desequilíbrio hidro-eletrolitico e ácido básico · desordens do na e da água (hipernatremia e...
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Desequilíbrio hidro-
eletrolítico e ácido básico
Fluidoterapia em animais domésticos
Clínica das doenças carencias,
endócrinas e metabólicas
Aulus Carciofi
Composição e distribuição dos fluidos
Unidades Gerais
Mole (mol) = peso molecular, em gramas
mmol = mol x 10-3
Em soluções biológicas expressa-se mmol/L (baixa quantidade de solutos)
Os íons em solução combinam-se em função das
valências e não por seu peso, ou seja, numa solução o
número de cátions é igual ao de aníons, mantendo-se
sempre a eletroneutralidade.
Equivalente ou miliequivalente
1 Ca+2 + 2 Cl-1 = CaCl2
peso atômico
40,1 35,5
eletroneutralidade
1Eq = peso atômico / valência
1mEq = Eq x 10-3
1 mmol Cl = 1 mEq Cl
1 mmol Ca = 2 mEq Ca
111,1
Osmolalidade
1 mol = 6.023 x 1023 partículas = peso molecular
o efeito osmótico de solutos depende
exclusivamente do número de partículas e não da
fórmula química, peso atômico ou valência
1 osmole (osm) é definido como 1g de peso
molecular de uma substância indissolúvel
Osmolalidade
Ex: NaCl = Na+ + Cl-
então, 1 mmol de NaCl = 2 mOsm
1 mOsm Na + 1 mOsm Cl
Osmolaridade 1 mOsm em 1 kg de solvente
x
Osmolalidade 1 mOsm em 1 litro de solução
na prática é a mesma coisa!
Tonicidade
Tonicidade é a osmolalidade efetiva
Alterações na concentração (osmilalidade) de solutos
permeáveis não alteram a tonicidade. Estes se equilibram entre
o fluido intracelular e o fluido extracelular pois passam livremente
pela membrana da célula.
Alterações na concentração (osmilalidade) de solutos
impermeáveis (glicose e sódio) alteram a tonicidade. Como
estes não passam pela membrana celular, o equilíbrio osmótico é
alcançado com o movimento de água do fluido intracelular para
o fluido extracelular (ou vice versa).
Tonicidade
Hipotônico – menor concentração de solutos impermeáveis
Hipertônico – maior concentração de solutos impermeáveis
Denominada de “osmolalidade efetiva”
glicose
+
águaágua
uréia
+
águaágua
pressão
osmóticauréia
Água e sua compartimentalização orgânica
O organismo adulto não obeso apresenta 60% de água
Varia com:
Idade – diminui do neonato (>) para o idoso (<)
Composição corporal
gordura tem baixa hidratação
magros têm mais água
obesos têm menos água corporal
Compartimentalização da água orgânica
fluido intracelular (33% da massa corporal magra)
fluido extracelular (27% da massa corporal magra)
fluido transcelular (está em equilíbrio com o FEC, contido em
compartimentos específicos, produzido por células
especializadas)
- fluido cerebroespinhal
gastrointestinal
linfa, líquido sinovial, bile
secreções glandulares respiratórias
humor vítreo e aquoso.
60%
Distribuição dos solutos orgânicos
endotélio vascular membrana celular
células
proteínas
solutos
iônicos
eletroneutralidade eletroneutralidade
permeabilidade
iônica seletiva
A água tem que cruzar duas barreiras
VP
5%
fluido
intersticial
8%
fluido
intracelular
33%
tecido conjuntivodenso e ossos – 9%
d – 3%
transcelular – 2%
a
c
b
e
a+b+c+d = 18% PC = equílíbrio rápido
a+b+c+d+e = 27% PC = fluido extracelular total
a (volume plasmático) +b = equilíbrio em 1 minuto de fluidoterapia
e = 2 a 4 horas para equilíbrio
membrana celular = etapa limite, tem que ser respeitada na fluido.
Composição iônica aproximada dos compartimentos hídricos orgânicos (Homem, mEq/L)
Cátions Plasma Fluido Interst. Fluido Intracelular
Na+ 142 145,1 12
K+ 4,3 4,4 140
Ca2+ 2,5 2,4 4
Mg2+ 1,1 1,1 34
Total 149,9 153 190
aníons
Cl- 104 117,4 4
HCO3 24 27,1 12
HPO4, H2PO4 2 2,3 40
Proteínas 14 0 50
Outros 5,9 6,2 84
Total 149,9 153 190
-2- -
-
sem
elh
ante
s
Composição iônica dos compartimentos hídricos
Fluido extracelular Fluido intracelular
Na (70% Na orgânico)
Livre passagem para FIC
(bomba Na-K-ATP mantém
relação)
Cl e bicarbonato
K - pequena [ ] mais
importante
hipocalemia – fraq. muscul.
hipercalemia - cardiotoxicidade
K e Mg
estoque orgnico Mg
k livre passagem
(bomba Na-K-ATP)
relação intra com extra-
celular mantém potencial
de membrana (-70 mV).
Concentração de eletrólitos no plasma de alguns animais
Substância Cães Gatos Equino Cabra
Na+ (mEq/L) 140-155 147-156 132-146 142-155
K+ (mEq/L) 3,7-5,8 4,0-5,3 2,6-5 3,5-6,7
Cl- (mEq/L) 105-120 115-123 99-109 99-110
Ca (mg/dL) 9-11,3 6,2-10,2 11,2-13,6 8,9-11,7
Mg (mg/dL) 1,8-2,4 2,2 2,2-2,8 2,8-3,6
P (mg/dL) 2,6-6,2 4,5-8,1 3,1-5,6 6,5
Anion gap (mEq/L) 14-24 14-24 6,6-14,7
pH 7,31-7,42 7,24-7,40 7,32-7,44
pCO2 (mm Hg) 29-42 29-42 38-46
HCO3 (mEq/L) 17-24 17-24 24-30
Osmolalidade (mOsm/) 280-305 280-305 270-300
Troca de água entre o intra e o extracelular
O volume hídrico dos espaços intra e extracelular é determinado
pelo número de partículas osmoticamente ativas em cada um deles
Na, K, glicose e uréia são os maiores contribuintes à osmolalidade
do FEC. A quantidade total de Na determina, em boa parte,
o volume de água do organismo.
2 x [Na] = boa estimativa da osmolalidade efetiva do FEC
= 300 mOsm/kg
(cães 290 a 310 e gatos 290 a 330 mOsm/kg)
Fluido com 300 mOsm é isotônico. Com osmolalidade efetiva
maior do que 300 é hipertônico e menor de 300 hipotônico.
Troca de água entre o intra e o extracelular
O ganho ou a perda de fluidos ou solutos resulta em alterações
nos volumes hídricos e na tonicidade dos compartimentos.
Estas alterações promovem trocas hídricas entre os
compartimentos (intra e extracelular) de modo que estes
readquirem a isotonicidade.
Troca de água entre o intra e o extracelular
Perda FEC Reposição (teórica)
hipotônica hipertônico hipotônico
FEC hipertônico a água sai do FIC para o FEC de forma a se
atingir isotonicidade, o que aumenta o volume circulante e
previne o shock hipovolêmico
a)
b) hipertônica hipotônica iso/hipertônico
FEC hipotônico a água sai do FEC para o FIC de forma a se
atingir isotonicidade, o que diminui ainda mais o volume
circulante efetivo, agravando o quadro circulatório (shock)
Troca hídrica entre o plasma e o espaço intersticial
Fundamental à manutenção do volume efetivo circulante
parte do volume sanguínio que responde
ao sistema regulatório renal (retenção ou
eliminação de Na e água)
As trocas entre os espaços plamático e intersticial se dão nos
capilares.
Pressão hidrostática
Pressão oncótica
Pressão oncótica
Pressão hidrostática
plasma espaço intersticial
(favorecem filtração)
(favorecem retenção)
Troca hídrica entre o plasma e o espaço intersticial
Exicose (“desidratação”)
Diminui pressão hidrostática = menor filtração
Manutenção da pressão oncótica = maior reabsorção
fluido sai do interstício para leito vascular
Perda protéica
Diminui pressão oncótica
Aumenta pressão filtração
Perda de fluido, edema inters-
ticial. Menos fluido leva aumento
pressão oncótica e reequilíbrio
A manutenção do volume plasmático depende de um delicado
equilíbrio entre as forças que favorecem a filtração e as que
favorecem a reabsorção nos capilares.
Balanço hídrico
bebida água do alimento água metabólica
Saliva
Água fecal
Evaporação
(suor)
Evaporação
(respiração)Perda renal de água livre
Perda renal obrigatória
FIC
FEC
Balanço hídrico
Necessidade hídrica de manutenção é definida como a
necessidade diária para manter o animal em equílíbrio
perdas sensíveis (urina, fezes e saliva)
perdas insensíveis (evaporação cutânea e respiratória)
influenciada pela temperatura e humidade ambiental
maior durante atividade física
alterada por doenças
composição da dieta
nitrogênio - PB = uréia = vol urinário
minerais - MM = solutos = vol urinário
Necessidade de águaCorresponde à rotatividade da água
(a entrada deve ser igual à saída)
Cão ou gato pequeno = 60 mL/kg/dia
Cão de grande porte = 40 mL/kg/dia
Filhotes = 100 mL/kg/dia Ou
1mL por kcal de energia metabolizável
Cães: 132 ml por kg peso corporal0,75
Cão 1 kg = 132 mL
Cão 10 kg = 662 mL ou 66 mL/kg
Cão 50 kg = 2.041 mL ou 41 mL/kg
Cão 100 kg = 3.316 mL ou 33 mL/kg
Gato: 80 ml por kg peso 0,75
Gato 1 kg = 80 mL
Gato 2,5 kg = 159 mL (64 mL/kg)
Gato 4 kg = 226 mL (57 mL/kg)
Gato 6 kg = 306 mL (51 mL/kg)
Desordens do Na e da água
(Hipernatremia e hiponatremia)
O volume e a tonicidade dos fluidos corporais são mantidos
em uma estreita faixa de normalidade por meio da regulação
do Na e da água.
Na - determina o volume do FEC
Água - determina a osmolalidade e a [Na]
papel crucial do rim
Exicose (desidratação)
Perda de fluidos maior que a entrada. É classificada de
acordo com o tipo de fluido perdido e a tonicidade dos fluidos
orgânicos restantes.
Perda de água ou fluido hipotônico - desidratação hipertônica
Perda de fluido isotônico - desidratação isotônica
Perda de fluido hipertonico - desidratação hipotônica
Hipernatremia
Hiperosmolalidade com hipertonicidade e graus variados
de volemia.
Hipervolemia – ganho do soluto impermeável
Intoxicação por sal, hiperaldosteronismo, fuido hipertônico
Normovolemia - deficite de água
Hipodipsia, diabetes insipidus, febre, privação hidrica, calor
Hipovolemia – perda soluto hipotônico
Renal – diurese osmótica, insuficiência renal crônica, insuficiência
renal agula não oligúrica
Extra-renal – diarreia, vôimito, obstrução intestinal, queimaduras,
peritonite, pancreatite
Hipernatremia
Déficit de água
• FEC fica hipertônico (hiperosmolar)
• Migração de água do FIC para o FEC. Como resultado há
compartilhamento da perda hidrica entre os
compartimentos com pouca diminuição da volemia.
• 2/3 água perdida do FIC e 1/3 do FEC
• Ingestão de água repõem volemia.
Hipernatremia
Perda soluto hipotônico
A perda de fluido hipotônico leva a perda de solutos
osmóticos. Com isto o estímulo para a migração de água do
FIC é menor, menos água sai para o FEC e tem-se
hipovolemia
(perda do turgor cutâneo, pulso fraco, taquicardia, aumento do
tempo de preenchimento capilar).
Hipernatremia
Mais comum na clínica
Extra-renal: via gastroentérica (vômito, diarréia)
Renal: diabetes mellitus, furosemida, corticosteróides,
hiperadrenocorticismo, doença renal crônica, doença
renal aguda não oligúrica
Perda soluto hipotônico
Hiponatremia
Hiposmolalidade com hipotonicidade e graus variados
de volemia.
Hipovolemia
Renal - diuréticos, hipoadrenocorticismo, nefropatia com perda de NaCl
Não renal – vômito, diarréia, pancreatite, peritonite, queimaduras
Normovolemiapolidipsia psicogênica, drogas antidiuréticas, fluidos hipotônicos
Hipervolemiadoença hepática severa, insuficiência cardíaca congestiva
síndrome nefrótica
Hiponatremia com hipovolemia
Ocorre quanto a perda de Na excede a perda de água!!
Causas
não renais: vômito, diarréia, peritonite,
pancreatite, queimaduras
renais : hipoadrenocorticismo, diuréticos saluréticos,
nefropatias
A hiposmolalidade do FEC faz com que água entre na célula
para equilíbrio osmótico. Existe uma expanção do FIC.
Hiponatremia com hipovolemia
Os fluidos gastrointestinais são hipotônicos, como o animal
desenvolve hiponatremia??
a) perda de volume => diminui a taxa de filtração glomerular
=> aumento da reabsorção de água e Na no tubulo contornado
proximal => menor chegada de soluto no túbulo distal =>
interfere com a exceção de água
b) liberação de ADH (hipovolemia) => maior retenção de água
c) sede => ingestão de água (hipotônico)
Manter volume é mais importante que manter osmolalidade
Hiponatremia com hipervolemia
Ocorre quando a retenção de água excede a retenção de Na!
Hiponatremia a despeito de aumento do Na orgânico total
pois ocorre grande expansão do FEC (edema, ascite).
Cardiomiopatia congestiva
Doença hepática severa
Síndrome nefrótica
Diminuição do volume efetivo
Circulante (volume sanguíneo
arterial).
a) ativação do sistema renina-angiotensina => menor perfusão renal
=> retenção Na
a.1) menor perfusão renal => menor taxa filtração glomerular =>
aumento da reabsorção de água e Na no túbulo contornado
proximal => menor chegada de soluto no túbulo distal =>
interfere com a exceção de água
Hiponatremia com hipervolemia
b) redução do volume sanguíneo arterial efetivo => liberação de ADH
=> retenção de água
c) cirrose / síndrome nefrótica => levam a hipoalbuminemia => menor
pressão oncótica e menor volume intravascular => ADH
a + a.1 + b = grande aumento do FEC, apesar da maior quanti-
dade de Na orgânico, existe diluição do FEC e hiponatremia.
Hiper e hiponatremia
Sinais clínicossão primariamente neurológicos, consequentes a movimento
de água para FORA ou para DENTRO do cérebro
Hipernatremia: saída de água e desidratação celular
Hiponatremia: entrada de água e edema
Hiper e hiponatremia
Sintomas: anorexia, letargia, vômito, desorientação, convulsões
coma e morte
Mais relacionados à velocidade de instalação do processo
crônico – cérebro se adapta
hiponatremia – diminui a concentração de solutos
citoplasmáticos (menor entrada água)
hipernatremia – aumenta a concertração de solutos
citoplasmáticos (retenção da água)
Reversão do quadro (terapia) deve ser lenta! (48 horas)
Potássio
98% do postássio está no intracelular, mantido por troca com o
Na pela bomba Na:K ATP
Alterações na potassemia com reflexo sobre a relação do K
intra com o extracelular interferem no potencial elétrico da
membrana celular.
Hipocalemia => aumento do potencial de membrana
=> fraqueza e paralisia
Hipercalemia => diminuição do potencial de membrana
=> hiperexitabilidade
Potássio
Balanço do K celular é influenciado por:
a) equilíbrio ácido-básico
b) administração de glicose e insulina
c) exercício físico
Déficit de K(saída é maior do que a entrada)
dieta pobre (incomum)
alteração súbita de dieta rica em K para pobre em K. Uma
elevada ingestão leva à grande absorção intestinal. O
equilíbrio é mantido por elevada excreção urinária.
Quando a ingestão diminui o rim demora a adaptar-se e
aumentar a reabsorção, podendo ocorrer hipocalemia.
anorexia e hospitalização, associada a doenças que
aumentam a perda de K
vômitos e diarréia
perda renal excessiva (diurese que se segue à obstrução
urinária)
Déficit de K
Consequências
Diminuição do volume do FIC (menor osmolalidade citoplasma)
Alterção do potencial de membrana das células
Acidose intracelular
Alteração das reações enzimáticas dependentes de K
Sintomas
fraqueza muscular
arritimias cardíacas
rabdomiólise
disfunção renal
K séricoNem sempre reflete o status orgânico. O equilíbrio e
concentração depende de:
ingestão x saída (balanço)
migração entre FEC FIC (redistribuição)
Alterações da volemia acompanhadas de desequilíbrio ácido-básico podem
resultar em alterações contraditórias (consfusas) da calemia. Ex: bezerro com
diarréia aguda apresenta grande perda de K (diarréia + anorexia). No entanto, o
K sérico normalmente está normal ou aumentado, como resultado da acidose
metabólica (desidratação + perda de Na e bicarbonato), que faz com que o K
saia do FIC para o FEC (trocado com o H) e da retração de volume – existe
aumento da calemia mesmo sob déficite orgânico de K. Desta forma a
fluidoterapia neste caso deve incluir potássio.
Hipocalemia
Causas
Frequente na clínica
Por perda de K
vômito, diarréia, mineralocorticóides, diuréticos, diurese
pós-obstrutiva, nefropatia hipocalêmica dos gatos
Por migração do FEC para o FIC
alcalose, infusão de glicose e insulina, catecolaminas
Excesso de K
Infrequente.
Normalmente conseqüente à alteração na excreção renal de K
Deve-se ter cautela ao se infundir K em pacientes com
comprometimento da função renal.
Hipercalemia
Causas
Falsa = secundária a hemólise
Por retençao de K
hipoadrenocorticismo, doença renal, obstrução uretral
uroabdômen, hipovolemia com falha renal
Por migração do FIC para o FEC
acidose metabólica, diabetes mellitus, necrose tecidual
exercício estenuante
Cloro
Normalmente, aterações na hidratação produzem alterações
proporcionais no Na e Cl plasmáticos. Alterações
desproporcionais nestes ions levam ao desequilíbrio ácido-
básico.
hipercloremia => acidose metabólica
=> consequente a maior perda de
bicarbonato do que de Cl. Associada a
maior reabsorção renal de Cl como
resposta à diminuição do bicarbonato
plasmático.
hipocloremia => alcalose metabólica
=> consequente a perda excessiva (vômito)
ou sequestro de fluidos ricos em Cl
(torção abomaso)