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Universidade Federal do Rio de Janeiro Cristiane de Sá Ferreira Facio DESCRIÇÃO DO PERFIL IMUNOFENOTÍPICO DOS TUMORES SÓLIDOS PEDIÁTRICOS POR CITOMETRIA DE FLUXO RIO DE JANEIRO 2012

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Cristiane de Sá Ferreira Facio

DESCRIÇÃO DO PERFIL IMUNOFENOTÍPICO DOS

TUMORES SÓLIDOS PEDIÁTRICOS POR

CITOMETRIA DE FLUXO

RIO DE JANEIRO

2012

Cristiane de Sá Ferreira Facio

DESCRIÇÃO DO PERFIL IMUNOFENOTÍPICO DOS

TUMORES SÓLIDOS PEDIÁTRICOS POR

CITOMETRIA DE FLUXO

Orientadores: Profª Elaine Sobral da Costa,

Prof Marcelo G.P. Land

Dra Sima Esther Ferman

Rio de Janeiro

2012

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Clínica

Médica da Universidade Federal do Rio de

Janeiro como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de mestre

em Clínica Médica.

DESCRIÇÃO DO PERFIL IMUNOFENOTÍPICO DOS TUMORES

SÓLIDOS PEDIÁTRICOS POR CITOMETRIA DE FLUXO

Cristiane de Sá Ferreira Facio

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO PROGRAMA DE

PÓS-GRADUAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CLÍNICA

MÉDICA

Examinada por: ______________________________________

Dra. Beatriz de Camargo, Ph.D.

______________________________________

Prof. Stevens Kastrup Rehen, Ph.D.

______________________________________

Prof José Carlos Morais, Ph.D.

______________________________________

Profª Fernanda Pinto Mariz,Ph.D.

______________________________________

Profª Clemax Couto Sant’Anna, Ph.D.

Rio de Janeiro,RJ-Brasil

2012

Ferreira-Facio, Cristiane de Sá

Descrição do perfil imunofenotípico dos tumores sólidos pediátricos por citometria de fluxo/ Cristiane de Sá Ferreira Facio. -- Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2012.

xii, 89f. : il. ; 29,7cm.

Orientadores: Elaine Sobral da Costa e Marcelo Gerardin Poirot Land, co-orientadora: Sima Esther Ferman Dissertação (mestrado) – UFRJ / Faculdade de Medicina / Pós-Graduação em Clínica Médica, 2012. Referências bibliográficas: f. 79-87

1. tumores sólidos pediátricos.2.citometria de fluxo.3.diagnóstico Tese. I. Costa, Elaine Sobral. II. Land, Marcelo Gerardin Poirot. III.Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Pós-graduação em clínica médica. IV. Título.

Cristiane de Sá Ferreira Facio

DESCRIÇÃO DO PERFIL IMUNOFENOTÍPICO

DOS TUMORES SÓLIDOS PEDIÁTRICOS POR

CITOMETRIA DE FLUXO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Clínica Médica da Universidade Federal do

Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de mestre em Clínica Médica.

Aprovada em

___________________________________

Elaine Sobral da Costa, UFRJ

___________________________________

Marcelo G.P. Land, UFRJ

___________________________________

Sima Esther Ferman, INCA

_____________________________________

Beatriz de Camargo, Ph.D

______________________________________

Stevens K. Rehen, Ph.D

____________________________________

José Carlos Morais, Ph.D

Dedico este trabalho a todos aqueles pequenos

seres humanos capazes de sorrir mesmo diante de

tanta adversidade. É por eles e para eles todo este

trabalho.

Agradecimentos:

Sem dúvida muitos contribuíram para a realização deste trabalho. Senão de maneira

formal na elaboração bastante laboriosa de todo o seu conteúdo, de maneira informal me

acompanhando nos bons e maus momentos destes 2 anos de intenso trabalho.

Primeiro gostaria de agradecer a minha família, sem eles eu não existo. Meu marido

Marcelo, melhor amigo, amante, amor da minha vida. Meus filhos, Maria Luísa, minha

pequena gênia e revisora principal; e, João Marcelo, meu artista que contribuiu com lindos

desenhos em todos os meus resumos. Minha mãe, sempre incansável, nunca disse não para

ficar com as crianças, mesmo que para isso abrisse mão de tudo. Meu pai, exemplo maior da

minha vida. E por último, mas não em menor importância, minha querida irmã e babá eleita

das crianças, que me socorria para tudo, conversas, olhar as crianças, ir no laboratório

comigo...

Em segundo lugar, mas com todas as honras do primeiro, vem minha querida

“mestra”, gênia, guru, orientadora, amiga, companheira de trabalho e grande exemplo

profissional. Foi ela a responsável pelo meu grande interesse em citometria de fluxo e é nela

que me espelho para continuar este trabalho. Juntamente à ela gostaria de agradecer ao

“GRANDE MESTRE” pessoa de grande sabedoria, paciência e igual humildade capaz de

transmitir seu conhecimento de maneira tão clara que transforma pobres mortais como eu em

aficionados pela arte da citometria – Dr Alberto Orfao muito obrigada!

Não poderia deixar de agradecer a todos os responsáveis pela minha formação

profissional e pessoal: Alice (chefe e madrinha), Ana Paula (confidente e geminiana como

eu), Marcelo (meu professor), Maria Célia (minha eterna amiga), Dra Sima (meu grande

exemplo na oncologia), Dr Fernando Werneck (grande sábio e mentor). Perdoem-me se

esqueci alguém. Mais agradeço a todos sem exceção. Obrigada Dra Luciane não só pelos

grandes conhecimentos iniciais na minha formação pediátrica, sempre atenciosa e paciente,

como também por me introduzir aos programas do SPSS tão complexos e úteis.

Como este trabalho envolve duas grandes áreas da medicina: cirurgia pediátrica e

patologia, não teria sobrevivido sem a ajuda e ensinamento deles. Dr Paulo Faria- muito

obrigada por acreditar no trabalho mesmo antes de ele existir e por ter passado maus

momentos por ele e mesmo assim continuar acreditando. Foi realmente fundamental o período

que passei na patologia do INCA para compreender a organização do pensamento

diagnóstico. Dr Samuel, Dra Raquel, Dra Daniela, e todos os residentes do serviço de

Oncologia do HSE e IPPMG por me ajudarem com as amostras, me ligarem e nunca

desistirem. Em especial, Dr Samuel por ter me ensinado a grande diferença entre um cirurgião

e um “retirador de bolotas”. Dra Cristiane Milito e Dr José Carlos por me ajudarem nesta fase

final do trabalho, mas tão importante para credibilidade e melhor entendimento dele.

Professora Fernanda Mariz que, com olhos e mente realmente privilegiada deu um toque final

extremamente importante ao trabalho.

Por fim, agradeço a todos os meus novos amigos do laboratório em especial Marcela,

Ellen e “meu filho” Vitor (um novo gênio) que me ajudaram até quando eu estava

terrivelmente chata porque alguma coisa não tinha dado certo. Obrigada aos alunos de PINC e

a todos os meus grandes amigos de trabalho; Patrícia (“minha amiga para sempre”), Dra

Elisabeth Frossard (me tornou uma hemoterapeuta- por incrível que pareça), Ana Maria

(minha chefe), Dona Iara (técnica fabulosa),dona Lourdes (luz do serviço), entre tantos

outros.

Obrigado Deus e Nossa Senhora de Fátima

DESCRIÇÃO DO PERFIL IMUNOFENOTÍPICO E ANÁLISE DE DNA

DOS TUMORES SÓLIDOS PEDIÁTRICOS POR CITOMETRIA DE FLUXO

Resumo da Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Clínica

Médica/UFRJ como parte dos pré-requisitos necessários para obtenção do grau

de mestre em Clínica Médica.

Cristiane de Sá Ferreira Facio

Orientadores: Elaine Sobral da Costa

Marcelo Gerardin Poirrot Land

Sima Esther Ferman

Programa: Clínica Médica

Resumo da Dissertação

Os tumores sólidos pediátricos são, em sua maioria, de difícil caracterização

morfológica e seu diagnóstico diferencial depende da caracterização de expressão protéica por

imunohistoquímica e/ou molecular. Neste trabalho propomos a citometria de fluxo como uma

nova técnica para verificação de expressão protéica nos tumores sólidos pediátricos. Em

primeiro lugar, estabelecemos a metodologia para dissociação das amostras. A seguir,

estabelecemos uma estratégia em etapas para diferenciar massas reacionais de neoplásicas

(etapa 1), neoplasias hematológicas de não-hematológicas (etapa 2) e caracterização

imunofenotípica das células tumorais (etapa 3). Foram estudadas 52 amostras de 41 pacientes.

Todas as amostras reacionais ou normais (17/17) foram identificadas corretamente por

citometria de fluxo. Dentre as 35 amostras malignas apenas quatro foram consideradas

erroneamente reacionais, devido a intensa infiltração por células inflamatórias. Dentre os 35

tumores malignos foi possível estabelecer sua origem hematopoiética ou não com 100% de

acerto. Por fim, foram caracterizados imunofenotipicamente neuroblastomas,

rabdomiossarcomas, tumores neuroectodér-micos primitivos, tumores de Wilms, linfomas

não-Hodgkin, Linfomas de Hodgkin, carcinoma de nasofaringe, carcinoma de adrenal,

disgerminoma e hemangiopericitoma. Concluímos que este estudo abre portas para a

utilização da citometria de fluxo como técnica rápida e precisa na complementação do exame

histopatológico de rotina contribuindo para o diagnóstico precoce dos tumores sólidos

pediátricos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 1

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4

2.1 Tumores sólidos pediátricos 4

2.1.1 Câncer Pediátrico: Epidemiologia 4

2.1.2 Patobiologia e relação com a embriogênese 6

2.1.3 Comportamento Clínico dos tumores sólidos pediátricos 13

2.1.4 Breve Histórico sobre Neuroblastoma 13

2.1.4.1 Epidemiologia e origem do Neuroblastoma 13

2.1.4.2 Genética do neuroblastoma 14

2.1.4.3 Comportamento Clínico do Neuroblastoma 14

2.1.4.4 Diagnóstico e estadiamento do Neuroblastoma 14

2.1.4.5 Tratamento do neuroblastoma 16

2.1.5 Breve Histórico sobre Rabdomiossarcoma 17

2.1.5.1 Epidemiologia e origem do Rabdomiossarcoma 17

2.1.5.2 Genética do Rabdomiossarcoma 18

2.1.5.3 Comportamento Clínico do Rabdomiossarcoma 18

2.1.5.4 Diagnóstico e estadiamento do Rabdomiossarcoma 18

2.1.5.5 Tratamento do Rabdomiossarcoma 20

2.1.6 Breve Histórico sobre Tumores da Família Ewing 20

2.1.6.1 Epidemiologia e origem dos Tumores da Família Ewing 20

2.1.6.2 Comportamento Clínico dos Tumores da Família Ewing 21

2.1.6.3 Diagnóstico e estadiamento dos Tumores da Família Ewing 21

2.1.7 Breve Histórico sobre Tumor de Wilms 22

2.1.7.1 Epidemiologia e origem do Tumor de Wilms 22

2.1.7.2 Genética do Tumor de Wilms 23

2.1.7.3 Comportamento Clínico do Tumor de Wilms 24

2.1.7.4 Diagnóstico e estadiamento do Tumor de Wilms 24

2.1.7 Breve Histórico sobre Linfoma 26

2.1.7.1 Epidemiologia dos Linfomas 26

2.1.7.2 Origem dos Linfomas 27

2.1.7.3 Genética dos Linfomas 30

2.1.7.4 Comportamento Clínico dos Linfomas Pediátricos 30

2.2 Citometria de Fluxo 31

2.2.1 Histórico da utilização da citometria de fluxo 31

2.2.2 A citometria de fluxo no diagnóstico das neoplasias hematológicas 32

2.2.3 Estudo dos tumores sólidos pediátricos por citometria de fluxo 39

2.2.3.1 Estudos de Citometria publicados em Neuroblastoma 39

2.2.3.2 Estudos de Citometria Publicados em Rabdomiossarcoma 40

2.2.3.3 Estudos de Citometria Publicados nos Tumores da Família Ewing 41

2.2.3.4 Estudos de Citometria Publicados em Wilms 41

2.2.3.5 Estudos de Citometria Publicados em Linfoma 42

3 OBJETIVOS 44

3.1 Geral 44

3.2 Específicos 44

4 METODOLOGIA DO ESTUDO 45

4.1 Desenho do Estudo 45

4.2 População estudada 45

4.2.1 Critérios de Inclusão 46

4.2.2 Critérios de Exclusão 47

4.3 Processamento da amostra 47

4.3.1 Pré-preparo das amostras de massas sólidas 47

4.3.2 Pré-preparo das amostras de medula óssea (MO), sangue periférico (SP) ou líquidos

corporais (LC) 47

4.3.3 Marcação celular 48

4.4 Aquisição e análise dos dados gerados por citometria 50

4.5. Preparo dos dados para realização de fusão e cálculo dos dados obtidos por citometria

de fluxo 51

4.6. Análise do Componente Principal (PCA) dos tumores pediátricos de pequenas células

redondas e azuis mais comuns 53

4.7 Análises Histopatológicas e Imunohistoquímicas 54

4.8 Outros Métodos Estatísticos 54

5 RESULTADOS 55

5.1 Dados Descritivos da População e amostras estudadas 55

5.2 Comparação entre as técnicas: Histopatológico e Imunohistoquímica X Citometria de

Fluxo 55

5.2.1 Identificação de amostras reacionais X malignas 56

5.2.2 Identificação de amostras malignas hematológicas X malignas não-hematológicas 59

5.2.3 Características Imunofenotípicas dos tumores sólidos pediátricos 60

5.2.3.1 Resultados encontrados em neuroblastoma 60

5.2.3.2 Resultados encontrados em Rabdomiossarcoma 63

5.2.3.4 Resultados encontrados em Tumor Neuroectodérmico Primitivo 64

5.2.3.5 Resultados encontrados em Tumor de Wilms 65

5.2.3.6 Resultados encontrados nos Linfomas 66

5.2.3.7 Resultados encontrados nos tumores sólidos pediátricos menos freqüentes 68

5.3 Análise do Componente Principal 70

6 DISCUSSÃO 72

6.1 Aplicação da citometria de fluxo no estudo dos tumores sólidos pediátricos 72

6.2 Viabilidade celular em amostras de tumor sólido submetidas à dissociação 73

6.3 Heterogeneidade da amostra e implicação para correta classificação dos tumores por

citometria de fluxo 73

6.4 Contribuição da citometria de fluxo no rastreamento de neoplasias malignas 74

6.5 Contribuição da citometria de fluxo na distinção entre neoplasias hematológicas e não-

hematológicas 75

6.6 Contribuição da citometria de fluxo para a caracterização dos tumores sólido não-

hematopoiéticos 76

7 CONCLUSÃO 78

REFERÊNCIAS 79

ANEXO I 88

LISTA DE ABREVIATURAS:

AAIR- taxa de incidência ajustada pela idade

AC- anticorpos monoclonais

AIDS- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

APC-“ allophycocyanin”

APC-H7- “allophycocyanin- Hilite7”

CD- “cluster of differentiation”

CFM- citometria de fluxo multiparamétrica

c-kit- receptor tirosina-kinase de membrana tipo 3

CG- Clinical Group System “Intergroup Rhabdomyosarcoma Study

COG- “Children’s Oncology Group”

cyNSE- enolase neuroespecífica intracitoplasmática

EBV- virus Epstein-Baar

EGIL- Grupo Europeu de Classificação Imunológica das Leucemias

Epcam- molécula epitelial de adesão celular

EUROFLOW- Europeu de Citometria de fluxo

FAB- “French-American-British”

FACS- “Fluorescence-activated cell sorting”

FDC- células dendríticas foliculares

FISH- “fluorescence in situ hybridization”

FITC- “fluorescein isothiocyanate”

FN- falso negative

FP- falso positivo

FSC- “forward scatter”

GD2- disialogangliosideo

GEIL- Grupo Europeu de Estudos Imunológicos das Leucemias

HE- hematoxilina-eosina

HNK-“ human natural killer-1”

INPC - nternational Neuroblastoma pathology Classification”

INRG -“International Neuroblastoma Risk Group”

INSS- Sistema Internacional de Estadiamento do Neuroblastoma

IRS- “Intergroup Rhabdomyosarcoma Study “

LB- linfoma de Burkitt

LC- líquidos corporais

LCA- antígeno comum leucocitário

LDGCB- linfoma difuso de grandes células B

LH- Linfoma de Hodgkin

LNH- Linfoma não-Hodgkin

MFI- intensidade média de fluorescência

MKI- índice de mitose-cariorrexis

MPO- ieloperoxidase

MO- medula óssea

NCAM- molécula de adesão neural

NGFR- receptor de fator de crescimento neural

NK-“natural-killer”

NSE- esterase não-específica

NWTS- “National Wilms’ tumor Study Group”

OMS- Organização Mundial de Saúde

PaB- “pacific blue”

PaO-“pacific orange”

PBS- “phosphate buffered saline”

PCA- análise do componente princiapl

PCR- reação de polimerase em cadeia

PE-“ phycoerythrin”

PEcy7- “phycoerythrin-cyanin die 7”

PerCPcy5.5-“ peridinin chlorophyll protein-cyanin die 5.5”

PNET- tumor neuroectodérmico primitivo

PSA- ácido periódico de Schiff

RCBP- registro de câncer de base populacional

RMS- rabdomiossarcoma

RNM- Ressonância Nuclear magnética

SLE- sobrevida livre de eventos

SG- sobrevida global

SIOP- “International Society of Pediatric Oncology”

SP- sangue periférico

SNC- Sistema Nervoso Central

SSC- “side scatter”

TA- temperatura ambiente

TC- tomografia computadorizada

TFH- células T “helper” foliculares

TNM- “Tumor-nodes-metastasis”

VN- verdadeiro negativo

VP- verdadeiro positivo

VPN- valor preditivo negativo

VPP- valor preditivo positivo

LISTA DE FIGURAS:

Figura 1. Taxas de Mortalidade por câncer no Brasil 6

Figura 2. Modelo de miogênese do músculo esquelético 17

Figura 3. Representação esquemática do envolvimento da via da ß- catenina no Tumor de

Wilms 23

Figura 4. Distribuição dos casos de linfoma no Brasil segundo Gaulco et AL 26

Figura 5. Representação diagramática da diferenciação da célula B e sua relação com as

neoplasias de células B 28

Figura 6. Representação diagramática da diferenciação de células T e as neoplasias

correspondentes aos diferentes estágios de maturação 29

Figura 7. Estratégia de análise e separação por classificação de padrão dos três diferentes

grupos de leucemias agudas com a utilização do programa de análise de dados Infinicity 37

Figura 8. Esquema do pré-preparo das amostras analisadas 48

Figura 9. Seleção das células neoplásicas viáveis em amostra de neuroblastoma 51

Figura 10. Fusão dos dados relativos a expressão da proteína nuMYOD1 dos pacientes com

neuroblastoma, rabdomiossarcoma e PNET 52

Figura 11. Análise do Componente Principal de Neuroblastoma e PNET 53

Figura 12. Morfologia celular de duas amostras analisadas 55

Figura 13. Análise fenotípica por citometria de fluxo de linfoma não-Hodgkin X amostra

reacional 58

Figura14. Morfologia (aumento de 40x e 100x) e análise fenotípica por citometria de fluxo

de Neuroblastoma 61

Figura15. Análise fenotípica por citometria de fluxo de Rabdomiossarcoma 63

Figura16. Análise de urina por citometria de fluxo em dois pacientes com rabdomiossarcoma

pélvico 64

Figura 17. Morfologia (aumento de 40x e 100x) e análise fenotípica por citometria de fluxo

de Tumor Neuroectodérmico Primitivo 65

Figura 18. Análise fenotípica por citometria de fluxo de Tumor de Wilms 66

Figura 19. Morfologia (aumento de 40x e 100x) de linfoma Linfoblástico B e análise

fenotípica por citometria de fluxo de Linfoma Linfoblástico B e Linfoma T associado

ao EBV 67

Figura 20. Análise fenotípica por citometria de fluxo de tumores raros pediátricos 69

Figura 21. Fusão dos dados das 35 amostras neoplásicas estudadas quanto à expressão das

proteínas de maior poder discriminativo e análise do componente principal dos três principais

grupos de tumores estudados 71

LISTA DE TABELAS:

Tabela 1.Taxas de Incidência dos diferentes tipos de câncer pediátrico em 14 RCBP no Brasil

de acordo com grupos da Classificação internacional de câncer pediátrico 5

Tabela 2. Descrição detalhada da expressão de proteínas úteis no diagnóstico dos

tumores sólidos pediátricos e testados em nosso estudo 8

Tabela 3. Sinais e Sintomas do câncer pediátrico presentes também em doenças comuns da

infância 13

Tabela 4. Avaliação prognóstica segundo INPC (Sistema Shimada) 15

Tabela 5. Estadiamento do neuroblastoma segundo INSS 16

Tabela 6. Sistema CG de estratificação do Rabdomiossarcoma 19

Tabela 7. Sistema TNM de estratificação do Rabdomiossarcoma 20

Tabela 8. Sobrevida Global do Sarcoma de Ewing distribuída nos diferentes grupos de

risco 22

Tabela 9. Principais diferenças no Estadiamento do Tumor de Wilms 25

Tabela 10. Classificação FAB de Leucemia Linfoblástica Aguda 33

Tabela 11. Classificação Imunofenotípica segundo Grupo Europeu para Classificação

Imunológica das Leucemias (EGIL) proposto em 1995 para leucemias linfoblásticas agudas

de precursores B 34

Tabela 12. Classificação Imunofenotípica segundo Grupo Europeu para Classificação

Imunológica das Leucemias (EGIL) proposto em 1995 para leucemias linfoblásticas agudas

de precursores T 34

Tabela 13. Classificação Imunológicas das Leucemias Bifenotípicas segundo sistema de

pontos desenvolvido pelo Grupo EGIL em parceria com o grupo Britânico (Royal Marsden

Hospital, Londres) 35

Tabela 14. Classificação Imunológica das leucemias Mielóides segundo GEIL em 2003 35

Tabela 15. Diagnóstico Histológico dos Casos Estudados 46

Tabela 16. Painel de anticorpos monoclonais utilizados de acordo com a seqüência de

investigação e a origem celular do tumor 49

Tabela 17. Análise Comparativa entre diagnóstico patológico dos tumores não-

hematopoiéticos por citometria de fluxo e técnica diagnóstica padrão ouro 56

Tabela 18. Infiltração Inflamatória Intra-tumoral 59

Tabela 19. Expressão das diferentes proteínas estudadas nos tumores sólidos pediátricos 60

1

1 INTRODUÇÃO

O câncer pediátrico, apesar de raro, acomete cerca de 200 mil crianças menores de 14

anos em todo o mundo. 1 No Brasil, a taxa mediana de incidência em 14 Registros de Câncer

de Base Populacional (RCBP) é de 154,3 por milhão de crianças e adolescentes com idade até

19 anos.2 Embora, muitos avanços no campo do diagnóstico e tratamento tenham melhorado a

sobrevida deste grupo de pacientes, o câncer pediátrico permanece como a principal causa de

morte por doença nos países desenvolvidos e em alguns em desenvolvimento.3

No Brasil, o

câncer pediátrico já representa a primeira causa de morte por doença em todas as regiões para

faixa etária de 5 a 18 anos.4

Cerca de 30% dos tumores sólidos pediátricos são tumores disontogenéticos, cuja

morfologia se assemelha ou recapitula os tecidos embrionários de origem. Estes tumores,

inicialmente descritos no começo do século 19, evoluíam de maneira fatal, sendo utilizado

como tratamento apenas cirurgia e/ou radioterapia, em alguns casos.5

No diagnóstico

histopatológico, a maioria destes tumores pertence ao grupo de “tumores de células pequenas

redondas e azuis”, caracterizados por células indiferenciadas, pequenas e redondas,

usualmente de difícil diagnóstico morfológico. Este grupo de tumores inclui, mais

comumente: linfomas, neuroblastomas, rabdomiossarcomas, Sarcoma de Ewing/PNET (tumor

neuroectodérmico primitivo), tumor de Wilms e tumor desmoplásico de pequenas células

redondas e azuis. Algumas outras neoplasias da infância podem ser consideradas como

diagnóstico diferencial, dependendo da apresentação clínica. São elas: osteossarcoma de

células pequenas, condrossarcoma mesenquimal, retinoblastoma e hepatoblastoma.6

Em meados do século 20, com o advento da quimioterapia e o início dos grupos

cooperativos para tratamento destas patologias, a sobrevida melhorou sobremaneira. Estes

protocolos, agora multimodais, requeriam do patologista maior precisão diagnóstica, visto

que estes pacientes eram tratados com específicas combinações de cirurgia, quimioterapia e

radioterapia, direcionadas para seu subtipo histológico. 7

Neste contexto, entra a evolução das técnicas diagnósticas, desde a microscopia

óptica, útil para classificação morfológica, até técnicas mais específicas, que, atualmente,

estudam a expressão de genes e proteínas dos diversos subgrupos tumorais.5,7

O diagnóstico e classificação corretos deste grupo de doenças são o primeiro e mais

importante passo para um bom resultado terapêutico.7

Existe uma direta associação entre

diagnóstico rápido e preciso, e sucesso terapêutico -taxas de sobrevida global e livre de

doença, assim como, melhoria na qualidade de vida - o que demanda do patologista,

2

especialmente nos casos de tumores embrionários pediátricos, a utilização de um conjunto de

técnicas diagnósticas, além de uma grande expertise.8

A citometria de fluxo evoluiu, nas últimas três décadas, de uma nova e promissora

técnica, para uma ferramenta indispensável no diagnóstico e seguimento das neoplasias

hematológicas. 9

Embora, a citometria de fluxo seja amplamente utilizada na rotina diagnóstica em

hematologia, o estudo dos tumores sólidos permanece no âmbito da pesquisa. 10

Um dos

maiores limitantes à implementação da citometria de fluxo como técnica diagnóstica em

tumores sólidos se deve à necessidade de amostras frescas em suspensão. 10,11

A dissociação

celular de diferentes tipos tumorais foi campo de extensas pesquisas que serviram de base

para a posterior análise de antígenos celulares específicos. 12-14

Na avaliação diagnóstica rotineira, a citometria de fluxo apresenta grande utilidade,

uma vez que permite uma análise quantitativa da expressão antigênica de uma única célula

tumoral por vez. Com a citometria de fluxo, é possível a análise e armazenamento de

informação de milhões de células em poucas horas, o que poderia cooperar para um

diagnóstico rápido e um estudo detalhado em amostras heterogêneas e paucicelulares. 11, 15,16

No diagnóstico de tumores sólidos pediátricos, o uso clínico da citometria de fluxo se

restringe à análise de DNA, que é considerada de grande impacto prognóstico em alguns

subtipos tumorais. 17,18

A utilização, previamente estabelecida, de tecidos fixados ou

congelados para análise de DNA por citometria de fluxo favorece a aplicação da citometria de

fluxo para tumores sólidos em estudos de DNA. 19,20

Em poucos estudos (3), a

imunofenotipagem de células tumorais por citometria de fluxo foi comparada com técnicas

como FISH e PCR para detecção de infiltração da medula óssea, seja no estadiamento ou no

seguimento destes pacientes. 21, 22,23

Na última década, foram publicados alguns estudos para a identificação de

marcadores de linhagem específicos para os tumores sólidos na infância através da citometria

de fluxo. 24-27

Em 2001 identificou-se que células tumorais não-hematopoéticas expressavam

CD56 (molécula de adesão neural-NCAM) na ausência de CD45 (antígeno comum

leucocitário-LCA) por citometria de fluxo. 24

A seguir, em 2003, o mesmo grupo descreveu a

expressão de citoqueratina e molécula epitelial de adesão celular (Epcam), de miogenina e de

CD99 (MIC2), respectivamente, nos tumores de origem epitelial, muscular e

neuroectodérmica. 26

Dentre os tumores pediátricos, o neuroblastoma apresentou o maior

número de proteínas estudadas por citometria de fluxo, uma vez que este tumor infiltra

freqüentemente a medula óssea, e faz parte do diagnóstico diferencial de leucemias

3

linfoblásticas agudas na infância, situação em que a citometria de fluxo é utilizada

rotineiramente. Por exemplo, o fenótipo CD56+ /CD45

–/ CD9

+/CD81

+ já foi amplamente

descrito para este tumor. 27-30

Em tumores sólidos, não existem protocolos bem estabelecidos e sistematizados para

o diagnóstico destes na infância por citometria de fluxo multiparamétrica (CFM). Este projeto

propôs a realização sistemática de estudos imunofenotípicos em todos os tumores sólidos

diagnosticados no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG)/UFRJ e

Hospital dos Servidores do Estado (HSE), em um período de dois anos, utilizando um amplo

painel de anticorpos monoclonais por citometria de fluxo, para identificar marcadores úteis

no diagnóstico diferencial neste grupo de tumores. Além dos anticorpos monoclonais

fabricados para citometria de fluxo, foram testados também anticorpos monoclonais

fabricados para uso na técnica de imuno-histoquímica e nunca antes utilizados para citometria

de fluxo. O padrão-ouro para estabelecer o diagnóstico foi o exame histopatológico

convencional, associado à técnica de imuno-histoquímica.

A revisão bibliográfica deste trabalho é apresentada no próximo capítulo do trabalho.

A primeira parte do capítulo apresenta o contexto do câncer pediátrico no Brasil e no mundo,

biologia tumoral, suas características clínicas e estudo histopatológico. A seguir, apresenta-se

um histórico do uso da citometria de fluxo, sua evolução nas patologias de origem

hematológica, sua utilização na análise de DNA e ciclo celular e, por fim, sua aplicação em

tumores sólidos. Por último, apresentamos um resumo dos estudos publicados até o momento

onde se utilizou a citometria de fluxo como ferramenta no diagnóstico ou estratificação dos

tumores sólidos pediátricos.

Os capítulos seguintes (3,4,5) descrevem os objetivos, a metodologia do estudo,

resultados obtidos e discussão. No último capítulo, são apresentadas a conclusão e as

sugestões futuras para prosseguimento da investigação no campo da citometria de fluxo em

tumores sólidos da infância.

4

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Tumores Sólidos Pediátricos

2.1.1 Epidemiologia:

A incidência anual estimada de câncer pediátrico, em todo o mundo, excede 200 mil

diagnósticos em crianças abaixo de 15 anos. Dentre estes diagnósticos, 80% estão localizados

em países de baixa renda.1,7

No Brasil, a partir de 1980, o Instituto Nacional do Câncer estabeleceu, em cidades

brasileiras distintas, 20 registros de câncer de base populacional (RCBP) e, em julho de 2009

publicou a primeira análise descritiva da incidência de câncer pediátrico no Brasil com base

nos dados de 14 RCBP, desde 1991.2 Com isto, obtiveram os seguintes resultados:

- Mediana da taxa de incidência nos 14 RCBP: 154.3/ 106 de crianças menores de 20 anos.

- Idade com maior taxa de incidência: entre 1-4 anos

- Subtipos de câncer mais comuns: leucemia (18-41%), linfoma (13-24%) e tumor de sistema

nervoso central (7-17%).

5

Células Germin – Células germinativas; AAIR- taxa de incidência ajustada pela idade

REGIÃO LEUCEMIA

AAIR

LINFOMA

AAIR

SNC

AAIR

NEUROBL

AAIR

RETINO

AAIR

RENAL

AAIR

FÍGADO

AAIR

OSSO

AAIR

PARTES

MOLES

AAIR

CÉLULAS

GERMIN

AAIR

CARCINOMAS

AAIR

OUTROS

AAIR

TOTAL

deCASOS/

AAIR

SUL

Curitiba 64.22 26.59 25.98 10.98 2.73 5.21 0.57 9.44 11.80 16.63 16.33 3.66 538/194.13

Porto Alegre 48.01 28.91 32.45 9.16 5.86 13.25 2.15 9.79 15.75 10.14 14.09 7.50 436/197.07

SUDESTE

Campinas 35.51 17.09 20.62 4.41 5.90 7.44 1.17 6.48 16.00 3.76 10.99 1.04 208/130.41

Jaú 53.77 39.01 21.00 0.00 6.95 0.00 0.00 0.00 8.52 11.49 16.47 0.00 29/157.22

São Paulo 47.50 30.58 29.41 7.72 7.04 9.19 1.31 18.20 12.92 8.79 17.83 13.09 3667/203.60

NORDESTE

Aracaju 26.84 19.60 21.81 5.43 5.43 10.95 1.50 9.37 10.89 7.03 16.57 2.05 123/137.46

Fortaleza 37.91 18.97 13.40 1.86 2.76 5.75 0.24 9.96 6.69 4.02 15.21 14.73 587/131.49

João pessoa 34.63 22.53 15.74 2.74 3.34 9.59 0.00 12.41 8.82 2.80 19.02 6.91 162/138.53

Natal 47.45 29.67 9.60 4.29 9.82 4.02 0.00 6.89 3.32 4.90 19.52 9.17 167/148.66

Salvador 21.36 13.57 10.92 3.82 5.11 8.22 2.42 5.90 7.12 3.58 7.27 2.92 417/92.20

Recife 48.53 24.13 22.85 8.67 3.87 10.42 1.58 8.25 9.39 4.60 10.08 16.71 436/169.08

NORTE

Manaus 67.36 24.56 18.43 1.80 4.53 4.90 1.57 10.12 4.27 3.84 7.48 9.39 397/158.26

CENTRO

Dist Federal 29.03 22.69 22.91 4.67 2.40 8.64 0.79 9.62 6.63 7.39 16.53 20.08 620/151.38

Goiânia 67.51 34.21 31.98 9.34 6.78 15.32 2.77 15.98 15.41 7.80 18.21 5.68 435/230.98

NºdeCASOS 2044 1291 1106 250 207 352 58 669 514 375 837 519 8222

Tabela 1. Taxas de Incidência dos diferentes tipos de câncer pediátrico em 14 RCBP no Brasil de acordo com grupos da Classificação internacional de câncer pediátrico

( Camargo B, 2009)

6

Apesar de raro, quando comparado ao câncer em adultos, o câncer pediátrico é a

segunda causa de morte na faixa etária de 5 a 19 anos, perdendo apenas para causas externas

(DATA SUS,2005).4,31

No Brasil, aproximadamente 44 meninos e 36 meninas por milhão de

crianças e adolescentes menores de 19 anos morrem de câncer a cada ano.31

Nos países

Europeus, a introdução de procedimentos diagnósticos, melhoria nas estratégias de

tratamento e na qualidade de vida destes pacientes com câncer aumentaram a sobrevida para

taxas entre 78-83% de acordo com o EUROCARE (2000-2002).32

No Brasil, a grande maioria

do país, ainda possui difícil acesso a centros especializados de tratamento do câncer, o que

mantém nossa taxa de sobrevida muito aquém do esperado. 4 Na figura 1, observamos que a

taxa de sobrevida manteve-se praticamente inalterada por todo o período, variando entre 40-

60% no ano de 2005 entre as diferentes regiões do país.

Figura 1.Taxas de Mortalidade por câncer no Brasil

FIGURA 1. Taxas de mortalidade por câncer, ajustada por idade, por 106 de crianças e

adolescentes no Brasil e Regiões de 1979 a 2005.( Camargo B, INCA, 2008)

2.1.2 Patobiologia e Relação com a Embriogênese

Durante o desenvolvimento tecidual, uma célula pode sofrer renovação celular,

progressão no ciclo celular, diferenciação, senescência ou morte celular programada.

Mecanismos genéticos e microambientais de sinalização célula-célula e célula-meio

extracelular regulam a entrada em cada uma destas condições. Acredita-se que a

7

tumorigênese seja um processo de múltiplos passos: iniciação (alteração molecular),

promoção (interação com o microambiente), progressão (capacidade de se adaptar e

influenciar o microambiente para crescimento tumoral).7

O câncer pediátrico, em sua maioria, origina-se de tecidos embrionários identificados

ao microscópio como tecidos semelhantes aos presentes no embrião ou no feto. Com o

advento de novas estratégias, foi possível a demonstração do envolvimento de múltiplas vias

embrionárias no desenvolvimento do câncer. A relação entre organogênese e tumorigênese no

câncer pediátrico se reflete na incidência idade-específica, nos períodos de máximo

crescimento tecidual do tecido relacionado normal e com a grande incidência de tumores

pediátricos em pacientes com síndromes herdadas de mutações em genes envolvidos no

desenvolvimento normal.7,33

Assim como demonstrado no genótipo, a expressão de proteínas nestas células

neoplásicas pode ser correlacionada com o encontrado em células embrionárias do tecido

normal correspondente. Várias proteínas envolvidas com desenvolvimento embrionário estão

expressas nos tumores sólidos pediátricos: LCA (CD45), c-Kit (CD117), Thy1 (CD90),

NCAM (CD56), NGFR (CD271), HNK (CD57), MYOD1, Miogenina.34-39

Na tabela 2 há

descrição detalhada da expressão de proteínas relacionadas ao desenvolvimento embrionário,

assim como de diferentes proteínas importantes para caracterização de linhagem tumoral.

8

Tabela 2. Descrição detalhada da expressão de proteínas úteis no diagnóstico dos

tumores sólidos pediátricos e testados em nosso estudo

CD nº

Antígeno/sinônimo Gene

localização

Função Utilidade diagnóstica

MARCADORES

HEMATOPOIÉTICOS

CD45 LCA/Antígeno Comum

leucocitário

1q31-q32 Conhecidos como moléculas

sinalizadoras que regulam

uma série de funções

celulares:crescimento celular,

diferenciação, ciclo mitótico e

transformação oncogênica

Específico de células

hematopoiéticas

MPO/mieloperoxidase 17q23.1 Proteína do Heme sintetizada

durante a diferenciação

mielóide produz ácido

hipohalous essencial na

atividade antimicrobicida dos

neutrófilos

Especificamente

expresso nas células

mielóides

CD79a IGA;MB-/ alfa-

imunoglobulina

19q13.2 Proteína do complexo

antigênico de células B

necessária para expressão e

função do receptor do

antígeno de células B

Especificamente

expresso em células B

CD3 T3;OKT3/T3 antígeno

associado com receptor

TCR

11q23 Ativação de células T

associada ao TCR

Especificamente

expresso em células T

CD4 CD4mut;OKT4/T4

antígeno

12pter-p12 Interage com o complexo de

histocompatibilidade (MHC)

de classe II;

Expresso em linfócitos

T,B; macrófagos e

granulócitos

CD7 GP40; TP41; Tp40;

LEU-9

17q25.2-

q25.3

Essencial na interação de

células T e entre células T e B

durante a ontogenia

linfocitária

Especificamente

expresso em linfócitos

T

CD8 MAL;p32;Leu2/T8

antígeno

2p12 Reconhece antígenos

apresentados pelas células

apresentadoras de antígenos

no contexto MHC de classe I

Especificamente

expresso em células T

9

CD19 B4;CIVC3/ antigeno

celular pan-B

16p11.2 Receptor de baixa afinidade;

diminui o limiar para

estimulação receptor

dependente ; atua na ativação

de células B

Especificamente

expresso em células B

CD20 B1; S7; Bp35;CVID5;

MS4A2; LEU-16/

membrane-spanning 4-

domains, subfamily A,

member1

11q12 Participa no desenvolvimento

e diferenciação celular B em

células plasmáticas

Especificamente

expresso em linfócitos

B

MARCADORES NEURAIS

CD56 NCAM/Molécula de

adesão celular 1

11q23.1 Envolvido na interação celular

célula-célula e célula –matrix

durante o desenvolvimento e

diferenciação

Linfócitos NK; Sistema

Nervoso Central

(SNC);células

neuroectodermais e

uma variedade de

tumores (Sarcoma de

Ewing; neuroblastoma;

tumores

neuroendócrinos)

CD57 Leu7; NK1; CD57;

HNK1; B3GAT1/ beta-

1,3-glucuronyltransferase

1

11q25 Parece ter um papel na

interação celular célula-célula

e célula - substrato

Alguns linfócitos T e

B; subpopulação de

células NK; células da

crista neural; uma

variedade de tumores

(neuroblastoma;

Sarcoma de Ewing;

rabdomiossarcoma)

CD99 MIC2; HBA71; MIC2X Xp22.32;

Yp11.3

Envolvido na migração

leucocitária, adesão de célula

T, gangliosídeo GM1e

transporte de proteína

transmembrana e morte dos

linfócitos T, onco-supressor

em osteossarcoma e Sarcoma

de Ewing possivelmente

contribui com a oncogenêse

prevenindo a diferenciação

neural

Linfóctios T, células

endoteliais; Linfoma

Linfoblástico,sarcoma

de Ewing e

rabdomiossarcoma

10

GD2/disialoganglioside 2 Possivelmente tem papel

importante na ligação celular

tumoral e com sua matrix

extracelular

Neuroblastomas;

tumores de origem

neuroectodermal ou

epitelial;melanomas;al

guns osteosarcomas e

sarcomas de partes

moles

CD271 NGFR/ receptor do fator

de crescimento neural;

p75NTR; TNFRSF16;

p75(NTR)

17q21-q22 Pode aumentar ou diminuir a

atividade do receptor Trk

mediada por

neurotrofina;cascata de

sinalização autônoma que

resulta na indução de apoptose

ou promove a sobrevida

Células tronco

mesenquimais;tumores

neuroectodermais ;

alguns neuroblastomas;

melanoma

MARCADORES

MIOGÊNICOS

MYOD1;PUM;

MYF3/diferenciação

miogênica 1

11p15.4 Regula a diferenciação celular

muscular induzindo parada no

ciclo celular um pré-requisito

para iniciação miogênica

Especificamente

expresso nos

precursores de músculo

estriado esquelético;

rabdomiossarcoma

Miogenina;MYF4;

bHLHc3/fator miogênico

4

1q31-q41 Essencial para o

desenvolvimento do músculo

esquelético funcional

Especificamente

expresso no músculo

estriado esquelético;

rabdomiosarcoma

Desmin 2q35 Papel crítico na manutenção

estrutural e integridade

mecânica do aparato contrátil

no tecido muscular

Proteína muscular

específica; tumor

desmoplásico;

sarcomas;

rabdomiossarcoma

MARCADORES

EPITELIAIS

Epcam; ESA; KSA;

M4S1; MK-1; /molécula

de adesão celular

epitelial

2p21 Atua como molécula de

adesão celular e como parceiro

da E-caderina, promove

integridade epitelial e

morfogênese epitelial;em

câncer está associado a

progressão tumoral, migração

e invasão

Maioria das células

epiteliais normais e

carcinomas

11

MARCADORES

PRECURSORES

CD34 MY10;B1.3C5 1q32 Células hematopoiéticas

CD34 tem papel importante

na modulação da adesão;

células endoteliais CD34 tem

papel no extravasamento de

leucócitos por “afrouxar as

ligações célula –célula”

Células endoteliais de

vasos pequenos;

células hematopoiéticas

progenitoras; tumores

de origem epitelial;

alguns tecidos fetais e

adultos do SNC;alguns

tumores mesenquimais;

leucemias agudas

CD90 Thy-1 antígeno de

superfície celular

11q23.3 Ativação de célula

T;crescimento de neurite ;

sinalização para

apoptose;adesão e migração

celular de melanócitos e

leucócitos; supressão tumoral;

importante regular de

interação célula –célula e

célula-matrix

Células T, timócitos,

neurônios, células

endoteliais e

fibroblastos, células

tronco mesenquimais;

alguns carcinomas;

neuroblastoma;

PNET;rabdomiossarco

ma; linfoma;melanoma

CD117 c-kit; PBT; SCFR; C-Kit 4q11-q12 Participa da sobrevivência

celular; diferenciação e

proliferação

Tumor gastrointestinal

estromal, mastocitose,

leucemia mielóide

aguda; melanoma;

PNET;

neuroblastoma;tumor

de células germinativas

MARCADORES DE

LINHAGEM NÃO-

RESTRITOS

CD9 MIC3; MRP-1; BTCC-1;

DRAP-27; TSPAN29

12p13.3 Função em qualquer processo

celular incluindo

diferenciação, adesão,

transdução de sinal; a

expressão de gene tem papel

importante na supressão de

metástase e motilidade celular

Leucemia linfoblástica

Aguda (LLA);

variedade de tumores:

epitelial;

neuroectodermal;

osteossarcoma;

rabdomiossarcoma

CD10 CALLA;NEP;MME/

metalo-endopeptidase de

3q25.1-

q25.2

Quebra peptídeos no sítio

amino dos resíduos

Variedade de tecidos

normais; precursores

12

membrana hidrofóbicos e inativa muitos

hormônios peptídeos

glucagon, encefalina,

substância P, neurotensina,

ocitocina e bradicinina.

de células renais;

células tumorais

germinativas; tumor de

mama; leucemia

linfoblástica aguda

CD81 S5.7; CVID6; TAPA1;

TSPAN28

11p15.5 Papel na regulação do

desenvolvimento celular,

ativação, crescimento e

motilidade

LLA; variedade de

tumores:

neuroblastoma;

melanoma;

rabdomiossarcoma;

glioma osteossarcoma;

linfoma

CD58 LFA3; LFA-3;

FLJ23181; FLJ43722

1p13 Ligante da proteína CD2 dos

linfócitos T e funciona na

adesão e ativação de linfócitos

T

LLA; linfoma;

carcinoma

vimentina 10pter-

10q23

Parte do citoesqueleto; emerge

como um organizador de um

número de proteínas

críticasenvolvidas na ligação,

migração e sinalização celular

Controle de qualidade;

reage com a maioria

das células

mesenquimais

CD38 T10;OKT10 4p15 Funciona na adesão celular,

transdução da sinalização via

cálcio

Expresso em diferentes

tipos celulares

incluindo timócitos,

células T ativadas e

células B com

diferenciação terminal

(plasmócitos)

13

2.1.3. Apresentação Clínica dos tumores sólidos pediátricos:

O câncer pediátrico, além de raro, tem comportamento inicial bastante semelhante a

diversos processos patológicos comuns na infância. Sendo assim, o diagnóstico inicial desta

doença é muitas vezes retardado até estágios disseminados da doença, onde seus sinais e

sintomas são mais claramente relacionados. 40

Na tabela 3, há uma pequena relação de sinais

e sintomas que podem ser comuns a doenças benignas e malignas da infância.

Tabela 3. Sinais e Sintomas do câncer pediátrico presentes também em doenças comuns

da infância (Rodrigues, 2003)

SINAIS E SINTOMAS DOENÇAS FREQUENTES CÂNCER

Mal-estar, febre e adenomegalias Mononucleose, viroses Leucemias e linfomas

Cefaléia, náuseas e vômitos Meningite, encefalite Tumor de SNC

Massa óssea, dor óssea Trauma, infecção,tuberculose Sarcoma de Ewing,

Osteossarcoma,

Neuroblastoma

Hematúria, disúria Infecção urinária Rabdomiossarcoma,

Tumor de Wilms

2.1.4 Breve Histórico sobre Neuroblastoma:

2.1.4.1 Epidemiologia e origem do Neuroblastoma

O Neuroblastoma é o tumor sólido extracraniano mais comum na infância,

correspondendo a 8-10% de todos os tumores pediátricos. É o tumor mais comum em

lactentes (54%) e tem mediana de idade ao diagnóstico de 19 meses. Originário das células da

crista neural comprometidas com a linhagem nervosa simpática periférica possui

características únicas: pode ser um tumor altamente letal, mesmo com tratamento agressivo,

até um tumor diferenciado com regressão espontânea. 4,41

14

2.1.4.2. Genética do Neuroblastoma

Um subgrupo de pacientes com neuroblastoma exibe uma predisposição genética

herdada autossômica dominante.Uma história familiar de predisposição genética é encontrada

em 1-2% dos casos novos de neuroblastoma. 4

Alterações genéticas no neuroblastoma

geralmente ocorrem de 3 formas: amplificação de oncogene e ganho ou perda cromossomial

segmentar.42

Exemplos destas alterações cromossomiais são: amplificação do NMYC,

duplicação do lócus NMYC (2p24), ganho do 17q e perda do 1p.41

Nos últimos anos, a

tecnologia de “microarray” evidenciou a possibilidade de identificar subgrupos tumorais em

neuroblastomas a partir da identificação de genes especificamente expressos e predizer

resultados de sobrevida nestes subgrupos. Entretanto, estudos de perfil de expressão global

(mRNA e proteína) são necessários para melhor avaliação funcional, pois estudam

diretamente a molécula efetora final. Chen et al43

, estudaram em paralelo a expressão

protéica e de mRNA em dois subgrupos de neuroblastoma (estágio 1 e 4 com NMYC

amplificado) e encontraram um total de 433 e 130 proteínas super expressas ou com baixa

expressão comparativamente nos estágios 4 e 1. Entre elas estão proteínas relacionadas com

adesão celular, desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC) e processos de

diferenciação celular.

2.1.4.3. Apresentação Clínica do Neuroblastoma

Os sinais e sintomas dos pacientes com neuroblastoma refletem a localização da

doença e seu potencial metastático. Pacientes com doença localizada são geralmente

assintomáticos e detectados acidentalmente, enquanto pacientes com doença disseminada

costumam cursar com dor óssea (34%), febre (28%) e perda de peso (21%). Pode ocorrer,

também, secreção de hormônios (peptídio vasoativo intestinal e catecolaminas) e síndromes

paraneoplásicas (opsoclonus-mioclonus, Horner entre outras).44

2.1.4.4. Diagnóstico e Estadiamento do Neuroblastoma

O diagnóstico do neuroblastoma pode ser realizado a partir da detecção de células

infiltrantes na medula óssea, por biópsia da medula óssea, elevação urinária do ácido

vanilmandélico ou homovanílico, cintilografia com meta-iodo-benzil-guanidina (MIBG) e/ou

biópsia direta da massa tumoral. De acordo com a INPC (“International Neuroblastoma

15

pathology Classification”) os tumores neuroblásticos (neuroblastoma, ganglioneuroblastoma

e ganglioneuroma), historicamente, apresentam o grau de maturação neuroblástica à células

ganglionares, como característica morfológica de importância prognóstica. Com o objetivo de

aprimorar a relação classificação patológica X prognóstico, o comitê internacional de

patologia de neuroblastoma publicou, em 1999, uma avaliação prognóstica baseada no

sistema Shimada (tabela 4)45

A estratificação cirúrgica do neuroblastoma é realizada pelo Sistema Internacional de

Estadiamento do Neuroblastoma (INSS), desenvolvido em 1986, e revisado em 1993, que

leva em consideração: localização, ressecabilidade, presença de metástase local ou à distância

e idade ao diagnóstico.44,46

Na tabela 5 encontra-se a descrição do estadiamento segundo INSS

Tabela 4 Avaliação prognóstica segundo INPC (Sistema Shimada)

INPC Classificação Shimada Prognóstico

Neuroblastoma

Favorável

<1,5 anos

1,5 anos-5 anos

Desfavorável

<1,5 anos

1,5-5 anos

>5 anos

Pobre em estroma Schwan

Pouco diferenciado ou em

diferenciação com MKI baixo

ou intermediário

Diferenciando e baixo MKI

a)Tumor indiferenciado

b) MKI alto

Tumor indiferenciado ou pouco

diferenciado

MKI intermediário ou alto

Todos os tumores

Pobre em estroma Schwan

Favorável

Desfavorável

Favorável

Desfavorável

Ganglioneuroblastoma,

“intermixed”

Rico em Estroma de Schwan Rico em Estroma de Schwan

“intermixed”

Favorável

Favorável

Ganglioneuroma

Amadurecendo

Maduro

Estroma de Schwan dominante

Bem diferenciado

Favorável

Ganglioneuroma

Favorável

Ganglioneuroblastoma

nodular

Composição estroma rico-

dominante e pobre

Estroma rico nodular

Desfavorável

Desfavorável

INPC- International Neuroblastoma Pathology Classification ; MKI- índice de mitose-cariorrexis

16

Tabela 5 Estadiamento do neuroblastoma segundo INSS

Estágio Definição

1 Ressecção macroscópica completa sem infiltração de linfonodos adjacentes

(linfonodos resecados) junto com o tumor podem ser positivos

2A Tumor com ressecção macroscópica incompleta e linfonodos ipsilaterais

negativos

2B Tumor com ou sem ressecção cirúrgica macroscópica completa + linfonodos

ipsilaterais positivos e contralaterais negativos

3 Tumor irressecável ultrapassando linha média ou linfonodo contralateral

positivo com tumor ressecável ou tumor de linha média com extensão bilateral

ou com envolvimento linfonodal

4 Qualquer tumor com metástase à distância: fígado, osso, linfonodos, medula

óssea, pele e/ou outros ossos. (exceção 4S)

4S Tumor primário localizado (1,2ª,2B) com disseminação para pele, medula

óssea(<10%) e/ou fígado em pacientes <1 ano de idade

2.1.4.5. Tratamento do Neuroblastoma

Em 2009, o INRG (“International Neuroblastoma Risk Group”) publicou um

consenso de estratificação por grupo de risco para unificação da estratificação pré-

tratamento.46

Com esta estratificação, foi possível aprimorar o tratamento para os grupos de

risco de melhor prognóstico ( INSS 1, 2, 3 e 4S sem NMYC amplificado) com sobrevidas

livre de eventos (SLE) e global (SG) de 87% e 95% respectivamente. Enquanto para aqueles

com doença avançada, maiores de 1 ano e amplificação do NMYC novas pesquisas vêm

sendo desenvolvidas para melhoria da SLE, que atualmente corresponde a 19%, e SG que

hoje é de 22%.46

17

2.1.5. Breve Histórico sobre Rabdomiossarcoma

2.1.5.1 Epidemiologia e origem do Rabdomiossarcoma

O rabdomiossarcoma é o sarcoma de partes mole mais comum na infância que

corresponde a 3-4 % de todos os cânceres na infância. Aproximadamente 60% destes tumores

acometem crianças menores de 6 anos. O sítio mais acometido é a cabeça e o pescoço, que

compreendem 40% dos casos. O rabdomiossarcoma é originalmente descrito como um tumor

proveniente de células musculares imaturas, comprometidas com a formação do músculo

esquelético. Entretanto, o rabdomiossarcoma pode acometer locais onde não há músculo

esquelético (bexiga, vesícula biliar, medula óssea). Este fato, associado à grande diversidade

de apresentações clínicas dos diferentes subtipos histológicos, levou a uma grande discussão

da origem do rabdomiossarcoma.47

Na figura 2, observa-se um modelo da miogênese do

músculo esquelético associado com as possíveis origens do rabdomiossarcoma.

Figura 2 Modelo de miogênese do músculo esquelético associado às possíveis origens

celulares do rabdomiossarcoma. A diferenciação muscular a partir do mesoderma depende de

fatores de transcrição específicos (PAX3,PAX7,MYOD, Myf5,Miogenina e Myf6). A

maturação pós-natal de células musculares ou regeneração muscular se faz a partir do

recrutamento de células precursoras satélites que proliferam, se diferenciam e se unem para

formar os miotubos multinucleados. Dependendo do oncogene expresso e do estágio de

maturação celular no qual ocorre o dano, os diferentes subtipos de rabdomiossarcoma podem

surgir.48

18

2.1.5.2. Genética do Rabdomiossarcoma

Embora a grande maioria dos casos de rabdomiossarcoma sejam de origem

esporádica, o rabdomiossarcoma pode ocorrer associado a síndromes genéticas como Li-

Fraumeni e neurofibromatose tipo 1. Os subtipos de rabdomiossarcoma alveolar e

embrionário se apresentam com padrões de anormalidades genéticas completamente

diferentes. O rabdomiossarcoma embrionário é caracterizado por perda de heterozigose no

braço curto do cromossoma 11 (11p15.5), sugerindo inativação de um gene supressor

tumoral. O rabdomiossarcoma alveolar é caracterizado por possuir uma translocação

recíproca em cerca de 80% dos casos envolvendo o cromossomo 2 (gene PAX3) e o

cromossomo 13 ( gene FOXO1) t(2;13) ou 10-15% dos casos envolvendo o cromossomo 1

(gene PAX7) e o cromossomo 13 (gene FOXO1) t(1;13). Esta fusão gera proteínas

quiméricas com capacidade de ligação ao DNA, interferindo na diferenciação miogênica

celular e apoptose.49

2.1.5.3. Apresentação Clínica do Rabdomiossarcoma

A apresentação clínica do rabdomiossarcoma é variável e influenciada por diversos

fatores: sítio de origem, idade do paciente e presença ou ausência de metástases ao

diagnóstico. Menos de 25% dos pacientes apresentam doença metastática ao diagnóstico.

Mais de 50% das crianças com rabdomiossarcoma possuem um único sítio de doença.

Tumores que acometem cabeça e pescoço costumam cursar com massa orbitária, cervicais,

obstrução nasal com descarga mucosanguinolenta. Tumores de extremidades podem cursar

com sinais flogísticos nos membros; e, os tumores que ocorrem no trato genitourinário podem

cursar com hematúria, disúria e obstrução urinária, assim como massa envolvendo testículo e

região vaginal com descarga sanguinolenta.49

2.1.5.4. Diagnóstico e Estadiamento do Rabdomiossarcoma

O diagnóstico do rabdomiossarcoma é feito a partir da biópsia do sítio primário. De

acordo com a classificação patológica internacional, atualmente utilizada pelo COG

(“Children’s Oncology Group”), o rabdomiossarcoma é subdividido em embrionário, de

células fusiformes, botrióide, alveolar (incluindo variante sólida), rabdomiossarcoma não

especificado, sarcoma não especificado e sarcoma indiferenciado.50

O estadiamento inicial do

19

rabdomiossarcoma é feito pela avaliação da extensão de doença no sítio primário e possíveis

locais metastáticos como: pulmão, linfonodos e medula óssea. Como menos de 25%

apresentam doença metastática ao diagnóstico, dependendo do sítio primário, existe a

possibilidade de ressecção cirúrgica total no momento inicial quando o diagnóstico é feito na

peça cirúrgica. Pacientes com doença localizada e totalmente ressecada têm um prognóstico

excelente com taxas de sobrevida livre de eventos >90%. A estratificação por grupo de risco

mais utilizada atualmente associa dois estadiamentos diferentes: o “Clinical Group System

(CG)”, desenvolvido em 1972 pelo “Intergroup Rhabdomyosarcoma Study (IRS)”, que leva

em consideração a ressecção cirúrgica e extensão de doença ao diagnóstico (tabela 6)7; e o

“Tumor-nodes-metastasis (TNM)” modificado por sítio de origem desenvolvido no IRS IV

em 1992 (tabela 7)51

Tabela 6 Sistema CG de estratificação do Rabdomiossarcoma

Estágio Definição

I A tumor confinado ao sítio de origem e completamente ressecado

B tumor com extensão ao redor do sítio de origem, porém

completamente ressecado

II A ressecção macroscópica completa porém doença residual

microscópica

B extensão para linfonodos adjacentes, porém completamente ressecado

C extensão para linfonodos adjacentes e doença microscópica residual

III A doença macroscópica residual- apenas biópsia

B doença macroscópica residual – mais de 50% de ressecção

IV Doença metastática independente de ressecção cirúrgica

20

Tabela 7 Sistema TNM de estratificação do Rabdomiossarcoma

Estágio Sítio Invasividade Tamanho Linfonodo Metástase

I Órbita

Cabeça e pescoço

Geniturinário

T1ouT2

T1ouT2

T1ouT2

a ou b

a ou b

a ou b

N0,N1ou Nx

N0,N1ou Nx

N0,N1ou Nx

M0

M0

M0

II Bexiga e próstata

Extremidade

Parameníngeo

outros

T1ouT2

T1ouT2

T1ouT2

T1ouT2

a

a

a

a

N0 ou Nx

N0 ou Nx

N0 ou Nx

N0 ou Nx

M0

M0

M0

M0

III Bexiga e próstata

Extremidade

Parameníngeo

outros

T1ouT2

T1ouT2

T1ouT2

T1ouT2

a

b

b

b

N1

N0,N1ou Nx

N0,N1ou Nx

N0,N1ou Nx

M0

M0

M0

M0

IV Todos T1ouT2 a ou b N0 ou N1 M1

2.1.5.5 Tratamento do Rabdomiossarcoma

O tratamento do rabdomiossarcoma, desenvolvido por grupos colaborativos reunidos

no IRS, combina diferentes modalidades terapêuticas, e se divide de forma complexa com

base na estratificação descrita acima. A sobrevida livre de eventos varia sobremaneira entre

os diferentes grupos de risco, podendo ser >90% em pacientes CGI até <20% em pacientes

CG IV.52

2.1.6. Breve Histórico sobre Tumores da Família Ewing

2.1.6.1 Epidemiologia e origem dos Tumores da Família Ewing

Os tumores da Família Ewing são responsáveis por 3% dos diagnósticos de câncer

pediátrico, sendo o segundo tumor maligno ósseo mais comum. Embora seja o tumor ósseo

mais comum, 15% dos tumores da Família Ewing surgem em sítios

extraósseos.7,52

Compreendem um grupo de tumores caracterizados por morfologia de células

pequenas redondas e azuis, e uma translocação específica envolvendo o gene EWS no

cromossomo 22 com um dos três genes ETS no cromossomo 11. Pertencem a este grupo:

Sarcoma de ewing, Tumor Neuroectodérmico Primitivo (PNET), Neuroepitelioma Periférico

e o Tumor de Askin.7

21

Desde sua primeira descrição, em 1921, por James Ewing, sua origem celular

permanece desconhecida. A principal hipótese aceita, atualmente, sugere que a célula de

origem seja a célula tronco-mesenquimal proveniente do tecido hematopoiético ou

neuroectodermal, capaz de manter sua dupla plasticidade e proporcionar uma base biológica

plausível para seu fenótipo diferenciado.53

2.1.6.2 Apresentação Clínica dos Tumores da Família Ewing

A apresentação clínica mais comum do sarcoma de Ewing é dor local, que pode ser

intermitente e de intensidade variável, seguida de massa palpável. Como a maioria dos

pacientes está na segunda década de vida, esta dor pode ser facilmente confundida com dor

do crescimento ou por exercício físico.54

A duração dos sintomas até o diagnóstico leva, em

média, 3-9 meses. Ao contrário do osteossarcoma, o Ewing acomete mais os “ossos chatos”

do esqueleto axial. O crescimento tumoral leva a uma massa tumoral visível ou palpável, em

geral, com edema ao redor. Porém, tumores pélvicos, de parede torácica ou osso femoral

podem demorar meses até serem realmente perceptíveis. Como os tumores da Família Ewing

podem acometer virtualmente qualquer osso ou qualquer tecido mole do corpo, seus sintomas

estarão relacionados com o sítio acometido. Sinais de compressão medular por tumores

retroperitoneais requerem intervenção imediata cirúrgica, radioterápica ou quimioterápica.54

2.1.6.3 Diagnóstico e Estadiamento dos Tumores da Família Ewing

O diagnóstico dos Tumores da Família Ewing é, obrigatoriamente, histopatológico por

biópsia do sítio primário. Como estes tumores fazem parte do grupo dos tumores de células

pequenas redondas e azuis, existe sempre a necessidade de complementação com imuno-

histoquímica, onde uma forte expressão da glicoproteína de membrana MIC2 (CD99) está

presente em 95-100% dos casos. Em alguns casos, há necessidade de confirmação

diagnóstica com citogenética ou biologia molecular. A investigação inicial dos pacientes com

Ewing incluem: radiografia do osso suspeito e articulação adjacente, ressonância nuclear

magnética (RNM) do sítio acometido, tomografia de Tórax (TC), cintilografia óssea,

mielograma e biópsia de medula óssea bilateral e biópsia aberta da massa.7,54

A estratificação dos tumores de Ewing inclui uma correta avaliação do local primário

e presença de metástase à distância. Ao diagnóstico, 25% dos pacientes apresentam doença

metastática. Em 2007, Galindo et al 52

realizaram um trabalho para avaliação dos principais

22

fatores prognósticos e concluíram que, na era atual de tratamento, permanecem como

importantes fatores independentes: tamanho e estágio de doença ao diagnóstico. Neste

estudo, foram definidos 4 grupos de risco descritos na tabela 8.

Tabela 8 Sobrevida Global do Sarcoma de Ewing distribuída nos diferentes grupos de

risco52

Grupo de risco Definição SG

Favorável Idade<14anos, localizado,

não-pélvico

88,1%

Intermediário Idade>14 anos, localizado ou

pélvico

64,9%

Desfavorável

Pulmonar

Metástase pulmonar isolada 53,8%

Desfavorável

Extra-pulmonar

Metástase extra-pulmonar 27,2%

2.1.7. Breve Histórico sobre Tumor de Wilms

2.1.7.1 Epidemiologia e origem dos Tumores de Wilms

O tumor de Wilms ou nefroblastoma é o tumor primário renal mais comum da

infância, correspondendo a 6% dos diagnósticos de câncer pediátrico. 7 É, discretamente,

mais freqüente em meninos (meninas:meninos- 0,92:1), e tem mediana de idade de 41,5

meses nos casos onde a apresentação é unilateral, e 29,5 meses quando a apresentação é

bilateral.7O tumor de Wilms foi o primeiro tumor pediátrico onde a quimioterapia adjuvante,

realmente, resultou em um aumento significativo da sobrevida global, que passou de 30% em

1930 a 85% nos dias atuais.55,56

Embora a célula de origem do tumor de Wilms ainda permaneça desconhecida, existe

forte evidência do seu desenvolvimento a partir dos restos nefrogênicos. Os restos

nefrogênicos são estruturas anormais formadas a partir de uma falha na diferenciação do

tecido mesenquimal em nefrons. Estas estruturas existem, normalmente, em pequena

quantidade no rim normal e estão presentes em grande quantidade no tumor de Wilms. Na

23

grande maioria dos casos, o tumor de Wilms possui componentes mesenquimal e epitelial,

isto sugere que sua origem esteja relacionada a célula precursora renal.57

2.1.7.2 Genética do Tumor de Wilms

Aproximadamente, 10% dos pacientes com tumor de Wilms possuem anormalidades

congênitas ou síndromes genéticas; estas últimas classificadas como “overgrowth” e “non-

overgrowth”. Dois exemplos bastante conhecidos são a síndrome de WAGR e a Síndrome de

Beckwith-Wiedman. A partir do estudo destas crianças foi possível a identificação do

primeiro gene supressor tumoral WT1 no cromossomo 11p13.57,58

Alterações genéticas

conhecidas do tumor de Wilms incluem: mutação no gene WT1 (18%) que leva a supressão

deste gene, mutações no gene da ß- catenina que leva a um acúmulo de ß- catenina no núcleo

e mutações no gene supressor tumoral ligado ao X - WTX (30%) também relacionado com a

via da ß- catenina. A figura 3 mostra uma representação esquemática do envolvimento da via

da ß- catenina no Tumor de Wilms57

Figura 3. As mutações na via da ß- catenina resulta em sinalização ativa constitutiva da

via. a) Na ausência do WNT a ß- catenina é direcionada para ubiquitinação ou

degradação proteossomal por um complexo de destruição. Mutações ativas da ß- catenina

a) b)

24

impedem sua fosforilação, impedindo assim sua degradação. Esta ß- catenina mutada atua

no núcleo como fator de transcrição interagindo com o TCF/LEF. b) Este evento é similar

a ativação da ß- catenina induzido por sinais do WNT. Os sinais do WNT são mediados

por Frizzled, LRP5 e 6 (LDL- receptor relacionado das proteínas 5 e 6), e DSH

(Dishevelled) e inativa a destruição do complexo, levando ao acúmulo de ß- catenina no

núcleo. 57

2.1.7.3 Apresentação Clínica do Tumor de Wilms

A grande maioria dos pacientes com tumor de Wilms apresenta-se assintomático com

o achado incidental de uma massa abdominal. Dor abdominal, hematúria macroscópica e

febre também podem estar presentes ao diagnóstico. 7 Hematúria macroscópica é raro e está

associado ao acometimento da pelve renal. Cerca de 25% dos pacientes podem apresentar

hipertensão por aumento de renina, que se resolve com a ressecção cirúrgica do tumor.55

É,

especialmente, importante investigar qualquer sinal de síndromes associadas ao tumor de

Wilms como aniridia, dismorfismos faciais, hemihipertrofia parcial ou completa e

anormalidades genitourinárias.7

2.1.7.4 Diagnóstico e Estadiamento do Tumor de Wilms

No diagnóstico dos pacientes com tumor de Wilms, a radiologia tem um papel crítico

tanto para avaliação da localização renal da massa, quanto para avaliação de extensão da

doença. Em geral, o exame radiológico inicial é a ultrassonografia abdominal que irá

diferenciar entre massa sólida ou cística, origem renal ou extra-renal da massa e tamanho

tumoral. A seguir, exames de TC de abdome e pelve possibilitam uma melhor avaliação da

extensão da doença. A TC de tórax também é importante para avaliação de metástase. O

momento e modalidade de tratamento cirúrgico para diagnóstico histopatológico difere de

acordo com o grupo de tratamento a ser seguido. 7

A estratificação dos pacientes com tumor de Wilms pode ser realizada por dois

diferentes sistemas de estadiamento: um com estratificação cirúrgica pré-quimioterapia

“National Wilms‟ tumor Study Group” (NWTS) e um com estratificação com base na

resposta quimioterápica pré-cirurgia “International Society of Pediatric Oncology” (SIOP).

55,59 (Tabela 9 )

25

Tabela 9 Principais diferenças no Estadiamento do Tumor de Wilms NWTS X SIOP59

ESTÁGIO NWTS (antes da quimioterapia) SIOP (depois da quimioterapia)

I a)Tumor limitado ao rim e completamente

ressecado

b) Não houve ruptura tumoral antes ou

durante o procedimento cirúrgico

c) Os vasos do seio renal não estão

envolvidos >2mm

d) Não há tumor residual aparente além das

margens cirúrgicas

a)Tumor limitado ao rim ou envolto

por pseudocápsula fibrosa, caso esteja

fora do rim não pode exceder a cápsula

e precisa ser totalmente ressecado

b)O tumor pode se “debruçar” na

pelve renal porém não pode infiltrar

suas paredes

c)Os vasos do seio renal não podem

estar envolvidos

d)Vasos do seio renal podem estar

envolvidos

II a)Tumor se estende além do rim mas é

completamente ressecado

b)Sem tumor residual aparente nas margens

cirúrgicas

c)Caso haja trombo nos vasos extra-renais

este deve ser removido com o tumor para ser

estágio II

a)O tumor se estende além do rim mas

é completamente ressecado

b)O tumor se estende ao seio renal,

vasos linfáticos ou sanguíneos mas é

completamente ressecado

c)O tumor infiltra veia cava ou órgãos

adjacentes mas é completamente

ressecado

III

(Tumor

residual

confinado ao

abdome)

a)Envolvimento de cadeias linfáticas no hilo

renal e Peri-aórticas ou próximas

b)Contaminação peritoneal difusa

c)Implante peritoneal

d) Tumor além das margens cirúrgicas (macro

ou microscópico)

e) Tumor não é completamente ressecado por

causa de estruturas vitais envolvidas

a) Tumor além das margens cirúrgicas

(macro ou microscópico)

b) Qualquer envolvimento linfonodal

abdominal

c) Ruptura tumoral antes ou durante

cirurgia

d) Envolvimento da superfície

peritoneal

e) Trombo tumoral nos vasos ou ureter

não completamente ressecado

f) Biópsia tumoral a “céu aberto”

prévia a quimioterapia

IV a)Presença de disseminação metastática

linfonodal à distância ou hematogênica

b)Tumor bilateral ao diagnóstico

a) Presença de disseminação

metastática linfonodal fora da região

abdomino-pélvica ou hematogênica

b) Tumor renal bilateral ao diagnóstico

V Tumor bilateral Tumor Bilateral

26

2.1.8 Breve Histórico dos Linfomas Pediátricos

2.1.8.1 Epidemiologia dos Linfomas

Os linfomas são o terceiro grupo mais comum de câncer pediátrico, sendo responsável

por 13% dos diagnósticos de câncer nesta faixa etária nos Estados Unidos.60

Distribuem-se

nos EUA da seguinte forma: 60% de linfomas não-Hodgking e 40% de linfoma de Hodgkin.

No Brasil, Gualco et al61

publicaram uma revisão dos diagnósticos de linfoma com uma série

de 1301 casos distribuídos nas diferentes regiões do país e mostraram uma proporção

semelhante com relação à distribuição entre linfomas de Hodgkin e não-Hodgkin, porém

grande variabilidade inter-regional quanto à distribuição dos subtipos de linfoma. (Figura 4)

Embora o linfoma de Hodgkin tenha um pico de incidência bimodal acometendo adolescentes

e adultos acima dos 59 anos, o linfoma não-hodgkin apresenta uma incidência crescente com

a idade.

Figura 4 Distribuição dos casos de linfoma no Brasil segundo Gaulco et AL

27

O linfoma não-Hodkin pediátrico possui um espectro histológico bem menos amplo

quando comparado a enorme variedade de subtipos histopatológicos do linfoma não-hodgkin

do adulto. Em pediatria, os subtipos histológicos mais comuns são o Linfoma de Burkitt, o

Linfoma Linfoblástico, o linfoma anaplásico de grandes células e o Linfoma difuso de

Grandes Células B, o que compreende 90% dos diagnósticos. 60

O linfoma de Hodgkin

pediátrico, também, difere do linfoma de Hodgkin no adulto. Os subtipos predomínio

linfocítico (10-20%) e de celularidade mista (30-35%) são mais comuns na faixa etária pré-

puberal que nos adultos. O subtipo esclerose nodular acomete apenas 45-50% de crianças,

enquanto em adolescentes e adultos jovens é o subtipo predominante (70-80% dos casos)61

2.1.8.2 Origem celular dos linfomas

Os linfomas de células B, T/NK são expansões clonais de células B, T/NK que, de

alguma maneira, recapitulam os estágios normais de diferenciação linfóide. A diferenciação

normal de células B se inicia na medula óssea com os progenitores de células B que sofrem

rearranjo da imunoglobulina e se diferenciam em células B naive. Estas células, ao

Regiões: A- Norte,B-Nordeste, C- Central, D-Sul

e E-Sudeste

A) B) C)

D) E) Linfoma Linfoblástico

Linfoma de Burkitt

Linfoma difuso de grandes células B

Linfoma não-classificado

Linfoma anaplásicoALK+

Linfoma Anaplásico ALK-

Linfoma T/NK

Linfoma não-classificado

Hodgkin-predomínio linfocitário

Hodgkin- clássico

28

encontrarem o antígeno que se encaixa ao seu receptor de imunoglobulina, sofrem

transformação, proliferação e maturação em plasmócitos secretores de anticorpo e células B

de memória. Na figura 5 observamos os diferentes estágios de maturação do linfócito B e a

relação entre estes estágios e o desenvolvimento dos diferentes subtipos de linfoma B. 63,64

Figura 5. Representação diagramática da diferenciação da célula B e sua relação com as

neoplasias de células B. As neoplasias de células B correspondem a estágios maturativos das

células B, mesmo quando sua contrapartida celular normal não é completamente conhecida.

Os precursores de células B que amadurecem na medula óssea podem sofrer apoptose ou se

transformar em células B naive que, ao serem expostas ao antígeno, podem se transformar em

plasmócitos de meia-vida curta ou entrar no centro germinativo, onde ocorre hipermutação

somática e “switch” de cadeia pesada. Os centroblastos ou sofrem apoptose ou se

transformam em centrócitos. Pós-centro germinativo são plasmócitos de meia-vida longa ou

células B de memória ou zona marginal.63,64

29

A diferenciação normal de células T surge a partir de um precursor da medula óssea

que sofre maturação e adquire função no timo. Células T antígeno-específicas amadurecem

no córtex do timo. Os diferentes estágios de maturação da célula T se refletem na

leucemia/linfoma linfoblástico T. Os linfomas do sistema imune inato são

predominantemente extranodais na apresentação, refletindo a distribuição funcional dos

componentes deste sistema. Interessante o fato de que a maioria dos linfomas de células T e

NK, comumente encontrados em crianças e adolescentes, são derivados de células do sistema

imune inato. Estes incluem leucemia de células NK, doença linfoproliferativa de células T

ligada ao EBV, linfomas T hepatoesplênicos e linfomas T γδ, afetando sítios cutâneos e

mucosas. Na figura 6, observamos os diferentes estágios de maturação do linfócito T e a

relação entre estes estágios e o desenvolvimento dos diferentes subtipos de linfoma T. 63,64

Figura 6. Representação diagramática da diferenciação de células T e as neoplasias

correspondentes aos diferentes estágios de maturação. Os progenitores linfóides T entram no

timo onde se diferenciam em uma variedade de células T naive.A via de maturação precisa

das células NK e células T γδ não é completamente entendida. As células T αβ deixam o timo

e nos tecidos linfóides periféricos, após exposição ao antígeno se diferenciam em células

TCD4+ e TCD8+ e células T de memória.

FDC- células dendríticas foliculares TFH- células T “helper” foliculares.63,64

30

2.1.8.3 Genética dos Linfomas:

Existem algumas diferenças entre a genética dos linfomas pediátricos e de adultos

embora guardem bastante similaridade entre si. O linfoma anaplásico de grandes células

compreende 13% dos LNH em crianças, e em 90% dos casos, possui a translocação t(2;5)

(p23;q35) envolvendo o gene ALK no cromossomo 2 e o gene NPM no cromossomo5 muito

menos freqüente em adultos.O rearranjo do gene ALK presente, quase sempre, nos linfomas

anaplásicos em crianças confere um bom prognóstico nesta faixa etária, enquanto no adulto,

além de menos freqüente, confere um pior prognóstico. O linfoma difuso de grandes células

B (LDGCB) compreende 15-20% dos diagnósticos de LNH na criança; e, crianças e

adolescentes com LDGCB apresentam um bom prognóstico. O cariótipo dos LDGCB em

crianças, embora pouco estudado, se caracteriza por ser complexo, poliplóide e raramente

incluir a t(14;18) presente em 30% dos LDGCB do adulto. O rearranjo do CMYC é freqüente

em crianças (38%) enquanto ocorrem em menos de 10% dos adultos. Em adultos, o rearranjo

do Bcl6 ocorre em 40% dos casos e do Bcl2 em 30% dos casos. O linfoma de Burkitt (LB)

compreende 1/3 dos diagnósticos de LNH na criança. A translocação envolvendo o oncogene

CMYC (8q24.1) é uma marca do LB e em 80% dos casos envolve o gene da IgH t(8;14).65

2.1.8.4 Apresentação Clínica dos Linfomas Pediátricos

A apresentação clínica dos diferentes tipos de linfoma varia de acordo com o sítio de

apresentação e extensão da doença. Usualmente, o Linfoma de Hodgkin se apresenta com

linfadenomegalia supraclavicular ou cervical, em geral os linfonodos são de consistência

elástica e indolores, podendo ser dolorosos à palpação. Pelo menos, 2/3 dos pacientes com

Linfoma de Hodgkin apresentam algum grau de envolvimento mediastinal e, em casos de

doença mais avançada, sintomas sistêmicos como febre, perda de peso e suor noturno são

comuns.7 Nos linfomas não-Hodgkin a apresentação clínica é bastante diversa, podendo ir,

desde massas mediastinais de rápido crescimento com risco de obstrução de vias aéreas

(linfomas linfoblásticos T), até grandes massas abdominais (Linfomas de Burkitt).7

A melhoria nas técnicas diagnósticas, nas últimas duas décadas, para melhor

classificação desta grande variedade de doenças e tratamento mais direcionado ao subtipo

específico, aumentou a sobrevida deste pacientes com linfoma não-Hodgkin e Linfoma de

Hodgkin para taxas >85%.60

31

2.2 Citometria de Fluxo

2.2.1 Histórico da utilização da citometria de fluxo

A tecnologia da citometria de fluxo foi criada no final da década de 60 e se tornou,

nos dias atuais, uma ferramenta de grande impacto na biologia celular e medicina clínica, e,

principalmente, no diagnóstico de muitas neoplasias hematológicas. É capaz de medir

diversos parâmetros de fluorescência e dispersão de luz simultaneamente em cada célula

individualizada 66

.

O primeiro citômetro de fluxo introduzido, comercialmente na década de 70

(Technicon‟s Hemalog D), tinha o objetivo de classificar leucócitos. Para tanto, possuía uma

medida de dispersão e de absorção de luz e três diferentes comprimentos de onda. Enzimas

cromogênicas eram usadas para gerar substratos que emitiam luz e permitiam identificar

neutrófilos e eosinófilos pela presença de concentrações moderadas, altas ou muito altas de

peroxidase, que eram detectadas por um mesmo detector de fluorescência. Outro canal de

fluorescência identificava os monócitos pelo seu conteúdo de esterase. A identificação de

basófilos era baseada na detecção de glicosaminoglicano nos grânulos basofílicos corado com

azul Alcian. Uma única lâmpada halógena servia de fonte de luz para os três sistemas de

fluxo.67

Em meados da década de 80, com a emergência da AIDS, novos citômetros de uso

clínico começaram a surgir (FACScan, FACSsort), possibilitando sua rápida incorporação na

prática clínica.67

Em oncologia, uma das primeiras aplicações clínicas foi a análise do

conteúdo de DNA e detecção de antígenos de membrana em neoplasias hematológicas,

utilizados até os dias atuais.67,68

A partir de 2002, aparelhos contendo múltiplos lasers e sistemas ópticos, eletrônicos e

fluídicos de alta eficácia melhoraram a resolução e diminuíram o custo destes citômetros.

Atualmente, com o advento da citometria de fluxo multiparamétrica, é possível a

identificação de características celulares, desde a detecção das medidas de dispersão frontal e

lateral (FSC e SSC), parâmetros que refletem o tamanho e a complexidade interna da célula,

até a identificação de diversas moléculas em diferentes localizações (nucleares,

intracitoplasmáticas ou de membrana). A estratégia mais usual é submeter uma suspensão

celular a um conjunto de anticorpos monoclonais, conjugados a distintos fluorocromos, frente

a antígenos de interesse. Esta suspensão é submetida a uma pressão negativa, passa por uma

câmara de fluxo linear, que alinha as células, e chega a um fino capilar onde as células

32

passam uma por vez. Incide, sobre este capilar, um laser que excita a emissão de

fluorescências pelos fluorocromos, conjugados aos anticorpos ligados às células. As medidas

de dispersão frontal e lateral da luz, assim como as medidas de fluorescência, são detectadas

e registradas. Outras estratégias são utilizadas quando o objetivo é diferente, por exemplo,

aferir a quantidade de DNA por célula. Neste caso, utilizam-se fluorocromos capazes de se

intercalarem diretamente ao DNA. Até o momento, as amostras mais freqüentemente

analisadas são o sangue periférico e a medula óssea. 66-69

A tecnologia da citometria de fluxo mantém sua evolução com novos flurocromos,

novos analisadores mais rápidos e com maior número de lasers, capacidade multidirecional

de “sorteio”, integração com técnicas de biologia molecular e análise de marcadores livres no

plasma como citocinas.70

2.2.2 A citometria de Fluxo no diagnóstico das Neoplasias Hematológicas

A classificação do grupo cooperativo FAB (French-American-British)71

surgiu em

1976, com o objetivo de unificar o diagnóstico morfológico e citoquímico das leucemias

agudas, tornando-o comparável em todo o mundo. Para tal, foram utilizadas a morfologia de

Romanowsky ( técnica de coloração contendo no mínimo corante vermelho ácido eosin Y e

um básico azul azure B) e a coloração com mieloperoxidase, Sudan Black B, NSE (esterase

não específica) e PSA (ácido periódico de Schiff). Inicialmente, foram descritos 3 subtipos de

leucemia linfobástica aguda (L1,L2 e L3), como descrito em detalhes na tabela 10 e mielóide

(M1-M6).

33

Tabela 10 Classificação FAB de Leucemia Linfoblástica Aguda

Características

Citológicas

L1 L2 L3

Tamanho celular Predominância de

pequenas células

Células grandes e

heterogêneas

Células grandes e

homogêneas

Cromatina nuclear Homogênea Variável e

Heterogênea

Finamente pontilhada

e homogênea

Formato do núcleo Não visível ou

pequeno e

“inconspicuous”;mais

vesicular

Núcleo irregular

com fissuras e

identações

Regular- oval a

redondo

Nucléolo Regular; ocasionais

fissuras ou identações

Um ou mais;

quase sempre

grande

Proeminente; um ou

mais

Quantidade de

citoplasma

pouco Variável; quase

sempre

abundante

Abundante

Basofilia do

citoplasma

Leve a moderada;

raramente intensa

Variável, intensa

em alguns casos

intensa

Vacuolização do

citoplasma

variável variável Quase sempre

presente

Em 1986, Todd e Foon72

fizeram uma extensa revisão sobre a classificação

imunológica das leucemias e linfomas. Nesta época, com o advento da técnica de hibridoma,

foi possível a produção de diversos anticorpos monoclonais expandindo sobremaneira sua

utilização. Neste mesmo ano, Neame PB et al.73

publicaram um estudo comparativo entre a

classificação FAB (padrão ouro naquele momento) e a utilização dos anticorpos monoclonais

,(35) por técnica de microscopia de fluorescência, com 138 casos de leucemias agudas, com

o objetivo de aprimorar a classificação até então vigente. Houve uma concordância de 83%

entre a morfologia pela classificação FAB e o imunofenótipo. Neste estudo, concluíram que o

34

melhor método até o momento para caracterização das leucemias agudas seria uma

combinação entre morfologia, citoquímica e imunofenotipagem.

Em 1995, o Grupo Europeu de Classificação Imunológica das Leucemias (EGIL)

propôs um algoritmo para a classificação de leucemias de linhagem B, T e bifenotípica,

segundo tabela 11,12 e 1374,75

; e, em 2003, o Grupo Europeu de Estudos Imunológicos das

Leucemias (GEIL) propôs uma classificação imunológica para as leucemias mielóides

descrito a seguir na tabela 14.76

Tabela 11 Classificação Imunofenotípica segundo Grupo Europeu para Classificação

Imunológica das Leucemias (EGIL) proposto em 1995 para leucemias linfoblásticas

agudas de precursores B

Classificação cCD79,CD19 e cCD22 ou

sCD22

CD10 cµ sIg

BI + - - -

BII + + - -

BIII + + + -

BIV + + + +

Tabela 12 Classificação Imunofenotípica segundo Grupo Europeu para Classificação

Imunológica das Leucemias (EGIL) proposto em 1995 para leucemias linfoblásticas

agudas de precursores T

Classificação cCD3 CD7 CD2,CD5 e

CD8

CD1a CD3+/CD1a-

TI + + - - -

TII + + + - -

TIII + + + + -

TIV + + + - +

35

Tabela 13 Classificação Imunológicas das Leucemias Bifenotípicas segundo sistema de

pontos desenvolvido pelo Grupo EGIL em parceria com o grupo Britânico (Royal

Marsden Hospital, Londres)

Sistema de Pontos

Linfóide B

Linhagem

Linfóide T

Mielóide

2 cyCD79a

CD22

cyIgM

CD3 cyMPO

1 CD19

CD10

CD2

CD5

CD13

CD33

0.5 nuTdt nuTdt

CD7

CD14/CD15

CD11b/CD11c

Tabela 14 Classificação Imunológica das leucemias Mielóides segundo GEIL em 2003

Classificação CD13 ou CD33

ou CD117

CD7 CD35 ou CD36 CD15

MA + - - -

MB + + - -

MC + +/- + -

MD + +/- +/- +

ME - +/- +/- +/-

Em 2006, foi criado o Consórcio Europeu de Citometria de fluxo (EUROFLOW),

cujo objetivo maior é desenvolver e padronizar testes rápidos, altamente sensíveis e precisos

para o diagnóstico, prognósticos e subclassificação das neoplasias hematológicas por

citometria de fluxo, assim como, seguimento e avaliação de resposta ao tratamento. Em 2009,

Lhermitte L et al.77

, apresentaram no Congresso da Sociedade Européia de Hematologia, um

estudo com 157 pacientes com suspeita de leucemia aguda, cujo objetivo era identificar a

linhagem celular de origem (B,T ou mielóide ) com apenas um tubo de orientação contendo a

combinação de 8 anticorpos monoclonais (cyMPO/cyCD79a/CD34/ CD19/CD7/cyCD3/

36

smCD3/CD45). Os dados de cada paciente foram coletados e processados com a utilização do

programa de análise de dados Infinicity (Cytognos,Salamanca). A partir deste tubo de

orientação, uma classificação mais detalhada direcionada para a linhagem celular específica

seria aplicada para melhor caracterização fenotípica de cada caso. Na figura 7, evidenciamos

a perfeita separação entre os diferentes casos de leucemias agudas realizado após fusão dos

dados da população blástica de cada caso e classificação não-supervisionada das diferentes

leucemias por análise dos componentes principais. (vide pág.50 e 51 - materiais e métodos)

37

Figura 7 Estratégia de análise e separação por classificação de padrão dos três diferentes grupos de leucemias agudas com a utilização

do programa de análise de dados Infinicity (Cytognos, Salamanca) (Lhermitte,2009)

Estratégia de análise

Célula blástica

Monócitos

Células B residuais

Células T residuais

Neutrófilos

1)

2)

3)

38

4)

6)

5)

39

2.2.3 Estudo dos tumores sólidos pediátricos por citometria de fluxo

Embora a citometria de fluxo possa ser utilizada para estudar qualquer componente

celular, para tal, as células têm que estar em suspensão. Em tumores sólidos, a citometria de

fluxo foi inicialmente descrita para análise de DNA, visto que técnicas específicas permitiam

o uso de tumores embebidos em parafina, utilizando técnica de digestão por pepsina e

rehidratação dos fragmentos.10,19,20,78-81

A dificuldade técnica na obtenção de células viáveis

em suspensão para análise de proteínas celulares em tumores sólidos levou a uma gama de

trabalhos com objetivo de aprimoramento e análise da melhor técnica para dissociação destes

tumores.10-16

Em 1992 Van Dam et al12

, analisaram 5 métodos de dissociação celular em

tecidos frescos, fixados e congelados e constataram que a dissociação mecânica foi o melhor

método em todos os casos, levando a poucos debris celulares e preservação da expressão das

proteínas.

Em pediatria, a citometria de fluxo é ferramenta indispensável no diagnóstico de

leucemias agudas, porém, ainda não utilizada no diagnóstico e estratificação de tumores

sólidos. Em alguns destes tumores, já foi avaliado o papel da citometria de fluxo para análise

do DNA como fator prognóstico. 17, 18, 46, 82

Na década de 90, foram realizados alguns estudos em tumores sólidos pediátricos a

partir da observação de células não-hematológicas na medula óssea. 28,83,84

A seguir, alguns

estudos com o objetivo de acompanhar o acometimento medular metastático nestes pacientes

permitiram a identificação de proteínas úteis na caracterização de linhagem, principalmente

de neuroblastoma e tumor da Família Ewing.21-23,28,29

Em virtude da dificuldade técnica e

raridade do câncer pediátrico, os estudos até o momento se limitam à descrição de poucos

casos com análise de no máximo 4 marcadores por amostra.21-30

2.2.3.1 Estudos de Citometria publicados em Neuroblastoma

Com o advento do transplante de medula autólogo para pacientes com neuroblastoma

em estágio de doença avançado, o uso da citometria de fluxo, entre outras técnicas, foi

bastante difundido na pesquisa de células tumorais residuais na medula óssea e sangue

periférico de pacientes com neuroblastoma.21-23

Diferentes combinações de anticorpos monoclonais foram testadas com o objetivo de

obter uma maior especificidade. Komada et al em 199884

, utilizaram uma combinação de

CD9/CD56/CD45 para detecção de células residuais de neuroblastoma na medula óssea e

40

sangue periférico. Neste estudo, a análise simultânea através do uso de diferentes

fluorocromos evidenciou uma população celular distinta com o fenótipo CD9+/CD56

+/CD45

sugerindo a presença de células do neuroblastoma metastáticas. Outro estudo, desenvolvido

no Japão por Nagai et al28

, concluiu que CD81+/CD56

+/CD45

- era uma combinação mais

sensível e específica para detecção de doença residual mínima. Neste estudo, a reatividade do

CD81 foi comparada com a do CD9, demonstrando uma sensibilidade maior com a utilização

do CD81, devido, possivelmente, a interferência do CD9 na marcação de plaquetas, afetando

os resultados. Vale ressaltar, que nenhum destes estudos usou marcadores para descartar o

confundimento com células B, uma vez que os marcadores CD9 e CD81 podem estar

presentes em neoplasias hematológicas de células B, que devem ser descartadas pela ausência

de outros marcadores (CD79a, CD22, CD19), já que o CD45 pode ser, aberrantemente,

negativo nas neoplasias B imaturas. 87

Em 2002, Warzynski et al23

estudaram, também, a proteína de membrana

disialogangliosideo (GD2) e a enolase neuroespecífica intracitoplasmática (cyNSE) em

células de neuroblastoma, além de utilizarem marcadores já anteriormente descritos para

identificar estas células. Concluiram que as células de neuroblastoma são CD45-

/CD56+F

/GD2+/ cyNSE

+. Em 2005, o mesmo autor descreveu uma alteração na técnica para

detecção de GD2.85

Em 2005, Ocku et al21

propuseram a combinação

CD9FITC/CD56PE/CD45PerCP para a detecção de doença residual mínima em medula óssea

de pacientes com neuroblastoma. Encontraram uma sensibilidade de 6/105. Contudo, a

intensidade de expressão de CD9 nas células do neuroblastoma foi fraca, o que pode levar a

dificuldades técnicas na análise dos dados obtidos. Até o momento, não há estudos para

estabelecer um painel diagnóstico por citometria de fluxo multiparamétrica para

neuroblastoma em tumores frescos utilizando a histopatologia como padrão-ouro.

2.2.4.2. Estudos de Citometria Publicados em Rabdomiossarcoma

O rabdomiossarcoma, até o momento, possui poucas descrições fenotípicas por

citometria de fluxo, visto que sua infiltração metastática para medula óssea ocorre em menos

de 25% dos casos. Embora sua caracterização fenotípica por citometria de fluxo não tenha

sido amplamente explorada, a análise de DNA e proliferação celular foi considerada de

grande impacto prognóstico neste grupo de tumores. 17

Em 2003, Chang et al26

demonstraram

que é possível detectar a expressão de miogenina nuclear por citometria de fluxo,

descrevendo dois casos onde as células tumorais foram CD56+F

/CD57+/nuMiogenina

+. Em

41

2008 Bozzi et al88

, estudaram 30 amostras de medula óssea e sangue periférico de pacientes

com rabdomiossarcoma, utilizando uma combinação de 4 cores (CD45/CD56/CD57/CD90),

com o objetivo de identificar infiltração de células neoplásicas na medula óssea associado a

avaliação por PCR (reação de polimerase em cadeia) da Myf4. Neste estudo, ficou

demonstrada a eficiência deste painel para detecção de infiltração neoplásica na medula

óssea; entretanto, não foi possível a distinção entre rabdomiossarcoma e infiltração por

células de neuroblastoma, exceto quando da utilização conjunta do PCR para Myf4. Neste

mesmo ano, Gautam27

publicou um estudo comparativo entre imunocitoquímica e citometria

de fluxo com 37 amostras de tumores de células pequenas redondas e azuis. Entre as 37

amostras estudadas, 5 amostras eram de rabdomiossarcoma, e a proteína muscular utilizada

foi a desmina, sendo obtido uma concordância de 100% entre citoquímica e citometria de

fluxo nas 5 amostras estudadas.

2.2.4.3 Estudos de Citometria publicados em Tumores da Família Ewing

Em 1998, Gardner et al89

, identificaram a expressão de CD56/CD57 em 2 casos de

PNET sugerindo que, embora não específica, a expressão de CD56, juntamente com CD99,

na ausência do CD45, poderia ser altamente sugestiva de PNET. Em 2003, Chang et al26

descreveram um caso de Sarcoma de Ewing positivo para CD56, CD99, CD90 e CD117.

Recentemente, Dubois et al90

, descreveram o achado de células CD99+/CD45

- em amostras

de sangue periférico e medula óssea de pacientes com Sarcoma de Ewing.

2.2.4.4 Estudos em citometria publicados em Tumor de Wilms

Análises fenotípicas em tumor de Wilms foram, recentemente, publicadas a nível

experimental em estudos do desenvolvimento embrionário renal como modelo para

tumorigênese. 91,92

Em 2009, Pode-Shakked et al91

descreveram a expressão variada de

marcadores hematopoiéticos (CD34,CD117,CD133), mesenquimais (CD105,CD90, CD44) e

relacionados a câncer (CD133, MDR1) e a associação entre a positividade para NCAM

(CD56) e a fração de “células tronco tumorais”. Em 2010, Royer-Pokora92

et al descreveram

o estabelecimento e caracterização de 5 células de linhagem provenientes de tumor de Wilms

com mutação do WT1 quanto à expressão de genes e proteínas previamente descritos nas

células tronco mesenquimais e mesoderma paraxial (CD73,CD90 e CD105).

42

2.2.4.5 Estudos de Citometria publicados em Linfoma

Nos Linfomas não-Hodgkin de células B, a demonstração de clonalidade por

citometria de fluxo através da expressão das cadeias leves de imunoglobulina (Kappa e

Lambda) já foi muito bem estabelecida93

, assim como o perfil imunofenotípico de diversas

entidades clínicas aí incluídas (ex: Linfoma Folicular, Linfoma do Manto, Linfoma

Linfoblástico, etc)64,93,94,95

Dentre os Linfomas não-Hodgkin T, o Linfoma Linfoblástico T e

o Linfoma de Grandes Células Granulares também foram caracterizados

fenotipicamente.65,96,97

Em 2006, Mann G et al98

, analisaram suspensões celulares frescas de 56 crianças e

adolescentes com diagnóstico de Linfoma não-Hodgkin, através da técnica de citometria de

fluxo associada a citomorfologia. Em todos os 42 casos em que havia material de tumor

sólido disponível para análise, o diagnóstico preliminar por citometria de fluxo foi

confirmado por morfologia e imunohistoquímica.

Em 2011, Barrena S et al95

publicaram a análise comparativa entre citologia/histologia

X citometria de fluxo multiparamétrica de 448 amostras provenientes de punção aspirativa de

pacientes com suspeita de linfoma, utilizando a classificação da Organização Mundial de

Saúde para subclassificação das amostras malignas. Neste estudo, o grau de concordância

entre citologia e CFM foi de 93%, tendo sido mais sensível que a citologia no diagnóstico de

amostras não-neoplásicas (92-100% CFM x 64-94%citologia).

Nos Linfomas de Hodgkin, a população neoplásica representa apenas 0,01-1% do

total de células na amostra em meio a um rico infiltrado reacional policlonal.64

Esta

população neoplásica, chamada células de Reed-Sternberg, são reconhecidas por sua

morfologia característica.Uma característica única desta doença é a formação de rosetas entre

a célula de Reed-Setrnberg com linfócitos T.99,100

Sendo assim, o diagnóstico de Linfoma de

Hodgkin, até recentemente, era feito, exclusivamente, por análise morfológica. Nos últimos

20 anos, o acréscimo de imuno-histoquímica no diagnóstico de Linfoma de Hodgkin veio

acrescentar informações úteis adicionais ao diagnóstico: expressão de CD15 e CD30,

expressão variável de CD45, na ausência de CD20 e CD3; positividade para CD40 e CD95 na

grande maioria dos casos. 99

Embora a utilidade da citometria de fluxo no diagnóstico das

neoplasias hematológicas já tenha sido amplamente descrita, em linfoma de Hodgkin a

utilização de citometria de fluxo ainda é controversa. Conseqüentemente, a utilidade clínica

da citometria de fluxo, ainda, não foi demonstrada. 99

Em 2006, Fromm et al.100

, publicaram

um novo método de detecção de células de Reed-Sternberg a partir do bloqueio na ligação

43

entre linfócitos T e estas células pré-marcação. Neste estudo, dos 27 linfonodos positivos

para Linfoma de Hodgkin por morfologia, 18 foram corretamente classificados como

Linfoma de Hodgkin por citometria de fluxo, utilizando uma combinação de 10 cores

(CD15+/CD30

+/CD40

+/CD45

-/CD71

+/CD95

+/HLA-DR

+/CD3

-/CD20

-/CD19

-).

44

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral:

Construir uma estratégia diagnóstica por citometria de fluxo estruturada em duas

etapas: 1ª rastreamento e 2ª caracterização e diagnóstico diferencial de tumores sólidos

pediátricos; e, a seguir, comparar os resultados obtidos por citometria de fluxo

multiparamétrica (CFM) com os resultados do exame histopatológico, associado à

imunohistoquímica.

3.2 Objetivos Específicos:

a) Desenhar uma estratégia inicial de rastreamento para discernir por CFM;

a1) neoplasia maligna X doença reacional ou amostras normais;

a2) dentre as neoplasias malignas, discernir entre origem hematológica e não hematológica;

b) Desenhar uma estratégia para a segunda etapa de investigação: caracterização e diagnóstico

diferencial dos tumores sólidos pediátricos por CFM;

b1) Descrever a expressão fenotípica das seguintes proteínas nos tumores sólidos

pediátricos:CD3, CD4, CD7, CD8, CD9, CD10, CD15, CD19, CD20, CD22, CD30, CD34,

CD38, CD45, CD56, CD57, CD58, cyCD79a, CD81, CD90, CD99, CD117, CD271, nuTdt,

nuMiogenina, nuMYOD1,cy Bcl2, cyDesmina;

b2) Verificar quais destas proteínas são expressas com intensidades diferentes em cada tipo de

tumor estudado;

b3) Identificar e selecionar marcadores com maior poder discriminativo entre os diferentes

grupos tumorais;

c) Utilizar a análise de componentes principais como uma ferramenta de suporte para o

diagnóstico diferencial entre os seguintes tumores sólidos pediátricos; Neuroblastoma versus

PNET versus Rabdomiossarcoma;

d) Estabelecer o nível de concordância entre a CFM e o exame histopatológico associado à

imunohistoquímica (padrão-ouro atual).

45

4 METODOLOGIA

4.1 Desenho do Estudo:

Estudo transversal, descritivo e observacional.

4.2 População Estudada:

Pacientes matriculados no setor de oncologia e hematologia do Instituto de

Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira e Hospital dos Servidores do Estado com suspeita

de neoplasia maligna, submetidos a procedimento cirúrgico e/ou diagnóstico, no período de

novembro de 2009 a dezembro de 2011.

Um total de 52 amostras de 41 pacientes- 51,2% (21/41) meninos e 48,8% (20/41)

meninas foi coletado durante o período do estudo, correspondendo a 48 amostras obtidas ao

diagnóstico e 4 amostras em reavaliação pós-quimioterapia. A mediana de idade, no momento

de entrada no estudo, foi de 5 anos (1-14 anos). Um total de 34 amostras provenientes de

tecido, 12 amostras de medula óssea, 3 amostras de sangue periférico, 1 líquido ascítico e 2

amostras de urina fizeram parte do estudo. Todas as amostras foram submetidas a exame

histopatológico ou citológico e imunohistoquímica, quando indicado, exceto duas amostras de

sangue periférico.

46

Tabela 15. Diagnóstico Histológico dos Casos Estudados

DIAGNÓSTICO AMOSTRA Nº PACIENTE/AMOSTRA

Neuroblastoma Tumor

MO

SP

Linfonodo

5

7

1

1

2 pacientes-Tumor +medula

1paciente –Tumor+linfonodo

2 pacientes-tumor

1paciente-SP

5pacientes-MO

Rabdomiossarcoma Tumor

Urina

3

2

2 pacientes –tumor

1 paciente – tumor +urina

Tumor neuroectodermico

Primitivo

(PNET)

Tumor

MO

SP

2

1

1

1 paciente – tumor+MO+SP

1 paciente - tumor

Carcinoma de adrenal Tumor 1

Carcinoma de nasofaringe Tumor 1

Hemangiopericitoma Tumor 1

Disgerminoma Tumor

Líquido ascítico

2

1

1 paciente – tumor + líquido

ascítico

1 paciente- tumor

Linfoma de Hodgkin Tumor

MO

1

1

Linfoma não-Hodgkin Tumor

MO

SP

5

4

1

3 pacientes – tumor + MO

1 paciente – tumor + SP

1 paciente – tumor

1 paciente - MO

Tumor de Wilms Tumor 2

Processo inflamatório Massa abdominal

Partes Moles

Linfonodo

2

1

6

MO = medula óssea; SP = sangue periférico

4.2.1 Critérios de Inclusão:

a) Pacientes entre 0 e 18 anos com suspeita de neoplasia malígna que tenham sido submetidos

a procedimento diagnóstico ou de revisão pós-quimioterapia;

b) Pacientes cujos responsáveis consentiram com o estudo.

47

4.2.2 Critérios de Exclusão:

a) Pacientes com tratamento oncológico prévio em outra instituição.

4.3 Processamento da Amostra:

4.3.1 Pré-preparo das amostras de massas sólidas:

As amostras provenientes de procedimentos cirúrgicos foram coletadas em solução

fisiológica 0,9%, estéreis, imediatamente, após o procedimento. Este material foi transportado

em solução fisiológica 0,9% a 4°C até o laboratório de pesquisa, no IPPMG, onde foi

processado até 6h após a coleta.

No laboratório, as amostras de tumor sólido foram pesadas em placa de Petri estéril e

submetidas à dissociação mecânica, com o uso de pinça e duas agulhas 21G estéreis, para

individualização das células tumorais. A suspensão obtida foi filtrada em filtro de seringa

Filcon 100 mm estéril (BD Bioscience), para retirada de debris e pequenos fragmentos

resultantes da dissociação. Após a filtragem, a suspensão celular foi centrifugada a 540g por

10 min e o pellet ressuspendido em 300 l de phosphate buffered saline (PBS). A esta

suspensão foi adicionado 10 ml de Albumina 0,5% e centrifugado a 540g por 5min, com o

objetivo de retirar imunoglobulinas sobrenadantes. Ao final, o pellet foi ressuspendido em

300 l de PBS. Alíquotas de 30-100 l (aproximadamente 1x106 células) foram distribuídas

em tubos 12X75 mm para proceder à marcação.

4.3.2 Pré-preparo das amostras de medula óssea (MO), sangue periférico (SP) ou líquidos

corporais (LC)

As amostras provenientes de suspensões celulares, seja ele de medula óssea, sangue

periférico, urina, ou líquido pleural e ascítico, foram centrifugadas a 540g com 10 ml de

Albumina 0,5% por 5 min, seguido de ressuspensão do pellet em 300 l de PBS e distribuição

nos tubos 12X75 mm para marcação. As amostras de urina foram submetidas a 2 lavagens

com PBS a 540g por 5 min, com o objetivo de retirar a maior quantidade de urina possível,

restando apenas as células para análise. Na figura 8, podemos observar um esquema do pré-

preparo das amostras.

48

Figura 8. Esquema do pré-preparo das amostras analisadas

MASSA SÓLIDA MO/SP/LC

PESAR

dissociação CENTRIFUGAR

CENTRIFUGAR

suspensão celular

4.3.3. Marcação celular

Em todas as amostras, realizamos uma estratégia de processamento e análise

seqüencial. Na amostra recém recebida, realizamos uma fase inicial de orientação diagnóstica

com 2 tubos com combinações diferentes de anticorpos, cujo objetivo foi diferenciar entre

processo inflamatório, neoplasia hematológica e tumor sólido não-hematológico. A seguir,

utilizamos para: a) processo inflamatório reacional apenas os dois tubos iniciais (em 3 casos

realizamos a marcação celular completa com o objetivo de caracterização da expressão dos

marcadores estudados em populações celulares não tumorais); b) suspeita de neoplasia

hematológica de linhagem B- tubos para linfoma B + tubos para marcação de tumor sólido

não-hematológico; c) suspeita de tumor sólido não hematológico- tubos para caracterização de

tumor sólido. Ver tabela 16 abaixo.

MO-medula óssea

SP-sangue periférico

LC-líquidos corporais

49

Primeiro Passo: Tubo de orientação

PacB PacO FITC PE PePerCPCy5.5 PECy7 APC APC-

H7

cyCD3 UCHT1

BDBioscience

CD45 HI30Invitrogen

MPO MPO-7Dako

cyCD79a HM57Dako

CD34 8G12BD Bioscience

CD19 J3119BeckmanCoulter

CD7 124-

1D1eBioscinece

sCD3 SK7BD

Bioscience

CD20 2H7

eBioscience

CD45 HI30

Invitrogen

CD8/sIg Lymphoclonal

Cytognos

CD56/sIg Lymphoclonal

Cytognos

CD19/CD4 Lymphoclonal

Cytognos

CD56 N901/NKH1

Beckman Coulter

CD3 Lymphoclonal

Cytognos

Segundo Passo: Painel de anticorpos monoclonais para caracterização de tumor sólido pediátrico

CD20 2H7

eBioscience

CD45 HI30

Invitrogen

CD57 HNK-1

BD Bioscience

CD90 5E10

BD Bioscience

CD34 8G12

BD Bioscience

CD56 N901/NKH1

Beckman Coulter

Epcam EBA-1

BD Bioscience

CD45

HI30

Invitrogen

CD99 TÜ12

BD Bioscience

CD81 JS-81

BD Bioscience

CD9 M-L13

BD Bioscience

CD56 N901/NKH1

Beckman Coulter

CD117 104D2

BD Bioscience

CD45

HI30

Invitrogen

CD58 1C3

BDBioscience

CD38 HB-7

BD Bioscience

CD56 N901/NKH1

Beckman Coulter

CD10 HI10A

BD Bioscience

CD45

HI30

Invitrogen

CD271 C40-1457

BD Bioscience

CD56 N901/NKH1

Beckman Coulter

E quarto tubos com um único anticorpo + rabbit anti-IgG FITC:

nuMYOD

Moab 5.8ª

BD Bioscience

nuMyogenin F5D

BD Bioscience

GD2 14.G2a

BDBioscience

nuDesmina RD301

BD Bioscience

Segundo passo: Painel com anticorpos monoclonais para caracterização de Linfoma B

CD45

HI30

Invitrogen

nuTdt HT6

Dako

CD34 8G12

BD Bioscience

CD19 J3119

BeckmanCoulter

CD22 S-HCL-1

BD Bioscience

CD20 2H7

eBioscience

CD45 HI30

Invitrogen

cyBcl2 124

Dako

CD38 HB-7

BD Bioscience

CD34 8G12

BD Bioscience

CD19 J3119

BeckmanCoulter

CD10 HI10A

BD Bioscience

CD45

HI30

Invitrogen

cyIgM polyclonal rabbit serum

Dako

CD34 8G12

BD Bioscience

CD19 J3119

BeckmanCoulter

CD21 LT-21

Exbio

CD45 HI30

Invitrogen

CD15/CD65 MMA/88H7

BDBioscience/Beckman

Coulter

NG2 124

BeckmanCoulter

CD34 8G12

BD Bioscience

CD19 J3119

BeckmanCoulter

CD123 AC145

MiltenyiBiotec

Segundo Passo: painel para caracterização de Linfoma T ou Anaplásico

cyCD3 UCHT1

BD Bioscience

CD45 HI30

Invitrogen

nuTdt HT6

Dako

CD56 C5.9

Cytognos

CD4 8K3

BDBioscience

CD8 SFCI21Thy2D3

Beckman Coulter

CD7 124-1D1

eBioscinece

sCD3 SK7

BD

Bioscience

cyCD3 UCHT1

BD Bioscience

CD45 HI30

Invitrogen

nuTdt HT6

Dako

CD99 TÜ12

BD Bioscience

CD5 L17F12

BDBioscience

CD1a HI149

BDBioscience

sCD3 SK7

BD

Bioscience

cyCD3 UCHT1

BD Bioscience

CD45 HI30

Invitrogen

CD2 RPA-2.10

BDBioscience

CD117 104D2

BDBioscience

CD4 8K3

BDBioscience

CD8 SFCI21Thy2D3

Beckman Coulter

CD7 124-1D1

eBioscinece

sCD3 SK7

BD

Bioscience

HLA-DR L243

Biolegend

CD45 HI30

Invitrogen

CD13 L138

BDBioscience

CD4 8K3

BDBioscience

CD8 SFCI21Thy2D3

Beckman Coulter

CD123 AC145

MiltenyiBiotec

sCD3 SK7

BD

Bioscience

Segundo Passo: Painel de anticorpos monoclonais para caracterização de Linfoma de Hodgkin,Linfoma T

ou Linfoma Anaplásico*

CD20 2H7

eBioscience

CD45 HI30

Invitrogen

CD15 MMA

BD Bioscience

CD30 BerH8

BD Bioscience

CD5 L17F12

BD Bioscience

CD56 N901/NKH1

Beckman Coulter

CD10 HI10A

BD Bioscience

Tabela 16. Painel de anticorpos monoclonais utilizados de acordo com a seqüência de

investigação e a origem celular do tumor

PacB- pacific blue, PacO-pacific Orange, FITC- fluorescein isothiocyanate, PE-phycoerythrin, PerCPcy5.5- peridinin chlorophyll protein-cyanin die 5.5, PE-cy7- phycoerythrin-cyanin die 7, APC- allophycocyanin,

APCH7- allophycocyanin- Hilite7

50

a)

b)

a)Marcação de membrana: após a distribuição das alíquotas da amostra em cada tubo,

iniciamos a distribuição dos anticorpos monoclonais (AC) dispostos numa combinação de

até 8 cores em cada tubo como mostra a tabela 16, sendo incubados no escuro por 15 min

à temperatura ambiente (TA). Após este período de incubação, a alíquota foi incubada

com 2 ml da solução de lise de hemácias FACSlysing (BD Bioscience) diluída 1:10 em

água destilada, por 10 minutos, à TA, no escuro. A seguir, as células foram lavadas com 2

ml de PBS, centrifugadas a 540g por 5 min e ressuspendidas em 300 l de PBS. A

mensuração foi feita imediatamente após a ressuspensão do pellet. Juntamente aos tubos

marcados, seguiu-se um tubo controle não marcado para obtenção de um padrão negativo

controle no canal de fluorescência estudada.

b)Marcação intracelular: Após a incubação com os marcadores de membrana, as células

foram lavadas com 2 ml de PBS e centrifugadas a 540g por 5 min. A seguir, foram

ressuspendidas em 100 l da solução A do reagente Fix and Perm (Invitrogen, Carlsbad,

CA) e incubadas por 15 minutos no escuro à TA. Após este período, foram lavadas com 2

ml de PBS, centrifugadas a 540g por 5 minutos e incubadas com 100l da solução B do

reagente Fix and Perm (Invitrogen, Carlsbad, CA) associada aos anticorpos monoclonais

por 15 minutos, no escuro, à TA. Por último, as células foram lavadas com 2 ml de PBS,

centrifugadas a 540g por 5 minutos e ressuspendidas em 300 l de PBS. A mensuração foi

feita, imediatamente, após a ressuspensão do pellet. Para a marcação de AC não

conjugados com fluorescência, após o procedimento de marcação descrito, procedemos a

uma segunda incubação com o anticorpo secundário FITC isotipo IgG anti-mouse,

NEOPLASIA HEMATOLÓGICA NEOPLASIA NÃO-HEMATOLÓGICA

TUBOS TUMORES SÓLIDOS

TUBOS LINFOMA T

E ANAPLÁSICO

TUBOS LINFOMA B

E ANAPLÁSICO

Em caso de célula T Em caso de célula B

TUBO DE RASTREAMENTO

+

ESTUDO DE LINFÓCITOS

51

acompanhado de um tubo controle negativo, contendo apenas a marcação com o anticorpo

da segunda camada.

4.4 Aquisição e análise dos dados gerados por citometria

As alíquotas marcadas foram adquiridas imediatamente após a marcação, através do

citômetro de fluxo FACS Canto II ( BD Bioscience), no programa de aquisição de dados

FACS DiVA (BD Bioscience). Um mínimo de 104céls/tubo foram adquiridas (na maioria

dos casos adquirimos 5x104/alíquota). A análise foi feita no programa de análise de dados

INFINICITY (Cytognos/Salamanca/Espanha).

A viabilidade celular das amostras de tumor sólido foi verificada pela técnica de

“backgate”, onde são selecionadas apenas as células neoplásicas e delas retirada a população

não viável. Na figura 9 observamos um modelo de seleção de células viáveis pela técnica de

“backgate”.

Figura 9. Seleção das células neoplásicas viáveis em amostra de neuroblastoma

100% 25%

100% 71,4%

%

71,4%

%

SS

C

SS

C

CD

56

CD

56

C

D56

FSC-A FSC-A

CD45 CD45

CD45

52

4.5 Preparo dos dados para realização de fusão e cálculo dos dados obtidos por citometria

de fluxo

Para cada paciente, foi realizado um cálculo proveniente da junção computacional de

todos os tubos adquiridos em um único arquivo, com o objetivo de tornar possível a

visualização de todos os parâmetros aferidos por amostra processada. Para tal, selecionamos

as células neoplásicas com parâmetros comuns em cada tubo (FSC,SSC,CD45 e CD56)

utilizando o programa INFINICITY (Cytognos). Somam-se a estes marcadores, um

conjunto de outros marcadores presentes diferentemente em cada tubo. As informações

correspondentes as células neoplásicas selecionadas foram armazenadas em um novo arquivo

correspondendo a cada tubo adquirido. Em seguida, a informação, em cada tubo, dos „valores

faltantes‟ – valores dos parâmetros que não estão de fato medidos nas células contidas em

uma ou em várias alíquotas- são calculados para todo o painel de marcadores utilizado, para

cada um dos eventos utilizando-se o principio estatístico dos „vizinhos-mais-próximos‟102

Na

figura 10 observamos uma representação esquemática da estratégia de análise e fusão dos

dados.

Figura 10. Fusão dos dados relativos à expressão da proteína nuMYOD1 dos pacientes

com neuroblastoma, rabdomiossarcoma e PNET

A)

B)

C)

D)

53

Figura 10. Fusão dos tubos contendo a proteína nuMYOD1 de diferentes amostras para

posterior análise comparativa entre neuroblastoma, PNET e rabdomiossarcoma. A) As células

neoplásicas de diferentes amostras de neuroblastoma foram selecionadas quanto a expressão

ou não de nu MYOD, e, posteriormente, fusionadas em virtualmente um único tubo contendo

as informações dos diferentes pacientes quanto a expressão de nuMYOD. B) Amostras de

PNET fusionadas, virtualmente, em um único tubo. C) Amostra de rabdomiossarcoma

fusionadas, virtualmente, em um único tubo. D) Diagrama de caixas representando a

distribuição dos eventos de cada grupo tumoral. O traço preto no meio das caixas corresponde

à mediana dos dados, os limites superior e inferior da caixa representam o percentil 75 e 25,

respectivamente, e as barras externas à caixa representam os limites superior e inferior dos

dados.

4.6 Análise do Componente Principal (PCA) dos tumores pediátricos de pequenas células

redondas e azuis mais comuns

Para aplicação da análise do componente principal, foram criados três grupos de

referência (Neuroblastomas, PNETs e Rabdomiossarcomas), dentro das amostras do estudo.

Este grupo de tumores foi escolhido por 2 razões principais: fazem parte dos tumores de

células pequenas redondas e azuis de difícil caracterização morfológica e são os tumores

sólidos extracranianos não-hematopoiéticos mais comuns nesta faixa etária. A análise do PCA

e visualização gráfica a partir do “automated population separator” no programa

INFINICITY (Cytognos) gera dois eixos principais, o primeiro (X) e o segundo (Y)

componentes principais, produzidos por uma representação gráfica bidimensional do perfil

imunofenotípico estudado. Cada componente principal é uma combinação linear de

parâmetros com pesos distintos, permitindo uma representação bidimensional contendo os

parâmetros de maior relevância.102

Na figura 11 observamos uma representação esquemática

da fusão dos dados com posterior análise do componente principal em diferentes amostras de

neuroblastoma e PNET

54

Figura 11. Análise do Componente Principal de Neuroblastoma e PNET

Figura 11. Inicialmente, fazemos um “gate” na população de células blásticas analisadas, a

seguir é criado um arquivo contendo, virtualmente, toda a informação de expressão antigênica

desta célula em um único tubo. Estes tubos são, então, agrupados em um arquivo de

referência da patologia analisada. O mesmo é feito com os diferentes grupos de patologia,

como mostra a figura do neuroblastoma e PNET. A seguir, é realizada a análise do

componente principal (PCA): classificação não-supervisionada dos diferentes grupos de

patologia. Esta análise pode ser representada pela média da população expressa na figura

acima como pontos.

4.7 Análises Histopatológicas e Imuno-histoquímicas

Todas as amostras analisadas foram submetidas a diagnóstico convencional com

morfologia e imuno-histoquímica, exceto as duas amostras de sangue periférico. Todas as

amostras de tumores sólidos/linfoma foram revisadas por dois patologistas, de forma

independente. Com o objetivo de correlacionar os dados obtidos por citometria de fluxo,

foram realizados, além da marcação convencional com cromogranina, NB84, sianptofisina e

miogenina, sistematicamente a análise no tecido dos seguintes marcadores: CD99 e

nuMYOD1.

CD

56

CD

56

CD45

CD99

55

4.8 Outros Métodos Estatísticos

Para todas as variáveis contínuas, valores da média e mediana, assim como seu desvio

padrão juntamente com o percentil 25 e 75 e 95% de intervalo de confiança, foram calculados

usando o programa SPSS (versão 18.0, SPSS Inc., Chicago, IL, EUA). Para variáveis

categóricas, utilizamos freqüência. A fim de estabelecer a significância estatística das

diferenças observadas entre os grupos, o teste de Mann-Whitney U e o teste de χ2 foram

usados para variáveis contínuas e categóricas, respectivamente. O número de verdadeiro

positivo (VP; amostras com a presença de uma população de células de tumor detectado por

ambos - técnicas de diagnóstico convencionais e citometria de fluxo), verdadeiro-negativo

(VN; amostras sem população de células de tumor, conforme medido pelos métodos

convencionais e citometria de fluxo) , falso-positivo (FP; amostras com a presença de uma

população de células de tumor por citometria de fluxo não detectado pelos métodos de

referência) e os resultados falsos negativos (FN; amostras com indetectáveis células tumorais

por citometria de fluxo, mas positiva pelas abordagens de referência), foram calculados. A

sensibilidade e a especificidade foram definidos como FN + VP / VP e VN / VN + FP,

respectivamente, enquanto os valores preditivos positivos (VPP) e negativo (VPN) foram

calculados como FP + VP / VP e VN / VN + FN, respectivamente.

56

5 RESULTADOS

5.1 Dados Descritivos da População e amostras estudadas:

A mediana de viabilidade celular foi 75% para todas as amostras analisadas, com

84,6% das amostras apresentando viabilidade superior a 50%. Para melhor avaliação da

morfologia celular e identificação da viabilidade celular, após dissociação mecânica, foram

realizados imprint e citospin das amostras analisadas. Na figura 12, observamos exemplos de

imprint e citospin de duas amostras analisadas.

Figura 12. Morfologia celular de duas amostras analisadas

Figura 12. Análise da morfologia celular com coloração em meio Grünwald-Giemsa e HE. A)

Pré-dissociação mecânica: imprint da amostra de neuroblastoma evidenciando aglomerado

celular de células pequenas redondas e azuis com morfologia preservada B) Pós-dissociação

mecânica: citospin de amostra de neuroblastoma, submetida a dissociação mecânica,

evidenciando morfologia de células pequenas redondas e azuis preservada.

5.2 Comparação entre as técnicas: Histopatológico e Imunohistoquímica versus Citometria

de Fluxo

Todas as amostras estudadas foram analisadas sem conhecimento prévio do

diagnóstico histopatológico, visto que o processamento foi realizado no dia da coleta do

material. Nossa hipótese diagnóstica foi guiada por estudos, previamente, descritos e

comparação entre nossas amostras. De modo geral, um acordo de 100% foi atingido para as

A) B)

57

17 amostras reativas / inflamatórias e não-infiltradas por células tumorais, enquanto a

concordância de 92% (23/25 amostras) foi conseguida por CFM, para amostras infiltradas por

células tumorais com descrição fenotípica prévia por CFM. Nos tumores onde não havia

descrição prévia por citometria de fluxo, a concordância não pode ser avaliada. Na tabela 17,

podemos observar a concordância entre os resultados da citometria de fluxo versus o resultado

do histopatológico+imunohistoquímica.

A análise histopatológica foi realizada no Hospital de origem do paciente e revistos no

Serviço de Anatomia Patológica do HUCFF. A avaliação morfológica do material enviado

guiou os estudos imuno-histoquímicos. Os marcadores utilizados no painel imuno-

histoquímico foram: LCA, cromogranina, vimentina, desmina, miogenina, NSE, sinaptofisina,

NB84, CD99, CD20,CD10,Ki-67, S-100, AE1/AE3, EMA, CD3, HHF35.

Tabela 17. Análise Comparativa entre diagnóstico patológico dos tumores não-

hematopoiéticos por citometria de fluxo e técnica diagnóstica padrão ouro

Diagnóstico Final

No. de

amostras

Total=49§

No. de casos

Concordância com CFM

Neuroblastoma 11 11/11

Gaglioneuroblastoma 1*

Sarcoma de Ewing/PNET 2 2/2

Rabdomiossarcoma 4 4/4

Carcinoma de adrenal 1*

Carcinoma de Nasofaringe 1*

Tumor de Células Germinativas

Tumor de Wilms

3*

2*

Linfoma Hodgkin 1 0/1

Linfoma não-Hodgkin 7 6/7

Reacional/ausência de malignidade 16 16/16

§Excetuando-se os três sangues periféricos onde não é possível a comparação com o

histopatológico*Primeira descrição por citometria de fluxo com esta combinação de anticorpos

monoclonais

58

5.2.1 Identificação de amostras reacionais X malignas:

Nove amostras (17,3%) reacionais e 8 amostras (15,3%) negativas para malignidade- 2

MO de pacientes com neuroblastoma, 1 SP e 1 MO de um paciente com PNET, 3 MO de 3

pacientes com linfoma e 1 urina de 1 paciente com rabdomiossarcoma- foram estudadas por

citometria de fluxo. De grande relevância, a citometria de fluxo atingiu uma concordância de

100% com o resultado histopatológico, em todas as amostras reacionais ou negativas para

malignidade (17/17). Dentre as amostras malignas, 2/35 (5,7%) foram, erroneamente,

consideradas como reacionais (1 Linfoma de Hodgkin esclerose nodular,1 Linfoma

Anaplásico). Em ambos os casos, a observação de um rico infiltrado inflamatório policlonal,

na ausência de anticorpos monoclonais direcionados para melhor caracterização destas

patologias, impossibilitou a correta classificação das mesmas. Conseqüentemente, todas as

amostras infiltradas por tumores sólidos e por linfomas de células B ou T foram corretamente

identificadas. Portanto, uma eficiência global de 96% com uma especificidade de 100% ,e

sensibilidade de 94%, foram alcançadas (VPP de 100% e VPN de 90%).

Trinta e três amostras malígnas (94,2%) foram corretamente identificadas. Destas

amostras, 14/33 -11 amostras de neuroblastoma, 1 ganglioneuroblastoma e 2 PNET

apresentavam uma população aberrante com CD45-/CD56

+F, na ausência de marcadores

linfóides ou mielóides, claramente identificada no segundo tubo de orientação (vide tabela

16). Nas 7/8 amostras de linfoma não-Hodgkin corretamente classificadas– 3 linfomas de

Burkitt, 2 linfomas linfoblásticos e 2 linfomas T associado ao EBV- os tubos de orientação

foram úteis para a identificação de possível população aberrante clonal (linfoma de Burkitt-

clonalidade para cadeia leve Kappa ou Lambda no segundo tubo; Linfoma Linfoblástico- 51%

de células CD19 positivas com cyCD79a aberrantemente negativo no primeiro tubo de

orientação; Linfoma T associado ao EBV – 79% de células T sCD3+/cyCD3

+/CD4

+/CD7

-).

Nas 12/33 amostras restantes, identificadas como malignas – 4 rabdomiossarcomas, 2

Tumores de Wilms, 3 tumores de células germinativas, 1 carcinoma de nasofaringe, 1

carcinoma de adrenal e 1 hemangiopericitoma- a identificação de uma população CD45- nos

tubos de orientação foi melhor caracterizada com a utilização do painel completo. Na figura

13, podemos observar a clara diferença entre 1 amostra reacional e 1 uma amostra de Linfoma

de Burkitt.

59

Figura 13. Análise fenotípica por citometria de fluxo de linfoma não-Hodgkin X

amostra reacional Gráficos representando apenas as células B de interesse, sendo feito a

seleção por SSC/CD19+. A) Amostra proveniente de massa abdominal em paciente com

Linfoma de Burkitt apresentando fenótipo: CD45+/CD19

+/CD22

+CD10

+/CD20

+f/

CD38+F

/cyBcl2-/sIgλ

+/sIgκ

-. B) Amostra proveniente de adenomegalia em paciente em

investigação para Linfoma apresentando fenótipo compatível com amostra reacional:

CD45+/CD19

+/CD22

+/CD10

-/CD20

+F CD38

-/+/cyBcl2

-/sIgλ

+/sIgκ

+

A)

B)

60

5.2.2 Identificação de amostras malignas hematológicas versus malignas não-

hematológicas:

Um total de 9/52 (17,3%) amostras de linfoma e 26/52 ( 50%) amostras de tumores

sólidos não-hematológicos foram analisados em nosso estudo. Todas as neoplasias

hematológicas apresentavam CD45 positivo na presença de 1 ou mais marcadores de

linhagem linfóide B ou T associado. Todos os tumores sólidos não-hematológicos foram

negativos para CD45 e para antígenos linfóides ou mielóides. Em 18/26 tumores sólidos não-

hematológicos, a identificação de células hematológicas infiltrando o tecido tumoral pode ser

claramente caracterizada, podendo ser útil como controle intra-amostral para o CD45 e os

antígenos linfóides e mielóides, assim como fornecer informações valiosas quanto à resposta

inflamatória intra-tumoral. Na tabela 18, evidenciamos os diferentes graus de infiltração

inflamatória nos diferentes tipos histopatológicos.

Tabela 18. Infiltração Inflamatória Intra-tumoral

Patologia Linfócitos T(%)

CD4 CD8

Linfócitos T(%)

CD4/CD8 -

Linfócitos

T(%)

CD4/CD8 +

Linfócitos

B(%)

Neutrófilos

Neuroblastoma 17,7

63,9 30

5,0 1,1 5

6,8

Ganglioneuroblastoma 1,42

62 30,5

6,9 0,6 - 0,8

PNET 18

22,5 67,9

5,3 4,3 0,2

17,6

Tumor de Wilms 1,4

14,5 65,5

15 5 0,2 0,8

CA de adrenal 5,3

32,7 59

8,3 - 2,5 2,6

CA de nasofaringe 17

61,1 38,9

- - 7 4,6

TCG 8,3

47,1 42,1

10 0,6 1,5 1,6

61

5.2.3 Características Imunofenotípicas dos tumores sólidos pediátricos

Trinta e cinco amostras (67,3%), contendo infiltração por células neoplásicas, foram

analisadas por citometria de fluxo quanto à expressão de 30 diferentes proteínas celulares.

Das 30 proteínas estudadas, 19 (36,5%) foram consideradas de grande utilidade para

diferenciação e classificação dos grupos de patologias, como mostra a tabela 19. Embora

muitas proteínas possam ser expressas em diversos tipos de tumores, existem algumas que

parecem possuir algum poder discriminativo: nuMYOD e nuMiogenina só foram

identificadas em rabdomiossarcoma; a positividade para CD99 é altamente sugestiva de

PNET e a alta expressão da proteína GD2 parece estar fortemente correlacionada com o

neuroblastoma. Um único tumor apresentou positividade forte para CD34, sendo este tumor

de origem vascular (hemangiopericitoma).

Tabela 19 Expressão das diferentes proteínas estudadas nos tumores sólidos pediátricos

PATOLOGIA

CD

45

CD

56

CD

90

CD

99

CD

9

CD

81

CD

57

MY

OD

1

MY

OG

EP

CA

M

CD

271

GD

2

CD

117

CD

34

CD

38

CD

58

CD

10

CD

19

SC

D3

NEUROBLASTOMA

PNET

RABDOMIOSSARCOMA

LINFOMA NÃO-HODGKIN B

TUMOR DE WILMS

CARCINOMA DE ADRENAL

CARCINOMA DE NASOFARINGE

DISGERMINOMA

HEMANGIOPERICITOMA

Expressão heterogênea Negativo

Postivo fraco Positivo forte

5.2.3 Resultados encontrados em neuroblastoma

Um total de 14 amostras de 11 pacientes com neuroblastoma foi submetido à análise

por citometria de fluxo. Das amostras analisadas, 11/14 (78,5%) apresentaram infiltração por

células malignas com mesmo padrão de expressão antigênica CD56+F

/CD45-

/CD9+/CD81

+F/CD90

+F e expressão heterogênea de CD57, CD58, CD271 e GD2 (figura 10A

62

e 10B). A amostra de sangue periférico, obtida de uma paciente com neuroblastoma

metastático, apresentou 0,15% de células com fenótipo compatível com neuroblastoma CD56-

/+/CD45

-/CD9

+/CD81

+F, porém com CD90

-. Relevantemente, o único caso de

ganglioneuroblastoma apresentou 2 populações distintas em tamanho, complexidade e

imunofenótipo: 39% com fenótipo semelhante ao descrito anteriormente e 61% com maiores

características de dispersão da luz (FSC e SSC) e maior intensidade média de fluorescência de

CD56,CD57 e CD81.(Figura 10C) Nenhuma marcação para MYOD1, Miogenina, CD3,

CD10, CD19, CD20, CD34, CD38, CD45 e CD99 foi encontrada entre as amostras de

neuroblastoma estudadas. Apenas as amostras de neuroblastoma em medula óssea e um caso

em tumor foram positivos para CD117, em uma subpopulação, sendo a amostra tumoral

considerada indiferenciada pela patologia. Na figura 14 observamos a análise morfológica e

por citometria de fluxo de 1 caso de neuroblastoma.

Figura 14. Morfologia e imuno-histoquímica com cromogranina positiva (aumento de

40x ) e análise fenotípica por citometria de fluxo de Neuroblastoma

A)

63

B)

C)

D)

64

Figura 14: A) Morfologia celular com coloração HE x40 de amostra de neuroblastoma

evidenciando proliferação de células de tamanho intermediário, núcleos hipercromáticos e

redondos, escasso citoplasma dispondo-se em grupos, em algumas áreas, formando as

pseudorosetas de Homer Wright.B) Coloração por imunohistoquímica com cromogranina

evidenciando positividade nas células de interesse. C e D)Todos os gráficos representam

apenas as células tumorais selecionadas a partir de sua negatividade para CD45 e forte

expressão de CD56.C) Amostra dissociada de massa adrenal em paciente com neuroblastoma,

evidenciando uma população de células tumorais CD45-/CD56

+F/ CD90

+F/

CD81+/CD9

+het/GD2

+. D) Evidência de comprometimento metastático da medula óssea no

mesmo paciente, identificando 64% de células tumorais com mesma expressão fenotípica.

E)Amostra dissociada de massa retroperitoneal em paciente com ganglioneuroblastoma,

evidenciando duas populações celulares distintas em CD56,CD81 e por análise do

componente principal.

5.2.3.2 Resultados encontrados em Rabdomiossarcoma

Foram analisadas um total de 5 amostras de 3 pacientes com rabdomiossarcoma, todos

classificados segundo a OMS como rabdomiossarcoma embrionário pela patologia. Em 1

paciente foi possível a análise pré-e e pós-quimioterapia e ambas apresentaram nuMYOD1+F

diferindo apenas na expressão dos marcadores de membrana (CD56/CD90 e CD81) positivos

na amostra pré-quimioterapia e negativos na amostra pós. No outro paciente 2 amostras foram

analisadas quanto à presença de células neoplásicas (massa e urina) apresentando o mesmo

padrão de expressão antigênica (CD45-/CD56

+f/CD90

+/nuMiogenin

+F/nuMYOD1

+F). (figura

15A e 15B) Uma amostra de urinanálise, proveniente de 1 paciente com rabdomiossarcoma

pélvico, não evidenciou infiltração por células neoplásicas e, sim, grande número de

E)

65

granulócitos (MPO+F

/CD45). Resultado concordante com a clínica e análise citopatológica de

infecção urinária e ausência de infiltração neoplásica na bexiga. (figura 16 B )

Figura 15. Análise fenotípica por citometria de fluxo de Rabdomiossarcoma

Figura 15: Todos os gráficos representam apenas as células tumorais selecionadas a partir de

sua negatividade para CD45 e expressão heterogênea de CD56. A) Amostra dissociada de

massa intravesical em paciente com rabdomiossarcoma embrionário, evidenciando população

de células tumorais CD45-/CD56

+het/CD90

+f/CD81

+het/CD9

+het/nuMYOD1

+F. B) Evidência de

células tumorais em análise de urina do mesmo paciente com expressão antigênica semelhante

a massa tumoral.

Figura 16. Análise de urina por citometria de fluxo em dois pacientes com

rabdomiossarcoma pélvico.

A)

B)

A)

66

Figura 16. Análise comparativa entre duas amostras de urina provenientes de dois pacientes

com suspeita de infiltração neoplásica da bexiga. A) Urina com citologia positiva para

malignidade confirmada por citometria de fluxo onde evidenciamos uma população de células

malignas com fenótipo compatível com rabdomiossarcoma CD45-/CD56

+f/

CD81-/+

/CD9+f

/nuMYOD1+F

. B) Urina com citologia negativa para células neoplásicas

confirmada por citometria de fluxo onde evidenciamos infiltração por células inflamatórias

CD45+ ( 60,7%MPO

+, 38,5% sCD3

+ e 0,8% CD19

+)

5.2.3.4 Resultados encontrados em Tumor Neuroectodérmico Primitivo

Quatro amostras de 2 pacientes com tumor neuroectodérmico primitivo foram

analisadas, sendo 2 massas sólidas, 1 SP e 1 MO. Dentre estas amostras, duas apresentaram

infiltração por células malignas com mesmo padrão de expressão antigênico com CD45-

/CD56+hi

/CD90+/CD271

+/CD99

+ e expressão variável de CD9/CD81 e CD117 (10% da

população positiva para CD117 em uma amostra). Em um paciente foram evidenciadas duas

subpopulações: a primeira com o padrão descrito acima e a segunda com uma expressão de

CD99+F

/CD56+/CD90

+/CD271

+/CD81

+F. (figura 17C) Uma amostra de medula óssea e uma

de sangue periférico encaminhada para avaliação de metástase não evidenciou doença com

confirmação do resultado da MO por histopatológico. Nenhuma das amostras apresentou

expressão de nuMYOD1, nuMiogenina ou de antígenos linfocitários. Uma amostra

apresentou expressão fraca de GD2.

B)

67

Figura 17. Morfologia (aumento de 10x e 40x) e análise fenotípica por citometria de

fluxo de Tumor Neuroectodérmico Primitivo

A)

B)

68

Figura 17: A) Morfologia celular com coloração HE x10 de amostra de PNET evidenciando

perda da arquitetura tecidual com áreas de proliferação de células de tamanho intermediário e

algumas áreas de fibrose tecidualB) Morfologia celular com coloração HE x40 de amostra de

PNET evidenciando células de tamanho intermediário com núcleo redondo, hipercromático e

citoplasma escasso. C) Todos os gráficos representam apenas as células tumorais selecionadas

a partir de sua negatividade para CD45 e alta expressão de CD56. Amostra dissociada de

massa retroperitoneal de paciente com tumor neuroectodérmico primitivo, evidenciando duas

subpopulações de células tumorais CD45-/CD56

+F/CD90

+/CD81

+het /CD9

+/CD99

+F

5.2.3.5. Resultados encontrados em Tumor de Wilms

Duas amostras, 1 tumor de Wilms metastático e 1 tumor de Wilms bilateral foram

analisadas por citometria de fluxo. Ambas amostras apresentavam fenótipo CD45-

/CD56+F

/Epcam+F

/CD81+/CD9

-/+ , com expressão heterogênea de CD90/ GD2/ CD271. As

proteínas nuMYOD1 e nuMiogenina, assim como os antígenos linfocitários, foram negativos

em ambos os casos. Figura 18.

Figura 18. Análise fenotípica por citometria de fluxo de Tumor de Wilms

C)

69

Figura 18. Todos os gráficos representam apenas as células tumorais, selecionadas a partir de

sua negatividade para CD45 e alta expressão de CD56. Amostra proveniente de massa renal

bilateral evidenciando fenótipo CD45-/CD56

+F/CD81

+/CD9

-/+/Epcam

+F/CD271

+

5.2.3.6 Resultados encontrados nos Linfomas

Um total de 12 amostras de 8 pacientes com linfoma ( 6 massas, 5 MO e 1 SP). Destas

amostras, 3/12 (25%) foram negativas para malignidade (3 MO) por citometria de fluxo,

resultado confirmado por histopatológico. Todos os casos de Linfoma foram classificados

segundo a OMS, sendo: 1 Linfoma de Hodgkin subtipo esclerose nodular; 1 Linfoma

Anaplásico; 3 Linfomas de Burkitt; 2 Linfomas Linfoblásticos B e 2 Linfomas T associados

ao EBV. Como descrito anteriormente, os casos de Linfoma de Hodgkin e Linfoma

Anaplásico foram, erroneamente, classificados como amostra reacional. As três amostras de

Linfoma apresentaram resultado concordante com o histopatológico com fenótipo:

CD45+/CD56

-/cyCD79a

+/CD19

+/CD22

+/CD9

+/CD38

+F/ CD20

+F/CD10

+F/nuTdt

+, associados a

ausência de cyBcl2 e expressão clonal de cadeia leve da imunoglobulina (2 Lambda e 1

Kappa). Figura 19C. As duas amostras de Linfoma Linfoblástico B foram, corretamente,

classificadas por citometria de fluxo com fenótipo: CD45+/CD56

-/cyCD79a

+/CD19

+/CD22

-

/CD9+/CD38

+/CD58

+/CD81

+/CD20

+/CD10

-/nuTdt

+/cyBcl2

+/cyIgM

-/sIgλ

-/sIgκ

-. Duas

amostras de 1 paciente com relato prévio de infecção por vírus Epstein-Bar (EBV) (1SP e 1

linfonodo) apresentaram fenótipo compatível com neoplasia maligna T madura, sendo

corretamente, classificada como Linfoma T associado ao EBV: CD45+/CD56

-

/sCD3+/cyCD3

+/CD7

-/CD4

+/CD8

-/CD99

+/ nuTdt

-/CD34

-/CD57

-/CD1a

-/CD123

-.Figura 19D.

70

Figura 19. Morfologia (aumento de 10x e 40x) de linfoma Linfoblástico B e análise

fenotípica por citometria de fluxo de Linfoma Linfoblástico B e Linfoma T associado ao

EBV

B)

A)

71

Figura 19. A e B) Morfologia celular com coloração HE x10 e HE 40x de amostra de

Linfoma Linfoblástico B evidenciando perda da arquitetura tecidual com proliferação difusa

de células de tamanho intermediário, cromatina suja com nucléolos inconspicuous C e D)

Todos os gráficos representam apenas células tumorais selecionadas. C) Amostra proveniente

de linfonodo inguinal em paciente com diagnóstico de Linfoma Linfoblástico B com fenótipo

por citometria de fluxo: CD19+/nuTdt

-/CD22

-/cyBcl2

+/CD10

-. D) Amostra proveniente de

linfonodo cervical em paciente com diagnóstico de Linfoma T associado ao EBV com

fenótipo por citometria de fluxo: sCD3+/cyCD3

+/CD7

-CD4

+CD8

-/CD5

+

5.2.3.7 Resultados encontrados nos tumores sólidos pediátricos menos freqüentes

Cinco tumores pediátricos (5/35) menos freqüentes foram submetidos à análise por

citometria de fluxo: 1 carcinoma de adrenal; 1 carcinoma de nasofaringe; 1

Hemangiopericitoma e 3 tumores de células germinativas. Ambas as amostras de carcinoma

(adrenal e nasofaringe) apresentaram fenótipo CD45-/CD56

+/Epcam

+ (Figura 20) O carcinoma

de adrenal apresentou duas subpopulações com diferentes características de dispersão da luz

(SSC e FSC) e imunofenotípica. A primeira população (19,7%) com FSC e SSC menores

associada a fenótipo CD57+f

/CD90+f

/Epcam-/+

; a segunda população (80,3%) com FSC e SSC

maior e CD57+F

/CD90+F

/Epcam+F

. (Figura 20B) O carcinoma de nasofaringe apresentou

C)

D)

72

fenótipo: CD90+/CD81

+F/CD9

+/CD58

+f associado ao fenótipo descrito anteriormente.Figura

20A. Duas amostras de tumor de células germinativas(líquido ascítico e massa abdominal)

apresentaram uma população celular CD45+/CD56

+f porém sem marcação para nenhum outro

antígeno analisado e a outra apresentou fenótipo: CD45-/CD10

+/NG2

+CD38

-CD19

-. Por fim,

uma amostra de hemangiopericitoma apresentou negatividade para todos os marcadores

estudados, exceto para CD34 fortemente positivo.

Figura 20. Análise fenotípica por citometria de fluxo de tumores raros pediátricos

Figura 20: Todos os gráficos representam apenas as células tumorais selecionadas a partir de

sua negatividade para CD45 e positividade para CD56. A) Amostra dissociada de massa em

cabeça e pescoço de paciente com carcinoma de nasofaringe, evidenciando células tumorais

CD45-/CD56

+/CD90

+/CD81

+het /CD9

+/Epcam

+F. B) Amostra dissociada de tumor em adrenal

de paciente com carcinoma de adrenal, evidenciando duas subpopulações de células tumorais

com CD45-/CD56

+/CD90

-/+/CD81

- /CD9

+F/Epcam

+F

A)

B)

73

5.3 Análise do Componente Principal (PCA):

Como descrito previamente na seção de material e métodos, foram realizadas a fusão

dos arquivos correspondentes aos seguintes grupos de tumores de células pequenas redondas e

azuis: neuroblastoma, rabdomiossarcoma e PNET; e, subseqüentemente, realizada a análise

do componente principal (PCA). O PCA foi realizado “dois-a-dois” (Neuroblastoma X PNET,

RMS X PNET e RMS X Neuroblastoma ). Na figura 21E, podemos observar a clara

separação dos casos de neuroblastoma e rabdomiossarcoma (mediana de cada caso

representada por quadrados). De acordo com a projeção do primeiro componente, os

parâmetros mais informativos para explicar esta variância entre os eventos do neuroblastoma

e do rabdomiossarcoma foram: nuMYOD1, CD56, CD57 e CD81, com seus respectivos

pesos: 29.2%, 26.9%,16% e 12.9% . Da mesma maneira, podemos observar a separação entre

os casos de rabdomiossarcoma e PNET (figura 21F). Para esta comparação, os parâmetros

mais informativos no primeiro componente principal foram: nuMYOD1, CD99, CD9 e

nuMiogenina com seus respectivos pesos: 24.6%, 21.4%, 18.9% e 18.4%. Na última

comparação, alguns eventos do PNET caem muito próximos do Neuroblastoma; entretanto a

grande maioria está, completamente, separada (figura 21G). Para esta comparação

(neuroblastoma X PNET) os parâmetros mais informativos foram: CD99, CD56, CD81 e

CD57, com seus respectivos pesos: 32.9%, 23.6%, 15.1% e 12.8%. Na figura 21, observamos

a diferente expressão das proteínas de maior poder discriminativo e a análise do componente

principal dos três principais grupos de tumores estudados (neuroblastoma, rabdomiossarcoma

e PNET)

74

Figura 21. Fusão dos dados das 35 amostras neoplásicas estudadas quanto à expressão

das proteínas de maior poder discriminativo e análise do componente principal dos três

principais grupos de tumores estudados (neuroblastoma, PNET e rabdomiossarcoma)

Figura 21. Análise das células neoplásicas de todas as amostras estudadas fusionadas em

arquivo vitual único para cada grupo tumoral analisado. A,B,C,D) Diagrama de caixas

representando a intensidade de fluorescência do CD56 (21A), GD2 (21B), CD99 (21C) e

MYOD1 (21D) nos grupos tumorais estudados; E,F,G) Análise do componente principal,

respectivamente, rabdomiossarcoma versus neuroblastoma, rabdomiossarcoma versus PNET;

e, neuroblastoma versus PNET.

75

6 DISCUSSÃO

6.1 Aplicação da citometria de fluxo no estudo dos tumores sólidos pediátricos.

Até o presente momento, a utilização da citometria de fluxo para diagnóstico e

seguimento de neoplasias sólidas não foi estabelecida. Embora, seja uma técnica rápida e

precisa, indispensável para correta classificação e acompanhamento terapêutico de neoplasias

hematológicas, a citometria de fluxo permanece como ferramenta útil apenas no campo da

pesquisa, sem aplicação clínica comprovada nos tumores sólidos pediátricos.9,10,38,64,71-76,91,92

A maioria dos tumores sólidos pediátricos se origina em células embrionárias

primitivas mesenquimais ou neuroectodermais. 5,7

Apresentam características morfológicas

muito similares, por tanto de difícil diagnóstico morfológico. Este grupo de tumores, chamado

tumores de células pequenas redondas e azuis, são caracterizados por uma morfologia

composta de células de tamanho intermediário (duas vezes o tamanho da hemácia) com

citoplasma basofílico e relação núcleo-citoplasmática variável. Em pediatria, esta

classificação inclui os tumores pediátricos mais comuns: neuroblastoma, linfoma,

rabdomiossarcoma, Sarcoma de Ewing entre outros. Neste contexto, técnicas auxiliares de

diagnóstico, como a imuno-histoquímica, são de extrema importância para o diagnóstico e

classificação destes tumores. 5-8,45,50

Do ponto de vista clínico, o impacto do tempo, desde o

início dos sintomas até o início do tratamento, é um fator prognóstico importante para o

sucesso terapêutico.2,3

Este estudo propos a utilização da citometria de fluxo multiparamétrica para

diagnóstico e classificação dos tumores sólidos pediátricos. Nosso enfoque inicial, nos

tumores de células pequenas redondas e azuis, teve como objetivo avaliar a utilização da

citometria de fluxo multiparamétrica como técnica diagnóstica auxiliar em tumores de rápido

crescimento e difícil diagnóstico morfológico. Das 52 amostras analisadas neste estudo, 35

amostras pertenciam ao grupo de tumores de células pequenas redondas e azuis. De grande

relevância, foi à obtenção de concordância entre a CFM e o diagnóstico histopatológico de

88,5% (23/26 amostras) para amostras infiltradas por células tumorais com descrição

fenotípica prévia por CFM. Não sendo, corretamente, classificados apenas o Linfoma de

Hodgkin e o Linfoma Anaplásico.

76

6.2 Viabilidade celular em amostras de tumor sólido submetidas à dissociação

Desde a década de 90, estudos com o objetivo de investigar o papel da citometria de

fluxo em tumores sólidos de adultos (carcinoma de cólon, adenocarcinoma de mama,

adenocarcinoma de próstata) observam alta sensibilidade da citometria de fluxo na avaliação

de micrometástases ao diagnóstico. Entretanto, até os dias atuais, esta técnica não é utilizada

de forma rotineira. 105,106

Um fator limitante à implantação da técnica da citometria de fluxo no estudo dos

tumores sólidos é a obtenção de células em suspensão para análise. Van Dam et al107

examinaram 5 métodos diferentes de conservação da amostra em 15 tumores ginecológicos,

todos com técnica de dissociação mecânica para obtenção de células em suspensão. Neste

estudo, a viabilidade celular foi de 65,7% em amostras de tecido fresco armazenadas com

PBS até 24h. Em outro estudo, Van Dam et al11

estudaram a viabilidade celular para a

quantificação de antígenos tumorais e análise de DNA em 38 amostras de tecidos tumorais

ginecológicos e tecidos reacionais e obteve uma média de 4,8 x 107 células viáveis por grama

de tecido dissociado. Nosso estudo utilizou 52 amostras a fresco de diferentes sítios

anatômicos submetidas à dissociação mecânica com viabilidade celular mediana de 75%,

resultado superior ao descrito acima, possivelmente, devido ao tipo de material estudado. Em

ambos os estudos, foi possível a clara caracterização das células tumorais por citometria de

fluxo e a manutenção da morfologia celular em análises de citospin pós-dissociação. Devido

ao pequeno número de amostras nos diferentes grupos de tecido estudado (urina, líquido

ascítico, medula óssea, sangue periférico e diferentes tecidos), não foi possível estudar a

variação da intensidade média de fluorescência dos marcadores analisados nas células

tumorais presentes nestas amostras.

6.3 Heterogeneidade da amostra e implicação para correta classificação dos tumores por

citometria de fluxo

Uma das grandes vantagens da citometria de fluxo é a possibilidade de análise celular

individual. Com o advento da citometria de fluxo multiparamétrica, a análise fenotípica e de

DNA pode caracterizar melhor subpopulações intra-amostrais, antes de difícil caracterização,

por técnicas como a imuno-histoquímica. Em 2000, Könemann et al

15estudaram 6 diferentes

amostras de tumores sólidos com 5 combinações diferentes de anticorpos, quanto à expressão

diferenciada de antígenos celulares, e quantificação de DNA, sendo observada

77

heterogeneidade intra-tumoral em todas as 6 amostras. Outra importante aplicação da

citometria envolve a possibilidade de caracterização de infiltração linfocitária intra-tumoral e

a separação de possíveis células iniciadoras tumorais, a partir de seu perfil de expressão

antigênica.108,109

Em 11/35 amostras tumorais analisadas em nosso estudo, foi possível a clara

caracterização de subpopulações tumorais, a partir da identificação de características

diferenciadas de dispersão da luz e de expressão antigênica. De relevância, as amostras de

neuroblastoma metastático para medula óssea apresentaram, de forma sistemática, uma

pequena população com expressão de CD117 (c-kit), ausente nas amostras de massa primária,

exceto em uma amostra tumoral de um paciente com neuroblastoma considerado

indiferenciado pela patologia. Em 18/35, foi possível a caracterização de infiltrado

inflamatório composto principalmente por linfócitos T e raros neutrófilos.

6.4 Contribuição da citometria de fluxo no rastreamento de neoplasias malignas

O primeiro passo no raciocínio diagnóstico de uma suspeita de neoplasia malígna é a

correta identificação da amostra como reacional ou maligna. Amostras obtidas por punção

aspirativa já foram estudadas por citometria de fluxo quanto à capacidade de distinção entre

malignidade ou reacional. Em 1999, Chung et al110

descreveram a utilidade da citometria de

fluxo como técnica adjuvante a citomorfologia em 33 casos de linfadenomegalia com

identificação de populações celulares malignas, mesmo em amostras paucicelulares, porém,

neste estudo, a avaliação morfológica e fenotípica das amostras foi executada

simultaneamente. Em 2005, Laane et al111

estudaram um total de 424 amostras provenientes

de punção aspirativa de linfadenomegalias, com um painel de 4 cores, e encontrou uma

concordânica de 97% nas amostras reacionais entre as técnicas de citometria de fluxo e

imunocitoquímica. Em 2011, Barrena et al95

, encontrou uma sensibilidade de 100% e

especificidade de 96% para o diagnóstico de amostras reacionais, por citometria de fluxo,

maior que a citologia convencional, com sensibilidade de 94%, e especificidade de 94% em

167 amostras analisadas.

Em nosso estudo, 17 amostras foram, corretamente, identificadas por citometria de

fluxo como reacionais ou ausência de infiltração maligna, com 100% de concordância com o

resultado histopatológico. Importante, relatar a presença de 1 amostra de pseudotumor

abdominal e 1 amostra de massa de partes moles periosteal entre as amostras analisadas, visto

78

que os estudos comparativos, realizados até o momento têm como material de análise medula

óssea, sangue periférico, linfonodo e líquidos corporais. Como nosso estudo visa o

diagnóstico em diferentes tecidos corporais, é de suma importância avaliar a capacidade

discriminativa no maior número de tecidos possível.

6.5 Contribuição da citometria de fluxo na distinção entre neoplasias hematológicas e não-

hematológicas

Em tumores sólidos pediátricos, os primeiros estudos de expressão antigênica por

citometria de fluxo foram em células de cultura 112,113

,ou amostras de medula óssea

encaminhadas para avaliação de leucemia aguda.83,114

Nestes pacientes, a observação de uma

população CD45, negativa na ausência de marcadores de linhagem linfóide e mielóide,

conduziu à suspeita de tumor sólido infiltrando a medula óssea.

Treze medulas ósseas foram encaminhadas para avaliação de doença metastática

durante nosso estudo. Destas, 7/13 apresentaram infiltração por células neoplásicas em

concordância com o resultado histopatológico. A utilização de um extenso painel, com 30

diferentes proteínas, foi essencial para a melhor distinção entre as amostras de origem

hematopoiética, não-hematopoiética e normais. Isto porque, alguns marcadores, como

CD99,CD56,CD9,CD81,CD34,CD117, podem estar presentes tanto em amostras

hematológicas quanto não hematológicas, como observado em nosso estudo. De fato, o CD45

é de grande valia na distinção entre hematológicas e não-hematológicas, porém, em alguns

casos de linfoma ele pode ser, aberrantemente, negativo ou fraco.87

Embora, os estudos em citometria de fluxo para análise de diferentes subtipos de

Linfoma não-Hodgkin do adulto já tenham comprovado a grande utilidade desta técnica como

ferramenta diagnóstica, em pediatria, existem poucos estudos que comprovem sua

utilidade.115,116

Em 2010, Sethuraman116

estudou 41 amostras com suspeita de linfoma e

encontrou uma concordância de 93,1% entre a citometria de fluxo e o histopatológico, quando

excluídos os casos de linfoma de Hodgkin. Neste mesmo estudo um diagnóstico de

neuroblastoma foi considerado devido à positividade para CD9, CD81,CD56 e GD2.

Um total de 7/35 amostras infiltradas por células neoplásicas de origem

hematopoiética foram, claramente, distintas das não-hematopoiéticas com o painel de

anticorpos utilizado. Entre os marcadores úteis para a correta distinção entre as amostras

hematopoiéticas das não-hematopoiéticas os de maior relevância foram: CD45, CD56, CD90,

CD99, CD19, CD20, CD3, GD2, MYOD e miogenina.

79

6.6 Contribuição da citometria de fluxo para a caracterização dos tumores sólido não-

hematopoiéticos

Estudos da expressão antigênica por citometria de fluxo em tumores sólidos

pediátricos foram, inicialmente, descritos de forma isolada em grupos tumorais específicos.

21-23,28-30,84-86,88-90,112-114 Inicialmente, a observação de populações celulares contendo CD45

negativo e CD56 positivo conduziu à suspeita de infiltração na amostra por células de origem

não-hematopoiética.24

Em seguida, combinações de anticorpos monoclonais em 3-4

parâmetros diferentes foram analisadas em pacientes com diagnóstico histopatológico,

previamente, estabelecido.83-86,88-90

Em 2004, Swerts et al29

descreveram uma sensibilidade de

1x10-5

e uma concordância com imunocitologia de 86%, com uma combinação de 4 cores em

dois tubos: CD45-/CD56

+/CD81

+CD9

+ e GD2

+/CD81

+ /CD45

- /CD56

+. Em 2003, Chang et

al26

estudaram 21 casos quanto à expressão antigênica de CD45, CD56, CD99, citoqueratina,

miogenina e observaram a possibilidade de diagnóstico por citometria de fluxo neste grupo de

patologias. Em 2008, Gautam et al27

utilizaram a citometria de fluxo para caracterização dos

tumores de células pequenas redondas e azuis a partir da expressão de citoqueratina, vimetina,

desmina NSE, CD45 e CD99 em 37 amostras, observando uma concordância modesta de 59%

com o diagnóstico imunocitológico, possivelmente, pelo fato de terem estudado amostras

coletadas por punção aspirativa e pela utilização de poucos marcadores antigênicos .

80

7 CONCLUSÃO

A citometria de fluxo é uma técnica rápida, viável e exeqüível para o estudo dos

tumores sólidos pediátricos. Neste estudo, foi possível discernir, com segurança, entre

amostras reacionais e amostras malignas por citometria de fluxo multiparamétrica. Todas as

amostras reacionais foram corretamente identificadas. Dentre as amostras tumorais, apenas

2/35 foram, erroneamente, classificadas como reacionais. Assim, com este teste diagnóstico

rápido, é possível descartar, no mesmo dia, a suspeita de infiltração tumoral em amostras

reacionais e orientar o diagnóstico patológico, no caso de infiltração por células malignas.

No caso de amostras infiltradas por células neoplásicas malignas, foi possível

discernir, em 100% dos casos, entre as de origem hematológica e não-hematológica, fato de

grande utilidade em tumores de rápido crescimento e com comprometimento de órgãos

nobres (compressão medular, obstrução renal pós-renal, síndrome de veia cava superior, por

exemplo).

Até o momento atual de nosso conhecimento, este é o trabalho com o maior número

amostral estudado. Para tal, utilizamos 8 combinações de anticorpos diferentes, aplicados

sistematicamente, em todas as amostras, o que possibilitou a análise comparativa dos

antígenos estudados, entre os diferentes grupos tumorais. Neste contexto, observamos que:

a) não é possível discriminar neuroblastoma x PNET x rabdomiossarcoma x linfoma com

apenas 3-4 combinações de anticorpos;

b) a proteína NCAM (CD56) pode ser útil na discriminação entre tumores quando considerada

a intensidade média de fluorescência (MFI), com o neuroblastoma apresentando os maiores

níveis de MFI;

c) as tetraspaninas CD9 e CD81 são expressas em diferentes grupos tumorais sem padrão

específico, não sendo úteis na discriminação entre grupos tumorais;

d) a proteína MIC2 (CD99) parece ser, realmente, útil na diferenciação dos tumores da família

Ewing, fato já descrito anteriormente, principalmente, no que diz respeito ao neuroblastoma x

PNET, porém, não pode ser utilizada isoladamente;

e) o gangliosídeo de membrana GD2 parece ser útil na classificação de neuroblastoma,

principalmente, se analisarmos quanto a MFI, com o maior nível de MFI neste grupo tumoral;

81

f) o receptor de fator de crescimento neural (NGFR ou CD271) foi positivo no PNET com alta

MFI e em um neuroblastoma com baixa MFI, podendo ser útil na caracterização destes

tumores, sendo necessárias mais amostras para melhor avaliação;

g) a proteína epitelial Epcam foi útil em dois grupos tumorais- Wilms e carcinoma-

identificando, no primeiro, um subgrupo de células tumorais CD56+F

/Epcam+F

,

provavelmente, compatível com o componente epitelial do tumor de Wilms e, no segundo,

uma população mais homogênea com altos níveis de MFI, porém, necessitamos de um

número maior de amostras para melhor caracterização de sua utilidade;

h) as proteínas musculares MYOD1 e miogenina parecem ser específicas de

rabdominossarcoma e, embora, sua utilização tenha sido, amplamente, descrita por

imunohistoquímica, esta é a primeira descrição do uso das duas proteínas juntas por

citometria de fluxo.

O diagnóstico diferencial entre os tumores sólidos pediátricos mais freqüentes

(Neuroblastoma, Tumores da família Ewing e Rabdomiossarcoma) por citometria de fluxo

multiparamétrica parece viável, uma vez que encontramos padrões de expressão protéica

diferentes entre cada grupo tumoral. Entretanto, se faz necessário um número maior de

amostras, para melhor caracterização e confirmação dos dados obtidos.

Por fim, este estudo mostra, com clareza, a utilidade da citometria de fluxo como

técnica diagnóstica auxiliar na investigação de neoplasias na infância e abre campo para

maiores estudos na investigação fenotípica dos tumores sólidos pediátricos, na

heterogeneidade tumoral e no papel da infiltração inflamatória tumoral, como mecanismo de

defesa imune contra o câncer.

82

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91

ANEXO 1

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Projeto de pesquisa: “Diagnóstico Diferencial dos Tumores de Células Pequenas Redondas

e Azuis por Citometria de Fluxo - automação”.

Pesquisador responsável: Dra. Cristiane de Sá Ferreira Facio

Instituição responsável pela pesquisa: Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão

Gesteira – IPPMG/UFRJ

Endereço: Av Brigadeiro Trompowski s/no, Cidade universitária, Ilha do Fundão - Rio de

Janeiro-RJ Telefones: 25626151/25626181

Orientadores: Prof. Marcelo Gerardin P. Land, Dra Sima Esther Ferman e Dra. Elaine Sobral

da Costa

Eu,_____________________________________________________________,

voluntariamente permito a participação de meu filho(a) na pesquisa “Diagnóstico Diferencial

dos Tumores de Células Pequenas Redondas e Azuis por Citometria de Fluxo”, a ser

realizada pela Dra Cristiane de Sá Ferreira Facio sob a orientação dos Drs. Marcelo

Gerardin P. Land, Sima Esther Ferman e Elaine S. Costa. Esta pesquisa tem o objetivo

testar um método laboratorial para o diagnóstico de tumores da infância, conhecidos como

“tumores de células pequenas redondas e azuis”.

Hoje em dia, para diagnosticar o tipo destes tumores há necessidade de uma grande

experiência do patologista e de vários exames auxiliares. O que se pretende é testar um

método diagnóstico feito de maneira automática, chamado citometria de fluxo, que já é

usado de rotina para o diagnóstico de outras doenças. Além disso, estudaremos se é

possível encontrar células do tumor no sangue.

Caso eu concorde em participar do estudo, no momento da biópsia do tumor de meu

filho, o pedaço retirado para o exame de rotina (que se chama histopatológico) será dividido

e um pequeno pedaço dele será para testar este novo exame e compará-lo com o

diagnóstico que é feito normalmente. Além disso, será necessária uma pequena amostra (1

ml) de sangue (colhida no momento em que for necessário algum outro exame de sangue

do meu filho, ou seja, ele não será incomodado somente para o estudo). A retirada de 1 ml

de sangue não traz nenhum mal para meu filho. O material coletado só será utilizado para

os fins desta pesquisa. Não haverá prejuízo no diagnóstico e no tratamento de meu filho. O

diagnóstico e o tratamento dele serão realizados de acordo com os protocolos utilizados no

hospital onde está internado sem qualquer interferência deste estudo.

92

À mim, enquanto responsável por meu filho, é garantida a liberdade de querer não

participar do projeto de pesquisa ou me retirar no momento que achar conveniente, sem

prejuízo ao acompanhamento e tratamento do meu filho. Durante todo o projeto nós

poderemos pedir informações sobre o estudo, sempre que acharmos necessário. Não

haverá despesas pessoais ou qualquer tipo de compensação financeira relacionada à

participação de meu filho.

Os resultados serão apresentados em uma tese de mestrado na UFRJ e também

poderão ser apresentados em um ou mais artigos a serem publicados em revistas científicas

e divulgados em congressos, simpósios, reuniões científicas, conferências, mesas redonda,

salas de aulas, sempre mantendo o sigilo de identidade dos pacientes.

Eu, __________________________________________________, abaixo assinado,

responsável pelo menor ____________________________________________,acredito ter

sido suficientemente informado sobre a pesquisa “Diagnóstico Diferencial dos Tumores de

Células Pequenas Redondas e Azuis por Citometria de Fluxo” e autorizo voluntariamente a

participação do meu filho(a) nesse estudo. Declaro que li e entendi todas as informações

referentes a esse estudo e que todas as minhas perguntas e dúvidas foram claramente

respondidas pela pesquisadora.

Rio de janeiro, _____ de _________________ de 20___

Responsável legal – RG

Pesquisador

Sujeito da pesquisa

Telefones de contato: Cristiane: 97081715

CEP- HSE: 22913131 R:3544

IPPMG: 25626181/25626151