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working paper #15 julho /2012 1 (DES) CONSTRUINDO O DISCURSO LEGITIMADOR DA CPLP: COMUNIDADE “LUSÓFONA” OU FICTÍCIA? Suzano Costa Investigador do Observatório Político Odair Varela Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra A desconstrução perspetivista dos fenómenos políticos permitiu-nos conceptualizar a emergência da CPLP como um figurino político e institucional assaz débil e com fraca capacidade de afirmação externa num contexto internacional marcado pela gestão da interdependência complexa, pelos desafios centrífugos da globalização e centrípetos da regionalização, e pelas demandas de uma geopolítica multipolar e interdependente. Através de uma crítica intersubjetiva e desconstrução perspetivista dos constructos neo- lusotropicalistas perspetiva-se o espectro de uma comunidade ‘lusófona’ escorada em torno da língua portuguesa como sua matriz fundacional, categoria identitária primordial e discurso hegemónico, pese embora sob um respaldo institucional que ainda reflete, na atual contextura política, uma enorme nostalgia imperial e o ensejo de purificar e restaurar um passado colonial sombrio. CPLP: Discurso Legitimador e Argumentário Político O presente artigo visa analisar a evolução histórica da CPLP, as ruturas, mudanças e (des) continuidades verificadas na ação externa e diplomática da organização na sua relação com a organização política do mundo, seu argumentário político de referência, o discurso legitimador 1 e a retórica discursiva que preside a constituição de uma comunidade política ‘lusófona’ 1 O discurso legitimador é o ideário político subjacente à orientação estratégica do discurso: a fórmula política dominante que legitima a praxis política e a ação dos atores sociais. No universo politológico português a questão da legitimidade é desenvolvida de forma mais aprofundada e incisiva pelo magistério do Professor Adelino Maltez, para quem, “a legitimidade está para a política, como a justiça está para o direito” (Maltez, 1996: 153). Maltez, José Adelino (1996), Princípios de Ciência Política. Introdução à Teoria Política, Lisboa: ISCSP-UTL, p. 153; Sarmento, Cristina Montalvão (2008), Os Guardiões dos Sonhos. Teorias e Práticas Políticas dos Anos 60, Lisboa: Edições Colibri, p. 251; Costa, Suzano (2009), Cabo Verde e a União Europeia: Diálogos Culturais, Estratégias e Retóricas de Integração, Lisboa: FCSH-UNL, p. 9.

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