmica em Portugal e quais as principais tendncias ocorridas nas ltimas dcadas em Portugal.

Ainda que a anlise da distribuio do rendimento disponvel das famlias constitua o corpo central para a tipificao das desigualdades econmicas em Portugal, procederemos igualmente ao estudo da desigualdade salarial.


Objectivos:

Embora o estudo das desigualdades econmicas seja importante em si mesmo, ele ganha uma relevncia acrescida se for interpretado como um elemento estruturante da anlise das condies de vida dos indivduos e das famlias, como uma componente essencial na determinao do nvel do bem-estar do conjunto da populao.

Anlise das desigualdades econmicas, das questes relacionadas com as condies de vida, o bem-estar social e a pobreza econmica naquilo em que estas diferentes questes so influenciadas, ou mesmo determinadas, pela distribuio dos rendimentos.


Relevncia do Estudo em 2012:

A anlise da evoluo das desigualdades em Portugal apresentada neste estudo tem como referncia o ltimo ano para o qual existe informao rigorosa disponvel, que 2009.

Mas 2009 poder tambm representar o encerra-mento de um ciclo. Um ciclo caracterizado pela reduo dos principais indicadores de pobreza e do atenuar das desigualdades.


Relevncia do Estudo em 2012:

A profunda crise econmica que o nosso pas hoje atravessa e as respostas que as autoridades econmicas tm ensaiado para a ultrapassar podem inverter profundamente as principais tendncias ocorridas nas ltimas dcadas de que neste estudo apresentmos registo.

O conhecimento aprofundado das desigualdades econmicas em Portugal aqui apresentado permite perceber melhor a sua natureza, os mecanismos atravs da qual as desigualdades se geram e transmitem e os seus principais determinantes.


Fontes de informao estatstica:

A abrangncia do trabalho a realizar est obviamente condicionada pelas fontes de informao estatstica disponveis.

Neste trabalho recorreremos essencialmente aos inquritos s famlias realizados regularmente pelo Instituto Nacional de Estatstica e, de forma complementar, aos dados dos Quadros de Pessoal, recolhidos anualmente pelo Ministrio da Solida-riedade e Segurana Social.


PORTUGAL: UM PAS DESIGUAL

ANLISE DA DESIGUALDADE FAMILIAR


Desigualdade familiar: principais concluses.

Portugal permanece como um dos pases mais desiguais da Unio Europeia, qualquer que seja o indicador de desigualdade utilizado para medir a desigualdade.

Ao longo dos ltimos anos a desigualdade familiar tem-se vindo a atenuar ligeiramente, como demonstrado pela reduo do ndice de Gini em cerca de cinco pontos percentuais entre 1993 e 2009.


Desigualdade familiar: principais concluses.

A evoluo registada na desigualdade em Portugal encontra-se indissocivel da melhoria de rendimento e de condies de vida das famlias e dos indivduos situados nos dois primeiros decis da distribuio do rendimento.

A proporo do rendimento total auferida pelos 5% da populao mais pobre duplicou entre 1993 e 2009. No mesmo perodo, o share do primeiro decil aumentou 67% e o do decil seguinte 23%.


Percentagem de indivduos por escales de rendimento disponvel anual - 2009

Fonte: INE, ICOR 2010.

0%

1%

2%

3%

4%

5%

6%

500

3000

5500

8000

1050

0

1300

0

1550

0

1800

0

2050

0

2300

0

2550

0

2800

0

3050

0

3300

0

3550

0

3800

0

4000

0 +

Escales do Rendimento Disponvel

P50

P90

P10


Proporo do rendimento disponvel por adulto equivalente auferida por cada vintil da populao - 2009

Fonte: INE, ICOR 2010.

1.1% 1

.8%

2.1% 2.4% 2.7% 3.0% 3.2% 3.4% 3.7% 3.9% 4.3% 4.6% 4.9% 5.3% 5.

7% 6.3% 6

.9% 8

.0%

10.3

%

16.2

%

0.0%

2.0%

4.0%

6.0%

8.0%

10.0%

12.0%

14.0%

16.0%

18.0%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Vintis do rendimento equivalente


Evoluo da desigualdade familiar (1993-2009)

Fonte: INE, PEADP 1994-2001 /ICOR 2004-2010.

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.7019

93

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

Gini A =0,5 A =1,0 A =2,0 MLD


Shares do rendimento equivalente por decis (1993-2009)


90.0

100.0

110.0

120.0

130.0

140.0

150.0

160.0

170.0

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

"sh

ares

" (1

993=

100)

1 decil 2 decil 5 decil 9 decil 10 decil


ndice de Gini, UE - 2009

Fonte: Eurostat, EU-SILC 2010.

23.8

%

24.1

%

24.1

%

24.9

%

25.4

%

25.5

%

25.9

%

26.1

%

26.6

%

26.9

%

27.9

%

28.4

%

29.1

%

29.3

%

29.8

%

30.5

%

30.5

%

31.1

%

31.2

%

31.3

%

32.9

%

33.0

%

33.2

%

33.2

%

33.3

%

33.7

%

33.9

%

36.1

%

36.9

%

0.0%

5.0%

10.0%

15.0%

20.0%

25.0%

30.0%

35.0%

40.0%


PORTUGAL: UM PAS DESIGUAL

ANLISE DA DESIGUALDADE DO GANHO SALARIAL


Desigualdade salarial: principais concluses.

Entre 1985 e 2009 verificou-se um forte agravamento da desigualdade salarial com o ndice de Gini a registar um agravamento superior a 6 pontos percentuais, passando de 28,4% para 34,4%.

Todos os ndices de desigualdade considerados neste estudo registam taxas de crescimento superiores a 20% ao longo de perodo.

Este agravamento da desigualdade salarial no , contudo, homogneo ao longo de todo o perodo em anlise.



A um perodo inicial, que vai de 1985 a 1994, de continuado acentuar da desigualdade segue-se, na segunda metade dos anos 90, um perodo de atenuao das assimetrias salariais que no , contudo, suficiente para reverter o agravamento prvio.

J neste sculo as desigualdades salariais voltam a agravar-se at 2005, para se atenuar ligeiramente aps esse ano.

As desigualdades salariais evidenciam, assim, uma volatilidade superior observada nos rendimentos familiares.



O comportamento dos vrios decis da distribuio do ganho salarial , uma vez mais, a oposta da verificada com os rendimentos das famlias.

O decil de maiores rendimentos v o seu share aumentar de seis pontos percentuais entre 1985 e 2009, passando de 24% para 29,8% do ganho total, um aumento superior a 24%.

Os trabalhadores do primeiro decil registam um ganho mnimo (6,9%) ao longo do perodo.


Ganho mensal em cada percentil da distribuio - 2009

Fonte: Quadros de Pessoal, MTSS/GEP 2009 .

450 492 567741

1134

1875

2568

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95

Gan

ho M

ensa

l ()

Percentis


Evoluo da desigualdade salarial (1985-2009)

Fonte: Quadros de Pessoal, MTSS/GEP 1985-2009 .

0.2840.300

0.3190.337 0.342 0.344

0.067 0.0750.085

0.096 0.099 0.101

0.123 0.1350.151

0.167 0.171 0.173

0.215 0.2230.242

0.260 0.266 0.267

0.1310.145

0.1630.182 0.188 0.190

0.000

0.050

0.100

0.150

0.200

0.250

0.300

0.350

0.40019

85

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

Gini A =0,50 A =1,00 A =2,00 DML


Ganho Mensal, Portugal, 1985 2009

Shares dos diferentes decis


80.0

90.0

100.0

110.0

120.0

130.019

85

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

1 decil 2 decil 5 decil 9 decil 10 decil


Ganho Mensal, Portugal, 1985 2009

Shares dos salrios mais elevados


24.0%25.7%

27.4%29.1% 29.5% 29.8%

14.7%16.2%

17.7%18.8% 19.2% 19.3%

4.6% 5.3%5.9% 6.4% 6.6% 6.6%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

19

85

19

86

19

87

19

88

19

89

19

90

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

10% mais ricos 5% mais ricos 1% mais ricos


Fonte: INE, PEADP 1994-2001 /ICOR 2004-2010 e MTSS/GEP, Quadros de Pessoal, 1993-2009.

Evoluo do ndice de Gini 1993 2009

Rendimento equivalente das famlias versus ganho total

90

92

94

96

98

100

102

104

106

108

110

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

Desigualdade familiar Desigualdade salarial

(1993=100)


POBREZA ECONMICA EM PORTUGAL


Pobreza econmica: principais concluses.

Como seria expectvel, dado o papel preponderante que os rendimentos mais baixos desempenharam nas alteraes do nvel de desigualdade familiar, o padro seguido pela evoluo dos principais indicadores de pobreza muito prximo do seguido pelo da desigualdade do rendimento equivalente.

A taxa de pobreza regista uma diminuio de 4,7 pontos percentuais passando de 22,5% da populao em 1993 para 17.9% em 2009, a intensidade da pobreza reduz-se em cerca de 44% e a severidade da pobreza assume em 2009 um valor que menos do que metade do registado em 1993.


Pobreza econmica: principais concluses.

Particularmente significativa a evoluo da taxa de pobreza dos idosos em Portugal que, num perodo de 15 anos, se reduziu de cerca de 40% em 1993 para prximo de 21% em 2009.

Infelizmente, reduo semelhante no ocorreu com a pobreza infantil que permanece bastante elevada.


Indicadores de pobreza monetria, 1993 - 2009


22.5%

20.1% 20.4%

17.9%

8.8%

5.6%6.2%

4.9%

5.0%

2.5% 3.0% 2.1%0%

5%

10%

15%

20%

25%19

93

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

Incidncia Intensidade Severidade


Indicadores de pobreza monetria, 1993 2009

Pobreza dos idosos e pobreza infantil


39.9%

29.7%28.9%

21.0%

23.4%

27.5%

24.2%20.9%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

Incidncia nos idosos Incidncia nas crianas


Incidncia de pobreza, UE - 2009

Fonte: Eurostat, EU-SILC 2010.

9.0

%

10.3

%

12.0

%

12.1

%

12.3

%

12.7

%

12.9

%

13.1

%

13.3

%

13.3

%

14.5

%

14.6

%

15.5

%

15.6

%

15.8

%

15.8

%

16.1

%

16.2

%

16.4

%

17.1

%

17.6

%

17.9

%

18.2

%

20.1

%

20.2

%

20.7

%

20.7

%

21.1

%

21.3

%

0.0%

5.0%

10.0%

15.0%

20.0%

25.0%


CONVERGNCIA PORTUGAL / UE


Convergncia Portugal / UE.

Em termos de desigualdade familiar, medida pelo ndice de Gini, podemos afirmar que a reduo alcanada neste ndice ao longo do perodo 1994-2009, cerca de 5 pontos percentuais, no foi suficiente para impedir que Portugal continue a fazer parte do grupo dos pases mais desiguais da UE.

No que concerne aos indicadores de pobreza a reduo da incidncia da pobreza operada entre 1993 e 2009 traduziu-se, tambm, numa efectiva aproximao aos valores mdios da Europa.


Convergncia Portugal / UE.

Se, em 1993, a diferena entre a taxa de pobreza em Portugal e na UE15 era de seis pontos percentuais em 2009 essa diferena encurtou para pouco menos do que dois pontos percentuais.


Convergncia Portugal / UE, 1994 2009

ndice de Gini

Fonte: Eurostat, ECHP 1995-2001 / EU-SILC 2004-2010.

30.6% 30.5%

31%

29%

30.0%30.5%

37% 37%37.8%

33.7%

25%

27%

29%

31%

33%

35%

37%

39%

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

UE27 UE15 Portugal


Convergncia Portugal / UE, 1994 2009

Incidncia da pobreza

Fonte: Eurostat, ECHP 1995-2001 / EU-SILC 2004-2010.

16.4% 16.4%

17%

15%

17.0%

16.2%

23%

20%20.4%

17.9%

10%

12%

14%

16%

18%

20%

22%

24%19

94

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

UE27 UE15 Portugal


OS FACTORES EXPLICATIVOS DA DESIGUALDADE


Os factores explicativos da desigualdade.

A considerao de diferentes grupos socioeconmicos como potenciais factores explicativos da evoluo da desigualdade ocorrida em Portugal entre 1993 e 2009, possibilitou uma nova viso sobre o padro de alteraes ocorridas na distribuio do rendimento.

Com excepo da segmentao da populao de acordo com o nvel de instruo/qualificao, todas as demais parties revelam uma capacidade explicativa da desigualdade inferior a 10%.


Os factores explicativos da desigualdade.

A reduo da desigualdade ocorrida no conjunto da populao acompanhada pela reduo da desigualdade existente no seio da generalidade dos grupos considerados o que, de alguma forma, desvaloriza o papel explicativo desses grupos, na evoluo da desigualdade ocorrida.

Emerge igualmente da anlise efectuada que predominantemente nos grupos socioeconmicos de rendimentos mais baixos que a reduo da desigualdade mais acentuada.


Os factores explicativos da desigualdade familiar (2009)

Fonte: INE, ICOR 2010 .

1.7%

1.8%

4.5%

4.7%

5.2%

25.5%

0.0% 5.0% 10.0% 15.0% 20.0% 25.0% 30.0%

Dimenso do ADP

Grupo etrio do ind.ref.

Participao do ADP na activ. produtiva

Composio do ADP

Condio perante o trabalho do ind.ref.

Nvel de escolaridade do ind.ref.


Os factores explicativos da desigualdade salarial (2009)

1.5%

3.6%

5.8%

8.3%

8.7%

14.5%

31.4%

42.6%

49.6%

0.0% 10.0% 20.0% 30.0% 40.0% 50.0% 60.0%

Sector de activ.da empresa

Sexo

E.Etrio

NUTS II

Antiguidade

Dimenso da empresa

Habilitaes

Profisso

Qualificaes

Fonte: Quadros de Pessoal, MTSS/GEP 2009 .


IMPACTO DAS PRESTAES SOCIAIS E DOS IMPOSTOS SOBRE A DISTRIBUIO DO RENDIMENTO E A DESIGUALDADE.


Impacto das prestaes sociais e dos impostos.

Apesar das limitaes decorrentes da informao estatstica disponvel foi possvel identificar os principais impactos dos benefcios sociais e dos impostos .

A aco conjunta do IRS e das contribuies para a Segurana Social corresponde a uma diminuio mdia de cerca de 20% dos recursos ilquidos auferidos pelas famlias.

A progressividade do sistema fiscal ao longo da distribuio do rendimento evidenciada com um rcio de rendimento lquido/rendimento bruto a variar entre os 2,5% no primeiro decil e 27,9% no 10 decil.


A percentagem de agregados domsticos que, em 2009, paga IRS de cerca de 75,6%, sendo que esta taxa desce para 17% no primeiro decil da populao e de 100% nos dois ltimos decis.

O impacto da poltica fiscal sobre a desigualdade significativo: O ndice de Gini regista uma reduo de cerca de 11% quando passamos da distribuio do rendimento bruto ao rendimento lquido.



As transferncias sociais possibilitam uma reduo da incidncia da pobreza em 6,4 pontos percentuais.

Este indicador da eficcia das polticas sociais na reduo da pobreza tem registado um progressivo aumento passando de 19% em 1993 para os 26% em 2009.

A eficcia das polticas sociais no combate excluso e pobreza surge indissocivel das melhorias ocorridas nos principais indicadores de pobreza ocorridos nos ltimos anos em Portugal.

As polticas sociais assentes em condio de recursos desempenham, nesse contexto, um papel importante.



As transferncias sociais possibilitam uma reduo da incidncia da pobreza em 8,5 pontos percentuais.

Este indicador da eficcia das polticas sociais na reduo da pobreza tem registado um progressivo aumento passando de 19% em 1993 para os 32% em 2009.

A eficcia das polticas sociais no combate excluso e pobreza surge indissocivel das melhorias ocorridas nos principais indicadores de pobreza ocorridos nos ltimos anos em Portugal.

As polticas sociais assentes em condio de recursos desempenham, nesse contexto, um papel importante.



Desigualdade Econmica em Portugal

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