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DESASTRE AMBIENTAL: PERCEPÇÃO DE RISCO EM UMA COMUNIDADE NÃO ATINGIDA, SITUADA PRÓXIMA AO LOCAL DO EVENTO José Maria Morais (LATEC / UFF) Resumo: No presente artigo, foi analisada, a partir de um estudo de caso em Pedro do Rio, Petrópolis (RJ), a percepção de risco de desastre ambiental de uma comunidade, tendo em vista suas condições de localização (moradias entre o rio e o morro), proximidade com áreas já atingidas por grandes desastres e as previsões de impacto das mudanças climáticas para a região. Tais condicionantes podem sugerir a existência de medidas de precaução e pressão junto a órgãos públicos, o que não se verificou no estudo. O trabalho aponta na direção do estreitamento das relações entre os órgãos responsáveis por fiscalização, orientação e proteção das comunidades vulneráveis, como suporte às ações de prevenção, enquanto sugere estudos mais aprofundados sobre percepção, comunicação e controle do risco. Palavras-chaves: percepção de risco, desastre ambiental, vulnerabilidade a risco ambiental. ISSN 1984-9354

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DESASTRE AMBIENTAL:

PERCEPÇÃO DE RISCO EM

UMA COMUNIDADE NÃO ATINGIDA,

SITUADA PRÓXIMA AO LOCAL DO EVENTO

José Maria Morais

(LATEC / UFF)

Resumo: No presente artigo, foi analisada, a partir de um estudo de caso em Pedro do Rio, Petrópolis

(RJ), a percepção de risco de desastre ambiental de uma comunidade, tendo em vista suas condições de

localização (moradias entre o rio e o morro), proximidade com áreas já atingidas por grandes

desastres e as previsões de impacto das mudanças climáticas para a região. Tais condicionantes podem

sugerir a existência de medidas de precaução e pressão junto a órgãos públicos, o que não se verificou

no estudo. O trabalho aponta na direção do estreitamento das relações entre os órgãos responsáveis

por fiscalização, orientação e proteção das comunidades vulneráveis, como suporte às ações de

prevenção, enquanto sugere estudos mais aprofundados sobre percepção, comunicação e controle do

risco.

Palavras-chaves: percepção de risco, desastre ambiental, vulnerabilidade a risco

ambiental.

ISSN 1984-9354

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Introdução

“Uma das grandes perdas do atual estágio da modernidade é a casa,

lugar da proteção por excelência, ter se tornado, também, um lugar de risco,

o que torna o habitar metropolitano um habitar em risco.” Marandola Jr. (2008)

Em março de 2013, mais de 100 escorregamentos ocorreram nas encostas de Petrópolis, na região

serrana fluminense, causando 33 mortes. “O cenário de desastre já era esperado tanto sob o ponto de

vista do risco espacial (distribuição dos escorregamentos) como pelo aspecto do risco temporal

(chuvas registradas)” (Relatório Técnico DRM, março 2013). Dois anos antes, naquele reconhecido

como o maior desastre do país em número de mortos desde 2000, na mesma região serrana, morreram

429 pessoas no município de Nova Friburgo, 392 pessoas no município de Teresópolis e 71 pessoas no

município de Petrópolis, além de 26 pessoas em municípios vizinhos. Em Petrópolis, o Vale do

Cuiabá, no 3o distrito de Itaipava, foi a região mais atingida em 2011 (Foto 1, Apêndice A), com

deslizamentos de 15 km de extensão e largura entre 20m e 40m, que ocasionaram 71 mortes (ABDN,

2011).

O quadro a seguir evidencia esta situação de risco do município de Petrópolis: há sete registros de

eventos extremos ambientais na região, detectados em um período de 20 anos, de 1987 a 2008.

(Quadro 1)

Quadro 1 – Eventos extremos na região serrana – Fonte: Freitas et al. (2012), citando dados da Defesa

Civil.

Agravando ainda mais o cenário, estudos e conclusões sobre mudanças climáticas, previstas ou em

curso, apontam para um quadro onde repetições de desastres ambientais impactantes, devido a chuvas

intensas, não podem ser consideradas exceções. De acordo com o “Sumário para os Formuladores de

Políticas”, relatório sobre o clima global emitido em fins de março de 2014 pelo Painel

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Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), regiões já vulneráveis, com

enchentes e deslizamentos de terra frequentes, podem sofrer graves consequências com o aumento do

volume de chuvas.

Segundo José Marengo, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre, vinculado ao

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e um dos autores do novo capítulo elaborado pelo

IPCC (2014), “Já se observam tendências significativas na precipitação e na temperatura na América

Central e do Sul e, em alguns casos, extremos climáticos também têm afetado as duas regiões”. Mas

acrescenta que, se as pessoas não estivessem morando em áreas de risco, não seriam afetadas pelo

deslizamento de terra, causados por chuvas intensas. (FAPESP, 2014).

As previsões “altamente confiáveis”, segundo o relatório, para a América Central e América do

Sul indicam, para o período de 2030 a 2040, uma alta evolução do risco (aproximando-se de “muito

alto”), mantidos os atuais níveis de adaptação (Quadro 2).

Quadro 2 – Contribuição relativa das mudanças climáticas a deslizamentos e inundações.

Fonte: IPCC, 2014, p. 29

Considerando o cenário acima exposto, o objetivo deste artigo é apresentar um estudo de caso que

contribua para a reflexão sobre a situação de vulnerabilidade relacionada a desastres ambientais,

considerando a percepção de risco em uma comunidade do distrito de Petrópolis que não foi atingida

pelos desastres mencionados anteriormente.

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Distante apenas 8,3 km do Vale do Cuiabá, em linha reta (Foto 2, Apêndice A), um dos cenários do

megadesastre1 de 2011, a localidade de Pedro do Rio (4

o distrito de Petrópolis) presenciou a cheia do

Rio Piabanha, - com os destroços do Vale carreados pelo afluente Santo Antônio - sem, entretanto,

nenhum dano expressivo registrado aos seus moradores.

O ABDN (2011) aponta, em sua análise sobre o megadesastre de 2011, que “o caráter

absolutamente generalizado dos escorregamentos” não respeitou “a variedade de formas das encostas

nem a gênese dos materiais geológicos” atingindo “todas as encostas suaves, íngremes ou escarpadas,

sejam as compostas por solos residuais e transportados, sejam aquelas com depósitos de movimentos

de massa pretéritos ou afloramentos rochosos” (p. 63).

Apesar de relevo semelhante, ocupação irregular e moradias construídas às margens do Rio Piabanha,

com 357 delas classificadas em situação de alto risco de escorregamento (DRM, 2013), o distrito de

Pedro do Rio não tem sido atingido por desastres ambientais expressivos, nos anos recentes, segundo

registros pesquisados no site do DRM. Ainda assim, o Plano de Contingência de Proteção e Defesa

Civil de Petrópolis (PLANCON 2013/2014) classifica o 4o. Distrito de Pedro do Rio como de “risco a

deslizamentos de grande impacto, de acordo com o histórico de desastres em Petrópolis, com o Plano

Municipal para Redução de Desastres, além de estudos realizados pelo DRM” (p. 12), além do risco de

inundações (p. 17) e alagamentos (p. 19).

2. Formulação da situação problema

Em Pedro do Rio, a comunidade de 7 Casas, próximo ao centro, é um aglomerado de cerca de 70

casas de alvenaria, imprensadas entre o morro e a pista sem acostamentos da Estrada União Indústria e

o Rio Piabanha (Foto 3, Apêndice A).

Apesar de ter resistido ao megadesastre de 2011, as consequências deste, segundo o ABDN (2011),

[...] foram responsáveis por uma mudan a de paradigma no que tange gestão dos Desastres aturais. A maneira de

pensar, tanto da popula ão quanto das autoridades, mudou drasticamente e trou e tona a import ncia da preven ão,

mitiga ão e cria ão de cidades mais resilientes, ou seja, que suportem mel or as adversidades naturais e diminuam as

vulnerabilidades as quais a popula ão está e posta. (2011, p. 68)

A partir da posição geográfica da comunidade, entre o morro e o rio, da sua proximidade com as áreas

atingidas pelos últimos desastres ambientais e em função das previsões sobre os impactos das

mudanças climáticas, delimitamos uma área de estudo, com o objetivo de identificar a percepção de

1 Termo adotado pelo Anuário Brasileiro de Desastres Naturais (ABDN, 2011).

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risco a desastres ambientais pelos moradores da comunidade e avaliar se possíveis dados técnicos

existentes sobre o risco efetivo corroboram a percepção identificada.

Marandola Jr e Modesto (2012) defendem que necessitamos, primeiro, compreender a percepção das

pessoas sobre os perigos que aparecem em sua experiência para, somente depois, pensar a dimensão

dos riscos envolvidos.

“A percep ão é intuitiva, imediata, e é por isso que, com relação à maioria dos perigos, as pessoas não passam da sua

percepção, pois não chegam a refletir ou elaborá-los enquanto tal. Os perigos são constituintes da história de vida das

pessoas e da própria forma como elas se colocam nas cidades, como elas constroem suas identidades, mas nem sempre se

tornam conscientes.” (p. 13)

Os perigos são tangíveis e sua percepção é parte integrante do próprio fenômeno. É ela que nos

leva a uma elaboração cognitiva para o entendimento dos riscos (MARANDOLA JR; MODESTO,

2012).

Analisar a percepção de risco, ainda, pressupõe considerar juízos, memória, emoção e motivação das

pessoas que fazem parte do contexto analisado. Segundo Kuhnen (2009),

[...] a percepção do meio ambiente é aprendida e está carregada de afetos que traduzem juízos acerca dele. Estão juntos o

cognitivo e o emocional, o interpretativo e o avaliativo. Portanto a percepção ambiental é aprendida e aparece nos juízos

que formamos sobre o meio ambiente e nas intenções modificadoras que empregamos. É resultante tanto do impacto

objetivo das condições reais sobre os indivíduos quanto da maneira como sua interveniência social e valores culturais agem

na vivência dos mesmos impactos (2009, p. 47).

A mera análise das fotos, da posição geográfica e dos elementos físicos condicionantes (morro e

rio) nos permitiu assumir, mesmo sem o detalhamento técnico referente à vulnerabilidade e risco

efetivos, tratar-se de uma comunidade em risco, tomando por base apenas a probabilidade de eventos

meteorológicos futuros extremos, pressuposto considerado aceitável pelo IPCC, em seu último

relatório. Como pontuam O’Brien et al. (2006), “perigos (hazards) podem ser naturais na sua origem,

mas é a forma com que as sociedades têm se desenvolvido que os transforma em desastres” (p. 65,

tradução minha).

Independentemente de a abordagem técnica de vulnerabilidade e risco já compor os planos dos

principais órgãos públicos envolvidos com desastres ambientais, principalmente a Defesa Civil e o

Instituto Estadual do Ambiente – INEA, os dados disponíveis para pesquisa apenas nos permitem

afirmar que a região do distrito de Pedro do Rio não faz parte das atuais prioridades desses órgãos, em

face das condições precárias dos demais locais atingidos pelo megadesastre de 2011.

Neste sentido, é objetivo desta pesquisa apresentar a percepção dos moradores envolvidos na

situação de vulnerabilidade da região. Evidenciar como essas personagens se relacionam com o risco

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de desastre ambiental constitui um material relevante para compreender como se desenvolvem práticas

de prevenção, considerando desde cuidados básicos à fomentação de políticas de proteção da região.

Método

Para apresentar este estudo de caso, foi realizada uma pesquisa qualitativa que, conforme Minayo

(1993), trabalha com o universo das crenças e das atitudes, buscando compreender e interpretar a

realidade, elementos importantes para a abordagem da percepção de risco de desastres ambientais. A

fase e ploratória da pesquisa “[...] compreende várias fases da construção da trajetória de investigação,

tais como: escolha do tópico de investigação, delimitação do objeto, definição dos objetivos,

construção do marco teórico conceitual, seleção dos instrumentos de construção/coleta de dados,

e plora ão de campo” (p. 37-38).

Definida a comunidade objeto do estudo, tendo por base a localização das moradias entre o morro e o

rio, foram realizadas 7 entrevistas com os moradores e 1 entrevista com o presidente da Associação do

Moradores. A realização da entrevista deu-se em função da presença da pessoa em sua residência, no

dia da entrevista, e pela disposição das mesmas.

A entrevista foi semi-estruturada, combinando perguntas fechadas com perguntas abertas, a maioria,

permitindo ao entrevistado discorrer sobre o tema apresentado (MINAYO, 1993, p. 64). A análise das

entrevistas se deu de forma qualitativa, não se utilizando parâmetros estatísticos em função do

tamanho da amostra.

O questionário, com 18 questões semi-abertas (APÊNDICE C), foi aplicado no mês de março de

2014.

Como observador, o autor participou, no dia 12/04/2014, de uma reunião de planejamento para

instalação de um Núcleo Comunitário de Defesa Civil (NUDEC) no Vale do Cuiabá e comunidades

próximas. A Defesa Civil apresentou os aspectos básicos e funcionais de um NUDEC a um grupo de

23 pessoas das comunidades envolvidas, ressaltando a importância da participação desses voluntários

na prevenção, noções de percepção de risco e de primeiros socorros.

Revisão da literatura

Não faz parte do escopo dessa revisão da literatura a análise das várias e complexas abordagens

e istentes sobre o tema “percep ão de risco”, envolvendo teorias como do con ecimento, da

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personalidade, econômica, política ou a comparação entre as diversas abordagens antropológica,

psicológica, dentre outras. Para contextualizar o tema, apresentamos algumas abordagens, não

exaustivas, sobre as condições físicas do solo (geomorfologia) e as condições sociais de

vulnerabilidade, risco e percepção de risco.

Deslizamentos, segundo Fernandes et al. (2001), são deflagrados por complexas relações entre fatores

geológicos. Os fatores topográficos (ou geomorfológicos) compreendem parâmetros tais, como:

declividade, forma da encosta, área de contribuição, orientação das encostas (aspecto), espessura do

solo, comprimento da encosta, (as)simetria dos vales e elevação.

Dentre os mecanismos de ruptura, tem-se a saturação dos solos pelo aumento da poro-pressão positiva

(infiltração da água preenchendo todos os vazios) que leva à redução do fator de segurança ou a perda

da coesão aparente (sucção), onde a ruptura ocorre sem haver a saturação do solo (p. 54).

Segundo Guerra e Cunha (2010), os escorregamentos translacionais, que ocorrem geralmente durante

períodos de chuva intensa, são a forma mais frequente de movimentos de massa, dando-se o plano de

ruptura do solo, na maioria das vezes, em profundidades de 0,5m a 5,0m, podendo ocorrer com

superfície de ruptura na interface solo-rocha.

Escorregamentos nas encostas de Petrópolis, em 2013, envolveram “inclina ão acima de 45º, com capa

de solo sobre rocha sã e fraturada [...] com exposição de taludes íngremes à erosão violenta em setores

não dotados de drenagem” (DRM, 2013).

Alertam Fernandes et al. (2001) que considerar a declividade como principal ou mesmo único

parâmetro topográfico, nos estudos de previsão e definição de áreas instáveis, pode gerar distorções na

análise dos deslizamentos. Áreas de menor declividade, definidas inicialmente como sendo de baixa

susceptibilidade, mostram, frequentemente, a presença de deslizamentos no campo, principalmente na

forma de corridas de massa (p. 55). Uma distribuição de deslizamentos observados na Nova Zelândia

indicou que a maior densidade de movimento se deu em encostas com declividades entre 21 e 25

graus, em função das variações do tipo de cobertura vegetal (p. 171).

Dentre as condições sociais envolvidas em desastres ambientais, a vulnerabilidade, termo de uso

difundido e crescente, cuja definição e medida não são consensuais, representa as características de

uma pessoa ou grupo em termos de sua “capacidade de antecipar, enfrentar, resistir e se recuperar de

um impacto de um perigo natural” (WHITE, KATE e BURTO , 2001). Segundo os autores, esse

conceito envolve uma combina ão de fatores que determinam o grau, segundo o qual, “a vida de uma

pessoa e seus meios de sobrevivência são colocados em risco por um evento, identificável e discreto,

na natureza ou na sociedade” (2001).

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Cardona (2003) propõe uma perspectiva abrangente para a vulnerabilidade, com três componentes

principais: fragilidade ou exposição, susceptibilidade (ou fragilidade socioeconômica) e falta de

resiliência. Fragilidade é a componente física e ambiental da vulnerabilidade em função da área de

influência e da ausência de resistência física à propagação do fenômeno perigoso; susceptibilidade, a

predisposição de um grupo de pessoas sofrer danos devido a um fenômeno perigoso; e falta de

resiliência, uma expressão das limitações de acesso e mobilização de recursos das comunidades e sua

incapacidade de resposta para a absorção do impacto. Acrescenta o autor que perigo e vulnerabilidade

são concomitantes e levam ao risco: “Se não á perigo, não é possível ser vulnerável”. Da mesma

forma, “não e iste uma situa ão de perigo para um elemento ou sistema que não está exposto ou

vulnerável ao fenômeno potencial” (2003).

Para o IPCC (2014), vulnerabilidade é a “propensão ou predisposi ão de ser afetado negativamente.

Compreende uma variedade de conceitos e elementos, incluindo a susceptibilidade ao dano e a falta de

capacidade de enfrentar e adaptar-se”.

Freitas et al. (2012) apresentam uma abordagem socioambiental para vulnerabilidade, cujas condições

resultam de processos sociais e mudanças ambientais. Essas condições combinam os processos sociais,

relacionados à precariedade das condições de vida e proteção social, que tornam vulneráveis aos

desastres determinados grupos populacionais, principalmente os mais pobres; e as mudanças,

decorrentes da degradação do ambiente, que tornam este mais vulnerável frente a ameaças e seus

eventos subsequentes.

Risco, na abordagem do IPCC (2014) referindo-se aos riscos de impactos das mudanças climáticas, é

representado como a probabilidade de ocorrência de eventos perigosos multiplicada pelos impactos, no

caso de os eventos ocorrerem. O risco resulta da interação da vulnerabilidade, exposição e perigo.

Para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – UNDP, risco é a probabilidade de

consequências danosas resultantes das interações entre perigos naturais, ou induzidos pelo homem, e

condições vulneráveis. O relatório do UNDP para Redução do Risco de Desastre considera risco como

“o número de mortes em um evento perigoso em rela ão popula ão total e posta a tal evento”. Ou

seja, restringe ao risco de perdas de vidas humanas, não considerando outros tipos, como perdas

econômicas, de moradias ou infraestrutura.

Adger et al. (2004), em seu projeto de desenvolvimento de novos indicadores de vulnerabilidade e

capacidade de adaptação às mudanças climáticas, apresentam, a partir de uma variedade de fontes

pesquisadas, algumas definições de risco, como:

- Probabilidade x perda (probabilidade de ocorrência de um perigo específico)

- Medida combinando a probabilidade e a magnitude de um efeito adverso

- Probabilidade x consequência

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- Perdas esperadas devido a um perigo particular, para uma dada área e num período específico

- Probabilidade de ocorrência de um perigo

- Probabilidade de perda dependente de três elementos: perigo, vulnerabilidade e exposição

- Produto do perigo pela vulnerabilidade

Um dos elementos do projeto envolveu exatamente o desenvolvimento de indicadores simples de risco,

medido em termos de resultado de desastres relacionados ao clima (p. 2). Para os autores, risco é uma

medida agregada de perigo e vulnerabilidade, que interagem para determinar os resultados de eventos

climáticos.

Para Marandola Jr e Modesto (2012), o fenômeno que causa o dano são os perigos e, assim, são estes e

não os riscos que devem ser questionados. “Os perigos constituem a materialidade que aparece na

experiência das pessoas e, por isso, precisamos primeiro entender a percepção deles, para depois

pensarmos a dimensão dos riscos (a probabilidade de eles ocorrerem)” (p. 12).

A percepção, segundo Vazquez (2001), é um processo que permite a adaptação ao ambiente, mas, ao

mesmo tempo, é um processo de avaliação emocional e cognitiva, “uma garantia prática [...] que

confere sentido aos objetos percebidos do ambiente” (p. 123). Para a autora, a percepção de risco não

pode ser um julgamento objetivo do perigo e, sim, a “representa ão de valores e significados coletivos

de eventos diferentes, práticas e elementos ambientais e da sociedade” (p. 124).

Kuhnen (2009) acrescenta que a percepção ambiental é aprendida e surge nos juízos que formulamos

sobre o meio ambiente. “É resultante tanto do impacto objetivo das condições reais sobre os indivíduos

quanto da maneira como sua interveniência social e valores culturais agem na vivência dos mesmos

impactos” (p. 47).

Do ponto de vista psicológico, afirma Reid (1999), a percepção de risco pode ser relacionada ao

conceito de uma medida de probabilidade subjetiva ou pessoal. E, assim, fatores subjetivos podem

influenciar e distorcer as percepções de risco. Conclui o autor que percepções intuitivas de risco se

relacionam não apenas a fatos objetivos quantificáveis, mas também a vários outros fatores, incluindo

o contexto social dos riscos e, ainda, a necessidade (sic) da exposição ao risco e o seu controle (p.

383).

Concluindo, com a visão de Marandola Jr:

“A percep ão [...] é parte constituinte do próprio fenômeno, ou seja, seu estudo é um caminho que nos permite tentar

compreender o porquê de as pessoas terem determinada percepção que talvez não seja a mesma verificada pelo estudo

técnico” (MARANDOLA JR e MODESTO, 2012, p. 13).

“A percep ão dos grupos afetados (há ou não há risco, de qual magnitude e o que deve ser feito a respeito) influenciará na

prepara ão e rea ão quando o perigo ocorrer, podendo potencializar ou mitigar os danos” (MARA DOLA JR, 2008, p. 39)

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Narrativas sobre a noção de risco ambiental: a percepção a comunidade 7 Casas

Em sua tese, Vieira (2004) acentua que os trabalhos de percepção de risco têm contribuído para

tomadas de decisões políticas na prevenção de acidentes. Assim, compreender e interpretar

adequadamente a percepção que os moradores possuem do lugar onde vivem contribui para a

construção de ações que tomem por base os conhecimentos e as experiências locais. Segundo a autora,

é necessário que os especialistas e órgãos públicos responsáveis considerem as percepções sociais,

tendo sempre em mente a sua responsabilidade social.

Acrescenta, ainda, que grande parte dos moradores não admite morar em área de risco, pois, se assim

fizessem, sentir-se-iam forçados a tomar ações preventivas ou se mudar.

As pessoas vêm morar ou continuam morando em área de risco não apenas por fatores econômicos,

mas também emocionais, como o acesso à casa própria, proximidade de amigos e parentes. No

presente estudo de caso, 5 entrevistados informaram terem ido para o local em função da mudança da

família, um para fugir de um aluguel maior e outro para poder comprar a própria casa.

Burton e Kates (1964) sustentam que as diferenças culturais influenciam o ponto de vista das pessoas

com relação à natureza e, portanto, sua percepção de perigo. Que muito da divergência com relação a

essa percepção é explicável em termos das atitudes básicas diante da incerteza. E, concluem os autores,

as variações de percepção podem afetar as políticas de gestão e controle dos riscos ambientais.

Mais da metade dos entrevistados na comunidade 7 Casas não se percebe em risco de deslizamento. A

ausência de experiência referente a desastres ambientais – seja na moradia atual, seja em moradias

anteriores –, contribui para essa percepção. Quanto ao risco de inundação, apesar de morarem “sobre”

o rio Piabanha, a altura do leito do rio até as casas é expressiva, trazendo-lhes a sensação de segurança.

Mesmo os pilares e fundações das moradias estando à beira do rio, a percepção de insegurança foi

relatada apenas pela entrevistada L. Para alguns, não á risco pois “o rio avisa e dá tempo pra sair, o

morro não”, enquanto o entrevistado A. acrescenta que “se sentir c eiro de pei e, é que o rio tá

enchendo” (Foto 4, Apêndice A). Para Giddens (2002), boa parte da estimativa de risco se dá ao nível

da consciência prática e “o casulo protetor da confiança básica bloqueia a maioria dos eventos

potencialmente perturbadores que interferem nas circunstâncias da vida do indivíduo” (p. 119). É esta

confiança que possibilita ao indivíduo sustentar uma “normalidade viável” transportada de situa ão

para situação (p. 122).

Mais da metade dos entrevistados afirmou desconhecer detalhes de ações dos órgãos públicos no Vale

do Cuiabá, em função do megadesastre 2011, mesmo sabendo-se que os noticiários (televisão, rádio e

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jornais) tenham feito algum tipo de reportagem2. A entrevistada S. respondeu que “fizeram casa

popular, canalizaram o rio, abriram valas no rio"; outro entende que “pra 90% dos atingidos não

fizeram nada”; enquanto a entrevistada A. foi taxativa: "Só (sei) o que passa na televisão. Esqueceram

deles. Estão abandonados. Não fizeram nada. Não se preocupam nem em limpar".

Uma medida de caráter coletivo foi relatada por três moradores: consistiu em uma ação estruturante

para resolver o problema da água que descia do morro, com chuvas fortes, em um dos pontos da

comunidade. Sem serem atendidos no seu pleito, os moradores se cotizaram e pagaram a construção da

canalização da água. Essa ação específica – e importante para a comunidade – solucionou talvez um

dos únicos aspectos que pudesse trazer algum tipo de preocupação. Ainda assim, os moradores

envolvidos não demonstraram temer algum risco maior, apenas quando chovia muito: a “água vem

forte e atravessava a estrada (União Indústria) e entrava em casa”, segundo a entrevistada L.

A única menção à vegetação no morro, sem comentar se o fator é positivo ou negativo, foi feita pela

entrevistada A. ao ser perguntada se havia notado alguma alteração no morro que representasse algum

perigo: “Só as árvores no morro é que aumentaram”. A existência ou não da vegetação não é percebida

como um fator de segurança contra o deslizamento. Segundo Michel, Kobiyama e Goerl (2013), “o

efeito mecânico das raízes consiste no aumento da resistência pela ligação das fibras das raízes com o

solo, gerando a chamada coesão das raízes [...] A coesão gerada pela presença das raízes no solo pode

ser adicionada a coesão do solo, aumentando dessa maneira o valor total do termo de coesão”,

contribuindo para a estabilidade das encostas. Por outro lado, a presença da vegetação nas encostas

gera uma sobrecarga devido ao seu peso. Esta sobrecarga tem uma componente paralela à encosta, a

qual favorece o cisalhamento do solo. Preservados os vários fatores que necessitam ser analisados

tecnicamente, que ultrapassam o objetivo desse artigo, a vegetação pode, então, exercer influência

considerável sobre a estabilidade das encostas.

O reduzido potencial de danos dos eventos registrados corrobora a nossa pesquisa, uma vez que não

encontramos nenhum registro de desastres significativos nessa área. A análise dos relatórios técnicos3

Correlação Chuvas x Escorregamentos no Estado do Rio de Janeiro, emitidos pelo Núcleo de Análise e

Diagnóstico de Escorregamentos, NADE/DRM, não registram ocorrências de escorregamento na

região estudada. Os cenários de risco associados a chuvas estão detalhados no Apêndice B.

Mais de 50% dos entrevistados afirmaram terem parentes e conhecidos atingidos pelo megadesastre de

2011 no Vale do Cuiabá, com a ocorrência de mortes, inclusive. Poderia se esperar que essa realidade,

2 Não foi perguntado se os moradores possuíam televisão e, como as entrevistas não foram efetuadas dentro das residências,

esse detalhe não pode ser observado. 3 Dezoito relatórios técnicos elaborados no período de janeiro de 2012 a janeiro de 2014, disponíveis no site do DRM.

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tão próxima, trouxesse algum tipo de insegurança a esses moradores. Entretanto, apenas um

entrevistado admitiu ter insegurança quanto a deslizamento. Esse entrevistado, inclusive, reside na área

onde tiveram que canalizar a água que desce do morro.

Questionados se percebiam alguma mudança no morro ou no rio que pudesse gerar alguma

insegurança, o entrevistado P., há 50 anos na localidade, comentou a situação do rio Piabanha que,

exatamente no trecho em estudo, teve seu curso e leito alterados por pedras lançadas durante as obras

de construção da rodovia interestadual BR040, em 1980 e, também, em março e dezembro de 2012

(Foto 5, Apêndice A), em função de deslizamentos de lascas do talude rochoso no km 50 dessa

rodovia. Isto alterou o perfil do leito e as margens do rio, tornando as casas ribeirinhas mais

susceptíveis aos riscos de enchentes.

Consistente com a quase nula percepção de risco pela comunidade, a maioria dos entrevistados não

soube responder se a comunidade estava preparada ou se devia se preparar para agir em casos de

imprevistos ambientais. Apenas dois entrevistados se manifestaram exigindo maior fiscalização por

parte dos órgãos responsáveis, enquanto a entrevistada A. afirmava “Sim. Tem que se preparar. O

futuro a Deus pertence”. Corroborando Giddens (2002, p.106), uma posição fatalista, de aceitação

resignada de que se deve deixar que as coisas sigam seu curso4.

Questionados se tinham conhecimento de ações ou planos preventivos de algum órgão para a

localidade, apenas um morador comentou ter ouvido falar em possível retirada de casas à beira do rio,

em Itaipava, 10 km rio acima. No artigo de Farias et al. (2013), abordando o diagnóstico do desastre de

janeiro de 2011 na Região Serrana e as principais ações desenvolvidas e resultados alcançados pelo

INEA, no âmbito da gestão de risco de inundações, os autores atestam que

A metodologia de zoneamento de áreas de risco de inundações proposto para a Região Serrana representou um grande

avanço para a gestão, uma vez que conjugou o ordenamento urbano das áreas ribeirinhas e o reassentamento das

populações em áreas de risco a inundação e possibilitou o estudo exploratório de intervenções para controle de cheias e

recuperação ambiental. (2013)

Solicitados a opinar sobre quais deveriam ser as ações preventivas desses órgãos para a localidade, os

entrevistados não souberam precisar, limitando-se aos comentários sobre a falta de fiscalização de

obras irregulares e alguma contenção no morro (Foto 6, Apêndice A).

O Presidente da Associação de Moradores de Pedro do Rio, residente próximo à área estudada,

entende que os moradores da comunidade 7 Casas estão sujeitos aos riscos tanto de deslizamento

quanto de enc entes. “Um peda o de pau que desce na en urrada, se bater ali, vai quebrar aquela

coluna e vai descer tudo [...] eles fazem as obras, os outros deixam e eles continuam a fazer [...] e (o

que precisa) é uma fiscalização adequada, uma fiscalização que atuasse”. Quanto à sua relação com a

4 A propósito, há duas igrejas evangélicas no pequeno trecho da comunidade 7 Casas.

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comunidade “eu tô sozin o [...] ninguém colabora com a gente”, justificando não ter o suporte para

uma ação juntos aos órgãos públicos.

Vieira (2014), em seu estudo sobre deslizamentos no município de Blumenau (SC), relata que “o

descrédito no governo aparece muito evidente. Inúmeros moradores criticam a posição dos candidatos

a cargos políticos que em período de eleições prometem melhorias para o local e ao serem eleitos, não

as cumprem”. Em nosso estudo, essa também é uma das observações mais contundentes por parte dos

moradores. Questionados se já tinham solicitado apoio ou orientação de órgãos públicos sobre

prevenção ou alguma obra de proteção - e quais tinham sido os resultados, foram unânimes em negar

pontuando: “ ão (pedimos). Pra quê? Só aparecem pra pedir votos”; “Pedimos a um vereador pra

manil ar a água. ‘ ão tem o que fazer, disse ele’ ”; “ unca vieram aqui. Só quando quer voto”; “ ão

fez nada. Quem fez ‘foi’ os moradores. Se fosse esperar por eles, estaria até oje”.

Citando Burton et al. (1978), Vieira (2004) pontua que o isolamento da visão dos especialistas, sem

referenciar os aspectos sociais envolvidos, pode agravar os problemas sociais, ao invés de melhorá-los.

Isso pode levar à adoção de estratégias técnicas consideradas como adequadas, podendo deixar,

entretanto, as comunidades mais vulneráveis.

A implantação dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil (NUDEC) representa a única iniciativa

efetiva, que se conseguiu identificar pela nossa pesquisa, no sentido de estreitar a relação entre os

órgãos públicos e as comunidades vulneráveis.

Notícia veiculada no jornal Acontece em Petrópolis, em 29/01/2014, atesta

Nesta última terça-feira (28), cinco técnicos da Secretaria de Proteção e Defesa Civil estiveram na comunidade do Chapa 4,

no Valparaíso, realizando vistorias preventivas em cerca de 15 casas. (…) A medida atendeu a um pedido do úcleo

Comunitário de Defesa Civil (Nudec) do Chapa 4, quando foram capacitados voluntários na região. Eles pediram que a

Defesa Civil analisasse algumas casas da região, para assim reduzir os riscos de desastres no caso de fortes chuvas. Depois

das vistorias desta terça-feira, será marcada nova reunião do Nudec, quando os registros de ocorrências com as

recomendações serão entregues aos moradores.

Em Petrópolis já foram implantados 51 Núcleos Comunitários de Defesa Civil (NUDEC), “contando

com cerca de 450 agentes voluntários capacitados, pela Defesa Civil, para atuar na prevenção de

desastres, aprendendo noções básicas de Defesa Civil, medidas simples para deixar a casa mais segura,

o que fazer se come ar a c over forte e como montar um pluviômetro caseiro” (site da Prefeitura de

Petrópolis). Segundo o Setor de Integra ão Comunitária da Defesa Civil de Petrópolis, “Reunir 20

pessoas de uma comunidade já permite a formação de um NUDEC”.

Esses núcleos fazem parte de um projeto da CARE Brasil, uma confederação global de ONGs com

foco em combater a pobreza no mundo, com o suporte financeiro da ECHO, Comissão Europeia para

Ajuda Humanitária e Proteção Civil. A eficiência dos NUDECs, os primeiros criados a partir do

megadesastre 2011, foi comprovada nas chuvas de verão de 2012, quando vidas foram salvas durante a

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atuação dos Núcleos em Teresópolis e Nova Friburgo (NUDEC, 2012). Os agentes comunitários

receberam capacitação da Defesa Civil municipal para atuar como voluntários em trabalhos de

prevenção de tragédias das chuvas e na resposta a situações de desastres naturais, aprendendo sobre

preven ão de tragédias, no ões de percep ão de risco e de primeiros socorros.” Hoje, o NUDEC faz

parte da Política Nacional de Defesa Civil do Brasil.

No distrito de Pedro do Rio não há NUDEC e as entrevistas não obtiveram nenhum menção dos

moradores com relação a essa iniciativa.

No final da pesquisa, o autor participou, como observador, de uma reunião de planejamento da Defesa

Civil para a criação do NUDEC no Vale do Cuiabá e mais três comunidades do entorno, em abril de

2014. Definiu-se a união de esforços com os agentes do projeto Mãos à Obra, um projeto do INEA

que, com suporte de formação da Universidade Estadual do RJ - UERJ, já atua na região.

Considerações finais

No que tange à gestão dos desastres naturais, corroborando a afirmativa do ABDN (2011) de que o

megadesastre de 2011 ocasionou uma mudança de paradigma, nossa pesquisa identificou ações de

criação ou reformulação de órgãos, como:

Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN), criado em 2011, vinculado ao Centro

Estadual de Administração de Desastres (CESTAD), com a “fun ão peculiar de fornecer e embasar tudo relativo aos

fenômenos naturais que possam causar dano ao Estado” (site eletrônico do CEMADE -RJ).

Núcleo de Análise e Prevenção de Desastres e Escorregamentos (NADE), vinculado ao Departamento de Recursos

Minerais (DRM), “ oje responsável pelo mapeamento das áreas de risco iminente em 91 municípios do Estado, além do

atendimento às situações de emergência” (site eletrônico do DRM-RJ).

Superintendência Regional do Piabanha (SUPPIB), do INEA, tendo algumas atividades como licenciamento ambiental e

fiscalização, com impactos na “ocupa ão irregular e movimenta ão de terras em áreas de preserva ão permanente”, e no

“desmatamento de fragmentos da Mata Atl ntica” (site eletrônico do I EA).

Entretanto, não conseguimos acesso aos dados técnicos, seja da Defesa Civil seja do INEA, para

avaliar se os mesmos corroboram ou não a percepção de risco identificada, um dos pressupostos

apontados na formulação da situação problema.

A comunidade 7 Casas, em Pedro do Rio, pode ser entendida como um exemplo de outras áreas de

risco na serra fluminense, tanto pelas suas características físicas de localização, quando sociais. O

acesso a cartas geotécnicas detalhadas ou a algum estudo geológico específico para a área, não

conseguido, teria apenas agregado aspectos técnicos quanto à efetiva vulnerabilidade do maciço, sem

entretanto alterar a percepção de risco, objeto do nosso estudo.

Se as condições efetivas de risco, a partir de levantamentos técnicos, forem diferentes da percepção da

comunidade, isso aumenta a responsabilidade dos órgãos públicos em estender a essa região algumas

das ações em curso adotadas para as áreas definidas como prioritárias. Independentemente das

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conclusões técnicas, ao menos uma forma de comunicação adequada, e compreensível à população,

deve ser implementada, compatível com o nível efetivo de risco, uma vez que uma das mais fortes

evidências do estudo indica seu desconhecimento por parte dos moradores entrevistados.

Se já existem essas ações, sua efetividade necessita ser questionada. Para tal, naturalmente, os

limitados resultados desse estudo necessitam ser estendidos não apenas para contemplar melhor a

comunidade, mas também as áreas adjacentes ou mesmo outras áreas de perfil similar. Da mesma

forma, são necessários estudos mais aprofundados sobre percepção, comunicação e controle do risco.

Como afirma Kuhnen,

as medidas de mitigação ou de prevenção de riscos devem necessariamente levar em conta a percepção, o conhecimento e

aceitação do risco pela população. Portanto se a redução da vulnerabilidade é possível, ela não será eficaz se não for

apropriada pelos indivíduos ou grupos envolvidos. Esta apropriação passa pela compreensão dos fenômenos, mas também

pelas relações relativas e próprias do território em questão. (2009, p. 50).

Os NUDECs, em implantação, podem representar um dos meios adequados, desde que induzam,

efetivamente, a participação dos moradores das áreas mais vulneráveis, um dos seus pressupostos

básicos.

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APÊNDICE A

Fotografias de situação da comunidade 7 Casas

Foto 1 – Deslizamentos no Vale do Cuiabá. Fonte: DRM (2011).

Foto 2 – 8,34 km separam o Vale do Cuiabá da comunidade 7 Casas, em Pedro do Rio

Fonte: www.google.com

Foto 3 – A comunidade 7 Casas, entre o morro e o rio Piabanha. Ao lado, a BR-040

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Fonte: www.google.com

Foto 4 – Trecho do rio Piabanha, na comunidade 7 Casas

Fonte: o autor, 25/03/2014

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Foto 5 – Pedras sobre o Rio Piabanha, em frente à comunidade 7 Casas,

pelo lado da rodovia BR040 - Fonte: http://www.revistaon.com.br (27/03/2012)

Foto 6 – Aspectos do morro, em frente à comunidade 7 Casas

Fonte: www.google.com

APÊNDICE B

CENÁRIOS DE RISCO ASSOCIADOS A CHUVAS

Fonte: Departamento de Recursos Minerais – DRM-RJ Diagnóstico sobre Risco a Escorregamentos

2012/2013

Quadro sintético

Cenário 1: registro ou expectativa de escorregamentos ocasionais (<5/município), afetando taludes de

corte e deflagrados por chuvas > 50mm/h OU > 120mm/24h, após sucessão de dias secos.

Cenário de escorregamentos esparsos - 5<x<25/município, afetando taludes de corte ou naturais e

linhas de drenagem, deflagrados pela combinação de chuvas, para a região serrana, de 30mm/h +

100mm/24h + 115mm/96hs + 270mm/mês.

Cenário de escorregamentos generalizados - >25/município, com mobilização coletiva da massa

deslizada em taludes e drenagens naturais, deflagrados pela combinação de chuvas, para a região

serrana, de 50mm/h + 120mm/24h + 130mm/96h + 300mm/mês.

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Quadro completo Cinco são os cenários de risco a escorregamentos hoje diagnosticados pelo NADE/DRM como

possíveis de ocorrer em fun ão do registro de diferentes “tipos” de c uva no período de verão 12/13 no

Estado do Rio de Janeiro.

(1) cenário de risco a escorregamentos ocasionais: está relacionado a acidentes pontuais (<

5/município), geralmente afetando taludes de corte, […] deflagrado por c uvas orárias muito

intensas, acima de 50mm/h, OU chuvas diárias muito significativas, acima de 120mm/24h, após uma

sucessão de dias secos.

(2) cenário de risco a escorregamentos esparsos: está relacionado a acidentes dispersos (5<x<25 por

município),geralmente afetando taludes de corte ou naturais e lin as de drenagem, […]deflagrado pela

combinação de pulsos de chuvas horárias intensas E chuvas diárias significativas. Para a região

serrana, este cenário está associado a uma combinação de chuvas acima de 30mm/h + 100mm/24h +

115mm/96h + 270mm/mês, considerados os índices críticos do NADE/DRM e que devem servir como

parâmetro de referência para o acionamento individual de sirenes instaladas em áreas

reconhecidamente de risco na serra fluminense;

(3) cenário de risco a escorregamentos generalizados: está relacionado a acidentes adjacentes

(>25/município) e de largo alcance, com mobilização coletiva das massas deslizadas em taludes de

corte e drenagens naturais, mas também encostas naturais (deslizamentos) e canais de drenagem

(corridas), […]deflagrado pela combina ão de pulsos de c uvas orárias muito intensas E chuvas

diárias muito significativas. Para a região serrana, este cenário está sendo associado a um acréscimo

médio de aproximadamente 50% na superposição de alguns dos limiares críticos, ou seja, 50mm/h +

120mm/24h + 130mm/96h + 300mm/mês, e que podem/devem servir como parâmetro de referência

para o acionamento coletivo das sirenes instaladas em áreas de risco na serra fluminense;

(4) cenário dos desastres associados a escorregamentos: está relacionado a um grande número de

acidentes naturais e induzidos (>50) e que ultrapassam os limites municipais, diante da união dos

volumes mobilizados em movimentos que afetaram indistintamente taludes de corte, encostas naturais

(deslizamentos) e canais de drenagem (corridas de detritos), […]deflagrado pela combina ão de

eventos influentes como o registrado em Janeiro de 2011 na Serra Fluminense, ou seja, eventos

pluviométricos duradouros (24-32 horas), realimentados por Zonas de Convergência (formando

nuvens espessas de 70km com geometria de paralelogramo de largura estendida) e marcados por

tempestades de 4-5horas (com eventuais pulsos de 15 minutos mais críticos), que, se somam a

antecedentes significativos em 4, 12 dias ou 1 mês, da ordem, como foi o caso, de 88mm/h a

130mm/h, 264mm/dia e 300mm acumulados em 12 dias;

(5) cenário das grandes catástrofes associadas a escorregamentos: está relacionado a um número

ainda não enfrentado de acidentes naturais e induzidos, possíveis apenas nas encostas dos municípios

do Grupo I, e em chuvas absolutamente excepcionais, com recorrência acima de 500-600 anos, da

ordem de 80mm/h + 250mm/dia + 400mm/96h + 600mm/mês.

APÊNDICE C

QUESTIONÁRIO

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Questionárioestudodecasodacomunidade7Casas,emPedrodoRio,Petropolis-RJ

1.Estruturasocial

1.1.Pessoasporresidência 1-3 4-5 6-8 9-10 >10 TOTAL

1.2.Pessoasporfaixadeidade(anos) 0-5 5-15 15-30 30-50 >50 TOTAL

1.3.Pessoasporsexo masc fem

1.4.Pessoasporescolaridade Seminstrução

formal

fund

inc

fund

comp

medio

inc

medio

comp

sup

inc

sup

comp

pós-

grad

Infantil

2.Estruturalocal2.1.Quandochegaramaolocal2.2.Vieramdeonde?

2.3.Porquevieram?

2.4.Propriedade Própria

2.5.Construiramamoradia? Sim2.6.Quantoscômodos 1 2 3 4 5 >5

2.7.Temrededeesgoto? Sim2.8.Temfossaoujogamnorio? Fossa

3.Experiência/impactos3.1.Jáenfrentourisco/desastreambiental? Sim Não3.2.Tipo:enchente,deslizamento,chuvaforte Deslizamento Enchente Chuva Outros

3.2.1.Quantasvezes3.2.2.Quando

3.3.Consequênciasparaafamilia

4.Impactosdodesastre2011

4.1.Tevealgumconhecidoatingido,naregiãoafetada?

4.2.Consequênciasparaoatingidoesituaçãoatualdomesmo

4.3.Conhecimentodeaçõesdosórgãospúblicosnaregiãoatingida(DefCivil,Prefeitura,Polícia,MAmbiente,vol)

4.4.Consequênciasnolocaldemoradia,dasforteschuvasdejaneirode2011

4.5.Algumaprovidênciafoitomadanacomunidadeemquemora,emdecorrênciadodesastrede2011?Quais

5.Percepçãoderisco

5.1.Sente-seseguronolocalondereside,comrelaçãoaalgumimprevistoambiental?

5.2.Motivosdainsegurança(fragilidadedamoradiaouelementosambientaisexternos)

5.3.Aquetipodeameaçasesentemaisexposto?Deslizamento,enchente,outros

5.5.Tempercebidoalgumaumentoemrelaçãoàameaça(deterioraçãoterreno,rachadurasnoimovel…)?

5.6.Comoacomunidadedeveriaseprepararparaagiremcasosdeimprevistosambientais?

5.7.Acomunidadeestápreparadaparaagiremcasosdeimprevistosambientais?

6.Açõespreventivas

6.1.Conhecimentodeações/planospreventivosparaolocaldemoradia(DefCivil,Pref.,Polícia,MAmbiente,vol.)

6.2.Estáconfiantequantosaosresultadosdosplanosouações?

6.3.Algumavezprocurou(oualguémconhecidoofez)algumórgãopúblicopedindoapoioouorientação?

6.4.Sesim,aquemprocurouequaisosresultados?

6.5.Alguémdafamiliajárecebeualgumtipodeorientaçãocomoagiremcasosdeacidentesambientais?Dequem

6.6.Quaisdeveriamserasaçõesouplanosdosórgãosparaevitar/diminuirosimpactosdedesastresambientais?

5.4.Qualoprincipalmotivoemrelaçãoàameaçaexterna?Ex:Deslizamento(algummovimentodeterra,trincas,faltade

vegetação…);enchente(lixo,assoreamentodorio);chuvasmaisfortes

Alugada

Não

NãoRio