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DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE DE OTIMIZAC ¸ ˜ AO DE ESTRUTURAS EM P ´ ORTICO UTILIZANDO O M ´ ETODO DE ELEMENTOS FINITOS Carlos Eduardo Fernandes Paiva Projeto de Gradua¸c˜ao apresentado ao Curso de Engenharia Mecˆanica da Escola Polit´ ecnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necess´arios ` aobten¸c˜ ao do ıtulo de Engenheiro. Orientador: F´ abio da Costa Figueiredo Rio de Janeiro Mar¸co de 2019

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  • DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE DE OTIMIZAÇÃO DE ESTRUTURAS

    EM PÓRTICO UTILIZANDO O MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS

    Carlos Eduardo Fernandes Paiva

    Projeto de Graduação apresentado ao Curso

    de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

    parte dos requisitos necessários à obtenção do

    t́ıtulo de Engenheiro.

    Orientador: Fábio da Costa Figueiredo

    Rio de Janeiro

    Março de 2019

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    Departamento de Engenharia Mecnica

    DEM/POLI/UFRJ

    DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE DE OTIMIZAÇÃO DE ESTRUTURAS

    EM PÓRTICO UTILIZANDO O MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS

    Carlos Eduardo Fernandes Paiva

    PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO

    DE ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE

    DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

    ENGENHEIRO MECÂNICO.

    Aprovada por:

    Prof. Fábio da Costa Figueiredo, D.Sc.

    Prof. Lavinia Maria Sanabio Alves Borges, D.Sc.

    Prof. Fernando Pereira Duda, D.Sc.

    RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

    MARÇO DE 2019

  • Fernandes Paiva, Carlos Eduardo

    Desenvolvimento de Software de Otimização de

    Estruturas em Pórtico Utilizando o Método de Elementos

    Finitos/ Carlos Eduardo Fernandes Paiva. – Rio de

    Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica, 2019.

    XV, 78 p.: il.; 29, 7cm.

    Orientador: Fábio da Costa Figueiredo

    Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

    Curso de Engenharia Mecânica, 2019.

    Referências Bibliográficas: p. 77 – 78.

    1. Método de Elementos Finitos. 2. Otimização

    de Estruturas. 3. Estruturas em Pórtico. 4.

    Materiais Compósitos. I. da Costa Figueiredo, Fábio. II.

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de

    Engenharia Mecânica. III. Desenvolvimento de Software de

    Otimização de Estruturas em Pórtico Utilizando o Método

    de Elementos Finitos.

    iii

  • A todos os membros da equipe Mi-

    nerva Aerodesign, para que este

    trabalho ajude a permitir voos

    mais altos. Avante Minerva!

    iv

  • Agradecimentos

    A Deus, por toda a minha vida, pela saúde e pelas oportunidades que me ofereceu.

    Aos meus pais, Francisco e Cećılia, por todo o esforço, dedicação, incentivo e

    exemplo que me ofereceram ao longo da minha vida, devo tudo o que sou a eles.

    Ao meu irmão, João Vı́tor, por todos os momentos divididos nessa vida, e pelos

    ensinamentos e experiências que nenhum outro irmão poderia oferecer.

    Aos meus avós, Maria Alice e Rosental, por todo o carinho e afeto que sempre

    tiveram por mim.

    À minha segunda famı́lia, Ana Paula, José Antônio, Tiago, Daniel e Raquel, por

    vários dos momentos mais felizes e divertidos da minha vida. Em especial, ao meu

    padrinho, José Antônio, meu exemplo maior para seguir a Engenharia Mecânica, e

    ao meu também padrinho, Tiago, pelas diversas vezes que dividimos experiências,

    frustrações e alegrias durante a faculdade.

    Aos professores Fábio Figueiredo, pela incansável dedicação para tornar este

    trabalho melhor e mais completo; e Lavinia Borges, pela orientação e direcionamento

    inicial do rumo tomado neste trabalho.

    A todos os professores da minha carreira estudantil, pela dedicação e empenho

    que me transmitiram ao longo da minha vida.

    Aos meus colegas de curso do grupo Bananada, por todos os trabalhos, aulas

    almoços, piadas e momentos vividos ao longo destes anos de Engenharia Mecânica.

    Aos meus colegas de equipe Minerva Aerodesign, por todas experiências pessoais

    e profissionais que inspiraram a ideia de um trabalho voltado para a equipe.

    A todos que, de alguma forma, ajudaram-me a ser quem eu sou.

    v

  • Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como

    parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico

    DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE DE OTIMIZAÇÃO DE ESTRUTURAS

    EM PÓRTICO UTILIZANDO O MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS

    Carlos Eduardo Fernandes Paiva

    Março/2019

    Orientador: Fábio da Costa Figueiredo

    Programa: Engenharia Mecânica

    A equipe Minerva Aerodesign representa anualmente a Universidade Federal do

    Rio de Janeiro na competição SAE Aerodesign, e é dividida em diversas áreas.

    Uma destas áreas é a de Estruturas, cuja tarefa de maior dificuldade é o projeto

    da estrutura da fuselagem da aeronave. Este trabalho visa facilitar o projeto da

    fuselagem, desenvolvendo um software capaz de calcular a rigidez da estrutura,

    segundo o método de elementos finitos, e otimizar os diâmetros dos elementos da

    estrutura, cujo material é o poĺımero reforçado de fibra de carbono. Desta forma,

    é posśıvel minimizar a massa da aeronave, garantindo que os fatores de segurança

    determinados sejam respeitados.

    vi

  • Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment

    of the requirements for the degree of Mechanical Engineer

    DEVELOPMENT OF PORTICO STRUCTURES OPTMIZATION SOFTWARE

    BASED ON THE FINITE ELEMENTS METHOD

    Carlos Eduardo Fernandes Paiva

    March/2019

    Advisor: Fábio da Costa Figueiredo

    Department: Mechanical Engineering

    The Minerva Aerodesign team represents the Federal University of Rio de Janeiro

    (UFRJ) in a annual competition, SAE Aerodesign. The team is divided into areas

    of knowledge, one of these being the Structural area, whose hardest task is the

    project of the fuselage’s structure. This paper aims to help on this task, developing

    a software capable of calculating the structure’s stiffness, according to the finite

    elements method, and to optimize the diameters of the structural elements, made of

    carbon fiber reinforced polymer. Thus, it is possible to minimize the aircraft’s mass

    while making sure that the safety factors previously set are respected.

    vii

  • Sumário

    Lista de Figuras x

    Lista de Tabelas xii

    Lista de Śımbolos e Abreviações xv

    1 Introdução 1

    1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

    1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

    1.3 Organização do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

    2 Componentes do VANT 5

    2.1 Fuselagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

    2.2 Tailboom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

    2.3 Estabilizadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    2.4 Asa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    2.5 Trem de Pouso Principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

    2.6 Bequilha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    2.7 Parede de Fogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

    2.8 Compartimento de Carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    3 Material e Métodos Utilizados 14

    3.1 Material . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

    3.1.1 Materiais Compósitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

    3.1.2 Dados do Material . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

    3.1.3 Teorias de Falha Macroscópica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    3.2 Método de Elementos Finitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

    viii

  • 3.2.1 Estruturas Treliçadas e em Pórtico . . . . . . . . . . . . . . . 18

    3.2.2 Análise de Elementos por Mola . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

    3.2.3 Análise de Elementos por Treliças . . . . . . . . . . . . . . . . 26

    3.2.4 Análise de Elementos por Pórtico . . . . . . . . . . . . . . . . 32

    3.3 Rotina de Otimização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

    3.4 Análise de Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

    3.4.1 Tipos de Tensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

    3.4.2 Tensão Axial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

    3.4.3 Análise das Tensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

    3.4.4 Análise da Condição Cŕıtica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

    4 Modelo Computacional 52

    4.1 Código e Linguagem Python . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

    4.2 Análise Estática x Dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

    4.3 Modelagem para Forças de Impacto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

    4.4 Determinação de Apoios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    4.5 Dados de Entrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

    4.5.1 Nós e Elementos da Estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

    4.5.2 Forças e Momentos Externos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

    4.5.3 Material . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

    4.5.4 Critérios de Falha e Análise de Pouso . . . . . . . . . . . . . . 64

    5 Simulações e Casos Estudados 65

    5.1 Validação do Programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

    5.2 Projeto 2015 - Cavaco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

    5.2.1 Análise para Vd = 2m/s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

    5.2.2 Análise para Vd = 1m/s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

    5.2.3 Análise para Vd = 0.5m/s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

    6 Conclusão 75

    Referências Bibliográficas 77

    ix

  • Lista de Figuras

    1.1 Modelo de Aeronave de 2015 - Minerva Aerodesign . . . . . . . . . . 1

    1.2 Fluxograma com os processos e decisões de projeto da equipe . . . . . 2

    2.1 Representação da aeronave projetada pela equipe e seus componentes 5

    2.2 Exemplo de fuselagem sem a presença de tailboom . . . . . . . . . . . 6

    2.3 Exemplo de projeto com tailboom tubular (2011) . . . . . . . . . . . . 7

    2.4 Exemplo de projeto com tailboom treliçado (2014) . . . . . . . . . . . 7

    2.5 Projeto dos estabilizadores utilizados pela equipe em 2014 . . . . . . 8

    2.6 Projeto da asa utilizada pela equipe em 2014 - Antes da entelagem . 9

    2.7 Foto da asa utilizada pela equipe em 2013 - Após a entelagem . . . . 9

    2.8 Comparativo entre configurações de Trem de pouso . . . . . . . . . . 10

    2.9 Foto do Trem de Pouso Principal do projeto de 2018 . . . . . . . . . 10

    2.10 Demonstração do impacto absorvido pela bequilha . . . . . . . . . . . 11

    2.11 Foto da bequilha utilizada pela equipe em 2014 . . . . . . . . . . . . 12

    2.12 Foto da parede de fogo utilizada pela equipe em 2017 . . . . . . . . . 12

    2.13 Foto do compartimento de carga utilizado pela equipe em 2017 . . . . 13

    3.1 Representação de estrutura de materiais compósitos . . . . . . . . . . 15

    3.2 Demonstração de Lâminas Unidirecionais . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    3.3 Exemplo de uma ponte com estrutura treliçada . . . . . . . . . . . . 19

    3.4 Mercedes-Benz Stadium - Exemplo de estrutura em Pórtico . . . . . . 19

    3.5 Exemplo de uma mola linear com forças aplicadas em cada nó . . . . 21

    3.6 Exemplo de uma associação de 2 molas lineares . . . . . . . . . . . . 23

    3.7 DCL da Estrutura da Figura 3.6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

    3.8 Exemplo 2D de um elemento de treliça . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

    3.9 Exemplo 3D de um elemento de treliça . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

    x

  • 3.10 Elemento sob flexão e direções tomadas como positivas para V e m . 32

    3.11 DCL de um corpo sofrendo flexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

    3.12 Conceito assumido para que a Equação 3.37 seja verdadeira . . . . . 34

    3.13 DCL de um elemento sofrendo torção . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    3.14 Sentidos tomados como positivos para m e φ . . . . . . . . . . . . . . 36

    3.15 Linhas radiais em uma barra antes e após a torção . . . . . . . . . . . 37

    3.16 Exemplo de uma barra sofrendo forças e momentos nas 3 direções . . 39

    3.17 Relação entre os sistemas local e global de um elemento . . . . . . . . 41

    3.18 Exceções da Equação 3.56 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

    3.19 Relação entre os valores de De e A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

    3.20 Relação entre os valores de De e Di . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

    3.21 Exemplo de seção transversal sofrendo flexão em duas direções . . . . 48

    3.22 Exemplo de tubo vazado submetido a um momento torsor . . . . . . 48

    4.1 Demonstração das forças sobre o VANT durante a decolagem . . . . . 53

    4.2 Demonstração das forças Lf e W em uma curva . . . . . . . . . . . . 54

    4.3 Diagrama V-n para o projeto de 2018 - FC: 3.0 . . . . . . . . . . . . 54

    4.4 Modelagem utilizada neste trabalho para o momento do pouso . . . . 57

    4.5 Modelagem da distribuição da força peso sobre cada elemento . . . . 58

    4.6 Modelagem para assossiação de forças de reação sobre cada nó . . . . 59

    4.7 Modelagem da rigidez do trem de pouso principal . . . . . . . . . . . 59

    4.8 Modelagem da rigidez do trem de pouso principal . . . . . . . . . . . 60

    4.9 Modelagem da rigidez do trem de pouso principal . . . . . . . . . . . 60

    4.10 Exemplo de fuselagem com nós e origem definidos . . . . . . . . . . . 63

    5.1 Modelagem de estrutura de exerćıcio resolvido . . . . . . . . . . . . . 66

    5.2 Modelagem de estrutura para validação do programa . . . . . . . . . 67

    5.3 Representação da configuração final da fuselagem do Projeto 2015 . . 69

    xi

  • Lista de Tabelas

    3.1 Valores das propriedades f́ısicas do PRFC . . . . . . . . . . . . . . . . 16

    3.2 Parâmetros relativos aos tubos de PRFC dispońıveis em mercado . . 17

    3.3 Caracteŕısticas das tensões analisadas sobre o elemento . . . . . . . . 49

    3.4 Valores das tensões normais e cisalhantes de cada elemento . . . . . . 49

    4.1 Valores de Fatores de Carga segundo Raymer . . . . . . . . . . . . . 55

    4.2 Valores de Fatores de Carga segundo Far-23 . . . . . . . . . . . . . . 55

    5.1 Valores dos deslocamentos axiais encontrados por Logan e pelo pro-

    grama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

    5.2 Valores dos dados de entrada do exerćıcio de validação . . . . . . . . 67

    5.3 Valores dos diâmetros externos e internos utilizados na validação . . . 68

    5.4 Valores dos deslocamentos encontrados pelo exerćıcio e pelo programa 68

    5.5 Parâmetros estruturais para a estrutura do Projeto 2015 - Vd = 2m/s 70

    5.6 Parâmetros estruturais para a fuselagem otimizada a partir do Projeto

    2015 - Vd = 2m/s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

    5.7 Parâmetros estruturais para a estrutura do Projeto 2015 - Vd = 1m/s 72

    5.8 Parâmetros estruturais para a fuselagem otimizada a partir do Projeto

    2015 - Vd = 1m/s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

    5.9 Parâmetros estruturais para a estrutura do Projeto 2015 - Vd = 0.5m/s 73

    5.10 Parâmetros estruturais para a fuselagem otimizada a partir do Projeto

    2015 - Vd = 0.5m/s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

    xii

  • Lista de Śımbolos e Abreviações

    (x, y, z)i Coordenadas cartesianas do nó i

    φ̂ij Rotação sobre o nó i em torno da direção j

    d̂ Deslocamentos Locais dos nós de um Elemento

    f̂ Esforços Locais sobre os nós de um Elemento

    k̂ Matriz de Rigidez Local

    m̂ij Momento sobre o nó i em torno da direção j

    F Conjunto de forças externas aplicado sobre os nós da estrutura

    ρ Massa Espećıfica do Material

    σA Tensão axial sobre um elemento

    σC Limite de resistência à compressão

    σF Tensão causada por flexão pura

    σTo Limite de resistência à torção

    σTr Limite de resistência à tração do material

    τT Tensão cisalhante causada por torção

    Ci cos(θi)

    De Diâmetro externo do tubo vazado

    Di Diâmetro interno do tubo vazado

    Fij Somatório das forças externas sobre o nó i, na direção j

    xiii

  • f(k)ij Força interna do elemento k aplicada sobre o nó i, na direção j

    FLeme Força do Leme

    FProf Força do Profundor

    FTr Força de Tração do motor

    FCS Fator de Carga de Solo

    Lf Força de Sustentação

    Mt Momento Fletor Total

    Ndf Número de Graus de Liberdade do Elemento

    Si sen(θi)

    Tr Matriz de Rotação

    Vd Velocidade de Descida

    wn Frequência Natural do Sistema

    ABS Acrilonitrila Butadieno Estireno

    CC Condições de Contorno

    DCL Diagrama de Corpo Livre

    E Módulo de Elasticidade

    EH Estabilizador Horizontal

    EV Estabilizador Vertical

    FC Fator de Carga

    FS Fator de Segurança

    K Matriz de Rigidez Global

    MEF Método de Elementos Finitos

    PRFC Poĺımero Reforçado com Fibra de Carbono

    xiv

  • SI Sistema Internacional de Unidades

    SLSQP Método de Otimização Sequential Least Squares Programming

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    V Esforço Cortante/Cisalhamento

    VANT Véıculo Aéreo Não Tripulado

    W Força Peso

    xv

  • Caṕıtulo 1

    Introdução

    1.1 Motivação

    Anualmente a SAE Brasil organiza uma competição entre alunos de engenharia

    de várias universidades do páıs e do exterior, desafiando-os a projetar e construir

    Véıculo Aéreo Não Tripulado (VANT). A SAE Brasil Aerodesign coloca como prin-

    cipal objetivo a construção de um avião com a maior eficiência estrutural posśıvel.

    Em outras palavras, os alunos são encorajados a desenvolver, dentro das restrições

    geométricas impostas por um regulamento, um VANT que pese o mı́nimo posśıvel e

    que consiga carregar o máximo de carga posśıvel. Além disso, para instigar inovações

    dos alunos, o regulamento da competição muda a cada edição, modificando signifi-

    cativamente o tamanho e formatos dos aviões de um ano para o outro [1]. Na Figura

    1.1, retirada de [2], observa-se o modelo da aeronave utilizada pela equipe Minerva

    Aerodesign na competição de 2015.

    Figura 1.1: Modelo de Aeronave de 2015 - Minerva Aerodesign

    1

  • Para melhor se organizarem, as equipes costumam dividir seus membros em

    diversas áreas de atuação, sejam elas de gestão ou de projeto. As áreas de projeto

    são: Aerodinâmica, Controle e Estabilidade, Elétrica, Desempenho, Plantas, Cargas,

    e Estruturas. Cada uma dessas áreas foca em uma particularidade do projeto, porém

    com integração suficiente para que se discuta e determine a melhor configuração

    do VANT, dados as restrições geométricas do regulamento de cada competição.

    Observa-se na Figura 1.2 apresenta um fluxograma demonstrativo de como funciona

    o projeto da equipe Minerva Aerodesign.

    Figura 1.2: Fluxograma com os processos e decisões de projeto da equipe

    2

  • Este projeto é focado na área de Estruturas, que é responsável por projetar os

    componentes da aeronave a fim de suportar todas as cargas aplicadas durante a

    decolagem, voo e pouso do avião. Uma das tarefas mais complicadas na área de

    Estruturas é o projeto da fuselagem, já que esta deve ser resistente o suficiente para

    suportar o impacto do pouso, ŕıgida o suficiente para não comprometer a estabili-

    dade da aeronave durante a decolagem e o voo, e ainda leve o suficiente para não

    comprometer a eficiência estrutural do projeto aerodinâmico.

    Existem diversos softwares capazes de simular e calcular os esforços internos

    da fuselagem, possibilitando otimizar a estrutura de acordo com a necessidade da

    equipe. Contudo, a utilização destes softwares requer que seu operador tenha um

    treinamento prévio bastante longo para os padrões da equipe, cujos membros ficam

    na equipe em torno de 2 anos, apenas. Esta dificuldade em adaptar os softwares

    existentes às necessidades da equipe motivou o desenvolvimento deste projeto.

    1.2 Objetivos

    Este trabalho pretende desenvolver um software de fácil utilização que gere uma fuse-

    lagem estruturada em tubos de Poĺımero Reforçado com Fibra de Carbono (PRFC),

    já que este é um material com uma boa relação entre resistência mecânica e massa

    espećıfica. O software será utilizado pela equipe Minerva Aerodesign, da Universi-

    dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a fim de reduzir o tempo necessário para o

    projeto da aeronave como um todo.

    O software foi estruturado para cumprir 3 etapas:

    • Recepção dos dados de entrada (Posição dos nós, forças e momentos aplicados,

    fatores de segurança (FS) mı́nimos)

    • Cálculo das matrizes de rigidez, tensões e margens de segurança para cada ele-

    mento e para a estrutura como um todo

    • Otimização da área de cada elemento para obtenção de menor massa posśıvel

    Dessa forma, o programa é capaz de entregar a menor área de seção posśıvel para

    cada tubo da fuselagem, de modo que o projeto como um todo tenha um FS maior

    ou igual ao valor estabelecido pela equipe, que será um dado de entrada do software.

    3

  • Considerando que todos os tubos têm área de seção e densidade linear constantes ao

    longo de seu comprimento, o programa terá como dados de sáıda a estrutura com

    a menor massa posśıvel, dentro de parâmetros determinados pela equipe, que é o

    objetivo final deste projeto.

    1.3 Organização do Trabalho

    Este trabalho foi dividido da seguinte forma:

    O caṕıtulo 2 trata dos componentes da aeronave projetada pela equipe, com

    comentários sobre como cada elemento atua durante o voo e como estes geram

    forças atuantes sobre a fuselagem.

    O caṕıtulo 3 trata sobre o material utilizado para a estrutura deste trabalho

    e suas propriedades, além de tratar sobre os métodos teóricos utilizados, como o

    método de elementos finitos, a rotina de otimização e a análise das tensões atuantes

    sobre cada elemento.

    O caṕıtulo 4 trata do modelo computacional desenvolvido e aplicado no pro-

    grama, além de tratar da utilização do programa em si. Serão comentadas as mo-

    delagens para as reações do impacto geradas no pouso da aeronave, além de como

    a estrutura deve ser apoiada para que se realize a análise pelo método de elementos

    finitos.

    O caṕıtulo 5 trata de simulações rodadas no programa, a fim de validá-lo e de

    analisar estruturas de anos anteriores de acordo com a modelagem deste trablaho.

    O caṕıtulo 6 encerra este trabalho com uma conclusão, uma análise da utilidade

    do programa e sugestões para trabalhos futuros.

    4

  • Caṕıtulo 2

    Componentes do VANT

    Para melhor compreensão da modelagem de estruturas e forças utilizadas neste

    trabalho, será comentado sobre alguns componentes da aeronave projetada pela

    equipe. Observa-se na Figura 2.1 uma das aeronaves projetadas pela equipe Minerva

    Aerodesign, destacando os componentes abordados neste trabalho. Todas as fotos

    deste caṕıtulo foram retiradas de [2].

    Figura 2.1: Representação da aeronave projetada pela equipe e seus componentes

    2.1 Fuselagem

    A fuselagem do VANT é o foco principal deste trabalho. Seu objetivo para a ae-

    ronave da equipe é servir como estrutura para armazenar e fixar o compartimento

    de carga e cada um dos outros componentes do avião. Existem diversos formatos

    5

  • e estruturas posśıveis para a fuselagem, porém, na história recente da equipe, a fu-

    selagem tem sido projetada em formato de paraleleṕıpedo, com estrutura treliçada.

    O formato de paraleleṕıpedo gera um maior arrasto do que o formato ciĺındrico,

    por exemplo, porém a equipe leva em consideração diversos outros fatores para a

    escolha deste formato, como as restrições geométricas da competição, além de custo

    e complexidade de construção.

    Figura 2.2: Exemplo de fuselagem sem a presença de tailboom

    2.2 Tailboom

    Tailboom é a estrutura que liga a fuselagem até os estabilizadores da aeronave.

    Entre 2012 e 2018, a equipe Minerva Aerodesign variou entre dois tipos diferentes de

    tailboom: Utilizar um tubo ŕıgido como tailboom, chamado de Boom tubular (Figura

    2.3); ou então expandir as treliças da fuselagem até os estabilizadores, chamado de

    Boom treliçado (Figura 2.4). A escolha do tipo de tailboom utilizado em cada

    ano varia de acordo com as necessidades e restrições de projeto. No caso de uma

    eventual escolha pelo tailboom treliçado, deve-se adicionar a estrutura do tailboom a

    este programa, junto com a estrutura da fuselagem, para que o diâmetro dos tubos

    necessários sejam calculados de forma precisa.

    6

  • Figura 2.3: Exemplo de projeto com tailboom tubular (2011)

    Figura 2.4: Exemplo de projeto com tailboom treliçado (2014)

    2.3 Estabilizadores

    Como o próprio nome sugere, os estabilizadores são superf́ıceis responsáveis por es-

    tabilizar a aeronave em caso de pequenas pertubações durante o voo. Usualmente,

    dividem-se essas superf́ıceis em Estabilizador Horizontal (EH) e Estabilizador Ver-

    tical (EV). Observa-se abaixo, na Figura 2.5, uma foto com os estabilizadores uti-

    lizados pela equipe em 2017. Nota-se que, em caso de restrição ou preferência

    construtiva, o EV pode ser dividido em duas ou mais superf́ıcies.

    7

  • Figura 2.5: Projeto dos estabilizadores utilizados pela equipe em 2014

    Em cada uma das superf́ıcies estabilizadoras, observa-se que há uma superf́ıcie

    móvel, que pode ser comandada pelo piloto em voo. No EH, essa superf́ıcie móvel

    é chamada de profundor, enquanto a superf́ıcie móvel do EV é chamada de leme.

    O dimensionamento de ambos é feito pela área de Controle e Estabilidade, que

    calcula as áreas de superf́ıcie necessárias e os esforços resultantes, que serão utilizados

    posteriormente neste trabalho. A equipe Minerva Aerodesign utiliza um software

    desenvolvido por [3], para reduzir o tempo necessário para cálculos de projeto.

    2.4 Asa

    A asa é a superf́ıcie responsável por gerar a sustentação necessária para que a aero-

    nave levante e se mantenha em voo. O formato da asa, tal qual os perfis utilizados

    para gerar essa sustentação, são determinados pela área de Aerodinâmica, que re-

    passa esses dados para que as áreas de cargas e estruturas dimensionem a longarina

    da asa e como essas forças e momentos são transferidos para a fuselagem em voo.

    Observa-se na Figura 2.6 um exemplo de uma asa utilizada pela equipe no ano de

    2014. Após a montagem da asa como visto na figura, faz-se a entelagem da asa, ou

    seja, cola-se um plástico em torno da asa, que é aquecido logo em seguida, dando

    a forma esperada da asa, como visto na Figura 2.7. Nota-se também na Figura 2.7

    8

  • que há uma superf́ıcie móvel em cada semi-asa. Estas superf́ıcies são chamadas de

    Ailerons, e são também controláveis pelo piloto.

    Figura 2.6: Projeto da asa utilizada pela equipe em 2014 - Antes da entelagem

    Figura 2.7: Foto da asa utilizada pela equipe em 2013 - Após a entelagem

    A área necessária para as superf́ıcies dos ailerons também são calculadas pela

    área de Aerodinâmica, porém sua intensidade é irrisória quando comparada pela

    sustentação gerada pela asa. Por essa razão, para efeitos práticos, ela é ignorada

    pelas áreas de Cargas e Estruturas.

    2.5 Trem de Pouso Principal

    Existem dois principais tipos de configuração de trem de pouso: o chamado trem

    de pouso convencional e o trem de pouso triciclo. Ambos podem ser observados na

    Figura 2.8. Entre os anos de 2012 e 2018, a equipe preferiu utilizar a configuração

    9

  • em triciclo. Isso ocorreu pois uma configuração convencional obrigaria a equipe a

    aumentar a resistência ao impacto dos estabilizadores, já que uma das rodas seria

    ali posicionada, e consequentemente de todo o tailboom, acarretando um aumento

    considerável do peso da aeronave.

    Utilizando a configuração em triciclo, pode-se projetar uma peça a ser posicio-

    nada à frente do VANT, junto do motor, que já necessita de uma estrutura mais

    robusta, capaz resistir às altas temperaturas geradas durante o voo. A configuração

    em triciclo possui dois componentes: O trem de pouso principal e a bequilha.

    Figura 2.8: Comparativo entre configurações de Trem de pouso

    O trem de pouso principal, comumente chamado apenas de trem de pouso, é

    responsável por absorver parte do primeiro impacto da aeronave com o chão no

    momento do pouso. Entre 2012 e 2018, a equipe utilizou como trem de pouso

    principal uma barra de Divinycell laminada com PRFC, sendo esta comprida o

    suficiente para se deformar elasticamente durante o pouso, reduzindo o impacto na

    fuselagem.

    Na Figura 2.9, observa-se uma foto do trem de pouso utilizado pela equipe no

    ano de 2018.

    Figura 2.9: Foto do Trem de Pouso Principal do projeto de 2018

    10

  • Na aviação comercial e militar, o trem de pouso é usualmente retrátil, havendo

    um mecanismo que o recolha para dentro da aeronave durante o voo. Isso acontece

    para que o trem de pouso exposto não gere um arrasto extra à aeronave. Contudo,

    no caso da equipe Minerva Aerodesign, visto que as velocidades de voo são muito

    menores que às encontradas na aviação comercial e militar, o arrasto gerado pelo

    trem de pouso exposto não é suficiente para que se justifique o projeto de um me-

    canismo de recolhimento do mesmo, o que acarretaria em uma fuselagem maior e

    mais pesada.

    2.6 Bequilha

    A bequilha é o segundo elemento da configuração de trem de pouso em triciclo.

    Entre 2012 e 2018, a equipe posicionou a bequilha logo abaixo do motor, por uma

    peça chamada Parede de Fogo. A bequilha tem por função absorver o impacto da

    segunda manobra de pouso, impacto esse que depende da velocidade de rotação que

    o piloto consegue dar à aeronave. Essa rotação é demonstrada na Figura 2.10.

    Figura 2.10: Demonstração do impacto absorvido pela bequilha

    Em uma situação ideal, o piloto realiza o pouso da maneira mais suave posśıvel.

    Contudo, dependendo das condições de voo no momento da competição, como

    condições climáticas, por exemplo, esse pouso nem sempre é tão suave quanto se

    espera. Essas diversas situações são levadas em consideração pela equipe para o

    dimensionamento da bequilha.

    Usualmente, a bequilha é projetada como um tubo de PRFC, sendo seu diâmetro

    dependente das condições de cada projeto.

    11

  • Figura 2.11: Foto da bequilha utilizada pela equipe em 2014

    2.7 Parede de Fogo

    A Parede de Fogo é uma peça projetada pela equipe para reter o motor e a bequilha.

    Usualmente, a equipe utiliza uma peça desenhada em computador e impressa por

    uma impressora 3D, utilizando como material o plástico Acrilonitrila Butadieno

    Estireno (ABS) . Esse material é suficientemente resistente a altas temperaturas, e

    a impressão 3D possibilita a equipe a projetar geometrias mais complexas, porém

    que atendam da melhor forma posśıvel as necessidades de cada aeronave.

    Figura 2.12: Foto da parede de fogo utilizada pela equipe em 2017

    12

  • 2.8 Compartimento de Carga

    O compartimento de carga, como o próprio nome sugere, é um reservatório onde

    a equipe prepara a carga a ser carregada pelo avião em cada bateria de voo da

    competição. De 2012 a 2018, o compartimento de carga foi projetado como uma

    caixa de metal que é fixada dentro da fuselagem do avião, sendo que a forma de

    fixação varia de acordo com as necessidades do projeto de cada ano. Abaixo, observa-

    se um exemplo de compartimento de carga utilizado pela equipe em 2017.

    Figura 2.13: Foto do compartimento de carga utilizado pela equipe em 2017

    13

  • Caṕıtulo 3

    Material e Métodos Utilizados

    Este caṕıtulo pretende descrever caracteŕısticas do Poĺımero Reforçado de Fibra de

    Carbono (PRFC), material dos tubos vazados utilizados nas estruturas das aerona-

    ves, além de explicar os métodos utilizados no software para o cálculo da rigidez e

    das tensões causadas na estrutura e a rotina de otimização de sua massa total.

    3.1 Material

    3.1.1 Materiais Compósitos

    Material compósito é aquele fabricado pela união de dois ou mais materiais, cha-

    mados de Matriz ou Reforço. As funções da matriz de um material compósito são

    dar a forma final do componente e fazer a ligação entre as fibras do reforço. Visto

    que o reforço é muito mais resistente que a matriz de um material compósito, este

    tem como função resistir aos esforços mecânicos transmitidos pela matriz. Uma vez

    fabricado, o produto final terá propriedades mecânicas com valores entre as propri-

    edades dos materiais que o compõem, possibilitando sua aplicação onde não seria

    recomendável a utilização de algum de seus constituintes isoladamente. [4]

    14

  • Figura 3.1: Representação de estrutura de materiais compósitos

    Segundo [5], um exemplo de material compósito é o Poĺımero Reforçado de Fibra

    de Carbono (PRFC), que utiliza resina Epóxi como matriz e fibras de carbono como

    reforço. O PRFC é utilizado na indústria aeronáutica desde a década de 1960, devido

    exatamente à sua boa relação entre resistência e peso. Por esse motivo, a equipe

    Minerva Aerodesign utiliza componentes de PRFC há vários anos. Este projeto,

    portanto, foi desenvolvido em função de tubos de PRFC comprados pela equipe.

    Como observado na Figura 3.2, retirada de [5], os tubos possuem fibras unila-

    terais na direção do seu comprimento. As propriedades de compósitos com esta

    configuração são ortotrópicas, com diferentes valores para as direções paralela e as

    duas perpendiculares à direção das fibras. Contudo, a partir de uma quantidade su-

    ficientemente grande de camadas de material na espessura do componente, o plano

    perpendicular às fibras tem propriedades efetivas isotrópicas, sendo chamados de

    materiais transversalmente isotrópicos. Neste trabalho, consideram-se os tubos de

    PRFC utilizados como transversalmente isotrópicos, propriedade confirmada pelo

    fabricante.

    Figura 3.2: Demonstração de Lâminas Unidirecionais

    15

  • 3.1.2 Dados do Material

    Como comentado na Seção 3.1.1, os tubos de PRFC são considerados como trans-

    versalmente isotrópicos, ou seja, existe um Módulo de Elasticidade Axial, Ea, e um

    Transversal, Et. Contudo, como será explicado no Caṕıtulo 4, apenas o valor de

    Ea terá qualquer influências nos esforços, sendo este chamado apenas de E . Além

    do Módulo de Elasticidade, devem ser informados os valores de massa espećıfica

    (ρ), Módulo de Cisalhamento (G) e Limites de Resistência à Tração (σTr) , à Com-

    pressão (σC) e à Torção (σTo) . Na Tabela 3.1, encontram-se os valores utilizados

    neste trabalho, fornecidos pelo fabricante dos tubos utilizados pela equipe. Con-

    tudo, é sugerido que sejam feitos ensaios sobre o material para que se confirmem

    estes valores.

    Tabela 3.1: Valores das propriedades f́ısicas do PRFC

    ρ (g/cm3) E (GPa) G (GPa) σTr (MPa) σC (MPa) σTo (MPa)

    1.76 11.03 5 62.05 52.12 12.74

    Os diâmetros internos (Di) e externos (De) dos tubos vazados serão definidos por

    meio do processo iterativo de otimização. Contudo, visto que não é economicamente

    viável fabricar tubos exclusivamente para as necessidades da equipe, deve-se adaptar

    o projeto em função dos valores de De e Di dispońıveis em mercado. Entre os anos

    de 2012 a 2018, a equipe adquire tubos vazados da mesma loja, cujos diâmetros

    dispońıveis não variaram ao longo deste peŕıodo. Criou-se a Tabela 3.2 com estes

    valores, que foram utilizados como diâmetros base para este programa.

    16

  • Tabela 3.2: Parâmetros relativos aos tubos de PRFC dispońıveis em mercado

    De (mm) Di (mm) A (mm2) I (mm4) J (mm4)

    2 1 2.36 0.74 1.47

    3 2 3.93 3.19 6.38

    4 2 9.42 11.78 23.56

    5 3 12.57 26.70 53.41

    7 5 18.85 87.18 174.36

    8 6 21.99 137.44 274.89

    10 8 28.27 289.81 579.62

    Vale ressaltar que o programa todo foi desenvolvido com todas as unidades se-

    guindo o Sistema Internacional de Unidades (SI). Contudo, para os dados de entrada,

    considerou-se mais simples utilizar as unidades mais usuais para cada caso. Assim

    que estes dados são adquiridos pelo programa, este converte todas as unidades para

    o SI, facilitando o entendimento dos cálculos para um futuro membro da equipe que

    venha a destrinchar o programa.

    3.1.3 Teorias de Falha Macroscópica

    Para analisar em que momento ocorre a falha de um elemento submetido a esforços

    nas 3 direções cartesianas, deve-se utilizar um dos chamados critérios de falhas,

    diversos deles sendo descritos em [5]. Segundo [6], os dois critérios de falha mais

    utilizados em materiais compósitos pela indústria são o Critério de Máxima Tensão

    e o Critério de Máxima Deformação, representando mais de 50% das situações in-

    dustriais. Neste trabalho, optou-se por utilizar o Critério de Máxima Tensão, visto

    que já são conhecidos os valores limites de tensão para o PRFC.

    O Critério de Máxima Tensão considera que ocorre a falha de um elemento

    quando, em qualquer ponto, uma das tensões normais ou cisalhantes do componente

    atinge seu valor limite, seja ele positivo ou negativo, de forma a garantir que o

    Fator de Segurança estabelecido seja cumprido. Estes valores limites devem ser

    adquidos por meio de diferentes ensaios em estado uniaxial de tensão. As equações

    17

  • computadas em código para este critério são expostas na Equação 3.1.

    |σx| < Xj/FS

    |σy| < Yj/FS

    |σz| < Zj/FS

    |τxy| < Q/FS

    |τxz| < R/FS

    |τyz| < S/FS

    (3.1)

    Sendo Ij o valor de tensão limite na direção I e sentido j, ou seja, se o ele-

    mento está submetido a tração ou compressão. Q, R e S são os valores limtes de

    cisalhamento em cada um dos planos cartesianos.

    3.2 Método de Elementos Finitos

    Nesta seção será analisado o Método de Elementos Finitos (MEF) , utilizado para os

    cálculos de rigidez, tensões e deslocamentos necessários para a rotina de otimização.

    Como este tópico não é tão difundido entre os alunos de Engenharia Mecânica,

    preferiu-se abordá-lo de forma mais abrangente, partindo desde sua análise mais

    simples até a modelagem deste trabalho. Todo este caṕıtulo foi baseado nos métodos

    descritos por [7]. Além disso, a implementação dos conceitos deste caṕıtulo no

    software desenvolvido segue os passos sugeridos por [8].

    3.2.1 Estruturas Treliçadas e em Pórtico

    Para determinar o tipo de análise do MEF a ser utilizado, deve-se primeiro deter-

    minar como modelar a estrutura analisada.

    Estruturas treliçadas são uma excelente solução para situações onde se faz ne-

    cessária uma alta rigidez e resistência a esforços, porém com baixo custo e peso

    estrutural. Define-se como treliça um componente composto de um arranjo estável

    de barras delgadas (elementos) interligadas por articulações rotuladas (nós) [9]. Fre-

    quentemente subdivide-se a estrutura em treliças de áreas triangulares, já que este

    18

  • formato não permite rotação livre de seus elementos. Por conta das articulações

    livres, pode-se considerar que não há reações de momento sobre os elementos. Além

    disso, as estruturas treliçadas são organizadas de forma a garantir que as forças ex-

    ternas sejam sempre aplicadas sobre nós, e não diretamente sobre algum elemento.

    Dessa forma, pode-se analisar os esforços sobre cada elemento como sendo apenas

    axiais. Um exemplo de uma estrutura treliçada encontra-se na Figura 3.3 (Retirada

    de [10]).

    Figura 3.3: Exemplo de uma ponte com estrutura treliçada

    Estruturas em pórtico são compostas vigas e colunas (elementos) conectadas por

    ligações ŕıgidas (nós). Os elementos da estrutura em pórtico diferem dos elementos

    de uma estrutura treliçada pois não necessariamente estão subdivididos em áreas

    triangulares, visto que suas conexões são ŕıgidas. Por conta disso, em uma análise de

    esforços, deve-se contabilizar esforços transversais ao elemento e reações de momento

    em cada uma das 3 direções ortogonais. Pode-se dizer, portanto, que a estrutura

    treliçada é um “caso particular” da estrutura em pórtico, onde os momentos e as

    forças transversais aos elementos são iguais a zero. Um exemplo de uma estrutura

    em pórtico se encontra na Figura 3.4 (Retirada de [11]).

    Figura 3.4: Mercedes-Benz Stadium - Exemplo de estrutura em Pórtico

    19

  • Entre 2012 e 2018, foram aproximadas as fuselagens dos aviões da equipe Minerva

    Aerodesign como estruturas treliçadas. Contudo, visando permitir uma modelagem

    mais abrangente e condizente com a realidade, escolheu-se desenvolver este projeto

    sobre estruturas em pórtico.

    3.2.2 Análise de Elementos por Mola

    Matriz de Rigidez

    A Matriz de Rigidez é o conceito base para todo o método a ser descrito neste

    caṕıtulo. Para um elemento, define-se uma Matriz de Rigidez Local (k̂) tal que:

    f̂ = k̂.d̂ (3.2)

    Onde f̂ são os esforços locais sobre os nós do elemento e d̂ são os deslocamen-

    tos dos nós do elemento. Diz-se ainda que o total de coeficientes em d̂ é igual ao

    Número de Graus de Liberdade (Ndf ) do elemento. Considerar-se-á que uma carac-

    teŕıstica é ”local”quando o sistema de referência está alinhado com o elemento, e

    ”global”quando o sistema de referência é o adotado para a estrutura como um todo.

    Neste trabalho, será considerado que o sistema de coordenadas local tem o eixo

    ”X”alinhado com o comprimento do tubo. Para diferenciar caracteŕısticas gerais e

    locais, será utilizado o śımbolo ”ˆ”para todas as caracteŕısticas locais ao longo deste

    trabalho. Além disso, serão utilizadas letras minúsculas para caracteŕısticas de um

    elemento, e letras maiúsculas para caracteŕısticas da estrutura como um todo.

    A maneira mais simples de aplicar o conceito de Matriz de Rigidez é aplicando-o

    a uma mola linear unidimensional posicionada sobre um plano. Sabe-se que uma

    mola linear resiste a esforços somente na direção do seu comprimento, segundo a Lei

    de Hooke.

    20

  • Figura 3.5: Exemplo de uma mola linear com forças aplicadas em cada nó

    Observa-se na Figura 3.5 que o elemento em questão possui dois nós, numerados

    como 1 e 2, e que há uma força e um deslocamento associados a cada um dos nós do

    elemento. Deseja-se estruturar uma equação matricial que relacione diretamente os

    esforços e os deslocamentos de cada nó. Para tal, pode-se montar a seguinte relação:

    f̂1xf̂2x

    = k11 k12k21 k22

    . d̂1xd̂2x

    (3.3)Onde kij é o coeficiente de linha ”i”e coluna ”j”da matriz de rigidez k̂ da mola.

    Para tornar conhecidos os coeficientes de k̂, deve-se aplicar os 4 primeiros passos dos

    chamados 7 Passos do MEF. Esses passos são necessários somente uma vez, visto

    que os coeficientes calculados terão a mesma equação para todas as molas. Os passos

    5, 6 e 7 estão relacionados aos esforços internos dos elementos para o caso de uma

    estrutura com mais de 1 elemento, e serão exemplificados ao longo deste trabalho.

    Passo 1 - Selecionar o Tipo de Elemento

    Analisa-se o sistema como um todo, considerando que um conjunto de forças

    externas F está sendo aplicado sobre os nós. Neste caso, o sistema é composto

    apenas por uma mola, como demonstrado na Figura 3.5.

    Passo 2 - Determinar uma Função de Alongamento

    Deve-se descrever o alongamento ao longo de um elemento estrutural por meio

    de uma função polinomial de grau (Ndf - 1). No caso da mola, visto que Ndf = 2,

    21

  • deve-se determinar que:

    û(x̂) = a1 + a2.x̂

    û(x̂) =[

    1 x̂].

    a1a2

    (3.4)Sendo û(x̂) o alongamento ao longo da mola. São conhecidos os alongamentos

    nos nós da mola, então pode-se utilizá-las como condições de contorno:

    û(0) = d̂1x = a1

    û(L) = d̂2x = a2.L+ d1x

    a2 =d2x − d1x

    L

    (3.5)

    Portanto, utilizando as Equações em 3.4 e 3.5:

    û(x̂) =d2x − d1x

    L.x̂+ d̂1x

    û(x̂) =[

    1− x̂L

    x̂L

    ].

    d1xd2x

    (3.6)

    Passo 3 - Determinar as relações alongamento/deslocamentos e es-

    forços/alongamento do elemento

    Os deslocamentos nodais d̂i produzem um alongamento total ∆L na mola, de tal

    forma que:

    ∆L = û(L)− û(0) (3.7)

    Utilizando-se das relações expostas na Equação 3.6, tem-se que:

    ∆L = d̂2x − d̂1x (3.8)

    Para uma mola, é sabido que F = k.∆L. Associando esta equação com a Equação

    3.8, tem-se:

    F = k.(d̂2x − d̂1x) (3.9)

    22

  • Passo 4 - Determinar a Matriz de Rigidez Elementar (k̂)

    Imaginando uma mola sofrendo esforços trativos, toma-se por convensão que há

    uma força F na direção positiva sobre o nó 2, e uma força F na direção negativa

    sobre o nó 1. Associando essa suposição com a Equação 3.9, tem-se:

    f̂1x = −F

    f̂2x = F

    F = −f̂1x = k.(d̂2x − d̂1x)

    F = f̂2x = k.(d̂2x − d̂1x)

    (3.10)

    Portanto:

    f̂1x = k.(d̂1x − d̂2x)

    f̂2x = k.(d̂2x − d̂1x) f̂1xf̂2x

    = k −k−k k

    . d̂1xd̂2x

    (3.11)

    Associando as Equações 3.3 e 3.11, nota-se que foram encontrados os coeficientes

    kij desejados.

    Associação de molas em estrutura 1D

    Como foi explicado anteriormente, os passos de 1 a 4 estão relacionados a apenas

    um elemento, enquanto os passos de 5 a 7 estão relacionados a uma estrutura com

    mais de 1 elemento.

    Para exemplificar a aplicação de todos os 7 Passos do MEF, tomar-se-á como

    exemplo o conjunto de molas a seguir. Neste trabalho, somente o exemplo de molas

    associadas em uma única direção será tratado como exemplo. Exemplos em 2D e

    3D serão desenvolvidos nas próximas seções:

    Figura 3.6: Exemplo de uma associação de 2 molas lineares

    23

  • Nota-se que todos os elementos estão alinhados na mesma direção. Por esse

    motivo, não se faz necessária a abordagem de direção local (ˆ). A partir da Figura

    3.6 e da relação encontrada na Equação 3.11, pode-se dar sequência aos 7 Passos do

    MEF:

    Passo 5 - Determinar a Matriz de Rigidez Global (K) e aplicar Condições de

    Contorno (CC)

    A Matriz de Rigidez Global é geradas a partir das matrizes de rigidez locais de

    cada uma das molas. Utilizando as relações encontradas na Equação 3.11 para as 2

    molas da Figura 3.6, tem-se que:

    f1xf3x

    = k1 −k1−k1 k1

    . d1xd3x

    (3.12) f3xf2x

    = k2 −k2−k2 k2

    . d3xd2x

    (3.13)Nota-se que o deslocamento d̂3x é o mesmo para as duas molas, visto que estas

    compartilham o mesmo nó 3. Além disso, deve-se identificar o Diagrama de Corpo

    Livre (DCL) da estrutura, como mostrado na Figura 3.7:

    Figura 3.7: DCL da Estrutura da Figura 3.6

    Nota-se que duas forças internas são identificadas sobre o nó 3, f(1)3x e f

    (2)3x , já que

    duas molas estão associadas no nó 3. Utilizando as relações descritas nas Equações

    3.12 e 3.13, é posśıvel utilizar-se do equiĺıbrio na estrutura para encontrar as 3 forças

    externas Fix :

    F1x = k1.d1x − k1.d3x

    F2x = k2.d2x − k2.d3x

    F3x = (−k1.d1x + k1.d3x) + (−k2.d2x + k2.d3x)

    (3.14)

    24

  • F1x

    F2x

    F3x

    =

    k1 0 −k10 k2 −k2−k1 −k2 k1 + k2

    .d1x

    d2x

    d3x

    (3.15)

    Determinar a matriz K por um método anaĺıtico de forças se torna bastante

    complicado à medida que começa-se a analisar estruturas com um maior número de

    elementos.No código do software deste programa, utilizou-se do método descrito por

    [8], que utiliza a chamada matriz de incidência. Esta é uma matriz de dimensões

    nX2, sendo n o número de elementos, onde determinam-se os nós iniciais e finais de

    cada elemento.

    Partindo desta matriz, pode-se expandir a matriz de rigidez elementar, como

    mostradas nas Equações 3.12 e 3.13, para uma matriz de dimensões mXm, sendo m

    o número de nós da estrutura, onde os coeficientes da matriz de rigidez elementar

    sejam posicionados de acordo com os nós daquele elemento, indicados pela matriz

    de incidência.

    Utilizando este método no exemplo da Figura 3.7, tem-se a matriz de incidência

    como na Equação 3.16:

    Incid =

    1 33 2

    (3.16)Onde a linha i representa o elemento i. Pode-se então expandir as matrizes

    de rigidez elementar. Neste exemplo, as matrizes expandidas estão expostas na

    Equação 3.17:

    K̂1 =

    k1 0 −k10 0 0

    −k1 0 k1

    K̂2 =

    0 0 0

    0 k2 −k20 −k2 k2

    (3.17)Onde as linhas e colunas j representam o nó j. Por fim, basta somar todas as

    matrizes de rigidez elementares expandidas. No exemplo acima, pode-se perceber

    que a matriz K descrita na Equação 3.15 é igual à soma das matrizes expandidas da

    Equação 3.17.

    25

  • Após conhecida K, deve-se aplicar as CC conhecidas. Neste exemplo, nota-se

    pela Figura 3.6 que d1x = 0. Aplicando esta CC, tem-se: F2xF3x

    = k2 −k2−k2 k1 + k2

    . d2xd3x

    (3.18)Passo 6 - Determinar os deslocamentos de cada nó

    Tendo posse da Equação 3.18 e dos valores de F2x; F3x; k1; e k2, é posśıvel en-

    contrar os deslocamentos d2x e d3x por meio de uma simples multiplicação matricial.

    Passo 7 - Determinar as forças internas de cada elemento

    Por último, conhecidos todos os deslocamentos nodais, é posśıvel retornar à

    Equação 3.18 e aplicar uma multiplicação matricial para que sejam conhecidas todas

    as componentes de F , inclusive as reações nos eventuais apoios. Feito isso, deve-se

    observar as relações entre as forças internas e externas, mostradas na Figura 3.7,

    para que sejam encontradas as forças internas sobre cada nó. Conhecidos os nós

    entre cada elemento, é posśıvel encontrar os esforços sobre cada elemento.

    3.2.3 Análise de Elementos por Treliças

    Uma estrutura treliçada, como explicado na Seção 3.2.1, é formada por um deter-

    minado número de barras delgadas, interligadas por meio de articulações rotuladas.

    Essa modelagem parte do prinćıpio que as barras sofrem reações e deslocamentos

    apenas na direção de seu comprimento, de maneira análoga às molas. Pode-se dizer,

    portanto, que a análise feita na Seção 3.2.2 é um caso particular da análise por

    treliças. Nesta análise, contudo, as barras utilizadas em estruturas treliçadas não

    costumam ser associadas com uma rigidez diretamente, sendo necessário que esta

    seja calculada.

    F =A.E

    L.∆L (3.19)

    Associando as Equações 3.2 e 3.19, tem-se:

    k̂ =A.E

    L(3.20)

    26

  • Sendo assim, percebe-se que a rigidez de cada elemento varia em função de

    L, A e E. Visto que o objetivo deste trabalho é encontrar a estrutura onde cada

    elemento tenha a menor A posśıvel, determinados todos E e L, nota-se que um

    método iterativo se faz necessário, já que A depende de k̂, que depende de A.

    Todos os procedimentos sobre esta análise são analogos aos vistos anteriormente

    na Seção 3.2.2, incluindo os 7 passos do MEF. Os passos de 1 a 4 são praticamente

    idênticos, tendo como única diferença o fato de que a rigidez das barras delgadas

    é calculada pela Equação 3.20, e não mais considerada como uma constante única.

    Por esse motivo, pode-se adaptar a Equação 3.11 para:

    f̂1xf̂2x

    = A.EL

    .

    1 −1−1 1

    . d̂1xd̂2x

    k̂ =

    A.E

    L.

    1 −1−1 1

    (3.21)

    Estruturas de Treliças 2D

    Nota-se que a Matriz de Rigidez Local da Equação 3.21 está associada com o sistema

    de coordenadas do elemento em questão. Nesta seção, será analizado um exemplo

    em duas dimensões (Como na Figura 3.8), para que se continue uma progressão de

    complexidade para cada exemplo.

    Figura 3.8: Exemplo 2D de um elemento de treliça

    Para tal, é necessário rotacionar o eixo de coordenadas da Equação 3.21, de

    27

  • forma que encontre-se o formato:

    f = k.df1x

    f2x

    f1y

    f2y

    = k.d1x

    d2x

    d1y

    d2y

    (3.22)

    Para tal, observando-se os sistemas de coordenadas da Figura 3.8, pode-se de-

    duzir que:

    d̂xd̂y

    = C S−S C

    . dxdy

    (3.23)Onde C e S são cos(θ) e sen(θ), respectivamente.

    Expandindo a Equação 3.23 para os dois nós de um elemento, tem-se:

    d̂1x

    d̂1y

    d̂2x

    d̂2y

    =

    C S 0 0

    −S C 0 0

    0 0 C S

    0 0 −S C

    .d1x

    d1y

    d2x

    d2y

    d̂ = Tr.d

    (3.24)

    Tr =

    C S 0 0

    −S C 0 0

    0 0 C S

    0 0 −S C

    (3.25)

    Sendo Tr chamada de Matriz de Rotação . Uma análise análoga pode ser feita

    com as coordenadas das forças aplicadas sobre o elemento. É posśıvel também

    28

  • expandir a Equação 3.21 para que se contemplem as duas dimensões da modelagem:

    f̂1x

    f̂2x

    f̂1y

    f̂2y

    =

    1 0 −1 0

    0 0 0 0

    −1 0 1 0

    0 0 0 0

    .d̂1x

    d̂2x

    d̂1y

    d̂2y

    f̂ = k̂.d̂

    (3.26)

    Associando a relação demonstrada na Equação 3.24, e sua analogia para a direção

    das forças, a relação da Equação 3.26, pode-se calcular a Matriz de Rigidez Global:

    f̂ = k̂.d̂

    Tr.f = k̂.Tr.d

    f = T−1r .k̂.Tr.d

    k = T−1r .k̂.Tr

    (3.27)

    Onde T−1r é a matriz inversa de Tr. Contudo, ao multiplicar a matriz Tr pela

    sua transposta, percebe-se que o resultado é a matriz identidade. Isso acontece por

    conta das relações entre S e C. Portanto:

    T−1r = TTr (3.28)

    Finalmente, associando as Equações 3.21, 3.25 e 3.27:

    f1x

    f2x

    f1y

    f2y

    =A.E

    L.

    C2 CS −C2 −CS

    S2 −CS −S2

    C2 CS

    S2

    .d1x

    d2x

    d1y

    d2y

    k =A.E

    L.

    C2 CS −C2 −CS

    S2 −CS −S2

    C2 CS

    S2

    (3.29)

    De posse da Equação 3.29, basta seguir os Passos 5,6 e 7 do MEF, de forma

    análoga ao que foi feito na Seção 3.2.2.

    29

  • Estruturas de Treliças 3D

    O processo de obtenção da Matriz k para um elemento de treliça no espaço é análogo

    ao visto na Seção 3.2.3. O objetivo desta seção é, portanto, apresentar conceitos

    utilizados em uma análise tridimensional antes de avançar para uma análise em

    pórtico.

    Figura 3.9: Exemplo 3D de um elemento de treliça

    Observando a Figura 3.9, nota-se que são definidos os 3 ângulos entre os eixos do

    sistema de coordenadas local e global. Para definir a relação entre os dois sistemas

    de coordenadas, pode-se tomar como exemplo o vetor d, mostrado na Figura 3.9.

    Sabe-se que o módulo do vetor não varia em função do eixo de coordenadas tomado

    como referência, portanto:

    ∣∣∣~d∣∣∣ = d̂x .̂i+ d̂y.ĵ + d̂z.k̂ = dx.i+ dy.j + dz.k (3.30)Tomando o produto escalar entre a Equação 3.30 e o vetor î:

    d̂x + 0 + 0 = dx.(i.̂i) + dy.(j.̂i) + dz.(k.̂i) (3.31)

    Onde os produtos escalares entre (i,j,k) e î são iguais aos cossenos dos 3 ângulos

    30

  • definidos na Figura 3.9:

    (i.̂i) =x2 − x1L

    = Cx

    (j.̂i) =y2 − y1L

    = Cy

    (k.̂i) =z2 − z1L

    = Cz

    (3.32)

    Onde:

    L = [(x2 − x1)2 + (y2 − y1)2] + (z2 − z1)2]0.5

    Cx = cos(θx);Cy = cos(θy);Cz = cos(θz)

    Associando as Equações 3.31 e 3.32:

    d̂x = Cx.dx + Cy.dy + Cz.dz

    d̂1xd̂2x

    = Cx Cy Cz 0 0 0

    0 0 0 Cx Cy Cz

    .

    d1x

    d1y

    d1z

    d2x

    d2y

    d2z

    Tr =

    Cx Cy Cz 0 0 00 0 0 Cx Cy Cz

    (3.33)

    Sendo Tr uma matriz de rotação de coordenadas, análoga à encontrada na Seção

    3.2.3. Utilizando os conceitos encontrados nas Equações 3.27 e 3.28 com a matriz

    de rotação da Equação 3.33:

    k = T Tr .k̂.Tr

    k =

    Cx 0

    Cy 0

    Cz 0

    0 Cx

    0 Cy

    0 Cz

    .A.E

    L.

    1 −1−1 1

    . Cx Cy Cz 0 0 0

    0 0 0 Cx Cy Cz

    31

  • k =A.E

    L.

    C2x Cx.Cy Cx.Cz −C2x −Cx.Cy −Cx.CzC2y Cy.Cz −Cx.Cy −C2y −Cy.Cz

    C2z −Cx.Cz −Cy.Cz −C2zC2x Cx.Cy Cx.Cz

    C2y Cy.Cz

    C2z

    (3.34)

    Com a matriz de rigidez encontrada na Equação 3.34, é posśıvel encontrar forças

    e tensões em elementos de treliças dispostas em um espaço tridimensional, desde

    que se sigam os passos 5,6 e 7 do MEF.

    3.2.4 Análise de Elementos por Pórtico

    Na seção 3.2.3, estudaram-se estruturas de treliças, partindo da modelagem de que

    os únicos esforços sobre os elementos, barras delgadas, eram proveninentes de forças

    atuando na direção axial. Nesta seção serão estudadas estruturas em pórtico, que

    foi a modelagem utilizada neste trabalho. Considera-se que há, além dos esforços de

    tensão axial, esforços de flexão e torsão sobre as barras. Portanto, faz-se necessário

    conhecer a rigidez dos elementos para cada um desses novos esforços.

    Matriz de Rigidez para Flexão

    Para derivar a matriz de rigidez de uma barra sofrendo flexão, basta seguir os mesmos

    passos do MEF, descritos na seção 3.2.2.

    Passo 1 - Selecionar o Tipo de Elemento

    Figura 3.10: Elemento sob flexão e direções tomadas como positivas para V e m

    32

  • Figura 3.11: DCL de um corpo sofrendo flexão

    Toma-se como base as representações das Figuras 3.10 e 3.11.

    Nota-se que existe um deslocamento na direção y, causado pelos esforços cortan-

    tes (V) , e uma rotação φ̂i em cada um dos nós, resultado dos momentos m̂i também

    aplicados sobre cada nó.

    Passo 2 - Determinar uma Função de Alongamento

    Como descrito na seção 3.2.2, deve-se tomar como função de deslocamento um

    polinômio de grau (Ndf - 1). Neste caso, Ndf = 4, já que há deslocamento na direção

    y e rotação na direção z para cada um dos nós. Portanto:

    ν̂(x̂) = a1.x̂3 + a2.x̂

    2 + a3.x̂+ a4 (3.35)

    Deve-se então aplicar as CC conhecidas à Equação 3.35:

    ν̂(0) = d̂1y = a4

    dν̂(0)

    dx̂= φ̂1y = a3

    ν̂(L) = d̂2y = a1.L3 + a2.L

    2 + a3.L+ a4

    dν̂(L)

    dx̂= φ̂2y = 3.a1.L

    2 + 2.a2.L+ a3

    (3.36)

    Onde é assumido que dν̂dx̂

    = φ̂ para pequenas rotações.

    Passo 3 - Determinar as relações alongamento/deslocamentos e es-

    forços/deslocamentos

    33

  • Para este passo, assumem-se as duas equações abaixo:

    �x(x̂, ŷ) =dû

    dx̂

    û = −y.dν̂dx̂

    (3.37)

    Onde, para que a Equação 3.37 seja verdadeira, assume-se que o deslocamento

    na seção transversal da barra acontece de forma cont́ınua durante a flexão, ou seja,

    assume-se que todos os pontos em uma seção transversal antes da flexão continuam

    no mesmo plano após a flexão, plano este tendo apenas sido rotacionado, como

    mostrado na Figura 3.12.

    Figura 3.12: Conceito assumido para que a Equação 3.37 seja verdadeira

    Associando as Equações em 3.37:

    �x(x̂, ŷ) = −y.d2ν̂

    dx̂2(3.38)

    Definida a relação alongamento/deslocamento, agora são necessárias as funções

    esforços/deslocamentos. No caso da barra sofrendo flexão, há esforços tanto de

    forças cisalhantes quanto de momentos. De acordo com a teoria de barras [12], essas

    relações são:

    m̂(x̂) = E.I.d2ν̂

    dx̂2

    V̂ = E.I.d3ν̂

    dx̂3

    (3.39)

    Onde I é o momento de inércia de área da seção transversal. Visto que todas as

    seções transversais serão circulares neste trabalho, o valor de I não muda, indepen-

    dente da direção da flexão.

    34

  • Passo 4 - Derivar a matriz de rigidez local do elemento

    Observando os esforços da Figura 3.10, os sentidos positivos da Figura 3.11 e as

    Equações 3.36 e 3.39:

    f̂1y = V̂ = E.I.d3ν̂(0)

    dx̂3=E.I

    L3.(12.d̂1y + 6.L.φ̂1 − 12.d̂2y + 6.L.φ̂2)

    m̂1 = −m̂ = −E.I.d2ν̂(0)

    dx̂2=E.I

    L3.(6.L.d̂1y + 4.L

    2.φ̂1 − 6.L.d̂2y + 2.L2.φ̂2)

    f̂2y = −V̂ = −E.I.d3ν̂(L)

    dx̂3=E.I

    L3.(−12.d̂1y − 6.L.φ̂1 + 12.d̂2y − 6.L.φ̂2)

    m̂2 = m̂ = E.I.d2ν̂(L)

    dx̂2=E.I

    L3.(6.L.d̂1y + 2.L

    2.φ̂1 − 6.L.d̂2y + 4.L2.φ̂2)

    (3.40)

    f̂1y

    m̂1

    f̂2y

    m̂2

    =E.I

    L3.

    12 6L −12 6L

    4L2 −6L 2L2

    12 −6L

    4L2

    .d̂1y

    φ̂1

    d̂2y

    φ̂2

    k̂ =E.I

    L3.

    12 6L −12 6L

    4L2 −6L 2L2

    12 −6L

    4L2

    (3.41)

    Deve-se levar em consideração que os elementos da estrutura em pórtico podem

    sofrer flexões em duas direções simultâneamente. Neste caso, basta aplicar esta

    matriz de rigidez para cada uma das direções, levando em consideração que, para

    este trabalho, não haverá mudança de I.

    Matriz de Rigidez para Torção

    O calculo para a matriz de rigidez de um elemento sofrendo torção é análogo ao

    visto nas Seções 3.2.2 e 3.2.4. Deve-se seguir os 4 primeiros passos do MEF:

    35

  • Passo 1 - Selecionar o Tipo de Elemento

    Neste passo, deve-se tomar como parâmetro o DCL apresentado na Figura 3.13

    e os sentidos a serem tratados como positivos, como na Figura 3.14.

    Figura 3.13: DCL de um elemento sofrendo torção

    Figura 3.14: Sentidos tomados como positivos para m e φ

    Passo 2 - Determinar uma Função de Alongamento

    Como descrito na seção 3.2.2, deve-se novamente tomar como função de desloca-

    mento um polinômio de grau (Ndf - 1). Neste caso, Ndf = 2, já que há apenas uma

    rotação na direção x para cada um dos nós. Dessa forma:

    φ̂(x̂) = a1 + a2.x̂ (3.42)

    Aplicando as CC conhecidas:

    φ̂(0) = φ̂1x = a1

    φ̂(L) = φ̂2x = a1 + a2.L

    φ̂(x̂) =φ̂2x − φ̂2x

    L.x̂+ φ̂1x

    (3.43)

    36

  • Passo 3 - Determinar as relações deformação/deslocamento e es-

    forços/deslocamentos

    Para obter uma relação entre os deslocamentos φ̂ e a deformação cisalhante γ,

    deve-se tomar como referência a Figura 3.15.

    Figura 3.15: Linhas radiais em uma barra antes e após a torção

    Observa-se que, supondo que as linhas radiais, como OA, continuam retas após a

    aplicação do momento torsor na barra, é posśıvel obter a exposta na Equação 3.44:

    γ.dx̂ = r.dφ̂

    γ = r.dφ̂

    dx̂= r.

    φ̂2x − φ̂1xL

    (3.44)

    A relação entre tensão e deformação para o caso da torção é descrito pela Lei

    de Hooke. Sabe-se ainda que a tensão de cisalhamento causada por um momento

    torsor é descrita pela Equação 3.45:

    τ =m̂x.r

    J(3.45)

    Nota-se que, para encontrar a tensão máxima, deve-se considerar r como a maior

    distância posśıvel da linha neutra de torção. No caso dos tubos vazados utilizados

    neste trabalho, a tensão máxima τmax ocorrerá em re. Associando a Lei de Hooke

    37

  • com a Equação 3.45:

    τ = G.γ

    m̂x.r

    J= G.r.

    φ̂2x − φ̂1xL

    m̂x =G.J

    L.(φ̂2x − φ̂1x)

    (3.46)

    Passo 4 - Derivar a matriz de rigidez local do elemento

    Associando a Equação 3.46 com os sentidos dos momentos aplicados sobre a

    barra, mostrados na Figura 3.14, tem-se:

    m̂1x = −m̂x

    m̂1x =G.J

    L.(φ̂1x − φ̂2x)

    m̂2x = m̂x

    m̂2x =G.J

    L.(φ̂2x − φ̂1x)

    (3.47)

    Com as relações da Equação 3.47, pode-se calcular a matriz de rigidez para um

    elemento sofrendo torção:

    m̂1xm̂2x

    = G.JL.

    1 −1−1 1

    . φ̂1xφ̂2x

    k̂ =G.J

    L.

    1 −1−1 1

    (3.48)

    Matriz de Rigidez Global

    Nas seções 3.2.4 e 3.2.4, calcularam-se as matrizes de rigidez locais para elementos

    sofrendo flexão e torção, respectivamente. Nesta seção, será considerado um ele-

    mento sofrendo tensão axial, flexão em duas direções, e torção, como demonstrado

    na Figura 3.16:

    38

  • Figura 3.16: Exemplo de uma barra sofrendo forças e momentos nas 3 direções

    Para obter a matriz de rigidez local k̂ deste elemento, basta sobrepor as matrizes

    locais para cada um dos esforços aplicados:

    • k̂ para tensões axiais (Equação 3.21) - Relativa a d̂x

    • k̂ para flexão no plano xy (Equação 3.41) - Relativa a d̂y e φ̂z

    • k̂ para flexão no plano xz (Equação 3.41) - Relativa a d̂z e φ̂y

    • k̂ para torção no plano yz (Equação 3.48) - Relativa a φ̂x

    Para tal sobreposição, será necessária uma expansão das matrizes, como feito na

    Equação 3.26. Feito isso, encontra-se a matriz k̂ para um elemento como na Figura

    39

  • 3.16:

    k̂ =

    d̂1x d̂1y d̂1z φ̂1x φ̂1y φ̂1z d̂2x d̂2y d̂2z φ̂2x φ̂2y φ̂2z

    AEL

    0 0 0 0 0 −AEL

    0 0 0 0 0

    12EIL3

    0 0 0 6EIL2

    0 −12EIL3

    0 0 0 6EIL2

    12EIL3

    0 −6EIL2

    0 0 0 −12EIL3

    0 −6EIL2

    0

    GJL

    0 0 0 0 0 −GJL

    0 0

    4EIL

    0 0 0 6EIL2

    0 2EIL

    0

    4EIL

    0 −6EIL2

    0 0 0 2EIL

    AEL

    0 0 0 0 0

    12EIL3

    0 0 0 −6EIL2

    12EIL3

    0 6EIL2

    0

    GJL

    0 0

    4EIL

    0

    4EIL

    (3.49)

    Observa-se que a primeira linha da matriz, acima da linha, representa apenas

    qual os parâmetros com os quais os termos de cada coluna se relacionam. Esta linha

    foi escrita apenas para facilitar a visualização da f́ısica do problema.

    Contudo, antes de iniciar o processo para obter K global de uma estrutura, deve-

    se obter k global de cada elemento. Isso é feito de maneira análoga à Seção 3.2.3,

    segundo a Equação 3.50.

    k = T Tr .k̂.Tr (3.50)

    Visto que todos os esforços são aplicados nas 3 direções, basta identificar uma

    matriz de rotação λ3x3 entre os sistemas local e global e aplicá-lo a cada tipo de

    40

  • esforço para ambos nós. Dessa forma, Tr será descrito por:

    Tr =

    λ3x3

    λ3x3

    λ3x3

    λ3x3

    (3.51)

    Para encontrar λ3x3, deve-se observar a relação e os ângulos entre os sistemas

    local e global, expostos na Figura 3.17.

    Figura 3.17: Relação entre os sistemas local e global de um elemento

    Observando a Figura 3.17, são obtidas as seguintes relações:

    x̂ = Cxx̂i+ Cyx̂j + Czx̂k

    ŷ = z × x̂

    ẑ = x̂× ŷ

    (3.52)

    Onde:

    Cxx̂ =x2 − x1L

    = l

    Cyx̂ =y2 − y1L

    = m

    Czx̂ =z2 − z1L

    = n

    (3.53)

    Conhecida a relação entre x̂ e (i, j, k), deve-se fazer o mesmo para ŷ e ẑ, utilizando

    41

  • a Equação 3.52:

    ŷ =z × x̂ = 1D.

    ∣∣∣∣∣∣∣∣∣i j k

    0 0 1

    l m n

    ∣∣∣∣∣∣∣∣∣D = (l2 +m2)0.5

    ŷ = −mD.i+

    l

    D.j

    (3.54)

    ẑ =x̂× ŷ = 1D.

    ∣∣∣∣∣∣∣∣∣i j k

    l m n

    −m l 0

    ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ẑ = − ln

    D.im− mn

    D.j +D.k

    (3.55)

    Combinando as Equações 3.52 , 3.53 , 3.54 e 3.55:

    λ3x3 =

    l m n

    −mD

    lD

    0

    − lnD−mn

    DD

    (3.56)

    Para que a Equação 3.56 seja verdadeira, percebe-se que D não pode ser igual a

    0. Isso acontece apenas quando o eixo local x̂ está na mesma direção do eixo global

    z, em ambos os sentidos, como mostrado na Figura 3.18:

    Figura 3.18: Exceções da Equação 3.56

    42

  • Contudo, a matriz λ3x3 pode ser facilmente determinada por observação da Fi-

    gura 3.18. Para o caso do eixo x̂ com mesmo sentido do eixo z, adota-se a Equação

    3.57, e para o caso de x̂ e z com sentidos opostos, adota-se a Equação 3.58

    λ3x3 =

    0 0 1

    0 1 0

    −1 0 0

    (3.57)

    λ3x3 =

    0 0 −1

    0 1 0

    1 0 0

    (3.58)Conhecido λ3x3 de cada elemento, é posśıvel calcular k global de cada elemento,

    sobrepô-los a fim de encontrar K global da estrutura, e enfim seguir os passos se-

    guintes do MEF, como demonstrado na Seção 3.2.2.

    3.3 Rotina de Otimização

    Uma vez desenvolvidos todos os métodos de determinação de uma estrutura aceitável

    para as forças e geometria estabelecidas, necessita-se desenvolver um método para

    minimizar a massa total da estrutura, que é o objetivo final deste trabalho. Visto

    que, neste trabalho, não serão variados os valores de comprimento dos tubos e massa

    espećıfica do PRFC, deve-se variar as áreas de cada tubo a fim de minimizar sua

    massa. Baseando-se nos conceitos de otimização descritos por [13], deseja-se mini-

    mizar uma função objetivo, dadas as devidas restrições, como descrito na Equação

    3.59:

    Minimizar m = ρ.Ne∑i=1

    Li.Ai

    Tal que min[Xij/|σx|i] ≥ FS

    min[S/|τyz|i] ≥ FS

    → Falha MacroscópicadProfdmax

    ≤ 1→ Deslocamento Máximo

    (3.59)

    Neste trabalho, visto que há valores espećıficos de diâmetros posśıveis para os

    tubos da estrutura, sabe-se que o ideal seria considerar um domı́nio discreto para

    43

  • tais valores. Contudo, este tipo de abordagem utilizaria conceitos de programação e

    otimização muito além do escolpo deste trabalho. Por isso, optou-se por considerar

    um domı́nio cont́ınuo para os diâmetros externos dos tubos, limitando-os de acordo

    com o menor e o maior diâmetro segundo a Tabela 3.2. Contudo, visto que não há

    uma relação direta entre os valores de De e Di ou entre De e A, optou-se por apro-

    ximar uma relação linear entre De e um destes outros dois parâmetros. Observando

    os gráficos das Figuras 3.19 e 3.20, percebe-se que a aproximação linear entre De e

    A possui um R2 maior do que a relação entre De e Di.

    Figura 3.19: Relação entre os valores de De e A

    Figura 3.20: Relação entre os valores de De e Di

    Por esse motivo, preferiu-se adotar a relação linear entre De e A (Mostrada

    44

  • na Figura 3.19) e calcular os valores de Di a partir desta, como demonstrado na

    Equação 3.60.

    2 ≤ De ≤ 10

    A = 3.32.De + 4.58

    Di = (D2e −

    4.A

    π)0.5

    (3.60)

    Visto que o problema desenvolvido neste trabalho é Não-Linear, de apenas uma

    variável e que há diversas restrições, optou-se por utilizar o método de otimização da

    ToolBox Scipy - Sequential Least Squares Programming (SLSQP) , já que pode-se

    facilmente fazer o download de sua rotina de programação e utilizá-la no software,

    realizando-se apenas pequenas adaptações.

    Uma destas adaptações para que se possa utilizar o SLSQP é reescrever as res-

    trições de projeto de forma que o valor retornado seja igual a zero - em caso de

    uma restrição de igualdade - ou maior ou igual a zero - em caso de uma restrição de

    desigualdade. As restrições são computadas no código como descritas na Equação

    3.61:

    Restr1→ min[Xij/|σx|i]− FS

    Restr2→ min[S/|τyz|i]− FS

    Restr3→ dmax − dProf

    (3.61)

    Neste trabalho, todas as restrições são de desigualdade. Contudo, o programa

    permite que sejam adicionadas condições de igualdade, caso a equipe adote alguma

    outra restrição no futuro.

    Desenvolvida a equação objetivo (Equação 3.59) e definidas as restrições

    (Equação 3.61), deve-se estimar valores iniciais para os De da estrutura. Quanto

    mais próximos estes valores estiverem dos valores finais, menor é a esperada quan-

    tidade de iterações necessárias e, consequentemente, menor é o esperado tempo

    computacional do programa. Visto que não há como dizer qual será o valor final

    antes das iterações, sugere-se que se utilize o valor De = 6mm para todos os tu-

    bos como valores iniciais. Este valor foi escolhido já que é o valor médio entre os

    45

  • posśıveis para os tubos neste trabalho, estes que também devem ser computados em

    código.

    Por fim, sabe-se que os valores finais de De serão aproximados para os valores

    inteiros dispońıveis em mercado. Por isso, visando reduzir o tempo computacional

    do programa, é posśıvel reduzir a precisão que o SLSQP utiliza para os valores da

    variável - cujo padrão é de 10−3mm. Neste trabalho, sugere-se utilizar o valor inicial

    de 1mm. Caso a equipe julgue necessária uma precisão maior, sugere-se fazer um

    teste inicial com precisão de 1mm e, uma vez que se tenha um valor final de De,

    utilizá-lo como valor inicial para uma nova iteração de menor resolução.

    Terminadas as iterações, serão obtidos valores de De para cada um dos elementos

    da estrutura. Contudo, estes valores devem ainda ser arredondados para valores dis-

    pońıveis para compra. Considerou-se mais apropriado arredondar os valores de De

    para o maior valor inteiro mais próximo dispońıvel em mercado, segundo a Tabela

    3.2. Dessa forma, garante-se que os FS estarão de acordo com os mı́nimos previa-

    mente estabelecidos. Sugere-se que sejam feitas algumas simulações com diferentes

    valores de FS mı́nimo, de forma a melhor observar como a massa total da estrutura

    varia e, por fim, ter uma maior base de informações para escolher o valor final de

    FS.

    3.4 Análise de Resultados

    Utilizando o método demonstrado no Caṕıtulo 3, tem-se como dados de sáıda os

    esforços de forças e momentos em cada um dos nós de cada elemento, estes calculados

    a partir dos deslocamentos de cada nó. Contudo, três dos critérios de falha deste

    trabalho dependem das tensões aplicadas sobre os elementos, tornando necessário o

    cálculo destas tensões.

    3.4.1 Tipos de Tensões

    Após aplicados os esforços externos sobre a estrutura, ocorrem forças e momentos

    de reação sobre cada um dos nós. Estes esforços são, como visto anteriormente,

    divididos em componentes em cada uma das 3 direções cartesianas locais. Sendo

    assim, há 6 esforços diferentes sendo aplicados sobre os nós dos elementos. Nesta

    46

  • seção, são estudadas as tensões geradas por cada um destes esforços. Considera-se

    que o cisalhamento devido a esforços cortantes será desprezado, visto que este possui

    uma ordem de grandeza muito abaixo das demais tensões.

    3.4.2 Tensão Axial

    A primeira tensão a ser estudada é a tensão axial, que pode ser trativa ou com-

    pressiva, dependendo do sentido da força de reação. É valido ressaltar que, em

    uma modelagem da estrutura como treliçada, e não em pórtico, esta seria a única

    tensão aplicada sobre os elementos. A tensão axial (σA) é causada pela força f̂x,

    tendo direção e sentido também iguais a f̂x. Esta tensão pode ser calculada como

    mostrado na Equação 3.62.

    σA =f̂xA

    (3.62)

    Tensão de Flexão

    A tensão de flexão é modelada neste trabalho como se o elemento estivesse sofrendo

    flexão pura, ou seja, como se o elemento estivesse submetido apenas a um momento

    fletor. O desenvolvimento teórico para o cálculo desta tensão pode ser encontrado

    em [12]. Utilizando os parâmetros dos tubos vazados utilizados neste trabalho, o

    cálculo da tensão máxima causada por flexão pura (σF ) é descrito pela Equação

    3.63.

    σF =m̂i.reI

    (3.63)

    É importante notar que σF atua na direção x̂ do tubo, para os momentos fletores

    em ambas direções ŷ e ẑ. Vale ressaltar também que as tensões atuam em pontos

    distintos - O ponto onde σFy é máximo, σFz é nulo, e vice-versa. Para encontrar o

    ponto onde o valor de σFy + σFz é máximo, basta trabalhá-los como vetores, como

    mostrado na Figura 3.21.

    47

  • Figura 3.21: Exemplo de seção transversal sofrendo flexão em duas direções

    Mt = (M2y +M

    2z )

    0.5 (3.64)

    Percebe-se pela figura que o momento fletor total (Mt) tem seu valor calculado

    segundo a Equação 3.64. Percebe-se ainda que, uma vez conhecido o valor do ângulo

    θ, pode-se traçar a linha neutra da flexão total, o que explicita que há pontos ondeMt

    causa uma tensão trativa, e outros onde a tensão é compressiva. Isso será relevante

    ao combinar as tensões fletores com as axiais, que será feito na Seção 3.4.3.

    Tensão de Torção

    A última tensão analisada resulta do momento torsor m̂x, que gera uma torção ao

    longo do tubo. Esta tensão é cisalhante, atuando no plano yz, como mostrado na

    Figura 3.22.

    Figura 3.22: Exemplo de tubo vazado submetido a um momento torsor

    48

  • Calcula-se o valor da tensão τyz segundo a Equação 3.45, repetida abaixo por

    conveniência.

    τyz =m̂x.reJ

    (3.65)

    O desenvolvimento teórico desta equação pode ser encontrado em [12]. Utiliza-se

    o valor de re para o cálculo visto que a tensão cisalhante é máxima no ponto mais

    distante posśıvel do centro, como observado também na Figura 3.22

    3.4.3 Análise das Tensões

    Conhecidos os valores, as direções e os pontos onde as tensões são máximas, é

    posśıvel combiná-las a fim analisar como estas tensões atuam sobre o elemento.

    Como visto na Seção anterior, ambas tensões de flexão e torção são máximas na

    superf́ıcie externa do tubo, enquanto a tensão axial é uniforme ao longo da seção

    transversal. Abaixo, observa-se na Tabela 3.3, as caracteŕısticas de cada uma das

    tensões utilizadas neste trabalho.

    Tabela 3.3: Caracteŕısticas das tensões analisadas sobre o elemento

    Tensão Tipo Śımbolo Direção/Plano Ponto de Valor Máximo

    Axial Normal σA x̂ Uniforme na seção transversal

    Fletora Normal σF x̂ Superćıe externa do tubo

    Torsora Cisalhante τT Plano xy Superćıe externa do tubo

    De posse da Tabela 3.3,nota-se que a área onde a soma das tensões é máxima

    ocorre na superf́ıcie externa do tubo, que deve ser também a área analisada para fins

    de critério de falha. Ainda na Tabela 3.3, é posśıvel identificar as 3 tensões normais

    e as 3 cisalhantes atuantes em um elemento, a fim de obter o Tensor das tensões de

    cada elemento. O módulo destas tensões está exposto abaixo.

    Tabela 3.4: Valores das tensões normais e cisalhantes de cada elemento

    Tensão σx σy σz τxy τxz τyz

    Valor σA + σF 0 0 0 0 τT

    49

  • O sentido da tensão cisalhante τT é irrelevante neste trabalho, dado que o cisa-

    lhamento ocorrerá da mesma forma para os dois sentidos. No caso da tensão normal

    σx, é importante comentar que o sentido da tensão - Se esta é trativa ou compressiva

    - vai depender unicamente do sentido da tensão axial σA. Como foi comentado na

    Seção 3.4.2, a tensão de flexão gera pontos onde esta tensão é trativa e pontos onde

    esta é compressiva. Ao somar estes valores com a tensão uniforme σA, alguns pontos

    terão sua tensão amplificada, enquanto outros terão sua tensão atenuada. Como este

    trabalho pretende avaliar as condições cŕıticas da estrutura, consideram-se pontos

    cŕıticos aqueles onde ambas tensões têm mesmo sentido, ou seja, o sentido da tensão

    axial.

    3.4.4 Análise da Condição Cŕıtica

    Conhecidos os esforços e as propriedades de cada elemento, é posśıvel determinar

    o que o software irá considerar uma falha da estrutura, ou seja, quais os critérios

    que ele utilizará para julgar uma estrutura sendo robusta o suficiente ou não. Neste

    trabalho serão desenvolvidos dois critérios independentes, onde ambos devem ser

    atendidos para que a estrutura seja aceita. Contudo, a equipe será livre para adi-

    cionar, remover ou modificar quaisquer critérios, de acordo com as experiências da

    equipe e necessidades de cada projeto.

    Falha Macroscópica

    Como foi descrito na Seção 3.1.3, neste trabalho será utilizado o Critério de Máxima

    Tensão, que determina que as tensões normais e cisalhantes em cada direção não

    podem ultrapassar um valor limite, determinado por ensaios. Neste trabalho, será

    considerado que apenas as tensões σx e τyz são diferentes de zero (Seção 3.4.3),

    porém todas as tensões são avaliadas dentro da rotina de otimização, visto que a

    equipe tem liberdade de mudar os critérios de análise de cargas sobre os elementos.

    Deslocamento Máximo

    Durante todo o percurso de voo da aeronave, é posśıvel que os esforços externos

    não sejam suficientes para fazer com que os elementos se rompam, mas podem ser

    o suficiente para deformar a estrutura a ponto de comprometer a estabilidade e o

    50

  • controle do avião. Caso os nós relativos ao profundor, por exemplo, sejam deslocados

    para cima ou para baixo além de um determinado limite, o avião pode se tornar

    instavel a ponto do piloto perder o controle do mesmo durante o voo, resultando em

    uma provável queda. Para evitar isso, considerou-se razoável adicionar um segundo

    critério de falha, sendo este exatamente um limite para o deslocamento total dos

    nós relativos à posição do profundor do avião.

    Visto que este critério de falha existe devido a experiências da equipe, não há

    muita base para definir um valor considerado razoável para o deslocamento máximo

    do profundor, deve-se analisar e ajustar este dado ao longo das competições fu-

    turas. Inicialmente, sugere-se utilizar os valores de deslocamento encontrados nas

    configurações passadas, valores estes que serão apresentados no Caṕıtulo 5.

    51

  • Caṕıtulo 4

    Modelo Computacional

    Neste caṕıtulo, serão detalhadas quais análises o software se propõe a fazer e como ele

    se propõe a fazê-las, além de desenvolver como a estrutura da aeronave foi modelada.

    4.1 Código e Linguagem Python

    Todos os métodos e parâmetros descritos no Caṕıtulo 3 foram transcritos para um

    código em Python. Decidiu-se utilizar a linguagem de programação Python, já que

    esta é uma linguagem simples e de fácil entendimento, tendo conquistado uma grande

    popularidade no meio cient́ıfico [14]. Além disso, diversos cursos de engenharia da

    Escola Politécnica da UFRJ ensinam conceitos básicos de Python para seus alunos de

    1o e 2o peŕıodo. Visto que a maioria dos alunos que ingressam na equipe ja