desenvolvimento de ferramenta matemática para o estudo da ... · o domínio de integração é...

3
Desenvolvimento de ferramenta matemática para o estudo da viga de Bernoulli por meio do MEF Métodos dos Elementos Finitos Eric M. F. Bezerra , Ruan M. O. de Freitas, Jonathas I. F. de Oliveira, Raimundo G. de Amorim Neto UFERSA - Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas, DCAT - Campus Leste 59.625-900, Mossoró, RN E-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], Flaviana M. de S. Amorim Faculdade de Ciências e Tecnologia Mater Christi 59611-030, Mossoró, RN E-mail: [email protected] Palavras-chave: MEF, viga de Bernoulli, modelagem matemática-computacional Resumo: O tipo de peça estrutural mais comumente usada na engenharia civil é a viga. Esta se mostra como um elemento horizontal linear onde as cargas agem provocando a tendência de flexão ao longo de seu plano de atuação. O estudo deste tipo de estrutura é fundamental para a estruturação de edifício de múltiplos pavimentos e quase todo tipo de obra. Este trabalho busca estudar o comportamento mecânico destas peças por meio de implementação computacional das equações diferenciais governantes do problema. Para tanto, faz o uso da estratégia numérica do método dos elementos finitos (MEF), que consiste em particionar o domínio da peça e garantir a compatibilidade de deslocamentos por meio de funções polinomiais aproximadoras. Os resultados numéricos comprovam a potencialidade de usar este método como forma solucionar os problemas de vigas. 1 Introdução Vigas são elementos estruturais esbeltos cujo carregamento age perpendicular ao seu eixo longitudinal resultando a flexão, que tende a deformar o mesmo em forma de uma curva, conforme se observa em [3]. A equação da curvatura dessa deformação é dada por: Podemos expressar a deflexão a partir de relações diferenciais com os esforços internos. A análise é feita para o momento fletor, que trata-se do esforço preponderante nas mesmas. Sabendo que a curvatura de um elemento diferencial de uma viga é dada pela razão do momento interno pelo módulo de resistência a flexão, obtemos a seguinte expressão Como a inclinação da linha elástica é pequena, seu quadrado será desprezível. Logo, da equação (2) resulta: Os esforços internos são obtidos analiticamente tomando-se uma seção a uma distância arbitrária ao longo da viga, onde os esforços são provenientes de um sistema equivalente de forças que objetiva manter o equilíbrio da viga. Ampliada a complexidade das estruturas, no que diz respeito à geometria, ao carregamento, as condições de contorno, etc., o tratamento analítico se torna não usual (por vezes impraticável), tendo em vista a grande dificuldade da resolução destas equações diferenciais, consideradas por muitos até impossíveis. Dessa forma, faz-se necessário obter uma um método que determine esses valores com uma aproximação aceitável. (1) (2) (3) 203 ISSN 2317-3297

Upload: phungkhanh

Post on 10-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Desenvolvimento de ferramenta matemática para o estudo da viga de

Bernoulli por meio do MEF – Métodos dos Elementos Finitos

Eric M. F. Bezerra, Ruan M. O. de Freitas, Jonathas I. F. de Oliveira, Raimundo G. de

Amorim Neto UFERSA - Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas,

DCAT - Campus Leste

59.625-900, Mossoró, RN

E-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected],

Flaviana M. de S. Amorim Faculdade de Ciências e Tecnologia Mater Christi

59611-030, Mossoró, RN

E-mail: [email protected]

Palavras-chave: MEF, viga de Bernoulli, modelagem matemática-computacional

Resumo: O tipo de peça estrutural mais comumente usada na engenharia civil é a viga. Esta se

mostra como um elemento horizontal linear onde as cargas agem provocando a tendência de flexão

ao longo de seu plano de atuação. O estudo deste tipo de estrutura é fundamental para a estruturação

de edifício de múltiplos pavimentos e quase todo tipo de obra. Este trabalho busca estudar o

comportamento mecânico destas peças por meio de implementação computacional das equações

diferenciais governantes do problema. Para tanto, faz o uso da estratégia numérica do método dos

elementos finitos (MEF), que consiste em particionar o domínio da peça e garantir a compatibilidade

de deslocamentos por meio de funções polinomiais aproximadoras. Os resultados numéricos

comprovam a potencialidade de usar este método como forma solucionar os problemas de vigas.

1 Introdução

Vigas são elementos estruturais esbeltos cujo carregamento age perpendicular ao seu eixo longitudinal

resultando a flexão, que tende a deformar o mesmo em forma de uma curva, conforme se observa em

[3]. A equação da curvatura dessa deformação é dada por:

Podemos expressar a deflexão a partir de relações diferenciais com os esforços internos. A análise é

feita para o momento fletor, que trata-se do esforço preponderante nas mesmas. Sabendo que a

curvatura de um elemento diferencial de uma viga é dada pela razão do momento interno pelo módulo

de resistência a flexão, obtemos a seguinte expressão

Como a inclinação da linha elástica é pequena, seu quadrado será desprezível. Logo, da equação (2)

resulta:

Os esforços internos são obtidos analiticamente tomando-se uma seção a uma distância arbitrária ao

longo da viga, onde os esforços são provenientes de um sistema equivalente de forças que objetiva

manter o equilíbrio da viga. Ampliada a complexidade das estruturas, no que diz respeito à geometria,

ao carregamento, as condições de contorno, etc., o tratamento analítico se torna não usual (por vezes

impraticável), tendo em vista a grande dificuldade da resolução destas equações diferenciais,

consideradas por muitos até impossíveis. Dessa forma, faz-se necessário obter uma um método que

determine esses valores com uma aproximação aceitável.

(1)

(2)

(3)

203

ISSN 2317-3297

2 Metodologia

O Método dos Elementos Finitos (MEF) é um método numérico matricial caracterizado pela

discretização de um meio contínuo que fornece resultados aproximados para os deslocamentos da

estrutura [2]. O domínio de integração é dividido em um número finito de elementos (malha de

elementos), sendo calculando os deslocamentos em pontos da estrutura que representam a deformação

inteira da mesma de uma forma aproximada. Esses pontos são as conectividades dos elementos e são

chamados de nós. Dados os deslocamentos nodais, podemos calcular os deslocamentos para todo

elemento através da interpolação, onde para cada elemento haverá uma função de aproximação.

Figura 1: Elemento de viga

Como se tem quatro parâmetros nodais para cada elemento, ou seja, dois graus de liberdade para

cada nó, a função de interpolação é dada por um polinômio de terceiro grau. Assumindo a teoria da

viga de Euler-Bernoulli, que estabelece que o plano da seção transversal permanecerá normal a linha

neutra da viga após a deformação, podemos descrever a rotação como a derivada do deslocamento.

Aplicando-se as condições de contorno a estas duas equações, obtemos as funções de forma:

A energia potencial total de um elemento é dada como a soma do trabalho realizado pelas cargas

externas e pela energia dos esforços internos (energia de deformação). A mesma é expressa por:

Mesclando esta equação (5) com as funções de forma (4), e resolvendo-as, obtemos:

Dessa forma, com os valores dos carregamentos externos nodais, podemos obter os respectivos

deslocamentos do elemento, e, por conseguinte, os esforços internos, de forma bastante aproximada.

Essa análise é válida para todos os elementos que compõe a viga. Já que um nó será em comum a dois

elementos, podemos superpor as matrizes de cada elemento para obter a matriz global da viga.

O MEF é aplicado nas diversas áreas da ciência, e em [1] observa-se a gama possibilidades de seu

uso, destaca-se a aplicação na análise estrutural. Esse grande uso deve-se ao fato do mesmo possuir

uma conceituação simples, bem como relativa facilidade na implementação computacional,

amplificada pelo o aumento da capacidade de processamento dos mesmos ao longo das ultimas

décadas. Podemos citar aplicações tais como nas estruturas aeroespaciais, análise de tensões e térmica

de peças industriais, análise sísmica de represas, análise do escoamento de líquidos, análise de

impactos de veículos, eletromagnetismo, condução de calor, mecânica estrutural, dentre outras

diversas.

(4)

(5)

(6)

204

ISSN 2317-3297

3 Resultados e Considerações Finais

De modo a validar o código, bem como mostrar suas vantagens, será feita a resolução de um problema

através do programa implementado e em seguida, a solução será comparada com a fornecida pelo

método analítico.

O problema consta em uma viga em balanço de comprimento de 5m e está submetida a uma carga

concentrada de 1 kN em uma de suas extremidade. A mesma possui área de seção transversal

constante ao longo do seu eixo longitudinal e o valor do seu módulo de elasticidade igual a 205 GPa.

A seção é retangular com largura de 20 cm e altura de 50 cm. Com base nisso, deve-se determinar os

esforços internos (cortante e momento fletor) e os deslocamentos da viga com sua respectiva

inclinação.

Figura 2: Viga em balanço

A tabela abaixo fornece a solução do problema de forma exata, pelo método analítico manual, e a

solução pelo programa, feito usando-se uma malha com vinte elementos. Os resultados dos esforços

internos são dados no engaste da viga (x=0). Já os valores para a deflexão e sua respectiva inclinação

são dados na extremidade livre da viga (x=5m).

Analítico Programa

Deflexão (mm) -0,01

-0,01

Inclinação (rad) -2,9x10-5

-2,9x10-5

Momento fletor (kN.m) -5 -5

Esforço cortante (kN) 1 1

Tabela 1: Resultados do problema proposto

A aproximação dos valores será ampliada quanto maior for o número de elementos usados na

malha. Em contrapartida, ampliado o número de elementos na discretização da viga, aumenta-se o

número de processos, exigindo maior capacidade de processamentos da máquina. Outra forma de se

ampliar a aproximação dos resultados seria aumentando o grau da função de interpolação. Para esse

exemplo clássico, a discretização em vinte elementos mostrou-se adequada.

Tendo em vista os aspectos observados, o programa mostra-se vantajoso em relação aos métodos

analíticos, já que a resolução manual torna-se demasiadamente cansativa para problemas mais

complexos, sendo assim maximizadas as chances de erros. Com o programa em questão, pode-se obter

resultados para problemas complexos com significativa aproximação, ao custo de uma relativa

simplicidade na implementação computacional.

Referências

[1] A.J.M. Ferreira, “Matlab Codes for Finite Element Analysis”, Springer, Porto, 2008.

[2] T. Belytschko, “Um primeiro curso em Elementos Finitos”, LTC, Rio de Janeiro, 2009.

[3] R.C. Hibbeler, “Structural Analysis”, Pearson Prentice Hall, New Jersey, 2012.

205

ISSN 2317-3297