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Anexo 1 Documentos para a história do Teatro do Bairro Alto | Transcrições

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Anexo 1

Documentos para a história do Teatro do Bairro Alto |

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ADL 1

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 28, ff. 82-83.

Escritura de arrendamento do palácio de conde de Soure para nele se fazer a Casa

da Ópera do Bairro Alto (6 de Outubro de 1760).

[82] Em nome de Deus, ámen, saibam quantos este instrumento de arrendamento e

obrigação virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e

setecentos e sessenta, ao primeiro dia do mês de Outubro, nesta cidade de Lisboa, no

escritório de mim, tabelião, pareceram presentes, a saber de uma parte, Francisco Xavier

Freire em nome e como procurador do ilustríssimo e excelentíssimo senhor conde de

Soure, Dom João da Costa e Sousa Carvalho Patalim, e de outra parte, João Gomes

Varela, que foi boticário, morador no Bairro da Cotovia, e de outra parte António

Rodrigues Gil, mestre-de-obras do ofício de pedreiro, morador na Rua de São Bento, e

João da Silva Barros, que foi entalhador, morador em a Rua do Vale. E logo por ele

Procurador Francisco Xavier foi apresentado o alvará de procuração do dito

excelentíssimo conde de Soure, cujo teor é o seguinte: o conde de Soure, do conselho de

sua majestade, pelo presente alvará de procuração, dou poder a Francisco Xavier para

assinar uma escritura de arrendamento que faço do meu palácio do pátio da Rua da Rosa

das Partilhas, por tempo de quinze anos, a João Gomes Varela e a António Rodrigues

Gil e a João da Silva Barros, para nele fazerem casa de ópera, e todas as acomodações

que lhe forem precisas, tanto para a dita casa, como para poderem alugar as casas que

lhe não servirem, demolindo algumas paredes, e levantando outras que lhe forem

precisas, tudo à sua custa, pagando-me de renda cada ano duzentos e quarenta mil réis,

pagos às pagas costumadas, de Natal e São João; cujo arrendamento há de ter princípio

no primeiro de Janeiro do ano próximo que vem de mil e setecentos e sessenta e um,

aproveitando-se dos materiais que acharem no dito palácio, excepto do que se acha no

quarto que está principiado de novo, sem que dos ditos materiais lhe peça em tempo

algum remuneração; e eles, rendeiros, findos os quinze anos, deixarão ficar no dito

palácio todas as benfeitorias que fizerem de paredes, telhados, frontais de pedra, ou

tijolo, portas, e madeiramentos; e só poderão levar a fábrica da casa e placa, camarotes e

seus corredores, e repartimentos de madeiras, que não ofenda as casas, ou paredes; e

passados os quinze anos, não continuando o palácio, querendo alugá-lo, preferirão eles a

outra qualquer pessoa, e os conservarei pagando-me mais cinquenta mil réis, além dos

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duzentos e quarenta mil réis, assim não poderei alugar o dito palácio a outra pessoa,

nem poderei deitá-los fora, salvo for para fazer o palácio novo, isto passados os quinze

anos, que antes de completos e findos o não poderei fazer sem consentimento deles

rendeiros. E querendo pôr fora aos ditos rendeiros antes de findos os quinze anos, o não

poderei fazer sem primeiro depositar em poder deles rendeiros ou seus bastantes

procuradores, toda [82v] a importância do gasto que se tiver feito, tanto nas benfeitorias

como na fábrica da casa, que tudo será avaliado por louvados por uma e outra parte

como também todos os interesses que podiam perceber, no tempo que lhe faltar para

findar o dito arrendamento dos quinze anos; e serão obrigados, eles, rendeiros, a fazer

todos os reparos e consertos no dito palácio à sua custa enquanto o ocuparem. E no caso

que no dito palácio velho não tenham comprimento bastante para a dita casa, se poderão

valer do quarto novo que fica para o jardim, até vinte palmos, pouco mais, ou menos,

não ofendendo a pedraria nova do dito quarto. E serão obrigados eles, rendeiros, dar-me

um camarote junto à boca do teatro para todos os dias de ópera, ou qualquer

divertimento que houver na dita casa, sem dele pagar cousa alguma, e dar-me a chave

dele, e sua serventia separada; e poderá o dito meu procurador assinar a escritura na

forma declarada, para o que lhe concedo os poderes em direito necessários e para assim

o cumprir e guardar obrigo meus bens; e para fazer bom o dito arrendamento por mim e

meus sucessores, querendo tirarão eles rendeiros provisão real, para mais segurança

deles, assinando também a escritura o imediato sucessor ao morgado, meu irmão Dom

José da Costa, obrigando-se eles rendeiros, uns por outros, como fiadores e principais

pagadores, e para todo o referido mandei passar este alvará em Lisboa, a trinta de

Setembro de mil sete centos e sessenta: Declaro mais que o meu camarote não há de ter

menos comprimento que o que tem o marquês de Louriçal na Rua dos Condes; e o vão

de vinte palmos, que ocuparem na obra nova para o comprimento do teatro, há-de ficar

o vão de baixo livre para o uso que eu lhe quiser dar e será vista a obra que se fizer pelo

mestre Francisco da Costa, para que me não faça prejuízo ao quarto novo, e ao mais que

me pertence; Lisboa, a trinta de Setembro de mil e sete centos e sessenta = conde de

Soure = E trasladado o dito alvará de procuração, o concertei com o próprio a que me

reporto que fica em meu poder e cartório na forma do estilo. E reconheço o sinal dele

ser do dito excelentíssimo conde; e por ele procurador, Francisco Xavier foi dito perante

mim, tabelião e testemunhas abaixo nomeadas, que por esta escritura e na melhor forma

de direito em virtude do dito alvará de procuração, arrenda e dá de arrendamento o dito

palácio aos ditos João Gomes Varela, António Rodrigues Gil e João da Silva Barros,

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pelos ditos quinze anos que hão-de principiar o primeiro de Janeiro do ano próximo que

vem de mil e setecentos e sessenta e um e acabar no último de Dezembro do ano de mil

e setecentos e setenta e cinco, e com todas digo e setenta e cinco; pelo dito preço de

duzentos e quarenta mil réis cada ano pagos às meias pagas costumadas por São João e

Natal; e com as mais condições e cláusulas, declarações, penas e obrigações

mencionadas no dito alvará de procuração acima trasladado, a que em tudo e por tudo se

reporta ele procurador do dito senhor; e por eles João Gomes Varela, António

Rodrigues Gil e João da Silva Barros foi dito que eles assim aceitam este arrendamento

pelo dito tempo de quinze anos e pelo dito preço de duzentos e quarenta mil réis cada

ano, pagos às meias pagas costumadas por São João e Natal, e com as mais cláusulas,

condições, penas e obrigações declaradas no referido alvará de procuração do dito

excelentíssimo conde, e ao cumprimento de tudo obrigam eles rendeiros pelo que lhes

toca cumprir suas pessoas e todos seus bens móveis e de raiz presentes e futuros e o

melhor parado deles, e isto cada um per si e cada um por todos três, como correos

debendi, e como fiadores e principais pagadores cada um de todos três, à eleição do dito

excelentíssimo conde senhorio, que poderá, se quiser [83] se quiser, obrigar e executar a

todos três a um mesmo tempo, e haver o seu inteiro pagamento por todos ou somente

por aquele, ou aqueles que melhor lhe parecer, e mais bem parados achar; e a sentença

alcançada contra qualquer deles se poderá executar nos bens de todos; e outorgam de

responder por todo o aqui conteúdo, nesta cidade de Lisboa perante os corregedores do

cível da corte, para o que renuncio o juízo de seu foro domicílio e os mais privilégios

presentes e futuros que em seu favor alegar possam. E que havendo qualquer deles

rendeiros de serem citados e requeridos pelo cumprimento desta escritura e por qualquer

dependência dela, em qualquer tempo que seja, se estiverem, ausentes desta corte, o

poderá ser em seus nomes o Distribuidor dos Tabeliães de Notas desta cidade, ao qual

constituem seu procurador bastante com poder de confessar as dívidas e obrigação desta

escritura em Juízo e fora dele assinar termo de confissão, nomear bens à penhora e para

todas as mais diligências necessárias até final e execução e real pagamento. E porquanto

depois de estar até qui lavrada esta escritura, sucedeu arrepender-se o dito António

Rodrigues Gil e se ajustou entrar em seu lugar neste arrendamento Francisco Luís,

mestre pedreiro, morador na travessa das Vacas, acrescentou o dito excelentíssimo

conde no dito seu alvará de procuração a declaração do teor seguinte - "Declaro que em

lugar do dito António Rodrigues Gil entra Francisco Luís" - com a rubrica do dito

excelentíssimo conde = e assim declararam eles partes, que este arrendamento se

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entenderá feito com as referidas obrigações e condições a eles ditos João Gomes

Varela, João da Silva Barros e Francisco Luís, e estes todos três obrigados cada um per

si e cada um por todos três na forma acima referida e estando com efeito também

presente o dito Francisco Luís por ele foi dito que ele assim aceita e entra neste

arrendamento e se submete a todas as cláusulas desta escritura em lugar do dito António

Rodrigues Gil com quem estava continuada. E em testemunho de verdade assim o

outorgaram, pediram, e aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar ausente e declaro que

esta escritura se outorgou e assinou aos seis do dito mês de Outubro. Dizendo mais o

dito Francisco Xavier Freire que ele como procurador que também é do dito imediato

sucessor Dom José da Costa, presta a sua outorga e consentimento a todo o estipulado

nesta escritura e isto em virtude de uma sua procuração que apresentou reconheço por

verdadeira e abaixo irá trasladada e foram a tudo testemunhas presentes Francisco

Borges, mestre carpinteiro, morador na dita Travessa das Vacas, e João Lucas Lopes,

mestre serralheiro, morador de fronte do chafariz do Rato, que disseram conheciam a

eles rendeiros e eu, tabelião, conheço ao procurador do senhorio e todos nestas notas

assinaram e eu António da Silva Freire, tabelião, o escrevi = risquei = São Bento

=interlinhei= Vale = Francisco Xavier Freire

João Gomes Varela

Francisco Luís

João da Silva Barros

De João Lucas Lopes testemunha Francisco Borges Traslado da Procuração do Imediato

sucessor de que

[83v] se faz menção. Pelo presente alvará de procuração, dou poder a Francisco Xavier

Freire, para que por mim e em meu nome possa assinar uma escritura de arrendamento

que se faz do palácio do pátio da Rua da Rosa para se fazer casa de ópera, para o que

dou o meu consentimento e não tenho dúvida se faça a dira escritura, para o que lhe

concedo os poderes em direito necessários. Lisboa, vinte e cinco de Setembro de mil e

setecentos e sessenta, Dom José da Costa. E tresladada a concertei com a própria a que

me reporto e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi.

Confirmada por mim tabelião

António da Silva Freire

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ADL 2

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de notas, liv. 28, ff. 92v-94v.

Escritura de constituição de sociedade entre os empresários do Teatro do Bairro

Alto e João Pedro Tavares e José Duarte (11 de Outubro de 1760).

[92v] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de contrato, sociedade

e obrigação ou qual em direito melhor lugar haja virem que no ano do nascimento de

Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil e setecentos e sessenta aos onze dias do mês de

Outubro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceram presentes, a

saber: de uma parte, João Gomes Varela, morador na Cotovia, João da Silva Barros,

morador na Rua do Vale, e Francisco Luís, morador na Travessa das Vacas; e de outra

parte, João Pedro Tavares, morador na Cotovia e José Duarte, morador na Rua das

Parreiras do Jogo da Péla. E logo por eles, João Gomes Varela, João da Silva Barros e

Francisco Luís, foi dito que eles tinham tomado de arrendamento ao excelentíssimo

Conde de Soure o seu palácio do Pátio da Rua da Rosa das Partilhas, por tempo de

quinze anos que hão de principiar no primeiro de Janeiro próximo pelo preço e mais

condições que constam da escritura do dito arrendamento feita nesta nota em o primeiro

dia do mês de Outubro, e isto para nele fazerem casa de ópera e todas as acomodações

precisas, tanto para a dita casa da ópera como para poderem alugar as casas que para

isso lhe não servirem; outrossim disseram que a respeito das ditas óperas têm ajustado

sociedade e contrato com eles, João Pedro Tavares e José Duarte, cujo contrato

celebram por esta escritura, na forma e com as condições seguintes: que eles [93] João

Gomes Varela e seus companheiros João da Silva Barros e Francisco Luís se obrigam a

pôr pronta no dito palácio uma casa para se representarem as ditas óperas, feita e

acabada, da largura e comprimento que é preciso, com todas as acomodações e

serventias necessárias, tudo à sua custa, sem que os ditos João Pedro e José Duarte

concorram com cousa alguma, tanto para a factura da mesma casa como para os

alugueis dela, nem ainda conserto algum em todo o tempo que conservarem entre si este

contrato e sociedade, porque tudo fará por conta deles João Gomes Varela e seus

companheiros; que eles João Pedro e José Duarte se obrigam a pôr na dita casa tudo o

que pertence à casa do teatro de dentro, como são bastidores, figurados, vistas, pinturas,

óperas, solfas e tudo o mais que for preciso para a execução das mesmas óperas, e

poderão fazer representar e continuar na sobredita casa de ópera com as figuras

artificiais enquanto estas tiverem aceitação e delas regular conveniência. E no caso que

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eles João Pedro e José Duarte queiram fazer representar na dita casa comédias

portuguesas ou castelhanas ou outro qualquer divertimento, em que possam também

entrar algumas danças, o poderão fazer, bem entendido que todas estas despesas de

bastidores, figurados, vistas, pinturas, óperas, solfas, vestuários, vistas movediças,

tramoias, pinturas e tudo o mais que for preciso para a execução das ditas óperas,

comédias ou qualquer outro divertimento há de ser por conta deles, José Duarte e João

Pedro, excepto as quantias que se houverem de dar às pessoas representantes e mais

despesa diária porque a respeito dessa se há de praticar o que abaixo em outra condição

vai declarado; e as pessoas que se houverem de ocupar nas ditas óperas, comédias e

mais divertimentos serão ajustadas cada uma per si; que eles, José Duarte e João Pedro,

serão obrigados a terem tudo pronto para que tanto que a dita casa se acabar de pôr

corrente poderem dar logo princípio aos ditos divertimentos; outrossim ficam obrigados

a pôr prontas óperas novas com solfas todas aquelas que forem precisas em cada um

ano, e assim mais todos os seus preparos e tudo à sua custa na forma que fica dito; e não

poderão usar de óperas velhas já representadas, salvo for alguma que tenha tido boa

aceitação, por remédio enquanto se prepara outra nova, e assim mais serão obrigados a

tomar por sua conta o fazerem as diligências necessárias para as licenças de todos os

divertimentos que se houverem de fazer na dita casa, tanto para a representação de

figuras artificiais como para comédias portuguesas ou castelhanas, ou outro qualquer

divertimento, de sorte que não padeça a casa por falta das ditas licenças nem por outra

qualquer cousa das que eles José Duarte e João Pedro ficam obrigados pôr prontas,

sendo toda a despesa delas por sua conta, tanto nas óperas artificiais como para qualquer

divertimento de figuras vivas, excepto a despesa diária, que esta há de sair do

rendimento que produzirem as mesmas óperas, comédias e mais divertimentos; que

depois de tirado do rendimento de cada dia de divertimento a despesa diária, o que

sobejar se repartirá em três partes, a saber: uma para João Gomes Varela e seus

companheiros João da Silva Barros e Francisco Luís, e as duas para eles, João Pedro

Tavares e José Duarte; que no caso que em alguns dias não chegue o rendimento da dita

casa para a despesa diária o resto que faltar serão eles, João Pedro e José Duarte,

obrigados a satisfazê-lo à sua própria custa, sem que para isso [93v] devam eles, João

Gomes Varela e seus companheiros, concorrer com porção alguma; e isto em todo o

tempo que durar este contrato e sociedade; que eles, João Pedro Tavares e José Duarte,

se obrigam dar a eles, João Gomes Varela e seus companheiros, dois bailes livres em

cada um ano, tanto nas figuras artificiais como nas figuras vivas, e isto enquanto durar

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esta sociedade, de sorte que eles João Gomes Varela e seus companheiros poderão

escolher os tais dois dias no ano quando lhes parecer, excepto nos três dias de Entrudo,

e poderão eles, João Gomes Varela e seus companheiros, nos tais dois dias do ano que

assim escolherem receber das mãos dos cobradores todo o produto que renderem os tais

dois dias sem que deles sejam obrigados a partirem nem darem conta alguma, por lhes

ficar pertencendo in solidum e livremente o rendimento dos ditos dois dias, abatida

somente a despesa diária; que a eles, João Gomes e seus companheiros ficam

pertencendo livremente em todo o tempo deste contrato e sociedade dois camarotes, um

na frontaria de preço de três mil e duzentos réis no segundo andar, e outro de mil e seis

centos réis na ilharga do mesmo andar, de sorte que todo o rendimento destes ditos dois

camarotes fica pertencendo in solidum a eles, João Gomes e seus companheiros, sem

que deva ir ao monte maior, e hão-de preferir em primeiro lugar, a alugarem-se; e eles,

João Pedro e José Duarte, terão da mesma sorte um camarote na frontaria do mesmo

preço de três mil e duzentos réis e do mesmo andar, e o poderão alugar ou fazer dele o

que quiserem, sem que o seu rendimento deva vir ao monte maior; outrossim terão eles,

João Gomes Varela e seus companheiros, em cada dia de representação e divertimento,

oito bilhetes livres; e eles, João Pedro e José Duarte, outros oito para poderem repartir

pelos seus amigos; que para a eleição e aprovação das óperas, novas e velhas, que se

houverem de representar, solfas e pessoas que se houverem de ocupar no teatro e tudo o

mais que for preciso para o bem desta sociedade elegem eles, partes, a ele, João Gomes

Varela, e a ele, José Duarte, para por sua direcção de ambos ser tudo elegido e regulado,

e na falta ou ausência dele, João Gomes Varela, fará as suas vezes ele seu companheiro

João da Silva Barros, e na falta ou ausência dele, José Duarte, fará as suas vezes ele seu

companheiro João Pedro; que do primeiro rendimento da dita casa pertencente às duas

terças partes deles José Duarte e João Pedro Tavares se tirarão trezentos mil réis que

deverão ter sempre prontos em uma caixa para as despesas que forem precisas, e eles

são obrigados fazerem por sua conta para a execução das óperas e mais divertimentos, a

qual caixa terá duas chaves de que terá uma ele José Duarte e outra ele seu companheiro

João Pedro, mas estará a dita caixa em poder do dito João Gomes Varela ou de qualquer

dos seus companheiros, e depois de tirada da dita caixa qualquer porção para qualquer

das ditas despesas se tornará logo a inteirar a dita quantia de trezentos mil réis em caixa

pelo primeiro rendimento que se seguir pertencente às duas partes deles José Duarte e

João Pedro, de sorte que não possam eles José Duarte e João Pedro em tempo algum

durante esta sociedade cobrar coisa alguma do seu rendimento enquanto não estiver

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preenchida a dita quantia de trezentos mil réis na dita caixa, para o referido fim das

despesas que possam ser precisas daquelas a que eles ficam obrigados; que se em algum

tempo o Hospital Real pretender que se lhe pague aquela porção que algum tempo se

lhe costumava pagar e se deva pagar com efeito sairá do rendimento da casa como

despesa diária; que se em algum tempo eles, João Pedro e José Duarte, forem chamados

e obrigados por Agostinho da Silva para irem com a sua fábrica para o seu Teatro da

Rua dos Condes em virtude da condição da escritura do contrato [94] que com eles

tinham celebrado serão obrigados a dar parte disso a eles, João Gomes e seus

companheiros, para verem se querem ser com eles interessados na outra fábrica que lá

queiram pôr no outro Teatro da Rua dos Condes; que se em algumas ocasiões ou em

qualquer tempo forem chamados eles João Pedro e José Duarte com a sua fábrica por

ordem de pessoas reais para executarem qualquer divertimento, sempre do líquido

rendimento que isso traduzir serão obrigados a dar a terça parte a eles João Gomes e

seus companheiros; e isto se entende durante o tempo deste contrato e sociedade; que

todos os divertimentos avulsos que não são perduráveis e que costumam vir a esta

cidade em tempos que se não representam óperas, ou estando a casa parada, ficará

pertencendo todo o seu rendimento a eles João Gomes Varela e seus companheiros,

inquilinos do dito palácio, e só terão eles João Pedro e José Duarte livre o seu camarote

e bilhetes que nas mais representações lhes são permitidos, e quando por causa dos ditos

divertimentos seja preciso desmanchar dentro do teatro alguma coisa pertencente à

fábrica deles, João Pedro e José Duarte, neste caso serão obrigados eles João Gomes e

seus companheiros mandar pôr outra vez tudo no mesmo estado à sua custa; que no caso

que em algum tempo cheguem a esta corte algumas companhias italianas ou castelhanas

e queiram arrendar a dita casa a eles João Gomes e seus companheiros, neste caso serão

eles, José Duarte e João Pedro, obrigados a despejar logo a dita casa dentro em três

meses. Porém, enquanto não chegarem as ditas companhias, não poderão, eles partes,

desfazer entre si esta sociedade, salvo virem que se não tira utilidade alguma e neste

caso, concordando entre todos que não é conveniente continuar com as ditas

representações, se poderá desfazer esta sociedade. E nesta forma houveram eles partes

por acabada esta escritura que prometem cumprir e guardar como nela se contém, ao

que obrigam suas pessoas e bens, cada um pelo que lhe toca cumprir, e outorgam de

responder por todo o aqui conteúdo nesta cidade de Lisboa perante os Corregedores do

Cível da Corte ou da Cidade para o que renunciam o Juízo de seu foro domicílio e os

mais privilégios presentes e futuros que em seu favor alegar possam. E em testemunho

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de verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar

ausente, sendo testemunhas presentes João Caetano Álvares Negrão, meu oficial

papelista, e Manuel Maciel de Araújo, mercador de capela, meu vizinho, e Pedro

Frenchi, homem de negócio, morador na Bica de Duarte Belo, que nesta nota assinaram

com eles partes a quem conheço e declaro que esta se outorgou e assinou aos dezoito do

dito mês de Outubro e ultimamente declararam eles partes que a eleição e aprovação das

óperas novas e velhas e de tudo o mais que a isso respeitar será feita por comum

consentimento deles partes ou da maior parte deles. E eu, António da Silva Freire,

tabelião o escrevi. Risquei = abatida somente a despesa diária = entrelinhei = e seus

companheiros = e outra =

Francisco Luís

João Gomes Varela

João Pedro Tavares

João da Silva Barros

[94v] José Duarte

Pedro French

Manuel Maciel de Araújo

João Caetano Álvares Negrão

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ADL 3

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 30, 82v-83v.

Escritura de formação de uma sociedade para exploração da Casa da Ópera do

Bairro Alto, onde estiveram presente João Gomes Varela, João da Silva Barros,

Francisco Luís, João Pedro Tavares e Teotónio José Duarte (23 de Fevereiro de

1761).

[82v] Em nome de Deus, ámen, saibam quantos este instrumento de sociedade, contrato

e obrigação virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil e

setecentos e sessenta e um, aos vinte e três dias do mês de Fevereiro, nesta cidade de

Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceram presentes, a saber: de uma parte, João

Gomes Varela, morador na Cotovia, João da Silva Barros, morador na Rua do Vale, e

Francisco Luís, morador na Travessa das Vacas; e de outra parte, João Pedro Tavares,

morador na Cotovia e Teotónio José Duarte, morador no Largo do Real Mosteiro da

Encarnação; e logo por eles, João Gomes Varela e seus companheiros, João da Silva

Barros e Francisco Luís, foi dito que eles tinham tomado de arrendamento ao

excelentíssimo Conde de Soure e seu palácio da Rua da Rosa das Partilhas, por tempo

de quinze anos que já tiveram principio no princípio de Janeiro deste presente ano pelo

preço e mais condições que constam da escritura do dito arrendamento feita na minha

nota em primeiro de Outubro do ano próximo passado; e isto para nele fazerem casa de

ópera e todas as acomodações precisas, tanto para a mesma casa da ópera como para

poderem alugar as casas que para isso lhe não servirem; e outrossim disseram que a

respeito das ditas óperas tinham feito sociedade com o dito João Pedro Tavares e com

José Duarte, na forma que consta por outra escritura outorgada em minha nota, em onze

do dito mês de Outubro, e por falecer da vida presente o dito José Duarte ficou

caducando a dita sociedade e agora por esta nova escritura celebram nova sociedade

com o mesmo João Pedro Tavares, e com ele, Teotónio José Duarte, irmão do dito

defunto, na forma e com as condições seguintes: que eles, João Pedro Tavares e seu

novo companheiro Teotónio José Duarte, serão obrigados a pôr pronta uma ópera para

no Domingo de Páscoa da Ressurreição próximo que vem se principiar a representar; a

qual ópera há-de ser acompanhada com danças, em que há-de entrar a Chequi[n]a, e os

dois bufas da Ópera da Estrela, para representarem os seus entremezes; e com as vistas

que são precisas, de pintura e vestuário novo, tanto para as figuras, como para as danças

e entremezes, tudo a com muito asseio e primor = que logo que a dita ópera se puser em

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execução darão logo ordem a pôr outra pronta, para que logo que houver de descair a

primeira se dar princípio a outra, sendo sempre acompanhada como a primeira e com as

mesmas circunstâncias sobreditas; e assim por este modo se irá seguindo o mesmo até o

Entrudo do ano próximo que vem, tempo em que há-de findar esta sociedade por ser só

feita por tempo de um ano, que há de acabar no dito Entrudo; e faltando eles, João

Pedro Tavares e Teotónio José Duarte, a qualquer das sobreditas coisas, desde já para

esse tempo ficam expulsos e excluídos desta sociedade sem que para isso seja preciso

mais contenda de juízo, porque desde logo se dão por despedidos; e eles, João Gomes

Varela e seus companheiros, inquilinos do dito palácio, concorrem com a casa que nele

tem feito, para eles João Pedro e Teotónio José Duarte, fazerem nela representar as

referidas óperas de bonecos na forma referida pelo dito tempo de um ano debaixo do

interesse seguinte = Que despois de tirado do rendimento de cada de divertimento a

despesa diária, o que sobejar se repartirá em três partes; a saber: uma parte para eles,

João Gomes Varela e seus companheiros, João da Silva Barro e Francisco Luís, e as

duas para [83] para eles, João Pedro Tavares e Teotónio José Duarte; que no caso que

em alguns dias não chegue o rendimento da dita casa para a despesa diária e resto que

faltar, serão eles João Pedro e Teotónio José Duarte obrigados a satisfazê-lo à sua

própria custa, sem que para isso devam eles, João Gomes Varela e seus companheiros,

concorrer com porção alguma; e isto em todo o tempo do ano desta sociedade – que

eles, João Pedro Tavares e Teotónio José Duarte, se obrigam dar a eles, João Gomes

Varela e seus companheiros, dois bailes levres em cada um ano, digo livres, no ano

deste contrato, e poderão eles, João Gomes Varela e seus companheiros, escolher os tais

dois dias no dito ano quando lhes parecer, dizendo na véspera o dia que querem tomar,

exceptuando desta liberdade os três dias de Entrudo, em que não poderão fazer a dita

escolha porque estes em todo o caso hão de ceder em benefício do comum da sociedade;

e poderão eles, João Gomes e seus companheiros, nos tais dois dias do ano que assim

escolherem receber das mãos dos cobradores todo o produto que renderem os tais dois

dias, sem que deles sejam obrigados a partirem nem darem conta alguma por lhes ficar

pertencendo in solidum e livremente o rendimento dos ditos dois dias – que a eles, João

Gomes Varela e seus companheiros, ficam pertencendo livremente em todo o tempo do

ano desta sociedade dois camarotes, um na frontaria do preço de três mil e duzentos reis

no segundo andar, e outro de mil e seis centos réis na ilharga do mesmo andar, de sorte

que todo o rendimento destes ditos dois camarotes fica pertencendo in solidum a eles,

João Gomes e seus companheiros, sem que deva ir ao monte maior, e hão de preferir em

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primeiro lugar, a alugarem-se; e eles, João Pedro Tavares e Teotónio José Duarte, terão

da mesma sorte um camarote na frontaria do mesmo preço de três mil e duzentos réis e

do mesmo andar, e o poderão alugar, ou fazer dele o que quiserem, sem que o seu

rendimento deva ir ao monte maior e outrossim terão eles, João Gomes Varela seus

companheiros, em cada dia de representação e divertimento, oito bilhetes livres; e eles,

João Pedro e Teotónio José Duarte, outros oito para poderem repartir pelos seus amigos;

que todos os divertimentos avulsos que não são perduráveis e costumam vir a esta

cidade em tempos que se não representam óperas, ou estando a casa parada, ficará

pertencendo todo o seu rendimento a eles, João Gomes Varela, e seus companheiros

inquilinos do dito palácio, e só terão eles, João Pedro e Teotónio José Duarte, livre o seu

camarote e bilhetes que nas mais representações lhes são permitidos; e quando por

causa dos ditos divertimentos seja preciso desmanchar dentro do teatro alguma coisa

pertencente à fábrica deles, João Pedro e Teotónio José Duarte, neste caso serão

obrigados eles, João Gomes e seus companheiros, mandar pôr outra vez tudo no mesmo

estado à sua custa; que faltando eles, João Pedro Tavares e seu companheiro, Teotónio

José Duarte, em terem pronto para o dia de Páscoa próximo tudo o que é necessário para

se executar e dar princípio à dita ópera no dito tempo, pagarão por cada um dia que mais

demorarem o dito apresto seis mil e quatrocentos réis a eles, João Gomes e seus

companheiros, isto se entende, sendo por falta sua de não porem prontas todas as coisas

que forem precisas, ou dinheiros para se fazerem; porque estando tudo pronto sem falta

que provenha da sua parte, e havendo algum incidente que se mova, ou seja preciso por

algum motivo conveniente, o não se principiar no dia de Páscoa, não estarão sujeitos à

dita pena, digo, não terá lugar a dita [83 v] a dita pena; e o mesmo se entenderá a

respeito das mais óperas, que pelo discurso do dito ano se hão de executar, por ser assim

conveniente para a casa não estar parada pelo prejuízo que disso se segue; que querendo

eles, partes, de comum consentimento continuar esta sociedade por mais algum ano, ou

anos, se entenderá ser debaixo de todas as condições e cláusulas desta escritura e nesta

forma hão eles partes por acabada esta escritura, que prometem cumprir e guardar como

nela se contém ao que o obrigam suas pessoas e bens; e disseram outrossim eles, João

Pedro Tavares e Teotónio José Duarte, que naquelas duas partes em que eles ficam

interessados nesta negociação, constituem por seu sócio e igual companheiro a ele dito

João Gomes Varela, tanto a respeito dos lucros como da perda que possa haver e como

tal seu sócio e companheiro será o dito João Gomes obrigado a concorrer com a terça

parte da despesa que para o efeito desta negociação for precisa; e se declara que em

14

qualquer tempo, que ele, Teotónio José Duarte quiser vender e trespassar a sua terça

parte, fará a dita venda e trespasso a ele socio João Gomes Varela por aquele preço em

que for avaliada a metade que ele ao presente tem e lhe toca nos trastes e móveis da dita

ópera; porque a despesa que de hoje em diante se fizer de novo na dita fábrica, há-de ser

por conta de todos os três; e por isso, no caso da dita venda, só há-de pagar ele,

comprador, ao dito vendedor aquela metade que ao presente lhe toca nos trastes da dita

fábrica existentes e a terça parte dos mais trastes que daqui em diante se fizerem e isto

tudo pela avaliação do estado em que estiverem e valerem ao tempo da dita venda e

trespasso, ao tempo em que se fizer a dita avaliação se atenderá a reformação dos trastes

que com efeito de hoje em diante se reformarem, para a qual despesa há-de concorrer

ele João Gomes com a sua terça parte. E, por todo o aqui conteúdo, outorgam todos eles

partes de responderem nesta cidade de Lisboa perante os Corregedores do Cível da

Corte ou da Cidade para o que renunciam o juízo de seu foro domicílio e os mais

privilégios presentes e futuros que em seu favor alegar possam. E em testemunho de

verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar

ausente, sendo testemunhas presentes António Pereira de Miranda, mestre carpinteiro,

morador na Rua de Nossa Senhora do Cabo e José Rufino de Andrade, meu oficial

papelista, que nesta nota assinaram com eles partes a quem conheço e eu, António da

Silva Freire, tabelião o escrevi = entrelinhei = a eles João Gomes e seus companheiros

João Tavares

João Gomes Varela

Teotónio José Duarte

Francisco Luís

António Pereira de Miranda

João da Silva Barros

José Rufino de Andrade

15

ADL 4

6º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 20, ff. 93v-94v.

Escritura de venda de trastes e figuras de Teotónio José Duarte a João Gomes

Varela, empresário do Teatro do Bairro Alto (8 de Janeiro de 1762).

[93v] Em nome de Deus ámen. Saibam quantos este instrumento de venda, cessão e

trespasse, qual mais em direito firme seja, quitação e obrigação virem que no ano do

nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e dois, em oito dias

do mês de Janeiro na cidade de Lisboa, Rua de São Bento da parte do Rato, no meu

escritório apareceram presentes partes, a saber de uma Teotónio José Duarte que vive de

seu negócio, morador no Largo do Mosteiro da Encarnação, freguesia de Nossa Senhora

da Pena, em seu nome e como procurador de sua mulher Joaquina Perpétua Rosa

Xavier, em virtude de uma procuração de sua letra e sinal que ao diante irá tresladada, e

de outra João Gomes Varela, que também vive de seu negócio, morador na Rua da Rosa

das Partilhas, freguesia de Nossa Senhora da Encarnação. Por ele, Teotónio José Duarte,

foi dito em presença de mim tabelião e das testemunhas ao diante nomeadas que por

uma escritura outorgada em notas de António da Silva Freire, tabelião nesta corte,

continuada em onze dias do mês de Outubro de mil setecentos e sessenta se havia seu

irmão José Duarte ajustado com ele João Gomes Varela e outros companheiros em uma

sociedade a respeito da casa de ópera que todos tinham estabelecido no palácio do

excelentíssimo conde de Soure, na qual escritura se declaram a parte que a cada um dos

sócios [94] ficava pertencendo nos lucros e os trastes e figuras com que para a mesma

casa entraram e falecido da vida presente o dito seu irmão José Duarte lhe fizera ele

Teotónio José Duarte penhora na sua respectiva parte pela execução que fizera à viúva

sua mulher no Juízo da Correição do Cível da Cidade, escrivão Jerónimo Nicolau de

Velasco Galiano e onde rematara para seu pagamento a mesma parte e dela tomara

posse em vinte e dois dias do mês de Agosto do ano próximo passado de mil setecentos

sessenta e um, como de um auto da mesma posse, e que se acha nas costas de um

mandado subscrito pelo dito escrivão, e assinado pelo doutor José Pinto de Morais

Bacelar, corregedor de mesmo juízo; e que em razão do falecimento do dito seu irmão e

da sua penhora ou execução havia celebrado com ele João Gomes Varela e mais

companheiros segunda sociedade por outra escritura outorgada nas notas do mesmo

tabelião continuada em vinte e três dias do mês de Fevereiro do dito ano próximo

passado na qual tem continuado até ao presente a respeito da dita ópera. E porque daqui

16

em diante lhe não fazia conta o continuar na dita sociedade se ajustam com ele, João

Gomes Varela, para lhe fazer venda da sua respectiva parte assim de bonecos como de

tudo o mais que se achar na referida casa de ópera a ele pertencente, como com efeito

em seu nome e no da dita sua mulher e por este instrumento na melhor forma de direito

lhe faz a dita venda e cessão com procuração em causa própria de tudo quanto lhe podia

pertencer a respeito do que dito fica, e isto pelo preço e quantia de duzentos noventa e

dois mil e oitocentos réis, que tantos ele João Gomes Varela em minha presença e das

ditas testemunhas entregou a ele vendedor em dinheiro de contado corrente neste reino

que ele contou e recebeu de que eu tabelião dou fé, com cuja quantia disse se dava por

pago e satisfeito do dito preço e dela dava plena e geral quitação a ele comprador e não

tem dúvida a que este desde logo em virtude desta escritura sem mais autoridade de

justiça possa tomar posse de tudo quanto constar pertencer a ele vendedor na referida

casa, cuja posse tomará real, actual, cível e natural, e quer a tome ou não desde já lhe há

por dada e transferida por clausulam constitutis pondo a ele comprador em seu próprio

lugar, efeito e causa com procuração em causa própria e mais faculdade que de direito

se requeira para de hoje em diante poder continuar na mesma sociedade e cobrar os

interesses que dela lhe puderem resultar, ficando também sujeito às perdas e ele

vendedor delas inteiramente absoluto. E esta escritura promete de sempre e em todo o

tempo cumprir e guardar como nela se contém, pela qual fará a ele comprador e a seus

sucessores a venda nela declarada, certa, segura e de paz até lhe compor a evicção que o

direito outorga, e para tudo assim cumprir disse obrigar a sua pessoa e bens presentes e

futuros e o melhor parado deles. E é declaração desta escritura que a ele cessionário

comprador ficam também pertencendo todas as dívidas que se deverem até o dia de hoje

ao teatro, excepto o que deve [94v] Francisco Xavier Fidalgo porque esta obra do que

seja pertencerá a ele vendedor a sua respectiva parte e que no acto dele recebeu ele

vendedor somente noventa e cinco mil quatrocentos e oito réis e o mais que falta para

complemento do preço referido fica compensado na dívida de que era devedor a ele

comprador procedida de despesa que por ele tinha feito e percas que por ele tinha

suprido no tempo da sua sociedade, de que ele comprador disse lhe dava também

quitação e haviam entre ambos as suas contas por ajustadas até o dia de hoje para nunca

mais em razão delas terem acção alguma um contra o outro. E assim o outorgaram e

aceitaram sendo testemunhas presentes Tomás Marques de Araújo, residente neste

escritório, e António Carvalho Henriques Salema, morador no sítio da Cotovia da parte

17

do Norte que afirmou serem eles partes os próprios que na nota assinaram e

testemunhas. Manuel Inácio da Silva Pimenta, tabelião, o escrevi.

Teotónio José Duarte

João Gomes Varela

Tomás Marques de Araújo

António Carvalho Henriques Salema

18

ADL 5

7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 18, ff. 16v-20.

Contrato entre Agostinho da Silva e vários cómicos (17 de Fevereiro de 1762).

Transcrição de Licínia Ferreira.

[16v] Saibam quantos este instrumento de contrato de locação de óperas virem que, no

ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e dois, aos

dezassete dias do mês de Fevereiro, nesta cidade de Lisboa, na Rua dos Condes e

aposentos de Agostinho da Silva, que vive de seu negócio, onde eu, tabelião, vim, e

sendo aí presente de uma parte, e da outra estava Rodrigo César, morador na Rua Nova

dos Arciprestes que vai para Campolide, e Francisco Xavier Vargo, morador per si e sua

filha Maria Joaquina, moradores à Cotovia de Baixo, João de Almeida, morador na Rua

do Capelão, e António Jorge, morador na Rua Direita de S. José, e Silvestre Alexandre,

morador na Rua do Carvalho. Por eles, partes, foi dito, perante mim, tabelião, e

testemunhas, que eles se acham contratados a continuar e estabelecer a mesma

representação que actualmente há na Rua dos Condes, e entre as condições com que

reciprocamente se têm ajustado para a comum utilidade de todos são as seguintes: que

tudo que respeita ao teatro e seu governo ficará privativamente pertencendo a ele,

Agostinho da Silva, como senhor que dele é. Que ao tempo deste [17] contrato, que se

entende ser por dois anos úteis, os quais hão de ter princípio em dia de Páscoa do

presente ano [até Páscoa de 1764], bem entendido que no que diz respeito à obrigação

dos cómicos, e não dele, Agostinho da Silva, porque, sentindo desconveniência na

continuação das representações, poderá fazer parar com elas a seu arbítrio, sem que, no

tempo desta suspensão, vençam os cómicos emolumento, não sendo por mais de dois

meses, que nunca serão mais em cada ano e sucessivos, porque, passado este termo,

vencerão os emolumentos como se com efeito representassem de ordinário durante todo

o tempo dos dois anos, pois para isto ficam obrigados a não representarem durante os

ditos dois meses em outro teatro ou lugar na corte, não se incluindo em todo o referido o

tempo de Quaresma, em que é sabido não haver representações nos teatros. Que serão

obrigados os ditos cómicos a representar nos dias que a ele, Agostinho da Silva, lhe

parecer, e as óperas ou comédias que ele ordenar, executando nelas cada um as suas

respectivas habilidades, até as de canto, sendo conveniente, e se, na mesma comédia

ocuparem a representação de diversas pessoas, sendo preciso, e cabendo brevidade na

19

habilidade do papel de algum deles, nem por isso levarão maior estipêndio que o abaixo

declarado. Que se ensaiarão todos os dias que forem precisos, ou no teatro ou em casa

dele, Agostinho da Silva, de sorte que saibam bem seus papéis, e estarão sempre

prontos, o qual ensaio respeitará também a comédias castelhanas quando a ele,

Agostinho da Silva, pareça conveniente se representarem algumas. Que vencerão de

emolumento, em cada dia de representação, a saber: Francisco Xavier Vargo dois mil

réis, sua filha Maria Joaquina dois mil réis por cantar e representar, Rodrigo César mil

[17v] e oitocentos réis, João de Almeida mil e oitocentos réis, António Jorge mil

quatrocentos quarenta réis, e dos ditos salários vencerão a metade em tempo de doença

que não dure mais de mês e meio, e por este mesmo emolumento serão os ditos cómicos

obrigados a paramentarem-se dos pequenos vestuários do costume, e, caso que algum

deles faleça ou adoeça, buscará ele, Agostinho da Silva, pessoa que substitua o seu

lugar, e se irão continuando as representações, e vencendo eles, cómicos, os seus

emolumentos, ou parecendo-lhe a ele, Agostinho da Silva, poderá fazer cessar a

representação por algum tempo, incluindo-se nele ou parte ou todo dos dois meses que

fica a seu arbítrio o poder cessar em cada um ano com as ditas representações. Que, por

qualquer contravenção culpável dos cómicos, pagará o que contravier, pela falta ao

ensaio, seis mil e quatrocentos réis, por cada vez que falta da representação ou cântico,

cem mil réis, e outra tanta quantia igual a esta última por cada vez que, durante o tempo

deste contrato, for qualquer dos ditos cómicos representar a diverso lugar, bem

entendido que, a respeito de haverem de cantar, nem eles ditos cómicos ficam obrigados

a fazê-lo, nem igualmente por parte dele, Agostinho da Silva, a obrigação de que as

representações sejam com música, sendo igualmente o que hão vencer três récitas em

cada semana no tempo do Inverno, que terá princípio no dia quinze de Outubro, e duas

em cada semana no tempo de Verão, que se fica regulando da Páscoa do Espírito Santo

até o dia quinze de Outubro do ano seguinte; havendo de vencer eles, cómicos, os

salários estipulados, ainda no caso que se não façam as [18] representações nos termos

que vão regulados nesta escritura, exceptuando a Quaresma, referidos dois meses acima

ditos, e caso que em qualquer das semanas haja mais algum dia de récita que ele,

Agostinho da Silva, determine, como poderá livremente fazer, ficarão sempre vencendo

os respectivos salários, e, sendo preciso e conveniente a ele, Agostinho da Silva, que os

ditos cómicos vão fazer algumas das ditas récitas a que acima ficam obrigados ao Teatro

do Bairro Alto, pelo decurso deste contrato, serão obrigados assim e na mesma forma

como se nestes dias representassem no Teatro da Rua dos Condes, com os mesmos

20

salários. E este contrato de locação passará aos herdeiros dele, Agostinho da Silva, se o

quiserem continuar; o qual Agostinho da Silva e por ele seus herdeiros se obrigam neste

caso a manter pela sua parte este contrato, e, contravindo pela sua parte, será obrigado a

todo o interesse a eles ditos cómicos que por ele estiverem como se com efeito

representassem, o que se entende contravindo culpavelmente, pois, havendo caso

fortuito solito ou insolito que embarace a representação ou a conveniência dela, todos

eles partes ficam desobrigados durante este impedimento, e em qualquer intervalo que

tenha a representação no dito teatro poderão eles ditos cómicos, tendo nisso

conveniência, ir representar fora da corte aonde lhes parecer, contanto que, sendo

avisados quinze dias antes para se acharem nesta corte prontos, com suas partes sabidas,

para se continuarem as representações, serão obrigados a fazê-lo assim logo,

participando o lugar para onde vão, para ali haver de lhe remeter o dito aviso, e, para

este fim, antes que vão para fora da corte, nomearão pessoa assistente nela a quem ele,

Agostinho da [18v] Silva, dê o dito aviso, e ele será obrigado a participar aos ditos

cómicos, e com a ciência da pessoa que nomearem bastará para se haverem eles ditos

cómicos por cientes e participantes do tal aviso. Que ele, dito Francisco Xavier, se

obriga per si e pela dita sua filha quanto em direito pode a manter este contrato. Que o

que não sendo legítimo provado, e removível impedimento e faltar vir à representação

às sobreditas horas, além da pena pecuniária estipulada, ficará no arbítrio dele,

Agostinho da Silva, cumpri-lo a vir preso à ordem de qualquer ministro a fazer o seu

ministério, porém não pagará outra pena pecuniária vindo com efeito por força desta

coacção praticada em todos os teatros. Que, findo o tempo deste contrato, querendo ele,

Agostinho da Silva, que eles, cómicos, continuem a representar no seu teatro, serão

obrigados tanto pelo tanto que lhes der outro qualquer, e faltando serão obrigados a

pagar a ele, Agostinho da Silva, todo o interesse e perda que se lhe seguir, e igualmente

no caso contrário não poderá ele, Agostinho da Silva, tomar outros cómicos passado o

dito tempo, querendo eles continuar o tempo que se ajustarem, porque noutros o que

quiserem fazer, e é declaração que nenhuma ópera nova ou representação se fará sem

que primeiro precedam quinze dias contados do em que se der a cada um a parte

respectiva que deve estudar, e dentro dos mesmos quinze dias e mais não a darão sabida

e em termos de se representar logo, e, não o fazendo, ficarão sujeitos à pena dos cem

mil réis que ficam referidos. E nesta forma disseram eles, partes, ser o seu ajuste e

contrato, o qual prometem e se obrigam fazer em todo o tempo bom na [19] forma que

nesta escritura fica declarado, sem que a possam revogar ou reclamar nem por outro

21

modo contravir, e ao cumprimento e satisfação de tudo obrigam suas pessoas e bens

presentes e futuros e o melhor parado deles, e não têm dúvida eles, partes, que, para

maior validade e segurança deste mesmo contrato, se julgue esta escritura por sentença

de qualquer julgador pelo que reciprocamente se dão desde logo por citados e

confessam suas obrigações e mais necessário. E outorgaram responder pelo o aqui

conteúdo perante as Justiças a que for requerido e este instrumento se apresentar digo

requerido o cumprimento desta escritura, para o que renunciam juízes de seu foro,

domicílio, privilégios presentes e futuros e mais que alegar possa, e estando a esta

outrossim presentes Pedro António Pereira, casado e morador na Calçada da Glória, e

José Félix da Costa, morador à Bica de Duarte Belo, e Desidério Ferreira, morador na

Travessa das Vacas, e José da Cunha, morador na Rua de S. Pedro Mártir, também

cómicos do Teatro da Rua dos Condes, por eles foi dito que eles haviam celebrado uma

escritura com ele, Agostinho da Silva, em quatro de Outubro, na nota do tabelião Tomás

da Silva Freire, a respeito das mesmas representações de que nesta escritura se trata, e

cláusulas que dela consta, e porque ora pretende ele, Agostinho da Silva, que vão eles

ditos quatro últimos cómicos, vão também representar ao Teatro do Bairro Alto durante

o tempo de seu contrato os dias que lhe forem convenientes e ele determinar, não têm

eles, ditos cómicos dúvida assim o fazerem debaixo dos preços e condições e cláusulas

de sua escritura com advertência que esses dias que eles, cómicos, representarem no

Bairro Alto se incluirão no número das récitas a que, em cada um ano, ele, Agostinho da

Silva, se obriga no seu teatro, e suposto que na [19v] dita escritura eles, quatro últimos

cómicos, lhe esteja denegado o poderem ir representar fora da terra quando o teatro

esteja sem exercício, lhe permite ele, Agostinho da Silva, o poderem-no fazer, assim

como acima fica referido a respeito dos mais cómicos, com todas as mais condições

referidas nesta escritura, renúncia de foro e obrigação de suas pessoas e bens e que

também se possa julgar por sentença a seu respeito pelo o que uniformemente também

se dão por citados pelo todo o mais necessário. E porque alguns dos ditos cómicos

tinham feito obrigações aos empresários no Teatro do Bairro Alto a qual por ordem

superior se houve por de nenhum efeito, e contudo temem eles, cómicos, que daí lhe

venha algum prejuízo, ele, Agostinho da Silva, o toma todo sobre si e se obriga a pô-los

a par e a salvo, no caso que os empresários os queiram constranger a estar pela dita

obrigação. Em testemunho de verdade assim o outorgaram e pediram e aceitaram, sendo

testemunhas presentes José António de Mesquita, oficial de cabeleireiro, morador na

Calçada de Agostinho Carvalho, Daniel Eduardo, sem ofício e morador na Rua dos

22

Calafates, que afirmaram serem as partes as próprias a quem conheço, e eu, José

Manuel Barbosa, tabelião, o escrevi. Risquei «cabendo», entrelinhei «brevidade», ele,

Agostinho da Silva, que vão

Agostinho da Silva

Francisco Xavier Vargo em meu nome e de minha filha menor

João de Almeida

Rodrigo César

António Jorge

Pedro António Pereira

José Félix da Costa

José da Cunha

Desidério Ferreira

[20]

José António de Mesquita

Daniel Eduardo

23

ADL 6

3º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 639, ff. 42v-43

Contrato de Sebastião António Pientzenauer, Luís José Pientzenauer e José Conti

com Francesca Battini (29 de Março de 1762).

[42v] Saibam quantos este instrumento de ajuste e contrato e obrigação virem que no

ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e sessenta e dois, aos

vinte e nove dias do mês de Março nesta cidade de Lisboa, no sítio de Campo de

Ourique, freguesia de Santa Isabel e casas de morada de Francisca Batini, estando ela aí

presente de uma parte; e outra, Sebastião António Pientzenauer e seu filho, Luís José

Pientzenauer, e José Conti, todos assistentes nesta cidade. E logo por eles, partes, foi

fito na presença de mim, tabelião, e testemunhas ao diante nomeadas, que eles estavam

entre si ajustados e contratados na forma seguinte: que ela, Francisca Batini, se obriga a

ir dançar e executar as suas habilidades da dança ao teatro que determinarem e alugarem

os ditos Sebastião António Pientzenauer e seus companheiros, segundo a ideia dos

mesmos empresários e todas as vezes que eles determinarem e isto pelo tempo preciso

desde o dia de Páscoa da Ressurreição próximo que vem deste presente ano até o dia de

Entrudo do ano próximo que vem; que ela, Francisca Batini vencerá de prémio por

todas as representações que se fizerem na forma sobre dita quantia de setenta e seis mil

e oitocentos em dinheiro contado por mês pelo referido tempo preciso e pagas em duas

meias em cada mês e sempre uma paga adiantada e assim mais vencerá ela, Batini, um

dia chamado de benefício, o qual será a arbítrio da mesma, não sendo nos dias

determinados para a casa nem os dias de Entrudo, sendo a casa pronta com todas as suas

partes e iluminada à custa deles empresários, os quais serão também obrigados a dar-lhe

à sua custa uma sege cada vez que ela tomar de ir às representações ou ensaios para ir e

vir; que ela, Batini, fica obrigada a não faltar aos ensaios que se determinarem e não

dançar em outra alguma parte nesta corte ou fora dela e não faltar aos dias determinados

para as representações sem ser por causa de moléstia e constando o contrário se lhe

abaterá por cada vez faltar vinte mil réis e os empresários ficam obrigados a dar-lhe

para cada representação nova sapatos, meias e luvas e a pôr-lhe vestido pronto conforme

o caracter for preciso para o tal baile; que sucedendo adoecer, ela, Batini, que dure a

moléstia o tempo de dois meses sempre vencerá o referido prémio da mesma forma que

fosse representar e excedendo o dito termo de dois meses a sua moléstia, todo o mais

24

tempo que durar a moléstia não vencerá mais prémio algum e, da mesma sorte, não

vencerá prémio algum caso que suceda parasse com as representações por causa da

morte de príncipe, terramoto ou incêndio; e fazendo as representações no Teatro do

Bairro Alto, terá ela, Batini, além do referido camarote que no mesmo teatro se lhe

costuma dar. E nesta forma disseram eles, partes, nos nomes que representam ser o seu

ajuste e contrato, o qual prometem cumprir como nesta escritura fica declarado ao que

obrigam suas pessoas e bens presentes e futuros e não revogarem, nem recla[ma]rem

este contrato debaixo de pena de pagarem toda a perda e dano que causarem. Em

testemunho da verdade, assim outorgaram, pediram e aceitaram e [43] eu, tabelião, por

quem tocar ausente; e se declara que eles, empresários, ficam todos os três obrigados à

satisfação deste contrato e cada um in solidum e que fechando-se o teatro por causa de

terramoto, durará a suspensão do pagamento da dita Batini enquanto se não abrir outro

qualquer teatro nesta corte, não destruindo-se e arruinando-se totalmente inabitável o

teatro em que representarem; e foram a tudo testemunhas presentes Julião Martelli,

morador na Rua de Santo António da freguesia de Santa Catarina, e Alexandre Mateus,

romano de nação, morador na Rua Direita de Esperança, que nesta corte assinaram com

eles partes a quem todos conhecemos e eu, Tomás da Silva Freire, tabelião,

Francisca Batini

Sebastião António Pientzenauer

Luís José Pientzenauer

José Conti

Julião António Martelli como testemunha

Alessandro Matten[?] como testemunha

25

ADL 7

3º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, Liv. 639, ff. 50-50v.

Escritura de contrato e obrigação entre os bailarinos António Jorge, José Joaquim

Welch, Francisco Xavier de Sousa, Francisco Trocate e os empresários António

Pientzenauer, Luís José Pientzenauer e José Conti (3 de Abril de 1762).

[50] Saibam quantos este instrumento de contrato e obrigação virem que no ano do

nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e sessenta e dois, aos três

dias do mês de Abril, nesta cidade de Lisboa, na Calçada do Combro e escritório de

mim tabelião, apareceram presentes a saber: de uma parte Sebastião António

Pientznaver e seu filho, Luis José Pientzenauer e José Conti, todos assistentes nesta

corte e de outra parte António Jorge, morador no sítio da Palhavã, e José Joaquim

Welch, morador na Travessa de André Valente, freguesia de Nossa Senhora das Mercês;

e por eles partes foi dito que eles se haviam ajustado e contratado, obrigam-se eles

António Jorge e José Joaquim Welch a exercitarem as suas habilidades de dança e com

efeito por esta escritura se obrigam e ficam obrigados, eles, António Jorge e José

Joaquim Welch a exercitarem as suas habilidades de dançar no teatro que eles Sebastião

António e seu filho José Conti elegerem e determinarem no determinado tempo, desde o

dia de Páscoa da Ressureição próxima que vem deste presente ano até ao dia de Entrudo

do ao próximo que vem, e isto tantas quantas vezes os mesmos Sebastião António e

seus companheiros determinarem, pelo prémio de dois mil e quatrocentos réis cada um

deles, António Jorge e José Joaquim Welch, e por cada um a vez que se fizerem as

representações, sendo também obrigados a irem prontamente a todos os ensaios que

determinarem, debaixo do mesmo prémio de dois mil e quatrocentos réis cada um, por

cada dia de baile, ficando também debaixo do dito prémio obrigados a paramentarem

dos pequenos vestuários como é estilo, cujo prémio ficam eles, Sebastião António e

seus companheiros, obrigados a pagarem em dinheiro de três em três récitas vencidas

que sejam pelo determinado tempo da Páscoa até o Entrudo e ainda que senão

representarem, digo, se não faça representação alguma em todo ou em parte do referido

tempo por qualquer causa que seja, sempre eles, Sebastião António e mais empresários,

lhe farão bom e pagarão como se representasse três récitas cada semana e Domingos e

dias santos e, nos dois meses de Verão, duas récitas em cada semana com os seus

Domingos e dias santos; porque estas récitas ficam sendo precisas para o prémio e

26

interesse deles, António Jorge e José Joaquim, Welch, excepto se por causa de fogo,

terramoto ou morte de príncipe se não puder fazer representação algum[a], pois, neste

caso, fica cessando o referido prémio e enquanto se não remover o tal embaraço e causa

e faltando os ditos dois cómicos ou qualquer deles aos dias de ensaios ou aos dias de

récitas e representação pagará o que com efeito faltar por cada uma vez vinte mil réis e

pena convencional e toda a mais perda e dano que conforme o direito devam restituir; e

ficam eles, António Jorge e José Joaquim Welch, obrigados a representarem no dito

determinado tempo dois dias de benefício que eles, empresários, determinarem sem por

eles levarem prémio algum e os mais dias de benefício que houver lhes serão pagos na

mesma forma que os mais dias ordinários; estando também presentes Francisco Xavier

de Sousa, morador na Cotovia e Rua da Procissão, e Francisco Trocate, morador na Rua

do Carvalho do Bairro Alto, por eles foi dito que eles por esta [50v] mesma escritura se

obrigam, submetem e sujeitam da mesma sorte que os ditos António Jorge e José

Joaquim, Welch ficam obrigados, somente com a diferença do prémio ser mil e

duzentos réis cada récita e cada um deles, Francisco Xavier de Sousa e Francisco

Trocate; e estando também presentes José Rodrigues Rollis, pai do dito Trocate, por ele

foi dito presta a sua outorga e consentimento e também se obriga pelo dito seu filho ao

cumprimento deste contrato, o qual todos eles, partes, querem e prometem cumprir

como nesta escritura fica declarado, ao que obrigam suas pessoas e todos os seus bens

presentes e futuros; e não tem dúvida que para maior validade deste contrato se julgue

esta escritura por sentença, para o que se dão, desde logo, por citados e prometem não

revogar, nem reclamar em parte nem em todo o estipulado nesta escritura. Em

testemunho da verdade assim outorgam, pediram e sujeitaram e eu, tabelião, por quem

tocar ausente, sendo testemunhas presentes António Januário Cordeiro e João de Pavia

Souto Maior que me escrevem e nesta nota assinaram com eles, partes, a quem todos

conhecemos serem os próprios e eu, Tomás da Silva Freire, tabelião, o escrevi,

Sebastião António Pientzenauer

Luís José Pientzenauer

José Conti

José Joaquim Welch

Antonio Giorgio

Francisco Xavier de Sousa Machado

27

José Rodrigues Rollis

António Januário Cordeiro

João de Pavia Souto Maior

28

ADL 8

3º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 639, ff. 50v-51.

Escritura de contrato e obrigação entre Sebastião António Pientzenauer, Luís José

Pientzenauer e José Conti e os empresários do Teatro do Bairro Alto (3 de Abril de

1762).

[50v] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos estes instrumento de contrato e

arrendamento e obrigação virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus

Cristo de mil setecentos e sessenta e dois anos, aos três dias do mês de Abril nesta

cidade de Lisboa, na Calçada do Combro e escritório de mim, tabelião, apareceram

presentes a saber: de uma parte Sebastião António Pientzenauer, seu filho Luís José

Pientzenauer e José Conti e doutra parte João Gomes Varela e seus sócios João da Silva

Barros e Francisco Luís, todos moradores nesta Corte. E logo por eles, partes, foi dito

na presença de mim tabelião e testemunhas ao diante nomeadas que eles João Gomes

Varela e mais sócios são senhores e possuidores do teatro que se acha erigido no fim da

Rua da Rosa das Partilhas, e no palácio do excelentíssimo conde de Soure, e que agora

por esta escritura e pela melhor via de direito arrendam e dão de arrendamento o dito

teatro com todas as casas e oficinas pertencentes ao mesmo teatro a eles, Sebastião

António Pientzenauer e seus companheiros, pelo preço, condições, cláusulas e

obrigações seguintes: que este arrendamento se entende pelo tempo preciso do dia de

Páscoa da Ressurreição próximo que vem deste presente ano até o dia de Entrudo do

ano próximo que vem e mais não; que neste arrendamento se compreende o dito teatro

com todos os seus aprestos de pinturas, bastidores e vestuários da mesma forma que

presentemente se compõem; que eles, empresários, farão a seu arbítrio no dito teatro

todos os divertimentos e representações que bem lhes parecer, usando dos vestuários

que nele há, fazendo as mudanças que forem precisas neles de sorte que fiquem sempre

sendo de homem ou de mulher para o que estiverem já feitos e da mesma sorte usarão

eles [ar]rendatários do tablado, fazendo nele as mudanças e obras que forem precisas

para as suas representações de sorte que se não mude a forma dele e tudo à sua própria

custa e despesa; que eles, senhorios da casa e teatro, receberão e lhe ficarão pertencendo

de seu prémio e arrendamento [51] uma sexta parte de todo e qualquer rendimento de

cada uma das noites ou dias que se fizerem as representações ou outro qualquer

29

divertimento e isto livre de toda e qualquer despesa, tanto da casa como da

representação que serão feitas à custa deles, [ar]rendatários; e assim mais ficarão

percebendo eles, senhorios, toda a utilidade que dos consertos do dito teatro e vestuários

resultar, por lhes ficar tudo pertencendo no fim deste arrendamento, porque só a

benfeitoria que for portátil no dito teatro que eles rendeiros fizerem e poderão levar

consigo e da mesma sorte os vestuários novos que se fizerem, que todos se entenderão

feitos à custa dos mesmos rendeiros; que eles, senhorios, terão mais, além do referido o

prémio e interesse, um dia chamado de benefício que não seja nos três dias de Entrudo,

quando eles muito quiserem avisando primeiro a eles, rendeiros, três ou quatro dias

antes que lhe porão prontos e sua custa, todas as partes e a mesma casa livre de despesas

para que eles, senhorios, recebam todo o rendimento e produto do tal dia de benefício,

porque todas as despesas que forem preciso fazer, farão por conta deles, rendeiros; que

o produto e prémio diário que na forma sobredita fica pertencendo a eles, senhorios, que

é a sexta parte de todo o rendimento, o receberá logo ao ajustar das contas ele, João

Gomes Varela ou qualquer dos outros seus sócios; que eles, senhorios, haverão quatro

mil e oitocentos réis e eles, rendeiros, outra tanta quantia em cada um dia de

representação do monte do seu rendimento e do resto é que há de fazer o abatimento da

sexta parte que fica pertencendo a eles, senhorios; que na plateia e nos camarotes não

entrará pessoa alguma sem bilhete e também ficará livre da conta, digo bilhete, e que

além dos camarotes que era costume darem-se no dito teatro de graça, se poderá dar

também de graça um dos camarotes ao excelentíssimo marquês de Marialva e também

haverá quatro bilhetes de graça para cada uma das partes os repartirem pelos seus

amigos que bem lhe parecer; que eles, rendeiros, ficam obrigados a oferecerem

divertimentos no dito teatro o mais cedo que puderem logo depois da Páscoa e a

continuarem no todo o mais determinado tempo deste arrendamento; com declaração,

porém, que se pararem com as representações um mês sucessivamente poderão eles

senhorios usar e determinar do seu teatro como lhe parecer daí por diante e querendo os

rendeiros continuar os divertimentos no mesmo teatro daí por diante o poderão fazer e

ficam obrigados daí por diante até o fim do tempo determinado a pagarem seis mil e

quatrocentos réis por cada dia determinado do estilo que não fizerem divertimento; que

eles, rendeiros, ficam obrigados a fazerem o divertimento duas vezes cada semana e nos

domingos e dias santos; que eles, rendeiros, também farão um dia de benefício para si e

que não haverão eles coisa alguma, digo eles, senhorios, prémio algum; que para dei

digo algum. E nesta forma disseram eles, partes, ser o seu ajuste e contrato que

30

prometem e se obrigam fazer em todo o tempo bom todo o estipulado nesta escritura,

sem que a possam revogar, reclamar, nem por outro algum modo contravir; ao que

obrigam suas pessoas e todos os seus bens presentes e futuros e outorgam responder por

todo o aqui conteúdo, nesta cidade de Lisboa, perante as justiças a que for requerido o

cumprimento desta escritura para o que renunciam o juízo de seu foro domicílio e os

mais privilégios presentes e futuros que em seu favor alegar possam. E em testemunho

da verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por quem toca

ausente sendo testemunhas presentes Félix Vicente de Almeida, morador na travessa de

Santo António ao Senhor Jesus da Boa Morte, e António Januário Cordeiro que me

escreve e nesta nota assinaram com eles, partes, a quem todos conhecemos serem os

próprios e eu, Tomás da Silva Freire, o escrevi

João Gomes Varela

Sebastião António Pientzenauer

Luís José Pientzenauer

João da Silva Barros

José Conti

Francisco Luís

Félix Vicente de Almeida

António Januário Cordeiro

31

ADL 9

3º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 639, ff. 66-66v.

Escritura de contrato e obrigação entre Sebastião António Pientzenauer, Luís José

Pientzenauer e José Conti e o bailarino Pietro Campanella (28 de Abril de 1762).

[66] Saibam quantos este instrumento de contrato e obrigação virem que no ano do

nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e sessenta e dois, aos vinte e

oito dias do mês de Abril, nesta cidade de Lisboa, na Calçada do Combro e escritório de

mim, tabelião, apareceram presentes a saber de uma parte Sebastião António e seu filho

Luís José Pientzenauer e José Conti, todos assistentes nesta Corte, e de outra parte

Pedro Campanella, também assistente nesta cidade. E logo por eles, partes, foi dito na

presença de mim, tabelião, e testemunhas ao diante nomeadas, que eles estavam justos e

contratados obrigam ele, Pedro Campanella, a exercitar as suas habilidades de dançar e

representar pelo preço e na forma ao diante declarada na conformidade do qual ajuste

com efeito agora por esta escritura e pela melhor via de direito se obriga ele,

Campanella, a executar todas as suas habilidades de dançar, representar e cantar

conforme lhe for distribuído no teatro que eles, Sebastião António e seu filho e José

Conti, elegerem e determinarem e todas quantas vezes e dias os mesmos determinarem

as suas récitas, desde o dia de hoje até o dia de Entrudo do ano próximo que vem pelo

prémio e preço de quarenta e oito mil réis em dinheiro cada um mês pago em quatro

pagamentos iguais no fim de cada semana, cada pagamento contados com o vencimento

de vinte e quatro do corrente mês de Abril em diante, ficando o mesmo Campanella

obrigado debaixo do mesmo prémio a paramentar-se dos pequenos vestuários do estilo e

a ir prontamente a todos os ensaios que se fizerem; cujo prémio ficam eles, empresários

Sebastião António e seu filho e José Conti, obrigados todos juntos e cada um in solidum

pelo todo a pagarem na forma sobredita, ainda que se não façam representações

algumas, excepto se por causa de fogo, terramoto ou morte de príncipe se não puder

continuar o divertimento, pois neste único caso fica cessando o referido prémio,

enquanto se não remover o tal embraço e causa e [66v] faltando o dito Campanella a

qualquer récita ou ensaio determinado, não sendo por causa de moléstia, pagará de pena

convencional vinte mil réis por cada vez que com efeito faltar e toda a mais perda e

dano que conforme o direito lhe deva restituir; e nesta forma disseram eles, partes, ser o

seu ajuste e contrato que prometem cumprir como nele se declara sem que o possam

32

revogar, nem reclamar por modo algum; e ao cumprimento e segurança de tudo obrigam

suas pessoas e todos os seus bens presentes e futuros. E em testemunho da verdade

assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar ausente, sendo

testemunhas presentes Paulino Jaques Godfroy e António Januário Cordeiro que me

escrevem e nesta nota assinaram com eles, partes, a quem conhecemos serem os

próprios; e eu, Tomás da Silva Freire, o escrevi,

Pedro Campanella

Luís José Pientzenauer

Sebastião António Pientzenauer

José Conti

Paulino Jaques Godfroy

António Januário Cordeiro

33

ADL 10

6º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de notas, liv. 23, ff. 69-71.

Escritura de contratação de cómicos para o Teatro do Bairro Alto (12 de Março de

1763).

[69] Em nome de Deus ámen. Saibam quantos este instrumento de contrato e obrigação

virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus [69v] Cristo de mil, setecentos

sessenta e três em doze dias do mês de Março na cidade de Lisboa no fim da Rua da

Rosa das Partilhas dentro em um quarto do palácio dos excelentíssimos Condes de

Soure aonde apareceram presentes partes; a saber, de uma, João Gomes Varela, João da

Silva Barros, moradores dentro do mesmo palácio e Francisco Luís morador na

Travessa das Vacas junto à rua do Salitre; e da outra João de Sousa, morador na dita

Rua da Rosa, Lourenço António, morador na Calçada de Sant'Ana, Rodrigo César,

morador ao Rato; João Florêncio, morador ao Coleginho da Graça, Francisco de Sousa,

morador na Cotovia junto à Barraca de Nossa Senhora da Piedade das Chagas, Teófilo

Pedro, morador na Rua do Capelão, António de Paula, morador dentro do mesmo

palácio; Quitéria Margarida e sua irmã Teresa Joaquina, filhas de Luís da Silva,

moradoras aí junto. Por eles João Gomes Varela, João da Silva Barros e Francisco Luís

foi dito em presença de mim tabelião e das testemunhas ao diante nomeadas que como

eles têm estabelecido dentro do mesmo palácio uma casa de ópera, na qual também se

costumam representar algumas comédias e mais brincos de divertimento e para ela

necessitem de pessoas cómicas para esse ministério, se ajustaram, digo, ministério, do

qual usam ele João de Sousa, e os mais depois dele nomeados se ajustaram e

contrataram com eles debaixo das condições e cláusulas seguintes: Que eles cómicos

serão obrigados a representar no teatro da dita casa de ópera desde o dia de Páscoa do

presente ano até o de Entrudo do futuro de mil setecentos sessenta e quatro, para o que

se acharão prontos no dito dia de Páscoa na dita casa com os seus vestidos e ornatos

conducentes aos seus caracteres para darem princípio à representação; para o que serão

mais obrigados a saberem os seus respectivos papéis de qualquer comédia ou ópera, que

eles, empresários, lhes ordenaram, e isto dentro em quinze dias, que se contarão desde

aquele que se lhe entregarem sucessivamente para a dita representação. Que nenhum

deles cómicos faltará a todos os ensaios que se houverem de fazer àquela hora que se

lhes determinar, e aquele que faltar pagará de pena convencional por cada uma vez

34

duzentos e quarenta réis que os mais companheiros poderão aplicar para o que melhor

lhes parecer, para cuja aplicação eles empresários darão logo dinheiro e as quantias que

assim forem dando se descontarão nos ordenados daqueles que faltarem ao tempo do

pagamento dos ditos ordenados, sem que seja necessária outra contenda mais do que o

[?] que se lhe fizer da sua falta, no que eles cómicos reciprocamente consentem que

nenhum deles cómicos poderá faltar em dias determinados que [70] para as

representações das óperas ou comédias a acharem-se prontos e vestidos na dita casa

para se dar princípio a uma ou outra coisa àquela hora conveniente e que lhes for

determinada conforme os tempos e a determinação deles empresários e isto por qualquer

motivo que seja, não sendo o de moléstia, no qual caso serão obrigados a mandarem o

aviso a tempo competente a eles empresários para estes lhe mandarem médico ou

cirurgião que possam examinar a dita moléstia e se essa o priva ou não de poder

representar; sendo por outro qualquer motivo e juntamente se descuidar de dar sabido o

seu papel naquele tempo que dito fica poderão eles empresários com o treslado desta

escritura requerer a qualquer ministro ordem de prisão contra aquele que faltar, o qual

não poderá ser solto da cadeia sem primeiro lhes satisfazer todo o prejuízo que pela tal

falta lhes resultar. Que nenhum deles cómicos nos dias de representação poderá sair fora

do teatro depois de vestidos com os ornatos com que devem representar para se irem

meter nos camarotes, ou plateia, a conversar com outras pessoas, e o que assim o fizer

perderá por cada vez a mesma quantia de duzentos e quarenta réis com a mesma

aplicação que dito fica; Que eles cómicos ficam obrigados a representar dois dias de

benefício em quaisquer que eles, empresários, quiserem, a saber um para as obras de

São Pedro de Alcântara e outro chamado o benefício da casa sem que por estes dois dias

eles empresários lhes satisfaçam algum ordenado; Que eles cómicos ficam obrigados a

não porem dúvida alguma a saírem ao tablado em companhia dos dançarinos naquelas

danças em que lhes for preciso, como também a aceitarem as partes na forma que o

autor da ópera ou comédia lhes distribuir ou por eles, empresários, sem que a isso

possam pôr dúvida alguma, e isto debaixo da mesma pena retro mencionada. Que eles,

empresários, serão obrigados a pagar a eles, cómicos, por cada dia que representarem,

não sendo os dos ensaios, o seguinte: a ele, João de Sousa, mil e seiscentos réis; a ele,

Rodrigo César, mil e seiscentos réis; a ele, João Florêncio, mil e duzentos réis, a ele,

Lourenço António, mil e seiscentos réis; a ele, Teófilo Pedro, novecentos e sessenta

réis; a ele, Francisco de Sousa, quando entrar em qualquer comédia ou ópera oitocentos

réis e quando ficar de fora quatrocentos réis, com obrigação de se ocupar em outro

35

qualquer ministério que eles, empresários, determinarem; a ele, António de Paula, mil e

duzentos réis; a ela, Quitéria Margarida, mil e duzentos réis; e a ela, Teresa Joaquina,

outra tanta quantia, cujos pagamentos lhes farão eles empresários prontamente [70v] em

cada uma das noites de representação ou no dia a ela sucessivo; Que eles, empresários,

serão obrigados a fazerem certos a eles, cómicos, desde o dia de Páscoa de Flores até

quinze de Novembro, dois dias de representação em cada semana, reservando dois

meses de Verão que ficarão à eleição deles empresários para os repartirem ou tomarem

juntos como melhor conveniência fizer; Que findos os quinze de Novembro ficam

obrigados a fazer certas três representações em cada semana e todas as mais que

quiserem fazer, pagando a eles cómicos acima e retro declarados até o dito dia de

Entrudo de mil setecentos e sessenta e quatro, o que se entenderá não havendo ordem

em contrário que proíba a dita representação, como também no caso de moléstia ou falta

de algum deles cómicos enquanto com a prontidão possível se lhe não der a providência

necessária e nisto não ser por culpa ou omissão deles empresários; Que sucedendo

adoecer algum deles cómicos serão eles empresários obrigados a pagar-lhe a metade do

seu ordenado de todos os dias de representação o que se entenderá durando a moléstia

por tempo de um mês, porque excedendo lhe não pagarão mais coisa alguma; Que eles

cómicos serão obrigados a conservar todo o segredo das óperas e comédias que se

houverem de representar não mostrando os seus respectivos papéis a pessoa alguma e

fazendo o contrário perderá o salário de um mês que se repartirá entre os mais

companheiros. E nesta forma disseram eles partes estarem contratados sobre o declarado

nesta escritura que cada um pela que lhe toca prometem cumprir e guardar, não revogar

nem reclamar por nenhuma via que seja, antes a seu cumprimento obrigam suas pessoas

e bens presentes e futuros e o melhor parado deles e não tem dúvida a que em todo o

tempo se julgue por sentença de [preceito?] para o que e para a sua execução desde logo

se dão por citados e confessam as suas obrigações nela declaradas e em virtude da dita

sentença se poderá proceder contra aquele ou aqueles que faltarem ao nela expressado.

E estando também presente Nicolau Luís, morador na dita Travessa das Vacas, que

actualmente se acha servindo o dito teatro com as suas composições, por ele foi dito que

ele se obrigava a dar para ele todas aquelas obras que lhe for possível, com a condição

que as não aplicará para outro qualquer teatro público durante o tempo referido,

preferindo eles empresários a outra qualquer pessoa, e pelo seu trabalho lhe darão por

cada noite dois mil réis, sendo a obra sua e sendo alheia vencerá somente dois tostões

[71v] com a condição de que faltando ao que dito fica, perderá em cada noite de

36

representação a mesma pena que eles cómicos, submetendo-se e sujeitando-se às

condições retro declaradas. E assim o outorgaram e aceitaram, sendo testemunhas

presentes José Bernardino de Lima e Abreu, cavaleiro na Ordem de Cristo e Guarda-

Mor do Consulado e Lourenço da Cunha, pintor, morador em Alcântara, que disseram

serem eles partes os próprios que na nota assinaram testemunhas. Manuel Inácio da

Silva Pimenta, tabelião, o escrevi. E declaro que não assinou o dito Francisco de Sousa

por não estar presente, dito tabelião declarei.

João Gomes Varela

João da Silva Barros

Nicolau Luís da Silva

Francisco Luís

Quitéria Margarida

Teresa Joaquina

António José de Paula

João de Sousa Coutinho

Rodrigo César

Lourenço António Pinheiro

Teófilo Pedro

João Florêncio

Lourenço da Cunha

José Bernardino de Lima e Abreu

37

ADL 11

7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de notas, liv. 1, ff. 32-33

Escritura de contrato e obrigação entre o Teatro da Rua dos Condes e a bailarina

Francesca Battini (16 de Março de 1763).

Transcrição de Licínia Ferreira.

[32] Saibam quantos este instrumento de ajuste e contrato e obrigação virem que, no

ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e setecentos e sessenta e três

anos, aos dezasseis dias do mês de março, no sítio de São Sebastião da Pedreira, e

quinta de Pedro Arce onde eu, tabelião, vim, e sendo aí presente Francisca Batini, no

estado de solteira, e da outra estava Agostinho da Silva, que vive de seu negócio, e

morador na Rua dos Condes. Por eles, partes, foi dito, perante mim, tabelião, e

testemunhas, que ela, Francisca Batini digo e testemunhas, que estão convindo que este

contrato, que há de ter princípio em dia de Páscoa da Ressurreição deste presente ano de

mil e setecentos e sessenta e três, para findar em dia de Entrudo do ano próximo futuro

de mil e setecentos e sessenta e quatro, na forma seguinte. Que será obrigada ela,

Francisca Batini, a dançar todo o referido tempo no teatro dele, Agostinho da Silva,

cada vez que ele determinar e for uso no mesmo teatro, e não poderá dançar em outro

algum teatro, por conveniência ou gratuitamente, dentro ou fora desta corte, durante o

dito tempo. Outrossim será obrigada a vir a todos os ensaios quando for avisada por ele,

Agostinho da Silva, em cujo teatro terá ela, Francisca Batini, o predicamento de

primeira dançarina. Que ele, Agostinho da Silva, será obrigado e se obriga a pagar a ela,

Francisca Batini, setenta e seis mil e oitocentos réis em dinheiro de contado por cada

mês; que outrossim será mais obrigado ele, Agostinho da Silva, a dar-lhe um camarote

junto à boca do teatro do andar do meio, com as duas chaves de serventia para o

corredor e para o teatro, e ela, Francisca [32v] Batini, se obriga a não alugar nunca o

dito camarote a pessoa alguma, debaixo da pena de três mil e duzentos, e somente o

poderá emprestar a quem lhe parecer nos dias em que não estiver doente, porque

estando pertencerá o camarote a ele, Agostinho da Silva, a quem se entregará a dita

chave e se obriga o mesmo Agostinho da Silva a dar por cada dança nova à dita

Francisca Batini dois mil e quatrocentos para os pequenos vestuários, e outrossim mais

um dia de benefício a arbítrio da mesma Francisca Batini, não sendo nos dias ordinários

da repartição digo da representação do teatro, e outrossim se obriga ele, Agostinho da

38

Silva, a dar-lhe a casa pronta com todas as suas partes e iluminada à custa dele,

Agostinho da Silva, e principiando ela, Francisca Batini, a dançar, logo no mesmo dia

lhe pagará ele, dito Agostinho da Silva, trinta e oito mil e quatrocentos, que é a meia

paga, e aos quinze dias do mesmo mês outra tanta quantia, de sorte que sempre um da

meia paga há de ser adiantado, e sempre irá continuando sucessivamente da mesma

sorte nos mais meses, e mais dará ele, Agostinho da Silva, oitocentos réis para uma sege

para ir dançar, e para os ensaios e dança quando para ele for avisada, e virá ela,

Francisca Batini, a horas competentes, sem que dê detrimento ao público, e havendo

alguma proibição, morte de Príncipe, incêndio ou terramoto por que venha a cessar a

representação do Teatro dele, Agostinho da Silva, ficará esta obrigação in suspenso até

finalizar o dito embaraço, e continuará a ter outra vez o seu vigor. Que todas as vezes

que se abrir novamente o teatro dele, Agostinho da Silva, ou outro desta corte, contanto

que o teatro dele, dito Agostinho da Silva, não padeça total ruína, porque então não será

obrigado a reeficalo digo obrigado a reedificá-lo para haver de subsistir o presente

contrato, e sucedendo que adoeça a dita Francisca Batini que dure a moléstia o tempo de

dois meses, sempre vencerá o referido prémio de setenta e seis mil e oitocentos já

referidos, e, excedendo o dito termo de dois meses a dita moléstia, todo o mais tempo

que durar a moléstia não vencerá mais prémio algum senão depois digo algum; e que

cada vez que ela, Francisca Batini, faltar alguma cláusula desta escritura, pagará a ele,

Agostinho da Silva, vinte mil réis. E nesta forma disseram eles, partes, haviam por bem

feita esta escritura, que prometem cumprir, sem que a possam revogar ou reclamar por

modo algum, antes ao seu cumprimento obrigam suas pessoas e bens presentes e [33]

futuros e o melhor parado deles, e não têm duvida que se possa julgar por sentença ao

seu respeito para o caso da falta do que fica expressado, e pelo aqui conteúdo

outorgarão responder nesta cidade perante quem cumprir e este instrumento se

apresentar, para o que renunciam juízes de seu foro, domicilio, privilégios e o mais que

alegar possa. E nesta forma aceitam este contrato na forma dele, e em testemunho de

verdade assim o outorgaram, sendo testemunhas presentes José António Platez, que vive

de seu negócio, e morador na Rua Larga das Olarias, e o Reverendo Padre José Faustino

Gomes, morador a São Sebastião da Pedreira, que afirmaram serem as partes as próprias

conteúdas. Caetano José Dantas Barbosa, tabelião, o escrevi.

Entrelinhei “da representação”na forma seguinte”estão convindos”por” Risquei q”avir”.

Francisca Batini

39

Agostinho da Silva

José António Plates

José Faustino Gomes

40

ADL 12

6º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de notas, liv. 24, ff. 71-72v.

Escritura de contrato e obrigação entre Manuel José de Aguiar e os empresários

do Teatro do Bairro Alto (6 de Julho de 1763)

[71] Saibam quantos este instrumento de contrato e obrigação virem, que no ano do

nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e sessenta e três, em os seis

dias do mês de Julho, na cidade de Lisboa, na Rua da Rosa das Partilhas, em um quarto

do palácio dos Excelentíssimos Condes de Soure, aonde ao [71v] presente assiste João

Gomes Varela, estando ele aí presente e bem assim João da Silva Barros, morador

dentro do mesmo palácio, e Francisco Luís, morador na Travessa das Vacas, junto da

Rua Direita do Salitre, isto de uma parte, e da outra o estava Manuel José de Aguiar,

professor de música, morador no mesmo palácio. Por eles, João Gomes Varela, João da

Silva Barros e Francisco Luís foi dito, em presença de mim tabelião e das testemunhas

ao diante nomeadas, que em razão de serem igualmente empresários da casa de ópera

estabelecida ao presente no mesmo palácio e necessitando de mais algumas pessoas para

se empregarem no ministério dela, se ajustaram e contrataram com ele, Manuel José de

Aguiar, para na mesma o admitirem, e isto debaixo das condições e cláusulas seguintes:

Que ele, Manuel José de Aguiar, será obrigado a entrar, desde logo, para a dita casa de

ópera para nela usar do ministério da sua arte, ou seja, para tocar rabeca ou outro

qualquer instrumento que souber, e sem distinção alguma, em todas as ocasiões que

necessário for, e no mesmo modo entrarão, desde logo, suas filhas chamadas Cecília,

Isabel e Luísa Inácia e, juntamente, seu filho chamado António José, que todos se

acham debaixo de seu pátrio poder, os quais serão obrigados a representar na mesma

casa todos aqueles papéis cómicos que eles empresários lhes derem para esse fim na

forma praticada com os mais cómicos dela, e isto sem diferença alguma, qualquer que

ela seja, nem levantar a esse respeito dúvidas nem contendas a respeito de melhores ou

piores figuras. Que ele, Manuel José, será mais obrigado a ensinar tudo o que souber

assim aos ditos seus filhos como aos mais cómicos da referida casa, e que for em

benefício dela para se recitar no seu teatro, ou seja falado ou cantado, ao que ficam

sujeitos os mesmos seus filhos para representarem de um e outro modo, para o que uns e

41

outros se acharão sempre prontos e vestidos em todos aqueles dias que se representar na

referida casa assim óperas como comédias de qualquer idioma que seja assim português

como espanhol ou italiano e com os seus papéis sabidos a tempo competente, ao que

faltando pagarão a eles empresários todo prejuízo que resultar; Que este contrato durará

por tempo de três anos contados da data desta, sucessivamente, no qual ele, Manuel

José, e seus filhos, não poderá fazer outro semelhante com qualquer pessoa que seja e

fazendo-o, ou qualquer dos [72] referidos seus filhos, perderá a quantia de quatrocentos

mil réis aplicados para eles empresários por modo satisfatório de qualquer prejuízo que

em esse respeito se lhes possa seguir na sobredita casa; Que por todo o trabalho que ele,

Manuel José de Aguiar, e referidos seus filhos, hão de ter nos respectivos ministérios

serão eles empresários obrigados a darem-lhe em cada um ano quatrocentos mil réis,

pagos em mesadas, que logo principiam a vencer, um dia de benefício na forma

costumada e o quarto de casas em que ao presente vivem gratuitamente, cujo quarto fica

por baixo da sobredita casa de ópera, cuja quantia lhes pagarão eles empresários, pronta

e sucessivamente, quer trabalhe ou não trabalhe a mesma[?] casa; porque deixando de

trabalhar por omissão deles, empresários, nunca estes deixarão de lhes satisfazer a

mesma quantia, salvo no caso de haver qualquer embaraço superior pelo qual não possa

ter exercício a mesma casa, porque, então, ficará cessando a contribuição dos ditos

quatrocentos mil réis, porém, nunca ele, Manuel José e seus filhos, desobrigados desta

escritura antes e todo o tempo que cessar o dito embaraço, serão obrigados a continuar

nos seus ministérios até com efeito completarem os ditos três anos: e nesta forma

disseram eles, partes, estarem contratados sobre o declarado nesta escritura que cada

um, pela que lhe toca, prometem cumprir e guardar, não revogar nem declinar por

nenhuma via que seja, antes a seu cumprimento obrigavam suas pessoas e bens

presentes e futuros e o mais bem parado deles e que para sua maior segurança não

tinham dúvida a que ela se julgue por sentença de preceito para o que para a sua

execução, desde logo, se davam por citados e confessavam cada um a sua obrigação

nela declarada para em virtude de dita sentença sem mais outra alguma acção, se

proceder contra aquele que faltar em todo ou em parte ao que nela fica obrigado; e pelo

aqui conteúdo responderão eles partes nesta corte perante as justiças dela a quem este

instrumento for apresentado, e seu cumprimento se requer, para o que disseram,

renunciavam juízo de seus foros e domicílios e todos os mais privilégios que em seu

favor alegar possam; e assim o outorgaram e aceitaram sendo testemunhas presentes

José Bernardino de Abreu e Lima, cavaleiro na Ordem de Cristo e José Fróis Leitão,

42

[72v] cavaleiro na mesma ordem, que todos conhecemos serem eles partes os próprios,

que na nota assinaram. Testemunhas. Manuel Inácio da Silva Pimenta, tabelião, o

escrevi.

João Gomes Varela

João da Silva Barros

Francisco Luís

Manuel José de Aguiar

José Fróis Leitão

José Bernardino de Abreu Lima

43

ADL 13

6º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de notas, liv. 26, ff. 41v-43.

Escritura de constituição de sociedade entre Agostinho da Silva, empresário do

Teatro da Rua dos Condes, e os empresários do Teatro do Bairro Alto (25 de

Fevereiro de 1764).

[41v] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de sociedade e

obrigação virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil

setecentos sessenta e quatro, em vinte e cinco dias do mês de Fevereiro na cidade de

Lisboa, na Rua Nova que se abriu na Quintinha do Saldanha e casas de morada do

reverendo padre José António Marques aonde apareceram presentes partes, a saber, de

uma Agostinho da Silva, empresário da Casa de Ópera da Rua dos Condes, e na mesma

morador, e da outra João Gomes Varela, João da Silva Barros, moradores na casa de

ópera do Bairro Alto e Francisco Luís, morador na Travessa das Vacas, ao Salitre, todos

três empresários da dita casa de ópera do Bairro Alto. Por eles, partes, foi dito em

presença de mim, tabelião, e das testemunhas ao diante nomeadas, estarem ajustados e

contratados para haverem de estabelecer entre todos uma sociedade, como, com efeito,

por este instrumento na melhor forma de direito a estabelecem, debaixo das condições e

cláusulas seguintes: Que esta sociedade terá seu princípio em dia de Páscoa do corrente

ano e findará em dia de Entrudo do futuro de mil, setecentos sessenta e cinco; Que ele

Agostinho da Silva concorrerá com toda a despesa necessária para o seu teatro até nele

pôr prontas todas aquelas obras cómicas que no decurso do dito ano nele se houverem

de representar e [42] com toda a perfeição que necessária for, tanto para as ditas obras

como para as danças a elas pertencentes, e por tal modo que bem convide os curiosos, e

pôr a renda da casa, concertos dela, decência, maneio, e com toda a mais despesa que

não seja diária; Que ele, João Gomes Varela, e seus companheiros observarão o mesmo

a respeito da sua casa do Bairro Alto, e só eles, partes, ficam reciprocamente obrigados

a entrar para as despesas diárias que se fizerem naqueles dias de óperas, a saber: ele,

Agostinho da Silva, na casa do Bairro Alto com uma terça parte da perda que puder

acontecer, e no mesmo modo perceberá outra tanta parte dos lucros que houverem

depois de rebatidas todas as ditas despesas; Que ele, João Gomes Varela e seus

companheiros, entrarão na mesma conformidade nos dias de óperas que se fizerem na

dita casa da Rua dos Condes com a metade da perda que puder acontecer e perceberão

44

outra tanta parte dos lucros, havendo-os; Que todos os camarotes que em uma e outra

casa se derem fiados fará o seu aluguer por conta do dono da casa que assim o fizer e

será obrigado no fim de um mês pagar aos interessados as suas respectivas partes que no

dito aluguer lhes pertencer, quer a esse tempo o tenha ou não cobrado das pessoas que

os ocuparem; Que sendo necessário a qualquer dos teatros das ditas duas casas valer-se

de alguma cousa que houver no outro se lhe emprestará com toda a prontidão, e depois

de servir, e não sendo necessário, será logo restituída à casa que a emprestar, fazendo a

despesa do transporte por conta daquela que a pedir, ficando esta incluída na que não for

diária, como dito fica; Que dos cómicos que há nesta cidade e dos que puderem

alcançar-se se farão duas companhias que hão de representar de sorte que fiquem ambos

os teatros fornecidos igualmente, e a respeito dos ditos cómicos e dançarinos se não fará

ajuste algum de preços sem concordarem ele, Agostinho da Silva, com ele, João Gomes

Varela e seus companheiros, no que cada um deve vencer, exceptuando Manuel José de

Aguiar e seus filhos, que esses ficarão vencendo aquela quantia estipulada no seu

contrato, de que ele, Agostinho da Silva, tem certa ciência; Que como, ele, João Gomes

Varela, tem mandado vir duas dançarinas e um dançarino de Itália e para isto expedira

letra antes que se efectuasse esta sociedade, ele, Agostinho da Silva, pela sua parte

aprova a dita resolução e no caso de virem os ditos dançarinos ou parte deles será

obrigado a concorrer com a terça parte da sua despesa, na forma que fica dito a respeito

da diária; Que eles, Agostinho da Silva e João Gomes Varela, serão obrigados em cada

uma das noites de ópera que houver nas suas respectivas casas a fazerem a conta da

despesa diária, ficando em poder de cada um deles a importância da mesma despesa

[42v] para com ela fazer pagamento à sua gente mandando cada um deles donos da

casa, no dia em que em ambas houver ópera, uma pessoa pela sua parte assistir às ditas

contas; Que eles, sócios, desde logo por este mesmo instrumento desistem de todas as

causas e demandas que entre si e alguns cómicos até ao presente correrem a respeito das

mesmas casas e contratos a elas pertencentes, seja pelo modo qual for, para que fiquem

sem efeito algum como se ajuizadas não fossem, pondo-se nelas desde já perpétuo

silêncio; Que ele, Agostinho da Silva, será reconhecido no Teatro do Bairro Alto como

sócio e interessado nele, e havendo algum cómico, dançarino, ou outra qualquer pessoa

do serviço da casa, digo pessoa que tenha ocupação na casa que o haja de desatender

por qualquer pretexto que seja será a tal pessoa logo em continente expulsa fora da

mesma casa, e o mesmo se observará com os mais sócios na casa da Rua dos Condes;

Que porquanto eles, sócios, nas suas respectivas casas de ópera costumam nos dias dela

45

darem alguns lugares de graça assim na plateia como nas varandas a algumas pessoas da

sua amizade e obrigação, e a sua tenção não seja prejudicar a sociedade, se convençam

eles, partes, que quando houver muita gente que ocupe os lugares que as tais pessoas

podiam ocupar, que eles, donos das casas, nessas ocasiões evitem as entradas às tais

pessoas pelo melhor modo que puderem, ficando-lhe sempre a liberdade de as

admitirem naqueles dias que houver menos gente e que por essa razão se não siga

prejuízo nem a uns nem a outros; Que no caso de ficarem alguns camarotes por alugar

na casa do Bairro Alto ele Agostinho da Silva terá a liberdade de pedir ao chaveiro a

chave daquele que estiver desocupado e dá-lo a quem bem lhe parecer gratuitamente

sem entrar em conta o seu aluguer, e o mesmo se observará com os mais sócios na casa

da Rua dos Condes, havendo entre todos uma recíproca união e correspondência; Que

em todas as noites de bailes de uma e outra casa se fará pelos donos delas uma exacta

relação do que em cada uma rendeu o teatro para pela dita relação se ajustarem logo as

contas e receber cada um dos sócios a sua respectiva parte dos interesses ou pagar a

perda que puder resultar; Que correndo algum embaraço ou impedimento total por

qualquer acontecimento que seja que por ele deixe alguma das ditas casas de continuar

nas suas óperas e mais divertimentos sempre esta sociedade ficará em [43] seu vigor

com aquela que não tiver o tal impedimento, saindo todas as despesas necessárias, assim

extraordinárias como diárias por conta de todos os interessados. E nesta forma disseram

eles partes estarem ajustados e contratados sobre o declarado nesta escritura, que cada

uma pela que lhe toca prometem cumprir e guardar, não revogar nem reclamar por

nenhuma via que seja, e aquele que o pretender fazer perderá para aquele que a cumprir

a quantia de seiscentos mil réis de pena convencional e sem primeiro dela fazer depósito

não poderá ser ouvido nem admitido em juízo nem fará dele com acção alguma que

seja, à satisfação do que obrigaram suas pessoas e geralmente seus bens presentes e

futuros e o melhor parado deles. E assim o outorgaram e aceitaram, sendo testemunhas

presentes o dito reverendo padre José António Marques e o reverendo padre Pedro

Joaquim da Costa, que todos conhecemos serem eles partes os próprios que na nota

assinaram, e testemunhas. Manuel Inácio da Silva Pimenta, tabelião, o escrevi.

Entrelinhei e seus companheiros.

Agostinho da Silva, João Gomes Varela, João da Silva Barros, Francisco Luís, José

António Marques, Pedro Joaquim da Costa

46

ADL 14

6º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de notas, liv. 26, ff. 69v-70v.

Escritura de esclarecimento das condições da sociedade entre o Teatro da Rua dos

Condes e o Teatro do Bairro Alto com distribuição dos cómicos (10 de Abril de

1764).

[69 v] Saibam quantos este instrumento de declaração, desistência e obrigação virem

que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e

quatro, em dez dias do mês de Abril na cidade de Lisboa, dentro do palácio dos

excelentíssimos Condes de Soure, que é na Rua da Rosa das Partilhas, aonde

apareceram presentes partes, a saber, de uma Agostinho da Silva, empresário da sala de

ópera da Rua dos Condes, e nela morador, e da outra João Gomes Varela, João da Silva

Barros e Francisco Luís, empresários da casa de ópera do Bairro Alto, que se representa

no dito palácio. Por eles, partes, foi dito em presença de mim tabelião e das testemunhas

ao diante nomeadas que por uma escritura outorgada em minha nota em vinte e cinco

dias do mês de Fevereiro do presente ano haviam estabelecido uma sociedade a respeito

das suas casas de óperas, e isto debaixo das condições e cláusulas declaradas na dita

escritura a que se referem. E porque depois da dita sociedade estabelecida sucedera

moverem-se algumas controvérsias, as quais querendo evitar por este instrumento na

melhor forma de direito declaram a dita escritura e sociedade debaixo das condições e

cláusulas seguintes: Que as companhias de cómicos que hão-de trabalhar este ano em

ambos os teatros com os supra estabelecidos são, a saber: na Rua dos Condes Pedro

António, que vence por representar e cantar dois mil e quatrocentos réis em cada noite;

Silvestre Vicente, pelo mesmo ministério, outros dois mil e quatrocentos réis em cada

noite; João de Sousa, mil e oitocentos réis; Desidério Ferreira, mil e seiscentos réis; José

da Cunha, mil e oitocentos réis; seu filho, mil e seiscentos réis; António Manuel, mil e

duzentos réis; Francisco Xavier Vargo, dois mil réis; João de Almeida, mil e oitocentos

réis; Maria Joaquina, dois mil e quatrocentos réis, Luzia Teresa Rosa, dois mil réis; Que

as pessoas cómicas que hão-de representar na Casa de Ópera do Bairro Alto são os

seguintes: Cecília Rosa e seus irmãos e irmãs vencem cada [70] ano quatrocentos mil

réis e casas; Quitéria, mil e seiscentos réis; Gertrudes, oitocentos réis; Teresa, mil e

duzentos réis; Ana, oitocentos réis; José Félix, dois mil e quatrocentos réis; António

Martins, mil e seiscentos réis; Rodrigo César, dois mil réis, António Jorge, mil e

oitocentos réis, João Florêncio, mil e duzentos réis, António José de Paula, mil e

47

duzentos réis, Lourenço António, mil e quatrocentos réis, e Teófilo novecentos, sessenta

réis; Que se não poderão pedir as partes principais de uma casa para a outra sem eles

sócios concordarem entre si se é ou não conveniente à sociedade; e só sim aqueles que

ficarem de fora ou sobresselentes poderão ser chamados para aquela aonde houver

necessidade delas; Que no caso de eles, empresários, terem feito algum contrato com

alguns dos cómicos nomeados por mais do ano da sociedade declarada na dita escritura

ou seja por outros ou por escritos particulares desde logo desistem do tal contrato ou

contratos em favor uns dos outros para que fiquem sem vigor algum como se

estipulados não fossem; Que dos camarotes que ficarem por alugar se não darão

gratuitamente nos dois andares de cima de uma e outra casa e que quanto aos lugares de

plateia e varanda se fará um número de bilhetes para eles sócios os poderem repartir

com quem lhe parecer; Que sendo conveniente à sociedade o tirarem ou mudarem os

porteiros das ditas casas de uma para outra o poderão fazer e o mesmo se observará a

respeito dos chaveiros. Que havendo alguma dúvida entre eles partes a respeito da boa

administração e execução da sociedade recorrerão e se louvarão em pessoa ou pessoas

de boa e sã consciência que a haja de decidir e pelo seu arbítrio estarão eles sócios sem

mais alguma controvérsia de juízo e nesta forma disseram eles partes haviam a dita

escritura por declarada ficando esta em tudo e por tudo valendo como parte dela a qual

prometem cumprir como nela se contém ao que obrigam suas pessoas e bens e estando a

esta também presente o dito Francisco Xavier Vargo, morador na Cotovia, Freguesia de

São José, por ele foi dito em minha presença e das ditas testemunhas que porquanto por

uma escritura outorgado em notas de Inácio Matias de Melo continuada em doze dias do

mês de Janeiro do presente ano ele Agostinho da Silva lhe havia largado sociedade da

terça parte dos lucros que neste ano puderem haver na referida casa da Rua dos Condes

por esta mesma desistia de toda a sua administração que nela podia ter e juntamente do

título de empresário, e somente lhe ficará pertencendo a terça parte dos lucros que a ele

Agostinho da Silva pela sua sociedade lhe ficam pertencendo tanto em uma como em

outra casa ficando no mesmo modo obrigado às perdas que puderem acontecer no modo

declarado em outra escritura na mesma nota em vinte e dois dias do mesmo mês. E

nesta forma

[70 v] assim outorgaram e aceitaram sendo testemunhas presentes Pedro Fumantino e

José Conti que todos conhecemos serem eles partes os próprios que na nota assinaram e

testemunhas.

48

Manuel Inácio da Silva Pimenta, tabelião, o escrevi.

Agostinho da Silva

João Gomes Varela

João da Silva Barros

Francisco Luís

Francisco Xavier Vargo

Pedro Fumantino

José Conti

49

ADL 15

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 42, ff. 43-43v

Escritura de contrato e obrigação entre o Teatro do Bairro Alto e a bailarina

Francesca Batini (2 de Outubro de 1764).

[43] Em nome de Deus, ámen, saibam quantos este instrumento de contrato e obrigação

virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e setecentos e

sessenta e quatro, aos dois dias do mês de Outubro, nesta cidade de Lisboa, no Bairro de

São Sebastião da Pedreira, e casas de morada de Francisca Batini estando ela aí presente

de uma parte, e de outra estava João Gomes Varela, empresário da Casa de Ópera do

Bairro Alto; logo, por eles, partes, foi dito perante mim, tabelião, e testemunhas abaixo

nomeadas, que eles estão ajustados por este contrato que há de ter princípio por dia de

Páscoa da Ressurreição do ano próximo que vem de mil e setecentos e sessenta e cinco,

para findar em dia de Entrudo do ano de mil e setecentos e sessenta e seis na forma

seguinte: que ela, Francisca Batini, será obrigada a dançar todo o referido tempo no

teatro da dita Casa de Ópera do Bairro Alto todas as vezes que ele, empresário João

Gomes Varela, determinar e for uso; e não poderá dançar em outro algum teatro, por

conveniência ou gratuitamente dentro ou fora desta corte, sem licença por escrito dele

dito empresário durante o dito tempo. E outrossim, será obrigada a ir todos os ensaios

quando for avisada por ele, empresário; que a ela se lhe dará e fará bom o predicamento

e lugar de Primeira Dançarina em todos os carácteres, em todo o referido tempo; que,

ele, empresário, se obriga a pagar a ela Francisca Batini, sessenta e sete mil e duzentos

réis por mês, e assim mais será obrigado a dar lhe livre um camarote dos pequenos do

andar de cima junto à boca do teatro, de que se lhe entregará a chave; que ele,

empresário, se obriga mais a dar a ela, Francisca Batini, por cada dança nova, dois mil e

quatrocentos réis para os pequenos vestuários; e um dia de benefício a arbítrio dela,

Francisca Batini, não sendo nos dias ordinários da representação do dito teatro com a

casa pronta com todas as suas partes e iluminada à custa dele empresário; Que ele,

empresário, se obriga mais a dar a ela, Francisca Batini, oitocentos réis para uma sege

em todos os dias de representação e ensaios; que ela, Francisca Batini, se obriga a ir a

horas competentes, sem que dê detrimento ao público, e havendo alguma proibição,

morte de príncipe, incêndio, ou terramoto por que venha a cessar a representação do dito

teatro, ficará este contrato e obrigação em suspenso até finalizar o dito embaraço, e

continuar a ter outra vez o seu vigor todas as vezes que se abrir o teatro dele João

50

Gomes, ou outro qualquer desta corte em que ele, neste caso, seja interessado pelos

ditos motivos; que sucedendo que adoeça ela, Francisca Batini, o tempo de um mês,

sempre vencerá o referido prémio de sessenta e sete mil e duzentos réis; e excedendo o

dito termo a moléstia, o mais tempo que durar não vencerá prémio algum até vir ao

teatro, em que se lhe continuará o dito prémio; que cada vez que ela, Francisca Batini,

faltar a alguma das cláusulas e condições desta escritura pagará a ele, empresário João

Gomes vinte mil réis; e a mesma pena se sujeita e obriga ele, empresário João Gomes,

por qualquer falta que haja da sua parte; e nesta forma disseram eles, partes, ser o seu

ajuste e contrato e assim o prometem cumprir e guardar, e não revogar, reclamar, nem

por outo algum modo contra vir em juízo, nem fora dele, antes a seu cumprimento

obrigam suas pessoas e bens; e não tem dúvida a que esta escritura se julgue por

sentença de qualquer julgador, para o que e para a sua execução se dão eles, partes,

desde logo por citados; e outorgam de responder por todo o aqui conteúdo nesta cidade

de Lisboa perante os corregedores do cível [43v] da corte, ou da cidade para o que

renunciam o Juízo de seu foro Domicílio, e os mais privilégios presentes e futuros que

em seu favor alegar possam; e em testemunho de verdade assim outorgaram, pediram e

aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar ausente, sendo testemunhas presentes João de

Melo Pereira, morador na Rua Direita de S. Sebastião da Pedreira, e Manuel José,

cirurgião, morador à Cruz da Pedra na Estrada de Benfica, que nesta nota assinaram

com eles partes a quem confesso e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escreveu.

Declaro que as casas em que esta escritura se outorgou são da morada de Bartolomeu

Batini, irmão dela, dançarina; porque ela é moradora no mesmo bairro, na quinta do

Masa [?] e eu, sobredito tabelião, António da Silva Freire, o escrevi = entrelinhei = Alto

Francisca Batini

João Gomes Varela

João de Melo Pereira

Manuel José Lopes Matos

51

ADL 16

12º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 42, ff. 81-81v.

Escritura de contrato e obrigação entre o Agostinho da Silva e a bailarina

Francesca Battini (9 de Outubro de 1764).

Transcrição de Licínia Ferreira.

[81] Saibam quantos este instrumento de contrato, e obrigação virem que no ano do

nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e quatro, em nove

dias do mês de Outubro, nesta cidade de Lisboa, à Rua dos Condes e casas de morada

de Agostinho da Silva Seixas, estando ele aí presente de uma parte, de outra estava

Francisca Batini italiana, assistente nesta corte. Por eles, partes, foi dito a mim, tabelião,

perante as testemunhas ao diante nomeadas, que estão ajustados por este contrato que há

de principiar no dia de amanhã, dez, do corrente mês para findar no dia de Entrudo do

ano que vem de mil setecentos sessenta e cinco a que será obrigada ela, Batini, a dançar

o referido tempo no teatro dele, Agostinho da Silva, todas as vezes que for uso, e ele

determinar, sendo também obrigada a vir a todos os ensaios para que for avisada em

nome dele Agostinho da Silva Seixas e que se lhe dará e fará sempre bom o lugar de

Primeira Dançarina, em todos os caracteres; sendo obrigado ele, Agostinho da Silva, a

pagar a ela, Batini, sessenta e sete mil e duzentos réis em dinheiro de contado por cada

mês; e que ou [81v] outrossim será ele, Agostinho da Silva Seixas, obrigado a dar-lhe

um camarote junto à boca do tablado do andar do meio; e também se obriga a dar por

cada dança nova a ela, Batini demais, dois mil e quatrocentos réis para os pequenos

vestuários; e outrosim um dia de beneficio a arbítrio dela, Francisca Batini, não sendo

nos dias ordinários de representação de teatro: obrigando-se elle Agostinho da Silva

Seixas a dar-lhe a casa pronta e iluminada à sua custa e contadas as suas partes; e

principiando ela, Batini a dançar logo no mesmo dia lhe pagará ele, Agostinho da Silva

Seixas trinta e três mil e seiscentos réis pela meia paga do mês; e no fim dos outros

quinze a outra meia paga de sorte que sempre uma meia paga será satisfeita

adiantadamente e irá continuando na mesma forma em os mais meses; e outrossim dará

mais ele, Agostinho da Silva Seixas, a ela, Batini, oitocentos réis para uma carruagem

assim nos dias de ensaio, como nos dias de representação, vindo ela, Batini, sempre a

horas competentes, sem que dê algum deterimento ao público; e querendo ele,

Agostinho da Silva, que ela vá dançar ao Teatro do Barro Alto somente será obrigada a

52

ir com a sua companhia sem a qual nunca irá; excepto no caso em que por algum

incidente que não seja da parte dos empresários, se feche algum dos teatros por que

então será ela, Batini, obrigada naquele que lhe destinarem com a companhia que os

mesmos empresários quiserem; sendo porém, obrigados a conservar-lhe o lugar de

Primeira Dançarina em todos os caracteres; e havendo algua proibição, morte de

princípe, incêndio, terramoto, etc. por que venha a cessar a representação dos ditos

teatros, ficará esta obrigação em seu vigor digo obrigação suspensa até finalizar o dito

embaraço; porque finalizado que seja, tornará a seu vigor este contrato, e faltando a

alguma destas clásulas, ela, Batini; por cada vez será obrigada a pagar vinte mil réis a

ele, Agostinho da Silva Seixas, e á mesma pena se sujeita ele, Agostinho da Silva, por

cada falta que fizer; e nesta forma disseram estavam ajustados, e prometem cumprir a

presente escritura não a revogarem ou reclamarem por nenhuma via que seja, e para

maior firmeza são contentes que esta escritura se julgue por sentenaça e por todo o

necessário até real execução se dão por citados, para serem condenados de pronto. E em

testemunho de verdade assim o outorgaram, pediram, e aceitaram, e foram testemunhas

presentes o regedor doutor Pedro Joaquim da Costa do hábito de S. P.º, morador na Bica

de Duarte Belo, e João Teixeira Pinto, morador nesta mesma cidade, e todos

conhecemos serem eles partes os próprios que na nota assinaram e testemunharam e eu,

Inácio Matias de Melo, tabelião, o escrevi.

Fransesca Batini

Agostinho da Silva Seixas

Pedro Joaquim da Costa

João Teixeira Pinto

53

ADL 17

7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 3, ff. 55-55v.

Escritura de constituição de uma companhia de cómicos (30 de Janeiro de 1766).

[55] Saibam quantos este instrumento de obrigação e constituição de companhia virem

que, no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e

seis anos, aos trinta dias do mês de Janeiro, nesta cidade de Lisboa, na Rua Direita de

São José e escritório de mim, tabelião, pareceram presentes Pedro António Pereira e

José Félix e Rodrigo César e António Jorge e João de Sousa e António Manuel, todos

cómicos de teatro da Rua dos Condes desta corte. Por eles partes foi dito, perante mim,

tabelião, e testemunhas ao diante nomeadas, que eles querem constituir entre si uma

companhia de cómicos portugueses para estarem prontos a representarem em uma ou

mais casas de ópera que nesta corte se abram ou nas que já actualmente trabalham,

como em efeito constituem por esta escritura na melhor forma de direito, debaixo das

condições e cláusulas seguintes. Que o corpo desta companhia ficará sempre inseparável

no mester de representar, porque o não poderão fazer sem que todos convenham na

separação com cominação de incorrer qualquer deles que o pretender nas penas que ao

diante se dirá. Que qualquer pessoa de qualquer estado que for que se quiser agregar a

esta companhia será por todos aprovado, e nela será admitida sujeitando-se por escritura

às condições e penas que nela se expressar. Que esta companhia estará pronta [55v]

pronta a representar em qualquer casa de ópera que se fizer ou nas que estão feitas,

contanto que o empresário ou dono da Casa que se ajuste com a companhia a respeito

do que cada um deve vencer, cujos preços serão estipulados pela mesma companhia, ou

por cada uma récita ou por mês ou por ano. E pelo que entre si ajustarem e concordarem

com o empresário dono da Casa, poderão celebrar seu contrato, a que todos ficarão

sujeitos, constando dele que a maior parte das pessoas desta companhia o assinaram,

sem a isto porem dúvida alguma. Que nenhuma pessoa da companhia poderá abrir preço

do que deve ganhar para si e seus companheiros sem que primeiro estes lhe dêem esta

faculdade por escrito, e de outro modo não terá efeito o que por ele for ajustado. Que

todos eles sócios ficam obrigados, e assim mais todas as mais pessoas que se agregarem

a esta companhia, a irem ter as suas conferências quando tratarem dos seus ajustes a

casa do companheiro dito Pedro António Pereira, todas as vezes que para isso forem

avisados. Que todos eles cómicos se sujeitam inviolavelmente ao cumprimento das

54

condições desta escritura e cada um de per si se obriga a que, faltando a qualquer delas

ou separando-se da companhia, pagar de pena pelo melhor e mais bem parado de seus

bens e [56] e em melhor cuja aplicação desde já se faz a beneplácito de todos a metade

para o Hospital Real de Todos os Santos, e a outra metade para todos os companheiros

que estiverem vínculos no corpo da companhia, e além desta pena não tem dúvida

aquele que faltar ser degredado por tempo de um ano para um dos lugares de África que

lhe for nomeado por qualquer dos magistrados aonde se requerer o cumprimento desta

pena. E para maior firmeza deste contrato não têm eles partes dúvida todos juntos e cada

um de per si a que se julgue esta escritura por sentença, para ter execução aparelhada e

pronta para se requerer o cumprimento dela contra qualquer pessoa da companhia que

às condições deste contrato faltar. E pelo aqui conteúdo outorgaram responder perante

quem cumprir e este instrumento se apresentar, para o que renunciam juízes de seu foro,

domicílio e o mais que em seu favor alegar possam, e para se julgar por sentença sua

devida observância uniformemente se dão por citados e confessam o estipulado, e

aceitam conforme ele este contrato na forma dele. Em testemunho de verdade assim o

outorgaram, pediram e aceitaram, sendo testemunhas presentes José Pedro Rodrigues da

Silva, estribeiro do Ilustríssimo e Excelentíssimo Principal da Câmara, morador na Rua

Direita de S. José, e Manuel Dias, meu criado, que afirmaram serem os próprios os que

assinados. E eu, José Manuel Barbosa, tabelião, o escrevi. Risquei «da Rua dos

Condes», entrelinhei «desta Corte» e «assinaram». Dito o declarei.

[56v]

Pedro António Pereira

Rodrigo César

José Félix da Costa

António Jorge

João de Sousa

António Manuel

José Pedro Rodrigues da Silva

António Dias

55

56

ADL 18

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 48, ff. 24v-25v.

Escritura de cessão e trespasso, quitação e obrigação entre o sócio cessionário,

Matias Ferreira da Silva, e o sócio cedente Francisco Luís (30 de Maio de 1766).

[24v] A obrigação dos seiscentos mil réis que o cessionário ficou devendo ao cedente

está distratada como consta do instrumento de quitação geral e distrato, outorgado em

minha nota, em sete de Janeiro de 1768

Freire

Em nome de Deus, ámen, saibam quantos este instrumento de cessão e trespasso,

quitação e obrigação virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de

mil e sete centos e sessenta e seis, aos trinta dias do mês de Maio nesta cidade de Lisboa

no escritório de mim, tabelião, pareceram presentes, a saber de uma parte Francisco

Luís, mestre Pedreiro, morador na Travessa das Vacas, e de outra parte Matias Ferreira

da Silva homem de negócio, morador na Rua da Rosa das Partilhas, ao cunhal das

Bolas. E logo por ele, Francisco Luís, foi dito que ele e juntamente João Gomes Varela

e João da Silva Barros tomaram todos três de arrendamento ao excelentíssimo Conde de

Soure o seu palácio do pátio da Rua da Rosa das Partilhas, por tempo de quinze anos,

que tiveram princípio no primeiro de Janeiro do ano de mil e sete centos e sessenta e

um, e hão-de acabar no último de Dezembro de mil e setecentos e setenta e cinco, para

nele fazerem casa de ópera, e todas as acomodações precisas e por preço de duzentos e

quarenta mil réis cada ano e com as mais condições que constam da escritura do dito

arrendamento outorgada nas notas de mim, tabelião, em onze de Outubro de mil e

setecentos e sessenta a que se refere; E que depois [25] depois por escrito particular se

aumentou mais no preço do dito arrendamento quarenta e oito mil réis cada ano, vindo a

ser ao todo duzentos e oitenta e oito mil réis de renda cada ano e feita a dita casa de

ópera e suas acomodações celebraram eles arrendatários entre si uma sociedade a

respeito dos lucros ou perdas resultantes da mesma casa de ópera e suas dependências,

ficando nesta sociedade interessado ele, Francisco Luís em uma quarta parte como

consta dos acentos e clarezas que entre eles, sócios, há; e disse, outrossim, ele,

Francisco Luís, que ele está ajustado e com efeito por esta escritura cede e trespassa

com procuração em causa própria em o dito Matias Ferreira da Silva, assim a quarta

parte que lhe toca no arrendamento do dito palácio por todo o tempo que falta para

57

completar os quinze anos dele, como a quarta parte que lhe toca na sociedade e

negociação da mesma casa da ópera e seus lucros e interesses e mais dependências dela

e da mesma sorte lhe cede a acomodação que ele, cedente, para si fez à sua custa na

mesma casa de ópera; bem entendido que nesta cessão e trespasso se compreende todo o

direito e acção de tudo quanto a ele, cedente, toca e tocar possa no arrendamento do

dito, e na negociação e sociedade da mesma casa de ópera, e da acomodação que para si

fez, que tudo fica pertencendo de hoje em diante a ele dito cessionário, Matias Ferreira

da Silva, como sub-rogado, em tudo e por tudo no lugar dele cedente, Francisco Luís; e

que esta cessão lhe assim faz, pela quantia de um conto e duzentos mil réis, por conta

dos quais logo aí perante mim, tabelião e testemunhas abaixo nomeadas contou e

recebeu ele cedente, Francisco Luís, da mão do dito cessionário Matias Ferreira da Silva

seiscentos mil réis em moedas de ouro correntes neste reino, sem erro, nem falta de que

eu, tabelião, dou minha fé, e de que ele cedente dá quitação ao dito cessionário, e ele

cessionário fica obrigado a pagar os outros seiscentos mil réis restantes na forma

seguinte, a ele dito cedente, a saber: trezentos mil réis no fim do mês de Setembro

próximo que vem deste presente ano, e os outros trezentos mil réis em o mês de Janeiro

do ano próximo que vem de mil e setecentos e sessenta e sete; e, além disto, será mais

obrigado, ele, cessionário Matias Ferreira da Silva, pagar ao sócio João Gomes Varela

tudo o que ele, cedente, Francisco Luís lhe está devendo até o dia presente; procedido

da parte que lhe tocava pagar das despesas e perdas que tem havido na dita casa de

Ópera, e que o dito João Gomes Varela supriu por ele, cedente, e a tudo isto obriga ele,

cessionário Matias Ferreira da Silva, sua pessoa e bens; e se declara que nesta cessão se

compreende também aquela parte e direito e acção que a ele cedente toca e tocar possa

nas dívidas que se estão devendo atrasadas, pertencentes às ditas óperas e sua sociedade

e assim mesmo a parte que lhe toca nas acomodações feitas na dita casa de ópera por

conta da dita sociedade, que tudo fica pertencendo ao dito cessionário Matias Ferreira

por virtude desta cessão. E nesta forma promete ele, cedente Francisco Luís, fazer boa

esta cessão e trespasso com declaração que a boa e má cobrança das acções cedidas fará

por conta do dito cessionário; e por ele, Matias Ferreira da Silva, foi dito que ele assim

aceita esta cessão e trespasso e toma e remove sobre si a obrigação que lhe fica tocando

de concorrer com a sua parte os pagamentos da renda do dito palácio e de concorrer

com a quarta parte das despesas da dita sociedade que daqui em diante se houverem de

fazer, como sócio e interessado que fica sendo na dita quarta parte, e finalmente remove

sobre si o bom e mau sucesso do dito arrendamento da dita sociedade, como sub-rogado

58

no lugar do dito cedente, e se obriga tirá-lo, a paz e a salvo, de todas as obrigações, a

que o dito cedente estava obrigado, por causa [25v] do dito arrendamento e sociedade e

contas dela; estando tão bem presente o dito João Gomes Varela, por ele foi dito que se

necessário presta a sua outorga e consentimento a esta cessão e trespasso e aceita a

obrigação que nela lhe faz o dito cessionário Matias Ferreira da Silva de lhe pagar pelo

cedente tudo quanto este lhe deve do que por ele tem suprido, como fica dito neste

instrumento. E porquanto ele cedente, Francisco Luís, da sua quarta parte que lhe tocava

na sociedade das ditas óperas, tinha largado alguma porção a Clemente Ferreira de

Sousa, morador na Rua do Teixeira, estando este agora também presente, disse que ele

dá a sua outorga e consentimento a esta cessão e trespasso que o dito Francisco Luís por

esta escritura ao dito Matias Ferreira da Silva, para que tenha efeito como nela se

contém, sem embargo de qualquer ajuste ou sociedade que ele, Clemente Ferreira de

Sousa tivesse feito com o dito cedente Francisco Luís; e, outrossim se declara que na

referida sociedade das ditas óperas era ele interessado o dito João Gomes em metade; e

ele, Francisco Luís era interessado na quarta parte que agora cede no dito Matias

Ferreira, e o dito João da Silva Barros em outra quarta parte, que por ser falecido ficou

pertencendo a sua filha e herdeira, Joana Inácia, casada com Bruno José, o qual, estando

agora também presente, disse que se necessário era também prestava a sua outorga e

consentimento a esta cessão e trespasso que o dito Francisco Luís faz por esta escritura

ao dito Matias Ferreira, tanto a respeito da parte do arrendamento do palácio como da

quarta parte da sociedade e negociação das óperas; e nesta forma houveram eles partes

por acabadas estas escrituras declarando que sem embargo do arrendamento do dito

palácio ter sido feito aos ditos João Gomes Varela, João da Silva Barros, e Francisco

Luís sem distinção da parte que cada um ficava interessado, contudo, na sociedade

particular que eles ditos rendeiros entre si fizeram, assentaram em ficar sendo

interessado ele, João Gomes Varela, em metade, e ele Francisco Luís, em um quarto e o

dito João da Silva Barros em outro quarto; e isto assim a respeito do arrendamento do

dito palácio como da negociação das ditas óperas e dos lucros ou perdas que de tudo

pudesse resultar; e por isso a cessão e trespasso que ele, Francisco Luís, agora faz ao

dito Matias Ferreira da Silva é da sua quarta parte que em tudo lhe pertence; e em

testemunho de verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por

quem tocar ausente, sendo testemunhas presentes José Alvares Rangel e José António

Bernardes, meus oficiais papelistas, que nestas notas assinaram com eles partes, a quem

59

confesso serem os aqui conteúdos; e eu António da Silva Freire, tabelião, o escrevi =

dizem os emendados = quarta =

Francisco Luís

Matias Ferreira da Silva

João Gomes Varela

Clemente Ferreira de Sousa

Bruno José do Vale

José António Bernardes

José Alvares Rangel

60

ADL 19

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 49, f. 50.

Escritura de quitação pela qual se garante o pagamento do sócio cessionário,

Matias Ferreira da Silva, ao sócio cedente Francisco Luís, por quinhão da Casa da

Ópera do Bairro Alto (30 de Setembro de 1766).

Saibam quantos este instrumento de quitação virem que no ano do nascimento de Nosso

Senhor Jesus Cristo, de mil e setecentos e sessenta e seis, aos trinta dias do mês de

Setembro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceu presente

Francisco Luís, mestre pedreiro, morador na Travessa das Vacas, e por ele foi dito que

por uma escritura outorgada em minhas notas, em trinta de Maio deste presente ano,

cedeu e trespassou ele toda a parte e quinhão, direito, e acção que tinha na Casa da

Ópera do Bairro Alto, em Matias Ferreira da Silva, morador na Rua da Rosa das

Partilhas, pela quantia de um conto e duzentos mil réis, por conta dos quais recebeu

logo ele, cedente, seiscentos mil réis de que deu quitação, e ficou o dito cessionário

obrigado a pagar-lhe os outros seiscentos mil réis em dois pagamentos iguais, um no

fim do corrente mês de Setembro e outro em Janeiro próximo que vem, como tudo

melhor consta da dita escritura de cessão a que se refere; e porque agora perante mim,

tabelião e testemunhas abaixo nomeadas, recebeu ele, cedente, Francisco Luís de mão

do dito cessionário que presente estava, os trezentos mil réis do pagamento que se

venceu no dia de hoje, em dinheiro de conta do corrente neste reino, sem erro nem falta

de que eu, tabelião, dou minha fé, portanto disse ele, dito cedente Francisco Luís, que

por este instrumento dá quitação ao dito cessionário, Matias Ferreira da Silva, destes

trezentos mil réis que dele agora recebeu e nesta parte há por distratada a obrigação da

dita escritura e quer que na nota dela se ponha verba deste pagamento. E por ele, Matias

Ferreira da Silva foi dito que ele assim aceita esta quitação. E em testemunho de

verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por quem tocar

ausente; e declaro que esta se outorgou assinou aos quatro do mês de Outubro do dito

ano, sendo testemunhas presentes José Alves Rangel e José Cardoso Lisboa, meus

oficiais papelistas, que nesta nota assinaram com eles, partes, a quem confesso serem os

próprios aqui conteúdos; e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi.

Francisco Luís

Matias Ferreira da Silva

José Alvares Rangel

61

José Cardoso Lisboa

62

ADL 20

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 49, f. 50.

Escritura de procuração cedida por João Gomes Varela para tratar da restituição

do pagamento adiantado ao violinista François Hippolyte Barthélemon (27 de

Novembro de 1766).

Saibam quantos este instrumento de procuração em causa própria e cessão virem que,

no ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo, de mil e setecentos e sessenta e

seis, aos vinte e sete dias do mês de Novembro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de

mim, tabelião, pareceu presente João Gomes Varela, empresário do Teatro da Ópera do

Bairro Alto desta cidade e por ele foi dito que na corte de Londres entregou ele sessenta

cequins a José Justinieri [Giuseppe Giustinelli], músico cantor, digo sequins, a

Francisco Hipólito Bartholemó [François Hippolyte Barthélemon], senador de violino

de nação francesa, por conta do ajuste que com ele fez para vir exercitar a sua ocupação

na dita casa de ópera desta corte, como consta do seu recibo. E porque o dito Francisco

Hipólito Barthlemó faltou em vir como tinha ajustado, está obrigado a repor a dita

quantia que recebeu e consta do dito seu recibo, e na moeda portuguesa corresponde a

noventa e seis mil réis. E disse, outrossim, ele outorgante, João Gomes Varela, que por

este instrumento constitui seu procurador bastante a José Justineri [Giuseppe

Giustinelli], músico cantor, que será o mostrador da presente para que em nome dele,

outorgante, possa o dito seu procurador cobrar do dito Francisco Hipólito Barthelemó

[François Hippolyte Barthélemon] os ditos sessenta sequins e citá-lo, demandá-lo e

executá-lo por eles, como melhor lhe parecer e cobrar tão bem quaisquer custas, e dar

quitações e descargas de tudo o que receber e assinar em nome dele outorgante em tudo

o que necessário for e requerer tudo o que for a bem de suas justiças e jurar em sua alma

qualquer lícito juramento e de calúnia, e tudo seguir em todas as instâncias e tribunais a

que tocar e substabelecer os procuradores que quiser, e os revogar e desta sempre usar

que para tudo lhe dá ele outorgante todos os seus poderes com livre e geral

administração, reservando somente para si nova citação, bem entendido que o dito seu

procurador, José Justineri [Giuseppe Giustinelli], poderá cobrar a dita quantia para si

como cousa sua própria que lhe fica pertencendo, para o que ele, outorgante, lhe cede

todo o seu direito e acção com procuração em causa própria, em razão dele outorgante

haver recebido do dito seu procurador outra tanta quantia; e, outrossim, bem entendido

63

que a boa e má cobrança da dita quantia fará por conta do dito seu procurador

cessionário; e tudo por ele feito e cobrado, promete haver por bom firme e valioso; e

assim o outorgou, pediu e aceitou e eu, tabelião, por quem tocar ausente, sendo

testemunhas presentes José Cardoso Lisboa e José António Bernardes, meus oficiais

papelistas, que nesta nota assinaram com ele outorgante, ao qual confesso e dou fé ser o

próprio aqui conteúdo; e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi e entrelinhei =

de Violoni =

João Gomes Varela

José Cardoso Lisboa

José António Bernardes

64

ADL 21

12º Cartório Notarial de Lisboa /Antigo 5º B, Livros de Notas, liv. 50, f. 14.

Procuração cedida por Matias Ferreira da Silva a António José Gomes para

ajustar contas relativas à sociedade da Casa da Ópera do Bairro Alto (1 de Janeiro

de 1767).

Saibam quantos este instrumento de procuração virem que no ano do nascimento de

nosso senhor Jesus Cristo de mil e setecentos e sessenta e sete, ao primeiro dia do mês

de Janeiro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceu presente

Matias Ferreira da Silva, homem de negócio, morador na Rua Direita do Loreto; e por

ele foi dito que a ele, como cessionário de Francisco Luís, lhe pertence uma quarta parte

na Casa da Ópera do Bairro Alto, e todas suas dependências e pertenças e lucros, como

constam de uma escritura de cessão e trespasso outorgada nas notas de mim, tabelião,

em trinta de Maio do ano próximo passado de mil e setecentos e sessenta e seis a que se

refere. E disse, outrossim, que por este instrumento constitui seu procurador bastante a

António José Gomes, morador na Travessa das Mercês; e lhe dá poder, quanto em

direito se requer, para que em nome dele, outorgante, possa o dito seu procurador

assistir a todas as dependências, e ajustes de contas, das ditas óperas e comédias e mais

festejos que se fizerem na dita Casa de Ópera do Bairro Alto e receber e haver a si toda

a parte e quinhão tocante a ele outorgante e tudo o mais que por razão da dita casa de

ópera e suas representações pertencer a ele outorgante e dar quitações e descargas de

tudo o que receber e assinar em nome dele outorgante, em tudo o que necessário for e

procurar e requerer todo o seu direito e justiça em todas as suas causas movidas e por

mover em que seja autor ou réu; oferecer acções, justificações, habilitações, protestos,

requerimentos, pedimentos, louvamentos; embargos de sequestros e execuções, lanços,

rematações, e tomar poses, jurar na alma dele outorgante qualquer lícito juramento e de

calúnia, por contraditas e suspeições, apelar, agravar, embargar, e tudo seguir em todas

as instâncias ou renunciar e desistir quando lhe parecer e substabelecer os procuradores

que quiser e os revogar e desta sempre usar que para tudo lhe dá todos os seus poderes

com livre e geral administração, reservando somente para si nova citação e tudo por ele

feito promete ele outorgante haver por bom firme e valioso; e assim o outorgou sendo

testemunhas presentes José Cardoso Lisboa e José António Bernardes, meus oficiais

papelistas, que nesta nota assinaram com ele outorgante, a quem confesso ser o próprio

aqui conteúdo, e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi,

65

Matias Ferreira da Silva

José Cardoso Lisboa

José António Bernardes

66

ADL 22

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 53, f. 84v.

Francisco Luís, empresário da Casa da Ópera do Bairro Alto, dá a plena e geral

quitação do seu quinhão ao sócio cessionário, Matias Ferreira da Silva (7 de

Janeiro de 1768)

[84v] Saibam quantos este instrumento de quitação e distrato virem que, no ano do

nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil e setecentos e sessenta e oito, aos sete

dias do mês de Janeiro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceu

presente Francisco Luís, mestre-pedreiro, morador na Travessa das Vacas; e por ele foi

dito que por uma escritura outorgada em minha nota, em trinta de Maio de mil e

setecentos e sessenta e seis, cedeu e trespassou ele toda a parte e quinhão, direito e

acção que tinha na Casa da Ópera do Bairro Alto em Matias Ferreira da Silva, agora

morador na Rua Direita do Loreto, pela quantia de um conto e duzentos mil réis; por

conta dos quais recebeu ele cedente do dito cessionário, ao assinar da mesma escritura,

seiscentos mil réis, de que deu quitação na mesma escritura e despois recebeu mais do

mesmo cessionário trezentos mil réis de que também deu quitação por outra escritura

continuada em minha nota, em trinta de Setembro, e assinada em quatro de Outubro do

mesmo ano de mil e setecentos e sessenta e seis; e agora neste acto perante mim,

tabelião, e testemunhas abaixo nomeadas, recebeu ele cedente do mesmo cessionário,

por mão de Joaquim António Bergili Maldonado que também estava presente, os

últimos trezentos mil réis restantes em moedas de ouro correntes neste reino, sem erro

nem falta de que eu, tabelião, dou minha fé; e, portanto, disse ele, Francisco Luís, que

com estes trezentos mil réis, que agora recebeu, fica inteiramente pago e satisfeito do

um conto e duzentos mil réis, preço da dita cessão, e que por este instrumento dá tudo

plena e geral quitação ao dito cessionário Matias Ferreira da Silva, e distrata e há por

distratada a obrigação da dita quantia; e promete fazer boa em todo o tempo esta

quitação geral; e por ele, Joaquim António Bergili Maldonado, foi dito aceita esta

quitação para o dito Matias Ferreira da Silva de quem tinha recebido os ditos três dos

mil réis para este último pagamento e comissão vocal para a aceitação desta quitação; e,

em testemunho de verdade, assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por

quem tocar ausente sendo testemunhas presentes José Cardoso Lisboa e José Alvares

Rangel, meus oficiais papelistas, que nesta nota assinaram com eles partes a quem

67

confesso serem os próprios aqui conteúdos, e eu, António da Silva Freire, tabelião, o

escrevi

Joaquim António Bergili Maldonado

Francisco Luís

José Alvares Rangel

José Cardoso Lisboa

68

ADL 23

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 54, ff. 28-28v.

Revogação da procuração cedida por Matias Ferreira da Silva a António José

Gomes (23 de Fevereiro de 1768).

[28] Saibam quantos este instrumento de revogação virem que no ano do nascimento de

Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e setecentos e sessenta e oito, a os vinte e três dias do

mês de Fevereiro, nesta cidade de Lisboa, no escritório de mim, tabelião, pareceu

presente Matias Ferreira da Silva, homem de negócio, morador na Rua Direita do

Loreto; e por ele foi dito que para a cobrança e mais dependências da quarta parte que

lhe pertence na Casa da Ópera do Bairro Alto desta cidade, havia ele constituído seu

procurador bastante a António José Gomes com os mais poderes mencionados em um

instrumento de procuração outorgado nas notas de mim, tabelião, em o primeiro de

Janeiro do ano próximo passado de mil e setecentos e sessenta e sete; outrossim, disse

ele, Matias Ferreira da Silva, [28v]que por este instrumento revoga a sobredita

procuração feita ao dito António José Gomes para não poder usar mais dela nem outra

alguma pessoa por ele substabelecida e quer que na nora dela se ponha verba porque

conste desta revogação para ficar sem vigor algum, como se outorgada não fora. E em

testemunho de verdade, assim outorgou, pediu e aceitou sendo testemunhas presentes

José Cardoso Lisboa e José Alvares Rangel, meus oficiais papelistas que nesta nota

assinam com ele, outorgante, ao qual confesso e dou fé ser o próprio aqui conteúdos; e

eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi

[não há assinaturas]

69

ADL 24

7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício A, Livros de Notas, liv. 575, ff. 9v-10.

João Gomes Varela constitui António Jorge, de partida para Itália, como seu

procurador, de modo a contratar dançarinos em seu nome para o dito teatro (14 de

Abril de 1768).

[9v] Saibam quantos este instrumento de procuração virem que no ano do nascimento

de nosso senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e oito, aos catorze dias do mês

de Abril nesta cidade de Lisboa, na Rua Direita do Moinho de Vento, no escritório de

mim, tabelião, apareceu presente João Gomes Varela, empresário do teatro da Casa da

Ópera do Bairro Alto desta cidade e nela morador. E por ele foi dito que por este

instrumento constitui seu procurador bastante a António Jorge, de partida para Itália, e

lhe dá poder quanto em direito se requer para que em nome dele outorgante possa o dito

seu procurador ajustar lá na Itália dois dançarinos e duas dançarinas para o mesmo

teatro dele outorgante pelos preços, [10] tempos e mais condições declaradas na ordem

assinada por ele outorgante, que valerá como parte deste instrumento e dos ditos ajustes

poderá celebrar e assinar escritos ou escrituras públicas com as cláusulas, penas e

obrigações que precisas forem para a sua validade e segurança, obrigando a pessoa e

bens dele outorgante ao cumprimento delas, requerer todo o seu direito e justiça,

substabelecer os procuradores que quiser, revogá-los e desta sempre usar, reservando

ele outorgante toda a nova citação para si, mas para tudo o mais que preciso for a bem

dos ditos contratos disse dava ao dito seu procurador todos os seus poderes, com livre e

geral administração, ainda para aqueles casos e actos em que de direito se necessite de

especial mandato, e aqui não vão expressados, como se de cada um deles se fizesse

especial menção, e tudo pelo dito seu procurador feito promete haver por firme e

valioso, como se a tudo presente fosse. E assim o disse e outorgou, pediu e aceitou,

sendo testemunhas presentes João Alves, morador na Rua da Madre de Deus, e José da

Vitória, meu vizinho, que nesta nota assinaram com ele outorgante, a quem conheço. E

eu, José Rufino de Andrade, tabelião, o escrevi.

João Gomes Varela

João Alves

José da Vitória

70

ADL 25

7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício A, Livros de Notas, liv. 575, f. 73v.

João Gomes Varela constitui Bruno José do Vale como seu procurador, de modo a

poder contratar em Itália uma companhia de representação e bailarinos (21 de

Novembro de 1768).

Saibam quantos este instrumento de procuração virem que no ano do nascimento de

nosso senhor Jesus Cristo de mil setecentos sessenta e oito, aos vinte e um dias do mês

de Novembro, nesta cidade de Lisboa, na Rua Direita, no escritório de mim, tabelião,

apareceu presente João Gomes Varela e Companhia, empresário do Teatro do Bairro

Alto donde é morador. E por ele foi dito que por este instrumento constitui seu

procurador bastante a seu companheiro Bruno José do Vale e lhe dá poder quanto em

direito se requer para que em nome dele outorgante e companhia possa o dito seu

procurador e companheiro passar à Itália e nela ajustar a companhia de representação

italiana a qual chamam do Saque [Sacchi], ou outra qualquer do mesmo carácter, como

também os dançarinos e dançarinas que forem precisos, pelos preços, tempos e mais

condições que julgar precisas, além da dita sua companhia, sendo obrigados a estarem

em Génova a primeira até a segunda semana da Quaresma próxima futura, donde deve

achar navio pronto para a sua partida, cuja cláusula será estipulada nos referidos ajustes,

dos quais poderá assinar escritos ou escrituras públicas com as cláusulas, penas e

obrigações que precisas forem para a sua validade e segurança, obrigando a pessoa e

bens dele outorgante e Companhia ao cumprimento delas, requerer todo o seu direito e

justiça, substabelecer os procuradores que quiser, revogá-los e desta sempre usar,

reservando ele outorgante para si toda a nova citação, mas para tudo o mais que preciso

for a bem dos ditos contratos disse dava aos ditos seus procuradores todos os seus

poderes, com livre e geral administração, ainda para aqueles casos e actos em que de

direito se necessite de especial mandato, e aqui não vão expressados, como se de cada

um deles se fizesse expressa e declarada menção, e tudo pelo dito seu procurador feito a

bem da dita sua Companhia promete haver por bom, firme e valioso, pois para tudo

disse dava todos os seus poderes em direito necessários ao dito seu procurador, o qual

guardará em tudo suas ordens e avisos, que valerão como parte deste instrumento. E

assim o disse e outorgou, pediu e aceitou, sendo testemunhas presentes José da Vitória e

meu irmão João Xavier de Andrade, que nesta nota assinaram com ele outorgante, a

71

quem todos conhecemos ser o próprio. E eu, José Rufino de Andrade, tabelião, o

escrevi. Interlinhei = sua.

João Gomes Varela

José da Vitória

João Xavier de Andrade

72

ADL 26

7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício A, Livros de Notas, liv. 575, ff. 74v-75.

Procuração cedida por Bruno José do Vale, de partida para Itália, a Matias

Ferreira da Silva (22 de Novembro de 1768).

[74] Saibam quantos este instrumento de procuração virem, que no ano do nascimento

de nosso senhor Jesus Cristo de mil setecentos, sessenta e oito, aos vinte e dois dias do

mês de Novembro nesta cidade de Lisboa, dentro no Pátio da Ópera do Bairro Alto, e

casas de morada de Bruno José do Vale, de partida para Itália. Por ele foi dito que por

este instrumento constitui seu procuradores bastantes a Matias Ferreira da Silva, homem

de negócio nesta corte, e a Joana Inácia Teodora, sua mulher, dele outorgante, e lhes dá

poder quanto em direito se requer para que em nome dele outorgante possam os ditos

seus procuradores, e qualquer deles in solidum, cobrar, e haver a seu poder todas e

quaisquer suas dívidas, dinheiro, efeitos, bens, e acções, e tudo o mais que a ele

outorgante se lhe dever, e pertencer em qualquer parte, em qualquer tempo, e por

qualquer via e título que seja, ainda que lhe venda remetido das partes ultramarinas e da

casa da moeda desta corte em cofres, ou fora deles, e do Erário Régio, e depósito geral,

ajustar, e pedir contas, e dar quitações do que receber, e assinar em seu nome em tudo o

que necessário for, e procurar, e requerer todo o seu direito, e justiça em todas as suas

causas movidas e por mover em que for autor, ou réu; oferecer acções novas de

qualquer qualidade contra quaisquer pessoas, fazer citações, justificações, habilitações,

protestos, requerimentos, pedimentos, louvamentos, embargos, sequestros, execuções,

penhoras, lanços, rematações, cessões, trespassos, transacções composições, ajustes, e

tomar posses; jurar na alma dele, outorgante, qualquer lícito juramento, e de calúnia, e o

fazer dar, e deixar em quem lhe parecer, por contraditas, e suspeições, apelar, agravar,

embargar, tudo seguir em todas as instâncias, ou renunciar, e desistir, quando lhe

parecer, e substabelecer os procuradores, que quiserem, e os revogar, e desta sempre

usarem, e só para si reserva ele outorgante toda a nova citação, mas para tudo o mais

disse dava aos ditos seus procuradores, e a qualquer deles in solidum todos os seus

poderes com livre, e geral administração e tudo por eles, e qualquer deles feito promete

ele outorgante haver por bem firme, e valioso, e assim o disse, e outorgou, pediu e

aceitou sendo testemunhas presentes João Gomes Varela, empresário do dito teatro e

73

António Baptista Ancora, morador na Rua da Paz, que nesta nota assinaram com ele

outorgante a quem todos conhecemos, e eu José Rufino de Andrade, tabelião, o escrevi,

Bruno José do Vale

[75] António Baptista Ancora

João Gomes Varela

74

ADL 27

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 61, ff. 35-35v.

Escritura de cessão e trespasso do quinhão do sócio cedente da Casa da Ópera do

Bairro Alto, João Gomes Varela, aos sócios cessionários Bruno José do Vale e

Matias Ferreira da Silva (6 de Julho de 1770).

[35] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de cessão e trespasso

com procuração em causa própria e obrigação, e qual em direito melhor lugar haja e

mais firme seja, virem que no ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil e

setecentos e setenta, aos seis dias do mês de Julho nesta cidade de Lisboa, no escritório

de mim, tabelião, pareceram presentes, a saber, de uma parte João Gomes Varela e de

outra parte Bruno José do Vale e Matias Ferreira da Silva; e logo por ele, João Gomes

Varela, foi dito que ele e juntamente João da Silva Barros e Francisco Luís tomaram de

arrendamento ao excelentíssimo conde de Soure o seu palácio do Pátio da Rua da Rosa

das Partilhas para nele fazerem casa de ópera e todas as acomodações que lhe fossem

precisas, tanto para a dita casa de ópera, como para poderem alugar as casas que lhes

não servissem; e isto por tempo de quinze anos, que tiveram princípio no primeiro de

Janeiro do ano de mil e setecentos e sessenta e um, por preço e renda, em cada um dos

ditos anos, de duzentos e quarenta mil réis, e com as mais cláusulas e condições,

mencionadas na escritura do dito arrendamento que foi outorgada na nota de mim,

tabelião, em o primeiro de outubro de mil e setecentos e sessenta a que se refere; e

depois, por um escrito particular feito nas costas de um traslado da mesma escritura se

aumentou o preço do dito arrendamento com mais quarenta e oito mil réis, para ficarem

pagando duzentos e oitenta e oito mil réis de renda cada ano; e eles, arrendatários,

fizeram entre si sociedade a respeito do mesmo arrendamento e casa de ópera e

negociação dela e suas pertenças, ficando em tudo interessado ele, João Gomes Varela,

em metade, e os seus companheiros, João da Silva Barros e Francisco Luís, cada um

destes, em uma quarta parte; e falecendo da vida presente o dito João da Silva Barros,

ficou a sua quarta parte pertencendo a ele seu genro Bruno José do Vale, por cabeça de

sua mulher Joana Inácia; e outra quarta parte pertence a ele, Matias Ferreira da Silva

como cessionário do dito Francisco Luís, em virtude da escritura de cessão que este fez

na nota de mim, tabelião, em trinta de Maio de mil e sete centos e sessenta e seis;

outrossim, disse ele, João Gomes Varela, que ele está agora ajustado e com efeito por

este instrumento cede e trespassa aquela sua a metade que lhe toca assim no

75

arrendamento da dita casa de ópera, como na sociedade das mesmas óperas e suas

pertenças, uma e outra coisa respectiva aos cinco anos e meio que faltam por cumprir do

tempo do dito arrendamento e tiveram princípio no primeiro dia do corrente mês de

Julho; e isto a favor deles seus companheiros, Bruno José do Vale e Matias Ferreira da

Silva, aos quais põe e sub-roga no seu próprio lugar e efeito e causa com toda a cessão e

trespassação de seu direito e justiça e procuração em causa própria, mas com as

obrigações e condições seguintes: que eles, cessionários Bruno José do Vale e Matias

Ferreira da Silva, serão obrigados a pagar pontualmente ao dito excelentíssimo conde de

Soure os duzentos e oitenta e oito mil réis cada ano da renda da dita casa de ópera que

se vence desde o primeiro dia do corrente mês de Julho em diante até o fim dos ditos

cinco anos e meio que faltam por cumprir dos quinze anos do dito arrendamento e a tirar

ao dito cedente, João Gomes, a paz e a salvo, dessa obrigação e, além disso, ficar [35 v]

mais obrigados eles cessionários a darem e pagarem a ele cedente, João Gomes Varela,

por preço e causal desta cessão e trespasso quatrocentos mil réis em cada um dos ditos

cinco anos e meio, e pagos aos quarteis de três em três meses, sendo o pagamento do

primeiro quartel no fim do mês de Setembro próximo deste ano, e os mais seguinte e

sucessivamente de três em três meses sem interpolação, falta, nem demora até o fim dos

ditos cinco anos e meio; e a tudo isto obrigam eles cessionários, Bruno José do Vale

e Matias Ferreira da Silva suas pessoas e todos seus bens presentes e futuros; cuja

obrigação fazem eles cessionários ambos juntos, cada um per si, e cada um por ambos,

como correos debendi, e como fiadores e principais pagadores cada um do outro; e

porquanto os trastes e vestuários e mais coisas que tocam à representação das óperas,

que presentemente existem na mesma casa, são pertencentes à sociedade que eles,

outorgantes, até agora tiveram, se declara que dentro de quinze dias primeiros seguintes

se fará um inventário de tudo com avaliação do seu justo valor que tem no tempo

presente, para no fim dos ditos cinco anos e meio se entregar e restituir a ele, João

Gomes, a sua metade que lhe toca na mesma qualidade de trastes e vestuários que então

houver, pelo justo valor em que então forem avaliados; e porquanto ele, João Gomes

Varela, fez, in solidum, à sua própria custa junto ao mesmo palácio ou dentro nele, o

quarto de casas em que ele actualmente reside com a sua família; e também os quartos

em que moram as cómicas Cecília Rosa e Peppa Olivares, que deles lhe pagam renda, se

declara que estes tais quartos não entram nesta cessão e trespasso, antes ficam livres a

ele, João Gomes, para os poder habitar e perceber a renda deles como coisa sua própria

a que in solidum lhe pertence e fica pertencendo, como até agora se pratica; que ele

76

cedente, João Gomes, se não poderá intrometer, nem ter voz activa, nem passiva em

coisa alguma pertencente à dita casa de ópera, governo e administração dela e dos seus

cómicos, e mais pertenças; porque de tudo fica privado por virtude deste ajuste, tudo

fica inteiramente pertencendo a eles, cessionários Bruno José do Vale e Matias Ferreira

da Silva, para ambos igualmente tudo governarem, administrarem e disporem a seu

próprio arbítrio como melhor lhes parecer e em tudo assinarem ambos, pois por conta de

ambos fica correndo, daqui em diante, o bom e mau sucesso e a boa e má cobrança e os

lucros ou perda resultantes da dita casa de ópera e suas pertenças; que por todo o aqui

conteúdo responderam todos eles partes, nesta cidade de Lisboa, perante os

corregedores do cível da corte ou da cidade, para o que renunciam o Juízo de seu foro

Domicílio, e os mais privilégios presentes e futuros que em seu favor alegar possam. E

em testemunho de verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram e eu, tabelião, por

quem tocar ausente, sendo testemunhas presentes Leonardo Severo de Figueiredo,

escrivão da Correição do Crime do Bairro Alto, e José Cardoso Lisboa, meu oficial

papelista, que nesta nota assinaram com eles partes, a quem confesso serem os próprios

aqui conteúdos; e eu, António da Silva Freire, tabelião, o escrevi

Matias Ferreira da Silva

Bruno José do Vale

João Gomes Varela

Leonardo Severo de Figueiredo

José Cardoso Lisboa

77

ADL 28

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício A, Livros de Notas, liv. 32, ff. 88-88v.

Escritura de reconhecimento de dívida de Bruno José do Vale, empresário do

Teatro do Bairro Alto, ao sócio e credor Matias Ferreira da Silva (7 de Agosto de

1770).

[88] Saibam quantos este instrumento de obrigação virem que no ano do nascimento de

nosso senhor Jesus Cristo de mil setecentos e setenta, em sete dias do mês de Agosto,

nesta cidade de Lisboa e Rua Larga de São Roque em meu escritório apareceram

presentes: Bruno José do Vale, que vive de seu negócio, morador no pátio do Conde de

Soure da Ópera do Bairro Alto, e se achou também presente sua mulher, Joana Inácia,

de uma parte, e a outra Matias Ferreira da Silva, que também vive do seu negócio,

morador ao Loreto. E por ele, Bruno José do Vale e dita sua mulher, foi dito a mim,

tabelião, perante as testemunhas ao diante nomeadas que precisando da quantia de um

conto de réis para com eles aumentar a utilidade que percebe na administração e

regência do quarto da casa digo rerência da parte que lhe compete na Casa da Ópera do

Bairro Alto, pediram ao dito Matias Ferreira da Silva lho quisesse emprestar à razão de

juro de cinco por cento debaixo da geral obrigação de suas pessoas e bens e da hipoteca

do quarto da dita casa da ópera que possui de propriedade com todos os seus pertences,

e não tendo dúvida ele Matias Ferreira da Silva em lhe fazer o referido empréstimo logo

aí em minha presença e das testemunhas deu e entregou o dito conto de réis a ele Bruno

José do Vale e dita sua mulher em dinheiro de contado corrente neste reino, que

contaram e receberam sem falta alguma, de que eu, tabelião, dou fé; por bem do qual

recebimento disseram se constituem devedores obrigados da dita quantia ao mencionado

Matias Ferreira da Silva e se obrigam pagar-lhos de hoje a um ano seguinte com os seus

juros na forma da lei, e se de consentimento dele credor eles obrigados tiverem em seu

poder mais algum tempo a referida quantia que a do dito ano se entenderá ser sempre ao

mesmo respeito a razão do juro, porém não lhe convindo, logo que findo seja o ano lhe

dará [88v] e pagará não só o principal ainda os reditos vencidos sem a isso porem

dúvida alguma, porque de todas quantas possam alegar desde já desistem, para de nada

se valerem senão tudo pagarem como dívida certa e para aumento da sua casa, e para

mais segurança obrigam e hipotecam a esta dívida o quarto que possuem na dita casa da

ópera com todas suas pertenças, sem que por esta especialidade derrogue a geral

obrigação dos mais seus bens nem pelo contrário e não tem dúvida que ele seu credor

78

faça julgar esta por sentença, para o que se dão por citados confessam a dívida e

obrigação para serem condenados de preceito e em virtude da sentença proceder

penhora na dita hipoteca e nos mais bens que bem bastem para pagamento da dita

quantia, juros e custas e terem em sua execução aparelhada para continuar nos termos

dela na falta do pronto pagamento e ainda neste caso se sujeita às leis de fiéis

depositários do juízo e ao cumprimento de tudo obrigam suas pessoas e ditos bens e

tudo o mais que possuem de presente e de futuro. E pelo credor foi dito aceita esta

escritura na forma dela e eles partes renunciam juízo de seu foro e os mais privilégios

que em seu favor alegar possam. E assim o outorgaram, pediram e aceitaram; e foram

testemunhas presentes Joaquim António Virgílio Maldonado que vive de seu negócio,

morador ao Loreto, e José Martiniano Rodrigues de França, por quem sirvo, que todos

conhecemos serem eles partes os próprios que na nota assinaram, e testemunhas. José da

XFonseca X Rodrigues, tabelião, o escrevi

Bruno José do Vale

Joana Inácia

Matias Ferreira da Silva

Joaquim António Virgílio Maldonado

José Martiniano Rodrigues de França

79

ADL 29

1º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, liv. 751, ff. 75v- 76v.

Escritura de arrendamento do Teatro da Graça entre o seu proprietário Henrique

da Costa Passos e o arrendatário Bruno José do Vale (23 de Outubro de 1770).

[75v] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de arrendamento,

quitação, cessão, desistência e obrigação virem, que no ano do nascimento de Nosso

Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e setenta, em vinte e três dias do mês de Outubro,

na cidade de Lisboa, junto à Portaria do Salvador, no meu escritório, pareceram

presentes de uma parte Henrique da Costa Passos, morador nesta cidade, e de outra

Bruno José do Vale, empresário da casa do Bairro Alto, donde é morador, por ele

Henrique da Costa Passos foi dito a mim tabelião em presença das testemunhas ao

diante nomeadas que ele se acha ajustado com ele Bruno José do Vale e Companhia em

lhe arrendar a sua casa e teatro de que é senhor na Calçada da Graça como disse que por

esta escritura lhe arrenda e dá de arrendamento a dita casa e teatro com todas as mais

casas e acomodações, cenário e mais mobília pertencentes à mesma casa, tudo debaixo

das cláusulas e condição seguintes, a saber: que este arrendamento tem o seu princípio

no dia de hoje e decorrerá até ao último dia de Carnaval do presente ano [?], por cujo

tempo pagará de renda a ele Henrique da Costa Passos a quantia de cento e quarenta e

quatro mil réis, e porquanto ele Bruno José do Vale satisfez a ele Henrique da Costa

Passos neste acto setenta e dois mil réis em dinheiro que ele recebeu por conta da

mesma renda disse lhe dá deles quitação, e os outros setenta e dois mil restantes a

inteiro em pagamento da dita renda os satisfará ele Bruno José do Vale no fim deste

arrendamento; que ele, Henrique da Costa Passos, ficará com um camarote dos da

ilharga do dito teatro, sendo obrigado a mandar à sua custa consertar os telhados do

mesmo teatro, repartir os camarotes por dentro da boca do teatro e cobrir os corredores

do último andar de guarda-pó, e mandar caiar os corredores todos para maior asseio;

que ele, Henrique da Costa Passos, não terá no dito teatro voz activa nem passiva, nem

domínio ou mando algum que seja; e querendo ele Bruno José do Vale continuar por

mais anos no arrendamento do mesmo teatro, não poderá ele Henrique da Costa Passos

fazer arrendamento a outrem, mas sim conservará a ele arrendatário não podendo

exceder o preço anual de cinquenta moedas de ouro de quatro mil e oitocentos réis cada

uma; que ele, Bruno José do Vale, poderá servir-se do dito teatro como seu próprio em

todo [76], o tempo que o tiver de arrendamento, sem impedimento ou controvérsia de

80

pessoa alguma, fazendo executar nele os divertimentos que lhe parecerem, sejam de que

qualidade forem para o que terá somente livre despotismo; e toda a obra que se fizer de

portas, janelas, telhados, reparo e reedificação de paredes e ainda escadas serão por

conta dele Henrique da Costa Passos; e toda a mais benfeitoria de bastidores, cenas e

outras cousas precisas para o adorno preciso, vestiário para os ditos divertimentos serão

precípuos dele Bruno José do Vale; e nesta conformidade faz o presente arrendamento a

ele Bruno José do Vale e Companhia que inteiramente se obriga cumprir pela sua parte;

e porquanto tinha feito arrendamento da mesma casa e teatro a Cláudio José António de

Azevedo por escritura em minhas notas, o qual se findava no último de Novembro

próximo futuro deste corrente ano e fosse preciso para inteira validade desta escritura

que ele Cláudio José desistisse do direito que lhe assistia ao dito arrendamento pelo

tempo que dele lhe faltava, neste mesmo acto apareceu presente o dito Cláudio José

António de Azevedo, e por ele foi dito que ele desiste de todo e qualquer direito que

pela dita escritura lhe possa assistir ao tempo que lhe falta para o dito arrendamento

para por ele não poder repetir cousa alguma, porquanto se dá por satisfeito com a

quantia de quarenta e nove mil setecentos setenta e seis réis que pro rata lhe

correspondiam no preço deste arrendamento pelo tempo que lhe faltava para

complemento do seu, cuja quantia lhe satisfez neste mesmo acto este Henrique da Costa

Passos da meia renda que recebeu dele Bruno José do Vale, de que lhe dá plena

quitação. E por ele, Henrique da Costa Passos, foi mais dito se obriga a fazer sempre

bom este arrendamento a ele, Bruno José do Vale e Companhia, e a tirá-lo a paz e salvo

de quaisquer dívidas ou demandas com que lho encontrem. E por ele Bruno José do

Vale e Companhia foi dito que na forma referida aceita o presente arrendamento, o que

tudo eles partes outorgantes cada um se obriga observar em juízo e fora dele na forma

expendida com a declaração, porém que sem embargo de se dizer que este arrendamento

decorrerá até ao Carnaval do presente ano, se entenderá ser até dia de Entrudo do ano

futuro de mil setecentos setenta e um e daí por diante se observará tudo na forma

advertida. Em testemunho de verdade assim o outorgaram, pediram e aceitaram; e foram

testemunhas presentes o Doutor Teodoro Clemente Silva Torres, e José Teixeira, e João

Baptista do Espírito Santo, e meu pai Manuel António de Brito, que com eles partes

assinaram na nota. Eu, Joaquim José de Brito, tabelião, o escrevi.

Bruno José do Vale

Cláudio José António de Azevedo

81

Henrique da Costa Passos

[76] José Teixeira

João Baptista do Espírito Santo

Teodoro Clemente Silva Torres

Manuel António de Brito

82

ADL 30

6º Cartório Notarial de Lisboa, liv. 42, ff. 95v-97v.

Escritura de cessão e trespasse em que o sócio cedente, Matias Ferreira da Silva,

vende a sua quota-parte ao sócio cessionário Manuel Bonifácio dos Reis (29 de

Dezembro de 1770).

[95v] Saibam quantos este instrumento de cessão, e trespasso com procuração em causa

própria e obrigação virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de

mil e setecentos e setenta e um, em vinte e nove dias do mês de Dezembro, fim do ano

de mil e setecentos e setenta, na cidade de Lisboa, de frente da Igreja de Nossa Senhora

do Loreto e casas de morada de Matias Ferreira da Silva, que vive do seu negócio,

estando ele aí presente, de uma parte; da outra o estava Manuel Bonifácio dos Reis, que

também vive de seu negócio, morador ao Paço do Benformoso. Disse ele, Matias

Ferreira da Silva, em presença de mim, tabelião, e das testemunhas ao diante nomeadas,

que por escritura outorgada em notas de António da Silva Freire, tabelião nesta cidade,

continuada em um dos dias dos mês de Maio [dia 30] de mil e setecentos e sessenta e

seis havia feito compra a Francisco Luís de um quarto de todo o interesse, ou perda, que

houvesse na casa e Teatro da Ópera do Bairro alto em que tinha igual parte Bruno José

do Vale, e bem assim a outra metade João Gomes Varela, se aumentaram depois esse

mesmo interesse entre ele, Matias Ferreira da Silva, e o dito Bruno José do Vale pela

separação que foi deste negócio o dito João Gomes Varela, pela obrigação que ambos

lhe fizeram por escritura na nota do mesmo tabelião, continuada em o primeiro de Julho

[6 de Julho] do presente ano, em que se obrigaram a lhe pagar quatrocentos mil réis em

cada um ano dos que faltarem para se [96] completar o sólido arrendamento que das

mesmas casas e teatro se havia feito ao excelentíssimo conde de Soure, causa porque

ficou pertencendo a ele outorgante, Matias Ferreira da Silva, metade do interesse da

mencionada casa, como ao seu sócio Bruno José do Vale, suposta a satisfação referida

que imediatamente se tem feito ao dito João Gomes Varela; e porque ao presente, por

justas causas e motivos de seus interesses se lhes faz penoso continuar na mesma

sociedade, tem convencionado com ele, Manuel Bonifácio dos Reis, a lhe ceder, e

trespassar, como com efeito pela presente cede e trespassa todo o domínio útil, acção e

pretensão que na mesma tenha, ou possa ter, assim de pretérito como de futuro, para que

tenha, haja e possua a referida metade que pelo mencionado título pertence a ele,

cedente, como coisa sua própria, que desde já fica sendo, e isto debaixo das condições e

83

cláusulas seguintes: Que ele, Manuel Bonifácio dos Reis, será obrigado a satisfazer aos

quartéis, de três em três meses, a quantia de cinquenta mil réis com que, no fim dos

cinco anos de arrendamento do mesmo teatro e casas, se completa um conto de réis,

produto de todas as pertenças que no fim do dito tempo houvesse de tocar a ele,

outorgante, por se terem inovado sobre o fundo da mesma casa, as quais solidamente

lhe ficam pertencendo sem dúvida alguma por este donativo; e bem assim mais que por

ele, cedente, ter entrado com mais um conto de réis para a dita compra, e sociedade,

deve deles ser embolsado por ele, cessionário, na forma que entre si tem convencionado

em pagamentos de trezentos mil réis em cada um ano até extinção deste capital, por ser

esta a forma com que ele cedente de si demite, na forma mencionada, todo o direito e

acção que tem na dita casa. E por ele, cessionário, foi dito e declarado que ele aceita e

toma sobre si a presente cessão [96v] com todas as cláusulas, e circunstâncias aqui

estipuladas, obrigando-se por si e por sua pessoa e bens presentes e futuros e o melhor

parado deles a todas as obrigações, escrituras e convenções, dívidas activas e passivas

que ele, cedente, tenha assinado até o presente dia, cumprindo-as e satisfazendo-as sem

dúvidas, ou embargo algum; tanto para o efectivo pagamento dos cinquenta mil réis no

fim de cada três meses futuros que terão princípio no primeiro de Janeiro próximo

futuro, como dos trezentos mil réis anuais que da mesma forma tem princípio no dito

Janeiro próximo futuro de mil setecentos e setenta e um; e além da hipoteca

fundamental destes mesmos pagamentos que vêm a ser o fundo da caxa desta

negociação, e mobília a ela pertencente, e da geral de sua pessoa, e bens, será ele,

cedente, obrigado a cobrar e haver a si o produto de qualquer crédito ou execução que

ele, cessionário, a benefício destes pagamentos lhe ceda, cuja parcela, ou parcelas,

sendo cobradas terão seu abatimento na adição do conto de réis capital da sociedade

dele cedente na constante obrigação de lhe dar para este fim todos os documentos

precisos, como fazendo por sua conta toda a falência que nelas possa haver, por não ser

da sua intenção que ele, cedente, tenha à vista da cessão que lhe faz prejuízo próprio na

aplicação que ele cessionário lhe fizer para o seu efectivo pagamento; Que para a

cobrança de todos, e quaisquer lucros provenientes desta cessão lhe faz ele, cedente a

ele, cessionário, com procuração em causa própria, e o põem em seu próprio lugar,

efeito e causa, e causa com toda a trespassaram de seu direito, e justiça, e mais

faculdades que de direito se requeira, podendo desde logo, em virtude desta escritura,

sem mais autoridade de justiça, ele, cessionário, tomar posse de tudo o que por esta lhe

fica pertencendo real actual, cível e natural, e quer a tome ou não desde já ele cedente

84

lha há por dada e transferida per clausulam constituti; e a presente promete cumprir e

guardar, não revogar, nem reclamar por [97] nenhuma via que seja antes o seu

cumprimento obrigado ele, cedente, sua pessoa, e bens presentes e futuros, e o melhor

parado deles. E para maior segurança deste contrato se poderá em qualquer tempo julgar

por sentença de preceito para o que, e para a sua execução desde logo ele, cessionário,

se dá por citado, e confessa obrigação declarada e em virtude da dita sentença poderá

ele, cedente, mandar fazer penhora na respectiva parte cedida da dita casa e teatro, e em

todos os mais bens e acções em que ele, credor, melhor poder segurar a sua dívida, e em

todos ter a sua execução aparelhada, para na falta dos prontos pagamentos, no modo que

dito fica, correr nos termos dela até realmente ser pago de principal, e custas que que

acrescerem até extinção desta dívida; e nesta forma assim o outorgaram e aceitaram,

sendo testemunhas presentes Joaquim José de Abreu, porteiro chancelaria das Ordens de

Avis e São Tiago, morador n travessa dos Fiéis de Deus, freguesia das Mercês, e

Joaquim António, Bargilli Maldonado, que também vive de seu negócio, morador aqui

junto, que disseram serem eles, partes, os próprios que na nota assinaram, e

testemunhas. Tomás Marques de Araújo, tabelião, o escrevi; entrelinhei – ele –

Matias Ferreira da Silva

Manuel Bonifácio dos Reis

Joaquim António Bargili Maldonado

Joaquim José de Abreu

85

ADL 31

14º Cartório Notarial de Lisboa, liv. 47, ff. 12-12v.

Escritura de cessão e trespasse do arrendamento do Teatro da Rua dos Condes a

Bruno José do Vale (29 de Dezembro de 1770)

[12] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de cessão e trespasso

obrigação virem que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil

setecentos e setenta, em vinte e nove dias do mês de Dezembro, nesta cidade de Lisboa,

em a Rua Direita dos Anjos e casas de morada do doutor Guilherme Baptista Garvo,

cavaleiro professo da Ordem de Cristo e juiz do Crime do Bairro da Mouraria e

Andaluz, aí estavam presentes de uma parte João Teixeira Pinto, empresário do Teatro

da Casa da Ópera da Rua dos Condes onde assiste, e de outra, Bruno José do Vale e

Companhia, empresários da Casa da Ópera do Bairro Alto, estabelecido no palácio do

excelentíssimo Conde de Soure, onde são moradores. Por ele, João Teixeira Pinto, foi

dito a mim tabelião, perante as testemunhas adiante nomeadas, que ele arrendara o dito

Teatro da Casa da Ópera da Rua dos Condes por tempo de dois anos a Jacome Felipe

Bricio, como procurador de seu cunhado, o doutor Henrique Quintanilha, e a José

Palmer, como tutor de seus filhos, por tempo de dois anos, que principiaram em o

tempo que da escritura de arrendamento constara que se refer [?] e isto pelo preço de

três mil cruzados cada ano, pagos na formalidade da sobredita escritura, e porque ele,

João Teixeira Pinto, está ajustado com eles, Bruno José do Vale e Companhia, a ceder-

lhe e trespassar-lhe o dito, digo, o resto do tempo do dito seu arrendamento com todas

as cláusulas exaradas na dita escritura, dele disse que por este instrumento e na melhor

via de direito, cede neles, Bruno José do Vale e Companhia, todo o direito e acção que

tenha p’lo referido [12v] arrendamento ao dito Teatro da Rua dos Condes para dele

usarem como seu, e isto com mais as cláusulas seguintes: que toda a renda, lucros e

despesas pertencentes ao dito teatro até o fim do presente mês de Dezembro do corrente

ano de mil e setecentos e setenta farão por conta dele, cedente João Teixeira Pinto, e

toda a renda, lucros e despesas do primeiro de Janeiro de mil e setecentos e setenta e um

atá findar o resto dos dois anos do dito arrendamento, farão por conta deles

cessionários, Bruno José do Vale e Companhia; Que ele, cedente, cede a eles, Bruno

José do Vale e Companhia, desde o dito dia primeiro de Janeiro, do ano próximo futuro

de setenta e um, as escrituras de todos os bailarinos que presentemente tem, obrigando-

86

se ele, cessionário, a cumpri-las até o último dia nelas estipuladas: com declaração,

porém, que a escritura da Catarina Verga, uma serata que nela se contém, ele,

cessionário, se não obriga a cumprir, e todas as dúvidas que nisto ocorrer fará por conta

dele, cedente; Que cumprirá juntamente, ele cessionário, o ajuste dos cómicos pelo

apontamento que lhe for mostrado, outrossim se obriga ele, cessionário, a tomar a ele,

cedente, todo o vestuário e cenário que for dele, empresário cedente, e bem assim todas

as músicas e mais trastes que forem pertencentes ao teatro dele, cedente, os quais trastes

hão de ser avaliados por dois louvados peritos nomeados um por parte dele, cedente, e

outro p’la dele, cessionário, e depois de feita a avaliação e inventário dos ditos bens a

sua importância ficará na mão deles, Bruno José do Vale e Companhia, para do produto

deles se pagar a quem se lhe determinar; Que caso eles, cessionários, em algum tempo

quererão ceder o dito teatro em outra alguma pessoa o não poderão fazer sem ser ouvido

primeiro ele, cedente, para ver se o que para si, porque prefira, digo porque, querendo-o,

preferirá a quem quer que for: e para tudo cumprirem, obrigam eles, partes, suas pessoas

e bens de sua companhia, geralmente assim móveis e de raiz, presentes e futuros, e o

melhor parado deles, e que não reclamarão esta escritura por forma alguma e que, p’lo

deduzido nela, responderão nesta cidade perante os magistrados a que este instrumento

for presentado para o que renunciam a juízo de seu foro domicílio e os mais privilégios

que em seu favor alegar possam. E em testemunho de verdade, assinaram, outorgaram,

pediram e aceitaram na presença do dito doutor Guilherme Baptista Garvo, como

inspector da dita casa da ópera da Rua dos Condes, sendo testemunhas presentes

Francisco Ricardo José Bari, criado grave do dito ministro, e Bento José, também

sobredito e todos conhecemos serem eles partes os próprios que nesta nota assinaram

testemunhas Narciso José da Luz e Sousa, tabelião, o escrevi

Bruno José do Vale

João Teixeira Pinto

Bento José

Francisco Ricardo José Bary

87

ADL 32

12º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício A, Livros de notas, liv. 33, ff. 91v-92.

Escritura de constituição de uma sociedade entre Bruno José do Vale e Manuel

Bonifácio dos Reis (31 de Dezembro de 1770).

[91v] Saibam quantos este instrumento de sociedade e obrigação virem que no ano do

nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e setenta, em trinta e um

dias do mês de Dezembro findo ano de mil, digo, Dezembro nesta cidade de Lisboa e

Rua Larga de São Roque em o meu escritório apareceram presentes de uma parte Bruno

José do Vale, morador no pátio do excelentíssimo conde de Soure; de outra, Manuel

Bonifácio dos Reis, que vive de seu negócio, morador ao Paço do Benformoso. E por

ele, Bruno José do Vale, foi dito a mim, tabelião, perante as testemunhas ao diante

nomeadas, que ele, Manuel Bonifácio dos Reis, como cessionário de Matias Ferreira da

Silva, era com ele interessado em metade do lucro ou perda que possa haver, assim no

Teatro da Ópera do Bairro Alto, como no da Graça e, presentemente, no da Rua dos

Condes, que se lhe adjudicaram, e porque por algumas ocorrências precisas a bem da

mesma negociação e interesse tinham convencionado que assim à importância do conto

de réis de que é cessionário como outra tanta quantia com que ele dito Bruno José do

Vale havia entrado se unisse mais a quantia de quinhentos mil réis com que se

completam cinco quintos, interessava mais no lucro proveniente ou perda que possa

haver a ele dito sócio Manuel Bonifácio dos Reis em um quinto deste todo bem

entendido fica tendo pela cessão e presente escritura três quintos e ele sócio dois cuja

importância ao fazer desta recebeu em dinheiro de contado corrente neste reino que

contou e achou certo sem dúvida de cuja numeração dou minha fé para entrarem na

caixa da mesma sociedade que entre eles ambos ditos sócios será regalada havendo para

a boa forma e arrecadação por forma mercantil e venal todos os assentos e clareza

precisas, os livros necessários, correndo todas as dívidas ou contas que se contraírem

em nome dele dito sócio Bruno José do Vale e Companhia, sendo conferidas e lançadas

em receita e despesa no livro-caixa que assim houver, tendo mais convencionado que

este mesmo interesse o fica tendo ele sócio Manuel Bonifácio dos Reis desde o primeiro

do mês de Julho passado do ano presente cujas contas e balanço será dado pelo dito

sócio Bruno José do Vale como caixa da dita negociação, o qual durará enquanto durar

[92] o arrendamento principal e outro qualquer que o mesmo caixa faça a benefício

deste mesmo contrato. E nesta forma disseram eles partes tinham feito seu contrato e

88

sociedade sem que em nenhum tempo qualquer deles possa inovar coisa alguma mais do

que por ela se declara literalmente a cujo cumprimento obrigam suas pessoas e bens,

podendo ele sócio, Manuel Bonifácio dos Reis, desde já tomar posse das partes que lhe

competem e quer a tome ou não lha transfere por cláusulas competentes; e que querendo

qualquer deles julgar esta escritura por sentença o poderá fazer para o que se dão por

citados, confessam o deduzido nesta escritura para serem condenados de preceito e em

virtude da sentença procederem na forma dela. E assim o outorgaram, pediram e

aceitaram, e foram testemunhas presentes José de Almeida Rodrigues, meu oficial, e

Luís António, meu criado, que todos conhecemos serem eles partes os próprios que na

nota assinaram e testemunhas. José Martiniano Rodrigues de França, tabelião, o escrevi.

Bruno José do Vale

Manuel Bonifácio dos Reis

José de Almeida Rodrigues

De Luís + António

89

ADL 33

4º Cartório Notarial de Lisboa, Livros de Notas, liv. 33, ff. 8-10.

Arrendamento do Teatro da Graça a Bruno José do Vale e Companhia (26 de

Fevereiro de 1771)

[8] Em nome de Deus, ámen. Saibam quantos este instrumento de arrendamento,

quitação, e obrigação virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de

mil setecentos setenta e um, em vinte e seis dias do mês de Fevereiro, na cidade de

Lisboa, no meu escritório, pareceram presentes da uma [parte] Henrique da Costa

Passos, morador nesta cidade à Calçada da Graça, e da outra parte estava Bruno José do

Vale e Companhia, empresário dos teatros desta corte, morador em o Pátio do Teatro do

Bairro Alto, logo por ele Henrique da Costa Passos foi dito a mim tabelião presentes

[8v] as testemunhas ao diante nomeadas que ele se acha ajustado com ele Bruno José do

Vale e Companhia em lhe arrendar a sua casa e teatro da Calçada da Graça com todas as

mais casas e acomodações, cenário e mais mobília a ele pertencente, com as cláusulas e

condições seguintes: que este arrendamento terá o seu princípio no primeiro de Março

do presente ano e findar[á] em outro tal dia do ano de mil setecentos e setenta e dois,

por cujo tempo pagará de renda a ele Henrique da Costa Passos a quantia de cinquenta

moedas de ouro de quatro mil e oitocentos; item que ele Henrique da Costa Passos

haverá o dito pagamento aos quartéis de três em três meses em ratiada porção e assim

também ficará com um camarote para dele se servir como seu próprio, que será o

mesmo que teve em o tempo do outro arrendamento que finalizou ao fazer deste, sendo

obrigado a mandar consertar à sua custa os telhados do dito teatro, portas e todo o mais

reparo de que carecer, e não terá ele Henrique da Costa Passos voz activa nem passiva,

mando ou domínio algum que seja, durante o tempo deste arrendamento. E que

querendo ele Bruno José do Vale e Companhia continuar mais anos no arrendamento do

mesmo teatro, não poderá ele Henrique da Costa Passos arrendar a outrem tanto pelo

tanto, com declaração, porém, que este arrendamento terá o seu devido efeito por tempo

de dois anos, e no segundo pagará de renda cinquenta moedas de ouro, o qual findará no

primeiro de Março de mil setecentos setenta e três com todo o mesmo domínio e posse

que acima fica exposto com [9] o primeiro referido ano sendo assim conservado com

todo o seu despotismo sem impedimento nem controvérsia de pessoa alguma fazendo

executar no dito teatro todo o divertimento que lhe parecer; item, que toda a benfeitoria

de bastidores, cenas e outras movediças e vestuário para o dito divertimento serão

90

precípuos dele Bruno José do Vale como suas próprias; e nesta conformidade celebram

o presente arrendamento que inteiramente se obrigam cumprir, a cujo cumprimento

obrigam todos seus bens, ficando aliás desobrigado deste cumprimento o dito Bruno

José do Vale em todos os casos fortuitos como são mortes de príncipes, incêndio de

teatro e suspensão em o mesmo por ordens superiores, que neste caso ficará cessando a

contribuição da dita renda ratiada pelo tempo que durar, ficando também ele Henrique

da Costa Passos em o segundo ano deste arrendamento já referido sem domínio algum

mas também com o camarote que lhe fica pertencendo para dele usar como seu próprio,

e deste modo conviram eles partes nas condições e cláusulas conteúdas e declaradas

nesta escritura, pela qual hão de nenhum efeito a antecedente que do mesmo teatro

tinham feito na nota do tabelião Joaquim José de Brito, e só esta querem se observe

inviolavelmente por estar continuada e conforme o que entre si tinham estipulado, e à

factura desta esteve presente José da Silva e Cunha, sócio do sobredito Henrique da

Costa Passos com uma décima oitava parte em os lucros e rendimentos do dito teatro, o

qual também conveio e dá a este arrendamento seu expresso consentimento [9v], cujo

cumprimento pela parte que lhe toca se obriga também seus bens; item que ele Bruno

José do Vale pagará as sessenta moedas do segundo ano referido também aos quartéis

em ratiada porção de três em três meses do mesmo ano de cada um arrendamento,

ficando sempre preferindo a outro qualquer rendeiro tanto pelo tanto que outrem der os

anos que mais quiser ter de renda o dito teatro. E foram testemunhas presentes Joaquim

Garcia de Sousa que escreve no meu escritório e Mateus Correia Coutinho, morador nas

casas de Garcia e todos conhecemos a eles, partes, serem os próprios que na nota

assinaram. O tabelião José António Soares tabelião o escrevi; entrelinhei - da Calçada

da Graça - sobredito o escrevi.

Bruno José do Vale

Teodoro Clemente Silva Torres

Leonardo José de Barros Preto

Mateus Correia Coutinho

Henrique da Costa Passos

José da Silva e Cunha

Joaquim Garcia de Sousa

E declararam mais eles partes que ele Bruno José do Vale fica obrigado a dar mais o

camarote do número trinta e dous para ele Henrique da Costa Passos usar dele em todas

91

as representações como seu próprio e dar livre e desembaraçada a Casa da Espera no dia

de sexta-feira da procissão dos Passos da Graça, e pelo que respeita às benfeitorias que

ele Bruno José do Vale fizer além das movi [10] diças que ficam referidas ficarão

pertencendo a ele Henrique da Costa Passos como suas próprias sem que ele Bruno José

do Vale possa repetir em nenhum tempo, e com esta declaração assinaram na presença

das sobreditas testemunhas Joaquim Garcia e Mateus Correia Coutinho e eu José

António Soares o escrevi, e se declara que o dito camarote nº trinta e dois se possa dele

usar Simão Aranha Rebelo Costa Falcão, proprietário do chão em que se acha situada a

casa, sobredito o escrevi

Bruno José do Vale

Henrique da Costa Passos

José da Silva e Cunha

Joaquim Garcia de Sousa

92

ADL 34

7º Cartório Notarial de Lisboa, Ofício B, Livros de Notas, liv. 56, ff. 98v-100.

Escritura de cessão e trespasse entre Matias Ferreira da Silva e Manuel Bonifácio

dos Reis (6 de Fevereiro de 1773).

[98v] Saibam quantos este instrumento de cessão e trespasso procuração em causa

própria e obrigação virem que, no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de

mil, e setecentos, e setenta e três anos, aos seis dias do mês de Fevereiro, nesta cidade

de Lisboa, na rua direita de São José, no meu escritório pareceram presentes partes de

uma Manuel Bonifácio dos Reis, que vive de seu negócio morador na Rua da Fé; e da

outra o estava Matias Ferreira da Silva, que também vive de seu negócio, morador ao

Loreto. E logo por ele, Manuel Bonifácio dos Reis, foi dito perante mim, tabelião, e

testemunhas, que por escritura continuada em notas de Tomás Marques de Araújo,

tabelião nesta cidade, continuada em vinte e nove de Dezembro de mil e setecentos e

setenta, lhe havia cedido ele, Matias Ferreira da Silva, todo o interesse ou perda que

houver no Teatro da Ópera do Bairro Alto, com as cláusulas, condições e obrigações na

mesma escritura contempladas a que se refere; e bem assim havia ele, dito Manuel

Bonifácio dos Reis, celebrado outra escritura de interesse e entrada da quantia de

quinhentos mil réis como administrador que então era do mesmo teatro Bruno José do

Vale, em notas do tabelião José Martiniano Rodrigues de França, em os trinta e um de

Dezembro do mesmo ano, e com efeito, por esta escritura na melhor forma e via de

direito, disseram eles partes estarem contratados na dita sessão debaixo de um escrito

que fizeram por um feito, e por ambos assinam com as testemunhas, [99] com as

testemunhas que nele se acham assinados, o qual tem a data de cinco de presente mês de

Fevereiro e ano o qual é do teor seguinte: «Por este e por mim feito e assinado, digo eu,

Matias Ferreira da Silva, que eu dou por desobrigado ao senhor Manuel Bonifácio de

todas as obrigações contempladas nas escrituras, feita uma em vinte e nove de

Dezembro de mil e setecentos e setenta, em notas de Tomás e Marques de Araújo, e

outra em trinta e um do dito mês e ano, em notas de José Martiniano Rodrigues França,

por quantos pelas cessou que de novo fez à minha satisfação, em seis de Maio de mil e

setecentos e setenta e um, o dei por desobrigado de toda a satisfação, e obrigação que

deverá fazer como meu cessionário de tudo o que pertencer ao Teatro do Bairro Alto, e

Graça, porquanto ajustando com o sobredito amigavelmente contas na presença das

testemunhas abaixo nomeadas de todo o tempo que administrou os ditos teatros sobre

93

mim fica recaindo todo e qualquer pagamento que se deva fazer fora da conta geral que

recebo por ele assinada, como da particular, que também havia entre nós, e ao fazer

deste recebi do sobredito senhor o livro das receitas sem vício ou entrelinha, e os

recibos, e folhas com que se comprova a despesa dos três contos, trezentos e três mil

oito centos, e sete reis, e todos os papeis, róis, e documentos pertencentes a entrega do

fato que se fez da Rua dos Condes, e por passar tudo na verdade, assinei com o dito

senhor, e testemunhas, Lisboa, cinco de Fevereiro de mil, e setecentos, e setenta, e três

Matias Ferreira da Silva, e Manuel Bonifácio dos Reis, como testemunha Francisco

Manuel de Almada, Jacinto Ferreira, Agostinho de Brito e Macedo»; E trasladado o

concertei com o que me foi apresentado a que me reporto, que eles, partes, disseram

perante as testemunhas serem os sinais no dito escrito [?], pois ele, Manuel Bonifácio

dos Reis cede e faz cessão do acima contemplado, e lhe dá procuração em causa própria

com todos os poderes em direito necessários como se presente for. E nesta forma

aceitam eles, partes, esta escritura como nela se contém e bem assim fica ele o dito [?]

Matias Ferreira da Silva obrigado a pagar a Henrique da Costa Passos, ou a quem

direito for, o que restar na execução que o dito Henrique da Costa faz ao mesmo Manuel

Bonifácio no escritório de Domingos Rodrigues, sendo lhe nela abonado a quantia [99v]

de cinquenta e seis mil réis que o dito Manuel Bonifácio dos Reis confessou ter recibo

ao tempo de sua entrega debaixo das condições, e clausulas desta escritura, e [?] e as

verbas necessárias, tanto nas notas dos ditos tabeliães como nas suas cópias e em

testemunho da verdade assim o outorgaram, sendo testemunhas presentes Agostinho de

Brito e Macedo que vive de seu negócio e morador na Rua das Pretas, e José Pedro da

Costa que me escreve, e morador ao Rossio que afirmaram serem as partes as [100]

próprias conteúdas, Caetano José Dantas Barros, tabelião, o escrevi interlinhei seis /

risquei cinco

Manuel Bonifácio dos Reis

Matias Ferreira da Silva

Agostinho de Brito Macedo

José Pedro da Costa

94

ANTT 2

Registo Geral de Testamentos, liv. 322, ff. 198v-201.

Testamento de João Gomes Varela (15 de Fevereiro de 1786).

[198v] 15 de Fevereiro de 1786

O testamento de Joaquina Bernardina, mulher do testador vai registado a fólio 95 verso

do Livro nº 328.

Testamento e codicilo de João Gomes Varela – testamentária Joaquina Bernardina,

moradora ao Salitre.

Em nome da Santíssima Trindade, Padre, Filho e Espírito Santo, três pessoas

distintas e um só Deus verdadeiro: Eu, João Gomes Varela, achando-me há tempos

doente de moléstia crónica, segundo declaram os médicos na junta que proximamente

fiz, e desejando dispor com mais sossego e melhor conhecimento das coisas que

conduzem para a salvação da minha alma e fazer distribuição dos bens que possuo,

antes que por causa de algum ataque repentino o não possa fazer, faço este meu

testamento pela forma seguinte: primeiramente declaro que creio firmemente em todos

os mistérios da fé católica na mesma forma que [199] o crê e ensina a santíssima madre

igreja de Roma e nele vivi sempre e espero morrer, constantemente e nela confio e

espero em Deus me haja de salvar pelos merecimentos infinitos de Jesus Cristo seu filho

e pelos de Maria santíssima e de todos os anjos e santos e santas da corte do céu pois o

amo sobre todas as coisas por quem é e por que toda a minha vida me encheu [?] de

benefícios e me não castigou como mereciam os meus grandes e enormes pecados:

imploro para a hora da minha morte o patrocínio de Maria Santíssima como mãe e

advogada dos pecadores e a intercessão de São José e do Patriarca São Francisco e anjos

da minha guarda para que me ajudem nela a conseguir a misericórdia do meu redentor e

por ela a salvação da minha alma; quero que meu corpo seja amortalhado no hábito de

Nossa Senhora do Monte do Carmo e sepultado na sua igreja, sendo meu corpo levado à

sepultura na tumba de Santa Casa da Misericórdia na forma que se costuma praticar

com irmãos dela da qual sou também o mais indigno; dei de oferta ao meu reverendo

pároco vinte mil réis e lhe rogo que pelo amor de Deus tome à sua conta fazer, que no

dia do meu falecimento, as missas que na sua igreja se disserem até o número de trinta

sejam todas pela minha alma e não se podendo dizer nele por não serem horas, se dirão

95

no dia seguinte; mando que nos nove dias sucessivos do do meu falecimento se mandem

dizer na minha freguesia duas missas, uma no altar de Nossa Senhora da Conceição e

outra no de São José, e imploro da mesma senhora e do mesmo santo em assistam e

acompanhem a minha alma até chegar à presença do meu senhor Jesus Cristo, e o

mesmo suplico a meu patriarca São Francisco, e no seu convento da cidade se mandarão

dizer quarenta missas de corpo presente na igreja de Nossa Senhora do Monte do

Carmo, na de São Pedro de Alcântara, na da Santa Casa da Misericórdia se mandarão

dizer outras quarenta, em cada uma delas também de corpo presente de que se dará de

esmola a cento e cinquenta, e pelas que mando se digam na minha freguesia se dará de

esmola duzentos réis por cada uma; quero se mandem dizer pelas almas de meus pais,

cem missas, e pela de minha primeira mulher outras cem e pelas do purgatório,

cinquenta, todas de esmola de cento e vinte réis e recomendo muito a meu filho António

Gomes se não esqueça de continuar a beneficiá-las com missas e esmolas, como ele

sabe eu tenho praticado. Deixo ao arbítrio de minha mulher e filhos os mais sufrágios

que me poderem mandar fazer, segundo o estado em que ficar a casa ao tempo do meu

falecimento, pois lho mereço pelo muito que sempre cuidei em todos eles;

Declaro que sou casado com Joaquina Bernardina de que tenho dois filhos por

nome António Gomes, que assiste em minha companhia, e Joaquim Gomes, que está em

Pernambuco, e três filhas, Vitória Joaquina, casada com Francisco da Silva, Maria

Joaquina e Ana Joaquina, e como estas são menores lhes nomeio a sua mãe por tutora e

administradora para o que lhe aprovo a sua pessoas com todas as cláusulas e

circunstâncias que pela lei do reino se requerem e em sua falta lhes nomeio da mesma

forma a meu filho António Gomes;

Deixo a meus filhos por meus herdeiros e a minha mulher por minha

testamenteira e herdeira do usufruto da minha terça para melhor de poder sustentar e as

ditas menores e para esse efeito tomo na mesma terça as casas que tenho na Rua Direita

da Patriarcal Queimada e as que ficam nas costas delas;

Por falecimento da minha mulher, mando que repartido em seis partes o líquido

da mesma terça dessas [?] se entreguem a Joaquim Gomes, meu filho, ou a seus

herdeiros e isto em razão do pouco que com ele tenho despendido e as quatro partes que

ficam se repartirão pelos outros quatro filhos porque a todos amo igualmente e lhes

96

recomendo muito acompanhem a sua mãe e que a estimem e venerem como ela lhes

merece pelo muito que ela por meu e seus respeitos tem padecido;

Declaro que tenho contas com D. Margarida Inês de Brum as quais estão

lançadas no meu livro e por ela e seu filho primogénito assinadas o que igualmente

consta do termo de composição julgado por sentença na Correição do Cível da Cidade o

escrivão António José de Sousa [199v] e também tenho contas com Gregório Xavier,

que está ausente há mais de quinze anos por ter ido determinado [?] e sua mulher para o

Pára ou Maranhão procedendo as ditas contas das benfeitorias que fiz no último andar

das suas casas ao Pátio das Galegas, ou Boavista, de cujo rendimento estou de posse

para por ele ser pago e porque passados poucos anos depois do Terramoto de 1755

deram grande baixa as casas em todo aquele distrito em razão da mudança da Praça que

os homens de negócio faziam no sitio da Esperança e por serem muito altas estiveram

em diversos tempos por alugar, razão porque para se não arruinarem e haver quem as

mostrasse às pessoas que as quisessem que as quisessem ver por terem escritos meti

nelas pelo amor de Deus à dita Margarida, que nelas esteve seis anos por não haver em

todos eles quem as alugasse, como ela e seus filhos podem dizer, o que não obstante,

mando se abone ao dito devedor nos ditos anos em que a dita D. Margarida assistiu nas

ditas casas a renda delas à razão trinta e três mil e seiscentos em cada um ano, preço

porque foram alugadas a Basílio Ribeiro, que para elas foi e como me dizem estar

errada a conta que está lançada no meu livro do que tenho recebido por ser carregar nela

juros de juros; mando que se emende para que nem se prejudique aquele devedor, nem

meus herdeiros tenham para o futuro dúvidas pelo dito respeito;

As contas da sociedade da Praça dos Touros do Terreiro do Paço, e as deste sítio

do Salitre estão juntas até ao presente ano, como consta das quitações passadas no livro

delas, e ficam continuando os mesmo sócios no interesse da dita Praça, a saber,

Gervásio da Silva Lopes, até ao fim do futuro ano, quando inteiramente finda p.o [?]

com ele a dita sociedade, e Marcos António Fernandes, suposto que na forma da

escritura o seu interesse finda no último de Junho do ano que vem; com tudo por novo

ajuste, que com ele fiz, continua o seu interesse até ao fim do ano de 1787;

Declaro que a minha filha Vitória Joaquina dotei em três mil cruzados, os quais

lhes dei em umas casas na Rua da Cruz de que está de posse, e no valor do seu enxoval,

e porque nele se compreendeu uns brincos de topázios, que se compraram com o

97

produto de outros que sua avó materna lhes havia dado, e uns pentes também de

topázios que ela havia comprado com o seu dinheiro, mando que o seu valor se lhe

perfaça do monte para ficar inteirada dos três mil cruzados em que a dotei;

A meu filho, António Gomes, também dotei em três mil cruzados para casar,

como casou com Maria Gertrudes, filha de Gervásio da Silva Lopes, nomeando-lhe o

prazo que ao presente possuo neste sítio do Salitre, cuja nomeação ratifico na forma

declarada na escritura do tal a que me reporto;

Declaro que tudo quanto se acha feito no mesmo prazo, tanto de casas, como da

Praça dos Touros, e Casa da Ópera, foi com dinheiro do casal e outro que tomei a juro,

que ainda se está devendo; e por esta forma hei por acabado este meu testamento que

quero se cumpra e guarde como tal, ou como cédula, qual em direito melhor lugar haja,

o qual roguei a Luís Feliciano Velho que este por mim fizesse o que eu dito fiz a rogo

dele testador, e depois de feito lho li por ele o não poder fazer pela falta de vista com

que se acha e por me dizer estar [à] sua vontade, como testemunha como ele, testador,

assinei

Lisboa, 16 de Outubro de 1784

João Gomes Varela

E logo como testemunha,

Luís Feliciano Velho

Aprovação

Saibam quantos este instrumento de aprovação de testamento e última vontade vir, que

no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1784 aos 16 dias do mês de

Outubro, nesta cidade de Lisboa, Rua Direita do Salitre e casas de morada de João

Gomes Varela, onde um tabelião vem, e sendo ele aí presente [200], doente de cama de

doença que Deus Nosso Senhor foi servido dar-lhe, mas em seu juízo perfeito e

entendimento, segundo o meu parecer e das testemunhas abaixo assinadas. Pelo qual

das suas mãos as de mim, tabelião, me foi dado o seguinte testamento retro escrito em

três meias folhas de papel em que entra esta aprovação e vão por mim rubricadas com o

meu apelido – Sermenho – e as perguntas que lhe fiz na forma da lei me respondeu que

98

era o seu testamento e a seu rogo lho fizera Luís Feliciano Velho, e depois de escrito lho

lera, e pelo achar conforme a sua vontade o assinara. Portanto disse ele, testador, o

aprova e ratifica por seu, bom e verdadeiro testamento, e por ele revoga e anula todas as

disposições, quantas antes deste tenha feito, porque só este quer que valha, tenha sua

força e vigor em juízo e fora dele por assim ser a sua última e derradeira vontade, a que

foram testemunhas presentes chamadas e rogadas por parte dele, testador, Manuel de

Assunção, que vive de sua agência, morador na Rua Direita de São José, Joaquim

Pedro, oficial contínuo do Tribunal do Santo Ofício, morador na Praça da Alegria,

Manuel Inácio Calheiros, que vive do seu negócio, morador aí junto, José Rodrigues,

oficial de bordador, Joaquim Serrano com sua loge de mercearia, João António Vieira e

Joaquim José, ambos fiéis da casa dele, testador, e os mais moradores aí junto, que

todos os conhecemos ser o testador o próprio conteúdo e eu, José Pedro da Costa

Sermenho, tabelião público de notas, por sua majestade nesta cidade de Lisboa e seu

termo, esta aprovação de testamento fiz, subscrevi e assinei em p.co [?]; Lugar do sinal

p.co [?]; em testemunho de verdade; José Pedro da Costa Sermenho; João Gomes

Varela; Manuel Assunção e Sousa; Joaquim Pedro; José Rodrigues; Manuel Inácio

Calheiros; Joaquim Serrano; João António Vieira; Joaquim José.

Abertura

Manuel Varela de Almeida, prior da Paroquial Igreja de São José, certifico que hoje, em

15 de Fevereiro de 1786 anos, me foi apresentado o testamento com que faleceu João

Gomes Varela, o qual testamento estava fechado e lacrado com cinco pingos de lacrar

por banda, escrito por Luís Feliciano Velho em oito laudas de papel, entrando a

aprovação do tabelião José Pedro da Costa Sermenho e não tinha alguma entrelinha ou

alguma coisa que dúvida faça. Lisboa, 15 de Fevereiro de 1786. O Prior Manuel Varela

de Almeida.

Codicilo

Em nome da Santíssima Trindade, Padre, Filho e Espírito Santo, três pessoas distintas e

um só Deus verdadeiro em quem eu, João Gomes Varela, creio e espero nele me há-de

salvar pelos merecimentos de Jesus Cristo, seu filho, e pelos de Maria Santíssima e de

todos os santos da corte do céu; declaro que tenho feito meu testamento e porque nele

não fiz todas as declarações precisas respeito a várias contas que tenho com diversas

99

pessoas por não se terem liquidado, por haver ao presente certeza do alcance de

algumas, faço a esse respeito as declarações seguintes:

Tenho contas com Félix António Oliveira e pela que dele tenho se vê ser-lhe eu devedor

de cento e cinco mil novecentos e quarenta e assim mesmo pelas de Manuel Alves da

Silva Guimarães consta dever-lhe cem mil réis e pela de Joaquim Caetano dos Santos,

cinquenta mil, duzentos e dez réis; ao padre António Vieira devo cento e trinta e sete

mil e quarenta réis; igualmente, tenho contas com Tomás do Passo da Madeira, com

Manuel de Almeida, com Basílio Ribeiro, com quem se ajuntaram, pois ignoro o seu

líquido; a meu filho, António Gomes, devo dinheiro de empréstimo, que lhe veio do

dote de sua mulher, trezentos quarenta e quatro mil, seiscentos e sessenta réis, e além

desta dívida lhe sou devedor dos seus ordenados que venceu no contrato da limpeza e

carretos das suas bestas, que segundo a conta calculada lhe resto [200v] duzentos mil

réis; também devo mais ao dito meu filho e a meu genro, Francisco da Silva Lopes,

duzentos, vinte e quatro mil e seiscentos réis em que foram avaliados pelos mestres

Francisco Luís e Isidoro José Pereira os materiais que se tiveram da barraca que eles,

com meu consentimento, haviam feito e de que me servi para a praça de touros; com as

religiosas da Esperança correu uma causa com António Baptista Ancora, e hoje com

seus herdeiros, e porque me pertence deve minha testamenteira mandar cuidar nela; as

contas do contrato da limpeza com Manuel da Costa Castelão estão justas e somente há

uma dívida que se deve liquidar respeito a umas palhas para se saber se sou ou não

devedor de algum resto e, igualmente, se saberá dele se ainda me toca alguma coisa no

contrato do realete[?] em que fui interessado; com Matias Ferreira da Silva tenho

contas que estão em juízo e paradas há anos, só a fim de as concluir amigavelmente, e

pelo não ter conseguido, minha testamenteira e meus herdeiros prosseguirão na causa,

pois pelas ditas contas mostro ser eu credor; as contas da casa da ópera com meu

companheiro Gervásio da Silva Lopes estão justas por Luís Feliciano Velho, com

assistência do meu escriturário delas e meu filho António Gomes, cujo ajuste aprovo e

fiz procuração a minha mulher para as assinar por mim, obrigando-me ai seu alcance e

formalidade do pagamento dele; também se mandará cuidar na causa que me moveu um

estrangeiro por sobrenome Mercadil; a dívida dos seis mil cruzados que tomei a juro a

D. Damiana está hoje no padre Clemente Alexandrino da Congregação do Oratório, a

quem tenho pago os juros que se venceram até Junho passado. E porque por causa da

minha prolongada moléstia me pode ter esquecido alguma dívida, mando a minha

100

testamenteira e a meus herdeiros satisfaçam não só as aqui declaradas, mas todas as que

se mostrarem estou devendo. Nome meu testamento mandei se abonasse a Gregório

Xavier da Silva a renda dos anos que D. Margarida Inês de Brum esteve nas casas

daquele meu devedor, não obstante não haver quem as alugasse, e eu lha dar para tratar

delas pondo-lhe escritos, como punha e como feita a conta das despesas que com as

mesmas casas fiz importa muito além de outras que por causa da minha moléstia não

acho clareza delas, revogo nesta parte o meu testamento, e por equidade e não por

descargo algum de consciência, pois nenhum tenho a este respeito, mando se abonem ao

dito meu devedor três anos de renda, como se esteve sem alugado as ditas casas ao

inquilino que para ela foi Basílio Ribeiro e isto tudo se entende e se em minha vida não

completar os ajustes de todas, ou de cada uma das referidas dívidas, sendo bastante que

minha testamenteira por sua declaração diga as que se ajustarão em minha vida para não

ser responsável no juízo da conta.

E porque no meu testamento nomeei somente a minha mulher por minha testamenteira,

agora nomeio também a meu filho, António Gomes Varela, para o caso dela falecer

ficar ele por testamenteiro. E por este modo hei por concluído e acabado este codicilo

que quero se cumpra como nele se contém e como parte que fica sendo do mesmo

testamento, e por não poder assinar pela total falta de vista, roguei a Luís Feliciano

Velho, que por mim o escrevesse e assinasse o que eu dito Luís Feliciano fiz depois de

lho ler e o achar a sua vontade. Lisboa, 30 de Novembro de 1784. A rogo do testador.

Luís Feliciano Velho.

Aprovação

Saibam quantos este instrumento de aprovação de codicilo e última vontade virem que

no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1784, aos 30 dias do mês de

Novembro, nesta cidade de Lisboa, Rua Direita do Salitre e casas de morada de João

Gomes Varela, onde eu, tabelião, vim e sendo ele aí presente, doente de cama de doença

que Deus Nosso Senhor foi servido dar-lhe, mas em seu juízo perfeito e entendimento,

segundo o meu parecer e das testemunhas abaixo assinadas pelo [201] qual das suas

mãos às minhas me foi dado o codicilo retro escrito e as perguntas que lhe fiz na forma

da lei me respondeu que era o seu codicilo, que a seu rogo lhe escrevera Luís Feliciano

Velho, e depois de escrito o lera e pelo achar conforme a sua vontade, lhe pedira

assinasse, também a seu rogo, por ele testador o não poder fazer por causa da sua

101

moléstia que padece de falta de vista. Portanto, disse ele, testador, o aprova e ratifica

por seu, bom e verdadeiro codicilo que é parte de seu testamento e por ele revoga outra

qualquer disposição que antes deste codicilo e dito testamento haja feito, porque tudo

quer que valha, tenha força e vigor em juízo e fora dele por assim ser a sua última e

derradeira vontade a que foram testemunhas presentes chamadas e rogadas por parte

dele, testador, o reverendo prior Manuel Varela de Almeida, que o é da Paroquial Igreja

de São José, o reverendo padre Joaquim Eugénio da Silva Domingos Monteiro

Ramalho, Isidoro José Pereira, Joaquim Pedro, Joaquim José, todos familiares da casa

dele testador, que todos conhecemos ser o testador o próprio conteúdo e a rogo do

mesmo por não poder escrever por causa da sua moléstia assinou Domingos Monteiro

Ramalho e eu, José Pedro da Costa Sermenho, tabelião público de notas por sua

majestade nesta cidade de Lisboa e seu termo, esta aprovação de codicilo fiz subscrever

e assinei em p.co lugar do sinal p.co. Em testemunho de verdade. José Pedro da Costa

Sermenho. A rogo do testador e como testemunhas, Domingos Monteiro Ramalho;

Manuel Varela de Almeida; Joaquim Pedro; o padre Joaquim Eugénio da Silva; Isidoro

José; Joaquim José.

Abertura

Manuel Varela de Almeida, prior da Paroquial Igreja de São José, certifico que hoje, em

15 de Fevereiro de 1786 anos, me foi apresentado um codicilo com que faleceu João

Gomes Varela, o qual estava fechado e lacrado com cinco pingos de lacar por bando e

escrito por Luís Feliciano Velho em cinco laudas de papel, entrando a aprovação do

tabelião José Pedro da Costa Sermenho, e não tinha nota ou entrelinha que dúvida faça.

Lisboa, 15 de Fevereiro de 1786. O prior Manuel Varela de Almeida. Não contém mais

os ditos testamento e codicilo suas aprovações e aberturas que aqui registei dos próprios

a que me reporto nos quais não achei borrão, emenda, entrelinha em coisa que dúvida

faça e me foram apresentados por António Gomes Varela, a quem os tornei a entregar e

assinou comigo de como os recebeu. Lisboa, 14 de Março de 1786. Joaquim Inácio da

Rocha Pereira de Magalhães, escrivão do Registo Geral dos Testamentos desta cidade

de Lisboa e seu termo por sua majestade fidelíssima que Deus guarde, o escrevi,

concertei e assinei.

Concertado por mim, escrivão

Joaquim Inácio da Rocha Pereira de Magalhães

António Gomes Varela

102

AST

Carta do conde Scarnafis ao ministro em Turim (13 de Dezembro de 1768)

Archivio di Stato di Torino - Lettere Ministri Portogallo, maço 4.

Transcrição e tradução disponível na base Documentos para a História do Teatro

online (Centro de Estudos de Teatro,

http://ww3.fl.ul.pt/cethtp/imgLib/imgBrowser.aspx?oT=image&pN=docId&pV=2687&

i=0).

Le 8 du courant leurs majestés très fidèles, l’enfant D. Pietro et les infantes ont

assisté à la première représentation que les comédiens portugais ont donné du Tartuffe,

traduit en langue portugaise avec cette différence de l’original: que Tartuffe était

exactement habillé en jésuite, que dans le courant de la pièce il est très expressément

question des pères de la Compagnie et qu’on y trouve des lambeaux entiers de la

première partie de l’ouvrage, dont vous me dites que Mr. de Meneses venait de

présenter la seconde partie. Je suis assuré que la reine y a été à coeur. Cependant,

comme le comte d’Oeiras avait probablement persuadé au roi qu’il était convenable

qu’il y allait elle ne put faire à moins que de l’y accompagner et d’y mener les infantes,

pour ne pas donner à cette pièce une désapprobation tacite.

Cette représentation a non seulement surpris ceux du pays, mais aussi les

étrangers qui n’ont pu se refuser à la réflexion qu’en faisant paraitre ce habillement sur

le théâtre on a exposé à la risée du public l’habillement (à peu de chose près) d’une

grande partie de nos ordres religieux.

Malgré cela, tous les Portugais de crainte d’être soupçonnés de partialité

s’empressent d’aller à ce spectacle. […]

Lisbonne, ce 13 Decembre 1768

Votre très humble et très obéissant serviteur

De Scarnafis

103

BNP 1

Carta de Sulpice Gaubier de Barrault ao conde de Oeiras, D. Henrique, filho do

Marquês de Pombal (7 de Fevereiro de 1771).

Biblioteca Nacional de Portugal, Res., Pombalina cód. 619, ff. 335-336 (F. 3657).

Transcrição e tradução disponível na aplicação HTP on line - Documentos para a

História do Teatro online acessível em

http://ww3.fl.ul.pt/cethtp/webinterface/documento.aspx?docId=236&sM=t&sV=ga

ubier

[335] Monsieur le Comte-Président

J’étais si fatigué hier du bal de la nuit que je n’ai eu ni la force ni le courage d’écrire a

Votre Excellence; j’avois justement passé une partie de l’après midi qui preceda le bal a

l’etude d’un ouvrage qu’on m’avoit remis, d’un style fort serré et difficile a

comprendre. Je sortis vers les trois heures du matin de l’assemblée qui fut nombreuse et

gaie* et n’ayant point envie de dormir, je me remis au travail jusqu’a huit heures que

comprenant deja l’oeuvre en partie, mais voiant qu’il etoit impossible de le penetrer et

de l’approfondir sans plus / d’etude et de patience, je laissai la besogne pour une autre

fois et je sortis pour aller chez Anselmo da cruz qui me remit, on ne [peut] pas plus

honnetement, le tabac pour lequel je lui avois demandé une permission. De la je fus voir

un moment Madame May qui s’était trouvé mal au bal et je dinai chez Madamee de

Leibzeltern. Le soir je fus au Bairro Alto où l'on nous donna la burlette nouvelle

intitulée Le Beiglierbey de Caramanie. C'est le plus joli opéra bouffon que j'ai jamais

entendu. La musique en est charmante et dans un goût nouveau. Scolari a eu l'adresse de

tirer tout le parti possible de tous les acteurs et a doublé leurs talents par l'art qu'il a eu

de les développer et de proportionner sa musique à la qualité et à l'étendue de leurs

organes. Chacun d'eux se trouve dans son cadre. Louise n'a jamais chanté si juste ni

avec autant de voix. Maria Joaquina a deux très beaux airs qu'elle exécute bien. Trebbi

est un très beau Turc. Calcini, premier eunuque, s'est habillé de façon qu'il ressemble un

*Je n’ai jamais vu Mademoiselle Charlotte Die si jolie et si bien mise, ni si galamment

coiffée. Elle avait la fraîcheur de Flore, la jeunesse d’Hébé et les grâces de l’Amour.

104

Que je sais bon gré a Gilde mestre qui faisait les honneurs de m’avoir ménagé le plaisir

de danser un mouvement avec Elle!

[336] vieux châtré réformé de la Patriarcale; il chanta entre autres un air qui est unique

dans son genre. Cécile en turc est passable. Isabelle a deux ariettes légères dont elle se

tire fort joliment, mais Louise a dans le second acte une ariette qui est magnifique et

qu'elle a chanté supérieurement. Nous sommes privés dans cet opéra du plaisir

d’entendre mademoiselle Brusa. Les finales sont pleines, harmonieuses, bien coupées,

enfin tout a plu dans cet opéra, jusqu'à Pedro. Aussi n'ai-je jamais rien vu de si bien

reçu. Car le public non content d'applaudir les acteurs redoublait ses battements de

mains a chaque beau morceau de l'ouvrage en criant «vivat maestre Scolari».

Je suis bien fâché que Votre Excellence ne puisse pas voir cette jolie bourlette et d'être

privé aussi moi-même par l'assemblée et le souper de Madame de Clermont du plaisir

d'y aller ce soir. Vendredi je ne sais si j'irai, ayant promis a Madame de Leibzeltern

d'aller à la Comédie Italienne voir le nouvel Arlequin et voir aussi la toute petite

Napolitaine danser un menuet en homme avec la fille de la Smeraldini. Elle l'a dansé

dernièrement et on dit qu'elle s'en acquitte parfaitement bien. La Augusta était y hier a

la mort et sans esperance d’une inflamation de matrice dont elle souffre depuis dix

jours.

Monsieur le Comte-President

Votre très humble et très obéissant serviteur

Gaubier de Barrault

Ajuda, ce jeudi, 7 de février

105

BNP 2

Carta de Sulpice Gaubier de Barrault ao conde de Oeiras, D. Henrique (11

Fevereiro de 1771).

Biblioteca Nacional de Portugal - Res., Pombalina cod. 619, f. 339-340v; 342v-344

(F. 3657).

Transcrição e tradução disponível na aplicação HTP on line - Documentos para a

História do Teatro online acessível em

http://ww3.fl.ul.pt/cethtp/webinterface/documento.aspx?docId=252&sM=t&sV=ga

ubier

Monsieur le Comte Président

J’ai a rendre compte à Votre Excellence d’evenements comiques, tragiques et tragi-

comiques. Commençons par le comique.

Vendredi au soir la Rosa Campora, danseuse du tiers ordre de la Rue dos Condes nous

donna une scêne de furie dans les coulisses de la Comédie Italienne. Marana que Bruno

avoit prié de composer un pas de quatre nouveau pour réchauffer un peu de théatre dans

ces derniers jours de Caranaval, choisit pour l’executer la Guadagnini qui est sous la

protection d’Israël, et le danseur Bachini, d’une part; et la Rosa Campora, qui a un

interet clandestin dans la fabrique roiale de faiance, a la quelle on donna pour

compagnon le nouvel arlequin nommé Branbilla, mari de la première actrice. Ce dernier

avant d’etre comédien, époux de comédienne, danseur etc, était perruquier, et en

conséquence a quelque fois peigné et frisé la Campora en Italie; ici même il n’a pas cru

déroger a la dignité du théâtre en exerçant son premier talent en faveur de deux ou trois

dames distinguées qui l’ont envoyé chercher, parce qu’il coiffe très bien. Notre Nymphe

subalterne a qui personne n’a fait un crime d’exercer ici depuis qu’elle y est, le métier

primitif par le quel elle a commencé en Italie, et auquel elle a réunit depuis la profession

de danseuse, s’est trouvée scandalisée de ce qu’on voulait l’appareiller avec un homme

qui, disait-elle, avait été son domestique, et quelque bonne raison qu’on ait voulu lui

donner, elle s’est absolument refusée à s’y prêter. Le chef suzerain du tripot comique,

vint en conséquence vendredi au soir interpeller la suivante de Terpsichore de donner sa

dernière réponse: mais tout ce qu’il lui dit de plus raisonnable pour vaincre son

106

opiniâtreté qu’intense n’eut d’autre succès que de la mettre en fureur / et déployant

l’éloquence des Poissardes de la halle avec toutes les grâces d’une harpie, elle jura

qu’on ne la ferait jamais danser avec un tel homme; qu’on pourrait la faire pendre, mais

jamais, disait-elle, en prenant ses jambes l’une près l’autre, on ne me fera faire avec ces

jambes la, ce que je ne veux pas faire. Bruno lui répondit, que puisqu’elle ne voulait pas

faire son devoir, elle n’eut point à se plaindre, s’il lui arrivait quelque disgrâce.

Aussitôt, Ministre en jeu, nouveau désespoir da la faiseuse d’entrechats et offre de

prendre son congé dans le même moment. Bruno ne se fait pas prier, l’accepte, témoins

pris a voix haute de part et d’autre, tant de l’offre que de l’acceptation. Je voulais

raccomoder les affaires, mais Bruno me prenant par la main, et me menant un peu à l’

écart. Pour l’amour de Dieu, Monsieur, me dit-il, laissez aller les choses comme elles

vont. C’est ce qui pourrait m’arriver de plus heureux. Cette fille a un engagement pour

jusqu'au mois de mai prochain, avec clause de la payer pendant le carême comme si elle

dansait, je me suis obligé en prenant ce théâtre de faire bons tous les engagements, je ne

veux point d’elle pour l’année prochaine, de sorte qu’en prenant son congé d’elle même

a présent, ce sont trente ou quarante monnaies d’or que je gagnes et un sujet qui ne veut

rien d’ont je me trouve débarrassé. Je ne pus m’empêcher de rire de son habilité a

profiter de l’occasion. Je l’envoyai faire part au ministre de tout ce qui se passait; Le

ministre trouva ainsi que moi qu’il n’avait pas tort. Aussitôt Bruno envoya chercher de

l’argent chez lui pour la payer tout de suite. Cela s’était passé pendant la première

danse. Dans l’intervalle de la première a la seconde, l’homme de la faïence vint me

trouver dans ma loge pour m’annoncer que mademoiselle Rosa Campora ne paraissait

point et que vraisemblablement, elle s’était évadée pour ne point danser dans le Second

Ballet; / je lui répondis qu’en ce as elle pourrait bien aller a Limoeiro, parce que

certainement le ministre qui était notre judicieux Garbo, ne souffrirait pas une telle

insolence, mon homme sortit aussitôt de la loge fort effrayé et peu après parut sa

Dulcinée qui dansa dans le 2e ballet. A la fin de l’opéra, Bruno lui envoya dans sa loge

son compte par écrit et l’argent qui lui revenait pour le tems de sa Direction ce qui

montait a 28000 Reys ordonnant a son commis de ne lui délivrer l’argent qu’après lui

avoir fait faire une quittance de congé. Il lui fit dire en même temps que pour environ

cent mille Reys qui lui étaient dus par la Direction précédente, il donnerait le lendemain

un manda sur le ministre pour qu’ils lui fussent payés des fonds qu’il a entre les mains

pour l’acquis des dettes: mais elle ne voulait pas accepter ni le compte ni l’argent, disant

qu’elle voulait examiner tout cela chez elle. Cela est resté dans cet état: Samedi elle n’a

107

point dansé et est venue en grande loge voir l’opéra du Bairro Alto. Hier dimanche elle

n’a point paru non plus de sorte qu’il me parait que c’est une affaire finie.

Samedi, je fus au théâtre de la Grace ou il y avait un monde prodigieux. Les Dames et

les ministres étrangers s’y trouvèrent, on nous donna Alecrim e Mangerona, suivi d’un

nouvel intermède intitulé o Velho Peralta qui est un Salmigondi détestable, et un

fandango très insipide. On nous régala dans les entractes de concertos de différentes

espèces, et dans la comédie, de beaucoup d’ariettes qui m’ont faire désirer de la vielle

musique française, l’exécution sur tout débanquait sans contredit les accords

harmoniques da la fameuse musique qui nous vient écorcher les oreilles tous les ans la

veille de Noël et le jour de Rois. On nous a tenu la jusqu’a minuit. Ensuite on m’a

entraîné malgré moi a un bal de contrebande qui consistait en douze bouts de chandelles

de Juif, un violon ivre, un clavecin dont personne ne savait jouer, une vingtaine de

grisettes demi-castor, parmi lesquelles brillait une blanchisseuse vêtue d’une robe de

Durante ou étamine blanche; j’eus le bonheur d’être choisie pour danser par une des

plus jeunes grâces de l’assemblée qui avait une robe de moire de soie couleur de rose. A

une heure on servit un soupé composé d’un Rosbif furieux, deux dindons, un pâté et un

jambon des Salades et quelques assiettes de fruits. Mais il n’y avait malheureusement

pour les conviés, ni assiettes, ni couteaux ni fourchettes./ Désespéré de me trouver a

table entre deux dames de cette considération qui avait une faim enragée, et qui ne

savaient comment faire pour manger, J’ai pris mon parti en brave, j’ai attaqué le dindon

corps a corps et après l’avoir déchiré avec mens ongles, j’ai présenté de mes deux mains

toutes grasses un morceau de la victime a chacune de mes voisines et renversant sur le

Rosbif un plat de salade qui se trouvait devant moi, je l’ai fait servir d’assiette pour

nous trois. Rien ne manquait pendant la fête, car après ce brillant festin, il y avait dans

un autre appartement un homme qui servait du café plus clair que de l’eau de Roche, du

chocolat épais comme de la bouillie et jusques dans l’antichambre même on trouvait

une négresse qui criait, quentinhas en rôtissant des châtaignes. Vers les quatre heures du

matin comme j’étais fort échauffé, ma conquête émue de compassion, a parlé a l’oreille

de la dame du bal qui était une mégère d’environ soixante et dix ans, et avec son

consentement ma tendre compagne qui pouvait avoir dix-sept a dix-huit ans, me conduit

Elle même a pied, a cent cinquante pas de la maison ou était le bal, et me fis

mystérieusement monter dans un grenier, précédés tous deux de la négresse aux

châtaignes, qui après avoir illuminé l’appartement avec un bout de chandelle collé sur

108

un bahut nous laissa attendre le jour sans autres sièges pour nous reposer qu’un petit lit

de trois palmes de large, sur lequel on ne pouvait tenir deux qu’en pyramide. A peine le

jour a-t-il commencé a paraître, que je me suis aperçu que les fenêtres de la maison ou

j’étais, se trouvent justement en face du comte Mazin, je me sui au plus tôt dépiramidé,

et m’enveloppant de mon manteau, j’ai déniché avant que personne me vit et j’ai gagné

a pied la maison de Dubosc ou après avais déjeuné je me suis jeté sur un lit jusqu'à deux

heures, j’ai dîné là et je me suis rendu ensuite a l’opéra du Bairro Alto, ou l’on m’a

conté en entrant l’aventure arrivée au Lieutenant Colonel Betty le matin du même jour a

onze heures et dont je vais faire part a V.E. telle qu’elle m’a été contée par Mackinteir

Lieutenant Colonel da Ponte récit conforme a tout ce qui m’en a été dit par tout ceux qui

m’en ont parlé et qu rapport qui en a été envoyé a Mr votre père et au Maréchal Marquis

d’Alvito [...].

Il est trop tard pour que je puisse donner à Votre Excellence un détail bien

complet de la tragi-comédie qui s'est passée hier au Bairro Alto. Je me borne donc à dire

à Votre Excellence que le spectacle qui était ce jour-là nombreux et magnifique fut

troublé par une querelle qui s'éleva à l'orchestre entre Scolari et Todi, sur le mouvement

d'une ariette que chantait Pedro. Scolari, qui voulait qu'elle marchât plus presto, se mit à

charger l'accompagnement de clavecin de toute sa force et selon sa louable coutume

apostropha Todi, qui n'allait pas apparemment à sa fantaisie, de l'épithète de porco, Todi

lui répondit par asno, d'autres gentillesses se suivirent rapidement et je vis le moment

que Todi hors de lui allait jeter son violon à la tête de Scolari; j'étais dans la loge de

Madame Votre Mère, qui était ce jour là à l'opéra. Nous entendions bien que l'on se

disputait mais nous ne pouvions pas savoir pourquoi, parce que la musique continuait

toujours et le bruit que cette affaire excitait dans le parterre nous empêchait de rien

distinguer. Madame Votre Mère m'envoya voir ce que c'était. J'appris à la porte du

théâtre qu'ils étaient les deux champions. Je passai tout de suite dans la loge de Maria

Joaquina qui est sur l'orchestre et à peine y entrais-je que j'aperçus un caporal et deux

soldats baïonnette au bout du fusil, qui après avoir traversé le parterre par-dessus tout le

monde, a jambèrent l'orchestre. Le caporal arrêta Todi et lui dit de le suivre. Todi se

leva et obéit. Dans le moment que Todi sortait de l'orchestre accompagné des soldats, la

Louise entrait sur la scène; voir son mari conduit par des soldats, jeter un cri terrible et

voler après son mari fut l'affaire d'un clin d'oeil. Tandis que cela se passait sur le théâtre,

il se passait une autre scène dessous, par où il faut passer pour sortir de l'orchestre. Todi

ne s'y était pas plutôt vu à l'obscurité que, profitant de la connaissance qu'il a du local, il

109

s'échappe d'entre les soldats, prend les détours qu'il connaissait, monte au théâtre, gagne

la petite porte de derrière et se sauve. Un moment après, les soldats retrouvent leur

chemin et courent après lui. Louise renverse tout ce qui se trouve sur son passage,

sentinelle, hommes, femmes, rien ne l'arrête, elle saute les escaliers quatre à quatre et

court après son mari presque jusqu'à la porte de la grande cour de derrière. Là on me

conjure de la suivre, j'y cours, et rencontrant un des soldats qui me dit que Todi s'était

échappé j[e l'] attrape; survient le Comte d'Alvizan qui était de garde / et le Ministre;

nous la faisons remonter. Elle ne pleurait pas, elle hurlait; ce qu'il y a eu de plus plaisant

c'est que pendant tout ce tapage l'opéra n'a pas arrêté un instant, par l'habileté de la

petite Isabelle, qui se trouvant sur le théâtre au moment de la catastrophe a continué le

rôle de sa [soeur] et l'a chanté jusqu'à la fin de l'acte sans la moindre erreur. J'étais

pourtant fâché que Todi se fut enfui, parce que cela arrêtait par force tout l'opéra. Louise

n'aurait certainement ni voulu ni même pu continuer son rôle. En rentrant au théâtre je

la trouvai qui demandait son mari à tue-tête et qui me crie en me voyant: «O meu

marido». Moi, je répondis aussitôt: «Seu marido é um tolo; para quê fugir?» À peine ai-

je lâché le mot de tolo qu'elle entre [en] fureur contre moi: «Vossa Mercê tem o

atrevimento de chamar o meu marido tolo adiante de mim?» J'ai eu, ma foi, peur qu'elle

m'arrachât les yeux, je voulais l'apaiser, il n'y avait pas moyen. On vint m'appeler de la

part de Madame la Marquise et je pris le parti de la laisser crier et de m'en aller. Nous

remontâmes, le Ministre et moi, dans la loge de Madame Votre Mère, où nous

trouvâmes tous les Ministres étrangers, Monsieur Manuel Bernardo de Melo et le Comte

d'Alvizan à qui Madame Votre Mère se tuait de dire qu'il fallait relâcher Todi et le

pauvre Comte se tuait de répondre qu'il ne savait pas où il était, mais il avait beau jurer

et protester, madame votre mère n'en voulait rien croire, et s'était mis dans la tête que

c'était une défaite du comte. Au milieu de tout cela arrive la Todi en larmes, la Cécile

toute bouffie de colère demandant grâce. Le comte d'Alvizan qui avait envoyé de tous

côtés à la suite de Todi, sort lui même pour savoir si on en avait des nouvelles, et dans

le temps qu'il allait par un endroit, Todi arrive par un autre, amené par le Caporal qui

l'avait suivi de près et l'avait arrêté. Sachant, en arrivant, qu'il était libre, il vint tout de

suite à la loge de madame votre mère. La femme, aussitôt qu'elle le vit, passa de

l'extrême douleur à l'extrême joie. Ce fut un spectacle touchant pour Madame la

marquise et pour tous les assistants. Après les premiers mouvements de tendresse, Todi,

la Louise et la Cécile se réunirent pour crier tous les trois en choeur contre Scolari, mais

ils faisaient un tel tapage que madame votre mère les fit taire, fit une leçon à Todi et le

110

renvoya à l'orchestre après lui avoir recommandé de continuer à faire son devoir sans

dire mot, sans la / moindre rancune et comme si rien ne fût arrivé. Ensuite elle fit

appeler Scolari à qui elle dit d'être moins vif et plus prudent et lui recommanda très

expressément qu'il ne fût plus question de cette affaire. Tout a en conséquence rentré

dans l'ordre accoutumé et l'opéra a continué on ne peut pas mieux jusqu'à la fin. Le

pauvre Bruno, au milieu de tout cela, avait l'air d'un criminel qui est dans l'oratório.

«C'est moi qui paierai toutes ces sottises-là», disait-il tristement. La vérité est que cela

est malheureux pour lui; et la vérité est aussi que, quoique Todi soit un crâne il n'avait

cependant pas le premier tort dans cette occasion. Scolari est un insolent qui vient

presque tous les jours ivre au théâtre, qui depuis qu'il est ici a fait vingt de ces

incartades. La même chose lui est arrivée avec la Sestini et la Falquini et tous les jours

ici, il a quelques duretés obscènes à dire à ces pauvres filles qui font ce qu'elles peuvent.

Il est maître de chapelle et a raison de vouloir que son ouvrage soit exécuté comme il le

veut, mais cela ne lui donne aucun droit d'outrager personne. C'est un fort bon musicien

mais c'est un fort dangereux et fort brutal personnage.

Madame votre mère en arrivant a l’opéra, trouva avec monsieur votre frère

Lambert et moi, Le comte de Soure et le comte de Saint Laurent qui s’y étaient réfugiés,

parce qu’il y avait huit dames dans la loge de madame ja comtesse de Soure: ils se

retirèrent après les premiers compliments; madame votre mère qui comme vous savez

aime a trouver sa loge libre quand elle vient, me dit qu’elle serait très contente quand

V.E. aurait fait remettre a l’entrepreneur as loge ainsi que les autres, parce qu’elle en

trouvait une dont personne qu’elle n’aurait la clef sans me la demander, «Pas même

vous autres dit-elle a madame la comtesse de San Payo; et le même soir a souper, elle

me chargea de louer pour l’année prochaine a son compte la Camerote des Secondes

loges qui est au dessus du sien. Elle prétend qu’elle y sera plus a son aise, et plus libre

d’y aller en négligé quand elle le voudra, étant moins apportée d’être vue. C’est un bel

exemple pour les autres ministres et votre Excellence pourrait / bien saisir cette

occasion de leur parler et de les engager a rendre leurs clefs.

Voici la dernière lettre que j’écris à Votre Excellence ; dans deux jours nous

vous posséderons ici, et vous connaitriez a la joie que nous aurons de vous revoir, la

sincérité des regrets que nous a causé votre absence. J’ai l’honneur d’être ave une

tendresse aussi inaltérable que respectueuse/ de Votre Excellence, Monsieur le Comte-

President, le très humble et très obéissant serviteur Gaubier de Barrault

111

P.S. J’oubliais de dire a V.E. que monsieur le comte d’a Ponte a été inconsolable de

n’être arrivé au théâtre qu’au moment après l’aventure de Todi. Je ne connais personne

Qui se plaise plus que lui dans le désordre. Malgré sa mutabilité continuelle, j’ai trouvé

le secret de le faire rester a l’opéra jusqu’a la Seconde danse inclusivement. Miracle!

Aussi m’a-t-il fort recommandé de vous en faire part.

Ajuda, ce lundi 11 février 1771

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BGUC 1

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Miscelâneas, Misc. 664.

Soneto dedicado ao Teatro do Bairro Alto.

113

BGUC 2

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Miscelâneas, Misc. 664.

Soneto dedicado a Cecíla Rosa de Aguiar.

114

BGUC 3

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Miscelâneas, Misc. 664.

Soneto dedicado a Francesca Battini.

115

BGUC 4

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Miscelâneas, Misc. 664.

Soneto dedicado a Gertrude Pini.

116

BGUC 5

Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Miscelâneas, Misc. 664.

Soneto dedicado a Giuseppa Olivares.