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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO UMESP FACULDADE DE HUMANIDADE E DIREITO PROGRAMADE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO EMANUEL RUBENS DE CARVALHO DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO INTEGRAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRESENÇA DA TEOLOGIA E PRÁXIS DA MISSÃO INTEGRAL NO SOLO PAULISTANO - Estudo da PIBSP. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2015

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO – UMESP

FACULDADE DE HUMANIDADE E DIREITO PROGRAMADE

PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO

EMANUEL RUBENS DE CARVALHO

DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO

INTEGRAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRESENÇA

DA TEOLOGIA E PRÁXIS DA MISSÃO INTEGRAL NO

SOLO PAULISTANO - Estudo da PIBSP.

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2015

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EMANUEL RUBENS DE CARVALHO

DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO

INTEGRAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRESENÇA

DA TEOLOGIA E PRÁXIS DA MISSÃO INTEGRAL NO

SOLO PAULISTANO - Estudo da PIBSP.

Dissertação apresentada à Universidade

Metodista de São Paulo, como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre

em Ciências da Religião, sob a

orientação do Prof. Dr. Nicanor Lopes

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2015

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FICHA CATALOGRÁFICA

C253d

Carvalho, Emanuel Rubens de

Desenvolvimento e justiça na missão integral: uma análise crítica da presença

da teologia e práxis da missão integral no solo paulistano-Estudo da PIBSP./

São Bernardo do Campo, 2015.

235fl.

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) –Faculdade de Humanidades

e Direito, Programa de Pós Ciências da Religião da Universidade Metodista

de São Paulo, São Bernardo do Campo.

Bibliografia

Orientação de: Nicanor Lopes

1.Igreja e problemas sociais2.Missão integral3. Justiça social – Aspectos

religiosos4. Igreja Batista - Missões I. Título

CDD 261.8

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A dissertação de mestrado sob o título “DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA

MISSÃO INTEGRAL: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA PRESENÇA DA TEOLOGIA

E PRÁXIS DA MISSÃO INTEGRAL NO SOLO PAULISTANO – Estudo da PIBSP.”,

elaborada por Emanuel Rubens de Carvalho foi apresentada e aprovada em 17 de

setembro de 2015, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Nicanor Lopes

(Presidente/UMESP), Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera (Totular/UMESP) e Prof.

Dr. Lourenço Stélio Rega (Titular/ FTBSP).

___________________________________________________________

Professor Dr. Nicanor Lopes

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

___________________________________________________________

Professor Dr. Helmut Rendres

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião

Área de Concentração: Religião Sociedade e Cultura

Linha de Pesquisa: Religião e Dinâmicas Sócio culturais

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Ao Deus, Senhor e sustentador da minha vida.

À minha amada esposa Jéssica Evelyn Papi Silva, motivadora e

fiel companheira.

À Igreja de Cristo.

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“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; bem-

aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; bem-aventurados

os limpos de coração, porque eles verão a Deus; bem-aventurados os pacificadores,

porque eles serão chamados filhos de Deus; bem-aventurados os que sofrem

perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.”

Mateus 5. 6.-10

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por não ter desistido de mim, por me sustentar e capacitar, não

só na realização deste trabalho, mas em toda a minha vida. Até aqui me ajudou o

Senhor.

À minha esposa, Jéssica Evelyn Papi Silva, por todo amor, compreensão, apoio e

incentivo.

Aos meus pais e irmãos, José Rubens de Carvalho, Maria Aparecida de Carvalho

(pais), Juliana Rúbia de Carvalho e Mateus Alexandre de Carvalho (irmãos), por todo

amor e cuidado que sempre tiveram comigo.

À Igreja Batista do Ipiranga, na pessoa de seu pastor titular Nelson Pacheco, e

todos os seus membros, por toda compreensão e incentivo durante todo o curso.

À Primeira Igreja Batista de São Paulo, na pessoa de seu pastor titular Paulo

Eduardo G. Vieira, e a todos os seus membros, por abrirem as portas da igreja para mim

e por me receberem de uma forma extremamente fraterna e calorosa.

Ao Prof. Nicanor Lopes por sua dedicação e excelência no processo de

orientação.

Ao Prof. Lourenço Stélio Rega, por aceitar meu convite.

Ao pastor Irland P. Azevedo, pela amizade e pelas inúmeras horas de conversa.

Agradeço-o por ser um referencial para mim, de amor e labor ao Senhor, à família, ao

ministério e aos estudos.

Ao meu sogro, Enéas Papi, e à minha sogra Márcia Papi, por todo apoio e

compreensão.

A todos que oraram por mim, e com palavras de motivação, abraços e gestos de

cuidado, foram instrumentos de Deus para abençoar minha vida durante todo esse curso.

A todos vocês minha eterna gratidão e reconhecimento. Obrigado!

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CARVALHO, Emanuel Rubens. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO INTEGRAL: uma análise crítica da presença da teologia e práxis da Missão Integral no solo paulistano - Estudo da PIBSP. 233p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião – Religião, Sociedade e Cultura) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2015

RESUMO

No presente estudo sobre o tema: “Desenvolvimento e Justiça na Missão Integral: Uma

análise crítica da presença da Teologia e Práxis da Missão Integral no Solo Paulistano”

procura-se analisar a presença do conceito de desenvolvimento e justiça da Missão

Integral no solo paulistano. Para tal análise tomou-se como sujeito de pesquisa a

Primeira Igreja Batista de São Paulo. Esta dissertação foi desenvolvida no Programa de

Pós- Graduação em Ciências da Religião, e pertence à linha de pesquisa “Religião,

Sociedade e Cultura”. A metodologia adotada na coleta de dados foi de uma revisão

bibliográfica e pesquisa de campo por meio de um roteiro de entrevista. Os

questionamentos que nortearam a pesquisa foram: O que é desenvolvimento e Justiça na

Missão Integral? É possível notar a presença desses conceitos na práxis e na teologia da

Primeira Igreja Batista de São Paulo? Após uma análise da Missão Integral e da Igreja

pesquisada, foi possível verificar as aproximações e distanciamentos, assim como

hipóteses que justificassem esses fatos. No primeiro capítulo foi apresentada a Missão

Integral, sua história, teologia e método. No segundo capítulo os conceitos de

desenvolvimento e justiça foram trabalhados. O último capítulo apresentou a Primeira

Igreja Batista de São Paulo; buscou estabelecer diálogo entre o conceito de

Desenvolvimento e Justiça da Missão Integral e a teologia e práxis da Primeira Igreja

Batista de São Paulo.

Palavras-chave: Desenvolvimento, Justiça, Missão Integral, Contexto, PIBSP.

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CARVALHO. Emanuel Rubens. Development and Justice in Integral Mission: A critical analysis of the presence of Theology and Praxis of Integral Mission on Paulistano Soil- Study about PIBSP. 233p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião – Religião, Sociedade e Cultura) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2015

ABSTRACT

In the present study on the theme: "Development and Justice in Integral Mission: A

critical analysis of the presence of Theology and Praxis of Integral Mission on

PaulistanoSoil". I tried to analyze the presence of the concept of development and

justice of Integral Mission on São Paulo soil, and for such analysis was taken as a

research subject the First Baptist Church of São Paulo. This work was developed in the

Post-Graduation Program in Religious Studies, and belongs to the line of research

"Religion, Society and Culture".

The methodology used in data collection was a bibliography review and field research

through interviews. The questions that guided the research were: What is development

and justice in Integral Mission? Is it posible to notice the presence of these concepts in

the practice and theology of the First Baptist Church of São Paulo?After an analysis of

Integral Mission and the researched church, we found the similarities and differences, as

well as assumptions that justify these facts. In the first chapter it was presented the

Integral Mission, History, Theology, and Method. In the second chapter the concepts of

development and justice were developed. The last chapter presented the First Baptist

Church of Paulo, and sought to establish a dialogue between the concept of

Development and Justice of Integral Mission and theology and praxis of First Baptist

Church of São Paulo.

Key words: Development, Justice, Integral Mission, context. PIBSP

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Sumário

Lista de Mapas ................................................................................................................ 12

Lista de Desenhos ........................................................................................................... 12

Listas de Tabelas ............................................................................................................ 12

Lista de Gráficos ............................................................................................................. 12

Lista de Quadros ............................................................................................................. 12

Abreviações .................................................................................................................... 14

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 15

1. MISSÃO INTEGRAL ................................................................................................ 19

1.1. Sua trajetória histórica via suas vertentes formadoras ..................................... 19

1.1.1. As vertentes formadoras do protestantismo Norte-Americano ................ 19

1.1.2. A cisão do protestantismo norte-americano ............................................. 24

1.1.3. O movimento evangélico .......................................................................... 28

1.1.4. Evangélicos e evangelicais no Brasil ....................................................... 29

1.2. Sua trajetória histórica via Congressos ............................................................ 33

1.2.1. A origem dos CLADEse da Fraternidade Teológica Latino-Americana, e o

CLADE I ................................................................................................................. 33

1.2.2. Segundo Congresso de Evangelização Mundial, em Lausanne .................... 34

1.2.3. CLADE II ...................................................................................................... 37

1.2.4. CLADE III..................................................................................................... 48

1.2.5. CLADE IV .................................................................................................... 51

1.2.6. CLADE V ...................................................................................................... 52

1.2.7. CLADEs: Continuidades e Novidades .......................................................... 55

1.3. Seu Método: O Círculo hermenêutico ................................................................. 59

1.4.Sua Máxima: As três totalidades .......................................................................... 62

2. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO INTEGRAL ......................... 65

2.1. Desenvolvimento e Justiça ................................................................................... 65

2.1.1. A Justiça ........................................................................................................ 66

2.1.2. O Desenvolvimento ....................................................................................... 72

2.1.3. De quem é a responsabilidade de promover a justiça e o desenvolvimento?

E como promovê-los?.............................................................................................. 77

2.2. Evangelização e Discipulado &Desenvolvimento e Justiça ............................ 82

2.2.1. Evangelização & Desenvolvimento e Justiça................................................ 83

2.2.2. Discipulado & Desenvolvimento e Justiça ................................................... 94

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2.3. Colaboração e Unidade & Desenvolvimento e Justiça. ................................... 99

3. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NOS SOLOS PAULISTANOS: ENTRE

CLAMORES E RESPOSTAS ...................................................................................... 105

3.1. O Contexto que clama por desenvolvimento e Justiça ...................................... 106

3.2. A Primeira Igreja Batista de São Paulo ............................................................. 114

3.2.1 O Passado ..................................................................................................... 115

3.2.2 O Presente da PIBSP .................................................................................... 117

3.3.A origem da Missão na PIBSP ........................................................................... 142

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 151

ANEXOS ...................................................................................................................... 160

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 231

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Lista de Mapas

MAPA 1 – MAPA HISTÓRICO VIA VERTENTES FORMADORAS DA

M.I. ........................................................................................................ 32

MAPA 2- MAPA HISTÓRICO DA MISSÃO INTEGRAL VIA

CONGRESSOS ..................................................................................... 58

Lista de Desenhos

DESENHO 1 - CÍRCULO HERMENÊUTICO ............................................................. 61

DESENHO 2- ESTRUTURA DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO DA M.I. 77

Listas de Tabelas

TABELA 1- TABELA DE DADOS DEMOGRÁFICOS DOS DISTRITOS

PERTENCENTES À SUBPREFEITURA DO CENTRO (SÉ) ............................ 107

TABELA 2- QUANTIDADE E PORCENTAGEM DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE

RUA POR DISTRITO DA ÁREA CENTRAL ................................................... 112

Lista de Gráficos

GRÁFICO 1 - PERCENTUAL DE INDIVÍDUOS EM SITUAÇÃO DE RUA NA

CIDADE DE SÃO PAULO EM 2011 POR REGIÃO ........................................ 112

GRÁFICO 2- O QUE É MISSÃO DA IGREJA PARA OS MEMBROS DA PIBSP? 120

GRÁFICO 3- O QUE É AÇÃO MISSIONÁRIA PARA OS MEMBROS DA PIBSP?

............................................................................................................................... 121

GRÁFICO 4- AS 4 AÇÕES MISSIONÁRIAS DA PIBSP MAIS CITADAS PELOS

ENTREVISTADOS .............................................................................................. 127

GRÁFICO 5- AÇÕES MISSIONÁRIAS COM NÚMERO DE PARTICIPAÇÃO DOS

ENTREVISTADOS .............................................................................................. 139

GRÁFICO 6- PARTICIPANTES QUE CONHECEM A M.I. .................................... 143

Lista de Quadros

QUADRO 1- TEMPO DE MEMBRESIA DOS ENTREVISTADOS ....................... 118

QUADRO 2- AÇÕES DA PIBSP FRENTE AO CONCEITO DE LESSA ................ 125

QUADRO 3- PROBLEMAS SOCIAIS DA REGIÃO CENTRAL VISTOS PELOS

PARTICIPANTES ................................................................................................ 130

QUADRO 4- ANÁLISE DOS AVISOS PUBLICADOS NOS BOLETINS ............... 135

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QUADRO 5- RESPOSTAS SOBRE QUAIS AS AÇÕES MISSIONÁRIAS DE QUE

PARTICIPARAM ................................................................................................. 137

QUADRO 6- CONHECIMENTO DOS PARTICIPANTES DA M.I. POR ANOS DE

IDADE .................................................................................................................. 143

QUADRO 7- COMPARAÇÃO ENTRE A METODOLOGIA DA M.I. E A DA TDL

............................................................................................................................... 149

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Abreviações

PIBSP Primeira Igreja Batista de São Paulo

M.E. Movimento Evangélico

M.I. Missão Integral

TdL Teologia da Libertação

CLADE Congresso Latino-Americano de Evangelização

COMIN

PL

Conselho Missionário Internacional

Pacto de Lausanne

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INTRODUÇÃO

Em uma das maiores cidades do mundo, possuidora do maior mercado

financeiro do Brasil, encontram-se também os maiores contrastes e problemas sociais

do país. Estes fatos dão à Cidade de São Paulo o título de “a cidade que não dorme”,

quando os assuntos são trabalho, lazer e consumo. E de “a cidade que ainda desperta”

em se tratando de justiça aos injustiçados, e de desenvolvimento dos oprimidos.

Frente a esse contexto, pergunta-se se a Igreja teria alguma contribuição para

transformar essa realidade, se frente a essa convulsão social a sua melhor postura seria

ouvir os clamores desse contexto, ou continuar abafando com cânticos ensurdecedores

os gritos por justiça vindos das ruas. Não seria chegada a hora de abrir o leque de visão

da Igreja, para que os olhos que, antes fitados no céu, apenas contemplavam o eterno e

glorioso “porvir”, passem também a olhar para a terra e enxergar o não tão glorioso

“aqui e agora”? Enfim, pergunta-se se a igreja teria a Missão de trabalhar por

sociedades mais justas e desenvolvidas.

A Missão Integral (leia-se M.I.) nasce dessa efervescência de perguntas vindas

do contexto latino-americano; de um incômodo com as teologias importadas, norte-

americanas, européias, que não respondiam às perguntas e dores de seu povo. A M.I.

emerge desse diálogo, que fora silenciado nos solos latino-americanos durante muito

tempo, entre texto (Bíblia) e contexto (realidade sociocultural).

Referenciais como René Padilla, Samuel Scobar, Juan Stam, Valdir R.

Stuernagel, entre outros membros que compõem a formação do quadro teórico da M.I.,

se lançam a refletir sobre a missão da igreja latino-americana frente ao seu contexto,

dando origem assim à M.I.

Padilla (1994) conclui que a M.I. da igreja é composta por três enfoques, a saber:

Evangelização e discipulado; Colaboração e unidade; e Desenvolvimento e Justiça.

Frente a esse conceito, que é basilar dentro da M.I., o enfoque que possui maior

escassez de material produzido é o terceiro (desenvolvimento e Justiça). E a partir daí

questiona-se: uma vez que desenvolvimento e justiça são parte da missão da igreja, de

qual justiça e de qual desenvolvimento a M.I. está falando? Será que é aquela justiça

que seleciona por cor, sexo e classe social suas vítimas, ou uma que se baseia em

princípios que enxergam a todos como possuidores da imago Dei? Quando se fala de

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desenvolvimento, a qual se refere? Àquele desenvolvimento capitalista, consumista,

egocêntrico que se resume a bens financeiros? Ou fala-se de uma valorização daquilo

que é vital ao ser humano e à sua existência como um ser social? O que é

desenvolvimento e Justiça na M.I? E qual é a sua relação com os outros aspectos que

compõem a missão da igreja?

Visando responder a esses questionamentos, o presente trabalho se dedicará em

seu primeiro capítulo a traçar a trajetória histórica da M.I., via suas vertentes

formadoras e congressos. Feito isso será esboçada a metodologia do fazer teológico da

M.I., e posteriormente uma análise de sua máxima, que se origina desta forma de

aprender a missão. Esse trajeto será percorrido para a compreensão da matriz histórica,

metodológica e conceitual da M.I., de onde emerge o conceito de desenvolvimento e

justiça.

O segundo capítulo se prestará de maneira específica a responder às perguntas:

O que é justiça? O que é desenvolvimento? Qual é a relação de ambos com os demais

aspectos da teologia da M.I.? Dentro desse capítulo não serão apresentados e

desenvolvidos apenas esses conceitos, mas também caminhos que respondem ao “como

cumprir essa missão”.

Para a elaboração desses dois primeiros capítulos foi adotada a metodologia de

pesquisa bibliográfica. Entre as principais obras utilizadas para essa parte do trabalho

destacam-se como essenciais: “Pacto de Lausanne” (STOTT, 2003); “Missão Integral:

Ensaios sobre o Reino” (Padilla, 1992), “Missão Integral: em busca de uma identidade

evangélica” (GONDIM, 2010); “Teologia da Missão Integral: História da Teologia

evangélica Latino-Americana” (SANCHES, 2009); ‘O novo rosto da Missão: Os

movimentos ecumênicos evangelicais no protestantismolatino-americano

“(LONGUINI, 2002) “Jardim da Cooperação: Evangelho, redes sociais e Economia

Solidária” (BRITO, 2008) “Missão como Com-paixão” (ZWETSCH, 2008); “Missão

Transformadora: Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão” (BOSCH, 2009);

entre outros.

A Missão Integral tem como seu marco inicial o Segundo Congresso de

Evangelização Mundial, ocorrido na cidade de Lausanne, em 1974. A partir desse

congresso, muitos livros, artigos e encontros foram organizados tratando o tema da M.I.

Passados seus 40 anos de existência pergunta-se o que desta teologia chegou ao solo

paulistano nas igrejas batistas. Ao olhar para o contexto paulistano é possível ver ações

de desenvolvimento e justiça promovidas pela Igreja?

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Por se tratar de um universo muito amplo, o presente trabalho tomará como

sujeito de sua pesquisa a Primeira Igreja Batista de São Paulo (leia-se PIBSP) e o

contexto no qual ela está inserida; a saber, o bairro de Campos Elíseos, localizado na

região central de São Paulo.

Esse campo de pesquisa foi escolhido devido à sua localização histórica e

sociogeográfica. Sendo a PIBSP uma instituição de cento e dezesseis anos, temos a

possibilidade de analisar uma igreja que já existia antes da realização dos congressos

que se configuraram como fundadores da M.I., possibilitando inclusive registrar

participações desta igreja nesses congressos. Sua relevância histórica pode ser

observada também pelo fato de a PIBSP ser a primeira igreja batista formada nos solos

paulistanos e por ter ela trabalhado de maneira significativa para a implantação de novas

igrejas em São Paulo e em outras cidades, o que lhe confere o status de “mãe” e “avó”

de muitas outras igrejas.

Quanto à sua relevância sociogeográfica, afirma-se esse fato por estar a PIBSP

localizada em uma região que possui muitos desafios sociais; um local onde os

extremos se tocam e se chocam diariamente. Uma localidade que grita nas calçadas,

marquises e cracolândias, por meio das vozes de mendigos, dependentes químicos e

crianças pedindo justiça e desenvolvimento.

E é nesse contexto que se pergunta: Qual tem sido a resposta da Igreja a esse

grito desesperado por justiça e desenvolvimento? Ela tem ouvido esse clamor? Tem

respondido a ele? E, se sim, seria essa uma herança da M.I.?

Perguntas como essas nortearam o último capítulo deste trabalho intitulado

“Desenvolvimento e Justiça nos solos paulistanos: entre clamores e respostas”, que será

dividido em três partes, a saber: “O contexto que clama por desenvolvimento e justiça”,

“A PIBSP”, e “A origem da Missão na PIBSP”.

Para fazer essa análise será utilizada a metodologia de pesquisa bibliográfica, e

pesquisa de campo, que foi realizada na PIBSP, por meio de roteiro de entrevista, com

seus membros e pastor. Essa pesquisa teve como participantes 12 pessoas, que foram

qualificadas em 3 grupos, e o pastor titular. Estes grupos foram organizados por faixa

etária. O primeiro grupo foi formado por jovens entre 18 a 34 anos de idade, o segundo,

por adultos de 35 a 58 anos, e o último grupo por pessoas de 64 a 76 anos de idade.

Cada grupo foi formado por quatro pessoas (duas mulheres e dois homens). Também foi

realizada a análise dos boletins e das publicações no Jornal Comunhão.

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Sendo o pesquisador um pastor, essa dissertação possui um viés que toca na

práxis pastoral; ela nasce tendo como alvo a profundidade acadêmica sem se esquecer

das questões que estão na superfície dos solos clamantes nos quais as igrejas atuam.

Assim sendo, essa dissertação objetiva também servir a teólogos e pastores como uma

ferramenta que desperte os olhares e os ouvidos para a importância da igreja no

processo de desenvolvimento e justiça na sociedade, para que ela possa cada vez mais

exercer sua Missão Integral em seu contexto.

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1. MISSÃO INTEGRAL

Neste primeiro capítulo será apresentada a Missão Integral a partir de um recorte

histórico que trilhará o caminho das vertentes formadoras da M.I. e dos congressos que

fizeram parte de sua origem. Também será apresentado o método e um breve esboço da

teologia da M.I. a partir de sua máxima.

Deve-se destacar que este capítulo serve ao trabalho como uma plataforma de

contextualização e aproximação do objeto principal, a saber, “Desenvolvimento e

Justiça”; por essa razão seus subtópicos não objetivam esgotar os temas neles

abordados, mas apenas apresentar esboços e linhas gerais, mas que se configuram como

fundamentais para a compreensão do objeto principal.

1.1. Sua trajetória histórica via suas vertentes formadoras

A M.I. não nasce em um vácuo histórico, mas surge em meio a um

desenvolvimento contextual da igreja protestante. Por isso, entender a história ajuda a

compreender a M.I. Sanches (2009) acredita que a Teologia da M.I. nasceu a partir de

uma revisão da história e de uma percepção da situação concreta da América Latina.

Portanto, conhecer a história da M.I ajuda a entendê-la melhor.

Porém, como o objetivo deste trabalho não é oferecer um estudo aprofundado

da história do protestantismo, este ponto do trabalho se limitará a esboçar desde as

influências recebidas pelo Protestantismo norte-americano do séc. XIX até o movimento

evangelical latino-americano, onde a M.I. é apresentada ao universo protestante.

1.1.1. As vertentes formadoras do protestantismo Norte-Americano

O protestantismo norte-americano é tido como uma figura multifacetada que

pode ser compreendida a partir de sua formação e influências recebidas. Ao voltar os

olhos para as raízes desse protestantismo, Gondim (2010) e Sanches (2009) apresentam

as três principais vertentes que compuseram a base desse movimento. São eles:

Puritanismo Inglês, Pietismo Moraviano e Avivamentos (despertamentos religiosos).

Para melhor compreender este protestantismo será apresentado cada um desses

movimentos influenciadores, buscando esboçar suas principais características, que

contribuíram para a formação da identidade protestante norte-americana.

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O Puritanismo Inglês

O Puritanismo Inglês chegou à América em 1620, com os separatistas ingleses,

que tinham como objetivo formar em Massachusetts um Estado em que as leis

refletissem suas crenças religiosas, ligando assim a religião ao Estado. Segundo Bosch:

As colônias puritanas pretendiam ser manifestações do reino de Deus

sobre a terra e que o governo de Cristo deveria tornar-se visível tanto

na sociedade quanto na igreja. O Estado tinha a incumbência divina de

funcionar como um agente auxiliar. Almejava-se uma harmonia

perfeita entre igreja e Estado (BOSCH, 2002, p.316).

Essa cosmovisão desencadeou uma rigidez disciplinar, uma espiritualidade

profunda, zelosa e severa, que permeava todos os setores da vida, tanto da social como

da individual. Essa postura era essencial para eles, pois se entendiam como a

manifestação do Reino de Deus sobre a terra.

Esse movimento era calvinista, e possuía dentro de sua teologia a doutrina da

predestinação, que, por sua vez, era em alguns momentos compreendida em termos

muito radicais e rígidos. Este fato pode ser visto na ideia da dupla predestinação, que

acredita que Deus predestina alguns para o céu e outros para o inferno. Esta

compreensão paralisou os impulsos missionários, pois acreditava-se que Deus salvaria

conforme a vontade própria; por isso, seriam desnecessárias ações humanas. Bosch

comentando este fato afirma que:

Essa concepção foi efetivamente sustentada por alguns puritanos, que

se consideravam eleitos de Deus, enviados para plantar e cultivar um

jardim nos ermos da América do Norte, onde deveriam fomentar o

Reino de Deus expulsando a população nativa. De quando em quando

o Pastor puritano chegava a agradecer a Deus por ter enviado uma

doença mortífera aos índios, que destruiu multidões deles e abriu

espaço para nossos Pais. (BOSCH, 2002, p. 315).

Porém, houve alguns puritanos que decidiram começar um trabalho missionário

entre esses mesmos índios, e receberam o apoio dos colonos. Esse fato gerou uma

mudança na forma de os puritanos entenderem sua relação com os povos nativos, pois

passaram a acreditar que o reinado de Deus deveria ser propagado por meio de

conversão, e não de extermínio da população nativa.

Bosch diz que: “é possível detectar-se, repetidas vezes, essa “mudança de curso”

1 em grupos calvinistas. A ênfase na predestinação leva a um envolvimento ativo na

1A mudança no curso a qual Bosch se refere diz respeito a essa transformação da postura de grupos CALVINISTAS com relação à propagação do evangelho.

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missão; os eleitos de Deus não podem permanecer de braços cruzados.” (BOSCH, 2002,

p.315). Gondim fala sobre essa mudança ocorrida no calvinismo usando as seguintes

palavras:

Os calvinistas, para não emperrar o avanço missionário, necessitaram

abrir mão do rigor puritano que acredita que Deus não só conduz a

história como determina a priori os que vão para o céu bem como os

que vão para o inferno, como explica a doutrina da dupla

predestinação, apregoada pelos puritanos. Desse modo, a marca

distintiva dos que evangelizavam era procurar “fazer valer a vontade

de Deus na história” e “reverter o avanço da maldade”, mas tudo para

aumentar o número dos salvos. (GONDIM, 2010, p.34).

Outra marca do Puritanismo foi a renovação da liturgia. Sanches afirma que:

Outro elemento próprio deles foi a ênfase na renovação da liturgia [...]

eles não aceitavam o uso da cruz no culto, de certos tipos de roupas

dos sacerdotes, do serviço da ceia em altares ou de qualquer tipo de

ostentação (SANCHES, 2009, p.74).

A influência exercida pelo Puritanismo no Protestantismo norte-americano foi

extremamente profunda. Resultou em muito mais do que algumas impressões no

pensamento teológico protestante. Este movimento se configurou como gerador de um

espírito caracteristicamente legalista que evidenciava o lado moral da fé. Segundo

Sanches, o puritanismo “serviu de alicerce para a construção da nação norte-americana

e configuração do seu protestantismo de base”.(SANCHES, 2009, p.75).

O Pietismo Moraviano

O Pietismo que chegou à America foi o Pietismo Moraviano. Ele se diferenciava

dos demais por incentivar uma profunda devoção por Jesus Cristo, entrega e

consagração totais à vontade d’Ele, e por seu empenho na evangelização dos povos em

missões transculturais. Neil, comentando sobre essa característica missionária, diz que:

Os moravianos tenderam a partir para os pontos mais remotos,

desfavoráveis e abandonados da Terra. Muitos destes missionários

foram pessoas bastante simples, camponeses e artesãos. O seu

objetivo era viver o Evangelho e mostrá-lo àqueles que nunca ouviram

falar dele. (NEIL, 1989, p.242).

Outra marca deste pietismo era sua ênfase na experiência de fé. A conversão era

mais que uma adesão às doutrinas; era uma experiência pessoal da totalidade do

convertido. Segundo Bosch:

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No pietismo, a fé formalmente correta, fria e cerebral da ortodoxia deu

lugar a uma união cálida e devota com Cristo. Conceitos como

arrependimento, conversão, renascimento e santificação receberam

significados novos. Uma vida disciplinada, e não a autoridade

eclesiástica, a prática, e não a teoria – essas eram as marcas distintivas

do novo movimento. (BOSCH, 2002, p.309).

Outra característica distintiva deles era a sua obra missionário-social. Esta era

marcada por sua prática solidária na evangelização. Sanches afirma que: “Os

moravianos eram pobres. Por isso desenvolveram um modelo de missão não somente

para os pobres, mas a partir da pobreza.” (SANCHES, 2009, p.73).

Gondim pontua a influência que o Pietismo teve sobre o Protestantismo norte-

americano chegando até o Movimento Evangélico (leia-se M.E.), na seguinte afirmação:

O notório encontro de João Wesley, com um segmento religioso que

se difundiu pela Europa, conhecido como os Irmãos Morávios, no dia

13 de agosto de 1727, não é apenas importante para a história da

Igreja Metodista, como pode servir de marco para a influência que o

metodismo vai exercer na formação do M.E. norte-americano

(GONDIM, 2010, p. 31).

Os Avivamentos

O terceiro movimento que compõe o Protestantismo Norte-americano são os

Avivamentos. Latourette (2006) acredita que a origem dos evangélicos está entrelaçada

com o que ele chama de “reavivamento britânico” que ocorreu no século XVIII dentro

da Igreja da Inglaterra:

Na Igreja da Inglaterra, o reavivamento fortaleceu o elemento

protestante que estivera ali desde a Reforma. Aqueles que eram

comprometidos com ele ficaram conhecidos como evangélicos. Em

geral, eles eram calvinistas em sua teologia. Eles enfatizavam a

conversão, a moral estrita, uma vida de serviço ativo a outros, e

simplicidade na adoração. (LATOURETTE, 2006, p.194).

Este avivamento teve como seus principais líderes João e Carlos Wesley.

Sanches (2009) considera este movimento como um “fenômeno moderno”, pois eles

inauguraram a forma moderna de evangelização, o que ficou conhecido como

“conversionismo”. Sobre este fato, Wilton M. Nelson afirma:

Pregaram para as massas com fervor intenso sobre os temas do pecado

e suas consequências, a obra expiatória de Cristo, a necessidade do

arrependimento e a confiança em Cristo, e que esta fé deve ser uma

experiência pessoal do coração e não uma mera aceitação do credo

ortodoxo. (NELSON, 1973, p.166).

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Os integrantes desses avivamentos davam uma grande ênfase na experiência

individual da fé, no arrependimento e conversão, mas as características mais distintivas

deles eram “necessidade da disciplina religiosa, experiência característica, envolvimento

dos cristãos na sociedade e de pregadores leigos na tarefa missionária e pastoral”

(SANCHES, 2009, p.77).

Eles desenvolveram uma compreensão sobre missão na qual estava inserida

tanto a evangelização e conversão pessoal como a responsabilidade social, na qual cada

indivíduo tinha o dever de trabalhar para a transformação da sociedade. Desta visão

resultaram ações de melhoria das condições sociais da época. Dentre seus feitos pode-

se citar: a redução da jornada de trabalho de doze para dez horas; a criação de agências

de empregos; a constituição dos primeiros sindicatos de trabalhadores e a luta contra a

escravidão. Lopes afirma que: “Para a tradição wesleyana, responsabilidade social,

pregação e educação são ações essenciais no desenvolvimento do projeto missionário e

elementos indissociáveis.” (LOPES, 2013. p.31).

Os avivamentos foram além da Grã-Bretanha; estenderam-se para a América do

Norte chegando até treze colônias, que experimentaram uma série de avivamentos.

Jonathan Edwards, George Whitefield e Charles Finney se configuram como

personagens de grande destaque dentro desse período.

Edwards era um excelente pregador, com um forte embasamento filosófico e

científico, e por meio de suas pregações arrebanhava multidões. Seu contemporâneo

Whitefield também atraiu multidões com seus sermões. Em suas inúmeras viagens pelos

Estados Unidos ele produziu um “fenômeno de massa que já no final do século

desencadeou o que ficou conhecido como o “Segundo Grande Despertamento”.

(GONDIM, 2010, p.36)

Na mesma época Finney surge como uma figura importante para a identidade

protestante. Vindo da igreja presbiteriana, advogado e um pregador itinerante, Finney

escreveu uma teologia sistemática, mas teve como sua obra principal o livro

“Lectureson Revival”. Nesta obra ele propunha novas práticas para o culto protestante.

Segundo Gondim:

Finney foi inovador para a época. Criou o “banco dos ansiosos”, um

lugar reservado para as pessoas que, à medida que pregava, sentissem

o coração “ansioso”. Obviamente trazia o conceito de Wesley que

falava no coração ardente quando exposto à verdade do Evangelho.

Depois que terminava de pregar, Finney conduzia as pessoas que se

sentavam no “banco dos ansiosos” para mais instruções, conduzindo-

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as assim à salvação. Finney foi copiado ferozmente por evangélicos e

pentecostais ao redor da terra e seu “banco de ansiosos” tornou-se o

precursor do “apelo” (GONDIM, 2010, p.39).

Foi dentro desses avivamentos que se desenvolveu o protestantismo de missão,

que foi responsável por implantar várias “representações das denominações na América

Latina, África, Ásia e Caribe” (SANCHES, 2009, p.78). Este Protestantismo de Missão

mobilizou centenas de estudantes para a dedicação da vida às missões que aconteciam

principalmente em países subdesenvolvidos.

Sanches afirma que: “de todos os movimentos que nasceram dentro do

protestantismo, os avivamentos foram os mais significativos para o surgimento e

desenvolvimento do evangelicalismo, especialmente o latino-americano.” (SANCHES,

2009, p.76).

Essas três vertentes influenciadoras (puritanismo/ pietismo/ avivamentos)

possuíam em comum o rigor dogmático, o ascetismo, uma teologia elaborada a partir do

milenarismo, o reconhecimento da importância da experiência pessoal, e um vigoroso

movimento missionário. Esses fatores se tornaram marca distintiva do protestantismo

norte-americano.

O protestantismo norte-americano é, usando as palavras de Gondim, “uma

colcha de retalhos” e pode ser comparado a um “guarda-chuva onde se abrigaram

tendências teológicas díspares e muitas vezes conflitantes.” (GONDIM, 2010, p.39).

1.1.2. A cisão do protestantismo norte-americano

O protestantismo que se espalhou pelas treze colônias tinha como diferencial as

Igrejas filiadas às diversas denominações, no lugar das igrejas do Estado. Este fato ficou

conhecido como denominacionalismo. Sanches explica esse fenômeno da seguinte

forma:

Os grupos ou ‘igrejas’ não pretendiam ser ‘a igreja’, mas somente

‘denominações’ que os cristãos davam a si mesmos. A Igreja era, de

fato, conforme orientação da própria reforma, uma entidade invisível

acima das organizações denominacionais e institucionais, composta

por cristãos verdadeiros. As denominações na realidade eram vistas

como instituições humanas, para fins de vivência comunitária da fé

cristã protestante no mundo em sua organização social. (SANCHES,

2009, p.79).

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Ao denominacionalismo pode-se vincular uma característica do protestantismo

norte-americano, o Voluntarismo. Esta é a prática de, por meio de contribuições

voluntárias, manter o sustento das igrejas, pois uma vez que elas não recebiam os

recursos do estado precisavam, portanto, se sustentar por meio da contribuição direta

dos seus membros.

O protestantismo norte-americano caracterizou-se também pelo impulso

vigoroso do avivamento e do esforço abnegado dos voluntários na obra missionária,

como já expresso nas páginas anteriores. Porém, juntamente com esse labor missionário

nasceu o espírito do chamado “Destino manifesto” que acompanhou as empreitadas

desses movimentos missionários. Juntamente com o evangelho e as denominações, as

ações missionárias buscavam levar aos países não alcançados e não desenvolvidos, o

progresso experimentado pelo povo norte-americano, que entendiam como a

manifestação do destino desejado por Deus a todos os convertidos (daí o nome Destino

manifesto).

Entre os séculos XVIII e XIX, quando se falava em protestantes norte-

americanos, a imagem que se tinha era de um grupo com características puritanas,

pietistas e avivalistas, mas que não possuía uma divisão e embates institucionalizados.

Não se fazia diferenciação entre protestantes e evangélicos; todos eram

concomitantemente evangélicos e protestantes.

Porém, a ruptura começou a acontecer logo no início do século XX, quando a

teologia alemã começou a crescer e um grupo expressivo de protestantes começou a se

posicionar como contrário a essas tendências liberais. A partir disso o protestantismo foi

aos poucos se polarizando em fundamentalistas e liberais. Segundo Gondin:

A identidade do movimento evangélico é complexa e a tarefa de

defini-lo, colocá-lo em “seus justos limites”, por demais complicada.

O movimento não possui uma fronteira institucional, marcos

teológicos claros e sequer uma experiência, um rito de passagem

comum. O historiador norte-americano, Mark A. Noll percebeu a

fluidez do movimento que se reconfigurou várias vezes durante o

século XX, desde o famoso litígio jurídico chamado de Scopes Trial

(Julgamento de Scopes) 2 . Devido ao conflito entre o ensino da

Evolução e da Criação nas escolas públicas de um estado sulista,

aconteceu o julgamento que estigmatizou os crentes que se alinhavam

2 ScopesTrial (Julgamento de Scopes) aconteceu por ter sido aprovada no Tennessee uma lei que proibia o ensino da teoria de Darwin nas escolas. Grupos de defesa dos direitos civis protestaram. John T. Scopes, professor na pequena cidade de Dayton, no Estado do Tennessee, não concordando com a decisão, ensinou para seus alunos a teoria da evolução. Como consequência ele foi levado a julgamento. O tribunal o condenou a pagar uma multa simbólica e o proibiu de voltar a ensinar as teorias de Darwin.

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com o movimento fundamentalista. Alguns protestante que não

concordavam com a teologia liberal, buscaram distanciar-se dos

fundamentalistas e procuraram se identificar como “neo-evangelicos”

ou apenas evangélicos. Esse grupo deu nova identidade ao

fundamentalismo, depois se tornou mais ecumênico, com alianças

pontuais e esporádicas com católicos e pentecostais. (GONDIM, 2010,

p.25).

A face menos simpática do fundamentalismo apareceu para a sociedade

americana, pois este caso ganhou uma notoriedade nacional. Segundo Gondim:

Depois do julgamento de Scopes, ser fundamentalista passou a ser

sinônimo não apenas de dogmático, conservador ou milenarista,

acreditando em um retorno triunfal de Cristo para resgatar a sua igreja

de um mundo condenado ao fogo, mas também de anti-intelectual e

intolerante. (GONDIM, 2010, p.51).

Dentro dessas reconfigurações o protestantismo chegou ao ponto da cisão,

polarizando-se em dois grupos extremos: o dos protestantes (liberais) e o dos

fundamentalistas. Os protestantes passaram a ser identificados como o grupo que

simpatizava com o ecumenismo, com o evangelho social e com o liberalismo; que

colocava em dúvida a autoria dos livros sagrados, e trazia suspeita sobre a pregação do

retorno de Cristo para implementar o seu reino milenar dentro da história.

Os fundamentalistas, por sua vez, eram o grupo que não concordava com as

posições do liberalismo e se colocava como o opositor a esta corrente. Uma das formas

de oposição e reação foi a elaboração do documento chamado “Os Fundamentos da fé

cristã”. Neste eram apresentados cinco pressupostos do evangelho que eram entendidos

pelos fundamentalistas como inegociáveis. São eles: “a inspiração, infalibilidade e

inerrância das Escrituras, a divindade de Cristo, o sacrifício propiciatório de Cristo e sua

ressurreição literal e física, bem como o seu retorno.” (SANCHES, 2009, p.84).

A cisão foi tomando proporções maiores, a ponto de no final do século XX o

fundamentalismo ter ganhado uma conotação pejorativa. A ele eram associadas as ideias

de obscurantismo e intolerância. Essa adjetivação negativa do movimento não se deu

por ele possuir uma reação anti-intelectual à modernidade, ou por um retrocesso

acadêmico, mas, segundo Gondim, esse fato se deu porque o fundamentalismo tinha:

Suas raízes nos despertamentos de Whitefield e Finney [...] e para

continuar a se expandir e manter grandes multidões, os evangélicos

precisaram manter o discurso simplificado. Assim as hermenêuticas

foram gradativamente perdendo conexão literária e as fundamentações

acadêmicas, substituídas por aplicações práticas. (GONDIM, 2010,

p.41).

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O pós-tribulacionismo era uma das principais visões escatológicas do

fundamentalismo; devido a este fato acreditavam no avanço gradual do Reino de Deus

até que o mundo inteiro fosse transformado por meio das ações da igreja.Porém,

segundo Gondim:

O fundamentalismo deu uma guinada nesse milenarismo; guinada que

passou a conceber o mundo transformado não como o resultado de

ações da igreja, mas por meio de Cristo. Portanto, finalmente

aconteceria a justiça sem haver necessidade de práxis. Ela viria de

cima para baixo, com a chegada do messias que retornaria para vingar

sua própria morte, julgar os pecados do mundo e impor a nova ordem

(GONDIM, 2010, p.42).

Sendo assim a igreja via-se na posição de apenas espectadora de toda a ação

transformadora de Cristo, despreocupando-se das ações de transformação social, e livre

para centrar todos os seus esforços na salvação de almas. Com isso, questões que

estavam relacionadas com os problemas sociais eram entendidas apenas como sinais do

fim, e à igreja cabia apenas alertar a humanidade para esse fato.

Para exemplificar essa postura dos fundamentalistas, pode-se citar o

posicionamento dos mesmos com referência à escravidão. Gondim afirma que: “A

escravidão para eles só revelava a degeneração do mundo, cuja redenção aconteceria

com o arrebatamento da igreja”. (GONDIM, 2010, p.49)

A cosmovisão dos fundamentalistas fez com que eles se distanciassem cada vez

mais dos protestantes (liberais). Enquanto, para os fundamentalistas, responsabilidade

social não era assunto para a igreja, cuja tarefa era ganhar almas e prepará-las para o

arrebatamento, os Protestantes trabalhavam à luz do evangelho social, que entendia as

demandas da sociedade como uma responsabilidade da igreja. Enquanto para os

fundamentalistas a modernidade era vista com maus olhos, para o protestantismo a

modernidade era bem-vinda, assim como seus métodos e análise crítica bíblica.

Enquanto para o primeiro grupo, a Bíblia devia ser interpretada de maneira literal, e ela

mapeava com detalhes a cronologia do fim, de forma milenarista, dispensacionalista, o

segundo grupo questionava a literalidade e a autoria da Bíblia. Com todo esse

distanciamento, a cisão entre protestantes e fundamentalistas se institucionalizou e

solidificou.

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1.1.3. O movimento evangélico

No meio dessa cisão surge um terceiro grupo, que tinha como anseio

desvincular-se do fundamentalismo, e encontrar uma síntese entre o sufocante rigor

fundamentalista e a relativização dos liberais; este grupo era o dos evangélicos. Ele se

formou para sobreviver ao desgaste do fundamentalismo versus o protestantismo.

Segundo Longuini Neto,“A expressão evangélicos 3 passou a ser usada abertamente

como uma diferenciação entre o novo grupo que buscava distanciar-se dos

fundamentalistas no final da década de 1940” (LONGUINI, 2002,p.53).

Embora este grupo buscasse um distanciamento do fundamentalismo, isso

aconteceu apenas no âmbito da práxis isolacionista que os fundamentalistas possuíam,

pois quanto à sua teologia e cosmovisão os evangélicos a mantiveram.

Pode-se notar esse fato a partir do escrito de Karl Henry e Harold John Ockenga,

homens que trabalhavam a favor do movimento evangélico, que denunciavam que as

forças motivadoras do fundamentalismo eram fragmentação, segregação, separação,

crítica, censura, suspeita, solecismo (GONDIM,2010, p.54). Porém, toda a crítica de

Henry e Ockengaao ao fundamentalismo se limitava às atitudes do movimento, não às

suas doutrinas e missiologia. Este fato se evidencia na afirmação de Ockenga sobre os

evangélicos, a qual diz que: “são conservadores, só não requerem o isolacionismo dos

fundamentalistas” (apud GONDIM,2010, 54).

Dentro dessa perspectiva, pode-se chamar os evangélicos norte-americanos de

fundamentalistas, uma vez que as doutrinas constituídas como inegociáveis eram o

pressuposto teológico desse novo movimento. Os pressupostos “fundamentais”

permaneciam até mesmo nos que se opunham à intolerância que os fundamentalistas

mostravam em relação à sociedade, ao exclusivismo denominacional e à piedade

moralista.

Para ganhar espaço no universo religioso, Gondim (2010) acredita que o

movimento precisava de uma pessoa que fosse seu porta-voz e que repetisse o sucesso

dos antigos avivalistas, Como Jonathan Edwards, Charles Finney, DwightMoody e Billy

Sunday.

3 No texto original de Longuini Neto, a palavra “evangélico” aparece como “evangelical”. Esta é uma transliteração do inglês; foi feita a tradução para que este fosse diferenciado do movimento evangelical que iniciou no Brasil posteriormente, sobre o qual será falado mais adiante.

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Nessa busca, encontraram um garoto prodígio com um grande potencial no

Wheaton College, e seu nome era Billy Graham. Dotado de uma boa aparência, um

casamento exemplar e com uma eloquência invejável, este jovem tornou-se o porta-voz

ideal para o movimento.

A escolha por Billy Graham considerou sua formação no Wheaton, pois isso

garantia ao movimento que a ortodoxia desejada seria mantida, por ter esta faculdade

fortes marcas do fundamentalismo. Graham comentando esta instituição afirma que:

Embora não incluísse a palavra fundamentalismo no nome, aquela

respeitável instituição de ensino exigia rígido cumprimento a um

código de conduta que proibia funcionários e alunos de fumar, ingerir

bebida alcoólica de qualquer natureza, dançar, jogar baralho e

participar de sociedades secretas. A faculdade também se

fundamentava nas doutrinas bíblicas, adotando uma declaração de fé

teológica e conservadora dos meados da década de 1920. Com todas

essas exigências, a faculdade Wheaton passou a ser conhecida no

mundo acadêmico como retrógrada e puritana, mas a integridade do

ensino em todas as disciplinas tornou-se respeitada (GRAHAM,1998,

p.54e55).

Graham ganhou visibilidade mundial. Organizou a Associação Evangelística

Billy Graham, que recolhia grande valor financeiro e possuía uma administração

admirável. Ele também participou de forma ativa da fundação da revista

ChristianityToday, e foi responsável por inúmeras cruzadas evangelísticas ao redor de

todo o mundo.

Dessa forma, possuindo um grande financiamento de empresários, e com forte

articulação das bases missionárias em outros países ao redor do mundo, os evangélicos,

segundo Gondim: “se fortaleceram como a mais visível e mais crescente expressão do

cristianismo protestante do Ocidente. Billy Graham tornou-se uma espécie de

embaixador, o ícone mais copiado e mais admirado dos evangélicos que se firmavam

por todo o globo.” (GONDIM,2010,p.56).

1.1.4. Evangélicos e evangelicais no Brasil

O protestantismo evangélico chega na América Latina como fruto do projeto

missionário norte-americano. Este trouxe consigo, além do espírito evangélico, as

grandes denominações. Latourette afirma que chegaram nos solos latino-americanos:

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Metodistas, batistas, presbiterianos, episcopais, congregacionais e

discípulos de Cristo – as também de alguns movimentos entusiásticos

jovens, notadamente os adventistas do sétimo dia, os cristãos da

Aliança Missionária, a igreja do Nazareno e a Missão da América

Central. (LATOURETTE, 2006,p.1747).

Porém este projeto missionário implantou na América Latina, segundo Sanches

(2009), representações afiliadas de várias Igrejas norte-americanas e europeias. Neste

projeto os aspectos formais e teológicos das igrejas de origem eram mantidos, tais

como:

Arquitetura dos templos, liturgia, sistema educacional, organização

eclesiástica e ministerial. Acrescenta-se a isso a literatura teológica

importada e traduzida tanto para servir ao ministério das

denominações e igrejas locais, quanto às de caráter propriamente

teológico para servir aos seminários. Também restringiam a liderança

das denominações e organizações a elas vinculadas, aos missionários

estrangeiros representantes das instituições enviadoras. (Sanches,

2009,p.87).

Os evangélicos norte-americanos trouxeram juntamente com sua teologia um

repúdio quanto à responsabilidade da igreja para com as questões sociais, e um

evangelho cultural que era embasado na crença do destino manifesto.

Como reação a este fato, alguns teólogos e pastores viram a necessidade de se

fazer uma conversão deste protestantismo evangélico que chegou à América Latina,

entendendo como necessário que esta mudança fosse feita a partir da realidade

sociocultural latino-americana e respondesse a esta realidade. Segundo Sanches: “Esta

árdua tarefa foi assumida principalmente pela teologia da missão em sua luta pela

autonomia e identidade da igreja evangélica latino-americana.” (Sanches, 2009,p.87).

Com isso inicia-se no Brasil uma nova divisão, que naquele momento estava

acontecendo entre os evangélicos, dando origem a um novo grupo chamado

evangelicais. Gondim comentando sobre a origem do termo “evangelical” diz:

Teólogos brasileiros que se identificaram com as propostas do

Congresso de Lausanne tentaram cunhar o neologismo “evangelicais”,

porque viram a necessidade de se distinguirem dentro do contexto

evangélico. (GONDIM,2010,p.58).

Na busca por essa diferenciação, os evangelicais tiveram uma atitude semelhante

à que os evangélicos norte-americanos tiveram com relação ao fundamentalismo, em

sua autointitulação. Como objetivavam conquistar espaço na sociedade, e liberdade para

produzirem uma teologia que se distinguisse da feita pelos evangélicos, se nomearam

evangelicais; dessa forma, eles se diferenciariam dos que seguiam a teologia norte-

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americana evangélica fundamentalista e manteriam a identidade latina. Segundo

Gondim:

A palavra “evangelical” no contexto norte-americano apenas descreve

o movimento que procurou distanciar-se do fundamentalismo, com

teólogos que buscavam um meio termo entre o liberalismo teológico

alemão e o fundamentalismo que se isolara culturalmente nos Estados

Unidos. Já no contexto da América Latina, alguns procuraram a

expressão como forma de evidenciar que os teólogos que propunham a

Missão Integral não poderiam alinhar-se aos notórios evangélicos

norte-americanos, que embora mostrassem disposição para ser mais

receptivos culturalmente, permaneciam com o dogmatismo dos

fundamentalistas. (GONDIM, 2010,p.59).

Os evangelicais se configuraram como um novo meio termo, porém agora entre

os evangélicos e a teologia da libertação. Eles formaram um grupo alinhado que possuía

um olhar holístico para a Bíblia, para o ser humano e a humanidade; a este olhar deram

o nome de Missão Integral.

Os evangelicais se opuseram, de forma veemente, em congressos e publicação,

contra o posicionamento dos evangélicos que desconsideravam questões de cunho social

como parte da missão da igreja. Este fato foi objeto das principais divergências entre

estes dois grupos. Para os evangelicais, tanto as questões “espirituais” com as físico-

sociais devem ser contempladas no agir missional da igreja, pois as duas realidades são

entendidas por eles com igual importância, configurando-se como as duas asas de um

pássaro, que possuem igual valor para que o voo seja realizado; a ausência de uma asa

resultaria na impossibilidade de voar. Aplicando essa lógica à realização da missão da

Igreja, a desvalorização de um dos aspectos, seja o espiritual ou físico-social, resultaria

na impossibilidade de a Igreja realizar sua missão de maneira integral. Sobre essa

questão Padilla faz a seguinte afirmação, de que:

Tanto a ação social como a evangelização são aspectos essenciais da

missão da igreja; que a proclamação do evangelho é inseparável da

manifestação concreta do amor de Deus. O reconhecimento de que os

cristãos devem partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação

em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo

tipo de opressão; de que “a evangelização e o envolvimento

sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão e de que a

mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre

toda forma de alienação, de opressão e de discriminação. (PADILLA,

2009,p. 37e38).

O evangelicalismo é tido como o berço da M.I., pois ela é gerada e nutrida

dentro desse movimento. Evangelicais como José Míguez Bonino, Orlando Costa, Justo

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González, Pedro Arana, Samuel Escobar, René Padilla, entre outros, serviram e servem

à M.I. como porta-vozes dessa teologia e das lutas que esta tem enfrentado.

A partir do que foi aqui apresentado pode-se visualizar essa trajetória histórica4

no seguinte quadro:

Quadro de autoria própria

Com base nesse panorama da trajetória histórica, pode-se constatar que a M.I.

em nenhum momento desse percurso, via vertentes, formadoras está relacionada a uma

postura que pretendesse abrir mão dos princípios cristãos protestantes. Há, entretanto,

uma constante busca por um diálogo dos princípios bíblicos com as realidades

contextuais, que em muitos momentos foram ignoradas por uma teologia conversionista,

4 Deve-se destacar que no mesmo período outras propostas teológicas surgiram no solo latino americano, como por exemplo a Teologia de libertação. Para aprofundar nesse tema veja: GUTIÉRREZ,G.A.Teologia da Libertação: Perspectivas . São Paulo: Loyola.2000. e LONGUINI NETO, Luiz: O Novo Rosto da Missão- Os movimentos ecumênico e evangelical no protestantismo latino-americano. Viçosa: Ultimato, 2002.

Mapa 1 – Mapa histórico via vertentes formadoras da M.I.

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espiritualizada e desencarnada. Por esse motivo, a M.I. deve ser considerada uma

teologia evangélica protestante latino-americana.

1.2. Sua trajetória histórica via Congressos

A trajetória da formação da teologia da M.I. passa pelos Congressos Latino-

Americanos de Evangelização (leia-se CLADEs) e pelo Segundo Congresso mundial de

evangelização em Lausanne. Estes possuem uma grande importância no processo de

formação dessa teologia. E à investigação do desenvolvimento da M.I. dentro desses

congressos é que este subtópico do trabalho se dedicará.

1.2.1. A origem dos CLADEs e da Fraternidade Teológica Latino-

Americana, e o CLADE I

Em 1966 aconteceu em Berlim o Congresso mundial de Evangelização, que é

tido como “fundamental para o desenvolvimento do movimento de missão evangelical”

(SANCHES, 2009,p.96) porque neste evento foi decidido que seriam realizados

congressos continentais de evangelização na África, na Ásia e na América Latina.

Como consequência dessa decisão,foram organizados, na América Latina, os

CLADEs. O CLADE I foi realizado em novembro de 1969, em Bogotá, Colômbia,

organizado e dirigido pela Associação Evangelística Billy Graham. O tema deste

primeiro encontro foi: “Ação em Cristo para um continente em crise”. Em sua plenária,

estavam presentes representantes fundamentalistas norte-americanos e teólogos latino-

americanos que buscavam desenvolver uma teologia nativa que conciliasse a reflexão

teológica e a evangelização com as demandas sociais da América Latina e com os

anseios de liberdade do povo. Essa característica mista e contextual do CLADE I é

explicitada em seu relatório final com a seguinte afirmação:

Os aqui reunidos, crentes em Cristo, membros das diferentes

comunidades denominacionais que trabalham em nosso continente

entre o povo latino-americano, congregamo-nos neste Primeiro

Congresso Latino-Americano de Evangelização no nome de Deus Pai,

Deus Filho, Deus Espírito Santo. Cremos que o próprio Espírito Santo

tem nos guiado a este encontro, com a finalidade de examinar de novo

nossa missão evangelizadora à luz do ensino bíblico e da atual

situação latino-americana. Nossa presença neste congresso tem sido

manifestação de nossa unidade em Cristo, cuja natureza espiritual e

não organizacional aprofunda suas raízes em nossa comum herança

evangélica, fundamentada na verdade da Bíblia, cuja autoridade como

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Palavra de Deus iluminada pelo Espírito Santo afirmamos

categoricamente.

Como consequência, esta declaração que apresentamos ao povo

evangélico latino-americano é expressão de um consenso no qual

existe acordo no fundamental; porém, existe também lugar para a

diversidade que provém da multiforme graça de Deus ao dar seus dons

ao seu povo: diversidade dentro da unidade. (LONGUINI,

2002,p.165e166).

Neste primeiro congresso surgiu o anseio por um grupo latino-americano que

representasse a América Latina teologicamente, e como resposta a esse anseio, em

dezembro de 1970, em uma consulta realizada em Cochabamba, Bolívia, foi criada a

Fraternidade Teológica Latino-Americana (leia-se FTL).Segundo Longuini, falando

sobre a importância do CLADE I, este “foi um marco porque serviu como ‘útero’ para

gestão de uma Fraternidade de teólogos latino-americanos” (LONGUINI, 2002, p.158).

A FTL surgiu de forma embrionária liderada por Pedro Savage, um descendente

inglês com formação em teologia na Inglaterra, e foi composta inicialmente por vinte e

cinco evangélicos latino-americanos.Este grupo era composto por pastores,

missionários, professores de seminários e institutos bíblicos e líderes leigos, porém com

uma característica comum: todos tinham um envolvimento prático e vivencial com a

igreja; não eram apenas teóricos.Segundo Longuini,“A FTL nasce militante, crítica,

polêmica e apologética”(2002,p.169).A formação da FTL se configurou como um

grande passo rumo à formação da identidade da igreja, e da teologia evangélica latino-

americana.

1.2.2. Segundo Congresso de Evangelização Mundial, em Lausanne

Outro encontro que marcou profundamente a formação da M.I. foi o Congresso

Mundial de Evangelização, em Lausanne.Realizado em 1974, em Lausanne, na Suíça,

teve a participação de 2.700 congressistas, de mais de 150 nações,com o objetivo de

orar, estudar, debater e planejar a respeito da evangelização mundial. (STOTT, 2003,

p.25) O tema deste congresso foi: “Para que o mundo ouça a voz de Deus”. O grande

questionamento que se tentou responder ali, segundo Stott, foi: “como anunciar a

Palavra de Deus num mundo tão injusto” (2003, p.94).

Quanto aos participantes desse congresso, pode-se dizer que Lausanne possuiu

duas faces. A primeira era conservadora; para esta, a evangelização era entendida dentro

do aspecto conversionista, que considera e busca apenas o fator individual escatológico

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espiritual da conversão, ignorando os fatores físico-sociais. Esta face foi expressa pelas

inúmeras agências de missão norte-americana de cunho fundamentalista, e pelos

participantes que comungavam desta visão.

A segunda face foi expressa por participantes do Terceiro Mundo5, que, segundo

Longuini (2002), representavam a metade do número total dos que ali estavam. E entre

estes foram alguns latino-americanos os responsáveis, segundo Rocha, por uma

“guinada na matriz teológica orientadora do congresso” (2002, p.93), pois estes

colocaram na pauta a necessidade de uma reflexão sobre as estruturas sociais e os

contextos culturais dos povos onde a missão se realiza. Essa influência pode ser

constatada em diversos momentos do congresso, mas destacam-se aqui as principais,

que são as duas palestras proferidas por latino-americanos; a saber: “A evangelização e

o mundo” de René Padilla e “A evangelização e a busca de liberdade, justiça e de

realização pelo homem” de Samuel Escobar.

A questão da Integralidade da missão da igreja se tornou a característica mais

marcante desse congresso. Não é sem motivos que a teologia de Lausanne, segundo

Rocha, “é tão conhecida como teologia da Missão Integral” (2002, p.95), a qual tem

como principal lema “o evangelho todo, para todo homem e o homem todo”.Grellert

apresenta esse rosto da M.I.com a seguinte afirmação:

Holismo cristão ocorre quando a Igreja toda, totalmente

comprometida com toda a vontade de Deus, leva o evangelho todo ao

homem todo e a todos os homens, por todos os métodos éticos

possíveis, através de homens e mulheres totalmente engajados na

missão integral. (1987, p.61)

O mesmo autor, ao comentar sobre o Congresso de Lausanne e sua influência,

afirma:

O magno e frutescente Congresso Internacional de Evangelização

Mundial, realizado em 1974 em Lausanne, Suíça, não foi somente um

evento marcante (...) Ele desencadeou um movimento de

evangelização de grupos humanos concretos, que antes não contavam

com a presença cristã significativa, como também deu impulso a uma

reflexão teológica sobre os assuntos relacionados com a evangelização

do mundo. Na verdade, o movimento de Lausanne é um interessante

experimento de convívio entre peritos em estratégia missionária (os

práticos) e peritos em teologia (os teóricos) convívio; aliás, por vezes

tenso, mas frutífero e criativo. (apud LONGUINI, 2002, p.77)

5Quanto ao termo terceiro mundo ver BUARQUE, Cristóvam. O pensamento em um mundo Terceiro Mundo, pg. 57-

82. In BURSZTYN, Marcel. Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo; Brasiliense. 1993

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Como fruto do congresso, foi redigido o Pacto de Lausanne (leia-se PL)6, que foi

aceito e assinado por todos os 2.700 participantes e teve como relator o líder anglicano,

John Stott.

A palavra “pacto” é usada aqui não em um sentido técnico ou bíblico, mas sim

com um significado ordinário de um contrato, onde são colocadas as obrigações. Stott

ressalta esse aspecto ao dizer:

A razão pela qual se escolheu a expressão “Pacto de Lausanne”, ao

invés de “Declaração de Lausanne”, é que desejávamos fazer mais do

que simplesmente encontrar uma fórmula verbal que fosse objeto de

um acordo. Havíamos decidido que não nos limitaríamos a declarar

alguma coisa, mas fazer alguma coisa, a saber, comprometer-mo-nos

com a tarefa de evangelização mundial. (2003, p.20).

O PL aborda os seguintes temas: o propósito de Deus; a autoridade e o poder da

Bíblia; a unicidade e a universalidade de Cristo; a natureza da evangelização; a

responsabilidade social cristã; a igreja e a evangelização; a cooperação na

evangelização; o esforço conjugado de igrejas na evangelização; a urgência da tarefa

evangelística; evangelização e cultura; educação e liderança; conflito espiritual;

liberdade e perseguição; o poder do Espírito Santo; e o retorno de Cristo.

Na apresentação do livro Pacto de Lausanne, o PL é exposto da seguinte forma:

Referência para iniciativas que representam importantes contribuições

na construção de sociedades mais justas e igualitárias, contextos em

que a presença e a atuação das igrejas evangélicas se singularizavam

pela busca em atender efetivamente ao chamado que o Pai nos faz, na

esperança de que o nosso clamor pela vinda do Reino de Deus seja

ouvido [...] O Pacto de Lausanne é um documento fruto da reflexão de

diversos líderes evangélicos de todo o mundo, guiados pela Palavra, a

fim de relembrar a Igreja quanto ao seu chamado de viver a plenitude

do Evangelho com “todos os santos” nestes “dias maus””

(STOTT.2003.p.5-6)

Em síntese,pode-se dizer que o Congresso de Lausanne se configura como uma

mola propulsora da teologia da M.I., pois foi neste congresso que seus questionamentos

foram expostos para o mundo protestante evangélico; nele foi vivenciado, com

intensidade, o conflito existente entre as compreensões sobre a missão da igreja frente a

um mundo injusto.

E quanto ao PL, este serviu como parte do alimento que nutria as reflexões em

torno do tema. Segundo Sanches (2009) ele se tornou um referencial para o

evangelicalismo histórico mundial. Por apresentar também as questões do compromisso

6 Ver anexo 1: Pacto de Lausanne

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sociopolítico e cultural que a igreja deve ter, o Pacto proveu a abertura da discussão de

forma mais abrangente. Gondim(2010) apresenta o PL como o marco da Missão

Integral.Ele explicita este pensamento na seguinte afirmação: “No final do congresso foi

escrito o Pacto de Lausanne, que se firmou como marco da Missão integral [...] O Pacto

de Lausanne (PL) tornou-se, portanto, uma das principais marcas para diferenciar

evangelicais de evangélicos.”(GONDIM, 2010,p.83).

Almeida resume a importância deste momento com as seguintes palavras:

No que me concerne, a maior relevância do movimento de Lausanne

foi o aprofundamento da discussão teológica sobre a instaurada

dicotomia entre evangelização e ação social. [...] naquele tempo ela (a

discussão) foi de extrema importância para o ramo evangélico que

exercia seu ministério em países pobres do então Terceiro

Mundo.Importantes representantes de países latino-americanos

ofereceram sua contribuição para o debate demonstrando a

integralidade do evangelho tanto como salvação do pecado espiritual

como do pecado estrutural. O evento promoveu o surgimento de uma

geração de pastores e teólogos defensores da missão integral ou do

evangelho holístico que se fizeram representar por grupos como a

Fraternidade Teológica Latino-Americana.(ALMEIDA,2005, p.203)

Um fator que deve ser destacado sobre o Congresso de Lausanne é que ele

influenciou de maneira significativa o evangelicalismo latino-americano e seus ecos

foram escutados nos CLADEs posteriores.

1.2.3. CLADE II

Após a realização do Congresso de Lausanne,os membros da FTL organizaram o

CLADE II, que foi realizado em Huampani, um bairro da cidade de Lima, no Peru, de

31 de outubro a 9 de novembro de 1979. O evento teve como tema: “Para que a

América Latina ouça a voz de Deus.”

Este congresso foi convocado pela FTL, esta que,ao longo de dez anos de

trabalho,conseguiu estabelecer um ambiente propício para o diálogo, por haver tratado

com idoneidade a tensão existente entre evangelicais e evangélicos fundamentalistas.

Essa convocação feita por parte da FTL foi um diferencial, pois o CLADE I, como se

pode constatar, foi convocado e dirigido por missionários norte-americanos; já no

CLADE II a iniciativa por uma reflexão autóctone começa a ganhar força.

O auditório deste congresso foi composto por delegações de 21 países da

América Latina e Caribe. Do total de 220 participantes, 22 eram mulheres.As palavras

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de abertura proferidas por Samuel Escobar revelavam os objetivos visados para o

evento:

1.Estimular a mobilização dos evangélicos do continente para uma

evangelização autêntica e eficaz. 2. Considerar os desafios e

oportunidades que a América planeja para a missão evangelizadora da

igreja às vésperas de uma nova década. 3. Tomar consciência dos

recursos humanos e espirituais com que conta o povo evangélico

latino-americano para a realização de sua missão evangelizadora. 4.

Traçar linhas diretrizes para uma comunicação profunda e eficaz do

evangelho no contexto latino-americano. 5. Servir de agente

catalisador para uma melhor cooperação entre os cristãos evangélicos

na comunicação e vivência do evangelho nos diferentes setores do

continente. (apudLONGUINI, 2002, p.185)

O CLADE II adotou um método para a participação dos congressistas que

possibilitou uma maior relevância do conteúdo elaborado no congresso. Inicialmente

houve um período preparatório, no qual os participantes tiveram um tempo de leitura e

análise detalhada da realidade latino-americana de cada região, observando aspectos

políticos, socioeconômicos, culturais, religiosos, morais e espirituais da evangelização.

Cada região teve liberdade para apresentar e organizar seu relatório, trabalhando

assim a multifacetada realidade de cada contexto. O material que foi preparado por

esses grupos serviu de base para a reflexão teológica, de amostragem da situação da

América Latina e do papel das Igrejas nesses contextos. O objetivo dos organizadores

com isso era refletir sobre algo concreto; tomar a realidade como ponto de partida.

Segundo Longuini,“O tema da evangelização foi tratado procurando abranger o trabalho

já realizado das igrejas ou instituições paraeclesiásticas, buscando, também, apontar os

desafios para o futuro.” (2002, p.186).

Ao olhar para a metodologia que o congresso adotou para a reflexão dos temas,

pode-se dizer que é eminente o fato de que o caminho escolhido não visava a imposição

de uma teologia estranha ao terreno que a receberia, mas buscava promover a

participação e reflexão de todos. Esta forma como foi realizado o congresso contribuiu

muito para a notável produção dos grupos de trabalho.

Outro fator digno de nota sobre o CLADE II é que este não produziu um:

“Superdocumento” como pacto, compromisso ou declaração; firmou-

se uma pequena carta, simples, porém rica em conteúdo. A atenção

voltou-se para os Documentos de Projeção e Estratégia, que registram

a visão teológica, a teologia da missão, as propostas para o movimento

evangelical em particular, e para o protestantismo em geral na

América Latina. (LONGUINI, 2002, p.186).

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Ao analisar o CLADE II, pode-se encontrar fatores que denominamos pontos de

contato e ecos Lausanne. Denominam-se pontos de contato elementos que aparecem de

maneira convergente nos congressos sem ter havido necessariamente influência de um

sobre outro. Por se tratar de congressos cristãos protestantes, sobre a temática da

evangelização, possuem conceitos comuns a ambos, por isso denominados pontos de

contato. Os Ecos7 de Lausanne são os elementos, características e abordagens que foram

tratados no Congresso Mundial de Evangelização, em Lausanne, e que por influência

deste nos participantes que tiveram acesso a esse conteúdo, foram levados à pauta do

CLADE II.

Ao encontrar esses pontos de contato e esses ecos se poderá mensurar, mesmo

que de maneira introdutória, a proximidade conceitual entre esses dois congressos e a

influência de Lausanne sobre o CLADE II. Para fazer essa análise serão comparados o

PL e a carta final elaborada pelo CLADE II, pois estes documentos resumem as

resoluções e conteúdos de ambos os congressos.

O primeiro ponto de contato que se destaca entre ambos os congressos é o

objetivo deles, que era trabalhar a questão da evangelização. No ponto intitulado

Antecedentes da carta do CLADES II vê-se a seguinte afirmação: “nosso propósito tem

sido considerar juntos a tarefa evangelizadora que somos chamados a cumprir nas

próximas décadas” (LONGUINI,2002, p.192). Em consonância a esta afirmação pode-

se ver as palavras introdutórias do PL ao dizer: “Acreditamos que o evangelho são boas

novas de Deus para todo o mundo e, por sua graça, decidimos obedecer aos

mandamentos de Cristo e proclamá-lo a toda a humanidade e fazer discípulos em todas

as nações.” (STOTT, 2003, p.24).

Deve-se, porém, ressaltar que ao se referirem à evangelização e à proclamação,

ambos partem de uma perspectiva que rompe com a visão conversionista, mas que

baseia-se em um paradigma holístico do ser humano, que enxerga a necessidade de sua

conversão não apenas nos aspectos espirituais e religiosos, mas também sociais,

culturais, políticos e socioeconômicos.

Um segundo ponto de contato que se pode notar entre os dois congressos é a

compreensão que o PL e o CLADE II apresentam sobre a Bíblia, sua autoridade e

poder. A visão de ambos sobre este tema é totalmente convergente. No PL está escrito:

7Utiliza-se aqui uma figura da física que expressa a reverberação das ondas sonoras emitidas em um local, mas que são “ecoadas” em lugares mais distantes, e o lugar distante que aqui nos referimos é o CLADE II

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Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das

Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua

totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o

que ela afirma; é a única regra infalível de fé e prática. Também

afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito

de salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade,

pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através

dela o Espírito Santo fala ainda hoje.(STOTT, 2003.p.89e90)

Em uma porção menor, o CLADE II reafirma os mesmos valores presentes na

citação anterior, dizendo: “Procuramos deliberar sobre nossa missão submetendo-nos à

autoridade suprema da Bíblia, a Palavra de Deus, à direção soberana do Espírito

Santo”(LONGUINI, 2002, p.192). O entendimento expresso em ambos sobre a origem

divina da Bíblia baseia-se na compreensão de que ela é inspirada; isso significa que

Deus foi aquele que soprou aos homens o conteúdo que nela consta. Por acreditar que

ela é a Palavra de um Deus verdadeiro que não mente, e consequentemente verdadeira, é

autoridade, regra de fé e prática, tendo assim autoridade sobre o pensar e agir dos que

nela creem.

Stott, em seus comentários sobre o PL, ao abordar o tema referente à Bíblia,

afirma: “trata-se de sua única Palavra escrita, porque não podemos aceitar as escrituras

supostamente sagradas de outras religiões (por exemplo, o Corão ou o Livro Mórmon)

como se tivessem sido ditadas pelo Espírito e proferidas pela boca de Deus.” (STOTT,

2003, p.32).

Nos dois documentos nota-se um fator de exclusividade e generalidade sobre a

Bíblia. São exclusivistas ao afirmarem que a Bíblia é a única Palavra de Deus, e sua

generalidade está presente na sua propagação, pois nota-se, em ambos os congressos,

que a mensagem bíblica é destinada a todos os povos. O PL afirma: “A mensagem da

Bíblia destina-se a toda a humanidade”. (STOTT, 2003, p.89) O CLADE II afirma:

“Sentimos que devemos responder ao desafio missionário que em nível mundial

representam as milhões de pessoas que não conhecem a Jesus Cristo com Senhor e

Salvador”. (apud LONGUINI, 2002, p.192).

Outro ponto de contato que podemos notar nos documentos é a cristologia. Os

dois apresentam Cristo como o caminho para a salvação, aquele sobre o qual toda a

missão evangelizadora se fundamenta. O CLADE II afirma: “Ao mesmo tempo

sentimos que devemos responder ao desafio missionário que, em nível mundial,

representa as milhões de pessoas que não conhecem a Jesus Cristo como Senhor e

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Salvador.” (LONGUINI, 2002, p.192). O PL apresenta essa mesma compreensão,

porém de forma mais clara e detalhada:

Jesus Cristo, sendo ele próprio o único Deus-homem, que se ofereceu

a si mesmo como único resgate pelos pecadores, é o único mediador

entre Deus e os homens. Não existe nenhum outro nome pelo qual

importa que sejamos salvos. Todos os homens estão perecendo por

causa do pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que

nenhum pereça, mas que todos se arrependam. Entretanto, os que

rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e condenam-se à

separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como "o Salvador do

mundo" não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao

final de tudo, serão salvos; e muito menos que todas as religiões

ofereçam salvação em Cristo. Trata-se antes de proclamar o amor de

Deus por um mundo de pecadores e convidar todos os homens a se

entregarem a ele como Salvador e Senhor no sincero compromisso

pessoal de arrependimento e fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todo e

qualquer nome. Anelamos pelo dia em que todo joelho se dobrará

diante dele e toda língua o confessará como Senhor. (STOTT, 2003,

p.90).

Em ambos, nota-se a unicidade de Cristo, que é tido como único salvador,

mediador entre Deus e os homens. E há também o aspecto universal, pois Cristo é

apresentado como salvador do mundo. Stott apresenta esse entendimento da seguinte

forma: “É porque Jesus Cristo é o único Salvador que ele deve ser universalmente

proclamado” (STOTT, 2003, p.39).

Na palestra de abertura do Congresso de Lausanne, Billy Graham esboça o

pressuposto cristológico que permearia esses dois congressos; nesta ocasião ele afirma a

questão da unicidade de Cristo na salvação e repudia, veementemente, todos os que

“afirmam abertamente serem muitos os caminhos que conduzem a Deus, e que no final,

ninguém será condenado” (GONDIM,2010, p.21).

Depois de analisar os pontos de contato, segue a análise dos ecos de Lausanne

no CLADE II. O primeiro eco que se pode encontrar está logo no início da carta deste (o

CLADE II), onde no segundo ponto, intitulado “Reafirmações”, é declarada a adesão ao

PL. Segundo Longuini: “exigiu-se que os participantes de CLADE II aceitassem, como

pré-requisito para participação no congresso, os termos dele (PL)” (LONGUINI, 2002,

p.187). Na carta do CLADE II a adesão ao PL é apresentada da seguinte forma:

Nesta atitude, reafirmamos nossa adesão à declaração do Primeiro

Congresso Latino-Americano de Evangelização e ao pacto do

Congresso Mundial de Evangelização. Realizado em Lausanne, Suíça,

em julho de 1974. (LONGUINI, 2002.p.192)

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42

Outro eco que pode ser visto no CLADE II é a escolha do tema do congresso,

este faz quase uma transcrição do tema do Congresso Mundial de Evangelização em

Lausanne, este que teve como seu tema “Para que o mundo ouça a voz de

Deus”(STOTT,2003, p.25) e o CLADE II adotou o seguinte tema: “Para que a América

Latina ouça a voz de Deus”(LONGUINI, 2002, 187). Além desses ecos que podem ser

constatados à primeira vista, existem outros que tocaram as estruturas do CLADE II de

maneira significativa, e são a esses que nos dedicaremos agora.

O contexto no qual o PL é originado e ao qual se remete é marcado por um forte

individualismo e capitalismo. Como dito anteriormente, o congresso Mundial de

Evangelização em Lausanne tinha em sua convocação uma face conservadora e

conversionista, mas os participantes, vindos do terceiro mundo, e principalmente da

América Latina, contribuíram de forma significativa para uma mudança no rumo do

congresso, pois estes colocaram na pauta a reflexão sobre as estruturas sociais e os

contextos culturais dos povos onde a missão se realizava.

Uma das contribuições mais marcantes foram as palestras feitas pelos latino-

americanos. Destaca-se, entre essas, a de Samuel Escobar, um missiólogo batista,

peruano, membro fundador da FTL e membro ativo do congresso de Lausanne. Em sua

palestra “A Evangelização e a Busca de liberdade, de justiça e de realização do homem”

ele faz o seguinte pronunciamento:

Imaginem toda a população do mundo condensada numa aldeia de 100

habitantes. Desse número, 67 seriam pobres. Os 33 restantes, em grau

variado, seriam ricos. De toda população, somente 7 seriam norte

americanos. Os outros 93 ficariam vendo os 7 norte-americanos

gastarem a metade de todo dinheiro do mundo, comerem um sétimo

de todo o alimento e usarem metade de todas as banheiras existentes.

Esses 7 teriam dez vezes mais médicos do que os outros 93. Nesse

império, continuariam enriquecendo cada vez mais, enquanto os 93

continuariam empobrecendo.(...) Como parte dos 7 ricos, estamos

procurando alcançar para Cristo o maior número possível dentre os

93. Falamos acerca de Jesus e eles nos veem jogar fora mais comida

do que jamais esperariam consumir. Estamos ocupados construindo

belas igrejas, enquanto eles pedincham à procura de abrigo para suas

famílias. Guardamos dinheiro no banco, mas eles não têm o necessário

nem para comprar comida para os seus filhos. Dizemos que o Mestre

era servo de homens, o salvador se dispôs de tudo o que era seu em

nosso favor, e agora ordena que façamos o mesmo por ele (...) Somos

a maioria rica do mundo. Podemos até esquecer isso, ou achar que o

assunto não tem importância. Mas fica a pergunta: e os 93? Poderão

esquecê-lo também? (apud ROCHA,2002.p.93e94)

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Tais contribuições marcaram o congresso de forma significativa, trazendo à tona

a questão que até então estava sublimada, a saber: “Como anunciar a Palavra e Deus

num mundo tão injusto?” (ROCHA, 2002, p.94). Com isso o congresso ganhou uma

tônica que passou a ser identificada, segundo Rocha, como “espírito de Lausanne”. O

mesmo autor o explica como sendo “a visão integral acerca da missão da igreja. A

teologia de Lausanne é então conhecida como teologia da Missão Integral. O principal

lema desta teologia é o evangelho todo, para todo homem e o homem todo.”

(ROCHA,2002,p.95). E é exatamente este espírito de Lausanne que podemos ver como

um eco que soa no Clade II.

O PL, ao olhar a integralidade do homem e da mulher, depara-se com o

sofrimento e a injustiça social, e passa a partir de então a entender que questões de

cunho social também são responsabilidade da igreja.Nota-se este fato no seguinte

trecho:

Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto,

devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a

sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão.

Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção

de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma

dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não

explorada (STOTT, 2003.p.91)

Neste ponto, colocam-se os fundamentos contra a visão que tinha apenas o

anúncio verbal do evangelho como missão da igreja, pois aqui se torna parte da missão

da igreja o partilhar do interesse pela justiça, pela conciliação da sociedade humana, e

pela libertação dos homens de todo tipo de opressão; com isso estabelece-se um olhar

holístico, e não simplesmente conversionista.

Essa visão era até então ignorada, como se pode notar ao analisar o PL, pelo

arrependimento expresso claramente através da afirmação: “Aqui também nos

arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a

evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas.” (STOTT, 2003, p.91).

Nessa perspectiva a ação social assume um caráter soteriológico, no qual a

transformação do pessoal e social passa a ser consequência da salvação experimentada

por cada cristão. “A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na

totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.”

(STOTT, 2003, p.91)

Estas palavras são ecoadas no CLADE II, e pode-se ouvi-las na seguinte

afirmação:

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Temos ouvido a Palavra de Deus que nos fala e que também escuta o

clamor dos que sofrem. Temos levantado os olhos para o nosso

continente e contemplado o drama e a tragédia em que vivem nossos

povos nesta hora de inquietação espiritual, confusão religiosa,

decadência moral e convulsões sociais e políticas. Temos ouvido o

clamor dos que têm fome e sede de justiça, dos que se encontram

desprovidos do que é básico para sua subsistência, dos grupos étnicos

marginalizados, das famílias destruídas, das mulheres despojadas do

uso de seus direitos, dos jovens entregues aos vícios ou impulsionados

à violência, das crianças que sofrem fome, abandono, ignorância e

exploração. (LONGUINI,2002, p.192)

O CLADE II recebe não apenas o eco que o estimula para um olhar da totalidade

humana, mas também o exemplo de arrependimento.No sétimo ponto,intitulado de

“Confissões”, são reconhecidas as falhas cometidas pela igreja que até então pecara em

sua missão:

Confessamos que como povo de Deus nem sempre temos atendido às

demandas do evangelho que pregamos como demonstra nossa falta de

unidade e nossa indiferença frente às necessidades materiais e

espirituais de nosso próximo. Reconhecemos que não temos feito tudo

o que com a ajuda do Senhor deveríamos realizar em benefício de

nosso povo. (LONGUINI,2002, p.193).

O mais notável deste eco é o seu comprometimento com uma mudança de

paradigma.Nos dois congressos, nota-se uma postura que se compromete com a

mudança. Não há apenas o olhar para a realidade social e a confissão, o arrependimento,

ou o remorso; há também uma tomada de decisão por mudança de posturas, e

abordagens. E isso é claramente expressado nos dois documentos, No PL vemos a

seguinte afirmação:

A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo

sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não

devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que

existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu

reino e devem procurar não só evidenciar, mas também divulgar a

retidão do reino em meio a um mundo injusto. (STOTT,2003,p.91).

Juntamente a essa afirmação que desafia para uma mudança, pode-se somar a

seguinte:

Todos nós estamos chocados com a pobreza de milhões de pessoas, e

conturbados pelas injustiças que a provoca. Aqueles dentre nós que

vivem em meio à opulência aceitam como obrigação sua desenvolver

um estilo de vida simples a fim de contribuir mais generosamente

tanto para aliviar os necessitados como para a evangelização deles.

(STOTT, 2003,p.93).

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Esta chamada a um estilo de vida simples é tido por Stott como a expressão do

PL que talvez tenha causado maior impacto em seus signatários, pois esta os desafia a

contentar-se com o necessário e romper com os luxos e extravagâncias. Porém, este

estilo de vida simples não é apresentado como um fim em si mesmo, mas visa o

disponibilizar-se em sua integralidade para “contribuir mais generosamente tanto para

aliviar os necessitados como para a evangelização deles”. (STOTT, 2003, p.93).

Na carta do CLADEII nota-se a mesma preocupação em não deixar o documento

limitar-se à análise do presente e às confissões sobre o passado. Após abordar a questão

das demandas sociais e das falhas da igreja nesse aspecto, faz-se a seguinte proposta de

ação:

Propomo-nos a depender do poder transformador do Espírito Santo

para o fiel cumprimento da tarefa que está diante de nós. Cremos que

na próxima década o Senhor poderá abençoar de maneira singular o

seu povo, salvar integralmente a muitíssimas pessoas, consolidar ou

restaurar nossas famílias e levantar uma grande comunidade de fé, que

seja uma antecipação, em palavra e ato, do que será o reino em sua

manifestação final. (LONGUINI, 2002.p.193)

Nota-se, portanto, que o eco da responsabilidade social que a igreja tem para

com o seu contexto foi ouvido pelo CLADE II em sua totalidade. Isso se evidencia em

sua carta final, em que há um olhar para a realidade, o reconhecimento do erro e o

comprometimento com novas resoluções e ação frente ao futuro.

Outro eco que se destaca na carta do CLADE II é a abordagem e o enfoque

dados à cultura. Stott afirma que a “cultura foi um dos principais temas de meditação e

debate em Lausanne” (STOTT, 2003, p.66). No PL a cultura é apresentada como

possuidora de elementos bons e belos, por compreender que ela vem do homem e da

mulher que foram criados por Deus à sua imagem e semelhança. A cultura, por sua vez,

é portadora de elementos divinos, mas, apesar disso, ela precisa ser analisada e julgada a

partir dos preceitos bíblicos, pois esta, por ter o homem cometido pecado, carrega a

contaminação causada por esse ato. O PL expõe esses elementos da seguinte forma:

A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque

o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e

em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está

manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não

pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia

todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste

na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas.

(STOTT,2003,p.93-94).

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O PL coloca todas as culturas no mesmo nível, reconhecendo que não há a

supremacia de uma em detrimento da outra; há apenas diferenças e não superioridades.

Na esteira dessa compreensão vem uma crítica às missões8 que em alguns momentos

importam a cultura do seu país de origem e buscam sobrepô-la à cultura para a qual

estão levando o evangelho. Padilla refere-se a esse acontecimento como “cristianismo

etnocêntrico”. (STOTT, 2003, p.68). Este é assim denominado por identificar o

Cristianismo com uma determinada cultura ou expressão cultural, ignorando e

subjugando assim as culturas dos países que recebem o evangelho9. No PL vê-se essa

crítica no seguinte trecho:

As missões muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho,

uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos

ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os

evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de

tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos

dos outros. (STOTT,2003.p.94)

A partir desse reconhecimento do valor e da importância da cultura, e após a

crítica ao “cristianismo etnocêntrico”, o PL apresenta sua visão e proposta destacando

que o ideal é que todas as igrejas sejam “profundamente enraizadas em Cristo e

estreitamente relacionadas com a cultura local.” (STOTT, 2003, p.93). Neste ponto é

considerada a dupla orientação da igreja, composta por uma raiz cristã e por um

relacionamento com a cultura. Em consonância com essas palavras vê-se no primeiro

ponto do PL, “O propósito de Deus”, a seguinte confissão: “Confessamos,

envergonhados, que muitas vezes negamos o nosso chamado e falhamos em nossa

missão, em razão de nos termos conformado ao mundo ou nos termos isolado

demasiadamente” (STOTT, 2003, p.89). Com isso, pode-se afirmar que esse tema foi

abordado no PL de maneira a dignificá-lo dentro da ótica missiológica e eclesiástica;

reconhecendo as falhas cometidas ao longo do tempo contra as culturas, e apresentando

um novo horizonte que busca um caminhar de mãos dadas, dialógico, entre igrejas e

culturas.

No CLADE II esse eco foi ouvido, o que se pode constatar na aparição deste

tema na carta final do congresso, embora de forma muito discreta. Também pode ser

8 Refere-se às ações de evangelização realizadas pelas as agências missionárias e seus missionários. 9Stott, após sua citação de Padilla, comenta que este ao fazer a crítica sobre o “cristianismo etnocêntrico” estava referindo-se tanto ao colonialismo europeu como à maneira de viver americana, mas que ele ao mesmo tempo teve o cuidado de abordar a questão a partir de uma perspectiva que, não apenas esses, mas outros exemplos poderiam ser dados.

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visto na palestra de abertura, na qual foram apresentados os objetivos do encontro, e na

própria metodologia de trabalho adotada, e, neste, pode-se notar de forma mais clara e

direta.

Em uma análise da carta final do CLADE II pode-se ver duas referências

indiretas à cultura. São estas: “Decidimos renovar nosso compromisso de lealdade ao

evangelho e de fidelidade à tarefa de evangelizar no contexto de nossa América Latina”.

(LONGUINI, 2002, p.192) E uma segunda referência se encontra nessa afirmação:

Temos visto que muitos latino-americanos estão se entregando à

idolatria do materialismo, submetendo os valores do espírito aos

valores impostos pela sociedade de consumo, segundo a qual o ser

humano vale não pelo que é em si mesmo, mas pela abundância dos

bens que possui. Há também os que, em seu desejo legítimo de

reivindicar o direito à vida e à liberdade ou de manter o estado de

coisas vigente, seguem ideologias que oferecem uma análise parcial

da realidade latino-americana e conduzem a formas diversas de

totalitarismo e à violação dos direitos humanos. (LONGUINI, 2002,

p.192e193).

Na primeira citação, pode-se interpretar o “no contexto Latino-Americano”,

como um eco do PL sobre a cultura, pois a evangelização aqui é colocada para inserir-

se, estar dentro de, no contexto, na realidade, no dia a dia, nas necessidades e

festividades, ou seja, na cultura da América latina. A decisão não é por uma

evangelização que acontece fora da cultura, mas sim dentro desta.

Na segunda citação ouve-se um eco mais nítido do PL, pois a crítica feita neste

sobre as culturas que se impõem às outras é apresentada desta forma: “ideologias que

oferecem uma análise parcial da realidade latino-americana” denunciando o

distanciamento da cultura.

A questão da cultura pode ser percebida de forma mais clara nas palavras de

abertura do CLADE II. Samuel Scobar salientou os objetivos do congresso conforme a

carta convocatória e na metodologia de trabalho adotada. Ele afirma que o objetivo do

congresso era: “Traçar linhas diretrizes para uma comunicação profunda e eficaz do

evangelho no contexto latino-americano.”(apud LONGUINI,2002, p.18). Esta

afirmação traz à tona a responsabilidade do congresso em conseguir descobrir meios

para que se estabeleça uma comunicação profunda e eficaz do evangelho no contexto

latino-americano, fazendo assim, coro com o PL que apresenta como seu objetivo

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“igrejas profundamente enraizadas em cristo e estreitamente relacionadas com a

cultura local.10” (STOTT, 2003, p.93).

Essa visão foi também implantada na metodologia de trabalho do CLADE II.

Cada congressista participou inicialmente de um período preparatório, no qual foram

realizadas leituras e análises da realidade latino-americana de cada região. Neste

momento muitos aspectos da cultura foram trazidos à luz e consequentemente inseridos

na pauta do congresso.

Os relatórios de cada região foram igualmente organizados e apresentados,

podendo assim ser conhecida a face multicultural latino-americana. Todo o material

que neste momento foi elaborado pelos grupos serviu de base para o fazer teológico,

para a leitura da cultura e do contexto latino-americano, e também para a reflexão da

eclesiologia. O objetivo dos organizadores com isso era refletir sobre algo concreto,

tomar a realidade e a cultura local como ponto de partida. Segundo Longuini:

CLADE II deixou marcado na vida dos participantes e registrado para

a história que o objetivo principal, no que tange ao método de

trabalho, não era impor “um pacote concebido em terra estranha”; ao

contrário, incentivou a participação e a reflexão de todos. Esse

processo corajoso, criativo, dialógico e testemunhal ficou claro na

variada, riquíssima e relevante produção de todos os grupos de

trabalho. (LONGUINI, 2002,186).

Pode-se averiguar que o eco do PL sobre a cultura foi ouvido no CLADE II,

desde suas críticas quanto ao passado e ao presente, quanto a seus objetivos para o

futuro, apresentando princípios e fundamentos para que as culturas sejam respeitadas,

admiradas, mas que sejam biblicamente avaliadas.

Após essa análise do CLADE II à luz do Congresso de Lausanne, pode-se dizer

que este foi para o CLADE II mais que apenas um evento antecessor; foi sim um objeto

inspirador, instigador de novos debates e também grande agente influenciador em sua

matriz.

1.2.4. CLADE III

Logo após o término do CLADE II a FTL iniciou a organização do CLADE III,

que aconteceu de 24 de agosto a 04 de setembro de1992, na cidade de Quito, Equador.

Participaram deste evento 1080 pessoas, que expressaram a multifacetada imagem do

10 Grifo nosso

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universo evangelical latino-americano. Longuini apresenta um breve relatório que

consegue mostrar a riqueza da diversidade do grupo que participou do CLADE III:

A presença foi representativa: Mulheres, 30%; pastores, 35%; leigos,

35%; representantes da hierarquia eclesiástica, 5%; acadêmicos, 5%;

observadores e jornalistas 5%. Devemos destacar, além disso, a

participação feminina e de uma expressiva delegação de indígenas

cristãos de alguns países do continente.Os congressistas do Clade III

vieram de 26 países da América Latina: Peru (124); Brasil (115);

Equador (95); Argentina (60); México (49); Chile (41); Guatemala

(34); Venezuela (3); Costa Rica (29); Colômbia (26); Bolivia (20);

Nicarágua (20); Cuba (170; Honduras (15); Uruguai (11); El Salvador

(9); Paraguai (8) Panamá (7); República Dominicana (5); Haiti (1);

Belize (1); além disso, Ásia, África e Europa (17) e Estados Unidos

(17). (LONGUINI,2002, p.197e198)

O tema do congresso foi: “Todo o Evangelho para todos os povos a partir da

América Latina”. Este tema foi dividido em três partes, as quais foram trabalhadas de

maneira específica. Como resultado do congresso, foi produzido um documento

chamado “Declaração de Quito”.Esta declaração apresenta um resumo de cada

resolução que o CLADE III tomou acerca destes temas.

Sobre a primeira parte, “Todo o evangelho”, a Declaração divide-o nos seguintes

subtemas: o evangelho e a Palavra de Deus; o evangelho e a criação; o evangelho do

perdão e da reconciliação; o evangelho e a comunidade do Espírito; o evangelho e o

reino de Deus; o evangelho de justiça e poder.

A segunda parte, “Para todos os povos”, a declaração apresenta que esta foi

trabalhada nos seguintes aspectos: a universalidade da missão; toda igreja é missionária;

missão integral; a nova consciência missionária na América Latina.

Na terceira e última parte “A partir da América Latina” apresenta os seguintes

enfoques: evangelho e política; o evangelho de justiça; o evangelho da nova criação.

A partir de um olhar à luz da Declaração de Quito, mesmo que superficial, sobre

o que foi o CLADE III, pode-se notar a presença do espírito de Lausanne em cada tema

abordado, pois em todos eles está contida uma visão integral sobre missão, proclamação

e reino de Deus. Aspectos como ação social, cultura, justiça, política, evangelização,

dentre outros que compõem as inquietações presentes no PL, aparecem na declaração de

forma muito marcante.

Ao analisar a Declaração de Quito pode-se notar que esta traz as seguintes

afirmações que expressam o espírito de Lausanne:

Em Cristo, Deus está restaurando a dignidade humana, transformando

as culturas e conduzindo sua criação até a redenção final[...] Deus em

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Cristo cria uma comunidade perdoada e reconciliada chamada a ser

agente de perdão e reconciliação em um contexto de ódio e

discriminação. [...] Nela se opera uma transformação radical que

mostra o propósito divino de eliminar toda injustiça, opressão e sinais

de morte. Como comunidade do Espírito, a igreja deve proclamar

liberdade a todos os oprimidos pelo diabo e impulsionar uma pastoral

de restauração que traga consolo aos que sofrem discriminação,

marginalização e desumanidade. [...] Durante esses 500 anos nosso

continente tem testemunhado desprezo e destruição sistemática das

culturas autóctones em nome da evangelização. Torna-se, então,

condenável a submissão e o ultraje da qual foram vítima os povos

indígenas. Por isso, é imprescindível buscar a reconciliação entre

nossos povos. Por sua vez, temos que reconhecer que toda cultura

pode ser veículo adequado para comunicar fielmente o evangelho. A

partir da perspectiva deste, toda cultura deve ser entendida, respeitada

e promovida, sem pressupor a superioridade de uma cultura sobre

outras. [...] A igreja deve afirmar e promover a vida negada por todo

pecado, pelas estruturas injustas e por grupos de interesse mesquinho.

Em seu seio, deve-se pôr fim às diferentes formas de descriminação

predominantes na sociedade por motivos de sexo, classe social,

condição econômica, nível educacional, idade, nacionalidade e raça

[...] Nosso compromisso com Jesus Cristo como o único mediador da

paz de Deus fundamenta a convicção de que sua obra redentora é

pertinente a todo conflito e sofrimento humano [...] A igreja deverá

afirmar que todo aspecto da vida nacional é um campo de ação

legítimo para o serviço cristão [...] A visão, a ação e a reflexão da

igreja devem fundamentar-se no evangelho que, quando é

compreendido em sua integridade, proclama-se em palavra e obra e

dirige-se a todo o ser humano. (LONGUINI, 2002, p. 205-210)

Nesta citação consegue-se ver muitos ecos de Lausanne de forma clara e

desenvolvida, porém, não só nesta citação mas em toda a Declaração de Quito11os

elementos do espírito de Lausanne podem ser vistos em sua totalidade.

Não apenas o conteúdo apresentado na declaração aponta para uma forte

influência recebida de Lausanne, mas, os dois documentos (PL e Declaração de Quito)

possuem duas características em comum em seu corpo, a saber: “Confissão” e

“Comprometimento com a mudança”.

Na Declaração de Quito essas duas características aparecem nas seguintes

afirmações12:

Como igreja latino-americana confessamos que temo-nos identificado

mais com os valores culturais estrangeiros que com os autenticamente

11 Muitas outras afirmações poderiam ser citadas e colocadas em paralelo ao seu correspondente no PL, porém limita-se a apenas esta por conseguirem expressar a influência do Congresso de Laussanne no CLADE III. 12 Por já ter sido discorrido, no presente trabalho, sobre a presença dessas duas características no PL, apresentam-se nesta parte da pesquisa apenas as citações que mostram a presença da “confissão” e “comprometimento com a mudança” na Declaração de Quito.

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nossos [...] Louvamos a Deus pelo privilégio que nos tem concedido

de participar do Terceiro Congresso Latino-Americano de

Evangelização neste momento crítico da história de nossos povos. Tal

privilégio nos move a renovar nosso compromisso com o Senhor Jesus

Cristo e com sua Igreja como portadora da boa-nova do reino de amor

e justiça que Ele veio estabelecer. Humildemente nos encomendamos

a Deus para que Ele, por meio de seu Santo Espírito, ponha em nós o

propósito de agradar-lhe em tudo, segundo sua boa

vontade.(LONGUINI,2002,p. 207-211)

A partir dessa abordagem desse congresso pode-se afirmar que o “espírito de

Lausanne” foi transmitido ao CLADE III, e, em seu conteúdo, reflexões e metodologia,

a teologia da M.I. foi contemplada de maneira a expandir e aprofundar os conceitos

anteriormente obtidos.

1.2.5. CLADE IV

Oito anos após o CLADE III foi realizado na mesma cidade, Quito, Equador, o

CLADE IV. Este congresso, assim como o anterior, foi organizado pela FTL. Do dia 02

ao dia 08 de setembro de 2000, 1.300 pessoas se reuniram para participar do CLADE

IV, que tinha os seguintes objetivos, expressados na carta convocatória:

Reafirmar o lugar essencial das Escrituras na formação do

pensamento, vivência e missão da comunidade cristã; destacar o

papel, a presença e o poder do Espírito Santo na missão da igreja

latino-americana; refletir sobre as distintas expressões teológicas,

missiológicas e litúrgicas da igreja evangélica no continente; desafiar

a igreja evangélica a ser um agente de mudança na sociedade atual,

que se caracteriza por violência, corrupção, pobreza e injustiça; dar

testemunho público do poder de Deus no crescimento da igreja

evangélica na América Latina durante o século que se finda.

(LONGUINI,2002,p. 214e215).

Este evento deu continuidade às reflexões dos congressos anteriores organizados

pela FTL, abordando temas e questões a partir do olhar holístico da M.I. É notória a

forma como se podem encontrar ecos do PL e um comprometimento com a teologia da

M.I. neste CLADE. Estes ecos estão presentes nos temas das palestras e consultas, tais

como: estruturas de poder; juventude e sociedade; missão transcultural; missão integral;

política e direitos humanos; pastoral e missão; e fé e economia. Todos estes temas

foram abordados a partir de uma leitura integral.

Além dos temas, o documento final apresenta muitos sinais de uma forte

influência do PL, que logo no início apresenta um comprometimento com o processo de

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continuidade dos CLADEs anteriores e com a M.I., o que se pode notar na seguinte

afirmação:

O quarto Congresso Latino-Americano de Evangelização (CLADE

IV), como continuidade de seus trinta anos de peregrinação, como o

propósito de refletir, à luz das Escrituras, e discernir os desafios das

igrejas evangélicas no nosso contexto para levar a cabo a missão

integral.(LONGUINI,2002.p. 214)

Outro ponto que pode ser entendido como eco de Lausanne está na estrutura da

Declaração de Quito, pois ela traz a “Confissão” e o “Comprometimento com a

mudança” dentro de sua resolução, conforme o PL. Deve-se salientar que,

diferentemente do texto produzido no final do CLADE III, e até do próprio PL, que

apresentam essas características em seus textos finais, porém não destinam um

subtópico exclusivo para estes dois enfoques (confissão e comprometimento), a

Declaração de Quito, por sua vez, traz esses dois temas de maneira explícita em sua

estrutura, subdividindo sua declaração em cinco partes e destinando uma para confissão

e outra para o comprometimento com a mudança. As divisões que compõem a

declaração de Quito são as seguintes: “Concordamos que” (neste ponto é apresentado o

contexto da América Latina e os problemas vivenciados nela); “Diante do exposto,

agradecemos a” (aqui é feito um agradecimento a Deus pelo CLADE IV);

“Confessamos que, muitas vezes” (neste momento são feitas as confissões dos erros

cometidos pela igreja frente a todas as demandas e responsabilidades não respondidas);

“Reconhecemos que” (nesta parte a Bíblia é apresentada como base do pensar e agir

integralmente da igreja); e “Nos comprometemos a” (aqui são feitas afirmações de

comprometimento com a mudança). (LONGUINI, 2002, p. 214-217)

O CLADE IV ocupa uma função de reafirmação dos conceitos desenvolvidos

nos CLADEs anteriores. Seus pontos de contato e seus ecos ouvidos dos congressos

anteriores podem ser encontrados desde sua estrutura até os temas tratados nesse

encontro, e também em seu documento final.

1.2.6. CLADE V

Doze anos após esse congresso aconteceu o CLADE V13, dos dias 09 a 13 de

julho de 2012, em San José, Costa rica, e, assim como os encontros anteriores,também

13 Ver anexo 6 texto final do CLADE V

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organizado pela FTL. Pouco mais de 800 participantes se reuniram sob o tema “Seguir

Jesus e seu Reino de vida. Guia-nos Espírito Santo”.14

Embora o evento tenha acontecido apenas em 2012, sua organização teve início

em 2009, segundo Ruth Padilla, que afirma que o CLADE V foi concebido não dentro

de uma lógica de um simples evento, mas como um “Processo” composto pelas

seguintes etapas: “Movimento de participação CLADE V” (de agosto de 2009 até

meados de 2012),“Encontro CLADE V” (meados de 2012 na Costa Rica), “Movimento

de transformação CLADE V”(meados de 2012 em diante)”. (Padilla, Ruth. Congressos

Latino-Americanos de Evangelização (CLADEs) - 1969-2012.

Em:<http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=255>. Acesso em:27 maio 2015)

Assim como os demais CLADEs, como resultado desse encontro foi redigido

um documento que apresenta de forma resumida a compreensão obtida sobre o tema

central, este que fora dividido e trabalhado em quatro partes: “Sigamos a Jesus no

caminho da vida”, “Reino da Vida”, “O Espírito de Vida” e “Comunidade trinitária”.

Ao analisar esse documento, podem-se constatar pontos que se apresentam como

continuidade dos congressos anteriores, mas também eixos que surgem como elementos

novos.

Olhando para a estrutura do documento vê-se uma nova formatação. Ele é

dividido em quatro temas, subdivididos em duas partes: “declaração” e

“recomendação”. Embora a primeira parte dessa subdivisão não receba o título de

declaração, é exatamente o que se faz no início de cada subtópico, seguido por uma

recomendação, nesse caso, é intitulada expressamente dessa forma. Todas as quatro

recomendações iniciam da seguinte forma: “À luz do CLADE V, recomenda-se que os

núcleos da FTL, em cada uma de suas regiões, promovam e fomentem o diálogo, a

reflexão bíblico-teológica e contextual, bem como as publicações dos significados e

práticas” (Carta Pastoral Do Quinto Congresso Latino-Americano De Evangelização -

CLADE V. Em: <http://ftl.org.br/new/index.php/41-clade-v/informacoes/209-carta-

pastoral-do-quinto-congresso-latino-americano-de-evangelizacao-clade-v> Acesso em:

25 junho 2015)

Esta “Recomendação” é um elemento que se configura como algo novo se

comparado aos documentos finais dos CLADEs anteriores, que não apresentam este

14 Pelo fato de o CLADE V ser um congresso relativamente recente, poucas publicações foram feitas sobre o mesmo. Desta forma, a construção do panorama do congresso será feita a partir do documento final de relatos dos participantes, divulgados na internet.

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subtópico no corpo de seu texto. Deve-se salientar que apenas o início dessa

recomendação é repetido nas quatro partes; cada uma delas possui uma continuação

diferente que remete o leitor a um comprometimento com a declaração específica na

qual ela está inserida.

Outro ponto estrutural do corpo do texto que pode ser destacado, porém, como

uma continuidade dos congressos anteriores é o elemento “confissão” e

“comprometimento/engajamento com a mudança”. Embora esses não apareçam como

em alguns dos documentos finais dos CLADEs anteriores como um tópico, no

documento final do CLADE V esses dois enfoques aparecem no corpo do texto da

seguinte forma:

Frente aos conceitos reducionistas, mercantilistas e místicos do Reino

de Deus, reconhecemos a falta de coerência entre o nosso

compromisso verbal com a missão desse reino e nossa práxis.

Promovemos uma abertura para exploração desse reino, mas que leve

em consideração a diversidade, a ideia de comunidade, a

solidariedade, e que finalmente, seja parte da agenda de reflexão para

todos e todas. [...]Precisamos assumir nossa responsabilidade como

agentes de esperança em todos os âmbitos de morte da sociedade [...]

Reconhecemos que, com frequência, nos vemos seduzidos pelo poder

egoísta que limita a possibilidade de vida para os outros e promove

comunidades fechadas e apáticas. Reafirmamos a promoção de um

modelo de comunidade trinitária que celebra o diálogo, o encontro, a

interculturalidade e a missão de Deus. [...] Convidamos os seguidores

e seguidoras de Jesus Cristo a formar comunidades de iguais, onde a

equidade, a justiça, a celebração, a liberdade e a responsabilidade

floresçam como evidências concretas de vidas transformadas.15(Carta

Pastoral Do Quinto Congresso Latino-Americano De Evangelização -

CLADE V. Em: <http://ftl.org.br/new/index.php/41-clade-

v/informacoes/209-carta-pastoral-do-quinto-congresso-latino-

americano-de-evangelizacao-clade-v> Acesso em: 25 junho 2015)

Somam-se a essas afirmações de confissão e engajamento todos os subtópicos

“Recomendações”, pois nesses estão contidas propostas que visam mudanças. Sendo

assim, o CLADE V dá continuidade à postura também presente nos CLADEs anteriores

de reconhecer os erros da igreja Latino-Americana e de se comprometer com as

mudanças necessárias.

Outros elementos que surgem nesse congresso como continuidade dos anteriores

são: as integralidades (bíblica, humana e da humanidade); a valorização do contexto;

questões de gênero e etnias; Reino de Deus; responsabilidade social; e meio ambiente.

Porém, existe uma temática que surge no congresso que até então não havia sido

colocada nos CLADEs anteriores, que é a abertura para o caminho de cooperação com

15 Negrito nosso

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movimentos que se configuram como manifestações do reino de Deus, independentes de

uma confissão religiosa. Esse fato pode ser visto na seguinte afirmação:

Reconhecemos que o reino de Deus também se manifesta nos

movimentos que lutam em favor da vida, do cuidado com a criação, da

igualdade no tratamento entre homens e mulheres de todas as idades e

da justiça social. Portanto, como agentes ativos do reino, devemos nos

unir a essas lutas, assumindo ao mesmo tempo uma voz profética que

promova os valores desse reino. (Carta Pastoral Do Quinto

Congresso Latino-Americano De Evangelização - CLADE V. Em:

<http://ftl.org.br/new/index.php/41-clade-v/informacoes/209-carta-

pastoral-do-quinto-congresso-latino-americano-de-evangelizacao-

clade-v> Acesso em: 25 junho 2015)

É interessante notar que nessa afirmação a igreja aceita também a posição de

cooperadora e não apenas protagonista na luta em favor da vida. Nos outros CLADEs,

vê-se uma forte ênfase na responsabilidade da igreja frente às demandas sociais, porém

em todos eles a possibilidade de uma participação com outros movimentos não é citada;

já neste congresso vê-se uma abertura para um diálogo missional com outros agentes

além da igreja.

Neste ponto pode-se afirmar que além de todas as aproximações comuns entre os

CLADEs esse, em especial, apresentou desdobramentos e questões que anteriormente

não haviam sido trabalhadas nos congressos.

1.2.7. CLADEs: Continuidades e Novidades

Ao esboçar a trajetória da Missão Integral pelos congressos (Lausanne e

CLADEs), pode-se notar que estes serviram de berço para seu nascimento e também

nutriram sua teologia com reflexões que permearam todos os congressos em uma

relação de continuidade. O resultado desses eventos na America Latina foi o surgimento

da teologia evangélica latino-americana, a Teologia da M.I.,e pôde-se constatar isso no

desenrolar de cada congresso, ao abordar, mesmo que de maneira superficial, os temas e

visões principais de cada um deles. Porém, esse processo de continuidade, que se pode

notar desde o primeiro até o último CLADE, possui alguns elementos que passam por

evoluções significativas e outros que são acrescentados na pauta do fazer teológico dos

congressos.

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Destaca-se, em meio às evoluções ocorridas nesses congressos, o olhar atencioso

para as questões indígenas e de gênero. Ao analisar esses dois elementos pode-se

constatar uma grande evolução desde o primeiro congresso até o CLADE V.

Nos congressos CLADE I, Lausanne, e CLADE II há um silêncio nos

documentos finais quanto aos indígenas e às mulheres, porém a partir do CLADE III

afirmações específicas e significativas aparecem nos textos finais dos CLADEs III e IV.

Na Declaração de Quito (documento final do CLADE III) vê-se as seguintes afirmações

que sinalizam essa evolução:

Durante esses 500 anos nosso continente tem testemunhado desprezo

e destruição sistemática das culturas autóctones em nome da

evangelização. Torna-se, então, condenável a submissão e ultraje do

qual foram vítima os povos indígenas.[...] A persistência do machismo

em nossa cultura tem tornado mulheres vítimas de formas diversas de

discriminação, que impedem sua plena participação no papel social e

de cidadania. [...] ante essa situação, nossa consciência cristã não pode

fechar os olhos.[...]A igreja deve afirmar e promover a vida negada

por todo pecado, pelas estruturas injustas e por grupos de interesses

mesquinhos. Em seu seio, deve-se pôr fim às diferentes formas de

discriminação predominantes na sociedade por motivos de sexo,

classe social, condição econômica, nível educacional, idade,

nacionalidade e raça. (LONGUINI,2002 ,p.207e208).

No CLADE IV as afirmações que apresentam essas questões são as seguintes:

Confessamos que, muitas vezes [...] temos discriminado e

marginalizado a mulher, os indígenas, os negros, as crianças, os

jovens, os velhos, os incapacitados, os imigrantes e outros grupos

dentro da igreja. Temos negado, dessa maneira, que eles são imagem e

semelhança de Deus e desconhecido seu enorme potencial humano e

missionário.[...]Nos comprometemos a [...] valorizar e incluir todos os

grupos sociais e culturais excluídos (crianças, jovens, mulheres,

negros, indígenas, incapacitados, imigrantes etc.) como sujeitos a

quem também é dirigido o evangelho do reino de Deus.[...] (Nos

comprometemos a) participar na missão de Deus, dando testemunho

integral do evangelho, vivendo uma espiritualidade cristã inclusiva,

exercendo uma mordomia da criação que coloque o material a serviço

do espiritual e o poder em benefício dos demais e para a glória de

Deus, e promovendo reconciliação entre raças, classes sociais, sexo,

gerações e do homem com o meio ambiente. (LONGUINI, 2002,

p.216 e 217).

Um fato que pode ser tido como desencadeador dessa evolução é a presença dos

indígenas e das mulheres de maneira mais expressiva desde o CLADE III. Scobar,

comentando este congresso, afirma: “a presença indígena foi massiva e participativa.”

(SCOBAR, 1994, p.9). Longuini registra o mesmo fato em sua introdução, ao tratar

deste congresso, dizendo: “Devemos destacar, além disso, a participação feminina e de

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uma expressiva delegação indígena” (2002, p.197). Digno de nota é o fato de as

mulheres terem sido 30% da presença representativa do evento. Esta presença tão

marcante e participativa dos dois grupos trouxe essa evolução na ótica da M.I.

Scobar afirma que:

Houve também um esforço intencional por parte dos organizadores

por corrigir o clássico machismo latino-americano que tem tido

influência implícita e explícita sobre a comunidade evangélica. A

comissão organizadora contou com a presença de Nancy Olson da

Venezuela e Neuza Itioka do Brasil. Itioka organizou e dirigiu um

programa de oração que precedeu o CLADE III por mais de um ano.

Como expositoras bíblicas pela manhã participaram Felicity

Houghton, da Bolívia, Rosane, do Brasil, e Consuel Ron, da América

Central. Nas palestras teológicas se contou com o aporte de Sileda

Steuernagel, do Brasil, e Carmem Pérez, de Cartago, presidente na

nova diretoria da FTL. Dorothy de Qhuijada, do Peru,foi eleita

tesoureira da dita diretoria. Tudo fez prever que de maneira explícita a

FTL abre suas portas a uma participação mais ativa das mulheres no

ministério de fazer teológico evangélico. (SCOBAR, 1994, p.9-11)

Quanto à participação indígena deve-se considerar que o local da realização

desse congresso favoreceu a participação desse grupo, pois no Equador, o país anfitrião,

as igrejas evangélicas vivenciavam um crescimento exponencial entre as comunidades

indígenas de fala quechua, e sua participação favoreceu essa evolução, pois trouxe à

pauta alguns questionamentos missilógicos importantes, principalmente sobre o tema

evangelho e cultura.

Um fator que se configura como novidade entre os CLADEs surgiu no último

congresso realizado, no qual a possibilidade de participação em ações com órgãos para-

eclesiásticos, foi aberta. Nesse novo enfoque a igreja passou a aceitar a possibilidade de

ser cooperadora na luta em favor da vida. Nos outros CLADEs, vê-se a ênfase na igreja

como a grande responsável por oferecer esses sinais de manifestação do Reino frente

aos problemas sociais, porém em todos eles essa relação de cooperação com outros

movimentos não é citada. Entretanto, no CLADE V dá-se um passo em direção a um

diálogo missional extra-membresia e extra-eclesiástico.

Deve-se destacar que a FTL foi a grande responsável por articular todas as

demandas dessa teologia por meio de redação de artigos e livros, realização de eventos

como os CLADEs e elaboração de disciplinas acadêmicas para cursos teológicos.

Podemos concluir este esboço histórico com as palavras de Sanches, que

resumem esta trilha histórica com a seguinte afirmação:

A teologia da Missão Integral é uma forma de Teologia Latino-

Americana. Ela parte de uma tradição cristã definida: o protestantismo

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evangélico latino-americano. Seu surgimento está diretamente

relacionado à luta pela autonomia e identidade deste segmento

religioso cristão, em relação aos esforços missionários estrangeiros

que trouxeram a fé evangélica para a América Latina. Porém, seu

contexto de surgimento também é a turbulenta situação concreta da

América Latina, com seus problemas sociais, econômicos e culturais.

O esforço da missão integral é não desconsiderar nenhum destes

aspectos na análise da realidade na qual a Igreja é chamada a

missionar. Ela parte do pressuposto de que a realidade é complexa e

envolve um emaranhado de estruturas e situações que afetam a missão

da igreja. A vida no mundo é envolvente e necessita ser tratada

teologicamente nesta perspectiva. Tal compreensão impõe à Teologia

da Missão uma responsabilidade contextualizadora e holística que

dará a ela o caráter de Missão Integral. (SANCHES, 2009, p.103).

Frente ao que foi exposto pode-se esquematizar a trajetória da M.I.via

CLADEs da seguinte forma:

Mapa 2- Mapa Histórico da Missão Integral via congressos

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1.3. Seu Método: O Círculo hermenêutico

A M.I. surge a partir de uma hermenêutica contextual; toda a sua fundamentação

teórica e sua práxis missiológica partem dessa forma de leitura. Sanches (2009) sinaliza

esse fato ao dizer que a teologia da M.I. nasce de uma leitura integral de dois elementos,

a saber: contexto e Palavra de Deus.Sanches (2009) deixa isso claro em sua afirmação

que diz que a teologia da M.I.:

Se faz a partir de um círculo hermenêutico, que contempla o contexto:

a realidade sócio-histórica da América Latina e a situação eclesial-

cultural do evangelicalismo latino-americano e sua necessidade de

transformação em função da vida; outro eixo, a palavra de Deus, que

também deve ser lida contextualmente em vista da vida e da vontade

de Deus para ela no mundo. Contexto e palavra pedem para ser lidos

de modo integral, a fim de que gerem uma missão também integral. O

círculo que contorna esses pontos, integra-os e dá sentido a eles, é o

Reino de Deus como chave hermenêutica. (SANCHES,2009, p.112).

O círculo hermenêutico foi objeto central de discussão no terceiro volume das

publicações dos boletins da FTL. Neste volume, Enio R. Mueller, em seu artigo

intitulado “Evangelização e hermenêutica”, apresenta de forma didática esta maneira de

se relacionar texto e contexto. Neste artigo ele conceitua a hermenêutica da seguinte

forma: “processo de interpretação, sendo, a rigor, parte integrante do dia a dia de todos.”

(MUELLER, 1984, p.9). Dentro dessa lógica, o ato de ouvir e tentar entender se

configura como um exercício hermenêutico. Porém, a tarefa enfrentada pelo círculo

hermenêutico não se limita a uma compreensão textual, mas se estende à contextual (a

realidade contemporânea).Portanto estão envolvidos nesse processo dois horizontes, a

saber: o bíblico e o contemporâneo, o universo daquele que falou/escreveu e o universo

daquele que ouve/lê. Sendo assim o processo hermenêutico é tido como a comunicação

entre esses dois horizontes.

Para que ambos sejam compreendidos, deve-se considerar cinco elementos que

Mueller (1984) conceitua como aspectos importantes da proposta hermenêutica. São

eles: autocompreensão dos escritos bíblicos; questão cultural; papel do Espírito Santo;

chave hermenêutica; círculo hermenêutico.

Sobre o primeiro aspecto, a autocompreensão dos escritos bíblicos, a M.I. em

seu círculo hermenêutico parte da compreensão de que a Bíblia é a palavra de Deus,

fonte de autoridade, lente que interpreta a realidade e oferece respostas da parte de Deus

a esta que a questiona com suas demandas e realidade. Mueller afirma que:

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Por arrogante que pareça ser,as Escrituras se apresentam como palavra

de Deus revelada aos homens, e até que haja provas em contrário

devem ser tratadas da forma como elas mesmas pedem para ser

tratadas. Este é um dos primeiros princípios de uma boa hermenêutica.

(MUELLER, 1984, p.17)

A questão cultural é tida como um aspecto importante pelo fato de estarem

inseridos em culturas tanto a mensagem bíblica, como os seus intérpretes. Considerar

esse ponto é se comprometer em fazer uma leitura integral das duas esferas culturais que

envolvem esses dois horizontes.E de maneira mais específica do contexto brasileiro,

põe-se o desafio de se fazer uma leitura que faça uma diferenciação entre a mensagem

bíblica e o cristianismo-cultura16.

O terceiro aspecto a ser considerado é o papel do Espírito Santo.Este possui,

dentro da compreensão da M.I., a função de facilitador no processo de fusão dos

horizontes. Segundo Mueller, o papel do Espírito Santo no processo hermenêutico

É de grande importância. Poderíamos dizer que o Espírito atua como

uma espécie de catalisador no processo, um “facilitador de fusão”. O

Espírito é o elemento comum, tanto na Palavra como no intérprete,

possibilitando uma comunicação a um nível único (MUELLER, 1984,

p.19)

Esta fusão entre os dois horizontes é o elemento fundamental e dinamizador do

círculo hermenêutico, que será apresentado mais abaixo.

Quanto ao aspecto “chave hermenêutica” a M.I. apresenta o Reino de

Deus 17 como sendo esse eixo central para a interpretação texto-contextual: “a

perspectiva do Reino de Deus e do seu cumprimento é central para a autocompreensão

bíblica, sendo uma chave para se ver os textos à luz do todo”(MUELLER,1984, p18).

Não apenas Mueller vai nessa direção, mas Sanches também entende o Reino como a

chave desse círculo hermenêutico, ao dizer que:

O Reino de Deus como chave hermenêutica, que é apreendido pela fé,

procede de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo nos remete a Ele. Esse

Reino é dinâmico e transformador. É ele que, por meio do Espírito,

possibilita a compreensão integral do contexto, da Palavra, gera a

missão e mantém um movimento sempre contínuo de atualização.

(SANCHES, 2009, p.112)

E é a este movimento contínuo de atualização que chamamos de círculo

hermenêutico. Neste círculo o leitor de hoje vai ao texto bíblico com suas demandas e

16 A expressão cristianismo-cultura é usada por Padilla em seu livro “Missão Integral: Ensaios do Reino” para se referir ao evangelho que é misturado aos elementos da filosofia grega e da herança cultural europeu-americana. (Padilla, 1992, p.106) 17 O conceito de Reino de Deus é apresentado de forma mais detalha no subtópico “2.1 A justiça”

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seus questionamentos, busca encontrar as respostas que norteiem sua práxis para e no

seu contexto. Porém este círculo hermenêutico também acontece no sentido oposto, no

qual a realidade atual é lida a partir do texto, e este assume uma função profética

quando o contexto diverge da realidade do Reino. Segundo Juan Stan:

A tarefa hermenêutica é ler a Palavra de Deus a partir do contexto de

nossa missão cristã para que a obediência cristã se faça dentro da

história, frente ao “campo missionário” que é realidade humana (“o

mundo”). O “problema hermenêutico” deixa, assim, de ser uma

questão meramente teórica ou cognoscitiva para tornar-se uma questão

a nível de missão e de ação. Não é apenas um assunto de interpretação

de palavras e textos, mas também a interpretação de uma tarefa, de

uma missão. A hermenêutica passa a ser, então, o diálogo entre o texto

bíblico e o contexto missio-histórico (STAN,1984, p.106)

Essa circularidade no processo interpretativo produz uma mudança contínua em

nossas interpretações bíblicas, pois as realidades contextuais do presente estão em

constante mudança, pondo sempre novos questionamentos e demandas, estes que por

sua vez, fazem com que se volte ao texto e se busque novas interpretações que deem

conta de equacionar as relações entre o ser humano e Deus, e do ser humano com os

seus semelhantes.

Desta forma pode-se ver este processo, do círculo hermenêutico, que foi adotado

pela M.I. como sua metodologia, da qual se origina sua teologia e missiologia, da

seguinte forma:

Círculo hermenêutico

Desenho de autoria própria

Desenho 1 - Círculo hermenêutico

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Juan Luis Segundo possui uma afirmação que consegue expressar a dinâmica do

círculo hermenêutico de forma clara:

Que as perguntas que surgem do presente sejam tão ricas gerais e

básicas, que nos obriguem a mudar nossas concepções, com as quais

nos acostumamos, sobre a vida, a morte, o conhecimento, a sociedade,

a política e o mundo em geral. Somente uma mudança tal ou pelo

menos a suspeita geral acerca de nossas ideias e juízo de valor (...) nos

permitirá alcançar o nível teológico e obrigar a teologia a descer à

realidade, fazendo a si mesma novas, e decisivas perguntas (...) (que) a

interpretação da Escritura (...) mude junto com os problemas em vez

de meramente repetir respostas velhas conservadoras e que não

servem mais. (LUIS, 1974, p.13.).

Ao observar esse círculo hermenêutico pode-se notar que ele é contínuo e não

possui um ponto de partida fixo. Dessa forma,é possível iniciar seu processo

interpretativo tanto do contexto para a Palavra de Deus, como da Palavra de Deus para o

contexto. Deve-se destacar que essas direções diversas da interpretação não representam

uma infidelidade, ou menosprezo às Escrituras; antes se configuram como uma maneira

de ser fiel ao texto e relevante ao contexto, e como uma maneira de questionar

biblicamente, com novas releituras da Palavra, as tradições e interpretações humanas,

que estão sociologicamente condicionadas. E é da leitura integral desses dois horizontes

(Palavra de Deus e Contexto) que emerge a Missão Integral.

1.4.Sua Máxima: As três totalidades

Neste subtópico será apresentada a máxima da M.I. de forma sucinta. Entretanto,

suas implicações e desdobramentos serão trabalhados de forma mais detalhada no

capítulo seguinte.

O conceito de missão da M.I. pode ser resumido na máxima: “Evangelho todo,

para todo o homem e para todos os homens”. Esta aparece em vários escritos de autores

da M.I., como, por exemplo, Padilla, que faz a seguinte afirmação: “a maior necessidade

da igreja é de recuperar o evangelho completo de nosso Senhor Jesus Cristo: todo o

evangelho, para todo o homem, para todo o mundo” (2014, p.80) e Manfred Grellert,

que apresenta a M.I. como uma teologia que tem seu olhar voltado tanto para as

questões transcendentes como para as imanentes, possuindo assim um holismo

missionário que responde à integralidade tanto do evangelho como da humanidade.

Grellert afirma: “Holismo cristão ocorre quando a Igreja toda, totalmente comprometida

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com toda a vontade de Deus, leva o evangelho todo ao homem todo e a todos os

homens, por todos os métodos éticos possíveis, através de homens e mulheres

totalmente engajados na missão integral” (1987, p.61). Sendo assim, pode-se dizer que a

M.I.é composta por três totalidades: a totalidade do evangelho, a do homem e a da

humanidade.

A primeira totalidade é a do evangelho. Esta surge como uma leitura mais

abrangente da Bíblia, que enxerga nos textos bíblicos não apenas uma mensagem para a

alma e o espírito humano, mas também para o físico e social, não apenas para um futuro

pós-morte, mas também para o presente na vida.

A segunda totalidade se refere ao olhar para a integralidade do homem,

entendendo ser a missão da igreja não apenas cuidar de questões espirituais, mas

também de tudo aquilo que se refere a sua existência; suas questões transcendentes e

imanentes, as opressões espirituais e as estruturas opressoras, os problemas de ordem

individual e social, tendo assim um olhar holístico para a realidade humana.

Na última totalidade, todos os homens/humanidade, é compreendido que o

evangelho e a missão da igreja não estão limitados e direcionados a apenas uma cultura

ou povo, mas sim destinam-se a toda a humanidade, e sua mensagem deve transformar a

relação dessa humanidade com Deus, entre si, e com toda a criação. Em síntese é isso

que significa o evangelho todo, para todo homem e para todos os homens.

Embora a máxima da M.I. seja sucinta e objetiva, ela carrega desdobramentos

teológicos e missionais, os quais poderão ser vistos de maneira mais clara no próximo

capítulo. Porém, a partir dessa máxima pode-se ter um vislumbre sobre o que é a Missão

Integral, somando vozes com Gouvêa(2011), a partir da teologia expressada nessa

máxima, a M.I. pode ser definida por quatro afirmações, as quais serão apresentadas

abaixo.

Gouvêa, em seu capítulo “Missão Integral: Um convite à reflexão” responde à

pergunta “o que é Missão Integral?” com quatro afirmações que nos servem como

norteadoras para conceituação da M.I. Em primeiro lugar ele afirma que “Missão

Integral é uma teologia bíblica do evangelho” (GOUVÊA, 2011, p.138). Ele

compreende a M.I. como uma teologia que se configura estruturalmente a partir da

própria Bíblia, que desenvolve toda a sua reflexão teológica a partir da natureza

intrínseca do próprio evangelho, e que ela o vê como “a realização da grande comissão

de Cristo, à luz do Mandato sociocultural de Gênesis.” (GOUVÊA, 2011, p.138).

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O conceito deste mandato sociocultural é melhor desenvolvido pelo autor em sua

segunda afirmação, que diz que “Missão Integral é uma interpretação da grande

comissão à luz do mandato sociocultural” (GOUVÊA, 2011, p.138). Segundo Gouvêa

(2011) o mandato sociocultural aparece já nos primeiros versículos da bíblia, quando,

no diálogo entre Deus e o homem, antes deste ter cometido o pecado (queda), o Senhor

diz a ele todas as suas responsabilidades socioculturais. Gouvêa (2011) acredita que

esse mandato sociocultural de Gênesis sinaliza o ideal de Deus para a humanidade.

Segundo ele:

O projeto não está explicitamente descrito, mas implícito naquilo que

a narrativa bíblica apresenta na forma de comando divino. Ele inclui:

(i) apoio à família e à educação; (II) apoio à pesquisa científica e

tecnologia; (III) promoção da nutrição alimentar e, por inferência, de

todas as necessidades básicas para a sobrevivência e saúde de todos,

sem exceção de ninguém; (IV) descanso e lazer para todos, e, por

inferência, trabalhos para todos. (GOUVÊA, 2011, p.138).

A grande comissão de Mateus 28 é lida a partir deste mandato. Dentro dessa

lógica, a igreja entende-se como comissionada a ser um agente que olha para a

humanidade que, pós-queda, abandonou esse mandato sociocultural, e coloca-se como

propagadora dessa verdade reconciliadora que oferece ao ser humano a possibilidade de

restabelecer essa relação com Deus, e lhe atribui responsabilidades com o todo criado.

A igreja não apenas propaga essa mensagem, mas se vê dentro dessa nova posição que

lhe confere este mandato sociocultural.

A terceira afirmação definidora da M.I. de Gouvêa diz que “Missão integral é a

Missão da Igreja e a teologia que serve à Igreja.” (GOUVÊA, 2011, p.139). Para o

autor, a missão da igreja é a razão de seu existir e o fundamento de sua teologia. A

teologia da igreja só é relevante quando se configura como uma auxiliadora de sua

missão. Segundo Gouvêa “Toda teologia que se preze, [...] deve ser feita a partir de dois

motores: o estudo da bíblia e a missão da igreja” (2011, p. 139).

Sendo assim, a M.I. é a missão da igreja, e esta é compreendida de maneira

holística. A M.I. é também a lente pela qual se faz a leitura bíblica e contextual de onde

emergem a teologia eclesiástica, que busca a propagação do Reino de Deus, e a infusão

dos valores do reino na cultura e na sociedade.

A quarta e última afirmação de Gouvêa diz que “Missão integral é o próprio

evangelho”.(2011, p.140). A M.I. é apresentada apenas como um outro nome para o

próprio evangelho, sendo um sinônimo para o evangelho de Cristo; desta forma, não

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pretende ser nada além ou aquém do próprio evangelho.Porém, esse acréscimo da

palavra “integral” aconteceu não como uma tentativa de expandir o conceito de

evangelho de Cristo, e sim como uma reação a alguns conceitos limitados do evangelho.

Segundo o próprio Gouvêa, “Na verdade só há uma missão em Cristo; aquela que inclui

a integralidade daquilo que o Evangelho representa”. (2011, p.141). Aquela cujos

conceitos não contemplam a integralidade da missão, a “Missão Parcial”, segundo

Gouvêa (2011) simplesmente não é missão cristã; é, porém, uma deformação perigosa,

uma distorção alienante e opressora. Não é evangelho porque não é integral, e se não é

integral é porque não é evangelho, uma vez que se sabe que para ser evangelho tem de

ser integral.

2. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NA MISSÃO

INTEGRAL

O conceito de Desenvolvimento e Justiça aparece de forma explícita na

conceituação de Padilla (1992) sobre a Missão Integral da igreja. Ele afirma que esta é

composta por três enfoques, a saber: 1) Evangelização e Discipulado, 2) Colaboração e

Unidade e 3) Desenvolvimento e Justiça. O presente capítulo apresentará cada um

desses conceitos relacionando-os com o tema central da pesquisa (Desenvolvimento e

Justiça) de maneira a compreender a relação que existe entre eles e trabalhar as tensões

presentes nessas relações.

2.1. Desenvolvimento e Justiça

Desenvolvimento e Justiça são tidos como parte da missão da igreja pelo fato de

a M.I. entender que o evangelho de Jesus Cristo é “uma mensagem pessoal que

redimensiona totalmente a vida da pessoa que nele crê, mas, ao mesmo tempo, é uma

mensagem cósmica; isto é, o evangelho revela um Deus cujo propósito abarca o mundo

inteiro” (ZWETSCH, 2008, p. 157).

Esses dois pontos (Desenvolvimento e Justiça)são articulados dentro da M.I.

juntamente com a questão da Responsabilidade social, entendendo-os muitas vezes

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como termos similares. Portanto, o objetivo deste subtópico do trabalho é discorrer

sobre isso de maneira específica, tratando cada um dos conceitos de maneira separada,

mas analisando também suas correlações. Em síntese, pode-se afirmar que o objetivo

neste momento é trazer luz sobre a questão: “o que de fato é Justiça dentro da M.I.?” e

“O que é Desenvolvimento?”.18

2.1.1. A Justiça

A fé bíblica, segundo Zwetsch, “diz respeito ao mundo das realidades históricas

e das lutas por justiça social, direitos humanos e preservação da natureza como criação

de Deus.” (2008, p.157). Dentro dessa visão o evangelho é compreendido como um

elemento que carrega uma mensagem tanto para o indivíduo todo, como também para

toda a humanidade. A humanidade caída, marcada por pecados individuais e sociais, é

chamada para integrar-se à nova humanidade iniciada por Jesus Cristo; para integrar-se

ao Reino de Deus, que possui como uma de suas marcas a justiça.

Note que a Justiça é colocada como uma das marcas do Reino de Deus, o que

fundamenta todo o agir da igreja que busca esta Justiça. É a partir deste que a missão da

igreja é compreendida e vivida, por isso se faz necessário entender qual o significado e a

origem do conceito Reino de Deus.

Este conceito tem suas raízes fincadas na história do povo de Israel, que se

estabeleceu inicialmente dentro de uma Teocracia Tribal, na qual Deus era aquele que

governava sobre as tribos. Apesar de a ideia de reinado ter começado cedo em Israel

(Gn 36.31 e Êx19.6), a instituição de um reino foi acontecer apenas duzentos anos

depois do início do período dos juízes, se concretizando com o rei Saul.

Segundo Carriker, o regime Teocrático tribal foi alterado, como

reação/consequência aos ataques dos filisteus. Carriker afirma que:

O golpe decisivo aconteceu quando os filisteus cortaram Israel pela

metade, capturaram a arca, mataram os sacerdotes da arca e

extirparam Silo junto com seu santuário (1Samuel 4). Era uma derrota

total, a mais profunda humilhação militar e espiritual. O povo de Deus

foi esmagado (1 Samuel 13.19-23) e ficou em desespero, procurou

união sob um rei que deveria ser apontado “por uma duração”. O

18 Para maior aprofundamento das ampliações dos conceitos de Padilla sobre a M.I. ver: Padilla, René C.: O que é missão integral? Viçosa: Ultimato, 2009. E Padilla, René C. Deus e Mamon: Economia do reino na era da globalização, São Paulo: Novos Diálogos, 2011.

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carisma falhou e o povo, angustiado, se voltou para a monarquia

(1992, p. 85).

A atitude do Antigo Testamento para com a ideia de Reino é ambígua. Por um

lado, era entendida como uma apostasia contra Deus, pois Ele era o Senhor que

governava. Sendo assim, não haveria a necessidade de um rei humano. Em

contrapartida, esse olhar negativo sobre o reinado é contrabalanceado com uma

perspectiva que coloca o rei sob a orientação divina, passando assim a assumir um papel

de embaixador, representante e cumpridor das vontades divinas. Nessa ótica, o rei tinha

a responsabilidade perante Deus de: “governar Israel com justiça, proteger os fracos e

dirigir o povo para a verdadeira adoração a Deus” (CARRIKER,1992, p.85).

Essa perspectiva positiva da monarquia é atribuída, no Antigo Testamento,

principalmente ao rei Davi. Seu reinado se tornou o padrão para a avaliação dos reis

posteriores, pois conseguiu submeter o rei humano ao senhorio divino. Por conta dessa

característica, esse reinado e rei são descritos nos seguintes termos: “filho de Deus”

(Salmo 2.7), sacerdote de uma ordem única (Salmo 110.4) e até o próprio fôlego que

dava vida ao seu povo (Lamentações 4.20). O rei, se permanecesse obediente à vontade

divina, poderia ser uma fonte de vida, salvação e benção para o povo de Yahweh (1

Samuel 12.14; Salmo 132.12) (CARRIKER, 1992, p.86). Dentro da perspectiva de

monarquia israelita, o conceito de Reino de Deus possuía implicação tanto religiosa

quanto política, sendo ambas inseparáveis.

O reinado de Davi se tornou inesquecível por sua prosperidade e avanço

territorial. Não é sem motivo que este período é conhecido como a idade do ouro.

Porém, já no final do reinado de Salomão, Israel começou a vivenciar um declínio,

passando por uma divisão e por um cativeiro. Depois desses dois fatos a nação começou

a ansiar pelo Reino de Deus, sendo este, a sua esperança escatológica19.

Carriker afirma que:

A esperança de Israel pelo reino de Deus, depois de sua divisão e

ainda mais tarde, em seu cativeiro, só poderia assumir a analogia do

reino de Davi redivivo, um novo Davi. O tema do reino davídico

olhava para um futuro no qual um filho de Davi reinaria sobre Israel,

até sobre as nações, trazendo a maravilhosa idade de prosperidade,

justiça e paz. (CARRIKER,1992, p.88).

19Carriker explica essas esperanças escatológicas da seguinte forma: “Por “escatológico” nos referimos ao sentido mais amplo (e não mais restrito das “últimas coisas”, que só aparece no fim do período veterotestamentário) de ter Israel uma orientação para o futuro, uma esperança futura que expressava em referência ao reino. (1992, p.89).

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Esta esperança foi desenvolvida de forma mais clara pelos profetas pré-exílicos

que anunciaram o Messias, um rei da linhagem de Davi, que seria um vice-rei de Deus,

que instalaria a paz e a justiça na terra.

Os apóstolos identificaram Jesus como sendo esse ungido esperado, filho de

Davi, aquele que veio inaugurar o reino de Deus (Atos 13.20-23). Carriker resume esse

aspecto do reino de Deus com as seguintes palavras:

O conceito do reino, através da sua ligação à dinastia davídica, à

Jerusalém e ao templo, adquiriu características religiosas e

escatológicas. Ele se referia à fé de Israel e à sua esperança orientada

para o futuro pela vinda do messias que inauguraria o reino de Deus.

Tanto seu aspecto religioso quanto sua orientação futura teriam

grandes significâncias missiológicas por todo o resto da Bíblia,

culminando na vinda de Jesus e o registro do Novo Testamento.

(CARRIKER,1992, p.90).

Na teologia do Novo Testamento o Reino de Deus se faz presente no mundo

através de Jesus Cristo.Com ele foi introduzida na história humana a ordem

escatológica, que manifesta-se em salvação, restauração da criação, justiça, paz, e com

todas as outras características que sinalizam o aspecto da realização completa na

parúsia.

Costas (1973) define o Reino de Deus como uma ordem de vida de natureza

escatológica, mas que emite seus feixes de luz sobre a história presente. Ele assim

afirma: “Há que se admitir que essa ordem de vida é algo todavia para o futuro,

pertencente ao eschaton. Sem dúvida, sua vinda se vislumbra já, na vida e missão da

igreja” (COSTA, 1973, p.14). Esse fato apresenta a característica do já e ainda não do

Reino de Deus, no qual ele já se faz presente na pessoa de Jesus e nas manifestações de

seu reinado por meio da vida e missão da igreja, mas, ainda não de forma plena, pois

virá de forma total apenas na segunda vinda de Cristo, a parúsia.

A partir desse pano de fundo, pode-se compreender de forma mais clara o

significado do conceito de Reino de Deus; em síntese pode-se dizer que ele se refere ao

governo justo de Deus sobre toda criação, organização humana e social. A Igreja deve

ser, dentro desse reinado, manifestação ao mundo do reino por meio de seu viver e agir

missional. Este conceito parte de uma compreensão de que este reinado não é deste

mundo (Jo18.36) e, por consequência, reage às políticas injustas dos reinos da terra

como voz profética do Reino de Deus, não esquecendo que Ele é aquele que gera e gere

seu reinado na justiça e amor. Sanches, tratando a questão das implicações e significado

do Reino de Deus, afirma:

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O Reino de Deus se refere ao amplo e justo governo de Deus sobre

toda a criação e, de forma restrita, refere-se à organização de vida e de

mundo que se realiza diante Dele e em correspondência à sua vontade,

que é sempre boa e perfeita para toda a criação[...] O Reino de Deus

deve, portanto, também ser compreendido na perspectiva escatológica

que ele representa e na perspectiva histórica da sua manifestação em

Jesus Cristo.[...] A principal descrição do Reino de Deus em sua

presença no mundo é da restauração da vida e da criação. Esta é a

característica da nova ordem estabelecida por Deus em Jesus Cristo.

Onde Deus reina a vida se harmoniza. Mas a mensagem do reino é

também juízo, onde todos são chamados a participar dele por meio de

Jesus Cristo[...] onde não há sujeição ao Reino de Deus, impera a

injustiça que é contraria à justiça, o egoísmo que é contrario a o amor

e a morte que contrapõe a vida que ele oferece. O Reino é anunciado

pela palavra de Deus e tanto quanto a palavra, ele é acolhido pela fé.

A igreja não é Reino, mas ela o expressa em sua vida no

mundo20(SANCHES, 2009, p.143).

O fato de a igreja ter a responsabilidade de expressar ao mundo o Reino de Deus

determina o conteúdo da mensagem que será anunciada. Desde o início da história da

igreja no Novo Testamento pode-se ver que o Reino de Deus é o centro de sua

pregação, iniciando com João Batista (Mt 3.2) depois com Jesus. Essa mensagem esteve

presente do início de seu ministério (Mc 1.15) até o fim (At 1.3).

Quanto à igreja é interessante notar que, além dos outros registros dos momentos

em que o Reino é proclamado por ela, o último relato da história da igreja em Atos

descreve o conteúdo da pregação missionária de Paulo, e esse era “o Reino de Deus”

(28.31). Além desses relatos soma-se o texto que apresenta de forma clara o conteúdo

da mensagem missionária até o fim da história humana. “E este evangelho do Reino

será pregado em todo mundo como testemunho a todas as nações, então virá o fim”

(Mt24.14).

Esta proclamação carrega uma mensagem de transformação não apenas

espiritual, mas também na realidade histórica e social, pois assim como os reinos do

Antigo Testamento foram acontecimentos históricos, onde o Reino de Deus abrangia a

vida concreta do povo, da mesma forma o reino inaugurado por Jesus possui

implicações históricas. Sendo assim, seu reinado é mais que uma filosofia, ou um

conteúdo apenas para a intelectualidade, sem valor algum para as demandas e injustiças

do presente. Segundo Carriker, “O anúncio missionário do reino é a proclamação de um

evento, de um acontecimento acerca da vida, morte e ressurreição de Jesus. Existe não

20 Grifo nosso

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só afirmação intelectual, com uma doutrina, mas aceitação, transformação e sujeição,

com um relacionamento.” (1992, p.95).

Fato é que, por ter havido a associação do reino com a arca e depois com o

templo, houve uma forte ligação entre o culto e a fé israelita com o conceito de Reino de

Deus, mas somente por esse fato não se pode concluir que o conceito era apolítico, e

então a-histórico, restringindo-se, assim, à religiosidade. Ao olharmos para o início da

monarquia de Israel, o conceito é também político. Carriker, comentando essas duas

esferas, política e religiosa, dentro do conceito de reino, afirma: “era impossível separar

totalmente estas duas esferas de ação”. (CARRIKER, 1992, p.96).

A ideia de reino foi se desenvolvendo e assumindo uma característica

estritamente espiritual, e aqui talvez resida o grande impasse da discussão sobre a

missão da Igreja, pois se o reino de Deus for interpretado apenas com algo que possui

implicações exclusivamente espirituais, as questões vigentes ao drama físico-psíquico-

social-humano são vistas como assuntos paraeclesiásticos, ao quais a igreja não tem a

responsabilidade de responder. Embora essa discussão seja tratada mais adiante neste

trabalho, apenas de maneira introdutória, abordando essa questão dentro do conceito de

Reino,pode-se dizer que embora o reino de Deus tenha uma face espiritualizada, ele

inclui também a política; possui uma tarefa histórica, uma responsabilidade para com a

Justiça. Carriker afirma que:

O reino de Deus é sua administração soberana sobre toda criação que,

por sua vez, demanda a resposta de adoração e compromisso, uma

obrigação que tem ramificações na vida pessoal e social, que atinge

fundamentalmente as pessoas e, através delas, todos os seus

relacionamentos familiares, comunitários econômicos, etc. O convite

para entrar no reino implica numa aliança com Deus. (CARRIKER,

1992, p.96).

É valido ressaltar que o chamado ao Reino de Deus não é uma convocação para

uma simples aceitação de conteúdos mentais, mas um convite à obediência, à submissão

ao reinado, à ética do Reino. A salvação a partir dessa visão é o voltar-se do homem

para Deus, mas também para o seu próximo, ao qual ele expressará os sinais de justiça

do reino. Com isso, pode-se concluir que a mensagem do Reino de Deus “não é um

chamado ao quietismo social. Não está para tirar o homem do mundo, mas para inseri-lo

nele, não mais como escravo, mas como filho de Deus e membro do corpo de Cristo”

(PADILLA, 1992, p.33).

É pelo fato de a igreja ser expressão do reino de Deus que ela deve buscar a

justiça, deve encarar de maneira profética as realidades injustas instauradas nas relações

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humanas. Segundo Zwetsch, “O propósito da Igreja é encarnar os valores do reino de

Deus e testemunhar do amor e da justiça revelados em Jesus Cristo, no poder do

Espírito para a transformação da vida humana em todas as suas dimensões.”

(2008,p.179).

A justiça se direciona às relações entre pessoas; ela busca o ajustamento aos

padrões do Reino de Deus em todas as formas de relação, condenando todo tipo de

opressão e injustiça. Padilla (1992) entende que nessa busca por justiça o testemunho

bíblico apresenta um Deus que assume o lado do enfraquecido. Zwetsch apresenta essa

compreensão de Padilla dizendo que este entende que Deus “se coloca a favor do

oprimido e contra o opressor, a favor do explorado e contra o explorador, a favor da

vítima e contra o agressor” (2008, p.197).

Essa visão é interpretada por muitos como uma compreensão errônea da pessoa

de Deus, pois entendem essa ação como uma postura na qual Deus assume um lado

específico nas relações humanas. Sendo assim, Deus se torna parcial e injusto em seu

relacionamento com a humanidade. Porém, dentro da teologia de Padilla, este fato diz

exatamente o contrário; é entendido como a expressão da imparcialidade e justiça de

Deus, pois compreende que é pelo fato de Deus ser Deus dos deuses e Senhor dos

senhores que Ele se coloca em uma posição de fazer justiça ao órfão e à viúva, de amar

o imigrante, e lhe dar pão e roupa (Dt 10.17-19) buscando assim justificar, tornar justas

as relações.

A justiça pode ser compreendida a partir do conceito de shalom(paz); este traz a

ideia de abundância de vida para a totalidade humana,configurando-se como base para a

redistribuição do poder social, político e econômico. Sendo assim esta paz deve ser

estendida às pessoas e às comunidades, atingindo os povos e nações. Zwetsch afirma

que: “Padilla anota que a luta dos cristãos pela paz mundial é fundamental para a

cidadania global, sobretudo no que tange à prioridade da justiça em relação aos pobres e

oprimidos.” (2008.203).

É fundamental, portanto, que a igreja compreenda e responda a este chamado à

justiça que promove a paz, e torna justas as relações humanas, se quiser possuir

relevância em seus dias. As igrejas da Ásia, África e América Latina despertaram para

esse fato e entenderam que “em meio à pobreza e opressão, a relevância do evangelho

se dá a partir das questões da justiça e da paz”(ZWETSCH, 2008, p.203). A partir desse

fato pode-se compreender a razão pela qual as teologias originadas nesses lugares

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demonstraram uma aproximação maior com as realidades socioeconômicas e políticas,

já que neles há um alto índice de pobreza e estruturas opressoras que vitimam milhares.

Dentro dessa teologia dos países de terceiro mundo, as igrejas são desafiadas a

romper com a barreira limitadora que entende que sua missão é apenas cultivar uma

experiência religiosa individual. Nessa teologia as igrejas se veem com um chamado a

se lançar na luta por justiça e paz em seus próprios contextos e em todo o mundo.

Realizar esse rompimento com a antiga compreensão, individualista e egoísta, é

indispensável para viver a fé cristã. Essa é uma das questões mais desafiadoras à igreja,

porque neste ponto as igrejas passam a se compreender como a comunidade global de

Jesus Cristo, que segundo Zwetsch é “chamada por Ele para ser sua testemunha num

mundo marcado pela globalização imperial, por injustiça e pobreza, guerra e violência,

materialismo e a destruição da criação de Deus”. (2008, p.198).

A M.I. entende que o desafio que é colocado a todos os cristãos é o de

“redescobrir o poder transformador do reino e da justiça de Deus no meio dos reinos

deste mundo.”(ZWETSCH, 2008, p.204). Este ato fará a igreja se levantar em uma

atitude profética contra a centralização de poder global, e confessando Jesus como

Senhor dos senhores; também fará com que ela se posicione para denunciar todos os

males sociais causados pelo pecado e proclamará, a partir de seu estilo de vida, a

centralidade do reino de Deus numa comunidade restaurada por justiça, e que busca a

paz para todos os seres humanos.

No conceito de Padilla, a Igreja deve não somente buscar a justiça para os

outros, mas antes praticá-la, e esta deve abranger não somente o indivíduo, mas deve

também alcançar estruturas sociais, tais como: sistema penitenciário, econômico,

político, dentre outros, sabendo que o meio para se alcançar essas estruturas muitas

vezes requer ações políticas, e estas por sua vez, devem ser compatíveis com os

princípios bíblicos. Na compreensão da Missão Integral essas ações são indispensáveis

para que possa haver uma facilitação para a libertação humana da pobreza e da

opressão, e para instaurar a justiça.

2.1.2. O Desenvolvimento

Parte do terceiro aspecto da missão da igreja apresentado por Padilla (1992) é o

desenvolvimento, que se refere à responsabilidade que a igreja possui de ser um agente

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que trabalha para o desenvolvimento integral do indivíduo e da sociedade na qual ele

está inserido. Discorrendo sobre esse ponto, Padilla assevera que “a missão cristã se

orienta para o desenvolvimento de toda a pessoa e de todas as pessoas” (PADILLA,

2005, p.152). Sobre esse aspecto da M.I. se instauram as maiores tensões e discussões,

pois aqui de maneira mais clara e objetiva é colocada a questão da responsabilidade

social da igreja, conferindo a ela a missão de agir não apenas nos “campos espirituais”,

mas também no mundo físico-social.

O desenvolvimento dentro da M.I. é muito mais que a realização de atividades

caritativas e programas de ajuda;ele carrega uma mensagem que toca nas estruturas

sociais e propõe uma reformulação de valores. Embora este seja um dos elementos

fundamentais da M.I., existe pouco material escrito que trabalhe esse conceito de forma

específica. Padilla, em seu livro “Missão Integral: O Reino de Deus e a Igreja” (2014),

dedica apenas uma parte do capítulo “Missão Integral” para tratar o Desenvolvimento, e

ainda trata-o em conjunto com o tema Justiça. Entretanto, o presente subtópico objetiva

tratar esse tema de maneira a expandir a compreensão do conteúdo do conceito do

desenvolvimento.

Juarez de Paula, em seu capítulo “Desenvolvimento local Integrado e gestão

compartilhada” (2008, p.190-206), apresenta uma compreensão de Desenvolvimento

que muito tem a contribuir com a Missão Integral. 21 Esse autor compreende que,

embora atualmente o desenvolvimento seja pregado a partir do pressuposto econômico,

que tem se limitado quase que exclusivamente ao “fenômeno da dinamização do

crescimento econômico”, para ele o “crescimento econômico é necessário, mas não é

suficiente para gerar desenvolvimento.” (PAULA, 2008, p.190).

Em sua visão, desenvolvimento é muito mais que acúmulo de bens e rendas, pois

embora o crescimento econômico tenha a sua importância, é necessário compreender o

desenvolvimento de forma integral, entendendo que este tem como responsabilidade

buscar “a melhora da vida que levamos e das liberdades que desfrutamos” (PAULA,

2008, p.190).

21 Deve-se destacar que este artigo de Juarez de Paula se encontra no livro “Jardim da cooperação: Evangelho, redes sociais e economias”. Este livro surgiu como fruto do trabalho do movimento Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) que tem como sua razão de ser o fortalecimento da base evangélica da ação social; o compartilhamento de boas práticas, reflexões bíblicas e experiências históricas; e o encorajar e capacitar organizações, igrejas e pessoas para promoverem uma transformação Integral. Desta forma a utilização dos conceitos deste autor para trabalhar o tema dentro da MI é coerente e possível.

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Este ato de buscar a “melhora da vida”, dentro da compreensão de Paula,

significa buscar um desenvolvimento humano,social e sustentável. Buscar essa melhoria

é o ato de comprometer-se com: a pessoa em sua totalidade (desenvolvimento humano),

todas as pessoas (desenvolvimento social) e com as pessoas que vivem no presente e

com as que viverão no futuro, (desenvolvimento sustentável).

Esta visão de Paula está estreitamente relacionada com o conceito de Padilla

sobre Desenvolvimento, este que afirma que:

Nenhum desenvolvimento é verdadeiro se estiver concentrado no

econômico e não der atenção adequada às questões mais profundas

que afetam a humanidade e que têm a ver com o significado último da

vida – “um estilo de vida feito para permanecer” – baseado em novos

métodos de produção e novos padrões de consumo. Inclui também a

criação de uma nova tecnologia subordinada ao ser humano e que

respeite a natureza. [...] O desafio tanto para os cristãos no ocidente

como para os cristãos nos países subdesenvolvidos é criar modelos de

missão centrados num estilo de vida profético, modelos que apontem

para Jesus Cristo como o Senhor da totalidade da vida, à

universalidade da igreja e à interdependência dos seres humanos no

mundo. (PADILLA, 1992, p.149-150).

Desfragmentando essa afirmação de Padilla, vemos que ele também trata de

desenvolvimento humano, social, e sustentável. Ao falar sobre “novos métodos de

produção e novos padrões de consumo” e “criação de uma tecnologia subordinada ao

ser humano que respeite a natureza” ele está falando sobre o que Paula vai chamar de

“Desenvolvimento Sustentável”. Ao falar sobre “criar modelos que apontem para Jesus

como Senhor da totalidade da vida” ele está falando daquilo que Paula vai chamar de

“Desenvolvimento Humano”. E ao tocar na questão da “interdependência dos seres

humanos” ele está falando daquilo que Paula vai chamar de “Desenvolvimento Social”.

Ao colocar esse desenvolvimento Integral com parte da Missão da Igreja,

questiona-se se ela não estaria fazendo uma confusão entre os reinos (o de Deus e o dos

homens), se é correto atribuir à Igreja uma responsabilidade para com as estruturas

sociais nesses processos de desenvolvimento. Padilla responde a essa questão com a

seguinte afirmação: “Não estou confundindo os dois reinos: não espero que a salvação

última do homem ou da sociedade resulte das boas obras ou da ação política. A única

coisa que peço é que se tome a sério a pertinência do evangelho à totalidade da vida do

homem no mundo”. (1992, p.53)

É devido ao fato de se entender a pertinência do evangelho para a totalidade do

homem e do mundo que emerge a compreensão de que a igreja possui a missão de

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buscar o desenvolvimento. Desconsiderar essa pertinência “é o mesmo que afirmar que

Deus tem interesse em que o chamemos de “Senhor, Senhor”, mas não em que

obedeçamos à sua vontade em relação a assuntos tão críticos como a injustiça social e a

opressão, a fome, a guerra, o racismo, o analfabetismo e problemas similares”.

(PADILLA,1992, p.53).

A M.I. entende o ser humano como um ser social, que mesmo convertido a

Cristo, não pode abstrair-se das questões sociais; porém, sua relação com o mundo deve

ser alterada, já que recebe de Cristo um modelo diferente de vida no mundo, e sua vida

na polis passa a refletir o Reino de Deus no mundo.O convertido a Cristo sempre se

converte numa situação social específica e nela testemunha sua conversão.

Portanto, falar em Desenvolvimento na M.I., é falar de desenvolvimento

humano, social e sustentável. Segundo Paula, pensar a partir desse pressuposto sobre o

desenvolvimento significa: “pensar um novo conceito de desenvolvimento que articula a

dinamização do crescimento econômico com outros fatores, como o crescimento do

capital humano, o crescimento do capital social, a conquista da boa governança e o uso

sustentável do capital natural” (PAULA, 2008, p.191). Sobre cada um desses fatores o

autor Juarez de Paula apresenta uma breve síntese que os relaciona ao desenvolvimento.

Sobre o Desenvolvimento do capital humano é dito que este busca “o

crescimento das habilidades, conhecimentos e competências das populações” (PAULA,

2008, P.191). Este capital é tido como um dinamizador do desenvolvimento por criar

melhores condições para este aconteça.

O desenvolvimento do capital humano ocorre por meio de investimentos nas

áreas de educação e também nas estruturas que se relacionam coma qualidade de vida,

tais como: saúde, alimentação, habitação, saneamento, transporte, segurança etc. Essas

áreas servem como parceiras da educação para que esta possa alcançar seus objetivos.

Outro elemento dinamizador do desenvolvimento apresentado por Paula (2008)

é o capital social. Este é definido por Fukuyama como “essencial para criação de uma

sociedade civil saudável.” (apud Paula, 2008, p.192) A definição que este autor traz

sobre o capital social é a seguinte:“O capital social pode ser definido como um conjunto

de valores ou normas informais, comuns aos membros de um grupo, que permitem a

cooperação entre eles” (apud PAULA,2008, p.192).

Buscar esse desenvolvimento no capital social é tratar a questão da confiança,

cooperação,ajuda mútua e organização social, pois na medida em que se aumentar a

capacidade de as pessoas convergirem em torno de interesses comuns, indicando assim

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uma melhor organização social, melhores serão as condições de desenvolvimento, pois,

segundo Paula: “Baixos índices de capital social também refletem em menores

condições de competitividade, pois competitividade exige algum nível de cooperação.”

(2008, p.192).

A boa governança é tida como fundamental dinamizador do desenvolvimento,

porque o crescimento da capacidade de governar se configura como uma das bases para

o desenvolvimento. Dentro da compreensão de Paula (2000) entende-se como boa

governança aquela que desfruta de canais que viabilizam a participação da sociedade na

gestão estatal, que possui uma política que tem em seu eixo existencial a

representatividade, legitimidade e confiança dos governos. Boa governança é também

estabelecer um modo de governar em que a prestação de contas, a transparência e a

permeabilidade do Estado em relação ao controle social são reais e comuns.Paula

entende que trabalhar para o desenvolvimento é “investir na boa governança, é buscar

construir um governo catalisador, participativo, competitivo, orientado por missões e

resultados, empreendedor e direcionado para as necessidades da população” (PAULA,

2008, p.193).

A boa governança se relaciona diretamente com o capital humano e social para

dinamizar o desenvolvimento:

O bom governo depende em grande medida das qualidades e

compromisso dos governantes, mas depende sobretudo da capacidade

de escolha, participação e controle da sociedade civil. Isto,

obviamente, está diretamente relacionado com os níveis de

‘empoderamento’ (empowerment) de uma dada sociedade, o que, por

sua vez, depende dos níveis de capital humano e capital social

(PAULA, 2008, p.193).

O quarto e último elemento dinamizador do desenvolvimento apresentado por

Paula é “Capital natural”. Este se refere a um estilo de vida e economia que usa, de

maneira sustentável, os recursos naturais. Buscar o desenvolvimento considerando esse

enfoque não é assumir uma postura “conservacionista”, que faz da natureza uma

divindade intocável que desconsidera as necessidades humanas, mas é, antes, atribuir o

devido valor a estes recursos, dos quais dependem tanto a existência presente quanto a

futura da humanidade, e estabelecer uma relação entre raça humana e meio ambiente na

qual os ciclos naturais sejam respeitados, e se assuma uma dinâmica de produção na

qual se faça mais com menos, e os desperdícios sejam eliminados.

Segundo Paula, “Precisamos pensar em como satisfazer nossos carecimentos

de hoje sem prejudicar a possibilidade de satisfazê-los no futuro.” (2008, p.193). Esta

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preocupação com o futuro implica em um desejo por mudanças nos padrões de

produção e consumo, porém tal mudança só será possível “com elevados níveis de

capital humano, capital social e boa governança” (PAULA, 2008, p.194).

Em síntese, pode-se dizer que para se obter um desenvolvimento que seja

humano, social e sustentável, nos moldes propostos pela M.I., deve-se buscar o

desenvolvimento desses quatro aspectos, aqui apresentados como basilares e

dinamizadores do desenvolvimento, a saber: capital humano, social, boa governança e

capital natural.

Essa estrutura pode ser melhor compreendida a partir do quadro abaixo, que

relaciona todos os elementos envolvidos no conceito de desenvolvimento da M.I.

Desenho 2- Estrutura do conceito de Desenvolvimento da M.I.22

2.1.3. De quem é a responsabilidade de promover a justiça e o

desenvolvimento? E como promovê-los?

Muitos respondem a essa pergunta atribuindo única e exclusivamente ao Estado

a responsabilidade de buscar e promover o desenvolvimento e a justiça, porém segundo

Paula (2008)se observarmos as sociedades e comunidades que obtiveram um

desenvolvimento significativo, descobriremos que é imprescindível a “cooperação e

parceria entre Estado, Mercado (entendido aqui como o conjunto dos agentes

22 Desenho de autoria própria

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econômicos)e Sociedade (entendida aqui como o conjunto das organizações sociais, de

todo tipo)” (PAULA, 2008, p.194).

O papel que a comunidade local exerce no desenvolvimento é indispensável,

pois são as pessoas que fazem parte daquela sociedade as que possuem melhores

condições para lutar e combater a falta de desenvolvimento e a injustiça sentida por

elas.Portanto, a igreja, como uma organização local possui sim uma contribuição a ser

feita para o desenvolvimento e a justiça.

No âmbito teológico, a M.I. entende que os problemas sociais têm suas raízes na

pecaminosidade da raça humana; e isso resulta tanto em pecados individuais como em

pecados sociais e estruturais. A partir dessa compreensão a igreja possui a

responsabilidade de oferecer uma resposta a essa realidade. Stott, frente essa questão,

afirma que:

Somente o evangelho pode transformar o coração do homem. Nada

pode tornar um povo mais humano do que a influência do evangelho.

Mas não podemos nos limitar à proclamação verbal. Além da

evangelização mundial, o povo de Deus deve se comprometer

profundamente com a assistência social, o auxílio, o desenvolvimento

e a busca da justiça social e da paz. (STOTT,2004, p.48).

Deve-se notar que a resposta que Stott propõe transcende a proclamação verbal

chegando ao comprometimento com as demandas sociais. Com isso, e considerando o

que já fora dito até aqui, quanto à responsabilidade pelo desenvolvimento e a justiça,

pode-se dizer que a Igreja possui a missão de se engajar como expressão do reino em

todas as formas de relações humanas, sejam estas sociais, ambientais ou religiosas.

Uma vez reconhecido que a igreja possui a responsabilidade de promover

desenvolvimento e justiça, questiona-se “como promovê-los?” pois pode-se dizer que

todas as vezes em que se fala de “responsabilidade social”,em geral, o que vem à mente

é a ideia de projetos sociais de cunho assistencialista (desenvolver um projeto para

criação de uma sala de aula para oferecer reforço escolar para crianças, distribuir cestas

básicas, etc). Estes atos possuem seu valor, porém, sabe-se que, no que se refere a

pecados sociais e a estruturas opressoras, estas ações da igreja, se quiserem ser efetivas

em sua busca por desenvolvimento e justiça, precisam ser acompanhadas de

intervenções que toquem nas estruturas sociais.

Para compreender as possibilidades de ação que se abrem para a igreja frente a

essa tarefa, usaremos o conceito de Hélcio da Silva Lessa, extraído do livro “Ação

Social Cristã”.Esse autor dividiu a responsabilidade social em três tipos de categorias:

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a) Assistência Social, b) Serviço Social c) Ação Social. Ao analisar cada uma dessas

categorias, vê-se que quando conciliadas,elas se configuram como formas de promover

o desenvolvimento e a Justiça.Para tornar mais claro este conceito, Lessa usa, como

exemplo, o caso da escravidão e as possibilidades de ação da igreja frente a essa

situação específica, lançando mão dos três tipos de categorias possíveis de ação da

Igreja, para tornar seu conceito mais claro.

No tempo da escravatura era algo comum ver escravos sendo castigados e

surrados no pelourinho por seus donos. Frente a esse fato vê-se três possibilidades de

ação da igreja se abrindo. A primeira se dá por meio do ato de levar água e comida a

estes escravos feridos e cuidar de seus ferimentos. Porém, deve-se destacar que esta

atitude não toca na raiz do problema da escravatura, mesmo sendo um ato de compaixão

e demonstração de sinais do reino de Deus. Esse tipo de resposta ao problema é o que

Lessa denomina de “Assistência Social”.

Frente a esse mesmo fato surge a possibilidade do “Serviço Social”, no qual

outros cristãos, com o objetivo de libertar os escravos daquela situação de injustiça e

opressão, compram alguns escravos, oferecendo a estes liberdade e oportunidade de

trabalho para que possam sobreviver. Porém deve-se considerar que apesar de ser uma

atitude, assim como a anterior, que se configurava como um ato de compaixão e

expressão dos sinais do Reino de Deus, esta atitude não colocava fim na instituição da

comercialização dos escravos.

A terceira e última possibilidade que se abre frente a essa situação é aquela que

Lessa chama de “Ação Social”. Esta pode ser vista na luta daqueles que se levantaram

contra a instituição da escravatura, buscando transformação da estrutura social, para que

não mais houvesse escravos pendurados no pelourinho, nem fosse mais necessário

realizar a compra da liberdade deles. Esta ação, portanto, tinha como objetivo acabar

com o regime escravocrata, tirando o mal pela raiz. A esse tipo de atitude Lessa atribui

o nome de “Ação Social”.

Outra forma como a Igreja pode agir para o Desenvolvimento e a justiça é

apresentado por José Comblin, em seu conceito de “diakonia política”. Comblin afirma

que essa diakonia:

Está ali para restabelecer uma certa igualdade acrescentando a sua

força à fraqueza das vítimas da injustiça institucionalizada. (...). Essa

diakonia toma diversas formas: assistência jurídica às vitimas de

situações injustas; por exemplo, a situação de camponeses sem terra

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que querem a expropriação de uma terra não-produtiva. Assistência

jurídica a camponeses presos arbitrariamente por ordem dos

proprietários. Assistência jurídica a posseiros expulsos da terra em que

trabalhavam desde tempos imemoriais. Assistência jurídica a

desempregados expulsos do seu trabalho sem atender às leis sociais.

Assistência jurídica a grevistas. Assistência jurídica a presos

torturados nas delegacias ou nos presídios. (...) Numa palavra, a

diakonia será aqui a educação para a cidadania. (COMBLIN, 2003,

p.82).

Comblin (2003) entende que a diakonia do trabalho consiste no serviço de apoio

aos trabalhadores buscando encontrar forças e mecanismos em comunidade para que as

empresas funcionem como agência de serviço e não de destruição da humanidade. Essa

forma de agir se configura como uma busca por desenvolvimento e justiça por assumir

uma postura que busca tornar justas as relações, e isto é, dentro do conceito da M.I.,

uma manifestação do Reino de Deus.

Segue abaixo um breve esboço dos conceitos de autores que compreendem essa

forma multifacetada de agir da igreja para realização de sua missão, ações que podem

ser interpretadas como convergentes a essa compreensão de Lessa, e, acima de tudo,

como formas de um agir que visa o Desenvolvimento e a Justiça.

O primeiro que se pode citar é Manfred Grellert (1987). Este autor, ao falar

sobre “projetos sociais”, apresenta três aspectos que podem estar presentes nesse agir da

igreja: O assistencialismo paternalista; O instrutivo ou educativo; e O participativo.

Robinson Cavalcanti (1987) apresenta três intervenções possíveis que a igreja

pode ter para gerar as transformações sociais, as quais são: Projetos de Filantropia,

Projetos de Desenvolvimento e Projetos de Ação Política.

Pelo fato de a Igreja possuir essa responsabilidade de ser uma promotora da

justiça e de desenvolvimento, e de alcançar não somente o indivíduo, mas também as

estruturas, esses projetos de ação política se tornam essenciais, pois para alcançar o

objetivo de transformar as estruturas como sistema penitenciário, econômico, político,

judiciário, dentre outros, são necessárias as ações políticas, pois, sabe-se que mudanças

sociais requerem, também, ações que toquem na política. Porém, quando se trata de

ações políticas promovidas e buscadas pela igreja,dentro dos conceitos da M.I., estas

devem ser compatíveis com os princípios bíblicos, pois estes são para ela seu referencial

maior, sua regra de fé e prática.

O`Gorman (1982) apresenta quatro formas de se trabalhar para o

desenvolvimento e a justiça, que ele vai chamar de “promoção humana”. Para este autor

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esse objetivo pode ser alcançado por meio de assistência, ensino, participação e

transformação.

Ele compreende que este ato de Promoção Humana pela Assistência se dá

quando ocorre uma ajuda financeira e material direta para uma necessidade imediata

(exemplo: fome, frio, enfermidade). O autor reconhece esse ato como uma caridade,

porém, alerta para o perigo de restringir a missão ao assistencialismo, que gera uma

dependência desumanizante e uma situação de não desenvolvimento e conivência com a

injustiça social.

A Promoção Humana por meio do Ensino é vista como uma forma de

desenvolver as capacidades dos indivíduos em situações opressoras injustas,

oferecendo-lhes a formação para ter acesso aos bens que a sociedade possui. De maneira

mais simples, pode-se dizer que é o ato de ensinar a pescar e não apenas oferecer o

peixe.

Na Promoção Humana Pela Participação, O`Gorman entende que o indivíduo,

neste aspecto, recebe e oferece o apoio para seu desenvolvimento numa relação de

cooperação. Usando a imagem da pesca como exemplo, é quando os pescadores se

juntam e criam uma cooperativa, para ajudar e serem ajudados.

E a quarta e última forma de Promoção Humana apresentada por este autor é por

meio da Transformação. Nesta, as estruturas opressoras são tocadas, resultando em uma

transformação estrutural significativa que faz com que, aquele que um dia precisou

ganhar o peixe, aprendeu a pescar e se juntou a outros pescadores para se ajudarem; na

transformação lhes é oferecida a oportunidade de vender seus peixes. Desta forma o

individuo é liberto da opressão, lhe é oferecido o direito de ser um sujeito na sociedade,

pois as estruturas injustas e opressoras foram transformadas.

A partir desse breve esboço de abordagens que fala sobre a responsabilidade

social da igreja, fica claro que esta contempla tanto ações de misericórdia quanto de

filantropia, por meio das ações assistencialistas, e vai até a prática da justiça e do

desenvolvimento, gerando mudanças estruturais.

Respondendo à pergunta “como promover o desenvolvimento e a justiça?” pode-

se dizer que a igreja, como expressão do reino de Deus, deve buscar o desenvolvimento

e a justiça como forma de manifestar o reinado de Deus no reino dos homens. E ela faz

isso por meio de um engajamento nas questões locais e também ao se comprometer em

um agir que,para alcançar seu objetivo, se dá por meio de todas as ações citadas acima

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como formas possíveis de atuação da Igreja, as quais podem ser resumidas, dentro do

conceito de Lessa, como Assistência Social, Serviço Social e Ações Sociais.

Porém deve-se salientar que cada etapa/enfoque dessa responsabilidade social

não deve ser considerada como etapa estanque e alienada das outras, pois deve existir

entre elas uma forte conexão para que possam acontecer simultaneamente, ou em uma

relação de continuidade. Deve-se considerar que indivíduos possuem necessidades

imediatas que carecem de ações assistenciais, mas elas devem ser realizadas visando o

desenvolvimento e não a dependência desumanizadora. Por isso, é necessário julgar

qual a ação que melhor cumprirá o objetivo de desenvolvimento e justiça em cada

contexto e situação.

As palavras de Zwestsch soam como conclusivas nesse ponto do trabalho ao

dizer:

Uma das questões mais desafiadoras, nos dias atuais, é as igrejas

reconhecerem-se a si mesmas como a comunidade global de Jesus

Cristo, chamada por ele para ser sua testemunha num mundo marcado

pela globalização imperial, por injustiça e pobreza, guerra e violência,

materialismos e a destruição da criação de Deus (ZWESTSCH, 2008,

p. 197e198).

Portanto, cabe à Igreja usar todos os meios cristãos, éticos e sociais, para

promover o desenvolvimento e lutar pela justiça, pois, como comunidade incumbida de

sinalizar e manifestar o Reino de Deus em meio ao reino dos homens, esta não pode

negligenciar sua responsabilidade no que se refere às relações humanas. Onde quer que

estas relações injustas e opressoras aconteçam, a Igreja sempre terá algo a dizer e a

fazer, e uma forma correta para dizer e fazer o que for necessário.

2.2. Evangelização e Discipulado &Desenvolvimento e Justiça

Padilla entende que Evangelização e Discipulado são fatores necessários a ser

desenvolvidos pela igreja por existirem muitos lugares que não foram evangelizados.

Para este autor, a necessidade de alcançar os povos que ainda não receberam este

evangelho, e os que o abandonaram, é latente e de suma importância na missão da

igreja. Ele afirma que “não há maior contribuição que a igreja possa dar para a

humanidade que o evangelho de Jesus Cristo e seu poder libertador” (PADILLA, 2005,

p.144). Porém o grande questionamento que se faz frente a este enfoque é:“o que é

evangelização dentro da M.I.?” e “O que é Discipulado?” e “como essas duas ações se

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relacionam como o Desenvolvimento e a Justiça?”.As próximas linhas desse trabalho se

dedicam a buscar respostas para estes questionamentos.

2.2.1. Evangelização & Desenvolvimento e Justiça

A Missão Integral é uma Teologia evangelical, que possui suas raízes no

protestantismo e em uma relação de continuidade a essa raiz, o conceito de evangelizar

carrega o aspecto de “testemunhar acerca de um Cristo transcendente, ultramundano,

por meio de cujo sacrifício temos recebido o perdão dos pecados e a reconciliação com

Deus.” (PADILLA,1992, p.51) A evangelização busca promover um encontro pessoal

do homem com Deus em Cristo, pela ação do Espírito Santo, através do anúncio da

Palavra de Deus.

Dentro dessa visão, a regeneração espiritual é tida como o elemento principal

para gerar homens novos, que resultará em transformações sociais. Neste ponto, a M.I.

finca as suas raízes de maneira bem firme em sua identidade protestante evangélica,

pois compreende que a salvação não pode ser entendida como a satisfação das

necessidades corporais, ou então confundida com melhorias sociais ou com libertação

política. (PADILLA, 1992, p.51).

Porém o conceito de evangelização na M.I. é muito mais que transmitir uma

mensagem de libertação dos sentimentos de culpa, e fazer do evangelho um agente

aliviador de consciência que desvincule a salvação do senhorio de Deus. Segundo

Padilla: “Evangelizar é proclamar Jesus Cristo como Senhor e Salvador, por cuja obra o

homem é liberto tanto da culpa como do poder do pecado, integrando-se ao propósito de

Deus de colocar todas as coisas sob o mando de Cristo. (1992, p.25).

Dentro dessa visão, evangelizar é proclamar o reinado de Jesus Cristo, e isso

carrega consigo um chamado ao arrependimento. A relação entre o evangelho e o

arrependimento é tão estreita que evangelizar pode ser tido como proclamar

arrependimento para remissão de pecados (Lc 24.47).Essa relação entre ambos é tão

forte que Padilla afirma que “Sem o chamado ao arrependimento não há evangelho”

(1992, p.31). A mensagem de arrependimento é diferente do remorso de consciência,

pois implica em mudança de atitude, uma reformulação, transformação de valores, uma

mudança de mente (Rm12.2). Padilla, tratando a esta questão, afirma:

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Não é o abandono de hábitos condenados por uma ética moralista, mas

a renúncia a um estado de rebelião contra Deus para voltar-se para ele.

Não é o mero reconhecimento de uma necessidade psicológica, mas a

aceitação da cruz de Cristo como uma morte ao mundo a fim de viver

para Deus. O chamado ao arrependimento aponta para a dimensão

social do evangelho. Ele chega ao homem escravizado pelo pecado

numa situação social específica, não ao “pecador” em abstrato. É uma

mudança de mentalidade que se “concretiza” na história. É um voltar-

se do pecado a Deus, não meramente na subjetividade do indivíduo,

mas no mundo. (PADILLA, 1992, p.31).

A partir disso pode-se compreender que o objetivo da evangelização dentro da

M.I. está extremamente relacionado ao desenvolvimento e à justiça, pois esse ato não

busca apenas levar o ser humano a vivenciar uma experiência de fé subjetiva, na qual a

salvação se configura como algo que possui apenas consequências para alma e para o

futuro pós-morte, mas o propósito do evangelizar é, segundo Padilla, uma:

Reorientação radical de sua vida, reorientação esta que inclui sua

libertação da escravização ao mundo e seus poderes, por um lado, e

sua integração ao propósito de Deus de colocar todas as coisas sob o

governo de Cristo, por outro. (PADILLA, 1992, p.39).

O ato de evangelizar não se direciona a um homem em um vácuo social e

cultural, mas remete a um ser que está inserido em uma sociedade e cultura, por isso a

evangelização deve tocar na realidade presente na qual o ser humano está inserido,

responder às inquietações e clamores que lhes são comuns, reconhecendo que o

problema humano não se limita aos pecados isolados particulares, mas se estende aos

sistemas pecaminosos injustos e opressores. Padilla elucida essa questão da seguinte

forma:

O problema do homem no mundo não é simplesmente que ele cometa

pecados isolados ou ceda à tentação de vícios particulares. É , antes,

que está aprisionado dentro de um sistema que o condiciona para que

absolutize o relativo e relativize o absoluto, um sistema cujo

mecanismo de auto-suficiência o priva da vida eterna e o submete ao

juízo de Deus. Esta é uma das razões porque a evangelização não pode

ser reduzida à comunicação verbal de conteúdos doutrinais, nem a

confiança do evangelista pode ser depositada na eficácia de seus

métodos,“(...) porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e,

sim contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef. 6.12)

A proclamação do evangelho que não toma a sério o poder do inimigo

tampouco poderá tomar a sério a necessidade dos recursos de Deus

para a luta (PADILLA,1992, p.21).

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Deve-se considerar, portanto que embora o evangelho não deva ser limitado às

categorias políticas, sociais e econômicas, e que a igreja não deva se transformar em um

partido político usando o evangelho como uma ideologia, deve-se salientar que a

evangelização tem como objetivo submeter a totalidade da vida ao senhorio de Deus, e

ao direcionar essa mensagem à totalidade da vida humana, as questões políticas, sociais

e econômicas se configuram como ambientes aos quais deve-se proclamar o Reino de

Deus.

Dentro dessa compreensão a evangelização é apresentada como um dos agentes

geradores do Desenvolvimento e da Justiça, por ser ela agente gerador de

transformações. O fato de muitas vezes uma “evangelização” não resultar em

transformações humanas e sociais, não significa que ela não seja um elemento de

desenvolvimento e Justiça, mas nos diz que naqueles determinados casos (em que não

ocorreram transformações) a evangelização não aconteceu. O evangelho não foi

proclamado de maneira integral, pois, segundo Padilla: “um evangelho que deixa

intocada nossa vida no mundo – a vida em relação com o mundo dos homens e a vida

em relação com o mundo da criação – não é um evangelho cristão, mas um

cristianismo-cultura acomodado ao espírito da época. (Padilla,1992, p.43).

2.2.1.1. O equilíbrio entre Evangelização& Desenvolvimento e Justiça

A partir do que até aqui foi descrito pode-se ver que a M.I. compreende as

implicações sociais da evangelização; entende que essa possui uma responsabilidade de

promover o Desenvolvimento e a Justiça. Porém pode-se notar que ainda existem

muitos questionamentos quando evangelização e responsabilidade social 23 são

conjugadas na mesma frase.

Voltando um pouco na história, pode-se lembrar que o movimento evangélico

surge como ponto intermediário entre os fundamentalistas e os liberais. O chamado

“evangelho social”, segundo Stott, “foi desenvolvido pelos teólogos liberais. Alguns

deles confundiram o reino de Deus com a civilização cristã em geral, e com a

democracia social em particular, e começaram a pensar que, através de seus programas

sociais, poderiam construir o Reino de Deus na terra.” (2004, p.50). Os evangélicos e os

23 Deve-se considerar o que fora dito nas páginas iniciais deste capítulo, que na M.I. o Desenvolvimento e a Justiça, muitas vezes, são articulados juntamente com responsabilidade social, e em alguns escritos como termos similares.

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fundamentalistas, por sua vez, como uma reação a essa compreensão do evangelho e de

Reino de Deus, migraram para o extremo oposto, criando um bloqueio a toda forma de

envolvimento social.

Porém, no congresso de Lausanne, essa cisão foi trabalhada visando encontrar

um ponto de equilíbrio entre os dois extremos, e neste encontro foi apresentado de

forma clara que tanto a ação social como a evangelização compõem a missão da igreja,

e ambas são inseparáveis, pois se configuram como manifestações do amor de Deus.

Neste congresso restabeleceu-se o conceito integral da missão cristã, e por isso

Lausannese tornou “um verdadeiro marco histórico para o movimento evangélico”

(PADILLA, 2009, p.38). Em seu documento final, o PL, foi destinado um capítulo para

tratar a questão da “Responsabilidade Social Cristã, no qual, o equilíbrio entre

evangelização e a ação social é apresentados da seguinte forma:

Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens.

Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela

conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens

de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de

Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe

social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da

qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos

arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes

considerado a evangelização e a atividade social mutuamente

exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja

reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a

libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o

envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever

cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas

acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e

de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação

implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de

alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de

denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as

pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem

procurar não só evidenciar mas também divulgar a retidão do reino em

meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar

nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais

e sociais. A fé sem obras é morta.24 (STOTT, 2003, p.91)

Pode-se dizer que Lausanne deixou claro que ação social e evangelização são,

ambas, aspectos fundamentais e indispensáveis na missão da igreja; que a missão de

proclamar o evangelho não pode ser ignorada, assim como a de manifestar o amor de

Deus de forma concreta. De maneira muito explícita esse congresso apresentou o dever

24 Negrito nosso

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dos cristãos de buscar a justiça, o desenvolvimento, a conciliação de toda a humanidade,

a libertação dos seres humanos de todo tipo de opressão.

A mensagem que ficou clara nesse congresso para todos os participantes que

assinaram o PL foi que “a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos

parte do nosso dever cristão” e que “a mensagem da salvação implica também uma

mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação”.

(PADILLA, 2009, p.37e38).

Entretanto a separação entre evangelização e responsabilidade social, além de ter

suas raízes nos conflitos históricos, possui também origens teológicas. Muitos fazem

uma separação entre ambas por conta de possuírem uma teologia dicotômica, que faz

uma contraposição entre corpo e alma, fé e obras, indivíduo e sociedade, e redenção e

justiça/desenvolvimento.

Embora exista uma diferenciação entre essas realidades que são postas como

polos opostos, a teologia da M.I., mesmo reconhecendo essa distinção entre elas, faz

uma leitura bíblica na qual essas ideias são entendidas como “pares em equilíbrio

dinâmico e criativo” (STOTT, 2004, p.51). Dentro dessa compreensão, tanto a

separação quanto a confusão desses dois aspectos são tidas com erros; mas a junção de

ambos, entendendo-os como responsabilidades da igreja, é o equilíbrio que a

comunidade eclesiástica, como representante do Reino de Deus, deve buscar.

Porém nesse ponto deve-se salientar que ao afirmar que evangelização e a ação

social precisam estar juntas, não se quer dizer que elas não podem ser manifestadas, em

momentos específicos, de maneira independente. Stott (2004) exemplifica essa

possibilidade com os relatos bíblicos do “bom samaritano” (Lc 10 25-37) e com o

episódio onde Felipe prega o evangelho ao eunuco (At8. 26-40). Na primeira história

mesmo que o bom samaritano fosse um dos discípulos de Jesus, sua atitude de cuidar

“apenas” do físico, deixando de pregar o evangelho não poderia ser julgada como

errada. O mesmo pode-se dizer sobre a ação de Felipe que, ao abordar o eunuco etíope

na sua carruagem, não demonstrou preocupação com suas necessidades sociais.

A partir dessa compreensão, a M.I. entende que existem momentos em que é

necessária uma abordagem que utilize apenas um dos enfoques; por isso pode-se dizer

que “Não é necessário que todas as campanhas evangelísticas sejam acompanhadas por

um programa de serviço social simultâneo. De igual modo, não é necessário que ao

alimentar as pessoas numa região assolada pela seca, primeiro se pregue para elas, pois

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segundo o provérbio africano, “uma barriga vazia não tem ouvidos”.(STOTT,2004, p.

51).

Após ter sido mostrado que evangelização e ação social devem estar unidas

dentro de nossa compreensão sobre missão da Igreja, porém, podendo em alguns

momentos específicos, ser exercidas separadamente, faz-se necessário compreender a

forma como ambas podem se relacionar de forma geral. Stott (2004) discorre sobre a

questão do relacionamento entre ação social e evangelização, apontando para a

existência de três tipos de relacionamentos possíveis entre ambas.

O primeiro tipo de relacionamento apresentado por ele é a ação social como uma

consequência da evangelização. Nesta forma de se relacionar, a evangelização é

entendida como a causa geradora do “novo nascimento”, que resulta em uma nova vida,

que se manifesta em um agir novo no mundo, um agir que expressa o amor e reino de

Deus ao próximo e ao mundo todo. Para um embasamento teológico dessa compreensão

pode-se citar os textos de Gnl5.6 “a fé atua pelo amor”; Tg 2.18 “Eu lhes mostrarei a

minha fé pelas minhas obras” e 1Jo 3.18e19 “Filhinhos, não amemos de palavras nem

de boca, mas em ação e em verdade. Assim Saberemos que somos da verdade; e

tranquilizaremos o nosso coração diante dele”

Olhando para outros textos bíblicos, a M.I. entende que esta ação social da igreja

não é apenas uma consequência, mas uma ação desejada, se configurando assim como

um dos objetivos principais do evangelho. Os seguintes textos são interpretados dentro

dessa ótica: Tt.2.14 que diz: “Ele (Cristo) se entregou por nós a fim de nos redimir de

toda maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática

de boas obras”, e Ef.2.10 “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para

fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos”.

Deve-se ponderar que o serviço ao próximo, o atuar como seres transformados

por Deus, como agentes de transformação social, não são fatos que acontecem de forma

automática após a evangelização e conversão. Os cristãos podem escolher negligenciar a

responsabilidade social, assim como a evangelização, pois os seres humanos são

dotados de incoerência e por conta disso às vezes os cristãos erram em ignorar parte ou

a totalidade de sua missão. Mas ao olhar para o conteúdo da mensagem do evangelho

todo a M.I. entende que a Palavra de Deus deve transformar “todas as áreas de nossa

vida pessoal e social” (STOTT, 2004, 53).

O segundo tipo de relacionamento possível entre evangelização e

responsabilidade social é aquele no qual a ação social serve como ponte para a

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evangelização. Esta segunda forma pode ser vista nos muitos casos em que ação social

resulta em uma quebra das barreiras que a “evangelização” não conseguia transpor. É

utilizado para fundamentar essa relação o próprio ministério de Jesus, que em muitos

momentos realizou ações de misericórdia antes de proferir uma mensagem oral a

respeito do evangelho.

Dentro dessa lógica, a proclamação do evangelho busca partir das necessidades

presentes e sentidas pelas pessoas e sociedades, para então responder à sua necessidade

de um relacionamento pessoal com Deus. Essa forma de entender a relação entre ambos

os aspectos compreende que “se nós fecharmos os olhos para o sofrimento, a opressão

social, a alienação e a solidão das pessoas, não podemos nos surpreender quando elas

fecharem os ouvidos à nossa mensagem de salvação eterna” (STOTT, 2004, P.53).

Neste ponto deve-se tomar o cuidado para não se confundir a ação social, que

cria pontes de maneira natural, com a ação social de barganha, que é usada como uma

estratégia de evangelização, na qual se faz o bem pensando em comprar a adesão do

indivíduo, ou sociedade, à fé, criando assim as chamadas conversões interesseiras, que

se dão a partir da troca dos benefícios materiais.

Discorrendo sobre esse cuidado que se deve tomar para não confundir M.I.com

barganha da fé, pode-se citar Ricardo Quadros Gouveia, que no capítulo intitulado

“Missão Integral: um convite à reflexão”, diz que:

Não há equívoco mais contrário ao espírito da teologia da missão

integral, em minha opinião, do que pensá-la como uma estratégia para

evangelização. É evidente que os adeptos da teologia de missão

integral logo dirão que o próprio conceito de evangelização ganha

novas cores a partir da doação da noção de missão integral, que deixa

de ser mera conquista de almas para Cristo, etc. Porém, por outro lado,

quem comete esse equívoco ainda não está em geral, sob o impacto de

uma nova compreensão do evangelho e da missão da igreja que a

teologia de missão integral impõe. De qualquer forma, os evangélicos

em geral tendem a cair ou recair em fórmulas gnósticas que separam e

distinguem o material e o espiritual, o corpo e a alma, num espírito

contrário ao do ensino neotestamentário. Vale a pena, portanto,

lembrar e alertar que, acima de tudo, missão integral não é uma

estratégia ou técnica de evangelização (GOUVÊA, 2011,p. 134-135)

Mas, essa relação de evangelização e ação social como ponte, deve acontecer

dentro da compreensão de que os atos que visam o desenvolvimento e a justiça são

expressões do amor de Deus para com sua criação, e de seu reinado sobre a vida de seus

discípulos. Dessa forma as ações se livram de ser tentativas interesseiras proselitistas,

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estratégias de evangelização, e se configuram como expressões do reino de Deus que

podem estabelecer pontes entre a mensagem do evangelho e o mundo.

A terceira forma de relacionamento possível entre evangelização e

responsabilidade social é aquela em que ambas são vistas como parceiras. Dessa

compreensão advêm uma das frases mais conhecidas da M.I. sobre esse tema, que é “A

ação social e a evangelização são como as duas lâminas de uma tesoura, ou como as

duas asas de um pássaro”(STOTT.2004.p.54). Essa visão de relação é também, assim

como as outras, fundamentada no ministério público de Jesus, pois ele pregou o

evangelho, alimentou os famintos e curou os enfermos, conciliando assim, o

kerygma(proclamação), a Diakonia(serviço) e o Didaqué(ensino).

Para compreender melhor esse conceito, pode-se ver a interpretação que a M.I.

faz do texto de Mt 4.23 no qual está escrito: “Jesus foi por toda Galileia, ensinando nas

sinagogas deles, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e

doenças entre o povo”. Neste versículo é apresentado de forma resumida o ministério de

Jesus, e nele vemos a parceria existente entre ensino e proclamação com o serviço.

Padilla, ao analisar esse texto, afirma que o fato de ambas as ações serem colocadas

como parceiras no ministério de Jesus:

Pressupõe um conceito de salvação que abarca a totalidade do homem

e não pode ser reduzido ao perdão de pecados e à segurança de uma

vida interminável com Deus no céu. A uma visão integral da salvação

corresponde uma missão integral. Salvação é saúde. Salvação é

humanização total. Salvação é vida eterna, vida do Reino de Deus,

vida que começa aqui e agora e atinge todos os aspectos do ser do

homem (PADILLA,1992, p.34).

Dentro dessa lógica relacional de parceria, expressa no versículo citado, pode-se

ver que, por conjugá-las como parceiras, as palavras de Jesus expunham suas obras, e

suas obras testificavam suas palavras. Como parceiras, ambas as ações expressavam o

amor de Deus pelas pessoas. A partir desse exemplo, a MI entende que o agir da igreja

no mundo deve seguir os mesmos passos. Suas palavras e ações devem ser parceiras na

missão de proclamar o Reino de Deus à terra.

É valido fechar esta parte que trata a relação de parceria entre ação social e

evangelização com a citação de Stott, que comentando sobre esse relacionamento, diz:

“Isso não significa que sejam idênticos um ao outro, pois a evangelização não é, em si,

responsabilidade social, tampouco responsabilidade social é evangelização. No entanto

uma engloba a outra”. (2004, p.50-54).

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Pode-se concluir esse tópico dizendo que na compreensão da M.I. ambas as

ações, evangelização e responsabilidade social, são embasadas no caráter de Deus, pois

Ele é o Deus justo, que repudia todo tipo de maldade, mas ama a justiça. Sua face de

juiz é apresentada também com a de misericórdia, como consequência dessa justiça

misericordiosa se crê em um Deus que criou o universo e se põe a cuidar dos

necessitados, fazer justiça aos oprimidos, dar pão aos famintos, libertar os encarcerados,

dar vista aos cegos, guardar o peregrino, amparar os órfãos e as viúvas, e se apresentar

como aquele que ama os justos e que muda o caminho dos ímpios (Sl 146.7-9). Stott,

refletindo sobre a repercussão do caráter de Deus no ser e agir na igreja, à luz do Salmo

146, afirma que:

Reconhecemos que não temos a autoridade nem o poder para fazer

tudo o que o Senhor faz. No entanto, uma vez que esse texto nos

mostra o tipo de Deus que ele é, e vendo a demonstração continua dos

cuidados dele através das exigências de sua lei e nos profetas, torna-se

patente o tipo de pessoas que nós devemos ser, sedentas de justiça,

liberdade e dignidade para todos, especialmente para os impotentes,

que não têm como alcançar sozinhos esses ideais. (STOTT, 2004,

p.49).

Assim como Jesus Cristo refletiu a compaixão de Deus ao mundo, tendo

compaixão para com os famintos, doentes, cativos e oprimidos, olhando para as pessoas

e sentindo por ela se compaixão, por vê-las aflitas e exaustas, como ovelhas sem pastor,

e essa compaixão resultou na ação adequada, da mesma forma a igreja tem como

responsabilidade conjugar suas palavras com suas ações, entendendo o amor como o

primeiro fruto do Espírito Santo (Gl5.22). Este é, portanto, o elemento que traz à igreja

uma consciência social sensível, a qual compele a comunidade eclesiástica a um

engajamento social, no qual milita pelo desenvolvimento e a busca da justiça social.

Dentro da visão da M.I., proclamar Jesus como Senhor e Salvador, por meio da

evangelização, possui implicações sociais, pois traz as pessoas à consciência dos

pecados pessoais e sociais; não apenas essa consciência de pecados é gerada mas se

inicia uma nova forma de viver em sociedade, viver este que expressa justiça, paz e

amor. Da mesma forma, o agir e reagir na sociedade (responsabilidade social), possui

implicações evangelísticas, pois estas partem do princípio de que são expressões do

amor de Deus e de seu Reino. Sendo assim todas as ações realizadas em nome de Cristo

se configuram como uma demonstração e uma proclamação do evangelho.

Com isso pode-se concluir que a evangelização possui um aspecto social,

mesmo sem possuir uma intenção primordialmente social. E o mesmo pode-se dizer

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sobre a responsabilidade social esta possui implicações evangelísticas até quando não

tem isto como objetivo primeiro. “Portanto, evangelização e responsabilidade social,

enquanto distintas uma da outra, estão integralmente ligadas em nossa proclamação e

em nossa obediência ao evangelho. Trata-se de um verdadeiro casamento. (STOTT,

2004, p.54).

2.2.1.2. A hierarquização entre Evangelização e Desenvolvimento e

Justiça.

Frente ao conteúdo apresentado surge a questão da hierarquização entre esses

dois aspectos. Embora eles estejam unidos questiona-se se: “Na relação entre

Evangelização e responsabilidade social existe a prioridade de um em detrimento do

outro na missão da Igreja? Qual deles tem proeminência na missão, a evangelização ou

a ação social?”.

Marcos Aurélio da Silva, em sua dissertação intitulada “Conceito de Missão em

John Stott e René Padilla: Relação entre proclamação da palavra e ação social”,aborda

essa questão apresentando duas posições vistas por ele como diferentes. Uma é

representada por Stott e outra por Padilla. Na compreensão de Silva (2012), Stott

hierarquiza colocando a evangelização em primeiro lugar e responsabilidade em

segundo plano. Silva destaca este fato com a seguinte afirmação:

Stott apresenta à humanidade uma teologia da missão na qual vem em

primeiro lugar a proclamação da palavra para com isso se salvar

almas, porque a evangelização pela pregação da palavra tem relação

com o destino eterno das pessoas. Em segundo lugar vem, caso seja

possível (se sobrar tempo e recurso), a realização da prestação do

serviço pelas ações sociais. Note-se que ele não exclui o serviço de

sua teologia da missão. O que ele faz é uma escala de prioridades, que

quase chega a eliminar a preocupação com o serviço social da missão.

(SILVA, 2012.p.126).

No outro extremo, Silva coloca Padilla, que é tido como um representante da

missão integral que não faz essa hierarquização, por este ter de maneira muito forte em

sua teologia de M.I.a “proclamação da palavra da salvação e da ação pelo serviço social

concretizado pelas boas obras de maneira conjunta e indissociável” (2012.p.129)

Porém ao analisar essa questão da hierarquização nesses dois autores

apresentados por Silva, faz-se necessária uma palavra de contraposição as conclusões

deste autor. Pois no que diz respeito à afirmação de que Stott faz “uma escala de

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prioridades, que quase chega a eliminar a preocupação com o serviço social da missão,

(SILVA, 2012.p.126) esta carece de fundamentação de teoria, uma vez que é do próprio

Stott a afirmação que diz que: “A ação social e a evangelização são como as duas

lâminas de uma tesoura, ou como as duas asas de um pássaro” (STOTT, 2004, p.54). Ao

olhar para a teologia de missão da Igreja a partir de Stott nota-se, como mostrado acima,

uma enorme preocupação e atenção para as questões de responsabilidade social.

Stott faz sim uma hierarquização entre esses aspectos da missão da igreja, porém

afirmar que “quase chega ao ponto de eliminar a preocupação com o serviço social” não

é legítimo, porque ao fazê-la Stott deixa bem claro que esta acontece apenas no campo

da intelectualidade, porque na prática: “essas duas realidades são inseparáveis, pelo

menos nas sociedades livres, e raramente teremos de optar entre uma e outra. Em lugar

de estar em competição, elas se sustentam e se fortalecem mutuamente, numa espiral

ascendente de preocupação crescente.” (STOTT,2004, p. 55)

Da mesma forma que o entendimento de Silva sobre Stott carece de

ponderações, o mesmo se pode dizer sobre seu entendimento sobre a teologia da M.I. de

Padilla, pois ao afirmar que Padilla entende a “questão da proclamação da palavra da

salvação e da ação pelo serviço social concretizado pelas boas obras de maneira

conjunta e indissociável” (SILVA,2012.p.129) Silva não traz um argumento que trate a

questão hierarquização, mas apenas da relação; ao afirmar que são indissociáveis, não

elimina-se a possibilidade de essa associação existir dentro de uma relação

hierárquica25, esse fato pode ser visto em Stott que possui uma visão onde ação social e

evangelização se configuram como parceiras e inseparáveis, mas mesmo assim

hierarquiza esses aspectos.

Ao olhar para os escritos de Padilha, embora ele não chegue a redigir um texto

exclusivo sobre a hierarquização, como fez Stott em seu livro “Evangelização e

responsabilidade social” no qual dedicou um capítulo intitulado “a questão da primazia”

onde ele esclarece sua compreensão sobre a questão, Padilla faz algumas afirmações

que podem ser interpretadas como muito próximas da visão de Stott. Destaca-se a

seguinte:

O evangelho não pode ser reduzido a categorias políticas, sociais e

econômicas, nem a igreja a uma agência de promoção humana. Menos

25 Apenas a título de ilustração desse conceito pode-se citar as fases de transformação de uma borboleta. Cada fase pela qual a borboleta passa é indispensável, porém as fases se dão dentro de uma ordem, hierarquia, primeiro ovo, depois lagarta, depois casulo e por último vira borboleta. As fases são indissociáveis, porém, acontecem dentro de uma hierarquia.

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ainda confundir o evangelho com uma ideologia ou a igreja com um

partido político. Como cristãos estamos chamados a testemunhar a

cerca de um Cristo transcendente, ultramundano, por meio de cujo

sacrifício temos recebido o perdão dos pecados e a reconciliação com

Deus. Cremos na necessidade que o homem tem de um encontro

pessoal com Deus em Cristo, pela ação do Espírito Santo, por meio da

proclamação da Palavra de Deus. E mantemos que nada pode tomar

o lugar da regeneração espiritual para fazer homens novos. Esta é a

soteriologia bíblica e é parte integral de nossa fé. Não podemos

aceitar a equação da salvação com a satisfação das necessidades

corporais, com melhorias sociais ou com libertação

política.26(PADILLA,1992.p.51).

Nota-se que Padilla fala que não se pode “reduzir” o evangelho a categorias

políticas, e que “nada pode tomar o lugar da regeneração espiritual” essas afirmações de

Padilla coloca sua teologia muito próxima da teologia de Stott, desmontando assim a

hipótese que eles ocupam extremos opostos na Teologia da MI quanto a hierarquização

entre evangelização e ação social, talvez o que se pode constatar é que existem

diferenças, porém polarizá-los como opostos é uma atitude que carece de

fundamentação, pois ambos valorizam evangelização e responsabilidades sociais com

elementos fundamentais da missão da Igreja, e ouso dizer que, os dois apresentam, de

forma distinta, uma hierarquização entre evangelização e ações sociais, colocando

Evangelização como a responsabilidade primeira da igreja , porém apenas no âmbito

conceitual.

2.2.2. Discipulado & Desenvolvimento e Justiça

O discipulado é apresentado por Padilla como a outra face que complementa o

primeiro aspecto da M.I. O Pacto de Lausanne apresenta essa mesma visão sobre o

discipulado como um elemento indispensável que está contido na evangelização. Pode-

se constatar esse fato na seguinte afirmação:

Ao fazermos o convite ao evangelho, não temos o direito de esconder

o custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram

segui-lo a negar-se a si mesmos, tomar a sua cruz e identificar-se com

a sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a

obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável

no mundo (STOTT, 2003, p.41).

26 Negrito nosso

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Esta face, o discipulado, tem a sua importância e destaque dentro do primeiro

tópico na definição de Padilla, também pelo fato de a M.I. compreender que embora

ainda existam desafios no campo da evangelização, após a Segunda Guerra Mundial

houve um crescimento considerável do cristianismo, que ocorreu também em outras

religiões. Para Padilla o ser humano tem migrado de forma massiva para as religiões,

por vivenciar um vazio metafísico que a tecnologia não pode preencher; mesmo com

todo avanço tecnológico experimentado nas últimas décadas. (2014, p.158).

Na compreensão do autor (PADILLA, 2014) este aumento considerável que

ocorreu no número de cristãos e também em outros movimentos religiosos no terceiro

mundo pode ser entendido como um resultado do impacto da civilização ocidental e

uma reação a ela. Este aumento, porém, aos olhos de Padilla tem trazido um sincretismo

religioso nesse movimento massivo do homem rumo à espiritualidade.Por esta razão ele

afirma: “talvez a necessidade mais urgente relacionada com o rápido crescimento da

igreja seja uma nova ênfase num discipulado cristão que inclua a submissão de toda a

vida ao senhorio de Jesus Cristo” (PADILLA, 2005, p.143).

Embora esse crescimento da igreja tenha um papel importante para o

aparecimento do discipulado dentro do primeiro enfoque, pode-se dizer que o principal

motivo para o discipulado aparecer como missão da igreja advém do texto bíblico sobre

a “Grande Comissão” no qual está escrito: “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes: Toda

autoridade me foi concedida no céu e na terra. Portanto, ide, fazei discípulos de todas as

nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinado-lhes a

obedecer a todas as coisas que vos ordenei; e eu estou convosco todos os dias, até o

final dos tempos” (Mt.28.18-20).

Este texto, que é tido como a Grande comissão, tem norteado o agir missionário

da igreja ao longo dos anos de sua existência. Uma compreensão vigente deste texto é

que ele tem como seu eixo central o “Ide”. Nessa perspectiva a missão é associada

exclusivamente ao ato de cruzar fronteiras geográficas; porém, segundo Steuernagel: “a

pergunta que se faz é se é possível isolar o “ide” do seu contexto e construir sobre ele,

por exemplo, uma teoria de evangelização que tenha uma forte ênfase na locomoção

geográfica” (1994, p.81).

A M.I. entende a Grande Comissão como um mandato ao discipulado

universal. Ela parte da compreensão de que o centro da Grande Comissão é o “fazei

discípulos”.Dentro dessa ótica o “ide”, o “batizando” e o “ensinando” se referem ao

“como”; o modo pelo qual se faz discípulos.Deve-se salientar que no original grego os

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três verbos citados acima estão no particípio.Sendo assim, uma possível tradução do

“ide” seria “indo”, dessa forma o “ide” se configura como um imperativo que está

conjugado às outras duas ordenanças, não podendo assumir um sentido central

isolado.Dessa forma, a Grande Comissão traz o discipulado como seu centro, e tem

como objetivo levar Jesus, o Senhor, para todas as pessoas, em todos os lugares.

Considerando ainda os outros verbos dessa comissão, “batizando” e

“ensinando”, deve-se destacar que estes não podem ser entendidos como elementos

separados do processo do discipulado, pois eles são, segundo Steuernagel: “parte

integral do mesmo e constituem o todo do nosso envio missionário ao mundo”

(1994.p.81). Como resultado desta análise, qualquer segmentação entre evangelização,

discipulado e serviço perde o sentido, pois a tarefa de “fazer discípulos” engloba a

totalidade da fé e da vida, colocando os discípulos em um relacionamento constante e

permanente aprendizado, e de confiança e dependência de Jesus. Bonhoeffer define esse

processo e discipulado da seguinte forma:

O discipulado é comprometimento com Cristo; por Cristo existir, tem

que haver discipulado. Uma concepção de Cristo, um sistema

doutrinário, um conhecimento religioso geral da graça ou do perdão

não implicam necessariamente o discipulado; na realidade, excluem-

no, são hostis a ele. Com a ideia pode-se ter uma relação de

conhecimento, de admiração – talvez até mesmo de realização -, mas

nunca a relação de discipulado pessoal e obediente. Cristianismo sem

Jesus Cristo vivo permanece necessariamente um cristianismo sem

discipulado; e cristianismo sem discipulado é sempre cristianismo sem

Jesus Cristo; é uma ideia, um mito. (BONHOEFFER, 2011.p.22).

Ao analisar o texto de Mt 28.18-20 nota-se que ele inicia afirmando a autoridade

de Jesus e é seguido por um “portanto” que constrói uma de ponte entre os versos 18 e

19.Essa estrutura apresenta o fato de que a igreja é comissionada por Jesus a partir da

autoridade dEle.Sua missão parte da autoridade de Jesus, e caminha com a promessa de

presença constante até o fim; inicia-se em Jesus e termina com Ele.

Esse aspecto de serem a missão e o discipulado frutos da divindade é um

elemento fundamental na M.I., que encontra suas bases tanto no texto bíblico citado

acima com em toda a teologia bíblica. A partir daí a M.I.entende o início de suas ações

missionais. A origem de sua missão está na Missio Dei (Missão de Deus). Timóteo

Carriker, em seu livro “Missão Integral: Uma teologia Bíblica” no qual discorre sobre

os fundamentos da teologia da M.I., apresenta a missão tendo como fundamento Deus,

sendo ela, antes de tudo, fruto da Missio Dei. Carriker faz a seguinte afirmação:

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Através de toda a revelação veterotestamentária, se torna patente que o

principal ator no drama é Deus. “No princípio criou Deus ...” É Deus

quem cria, quem julga, quem age, quem escolhe, e quem se revela. Ele

é ativo não só na criação, mas também nos julgamentos, na libertação

do seu povo do Egito, nas exortações dos seus profetas e na promessa

de restauração vindoura. Ele é o único e verdadeiro Deus que deseja

que sua glória seja conhecida nos céus (Salmo 19) e nas extremidades

da terra(Isaias 11.9). Portanto, antes de ter uma conotação humana que

fala da tarefa da igreja, “missão” é uma categoria que pertence a Deus.

A missão, antes de ser da igreja, é missio Dei. Esta perspectiva nos

guarda contra toda atitude de auto-suficiência e independência na

tarefa missionária. (CARRIKER.1992, p.162e163).

Este conceito de missio Dei teve sua primeira articulação com Karl Barth. Ele se

tornou um dos primeiros teólogos a trabalhar o tema missão como uma atividade de

Deus. Ele pode ser considerado o primeiro pensador a desenvolver “um novo paradigma

teológico que rompeu radicalmente com uma abordagem iluminista da

teologia”(BOSCH,2002.p.467). A compreensão da missão como missio Dei,

desenvolvida por Barth, foi aderida por quase todas as ramificações cristãs, incluindo

também os evangelicais da Missão Integral.

Segundo Bosch, falando sobre a importância de Barth no conceito de missio Dei:

“Sua influência no pensamento missionário atingiu o auge na conferência do CoMIn

ocorrida em Willingen (1952). Foi lá que a ideia (não o termo) da missio Dei emergiu

pela primeira vez de maneira clara. Compreendeu-se a missão como derivada da própria

natureza de Deus.” (2002.467).

Missão passou a ser compreendida a partir da Trindade, e não da igreja ou da

salvação. Na missio Dei a compreensão do Deus Pai, que enviou o Filho, e o Deus Pai

junto com o Filho, que enviou o Espírito, deu continuidade apresentando mais um

movimento, que é: o Deus Pai, juntamente com o Filho e o Espírito Santo enviando a

igreja ao mundo. Sendo assim a existência e sobrevivência da missão advêm do Deus

Triuno.

O elemento distintivo que essa compreensão traz é que a missão é apresentada

como um atributo de Deus. Ele é O missionário, e a igreja por sua vez é entendida como

um instrumento para realização dessa missão. Bosch corrobora com essa visão dizendo:

“Participar da missão é participar do movimento de amor de Deus para com as pessoas,

visto que Deus é uma fonte de amor que envia” (2002, p.468).

Nessa visão, o propósito primeiro da igreja deixa de ser exclusivamente a

implantação de igrejas e a salvação de almas, e passa a ser fazer discípulos que

representam o Deus Trino frente ao caos humano. Essa visão segundo Bosch “Poderá,

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pela graça de Deus, resultar em um mundo mais humano, que jamais, contudo, pode ser

compreendido como um produto meramente humano – o autor efetivo dessa história

humanizada é o Espírito Santo.” (2002, p.469).

A compreensão sobre missio Dei colaborou para que a igreja entendesse que

nem ela nem qualquer outro agente humano pode se imaginar como dono da missão.

Pois ela (a missão) é, antes de tudo, a ação de Deus Triúno, que é o Criador, mas

também aquele que redime e santifica por amor ao mundo, e a cada membro da igreja

de Cristo está reservado o privilégio de ser um coparticipante dessa missão ao se colocar

como discípulo.

Sobre a implicação da missio Dei nas questões de Desenvolvimento e Justiça,

Bosch traz a seguinte afirmação:

Quando se refere à ordem social e ao seu desenvolvimento no sentido

de servir o bem comum, que “o Espírito de Deus”, que dirige o curso

da história com providência admirável e renova a face da terra, está

presente a esta evolução. [...] esse progresso é de grande interesse para

o reino de Deus, na medida em que contribui para organizar a

sociedade humana. (2002.p.469).

Sendo assim, pode-se dizer que na compreensão da missio Dei as “evoluções” e

“desenvolvimentos sociais”, que promovem o bem comum, são do interesse divino, pois

entende seu valor por expressar o Reino de Deus ao colocar em ordem o caos instaurado

pelo pecado na humanidade, agindo assim para uma reorganização social e individual,

pois reconhece que o pecado afetou não apenas esferas individuais e internas dos seres

humanos, mas também sociais e externas a ele, criando estruturas injustas e opressoras.

Neste ponto vê-se o discipulado assim como a evangelização possuindo implicações de

desenvolvimento e justiça.

Voltando o olhar para o texto da “Grande comissão” novamente pode-se ver que

ele apresenta uma mensagem de “totalidade” quanto à tarefa evangelizadora. É

interessante notar que a palavra “todo” aparece quatro vezes na passagem bíblica: “Toda

a autoridade”, “todas as nações”, “todas as coisas que vos ordenei” e “estou convosco

todos os dias”. Duas totalidades se referem a Jesus e as outras duas à missão da igreja.

Ela recebe a missão de fazer discípulos em todas as nações, batizando em nome da

trindade, e de ensinar-lhes a obedecer a todas as coisas, mas tudo isso debaixo de toda

autoridade recebida por Jesus e da promessa de sua presença em todos os dias. Segundo

Steuenegel: “Não é pouca coisa que se promete, mas também não é pouca coisa que se

espera daqueles a quem se diz “Ide, portanto”” (1994.p.81).

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A grande comissão reforça a máxima da M.I. de levar o evangelho todo, ao

homem todo e a todo o mundo, pois apresenta uma evangelização que busca um

discipulado e isto afeta a totalidade da vida humana, indo das esferas individuais e

íntimas até as coletivas e comuns. Nessa interpretação da Grande Comissão é

apresentada uma evangelização que é pessoal, mas que possui implicações no coletivo;

é individual, mas que reflete e toca na vida social; e é uma mensagem que traz um

desafio de comprometimento com a justiça e desenvolvimento humano e social.

Bonhoeffer afirma que: “A resposta ao discipulado não é uma confissão oral da fé em

Jesus, mas sim um ato de obediência (2011.p.20) .

Nesta compreensão do texto esse discipulado resulta em uma igreja enraizada na

comunidade global dos seres humanos que dialoga com sua realidade e trabalha para

que os seres humanos possam ter uma vida justa e digna. A relação entre discipulado e a

formação de igreja é muito estreita e fundamental. Deve-se reconhecer que muitas vezes

a evangelização se tornou uma mensagem muito individual e transcendente,

esquecendo-se assim do social/coletivo e imanente, deixando de lado o valor da

comunidade dos discípulos, batizados e, consequentemente, o serviço desta comunidade

aos propósitos de Deus também foram deixados. Porém, quando a grande comissão é

interpretada de forma a conectar todos os imperativos ao discipulado, a evangelização

cumpre seu papel tanto pessoal como coletivo, tanto individual quanto social sendo

assim um elemento gerador de uma busca por desenvolvimento e justiça. Steuernagel

afirma que: “A descoberta de que a evangelização, a comunidade dos batizados e os

serviços desta comunidade aos propósitos do Deus Trino estão inter-relacionados tem

enriquecido a nossa caminhada evangelizadora nestas últimas décadas. (1994.p.80-82)

2.3. Colaboração e Unidade & Desenvolvimento e Justiça.

O segundo ponto que compõe a missão da igreja dentro da M.I., a partir do

conceito de Padilla, é Colaboração e Unidade. Ele afirma que “as igrejas antigas e as

igrejas novas [...] devem ser vistas como colaboradoras não meramente num sentido

contratual, mas como colocadas por Deus nesta relação. Elas unem-se pela vontade de

Deus, para fazer a vontade de Deus” (PADILLA, 2005, p.145). Este enfoque consiste

em criar entre as igrejas que enviam missionários, e outros tipos de ajuda, e as igrejas

que recebem este apoio, uma relação em que ambas possam ser mutuamente ajudadas e

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obedientes no ato de colaborar. Este fato é tido como um elemento necessário para que a

Igreja realize sua missão.

Para Padilla, as instituições e movimentos cristãos do terceiro mundo continuam

dependendo dos estrangeiros, e isso criou uma relação unilateral, na qual igrejas jovens

só desempenham o papel de receber, e igrejas antigas o de enviar. A proposta desse

enfoque é mudar esta relação, fazendo com que as “igrejas novas” possam ver-se cada

vez mais como colaboradoras do reino. Padilla acredita que só assim haverá uma igreja

universal, na qual os cristãos participarão efetivamente como integrantes da missão

mundial.

Ele afirma que “a colaboração na missão não é meramente uma questão de

conveniência prática, mas a consequência necessária do propósito de Deus para a igreja

e para toda a humanidade, revelada em Cristo Jesus” (PADILLA, 2005, 147). Quando a

igreja falha como colaboradora na missão ela falha também na manifestação da

mensagem do evangelho, porque a missão não pode ser realizada de outra maneira que

não seja a colaboração mútua, e essa é inseparável da unidade.

A ideia de unidade, citada logo acima, está relacionada não só com o

compartilhar alegrias e tristezas, mas também em compartilhar os bens, não a fim de

todos terem o mesmo, na mesma quantia, ou de alguns terem em abundância e outros

em escassez, mas sim que aqueles que têm em fartura possam suprir as necessidades

daqueles que têm menos, tendo em mente que deve haver uma situação em que todos os

cristãos estejam dispostos a compartilhar aquilo que têm com os outros, criando assim a

possibilidade de partilha recíproca. Padilla afirma que: “a possibilidade de partilha

recíproca entre as igrejas é uma premissa básica sem a qual não será possível uma

relação saudável entre as igrejas ricas e as pobres” (PADILLA, 2005, p.148).

No congresso de Lausanne essa questão sobre cooperação e unidade entre as

igrejas também foi discutida, e o PL tratou-a da seguinte forma:

Afirmamos que é propósito de Deus haver na igreja uma unidade

visível de pensamento quanto à verdade. A evangelização também nos

convoca à unidade, porque o ser um só corpo reforça o nosso

testemunho, assim como a nossa desunião enfraquece o nosso

evangelho de reconciliação. Reconhecemos, entretanto, que a unidade

organizacional pode tomar muitas formas e não ativa necessariamente

a evangelização. Contudo, nós, que partilhamos a mesma fé bíblica,

devemos estar intimamente unidos na comunhão uns com os outros,

nas obras e no testemunho. Confessamos que o nosso testemunho,

algumas vezes, tem sido manchado por pecaminoso individualismo e

desnecessária duplicação de esforço. Empenhamo-nos por encontrar

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uma unidade mais profunda na verdade, na adoração, na santidade e

na missão. Instamos para que se apresse o desenvolvimento de uma

cooperação regional e funcional para maior amplitude da missão da

igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento mútuo, e

para o compartilhamento de recursos e de experiências. (STOTT,

2003,p.92).

Neste capítulo do PL é tratado, de forma clara e objetiva, o tema da unidade e

cooperação. Essa abordagem parte do princípio de que a unidade desejada por Deus à

sua igreja se dá debaixo da verdade.Esta união diz a respeito a uma compreensão de ser

a igreja um corpo, no qual se respeitam as diferenças,e por ser um mesmo organismo,

por acreditar e servir a mesma verdade, possui a responsabilidade de trabalhar para o

cultivo da união e da cooperação de forma orgânica. Mesmo existindo discordância em

alguns pontos triviais, essa união é possível, pois quanto aos elementos essenciais e

fundamentais da fé bíblica existe essa união na verdade.

Porém, o PL denuncia que, embora essa seja uma característica necessária para a

igreja, por ser este um propósito de Deus, “nosso testemunho, algumas vezes, tem sido

manchado por pecaminoso individualismo e desnecessária duplicação de esforço.

(STOTT, 2003.p. 92) Nesse ponto o PL traz luz sobre o espírito individualista que paira

sobre as igrejas, que muitas vezes se lançam em uma caminhada para estabelecer seus

próprios guetos ignorando o chamado para servir em comunhão ao bem comum.

Um elemento distintivo do PL é que após essa confissão do que a igreja deveria

ser (unida) e do que ela tem sido (individualista), o parágrafo é encerrado com um

engajamento à mudança, ao afirmar: “empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais

profunda na verdade, na adoração, na santidade e na missão” (STOTT, 2003, p. 92). O

PL se compromete em lutar contra este espírito individualista e buscar uma unidade

integral, que toca em todas as esferas eclesiásticas; na adoração, santidade e missão.

Este parágrafo do PL termina com uma súplica para que essa unidade e

cooperação sejam apressadas entre as igrejas, porque entende ser esse um fator

necessário para a expansão da missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o

encorajamento mútuo, e para o compartilhamento de recursos e de experiências. Stott

comentando sobre a cooperação afirma que: “precisamos aprender a planejar e trabalhar

juntos e também a dar uns aos outros, receber uns dos outros, os dons benéficos que

Deus nos concedeu, sejam quais forem. (STOTT, 2003,p.56). Neste ponto vemos

colaboração e unidade tendo com um de seus objetivos o ato de servir ao bem comum,

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utilizando-se até da partilha dos bens.Isso faz com que essa característica da M.I. se

aproxime do Desenvolvimento e da Justiça.

Digno de nota é que esse aspecto da cooperação e unidade aparece na teologia da

M.I. como um elemento fundamental, por ela fazer uma leitura bíblica a partir de seu

contexto, pois a M.I. notou que a Igreja Latino-Americana em seu início vivenciava o

drama da unilateralidade missional, na qual essa igreja se via cada vez mais subjugada à

posição de dependente e passiva na realização da missão e em sua relação com as

agências missionárias estrangeiras. Padilla apresenta esse contexto que estava sendo

vivenciado pela igreja com as seguintes palavras:

Basta ver o crescente poderio numérico das missões protestantes

norte-americanas (quase totalmente dependente de pessoal, liderança e

finanças provenientes dos Estados unidos) depois da Segunda Guerra

Mundial e a persistente separação dentre as “missões estrangeiras” e

as “igrejas locais” ao redor do mundo. Basta ver a prevalência de

políticas e padrões da obra missionária que pressupõem que a

liderança da missão cristã está nas mãos de estrategistas e especialistas

ocidentais. Basta ver as escolas de “missão mundial” sediadas no

Ocidente, sem participação de professores do terceiro mundo. Basta

ver, finalmente, a frequência com que uma igreja estabelecida (ou,

mais frequentemente, uma sociedade missionária) no ocidente mantém

uma relação unilateral com uma igreja jovem (independente ou não).

Enquanto esta situação prevalecer, a colaboração não passa de um

mito. (PADILLA,1994, p.143)

Esta citação denuncia a realidade vivenciada na igreja latino-americana, onde a

ação missionária se realizava a partir de uma lógica que tinha como pressuposto a

superioridade do mundo ocidental em assuntos de cultura e raça, por esse possuir um

poder político e econômico mais elevado. Com isso o resultado é uma relação

“colonial” entre as igrejas, instituições, e movimentos cristãos do Terceiro Mundo,e as

agências missionárias e organizações estrangeiras. Como consequência, as igrejas dos

“países em desenvolvimento” estão debaixo de uma relação na qual o imperialismo

econômico e cultural é mantido.

Deve-se destacar que essa relação tem dado passos muito lentos rumo a uma

mudança que vise transformar essa lógica sob a qual se dá o relacionamentos entre essas

igrejas.O Congresso de Lausanne, por sua vez, trouxe luz a esse tema trazendo uma

discussão importante para a quebra dessa relação unilateral tão prejudicial à

compreensão e vivência da missão nas igrejas novas, ao sugerir que: “a redução do

número de missionários e de recursos procedentes do exterior para um país já

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evangelizado pode às vezes ser necessária para facilitar o crescimento da igreja nacional

em autoconfiança e para liberar recursos para outras áreas não-evangelizadas”

(STOTT.2003.p.93).

Essa consideração do PL entende que essa postura deve ser assumida para com

os países evangelizados, nos quais já se tenha realizado a tarefa inicial de proclamar o

evangelho tornando-o conhecido e formando ali uma igreja e liderança local. Porém esta

sugestão, longe de ser uma atitude egoísta e de retenção de custo, é um passo que visa o

desenvolvimento e crescimento da igreja local, pois reconhece que em alguns momentos

e lugares os missionários estrangeiros permaneceram por um longo período na liderança

dessas igrejas jovens, e isso resultou em um empecilho para o desenvolvimento da

liderança.

Quanto à suspensão do fornecimento dos recursos financeiros, dos fundos

estrangeiros, essa ação visa quebrar essa relação de dependência desnecessária e assim

poder redirecionar estes recursos para áreas ainda não evangelizadas, viabilizando uma

disponibilidade e mobilidade maior de missionários para outras áreas ainda não

alcançadas pelo evangelho, porém, agora, em unidade com as igrejas que anteriormente

se viam apenas como agentes passivos na missão. Segundo Padilla:

Depois do congresso de Lausanne, no qual vários oradores do

Terceiro Mundo colocaram sobre a mesa um conjunto de assuntos

críticos, é cada vez mais óbvio que mesmo as agências missionárias

mais tradicionais já não podem evadir o tema de uma colaboração na

missão em nível mundial. Lentamente a convicção expressa de que se

iniciou “uma nova era missionária” e de que na medida em que cresça

a colaboração entre as igrejas “manifestar-se-á com maior claridade o

caráter universal da igreja de Cristo” (Pacto de Lausanne, seção 8),

está ganhando terreno. (PADILLA, 1994,p.143 e 144).

Em síntese pode-se dizer que a unidade e a cooperação visam criar entre as

igrejas uma relação em que todas se entendam como coparticipantes na missão de

proclamar o reino, pois todas possuem um chamado ao agir missional, e dentro dessa

compreensão deve-se cultivar e desenvolver os recursos humanos, históricos e culturais

que cada igreja possui para que todas as igrejas sejam incluídas como agentes

missionários. Esse ponto busca destruir toda hierarquização de igrejas,vendo-as a partir

de uma ótica de justiça na qual apesar das diferenças de idade, recursos e localidade,

todas são vistas igualmente, como irmãs coparticipantes na missão de buscar o

desenvolvimento e justiça, e trabalhar para o bem comum.

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Dentro desse enfoque a mensagem pregada é que todas as igrejas têm algo a

aprender e algo a ensinar;todas têm suas carências e farturas.A partir disso, elas devem

dar as mãos para que sejam uma única Igreja. Padilla expressa essa compreensão com as

seguintes palavras:

Um evangelho universal exige uma igreja universal, na qual todos os

cristãos participem efetivamente na missão mundial como membros

iguais do corpo de Cristo. A colaboração na missão não é meramente

uma questão de convivência prática, mas consequência necessária do

propósito de Deus para a igreja e para toda a humanidade, revelado em

Cristo Jesus. Quando os cristãos fracassam como colaboradores na

missão, também fracassam na manifestação concreta da nova

realidade que o evangelho proclama. Porque há um mundo, uma igreja

e um evangelho, a missão cristã não pode ser outra coisa que missão

realizada em colaboração mútua. O cumprimento da oração de Jesus

de que seus seguidores sejam um a fim de que o mundo creia requer

hoje uma comunidade cristã supranacional que leve, ao mundo

unificado pela tecnologia, um evangelho centrado em Jesus Cristo, O

Senhor de todos. A missão é inseparável da unidade. (PADILLA,

1994, p.145).

Dentro dessa perspectiva, quando se lê a afirmação que diz: “Missão é

inseparável da unidade” ou então; “A colaboração na missão não é meramente uma

questão de convivência prática, mas consequência necessária do propósito de Deus para

a igreja e para toda a humanidade” é correto afirmar que a cooperação e a unidade são

elementos indispensáveis para a Igreja cumprir sua missão e expressar o propósito de

Deus. Cooperação e unidade são elementos indispensáveis para a realização do

desenvolvimento e da justiça.

A compreensão que se obteve até aqui, por meio dos subtópicos anteriores, nos

diz que a missão da Igreja não se limita a uma tarefa de proclamação verbal, mas se

estende a um agir na sociedade que expressa o reinado de Deus. Portanto se a missão da

Igreja é ser expressão deste reinado na terra, a cooperação e a unidade são elementos

indispensáveis para essa sinalização, pois é dentro dessa lógica que é composta por

princípios de partilha recíproca e igualdade nas relações intraeclesiásticas, que a igreja

vivencia e manifesta ao mundo os princípios cristãos de justiça e desenvolvimento.

Por meio desses princípios a igreja sinaliza ao mundo que no Reino de Deus as

relações são justas e o desenvolvimento é obtido porque unidos e em cooperação se

enxergam partes do mesmo corpo, com a responsabilidade de, por meio de suas farturas,

suprir as necessidades das partes carentes.

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A cooperação e a unidade se relacionam com a Justiça e o desenvolvimento não

apenas por estes serem sinais de manifestações do Reino de Deus, mas também por

serem necessários para que a igreja cumpra sua missão de proclamar o evangelho todo,

para todo homem, e para todos os homens. Uma vez compreendida que essa é a missão

da igreja, deve-se considerar a impossibilidade de cumprimento de tal missão a partir de

uma eclesiologia isolacionista e individualista.

Para proclamar o evangelho todo, faz-se necessário que os múltiplos olhares das

igrejas sobre evangelho, a partir de seu contexto, sejam unidos e partilhados. Para o

alcance de todo o ser humano e de toda a humanidade, torna-se indispensável que as

inúmeras igrejas locais ajam a partir da cooperação como igreja universal visando à

proclamação do Reino de Deus. Dessa forma compreende-se a cooperação e a unidade

como elementos necessários, basilares para que a igreja proclame e busque a justiça e o

desenvolvimento presentes na missão da Igreja.

3. DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA NOS SOLOS

PAULISTANOS: ENTRE CLAMORES E RESPOSTAS

Neste capítulo será analisada a presença e vivência dos conceitos de

desenvolvimento e justiça no solo paulistano no meio dos batistas. Para fazer esta

análise será tomado como sujeito de pesquisa a Primeira Igreja Batista de São Paulo

(leia-se PIBSP). Esta igreja foi escolhida devido a sua relevância e representatividade,

histórica e no contexto Batista Paulistano, e também por estar localizada em uma região

com grandes demandas sociais.

Embora existam igrejas que tenham semelhanças quanto a importância e

relevância no meio batista, a escolha por essa igreja se deu pelo fato de estar histórica e

sócio-geograficamente bem situada para estabelecer um diálogo com o objeto maior

dessa pesquisa, a saber: “Missão Integral: Desenvolvimento e Justiça”.

Para análise das aproximações e presença dos conceitos supracitados da M.I. na

PIBSP,o presente capítulo se dividirá em 4subtópicos: “O contexto que clama por

Desenvolvimento e Justiça”, "A PIBSP”,“A missão: Respostas de desenvolvimento e

Justiça” e “A origem da missão”. Estes subtópicos terão como objetivo apresentar o

contexto no qual a igreja está inserida, a visão e as ações da PIBSP frente a este

contexto. A partir deste ponto será buscado o estabelecimento de diálogo entre a PIBSP

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e o conceito de desenvolvimento e Justiça da M.I. Também se buscará encontrar as

origens das possíveis aproximações entre PIBSP e o conceito de desenvolvimento e

Justiça da M.I..

A análise do contexto se dará por meio de uma pesquisa bibliográfica composta

por livros, artigos e pesquisas publicadas sobre a região central de São Paulo. Para a

análise da PIBSP foi realizada uma pesquisa de campo por meio de roteiro de

entrevistas com o pastor titular e com doze membros de diferentes faixas etárias e

gênero. Também foram analisados: boletins publicados e arquivados pela igreja desde o

início do ministério de seu atual pastor 27 ; atas de assembleias; matérias no Jornal

Comunhão que possuem alguma relação com a igreja ou com seu pastor; site da igreja;

e outros materiais que estão relacionados com as ações da igreja.

A partir desses dois horizontes (contexto e PIBSP) será analisada a práxis

vivenciada nessa relação, buscando encontrar as possíveis aproximações e

distanciamentos entre a prática missional da PIBSP e os conceitos de desenvolvimento e

Justiça da M.I. E em um segundo momento, havendo aproximações, se buscará

encontrar uma hipótese que as justifique, que represente a causa pela qual o

Desenvolvimento e a Justiça podem ser vistos na práxis da PIBSP.

3.1. O Contexto que clama por desenvolvimento e Justiça

A PIBSP está localizada no bairro Campos Elíseos, que é parte do distrito de

Santa Cecília, e este compõe parte do centro de São Paulo. Na tabela abaixo, elaborada

pela prefeitura de São Paulo, que mostra alguns dados sobre a região central da cidade,

pode-se visualizar melhor aquilo que é denominado como centro de São Paulo.

27 O arquivo de boletins da igreja, desde o início do ministério do pastor Paulo Eduardo até a data de 11/06/2015 conta com 69 boletins, publicados a partir de 04/11/12 até 07/06/15, registra-se aqui a ausência de alguns boletins publicados nesse intervalo também. Os demais boletins não foram arquivados.

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Tabela 1- Tabela de dados demográficos dos distritos pertencentes à Subprefeitura

do Centro (Sé)28

Subprefeitura Distrítos Área

(km²)

População

2010

Densidade Demográfica

(Hab/km²)

Bela Vista 2,60 69.460 26.715

Bom Retiro 4,00 33.892 8,473

Cambuci 3,90 36.948 9.474

Consolação 3,70 57.365 15.504

Liberdade 3,70 69.092 18.674

República 2,30 56.981 24.774

Santa Cecília 3,90 83.717 21,466

Sé 2,10 23.651 11,262

TOTAL 26,20 431.106 16,454

Como afirmado logo acima, Campos Elíseos é parte do distrito de Santa Cecília,

a Emplasageo em seu documento “Santa Cecília – Segundo Unidades de Informações

territoriais (UITs)” afirma que:

Santa Cecília é um distrito da região central da cidade de São Paulo,

considerado um grande centro comercial. Abrange os seguintes

bairros: Campos Elíseos, Santa Cecília, Várzea da Barra Funda

(triângulo formado entre as vias férreas da CPTM e das Avenidas

Abraão Ribeiro e Rudge) e parte da Vila Buarque, onde está

localizado o Largo de Santa Cecília e a estação do metrô Santa

Cecília. Em seus domínios encontra-se a maior parte do Elevado

Presidente Costa e Silva (conhecido popularmente como Minhocão),

as Praças Marechal Deodoro, Princesa Isabel e Júlio Prestes e o Largo

Coração de Jesus. (SANTA CECÍLIA – Segundo Unidades de

Informações Territorializadas (UITs). p. 4. Disponível em:

<http://www.emplasageo.sp.gov.br/uits/municipioSP/distritos/PDFs/p

dfs/SANTACEC%C3%8DLIA.pdf> Acesso em: 06 mai.2015).

Em síntese, pode-se dizer que a PIBSP está localizada no centro de São Paulo.

Ao analisar essa região nota-se que ela passou por fortes transformações desde seu

surgimento até os dias de hoje. Heitor Frúgoli Jr. em seu livro “Centralidade em São

Paulo: Trajetórias, conflitos e negociações na metrópole” faz uma análise dessas

mudanças que ocorreram na região central. O autor afirma que:

28 Dados Demográficos dos Distritos pertencentes às Subprefeituras. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/index.php?p=12758> Acesso em: 06 mai. 2015.

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O centro tradicional paulistano, que no início do século fora um

espaço das elites, passou por um crescimento com a criação de áreas

mais valorizadas, ao passo que as anteriores foram sendo

gradativamente abandonadas e entregues à deterioração de seus

equipamentos. A partir de então, o centro tradicional passou a ser cada

vez mais identificado como espaço das classes populares, incluindo aí

uma grande porcentagem de migrantes nordestinos (FRÚGOLI,

2000.p. 38).

Esse processo de transformação segundo Frúgoli (2000) é notório, pois até os

anos de 1960, São Paulo possuía um único centro, que pode ser dividido em duas partes:

o “Centro tradicional” (da Praça da Sé à Praça do Patriarca, com eixo na Rua Direita) e

o “Centro Novo” (da Praça Ramos de Azevedo à Praça da Republica, com eixo na Rua

Barão de Itapetininga); nesta parte do centro estava localizada a maior concentração de

empresas. Essas duas áreas representavam o desenvolvimento paulistano entre 1910-

1960.

Aos poucos o centro passou a receber um número cada vez maior de pessoas de

menos poder aquisitivo, e muitos migrantes nordestinos, que começaram a vir para São

Paulo de maneira mais expressiva nos anos 30, e passaram a ocupar cada vez mais as

áreas centrais da cidade. Frúgoli descrevendo esse processo de “popularização” do

centro faz a seguinte afirmação:

Nos espaços públicos da área central da cidade [...] distintos grupos

sociais formaram variadas redes de relações voltadas à sobrevivência -

como camelôs, engraxates, desempregados, aposentados “plaqueiros”,

vendedores de ervas, de bilhetes de loteria, de churrasquinho,

pregadores religiosos, videntes, prostitutas, travestis, homens e

menores de rua, artistas de rua, “rolistas”, batedores de carteira,

trapaceiros e muito outros – com uma diversidade quanto ao tipo de

uso do espaço embora com certas semelhanças entre si, em particular

quanto à origem popular e muitas vezes nordestina, além de uma certa

forma de organização interna, que combina princípios de

solidariedade com outros de hierarquia, do tipo clientelista e

personalista. É óbvio que há desde grupos mais inseridos na esfera do

trabalho, com pequenas práticas transgressivas, até outros mais

imersos na marginalidade. (FRÚGOLI, 2000, p.59).

Esse processo de popularização do Centro, que se inicia de forma mais

expressiva a partir dos anos 60, “foi concomitante ao início da evasão de empresas e

bancos para outros subcentros, à deterioração de parte de seus equipamentos urbanos e

ao declínio de seu valor imobiliário” (FRÚGOLI,2000, p.61). O autor destaca que a

popularização aconteceu de forma “concomitante” à evasão das empresas;essa

afirmação rebate de forma direta a tese que sustenta que foi devido à inserção maciça

das classes populares na região que se deu a deterioração do centro.

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O autor faz essa afirmação por compreender que a lógica do desenvolvimento

urbano foi acontecendo rumo a outras regiões da cidade, onde novos centros começaram

a surgir e o antigo, que se via com limitações de comportar o crescimento, aos poucos,

foi sendo abandonado por empresas. Em entrevista a Frúgoli, Marco Antonio Ramos de

Almeida, comentando o início dessa transformação, afirma que:

O centro tem problemas mais complexos. Diferentemente de todos os

outros bairros, é a região mais bem servida da cidade. Não tem

problemas de água, luz, esgoto, telefone, transporte público, metrô,

gás, iluminação, não falta um metro de asfalto... afinal, o centro é a

região mais bem provida da cidade, e no entanto estava perdendo

moradores e empresas para outras regiões desprovidas muitas até de

infraestrutura elementar. (FRÚGOLI,2000.p. 74).

Nesse processo complexo e dinâmico desenvolveu-se uma diversidade

socioeconômica-cultural na região onde o contraste dos extremos é sentido de forma

muito presente;pessoas das classes média e alta trabalham na região, ao mesmo tempo

em que as classes economicamente mais baixas também trabalham e até moram no

centro. Outro elemento que torna ainda mais forte esse contraste é a expressiva

contingência de pessoas em situação de rua e de dependência química (as cracolândias).

Em um artigo publicado no Jornal Comunhão29 o atual pastor da PIBS, Paulo

Eduardo Gomes Vieira, comenta esse fato da proximidade e contato dos extremos

vivenciado pela igreja em seu contexto, da seguinte forma:

Os contrastes. Próximo à Primeira de São Paulo está um dos maiores

e mais conhecidos problemas sociais do país, a Cracolândia. Mas

também, bem perto da igreja estão alguns bairros muito tradicionais e

nobres da cidade, como o Pacaembu e Higienópolis, onde moram

famílias típicas de classe média e grandes personalidades do mundo

cultural, artístico e político, que optam por viver nestes lugares por

serem residenciais e por estarem bem próximos ao principal endereço

comercial do Brasil, a avenida paulista (VIEIRA, Paulo E. G., O

perigo do púlpito irrelevante na pregação urbana. Jornal Comunhão,

p. 3, 12. Dez. 2013).

O pastor menciona esse fato como uma das questões que precisa ser

cuidadosamente considerada pela PIBSP, por ela vivenciar essa realidade em seu dia a

dia.

29 Este jornal é publicado pela Convenção Batista do Estado de São Paulo (leia-se CBESP) e é distribuído gratuitamente em todas as Igrejas Batistas do estado de São Paulo filiadas à CBESP.

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As transformações ocorridas no centro foram sentidas e vivenciadas pela PIBSP.

O pastor Irland Pereira de Azevedo30, quando ainda era pastor titular da PIBSP, em sua

“Carta pastoral à Primeira Igreja Batista em São Paulo”31,escrita em 16 de junho de

1996, faz a seguinte afirmação:

Se faz mister a implementação de programas e reavaliação e quiçá

reformulação da visão, da missão e dos objetivos da igreja, em face

das mudanças socioeconômicas por que passam a Cidade, São Paulo,

o Brasil e o mundo [...] ANTEVEJO um futuro de bênçãos para esta

igreja, não obstante sua localização no centro comercial da cidade,

inserida numa realidade socioeconômica desfavorável. Reconheço que

ela é, como muitas outras em grandes cidades do mundo, uma

“downtownChurch”32, com seus problemas peculiares.” (AZEVEDO,

Irland P. Carta pastoral à Primeira Igreja Batista em São Paulo.

1996).

Todas essas transformações que ocorreram no centro foram percebidas pela

igreja a ponto de citá-las como um fator que exige da igreja a adoção de novas

estratégias.

Com o crescimento da cidade para a periferia e para condomínios

distantes do centro, muitos crentes transferiram-se para igrejas mais

próximas ou passaram a integrar igrejas filhas, organizadas mais perto

de sua residência. Por outro lado, o perfil sócioeconômico dos

moradores de Campos Elíseos e bairros vizinhos sofreu bastante

alteração. Isso tem exigido e continuará a exigir a adoção de

estratégias e programas que permitam alcançar eficazmente toda a

população-alvo com a mensagem integral do evangelho de Jesus

Cristo. (Primeira Igreja Batista: Breve histórico. Disponível em:

<http://www.pib.org.br/>Acesso em:01 mai.2015.).

Com relação à questão de empregos e moradores da região central, Frúgoli

apresenta o seguinte quadro socioeconômico:

A área central da cidade oferece cerca de 38,5% do total da oferta de

empregos no município, seguida pela Paulista (29,5%), Faria Lima

(17,2%) e Marginal Pinheiros (11,3%). A área central é também a

maior empregadora: a) na administração pública, onde responde por

30 Pr. Irland Pereira de Azevedo pastoreou a PIBSP como pastor titular e presidente de 1971 a 1996. Depois, em 30/05/2005, ele assumiu o pastorado interinamente, para conduzir o processo de sucessão pastoral, e depois de concluir esse processo deixou o pastorado em 08/07/2005. Atualmente ele é pastor emérito da PIBSP e presta apoio a igrejas e instituições de ensino Batista. 31 Carta na íntegra, ver anexo 7. 32 “DowntownChurch” se refere a igrejas localizadas no centro das grandes cidades, que vivenciaram esse fenômeno urbano, no qual o centro antigo passou por transformações sociais que resultaram em seu abandono e deterioração. Nesse processo as “DowntownChurch” veem seus membros mudando da região central da cidade para outros bairros da cidade, e seu contexto sendo alterado de forma significativa.

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79,2% do total, seguida pela Paulista, com apenas 16,6%; b) no setor

financeiro, no qual abarca 53,9% do total, seguida pela Paulista

(29,1%) e pela Faria Lima (10,7%); c) finalmente também no

comércio, cobrindo 41,5% do total, seguida pela Paulista (24,5%)

Faria Lima (20,8%). No setor de serviços, a área central ocupa o

segundo lugar(32,5%), superada por pequena diferença pela Paulista

(33,8%) e a Faria Lima (22%). Já em termos de empregos no setor

industrial, responde por somente 19,4% do total, atrás da Marginal

Pinheiros (33,8%), da Paulista (22,3%) e da Faria Lima (21,1%).

Quanto à participação relativa do emprego por setor na própria área

central, os dados são os seguintes: Administração pública, 26,9%;

serviços, 21,8%;comércio, 13,7%; entidades financeiras, 13,6%;

indústrias, 10,3%; e outros, 13,4%.

Com relação aos moradores da região central, o levantamento da Fipe

mostra que a faixa salarial de chefes de família com maior

participação relativa (24,7%) é a de 5 a 10 salários mínimos, o que

contrasta com as regiões da Paulista, onde 29,3% destes ganham mais

de 20 salários mínimos, e da Faria Lima, com 29,5%, em situação

idêntica à da Paulista.

Já segundo a pesquisa de Aldaíza Sposati (1995), pode-se ressaltar

que as moradias da região central, abrangendo 5% do total da

metrópole, com uma densidade demográfica bastante elevada (três

vezes maior que o resto da cidade), estariam numa situação

intermediária entre as situações de extrema riqueza ou pobreza,

embora as fontes oficiais (como por exemplo, o IBGE) não tenham

interesse em verificar o número preciso de favelados, encortiçados,

população de rua, doentes mentais, portadores de HIV, viciados em

drogas e outros grupos.

Outro lado da realidade recente da área central, quanto ao tema da

moradia, tem sido a invasão organizada de prédios e terrenos por

grupos de sem-teto, sobretudo a partir de 1997, com cálculos que

apontam ao menos 15 locais invadidos, com 9 mil invasores, dos quais

6 mil deles organizados. (FRÚGOLI, 2000, p. 59-61).

Um aspecto muito significativo da região central, e que possui uma presença

extremamente expressiva no contexto da PIBSP, são as pessoas em situação de rua. No

último senso divulgado pela prefeitura de São Paulo, que foi realizado pela Fundação

Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), mediante a Secretaria

Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, recenseou-se, no ano de 2011 um

total de 14.478 (quatorze mil quatrocentos e setenta e oito) indivíduos em situação de

rua. Destes 6.765 (seis mil setecentos e sessenta e cinco) vivendo nas ruas e 7.713 (sete

mil setecentos e treze) em centros de acolhida da capital (CENSO DA POPULAÇÃO EM

SITUAÇÃO DE RUA NA MUNICIPALIDADE DE SÃO PAULO. São Paulo: FESPSP. 2011, Disponível

em: <file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/disserta%C3%A7%C3%A3o/artigos%20e%20

docs/censo_1338734359.pdf.> Acesso em: 08 maio. 2015).

Essa realidade social é mais presente no centro que em qualquer outra região de

São Paulo, segundo a mesma pesquisa. Ao analisar o percentual de indivíduos em

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situação de rua na cidade de São Paulo em 2011, por região, a pesquisa constatou o fato,

expresso no gráfico abaixo:

Gráfico 1 - Percentual de indivíduos em situação de rua na cidade de São Paulo em

2011 por região

(CENSO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NA MUNICIPALIDADE DE SÃO PAULO.

p.6. São Paulo: FESPSP. 2011, Disponível em: <file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/disserta%

C3%A7%C3%A3o/artigos%20e%20docs/censo_1338734359.pdf.> Acesso em: 08 maio. 2015.)

Ao olhar para a região central para analisar a distribuição dessa população de

rua, nota-se que a maior concentração está no distrito onde a PIBSP está localizada, a

saber: Santa Cecília. Nessa região, segundo a pesquisa anteriormente citada, se

encontram cerca de 27,7% do total dos indivíduos em situação de rua presentes da

região central, conforme a tabela abaixo.

Tabela 2- Quantidade e porcentagem de pessoas em situação de rua por distrito da

área central33

Distrito Indivíduos %

Santa Cecília 1.197 27,7%

33 Tabela extraída de:CENSO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NA MUNICIPALIDADE DE SÃO PAULO. p.10. São Paulo: FESPSP. 2011,Disponível em: <file:///C:/Users/Emanuel/Desktop/disserta%C3%A7%C3%A3o/artigos%20e%20docs/censo_1338734359.pdf.> Acesso em: 08 mai. 2015.

7,1%10,7%

22,3%

4,7%

55,3%

Norte Sul Leste Oeste Centro

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Sé 1.171 27,1%

República 719 16,6%

Brás 495 11,5%

Bom Retiro 197 4,6%

Consolação 159 3,7%

Bela Vista 135 3,1%

Liberdade 92 2,1%

Cambuci 77 1,8%

Parí 77 1,8%

Total 4.319 100%

Outra realidade que a PIBSP vivencia em seu contexto são as “Cracolândias”,

são ruas onde há uma grande concentração de pessoas dependentes químicas, em sua

maioria do crack, que se ajuntam para a venda e o consumo de drogas. Segundo a

pesquisa publicada pela prefeitura, na região central as “cracolândias” estão localizadas

em dois locais:Alameda Dino Bueno, CEP 01217- 000, e a Rua Helvétia, CEP 01215-

010. Quando toma-se os CEPS dessas localidades vemos que as duas pertencem ao

bairro Campos Elíseos.

Deve-se destacar a proximidade que há entre a PIBSP e as Cracolândias. A

igreja está a apenas 650 metros da Alameda Dino Bueno, e a 500 metros da rua

Helvétia. Esta proximidade foi relatada pelo atual pastor da PIBSP no Jornal comunhão

da seguinte forma:

Temos um templo confortável, com cultos dominicais muito

abençoadores, e devo reconhecer que isto nos tem feito experimentar

um pouco do céu aqui na terra a cada domingo. Mas, a quatro quadras

da igreja está a Cracolândia, que é uma das mais contundentes

manifestações do inferno. (VIEIRA, Paulo E. G. PIBSP, trabalhando

para fazer a diferença no centro de São Paulo. Jornal Comunhão,

p.22. 01 Jan. 2014.).

Segundo o Senso 2011 o grupo de pessoas que estão nessas duas Cracolândias é

de 743, sendo que 167 estão na Alameda Dino Bueno e 576 na Rua Helvétia. Deve-se

destacarque as pessoas recenseadas nessa localidade, fazem parte dos 1.197 casos do

Distrito de Santa Cecília.34

34 Um fato que deve ser registrado sobre essas cracolândias é que elas não são comunidades fixas, pois a cada intervenção dos poderes públicos com ações da guarda metropolitana e da policia militar, essas

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A partir desse quadro aqui apresentado pode-se concluir que a região central

passou por uma grande transformação socioeconômica-cultural, fato este que tem

refletido na realidade presente da PIBSP. Quanto aos desafios e clamores que o contexto

do Centro apresenta para a igreja, é possível afirmar que estes não estão relacionados a

questões de infraestrutura (saneamento básico, transporte, etc) mas, sim às pessoas em

situação de rua e dependentes químicos, pessoas que vivem debaixo de uma opressão

social e/ou espiritual e que se deparam com o seu extremo oposto (as pessoas de classes

sociais mais privilegiadas e a igreja35), diariamente. Frente a isso surge a pergunta:

Quais têm sido as ações da PIBSP frente a esse contexto que clama por ações de

Desenvolvimento e de Justiça? É possível estabelecer um diálogo dessas ações com a

M.I.? São estes os questionamentos que nortearão os próximos subtópicos.

3.2. A Primeira Igreja Batista de São Paulo

Esta parte do trabalho se concentrará em apresentar a PIBSP, sua história e suas

ações no presente. Para tal tarefa serão utilizadas informações históricas contidas no site

da igreja, atas de assembleias, pesquisa de campo, por meio de roteiro de entrevista

entregue aos membros e pastor, análise de boletins da igreja, leitura de matérias

publicadas no jornal Comunhão que possuem relação com a PIBSP ou com seu atual

pastor, dentre outros materiais que estejam relacionados com a PIBSP e suas ações.

No primeiro momento será apresentado “O Passado” da PIBSP por meio de sua

história. Neste ponto serão destacados momentos e fatos que sirvam como elementos

que apresentem a PIBSP e se relacionam com a M.I. No segundo momento será

apresentado “O Presente” da igreja, neste serão destacadas a visão (aquilo em que crê) e

práxis da PIBSP na atualidade. Em todo o discorrer dessa análise será buscado o

estabelecimento de diálogo das ações e visão com o conceito de desenvolvimento e

justiça da M.I..

comunidades se deslocam para outras ruas, porém essa realocação sempre acontece na região, não saindo assim desse raio de proximidade com a PIBSP. Outro elemento que deve se considerado é que embora esse seja um senso relativamente recente, 2011, o tamanho dessa comunidade possui variações. 35 Coloco a Igreja como parte dos extremos oposto dessas pessoas, fundamentado na fala do Pr. Paulo Eduardo no jornal comunhão que apresenta a igreja como “pedaço do céu” e a Cracolândia como “uma das mais contundentes manifestações do inferno”.

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3.2.1 O Passado

Ao afirmar sua localização histórica como propícia para estabelecer diálogo com

o trabalho, se faz referência ao fato de a PIBSP ser a Primeira igreja instituída pelos

batistas no solo paulistano, e de ter desempenhado um papel de “mãe” (auxiliadora no

surgimento de outras) para muitas igrejas em São Paulo como também em outras

cidades. Embora as igrejas Batistas estejam debaixo de uma compreensão que entende

cada igreja como sendo autônoma 36 , elas relacionam-se em uma dinâmica de

cooperação. Ao analisarmos a importância histórica da PIBSP podemos aferir que ela

representa boa parte do gene da identidade batista paulistana, por ter sido a genitora de

muitas igrejas.

O fato de essa igreja possuir cento e dezesseis anos de existência, nos possibilita

observar uma comunidade que antecede-os congressos que se configuram como berço

da M.I., trazendo assim a possibilidade de analisar uma comunidade que possui uma

história que perpassa todos esses encontros.

Lançando o olhar para a história da PIBSP pode-se ver que ela inicia-se em de

maio de 1899, quando os primeiros missionários batistas,J.J.Taylor e J.L. Downing e

suas famílias, chegaram em São Paulo, enviados pela Junta de Missões Estrangeiras da

Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, para iniciarem o trabalho batista na

cidade.

Em junho do mesmo ano, os missionários conseguiram uma casa para reunião do

pequeno grupo, que se localizava na Rua Santa Efigênia, 90 A. Neste local, no terceiro

domingo desse mês, foi inaugurado um "ponto de pregação" do trabalho batista. Porém

já em 06 de julho de 1899, foi realizada a organização da PIBSP; naquela ocasião a

igreja contava com 18 membros, oriundos do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, e de

Santa Bárbara d'Oeste. A PIBSP foi constituída igreja, tendo como líderes os

missionários Dr. J. L. Downing, que era médico e pregador, e J.J. Taylor, que era um

professor muito prestigiado.

Com o crescimento da igreja houve a necessidade de várias mudanças de locais

para que os novos membros e visitantes pudessem ser acolhidos. No final de 1900 a

Igreja transferiu-se para o prédio na Rua dos Guayanazes, 45. Em 1905,mudou-se para

um salão alugado na Rua General Osório, 9ª. Em agosto do mesmo ano, mudou-se para

36 O sistema batista é CONGREGACIONAL e teve suas origens no movimento congregacionalista que em 1658 estabeleceu a Declaração de Fé e Ordem de Savoy.

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a Rua Timbiras, 37, ali permanecendo até 1910. Depois se transferiu para a Travessa

São João, 2,neste local ficou até1915. Posteriormente ocupou provisoriamente O Salão

Nobre da Associação Cristã de Moços, localizado na Praça da República, ficando neste

local entre 1916 e 1917. Depois de todas essas mudanças adquiriu um terreno situado no

Largo dos Guayanazes (hoje Praça Princesa Isabel). Em 06 de julho de 1917a Igreja

tinha em seu rol de membros 108 pessoas.

Esta propriedade,em 1921, sob o pastorado do missionário F. M. Edwards, foi

expandida com a compra de uma velha casa e terreno vizinhos ao templo. Cinco anos

depois, em 1926,a igreja comprou o prédio da Rua General Rondon, nº 01, que ficava

aos fundos do próprio templo.

Em 1957, após 8 anos de projetos e estudos para expansão do templo,inicia-se a

demolição da antiga construção para a edificação do atual santuário e edifício de

educação religiosa. E foi no pastorado do Pr. Irland Pereira de Azevedo que foram

inauguradas as dependências do atual Edifício de Educação Religiosa.

Quanto ao pastor citado logo acima, faz-se destaque a sua participação no 2º

Congresso de Evangelização Mundial em Lausanne. Na assembléia de13 de março de

1974, foi registrada na ata de nº 05/74, a seguinte afirmação:

2º Congresso de Evangelização Mundial - O Sr. Presidente faz

minuciosa exposição a respeito das finalidades e programa do referido

congresso a ser realizado em Lausanne – Suíça, de 16 a 26 de julho

último. Falando do convite recebido pelo pastor da Igreja para

comparecer àquele conclave, passa a direção dos trabalhos ao 2º vice-

presidente, para que este submeta o assunto ao plenário, por

unanimidade o plenário concede autorização ao Pastor para essa

viagem. (Primeira Igreja Batista de São Paulo. Ata nº5/74.13 março

1974)

Na carta desse pastor a PIBSP, ao relatar as realizações que aconteceram em

seu tempo de pastorado, faz-se destaque às ações de resposta à realidade contextual na

qual a igreja estava inserida. O seguinte trecho apresenta essas ações:

Houve incentivo e apoio à criação do Ministério Jeame, para

assistência a meninos e adolescentes de rua e de conduta infracional; à

criação do Desafio Jovem Peniel, em São Paulo, para recuperação de

viciados em drogas; à criação do Centro Social Dr. Manoel Tertuliano

Cerqueira, para atendimento social à população carente, de Campos

Elísios e adjacências (AZEVEDO, Irland P. Carta pastoral à Primeira

IgrejaBatista em São Paulo. 1996)

A história da PIBSP não é marcada apenas por um crescimento interno, segundo

o relato histórico: “Desde cedo a igreja sentiu serem missões urbanas a sua principal

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vocação, conquanto não limitasse sua visão apenas à cidade de São Paulo. E, desde o

início de sua existência, cuidou da evangelização pessoal e da abertura de "pontos de

pregação", mobilizando os lares de seus membros.” (Primeira Igreja Batista: Breve

histórico. Disponível em: <http://www.pib.org.br/>Acesso em:01 mai.2015.)

Como consequência dessa visão pode-se verificar um grande empenho da PIBSP

na implantação de novas igrejas em São Paulo e também em outras cidades. Ao longo

de seus 116 anos registra-se a organização de 31 igrejas.

A partir desse breve panorama histórico destaca-se a forte participação da PIBSP

na realidade batista da cidade e estado de São Paulo, devido a sua ação de implantação e

apoio de igrejas na região.

Nota-se também que a PIBSP nasceu e cresceu na região central de São Paulo,

experimentando assim todas as transformações ocorridas no centro. A relação da igreja

com seu contexto foi dialógica, pois vê-se já no ministério do pastor Irland P. Azevedo

ações que respondiam aos clamores específicos da região,leituras das mudanças que

ocorreram,e sinalizações para uma “implementação de programas e reavaliação e quiçá

reformulação da visão, da missão e dos objetivos da igreja, em face das mudanças

socioeconômicas por que passam a Cidade” (AZEVEDO, Irland P. Carta pastoral à

Primeira Igreja Batista em São Paulo. 1996.).

Pode-se afirmar que por meio do pastor Irland Pereira de Azevedo a PIBSP teve

contato com os princípios da M.I., uma vez que compreende-se o 2º Congresso Mundial

de Evangelização de Lausanne como a mola propulsora da M.I., e seu pacto, o PL,

como o “marco da Missão Integral”(GONDIM, 2010, p.83).Tendo sido este pastor um

dos participantes desse congresso, pode-se ver essa aproximação entre a PIBSP e a

Missão Integral. E deve-se destacar que as ações da igreja nesse período, mesmo que a

partir de um breve esboço, respondiam à integralidade humana físico-sócio-espiritual.

Faz-se menção aos programas citados no pastorado de Irland Pereira de Azevedo.

3.2.2 O Presente da PIBSP

Neste ponto do trabalho será realizada uma análise da realidade presente da

PIBSP a partir da análise dos boletins, publicações no Jornal Comunhão, e dos

resultados da pesquisa de campo, que foi realizada na PIBSP nos dias 26 e 28 de abril

de 2015 com seus membros e pastor. Essa pesquisa teve como participantes 12 pessoas

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que foram qualificadas em 3 grupos e o pastor titular. Estes grupos foram organizados

por faixa etária. O primeiro grupo foi formado por jovens entre 18 a 34 anos de idade, o

segundo, por adultos de 35 a 58 anos, e o último grupo por pessoas que possuem entre

64 e 76 anos de idade. Cada grupo foi formado por quatro pessoas (duas mulheres e dois

homens).37

Quanto à relação destes com a igreja, todos são membros da PIBSP, e o tempo

de membresia de cada um deles compõe o seguinte quadro:

Quadro 1-Tempo de membresia dos entrevistados

Tempo de membresia Números de pessoas

Até 09 anos 6

De 10 a 19 anos 2

20 a 30 anos 4

Deve-se ressaltar que de todos os entrevistados apenas um é membro da igreja a

menos de um ano. Todos os outros têm a partir de quatro anos de membresia.38

A PIBSP continua situada na Praça Princesa Isabel, 233, Campos Elíseos, e tem

como seu pastor titular e presidente Paulo Eduardo Gomes Vieira39. Atualmente a igreja

possui em seu rol de membros 1081 pessoas. Sua visão e missão são apresentadas em

todos os boletins analisados, e site da igreja da seguinte forma:“Visão: Ser uma Igreja

contextualizada que vive a mensagem de Cristo”, “Missão: Adorar a Deus, promover o

seu Reino na terra”.

Ao analisar a relação que a PIBSP tem hoje com seu contexto, nota-se que ela o

entende como um de seus desafios. E considerando a realidade na qual está inserida faz

a seguinte afirmação:

Isso tem exigido e continuará a exigir a adoção de estratégias e

programas que permitam alcançar eficazmente toda a população-alvo

com a mensagem integral do evangelho de Jesus Cristo.[...]Nosso

Ministério de Ação Social tem se destacado na assistência aos carentes

37 Os roteiros de entrevistas para membros estão no anexo 8 e o roteiro de entrevista para o pastor no anexo 9, Para preservação da identidade dos participantes o pesquisador realizou a seguinte alteração: o campo “nome” foi substituído pelo campo “sexo” 38Todas as respostas dos roteiros de entrevistas serão validadas desde que as mesmas sejam inteligíveis e coerentes ao enunciado. 39Paulo Eduardo Gomes Vieira é pastor há 28 anos, e no dia 06 de julho de 2005 assumiu o pastorado e presidência da PIBSP. Em 2013, foi eleito presidente da Convenção Batista do Estado de São Paulo, exercendo seu mandato de julho de 2013 a Julho de 2014.

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não só da Igreja mas da comunidade onde estamos inseridos; no

treinamento e capacitação através da ministração de cursos gratuitos;

no atendimento das pessoas como um todo através de orientação

espiritual, psicológica, material, familiar e etc.[...]A Primeira Igreja

Batista em São Paulo tem diante de si grandes desafios, entre os quais

alcançar toda a comunidade do bairro de Campos Elíseos e

adjacências.40 (Primeira Igreja Batista: Breve histórico. Disponível

em: <http://www.pib.org.br/> Acesso em: 01 mai.2015.).

Essas afirmações apresentam uma grande proximidade entre a PIBSP com os

conceitos da M.I., pois nelas estão contidas as três totalidades presentes da máxima da

M.I. (o evangelho todo, para o homem todo e para todos os homens/mundo todo). Junto

à última totalidade citada (toda a comunidade do bairro de Campos Elíseos) deve-se

adicionar a trajetória histórica de cooperação na implantação de igrejas da PIBSP em

outras regiões da cidade de São Paulo e em outras cidades, e também a afirmação que

consta no site no campo “Em que cremos”, a qual diz o seguinte:

A missão primordial do povo de Deus é a evangelização do mundo,

visando a reconciliação do homem com Deus. É dever de todo

discípulo de Jesus Cristo e de todas as igrejas proclamar, pelo

exemplo e pelas palavras, a realidade do evangelho, procurando fazer

novos discípulos de Jesus Cristo em todas as nações, cabendo às

igrejas batizá-los e ensiná-los a observar todas as coisas que Jesus

ordenou. A responsabilidade da evangelização estende-se até aos

confins da terra e por isso as igrejas devem promover a obra de

missões, rogando sempre ao Senhor que envie obreiros para a sua

seara.[...]o maior benefício que pode prestar é anunciar a mensagem

do evangelho41.(Primeira Igreja Batista: Breve histórico. Disponível

em: <http://www.pib.org.br/>Acesso em: 01 mai.2015.).

Nessas afirmações,nota-se de maneira clara que a PIBSP em sua teologia possui

uma grande proximidade com as três totalidades que compõem a M.I..

Deve-se destacar que a igreja,na citação acima, lança mão da Declaração

Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, apresentando-a como aquilo em que a

PIBSP crê. Nesta declaração a igreja explicita uma hierarquização entre Evangelização

e responsabilidade social. Ao analisar os questionários, as posições dos participantes

frente ao questionamento que se refere à Missão da Igreja, pode-se ver que há uma

divergência entre aquilo que é declarado como crença da igreja quanto à hierarquização

e aquilo que é crido por boa parte dos membros entrevistados.

As respostas ao questionamento “O que é Missão da Igreja?” montam o gráfico a

baixo:

40 Negrito nosso 41Negrito nosso

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Gráfico 2- O que é Missão da Igreja para os membros da PIBSP?

O pastor da PIBSP respondeu a esses mesmos questionamentos dizendo que sim,

é missão da igreja falar de Jesus, e quanto às duas questões seguintes, ele afirmou

também que sim, porém colocou-as como ações secundárias na missão da Igreja.

Nota-se que há uma unanimidade, desde o pastor até os membros, que concorda

que o falar de Jesus é missão da Igreja, porém esse consenso sofre uma baixa na

pergunta seguinte, que questiona sobre a assistência aos necessitados. Nesse ponto 75%

dos participantes dizem que esta ação é missão da igreja e não fazem uma

hierarquização entre ela e a evangelização, 8,33% juntamente com o pastor concordam

que essa ação faz parte da missão da igreja, porém é secundária. E quando perguntados

sobre se é missão da igreja intervir em situações onde a dignidade humana é violada

(podendo estabelecer ações políticas e públicas), 50% respondeu que sim, sem fazer

uma escala de prioridade frente às outras ações supracitadas, 41,66% dos membros,

juntamente com o pastor, afirmaram que sim, porém, é secundaria, e apenas 8,33% disse

que esta ação não é missão da igreja.

Esses números trazem à tona duas realidades: a primeira é que mesmo a igreja

tendo uma posição clara e assimilada pelo pastor sobre a relação da evangelização e da

responsabilidade social, seus membros em sua grande maioria divergem dessa posição.

A segunda realidade é que, mesmo havendo essa discordância, há um consenso quanto

ao fato de ter a igreja uma responsabilidade social, embora para alguns seja secundária,

91,66%

75%

50%

0%8,33%

41,66%

0% 0%8,33%

0%8,33%

0%8,33% 8,33%

0%

A missão da igreja é evangelizar? A missão da igreja é dar assistenciaaos necessitados?

A missão da igreja é intervir emsituações onde a dignidade humana

é violada (podendo estabelecerações políticas e públicas)?

Sim Sim, porém secundária não Anuladas Em branco

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e para outros tão primordial quanto a evangelização. A grande maioria consente em

reconhecer a responsabilidade da Igreja frente às questões sociais.

O fato de haver uma discordância com relação à hierarquização entre

evangelização e ação social não se pode configurar como um distanciamento, pois como

já foi citado anteriormente, existem posições diferentes entre os referenciais teóricos da

M.I. quanto à questão da primazia. Porém, deve-se destacar que todos os entrevistados,

incluindo o pastor, ao responderem à pergunta “em sua compreensão a igreja possui

uma responsabilidade social?” afirmaram que “Sim” a igreja possui uma

responsabilidade social.

Esse fato ficou ainda mais evidente quando os participantes da entrevista foram

questionados sobre “o que é ação missionária?” Com as respostas monta-se o seguinte

gráfico:

Gráfico 3- O que é ação missionária para os membros da PIBSP?

O pastor respondeu a esses questionamentos dizendo que todas essas ações se

configuram como ações missionárias da Igreja.

Ao analisar esse segundo conjunto de perguntas, que trata a visão da igreja sobre

ação missionária, nota-se que 91,66% e o pastor concordam que viagens e eventos onde

acontece evangelização são ações missionárias; apenas um entrevistado deixou essa

questão em branco, porém não houve nenhuma resposta que dissesse o contrário do que

a maioria afirmou. Quanto às ações de assistência social, 83,33% mais o pastor

afirmaram que estas ações eram sim ações missionárias; uma resposta foi anulada e

91,66%83,33%

91,66%

0% 0%8,33%

0,%8,33%

0%8,33% 8,33%

0%

Viagens ou eventos ondeacontecem evangelização são

ações missionárias?

Ações de assistêncial social sãoações missionárias?

É ação missionária trabalhar para odesenvolvimento e justiça dos

seres humanos?

Sim não Anuladas Em branco

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outro participante deixou em branco, da mesma forma que a anterior não houve pessoas

que dissessem o contrário da maioria. No último questionamento desse grupo de

perguntas, 91,66% dos participantes, mais o pastor, afirmam que trabalhar para o

desenvolvimento e a justiça dos seres humanos é uma ação missionária, porém apenas

um, que representa 8,33% diz que esse ato não se configura como ação missionária.

Nesse grupo de perguntas a aproximação com a M.I. é igualmente nítida, pois a

PIBSP por meio de seus participantes da pesquisa apresentou uma visão que foge da

visão “conversionista” que entende que a ação missionária é unicamente a

evangelização por meio de uma comunicação verbal. A igreja apresentou uma visão

mais integral sobre a sua ação missionária colocando em seu escopo tanto a

evangelização como a responsabilidade com o desenvolvimento e a justiça.

Nesses dois grupos de perguntas, de maneira geral, há uma uniformidade nas

respostas dos participantes, entre as diferentes faixas etárias, e tempo de membresia, e

em ambos os sexos. Esse fato expressa que existe uma coesão considerável quanto à

teologia de missão da igreja na PIBSP.

Essa visão expressada pela PIBSP e por seu pastor expõe uma abertura para que

a igreja vivencie em sua práxis uma busca pela justiça e pelo estabelecimento de todos

os aspectos que se configuram como características de um desenvolvimento integral, a

saber, desenvolvimento humano, social e sustentável.

Uma vez citado que a justiça buscada pela igreja se direciona às relações entre

pessoas, e busca praticar os padrões do Reino de Deus em todas as formas de relação,

condenando todo tipo de opressão e injustiça,a PIBSP, ao apresentar essa compreensão

e missão da igreja que abrange evangelização, assistências e ações sociais, abre-se para

uma prática de justiça e desenvolvimento que toca não somente o indivíduo e a igreja

local, mas também alcança as estruturas sociais, tais como sistema penitenciário,

econômico, político, dentre outros, abrindo a possibilidade de trilhar caminhos de ações

políticas e públicas compatíveis com os princípios bíblicos do Reino de Deus.

Ao voltar os olhos para o credo da PIBSP pode-se constatar que por mais que a

igreja coloque a evangelização no topo de sua missiologia, a responsabilidade social não

é negligenciada dentro de sua visão e práxis. A seguinte afirmação esclarece a forma

como ambas as responsabilidades se relacionam. Ainda dentro de sua declaração de

crença a PIBSP afirma que:

Como o sal da terra e a luz do mundo, o cristão tem o dever de

participar em todo esforço que tende ao bem comum da sociedade em

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que vive. Entretanto, o maior benefício que pode prestar é anunciar a

mensagem do evangelho; o bem-estar social e o estabelecimento da

justiça entre os homens dependem basicamente da regeneração de

cada pessoa e da prática dos princípios do evangelho na vida

individual e coletiva. Todavia, como cristãos, devemos estender a

mão de ajuda aos órfãos, às viúvas, aos anciãos, aos enfermos e a

outros necessitados, bem como a todos aqueles que forem vítimas de

quaisquer injustiças e opressões. Isso faremos no espírito de amor,

jamais apelando para quaisquer meios de violência ou discordantes

das normas de vida expostas no Novo Testamento. 42 (EM QUE

CREMOS: Declaração Doutrinária Da Convenção Batista Brasileira.

Disponível em: <http://www.pib.org.br/> Acesso em: 01 mai.2015.)

Fazendo uma leitura desta última citação à luz da MI, pode-se identificar uma

atribuição à igreja da responsabilidade de buscar o desenvolvimento e a justiça pelos

meios que Lessa (2012) vai chamar de “assistência social”, “serviço social” e também

de “ação social” 43. Essas ênfases podem ser identificadas nos seguintes trechos:

Assistência Social e Serviço Social: “devemos estender a mão de ajuda

aos órfãos, às viúvas, aos anciãos, aos enfermos e a outros

necessitados, bem como a todos aqueles que forem vítimas de

quaisquer injustiças e opressões” (EM QUE CREMOS: Declaração

Doutrinária Da Convenção Batista Brasileira. Disponível em:

<http://www.pib.org.br/> Acesso em: 01 mai.2015.)

Ação Social: “Como o sal da terra e a luz do mundo, o cristão tem o

dever de participar em todo esforço que tende ao bem comum da

sociedade em que vive.” (EM QUE CREMOS: Declaração Doutrinária Da

Convenção Batista Brasileira. Disponível em: <http://www.pib.org.br/>

Acesso em: 01 mai.2015.)

Quanto ao enfoque na questão do serviço social, que pode ser entendido como

sublimado na primeira afirmação acima, entendendo que esta faz menção apenas à

assistência social, deve-se somar a seguinte citação que diz respeito a elementos que são

tidos como destaque da PIBSP, que diz: “A Primeira Igreja Batista em São Paulo

destaca-se hoje: [...] pela obra social que desenvolve entre seus membros e a

comunidade de Campos Elíseos através do atendimento aos carentes e da ministração

de cursos de capacitação para jovens e adultos” 44 (Breve histórico. Disponível em:

42 Grifo nosso 43 Para explanação desses conceitos de o subtópico “2.1.3De quem é a responsabilidade de promover a justiça e o desenvolvimento? E como promovê-los?” 44 Negrito nosso

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<http://www.pib.org.br/> Acesso em: 01 mai.2015.) Esta afirmação deixa claro que o

serviço social (essa ação que visa um desenvolvimento do potencial humano), está

dentro da compreensão de missão da PIBSP.

A partir dessa teologia da Igreja surge o questionamento sobre a práxis dela

hoje, uma vez que pode-se notar uma aproximação teórica entre a PIBSP e o

Desenvolvimento e a Justiça da M.I. Questiona-se então sobre a práxis desta igreja a

partir de sua teologia frente ao seu contexto.

3.2.2.1. A Práxis: respostas de desenvolvimento e Justiça ao contexto

Analisando a práxis de hoje da PIBSP vê-se que as ações que a igreja tem

realizado estão direcionadas às seguintes áreas: Intercessão, Evangelismo, Missões,

Ação Social, Arte, cultura e História da Igreja, Administração Eclesiástica, Jovens,

Adolescentes, Educação Cristã, Escola Bíblica Dominical, Aconselhamento Cristão,

Casais, Mulheres, Infanto Juvenil, Educação Ministerial, Comunicação e Marketing,

Recreação e Esportes, Melhor Idade, Surdos, Capelania Prisional, Capelania Hospitalar

e Evangelização de Empresários.

Quanto à Ação social, a PIBSP faz a seguinte afirmação:

Nosso Ministério de Ação Social tem se destacado na assistência aos

carentes não só da Igreja mas da comunidade onde estamos inseridos;

no treinamento e capacitação através da ministração de cursos

gratuitos; no atendimento das pessoas como um todo através de

orientação espiritual, psicológica, material, familiar e etc. (Breve

histórico. Disponível em: <http://www.pib.org.br/> Acesso em: 01

mai.2015.)

A partir de uma análise dos boletins arquivados pela igreja no período do ministério

do seu atual pastor e de informações disponibilizadas no site da PIBSP vê-se que a

igreja tem realizado essa ação social pelos seguintes projetos e meios:

Gerenciando o futuro – curso de inglês gratuito para pessoas de todas as faixas

etárias, que tem atendido especialmente jovens adultos moradores e

trabalhadores da região.

Bazar Dorcas – bazar social com funcionamento diário, no qual a igreja recebe

doações dos membros e frequentadores, e depois vende esses produtos doados

por valores muito baixos. Este bazar atende especialmente aos moradores de

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baixa renda e também realiza doações de roupas para moradores em situação de

rua.Toda a renda arrecadada nesse bazar é revertida para o ministério de ação

social da igreja.

Distribuição de cestas básicas - mediante cadastro e acompanhamento das

famílias carentes.

Apoio financeiro, institucional e pastoral à Cristolândia – trabalho que visa o

resgate e a recuperação de dependentes químicos na região da Cracolândia e do

centro.

Apoio financeiro à Junta de Missões Nacionais (leia-se JMN) e Junta de Missões

Mundiais (leia-se JMM) da Convenção Batista Brasileira.

Apoio financeiro, institucional e pastoral ao Projeto Novos Sonhos – trabalho

desenvolvido com crianças da região da Cracolândia.

Representação da PIBSP na Rede Social do Centro – este é um movimento laico

que reúne organizações cristãs, ONGs, poder público, poder judiciário e

empresas privadas e visa articular ações e projetos em rede para buscar soluções

para os problemas sociais, e ser caminho de transformação social para o

desenvolvimento local de maneira sustentável e participativa.

Ponto de arrecadação do projeto Viva Leite – programa da prefeitura de

distribuição de leite à população de baixa renda.

Todas essas ações são fundamentadas nos conceitos supracitados da igreja e se

configuram como uma tentativa de responder às demandas contextuais presentes na

região central de São Paulo. Ao analisar essas ações, pode-se distribuí-las dentro do

conceito de Lessa (2012) da seguinte forma:

Quadro 2- Ações da PIBSP frente ao conceito de Lessa

Conceito de Lessa (2012) Ações da PIBSP

Assistência social Bazar Dorcas

Distribuição de cestas básicas

Ponto de arrecadação do projeto Viva Leite

Apoio financeiro à JMN e à JMM

Serviço social Gerenciando o futuro

Apoio financeiro, institucional e pastoral aos Projetos

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Cristolândia e Novos Sonhos

Apoio financeiro à JMN e à JMM

Ação Social Anunciando o evangelho - Pois entende que o bem-

estar social e o estabelecimento da justiça entre os

homens dependem basicamente da regeneração de

cada pessoa e da prática dos princípios do evangelho

na vida individual e coletiva.

Representação da PIBSP na Rede Social do Centro.

Apoio financeiro à JMN e à JMM

Frente a todas essas ações realizadas pela PIBSP, com o objetivo de aferir a

percepção dos membros da igreja sobre essas ações perguntou-se a seus membros e

pastor “quais são as ações missionárias que a igreja tem realizado? (enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão)”. O pastor respondeu a esse questionamento

da seguinte forma:

1- Cristolândia

2- Novos Sonhos45

3- Parceria com a Rede social do Centro

4- Lar Batista

Quanto aos membros, as respostas obtidas montam o seguinte gráfico a baixo

que apresenta as quatro ações missionárias da PIBSP mais citadas pelos membros

participantes da pesquisa.

45 Novos Sonhos é uma frente de ação da Cristolândia que se dedica ao trabalho com as crianças da região central de São Paulo. Atualmente ocorrem nesse projeto aulas de balé, jiu-jítsu, violão e futebol.

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Gráfico 4- As 4 ações missionárias da PIBSP mais citadas pelos entrevistados

Vejamos abaixo cada uma dessas quatro ações mais citadas pelos participantes.

A ação missionária mais mencionada foi a Cristolândia, com doze referências

diretas, (contando a resposta do pastor), e uma que não foi contabilizada nesse gráfico

por não citar diretamente o projeto, mas que apresenta ações que se aproximam muito

do trabalho realizado na Cristolândia.Ou seja,essa ação missionária apareceu quase que

em 100% dos roteiros de entrevistas.

Apenas a título de contextualização, para compreender o que é a Cristolândia46 e

qual é a sua relação com a PIBSP e o conceito de desenvolvimento e justiça da MI, faz-

se necessário apresentar um breve esboço histórico e um panorama da ação desse

projeto.

A Cristolândia se define da seguinte forma: “um programa permanente de

prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos e codependentes, que

busca a transformação destas vidas por meio do Evangelho de Jesus Cristo, para que

sejam livres do vício e aptas à reinserção social e familiar.” (Disponível

em:<http://www.cristolandia.org/#!quemsomos/c21kz> Acesso em: 06 mai. 2015).

A visão desse projeto é “Ser um lugar de esperança para os que vivem em locais

de grande concentração de uso de drogas – as cracolândias, prestando assistência social

46 Os dados contidos nesse esboço histórico e panorama de ação da Cristolândia foram extraídos do site www.cristolandia.org , de observações dos relatos realizados por meio de seus representantes, e por matérias escritas no Jornal Comunhão que faziam menção a esse projeto.

12

76

3

Cristolândia Ajuda financeira(JMN/JMM/Sustento de

missionários eseminaristas)

Capelanias Hospitalar eprisional

Projetos de Ação Social

Quantidade de participantes que citaram a ação no roteiro de entrevista

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aos dependentes químicos e codependentes e levando a mensagem transformadora do

Evangelho de Jesus Cristo.” (Disponível em:

<http://www.cristolandia.org/#!quemsomos/c21kz> Acesso em: 06 mai. 2015) e sua

missão é “Transformar as Cracolândias em Cristolândias, prevenindo e combatendo o

uso indevido de drogas e substâncias psicoativas, buscando a transformação dos

dependentes químico pelo Evangelho de Jesus Cristo, reinserindo-os ao convívio social

e familiar” (Disponível em: <http://www.cristolandia.org/#!quemsomos/c21kz> Acesso

em: 06 mai. 2015).

A seguinte afirmação, apresentada na metodologia utilizada na Cristolândia para

a recuperação dos dependentes químicos, se configura como uma grande aproximação

com a M.I.:

Baseada em seus princípios cristãos e em consonância com as

garantias que a lei propõe, Missões Nacionais trabalha na perspectiva

da recuperação total do indivíduo, sem descuidar de nenhuma

esfera que perpassa a sua existência, considerando a reinserção

social, como parte de um processo terapêutico que se preocupa,

ainda, com a vida espiritual e a saúde física e emocional. Desta

forma, projeta-se uma intervenção organizada e planejada e em

consonância com a missão, visão e valores de Missões Nacionais.

A Cristolândia se propõe a atuar com um ser biopsicossocial e

espiritual, operando assim, além do social, em três áreas da vida do

indivíduo: espiritual, emocional e física. A fim de proporcionar,

priorizar e orientar o cumprimento dos valores que impulsionam o

projeto.” 47 (Disponível em: <http://www.cristolandia.org/#!quem

somos/c21kz> Acesso em: 06 mai. 2015).

A partir dessa metodologia de trabalho, e do que foi exposto, pode-se dizer que a

Cristolândia possui princípios e uma metodologia de trabalho que dialogam com a M.I..

Quando este projeto apresenta esse olhar e abordagem holística do ser humano nota-se

um alinhamento com a visão de desenvolvimento e justiça da M.I., pois esse projeto tem

se baseado na Bíblia, para proclamar o reino de Deus por meio de ações que lutam

contra a opressão e a injustiça, olhando para os moradores da cracolândia como seres

que possuem a imagem de Deus e carecem de uma ação de justiça e libertação.

Este projeto tem desempenhado um trabalho de assistência social (com os cafés

da manhã, almoços, banhos e roupas) serviço social (por meio de seus “Centros de

formação Cristã”) e ação social (na reinserção social desses indivíduos que começam a

construir uma nova sociedade, gerindo transformações sociais).

47 Grifo nosso

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A relação que a Cristolândia possui com a PIBSP é muito forte, porque além do

vínculo denominacional (por este projeto pertencer à Convenção Batista Brasileira, por

meio da JMN),a PIBSP foi para esse projeto o berço, lugar onde ele nasceu e tomou

forma.

O registro histórico do início da Missão Cristolândia possui uma divergência

dentro da denominação, pois segundo as informações contidas no site do projeto

Cristolândia o início se dá em 2008 quando o pastor Fernando Brandão, diretor

executivo da JMN,atendendo ao convite para pregar na PIBSP e estando, naquela

ocasião,hospedado em um hotel que ficava perto da igreja, decide ir para o culto a pé,

porém no trajeto ele errou o caminho e foi parar no meio da Cracolândia de Campos

Elíseos. Ele entendeu que era propósito de Deus ter se perdido naquela região, pois foi a

partir deste momento que ele sentiu no coração o desejo de começar um projeto Batista

no centro de São Paulo que tratasse de dependentes químicos.

Porém Em entrevista ao Jornal Comunhão o atual pastor da PIBSP, Paulo

Eduardo Gomes Vieira, respondendo a pergunta “Como nasceu o Projeto Cristolândia?”

afirma que:

O Projeto Cristolândia nasceu a partir de um incômodo profundo que

senti acerca da Cracolândia. Temos um templo confortável, com

cultos dominicais muito abençoadores, e devo reconhecer que isto nos

tem feito experimentar um pouco do céu aqui na terra a cada domingo.

Mas, a quatro quadras da Igreja está a Cracolândia, que é uma das

mais contundentes manifestações do inferno na terra. Não podíamos

permanecer inertes, desfrutando do céu aqui na terra, e, ali bem

próximo de nós, pessoas vivendo o inferno, sem que fizéssemos algo

mais efetivo em favor daquela realidade.

Comecei, então a desafiar a igreja a orar pela Cracolândia, crendo que

Deus nos usaria para que algo especial acontecesse naquele lugar. Foi

assim que, em um dos cultos, eu disse para a minha igreja:

“Irmãos, a Cracolândia será transformada em ...Cristolândia” E

assim surgiu esse nome, sem nenhuma elaboração prévia, sem que

alguém tivesse pensado sobre que nome daríamos ao futuro projeto.

Não tenho dúvidas de que foi uma providência do Espírito Santo.

Hoje, a Cristolândia é um projeto da Junta de Missões Nacionais, e,

portanto, dos Batistas Brasileiros, e nós da PIB de São Paulo, nos

alegramos muito com isso. 48 (PIBSP: Trabalhando para fazer a

diferença em São Paulo. Jornal Comunhão, p.22, 01. Jan. 2014).

Esse relato do Pastor Paulo Eduardo encontra uma ressonância em um dos

roteiros de entrevista para os membros, respondido por uma participante que quando

questionada sobre se a igreja possui uma responsabilidade social, ela afirma: “Sim. O

Pastor, Paulo Eduardo, desde que chegou a esta igreja, há 10 anos mais ou menos,

48 Grifo nosso

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andou pelas redondezas do templo e viu seres humanos sendo tripudiados pelas drogas.

Ele sentiu em seu coração e, num certo dia, disse: A Cracolândia vai se tornar

Cristolândia.” (Roteiro de entrevista)

Quanto ao nascimento da Cristôlandia pode-se ver que apesar das divergências,

existe um elemento comum nas duas versões, a saber: a leitura do contexto como

elemento matricial do surgimento da Cristolândia. Em ambas as versões o projeto se

origina não de uma estratégia e discurso bem-elaborados, mas nasce de um confronto

com o contexto; foi quando o Pr. Fernando Brandão e o Pr. Paulo Eduardo, fizeram a

leitura daquele contexto da Cracolândia que surgiu uma nova leitura sobre a missão da

igreja naquela comunidade.

Ao levar esse desafio do contexto para a PIBSP, ela aderiu, porque ela se via em

meio a esse contexto e conhecia-o. Esse conhecimento da PIBSP pôde ser constatado

por meio das pesquisas realizadas. Quando os participantes foram questionados sobre

“quais os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?” as drogas

ocuparam o topo da lista dos problemas mais citados, aparecendo em 9 dos 13 roteiros

de pesquisa entregues (contando o do pastor). Abaixo desse problema estão prostituição

(ocupando o segundo lugar da lista), com aparição em três roteiros,e em terceiro lugar

crime, educação, saúde e segurança, todos com aparições em apenas duas entrevistas.

Quadro 3- Problemas sociais da região central vistos pelos participantes

Problemas sociais da comunidade Número de participantes que

citaram esse problemas

Drogas 9

Prostituição 3

Crime, educação, saúde, segurança 2

Essa leitura do contexto realizada também pelos membros da igreja

proporcionou um engajamento com o projeto que deu à PIBSP não apenas o status de

genitora mas também de berço, no qual o projeto iniciou, tomou forma e cresceu.

Inicialmente o projeto se limitava a realizar as seguintes ações na Cracolândia:

entregar folhetos evangelísticos, oração, cultos, entrega de pães no café da manhã e

internação de alguns dependentes químicos em casas de recuperação.Logo no início o

projeto conseguiu a autorização para a instalação de uma tenda na praça Júlio

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Prestes,onde eram realizadas essas ações, porém no final de 2009 a PIBSP abriu suas

portas para que o projeto realizasse suas ações dentro da igreja.

Nesse período a Cristolândia usava o espaço da PIBSP durante a semana. No

salão social da igreja eram realizados os cultos com os moradores de rua, e era servido o

café da manhã. No nono andar os moradores de rua tomavam banho e trocavam suas

roupas. O décimo andar da igreja era usado como depósito das doações de roupas que o

projeto recebia. Nesta época a Cristolândia atendia cerca de 70 pessoas por dia; todos

eles eram pessoas em situação de rua ou dependentes químicos.

A Cristolândia ficou na PIBSP por volta de três meses. Após esse período ela se

mudou para um galpão localizado na Rua Barão de Piracicaba, 509, Campos Elíseos, no

qual realizaram toda a reforma e no dia 27 de março de 2010 aconteceu a inauguração

da Missão Cristolândia. Neste local começou-se a oferecer, para os moradores da

Cracolândia, banho, café da manhã, almoço, jantar, quatro cultos por dia e depois

pernoite.

Nesta fase inicial a Cristolândia não tinha um local próprio para que pudessem

enviar o dependente químico para serem tratados, por isso enviavam para casas de

recuperação de outras instituições, e conseguiam, junto às igrejas, recursos para o

custeio das internações. Porém em 2011 a missão ganhou um sítio em Bauru, onde

implantaram o primeiro “Centro de formação Cristã”, local para onde enviavam os

dependentes químicos resgatados da Cracolândia para se libertarem do vício e se

reestruturarem psíquico-físico-espiritualmente. Logo de início foram internados 300

homens. Desde então o projeto foi crescendo e hoje possui 34 bases espalhadas por São

Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Distrito Federal, Pernambuco e

Bahia. Hoje a Cristolândia tem desenvolvido trabalhos com pessoas do sexo masculino

e feminino de todas as faixas etárias, desde crianças até idosos.

Esse breve esboço histórico da Cristolândia salienta dois fatos: o primeiro, a

importância da leitura do contexto para o surgimento da Cristolândia; o segundo, o

papel fundamental da PIBSP para o surgimento desse projeto.

Analisando esse primeiro fato (a importância da leitura do contexto para o

surgimento da Cristolândia) ao reler a história vê-se que esse projeto nasce dentro da

lógica do círculo hermenêutico. A igreja, (seja por meio de seus membros, de seu

pastor, ou de seu executivo da JMN) faz uma leitura de seu contexto, a partir dos

princípios bíblicos, e identifica naquele local a necessidade da manifestação do Reino

de Deus, agindo a favor do desenvolvimento e da justiça. E a partir da leitura desses

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dois horizontes(contexto e Bíblia), nasce a missão, nasce a Cristolândia. Dessa forma,

além de todos os aspectos até aqui citados de aproximação, nota-se uma coesão desse

projeto com a M.I.pelo fato de sua matriz genitora trilhar o mesmo caminho que a M.I.

adota como seu método de seu agir missiológico, o círculo hermenêutico.

A segunda ação missionária mais citada pelos participantes da pesquisa foi

“Ajuda financeira”.Nessa ação estão contidos envio de recursos financeiros para a

JMN,para JMM, e sustento de missionários e seminaristas.

A JMN e a JMM datam seu início no dia 25 de junho de 1907, durante a

primeira assembleia da Convenção Batista Brasileira na cidade de Salvador na Bahia. O

trecho da Constituição Provisória da nova Convenção, extraído do site da JMN relata o

objetivo da criação dessas duas organizações:

"Unir todas as forças batistas do Brasil, em uma organização nacional

maior, para o desenvolvimento e eficácia da pregação do Evangelho

de Jesus Cristo segundo a nossa crença [...]o fim desta organização é

promover missões domésticas e estrangeiras, e tudo mais que direta ou

indiretamente tenha relação com o reino de nosso Senhor Jesus

Cristo".(Disponível em: http://www.missoesnacionais.com.br/#!quem-

somos/cle3 Acesso em: 20 mai. 2015).

A JMM define sua atuação dizendo que “consiste na expansão do trabalho

missionário além das fronteiras do Brasil, no despertamento e preparo de vocacionados

para missões, dentre muitas outras ações que contribuem para a proclamação do

evangelho no mundo.”(Disponível em: <http://www.jmm.org.br/index.php?option

=com_content&task=view&id=127&Itemid=150> Acesso em: 15. mai. 2015).

Atualmente a JMM possui em sua equipe cerca de 700 missionários espalhados

em 64 países nas Américas, Europa, África e Ásia. Esses missionários atuam na

evangelização, plantação de igrejas e desenvolvimento de diversos projetos

sociais.Sobre estesprojetos vê-se a seguinte descrição:

Em muitos lugares, anunciar Jesus Cristo abertamente pode criar

enormes barreiras para o avanço da obra missionária. Para conseguir

transmitir efetivamente a mensagem de salvação nessas sociedades, os

missionários da Junta de Missões Mundiais desenvolvem diversos

projetos na área social e até esportiva. Todos têm perfil evangelístico e

visam auxiliar as populações locais, possibilitar a proclamação do

evangelho. É assim através do PEM (Programa Esportivo

Missionário); do PEPE, programa socioeducativo promovido pela

JMM; do POPE (Programa de Odontologia Preventiva e Educativa) e

da Fábrica de Esperança (Senegal), entre tantos outros desenvolvidos

com excelência nos campos. 49 (Disponível em:

49 Para maiores informações sobre esses programas veja o site:www.jmm.org.br

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133

http://www.jmm.org.br/index.php?option=com_content&task=view&i

d=124&Itemid=147&limit=1&limitstart=1. Acesso em: 20.

mai.2015).

Atualmente, a JMM visa atender cerca de 12 mil igrejas e congregações batistas

de todo o Brasil, no sentido de ajudá-las a estabelecer a cooperação entre si, para que

possam cumprir os desafios missionários em nível mundial. Uma das formas utilizadas

para essa missão é a Campanha anual de Missões Mundiais, que mobiliza as igrejas para

um apoio financeiro e espiritual por meio de oração a favor da evangelização mundial.

Juntamente com essa mobilização anual, a JMM mantém o Programa de Adoção

Missionária (PAM). Este é um meio criado para que pudesse haver uma “participação

dos cristãos de maneira constante e efetiva na obra de evangelização mundial com

ofertas sistemáticas” (Disponível em http://www.jmm.org.br/index.php?option=

com_content&task=view&id=124&Itemid=147&limit=1&limitstart=1 Acesso em 20

mai. 2015).

A JMM está presente com seus missionários e projetos, como expressa da

cooperação das Igrejas Batistas brasileiras, nos seguintes continentes e países:

África: África do Sul, Angola, Botsuana, Burkina Faso, Cabo Verde, Gâmbia,

Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Mali, Moçambique, Níger, São Tomé e

Príncipe, Senegal e República Centro-Africana.

Américas: Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Haiti, Paraguai,

Peru, República Dominicana e Uruguai.

Norte da África, Ásia e Oriente Médio – 16 países.50

Europa:Açores (Portugal), Albânia, Armênia, Azerbaijão, Bielorússia,

Cazaquistão, Espanha, Estônia, Geórgia, Itália, Letônia, Lituânia, Modávia,

Polônia, Portugal, Romênia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e

Uzbequistão(Disponível em: <http://www.jmm.org.br/index.php?option=com

_content&task=view&id=124&Itemid=147&limit=1&limitstart=1> Acesso em:

21 mai.2015).

A JMM resume o objetivo de seu trabalho missionário dizendo que seu alvo é:

“que todos os povos sejam alcançados e transformados pela mensagem do amor de

50 Quanto aos países dessa região pelo fato de alguns deles apresentarem uma forte resistência ao Evangelho, seus nomes não são divulgados como uma medida de cuidado para não colocar em risco a vida de nossos missionários.

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Deus.” (Disponível em: <http://www.jmm.org.br/index.php?option=com_content&task

=view&id=124&Itemid=147&limit=1&limitstart=1> Acesso em 21 mai. 2015)

A JMN por sua vez possui fortes semelhanças com a JMM, diferenciando-se,

porém, na área de atuação. Enquanto a primeira (JMN) tem como área de trabalho o

Brasil, a segunda (JMM) volta seu olhar para os outros países. Essa delimitação de

atuação é exposta de forma clara na missão da JMN que afirma ser sua missão:

“Conquistar a pátria para Cristo. A conquista da Pátria significa que cada brasileiro será

um discípulo do Senhor Jesus. Portanto, nossa missão nos impõe um grande desafio:

evangelizar e discipular cada pessoa em solo brasileiro.” (Disponível em:

<http://www.missoesnacionais.org.br/publicacao.asp?codCanal=7&codigo=33&codigo

_pai=9> Acesso em 20 maio. 2015).

A visão institucional da JMN traz, dentre outras afirmações, as seguintes que se

atrelam à questão do desenvolvimento e da justiça da M.I.:

A igreja é uma agência local do Reino de Deus.

Priorização do ser humano e sua dignidade.

Discípulos comprometidos com Cristo e o seu Reino.

Cooperação com a denominação Batista em todos os níveis.

Responsabilidade social.

Responsabilidade ecológica.

E ao resumir seu desafio a JMN, de forma sucinta, esboça-o da seguinte forma:

“É nosso desafio: Evangelizar e discipular cada pessoa em solo brasileiro.” (Disponível

em <http://www.missoesnacionais.org.br/publicacao.asp?codCanal=7&codigo=34&

codigo_pai=9> Acesso em 20. mai. 2015).

Dentro da ação “Ajuda financeira”, além do apoio à JMM e à JMN está incluso

o sustento de missionários e seminaristas, esta ação se dá por meio de ajuda financeira

para custear cursos teológicos e suprimento das necessidades básicas pessoais e

ministeriais.

Analisando essas ações para identificar aproximações e distanciamentos ao

conceito de desenvolvimento e justiça da M.I., nota-se que a JMM e a JMN possuem na

compreensão do seu ser e agir pontos de muita aproximação com esses conceitos da

M.I., pois têm em seu escopo de ação o levar o evangelho ao mundo todo, e

contemplando não só aspectos espirituais, mas também biopsicossociais.

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135

Porém ao analisar essa ação missionária da PIBSP como contribuinte, abre-se

dois caminhos de interpretação, o primeiro é uma leitura que entende esse ato como

uma terceirização da missão, e a outra forma é entendê-la como uma expressão de

“colaboração e unidade”.

A primeira forma de interpretar essa “Ajuda financeira” é entendê-la como uma

terceirização da missão que a igreja possui de proclamar o reino de Deus. Nessa forma

de ver a ação missionária de “ajuda financeira”, as agências, ou de forma específica

aqui, a JMN e a JMM, os seminaristas e missionários são pagos para cumprirem a

responsabilidade que foi designada a igreja toda, gerando assim uma postura de inércia

na participação da missão, na qual o agir missionário se limita ao patrocínio financeiro.

Pode-se somar a essa forma de interpretar, o fato de, em todos os boletins

analisados, todos os avisos que se relacionam à ação missionária e social da igreja se

limitam a pedidos de doações e ofertas. Não foram encontrados, nestes boletins, avisos

ou chamadas para uma participação e engajamento que fosse além do financeiro e

material.

Quadro 4- Análise dos avisos publicados nos boletins

Atividades Quantidade de boletins em que o aviso

apareceu

Programa Viva leite 6

Doações para os bebês das detentas

atendidas pela Capelania Prisional

4

Gerenciando o futuro 12

Doações para cestas básicas 24

Bazar Dorcas 47

Encontros terapêuticos 6

Lar batista 9

Plantão social 32

Cristolândia 1

Plantão de orientação profissional 4

Esses avisos podem ser divididos em dois grupos; o primeiro formado por

aqueles que se configuram como pedidos de recursos materiais, e o segundo composto

por avisos que se direcionam a pessoas que quiserem se beneficiar das ações já

realizadas pela igreja.

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O primeiro grupo é composto por: Programa Viva leite, Doações para os bebês

das detentas atendidas pela Capelania Prisional, Doações para cestas básicas, Bazar

Dorcas, Lar batista, e Cristolândia. Estes se restringem ao pedido de doações.

No segundo grupo podem ser alocados os seguintes avisos: Gerenciando o

futuro, Encontros terapêuticos, Plantão social, e Plantão de orientação profissional.

Nestes avisos eram informados os locais e horários,em que essas ações aconteceriam

para que aqueles que quisessem ser atendidos por essas ações obtivessem as

informações necessárias.

A partir desse fato pode-se constatar que pelo veículo de informação boletim há

apenas convites para uma participação por meio do custeio da realização das ações.Este

fato pode justificar o motivo pelo qual a “Ajuda financeira” aparece em segundo lugar

na lista de ações missionárias.

Se essa ação for lida por meio do viés de terceirização tem-se aqui um elemento

que distancia a PIBSP da M.I., pois a visão que a M.I. possui diz que:

Todos os membros da igreja, sem exceção, simplesmente por haverem

sido integrados ao corpo de Cristo, recebem dons e ministérios para o

exercício de seu sacerdócio, ao qual foram “ordenados” mediante o

batismo. A missão não é responsabilidade de um pequeno grupo de

fiéis que se sentem chamados ao campo missionário (geralmente no

exterior), mas sim de todos os membros, já que todos são membros do

sacerdócio real e, como tais, foram chamados por Deus “a fim de

proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua

maravilhosa luz” (1Pe2.9) onde quer que se encontrem.

(PADILLA,2009, p.18e19)

Porém essa “Ajuda financeira” pode ser interpretada de uma segunda forma,

como uma ação missionária fruto da “Colaboração e Unidade”, nessa perspectiva tem-se

então uma grande aproximação da PIBSP com o conceito de desenvolvimento e justiça

da M.I..

Esse tipo de interpretação é possível, pois no conceito de “Colaboração e

Unidade” compreende-se que a responsabilidade da igreja está relacionada não só com o

compartilhar sentimentos, emoções, teologia e orações, mas também em compartilhar os

bens e recursos financeiros, não a fim de alcançarmos uma igualdade social, onde todos

tenham as mesmas coisas na mesma quantidade, mas sim que,por meio dessa partilha as

necessidades daqueles que têm menos sejam supridas com os recursos dos irmãos que

tem mais.

Dentro dessa ótica, essa “ajuda financeira” cultiva uma relação onde seus

participantes se veem como chamados a vivenciar a realidade da partilha recíproca.

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Padilla afirma que: “a possibilidade de partilha recíproca entre as igrejas é uma

premissa básica” (PADILLA, 2005, p.148).

Sendo assim interpretada essa ação missionária, vê-se uma grande aproximação

da práxis da PIBSP com o conceito da M.I., que apresenta a colaboração e unidade

como uma missão da igreja, e que, como mostrado anteriormente, se relaciona

diretamente com o conceito de Justiça, pois olha para as relações intra-humanas na

perspectiva do Reino e coloca-se como um agente de expressão e sinalização do reinado

de Deus.

Para verificar se há uma tendência à terceirização ou um engajamento somado a

uma iniciativa de partilha recíproca na PIBSP deve-se analisar a participação dos

membros da igreja nas ações missionárias. Esse fato mostrará se na prática os membros

estão limitando sua práxis missional à terceirização, ou se esta ação faz parte de uma

vivência mais abrangente que não apenas financia, mas também participa efetivamente.

Olhando para o engajamento dos membros entrevistados nas ações da igreja, ao

serem questionados sobre quais as ações missionárias de que já tinham participado, as

respostas obtidas compõem o seguinte quadro:

Quadro 5- Respostas sobre quais as ações missionárias de que participaram

Sexo Idade Respostas à pergunta: De quais ações missionárias você já

participou com esta igreja?

Masculino 33 Visita em orfanatos e asilos com intuito de dar carinho a estas

pessoas e falar de Jesus Cristo

Feminino 18 Visita à Cristolândia, auxílio com as crianças

Masculino 21 Ofertas

Feminino 32 Na adolescência viajava às cidades do interior falando de Jesus de

porta em porta, depois trabalhei na favela do Moinho no ministério

DAT, em seguida, por 6 meses integrei a capelania prisional na

Penitenciária Carandiru, fiz parte da Cristolândia e agora faço

visitas regulares ao Lar Batista de Crianças

Masculino 71 Evangelismo, estudos bíblicos e transformação da cracolândia em

cristolândia, entrega de literatura e educação

Feminino 76 Várias, não só presente mais contribuindo e levando a mensagem

através de folhetos, bíblias e cheguei a ser presidente da união

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feminina dessa igreja e membro da união estadual atuando na casa

batista da Amizade

Feminino 64 Eu sou cooperadora da junta de missões nacionais e mundiais,

estou viúva há menos de 2 anos e não pude participar indo ao

campo; praças, bairros, instituições, etc. Mas sou professora na

rede pública e tenho falado aos meus alunos

Masculino 72 Como líder comunitário procurando auxiliar, orientar na busca do

conhecimento da palavra de Deus, adolescentes jovens, adultos

Masculino 56 Diretamente com a igreja nenhuma, mas em meu trabalho sim e

também onde moro

Masculino 48 Ações evangelísticas

Feminino 40 Preciso me empenhar mais

Feminino 35 Capelania prisional, capelania hospitalar, visita ao orfanato, ação

na praça.

A partir dessas respostas constata-se que ações relacionadas à evangelização

aparecem como as mais citadas entre aquelas de que os entrevistados participaram,

tendo 7 registros entre os participantes. As duas ações que ocupam o segundo lugar,

contendo 4 registros, são “Ação Social(assistência/serviço/ação)” e “ofertas (ajuda

financeira)”,e em terceiro lugar, as capelanias, com 2 registros.

A partir dessas informações pode-se compor o seguinte gráfico que mostra as

ações missionárias que tiveram o maior número de participantes entre os

entrevistados.51

51 Na coluna “não tabulados nas categorias” foram contabilizadas as respostas que não se enquadram em nenhuma das categorias supra citadas por incompatibilidade ou por ausência de informações. As respostas que formam esta coluna são: “Ação na praça”, “Visita ao orfanato”,“Preciso empenhar mais”, “Presidente da União Feminina”, “Membro da União Estadual atuando na casa batista da Amizade”e “Visitas regulares ao lar batista de criança”.

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Gráfico 5- Ações missionárias com número de participação dos entrevistados

Ao analisar esse gráfico e o quadro anterior nota-se que, de maneira geral, existe

um forte engajamento dos membros da PIBSP nas ações missionárias, havendo apenas

uma exceção, pois o entrevistado disse não ter participado de nenhuma ação, mas afirma

que a realiza em seu trabalho e no lugar onde mora, e apenas um registro que restringe a

sua participação nas ações missionária ao ato de ofertar.

Fazendo uma análise de gênero e de idade, nota-se que a participação nessas

ações missionárias ocorre em todas as faixas etárias e em ambos os sexos. Fica

registrado que a única exceção presente na pesquisa, de não participação nas ações, é de

um participante do sexo masculino que possui 56 anos. E o único registro de

participação nas ações de missões única e exclusivamente por meio de ofertas é de um

participante de 21 anos do sexo masculino.

Pode-se destacar o fato de que as ações de cunho evangelístico possuem um

maior engajamento, e embora as ações sociais sejam citadas pela maioria como missão

da igreja, apenas quatro dos doze entrevistados já participaram dessas ações. Neste

ponto do trabalho constata-se a distância, não apenas entre o agir dos outros 8

entrevistados,(que representam 66,66% dos membros participantes da pesquisa)e a M.I,

mas da distância entre a compreensão missiológica destes e a sua práxis missionária.

Embora acreditem que é missão da igreja a ação social, estes até então não participaram

efetivamente de uma ação social.

A partir dessa realidade de engajamento vivencial na prática missionária da

PIBSP,apresentada pelos membros participantes da pesquisa,na qual 11 dos 12

entrevistados realizam ações missionárias, sendo que destes 11 apenas um não

participou com a igreja dessas ações, pode-se aferir que a “ajuda financeira” está mais

relacionada a uma crença de cooperação, unidade e partilha recíproca, do que a uma

terceirização da responsabilidade missionária da igreja, pois, segundo os dados

mostrados acima, todos, com apenas uma exceção, participaram ou realizam práticas

6

2

4

4

7

Não tabulados nas categorias

Capelanias (Hospitalar e Prisional)

Ofertas (ajuda financeira)

Ação social (assistência, serviço, ação)

Evangelização (falar de Jesus)

Número de Participantes

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missionárias além da ajuda financeira.Mesmo fazendo destaque à diferença existente

entre a participação dos membros nas ações de evangelização e ações sociais, não é

possível afirmar que existe uma postura de terceirização. Baseado em nossos resultados

obtidos pode-se ver que essa ajuda financeira é realizada por pessoas que cooperam com

a missão financeira e vivencialmente.

A terceira e quarta ações missionárias mais citadas nos roteiros foram: Capelania

em Hospitais e Presídios, e projetos de Ação Social. A primeira ação aqui citada

(Capelania Hospitalar e Prisional) acontece na PIBSP por meio de membros da igreja

que são capacitados para irem aos hospitais e presídios para evangelizar, aconselhar e

oferecer assistência aos internos.

A segunda ação (Projetos de Ação Social) acontece por meio de projetos como o

“Gerenciando o futuro” 52 , “Bazar Dorcas” 53 , “Distribuição de cestas básicas” 54 e

“Ponto de arrecadação do projeto Viva Leite”55.

Ao analisar esses dois grupos de ações pode-se notar uma grande aproximação

da práxis da PIBSP com a M.I. Embora ambas as ações se configurem como assistência

social e serviço social, deve-se considerar que estes são meios válidos e necessários no

processo de desenvolvimento e justiça, pois toca, em pelo menos, duas das bases do

desenvolvimento, a saber: o capital humano e social.

Uma ação missionária realizada pela PIBSP que não apareceu nos roteiros de

entrevistas dos membros, mas foi citada pelo pastor, é a parceria da igreja com a Rede

Social do Centro, esta organização surgiu da articulação da sociedade civil, composta

por diversos bairros da região central da cidade de São Paulo.

Este grupo parte do pré-suposto que “problemática do centro da cidade só

poderá ser resolvida a partir de ações integrais em rede” (Disponível em:

http://redesocialdocentro.com.br/quem-somos/Acesso em 28 mai. 2015). O grupo é

composto por representantes do poder público em seus diferentes níveis federal,

estadual e municipal, ONGs, empresas e igrejas atuavam na região.

52 Curso de inglês gratuito para pessoas de todas as faixas etárias, que tem atendido especialmente jovens adultos moradores e trabalhadores da região 53 Funciona diariamente, com recebimento de doações dos membros e frequentadores. As arrecadações são vendidas por valores muito baixos, ou doadas para aqueles que necessitam e não possuem condições para comprá-las. O valor arrecadado nesse bazar é revertido para o ministério de ação social da igreja. 54As cestas básicas são distribuídas mediante cadastro e acompanhamento das famílias carentes 55 Este é um programa da prefeitura de distribuição de leite à população de baixa renda, ao qual a PIBSP serve como um ponto de arrecadação e seus membros participam ativamente por meio de doações.

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Essa Rede realiza reuniões mensais, desde agosto de 2010, e seu objetivo é

“Despertar a cidadania para um futuro melhor [...] Articular ações e projetos integrados

em rede para buscar soluções para os problemas sociais da cidade de São Paulo.”

(Disponível em: <http://redesocialdocentro.com.br/quem-somos/> Acesso em: 28 mai.

2015). E em seu site a Rede Social do Centro faz a seguinte afirmação: “Que este

esforço em rede, unindo todos os setores da sociedade, seja mais um caminho para uma

transformação social e um dos meios para o desenvolvimento local de maneira

sustentável e participativa.” (Disponível em: <http://redesocialdocentro.com.br/quem-

somos/> Acesso em: 28. Mai. 2015).

A PIBSP ao se engajar nesse projeto, mesmo que seja apenas por meio de sua

liderança, inicia uma aproximação daquilo que Lessa vai chamar de ação social, uma

ação que toca nas estruturas sociais. Pois uma vez que esta Rede tem como objetivo ser

“mais um caminho para uma transformação social e um dos meios para o

desenvolvimento local de maneira sustentável e participativa” e faz isso por meio da

união dos diversos setores da sociedade, pode-se dizer que, por meio dessa ação, passos,

mesmo que iniciais, são dados rumo a uma transformação estrutural da sociedade.

A partir do que foi apresentado até aqui, pode-se ver que existe uma forte

aproximação da PIBSP com o conceito de Desenvolvimento e Justiça da M.I. Ao

constatar essa aproximação não está sendo dito que a igreja realiza de forma plena e

perfeita sua missão, nem que todos da igreja compreendam e vivenciem um

engajamento na missão de buscar, e manifestar, o desenvolvimento e justiça. Para tal

afirmação seria necessário um estudo mais abrangente e profundo.

Porém o que se pode afirmar, a partir dos dados e resultados obtidos, é que a

PIBSP em sua teologia, sobre a missão da igreja (missiologia), e em sua práxis, possui

muita proximidade com a M.I., contemplando todos os aspectos apresentados nesta

teologia. Reconhece-se que existe uma diferença entre os entrevistados quanto à

participação e compreensão de alguns pontos em detrimento de outros, como se pôde

constatar ao se comparar questões relacionadas à evangelização e à assistência social,

com serviço e ação social. Nota-se que quanto às duas primeiras existe uma assimilação

e engajamento maior do que o visto nos aspectos posteriores.

Algo que se deve considerar é a participação dos membros nas ações

missionárias. Embora não exista uma uniformidade quanto às áreas de atuação, de

maneira geral, salva uma exceção, todos participam de alguma forma das ações

missionárias da igreja.

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Outro ponto que se destaca é a compreensão que a igreja possui sobre sua

responsabilidade social. Esta visão pode ser constatada nos materiais disponibilizados

no site da igreja, nos boletins, e nos roteiros de entrevistas dos membros e pastor. Em

todas estas esferas vê-se o consenso quanto ao dever que a PIBSP possui de trabalhar

para o desenvolvimento e justiça por meio de ações sociais que sinalizem o Reino de

Deus no contexto onde está inserida.

Em síntese pode-se dizer que ao analisar os conceitos presentes na estrutura da

PIBSP e suas práxis (por meio das ações identificadas na igreja e citadas pelos

participantes da pesquisa), identifica-se uma grande aproximação entre a igreja e os

conceitos de desenvolvimento e justiça da M.I. Na PIBSP pode-se identificar um olhar

holístico tanto para o evangelho (Bíblia), com também para o ser humano e

humanidade.

A partir desse fato questiona-se a origem dessa aproximação. Teria a M.I.

influenciado a PIBSP a ponto de moldar sua visão e práxis de maneira tão significativa?

Qual seria a hipótese mais plausível para justificar essa aproximação? O próximo

subtópico se dedicará a essa tentativa de responder a esses questionamentos que buscam

descobrir a raiz da práxis da PIBSP.

3.3.A origem da Missão na PIBSP

Ao constatar essa grande proximidade entre a PIBSP e o conceito de

desenvolvimento e justiça da M.I., os primeiros questionamentos lógicos que se

levantam são: “A PIBSP conhece a M.I.?” “teria ocorrido no tempo de pastorado, do

atual pastor, alguma ação ou evento que fosse capaz de incutir de forma tão expressiva,

como constatado, os princípios de desenvolvimento e justiça da M.I. na práxis da

igreja?” e “a que se pode atribuir a causa de tamanha proximidade?”. Não se pretende

aqui dar uma resposta que seja tomada como a verdade absoluta para essas questões,

mas tem-se o objetivo de sinalizar caminhos possíveis que justifiquem essa

aproximação.

Quando os participantes foram questionados sobre “se conheciam a M.I.”, “o

que conheciam da M.I.”, “e qual era o impacto dessa teologia na vida deles”, dos 12

membros entrevistados, 7 responderam que não conheciam, 4 afirmaram que sim, e 1

disse que já tinha ouvido falar.Essas respostas formam o seguinte gráfico:

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Gráfico 6- Participantes que conhecem a MI

Nota-se que, dos 4 que responderam que conhecem a M.I., que representam 33%

dos membros entrevistados, ao comentarem as próprias respostas apresentaram

compreensões diferentes entre si sobre essa teologia, conforme mostra o quadro abaixo:

Quadro 6- Conhecimento dos participantes da MI por anos de idade

Idade Conhece a

MI

Definições

33 Sim É um mecanismo de levar a palavra de Deus através de ajuda humana, não somente fora do município, estado ou país e sim no local em que estamos. Colocar em prol das pessoas, nossas habilidades e aproveitar para falar de Jesus Cristo.

18 Sim

O objetivo principal é resgatar vidas para Cristo e quando se trata de ser

humano isso já me deixa impactada e nós como filhos de Deus

precisamos ajudar servir aqueles que necessitam de nós. E a missão é

isso, não ajudar com aquilo que nos sobra e sim com aquilo que eles

necessitam.

Sejam elas físicas ou econômicas, é conseguir suprir essas necessidades.

21 Não

32 Ouvi falar Confesso que não tenho tantas informações a ponto de ter uma opinião

56 Não

48 Não

40 Não

59%33%

8%

Não Sim Ouviu falar

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35 Não

71 Sim Trabalho com drogados, que tem no mundo inteiro.

76 Não

64 Sim

Missão Integral é o trabalho de todos os membros levando o evangelho

aos perdidos onde quer que atuarem na vida particular e pública

72 Não

A maioria dos que conhecem a M.I., e possuem uma compreensão que mais se

aproxima do conceito real, estão entre os jovens, nas demais faixas etárias apenas uma

participante de 64 anos de idade expressou um conhecimento mais abrangente da M.I..

A resposta dada pelo pastor a essa mesma pergunta, foi a seguinte: “Sim

conheço, não li muito dos autores da missão Integral. Li muito do pessoal da teologia da

libertação nos anos 80 e 90”.

A partir desses dados apresentados pode-se dizer que os participantes da

pesquisa em sua grande maioria não conhecem os conceitos teóricos da M.I., e entre a

pequena parte que conhece, alguns esboçam uma compreensão diferente do conceito

real, outros expressam suas limitações quanto ao próprio conhecimento sobre o tema, e

apenas três apresentam uma definição mais próxima da Missão Integral.

Esse desconhecimento e superficialidade na compreensão da M.I. revela o fato

de que, por maior que seja a proximidade já constatada entre a PIBSP e o conceito de

desenvolvimento e justiça da M.I., a aproximação não é resultado de um conhecimento

teórico, conceitual da mesma; é fruto de outros fatores a serem investigados.

Na resposta do Pastor Paulo Eduardo, ele afirma que conhece a Missão Integral,

porém,que não leu muito de seus autores; em contrapartida afirma que nos anos de 80 e

90 realizou muitas leituras do “pessoal da teologia da libertação”.Nessa reposta além de

reforçar a hipótese que a aproximação,já constatada,não se deu por conta de um

conhecimento teórico da M.I., apresenta a Teologia da Libertação (leia-se TdL) como

uma possível porta pela qual o conceito de desenvolvimento e justiça, e essa atenção

para questões de cunho social, entraram na práxis da PIBSP.

Ao analisar todas as pastorais, arquivadas pela PIBSP, escritas pelo pastor

Paulo,com o objetivo de conhecer as ênfases ministeriais do pastor e sua correlação com

a TdL ou com a M.I.,constatou-se que não houve em nenhuma delas um enfoque que

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trabalhasse questões de desenvolvimento, justiça, e responsabilidade social que

pudessem será atribuídas à M.I. ou à Teologia da Libertação.

É possível notar que as pastorais de maneira geral, estão vinculadas a três

grandes temáticas, a saber: Família, Avivamento (espiritualidade), e Pequenos

Grupos.56.Temas como: responsabilidade social, desenvolvimento e justiça, libertação

(no âmbito social), pobres, entre outros que podem ser relacionados ao aspecto social da

Teologia da Libertação e da M.I., não foram apresentados nas pastorais.

Ainda analisando os boletins, nota-se que nos quatro últimos anos (tempo que a

igreja possui arquivo de boletins no período do pastorado do Pr. Paulo Eduardo) quatro

congressos foram realizados na PIBSP. Estes tiveram os seguintes temas “Uma bênção

para sua família”(realizado em 25 a 26 de maio de 2013); “Avivamento” (realizado de

21 a 24 de julho de 2013); “Congresso da Família” (realizado em 7 a 8 de junho de

2014); e “Avivamento: Ouça o Espírito” (realizado em 27 a 30 de julho de 2014).

Esses quatro congressos oficiais da igreja se relacionam de forma direta com

dois dos enfoques centrais das pastorais. Se a análise se restringisse à pesquisa dos

boletins e congressos seria possível dizer que por mais que o pastor tenha um

conhecimento superficial da M.I. e uma leitura mais extensa da Teologia da Libertação,

ambos os fatos não influenciaram em sua compreensão ministerial, pois em nenhum

desses dois elementos (boletins e congressos) apresentam uma preocupação com as

demandas sociais.

Porém ao estender a pesquisa aos artigos escritos pelo pastor da PIBSP ao Jornal

Comunhão57, durante o tempo em que ele foi presidente da Convenção Batista do

Estado de São Paulo (leia-se CBESP), é possível constatar um aspecto ministerial que

pode ser entendido como uma herança da TdL, a saber: postura de valorização do

contexto e da práxis eclesiástica frente a este.

Em seu primeiro artigo como presidente da CBESP, intitulado “Qual é a razão

da nossa existência como Convenção?”, no qual relata elementos necessários para que a

estrutura denominacional seja relevante, ele faz a seguinte afirmação:

A estrutura denominacional é relevante na medida em que servir bem

às igrejas, na medida em que estiver promovendo missões com vigor;

será relevante enquanto estiver realizando projetos sociais que

beneficiem vidas e gerem impacto na sociedade; terá valor

reconhecido se suas ações redundarem em vidas sendo abençoadas,

56 Para visualizar os títulos das pastorais e assuntos abordados nelas ver anexo 10 57 Jornal denominacional dos batistas do Estado de São Paulo, este jornal é distribuído gratuitamente a todas as igrejas batistas do estado de São Paulo, uma pagina é dedicada a “Palavra do Presidente”.

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salvas e transformadas pela graça e pelo amor do Senhor Jesus.58

(VIEIRA, Paulo E. G., Qual é a razão da nossa existência como

Convenção?Jornal Comunhão, p.3. 08 agos.13).

Logo no início de seu mandato ele apresenta um olhar que se projeta para fora

dos intramuros eclesiásticos e denominacionais. Em um outro artigo ele afirma sua

admiração por ministérios que possuem esse olhar voltado para aquilo que chama de

“realidades extra-eclesiásticas”, e apresenta esse fato na seguinte afirmação:

Confesso que me sinto fascinado por essa versão ministerial, que

mantém os olhos voltados para as realidades extra-eclesiásticas.

Ministério que dispense maior parte das energias na busca por uma

ação transformadora do mundo decaído no qual nós estamos inseridos.

(VIEIRA, Paulo E. G., Um ministério profético. Jornal Comunhão,

p.3. 03.mar. 2014).

Ao analisar seus artigos no Jornal Comunhão, embora seja possível identificar

uma retomada, em alguns momentos, aos temas, família e avivamento, boa parte dos

seus escritos tem como objetivo apresentar a necessidade de a igreja olhar para o seu

contexto e ser manifestação do Reino de Deus a este de forma prática. Ele discorre

sobre essa ideia de maneira mais clara no artigo: “O perigo do púlpito irrelevante na

pregação urbana”, e neste artigo ele faz as seguintes afirmações:

Homilética, como bem sabemos, é a arte de pregar sermões. O termo

grego homilia deriva do verbo omileu, que significa conversar,

dialogar. Parto desta compreensão para postular a necessidade de o

púlpito de uma igreja ser interativo, ou seja, que seja resultado de um

diálogo que o pregador desenvolve com a realidade onde a sua

igreja está inserida, e daqueles a quem ele prega.

É imprescindível que o pregador tenha a Bíblia como fonte

fundamental de inspiração para os seus sermões. Isto é inegociável.

A sua vida pessoal com Deus, o seu constante “debruçar” sobre as

Escrituras, a sua permanente atitude de recepção em relação à voz do

Espírito Santo são fatores que jamais podem ser negligenciados. No

entanto, perceber o mundo concreto e visível ao seu redor também

é importantíssimo. Caso contrário, haverá o grande risco de ele, o

pregador, assim como a sua igreja, se tornarem irrelevantes(VIEIRA,

Paulo E. G., O perigo do púlpito irrelevante na pregação urbana.

Jornal Comunhão, p.3. 12 dez.13).

Nesse trecho o pastor apresenta a necessidade de se estabelecer um diálogo entre

texto e contexto, Bíblia e realidade na qual a igreja está inserida. Embora seja possível

argumentar que essa fala não diz nada sobre a compreensão do pastor sobre a missão da

igreja, e que ela se limita a uma orientação sobre a forma de se fazer um sermão, deve-

58 Negrito nosso

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se destacar que ele aplica essa lógica não apenas ao púlpito, mas estende-a à relação que

a igreja deve buscar com seu contexto. Ele segue o artigo dizendo:

A necessidade de contextualização não se resume ao púlpito. As ações

da igreja também devem ser contextualizadas. Igreja que não

restringe seu olhar à vida intraeclesiástica, mas que estende para a

realidade extraeclesiástica. Igreja atenta ao que acontece ao seu redor,

e desenvolve estratégias que possibilitem que ela alcance e transforme

vidas e situações 59 (VIEIRA, Paulo E. G., O perigo do púlpito

irrelevante na pregação urbana. Jornal Comunhão, p.3. 12 dez.13).

Uma forma de analisar a relação dessa fala com as ações missionárias da igreja é

voltar à origem do projeto Cristolândia. Como já dito, este projeto nasce a partir dessa

visão ministerial que busca ouvir os clamores dos contextos e oferecer-lhes respostas.

Esse fato é evidenciado na seguinte afirmação do pastor Paulo Eduardo sobre a origem

da Cristolândia:

O Projeto Cristolândia, que teve início na PIB em SP, e que hoje

pertence aos batistas brasileiros (digo isso com muita alegria), é fruto

desta compreensão. Não poderíamos, em hipótese alguma, permanecer

concentrados em nossas dependências eclesiásticas, desfrutando do

deleite da vida com Deus e com os irmãos, porém com os nossos

olhos vendados para aquela realidade cruel e infernal tão próxima à

nossa igreja. As mensagens e as estratégias da igreja, durante um bom

tempo, tiveram como grande objetivo transformar a Cracolândia.

(VIEIRA, Paulo E. G., O perigo do púlpito irrelevante na pregação

urbana. Jornal Comunhão, p.3. 12 dez.13).

É possível identificar nessas falas do pastor uma postura de valorização do

contexto onde a igreja está inserida e da práxis eclesiástica respondendo a ele.Dentro da

visão ministerial do Pastor Paulo Eduardo, a partir do que até aqui foi apresentado, a

missão da igreja surge da leitura do texto Bíblico e do contexto, isso é dito maneira

muito explícita no artigo intitulado “Para além dos muros” no qual o pastor baseado no

texto do evangelho de Marcos 6.34, que diz: “E Jesus saindo viu uma grande multidão e

teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor, e começou a

ensiná-las” faz a interpretação do texto e aplica-o da seguinte forma:

Precisamos que os nossos corações sejam tomados de compaixão

diante da realidade de miséria à qual milhões estão submetidos,

fruto da desigualdade, da injustiça e da corrupção que

predominam em nosso Brasil. É necessário que nos sintamos

irreversivelmente incomodados [...]E porque é importante que nos

sintamos assim? Porque esse sentimento nos mobilizará de modo

incontido para missões. Esse incômodo, essa perturbação interior que

59 Negrito nosso

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eu chamo de santo incômodo, de santa perturbação, nos mobilizarão

em direção aos que estão para além muros, conferindo razão de ser à

nossa existência. (VIEIRA, Paulo E. G., Para além dos muros. Jornal

Comunhão, p.3. 07. jul.14).

No entendimento do pastor o ato de sentir o contexto, de ser incomodado pela

realidade contextual na qual estamos inseridos, se configura como o fato que impulsiona

a igreja para sua missão.

A partir do conteúdo presente nos artigos escritos ao Jornal Comunhão, e das

ações missionárias da PIBSP, constata-se que a práxis ministerial do pastor Paulo

Eduardo acontece dentro da lógica da hermenêutica contextual, pois é possível notar a

valorização do Texto (Bíblia) e do contexto, e a missão surgindo como uma resposta a

esses dois horizontes.

Ao entender a TdL como uma possível porta pela qual os conceitos de

desenvolvimento e justiça da M.I. entraram na PIBSP, faz-se isso baseado na

identificação de um ponto comum entre as duas teologias (TdL e MI), a saber: a

hermenêutica contextual e o círculo hermenêutico.

Segundo Sanches (2009), falando sobre as aproximações do método da TdLcom

a MI, ao se referir de maneira específica à TdL, a autora afirma que:

Ela se constrói na forma do círculo hermenêutico e se organiza de

modo a ser pensamento sempre crítico tanto da realidade social,

quanto do pensamento e da práxis da fé, ou seja, dela mesma. É nestes

aspectos que a TdL destaca sua natureza autóctone. O método pelo

qual ela se faz é o seu maior diferencial em relação às outras formas

de teologia (SANCHES, 2009.p. 46).

Esse diferencial a que Sanches faz menção é este ato de fazer missão a partir da

hermenêutica contextual, do círculo hermenêutico; é a lógica sob a qual a TdL acontece

que faz com que ela olhe para os dois horizontes (contexto e Texto) visando a

práxis.Libânio apresenta este fato da seguinte forma:

A novidade específica da TdL está no único ato produtivo teológico

de uma dupla percepção: nova compreensão da Palavra (que não teria

sido possível sem o impacto da realidade científica analisada) e nova

percepçãoda realidade (que não seria possível sem a Palavra

iluminadora de Deus) [...] o específico da TdL consiste na articulação

de três elementos: realidade analisada por instrumentos sociais, a

Revelação e a práxis (LIBÂNIO.1987.p. 219).

Esses três elementos: realidade analisada, Revelação e a práxis, se configuram

como elementos basilares para o método da TdL. Este é formado pelo conhecido tripé:

Ver, Julgar e Agir. Essa teologia entende o Ver como a busca por compreender o

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contexto, sua estrutura social, seus sistemas políticos, “este primeiro momento refere-se

ao olhar interpretativo da realidade social, não somente a partir dela, mas de dentro

dela” (SANCHES, 2009.p. 47).

O Julgar é o processo no qual a realidade social e suas demandas são

interpretadas, lidas, julgadas pela Revelação. Este ato se faz visando compreender o que

se deve fazer e como se deve agir, o conceito que Murad(1994) nomeia de “Revelação

inter-ativa”, ajuda-nos a compreender o significado do julgar; para esse autor a

Revelação é apresentada como tendo o objetivo de transformar as pessoas e orientar a

vida delas no mundo, sua compreensão fundamenta-se no fato de ter sido, ela (a

Revelação), encarnada na história da humanidade e ter manifestado a vontade e Reino

de Deus na realidade humana, por isso sua relação com a realidade atual não pode ser

diferente, deve ser igualmente encarnada e “inter-ativa”.

O Agir é o resultado obtido dos dois primeiros pontos basilares do método da

TdL, segundo Gutiérrez: “A sensibilidade aos novos desafios implica mudanças em

nosso enfoque sobre caminhos a seguir para superar autenticamente os conflitos sociais

[...] e construir – como exige a mensagem cristã – um mundo justo e fraterno.”

(2000.p.22)Nota-se que esse agir visa construir um mundo “justo e fraterno”, e faz isso

a partir da leitura do contexto, “sensibilidade aos novos desafios”, e do texto “como

exige a mensagem cristã”.

Deve-se destacar que o método da TdL acontece em uma dinâmica circular; ao

chegar no Agir, a TdL remete essa ação a novos Veres e Julgamentos, que resultam em

novas ações. Sanches destaca esse fato afirmando que o resultado desse processo

teológico, o Agir: “Não é o momento derradeiro, pois a teologia da libertação é teologia

sempre aberta a se refazer. Este ponto remeterá novamente para o primeiro, onde o

processo se renova.” (SANCHES, 2009.p.51).

A partir do que foi até aqui esboçado pode-se montar um quadro de comparação

da metodologia da MI e da TdL que se apresenta da seguinte forma:

Quadro 7- Comparação entre a metodologia da MI e TdL

Metodologia da MI Metodologia da TdL

Contexto Ver

Palavra de Deus Julgar

Missão Agir

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Quanto ao método, a TdL e a M.I. estão muito próximas. Embora existam

diferenças entre as duas teologias, constata-se que ambos os métodos possuem a mesma

estrutura e dinâmica (círculo hermenêutico), e consideram os mesmos elementos em seu

fazer teológico (texto, contexto, e práxis) configurando-se assim como hermenêuticas

contextuais.

A partir desse fato, a hipótese que se apresenta, com um caminho que explica a

aproximação e vivência da pela PIBSP dos conceitos de desenvolvimento e Justiça da

M.I., é que por mais que a igreja e o pastor não tenham um conhecimento teórico da

M.I., a dinâmica da metodologia desta foi vivenciada pela igreja. A PIBSP ouviu os

clamores de seu contexto, e baseada na Bíblia, ofereceu respostas a este.

E, ao que tudo indica, este fato aconteceu por ter o pastor Paulo Eduardo, em seu

ministério,fortes traços da metodologia da TdL, no que se refere à sua postura de

valorização do contexto e da práxis eclesiástica frente a essa realidade. E também por

ter a PIBSP ouvido os clamores de seu contexto e ter tido a mesma postura

hermenêutica contextual presente na TdL e consequentemente da M.I..

Outra hipótese que pode ser levantada para justificar tal aproximação é que a

PIBSP vivencia o evangelho de Cristo, pois segundo Gouvêa:“Missão integral é o

próprio evangelho” (2011.p.140) configurando-se assim apenas como um outro nome

para o próprio evangelho, não pretendendo ser nada além, ou aquém do próprio

evangelho,mas uma forma de reação aos conceitos que fracionam o evangelho limitando

sua relevância e eficácia para os dias atuais.

Gouvêa ainda afirma que “Na verdade só há uma missão em Cristo; aquela que

inclui a integralidade daquilo que o Evangelho representa” (2011.p.141) Portanto, os

conceitos que não contemplam a integralidade da missão, a “Missão Parcial”, segundo

Gouvêa (2011) simplesmente não são missão cristã, mas uma deformação perigosa da

missão, uma distorção alienante e opressora. Não é evangelho porque não é integral, e

se não é integral é porque não é evangelho, uma vez que se sabe que para ser evangelho

tem de ser Integral.

Dentro dessa hipótese todas as aproximações entre a PIBSP e o conceito de

desenvolvimento e justiça aconteceram pelo fato de esta igreja fundamentar sua práxis

no evangelho, que é integral, e que impulsiona a Igreja para uma Missão Integral.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação buscou pesquisar o conceito de desenvolvimento e justiça à luz

da M.I. e estabelecer uma análise crítica da presença desta teologia e de sua práxis no

solo paulistano. Fez-se isto tomando como sujeito de pesquisa a PIBSP e o bairro

Campos Elíseos, localizado na região central da cidade de São Paulo.

O primeiro capítulo se dedicou inicialmente a apresentar a história de como

surgiu a M.I. Este percurso foi traçado via vertentes formadoras e congressos. Na

primeira parte pôde-se ver que, ao buscar as origens da M.I. no Protestantismo norte-

americano do séc. XIX. É possível ver que ele era composto por três vertentes

principais, a saber: puritanismo inglês, pietismo moraviano e os avivamentos;a estes era

dado o título de protestantes.

Depois do caso Scopes, esse grupo passou por uma cisão, que resultou na

polarização de dois movimentos, de um lado estavam os fundamentalistas e do outro os

protestantes/liberais. Um terceiro grupo surgiu como uma proposta de ser um meio

termo entre os dois extremos, estes eram os evangélicos. Eles não abandonaram a

teologia dos fundamentalistas, porém buscaram uma postura mais aberta para o diálogo

com o seu tempo.

Os evangélicos vieram para a América Latina e iniciaram o processo de

evangelização, porém, como mantiveram a postura dos fundamentalistas quanto às

questões sobre responsabilidade da Igreja frente às questões sociais, um grupo de latino-

americanos, ouvindo os clamores de seu contexto, e não encontrando um diálogo entre a

teologia que lhes fora ensinada e suas realidades socioculturais, e tendo como um outro

extremo, a essa teologia a TdL, esse grupo de pastores deu origem a um movimento que

inicialmente foi chamado de evangelical. E foi neste grupo que começou a se pensar em

uma M.I..

A partir desta análise pode-se afirmar que a M.I. é uma teologia evangélica

protestante latino-americana, pois em nenhum momento de sua trajetória histórica, via

vertentes formadoras, é possível identificar raízes que se fincam em grupos que

abandonaram os princípios protestantes evangélicos. Porém nota-se a vinculação da

M.I. com os movimentos que buscam o equilíbrio entre os extremos. No caso dos

evangélicos, o meio termo entre fundamentalistas e liberais, e no caso dos evangelicais,

um equilíbrio entre evangélicos e TdL. Com isso a M.I. se configura como uma teologia

que é evangélica, mas que contempla o contexto no seu fazer teológico e missional.

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A linha histórica foi também traçada via congressos, partindo do primeiro

Congresso mundial de Evangelização, em Berlim até o CLADE V. Ao observá-los foi

possível notar a forma como a teologia da M.I. foi surgindo, e também a forma como

esses congressos desenvolveram o conteúdo dessa teologia, seus desdobramentos e as

aberturas para novos temas e questões.

Constatou-se a importância da FTL dentro da história da M.I., pois esta não foi

apenas organizadora dos congressos, mas o agente responsável por fazer com que as

questões sociais e contextuais latino-americanas fossem ouvidas e tratadas nos

encontros (iniciando em Lausanne e até o CLADE V) e no conteúdo publicado por seus

membros.

Foi aferido o motivo pelo qual o Congresso de Lausanne é tido como o marco da

M.I. O congresso recebeu este título por ter sido uma mola propulsora que apresentou a

nível mundial as questões que os teólogos da M.I. levantaram. Este título também foi

dado ao encontro de Lausanne por ele ter produzido, por meio do congresso e do

documento final, ecos que influenciaram em todos os CLADEs seguintes.

Algo que se pôde verificar nos congressos, foi que a teologia da M.I. não é

engessada; ela sempre está a refazer-se e a responder a novos questionamentos

apresentados pelas vozes daqueles que falam no, e a partir de seu, contexto.

Ainda no primeiro capítulo, foi trabalhado o método da M.I., o círculo

hermenêutico, que apresenta a estrutura da reflexão e da práxisda M.I.. Este círculo é

composto por três elementos principais, a saber: texto, contexto e missão. O texto é lido

a partir do contexto, e o contexto é lido a partir do texto; do diálogo entre esses dois

horizontes surge a missão da igreja. Quando texto e contexto são lidos de maneira

integral, nasce uma missão igualmente integral.

Ao observar este círculo hermenêutico constatou-se que ele é contínuo e está

sempre a refazer a missão. Este fato traz luz sobre a realidade vista nos congressos, nos

quais é possível notar uma abrangência cada vez maior de temas levantados pelo

contexto; é este círculo contínuo que não permite que a teologia e a práxis da M.I. se

engesse.

E como última parte do primeiro capítulo foi apresentada a máxima da M.I. (“o

evangelho todo, para todo homem, e para todos os homens”) e seus significados. A

partir dessa exposição pode-se obter uma compreensão sobre o que de fato é M.I.: “uma

teologia bíblica do evangelho”; “uma interpretação da grande comissão a luz do

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mandato sociocultural”; “a Missão da Igreja e a teologia que serve à Igreja”; e “o

próprio evangelho”.

O segundo capítulo ocupou-se em tratar as questões “o que é desenvolvimento e

justiça?” e “qual é a relação desse enfoque da M.I. com os demais apresentados por

René Padilha?”. Padilla(1994) apresenta a M.I. composta de três enfoques:

Evangelização e Discipulado; Colaboração e unidade, desenvolvimento e justiça.

Ao abordar o tema “justiça” foi tomada como sua matriz conceitual o Reino de

Deus, e a partir dele é possível afirmar que esse conceito (justiça) carrega o significado

de promoção de paz e justas relações. Ao apresentá-la como parte da missão da igreja

esse fato traz a implicação de ser a igreja a responsável por responder às realidades

socioeconômicas e políticas de seu contexto.

A M.I. entende que o desafio colocado a todos os cristãos é o de “redescobrir o

poder transformador do Reino e da justiça de Deus no meio dos reinos deste

mundo.”(ZWETSCH,2008.p.204), A justiça portanto é este ato com o qual a igreja se

levanta em uma atitude profética contra as relações injustas, e confessa Jesus como

Senhor dos senhores, denunciando os males sociais causados pelo pecado, proclamando

a partir de seu estilo de vida a centralidade do reino de Deus, como uma comunidade

marcada pela justiça, e que busca a paz para todos os seres humanos.

Como dito anteriormente, no conceito de Padilla sobre justiça, a Igreja deve não

somente buscar a justiça para os outros, mas antes, praticá-la, e esta deve abranger não

somente o indivíduo, mas deve também alcançar estruturas sociais, tais como: sistema

penitenciário, econômico, político, dentre outros, sabendo que o meio para se alcançar

essas estruturas muitas vezes requer ações políticas, que devem ser coerentes com os

princípios bíblicos. Na compreensão da M.I. essas ações são indispensáveis para que

possa haver uma facilitação para a libertação humana da pobreza e da opressão, para

que se possa instaurar a justiça.

Ao tratar o desenvolvimento, o presente trabalho destacou que este conceito

dentro a M.I. é diferente da ideia de simplesmente acúmulo de bens materiais, e muito

mais abrangente que o resultado obtido por projetos assistencialistas. A hipótese

levantada é que, dentro da M.I., esse conceito se refere a um desenvolvimento humano,

social e sustentável, e possui como sua base o capital humano, social, natural e a boa

governança, estes são elementos basilares, sem os quais o desenvolvimento não é

possível. Ou seja, falar sobre desenvolvimento na M.I. é falar de um desenvolvimento

integral.

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Tendo sido compreendidos os conceitos de justiça e desenvolvimento, buscou-se

responder às perguntas “de quem é a responsabilidade de promover a justiça e o

desenvolvimento? E como promovê-los?”.

Embora existam aqueles que atribuam apenas ao Estado a responsabilidade de

buscar e promover o desenvolvimento e a justiça, ao trabalhar esses conceitos dentro da

visão de Paula (2008) observa-se que as sociedades e comunidades que obtiveram um

desenvolvimento significativo tiveram a cooperação e parceria entre Estado, Mercado

(entendido aqui como o conjunto dos agentes econômicos) e Sociedade (entendida aqui

como o conjunto das organizações sociais, de todo tipo) (PAULA,2008.p.194).

Sendo a Igreja uma organização social, seu papel como comunidade local é

indispensável no processo de desenvolvimento, pois ela sendo composta por pessoas

que vivenciam os dramas sociais, possui os elementos fundamentais para lutar e

combater a falta de desenvolvimento e injustiça sentida por seus membros e em seu

contexto. Portanto a igreja como uma organização local possui sim uma contribuição a

ser feita para o desenvolvimento e a justiça.

No âmbito teológico, a M.I. entende que os problemas sociais têm suas raízes na

pecaminosidade da raça humana, que resulta tanto em pecados individuais como em

pecados sociais e estruturais. A partir dessa compreensão a igreja possui a

responsabilidade de oferecer uma resposta a essa realidade; esta deve transcender a

proclamação verbal e chegar ao comprometimento com as demandas sociais. Dessa

forma conclui-se que a Igreja possui a missão de se engajar como expressão do reino em

todas as relações humanas, sejam estas sociais, ambientais ou religiosas, tendo como

parte de sua missão o desenvolvimento e a justiça.

O caminho apresentado para que a igreja realize essa parte de sua missão possui

três faces, e são elas: assistência social, serviço social e ação social, sendo que cada uma

dessas é tida como dotada de valor e importância dentro do processo de busca por

desenvolvimento e justiça, podendo acontecer de forma independente ou conjugada,

sequencial ou alternada.

Ao relacionar esse enfoque da missão (desenvolvimento e justiça) com os

demais, pode-se notar que todos eles possuem uma forte ligação e dão sustentação um

ao outro. Esse fato pode ser constatado desde os conceitos de evangelização e

discipulado, ao enfoque de colaboração e unidade, destacando assim a necessidade de

uma missão que seja integral.

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Tratando a questão da evangelização frente ao Desenvolvimento e a justiça,

constatou-se que é possível afirmar três tipos de relacionamento existentes entre eles, a

saber:“consequência” (no qual o desenvolvimento e a justiça são tidos como

consequências da evangelização); “ponte”(no qual desenvolvimento e justiça são vistos

como ponte para que o evangelho chegue as pessoas): e “parceria” ( no qual ambos são

vistas como parceiros na obra missionária).

A partir desse fato a hipótese levantada é que a evangelização dentro da M.I.

possui um aspecto social, mesmo sem possuir uma intenção primordialmente social. E o

mesmo pode-se dizer sobre a responsabilidade social; esta possui implicações

evangelísticas até quando não tem isto como objetivo primeiro.

O discipulado, por sua vez, se configura como um elemento fundamental pelo

qual a igreja busca o desenvolvimento e a justiça. A partir de uma releitura da “grande

comissão” apresenta-se o discipulado como a causa de uma igreja enraizada na

comunidade global dos seres humanos que dialoga com sua realidade e trabalha para

que os seres humanos possam ter uma vida justa e digna. Fazer discípulos é expandir o

reinado de Deus, é ter mais pessoas vivendo debaixo de princípios de justiça e também

buscando o desenvolvimento.

Quanto à colaboração e à unidade frente à sua relação com o desenvolvimento e

justiça, constatou-se que eles (colaboração e unidade) estão para estes, como elementos

necessários para que a igreja cumpra sua missão de proclamar do evangelho todo, para

todo homem, e para todos os homens. Uma vez compreendida que essa é a missão da

igreja, deve-se considerar a impossibilidade do cumprimento de tal missão a partir de

uma eclesiologia isolacionista individualista.

Para proclamar o evangelho todo faz-se necessário que os múltiplos olhares das

igrejas sobre o evangelho, a partir de seus contextos, sejam unidos e partilhados. Para o

alcance de todo o ser humano e de toda a humanidade, torna-se indispensável que as

inúmeras igrejas locais ajam a partir da cooperação como igreja universal visando a

proclamação do Reino de Deus. Dessa forma, se compreende a cooperação e a unidade

como elementos necessários, basilares para que a igreja proclame e busque a justiça e o

desenvolvimento presentes na missão da Igreja.

Portanto ao analisar cada um dos enfoques da M.I. foi possível notar que a sua

teologia se configura com integral e ampla, pois sua abrangência visa alcançar a

totalidade da realidade humana.

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Após terem sido apresentados a M.I. e o conceito de desenvolvimento e justiça,

o terceiro capítulo dedicou-se a analisar a presença de ambos nos solos paulistanos. Para

tal análise tomou-se como sujeito de pesquisa a PIBSP e o contexto no qual está

inserida, em Campos Elíseos, região central de São Paulo.

Após um esboço do processo de transformação social do centro, fez-se ouvir os

clamores que aquele contexto faz à igreja. É possível afirmar que estes não estão

relacionados a questões de infraestrutura (saneamento básico, transporte, etc), mas às

pessoas em situação de rua e dependentes químicos, pessoas que vivem debaixo de uma

opressão social e/ou espiritual, e que se deparam com o seu extremo oposto diariamente.

Estes se apresentam como desafios, clamores, e por que não dizer, missão da PIBSP.

Tendo sido apresentado esse contexto, realizou-se uma análise da PIBSP

buscando encontrar aproximação da práxis e da teologia dessa igreja com o conceito de

desenvolvimento e a Justiça da MI. Essa análise se deu por meio de um roteiro de

entrevistas preenchidos por doze membros e o seu pastor titular. Também foram

utilizados boletins, artigos publicados no Jornal Comunhão, atas de assembleia, site da

igreja e outros que se relacionavam de forma direta com as ações missionárias com as

quais a igreja esteve, ou está envolvida,

A primeira parte dessa análise se empenhou em apresentar o passado da igreja e

a partir de um panorama histórico, destacou-se uma forte participação da PIBSP na

realidade batista da Cidade e do Estado de São Paulo, devido à sua ação de implantação

e apoio de igrejas na região. Pode-se perceber também que a PIBSP nasceu e cresceu

na região central de São Paulo, experimentando assim todas as transformações ocorridas

no centro.

A relação da igreja com seu contexto foi dialógica, pois é possível ver já no

ministério do pastor Irland P. Azevedo ações que respondiam aos clamores específicos

da região, leituras das mudanças que ocorriam, e sinalizações para uma implantação de

programas de reavaliação da visão, da missão e dos objetivos da igreja que

considerassem as mudanças socioeconômicas pelas quais a cidade de São Paulo estava

passando.

Pode-se afirmar que por meio do pastor Irland Pereira de Azevedo a PIBSP teve

contato com os princípios da M.I., uma vez que compreende-se o 2º Congresso Mundial

de Evangelização de Lausanne como a mola propulsora da M.I., e seu pacto, o PL,

como o “marco da Missão Integral” (GONDIM, 2010, p.83).Tendo sido este pastor um

dos participantes desse congresso, pode-se ver essa aproximação entre a PIBSP e a M.I..

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E deve-se destacar, mesmo que a partir de um breve esboço das ações, que a igreja

possuía atividades que respondiam à integralidade humana físico-sócio-espiritual.

Ao analisar o presente da PIBSP contatou-se que, quanto à sua teologia, esta

possui uma grande aproximação da M.I., o que pode ser notado desde as posições

apresentadas nos veículos de comunicação da igreja, como também através das

entrevistas dos membros e do pastor; em todas essas instâncias nota-se que questões

relacionadas à responsabilidade social, ao desenvolvimento e à justiça são

compreendidas como parte da missão da igreja.

Deve-se destacar que existem diferenças quanto à questão da primazia, ou não,

da evangelização frente às ações sociais, porém, apesar da diferença, que não pode ser

tida como um distanciamento da M.I., nota-se que a igreja contempla todos os

elementos apresentados pela M.I. em sua teologia. Quanto a sua visão sobre a

responsabilidade social, vê-se um consenso que compreende a PIBSP com a

responsabilidade de trabalhar para o desenvolvimento e a justiça por meio de ações

sociais que sinalizem o Reino de Deus no contexto onde está inserida.

Ao analisar a práxis presente da PIBSP pode-se ver que existe também uma

aproximação da M.I.. Ações como Cristolândia, Ajuda financeira, Capelania hospitalar

e prisional, gerenciando o futuro, programa viva leite e participação da rede centro,

trazem uma práxis de assistência social, serviço social e ação social. Sendo elas, formas

de gerir e gerar o desenvolvimento e a justiça pode-se dizer que a prática missionária da

PIBSP possui uma grande proximidade dos conceitos da M.I.

Portanto, respondendo a pergunta central deste trabalho, que busca encontrar o

Desenvolvimento e Justiça na M.I. no solo paulistano, a partir da PIBSP, o que se pode

afirmar, com base nos dados e resultados obtidos, é que a igreja pesquisada em sua

teologia, sobre a missão da igreja (missiologia), e em sua práxis, possui muita

proximidade com a M.I., contemplando todos os aspectos apresentados nesta teologia.

Reconhece-se que existe uma diferença entre os entrevistados quanto a participação e

compreensão de alguns pontos em detrimento de outros, como se pôde constatar ao se

comparar questões relacionadas à “evangelização e assistência social” com “serviço e

ação social”, nota-se que quanto às duas primeiras existe uma assimilação e um

engajamento maior do que os vistos nos aspectos posteriores.

Em síntese pode-se dizer que ao analisar os conceitos presentes na estrutura da

PIBSP e sua práxis (por meio das ações identificadas na igreja e citadas pelos

participantes da pesquisa), identifica-se uma grande aproximação entre a igreja e os

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conceitos de desenvolvimento e justiça da M.I.. Na PIBSP pode-se identificar um olhar

holístico tanto para o evangelho (Bíblia), com também para o ser humano e a

humanidade.

Ao constatar essa aproximação não está sendo dito que a igreja realiza de forma

plena e perfeita sua missão, nem que todos da igreja compreendam e vivenciem um

engajamento na missão de buscar, e manifestar, o desenvolvimento e justiça. Para tal

afirmação seria necessário um estudo mais abrangente e profundo.

A partir desse fato questiona-se a origem dessa aproximação. Teria a MI

influenciado a PIBSP a ponto de moldar sua visão e práxis de maneira tão significativa?

Qual seria a hipótese mais plausível para justificar essa aproximação? O último

subtópico desse capítulo se dedicou a responder esses questionamentos sobre a raiz da

missão da PIBSP.

A hipótese que se apresentou, como um caminho para justificar a aproximação e

vivência pela PIBSP dos conceitos de desenvolvimento e Justiça da M.I. é que embora a

igreja e o pastor não tenham um conhecimento teórico da M.I., a dinâmica da

metodologia desta foi vivenciada pela igreja.A PIBSP ouviu os clamores de seu

contexto, e baseada na Bíblia, ofereceu respostas a este. Quanto à origem dessa práxis

da metodologia na missão a hipótese que se sugeriu é que este fato aconteceu por ter, o

pastor Paulo Eduardo, em seu ministério fortes traços da metodologia da TdL, no que se

refere à sua postura de valorização do contexto e da práxis eclesiástica frente a essa

realidade.

Dessa forma a PIBSP, sendo pastoreada pelo Pr. Paulo, desenvolveu uma práxis

ministerial que acontece dentro da lógica da hermenêutica contextual presente na TdL, e

uma vez que essa possui muitos pontos em comum com a M.I., no que diz respeito ao

método, é possível identificar um resultado, uma práxis, uma missão, muito próxima, da

TdL e da MI, e consequentemente da PIBSP.

Outra hipótese que pode ser levantada para justificar tal aproximação é que a

PIBSP vivencia o evangelho de Cristo pois segundo Gouvêa: “Missão integral é o

próprio evangelho” (2011.p.140) configurando-se assim apenas como um outro nome

para o próprio evangelho, não pretendendo ser nada além, ou aquém do próprio

evangelho,mas uma forma de reação aos conceitos que fracionam o evangelho limitando

sua relevância e eficácia para os dias atuais.

Gouvêa ainda afirma que “Na verdade só há uma missão em Cristo; aquela que

inclui a integralidade daquilo que o Evangelho representa” (2011.p.141) Portanto, como

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já foi dito, os conceitos que não contemplam a integralidade da missão, a “Missão

Parcial”, segundo Gouvêa (2011) simplesmente não são missão cristã, mas uma

deformação perigosa da missão, uma distorção alienante e opressora. Não é evangelho

porque não é integral, e se não é integral é porque não é evangelho, uma vez que sabe-se

que para ser evangelho tem de ser integral.

Dentro dessa hipótese todas as aproximações entre a PIBSP e os conceitos de

desenvolvimento e justiça da M.I. aconteceram pelo fato de essa igreja fundamentar sua

práxis no evangelho, que é integral e que impulsiona a Igreja para uma Missão também

Integral.

Porém após esse estudo novos horizontes repletos de novos questionamentos se

abrem. Embora tenha sido apresentada a questão do método da M.I., de forma resumida

e introdutória, faz-se necessário um estudo mais aprofundado que investigue e delimite

suas extensões e encontre suas raízes. Também questiona-se qual seria a real distância

entre a TdL e a M.I..

Olhando para a PIBSP e analisando sua teologia e práxis, e o alinhamento dessa

com a visão do pastor, surge uma indagação sobre a importância da filosofia ministerial

do pastor na vivência da M.I. dentro de uma igreja.Seria esse o único elemento

determinante para a igreja implementar práticas de desenvolvimento e justiça? Ou

outros elementos seriam necessários para que isso acontecesse?

De maneira mais específica, pode-se pesquisar a influência que o Congresso

Mundial de Evangelização causou no ministério do Pr. Irland Pereira de Azevedo e na

PIBSP, fazendo um paralelo entre os enfoques ministeriais da Igreja e do pastor antes e

depois de Lausanne, para que com isso seja possível ver quais são os ecos que ainda

podem ser ouvidos na práxis e na teologia da PIBSP.

Portanto termino essa dissertação não com um ponto final, mas sim com uma

vírgula, pois no que se refere a responsabilidade da igreja frente ao desenvolvimento e a

justiça, pode-se dizer que ela está sempre a se refazer, já que o contexto sempre

apresentará novos desafios e fará novos clamores. Frente a essa realidade apreendida

nessa pesquisa, o desafio que se apresenta é que todos nós, pesquisadores ou pastores,

ao refletirmos sobre missão da igreja, possamos desenvolver uma teologia não no

silêncio dos gabinetes e salas, mas em meio aos clamores das ruas, pois estes sempre

nos desafiam a repensar e a reagir, pois clamam por uma Missão Integral.

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ANEXOS

Anexo 1

PACTO DE LAUSANNE

INTRODUÇÃO

Nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de 150 nações,

participantes do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, em Lausanne,

louvamos a Deus por sua grande salvação, e regozijamo-nos com a comunhão que, por

graça dele mesmo, podemos ter com ele e uns com os outros. Estamos profundamente

tocados pelo que Deus vem fazendo em nossos dias, movidos ao arrependimento por

nossos fracassos e desafiados pela tarefa inacabada da evangelização. Acreditamos que

o evangelho são as boas novas de Deus para todo o mundo, e por sua graça, decidimo-

nos a obedecer ao mandamento de Cristo de proclamá-lo a toda a humanidade e fazer

discípulos de todas as nações. Desejamos, portanto, reafirmar a nossa fé e a nossa

resolução, e tornar público o nosso pacto.

1. O Propósito de Deus

Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do Mundo,

Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua

vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo

como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e

também para a glória do seu nome. Confessamos, envergonhados, que muitas vezes

negamos o nosso chamado e falhamos em nossa missão, em razão de nos termos

conformado ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. Contudo, regozijamo-

nos com o fato de que, mesmo transportado em vasos de barro, o evangelho continua

sendo um tesouro precioso. À tarefa de tornar esse tesouro conhecido, no poder do

Espírito Santo, desejamos dedicar-nos novamente.

2. A Autoridade e o Poder da Bíblia

Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do

Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus

escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e a única regra infalível de fé e prática.

Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito de

salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade, pois a revelação de

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Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje.

Ele ilumina as mentes do povo de Deus em toda cultura, de modo a perceberem a sua

verdade, de maneira sempre nova, com os próprios olhos, e assim revela a toda a igreja

uma porção cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus.

3. A Unicidade e a Universalidade de Cristo

Afirmamos que há um só Salvador e um só evangelho, embora exista uma ampla

variedade de maneiras de se realizar a obra de evangelização. Reconhecemos que todos

os homens têm algum conhecimento de Deus através da revelação geral de Deus na

natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua

injustiça, suprimem a verdade. Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do

evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou de diálogo cujo pressuposto seja o de

que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias. Jesus Cristo, sendo

ele próprio o único Deus-homem, que se ofereceu a si mesmo como único resgate pelos

pecadores, é o único mediador entre Deus e os homens. Não existe nenhum outro nome

pelo qual importa que sejamos salvos. Todos os homens estão perecendo por causa do

pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que nenhum pereça, mas que todos

se arrependam. Entretanto, os que rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e

condenam-se à separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como "o Salvador do

mundo" não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao final de tudo, serão

salvos; e muito menos que todas as religiões ofereçam salvação em Cristo. Trata-se

antes de proclamar o amor de Deus por um mundo de pecadores e convidar todos os

homens a se entregarem a ele como Salvador e Senhor no sincero compromisso pessoal

de arrependimento e fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todo e qualquer nome. Anelamos

pelo dia em que todo joelho se dobrará diante dele e toda língua o confessará como

Senhor.

4. A Natureza da Evangelização

Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos

pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, ele agora

oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se

arrependem e creem. A nossa presença cristã no mundo é indispensável à

evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de diálogo cujo propósito é ouvir com

sensibilidade, a fim de compreender. Mas a evangelização propriamente dita é a

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proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o intuito de

persuadir as pessoas a vir a ele pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus. Ao

fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do

discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e negarem-se a si

mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados

da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço

responsável no mundo.

5. A Responsabilidade Social Cristã

Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto,

devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade

humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade

foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura,

classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser

respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa

negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social

mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação

com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação,

afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do

nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca

de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus

Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda

forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de

denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo,

nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar, mas também

divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos

possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais

e sociais. A fé sem obras é morta.

6. A Igreja e a Evangelização

Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como o Pai

o enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrificial.

Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade não-cristã. Na

missão de serviço sacrificial da igreja a evangelização é primordial. A evangelização

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mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo. A igreja

ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, e é o agente que ele

promoveu para difundir o evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela

própria, ser marcada pela Cruz. Ela torna-se uma pedra de tropeço para a evangelização

quando trai o evangelho ou quando lhe falta uma fé viva em Deus, um amor genuíno

pelas pessoas, ou uma honestidade escrupulosa em todas as coisas, inclusive em

promoção e finanças. A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que uma

instituição, e não pode ser identificada com qualquer cultura em particular, nem com

qualquer sistema social ou político, nem com ideologias humanas.

7. Cooperação na Evangelização

Afirmamos que é propósito de Deus haver na igreja uma unidade visível de

pensamento quanto à verdade. A evangelização também nos convoca à unidade, porque

o ser um só corpo reforça o nosso testemunho, assim como a nossa desunião enfraquece

o nosso evangelho de reconciliação. Reconhecemos, entretanto, que a unidade

organizacional pode tomar muitas formas e não ativa necessariamente a evangelização.

Contudo, nós, que partilhamos a mesma fé bíblica, devemos estar intimamente unidos

na comunhão uns com os outros, nas obras e no testemunho. Confessamos que o nosso

testemunho, algumas vezes, tem sido manchado por pecaminoso individualismo e

desnecessária duplicação de esforço. Empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais

profunda na verdade, na adoração, na santidade e na missão. Instamos para que se

apresse o desenvolvimento de uma cooperação regional e funcional para maior

amplitude da missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento

mútuo, e para o compartilhamento de recursos e de experiências.

8. Esforço Conjugado de Igrejas na Evangelização

Regozijamo-nos com o alvorecer de uma nova era missionária. O papel

dominante das missões ocidentais está desaparecendo rapidamente. Deus está

levantando das igrejas mais jovens um grande e novo recurso para a evangelização

mundial, demonstrando assim que a responsabilidade de evangelizar pertence a todo o

corpo de Cristo. Todas as igrejas, portando, devem perguntar a Deus, e a si próprias, o

que deveriam estar fazendo tanto para alcançar suas próprias áreas como para enviar

missionários a outras partes do mundo. Deve ser permanente o processo de reavaliação

da nossa responsabilidade e atuação missionária. Assim, haverá um crescente esforço

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conjugado pelas igrejas, o que revelará com maior clareza o caráter universal da igreja

de Cristo. Também agradecemos a Deus pela existência de instituições que laboram na

tradução da Bíblia, na educação teológica, no uso dos meios de comunicação de massa,

na literatura cristã, na evangelização, em missões, no avivamento de igrejas e em outros

campos especializados. Elas também devem empenhar-se em constante auto-exame que

as levem a uma avaliação correta de sua efetividade como parte da missão da igreja.

9. Urgência da Tarefa Evangelística

Mais de dois bilhões e setecentos milhões de pessoas, ou seja, mais de dois

terços da humanidade, ainda estão por serem evangelizadas. Causa-nos vergonha ver

tanta gente esquecida; continua sendo uma reprimenda para nós e para toda a igreja.

Existe agora, entretanto, em muitas partes do mundo, uma receptividade sem

precedentes ao Senhor Jesus Cristo. Estamos convencidos de que esta é a ocasião para

que as igrejas e as instituições para-eclesiásticas orem com seriedade pela salvação dos

não-alcançados e se lancem em novos esforços para realizarem a evangelização

mundial. A redução de missionários estrangeiros e de dinheiro num país evangelizado

algumas vezes talvez seja necessária para facilitar o crescimento da igreja nacional em

autonomia, e para liberar recursos para áreas ainda não evangelizadas. Deve haver um

fluxo cada vez mais livre de missionários entre os seis continentes num espírito de

abnegação e prontidão em servir. O alvo deve ser o de conseguir por todos os meios

possíveis e no menor espaço de tempo, que toda pessoa tenha a oportunidade de ouvir,

de compreender e de receber as boas novas. Não podemos esperar atingir esse alvo sem

sacrifício. Todos nós estamos chocados com a pobreza de milhões de pessoas, e

conturbados pelas injustiças que a provocam. Aqueles dentre nós que vivem em meio à

opulência aceitam como obrigação sua desenvolver um estilo de vida simples a fim de

contribuir mais generosamente tanto para aliviar os necessitados como para a

evangelização deles.

10. Evangelização e Cultura

O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer

metodologia nova e criativa. Com a bênção de Deus, o resultado será o surgimento de

igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura

local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é

criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele

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experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é

demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra,

mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na

aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões muitas vezes

têm exportado, juntamente com o evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por

vezes, têm ficado submissas aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às

Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de

tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as

igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus.

11. Educação e Liderança

Confessamos que às vezes temos nos empenhado em conseguir o crescimento

numérico da igreja em detrimento do espiritual, divorciando a evangelização da

edificação dos crentes. Também reconhecemos que algumas de nossas missões têm sido

muito remissas em treinar e incentivar líderes nacionais a assumirem suas justas

responsabilidades. Contudo, apoiamos integralmente os princípios que regem a

formação de uma igreja de fato nacional, e ardentemente desejamos que toda a igreja

tenha líderes nacionais que manifestem um estilo cristão de liderança não em termos de

domínio, mas de serviço. Reconhecemos que há uma grande necessidade de

desenvolver a educação teológica, especialmente para líderes eclesiásticos. Em toda

nação e em toda cultura deve haver um eficiente programa de treinamento para pastores

e leigos em doutrina, em discipulado, em evangelização, em edificação e em serviço.

Este treinamento não deve depender de uma metodologia estereotipada, mas deve se

desenvolver a partir de iniciativas locais criativas, de acordo com os padrões bíblicos.

12. Conflito Espiritual

Cremos que estamos empenhados num permanente conflito espiritual com os

principados e potestades do mal, que querem destruir a igreja e frustrar sua tarefa de

evangelização mundial. Sabemos da necessidade de nos revestirmos da armadura de

Deus e combater esta batalha com as armas espirituais da verdade e da oração. Pois

percebemos a atividade no nosso inimigo, não somente nas falsas ideologias fora da

igreja, mas também dentro dela em falsos evangelhos que torcem as Escrituras e

colocam o homem no lugar de Deus. Precisamos tanto de vigilância como de

discernimento para salvaguardar o evangelho bíblico. Reconhecemos que nós mesmos

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não somos imunes à aceitação do mundanismo em nossos atos e ações, ou seja, ao

perigo de capitularmos ao secularismo. Por exemplo, embora tendo à nossa disposição

pesquisas bem preparadas, valiosas, sobre o crescimento da igreja, tanto no sentido

numérico como espiritual, às vezes não as temos utilizado. Por outro lado, por vezes

tem acontecido que, na ânsia de conseguir resultados para o evangelho, temos

comprometido a nossa mensagem, temos manipulado os nossos ouvintes com técnicas

de pressão, e temos estado excessivamente preocupados com as estatísticas, e até

mesmo utilizando-as de forma desonesta. Tudo isto é mundano. A igreja deve estar no

mundo; o mundo não deve estar na igreja.

13. Liberdade e Perseguição

É dever de toda nação, dever que foi estabelecido por Deus, assegurar

condições de paz, de justiça e de liberdade em que a igreja possa obedecer a Deus,

servir a Cristo Senhor e pregar o evangelho sem quaisquer interferências. Portanto,

oramos pelos líderes das nações e com eles instamos para que garantam a liberdade de

pensamento e de consciência, e a liberdade de praticar e propagar a religião, de acordo

com a vontade de Deus, e com o que vem expresso na Declaração Universal dos

Direitos Humanos. Também expressamos nossa profunda preocupação com todos os

que têm sido injustamente encarcerados, especialmente com nossos irmãos que estão

sofrendo por causa do seu testemunho do Senhor Jesus. Prometemos orar e trabalhar

pela libertação deles. Ao mesmo tempo, recusamo-nos a ser intimidados por sua

situação. Com a ajuda de Deus, nós também procuraremos nos opor a toda injustiça e

permanecer fiéis ao evangelho, seja a que custo for. Nós não nos esquecemos de que

Jesus nos preveniu de que a perseguição é inevitável.

14. O Poder do Espírito Santo

Cremos no poder do Espírito Santo. O pai enviou o seu Espírito para dar

testemunho do seu Filho. Sem o testemunho dele o nosso seria em vão. Convicção de

pecado, fé em Cristo, novo nascimento cristão, é tudo obra dele. De mais a mais, o

Espírito Santo é um Espírito missionário, de maneira que a evangelização deve surgir

espontaneamente numa igreja cheia do Espírito. A igreja que não é missionária

contradiz a si mesma e debela o Espírito. A evangelização mundial só se tornará

realidade quando o Espírito renovar a igreja na verdade, na sabedoria, na fé, na

santidade, no amor e no poder. Portanto, instamos com todos os cristãos para que orem

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pedindo pela visita do soberano Espírito de Deus, a fim de que o seu fruto todo apareça

em todo o seu povo, e que todos os seus dons enriqueçam o corpo de Cristo. Só então a

igreja inteira se tornará um instrumento adequado em Suas mãos, para que toda a terra

ouça a Sua voz.

15. O Retorno de Cristo

Cremos que Jesus Cristo voltará pessoal e visivelmente, em poder e glória, para

consumar a salvação e o juízo. Esta promessa de sua vinda é um estímulo ainda maior à

evangelização, pois lembramo-nos de que ele disse que o evangelho deve ser

primeiramente pregado a todas as nações. Acreditamos que o período que vai desde a

ascensão de Cristo até o seu retorno será preenchido com a missão do povo de Deus,

que não pode parar esta obra antes do Fim. Também nos lembramos da sua advertência

de que falsos cristos e falsos profetas apareceriam como precursores do Anticristo.

Portanto, rejeitamos como sendo apenas um sonho da vaidade humana a idéia de que o

homem possa algum dia construir uma utopia na terra. A nossa confiança cristã é a de

que Deus aperfeiçoará o seu reino, e aguardamos ansiosamente esse dia, e o novo céu e

a nova terra em que a justiça habitará e Deus reinará para sempre. Enquanto isso,

rededicamo-nos ao serviço de Cristo e dos homens em alegre submissão à sua

autoridade sobre a totalidade de nossas vidas.

CONCLUSÃO

Portanto, à luz desta nossa fé e resolução, firmamos um pacto solene com Deus, bem

como uns com os outros, de orar, planejar e trabalhar juntos pela evangelização de todo

o mundo. Instamos com outros para que se juntem a nós. Que Deus nos ajude por sua

graça e para a sua glória a sermos fiéis a este Pacto! Amém. Aleluia!

[Lausanne, Suíça, 1974]

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Anexo 2

CLADE I

Declaração evangélica de Bogotá

Os aqui reunidos, os crentes em Cristo, membros da diferentes comunidades

denominacionais que trabalham em nosso continente latino-americano, congregamo-nos

neste primeiro congresso latino-americano de evangelização no nome de Deus Pai, Deus

Filho e Deus Espírito Santo. Cremos que o próprio Espírito Santo tem nos guiado neste

encontro, com a finalidade de examinar de novo nossa missão evangelizadora a luz do

ensino Bíblico e da atual situação latino-americano.

Nossa presença neste congresso tem sido manifestação de nossa unidade em

Cristo, cuja natureza espiritual e não organizacional aprofunda suas raízes em nossa

comum herança evangeliza, fundamentadas nas verdades da bíblia cuja autoridade como

palavra de Deus iluminada pelo Espírito Santo afirmamos categoricamente.

Como conseqüência, esta declaração que apresentamos ao povo evangélico

latino-americano é expressão de um consenso no qual existe acordo no fundamental;

porém existe também lugar para diversidade que provem da multiforme graça de Deus

ao dar seus dons ao seu povo: diversidade dentro da unidade.

Esta declaração quer também refletir a tomada de consciência que nestes dias o

Senhor Jesus Cristo quer dar-nos fazendo-nos sentir o agudo da crise múltipla pela qual

atravessam nossos povos, e o caráter imperativo de seu mandado a evangelizar. Juntos

temos reconhecido a necessidade de viver plenamente o evangelho, proclamando-o em

sua totalidade ao home latino-americano no contexto de suas múltiplas necessidades

compartilhamos com um sentido de urgência o que o senhor Jesus Cristo tem nos

mostrado, porem sem tentar legislar na vida das igreja latino americanas. Convidamos

mais especificamente ao povo latino-americano a considerar e a estudar estas

declarações que expressão as convicções a que o senhor Jesus Cristo nos levou durante

o congresso.

Assim declaramos

1. A presença evangélica na America latina é fruto da ação de Deus por

meio de um imenso caudal de amor cristão, visão missionária, espírito de sacrifio,

trabalho, esforço tempo e dinheiro investido aqui pelas missões estrangeiras que tem

trabalhado a mais de um século, inclusive a obra das sociedades bíblicas. Esta visão da

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nossa historia deve, pelo menos, despertar em nos um espírito de gratidão pela obra

pioneira cuja dimensão reconhecemos. Ao mesmo tempo ao observar ate o futuro,

estamos conscientes das novas responsabilidades, novas tarefas e novas estruturas que

são verdadeiro desafio aos crescentes latinos americanos, e ao líder autóctone em todas

as dimensões do ministério.

2. A missão de anunciar o evangelho a toda criatura é um imperativo

claramente expressado na palavra de Deus. A evangelização não é algo optativo: é a

essência mesma do ser da igreja , sua tarefa suprema.

A dinâmica da tarefa evangelizadora é a ação do Espírito Santo. É ele quem da

os dons a igreja, capacita o evangelizador, dá testemunho de Cristo ao ouvinte ilumina-o

convence-o do pecado da justiça, do juízo, e da eterna perdição; converte-o em nova

criatura, e o faz parte da igreja colaborar com Deus na evangelização. Quando não se

reconhece essa iniciativa do Espírito Santoa evangelização torna-se mera empresa

humana.

3. Nossa teologia sobre evangelismo determina nossa ação evangelizadora,

ou a ausência dela. A simplicidade do evangelho não esta contra sua dimensão

teológica. Sua natureza é a auto-revelação de Deus em Cristo Jesus. Reafirmamos a

historicidade de Jesus Cristo segundo o testemunho das escrituras: sua encarnação, sua

crucificação e sua ressurreição. Reafirmamos o caráter único de sua obra mediadora,

graças a qual o pecador encontra o perdão dos pecados e a justificação pela fé, sem

reiteração daquele sacrifício.

Reafirmamos, deste modo, que Cristo é o senhor e a cabeça da igreja, e que a

manifestação final de seu senhorio sobre o mundo será evidente em sua segunda vinda,

a qual é esperança dos remidos. Estas são as boas noticias cuja proclamação e aceitação

transforma radicalmente o homem.

4. Os campos da América Latina está brancos e prontos para ceifa. Grandes

setores da população manifestam receptividade AP evangelho, porem esta hora de

oportunidade demanda estratégia adequada. Devemos avaliar os atuais métodos de

evangelização à luz dos resultados visíveis nos crescimentos assombrosos de certas

denominações. Tal avaliação, unida a uma consideração cuidadosa da vida da igreja

neotestamentária, demonstrará em primeiro lugar a importância de uma mobilização

total da igreja para tarefa evangelizadora. Afiramos, para ser fiéisBíblia, que esta

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mobilização tem de ser obra do Espirito Santo, que usará os meios que a igreja

proporcione com inteligência e inventiva, começando no nível da congregação local.

5. EM nosso século somo testemunha do processo assombroso dos meios de

comunicaçãoque, por sua eficiência e pela falta de ética de quem os manejam,

contribuem a criar um caos de vozes que confundem o latino-americano. Em meio de tal

confusão a voz clara, distintiva, sensível e poderosa da mensagem de Cristo deve

encontrar seu caminho até o ouvinte. O mensageiro de Jesus Cristo tem a urgente

responsabilidade de compreender e utilizar as técnicas modernas de comunicação a fim

de captar a atençãodo homem latino-americano, dialogar com ele e comunicar-lhe o

evangelho em forma inteligível e pertinente à sua situação vital.

6. O processo de evangelização se dá em situações humanas concretas. As

estruturas sociais influem sobre a igreja e sobre os receptores do evangelho. Se se

desconhece esta realidade, desfigura-se o evangelho e empobrece-se a vida cristã. É

chegada a hora de que nós evangélicos tomemos consciência de nossas

responsabilidades sociais. Para cumpri-las, o fundamento bíblico é a doutrina evangélica

e o exemplo de Jesus Cristo levado até suas ultimas consequências. Esse exemplo deve

encarnar-se na crítica realidade latino-americana de subdesenvolvimento, injustiça,

fome, violência e desesperança. Os homens não poderão construir o reino de Deus sobre

a terra, porem a ação social evangélica contribuirá para criar um mundo melhor como

antecipação daquele por cuja vinda oram diariamente.

7. A explosão demográfica nos apresenta o desafio de uma população

juvenil que aumente vertiginosamente, no preciso momento em que a igreja comprova

por sua parte um êxodo de sua juventude e uma crise do ministério frente às novas

gerações. O impulso da igreja deve renovar-se de acordo com uma estratégia orgânica

que compreenda o diagnóstico realista da crise juvenil e a reformulação das demandas

de Cristo. O desafio do Senhor tem de anunciar-se de maneira que capte a imaginação e

a energia da juventude, lançando-a precisamente à conquista da América Latina para

Cristo. O entusiasmo, o vigor, o espírito de serviço e aventura de uma juventude que

faça de Cristo seu Senhor e líder, poderão torar realidade as profundas transformações

que nossos povos esperam.

8. A tarefa da evangelização não termina com a proclamação e a conversão.

Se faz necessário um ministério de consolidação dos crentes novos que lhes dá

capacitação doutrinal e pratica para viver a vida cristão dentro do ambiente em que se

movem, para expressar fidelidade a Cristo no contexto sociocultural onde Deus os

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colocou. O processo de planificação da tarefa evangelizadora também deve prover as

bases teológicas e os métodos práticos para realizar esta tarefa de consolidação.

9. Em um continente de maioria nominalmente católica, não podemos

fechar os olhos às inquietudes de renovação que se advertem na igreja de Roma. O

aggiornamento nos representa por igual risco e oportunidade: as mudanças em matéria

de liturgia, eclesiológica, política e estratégica deixam sem dúvida incólumes os dogmas

que fazem divisão entre os evangélicos e Roma. Porém nossa confiança na palavra, cuja

difusão e leitura se vai acelerando dentro do catolicismo, nos faz esperar frutos de

renovação e nos proporciona oportunidade para o diálogo em nível pessoal. Este diálogo

tem de ser inteligente, e exige em nossa igrejas um ensino mais profundo e conseqüente

com a herança evangélica, a fim de evitar os riscos de um ecumenismo ingênua e mal

entendido.

10. Em atitude de agradecimento ao Senhor Jesus Cristo pela forma que nos

tem permitido a expansão do Evangelho nestas terras, confessamos ao mesmo tempo

nossa incapacidade e nossas falhas no cumprimento de seu mandato nesta hora crítica.

Porém afirmamos nossa fé nos recursos de sua graça, que capacitam os seus à medida

das tarefas que ele lhes manda, e na ajuda e o poder do Espírito Santo prometido à igreja

“até o fim do mundo”. Ao Senhor e Salvador, ao qual damos a glória agora e pelos

séculos, entregamo-nos. Amém.

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Anexo 3

CLADE II

Segundo Congresso Latino-Americano de Evangelização

CARTA DO CLADE II

Ao Povo Evangélico da América Latina

Amados Irmãos em Cristo:

Que a graça e a paz do Deus Trino seja com cada um.

1. Antecedentes. Dez anos depois da realização do Primeiro Congresso Latino-

Americano de Evangelização em Bogotá, Colômbia, reunimo-nos em Huampani, Peru,

de 31 de outubro a 8 de novembro de 1979, 266 participantes procedentes de diferentes

setores do povo evangélico da América Latina. Nosso propósito tem sido considerar

juntos a tarefa evangelizadora a que somos chamados a cumprir nas próximas décadas.

2. Reafirmação. Procuramos deliberar sobre nossa missão submetendo-nos à

autoridade suprema da Bíblia, a Palavra de Deus, à direção soberana do Espírito Santo e

ao senhorio de Jesus Cristo, num ambiente de amor fraternal. Nesta atitude,

reafirmamos nossa adesão à declaração do Primeiro Congresso Latino-Americano de

Evangelização e ao pacto do Congresso Mundial de Evangelização, realizado em

Lausanne, Suíça, em julho de 1974.

3. Lealdade. Estamos profundamente agradecidos a Deus por nossa herança

evangélica e pelos esforços e sacrifícios realizados de parte dos pioneiros, tanto

nacionais como estrangeiros. Decidimos renovar nosso compromisso de lealdade ao

evangelho e de fidelidade à tarefa de evangelizar no contexto de nossa América Latina.

Ao mesmo tempo, sentimos que devemos responder ao desafio missionário que, em

nível mundial, representam as milhões de pessoas que não conhecem a Jesus Cristo

como Senhor e Salvador.

4. Tragédia. Temos ouvido a Palavra de Deus que nos fala e que também

escuta o clamor dos que sofrem. Temos levantado os olhos para o nosso continente e

contemplado o drama e a tragédia em que vivem nossos povos nesta hora de inquietação

espiritual, confusão religiosa, decadência moral e convulsões sociais e políticas. Temos

ouvido o clamor dos que têm fome e sede de justiça, dos que se encontram desprovidos

do que é básico para sua subsistência, dos grupos étnicos marginalizados, das famílias

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destruídas, das mulheres despojadas do uso de seus direitos, dos jovens entregues aos

vícios ou impulsionados à violência, das crianças que sofrem fome, abandono,

ignorância e exploração. Por outro lado, temos visto que muitos latino-americanos estão

se entregando à idolatria do materialismo, submetendo os valores do espírito aos valores

impostos pela sociedade de consumo, segundo a qual o ser humano vale não pelo que é

em si mesmo, mas pela abundância dos bens que possui.Há também os que, em seu

desejo legítimo de reivindicar o direito à vida e a liberdade ou de manter o estado de

coisas vigente, seguem ideologias que oferecem uma análise parcial da realidade latino-

americana e conduzem a formas diversas de totalitarismo e à violação dos direitos

humanos. Existem, ainda, vastos setores escravizados pelos poderes satânicos que se

manifestam em formas variadas de ocultismo e religiosidade.

5. Pecado. Vemos este quadro sombrio que nos apresenta a realidade latino-

americana, à luz da Palavra de Deus, como expressão do pecado que afeta radicalmente

a relação do homem com Deus, com seu próximo e com a criação. Percebemos em tudo

o que se opõe ao senhorio de Jesus Cristo a ação do espírito do Anticristo que já está no

mundo.

6. Renovação. Louvamos ao Senhor, contudo, porque em meio a esta situação

o Espírito de Deus tem se manifestado poderosamente. Animamos o testemunho que

temos compartilhado no Clade II da obra maravilhosa que Deus está realizando em

nossos respectivos países. Milhares têm-se entregado a Jesus Cristo como Senhor,

encontrando nele libertação e incorporando-se às igrejas locais. Muitas igrejas têm sido

renovadas em sua vida e missão. O povo de Deus avança em sua compreensão do que

significa o discipulado radical num mundo de mudanças constantes ou súbitas.

Tudo isso é fruto do evangelho que é mensagem de salvação e esperança em

Jesus Cristo, em quem estão sujeitas todas as coisas. Animados por esta esperança,

decidimos intensificar nossa ação evangelizadora. Queremos, ainda, dedicar-nos com

maior empenho ao estudo da Palavra de Deus para escutar, com humildade e espírito de

obediência, o que ele tem a dizer nesta hora crítica de nossa história.

7. Confissão. Confessamos que como povo de Deus nem sempre temos

atendido às demandas do evangelho que pregamos como demonstra nossa falta de

unidade e nossa indiferença frente às necessidades materiais e espirituais de nosso

próximo. Reconhecemos que não temos feito tudo o que com a ajuda do Senhor

deveríamos realizar em benefício de nosso povo. Porém, propomo-nos a depender do

poder transformador do Espírito Santo para o fiel cumprimento da tarefa que está diante

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de nós. Cremos que na próxima década o Senhor poderá abençoar de maneira singular o

seu povo, salvar integralmente a muitíssimas pessoas, consolidar ou restaurar nossas

famílias e levantar uma grande comunidade de fé, que seja uma antecipação, em palavra

e ato, do que será o reino em sua manifestação final.

Como um apoio para a ação que nos corresponde, apresentamos o “Documento

de Estratégia” elaborado por todos os participantes deste Congresso. Recomendamos

seu uso de acordo com cada situação.

8. Missão. No amor de Cristo, instamos a nossos irmãos na fé a que propaguem

estes anelos e se dediquem à missão de Deus, tomando em consideração que “a noite

vem, quando ninguém pode trabalhar”.

No desejo de que Deus cumpra o seu propósito no mundo, em sua igreja e em

nossas vidas, e que os povos latino-americanos escutem a voz de Deus, encomendamo-

nos todos à sua graça e lhes enviamos uma saudação fraterna.

II CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE EVANGELIZAÇÃO

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Anexo 4

CLADE III

(DECLARAÇÃO DE QUITO)

TODO O EVANGELHO A PARTIR DA AMÉRICA LATINA PARA

TODOS OS POVOS

PRÓLOGO

A 500 anos da chegada dos europeus às Américas, convocados a Quito,

Equador, de 24 de agosto a 4 de setembro de 1992 para o III Congresso Latino-

Americano de Evangelização (CLADE III), expressamos a nossa gratidão a Deus por

este encontro de evangélicos de 24 países com sua riqueza de culturas, etnias e línguas.

Nos reunimos sob o tema “Todo o evangelho para todos os Povos a partir da América

Latina”, em um momento de grandes mudanças no mundo, que apontam sérias questões

para a situação do povos de nosso continente.

Confessamos nossa fé em todo o evangelho de Jesus Cristo conforme as

Sagradas Escrituras, irmanados com todas as igrejas evangélicas da América Latina, e

no mesmo espírito do CLADE I e II. Refletimos sobre alguns aspectos do evangelho,

em relação com o nosso contexto o desafio que apresenta para nossa participação na

missão mundial. Nos comprometemos a levar à prática missionária as consequências

que surgem da reflexão e os testemunhos apresentados neste encontro.

1. TODO O EVANGELHO

A. O evangelho e a Palavra de Deus

Todo o conselho de Deus e a manifestação de seu Reino se nos dão a conhecer

por meio do evangelho. As Escrituras registram a revelação de Deus na história por

meio de fatos concretos. Elas convergem em Jesus Cristo, a expressão plena e definitiva

da revelação de Deus. Para tanto, a Palavra de Deus é o fundamento e ponto de partida

para a vida, teologia e missão da igreja.

B. O evangelho da criação

Deus é o criador de tudo e o que ele criou é bom. Criou o ser humano, homem

e mulher, à sua imagem, como seres chamados a viver em relação harmônica com Ele,

seu próximo e a natureza. Deus os colocou como mordomos responsáveis de toda a

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criação para beneficio de toda a humanidade. Porém os seres humanos caíram em

pecado e toda a criação sofreu os efeitos dessa queda, tornando-se cativa do pecado e da

morte. Sem dúvida, Deus em sua soberania tem tomado a iniciativa de estabelecer um

pacto para reconciliar consigo mesmo aos seres humanos e toda criação na pessoa e

obra de Jesus Cristo. Em Cristo, Deus está restaurando a dignidade humana,

transformando as culturas e conduzindo sua criação até a redenção final.

C. O evangelho do perdão e da reconciliação

Jesus Cristo é o verbo encarnado, dom de Deus e único caminho até Ele. Por

meio da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo se oferece perdão ao ser humano, e

reconciliação e redenção para toda criação. O arrependimento e a fé são imprescindíveis

como expressão da total dependência de Deus, ara receber a salvação. Quem recebe o

perdão torna-se filho de Deus e esta nova relaçãofilial os capacita para obedecer-lhe. A

nova vida significa manter e desenvolver esta relação com seus Criador. Ela produz uma

nova relação com seus semelhantes e com toda a criação, mediada pelo compromisso

com o Senhor e baseada na prática do amor, a verdade e a justiça. Deus em Cristo cria

uma comunidade perdoa e reconciliada chamada a ser agente de perdão e reconciliação

em um contexto e ódio e discriminação.

D. O evangelho e a comunidade do Espírito

A pessoa do Espírito Santo atua com poder no mundo. Ela o faz

primordialmente por meio da igreja outorgando-lhe vida, poder e dons para seu

desenvolvimento, maturidade e missão. A igreja, comunidade de reconciliados com

Deus, é enviada ao mundo por Jesus Cristo. Nela se opera uma transformação radical

que mostra o propósitodivino de eliminar toda injustiça, opressão e sinais de morte.

Como comunidade do Espírito, a igreja deve proclamar liberdade a todos os oprimidos

pelo diabo e impulsionar uma pastoral de restauração que traga consolo aos que sofrem

discriminação, marginalização e desumanidade.

E. O evangelho e o reino de Deus

Com a chegada de Jesus Cristo, o reino de Desu se fez presente entre nós,

cheio de graça e verdade. O reino está em conflito constante com opoder das trevas; a

luta ocorre na regiões celestiais e se expressa em toda a criação em nível pessoa,

coletivo e estrutural. Sem dúvida, a comunidade do reino vive sustentada pela confiança

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de que a vitória já te sido conquistada e que o reino de Deus se manifestará plenamente

ao final do tempos. Com o poder e a autoridade delegados por Deus, ela assume sua

missão neste conflito, para ser agente na redenção de toda criação. O Rei Jesus Cristo

tem-se encarnado e chama a sua comunidade a fazer o mesmo no mundo. Seguir-lhe

como seus discípulos significa assumir sua vida e missão.

F. O evangelho de justiça e poder

O evangelho revela um Deus santo, justo e poderoso em seu caráter e suas

ações. Por ele a igreja é chamada a viver segundo a justiça do reino, no poder do

Espírito. Em um mundo caracterizado pelo abuso do poder e o domínio da injustiça, o

testemunho da igreja confronta os pobres que dominam no presente. Por isso a

proclamação do reino anuncia a Jesus Cristo e denuncia as forças do mal.

2. A PARTIR DA AMÉRICA LATINA

A. Perspectiva histórica da igreja evangélica

No povo evangélico da América Latina tem-se despertado uma consciência

missionária a outros continentes. Sem dúvida, as novas gerações de evangélicos, em

geral, desconhecem suas próprias raízes históricas e herança protestantes. O

conhecimento de nossa história é fundamental para evitar os erros do passado, recuperar

certos distintivos de nossa herança e cumprir o mandamento missionário.

Na América Latina e no Caribe o protestantismo tem raízes históricas que

datam do século 16. É parte da própria história da América Latina, não simplesmente

um agente estrangeiro que obedece à penetração do imperialismo de plantão. Esta

afirmação não livra a igreja evangélica de seus erros históricos e das deformações do

evangelho em sua chegada e estabelecimento no continente. No entanto, é fundamental

examinar quais tem sido os pontos positivos e negativos da missiologiaeuropéia e

norte–americana, bem como dos que surgem daqui mesmo.

B. O evangelho e a cultura

O evangelho é pertinente a toda a realidade humana, incluída a cultura, por

meio da qual o ser humano transforma a criação. A capacidade de criação de criação

cultural é um Don dado ao ser humano por Deus, a cuja imagem foi criado. No entanto,

é importante que a cultura ocupe o lugar que merece em nossa reflexão e prática

missiológica.

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Durante esse 500 anos nosso continente tem testemunhado desprezo e

destruição sistemática das culturas autóctones em nome da evangelização. Torna-se,

então, condenável a submissão e o ultraje do qual foram vitima os povos indígenas. Por

isso, é imprescindível buscar a reconciliação entre nossos povos. Por sua vez, temos que

reconhecer que toda cultura pode ser veiculo adequado para comunicar fielmente o

evangelho. A partir da perspectiva deste, toda cultura deve ser veiculo adequado para

comunicar fielmente o evangelho. A partir da perspectiva deste, toda cultura deve ser

entendida, respeitada e promovida, sem pressupor a superioridade de uma cultura sobre

outras. Deve-se assinalar que toda cultura está afetada pelo pecado, que introduziu a

corrupção, os conflitos, o egoísmo e o rompimento das relações entre Deus e toda a

criação. Para tanto, todas as culturas estão sob o juízo da Palavra. O criador não deve

ser confundido com sua criação, nem com cultura particular alguma. A revelação de

Deus em Cristo transcende a ambas e, por sua vez, entra em relação com elas para

redimi-las.

A missiologia evangélica deverá atuar em dois sentidos. Primeiro reconhecer,

respeitar e dignificar as etnias e suas culturas: segundo, avaliar à luz do juízo da

Palavra, oferecendo a esperança do evangelho para sua transformação. A fidelidade da

igreja aos propósitos de Deus demanda uma hermenêutica contextual que permita

comunicar fielmente o evangelho em dialogo aberto com a cultura. A igreja deve

cumprir a missão de anunciar a salvação integral à totalidade do ser humano na

realidade em que está inserido.

C. A identidade evangélica

Como evangélicos necessitamos revalorizar nossas raízes indígenas, africanas,

mestiças, européias, asiáticas e crioulas, e considera e a pluralidade de outras culturas e

raças que tem contribuído, e considerar a pluralidade de culturas e raças que tem

contribuído para enriquecer-nos. Como igreja latino-americana confessamos que temo-

nos identificado mais com os valores culturais estrangeiros que com os autenticamente

nossos. Pela graça de Deus podemos reencontrar-nos com o mundo sem complexos nem

verginhas a partir de nossa identidade cultural e evangélica como palavra de Deus.

Afirmar nossa identidade evangélica implica reafirmar nosso compromisso

com a herança da Reforma. Não significa assumir uma postura acrítica com respeito a

nossa tradição, doutrinas ou missiologia. Como igreja estamos chamados a reformar-nos

permanentemente à luz das escrituras como palavra final.

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Devemos avaliar os modelos de missão que herdamos do passado ou que se

importam no presente, e buscar novos modelos. Isso implica forjar uma missiologia a

partir da America Latina que leve em conta as experiências e apoios das igrejas dos

diferentes grupos étnicos e culturais do continente. Sem dúvida, a busca de novos

modelos não deve conduzir-nos a fazer concessões no tocante à verdade d Jesus Cristo.

3.PARA TODOS OS POVOS

A. A universalidade da missão

Deus cumpriu a promessa de prover um redentor para todo o mundo. O

propósito dele é que todos os seres humanos sejam salvos pela fé em Jesus Cristo. A

suficiência e a universalidade de Jesus Cristo correspondem à essência do evangelho. O

caráter universal da fé cristão e a confissão do senhorio de Cristo, conferem à igreja a

dimensão missionária. Em conseqüência, a igreja é enviada ao mundo para viver e ser

mensageira da universalidade do evangelho.

O propósito divino e a universalidade do evangelho não significam que todos

os caminhos e opções sejam válidos para obtenção da salvação de Deus. As praticas

sacramentalistas e rituais que expressam a intenção de obter a justificação pelas obras

são alheias ao propósito revelado por Deus nas Escrituras. A verdade unida do

evangelho e sua ética conseqüente se opõem a todo universalismo e relativismo que

consideram como igualmente válida toda experiência religiosa.

B. Toda a igreja é missionária

Toda a igreja é responsável pela evangelização de todos ospovo, raças e

línguas. Uma fé que se considera universal mas que não é missionária transforma-se em

retórica sem autoridade e faz-se estéril. A afirmação de toda a igreja é missionária se

baseia no sacerdócio universal dos crentes. É para o cumprimento dessa missão que

Jesus Cristo tem dotado a igreja de dons e de poder do Espírito Santo.

C. Missão Integral

A visão, a ação e a reflexão missionária da igreja devem fundamentar-se no

evangelho que, quando é compreendido em sua integridade, proclama-se em palavra e

obra e dirige-se a todo o ser humano. Nossa missiologia deve fazer-se a partir da

Palavra, da nossa realidade latino–americana e em dialogo com outras missiologias,

buscando superar as deformações ou dicotomias que podem ter afetado o evangelho que

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recebemos. Isso demanda também um compreensão dos novos desafios que o mundo

atual apresenta, tais como a globalização, a pós-modernidade, o ressurgimento do

racismo, os esoterismos e a crescente deteriorização ecológica.

D. A nova consciência missionária na América Latina

O Espírito Santo tem feito surgir na América Latina um nova consciência

missionária. À prática missionária do passado se soma uma crescente disposição em

assumir a responsabilidade da igreja, em obediência à Palavra, a partir da América

Latina. Nos últimos anos têm aumentado as oportunidades de formação e envio

missionário para outros continentes e contextos. Sem dúvida, as novas possibilidades

que se abrem para a atividade missionária devem levar-nos a uma avaliação de modelos

e experiências e a uma continua correção destes à luz da Palavra de Deus.

E. O estilo encarnacional de missão

A encarnação é modelo para missão da Igreja. Em sua encarnação, Jesus se

identificou com a humanidade pecadora, solidarizou-se com ela em suas aspirações,

angustias e debilidades, e dignificou-a como criatura feita à imagem de Deus. A igreja

está chamada a encarar sua missão ao estilo de Jesus. Esse cumprimento demanda

cruzar frinteiras geográficas, culturais, sociais, lingüísticas e espirituais, com todas suas

conseqüências. Em todo o mundo, o crescimento das grandes cidades e suas maiorias

empobrecidas constitui um desfio de especial urgência. Para responder a todas estas

questões é necessário reconsiderar o modelo do Novo Testamento, usar adequadamente

as ciências sociais e humanas e refletir sobre a prática. Também é indispensável a

formação espiritual que capacita o missionário para santidade e a humildade que tornou

possível o respeito e valorização de outras línguas e culturas e a fidelidade ao

evangelho.

F. A urgência da missão

A igreja na America Latina deve assumir plenamente e sem demora a

responsabilidade na evangelização mundial. Deve criar e promover centros de formação

em cada país com programas adequados de capacitação para a missão local e

transcultural. A estrutura de toda a educação teológica deve ser revisada à luz do

imperativo missinário. O avanço missionário sempre tem surgido da vitalidade

espiritual em momentos de renovação. Para ser missionária, a igreja na América Latina

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deve renovar sua dependência do Espírito e entregar-se à oração. Assim poderá

responder ao desafio de proclamar todo o evangelho a partir da América Latina a todos

os povos da terra.

CONCLUSÃO

Louvamos a Deus pelo privilégio que nos tem concedido de participar do

Terceiro Congresso Latino-Americano de Evangelização neste momento critico da

história de nossos povos. Tal privilégio nos move a renovar nosso compromisso com o

Senhor Jesus Cristo e com sua igreja como portadorada boa-nova do reino de amor e

justiça que Ele veio estabelecer. Humildemente nos encomendamos a Deus para que

Ele, por meio de seu Santo Espírito, ponha em nós o propósito de agradar-lhe em tudo,

segundo sua boa vontade. “Ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único e sábio

Deus, seja honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém.”

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Anexo 5

CLADE IV

Quarto Congresso Latino- Americano de Evangelização

DOCUMENTO FINAL DO CLADE IV

Atos 4.31-34.

Irmãos e irmãs, membros e representantes de igrejas e organizações cristãs

evangélicas de todas os países da América Latina e alguns da Europa, Ásia, Oceania e

América do Norte, fomos convocados pela Fraternidade Teológica Latino-Americana

(FTL) para o Quarto Congresso Latino-Americano de Evangelização (Clade IV), como

continuidade de seus trinta anos de peregrinação, com o propósito de refletir, à luz das

escrituras, e discernir os desafios das igrejas evangélicas no nosso contexto para levar a

cabo a missão integral.

Estivemos reunidos na cidade de Quito, Equador, de 2 a 8 de setembro de 200,

1.300 pessoas. Experimentamos juntas um maravilhoso tempo de comunhão e louvor,

fundamentado na Palavra de Deus, dirigido pelo Espírito Santo e expresso em nossa

diversidade e riqueza cultural.

Concordamos

Ao inicia o novo milênio, a América Latina enfrenta uma situação crítica,

marcada pela implementação de modelos econômicos desumanizadores, com seu

correlato de uma política de aberturas de mercados e de privatização indiscriminadas,

incremento de uma dívida externa abusiva, altos índeces de subemprego e desenprego,

deterioração do meio ambiente, corrupção generalizada (especialmente da classe

política e do sistema de administração de justiça), acesso restrito à educação e a sistema

de saúde, e crescente pauperização de setores mais amplos da sociedade. Além disso,

em alguns países, ainda podemos acrescentar a ameaçade ingerência militar estrangeira.

Na ultima década, o mapa religioso latino-americano variou substancialmente.

Hoje em dia, as propostas religiosas são múltiplas e diversas, e tudo indica que

marchamos para um pluralismo religioso. Nesse contexto, muitas igrejas evangélicas

estão experimentando um acelerado crescimento numérico, que nem sempre é

acompanhado de um despertar de sua consciência social. Sem dúvida, existem

experiências coletivas de ministérios integrais, que buscam transformar as condições de

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vida dos mais pobres. Há renovação espiritual e maior presença de crentes e igrejas

evangélicas em

diversas instâncias da sociedade civil, inclusive no campo da política. Toda via

percebe-se certa deficiência na reflexão teológica, que se reflete na frequentemente

tendência a adotar acriticamente propostas “teológicas” estranhas à Bíblia, como no

caso do chamado Evangelho da prosperidade”, da apresentação do evangelho como um

artigo mais de consumo religioso e de estruturas eclesiais em que se prima pela ambição

ao poder. Por sua vez, as igrejas têm carências no campo da espiritualidade e se vêen

ameaçadas pelo ativismoa, pelo misticismo e pelo dogmatismo.

Diante do exposto, agradecemos a:

Nosso Trino Deus, por essa oportunidade histórica e por ter nos congregado

nas instalações do Seminário Ministerial Subamericano (Semisud) para um tempo de

estudo e reflexão na sua Palavra, iluminados pelo Espírito Santo, com respeito ao

avanço do reino de Deus e de nossa vocação missionária, dentro de nossa amada e

ensangüentadaAmerica latina.

Confessamos que, muitas vezes:

Temos sido negligentes na tarefa profética, assim como na geração de

comunidades do reino e na busca de estruturas sociais alternativas e justas.

Com nosso silencio, temos sido cúmplices de governos corruptos, que condenam

milhões de seres humanos à pobreza e à miséria absoluta, violentando sua dignidade

humana.

Temos cedido à tentação de valorizar como normas supremas outras fontes de

autoridade no lugar das sagradas Escrituras.

Temos restringido a mensagem da Bíblia ao âmbito “espiritual” e eclesial,

desnaturalizando assim sua mensagem, integridade, poder e eficácia libertadora.

Temos permitido um dualismo intelecto-emoção, em vez de buscarmos mentes e

corações iluminados e renovados pelo Espírito Santo.

Temos adotado uma forma de liderança pastoral, inspirada no modelo empresarial

da sociedade de consumo, esquecendo-nos do exemplo de nosso Senhor, que não veio

para ser servido, mas, sim para servir.

Em nosso excessivo ativismo, temo descuidado da oração como espaço

inseparável do estudo da Palavra e fonte de espiritualidade cristã genuína.

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Temos fomentado a divisão e a intolerância, em vez de buscarmos a unidade e o

respeito mútuo.

Temos discriminado e marginalizado a mulher, os indígenas, os negros, as

crianças, os jovens, os velhos, os incapacitados, os imigrantes e outros gruposdentro da

igreja. Temos negado, dessa maneira que eles são imagem e semelhança de Deus e

desconhecido seu enorme potencial humano e missionário.

Reconhecemos que:

A Bíblia é a revelação divina consignada em escrito humanos, cujo valor é

único e insubstituível na reflexão do propósito de Deus para nossa América Latina. Seu

caráter humano exige de nós uma constante releitura e contextualização para as diversas

gerações de discípulos.

A missão integral só se realiza quando uma igreja recebe com discernimento o

testemunho da Escritura, obedece e dispõem-se a assumir o custo da fidelidade a Deus.

A missão integral nasce de cada pagina sagrada, concretiza-se em nossos contextos

históricos e se orienta colocando todas as coisas sob o senhorio de Jesus Cristo. O

Espírito Santo abre nosso entendimento e nos sustenta com sinais que anunciama

presença libertadora do reino de Deus.

Nosso culto comunitário tem de ser prazeroso, espontâneo e contextualizado,

para que, num clima de liberdade, adoremos ao Senhor, sustentados na Palavra e sob o

impulso do Espírito. Necessitamos de uma teologia mais espiritualidade mais teológica.

Precisamos de uma teologia trinitária, comunitária, centrada na Palavra de Deus,

reconciliadora e missionária. A realidade do pluralismo religioso não debilitará o

chamado de Deus e a prática evangelizadora da igreja.

Nos comprometemos a:

- Orar em todo tempo e estudar diligentemente a Bíblia, esforçando-nos para obedecer

todo o conselho e Deus em nossa realidade histórica especifica.

- Promover, nas congregações, oportunidades de formação integral e apoiar programas

de ensino bíblico, bem como a produção e distribuição de materiais que dêem um

tratamento sério e acessível às Escrituras, por intermédio de instituições de educação

teológica, editoras e outras iniciativas.

- Ser igreja de adoração, serviço, fé, esperança, justiça e amor, que se convertam em

comunidades alternativas para a nossa sociedade.

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- Valorizar e incluir todos os grupos sociais e culturais excluídos (crianças, jovens,

mulheres, negros, indígenas, incapacitados, imigrantes, etc) como sujeitos a quem

também é dirigido o evangelho do reino de Deus.

- Desenvolverum liderança que busque sua inspiração e prática no modelo de Jesus-

Servo.

- Participar na missão de Deus, dando testemunho integral do evangelho, vivendo uma

espiritualidade cristã inclusiva, exercendo uma mordomia da criação que coloque o

material a serviço do espiritual e o poder em beneficio das demais e para a glória de

Deus, e promovendo reconciliação entre raças, classes sociais, sexos, geraçõese do

homem como o meio ambiente.

- Viver a esperança escatológica do reino de Deus na sofredora América Latina de hoje,

participando ativamente nos processo da sociedade civil que promovam a vida e a

dignidade humanas.

- Buscar intensamente a direção e ação do Espírito Santo na vida da igreja, sem

esquecer o compromisso da evangelização transcultural na perspectiva da missão

integral.

Concluimos esta declaração com a firmação de que a Palavra de Deus nos convoca a ser

comunidades proféticas e solidarias com a dor e o sofrimento que destroem a vida e a

dignidade de nossas ações, pois entendemos que parte medular de nossa missão é

perseguir a justiça para todos, no poder do Espírito Santo.

1Tessalonicenses 5.23,24.

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Anexo 6

CLADE V

Seguir Jesus em seu Reino de vida. Guia-nos, Espírito Santo

Nós, irmãos e irmãs participantes do Quinto Congresso Latino-americano de

Evangelização (CLADE V), ocorrido em San José, Costa Rica, de 9 a 13 de julho de

2012, convocados e convocadas pela Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL),

e gratos ao Senhor Jesus pela oportunidade de terem se reunido em torno do tema:

"Seguir Jesus em seu Reino de vida. Guia-nos, Espírito Santo", compartilhamos o

seguinte:

1. Seguindo a Jesus no caminho de vida

Diante de falsas imagens, sejam elas midiáticas, esotéricas e espiritualizadas,

que aludem a conceitos religiosos de Jesus, reconhecemos a necessidade urgente de

seguir plenamente a Jesus em seu caminho de vida. Uma de nossas tarefas urgentes é

redescobrir o Jesus bíblico e o que significa caminhar com ele. Isto nos levará a

considerar nossos contextos, transcender o campo teórico e interagir ativamente com a

comunidade de fé. As diferentes situações exigem respostas bíblicas às necessidades

humanas, respostas que produzam transformações justas e que sejam inclusivas em

termos de gênero, etnia, faixa etária, capacidades físicas e mentais diferentes, minorias

tradicionalmente relegadas e outros grupos que estão crescendo significativamente hoje,

como por exemplo, as comunidades de imigrantes. Portanto, seguir a Jesus é encarnar

seu chamado em sua missão transformadora.

Recomendação

À luz do CLADE V, recomenda-se que os núcleos da FTL em cada uma de

suas regiões promovam e fomentem o diálogo, a reflexão bíblico-teológica e contextual,

bem como a publicação e divulgação dos significados e práticas de se seguir hoje o

Jesus bíblico pelo caminho de vida.

2. O Reino da vida

Frente aos conceitos reducionistas, mercantilistas e místicos do Reino de Deus,

reconhecemos a falta de coerência entre o nosso compromisso verbal com a missão

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desse reino e nossa práxis. Promovemos uma abertura para exploração desse reino, mas

que leve em consideração a diversidade, a ideia de comunidade, a solidariedade, e que,

finalmente, seja parte da agenda de reflexão para todos e todas. Necessitamos promover

espaços de renovação e diálogo que sejam inclusivos e plurais, vinculando a presença

do reino com as realidades sociais em nossos contextos. Por inclusividade, propomos

considerar os seres humanos em toda a sua diversidade e a criação como campos nos

quais se manifesta o reino.

Reconhecemos que o reino de Deus também se manifesta nos movimentos que

lutam em favor da vida, do cuidado com criação, da igualdade no tratamento entre

homens e mulheres de todas as idades e da justiça social. Portanto, como agentes ativos

do reino, devemos nos unir a essas lutas, assumindo ao mesmo tempo uma voz profética

que promova os valores desse reino.

Recomendação

À luz do CLADE V, recomenda-se que os núcleos da FTL, em cada uma de

suas regiões, promovam o diálogo, a reflexão bíblico-teológica e contextual, bem como

a publicação e divulgação dos significados e práticas do reino de vida hoje frente a

tantas manifestações de morte.

3. O Espírito de Vida

Frente às tentativas de limitar e monopolizar o Espírito da vida como

propriedade privada de certos líderes megalomaníacos, reconhecemos que as práticas

discriminatórias e patriarcais entristecem o Espírito da vida. A atuação do Espírito

ultrapassa os nossos espaços ministeriais, trabalhando soberanamente em todo o mundo,

e nos convidando a participar dos sinais de vida de seu Reino. Portanto, precisamos

assumir nossa responsabilidade como agentes de esperança em todos os âmbitos de

morte em nossa sociedade. Necessitamos que o Espírito da vida nos conduza no

discernimento dos tempos e no enfrentamento dos poderes que marginalizam nossos

povos e promovem a destruição ambiental, o medo e a morte. O Espírito nos dá poder

para que, com voz profética, denunciemos as muitas manifestações de escuridão e

proclamemos a esperança na utopia do reino de Deus e sua justiça revelada em Jesus

Cristo.

Recomendação

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À luz do CLADE V, recomenda-se que os núcleos da FTL, em cada uma de

suas regiões, promovam o diálogo, a reflexão bíblico-teológica e contextual, bem como

a publicação e divulgação dos significados e práticas de sermos dirigidos pelo Espírito

da vida hoje.

4. Comunidade trinitária

Frente aos modelos eclesiásticos empresariais e comerciais vendidos à cultura

do espetáculo, que reproduzem uma espiritualidade individualista e isolada das

realidades sociais de pobreza, de individualismo e de desesperança, reconhecemos que,

com frequência, nos vemos seduzidos pelo poder egoísta que limita a possibilidade de

vida para os outros e promove comunidades fechadas e apáticas. Reafirmamos a

promoção de um modelo de comunidade trinitária que celebra o diálogo, o encontro, a

interculturalidade e a missão de Deus. Nossas comunidades devem promover o amor em

contraposição ao poder humano, o perdão e não a vingança, a justiça do reino em

oposição à corrupção, a paz que supera a violência, a reconciliação e não a

discriminação e a restauração dos sonhos e da utopia do reino contra a desesperança.

Devemos incentivar comunidades que sigam Jesus no seu reino de vida, apaixonadas

pela redenção de toda a criação no Jesus ressurreto. Convidamos os seguidores e

seguidoras de Jesus Cristo a formar comunidades de iguais, onde a equidade, a justiça, a

celebração, a liberdade e a responsabilidade floresçam como evidências concretas de

vidas transformadas.

Conclusão

Perante estes desafios fazemos um chamado a: Seguir a Jesus em seu reino de

vida, com tudo o que isso implica diante de toda realidade contrária, em total

dependência da direção do Espírito. Mesmo que isso signifique que, como comunidades

trinitárias, caminhemos na contramão e desafiemos com nossas vidas as expressões de

morte e escuridão em nossas comunidades, pois Jesus nos disse: "Assim como o Pai me

enviou, eu os envio".

Recomendação

À luz do CLADE V, recomenda-se que os núcleos da FTL, em cada uma de

suas regiões, promovam o diálogo, a reflexão bíblico-teológica e contextual, bem como

a publicação e divulgação:

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• dos significados e práticas de seguir hoje o Jesus bíblico pelo caminho de

vida;

• dos significados e práticas do reino de vida hoje frente a tantas manifestações

de morte;

• dos significados e práticas de sermos dirigidos pelo Espírito de vida hoje.

• dos significados e práticas de ser hoje uma comunidade moldada pela vida da

Trindade.

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Anexo 7

IPA

CARTA PASTORAL

à

PRIMEIRA IGREJA BATISTA EM SÃO PAULO

Pastor Irland Pereira de Azevedo

Em 16 de junho de 1996

Queridos irmãos:

Graça e paz lhes sejam concedidas pelo Deus Triúno, Pai, Filho e

Espírito Santo, que em Sua presciência, providência e misericórdia nos

chamou para sermos Seu povo.

Estou a escrever-lhes, depois de muito orar e buscar a vontade do

Senhor para nossa igreja, nosso ministério, nossa família e a Causa de Deus,

neste fim de século.

Quero convidá-los, neste dia, a uma vista d’olhos no passado, a

uma visão do presente e a uma antevisão do futuro.

1. VISTA D’OLHOS NO PASSADO

Foi em começos de 1970 que recebi dessa igreja o primeiro convite a vir

para São Paulo.

Orei, juntamente com minha esposa, e senti que não era ainda tempo de

deixar o Méier e o Rio de Janeiro.

Em setembro voltei a ser chamado pela Comissão Pastoral e então

sentimos, minha esposa e eu, que era imperativa a vontade do Senhor com

relação à nossavinda.

O convite da Igreja fez-se em duas votações consecutivas.

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Em 2 de janeiro de 1971 assumi o pastorado, sucedendo a dois gigantes

da fé, Pr. Dr. Manoel Tertuliano Cerqueira e PrEmygdio José Pinheiro.

Nestes 25 anos e 5 meses de pastorado Deus derramou muitas bênçãos

sobre nossa Igreja, sendo bastante destacar - para glória Dele - as seguintes:

osex-pastores, amados por todos, foram honrados e cuidados, recebendo ambos os títulos de Pastores Eméritos;

a Igreja desenvolveu intenso programa de missões e evangelização de que resultaram a organização de 13 igrejas filhas, o batismo de quase 1.850 novos crentes, a conversão de milhares de pessoas, o alcance de centenas de milhares de pessoas pelo rádio e telefone, além da presença e atuação do pastor em muitos estados da Federação e diversas partes do mundo, pregando o Evangelho.

A Igreja tem sustentado muitos missionários e pastores de pequenas igrejas, inclusive noutros estados e além fronteiras;

Foram consagrados 27 novos pastores, para servirem às igrejas de Jesus Cristo;

Formaram-se centenas de obreiros na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, em cujas vidas o Ministério de nossa igreja influiu de maneira decisiva;

Formamos centenas de líderes, em nosso Centro de Educação Teológica por Extensão, habilitando-os a pregar, a ensinar, a servir na liderança, de maneira eficaz; muitos deles hoje servem com eficiência e dedicação nesta e noutras igrejas irmãs;

Foram aconselhadas e orientadas muitas dezenas de casais e de centenas de pessoas carentes de ajuda pastoral;

Foi quase concluído o Edifício Educacional de que falta apenas o acabamento e o mobilhamento de alguns andares;

O Pastor titular participouda Associação das Igrejas do Centro de São Paulo, da Convenção Estadual, da Convenção Batista Brasileira, da União Batista Latino-Americana e da Aliança Batista Mundial, juntamente com outros representantes da igreja;

Houve firmeza na pregação e no ensino das Sagradas Escrituras, na sã doutrina e na afirmação de nossa identidade denominacional;

A Igreja foi representada em conclaves nacionais e internacionais, sempre sendo elevado, bem alto, o nome de Jesus Cristo;

Houve a departamentalização da Igreja por Ministérios, e implantação destes;

Houve incentivo e apoio à criação do Ministério Jeame, para assistência a meninos e adolescentes de rua e de conduta infracional; à criação do Desafio Jovem Peniel, em São Paulo, para recuperação de viciados em drogas; à criação do Centro Social Dr. Manoel Tertuliano Cerqueira, para atendimento social à população carente, de Campos Elísios e adjacências;

Houve manutenção de níveis de excelência em nosso programa e atividades musicais, graças à dedicação do Ministério de Música;

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Ocorreu aumento do patrimônio da Igreja, com aquisição, entre outras coisas, de piano, de um órgão de tubos menor, e outro órgão de tubos, duas vezes maior, ora em fase de instalação;

Verificou-se apoio e cooperação ao Ministério, por parte do Conselho Diaconal, de demais membros da liderança “leiga” da Igreja e dos obreiros do Ministério Colegiado;

Por tudo isso, e muito mais, rendo graças a Deus!

2. VISÃO DO PRESENTE

Vejo hoje a Igreja e o Ministério Pastoral a exigir mudanças, sob a

direção de Deus e a capacitação do Espírito Santo.

Sinto-me como Moisés no cume do Nebo a contemplar a Terra

Prometida. Vejo os anos derradeiros deste século evislumbro os começos do

próximo século e Milênio, e sinto,

2.1 Em relação à Igreja

- que é urgente a conclusão de nosso Edifício Educacional e seutotal

mobilhamento e adequação, para que a igreja possa expandir-se;

- que é imperativa a necessidade de mobilizar a igreja, ativa e inativa,

para evangelização e missões e resposta a outros desafios de nossa

comunidade, nossa cidade, nosso Estado, e do Brasil, empregando todos os

meios disponíveis;

- que há necessidade de atendimento pastoral individualizado a todos os

membros da igreja, de maneira especial os mais distantes e descomprometidos

com o Senhor e Sua igreja;

- que se faz mister a implementação de programas e reavaliação e quiçá

reformulação da visão, da missão e dos objetivos da igreja, em face das

mudanças socioeconômicas por que passam a Cidade, São Paulo, o Brasil e o

mundo;

- que há de se imprimir maior ritmo e eficácia na execução dos objetivos

programáticos da Igreja, neste e nos anos porvindouros;

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- que se deve considerar seriamente eventual mudança do Templo e

instalações educacionais da Praça Princesa Isabel, ou a aquisição de áreas

contíguas, para real expansão da Igreja;

- que é imperativo o envolvimento das famílias da igreja, na formação e

efetivo funcionamento de núcleos ou células familiares por meio dos quais o

Evangelho alcance a comunidade e permeie a cidade de São Paulo, como bom

fermento.

2.2 Em relação ao Ministério Pastoral

Considerando:

- as limitações e cuidados de minha saúde e sua manutenção;

- as dificuldades que naturalmente me virão com o avançar dos anos;

- a consciência de minha finitude, e que não reúno hoje condições de

manter, no labor pastoral,ritmo, velocidade, volume de trabalho e eficácia com

que os irmãos se acostumaram no decorrer dos anos, desde 1971,

1. CONCLUO que a Igreja precisade um Pastor jovem e capaz,

teologicamente maduro e doutrinalmente são, que pregue, ensine e desafie a

igreja a enfrentar desafios que se lhe antolham;

2. VEJO a necessidade de um Pastor jovem dedicado e fiel, capaz de

mobilizar os de perto e de longe, convocando-os a um novo momento da vida

da Igreja;

3. RECONHEÇO que a Igreja precisa de um Pastor jovem que promova

o reestruturar e afeiçoar da igreja às exigências dos novos tempos;

4.ESTOU CONVENCIDO de que a Igreja precisa hoje de uma liderança

que apóie de todo coração o novo Obreiro, procurando seus auxiliares

compreender-lhe a personalidade, entender-lhe a visão, interpretar-lhe os

anseios e sonhos de seu coração pastoral, como fez em relação a mim a

liderança desde 25 anos atrás;

5. SINTO o imperativo de um novo Obreiro que continue a obra, mude o

que precise de ser mudado, e permaneça fiel à doutrina e à mensagem do

Evangelho, que são imutáveis;

Sei do caráter transitório e complementar do Ministério Pastoral e,

portanto, que um Obreiro passa para que outro venha a completar ou

complementar-lhe a obra e, quiçá, cuidando de áreas deslembradas de

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atenção no atual pastorado. Não foi Paulo quem disse: “Eu plantei, Apolo

regou, mas Deus deu o crescimento”?

3. ANTEVISÃO DO FUTURO

Que vejo na linha do horizonte, onde céu e terra se abraçam?

Que antevejo para esta igreja e para meu ministério?

É o que compartilho agora, abrindo o coração para que os irmãos vejam

lá bem no fundo dele!

3.1 Em relação à Igreja

*ANTEVEJO um futuro de bênçãos para esta igreja, não obstante

sua localização no centro comercial da cidade, inserida numa realidade

socioeconômica desfavorável. Reconheço que ela é, como muitas outras em

grandes cidades do mundo, uma “downtownChurch”, com seus problemas

peculiares.

*ANTEVEJO, entretanto, a igreja a atingir com impacto a

comunidade próxima e a cidade em geral, mediante um ministério arrojado e

submisso ao Senhor, com sério compromisso de todos os seus membros;

*ANTEVEJO a igreja firme na fé, até a volta de Nosso Senhor

Jesus Cristo, fiel à sua história de igreja missionária e evangelizadora, de

púlpito firme na doutrina, e de gente dedicada à oração, à adoração, ao louvor,

ao testemunho;

*ANTEVEJO uma igreja cujas famílias façam de seus lares

verdadeiras “ecclesiolae”, como ocorreu com os cristãos do primeiro século,

isto é, a tornar suas casas pequeninas igrejas, pontos de irradiação da

mensagem da Redenção.

*ANTEVEJO uma igreja fiel à sua vocação no sustento de

missionários e na cooperação denominacional.

3.2 Para o meu Ministério

Neste momento de meu Ministério antevejo anos diferentes e

produtivos noutro plano que não o de um pastorado de igreja local.

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Verifico que as igrejas estão a carecer de obreiros bem

preparados, egressos de nossos Seminários;

Vejo que os pastores estão a precisar de mais ajuda e motivação

espiritual em seu ministério.

Isto, em termos de incentivo pessoal, e também por meio de literatura

adequada às demandas do pastoreio do povo de Deus.

Noto no futebol, esporte de minha preferência, quejogadores mais

velhos e bem sucedidos em sua carreira, costumam “pendurar as chuteiras”,

quando ainda válidos, em tempo de poderem ajudar, treinar, orientar e

incentivar os que formam as equipes em competição. E vêm a tornar-se

técnicos ou treinadores.

Por que não acontecer algo semelhante na vida ministerial?

Obreiros mais experientes podem deixar suas funções de pastoreio do povo de

Deus, para se tornarem “formadores”, “treinadores” e incentivadores dos que

estão no campo e em plena atividade pastoral.

Sinto, irmãos queridos, que Deus me impulsiona nessa direção: a

de deixar o pastorado efetivo para dedicar-me, sem embaraços, à missão de

ajudar a preparar e fortalecer novas gerações de obreiros, a serviço de nossas

igrejas.

Por outro lado, há muito desejo produzir material teológico e

didático: livros, artigos, apostilas, vídeos e outros materiais. Mas não tem

havido tempo, porque os misteres pastorais têm-me consumido todas as horas

dos dias, meses e anos.

Como sabem, há mais de 25 anos venho prelecionando para

pastores, e ensinando em seminários, faculdades e outras escolas de formação

ministerial, no Brasil e no Exterior; tenho participado de retiros, congressos e

cursos, com pastores e líderes; e observo o quanto precisam de estímulo e

ajuda em seu ministério tão desgastante.

Pois bem. Agora, depois de meditar e orar e buscar ao Senhor,

cheguei à conclusão deque não tenho “pernas” para correr o campo inteiro de

um efetivo pastorado de igreja, de acordo com o padrão de desempenho com

que me acostumei e os irmãos se acostumaram.

Ora, não me sentirei feliz em permanecer em “campo” do

pastorado, atuando em ritmo menor e mesmo com o risco de ser achado em“off

side”, quem sabe sem pique para buscar a bola, e fazer os “gols” com que o

Senhor é glorificado. Não. Isso não me parece razoável.

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Sinto que a esta altura de minha vida poderei marcar e festejar os

“gols” de meu Ministério e minha vida, d’outra maneira.

Como? Por meio de outros que eu vier aajudar a treinar e

preparar-se para atuação com eficácia e dedicação, no Santo Ministério.

Isso é possível, até mesmo porque já “joguei” em quase todas as

“posições” do Ministério Pastoral, nestes quase 36 anos e, desse modo, estarei

em condições de ajudar aos colegas em atividade.

Que antevejo, então, quanto ao meu futuro Ministério?

- Estar DISPONÍVEL para ajudar o Ministério Batista no Brasil e

fora do país, sempre que chamado a participar de retiros, seminários, cursos

de atualização teológica e outros eventos;

- DISPOR DE TEMPO e condições para produzir literatura

períódica e permanente, voltada para as necessidades das igrejas e seus

ministérios;

- OCUPAR-ME na ministração de cursos especiais, em

seminários, faculdades, institutos teológicos e outras escolas de formação

ministerial, em nível de graduação e pós-graduação;

- Estar DISPONÍVEL, na parte do calendário que houver, a fim de

atender convites de igrejas para conferências doutrinárias ou de

evangelização;

- Ter o TELEFONE E RESIDÊNCIA ACESSÍVEIS, em dias e

horários determinados, para atender pastores, estudantes e outros obreiros

cristãos desejosos de dialogar e orar sobre o Ministério Cristão.

Para esse novo plano de Ministério preciso, com minha

família, da intercessão dos irmãos e de apoio da igreja que, destarte, estará

servindo à Denominação Batista, à Comunidade evangélica e, especialmente,

às novas gerações de pastores.

Estas são as visões; este, o desafio, que submeto à minha

querida Primeira Igreja Batista em São Paulo, neste dia.

Como já falei à Diretoria da Igreja e ao competente e dedicado

Conselho Diaconal, não tenho candidatos à minha sucessão no pastorado

titular.

Sugiro, por isso, que a Igreja constitua uma Comissão de

Sucessão Pastoral, para logo iniciar seu trabalho, que promova cultos e

jornadas de oração e se prepare para receber relatório da Comissão, em tempo

oportuno. O ideal étermos em 1 de janeiro de 1997, se não antes, um novo

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Pastor, por quem estarei orando, a quem estarei ajudando no que ele precisar,

e cuja orientação e liderança estarei aceitando. Se a Comissão de Sucessão

Pastoral vier a precisar, em algum momento, de minha assessoria, estarei

disponível, mas espero que a escolha do candidato à minha sucessão seja

livre, sob a orientação soberana do Espírito Santo.

Esperamos aqui estar como membros e obreiro da Igreja, e

participantes dos cultos, sempre que não estivermos com compromissos ou em

viagem a serviço da Causa do Senhor.

Mas só permaneceremos como membros da Igreja, ou dela

freqüentadores, se nossa presença de nenhum modoconstranger o novo

Pastor titular.

Esclareço-lhes que nada estou reivindicando ou pleiteando.

Entretanto, em reunião com a Diretoria e plenário do

Conselho Diaconal, expus o presente plano, necessidades pessoais e de

minha família, e estou persuadido de que osDiáconos terão sabedoria e

discernimento para propor à Igreja o que lhes parecer justo e agradável a Deus

sobre mim, minha família e nosso futuro ministério.

Os irmãos sabem muito bemque só cuidamos, durante estes

anos, dos interesses da Igreja do Senhor, do crescimento espiritual das

pessoas, da pregação do Santo Evangelho e extensão do Reino de Deus.

Como ocorreu com Paulo, de ninguém cobiçamos prata ou ouro.

Nenhum bem material realmente valioso e durável adquirimos para nós, nestes

25 anos. Nosso alvo foi servir ao Senhor e gastar nossa vida a serviço de Seu

povo. Os irmãos constituem, todavia, nossa alegria, nossa fortuna,

nossa glória e nossa esperança.

Agradecidos, minha família e eu, pelos anos abençoados de seu

amor, cooperação e dedicação, e esperando estar no centro de suas orações e

seus cuidados, no novo plano de ministério, queremos dedicar-lhes as palavras

de Paulo aos Filipenses 1.6:

“tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós

começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo

Jesus”.

No amor de Jesus Cristo,

Pastor IrlandPereira de Azevedo

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Anexo 8

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Masculino

Idade: 33 anos

Nome da Igreja: 1ª Igreja Batista de São Paulo

1) Há quanto tempo é membro da igreja?4 anos

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência aos

necessitados

X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta: Item 3, secundário no

sentido de não ser omisso, porém a real responsabilidade parte dos governantes. A

igreja é um braço ou ferramenta que agraga, porém não PE fator decisivo.

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

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4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

1º- campanhas para arrecadação de fundos para envio junto a missões nacionais

2º- projeto Cristolândia – inserida uma igreja 24hs dentro da cracolandia para evangelismo

3º - Sustento de membros internos da igreja que tiveram o chamado para missões

4º- projetos ação social

5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

Visita em orfanatos e asilos com intuito de carinho a estas pessoas e falar de Jesus Cristo

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim. Ações sociais fazem parte da Missio Integral, é uma das formas de colocar em

prática o “Ide” de Jesus Cristo. Atitudes dizem mais que palavras.

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

Região centro (entorno da Igreja): 1ª drogas. 2ª alcoolismo, 3º fome, 4ª desemprego.

Fatores correlacionados com envolvimento de drogas

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

1ª Igreja dentro da cracolândia

2ª suporte social com internações em casa de recuperação

3ª Ação social

4ª encaminhamento para agencias de emprego, painel no subsolo

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Sim. Conheço que é um mecanismo de levar a palavra de Deus através de ajuda

humana, não somente fora do município, estado ou pais e sim no local em que

estamos. Colocar em prol das pessoas, nossas habilidades e aproveitar para falar de

Jesus Cristo.

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ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Feminino

Idade:18 anos

Nome da Igreja:1ª Igreja Batista de São Paulo

1) Há quanto tempo é membro da igreja?8 anos

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:_

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias?

Ações de assistência social são ações missionárias?

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

1- Ministrado a evangelização

2- Prestado assistência

3- Reestruturando a vida física e emocional na âmbito social

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5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

Visita à cristolândia, auxilio com as crianças

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim, prestar assistência àqueles que principalmente estão ao redor da nossa igreja

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

1-cracolândia

2- reestruturação social dessa pessoas que estão ao nosso redor

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

A igreja tem a cristolandia que é uma ação missionária que tem ajudado a salvar muitas

vidas e mudado completamente a vida dessas pessoas. Acredito que essa foi uma forma

que a igreja encontrou de se aproximar dessas pessoas e salva-las.

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Conheço. O objetivo principal é resgatar vidas para Cristo e quando se trata de ser

humano isso já me deixa impactada e nóscomo filhos de Deus precisamos ajudar

servir aqueles que necessitam de nós. E a missão é isso, não ajudar com aquilo

que nos sobra e sim com aquilo que eles necessitam.

Sejam elas físicas ou econômicas, é conseguir suprir essas necessidades.

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202

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Masculino

Idade:21 anos

Nome da Igreja:1ª Igreja Batista de São Paulo

1) Há quanto tempo é membro da igreja?

+ou- 7 anos

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:_

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

1.cristolandia

1. Moinho

1. Presidio

1. Missões Nacionais

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5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

Ofertas

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim, a igreja precisa buscar sempre o bem de todos, auxiliar pessoas que estão

passando por necessidades (fome,sem emprego)

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

1. Educação

2. Saúde

2. Segurança

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

Sempre que as pessoas que tem algum tipo de problema procuram ajuda na igreja são

sempre auxilia-daspelos pastores e membros

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Não

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ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Feminino

Idade:32 anos

Nome da Igreja:Primeira Igreja Batista em SP

1) Há quanto tempo é membro da igreja?

21 anos

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

x

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:Missão da Igreja é falar de

Jesus, demontrando o amor e cuidado uns com os outros.

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

O voluntariado muitas vezes se mistura à missão, os dois podem caminhar de forma

agregadora

4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

1. capelania hospitalar

2. capelania prisional

3. ministériocristolândia

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4. lar batista de criança

5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

1- Na adolescência viajava as cidades do interior falando de Jesus de porta em porta,

depois trabalhei na favela do Moinho no ministério DAT, em seguida, por 6 meses integrei

a capelaniaprisionalna penitenciária Carandiru, fiz parte da Cristolandia e agora faço visitas

regulares no lar batista de criança

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim. Igreja são pessoas e as pessoas mesmas precisam e necessitam serem

acompanhadas, seja em qual área for. O maior exemplo até hoje era a forma coma a

igreja primitiva fazia.

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

O problema do crack, protituição, falta de saneamento básico na favela do Moinho, tudo

aqui na região central.

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

A igreja tem seus ministérios de ação social interno e externo. Em relação as drogas

desenvolveram a cristolandia, neste trabalho, muitos homens e mulheres deixaram as ruas

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Já ouvi falar, mas confesso que não tenho tantas informações a ponto de ter uma

opnião.

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ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Masculino

Idade: 71 anos

Nome da Igreja: Primeira Igreja Batista de São Paulo

1) Há quanto tempo é membro da igreja? 10 anos

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta: Ide por todo o mundo e

pregai este evangelho a toda criatura Marcos 16.15

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

Contribuir para missões locais assim como a cristolandia, missões estaduais nacionais e

mundiais

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5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

Evangelismo estudos bíblicos e transformação da cracolândia em cristolandia entregas de

literaturas bíblicas

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim, Tirar pessoas das drogas, da miséria da pobreza física espiritual, alimentos

vestes e educação

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

1ª falta de Deus, drogas, alcolismo, ignorância, pois temor a Deus é principio da sabedoria

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

Falta muito a fazer, mas temos feito algo de muita importância assim como trabalho social

cristolandia visitas aos presídios, hospitais moradores de ruas etc

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Trabalho com drogados, que tem repercutido no mundo inteiro. Eu sinto maravilhado

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ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Feminino

Idade:76 anos

Nome da Igreja:Primeira Igreja Batista em São Paulo

1) Há quanto tempo é membro da igreja?

Hámais de 30 anos com 76 anos de crente

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

X X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

x

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? x X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

A nossa igreja está no caminho certo nos últimos tempos o que eu mais gostei, foi da obra

“Cristolândia”, erao que mais me incomodava era ver seres humanos perdidos incluindo

crianças. Louvado seja Deus pelo pastor Paulo e demais irmãos que cooperam com essa

missão

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5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

Várias, nãos só presente mais contribuindo e levando a mensagem através de folhetos,

bíblias e cheguei a ser presidente da união feminina dessa igreja e membro da união

estadual atuando na casa batista da Amizade.

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim, a exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo, que através da sociabilidade,

cumpriu sua missão levando o Reino de Deus, por onde Ele andava, precisamos

ter muito cuidado.

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

São muitos: o que mais me incomoda são as leis que são verdadeiras aberrações,

como o homossexualismo, o abandono, do adulto e da criança

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

Nossa Igreja tem feito o bastante apesar de necessitar que todos participem conforme

pudessem.

Eu devido doenças e morte na família tenho estado um pouco ausente por isso peço

perdão por não falar melhor sobre a nossa igreja, querida e amada.

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Não

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ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Feminino

Idade:64 anos

Nome da Igreja:1ª I.B. em São Paulo

1) Há quanto tempo é membro da igreja?desta igreja= 6 anos

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:A missão da Igreja é

restaurar vidas através de Jesus Cristo.

Restaurar em todos os sentidos. Tanto rico como o pobre, doente ou saudável

precisam de Jesus Cristo como único que através de seu sangue vertido na cruz e

a ressurreição pode dar dignidade as pessoas.

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

Quando um membro da igreja, salvo por Jesus Cristo, adentra em um local ou mesmo em

um espaço publico ele deve estar representando o senhor Jesus. Nós somos

embaixadores de Cristo.

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4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

A nossa Igreja tem sido missionário e junto com a JMN; com a cristolandia que pelo meu

entender tem sido campo fértil para restaurar vidas e alcançando os familiares,

contagiando outras cidades, estados e até os países que tem tido problemas com a

dependência química.

5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

Eu sou cooperadora da junta de missões nacionais e mundiais, estou viúva a menos de 2

anos e não pude participar indo ao campo; praças, bairros, instituições, etc. Mas sou

professora na rede púbica e tenho falado aos meus alunos

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim. O pastor titular, Paulo Eduardo, desde que chegou a esta igreja, 10 anos +ou-,

andou pelas redondeza do templo e viu seres humanos sendo tripudiados pelas

drogas.

Ele sentiu em seu coração e um certo dia disse: A cracolandia vai se tornar

Cristolandia. Um fato realizado e contagiado os Batistas Brasileiros.

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

1º Uso de drogas

2º muitos estrangeiros vivendo em condições subumanas

3º Crianças entrando no mundo do crime. Por falta dos pais que trabalham o dia todo

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

1º Cracolandia

2º Favelas, inclusive a do “Moinho”

3º Estrangeiros- bolivianos

4º Junta de Missôes Nacionais

5º Junta de Missões Mundiais

6º Capelania Hospitalar

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

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Creio que Missão Integral é o trabalho de todos os membros levando o evangelho aos

perdidos onde quer que atuarem na vida particular e pública

Como disse, sempre estou falando e testemunhando de Cristo aos que me cercam.

Atualmente estou pretendendo atuar na capelaniahospitala, por isso participei de um

curso no ultimo feriado prolongado.

Estou aguardando a entrevista no dia 16/5/15 para posteriormente fazer o estágio e

estar pronta para dar um alento para enfermos e familiares.

Creio que a capelania hospitalar é um trabalho missionário de grande impacto.

Até mesmo, os diretores dos hospitais contam com o nosso trabalho e está na

constituição nacional do Brasil.

Eu amo Missões, amo almas sedentas da palavra de consolo e restauração de suas

vidas.

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ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Masculino

Idade:72

Nome da Igreja:PIB São Paulo

1) Há quanto tempo é membro da igreja?

15 anos

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta: Auxiliando e orientando,

atendendo aos princípios éticos e morais, procurando sempre primar pelos

princípios doutrinários

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

Evangelizando e ajudando aqueles que estão ao relento, entregue as drogas, vícios,

prostituição (missão cristolandia) presídios. Mundial, nacional, estadual.

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5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

Como líder comunitário procurando auxilias, orientar na busca do conhecimento da palavra

de Deus, adolescentes jovens, adultos

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Fazer-se presente sempre que necessário ajudando aos que realmente precisam

de ajuda

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

Assistencia social, falta de política de política social, segurança, -------, educação. Sendo o

caso muito mais abragente em todas as áreas

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Não

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ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Masculino

Idade:56

Nome da Igreja:Primeira Igreja Batista S. Paulo

1) Há quanto tempo é membro da igreja?

25 anos

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:Falar de Jesus é prioridade

e salvação eterna dar assistência as famílias da igreja e também á comunicar ao

seu redor

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

Em todas as perguntas você tem a oportunidade de falar de Jesus e do Evangelho

4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

Missão Cristolndia

Envio de seminaristas para diversas regiões do país

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5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

Diretamente com a Igreja nenhuma, mas em meu trabalho sim e também aonde moro.

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim, ajudando que estão passando por alguma dificuldade á nível de saúde,

financeiro e também espiritual.

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

Drogas

Desemprego

Saúde pública

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

Drogas- Projeto Cristolandia e clinica de recuperação

Desemprego – mantendo relação com empresas e agencias de emprego

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Não conheço

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217

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Masculino

Idade:48

Nome da Igreja:P. Igr. Batista em SP

1) Há quanto tempo é membro da igreja?

07 anos

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:Creio que o foco da Igreja

deve ser, cristocentrico, gerando salvação e discipulado, com mudança de vidas. A

partir do individuo restaurado partir para a assistência social e a política (tudo é

política)

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

O “nascido de novo” deve ser um testemunho vivo e vibrante de seu salvador

através de uma inserção ativa na comunidade

4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

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- envio e sustento de missionários;

- missões urbanas (ex: cristolandia)

Pregações do evangelho (na igreja ou templo e pro seus membros individualmente

5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

Ações evangelísticas

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim, A igreja possui responsabilidade social e, através da pregação e do testemunho,

apresentar a sociedade obras sociais como meio de expressar a fé e o compromisso com

as vidas das pessoas vale lembrar que não existe outra instituição que faça mais obras

sociais que a igreja evangélica

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

- um centro urbano esquecido pelo governo local e tomado pelo tripé contravenção-drogas-

prostituição

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

- pregação, testemunho, formação de pequenos grupos nos lares e distribuído pelacidade

- missão cristolandia

Depto. De obras sociais

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Ainda não conheço

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ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Feminino

Idade:40 anos

Nome da Igreja:PIBSP

1) Há quanto tempo é membro da igreja?

Menos de um ano

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:_

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

Cristolandia

5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

Preciso me empenhar mais

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6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

Saúde

Educação

Segurança

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

Muito acolhedora

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Não

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ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA MEMBROS

Sexo: Feminino

Idade:35

Nome da Igreja:1ª Igreja Batista de SP

1) Há quanto tempo é membro da igreja?

20 anos, desde 1995

2) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência

aos necessitados

X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta:

3) Sobre ações missionárias da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

4) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

* Projeto Cristolandia

* Capelania Prisional

* Capelania Hospitalar

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5) De quais ações missionárias você já participou com esta igreja?

* Capelania – prisional

- hospitalar

* visita ao orfanato

*ação na praça

6) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Sim. Pq precisamos estar onde as pessoas estão, e independente da condição

social delas, portanto ide e pregai todo o mundo

7) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

* Falta de estrutura familiar

* Problemas $

* vícios ( droga, bebidas etc...)

8) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

Em nossa igreja as ações estão mais voltadas ao projeto cristolandia que é muito

importante porém precisa se estender a mais ações comunitárias, pois existem diversos

“problemas” ao redor diariamente

9) Você conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto dessa

teologia em sua vida?

Não conheço este termo “missão Integral”

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Anexo 9

ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA O PASTOR

Sexo: Masculino

Idade: 51 Tempo de pastorado:28 Cargo dentro da Igreja: Pastor presidente

Nome da Igreja: Primeira Batista de São Paulo

Endereço da Igreja: Praça princesa Isabel,233, São Paulo

1) Sobre a missão da Igreja, assinale a opção que melhor responda a pergunta,

em sua compreensão:

Perguntas Sim Sim, porém secundária Não

A missão da igreja é falar de Jesus X

A missão da Igreja é dar assistência aos

necessitados

X

A missão da igreja é intervir em

situações onde a dignidade humana é

violada (podendo estabelecer ações

políticas e públicas)

X

Se desejar faça seu comentário sobre sua resposta: Creio num agir amplo da

igreja, compartilhando Jesus, e o reino de Deus apresentado por Jesus.

2) Sobre ação missionária da Igreja, assinale a opção que melhor responda a

pergunta, em sua compreensão:

Perguntas Sim Não

Viagens ou eventos onde acontece evangelização são ações missionárias? X

Ações de assistência social são ações missionárias? X

É ação missionária trabalhar para o desenvolvimento e justiça dos seres

humanos?

X

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224

Se desejar faça um comentário sobre sua resposta:

3) Quais são as ações missionárias que a Igreja tem realizado? (Enumere pelo

grau de importância segundo sua compreensão).

1- Cristolandia

2- Novos Sonhos

3- Parceria com a Rede social do centro

4- Lar Batista -Jovens

4) Em sua compreensão a igreja possui uma responsabilidade social? Caso

sim, justifique e diga qual/quais? Caso não, justifique.

Razoável o engajamento da igreja com as questões sociais do centro é bom, mas pode ser

bem mais abrangente

5) Qual é a realidade social da igreja?

Classe média baixa, talvez 60% e média média 40%

6) Qual é a realidade social da comunidade na qual a igreja está inserida?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

Media baixa

7) A igreja promove alguma ação social que promova o desenvolvimento e a

justiça? Se sim, quais? (Enumere pelo grau de importância segundo sua

compreensão).

A nossa participação junto a rede social centro, com participações ------- da secretaria da

justiça e cidadania

8) Quais são os maiores problemas sociais que a comunidade tem enfrentado?

(Enumere pelo grau de importância segundo sua compreensão).

Drogas, promiscuidade sexual, moradores de rua

9) Qual tem sido a ação da igreja frente a esses problemas? (Enumere pelo grau

de importância segundo sua compreensão).

1-Cristolandia

2- Ações sociais como rede social centro

3- Capelania prisional

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10) O senhor conhece a Missão Integral? o que conhece? E qual é o impacto

dessa teologia em seu ministério?

Sim conheço, não li muito dos autores da missão Integral. li muito do pessoal da

teologia da libertação nos anos 80 e 90

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Anexo 10

Análise das Pastorais do Pastor Paulo Eduardo Gomes Vieira, publicadas nos

boletins da PIBSP.

Data Autor Tema Assunto

04/11/12 Pr. Paulo

Eduardo

Orai sem cessar Uma interpretação dessa expressão

como o ato de estar constantemente em

comunhão com Deus

11/11/12 Pr. Paulo

Eduardo

Em Patmos Ensina que as situações adversas,

quando vividas com Deus nos servem

como benção

25/11/12 Pr. Paulo

Eduardo

O que acontece

quando a Igreja ora

Fala sobre a importância da oração e faz

uma exortação para que a PIBSP ore

mais.

02/12/12 Pr. Paulo

Eduardo

Que diferença faz? Uma reflexão sobre a diferença que

Jesus deve fazer em nossa vida

24/02/13 Pr. Paulo

Eduardo

Juntos, somos Igreja Fala sobre a importância do andar

juntos e ter comunhão, e coloca esse

fato como um dos alvos da Igreja

03/03/13 Pr. Paulo

Eduardo

Conduzidos pelo

Espírito

Apresenta o Espírito Santo como o

condutor da igreja e de seu povo. E

destaca o papel da leitura bíblica e

oração nesse processo

31/03/13 Pr. Paulo

Eduardo

A pedra foi removida;

pedras ainda são

removidas

O Cristo que retornou a vida continua

fazendo milagres (removendo pedras)

de nossa vida

14/04/13 Pr. Paulo

Eduardo

Pelo poder do Espírito A necessidade do poder do Espírito para

a obra missionária

28/04/13 Não tem pastoral

05/05/2013 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida 26/04/15

12/06/13 Pr. Paulo “...E serás salvo, tu e A importância de testemunhar com o

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Eduardo tua casa” viver a Palavra de Deus dentro do lar

19/05/14 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida 04/05/14

26/05/13 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida 03/05/15

02/06/13 Pr. Paulo

Eduardo

Celebrando 114 anos:

...e participando do

sustento da Igreja

Estimula a participação no sustento da

igreja

06/07/13 Pr. Paulo

Eduardo

Palavra de

Restauração

A responsabilidade de conciliar a

intelectualidade da Palavra à vida

prática.

07/07/13 Pr. Paulo

Eduardo

Celebrando 114 anos:

Compartilhando com

outros o amor de

Cristo

Fala sobre o amor de Jesus e desafia a

igreja a compartilhar o amor de Jesus

com o próximo, e levá-lo as celebrações

da igreja

14/07/13 Pr. Paulo

Eduardo

O Senhor esteve entre

nós

Relata a possibilidade de a igreja ter

experiências com os céus ainda hoje

21/07/13 Pr. Paulo

Eduardo

O Senhor fará

maravilhas

Trata os aspectos positivos de esperar

coisas boas e grandes do Senhor. Dá

destaque ao papel importante que a

santidade ocupa nesse processo

28/07/13 Pr. Paulo

Eduardo

Jovens diferentes Fala sobre três posturas necessárias para

juventude ser diferente, a saber: Ser

críticos em relação ao mundo;

Alimentar a mente com coisas boas;

fazer a vontade de Deus

18/08/13 Pr. Paulo

Eduardo

Graça visível A igreja deve ser manifestação da graça

de Deus

25/08/13 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida de 20/10/13

Título alterado por:

“Então disse eu: Ai de

mim..porque sou

homem de lábios

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impuros

20/10/13 Pr. Paulo

Eduardo

A presença de Deus

produzindo

restauração

Um convite àcomunhão com Deus e a

santidade

03/11/2013 Pr. Paulo

Eduardo

Frutos do Espírito no

lar

A importância de cultivar e aplicar os

frutos do Espírito no lar

10/11/13 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida -06/07/13

08/12/13 Pr. Paulo

Eduardo

A luz resplandece nas

trevas: É natal

O nascimento de Jesus é apresentado

como o reino que lança luz sobre as

questões espirituais mas que nos chama

a uma vida de santidade

15/12/13 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida 06/07/13

12/01/14 Pr. Paulo

Eduardo

Aba A necessidade de cultivar um

relacionamento de intimidade com

Deus, onde nos vemos como filhos.

19/01/14 Pr. Paulo

Eduardo

Reconsiderar Fala da importância de se fazer uma

auto-analise crítica para reconsiderar o

nosso viver

23/02/14 Pr. Paulo

Eduardo

Expectativa Buscar a Deus com a motivação e

expectativa corretas

06/04/14 Pr. Paulo

Eduardo

Compaixão Relação entre compaixão e missão. A

importância de ver o sofrimento a nossa

volta

13/04/14 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida de 31/03/13

20/04/14 Pr. Paulo

Eduardo

Repetidade 31/03/14 e

13/04/2014

27/04/14 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida 06/04/2014

04/08/14 Pr. Paulo

Eduardo

Minha casa lugar de

benção

Atitudes que abençoam ou amaldiçoam

a família

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229

11/05/14 Pr. Paulo

Eduardo

Minha casa, casa de

oração

As casas dos membros como casas de

oração

27/07/14 Pr. Paulo

Eduardo

Repetição de 03/03/13

Titulo alterado para:

Condução do Espírito

Santo

14/09/14 Pr. Paulo

Eduardo

Sejam luz e façamos

missões

A importância de irmos e cumprirmos a

missão fora dos portões da igreja

21/09/14 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida de 14/04/13

Título alterado para:

“Poder do Espírito,

missões aqui, missões

lá”

12/10/14 Pr. Paulo

Eduardo

Aprendendo a

aprender com as

crianças

Apresenta a criança como o modelo a

ser seguido no processo de aprendizado

02/11/14 Pr. Paulo

Eduardo

Repetido de 03/03/13

e 27/07/14 Titulo

alterado para:

“Conduzidos pelo

Espírito”

09/11/14 Pr. Paulo

Eduardo

Repetido de 03/03/13;

27/07/14; 02/11/14

Título: “Conduzidos

pelo Espírito”

30/11/14 Pr. Paulo

Eduardo

Igreja conduzida pelo

Espírito Santo: Culto

fervoroso

Fala sobre 3 ingredientes para uma

adoração inspiradora e contagiante, a

saber: Fervor; comunhão;

expressividade na adoração

28/12/14 Pr. Paulo

Eduardo

O verbo se fez carne:

É natal

Desafia a viver de maneira a refletir em

nosso dia a dia os princípios

expressados pelo Cristo encarnado.

04/01/15 Pr. Paulo Providencia e confiar Fala sobre a importância de confiar em

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Eduardo Deus

01/02/15 Pr. Paulo

Eduardo

Em busca de

Relacionamentos

saudáveis

A igreja de ser um ambiente

caracterizado por relacionamentos

saudáveis, relacionamento com Deus e

com o próximo.

08/02/15 Pr. Paulo

Eduardo

Grandes celebrações e

Pequenos grupos

Desafia a igreja a considerar a

importância dos cultos onde a igreja

toda se reúne, mas também os pequenos

grupos

15/02/15 Pr. Paulo

Eduardo

O Senhor fará

maravilhas

Fala sobre a importância da

santidadepara que o Senhor realize suas

maravilhas

22/02/15 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida de 15/02/15

01/03/15 Pr. Paulo

Eduardo

Novos Sonhos O valor da santidade

22/03/15 Pr. Paulo

Eduardo

Sonhar: mesmos

diante das más

noticias

Importância nos apegarmos a Deus

frente aos problemas

12/04/15 Pr. Paulo

Eduardo

Novos Sonhos O valor dos pequenos grupos

26/04/15 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida de 11/05/14

03/05/15 Pr. Paulo

Eduardo

Repetida de 03/11/13

17/05/15 Pr. Paulo

Eduardo

Terceirização Trata sobre a tendência da terceirização

das coisas espirituais

07/06/15 Pr. Paulo

Eduardo

Repete de 01/02/15

Título alterado por:

“Pessoas precisam de

pessoas”

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