desenvolvimento de um sistema de monitoraÇÃo de fluidos...
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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA E
INFORMÁTICA INDUSTRIAL
JULIANA PADILHA LEITZKE
DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE MONITORAÇÃO DE
FLUIDOS BASEADO EM ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA
DISSERTAÇÃO
CURITIBA 2014
JULIANA PADILHA LEITZKE
DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE MONITORAÇÃO DE
FLUIDOS BASEADO EM ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências - Área de Concentração: Engenharia de Automação e Sistemas. Orientador: Prof. Dr. Marco José da Silva
CURITIBA 2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
L533d Leitzke, Juliana Padilha 2014 Desenvolvimento de um sistema de monitoração de fluidos baseado em espectroscopia de impedância / Juliana Padilha Leitzke.-- 2014. 74 f.: il.; 30 cm Texto em português, com resumo em inglês. Dissertação (Mestrado) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial, Curitiba, 2014. Bibliografia: f. 71-73. 1. Espectroscopia de impedância. 2. Impedância (Eletricidade). 3. Fluidos - Monitoração. 4. Detectores. 5. Software - Desenvolvimento. 6. Medição. 7. Simulação (Computadores). 8. Engenharia elétrica - Dissertações. I. Silva, Marco José da, orient. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial. III. Título. CDD 22 -- 621.3
Biblioteca Central da UTFPR, Câmpus Curitiba
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Câmpus Curitiba
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial
Título da Dissertação Nº. 669
Desenvolvimento de um Sistema de Monitoração de Fluidos Baseado em Espectroscopia de Impedância.
por
Juliana Padilha Leitzke
Orientador: Prof. Dr. Marco José da Silva
Esta dissertação foi apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de MESTRE EM CIÊNCIAS – Área de Concentração: Engenharia de Automação e Sistemas do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial – CPGEI – da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, às 14h00 do dia 29 de agosto de 2014. O trabalho foi aprovado pela Banca Examinadora, composta pelos professores doutores:
_____________________________________ Prof. Dr. Marco José da Silva
(Presidente – UTFPR)
___________________________________Prof. Dr. Marcos Santos Hara
(Universidade Positivo)
___________________________________ Prof. Dr. Daniel Rodrigues Pipa
(UTFPR)
Visto da coordenação:
________________________________ Prof. Emilio Carlos Gomes Wille, Dr.
(Coordenador do CPGEI)
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por minha vida e também minha família е amigos que sempre
me apoiaram.
Ao professor Marco José da Silva pela oportunidade e pela orientação ao longo do
desenvolvimento desse trabalho.
Aos professores que contribuíram com minha formação e colegas do LACIT e
LASII que me ajudaram sempre que possível.
À UTFPR, por ter possibilitado a realização desse estudo, e à CAPES, pela bolsa
fornecida.
Take the first step in faith. You don’t have to see the whole staircase, just take the
first step. (Martin Luther King Jr.)
RESUMO
LEITZKE, Juliana P. Desenvolvimento de um sistema de monitoração de fluidos baseado em espectroscopia de impedância. 2014. 74 f. Monografia (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2014.
Em diversas aplicações industriais é necessário o monitoramento do comportamento de fluidos, como por exemplo, a análise da cinética de reações químicas ou a investigação de escoamentos com múltiplos constituintes (comum em atividades de exploração e produção de petróleo). A espectroscopia de impedância, ou seja, a determinação da impedância elétrica de substâncias em diversas frequências é uma técnica frequentemente utilizada em química analítica para investigação de substâncias. No entanto, em processos industriais essa técnica ainda encontra pouco uso. Este trabalho objetiva o desenvolvimento de um sistema simples e de baixo custo de espectroscopia de impedância com potencial de aplicação em atividades industriais. Foram primeiramente revisadas as diversas técnicas para obtenção do espectro de impedância. Para a implementação, optou-se pela utilização do sinal discreto sequencial senoidal aliado ao circuito amplificador de transimpedância para monitoração de fluidos. Foi também utilizado um sensor planar interdigital para interrogação das substâncias. O sistema desenvolvido consiste em um painel de controle no computador conectado a um gerador de sinais e a uma placa de aquisição de dados. O sinal do gerador é aplicado ao sensor com a substância em análise, sendo o outro eletrodo do sensor conectada ao amplificador de transimpedância, que é conectado ao demodulador, onde então a informação é lida pela placa de aquisição de dados. Para validação do sistema, realizaram-se medidas com resistores e capacitores e diversas substâncias, tais como ar, água deionizada, etilenoglicol, isopropanol e óleo. Também foi medido gelo, substância que, ao contrário das outras estudadas, apresenta o fenômeno de relaxação nas frequências analisadas. Em comparação com valores teóricos, os resultados do sistema se mostraram apropriados para que seja possível identificar diferentes fluidos, por meio da medição da resposta em frequência da impedância dessas substâncias. Palavras-chave: Espectroscopia de impedância. Fluidos. Impedância elétrica. Automação de medidas.
ABSTRACT
LEITZKE, Juliana P. Development of a fluids monitoring system based on impedance spectroscopy. 2014. 74 f. Monografia (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2014.
Many industrial applications require monitoring the behavior of fluids, for instance, the monitoring of the kinetics of chemical reactions or the investigation of flows with multiple components (common in oil extraction and production activities). The impedance spectroscopy, i.e. the measurement of the electrical impedance at various frequencies is a technique frequently used in analytical chemistry for investigating substances. However, in industrial processes, this technique only finds limited application. This work’s main objective is the development of a simple and low-cost impedance spectroscopy measuring system, which may potentially be applied in industrial activities. First, the various techniques to obtain the impedance spectrum were revised. The system was implemented using the sequential discrete sinusoidal signal combined with transimpedance amplifier circuit for monitoring impedance of fluids. Further, a planar interdigital sensor was used for interrogation of substances. The developed system consists of a control panel on the computer connected to a signal generator and a data acquisition board. The signal generator is applied to one sensor electrode containing the substance under test and the other sensor electrode is connected to the transimpedance amplifier. The voltage output is demodulated and read by the data acquisition board. To validate the system, measurements were carried out with commercial resistors and capacitors as well as several known substances such as air, deionized water, ethylene glycol, isopropanol and oil. Ice was also measured; a substance that, unlike the others studied presents the phenomenon of relaxation in frequencies analyzed. The results are consistent with theoretical predictions and of appropriate accuracy. Hence, the system may be applied to identify different fluids, by measuring the frequency response of the impedance of substances.
Keywords: Impedance spectroscopy. Fluid. Electrical impedance. Automated measurements.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Plano complexo mostrando as relações ................................................................... 23�
Figura 2 – Circuito equivalente da equação de Debye. ............................................................ 25�
Figura 3 – Permissividade do gelo para diferentes temperaturas. ............................................ 27�
Figura 4 – Espectros de três substâncias .................................................................................. 29�
Figura 5 – Tipos de Sinais de multifrequências utilizados em espectroscopia de impedância.30�
Figura 6 – Impulso .................................................................................................................... 31�
Figura 7 – Espectro do impulso ................................................................................................ 31�
Figura 8 – Sinal Sinc no tempo ................................................................................................ 32�
Figura 9 – Espectro do sinal Sinc ............................................................................................. 32�
Figura 10 – Sinal Chirp com exemplo de parâmetros: �=1, ���=1, ���=100 e ��=1. ................ 33�
Figura 11 – Resposta em frequência do sinal Chirp para o exemplo. ...................................... 33�
Figura 12 – Circuito para gerar MLBS .................................................................................... 34�
Figura 13 – Sinal MLBS Analógico ......................................................................................... 34�
Figura 14 – Módulo do espectro de potência de um sinal MLBS. ........................................... 35�
Figura 15 – Exemplo de Sistema Utilizando MLBS ................................................................ 35�
Figura 16 – Sinal PRBS no tempo com clock de 10ms, frequência de amostragem de 1kHz e
duração de 1s. ........................................................................................................................... 36�
Figura 17 – Sinal PRBS no domínio da frequência. ................................................................. 36�
Figura 18 - Sinal multisenoidal no tempo composto de três components conforme exemplo da
Equação (35). ............................................................................................................................ 37�
Figura 19 – Sinal multisenoidal na frequência. ........................................................................ 38�
Figura 20 – Sinal discreto sequencial senoidal com as frequências 10 Hz, 50 Hz e 100 Hz. .. 38�
Figura 21 – Espectrograma do sinal discreto sequencial senoidal com as frequências 10 Hz,
50 Hz e 100 Hz. ........................................................................................................................ 39�
Figura 22 – Circuito para medição direta de impedância ......................................................... 41�
Figura 23 – Circuito ponte para medida de impedância ........................................................... 42�
Figura 24 – Circuito RLC usado em método ressonante .......................................................... 43�
Figura 25 – Diagrama de blocos do sistema ............................................................................. 45�
Figura 26 – Transição do sensor de placas paralelas para interdigital ..................................... 46�
Figura 27 – Sensor interdigital utilizado para as medições dos fluidos, aqui imerso na câmara
de refrigeração. ........................................................................................................................ 46�
Figura 28 – Eletrodos do sensor interdigital. ............................................................................ 47�
Figura 29 – Penetração do campo elétrico no sensor interdigital, representada por �, sendo E o
eletrodo emissor e R o eletrodo receptor do sensor. ................................................................. 47�
Figura 30 – Amplificador de transimpedância. ........................................................................ 48�
Figura 31 – Demodulador logarítmico e filtros. ....................................................................... 50�
Figura 32 – Curva do AD8307, com a frequência em Hz no eixo x e a magnitude medida na
saída em mV no eixo y. ............................................................................................................ 51�
Figura 33 – Painel de controle do sistema de medicão. ............................................................ 52�
Figura 34 – Fluxograma do software desenvolvido. ................................................................ 53�
Figura 35 – Comparativo dos ganhos esperados e medidos ..................................................... 57�
Figura 36 – Relação entre o ganho medido e o ganho teórico ................................................. 57�
Figura 37 – Ganho e condutividade em baixa frequência, sendo considerados os valores
medidos dos componentes: A) 2M2 e 10p, B) 1M e 10p, C) 470k e 4p7 e D) 470k e 10p. ... 58�
Figura 38 – Ganho e capacitância em alta frequência, sendo considerados os valores medidos
dos componentes: A) 470k e 4p7, B) 2M2 e 10p, C) 470k e 10p e D) 1M e 10p. ................... 58�
Figura 39 – Célula de medição com cuba perpendicular .......................................................... 60�
Figura 40 – Célula de medição com cuba paralela ................................................................... 60�
Figura 41 – Medições do ar com as diferentes cubas ............................................................... 61�
Figura 42 – Constante a da reta de ganho para cada frequência. .............................................. 62�
Figura 43 – Constante b da reta de ganho para cada frequência. ............................................. 62�
Figura 44 – Comparativo entre ganho esperado e medido em fluidos analisados. .................. 63�
Figura 45 – Ganho obtido experimentalmente e condutividade em baixa frequência (100 Hz).
.................................................................................................................................................. 64�
Figura 46 – Ganho obtido experimentalmente e permissividade em alta frequência (1 MHz).
.................................................................................................................................................. 64�
Figura 47 – Câmara de refrigeração com sensor. ..................................................................... 65�
Figura 48 – Esquema da câmara de refrigeração. ..................................................................... 66�
Figura 49 – Ganhos medidos e teóricos. ................................................................................... 67�
Figura 50 – Variação do ganho medido durante o processo de formação do gelo. .................. 68�
Figura 51 – Variação do ganho do gelo com a frequência e o tempo. ..................................... 68�
Figura 52 – Processo de formação do gelo, sendo (a) em 0 minutos, (b) em 19 minutos, (c)
em 38 minutos (d) em 60 minutos. .......................................................................................... 69�
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Parâmetros da relaxação do gelo. ........................................................................... 27�
Tabela 2 – Parâmetros da equação de Cole-Cole para 25oC. ................................................... 28�
Tabela 3 – Comparativo entre os sinais. ................................................................................... 40�
Tabela 4 – Comparativo entre métodos de medição de impedância. ....................................... 43�
Tabela 5 – Valores de medidos de condutividade e teóricos de permissividade. ..................... 63�
LISTA DE SIGLAS
CA Corrente Alternada
CC Corrente Contínua
DIBS Discrete-Interval Binary Sequence
FFT Fast Fourier Transform
FMT Fast M Transform
LTI Linear Time Invariant
MLBS Length Binary Sequence
PRBS Pseudo Random Binary Sequence
LISTA DE SÍMBOLOS
� Amplitude do sinal chirp
� Constante calibrada da reta de ��
�� Elemento do sinal MLBS
� Parâmetro de distribuição de tempos de relaxação
� Susceptância
� Constante calibrada da reta de ��
� Fase
� Capacitor
�� Capacitor 1 do circuito equivalente da equação de Debye
�� Capacitor 2 do circuito equivalente da equação de Debye
�� Capacitor de realimentação
�� Valor binário 0 ou 1
�� Componente capacitiva da mpedância desconhecida ��
� Impulso
�� Clock
� Constante de Euler
� Permissividade
�’ Permissividade real
�” Permissividade imaginária
�� Permissividade no vácuo
�� Permissividade para � � �
�� Permissividade absoluta
�� Permissividade relativa
�� Permissividade estática para � � �
������ Permissividade estática para � � � da água
���� Permissividade estática para � � � do ar
��� Permissividade estática para � � � desconhecida
� Frequência
�� Constante 1 da equação do AD8307
�� Constante 2 da equação do AD8307
� Transformada de Fourier
��� Frequência inicial do sinal chirp
��� Frequência final do sinal chirp
��� Frequência de corte de filtro passa-alta
��� Frequência de corte de filtro passa-baixa
� Ganho
����� Ganho obtido para a água
��� Ganho obtido para o ar
�� Condutância
�� Ganho do amplificador operacional obtido com a impedância ��
� Corrente elétrica
� Amplitude da corrente i
� Representação fasorial de I
�� Parte imaginária de um número
� Fase da impedância
� Fase da corrente i
� Número imaginário
� Índice de um somatório
�� Fator geométrico
� Indutor
� Penetração do campo elétrico
� Número de bits
�� Período de um sinal MLBS
� Resistência elétrica
�� Resistência 1 do circuito equivalente da equação de Debye
�� Resistência 2 do circuito equivalente da equação de Debye
�� Coeficiente de correlação
�� Parte real de um número
�� Resistor de realimentação
�� Componente resistiva da mpedância desconhecida ��
� Condutividade
����� Condutividade da água
��� Condutividade do ar
�� Condutividade desconhecida
� Tempo
� Período
�� Deslocamento de tempo
�� Tempo de relaxação
�� Tempo em que ��� é alcançada em um sinal chirp
� Sinal de excitaçãoo
� Tensão senoidal
� Amplitude do sinal de tensão v
� Representação fasorial de v
�� Tensão medida
�� Tensão medida na fonte
�� Tensão na fonte
�� Tensão no gerador de sinais
�� Tensão de saída do amplificador logarítmico
���� Tensão de saída do amplificador operacional
� Fase da admitância
� Fase do sinal v
����� Módulo do espectro de potência de um sinal MLBS
� Frequência angular
� Reatância
� Admitância
�� Admitância de realimentação
�� Admitância parasita
�� Admitância desconhecida
� Impedância
�� Impedância conhecida 1
�� Impedância conhecida 2
�� Impedância conhecida 3
�� Impedância de realimentação
�� Impedância desconhecida
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 18 1.1 MOTIVAÇÃO .................................................................................................................... 18 1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 19 1.3 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 19 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 21 2.1 PROPRIEDADES ELÉTRICAS DE FLUIDOS ................................................................ 21 2.1.1 Impedância e permissividade complexa .......................................................................... 21 2.1.2 Espectroscopia de impedância ......................................................................................... 28 2.1.3 Sinais de multifrequências ............................................................................................... 29 2.2 TÉCNICAS DE MEDIÇÃO DE IMPEDÂNCIA .............................................................. 40 2.2.1 Medição Direta ................................................................................................................ 41 2.2.2 Circuito Ponte .................................................................................................................. 41 2.2.3 Métodos Ressonantes ...................................................................................................... 42 2.2.4 Comparativo entre os Métodos de Medição de Impedância ............................................ 43 3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 44 3.1 SISTEMA COMPLETO DE MEDIÇÃO ........................................................................... 44 3.2 HARDWARE ..................................................................................................................... 45 3.2.1 Sensor .............................................................................................................................. 46 3.2.2 Amplificador de Transimpedância .................................................................................. 48 3.2.3 Amplificador Logarítmico ............................................................................................... 49 3.3 ANÁLISE DE DADOS ...................................................................................................... 51 3.3.1 Software de controle ........................................................................................................ 51 3.3.2 Cálculo de parâmetros ..................................................................................................... 53 4 RESULTADOS ..................................................................................................................... 56 4.1 MEDIDAS DE VALIDAÇÃO ........................................................................................... 56 4.2 MEDIDAS DE SUBSTÂNCIAS CONHECIDAS ............................................................. 59 4.2.1 Fluidos ............................................................................................................................. 61 4.3 EXEMPLO DE APLICACAO ........................................................................................... 65 5 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 70 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 71 APÊNDICE A – Ganhos de todas as substâncias analisadas. .................................................. 74
18
1 INTRODUÇÃO
1.1 MOTIVAÇÃO
Atualmente é comum na indústria utilizar-se de uma variedade de sensores para
monitorar e, a partir destes, controlar operações e processos. Com isso, procura-se atingir um
alto grau de eficiência e segurança em plantas e processos. As variáveis de processo mais
comuns são temperatura, pressão e nível (LIPTAK, 2003).
Os dispositivos empregados, por exemplo termopares e manômetros,
normalmente medem uma única variável num ponto único no processo. Como os processos
em atividades industriais têm se tornado cada vez mais complexos, também são necessários
outros tipos de variáveis a serem monitoradas e consequentemente dispositivos e técnicas de
medição avançadas. Pode-se citar como exemplo a monitoração de reações de síntese de
produtos em reatores na indústria química e petro-química ou na identificação das fases em
um escoamento multifásico gás-óleo-água, típico nas atividades de produção de petróleo
(SCOTT, 2007).
A espectroscopia de impedância tem como objetivo monitorar e identificar qual a
substância que está presente em uma amostra, através da verificação do comportamento da
sua impedância elétrica em diversas frequências. Essa técnica apresenta muitas vantagens,
como ser pouco invasiva, ter simples implementação e um baixo custo. A espectroscopia de
impedância é uma alternativa para análise detalhada de substâncias em atividades industriais.
Entretanto, atualmente seu uso é ainda difundido apenas em rotinas de laboratório
(MACDONALD, 1987).
Para que seja possível utilizar a espectroscopia de impedância em ambientes
industriais, um primeiro passo é suprir a necessidade de um instrumento simples, robusto e de
baixo custo, ainda não disponível comercialmente.
19
1.2 OBJETIVOS
O objetivo desse trabalho é desenvolver um sistema simples e de baixo custo,
automatizado, com um sensor apropriado e que possibilite obter a resposta em frequência da
impedância de diferentes substâncias.
Para que isso seja realizado, é necessário determinar o sensor, o método de
medição de impedância e o sinal de excitação. Para que seja possível a realização das
medições de maneira automatizada é necessário o desenvolvimento de um painel de controle
no computador. Também devem ser testados os componentes eletrônicos utilizados no
circuito desenvolvido e os equipamentos utilizados, para que então seja possível a realização
de medidas de validação, que irão confirmar o correto funcionamento do sistema para que
outras substâncias possam ser medidas.
1.3 APRESENTAÇÃO
Essa dissertação está organizada, além da introdução, em mais quatro capítulos.
Abaixo, uma breve descrição do que é abordado em cada um deles.
No capítulo 2 são apresentados os princípios das propriedades elétricas dos
fluidos, com foco na impedância e sua dependência da permissividade e da condutividade do
material. Nesse capítulo são ainda descritos os principais sinais de excitação utilizados para
que seja realizada a espectroscopia, separados em discreto sequencial senoidal e simultâneos,
sendo eles: sinais de banda larga (chirp, PRBS, sinc, pulso) e multisenoidal. Uma breve
discussão sobre os principais métodos de medida de impedância também é abordada, com um
comparativo entre elas: medição direta, circuito ponte e método ressonante.
No capítulo 3 segue a metodologia utilizada para esse trabalho, sendo apresentado
o hardware, o software e a análise de dados desenvolvidos.
No capítulo 4 são analisados os resultados obtidos com as medições e exemplos
de aplicações do sistema desenvolvido. Como exemplo de aplicação, foi escolhida a
monitoração do processo de solidificação da água.
20
No capítulo 5 são apresentadas as considerações finais acerca do trabalho
realizado. São discutidos também algumas propostas de trabalhos futuros e possíveis
melhorias que poderão ser implementadas no sistema desenvolvido.
21
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Neste capítulo são apresentados os conceitos utilizados nos estudos sobre
propriedades elétricas de fluidos, bem como uma revisão dos trabalhos existentes na literatura
sobre o assunto. Na primeira parte do capítulo, são definidos os parâmetros de impedância e
permissividade complexa e uma revisão dos principais sinais utilizados em espectroscopia de
impedância. Em uma segunda parte são abordadas possíveis técnicas de medição de
impedância.
2.1 PROPRIEDADES ELÉTRICAS DE FLUIDOS
As substâncias apresentam propriedades elétricas e o foco deste capítulo é mostrar
aquelas mais importantes para a realização desse trabalho. São descritas a impedância e sua
relação com a permissividade e condutividade, assim como alguns princípios de
espectroscopia de impedância. Por estarmos focando em fluidos não magnéticos, a
propriedade magnética, ou seja, a permeabilidade, tem o valor de 1.
2.1.1 Impedância e permissividade complexa
A impedância é uma propriedade elétrica presente nos materiais que varia de
acordo com a tensão e a frequência aplicadas.
Conforme (ALEXANDER E SADIKU, 2011), será definida uma tensão senoidal
como aquela da Equação (1), sendo V o valor da amplitude do sinal, � a fase, t o tempo e � a
frequência angular, que se relaciona com a frequência f pela relação da Equação (2),
considerando � � � � onde T é o período do sinal senoidal.
� � ���� ��� � ���������������������������������������������������������������
22
� � ������������������������������������������������������������������������� �
Conforme a identidade de Euler da Equação (3) e sabendo que � � ��, a tensão
v da Equação (1) pode também ser escrita como a Equação (4), sendo Re a parte real.
���� � ����� ��������������������������������������������������������������������
� � �� �������� ������������������������������������������������������������������
Podemos utilizar a representação fasorial V para a tensão v, onde a Equação (4)
pode ser tratada como
� � ������������������������������������������������������������������������������
Pela lei de Ohm é possível afirmar que essa tensão aplicada em uma impedância Z
irá circular uma corrente
� � ���� ��� � ���������������������������������������������������������������������
Da mesma forma que a tensão, essa corrente pode ser fasorialmente representada
como
� � ���������������������������������������������������������������������������������
Assim temos a impedância em uma dada frequência definida como a relação da
Equação (8).
� ��
����
��
����� ��
���� ��
���������������������������������������������������������
23
A Figura 1 apresenta o plano complexo da impedância Z descrita na Equação (9).
A parte real da impedância é a resistência R e a componente imaginária é a reatância X,
apresentada como negativa, pois teremos apenas reatâncias capacitivas neste trabalho.
� � �� ����������������������������������������������������������������������������
Figura 1 – Plano complexo mostrando as relações
da impedância.
A magnitude |Z| da impedância é obtida pela Equação (10) e o ângulo � é
representado pela relação na Equação (11).
� � �� � �������������������������������������������������������������������
� � ������
�������������������������������������������������������������������
Ao invés da impedância, a admitância Y também pode ser utilizada. Esta
propriedade é definida como o inverso da impedância conforme a Equação (12). Na Equação
(13) pode-se visualizar a admitância em termos da condutância �� e da susceptância B.
� ��
����������������������������������������������������������������������������
� � �� � ������������������������������������������������������������������������
24
Da mesma forma que para a impedância, podemos facilmente obter a magnitude
e fase da admitância, conforme as Equações (14) e (15), respectivamente.
� � ���� �������������������������������������������������������������������
� � ������
��
�����������������������������������������������������������������
Outra característica de cada substância, a permissividade complexa �, depende da
frequência do campo aplicado e é definida com sua parte real e imaginária como a Equação
(16), sendo a relação �� �� a tangente referente às perdas do meio (SADIKU, 2006).
� � �� � ������������������������������������������������������������������������
Sendo a constante equivalente à permissividade no vácuo �� � ���� pF/m e �� a
permissividade relativa do material, a permissividade absoluta é definida como a Equação
(17).
�� � ���������������������������������������������������������������������������
Algumas substâncias apresentam o fenômeno de relaxação, que está relacionado
com a polarização, sendo o tempo de relaxação aquele necessário para os momentos dos
dipolos das moléculas voltarem a distribuição normal após ser retirado o efeito do campo
elétrico.
A teoria de Debye para dispersão e absorção em dielétricos descreve o fenômeno
de relaxação e é representada na Equação (18), onde �� e �� são os valores reais de limite da
permissividade complexa para frequências muito baixas e muito altas, � é a condutividade e
�� é o tempo de relaxação, sendo a frequência de relaxação definida como � ����
(MACDONALD, 1987).
� � �� ��� � ��
�� ����� �
�
���
��������������������������������������������������������
25
A permissividade complexa representada na Equação (18) pode ser separada em
suas componentes real e imaginária, conforme as Equações (19) e (20).
�� � �� � � �� ��� � ��
�� �������������������������������������������������������
�� � �� � ��
���
���� �� � ��
�� ����������������������������������������������������
A equação de Debye pode ser representada por um circuito elétrico equivalente,
conforme a Figura 2, sendo os resistores e capacitores definidos como nas Equações (21),
(22), (23) e (24).
Figura 2 – Circuito equivalente da equação de Debye.
�� ��
������������������������������������������������������������������������������
�� � ������������������������������������������������������������������������������
�� � ���� �� � �� ������������������������������������������������������������������
�� ���
��
���������������������������������������������������������������������������
Para que seja possível efetuar a medida da impedância de substâncias, é
necessário a utilização de uma célula de medição, sendo que a mais simples pode ser definida
26
como duas placas em paralelo. A admitância entre as placas do sensor capacitivo é definida
pela Equação (25), onde �� representa a constante geométrica do sensor. No caso de um
capacitor de placas paralelas, ���seria definido como a razão da área das placas pela distância
entre elas.
� � ��������������������������������������������������������������������������
Para boa parte das substâncias estudadas, tais como ar, água, óleo, etilenoglicol e
isopropanol, a frequência de relaxação apenas ocorre na região de GHz, por isso esse
fenômeno não precisa ser considerado, como consequência o valor de admitância em baixas
frequências para um líquido resulta na Equação (26) (SILVA, 2008).
� � �� � ��
������������������������������������������������������������������������
Através das Equações (25) e (26) é possível obter-se a Equação (27) para a
admitância.
� � �� �� ������ ����������������������������������������������������������������
Em algumas substâncias esse fenômeno não pode ser desconsiderado, como é o
caso do gelo. No caso desta substância, o fenômeno de relaxação existe em frequências em
torno de dezenas de kHz (PETRENKO e WITWORTH, 1999) .
Na Figura 3 tem-se a permissividade teórica do gelo puro, separada em partes real
e imaginária de acordo com as Equações (19) e (20), para temperatura de -0,1oC e de -10,8oC.
É possível ver que o fenômeno de relaxação ocorre em torno de 10kHz, por isso para essa
substância a admitância não pode ser simplificada para a Equação (27) e através das Equações
(18) e (25) obtém-se a Equação (28), que representa a admitância teórica do gelo (GOUWS,
2009).
Os valores dos parâmetros que devem ser utilizados para o gelo são apresentados
na Tabela 1 de acordo com a temperatura.
27
� � ������ �� ��� � ��
�� �����
��
���������������������������������������������������
Tabela 1 – Parâmetros da relaxação do gelo.
Temperatura [°C] �� �� �� [×���� s]
-0,1 91,5 3,10 2,2
-10,8 95,0 3,08 6,0
-20,9 97,4 3,10 16,4
Fonte: Modificada de (AUTY e COLE, 1952)
Figura 3 – Permissividade do gelo para diferentes temperaturas.
Algumas substâncias apresentam vários fenômenos de relaxação e não é possível
descrever essa distribuição de relaxações somente com a teoria de Debye, por isso ela pode
ser ampliada para a Equação (29), conhecida como a equação de Cole-Cole, sendo que � tem
valores entre 0 e 1 de acordo com a substância, representando os vários tempos de relaxação
(COLE e COLE, 1941).
28
� � �� ��� � ��
�� �������
�� ��
���
������������������������������������������������������
Na Tabela 2 são apresentados os valores dos parâmetros para algumas
substâncias.
Tabela 2 – Parâmetros da equação de Cole-Cole para 25oC.
Substância � �� �� �� [×����� s]
Ar - - 1 -
Água 0 78 5 8,08
Óleo 0,52 2,19 2,32 11,30
Etilenoglicol 0,23 37 3 79,57
Isopropanol 0 20 3,2 291,78
Fonte: Modificada de (SILVA, 2008)
2.1.2 Espectroscopia de impedância
A espectroscopia de impedância consiste em obter a resposta da impedância de
uma substância em várias frequências.
Na Figura 4 são apresentados espectros de impedância para três substâncias
hipotéticas A, B e C. É possível ver que cada uma delas possui um comportamento próprio na
frequência.
Existem pontos em que mais de uma substância possui o mesmo valor de
impedância, ou valores muito próximos, em que seria difícil conseguir distingui-las. Somente
ao se analisar vários pontos, ou seja, várias frequências, é possível diferenciar essas
substâncias, por isso que uma análise em diversas frequências é mais eficaz do que em apenas
uma (HOYLE e NAHVI, 2008).
29
Figura 4 – Espectros de três substâncias Fonte: Modificado de (HOYLE e NAHVI, 2008)
Para se realizar a espectroscopia de impedância é necessário fazer a escolha de um
sinal de excitação adequado para a tensão aplicada na substância presente no sensor e também
de um circuito apropriado para possibilitar a medição da corrente de saída do sensor. Nas
próximas seções é feita uma revisão de algumas técnicas de medição de impedância.
2.1.3 Sinais de multifrequências
Na Figura 5 é apresentado um diagrama com os sinais de excitação mais
utilizados em espectroscopia de impedância.
30
Figura 5 – Tipos de Sinais de multifrequências utilizados em espectroscopia de
impedância. Fonte: Modificado de (NAHVI e HOYLE, 2009)
a) Sinais Simultâneos de Banda Larga
Os sinais de banda larga descritos aqui serão: pulso, sinc, chirp e PRBS. Serão
apresentados os seus comportamentos no tempo e na frequência.
O impulso é definido como o limite de um degrau de área unitária conforme a
Equação (30) e Figura 6.
� � � ������
���� ������������������������������������������������������������������
31
Figura 6 – Impulso Fonte: Modificado de (HAYKIN, 2001)
A transformada de Fourier para um impulso dado em um tempo �� é apresentado
na Equação (31), que permite ter uma informação completa da saída de um sistema LTI
(Linear Time Invariant).
Para �� � � teríamos teoricamente o gráfico da Figura 7 como sua resposta em
frequência, constante para todos os valores de f. Porém, um sistema que gere um impulso que
tenha a magnitude tendendo à infinito em um intervalo de tempo tendendo à zero não é
facilmente implementado na prática.
� � � � �� � �������������������������������������������������������������������
Figura 7 – Espectro do impulso
Outro sinal também utilizado é o sinc, apresentado na Figura 8 no tempo e na
Figura 9 na frequência (HAYKIN, 2001).
32
Figura 8 – Sinal Sinc no tempo
Figura 9 – Espectro do sinal Sinc
Os dois sinais apresentados são de difícil implementação. Sinais mais práticos são
o chirp e o PRBS, explicados a seguir.
O sinal Chirp é determinado pela Equação (32), onde ��� é a frequência inicial, ���
a frequência final e �� o tempo em qual a frequência final será alcançada (NAHVI e HOYLE,
2009). Na Figura 10 tem-se um exemplo desse sinal, nesse caso variando entre 1 e 100 Hz, na
Figura 11 é apresentada a resposta em frequência desse sinal, que tem sua maior magnitude
nas frequências geradas.
� � � ���� �� ���� ��
�������
��
�� ������� � � � ����������������������������������
33
Figura 10 – Sinal Chirp com exemplo de parâmetros: �=1, ���=1, ���=100 e ��=1.
Figura 11 – Resposta em frequência do sinal Chirp para o exemplo.
O sinal PRBS (Pseudo Random Binary Sequence) consiste em uma sequência
binária que tem propriedades de ruído branco (LJUNG, 1998), ele pode ser MLBS (Maximum
Length Binary Sequence) ou DIBS (Discrete-Interval Binary Sequence).
Um sinal PRBS é MLBS se tem período �� � ��� � e se obedece à Equação
(33), sendo que �� tem o valor de 0 ou 1 e que � é o número de bits do shift register utilizado
para sua implementação. Na Figura 12 é apresentado o esquema básico de um circuito para
gerar um sinal MLBS.
34
�� � ������
�
���
������������������������������������������������������������������������
Figura 12 – Circuito para gerar MLBS Fonte: Modificado de (ROINILA, 2010)
Esses sinais são normalmente conectados ao sistema de forma a gerar um sinal
simétrico entre -1 e 1, com a media próxima à zero, conforme é visto na Figura 13, sendo esse
o sinal já analógico visto no domínio do tempo. Na Figura 14 é apresentado o módulo do
espectro de potência desse sinal ����� , sendo �� o valor do clock do sinal (ROINILA,
2009).
Figura 13 – Sinal MLBS Analógico Fonte: Modificado de (TAO SUN, 2007)
35
Figura 14 – Módulo do espectro de potência de um sinal MLBS. Fonte: Modificado de (ROINILA, 2009)
Na Figura 15 é apresentado um sistema que utiliza esse sinal. Para sua correta
interpretação, após passar pelo sistema a ser identificado, o sinal deve ser convertido de
analógico para digital e então feita a FMT (Fast M Transform) e em seguida FFT (Fast
Fourier Transform).
Figura 15 – Exemplo de Sistema Utilizando MLBS Fonte: Modificado de (TAO SUN, 2007)
O sinal PRBS também pode ser um sinal DIBS, podendo ser utilizado o mesmo
sistema para aplicar um sinal MLBS e um sinal DIBS, mudando apenas o método como é
gerado (ROINILA, 2009). O algoritmo não gera frequências com a mesma amplitude no sinal
36
DIBS, mas gera sinais com maior energia nas frequências desejadas do que o sinal MLBS. Já
ao longo do tempo, o sinal DIBS muda de valor com menor frequência do que o MLBS.
Nas Figuras 16 e 17 segue sinal PRBS gerado no domínio do tempo e na
frequência.
Figura 16 – Sinal PRBS no tempo com clock de 10ms, frequência de amostragem de 1kHz e
duração de 1s.
Figura 17 – Sinal PRBS no domínio da frequência.
Se for necessário trabalhar com todo o espectro, é mais indicado utilizar MLBS,
se forem utilizadas algumas frequências, o DIBS é mais indicado (SANCHEZ, 2012).
37
b) Sinais Simultâneos Multisenoidais
O sinal multisenoidal consiste na soma de senóides aplicadas simultaneamente,
conforme definido na Equação (34), sendo � o total de senóides, �� a amplitude, �� a
frequência angular e �� o ângulo para a senóide � (LJUNG, 1998).
� � � ����� ��� � ��
�
���
����������������������������������������������������
Na Figura 18 tem-se um sinal que corresponde à soma de senóides em três
frequências conforme a Equação (35). Na Figura 19 sua resposta em frequência, onde
claramente conseguimos identificar as três frequências.
� � � ������ ����� � ��� ������ � ������ ������ ����������������������������
Figura 18 - Sinal multisenoidal no tempo composto de três components conforme exemplo da
Equação (35).
38
Figura 19 – Sinal multisenoidal na frequência.
No caso de substâncias que exijam uma banda com frequências distintas
definidas, esse sinal é o indicado (NAHVI e HOYLE, 2009).
c) Sinal Discreto Sequencial
No sinal discreto sequencial são aplicadas senóides individualmente, obtendo-se
um espectro discreto, por isso é necessário ter uma quantidade de sinais suficientes para
garantir a resolução desejada e isso pode demandar mais tempo para a realização das medidas
(NAHVI e HOYLE, 2009).
Figura 20 – Sinal discreto sequencial senoidal com as frequências 10 Hz, 50 Hz e 100 Hz.
39
Na Figura 20 é apresentado um exemplo desse sinal com três frequências
aplicadas sequencialmente, sendo elas 10 Hz, 50 Hz e 100 Hz. Na Figura 21 tem-se o
espectrograma do sinal, mostrando em vermelho a frequência do sinal ao longo do tempo.
Figura 21 – Espectrograma do sinal discreto sequencial senoidal com as frequências 10 Hz, 50 Hz e
100 Hz.
d) Comparativo entre Possíveis Sinais de Excitação
Na Tabela 3 temos um comparativo entre os sinais apresentados, analisando a
banda de frequência, a exatidão e a velocidade do sistema para cada sinal.
40
Tabela 3 – Comparativo entre os sinais.
Características dos Sinais Banda Frequência Velocidade Complexidade
Senoidal Sequencial Alta Baixa Baixa
Multisenoidal Baixa Alta Média
Chirp Alta Alta Média
PRBS Média Alta Média
Pulso Alta Alta Alta
Sinc Média Alta Alta
Os sinais sinc e pulso são de difícil implementação prática, já o sinal PRBS e
chirp podem ser implementados e apresentam boa velocidade e banda. O sinal multisenoidal
tem boa velocidade, média complexidade, porém uma baixa banda de frequência.
Por ser um sistema de simples implementação e, no caso desse sistema não ser
necessária uma velocidade alta para a aquisição das medidas, foi escolhido o sinal sequencial
senoidal para a realização desse trabalho, já que ele pode fornecer a banda de frequência
desejada.
2.2 TÉCNICAS DE MEDIÇÃO DE IMPEDÂNCIA
O princípio básico para a medição de impedância consiste em se aplicar um
estímulo elétrico e verificar a resposta do sistema como definido diretamente na lei de Ohm,
que afirma que a razão entre a tensão aplicada e a corrente gerada é a impedância do sistema.
Para a faixa de frequência desse trabalho, até MHz, existem três métodos
principais para medida de impedância: medição direta, circuito ponte e método ressonante, os
quais serão detalhados a seguir (AGILENT, 2013).
41
2.2.1 Medição Direta
A impedância desconhecida �� pode ser obtida diretamente pelo circuito
apresentado na Figura 22, sendo R uma resistência conhecida e muito menor do que ��. A
medida �� é a tensão na impedância desconhecida e �� a tensão na fonte. Na Equação (36)
tem-se o valor resultante da impedância.
�� ���
�� � ��
��������������������������������������������������������������������
Figura 22 – Circuito para medição direta de impedância
2.2.2 Circuito Ponte
Na Figura 23 tem-se o esquema básico de um circuito ponte. Quando �� � �,
existe o equilíbrio e a relação entre a impedância desconhecida �� e as impedâncias
conhecidas ��, �� e �� é aquela apresentada na Equação (37).
��
��
���
��
�������������������������������������������������������������������������
42
Figura 23 – Circuito ponte para medida de impedância
Quando a ponte é operada desbalanceada, podemos determinar �� pela relação da
Equação (38), sendo �� a tensão aplicada pela fonte.
��
��
���
�� � ��
���
�� � ��
�����������������������������������������������������������
2.2.3 Métodos Ressonantes
Esse método utiliza o efeito ressonante de circuitos LC para determinar a
impedância, já que a frequência de ressonância �� tem o valor da Equação (39). Nesse método
pelo menos um dos valores, a indutância L ou a capacitância C, deve ser conhecido, assim
como a natureza capacitiva ou indutiva da impedância que será medida.
�� ��
�� �������������������������������������������������������������������������
43
Na Figura 24 tem-se um circuito RLC onde a frequência em R deve ser medida
quando ocorrer a situação de ressonância, com �� máximo.
Figura 24 – Circuito RLC usado em método ressonante
2.2.4 Comparativo entre os Métodos de Medição de Impedância
Na Tabela 4 tem-se um comparativos entre os métodos apresentados. O circuito
ponte e o método ressonante apresentam alta exatidão, porém baixa velocidade, já que
requerem ajustes e calibrações para cada medição. O método direto tem maior velocidade,
mas menor exatidão. Os três métodos apresentados são sensíveis a capacitâncias parasitas.
Em virtude das suas limitações, foi utilizado uma variação do método direto
conhecido como amplificador de transimpedância, que possibilita melhorar a exatidão e
insensibilidade às capacitâncias parasitas. Esse método será detalhado na seção 3.2.2.
Tabela 4 – Comparativo entre métodos de medição de impedância.
Características dos Métodos Exatidão Velocidade Capacitâncias Parasitas
Medida Direta Baixa Alta Sensível
Circuito Ponte Alta Baixa Sensível
Método Ressonante Alta Baixa Sensível
44
3 METODOLOGIA
Neste capítulo será descrito inicialmente o sistema completo de medição, sendo
então detalhado cada componente desse sistema desenvolvido e o método para análise dos
dados.
3.1 SISTEMA COMPLETO DE MEDIÇÃO
Na Figura 25 é apresentado o digrama de blocos do sistema desenvolvido. O
software no computador controla o gerador de sinais, que irá gerar o sinal que será aplicado à
célula de medição.
A célula de medição serve para ser inserida a substância sendo analisa. Em um
dos terminais é aplicado o sinal e no outro terminal tem-se o sinal de saída, que passa pelo
conversor de transimpedância para que a corrente seja convertida em tensão.
A tensão de saída do amplificador de transimpedância passa pelo amplificador
logarítmico para que seja detectada sua amplitude e feita a conversão do sinal alternado para
contínuo.
O sinal é então lido pela placa de aquisição de dados, que irá fazer a conversão
analógico-digital para transmitir as informações medidas novamente ao software, que grava
os dados em um arquivo de texto para que sejam analisados.
45
Figura 25 – Diagrama de blocos do sistema
O gerador de sinais usado é o 81150A da Agilent, sendo conectado ao controle no
computador via USB (AGILENT TECHNOLOGIES, 2013).
A placa de aquisição de dados utilizada é a NI USB-6009 da National
Instruments, também conectada pela USB (NATIONAL INSTRUMENTS, 2012).
3.2 HARDWARE
O hardware utilizado consiste na célula de medição, o amplificador de
transimpedância e o amplificador logarítimo, assim como no gerador de sinais e na placa de
aquisição de dados.
46
3.2.1 Sensor
A célula de medição utilizada é um sensor interdigital, seu princípio de operação é
semelhante a um sensor de placas paralelas, em que é aplicada uma tensão nos eletrodos e a
impedância é medida. Na Figura 26 é apresentada uma transição entre esses dois tipos de
sensores, apresentando as linhas de campo elétrico.
Figura 26 – Transição do sensor de placas paralelas para interdigital Fonte: Modificado de (MAMISHEV, 2004)
O sensor planar interdigital utilizado para as medições realizadas nesse trabalho é
apresentado na Figura 27, na Figura 28 tem-se a disposição dos eletrodos desse sensor. Esse
sensor é baseado em um arranjo proposto por (LONGO, 2014).
Figura 27 – Sensor interdigital utilizado para as medições dos fluidos, aqui imerso na câmara de
refrigeração.
47
Figura 28 – Eletrodos do sensor interdigital.
A penetração do campo aplicado no sensor na substância sendo medida, definido
como �, pode ser determinado conforme a Figura 29, sendo E o emissor e R o receptor, aqui
sendo apresentada o sensor em corte axial. As linhas de campo são representadas entre os
eletrodos emissor e receptor. No sensor utilizado o valor de penetração desse campo é de 5
mm.
Figura 29 – Penetração do campo elétrico no sensor interdigital, representada por �, sendo E o eletrodo
emissor e R o eletrodo receptor do sensor. Fonte: Modificado de (MAMISHEV, 2004)
48
3.2.2 Amplificador de Transimpedância
Na Figura 30 é apresentado o amplificador de transimpedância, aplicação
aprimorada do método direto de medição de impedância, conforme seção 2.2, onde �� é a
tensão do gerador de sinais que é aplicada em uma das extremidades do sensor que contém a
substância desconhecida de impedância simplificada ��, com sua componente resististiva ��
e capacitiva ��.
Figura 30 – Amplificador de transimpedância.
Foi utilizado o amplificador operacional OPA656 da Texas Instruments, ele é
indicado para aplicações de transimpedância e é apropriado para a faixa de frequência
utilizada nesse trabalho, entre 100Hz e 10MHz (TEXAS INSTRUMENTS).
As Equações (40) e (41) mostram a impedância �� e a admitância �� , que
representam a impedância e a admitância do material juntamente com o sensor capacitivo. As
Equações (42) e (43) apresentam a impedância conhecida �� e admitância �� da malha de
realimentação do amplificador operacional, com ���= 4,7pF e �� � ���.
�� � �� � ��� � �� ��
��������������������������������������������������������������
�� ��
������������������������������������������������������������������������������
49
�� � �� � ��� � �� ��
���������������������������������������������������������������
�� ��
�������������������������������������������������������������������������������
A relação entre a tensão de saída medida ���� e a tensão aplicada �� em função da
impedância conhecida e da desconhecida vale
�� �����
��
� ���
��� �
��
���������������������������������������������������������
3.2.3 Amplificador Logarítmico
O sinal ���� da saída do OPA656 é aplicado ao amplificador logarítmico
AD8307, da Analog Devices. Antes do sinal entrar no AD8307, é necessário para a operação
desse circuito integrado que sejam utilizados capacitores para acoplamento, que criam o
comportamento de filtro passa-alta. Como a operação será em baixas frequências, também é
incluído um capacitor externo para ajustar o filtro passa-baixa interno do AD8307 para a faixa
de frequência trabalhada, reduzindo ruídos. A frequência de corte do filtro passa-baixa é
determinada por ��� � �������� e do filtro passa-alta por ��� � ��������.
O amplificador logarítmico utilizado é o AD8307, que pode ser utilizado desde
sinais contínuos ate 500MHz, mas tem seu principal uso nas frequências mais altas. O que
esse componente faz é obter um sinal de tensão ao seu equivalente em decibéis, por isso
também pode ser chamado de conversor ou demodulador logarítmico.
Na Figura 31 tem-se o demodulador logarítmico e os seus filtros. Na Equação
(45) a tensão de saída do demodulador, ��, em função de ����, assim como de �� e �� que
englobam as constante do AD8307 (ANALOG DEVICES).
50
Figura 31 – Demodulador logarítmico e filtros.
�� � �� ��� ���� � ���������������������������������������������������������
Para validar a curva teórica com o valor das constantes e levantar o
comportamento do AD8307, inicialmente foram feitas medidas apenas com o sistema da
Figura 31. Um sinal de tensão foi aplicado mantendo-se a frequência e variando a amplitude,
para verificar para cada tensão e frequência de entrada, qual era a tensão de saída do AD8307.
Através desse experimento, a curva teórica da Equação (45) pode ser calibrada e
comparada com os valores obtidos nas medições realizadas.
Na Figura 32 tem-se as curvas levantadas, sendo feita uma curva para cada uma
das seguintes frequências: 10 Hz, 30 Hz, 70 Hz, 100 Hz, 300 Hz, 700 Hz, 1kHz e 1MHz. No
eixo x constam as tensão de entrada aplicadas e no eixo y a tensão de saída medida.
Esse experimento é importante pois através dessas curvas é possível obter-se a
calibração de interceptação da curva teórica, assim como validar a utilização do AD8307 em
baixas frequências.
51
Figura 32 – Curva do AD8307, com a frequência em Hz no eixo x e a magnitude medida na
saída em mV no eixo y.
3.3 ANÁLISE DE DADOS
Neste item serão apresentados os procedimentos de análise de dados realizados no
trabalho. Inicialmente é apresentado o sistema de controle desenvolvido para automatizar as
medições e em seguida a análise realizada para levantamento de parâmetros necessários para
o cálculo da admitância a partir dos valores de tensão medidos.
3.3.1 Software de controle
Através do Labview foi desenvolvido um painel de controle para que seja possível
realizar as medições das tensões de saída de maneira automatizada, apresentado na Figura 33.
No painel de controle é possível iniciar e parar a varredura de frequência do
gerador de sinais, selecionar o arquivo onde serão gravados os dados, assim como a amplitude
��
����
�����
�����
�����
�����
�� ��� ���� ����� ������ �������
����������������� �
�����
������������������������������ ������
����� ����������
������
������
������
�������
�������
�������
������
������
52
pico-a-pico e a tensão de offset do sinal que será gerado. São apresentadas também barras de
progresso e um gráfico onde os último valores medidos são plotados.
A Figura 34 apresenta o fluxograma básico do sistema de controle desenvolvido
em Labview. Ao ser iniciado, são feitas as configurações do gerador de sinais e também da
placa de aquisição de dados, gerando o sinal que é aplicado ao sensor. O sinal de saída do
demodulador é lido através da placa de aquisição de dados. Esses valores são então gravados
em um arquivo de texto e a sequência se repete até ser finalizada a varredura.
No sistema atual são feitas dez medições para cada década de frequência, sendo o
tempo total para uma varredura entre 100Hz e 10MHz de 92 segundos. Os parâmetros de
faixa de frequência utilizada na varredura e velocidade de aquisição dos dados podem ser
alterados dependendo da aplicação.
Figura 33 – Painel de controle do sistema de medicão.
53
Figura 34 – Fluxograma do software desenvolvido.
3.3.2 Cálculo de parâmetros
A partir dos valores medidos da tensão de saída CC �� é possível calcular a
amplitude da tensão de saída CA do amplificador de transimpedância ���� pelas Equações
(50) e (51).
Tendo o valor de ���� e da tensão de excitação conhecida �� que foi aplicada em
um dos terminais do sensor, obtemos o ganho para aquela substância pela Equação (46).
�� �����
��
�����������������������������������������������������������������������
Conforme a Equação (44) é possível também afirmar que o ganho é a relação
entre a admitância da substância �� e a admitância �� do circuito. Porém na Equação (44) não
54
são consideradas as capacitâncias parasitas do sistema, representadas por ��, que ao serem
consideradas dão origem a Equação (47).
�� ��� � ��
��
�������������������������������������������������������������������
Considerando uma substância com �� definido pela Equação (27), podemos
representar a Equação (47) como
�� ���
��
��� � � ������
��
��������������������������������������������������������
�� ���
��
��� � � ������
��
���������������������������������������������������
� ���
��
�����������������������������������������������������������������������
� ���
��
�����������������������������������������������������������������������
Obtemos então a magnitude conforme a Equação (49) e definimos as constantes
das Equações (50) e (51), que são dependentes da frequência.
Assim é definida uma reta para cada frequência analisada
�� � � � � � � ������ ���������������������������������������������������
Para que sejam calibrados os valores de a e b são utilizadas duas substâncias de
referência, sendo elas ar e água deionizada nesse trabalho.
55
Assim é obtido o sistema de duas equações
��� � � � � ��� � ��������
����� � � � � ����� � ����������
������������������������� ����������������
onde os valores de permissividade são teóricos e os valores de condutividade são
medidos e a frequência angular � é conhecida.
56
4 RESULTADOS
Neste capítulo serão apresentados os resultados obtidos. São discutidas as
medidas de validação realizadas com admitâncias e substâncias conhecidas, através de um
comparativo entre os valores medidos e esperados. Adicionalmente são apresentados os
exemplos de aplicações do sistema desenvolvido.
4.1 MEDIDAS DE VALIDAÇÃO
As medidas de validação foram realizadas com um circuito de resistor e capacitor
em paralelo assumindo �� e �� substituindo o sensor, como na Figura 30.
Foram utilizados os seguintes valores comerciais:
• �� � ��� e �� � ����
• �� � ����� e �� � ����
• �� � ����� e �� � �����
• �� � ����� e �� � ����
Os valores reais dos componentes foram medidos com um medidor de LCR de
precisão da Agilent E4980A.
A partir dos valores medidos de ��, foram calculados os ganhos de cada malha,
que são mostrados na Figura 35, onde oram feitas medidas de 100 Hz até 1MHz. Os valores
estabilizados dos ganhos observado nos platôs em 100Hz podem ser considerados como os
limites para � � �, onde foi plotada a relação linear do ganho com a condutividade. Os platôs
em 1MHz podem ser considerados os limites para � � �, onde foi plotada a relação também
linear do ganho com a capacitância.
57
Figura 35 – Comparativo dos ganhos esperados e medidos
A partir dos valores teóricos e valores medidos de ganho foi verificada a variação
entre esses dados, que não ultrapassou 20% conforme a Figura 36.
Figura 36 – Relação entre o ganho medido e o ganho teórico
58
É possível verificar-se o comportamento de cada combinação de resistor e
capacitor medida nos platôs da Figura 35: na frequência mais baixa (100Hz) e na mais alta
(1MHz). Essa visão é apresentada nas Figuras 37 e 38.
Figura 37 – Ganho e condutividade em baixa frequência, sendo considerados os
valores medidos dos componentes: A) 2M2 e 10p, B) 1M e 10p, C) 470k e 4p7 e D) 470k e 10p.
Figura 38 – Ganho e capacitância em alta frequência, sendo considerados os
valores medidos dos componentes: A) 470k e 4p7, B) 2M2 e 10p, C) 470k e 10p e D) 1M e 10p.
59
Os valores de ganho medidos foram comparados com os valores de ganho
esperados teoricamente, mostrando-se consistentes.
4.2 MEDIDAS DE SUBSTÂNCIAS CONHECIDAS
Foram feitas medidas de alguns fluidos diferentes e de valores teóricos de
condutividade e permissividade conhecidos, para que fosse possível validar as medições
realizadas pelo sistema, sendo feitas medições de 100 Hz até 10 MHz, ou seja, acima da
frequência de corte do filtro do amplificador logarítmico, apenas para investigação.
As substâncias medidas foram:
• Ar
• Água deionizada
• Água deionizada em mistura com água da torneira
• Isopropanol
• Etilenoglicol
• Óleo de silicone
As medidas das substâncias líquidas foram realizadas em uma célula de medição
com a cuba perpendicular ao sensor interdigital, como na Figura 39. Já as medidas de gelo, a
cuba utilizada é paralela ao sensor, conforme a Figura 40, para que possa ser mergulhada na
câmara de refrigeração.
A fim de comparar as medidas com as duas cubas e a influência da temperatura,
foram analisadas as curvas de ganho do ar para três situações:
- Ar em temperatura ambiente e sensor com cuba perpendicular;
- Ar em temperatura ambiente e sensor com cuba paralela; e
- Ar resfriado e sensor com cuba paralela.
60
Figura 39 – Célula de medição com cuba perpendicular
Figura 40 – Célula de medição com cuba paralela
Os resultados obtidos estão na Figura 41, onde é possível ver que o ganho obtido
com as diferentes medições foi muito similar, sendo possível então comparar-se os valores de
substâncias medidas nas diferentes cubas.
61
Figura 41 – Medições do ar com as diferentes cubas
4.2.1 Fluidos
A partir das medidas realizadas com as diferentes substâncias foram calculados os
valores de ganho. Nas Figuras 42 e 43 é possível ver o comportamento de a e b obtido com as
medidas realizadas para as frequências a partir de 100Hz até 10MHz calibrado com o ar e a
água deionizada, conforme retas de calibração propostas na Equação (53).
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Figura 42 – Constante a da reta de ganho para cada frequência.
Figura 43 – Constante b da reta de ganho para cada frequência.
Na Figura 44 tem-se o comparativo entre os ganhos obtidos com os valores
medidos e os ganhos teóricos, baseados na Equação (52), utilizando-se os valores medidos de
condutividade e teóricos de permissividade conforme a Tabela 5 (SILVA, 2008).
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Figura 44 – Comparativo entre ganho esperado e medido em fluidos analisados.
Tabela 5 – Valores de medidos de condutividade e teóricos de permissividade.
Substância � ��
Ar 0 1
Óleo 0 2,22
Etilenoglicol 0,00018 37,7
Isopropanol 0,000006 18,6
Água deionizada 0,00025 79
Água deionizada em mistura com água da torneira 0,004 79
Os valores de ganho dos platôs em frequência baixa (100 Hz) e em frequência alta
(1MHz) foram plotados nas Figuras 45 e 46, sendo apresentada a relação do ganho em baixas
frequências, resistivo, e em altas frequências, capacitivo.
Esses ganhos podem ser relacionados por uma reta com a condutividade e com a
permissividade, com os valores de �� próximos de 1, indicando a linearidade do sistema nos
dois platôs.
64
Figura 45 – Ganho obtido experimentalmente e condutividade em baixa frequência (100 Hz).
Figura 46 – Ganho obtido experimentalmente e permissividade em alta frequência (1 MHz).
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65
4.3 EXEMPLO DE APLICACAO
Com as extrações de petróleo realizadas no fundo do mar, pode acontecer a
formação de hidratos dentro de tubulações, que pode ocorrer quando o gás natural entra em
contato com a água em baixas temperaturas e altas pressões. Esses hidratos podem causar
obstruções ou entupimentos dos dutos, por isso é importante identificar sua formação. O
entendimento do processo de formação de hidratos pode auxiliar engenheiros de campo a
evitar situações em que esse fenômeno possa ocorrer.
Como as estruturas dos hidratos contém 85% de água na sua composição
molecular, podemos dizer que suas propriedades mecânicas são semelhantes às do gelo
(SLOAN E KOH, 2008). Nesse trabalho foram investigadas as propriedades elétricas da
formação do gelo, a fim desse estudo poder ser empregado também nos estudos de formação
de hidratos.
Foram realizadas medidas ao longo do processo de formação do gelo. O sensor
interdigital foi preenchido com água deionizada e inserido em uma câmara para refrigeração à
-20oC, conforme a foto da Figura 47.
Figura 47 – Câmara de refrigeração com sensor.
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A câmara de refrigeração utilizada segue a estrutura apresentada na Figura 48, que
consiste em um compressor, um condensador, uma válvula de expansão, assim como um
ventilador e uma serpentina, que é mergulhada em álcool.
Figura 48 – Esquema da câmara de refrigeração. Fonte: Fornecida pelo professor Paulo Santos.
Para que fossem obtidas as curvas de ganho teóricas, foram utilizadas as medidas
do ar e da água deionizada como calibração, na Figura 49 tem-se o comparativo entre a curva
esperada e medida do gelo. A Equação (28) foi utilizada para traçar a curva teórica do gelo,
juntamente com os parâmetros para -0,1oC da Tabela 1, que é a temperatura de formação do
gelo. Pode-se observar que os valores obtidos estão próximos daqueles esperados na teoria.
Como não foi possível monitorar a temperatura durante a formação do gelo, pode
ser que esteja diferente de -0,1oC, sendo assim uma fonte de incerteza, já que o valor de ��
varia com a temperatura. Entretanto, o objetivo do experimento era demonstrar a
aplicabilidade do sistema em uma situação de monitoração de substância apresentando o
fenômeno de relaxação.
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Figura 49 – Ganhos medidos e teóricos.
Ao longo do processo de formação do gelo foi verificada a variação da curva de
ganho. Nas Figura 50 e 51 é possível ver o processo de formação do gelo a partir de água
deionizada, sendo possível ver a alteração no espectro do ganho obtido durante o processo. As
imagens realizadas durante o experimento são apresentadas na Figura 52.
Aos 0 minutos estava presente no sensor água deionizada em temperatura
ambiente. Nos valores de ganho apresentados dos 6 aos 12 minutos a água é resfriada na
câmara, já apresentando diminuição da condutividade. Nas medições de 17 e 19 minutos
temos a cristalização e expansão da água, e a partir dos 25 minutos já está presente uma
camada de gelo no sensor.
Esse experimento demonstra ser possível o uso desse sistema para monitoração do
processo de formação do gelo.
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Figura 50 – Variação do ganho medido durante o processo de formação do gelo.
Figura 51 – Variação do ganho do gelo com a frequência e o tempo.
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Figura 52 – Processo de formação do gelo, sendo (a) em 0 minutos, (b) em 19 minutos, (c) em 38 minutos
(d) em 60 minutos.
(a) (b)
(c) (d)
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5 CONCLUSÃO
A espectroscopia de impedância é uma alternativa como técnica de medição
avançada a ser aplicada em processos industriais, podendo auxiliar na identificação de
substâncias, sendo assim uma ferramenta importante para garantir a eficiência e segurança em
processos industriais.
Nesse trabalho foi desenvolvido um sistema de medição automatizado que
possibilita obter o espectro de impedância de diferentes substâncias. Para tanto foi criado um
painel de controle que a partir de um computador controla o gerador de sinais e a placa de
aquisição de dados. O sinal de excitação do gerador, discreto sequencial senoidal, é conectado
à célula de medição, nesse caso utilizado um sensor planar interdigital. O outro terminal da
célula de medição é conectado ao circuito para medição de impedância, nesse trabalho foi
utilizado o amplificador de transimpedância, uma variação do método direto. Esse sinal passa
pelo amplificador logarítimo para ser demodulado e é então lido na placa de aquisição de
dados. Foi também desenvolvida uma metodologia de calibração que torna possível a
obtenção da magnitude da permissividade complexa em fluidos. É esse o parâmetro que
permite a identificação dos diferentes fluidos em contato com o sensor e através do espectro
medido, é possível identificar a substância que está presente na célula de medição.
Como validação do sistema, foram medidos resistores e capacitores conhecidos, e
também algumas substâncias de referência, sendo elas: ar, água, isopropanol, etilenoglicol e
óleo. Os resultado obtidos apresentam concordância com dados da literatura. Como exemplo
de aplicação, foi monitorado o processo de formação de gelo a partir de água deionizada.
Em trabalhos futuros pode ser realizado o estudo dos resultados com métodos de
regressão não linear, possibilitando melhor identificação dos parâmetros de cada substância.
Como contribuição deste trabalho, tem-se a disponibilização de um sistema de medição
simples para obtenção do espectro de impedâncias em fluidos. Desta forma, podendo esse
sistema ser aplicado em estudos futuros do comportamento de substâncias. Esse trabalho
fornece um primeiro passo para o desenvolvimento de um sistema para uso industrial baseado
em espectroscopia de impedância.
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REFERÊNCIAS
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72
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73
Analysis and Practical Considerations, Measurement Science and Technology, Volume 18, 2007. TEXAS INSTRUMENTS. OPA656 Datasheet, Wideband, Unity-Gain Stable, FET-Input, Operational Amplifier.
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APÊNDICE A – Ganhos de todas as substâncias analisadas.