desenvolvimento do teatro na história

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Apresentação O objetivo desta apresentação é esclarecer-vos acerca do processo de formação do teatro, sua consolidação enquanto arte, suas concepções, suas vertentes mais visíveis, simultaneamente historicizando este processo em relação a sociedade a qual pertenceu. Para começo de conversa Indagamos, primeiramente: O que é o teatro? Você pode defini-lo, a partir de suas experiências, o teatro como um tipo de arte na qual os atores representam a sua vida ou da sociedade em que vive com o objetivo de distrair ou transmitir reflexões . Ou que o teatro é imitação das ações humanas, seja qual for esta ação (o ato de tomar café pela manhã, ou escovar os dentes, ou tomar banho, ir ao parque, jogar futebol, etc.), com o intuito de suscitar algum pensamento . Ou ainda que o teatro seja um instrumento, um método, para transmitir uma ideia , colocar um questionamento , passar um conhecimento . Ao longo da história humana vimos, em diversos momentos essa forma de expressão presente constantemente com um ou vários destes aspectos citados, até se tornar, na contemporaneidade em um campo de estudos autônomo , com teorias e métodos próprios. Ao longo desta explanação, você perceberá estes aspectos se destacando de diferentes formas em diversos períodos históricos. Origem Um questionamento essencial para esta apresentação é “quando surgiu o teatro, quem o inventou, aonde, por que”? O teatro surgiu a partir do desenvolvimento do homem, como parte das suas necessidades . O homem primitivo dá origem às primeiras manifestações teatrais na forma de danças dramáticas coletivas que abordavam as questões do seu dia a

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Apresentação

O objetivo desta apresentação é esclarecer-vos acerca do processo de formação do teatro, sua consolidação enquanto arte, suas concepções, suas vertentes mais visíveis, simultaneamente historicizando este processo em relação a sociedade a qual pertenceu.

Para começo de conversa

Indagamos, primeiramente: O que é o teatro? Você pode defini-lo, a partir de suas experiências, o teatro como um tipo de arte na qual os atores representam a sua vida ou da sociedade em que vive com o objetivo de distrair ou transmitir reflexões. Ou que o teatro é imitação das ações humanas, seja qual for esta ação (o ato de tomar café pela manhã, ou escovar os dentes, ou tomar banho, ir ao parque, jogar futebol, etc.), com o intuito de suscitar algum pensamento. Ou ainda que o teatro seja um instrumento, um método, para transmitir uma ideia, colocar um questionamento, passar um conhecimento.

Ao longo da história humana vimos, em diversos momentos essa forma de expressão presente constantemente com um ou vários destes aspectos citados, até se tornar, na contemporaneidade em um campo de estudos autônomo, com teorias e métodos próprios. Ao longo desta explanação, você perceberá estes aspectos se destacando de diferentes formas em diversos períodos históricos.

Origem

Um questionamento essencial para esta apresentação é “quando surgiu o teatro, quem o inventou, aonde, por que”?

O teatro surgiu a partir do desenvolvimento do homem, como parte das suas necessidades. O homem primitivo dá origem às primeiras manifestações teatrais na forma de danças dramáticas coletivas que abordavam as questões do seu dia a dia, uma

espécie de ritual de celebração, agradecimento ou perda.

Com o surgimento da civilização egípcia os pequenos ritos tornaram-se grandes rituais formalizados e baseados em mitos. Estes rituais propagavam as tradições e serviam para o divertimento e a honra dos nobres. É importante destacar que estas formas de teatro até então apresentadas não necessitavam de diálogos, portanto não havia textos.

Grécia Antiga

Na Grécia é que o teatro surge com a proposta de encenação. O próprio nome é de origem grega (théatron) e significa olhar com atenção, contemplar no sentido de interpretar, de descobrir o significado mais profundo.

Os gregos viam o teatro como uma forma de   arte  em que um ator ou conjunto de atores, interpreta uma história ou atividades para o público em um determinado lugar, com o auxílio de dramaturgos ou de situações improvisadas, de diretores e técnicos, tendo

como objetivo apresentar uma situação e despertar   sentimentos   no público . Também se denomina teatro o local apropriado para esta forma de arte.

A consolidação do teatro, na Grécia Antiga, deu-se em função das manifestações em homenagem ao deus do vinho, Dioniso ou Baco (em Roma). A cada nova safra de uva, era realizada uma festa em agradecimento ao deus, através de procissões. Com o passar do tempo, essas procissões, que eram conhecidas como "Ditirambos", foram ficando cada vez mais elaboradas, e surgiram os "diretores de Coro", os organizadores de procissões. Os participantes com o auxílio de fantasias e máscaras, cantavam, dançavam e apresentavam diversas cenas das peripécias de Dionísio e, em procissões urbanas, se reuniam aproximadamente 20 mil pessoas.

Nesta época os espetáculos eram apresentados ao ar livre, em lugares públicos, como a ágora (praça central, coração social da polis). Depois foram usados espaços naturais que proporcionassem uma boa acústica (propagação do som), geralmente em algum declive

de uma encosta. As montanhas e colinas de pedra serviam de suporte para as arquibancadas. Os atores eram todos do sexo masculino. Por se apresentarem usando máscaras (as personas) representando os sentimentos do personagem, faziam também os personagens femininos.

O teatro grego é também popularizado por dois estilos predominantes: a tragédia e a comédia. As tragédias eram histórias dramáticas que se baseavam nas relações entre homens e deuses, nos conflitos e paixões humana, tendo, geralmente um final dramático. As comédias objetivavam fazer críticas à sociedade e costumes da época, ridicularizava pessoas e situações e provocava o riso na plateia.

*Com o crescimento da religião cristã na Europa na antiguidade, o teatro é proibido, pois satirizava seus cultos.

O teatro medieval

O teatro ressurge somente a partir do século X através da própria igreja. Daí o fato de o teatro medieval ser repleto de características religiosas.

A princípio eram encenados dramas litúrgicos em latim, escritos e representados por membros do clero (padres e monges). Os fiéis participavam como figurantes e, mais tarde, como atores e misturavam ao latim a língua falada no país. As ocasiões de representações eram nas festas do ano litúrgico (Ressurreição de Cristo ou Páscoa). As mesmas eram longas e podiam levar vários dias.

O espaço cênico medieval no início era no interior da igreja. Mas quando as peças tornaram-se mais elaboradas e exigiram mais espaço, passaram para a praça em frente à igreja.

Palcos largos deram credibilidade aos cenários extremamente simples, por exemplo: uma porta simbolizava a cidade, uma pequena elevação, indicava uma montanha; uma boca de dragão, à esquerda, indicava o inferno; e outra elevação, à direita, simbolizava o

paraíso. No decorrer dos tempos surgiram grupos populares que improvisavam o palco em carroças e se deslocavam de uma praça à outra.

Em meados do século XVI, ao perceber que a representação dos mistérios misturava abusivamente o litúrgico e o profano, a igreja passou a proibi-los. Essa medida consolidou o teatro popular, contudo, a partir de então, o teatro medieval entrou em franco declínio.

Os grupos se profissionalizaram e dois gêneros se fixaram: as comédias bufas, chamadas de tolices, com intenções políticas ou sociais; e a farsa que satirizava o cotidiano.

O teatro renascentista

Renascimento é como se denomina o período pós-Idade Média, no qual a Europa passa por rápidas transformações em todos os setores da sociedade; o comércio marítimo, principal atividade econômica do período, influenciava a moda, o transporte (uso das carruagens), a arquitetura, os costumes...

Na Itália, surge a Commedia Dell'Arte, que se baseava em espetáculos teatrais populares, apresentados nas ruas, com textos improvisados e personagens de destaques como Arlequim, Pierrot, Colombina, Polichinelo, Pantaleão, Briguela.

Contudo, o teatro nacional desenvolve-se principalmente na Inglaterra e na Espanha, evocando as memórias antigas e os feitos e grandezas do passado, misturando o mundo da cavalaria com os clássicos (grego-romanos) redescobertos. Na Inglaterra, país de grande influência neste período, o teatro se sobressai.

A rainha Elizabeth (da Inglaterra) deu proteção ao teatro da época, pois seu gosto pelos espetáculos populares conseguiu contrabalançar as tendências do reino. Bailados, mágicas, representações cênicas de todo tipo eram apresentadas por onde quer que a rainha fosse.

Foi nesse momento que o teatro elisabetano cresceu e autores escreveram suas obras. O autor de maior nome deste período foi William Shakespeare (1564-1616). Shakespeare é considerado um dos mais importantes dramaturgos e escritores de todos os tempos. Seus textos são obras de arte e permanecem vivos e atuais, retratados frequentemente no cinema, no teatro, na televisão e na literatura.

Ainda que inspiradas pelos valores do teatro clássico (grego), as tragédias de Shakespeare têm uma diferença marcante que é a morte e/ou o sofrimento do herói em cena, aos olhos da plateia. Nas tragédias gregas isso não acontecia. Exemplo: quando Édipo, em um ato de desespero, fura seus olhos com os alfinetes da roupa de sua mãe, ou quando Medéia mata seus filhos, é outro personagem que vem a cena e narra o acontecido ao público. Shakespeare tinha uma predileção por temas ligados à própria história da Inglaterra e optou apaixonadamente em relação aos problemas de poder e do destino.

Neste período os teatros tornam-se construções suntuosas. Tinham a forma de um círculo, com um grande pátio interno onde cabiam de 500 a 600 pessoas que assistiam ao espetáculo a preços baixos. As arquibancadas estavam divididas em três andares erguidos ao redor do palco e acolhiam os mais ricos. Calcula-se que comportava mais de 1.500 espectadores. E nos dias de casa lotada comportava em torno de 2.000 pessoas.

A disposição do palco era para a ação dramática e para uma peça que se desenrolava sem interrupções, rápida e com grande número de figurantes. Havia pouco ou quase nenhum cenário, os personagens femininos eram representados por rapazes, pois na época as mulheres ainda não podiam representar. As mulheres raramente apareciam na plateia, com exceção de prostitutas. As demais iam ao teatro e usavam máscaras.

O Teatro do Romantismo

O romantismo como vertente teatral tem seu destaque entre os séc. XVIII e XIX, destacando-se figuras como Victor Hugo (França), Goethe (Alemanha), Almeida Garrett (Portugal). Sua principal característica era a procura do homem em conhecer a si próprio. O foco se torna muito mais individual e não mais social, o teatro volta-se para o ser humano, as peças falam sobre emoção, e surge o melodrama.

Essas características podem ser bem visualizadas na obra “Fausto” de Goethe, um poema de proporções épicas que relata a tragédia do Dr. Fausto, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o demônio Mefistófeles, que o enche com a energia satânica insufladora da paixão pela técnica e pelo progresso.

O Teatro pós-Romantismo

Em finais do século XIX surgem o Realismo e o Naturalismo, representando temáticas onde o indivíduo libertava-se de amarras morais e éticas, desadequadas aos novos tempos e à condição humana, rompendo com determinismos inertes, valorizando-se como ser social. É neste período que são definidos os papéis do diretor, do cenógrafo e do figurinista. Até então, o próprio ator escolhia suas roupas, um único cenário era usado para diversas montagens, e não estava definida a posição do diretor como coordenador de todas as funções.

No primeiro quartel do século XX surge o Expressionismo, considerado antirrealista em termos de teatro, pois substituía a fala tradicional em estilo coloquial pela fala em estilo poético ou declamatório e preferia cenários fantásticos aos tradicionais ambientes familiares. O teatro expressionista baseava-se na valorização do cenário como modo de reprodução de ideias, na mecanização da sociedade e no repensar na importância do subconsciente.

Século XX

A partir do realismo e naturalismo o teatro evolui e se torna um instrumento de discussão e crítica da sociedade, mesmo com a falta de preocupação da reprodução da

realidade nos cenários e figurinos, os temas tratados ilustram a realidade social. O teatro nessa época trabalha questões políticas e questões que refletem criticamente aspectos da sociedade vigente.

Recordemos como exemplo a comedia social, criticamente mordaz, mas divertida, onde se destaca Bernard Shaw. Ou o alemão Bertolt Bretch, a maior figura do teatro do século XX, que procurava a “desintoxicação do Homem”.

No Brasil

O teatro brasileiro surgiu quando Portugal começou a fazer do Brasil sua colônia. Os jesuítas com o intuito de catequizar os índios, trouxeram não só a nova religião católica, mas também uma cultura diferente em que se incluía a literatura e o teatro.

Assim, a primeira forma de teatro que os brasileiros conheceram foi a dos portugueses, que tinha um caráter pedagógico, baseado na Bíblia. As peças eram elaboradas pelo famoso padre Anchieta.

O teatro realmente nacional só veio se estabilizar em meados do século XIX, quando o Romantismo teve seu início. O teatro deste período fica marcado pela tragédia romântica de Gonçalves Magalhães com a peça: “O Poeta e a Inquisição”, a primeira tragédia escrita por um brasileiro, e única de assunto nacional.

A Semana de Arte Moderna de 1922, emblema da modernidade artística, não teve a presença do teatro.

De 1937 a 1945, a ditadura (getulista, do Estado Novo) procura silenciar o teatro, mas a ideologia populista, através do teatro de revista, mantém-se ativa. Oswald de Andrade, com a publicação de O Rei da Vela (1933), O Homem e o Cavalo (1934) e A Morta (1937), enfrenta desinibido e corajoso, a sufocante ditadura de Getúlio Vargas.

Veio, em 1964, o golpe militar, e cabe dizer que ocorreu uma hegemonia da censura, fazendo com que muitos artistas tenham de abandonar os palcos e exilar-se em outros países. Afirmou-se um teatro de resistência à ditadura, desde os grupos mais engajados, como o Arena e o Oficina de São Paulo e o Opinião, do Rio, aos dramaturgos como Augusto Boal (criador do teatro do oprimido, que alia o teatro à ação social), Dias Gomes, Oduvaldo Vianna Filho e Plínio Marcos (autor da trilogia maldita: “Barrela”, “Navalha na Carne”, “Abajur Lilás”, até hoje encenada pela companhia ‘teatro Máquina’ aqui em Fortaleza). 

Com a década de 1980, após a chamada "abertura política", o experimentalismo e a investigação fizeram surgir uma nova onda de diretores, gerando uma fragmentação estética de múltiplas direções, mas com uma saudável preocupação com a linguagem teatral dramática e cênica.

Hoje o Brasil tem um teatro cotidiano, com dezenas de espetáculos em cartaz nas diversas regiões, de autores brasileiros e estrangeiros, clássicos e modernos, dos mais

variados gêneros e tendências ou linhas de encenação que alimentam as produções teatrais locais e os inúmeros festivais de teatro, encontros, congressos e seminários que se multiplicam anualmente pelo país.

Conclusão

Dá para perceber que, com tantas influências, o teatro de hoje é uma arte muito rica. Temos a ópera, o teatro de bonecos, os musicais, o teatro feito em espaços alternativos, entre muitos outros. Não conseguiríamos aqui explorar, neste curto tempo, todas as vertentes e características do teatro ao longo da história humana, para isso seriam necessários, meses, talvez anos, nem esse foi nosso objetivo. Nosso objetivo foi mostrar que o teatro esteve sempre presente nas sociedades humanas, das primitivas às contemporâneas, assumindo em sua forma características destas sociedades, elementos próprios de cada época.

Quando apareceu o cinema, há mais de cem anos, muita gente previu o fim do teatro. Falavam que o cinema iria substituí-lo, porque podia criar histórias com muito mais semelhança com a realidade. Mas isso não aconteceu e não acontecerá, pois o teatro é uma necessidade do ser humano, nós representamos diariamente, temos nossos rituais privados, subjetivos, inconscientes e mesmo que não o façamos por profissão, somos atores constantes de nossas vidas.