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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA REVISÃO E REDAÇÃO SESSÃO: 176.4.53.O DATA: 23/08/10 TURNO: Matutino TIPO DA SESSÃO: Solene - CD LOCAL: Plenário Principal - CD INÍCIO: 10h30min TÉRMINO: 12h16min DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO Hora Fase Orador Obs.:

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIAREVISÃO E REDAÇÃO

SESSÃO: 176.4.53.O

DATA: 23/08/10

TURNO: Matutino

TIPO DA SESSÃO: Solene - CD

LOCAL: Plenário Principal - CD

INÍCIO: 10h30min

TÉRMINO: 12h16min

DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR PARA REVISÃO

Hora Fase Orador

Obs.:

CÂMARA DOS DEPUTADOSAta da 176ª Sessão, em 23 de agosto de 2010

Presidência dos Srs. ...................................................................

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ÀS 10 HORAS E 30 MINUTOS COMPARECEM À CASA OS SRS.:Michel Temer

Marco Maia

Antonio Carlos Magalhães Neto

Rafael Guerra

Inocêncio Oliveira

Odair Cunha

Nelson Marquezelli

Marcelo Ortiz

Giovanni Queiroz

Leandro Sampaio

Manoel Junior

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I - ABERTURA DA SESSÃO

O SR. PRESIDENTE (Edson Santos) - Declaro aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos

trabalhos.

II - LEITURA DA ATA

O SR. PRESIDENTE (Edson Santos) - Fica dispensada a leitura da ata da

sessão anterior.

O SR. PRESIDENTE (Edson Santos) - Passa-se à leitura do expediente.

O SR. ZEZÉU RIBEIRO, servindo como 1° Secretário, procede à leitura do

seguinte

III - EXPEDIENTE

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O SR. PRESIDENTE (Edson Santos) - Finda a leitura do expediente,

passa-se à

IV - HOMENAGEM

O SR. PRESIDENTE (Edson Santos) - Sessão solene em homenagem ao

centenário do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá.

Esta sessão foi requerida pelo nobre Deputado Zezéu Ribeiro.

Convido para compor a Mesa Mãe Stella de Oxóssi, matriarca do Terreiro Ilê

Axé Opô Afonjá (palmas); o Sr. Zulu Araújo, Presidente da Fundação Cultural

Palmares, representando o Ministro da Cultura, Juca Ferreira (palmas); o Sr.

Alexandro Reis, Secretário de Políticas Públicas para Comunidades Tradicionais,

representando o Sr. Eloi Ferreira de Araújo, Ministro-Chefe da Secretaria de

Políticas de Promoção da Igualdade Racial (palmas); o Sr. José de Ribamar Feitosa

Daniel, Presidente da Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá (palmas); e o Sr.

Bira Coroa, Deputado Estadual da Bahia pelo Partido dos Trabalhadores.

Convido todos a ouvirem, de pé, o Hino Nacional brasileiro.

(É executado o Hino Nacional.)

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O SR. PRESIDENTE (Edson Santos) - Senhoras e senhores, esta sessão

solene foi requerida por S.Exa., o Deputado Zezéu Ribeiro, para homenagear os 100

anos do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá.

Trata-se de um dos terreiros de candomblé mais antigos e respeitados da

Bahia, herdeiro das tradições da pioneira Casa Branca do Engenho Velho. Esta teria

sido a primeira a cultuar, sob um mesmo teto, variadas divindades originárias de

rituais africanos. Assim, contribuiu para a formação de uma identidade afro-

brasileira, a partir de matrizes dos grupos chamados de nagô e jeje, entre outros. E,

em uma sociedade marcada pelo poder desagregador do escravagismo, constituiu

núcleo fundamental de preservação das raízes culturais e religiosas desses grupos.

Fiel a essa herança, o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá tem exercido, nesses 100

anos de funcionamento, uma liderança espiritual e social baseada na fé nos orixás e

no estímulo ao fortalecimento da vida familiar e comunitária. Tal liderança, aliás,

reconhecida no conjunto da sociedade baiana, caracteriza-se pela exclusiva

presença feminina.

Tanto a fundadora do terreiro, Mãe Aninha de Afonjá, quanto suas

sucessoras, Mãe Bada de Oxalá, Mãe Senhora de Oxum, Mãe Ondina de Oxalá e

Mãe Stella de Oxóssi, atual responsável pelo comando da casa, merecem lugar de

destaque no processo de afirmação da identidade afro-brasileira.

Cada uma, segundo a própria circunstância, demonstrou ser capaz de

granjear respeito pelo exercício das funções rituais, pela seriedade na transmissão

da doutrina, pela atuação no aconselhamento pessoal e familiar e, principalmente,

pela sabedoria demonstrada no uso da autoridade e no encaminhamento dos

problemas que lhe foram apresentados.

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Mãe Aninha, por exemplo, empenhou-se em conseguir do ex-Presidente

Getúlio Vargas a liberação dos cultos, então fortemente combatidos pela polícia;

Mãe Stella escreve livros e estimula a pesquisa e o registro da história do

candomblé.

Todas ajudaram a consolidar o papel do Ilê Axé Opô Afonjá, não apenas

como um dos mais importantes ambientes religiosos afro-brasileiros, mas também

como espaço de promoção do amor em relação à natureza e aos seres humanos,

sem distinção de nenhuma espécie.

Visando reforçar esse papel e ampliar as condições de resgate da memória e

de valorização da autoestima da comunidade, o terreiro instituiu a Escola Anna

Eugênia dos Santos, assim nomeada em homenagem à sua primeira ialorixá. Hoje

municipalizada, a escola atende a mais de 300 alunos na faixa etária de 6 a 14 anos.

Reformada e ampliada há poucos anos, passou a contar com laboratório de

informática, biblioteca e museu com acervo referente ao candomblé, servindo de

modelo para o ensino da cultura afro-brasileira em todo o País.

Uma vez que, pelos padrões de nossa sociedade, as religiões não têm caráter

mutuamente exclusivo, muitos adeptos de outras crenças participam de rituais do

candomblé. Estima-se em dezenas de milhões o número de brasileiros que agem

dessa forma, costumeira ou eventualmente. Só em Salvador, existem mais de mil

terreiros em atividade, segundo registros da Federação Baiana de Cultos

Afro-Brasileiros.

Nesse contexto, vários princípios éticos originários da cosmovisão africana,

tais como os de proteção à vida, solidariedade grupal e busca da força e da

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harmonia, foram disseminados entre a população e hoje integram o patrimônio

cultural de nosso País.

Pelo trabalho realizado nesse sentido, bem como pela contribuição dada ao

reconhecimento do candomblé e dos direitos de cidadania dos afro-brasileiros, o

Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá passa a receber, a partir de agora, a merecida

homenagem da Câmara dos Deputados.

Muito obrigado. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Edson Santos) - Convido para fazer uso da palavra

S.Exa., o Deputado Federal Zezéu Ribeiro.

O SR. ZEZÉU RIBEIRO (PT-BA. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,

companheiro Deputado Edson Santos, que tão brilhantemente dirigiu a SEPPIR

neste segundo mandato do Presidente Lula; companheiro Alexandro Reis,

Secretário de Políticas Públicas para Comunidades Tradicionais, da SEPPIR,

representando o Ministro Eloi Ferreira; companheiro e irmão Zulu Araújo, Presidente

da Fundação Cultural Palmares, representando o Ministro da Cultura, Juca Ferreira;

Sr. José de Ribamar Feitosa Daniel, Presidente da Sociedade Cruz Santa do Axé

Opô Afonjá; companheiro Bira Coroa, Deputado Estadual da Bahia, que, junto

comigo, há um mês e pouco, prestou homenagem na Assembleia Legislativa a Mãe

Stella.

Companheira e orientadora do nosso povo Mãe Stella de Oxóssi, aqui lhe

pedimos bênção e queremos reverenciá-la.

Minhas senhoras e senhores, o que me levou a prestar esta homenagem ao

Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá foi a importância que tem a cultura afro na formação

econômica e cultural brasileira, sendo a nossa Bahia o Estado brasileiro que mais

influência recebeu dessa relação, com especial atenção na música, na culinária e na

religião, enfim, no modo de vida de nossa população.

É nesse contexto que se insere a influência religiosa e cultural do Terreiro Ilê

Axé Opô Afonjá, criado oficialmente em Salvador, no ano de 1910, por Mãe Aninha,

tornando-se uma importante referência de matriz africana na vida religiosa e social

da comunidade baiana.

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Mãe Aninha, nascida na cidade de Salvador em julho de 1869, era

descendente de uma nobre linhagem africana e representou um marco nas lutas de

afirmação e identidade religiosa de matriz africana no Brasil.

A luta da Mãe Aninha pela afirmação e pela independência do culto foi da

maior importância, tendo conseguido demonstrar a grandeza e a complexidade de

uma religião da qual era ela grande representante, numa época cheia de

preconceitos e perseguições, conseguindo, inclusive, que o Governo brasileiro em

1937, a partir de uma audiência com o Presidente Getúlio Vargas, promulgasse um

decreto-lei proibindo o embargo ao exercício da religião do candomblé no Brasil.

Além da fundadora, 4 ialorixás reinaram no Axé nesses primeiros 100 anos.

Liderado pela atual ialorixá, Mãe StelIa de Oxóssi, este evento visa destacar e

celebrar as vidas e as obras de suas grandes antecessoras: Mãe Aninha, Mãe Bada,

Mãe Senhora e Mãe Ondina.

Mãe StelIa é a lalorixá do Candomblé, foi iniciada por Mãe Senhora em 1939

e tomou posse como lalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá por morte de Mãe Ondina de

Oxalá. É a quinta sacerdotisa do Candomblé de São Gonçalo do Retiro, dirigindo o

Opô Afonjá desde o dia 11 de junho de 1976. Portanto, um terço da vida do terreiro

está sob a direção de Mãe Stella.

Mãe Stella estudou no tradicional colégio baiano Nossa Senhora Auxiliadora

— anos depois também fui aluno desse mesmo colégio — e é enfermeira

aposentada (funcionária pública estadual) formada pela Escola de Enfermagem da

Universidade Federal da Bahia, com especialização em saúde pública. Exerceu a

profissão por mais de 30 anos.

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Notabilizou-se por ser a primeira ialorixá de um terreiro tradicional a combater

o sincretismo religioso.

Em 1980, fundou o Museu Ohun Lailai, o primeiro de um terreiro de

candomblé, e é a primeira presidenta emérita do Instituto Alaiandê Xirê, do qual foi

presidenta fundadora.

Sacerdotisa de vanguarda, é respeitada por suas ideias em todo o território

nacional e em muitos outros países. Tem proferido palestras e participado de

seminários em diferentes partes do Brasil e do mundo.

Essa senhora que aqui homenageamos, presente nesta Mesa, em 2001

ganhou o prêmio jornalístico do Estadão na condição de fomentadora de cultura.

Em 2009, ao completar 70 anos de iniciação no candomblé, recebeu o título

de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia.

É detentora da comenda Maria Quitéria, pela Câmara Municipal de Salvador;

da Ordem do Cavaleiro, pelo Governo do Estado da Bahia; e da comenda do

Ministério da Cultura.

Mas a Mãe Stella, a Ialorixá Stella de Oxóssi, consagrada, foi iniciada há 71

anos como Odé Kayodé, nome iniciático que quer dizer “Caçador de Alegria”, o seu

oxóssi.

É a sacerdotisa maior, desde 1976, do trono de Xangô do Terreiro Ilê Axé

Opô, na roça de São Gonçalo do Retiro.

Mulher do seu tempo, moderna e ao mesmo tempo rigorosa na prática e na

defesa dos fundamentos da religião, ela tem marcado sua liderança à frente da

comunidade Ketu Afonjá, cuidando da preservação do culto e, de forma pioneira, da

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transmissão por escrito do conhecimento e dos princípios aprendidos com os

antepassados e transmitidos oralmente pelos mais velhos há muitas gerações.

Com o propósito de disseminar esses ensinamentos, escreveu Meu Tempo é

Agora, um manual para a compreensão da religião dos orixás.

Lançou Oxóssi, O Caçador de Alegrias, livro dedicado ao orixá que rege seu

ori, com mitologias e reflexões sobre o guardião dos terreiros baianos de nação ketu.

Mais recentemente, escreveu um livreto de antigos ditos, relembrando

provérbios guardados na memória desde os tempos de criança: Owé — Provérbios,

em português e em iorubá.

À senhora, as minhas honras e a sua benção.

Mãe Stella, o nosso trabalho aqui na Câmara tem muito a ver com o seu, na

parte referente ao fomento da cultura afro-brasileira. Como a senhora sabe, a partir

de uma proposta de minha autoria foi possível iniciar um trabalho de mapeamento

dos terreiros de Salvador.

Alguns Deputados têm me procurado, inclusive o companheiro Edson Santos,

para disseminar essa ideia pelo Brasil afora. Diversos Municípios e outros Estados

estão fazendo o seu inventário, aproveitando também o momento especial em que

vive a cultura brasileira com a adoção de programas e projetos que vêm ao encontro

de demandas antigas da nossa sociedade.

Nesse sentido, aplaudimos a iniciativa do Presidente da República, Luiz

Inácio Lula da Silva, que sancionou a lei que cria a Universidade da Integração

Internacional da Lusofonia Afro-brasileira — UNILAB.

A universidade tem o objetivo de promover atividades de cooperação

internacional com os países da África por meio de acordos, convênios e programas

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de cooperação internacional, além de contribuir para a formação acadêmica de

estudantes dos países parceiros. A primeira unidade está localizada no Município de

Redenção, que aboliu a escravatura 5 anos antes da Lei Áurea, no maciço de

Baturité, a 66 quilômetros de Fortaleza.

Com a certeza da importância dessa instituição para a consolidação de um

processo de integração com as demais universidades baianas e com as

universidades das nações africanas, no conhecimento das nossas realidades,

identidades e diversidades, criando instrumentos para a sua transformação, é que

estive na semana passada em audiência com o Ministro da Educação, Fernando

Haddad — S.Exa. receberá Mãe Stella hoje às 14h30min — para apresentar

proposta da Prefeitura de São Francisco do Conde, município baiano onde 96% da

população se autodefine afrodescendente, para instalação de um campus dessa

universidade também na Bahia.

Tivemos a melhor acolhida do Ministro, que propôs que o campus a ser

instalado na Bahia seja o centro de pós-graduação da UNILAB, contribuindo

enormemente para a inclusão de mais uma universidade em território baiano.

Ressalto também a importância para a nossa comunidade das políticas

públicas do nosso Governo voltadas para a reparação de injustiças históricas no

Brasil.

Foi com essa preocupação que o Governo Lula criou a SEPPIR (Secretaria

de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) em março de 2003, como

reconhecimento das lutas históricas do movimento negro brasileiro. A missão da

SEPPIR é estabelecer iniciativas contra as desigualdades raciais no País.

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Tivemos também o fortalecimento da Fundação Palmares, dirigida pelo

companheiro Zulu e que tem como estratégia consolidar-se como instituição de

referência nacional e internacional na formulação e na execução de políticas

públicas da cultura negra, buscando promover a preservação, a proteção e a

disseminação da cultura negra, visando à inclusão e ao desenvolvimento dessa

população no Brasil.

Além dessa preocupação específica, outras ações do nosso Governo têm a

dimensão social de melhorar a qualidade de vida do nosso povo nas cidades e no

campo. Assim, estabelecemos e criamos o Estatuto da Igualdade Racial, as políticas

de cotas, programas como o Minha Casa, Minha Vida, assegurando moradia digna

para a população, o Programa Luz para Todos, o de agricultura familiar, entre

outros, para os quais tenho dado também a minha modesta contribuição.

São políticas integradas que têm permitido a maior mudança em termos de

ascensão social que o nosso povo jamais viu.

Sr. Presidente, gostaria de concluir deixando o meu agradecimento a todos os

presentes.

Gostaria também de dizer a cada um como me toca esse tipo de evento, no

qual vemos pessoas realmente dedicadas, com sua coragem e sua fé, à defesa de

um mundo mais justo e solidário, sem preconceitos e sem guerras.

Desejo que tenhamos todos a capacidade de, respeitando as diversidades,

construir um mundo melhor.

Axé! (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Edson Santos) - Convido o Deputado Zezéu Ribeiro

para assumir a Presidência desta sessão.

O Sr. Edson Santos, § 2º do art. 18 do Regimento

Interno, deixa a cadeira da presidência, que é ocupada

pelo Sr. Zezéu Ribeiro, § 2º do art. 18 do Regimento

Interno.

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Passo a palavra ao companheiro

Edson Santos, que se pronunciará em nome da Liderança do Partido dos

Trabalhadores.

O SR. EDSON SANTOS (PT-RJ. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,

Deputado Zezéu Ribeiro; Mãe Stella de Oxóssi; companheiro Zulu Araújo; Sr.

Alexandro Reis; Sr. José de Ribamar Feitosa Daniel; Deputado Bira Coroa, na

condição de Presidente, fundamentei o porquê desta sessão mostrando o valor que

ela tem para a sociedade brasileira e para a Câmara dos Deputados no sentido de

trazer para esta Casa registro de resistência e afirmação da cultura e da

religiosidade africanas em nosso País.

Quero apenas acrescentar àquele discurso que hoje vivemos num ambiente

em que os segmentos sociais historicamente discriminados e marginalizados em

nossa sociedade têm espaço de diálogo junto aos poderes públicos no sentido de

sensibilizá-los para as demandas do seu cotidiano.

Em relação às religiões de matriz africana, há uma demanda enorme na

sociedade brasileira que precisa ser implementada pelos Governos, principalmente

pelo Governo Federal. Tive oportunidade de coordenar essa área no Ministério da

Igualdade Racial. O Governo Federal vem capitaneando e liderando ações voltadas

ao combate a toda forma de discriminação e preconceito, principalmente contra o

racismo no País.

Sabemos da história das religiões de matriz africana, que é uma história de

perseguição até por parte do Estado brasileiro. Aqui há o registro do papel do Ilê Axé

Opô Afonjá no sentido de levar ao então Presidente da República Getúlio Vargas

uma solicitação de liberdade para o exercício do culto. Isso foi feito em 1937.

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Estamos em 2010 e precisamos efetivamente, hoje, reafirmar e consolidar o espaço

das religiões de matriz africana.

Há uma demanda nesse sentido — e V.Exa., Deputado Zezéu Ribeiro, é

conhecedor dela. É preciso apoiar as comunidades religiosas de matriz africana no

Brasil e combater toda forma de perseguição e de intolerância de que essas

religiões são vítimas. Para atingir esse objetivo existe o Plano Nacional de Proteção

à Liberdade Religiosa e Promoção de Políticas Públicas para as Comunidades

Tradicionais de Terreiro, que, evidentemente, está voltado para a proteção de todas

as religiões, mas teve sua construção e sua implementação motivadas por

agressões, atos de discriminação e de cerceamento ao exercício da liberdade

religiosa do Brasil.

Na condição de Ministro, tive a oportunidade de visitar o Ilê Axé Opô Afonjá e

várias outras casas religiosas na Bahia, onde observei a situação de cerco, até

porque, como a cidade cresce e se adensa, os espaços antes exclusivamente

destinados a atividades religiosas acabam sendo ocupados ou sofrendo interferência

de ambientes externos.

Portanto, é fundamental que, na esfera federal e, principalmente, na

municipal, ao disciplinar o uso e a ocupação do solo no ambiente urbano, se observe

a questão da defesa e da proteção dos espaços voltados às práticas religiosas de

matriz africana.

Creio que essa demanda ainda não esteja completamente atendida. O nosso

Governo, do Presidente Lula, ainda não conseguiu decretar e pôr em prática esse

plano, que vai orientar a ação do Estado brasileiro nesse campo. Este é um dos

objetivos da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial que, tenho

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certeza, será concretizado pelo Secretário de Políticas para Comunidades

Tradicionais, Sr. Alexandro Reis.

Vamos trabalhar, ajudar e contribuir, na medida do possível, para que, ao final

do Governo Lula, esse seja mais um dos legados que esta grande liderança nacional

e internacional chamada Luiz Inácio Lula da Silva deixe para a posteridade.

Como Parlamentar do Partido dos Trabalhadores, fico muito feliz por ter tido a

oportunidade de, em nome do partido, estender as minhas homenagens ao Ilê Axé

Opô Afonjá.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Obrigado, companheiro Edson Santos.

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Quero convidar agora o companheiro

José de Ribamar Feitosa Daniel para fazer seu pronunciamento.

O SR. JOSÉ DE RIBAMAR FEITOSA DANIEL - Exmo. Sr. Deputado Zezéu

Ribeiro, que ora preside esta sessão comemorativa do centenário do Ilê Axé Opô

Afonjá; Sr. Zulu Araújo, Presidente da Fundação Cultural Palmares, que representa

o Ministro da Cultura, Sr. Juca Ferreira; Sr. Alexandre Reis, Subsecretário de

Políticas Públicas para Comunidades Tradicionais, que representa o Ministro Eloi

Ferreira Araújo, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial;

Deputado Estadual Bira Coroa, da Bahia; Deputado Federal Edson Santos,

ex-Ministro da Secretaria de Polícias de Promoção da Igualdade Racial; minha

querida Mãe Stella, a quem eu peço agô e sua bênção para dar início à minha fala;

senhoras ialorixás, senhores babalorixás, ebômis, equedes, aloés, meus senhores e

minhas senhoras, é com muita honra que, na qualidade de Presidente da Sociedade

Cruz Santa e por designação de nossa Ialorixá Stella de Oxóssi, eu subo a esta

tribuna para proferir nosso agradecimento aos Exmos. Srs. Deputados integrantes

desta Casa que compõe o Congresso Nacional.

É em nome da comunidade do Ilê Axé Opô Afonjá, integrante de uma outra

“casa”, casa imaterial, protegida pelo Alá de Oxalá, que compreende um outro

poder, o poder da religiosidade do povo da Bahia, da religiosidade afrodescendente,

da religiosidade do Candomblé — que nos distingue e diferencia —, que eu trago

nesta fala nossos mais sinceros agradecimentos pela realização da presente sessão

que celebra a passagem do primeiro centenário de existência do nosso terreiro no

Bairro de São Gonçalo do Retiro, em Salvador, Bahia. Gostaria de deixar bem claro

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que friso o ordinal “primeiro” na certeza de que, com a força, o Axé dos Orixás, por

muitos e muitos centenários estaremos nós festejando a perenidade do Candomblé.

Gostaríamos de agradecer àqueles que participaram mais diretamente da

condução interna do pleito. Gostaríamos de agradecer ao Deputado Zezéu Ribeiro a

indicação. Gostaríamos de agradecer a cada um dos Srs. Deputados integrantes da

Mesa Diretora o diligente acolhimento e a consecução, e ao Exmo. Sr. Presidente

desta Casa Deputado Michel Temer a finalização. Recebam todos os senhores

nossos mais sinceros e afetuosos sentimentos.

Encontramo-nos aqui, hoje, nesta manhã do dia 23 de agosto de 2010, para

celebrarmos o centenário de existência de um templo religioso que ao longo destes

anos recebeu o reconhecimento e o respeito de todos aqueles que souberam

apreciar as virtudes das pessoas da nossa terra, a Bahia, terra mãe do Brasil.

No Brasil nunca foi fácil ser negro, muito menos de Candomblé. Quem é

afrodescendente já sentiu isso, e posso dizer que ainda hoje muitos de nós, em

muitas circunstâncias, ainda sentimos na pele toda a vicissitude de sermos o que

somos. Entretanto, foi pelo Candomblé que os muitos valores religiosos, morais e

étnicos dos povos africanos foram não apenas preservados como transmitidos de

geração a geração, de geração em geração foram paulatinamente absorvidos, e

hoje são reconhecidos como identificadores da sociedade brasileira. Foi graças à

persistência e à determinação daqueles filhos e filhas de Orixá responsáveis pela

condução das diversas Casas, juntamente com seus seguidores, que esse legado

pôde chegar até os dias de hoje, pois no Candomblé estão reunidos os valores

culturais mais significativos da herança africana para a cultura brasileira.

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Na história do Ilê Axé Opô Afonjá, que nossas primeiras palavras sejam de

invocação e de reconhecimento aos nossos ancestrais. Não poderíamos deixar de

mencionar as 3 religiosas africanas que aqui chegaram escravizadas, e que se

juntaram num determinado momento de suas vidas para efetivar a religação, reativar

o culto a Xangô na Bahia, reativar no continente latino-americano a prática religiosa

do povo de Ketu, que posteriormente veio a ser conhecida como Candomblé.

Foi graças a Ìyá Detá, Ìyá Kalá e Ìyá Nassô que tudo começou, nos fundos da

Igreja da Barroquinha. Lá criou-se o Ilê Ìyá Nassô Oka, hoje mais conhecido como

Casa Branca. Não tardou muito, esse terreiro mudou-se para o Engenho Velho da

Federação, na Avenida Vasco da Gama, onde permanece até hoje, e sob a proteção

do batá de Xangô assim permanecerá por muito mais tempo.

Na liderança da Casa Branca, sucedendo a mítica Ìyá Nassô, vieram sua

prima e filha de orixá Marcelina da Silva, Obá Tossi, bisavó biológica de nossa Mãe

Senhora e Mãe Espiritual de Obá Biyi, Mãe Aninha, nossa fundadora. Na linha

sucessória das lideranças dessa Casa sagrada vêm, pela ordem: Maria Júlia

Figueiredo, Omoniquê; Ursulina, Sussú; Maximiniana Maria da Conceição (Massi),

Iwin Funqué; Maria Deolinda, Oké; Marieta Vitória Cardoso e atualmente Mãe Tatá,

Oxum Tomiwá. Muito Axé para a nossa Casa Mãe, e a essas veneráveis senhoras

todo o nosso respeito.

Aproveitamos esta oportunidade para esclarecer mais uma vez a questão

envolvendo a data que ora celebramos. Neste ano de 2010 celebramos o primeiro

centenário da implantação, do assentamento do Axé de Xangó Afonjá na roça de

São Gonçalo do Retiro. Neste ano não estamos celebrando o início do nosso

terreiro.

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O início do nosso terreiro é anterior. Devemos sempre nos lembrar de que o

início do nosso terreiro foi no ano de 1892, quando Mãe Aninha, aos 23 anos de

idade, já com todas as obrigações religiosas completadas, deixou sua Casa Mãe e

criou o Axé de Xangô Afonjá, que funcionou temporariamente em diversos pontos da

cidade: inicialmente na Rua do Camarão, pouco tempo depois na Rua do

Curriachito, ambas no Rio Vermelho; depois na Santa Cruz, hoje bairro de

Amaralina; e de 1907 a 1910 na Ladeira da Praça.

Não seria da nossa natureza esquecermos esses endereços, porque neles

muita gente foi iniciada. Não é da nossa natureza abandonarmos nossos mais

velhos. Não poderíamos negligenciar essas circunstâncias do nosso passado

porque precárias e transitórias.

No início do século XX, graças ao seu sucesso como comerciante, Obá Biyi

conseguiu comprar uma roça com cerca de 39 mil metros quadrados no Bairro de

São Gonçalo do Retiro. Esse houvera de ser o local escolhido para o Axé de Xangô

Afonjá ser plantado em definitivo. Era o ano de 1910.

Uma pequena nota para S.Exas., para mostrar que ainda há muito a ser feito

para melhorar as condições sociais no Brasil: na Bahia do princípio do século XX foi

possível a uma “barraqueira” do Mercado Modelo adquirir com recursos próprios

terreno com tais dimensões; infelizmente, não podemos assegurar que o mesmo

possa acontecer hoje.

Plantar o Axé de um Orixá é uma atitude que requer um comprometimento

diferenciado com a continuidade da prática religiosa. Nem toda ebômi tem no seu

caminho esse desígnio. Tornar-se ialorixá e liderar todas as práticas religiosas de

um terreiro requer um nível de dedicação que apenas poucas têm a capacidade ou o

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preparo para suportar. Daí todo o nosso agradecimento, pela sabedoria e pela

abnegação, às nossas modelares senhoras que, ao longo destes primeiros 100 anos

de nossa existência em São Gonçalo, levaram nosso terreiro a ocupar a posição de

destaque e reconhecimento de que hoje usufruímos.

Muito mistério envolve as origens de Mãe Aninha, nossa fundadora. Ainda

hoje muito pouco é sabido. Sabemos, entretanto, que ela era descendente de

africanos falantes de grunci, um povo que não tivera nenhuma relação com os

iorubás até o tráfico negreiro. Hoje, os povos falantes da língua grunci ocupam uma

área geográfica que compreende o norte do Gana, nas áreas adjacentes de Burkina

Faso, e Togo. Presumivelmente o contingente de falantes de grunci que veio para o

Brasil é oriundo das áreas mais afetadas pelo tráfico negreiro para as Américas, que

compreende os Bariba e os Logba, no centro-norte do Benim. Mas isso é pura

especulação, sem nenhuma materialidade comprobatória de nossa parte.

Sabemos que Mãe Aninha nasceu em 13 de junho de 1869, da união de

Sérgio dos Santos, chamado em grunci Aniió, e Lucinha Maria da Conceição,

Azambriô. Sabemos também que, embora de ascendência grunci, Mãe Aninha foi

iniciada por sacerdotes da nação nagô-iorubá, tradição que ela acolheu como sua, o

que entretanto não a impediu de cultuar suas divindades ancestrais grunci,

divindades essas que até hoje são cultuadas no Axé Opô Afonjá de maneira

discreta, na esperança de não se deixar esvair esse culto, com idioma e identidades

diferenciados dos Orixás iorubás. Mãe Aninha foi iniciada no culto aos Orixás

Obìnrin, que correspondem à Iemanjá dos Iorubás. Outras divindades grunci são

cultuadas na Casa de Ìyá, em um culto à parte, específico.

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Mãe Aninha viveu numa constante progressão, cuidando não só do espaço

sagrado, mas também de toda a sua população. Atravessando fronteiras no âmbito

social, trabalhou com afinco pela sua crença, impondo respeito e adquirindo

solidariedade. Deu importantes passos para a libertação do culto aos orixás.

Nossa Mãe Aninha foi a responsável pela liberação do culto afro-brasileiro,

bastante perseguido nos primórdios do século XX pela Polícia. Candomblé era coisa

de “negros ignorantes, prática fetichista, a vergonha da Bahia”, diziam. Obá Biyi não

hesitou: no Rio de Janeiro, Capital da República, onde residia na época, foi ter com

o Presidente Getúlio Vargas, obtendo a liberdade para a prática da religião dos

orixás. Mãe Aninha introduziu no Novo Mundo o Corpo de Obá (ou Mogbà), nos

moldes de Oyó. Esses, em número de 12, são considerados Ministros de Xangô.

Eles são divididos em 6 Otun, os da direita, e 6 Òsi, os da esquerda. Outra

importante inovação realizada por Obá Biyi foi transformar um terreiro de Candomblé

em uma espécie de África. Foi ela a primeira a reunir as diversas tribos africanas em

um só espaço, criando a noção que hoje temos de terreiro.

Mãe Aninha dedicou uma casa a cada orixá, individualizando assim as

práticas religiosas. Foi na Casa de Iemanjá que o Xangô de Mãe Aninha se

apresentou pela última vez. Foi também lá que a ialorixá foi vista pela última vez

aqui no Àiyê. Mãe Aninha deixou o Axé em 3 de janeiro de 1938, juntando-se a

outros dignos ancestrais, levando consigo muito conhecimento que não teve tempo

de passar.

Maria da Purificação Lopes, Mãe Bada, Olufan Deiyi, idosa e doente, assumiu

então os destinos do Axé Opô Afonjá com a ajuda de Mãezinha Iwin Tona, a

iaquequerê da Casa, e Senhora, Oxun Muiwá, a Òsi-Dagan. Mãe Bada entendia

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profundamente os mistérios dos orixás. Iniciou várias pessoas em outros terreiros da

Bahia. Devido ao seu grande conhecimento das questões do Axé, ela muitas vezes

foi requisitada para resolver questões litúrgicas conflitantes do Candomblé de nossa

terra. Ocupou, antes do falecimento da fundadora, o posto de Baró, espécie de

conselheira, “aquela que medita e aconselha”. O “reinado” de Mãe Bada foi curto,

pois a idade avançada e a doença abreviaram seu tempo no Àiyê. Partiu para o

Òrun, levando consigo muita força misteriosa e valiosos conhecimentos.

Ascendeu ao posto de ialorixá Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora,

Oxum Muiwá, que conduziu os destinos do Axé Opô Afonjá por mais de 20 anos,

com pulso forte e doçura de Oloxum. Mãe Senhora tinha total dedicação a Xangô.

Xangô era seu orientador e confidente. Vibrava nas festividades dedicadas ao

Senhor Afonjá. Ao assumir o posto de ialorixá, além de outras inovações que

serviram para o engrandecimento da casa, Mãe Senhora criou os subcargos de

Otun e Òsi para o corpo de Obás. Cada Obá passou a ter, então, seus auxiliares,

um Otun e um Òsi. A formação do corpo de Obá passou, assim, de 12 para 36

componentes. Mãe Senhora recebeu o título de “Mãe Preta do Brasil” na década de

60. Das mãos do Príncipe de Oyó, da Nigéria, recebeu o oyê de Ìyá Naso, a principal

líder mulher do culto de Xangô, a primeira de que se tem notícia após a mítica Ìyá

Naso, fundadora do Candomblé do Engenho Velho. Vítima de um súbito derrame

cerebral, partia para o Òrun uma grande dama do Candomblé da Bahia. Mãe

Senhora faleceu no dia 22 de janeiro de 1967, no terreiro.

Mais uma mudança no Axé. Após 1 ano de recesso, Xangô, por intermédio do

Olúwo Agenor Miranda, assistido pelo Babalorixá Nezinho de Muritiba (Nezinho de

Ogum), foi escolhida para conduzir o destino do Axé Ondina Valéria Pimentel, Iwin

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Toná, Mãezinha, como sempre fora carinhosamente chamada. Ainda bem moça foi

designada por Mãe Aninha para ser a iaquequerê do Egbé. Quiseram os búzios que

ela substituísse a falecida Ìyá, passando a conduzir os caminhos do Ilê. Ela nasceu

em pleno mar, a bordo de um navio da Bahiana; daí seu nome, Ondina. Mãezinha

pertencia à tradicional família de culto a Egúngun: os Pimentel. A Ìyá, dando

continuidade aos ensinamentos de Mãe Aninha e valorizando a hierarquia, concedeu

o cargo de iaquequerê a Eutrópia Maria dos Santos, Oxum Fumixê, “Pinguinho”,

uma das Olóyè mais marcantes da nossa Casa, de inesquecível memória. Pinguinho

foi uma mestre valorosa em questão de hierarquia. Severa, às vezes, ríspida,

implacável, muito contribuiu para a preservação dos ritos, preocupada sempre em

transmitir ensinamentos.

Mãezinha, misto de doçura e aspereza, temperamento de reações imediatas,

herdou dos mais velhos o gesto de conversar com os olhos. Durante 7 anos segurou

os destinos do Axé. Filha de Oxalá e Xangô, dedicava-se, em especial, à Casa de

Ìyá, pela afinidade decorrente do seu nascimento no mar. Boa mestra, ela orientou

muita gente, procurando aprofundar seus conhecimentos religiosos cada vez mais.

Por toda essa dedicação, teve de deixar precocemente as práticas da vida civil.

Recebera educação aprimorada, principalmente em música, com estudos completos

de piano. Em virtude dos compromissos com a religião, fechou o piano, dedicando-

se aos orixás de corpo e alma. Inovações positivas foram feitas por Mãezinha,

coisas de valor, a exemplo da reforma da Casa de Omolu, do quarto das Àyabas na

Casa de Oxalá, e ainda a ideia de reconstrução do Ilê Xangô, que infelizmente não

viveu para concretizar. Em 19 de março de 1975, partiu Ìyá Ondina para o Òrun,

deixando um grande vácuo para todos os familiares a que tanto ajudou.

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Na mesma data, no ano seguinte, em 19 de março de 1976, Maria Stella de

Azevedo Santos, Mãe Slella, Odé Kayodê, foi escolhida ialorixá do Ilê Axé Opô

Afonjá, também em jogo feito pelo Olúwo Agenor Miranda.

Não é uma tarefa fácil falar sobre Mãe Stella, uma que vez que a todo

momento ela se renova e nos surpreende. Nestes seus 34 anos de liderança,

inúmeras foram e continuam sendo suas contribuições para a nossa religião e para

toda a sua família de seguidores.

Todos nós sabemos que a autoridade e respeitabilidade de uma liderança

religiosa pode ser medida de muitas maneiras:

- a Mãe-de-Orixá é quem coloca a mão sobre a cabeça dos seus filhos,

transmitindo-lhes o Axé da iniciação;

- é ela a intermediária entre a força mística do Orixá com o corpo do seu filho;

- é ela quem interpreta o entendimento entre os Orixás e seus filhos.

Mas a palavra exata de orientação é o critério mais efetivo para que a

autoridade e a respeitabilidade de uma ialorixá sejam aferidas.

É importante registrar que as 3 ialorixás que antecederam Mãe Stella foram

iniciadas, passaram pela mão de nossa Mãe Aninha, nossa fundadora. Já Mãe

Stella foi iniciada pela mão de Mãe Senhora. Nestes seus 34 anos de liderança,

inúmeras têm sido as contribuições de Mãe Stella para nossa comunidade:

- depois de retornar de uma viagem à Nigéria, Mãe Stella criou o Museu Ilé

Ohun Lailai, para reunir as coisas de valores que estavam guardadas pelos cantos:

a memória do Axé, que do contrário seria perdida;

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- durante esses anos, construiu e reformou Casa de Orixás; murou a Roça,

buscando preservar os limites do terreno, que já era objeto de invasões; consolidou

a rede elétrica e o acesso ao centro do terreiro;

- visando manter a proximidade com os jovens, instalou oficinas de trabalho

manuais; atualmente, a oficina de confecção do Alaka (pano da costa) serve não só

para manter os jovens em atividade como para preservar essa peça de grande

importância para o vestuário religioso;

- desenvolveu o Projeto Mocan, que atende a centenas de criança e

adolescentes do Axé e da circunvizinhança, e a Escola Fundamental Eugênia Anna

dos Santos, que é considerada referência pela Prefeitura Municipal de Salvador.

Em 1999, o llê Axé Opô Afonjá foi tombado pelo Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional — IPHAN, do Ministério da Cultura, como Patrimônio

Cultural, pelo então Ministro Francisco Weffort.

Durante seu período como ialorixá, Mãe StelIa tem atendido às demandas de

Xangô, mantendo preenchidos todos os Oloyê do nosso Egbé. Em 29 de junho de

1990, Xangô fez demandas muito específicas. Nessa data ele escolheu a terceira

iaquequerê, a nossa sempre lembrada Mãe Georgette, que com tanto carinho,

abnegação e devotamento esteve sempre presente para nos fornecer a orientação

adequada, a nós todos os seus muitos filhos pequenos; a Sarapegbé ebômi Eurides

Ribeiro da Silva, nossa competente mensageira das coisas civis do terreiro; a Akowê

Ilê Xangô ebômi Detinha, Obá Gesi, Secretária da Casa de Xangô, responsável pelo

zelo daquele llê e das coisas relacionadas com as obrigações para o Rei de Oyó; e

criou o cargo de Agbenin Xangô, “aquela que divide a mesma causa”.

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No final da década de 90, mais uma vez Xangô manifestou-se com demandas

para a ocupação de outros Oloyê. Foi nessa ocasião que os cargos de Dagan e

Ogalá passaram a ser ocupados por ebômi Mundinha de Ogum, Ogum Edê, e por

ebômi Tutuca, Oyá Tokí, respectivamente. Mais recentemente, durante a primeira

década do século XXI, com o falecimento de Mãe Honorina, a ebômi Maria de lansã,

Oyá Temi, foi indicada para o cargo de Ìyá Efun, e as ebômis Cida de Nana e Jane

de Oxum foram indicadas Otum e Òsi Dagan, respectivamente.

No dia 2 de junho próximo passado, para surpresa, alegria e satisfação de

toda a comunidade do llê Axé Opô Afonjá, Xangô deu mostras mais uma vez de sua

vontade, indicando para ser a quarta iaquequerê do nosso terreiro a Ayabá mais

antiga da nossa Casa, a querida Mãe Ditinha de Iemanjá, Ìyá Lanan. Nossos votos

são de que ela siga dando-nos o exemplo que nos tem dado, pelas suas qualidades,

que foram notadas pelo olhar severo do Rei.

Mas as contribuições de Mãe Stella podem ser constatadas em outras

instâncias. A partir de sua ascensão a ialorixá, a vida de Mãe Stella tem sido

devotada integralmente à difusão e ao aprofundamento dos princípios religiosos do

Candomblé. Na busca de aprofundar seus conhecimentos, Mãe Stella viajou para a

África em 1981 pela primeira vez. Essa experiência serviu-lhe para redimensionar o

estado de sua religião. A partir do seu retorno, fiel zeladora que é dos fundamentos

da religião afro-brasileira, promoveu uma série de medidas que têm servido para

transformar o Candomblé. Foi a partir de sua histórica atuação, durante a II

Conferência Mundial da Tradição dos Orixás e Cultura, em 1983, que se conseguiu

que o Candomblé deixasse de ser referido como “seita animista fetichista” para ser

tratado como religião. Foi também de sua iniciativa demonstrar o equívoco de se

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persistir com a ideia de sincretismo religioso, dissociando-se assim os orixás dos

santos da Igreja Católica.

A partir desses exemplos, constatamos que o perfil da liderança da Ialorixá

Stella de Oxóssi proporcionou benefícios que se estenderam, estendem-se, e

continuarão a ser assim no futuro, atemporalmente, para orgulho e autoestima de

toda a comunidade afrodescendente, não apenas a soteropolitana ou baiana, mas

no País inteiro. É como mãe zelosa que tem buscado meios para estar sempre

presente, material e imaterialmente, ao lado dos seus filhos, que a contribuição mais

significativa de Ìyá Stella ainda está por ser reconhecida. Sua maior contribuição foi

a de registrar por escrito, de registrar em livro uma parte da herança milenar

ancestral, transformando a maneira pela qual o conhecimento é transferido,

possibilitando assim o acesso e a compreensão de um maior número de pessoas ao

rico simbolismo da religião dos orixás, servindo de exemplo para que outras ialorixás

e babalorixás façam o mesmo.

É importante salientar que, até a publicação do primeiro livro de Mãe Stella, o

Candomblé era objeto de estudo de pesquisadores, muitos deles, movidos apenas

pela curiosidade científica; sem qualquer tipo de afinidade ou envolvimento com o

assunto colhiam depoimentos de terceiros para nutrirem suas pesquisas, o que

dificultou a compreensão do Candomblé. Com suas publicações, Mãe Stella torna-se

a primeira fonte autêntica a oferecer-nos o conhecimento ancestral sem

intermediários. Complementar a isso, só a vivência de iniciado no terreiro.

Sua produção inclui os seguintes livros:

- E Daí Aconteceu o Encanto, lançado em 1988 — ano que marcou os 50

anos da morte de Mãe Aninha — por Mãe Stella, em colaboração com Cléo Martins.

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Nessa obra elas procuram relembrar fatos e histórias pitorescas de Mãe Aninha em

Salvador e em Coelho da Rocha, no Rio de Janeiro. Em alguns dos seus registros,

Mãe Stella fala da barraca de Mãe Aninha no Mercado Modelo, de sua amizade com

Edison Carneiro e Jorge Amado, dos Governadores do Estado, do pioneirismo na

Festa da Lavagem do Bonfim, da Festa da Boa Morte de que foi priora e do caráter

fraterno que tinha para com os filhos e filhas, dando-lhes abrigo e ajuda financeira

indiscriminadamente. Mãe Stella recorda ainda a criação do Corpo de Obá em 1936,

a pregação de união do Povo de Candomblé no II Congresso Afro-Brasileiro

realizado em Salvador, no qual Mãe Aninha, ao lado de famosos, pontificou,

defendendo suas ideias com segurança e personalidade e apresentando inclusive

um relatório sobre a culinária do Candomblé. Mãe Stella relembra ainda os inúmeros

oriki escritos por Mãe Aninha. É de sua autoria o Hino do Axé Opô Afonjá. No final,

Mãe Stella relata as últimas horas da famosa ialorixá, quando então aconteceu o

encanto, Oba Kossô! (O Rei não morreu!)

- Meu Tempo é Agora, seu segundo livro, lançado em 15 de setembro de

1993. Nessa obra, Mãe Stella aborda as origens do llê Axé Opô Afonjá, dando

ênfase às contribuições das Mães-de-Orixás que a antecederam, aos ocupantes de

cargos ou não que contribuíram para a consolidação do llê Axé Opô Afonjá desde a

sua fundação. Fala aos seus filhos sobre a maneira correta de como se vestir e se

comportar no terreiro, fala de modos e costumes tradicionais do terreiro, além de

discorrer sobre os rituais do Candomblé. Na realidade, Meu Tempo é Agora é uma

longa conversa em que Mãe StelIa passa informações essenciais, dando seu recado

para todos os filhos e interessados. A segunda edição desse livro foi lançada dia 17

de junho próximo passado, com o patrocínio da Assembleia Legislativa da Bahia.

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- Oxóssi, o Caçador de Alegrias, seu terceiro livro, foi lançado em 27 de

dezembro de 2006 na Casa de Xangô. Nele, Mãe Stella fala de Oxóssi, o seu orixá,

o orixá dono da sua cabeça, seu Eledá, dos itans e oriki do orixá Odé. Fala também

da Festa de Oxóssi, realizada no dia de corpus Christi, que é precedida de bori dos

seus filhos, da alegria que precede a homenagem ao orixá, da alvorada festiva, dos

fogos de artifício no grande dia, da movimentação em todo o llê Axé, da proliferação

animada da saudação Okê Aro!, pela chegada do orixá, dos atabaques repicando o

agueré, do terreiro adornado com bandeirolas azuis e brancas, e a bandeira

azul-turquesa de Oxóssi hasteada por ebômi Deuzimar. Descreve-nos como se

desenrola o grande dia: as oferendas matinais, as refeições, o café e almoço

compartilhados com todos os filhos e convidados, o Padê, por volta das 4h da tarde,

e o grande Xirê no barracão à noite.

- Owé — Provérbios, o quarto livro de Mãe Stella, foi lançado no Foyer do

Teatro Castro Alves, em 2007. Nessa obra, Mãe Stella apresenta uma série de

dizeres tradicionais da cultura iorubana que estão presentes no nosso dia a dia e

não nos damos conta de que sejam de origem africana. Esses provérbios reúnem a

sabedoria existencial acumulada de múltiplas gerações de povos negros que

encontraram seu ingresso no português do Brasil na fala das camadas populares.

São dizeres, ditados, provérbios que servem como sábia orientação para aqueles

momentos de conflito e indecisão, quando desejamos poder contar com a palavra

sábia de um mais velho, seus conselhos, mas, por qualquer motivo, não o temos por

perto. Nesse livro, podemos contar com a orientação zelosa de nossa Mãe, pois ela

os explica um por um, para que tenhamos uma melhor compreensão. Esse livro foi

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adotado pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura como paradidático na

Rede Municipal de Ensino Fundamental.

- Epé Làiyé, que significa “terra viva”, livro no qual Mãe StelIa externa sua

preocupação com o tema da preservação ambiental, com o comportamento

agressivo do ser humano em sua relação com o meio ambiente. Esse livro é

fundamental para a cultura iorubana.

As inúmeras contribuições à religião de matriz africana e à cultura brasileira

levaram 2 instituições de ensino superior a outorgarem a Mãe Stella o título de

doutora honoris causa: a Universidade Federal da Bahia, em 2005, e a Universidade

do Estado da Bahia, em 2009.

Ninguém consegue experimentar a respeitabilidade e o reconhecimento que

nosso terreiro possui por vaidades, mesquinharias e arrogâncias. As vidas de

nossas Ìyás foram marcadas por muita dedicação e renúncia para que

principalmente nós, seus filhos, pudéssemos alcançar a paz de espírito, o equilíbrio,

a felicidade que tanto buscamos.

Para compor este breve panorama sobre nossas ialorixás, pinçamos alguns

pontos, que esperamos possam esclarecer nossos ilustres Deputados, em

referência à relevância cultural do Candomblé para a formação da sociedade

brasileira, para chamar a atenção de V.Exas. em relação ao respeito devido ao

legado religioso, étnico e cultural que estão presentes nas práticas religiosas de

matriz africana.

Neste ponto, gostaríamos de solicitar a V.Exas. que medidas coercitivas

sejam tomadas no sentido de inibir as ações perpetradas contra nós por grupos

radicais de orientações religiosas questionáveis. Já é tempo de esse comportamento

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ser tipificado como ilegal, porque marginal ele já é. O candomblé almeja o ser

humano. Os orixás querem que os humanos tenham sucesso sempre, desde nas

pequenas batalhas do dia a dia, tenham paz de espírito e consigam viver em

harmonia com os outros.

Gostaríamos de enaltecer o esforço de Mãe Aninha para nos legar a roça de

São Gonçalo, que é um espaço sagrado para o culto aos orixás, e juntamente com

ele todos aqueles que zelaram para que o Axé fosse transmitido durante todo esse

tempo, de geração a geração, possibilitando-nos o privilégio de hoje usufruirmos do

convívio com os orixás.

Colocamo-nos hoje, seus filhos, para suplicar-lhes, Ìyás, que aceitem a cada

um de nós como mais um na multidão daqueles que os seguem. Seus filhos

suplicam-lhes perdão e pedem que nos ajudem a fazer com que nossa estada na

Terra seja uma missão de valor. Evocamos Obá Biyi, Olufam Deiyi, Oxum Muiwá e

Iwin Tonan para que nos movam na direção da união.

Para que uma ialorixá possa desempenhar plenamente sua liderança é

preciso que haja esforço coletivo, é preciso que haja um grupo de obás e ogãs

dedicados a assegurar as condições do entorno, assegurar que as demandas

materiais para a realização das cerimônias religiosas sociais estejam garantidas.

Os obás e ogãs são pessoas da religião que foram distinguidas das demais

da comunidade pelos orixás manifestados. São responsáveis pelas coisas civis da

roça, homens que têm por dever ajudar a Ìyá na organização social do Ilê Axé. Eles

integram a Sociedade Cruz Santa, que tem por finalidade prover a manutenção e a

preservação, com absoluto respeito ao legado dos antepassados, do Axé Opô

Afonjá, zelando também pela conservação dos seus instrumentos de culto e de seu

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patrimônio, sendo uma sociedade sem fins lucrativos. Nossas ialorixás formam um

grupo de mulheres, todas guerreiras, que souberam, cada uma a seu tempo,

responder às demandas sociais que lhes eram impostas.

No tempo de Mãe Aninha, temos a obrigação de registrar a inestimável

colaboração do apoio dado por Pai Joaquim, Obá Sanyá, para a fundação do nosso

terreiro. Outro nome que vem imediatamente à mente é o do Babalaô Martiniano

Eliseu do Bonfim, elo entre o Opô Afonjá e a Nigéria. Foi a partir da sugestão do Pai

Martiniano que o corpo de obás foi criado à maneira do reino de Oyó. E como não

mencionar o nome de José Theodoro Pimentel? Muito ligado ao Axé, ele recebeu

das mãos de Ìyá Aninha o oyé de Bãlé Xangô — literalmente, chefe da tribo, aquele

que segura o Ilê, uma espécie de administrador, o que implica dizer que, antes da

criação do corpo de obás, o Ilê era administrado por ele. Ainda do tempo de Mão

Aninha, vem-nos a lembrança do ogã Jorge Manuel da Rocha. Foi graças aos seus

esforços e à ajuda de Oswaldo Aranha, então Chefe da Casa Civil e amigo de Mãe

Aninha, que o decreto que assegurava a liberdade de culto passou a vigorar. E

lembro ainda os irmãos Miguel Santana e Antônio Alberico de Santana, também do

tempo de Mãe Aninha e igualmente memoráveis.

Mãe Senhora, com sua peculiar doçura, teceu uma grande rede social,

atraindo um número significativo de intelectuais e artistas para o Candomblé. Do seu

tempo, destacamos o trio de sustentação da cultura baiana Dorival Caymmi, Jorge

Amado e Carybé, os irmãos Sinval da Costa Lima e Vivaldo da Costa lima, Tadeu

Alves de Souza e Antônio Olinto, dentre tantos.

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A partir de Mãe Stella o corpo de obás e ogãs vem renovando-se. São desse

tempo Ildásio Tavares, Muniz Sodré, Gilberto Gil, Antônio Luiz Calmon Teixeira, Luiz

Domingos Souza e inúmeros ogãs.

Neste momento em que festejamos o primeiro centenário de nossa Casa,

gostaríamos que estes festejos se estendessem e englobassem 2 Casas irmãs: o Ilê

Ìyá Omi Axé Yamassê, mais conhecido como Gantois, e o Ilê Axé Opô Afonjá em

Coelho da Rocha, no Rio de Janeiro. Esse último foi fundado por Mãe Aninha.

Quando teve de permanecer em definitivo à frente do Ilê Axé Opô Afonjá na Bahia,

Mãe Aninha deixou então, como sua substituta no Rio de Janeiro, Mãe Agripina,

Obá Dehy; na sequência da linha sucessória desse terreiro veio Mãe Cantulina,

Aiyrá Tolá, e atualmente o Axé em Coelho da Rocha é liderado por Mãe Regina

Lúcia de Iemanjá. E o prévio, o Ilê Ìyá Omi Axé Yamassê, mais conhecido como

Gantois, também originou-se na Casa Branca. Maria Júlia Conceição Nazaré,

fundadora do Gantois, é também filha de orixá de Obá Tossi. Na genealogia das

ialorixás do Gantois estão sua filha biológica Pulchuéria Conceição Nazaré, que

substituiu a fundadora, a sobrinha-neta de Pulchuéria, Maria Escolástica da

Conceição Nazaré (Mãe Menininha), bisneta da fundadora, e suas filhas, Cleuza e a

atual ialorixá Mãe Carmem de Oxaguiã.

Religião é cultura. A religião estática perecerá. Sob a liderança de Mãe Stella,

vários eventos passaram a ser realizados no Ilê Axé. Há a necessidade de palestras,

debates, viagens e outros movimentos que “sacudam” o povo do Candomblé, diz-

nos ela. Como sinal dos tempos, não é mais possível a prática religiosa dos Orixás

sem reflexões, estudos e entrosamentos, torna a nos dizer. Não podemos ficar

confinados no Axé, a tradição somente oral é difícil. Os Olorixás têm que se

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alfabetizar, adquirir instrução, para não passar pelo dissabor de dizer “sim” à própria

sentença.

Que os Orixás olhem por nós.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Obrigado, meu companheiro José de

Ribamar Feitosa Daniel, pela aula que nos deu.

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Quero pedir brevidade aos

companheiros que vão se pronunciar, pelo avançado da hora.

Quero registrar a presença de Railda Rocha Pita, Ialorixá do Opô Afonjá Ilê

Oxum, aqui de Brasília; Carlos Alberto Santos de Paula, da Universidade Católica de

Brasília, Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros; e Graziela Peixoto,

Elvis Freitas, Teresa Azevedo Santos, Osvaldo Pita, Ramon Rocha, Josué Sales,

Kátia Regina Farias e Laura dos Santos, todos estes do Ilê Axé Opô Afonjá.

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Concedo a palavra ao nosso

companheiro Deputado Estadual Bira Coroa.

O SR. BIRA COROA - Bênção a quem é de bênção. Bom dia a todos e a

todas.

Quero saudar em especial o Deputado Zezéu Ribeiro, proponente desta

sessão e que também a preside, pelo reconhecimento da importância de marcarmos

nesta Casa Legislativa a presença da força, da luta e da afirmação dos

ensinamentos religiosos, da espiritualidade e, acima de tudo, da nossa própria

existência.

Quero saudar o Deputado Edson Santos, ex-Ministro do Governo Lula que

muito contribuiu com a Pasta que assumiu.

Saúdo em especial Mãe Stella de Oxóssi, e em seu nome saúdo todos os

religiosos de matriz africana neste ato.

Quero saudar Zulu Araújo, Presidente da Fundação Cultural Palmares, aqui

representando o Ministro da Cultura, Juca Ferreira.

Saúdo Alexandro Reis, que representa o Ministro Eloi Ferreira de Araújo, e

em seu nome saúdo toda a equipe que compõe a Secretaria de Políticas de

Promoção da Igualdade Racial.

Quero saudar José de Ribamar Feitosa.

E, em especial, quero saudar a resistência de 100 anos de uma luta

importante e estratégica.

Costumo agradecer, acima de tudo, por ter identidade e ter minha existência

como negro oriundo da periferia da cidade de Salvador. Nasci num subúrbio

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ferroviário, filho de mãe doméstica com pai ferroviário, e migrei muito jovem ainda

para a cidade de Camaçari.

Aprendi a me identificar, pela minha origem, a partir do terreiro de candomblé.

É bom destacar que uma das instituições estratégicas e importantes que nos afirmou

nesta sociedade perversa foi o terreiro, com sua resistência não apenas em cultuar a

religiosidade, mas em afirmar a nossa própria existência, como muito bem foi

colocado no pronunciamento do Deputado Zezéu Ribeiro, desde a culinária à nossa

própria identidade de vida.

É por isso que esta comemoração, nobre Deputado Zezéu Ribeiro, é

extremamente importante não apenas para o povo de santo do nosso Estado, a

Bahia, e de todo o Brasil, mas também para a consolidação da nossa sociedade.

Na construção de uma sociedade igualitária não se pode perder de vista a

contribuição dada pelos terreiros de candomblé. Os 100 anos do Ilê Axé Opô Afonjá

marcam pela presença determinante de 5 regentes ou gestoras dessa casa, que,

além de cultuar a religiosidade, foi capaz de afirmar uma sociedade e uma cultura.

Essa casa tem contribuições importantes, como aqui foi destacado no

pronunciamento de José Ribamar, mas, além disso, ainda nos marca com trechos

estratégicos importantes.

Primeiro, a fundadora Mãe Aninha reafirma a importância de ter identidade e

da valorização da prática do culto religioso quando se dirige ao então Presidente e

conquista o direito de afirmação e de culto do candomblé sem a repressão e a ação

da polícia que vigia à época.

Nos dias de hoje, em Mãe Stella há outro marco estratégico importante, que é

o registro literário da nossa religiosidade e da nossa afirmação, permitindo que as

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futuras gerações não tenham apenas que receber ensinamentos passados dos mais

velhos para os mais jovens e que esse ensinamento não fique apenas no controle

dos que praticam e cultuam a religião, mas possa também ser discutido pela

sociedade. Livros já são adotados pelo MEC no contexto do ensino regular do nosso

Estado.

Isso mostra, sem sombra de dúvida, a contribuição que o Ilê Axé Opô Afonjá

tem dado à sociedade baiana e à sociedade brasileira.

Parabenizo o Deputado Zezéu Ribeiro e todos os Deputados desta Casa por

compreenderem este momento e sua importância para o nosso futuro e por

reconhecerem, nesta Casa, 100 anos de existência de uma instituição que tem

afirmado, acima de tudo, a Bahia, a nossa identidade, e que tem construído uma

sociedade igualitária em que todos acreditamos e que todos desejamos.

Aproveito para agradecer a Mãe Stella pela dedicação, pelo compromisso e

pela responsabilidade que vem tendo à frente do Ilê Axé Opô Afonjá e para

agradecer a todos e a todas que têm contribuído para que esse templo seja um

referencial na nossa vida, na nossa história e na nossa cultura.

Vale a Bahia. Vale, acima de tudo, a nossa existência e o candomblé.

(Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Obrigado, Deputado Bira.

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Passo a palavra, agora, ao

companheiro Alexandro Reis, que representa o Ministro Eloi Ferreira.

O SR. ALEXANDRO REIS - Bom dia a todos e a todas. É um prazer

participar desta sessão especial de celebração dos 100 anos do Ilê Axé Opô Afonjá.

Saúdo a Mesa, em nome do proponente desta sessão, Deputado Zezéu

Ribeiro; o Presidente da Fundação Cultural Palmares, Dr. Zulu Araújo; o nosso

Deputado Estadual Bira Coroa; o Presidente da Associação Cruz Santa do Axé Opô

Afonjá, José Ribamar; o Deputado Federal e ex-Ministro da SEPPIR Edson Santos;

e, por fim, a grande homenageada, que traz e congrega esse espaço da nossa

religiosidade, Mãe Stella, Odé Kayodé, do Ilê Axé Opô Afonjá.

Trago mensagem do Ministro Eloi na qual ressalta, primeiro, a impossibilidade

de comparecer a este evento por conta de outro compromisso de agenda, mas

destaca, contudo, que participou da celebração dos 100 anos em Salvador, tendo

visitado o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá e também ajudado na mobilização para

realizar esta sessão, pela importância do Ilê Axé Opô Afonjá no processo civilizatório

do Brasil, do ponto de vista do fortalecimento da nossa democracia.

A democracia passa pela participação social, pela garantia de direitos

políticos e, principalmente, pela liberdade de expressão e religiosa.

A religião de matriz africana Ilê Axé Opô Afonjá e as outras matrizes, banto,

jeje, deixaram no Brasil um legado para a nossa formação, para sermos o meio de

acolher, articular e respeitar o diverso, democraticamente, em suas várias

manifestações.

Esse é o primeiro ponto. O segundo é que neste ano de 2010 foi aprovado o

Estatuto da Igualdade Racial, um instrumento político-jurídico de extrema

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importância para a consolidação de políticas de igualdade racial no Brasil, mas que

efetivamente tem sua origem na luta histórica da população negra, da população

brasileira por um Brasil mais justo e solidário.

O Ilê Axé Opô Afonjá é importante para este momento, tanto pelo que o nosso

Ribamar colocou aqui sobre o processo histórico como também pelo que atualmente

realiza e constrói na formação, na educação, na congregação das comunidades.

Esse é um exemplo importante.

O Estatuto chega com essa carga, com essa responsabilidade de conseguir

instrumentalizar o Estado brasileiro e aprimorar os modelos de gestão e o

orçamento, considerando a política de igualdade racial no Brasil.

O Estatuto é um grande instrumento, porque trata da liberdade religiosa, trata

principalmente dos direitos políticos, dos direitos econômicos, sociais e religiosos

que o Brasil precisa respeitar e fazer valer.

Portanto, Deputado Zezéu Ribeiro, ficamos bastante felizes com esta sessão,

no entendimento de que é uma sessão especial, uma sessão histórica, uma sessão

que afirma a nossa religiosidade, o nosso compromisso com a democracia e o

desenvolvimento do Brasil.

Obrigado.

Axé! (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Obrigado, Alex.

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Registro a presença da Sra. Lúcia

Oliveira, do Ilê Axé Omidewá, da Paraíba; do Sr. Jailton Cerqueira e da Yaya do

Acarajé, do Ilê Ogunté; do Sr. Maurício Reis, da Fundação Palmares, Diretor de

Proteção do Patrimônio Afro-brasileiro; do Sr. Carlos Moura, Assessor Especial da

SEPPIR; da Sra. Francilene Martins, Consultora da SEPPIR; da Sra. Mônica Trigo,

Assessora do Ministro Juca Ferreira; do Sr. Roberto Peixe, do MINC; e da Sra.

Verônica Souza, também do MINC.

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Concedo a palavra ao Sr. Zulu Araújo,

Presidente da Fundação Cultural Palmares, representando neste momento o

Ministro da Cultura.

O SR. ZULU ARAÚJO - Bom dia a todos. Em primeiro lugar, gostaria de

saudar o Deputado Zezéu Ribeiro e parabenizá-lo por esta sessão. Além de irmão,

amigo, companheiro, Zezéu Ribeiro é colega de profissão.

Saúdo também a Mãe Stella do Ilê Axé Opô Afonjá, a grande homenageada,

em nome do Terreiro Ilê Axé.

Tive a oportunidade de participar praticamente de todas as sessões, de todas

as homenagens que o Ilê Axé recebeu este ano, como a sessão especial da Câmara

Municipal requerida pela Vereadora Olívia Santana e a festa realizada no próprio

terreiro durante 3 dias. Então, posso me reservar a fazer uma fala curta, apenas

para registrar, em primeiro lugar, o abraço fraterno do Ministro da Cultura, Juca

Ferreira, que não pôde estar aqui hoje porque se encontra no Rio de Janeiro, em

sessão da Academia Brasileira de Letras, e depois irá para o Acre.

Também trago um abraço da Fundação Cultural Palmares, que tem por

missão valorizar, proteger, promover e divulgar as manifestações culturais de origem

negra no Brasil.

Estou muito feliz não só por estar participando desta sessão, mas também por

reconhecer que valeu a pena termos brigado tanto para que tivéssemos um país

democrático. Esta Casa, hoje, Zezéu Ribeiro, na verdade, está fazendo valer aquilo

que tantas vezes gritamos nas ruas: a necessidade de termos liberdade de

expressão, liberdade religiosa e democracia vigendo de maneira plena em nosso

País.

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Esta Casa, que já recebeu tantas manifestações religiosas de outros

segmentos da sociedade, hoje está abrigando, por iniciativa sua, a celebração dos

100 anos de um segmento religioso dos mais importantes do Brasil, formador da

nossa sociedade, um elemento fundamental para que possamos compreender o

Brasil, mas que ainda assim, apesar de estamos aqui há 500 anos, é perseguido,

discriminado, vilipendiado até hoje.

Então, esta sessão afirma, de um lado, a democracia e, de outro, a promoção

da igualdade no sentido pleno da palavra: igualdade religiosa, igualdade política,

igualdade social e igualdade cultural.

Quero neste momento, em nome da Fundação Cultural Palmares, mais uma

vez, parabenizá-lo, Deputado Zezéu, bem como a Mãe Stella e todos aqueles que

trabalham, lutam e professam as religiões de matriz africana, em particular aqueles

que são do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá.

E quero dizer: axé para todos nós!

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Agradeço ao companheiro Zulu, que

assumiu comigo uma parceria para depois verificarmos a possibilidade de editar um

CD com uma seleção do que foi dito aqui.

Eu estava preocupado, José Ribamar, com o tamanho do seu discurso. Na

televisão, às vezes fica prejudicado para quem está assistindo. Mas foi uma aula

para nós, um enorme aprendizado.

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Quero agora convidar, e quero que a

recebamos com uma salva de palmas, a companheira Mãe Stella de Oxóssi, para o

seu pronunciamento. (Palmas.)

A SRA. MÃE STELLA DE OXÓSSI - Nesta sessão solene feita hoje para

homenagear a nossa casa, peço licença a vocês para deixar de chamar o nome de

cada um. Que todos se sintam saudados por mim.

Apenas quero dizer que vale o sacrifício de eu estar em pé aqui neste

momento para fazer o agradecimento ao Sr. Deputado Zezéu Ribeiro, que preside

esta sessão em homenagem à nossa casa.

Não tenho mais nada a dizer. Já foi dita tanta coisa bonita que o que eu disser

agora ficará monótono.

O que tenho para pedir é que todos os orixás abençoem cada um de vocês.

Vocês estão se doando. Que cada um receba integralmente, de coração, de peito e

de alma.

Viva a democracia! Viva a Câmara! Viva o Brasil!

Que possamos sempre estar festejando e agradecendo aos homens e ao

Divino tudo o que têm feito por nós, vendo que o sacrifício passado por nossos

ancestrais deu resultado e valeu a pena.

Que para cada um de nós cada dia seja de alegria e de realização, com

muitos anos de festejo.

Boa sorte a todos.

Considerem-se abençoados. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Obrigado, Mãe Stella.

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Para encerrar, assistiremos à

apresentação do Coral do Ilê Axé Opô Afonjá, acompanhado de atabaques e, em

seguida, à apresentação do cantor Danilo Fonseca, interpretando a canção Dainha

Sabará.

Quero registrar a presença da companheira Oraida Abreu,

Secretária-Executiva do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

(Apresentações de coral e de cantor.)

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Quero agradecer a todos a presença e

pedir a bênção a Mãe Stella.

Valeu, gente.

Muito axé.

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V - ENCERRAMENTO

O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Nada mais havendo a tratar, vou

encerrar a sessão.

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O SR. PRESIDENTE (Zezéu Ribeiro) - Está encerrada a sessão.

(Encerra-se a sessão às 12 horas e 16 minutos.)